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Os teatros do Rio de Janeiro

Teatros do Rio
do século XVIII ao século XX
Presidente da República
Dilma Rousseff
Ministra da Cultura
Marta Suplicy

FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTES – FUNARTE


Presidente
Antonio Grassi
Diretora Executiva
Myriam Lewin
Diretora do Centro de Programas Integrados
Ana Claudia Souza
Gerente de Edições
Oswaldo Carvalho
José Dias

T eatros do R io
do século xviii ao século xx
©2012 AUTOR
Fundação Nacional de Artes – Funarte
Rua da Imprensa, 16 – Centro – Cep: 20030-120
Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 2279-8071
livraria@funarte.gov.br – funarte.gov.br

Edição
Oswaldo Carvalho
Produção Editorial
Jaqueline Lavor Ronca
Produção Gráfica
João Carlos Guimarães
Produção Executiva
Suelen Teixeira
Capa e Projeto Gráfico
Julio Moreira
Revisão
Obra Completa Comunicação
Assessoria de Projeto e Organização de Originais
Isabel Miranda

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


FUNARTE / Coordenação de Documentação e Informação

Dias, José da Silva.


Teatros do Rio : do Século XVIII ao Século XX / José da Silva Dias. – Rio de Janeiro :
FUNARTE, 2012.
744 p. ; 28 cm .


ISBN 978-85-7507-149-6

1. Teatros – Rio de Janeiro (RJ) – História. I. Título.

CDD 725.8098153
Dedico este trabalho a todos os técnicos e artistas que
passaram pelos teatros, desaparecidos e existentes,
contribuindo para a memória do teatro do Rio de
Janeiro, e também àqueles com quem aprendi e
continuo aprendendo a complexa arte do fazer teatral.
Meus agradecimentos vão para artistas e técnicos que, ao lon­­­go des-
­­­ trabalho, muitas vezes reencontrei já fora de suas atividades profissionais e pelo reencon-
te
tro de companheiros queridos da classe teatral.
Muitas outras pessoas contribuíram direta e indiretamente para a realização desta obra,
ora gentilmente cedendo documentos, ora acrescentando informações, ou apenas supor-
tando alguns momentos de desânimo, com palavras animadoras. A todas registro aqui meu
agradecimento discreto e silencioso.
Agradeço especialmente à Funarte, a Antonio Grassi, a Myriam Lewin e a toda a equipe
de edições: Ana Claudia Souza, Oswaldo Carvalho, Jaqueline Lavor Ronca, João Carlos Gui-
marães e Suelen Teixeira.
Agradeço a Orlando Miranda por acreditar na importância deste trabalho, a Isabel Mi-
randa e a Verônica Machado que trabalharam na pré-produção do livro e a Maria José de
Sant’Anna que fez a revisão dos textos.
Agradeço às instituições que facilitaram o acesso a documentos, inclusive a obras raras:
Biblioteca Nacional, Museu dos Teatros, Museu Histórico Nacional, Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, Com-
panhia Estadual de Água e Esgoto e Museu da Imagem e do Som. Agradeço também ao
Departamento de Documentação dos jornais O Globo, Jornal do Brasil, Jornal do Commercio,
O Fluminense e O Dia.
Por fim, quero render um tributo de gratidão a meus queridos filhos Philipe Deschamps
Gonçalves Dias e Bianca Deschamps Gonçalves Dias, pela grande motivação, compreensão e
solidariedade com que compartilharam de todos os momentos de dificuldade.
Capítulo 1
Sumário O teatro do
R io de J aneiro no
Prefácio .17
contexto colonial
Introdução .19

Capítulo 1
O teatro do Rio de Janeiro no contexto colonial .39

Capítulo 2
O teatro de uma capital ainda provinciana .59

Capítulo 3
Teatros do interior da província e dos municípios
do Rio de Janeiro .193

Capítulo 4
Os teatros do Rio de Janeiro no século XX .243

4.1. Cineteatro: a dupla função das casas de espetáculos .260


4.2. Os teatros do Centro da cidade .287
4.3. Migração das casas de espetáculos para a Zona Sul da cidade .416
4.4. Teatros de bairros .509
4.5. Teatros de instituições .537
4.6. Soluções teatrais alternativas .591
4.7. A fuga para os shoppings e a perda da volumetria arquitetônica .640
4.8. O surgimento dos centros culturais e a dupla função dos museus .677

Bibliografia geral .737
T Teatros do Rio teve origem na tese de doutoramento apresentada
por José Dias e submetida à Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo em 1999.
Esta pesquisa compreendeu um período definido entre
os séculos XVIII e XX. Portanto, todas as modificações
ocorridas nos teatros da cidade e do Estado do Rio de Janeiro
a partir de 1999 não são objeto de análise nesta obra.
José Dias é diretor de arte e cenógrafo consagrado por seu trabalho no ci­­­-
nema, na TV e principalmente no teatro, tendo atuado em mais de 390 espetáculos no Bra-
sil e no exterior. Doutor em Comunicação e Artes (USP), Dias é professor da Unirio e da
UFRJ, onde também atua como conselheiro emérito do Conselho de Minerva. Escreveu
Odorico Paraguaçú, o Bem Amado (Imprensa Oficial de São Paulo, 2010).
Recebeu inúmeras vezes os principais prêmios de artes cênicas do país, entre os quais
Molière, Shell e Mambembe. Em 2003 foi homenageado com a Medalha Pedro Ernesto da
Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Em 2009, recebeu o título “Top 100 Educators” do
International Biographical Center, de Cambridge (Reino Unido).
Responsável pela cenografia de grandes sucessos da TV, Dias atuou nos anos 1970 na ex-
tinta TV Tupi. Na Rede Globo, entre 1974 e 1989, assumiu a cenografia dos clássicos O Bem
Amado e Casos Especiais e participou da equipe da primeira versão da novela Gabriela, de
Saramandaia e das atrações Chico Total e Fantástico.
José Dias iniciou o trabalho de consultor para construções e adaptações de edifícios tea­
trais ainda no Instituto Nacional de Artes Cênicas, mais tarde incorporado à Funarte. Foi
responsável pelo projeto de reforma de algumas das mais importantes casas de espetáculos
do país, como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a Sala Yan Michalski, e prestou con-
sultoria para obras no Centro Cultural Tom Jobim, Oi Casa Grande, Centro Cultural João
Nogueira (Imperator), Teatro João Caetano e Teatro Villa-Lobos. Estendeu sua atuação como
consultor para outros estados, como Espírito Santo, Paraná e Goiás.
Prefácio

Não há prazer (ou até honra) maior para dições que passam a oferecer maior qualida-
um professor do que ver um aluno se reali- de às excursões de bons espetáculos.
zar plenamente na área que elegeu para sua Agora, com Teatros do Rio, em boa hora
atividade; e isso sem dúvida se dá comigo em editado pela Funarte, José Dias traz a pú-
relação à carreira de José Dias. Acompanhei blico mais uma faceta de seu total compro-
sua formação, da graduação ao doutoramen- metimento com o teatro, aquela que lhe
to, e me lembro dele como daqueles poucos ofereceu, até mesmo em sua atividade de
alunos em quem a fome do conhecimento se consultor, condições para conhecer os tea-
mostra desde os primeiros dias de estudante. tros e as salas adaptadas em que o teatro foi
José Dias se tornou aluno dileto de Pernam- e é apresentado no estado do Rio de Janeiro.
buco de Oliveira, e com ele aprendeu a co- A essas oportunidades, é claro, teve de se jun-
nhecer não só a cenografia como também to- tar a curiosidade, o interesse por encontrar
dos os problemas e mistérios das instalações tempo, em uma vida já muito ocupada pela
técnicas de que ela depende, nos bastidores cenografia e a consultoria, e Dias confirmou
como também as exigências arquitetônicas, a convicção popular que só se deve pedir que
para que a visão e o som possam ser adequa- faça alguma coisa a alguém já muito ocupa-
damente recebidos e percebidos pela plateia. do. Em um país de pouca memória, e de me-
Com o diretor como com o iluminador, Dias nos memória ainda a respeito das artes, esse
sabe dialogar, tendo noção clara da dimen- levantamento e comentário a respeito dos
são da contribuição do cenógrafo para o total teatros do Rio é uma contribuição preciosa
do espetáculo. não só para o teatro como também para to-
Em função da amplitude de seu conheci- dos os interessados em nossa vida cultural.
mento que faz dele brilhante professor, há A história de nosso teatro poderia ter sido
muitos anos já que José Dias vem sendo con- bem diversa se os responsáveis pela educação
sultor de reformas e consertos, assim como e a cultura tivessem levado avante o traba-
de construção de teatros e salas de espetá- lho do Padre Anchieta, que na nova colônia
culo, prestando preciosos serviços ao teatro portuguesa, e já no século XVI honrou a
nacional em vários pontos do país, permitin- tradição jesuíta de usar o teatro no ensino.
do assim que neles fiquem instaladas as con- A coroa, no entanto, pouco se importava

Prefácio 17
com as longínquas terras brasileiras, e foi so- Com poucas exceções, o desinteresse es-
mente no século XVIII, quando o Padre Ven- sencial pelo teatro tem condenado as artes
tura já criara, em 1767, sua Casa da Ópera, cênicas a ambientes limitados, dentro de
que o vice-rei Marquês de Lavradio recebeu shoppings ou como adaptações (mesmo que
do então Primeiro Ministro Marquês de muito bem-feitas) em antigos prédios resi-
Pombal uma carta na qual sugeria que aqui denciais, e o cuidado que Dias mostra no
deveria ser criado um teatro, grande veículo levantamento de todos esses espaços presta
da educação, muito embora a mesma carta um excepcional serviço, pois deixa clara a
inclua toda uma série de advertências a res- insuficiência de casas aptas a apresentar es-
peito do controle que deveria ser exercido petáculos de maior monta ou simplesmente
pelo governo, ou seja, desde logo criando que necessitem troca de cenários. Este tra-
também uma censura. balho pode ser tido, na verdade, como pre-
A brevidade da vida desses teatros do cioso lembrete a autoridade ou particulares
Rio no século XVIII, e até mesmo os apa- sobre a urgente necessidade de serem cons-
recidos no século XIX em Campos e Itabo- truídos no Rio mais teatros na plena ampli-
raí, por exemplo, bem ilustra a precarie- tude da palavra.
dade da vida cultural do período colonial São poucos os que se dedicam tão apaixo-
e até mesmo do início do Império. A po- nadamente, a par do ensino – pois José Dias
breza desse panorama é sem dúvida reflexo é Professor Titular de Cenografia na Unirio
da ausência de uma atividade teatral maior e professor Associado na UFRJ – pelo es-
em Portugal, ao contrário dos Estados paço no qual possam plenamente ter lugar
Unidos da América, também colonizados, as artes cênicas em sua primeira e essencial
que herdaram uma forte tradição teatral da versão, o teatro.
Inglaterra. Nem mesmo no século XX é pos- A José Dias e seu Teatros do Rio, ficamos
sível deixar de notar a frequência com que todos, por isso mesmo, agradecidos e deve-
teatros desaparecem, infelizmente, como dores.
cons­­­­tata José Dias em sua pesquisa, com
o aparecimento de novos edifícios teatrais
que compensem as perdas. Barbara Heliodora

18 Teatros do Rio
Introdução

...De pé, à entrada da porta, acolho, tam- Ouro Preto e Sabará, em Minas Gerais; o
bém eu, os meus hóspedes e desejo-lhes Teatro de Santa Isabel, em Recife; o Teatro
que se divirtam na minha festa: os hós- da Paz, em Belém; o Teatro Amazonas, em
pedes são constituídos por um milhão Manaus; o José de Alencar, em Fortaleza; o
de convidados... Abro as portas desse São Pedro, em Porto Alegre; o Santa Rosa,
livro aos meus caros amigos, artistas, em João Pessoa; o Álvaro de Carvalho, em
sejam eles pintores, escultores, músi- Florianópolis; o 4 de Setembro, em Teresi-
cos, poetas ou arquitetos. Abriram alas, na; o Deodoro, em Maceió; o Alberto Ma-
como é de praxe, para deixar as belas ranhão, em Natal; ou o Municipal e o João
damas, em primeiro lugar. Virão sábios Caetano, no Rio de Janeiro. A maioria deles
também. Mas, como tenho de tratar constitui obra de grande interesse histórico
de uma matéria especial, são hóspedes e artístico.
que me intimidam um pouco. Quando se pensa em arquitetura cênica
Gordon Craig, do Brasil percebe-se que há um manancial
A arte do teatro imenso de estudos, ainda bastante inexplora-
do, mas o campo é vasto demais, impossível
de ser abarcado no âmbito de uma só obra.
Embora o teatro no Brasil tenha existido Sobretudo quando se pretende ver a questão
desde o primeiro período de sua coloniza- sob os mais diversos ângulos. Grande ilusão
ção, só começou a apresentar um nível artís- foi pensar, a princípio, que seria exequível a
tico e cultural apreciável a partir do século proposta de apresentar todos os teatros do
XIX, após se ter instalado no Rio de Janeiro território nacional. Interessava-me compa-
a Família Real Portuguesa, durante as guer- rar as soluções encontradas nos mais impor-
ras napoleônicas. Muitas centenas de teatros tantes teatros do Brasil e iniciei uma com-
foram construídos pelo território brasilei- paração entre as regiões, seus quilômetros
ro afora, desde a inauguração, em 1746, da quadrados de ocupação, população e número
Casa da Ópera de Vila Rica (Teatro Ouro de casas e sua distribuição pelos espaços. Mas
Preto) em Minas Gerais. Pode-se pensar nos fui constatando, desde a primeira etapa do
teatros que ainda permanecem, como os de levantamento de dados, que o total de 1.167

Introdução 19
Teatro Ouro Preto, Ouro Preto, MG
Teatro Ouro Preto, 1969, sem escala (S.E.)
Teatro Ouro Preto, Ouro Preto, MG. Planta baixa
Teatro Ouro Preto, Ouro Preto, MG. Corte longitudinal

teatros, cineteatros, auditórios, centros cul- uma história da própria trajetória das casas
turais, casas de cultura, espaços alternativos, de espetáculos no estado a ser pesquisada,
conchas acústicas, circos, pavilhões etc., descrita e analisada criticamente, tanto no
programados para atingir uma população de tocante aos projetos dos teatros e das caixas
aproximadamente cento e cinquenta milhões cênicas propriamente ditas, quanto às dife-
de habitantes, constituiria uma aberração em renças específicas entre os projetos, sua evo-
termos de pesquisa. lução técnica, adaptações e reformas duran-
Estabeleci, então, um recorte espacial no te o longo período de tempo que nos separa
estado do Rio de Janeiro, onde poderia não do início do século XIX.
só estudar os grandes teatros, mas também Nem sempre esses dados são fáceis de se
outros espaços cênicos. Deste modo, pode- recuperar, considerando a forma com que as
ria chegar ao perfil de uma política cultural documentações são tratadas em certas insti-
desenvolvida pelo estado, por meio do exa- tuições públicas, assim como o fato de que
me da proporção entre o público estimado muitos teatros foram totalmente destruídos.
e a população do estado naquele momento. O passo incial foi a elaboração de um ma-
Ou suscitar reflexões sobre a concepção de peamento regional dos teatros no estado do
teatro dominante, num determinado perío- Rio de Janeiro, seguido do levantamento
do. A título de exemplo, posso mencionar a histórico dos principais teatros, para dis-
constatação de que data de mais de quarenta cutir as várias transformações e tendências
anos o contato do público com espaços cê- constatadas ao longo dos anos. Este levanta-
nicos alternativos, como também coincide mento pode ser considerado um verdadei-
este fato com a atitude dos próprios artistas ro trabalho arqueológico, tal a dificuldade
de se tornarem menos exigentes em relação apresentada. Aos poucos foram-se revelando
às condições técnicas de seu local de trabalho. os aspectos históricos dos vários teatros do
Ainda assim é vasto o campo de análise, estado do Rio de Janeiro e foi-se configuran-
mesmo que se reduza e se delimite ao terri- do a principal proposta desta obra: analisar
tório do estado do Rio de Janeiro. Há toda as casas de espetáculo localizadas na cidade

Introdução 23
Teatro Municipal de Sabará, Sabará, MG. Planta baixa

do Rio de Janeiro e os principais teatros do essas últimas oferecendo material para co-
estado, avaliando, sempre que possível, as nhecimento do processo de transformação
condições técnicas em que foram projetados por que passaram, absorvendo técnicas
e construídos, de modo a permitir um pa- apropriadas ao fazer teatral. Pelas plantas
norama histórico específico da arquitetura (material escasso em função do pouco cui-
cênica em nosso estado. dado com a memória das casas de espetá-
Além do interesse que o tema por si só culos, o que, diga-se de passagem, descobri
desperta, minha escolha deveu-se à própria ser a característica mais lamentável do estu-
atividade profissional que exerço, não ape- do das artes cênicas no Brasil), pelo material
nas por trabalhar como cenógrafo em vá- iconográfico e por todo um levantamento
rios estados do país, como também por ter histórico, busco analisar as soluções e limi-
sido responsável por inúmeros projetos, tações dos espaços teatrais.
reformas e adaptações de teatros, tanto Este material foi coletado em arquivos pú-
no Rio de Janeiro, como fora dele – mais blicos, bibliotecas, fundos de quintal, porões,
especificamente de caixas cênicas –, traba- em lugares mais inusitados. Foi enriquecido
lho que venho desenvolvendo ininterrup- por depoimentos coletados pessoalmente
tamente há muitos anos. Com isso, tive a por meio de questionário e entrevistas com
oportunidade de me defrontar com proje- arquitetos, cenógrafos, cenotécnicos, ilumi-
tos e propostas dos mais variados portes e nadores, administradores, diretores e artistas
estilos, tanto para teatros como para cen- que trabalharam nos teatros em questão, bus-
tros culturais e parece-me que agora toda cando esclarecer as características principais
essa experiência poderá se constituir em e os detalhes das diferentes soluções, limita-
material farto e útil para minha pesquisa e ções, possibilidades e problemas encontra-
para a subsequente análise crítica. dos, tanto nos projetos como nas implanta-
Esta obra também permite a abordagem ções de cenografias nesses espaços.
de uma série de diferenças específicas entre O recorte geográfico ainda levou a outra
teatros e espaços para atividades culturais, frustração: tive que reduzir o escopo da aná-

24 Teatros do Rio
Teatro Princesa Isabel, Recife, PE / Pavimento térreo

lise crítica com que pretendia, nos teatros formas, transformações e modificações por
levantados, tratar o estudo das caixas cêni- que passaram ao longo dos anos. O máximo
cas dos teatros no Rio de Janeiro, objetivan- que consegui foi não reduzir a abrangência
do possibilitar a avaliação de suas condições territorial: a cidade do Rio de Janeiro e as
técnicas, no panorama geral da história da principais áreas do estado. Também não abri
arquitetura cênica, bem como as circunstân- mão de explorar, no século XX, a diversi-
cias e os resultados obtidos através das re- dade de apresentação e a utilização dos es-

Teatro Princesa Isabel, Recife, PE

Apresentação 25
paços cênicos, dedicando especial atenção encontrar alguns estudos já realizados, apesar
às transformações pelas quais esses espaços de poucos, e observar as diferentes trajetó-
foram passando, às influências a que foram rias dessas casas de espetáculos.
sendo submetidos os teatros ao longo das Para o estudo crítico, histórico e técni-
diversas situações históricas por que passa- co desses espaços, muitas vezes procurei
ram e às adaptações que sofreram na busca transportar-me para essas casas e suas áreas
de reutilização de antigos teatros como casas de representação, como se também estives-
de espetáculos mais modernas. se participando efetivamente do elenco de
Esta apresentação histórica e análise das diversos grupos ou, em alguns momentos,
possibilidades e limitações dos teatros, trans- fosse o próprio encenador. Esse exercício
portou-me para a realidade cultural e políti- de sensibilidade colaborou bastante para o
ca do Brasil, vista por um ângulo crítico do encontro das soluções e me permitiu re-
universo dos grupos e companhias em nosso ver as encenações que por esses espaços já
panorama teatral. Para investigar cada casa passaram como quadros vivos, me sentindo
de espetáculo, a criatividade foi duplamen- parte desses quadros, tentando compreen-
te posta à prova: se de um lado, impunha-se der criativamente os espaços propícios aos
encontrar a melhor forma de abordagem dos encenadores, as imagens vistas pelo público,
teatros, de outro, estava limitado, na maioria os ares respirados nos bastidores.
das vezes, pela escassez e dispersão dos ma- Questões me deixavam inquieto e me de-
teriais disponíveis. Todavia, foi gratificante safiavam diante de cada estudo. Pretendia

Teatro da Paz, Belém, PA

26 Teatros do Rio
Teatro Amazonas, Manaus, AM / Planta baixa

Teatro Amazonas, Manaus, AM

27
Teatro José de Alencar, Fortaleza, CE / Pavimento térreo (plateia)

Teatro José de Alencar, Fortaleza, CE


Teatro São Pedro, Porto Alegre, RS / Planta baixa

Teatro São Pedro, Porto Alegre, RS


Teatro Santa Rosa, João Pessoa, PB / Primeiro pavimento, (S.E.)

Teatro Santa Rosa, João Pessoa, PB


realizar uma investigação das características e Há nos conceitos emitidos uma grande
das possibilidades técnicas de cada um desses influência da minha própria prática de ce-
teatros, mas aos poucos fui me afastando do nógrafo. O contato com este universo me
alvo desejado, sobretudo por dois motivos: fez ver que, para um edifício teatral, não há
primeiro, pela falta de dados precisos, plan- fórmulas prontas, mas há, sim, alguns prin-
tas, registros, fotografias que me permitis- cípios que merecem ser respeitados, a par-
sem examinar com segurança a utilização e tir dos quais se obtém o bom resultado de
transformação das caixas cênicas; segundo, uma proposta cênica. Esses princípios dizem
porque fui me deixando seduzir pelos acha- respeito às condições e possibilidades de re-
dos, pela crônica, pela vida teatral revelada cursos técnicos, elementos fundamentais ao
a cada nova descoberta. Cheguei à conclusão conjunto de uma encenação, porque propi-
de que poderia transformar a escassez de in- ciam soluções necessárias ao fazer teatral.
formações técnicas numa riqueza de catálo- A pesquisa parte da inauguração do pri-
go, de inventário, numa espécie de dicionário meiro edifício teatral no antigo Rossio, hoje
dos teatros do Rio de Janeiro, que servisse Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, e segue
de fonte de consulta para estudiosos da área até junho de 1999, permitindo algumas re-
e futuros pesquisadores, ponto de partida flexões sobre os contrastes surpreendentes
para novas investigações que eu mesmo vies- no confronto das casas de espetáculos do
se a desenvolver. Detive-me então a trabalhar Rio de Janeiro, Capital Federal de 1890,
detalhadamente os teatros, para detectar, com os teatros atuais. Considera também o
sempre que possível, as opções dos projetos, panorama da constituição física da própria
as distribuições apresentadas pelo conjunto cidade e seus índices populacionais.
arquitetônico. Fui percebendo como a evo- Fui pinçando alguns traços relevantes
lução dos espaços cênicos refletia uma rea­ deste panorama da trajetória das casas de
lidade cultural, vista através do espelho de espetáculos. Quanto ao estilo, por exem-
uma comunidade inquieta e ansiosa por uma plo, a chegada da Corte trouxe o neoclassi-
transformação teatral. Busquei ver como os cismo de influência francesa, como no caso
teatros abriram-se para as mudanças de ence- do Real Theatro São João, mas lentamente
nações e como ofereceram recursos técnicos os elementos clássicos foram mesclando-
a grupos ou companhias, como base de sus- -se às formas do colonial herdadas, criando
tentação que garantisse a qualidade dos espe- uma arquitetura híbrida. Quanto ao públi-
táculos, tanto para um grupo experimental co, registre-se que a modificação nos há-
quanto ao chamado “teatrão”. bitos e comportamentos é notável desde
O critério de análise adotado não buscou meados do século XIX: se no decorrer do
valorizar apenas a funcionalidade dos espa- Segundo Reinado contava-se com a presen-
ços, já que na maioria das vezes não teria ça significativa da elite econômica e inte-
dados suficientes para isso, mas também a lectual nos teatros, na República, com sua
realidade cultural da época. O primeiro pas- estrutura mais democratizada, os teatros
so para avaliação dos projetos foi a análise popularizam-se, mas também encontram
histórica, seguida da descrição dos espaços modelos arquitetônicos sofisticados, como
com suas características físicas, levando em o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, do
conta, sempre que possível, as diferenças de início do século XX.
estilos entre o teatro tradicional e o teatro Quanto à localização, constata-se que, no
experimental. surgimento das edificações de casas de espe-

