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Esboço tipológico-comparativo da Família Caribe: Hixkaryana, Panare, Tiriyó e Waiwai

Glória Maria Batista de Andrade


Isabelle Sedícias Nascimento Ferreira*

Resumo: O presente trabalho consiste em uma abordagem tipológico-comparativa acerca de quatro


línguas da família linguística Caribe, a saber, Hixkaryana, Panare, Tiriyó e Waiwai. Para isso,
embasados em Derbyshire (1977, 2006), Gildea (2000), Meira (1999, 2002, 2006, 2014), entre outros,
primeiramente, introduzimos a discussão sobre a abordagem tipológica e, em seguida, apresentamos os
aspectos gramaticais das línguas ‒ suas formas pronominais, morfemas de pessoa, ordem dos
constituintes na oração e a construção de suas respectivas orações relativas. Diante disso, nosso
objetivo, com o presente trabalho, é fazer comparações entre as línguas e tecer alguns comentários
acerca do paradigma de ordem básica dos constituintes, proposto por Greenberg (195-).

Palavras-chave: Família Linguística Caribe; Tipologia Linguística; Ordem dos Constituintes; Caso
Genitivo; Construções Relativas.

Abstract: The present work consists in a typological-comparative approach to four languages of the
Carib linguistic family, as the following, Hixkaryana, Panare, Tiriyó e Waiwai. For this, as seen in
Derbyshire (1977, 2006), Gildea (2000), Meira (1999, 2002, 2006, 2014), and others, first we
introduced the discussion about typological approach, them, we present the grammatical aspects of the
languages -- their pronoun forms, personal morphemes of person, order of constituents in the sentence
and the construction of their respectives related expressions. As it is presented, our goal in this present
work it is to compare these languages and propose some commentaries in accord to the paradigm on
the basic order of the constituintes, as proposed by Greenberg (195-).

Key-words: Carib Linguistic Familie; Linguistic Typology; Order of the Constituents; Genitive Case;
Relative Constructions.

1. Introdução

À primeira vista, talvez a característica das línguas naturais que mais chama a atenção
dos falantes seja a sua diversidade. No entanto, como afirma Kenedy (2016), embora com as
enormes diferenças entre elas, as mais de seis mil línguas naturais existentes apresentam,
também, semelhanças, ou seja, por trás de toda essa heterogeneidade existe alguma
regularidade linguística. Por exemplo, todas as línguas têm nomes e verbos. É claro que a lista
das divergências entre as línguas naturais é extensa, mas, conforme o autor, além de muitos
fenômenos linguísticos serem regulares e universais, a maior parte dessas diferenças não se dá
aleatoriamente. Na verdade, ocorre de maneira previsível. Cabe à Tipologia Linguística
*Graduandas em Licenciatura em Letras-Português pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O
presente trabalho foi desenvolvido na disciplina Tópicos Especiais em Linguística, sob a orientação da Profa. Dra.
Maria Luisa de Andrade Freitas, no segundo semestre de 2017.
classificar as línguas de acordo com as suas características estruturais. Essa abordagem teórica,
segundo Oliveira (2015), ao levar em consideração que as diferenças entre as línguas naturais
ocorrem de maneira previsível, em um limitado eixo de possibilidades de variação, procura
estudar os padrões existentes com o objetivo de propor generalizações. Diante disso, o presente
trabalho tem por objetivo realizar um estudo tipológico-comparativo de quatro línguas da
família linguística Caribe, a saber, Hixkaryana, Waiwai, Panare e Tiriyó. Para tanto, realizamos
um levantamento bibliográfico acerca da constituição da família linguística Caribe, da
localização das línguas e de seus aspectos gramaticais, baseando-nos em estudos e gramáticas
propostas por linguistas e pesquisadores, como Derbyshire (1977, 2006), Gildea (2000), Meira
(1999, 2002, 2006, 2014), entre outros.

2. A família Caribe

A família linguística Caribe é constituída por cerca de 40 línguas ‒ há classificações


que incluem algumas línguas já extintas e há, também, discussões sobre a classificação de
algumas línguas, como a Waimiri-Atroari ‒, que faz dessa família a terceira maior família
linguística na América do Sul.
Figura 1. Genealogia das línguas Caribe, proposta por Sérgio Meira, em 2005 (apud in Meira, 2006).

