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país de novo para a cauda da Europa, com filhos, menos divórcios), grandemente influ-
as novas leis trabalhistas, o aumento do enciados pela Igreja Católica. São, simulta-
desemprego estrutural e a conjugação da neamente, as regiões que proporcionalmente
emigração e da imigração. mais contribuem para a emigração — hoje
As mudanças desta última década apro- com caracter sazonal — destinada aos países
ximaram, indiscutivelmente, a sociedade da Europa Comunitária e, contrariamente, as
portuguesa das outras sociedades europeias. regiões com menor capacidade de atrair e
A família, lugar estratégico de alteração de acolher estrangeiros nas suas terras.6
comportamentos e valores, reflecte essas É nestas regiões que se situam grande
novas tendências e configurações, igualando número das chamadas casas de alterne (um
comportamentos e atitudes a outros países quase sinónimo de casas de prostituição). O
europeus, nomeadamente na média etária do fenómeno não é novo e já por diversas vezes
primeiro casamento (cerca dos 27 anos nos a violência (ajustes de contas entre propri-
homens e 25 anos para as mulheres), na taxa etários e bandos) deu origem a casos
de divórcio (1,9%) e de nascimentos fora do mediáticos.7 A justificativa para este negócio
casamento (22%) bem como da nupcialidade. prosperar nestas regiões faz-se evocando
Contudo, mantém-se a especificidade relati- hábitos masculinos e condescendências fe-
vamente ao universo doméstico, apesar da mininas, bem como as facilidades proporci-
taxa de actividade feminina ser das mais altas onadas aos seus proprietários pelas fronteiras
na União Europeia, onde continua a caber Luso-espanholas (movendo as alternadeiras
às mulheres o grosso das tarefas domésticas de lá para cá das fronteiras) a que se junta
e de criação dos filhos, perspectiva que o facto de serem regiões de passagem de
acentua a Família como um bastião de tráfico pesado rodoviário.
comportamentos tradicionais.4 Se cruzarmos Na história recente da imigração brasi-
estes estudos com um conjunto de sondagens/ leira para Portugal o ano de 2003 será lem-
inquéritos5 sobre a Família e o papel da brado pela legalização de cerca de 30 000
mulher obteremos indicadores extremamente imigrantes em situação irregular, após a visita
conformistas: a ideia que a liberdade sexual a Portugal do Presidente Luís Inácio Lula da
e o divórcio destroem a família; a ideia que Silva e os entendimentos daí resultantes entre
a actividade remunerada da mulher põe em os respectivos governos. Durante este mes-
causa a família e a educação dos filhos. Os mo ano, os media portugueses têm dado
dados disponíveis por regiões apontam para destaque à temática da imigração brasileira,
que estas tendências incidam preferencial- nomeadamente, à exploração de mulheres por
mente nas zonas do interior rural, ou semi- redes de tráfico e prostituição nas cidades
urbano, do Norte do país, mais que nas do interior do país. Jornais e Revistas por-
regiões urbanas do litoral, correspondendo a tugueses, como o Expresso, Público, DN e
opções políticas e religiosas de cariz tradi- Visão8 — e estrangeiros9 — têm conferido
cional, sendo transversais às diferentes clas- a esta temática grande projecção ao longo
ses sociais. do ano e na Televisão, os canais de sinal
O agravamento da situação económica, aberto, RTP1, RTP2, SIC e TVI, emitiram
nos últimos três anos, tem afectado de forma dezenas de peças focando esta matéria.
desigual as regiões portuguesas, não só pelo Há cerca de 30 anos que produtos da
deslocamento de grande número de empre- indústria cultural e de conteúdos brasileira
sas e multinacionais (indústrias de calçado preenchem as grelhas das televisões portu-
e fiação) mas também, pelo estrangulamento guesas, primeiro da televisão pública (RTP1
provocado pela quebra de investimentos e de e RTP2) depois dos dois canais privados (TVI
transferências financeiras para as câmaras e SIC). Durante anos as grelhas destas
destas regiões, já de si deprimidas. O Norte, estações — tendo como justificativa as afi-
Interior e as regiões de fronteira com Espanha nidades de língua e cultura e a relação custo/
encontram-se nesta situação. São também qualidade — foram preenchidas por progra-
estas regiões que apresentam indicadores de mas de humor, música, séries e telenovelas
comportamentos e valores mais tradicionais vindos do Brasil. A partir de 1994 a SIC
(menos escolaridade, mais casamentos, mais acordou com a Rede Globo a exclusividade
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 537
da exibição das telenovelas da emissora. Este raça, sexo e género nas sociedades contem-
acordo não significou o fim de produtos porâneas. Esta corrente de Estudos debruçou-
brasileiros nas outras estações, mas sim a se sobre as relações de poder que permeiam
procura de programas alternativos em outras os contextos sócio-culturais, sublinhando o
redes brasileiras, como por exemplo a SBT.10 papel da posição de classe, de raça e género
Como em outros países detentores de um na definição de representações sociais, po-
Império Colonial o contacto, e as relações líticas e económicas. Se a primeira geração
coloniais, forjaram em Portugal um imagi- dos Estudos Culturais vai demonstrar a
nário sobre o Outro, homem, mulher ou relação entre posição de classe e cultura
comunidades. Este imaginário, alimentado hegemónica, os investigadores que se segui-
durante séculos, compreende imagens-sínte- ram complexificaram as análises ao introdu-
se, muito próximas de estereótipos, que se zirem as variáveis raça, etnicidade e género.
