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A História não os absolvera nem a geografia.

José Eli da Veiga

Na parte I, denominada História, do livro “A história não os absolverá nem a


geografia” (composto por uma seleção de artigos publicados nos jornais Valor
Econômico e Estado de São Paulo no período de 2002 a 2004), Jose Eli da Veiga
tem como tema a discussão acerca da possível decadência de muitas idéias da
esquerda. Sobre esta esquerda, diz Eli da Veiga: “ Uma certa esquerda que se
imagina pós moderna, mas nunca foi sequer moderna. Uma esquerda que precisa
estudar com urgência um pouco de historia e geografia”.
Sob este tema existem vários eixos temáticos imbricados relacionados a
questões brasileiras como a oposição no plano político atual brasileiro, entre
social democratas versus socialistas, e o problema da desigualdade de renda e
pobreza, abordados neste seminário.
Com relação ao 1° eixo temático, José Eli da Veiga analisa o atual combate
político entre o PT (que ele denomina socialista) e PSDB (social democracia),
pairando sobre a vitória do candidato Lula em 2002 e problemas enfrentados no
governo pelo presidente e a continuação de políticas (como a industrial, agrícola,
macroeconômica e monetária) de seu antecessor e adversário FHC.
Com relação a isso, diz Eli da Veiga que “Luiz Inácio Lula da Silva viu-se
tangido a fazer aposta que logo tornou seu governo dependente das teias
comandadas por mandachuvas peemedebistas. E seu principal concorrente,
Serra, foi obviamente tragado pelas turvas águas pefelistas”. Para depois o autor
defender uma posição nevrálgica para muitos petistas e tucanos: “sempre foi
facílimo perceber que a melhor chance de o país se livrar da verdadeira herança
maldita – a da ditadura militar – exigiria aliança PT- PSDB ( Partido Social
Democracia Brasileira) contra o atraso inerente aos clãs dos sarneys, calheiros,
acms, bornhausens e caterva”.
Analisa ainda Eli da Veiga que uma polarização entre PT e PSDB pelo
poder pode causar uma propensão contraria ao desenvolvimento da sociedade
brasileira: “A primeira metade do mandato de Lula mostrou com eloqüência que o
PT estava muito mal preparado para governar, e que sua atual tática de alianças
só piorou tal impotência. Dois anos que também foram mais do que suficientes
para escancarar a impossibilidade de o PSDB fazer genuína oposição a um
governo que esta dando firme continuidade à essência política do segundo
mandato de Fernando Henrique Cardoso.” E diz ainda que “ As bases sociais do
Governo Lula não são diferentes das que poderiam ter dado consistência a um
governo Serra. O Brasil só pode ser hoje governado por uma aliança entre os
empresários assustados com a globalização e trabalhadores acossados pelo
desemprego”.
Em seguida questiona Eli da Veiga sobre qual dessas duas forças deu
tônica à primeira metade do mandato de Lula. Segundo Eli da Veiga com certeza
não foram os trabalhadores, tampouco os empresários. E declara que “ Por vezes
parecia que um deles vencia alguma queda de braço aqui ou acolá, mas nada que
permitisse definir a natureza de um governo condenado a nadar em instável
composto de fisiologismo parlamentar e presidencialismo messiânico.”
Em outro artigo diz Eli da Veiga que “ O que realmente diferencia o atual
jogo político brasileiro daquele que caracteriza as democracias maduras é o fato
de a principal disputa não se dar entre esquerda e direita pela sedução do centro,
mas sim entre socialistas e social democratas pela busca de mais apoios entre
fragmentos e estilhaços de uma direita desunida e desorientada. Por ser governo
– analisa Eli da Veiga – o PT facilmente atrai direitistas mais tendentes à fisiologia,
enquanto PSDB se dá melhor com direitistas mais programáticos e doutrinários”.
Mas alerta Veiga, que “é altamente improvável que a direita brasileira não venha a
se rearticular, mostrando o caráter passageiro e ilusório das circunstâncias que
atualmente ensejam polarização entre socialistas e social democratas.” E também
“ Será péssimo para o desenvolvimento do Brasil que PT e PSDB só comecem a
trocar figurinhas e bater bola quando já estiverem ameaçados pela ressurreição da
direita.”
Afirma enfim que “por mais convincentes que sejam as explicações sobre
os motivos do confronto polarizado por PT e PSDB, elas não podem impedir que
se reconheça nesse jogo partidário-eleitoral uma propensão contraria à que
prevalece nas nações que conseguiram se democratizar e se desenvolver.”
