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A Revista Conhecer & Produzir é uma

publicação, de circulação externa e


distribuição gratuita, com a produção
acadêmica dos estagiários do Sesc em
Pernambuco no ano de 2017.
O Sesc em Pernambuco
SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
O Sesc é feito por pessoas. Para pessoas.
Presidente do Conselho Nacional
Antônio de Oliveira Santos
Criado em 1946 e mantido pelos empresários
DEPARTAMENTO NACIONAL do comércio, o Serviço Social do Comercio –
Sesc, trabalha para ampliar e qualificar o acesso
Diretor Geral
Carlos Artexes Simões à Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência
do trabalhador do comércio de bens, serviços
Sesc EM PERNAMBUCO
e turismo e seus familiares, bem como da
Presidente população em geral.
Josias Silva Albuquerque
Em Pernambuco, o Sesc instalou-se no dia 05
Diretor Regional
Antônio Inocêncio Lima de março de 1947, e atualmente conta com 20
unidades fixas, em 14 cidades, e 6 unidades
Controlador
móveis, levando projetos e ações para mais de
Alessandro Rodrigues
90 municípios do estado.
Ouvidor
Fernando Soares
O Sesc foi criado, nacionalmente, no dia 13 de
Diretor de Administração e Finanças setembro de 1946, pelo Decreto-Lei nº 9.853.
Nivaldo Carvalho de Sousa A entidade é fruto da Carta da Paz Social,
elaborada por um grupo de empresários que
Diretora de Atividades Sociais
Ana Paula Cavalcanti participaram, em 1945, da I Conferência Nacional
das Classes Produtoras, em Teresópolis. Eles
Diretora de Educação e Cultura
Teresa Cristina da Rosa Ferraz
buscavam, através de um documento que
mobilizasse a sociedade, minimizar os efeitos
Gerente de Recursos Humanos (Interina) da II Guerra Mundial e promover o crescimento
Anna Karla Carvalho
social do país, diminuindo as diferenças entre
Chefe de Desenvolvimento de Pessoas as classes.
Kátia Carrera

Gerente de Comunicação e Marketing


Paula Lourenço

Revisão e editoração: Dénison Araújo


Revisão final: Paula Lourenço (DRT-PE 3006)
Projeto editorial e diagramação: Susy Souza

Sesc - Departamento Regional em Pernambuco


R. Treze de Maio, 455 - Santo Amaro - Recife-PE
Telefone: (81) 3216.1616

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O Programa de Estágio
no Sesc em Pernambuco
Kátia Carrera
Chefe de Desenvolvimento de Pessoas - Sesc Pernambuco

O Departamento Regional do Sesc em Com esse propósito, o Seminário consolida-


Pernambuco é vanguardista nas questões se como ponto culminante de um importante
referentes à gestão de estágio e, ao longo e longo processo de formação que envolve
de várias décadas, vem oferecendo para o professores e orientadores das Instituições de
acadêmico um vasto campo de experiência que Ensino Superior, supervisores das Unidades
tem representado um importante subsídio para do Sesc em Pernambuco, funcionários e,
sua futura vida profissional. principalmente, os alunos de graduação que
estagiam nas Unidades do Sesc em todo o
Como concedente de estágio, ao longo dos anos, estado.
percebemos, por meio das relações Instituição
de Ensino-Entidade, grandes avanços nesse Em sua 14ª edição, o projeto tomou uma nova
intercâmbio que ajuda a fortalecer e renovar as
roupagem e, por meio da inserção de uma banca
linguagens e tecnologias do processo ensino-
científica avaliadora, formada por diversos
aprendizagem, fazendo com que o Sesc recolha,
profissionais de universidades do Recife e do
na fonte, os benefícios da troca de experiência e
interior do estado, foi possível proporcionar
dos novos conhecimentos e ideias da academia.
aos estagiários renovados a construção de uma
nova identidade profissional em sua atuação no
Dessa forma, o Programa de Estágio pode ser
Sesc.
visto como o eixo articulador entre teoria e
prática, possibilitando a interação de concepções
Com isso, o Prêmio Sesc Estágio, que tem
educativas e de formação profissional para
por objetivo premiar os “Artigos de Pesquisa”
dotar o estagiário de uma ampla cobertura
e “Relatos de Experiências”, ganha um novo
de direitos capazes de assegurar o exercício
da cidadania e da democracia no ambiente de direcionamento que visa promover uma maior
trabalho. aproximação entre a teoria e a prática na relação
do desenvolvimento pessoal, profissional e
Visando consolidar essas concepções organizacional em suas atividades.
educativas, o Seminário de Produção de
Conhecimentos integra o Programa de Estágio Nóvoa (1992, p19) nos auxilia nesse aspecto
do Sesc em Pernambuco como uma das quando diz que “O território da formação é
ações que disseminam os conhecimentos e habitado por actores individuais e colectivos,
as práticas inovadoras adquiridas a partir de constituindo uma construção humana e social”.
experiências e oportunidades de aprendizagem Para ele, esse trabalho é coletivo e depende da
proporcionadas pela organização, por meio de experiência e da reflexão como instrumentos
atividades programadas de alcance técnico, contínuos de análise. Por isso, diz, temos de
social e cultural. exercitar o que vivemos e os supervisores/

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orientadores de estágio são peças-chave nesse
processo.

E, ampliando todo esse processo de


XV Seminário de
conhecimento e de novas experiências, surgiu, Produção de Conhecimentos
para nossa felicidade, a Revista Conhecer &
Produzir, que visa socializar e fomentar a atitude Eliemerson de Souza Sales
crítica-reflexiva da pesquisa no ambiente de Doutorando em Ensino das Ciências (UFRPE)
estágio e anunciar no seu contexto os trabalhos
indicados para publicação.
Todo conhecimento é em resposta a uma Nessa direção, o SESC vem proporcionando aos

Por fim, concebendo-se o conceito de pesquisa questão (BACHELARD, 1938). Esse pensamento estudantes um percurso formativo que na minha
numa perspectiva Freiriana, em que “pesquiso conduzirá esta breve reflexão acerca da concepção tem contribuído para a construção
para constatar, constatando, intervenho, produção de conhecimento no âmbito de uma cultura de produção de conhecimento
intervindo educo e me educo. Pesquiso para educacional. que amplia o repertório de saberes tanto dos
conhecer o que ainda não conheço e comunicar estudantes como também contribui para
ou anunciar a novidade” (Freire, p.32, 1996). Nessa direção, somos levamos a pensar ampliação do corpo de conhecimento da área
Assim, percebemos o quanto estamos em acerca das contribuições dos conhecimentos foco da pesquisa.
processo de aprendizagem com eles, nesse produzidos tanto no âmbito educacional,
sentido, percebemos que mais do que oferecer quanto nas outras diversas áreas do Também, sob esta mesma ótica, a comissão
respostas definitivas, buscamos, nesta conhecimento. Pensar o percurso formativo de científica se constituiu enquanto uma equipe
intervenção, estimular discussões e proposições estudantes que estão imersos no movimento multidisciplinar com profissionais de diversas
de novos saberes teóricos e práticos e novos de busca pela profissionalização, é pensar além áreas do conhecimento. Destaca-se que,
desafios.
da formação profissional, compreendendo a equipe de profissionais buscou realizar
elementos essenciais que estão associados a o exercício de trazer para as avaliações o
essa construção que antes de tudo, é social. olhar formativo, no sentido de que, todas as
orientações fornecidas aos estudantes por
Considero que, a prática de pesquisa meio dos pareceres argumentativos sobre os
no decorrer do percurso formativo dos trabalhos ajudassem os estudantes a aprender
estudantes, tem sido elemento essencial para e ampliar os saberes acerca da dinâmica de
a ampliação do repertório de conhecimento e fazer pesquisa científica.
aprofundamento de questões de interesse dos
estudantes, contribuindo desta forma também Finalizo, pontuando que a concepção formativa
para a construção de um caminho a ser seguido na qual me filio está centrada essencialmente
pelos mesmos. sobre a gestão das aprendizagens dos
estudantes que estão imersos no movimento
Diante da diversidade de cenários nos quais de fazer pesquisa, ressaltando que se torna
os estudantes estão imersos desenvolvendo formativo o processo que ajuda o estudante a
suas atividades de estágio, inúmeras são as aprender e a se desenvolver.
questões que podem surgir, no entanto, saber
lidar com estas questões e transforma-las em
uma questão de pesquisa, tem sido um desafio.

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Sumário
O Sesc em Pernambuco.......................................................................................................................... 5 A formação docente a partir do Programa de Incentivo
à Formação Profissional do Sesc.......................................................................................................59
O Programa de Estágio no Sesc em Pernambuco........................................................................ 7 Raiane Géssica Silva dos Santos
Alcicleide Moraes da Silva Pontes
Palloma Rayane Cordeiro Flor
XV Seminário de Produção de Conhecimentos............................................................................. 9

Projeto Brincando nas Férias: É de Arrepiar!


Mostra de Música Leão do Norte:
Gestão, planejamento e execução de uma experiência emocionante................................67
relato de experiência acerca das contribuições
Ranniery José Nascimento Dantas
para a cena musical autoral pernambucana..................................................................................13 Jeane Karla Albuquerque Souza Oliveira
Ângelo Lima da Silva Ferreira
Geraldo José Santos Oliveira
Sônia Guimarães
Fernanda da Silva Araújo Mélo
Turismo Social e Tecnologia da Informação:
Um debate sobre as políticas de enfrentamento um estudo de interesse e viabilidade de um sistema online
ao trabalho infantojuvenil: limites e avanços................................................................................23 de inscrição em passeios e excursões do Sesc Pernambuco................................................. 77
Darvely Eveliny Falcão de Amaral Rayanne Kalline Maciel Barbosa
Milena Rafaela Silva Talita Poliana Guedes da Silva
Girlan Guedes dos Santos Derek Luiz Alves dos Santos

Um olhar especial: crianças com déficit da atenção também aprendem...........................31 A Infância Diante do Cinema...............................................................................................................87
Maria Danieli Oliveira Rodrigues Renata Alves Pereira
Antonia Rejane Souza Bandeira Antônio Gonçalves de Azevedo
Heloisa Flora Brasil Nóbrega Bastos
Ayalla Camila Bezerra dos Santos
Ynah de Souza Nascimento

Aprendendo com Gilvan Lemos: um projeto de leitura,


Acompanhamento de fiscalização da obra de reforma e ampliação
reflexão e produção de contos em uma turma de ensino médio.........................................39
do Restaurante do Sesc no Riomar Shopping.............................................................................97
Mônica Thais Cordeiro da Silva
Thulio Roberto Silva do Nascimento
Profª. Drª. Márcia Félix da Silva Cortez
Fabiana Lacerda Siqueira Campos
Juvêncio Amâncio da Silva Junior
Júlio Cesar Azevedo Luz de Lima
Eudes Gomes Silva

O ensino da matemática através da ludicidade: jogos e oficinas.......................................103


O Projeto Habilidades de Estudo (PHE) como Williamar Figueredo de Oliveira
um instrumento de cidadania: o olhar dos sujeitos................................................................... 49 Mary Rodrigues da Silva
Natanielle Silva de Lima Soares Jessica Flaíne dos Santos Costa
Djael Silva Bezerra
Jéssica Rochelly da Silva Ramos

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Mostra de Música Leão do Norte:
relato de experiência acerca das contribuições
para a cena musical autoral pernambucana

Leão do Norte Music Festival: an experience report about


its contributions to the authorial musical scenario of
Pernambuco – Brazil
Ângelo Lima da Silva Ferreira1
Sônia Guimarães2
Fernanda da Silva Araújo Mélo3

Resumo: O termo cena musical é muito comum ser atribuído a um determinado local (cena pernambucana, cena
carioca, cena paulistana etc.) e/ou a um determinado gênero musical (cena do rock, cena punk etc.). As práticas
musicais existentes em uma determinada cena tencionam pensar em territorialidade, que é constituída por
dimensões locais, econômicas, simbólicas e sociopolíticas. Devido à geografia expressada em suas mesorregiões
(São Francisco, Sertão Pernambucano, Agreste Pernambucano, Mata Pernambucana e Metropolitana do Recife)
e, principalmente, por apresentar uma pluralidade cultural proveniente dessas localidades, Pernambuco dispõe
de diversas cenas musicais, entretanto, este estudo teve como recorte a cena musical autoral. Constatamos que
a cena autoral pernambucana vem se fortalecendo a cada ano através da difusão proporcionada pelas redes
sociais e pela ampliação dos espaços para apresentações promovidos por projetos como a Mostra de Música
Leão do Norte (MMLN), Ouvindo e fazendo Música no Museu do Estado de Pernambuco e Hora do Frevo no
museu Paço do Frevo. Além disso, a facilidade de gravação através dos home studios tem contribuído para o
registro e divulgação das obras dos novos compositores. Assim, por meio da compreensão conceitual abordada
por Straw (1991) e Nogueira (2014) acerca da cena musical unida às experiências vivenciadas como ouvinte,
músico e estagiário de algumas das edições da MMLN promovida pelo Sesc-PE, buscou-se, neste relato de
experiência, identificar as contribuições dessa mostra para a cena musical autoral pernambucana. Desse modo,
foi possível constatar aspectos relevantes, como o fato de proporcionar um espaço para novos compositores
pernambucanos, para a música popular e também para a música instrumental, promovendo um intercâmbio
cultural com reflexões e troca de experiências entre os seus participantes.
Palavras-chaves: Cena musical. Música autoral. Mostra de Música Leão do Norte.

Abstract: It is common to associate the term “musical scenario” to a specific place (scenario of Pernambuco,
scenario of Rio de Janeiro etc.) and/or a specific musical gender (rock scenario, punk scenario etc). The musical
practices of an specific scenario induce to think about territoriality which means physical, economic, political and
social dimensions. Due to the geography expressed in its mesoregions (São Francisco, Sertão Pernambucano,
Agreste Pernambucano, Mata Pernambucana and Metropolitan of Recife) and, mainly, to present a cultural
plurality from these localities, Pernambuco has several musical scenes, however, this study had like clipping
the authorial music scene. We see that this scenario has become stronger every year through its diffusion in
social networks and the expansion of spaces for live presentations promoted by projects such as Leão do Norte
music festival (MMLN), “Hora do Frevo” at the Paço do Frevo museum, among others. Besides, the ease of
recording in home studios has contributing to register and spread new composer’s works. So, based on Straw
(1991) and Nogueira (2014) works regarding musical scenario linked to public lived experiences, musicians and
internships of MMLN promoted by Sesc Pernambuco, this study aims to identify the contributions of this festival
to the authorial musical scenario of Pernambuco. We see some relevant aspects as to provide an space for new
composers from Pernambuco, for popular music and for instrumental music as well, making it possible a cultural
exchange with reflections and experiences exchange by its participants.
Keywords: Musical scenario. Authorial music. Leão do Norte Music Festival.
1 Autor - Graduado em Licenciatura em Música com ênfase em prática instrumental (clarinete) pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) - angelolsf@gmail.com.
2 Orientadora – Licenciada em Artes Cênicas. Possui Especialização em Etnomusicologia pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) - sguimaraes@sescpe.com.br.
3 Editora do relato - Mestranda na Pós-Graduação em Artes Cênicas - PPGArC da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) .
Possui Especialização em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas pela Universidade de Brasília (UnB) e Licenciatura em Educação
Artística/Artes Cênicas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - fernanda.meelo@gmail.com.

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Introdução um todo. Para tal, foi utilizado o conceito de compositores do estado de Pernambuco e oportunizar o espaço para novos compositores
cena musical desenvolvido por Straw (1991), com a realização de seminários e portfólios do estado, fortalecendo, assim, a ideia de um
O presente relato de experiência foi requisito que foi estudado por Filho e Fernandes (2005). dos artistas participantes. Além disso, são intercâmbio cultural.
para a conclusão do estágio na instituição Além disso, foi utilizado o estudo de Nogueira oferecidas oficinas e ações formativas musicais
Sesc (Serviço Social do Comércio), na área de (2014) que caracteriza as cenas musicais como ou de interdisciplinaridade entre as linguagens Todas as apresentações da mostra são
cultura/música, no ano de 2017. Este estudo espaços culturais, podendo também esse
artísticas. realizadas de forma acústica, sem nenhum tipo
teve como objetivo compreender como a conceito ser atribuído a determinados gêneros
de amplificação/sonorização, buscando uma
Mostra de Música Leão do Norte (MMLN) tem musicais, por exemplo, a cena manguebeat.
A seleção dos compositores é realizada aproximação maior do ouvinte com a fonte
contribuído para a cena musical pernambucana.
por meio de uma curadoria constituída por sonora natural. A produção sonora natural
Os objetivos específicos foram: buscar
Mostra de Música Leão do Norte instrutores/professores de música de cada permite ao ouvinte uma escuta mais focada
definições do conceito de cena musical, relatar
unidade do Sesc-PE. Os processos de curadoria e perceptível dos aspectos, por exemplo,
alguns aspectos vivenciados durante as 7ª e 8ª
edições da MMLN e refletir sobre as possíveis De acordo com o Módulo e a Programação da têm início com a seleção dos grupos que se dinâmicas, timbres, texturas musicais e
contribuições da Mostra para a cena musical Atividade de Música - Sesc, as mostras de música enquadram na proposta da mostra, de maneira equilíbrio entre os instrumentos.
pernambucana. são projetos que visam fomentar e difundir a individual por parte de cada professor, que
produção musical autoral, oportunizando o analisa e, em seguida, faz as indicações para os
Há alguns anos, venho acompanhando as espaço para artistas ainda não divulgados nas demais curadores. Posteriormente, o material Programação VII Mostra de Música Leão do
mídias. As suas realizações cumprem um papel Norte
edições da MMLN, participando ativamente em (release, foto, áudios e vídeos) desses grupos
diferentes aspectos, como fruidor dos concertos, importante no cenário musical de cada região, é depositado em uma plataforma digital onde
como exemplo, os de Johnatan Malaquias, pois possibilita o mapeamento dos artistas A programação da VII MMLN aconteceu na
todos os demais professores terão acesso aos
Ivanar Nunes, Spok (V MMLN-2013), Ell Gênio locais de diversos estilos e gêneros (CAMPOS, cidade de Triunfo-PE e contou com concertos,
arquivos e assim poderão analisar cada uma
Duo e Duo Sertão Ibérico (VI MMLN-2014) ou, 2010). oficinas e seminários. Com relação à temática,
dessas indicações.
ainda, envolvendo-me nas oficinas ofertadas ou eixo central dessa edição da mostra, Sônia
por esse projeto, como a de Construção de Em 2009, o Sesc-PE realizou a primeira edição Guimarães, idealizadora da MMLN e analista
Essas propostas são analisadas com base
Pífanos (2013). Em sua 7ª edição, realizada em da Mostra de Música Leão do Norte (MMLN), que da área de música do Sesc-PE, afirmou-me em
nos critérios como: qualidade técnica,
Triunfo-PE (2008), participei da programação teve como objetivo integrar-se à Rede Sesc de uma entrevista que:
como músico/clarinetista com o projeto autoral Mostras de Música. Desde sua primeira edição, autenticidade, representatividade, criatividade,
“Não houve, de partida, uma temática,
Granduo Brasil, duo em parceria com o violonista vem oferecendo ao público uma programação entre outros. Com relação aos critérios da
ela foi se montando a partir de uma
e compositor Rafael Meira, sem dúvida, foi que atende a critérios pré-estabelecidos, qualidade técnica, são avaliados, por exemplo, inquietação da ausência de formas
um divisor de águas em nosso projeto, pois, a compromissada com processos curatoriais que a elaboração da composição, a execução vocais na mostra, que durante a maior
partir dali, começaram a surgir novos contatos proporcionam uma ampliação da experiência musical e a construção dos arranjos do grupo. parte de suas edições e que fez com
e, consequentemente, novas oportunidades estética e apreciação musical pernambucana. A autenticidade está relacionada à identidade nos descuidássemos de buscar, dentro
para realizarmos outros concertos. Na 8ª que o compositor e/ou grupo traz em suas de um universo menos banal, vozes e
edição da MMLN (2016), realizada na cidade Empenhada com aspectos como a pesquisa, as composições e em seu trabalho como um todo, formas musicais que incluíssem o canto
de Garanhuns-PE, participei, como estagiário, fontes culturais locais e as experiências diversas e, consequentemente, a canção é a
ou seja, o diferencial apresentado em cada
de sua produção e pude acompanhar desde a fora do modelo imposto pela indústria cultural palavra como sonoridade. Então a linha
trabalho. A representatividade é associada
curadoria até a sua execução. midiática e massificadora4, a programação geral era a presença da voz na produção
aos aspectos locais, sendo um exercício de
da MMLN conta com apresentações dos musical contemporânea”.
análise e reflexão acerca de como determinado
As experiências vivenciadas como ouvinte/
4 O acesso à produção musical ocorre principalmente através dos compositor tem representado a cultural local As oficinas ofertadas foram: “Coco de Roda:
público participante, como artista e como veículos de comunicação de massa. Sabe-se que esses veículos, no
Brasil, não difundem a vasta produção de maneira heterogênea e, da sua cidade através de sua música. O aspecto da pisada ao verso” (Adiel Luna), “Construção
assistente de produção proporcionaram-me seus vários segmentos, tampouco contemplam a diversidade de
experiências e visões diferenciadas a respeito gêneros, estilos e formas ou abarcam a produção de todas as partes criativo muitas vezes está ligado à construção de instrumentos artesanais e Modalismo”
do país e do mundo. Os meios de comunicação de massa, por con-
da importância da MMLN para a cena musical sequência, acabam impondo uma estética e/ou um gênero musical dos arranjos e re-significação dos sons através (Prof.ª Maria Aida e Prof.º Luiz Kleber). Os
predominante, configurando uma vitrine de expressões artísticas
pernambucana. Assim, busquei abordar neste para consumo imediato. Dessa forma, percebe-se uma grande do uso determinadas instrumentações. Seminários “Processos Composicionais na
influência da “vitrine” a partir da qual o público define suas escolhas
relato de experiência um pouco da minha visão a de consumo, por meio da compra de ingressos para apresentações,
Música Brasileira” tiveram como tema central:
respeito das contribuições para os compositores, mídias físicas, downloads etc. Esta influência se estabeleceu por
É importante mencionar que a MMLN não “Aspectos da Música de Tradição e suas
décadas, através do poder das grandes gravadoras, configurando o
público e para a cultura pernambucana como mercado da difusão da música (CAMPOS, 2010, p. 4). possui um caráter competitivo, e sim, busca reinvenções e articulações na produção atual”,

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em que foram realizadas mesas redondas os compositores selecionados, em sua grande canção popular brasileira: comportamento culturais, principalmente as de música ou, ainda,
durante toda a semana com a presença de maioria, expressaram muito bem esse recorte. vocal e semiótica da canção”, foi desenvolvido terreiros/sedes de grupos com reconhecimento
vários mestres do coco (Aurinha do Coco, Adiel pela cantora e Profª Regina Machado, da local que fazem parte do roteiro de tradições ou
Luna, Ciço Gomes etc.) e a mediação do Prof.º As oficinas oferecidas foram “Paisagem sonora: Universidade de Campinas (Unicamp-SP), que fazeres culturais daquela cidade. São terreiros
José Amaro, professor aposentado do Curso de da escuta a criação”, conduzida pela Profª. propôs a apreciação do contexto sociocultural de fruição cultural e artística das cidades onde
Música da UFPE. Janete El Haoulie (PR) e “Vozes do Mundo”, de surgimento e do resultado artístico da a mostra acontece: Ilha do Massangano , em
pelo grupo Mawaca (SP). A Profª Haouli propôs, denominada Vanguarda Paulista, geração de Petrolina; Alto do Moura, em Caruaru; ; Casa
O momento dos portfólios buscou apresentar em sua oficina, um passeio sonoro por diversos compositores e intérpretes que reconfiguraram da Gente Coletivo Tear - Fazenda Macuca, em
os principais aspectos utilizados no processo lugares por meio da escuta, proporcionando o fazer cancional, bem como arriscaram novas Guaranhuns; ; Cruzeiro Novo, Cruzeiro Antigo
composicional das obras de cada compositor aos alunos a identificação dos variados modos e radicais propostas para a voz na canção e CECORA, em Arcoverde. Os concertos dos
e/ou grupo. Ocorreram sempre após os de expressão sonora/musical em diferentes brasileira. O quarto seminário foi ministrado compositores (grupos criadores) contaram
seminários e com uma duração de em média sociedades. A oficina “Vozes do Mundo” foi pelo Prof.º Luiz Kleber e abordou a conceituação com a presença de Riá Oliveira (Caruaru),
quinze minutos para cada compositor/grupo, conduzida pela diretora musical do grupo da canção de câmara brasileira, breve histórico Thiago Martins (Recife), André Maria (Recife),
sendo dois compositores por dia. Mawaca Magda Pucci e as cantoras do grupo (das modinhas coloniais à construção do lied Quinteto Pedra Linda (Petrolina), Alexandre
Zuzu Leiva e Rita Braga, que, através das nacional) e principais compositores e obras Revoredo (Garanhuns), Grupo Instrumental
Além dos grupos que foram submetidos ao atividades, promoveram a reflexão sobre o do repertório Canção de Câmara Brasileira. Brasil (Recife), Paulo Matricó (Recife) e Sexteto
processo curatorial, a programação da VII papel da música como forma de conhecimento, Além dos seminários, no penúltimo dia da Tabajara (Goiana).
MMLN contou com artistas e grupos do gênero focado no multiculturalismo, sobre as formas mostra, aconteceu um encontro-palestra com
de tradição oral Coco, sendo eles: Coco da de se fazer música no mundo, desde canções a Prof.ª Janete El Haouli intitulado “Radiofonia Diferentemente do formato da VII MMLN, a
Xambá - Grupo Bongar; Matinada; D. Glorinha asiáticas, ritmos indianos e balcânicos, temas como arte”, que apresentou e propôs uma oitava edição da mostra inseriu os portfólios
do Coco; Coco de Santa Luzia; Coco de Pareia árabes, polirritmias africanas, melodias ibéricas, reflexão sobre a maneira como os sons, as dos compositores dentro do “Experimentear”.
(SE); Coco Trupé de Arcoverde; Coco de Zambê entre outras. músicas, os silêncios, os diferentes e diversos O Experimentear aconteceu no período da
(RN); Aurinha do Coco e Coco das Abelhas ambientes sonoros (paisagens sonoras) e as noite após os concertos de cada grupo criador
(Carnaíba). Além deles, o grupo Cristaleira, Os seminários “Processos composicionais na palavras podem oferecer múltiplas conexões, e se dividiu em dois momentos. O primeiro
grupo musical autoral de Triunfo-PE, que traz música brasileira” contaram cada dia com possibilidades de relações para o rádio, esse momento esteve direcionado às apresentações
forte influência da música de tradição oral e uma temática diferente. O primeiro seminário, veículo de comunicação acústico, criador e dos portfólios de dois compositores por dia.
da poesia, e um grupo de reisado também “Vozes e Ritos”, foi ministrado pela Prof.ª Magda multiplicador de informações sonoras e de No segundo momento, foram realizados os
estiveram inseridos a programação da mostra. Pucci e abordou as vozes do mundo em sua imagens acústicas. “experimentos” que propuseram uma junção
Já os compositores/grupos selecionados pela dimensão antropológica, através da audição de dos dois compositores, sendo eles mediados por
curadoria foram: Granduo Brasil (Caruaru); diversos exemplos musicais, identificando as Dos concertos dos grupos convidados, outro artista. Os três primeiros experimentos
SomTrio (Garanhuns); Felipe Barnabé (Goiana); várias formas de expressão vocal de diferentes estiveram na programação: Mawaca (SP), foram mediados por Pierre Tenório, Da Ilha pra
Opará Brass (Petrolina); Quarteto Variante locais e pessoas conforme suas ações, ritos e Pierre Tenório (Belo Jardim-PE), Da Ilha Pra Cá Cá e Rubi Waf.
(Caruaru); Sertão Quinto (Garanhuns); Marhesur situações de vida. O segundo seminário, “A (Petrolina-PE), Regina Machado (SP), Rubi Waf
Trio (Jaboatão dos Guararapes); Duo Alexandre voz além da palavra: poéticas sonoras”, foi (SP), Contracantos (Recife-PE). No sábado,
Rodrigues e Gutenberg Alves (Belo Jardim); ministrado pela Prof.ª Janete El Haouli que na fazenda Macuca, localizada no distrito de Diferentes Olhares: Ouvinte, Músico e
Estagiário
Núcleo Contemporâneo de Choro (Recife). apresentou o conceito de ‘voz-música’, por Correntes em Garanhuns-PE, onde acontece
ela desenvolveu em sua pesquisa sobre o um festival de música há mais de dez anos, os
Conforme foi mencionado no início deste
artista Demetrio Stratos (1945-1979) e sobre grupos de Coco de Santa Luzia (Garanhuns-PE)
Programação VIII Mostra de Música Leão do as poéticas sonoras de outros artistas, com o e Coco de Tebei (Tacaratu-PE) realizaram uma trabalho, estive presente como ouvinte em
Norte algumas edições da MMLN, por exemplo, na sua
objetivo de compreender de que modo pode apresentação. Os lugares que são ocupados
ocorrer a percepção através de uma escuta pelo Sesc em ações paralelas na mostra, quinta edição, em Caruaru-PE. Assisti a alguns
Realizada em Garanhuns-PE, a VIII MMLN portfólios, concertos e também participei de
ampla da ´voz-música’ e não vinculando-a como a fazenda da Macuca, mantém com a
apresentou um recorte relacionado à voz. As exclusivamente à palavra e ao discurso de cidade é a sua produção cultural uma relação uma oficina ministrada pelo maestro Spok. Os
oficinas, os seminários, os grupos convidados e cunho verbal. O terceiro seminário, “A voz na de pertencimento e de fluxo local de ações portfólios aconteceram no período da tarde

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com os compositores que se apresentariam à estrutura desse projeto, que não busca apenas Experimentear. soma de todos esses fatores (o destaque
noite. Durante os portfólios, não estive presente, apresentar composições, e sim, através de suas é nosso) (NOGUEIRA, 2014, p.26).
em termos de número, um público considerável. ações formativas, proporcionar diálogos e o Durante essas três programações, foi possível
Essa ausência talvez se justifique por causa do intercâmbio cultural. A programação foi muito constatar que os portfólios funcionaram melhor O território pernambucano no aspecto das
horário, tendo, em média, um público entre dez intensa e rica durante toda a semana. após os seminários, pois dialogaram melhor dimensões locais já proporciona, devido a sua
e quinze pessoas. As oficinas do maestro Spok com a proposta dos seminários, que buscaram diversidade geográfica apresentada em suas
e do mestre João do Pife ocorreram sempre Como estagiário, pude acompanhar os tratar de assuntos relacionados aos processos mesorregiões (do São Francisco, do Sertão
no período da manhã e, muito embora as duas bastidores da VIII MMLN, desde a curadoria até a composicionais na música brasileira. Considero Pernambucano, do Agreste Pernambucano, da
estivessem ocorrendo ao mesmo tempo, ambas sua execução. O processo curatorial já havia sido também que os diálogos apresentados durante Mata Pernambucana e Metropolitana do Recife),
tiveram uma boa quantidade de alunos. iniciado quando eu entrei no estágio, mas ainda os portfólios talvez funcionassem durante a não só a existência de uma cena musical, mas
estava praticamente na fase de recebimento execução das obras nos concertos. também de várias cenas. No Recife-PE, por
Na sua sexta edição, também em Caruaru- das indicações por parte de cada professor. exemplo, há uma predominância maior da cena
PE, só consegui ir para alguns portfólios e A primeira etapa desse processo foi realizada A seguir, serão apresentadas algumas do frevo quando comparada com outras cidades
concertos, que seguiram o mesmo formato da de maneira individual em que cada professor considerações sobre Cena Musical a fim de, do mesmo estado. Já em Caruaru-PE, há uma
edição anterior. Os portfólios foram à tarde e busca grupos regionais que dialoguem com as mais adiante, analisarmos as contribuições da cena do forró mais consolidada. “A noção de
os concertos à noite e, assim como na quinta propostas da mostra. Em seguida, os materiais MMLN sob essas perspectivas. cena musical (o destaque é dos autores) almeja
edição, durante as tardes o público não foi desses grupos indicados, individualmente, justamente proporcionar uma imagem mais
numeroso. foram disponibilizados em uma plataforma nítida desta relação entre o local e a música que
digital, onde todos os demais professores Cena Musical: Algumas Considerações se produz nele” (FILHO e FERNANDES, 2005,
Durante a VII MMLN, em Triunfo-PE, estive tiveram acesso aos arquivos (release, fotos e p.6).
presente como músico e assim foi possível áudios) e, assim, puderam analisar cada uma É muito frequente escutarmos o termo cena
participar da programação completa. As dessas indicações. As análises foram feitas em musical atribuído a um determinado local (cena Sob o aspecto econômico existente em uma
oficinas Modalismo, “Coco de Roda: da pisada uma tabela em que cada professor apresentou pernambucana, cena carioca, cena paulistana cena, é importante mencionar que uma cena
ao verso” e “Construção de Instrumentos os pontos relevantes de cada trabalho que etc.) e/ou a um determinado gênero musical gera produtos, sejam shows, artistas, CDs, DVDs
Artesanais” ocorreram sempre no período da estava sendo submetido ao processo curatorial (cena do rock, cena punk etc.). Segundo etc. Essa questão econômica envolve desde os
manhã, mas, devido ao choque de horários, e, por fim, justificava se o grupo deveria estar Straw (1991) apud Filho e Fernandes (2005, artistas aos produtores de eventos, além de
não foi possível participar das três durante inserido ou não dentro da programação da p.5-6), a cena musical é “[...] um espaço envolver, de forma indireta, outros sujeitos,
todos os dias da programação. No período da mostra. Durante essa etapa, notei que algumas cultural no qual diversas práticas musicais como comerciantes de lanches, bebidas etc.
tarde, aconteceram os seminários “Processos indicações estavam destoantes da proposta coexistem, interagindo por meio de processos Isso tudo se insere em uma cadeia produtiva.
Composicionais na Música Brasileira: Aspectos da mostra, faltando um olhar individual mais de diferenciação, de acordo com trajetórias O aspecto simbólico é muito forte em nosso
da Música de Tradição e suas reinvenções e apurado por parte de cada curador. Outra variantes de mudança e fertilização mútua”. estado, a ponto de tal reconhecimento
articulações na produção atual” e, em seguida, questão foi com relação ao atraso nos prazos e sentimento de pertencimento cultural
os portfólios dos compositores selecionados preestabelecido pela coordenação da mostra Todas essas práticas musicais, segundo ser conotado como um bairrismo dos
por meio do processo curatorial. Os portfólios para o envio e o recebimento das tabelas de Nogueira (2014), tencionam as possibilidades pernambucanos. As relações culturais e
foram realizados sempre um dia antes dos curadoria, que talvez se justifique por esse de pensar territórios e territorialidades: afetivas são ainda mais evidentes em grupos
O território tem compreensões de tradição oral, como os de coco, maracatus,
concertos de cada compositor e, conforme as processo ser paralelo à demanda de trabalho
multidisciplinares que o definem
outras edições, pude constatar que não teve local de cada professor. bandas de pífano etc. Além disso, tais relações
em função de dimensões locais
um grande público presente durante esse culturais somadas às inquietações urbanas
(geográficas e naturais), econômicas
momento. Os concertos de artistas convidados A execução do projeto ocorreu um pouco proporcionaram o surgimento de novas cenas
(o que se produz no território e quem
e dos compositores aconteceram à noite no diferente das edições anteriores. As oficinas o faz), simbólicas (relações culturais e musicais, como a cena autoral.
Cine Theatro Guarany, sendo dois compositores permaneceram no período da manhã, bem afetivas entre grupos e indivíduos) e
a cada dia. como os seminários que continuaram à tarde. sociopolíticas (relações de poder entre A cena autoral pode ser caracterizada como
Já os portfólios passaram para a noite após os quem domina e é dominado), enquanto sendo uma produção musical não difundida
Participar da VII MMLN permitiu compreender a concertos, na parte da programação chamada as territorialidades tentam fazer uma pela grande mídia e nem tampouco destinada

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ao público de massa. No Recife-PE, nos últimos cena musical pernambucana, a primeira diz de um espaço, que antes era muito restrito, (1991), Filho e Fernandes (2005) e Nogueira
anos, nota-se uma ampliação de espaços respeito ao protagonismo dos compositores. principalmente para a música instrumental e (2014), foi possível entender melhor a cena
destinados a trabalhos autorais, como, por A mostra proporciona o espaço para os para a música popular. Dessa forma, também musical e relacioná-la à ideia de territorialidade.
exemplo, os projetos Mostra de Música Leão do novos compositores pernambucanos contribui para a criação de um público ouvinte Partindo desse princípio de territorialidade
Norte (Sesc-PE), Ouvindo e Fazendo Música, que, em sua maioria, não possuem ainda e apreciador dessas práticas musicais. (dimensões locais, econômicas, simbólicas e
no Museu do Estado de Pernambuco, e Hora um trabalho reconhecido no estado. Isso sociopolíticas), foi possível constatar que, em
do Frevo no Museu Paço do Frevo. Percebe-
acaba impulsionando a produção de novas Outro fator importante da mostra diz Pernambuco, devido à sua extensão territorial e
se também que há uma ampliação do público
composições e experimentação de novas ideias respeito ao caráter inovador apresentado nas por sua riqueza cultural, há uma pluralidade de
presente nessas programações. Além dos
e sonoridades. Com base no texto apresentado programações de cada edição. Essa inovação cenas musicais.
espaços físicos, os espaços digitais, por meio
na Política Cultural do Sesc: se deve principalmente aos olhares dos
das redes sociais (Facebook, Soundcloud,
A criação pode ser entendida como curadores que buscam nos artistas e grupos Em razão do recorte deste estudo, o enfoque
Instagram e os streamings, como Spotify),
um ato contínuo de invenção, fruto da algo diferenciado, singular, novas sonoridades, maior foi dado à cena musical autoral.
somados à facilidade de gravação em Home
reflexão e elaboração intelectual, que experimentações e qualidade na construção Constatamos que a cena autoral pernambucana
studios, têm contribuído muito para a divulgação
se dá a partir da relação homem com
de novos compositores. A existência de espaços das composições e arranjos. vem se fortalecendo a cada ano, através da
o meio, sendo a experimentação um
e de um público interessado em música autoral, difusão proporcionada pelas redes sociais e
processo de criação, aberto à pesquisa
consequentemente, desperta o interesse em Ainda sobre as contribuições, identificamos um pela ampliação dos espaços para apresentações
de novas possibilidades, sejam elas
novos compositores em produzirem cada paralelo com as ideias propostas por Nogueira promovidos por projetos como a Mostra de
materiais ou discursivas, com caráter
vez mais novas composições. Desse modo, ensaístico, cuja matriz está na busca (2014), de maneira que, no aspecto ‘dimensões Música Leão do Norte (Sesc-PE), Ouvindo
consideramos que o tripé ‘compositor-espaço- por novas possibilidades no campo das locais’, a cada ano, a mostra é realizada em uma e Fazendo Música, no Museu do Estado de
público’ vem permitindo a consolidação da artes (SESC, 2015, p.28). cidade diferente e a sua programação (ações Pernambuco, e Hora do Frevo no Museu Paço
cena musical autoral pernambucana.
formativas e concertos) dialoga com espaços da do Frevo. Além disso, a facilidade de gravação,
O encontro dessas criações e criadores, nos cidade. As questões econômicas se expressam através dos home studios, tem contribuído para
As questões sociopolíticas de uma cena musical espaços de realização da mostra, provoca um por meio de uma cadeia produtiva que envolve o registro e divulgação das obras dos novos
são propostas por Nogueira (2014) como uma intercâmbio cultural com reflexões e troca de palestrantes, músicos, fotógrafos e, mesmo compositores.
relação de poder entre quem domina e quem experiências, ou seja, há uma interação entre os que afetando pouco, podemos considerar que
é dominado, ficando evidente em grandes diferentes sujeitos participantes (compositores, também há uma movimentação econômica Com base no referencial teórico apresentado
eventos musicais como em programações de palestrantes e oficineiros) e consequentemente na cidade em que ocorre a sua programação. neste relato, somado às minhas experiências
prefeituras durante os períodos de carnaval e entre as suas práticas musicais. O aspecto simbólico foi muito evidente na vivenciadas como ouvinte, músico e estagiário
de festas juninas. Essa relação de poder ainda
VII MMLN com uma programação e ações de alguns das edições da MMLN, foi possível
pode ultrapassar esse limite entre curador e Esse espaço musical da mostra contempla as formativas que apresentaram diversos tipos apontar e registrar algumas contribuições que
artista quando, por exemplo, há a presença de mais variadas práticas musicais, sejam elas de Cocos. Na VIII MMLN também estiveram esse projeto vem oferecendo para a cena musical
um patrocinador que será quem, de fato, vai eruditas, populares, vocais e/ou instrumentais, presentes dois grupos de Coco. As questões autoral pernambucana. Das contribuições
determinar as principais escolhas de um projeto. pois segundo a Política cultural do Sesc: sociopolíticas existentes na MMLN diferem do identificadas, as mais expressivas referem-se à
É por meio da cultura que os grupos conceito trazido por Nogueira (2014), pois não ampliação do espaço para novos compositores
expressam, se identificam, se há uma relação de quem domina e de quem é do estado e o intercâmbio cultural.
Contribuições da Mostra de Música Leão diferenciam e se afirmam; assim a
do Norte para a Cena Musical Autoral dominado. Entretanto, podemos considerar que
diversidade cultural compreende os
Pernambucana a questão sociopolítica presente nesse projeto Assim, concluímos que a Mostra de Música Leão
variados modos de criação, realização,
difusão, e fruição dessas expressões,
se configura através de uma política cultural do Norte vem se consolidando a cada edição
A partir das experiências que vivenciei nas 7ª e e valorizá-la significa reconhecer que expressa um diálogo entre a cultura e a e, quando comparada aos outros projetos
8ª Mostras de Música Leão do Norte, buscarei as diferenças, conferindo-lhes igual sociedade. relacionados à música autoral em Pernambuco,
traçar algumas reflexões sobres as possíveis dignidade (SESC, 2015, p.24). podemos considerá-la como sendo um dos
contribuições dessa mostra para a cena musical projetos pioneiros. A grande maioria dos
pernambucana. Através do reconhecimento e da valorização Considerações Finais trabalhos de compositores e grupos que já
das diferentes práticas musicais, a MMLN tem participaram da mostra permanecem ativos,
Dentre as contribuições da MMLN para a contribuído de forma direta para ampliação Com base nos estudos realizados por Straw
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ampliando o número de suas composições e
parcerias.
Um debate sobre as políticas de enfrentamento
ao trabalho infantojuvenil: limites e avanços
Referências
A debate on the policies of facing infant-youth work: limits
CAMPOS, Wagner. Módulo Político Música.
Departamento Nacional, 2010.
and advances

FILHO, João Freire e FERNANDES, Fernanda


Marques. Jovens, Espaço Urbano e Identidade: Darvely Eveliny Falcão de Amaral1
reflexões sobre o conceito de cena musical. Intercom Milena Rafaela Silva2
– Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares Girlan Guedes dos Santos3
da Comunicação XXVIII Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação – UERJ – 5 a 9 de set. de
2005. Resumo: O presente estudo visa fazer uma reflexão sobre as políticas de enfrentamento do trabalho infantil,
tendo como base o trabalho social realizado com adolescentes no Sesc Ler São Lourenço da Mata. Também
tem como objetivo sintetizar a história do trabalho infantil e seus desdobramentos políticos, culturais e
FREVO, Paço. Disponível em: <http://www. sociais, bem como bem como instigar a discussão acerca dos impactos da inserção precoce da criança e do
adolescente no mercado do trabalho. Em seu desenvolvimento, foi constatado o entendimento da profissão
pacodofrevo.org.br> Acesso em: 01 de ago. de 2017.
de assistente social como inerentemente comprometida com os interesses da classe trabalhadora, lutando
pela viabilização dos direitos de usuários e, ainda, como categoria que busca incessantemente contribuir
GUIMARÃES, Sônia. Implantação do Programa de para o fortalecimento e a ampliação dos direitos da criança e do adolescente.
Música do SESC-PE, 2013. Palavras-chaves: Trabalho Infantil. Assistente Social. Políticas Sociais.