Localizadas ao norte do rio Amazonas, as línguas Caribe concentram-se, atualmente,


no interior das Guianas e na região entre o rio Orinoco, na Venezuela, e no estado de Roraima,
no Brasil, no sul do Pará e no Alto Xingu, segundo Meira (2006). Com isso, nos detivemos na
escolha das línguas Hixkaryana, Waiwai, Tiriyó, que além de agruparem-se no mesmo ramo
da família, Guianense, compartilham o mesmo espaço na Terra Indígena Nhamundá-Mapuera
‒ Hixkaryana, Waiwai e Katxuyana ‒ próxima ao Parque Indígena Tucumumaque, onde estão
falantes de Tiriyó, e a língua Panare, que está no ramo venezuelano da família e seus falantes
localizam-se nas proximidades da fronteira, entre a Venezuela e o Brasil. Assim, para colaborar
com nosso trabalho de cunho tipológico-comparativo, a localização nos dará pistas das
possíveis influências de uma ou mais línguas sobre às demais. Neste sentido, tornando-se
pertinente um segundo trabalho como este para observarmos possíveis variedades ou não
passadas algumas décadas.
3. Línguas Caribe

O termo Caribe não se dá à toa, segundo Meira (2006), os falantes das línguas desta
família originariamente foram encontrados nas ilhas do Caribe e nas costas das Guianas e da
Venezuela, denominados assim devido ao fato dos primeiros textos europeus relacionar os
nativos à prática canibal ‒ caribal. Um padre missionário jesuíta, Filippo Salvadore Gilij,
observou as semelhanças entre essas línguas, no fim do século XVIII, e publicou em três
volumes o “Ensaio de História Americana”, propondo o Galib como língua-mãe, a partir da
qual se originaram as demais. Com isso, iniciando o interesse de exploradores, como Von den
Steinen e Lucien Adam ao estudo comparativo entre as línguas e ao estudo do povo Caribe. No
entanto, apenas no século XX, um estudo de descrição gramatical, proposto por Hoff, em 1968,
sobre o Karinya, impulsionou o incentivo a descrição das línguas da família. Dessa forma,
surgiram descrições sobre a língua Hixkaryana, por Derbyshire, em 1979 ‒ refeita em 1985 ‒,
da língua Waiwai, por Hawkins, em 1998, da língua Panare, por Muller, em 1994, da língua
Tiriyó, por Meira, em 1999, entre outras.
As línguas da família Caribe são, em sua maioria, aglutinantes, em uma nomenclatura
clássica fundada entre os irmãos Schlegel, já que os morfemas são representados por afixos, e
fusionais, no sentido de que há pequenas alterações morfofonêmicas nestes afixos quando
acoplados às diversas raízes das palavras de uma dada língua. Os afixos atribuem diferentes
funções a cada palavra que se ligam. As funções sintáticas são estabelecidas a partir de casos
gramaticais atribuídos a cláusulas específicas das línguas e, também, sendo comum às línguas
desta família, da correferência dos afixos pessoais que demarcam as funções nos sintagmas
nominais.

3.1 Pronomes pessoais em línguas Caribe

Para introduzirmos nossa discussão tipológico-comparativa entre as línguas da família


Caribe, segue uma tabela com os pronomes pessoais das línguas, as quais faremos referências
ao longo deste trabalho:

Línguas 1 2 1+2 1+3 1 + 2 Col 2 col


Tiriyó wïï ëmë kïmë anja kïmënjamo ëmënjamo

Hixkaryana uro omoro kïwro amna kïwjamo omñamo

Waiwai owï omoro kïïwï amna kïwjam amjamro


Panare ju amën juto, juta ana jutakon amënton
Tabela 1. Adaptação de Meira (2002, p. 258)

