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ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 535

A mulher brasileira na televisão portuguesa


Isabel Ferin Cunha1

Introdução brasileiras — presentes, todos os dias, nas


telenovelas e as peças dos jornais televisivos?
Haverá alguma relação entre as imagens Como os diferentes públicos apreendem esta
da mulher na telenovela brasileira, a imigra- intertextualidade e a representam nos quo-
ção brasileira e os contornos sociais que tidianos?
envolvem a sua aceitação e integração em Se estas perguntas deram origem à nossa
Portugal? Em que medida há uma inter- reflexão, a busca de resposta terá de ter em
relação entre as imagens e as representações conta algumas realidades sociais das últimas
sensuais e sexualizadas veiculadas nas tele- décadas. Nesta perspectiva, a Introdução terá
novelas e os subtis fenómenos de discrimi- como objectivo enunciar os elementos fun-
nação da mulher brasileira em Portugal? Em damentais que permitirão construir o puzzle
que medida essas representações e imagens da interpretação — ciclos económicos, taxas
fazem o sucesso das meninas brasileiras nas de emprego feminino, mudanças na concep-
casas de alterne e desestabilizam uma cida- ção de família, clivagens no interior do país,
de? Como os meios de comunicação, impren- a expansão dos meios de comunicação e o
sa e televisão, cobrem estes acontecimentos? factor imigração, persistência de alguns
Em que medida as telenovelas generali- valores culturais e morais — e simultane-
zaram um estereótipo da mulher brasileira? amente abrir caminho ao olhar sobre o
Até que ponto este estereótipo se colou à objecto.
mulher imigrada e deslizou das telenovelas A década de noventa transformou a
para a prostituição feminina brasileira em realidade portuguesa. A integração europeia
Portugal? Será que os modelos de emanci- e os sucessivos planos de convergência, a
pação vividos no feminino, ao longo destes melhoria dos indicadores sociais (acesso à
cerca de trinta anos de telenovelas, consti- habitação, à escola e à saúde) a moderni-
tuem modelos emancipatórios ou constituem zação das redes viárias, a construção de
transgressões culturais e sexuais, para gran- centros comerciais e os eventos culturais de
de parte dos portugueses? Que representa- efeito multiplicador transformaram o quoti-
ções disponibilizaram, e continuam a diano de muitos portugueses. O acesso fácil
disponibilizar, as telenovelas? Como são ao consumo, o crédito baixo promovido pela
apreendidas, compreendidas, memorizadas e abertura da economia ao capital estrangeiro
utilizadas estas imagens de mulher? Em que criaram nas classes médias emergentes a
medida persiste um imaginário lusotropica- expectativa de uma vida segura, dentro dos
lista, independentemente do género, na apro- padrões europeus.2 No mesmo período, a
priação destas imagens e no quotidiano das emigração portuguesa para a Europa rica
formas de relacionamento entre portugueses estabilizou, enquanto a imigração para Por-
e brasileiros? Será que este imaginário re- tugal disparou.3 Acentuam-se, contudo, algu-
forçou um possível estereótipo da mulher mas das tendências presentes no desenvol-
produzido pelas telenovelas? vimento do país, com a concentração das
Como os jornais televisivos portugueses, actividades económicas no litoral — e den-
nos canais de sinal aberto, tratam os acon- tro deste nas macro regiões de Lisboa-Vale
tecimentos referentes à comunidade brasilei- do Tejo e Grande Porto — e a desertificação
ra, mais especificamente à mulher brasileira? de regiões do interior, nomeadamente do
Que intertextualidade se cria entre as ima- interior transmontano. A crise económica do
gens e representações do Brasil e dos bra- início do milénio vai refrear muitos dos
sileiros — particularmente das mulheres indicadores sociais ascendentes, atirando o
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país de novo para a cauda da Europa, com filhos, menos divórcios), grandemente influ-
as novas leis trabalhistas, o aumento do enciados pela Igreja Católica. São, simulta-
desemprego estrutural e a conjugação da neamente, as regiões que proporcionalmente
emigração e da imigração. mais contribuem para a emigração — hoje
As mudanças desta última década apro- com caracter sazonal — destinada aos países
ximaram, indiscutivelmente, a sociedade da Europa Comunitária e, contrariamente, as
portuguesa das outras sociedades europeias. regiões com menor capacidade de atrair e
A família, lugar estratégico de alteração de acolher estrangeiros nas suas terras.6
comportamentos e valores, reflecte essas É nestas regiões que se situam grande
novas tendências e configurações, igualando número das chamadas casas de alterne (um
comportamentos e atitudes a outros países quase sinónimo de casas de prostituição). O
europeus, nomeadamente na média etária do fenómeno não é novo e já por diversas vezes
primeiro casamento (cerca dos 27 anos nos a violência (ajustes de contas entre propri-
homens e 25 anos para as mulheres), na taxa etários e bandos) deu origem a casos
de divórcio (1,9%) e de nascimentos fora do mediáticos.7 A justificativa para este negócio
casamento (22%) bem como da nupcialidade. prosperar nestas regiões faz-se evocando
Contudo, mantém-se a especificidade relati- hábitos masculinos e condescendências fe-
vamente ao universo doméstico, apesar da mininas, bem como as facilidades proporci-
taxa de actividade feminina ser das mais altas onadas aos seus proprietários pelas fronteiras
na União Europeia, onde continua a caber Luso-espanholas (movendo as alternadeiras
às mulheres o grosso das tarefas domésticas de lá para cá das fronteiras) a que se junta
e de criação dos filhos, perspectiva que o facto de serem regiões de passagem de
acentua a Família como um bastião de tráfico pesado rodoviário.
comportamentos tradicionais.4 Se cruzarmos Na história recente da imigração brasi-
estes estudos com um conjunto de sondagens/ leira para Portugal o ano de 2003 será lem-
inquéritos5 sobre a Família e o papel da brado pela legalização de cerca de 30 000
mulher obteremos indicadores extremamente imigrantes em situação irregular, após a visita
conformistas: a ideia que a liberdade sexual a Portugal do Presidente Luís Inácio Lula da
e o divórcio destroem a família; a ideia que Silva e os entendimentos daí resultantes entre
a actividade remunerada da mulher põe em os respectivos governos. Durante este mes-
causa a família e a educação dos filhos. Os mo ano, os media portugueses têm dado
dados disponíveis por regiões apontam para destaque à temática da imigração brasileira,
que estas tendências incidam preferencial- nomeadamente, à exploração de mulheres por
mente nas zonas do interior rural, ou semi- redes de tráfico e prostituição nas cidades
urbano, do Norte do país, mais que nas do interior do país. Jornais e Revistas por-
regiões urbanas do litoral, correspondendo a tugueses, como o Expresso, Público, DN e
opções políticas e religiosas de cariz tradi- Visão8 — e estrangeiros9 — têm conferido
cional, sendo transversais às diferentes clas- a esta temática grande projecção ao longo
ses sociais. do ano e na Televisão, os canais de sinal
O agravamento da situação económica, aberto, RTP1, RTP2, SIC e TVI, emitiram
nos últimos três anos, tem afectado de forma dezenas de peças focando esta matéria.
desigual as regiões portuguesas, não só pelo Há cerca de 30 anos que produtos da
deslocamento de grande número de empre- indústria cultural e de conteúdos brasileira
sas e multinacionais (indústrias de calçado preenchem as grelhas das televisões portu-
e fiação) mas também, pelo estrangulamento guesas, primeiro da televisão pública (RTP1
provocado pela quebra de investimentos e de e RTP2) depois dos dois canais privados (TVI
transferências financeiras para as câmaras e SIC). Durante anos as grelhas destas
destas regiões, já de si deprimidas. O Norte, estações — tendo como justificativa as afi-
Interior e as regiões de fronteira com Espanha nidades de língua e cultura e a relação custo/
encontram-se nesta situação. São também qualidade — foram preenchidas por progra-
estas regiões que apresentam indicadores de mas de humor, música, séries e telenovelas
comportamentos e valores mais tradicionais vindos do Brasil. A partir de 1994 a SIC
(menos escolaridade, mais casamentos, mais acordou com a Rede Globo a exclusividade
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da exibição das telenovelas da emissora. Este raça, sexo e género nas sociedades contem-
acordo não significou o fim de produtos porâneas. Esta corrente de Estudos debruçou-
brasileiros nas outras estações, mas sim a se sobre as relações de poder que permeiam
procura de programas alternativos em outras os contextos sócio-culturais, sublinhando o
redes brasileiras, como por exemplo a SBT.10 papel da posição de classe, de raça e género
Como em outros países detentores de um na definição de representações sociais, po-
Império Colonial o contacto, e as relações líticas e económicas. Se a primeira geração
coloniais, forjaram em Portugal um imagi- dos Estudos Culturais vai demonstrar a
nário sobre o Outro, homem, mulher ou relação entre posição de classe e cultura
comunidades. Este imaginário, alimentado hegemónica, os investigadores que se segui-
durante séculos, compreende imagens-sínte- ram complexificaram as análises ao introdu-
se, muito próximas de estereótipos, que se zirem as variáveis raça, etnicidade e género.
encontram inculcadas, em diferentes níveis, Para estes, o facto de um indivíduo pertencer
nos cidadãos das ex-metrópoles coloniais. a um determinado grupo étnico, ser mulher
Garantindo a coesão identitária estas imagens- ou optar por determinada orientação sexual
síntese assumem, no mais das vezes, a forma sobrepunha-se, sobre-determinava, as relações
de preconceitos identificáveis não só nos de posição de classe. A diferença à norma
comportamentos como nas representações do — ser mulher perante um mundo hegemónico
Outro. A estas imagens não foge a mulher masculino, não branco, frente a um mundo
brasileira entendida como arquétipo de sen- hegemónico branco, homossexual frente à
sualidade, disponibilidade sexual e transito- norma hegemónica heterossexual — confi-
riedade afectiva. Estudos recentes têm refe- gurava relações de poder, a maioria das vezes
rido que sendo estes estereótipos cruzados não assumidas, construídas a partir do interior
e facetados (de portugueses no Brasil e de do grupo e do exterior ao grupo, centradas,
brasileiros em Portugal) eles informam as na atribuição recíproca de papéis, valores,
representações recíprocas destes grupos e as crenças, símbolos culturais e práticas sociais
acções a empreender em contextos sociais quotidianas. Em sequência desta observação,
específicos.11 afirmaram que a sistemática atribuição de
O desenvolvimento da exposição apresen- determinadas representações a estes indiví-
ta inicialmente o Enquadramento Teórico, duos e grupos — envolvendo características,
fundado nos Estudos Culturais centrados nos comportamentos e atitudes — vieram pro-
Media. Em seguida, procedemos à mover a estereotipização desses grupos e
contextualização das Telenovelas brasileiras identidades — a partir do in-grupo e do ex-
e da Imigração Brasileira em Portugal. Com grupo — o que não invalidou a sua adequa-
base no enquadramento teórico, segue-se uma ção a novas realidades políticas, económicas
análise das telenovelas tendo em atenção o e sociais.12
que chamamos de stock de imagens e repre- Os media (a rádio, a imprensa e sobre-
sentações disponibilizadas e, por último, a tudo a televisão, dada a sua natureza) reflec-
análise das imagens da comunidade brasilei- tem por excelência estes estereótipos, na
ra, sobretudo das mulheres, presentes nos medida em que simplificam e condensam
jornais televisivos dos quatro canais abertos informação, sendo facilmente identificados os
(de Abril a Dezembro de 2003). A conclusão seus referentes (actores, situações, instrumen-
irá tentar responder às perguntas inicialmen- tos, etc.).13 Por exemplo, nos temas referen-
te levantadas tendo em conta os dados de tes à raça, ao racismo, à imigração, à
análise, os contextos enunciados e outros etnicidade a natureza dos media e os crité-
indicadores sociais recolhidos. rios do valor-notícia tendem a conferir uma
visibilidade, ou invisibilidade, em função da
I. Enquadramento teórico e metodologia percepção da sociedade dominante. Se nos
primórdios da televisão poucas eram as
A nossa reflexão tem como enquadramen- representações dos grupos não brancos, a
to teórico os Estudos Culturais iniciados nos partir dos anos 80, com os movimentos e
anos 50, em Inglaterra, que deram uma grande comissões para a igualdade racial nos EUA
visibilidade aos estudos sobre etnicidade, e UK, os programas de ficção passaram a
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ter em consideração a diversidade étnica e normal e o que se situava para além da norma
a multiculturalidade. Contudo, estudos recen- na relação entre os sexos.
tes, constatando os avanços positivos nas As primeiras análises realizadas com o
representações desses grupos, consideram que objectivo de identificar as representações das
o racismo old fashion desapareceu, dando mulheres nos medias, sobretudo nas revistas
lugar, por sua vez, a formas de racismo subtil, femininas e na televisão, concluíram existir
nomeadamente associados a determinados alguns estereótipos frequentes (a boa esposa,
grupos etários/étnicos e a determinados te- a mulher fatal, a prostituta, a ingénua, a sereia,
mas como droga, crime, violência e prosti- e outros) que transformavam a mulher numa
tuição.14 No seguimento desta perspectiva, mercadoria a vender ao mesmo tempo que
alguns autores15 reforçam a convicção que lhe apagavam o protagonismo e o carácter.
grande parte das imagens que encontramos Associadas a estas representações encontra-
nos media tendem a reflectir a experiência vam-se as imagens de dominação patriarcal,
e os interesses dos grupos dominantes (con- exaltando os valores da mulher centrada no
siderados como maiorias) tendo como pres- lar, sem ambições pessoais, devotada, humil-
suposto que as audiências pertencem às de, dependente, subordinada e ansiosa em
mesmas maiorias ou grupos dominantes. agradar. Nos finais dos anos oitenta, e início
A mesma corrente de Estudos é permeada dos anos noventa, os estudos feministas
por uma relevante contribuição da teoria defenderam uma política da representação da
feminista sobre as questões de sexo e género, mulher com o objectivo de corrigir distorções
partilhando um substantivo interesse em e salientar a realidade, e a verdade, do papel
temáticas referentes ao poder, à representa- feminino. Na última década, três grandes
ção, à cultura popular, à subjectividade, à modelos vão tomando forma, a mulher
identidade e ao consumo. A entrada de grande perfeita — definida através de atributos
número de feministas nos centros de inves- essencialmente físicos, corpo esbelto, consu-
tigação — nem sempre aceite de forma mo de marcas de produtos femininos, exi-
pacífica pela primeira geração de investiga- bição em cenários de distinção social — a
dores16 — veio alterar, tal como já foi refe- mulher moderna — que acumula com suces-
rido, o foco de discussão inicial, centrado no so a vida familiar, a vida profissional e a
conceito de classe, e depois no de—raça. A vida sexual — e a mulher independente —
sua contribuição vem salientar o princípio de sexualmente livre, gerindo uma vida sem
subordinação da mulher ao homem através da grandes compromissos emocionais, e com
diferenciação sexual e o seu papel na orga- grande sucesso profissional.18
nização da vida social e na estruturação das Em contraposição a estas representações
relações de poder. Na sequência destas ob- o conceito hegemónico de homem estaria
servações, discute-se o papel da auto-identi- associado a uma representação que salienta
ficação biológica e psicológica do género valores como raciocínio lógico, vigor, poder,
feminino e masculino na construção da iden- estoicismo, acção, controlo, independência,
tidade, salientando-se a construção cultural auto-suficiência, camaradagem e cumplicida-
subjacente à distinção sexo-género. de entre homens. Ao mesmo tempo, esta
Os primeiros trabalhos sobre a mulher nos representação dominante desvalorizaria de-
media afirmaram que as suas representações terminadas competências como habilidade
reflectiam a visão dominante masculina, bem verbal, estratégias comunicativas em geral,
como a construção masculina incorporada capacidade em efectivar rotinas domésticas,
como auto-representação da mulher. A ex- manifestação de ternura, fragilidade e depen-
ploração desta construção enquanto estere- dência. A agudização destas contradições na
ótipo17 — reduzindo, concentrando, exage- sociedade ocidental moderna resultaria quer
rando, hierarquizando e valorizando determi- na difícil assunção da identidade associada
nados atributos — constituiria uma estraté- ao género, quer na erupção de manifestações
gia que permitia criar fronteiras claras entre de violência nos jovens de sexo masculino,
o Eu (a construção masculina das mulheres) quer ainda no agravamento de patologias
e o Outro (a mulher construída e auto-re- como a depressão, ansiedade, alcoolismo e
presentada), entre o que era entendido como tendências suicidas.
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Os estudos sobre as representações da estórias, veiculadas em programas de ficção