NOGUEIRA, Bruno Pedrosa. Pensando a cena musical Abstrat: The present study aims to make a reflection about the combat against child labour policies based
a partir dos territórios informais. Contemporânea, on studying the Sesc Read São Lourenço da Mata, within the program of assistance, social work with
adolescents. Presents the objective synthesize the history of child labour and their political, cultural and
ed.24, vol.12, n.2, 2014. social developments; as well as instigating discussion about the impacts of early insertion of children and
adolescents into the labour market. In your development was noted the understanding of the Social Service,
OUVINDO E FAZENDO MÚSICA NO MEPE. as a profession inherently committed to the fight and the interests of the working class, with the struggle
for viability of the rights of their users, and even as a category to search incessantly contribute to the
Disponível em: <http://www.museudoestadope. strengthening and expansion of the rights of children and adolescents.
com.br/acontece> Acesso em: 01 de ago. de 2017.
Key words: Child Labour. Social Worker. Social Policies.
SESC, Nossa História.

Disponível em: <http://www.sesc.com.br/portal/


sesc/o_sesc/nossa_historia/> Acesso em: 17 de nov.
2016.

SESC. Departamento Nacional. Política Cultural. Rio


de Janeiro: Sesc, Departamento Nacional, 2015.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do


trabalho científico. 21. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Cortez, 2000.

1 Autora - Graduada em Serviço Social pelo Centro Universitário Maurício de Nassau. Pós-graduanda em Serviço Social e Gestão de Políti-
cas Públicas pela Faculdade Alpha. Inscrita pelo CRESS/PE Nº 10.993. E-mail: darvillyeveliny_@hotmail.com
 2 Orientador – Graduada em Serviço Social pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Especialista em Saúde Pública e Assisten-
te Social d do Serviço Social do Comércio (Sesc) em Pernambuco.

3 Editor do Artigo - Graduado em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba –(UEPB). Mestrando do Programa de Pós-Gradua-
ção em Serviço Social (PPGSS-UEPB), vinculado ao Núcleo de Pesquisas em Política Social da Saúde e Serviço Social. E-mail: girlan-sax@
outlook.com

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Introdução Este artigo possibilitará suporte teórico e pro- O desencadear da exploração do trabalho in- nacionalistas, propiciando a superação
fissional na área do Serviço Social, sendo o fun- fanto-juvenil ganhou força e proporção com o da preguiça e da ociosidade. A classe
A presente produção tem como objeto de pes- início da Revolução Industrial e a estruturação dominante fazia apologia do trabalho
damento teórico um importante aparato na in-
quisa os adolescentes do grupo social do Sesc infantil como solução para todas as
tervenção cotidiana do profissional, diante das do regime econômico capitalista.
distorções da sociedade, sobretudo as
Ler São Lourenço da Mata, visando sintetizar a expressões da questão social que estão postas
morais. (PADILHA, 2016, p. 03).
história do trabalho infantil e os seus desdobra- nos espaços de trabalho, para que, assim, no O trabalho infantil no mundo pode ser conside-
mentos políticos, culturais e sociais, propondo fazer profissional, os profissionais tenham ele- rado um fenômeno social historicamente anti-
instigar esta discussão acerca dos impactos em É notório perceber que as consequências do
mentos para lutar pela erradicação do trabalho go, que teve relação com o modo de produção
decorrência da inserção precoce da população trabalho infantojuvenil são muito perigosas e
infantil, garantindo a efetivação dos Direitos da economia, onde podemos levar em consi-
infantil no mundo do trabalho. prejudiciais para a saúde física, mental, moral
Humanos. deração que, durante a Revolução Industrial, é
e social de uma criança ou adolescente, pois
evidenciada a exploração da classe trabalhado-
Vislumbra-se, a partir de uma consideração de faz com elas se privem de viver o que cabe às
ra, estando esse fato associado à contradição
nossa conjuntura sócio-histórica impulsionada mesmas de direito, obrigando-as, muitas ve-
O trabalho infanto-juvenil no Brasil: história, Capital versus trabalho.
pelo capital, que produz e reproduz relações zes, a abandonar prematuramente a escola ou
limites e avanços contemporâneos
sociais, sendo o sistema econômico vigente a influenciando no rendimento e na frequência
Fazer um resgate do processo histórico no Bra-
causa inerente à existência da questão social, escolar, pois um trabalho longo e pesado afe-
Considera-se trabalho infantil um fenômeno so- sil é compreender a invisibilidade da falta de
que, por sua vez, articula seus próprios inte- ta drasticamente qualquer pessoa que busca o
cial refletido sob uma ótica mundial de forma proteção à criança e ao adolescente enquanto
resses antagônicos na sociedade, afetando - conhecimento; ainda mais uma criança ou ado-
expressiva e contundente, difundido através da fenômeno expressivo da violação de direitos,
de forma contundente - a classe trabalhadora
sendo mais incisivo nas condições básicas de lescente.
e ofertando os mínimos sociais. Diante da in- utilização da mão de obra infantil. É caracteri-
zado ainda trabalho por prática de exploração desenvolvimento infanto-juvenil.
fluência da esfera do modelo neoliberal que,
No mundo contemporâneo, o trabalho infantil
constantemente, cria e recria mecanismos que de crianças e adolescentes, que corresponde à
Desta forma, a realidade concreta do cenário ainda se manifesta expressivamente, contudo, a
apresentam estratégias a fim de “maquiar” as inserção precoce desses sujeitos em atividades
brasileiro perpassa pelos elementos estruturais reprodução é posta através de “novas” formas
expressões da questão social, as consequências insalubres e perigosas, em condições desuma-
da dinâmica do sistema capitalista, tais como: de exploração da força de trabalho. A precari-
e as formas nas quais se expressam as maze- nas e degradantes, paralelamente à violação de
las inerentes à exploração do trabalho infantil, a exclusão social, a exploração do trabalhador zação do trabalho, o desemprego, o exército in-
direitos fundamentais para o crescimento e de-
tema central deste estudo para apresentação e a precarização das relações de trabalho em dustrial de reserva e a falta de políticas públicas
senvolvimento humano:
no XV Seminário de Produção de Conhecimen- As condições de desigualdades prol da concentração de riqueza, favorecendo efetivas são fatores que demandam a interven-
to Sesc em Pernambuco. sociais são fatores predominantes na a exploração do trabalho infantil. ção do assistente social, muitas vezes, exigindo
exploração do trabalho de crianças e a busca de novas proposições e/ou estratégias
No Brasil, a exploração do trabalho infantil exis- adolescentes, decorrentes do modo As causas são complexas para se compreender a fim de destrinchar as expressões da questão
te desde o momento em que o homem europeu capitalista de produção. Essa situação o trabalho infantil como expressão da questão social maquiada nas relações contraditórias ex-
é evidenciada quando se verificam
pisou em solo brasileiro, ou seja, desde a coloni- social, tais como: a herança escravocrata e as postas no sistema econômico capitalista.
elevados percentuais de pessoas
zação, porém, com o advento da Revolução In- condições econômicas da população brasileira,
vivendo abaixo da linha de pobreza [...]
dustrial no século XVIII, que a relação das crian- intitulados às práticas repressivas, às interven- Segundo dados apresentados por Caoli (2015),
(SOUZA e SOUZA, 2010, p. 54).
ças com o trabalho agrava-se, fato esse que ções no universo privado e à moralização pelo estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e
será constatado a partir de um processo históri- trabalho. Estatística (IBGE) e a Pesquisa Nacional por
Ao longo do desenvolvimento das sociedades,
co-dialético, as lutas do proletariado, com forte
no que se refere ao contexto mundial para se Amostra de Domicílio (PNAD) mostraram que
atuação conjunta e organizativa dos sindicatos Padilha (2009), ainda menciona que:
entender a origem desse fenômeno, o trabalho cresceu o trabalho infantil no Brasil em 2014.
da época contra essa exploração, contribuirão, [...] Abolida a escravatura, sobreveio uma
infantil só foi vivenciado pelas crianças e ado- No ano, havia 554 mil crianças de 5 a 13 anos
em dado momento histórico, para a criação de nova ideologia do trabalho revestida
lescentes oriundas das classes subalternas, se- trabalhando. Esse número é 9,3% maior do que
leis, que serão elaboradas com finalidade de de uma roupagem dignificadora
jam elas das condições políticas, da distribuição e civilizatória, que viria, inclusive, em 2013, quando registrou 506 mil conforme
proteção da própria classe trabalhadora e tam-
de renda ou da condição de criança. despertar nos brasileiros sentimentos Gráfico 01 abaixo.
bém das crianças do trabalho infantil.

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GRÁFICO 01: Dados acerca do Trabalho Infan- Tal programa foi criado em 2003. Convertido zadas pela lei, que envolvem a erradicação do e VERONESE, 2007 apud SOUZA e SOUZA,
til no Brasil em 2014 – IBGE. em Lei em 2004, unificou outros programas trabalho infanto-juvenil e o acesso a direitos, 2010).
já existentes, como a Bolsa Escola, Cadastro tais como: educação, saúde, alimentação, mo-
Único, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e Fome radia e lazer. Finalmente, é preciso enfatizar a urgência do
Zero, todos com o mesmo objetivo de ajudar empenho para vencer as limitações do con-
financeiramente famílias mais pobres ou com Por fim, com objetivo de proporcionar aparato junto de garantias de direitos da criança e do
outros fatores que se enquadrassem nessa dis- teórico para estudantes, pesquisadores e pro- adolescente na eficaz erradicação do trabalho
tribuição. Além da importância dos programas fissionais acerca da temática deste estudo, in- infantil, com o exclusivo cuidado e a insuficien-
que incentivam jovens e crianças na geração de tegramos a metodologia aplicada com os resul- te capacidade de atendimento da demanda do
renda, na diminuição da pobreza e na inserção tados alcançados partir desta produção. Conselho Tutelar e do Programa de Erradica-
na sociedade, seria preciso políticas que plane- ção do Trabalho Infantil. É necessária a conso-
jassem e verificassem tais intervenções e suas Vale frisar que existem diversas formas que se lidação da interação da Rede Municipal de pro-
consequências na vida desses indivíduos. expressam como exploração do trabalho in- teção à criança e ao adolescente abrangendo
fantil, seja no campo ou no meio urbano, mui- um acordo capaz e eficaz para a elaboração de
Fonte: CAOLI (2015). Com isso, visando ao esclarecimento e/ou co- tas crianças têm sua infância roubada através uma proposta para a prevenção e a superação
nhecimento dos usuários que são parte inte- do trabalho forçado, muitas vezes por seus da dificuldade de integração do sistema de ga-
Desde os anos 1990, surgiram diversos progra- ressada deste estudo, pois nem sempre são próprios familiares, vício em drogas, ou sim- rantias de direito.
mas, leis, políticas e mecanismos de interven- orientados referentes às leis que regem os seus plesmente ausência de estrutura familiar. Esta
ções do trabalho infantil no Brasil. Dentre os direitos, foi realizada às 15h do dia 25 de ou- exploração se reproduz nas mais variadas for-
O fenômeno social do trabalho infantil nega di-
quais, pode-se citar o Programa de Erradica- tubro de 2017, no Sesc Ler São Lourenço da mas, através da prostituição, tráfico de drogas,
reitos fundamentais cotidianamente às crianças
ção do Trabalho Infantil (PETI), talvez o mais Mata, uma intervenção pela estagiária autora trabalho em semáforos vendendo balas, por
e adolescentes, restringindo o acesso à educa-
conhecido. O PETI é um programa do Governo deste artigo, hoje assistente social inscrita pelo exemplo, trabalho sob condições desumanas
ção, ao lazer, à cultura e à convivência familiar
Federal que visa erradicar todas as formas de Conselho Regional de Serviço Social nº 10.993, ou insalubres. Segundo a Constituição Federal
trabalho de crianças e adolescentes menores e comunitária. Não obstante, as políticas sociais
com o grupo social de adolescentes frente a de 1988, é permitido o trabalho infantil como
de 16 anos e garantir que frequentem a escola e os fundamentos jurídicos que abarcam o en-
esta questão. Foi disponibilizado o espaço da aprendiz a partir dos 14 anos de idade mediante
e atividades socioeducativas. É um programa frentamento a esse problema, preconizados e
Biblioteca para a realização das orientações toda proteção legislativa que é oferecida.
que garante inúmeros benefícios, sejam eles fi- assegurados no Estatuto da Criança e do Ado-
com a supervisora, também foi disponibilizado
nanceiros, de capacitação dos familiares, e do lescente (ECA) - Lei Federal nº8.069/90­; na
um equipamento de Datashow pela equipe de Segundo Custódio (2009)
próprio adolescente para a geração de renda, Constituição Federal de 1988; nas Convenções
Informática para a apresentação dos slides ela- [...]mais um fator a ser destacado é o
já que o público-alvo são justamente crianças e trabalho sem remuneração das crianças n° 138 e 182 da OIT; na LOAS – Lei Orgânica
borados para facilitar a compreensão do gru-
adolescentes com o objetivo de tirá-los do mer- e dos adolescentes, em atividade de Assistência Social e na CLT- Consolidação
po feita pela autora, trabalhando a afeição do
cado de trabalho infantil que é explorador. doméstica familiar, considerado na das Leis Trabalhistas, há uma construção de um
grupo para o aprendizado. A análise minuciosa
maioria das vezes como cooperação às abismo social pertinente e ratificado pela luta
do estudo faz perceber que, por mais avanços
Em consequência do PETI, surgiu a Bolsa Famí- famílias. É necessário diferenciar tarefa de classes que reproduz, assim, o crescimento
que tenhamos adquirido no Brasil, ainda temos
lia como instrumento de erradicação ou dimi- e trabalho. E ainda: “que a mão de obra
constante da exploração de trabalho infanto-ju-
nuição também da pobreza. Ramos (2015) su- fragilidades acerca do trabalho infanto-juvenil. infantil sempre foi utilizada como uma
venil no Brasil.
gere, em seu estudo, que, dentre os fatores que Precisamos discutir mais acerca desta temática. mão de obra de pequeno custo ou sem
estariam ligados à diminuição da pobreza, está custo algum, sempre à subordinação da
Foi realizada uma discussão sobre o que é tra- família. (CUSTÓDIO, 2009 apud SOUZA O fato é que, além das políticas e ações públi-
o Programa de Transferência de Renda - Bol-
balho infanto-juvenil, fazendo um resgate his- e SOUZA, 2010). cas voltadas à erradicação do trabalho infanto-
sa Família. A partir disso, o autor defende que
“Os programas de transferência de renda com tórico do marco da proteção da criança e do -juvenil, há que se falar das ações e programas
condicionalidades seriam particularmente bem adolescente: o Estatuto da Criança e do Ado- De acordo com Custódio e Veronese (2007), a não-governamentais que contribuem efetiva-
focalizados e, nesse sentido, teriam tido impac- lescente (ECA), dos programas e das políticas exploração do trabalho infantil está enraizada mente nesse combate constante travado na re-
to direto sobre a pobreza e a distribuição” (RA- sociais que reafirmam estas garantias preconi- na cultura de variados locais, indício do pas- sistência e no enfrentamento dessa problemá-
MOS, 2015, p. 04). sado, resistente à transformação. (CUSTÓDIO tica.

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No cotidiano profissional, é importante estar O estigma naturalizador, cultural e social do ticas sociais, sendo fundamental reiterar a ne- cas de combate ao trabalho infantil. É notório
atento à realidade, extrapolando os limites do trabalho infantil como prática moralizadora, cessidade de políticas sociais. Somente assim, observar um grande avanço nos dias atuais,
imediatismo; compreendendo como se apre- que pactua com o desenvolvimento da popu- as ações integradas serão capazes de mobilizar comparado a outros momentos da história,
senta as expressões da questão social, bus- lação infanto-juvenil, é elemento favorável para toda a sociedade no combate ao trabalho pre- todavia, ainda há um número acentuado de
cando as particularidades da demanda sob a a perpetuação do trabalho infantil. É necessário coce, protegendo a população infanto-juvenil crianças e adolescentes inseridos no trabalho
intervenção profissional; galgar as três dimen- requerer do Estado, enquanto garantidor dos contra qualquer tipo de negligência, explora- precoce, acarretando problemas físicos e psi-
sões que materializam o fazer profissional, a di- direitos, traçar estratégias que visem fomentar ção, violência, crueldade e opressão. cológicos irreversíveis.
mensão teórico-metodológica, ético-política e a ampliação do sistema de garantia de direitos
técnico-operativa; para que, através das media- relacionados à promoção e proteção da criança Os instrumentos de proteção contra a explora-
ções, possa permitir compreender as causas do e do adolescente. Conclusões ção do trabalho infantil surgem com a perspec-
tiva de atenuar esta prática, sendo intensificado
fenômeno apresentado. Também é fundamen-
É necessário reiterar que a problemática do tra- pelos Direitos Humanos atrelados a um sistema
tal construir uma postura crítica, sem que haja
Resultados balho infantil ainda existe como reflexo político, garantidor e protetor junto com a ONU e suas
juízo de valor e/ou pré-julgamento, compre-
cultural e social. Não é fácil fazer uma leitura agências, tratados e convenções, enxergando
endendo o cerco cultural, realizando estudos,
Considerando a análise de caráter qualitativo, crítica acerca deste contexto do trabalho in- com mais clareza as realidades de violações de
abordagens e articulando as redes de serviços.
desenvolvida a partir de uma palestra discursi- fantil, que esteve marcado em todo processo direitos.
va com o grupo Jovens do Século XXI do Sesc histórico no cenário mundial, incluindo o Brasil,
Legitima-se, portanto, a relevância do Serviço
Ler São Lourenço da Mata, com a presença da tendo em vista que existem outras faces da re- A partir de uma análise, no âmbito das políti-
Social no enfrentamento ao trabalho infantil, cas públicas socioassistenciais amparadas pela
assistente social da entidade, buscou-se salien- alidade que se apresentam nesta teia da explo-
desde a elaboração até a execução de políti- Constituição Federal de 1988, reconhece-se o
tar a questão do trabalho infanto-juvenil sob ração da mão de obra infantil.
cas e programas que atendam veementemente direito das crianças e adolescentes ao “não tra-
a perspectiva educativa, de sensibilizar e/ou
as necessidades sociais, tendo como norte um balho” e compreende a Assistência Social no rol
conscientizar, levando em consideração o Esta- Assim, exige-se uma constante reflexão para
caráter universal e efetivo, sobretudo, no que da proteção integral desses indivíduos.
do como garantidor dos direitos. A sociedade combater e enfrentar o trabalho infantil como
se refere à proteção integral em compromisso
civil e os pais devem refletir e se apropriar do expressão da questão social, sendo essencial o
com o protagonismo e emancipação da criança Conclui-se que a exploração do trabalho infantil
conhecimento a fim de traçar estratégias para papel do Estado enquanto tutor desses “direi-
e do adolescente. é seletiva, atingindo principalmente as crianças
enfrentar este fenômeno social denominado tos fundamentais” aos infantes. A sociedade ci-
Os/as assistentes sociais brasileiros/ menos favorecidas economicamente, deno-
trabalho infanto-juvenil e visando à sua erradi- vil deve se manter atenta, fiscalizando, por mais
as vêm lutando em diferentes frentes minadas pobres. Elas são protagonistas deste
e de diversas formas para defender e cação. precária que ainda seja, em razão das decisões
cenário, sendo expostas a inúmeros prejuízos
reafirmar direitos e políticas sociais que, serem submetidas ao controle burocrático,
de ordem biológica, social, física, moral, pre-
inseridos em um projeto societário mais O estudo se fez relevante, pois a realidade do centralizadas e clientelistas dos representantes
judicando seu futuro e perpetuando a amarga
amplo, buscam cimentar as condições trabalho infanto-juvenil ainda se apresenta no governamentais. É importante também se inse-
exclusão social.
econômicas, sociais e políticas para cenário atual, conforme a explanação da auto- rir nos espaços de discussões já que o sistema
construir as vias da equidade, num ra para os 16 integrantes do grupo. Na ocasião, econômico capitalista tende a mistificar a rea- Desta forma, o Estatuto da Criança e do Ado-
processo que não se esgota na garantia a palestrante obter junto aos entrevistados fez lidade do trabalho infantil como algo honroso, lescente em seu Artigo 4º determina que: “É
da cidadania. A concepção presente
referências sobre o trabalho precoce, identifi- honesto, naturalizando o fenômeno “é melhor dever da família, da comunidade, da socieda-
no projeto ético-político profissional
cando em quais atividades está presente, como criança estar trabalhando do que roubando”, “o de em geral e do poder público assegurar, com
do Serviço Social brasileiro articula
é percebido ou caracterizado, como é aceito e/ trabalho educa”. O trabalho infantil foi tecendo absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
direitos amplos, universais e equânimes,
ou negado e suas variações. E, ainda, quais fo- sua originalidade a partir de crianças e adoles- referentes à vida, à saúde, à alimentação, à edu-
orientados pela perspectiva de
superação das desigualdades sociais ram as legislações pertinentes utilizadas para a centes que apresentam uma sequência de desi- cação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
e pela igualdade de condições e não defesa dos direitos das crianças e dos adoles- gualdades, tais como: a pobreza, a baixa esco- à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
apenas pela instituição da parca, centes. laridade, o local de moradia, por gênero ou por à convivência familiar e comunitária”.
insuficiente e abstrata igualdade de condição pessoal, por raça/etnia, dentre outras.
oportunidades, que constitui a fonte do A análise da pesquisa qualitativa trouxe o co- Por fim, o profissional de Serviço Social deve
pensamento liberal (CFESS, 2009, p. 11). nhecimento da complexidade das problemá- Contudo, só nos anos 1990, surgiram as políti- intervir nas expressões de questão social e em

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suas novas reproduções, o que consiste na luta
pelos direitos, no que se refere aos infantes. O
CÓLMAN, Evaristo. POLA, Karina Dala. TRABALHO
EM MARX E SERVIÇO SOCIAL. Disponível em: < http://
Um olhar especial: crianças com déficit da
marco legal para a intervenção está na Consti- www.uel.br/revistas/ssrevista/pdf/2009/2009_2/
Artigo%20evaristo.pdf>. Acesso em: 13, julho. 2017.
atenção também aprendem
tuição de 1988, e no Estatuto da Criança e do
Adolescente. Esse trabalhador precisa adotar
PADILHA, Miriam Damasceno. TRABALHO INFANTIL
uma ação crítica, fundamentada no método
– EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NO
A special look: children with attention deficit also learn
materialista histórico-dialético, em consonân- BRASIL. (2009) Disponível em: < http://www.ts.ucr.
cia dos valores do projeto ético-político do Ser- ac.cr/binarios/congresos/reg/slets/slets-019-287. Maria Danieli Oliveira Rodrigues1
viço Social, a fim de realizar uma intervenção pdf>. Acesso em: 10,agosto. 2017. Antonia Rejane Souza Bandeira2
efetiva, articulando com as redes de proteção e Ayalla Camila Bezerra dos Santos3
rompendo com o imediatismo que fragmenta a

ação profissional.
Resumo: No presente artigo, propõe-se refletir sobre os distúrbios de aprendizagem, nomeadamente, déficit
da atividade e da atenção, observando seu reflexo no processo de aprendizagem, mostrando a importância de
metodologias diferenciadas no ato de ensinar, compreendendo como ocorre o curso do aprendizado das crianças
com déficit da atividade e da atenção. É relevante destacar a inclusão como sinônimo de acolher e aprender, num
espaço com diferentes ritmos de aprendizagem, ou seja, em um universo múltiplo, onde a diferença resulta no
Referências crescimento dos envolvidos e contribui com a construção de uma escola inclusiva de verdade. Na fundamentação
da pesquisa, o artigo se subsidia de textos teóricos de autores como Ramos (2016), Amen (2006) e de textos
da revista Construir Notícias (2016 e 2017), além de acesso a internet, através da leitura de conteúdos e leis. A
BRASIL. CÂMARA DOS DEPUTADOS. CONSTITUIÇÃO referida pesquisa contou, ainda, com a experiência vivenciada no Sesc Ler Araripina, juntamente com aluno do 3º
FEDERAL DE 1988. Disponível em: <http://www2. ano do Ensino Fundamental com laudo F. 90.0 (Déficit da Atividade e da Atenção). Na pretensão de comprovar
que crianças com distúrbios de aprendizagem, como no estudo de caso especificado, também aprendem,
camara.leg.br/legin/fed/consti/1988/constituicao- pois apresentam capacidade intelectual, que deve ser despertada e explorada, através de atividades lúdicas e
1988-5-outubro-1988-322142-publicacaooriginal-1-pl. prazerosas vivenciadas em sala de aula. Os principais resultados apontaram que alunos com déficit de atividade
e da atenção são capazes de aprender, sendo necessário que o docente tenha um olhar especial para essas
html>. Acesso em: 14, junho. 2017. crianças, no sentido de acolhê-las e inseri-las no processo educacional.
Palavras–chave: Escola. Educando. Déficit da atenção. Aprendizagem. Inclusão.
BRASIL. LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990.
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e
Abstract: In this article, it is proposed to reflect about learning disorders, namely, activity and attention deficit,
dá outras providências. Disponível em: <http://www. by looking at your reflection in the learning process, showing the importance of differentiated methodologies
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado. in the Act of teaching, understanding how the course of learning of children with activity and attention deficit.
htm>. Acesso em: 06 julho. 2017. It is relevant to highlight the inclusion as synonymous with welcome and learn, in a space with different rates
of learning, i.e. in a universe, where the difference results in the growth of those involved and contributes with
the construction of an inclusive school of truth. In the grounds of the research, the article is of theoretical
CARDOZO, Antônio Carlos B. CONSELHO TUTELAR texts subsidizes authors such as Ramos (2016), Amen (2006) and of the journal texts Build News (2016 and
2017), in addition to internet access, by reading content and laws. Such research, still, with the experience at
COMO INSTRUMENTO DE PARTICIPAÇÃO DA Sesc Read Araripina, along with student of the third year of elementary school to report f. 90.0 (Activity and
POPULAÇÃO E DE EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA attention deficit).On claim to prove that children with learning disorders, as in the case study specified, also
learn, because present intellectual capacity which must be awakened and exploited, through fun activities and
SOCIAL DE ATENDIMENTO DA CRIANÇA E DO pleasant experienced in classroom. The main results showed that students with activity and attention deficit are
ADOLESCENTE. Disponível em: < http://www.lume. able to learn, requiring that the teacher has a special look for these kids to accept them, and insert them in the
ufrgs.br/bitstream/handle/10183/36493/000817551. educational process.

pdf>. Acesso em: 06 julho. 2017. Keywords: School. Educating. Attention deficit. Learning. Inclusion.

CFESS. SERVIÇO SOCIAL É PROFISSÃO, ASISTÊNCIA


SOCIAL É POLÍTICA PÚBLICA. In: PARÂMETROS
PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: TRABALHO 1 Autora – Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Ciência, Tecnologia e Educação – FACITE (2017). danielioliveiras2@hotmail.com.

E PROJETO PROFISSIONAL NAS POLÍTICAS 2 Orientadora – Graduada em História pela Faculdade de Formação de Professores de Araripina – FAFOPA e em Pedagogia pela Facul-
SOCIAIS.  Brasília:  CFESS,  2009.  Disponível dade de Ciência, Tecnologia e Educação – FACITE. Pós- Graduada em História do Brasil pela Faculdade de Formação de Professores de
Araripina – FAFOPA. Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Hispano Guarani; Del Paraguai. arbandeira@sescpe.com.br.
em:<http://www.cfess.org.br/arquivos/Cartilha_
3 Editora do Artigo – Graduada em Pedagogia pela Faculdade Escritor Osman da Costa Lins (2010). Pós-Graduada em Psicopedagogia
CFESS_Finalgrafica.pdf>. Acesso em: 14, julho. 2017. pela Faculdade Escritor Osman da Costa Lins (2011). ayallacamila@gmail.com.

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Introdução humana, e criando possibilidades que as leve a da atividade e da atenção também aprendem. família ou professores pressionam-nas, elas se
superar as dificuldades e os limites no processo tornam menos eficientes. O autor ressalta que
O termo inclusão faz-se necessário no âmbito educativo. A pesquisa apoia-se na leitura de livros, arti- o estímulo a fazer melhor de modo positivo, faz
educacional, remetendo-nos ao respeito à di- gos e entrevistas para desvelar que as crianças com que elas se tornem mais produtivas. Fun-
versidade, dilacerando formas de ensino padro- Dentre as necessidades especiais educativas, com dificuldades (distúrbios) de aprendizagem ciona muito mais usar elogio e o estímulo do
nizadas para uma clientela específica, compre- vale enfatizar o distúrbio do déficit da ativida- têm a capacidade de aprender e que o docen- que pressão.
endendo, assim, que todos nós apresentamos de e da atenção (F 90.0), caracterizando-se te deve apresentar um olhar especial para elas,
alguma dificuldade que, aos poucos, vai sendo por um processo neurológico que intervém na tendo sensibilidade e, principalmente, amor, É importante ressaltar que crianças com déficit
superada através do poder da formação huma- aprendizagem, dificultando a apropriação pela pois dessa forma se contribui para a inclusão da atividade e da atenção apresentam muita di-
na e da interação social. criança, de habilidades linguísticas (leitura e com qualidade cidadã. ficuldade em prestar atenção e manter o foco
escrita), conceitos matemáticos e de raciocí- em algo, principalmente, quando se tratam de
Podemos sentir com maior intensidade que as nio lógico. Especificamente, o déficit da ativi- assuntos comuns, longos e rotineiros. Por essa
dificuldades de aprendizagem no espaço esco- dade e da atenção, conceitua-se por inquieta- Referencial Teórico razão, elas precisam de excitação e interesse
lar foram sendo percebidas pelos educadores ção, interrupção de atividades, dificuldade em para acionar suas funções do córtex pré-fron-
e, daí, foram necessárias intervenções para prestar atenção por muito tempo em assuntos Concepções de Distúrbio de Aprendizagem e tal. De acordo com Ramos (2016), a atenção
atender a heterogeneidade notória nos espa- longos, enfim, um conjunto de características Déficit de Atenção permite-nos manter os sentidos focados em um
ços escolares das crianças especiais. Uma hete- que precisam ser trabalhadas com um fazer pe- determinado estímulo durante um determinado
rogeneidade inigualável, que faz parte de uma dagógico competente do professor que vise ao Com a inserção do paradigma da inclusão no período de tempo, isto é, o discente com falta
concepção de educação acolhedora e, sobretu- desenvolvimento do aluno, revendo suas meto- âmbito educacional, concebeu-se um olhar de atenção manifesta impedimento para orga-
do, includente. Nesse sentido, as dificuldades no dologias, conforme aponta Ramos, “Precisa re- especial para as crianças com dificuldades de nizar e selecionar o conhecimento.
ato de aprender ganharam maior destaque com fletir e repensar suas práticas pedagógicas, no aprendizagem no espaço escolar. Nesse con-
a universalização do ensino no Brasil e com a sentido de resignificar seu papel no contexto do texto, foram sendo percebidas pelos educado- Com isso, nota-se a grande dificuldade que a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional desenvolvimento e da aprendizagem humana” res necessidades educativas especiais, como o criança com DDA apresenta em fixar sua aten-
(LDBEN), propondo uma educação para todos, (RAMOS, 2016, p. 18). Nota-se, então, que o tra- distúrbio de aprendizagem. Este, por sua vez, ção, comprometendo o desenvolvimento de
independentemente da raça, da cor, da classe balho com os discentes portadores de neces- “remete-nos a um problema ou a uma doença aptidões importantes na vida do indivíduo.
social e da existência de qualquer deficiência sidades educativas especiais é delicado, como que acomete o aluno em nível individual e orgâ- Tendo em vista essas peculiaridades, a esco-
física ou intelectual. também, desafiador, cabendo ao docente co- nico” (ACAMPORA, 2016, p. 34). Ou seja, per- la, como instituição sociável, deve estabelecer
nhecer seu aluno, identificar o nível de avanço tencente do próprio indivíduo, qualidade parti- pontes de motivação e estímulo no processo
Uma vez que se oportunizou o direito de todos do mesmo e intervir, buscando estratégias de cular; esse problema dificulta a aprendizagem educativo, construindo um espaço educacio-
à educação, percebe-se a existência de uma ensino diferenciadas e contextualizadas e, além do discente, afetando a capacidade de acolher, nal, promotor de igualdade e respeito à diver-
diversidade humana no processo de aquisição disso, acreditando no potencial da criança, na organizar, compreender e adquirir as informa- sidade. A criança com o distúrbio do déficit da
de conhecimentos, o que confere a inclusão. E, construção de uma aprendizagem significativa. ções, apresentando dificuldades na obtenção atividade e da atenção precisa ser enxergada
inaugurando frutos de novos tempos, incluir é da leitura e escrita, assim, como também, na com olhos humanos e sensíveis, e não taxati-
conviver com realidades diferentes, aprenden- A pesquisa realizada deu-se por meio da expe- desenvoltura em habilidades matemáticas. Se- vos, pois, na maioria das vezes, é tratada como
do a respeitar a singularidade de cada um. A riência de campo profissional vivenciada com gundo Amen (2006), característico do distúr- desinteressada ou até mesmo impossibilitada
Declaração de Salamanca em 1994 substitui o aluno X, do 3º ano do Ensino Fundamental, no bio, o déficit da atividade e da atenção (CID- F. de aprender. Em vista disso, a criança sente-se
termo “criança especial” para “crianças com Centro Educacional Sesc Ler Araripina, onde se 90.0) dá-se mediante a uma disfunção neuroló- inútil, percebendo-se excluída do processo de
necessidades especiais” para se referir ao edu- detectou sua dificuldade de aprendizagem na gica no córtex pré-frontal, ocasionando distra- aprendizagem.
cando com insuficiência, seja física, intelectual, aquisição da leitura. Assim, viabilizamos meto- ção, desorganização, hiperatividade, impulsivi-
social, emocional e de ordem familiar, garantin- dologias alfabetizadoras para o discente, pre- dade e dificuldade em aprender.
do a inclusão dessas crianças na rede regular conizando atividades lúdicas e motivadoras, Educação Inclusiva: Uma Concepção
de ensino, fazendo valer, na prática, a inserção respeitando os limites do mesmo. Vale ressaltar Segundo, ainda, Amen (2006), pesquisa tem Necessária
e a aprendizagem destas, considerando as li- que a metodologia adotada trouxe frutos sig- mostrado que quanto mais às pessoas com DDA
mitações de cada aprendente, na sua extensão nificativos, mostrando que crianças com déficit tentam se concentrar pior para elas. Quando a Nas manifestações sociais, nascidas nos Esta-