Essa tabela é muito sugestiva quanto ao parentesco entre as línguas. Superficialmente


encontramos muitos cognatos parciais, pois considerações fonológicas podem ser feitas como,
por exemplo, a dúvida sobre a possibilidade de possíveis correspondência entre o /o/ e o /ë/
para a segunda pessoa, além de que para a primeira pessoa podemos perceber que a consoante
/w/, e, em outros momentos, seu reflexo /u/, como afirma Meira (2000, p. 259), estão presentes
em todas estas línguas; já a segunda pessoa, a 1+3, a 1+2 col, apresenta vários cognatos entre
Hixkaryana e Waiwai, línguas que estão agrupadas no ramo guianense da família, enquanto
podemos perceber proximidades entre Panare e Tiriyó, que estão em ramos distintos; para a
primeira pessoa dual, há a presença do kï-, e da forma ju-, que não é cognata ao kï-, observando-
as percebemos a referência que estas fazem a primeira pessoa e as sílabas finais parecem refletir
reminiscências do coletivo dessa pessoa pronominal. Sugerindo, assim, que a forma coletiva,
potencialmente, é original a não-coletiva.

3.2 A Ordem fluída dos Constituintes

Joseph Greenberg, em seu estudo sobre universais linguísticos no fim da década de


1950 do século XX, definiu a noção basic word order identificando o sujeito e o objeto
semanticamente, considerando básica a ordem mais frequente comprovada estatisticamente,
coincidindo com as ordens VSO, SVO e SOV. Desta maneira, classificando as línguas quanto
às disposições do sujeito, do verbo e do objeto, e estabelecendo princípios implicacionais, nas
30 línguas estudadas, generalizando-os às línguas de todo o mundo.
Na família Caribe há documentação de diferentes ordens básicas (GILDEA, 2000, p.
65): SOV, VSO, VOS, Absolutivo-V-Ergativo, ordem livre sintaticamente e OVS, como o
Hixkaryana, que segundo Derbyshire:
I have observed this usage in contexts varied as normal conversations, personal
narrative, folktale narrative, eliciting of data, sermons, and written letters, as well as
reacting of informants to my attempts to produce well-formed and natural
constructions. While I have often heard sentences with different order of constituents,
OVS has always seemed to me to be the basic one. (DERBYSHIRE, 1977, p. 592)
Ou seja, podemos considerar que há uma fluidez nas posições dos componentes básicos
de uma sentença que podem ser, também, definidas pelo caso apresentado nos sistemas
gramaticais das línguas, pela hierarquia de pessoa, ou, até mesmo, por questões semântico-
pragmáticas, como a topicalização. Desta forma, sendo necessário marcar morfologicamente
as funções sintáticas dos constituintes na sentença, a fim de que não haja ambiguidade e que a
ordem básica não seja tão rígida.
O caso ergativo-absolutivo se apresenta quando, na língua, os argumentos verbais,
sujeito de verbo intransitivo (S) e objeto (O), recebem marcação morfológica em comum e
distinta da marcação do sujeito de verbo transitivo (A). Na família Caribe, este sistema pode
apresentar cisões, pois a depender da agentividade implicada pelo verbo ao sujeito, este sendo
mais (Sa) ou menos (So) agentivo, e a animacidade dos argumentos, haverá marcação de
morfemas distintos. Na hierarquia de pessoa a marcação morfológica no verbo é definida por
um sistema de hierarquia entre as pessoas pronominais, sendo comum à família que as
primeiras pessoas estejam acima da terceira. Assim é fundamental que levemos em
consideração os afixos de pessoa.

Língua 1A 2A 1+2 A 3A
Tiriyó w(ɨ)-/t- m(ɨ)- k(ɨ)-/kɨt- n-/kɨn-
Hixkaryana w-/ɨ- m(ɨ)- t(ɨ)- n(ɨ)-
Waiwai w(ɨ)-∅ - m(ɨ)- t(ɨ)-/tɨt(i)- n(ɨ)-/∅ /ɲ-
Panare t (ɨ)- m(ɨ)- n(ɨ)- n(ɨ)-
Tabela 2. Comparação entre os prefixos de pessoa enquanto sujeito de verbo transitivo (A), adaptação de
Derbyshire (2006, p. 33)