mulher vão ser acompanhados por estudos e consideram que, as mulheres, sobretudo as
sobre a recepção de produtos televisivos mais jovens sofrem um processo de des-
direccionados, preferencialmente, para públi- realização do mundo e dos sentimentos. Para
cos femininos. As soap-operas mereceram esta situação contribuiria a telenovelização
especial atenção, na medida em que este da vida acentuando o amor paixão e o amor
género foi considerado por muitas investi- romântico, criando expectativas irrealistas
gadoras como um espaço feminino onde sobre o casamento e as relações entre sexos.23
expectativas, tensões, emoções e motivações Convém ainda fazer uma breve referên-
seriam apresentadas, discutidas, validadas e cia à metodologia utilizada neste trabalho.
celebradas. Os estudos sobre recepção, re- Na verdade, partimos do pressuposto que a
alizados com recurso a metodologias diver- investigação é uma bricolage,24 isto é uma
sas, procuraram e procuram, identificar as construção mental, que obedecendo a deter-
formas como os públicos, sobretudo as minados procedimentos e exigindo a valida-
mulheres, se apropriam das mensagens vei- ção dos dados leva à explicação, e à
culadas e em que medida estas mensagens problematização, dos fenómenos sociais.
integram e interagem nos quotidianos. 19 Assim, quando enunciamos os Contextos —
No Brasil os estudos sobre as telenovelas da visualização das telenovelas brasileiras e
iniciam-se nos anos oitenta, na perspectiva da Imigração, em Portugal — trabalhamos
da história, da produção e dos conteúdos.20 com indicadores sociais, estatísticas e docu-
A partir dos anos noventa, as telenovelas, em mentação, fontes primárias e secundárias,
decorrência da importância nacional e inter- disponíveis. No capítulo de apresentação do
nacional dos produtos da rede Globo, adqui- que chamamos «Um stock de Imagens»,
rem o estatuto de campo de pesquisa nos fazemos um levantamento, com base em
departamentos de Ciências da Comunicação, amostras temporais de jornais e revistas de
desenvolvendo-se novas abordagens nomea- referência e de divulgação, das dimensões
damente na perspectiva da recepção. 21 Família, Mulher e Sexualidade. No capítulo
O prime-time na televisão tem sido seguinte, sobre as «Imagens fortes da pros-
considerado um espaço privilegiado de dis- tituição», fazemos análise de conteúdo, com
cussão (na perspectiva da construção e da base no programa SPSS, de nove meses
contestação) das questões referentes à igual- dessas imagens em quatro jornais televisivos
dade entre os sexos, papéis sociais, costumes dos canais generalistas (RTP1, RTP2, SIC e
e comportamentos. Os autores que se têm TVI). Na conclusão, tentamos confrontar os
dedicado a estas investigações consideram indicadores sociais e estatísticos, os dados
que ao longo destas duas últimas décadas os recolhidos na documentação e os obtidos na
géneros televisivos do prime-time têm se análise de conteúdo.
especializado na apresentação de determina-
dos tipos de representação das relações entre II. Contextos
sexos, não existindo, contudo, uma
linearidade nos modelos ou imagens de Para reflectir sobre as imagens das
mulher/homem e suas relações. Outros es- mulheres nas telenovelas brasileiras e nos
tudos têm procurado investigar se há alguma jornais televisivos e sobre os seus possíveis
coincidência entre o consumo, prolongado e impactos na sociedade portuguesa temos de
frequente, de diversos géneros televisivos — ter em conta dois contextos de carácter sócio-
envolvendo determinadas representações cultural — o da telenovela brasileira e o da
sobre as mulheres e as relações entre sexos imigração brasileira em Portugal — e um
— e determinados comportamentos e percep- contexto de carácter imagético isto é, um
ções sociais. Na sequência desta análise, stock de representações e imagens da mulher
apontam para uma possível simetria entre brasileira que, ao longo de cerca de trinta
comportamentos assumidos e representações anos, as telenovelas brasileiras disponibi-
e modelos continuamente visualizados.22 lizaram quotidianamente aos portugueses. Por
Discussões recentes põem em causa a outro lado, teremos de cruzar todos estes
capacidade de negociação dos sentidos, contextos com práticas e imaginários cultu-
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rais ancestrais e espaços geográficos espe- levisão, aliadas a performances de actores e