encontram inculcadas, em diferentes níveis, Para estes, o facto de um indivíduo pertencer
nos cidadãos das ex-metrópoles coloniais. a um determinado grupo étnico, ser mulher
Garantindo a coesão identitária estas imagens- ou optar por determinada orientação sexual
síntese assumem, no mais das vezes, a forma sobrepunha-se, sobre-determinava, as relações
de preconceitos identificáveis não só nos de posição de classe. A diferença à norma
comportamentos como nas representações do — ser mulher perante um mundo hegemónico
Outro. A estas imagens não foge a mulher masculino, não branco, frente a um mundo
brasileira entendida como arquétipo de sen- hegemónico branco, homossexual frente à
sualidade, disponibilidade sexual e transito- norma hegemónica heterossexual — confi-
riedade afectiva. Estudos recentes têm refe- gurava relações de poder, a maioria das vezes
rido que sendo estes estereótipos cruzados não assumidas, construídas a partir do interior
e facetados (de portugueses no Brasil e de do grupo e do exterior ao grupo, centradas,
brasileiros em Portugal) eles informam as na atribuição recíproca de papéis, valores,
representações recíprocas destes grupos e as crenças, símbolos culturais e práticas sociais
acções a empreender em contextos sociais quotidianas. Em sequência desta observação,
específicos.11 afirmaram que a sistemática atribuição de
O desenvolvimento da exposição apresen- determinadas representações a estes indiví-
ta inicialmente o Enquadramento Teórico, duos e grupos — envolvendo características,
fundado nos Estudos Culturais centrados nos comportamentos e atitudes — vieram pro-
Media. Em seguida, procedemos à mover a estereotipização desses grupos e
contextualização das Telenovelas brasileiras identidades — a partir do in-grupo e do ex-
e da Imigração Brasileira em Portugal. Com grupo — o que não invalidou a sua adequa-
base no enquadramento teórico, segue-se uma ção a novas realidades políticas, económicas
análise das telenovelas tendo em atenção o e sociais.12
que chamamos de stock de imagens e repre- Os media (a rádio, a imprensa e sobre-
sentações disponibilizadas e, por último, a tudo a televisão, dada a sua natureza) reflec-
análise das imagens da comunidade brasilei- tem por excelência estes estereótipos, na
ra, sobretudo das mulheres, presentes nos medida em que simplificam e condensam
jornais televisivos dos quatro canais abertos informação, sendo facilmente identificados os
(de Abril a Dezembro de 2003). A conclusão seus referentes (actores, situações, instrumen-
irá tentar responder às perguntas inicialmen- tos, etc.).13 Por exemplo, nos temas referen-
te levantadas tendo em conta os dados de tes à raça, ao racismo, à imigração, à
análise, os contextos enunciados e outros etnicidade a natureza dos media e os crité-
indicadores sociais recolhidos. rios do valor-notícia tendem a conferir uma
visibilidade, ou invisibilidade, em função da
I. Enquadramento teórico e metodologia percepção da sociedade dominante. Se nos
primórdios da televisão poucas eram as
A nossa reflexão tem como enquadramen- representações dos grupos não brancos, a
to teórico os Estudos Culturais iniciados nos partir dos anos 80, com os movimentos e
anos 50, em Inglaterra, que deram uma grande comissões para a igualdade racial nos EUA
visibilidade aos estudos sobre etnicidade, e UK, os programas de ficção passaram a
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ter em consideração a diversidade étnica e normal e o que se situava para além da norma
a multiculturalidade. Contudo, estudos recen- na relação entre os sexos.
tes, constatando os avanços positivos nas As primeiras análises realizadas com o
representações desses grupos, consideram que objectivo de identificar as representações das
o racismo old fashion desapareceu, dando mulheres nos medias, sobretudo nas revistas
lugar, por sua vez, a formas de racismo subtil, femininas e na televisão, concluíram existir
nomeadamente associados a determinados alguns estereótipos frequentes (a boa esposa,
grupos etários/étnicos e a determinados te- a mulher fatal, a prostituta, a ingénua, a sereia,
mas como droga, crime, violência e prosti- e outros) que transformavam a mulher numa
tuição.14 No seguimento desta perspectiva, mercadoria a vender ao mesmo tempo que
alguns autores15 reforçam a convicção que lhe apagavam o protagonismo e o carácter.