Língua 1O 2O 1+2 O
Tiriyó y-/yɨ a(t)- k(ɨ)-
Hixkaryana r(o)- o(y)-/a(y)- k(ɨ)-
Waiwai o(y)- a(w)- k(ɨ)-
Panare ∅ -/y- a(y)- n(ɨ)-
Tabela 3. Comparação entre os prefixos de pessoa enquanto objeto (P) de verbo transitivo, adaptação de
Derbyshire (2006, p. 34)
As tabelas 2 e 3, se referem apenas às marcas morfológicas de quando o verbo é
transitivo. O sujeito transitivo (A) de primeira pessoa nas línguas Tiriyó, Waiwai e Hixkaryana
apresenta a mesma consoante do pronome pessoal de 1ª pessoa, /w/, no Hixkaryana o /u/ cede
para a consoante w. No (A) de segunda pessoa, a consoante presente em todas as línguas no
pronome pessoal, /m/, torna-se o morfema que marca esse agente podendo ser acompanhado
pela vogal ɨ, caso contrário, ocorre para a primeira pessoa dual. Apenas para o Tiriyó há a
permanência da consoante /k/ da forma pronominal.
Para os objetos em primeira pessoa em Hixkaryana e Waiwai, acontece a retomada da
vogal /o/ da forma pronominal, uro e owï, respectivamente para as línguas, no Hixkaryana
dando preferência de aparição a consoante r. E, para os objetos da primeira pessoa dual a
consoante inicial /k/ é contínua para todas as que as possui na forma pronominal, logo, a
Hixkaryana, Tiriyó e Waiwai.

3.3 O possuído e o possuidor / Caso Genitivo

Na família Caribe, segundo Meira (2014), afixos de posse, especificamente sufixos,


derivados do Proto-Caribe, marcam os substantivos possuídos. O possuidor, por sua vez, é
indicado através de um prefixo de pessoa ou de um sintagma nominal independente. Como
observamos nos dados a seguir, quando o possuidor é indicado através de um sintagma
nominal, não ocorre o prefixo de pessoa no substantivo possuído. Além disso, o autor afirma
que, em algumas línguas da família Caribe, como em Panare, por exemplo, há a ocorrência de
um prefixo de ligação ‒ ou relacional ‒ j-, que aparece somente caso o termo possuído inicie
com vogal. Podemos pensar que isso se deva a forma pronominal da língua, apesar da
semelhança com o Panare, em Tiriyó, o sufixo de posse está aparentemente sendo perdido,
tanto que não se apresenta nas formas pronominais, exceto na primeira pessoa exclusiva (1+3)
anja , e na primeira pessoa dual, (1+2) kïmënjamo, e na segunda pessoa coletiva, (2Col)
ëmënjamo.

Panare (MATTEI-MULLER, 1974, 1994; PAYNE e PAYNE, 2013 apud MEIRA, 2014)

mɑtɑ ‘ombro’
(jɨ)mɑtɑ-n ‘meu ombro’
ɑ-mɑtɑ-n ‘teu ombro’
jɨ-mɑtɑ-n ‘ombro dele/dela’

eɲɑ ‘mão’
j-eɲɑ-n ‘minha mão’
ɑj-eɲɑ-n ‘tua mão’
j-eɲɑ-n ‘mão dele/dela’
tomɑn j-éɲɑ-n
Tomás REL-mão-POSS
‘a mão de Tomás’

Tiriyó (MEIRA, 1999 apud MEIRA, 2014)


pɑwɑnɑ ‘amigo’
ji-pɑwɑnɑ(-ɾɨ) ‘meu amigo’
ə-pɑwɑnɑ(-ɾɨ) ‘teu amigo’
i-pɑwɑnɑ(-ɾɨ) ‘amigo dele/dela’
kɨ-pɑwɑnɑ(-ɾɨ) ‘nosso (incl.) amigo’

enu ‘olho(s)’
j-enu(-ɾu) ‘meu(s) olho(s)’
ə-enu(-ɾu) ‘teu(s) olho(s)’
enu(-ɾu) ‘olho(s) dele/dela’
k-ənu(-ɾu) ‘nosso(s) (incl.) olho(s)’

pɑhko i-pɑwɑnɑ
1-pai 3-amigo
‘amigo de meu pai’

Waiwai (JUCÁ, 2011, p. 76-77)

ɸori ‘braço’
oja-ɸori ‘meu braço’
awa-ɸori ‘teu braço’

jori ‘dente’
o-jori ‘meu dente’
ki-jori ‘nosso dente’