cíficos — como por exemplo as regiões sub- roteiristas experientes na arte de contar uma
urbanas e o interior do país — bem como estória.
com alguns fenómenos novos, entre os quais A verdade é que ao longo de todos estes
o chamado caso das mães de Bragança25 ou anos, e depois de cerca de 200 telenovelas
das meninas de Bragança seria a manifes- exibidas entre 1977 e 2000,29 os públicos
tação mais acabada. portugueses familiarizaram-se com estórias
e personagens de ficção ambientadas no
1. A telenovela brasileira Brasil, vivenciaram quotidianamente, e por
meses, episódios da História Brasileira e
Em Maio de 1977, a telenovela Gabriela, frequentemente assistiram à recriação polé-
Cravo e Canela deu iniciou à exibição das mica da História de Portugal mediada por
telenovelas brasileiras, maioritariamente pro- um olhar brasileiro.30 Ao mesmo tempo,
duzidas pela Rede Globo, constituindo a partir tomaram conhecimento de Estados e cidades
de então o género mais popular na televisão brasileiras com nomes indígenas, visualizaram
Portuguesa. Nestes quase trinta anos, ela foi praias tropicais durante os longos invernos
campeã de audiências durante 16 anos na portugueses, presenciaram a confecção de
grelha de programação do canal público, pratos de sabores desconhecidos e identifi-
Rádio Televisão Portuguesa (RTP) e após caram, em mesas postas de cenários, frutas
1994, constituiu o trunfo do novo canal e legumes exóticos. Os mesmos públicos
privado, Sociedade Independente de Comu- habituaram-se a nomes de actores e de
nicação (SIC) ao adquirir, através de aliança personagens de origens diversas, a corpos,
com a Rede Globo, o monopólio da exibição feições, comportamentos e atitudes incomuns
das suas telenovelas. Explorando o modelo aos seus quotidianos. Escutar e entender o
de grelha ancorado na telenovela-telejornal português do Brasil tornou-se habitual — os
no período do prime-time, a SIC manteve uma seus diferentes falares, regionalismos,
posição de liderança sobre os restantes canais particularismos e sotaques — ao mesmo
de sinal aberto até 1999, chegando a emitir tempo vulgarizam-se expressões e vocábulos
5 telenovelas da Globo em horários contí- e imitaram-se entonações locais.
nuos,26 apenas com um pausa para o Jornal Pode-se assim ter como hipótese que, tal
da Noite (com início às 20h e duração de como já foi verificado em outras regiões
cerca de 1h e 15 minutos) e o programa de relativamente à ficção,31 as telenovelas bra-
sketchs humorísticos Malucos do Riso. sileiras ofereceram aos públicos portugueses
As justificativas para a hegemonia abso- não só um imaginário romântico para usu-
luta e prolongada deste género, produzido no fruto quotidiano, como disponibilizaram
exterior, fundamentam-se em dois grandes modelos e referenciais a uma sociedade em
grupos de argumentações, as de carácter acelerada mudança, mas dispondo, contudo,
linguístico e cultural e as de cariz técnico- de acessos limitados à informação e altos
-tecnológico. O primeiro grupo de argumen- níveis de iletracia. Extrapolando ainda alguns
tações salienta as condições propícias para estudos realizados,32 pode-se ainda pressupor
a circulação de produtos em espaços geográ- que, ao longo destas duas décadas e meia,
ficos e culturais que utilizam a mesma língua as telenovelas brasileiras anteciparam estilos
e reivindicam raízes culturais comuns,27 nesta de vida cosmopolitas, deram a ver novas
perspectiva a perenidade do sucesso das formas de relacionamento entre gerações e
telenovelas brasileiras em Portugal dever-se- sexos, propuseram e discutiram a família e
-ia ao facto de serem em português, mesmo a sua composição, ficcionaram temas sociais
que do Brasil, e transportarem referências controversos. Por outro lado, num país
culturais identificáveis pelos portugueses. habituado ao recato sexual e severamente
Para aqueles que evocam argumentações de controlado pela moral católica conservadora,
carácter técnico-tecnológico28 as justificações as telenovelas vieram abrir caminha aos
para este êxito estão na qualidade técnica do movimentos de valorização e emancipação
produto, que envolve tanto sofisticadas tec- do corpo masculino e feminino, tornaram as
nologias audiovisuais como técnicas de te- relações de sexo e género mais tolerantes,
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trouxeram para o quotidiano o desejo e a cimento acelerado, a empregabilidade, a fa-


sedução, promoveram a sensualidade e cilidade de língua e o bom acolhimento dos
erotização das relações afectivas e amorosas. irmãos de além mar.37 A este programa se
juntam diversas reportagens publicadas pela
2. A imigração brasileira revista Veja, sobre o sucesso da imigração
brasileira em Portugal. Assim, se nos finais
A imigração é um fenómeno relativamente da década de 80, início da década de noventa,
recente em Portugal. Para muitos autores os o perfil do imigrante brasileiro se enquadrava
últimos anos da década de 1960 acolheu o dentro de um estatuto sócio-económico ele-
primeiro fluxo de imigrantes, originários das vado, com habilitações muito acima da média
Ilhas de Cabo-Verde, que vieram substituir portuguesa e brasileira, nos últimos anos esta
os trabalhadores portugueses emigrados imagem-síntese alterou-se.
maioritariamente na Europa. A este primeiro Segundo estudos recentes38 a imigração
fluxo, determinado ainda pelo espaço e brasileira é predominantemente masculina
relações coloniais, segui-se um segundo (cerca de 60%), situa-se na faixa dos 18 aos
decorrente das independências das colónias, 40 anos, tem origem nas grandes e médias
após a Revolução de Abril de 1974, que cidades dos principais estados brasileiros (São
originou a vinda para Portugal de cerca de Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e mais
800.000 retornados, muitos deles de ascen- recentemente em estados como o Paraná e
dência luso-africana.33 Durante a década de Santa Catarina) e apresenta um nível de
oitenta intensificam-se os fluxos de imigran- escolaridade acima das médias brasileira e
tes advindos dos PALOP (Países Africanos portuguesa. Como uma grande parte da
de Língua Oficial Portuguesa) nomeadamen- imigração recente, os brasileiros vem efec-
te de Cabo-Verde, Angola e Guiné-Bissau. tuar as tarefas socialmente mais
Na viragem da década de oitenta para desqualificadas (construção civil, hotelaria,
noventa, na contra-corrente dos sucessivos limpezas, restauração, serviços domésticos),
planos de estabilização económica Sarney, deixadas vagas quer pela contracção
Collor de Mello, inicia-se a primeira vaga demográfica, quer pela rápida qualificação de
de imigração brasileira para Portugal. Até um segmento da população jovem, quer ainda
1994/95 esta corrente constituída por grande pela continuada emigração de mão de obra
número de indivíduos possuindo um estatuto portuguesa para outros países da Europa
sócio-económico elevado34 — empresários, Comunitária.39
dentistas, publicitários, técnicos de Ainda há poucos estudos sobre a comu-
informática e audiovisual — não ultrapassou nidade brasileira a viver em Portugal. Numa
na sua totalidade os 20 000 indivíduos.35 A sondagem à população portuguesa — reali-
partir de então, os fluxos adquirem uma maior zada em Novembro de 2002, com vista à
intensidade, diversificou-se a base de recru- identificação de atitudes e valores perante a
tamento e o perfil do imigrante, contando- imigração40 e apesar desta sondagem indiciar
-se agora cerca de 100 000 imigrantes com uma crescente oposição, independentemente
autorizações de residência (sendo cerca de das origens, à entrada de mais imigrantes em
60% homens e 40% mulheres) e constitu- Portugal — são os imigrantes brasileiros que
indo hoje esta comunidade a segunda maior acolhem um maior número de respostas
a residir em Portugal, a seguir à ucraniana tendencialmente favoráveis à integração por
e à frente da comunidade cabo-verdiana.36 parte dos respondentes portugueses. Na
Muitos autores referem como mesma sondagem, os 252 imigrantes brasi-
determinante para o aumento recente do fluxo leiros inquiridos, consideram-se muito satis-
de imigrantes, a conjugação entre o agrava- feitos ou mediamente satisfeitos em função
mento das condições económicas e a emis- das expectativas que os levaram à imigração,
são em Outubro de 1999 do programa ao mesmo tempo que se consideram respei-
Fantástico da TV Globo sobre Portugal. Neste tados, embora não integrados, na sociedade
programa dedicado à comunidade brasileira portuguesa. Num outro estudo em fase de
radicada em Portugal, acentuavam-se as finalização41 dados preliminares apontam quer
oportunidades de uma economia em cres- para um maior enraizamento dos imigrantes
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— visível no progressivo movimento de visualização de telenovelas, partimos da