Introdução 31
Teatro Álvaro de Carvalho, Florianópolis, SC / Planta baixa

Teatro Álvaro de Carvalho, Florianópolis, SC


táculo, a partir do século XIX, houve prefe- palco. Mesmo que balcões e galerias tenham
rência pelo Centro da cidade, onde existiam permanecido, os acessos e as áreas internas
os cafés e clubes, locais que, ao lado dos tea- perderam o sentido do encontro social, tor-
tros, foram de grande significação para a for- nando-se simplesmente áreas de circulação; e
mação cultural e social do povo. A frequên­- os camarotes perderam a razão de ser, já que
cia aos teatros era, sem dúvida, na época, o encontro social era realizado no foyer do
tão importante como ato social (o público ia teatro. Ainda que a divisão por classe social
ao teatro para ser visto) que os teatros eram permanecesse nos teatros que possuíam bal-
demolidos, reconstruídos, reformados sem- cões e galerias, a divisão da plateia por classe
pre no mesmo local, onde existiram antes. tinha perdido o significado. Democratização
Quanto ao espetáculo, no século XX a acentuada pela implantação dos teatros de
alteração mais significativa na história da vanguarda, com o surgimento de novos es-
cena se deu a partir de 1943, quando ocor- paços, que veio alterar totalmente a relação
reu a revolução cênica, de caráter moder- palco/plateia, ator/público, permitindo ca-
nista, significando renovação e ampliação racterizar melhor o espaço cênico a partir da
do horizonte artístico, acompanhada de ação dramática.
apoio material dos poderes públicos e de- Com o surgimento da televisão, marca-se
senvolvimento cada vez mais significativo o desvio de grande parte do público de tea-
de entidades culturais, do amadorismo e de tro; inaugura-se um novo tipo de comporta-
outras iniciativas. mento social. Depois, a expansão imobiliária,
Como datas e passagens principais, pode- a degradação das salas de espetáculo e a se-
-se destacar a aglutinação em torno das casas gurança passam a constituir fatores determi-
de espetáculos, cafés, clubes e music-halls, em nantes no deslocamento dos teatros, primei-
1930, quando os monumentos arquitetôni- ro para os bairros da zona sul do Rio, depois
cos de teatro vão deixando de existir, para para outros centros de lazer – os shoppings
passar a fazer parte do volume arquitetônico – que podiam oferecer teatros com ar-condi-
dos prédios comerciais e residenciais, ain- cionado e poltronas confortáveis. Apesar de
da que tenha-se buscado manter a forma do construídos, muitos deles, fora de especifica-
palco italiano. Chamo atenção para o fato de ções técnicas, eram porém, próximos às áreas
que, a partir de 1951, as casas de espetácu- residenciais, facilitando a frequência do pú-
los tenham sofrido mudanças substanciais, blico e, consequentemente, levando ao aban-
com novas técnicas de iluminação, acústica, dono do Centro da cidade, que por um longo
visibilidade e conforto, tendo desapareci- período, deixa de ser o catalisador da efer-
do alguns componentes técnicos do teatro, vescência cultural, ficando completamente
como a profundidade do proscênio e o fosso desabitado no fim de semana, quando cessa a
de orquestra. Também a parte reservada ao função de abrigo de escritório e instituições
público passou por redimensionamento. Em administrativas e comerciais que exerce du-
vários teatros, começaram a eliminar as frisas rante a semana.
e os camarotes, pois o público não ia mais ao Mesmo que a carência de registro e o
teatro para ser visto e sim para participar ou tempo não tenham permitido analisar todos
tentar uma comunhão com o espetáculo. As os teatros que possuímos no estado do Rio
poltronas então tiveram um novo desenho de de Janeiro, nem destacar, por exemplo, as
implantação e já não eram mais uma atrás das temporadas de óperas, comédias, dramas,
outras, e sim alternadas, facilitando a visão do revistas, bailados, concertos, os espetácu-

Introdução 33
Teatro 4 de Setembro, Teresina, PI / Planta baixa

Teatro 4 de Setembro, Teresina, PI / Corte longitudinal


Teatro 4 de Setembro, Teresina, PI

los que brilharam nos palcos, ou as visitas possuíssem uma estrutura sólida e recursos
de companhias estrangeiras e seus elencos, técnicos necessários e suficientes ao fazer
que todos os anos vinham ao Rio de Janeiro, artístico, quando, na verdade, eram caixas
procedentes da Europa, procurei indicar a sem a menor condição técnica, precários lo-
existência do maior número de teatros, mes- cais de trabalho de artistas, que a cenografia,
mo os de pequeno porte, ou de vida curta. através da ilusão que permite criar, tentava,
Tentei, o mais possível, traçar um panorama da melhor maneira, esconder.
geral dessas biografias, algumas tão efêmeras, No entanto, muito pouco da precariedade
interrompidas por incêndios, que levaram a das condições dos teatros estava visível nas
reconstruções, reformas, restaurações. informações coletadas, sobretudo em perío­
A história dos teatros é uma história de dos de inauguração, porque os administra-
permanentes mudanças, não só decorrentes dores estavam em geral mais preocupados
das tragédias que sofreram, como por con- com as festividades, que davam manchete e
sequência das más administrações responsá- permitiam melhor divulgação por jornais,
veis pelo péssimo estado de conservação, hi- periódicos e revistas. Contudo, as informa-
giene e segurança que a maioria dos teatros ções que se obtêm são pouco confiáveis: de
apresentou. As soluções para os problemas centenas de casas de espetáculos, contam-
foram as mais improvisadas, algumas total- -se numa mão de cinco dedos os teatros que
mente cenográficas, apenas com intuito de possuem hoje um material iconográfico con-
maquiar fachadas e plateias. Apenas as caixas fiável. Foi uma luta árdua, sofrida e solitária
cênicas permaneciam intocáveis, como se para chegar ao que está exposto nesta obra.

Introdução 35
Teatro Deodoro, Maceió, AL

Teatro Escola de Natal, Natal, RN


Em muitas ocasiões só com artistas aposen- como o Lyrico, São Pedro de Alcântara, ca-
tados é que pude ter acesso aos documentos. sas por onde passaram grandes espetáculos,
A verdade é que a memória do edifício tea- locais para onde acorreu toda a sociedade
tral não tem registro, são poucas as plantas ou do Rio, testemunha do esplendor de en-
fotografias de que se dispõe para uma análise, cenações. O teatro São Pedro, demolido e
e quando existem, a maioria não é datada ou reconstruído para permitir o alinhamento
não assinala o local, gerando dúvida e falta de da Avenida Passos e Rua Luís de Camões,
confiança quanto ao seu valor histórico. dando origem ao Teatro João Caetano, é
Com o passar do tempo muitas casas de uma prova de como as inúmeras reformas
espetáculos foram sendo destruídas, risca- sofridas podem sacrificar não só o estilo ca-
das do mapa da cidade do Rio de Janeiro, racterístico da construção de época, como
para que o progresso urbano e a ganância a qualidade técnica.
imobiliária tomasse conta de tudo. O polo Mas as demolições nem sempre foram
cultural, que era a Praça Tiradentes com obrigadas pelo desenvolvimento urbano, al-
seus inúmeros teatros, foi perdendo espa- gumas vezes foram originadas de interesses
ço para os cinemas que eram construídos políticos ou de falta de objetividade e lisura
no próprio Centro da cidade e nos bairros, administrativas. Não há como ficar imune à
roubando seu público. Mesmo assim, alguns demolição inútil do Teatro São José, exem-
prédios permaneceram como bens cultu- plo doloroso da especulação de que muitos
rais, lutando por manter seu espaço e por teatros foram vítima.
permanecer símbolo expressivo do cenário
cultural da cidade. Desapareceram teatros Teatro Alberto Maranhão, Natal, RN

Introdução 37
Surgiram em Copacabana, Urca e Ni- embora as instalações de plateia estejam, de
terói os cassinos, que levavam uma gran- modo geral, relativamente bem conserva-
de parte do público atraído pelos shows e das. Diante dessas, as companhias paulistas
pelo jogo. Este público de classe média e e cariocas que queiram montar espetáculos
alta passou então a frequentar assiduamen- em teatros de outras cidades do país, com
te essas casas de espetáculos, enquanto os raríssimas exceções, não podem ser fiéis às
teatros tentavam sobreviver com as revistas versões originais das produções em excur-
e suas coristas seminuas. Depois da proi- são. Isso impede o atendimento à necessi-
bição do jogo, pela Constituição de 1946, dade básica de comunicar ao espectador a
o público não voltou ao teatro, foi para os beleza formal concebida para a encenação,
night-clubs, que ficavam espalhados pelos prejudicando a imagem de cada espetáculo
bairros da zona sul do Rio. oferecido. Sabe-se que só desenvolvendo o
Com o golpe de 1964, os teatros perde- teatro como veículo de diversão e cultura
ram sua frequência, muitos ficaram fechados das populações das duas cidades mais im-
por longo tempo, sendo os artistas e os in- portantes do país, embora ainda com defi­
telectuais ameaçados pela censura. Políticos ciências, pode-se então estender os trabalhos
e mulheres elegantes já não circulavam nos apresentados nos grandes centros às princi-
bares e restaurantes. O momento criou um pais cidades do país.
hiato na nossa história cultural. O comportamento social das últimas dé-
As últimas décadas já conheceram a pos- cadas vem se revelando também na mudança
sibilidade de representações de todos os que acomete o público de teatro, exigindo
gêneros dramáticos, mostrando que a qua- novas soluções espaciais, de conforto e se-
lidade do teatro nacional não fica nada a gurança. Para acompanhar esta mudança, o
dever à de outros países. Mas a concentra- teatro também mudou, não mais sublinhan-
ção da produção teatral está identificada e do, na distribuição física do público a divisão
amparada pela acumulação de riquezas nas de classe social, mas tentando oferecer solu-
grandes cidades, de modo que a atividade ção adequada a uma perfeita comunhão com
teatral de maior expressão localiza-se nas seu público.
metrópoles: São Paulo e Rio de Janeiro, às Na organização dos temas e datas pelos
quais se seguem outras cidades onde há um capítulos, busquei acompanhar cada teatro
universo artístico fervilhante, porém com- de seu material iconográfico pertinente,
parativamente de menor destaque, como evitando criar um corpo de anexos descon-
Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e textualizados. Para indicações bibliográficas
algumas capitais do Nordeste. Para que este usei três expedientes: as notas, as referên-
quadro seja revertido, é necessário ainda cias bibliográficas específicas em final de ca-
um grande investimento por parte dos ou- pítulo/parte e a relação de obras gerais re-
tros estados brasileiros. feridas ou consultadas no final do trabalho.
Continua existir a grave barreira da de- Com esta obra, penso ter realizado um le-
satualização técnica dos teatros, em sua vantamento de grande interesse geral para a
maioria construídos no século XIX ou no história dos teatros do Rio de Janeiro, apre-
início do século XX, usando ainda maqui- sentando estudo inédito em nossa literatura
naria cênica superada, muitos mesmo sem o e trazendo contribuição original para biblio-
mais rudimentar apetrecho para apresenta- grafia sobre os edifícios teatrais e suas condi-
ção até de uma mise-en-scène do século XX, ções técnicas.

38 Teatros do Rio
Capítulo 1
O teatro do
R io de J aneiro no
contexto colonial
O Rio de Janeiro colonial era um vilarejo. Topografia de característica ainda agressi-
va. Os caminhos inóspitos, de difíceis acessos, cortados de charcos, pois o braço do
mar deixava extensos alagadiços. Muitos morros com estradas circundantes, flora
e fauna exuberantes e vielas fechadas por matas virgens. Depois da fortificação do
Castelo, vieram descendo mosteiros e conventos, igrejas, arcos e lapas. Aos poucos
apareceram chácaras e quintais, largos e praças, mercados, chafarizes e palácios.
No cenário quase indígena o progresso custava a chegar, levando meses os bri-
gues na travessia atlântica. No burgo triste, as festas religiosas, cultos e procissões
dominavam reinóis e nativos. Os jesuítas, tanto nas capitais como nas províncias,
nos pátios dos colégios, nos palanques improvisados, nos adros das igrejas, sempre
tentavam divertir o povo. Junto aos festejos, quase religiosos, lançavam mão para
distrair, de representações, canto e dança.
Sebastião Fernandes
Os primeiros séculos cenário a própria natureza: a selva. Às ve-
zes eram realizadas em igrejas. Quando se
Com a vinda dos jesuítas para o Brasil, no realizavam à noite, tudo era iluminado por
início da colonização, na segunda metade do tochas. Em praça pública, ou as representa-
século XVI, o teatro foi o meio de comuni- ções localizavam-se num só ponto, ou alguns
cação escolhido como mais adequado para personagens distribuíam-se em pontos fixos
o trabalho missionário, com o propósito de ao longo do trajeto de um cortejo formado
catequizar os índios das regiões litorâneas. pelo público, ao qual os atores se dirigiam
Através dele, criava-se a ilusão, estimulan- de suas janelas.
do a fantasia e permitindo uma aproximação Títeres de porta. Washt Rodrigues
entre a cultura local e as doutrinas religiosas
e sociais que os jesuítas desejavam ministrar.
O teatro catequético, portanto, não buscava
realizar objetivo artístico, mas propiciar o
convencimento daqueles espectadores, para
facilitar o processo da catequese.
Neste teatro, cujos gêneros predominan-
tes eram autos, comédias e tragédias, eram
utilizados os elementos da cultura indígena,
inclusive a língua, misturados a temas sacros
e/ou relacionados às circunstâncias que ha-
viam induzido cada representação. Os ato-
res eram índios domesticados, mamelucos
educados pelos jesuítas ou os próprios jo-
vens aspirantes ao sacerdócio e, como não
existiam ainda edifícios destinados à ativi-
dade teatral, as representações eram reali-
zadas nos salões de estudos dos jesuítas, nos
colégios, nas praças públicas, tendo como

Capítulo 1 | O teatro do R io de J aneiro no contexto colonial 41


Mapa do Rio de Janeiro de 1624
A baía do Rio de Janeiro e a cidade de São Sebastião. Desenho de Luís Teixeira
No Sul do país era menos frequente a tablado no local em que se efetuavam as
utilização de igrejas para as encenações do representações dramáticas. Uma ou outra
teatro dos jesuítas, enquanto, no Norte, era vez, encontram-se notícias de peças leva-
uma de suas características, o que de modo das à cena no Palácio do Governador, ou
algum agradava a sede da Igreja, em Roma. até mesmo na sede episcopal.
A utilização dos templos como abrigo era, Com as medidas da autoridade eclesiástica,
no entanto, uma imposição das condições a autoridade civil toma consciência da impor-
climáticas, pela falta de cobertura para o tância do teatro e, em um decreto de 17 de
público em dias de chuva. julho de 1777, recomendava a construção de
No século XVI, houve também o apare- teatros públicos confortáveis e permanentes,
cimento de divertimentos e autos popula- tendo em conta o grande valor educativo dos
res como o Fandango, a Chegança, a Con- espetáculos e reconhecendo sua necessidade
gada, o Bumba-meu-boi, todos realizados como escola de valor, de política, de moral e
ao ar livre. fidelidade aos soberanos.
O século XVII foi um período de deca- Expulsa das igrejas, a atividade teatral
dência cultural, suspendendo todo o pro- passa a encontrar seus novos e mais ade-
cesso que havia sido iniciado no século quados templos nos estabelecimentos de-
an­­­­­­terior. A guerra contra os franceses no signados como “Casa da ópera”, que come-
Maranhão; contra os holandeses na Bahia e çavam a surgir por toda parte na segunda
Pernambuco; entre os colonos e os jesuítas metade do século XVIII, todos de estilo ar-
em São Paulo causou um rompimento, es- quitetônico europeu. Além disso, mostra-
morecendo assim o movimento teatral. Por ram também, desde os tempos coloniais, o
outro lado, corroborou para esse declínio a quanto estava enraizada, tanto nas cidades
consolidação da obra missionária. Seguiu-se do litoral como nas províncias do interior,
um período de escassas atividades teatrais. a predileção pelo teatro. Deve-se desta-
As representações desse gênero, nessa épo- car, entretanto, que, durante todo o século
ca, passaram a se identificar com manifesta- XVII e XVIII, a Bahia foi o centro político
ções populares de regozijo ou com festejos cultural mais importante, com certeza por
religiosos e tinham lugar, na maioria das ve- ser a primeira capital da colônia, função
zes, em praça pública, revelando um outro que manteve até 1763.
aspecto característico do período: o aspecto Durante o Brasil colônia, entre a segunda
popular das atividades teatrais. metade do século XVIII e o início do século
Já no século XVIII, a tradição de espe- XIX, inúmeras casas de espetáculos foram
táculos teatrais é mantida, sendo organi- construídas no Brasil, sendo que a grande
zados nos conventos, nos adros, nas pró- maioria no Rio de Janeiro, conforme a re-
prias igrejas ou no interior dos palácios. lação a seguir:
Porém, em 13 de março de 1726, a au-
toridade eclesiástica, precisamente uma 1746 | Casa da Ópera de Vila Rica (Tea­tro
pastoral do Bispo de Pernambuco, José Ouro Preto – MG)
Fialho proíbe os espetáculos nas igrejas. (em outras cidades de Minas Gerais surgiram
Outra mais rígida, em 1734, chega a proi- Casas de ópera como: São João Del Rey, em
bir a representação de peças em quais- 1782, Paracatu, em 1783, e Sabará, em 1800)
quer locais. Resta, desta forma, a praça
pública, onde geralmente era erguido um 1760 | Teatro da Praia (Bahia)

44 Teatros do Rio
1767 | Casa da Ópera do Padre Ventura província foi feita no ano seguinte: Niterói.
(Rio de Janeiro) A mudança da denominação de município
Outros nomes: neutro para Distrito Federal foi feita com
• Ópera dos Vivos a Proclamação da República, situação que
• Casa da Ópera Velha persistiu até a transferência da capital do
• Casa do Padre Ventura país para Brasília, em 21 de abril de 1960.
Foi nesse panorama de capital que sur-
1770 | Casa da Ópera (antiga Casa de giram as primeiras construções especifica-
Fun­­­­­dição – São Paulo) mente destinadas à realização de espetácu-
los, com elencos organizados de atores, as
1776 | Teatro de Manuel Luiz chamadas de Casas da Ópera, muito prova-
(Rio de Janeiro) velmente para se distinguirem do teatro de
Outros nomes: marionetes ou de bonifrates. Os dois fenô-
• Ópera Nova menos, o teatro de bonecos e o de atores,
• Nova Casa da Ópera eram igualmente traços característicos do
• Nova Ópera teatro colonial do Brasil, à semelhança do
• Casa da Ópera de Manuel Luiz que acontecia em Portugal, influência do tea­-
tro espanhol, e, posteriormente, do francês
1793/1795 | Casa da Ópera e do italiano. No teatro de títeres eram mui-
(Largo do Palácio – São Paulo) to comuns as cenas religiosas, mas no teatro
de atores o nível dos espetáculos era bem
1798/1827 | Teatro Guadalupe (Bahia) baixo, e o elenco, constituído por mulatos
e mundanas – criaturas que viviam nas mar-
1794/1834 | Casa da Comédia gens da sociedade, já que a profissão de ator
(Porto Alegre) era considerada indigna – não teve nomes
de grande repercussão.
1800 | Teatro Sabará (Minas Gerais)
Títeres de capa. Washt Rodrigues

Em 22 de novembro de 1760 teve início


aquele que talvez tenha sido o primeiro ver-
dadeiro teatro público brasileiro: o Teatro da
Praia. O conselho municipal da Bahia entre-
gou a Bernardo Calixto Proença o encargo da
construção desse teatro, que abrigava 28 ca-
marotes, uma plateia, dividida para nobres e
plebeus e uma galeria para as mulheres. O se-
gundo, na Bahia, foi o Teatro Guadalupe (1798
a 1827, ano em que foi demolido). Era todo
de madeira, inteiramente forrado de pano.
A partir de 1763, a cidade do Rio de Ja-
neiro foi a capital do Brasil e, em 1834, na
Província do Rio de Janeiro foi destacada
uma área para constituir o município neu-
tro, sede do Governo Imperial. A capital da

Capítulo 1 | O teatro do R io de J aneiro no contexto colonial 45


Teatrinho de bonecos. Washt Rodrigues

Ainda nessa segunda metade do século atravessar a chácara do fogo, assim deno-
XVIII ocorreu um fato significativo, que foi minada porque nela se faziam fogos de
o reconhecimento oficial do teatro como artifícios, atual Rua dos Andradas1) e Rua
instituição de alto valor para a educação éti- da Vala (atual Uruguaiana), no trecho tam-
ca e política do povo, o que contribui para a bém denominado Quitanda dos Mariscos2,
mudança de mentalidade em relação a essa uma das primeiras casas de espetáculo do
arte e para que se verificassem tentativas Brasil, foi fundada pelo mulato Padre Ven-
para a formação de um teatro com nível ar- tura (Boaventura Dias Lopes) que é tradi-
tístico bem mais elevado. cionalmente considerado não só como seu
fundador, mas também por ser o empresá-
rio do teatro.
1767
Casa da Ópera do Padre Ventura ...Situava-se no lado direito da quadra en-
tre as atuais Ruas Uruguaiana e dos Andra-
A mais antiga Casa da Ópera do Rio de das, onde existe hoje a Estação do Metrô.
Janeiro, situada entre a Rua do Fogo (por Por essa razão o logradouro chamou-se

46 Teatros do Rio
A plateia. Washt Rodrigues
Enquanto os homens se divertem. Washt Rodrigues
Rua da Casa da Ópera, da Casa da Ópera
Velha e da Casa da Ópera dos Vivos.3

Foi inaugurada em 1767 e como de cos-


tume na época, por um elenco de negros e
mulatos. Sobre o fato, comenta Sebastião
Fernandes:

Em 1763, o Rio de Janeiro era burgo tris-


te, sem diversão. Havia uma figura muito
popular, o Padre Ventura. Religioso, cor-
cunda, tocador de violão e muito aprecia-
do pelas cantigas. O Conde da Cunha con-
vidou o Padre Ventura para reunir alguns
cômicos e lhe arranjou uma velha casa do
Largo do Capim, denominada “Casa da
Ópera”. O Padre Ventura era pardo. Além
de tocar violão, cantar lundus, sabia dançar
o fado. Como soubesse reger a orquestra,
e fosse também diretor de cena, ocorreu-
-lhe a ideia de ser empresário.4 À porta do Teatro Manuel Luiz. Washt Rodrigues

Ao que acrescentam outros historiadores sição interna é que podia ter sido copiada
do teatro5: o Padre Ventura regia a orquestra talvez do teatro do Bairro Alto ou outro
em trajes sacerdotais, para fundo musical qualquer dos velhos pátios de comédia,
às peças de Antônio José da Silva, o Judeu.6 então existentes em Lisboa.7
As atividades artísticas do Padre Ventura, ao
lado do teatrinho da Chica da Silva (no Ti- Muito pouco se sabe. “A crônica não con-
juco) podem ser considerados os primeiros servou maiores dados sobre o teatro.” 8 Foi
teatros com salas de espetáculos especial- construído para ser teatro, e segundo Augus-
mente construídas para este fim. to Maurício, “a sala não era de grandes dimen-
Sobre o edifício teatral, podemos citar as sões mas satisfazia as necessidades da época.” 9
palavras de Múcio da Paixão: A casa de espetáculo parece ter sido cha-
mada Ópera dos Vivos porque os artistas que
A Casa da Ópera do Padre Ventura só po- ali trabalhavam eram de carne e osso, di­­­­­
dia ser modelada pela de Lisboa, como ferentes dos que se apresentavam no Tea­tro
querem alguns, porque a Ópera do Tejo, de Marionetes e Bonifrates, do bairro Alto
destruída pelo terremoto de 1755, era de- de Lisboa, em que se apresentavam as co-
masiado monumental para que se fizesse médias de Antônio José, e também para se
cousa igual no Rio de Janeiro por aqueles distinguir da Casa da Ópera, que existiu em
tempos, e os teatros do Salitre e da Rua 1748, onde havia teatro de marionetes.
dos Condes foram edificados posterior- Sebastião Fernandes, no mesmo artigo ci-
mente à época em que se presume o Padre tado, refere-se à preferência dos jesuítas pe-
Ventura ter edificado o seu teatro. A dispo- los recursos usados para divertir o público.

Capítulo 1 | O teatro do R io de J aneiro no contexto colonial 49


Ópera dos Bonifrates, que se realizava dentro
de velhas salas.

O interessante é que tais manifestações de


teatro de marionetes tinha sempre ao lado
um cego tocando rabeca. Esta espécie de tea­-
trinho com bonecos de engonço seria mais
tarde superada pelos personagens de carne
e osso, com a denominação de Ópera dos
Vivos. Esta designação intrigou tanto Vieira
Fazenda, que, ao pesquisar cousas fluminen-
ses, achava mistério o que assim acontecia,
porque em Lisboa o teatrinho de bonifrates
era com fantoches e o Padre Ventura, com
gente de carne e osso, conseguia aqui uma
diversão semelhante.
Ficou conhecida pelos nomes: Ópera dos
Vivos, Casa da Ópera Velha e Casa de Ópera
do Padre Ventura.
O terreno do teatro do Padre Ventura foi
em parte sacrificado com a abertura da Ave-
nida Presidente Vargas. A Casa da Ópera foi
destruída por um incêndio em 1769, provo-
cado pelas fagulhas lançadas da boca de um
realístico dragão que lutava contra Jasão no
drama Os encantos de Medéa, de Antônio José
da Silva, o Judeu.