grande parte das imagens que encontramos Associadas a estas representações encontra-
nos media tendem a reflectir a experiência vam-se as imagens de dominação patriarcal,
e os interesses dos grupos dominantes (con- exaltando os valores da mulher centrada no
siderados como maiorias) tendo como pres- lar, sem ambições pessoais, devotada, humil-
suposto que as audiências pertencem às de, dependente, subordinada e ansiosa em
mesmas maiorias ou grupos dominantes. agradar. Nos finais dos anos oitenta, e início
A mesma corrente de Estudos é permeada dos anos noventa, os estudos feministas
por uma relevante contribuição da teoria defenderam uma política da representação da
feminista sobre as questões de sexo e género, mulher com o objectivo de corrigir distorções
partilhando um substantivo interesse em e salientar a realidade, e a verdade, do papel
temáticas referentes ao poder, à representa- feminino. Na última década, três grandes
ção, à cultura popular, à subjectividade, à modelos vão tomando forma, a mulher
identidade e ao consumo. A entrada de grande perfeita — definida através de atributos
número de feministas nos centros de inves- essencialmente físicos, corpo esbelto, consu-
tigação — nem sempre aceite de forma mo de marcas de produtos femininos, exi-
pacífica pela primeira geração de investiga- bição em cenários de distinção social — a
dores16 — veio alterar, tal como já foi refe- mulher moderna — que acumula com suces-
rido, o foco de discussão inicial, centrado no so a vida familiar, a vida profissional e a
conceito de classe, e depois no de—raça. A vida sexual — e a mulher independente —
sua contribuição vem salientar o princípio de sexualmente livre, gerindo uma vida sem
subordinação da mulher ao homem através da grandes compromissos emocionais, e com
diferenciação sexual e o seu papel na orga- grande sucesso profissional.18
nização da vida social e na estruturação das Em contraposição a estas representações
relações de poder. Na sequência destas ob- o conceito hegemónico de homem estaria
servações, discute-se o papel da auto-identi- associado a uma representação que salienta
ficação biológica e psicológica do género valores como raciocínio lógico, vigor, poder,
feminino e masculino na construção da iden- estoicismo, acção, controlo, independência,
tidade, salientando-se a construção cultural auto-suficiência, camaradagem e cumplicida-
subjacente à distinção sexo-género. de entre homens. Ao mesmo tempo, esta
Os primeiros trabalhos sobre a mulher nos representação dominante desvalorizaria de-
media afirmaram que as suas representações terminadas competências como habilidade
reflectiam a visão dominante masculina, bem verbal, estratégias comunicativas em geral,
como a construção masculina incorporada capacidade em efectivar rotinas domésticas,
como auto-representação da mulher. A ex- manifestação de ternura, fragilidade e depen-
ploração desta construção enquanto estere- dência. A agudização destas contradições na
ótipo17 — reduzindo, concentrando, exage- sociedade ocidental moderna resultaria quer
rando, hierarquizando e valorizando determi- na difícil assunção da identidade associada
nados atributos — constituiria uma estraté- ao género, quer na erupção de manifestações
gia que permitia criar fronteiras claras entre de violência nos jovens de sexo masculino,
o Eu (a construção masculina das mulheres) quer ainda no agravamento de patologias
e o Outro (a mulher construída e auto-re- como a depressão, ansiedade, alcoolismo e
presentada), entre o que era entendido como tendências suicidas.
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 539
cialmente vividas. Por outro lado, estas ima- pelo poder numa cidade dominada pelos
gens fortes, seriam momentos de grande coronéis, o poder da família patriarcal),
emotividade, referentes à emergência, reso- Mulher (a luta da jovem Malvina, Elizabeth
lução ou agudização de conflitos, inseridos Savalla, pela sua emancipação, os namoros
em cenários clichés, tendo em conta dispo- contrariados e proibidos, a desigualdade das
sitivos técnicos de filmagem, cor, luz, guar- relações conjugais, adultérios e mulheres
da-roupa, etc. Existindo este consenso na obrigadas a prostituir-se, o prostíbulo como
compreensão, o conceito de imagem forte está casa de meninas, a força de Maria Machadão,
vinculado aos conceitos realismo e represen- Eloísa Mafalda) e Sexualidade (a normali-
tação, à ideia dos media, sobretudo a tele- dade com que o prostíbulo Bataclan é in-
visão, re-apresentarem o mundo tal como ele serido na cidade, a compra de sexo pelos
é, à imagem-síntese de uma estória bem coronéis, a sensualidade das personagens
contada, de um enredo emocionalmente femininas, a facilidade com que se beija e
verídico, de um clímax entre tipos humanos vai para a cama). Entre as imagens fortes