reagrupamento familiar, quatro em dez imi- delimitação de um corpus construído com
grantes não pensam, neste momento, em base nas telenovelas que alcançaram maiores
voltar — mas por outro lado, são identifi- audiências e são constantemente referidas —
cados indicadores de discriminação, exclu- quando se aborda esta matéria — em jornais
são e marginalidade junto dos imigrantes, e revistas de referência, bem como em
nomeadamente no que se refere às relações revistas semanais sobre programação de
de sociabilidade (relações entre portugueses televisão.45 Ainda dentro dos princípios que
e brasileiros do mesmo sexo e de sexo presidiram à selecção deste corpus de tele-
oposto), bem como no que concerne às novelas, entre as mais nomeadas, procurá-
oportunidades de trabalho e habitação.42 Uma mos identificar as que foram exibidas por
outra sondagem referente a Dezembro de várias vezes, no canal em que se estrearam,
2003 onde se estima que 75% da população ou posteriormente num outro canal, e as
portuguesa é desfavorável à entrada de mais referências feitas na imprensa às imagens
imigrantes em Portugal, os brasileiros são fortes relativas aos temas Família, Mulher e
referidos, por 41% da população, como os Sexualidade. Esta escolha teve em conta,
que têm mais facilidade a integrar-se na ainda, diferentes géneros, incluindo-se na
sociedade portuguesa.43 amostra obras históricas e actuais, ambien-
tadas em cenários urbanos e rurais, com
III. Um stock de imagens: família, mulher características melodramáticas ou humorís-
e sexualidade ticas. Contudo, dada a quantidade de tele-
novelas enumeradas, quer por articulistas,
Para nós, stock de imagens decorre do quer por populares, fixamo-nos num corpus
princípio, desenvolvido por Fiske 44 de constituído no seu total por 12 telenovelas,
intertextualidade vertical. Para este autor, os distribuídas da seguinte forma: quatro da
media criam uma intertextualidade horizon- década de 80 — «O Bem Amado» (1984),
tal (o primeiro texto, fundado no episódio «A guerra dos sexos» (1984/85), «Roque
ou programa singular) e vertical a qual se Santeiro» (1987/88) e «Vale Tudo» (1989/90);
realiza em duas espécies de textos, o texto quatro da década de 90 — «Pantanal» (1991/
secundário (onde outros media, ou progra- 92), «Renascer» (1993/94) o «Rei do Gado»
mas, fazem referencias explícitas ao primei- (1996/97) e «Torre de Babel» (1998/99); duas
ro texto) e o texto terceiro, constituído pelas da década de 70 (dado que a exibição da
audiências, sobre os dois primeiros textos, primeira telenovela data de 77) — «Gabriela,
a partir das fontes culturais que têm dispo- Cravo e Canela» (1977) e «A Escrava
níveis. Nesta perspectiva, as telenovelas — Isaura» (1978); e duas exibidas nos primei-
as suas estórias, personagens, cenários e ros anos do milénio — «Laços de Família»
actores — dariam origem a um stock de (2000/2001) e «Mulheres». Estas telenovelas
imagens, que estaria não só disponível, mas foram produzidas pela TV Globo (11) e pela
também já incorporado nas audiências. Na TV Manchete (1), exibidas em três canais
sequência desta formulação estas audiências de televisão (RTP1, RTP2 e SIC), estreadas
— e em função da matéria visualizada — maioritariamente no prime-time (21h), re-
actualizariam sentidos concertando-os com exibidas em mais de um canal (RTP2 e SIC)
outros sentidos apreendidos, nomeadamente e em outros horários.
os advindos da experiência com outros media A concepção de imagem forte, evocado
e géneros televisivos (nomeadamente os em muitas peças de imprensa, esta vinculado
jornais televisivos), os resultantes da vivên- à ideia que determinados conteúdos, episó-
cia pessoal efectiva de cada indivíduo, os dios, cenas, ou fragmentos de cenas das
derivados dos seus referentes culturais (pes- telenovelas, pelo seu realismo — explícito
soais, nacionais, regionais e outros) e da sua ou implícito conferido através de dispositi-
inserção e estatuto social. vos textuais, cénicos e técnicos — apresen-
Para conseguir identificar este stock de tam um alto grau de semelhança, e verosi-
imagens, e esta constante actualização de milhança, com o seu referente, isto é, com
sentidos construídos a partir da repetida as situações relacionais vividas, ou poten-
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 543

cialmente vividas. Por outro lado, estas ima- pelo poder numa cidade dominada pelos
gens fortes, seriam momentos de grande coronéis, o poder da família patriarcal),
emotividade, referentes à emergência, reso- Mulher (a luta da jovem Malvina, Elizabeth
lução ou agudização de conflitos, inseridos Savalla, pela sua emancipação, os namoros
em cenários clichés, tendo em conta dispo- contrariados e proibidos, a desigualdade das
sitivos técnicos de filmagem, cor, luz, guar- relações conjugais, adultérios e mulheres
da-roupa, etc. Existindo este consenso na obrigadas a prostituir-se, o prostíbulo como
compreensão, o conceito de imagem forte está casa de meninas, a força de Maria Machadão,
vinculado aos conceitos realismo e represen- Eloísa Mafalda) e Sexualidade (a normali-
tação, à ideia dos media, sobretudo a tele- dade com que o prostíbulo Bataclan é in-
visão, re-apresentarem o mundo tal como ele serido na cidade, a compra de sexo pelos
é, à imagem-síntese de uma estória bem coronéis, a sensualidade das personagens
contada, de um enredo emocionalmente femininas, a facilidade com que se beija e
verídico, de um clímax entre tipos humanos vai para a cama). Entre as imagens fortes
densos. evocadas temos a chegada de Gabriela (Sónia
Na televisão a telenovela é um género Braga) a Ilheús (e a música que a acompa-
que alterna com outros dentro de um fluxo nha), as cenas de Gabriela e Nacib (Arman-
contínuo — uma telenovela seguindo-se a do Bogus) na venda e na cozinha, a escalada
outra(s), ou coabitando, com outros géneros, de Gabriela a um telhado para pegar um
como o jornal televisivo — mas as ao mesmo papagaio, Gabreila penteando-se, Glorinha
tempo é constituída por uma narratividade (Ana Maria Magalhães, uma menina por
temporal, com princípio meio e fim, desdo- conta de um coronel) e o seu olhar por trás
brada em episódios, com cenas e planos da janela, Jerusa (Nívea Maria) penteando-
distribuídos por horas, dias, semanas, meses -se e vestindo-se no seu quarto antes de ir
e anos. Um fluxo contínuo que gerando para a igreja, o Bataclan e as indumentárias
formas de recepção activas em cada novo das meninas, o passeio das meninas do
produto, tende a apagar a memória do Bataclan pelas ruas da cidade, o confronto
anterior, dando lugar ao que está em exibi- Maria Machadão e o coronel Ramiro Bastos
ção no momento. Relacionando este fenóme- (Paulo Gracindo). Exibida um ano mais tarde,
no com as imagens fortes, diríamos que estas A Escrava Isaura, é lembrada pelo poder da
são as que perduram ao longo deste fluxo, família patriarcal dos senhores de escravos,
permitindo o reconhecimento de determina- pela situação degradante das mulheres na
das constantes narrativas, personagens, ce- escravatura, incluindo a sua exploração se-
nários e actores. xual. É, também, referida a luta das mulhe-
É evidente que a busca deste stock de res pela emancipação e educação, a submis-
imagens fortes, é um exercício com os seus são das mulheres legítimas e insubmissão das
limites de fiabilidade mas, com base nos jovens. Apontam-se como imagens fortes as
pressupostos descritos, tentaremos identificá- cenas em que o Senhor Leôncio (Rubens de
lo a partir dos registos referentes à Família, Falco) procura obrigar Isaura (Lucélia San-
à Mulher e à Sexualidade, tendo em conta tos) a ter relações contra vontade, o momen-
as observações referentes aos conteúdos e à to em que Isaura é recapturada num baile
produção. No entanto, em função do tempo de gala, a sensualidade dos castigos na
de exibição, data de visualização, contexto escravatura e a sensualidade da violência na
político económico e social, as memórias cena em que Isaura é chicoteada, puxada e
diferem e a sua nitidez é reconstruída a partir vendida na feira.
de intertextualidades múltiplas.46 O Bem Amado estreada em 1984, foi a
A primeira telenovela brasileira em primeira telenovela a cores em Portugal, por
Portugal, Gabriel, Cravo e Canela, exibida outro lado é impossível dissociá-la da série
em 1977, num contexto histórico muito que se seguiu com o mesmo nome. As
especial de normalização democrática após evocações de conteúdo, na perspectiva que
a Revolução de 25 de Abril, é aquela que estamos a trabalhar, referem evidentemente
mais imagens fortes evoca. São frequentes o perfeito Odorico Paraguaçu (Paulo
as referências ao conteúdo Família (a luta Gracindo), o seu sotaque especial e a frase
544 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume III