3.4 Adposições: Posposições

No terceiro Universal, Greenberg postula que "línguas com ordem dominante VSO são
sempre preposicionais" (GREENBERG, 1966, apud PIRES, 2010, p. 228), as línguas em
estudos aqui são do tipo OV, logo, segundo os mais variados correlatos de concordância, tais
línguas, seguiriam essa ordem: Po, AN, GN, de maneira que o modificador anteceda seu
modificado, como observamos anteriormente (seção 3.2). A partir disto, atestaremos a
posposição locativa em Hixkaryana' , agentiva em Tiriyó e benefactivo em
Hixkaryana/Waiwai, a fim de verificarmos a procedência deste universal.

Tiriyó (MEIRA, 1999, p. 91):


Wëri nɨ-tën-∅ tɨ-pakoro ta-t-ëëka-e ëkëi ja
Woman 3-go-PAST 3REFL-house to-ad-bite-PRTCPL snake agt
‘The woman went home bitten by a snake.’
Hixkaryana/Waiwai1 (DERBYSHIRE, 2006, p. 43):
Asama y-aheta-wo
trail GEN-edge-at
'at the edge of the trail'

Wewe mahya-ye
tree rear-from
'from behind the tree'

Panare (GILDEA, 2000, p.83):


Waaretaa-no s-eeta-i tuuma ta
1sing-Inf 1A-hear-TAM river in
'I have really heard singing on the river'

As posposições constituem uma classe gramatical que podem aparecer como um


prefixo ligado a raíz de um nome, como em Tiriyó, ou como um morfema livre, como em
Panare. Em Hixkaryana percebemos que o morfema, que não nos fica evidente devido ao
exemplo apresentado por Derbyshire (1977), é de categoria presa sendo discrepante às
aparições usuais dessa classe gramatical.

3.5 Construções Relativas

De acordo com Meira (2006), a família linguística Caribe, frequentemente, usa


nominalizações verbais em aposição ao termo relativizado como principal estratégia
relativizadora. Algumas línguas, como, por exemplo, o Panare, desenvolveram morfemas
relativizadores, usados para transformar uma oração com verbos não-nominalizados em uma
oração relativa. No entanto, o autor afirma que o aparecimento desses morfemas não é tão
homogêneo quanto o das nominalizações.

eta ‘ouvir’ (transitivo) epɨ ‘tomar banho’ (intransitivo)

eta-ne ‘aquele que ouve algo’ epɨ-ke ‘aquele que toma banho’

n-eta ‘aquilo que é ouvido por alguém’ t-e:pə-en ‘aquele que vai tomar banho’

əta-ton ‘aquele que ouve, é capaz de ouvir’ epɨ-to ‘instrumento, momento, lugar para
tomar banho’

t-əta-en ‘aquilo que se pode/deve ouvir’

1
Devido às semelhanças entre as línguas e a ausência de exemplos que tratasse a posposição em Waiwai,
decidimos apresentá=las num mesmo exemplo, pois, baseadas numa tabela de Derbyshire (2006, p.43, tab. 2.8)
que apresenta: from = kwa-ye, para Hix, e kwa-y, para Ww; in/on/at = ta-wo/ya-wo, para Hix, e ya-w, para Ww.
eta-to ‘lugar, momento, instrumento para
ouvir’
Tabela 4. Nominalizações verbais em Tiriyó. Os dados foram recolhidos em Meira (2006).

No sistema de nominalizações verbais do Tiriyó, por exemplo, como observamos na


tabela acima, há afixos específicos para derivar termos para os argumentos dos verbos
transitivos ‒ sejam eles agentes (A) ou pacientes (P) ‒ e intransitivos (S). Segundo Meira (2006,
p.106, grifo do autor), “as nominalizações de argumentos apresentam duas formas: uma dita
real, que descreve um participante de um evento específico, e uma dita potencial, que se refere
a um participante de um evento possível”.
Os dados a seguir atestam que, conforme Gimenez (2011), assim como no Tiriyó, em
Hixkaryana, embora a oração relativa realize-se, também, através de outros mecanismos, a
construção nominalizada é o mecanismo mais comum. No Waiwai, também há o uso de
nominalizações para realizar a relativização, mecanismo que, como em Tiriyó, ocorre por meio
da adição de afixos à raiz verbal.