Vice-rei na foçura. Washt Rodrigues


1776
costume que persistiu ainda por algum tem- Ópera Nova ou Teatro de
po nos séculos seguintes ao XVI, à maneira Manuel Luiz
dos jograis, que vinham da Idade Média. Os
jesuítas faziam uso de três formas de repre- Sobre a escassez documental sobre as cir-
sentação: cunstâncias e dados que cercam esse teatro
e aquele que foi construído para substituí-
• O grupo de títeres de porta – junto a uma soleira, -lo, vale recorrer novamente a outro artigo
separada por uma colcha vermelha; publicado pela Revista de Teatro da Sbat, onde
é transcrita uma crônica de Artur Azevedo
• O grupo dos títeres de capote, que por serem am- sobre o assunto:10
bulantes, andavam pelas ruas, praças, adros de
igrejas, principalmente nas feiras; O primeiro teatro público a funcionar re-
• O grupo de títeres de sala, mais importante, a gularmente no Rio de Janeiro, segundo se
ópera dos fantoches, conhecida em Lisboa por tem notícia, foi o do Padre Ventura, conhe-

50 Teatros do Rio
cido também pelos nomes de Ópera dos Escrevendo em 1896, José Vieira Fazen-
Vivos, Casa da Ópera Velha e Casa do Pa- da disse que conseguiu apurar, após cinco
dre Ventura. Este teatro foi destruído pelo anos de consultas a meio mundo e pesqui-
incêndio, sendo então construído (em outro sas em arquivos; nada de substancial, en-
lugar) o Teatro de Manuel Luiz, conhecido tretanto, acrescentou ao trabalho de Mo-
pelos nomes de Ópera Nova, Nova Casa da reira de Azevedo. Na edição Garnier das
Ópera, Nova Ópera, e como o povo tem Comédias de Martins Pena aí figura como
memória fraca, igualmente Ópera Velha, introdução o Estudo sobre o teatro no Rio de
denominação que já fora dada ao teatro do Janeiro, devido a Mello Moraes Filho (José
Padre Ventura, isto após a inauguração, em Alexandre de). Nesse estudo, também
1813, do Real Teatro de São João. nada de substancial foi acrescentado ao
São muito escassas as notícias sobre trabalho de Moreira de Azevedo.
estes dois teatros. O essencial se limita Depois desses três grandes vultos da
àquilo que nos deixou o dr. Moreira de história desta cidade, pesquisadores apai-
Azevedo (Manuel Duarte) no seu livro xonados e infatigáveis, é de supor que nada
Pequeno panorama ou descrição dos principais mais se há de apurar a respeito desses dois
edifícios da cidade do Rio de Janeiro, cinco teatros. A obra deles é hoje rara e pouco
volumes publicados pelo Paula Brito, de acessível à bolsa geralmente desguarnecida
1861 a 1867, obra depois refundida em dos amantes da história do nosso teatro, de
dois volumes editados em 1877 pelo li- maneira que é pouco difundido o conheci-
vreiro B. L. Garnier com o título O Rio de mento dessa época.
Janeiro, sua história, monumentos, homens no- Artur Azevedo [...], apoiado em Mo-
táveis, usos e curiosidades. reira de Azevedo, mas acrescentando-lhe
comentários próprios, quando foi demoli-
Largo do Paço, cerca de 1824. Aquarela de Augustus Earle do o casarão construído por Manuel Luiz,

Capítulo 1 | o TeaTro do r io de J aneiro no conTexTo colonial 51


aproveitou o ensejo para lembrar aos seus de D. João V. [...] deve ser pronunciado
leitores de O Paiz, em artigo intitulado com respeito por quantos prezem a arte.
“O Teatro de Manuel Luiz”, estampado em Numa noite em que se representava uma
2 de novembro de 1903, o que de signi- das peças mais aparatosas do Judeu, os En-
ficativo encerravam aquelas paredes que cantos de Medéa, ardeu a Casa da Ópera, e
iam desaparecer. Pareceu-nos interessante o Padre Ventura, desgostoso, arruinado, su-
transcrever esse saboroso artigo em nos- cumbiu provavelmente ao seu infortúnio,
sas páginas, pois certamente será lido com porque nunca mais se falou dele... Debal-
agrado pelas modernas gerações: de se procura nas velhas crônicas desta ci-
“Vá o leitor ao Largo do Paço, que ho­­­ dade notícia sobre o prestimoso brasileiro,
je poderia se chamar o Largo do Passos de cujo nome ficou apenas um fragmento,
[Fran­­cisco Pereira, prefeito], e verá: estão aquele apelido irônico, Ventura, que tão
demolindo a casa fronteira à Secretaria de pouco se compadece com o seu destino.
Indústria, casa que, em 1862, foi assim des­­ Havia então, no Rio de Janeiro, certo
crita por Moreira de Azevedo [...]: “Edifi- Manuel Luiz, que de Portugal viera como
cada na rua que há entre o Paço da Câmara soldado, num regimento, o que não im-
dos Deputados e o Palácio, tem a frente pedia de ser dançarino e músico. Dizia-se
principal voltada para este último edifício. que tinha sido ator na sua terra, mas não há
Nesta face há uma porta e quatro janelas de certeza disso. Mello Moraes Filho atribui-
peitoril no segundo. A face que olha para o -lhe não sei com que fundamento, misérias
largo do Paço tem nove janelas em ambos e defeitos, falta de talento e caráter dúbio,
os pavimentos, e a que está voltada para a chegando a insinuar ter sido ele quem dei-
travessa do Paço [que separava esse prédio tou fogo ao teatro do Padre Ventura.
da antiga Câmara dos Deputados, a Cadeia O caso é que, logo depois do incêndio,
Velha] só difere daquela por ter no primeiro Manuel Luiz resolveu construir um teatro,
pavimento oito janelas e uma porta.” não afastado da corte como o outro, mas
Antes que desapareça o último vestígio mesmo em frente ao palácio do vice-rei, e
dessa casa, que tem o direito de figurar na levantou aquelas paredes, tão fortes, que
história do nosso pobre teatro, vou lem- resistiriam aos séculos se não as estivessem
brar nesta coluna, a sua história; não deixa demolindo agora, polegada por polegada,
de ser interessante e curiosa: com grandes esforços de picareta e alvião.
Em 1767, durante o vice-reinado do be- Infelizmente a crônica não conservou a
nemérito marquês de Lavradio [vice-Rei, data da inauguração do teatro, a qual deve
1769-1779], um padre por nome Ventura, ter sido em 1776, pouco mais ou menos;
brasileiro e homem de cor, abriu no largo não sabemos também qual foi a peça repre-
do Capim a Casa da Ópera, modelada pela sentada; só sabemos que o marquês de La-
de Lisboa, e fez aí representar todas ou vradio assistiu ao espetáculo, e que o nosso
quase todas as peças de Antônio José. Esse poeta Ignácio José de Alvarenga Peixoto,
teatro foi a primeira manifestação séria de o futuro inconfidente, recém-chegado da
arte dramática havida no Rio de Janeiro; o metrópole, e em vésperas de seguir para
nome de Padre Ventura, herói que necessa- Minas, a fim de tomar posse do cargo de
riamente lutou contra toda a sorte de pre- ouvidor do Rio das Mortes, recitou, naque-
conceitos – imaginem um padre, e mulato, la noite, de um camarote [soneto] oferecido
metido a empresário de teatro no século ao vice-rei, seu protetor e amigo [...].

52 Teatros do Rio
O Marquês de Lavradio, homem de gos- tava do que melhor havia; as peças de An-
to, afeiçoado às letras e às artes, não deu tonio José e outros portugueses daquele
ouvidos de mercador a esse convite bom- tempo, e traduções, algumas bem detes-
bástico e sonoro; foi um protetor decidido táveis, das comédias de Molière e Goldo-
do teatro de Manuel Luiz. ni. O teatro de Metastasio, esse foi quase
A empresa prosperou. A sala, que tinha todo traduzido em Portugal e representa-
duas ordens de camarotes e uma tribuna do no Rio de Janeiro.
para o vice-rei, estava sempre cheia. O seu Uma das peças que maior concorrência
aspecto era agradável: tinha sido bem de- atraíam à Casa da Ópera era Les fourberies
corada por [Joaquim] Leandro11 [pintor da de Scapin, de Molière, traduzida, em Lis-
chamada “Escola fluminense”] o famoso ce­­­ boa, talvez pelo capitão Manuel de Souza,
nógrafo nacional. com o título Astúcias de Escapim. Tenho um
As principais atrizes eram Joaquina da exemplar impresso dessa tradução que não
Lapa, a quem chamavam a “Lapinha”, e Ma- é má, pois é bem portuguesa e conserva,
ria Jacinta, por autonomásia, a “Marucas”; quando possível, todo o espírito do gran-
os principais atores José Ignácio da Costa, de poeta. Por baixo da lista de pessoas que
que era poeta satírico e tinha uma alcunha falam nela, há a seguinte nota: “A cena se
pouco lisongeira, o “Capacho”, Ladislau, o figura em praça com várias casas, e esta
cômico mais engraçado da companhia. praça se finge ser a cidade de Lisboa, para
“Os atores, diz Moreira Azevedo, apa- onde se mudou a cena, para melhor per-
receriam vestidos, como então era uso, cepção dos espectadores”.
com as suas cabeleiras de rabicho, chapéus Quando, em 1779, o marquês de La-
à Frederico, fardas desabotoadas, redondas vradio se retirou para o reino, a Casa da
nas abas, camisas de folhos, calções e sapa- Ópera perdeu o seu maior protetor; toda-
tos de fivelas.” Representariam eles, assim via, continuou a prosperar durante o vice-
vestidos, os Encantos de Medéa e o Labirinto -reinado de Luiz de Vasconcellos [Vice-rei
de Creta? Provavelmente; na­­quele tempo, de 1779-1790], que era também amante
em Paris, que era Paris, ainda se notavam das artes [...]. Entretanto, a Casa da Ópera
as mesmas anomalias e anacronismos nos lá foi, tem-te-não-caias, até a chegada da
vestuários dos personagens de teatro. Família Real, em 1808.
Os anúncios dos espetáculos eram feitos Convencido, e não se enganava, de que
por bandos timbaleiros, que percorriam o Rio de Janeiro ia entrar numa nova era
toda a cidade; não havia jornais para nos de prosperidade, Manuel Luiz introduziu
transmitirem os respectivos programas, no seu teatro algumas reformas e melho-
que hoje seriam de tanto valor histórico ramentos, entre as quais uma arquibanca-
e literário. Em 1747 Antônio Isidoro da da superior aos camarotes, destinada aos
Fonseca estabeleceu aqui a primeira tipo- criados da casa real. Sobre a tribuna dos
grafia, que foi, aliás, queimada por ordem vice-reis apareceram então as armas reais.
da metrópole, e ainda em 1809 proibia o “O Príncipe Regente, diz ainda, Morei-
governo que se anunciassem livros sem a ra de Azevedo, não era muito amante de
sua licença! Que civilização poderia sair de teatro; gostava mais das festas de igreja;
um país colonizado assim? porém em certos dias de gala, como no
Entretanto, sabe-se, pela tradição oral, aniversário da rainha-mãe, ia sempre assis-
que o repertório da Casa da Ópera, cons- tir o espetáculo. Uma noite em que o prín-

Capítulo 1 | O teatro do R io de J aneiro no contexto colonial 53


cipe foi ao espetáculo, Manuel Luiz acom- ceu grandes momentos de glória, frequenta-
panhou-o de tocha na mão até o paço; por da pela elite da cidade do Rio Colonial.
isso, foi nomeado moço da câmara. Alcan- Ficou esse segundo teatro conhecido
çou também a patente de coronel do regi- como Teatro de Manuel Luiz, o nome de seu
mento dos pardos.” fundador e diretor, construído no Largo da
A Casa da Ópera durou até 1813, Assembleia, esquina do Beco dos Madeirei-
quando se inaugurou o Real Teatro de ros ou Travessa do Paço, dando frente para o
São João, hoje de São Pedro de Alcânta- Palácio dos Vice-Reis. Mais tarde chamado
ra. Teve, pois, uma existência de perto de Largo do Carmo, depois Largo do Paço e
quarenta anos, sem deixar na história da Praça D. Pedro II. Atualmente Praça XV, e
arte brasileira a repercussão que merecia, Rua da Assembleia. A área é hoje ocupada
devido à nossa miserável condição de co- pela Câmara dos Deputados.
lonos sem imprensa.
Manuel Luiz fechou o seu teatro e fez ...era naquele tempo defronte das pri-
doação da casa ao príncipe real, que man- meiras janelas do lado direito do palácio
dou adaptá-la para morada dos criados dos vice-reis, exatamente a mesma casa
do paço. O povo começou a chamar-lhe que depois ficou sendo uma dependência
a Ópera Velha, e mais modernamente a do paço...12
Ucharia do Paço.
Depois que deixou de ser teatro, esse Esse português, ex-barbeiro, ex-dan-
[prédio] [...] teve muitíssimas compli- çarino, ex-tocador de fagote numa banda
cações: morada de criados, tesouro do militar era protegido do vice-rei Marquês
paço, residência do almoxarife e de ou- de Lavradio (vice-rei de 04/11/1769 a
tros empregados da casa imperial; agên- 1779), manteve relações de dependência
cia da Estrada de Ferro Central do Brasil, do teatro para com o poder estabelecido,
depósito de acervo da extinta Inspetoria construindo um teatro luxuoso, para a
Geral das Terras e Colonização, escritório época, com abundância de cortinados de
de informações a imigrantes, Almoxari- damasco, dourados, candeeiros de prata,
fado da Repartição Geral dos Telégrafos, além das duas filas de camarotes, à direita
estação do Corpo de Bombeiros, casa localizado o camarote do vice-rei, orna-
particular etc. mentado com os brasões reais. O pano de
Não quis eu que o teatro Manuel Luiz boca, que representava Netuno num car-
desaparecesse de todo, sem que neste de- ro puxado por cavalos-marinhos, rodeado
sataviado artigo lembrasse aos leitores de por outros deuses e figuras mitológicas,
O Paiz que foi ali, por bem dizer, o berço tendo ao fundo a Baía de Guanabara, havia
da arte dramática do Rio de Janeiro.” sido pintado pelo apreciado pintor José
Leandro Joaquim de Carvalho.
Muito pouco se terá a acrescentar ao co-
mentário sobre o Teatro da Ópera Nova de Dois pavimentos, com janelas de peitoril,
Manuel Luiz, que veio substituir, em termos na fachada uma porta e quatro janelas no
de casa de espetáculo, ainda que em outro en- primeiro pavimento e cinco no segundo;
dereço a Casa da Ópera ou Ópera Velha do a face voltada para o largo do Paço apre-
Padre Ventura. Na administração desse em- senta nove janelas em ambos os pavimen-
presário teatral, a casa de espetáculos conhe- tos e, a que dava para a Travessa do Paço,

54 Teatros do Rio
tinha no primeiro pavimento oito janelas criados do Paço. José Leandro pintou novo
e uma porta.13 pano de boca.” 14
A rica e fascinante história das casas de
Esta casa conheceu os triunfos sociais do espetáculos do Rio de Janeiro iniciando a
culto e o galante Marquês do Lavradio, po- partir do início do século XIX, como par-
rém, tornou-se inadequada para uma cor- te do desenvolvimento cultural que o Rei-
te europeia, habituada às cenas de Lisboa. no Unido de Portugal e Algarve conheceu
Funcionou ativamente de 1776 a 1813, com após a vinda da Família Real. Este aconteci-
altos e baixos. Não há notícias do espetácu- mento veio impulsionar a atividade teatral.
lo que inaugurou o teatro depois de sua re- Acostumados à vida da metrópole, a Famí­lia
forma. Sabe-se que contratados por Manuel Real e os nobres de Lisboa sentiram falta
Luiz, lá trabalharam: José Inácio da Costa de diversões no triste burgo colonial. Uma
(Capacho), Joaquim da Conceição Lapa (La- corte habituada às salas de espetáculo nos
pinha), Maria Jacinta (Marucas), Francisca moldes italianos necessitava de um teatro
de Paula e a Cia. Lírica de Antonio Nascen- à altura de sua pompa. Tornara-se então
tes Pinto. insuficiente para os numerosos cortesãos
Com a vinda da Família Real para o Bra- aficcionados que chegaram com o Príncipe
sil, a Casa da Ópera de Manuel Luiz foi re- Regente a oferta pobre das terras d’além-
formada para receber o soberano, mas era -mar, e com o deslocamento do centro do
insuficiente para tantos novos espectadores poder do Terreiro do Paço para o Campo
que frequentariam o teatro, “construiu-se de Sant’Anna15, o Teatro de Manuel Luiz foi
uma galeria sobre os camarotes para os perdendo a importância.

Capítulo 1 | O teatro do R io de J aneiro no contexto colonial 55


Notas

1 A Rua do Fogo entre 1775 e 1780 teve as seguintes denomi- 8 AZEVEDO, M. D. Moreira de. O Rio de Janeiro... 3a ed. Rio de
nações: Rua da Pedreira da Conceição, Rua da Pedreira Que Janeiro: Brasiliana Ed., 1969, v.II, p. 156.
Vai Detrás da Sé, Rua da Pedreira e finalmente Rua do Fogo. 9 AUGUSTO MAURÍCIO. Meu velho Rio. Rio de Janeiro: Pre-
2 Alguns historiadores equivocaram-se quanto à localização feitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e
deste teatro, quando situam a casa da Ópera do Padre Ven- Cultura (s.d.), p. 101-2.
tura no Largo do Capim, local não muito distante da Rua do 10 Na Revista de Teatro da Sociedade Brasileira de Autores Tea-
Fogo. Autores como Múcio da Paixão (O Teatro no Brasil. Rio
trais (Sbat), n. 322, jul/ago de 1961, p. 8-15, encontramos um
de Janeiro: Brasília Editora, 1936, p. 69 -70.): “O mais antigo
artigo (sem autor) intitulado “O Berço da Arte Dramática
teatro do Rio de Janeiro foi a Casa da Ópera, perto do Lar-
do Rio de Janeiro”, e como subtítulo “O Teatro de Manuel
go do Capim, dirigida pelo Padre Ventura.” Segundo alguns
Luiz”. Pela importância do documento, transcrevo-o na ín-
historiadores era situada na Rua da Ópera dos Vivos, atual
tegra, como optei por fazer ao longo do livro com citações
Rua dos Andradas; segundo outros ficava no Largo do Ca-
de importância semelhante.
pim, sendo possível que as duas denominações se refiram
ao mesmo local. 11 Na verdade, o pintor e cenógrafo se chamava José Leandro
Joaquim de Carvalho.
3 CAVALCANTI, Nireu Oliveira. Rio de Janeiro. Centro histórico
1808-1998. Marcos da Colônia. São Paulo: Dreschner Bank 12 MACEDO, Joaquim Manuel de. Um passeio pela cidade do
Brasil, 1998. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garnier, 1991, p. 191.

4 Sebastião Fernandes num artigo “Casas de Espetáculos”, 13 AZEVEDO, M. D. Moreira de. O Rio de Janeiro; sua história,
Revista Dionysos, ano XXI, Dez. 70/71, n. 18, p.100-1. monumentos, homens notáveis, usos e curiosidades... 3a ed.
Rio de Janeiro: Brasiliana Editora, 1969, p. 156.
5 CAFEZEIRO, Edwaldo. Gadelha, Carmem. História do Teatro
Brasileiro. De Anchieta a Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: 14 PAIXÃO, Múcio da. O teatro no Brasil; Rio de Janeiro: Moder-

UFRJ/ Funarte, 1996, p. 91. na, 1917, obra póstuma. p. 79-82.

6 Antonio José da Silva (o Judeu), nascido no Rio de Janeiro 15 Chamou-se também Campo de Honra, por pouco tempo;
em 8 de maio de 1705 foi queimado em vida em 18 de ou- depois passou a Campo da Aclamação e, por fim, Praça da
tubro de 1739, por ordem do Santo Ofício, no antigo Campo República, por ocasião da Proclamação, nome que conserva
da Lã, em Lisboa. até hoje.

7 MÚCIO DA PAIXÃO. O Teatro no Brasil. Rio de Janeiro: Brasília

Editora, 1936, p. 69-70.


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Capítulo 2
O teatro de
uma capital ainda
provinciana
O teatro brasileiro, como atividade contínua, alicerçada por três elementos cons-
trutivos da vida teatral – atores, autores e público estáveis só começa, de fato, com
a independência.
Décio de Almeida Prado
A entrada do Brasil na história como e trazer a cultura que caracterizava a Europa
nação, encerrando definitivamente a épo- no início do século XIX, espelhando os va-
ca colonial, foi marcada pelo ano de 1808, lores europeus, principalmente os ingleses
quando, para o Brasil, encerra-se o século e franceses, que correspondiam aos padrões
XVIII: é a data em que Dona Maria I, a rai- da sociedade urbana que para cá se desloca-
nha louca, e seu filho, o Príncipe Regente ra. Era necessário construir teatros. O Prín-
João (o futuro Rei D. João VI), fugindo da cipe mandou edificar o primeiro, ao qual se
invasão napoleônica, vêm refurgiar-se, com seguiram vários no Rio de Janeiro, na pro-
toda a Corte, na grande colônia sul-ame- víncia e em diversas cidades e vilas do país,
ricana, onde estabelece a capital do novo em permanente processo de multiplicação,
Reino de Portugal, Brasil e Algarve, no Rio ao longo do século, atingindo um total de 23
de Janeiro. Embora o teatro no Brasil tenha na primeira metade. Os teatros vão se cons-
existido desde o primeiro século de sua co- tituir num dos inconfundíveis indicativos da
lonização, foi nos primeiros anos do século transformação de valores morais e culturais
XIX que ele começou a apresentar um nível na sociedade do século XIX.
artístico e cultural. Com a transmigração da Para dar início à transformação, chegou
Família Real e da Corte para o Rio de Ja- ao Brasil, em 1816, a Missão Artística Fran-
neiro, todos os setores da vida cultural se cesa, a quem foram confiadas as primeiras
desenvolveram, inclusive, e com destaque, tarefas. Eram ao todo dezesseis os membros
o teatro. da Missão, composta pelos artífices Jean
Pouco depois de sua vinda, o Príncipe Baptiste Level (mestre ferreiro e perito em
Regente determinou medidas econômicas e construção naval); Pilite (surrador de pe-
políticas, para que a cidade do Rio de Janei- les e curtidor); Fabre (curtidor); Nicolas
ro, escolhida para hospedar a Família Real, Magliori Enout (serralheiro); Louis Joseph
pudesse estar à altura das exigências da Cor- Roy e seu filho Hippolyte (carpinteiros e fa-
te portuguesa e se adequasse aos parâmetros bricantes de carros); François Ovide (enge-
da posição política e econômica por ela an- nheiro mecânico); e pelos artistas Joachim
siados. Não só isso, também era preciso afas- Lebreton (chefe); Jean Baptiste Debret
tar os padrões rurais, religiosos e patriarcais (pin­­­­tor histórico); Nicolas Antoine Taunay

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 61


Planta da cidade do Rio de Janeiro em 1817
(pintor de paisagens); Auguste Henri Vic- Na fase romântica, surgiram bons no-
tor Grandjean de Montigny (arquiteto); mes nacionais, que cultivaram os gêneros
Au­­­guste Marie Taunay (escultor); Charles mais conhecidos: a comédia, o drama, o
Simon Pradier (gravador); Segismund Neu- drama lírico, o vaudeville e, em menor es-
komm (compositor, organista e mestre de cala, a tragédia, sem esquecer o popular
capela); e ainda pelos auxiliares dos artis- me­­­lodrama. Ao movimento romântico, à
tas Grandjean de Montigny, Charles Louis semelhança do que ocorrera na Europa, se­
Levasseur e Louis Simphorier Meunié; e guiu-se a fase realista. Passaram então a ser
de François Bonrepos. Os artistas partici­ discutidas no palco as principais questões
param da formação da Imperial Academia sociais do momento. Passados cerca de trin-
de Belas-Artes, convidados a implantar um ta anos, porém, assinalou-se um período
modelo nas áreas de arte e arquitetu­­ra e de decadência, quando predominaram os
de responsabilizar-se pelo ensino. A pri- gêneros “opereta” e “revista”, assim como
meira tarefa foi criar monumentos pa­­ra fes- o drama de “capa e espada”, o repertório
tas e desfiles referentes aos acontecimen- passando a corresponder ao gosto de uma
tos da Família Real. Segundo uma tradição audiência de nível pouco elevado, resultan-
que se estabeleceria no Brasil, desejava-se te da popularização da frequência ao tea-­
a grandiosidade. tro, do rebaixamento do gosto e da exigên-
A política de incentivo à construção de tea­­ cia menos apurada do padrão do espetáculo.
tros no Brasil foi definida ao longo do sé-­ Em 5 de maio de 1900, o jornal O Paiz
cu­­lo XIX, com auxílios por parte do gover- publica matéria escrita por Artur Azevedo,
no, ou sob forma de loterias e subvenções republicada meio século depois, em 1959,
dadas às associações, com o propósito de pela Revista da Sbat, (n. 312) com o título
edificar casas de espetáculos formando o tea­ “Uma súmula da história do teatro brasi-
tro como uma instituição de relevância para leiro”. O Paiz, que no início do século se
a formação social do povo, um espaço apro- considerava “a folha de maior tiragem do
priado para formar uma sociedade, levando país”, decidira, por ocasião das comemora-
em consideração os padrões de civilidade que ções do IV centenário do descobrimento,
nesta época começavam a ser assimilados por fazer um balanço do que a nação tinha rea-
influências externas. O teatro seria um bom lizado, e coube a Artur Azevedo falar sobre
veículo condutor e transformador de valores o teatro. O texto de apresentação do artigo
e deveria participar ativamente da proposta do ilustre dramaturgo chama atenção para
mais vasta de conscientizar e instruir a socie- o fato de haverem algumas incorreções
dade para o progresso e para a civilização. (“pequenas nicas”, como chamaram) que
A construção dos teatros faz surgir uma foram corrigidas em outros artigos do pró-
vida teatral, animando o público, instigan- prio autor: por exemplo, “sobre o teatro de
do a criação e importação de companhias Manuel Luiz”,
de teatro e de grupos amadores, tanto
quanto a produção de textos dramáticos posteriormente contou ele que os es­pe­tá­
influenciados pelos movimentos literários culos continuaram em menores propor-
vindos da Europa, como o Romantismo, ções, depois de retirada do Marquês do
de 1833 a 1855, e o Realismo, que se pro- Lavradio para a Europa, cessando somen-
longou dessa data até os primeiros anos te após a inauguração do Real Teatro de
do século XX. São João.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 63