densos. evocadas temos a chegada de Gabriela (Sónia
Na televisão a telenovela é um género Braga) a Ilheús (e a música que a acompa-
que alterna com outros dentro de um fluxo nha), as cenas de Gabriela e Nacib (Arman-
contínuo — uma telenovela seguindo-se a do Bogus) na venda e na cozinha, a escalada
outra(s), ou coabitando, com outros géneros, de Gabriela a um telhado para pegar um
como o jornal televisivo — mas as ao mesmo papagaio, Gabreila penteando-se, Glorinha
tempo é constituída por uma narratividade (Ana Maria Magalhães, uma menina por
temporal, com princípio meio e fim, desdo- conta de um coronel) e o seu olhar por trás
brada em episódios, com cenas e planos da janela, Jerusa (Nívea Maria) penteando-
distribuídos por horas, dias, semanas, meses -se e vestindo-se no seu quarto antes de ir
e anos. Um fluxo contínuo que gerando para a igreja, o Bataclan e as indumentárias
formas de recepção activas em cada novo das meninas, o passeio das meninas do
produto, tende a apagar a memória do Bataclan pelas ruas da cidade, o confronto
anterior, dando lugar ao que está em exibi- Maria Machadão e o coronel Ramiro Bastos
ção no momento. Relacionando este fenóme- (Paulo Gracindo). Exibida um ano mais tarde,
no com as imagens fortes, diríamos que estas A Escrava Isaura, é lembrada pelo poder da
são as que perduram ao longo deste fluxo, família patriarcal dos senhores de escravos,
permitindo o reconhecimento de determina- pela situação degradante das mulheres na
das constantes narrativas, personagens, ce- escravatura, incluindo a sua exploração se-
nários e actores. xual. É, também, referida a luta das mulhe-
É evidente que a busca deste stock de res pela emancipação e educação, a submis-
imagens fortes, é um exercício com os seus são das mulheres legítimas e insubmissão das
limites de fiabilidade mas, com base nos jovens. Apontam-se como imagens fortes as
pressupostos descritos, tentaremos identificá- cenas em que o Senhor Leôncio (Rubens de
lo a partir dos registos referentes à Família, Falco) procura obrigar Isaura (Lucélia San-
à Mulher e à Sexualidade, tendo em conta tos) a ter relações contra vontade, o momen-
as observações referentes aos conteúdos e à to em que Isaura é recapturada num baile
produção. No entanto, em função do tempo de gala, a sensualidade dos castigos na
de exibição, data de visualização, contexto escravatura e a sensualidade da violência na
político económico e social, as memórias cena em que Isaura é chicoteada, puxada e
diferem e a sua nitidez é reconstruída a partir vendida na feira.
de intertextualidades múltiplas.46 O Bem Amado estreada em 1984, foi a
A primeira telenovela brasileira em primeira telenovela a cores em Portugal, por
Portugal, Gabriel, Cravo e Canela, exibida outro lado é impossível dissociá-la da série
em 1977, num contexto histórico muito que se seguiu com o mesmo nome. As
especial de normalização democrática após evocações de conteúdo, na perspectiva que
a Revolução de 25 de Abril, é aquela que estamos a trabalhar, referem evidentemente
mais imagens fortes evoca. São frequentes o perfeito Odorico Paraguaçu (Paulo
as referências ao conteúdo Família (a luta Gracindo), o seu sotaque especial e a frase
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Outubro de 1991 e é lembrada pela beleza Mariana (Adriana Esteves) e João Pedro
e sensualidade das sua locações (a região do (Marcos Palmeira). Mantendo na sua fase
Pantanal mato-grossense, no Brasil), a forma histórica uma grande proximidade
como as mulheres e a paisagem natural foram (intertextualidade) com Renascer, a teleno-
filmadas, bem como pelo erotismo de deter- vela, o Rei do Gado, foi visualizada entre
minadas cenas e personagens. Para além das 1996 e 1997 e foca a estória de duas famílias
recorrentes referências a relações patriarcais italianas que se estabelecem no Brasil. Em
dentro da família que inibem a demonstração Portugal a sua recepção não foi politizada,
de afectos, mas permitem laços de lealdade como Gabriela ou Roque Santeiro, pois a
(o patriarca Leôncio, Claúdio Marzo, e a questão dos sem-terra, foi percepcionada
antiga prostituta) a novidade surge na una- como um problema do Brasil. Na primeira
nimidade da referência a Juma (Cristiana parte, num ritmo cinematográfico, os conteú-
Oliveira) — primeiro nu de mulher na te- dos referem a família patriarcal italiana, o
lenovela brasileira em Portugal — à sua papel do patriarca e a submissão feminina
sensualidade erótica (forma de andar, vestir, (patente, por exemplo, nas cenas de refeição,
falar) e postura selvagem (arisca, insubmissa, trabalho do campo), a dureza do trabalho nos
poucas falas), em harmonia com a natureza cafezais, bem como à luta entre famílias
deslumbrante (por exemplo, pôr de sol e vizinhas, por causa de uma cerca, ninharias.