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dos Unidos, na década de 1960, e no Brasil, com crianças é construir uma escola humana e aco- possibilidades em aprender. Vale ressaltar que sível e mandatório mediar um ensino que leve
a garantia de uma educação para todos na dé- lhedora, sem distinguir histórico de aluno, e sim, o professor precisa se adentrar ao estudo e à a superação das dificuldades e dos limites dos
cada de 1990, os direitos da pessoa com defici- utilizar a diferença como ferramenta na busca pesquisa, para melhor se posicionar e mediar alunos. Isso nos mostra que o trabalho do do-
ência passaram a ser debatidos. À medida que por novas aprendizagens. a aprendizagem dos alunos com necessidades cente, enquanto facilitador da aprendizagem, é
foram surgindo às inquietações sobre o direito especiais. imprescindível no processo de inclusão, posto
que todos têm de aprender, independentemen- Garantir de fato a inclusão é fazer com que o que as dificuldades existem. No entanto, é im-
te de qualquer déficit, apareceram resoluções, educando com necessidade educativa especial Ao tratar não somente da formação acadêmi- portante mediar com excelência, conhecendo
leis e decretos objetivando admitir o acesso à se sinta integrado e personagem principal do ca do professor na educação inclusiva, Cunha de perto as limitações e procurando projetar si-
escola aos estudantes com distúrbios, transtor- seu próprio processo de aprendizagem, mos- destaca que “na educação, não devemos achar tuações reais que viabilizem o desenvolvimento
nos e deficiência. Assim trata o Artigo 208 da trando sua capacidade de adquirir e transmitir que a nossa formação acadêmica pode, so- das capacidades.
Constituição Federal, onde o Estado garante conhecimentos, através de seu diferencial. zinha, mover as barreiras das dificuldades da
o “atendimento educacional especializado aos aprendizagem, pois ela pode pouco sem o O ponto de partida do docente é conhecer seu
portadores de deficiência, preferencialmente amor” (CUNHA, 2016, p.39). Nesta concepção, aluno com distúrbio do déficit da atividade e
na rede regular de ensino”. E, ainda, nos artigos O Docente como Mediador na Educação a formação humana do docente é primordial na da atenção, sentindo-se motivado a intervir e a
205 e 206 assegurando “a Educação como um Inclusiva inclusão escolar. É necessário ter amor para en- construir junto ao discente, através de uma me-
direito de todos, garantindo o pleno desenvol- carar os desafios e medos, e fazer o diferente diação, de metodologias que ampliem as estru-
vimento da pessoa, o exercício da cidadania e a Ao receber os alunos com deficiência, seja fí- na vida do aprendente. Assim é evidente que, turas cognitivas atenuadoras da aprendizagem.
qualificação para o trabalho” e “a igualdade de sica ou intelectual, na rede regular de ensino, além da formação intelectual do professor, é Para isto, é essencial a utilização de jogos, brin-
condições de acesso e permanência na escola”. normalmente, o professor fica angustiado, re- valoroso que, no seu perfil de educador, tenha a cadeiras, atividades com ilustrações, símbolos,
fletindo como agir e criar metodologias para o sensibilidade de perceber e agir diante das ne- música, figuras, entre outras. A própria dimen-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- desenvolvimento das competências necessá- cessidades do seu aluno, acreditando no poten- são afetiva é uma ferramenta de estímulo para
nal (LDBEN), no seu Artigo 58, ratifica a edu- rias para a vida em sociedade, vendo a inclusão cial e na capacidade dele. O desejo do docente a apropriação do conhecimento.
cação especial como modalidade de Ensino, como um desafio. no paradigma inclusivo é imprescindível, isto é,
sendo oferecida, assim como a Constituição, ele precisa querer. Conforme, ainda, Cunha “a O educador precisa pautar sua prática de ensi-
preferencialmente na rede regular de ensino. Com essa inquietude, Ramos (2016) nos diz que ação interior faz do mestre também um apren- no na proximidade com o aluno, criando laços
A Declaração de Salamanca também constitui precisamos realizar uma tomada de decisão dente, e, por conseguinte, um realizador, pois de amizade e vínculos afetivos. Assim, enfatiza
um grande eixo na garantia dos direitos das diante do imprevisível. Ou seja, o docente deve sonha, não se acomoda, acredita, concretiza, Ramos: “precisamos romper com o modelo de
crianças com necessidades especiais educati- iniciar seu trabalho de busca de estratégias de afeta pela necessidade de ensinar e educa pela hierarquização do ensino que distancia e silen-
vas, proporcionando uma estrutura de “educa- ensino efetivamente inclusivas, reconhecendo a a capacidade de amar” (CUNHA, 2016, p.40). O cia o aluno, tirando-lhe o direito de levar suas
ção para todos”. E, sobretudo, apresentando a diferença como parte de um processo hetero- seu fazer pedagógico é voltado para o discente, dúvidas e dificuldades ao professor” (RAMOS,
inclusão na educação. Conforme o documento, gêneo, em que a aprendizagem se consolida de respeitando sua individualidade, aplicando ati- 2016, p.68). O aluno é um ser ativo na aprendi-
“o princípio fundamental da escola inclusiva é diversas maneiras. vidades prazerosas, próxima do seu cotidiano. zagem, ele não somente recebe, mas transmite,
o de que todas as crianças deveriam aprender participando intensamente da ação pedagógi-
juntas, independentemente de quaisquer difi- A prática pedagógica do professor é de extre- As crianças com déficit da atividade e da aten- ca mediada pelo docente. Por meio dessa ação,
culdades ou diferenças que possam ter.” Assim, ma importância na recepção do aluno com dis- ção possuem um nível elevado de distração, constrói uma relação professor-aluno afetiva,
é nítida a importância da diversidade no espa- túrbio de aprendizagem, pois “o primeiro passo cabendo ao professor planejar atividades que favorecendo as possibilidades de avanço do
ço escolar, enxergando-a como emancipadora, é acolher a criança com alegria e procurar co- estimulem a concentração, através de jogos e aluno com necessidades educativas especiais.
visto que o educando aprende por meio das di- nhecê-la” (RAMOS, 2016, p. 64). É necessário, brinquedos, onde o discente será oportunizado
ferenças, no seu ritmo e tempo de aprender. aos poucos, identificar o nível de aprendizagem a interagir e a brincar e, ao mesmo tempo, a O incentivo é substancial na superação das difi-
do aluno, como também, conhecer suas limi- aprender e a conviver. culdades e na conquista do êxito. Dessa forma,
É de suma importância salientar que todos têm tações. A partir daí, o docente traçará metas o professor deve ser um incentivador, explo-
o direito de aprender e, por isso, esperar sem- e desenvolverá metodologias diferenciadas e Nessa acepção, Ramos (2016) evidencia que rando a capacidade do seu aluno, desafiando-o.
pre o melhor de cada história, de cada vida que contextualizadas para aprimorar os conheci- não se pode negar as limitações impostas pela
pisa o chão da escola. Dar oportunidade a essas mentos empíricos da criança, expandindo as deficiência, mas, enquanto professores, é pos- Portanto, a didática do educador é vital na edu-

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cação inclusiva. Além dos conhecimentos aca- de deficiência pode desenvolver algumas com- ferindo-se à leitura, ao fim das ações, notou-se tivos, ficou evidente também, como resultado, a
dêmicos, sua formação humana torna-se funda- petências e habilidades, sejam de comunica- que este ato, passou a ser visto de forma dife- melhoria nos relacionamentos interpessoais do
mental no acolhimento e no desenvolvimento ção, leitura, escrita, interação, entre outras. No rente pelo discente, pois não era mais apenas aluno X, contribuindo diretamente para o aper-
das competências dos alunos com distúrbios processo inclusivo, acreditamos que o aluno é uma decodificação de enigmas, mas sim, uma feiçoamento da inclusão deste em sala de aula.
de aprendizagem, tendo sensibilidade e desejo, capaz de aprender, oferecendo meios para o interpretação de palavras que estimulavam sua O progresso nas relações permitiu com que os
para mediar um processo de troca de experiên- crescimento pessoal e intelectual do discente. imaginação e criatividade, tornando a leitura outros alunos o enxergasse de forma respei-
cias e concretização de sonhos, suplantando o um momento prazeroso que lhe fazia feliz e re- tosa, reconhecendo sua individualidade e seu
medo e as dificuldades. A inclusão, mediante a heterogeneidade, per- alizado. potencial, despertando o desejo em ajudá-lo,
mite sermos único e diferente, emancipando motivando-o. Podemos perceber, então, que a
pessoas, numa igualdade de direitos. Estar in- Com as metodologias utilizadas, o discente inclusão proporcionou ao educando auto-esti-
O Papel da Inclusão na Aprendizagem cluso é fazer parte ativamente do processo de passou também a escrever, compreendendo ma, iniciativa, desenvolvimento da leitura, escri-
ensino/aprendizagem, de forma conjunta e não os sinais gráficos e não apenas copiando o que ta e melhoramento da socialização, preparan-
Notamos, então, que a inclusão é um processo segregada. É viver na prática relações interpes- estava escrito. Com a prática da leitura, aprimo- do-o para enfrentar os desafios do dia- a -dia.
que compreende as diferenças humanas, se- soais, respeitando as diferenças e cooperando rou-se a escrita, consequentemente, favorecen-
jam de origem sociocultural ou pessoal. Esse para que todos se desenvolvam dentro de suas do a realização das atividades propostas, assim Por conseguinte, percebeu-se a evolução do
conjunto de diversidade é refletido na escola, potencialidades. Nesse processo inclusivo, res- como aprendendo a escrever seu próprio nome aluno X em todos os sentidos, principalmen-
enquanto instituição social que abre as portas peitamos a individualidade de cada aprendente completo, que, até então, era um desafio. Con- te na leitura e na escrita. Fatores esses que
para acolher todos sem distinção. Nessa signifi- e cooperamos para que a educação seja igua- tudo, a leitura e a escrita são de suma importân- notavelmente alavancaram seu processo de
cação, a escola assume um papel inclusivo. As- litária. cia no desenvolvimento intelectual e social do aprendizagem, mostrando-se como exemplo
sim, destaca Ramos, “[...] as escolas assumam- educando, pois, é através dessas práticas que mediante as dificuldades e deixando claro o
-se como espaço privilegiado para a construção o discente participa ativamente da sociedade, quanto é importante um olhar especial por par-
de práticas sociais autenticamente inclusivas, Resultados gerando, então, um vínculo entre o meio social te do professor para que essa inclusão aconte-
ou seja, como berço da inclusão social” (RA- e o aprendiz. ça de forma expressiva, promovendo relações
MOS, 2016, p. 17). Para tal, é crucial que a escola O trabalho desenvolvido com o aluno X, do mais igualitárias, com menos preconceito e
ofereça as condições e as práticas educativas Centro Educacional Sesc Ler Araripina, da tur- No decorrer das ações, percebeu-se que, aos mais aprendizado.
necessárias para a acolhida e a permanência do ma do 3º ano do Ensino Fundamental, foi pla- poucos, com a prática da leitura, o discente
aluno com necessidade educativa especial. nejado de acordo com suas limitações, visando ganhava certa autonomia no desenvolvimen-
atender suas necessidades de aprendizagem, to das atividades aplicadas, por exemplo, ler Considerações finais
A inclusão é imprescindível no meio educativo, superando os limites impostos pelo déficit da e interpretar enunciados simples e criar suas
pois somos indagados diante de tanta diversi- atividade e da atenção. Assim, observaram-se próprias respostas para cada questionamento. Diante do exposto, são perceptíveis os limites
dade em sala de aula. Se adentrarmos na pes- resultados significativos na execução das ações Essa autonomia o fez sentir-se mais seguro e, impostos pelo DDA, resultando numa desorde-
quisa e no estudo, compreenderemos de fato realizadas, bem como no desenvolvimento da sem dúvida, aprimorou suas competências já nação no processo de aprendizagem. No entan-
a inclusão, não apenas inserindo o aluno com leitura, na apropriação da escrita, no aprimo- adquiridas. to, essa dificuldade não impede que o aluno, as-
necessidade educativa especial, mas também ramento de relacionamentos interpessoais, na sim como os demais, tenha o direito a aprender,
buscando estratégias para vencer as dificulda- superação de dificuldades, na autonomia para a Dentro das suas limitações funcionais, como conforme estabelece a Constituição, a LDBEN
des, criando situações que possibilitem a inte- realização das atividades e na inclusão no pro- falta de atenção e concentração, o aluno ul- e a Declaração de Salamanca, que asseguram a
ração e o desenvolvimento dos processos men- cesso ensino/aprendizagem. trapassou algumas de suas dificuldades, cons- inclusão do aluno com necessidades educativas
tais e o gosto pela aprendizagem, partindo do tatando que é possível aprender, mesmo, com especiais na rede regular de ensino, ressaltando
princípio do estímulo e da motivação. Em resposta ao trabalho realizado, por meio os percalços. A ludicidade e a diversificação de a importância da diversidade no contexto edu-
de atividades diferenciadas, o aluno X conse- atividades promoveram uma maior desenvoltu- cacional.
É pertinente evidenciar que a inclusão só acon- guiu desenvolver a habilidade da leitura, apro- ra no educando, vencendo seus medos e que-
tece, de fato, quando há aprendizagem, isto é, priando-se de seus benefícios, necessários à brando barreiras. A inclusão propõe imergir os alunos com ne-
resultados significativos. Mesmo com as limi- na aquisição de outras competências ligadas cessidades educativas especiais no processo
tações, o aluno diagnosticado com algum tipo diretamente ao processo linguístico. Ainda, re- Além do desenvolvimento dos aspectos cogni- educativo, desenvolvendo suas capacidades

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e superando as dificuldades. Nesse sentido, o
papel do docente na educação inclusiva é rele-
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei
nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível
Aprendendo com Gilvan Lemos: um projeto de
vante, pois este mediará o processo de ensino em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ leitura, reflexão e produção de contos em uma
L9394.htm. Acesso em 06 de jun. 2017.
aprendizagem, propondo metodologias dife-
renciadas, estimulando o desejo pela aquisição
turma de ensino médio
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada
do conhecimento e promovendo situações que
em 5 de outubro de 1988. Disponível em <http://
mostrem a magnitude da heterogeneidade no
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
Learning with Gilvan Lemos: a project of reading, reflection
espaço escolar. constituição.htm>. Acesso em: 06 de jun. 2017. and story production in a high school period
Contudo, é de extrema relevância a formação CUNHA, Eugênio. Formação humana e saberes Mônica Thais Cordeiro da Silva1
humana do docente no acolhimento de crianças docentes na inclusão escolar. Construir Noticias. Profª. Drª. Márcia Félix da Silva Cortez2
com dificuldades, distúrbios na aprendizagem, Recife. Construir. Ano 16, n. 90, setembro/outubro, Juvêncio Amâncio da Silva Junior3
entendendo que nossas características huma- 2016. Eudes Gomes Silva4
nas são imprescindíveis na inclusão. É neces-
M.D, Daniel G. Amen. Distúrbio de déficit da atenção
sário ter o desejo de querer fazer a diferença Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar o projeto de pesquisa intitulado de “Aprendendo
(DDA). Disponível em: http://www.metas.com.br/ com Gilvan Lemos: um projeto de leitura, reflexão e produção de contos” que aconteceu na EREM José do
na vida do outro, apresentando infinitas possi-
dda/disturbio-de-deficit-de-atencao-dda. Acesso Patrocínio Mota na turma do 1º “B”. Desenvolvemos uma pesquisa-ação (AGUIAR, 2003), através de métodos
bilidades no ensinar, conhecendo as limitações de ensino-aprendizagem descritos na sequência didática básica e sequência expandida do ensino de literatura
em: 24 de mai. 2017. de Cosson (2006). A fundamentação teórica voltada para a prática pedagógica norteou-se em Cosson (2006)
e criando estratégias que permitam o discente e Souza e Cosson (2011), já a análise literária se deu a partir dos estudos sociológicos e literários de Cândido
ser protagonista na construção de uma apren- (2006) e obedeceu as diretrizes da Política de Cultura do Sesc (2015). O projeto teve por objetivo geral elaborar
MENEZES, Ebenezer Takunode; SANTOS, Thais Helena uma oficina de escrita literária baseada na reflexão da obra de Gilvan Lemos e os objetivos específicos foram:
dizagem significativa. dos. Verbete Declaração de Salamanca.  Dicionário caracterizar o gênero textual conto através de seus aspectos constitutivos e conceituais; realizar a leitura com a
turma de dois contos de Gilvan Lemos; auxiliar na produção dos contos autorais dos alunos; editar e organizar
Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São o livro “Primeiro Escritos” com os contos dos alunos; promover a oficina de cartonera para confecção do livro
Mesmo com as limitações, é possível o desen- Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <http://www. “Primeiros Escritos”. Os resultados do projeto foram satisfatórios, conseguimos alcançar os objetivos traçados
na pesquisa, confirmamos o poder transformador do trabalho do Sesc com a literatura conseguindo trabalhar a
volvimento de habilidades/competências do educabrasil.com.br/declaracao-de-salamanca/>. autoestima desses jovens, que até então não se viam na perspectiva de escritores, além de aumentar o alcance
aluno com necessidades educacionais. Essas Acesso em: 24 de mai. 2017. da literatura de Gilvan Lemos em sua cidade natal. Dessa forma cumprimos com todos os objetivos traçados na
metodologia do projeto.
são importantes no convívio em sociedade,
RAMOS, Sandra Lima de Vasconcelos. Jogos e Palavras-chave: Gilvan Lemos. Literatura. Produção de Contos.
emancipando-o, enquanto ser sociável.
brinquedos na educação inclusiva: orientação
psicopedagógica. São Paulo: Respel, 2016. 170 p. Abstract: The present article aims to present the research project entitled “Learning with Gilvan Lemos: a
Com este trabalho de pesquisa, constatou- project of reading, reflection and story production” that took place at EREM José do Patrocínio Mota in the 1st
“B” class. We developed an action research (AGUIAR, 2003), through teaching-learning methods described in
-se que crianças com déficit da atividade e da the basic didactic sequence and expanded sequence of Cosson’s literature teaching (2006). The theoretical
atenção também aprendem, sendo as metodo- basis of the pedagogical practice was based on Cosson (2006) and Souza and Cosson (2011), the literary

analysis was based on the sociological and literary studies of Candido (2006) and obeyed the guidelines of
logias utilizadas e o olhar especial do docente the Culture Policy SESC (2015). The project had the general objective to elaborate a literary writing workshop
que norteiam este processo, tornando o mes- based on the reflection of the work of Gilvan Lemos, the specific objectives were: to characterize the textual
genre tale through its constitutive and conceptual aspects; to do the reading with the class of two short tales
tre um realizador que confia na capacidade do of Gilvan Lemos; to help in the production of student’s stories; to edit and organize the book “First Writings”
with the students’ stories; to promote the cartoneira workshop for the preparation of the book “First Writings”.
seu educando, colocando-o como ser ativo na The results of the project were satisfactory, we succeeded in achieving the objectives outlined in the research,
aprendizagem. we confirmed the transformative power of SESC with the literature, managing to work on the self-esteem of
these teenagers, which until then were not seen from the perspective of writers, literature of Gilvan Lemos in his
hometown. Therefore, we acomplisehd the objectives outlined in the project methodology.
Key Words: Gilvan Lemos. Literature. Story Production.

1 Autora - Licencianda em Letras na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) – Unidade Acadêmica de Garanhuns. Ex-estagiá-
Referências ria do Sesc Ler Belo Jardim em Literatura nos anos de 2016 e 2017.
2 Orientadora - Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em 2010, Professora Adjunta da UFRPE e
Professora do PROFLETRAS - UAG/UFRPE.
ACAMPORA, Bianca. Inclusão e aprendizagem:
3 Orientador - Formado em Letras pela AUTARQUIA EDUCACIONAL DE BELO JARDIM (AEB), Professor de Literatura e supervisor de
novos rumos. Construir Notícias. Recife. Construir. Cultura no Sesc Ler Belo Jardim.
Ano 16, n. 90, setembro/outubro, 2016. 4 Editor do artrigo- Mestrando na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista em Língua Portuguesa e Produção Textual
pelas Faculdades Integradas da Vitória de Santo Antão, em 2015.

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Introdução a formação cultural popular, propondo ativi- produção do gênero conto, que deve ser refle- resultando na construção de uma comunidade
dades que envolvam a valorização da cultura tida a partir da realidade, transformando-a em de leitores bem estabelecida, como podemos
A literatura e o saber literário são direitos do local, abrangendo as mais diversas formas de literatura. ver no Módulo Político do Modelo da Modalida-
ser humano. Cândido (1995) mostra que a lite- manifestação cultural (SESC, DEPARTAMENTO de Literatura do Sesc (2015, p.06).
ratura se apresenta como um elemento organi- NACIONAL, 2015, p 18). Dessa forma, a difusão
zador da mente humana e, assim como outras do conhecimento, da produção e da diversida- Fundamentação Teórica A ficcionalidade do texto literário
necessidades básicas do ser humano, o acesso de literária são prioridades do Sesc no trabalho simboliza um espaço público, representa
à cultura e, mais especificamente, à literatura é com a literatura. O desenvolvimento artístico A leitura fez e faz parte do cotidiano das pesso- uma retomada da maneira como a
as. Ela é necessária para inserção na sociedade sociedade se simboliza, simboliza a
imprescindível. cultural direcionado à literatura é trabalhado a
sua História e seus poderes. Dessa
partir de pesquisas sobre a criação literária re- moderna, em que o ciclo da leitura e da escri-
maneira, para exercer plenamente a
O exercício mental e as atividades reflexivas gional e a valorização do artista local. ta ganha todos os espaços, sejam eles físicos
sua cidadania, o cidadão necessita ser
desenvolvidas para atender as demandas psi- ou virtuais. Depois de ultrapassar a barreira do
um usuário competente da linguagem
cocognitivas durante o contato com a literatu- No contato com as diferentes formas literárias analfabetismo, o conceito de literatura se ex- literária, pois somente ela oferece
ra são essenciais para o desenvolvimento das e ao refletir sobre a necessidade de incentivo pande e atinge o conceito de letramento, en- a dimensão total de representação
capacidades comunicativas do ser humano. Por à atividade de leitura, à reflexão e à produção, volvendo a construção de sentidos sociais, sig- simbólica dos anseios e impasses da
esses e outros motivos, a literatura faz parte do percebemos a necessidade de um trabalho em nificações, habilidades estas que vão além da sociedade, possibilitando o exercício
currículo nacional de educação, como compo- escolas que desenvolva essa capacidade refle- simples decodificação. de desenvolvimento de sensibilidades
nente essencial na área da linguagem. xiva e produtiva dos estudantes, pois é notado que os recursos do texto literário vêm

que, no âmbito escolar, a literatura e a atividade Sobre o letramento literário, Cosson (2006) ex- a despertar.

O caráter humanizador da literatura (CÂNDI- artística não são valorizadas. Em nível regional, plica que há algo de singular nesse quesito, pois
DO, 1995) é um dos aspectos pelos quais ela é esse cenário pode se agravar. o lugar em que está inserida a literatura na lin- Dessa forma, faz-se necessário que a literatu-
tão importante de ser trabalhada em sala da de guagem ultrapassa os limites de tempo e espa- ra seja uma prática viva em sala de aula, par-
aula. Através da literatura, o indivíduo passa a O Laboratório de Autoria Literária Gilvan Lemos ço, de material e real, ao mesmo tempo em que tindo do conhecido para o desconhecido. Se-
desenvolver uma consciência social e uma vi- leva o nome de um autor são-bentense premia- materializa as sensações humanas do mundo. guindo esta trilha, o aluno conseguirá construir
são de mundo mais consolidada. Infelizmente, do regional e nacionalmente, que ocupou a 26ª Essa concepção problematiza a escolarização um sentido para si e para o mundo em que vive
o que se observa em sala de aula é que, ape- cadeira da Academia Pernambucana de Letras, da literatura, em que transformar o texto lite- (COSSON, 2006). Consciente disso, o Sesc, em
sar do que defendem os padrões curriculares conhecido pelo seu refinamento estilístico, re- rário em atividade pedagógica, sem a devida seus projetos voltados para literatura tanto na
em relação à importância da literatura na esco- corrente sátira, variedade ficcional e ressal- adequação, apresenta um problema, resultando escola da instituição quanto na comunidade em
la, quando passamos para uma observação da va constante dos aspectos espaciais ligados à na desconexão e no desrespeito com o traba- geral, busca trabalhar essas habilidades, pro-
prática em si e da realidade das escolas, vemos natureza local em suas obras. No estudo e na lho literário. Uma das formas de contextualizar porcionando uma nova visão da literatura, não
um ensino defasado e pouco aprofundado. investigação de seu acervo, um dos aspectos socialmente e trabalhar a leitura no intuito de como algo distante e de difícil compreensão,
que mais se sobressaíram foi a ligação de sua formação crítica é a realização de projetos que mas como algo presente em nossa cultura e
Existem muitas formas de propagação de co- escrita com sua terra natal, São Bento do Una envolvam leituras que possibilitem a socializa- perfeitamente alcançável.
nhecimento artístico-cultural na sociedade. que, mesmo indiretamente, ecoa em toda sua ção e a construção conjunta de conhecimentos.
A Política Cultural do Sesc (SESC, DEPARTA- obra, abordando aspectos históricos e culturais Souza e Cosson (2011) explicam a importância Na infância, trabalhar o lúdico, aproveitando-se
MENTO NACIONAL, 2015) considera o direito específicos da cidade (SILVERMAN, 1994). dessa atividade, tendo em foco as habilidades do conhecimento prévio da criança é uma ati-
à cultura inerente à condição de dignidade hu- do ato de ler que são: conhecimento prévio, vidade importante e traz diferentes possibilida-
mana e suprir essa necessidade tanto para o Ao perceber a necessidade de reconhecimento conexão, inferência, visualização, perguntas ao des de leitura. Já na adolescência, desenvolver
comerciário quanto para comunidade em geral e propagação da literatura no lugar de origem texto, sumarização e síntese (PRESSLEY, 2002 as questões ligadas à identidade e aos confli-
está inserido na missão desta instituição. Des- do autor, que pertence ao corredor cultural apud SOUZA E COSSON, 2011, p.104). tos é um trabalho necessário. Explorar esses
de 1982, o Sesc tem se preocupado cada vez deste Sesc Ler, decidimos executar um projeto elementos faz parte do processo de motivação
mais com a assistência à comunidade, visando de pesquisa em escolas públicas que trabalhe a A preocupação do Sesc com a formação cul- que Cosson (2006) aponta como o processo de
ao bem-estar da sociedade. Para tanto, esta memória e os aspectos de verossimilhança na tural da população inclui uma concepção de preparação do aluno, antes da inserção no tex-
instituição tem realizado ações voltadas para obra do autor, voltado principalmente para a letramento literário baseada nesses conceitos, to. Em vista disso, trazer elementos do cotidia-

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no e da realidade do aluno provoca uma identi- são algumas das bases das quais suportam essa ção de elementos pertencentes àquela comuni- Através de um narrador em terceira pessoa se-
ficação do mesmo com o texto, logo, motiva-o pesquisa, sem se esquecer do propósito fun- dade ficcional e que, ao mesmo tempo, reme- letivo, o leitor, coercivamente, envolve-se no
à investigação da leitura. Tais aspectos estão damental pedagógico, que tem como ancora- tem a aspectos reais (mimeses) que se deram cotidiano simples e pacífico de Laurita e, aos
presentes na metodologia do Sesc. gem principal Letramento Literário por Cosson em um certo período histórico. poucos, vai percebendo como essa mulher co-
(2006) e Souza e Cosson (2011). nhece e conquista espaços. Com o narrador
Um posicionamento que o professor pode ado- Essa transição do campo para a cidade reme- onisciente, temos acesso às regressões psico-
tar na escolha do livro para trabalhar em sala de te ao período de urbanização das cidades, de lógicas da cidade natal de Laurita: Bentuna. A
aula é apoiar a pluralidade dos autores, obras e Contextualização do Autor e Contos Trabalha- expansão das áreas urbanas através das peri- cidade de Bentuna, referência a São Bento do
gêneros. Devido à supervalorização do cânone, dos Nessa Pesquisa ferias. A ligação da escrita com os elementos Una, já foi espaço de outra narrativa do autor,
por exemplo, algumas das prioridades no pro- da realidade são um dos pontos que mais se “Os pardais estão voltando” (LEMOS, 1983).
cesso de letramento literário é a desconstru- Ao fazer uma análise dos aspectos sociológicos sobressaem. Gilvan Lemos, mesmo longe de Neste conto, a cidade assume um lugar de nos-
ção do cânone e a possibilidade de se trabalhar que permeiam a obra de Gilvan Lemos, elemen- sua cidade natal, resgata traços dessa infância talgia, o seu clima frio faz a personagem sentir
autores regionais em sala de aula em busca de tos de historicidade e cultura popular em sua em suas obras. Em “Sete dedos”, Tio Sadoc re- falta do interior, o cinema local e as lembran-
uma maior criticidade e visão de mundo. escrita são facilmente perceptíveis, mas, para ças com as amigas são a maneira que a per-
presenta a figura tradicionalista, arrogante, que
entender esse fenômeno, é necessário fazer sonagem encontra de relembrar sua origem,
passa de produtor rural para expansor do ter-
uma imersão mais intensa no texto. A obra ana- em contraposição a sentimentos em relação ao
Nos processos de leitura, um dos patamares ritório urbano, passando a se sustentar a partir
lisada com os alunos durante o projeto foi o li- novo, ao sonho, {a capital. Quase de forma im-
mais altos alcançados é referente à noção de disso. Quando Gilvan Lemos ainda vivia em São
vro de contos Morte ao Invasor (LEMOS, 1984). perceptível, um evento muito maior acontece
crítica. Para chegar a criticar um texto literário, Bento do Una, a cidade era muito pequena, a
Nessa obra, os espaços urbanos e rurais ga- e acaba encontrando o destino da protagonis-
o leitor precisa estar maduro suficiente para en- população vivia basicamente da produção lei-
nham uma dimensão diretamente ligada à cul- ta. Um atentado assombra a cidade do Recife
tender as características que podem surgir num teira e da avicultura e isso é refletido em sua
tura e às formas adquiridas pelos personagens. numa manhã de quinta-feira. Laurita, que esta-
determinado texto. O desapego ao fenômeno literatura. A linguagem que predomina nesse
As figurações, a caracterização e o enredo se va apenas seguindo sua rotina diária, acabou
da catarse e o mergulho mais profundo no tex- conto, como nos outros escolhidos, é a lingua-
diluem em um universo denso, irônico e volta- como vítima fatal de uma bomba jogada em
to é necessário. O ideal buscado por educado- gem popular pernambucana e principalmente
do para o desdobramento de conflitos sociais e uma banca de jornal.
res na área de literatura é que a ideia de critici- do interior, como vemos nas expressões: “Vou
dramas individuais.
dade seja algo desde muito cedo semeado. nada” (LEMOS, 1984 p.13), que expressa debo-
No livro “Os que se foram lutando” (LEMOS,
che, descaso; “Também, tinha a quem puxar”
Os contos escolhidos para trabalhar no projeto 1976), o autor faz uma metáfora da grande en-
A leitura é o primeiro passo para se conquistar (LEMOS,1984 p.15) que se refere a semelhanças
foram: “Sete dedos” e “O fio da vida”. “Sete de- chente que afligiu a cidade no ano 1975, um dos
um nível de reflexão mais apurado, como des- nas relações familiares. Essa linguagem utiliza-
dos” conta a história de um adolescente e sua maiores desastres do século XX na cidade do
taca Cândido (2006, p. 10): da por Gilvan causa a sua aproximação com o
família que passam por um momento de estrati- Recife. Neste conto, o autor tenta descrever
A análise crítica, de fato, pretende ir mais leitor, ou seja, o falar coloquial regional presen-
ficação social em que a família precisa se mudar como as famílias tiveram suas casas, família e
fundo, sendo basicamente a procura dos te na obra põe o leitor em posição de identifi-
para uma casa em um bairro pobre. Eles, por vidas destruídas pela enchente. O que aconte-
elementos responsáveis pelo aspecto
sua vez, passam a conviver com um tio, ex-fa- cação. ce com “Morte ao invasor” (1984) não é muito
e o significado da obra, unificados
para formar um todo indissolúvel, do zendeiro que teve que transformar sua fazenda diferente. Utilizando-se do contexto da ditadu-
qual se pode dizer, como Fausto do em um pequeno loteamento e passou a viver Outro aspecto que deixa os contos ainda mais ra militar, Gilvan metaforiza o ataque de 1966
Macrocosmos, que tudo é tecido num do aluguel desses imóveis. Através da narração interessantes é a naturalidade com a qual o au- contra5 o candidato à Presidência, na época
conjunto, cada coisa vive e atua sobre do adolescente, somos transferidos para uma tor toca temas polêmicos, como a violência do- Marechal Costa e Silva, no saguão do Aeropor-
a outra. esfera de estranhamento à mudança social, de méstica e a prostituição, deixando os diálogos to de Guararapes. O caso nunca foi resolvido,
aproximação com os fatores sexuais, que nos espontâneos e a trama sempre com um ar de duas pessoas foram mortas e quatorze ficaram
Para se analisar uma obra, o primeiro passo é são apresentados nas figuras de uma família suspense.
5 De acordo com uma matéria do Diário de Pernambuco, muito ain-
saber a partir de qual perspectiva se pretende vizinha, conhecida pela prática da prostituição. da se especula sobre a origem do ataque e para quem ele seria di-
analisar o texto. A crítica sociológica (CÂNDI- “O fio da vida” trata da história de Laurita, uma recionado, uma das possiblidades cogitadas é que tudo não passou
No contraste dos espaços rurais e urbanos den- de um plano dos militares para incriminarem a Ação Popular, força
DO, 2006), as mimeses (AUERBACH, 1976), a tro da obra, o autor trabalha os costumes e o mulher de meia idade, solteira, passiva que sai de esquerda atuante na época. Disponível em http://curiosamente.
diariodepernambuco.com.br/project/os-50-anos-do-atentado-no-
cidade e o campo literatura (WILLIAMS, 2011) dialeto daquelas pessoas, por meio da exposi- do interior para morar com o irmão no Recife. -aeroporto-do-recife/ Acesso em 22/09/2016.

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feridas. Assim como no conto, pouco se sabe o livro “Primeiro escritos” com os contos dos Resultados e Discussões propagação da literatura regional.
sobre o que realmente aconteceu, o caso foi alunos; e promover a oficina de cartonera para
esquecido e culpado nenhum foi encontrado. confecção dos livros. O público-alvo escolhido O trabalho realizado procurou desenvolver as Depois do questionário, foram apresentados
No conto, a vida pacata de Laurita representa o inicialmente foram os alunos do 1º ano da Esco- habilidades de leitura, releitura, reflexão, pes- pela estagiária o projeto e o cronograma de
apagamento de sua relevância para a socieda- la Técnica Eduardo Campos, turma Redes “A”, quisa e criação. No primeiro encontro, além das atividades. Ainda neste mesmo encontro, foi
de e a forma fria com que o ocorrido é tratado em São Bento do Una, porém, por questões de apresentações formais, foi passado um questio- iniciada a leitura expositiva do slide sobre as
refere-se ao descaso por parte das autoridades. logística, a realização do projeto nessa escola nário com o objetivo de diagnosticar o nível de características do conto, na qual eles deveriam
se tornou inviável. Dessa forma, o projeto enca- conhecimento da obra que Gilvan Lemos pos- entender as características do conto, principal-
À vista disso, com o objetivo de desenvolver as minhou para a EREM José do Patrocínio Mota, sui e o reconhecimento que o escritor tem em mente referentes às possibilidades de produ-
capacidades de leitura crítica e escrita literária, sua cidade natal. ção desse gênero. Depois da leitura do slide, foi
com a turma do 1º “B”, em São Bento do Una.
aplicamos numa turma de jovens do Ensino Mé- lido o conto “A cartomante” de Machado de As-
dio em São Bento do Una um projeto através A estagiária foi apresentada por Vanusa, pro- sis para fixar os conhecimentos teóricos sobre
O projeto aconteceu no período de seis sema-
do qual empregamos de conhecimentos acadê- fessora de Português e Literatura da escola e do conto.
nas, com um a dois encontros por semana, com
micos e pragmáticos acerca do ensino de Lite- apoiadora do projeto. Os alunos foram bem re-
duração de uma hora por encontro, durante os
ratura. ceptivos e se mostraram animados quanto aos No segundo encontro, foi assistido e discuti-
meses de maio, junho e agosto de 2017, o pe-
objetivos do projeto. Foi-se passado o questio- do o documentário “LEMOS, Gilvan” que foi de
ríodo que seria de maio a julho foi estendido
nário de diagnóstico para os 34 alunos presen- extrema importância para o engajamento dos
Metodologia para agosto devido às férias escolares do mês
tes no momento do encontro com o objetivo de alunos com o projeto, os alunos se mostraram
de julho. analisar o nível de reconhecimento que Gilvan muito interessados com o documentário e se in-
O projeto “Aprendendo com Gilvan Lemos: um Lemos e sua obra em sua cidade natal. teressaram em procurar as obras do autor. Eles
projeto de leitura, reflexão e produção de con- A intenção da primeira parte da oficina foi fazer disseram que havia apenas uma obra do autor
tos” é fruto de estudos sobre a obra do autor a reflexão coletiva da influência de São Bento Na análise do questionário, confirmamos o que na biblioteca da escola e, através da discussão,
Gilvan Lemos. Este trabalho está inserido como do Una na obra de Gilvan Lemos, considerando já prevíamos: a grande maioria não conhecia foi constatado que não há grande incentivo à
ação do Laboratório de Autoria Literária Gilvan a importância de sua literatura para os morado- Gilvan Lemos e os que sabiam que ele era um leitura de Gilvan Lemos em sua terra natal.
Lemos do Sesc Ler Belo Jardim. Este projeto res da cidade com ênfase na historicidade pre- autor da cidade ainda não tinham tido contato
foi idealizado pela estagiária Mônica Thais Cor- sente na escrita do ficcionista. A partir desse com sua obra, como podemos analisar no grá- No terceiro encontro, fizemos a leitura coletiva
deiro da Silva, e segue a metodologia de pes- conhecimento, a segunda parte da oficina foi fico: do conto “Sete dedos”, abordando os pontos
quisa qualitativa, nos moldes de pesquisa-ação focada na criação e na elaboração da escrita li- Gráfico 1 que permeiam a cultura popular e as similari-
(AGUIAR, 2003), seguindo os modelos de se- terária voltada para a realidade do aluno. Dessa dades com São Bento do Una. Também neste
quência didática básica e sequência expandida forma, os alunos escreveram seus próprios con- encontro, foram vistos os resultados das pes-
do ensino de Literatura de Cosson (2006). O tos inspirados na escrita e nos estudos sobre quisas dos estudantes referentes ao êxodo ru-
desenvolvimento desse trabalho acontece sob Gilvan Lemos. Depois desse processo, os traba- ral e à constituição da cidade. Ao fazer a leitura
a supervisão de Juvêncio Amâncio, sob orienta- do conto, foram feitas intervenções da estagi-
lhos de todos os alunos foram reunidos em um
ção da Profª. Drª. Márcia Félix, com o acompa- ária para chamar a atenção dos alunos quanto
livro intitulado de “Primeiros escritos”.
nhamento da Gerente da Unidade, Adriana Per- aos aspectos relevantes da obra que destacam
boire, e em parceria com a Escola de Referência a paixão na adolescência, família e comunidade,
O projeto foi finalizado com a visita dos alu-
José do Patrocínio Mota em São Bento do Una. assim como aos aspectos próprios da escrita
nos a unidade do Sesc Ler de Belo Jardim para
do autor.
apreciação da exposição “Gilvan Lemos”, a ga-
O projeto teve os seguintes objetivos: a) carac-
leria de arte da unidade, das demais dependên-
terizar o gênero textual conto através de seus À vista disso, confirmamos a falta de conhe- No quarto encontro, a estagiária percebeu que,
cias da instituição e, depois, com a participação
aspectos constitutivos e conceituais; b) realizar cimento dos moradores da cidade para com devido às férias escolares, a oficina seria inter-
a leitura com a turma de dois contos de Gilvan dos alunos na oficina de cartonera, ministrada
a arte que lhe representa e entendemos ainda rompida. Dessa forma, decidiu agilizar algumas
Lemos; c) auxiliar na produção dos contos au- pelo escritor de Belo Jardim David Biriguy para
mais a importância do trabalho desenvolvido atividades. Realizou-se a leitura coletiva do
torais dos alunos; d) organizar, editar e publicar confecção do livro. no projeto como forma de conscientização e conto “O fio da vida”, buscando interagir com