Mas nada compromete a visão aguçada e Ora, Alencar precisamente, escrevia
extremamente crítica que caracterizou a es- o seguinte, pouco tempo antes de mor-
crita deste importante homem de teatro. rer: “Era minha intenção suscitar algumas
Do texto de Artur Azevedo, intitulado “O ideias acerca da regeneração do nosso tea­
teatro dramático”, além do incrível poder tro, ou antes, da sua criação, pois nunca o
de síntese na abordagem dos principais fa- tivemos; nem alguns esforços individuais
tos que marcaram a vida teatral do país nos constituem uma literatura dramática”.
séculos anteriores, ressalto a amargura com Como se vê, não fiz mais que adotar o
que expõe a decadência do gosto na cultura parecer do nosso primeiro dramaturgo.
do final do século XIX, muito influenciado De então para cá o teatro brasileiro não
pelos estrangeirismos: deu um passo para frente; pelo contrário:
retrogradou, se é que pode retrogradar o
Há dias escrevi o seguinte, no número ex- que não existe.
traordinário com que a revista do Brazil Oxalá que me fosse dado hoje, que nas
Portugal comemorou o 4o centenário da colunas d’O Paiz se dá balanço à nossa ativi-
nossa terra: dade intelectual de quatro séculos, escrever
“É um lugar-comum que o teatro brasi- a notícia das vitoriosas campanhas do teatro
leiro está em decadência, que é necessário nacional! Possa ter esta satisfação o cronista
regenerá-lo etc., mas a dolorosa verdade é que escrever os artigos comemorativos do
esta: o teatro brasileiro nunca existiu. Há 5o centenário, e, conto que tenha, pois é in-
um grande número de peças teatrais espo- crível que o século XX não veja o advento
rádicas, escritas por autores brasileiros, e de nossa literatura dramática.
entre elas algumas que poderiam figurar, Não há civilização mais lenta que a ci-
com vantagem, na literatura de qualquer vilização teatral, e, quando não fôssemos,
país mais adiantado que o nosso; entretan- em matéria de arte, tão fáceis de conten-
to, o que até hoje se tem feito em prol do tar, restar-nos-ia, ao menos, a consolação
nosso teatro não passa de tentativas, a que de que em todos os outros países das duas
faltou a indispensável perseverança e que Américas, inclusive os Estados Unidos, a
não mereceram, desgraçadamente, a aten- literatura dramática é ainda mais incipien-
ção nem o estímulo dos governos. te que a nossa.
A verdade é sempre desagradável e Havia já dois séculos e alguns anos que
aquela então é uma verdade que nunca an- o Brasil tinha sido descoberto, quando a
dou disfarçada. Por isso, não admira que fama do teatro do Bairro Alto, de Lisboa,
o meu artigo fosse um tanto censurado teve a sua repercussão no Rio de Janeiro.
por alguns visionários que se deixam iludir Antes disso, a arte de representar não se
pela magia das recordações. manifestava por qualquer forma em terras
Um cavalheiro, que diverge, um tanto de Santa Cruz, pois não meto em linha de
acriminiosamente, da minha opinião, atira conta os teratológicos mistérios de José de
contra mim Silvio Romero, que aliás, negou Anchieta representados ao ar livre para
a existência de uma verdadeira literatura entretenimento e edificações dos índios.
dramática no Brasil; outro, ainda mais ir- Tivemos por aquele tempo a nossa Casa da
ritadiço, declarou em estilo dos tempos do Ópera, fundada pelo Padre Ventura, mesti-
S. Januário, que os manes de Alencar nunca ço inteligente e letrado, e depois a Nova Casa
me perdoariam artigo tão pessimista. da Ópera, construída pelo músico e dançari-

64 Teatros do Rio
no português Manuel Luiz. Pa­­ra esse teatro Como empresário – terrível coincidên-
vieram os primeiros atores portugueses que cia! – morresse no mesmo dia em que aqui
pisaram em terras americanas. chegou à companhia, depois de uma hor-
Com a retirada do vice-rei, conde de rorosa viagem, D. Pedro I tomou os artis-
Avintes, segundo Marquês do Lavradio, tas sob sua proteção.
grande protetor de Manuel Luiz, acabou a Mas nem por isso foram eles mais feli-
Casa da Ópera e só houve teatro no Rio de zes: dois anos depois, aos 7 de abril, o mo-
Janeiro depois da vinda de D. João VI, que narca saía barra fora e a companhia disper-
fez construir, por Fernando José de Almei- sava-se, abandonando o teatro, que passou
da, o Real Teatro de São João, e mandou a chamar-se Constitucional Fluminense.
vir de Lisboa duas companhias, uma dra- A companhia era tão numerosa, que se
mática e outra lírica. Da primeira faziam dividiu em três grupos; um deles alugou
parte os artistas mais festejados da metró- um teatro particular que havia na Rua dos
pole, e a segunda trazia como regente da Arcos, outro foi dar espetáculos em Nite-
orquestra Marcos Portugal, de quem falou rói, e o terceiro, em que figuravam Ma-
o meu colega Oscar Guanabarino. nuel Soares e Ludovina, construiu o Teatro
Depois da inauguração desse teatro, em da Praia de D. Manuel, depois chamado de
12 de outubro de 1813, outros se cons- S. Januário, e inaugurou-o em 1834.
truíram nas principais cidades do Brasil; Um ano antes aparecera João Caetano
mas até hoje nenhuma província fez por si dos Santos.
mesma qualquer esforço em prol da arte O grande artista mourejou a princípio
dramática. Organização de mesas censó- aqui e ali, no teatro de Niterói, no do Va-
rias, pequenas subvenções, dadas, na maior longo (construído especialmente para ele)
parte dos casos, a companhias estrangeiras, e no de S. Januário, até que, em 7 de se-
e disso não tem passado a intervenção dos tembro de 1839, tendo organizado uma
governos provincianos. companhia da qual fazia parte Estela Se-
Ultimamente, depois de inaugurado o zefredo, com quem se casou, reinaugurou
regime republicano, tem-se notado tal ou o Constitucional, que de novo se intitulou
qual desejo e emancipação artística; mas de S. Pedro de Alcântara, denominação que
os primeiros sinais bruxuleiam apenas. tem conservado até hoje.
Por conseguinte, falando de movimento Naquela noite foi representada pela 1a
teatral no Rio de Janeiro, abrangeremos vez a tragédia Olgiato, de Domingos José
todo o país. Gonçalves de Magalhães. Parecia que o
A 25 de março de 1824 pegou fogo pela teatro brasileiro nasceria naquela oca-
primeira vez o Real Teatro de São João, sião, mas assim não foi. João Caetano não
que estava condenado a mais dois incên- compreendeu que estava nas suas mãos
dios; rapidamente reconstruído, o teatro a nacionalização do nosso palco. De Ma-
foi de novo inaugurado aos 22 de janeiro galhães, o que ele mais apreciava eram
de 1826, intitulando-se então Imperial as traduções de Daucis, e quando apare-
Tea­tro de S. Pedro Alcântara. ceu o incomparável Luiz Carlos Martins
Fernando José de Almeida, o proprietá- Pena, criador da comédia nacional, o
rio, mandou contratar em Lisboa uma com- Frederick Lemaitre brasileiro não com-
panhia dramática da qual faziam parte os preendeu também que esse moço era um
famosos artistas Manuel e Ludovina Soares. predestinado.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 65


Que resultou daí? O autor de O Noviço déspota em todos os espíritos, apagaram-
não nos deixou senão farsas, levando con- -se as últimas esperanças.
sigo para a eternidade, aos 33 anos, todos Furtado Coelho prestou mais relevan-
os seus sonhos de arte, e do genial artista tes serviços à arte dramática no Brasil, e
não se aponta a outra criação notável, em foi, depois da invasão alcazariana, o único
peça brasileira, que não seja o papel de An- empresário e ator que conseguiu, com ele-
tônio José, na tragédia de Magalhães. mentos reunidos no próprio país, dar-nos
Como, desde o êxodo produzido pela o teatro exclusivamente literário; mas não
revolução de 89, houvesse uma impor- se pode dizer que esses serviços aprovei-
tante colônia francesa no Rio de Janeiro, tassem a literatura brasileira.
a qual ainda mais importante se tornou Não é que nos faltassem nem nos faltem
depois que D. João VI trouxe alguns artis- aptidões; mesmo depois da débâcle, apa-
tas notáveis daquela nacionalidade, a nossa receu França Júnior, um continuador de
capital foi sempre visitada por artistas pa- Martins Pena, e apareceram outros autores
risienses, e estes eram tão bem recebidos, cuja nomenclatura tomaria muito espaço.
que alguns deles edificaram em 1832, o E nas províncias (basta citar um Agrário de
teatro que se chamou de S. Francisco e se Menezes, no Norte e um Arthur Rocha,
chamava Ginásio quando há alguns anos foi no Sul) não faltaram bons cultores da lite-
transformado em clube carnavalesco. ratura dramática.
Foi então que o gosto pelo teatro francês Atores notáveis tivemo-los, vindos de
se implantou deveras na população flumi- Portugal e educados no Brasil, como Areias
nense; João Caetano, que tinha músculos e Guilherme de Aguiar, ou nascidos no
para lutar contra ele, deixou-se levar na Brasil, como Vasques, Martinho, Peregri-
corrente! Pode-se mesmo dizer que ele an- no, Pimentel, Fraga, Xisto Bahia e tantos
tipatizava com as peças nacionais, embora outros. Ainda nos restam muitos artistas,
recebesse uma subvenção do Estado para mas nesse artigo só cito mortos.
representá-las de preferência às estrangei- O Rio de Janeiro tem sido visitado por
ras. O caso é que o nosso primeiro artista algumas sumidades da arte dramática,
desapareceu em 1863, sem ter prestado ne- universalmente consagradas; mas essas vi-
nhum serviço às letras nacionais. sitas, longe de concorrer para que o tea-
O mesmo não se pode dizer do empre- tro nacional desabrochasse, produziram o
sário Joaquim Heleodoro dos Santos, que efeito diametralmente oposto. O público
manteve no Ginásio, de 1853 a 1860, uma não perdoa aos nossos autores não serem
boa companhia dramática. Shakespeare e Molières; não perdoa aos
Esses sete anos constituem o período nossos atores não serem Rossis, Novellis
mais interessante do nosso teatro. Repre- e Coquelins; não perdoa às nossas atrizes
sentaram-se ali as melhores peças de Alen- não serem Ristoris, Sarahs e Duses.
car, Macedo, Pinheiro Guimarães, Quinti- Descendo sempre de trinta anos a esta
no Bocayuva, Sizenando Nabuco, Achilles parte, o teatro do Rio de Janeiro (e, por
Verejão e outros; mas pouco durou esse conseguinte, no Brasil) chegou ao estado
fogo de palha, e quando alguns anos mais deplorável em que o vemos.
tarde, com a abertura do Alcazar, o Rio de Atualmente as casas de chopes, cafés
Janeiro foi invadido pela opereta parisien- cantantes, frontões, boliches etc., lhe dão
se e Offenbach começou a reinar como os últimos coices; anteontem, dia feliz do

66 Teatros do Rio
4o centenário do Brasil, a nossa civilização memória das instituições que se observa ao
em matéria de teatro foi caracterizada por longo da história dos edifícios teatrais.
um espetáculo1 de cavalinhos e palhaçadas De modo geral, pode-se verificar que os
no teatro histórico de João Caetano. teatros do século XIX no Rio de Janeiro
mantiveram as características arquitetôni­
O texto de Artur Azevedo também apon­ cas do palco italiano, inserido em espaços
ta um outro dado importante sobre o teatro sem forro, cujas coberturas eram susten-
do Rio de Janeiro: o fato de ele ser um ter- tadas por tesouras metálicas ou de madei-
mômetro do teatro brasileiro. As mudanças ra. As casas de espetáculos construídas no
do teatro no Brasil em geral acompanham o final do século, através da sua arquitetura,
desenvolvimento de acontecimentos históri- sobretudo considerando as decorações e
cos e, em suas variações, refletem a situação ornamentações internas e a volumetria das
política, social e econômica em que a cultura fachadas, mantinham uma identidade pró-
brasileira se encontra. Se no Rio de Janeiro, pria, de tal modo que, apesar das frequen-
ainda que capital, o panorama social ainda tes mudanças de empresários e de nomes,
é bastante provinciano, pode-se imaginar não perdiam sua identidade junto ao públi-
como seria o resto do Brasil nos primeiros co como instituição. Geralmente eram lo-
anos do século XIX. De qualquer modo, não calizadas junto aos cafés e cervejarias, pon-
é inverdade dizer que o teatro foi o diverti- tos de encontro de intelectuais, boêmios,
mento que, após a chegada da Família Real, artistas, de um modo geral, espaços de rica
mais conquistou os cariocas, a ponto de se e intensa vida social e política. O teatro es-
tornar o predileto até o fim do século. tava sempre no imaginário do povo, com
Como observação geral sobre os edifícios sua música, dança e belas senhoras elegan-
das casas de espetáculo, é preciso notar um temente vestidas.
traço importante ocorrido em todas elas: o Durante o século XIX, a partir da vinda
fato de terem sido construídas, reconstruí- da Família Real, muitas casas de espetáculos
das e reformadas muitas vezes, e pari passu foram sendo construídas pelo Brasil afora, a
com essas mudanças físicas, batizadas e reba- grande maioria na cidade e na província do
tizadas outras tantas, até no mesmo ano. Es- Rio de Janeiro. Pode-se estabelecer uma rela-
sas sucessivas modificações, de certo modo, ção dos principais teatros construídos no Bra-
acompanham a história das transformações sil no período. Desses, porém, apenas os do
sofridas no aspecto físico e humano do Rio Rio de Janeiro serão analisados em seu aspec-
de Janeiro. to físico e histórico, de modo a, sobretudo,
A tentativa de reconstruir a arquitetura ressaltar a importância que tiveram na vida
cênica, uma arquitetura tão efêmera quanto cultural da cidade. Serão apresentados por
o espetáculo teatral, resulta quase impossí- ordem de data de inauguração, seguida dos
vel, já que a maioria desapareceu sem deixar nomes que receberam ao longo de sua histó-
registro. As reconstituições foram realizadas ria, e de datas de alteração desses nomes.
através de consultas a periódicos, através das Porém, neste capítulo, serão examina-
descrições de jornalistas e de escritores de dos apenas os teatros da cidade do Rio de
crônicas, publicadas em revistas ou jornais Janeiro, reservando-se ao capítulo seguinte
da época. Também não são muitos os mate- os teatros que animaram a vida cultural do
riais iconográficos disponíveis para análise, interior da província, isto é, dos futuros mu-
tão pouco é o cuidado com a preservação da nicípios do Estado do Rio de Janeiro.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 67


1813 blicas, e sem ser por meio de alguma nova
Real Teatro de São João contribuição que grave mais os meus fiéis
vassalos a quem antes desejo aliviar de to-
A partida para o início de uma vida cultural das elas.
organizada foi a atitude contundente de João E havendo-me proposto o mesmo In-
VI ao incumbir, pelo Decreto de 28 de maio tendente, que grande parte dos meus vas-
de 1810, o Intendente Geral da Polícia, Pau- salos residentes nesta corte me haviam já
lo Fernandes Vianna, de construir um “teatro feito conhecer e que por ser esta obra do
decente”, que possuísse dignidade suficiente meu real agrado, e de notória necessida-
para receber a Corte e seus visitantes ilustres de, se prestavam de boa vontade a dar-me
e estrangeiros, permitindo que funcionas- uma prova de seu amor e distinta fidelida-
se com o nome de Real Teatro de São João. de, concorrendo por meio de ações a fazer
O teor desse decreto é o seguinte: o fundo conveniente, principalmente se eu
houvesse por bem de tomar dito o Teatro
Fazendo-se absolutamente necessário nes- debaixo de minha proteção e de permitir
ta capital, que se erija um Teatro decente que com relação ao Imperial nome se de-
e proporcionando à população, e ao maior nominasse Real Teatro de S. João.
grau de elevação e grandeza em que hoje Querendo corresponder ao amor que
se acha pela minha residência nela, e pela assim prestam a minha real pessoa e com
concorrência dos estrangeiros e de outras que tanto se distinguem nesta ação, sou
pessoas que vêm das extensas províncias servido honrar o dito Teatro com a minha
de todos os meus Estados: fui servido en- real proteção, e com a pretendida invo-
carregar o doutro Paulo Fernandes Vianna, cação, aceitando, além disso, a oferta que
do meu Conselho e Intendente geral da por mão do mesmo Intendente fez Fernan-
polícia, do cuidado e diligência de pro- do José de Almeida, de um terreno a este
mover todos os meios para ele se erigir,
e conservar sem dispêndio das rendas pú- Teatro São João em 1817

68 Teatros do Rio
fim proporcionado, que possui defronte à do terreno; ficando, entretanto, o dito e
igreja da Lampadosa, permitindo que nele quanto nele houver com hipoteca legal,
se erija o dito Teatro, segundo o plano que especial e privilegiada ao distrito dos refe-
me foi presente e que baixará com este as- ridos fundos. O conde de Aguiar, do meu
sinado pelo mesmo proprietário do dito Conselho de Estado, ministro e secretário
terreno, que além disso se oferece a con- de Estado de Negócios do Brasil, o tenha
correr com seus fundos, indústria, admi- assim entendido e faça executar, com as
nistração e trabalho, não só para a criação ordens necessárias ao Intendente geral da
como para o reger e fazer trabalhos. polícia e mais estações, onde convier. Pa-
E sou, outrossim, servido, para mostrar lácio do Rio de Janeiro, em 28 de maio de
mais quanto esta oferta me é agradável, 1810. Com a rubrica do príncipe regente.2
conceder que a tudo quanto for necessário
para seu fabrico, ornato e vestuário até o dia Esta atitude veio a dar frutos, fazendo
em que se abrir e principiar a trabalhar se com que o Marquês Fernando José de Por-
dê livre de todos os direitos nas Alfândegas, tugal e Castro, que havia sido vice-rei do
onde se deve pagar, que se possa servir da Brasil no período de 1801 a 1806, e o em-
pedra de cantaria que existe no ressalto, ou presário e capitão Fernando José de Almeida
muralha do edifício público que fica contí- Castro, ex-barbeiro do Marquês e chamado
guo a ele e que de muitos anos não se tem de “Fernandinho”, tomassem a iniciativa de
concluído; e que, depois de entrar a traba- construir um teatro. Este português, ex-
lhar, para seu maior asseio e mais perfeita -barbeiro, que chegou ao Brasil em 1801
conservação, se lhe permitirão seis loterias e que caiu nas graças de D. João VI, através
segundo o plano que se houve de aprovar, a da proteção de seu ex-patrão, por ser um
benefício do mesmo Teatro. apaixonado pelo teatro, e ter conseguido
E, porque também é junto e de razão assegurar-se de certo prestígio na Corte,
que os acionistas que concorram para o e acumulando uma situação financeira dis-
fundo necessário para a sua criação fiquem creta, reuniu um grupo de acionistas, que
seguros assim dos juros dos seus capitais, eram os principais comerciantes da cidade
que os vencerem, como dos mesmos ca- e prontificou-se a construir um novo teatro.
pitais, por isso mesmo que os ofertaram Imediatamente a proposta foi aceita por
sem estipulação de tempo, determino que D. João VI, concedendo isenção alfandegária
o mesmo intendente geral da polícia, a cuja e todos os materiais que fossem necessários,
particular e privada inspeção fica a dita autorizando, também, seis loterias em be-
obra e o mesmo Teatro, faça arrecadar, por nefício da construção do teatro, onde foram
mão de um tesoureiro que nomeará, to- utilizados blocos de pedras de uma fortaleza
das as ações e despendê-las por férias por inacabada e destinada a erguer a Sé.
ele assinadas, reservando dos rendimen-
tos aquela porção que se deve recolher A primeira pedra do edifício da Sé foi lan-
ao cofre para o pagamento dos juros e a çada no dia 20 de janeiro de 1749, como
amortização dos principais, para depois declara o termo de 21 de junho de 1750,
de extintos esses pagamentos, que devem lavrado no livro 20 do registro da Secreta-
ser certos e de inteiro crédito e confiança, ria do Bispado a fls. 4, e transcrito no livro
passar o edifício e todos os seus pertences do Tomo do Cabido, fls.144, não constan-
ao domínio e propriedade do proprietário do desse documento a inscrição que acom-

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 69


panhou essa primeira pedra, nem as ceri- posteriormente chamado de Largo do Ro-
mônias com que foi lançada.3 cio, e enfim, Praça da Constituição, em-
penhou-se nesta obra não só toda a pedra
No ano de 1752, interromperam-se, pois, que era destinada para conclusão da igreja,
os trabalhos da Sé Nova, e interrompidos fi- mas ainda a das duas torres, que já estavam
caram por 44 anos. muito adiantadas, e que desmoronaram.
Serviram, pois, as pedras da mal afor-
As desinteligências do Cabido com a Ir- tunada Sé Nova para os imensos alicerces
mandade de N. S. do Rosário e S. Benedi- e gigantescas paredes do teatro, e por isso
to incitaram os capitulares a tratar a conti- mesmo, severos respeitadores de quanto
nuação da obra, e, aprovado esse empenho se referia as coisas sagradas, agouraram
pelo vice-rei Conde de Rezende e pelo mal daquele edifício profano, e como se
Bispo, recomeçaram os trabalhos no dia o futuro quisesse justificar tais agouros, já
28 de fevereiro de 1796. As obras foram três vezes foi esse teatro devorado pelas
efetivamente paralisadas no dia 27 de maio chamas. Mas nem mesmo com três incên-
de 1797.4 dios se acabaram suas grossas paredes.
Eram as pedras da Sé Nova, contra os
Esse fato fez com que o povo, supersti- quais nada tem podido o fogo destruir.5
cioso, ficasse sensivelmente chocado e atri-
buíram os três incêndios que atingiram mais Com a presença da Família Real e de toda
tarde o teatro (em 1824, 1851 e 1856), a um a Corte, em 12 de outubro de 1813, por
castigo divino. ocasião do aniversário do Príncipe Regente,
foi inaugurada a casa de espetáculos, com o
Tratando-se logo depois de edificar um nome de Real Teatro de São João, em home-
bom teatro na capital, e lançando-se os nagem ao Príncipe D. João, em local pró-
fundamentos dele no campo dos ciganos, ximo ao campo de Santa’Anna, um terreno

Sé Nova, 1817, Thomas Ender

70 Teatros do Rio
pantanoso que pertencera a D. Beatriz Anna quina de Oliveira (Vênus), Laura Joaquina
de Vasconcelos e fora adquirido por Fernan- de Oliveira (Paz) e Bernardino José Cor-
do José de Almeida, a quem coube a inicia- rea (Gênio Lusitano). Apareciam em cena
tiva, com o projeto do Engenheiro Militar, também as três Graças, bem como Ciclo-
Marechal de Campo José Manoel da Silva, pes e Ninfas, personificadas por coristas e
em sítio denominado Campo dos Ciganos bailarinas. Este colunista pode identificar
e Praça da Sé Nova, Praça do Rossio6, de- na Biblioteca da Escola Nacional de Música
fronte à Igreja da Lampadosa, esquina com a as partes de orquestra e do coro que servi-
Rua do Erário, próximo ao centro do poder ram na inauguração do teatro.7
(atual Praça Tiradentes). Seu pano de boca
era uma enorme pintura de José Leandro, Por ocasião das núpcias de D. Pedro I
representando a entrada de uma esquadra com a arquiduquesa austríaca Leopoldina, o
portuguesa na Baía de Guanabara, trazendo pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-
a Família Real. O teatro destacava-se na pai- 1848), que viveu no Brasil de 1816 a 1831,
sagem da praça, uma das mais significativas criou um cenário povoado de figuras mito-
edificações para a história cultural e política lógicas e alegóricas, para um baile, que foi
da cidade. representado a 18 de maio de 1818.
Para a inauguração foi levada a cena O ju- O projeto arquitetônico com sua volume-
ramento dos Nunes, drama lírico do Tenente da tria dominava a paisagem e enobrecendo o
Marinha D. Gastão Fausto da Câmara Cou- Largo do Rossio, obedecendo ao estilo da
tinho (1771-1852), que era um estudioso da cena italiana, seguia hierarquicamente os es-
mitologia, e a música do maestro Bernardo paços internos do edifício teatral, separando
José de Souza e Queiroz, e não de Marcos os limites entre o palco e a plateia, com sua
Portugal, citado por alguns pesquisadores. forma aproximada de ferradura, apresenta-
va a curvatura dos balcões em forma de “U”
Este drama era adornado com muitas pe- alongado, definindo os foyers, o proscênio e
ças de música de composição de Bernardo o fosso da orquestra.
José de Souza e Queiroz, mestre e com- Seguindo o modelo de arquitetura teatral
positor do mesmo teatro, e com danças europeia, o teatro possuía um pórtico ao
engraçadas nos seus intervalos. Segue-se corpo frontal do edifício, para proteção dos
a aparatosa peça intitulada “Combate do espectadores que chegavam de carruagem.
Vimieiro”... Um estilo de fachada próprio para um tea-
O libreto da peça, do qual a Seção dos tro de grande importância cultural e social.
Livros Raros da Biblioteca Nacional possui “Na frente do Teatro tinha apenas um único
um exemplar, confirma a autoria da músi- andar, havendo porém, sobre as três janelas
ca como sendo de Bernardo José de Souza do centro, outras três de peitoril muito pe-
e Queiroz, a qual alguns pretendiam que quenas; no friso estava escrita a data 1813
fosse de Marcos Portugal... com caracteres romanos.” 8 Havia um ter-
A peça tinha um único ato e começava raço, ou varanda na frente do edifício que
por um Elogio a S. A. Real, o Príncipe Re- serviu de palco para importantes pronuncia-
gente. A ação se passava nas faldas do mon- mentos históricos.
te Etna, parte no Templo do Heroísmo. O teatro possuía quatro ordens com quin-
Tomaram parte na representação os atores ze camarotes de cada lado da tribuna, com
Domingos Botelho (Vulcano), Estela Joa- exceção da última, que tinha mais três cama-

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 71


rotes sobre a tribuna real. O prédio exter- apresentavam com fardas encarnadas bor-
namente possuía trezentos palmos de com- dadas de ouro e cobertas de condecora-
primento (66m), cento e trinta palmos de ções, e as damas com altos toucados, onde
largura (28,60m) e noventa e nove e meio resplandeciam pérolas e pedras preciosas.
palmos de altura (21,89m). Cortinas de seda, ramos, grinalda de
O Real Teatro de São João possuía uma flores enfeitavam os camarotes... Ha-
semelhança de projeto com o Real Teatro via dois panos, um talar e outro de boca;
São Carlos, de Lisboa (Portugal), de auto- aquele representava a entrada da Família
ria de José da Costa e Silva, que teria vindo Real na barra do Rio de Janeiro, as em-
para o Rio de Janeiro em 1812, onde faleceu barcações e fortalezas a salvarem e grande
em 1819. Em agosto de 1812, fora empos- quantidade de botes, canoas e faluas.9
sado no cargo de Arquiteto Geral de todas
as obras Reais no Brasil. As obras do Real O teatro acomodava 1.020 pessoas na pla-
Teatro de São João haviam sido iniciadas em teia e possuía quatro ordens de camarotes,
1811 e pelas características dos dois teatros, com trinta camarotes na primeira ordem, 28
é possível que José da Costa e Silva tenha na segunda, 28 na terceira e 22 na quarta.
colaborado no projeto neoclássico de José Em 1821, foi feita uma reforma, o tea-
Manuel da Silva. tro foi pintado interna e externamente,
Quase todos os espetáculos montados no forrados os camarotes, de cujos parapeitos
Real Teatro eram assistidos por D. João VI, pendiam sanefas de veludo e ouro, festões
que em certas ocasiões adormecia no cama- de flores, bandeiras e troféus; foi estendido
rote Real. O público que frequentava o tea- um tablado que, encobrindo os camarotes
tro era de pessoas de destaque, que seguindo da primeira ordem, corria até o soalho do
o exemplo de D. João VI, iam assiduamente proscênio. Do teto pendia grande quanti-
às apresentações. Desta forma, no Teatro dade de lustres de cristal, iluminados com
acabavam ocorrendo dois espetáculos: um velas de cera.
no palco e o outro na plateia, que foi final- Em relação ao Teatro João Caetano, pode-
mente franqueada às senhoras. Não só a vida -se reforçar a ideia de que momentos im-
artística como também a vida política e so- portantes da história do Brasil passaram
cial da capital passou a ter como ponto de a ter lugar no teatro: como a leitura, pelo
encontro o Real Teatro de São João. futuro imperador D. Pedro I, do decreto de
Pela descrição que nos faz Henrique Ma- 24 de fevereiro de 1821, pelo qual D. João
rinho, podemos avaliar a decoração do Real VI aprovava a Constituição elaborada pelas
Teatro de São João: Cortes de Lisboa. Em 5 de junho do mesmo
ano, também no teatro, reuniu-se a assem-
Nos dias de gala comparecia toda a Família bleia perante a qual D. Pedro jurou as bases
Real ao teatro, que se mostrava ornado de da futura Constituição de Portugal. Ao re-
sedas, de flores e iluminado com arande- tornar de São Paulo, em 15 de setembro de
las e lustres. Logo que se abriam as corti- 1822, D. Pedro surgiu num dos camarotes
nas encarnadas com franjas de ouro, que do São João mostrando, no braço, uma fai-
fechavam a tribuna, aparecia o Príncipe xa verde e amarela, onde estava escrito “In-
Regente acompanhado de toda sua família. dependência ou Morte”, sendo ovacionado
Os camarotes, principalmente os da 2ª or- pelo público e pela multidão que irrompeu
dem, eram ocupados pelos fidalgos, que se a sala.