que o consagrou Povo de Sucupira! Donzelas sonagens, tiques (por exemplo, os de


praticantes e juramentadas, matronas com Sinhozinho Malta, Lima Duarte), gestua-
larga fé de ofício!... e as três irmãs Cajazeiras lidade, temas musicais e o facto da estória
(Dorotéa, Dulcinéa e Judicéa, respectivamen- da telenovela compreender uma outra estória
te, Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce em processo de filmagem, são também
Migliaccio), já entradas nos anos, sempre referenciados. Marcam as imagens fortes da
de braço dado, sempre esperando o amor de sensualidade da viúva Porcina (Regina
Odorico Paraguaçu. As imagens fortes fixam- Duarte) de turbante, na sua rede, chamando
-se na família patriarcal, na honra das mu- pela velha empregada; a cena em que Porcina
lheres abusadas (Zeca Diabo, Lima Duarte, administra a entrada e saída de casa dos seus
matou para lavar a honra da família), na amantes (Sinhozinho Malta, Lima Duarte e
histeria das mulheres sem sexo, na força de Roque Santerio, José Wilker); o desassosse-
mulheres determinadas (a delegada da polí- go de uma mulher mal amada (Lulu, Kassia
cia). São imagens retidas, as visitas das irmãs Kiss); o desmaio de uma virgem histérica
Cajazeiro ao gabinete do perfeito, seus ata- vestida de noiva (Mocinha, Lucinha Lins);
ques e chiliques histéricos permeados de o olhar de uma jovem (Tânia, Lídia Brondi)
jurupiga, as imagens da delegada de polícia apaixonada pelo padre (padre Albano, Claúdio
Donana Medrado (Zilka Salaberry) no cum- Cavalcanti); a forma de vestir e de andar de
primento das suas funções, as avançadas do uma das meninas da boate (Ninon, Claúdia
coronel às moças. Quase simultaneamente Raia).
estreia-se A guerra dos sexos (1984/85), Vale Tudo estreou-se em Portugal em 6
nomeada por ser uma comédia humorada que de Dezembro de 1989, causou grande im-
aborda as relações entre sexos, num cenário pacto pela forma realística como abordou
de shopping-center, dando ênfase às questões grandes temas dentro da Família ao mostrar
feministas dentro de uma família tradicional como ela é uma construção social e de
em processo de desestruturação. A persona- afectos, sendo os instintos maternais
gem Charlô, Fernanda Montenegro,- é no- construídos e não inatos (por exemplo nas
meada como sendo a primeira assumidamente duplas de mãe e filha, Odete e Heleninha
feminista na telenovela, reivindicando a sua Roitman; Raquel, Regina Duarte e Fátima,
independência financeira e amorosa mas, em Glória Pires). As referências polémicas na
ao mesmo tempo, mantém um amor adoles- imprensa focam o facto do enredo dissociar
cente, não resolvido, dando ênfase ao roman- o amor do prazer e da sexualidade, ao tratar
tismo versus sexualidade em mulheres mais as relações entre uma mulher madura (Odete
velhas. São referidas como imagens fortes Roitman, Beatriz Segall) e um jovem mo-
as cenas de humor e conflito entre Charlô delo aventureiro (César, Carlos Alberto
e o primo amado/odiado (Otávio, Paulo Ricelli). Ao mesmo tempo, são assinaladas,
Autran), no palacete comum, a fixação de para além das relações e casamentos instá-
Charlô pelo bigode de Otávio, bem como os veis, figuras de mulheres fortes, como a
jogos de sedução de todas as outras perso- heroína Raquel e anti-heroína Odete, as
nagens, entremeadas por muitos adultérios, imagens fortes de uma Heleninha alcoolizada
divórcios, traições e peripécias amorosas entre frente às suas telas, de uma Raquel venden-
classes e gerações. do sanduíches na praia para começar a vida,
A telenovela Roque Santeiro, exibida entre de uma mulher poderosa comprando prazer
1987 e 1988, foi de novo uma novela muito sexual (Odete Roitman) em encontros fuga-
politizada, em função do seu contexto de zes, a morte misteriosa desta mulher no
exibição, as eleições legislativas de 1987. Na elevador, a dupla de oportunistas unidos por
perspectiva em que estamos a trabalhar, os uma paixão destruidora Fátima (Glória Pi-
conteúdos mais evidenciados são os diferen- res) e César (Alberto Riceelli) e o final pouco
tes núcleos familiares, composição e decom- moral de um trapaceiro fugindo com o
posição das relações familiares, machismo e dinheiro e fazendo um manguito para o
obediência feminina, virgindade e histeria de público (Marco Aurélio, Reginaldo Faria).
mulheres, a boate e a prostituição integradas O Pantanal, uma produção da TV Man-
na vida da cidade. A composição das per- chete está em exibição a partir de 20 de
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 545

Outubro de 1991 e é lembrada pela beleza Mariana (Adriana Esteves) e João Pedro
e sensualidade das sua locações (a região do (Marcos Palmeira). Mantendo na sua fase
Pantanal mato-grossense, no Brasil), a forma histórica uma grande proximidade
como as mulheres e a paisagem natural foram (intertextualidade) com Renascer, a teleno-
filmadas, bem como pelo erotismo de deter- vela, o Rei do Gado, foi visualizada entre
minadas cenas e personagens. Para além das 1996 e 1997 e foca a estória de duas famílias
recorrentes referências a relações patriarcais italianas que se estabelecem no Brasil. Em
dentro da família que inibem a demonstração Portugal a sua recepção não foi politizada,
de afectos, mas permitem laços de lealdade como Gabriela ou Roque Santeiro, pois a
(o patriarca Leôncio, Claúdio Marzo, e a questão dos sem-terra, foi percepcionada
antiga prostituta) a novidade surge na una- como um problema do Brasil. Na primeira
nimidade da referência a Juma (Cristiana parte, num ritmo cinematográfico, os conteú-
Oliveira) — primeiro nu de mulher na te- dos referem a família patriarcal italiana, o
lenovela brasileira em Portugal — à sua papel do patriarca e a submissão feminina
sensualidade erótica (forma de andar, vestir, (patente, por exemplo, nas cenas de refeição,
falar) e postura selvagem (arisca, insubmissa, trabalho do campo), a dureza do trabalho nos
poucas falas), em harmonia com a natureza cafezais, bem como à luta entre famílias
deslumbrante (por exemplo, pôr de sol e vizinhas, por causa de uma cerca, ninharias.
noites de lua cheia sobre o pantanal) subli- Assinaladas como imagens fortes de sensu-
nhada pela música. As imagens fortes — por alidade são as cenas do banho, em casa de
exemplo, Juma entrando na água, Juma Mezenga (António Fagundes) e Nena (Vera
entregando-se ao acto sexual — vinculam Fischer), bem como os amores proibidos,
conteúdos (cenas de sexo, ou de nascimento junto aos cafezais, do seu filho (Enrico,
e morte) com procedimentos técnicos pró- Leonardo Brício) com a filha do seu inimigo
ximos ao cinema ou documentário. Berdinazzi (Tarcício Meira). Os cenários, as
A telenovela Renascer foi exibida em casas da roça, interiores e decoração (...tão
Portugal, entre 1993 e 1994, e fez parte da próximos da realidade...) são também men-
estratégia da SIC para se posicionar no cionados nesta primeira fase da novela. Na
mercado. De novo os conteúdos mais focados, segunda parte, ambientada na actualidade em
na perspectiva da Família, Mulher e Sexu- Ribeirão Preto, é mencionado o casamento
alidade, referem-se à família patriarcal e de farsa (Bruno Berdinazzi Mezenga, António
relações de autoridade e desafio que ela Fagundes, e Léia, Silvia Pfeiffer) as relações
pressupõe, bem como os conflitos entre extra-conjugais de ambos, o amante da mulher
gerações. São também salientadas as rivali- e os filhos mimados e irresponsáveis. Na
dades entre irmãos e a disputa pela herança imprensa são citados os problemas de heran-
paterna. Fazem-se referências ao casamento ça, droga, gravidez indesejada, aborto e
entre um homem mais velho (Leonardo, violência contra as mulheres. São mencio-
António Fagundes) e uma jovem (Mariana, nadas as imagens fortes da sem-terra, Luana
Adriana Esteves) após ter roubado, por ódio, (herdeira Berdinnazi sem memória e sem
a namorada ao filho (João Pedro, Marcos família) trabalhando no corte da cana, as suas
Palmeira), existindo uma certa perplexidade sucessivas evocações de imagens de um
perante o ódio que separa, e une, pai e filho. passado perdido na infância, a sua imagem
A sensualidade e o erotismo das sestas em de grávida morando num casebre, assim como
região de calor e cacau, o tempo lento, a violência da agressão de Léia pelo namo-
próprio aos países tropicais, são também rado (Ralf, Oscar Magrini), o desespero da
referidas, bem como a paixão do padre (Lívio, filha do senador, quando se descobriu grá-
Jackson Costa) por uma jovem. Cenas vida, bem como o recanto isolado na floresta
marcantes, imagens fortes, o casamento de tropical (comidas, objectos artesanais) onde
Leonardo e Mariana, pela beleza da cenário Bruno Mezzenga mantinha a sua amante,
(roupas brancas do noivo e da noiva, a levava os filhos e dava guarida a uma dupla
fazenda e o seu colorido de cacau) e a sesta de música caipira.
na fazenda. A tensão amorosa e os jogos de As três últimas telenovelas que referimos
olhares proibidos, mas inevitáveis, entre Torre de Babel, visualizada em Portugal entre
1998 e 1999, Laços de Família exibida em
546 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume III