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os alunos e incentivando a participação ativa tando: personagens, tempo, lugar, escolha do sentido para si e para o mundo em que vive” dução literária dos alunos. Além dos resultados
dos mesmos nas discussões. Nesse conto, bus- narrador, sequência lógica dos fatos, clímax e (COSSON, 2006 apud SOUZA E COSSON, 2011 obtidos, a experiência de prestigiar a satisfação
cou-se despertar nos alunos a compreensão das encerramento. p. 106). dos alunos ao descobrirem novas formas de
referências socioculturais e históricas da época, fazer arte e literatura e de desvendar lugares
principalmente ligadas à verossimilhança, assim No dia marcado no cronograma, os alunos e Além desse intuito formativo, buscamos formar ainda não explorados, foi imensurável. Deste
como chamou a atenção para as estratégias de a professora vieram à unidade do SESC para escritores. O projeto do livro “Primeiros escri- modo, este projeto procurou, através da união
escrita narrativa essenciais do conto como nar- participarem da oficina de cartonera com o es- tos” conseguiu despertar nos alunos a criativi- de educação e arte, plantar a semente onde no
rador e tempo. Depois disso, foi conversado critor David Biriguy. Além de participarem da dade de escrita e a capacidade de produção de futuro poderão brotar artistas e escritores.
com os alunos sobre como seria o processo de oficina, os alunos visitaram a exposição “Poe- textos narrativos curtos. Ultrapassamos a bar-
escrita e que eles já deveriam começar a pensar sia Muda” da artista Joyce Torquato. A turma reira de tempo, de interação e motivação dos
e esquematizar suas ideias sobre o conto que visitou os espaços da unidade e mostraram in- alunos, que foi uma das etapas mais difíceis,
pois os alunos tiveram que se perceber como Referências
iriam escrever na volta das férias. teresse pelos cursos e pela dinâmica do SESC.
Na oficina cada aluno confeccionou e pintou parte principal do trabalho e adquirir autono-
mia. Esse trabalho de experimentação literá- AGUIAR, Kátia F.. Pesquisa-intervenção e a produção
Os encontros seguintes se deram através do a capa do seu livro, os mesmos apresentaram
de novas análises. Revista de Psicologia Ciência e
monitoramento dos alunos enquanto eles pro- satisfação ao fazerem manualmente seu pró- ria desenvolveu nos alunos a percepção deles
Profissão, n. 4, ano 23. 2003.
mesmos como escritores em potencial, capazes
duziam os contos na sala de aula. A estagiária prio livro, como também se diziam felizes por
de constituir na ficção as temáticas do seu ima-
e a professora dividiram os alunos em grupos terem desenvolvido a capacidade de escrever AUERBACH, Erich. Mimesis: a representação da
ginário. Esses jovens conseguiram reconhecer
para facilitar a organização e passaram a mo- suas histórias. A parte interna do livro está em realidade na literatura ocidental. Tradução de
sua realidade como uma cultura rica e vasta Editorial Perspectiva. São Paulo: Perspectiva, 1976.
nitorar cada grupo individualmente e ver como processo de edição e diagramação pela editora
e passaram a entender a arte como lugar de
estava o progresso da escrita de cada um sepa- Lara de livros artesanais.
atuação e criação contínua, como processo de CÂNDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade.  9ª  ed.
radamente. Essa metodologia de acompanha-
transformação do real para o imaginário. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
mento de produção foi essencial para os pro- O livro “Primeiros escritos” foi lançado, na se-
cessos de reescrita e de correção dos contos. gunda semana de novembro, na Mostra Cultural
COSSON, Rildo; SOUZA, Renata Junqueira de.
Dessa forma, seguiram os três últimos encon- do EREM José do Patrocínio Mota, ocasião em
Considerações Finais Letramento literário: uma proposta para a
tros da oficina. que também ocorreu a Mostra Gilvan Lemos do sala de aula. UNESP, Agosto-2011. Disponível
Sesc e a exposição de pertences do autor. A em: <http://www.acervodigital.unesp.br/
A iniciativa de conduzir um projeto com a su-
Durante os encontros com a turma, os alunos atividade contou com a presença de Lívia Va- bitstream/123456789/40143/1/01d16t08.pdf>
pervisão e apoio do coordenador do Laborató-
puderam ter mais conhecimento sobre a litera- lença, sobrinha e principal apoiadora da litera- Acesso em: 05/08/2016.
rio de Autoria Literária Gilvan Lemos confirma
tura de Gilvan Lemos e, principalmente, pude- tura do tio. esta instituição como uma empresa visionária
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e
ram desenvolver um estudo aprofundado sobre que oportuniza novos escritores e está sempre prática. São Paulo: Contexto, 2006.
o conto, além de terem contato, pela primeira Ao longo dos encontros, os alunos puderam aberta a novos caminhos. Através dos princí-
vez e de forma séria, com a escrita literária. A aprender mais sobre Gilvan Lemos e como ele pios da Política Cultural do Sesc, a estagiária LEMOS, Gilvan. O fio da vida. In______. Morte ao
maioria dos contos produzidos pelos alunos retrata São Bento do Una em sua obra. Enxer- buscou estabelecer uma ponte entre o enten- invasor. Recife: Francisco Alves, 1984. p. 21-34.
trata do imaginário adolescente. Alguns explo- gar-se em um livro e perceber os traços de sua dimento de Literatura do Sesc e o ensino nas
ram a esfera regional e falam sobre os contos e história registrados na ficção de um conto fi- escolas públicas. Esta instituição reconhece e LEMOS, Gilvan. Sete dedos. In______. Morte ao
as lendas pertencentes à cultura local, as cha- zeram com que os alunos compreendessem a invasor. Recife: Francisco Alves, 1984. p. 9-20.
promove a Literatura como um direito do in-
madas “histórias de trancoso”, mostrando, com literatura como algo próximo deles, real e al- divíduo e, através de ações nos espaços mais
______. Os pardais estão voltando. Recife:
isso, a clara influência que os autores tiveram cançável, cumprindo, assim, o objetivo maior necessitados, como escolas e comunidades ca-
Guararapes, 1983.
dos contos de Gilvan Lemos. Alguns alunos sur- do ensino de Literatura na escola que é a de rentes, consegue tornar possível o reconheci-
preenderam pela capacidade de adaptação do “formar leitores, não como qualquer leitor ou mento das faces culturais de uma sociedade. SESC, DEPARTAMENTO NACIONAL. Política Cultural
vocabulário coloquial na fala das personagens, um leitor qualquer, mas um leitor capaz de se No que se refere ao projeto, os objetivos alcan- do Sesc. Rio de Janeiro: SESC, DEPARTAMENTO
como também atenderam de forma satisfatória inserir em uma comunidade, manipular seus çados ao longo do projeto foram: o incentivo NACIONAL 2015a.
aos requisitos necessários ao gênero, apresen- instrumentos culturais e construir com eles um à cultura, a leitura do artista regional e a pro-
______. Módulo Político do Modelo da Modalidade
46 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 47
Literatura do Sesc. Rio
DEPARTAMENTO NACIONAL. 2015b.
de Janeiro: SESC,
O Projeto Habilidades de Estudo (PHE) como um
instrumento de cidadania: o olhar dos sujeitos
SILVERMAN, M. A universalidade da obra e Gilvan
Lemos. Ciência e Trópico, v. 22, n.1, p. 81-108. 1994.
The Projeto Habilidades de Estudo (PHE) as an instrument of
WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade na
história e na literatura. Trad. por Paulo Henrique de
citizenship: the look of the subjects
Britto. São Paulo; Cia das Letras, 1989.
Natanielle Silva de Lima Soares1
Djael Silva Bezerra2
 Jéssica Rochelly da Silva Ramos3

Resumo: O presente artigo tem por finalidade apresentar considerações sobre a relevância do Projeto
Habilidades de Estudo (PHE), no sentido de contribuir para a cidadania das crianças que deste fazem parte.
Neste sentido, temos as atividades realizadas nesse projeto como um elemento muito importante, visto que
permite a essas crianças acesso a expressões artísticas, atividades esportivas e lúdicas. Desta maneira, este
trabalho apresenta como principal objetivo compreender como as atividades vivenciadas no projeto atuam
como instrumento de cidadania para crianças de Caruaru-PE. Sendo assim, nos propomos a identificar as
principais práticas voltadas à cidadania, a refletir sobre o contato com as expressões artísticas e o lazer na
realidade social e, ainda, analisar a reação entre cidadania e lazer. Para tanto, adentramos ao espaço de
uma sala de aula onde funciona o PHE e utilizamos como procedimentos de coleta de dados a observação
do cotidiano das crianças no âmbito do projeto e a aplicação de questionários. Assim, traremos à discussão
temáticas como a cidadania, as leis que garantem o direito da criança ao lazer, à arte, à cultura e à educação
de qualidade. Ainda abordamos a questão histórica do lazer e sua relevância para que os indivíduos exerçam
sua cidadania. Para tanto, usaremos como base para nossa discussão autores como Oliveira (2002),
Libâneo (2004), Melo (2003), Saviani (2003), entre outros, que embasam as discussões das temáticas aqui
apresentadas. Os dados evidenciaram que os professores e as crianças entendem a relevância do projeto,
sobretudo, no sentido de contribuir com o acesso à arte e à cultura, onde os professores costumam tratar
de temáticas voltadas à cidadania, como relações sociais de respeito às diferenças, cuidados e preservação
do meio ambiente.
Palavras-Chave: Educação. Cidadania. Arte. Lazer.

Abstract:The purpose of this article is to present considerations about the relevance of the Projeto Habilidades
de Estudo (PHE), in order to contribute to the citizenship of the children who are part of it. In this sense we
have the activities carried out in this project as a very important element, since it allows to these children
access artistic expressions, sports activities and playful. In this way, this work presents as main objective
to understand how the activities experienced in the Projeto Habilidades de Estudo, act as an instrument
of citizenship for Caruaru-Pe children. Therefore we propose to identify the main practices focused on
citizenship, reflect on the contact with artistic expressions and leisure in the social reality and also analyze
the reaction between citizenship and leisure. To do so, we enter the space of a classroom where the PHE
works, where we use as data collection procedures the observation of children’s daily activities within the
scope of the project, and the application of questionnaires. Thus we will bring to the discussion, themes such
as citizenship, laws that guarantee children’s right to leisure, art, culture and quality education, we will also
address the historical issue of leisure and its relevance for individuals to exercise their citizenship, (2002),
Libanio (2004), Melo (2003), Saviani (2003) among others, which will be the basis for the discussions of
the themes presented here. The data showed that teachers and children understand the relevance of the
project, especially in the sense of contributing to access to art and culture, where teachers usually deal with
issues related to citizenship, such as social relations respect for differences, care and preservation of the
environment environment.
Key words: Education. Citizenship. Art. Recreation.

1 Autor - Graduanda em Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco, no Centro Acadêmico do Agreste- (CAA-
-UFPE). E-mail: natanielleslima@gmail.com.

2 Orientador - Licenciado em Letras, Supervisor de Estágio no no Sesc Caruaru.

3 Editor do Artigo - Mestre em Educação Contemporânea pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Contemporânea (PPGEDUC-
UFPE) e licenciada em Pedagogia pela UFPE - Centro Acadêmico de Agreste. E-mail: rochellyramos@hotmail.com.

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Introdução à cultura e à educação de qualidade, além de reitos civis e políticos com total liberdade, ou ca, das relações da escola com a comunidade, e
abordar a questão histórica do lazer e sua rele- seja, uma pessoa que desfruta plenamente de favorece uma aproximação” (LIBÂNEO, 2004,
Esta pesquisa apresenta uma discussão sobre vância para que os indivíduos exerçam sua ci- benefícios sociais, políticos e econômicos é p. 102).
as contribuições das atividades realizadas no dadania. Para tanto, como base para nossa aná- considerado um cidadão. Para garantir que a
Sesc Caruaru, em especial no âmbito do Pro- lise, utilizamos as produções de autores como cidadania seja exercida é que existem as leis, Dessa forma, a instituição escolar, seja pública
jeto Habilidades de Estudo, que promove op- Oliveira (2002), Libâneo (2004), Melo (2003), portanto, podemos nos munir do conhecimen- ou privada, é o primeiro espaço onde a criança,
ções de acesso à cultura e ao lazer no horário Saviani (2003), entre outros, que embasaram to legislativo como instrumento de luta social. através da participação, entende os aspectos
do contraturno, no caso, à tarde. Além de apoio as discussões das temáticas ora apresentadas. A legislação abrange todo cidadão, garantindo de uma democracia. É ela também um espaço
pedagógico às atividades extraclasse, as crian- a ele benfeitorias que defendem e promovem onde se reconhecem os direitos e as primeiras
ças têm acesso a aulas de dança, música e nata- sua formação desde a infância. Quando se trata compreensões sobre o ser cidadão. É no espa-
ção, bem como participam de programação de Encaminhamentos Metodológicos especificamente de crianças, no Brasil, temos o ço escolar que acontecem os primeiros conta-
cinema semanalmente e, ainda, momentos de Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tos com o outro e suas culturas, numa relação
jogos e brincadeiras. Tais atividades denotam a Neste trabalho, fizemos uso de uma aborda-
com leis constituídas exclusivamente para ga- de diversidade social, étnica, religiosa, entre
riqueza desse projeto, sobretudo, na formação gem qualitativa, com a expectativa de maior
rantir a promoção do bem-estar social de crian- outras. Neste sentido, Oliveira (2002) vem re-
das crianças que dele participam. Dessa forma, aprofundamento no campo, através das obser-
ças e adolescentes. fletir sobre o que é ser cidadão.
buscamos refletir sobre sua relevância no sen- vações, e maior aproximação com a realidade
tido de abrir espaços para que as crianças usu- nas nossas descrições. Nossa pesquisa também Art. 3º A criança e o adolescente gozam Ser cidadão significa ser tratado com
fruam de direitos inerentes a um cidadão. teve características de um estudo do tipo et- de todos os direitos fundamentais
urbanidade e aprender a fazer o mesmo
nográfico, pois, assim como afirma Severino inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
com as demais pessoas, ter acesso às
A relevância desse projeto está na ampliação e (2007), “a pesquisa etnográfica vai compreen- da proteção integral de que trata esta
formas mais interessantes de aprender
no acesso à educação de qualidade e, por isso, der, na sua cotidianidade os processos do dia a lei, assegurando-lhes, por lei ou por
e enriquecer-se com a troca de
realizamos observação-participante no projeto, dia em suas diversas modalidades”, e nós esti- outros meios, todas as oportunidades
experiências com os outros indivíduos.
conhecendo suas práticas, enfatizando as prá- vemos inseridos num espaço educativo, fazen- e facilidades, a fim de lhes facultar o
Isso implica tomar consciência de
ticas educativas voltadas à cidadania e fazen- do observações e descrições do mesmo. desenvolvimento físico, mental, moral,
problemas coletivos e relacionar a
espiritual e social, em condições de
do uma análise entre o que dizem os autores experiência da própria comunidade com
liberdade e de dignidade (ECA, 1990,
e o que nos diz a realidade, baseando-nos na Desta maneira, tivemos como campo empírico o que acontece em outros contextos. A
p.11).
prática e nas falas dos sujeitos envolvidos no uma turma de 17 alunos (de diferentes escolas) educação para cidadania inclui tomar a
projeto, sendo estes professores e alunos. Con- matriculados no PHE no Sesc Caruaru. Aponta- perspectiva do outro – da mãe, do pai,
Assim sendo, as leis garantem que o brasileiro, do professor infantil, de outra criança,
siderando que Caruaru é uma cidade que vem mos no espaço aspectos observados durante o
seja adulto, criança ou adolescente, exerça a ci- de quem perdeu a mãe, ou de quem
crescendo na economia e entendendo que, período de estágio, bem como refletimos sobre
a opinião de alunos e professores sobre as ati- dadania. Contudo, ao observamos a realidade, tem o pai muito doente ou preso na
apesar disso, ainda há uma precariedade na
vidades realizadas no projeto e sua influência compreendemos que, para exercer a cidadania, penitenciária – É ter consciência dos
educação, sobretudo, no que tange ao acesso
na realidade social de crianças de Caruaru. Re- as leis não são suficientes, é preciso a ação de direitos e deveres próprios e alheios
à arte e à cultura, bem como às atividades de
cada sujeito social ativo em sua comunidade. Do (OLIVEIRA, 2002, p. 52).
lazer, buscamos identificar alguns aspectos que alizamos observações em sala e nos momentos
levam as instituições a criarem alternativas de do recreio, além de aulas de música e dança. mesmo modo, a intervenção conjunta da comu-
Fizemos, ainda, o uso de questionários para a nidade, da escola e da família também exerce Nessa perspectiva, a cidadania começa com
incentivo à formação infantil.
obtenção de dados, respondidos por três pro- um papel fundamental, inclusive, da família na uma educação apropriada na infância, sendo
Portanto, o presente artigo buscou compre- fessores e uma professora, os quais, em nossa escola. Alguns autores e estudiosos da educa- este, um momento de grande desenvolvimen-
ender de que modo as aulas de música, dança análise, foram denominados de Professora P1, ção dedicam-se a estudar as relações entre co- to humano, desde a cognição até a dimensão
e outras atividades de arte e lazer podem ser Professor P2, e Professor P3 e Professor P4. munidade, família e escola como um papel es- emocional e psicomotora, havendo ainda a di-
utilizadas como um caminho para a cidadania sencial na formação e no desenvolvimento do mensão das relações interpessoais. Em outras
de crianças da cidade de Caruaru. Assim, apre- estudante, afirmando que, além de assegurar a palavras, a cidadania ainda está ligada a ques-
sentamos discussões que permeiam diversas Cidadania gestão democrática e a participação, “propor- tões de relações humanas, sendo as leis uma
temáticas como a cidadania, as leis que garan- ciona um melhor conhecimento dos objetivos e maneira de garantir a convivência social e a
tem direitos à criança de acesso ao lazer, à arte, O sujeito, de fato, cidadão goza dos seus di- metas, estrutura e organização e de sua dinâmi- igualdade entre sujeitos, consistindo em atitu-

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des individuais no que concerne ao hábito de estabelece os direitos ao cidadão ao acesso a cação, Saviani (2003) colabora com a discus- porcionavam o desenvolvimento reflexivo e as
respeito ao próximo, conhecimento de si mes- expressões artísticas como o teatro, a música e são ao enfatizar que: atividades de cunho intelectual.
mo e do outro, além dos direitos e deveres indi- a dança, por exemplo, a realidade é bem dife- A música é um tipo de arte com
viduais e coletivos. rente. Dessa maneira, entende-se que o acesso imenso potencial educativo já que, a Na atualidade, o lazer é visto como uma das
par de manifestações estéticas por
à arte é um fator fundamental para formação maneiras de impulsionar o sistema de mercado
excelência, explicitamente ela se vincula
Portanto, educar para cidadania é uma ativida- do cidadão. É preciso compreender a função da capitalista, sendo a indústria do lazer um dos
a conhecimentos científicos ligados à
de de reflexão, onde na sala de aula o professor arte e sua influência na formação humana. To- meios utilizados para manter o sistema capita-
física e à matemática, além de exigir
atua como um mediador de conhecimentos que mamos como exemplo a música que, além de habilidade motora e destreza que a lista em movimento, por meio do incentivo ao
leva os alunos a refletirem sobre as mais diver- expressão artística e de linguagem, é um instru- colocam, sem dúvida, como um dos consumo. Por outro lado, por meio do desen-
sas temáticas envolvendo questões individuais mento de cidadania no sentido de poder apre- recursos mais eficazes na direção de volvimento de atividades de lazer, o profissional
e coletivas, que partem desde as relações em sentar-se como instrumento de luta política e uma educação voltada para o objetivo que atua como mediador das mesmas, segun-
sala de aula com o outro até as relações sociais de representação social. Diante do exposto, de se atingir o desenvolvimento integral do Melo (2003, p.43) pode e “deve contribuir
ressaltamos que a música, além de nos envolver do ser humano (SAVIANI, 2003, p.40). para educar a sensibilidade de seu público-alvo,
de maneira mais abrangente, como as temáti-
cas políticas, econômicas, ambientais, entre ou- emocionalmente, é um veículo de comunicação apresentando novas linguagens e, fundamen-
de linguagem muito influente e, como instru- Como já explicitado, a música na formação talmente, possibilitando a vivência de novas
tros.
mento político, pode ser usado como “arma” desempenha um papel de humanização, en- experiências”, e a partir disso, encontrar novos
contra desigualdades sociais, estas que impos- volvendo o desenvolvimento cognitivo e tra- interesses em atividades culturais e políticas.
sibilitam até o direito à arte. A música é então balhando as capacidades humanas como um
Arte e Educação
utilizada como instrumento de transformação todo, ajudando tanto no desenvolvimento das
As pessoas possuem interesses culturais que,
da sociedade, da realidade e instrumento po- potencialidades artísticas quanto na apropria-
O contato com a arte é essencial para o desen- em geral, buscam o bem-estar. Segundo Joffre
lítico e, consequentemente, um instrumento de ção e na absorção do conhecimento cientifico,
volvimento humano e para a formação, sendo Dumazedier, é possível fazer uma classificação
cidadania. visto que fortalece a concentração, sendo esta
esse um conceito consideravelmente comum desses interesses para nos ajudar a compreen-
um atributo essencial para assimilação de sa-
na atualidade, no entanto, são poucas as crian- der e a conceituar. O autor destaca que estes
Quando os educandos têm consciência beres.
ças e até mesmo adultos que têm acesso a ela, não são interesses estáticos e inflexíveis, pois
do processo em que estão engajados
por questões políticas e econômicas que não uma atividade de lazer pode estar ligada à ou-
e conhecem mais profundamente a si
oportunizam esse contato. Sobre a importância tra. São interesses citados por eles, interesses
mesmos, ao professor e aos colegas, Lazer e Educação
do conhecimento e contato com experiências físicos, manuais, sociais, intelectuais e artísticos,
podem contribuir significativamente
artísticas o Ministério da Educação e Cultura O profissional de lazer não pode deixar
na metodologia do curso. Conhecendo É importante refletir que nem sempre a edu- de contemplar os interesses artísticos em
(MEC) considera que: as origens e a história dos educandos,
cação e o lazer tiveram essa configuração que seu programa, tratando-os a partir de uma
O ser humano que não conhece arte assim como suas atividades musicais
podemos encontrar hoje em dia. Não se sabe ao ampla dimensão. Deve contribuir para
tem uma experiência de aprendizagem anteriores e atuais na família e em
certo quando se deu início às atividades volta- educar a sensibilidade de seu público-
limitada, escapa-lhe a dimensão do suas comunidades, o educador pode
das para o lazer, porém, se tem o conhecimen- alvo, apresentando novas linguagens
sonho, da força comunicativa dos construir os passos metodológicos e
to de que, na Grécia Antiga, o lazer acontecia e, fundamentalmente, possibilitando a
objetos à sua volta, da sonoridade definir o conteúdo pedagógico com eles
no tempo livre do ser humano. Eram atividades vivência de novas experiências. Partindo
instigante da poesia, das criações mais eficazmente (BARBOSA, 2006,
dessas vivências, o profissional pode
musicais, das cores e formas, dos gestos p.100 - 101). voltadas para a conservação dos valores, mas
discutir as peculiaridades de cada
e luzes que buscam o sentido da vida não de toda a população, apenas dos perten-
manifestação em sua diversidade de
(MEC/SEF, 1997, p.14). Considera-se então que o conhecimento do centes à elite. Já a população ficava como res-
correntes e propostas. Neste processo, é
outro, de si mesmo e de sua cultura gera uma ponsável pelo trabalho pesado/escravo, sendo preciso não ter preconceitos e apresentar
Dado o exposto, entende-se que a arte é rele- maior humanização do homem, o que é consi- privada de toda e qualquer manifestação de as manifestações tanto da cultura erudita
vante e indispensável para o desenvolvimento derado a maior função da educação, podendo lazer. Porém, o lazer foi ganhando uma nova quanto da cultura popular (MELO, 2003,
humano, mas ainda percebemos que, mesmo esse conhecimento influenciar para que se es- roupagem. A diversão para os mais pobres res- p.43).
havendo a consciência da importância para a colha a melhor forma de integrar o cidadão à tringiu-se a práticas alienantes, já, para as elites,
sociedade, mesmo sabendo que a constituição arte e ao aprendizado. Sobre a música e a edu- o lazer acontecia por meio de práticas que pro- Neste sentido, entendemos que o lazer não está

52 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 53


apenas ligado à arte e à cultura, mas também coletividade, às questões relacionadas à preser- desfrutar de seus direitos e interagir com ou- te recreativa, pois, de acordo com Oliveira,
permeia todo o espaço educativo, visto que, ao vação ambiental e aos cuidados com a nature- tros colegas em conversas no dia a dia. Nota-se,
dançar, participar de aulas de música, assistir za, como reciclagem e reutilização de materiais, ainda, a partir das falas dos alunos que, quando Ao brincar, afeto, linguagem,
a um filme, brincar, a criança está tendo lazer. bem como o trabalho de conscientização so- não participavam do projeto, a maioria passava percepção, representação, memória

Assim sendo, ao mesmo tempo que aprendem, suas tardes em frente à TV, tablets, smarthpho- e outras funções cognitivas estão
bre as diferenças. Os professores também nos
nes, sem interação com outras crianças e sem profundamente interligadas. A
as crianças se divertem e, consequentemente, apontaram algumas práticas voltadas à cidada-
brincadeira favorece o equilíbrio afetivo
crescem e desenvolvem sua cidadania, pois o nia que costumam desenvolver em aula como: praticar atividades físicas ou artísticas. Neste
da criança e contribui para o processo
lazer possibilita trabalhar a diversidade cultu- rodas de conversa, atividades com utilização sentido, o professor, ao ser indagado sobre a
de apropriação de signos sociais. Cria
ral, sem discriminações ou subordinações de de materiais recicláveis, além de confecção de relevância do PHE para os estudantes, enfatiza:
condições para uma transformação
uma manifestação cultural em relação à outra, Tem uma grande importância por ser
jogos e brinquedos com sucata, atividades em significativa da consciência infantil,
um espaço de convivência e de troca de
sem fazer distinção a que públicos as mesmas grupo, exposição e debates. Inclusive, o pro- por exigir das crianças formas mais
saberes, ampliando os conhecimentos
são destinadas. Seguindo essa linha de compre- fessor de música desenvolve trabalhos susten- complexa de relacionamento com o
e promovendo o acesso a várias
ensão, Melo (2003) ressalta que: táveis produzindo instrumentos de percussão mundo (OLIVEIRA, 2005, p.160).
atividades integradas com os setores
Os momentos de lazer não podem ser com materiais reutilizáveis. de Cultura,Esportes e Recreação. Essa
compreendidos como mero momento rotina vai ajudando na formação das Em outras palavras, mais do que entretenimen-
de alienação, desconectados da crianças e influenciando ações para to, as crianças têm na brincadeira uma maneira
Além disso, observamos, no cotidiano, um fator
realidade social, tampouco como toda a vida (PROFESSOR P3, 2017, de ver e representar o mundo, de se posicionar
importante quando se trata da relação entre os
espaços de fuga, o que não significa que questionário).
alunos, que é a resolução de conflitos, onde em ao mesmo tempoque fazem escolhas, compar-
devamos desconsiderar o prazer, uma
geral, o professor atua como mediador, chaman- tilham ideias, seguem orientações e aprendem
das características fundamentais de sua
Com isso, é reafirmada a importância de pro- a interagir com o coletivo e, assim, considera-
definição (MELO, 2003, p. 51). do os alunos à parte e dialogando com eles sobre
piciar às crianças uma vivência em coletivida- mos as seguintes respostas quando ressalta-
a origem do conflito, questionando quais as pos-
de, compartilhando saberes e experimentando mos o aprendizado construído ao brincar:
Na educação, o lazer é considerado também sibilidades de resolução e, desta forma, criando
uma multiplicidade de atividades, além das que Aluno 1: Trabalho em equipe, respeito
como um instrumento de desenvolvimento in- um ambiente de conciliação entre as crianças.
envolvam aparatos tecnológicos da atualidade, aos amigos etc. (ALUNO 1, 2017,
telectual, que desperta a criticidade dos alunos, Desta maneira, o professor oferece ao aluno ins-
como atividades de lazer, artes e esportes, pro- questionário).
pois, na sociedade atual, existe um consenso de trumentos de resolução de seus próprios con-
piciando conhecimento de si mesmo e do ou- Aluno 2: A conviver com outras
que o acesso à arte e ao lazer é essencial para flitos, sem uso de violência, através do diálogo, pessoas e a se divertir (ALUNO 2, 2017,
tro, em momentos de aprendizagem prazerosa
cidadãos de qualquer idade, mas que, na práti- sendo assim, compreendemos que aprender a questionário).
individual e em grupo.
ca isso, não tem se materializado, ficando trans- lidar com as situações de maneira harmoniosa Aluno 3: A respeitar e a brincar em
vestido de um discurso político e demagógico. também é um exercício de cidadania. grupo (ALUNO 3, 2017, questionário).
Portanto, acreditamos que os profissionais da O Lazer na Educação a Partir das Práticas Vi-
educação, do lazer e da arte trabalham em par- Neste projeto, as crianças têm acesso à arte e vênciadas Sobre o exposto pelos estudantes, observamos
ceria podendo educar para o lazer e pelo lazer, às manifestações culturais que visam principal- que há uma frequência em citar a questão do
numa perspectiva crítica, cujo objetivo central mente reforçar a identidade cultural nordestina As crianças têm bastante espaço para brincar respeito e a vivência em coletividade. Na ati-
é o crescimento do aluno nos seus variados e pernambucana, valorizando, assim, as produ- se comparado com o tempo reservado para tude de brincar, a criança desenvolve habilida-
sentidos. ções artísticas regionais a partir do acesso à ga- brincar nas salas de aulas tradicionais do ensi- des, tais como: liderança, compartilhamento de
leria de arte e participação de aulas de dança no regular. Nos momentos das brincadeiras, os ideias, tomada de decisão, criação de estraté-
e música. O projeto conta também com ativi- professores evitam o uso de tecnologias. Bus- gias, escolhas. Ela também compreende que
As Práticas Voltadas à Cidadania: Discutindo dades de natação e de recreação dirigidas por cam resgatar jogos e brincadeiras tradicionais, ser cidadão exige de ter consciência dos di-
os Resultados profissionais qualificados, sem falar nos mo- como pé de lata, queimada, pega-pega, pula reitos e deveres. Entende, ainda, que cidadão
mentos livres de brincadeiras, que são impres- corda, elástico, entre outros. Neste sentido, é um sujeito de direitos e deveres e, mesmo
Durante o percurso de estágio, foi possível ob- cindíveis ao desenvolvimento infantil. percebemos que a forma de diversão e lazer tendo direitos definidos em lei, é preciso lutar
servar, a preocupação em abordar temas rela- característica da infância é justamente o brincar para fazê-los efetivos. Além disso, as crianças
cionados à realidade social, à convivência na Essa variedade de ações possibilita à criança e que essa atitude não é uma atitude meramen- no estudo afirmam que os direitos da criança,

54 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 55


enquanto cidadãs, é ter uma casa, uma boa es- pode atuar na direção de levar a criança a uma formas para a construção de outros conheci- a vez, respeitando as regras, entendendo que
cola e ter direito de brincar. Com isso, entende- reflexão de que, para brincar, não é necessá- mentos. nem todos desenvolvem as mesmas habilida-
mos que as crianças sabem o que precisam e o rio objetos e brinquedos, sendo os jogos e as des ao mesmo tempo e que, por isso, precisa-
que é essencial para a vida, com a garantia da brincadeiras tradicionais um relevante instru- No projeto aqui referido, podemos constatar mos ter paciência e apoiar. Neste sentido, é que
legislação vigente. mento para isso. Além disso, rodas de conversa claramente as relações entre as diversas áre- podemos falar de educação humanizada, onde
para problematizar questões como essas são as de conhecimento e a relevância do contato se aprende com, sobre o outro e sobre si, além
A criança hoje é reconhecida como um sujei- uma ótima alternativa citada pela Professora com arte na infância, sobretudo, quando pen- da cultura em que a pessoa está inserida. Na
to de direitos, sendo assim, são previstos por P1. Sendo assim, reconhecemos a brincadeira samos que grande parte da população não tem arte, enxergamos essas possibilidades de forma
leis, direitos ao lazer, à educação, à saúde, à como atividade de lazer e como um eficiente acesso à diversidade de expressões artísticas e ainda mais evidente que em outras áreas de co-
família, entre outros, como forma de garantir instrumento pedagógico que auxilia para uma culturais, ficando restrita apenas ao que é ofe- nhecimento, visto que nela encontramos maior
um Estado de bem-estar social. De acordo com prática lúdica na escola, como ressalta o Pro- recido pela cultura de massa. Temos então as flexibilidade e expressões que nos sensibilizam
Bragagnolo (2013), é de suma importância que fessor P2: seguintes afirmações dos Professores 2 e 4 so- com mais facilidade, pois a arte aflora emoções.
a criança tenha acesso a tudo que a beneficie Através de brincadeira, a criança bre a relevância do contato com a arte.
socialmente, cognitivamente e afetivamente. E compreende o mundo à sua volta,
que a mesma tenha acesso a jogos, brincadei- aprende regras e noções de cidadania, O contato com expressões artísticas Considerações Finais
ras e outras atividades de lazer na infância que, fomenta a autonomia, melhora a proporciona à criança a liberdade de
além de proporcionarem momentos de prazer, condição de saúde física e mental e criação e imaginação, estimulando-a Durante todo o percurso de estágio no Sesc
contribuam para potencializar o seu desenvol- estimula a cooperação e o trabalho a aprender e inovar através da Caruaru, pudemos vivenciar inúmeras ativida-
colaborativo (PROFESSOR P2, 2017, sensibilidade. Ademais, faz a criança des voltadas às mais diversas áreas de conhe-
vimento em seus múltiplos aspectos.
questionário). aprender aspectos de sua sociedade cimento, um fator que consideramos de grande
e cultura (PROFESSOR 2, 2017,
Para o autor, “compreende-se, pois, que o brin- importância para a formação dos sujeitos, de
Portanto, o brincar na escola, além proporcionar questionário).
car é uma forma de a criança trazer a cultura, as professores a alunos e estagiários. Entre elas,
lazer e diversão, colabora com o melhoramen- atividades voltadas às artes e aos cuidados
relações e as regras sociais à sua compreensão
Aguçar os sentidos e proporcionar
to das relações pessoais e sociais da criança, com o meio ambiente. Sendo assim, retoman-
de mundo.” (BRAGAGNOLO et al, 2013, p. 16). momentos lúdicos com responsabilidade,
Neste sentido, nada melhor que apresentar as bem como colabora para o desenvolvimento da do ao objetivo principal que guiou a constru-
disciplina, proporcionar também a
crianças situações que ampliem seu repertório, cultura e dos saberes infantis. Outro fator im- ção desse trabalho “Compreender como as ati-
busca e o estudo do próprio corpo,
que possibilitem descobrir e conhecer coisas portante na formação das crianças é o contato espaço e tempo, além de proporcionar vidades vivenciadas no Projeto Habilidades de
novas, explorar os ambientes e criar livremente. com a arte, sendo a escola um ambiente propí- conhecimento no âmbito da cultura Estudo atuam como instrumento de cidadania
Como afirmou a Professora P1: cio a isso, como veremos a seguir. popular (PROFESSOR 4, 2017, para crianças de Caruaru-PE”, faremos alguns
O brincar é importante sim. Brincando questionário). apontamentos, ressaltando alguns resultados
também se aprende muito e muito se encontrados ao término do trabalho de pesqui-
ensina. Vence obstáculos e exercita a Arte e Educação e suas Contribuições para Diante do que ressaltam os professores, po- sa e das vivências no campo.
criatividade. No PHE, as crianças são uma Educação Humanizada demos afirmar que os momentos de interação
protagonistas de diversas experiências
entre professor e alunos, bem como os mo- Nesse processo de pesquisa e análise de dados,
que as levam ao exercício e ao
Conhecer a cultura e as expressões artísticas mentos de interação das crianças entre si, não pudemos compreender que o projeto cumpre
desenvolvimento da capacidade de uma
pertencentes à realidade de cada um, além de são meramente técnicos no sentido de ensinar devidamente a missão do Sesc PE, sendo sua
convivência harmoniosa, sobretudo
considerando a importância das regras um direito, é fator de suma importância para a e aprender, mas são espaços que em meio às principal função contribuir para a construção
e as limitações do outro (PROFESSORA produção da identidade cultural do indivíduo. relações constituídas. Os sujeitos desenvolvem de uma sociedade mais justa, subsidiando a
P1, 2017, questionário). A escola atua nesse processo, na construção conhecimento de si mesmo e do outro, respeito clientela de baixa renda, com serviços de edu-
e no desenvolvimento de tais conhecimentos, à diversidade e saberes, num contínuo movi- cação, saúde, cultura, lazer e assistência.
Nessa perspectiva, consideramos que o mo- fomentando nas crianças o desejo de obtê-los. mento de trocas de experiências e de conhe-
mento de lazer pode ser utilizado para a luta Atuando como mediadora de conhecimentos, cimento de mundo. Além de dançar e tocar Ao atuar como instrumento de cidadania, , por
contra o padrão de consumo excessivo estabe- foram respeitados os saberes construídos pelas instrumentos, estas crianças dançam e tocam ser dedicado ao lazer, à formação cultural, à crí-
lecido pela sociedade atual, onde o professor próprias crianças e apresentadas a elas novas em sintonia com o outro, aprendendo a esperar tica e à política, o projeto permite às crianças

56 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 57


não só realizar as tarefas de casa com apoio
pedagógico, mas também o senso de coletivi-
MELO, Victor Andrade. Introdução ao Lazer. Bauru,
SP: Manole, 2003.
A formação docente a partir do Programa de
dade e de partilha. Neste espaço educativo, os Incentivo à Formação Profissional do Sesc
alunos se reconhecem em sua individualidade OLIVEIRA, Zilma Ramos. Educação Infantil:
fundamentos e métodos. São Paulo. Cortez, 2005.
como sujeitos sociais de direitos e deveres e,
sendo assim, os estudantes têm um olhar dife- The teacher training from the Sesc Professional Training
SAVIANI, Demerval. A educação musical no contexto
renciado e responsável para os cuidados com
da relação entre currículo e sociedade. In: IX encontro
Incentive Program
o meio ambiente e para o convívio em comu-
anual da associação brasileira de educação musical.
nidade. Raiane Géssica Silva dos Santos1
2000 Belém. Anais, Belém: Abem, 2000.
Alcicleide Moraes da Silva Pontes2
As principais práticas voltadas à cidadania iden- SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Palloma Rayane Cordeiro Flor3
tificadas são ações e intervenções realizadas Trabalho Cientifico. 23ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.
pelos professores no sentido de conscientiza-
Resumo: Este artigo irá apresentar uma experiência de estágio desenvolvida no Sesc Caruaru, tendo como
ção ambiental e da promoção da boa convivên- enfoque a construção da formação docente. Para produzir este trabalho, contamos com a participação
 dos/as estagiários/as dessa unidade, lotados na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Assim, nosso
cia nas relações entre alunos. Esses alunos reco-
objetivo é compreender a construção da formação docente dos/as estagiários/as da Unidade Sesc Caruaru,
nhecem que, como cidadãos, possuem direitos lotados na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, a partir da experiência no Programa de Incentivo
à Formação Profissional do Sesc. E especificamente buscamos: investigar elementos balizadores para a
essenciais como ter um lar, brincar, ter acesso
construção da formação docente dos/as estagiários/as e identificar os significados atribuídos à vivência
a uma boa educação, entre outros. A partir das do Programa de Incentivo à Formação Profissional pelos/as estagiários/as. Como referências teóricas
partilhadas para a construção dessa pesquisa, trazemos as discussões de Roldão (2007); Veiga (2008);
aulas de dança e de música, passam a compre-
Santiago e Neto (2006), assim como Aroeira (2014). Concernente aos procedimentos metodológicos, nos
ender melhor a sua cultura, reconhecendo que pautamos em uma pesquisa exploratória com aplicação de um questionário aberto (NOGUEIRA, 2002),
no qual contamos com a colaboração de cinco (05) estagiários/as e para a análise do corpus empírico
tais saberes são importantes, sobretudo, por
nos valemos da Análise de Conteúdo de Bardin (1977). A partir dos dados construídos, pudemos inferir
estarem atrelados a atitudes éticas e sociais, que o referido estágio trouxe variadas contribuições para a construção da formação docente, dentre elas,
podemos evidenciar a aproximação com o campo de atuação profissional; as possibilidades de relacionar
como o cuidado com o meio ambiente. Essas
teoria e prática, bem como refletir acerca dos caminhos formativos do percurso da graduação.
atitudes éticas também são desenvolvidas nas
Palavras - chave: Estágio supervisionado. Formação docente. Programa de Incentivo à Formação
atividades de recreação e esportivas, estas que Profissional do Sesc.
são atividades de lazer e que fortalecem ainda
mais a formação cidadã dessas crianças. Abstract: This work will present an internship experience developed at Sesc Caruaru, focusing on the
construction of teacher training. In order to collaborate with this work, we have the participation of the
trainees from this unit, which are filled in the Infant Education and Primary Education. Thus, our objective is
to understand the construction of the teacher training of the trainees of the Sesc Caruaru Unit, filled in Infant
Education and Elementary Education, based on the experience in the Sesc Professional Training Incentive
Program. Specifically, we aim to: investigate key elements for the construction of the trainees’ training and
Referências
identify the meanings attributed to the experience of the Professional Training Incentive Program by the
trainees. As shared theoretical references for the construction of this research, we support the discussions
BRAGAGNOLO, Regina Ingrid et al. Entre meninos of Roldão (2007); Veiga (2008); Santiago and Neto (2006), as well as Aroeira (2014). Concerning the
methodological procedures, we conducted an exploratory research with the application of an open
e meninas, lobos, carrinhos e bonecas: a brincadeira questionnaire (NOGUEIRA, 2002), in which we counted on the collaboration of five (05) trainees and for the
em um contexto da educação infantil. 36ª Reunião analysis of the empirical corpus we built the Content Analysis of Bardin (1977). From the constructed data, we
can infer that the mentioned stage brought varied contributions for the construction of the teacher formation,
Nacional da ANPEd – Goiânia. Out./ 2013.
among them we can show the approximation with the field of professional performance; the possibilities of
relating theory and practice; as well as reflect on the formative paths of the graduation course.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Keywords: Supervised training. Teacher training. Vocational training incentive program of Sesc.
Parâmetros Curriculares Nacionais/Arte. Brasília, DF:
MEC/SEF, 1997 1 Autora - Graduada em Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Campus Acadêmico do Agreste.
gessicasantos393@yahoo.com.br.