72 Teatros do Rio
Em comemoração ao dia 12 de outubro de deu lugar para sair o povo, arrebentando
1822, data em que D. Pedro recebeu o títu- as chamas por todos os lados e reduzindo o
lo de Imperador Constitucional e Defensor teatro às cinzas, em menos de duas horas.10
Perpétuo do Brasil, foi levada à cena a peça
O Príncipe Amante da Liberdade ou a Independên- D. Pedro I, retornando, assistiu à grande
cia da Escócia, de autor desconhecido. fogueira em que se transformou seu teatro.
Em 26 de dezembro de 1822 é baixado Somente ficaram de pé as paredes laterais,
um Decreto encarregando o Banco do Brasil que haviam sido erguidas com as pedras
de formar o plano de uma loteria destinada destinadas para a construção da Sé, no local
a auxiliar o Teatro de São João. Em 26 de em que está hoje o Instituto de Filosofia e
agosto de 1824, o Imperador baixa outro Ciências Sociais da UFRJ, antiga Escola Na-
Decreto, concedendo três novas loterias e cional de Engenharia. Este acontecimento
determinando a compra do edifício da Ca- fez com que o povo acreditasse em uma
deia Nova de propriedade de Fernando José punição divina.
de Almeida, já hipotecado ao Banco do Bra- Mesmo diante da tragédia, “Fernandi-
sil, tudo para avaliar a reconstrução do Real nho” não mediu esforços para conseguir um
Teatro de São João. empréstimo do Banco do Brasil, vendendo
Em 25 de março de 1824, o Real Teatro de ações aos compradores de camarotes e ob-
São João encenou seu primeiro ciclo, após a tendo a concessão de loterias em benefício
assinatura, por D. Pedro I, da Constituição do teatro a ser reconstruído. Em 15 de se-
do Império do Brasil. Antes, na presença do tembro de 1824, por decreto do Imperador
Imperador, houve a representação do drama é concedida a licença para que seja dado ao
sacro Vida de Santo Hermenegildo, retirando- Real Teatro de São João, o nome de Imperial
-se D. Pedro I ao som de banda e com gran- Teatro de São Pedro de Alcântara.
de queima de fogos de artifícios. Logo em Para que o público não ficasse privado
seguida à saída do público, o ator Antonio da por muito tempo de divertimento, en-
Bahia, que havia feito o papel do santo, ao quanto duravam as obras de reconstrução,
tentar saltar do balancim em que estava er- foi preparado em salão da frente, junto à
guido para o tablado, impeliu-o de encontro varanda, um teatrinho, e inaugurado em 1o
a um pano pintado com aguarrás. Encostan- dezembro de 1824, para festejar a coroação
do-se o pano às velas, incendiou-se imedia- e sagração de D. Pedro I. Tomou o nome de
tamente. As chamas comunicaram-se com Teatrinho Constitucional (Teatro Pequeno)
o cenário e foram inúteis os esforços feitos e transformou-se em salão de concertos lí-
para apagar o incêndio. O fogo alastrou-se ricos. Constava de um pequeno palco, 24
por todo o edifício e o teatro ficou reduzi- camarotes, distribuídos em duas ordens e
do a quatro paredes enegrecidas. Toda a sala uma plateia para 150 pessoas.
incendiou-se em pouco tempo, e nem a aju- Sobre o Teatrinho Constitucional cons-
da dos marinheiros de duas fragatas francesas truído no foyer do Imperial Teatro São Pedro
foi suficiente para apagar o incêndio. de Alcântara, são interessantes os artigos do
Edital do Intendente da Polícia da Corte e
Representava-se por oratória a vida de do Império:
Santo Hermenegildo e no momento de su-
bir a glória o Santo, aconteceu pegar fogo II – Edital de 29 de novembro de 1824,
no cenário com tal violência que apenas que estabelece e regula as medidas de se-

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 73


Acervo Museu Histórico Nacional
gurança e polícia que se devem observar Fachada do Teatro São João, atual João Caetano.
Nicolas Eduard Lerouge. Litogravura colorida. 30x22cm
nos teatros da Capital.
Francisco Alberto Teixeira de Aragão,
do Conselho de S. M. I. , Cavaleiro da Or- participará circunstancialmente ao Inten-
dem de Cristo, Desembargador da Rela- dente Geral da Polícia, remetendo-se-lhe
ção da Bahia e Intendente Geral da polícia as peças originais; para que, este antes de
da Corte e Império do Brasil. qualquer ensaio ou publicação, possa proi-
Faço saber que sendo conveniente bi-lo quando seja contrário aos bons costu-
ao bem público estabelecer e regular mes e leis do Império.
as medidas de segurança e polícia que 2- Todas as noites de espetáculos o ad-
devem observar-se em todos os teatros mirador do teatro terá prontos no lugar
que nesta Capital se instituírem, para mais conveniente que for possível, os uten-
evitar deste modo as desordens e irre- sílios necessários para o caso de incêndio;
gularidades que privam os povos da uti- os quais por ora se limitam a uma bomba,
lidade que este divertimento deve-lhes duas pipas ou tinas cheias de água, alguns
produzir quando é bem ordenado; e imi- baldes, picaretas e machados. O ministro
tado nesta parte as providências que as Inspetor do Teatro verificando antecipada-
nações mais civilizadas da Europa têm mente a observância deste artigo, mandará
adotado, ordeno que no Teatro Pequeno a tempo fechar o teatro em caso de con-
– que se construiu nas salas do Imperial travenção.
Teatro de S. Pedro de Alcântara se exe- 3- Não se distribuirá maior número de
cutem os seguintes artigos: bilhetes do que houver de cadeiras na pla-
1- Logo que for designado o espetácu- teia, por consequência serão expulsos dele
lo, que se pretenda oferecer ao público, se os indivíduos que os não tiverem.

74 Teatros do Rio
4- O espetáculo deverá começar impre- apre­sentando-se ao Ministro Inspetor e
terivelmente à hora que tiver sido anun- expor-lhe as circunstâncias e razões do
ciado ao público, a quem se dará a devida acontecimento, sobre o que o dito Minis-
satisfação, quando ocorra algum embaraço. tro dará as providências.
5- Enquanto durar o espetáculo fica veda- 13- Toda pessoa sem exceção deve
do o ingresso no cenário a todas as pessoas obedecer provisoriamente ao Oficial da
que não pertencerem ao serviço do mesmo. Polícia; e por isto quando este intimar a
6- Concluído o divertimento abrir-se-ão alguém que saia da plateia o deve imedia-
todas as portas que facilitarem a saída do tamente fazer, apresentando-se ao Minis-
público, e enquanto este durar não se apa- tro Inspetor e expor-lhe as circunstâncias
garão as luzes da sala nem dos corredores. e razões do acontecimento, sobre o que o
7- É proibido entrar na plateia com ar- dito Ministro dará as providências.
mas. Bengalas ou chapéus-de-chuva; mas 14- No Teatro deve somente haver uma
para a comodidade pública haverá junto à guarda exterior, e dessa não entrarão sol-
entrada um Depósito para estes objetos, dados na plateia senão quando a seguran-
que serão restituídos por via de cédulas nu- ça pública o exigir, e sempre por ordem
meradas. Este artigo não compreende os do Ministro Inspetor ou à requisição do
militares que forem com seus uniformes. Oficial da Polícia, o qual em todo o caso
8- Dentro do teatro não se poderão fa- publicará – previamente – que via entrar
zer anúncios de espécie alguma que não força armada.
lhe sejam relativos; nem mesmo recitar 15- Todo o indivíduo que nas noites de
poesias alheias do festejo do dia; ou espa- espetáculo for preso à porta do teatro ou
lhá-las por qualquer maneira sem licença dentro dele, deve logo ser apresentado ao
do Ministro Inspetor. Ministro Inspetor, o qual fica autorizado
9- Proibido perturbar a tranquilidade para lhe dar o destino que merecer.
dos espectadores – com vozerias ou estré- 16- As seges e carruagens devem ar-
pitos antes de se levantar o pano, ou nos rumar-se na Praça da Constituição pela
entreatos; porque, durante a representa- ordem que lhes será designada por solda-
ção, fica livre mostrar moderadamente o dos da Polícia destinados para esse fim e
prazer, os descontentamentos pelo mere- a mesma ordem se observará quando se
cimento do espetáculo. retirarem.
10- Quando alguma pessoa da Família 17- As seges e carruagem irão a passo
Imperial assistir ao espetáculo ninguém se enquanto não saírem da Praça da Consti-
cobrirá; e o mesmo se observará fora deste tuição.
caso enquanto durar a representação. 18- Tomar-se-ão, no momento todas as
11- Igualmente se proíbe estar parado medidas de polícia que forem necessárias,
nas portas da entrada e saída pública, nas sem todavia se dispensarem os procedi-
coxias e corredores; e enquanto dura a re- mentos judiciais, que nas formas das leis
presentação, o falar alto de maneira que do Império devem depois seguir-se.
perturbe a ordem. 19- Este edital será impresso e afixado
12- Haverá na plateia um Oficial da dentro e fora da sala do teatro.
Intendência Geral da Polícia; e por isto O Ministro Inspetor, o Comandante da
quando este intimar a alguém que saia Guarda e o Oficial da Polícia ficam encarre-
da plateia o deve imediatamente fazer, gados de execução na parte que lhes tocar.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 75


Rio de Janeiro, 29 de novembro de 1824 espetáculo fechou de novo para conclusão
– Francisco Alberto Teixeira de Aragão. das obras.
Ser­­viço Nacional de Teatro – Museu. s/d. Reaberto em 4 de abril de 1826, aniver-
sário natalício da Princesa D. Maria da Gló-
Nesse ritmo acelerado, em apenas oito ria, o programa consistiu na representação
meses após o incêndio foi reinaugurado o de “uma ópera italiana havendo também um
teatro em 10 de dezembro de 1824, apenas dançado e um elogio em verso”.12
com o Teatrinho, para comemorar a data da A fachada do “Imperial Theatro de São Pe-
sagração de D. Pedro I, Imperador do Brasil, dro de Alcântara conservou todas as caracte-
apresentando o seguinte programa: Hino – rísticas do projeto anterior”.13
composto pelo Imperador tocado pela or- Quanto ao seu interior:
questra; discurso recitado pela atriz Estela
Joaquina de Moraes e a ópera de Rossini, o teatro possuía 100 camarotes, distri­
O engano feliz. buídos em quatro ordens, com capacidade
Com falta de recursos para dar prossegui- para umas 300 pessoas, e separados por
mento às obras, é baixado um decreto em um gradil dourado da plateia que acomo-
4 de julho de 1825, criando mais seis lote- dava aproximadamente 600 espectadores.
rias em benefício de Fernando José de Al- Ao centro ficava o camarote Imperial, or-
meida, para custeio das despesas. nado com o brasão do Império, com lindos
Rapidamente foram sendo reconstruídas trabalhos de talha dourada e guarnecido
as outras partes do teatro, e apesar dos tra- de cortinas de seda azul, bordadas a ouro
balhos não estarem concluídos, foi reaberto (essa decoração deve ter sido substituída
ao público, em honra de D. Pedro I, com o por verde e ouro, cores a que se refere
nome de Imperial Theatro de São Pedro de Carlos Seidler). A iluminação era feita por
Alcântara (esse nome foi atribuído por de- 220 velas de cera, resguardadas em mangas
creto de 15 de setembro de 1824 baixado de vidro. A não ser no camarote Imperial,
por D. Pedro I, atendendo pedido de seu onde havia um grande lustre e várias aran-
proprietário, Fernando José de Almeida), delas, do teto não pendia nenhum candela-
em 22 de janeiro de 1826, com a ópera Tan- bro para não prejudicar a visão. O edifício,
credi, de Rossini, era bastante arejado, atendendo aos rigo-
res do clima. À entrada havia um Buffet.14
com João Francisco Fasciotti no papel do
protagonista e Maria Tereza Fasciotti como A partir de 1826, porém, tinha sido hipo-
prima-dona. Os outros intérpretes foram tecado ao Banco do Brasil que, por morte de
Majoranine, Salvatori e Carlota Ancelmi. “Fernandinho” e na qualidade de seu credor,
Houve, além da apresentação da ópera, requereu e obteve o prédio em pagamento
um dueto dançado por Falcaux e Bourdon de dívidas contraídas pelo falecido. Com o
e, antes de cair o pano, o poeta repentista falecimento de Fernando José é expedido
Moniz Barreto recitou um elogio à Impe- em 8 de agosto de 1829 o Aviso n. 129, que
ratriz Leopoldina,11 determina que seja o Imperial Theatro de
São Pedro de Alcântara, administrado por
já que coincidia com a data natalícia dela, uma comissão de cinco membros, visto ha-
recebendo “Fernandinho”, na mesma noite ver a viúva do Coronel Fernando de Almei-
a comenda da Ordem de Cristo. Depois do da desistido do direito que poderia ter sobre

76 Teatros do Rio
o teatro. Neste mesmo ano, no dia 28 de minense, nome que respondia melhor aos
agosto é baixado um decreto do Imperador, anseios patrióticos do momento. O nome
concedendo três loterias em benefício do Constitucional Fluminense permaneceu de
teatro. No ano seguinte, 1830, no dia 27 de 3 de maio de 1831 a 9 de junho de 1838.15
setembro, outro decreto imperial concede Para liquidação total da dívida, o Banco
três loterias em benefício do teatro. do Brasil, em 1838, levou o imóvel à praça,
Vários teatros, acrescentando-se aos já sendo arrematado por Manuel Maria Brega-
ci­­tados, foram surgindo em meados do sé­­ ro e Joaquim Valério Tavares que formaram
culo XIX, numa demonstração de entusias­­ uma sociedade por ações, composta por qua-
mo, cada vez maior, do nosso povo pela renta acionistas, um dos quais, o ator João
arte cênica. Caetano dos Santos tornou-se seu principal
No início de 1831 o teatro é fechado; acionista, tomando a si a empresa do Teatro
José Fernando de Almeida, filho do antigo Constitucional Fluminense, em 1843.
proprietário, arrenda o teatro ao Banco. A casa de espetáculo é fechada para uma
Reabrindo “em 3 de maio de 1831, por or- grande reforma, Manuel Maria Bregaro e
dem superior, apresentando a peça Tolita Joaquim Valério Tavares mandaram cons-
ou o Império das Leis, com a Companhia di- truir o segundo andar, que orna atualmente
rigida por Vitor Porphyrio de Borja e a de a frente do edifício assim como o frontão
Baile por Luiz Montani”. Mas, em função que há sobre o corpo central. O teto do tea­
da preparação da abdicação de D. Pedro I, tro foi pintado pelo artista Olivier, sendo
e mesmo da atmosfera carregada de anseios o pano de boca pintado por Manuel Araú-
de nacionalismo que se sucedeu à abdicação, jo Porto Alegre (1806-1879), discípulo de
a vontade de liberdade alcançou também o Grandjean de Montigny, que revelava a “ro-
Imperial Theatro de São Pedro de Alcântara tina” e a “ignorância” sendo afugentadas pela
que, culpado de lembrar o nome de Pedro I,
foi rebatizado de Teatro Constitucional Flu- Praça da Constituição. Teatro Imperial

Arquivo Cedoc /Funarte

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 77


Arquivo Cedoc /Funarte
Praça da Constituição. Teatro Imperial indicado com seta
alegoria do gênio das artes, e tendo ao fundo às 3 e meia da manhã a sentinela do te-
a baía do Rio de Janeiro. Manuel Araújo era souro viu fogo no Teatro de São Pedro e
também autor dramático, sócio fundador do imediatamente deu rebate. O incêndio
Conservatório Dramático do Rio de Janeiro começou a lavrar com violência. Quan-
e da Academia de Ópera Nacional. do a igreja de Santa Ana deu o sinal, que
Em 30 de novembro de 1837 é baixado sucessivamente foi repetido por todas as
o Decreto 154, concedendo duas loterias a igrejas, já as labaredas do abrado teatro
mais ao Teatro Constitucional Fluminense, iluminavam a cidade. O clarão era tão in-
com a condição de manter uma. tenso, que poucos deixaram de assustar-se
Reabre em 7 de setembro de 1839, supondo o incêndio a poucos passos de si.
com a tragédia Olgiato, de Domingos José Era um clarão sinistro. Apesar da chuva
Gonçalves de Magalhães, representada por que começara a cair desde as 4 horas, toda
João Caetano, já com o seu antigo nome de a cidade ergue-se e a Praça da Constituição
Theatro de São Pedro de Alcântara. É ar- e as ruas adjacentes ao malfadado edifício
rendado pelo ator João Caetano, que que- ficaram cheias de povo.
ria criar um teatro com características na- Quando chegaram os primeiros socor-
cionais, porém, ironia do destino, reinou ros, as autoridades, já o fogo havia lavrado
mesmo foi sobre a plateia mais numerosa com imenso furor, e quando ia-se-lhe dar
da Corte, composta de portugueses e por- o primeiro ataque desabou o teto do edifí-
tugueses naturalizados. cio com horrível estampido arremessando
O teatro brasileiro começou a assumir as telhas a grande distância.
seu definitivo caráter individual, em mea­ Nada mais era possível fazer-se. Tratou-
dos do século XIX, sendo fundamental a re- -se de circunscrever o incêndio a seu foco,
presentação em 13 de março de 1838, no e o teatro reduziu-se a cinzas, ficando em
Teatro Constitucional Fluminense da tragé- pé as quatro paredes esfumaçadas.
dia Antônio José ou o Poeta e a Inquisição, de Ardeu o arquivo das companhias líricas
Gonçalves de Magalhães. O drama foi levado e dramáticas, avaliado em mais de 12.000$;
pela companhia de João Caetano, composta vestimentas, cenário, instrumentos de músi-
exclusivamente de atores brasileiros. Outra ca, tudo o fogo devorou. Salvaram-se somen-
corrente destinada a mais sucesso nos anos te os livros do escritório, uma mesa com al-
seguintes, a das comédias leves e divertidas gum dinheiro e os móveis da sala de entrada
foi inaugurada a 4 de outubro de 1838, com do camarote particular do Imperador.16
a comédia O juiz de paz na roça, de Martins
Pena, no Teatro de São Pedro de Alcântara. João Caetano empreendeu reedificá-lo, e
Em 4 de setembro de 1846, é assinado o fez em um ano, com a colaboração dos ar-
decreto concedendo quatro loterias a mais quitetos Olivier e Hosxe, encarregando da
ao teatro. pintura o cenógrafo Joaquim Lopes de Bar-
Uma nova catástrofe se abate sobre o tea­ ros Cabral. Foram feitas diversas modifica-
tro, na madrugada de 9 de agosto de 1851. ções no edifício:
Depois de uma representação de O cativo
de Fez, pelo autor João Antônio da Costa, os camarotes, outrora aprumados perpen-
ardeu o teatro pela segunda vez. Henrique dicularmente uns sobre os outros, recua-
Marinho fez um relato pormenorizado do ram, nas duas ordens superiores, dois pal-
sinistro: mos em cada uma, em forma de anfiteatro,

80 Teatros do Rio
facultando a vista de alto a baixo. Não eram O imperador brindou o artista com um
corridos de um lado do arco da boca a ou- alfinete de brilhante.18
tro, mas cada um sustentado por colunas de Em 1855 o teatro era propriedade do
ferro de 2 polegadas e meia de diâmetro, Banco Industrial e Mercantil. Mais tarde
tinham uma varanda arqueada com moldu- passou para as mãos do Conde de Santa
ras douradas à la Renaissance, forradas nos Marinha, em virtude do ajuste feito com o
encostos de veludo carmecim. A decoração governo federal. 19
da sala era feita em branco e ouro. O arco
do proscênio estreitava vinte polegadas de Novamente é destruído pelo terceiro in-
cada lado, aproximando assim mais da elip- cêndio, em 26 de janeiro de 1856, o mais
se a forma do teto, que alteou seis palmos. grave de todos. Depois de um espetáculo
A tribuna Imperial, rica de ouro, tinha es- em benefício da atriz Isabel Maria Nunes,
pelhos e era forrada de damasco. Na sala com a apresentação do drama de Mendes
havia um lustre e oito candelabros laterais.17 Leal, D. Maria de Alencastro.