noites de lua cheia sobre o pantanal) subli- Assinaladas como imagens fortes de sensu-
nhada pela música. As imagens fortes — por alidade são as cenas do banho, em casa de
exemplo, Juma entrando na água, Juma Mezenga (António Fagundes) e Nena (Vera
entregando-se ao acto sexual — vinculam Fischer), bem como os amores proibidos,
conteúdos (cenas de sexo, ou de nascimento junto aos cafezais, do seu filho (Enrico,
e morte) com procedimentos técnicos pró- Leonardo Brício) com a filha do seu inimigo
ximos ao cinema ou documentário. Berdinazzi (Tarcício Meira). Os cenários, as
A telenovela Renascer foi exibida em casas da roça, interiores e decoração (...tão
Portugal, entre 1993 e 1994, e fez parte da próximos da realidade...) são também men-
estratégia da SIC para se posicionar no cionados nesta primeira fase da novela. Na
mercado. De novo os conteúdos mais focados, segunda parte, ambientada na actualidade em
na perspectiva da Família, Mulher e Sexu- Ribeirão Preto, é mencionado o casamento
alidade, referem-se à família patriarcal e de farsa (Bruno Berdinazzi Mezenga, António
relações de autoridade e desafio que ela Fagundes, e Léia, Silvia Pfeiffer) as relações
pressupõe, bem como os conflitos entre extra-conjugais de ambos, o amante da mulher
gerações. São também salientadas as rivali- e os filhos mimados e irresponsáveis. Na
dades entre irmãos e a disputa pela herança imprensa são citados os problemas de heran-
paterna. Fazem-se referências ao casamento ça, droga, gravidez indesejada, aborto e
entre um homem mais velho (Leonardo, violência contra as mulheres. São mencio-
António Fagundes) e uma jovem (Mariana, nadas as imagens fortes da sem-terra, Luana
Adriana Esteves) após ter roubado, por ódio, (herdeira Berdinnazi sem memória e sem
a namorada ao filho (João Pedro, Marcos família) trabalhando no corte da cana, as suas
Palmeira), existindo uma certa perplexidade sucessivas evocações de imagens de um
perante o ódio que separa, e une, pai e filho. passado perdido na infância, a sua imagem
A sensualidade e o erotismo das sestas em de grávida morando num casebre, assim como
região de calor e cacau, o tempo lento, a violência da agressão de Léia pelo namo-
próprio aos países tropicais, são também rado (Ralf, Oscar Magrini), o desespero da
referidas, bem como a paixão do padre (Lívio, filha do senador, quando se descobriu grá-
Jackson Costa) por uma jovem. Cenas vida, bem como o recanto isolado na floresta
marcantes, imagens fortes, o casamento de tropical (comidas, objectos artesanais) onde
Leonardo e Mariana, pela beleza da cenário Bruno Mezzenga mantinha a sua amante,
(roupas brancas do noivo e da noiva, a levava os filhos e dava guarida a uma dupla
fazenda e o seu colorido de cacau) e a sesta de música caipira.
na fazenda. A tensão amorosa e os jogos de As três últimas telenovelas que referimos
olhares proibidos, mas inevitáveis, entre Torre de Babel, visualizada em Portugal entre
1998 e 1999, Laços de Família exibida em
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2000 e 2001 e Mulheres Apaixonadas em como forma de sustento familiar (as meninas
2003, encontram-se mais próximas na me- de programa como Capitú, Laços de Famí-
mória dos públicos e integram-se num pe- lia, ou Fernanda, Mulheres Apaixonadas).
ríodo em que já há uma maior atenção — Focam a diversidade de situações familiares
na imprensa, na academia e na sociedade— e conjugais, nomeadamente as famílias
— aos impactos da telenovela brasileira na monoparentais, apoiada na mulher forte
sociedade portuguesa. Por outro lado, elas (Helena, Laços de Família, Lorena, Mulhe-
são exibidas num período de grande concor- res Apaixonadas), as famílias alargadas ou
rência pelas audiências do prime-time nos ainda as famílias recompostas. São lembra-
dois canais privados, estando a TVI em fase das as imagens fortes de doenças como
de reestruturação e em busca de produtos leucemia (a jovem Camila careca sujeita a
alternativos — de que o reality show Big tratamentos de quimioterapia em Laços de
Brother e as telenovelas portuguesas, como Família) ou o cancro de mama (os proble-
Jardins Proibidos são um bom exemplo — mas de uma mulher ainda jovem perante a
capazes de prender o grande público. As doença em Mulheres Apaixonadas). As ori-
audiências na SIC das telenovelas brasileiras entações e os problemas sexuais de relaci-
vão ressentir-se desta concorrência, mas as onamento são também referidos, por exem-
temáticas realísticas e universais, associadas plo, o casal de lésbicas que acaba por su-
à qualidade técnica e estética do produto cumbir no incêndio (Torre de Babel), as
garantiram a continuidade das audiências em jovens estudantes lésbicas (Mulheres Apai-
outros horários para além do prime-time e, xonadas) o casal que tinha problemas, dada
perdendo alguns públicos, conseguiram re- a impotência do marido (Viriato em Laços
crutar outros pertencentes a estratos sociais de Família). Referências constantes são as
mais elevados. Esta apetência pelo produto que se fazem ao sexo sem limites morais,
deve-se ao aprofundamento do género me-
caso da cena de amor na casa de banho do
lodramático centrado em temáticas universais
Shopping (Torre de Babel), ou ainda as
e inserido em quotidianos urbanos facilmen-
relações entre empregada e patrão (Laços de
te identificáveis pelas audiências. Por sua vez,
Família) ou ainda as relações amorosas e
as estórias vão acentuar a conflitualidade de
sexuais de um taxista com três mulheres em
relações dentro das famílias, entre vizinhos
simultâneo em Mulheres Apaixonadas (com
e na sociedade, reforçando a densidade da
a mulher, a empregada e a patroa dessa
construção das personagens através dos tex-
empregada). Mas as imagens que estão mais
tos, da valorização do corpo, da alternância
presentes são as que associam a violência ao
dos planos, da forma como as câmaras tra-
tam pormenores do corpo, a gestualidade, o sexo, nomeadamente o assassínio da mulher
guarda roupa ou a decoração. Tornam-se mais adúltera e do seu amante (no início de Torre
ousados os apelos à sensualidade, as cenas de Babel), os espancamentos da garota de
de sexo passam a estar explícitas e a vio- programa Capitú pelo homem que a mantém
lência entre personagens amorosa ou sexu- (Laços de Família), as agressões da ciumen-
almente envolvidas, torna-se frequente. ta Heloísa (cena em que espeta uma faca o
As referências na imprensa a estas tele- marido em Mulheres Apaixonadas), as cenas
novelas são muitas, abrangendo não só re- em que um marido rejeitado persegue, e
vistas de jornais populares e de especialida- agride, a mulher e o seu jovem aluno
de como jornais e semanários de qualidade. (Mulheres Apaixonadas).