2000 e 2001 e Mulheres Apaixonadas em como forma de sustento familiar (as meninas
2003, encontram-se mais próximas na me- de programa como Capitú, Laços de Famí-
mória dos públicos e integram-se num pe- lia, ou Fernanda, Mulheres Apaixonadas).
ríodo em que já há uma maior atenção — Focam a diversidade de situações familiares
na imprensa, na academia e na sociedade— e conjugais, nomeadamente as famílias
— aos impactos da telenovela brasileira na monoparentais, apoiada na mulher forte
sociedade portuguesa. Por outro lado, elas (Helena, Laços de Família, Lorena, Mulhe-
são exibidas num período de grande concor- res Apaixonadas), as famílias alargadas ou
rência pelas audiências do prime-time nos ainda as famílias recompostas. São lembra-
dois canais privados, estando a TVI em fase das as imagens fortes de doenças como
de reestruturação e em busca de produtos leucemia (a jovem Camila careca sujeita a
alternativos — de que o reality show Big tratamentos de quimioterapia em Laços de
Brother e as telenovelas portuguesas, como Família) ou o cancro de mama (os proble-
Jardins Proibidos são um bom exemplo — mas de uma mulher ainda jovem perante a
capazes de prender o grande público. As doença em Mulheres Apaixonadas). As ori-
audiências na SIC das telenovelas brasileiras entações e os problemas sexuais de relaci-
vão ressentir-se desta concorrência, mas as onamento são também referidos, por exem-
temáticas realísticas e universais, associadas plo, o casal de lésbicas que acaba por su-
à qualidade técnica e estética do produto cumbir no incêndio (Torre de Babel), as
garantiram a continuidade das audiências em jovens estudantes lésbicas (Mulheres Apai-
outros horários para além do prime-time e, xonadas) o casal que tinha problemas, dada
perdendo alguns públicos, conseguiram re- a impotência do marido (Viriato em Laços
crutar outros pertencentes a estratos sociais de Família). Referências constantes são as
mais elevados. Esta apetência pelo produto que se fazem ao sexo sem limites morais,
deve-se ao aprofundamento do género me-
caso da cena de amor na casa de banho do
lodramático centrado em temáticas universais
Shopping (Torre de Babel), ou ainda as
e inserido em quotidianos urbanos facilmen-
relações entre empregada e patrão (Laços de
te identificáveis pelas audiências. Por sua vez,
Família) ou ainda as relações amorosas e
as estórias vão acentuar a conflitualidade de
sexuais de um taxista com três mulheres em
relações dentro das famílias, entre vizinhos
simultâneo em Mulheres Apaixonadas (com
e na sociedade, reforçando a densidade da
a mulher, a empregada e a patroa dessa
construção das personagens através dos tex-
empregada). Mas as imagens que estão mais
tos, da valorização do corpo, da alternância
presentes são as que associam a violência ao
dos planos, da forma como as câmaras tra-
tam pormenores do corpo, a gestualidade, o sexo, nomeadamente o assassínio da mulher
guarda roupa ou a decoração. Tornam-se mais adúltera e do seu amante (no início de Torre
ousados os apelos à sensualidade, as cenas de Babel), os espancamentos da garota de
de sexo passam a estar explícitas e a vio- programa Capitú pelo homem que a mantém
lência entre personagens amorosa ou sexu- (Laços de Família), as agressões da ciumen-
almente envolvidas, torna-se frequente. ta Heloísa (cena em que espeta uma faca o
As referências na imprensa a estas tele- marido em Mulheres Apaixonadas), as cenas
novelas são muitas, abrangendo não só re- em que um marido rejeitado persegue, e
vistas de jornais populares e de especialida- agride, a mulher e o seu jovem aluno
de como jornais e semanários de qualidade. (Mulheres Apaixonadas).
Mantendo as mesmas dimensões de referên-
cia Família, Mulher e Sexualidade, consta- IV. As imagens fortes da prostituição
tamos que as imagens fortes focam os pro-
blemas da vida real, como droga (o assalto A imigração brasileira em Portugal é um
a casa dos pais milionários por traficantes fenómeno recente — data dos finais da década
em busca do filho drogado em Torre de de oitenta, mas adquire novos contornos a partir
Babel), alcoolismo (A professora de Mulhe- de 1999 — estimando-se hoje em cerca de 120
res Apaixonadas bebendo perfume misturado mil os cidadãos brasileiros que vivem no país,
com álcool etílico) e prostituição feminina sendo que 40% serão do sexo feminino.
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 547

A imprensa e a televisão tem vindo a dar (actuação de máfias, assaltos e crimes co-
uma cobertura contínua e sistemática ao muns) e evidentemente tráfico de mulheres
fenómeno da Imigração em Portugal, sendo e prostituição, sendo os traficantes portugue-
que durante o ano de 2003, integrado num ses e as mulheres prostituídas preferencial-
Projecto apoiado pelo Alto Comissariado para mente brasileiras. As regiões mais
a Imigração e as Minorias Étnicas, 47 referenciadas nas peças são a Grande Lisboa
monitoraram-se as imagens sobre estes gru- e Grande Porto, mas relativamente ao tráfico
pos veiculadas na imprensa (5 diários e 2 de mulheres e prostituição é a região do Norte
semanários) e nos prime-time das televisões e Interior. Convém, ainda realçar o
de sinal aberto (sendo dois públicos, RTP1 mimetismo de agenda pública e mediática no
e a 2 e dois privados, SIC e TVI). caso das Mães de Bragança.
No início do trabalho formulou-se a hipó- A visualização e análise de conteúdo das
tese de existir um stock de imagens e repre- imagens registadas permitem uma primeira
sentações incorporadas no olhar dos portugue- abordagem de carácter quantitativo e outra
ses, independentemente do género e advindas de caris qualitativos. A abordagem quanti-
da visualização de trinta anos de telenovelas tativa permite constatar que, num total de 224
brasileiras, sobre as mulheres imigrantes bra- peças, recolhidas de Abril a Dezembro de
sileiras. Aventou-se, ainda, que este olhar 2003, nos canais televisivos sobre a temática
colectivo dos portugueses teria reflexos na forma Imigração e Minorias Étnicas, a imigração
como os jornais televisivos, dos canais de sinal brasileira é referida, em conjunto com outros
aberto, tratariam as mulheres imigrantes bra- imigrantes, em 79 peças (35% do total), sendo
sileiras, sobretudo as prostituídas. que em 57 peças o grupo referido é exclu-
A visualização e análise de conteúdo das sivamente o dos brasileiros(as) (25% do total
imagens registadas permitem uma primeira das peças). Salienta-se que o maior número
abordagem de carácter quantitativa e outra de peças sobre a imigração brasileira corres-
de caris qualitativos. A abordagem quanti- ponde à visita do Presidente do Brasil a
tativa permite constatar que num total de 224 Portugal, no mês de Julho, e à subsequente
peças, recolhidas de Abril a Dezembro de abertura de um processo extraordinário de
2003, nos canais televisivos sobre a temática regularização concedido aos imigrantes bra-
Imigração e Minorias Étnicas, a imigração sileiros em situação ilegal. Uma segunda
brasileira é referida, em conjunto com outros observação identifica 80 peças onde as
imigrantes, em 79 peças (35% do total), sendo mulheres são protagonistas (35% do total),
que em 57 peças o grupo referido é exclu- sendo 48 sobre mulheres prostituídas, bra-
sivamente o dos brasileiros(as) (25% do total sileiras e outras (cerca de 30% do total de
das peças). Salienta-se que o maior número peças), e deste número 34 são exclusivamen-
de peças sobre a imigração brasileira corres- te sobre brasileiras (15% do total), 13 sobre
ponde à visita do Presidente do Brasil a mulheres prostituídas brasileiras e outras
Portugal, no mês de Julho, e à subsequente (cerca de 5% do total) e apenas 3 peças sobre
abertura de um processo extraordinário de mulheres imigrantes brasileiras.
regularização concedido aos imigrantes bra- No total das 224 peças quantificadas, de
sileiros em situação ilegal. Uma segunda Abril a Dezembro de 2003, as temáticas mais
observação identifica 80 peças onde as abordadas estão relacionadas com a moda-
mulheres são protagonistas (35% do total), lidade Crime que somada às sub-temáticas
sendo 47 sobre mulheres prostituídas, bra- máfias, situações de violência, exploração no
sileiras e outras (cerca de 30% do total de trabalho, prostituição e tráfico de pessoas
peças), e deste número 34 são exclusivamen- atinge um total de 170 peças. Deste total,
te sobre brasileiras (15% do total), 13 sobre a prostituição corresponde a 48 peças refe-
mulheres prostituídas brasileiras e outras rentes, maioritariamente, às regiões do Norte
(cerca de 5% do total) e apenas 3 peças sobre e Interior fronteiriço, apesar de grande parte
mulheres imigrantes brasileiras. das 224 peças analisadas tratarem de assun-
No conjunto das peças as temáticas mais tos de âmbito nacional. Por outro lado, as
abordadas estão relacionadas com a imagens provenientes deste Norte e Interior
criminalidade perpetrada pelas Minorias fronteiriço, estão enquadradas, as mais das
548 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume III