2 Orientadora - Especialista em Psicopedagogia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap); Psicopedagogia Institucional
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da pela Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire) e Psicologia Clínica Infantil pela Faculdade do Vale do Ipojuca (Unifavip). Graduada em Peda-
Escola: Teoria e Prática. 5ª ed. Goiânia, Alternativa, gogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru- (Fafica). amoraes@sescpe.com.br.

2004. 3 Editora do Artigo - Mestre em Ensino de Ciências pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Graduada em Licenciatura
em Química pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) – Campus Vitória de Santo Antão. Técnica em Agroindústria pelo Instituto Fede-
ral de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco – Campus Vitória de Santo Antão. pallomaflor@gmail.com.

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Introdução Experimentar a docência tornou-se tão sig- Procedimentos (2016), ao trabalhar a proposta tir dele que conseguimos nos apropriar dos
nificativo que instigou-nos, a tecer o seguinte do Programa de Incentivo à Formação Profis- conhecimentos construídos academicamente,
O estágio supervisionado exerce um papel bali- questionamento: como os/as estagiários/as da sional do Sesc. Partilhamos ainda dos estudos pois os vivenciamos na prática. Nessa perspec-
zador na formação profissional, tendo em vista Unidade Sesc Caruaru, lotados na Educação In- de Santiago e Neto (2006) por considerarem o tiva, Aroeira (2014) concebe que os processos
ser o momento em que aproxima o/a estagi- fantil e no Ensino Fundamental, constroem sua estágio um eixo estruturador da formação do- de formação docente são aprendidos em uma
ário/a ao campo de atuação da sua profissão. formação docente a partir da experiência no cente; Roldão (2007) ao apresentar o significa- parceria entre universidade e escola de modo
Acreditando nessa afirmativa, dirigimos os nos- Programa de Incentivo à Formação Profissio- do da prática docente; Pimentel e Pontuschka que a universidade e os campos de estágio es-
sos olhares para a construção da formação do- nal do Sesc? Essa é uma questão que surge por (2014) quando evidenciam o papel do estágio tão em articulação na formação do/a estagiá-
cente dentro das possibilidades que o estágio considerarmos o estágio, um momento que os/ na formação docente por meio da pesquisa; rio/a permitindo-o/a uma construção ativa da
oferece para tal, mais especificamente, o ofe- as inserem na prática, com o acompanhamento Veiga (2008) ao trazer alguns sentidos da for- sua profissão e promovendo a reflexão da prá-
recido pelo Programa de Incentivo à Formação dos/as seus/suas supervisores/as. mação docente, assim como Aroeira (2014) por tica docente.
Profissional do Sesc. Para tanto, buscamos os apresentar a importância da articulação entre
dizeres indicados pelos/as estagiários/as en- Compreendemos por formação docente o que universidade e escola para o estágio supervi-
volvidos/as no programa, na área da educação, nos traz Veiga (2008, p. 15) ao pontuar que essa sionado. Percurso Metodológico
nos quais trouxeram experiências afirmativas se configura no “[...] ato de formar o docente,
reveladas em contribuições para sua formação. educar o futuro profissional para o exercício do Este trabalho se justifica pelo percurso forma- A experiência aqui apresentada utilizou da
magistério”. Esse ato não ocorre isoladamente tivo de estágio desenvolvido no Sesc Caruaru abordagem de pesquisa exploratória que de
Essa perspectiva indicada corresponde ao que nem se encerra no curso de graduação, pelo (nos anos de 2016 e 2017) associado ao curso acordo com Gerhardt e Silveira (2009), tem
discutem Santiago e Neto (2006) ao conce- contrário é contínuo, constrói-se nas experiên- de Licenciatura em Pedagogia da UFPE/CAA, como objetivo possibilitar uma maior familia-
berem o estágio como o eixo estruturador da cias formativas além de uma sala de aula. realizados pela autora. A vivência no estágio ridade com o fenômeno estudado, buscando
profissionalização docente, tendo em vista ser nos fez entendê-lo como um elemento baliza- torná-lo mais compreensível. Por esse viés, a
nesse tempo e espaço que se constroem co- Nesse contexto, conforme essa mesma autora, dor para a formação de um/uma profissional, pesquisa envolve, como tantas outras, estudo
nhecimentos necessários à atuação profissio- a formação profissional é inacabada, pois é um surgindo dessa forma, uma inquietação em bibliográfico; entrevistas ou questionários com
nal em um constante movimento entre a teo- processo permanente, ou seja, tem início, mas compreender a construção da formação docen- os/as sujeitos/as envolvidos/as com a proble-
ria e a prática. Vinculados a essa compreensão, não tem fim. A vista disso, estamos certos de te nesse ambiente. O interesse nessa compre- mática pesquisada, assim como análise dos ele-
apresentaremos, no presente trabalho, alguns que as experiências do estágio configuram-se ensão convidou-nos a inserir os/as estagiários/ mentos que emergem no desenvolvimento do
elementos da experiência de estágio não obri- como uma parte do processo formativo que as em nossa discussão, por acreditarmos que estudo (GIL, 2007).
gatório vivenciado na Coordenação de Educa- darão lugar a outras experiências posteriores. os conhecimentos se ampliam quando conside-
ção Infantil, Unidade Sesc Caruaru, nos anos de Nessa perspectiva, elencamos como objetivo ramos o que o outro tem a dizer. Sozinhas as Como situado, os/as sujeitos/as de nossa in-
2016 e 2017. geral desse estudo: compreender a construção reflexões não seriam tão ricas, tal como foram vestigação, foram cinco (05) estagiários/as do
da formação docente dos/as estagiários/as da ao ouvir os/as colegas estagiários/as. Sesc Caruaru lotados na Educação Infantil e no
Diante de tantos campos de estágio não obri- Unidade Sesc Caruaru, lotados na Educação In- Ensino Fundamental. Para construção do cor-
gatório, a escolha pelo Sesc Caruaru se deu a fantil e no Ensino Fundamental, a partir da ex- Para esse estudo, consideramos o levantamento pus empírico, nos valemos da aplicação de um
partir de pesquisas acerca do trabalho desen- periência no Programa de Incentivo à Formação de reflexões acerca do papel que o estágio car- questionário aberto que, de acordo com No-
volvido nessa instituição, em que foi perceptí- Profissional do Sesc. E como objetivos especí- rega na formação profissional como uma con- gueira (2002), consegue explorar todas as pos-
vel ser um espaço rico em aprendizagens para ficos: (1) investigar elementos balizadores para tribuição social. Essa contribuição nos provoca síveis respostas a respeito de um item.
os/as seus/suas estagiários/as, através de pro- a construção da formação docente dos/as es- o pensamento, no sentido de compreendermos
jetos, ações, acompanhamentos dos/as super- tagiários/as; (2) identificar os significados atri- a importância mútua dos/as estagiários/as em O roteiro do nosso questionário foi composto
visores/as, experiências em sala de aula e fora buídos à vivência do Programa de Incentivo à seus campos de estágio, tendo em vista que es- por três questões, buscando compreender ini-
dela. Tal escolha possibilitou-nos, dentre tantas Formação Profissional pelos/as estagiários/as. ses/as levam contribuições para os espaços de cialmente i) como os/as estagiários/as definiam
experiências, a vivência da prática docente que atuação, como também enriquecem suas expe- o estágio no Sesc para sua formação docente;
conforme Roldão (2007) se refere à ação de Visando alcançar os objetivos aqui propostos, riências através desse campo de aprendizado. ii) se existiam elementos vivenciados nesse es-
ensinar que se expressa no fazer do/a profes- nos embasamos nas compreensões teóricas tágio que contribuíam para a sua formação pro-
sor/a. trazidas pelo Manual do Estágio: Políticas e Acreditamos que é durante o estágio e a par- fissional e iii) quais os significados trazidos pelo

60 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 61


estágio para sua formação docente. terial com os dados obtidos com as respostas dos emergidos no questionário com os/as es- mentel e Pontuschka (2014) pontuam que:
dos/as estagiários/as. “Esta fase [...] consiste tagiários/as participantes em que elegemos Durante o curso de graduação,
Nossa análise dos dados se procedeu a partir essencialmente de operações de codificação” três principais categorias para nossa discussão começam a ser construídos os saberes,
as habilidades, posturas e atitudes que
da Análise de Conteúdo, tendo como referência (BARDIN, 1977, p.101). Nesse momento, realiza- por terem sido mais evidenciadas por eles/as
formam o profissional. Em períodos
Bardin (1977). Segundo a autora: mos uma leitura e uma organização dos dados como: a aproximação com a área de atuação
de estágio, esses conhecimentos são
A análise de conteúdo é um conjunto de em tabela, buscando representações que pu- profissional; o estágio como espaço de reflexão
ressignificados pelo aluno estagiário a
técnicas de análise das comunicações. dessem responder a nossa questão problema. acerca dos caminhos formativos do percurso partir de suas experiências pessoais em
Não se trata de um instrumento, mas de
de graduação e o estágio sendo um momento contato direto com o campo de trabalho
um leque de apetrechos; ou, com maior
de diálogo entre a teoria e a prática. que, ao longo da vida profissional, vão
rigor, será um único instrumento, mas
Contribuições do Estágio para a Formação sendo reconstruídos no exercício da
marcado por uma grande disparidade
Docente No que se refere à aproximação com a área profissão (PIMENTEL; PONTUSCHKA,
de formas e adaptável a um campo de
de atuação profissional, visualizamos, de acor- 2014, p. 73).
aplicação muito vasto: as comunicações
(BARDIN, 1977, p. 31). As interpretações realizadas acerca dos dados do com o fragmento da resposta do partici-
obtidos, em diálogo com a fundamentação te- pante 1, o estágio no Sesc Caruaru para a sua Concernente à categoria que versa sobre o
Como colocado não existe um padrão para órica, constituíram o momento do tratamento formação docente, “enquanto momento que estágio na condição de dialogar a teoria e a
análise de conteúdo, a mesma pode se orga- e inferência sobre os resultados. Nessa fase, possibilita experimentar o que é ser professor, prática foi apontado que “o estágio no Sesc
nizar de diferentes formas. Utilizando especifi- os resultados brutos foram interpretados com como se constitui o fazer docente, promovendo possibilitou pôr em prática as teorias aprendi-
camente essa referência abordada, a autora irá vistas a torná-los significativos. É possível “[...] descobertas e conhecimentos, principalmente das” (fragmento extraído da resposta ao ques-
delimitar essa análise em três fases: a pré-análi- estabelecer quadros de resultados, diagramas, aos que não tiveram uma experiência anterior” tionário, Estagiária 4). O momento da prática
se, a exploração do material e o tratamento e a figuras e modelos, os quais condensam e põem (fragmento extraído da resposta ao questio- configura-se em possibilidade de relacionar as
inferência diante dos resultados. em relevo as informações fornecidas pela aná- nário, Estagiário 1). O estágio, como a primeira discussões teóricas emergidas na graduação,
lise” (BARDIN, 1977, p. 101). Esse momento nos oportunidade de experienciar a docência, foi mostrando-nos que teoria e prática não se se-
A pré-análise é a fase da organização que com- possibilitou, a partir dos dizeres dos/as esta- uma contribuição evidente nesse fragmento param, pelo contrário, estão estreitamente re-
preende a sistematização das ideias iniciais, giários/as no questionário, constituir um eixo para a construção da formação docente, o que lacionadas.
as referências teóricas e a exploração siste- de sentido e cinco categorias principais, pelos nos permite dialogar com Aroeira (2014) ao
mática dos documentos (BARDIN, 1977, p.95). quais veremos na figura 1. discutir que o estágio corresponde ao primeiro Em linhas gerais, nossas análises evidenciaram
Em nosso trabalho, essa fase se iniciou com a momento em que se pode ser professor, sendo outros elementos vivenciados no estágio do
aproximação das discussões teóricas acerca do FIGURA 01 - Estrutura da Análise: Eixo de Sentido possível assumir as primeiras experiências com Sesc que contribuíram para a formação docen-
estágio como eixo balizador para a formação e suas Categorias a docência e o aprender sobre a profissão. te dos/as estagiários/as como: o acompanha-
docente. mento dos/as supervisores/as, a relação aco-
Ainda sobre a categoria intitulada aproximação lhedora de grande parcela dos/as profissionais;
A partir disso, realizamos a exploração do ma- com a área de atuação profissional, uma partici- as possibilidades de intervenção; a possibilida-
terial com os dados obtidos com as respostas pante indicou o estágio do Sesc como “relevan- de de construir e reconstruir aspectos anterior-
dos/as estagiários/as. “Esta fase [...] consiste te por aproximar o/a estudante com sua área mente elaborados; o contato com alunos/as;
essencialmente de operações de codificação” de atuação profissional, fazendo-se pensar e re- os desafios da prática docente; a oportunidade
(BARDIN, 1977, p.101). Nesse momento, realiza- pensar os caminhos formativos no seu percurso de aprendizagem; a possibilidade de participar
mos uma leitura e uma organização dos dados de graduação” (fragmento extraído da respos- ações e projetos.
em tabela, buscando representações que pu- ta ao questionário, Estagiária 5). Esse fragmen-
dessem fazer alcançar os objetivos elencados. to indica o caráter de aproximação com o cam- Diante dos dados construídos, observamos que
A fase relativa ao tratamento e às inferências po de atuação que o estágio possui e também o o/a estagiário/a, com a aproximação da reali-
dos dados construídos será apresentada e dis- evidencia como um espaço de reflexão acerca dade de sua área de atuação, faz-se investiga-
cutida nos parágrafos que se seguem. Fonte: própria dos autores dos caminhos formativos do percurso de gra- dor/a a refletir acerca do vivido. Nesse sentido,
duação, como apresentado em outra de nossas “[...] o estágio desempenha um importante pa-
A partir disso, realizamos a exploração do ma- A figura 1 vem sistematizar a análise dos da- categorias de análise. Nessa perspectiva, Pi- pel na formação docente por meio da pesquisa

62 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 63


ao favorecer, estimular e até mesmo conduzir gio realizado no Sesc, tivemos a oportunidade BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa:
investigações que partam de situações vividas de refletir diretamente na vivência do dia a dia, Edições 70, 1977.
pelos alunos das licenciaturas nas escolas” (PI- analisando situações concretas do cotidiano e
GERHARDT, Tatiana Engele; SILVEIRA, Denise Tolfo.
MENTEL; PONTUSCHKA, 2014, p.72). Pensar o aprendendo com a equipe de profissionais as
Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Editora da
momento do estágio como oportunidade de in- competências necessárias para lidarmos com
UFRGS, 2009.
vestigação implica entendermos que o/a esta- as mais diversas situações.
giário/a não está no campo para imitar práticas, GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.
mas para refletir sobre elas e construir as suas Os significados atribuídos pelos estagiários do ed. São Paulo: Atlas, 2007.
próprias. Essa posição ativa o/a possibilita re- Sesc Caruaru na vivência do Programa de Está-
fletir acerca da vivência de estágio num movi- gio para sua formação docente tornaram evi- MINAYO, Cecília de Souza. Trabalho de Campo:
mento de diálogo entre os seus conhecimentos dentes a aproximação com a área de atuação contexto de observação, interação e descoberta.
In_____. Pesquisa Social: teoria, método e
e o contexto em que atua. profissional, assim como um espaço de reflexão
criatividade. 28. Ed. Petrópolis: RJ: Vozes, 2009.
acerca dos caminhos formativos do percurso
de graduação em momentos de diálogo entre NETO, José Batista; SANTIAGO, Maria Eliete. A prática
Considerações Finais teoria e prática, como também momento de de ensino como eixo estruturador da formação
planejamento, intervenção e construção de co- docente. In: NETO, José Batista; SANTIAGO, Maria
Ao buscarmos compreender a construção da nhecimento junto aos/as supervisores/as. Por Eliete (Orgs.) Formação de professor e prática
formação docente dos/as estagiários/as do essa via de resultados, interessa-nos apontar pedagógica. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Ed.
Sesc Caruaru através da experiência no Progra- caminhos no sentido de que a formação docen- Massangana, 2006, p. 29-35.
ma de Incentivo à Formação Profissional, visua- te configura-se como um processo permanente
NOGUEIRA, Roberto. Elaboração e análise de
lizamos a importância das aprendizagens cons- e, por assim dizer, jamais estaremos prontos e
questionários: uma revisão da literatura básica e
truídas no movimento entre a Unidade Sesc acabados, mas sim em constante construção. a aplicação dos conceitos a um caso real. Rio de
Caruaru e a Universidade.
Janeiro : UFRJ/COPPEAD, 2002.
Desejamos que nossas instituições formativas
As contribuições do estágio não seriam as mes- não deixem se perder esse espaço para o está- PERNAMBUCO. Serviço Social do Comércio. Manual
mas se não houvesse as discussões teóricas do gio, pelo contrário, ampliem as possibilidades do Estágio: políticas e procedimentos. Recife, 2016.
espaço acadêmico e o acompanhamento dos/ para tal, exercendo esse papel tão relevante na
as professores/as da graduação. Da mesma for- PIMENTEL, C. S; PONTUSCHKA, N. N. A construção
formação profissional. Desejamos que nossos/
ma, sem a atuação em contextos escolares, não da profissionalidade docente em atividades de
as estagiários/as façam o movimento de articu-
estágio curricular: experiências na Educação Básica.
teríamos a riqueza de experimentar a prática. lação entre os conhecimentos construídos aca-
In: ALMEIDA, M. I.; PIMENTA, S. G. (Org.). Estágio
Com essas construções coletivas e em diálogo demicamente com os mais variados espaços de Supervisionado na formação docente: educação
com Pimentel e Pontuschka (2014), compre- atuação, trazendo um retorno para a sociedade básica e educação de jovens e adultos. São Paulo:
endemos o momento do curso de graduação e se construindo profissionalmente. Cortez, 2014.
como espaço para se construir saberes, habi-
lidades, posturas e atitudes que formam o/a ROLDÃO, Maria do Céu. Função docente: natureza
profissional. A partir da experiência de estágio, e construção do conhecimento profissional. Revista
ampliam-se esses conhecimentos pelo contato Referências Brasileira de Educação. [S.L], v. 12, n. 34, p. 94-181,
jan./abr. 2007.
direto com o campo de atuação.
AROEIRA, K. P. Estágio Supervisionado e
possibilidades para uma formação com vínculos VEIGA, Ilma Passos A. Profissão docente: novos
Na trajetória da graduação, refletimos acerca sentidos, novas perspectivas. Campinas: Papirus,
colaborativos entre a universidade e a escola. In:
do que os teóricos nos apontam e, nessa re- 2008.
ALMEIDA, M. I.; PIMENTA, S. G. (Org.). Estágio
flexão, fazemos relações com o contexto da Supervisionado na formação docente: educação
prática, de modo a analisarmos diversas situa- básica e educação de jovens e adultos. São Paulo:
ções e pensarmos na nossa atuação. No está- Cortez, 2014. 

64 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 65


Projeto Brincando nas Férias: É de Arrepiar!
Gestão, planejamento e execução de uma
experiência emocionante
Ranniery José Nascimento Dantas1
Jeane Karla Albuquerque Souza Oliveira2
Geraldo José Santos Oliveira3

Resumo: O Programa de Estágio do Sesc em Pernambuco transporta o estudante ao conhecimento das mais
diversas experiências dentro do campo corporativo. Durante a vivência em uma determinada área, é possível
aprender sobre o funcionamento de outras, deixando visível a importância do trabalho inter e multidisciplinar
entre elas, fortalecendo a rede existente em todas as Unidades Operacionais. Neste Trabalho, aprecia-se o
relato de experiência de um dos maiores Projetos da grade programática da Atividade Recreação do Sesc
no estado, que trata do aproveitamento do tempo livre nas férias escolares, utilizando o lazer educativo
como mote. O referido projeto é concebido através de um tema gerador para todas as Unidades que o
realizam. A escolha do tema deste trabalho surgiu a partir do reconhecimento de uma prática profissional
motivadora, advinda da coordenação da atividade, quando o estagiário se reconhece como parte de uma
equipe pensante, onde se garante o espaço para expressão de ideias, não restringindo o estagiário apenas ao
papel de um tarefeiro aprendiz. Estas elucubrações são um estímulo à adoção de um modelo de intervenção,
onde o estagiário coloca-se em uma posição participativa dentro de um projeto, de modo a criar, opinar,
intervir e elaborar estudos que contribuam para uma das maiores realizações da Atividade Recreação.
Pretende-se, com este estudo, propagar as oportunidades que são disponibilizadas aos estagiários, gerando
motivação para estudar, pensar, criar, recriar, repensar e inovar, traduzindo à práxis no âmbito profissional,
além do sentimento de autonomia e da importância que é proporcionada ao estagiário no processo.
Palavras-chaves: Lazer Educativo. Recreação. Educação. Estágio. Práxis.

Abstract: The SESC / PE Internship Program transports the student to the knowledge of the most diverse
experiences within the corporate field. During the experience in a certain area, it is possible to learn about
the operation of others, making visible the importance of inter and multidisciplinary work between them,
strengthening the existing network in all the Operational Units. In this paper, the experience report of one
of the major projects of the programmatic grade of the Recreation Activity of Sesc Pernambuco, which
deals with the use of free time during school holidays, is used. The said project is conceived through a
generator theme, for all Sesc Units of the State that perform it. The choice of the theme of this work arose
from the recognition of a motivating professional practice, from the coordination of the activity, when the
trainee recognizes himself as part of a thinking team, where space is guaranteed for expressing ideas, not
restricting the trainee only to the role of an apprentice apprentice. These elucubrações are a stimulus to the
adoption of a model of intervention, where the trainee places himself in an active participatory position within
a project, in order to create, express opinions, intervene and elaborate studies that contributes to one of the
greatest achievements of the Recreation Activity. The aim of this study is to propagate the opportunities that
are available to the trainees, generating motivation to study, think, create, recreate, rethink and innovate,
translating to praxis in the professional scope, beyond the sense of autonomy and importance that is trainee
in the process.
Key-words: Educational Leisure. Recreation. Education. Internship. Praxis.

1 Autor - Graduado em Licenciatura em Educação Física na Faculdade Salesiana do Nordeste (Fasne);

2 Orientadora - Graduada em Licenciatura Plena em Educação Física (ESEF-Universidade de Pernambuco UPE) e especialista em Ativida-
des Físicas para Portadores de Doenças Crônico-Degenerativas e Idosos pela UPE;

3 Editor do relato - Bacharel em Educação Física pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Campus de Vitória de Santo Antão, e
especialista em Avaliação da Performance Humana pela Universidade de Pernambuco (UPE).

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Introdução dade, mas dormem em casa e retornam no dia cia com o próprio conceito de lazer”. -operacionais, em detrimento de outros, pre-
seguinte, onde se dedicam a experiências ale- dominando o significado de recreação como
A atividade Recreação na Instituição Sesc con- gres, junto à equipe técnica de recreadores e a reprodução de jogos e brincadeiras. Apesar
siste em promover ações destinadas ao entre- monitores especialmente selecionados por suas Recreação e Lazer das críticas efetuadas sobre a tradicional visão
tenimento por meio de práticas lúdicas com ên- habilidades e competências de compreensão e de recreação, ressaltamos a importância de
fase em conteúdos socioculturais educativos e liderança. Acrescenta-se a isso a importância Duas palavras com conceitos diferentes, porém diferentes práticas culturais disseminadas até
multidisciplinares. das atividades recreativas desenvolvidas esta- confundidas, por muitos, na qual ambas pos- mesmo nessa perspectiva para a compreensão
rem fundamentadas nos conceitos da recrea- suem o mesmo significado, porém existe um de seu processo de construção. Faz-se neces-
O presente relato insere-se no Projeto Brincan- ção e do lazer educativo. caminho de peculiaridades que cada uma pos- sário buscar um entendimento ampliado sobre
do nas Férias, realizado durante o mês de janei- sui. O assunto é amplo e com linhas de trabalho essas práticas, por meio da análise dos signifi-
ro de 2017 em 14 Unidades do Sesc: da Região Dumazedier (1980) ressalta que as atividades e ferramentas diferentes. Trataremos aqui as cados sociais, pedagógicos e culturais por elas
Metropolitana do Recife, Agreste e Sertão de recreativas podem ser classificadas em cinco principais definições e tópicos em linhas gerais. incorporados em nossa realidade.
Pernambuco. Trata-se de uma colônia de férias categorias dentro dos conteúdos culturais do
que compreende um conjunto de vivências lú- lazer: físicos, manuais, artísticos, intelectuais e Conceitos de Recreação Nas décadas de 1970 e 1980, surge um entendi-
dico-recreativas, com características multidis- sociais. Dessa forma, é possível criar opções de mento diferente de recreação, influenciado prin-
ciplinares, ensejando a socialização e a vivência livre escolha para as diferentes idades a fim de A origem do termo recreação pode ser ressal- cipalmente pelo conceito apresentado por Du-
nos mais variados conteúdos. A mesma acon- proporcionar experiências, situações e vivên- tada a partir de duas posições diferenciadas. mazedier (1975), a função recreativa (que tem o
tece duas vezes ao ano, em janeiro e julho, no cias cujo objetivo não seja somente o entreteni- A primeira, proposta por Marinho et al. (1952), sentido de divertimento) está relacionada com
período das férias escolares, da qual crianças e mento, mas, sobretudo, a intervenção em suas aponta que a palavra recreação foi proveniente as funções de descanso e de desenvolvimen-
adolescentes com idades de 5 a 15 anos partici- dimensões cognitivas, perceptivas, afetivas, do latim recreatio (que representa recreio, di- to pelo lazer e orientada para a criação perma-
pam de jogos e brincadeiras lúdico-recreativas culturais, sociais e motoras, através de diferen- vertimento), sendo derivada do vocábulo recre- nente do indivíduo por si mesmo. Respaldados
durante cinco dias. tes tipos de atividades, conhecendo principal- are, com o sentido de reproduzir, restabelecer, por essa ideia, alguns autores (BRÊTAS, 1997;
mente qual o propósito de cada uma delas. recuperar. Nesse âmbito, destaca-se a ideia de MARCELLINO, 1987) têm expressado o enten-
Na edição de julho de 2016, foi adotada a ideia que o objetivo da recreação era a renovação/ dimento de que a recreação não pode mais ser
de trabalhar um único tema gerador para todo O autor nos traz a reflexão de que estamos recuperação para o trabalho. A segunda posi- pensada apenas como uma atividade acrítica, e
o estado. Depois de uma realização exitosa, fi- percorrendo o caminho correto, uma vez que ção, que foi expressa pelo “Dicionário Aurélio sim deve ser compreendida num sentido mais
cou definido que, a partir deste período, todas nossos propósitos coincidem. É possível desen- da Língua Portuguesa” e por alguns estudio- amplo, ou seja, como uma das possibilidades de
as realizações deveriam seguir um único tema volver as cinco categorias com alegria e partici- sos do assunto (BRÊTAS, 1997; MARCELLINO, lazer. Segundo Brêtas (1997), recreação pode
para todas as Unidades do Sesc realizadoras. pação dos integrantes, motivando a reinvenção 1990), relaciona a origem do termo recreação ser entendida como o criar, o recrear e o re-
dos repertórios já conhecidos, apropriando-se com recreare – que significa recreio, diverti- criar-se, que está intimamente atrelado à ação
A definição do tema é realizada a partir de uma de modo diferente dos espaços e apresentando mento, mas com outro sentido dos destacados do homem sobre o mundo. Constitui-se, assim,
consulta com a equipe técnica de cada Unida- diferentes formas de brincar, jogar e principal- acima. Nessa ótica, a recreação pode estar liga- num espaço privilegiado para a construção
de Operacional, onde devem apresentar sua mente se divertir. da à possibilidade de “recriar, criar de novo, dar coletiva de novos conhecimentos e, ainda, em
proposta completa de concepção e o que a novo vigor”. Enquanto a primeira interpretação possibilidade de influenciar educadores mais
mesma despertará nos indivíduos que irão usu- Este relato foi descrito através do caminho per- encaminha o significado de recreação para o comprometidos com as mudanças necessárias
fruir dela. Respaldada em Cavallari e Zacharias corrido pelas experiências supracitadas que, de divertimento, com finalidades específicas de para o surgimento de uma sociedade pautada
(2003,p.38): quando um grupo de pessoas com acordo com Marcellino (2006), ao se referendar reprodução e de restabelecimento, a segunda em valores mais humanos.
alguma característica comum se desloca para a uma situação semelhante, disponibilizaram interpretação é tomada na perspectiva da re-
um mesmo lugar, tendo pelo menos um objeti- possibilidades de “Reinventar, ressignificar, re- criação, que de certa maneira completa a ques- Conceito de Lazer
vo comum e com espírito lúdico, estamos reali- conhecer espaços nos bairros para a prática do tão do divertimento.
zando um acampamento lúdico. lazer exigiria uma postura diferenciada dos ani- Na história de nossa sociedade, observamos
madores, ou uma nova forma de planejamento Devido à tradição histórica e cultural em nossa que, com a diminuição das horas de trabalho e
Na Instituição Sesc, os participantes do Projeto de equipamentos, mais participativa, de acordo sociedade, a recreação continua sendo perpe- com a crescente preocupação com a melhoria
não ficam acampados, passam o dia em ativi- com as aspirações populares (...), em consonân- tuada a partir da ênfase em aspectos técnico- da qualidade da vida urbana, o lazer é valori-

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zado e, para ele, dirige-se o interesse dos estu- questões: a identificação de um grande número refere aos aspectos conceituais da programa- A Educação para e pelo Lazer
diosos de assuntos sociais. São pesquisadas e de pessoas (profissionais ou voluntários) que ção recreativa, contempla um conjunto de ati-
analisadas suas contribuições na vida dos indi- atuavam no campo do lazer; a possibilidade de vidades de caráter lúdico e recreativo que se A educação para e pelo lazer constitui o se-
víduos, diante da riqueza de possibilidades que conhecer a produção teórica da área e a con- destinam a promover o entretenimento e o di- gundo pilar das programações recreativas e
ele oferece. É preciso ressaltar que os estudos sequente troca de experiências; a ampliação da vertimento, oferecendo oportunidades de par- tem como perspectiva a abordagem da função
da área associam a origem da palavra lazer ao concepção de lazer, extrapolando a faixa etária ticipação em realizações multi e/ou interdisci- educativa do lazer. Esse duplo aspecto educa-
termo latino licere, que significa lícito, permiti- infantil; o despertar do interesse de outras re- plinares que podem atender tanto interesses tivo que o lazer propõe (para e pelo) pode ser
do. Segundo Dumazedier (1979), a sociologia giões do Brasil em organizar seminários sobre artísticos e culturais quanto físico-esportivos, melhor compreendido quando o tomamos sob
do lazer foi fundada nos Estados Unidos, mas o tema. dois enfoques: primeiro como objeto de fomen-
manuais e sociais.
é nas décadas de 1920 e 1930 que surgem os to à adoção de práticas de lazer e o segundo
primeiros estudos da sociologia empírica do la- Com a vinda ao Brasil do sociólogo francês Jo- como veículo de educação não-formal.
Por suas características, as programações re-
zer nos Estados Unidos e na França, buscando ffre Dumazedier, por iniciativa do Sesc em São
creativas são responsáveis pela dinamização
relacionar os fenômenos do lazer aos outros Paulo e do CELAR (Porto Alegre/RS), no fim Vale ressaltar que esses dois aspectos não es-
dos variados espaços de lazer, tais como salões
campos da realidade social. No entanto, foi so- da década de 1970, houve impulso para o de- tão dissociados e devem estar presentes nas
de jogos, salões multiuso, parques aquáticos,
mente a partir da Segunda Guerra Mundial, que senvolvimento da sociologia do lazer no País. propostas das programações recreativas, for-
brinquedotecas, áreas livres, playgrounds, es-
a sociologia do lazer e uma série de pesquisas Essa época foi marcada pelo estímulo a inter- talecendo o caráter educativo que deve ser in-
sobre o assunto se proliferaram por outros pa- câmbios de ideias e pesquisas empíricas sobre paço físico-esportivos, entre outros. trínseco a todas as ações do Sesc. Objetivam,
íses e passaram a se relacionar de modo mais o lazer, concretizado em inúmeros encontros e em conjunto, contribuir para a promoção de um
frequente com outras áreas sociais, tais como: cursos, organizados principalmente pelos téc- A adesão e a participação do público aconte- estilo de vida com qualidade, que perpassa o
política, urbanismo, planejamento econômico, nicos que atuavam no Sesc em São Paulo. É im- cem de forma espontânea e reúnem pessoas desenvolvimento pessoal e social, além de es-
saúde e assistência social. portante ressaltar que, ainda hoje, o trabalho de de faixas etárias e características diferenciadas. timular o senso crítico em relação às ofertas de
Dumazedier tem exercido grande influência no A participação integral de um profissional com lazer que a indústria cultural costuma oferecer.
No estudo realizado por Ferreira (1959), per- desenvolvimento dos campos de estudos sobre perfil adequado ao trabalho com recreação, ao
cebe-se novamente a ideia de que lazer é um o lazer em nosso país. O conceito de lazer am- longo das realizações das atividades, é um fa- Educar para o lazer considera a importância
tempo, e de que a recreação está relacionada plamente difundido foi o proposto pelo autor tor de fundamental importância para garantir a de ser o homem educado de forma a preparar,
às atividades nele desenvolvidas. A recreação (1979, p.12): eficácia de suas propostas. para si mesmo, uma arte de viver, onde não
representava a possibilidade de organização “...o lazer é o conjunto de ocupações, perca de vista o equilíbrio entre o trabalho e o
racional do lazer, sendo capaz de auxiliar na às quais o indivíduo pode entregar-se lazer. Portanto, implica desenvolver estratégias
As programações recreativas têm como finali-
manutenção do equilíbrio da sociedade dian- de livre vontade, seja para repousar,
dade possibilitar o divertimento e promover o práticas para a valorização do tempo livre e de
seja para divertir-se e entreter-se ou
te dos grandes problemas apresentados pelas entretenimento, oferecendo ações diversifica- sua utilização com práticas que levem ao entre-
ainda para desenvolver sua informação
mudanças decorrentes da industrialização e do das que possibilitem escolhas, estimulem a li- tenimento, à diversão e a momentos de lazer.
ou formação desinteressada, sua
crescimento desordenado das cidades. participação social voluntária ou sua vre adesão e a socialização. Devem dispor de
livre capacidade criadora após livrar- Educar pelo lazer propõe a qualificação dessas
opções variadas de entretenimento, em conso-
Em 1969, o lazer passa a ser tratado de forma se ou desembaraçar-se das obrigações práticas. A ação educativa, conforme preconi-
nância com princípios e valores adotados pelo
institucional, com a realização de um seminário profissionais, familiares e sociais.” zado pelas Diretrizes Gerais de Ação do Sesc,
Sesc, conjugados aos interesses e às caracterís-
que visava à análise crítica sobre a situação do visa contribuir para o desenvolvimento de va-
ticas do público participante.
lazer no Brasil. O “Seminário de 1969” foi realiza- É a partir deste conceito que as ações de lazer lores, para a informação e a capacitação para
do, em São Paulo, pela Secretaria do Bem-Estar na Instituição Sesc se traduzem. escolhas autônomas e críticas. Nas práticas da
O termo “qualidade Sesc” implica dizer que a
Social da Prefeitura de São Paulo e pelo Serviço Atividade Recreação, educar para e pelo lazer
Social do Comércio (Sesc) no estado. Na opor- programação recreativa, além de cumprir a fun- é favorecer e estimular a participação dos indi-
tunidade, vários temas debatidos apresentaram A Atividade Recreação no Sesc ção de entreter e divertir, deve revestir-se de víduos nas ofertas das programações, isso por-
diversidade de enfoques possíveis para a ques- propósitos educativos não-formais e informais, que são oferecidas vivências que irão resultar
tão do lazer. Como principais resultados desse De acordo com o documento Institucional, o garantindo o lúdico como elemento de contri- numa maior predisposição para escolhas, que
evento, Requixa (1977) destacou as seguintes Modelo da Atividade Recreação, no que se buição ao desenvolvimento humano. poderão elevar o senso crítico. Ao participar de