Mantendo as mesmas dimensões de referên-
cia Família, Mulher e Sexualidade, consta- IV. As imagens fortes da prostituição
tamos que as imagens fortes focam os pro-
blemas da vida real, como droga (o assalto A imigração brasileira em Portugal é um
a casa dos pais milionários por traficantes fenómeno recente — data dos finais da década
em busca do filho drogado em Torre de de oitenta, mas adquire novos contornos a partir
Babel), alcoolismo (A professora de Mulhe- de 1999 — estimando-se hoje em cerca de 120
res Apaixonadas bebendo perfume misturado mil os cidadãos brasileiros que vivem no país,
com álcool etílico) e prostituição feminina sendo que 40% serão do sexo feminino.
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 547
A imprensa e a televisão tem vindo a dar (actuação de máfias, assaltos e crimes co-
uma cobertura contínua e sistemática ao muns) e evidentemente tráfico de mulheres
fenómeno da Imigração em Portugal, sendo e prostituição, sendo os traficantes portugue-
que durante o ano de 2003, integrado num ses e as mulheres prostituídas preferencial-
Projecto apoiado pelo Alto Comissariado para mente brasileiras. As regiões mais
a Imigração e as Minorias Étnicas, 47 referenciadas nas peças são a Grande Lisboa
monitoraram-se as imagens sobre estes gru- e Grande Porto, mas relativamente ao tráfico
pos veiculadas na imprensa (5 diários e 2 de mulheres e prostituição é a região do Norte
semanários) e nos prime-time das televisões e Interior. Convém, ainda realçar o
de sinal aberto (sendo dois públicos, RTP1 mimetismo de agenda pública e mediática no
e a 2 e dois privados, SIC e TVI). caso das Mães de Bragança.
No início do trabalho formulou-se a hipó- A visualização e análise de conteúdo das
tese de existir um stock de imagens e repre- imagens registadas permitem uma primeira
sentações incorporadas no olhar dos portugue- abordagem de carácter quantitativo e outra
ses, independentemente do género e advindas de caris qualitativos. A abordagem quanti-
da visualização de trinta anos de telenovelas tativa permite constatar que, num total de 224
brasileiras, sobre as mulheres imigrantes bra- peças, recolhidas de Abril a Dezembro de
sileiras. Aventou-se, ainda, que este olhar 2003, nos canais televisivos sobre a temática
colectivo dos portugueses teria reflexos na forma Imigração e Minorias Étnicas, a imigração
como os jornais televisivos, dos canais de sinal brasileira é referida, em conjunto com outros
aberto, tratariam as mulheres imigrantes bra- imigrantes, em 79 peças (35% do total), sendo
sileiras, sobretudo as prostituídas. que em 57 peças o grupo referido é exclu-
A visualização e análise de conteúdo das sivamente o dos brasileiros(as) (25% do total
imagens registadas permitem uma primeira das peças). Salienta-se que o maior número
abordagem de carácter quantitativa e outra de peças sobre a imigração brasileira corres-
de caris qualitativos. A abordagem quanti- ponde à visita do Presidente do Brasil a
tativa permite constatar que num total de 224 Portugal, no mês de Julho, e à subsequente
peças, recolhidas de Abril a Dezembro de abertura de um processo extraordinário de
2003, nos canais televisivos sobre a temática regularização concedido aos imigrantes bra-
Imigração e Minorias Étnicas, a imigração sileiros em situação ilegal. Uma segunda
brasileira é referida, em conjunto com outros observação identifica 80 peças onde as
imigrantes, em 79 peças (35% do total), sendo mulheres são protagonistas (35% do total),
que em 57 peças o grupo referido é exclu- sendo 48 sobre mulheres prostituídas, bra-
sivamente o dos brasileiros(as) (25% do total sileiras e outras (cerca de 30% do total de
das peças). Salienta-se que o maior número peças), e deste número 34 são exclusivamen-
de peças sobre a imigração brasileira corres- te sobre brasileiras (15% do total), 13 sobre
ponde à visita do Presidente do Brasil a mulheres prostituídas brasileiras e outras
Portugal, no mês de Julho, e à subsequente (cerca de 5% do total) e apenas 3 peças sobre
abertura de um processo extraordinário de mulheres imigrantes brasileiras.