vezes, em Casas de Alterne ou Prostituição mente, as mesmas imagens. Estas imagens,


(33 peças num total de 224 peças). ao serem alinhadas e editadas, nas sequên-
Os actores mais intervenientes são, na cias dos jornais televisivos, adquirem, mais
totalidade das peças e dos canais, os imi- ou menos impacto, em função das políticas
grantes (52,5%, correspondente a 115 peças), de informação dos respectivos canais. Assim,
mas nas que abordam a prostituição, os a maior parte destas peças são reportagens
actores mais evidentes são as Forças de realizadas à noite — numa situação descrita
Segurança (PSP, PJ, GNR e SEF) que, no como de surpresa ou de fiscalização rotineira
conjunto das peças, já apresentavam uma — e visam, segundo os textos jornalísticos
considerável visibilidade (77 peças). A estes e as fontes citadas, conferir a situação legal
dados sobre os actores, acrescentam-se os das casas de alterne, dos seus proprietários
referentes às citações, ou vozes. Se os tes- e trabalhadoras. Nestas cenas, o protagonismo
temunhos populares têm mais representação das Forças de Segurança — que guiam as
nas peças (29,5% correspondente a 52 pe- incursões, explicam os objectivos e fazem os
ças), no conjunto das citações a sua voz é balanços das acções para as câmaras das
menos expressiva, pois a soma das vozes televisões — adquire grande efeito mediático.
provenientes das Forças de Segurança ganham As imagens nocturnas dos carros ou jipes da
maior ressonância. Por outro lado, de entre polícia, partindo das esquadras, acompanha-
as comunidades e minorias, são as vozes dos dos por jornalistas, com as sirenes ligadas,
brasileiros(as), seguidas dos ciganos(as), que a visualização das fachadas de néon das casas
adquirem maior expressão. Contudo, nas de alterne, a entrada precipitada nos interi-
peças sobre mulheres prostituídas, apenas três ores de penumbra dos estabelecimentos, a
destas mulheres são chamadas a prestar iluminação selectiva de mulheres e objectos,
depoimento, ouvindo-se em contrapartida, narram pequenas estórias policiais de
muitos testemunhos femininos sobre estas suspense e transgressão sexual à ordem
matérias. estabelecida, com características de videoclip.
Numa perspectiva qualitativa da análise Estas características acentuam-se nos proce-
do ano de 2003, é preciso ter em conta dois dimentos de verificação da documentação,
momentos de imagens fortes sobre as mu- bem como nos momentos em que mulheres
lheres brasileiras prostituídas. O primeiro sem rosto e com voz distorcida, mas com
momento que corresponde ao abaixo assina- pernas e mãos vibrantes, surgem em close-
do das auto-intituladas Mães de Bragança, ups detalhados. O som é muitas vezes cap-
em finais de Abril de 2003 na cidade do tado ao vivo — música de discoteca e vozes
mesmo nome, que dirigido às autoridades de pessoas, preferencialmente, mulheres
locais, veio chamar a atenção dos Media para assustadas — e as câmaras são tentadas por
o fenómeno, desencadeando um conjunto de pormenores como globos coloridos, colunas
acções fiscalizadoras das Forças de Seguran- de streep-tease e bares com bancos altos e
ça. O segundo momento, decorre da publica- discretos cantos com bebidas.
ção, na revista Time, edição europeia de Neste contexto, a TVI é o canal que mais
Outubro, de uma matéria em primeira pá- relevância dá a este tipo de peças, não só
gina, chamando a atenção para a actuação pelas características da edição das peças, pelo
das redes de tráfico e exploração de mulhe- tom e texto da intervenção dos jornalistas,
res, sobretudo brasileiras, naquela região de como pelo conjunto de peças alinhadas e
Portugal. tempo médio da sua exibição. Por exemplo,
O primeiro momento repercute na tele- no dia 14 de Junho, a TVI faz a abertura
visão nos finais de Maio, e constitui peças do noticiário com a seguinte chamada em
de rotina nos meses de Junho e Julho, em oráculo: “Rusga: Mega operação em casas
conformidade com as acções levadas a cabo, nocturnas envolve GNR, Inspecção do Tra-
por todo o país, pelas Forças de Segurança. balho e SEF”, e exibe 4 peças seguidas sobre
As rusgas, nome que é dado a estas incur- as operações que tiveram lugar no país, com
sões por casas e bares da noite, são acom- duração de 8m e 46s. As peças focam o
panhadas por jornalistas, que disponibilizam trabalho das Forças de Segurança no Norte,
em todos os canais de televisão, essencial- Centro e Algarve e os cenários privilegiados
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 549

são, naturalmente, as casas de alterne, as em contínuo no mesmo dia 14, 17m e 39


esquadras e os tribunais. As reportagens s, iniciando, também, a sequência com uma
ouvem, como testemunhas privilegiadas, os entrevista à correspondente e passando em
policiais envolvidos, mas dão voz, também, seguida para os testemunhos dos populares
aos empresários da noite e às mulheres e do Bispo de Bragança. Na terceira peça,
prostituídas, quase todas brasileiras, grande a mais longa, 5m 57, uma «mãe/mulher de
parte em situação de trabalho ilegal. Bragança» guia os jornalistas pelo «roteiro
O segundo momento referido decorre da do sexo» à volta da cidade. Na quinta peça,
publicação, na revista Time, edição europeia apresenta-se uma entrevista, em Lisboa, com
de Outubro, de uma matéria, que faz capa, duas jovens brasileiras que dizem ser pro-
intitulada Europe’s new Red Light District: fissionais do sexo. E na última peça, as
how the global sex trade turned a small town mulheres de Bragança, o governador civil e
upside down. No interior da revista, assinada um proprietário de bar falam sobre a situ-
por Amanda Ripley e a correspondente da ação na cidade, decorrente da prostituição e
revista em Portugal, Martha de la Cal, a da publicação da matéria na revista.
matéria ocupa 8 páginas profusamente ilus- A tematização da agenda arrasta-se por
tradas e subordinadas ao título “When the todos os canais até ao fim de Novembro, com
Meninas came to Town: Bragança was just novos picos nos dias 20 e 21 de Outubro,
a ancient, remote Portuguese outpost. Then coincidindo com o momento em que as forças
the Brazilian prostitutes moved in, and the policiais fazem novas incursões a casas de
wives start fighting back”. Num ano, em que alterne e são resgatadas mulheres brasileiras
os crimes de pedófilia do caso Casa Pia que se encontravam sequestradas e obrigadas
constituíram o grande issue dos Media (im- a prostituírem-se.
prensa e televisão), este novo acontecimento
vai constituir mais uma sub-temátização Conclusão
inscrita, e lida, no capítulo dos Escândalos
Sexuais do país. No início do trabalho formulou-se a hipó-
Como repercute na televisão a matéria da tese de existir um stock de imagens e repre-
revista Time? Nos três canais de sinal aberto, sentações incorporadas no olhar dos portugue-
RTP1, SIC e TVI, a agenda inicia-se a 14 ses, independentemente do género e advindas
de Outubro de 2003 — dia em que o acon- da visualização de trinta anos de telenovelas
tecimento da publicação na revista faz a brasileiras, sobre as mulheres imigrantes bra-
Abertura (e as chamadas) nos três jornais sileiras. Aventou-se, ainda, que este olhar
televisivos — e mantém-se na rotina dos colectivo dos portugueses teria reflexos na forma
noticiários, através das peças dedicadas às como os jornais televisivos, dos canais de sinal
rusgas aos bares e casas de alterne, até ao aberto, tratariam as mulheres imigrantes bra-
final do mês de Novembro. sileiras, sobretudo as prostituídas.
No dia 14 de Outubro, a RTP1 dedica Esta relação difusa entre a imigração
4 peças sequenciais a esta matéria, num total feminina brasileira e a exibição das teleno-
de 7m 35s, apresentando uma entrevista com velas em Portugal, tem vindo a ser evocada
a correspondente da revista Time em Portu- em títulos de matérias jornalísticas sobre a
gal, entrevistas com autoridades de Bragança, imigração brasileira, tendo em conta teste-
bem como a mulheres brasileiras prostituí- munhos de mulheres brasileiras e estudos
das. No mesmo dia a SIC atribui às 4 peças sobre a integração dos brasileiros em Por-
a duração total de 14m 27s, e inicia a tugal.48 O que de certa forma se comprova
sequência com uma reportagem à correspon- na associação difusa que surge nas matérias
dente da Time, seguida de entrevistas às assinadas por jornalistas – com títulos
mulheres prostituídas brasileiras e às auto- apelativos e fotografias de mulheres jovens
ridades de Bragança. Em seguida, dá ênfase em poses provocantes e roupas sumárias 49
à voz dos populares da cidade, homens e — sobre as casas de alterne, redes de pros-
mulheres, e entrevista um empresário, dono tituição e exploração de mulheres, quando
de uma das casas de alterne mais conhecidas falam das meninas, da sua sedução, sensu-
na cidade. A TVI atribui às 6 peças, que exibe alidade e feitiços.
550 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume III