Em 24 de abril de 1852, o Decreto n. 970, Depois de tanta despesa e trabalho, quan-


abre crédito extraordinário de quarenta con- do já estavam quase findas as récitas dos
tos de réis para auxiliar a reconstrução do acionistas, quando ia começar a colher o
teatro. Reconstruído após o segundo incên- fruto de seus esforços, o ator João Caetano
dio, é reaberto ao público em 18 de agosto de viu o fogo destruir em poucos momentos
1852, com o seguinte programa: Ouverture Re- todas as suas esperanças.20
generação, do Maestro Francisco Sá Noronha; O incêndio começou por cima do arco
o drama O livro negro, de Leon Gozlan, tra- do proscênio, próximo à sala de pintura.
duzido por Joaquim Antonio da Costa Sam- Nesse mesmo lugar começara o incêndio há
paio; uma valsa de Antonio Xavier da Cruz quatro anos. Os trabalhadores logo que vi-
Lima, dedicada à princesa Isabel; o bailado As ram o fogo, correram ao tablado para ver se
Hamadryadas, composição de Júlio Toussaint podiam subir com alguns baldes d’água, po-
e música de Francisco Sá Noronha. O corpo rém as brasas que caíam afugentaram todos.
de baile foi contratado em Paris. Elenco (de Quando o sino da igreja da Lampadoza deu
O livro negro): João Caetano, Matinho, Gus- o sinal, já o incêndio não podia ser extinto;
mão, Paulo Dias, Romualdo, Ludovina, Este- o fogo comunicou-se rapidamente ao telha-
la, Joana, Rosina e Maria Soares: do, que abateu em pouco tempo. Compa-
receram todas as autoridades, cuja presença
Finda a representação, o povo pediu à or­­ podia ser útil, vieram todos os socorros; a
questra que tocasse o Hino da Indepen- bomba do arsenal de marinha foi a primeira
dência. Logo que terminou o hino foi que compareceu. Os almirantes francês e
chamado à cena o ator João Caetano, que inglês mandaram sua marinhagem; mas já
recebeu uma completa ovação. Oferece- era tarde. O teatro era uma fogueira colos-
ram-lhe uma coroa de ouro com brilhantes sal que iluminava a cidade e seus arredores.
e esmalte verde, uma de prata, grinaldas, Viam-se as labaredas elevar-se a grande al-
flores, recitando-se diversas poesias em tura, dir-se-ia que surgira no centro da ci-
louvor do ator. Pouco antes havia-se dis- dade um imenso vulcão.
tribuído o retrato do artista vestido com O povo aterrado por esse medonho es-
a toga dos romanos e coroado de louros. petáculo, que no espaço de 32 anos se re-

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 81


petia pela terceira vez, não sabia se devia O teatro estava ornado simplesmente e
considerar o incêndio ou como um casti- com elegância, todo pintado de branco
go, ou como uma fatalidade, ou como um com florões de ouro. Os camarotes eram
atentado, um crime! Seria um sinistro, uma forrados de papel azul e branco, fabrica-
desgraça, um crime nefando ou um castigo dos no país. O fundo dos camarotes tinha
horrível da Providência! Ninguém o sabia. a forma circular, aconselhado pelas leis da
No fim de algumas horas só existiam do acústica. A quarta ordem apresentava um
teatro quatro paredes e o vácuo, a pedra avarandado de muito bom gosto. A abóbo-
e a cinza; tudo desaparecera, só restava o da do forro, em vez de começar na linha
esqueleto horrendo do edifício. em que termina os camarotes, tinha início
Tudo o fogo destruiu. Além de outros na linha em que estas principiam e, assim,
cenários desapareceram os dos dramas: erguendo-se o forro, dá a essa quarta or-
Camões, D. João de Marana e Milagres dem uma elevação que perfeitamente con-
de Santo Antonio no valor de mais de trasta com o acachapado das antigas tor-
26:000$. A guarda roupa, adornos, um rinhas. Reduzindo a menores proporções
museu de pássaros, bichos e de diversos a tribuna imperial, o construtor do teatro
objetos curiosos; muita madeira aparelha- ganhou espaço para mais dois camarotes
da que o ator João Caetano mandara re- em cada ordem, ao mesmo tempo que, es-
colher ao porão do teatro para construir tabelecendo a orquestra no vão por baixo
alguns prédios em Niterói tudo foi consu- do arco do proscênio, deu mais extensão
mido pelas labaredas do incêndio. ao espaço destinado às cadeiras.22
A Sociedade Sumidades Carnavalescas
perdeu o traje, que mandara vir da Euro- Nesta terceira reforma a obra foi coman-
pa para a sua banda de música. O artista dada pelo ator José Romualdo de Noronha,
Dionízio Vega ficou sem o seu repertório que idealizou um teatro cheio de estátuas de
musical. 21 mármore, espelhos, flores, lustres e aran-
delas que realçavam os luxuosos trajes das
Mas graças à proteção de Honório Her- senhoras, que passaram a frequentar os tea-
meto, que já era Marquês do Paraná e Mi- tros. Um teatro com todas as características
nistro do Império, e graças à força de von- das salas de espetáculos europeias. Entretan-
tade do artista, que realizou prodígios de to, as condições técnicas ainda eram insatis-
atividade, o teatro foi reconstruído no cur- fatórias e a acústica péssima. Acreditava-se
to espaço de 1 ano e aberto ao público em que a construção das paredes, o travejamen-
3 de janeiro de 1857, com o drama Affonso to das madeiras e a forma da própria sala,
Prieto, desempenhando João Caetano o papel bem como a caixa cênica, onde o urdimento
do protagonista, que era o primeiro ator do havia sido prejudicado na reforma, influen-
Real Teatro.Vasques, o grande ator cômico de ciaram na acústica.
mais tarde, tinha um papel de criado. Termi- Em 3 de janeiro de 1857, foi reaberto ao
nou com o vaudeville Ketly ou A volta à Suíssa. público, apresentando novas modificações,
Elenco: João Caetano, Ludovina Soares da o Theatro de São Pedro de Alcântara.
Cos­ ta, Motta, Almeida, Jesuína Montani,
Ma­nuel de Soares, De Giovanni, Gabriela de A fachada do edifício é dividida em três
Cunha, Martinho, José Luiz, Riciolini, Lis- corpos. O corpo central é precedido de
boa, Timoteo, Anna, Ramos e Juvêncio. um pórtico formado por três arcos de al-

82 Teatros do Rio
venaria. Essas arcadas sustentam a varanda existem quatro janelas de peitoril. No cor-
histórica do teatro. Debaixo do pórtico, po do teatro vê-se uma porta que vai ter ao
veem-se as três portas, que dão entrada corredor paralelo ao saguão e uma outra,
para o saguão. No segundo pavimento há que dá entrada às cadeiras. Há como do
três janelas rasgadas, que se abrem para o outro lado óculos circulares.
terraço ou varanda do teatro. O edifício se estende até a Rua da Lam-
Essa varanda é cercada com grades de padoza tendo de comprimento 300 pal-
ferro e ladrilhadas de mármore… Nesta mos, 130 de largura e 96 e meio de altura.
varanda se construiu uma tribuna de or- Há no fundo do teatro uma porta larga que
dem jônica ricamente decorada, na qual vai ter ao porão.
SS. e MM. e AA. II. assistiram à inaugura- Do lado da Rua do Sacramento existe
ção da estátua equestre de D. Pedro I. unida ao teatro uma cocheira pertencente
Há no terceiro pavimento três janelas ao empresário; há também um botequim.
com grades de ferro. Lê-se no friso o dístico Entre a cocheira e o botequim vê-se uma
Theatro de S. Pedro d’Alcantara. O fron- porta com uma rampa que conduz à caixa
tão é reto havendo no tímpano o busto de do teatro. Do lado oposto reunida ao edi-
Apolo no centro, aos lados as máscaras da fício está a casa, onde existe a entrada do
comédia e da tragédia com seus atributos. camarote particular do Imperador.
Estes emblemas, assim como as letras do Esta casa tem dois pavimentos. Na face
dístico, estão pintados de verde. Nos corpos que olha para o edifício da Academia Mi-
laterais há duas janelas de peitoril em cada litar, existe no primeiro pavimento uma
pavimento. Um ático, que vai terminar no porta e duas janelas de peitoril e no se-
frontão, oculta de cada lado o telhado do gundo pavimento três janelas de peitoril.
edifício. Fecha a frente do teatro uma gra- Na face que olha para a Rua do Teatro há
daria de ferro semicircular que se estende quatro portas no primeiro pavimento e
do pórtico ao ângulo do edifício. quatro janelas de sacada no segundo. Jun-
Do lado da Rua do Sacramento há no to dessa casa do lado esquerdo há uma
corpo anterior do edifício três janelas de antiga cocheira.
peitoril e uma porta no primeiro pavi- Não há beleza na construção do Tea­
mento. Essa porta, que está tapada, ia ter tro de S. Pedro, não é um monumento
ao botequim do teatro. No segundo pavi- de boa arquitetura; as pilastras da frente
mento há quatro janelas de peitoril e no do edifício são grossas em relação à altu-
terceiro também quatro. No corpo do tea­ ra, as janelas são estreitas e pequenas. [...]
tro propriamente dito há uma porta, que O saguão é espaçoso, ladrilhado de már-
vai ter ao corredor paralelo ao saguão, e more tendo do lado direito duas portas,
uma outra porta menor por onde saíam os que se abrem para o botequim do teatro,
músicos. Notam-se óculos circulares, que e do lado esquerdo uma porta, que vai ter
clareiam os corredores da segunda, da ter- ao escritório onde se vendem os bilhetes e
ceira e da quarta ordem. outra à sala, onde se guardam as bengalas.
Do lado da rua do teatro há no corpo Há no fundo três arcos com uma escada
anterior três janelas e uma porta no pri- de cinco degraus. Subindo-se essa escada
meiro pavimento. chega-se ao corredor paralelo ao saguão.
A porta dá entrada para a tribuna im- Esse corredor se comunica por uma es-
perial. No segundo e terceiro pavimentos cada de três degraus com o corredor da

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 83


primeira ordem de camarotes. Ladrilhado Entre o terceiro pavimento e o teto há o
de mármore vê-se no fundo deste último grande salão da pintura.
corredor, de um lado uma escada que vai O teatro tem quatro ordens de cama-
ter à caixa do teatro e de outro outra es- rotes, havendo em cada ordem 30, na
cada, que se dirige à entrada das cadeiras. quarta ordem, porém, há mais três sobre
A entrada das gerais fica fronteira ao arco a tribuna imperial. Os camarotes da pri-
central do saguão. meira ordem são forrados de papel azul e
Quase no princípio do corredor da pri- branco, os da segunda de amarelo e verde,
meira ordem há uma escada de oito degraus; os da terceira de branco e encarnado e os
onde termina esse lanço de escada começam da quarta de papel branco e verde. O ca-
outros dois em sentido oposto, que condu- marote no7 da primeira ordem é ocupado
zem ao corredor da segunda ordem. pelo juiz inspetor do teatro. Já dissemos
Os corredores de um lado se comuni- que os dois últimos camarotes do lado es-
cam com os do outro lado. querdo, na segunda ordem, são particula-
Na segunda ordem há uma escada igual res da Família Imperial. Uma cortina en-
à que já descrevemos, que vai ter à terceira carnada fecha a frente desses camarotes. A
ordem, e nesta outra que se dirige à quarta. varanda dos camarotes da primeira ordem
Os corredores são largos; há em todos é de madeira, as das outras três ordens de
depósitos d’água; no da terceira ordem grades de ferro. Sustentados por colunas
existe um toilette para senhoras. de ferro são os camarotes divididos por
No corredor da frente da segunda or- um tapamento de tábua em forma de S.
dem há duas portas, que se abrem para Já dissemos que a quarta ordem constitui
um salão, que tem três janelas rasgadas uma varanda elegante.
para a varanda histórica do teatro. Em A tribuna imperial, colocada no centro
dias de gala, quando o Imperador sai da da sala dos espectadores, é forrada de da-
Tribuna, se retira para esse salão. Era ou- masco encarnado, e ornada de espelhos;
trora ornado com os bustos dos princi- corre na frente da tribuna uma cortina de
pais poetas. seda encarnada havendo na parte superior
Foi aqui que se construiu o pequeno as armas do império.
tea­­tro em 1824. Atualmente existe aqui A sala dos espectadores é iluminada por
um teatrinho, onde estudam a declamação um lustre a gás e encerra 354 cadeiras e
os alunos do Jury Dramático inaugurado 564 gerais. Todo o edifício é iluminado
na presença do Imperador em 17 de se- a gás… A pintura do teto é pesada e de
tembro de 1862. mau efeito; o pano representa uma vista de
Este salão se comunica com uma sala, Nápoles… O Teatro de S. Pedro tem falta
que tem quatro janelas para a Rua do Tea­ de acústica; dificilmente se ouve o que os
tro e duas para a praça da Constituição. atores pronunciam. Provém isso da cons-
Entre o salão e a sala há a escada por onde trução das paredes. Do mau travejamento
sobe o Imperador para a Tribuna. No ter- das madeiras, de não ter a sala dos especta-
ceiro pavimento, sobre os aposentos que dores a forma elíptica, de serem os cama-
temos descrito, existem três salas, tendo a rotes forrados de papel, devendo antes ser
do centro três janelas com grades de ferro pintados etc.
e as laterais duas janelas de peitoril para a O urdimento é baixo, o que prejudica e
praça da Constituição. estraga facilmente os cenários.23

84 Teatros do Rio
A propósito da reconstrução do teatro, o Lamberti o projeto arquitetônico, que
Jornal do Commercio comentava em 5 de ja- soube melhorar as condições de acústica
neiro de 1857: e visibilidade. Com supervisão do próprio
Imperador, foi feita a instalação da ilumi-
O teatro com efeito corresponde à expec- nação a gás, dirigida por um funcionário
tação de todos. Ornado com simplicidade da companhia de gás. O teatro ficou mais
e elegância, todo branco com flores de ventilado e iluminado, o saguão comple-
ouro, forrados os seus camarotes de papel tamente transformado, as paredes foram
azul e branco fabricados no país, apresenta pintadas de modo que semelhavam a már-
algumas inovações muito bem entendidas. more legítimo. As cadeiras da plateia, de
O fundo dos camarotes tem a forma cir- assento móvel, eram mais espaçosas e con-
cular aconselhada pelas leis da acústica; a fortáveis. A reforma foi possível graças à
quarta ordem apresenta um avarandado iniciativa dos diretores do Banco Indus-
de muito bom gosto, a abóbada do forro trial e Mercantil, proprietários do teatro
em vez de começar na linha em que ter- na época. O pano de boca foi pintado pelo
minam os camarotes, começa na linha em cenógrafo Rossi, baseado em uma ideia de
que estes principiam, e assim erguendo- Ângelo Agostini.
-se o forro, dá a essa quarta ordem uma Em 1888, foi novamente reformado, pas-
elevação que perfeitamente contrasta com sando o teatro a possuir uma tribuna nobre,
o acachapado das nossas torrinhas. Re- 30 camarotes de primeira classe, 27 cama-
duzindo a menores proporções a tribuna rotes de segunda classe e 30 camarotes de
imperial, o construtor do teatro ganhou terceira classe; 2.888 cadeiras de primeira
espaço para mais dois camarotes em cada classe, 244 de segunda classe, 28 na galeria
ordem, ao mesmo tempo que estabelecen- nobre e 40 lugares na galeria geral.
do a orquestra no vão por baixo do arco Em 3 de maio de 1891, graças aos esfor-
do proscênio deu mais extensão ao espaço ços de Francisco Correia Vasques, foi inau-
destinado às cadeiras. gurada numa praça que existia defronte ao
edifício da antiga Academia Imperial de Be-
O teatro, mesmo com o falecimento de las-Artes, hoje Museu de Belas-Artes, a es-
João Caetano, continuou a ser o mais fre- tátua em bronze de João Caetano, modelada
quentado da Corte. Enfrentando as dificul- do natural, pelo escultor fluminense Chaves
dades técnicas, prosseguiu sua história com Pinheiro e fundida em Roma. Em tamanho
triunfos, insucessos e tumultos. Permane- natural representa o artista na tragédia Os-
ceu durante um longo período o templo da car, filho de Ossian, de Arnault. Em 28 de
arte teatral. agosto de 1916, é transladada para a Praça
Em 12 de agosto de 1881, há a notícia de Tiradentes, diante do Teatro de São Pedro
um requerimento do Conselheiro Mordomo de Alcântara. Após as obras realizadas na re-
da Casa Imperial ao Presidente da Câmara ferida praça, a estátua de João Caetano foi
Municipal, solicitando licença para colocar transferida, a 3 de maio de 1931, para um
na porta do teatro, fronteira dos fundos da refúgio em frente ao teatro.
Escola Politécnica, novo alpendre, visto que O Teatro de São Pedro de Alcântara foi
o existente estava arruinado. remodelado em dezembro de 1916, e essa
Em 1885 foi feita uma outra reforma, remodelação, que custou mais de 300 con-
cabendo ao Arquiteto Pedro Leonardo tos ao Banco do Brasil, foi executada sob a

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 85


direção do Dr. Silveira da Mota, engenheiro pra do Teatro de São Pedro de Alcântara ao
daquela instituição de crédito. Encarregou- Banco do Brasil.
-se das obras, a firma construtora Andrade O Decreto n. 1.891 de 24 de agosto de
Lima & Cia.; da decoração, os irmãos Timó- 1923, do Prefeito Alaor Prata (06/11/1926
teo; da iluminação e dos aparelhos elétricos, a 24/10/1930), designou como Teatro João
F. R. Moreira &Cia. Caetano o antigo Teatro de São Pedro de Al-
O pano de boca, de autoria dos irmãos cântara:
Timóteo,
Dá a denominação de “Teatro João Cae­­­
representa em linhas gerais vasto templo tano” ao atual Teatro de São Pedro de Al-
ornamentado, festivo e repleto. Há dois cântara.
planos, guardando entre si harmonia es- O Prefeito do Distrito Federal:
tética impecável. No primeiro, no cen- Considerando que João Caetano é, pela
tro, dominante, o vulto de João Caetano sua vocação natural e inspirado gênio dra-
na sua criação de Oscar, segundo a lenda mático, reconhecido unanimemente co­
escocesa, o filho de Ossian. Por trás do mo a expressão culminante e o verdadeiro
trágico, a glória coroando-o. À esquerda, precursor do teatro nacional;
no alto de uma escadaria, aparece o Tem- Considerando que se devem perpetuar
po que de pé, o gesto varonil, aponta a no culto da cidade as gloriosas tradições
figura do artista. do local que testemunhou os seus memo-
No segundo plano, ao fundo, côncavo, ráveis dias de justo triunfo e consagração
vê-se o carro de Apolo, puxado por qua- pública, e
tro fogosos cavalos brancos, tendo por Atendendo ao entusiástico apelo da So-
cúpula céu muito azul, onde boia uma ciedade Brasileira de Autores Teatrais e do
nuvem, tocada pelos raios de ouro do sol. Centro de Cultura Brasileira, que tanto se
Há várias figuras, entre elas, a Pintura, a têm empenhado pelo desenvolvimento ar-
Poesia e a Tragédia.24 tístico e literário da cidade;
Por escritura pública datada de 14 de Usando da atribuição que a lei lhe con-
junho de 1898, passada no Cartório do fere, decreta:
Tabelião Evaristo, o Banco do Brasil, mais Artigo único. O atual Teatro São Pedro
uma vez, passou a ser o proprietário do de Alcântara passa a ter a denominação de
imóvel, por permuta feita com o Conde “Teatro Caetano”.
de Santa Marinha, Comendador Antônio Distrito Federal, 24 de agosto de 1923,
Teixeira Rodrigues, e sua esposa. 35º da República. Alaor Prata 26
Por escritura lavrada em Notas do 18º
Ofício, Cartório do Tabelião Álvaro Bor- Em 1928 o São Pedro necessitava de re­­
gert Teixeira, no Livro n. 23, folhas 2, forma, consertos, pinturas externa e inter-
em 22 de dezembro de 1920, o teatro na, outras obras eventuais de conservação
tornou-se propriedade da Prefeitura do deveriam efetuar-se em benefício do imóvel.
Distrito Federal.25 Em 15 de junho de 1928, realizava-se o
último espetáculo do antigo Teatro de São
A Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, Pedro de Alcântara, pela companhia Marga-
em 1 de novembro de 1920, com a assinatu- rida Max, com a revista Rio nu, que Moreira
ra dos respectivos atos legais, efetiva a com- Sampaio escrevera em 1895.

86 Teatros do Rio
Fotografia: Augusto Malta. Acervo Museu da Imagem e do Som
Foi então que, em 1929, o então Prefeito Fachada e lateral do Teatro São Pedro, atual João Caetano,
17 de abril de 1928
Antonio Prado Júnior determinou a demo-
lição do São Pedro, com bases para alargar mento cuja modernidade simbolizasse o
a Rua Luiz de Camões e a Avenida Passos, desejo de um país novo. Uma estrutura de
para valorizar o Gabinete Real Português, e concreto armado ousada para época.
para dar lugar a outra casa de espetáculos.
Em 25 de abril de 1930, por termo Conquanto os principais teatros do mun­­
aditivo de contrato com a Prefeitura do do sejam considerados obras de arte do
Distrito Federal, Gusmão & Baldassini foi primeiro renascimento arquitetônico,
contratado para a execução das obras e de- o nosso é, no século atual, um monu-
molição e de reconstrução do novo teatro. mento da época. Como construção, en-
Com projeto do arquiteto Gusmão Doura- carado sob o ponto de vista técnico, é
do Baldassini, é então construído o Teatro a última palavra no arrojo a quem tem
João Caetano, com uma fachada futurista e chegado a engenharia moderna, utili-
com sua volumetria purista e é inaugurado zando-se do concreto armado, hetero-
em 26 de junho de 1930, com a Opereta gêneo e monolítico. Assim, observa-se
Rose Marie, libreto de Oscar Hammerstein na estrutura óssea do novel edifício,
e música de Rudolf Friml, apresentada por como no indumento arquitetônico, a
uma companhia francesa, com Jane Mar- ausência absoluta de arcos. E as poucas
ney como estrela. vigas que se veem apresentam originali-
Entretanto, uma reforma poderia ter sido dades de perfis. Os camarotes, balance-
feita, mas para o prefeito, o importante era ados em quase quatro metros, não são
marcar sua administração com um monu- suportados por nenhuma coluna que

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 87


Acervo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
embarace a vista nem vigas ou consolos, Fachada do Teatro São Pedro, atual João Caetano,
27 de junho de 1928
o que no campo da lógica dá a pensar até
onde chegaremos.27 O fosso da orquestra permaneceu, o
proscênio despareceu, a inclinação da pla-
Obedecendo aos princípios do palco italia- teia bem acentuada, com apenas três ní-
no, delineava os camarotes e balcões através veis de poltronas: plateia e frisas, cama-
de uma semielipse facetada, uma geometriza- rotes do pavimento nobre, três camarotes
ção característica do Art-Déco, que foi ado- de honra no mesmo lugar onde ficava a
tada também na fachada e no projeto de ilu- Tribuna Imperial, ou seja, no primeiro
minação da sala. O teatro denotava uma nova piso frontal ao eixo do palco – as galerias
modernidade ditada pela geometrização. e as arquibancadas.
Paralelo à boca de cena havia dois grandes As três entradas com portas de correr
nichos iluminados por luz indireta. Ao longo abriam-se para o vestíbulo e deste para o
dos camarotes e do teto, as sancas formavam foyer, onde eram localizadas as bilheterias
horizontes luminosos, numa admirável com- em lados opostos. Logo encontrava-se a
binação de projetos e lâmpadas de luz difusa. sala de espetáculos ao nível da plateia e

88 Teatros do Rio
das frisas, ou subia-se para os camarotes O teatro em si não é decorado. Somente
oficiais e aos demais camarotes. Não exis- o bar (foyer) apresenta ornamentação, misto
tia ornamentação, mas alguns pontos de de singeleza e extravagância e cujos bizarris-
luz sob as sancas ou luminárias em esti- mos de algum modo caracterizam assuntos
lo Art-Déco. As escadarias laterais ao hall regionais. Não vamos dizer que esta peça se
permitiam acesso ao segundo foyer, no compare em beleza ao foyer da Ópera.
pavimento nobre, onde era localizado o Conquanto achemos justo a sala de es-
bar e os murais pintados por Di Cavalcan- petáculos despida de qualquer exagero
ti, que podem ser apreciados até hoje. decorativo, porque aí as atenções são para
A boca de cena era arrematada com os o palco, não compreendemos a mesma
trabalhos de esculturas do artista Quirino simplicidade no foyer, onde se vai com as
Silva, o ritmo e o som, um de cada lado, e ideias sugestionadas pelo esplendor das
dois painéis simetricamente dispostos, na cenas viver [sic], na subjetividade de um
passagem para o interior da sala. mundo idêntico, o momento de intervalo.
Em matéria também no Correio da Ma- Aí, pois, a nosso ver, as decorações de-
nhã de 20 de julho de 1930, J. Cordeiro veriam ser representadas pelas artes sim-
Azeredo, faz um apanhado geral do novo bolizadas, em linhas modernas, como aliás
teatro: estão representadas nos dois ângulos que
ladeiam o palco; à direita, pela Sinfonia
A plateia assenta-se sobre superfície ligei- do Som e, à esquerda, pela Harmonia do
ramente parabólica, de forma que as ele- Ritmo.
vações laterais e extremas permitem ao A decoração do salão de espetáculos é
observador não andar catando uma opor- obtida exclusivamente pelos efeitos lumi-
tunidade de ver por trás da cabeça do que nosos, que se espalham nas faixas de alu-
lhe fica bem à frente, como acontece nas mínio dispostas pelas paredes rugosas de
plateias dos nossos cinemas, mesmo os “Craftex” em centenas de tonalidades dife-
mais modernos. rentes, propagadas quase misteriosamente
Os pisos dos camarotes, frisas e foyer das arestas do teto.
são em linóleo, material que amortece Dois nichos se alongam sobre os dois
completamente qualquer ruído, embora símbolos de arte que ladeiam o palco,
seja péssima a sua colocação; o piso da pla- donde sai, em efusão de colorido, verda-
teia, porém, dada a necessidade da acústica deira decoração viva, representando os
é de madeira. crepúsculos da alvorada e do entardecer.
Pouca madeira se vê na construção do O ar ambiente é mantido por diferença
João Caetano; todavia as portas, as divi- de pressão entre o exterior e o interior, me-
sões dos camarotes e da orquestra são de canicamente, sob uma temperatura agradá-
madeira nossa. vel, não se respirando todavia aquele ar da
Também nosso é todo o revestimento montanha da propaganda americana.
em mármore, que apesar da singela orna- Tem capacidade para 1.800 pessoas; 3
mentação se destaca pelo brilho que lhe é tribunas para o Presidente da República,
peculiar e pelo esplendor do colorido. Há prefeito e Conselho Municipal, 28 frisas,
mármores vermelhos, cor de sangue, es- 26 camarotes, 650 poltronas, 260 balcões,
curos com veios multicores, e inteiramen- 480 galerias, afora promenade destes últi-
te negros. mos lugares para 200 espectadores.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 89


O mesmo Correio da Manhã de 24 junho A inauguração do João Caetano se fará,
do mesmo ano corrente, em seu artigo como ficou dito, sábado próximo. O espe-
“O Novo Teatro João Caetano” traça algu- táculo de estreia será dado com a opereta
mas especificações técnicas da caixa cênica: Rose Marie, um dos maiores êxitos do Tea-
tro Mogador, de Paris, estando já, desde já
Ampla, moderna, confortável é a caixa. alguns dias, vendida toda a lotação.
Além do pano, de veludo e seda, divide-a
do corpo destinada ao público uma corti- O arquiteto e construtor J. Cordeiro de
na de fogo, de amianto com o peso de 400 Azeredo em um artigo no Correio da Manhã,
quilos, acionada, como aquele, mecani- do dia 20 de julho, esclarece alguns aspectos
camente. O palco acomoda os conjuntos da acústica e da decoração:
mais numerosos e para os trabalhos cêni-
cos foram colocadas 40 varas metálicas e Hoje se vai ao Teatro para ver e ouvir, e no
84 de cordas, que podem ser movidas por João Caetano não só se vê bem como se
mãos de criança. Tem porta para a rua e ouve melhor. A questão de acústica foi ba-
por ela podem entrar veículos e animais. seada nos métodos modernos, análagos aos
Os camarins dos artistas são claros, ven- usados na construção do grande Salão de
tilados e providos de quanto eles necessi- Música Pleyel, em Paris, verdadeira obra-
tam para exercício de seus misteres. Além -prima no gênero. Por isso mesmo a última
dos lavatórios, espelhos, cabides. E em to- palavra sobre o assunto, até então conside-
dos eles, mesmo nos destinados às coristas rado problemático, é devida a engenharia.
e bailarinas, alto-falantes para indicar sem- O Teatro em si não é decorado. Somen-
pre o que se passa em cena e evitar a possi- te o bar (foyer) apresenta ornamentação,
bilidade das entradas com atraso. Existem misto de singeleza e extravagância e cujos
nos aposentos das coristas acomodações bizarrismos de algum modo caracterizam
confortáveis para dezesseis figuras, tendo assuntos regionais. Não vamos dizer que
cada uma o seu espelho, o seu foco de ilu- esta peça se compare em beleza ao Foyer
minação, a sua gaveta. da Ópera. Conquanto achemos justa a sala
Há mais duas salas chamadas de “im- de espetáculos despida de qualquer exa-
prensa”, para que os artistas possam aten- gero decorativo, porque aí as atenções são
der às pessoas que lhes desejem falar, sem para o palco...
se tornar preciso franquear-lhes a intimi-
dade dos seus camarins. Durante longos anos o prédio projetado
Cinco banheiros espaçosos acham-se por Gusmão Baldassini sofreu inúmeras des-
colocados nessa parte do Teatro, para hi- caracterizações em decorrência de obras.
giene dos que nele trabalharem. Em 1961 foram iniciadas as obras de re-
O porão é alto, dispondo de caixa forma do Teatro João Caetano, com o obje-
d’água, aparelhos sanitários e camarins tivo de, após a conclusão das mesmas, voltar
para os funcionários em serviço. Fica aí um a levar à cena peças de qualidade, como nos
ligeiro bar para os artistas, com fogão a gás. áureos tempos em que figurava como uma
Foi reservado no porão um amplo espa- das melhores casas de espetáculos do Rio de
ço para a casa forte, com cofre a prova de Janeiro. Dispensando os espetáculos de re-
fogo, e destinado à guarda de objetos pre- vista, rompendo o cerco das peças dessa ca-
ciosos, não só do Teatro como dos artistas. tegoria tradicionalmente encenadas na Pra-