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uma atividade recreativa, o indivíduo deve ser e que o mesmo tenha sua programação elabo- Nesta edição, foi possível vivenciar a realiza- No cérebro dela, convivem cinco emoções figu-
capaz de se apropriar do “produto”: resignifi- rada a partir de um tema gerador, ficando cada ção prática do projeto nas Unidades de Casa radas em personagens diferentes: a Alegria, o
cando, recriando, inferindo, enfim, tendo uma Departamento Regional com a possibilidade de Amarela, Goiana e Piedade e a utilização do Medo, a Raiva, a Nojinho e a Tristeza. A líder de-
atitude participativa, sujeita e autônoma. fazê-lo através da livre escolha. conteúdo do mix de atividades construído, com les é Alegria, que se esforça para fazer com que
a apresentação de resultados surpreendentes a vida da menina esteja sempre em harmonia.
Desta forma, o Regional Pernambuco foi traba- obtidos a partir das variações que surgiram no
Colônia de Férias lhando temáticas diferenciadas para cada uma desenvolver das atividades e de acordo com as Considerando que a compreensão da emoção
das 13 Unidades Operacionais que realizam este particularidades locais e geográficas das Unida- refere-se ao conhecimento consciente sobre os
São atividades programadas, recreativas e es- Projeto. Mas, em 2016, foi convidado a repensar des Operacionais. processos emocionais ou crenças sobre como
portivas, organizadas por pessoas qualificadas, e alinhar suas práticas para realizar o trabalho as emoções trabalham (Izard & Harris, 1995,
a serem realizadas no período de férias, envol- em rede e unicidade nas ações. Em julho deste Foi inevitável não pensar no que estaria por vir, apud Lamb, 2009), a sugestão seria adaptar a
vendo crianças, adolescentes e suas famílias. mesmo ano, faz o seu primeiro Brincando nas concordando com o pensamento de Roger Von ideia do filme, trabalhando as emoções, com a
As atividades buscam, geralmente, um contato Oech (1996):
Férias sob uma temática única, onde foi lança- intenção de levar os participantes do Projeto
maior com a natureza (Dantas, 2017). “O pensamento criativo supõe
do um mix de atividades direcionadas para o a conhecerem e se reconhecerem através da
desenvolvimento da programação. uma atitude, uma perspectiva, que brincadeira, compreendendo suas emoções e o
No Sesc, Colônia de Férias era compreendida leva a procurar ideias, a manipular
entendimento que, por mais prazer que algu-
como instalações destinadas a programações conhecimento e experiência (...) ao
É neste sentido que este estudo surge como re- mas possam nos proporcionar, não existe uma
turísticas, associando hospedagem e recrea- adotar uma perspectiva criativa, você
lato de experiência ... melhor que a outra, e que o funcionamento em
ção,situadas em áreas de interesse turístico, se abre para novas possibilidades como
para mudanças”, “Portanto, se quiser ser conjunto de todas elas resulta no ser humano
atraindo público variado, do próprio local, de
mais criativo, olhe para o que os outros em pleno equilíbrio.
outras cidades, estados ou países. Em Pernam-
...Brincando nas Férias: É de Arrepiar! – A Ex- veem e “pense uma coisa diferente””.
buco, a Colônia de Férias estava situada na
periência em Relato No projeto de execução da ideia, cinco emo-
cidade Garanhuns. Atualmente, este meio de
Três meses se passaram e, na busca em desco- ções semelhantes ao filme seriam trabalhadas:
hospedagem é chamado de Centro de Turismo
O ingresso na Coordenação da Atividade Re- brir ou redescobrir possibilidades de lazer edu- a raiva, a repulsa, a tristeza, o medo e a alegria.
e Lazer (CTL) onde o serviço oferecido asseme-
creação na função de estagiário ocorreu em cativo, no suporte que a Coordenação Regional Um dos princípios de entendimento da raiva e
lha-se ao de hotéis e Pernambuco conta com
maio de 2016, lotado na Divisão de Atividades oferece às Unidades para compor estudos e da tristeza nas brincadeiras seria proposto atra-
dois destes centros, um em Garanhuns e outro
Sociais na Sede Administrativa do Sesc em Per- programações da atividade Recreação, volta- vés de jogos recreativo-competitivos, quando
em Triunfo. A grande diferença encontrada nos
nambuco. mos ao exercício da proposição da temática do duas equipes competem, apenas uma delas se
CTL está na prática do turismo social, com ta-
rifas diferenciadas, oferecendo hospedagem a projeto para a edição de janeiro do ano de 2017. torna vencedora, o que pode causar tristeza e
A primeira intervenção teórico-prática ocorreu O exercício consistia em cada Unidade do Sesc raiva para quem perde. Neste sentido, seria tra-
baixo custo para o público prioritário: os traba-
lhadores no comércio de bens, serviços e turis- mediante a participação conjunta na constru- pensar uma temática, que seria apresentada e balhado o senso de competição onde ganhar e
mo. ção do mix de jogos, brinquedos e brincadeiras defendida via IPTV (videoconferência) para que perder recebe a mesma importância, proporcio-
para a edição de julho de 2016 do Projeto Brin- toda a equipe de Pernambuco pudesse decidir nando a experiência de que perder ou ganhar é
Diante deste cenário, a Colônia de Férias deixa cando nas Férias, cujo tema norteador foi Zo- de forma conjunta. menos importante do que o brincar/participar.
de ser vista como meio de hospedagem e se olimpíadas: O bicho vai pegar! A programação O desconhecido causa medo e repulsa, desta
transforma numa ação recreativa com propósi- tinha como proposta oferecer aos participantes Lancei-me num desafio pessoal, em produzir forma, caixas e espaços misteriosos proporcio-
to definido. Passa a integrar a grade programá- o conhecimento da riqueza da fauna pernam- um tema para defender e a supervisão aceitou. naram uma experiência única, onde o que fazia
tica da Atividade Recreação, oferecendo cinco bucana e brasileira e sua biodiversidade através Tive como base a memória emocional gerada arrepiar, ao fim de tudo, não passava de uma
dias de atividades para crianças em período de atividades recreativas estimuladoras. Todos pelo filme Divertidamente, lançado em 2015, narrativa proposital carregada de elementos
de férias escolares. Em 2012, o Departamento estavam imersos num grande jogo onde a maior que relata a história de uma garota divertida de horripilantes, que logo seriam superados. A ale-
Nacional propõe que este Projeto passe a ser regra era aprender sobre a importância da rela- 11 anos de idade, que enfrenta mudanças impor- gria é a linha que costuraria os momentos de in-
chamado de Brincando nas Férias, lançando ção harmoniosa homem-natureza, convivendo tantes em sua vida quando seus pais decidem teração entre todas as emoções, ela é vendida
uma logomarca Institucional em nível Nacional, em grupo e realizando descobertas pessoais. deixar a sua cidade natal para viver em outra. e paga em uma moeda única, onde quanto mais

72 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 73


se doa, mais seu tesouro se multiplica. Desse desde o primeiro momento. Baseado em expe- Vale salientar que muitas empresas trabalham MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa
jeito, numa semana de arrepiar, as emoções se- riência própria, os programas de estágios em com uma concepção de recreação que se res- Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed.
riam trabalhadas a partir do primeiro elemento outras empresas e instituições não me deram tringe a um rol de atividades que devem ser Petrópolis: Vozes, 2001.
da brincadeira e do mais essencial: a esponta- um tratamento de autonomia e liberdade para seguidas. No caso do Sesc, há uma recreação
Referencial Programático do Sesc. Sesc,
neidade. Assim se configurava a temática. pensar e agir. O estágio era resumido apenas como um repertório de vivências lúdicas críti-
Departamento Nacional. – Rio de Janeiro: Sesc,
em mão de obra de baixo custo e, às vezes de cas e criativas, que deve ser usado com sensibi-
Departamento Nacional, 2015.
A escolha do tema foi marcada para a manhã qualidade indesejável pela falta de acompanha- lidade e com as adaptações necessárias para os
do dia 15 de dezembro, através de uma reunião, mento e compromisso com o ensino-aprendiza- diferentes sujeitos e grupos sociais envolvidos. SILVA, Débora Alice Machado da [et al.]. Importância
na qual todas as propostas seriam apresen- gem pelas empresas ou instituições que efetu- da recreação e do lazer. Brasília: Gráfica e Editora
tadas. E assim o foi, até que chegou a minha am as contratações. O sentimento de gratidão e Conviver num ambiente corporativo com pes- Ideal, 2011.
vez... No decorrer da apresentação, a recepção o reconhecimento se dão ao perceber o espaço soas contaminadas pelo jeito “Sesc de ser”, me
da ideia pela equipe casou com a proposta do que foi dado para inspirar e expirar cada ideia e fez entender e trabalhar junto, como parte inte-
tema, porque antes mesmo do término, todos possibilidade, resultando numa realização favo- grante da equipe, pelos ideais desta Instituição. 
já estavam contagiados, foi de arrepiar ao veri- rável, fruto de uma inspiração pessoal, mas de Para Augusto Cury (2008), “bons profissionais
ficar que o “chat” já estava cheio de ideias para uma respiração coletiva. O projeto não apenas cumprem ordens, enquanto excelentes profis-
as atividades. Estava então definido o tema da supriu as expectativas de quem se dedicou a sionais pensam pela empresa”. Certamente, o
edição janeiro de 2017: Brincando nas Férias: É Sesc me estimulou a ser um profissional em ex-
pesquisar, construir, submeter e realizar a ideia,
de Arrepiar! celência, fazendo-me concordar com o slogan
mas vislumbrou a criação de novas tendências,
práticas e ideias. desta instituição: pessoas transformam pesso-
A partir de agora, estava iniciado o desafio, as.
para além da concepção do tema, da seleção e
O que nos impulsiona? O que nos impressiona
da criação das atividades, este estagiário par-
a ponto de gelar a barriga e arrepiar os pelos
ticipou ativamente da construção da identida-
do corpo? – “É de arrepiar!” simplesmente arre-
de visual da ideia junto ao Núcleo de Design Referências
piou, e transbordou dos olhos.
da Gerência de Comunicação e Marketing do
do Sesc, da recepção dos materiais e monta- CASTRO, Mônica da Silva. Modelo da Atividade
gem da logística de entrega para as 14 Unida- Recreação: Módulo Programação. Rio de Janeiro:
des Operacionais que realizariam o Projeto em Sesc, 2007.
Considerações Finais
Pernambuco. Além disso, foi possível vivenciar
CAVALLARI, Vania Maria. Recreação em Ação. São
a execução. O cuidado e o empenho, mais uma
O presente relato teve a intenção de exaltar Paulo: Ícone, 2006.
vez, marcaram a realização, de modo que pe-
algo simples e muitas vezes negado: oportuni-
quenos detalhes cheios de significado eram
dade. É gratificante ver sua ideia sendo ouvida, CURY, Augusto. O código da inteligência. Rio de
identificados facilmente. As crianças foram en-
apoiada e respeitada pela supervisão da ativi- Janeiro: Ediouro, 2008.
trando no clima da temática de forma involun-
dade. Além disso, sendo replicada e ecoada por
tária, mesmo que tivessem sendo intencional-
todo o Estado de Pernambuco, o que poderia DANTAS, Gabriela Cabral da Silva. Colônia de
mente conduzidas a percorrer este caminho. A Férias.  Brasil Escola. Disponível em <http://
cada dia de execução, os relatos surpreendiam ser simplesmente só mais uma temática para o
brasilescola.uol.com.br/ferias/colonia-ferias.htm>.
a equipe de trabalho, provando que crianças Projeto Brincando nas Férias, realmente trans-
Acesso em 29 de agosto de 2017.
sabem o que sentem: “Tenho medo do escuro; formou-se em uma prática motivadora, levan-
Nojo de suor; Raiva quando meu time perde; do-me a acreditar que o saber da universida-
LAMB, B. (2009). My Friends always know when
Triste quando fico de castigo; Alegria quando de pode ser, de fato, operacionalizado quando I’m sad: how children’s emotion understanding
chega o sábado”. conduzido a partir do viés de Guimarães Rosa, is associated with socioemotional development
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem (Unpublished master´s thesis). Retrieved from
A preparação desta edição se tornou especial de repente aprende”. Victoria University of Wellington.

74 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 75


Turismo Social e Tecnologia da Informação: um
estudo de interesse e viabilidade de um sistema
online de inscrição em passeios e excursões do
Sesc Pernambuco
Social Tourism and Information Technology: a study of
interest and feasibility of an online enrollment system on
tours and excursions of Sesc Pernambuco
Rayanne Kalline Maciel Barbosa1
Talita Poliana Guedes da Silva2
Derek Luiz Alves dos Santos3

Resumo: Este artigo tem o objetivo de investigar a percepção dos clientes do Sesc Piedade e dos funcionários
do Turismo Social ao avaliar o interesse destes na comercialização online de pacotes de viagem, visto
que atualmente o Sesc apenas comercializa seus pacotes de forma presencial. Para tanto, realizou-se um
levantamento de informações que envolvem: análise do processo de comercialização de pacotes de viagem
dos websites das principais operadoras de turismo da América Latina: CVC Turismo, Submarino Viagens
e Decolar.com; aplicação de um questionário com os clientes inscritos em passeios e excursões do Sesc
Piedade que ocorreram entre o período de janeiro a agosto de 2017, procurando identificar o interesse
destes na compra de pacotes de viagem do Sesc pela internet; e por fim, foi enviado um formulário via
e-mail para os profissionais ligados ao setor do Turismo Social do Sesc de outras regiões, com o intuito
de investigar se há alguma iniciativa de inscrição pela internet em pacotes de viagem, bem como saber
a opinião dos profissionais do setor sobre a possível implantação de um sistema de inscrição online. O
levantamento dessas informações resultou na composição de dados suficientes que demonstram os
benefícios da aplicabilidade de um sistema de comercialização online de pacotes de viagem, tanto para a
empresa e profissionais, quanto para os clientes. Seus estudos consideram o uso das novas tecnologias da
informação e comunicação uma importante ferramenta de inclusão social, pois se adequa aos novos hábitos
de consumo, estreitamente ligados à rotina de acesso às plataformas digitais das pessoas. Além de que
corrobora para a democratização do produto turístico e entende que as mudanças devem estar condizentes
com a capacidade de auto sustentabilidade que diferencia o turismo social do turismo meramente comercial.
Palavras-Chaves: Turismo Social. Inscrição Online. Sesc

Abstract: This article aims to investigate the perception of Sesc Piedade customers and Social Tourism
employees in evaluating their interest in the online marketing of travel packages, since currently Sesc
only sells its packages in person. Therefore, a information survey was carried out involving: analysis of the
process of marketing travel packages of the main Latin America tourism operators websites: CVC Turismo,
Submarino Viagens and Decolar.com; a questionnaire application with clients enrolled in Sesc Piedade tours
and excursions that occurred between January and August 2017, seeking to identify their interest in the
purchase of Sesc travel packages over the internet; and, finally, an e-mail form was sent to the professionals
from Sesc's social tourism sector in other regions, with the purpose of investigating whether there is an
initiative of internet enrollment in travel packages, as well as to know the opinion of professionals in the field
about the possible implementation of an online enrollment system. The collection of this information resulted
in the sufficient compilation data, demonstrating the applicability benefits of an travel packages online sales
system, both for the company and professionals, as well as for customers. Its studies consider the use of new
information and communication technologies as an important tool for social inclusion, as it adapts to the
new consumption habits, closely linked to the routine of access to people's digital platforms. Besides that it
corroborates for the tourist product democratization and understands that the changes must be in keeping
with the capacity of self-sustainability that differentiates social tourism from purely commercial tourism.
Key Words: Social Tourism. Online Registration. Sesc
1 Autor-Bacharela em Turismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). E-mail: rayannekalline@hotmail.com

2 Orientador-Especialista em Planejamento e Gestão Organizacional pela Universidade de Pernambuco (UPE). Bacharela em Turismo pela
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Analista de Turismo do Serviço Social do Comércio (Sesc). E-mail: talitapoliana@gmail.com

3 Editor do Artigo-Mestrando em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável pela Universidade de Pernambuco (UPE). Especialista em
Administração Pública pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). Graduado em Tecnologia em Gestão de Turismo pela Universidade Es-
tácio de Sá (Unesa). Técnico-Administrativo em Educação / Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernam-
buco (IFPE). E-mail: derek_rec@hotmail.com

76 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 77


Introdução que a internet está acarretando ou poderá acar- sim a opinião dos clientes inscritos nos passeios compra da Submarino Viagens.
retar nos negócios das empresas atuantes no e excursões do Sesc sobre esta modalidade de
Marcados pela globalização, os novos hábitos setor do turismo. compra. - Questionário com clientes: aplicação de um
de consumo da sociedade moderna ocasionam questionário com 76 clientes - valor correspon-
o aumento expressivo da competitividade en- Para tanto, a presente pesquisa levanta duas hi- dente a uma amostra de 10% de um universo
tre as empresas, e tais mudanças mercadoló- póteses: a primeira, o interesse dos clientes em Metodologia de 760 clientes inscritos em passeios e excur-
gicas contribuem para modificações significa- adquirir um pacote de viagem do Sesc pela in- sões do Sesc Piedade que ocorreram entre o
tivas nos mais diversos setores da economia, ternet; a segunda, o interesse dos profissionais A pesquisa caracteriza-se por ser do tipo Es- período de janeiro a agosto de 2017. O referido
sobretudo no turismo. do Turismo Social na implantação de um siste- tudo de Caso, pois, segundo Gil (2008, p. 54), questionário possuía e identificação do perfil e
ma online de inscrição em pacotes de viagem este tipo de pesquisa “consiste no estudo pro- 6 perguntas de avaliação de interesse em ins-
Empresas que fazem parte deste setor lidam do Sesc. fundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de crições online em pacotes de viagem do Sesc.
com as barreiras das distâncias geográficas, maneira que permita seu amplo e detalhado co-
fato este que exige delas a presença online. Es- Este tipo de questionamento busca oferecer nhecimento”. - Questionário via e-mail com os profissionais
tar cada vez mais conectada aos seus clientes e dados satisfatórios que justifique outra moda- responsáveis pelo setor de Turismo Social:
fornecedores tornou-se, em pouco tempo, uma lidade de inscrição em pacotes de viagem além Sua natureza é descritiva, pois exige do inves- Questionário composto por 4 perguntas aplica-
exigência de mercado, principalmente no que da inscrição presencial, isto é, um modelo de tigador uma série de informações sobre o que do via e-mail com 13 profissionais do setor do
diz respeito ao âmbito do agenciamento. Sistema de inscrição online em pacotes de via- deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende Turismo Social de outras regiões – esse valor
gem. descrever os fatos e fenômenos de determina- é de ordem aleatória, pois corresponde ao nú-
Neste sentido, as Tecnologias da Informação e da realidade (TRIVIÑOS, 1987). mero de questionários que obtiveram respos-
Comunicação (TIC) surgem para suprir lacunas Sob esta perspectiva, também se busca con- tas dentre os 42 enviados - o objetivo de sua
no processo mercadológico e assegurar a sua tribuir com as discussões a respeito da prática O caráter da investigação é quantitativo, pois aplicação foi delimitar a relação das agências
sustentabilidade, pois é grande a preocupação turística e do uso da internet, bem como a in- segundo Fonseca (2002) tende a enfatizar o de Turismo Social do Sesc que possuam um Sis-
com o futuro da atividade, especialmente no fluência da rede mundial de computadores na raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os tema de Inscrição online em pacotes de viagem
campo de agenciamento de viagens, decisão final do consumidor, sobretudo no que atributos mensuráveis da experiência humana. ou que tenha alguma iniciativa neste sentido,
que, segundo a Associação Brasileira de Agên- diz respeito à aquisição online de pacotes de Os resultados constituem a realidade de toda a bem como saber a opinião destes profissionais
cias de Viagens (2013), viagens, demonstrando como as TIC podem ser população alvo da pesquisa. em relação às vantagens e desvantagens da im-
Atualmente está vivendo um tempo utilizadas para este fim e como passa a ser um plantação deste sistema.
de constantes desafios, em que a importante recurso de apoio para os profissio- As fases que compõe a metodologia da presen-
capacidade de responder às demandas nais da área. te pesquisa são as seguintes:
do ambiente externo pode determinar a
Interação  do  Setor  de Agenciamento
sobrevivência empresarial. A evolução
Portanto, partindo de um estudo de caso, este - Análise da interação do Setor de agenciamen- no Meio Digital
tecnológica e o modelo econômico
trabalho procura estudar a dinâmica e o funcio- to no meio digital: avaliar o processo de comer-
globalizado exigem agilidade e
flexibilidade organizacional para a namento do processo de compra e venda de cialização de pacotes de viagens dos websites É notável a crescente do comércio eletrônico
correta tomada de decisões frente pacotes turísticos nos websites das três princi- das principais operadoras de turismo do Brasil. de produtos turísticos em virtude da propaga-
a uma concorrência cada vez mais pais empresas líderes do mercado varejista da Foram escolhidas três: a CVC Turismo, Deco- ção de sites das empresas de turismo no país.
acirrada (ABAV, 2013). América Latina: CVC Turismo4, Decolar.com5 lar.com e Submarino Viagens. A escolha se deu Diante dessa percepção, Torezani (2007, p.7)
e Submarino Viagens6, delimitando quais as após estas serem consideradas as maiores da informa que “os sites de turismo são ambientes
Diante disso, o objetivo deste trabalho é inves- agências do Turismo Social do Sesc de outros América Latina dentro de seu ramo de atuação, de divulgação, venda e contato entre os clien-
tigar a percepção dos clientes do Serviço Social estados que trabalham com sistema de inscri- segundo Marín (2004), que aponta a Decolar. tes, devem ser organizados de forma adequada
do Comércio (Sesc) de Piedade inscritos nos ção online em pacotes de viagens, sabendo as- com e a CVC Turismo como as agências vir- para apresentação dos destinos”.
passeios e excursões, bem como dos funcioná- tuais pioneiras na venda online de pacotes no
4 CVC Turismo. < http://www.cvc.com.br/institucional/nossa-histo-
rios do setor do Turismo Social, ao avaliar o in- ria.aspx>. Acesso em: 19 de abril de 2017. Brasil. Tal seleção também se deu uma vez que, A partir disso, para a realização da análise da in-
5 Decolar.com. <http://www.despegar.com/sumate/#/>. Acesso
teresse destes, na compra e venda de pacotes em: 19 de abril de 2017. no ano de 2015, a CVC fortaleceu sua presença teração do setor no meio digital, verificou-se a
6 Submarino Viagens. <http://www.submarinoviagens.com.br/
de viagem online, tendo em vista as influências institucional >. Acesso em: 19 de abril de 2017. no canal online depois de fechar acordo com a necessidade de simulação da compra de paco-

78 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 79


tes turísticos nos sites das principais agências suem formatos da homepage similares, as dife- nibilizar no mínimo os seguintes itens: geren- Partindo da análise do perfil dos clientes, 70%
de turismo da América Latina – CVC, Submari- renças estão no produto comercializado e na ciamento de disponibilidade conforme o tipo são mulheres enquanto os homens correspon-
no Viagens e Decolar.com. oferta de serviços, que, apesar de todos se tra- de pacote, explicitar as principais informações dem a 30%. A maioria dos clientes tem entre 46
tarem de pacotes de viagens, a sua comercia- (serviços inclusos, políticas de cancelamento e e 59 anos, o que corresponde a 42%. O públi-
A finalidade para a ação está em detectar em lização possui formatos diferentes quanto aos informações contratuais), formulário de cadas- co que possui 60 anos ou mais representa 39%.
que alcance as informações e os processos es- serviços oferecidos e à montagem do roteiro. tro e carrinho de compras. O público jovem entre 18 e 25 anos represen-
tão disponíveis para a comercialização dos pa- ta 8%, seguido por um público mais maduro,
cotes de viagem de forma que seja facilitada No caso da CVC, esta possui associada à sua Desta maneira, o cliente final acessaria o site da com idade entre 36 e 49 anos, 7%. Dos clientes
sua compra pela internet, bem como se fazer marca um alto nível de confiabilidade aliado ao instituição e, através do comércio eletrônico, abordados, 68% são ligados ao comércio e 32%
um comparativo da funcionalidade do comér- custo benefício, ainda que atualmente ofereça realizaria a compra inteiramente pela internet, a outras atividades, sendo classificados como
cio eletrônico de cada empresa a fim de identi- pacotes com apenas serviço de hospedagem e aumentando a conversão de vendas devido usuários.
ficar qual modelo mais se adequaria ao Turismo transporte. Por se tratar de uma grande marca, à agilidade deste tipo de comércio, ou seja, o
Social do Sesc o chamado benchmarking7, con- possui clientes com maior “bagagem turística” cliente faria a inscrição no passeio ou excursão Para a primeira pergunta: Quantas vezes por
forme explicitado na Tabela 1: e, portanto, a sua estrutura operacional ainda de sua escolha sem precisar ir pessoalmente às ano costuma viajar? Cerca de 72% dos clientes
se mantém adequada ao perfil de seus clientes. instalações do Sesc e, posteriormente, recebe- costumam viajar mais de uma vez por ano, 25%
Tabela 1 – Análise dos websites das principais ope- ria a documentação digitalizada por e-mail. viajam apenas uma vez por ano e 3% todo o
radoras da América Latina.
Partindo para a Decolar.com, o seu website mês.
está voltado para viajantes mais independentes Sendo assim, o funcionamento desse sistema
e que necessitam apenas de transporte e aloja- poderia ser resumido nos seguintes passos: Para a segunda pergunta: Quantas vezes ao ano
mento, a oferta de serviço opcional neste caso acesso ao site institucional; preenchimento costuma viajar com o Sesc? 67% dos clientes
surge como uma facilidade, sendo assim, a es- de formulário online com os dados pessoais costumam viajar mais de uma vez por ano com
trutura operacional do website da Decolar para e de cartão de crédito; pagamento e emissão o Sesc 33% viajam apenas uma vez por ano.
este perfil é mais apropriada. do voucher totalmente online, contrato de ex-
cursão e demais documentações enviadas por Para a terceira pergunta: Costuma comprar ou
Em vista disso, é possível verificar que, para e-mail. já comprou algum pacote de viagem pela inter-
turistas com pouca experiência em viagens, os net? 67% responderam que não, enquanto 33%
pacotes da Submarino se mostram mais viáveis Dessa forma, mesmo nos feriados e fins de se- responderam que sim.
e seguros e, portanto, o seu modelo de venda mana, as vendas continuariam. Pois este pro-
online seria o mais adequado para este tipo de cesso de vendas com boletos, débito online e Para a quarta pergunta: O que mais influencia
público que, se comparado ao público do Sesc, cartões de crédito utilizam facilitadores de pa- na compra de um pacote de viagem pela in-
assemelham-se bastante. gamentos por meio da integração direta com ternet? Obteve-se um resultado de 42% para
administradoras de cartões de crédito. comodidade e facilidade, 38% credibilidade e
Por esta razão, numa possível implantação de segurança, 11% agilidade e economia de tempo,
um sistema online de inscrição em pacotes de 5% familiaridade com a tecnologia e 4% outros
viagem, a estrutura de venda da Submarino ser- Pesquisa com os Clientes fatores (personalização do pacote de viagem).
ve como um benchmarking para a criação de
um sistema próprio de comercialização de pa- Com o objetivo identificar o interesse dos clien- Para a quinta pergunta: Você costuma acessar
Fonte: elaboração própria a partir dos sites da CVC, Deco- cotes de viagem nesta modalidade, fazendo-se tes na compra de pacotes de viagens do Sesc o site e redes sociais do Sesc? 55% dos clientes
lar.com e Submarino Viagens.
necessário apenas respaldo técnico para sua pela internet, foi aplicado um questionário con- responderam que não, enquanto 45% respon-
implantação. tendo a identificação do perfil e 6 perguntas de deram que sim.
Com relação ao leiaute, esta análise permitiu re-
avaliação de interesse com 76 clientes inscritos
velar que as três operadoras pesquisadas pos-
Isto posto, é importante informar que, para que em passeios e excursões do Sesc que ocor- Para a sexta pergunta, que corresponde ao ob-
as comercializações de pacotes de viagens pela reram entre o período de janeiro a agosto de jetivo central desta pesquisa: Você tem interes-
7 Benchmarking: processo de comparação de produtos, serviços e
práticas empresariais. internet possam funcionar, é necessário dispo- 2017, gerando os seguintes dados: se de adquirir um pacote de viagem do Sesc

80 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 81


pela internet? 59% afirmaram que sim, enquan- Quando perguntados sobre “quantas vezes por Com o objetivo de investigar se há alguma ini- serem questionados pelos clientes sobre a pos-
to 41% afirmaram que não. ano costumam viajar”, 72% dos clientes disse- ciativa de inscrição pela internet em pacotes sibilidade de inscrição pela internet.
ram viajar mais de uma vez por ano e 3% todo de viagem das agências de Turismo Social do
Os principais resultados mostraram que há uma o mês, isto é, 75% dos clientes viajam mais de Sesc de outras regiões, e igualmente identifi- Apesar de 23% dos profissionais responderem
tendência concreta na busca por pacotes online uma vez por ano. Assim, na pergunta “Quan- car a opinião dos profissionais do setor sobre que não são questionados pelos clientes quan-
devido a alguns fatores apontados nesta pes- tas vezes ao ano costuma viajar com o Sesc? a implantação de um possível sistema online, to a esta possibilidade, o fato é que todos con-
quisa, como: comodidade e facilidade, agilida- ”, 67% dos clientes responderam viajar mais de foi elaborado um questionário composto por cordam que seria viável a implantação de um
de e economia de tempo, credibilidade e segu- uma vez por ano com o Sesc. 4 perguntas; aplicado via e-mail com 13 profis- sistema online de inscrição em pacotes de via-
rança, familiaridade com a tecnologia e outros sionais do Turismo Social, conforme os dados gem.
benefícios proporcionados pela rede. É possível afirmar que atualmente existem abaixo:
clientes que desejam efetuar suas inscrições to- Para a primeira pergunta: Como é o sistema de Logo, tal análise leva à conclusão de que os pro-
No entanto, é conveniente ressalvar que a maio- talmente pela internet sem o intermédio de um inscrição em passeios e excursões do Turismo fissionais que trabalham diretamente com o se-
ria dos entrevistados são pessoas ligadas ao co- analista de turismo e outros clientes que prefe- Social da sua unidade? Dentre as opções “pre- tor do Turismo Social entendem a importância
mércio, e que, portanto, optam viajar pelo Sesc rem a maneira tradicional com uma visita direta sencial”, “online” e “presencial e online”, 100% da internet como uma ferramenta que possui
devido às facilidades ligadas ao custo-benefício ao Sesc devido a dificuldades de ordem subje- responderam presencial. vários aspectos que permite o desenvolvimen-
que a instituição fornece à categoria, ainda que tiva, como dificuldades pessoais com o uso da to de um sistema de inscrição online, ainda que
para se inscrever seja necessário comparecer tecnologia ou o temor individual a respeito do Para a segunda pergunta: Se for apenas presen-
esta não venha ser uma necessidade do cliente.
ao Setor de Turismo. pagamento com cartões de crédito, pois muitos cial, os clientes costumam perguntar sobre a
Os dados apontam que 22% reconhecem que
clientes – cerca de 41% - ainda buscam o conta- possibilidade de realizar inscrições em passeios
um sistema online proporciona agilidade no
Este fato evidencia-se quando perguntado se o to pessoal com os profissionais do setor. e excursões pela internet? 77% responderam
processo de compra e venda e otimização do
cliente “costuma comprar ou já comprou algum que sim, 23% responderam que não.
trabalho. Inclusive, de acordo com as pesqui-
pacote de viagem pela internet” no qual 67% Contudo, este fator pode estar mais precisa-
sas realizadas nos websites das Unidades do
responderam que não, enquanto que 68% des- mente relacionado com a faixa etária, tendo em Para a terceira pergunta: Você acha viável a im-
Sesc, foi descoberto que o Turismo Social do
sas pessoas são comerciárias ou dependentes, vista que a maioria dos clientes abordados pos- plantação de um sistema online de inscrição em
Sesc Goiás possui um sistema online prévio de
de modo que, quando perguntado se “você tem sui entre 46 e 59 anos (42%) e 60 anos ou mais pacotes de viagem do Sesc? 100% afirmaram
inscrições que, embora funcione apenas como
interesse de adquirir um pacote de viagem do (39%). Este perfil de público geralmente dispõe que sim.
pré-inscrição para agendamento da inscrição
Sesc pela internet”, 59% afirmaram que sim. de pouca familiaridade com a tecnologia e/ou
presencial, revela uma necessidade de otimiza-
possui maior tempo livre pelo fato de muitos Para a quarta pergunta: Se sim, por quais princi-
ção desse processo.
Tal fato nos leva a concluir que as facilidades serem aposentados e, por isso, preferem reali- pais motivos? Obteve-se um resultado de 27%
proporcionadas aos comerciários coloca o Sesc zar sua inscrição de forma presencial. para redução das limitações causadas pelas dis-
E, ainda, o Turismo Social do Sesc Minas Ge-
à frente de outras agências, contudo 32% cor- tâncias geográficas e disposição de tempo dos
rais informou via e-mail que há uma iniciativa
respondem a pessoas não relacionadas ao co- Portanto, a partir dessa análise, é possível as- clientes, 25% para maior alcance de clientes,
da unidade na instalação de um Software que
mércio, um número relativamente expressivo, o segurar que o consumidor atual está cada vez 22% agilidade no processo de compra e ven-
que indica que, devido a fatores de influência, mais exigente e tem muitas fontes de informa- da e otimização do trabalho, 16% redução de possibilite a venda de pacotes de viagem pela
como credibilidade e segurança - que corres- ções por meio das plataformas digitais, sem a custos com materiais de gabinete e 10% confe- internet. Não foram revelados detalhes sobre
pondem a 38% na tomada de decisão dos clien- intermediação de um analista de turismo. Per- re uma vantagem ou nivelamento competitivo o seu funcionamento e, atualmente, ainda não
tes na aquisição online de um pacote de viagem cebe-se então uma mescla destas duas for- frente ao mercado de agenciamento turístico. está em vigor.
-, e às facilidades garantidas aos comerciários, mas de compra, na qual a compra online vem
muitos clientes, apesar de prezarem pela co- tomando espaço conforme aumenta o grau de Os principais resultados mostraram que, de Nesta linha de raciocínio, Vicentin e Hoppen
modidade e facilidade oferecidas pela internet experiência pessoal com viagens turísticas. acordo com o levantamento das agências de (2003) abordam em seus estudos que as tec-
(42%), ainda preferem recorrer ao setor de Tu- Turismo Social abordadas nesta pesquisa, to- nologias da informação não criam serviços ou
rismo Social para realizar suas viagens em vez das possuem apenas inscrições presenciais na produtos turísticos, apenas atuam como facili-
de procurar outras agências que ofereçam esse Pesquisa com os Profissionais do Turismo So- comercialização dos seus pacotes de viagem, tadoras no acesso às informações dos produtos
tipo de serviço. cial entretanto, 77% profissionais do setor afirmam e serviços criados pelo homem.

82 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 83


É neste sentido que a presente pesquisa tam- Considerações Finais www.abav.com.br/texto.aspx?id_area=25&id=41 >.
bém aponta que 25% que responderam à pes- Acesso em: 20 abr. 2017.

quisa afirmaram que esse tipo de inscrição per- A realização desta pesquisa compreende que
CVC. Pacotes. Disponível em< https://www.cvc.
mite um maior alcance de clientes, uma vez que o desenvolvimento das TIC permite a criação
com.br/>. Acesso em 10 de jun de 2017.
de novos tipos de intermediários no âmbito da
a relevância da descrição da oferta dos pacotes
comercialização turística e, uma vez que estes
de viagem irá fornecer informações aos clientes DECOLAR.COM. Pacotes. Disponível em < https://
desenvolvem a sua presença na internet, criam
na web. www.decolar.com/>. Acesso em 11 de jun de 2017.
um ambiente que proporciona e disponibiliza
informação aos clientes, ou seja, criam sistemas FONSECA, A.; CHAVES, M. Alegria de saber Matemá-
Além disso, 27% reconhecem que um sistema na tentativa de eliminar alguns entraves ineren- tica. Livro do professor. São Paulo: Scipione, 2002.
online proporciona a redução das limitações tes ao mercado turístico, neste caso, no setor
causadas pelas distâncias geográficas e dis- de agenciamento. GIL, Antônio Carlos; et al. Como elaborar projetos
posição de tempo dos clientes, pois é fato que de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
A partir dessa lógica, visando atender às ne-
estes não precisam ir à agência física, circuns-
cessidades e ao interesse por parte dos clien- MAIA, L. F. A. G.; MENDES FILHO, L. A. M. Aspectos
tância que proporciona rapidez na execução do do comércio eletrônico nas agências de viagens: um
tes e profissionais do turismo social, a presente
atendimento e facilidades para contatos com o estudo de múltiplos casos. In: Seminário de Pesqui-
pesquisa destaca como principais resultados: a
cliente. Ademais, 16% acreditam na redução de sa do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA),
possibilidade técnica da implantação de um sis-
2003, Natal. IX Seminário de Pesquisa do Centro de
custos com materiais de gabinete, posto que tema de inscrição online de pacotes de viagens
Ciências Sociais Aplicadas, 2003.
haveria menos gastos com papel para emissão do Sesc, o interesse de uma expressiva parcela
dos recibos e vouchers que podem ser entre- de clientes por esta modalidade de inscrição e MARÍN, Aitor. Tecnologia da informação nas agên-
gues pela própria web, por exemplo, via e-mail. os principais fatores de influência na tomada de cias de viagens. Em busca da Produtividade e do va-
Por fim, 10% entendem que confere uma van- decisão destes clientes. lor agregado. São Paulo: Aleph, 2004.

tagem ou nivelamento competitivo frente ao


Tal estudo possibilitou descobrir algumas ini- SUBMARINO VIAGENS. Pacotes. Disponível em <
mercado de agenciamento turístico. Pois, se-
ciativas do Sesc em utilizar a internet no ato da https://www.submarinoviagens.com.br>. Acesso em
gundo afirmam Maia e Mendes Filho (2003), as inscrição e identificou o reconhecimento dos 10 de jun de 2017.
empresas que trabalham com o turismo preci- profissionais do Turismo Social na legitimidade
sam cada vez mais adotar métodos inovadores e nas possíveis vantagens na mudança da dinâ- TOREZANI, Julianna Nascimento. Sociedade Digital:
a Internet como meio para a comunicação turística.
e que aumentem a competitividade. Tal ocor- mica de trabalho advindas da sua aplicabilida-
Trabalho apresentado no NP - Comunicação, Turis-
rência que, em análise, vem a favorecer o au- de.
mo e Hospitalidade no VII Encontro dos Núcleos de
mento do mercado de atuação, proporcionan- Pesquisa da INTERCOM. XXX Congresso Brasileiro
As restrições encontradas são exclusivamente
do um maior alcance de consumidores. de Ciências da Comunicação. Santos, 29 de agosto a
de ordem técnica, pois se faz necessário o estu- 2 de setembro de 2007.
do por parte dos profissionais da área da Tec-
Portanto, em síntese, para os profissionais do nologia da Informação, sobretudo na implan- TRIVIÑOS, Augusto N.S. Introdução à pesquisa em
Turismo Social, um sistema online de inscrições tação de um novo sistema agregado ao atual ciências sociais: Pesquisa qualitativa em educação.
em pacotes de viagem configura-se como uma sistema interno do Sesc como forma de tornar 14. ed. São Paulo: Atrás, 2006.
possível ferramenta de comercialização e oti- possível a sua execução.
mização do trabalho, pois o ambiente tecno- VICENTIN, I. C; HOPPEN, N. O. A Internet no Negócio
de Turismo no Brasil: utilizações e perspectivas. Ed.
lógico proporciona ao cliente um ambiente de
31. 2003.
apoio no processo de atendimento e compra
Referências
e, para o profissional de turismo, além de fazer
um intermédio na venda, igualmente interme- ABAV – Associação Brasileira de Agências de Via- 
deia os serviços, proporcionando a gestão de gens. Estratégias de Inteligência Competitiva para
sua organização. as Agências de Viagens. Disponível em: <http://

84 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 85


A Infância Diante do Cinema
The Childhood Before the Cinema
Renata Alves Pereira1
Antônio Gonçalves de Azevedo2
Heloisa Flora Brasil Nóbrega Bastos3
Ynah de Souza Nascimento4

Resumo: No ano de 2017, realizamos o projeto “A infância diante do cinema” com uma turma de Educação
Infantil da Unidade Sesc Garanhuns, cuja proposta era a exibição de diversos trechos de filmes para crianças
com o objetivo de enriquecer a experiência estética delas. Este trabalho apresenta as reflexões da experiência
realizada, considerando a livre interpretação das crianças sobre as imagens trabalhadas em sala de aula, bem
como a possibilidade de oferecer às crianças a oportunidade de vivenciarem um repertório cinematográfico
comprometido com as dimensões artísticas, estéticas e culturais do Cinema. Partindo do pressuposto de que
o Cinema é uma forma artística específica, dialogamos com estudos da Arte/Educação que investigam as
maneiras como as crianças leem imagens, em diálogo com as contribuições indispensáveis da teoria brasileira
“Abordagem Triangular, sistematizada pela arte/educadora Ana Mae Barbosa, e com a Proposta Pedagógica
da Educação Infantil no Sesc (SESC, 2015). Como uma alternativa significativa de trabalho com o Cinema na
Educação Infantil, o projeto se apropriou da metodologia de Articulação e da Combinação de Fragmentos
(A.C.F.), de Alain Bergala (2008), o que possibilitou a leitura de diferentes imagens cinematográficas pelas
crianças da turma que participou do projeto. Constatamos que a autonomia da criança, seu processo de
significação de imagens cinematográficas, é um do pontos basilares para se pensar o Cinema na Educação
Infantil, uma vez que, nesse processo semiótico, são desenvolvidas potencialidades de caráter cognitivo e
interpretativo. Acreditamos que o relato da experiência de reunir autores reconhecidos com experiências na
área do Cinema na Educação poderá vir a contribuir para práticas pedagógicas que venham a se apropriar
do Cinema em turma da Educação Infantil.
Palavras-chave: Leitura de Imagens na Educação Infantil. Abordagem Triangular. Cinema. Arte/Educação.
Articulação e Combinação de Fragmentos.