No artigo “Overdose de Realpolitik” sob o espanto acerca de que o
“aumento dos lucros dos exportadores do agronegócio seja mais importante para
os dirigentes petistas que o futuro do planeta” no apoio da cúpula do PT a vitória
de BUSH. Eli da Veiga busca uma explicação no fato de que “Um partido de
esquerda que chegue ao governo em qualquer sociedade democrática
rapidamente escandaliza parte de seus eleitores ao assumir posições que
contrariam princípios fundadores e a própria historia. Por mais triste que possa ser
tal constatação, não se encontrará sequer um exemplo histórico que não a
confirme. Até partidos da esquerda européia, eleitos com amplas maiorias
parlamentares, foram levados a fazer chocantes opções direitistas que deixaram
absolutamente perplexos muitos segmentos de seus alicerces sociais. Não se
poderia esperar, então que a vitória do PT em 2002 pudesse contrariar essa
tendência. Foi ambivalente, com minoria parlamentar e sem qualquer sucesso
expressivo no âmbito estadual. Pior – segundo Eli da Veiga – o principal derrotado
foi o PSDB, partido que em outras circunstancias históricas certamente deveria lhe
dar a maior ajuda”.
E por fim, é assustador como se confirmou “que a cúpula do Governo Lula
torceu mesmo para que George W. Bush ganhasse a eleição americana. E os
motivos são óbvios. Dois ministros, o da Agricultura e do Desenvolvimento,
Roberto Rodrigues e Luiz Fernando Furlan, que são lideres patronais do
agronegócio, avisaram que uma eventual vitória do candidato democrata John
Kerry aumentaria o protecionismo que tanto mal faz à expansão do comercio
exterior do Brasil”.
Finalizando este primeiro ponto, uma citação de Eli da Veiga que relembra
que “Graves tragédias do século XX foram causadas pela incapacidade de
formações socialistas e social democratas se entenderem. E o inverso sempre deu
samba. A historia não absolverá os lideres petistas e tucanos se não cerrarem
fileiras contra os oligarcas aos quais se encontram atados.”
Dando seqüência, Eli da Veiga trabalha a questão da desigualdade de
renda e pobreza, neste outro tema, afirmando que a diminuição da desigualdade
depende mais de uma infinidade de mudanças institucionais do que do
crescimento econômico.
Questiona o autor se realmente “a principal razão da brutal desigualdade de
renda vigente no Brasil é a má distribuição dos rendimentos do trabalho?
Resposta cabalmente afirmativa a tal pergunta – diz José Eli da Veiga – é uma
tese tão aceita que até mereceu destaque no livro Brasil em números, uma das
mais disseminadas publicações oficiais do país. E os dados de apoio são
resumidamente os seguintes: 6% das pessoas ocupadas recebiam mais de dez
salários mínimos em 1999, enquanto 43 % não chegavam a receber dois. E 14%
dessas pessoas sequer tinham rendimento. Daí a dedução de que a ‘permanência
da má distribuição de renda’ é ‘resultante de uma estrutura de rendimentos de
trabalho muito desigual’ (IBGE, 2001)”.
Eli da Veiga coloca restrições a essa idéia quando afirma que “A primeira
restrição deve ser feita a este tese tão popular que diz respeito à identificação
entre os rendimentos do trabalho e os rendimentos das pessoas ocupadas.
Grande parte dos rendimentos das pessoas ocupadas nada tem a ver com
rendimentos do trabalho, já que também fazem parte do pessoal ocupado, não
somente grandes empregadores, como também seus auxiliares que tiram
lasquinhas de lucros, juros, alugueis e vários tipos de rendas advindas da
propriedade de capitais e de recursos naturais. Desde logo, seria mais apropriado
reformular a referida tese – observa José Eli da Veiga - dizendo que a principal
razão da brutal desigualdade de renda vigente no Brasil é a má repartição dos
rendimentos das pessoas em atividade, isto é, os rendimentos da PEA (população
economicamente ativa)”.
É simplista a atribuição do papel de maior vilão à repartição dos
rendimentos ‘do trabalho’, diz Eli da Veiga, só porque são muito mal distribuídos
os rendimentos do conjunto de pessoas ocupadas.
E neste momento, Eli da Veiga trás para a discussão o pesquisador
Rodolfo Hoffmann da ESALQ/USP e do IE/ Unicamp que em “seus escrupulosos
cálculos sugerem que a culpa pela permanência da enorme desigualdade de
renda nos últimos anos não deve ser procurada na repartição dos rendimentos
‘do trabalho’ e nem mesmo – por incrível que pareça – na repartição dos
rendimentos de todas as pessoas ocupadas. Entre 1993 e 2001, o que inviabilizou
a tão desejada redução da desigualdade de renda foi a forte concentração dos
rendimentos dos inativos, cuja participação no total dos rendimentos passou, alias,
de 14% para 18%).”
Em outro artigo, intitulado “Pobreza e desigualdade de renda são males
independentes”, Eli da Veiga trabalha com o objetivo de elucidar que no Brasil “ o
mais freqüente é que a elevação do nível de renda reduza a pobreza e aumente
as disparidades entre pobres e ricos, mulheres e homens, brancos e negros.”