regularização concedido aos imigrantes bra- No total das 224 peças quantificadas, de
sileiros em situação ilegal. Uma segunda Abril a Dezembro de 2003, as temáticas mais
observação identifica 80 peças onde as abordadas estão relacionadas com a moda-
mulheres são protagonistas (35% do total), lidade Crime que somada às sub-temáticas
sendo 47 sobre mulheres prostituídas, bra- máfias, situações de violência, exploração no
sileiras e outras (cerca de 30% do total de trabalho, prostituição e tráfico de pessoas
peças), e deste número 34 são exclusivamen- atinge um total de 170 peças. Deste total,
te sobre brasileiras (15% do total), 13 sobre a prostituição corresponde a 48 peças refe-
mulheres prostituídas brasileiras e outras rentes, maioritariamente, às regiões do Norte
(cerca de 5% do total) e apenas 3 peças sobre e Interior fronteiriço, apesar de grande parte
mulheres imigrantes brasileiras. das 224 peças analisadas tratarem de assun-
No conjunto das peças as temáticas mais tos de âmbito nacional. Por outro lado, as
abordadas estão relacionadas com a imagens provenientes deste Norte e Interior
criminalidade perpetrada pelas Minorias fronteiriço, estão enquadradas, as mais das
548 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume III
Por outro lado, a relação com o imagi- femininas de grande força psicológica subli-
nário colonial sobre a Mulher dos trópicos nhadas por caracterizações redundantes,
brasileira, pode ser estabelecida através das próximas dos estereótipos. Nestas estórias —
imagens físicas das meninas, quase todas de fluxo contínuo, elaboradas em torno de
mestiças, quase todas jovens, quase todas um conjunto de intrigas — lindas mulheres
sumariamente vestidas e sem compromissos lutam por amor e transpiram sensualidade e
familiares e sociais visíveis, o que passa a sedução na conquista do seu amado e da sua
ideia de uma disponibilidade total para o sexo posição em cenários coloridos deslumbran-
e para o prazer. Uma imagem que as mu- tes, iluminados pelo sol, ou pela lua, dos
lheres prostituídas brasileiras reforçam e trópicos. Assim, se numa sociedade em
contradizem, em simultâneo, nas entrevistas acelerado processo de mudança estas ima-
para a televisão ou para a imprensa. Elas gens constituem, frequentemente, modelos
reforçam esta imagem dizendo-se disponíveis femininos de emancipação,50 a materialização
para satisfazer os desejos masculinos, o que de muitos destes enredos, nas estórias
não estaria na vontade das portuguesas, pouco protagonizadas pelas mulheres brasileiras
atentas a essas coisas; contradizem-na, ao prostituídas, tendem a consolidar os papéis
afirmarem estar em Portugal para ganhar tradicionais dos sexos e seus respectivos
dinheiro e sustentar os filhos no Brasil. imaginários culturais, apesar do abaixo-as-
A localização do fenómeno Mães de sinado das Mães de Bragança, ser por si um
Bragança no Norte e Interior do país, não indicador de mudança. Curiosamente, esta
é, também, um acaso. Estas regiões são as reacção reproduz imagens fortes de várias
mais desertificadas, as economicamente mais telenovelas brasileiras que focam mudanças
frágeis, com uma população menos de costumes em meios tradicionais.
escolarizada, sujeita a emigração sazonal e Nas imagens da prostituição, o objecto
a grande influência da Igreja Católica. À de desejo é apresentado de forma velada,
emigração sazonal dos homens por longos através de recursos técnicos e cénicos que
períodos — que os leva a adquirem novos escondem as personagens, e exibem as partes
costumes e hábitos, nomeadamente sexuais do corpo mais cobiçadas, as pernas, as ancas
— junta-se a responsabilização das mulheres e as nádegas. No desenrolar das estórias, em
que ficam na terra a tomar conta dos filhos, fluxo contínuo, o enredo é conhecido, mas
dos velhos e dos negócios da família. Esta as intrigas são pouco exploradas, raramente
mulher, esposa e mãe, só tem sexo raramen- estas mulheres têm voz, expõem as suas
te, pois o marido está ausente e os costumes ansiedades e expectativas. O grande prota-
não permitem experiências extra-matrimoni- gonista são as Forças de Segurança, mas a
ais, e apesar de ter muitas vezes um grau intriga fica por aí e raramente se fala dos
de escolaridade superior ao marido, leva uma empresários, dos angariadores e dos clientes.