Abstract: In the year 2017, we realized the project "Childhood in front of the cinema" with a group of Children's
Education of the Sesc Garanhuns Unit, whose proposal was the exhibition of several stretches of films for
children with the purpose of enriching their aesthetic experience. This work presents the reflections of the
experience, considering the free interpretation of the children on the images worked in the classroom, as
well as the possibility of offering the children the opportunity to experience a cinematographic repertoire
committed to the artistic, aesthetic and cultural dimensions of Cinema. Based on the assumption that Cinema
is a specific artistic form, we have dialogues with Art/Education studies that investigate the ways children
read images, in dialogue with the indispensable contributions of the Brazilian theory "Triangular Approach,
systematized by art/educator Ana Mae Barbosa, and with the Pedagogical Proposal of Early Childhood
Education at SESC (SESC, 2015). As a significant alternative work with Cinema in Early Childhood Education,
the project appropriated Alain Bergala's Articulation and Combination of Fragments (ACF) methodology,
which allowed the reading of different cinematographic images by children of the class who participated in
the project. We find that the autonomy of the child, its process of meaning of cinematographic images, is one
of the basic points to think about Cinema in Childhood Education, since in this semiotic process cognitive and
interpretative potentialities are developed. We believe that the report of the experience of bringing together
recognized authors and experiences in the area of Cinema ​​ in Education may contribute to pedagogical
practices that will appropriate the Cinema in the class of Early Childhood Education.
Keywords: Reading of Images in Early Childhood Education. Triangular Approach. Movie theater. Art /
Education. Articulation and Combination of Fragments.

1 Autor - Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Garanhuns (UFRPE/UAG) e
pós-graduada em Ensino de Artes: Técnicas e Procedimentos pela Faculdade ÚNICA. renata.led11@gmail.com

2 Orientador - Doutor em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mestre em Artes pela Universidade de São Paulo
(USP), especialista em Ensino da Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), especialista em Artes Cênicas pela UFPE
e graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Professor do curso de Pedagogia na Unidade Acadêmica
de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE/UAG). Participa do Grupo de Pesquisa em Educação e Arte – GEAR-
TE, DGP/CNPq. f_azevedo@hotmail.com

3 Orientador - Doutora em Educação pela University Of Surrey, mestre em Engenharia Nuclear pela UFRJ, especialista em Metodologia do
Ensino Superior pela Universidade Católica de Pernambuco e bacharela em Física pela UFPE. Professora titular do Curso de Pedagogia da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE/UAG). heloisaflorabastos@yahoo.com.br

4 Editor do Artigo - Mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), especialista em Linguística pela Universi-
dade Federal de Pernambuco (UFPE) e graduada em Letras – Português/Literaturas Brasileira e Portuguesas – pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutoranda em Educação do Centro de Educação da UFPE. Atua como professora de língua portuguesa da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). ynah@terra.com.br

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Introdução dizem Teixeira, Larrosa e Lopes (2006, p. 12): ensino, no sentido clássico, que se baseia na de- como maior eficácia as relações entre o Cine-
“[...] pretexto para a conversa ou um veículo de codificação da linguagem cinematográfica, ou ma, como Arte, e a Educação Infantil.
“A criança é portadora de um olhar livre, indis- pensamento”. Em sentido oposto, a perspecti- ainda, como reducionismo didático, concebido
ciplinado, quiçá selvagem; portadora de uma va do projeto reconheceu o Cinema como uma como ilustração de conteúdos. Nossa propos- Constituiu como objetivo central do projeto: A
forma de olhar que ainda é capaz de surpreen-
produção artística e cultural, segundo Berga- ta é construir com a criança uma postura de ampliação da experiência estética cinemato-
der aos olhos” (TEIXEIRA; LARROSA; LOPES,
la (2008), e, portanto, um campo de conheci- espectador-criador, Bergala (2008), que inter- gráfica da criança pequena, o que implicou os
2006, p. 15-16).
mento específico, que no âmbito pedagógico preta, não analisa ou decodifica um filme pro- objetivos: Possibilitar a leitura da imagem como
se situa nos estudos da Arte/Educação (RIZZI, positalmente, mas cria e recria sua leitura por produção de sentidos e Apresentar distintas re-
O olhar da criança é carregado de uma singu-
2012), no qual dialogamos com a Abordagem meio de sua sensibilidade, ou ainda, guia-se por presentações de infância no cinema, em uma
laridade própria, da sua descoberta e redes-
Triangular, (BARBOSA, 2009; 2012). uma leitura baseada em sua imaginação visual, perspectiva intercultural. A partir do trabalho
coberta constante do mundo. A criança se im-
apoiada em sua estética empírica (BARBOSA, realizado, foi possível, ainda, identificar aspec-
pressiona pelos fatos e coisas do mundo. Ela se
Nessa perspectiva, e ancorado nas represen- 2009). tos que permitam oferecer aos professores
espanta, maravilha-se pelo novo, pelo desco-
tações fílmicas de infância em diferentes cine- contribuições para trabalhar o cinema no coti-
nhecido, que passa a fazer parte do seu univer-
matografias, e ao trabalhar uma pedagogia da Aliada à compreensão das crianças como su- diano escolar, objetivo final do projeto.
so particular. Seu encantamento por tudo, mora
Articulação e da Combinação de Fragmentos jeitos históricos, sociais e culturais, (BRASIL,
na sua memória, torna-se parte dela. Com base
(A.C.F), Bergala (2008), o projeto propôs uma 2010), reconhecemos suas livres interpreta-
em Duarte (2002), o Cinema, apresentado a ela,
prática arte/educativa, que lida com trechos de ções do Cinema como parte indispensável da Leitura do Cinema na Educação Infantil
do mesmo modo, fará parte do seu imaginário,
filmes em uma educação do olhar, que articula abordagem com essa Arte na Educação Infantil.
constituirá sua formação estética, enriquecerá
leitura e cognição. Para isso, trabalhamos com Nesse sentido, atentamos para a interculturali- Antes de mais nada, é importante destacar
seu olhar. Os filmes, lidos pela criança peque-
obras cinematográficas de diretores de diferen- dade (CANDAU, 2011), ou seja, o diálogo entre que concebemos leitura como um processo de
na, influenciarão seu interesse quando adulta
tes países e épocas, a fim de iniciar as crianças diferentes culturas, como fenômeno presente enunciação que se inscreve num quadro teórico
pelo cinema, pela busca da renovação dos sen-
pequenas em filmes, que constituem marcos em nossa sociedade, e, portanto, um aspecto mais amplo que considera o caráter dialógico
timentos, sensações e emoções despertadas históricos na Arte Cinematográfica, desafian- inalienável das práticas docentes, em qualquer da linguagem e, consequentemente, sua dimen-
pelas obras fílmicas que via na infância, (BER- do-as a lerem novas e diferentes imagens em que seja o âmbito educacional. Diante disso, e são social e histórica. Além disso,
GALA, 2008). movimento. ao reconhecer que os filmes cinematográficos
“[...] carregam as marcas de como a humani- A leitura como atividade de linguagem
Na escola, o Cinema é reconhecido como lugar Essa proposta se compromete com a comple- dade representa (imagina) sua história, além é uma prática social de alcance
privilegiado do riso, do espanto, do maravilha- xidade do patrimônio cultural cinematográfico, de serem indicadores das mudanças históricas político. Ao promover a interação entre
mento, da alegria, com diz Coutinho (2008). A uma vez que o acesso das crianças a determina- pelas quais o cinema passou” (DUARTE, 2002, indivíduos, a leitura, compreendida
alteridade, do mesmo modo, é uma dimensão dos filmes se restringe a uma modelo estético p. 94), reconhecemos que o Cinema é uma rica não só como leitura da palavra, mas
essencial do Cinema, segundo Hilgert (2014), hollywoodiano, situado na atualidade, quando possibilidade de ampliar a experiência infantil, a também como leitura de mundo, deve
uma vez que ela integra a experiência do leitor não muito há duas décadas . Essa constatação partir da leitura de diferentes códigos cinema- ser atividade constitutiva de sujeitos
com o Cinema, fazendo com que ele olhe para capazes de interligar o mundo e nele
se dá pela influência da indústria cinematográ- tográficos.
Outro a partir do seu próprio olhar, mediado atuar como cidadãos (BRANDÃO, 1994,
fica infantil, que interfere na formação estética
pela experiência de trazer esse Outro, e o mun- das crianças, através de sua presença massiva p. 89).
do para si, deixando-se levar por esse Outro e nos veículos de comunicação, com que ela in- Metodologia
aprendendo com ele, em diálogo com sua visão terage comumente, como televisão, internet e Nessa concepção, o texto deixa de ser apenas
de mundo. o próprio cinema, como diz Alegria e Duarte O tipo de pesquisa deste estudo é a pesquisa- “palavras” para ser compreendido como “um
(2008). -ação, segundo Thiollent (1986), pois todos os ato de comunicação unificado num complexo
Essas características do Cinema, no entanto, envolvidos no projeto, supervisora de estágio, universo de ações alternativas e colaborativas”
não são exploradas pela escola, pois geral- Posto isso, e com base na concepção do au- supervisora de estágio de Educação Infantil da (MARCUSCHI 2008, p. 79), um todo semânti-
mente ela o utiliza como uma ferramenta pe- tor Alain Bergala, do Cinema como experiên- Unidade Sesc Garanhuns e estudantes na tur- co, “independente da extensão”; “uma unidade
dagógica, para a transmisão ou construção de cia, consideramos pertinente seu trabalho na ma na qual intervimos, contribuíram para o de- de sentido, de um contínuo comunicativo con-
conhecimentos de diversas disciplinas, como Educação Infantil como iniciação e não como senvolvimento desta pesquisa, visando elucidar textual que se caracteriza por um conjunto de

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relações responsáveis pela tessitura do texto” linguagem cinematográfica possui, basicamen- Arte-Educação é epistemologia da Para Pillar (2012), o leitor atribui significados
(FÁVERO; KOCH, 2009, p. 25). te, elementos de significação próprios: “[...] câ- Arte, pois, as questões relacionadas às imagens com base em sua história de vida,
mera, iluminação, som e montagem” (p. 39). ao ensino/aprendizagem em artes são informações sobre a obra que lê, suas inferên-
questões que se inserem na reflexão
Ancorados nessa concepção de leitura e de Todos esses elementos fazem do Cinema uma cias, bem com sua imaginação. A autora ressal-
mais ampla a respeito da construção do
texto, e com base em estudos da teoria da forma artística exclusiva, em especial a monta- ta ainda que: “Nossa visão é limitada, vemos o
conhecimento: Como conhecer Arte?
Arte/Educativa brasileira, Abordagem Trian- gem. que compreendemos e o que temos condições
Como sabemos que conhecemos Arte?
gular (doravante, AT), sistematizada pela arte/ de entender, o que nos é significativo” (2012,
Como podemos possibilitar que todos
educadora Ana Mae Barbosa, não será possível Com base em Salles (1988), o Cinema passa a conheçam Arte? p. 80). Essa afirmação ressalta a necessidade
conceber o leitor de imagens, dentre elas o Ci- ser Arte quando o diretor americano David Gri- de considerar as especificidades de leituras dos
nema, como um ser passivo. Bem diferente dis- ffith passa a cinematografar seus filmes, até en- Assim, o reconhecimento, por parte dos edu- estudantes, que estão intimamente relaciona-
so, reconhecemos o leitor como construtor de tão filmados em uma única tomada, semelhan- cadores, sobre os modos como a criança lê o das com suas visões de mundo. Nesse sentido,
suas próprias hipóteses, ideias e julgamentos te à posição do espectador do teatro (como os Cinema, possibilita ampliar suas compreensões qualquer abordagem com o Cinema em sala de
sobre as imagens cinematográficas que lê. Se- primeiros filmes dos Irmãos Lumière), e passa a sobre o trabalho com essa Arte em sala de aula. aula, deve reconhecer as maneiras como os es-
gundo Barbosa (2009), a AT é uma abordagem inserir a montagem na composição da lingua- tudantes significam as imagens cinematográfi-
Um dos aspectos fundamentais da cognição em
que integra o Ler, o Fazer e o Contextualizar, gem cinematográfica. Desse modo, as cenas cas, uma vez que é por meio delas que o Cine-
Arte, apontado por Barbosa (2009) é envolvi-
como elementos integrantes da construção do eram filmadas separadamente, e a câmera, até ma passa ter significado para eles.
mento afetivo do aluno com a obra de Arte. Ela
conhecimento em Artes Visuais. então estática, passa a explorar sua mobilidade. aponta que “A cognição em arte emerge do en-
Como resultado da montagem de todas essas A imaginação também deve ser considerada
volvimento existencial e total do aluno. Não se
Dentre as mobilizações necessárias para a lei- cenas, a linguagem artística cinematográfica uma dimensão essencial da leitura da imagem,
pode impor um corpo de informações emotiva-
tura de imagem, Barbosa (2009, p. XXXII) en- inaugura a criação do Cinema enquanto Arte, uma vez que ela significa o Cinema, enquanto
mente neutral” (p. 39). Nessa perspectiva, a uti-
fatiza que é necessária: “[...] uma interpretação Arte, como aponta Coutinho (2008, p. 231 apud
que conhecemos hoje. lização do Cinema como ferramenta pedagó-
para a qual colaboram uma gramática, uma sin- ALMEIDA, 1999): “Sem a imaginação, o cine-
gica para a construção de conhecimentos, em
taxe, um campo de sentido decodificável e a ma e os filmes não seriam mais do que meras
Segundo Almeida (1994, p. 29), os elementos diversas disciplinas, deve atentar para os mo-
poética pessoal do decodificador”. Em sentido imagens em sequência. É com imaginação que
do Cinema como a fotografia, a trilha sonora, a dos como o leitor compreende e lê a imagem
semelhante, a Proposta Pedagógica da Educa- completamos o que a montagem esconde, ou
montagem, a iluminação, isoladamente, não são cinematográfica, respeitando, sobretudo, sua
ção Infantil no Sesc (2015, p. 92) reconhece “[...] seja, os intervalos de significação”. Ainda de
o suficiente para o estabelecimento do Cinema leitura. Os docentes devem, assim, sempre par-
a interpretação do sujeito é fator determinan- acordo com Coutinho (2008), levar em con-
enquanto Arte, uma vez que sua linguagem é tir dos conhecimentos prévios dos estudantes,
te na construção de sentido das manifestações sideração a imaginação do leitor do Cinema é
constituída pela “[...] amálgama desse conjunto presentes em suas leituras, para a apropriação
artísticas”. Desse modo, e com base no reco- confiar em sua inteligência, pois essa concep-
de pequenas partes, em que cada uma não é que venha a fazer do Cinema no âmbito escolar.
nhecimento do Cinema, enquanto Arte, consi- ção dá margem à interpretação do estudante,
suficiente para explicá-lo, porém todas são ne-
deramos a leitura da criança como elemento em detrimento de uma explicação interventiva
cessárias e cada uma só tem significação plena Esses conhecimentos prévios, na leitura do Ci-
indispensável para o trabalho com o Cinema na e analítica do professor sobre o filme trabalha-
em relação a todas as outras”. Assim, o Cine- nema pelo estudante, estão presentes em di-
Educação Infantil. do por ele e os estudantes.
ma representa artisticamente com todos esses versos aspectos da experiência do leitor com
elementos, mas juntos, todos eles, constituem a as imagens em movimento que lê comumente,
No que respeita à especificidade do Cinema, Com base em Barbosa (2009), ressaltamos um
Arte Cinematográfica. como desenhos animados, telenovelas, filmes,
enquanto Arte, e, portanto, uma linguagem úni- dos objetivos do ensino da arte na pós-moder-
comerciais presentes na televisão e internet etc.
ca, recorremos ao pensamento de Salles (1988, nidade, que é ampliar “[...] o ensino de arte para
O reconhecimento do Cinema enquanto Arte Sobre isso, Duarte (2002) diz que: “O domínio
p. 37) para enfatizar o Cinema como uma forma incluir a conceituação de arte como cultura”
na Educação Infantil possibilita que o reconhe- progressivo que se adquire dessa linguagem,
artística: “[...] poderosamente criadora, capaz (p. 118), em consonância com a livre-expressão
çamos como um campo de conhecimento es- pela experiência com ela, associado a informa-
de nos transportar para um plano que não é o trazida pelo ensino da arte no modernismo. Em
da realidade, capaz de nos emocionar através pecífico, situado nos campos das Artes Visuais, ções e saberes diversos significa e ressignifica reflexão posterior, Barbosa (2012) é categórica
de uma linguagem que não tem nada em co- sendo necessária a compreensão das suas es- indefinidamente as marcas deixadas em nós ao afirmar que: “Hoje, à livre-expressão, a Ar-
mum com a linguagem das outras artes”. Como pecificidades enquanto objetos de estudo da pelo próprio contato com narrativas fílmicas” te-Educação acrescenta a livre-interpretação
linguagem específica, Duarte (2002) diz que a Arte/Educação. Para Rizzi (2012, p. 69): (p. 74, grifos da autora). da obra de Arte como objetivo de ensino” (p.

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18). Assim, torna-se crucial reconhecer o papel do filme. E, a partir disso, podemos atenção delas, devido ao longo tempo que são acesso a diversas obras, consagradas pela his-
ativo do leitor de Cinema em sala de aula, não perguntar aos alunos como foi para expostas a essas obras, ao contrário dos curtas. tória do Cinema mundial, abre uma nova janela
partindo do que o professor reconhece como eles a travessia do filme. E a partir daí, para a imaginação, a criatividade e a experien-
podemos começar a fazer pontes, a
mais importante, em relação ao ensino de con- Não desconsideramos o potencial da leitura de ciação de diversas estéticas visuais, tornando-
analisar. E pouco a pouco, chegar às
teúdos de determinada disciplina, mas das ex- curtas na educação infantil, há curtas interes- -as duradouras e misteriosas em sua memória.
ideias. Mas não devemos nunca partir
periências diretas dos leitores com o Cinema. santes e que chamam a atenção da criança. No O fragmento de filmes é uma dessas janelas, em
das ideias. É preciso partir sempre de
entanto, adotamos a A.C.F por considerarmos que sua natureza anamórfica abre possibilida-
suas experiências.
Essa experiência é ressaltada no conceito de relevante sua flexibilidade de tempo, no traba- des para o novo, o visível e o não dito.
Alain Bergala (2008), Travessia do Filme, em lho com obras cinematográficas, na Educação
Em consonância com essa concepção, a Pro-
que ele reconhece a importância da experiência Infantil, além de possibilitar uma gama de ri-
posta Pedagógica da Educação Infantil no Sesc
dos estudantes no trabalho com o Cinema em cas experiências pedagógicas, uma vez que a As Crianças no Cinema
(2015, p. 94), considera que: “O propósito final
sala de aula. Sobre isso, em artigo de Fresquet criança tem acesso à leitura de diversas pelícu-
do ensino de Arte é expandir a experiência in- Um sorriso de criança na tela e o jogo está
(2015), Bergala diz que: las, que não seria viável com a exibição desses
fantil”. Diante disso, consideramos essencial a ganho. Mas justamente o que salta aos olhos
Se quisermos iniciar as crianças no filmes na íntegra. Todavia, os fragmentos de
cinema, não devemos partir do saber. experiência direta da criança com o Cinema quando examinamos a vida é a gravidade da
filmes oportunizam o enriquecimento de seu
Não devemos partir da cultura. Não como ponto de partida e de chegada para o criança em relação à futilidade do adulto. (...)
repertório imagético, sendo possível adentrar, um filme de crianças pode ser elaborado em
devemos partir da história do cinema. É trabalho com essa Arte na Educação Infantil.
por exemplo, na obra de Charles Chaplin: O Ga- cima de pequenos fatos, pois na verdade nada
muito importante partir, primeiramente,
roto, sem necessariamente assisti-la por inteiro, é pequeno no que se refere à infância (TRUF-
da experiência direta da travessia
estimulando, assim, a curiosidade e o interesse FAUT, 2005, p. 36).
do filme. Isto é, na experiência existe Por Que uma Pedagogia da Articulação e da
saber. O fato de uma criança ver um pelo cinema, ou, ainda, a “[...] provocação (tea-
Combinação de Fragmentos (A.C.F)?
filme sobre o qual ela não sabe nada. sing) do desejo de ver o filme por inteiro” (BER- A proposta de apresentar diversas concepções
Sem haver uma preparação para ver GALA, 2008, p. 121). de infância no cinema buscou dialogar com os
Do ponto de vista do espectador, é fácil fazer a
esse filme... Então, ela entra no filme. estudantes sobre o que é ser criança, a partir de
experiência de comparar cinco minutos extra-
Atravessa o filme. E, quando ela sai ídos do meio de uma longa e um curta e cinco Potencialmente, o fragmento de filme repre- representações fílmicas em que elas são prota-
desse filme, há uma inteligência do gonistas, ou desempenham papeis importantes
minutos: o teor de existência de tudo o que faz senta uma rica alternativa pedagógica para o
filme. Há uma maneira pela qual ela um filme é nove ou dez vezes mais substancial nessas obras, em tempos e territórios diferen-
trabalho com o cinema na educação. Com ele, é
compreendeu o filme, a maneira pela no trecho. A força de evocação imaginária é
possível ampliar os possíveis significados, pela tes. Ao partir de uma abordagem intercultural
qual ela se emocionou, a maneira pela incomparável: no caso do trecho, aquilo que
criança, de um plano, cena ou sequência, que (CANDAU, 2011), tencionamos proporcionar
qual ela foi tocada pelo filme. Imagens não se vê permanece misteriosamente pre-
que ela reteve, por exemplo. Quando passariam despercebidos se lhes fossem apre- uma leitura imaginativa, escassa de interven-
sente e carrega ressonâncias profundas, qua-
ela vê um filme de uma hora e meia, se sempre ausentes nos curtas (BERGALA, sentados conjuntamente no formato de longa. ções analíticas pela estagiária sobre os filmes,
o que fica? Quais imagens a tocaram 2008, p. 188, grifos nossos). Bergala (2008) chama atenção para a prisão na qual seja valorizada a postura de especta-
pessoalmente? É sempre a partir daí do filme no fluxo de imagens já acumuladas dor-criador dos estudantes. Segundo Bergala
que é preciso partir. Em 1917, os estúdios hollywoodianos conven- em sua memória, do seu percurso, em que “[...] (2008, p. 65), “A ideia de espectador-criador é
cionaram a duração dos longas metragens em suas asperezas, sua singularidade ficam de cer- uma ideia forte e pouco familiar à escola, que
O autor ressalta ainda a autonomia da criança 60 a 90 minutos (COSTA, 2006). Essa conven- ta forma apagadas, neutralizadas pela visão de tem tendência a passar um pouco rápido de-
na leitura do Cinema, em detrimento de uma ção estende-se até os dias de hoje, na indústria conjunto” (p. 122). A contribuição da A.C.F tor- mais à análise, sem deixar à obra o tempo de
intervenção analítica e diretiva do (a) docente: cinematográfica. Em contrapartida, de acordo na-se, portanto, relevante para uma iniciação desenvolver suas ressonâncias e de se revelar
Se quisermos iniciar jovens ou crianças a cada um segundo sua sensibilidade”. Assim,
com a maioria dos dicionários, os curtas metra- significativa das crianças no cinema.
no cinema, é preciso sempre partir das respeitamos as livres interpretações dos estu-
gens chegam, geralmente, até 30 minutos de A pedagogia do fragmento mobiliza a atenção
suas experiências, a experiência da
duração (ALCÂNTARA, 2014). Em conversa in- da criança para o filme, que provavelmente ela dantes nas leituras dos trechos, partindos de
travessia do filme. Não se deve partir de
formal com a supervisora de estágio, a docen- recordará mais tarde em sua adolescência, vida suas experiências com eles, para mediarmos os
conceitos. Chegaremos às ideias e aos
conceitos depois. Isto é, primeiramente, te considerou ser mais adequado exibir curtas adulta e velhice. Essa recordação evocará, por diálogos provenientes dessas experiências.
eles dizem... Cada um pode dizer, para crianças pequenas, ao invés de longas, conseguinte, a intocabilidade das sensações ti-
por exemplo, como viveu a travessia pois esse padrão cinematográfico dispersa a das por ela nessa experiência. Para a criança, o Tendo em vista que: “Uma verdadeira cultura

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artística só se constrói no encontro com a alteri- sões cognitiva e emocional. A escola deve pro- Com a Pedagogia da Articulação e da Combi- implica considerar a interculturalidade como
dade fundamental da obra de arte” (BERGALA, porcionar esses duas abordagens educacionais, nação de Fragmentos, foi possível reconhecer um fenômeno decorrente da abordagem do
2008, p. 97), os fragmentos das películas, que pois ambas fazem parte do desenvolvimento essa abordagem na Educação Infantil como Cinema, enquanto Arte, na educação formal, e,
fazem parte do cronograma de intervenção, fo- infantil. Em sentido semelhante, Bergala (2008) uma possibilidade rica em experiência com o portanto, um fenômeno presente nas práticas
ram previamente escolhidos segundo critérios diz que, além do critério da pura emoção, o Ci- Cinema nesta fase educacional. Um exemplo pedagógicas dos professores que venham a se
que envolvem questões, como: O que pensa nema possibilita ao leitor se permitir participar disso foi o pedido das crianças, de lerem, pela apropriar do Cinema em suas práticas pedagó-
a criança? Em quais conflitos ela se envolve? do contexto histórico da obra de arte, fazen- segunda vez o trecho do filme Onde Fica a Casa gicas.
Como ela lida com suas necessidades? Quais do com que a Arte, enquanto representação do Meu Amigo, sendo essa experiência para
sentimentos ela estabelece na sua relação com do imaginário humano, passe a fazer parte do elas proveitosa, significativa e prazerosa com o
o mundo e as pessoas com as quais ela possui olhar do estudante, e isso não exclui qualquer Cinema. Além disso, a compreensão sobre os
vínculos afetivos? Ao partir dessas premissas, prazer fugidio que o Cinema proporciona, mas modos como as crianças leram os trechos foi Referências
selecionamos filmes que fazem parte do patri- essa Arte pode e deve ir além dessa aborda- essencial para as conexões estabelecidades,
mônio cultural cinematográfico de diferentes gem em sala de aula. nesse projeto, entre o Cinema e a Educação In- ALCÂNTARA, J. C. D. Curta-metragem: gênero dis-
fantil. cursivo propiciador de práticas multiletradas. 2014.
países e épocas distintas, a fim de apresentar
Assim, possibilitar diferentes leituras cinemato- 138 f. Dissertação (Pós-graduação em Estudos de
diversas representações fílmicas da infância e
Linguagens) –Instituto de Linguagens, Universidade
enriquecer a formação estética-cinematográfi- gráficas às crianças na escola, através de uma A partir das reflexões suscitadas pelo projeto,
Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. 2014.
ca dos educandos, assim como sua experiência compreensão do Cinema como produção ar- compreendemos que reconhecer o Cinema en-
com o Cinema. Além disso, como diz Bergala títica e cultural, insere-as em um domínio dis- quanto Arte na Educação Infantil permite am-
BARBOSA, A. M. A imagem no ensino da arte: anos
(2008, p. 61, grifos do autor), a experiência com cursivo pouco, ou nunca, problematizados em pliar as possibilidades de experiência com o
oitenta e novos tempos. 7.ed. São Paulo: Perspectiva,
o Cinema na Infância é única insubstituível, e, outros espaços em que elas leem imagens em Cinema pelas crianças. Ao investigarmos os mo-
2009.
portanto, deve ser considerada como algo sé- movimento, como suas casas, televisão, inter- dos como as crianças leem os trechos de filmes,
rio pelos professores da Educação Infantil, que net etc (BERGALA, 2008). Com isso, a escola foi possível entender que a livre interpretação BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no
venham a trabalhar com essa Arte em sala de compromete-se a oferecer experiências signi- do Cinema pelas criança deve ser um critério ensino da arte. Ana Mae Barbosa (org.). 7. ed. – São
aula: ficativas com a Arte Cinematográfica para os básico para que ela tenha, de fato, uma expe- Paulo: Cortez, 2012.
Quando a primeira linha (a das estudantes. riência significativa com o Cinema. A utilização
primeiras impressões que “dão a nota” do Cinema como ferramenta pedagógica limita BERGALA, A.  A Hipótese-cinema. Rio de Janeiro:
inesquecível) se fecha para sempre, as potencialidades do Cinema como formação Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.
nenhum filme poderá ser incluído Considerações Finais estética e artística, uma vez que as leituras das
retroativamente, nem mesmo aqueles crianças não são levadas em consideração no BRASIL. Ministério da Educação. MEC/CEB. Diretri-
que deveriam ter um lugar nela, e Por meio da experiência em realizar o projeto, seu processo de significação da imagem cine- zes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
ficarão no limbo desse núcleo duro Brasília, 2010.
foi possível ressignificar nossa prática docente, matográfica, pois a utilização do Cinema, nessa
que nos constitui como adoradores do
na medida em que a liberdade em elaborar ati- perspectiva, o reduz a uma ilustração imagética
cinema. Esses filmes encontrados “tarde BRANDÃO, Helena N. O leitor: co-enunciador do
vidades, em diálogo com os estudos da nossa do conteúdo trabalhado pelo professor com o
demais” permanecerão parcialmente texto. In: Polifonia. Nº1, Cuiabá: Editora da UFMT,
não revelados, como uma fotografia
formação acadêmica, e realizá-las no campo de filme, o que leva o docente a direcionar a leitura
1994, pp. 85-90.
cuja revelação foi interrompida cedo estágio, através do excelente acompanhamen- do filme pelas crianças, baseada no conteúdo
demais e que permanecerá pálida para to da supervisora de estágio, da supervisora de por ele trabalhado em sala de aula.
BOGDAN, R;BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em
sempre, sem o contraste do relevo que estágio de Educação Infantil da Unidade Sesc
Educação. Portugal: Porto Editora, 1994.
deveria. Garanhuns e da orientadora do projeto. Com Por fim, ressaltamos a necessidade de uma pos-
essa experiência, enriquecemos, ainda, nossa tura investigativa do professor em pesquisar e CANDAU, V. M. F. DIFERENÇAS CULTURAIS, COTI-
Com base em Barbosa (2012), consideramos postura investigativa em relação ao trabalho possibilitar a leitura de diferentes padrões es- DIANO ESCOLAR E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS. Cur-
que a abordagem com o Cinema na Educação docente, atentando, sobretudo, para as especi- téticos cinematográficos pelas crianças, uma rículo sem Fronteiras, v.11, n.2, pp.240-255, jul/dez,
Infantil não deve se restringir como mera libera- ficidades das crianças da Educação Infantil. Foi, vez que essa diversidade estética possibilita 2011.
ção de emoções, uma vez que essa concepção portanto, uma experiênica única e extremamen- uma reeducação do olhar para o Cinema, as-
não compete com uma educação, nas dimen- te significativa para nossa formação docente. sim como outras imagens em movimento. Isso COSTA, F. C. (Org) Fernando Marcarello. História do

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Cinema Mundial: Campinas, SP: Papirus, 2006.
Acompanhamento de fiscalização da obra de
DUARTE; ALEGRIA. Formação Estética Audiovisual:
um outro olhar para o cinema a partir da educação.
reforma e ampliação do Restaurante do Sesc no
Educação & Realidade, Rio Grande do Sul, v. 33, n. 1, Riomar Shopping
p. 59 - 80, jan, 2008.

DUARTE, Rosália. Cinema & Educação. Belo Hori- Accompaniment of supervision of the reform and expansion
zonte: Autêntica, 2002. of the Restaurant of Sesc in Riomar Shopping
FAVERO, L. L.; KOCH, I. G. V. Linguística Textual:
uma introdução. 3 o ed. São Paulo; Cortez, 2009. Thulio Roberto Silva do Nascimento1
Fabiana Lacerda Siqueira Campos2
FRESQUET, Adriana. Currículo de Cinema para Es- Júlio Cesar Azevedo Luz de Lima3
colas de Educação Básica. Adriana Fresquet (org.),
2015. Disponível em: < http://www.cinead.org/files/
Resumo: O presente trabalho trata de um relato de experiência produzido durante o estágio de nível técnico
curriculo_cinema.pdf>. Acesso em: 16. abr. 2017. em edificações desenvolvido na Gerência de Projetos e Obras do Departamento Regional do Sesc em
Pernambuco, que possibilitou a participação na fiscalização da obra de ampliação e reforma do restaurante
HILGERT, ANANDAS. V. Alteridade e experiência do Sesc no RioMar Shopping, acompanhando o trabalho desenvolvido pela engenheira civil Fabiana
Lacerda. O restaurante tem a finalidade de atender os funcionários das lojas pertencentes ao shopping. A
estética: o olhar, o outro e o cinema. 2014. 120 f. obra contemplou uma área de ampliação dos setores da administração, de recebimento e de estocagem de
Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de alimentos do restaurante, buscando uma acomodação apropriada para os funcionários do Sesc e disposição
adequada dos ambientes de armazenamento dos alimentos, garantido mais qualidade às refeições servidas
Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educa-
ao público. A reforma ocorreu na cozinha do restaurante, tendo por finalidade o redimensionamento dos
ção, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio ambientes de cocção, pré-preparo e preparo das refeições convertendo-os em áreas apropriadas para o
Grande do Sul. 2014. trabalho demandado. No decorrer da obra foram identificados problemas que não haviam sido percebidos
durante o período de elaboração dos projetos por serem de origem superveniente. As atualizações de projetos
para compatibilizar ao que já havia executado na área do restaurante, além da contratação de novos projetos
MARCUSCHI, L. A. Produção Textual, análise de gê- e da execução de serviços que se mostraram necessários para garantir a qualidade do empreendimento,
nero e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, foram atitudes tomadas e devidamente estudadas e acompanhadas pela fiscalização da obra. De maneira
geral, a obra e a reforma foram realizadas para proporcionar melhorias ao serviço prestado pelo Sesc ao seu
2008 público, além de garantir as condições ideais de trabalho para os seus funcionários.
Palavras-Chaves: Acompanhamento. Fiscalização de Obras. Restaurante do Sesc.
PILLAR, Analice Dutra. Inquietações e mudanças no
ensino da arte. Ana Mae Barbosa (org.). – São Paulo:
Cortez, 2012. Abstract: This work treats about an experience report produced during the technical internship in buildings
developed in the Projects and Works Management Department of the Sesc Regional Department in
Pernambuco, which made it possible to participate in the inspection of the expansion and renovation work of
RIZZI, Maria C.S. Inquietações e mudanças no ensino the Sesc restaurant in RioMar Shopping, following the work developed by the civil engineer Fabiana Lacerda.
da arte. Ana Mae Barbosa (org.). – São Paulo: Cortez, The restaurant has the purpose of serving the employees of the stores belonging to the mall. The work included
an area of ​​expansion of the administration, reception and food storage sectors of the restaurant, seeking
2012. appropriate accommodation for Sesc’s employees and adequate provision of food storage environments,
ensuring a higher quality of meals served to the public. The renovation took place in the kitchen of the
restaurant, with the purpose of re-dimensioning the cooking, pre-preparation and preparation of meals areas,
SESC/DN. PROPOSTA PEDAGÓGICA DA EDUCA- converting them into appropriate for the work demanded. In the course of the work, problems were identified
ÇÃO INFANTIL NO SESC. Rio de Janeiro, 2015. that were not perceived during the projects preparation period because they were of supervening origin.
The updates of projects to make compatible with what had already done in the restaurant's area, besides
the contracting of new projects and execution of services that were necessary to guarantee the quality of
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. the enterprise were actions done and properly studied and accompanied by the supervision of the work. In
2ª. ed. São Paulo: Cortez, 1986. general, the work and reform were carried out to provide improvements to the service provided by Sesc to
its public, in addition to ensuring the ideal working conditions for its employees.
TRUFFAUT, F. Reflexões sobre as crianças e o cine- Key Words: Accompaniment. Supervision of Constructions. Sesc Restaurant.
ma. In: O prazer dos olhos. Rio de Janeiro: Zahar,
2005. 1 Autor - Técnico em Edificações pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em Pernambuco. Graduando em Engenharia
Civil na Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (Poli/UPE). E-mail: thulioroberto.17@gmail.com

2 Orientador- Engenheira Civil pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Especialista em Engenharia de Segurança pela Escola
Politécnica da Universidade de Pernambuco (Poli/UPE). Gerente de Projetos e Obras do Sesc em Pernambuco. E-mail: flacerda@sesc.com.br

 3 Editor do Relato -Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (Poli/UPE). Professor do Instituto Federal de
Pernambuco (IFPE). Mestre em Engenharia Civil, com ênfase em Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos pela Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). Doutorando em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). E-mail: juliocesarazevedo@
gmail.com