90 Teatros do Rio
Teatro João Caetano, S.d.
Fotografia Augusto Malta. Acervo Museu da Imagem e do Som
ça Tiradentes. O responsável pelas obras Em janeiro de 1965, durante o governo de
foi o engenheiro Stélio de Morais, diretor Carlos Lacerda, o teatro entra novamente em
do Departamento de Prédios e Aparelha- reformas, obrigando as equipes a trabalharem
mentos Escolares, o projeto de Roberto dia e noite para que em curto espaço de tem-
Thompson Motta e a inspeção da execução po as obras fossem concluídas e entregue o
ficaram a cargo de Celso Torreão Campos. teatro ao público, conforme matéria do jor-
Um dos problemas fundamentais do teatro nal O Globo de 27 de janeiro de 1965:
era a sua acústica. Consistiu a obra em um
novo teto (a fim de corrigir a acústica), Os operários da firma encarregada da res-
rebaixamento do local destinado à plateia, tauração do Teatro João Caetano trabalha-
com eliminação de balcões e camarotes, rão dia e noite para possibilitar a entrega
além da instalação de equipamentos cêni- da casa completamente remodelada, no
cos e de refrigeração, procedendo-se tam- prazo previsto, antes de 21 de abril. Nes-
bém à reforma de todo o mobiliário. sa data, segundo o administrador do João
João Bethencourt, então diretor do De- Caetano, Sr. Murilo Azevedo, que está no
partamento de Cultura em entrevista ao cargo há menos de dois meses, deverá ser
jornal A Noite, complementa as melhorias: estreada a peça de Artur Azevedo A Capital
Federal, encenada pelo Teatro dos Sete. Já
...além da nova pintura geral, assoalhos, foram tomadas as primeiras providências
ladrilhos, espelhos, lustres etc., as 650 para a instalação dos andaimes que possibi-
poltronas da plateia serão estofadas; as litarão os trabalhos de reforma do sistema
frisas e camarotes terão novo acabamen- acústico, de que foi encarregada a firma
to; o palco, os camarins e os sanitários Avelis, ganhadora da concorrência.
serão totalmente remodelados; além do Depois virão a instalação de 530 pol-
pano de boca e das passadeiras. Só o pano tronas, já adquiridas e forradas em couro-
de boca, em veludo, custou 4 milhões de -plástico e do pano de boca, cujo veludo
cruzeiros e as obras totais custarão cerca também já está no depósito, pronto para
de 30 milhões. ser cortado e colocado. Os camarotes se-
É sabido que uma das muitas deficiên- rão igualmente reformados, de modo a
cias do Teatro João Caetano sempre foi a oferecerem maior conforto aos assisten-
acústica, considerada péssima por quan- tes. O veludo custou cerca de 3 milhões
tos ali têm atuado. Sobre tal problema de cruzeiros e mede 600 metros.
dos mais importantes, disse-nos o dire- Usando a “prata da casa”, como acentuou,
tor do Serviço de Teatros que, segundo a o Sr. Murilo Azevedo disse que está subs-
opinião do engenheiro Piragibe, técnico tituindo as telhas quebradas no teto, para
no assunto, além de Administrador Re- acabar com as goteiras no palco, nos dias de
gional do Centro, as pequenas reformas chuva. Dentro de mais alguns dias, terá iní-
e melhoramentos por que está passando cio o trabalho da reforma da acústica, cujo
o teatro serão suficientes para modificar material, eucatex, já está no teatro…
completamente a acústica da casa. Se, Dentre os serviços já executados des-
porém, tal não se der, o problema será tacam-se a renovação de toda a instalação
atacado futuramente, com novas verbas elétrica e do sistema de iluminação do
especiais para atendê-lo, pois se trata de palco, circuitos na plateia, nos balcões e
dispositivo caríssimo.28 camarotes e conserto da “cortina de aço”,

92 Teatros do Rio
Teatro João Caetano em 1978, (S.E.)

Teatro João Caetano. Planta baixa, (S.E.)

Capítulo 2 | O teatrO de uma capital ainda prOvinciana 93


Teatro João Caetano O Teatro João Caetano fechado desde
1961, após reforma efetuada durante o go-
que se destina a isolar a plateia e o palco, verno de Carlos Lacerda, reabre em 7 de se-
em caso de incêndio. tembro de 1965 com o programa de reinau-
guração que constou da execução do Hino
Em 6 de setembro de 1965, o jornal Nacional; concerto da Orquestra Sinfônica
O Globo, comentava as melhorias do teatro: Brasileira, regida pelo Maestro Eleazar de
Carvalho, apresentando a Sétima Sinfonia de
A fim de corrigir a acústica, o teto foi re- Beethoven; os Choros n. 10, de Villa-Lobos e
baixado em alguns pontos, até 3 metros; um concerto de Schumann, com a pianista
o salão totalmente atapetado; as paredes Guiomar Novaes.
revestidas com lambris de canela na parte
externa, e interna com eucatex acústico, ...com mobiliário totalmente novo...,
segundo projeto de Roberto Thompson. problemas acústicos solucionados, com
Quanto à decoração, foi construído um teto falso todo em gesso a pintura bem de-
ciclorama, isto é, uma espécie de imita- corativa, sistema de iluminação moderno,
ção de veludo velnac, cujo preço foi 3 ar refrigerado e excelentes acomodações
milhões e meio de cruzeiros, e renovado para o público...29
todo o mobiliário. A iluminação, por sua
vez, também totalmente revista, aguarda Em março de 1978, tendo Adolfo Bloch
porém a chegada de 30 refletores, impor- como presidente da Fundação dos Teatros
tados da Alemanha... do Rio e com projeto do arquiteto Rafael

94 Teatros do Rio
Peres, acústico de Roberto Thompson Mot­­ rins foram aumentados, assim como banhei-
ta; Fernando Pamplona na parte cênica, ros, ficando todos à direita do palco.
de iluminação e mecânica do palco, e su- Ampliou-se o fosso da orquestra, e dois
pervisão do engenheiro Carlos Lafayette, palcos laterais foram criados. Num deles es-
são iniciadas as reformas do João Caeta- tavam as antigas salas de administração, que
no, incluindo uma revisão total do sistema passaram para um andar mais elevado sobre
acústico, dos mais deficientes do Rio. Teve um dos palcos. O palco central foi todo re-
fachada alterada e instalação de novas pol- vestido em climatex e teve sua frente au-
tronas, iguais às do Theatro Municipal, sem mentada em cinco metros.
os entalhes de madeira, pois sessenta por Embora com capacidade para 1.422 lu-
cento das que existiam estavam quebradas. gares, pelo menos duzentos deles não ofe-
O teatro esteve fechado, em obras, por um reciam a mínima visibilidade do palco. Isso
período de dez meses. acontecia tanto na plateia, como nos balcões
A entrada do teatro foi totalmente modi- e galeria. O teatro passou a ter 1.326 luga-
ficada. As portas principais avançaram, tor- res, com total visibilidade da galeria e cama-
nando o foyer duas vezes maior. E a marquisa rotes. A ligação entre o palco e a cabine de
também foi à frente para proteger as pessoas. comando ficou pelo interior do teatro, ao
No foyer, colocaram-se duas saídas laterais, contrário do que era anteriormente, sendo
inexistentes antes, o chão em granito e as destinado a este setor um local central aci-
colunas revestidas de alumínio. Foram ins- ma do balcão nobre.
talados também um bar e uma chapelaria,
e os banheiros deixaram de abrir para a sala O luxo e o requinte substituíram o despo-
de espetáculo, como ocorria antes, abrindo- jamento e o abandono a que estava relega-
-se então para o foyer. O mesmo ocorreu nos do o velho teatro. Embora conserve seus
dois outros andares (balcão nobre e simples), 1.300 lugares, quem entrar no novo Teatro
sendo que um dos andares foi eliminado. Foi João Caetano sentirá imediatamente que a
feito também um tratamento antifogo nos operação plástica foi total.30
tetos, paredes e tapetes. No balcão nobre os
dois painéis de Portinari foram restaurados O próprio engenheiro Lafayette é quem
pelo professor Edson Motta. comenta em entrevista a Miriam Alencar,
Além da substituição de todos os elemen- publicada no Jornal do Brasil de 11 de maio
tos que não se encontravam mais em condi- de 1979, as modificações introduzidas no
ções de uso ou que fossem colocar em risco teatro, quando de sua reinauguração:
a nova reforma, foram trocados: pano de
boca, piso da plateia, revestimento das pa- Desapareceram as frisas laterais, a pla-
redes, linha do teto, sistema elétrico, e sis- teia foi reordenada de forma que não há
tema de ar-condicionado. No telhado foram uma poltrona exatamente na frente da
substituídas todas as telhas, porque as que outra, o que facilita a visão do público
existiam eram de diferentes procedências e sob qualquer ângulo. Os balcões foram
não permitiam um encaixe perfeito, deixan- reformados, com transformação dos ca-
do passar água da chuva e provocando infil- marotes em filas de poltronas com me-
tração no palco e na plateia. Os banheiros lhor disposição.
que tinham portas voltadas para a plateia, O veludo é pouco, restringindo-se mais
passaram a ter acesso pelo foyer. Os cama- à moldura do palco e cortina. As paredes

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 95


são revestidas de lambris de cerejeira, O palco passou por revisão geral no
sendo que os balcões levam uma faixa de sistema mecânico de varas para cenários,
couro bege em toda extensão. A cor bege com a troca de seus vários componentes.
predomina no couro das poltronas, traba- Com 12 metros de abertura de boca, o
lhadas em imbuia, sendo cópia das cadeiras palco ficou com 6 metros de altura. O ci-
do Theatro Municipal. Revestimento de clorama foi recuado em um metro e meio,
couro bege está também nos cinzeiros do ampliando a área de encenação. O fosso
hall de entrada e do foyer complementa- da orquestra fixo, também foi ampliado.
dos por aço inoxidável. Ao mesmo tempo o palco pôde ter o piso
Todo encanamento hidráulico foi reno- modulado de acordo com as necessidades
vado, bem como o sistema elétrico além do espetáculo. As paredes internas do pal-
da instalação de moderno sistema de ar- co receberam tratamento especial acústico
-condicionado central… A cabina de luz e com placas de climatex.
som passou a ser frontal, na altura do pri- …os banheiros destinados ao público,
meiro balcão, dominando o palco. A mesa cujas portas davam para dentro da sala de
de iluminação é belga, como a do Munici- espetáculos, foram alterados, ficando iso-
pal e a do Villa-Lobos, com 240 circuitos lados da sala, com saídas para o corredor.
independentes… Nas obras do Teatro João Caetano fo-
O tratamento acústico foi especial. Ro- ram usados móveis da Armando Terroso.
berto Thompson rebaixou o teto, fazendo A mecânica de cena foi da Andersen; Cei-
uma espécie de “asa de gaivota” em sete brasil forneceu a aparelhagem de ar-con-
planos, reduzindo o tamanho em função dicionado; a mesa de iluminação cênica é
da acústica. O sistema de som tem agora da firma belga ADB; instalações hidráu-
uma mesa com 16 canais de estúdio que licas e elétricas da Beleti; a mesa de som
podem inclusive fazer transmissão direta é da CAB – Científica Áudio Brasileira.
para rádio e TV. A construção ficou a cargo da Wrobel
Os camarins eram pequenos e com Construtora.
poucos banheiros. Hoje são seis camarins
considerados principais, com banheiros De acordo com os dados fornecidos, em
próprios e mais oito coletivos com núme- 16 de dezembro de 1981, pelo então Dire-
ro suficiente de banheiros. A administra- tor do Departamento de Engenharia e Ma-
ção ganhou instalações próprias com saí- nutenção da Funarj, Carlos Lafayette Barce-
das independentes e o teatro uma sala de los, o palco possuía as seguintes dimensões:
ensaios e leituras de peças. largura de boca de cena – 11 m; urdimento
O foyer também recebeu tratamento – 19 m; proscênio – 4 m; altura da boca de
especial. Com piso de granito, grandes cena – 7 m e profundidade – 15 m.
portas de vidro fumê que se abrem para Quanto à aparelhagem de iluminação:
uma varanda (onde era um terraço aban- o quadro de luz é do tipo Memolight CL
donado), com jardins e bancos de grani- 240, capacidade de 240 circuitos individuais
to que poderão abrigar o público nos in- com possibilidade de memorização de 300
tervalos dos espetáculos, com visão para efeitos diferentes (FLOPRY-DISC); potên-
a Praça Tiradentes. Os dois painéis de Di cia instalada de 450 KW, 220 V, 60 HZ. Os
Cavalcanti foram restaurados pela equipe refletores incluem aproximadamente 100
do professor Edson Motta. projetores de 1000 W; 50 de 2000 W com

96 Teatros do Rio
Teatro João Caetano
lentes planas e convexas e Fresnel; 2 proje- manutenção de toda maquinaria, restaura-
tores seguidores de 1000 W. Existem ainda ção das poltronas, eliminação de infiltrações
8 conjuntos de gambiarras com 32 projeto- no porão e nas lajes superiores, reparos do
res de 1000 W para o ciclorama. A apare- sistema hidráulico dos sanitários e camarins,
lhagem de som consta de gravador, am­­ novo sistema de refrigeração e a restauração
pli­­­­ficador, misturador, microfone e caixas do painel Samba, pintado por Di Cavalcanti.
acús­­­­­ticas. Sua lotação é de 1.222 pessoas, Todo esse trabalho foi necessário para que a
ofe­­recendo 651 lugares na plateia, 123 no peça Floresta Amazônica em Sonho de uma noite
balcão nobre e 448 no balcão simples. de verão pudesse estrear com a direção do ale-
Em 11 de março de 1979, após a reforma mão Werner Herzog e tendo como produto-
geral, foi reinaugurado com a apresentação ra e atriz principal Lucélia Santos.
da comédia musical O rei de Ramos, de Alfre- Em 22 de abril de 1994 foi inaugurado o
do Dias Gomes, com direção de Flávio Ran- sótão do Teatro João Caetano, que antes era
gel, música de Chico Buarque de Hollanda e um espaço destinado para ensaios tornando-
Francis Hime. No elenco: Paulo Gracindo, -se uma sala de espetáculos acanhada, sem
Felipe Carone, Carlos Kopa, Marília Barbo- recursos técnicos, com capacidade no máxi-
sa, Márcio Augusto, Roberto Azevedo, So- mo para setenta pessoas. A inauguração desse
lange França, Carlos Acioly, Leina Krespi, espaço foi com a encenação da peça Casa de
Jorge Chaia, Abdala, Renato Castelo, Ar- Prostituição Anaïs Nin, de Francisco Azevedo,
mando Garcia, Deoclides Gouvea, Antonio com direção de Ticiana Studart. A sala não
Sasso e Humberto Afonso. teve boa aceitação e deixou de funcionar.
Em julho de 1989, o forro do telhado O Teatro João Caetano passou por mais
no segundo balcão do Teatro João Caeta- uma cuidadosa recuperação em 1995, ape-
no desabou sobre as cadeiras. As causas do sar de seu problema de acústica ainda exis-
acidente foram as infiltrações generalizadas tente. O artigo de Barbara Heliodora, traça
no telhado e a má conservação do prédio. um panorama do teatro e fala das sucessivas
O laudo da vistoria feita por engenheiros reformas:
da Empresa Municipal de Obras Públicas
(EMOP) constatou ter havido desabamento …Mas por volta da época da nossa primeira
parcial das placas defletoras sobre os balcões independência, a de 1822, seria realmente
simples e nobres, e só não fez vítima porque exagero tentar acreditar que houvesse o
não tinha público no local naquele momen- que quer que fosse de muito ‘brasileiro’ na
to. Foram retiradas todas as placas defletoras recente sede do governo português. Sem
e feita uma revisão geral. negar o esforço do Padre Ventura com sua
Entretanto, em maio de 1991, Bibi Fer- Casa da Ópera de 1767, ou de Manuel Luiz
reira mandou fazer uma estrutura no porão com sua Nova Ópera em 1776, é preciso
do palco para escorar todo o palco do tea­ admitir que quando aqui chegou a Família
tro, para que não desabasse durante o espe- Real portuguesa não havia no Rio de Janei-
táculo, porque várias vigas de sustentação ro um único teatro digno de abrigar espetá-
estavam comidas por cupins, e ameaçavam culos capazes de entreter a Corte em mol-
a segurança dos artistas que atuavam em seu des semelhantes aos que estava acostumada
show Bibi in Concert. no velho mundo.
Em abril de 1992, entra em nova reforma Com um espírito de improvisação que
que incluiu a substituição do piso do palco, infelizmente marcou (e ainda marca às ve-

98 Teatros do Rio
zes até hoje) o teatro brasileiro, foi Fer- uso de Ministros de Estado). E com o novo
nando José de Almeida, o cabeleireiro de teatro e a nova vida da Corte o Fernandi-
D. Fernando de Portugal, que vislumbrou nho fez virem companhias líricas italianas
a necessidade de se fazer construir um tea­ e companhias dramáticas, primordialmen-
tro condigno, e com aquele infalível tino te portuguesas.
bajulatório de todos os aventureiros bem- Nessa primeira fase do teatro no Brasil
-sucedidos, o conhecido Fernandinho fez (que é algo bastante diverso de um teatro
com que a nova casa de espetáculos fosse brasileiro) havia um predomínio quase que
chamada “Real Teatro de São João”. Qual- integral de elementos portugueses entre
quer semelhança entre o nome do santo e os atores, sendo que os nascidos na terra
o do Príncipe Regente seria, naturalmen- só raramente eram utilizados, e geralmen-
te, algo mais que mera coincidência. E em te apenas como “cômicos” ou para papéis
verdade seria injusto que procurassem cri- altamente característicos (vide a longa es-
ticar o cabeleireiro empresário, pois ele tirpe de papéis de “caipira” que até tempos
inaugurou seu teatro (fartamente subven- aterradoramente recentes habitaram os
cionado pelo governo na forma da conces- palcos nacionais).
são de várias “loterias”, sem contar com a Participou então o teatro na primei-
notável medida tomada para sustentar as ra e formal independência do Brasil? Se
fi­nanças do novo empreendimento man- não como atividade artística, por certo
tendo o governo três camarotes de pri-
meira, arrendados permanentemente para Teatro João Caetano. Palco e vista parcial da plateia

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 99


dela participou o teatro intensamente 1823
como vinha fazendo desde os primeiros Teatro do Plácido
e graves acontecimentos no Porto. Em
1820 foi da varanda do Teatro São João No século XIX, precisamente nas primeiras
(que depois virou Constitucional, de- décadas, surgiram no Rio de Janeiro teatros
pois virou São Pedro – com alguns in- menores. Como um que foi construído em
cêndios de permeio – e finalmente foi 1815 ao lado do Teatro São João, um tea-
derrubado para que o supostamente ex- trinho que apesar de citado, não tem docu-
celente dito cujo São Pedro fosse substi- mentação alguma sobre sua vida teatral.
tuído pelo modernoso e péssimo João Caetano Por iniciativa do negociante Luís de Souza
que hoje temos sempre a sofrer reformas para Dias, o francês Grandjean de Montigny pro-
conseguir melhorar um pouco)* que o prín- jetou, em 1820, uma pequena casa, que foi
cipe D. Pedro indagou das razões dos construída para ser o Hotel dos Príncipes e
amotinados; foi na mesma varanda que nele funcionou a partir de 25 de janeiro de
D. João VI fez conhecer que assinava sem 1823, um teatrinho, depois chamado pelo
conhecer a Constituição que as cortes povo de Teatro do Plácido, destinado ex-
de Lisboa estavam elaborando. Mais im- clusivamente a apresentação de espetáculos
portante para nós, cariocas, é o fato de amadores para o público da alta sociedade
ter sido também na varanda do mesmo que o frequentava.32 O teatro ficava locali-
teatro que, a 15 de setembro de 1822, o zado no Largo do Rossio, na esquina da Rua
novo imperador, recém-chegado de São do Cano (Rua Sete de Setembro), com a
Paulo, pela primeira vez se apresentou Rua do Piolho (Rua da Carioca).33
em público, ostentando no braço uma Não há referências quanto às caracterís-
fita verde e amarela, onde se lia “Inde- ticas físicas do teatro, quer quanto a sua fa-
pendência ou Morte”. Sim, foi no teatro chada, quer sobre seu interior. Apenas que
a primeira manifestação pública brasilei- era um teatro particular que teve sucessivos
ra…” 31 (*grifo do autor) proprietários: Luís de Souza Dias (1820),
Sociedade de Amadores (1823) e Plácido
Pelo palco do Teatro João Caetano, o mais Antonio Pereira de Abreu (1824). Apenas J.
antigo do Rio de Janeiro, têm sido encena- Galante de Souza, citando Adrien Balbi, diz:
dos os mais variados gêneros de espetácu-
los – dramas, recitativos, bailados, óperas, Sua construção, de alto preço, se deveu a
tragédias, vaudevilles, farsas, sátiras, entre- um grupo de negociantes ricos. Os mais
mezes, operetas, concertos, burletas, comé- ilustres autores compuseram peças que ali
dias, revistas musicadas, shows etc., que, em eram levadas à cena pelos mais distintos
uma análise mais detida, poderiam dar uma amadores. Os cenários eram executados
imagem da vida e dos costumes da cidade e pelos melhores artistas do Rio de Janeiro. 34
do país, sua história política e social, nesses
anos de existência. O famoso “teatrinho” era mantido por uma
Atualmente sua capacidade é de 651 luga- sociedade de amadores que ali realizava seus
res na plateia, 123 no balcão nobre e 148 no espetáculos, algumas vezes honrados com
segundo balcão. Com vinculação estadual, é a presença de D. Pedro I. Segundo Augusto
propriedade da Furnarj, Fundação de Arte Maurício “... logrou sucessos marcantes que
do Rio de Janeiro. atraíram até a presença do Imperador D. Pe-

100 Teatros do Rio


dro I e da Imperatriz D. Leopoldina e mui- ordenando-lhe que adquirisse aquela casa de
ta gente de sangue nobre...”.35 O “teatrinho” espetáculos para o governo e, também, que
apresentava dois espetáculos por mês e era re- falasse ao intendente-geral da polícia para
servado a um clube fechadíssimo da socieda- fechar o “teatrinho”, por ordem do Impera-
de, cujos membros vigiavam a entrada evitan- dor, despejando em seguida os componentes
do o ingresso de pessoas de baixa reputação. da companhia teatral.
Não há menção explícita aos nomes de espe- Tudo assim se verificou, para que ficas-
táculos encenados, mesmo o de inauguração; se vingada da afronta à futura Marquesa de
há apenas, em J. Galante de Souza, sobre o Santos. Indignados, os atores e a empresa
repertório, menção a “importantes peças [...] do “teatrinho” jogaram todos os objetos e
encenadas por amadores” e à mesma decisão equipamentos do teatro pela janela, trans-
n. 10, de 25 de janeiro de 1823, que autoriza­ portando-os ao Campo de Sant’Anna, atual
va o funcionamento do teatro e explicitava Praça da República, onde queimaram tudo
em uma enorme fogueira com gritos e asso-
que possam dar espetáculos duas vezes por vios pouco respeitosos dirigidos ao Impera-
mês, contando que nunca ofereçam em noi- dor, que, satisfeito com a lição dada, não se
tes de representações do Real Teatro de São deu por achado.
João, ainda que sejam em dias de gala.36

Subitamente, a 20 de setembro de 1824, 1824


por volta das 11 horas da manhã, foi o “tea­ Teatro Porphyrio (Teatro da Rua
trinho” visitado por policiais, que traziam do Lavradio)
ordens do intendente-geral de polícia, Es-
tevão Ribeiro de Rezende, para fechá-lo, Nesse período, outros teatros menores vie-
apreendendo os papéis ali existentes. O fato, ram a surgir na cidade do Rio de Janeiro.
logo sabido pelo povo, provocou diversos O Teatro Porphyrio, também conhecido
comentários, espalhando-se a notícia que tal como Teatro da Rua do Lavradio, foi cons-
sucedera por ter sido impedida a entrada da truído por Victor Porphyrio de Borja e por
Marquesa de Santos, favorita do Imperador, outros artistas portugueses que haviam tra-
na referida casa de espetáculos, na véspera balhado no Teatro de São Pedro. Porphyrio,
da violenta diligência. ator da Companhia do Imperial Teatro de
Domitila de Castro teria comunicado ao São Pedro de Alcântara, dela se retirara com
Imperador o ultraje sofrido, atribuindo-o intenções de construir sua própria casa de
aos Andradas, pois José Bonifácio não to- espetáculos. As obras de edificação, libera-
lerava a sua influência junto de D. Pedro I. das por decreto Imperial,
Segundo se espalhou, haviam declarado al-
guns sócios do “teatrinho”, à favorita, que Sendo presente a sua majestade o impera-
aquele teatro “era só para famílias”. Levan- dor o plano que, para edificação de um Tea­
do o fato ao conhecimento do Imperador, tro nesta Corte, propõe, no requerimento
sabia a favorita que seria vingada, pois bem incluso, Victor Porphyrio de Borja: manda
conhecia o gênio violento de D. Pedro I. E, o mesmo senhor pela Secretaria de Estado
realmente, logo na manhã seguinte, o Im- dos Negócios do Império, que o Intenden-
perador chamava o seu servidor e antigo te Geral da Polícia, visto ser este negócio
barbeiro Plácido Antonio Pereira de Abreu, absolutamente particular e dependente da