Por outro lado, a relação com o imagi- femininas de grande força psicológica subli-
nário colonial sobre a Mulher dos trópicos nhadas por caracterizações redundantes,
brasileira, pode ser estabelecida através das próximas dos estereótipos. Nestas estórias —
imagens físicas das meninas, quase todas de fluxo contínuo, elaboradas em torno de
mestiças, quase todas jovens, quase todas um conjunto de intrigas — lindas mulheres
sumariamente vestidas e sem compromissos lutam por amor e transpiram sensualidade e
familiares e sociais visíveis, o que passa a sedução na conquista do seu amado e da sua
ideia de uma disponibilidade total para o sexo posição em cenários coloridos deslumbran-
e para o prazer. Uma imagem que as mu- tes, iluminados pelo sol, ou pela lua, dos
lheres prostituídas brasileiras reforçam e trópicos. Assim, se numa sociedade em
contradizem, em simultâneo, nas entrevistas acelerado processo de mudança estas ima-
para a televisão ou para a imprensa. Elas gens constituem, frequentemente, modelos
reforçam esta imagem dizendo-se disponíveis femininos de emancipação,50 a materialização
para satisfazer os desejos masculinos, o que de muitos destes enredos, nas estórias
não estaria na vontade das portuguesas, pouco protagonizadas pelas mulheres brasileiras
atentas a essas coisas; contradizem-na, ao prostituídas, tendem a consolidar os papéis
afirmarem estar em Portugal para ganhar tradicionais dos sexos e seus respectivos
dinheiro e sustentar os filhos no Brasil. imaginários culturais, apesar do abaixo-as-
A localização do fenómeno Mães de sinado das Mães de Bragança, ser por si um
Bragança no Norte e Interior do país, não indicador de mudança. Curiosamente, esta
é, também, um acaso. Estas regiões são as reacção reproduz imagens fortes de várias
mais desertificadas, as economicamente mais telenovelas brasileiras que focam mudanças
frágeis, com uma população menos de costumes em meios tradicionais.
escolarizada, sujeita a emigração sazonal e Nas imagens da prostituição, o objecto
a grande influência da Igreja Católica. À de desejo é apresentado de forma velada,
emigração sazonal dos homens por longos através de recursos técnicos e cénicos que
períodos — que os leva a adquirem novos escondem as personagens, e exibem as partes
costumes e hábitos, nomeadamente sexuais do corpo mais cobiçadas, as pernas, as ancas
— junta-se a responsabilização das mulheres e as nádegas. No desenrolar das estórias, em
que ficam na terra a tomar conta dos filhos, fluxo contínuo, o enredo é conhecido, mas
dos velhos e dos negócios da família. Esta as intrigas são pouco exploradas, raramente
mulher, esposa e mãe, só tem sexo raramen- estas mulheres têm voz, expõem as suas
te, pois o marido está ausente e os costumes ansiedades e expectativas. O grande prota-
não permitem experiências extra-matrimoni- gonista são as Forças de Segurança, mas a
ais, e apesar de ter muitas vezes um grau intriga fica por aí e raramente se fala dos
de escolaridade superior ao marido, leva uma empresários, dos angariadores e dos clientes.
vida dura, entre a casa, as fábricas ou o Nas cenas, quase todas nocturnas, as mulhe-
trabalho do campo. Sexo, desejo, sensuali- res correm dos holofotes que as iluminam
dade ou sedução, são questões pouco conhe- entre as casas de alterne, as esquadras de
cidas, no mais das vezes reprimidas, ou polícia e os tribunais. Por vezes, os cenários
reprovadas, pela comunidade e pela Igreja. são diurnos e as personagens são as outras
Nestes contextos, as casas de alterne já eram mulheres, queixando-se da pouca-vergonha,
um negócio antigo na região, que foi dos modos licenciosos, dos homens que vão
optimizado pelas redes internacionais de a esses lugares, perdem o dinheiro, habitu-
tráfico e prostituição que identificaram nas am-se e arruínam a família. O som e as
mulheres brasileiras o produto sexual, por imagens em directo dessas mulheres, as vozes
excelência, do imaginário masculino portu- populares, dão-lhes uma materialidade que
guês. é negada às mulheres prostituídas — voz
Há décadas que este produto vinha sendo distorcida, imagens desfocadas — com o
anunciado pelas telenovelas em corpo intei- intuito aparente de as proteger, mas que acaba
ro, através de recursos técnicos e cénicos que por remete-las para papéis secundários e mal
valorizam corpos fisicamente perfeitas, ao construídos em cenários de uma telenovela
mesmo tempo que encenavam personagens da vida real.
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 551

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pedindo que tomem providências contra as cha- e valores perante a imigração, Lisboa, ACIME.
41
mas alternadeiras (prostitutas) brasileiras que Projecto em fase de finalização, financiado
estariam a «virar a cabeça dos maridos» desvi- pelo ACIME/OI e coordenado pelo presidente da
ando-os das suas obrigações domésticas (Maio de Casa do Brasil, Carlos Vianna, divulgado pelo
2003). Público, 2 de Nov. 2003, pp. 2-4.
26 42
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Operas Overtake Brazilian Imports Portuguese TV brasileiros são ladrões»: A língua, afinal, não
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45
modo de Produção, Lisboa, Ed. Universitárias Sondagem Telenovelas/SIC: as 20 novelas
Lusófonas. preferidas dos portugueses. Universo: Eleitores
30
Telenovelas como os Imigrantes, os Maias, residentes em Portugal Continental e Regiões
A Muralha, O Quinto dos Infernos Autónomas. Amostra: Aleatória e representante do
31
Martim-Barbero, J. (1997) Dos meios às universo, com 848 entrevistas telefónicas. Rea-
mediações, Rio de Janeiro, UFRJ; Brown, M.E. lização: 14 a 17 de Abril de 1998, pelo Centro
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46
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Telenovela, São Paulo, Summus Ed. Expresso, O Jornal) as revistas (Visão e Focus),
32
Policarpo, V. (2001), Telenovela Brasilei- as seguintes revistas de imprensa especializada
ra :Apropriação, Género e Trajectória Familiar, (Maria, TVSete e TV Guia). Foram também
ESTUDOS CULTURAIS E DE GÉNERO 553

consultados os trabalhos de Oswaldo Meira Tri- elaborado pelo dirigente da Casa do Brasil, em
gueiro e João Paulo Moreira, bem como os álbuns Lisboa: “A triste novela dos brasileiros que não
de cromos da telenovela publicados. sambam”; “brasileiras são prostitutas, brasilei-
47
Trabalho sediado no Instituto de Estudos ros são ladrões”.
49
Jornalísticos da Universidade de Coimbra, reali- Cfr: “Homens de Bragança de cabeça
zado pela seguinte equipa, Isabel Ferin Cunha, perdida”, Primeira página, chamada com fotogra-
Clara Almeida Santos (respectivamente, análise de fia, Jornal de Notícias, Ed. Centro, 2 de Maio
televisão e imprensa), Maria João Silveirinha e de 2003; “Sexo: Tentações brasileiras em Trás-
Ana Teresa Peixinho (Análise Crítica do Discur- os-Montes, são loucos por elas”, Correio da
so). Manhã, 4 de Maio de 2003, p.13.
48 50
Cfr. O Destaque do Público de 3 de Ferin Cunha, I. (2003) “As telenovelas
Novembro de 2003, a matéria assinada por brasileiras em Portugal: indicadores de aceitação
Ricardo Dias Felner, com base num trabalho e mudança”, Lisboa, Trajectos, nº 3, pp. 19-24

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