96 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 97


Introdução oferecer alimentação de qualidade a um preço ser uma ação planejada, coordenada e avalia- O salão do restaurante foi reformado, receben-
acessível aos funcionários de mais de 100 lojas da de forma contínua, tendo em foco o alcance do um novo revestimento e leiaute, buscando
A fiscalização de obras é uma ação muito im- que estão dispostas no prédio do shopping. dos seus objetivos”. proporcionar mais conforto aos usuários.
portante, pois é ela que garante o cumprimento
de todas as exigências contratuais e a qualida- Dessa maneira, podemos entender a importân- Tanto a realocação do setor administrativo
de do produto final. Com ela, torna-se possível cia da iniciativa do Sesc, tanto para o público Reforma e Ampliação do Restaurante do Sesc quanto a reforma do salão do restaurante foram
no Riomar Shopping
evitar problemas que podem comprometer o usuário quanto para seus funcionários. atividades desenvolvidas pelo Grupo JCPM e a
desenvolvimento do empreendimento, atrasar fiscalização do Sesc teve o cuidado em acom-
A fiscalização registrada neste trabalho faz re-
cronogramas e gerar gastos desnecessários. A panhar as mesmas sem interferir no processo.
ferência à obra que foi realizada no restaurante
qualidade da construção surge da realização de Fiscalização de Obras
dos comerciários do Sesc RioMar, que “é o fruto
cada etapa da obra de acordo com o que foi A reforma da cozinha do restaurante foi a fra-
de uma parceria entre o Sistema Fecomércio/
planejado, e esse controle é uma atribuição da Toda obra civil é realizada para proporcionar Sesc/Senac-Pe e o Grupo JCPM” (RESTAU- ção da obra que ficou de responsabilidade do
fiscalização. melhorias aos usuários de determinado serviço RANTE... 2017). Nessa obra, foi realizada uma Sesc, por isso, foi acompanhada de maneira
ou local, seja para fim de uso público ou priva- ampliação do setor administrativo e almoxarifa- detalhada pela fiscal e pelos demais profissio-
Para que um projeto seja bem executado, é do. Entretanto, a produção do objeto arquiteta- do, que antes ocupava uma área de aproxima- nais envolvidos. O orçamento dessa reforma
necessário que haja um bom planejamento e do e planejado nem sempre é simples. damente 103,36 m2. alcançou a significância de R$ 1.139.865,51 (um
acompanhamento dos serviços que compõem milhão, cento e trinta e nove mil, oitocentos e
a obra. Cada projeto exige diferentes condições para Essa área é parte dos 637,00 m2 da área total sessenta e cinco reais e cinquenta e um cen-
sua execução, até mesmo os que servem de inicial do restaurante que acomodava o salão, a tavos). Além disso, novos equipamentos foram
Um profissional que atua como fiscal de obras modelo, como em programas sociais, por exem- área de preparo e cocção dos alimentos, admi- adquiridos para compor a cozinha. Os valores
deve ter conhecimento largo dos processos plo, sendo reproduzidos repetidamente em di- nistração e almoxarifado, além de WC feminino citados reafirmam a relevância da fiscalização
ferentes locais, pois fatores como o tipo solo, e masculino para o público e ainda vestiários
que estão envolvidos na execução do objeto, da obra.
feminino e masculino para os funcionários.
o que na verdade é o resultado de experiências as características climáticas, a disponibilidade
vivenciadas em trabalhos anteriores, apesar de de materiais e de mão de obra podem facilitar A contratação da empresa Times Engenharia,
Todo o espaço administrativo foi transferido
cada construção ter suas características e fina- ou dificultar a execução do negócio. Por isso, as contratada para execução da reforma, deu-se
para uma área de 278,37 m2. Essa área corres-
lidades próprias. equipes da construtora contratada envolvidas por licitação, na modalidade de carta-convite,
ponde à parte de ampliação do empreendimen-
no processo de construção atuam em conjunto to, o Gráfico 1 ilustra as proporções das áreas dentro dos parâmetros estabelecidos pelo re-
A ampliação e reforma do restaurante tratado para viabilizar a execução do empreendimento, citadas. gulamento do Sesc.
nesse trabalho exigiu dos profissionais envolvi- garantindo a qualidade, a estética, a funcionali-
dos no processo de execução muita diligência dade e todas as características do objeto a ser Gráfico 1 - Áreas
para que o projeto fosse concebido correta- construído ou reformado. Problemas Encontrados na Obra
mente, ainda que frente às dificuldades encon-
tradas no decorrer da obra. Da mesma maneira, o contratante deve atuar O cronograma foi inicialmente de 60 dias, po-
com profissionais que, durante toda a obra ou rém, por motivos técnicos houve o acréscimo
A solução, ou ainda minimização, de proble- reforma, acompanhem os serviços executados de 30 dias, finalizando a obra com 90 dias cor-
mas ergonômicos e riscos físicos (como calor para assegurar a realização do que foi idealiza- ridos. Esse acréscimo se deu por meio de um
excessivo e ruído) aos quais os trabalhadores do. Estes participam principalmente no acom- aditivo de prazo ao contrato firmado entre o
da unidade estavam expostos, foi um grande panhamento e na verificação do cronograma Sesc e a construtora. A necessidade desse adi-
incentivo à realização da obra e reforma, visto para a avaliação do desenvolvimento da obra. tivo surgiu quando foram identificados fatos
que melhorias nas condições de trabalho impli- Esses profissionais são responsáveis pela exi- supervenientes na reforma. O dicionário da lín-
cam mais produção e maior qualidade do que gência do cumprimento de tudo o que foi es- gua portuguesa Ruth Rocha define fato como
é produzido, o que converge para uma maior tabelecido no contrato entre a construtora e a “coisa ou ação feita, acontecimento”, ou ain-
satisfação dos usuários. A relevância dessa ini- contratante, em concordância com o que diz da, como o “que é real”, e superveniente como
ciativa também considera o fato do restaurante Cambundo (2017, on-line) “A fiscalização deve Fonte: Autor (2018) “algo que vem depois ou que sobrevém”. No

98 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 99


nosso caso, podemos entender essa expressão em determinado período de tempo). pecialista em projetos de cozinhas industriais, Considerações Finais
como fato que só pôde ser identificado durante mostrou-se presente e solícito para a realização
a execução da obra e por isso não fez parte do O pagamento dos boletins foi distribuído em das alterações necessárias dos projetos, facili- Por meio do trabalho da fiscalização, foi pos-
planejamento e orçamento da mesma. espaços de tempo proporcionais ao desenvol- tando a compatibilização do planejado com a sível alcançar os objetivos da reforma, de ma-
vimento dos serviços. A tabela 1 indica os va- realidade do local. neira que todos os serviços, instalações (elétri-
Alguns dos problemas que surgiram e que se lores, data de emissão da nota fiscal de cada ca, hidráulica, sanitária, climatização, exaustão,
enquadram na definição de fatos supervenien- boletim de medição e o investimento total da Foram realizadas cerca de 20 visitas técnicas entre outras), revestimentos, esquadrias etc.,
tes foram: rede de drenagem deficiente, pro- reforma. por parte da fiscalização para o acompanha- foram realizados atendendo às especificações
blemas de impermeabilização no piso existen- de projeto.
mento das atividades. Por meio delas, foi pos-
te, corrosão de pilares metálicos, paredes sem Tabela 1 - Resumo dos Boletins de Medições
sível testificar e registrar (com fotos, relatórios
elementos de amarração, instalações de clima- A relação clara e ética estabelecida entre a em-
técnicos e fotográficos) a execução dos proje-
tização e exaustão subdimensionadas. presa contratada e a fiscalização, que represen-
tos conforme licitado.
tou o Sesc, proporcionou o bom andamento e
Alguns dos serviços extras realizados foram: garantiu o sucesso da iniciativa.
A colaboração da fiscalização para o cum-
contratação de empresa para a elaboração e a
primento de todo o contrato foi um fator de
execução de projetos de drenagem, impermea- A reforma ofereceu melhores condições de tra-
grande magnitude, pois o resultado final é um
bilização de piso e paredes até 1,20m, recupera- balho para todos os funcionários, tanto da co-
ção de pilares, execução de pilares e vigas para empreendimento que oferece serviço a aproxi-
zinha quanto os do setor administrativo e do
amarração de paredes, elaboração e execução madamente 1.500 (mil e quinhentas) pessoas
almoxarifado. Logo, o público do restauran-
de instalações de climatização e exaustão. por dia, com refeições de café da manhã, almo-
te pode usufruir de um melhor serviço, assim
ço, jantar e lanches. como de ambientes mais confortáveis e agra-
A identificação, a avaliação e o registro de to- Fonte: Autor (2017) dáveis. Dessa forma, são cumpridos os princi-
dos esses problemas foi uma atividade da fis- Após a reforma, segundo a nutricionista do res- pais propósitos dessa unidade do Sesc.
calização da obra juntamente com os profissio- O Gráfico 2 ilustra a evolução do pagamento taurante Karen Beltrão, “o número de lanches
nais da empresa contratada. das parcelas do investimento aplicado nesse vendidos aumentou e agora as outras refeições Então, podemos enxergar a relevância da atua-
empreendimento, tanto de forma acumulada, também tendem ao aumento por conta das ção dos engenheiros fiscais, que trabalham des-
Durante a reforma, foram elaborados dois ter- como isolada. contratações de final de ano das lojas do sho- de o planejamento até a entrega da obra, para
mos aditivos, o primeiro de prazo e valor e o pping”. que o resultado satisfaça a todos os indivíduos
segundo apenas de valor, alcançando um mon- Gráfico 2 - Pagamentos dos Boletins de Medições que estão ligados ao mesmo de alguma forma.
tante de R$ 439.601,92 (quatrocentos e trinta e O restaurante tem 59 profissionais contratados,
nove mil, seiscentos e um reais e noventa e dois que receberam novos ambientes de trabalho. O
centavos) adicionais ao valor do contrato, to- número de funcionários foi mantido o mesmo e
talizando um investimento de R$ 1.579.467,42 Referências
todos vêm sendo treinados para que cada equi-
(um milhão, quinhentos e setenta e nove mil,
pe possa realizar um melhor trabalho, podendo
quatrocentos e sessenta e sete reais e quarenta FIGUEREDO, Alan Clecio Queiroz. A importância da
assim, desenvolver um produto de mais quali- fiscalização nos contratos administrativos de mão
e dois centavos).
dade para os clientes. de obra terceirizada. 2014. 19 f. TCC (Graduação) -
Curso de Administração, Universidade Católica de
Outro trabalho desenvolvido pelo fiscal é a me-
Por meio dos profissionais envolvidos no pro- Brasília, Brasília, 2014. Disponível em: <https://re-
dição dos serviços executados pela empresa
jeto, planejamento, execução, fiscalização e em positorio.ucb.br/jspui/handle/10869/5703>. Acesso
contratada e, consequentemente, a autoriza- em: 23 maio 2017.
todas as etapas da reforma, foi conquistado
ção, ou não, do pagamento do valor expresso Fonte: Autor (2018)
no Boletim de Medição (conjunto de planilhas de forma expressiva o melhoramento de con-
FISCALIZAÇÃO de Obra. Disponível em: <http://
e documentos que informam quantitativos e O arquiteto responsável pelo projeto de refor- dições de trabalho e dos produtos oferecidos www.utopia-projectos.com/servicos/fiscalizacao-
valores proporcionais aos serviços executados ma da cozinha, por nome Ricardo Bruno, es- pelo restaurante. -de-obra/>. Acesso em: 30 maio 2017.

100 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 101
RESTAURANTE Sesc RioMar. Disponível em: <ht-
tps://www.sescpe.org.br/unidades/restaurante-ses-
O ensino da matemática através da ludicidade:
c-riomar/>. Acesso em: 30 maio 2017 jogos e oficinas
ROCHA, Ruth; PIRES, Hindenburg da Silva.  Minidi-
cionário da Língua Portuguesa.  12. ed. São Paulo:
The teaching of mathematics through the deceit: games and
Scipione, 2006. 831 p.
offices
 Williamar Figueredo de Oliveira1
Mary Rodrigues da Silva2
Jessica Flaíne dos Santos Costa3

Resumo: Este artigo tem o intuito de compartilhar as experiências vivenciadas na turma do 5º ano "A", do Sesc
Ler Araripina, na oportunidade da realização do estágio supervisionado do curso de Pedagogia oferecido
pela Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação (Facite). O foco principal das ações desenvolvidas foi
possibilitar os meios necessários para o reconhecimento de que se faz imprescindível desenvolver o ensino
da matemática, usando como base a ludicidade, buscando, através de jogos e oficinas, promover uma
aprendizagem significativa. Devido às dificuldades historicamente encontradas no processo pedagógico
de ensino-aprendizagem da matemática, muitos estudantes criam um pensamento negativo sobre a
mesma. Sendo assim, buscou-se aproximar o aprendiz da disciplina, possibilitando-lhe uma aprendizagem
diferenciada, considerando os conhecimentos prévios e saberes dos estudantes, para que estes pudessem se
identificar com os conteúdos estudados e, assim, tornar o aprendizado algo fascinante, contribuindo para o
desenvolvimento integral do discente e a melhoria do seu rendimento, combatendo a pressão muitas vezes
sofrida, onde ele percebe a matemática como uma disciplina muito difícil, que irá reprová-lo. Dessa maneira,
o uso do lúdico torna as aulas mais agradáveis, atrativas e motivadoras. Para tal trabalho, foram realizadas
pesquisas com embasamento em diferentes autores, observação do campo de estágio e realização de jogos
e oficinas com os discentes. A partir das reflexões acerca das vivências construídas ao longo do estágio,
concluiu-se que, através da ludicidade na matemática, é possível possibilitar o desenvolvimento de diversas
habilidades nos estudantes, favorecendo o aperfeiçoamento intelectual, resgatando a autoconfiança na
capacidade e no potencial individual e possibilitando o alcance da segurança com relação a aprendizagem
da referida área do conhecimento.
Palavras - chave: Aprendizagem de Matemática. Ludicidade. Jogos. Oficinas.

Abstract: This article intends to share the experiences lived in the 5th grade class "A" of SESC Ler Araripina,
in the opportunity to perform the supervised internship of the pedagogy course offered by the Faculty of
Science, Technology and Education - FACITE. The main focus of the actions developed was to provide the
necessary means for the recognition that it is essential to develop the teaching of mathematics, based on
playfulness, seeking through games and workshops, to promote meaningful learning. Due to the difficulties
historically encountered in the teaching-learning process of mathematics, many students create negative
thinking about mathematics. Thus, the aim was to bring the apprentice closer to the subject, making possible
a differentiated learning, considering the previous knowledge and knowledge of the students, so that they
could identify with the contents studied and, thus, make the learning something fascinating, contributing to
the integral development of the student and the improvement of his performance, fighting the pressure often
suffered, where he perceives mathematics as a very difficult discipline that will fail him. In this way, the use of
playfulness makes classes more enjoyable, attractive and motivating. For such work, researches were carried
out based on different authors, observation of the field of internship and realization of games and workshops
with the students. Based on the reflections about the experiences built up along the stage, it was concluded
that through ludicity in mathematics it is possible to develop several skills in students, favoring intellectual
improvement, rescuing self-confidence in individual capacity and potential and making possible the safety in
relation to learning in this area of knowledge.
​​
Key - words: Mathematics Learning. Playfullness. Games. Offices.

1 Autor - Graduado em Pedagogia pela Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação (Facite), williamarf.wf@gmail.com

2 Orientador - Graduada em Letras pela Faculdade de Formação de Professores de Araripina (Fafopa), especialista em literatura brasileira
pela Universidade Regional do Cariri (Urca), marirodrix_@hotmail.com

3 Editor do Artigo - Mestra em Educação Contemporânea pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Contemporânea (PPGEDUC) da
Universidade Federal de Pernambuco – Centro Acadêmico do Agreste (UFPE - CAA), Licenciada em Pedagogia pela UFPE – CAA; membro
do Laboratório de Pesquisa em Políticas Públicas, Currículo e Docência (LAPPUC), docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Sertão Pernambucano (IF Sertão), Campus Petrolina; Colaboradora da Coordenação Pedagógica da Academia HackTown,
primeira escola pública de ensino de Programação em Jogos Digitais e Robótica do Brasil. jessicaflaine@hotmail.com; jessica.costa@
ifsertao-pe.edu.br

102 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 103
Introdução do 5º ano do Ensino Fundamental I, podem ava- des contribuem para a formação de um indiví- mais e melhorem os seus relacionamentos inter-
liar seus alunos? Quais os principais desafios no duo complexo e preparado. pessoais, influenciando também na elevação da
Esse artigo tem como objetivo ressaltar a re- ensino da matemática? Quais instrumentos de- autoestima. Quando realizados de forma praze-
levância de evidenciar e colocar em prática a vem ser utilizados para a melhoria do ensino da Entre as várias contribuições que os jogos pro- rosa e atraente dentro da matemática, ajudam a
ludicidade nas aulas de matemática no dia a dia matemática? Em quais teorias estão fundamen- porcionam, vale destacar: a operacionalização diminuir diversos problemas de aprendizagem,
escolar, sendo esta uma facilitadora de extrema tadas as metodologias desses professores? da criança, que começa quando ela se depara desenvolvendo relação de confiança entre pro-
importância para o desenvolvimento dos estu- com situações concretas que exigem soluções, fessor x aluno e aluno x aluno, bem como a co-
dantes, possibilitando meios para que crianças A utilização de jogos nas aulas de matemáti- levando-a a construir a capacidade de criar so- municação de pensamento, corpo e espaço,
e jovens possam romper com a visão negativa ca, quando realizada de forma planejada, pode luções lógicas, coerentes, desenvolver poten- trazendo para a sala de aula um ambiente de
acerca da aprendizagem da matemática. possibilitar a melhoria do raciocínio lógico-ma- cialidade, avaliar resultados e compará-los com interação entre os envolvidos.
temático, que irá auxiliá-lo na resolução de si- a vida real (MOYLES, 2011). Através dos jogos
De acordo com Maranhão (2004), dentro do tuações peculiares frequentes, tanto em seu matemáticos, a criança pode revelar suas ha- Sendo assim, é possível compreender que:
contexto escolar, a ludicidade inserida nas aulas cotidiano escolar quanto no seu dia a dia, pro- bilidades, sua vocação, seu caráter, sua auto- O jogo é uma atividade criativa e
de matemática, resulta em uma transformação movendo o interesse dos estudantes pela disci- nomia, entre outros aspectos, desenvolvendo curativa, pois permite à criança reviver
ativamente a situações dolorosas
apreciável no processo de ensino-aprendiza- plina referida. relação de respeito e confiança em si e com os
e ensaiando na brincadeira as suas
gem, modificando o modo de ensino tradicio- colegas.
expectativas da realidade. Constitui-
nal, complementando e ampliando as práticas Diante deste quadro, a elaboração deste arti-
se numa importante ferramenta
docentes em sala de aula. A forma de desen- go justifica-se pelo fato de defender que a uti- Praticamente todas as crianças são heterôno- terapêutica, permitindo investigar,
volver a criatividade através de jogos e oficinas lização de atividades lúdicas nas escolas pode mas, ou seja, a criança está sujeita à vontade de diagnosticar e remediar as dificuldades,
tem adentrado de forma cada vez mais forte contribuir para uma melhoria nos resultados outra pessoa, às regras e às normas de conduta, sejam elas de ordens afetivas, cognitivas
e bem sucedida, complementando os espaços obtidos pelos alunos. Sabe-se, no entanto, que mas, com o crescimento e o amadurecimento ou psicomotoras. Em termos cognitivos,
educacionais, onde a sua aplicação tem a pre- as atividades de cunho lúdico não abarcariam que o jogo proporciona, alguns se tornam au- significa a via de acesso ao saber,
tensão de tornar as aulas mais agradáveis e a toda a complexidade que envolve o processo tônomos. Segundo Piaget (1978), a cooperação entendido como a incorporação do
conhecimento numa construção pessoal
aprendizagem algo instigante e motivador. educativo, mas podem auxiliar os educadores e a interação com outros indivíduos permitem
relacionada com o fazer (BOSSA, 2000,
interessados em promover mudanças quanto esse desenvolvimento, pois diminui a depen-
p. 85-88).
Muitas são as dificuldades encontradas no pro- ao ensino da matemática de maneira significa- dência, dando-lhe o direito de construir seu
cesso de ensino-aprendizagem da matemática, tiva e repleta de sentidos para os estudantes. próprio conhecimento.
A ludicidade permite aos estudantes criarem
tanto por parte dos alunos quanto por parte dos Estas atividades são mediadoras de avanços e
suas próprias expectativas, como também suas
professores. Vários autores, ao tratarem destas contribuem para tornar a sala de aula um am- Segundo Atzingen (2001), é por meio dos jo-
frustrações, promovendo meios para que seja
dificuldades, utilizaram os mais diversificados biente alegre e favorável à aprendizagem. gos que crianças tímidas liberam as emoções
possível aprender a lidar com elas. O que fa-
termos e definições para tentar caracterizá-las, reprimidas no seu eu, tendo a oportunidade de
zer diante de uma perda? E como lidar com a
contudo, estabelecem um conceito sobre elas. se mostrar e conhecer seus colegas. Essas con-
vitória? São conceitos básicos que devem ser
Campos (1997, p. 73), por exemplo, diz que os O Ensino da Matemática Através da Ludicida- seguem sentir-se seguras a partir do momento
levados em consideração, permitindo que o
termos mais utilizados nas escolas são: “dificul- de em que se veem inseridas no grupo. A interação
professor-orientador perceba as dificuldades
dades ou problemas de aprendizagens”. Essas é indispensável, pois o ponto de vista da crian-
de aprendizagem dos alunos, para poder con-
dificuldades ou problemas referem-se a alguma Para Santos (2007), a utilização de jogos no ça é diferente do ponto de vista de um adulto
tribuir no processo de superação das mesmas,
desordem na aprendizagem do aluno, que pro- ensino da matemática tem um papel relevante e a vida social da mesma acontece, na maior
auxiliando-os.
vém de fatores reversíveis, e que, normalmente, em relação às situações de aprendizagens, pois parte do tempo, com seus colegas no espaço
não tem causas orgânicas. contribui para o desenvolvimento de capacida- escolar.
Segundo Kishimoto (2000, p. 218), no jogo, a
des físicas – manipulações de materiais, obje-
criança é mais do que é na realidade, permitin-
A reflexão sobre as possíveis dificuldades de tos, desenvolvimento do corpo, capacidades Neves (2005) ainda pontua que os jogos tra-
do o aproveitamento de todo o seu potencial.
aprendizagem da matemática suscitou algumas afetivas, valores, atitudes, interesses e aprecia- balham a ansiedade apresentada por muitas
Nele, a criança toma iniciativa, planeja, exerci-
questões: como os professores de matemática ções; e capacidades cognitivas – aquisição de crianças, fazendo com que elas concentrem-se
ta, avalia. Enfim, ela aprende a tomar decisões
determinados conhecimentos. Essas capacida-

104 | Revista Conhecer & Produzir | Sesc Volume 2 - 2017 | Recife - Pernambuco | 105
e ocasionar seu contexto social na matemática que o jogador depende apenas da recíproca. Já como método de pesquisa, utili- das etapas do projeto “A Matemática e a Lu-
do faz-de-conta. Ela aprende e se desenvolve. “sorte” para ser o vencedor; b) jogos de zou-se o estatístico e o tipológico. dicidade”, desenvolvido pelo estagiário. Após
O poder simbólico do jogo de faz-de-conta quebra-cabeças: jogos de soluções, a a execução das etapas do projeto, aplicou-se
princípio desconhecidas para o jogador,
abre um espaço para apreensão de significados Foi realizada a tabulação e análise dos dados um questionário junto aos alunos e obteve-se
em que, na maioria das vezes, joga
de seu contexto e oferece alternativas para no- obtidos dos questionários com representação os seguintes dados:
sozinho; c) jogos de estratégias: são
vas conquistas no seu mundo imaginário. dos fenômenos através de gráficos e tabelas.
jogos que dependem exclusivamente
Como método de abordagem, foi utilizado o Tabela 1- Opinião dos alunos sobre quais
da elaboração de estratégias do
Lara (2003, p. 18) reforça essa necessidade jogador, que busca vencer o jogo; d) Estudo de Caso, buscando compreender o fe- brincadeiras mais gostam de brincar na escola
quando coloca que: “[...] se não estivermos jogos de fixação de conceitos: são os nômeno e encontrar as principais contradições
convictos do modo que vemos e concebemos a jogos utilizados após exposição dos do processo de ensino da matemática a partir Quais as brincadeiras que você mais brinca
matemática, do seu ensino e do perfil do aluno conceitos; e) jogos computacionais: de atividades lúdicas. na escola?
que queremos formar, muito pouco nos ajudará são os jogos em ascensão no momento Futebol 40%
e que são executados em ambiente Pega-pega 20%
apenas pensar em alguma nova estratégia de Sobre isso, Yin (2010) define o estudo de caso
computacional; f) jogos pedagógicos: Esconde-esconde 30%
ensino, entre elas, os jogos”. como uma pesquisa empírica, que investiga
são jogos desenvolvidos com objetivos
fenômenos contemporâneos dentro de um Outras 10%
pedagógicos de modo a contribuir no
Tanto o desenvolvimento moral quanto o in- contexto de vida real, utilizado especialmente Fonte: dados do pesquisador, 2017.
processo ensinar aprender (Grando
telectual são processos que se desenvolvem 1995; RIBEIRO, 2009, p. 26). quando os limites entre o fenômeno e o contex-
por um longo período da vida de um educan- to são pouco evidentes. Atribui-lhe o objetivo A pergunta de número 2 representa a opinião
do. Algumas vezes esse desenvolvimento se dá Borin (1996) classifica os jogos em dois tipos: de explorar, descrever e explicar o evento ou dos alunos sobre a primeira etapa do projeto,
de forma penosa, exigindo muito das pessoas jogos de Treinamento e Jogos de Estratégia: fornecer uma compreensão profunda do fenô- que envolve o jogo da velha com multiplicação.
envolvidas na educação do indivíduo, incluin- os jogos de estratégia desenvolvem o raciocí- meno. Para melhor esclarecimento, foram escolhidas
do aí, o professor. É interessante colocar que o nio lógico e tem como característica formular cinco opiniões aleatórias dos alunos para re-
desenvolvimento do educando é acompanhado hipóteses. E os jogos de treinamento têm como A pesquisa foi desenvolvida no Sesc Ler, que presentar a pergunta de número 2. No entanto,
pelo desenvolvimento de suas formas de jogar. objetivo fixar conceitos, este tipo de jogo é uti- fica localizado no município de Araripina-PE. A todos os alunos (100%) gostaram de participar
lizado pelo professor para trabalhar conceito e escola atende as modalidades de Educação In- da primeira etapa do projeto.
A criança inicialmente joga sozinha, criando o valor pedagógico que envolvem esses tipos fantil, Fundamental I, EJA I e Educação Integral,
desafios para si mesma, e sua ação é física, de jogos. com diversas aulas, dentre elas: informática bá- Nenhuma criança brinca só para passar o tem-
caracterizando-se pelo movimento e pela ma- sica, natação e violão. po, sua escolha é motivada por processos ín-
nipulação do objeto do conhecimento. Pos- timos, desejos, problemas, ansiedades. “O que
teriormente, passa a jogar com os outros, vi- Metodologia Através da aplicação de jogos, foram realiza- está acontecendo com a mente da criança de-
venciando novas experiências, estabelecendo das de oficinas matemáticas inovadoras a fim termina suas atividades lúdicas; brincar é sua
relações mentais e deixando de agir somente A pesquisa, de cunho qualitativo, que deu ori- de que os alunos do 5 º ano conseguissem de- linguagem secreta, que devemos respeitar
sobre o objeto. Nesta fase, o educando conse- gem a este artigo seguiu um encadeamento senvolver sua aprendizagem de forma comple- mesmo se não a entendemos” (GARDNEI apud
gue levantar hipótese, pensar sobre, interpretar metodológico, seguindo três etapas. A primeira ta. Em seguida, um questionário foi aplicado à ROLIM; GUERRA; TASSIGNY, 2008, p, 123).
e criar. Somente com o passar dos anos é que foi levantamento e análise bibliográfica (livros, supervisora e à coordenadora pedagógica da
tais experiências lúdicas passarão a ter um ca- artigos científicos, revistas), com o objetivo de instituição sobre a importância do lúdico nas O aprender brincando necessita dos sentimen-
ráter coletivo – caracterizado pela articulação subsidiar os pressupostos teóricos da pesquisa. aulas de matemática. tos de afetividade e de carinho dos adultos que
de diferentes pontos de vista – comunitário e, Houve também uma pesquisa de campo atra- rodeiam a criança, para estimulá-la, favorecen-
por fim, cultural (PIAGET, 1978). vés do método qualitativo. Conforme define do o aprendizado.
Andrade (2002), o método qualitativo não en- Análise e Discussão dos Resultados
Autores dão várias classificações para os jogos Muitas vezes, as crianças usam o
volve apenas questões ideológicas, geradoras
brinquedo e a brincadeira como forma
e propõem uma classificação a partir de crité- de polêmicas, trata-se de um método de inves- Os resultados apresentados a seguir estão ba-
de expressar seus sentimentos, sejam
rios metodológicos: tigação da realidade pelo estudo de sua ação seados nas opiniões dos alunos do 5º ano e da
as alegrias ou insatisfações e, muitos
a) Jogos de azar: aqueles jogos em professora da turma. Os mesmos participaram

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adultos não percebem, na maioria das das atividades matemáticas aplicadas pela pro- e expectativas, onde assim “a criança em idade cretas e importantes para a criança. A este res-
vezes, que a criança está dizendo algo pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e
fessora em sala, diminuindo o tempo gasto em peito, Gonçalves (2003, p. 33) ressalta que “o
que ela não aceita e não sabe dizer com imaginário onde os desejos não realizáveis po-
cada atividade tornando o processo de ensino- brincar permite à criança fluir sua fantasia, sua
palavras, apenas associa o brinquedo
-aprendizagem mais rápido e eficaz. dem ser realizados, é esse mundo que chama- imaginação, sendo uma ponte para seu imagi-
ao fato. Para construir, a criança utiliza-
mos de brinquedo”. nário, um meio pelo qual externa suas criações”.
se das características associativas
dos objetos, seu uso simbólico, e das Para Neto (2003, p.194), “jogar/brincar é uma
das formas mais comuns de comportamento Definir o brinquedo como uma atividade A segunda pergunta está relacionada sobre a
possibilidades reais das matérias, a
que dá prazer à criança é incorreto por
fim de, gradativamente, relacioná-las durante a infância, tornando-se uma área de maneira como o lúdico ajuda no desenvolvi-
duas razões. Primeiras muitas atividades
em função de diferentes argumentos grande atração e interesse para os investigado- mento do ser humano. A professora respondeu
dão a criança experiências de prazer
(MALUF, 2007, p. 422). res no domínio do desenvolvimento humano”. que: “Na área da inteligência, na área socializa-
muito mais intensas do que o brinquedo,
Neste sentido, de acordo com o autor, o estudo como, por exemplo, chupar chupeta, ção e na área físico-motora”. Sobre o desenvol-
A primeira etapa desse projeto foi o jogo da do jogo e do desenvolvimento da criança pode vimento da criança com jogos e brincadeiras,
mesmo que a criança não se sacie. E,
velha com multiplicação, que teve o intuito de ser considerado, no âmbito da investigação segundo, existem jogos nos quais a Aranha (2002, p. 186) comenta que nesse pro-
despertar o interesse dos alunos pela matemá- científica, como uma área de exclusiva aborda- própria atividade não e agradável, como, cesso “é fundamental a interferência do outro,
tica, utilizando o lúdico como ferramenta faci- gem para melhora no ensino- aprendizagem da por exemplo, predominantemente no seja a mãe, os companheiros de brincadeira e
litadora. criança. fim da idade pré-escolar, jogos que só estudo, os professores, a fim de que os con-
dão prazer a criança se ela considera
ceitos sejam construídos e sofram constantes
A segunda etapa do projeto foi a oficina para resultado interessante [...] (VYGOTSKY
A terceira etapa diz respeito ao jogo ASMD (é transformações.”
2007, p. 107).
confecção de vagonites e tapetes em estopa. um jogo que envolve as quatro operações bá-
Todos os alunos tiveram bastante vontade de sicas da matemática: Adição, Subtração, Multi- A terceira pergunta está relacionada com o
Por último os alunos participaram da gincana
participar e gostaram, apesar de sentirem algu- plicação e Divisão = ASMD). Todos os alunos modo como o professor deve utilizar o lúdico
de matemática, onde foi possível realizar uma
mas dificuldades. participaram dessa etapa e diante disso iden- em suas aulas e por quê. No entanto, a profes-
revisão de todos os conteúdos que os alunos
tificamos que a maioria dos alunos gostou de sora disse que: “sim, com frequência. O lúdico
tinham visto durante a unidade na disciplina
Os jogos de exercício apresentam-se como o todas as atividades. envolve o estudante em muitos aspectos, desde
de matemática através de atividades lúdicas,
nascimento do jogo na vida da criança, prati- o cooperativismo com os colegas, a busca de
tornando-se possível identificar o avanço do
cado nos dezoito primeiros meses. Essa prá- A quarta etapa foi voltada para apresentação novas possibilidades de respostas”.
conhecimento dos alunos na disciplina. Obser-
tica é caracterizada pela longa repetição de do triângulo mágico, onde os alunos apresen-
vou-se que todas as crianças participaram com
uma atividade motora, onde o prazer em rea- taram dificuldades apenas na primeira rodada, Os Referenciais Curriculares Nacionais para a
muito entusiasmo das oficinas.
lizar a atividade estaria em sua própria repro- em seguida, conseguiram realizar todas as so- Educação Infantil (RCNEI, BRASIL, 1998, p. 58)
dução. Os jogos são de natureza muito simples mas que o professor pediu, e aprimoraram a ca- destacam a importância de se valorizar ativida-
Para complementar, foi realizada uma entrevis-
e funcionam como uma forma da criança estar pacidade de realizar cálculos e estimativas. Per- des lúdicas, visto que “as crianças podem incor-
ta com a professora do 5º ano, composta por
constantemente testando o próprio corpo e os cebeu-se que foi a oficina que os alunos mais porar em suas brincadeiras conhecimentos que
algumas perguntas, sobre a importância do lú-
materiais que estão ao seu alcance. Assim, o in- demonstraram interesse. foram construindo”.
dico no processo de ensino aprendizagem da
teresse por pegar os brinquedos, encaixá-los e
matemática, e de que forma essa temática en-
arremessá-los longe, abrir e fechar objetos di- Segundo Vygotsky (1997), a brincadeira tem A quarta pergunta relaciona-se à forma como
volve essas atividades no planejamento do pro-
versas vezes seriam todos exemplos de jogos um papel fundamental no desenvolvimento do o lúdico pode ser aplicado dentro da escola
fessor.
de exercício (PIAGET, 1986). pensamento da criança. Ao substituir um obje- como uma proposta pedagógica e educativa.
to por outro, a criança opera com o significado Diante disto, a resposta foi: “É necessário um
Quando questionada sobre por que o lúdico é
A segunda etapa da oficina de vagonites e ta- das coisas e dá um passo importante em dire- plano de ação bem elaborado com critérios e
importante na vida das pessoas, a professora
petes de estopa visou promover a construção ção ao pensamento conceitual. atividades cronometradas, onde o estudante se
respondeu que: “Para se divertir, para aprender
do raciocínio lógico e fazer com que os alunos posicionará de forma livre e dentro do contexto
e para se relacionar” (PROFESSORA). Diante
resolvam situações problemas rapidamente Ao brincar, a criança se torna inventiva, criando ensino aprendizagem” (PROFESSORA).
dessa afirmação, nota-se que a professora en-
com o uso da matemática. Os alunos passaram momentos imaginários carregados de emoções
fatiza o fato de as atividades lúdicas serem con-
a ter mais concentração durante a resolução

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Portanto, sabe-se que a ludicidade é uma ne- cadeiras. Ele deve participar das brincadeiras e roda, amarelinha, jogos com bola, entre outras. Referências
cessidade em qualquer idade e não pode ser aproveitar para refletir com as crianças sobre Sendo assim, foi possível constatar que a pro-
vista apenas como diversão. O desenvolvimen- as brincadeiras praticadas por elas, buscando fessora reconhece as contribuições do lúdico ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à me-
to do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolver atitudes de socialização e de coo- para o fortalecimento da criatividade, interes- todologia do trabalho científico. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
desenvolvimento pessoal, social e cultural, cola- peração entre as mesmas. se, participação e envolvimento dos alunos nas
bora para a qualidade da saúde mental, prepara aulas, além de tornar o aprendizado mais dinâ-
ARANHA, M. L. A. História da educação. 2ª ed. São
um estado interior fértil, facilita a comunicação, As informações obtidas na pergunta nos per- mico para todos os envolvidos no processo de
Paulo: Moderna, 2002.
expressão e construção do conhecimento. mitem analisar o interesse dos alunos pelas ensino-aprendizagem, o que também acredita-
práticas de atividades recreativas, pois se ob- mos que torna o momento da aula prazeroso.
ATZINGEN, M. Cristina von. História do brinquedo:
A quinta pergunta refere-se às vantagens e des- serva que, mesmo os alunos não tendo muitas Para as crianças conhecerem e os adultos se lembra-
vantagens de se trabalhar com o lúdico em suas oportunidades, assim como variações das brin- Foi verificado que, no ano de 2016, através do rem. São Paulo: Alegro, 2001.
aulas: “A vantagem é que prende a atenção do cadeiras, existem atividades lúdicas e práticas diário de classe e do levantamento das notas
discente. A aprendizagem acontece mais cedo que envolvem grandes possibilidades e varia- dos alunos da turma do 4º ano do Ensino Fun- BORIN, Júlian. Jogos e resolução de problemas:
e sem dúvidas. A desvantagem para mim, não ções de movimentos, que podem causar eufo- damental no Sesc Ler Araripina, 14 alunos em uma estratégia para as aulas de matemática. 6. ed.
existe” (PROFESSORA) ria, além de chamar muito a atenção dos alunos. recuperação no início do ano. A professora São Paulo: IME-USP, 1996.
Isso se deve ao momento livre das aulas, não atribuiu o baixo rendimento escolar à falta de
Há estudos que mostram que as atividades lú- pela atividade aplicada, podendo os professo- concentração da turma, ao envolvimento e às BORSA, J. C. BANDEIRA, D. R. Uso de Instrumen-
dicas são eficientes para o desenvolvimento do res permitirem que os alunos, por si mesmos, relações interpessoais. No entanto, foi consta- tos Psicológicos de Avaliação do Comportamento
Agressivo Infantil: Análise da Produção Científica
raciocínio, para desenvolver habilidades e no decidam o que fazer ou brincar. tado que, no fim do ano, 8 alunos ficaram em
Brasileira. Avaliação Psicológica, v. 10, n. 2, p. 193-
suprimento de eventuais lacunas no processo recuperação. Já neste ano de 2017, o 5º ano se
203. 2011.
de ensino-aprendizagem. Mas, segundo os au- envolveu neste projeto e se verificou que 14
tores que defendem esta tese, a atividade lú- Considerações Finais alunos não atingiram a média na I unidade an-
BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: Con-
dica não pode ser desenvolvida de qualquer tes da participação no presente projeto. Após
tribuições a partir da prática. Porto Alegre: Animed
maneira; para que se tenha a eficácia desejada, Foi construído um grande conhecimento, atra- a participação nas atividades desenvolvidas no Editora, 2000.
é necessário, antes de tudo, um planejamen- vés de todas as atividades que foram realizadas projeto, 7 alunos ficaram sem avançar, mas ain-
to adequado para a execução das atividades com os alunos. Há muito tempo, a educação da estamos utilizando os jogos nesta disciplina BRASIL. Referenciais Curriculares Nacionais para a
(KISHIMOTO, 1994) apresenta em sua história lembranças muito para desenvolver habilidades de cálculos. Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
fortes no que se refere à inserção dos jogos e
Ainda segundo Moratori (2003, p. 9): brincadeiras em seu cotidiano. Muitas dessas Por meio desta pesquisa, foi possível concluir KISHIMOTO, T. M. Jogos infantis: o jogo, a criança e
O jogo pode ser considerado como lembranças refletem e se reproduzem na prá- que a ludicidade, colocando seus pontos prin- a educação. São Paulo: Vozes, 1993.
um importante meio educacional, pois tica pedagógica de boa parte dos educadores. cipais desde os primórdios da humanidade,
propicia um desenvolvimento integral A proposta desta investigação é de contribuir tem sua importância definida de acordo com KISHIMOTO, Tisuko Morchida. O jogo, brinquedo,
e dinâmico nas áreas cognitiva, afetiva, brincadeira e educação. 4 ed. São Paulo: Cortez,
na conscientização dos professores que atuam o contexto cultural no qual os indivíduos estão
linguística, social, moral e motora, além 2000.
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, numa inseridos. Hoje a ludicidade tem o seu lugar re-
de contribuir para a construção da
perspectiva lúdica, direcionando um novo olhar conhecido na educação. Para os que estudam
autonomia, criticidade, criatividade, MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Brincar prazer e
responsabilidade e cooperação das para o “brincar” da criança para que elas apren- sua importância, sabem que é essencial na vida
aprendizado. Petrópolis, RJ:Vozes,2007.
crianças e adolescentes. dam brincando. do ser humano, principalmente para as crian-
ças que são portadoras de uma especificidade MORATORI, P. B. Por que utilizar jogos educativos
Confirmando a ação do professor como edu- De acordo com as respostas obtidas através da que se expressa pelo lúdico. A infância carrega no processo de ensino aprendizagem? Rio de Janei-
cador e facilitador das atividades, este profis- aplicação do questionário à professora partici- consigo as brincadeiras que se perpetuam e se ro, 2003.
sional deve combinar momentos onde orienta e pante, constata-se que a esta conhece algumas renovam a cada geração.
dirige o processo, com períodos onde as crian- atividades lúdicas e já as utiliza em sua sala de NETO, Manuel. A infância como construção social.
ças são responsáveis pelas suas próprias brin- aula. Segundo relatos da mesma, as atividades In PINTO, Manuel e SARMENTO, Manuel Jacinto (co-
que os alunos mais gostam são: brincadeiras de ord.). As crianças: contexto e identidades. Portugal:

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Universidade do Minho (Centro de Estudos da Crian-
ça), 2003.

NEVES, Elisabete Gaia das. A brincadeira e o desen-


volvimento cognitivo na educação infantil. Rio de
Janeiro, 2005.

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. 3ª ed.


Rio de Janeiro: Zahar, 1986.

RIBEIRO, Flávia dias, Jogos e Modelagem na Educa-


ção Matemática. 1. Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

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brinquedo. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São


Paulo: Martins Fontes, 2007.

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