Tiriyó (MEIRA, 2006).

ampo nai, witoto, [kaikui i-tu:ka-ne-mpə] ?


onde 3.COP pessoa cachorro 3-bater-A.RE-NPAS
‘Onde está a pessoa que bateu no cachorro?’

serə nai, eperu, t-əna-sen


DEM 3.COP fruta P.POT-comer-P.POT
‘Este é o fruto que se come (=que se pode comer; comestível).’

Panare (GILDEA, 1989, p.63):

Tiya’ apo’
të-ya apo’
Go-past man.
‘The man left’

Nu’púmaya tiyaanë apo’


N-u’puma-ya të-ya-në apo’
3-fall.down- PAST go-PAST-REL.ANIM man
‘The man who left fell down’

nu’púmaya’ tiyaanë
n-u’púma-ya’ të-ya-në
3-fall.down-PAST go-PAST-REL.ANIM
`
Hixkaryana (DERBYSHIRE, 1965, 1979, 1985 apud MEIRA, 2006).

Manawsɨ hona Waraka ɲak-ɲe u-hutwe-he


Manaus DIR Waraka enviar-A.RE 1A-saber-PRES
‘Eu sei quem está mandando Waraka para Manaus’.

Manawsɨ hona Waraka nɨ-ɲak-ɲɨ-rɨ u-hutwe-he


Manaus DIR Waraka P.RE-enviar-NZR-POSS 1A-saber-PRES
‘Eu sei quem Waraka está mandando para Manaus’.

Waiwai (HAWKINS, 1998 apud MEIRA, 2006)

ɲ-eske-sɨ tak jawaka i-johto-ʃaɸu


3A-cortar-PRES agora machado 3-amolar-P.RE
‘o machado que foi amolado corta (bem) agora’ (= não está mais cego)

mija to-toʃow mararɨ j-ama-ɲe komo


longe 3S-ir-PAS.COL roça LIG-cortar-A.RE COL
‘os que cortaram (= abriram) a roça foram para longe’

4. Considerações Finais

Neste trabalho, buscamos realizar um estudo tipológico-comparativo entre línguas da


família Caribe: Hixkaryana, Waiwai, Panare e Tiriyó, intencionando mostrar que, embora com
as enormes diferenças entre as línguas naturais, muitos fenômenos linguísticos são regulares e
universais, principalmente tratando-se de línguas pertencentes à mesma família ‒ exatamente
o que constatamos ao abordar acerca dos pronomes pessoais, da ordem dos constituintes na
oração, do caso genitivo, das posposições e das construções relativas. Sabemos que a ordem
dos constituintes na oração trata-se de um dos Universais Linguísticos propostos por
Greenberg. No entanto, observamos que, na família Caribe, há diferentes ordens básicas, como
afirma Gildea (2000), que envolvem questões relacionadas ao sistema gramatical da língua, à
hierarquia de pessoa, bem como questões semântico-pragmáticas, por isso , ao menos para esta
família, o estudo sobre uma ordem básica dos constituintes não seja um princípio a ser levado
em conta em línguas naturais. Com este trabalho, esperamos contribuir para a discussão acerca
das línguas indígenas brasileiras. Além disso, gostaríamos de reforçar a importância da
realização de estudos que envolvem essas línguas, principalmente porque a história das línguas
indígenas no Brasil está envolta em pressões realizadas pela língua majoritária ‒ o português ‒
, o que acarreta no enorme risco de desaparecimento dessas línguas.

5. Abreviaturas
1: primeira pessoa
2: segunda pessoa
1+2: primeira pessoa dual inclusiva
1+3: primeira pessoa exclusiva
1+2Col: primeira pessoa dual inclusiva coletiva
2Col: segunda pessoa coletiva
A: sujeito de verbo transitivo
Ad: adessive
Agt: marcação de agentividade
COL: coletivo (plural)
COP: cópula
DEM: demonstrativo
DIR: direcional
LIG: ligação
NPAS: passado nominal
NZR: nominalizador
P: objeto de verbo transitivo
POSS: marcador de forma possuída
POT: potencial
PRES: presente
RE: real
REL: relacional

Referências

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