vida dura, entre a casa, as fábricas ou o Nas cenas, quase todas nocturnas, as mulhe-
trabalho do campo. Sexo, desejo, sensuali- res correm dos holofotes que as iluminam
dade ou sedução, são questões pouco conhe- entre as casas de alterne, as esquadras de
cidas, no mais das vezes reprimidas, ou polícia e os tribunais. Por vezes, os cenários
reprovadas, pela comunidade e pela Igreja. são diurnos e as personagens são as outras
Nestes contextos, as casas de alterne já eram mulheres, queixando-se da pouca-vergonha,
um negócio antigo na região, que foi dos modos licenciosos, dos homens que vão
optimizado pelas redes internacionais de a esses lugares, perdem o dinheiro, habitu-
tráfico e prostituição que identificaram nas am-se e arruínam a família. O som e as
mulheres brasileiras o produto sexual, por imagens em directo dessas mulheres, as vozes
excelência, do imaginário masculino portu- populares, dão-lhes uma materialidade que
guês. é negada às mulheres prostituídas — voz
Há décadas que este produto vinha sendo distorcida, imagens desfocadas — com o
anunciado pelas telenovelas em corpo intei- intuito aparente de as proteger, mas que acaba
ro, através de recursos técnicos e cénicos que por remete-las para papéis secundários e mal
valorizam corpos fisicamente perfeitas, ao construídos em cenários de uma telenovela
mesmo tempo que encenavam personagens da vida real.
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 551
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mães de Bragança apresentado às autoridades Lages, M. e Policarpo, V. (2003) Atitudes
pedindo que tomem providências contra as cha- e valores perante a imigração, Lisboa, ACIME.
41
mas alternadeiras (prostitutas) brasileiras que Projecto em fase de finalização, financiado
estariam a «virar a cabeça dos maridos» desvi- pelo ACIME/OI e coordenado pelo presidente da
ando-os das suas obrigações domésticas (Maio de Casa do Brasil, Carlos Vianna, divulgado pelo
2003). Público, 2 de Nov. 2003, pp. 2-4.
26 42
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Operas Overtake Brazilian Imports Portuguese TV brasileiros são ladrões»: A língua, afinal, não
Fiction in 2001”, Eurofiction: Report 2002, Ed. facilita as relações transatlânticas. Os imigrantes
Milly Buonanno, Florence, Fondazione brasileiros vivem á parte, fazendo amizades entre
Hypercampo, Observatoire Européen de si, namorando entre si. Choque cultural, choque
l’Audiovisuel. sexual, ou mero efeito das «mães de Bragança»?,
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29
Paixão da Costa, J. (2003) Telenovela: Um Routledge.
45
modo de Produção, Lisboa, Ed. Universitárias Sondagem Telenovelas/SIC: as 20 novelas
Lusófonas. preferidas dos portugueses. Universo: Eleitores
30
Telenovelas como os Imigrantes, os Maias, residentes em Portugal Continental e Regiões
A Muralha, O Quinto dos Infernos Autónomas. Amostra: Aleatória e representante do
31
Martim-Barbero, J. (1997) Dos meios às universo, com 848 entrevistas telefónicas. Rea-
mediações, Rio de Janeiro, UFRJ; Brown, M.E. lização: 14 a 17 de Abril de 1998, pelo Centro
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46
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Borelli, S.H., Resende, V. (1992) Vivendo com a Jornais (Capital, Diário de Notícias, Público,
Telenovela, São Paulo, Summus Ed. Expresso, O Jornal) as revistas (Visão e Focus),
32
Policarpo, V. (2001), Telenovela Brasilei- as seguintes revistas de imprensa especializada
ra :Apropriação, Género e Trajectória Familiar, (Maria, TVSete e TV Guia). Foram também
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 553
consultados os trabalhos de Oswaldo Meira Tri- elaborado pelo dirigente da Casa do Brasil, em
gueiro e João Paulo Moreira, bem como os álbuns Lisboa: “A triste novela dos brasileiros que não
de cromos da telenovela publicados. sambam”; “brasileiras são prostitutas, brasilei-
47
Trabalho sediado no Instituto de Estudos ros são ladrões”.
49
Jornalísticos da Universidade de Coimbra, reali- Cfr: “Homens de Bragança de cabeça
zado pela seguinte equipa, Isabel Ferin Cunha, perdida”, Primeira página, chamada com fotogra-
Clara Almeida Santos (respectivamente, análise de fia, Jornal de Notícias, Ed. Centro, 2 de Maio
televisão e imprensa), Maria João Silveirinha e de 2003; “Sexo: Tentações brasileiras em Trás-
Ana Teresa Peixinho (Análise Crítica do Discur- os-Montes, são loucos por elas”, Correio da
so). Manhã, 4 de Maio de 2003, p.13.
48 50
Cfr. O Destaque do Público de 3 de Ferin Cunha, I. (2003) “As telenovelas
Novembro de 2003, a matéria assinada por brasileiras em Portugal: indicadores de aceitação
Ricardo Dias Felner, com base num trabalho e mudança”, Lisboa, Trajectos, nº 3, pp. 19-24