Ou seja é equivocado pensar que pobreza e desigualdade de renda
caminhem juntas. E diz que esta questão agora pode ser bem ilustrada pelas
evoluções da pobreza (de renda) e da desigualdade (de renda) nos municípios
paulistas entre os anos de 1991 e 2000. Cálculos que finalmente podem ser feitos
com imensa comodidade e precisão graças ao excelente banco de dados
regionais disponibilizados pelo IPEA (www.ipeadata.gov.br.)
O numero de combinações de três variáveis essenciais – nível de renda,
pobreza e distribuição – apresenta três posições bem recorrentes. No grupo
majoritário , formado por mais de 40% dos municípios paulista (266), o aumento
do nível de renda reduziu a pobreza, mas piorou a distribuição. E cita Votuporanga
como exemplo deste caso, onde enquanto o nível de renda aumentou quase 60%,
a miséria diminuiu de 20% para 10%, se medida pela proporção de pessoas que
tinham renda domiciliar per capita inferior a 75 reais. Mas a relação entre a renda
dos 10% mais ricos e a dos 40% mais pobres passou de 15 para 18 vezes.
Felizmente – observa Jose Eli da Veiga – o segundo grupo significativo,
com quase 30% dos municípios (183), foi aquele que satisfez os mais elevado de
todos os sonhos econômicos contemporâneos, combinando as três virtudes:
aumento do nível de renda, com redução tanto da pobreza quanto da
desigualdade. Em Águas de Lindóia, por exemplo, uma elevação de 60% do nível
de renda fez com que a proporção de pobres caíssem de 29% para 11% e que a
razão entre os mais ricos e os mais pobres diminuíssem de 22 para 16 vezes.
O terceiro grupo é o do avesso. Nele pioraram tanto a pobreza quanto a
desigualdade, apesar do aumento do nível de renda. Essa perversidade ocorreu
em pouco mais de 20% dos municípios paulistas (135), entre os quais a capital.
No município de São Paulo, a proporção dos miseráveis aumentou de 8% para
12% e a razão entre ricos e pobres saltou de 18 para 27 vezes, enquanto o nível
de renda subiu apenas 14%.
Enfim, afirma Eli da Veiga, que “Os modos pelos quais os frutos do aumento
de renda são socialmente aproveitados é que determinam ou não reduções de
pobreza e de desigualdade. E essas maneiras são condicionadas por um imenso
conjunto de regras formais e informais, que vão da Constituição ao mais simples
dos costumes ou tradições, passando, é claro, pela distribuição dos direitos de
propriedade, ou pelas transferências de renda operadas por todas as esferas
governamentais”.
Outro ponto tratado por Jose Eli da Veiga é a busca da erradicação da
pobreza. O autor cita um plano proposto por Cristovam Buarque intitulado
“Programa Áureo de Erradicação da Pobreza”. “Áureo – segundo Cristovam
Buarque – porque exigiria um esforço social semelhante ao da abolição da
escravatura, tanto no compromisso ético, quanto na vontade política. Em vez de
passar pelo crescimento econômico, sua estratégia para acabar com a pobreza
em 15 anos baseia-se em políticas publicas que assegurem o acesso de todos os
bens e serviços essenciais”. “Para erradicar a pobreza – continua Cristovam
Buarque – o caminho é empregar a população diretamente na produção de dos
bens e serviços essenciais. Criar um produtivismo social que transforme os pobres
desempregados em produtores do que o Brasil precisa para erradicar a pobreza
de sua sociedade.
Este programa é composto de dez incentivos sociais diretos e quatro
indiretos para que respectivamente pobres e não-pobres produzam bens e
serviços essenciais . Entre os diretos esta o famoso Bolsa Escola, mas também
uma licença maternidade universal e ampliada, a construção de escolas, os
assentamentos, ou o microcrédito. Os indiretos prevêem a participação da
universidade e a contratação de professores e servidores para o ensino básico
fundamental. Segundo as estimativas de Cristovam Buarque, mesmos nos anos
de gastos máximos, a necessidade de desembolso real não passaria de R$ 25
bilhões. O que equivale a uns 6% da receita prevista para o setor publico
brasileiro e algo em torno de 2% da renda nacional. Em síntese: em vez de
esperar que o crescimento liquide a pobreza é a erradicação da pobreza que deve
induzir ao crescimento econômico.
Diz Eli da Veiga que “ foi no livro Hunger and public action ( fome/pobreza e
ação publica) que Jean Drèze e Amartya Sen demonstraram que além de não ser
condição suficiente, o crescimento econômico não é sequer condição necessária
ao êxito no combate à miséria”.
Finalmente ,“O crescimento não é condição suficiente porque só reduz o
numero de miseráveis se estiver fortemente orientado para o emprego e para a
expansão de serviços sociais mais relevantes, como os de saúde, educação e
proteção social”.

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