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 101


vontade das pessoas que quiserem concor- Por fim recebendo convite para fazer parte
rer com ações, nenhum embaraço ponha à de uma companhia (...) Victor Porphyrio
deligência que o suplicante fizer para rea- de Borja abandonou o seu Teatro, cujos
lizar o que pretende. Palácio do Rio de Ja- terrenos foram arrematados pela Loja
neiro, 22 de maio de 1824. João Severiano Glória do Lavradio, sendo o local atual-
Maciel da Costa.37 mente ocupado pelo Grande Oriente e
Supremo do Brasil.40
iniciaram-se em 1824, em um terreno ad-
quirido pelo grupo de artistas, à Rua do
Lavradio. O projeto foi do próprio Victor 1826
Porphyrio, auxiliado por seus compatrio- Teatrinho da Rua dos Arcos
tas, e com o andamento das obras verifi-
cou-se que suas proporções eram pequenas Um outro teatro particular foi inaugurado
para um teatro, além da dificuldade finan- em 1826, à Rua dos Arcos, do lado do Mor-
ceira para “torná-lo suficientemente am- ro do Santo Antonio, nos fundos de uma
plo”.38 Antes mesmo de concluídas, ali se chácara próxima ao aqueduto da Carioca, ao
realizaram alguns espetáculos. Mas o gru- lado direito de quem se dirigia para o Largo
po, passando por dificuldades financeiras, da Lapa, e em frente à Academia de Belas-
não conseguiu concluir as obras do prédio, -Artes.
que acabou sendo arrematado pela loja Erguido nos fundos de uma residência, o
Glória do Lavradio. Assim sendo, o teatro palco era uma caixa de madeira, em frente
teve poucas funções. do qual foi erguida uma cobertura de lona
Não foram encontradas referências quan- para abrigar as cadeiras da plateia. Numa
to aos espetáculos encenados, mesmo o de fase posterior (data não identificada), foi
inauguração. Quanto às características ar- construída uma varanda dividida em cama-
quitetônicas do prédio, Henrique Marinho rotes, em frente ao palco.
assim o descreve: Pertencia à Sociedade do Teatrinho da
Rua dos Arcos. A 15 de junho de 1829, o
Um gradil de ferro entre pilastras de pedra Imperador concede licença, por meio do
e colocado sobre um parapeito também de aviso n. 109, assinado pelo Desembargador
pedra fecha o átrio do edifício. Tem este 3 Ajudante do Intendente-Geral da Polícia,
pavimentos, sendo a fachada dividida em Luiz Soares Texeira Gouveia, aprovando
3 corpos. No corpo central há 5 portas no também seu respectivo estatuto, para que
primeiro pavimento, 5 janelas de sacada se estabelecesse na Corte a sociedade man-
no segundo e 5 no terceiro. Um frontão tenedora do teatro, composta por um cor-
reto coroa o corpo central havendo no po de cinquenta sócios, que já funcionava
tímpano um pelicano dourado entre raios antes mesmo da autorização de D. Pedro I,
também dourados. Os corpos laterais têm pois havia incorporado os sócios do Teatro
no primeiro pavimento uma porta e no se- Constitucional, na ocasião do seu fecha-
gundo uma janela de sacada.39 mento.
O Teatrinho da Rua dos Arcos foi inaugu-
O Teatro Porphyrio não chegou a ter uma rado com um drama denominado O desertor
inauguração oficial, como Múcio Paixão co- francês, de acordo com Múcio da Paixão e J.
menta: Galante de Souza. Há notícias de peças como

102 Teatros do Rio


O Duque de Lituânia, levada a cena em 9 de de- 1832
zembro de 1832; Ministro Constitucional, em Teatro São Francisco de Paula
7 de maio de 1830, além de outros dramas,
recitais e peças musicais, que foram levados O Largo do Rossio estava se tornando uma
ao longo de seus 10 anos de existência. região valorizada e marcada pela ativida-
Em 22 de agosto de 1834, o Teatrinho de teatral. Assim, “em 1832, Grandjean de
da Rua dos Arcos foi vendido em hasta pú- Montigny projeta para Victor Chabry o Tea-
blica pelo leiloeiro Frederico Guilherme, tro São Francisco de Paula, na rua do mesmo
com todos os seus utensílios, desaparecen- nome” 42, o que, ironicamente, levou à pri-
do em seguida. meira de uma série de mudanças do nome
daquela rua para Rua do Teatro. 43
Esta casa de espetáculos, com palco de re-
1828 duzidas proporções, tinha o empresário M.
Teatrinho do Largo de São Sémond como responsável, e foi inaugurada
Domingos em 1833, com repertório francês, não con-
seguindo se manter por muito tempo. Hen-
Em 12 de junho de 1828, a Intendência- rique Marinho o descreve:
-Geral da Polícia concede licença para que
se possa organizar no Largo de São Do- Era uma casa de pequenas dimensões. Na
mingos (deixou de existir com a abertura frente tinha uma única porta larga. A fa-
da Avenida Presidente Vargas), uma socie- chada do edifício é dividida em 3 corpos;
dade com a denominação de Teatrinho do havendo no 1º pavimento do corpo central
Largo de São Domingos, conforme Múcio uma porta larga, e no 2º pavimento 3 jane-
Paixão se refere: las de sacada divididas por pilastras. Segue-
-se um frontão reto existindo no tímpano
Em cumprimento do imperial aviso de 9 as máscaras da tragédia e da comédia com
do corrente, expedido pela Secretaria de os seus atributos. Os corpos laterais apre-
Estado dos Negócios da Justiça, concedo sentam uma porta no 1º pavimento e uma
licença para que se possa organizar no lar- Janela de sacada no 2º. Um ático, que vai
go de São Domingos, uma sociedade para morrer no frontão, oculta o telhado do
um Teatrinho com a denominação de Tea­ edifício. O teatro estende-se até a Rua do
trinho do Largo de São Domingos, pela Cano. É pequeno e muito estreito.44
forma do seu requerimento e estatutos,
que ficam no arquivo da Secretaria dessa João Caetano resolve adquiri-lo em 1841,
Intendência, ficando os membros da dita para reformá-lo, incluindo camarotes, mon­­
sociedade responsáveis pelo abuso que tando um repertório com a sua companhia
desta concessão possam fazer. Esta se cum- e alternando com a companhia lírica fran-
prirá e se registre competentemente. cesa. Reinaugura-o em 2 de maio de 1841
Rio de Janeiro, 12 de junho do ano de com a peça Os dois renegados, de Mendes,
1828. onde atua ao lado de Estela Sezefredo e Pi-
O Desembargador Ajudante Queiroz.41 mentel.
A princípio tinha uma varanda em seu
Não há mais referências sobre o Teatri- interior que, em 1846, foi completamente
nho do Largo de São Domingos. transformada,

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 103


substituída por duas orlas de camarotes. Dava récitas particulares de amadores.
[...] a sala com motivos egípcios executa- Mas em 1839, no ano do nascimento de
da pelo Cicarelli, que havia exposto suas Machado de Assis, apresentou-se neste
obras na Escola de Belas Artes. O pano de tea­tro um mágico chamado Leroux. Fez
boca era damasco azul e as cadeiras forra- sucesso. Realizou pela primeira vez no
das de palhinha. Tinha um lustre ao centro Brasil a decaptação de um homem.46
na plateia.45
Não se pode precisar a data de seu desapa-
Em 19 de setembro de 1846, passa a recimento, entretanto, a crônica que muito
chamar-se São Francisco e é reaberto com a lamentava o seu fim, menciona apenas que
peça Amadeu Bueno ou A fidalguia paulistana, foi desativado em 1884, pouco antes da mo-
de Joaquim Noberto de Souza e Silva, com narquia, mas sua fachada permaneceu até
o ator Artur Costa. 1888.
Em 1855, é arrendado a Joaquim He-
liodoro Gomes dos Santos. Depois de ter
sofrido novas reformas, é reaberto com o 1834
nome de Gymnasio Dramático, no dia 12 Teatro da Praia de Dom Manuel
de abril do mesmo ano, com a peça O pri-
mo da Califórnia, de Joaquim Manoel de Um teatro acanhado, muito mal localizado
Macedo, musicado pelo maestro Demétrio na época, e que ficava afastado da centralida-
Rivero, tendo no elenco Amoedo, Guilher- de urbana, que era o Campo de Sant’Anna
me Orset, Pedro Joaquim, Pedro Montani, e Rossio, é inaugurado em 2 de agosto de
Martins, Adelaide Amaral e Maria Velloti. 1834, dia do aniversário da Princesa D.
Seguiu-se a peça Um erro, de Scribe com Francisca, situado na Rua do Cotovelo47, à
elenco composto por Amoedo, Gabriela de beira-mar, no sopé do Morro do Castelo,
Vechi, Maria Velloti, Pedro Joaquim, Gui- recebendo o nome de Teatro da Praia de
lherme Orsat e Josefina Miró. Dom Manuel. Como anteriormente era um
Em 1861, é arrendado a Joaquim Augusto prédio ocupado por um quartel de artilharia
Ribeiro de Souza e, de 1867 a 1868, L.C. montada, um grupo de artistas portugueses
Furtado Coelho passa a ser o empresário do obteve a concessão de construir o teatro,
teatro. Em 1878 o teatro é comprado por que seria revertido para o governo no fim
Joaquim Antonio Pinheiro. de três anos.
O Teatro São Francisco de Paula, depois Tratava-se de um sobrado com cinco jane-
Teatro Gymnasio Dramático, pelo repertó- las e outras tantas portas em forma de arco
rio significativo de peças nacionais que apre- no pavimento inferior, que não possuía uma
sentou, dramas da escola realista e também arquitetura externa para teatro. Sobre seu
sátiras, além de comédias, óperas e revistas, interior, só há referência a partir de 1842,
teve importante papel na história do teatro quando grandes obras foram efetuadas, do-
do Rio de Janeiro. Nele também se realiza- tando o teatro de maior conforto e elegân-
ram outras atividades, de menor importân- cia, conforme palavras de Lafayette Silva:
cia, como mágicas e reuniões de estudantes.
H. Pereira da Silva, em O Rio de Janeiro na Desapareceram os pesados capitéis que
obra de José de Alencar, faz algumas referências ornavam as pilastras dos camarotes. Em
interessantes sobre essa faceta do teatro: substituição, foi feita uma simples mol-

104 Teatros do Rio


dura dourada, acompanhada de varetas ta da Costa, Maria Soares, Victor Porphyrio
do mesmo metal e recamada de orna- Borja, José Maria do Nascimento, Antonio
mentos verdes. Soares e José Jacó Quesada.
Sobre a tribuna imperial, via um qua- Em 20 de março de 1837 é baixado o
dro representando as figuras da justiça e Decreto n. 153, concedendo duas loterias a
da paz, sustentando as armas nacionais; su- mais para o Teatro da Praia de Dom Manuel.
bia, por detrás delas, o dragão, emblema A 26 de setembro de 1838, passou a ter
da casa de Bragança. Por cima da orques- o nome de Teatro São Januário, em homena-
tra, um quadro, representando o gênio da gem à Princesa D. Januária, irmã do Impe-
poesia. De um lado, o retrato de Molière; rador D. Pedro II, apresentando o seguinte
de outro, o de Corneille, ambos emoldu- repertório: Carlos III ou A Inquisição, drama
rados de arabescos brancos semeados de em quatro atos e a farsa intitulada O maníaco.
uma infinidade de pequenos gênios e de Em 1846, a atriz cantora Del Mastro, não
máscaras antigas, de ouro. No proscênio, logrando êxito na encenação, decidiu, no dia
quatro medalhões com os retratos de Raci- 21 de fevereiro, promover um baile de más-
ne, Voltaire, Beaumarchairs e Maurivaux. caras no teatro, dando início a esta nova utili-
O pano de boca era azul adamascado, sem zação do edifício teatral, que mais tarde seria
pregas, com rica franja de ouro; ao centro, bastante difundida. Esses bailes realizados em
emergindo de uma coroa de murta, via-se outros teatros eram geralmente animados pe-
uma lira. Todos esses trabalhos foram exe- las cocottes (atrizes e prostitutas francesas) que
cutados em vinte e três dias pelos artistas alegravam a vida mundana da cidade.
Olivier e Barros...48 Entretanto, os bailes não foram exclusi-
vamente destinados às mundanas. O Teatro
Já o Correio da Manhã de 21 de fevereiro de São Pedro, em 1908, divulga na imprensa
de 1962, fala de um outro pano de boca: bailes à fantasia nos quatro dias de carnaval,
mas o anúncio permitia observar a preven-
O pano de boca representava a Praça da ção dos organizadores em frisar que seriam
Constituição com o Teatro São Pedro. A bailes familiares. Comenta a Revista do Teatro,
iluminação por meio de um grande lustre (março-abril de 1963) em texto sem assina-
e de gambiarras junto ao palco era alimen- tura, sobre esses bailes realizados no Teatro
tada por azeite. Depois de 1854 foi encer- São Januário:
rado o gás.
O Barão do Rio Branco, nas suas Efemé-
Sua capacidade era de 446 lugares: 24 ca- rides, diz que no sábado de carnaval, 21
marotes de primeira ordem, 22 camarotes de fevereiro de 1846, se realizou no Teatro
de segunda, 22 camarotes de terceira, 180 São Januário, que então já era do governo,
cadeiras e 220 gerais, e ainda uma tribuna o primeiro baile mascarado do Rio de Ja-
privativa da Família Imperial junto à boca de neiro, sendo, portanto, precursor dos bai-
cena, com entrada pela Rua Dom Manuel. les de carnaval do Theatro Municipal, que
O espetáculo de inauguração foi Misantro- também é teatro oficial. Como se vê o mal
pia e arrependimento, drama em cinco atos vem de longe.
de Fernand Kotzbue, tradução de Caetano
Lopes de Moura, com elenco composto de Durante alguns anos o teatro permane-
Ludovina Soares da Costa, João Evangelis- ceu fechado, reabrindo em 4 de novembro

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 105


de 1848. Em 23 de maio de 1862, depois da orquestra. Em seguida, os alunos do Con-
de sofrer grandes reformas, é reinaugurado servatório representaram um vaudeville em
com o nome Teatro Ateneu Dramático, com dois atos, Artur, ou Depois de dezesseis annos. No
a peça Os íntimos, comédia de Sardou, tradu- elenco Lord Melvil, almirante da marinha in-
zida por Manuel de La Peña. Em 1863, no- glesa – Sr. José Antonio Godinho; Maria – D.
vamente recebe o nome Teatro São Januário. Leopoldina Corrêa de Albuquerque; Sr. Ar-
Desapareceu em 1868, quando foi demolido thur – Florentino Carlos Victoria; Jeronymo
para a construção da Secretaria de Viação. O Duflot, estanqueiro de tabaco em Paris – Au-
governo teve de permutar os terrenos que gusto Ângelo Montani; Jobson, pescador, ou-
possuía na Praça Dom Manuel por outros no trora marinheiro – Juvita José Marques; Ca-
Largo do Paço. tarina, mulher de Jobson – D. Leonor Orsat;
pescadores, jornaleiros, náufragos e marujos;
coros de homens e mulheres.
1834 As personagens cantaram as seguintes pe-
Teatro São Pedro e Teatro ças musicais: “duas cançonetas por Maria;
do Valongo três por Arthur, duas por Jobson; dueto por
este e Jeronymo Duflot, sendo todas estas
Da Independência ao 7 de abril de 1831, es- peças ensaiadas pelo professor de música
tenderam-se nove anos de agitação política dos meninos, o Sr. Lino José Nunes”; o ce-
no Brasil, onde um sentimento nacionalis- nário – “todo novo e a caráter” – foi “pintado
ta exagerado deu origem a acontecimentos pelo Sr. José Caetano da Cunha Ribeiro, e o
que marcaram de certo modo a nossa inci- vestuário pelo Sr. Antonio Ferreira da Silva
piente nacionalidade. Santos”. O “divertimento” terminou “com o
Em 29 de junho de 1834, inaugura-se na muito aplaudido Septemino Chinez”.49
Rua do Valongo, mais tarde Rua da Impera- O Jornal do Commercio, em 8 de maio de
triz (hoje Rua Camerino), o Teatro São Pe- 1847, véspera da inauguração, anunciava ao
dro, construído por sugestão de João Cae- público: “... um teatrinho no pavilhão gran-
tano a alguns amigos e inaugurado por ele. de com comodidades, a fim de serem des-
Nessa mesma rua, próximo à praia havia frutados os espetáculos...”.
outro teatrinho, pertencente a uma família O Teatro Tivoly foi construído por inicia-
Barroso e denominado Teatro do Valongo. tiva dos alunos do Conservatório Dramático
Alguns historiadores confundem os dois tea­ Brasileiro (órgão semioficial), reconhecido
tros, consignando como reabertura com pelo Governo Imperial, de utilidade públi-
no­­­­­­­vo nome a inauguração do Theatro São ca. Segundo Galante de Sousa, no Tivoly re-
Pedro. O Teatro do Valongo teve suas ativi- presentavam os alunos do Conservatório de
dades paralisadas em 1843. Música. Ao Conservatório foi atribuído, pe-
las autoridades competentes, o exercício da
censura teatral. Originalmente, a finalidade
1847 era a de servir aos amadores do Conservató-
Teatro Tivoly rio, ideia que foi, posteriormente, relegada
a segundo plano, uma vez que simultanea-
Em 9 de maio de 1847, foi inaugurado o Tea­ mente, com os espetáculos dos amadores,
tro Tivoly, que teve sua programação com vários conjuntos de profissionais também se
uma “abertura” executada pelos professores exibiam, logrando grandes êxitos.

106 Teatros do Rio


Era uma casa toda construída em madeira, com elenco constituído pelos filhos dos
e que destinava-se, também, a salão de baile; fundadores.
era localizada no Campo de Sant’Anna, es- Como Paraizo e Pavilhão Fluminense,
quina da Rua dos Inválidos. pro­­­movia
Em 25 de fevereiro de 1858 passa a chamar-
-se Café-Cantante do Pavilhão do Paraizo, es- bailes de cunho caipira, com roupas e músi-
treando com Les deux normands em goguette, duo cas apropriadas, que se realizavam no teatro
cômico por d’Hôte e Boyreau; Le Chalet, gran- todos os anos, durante as festas do mês de
de duo por Boyreau e Claudel; Chimène, gran- junho: Santo Antonio, São João e São Pedro
de ária por Guillemet; L’Hyppodrome, por Mlle. eram comemorados com entusiasmo.52
Victorine; Reviens mon fils, por Mlle. Caroline;
Pas de L’écharpe, dançado por Mlle. Emma”.50 Houve promoção de bailes mascarados,
Anúncios publicados no Jornal do Commer- fogos, danças e várias outras atividades re-
cio, nos primeiros meses de 1859, dão-lhe a creativas.
denominação francesa de Pavillon Du Parai- Com relação a este teatro vale transcrever
zo. Os anúncios das peças eram, igualmente, a matéria de Bandeira Duarte para esclare-
publicados em francês. cer um pouco de: “A verdade sobre o Tivoly”
Em 1868, seu nome já era Teatro Pavilhão
Fluminense, conforme referência no Almanak Todos os que escreveram sobre a história
Laemmert, (p.366): do nosso teatro incorrem no mesmo erro
quanto a um dos supostos teatros cariocas:
No mesmo estabelecimento há um mesmo o Tivoly. Não afirmo, mas tenho a impres-
salão ricamente ornado e preparado para são de que, errando o primeiro, todos os
grandes bailes, jantares e reuniões polí- demais, copiando, erraram também. Até
ticas etc. Enfim, para tudo quanto for de eu, nas “Efemérides Cariocas”. E inclusive
extraordinária concorrência. o último, José Galante de Souza, no seu
excelente “O Teatro no Brasil”, editado em
O Tivoly foi um teatro experimental, nele boa hora pelo Instituto Nacional do Livro.
trabalharam duas ingênuas que marcaram Um trabalho que seria definitivo se o es-
época: Leonor Orsat, portuguesa, e Jesuína crupuloso e honesto sibliógrafo levasse
Montani, italiana. um pouco mais longe a sua extraordinária
capacidade de pesquisador. Infelizmente
Os admiradores da Jesuína fundaram um porém, essa obra também está cheia de
periódico, O Montanista, pelo qual, não falhas e – o que lamento profundamente
só exaltavam os méritos da sua predileta, – contém vários erros incompreensíveis
como amesquinhavam os da outra, não numa autoridade como a desse respeitável
procediam de forma inversa os fundado- Galante de Souza. Dois desses erros po-
res de O Orsatista. Os dois jornais eram dem ser facilmente apontados: o que me
impressos na mesma tipografia, a de Fran- atribui uma “colaboração” em jornais dos
cisco de Almeida, localizada à Rua da Vala, quais fui, na realidade, “redator permanen-
hoje Uruguaiana, n. 141.51 te” e “crítico teatral”, incluindo o Diário de
Notícias em cujas colunas jamais tive a hon-
O Tivoly foi também o precursor do tea­ ra de aparecer, e esquecendo o Diário da
tro infantil no Rio de Janeiro, em 1847, Noite e O Jornal a cujas redações pertenci

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 107


e que secretariei mesmo, por longos anos; Lord Nelvil, almirante – O Sr. José Anto-
o que envelhece o nosso querido Olavo de nio Godinho; Maria – Dona Leopoldina
Barros, dando-o como nascido em 1893, Corrêa de Albuquerque; Sir Arthur – Flo-
quando ele nasceu em 1894, e colocando-o rentino Carlos Victoria; Jeronymo Dufiot,
como professor do Conservatório Dramá- estanqueiro de tabaco em Paris – Augusto
tico Nacional, quando ele é professor do Angelo Montani; Jobson, pescador, ou-
Conservatório Nacional de Teatro. trora marinheiro – Juvita José Marques;
Não desejo, nem de longe, desvalorizar Catarina, mulher de Jobson – D. Leonor
com essas e outras anotações, uma obra que Orsate; pescadores, jornaleiros, náufragos,
merece, de todos nós, os maiores aplausos marujos, Coros de homens e mulheres –
– distinguida com o Prêmio Sul América, As personagens cantarão as seguintes peças
também não mencionado pelo autor que de música (segue-se uma relação) ensaiadas
se despiu inexplicavelmente desse honroso pelo professor de música dos meninos, Sr.
título – e que representa a maior contribui- Lino José Nunes. Terminará o divertimen-
ção já prestada à nossa história teatral. Mas to com o muito aplaudido Septemino Chi-
é preciso que, desde já, e enquanto estamos nez – a empresa, que é sumamente grata
vivos, comecemos a rever o que deva ser ao respeitável público, e que não esmorece
revisto no livro de Galante de Souza, para em procurar os meios de satisfazer as imen-
evitar que, futuramente, errem os que ali se sas provas de acolhimento que do mesmo
basearem, como têm errado os que escre- tem recebido, estabeleceu, como já anun-
vem sobre o Tivoly. ciou, um teatrinho no pavilhão grande com
Na verdade, nunca houve um Teatro Ti- comodidades, a fim de serem desfrutados
voly. Houve, sim, um teatrinho no Tivoly, o os espetáculos; pretende, por isso, além das
que é bem diferente. Porque o Tivoly era, danças, dar algumas representações dramá-
muito antes desse teatrinho, o que no meu ticas, sendo estas, como dito fica, pelos
tempo de rapaz se chamava de “mafuá” e de- meninos alunos do conservatório; eis por-
pois se classificou como “parque de diver- que implora dos Srs. Espectadores a sua tão
sões”, com danças, jogos, e representações conhecida indulgência não só atendendo
variadas. Nesse parque, no dia 9 de maio de não terem os representantes conhecimen-
1847, inaugurou-se, “no pavilhão grande”, to algum da cena, como pela sua diminuta
um teatrinho. E nesse teatrinho, estreou idade; ela e o encarregado de os ensinar,
um grupo de “meninos do conservatório”. muito se satisfarão se eles obtiverem dos
Do “conservatório de música”, com letra benignos espectadores acolhimento e per-
minúscula. Lá está na última coluna da úl- dão. Bilhetes: 1$000 por pessoa e 500 réis
tima página do Jornal do Commercio daquele pelas crianças menores de 10 anos”.
dia, o anúncio: “TIVOLY – Primeira re- Por esse anúncio ficamos sabendo de
presentação dramática no teatrinho – Do- várias coisas. Além de positivar o gênero
mingo, 9 do corrente – Às 4 horas da tarde de estabelecimento que explorava o Ti-
abrir-se-á o estabelecimento e às 8 horas. e voly, e de testemunhar que não houve um
meia-noite, depois dos professores da or- teatro Tivoly, mas um teatrinho no Tivoly,
questra executarem a ouvertura, represen- informa que a peça representada não foi
tarão os meninos do conservatório Artur ou Artur ou Dezesseis anos depois, como afir-
Depois de dezesseis annos vaudeville em dois mam quase todos os nossos historiadores,
atos ornado de música – Interlocutores: mas Artur ou Depois de dezesseis anos. Fala-se

108 Teatros do Rio


em “meninos alunos do conservatório de A área para edificação do teatro foi es-
música”, mas não se sabe que conservató- colhida no Campo da Aclamação (Praça da
rio era esse. E, ao que parece, o grupo de República, em 1890). O edital de 13 de no­­
meninos que inaugurou o teatrinho, foi a vembro de 1851 foi apoiado pelo Marquês
primeira companhia de teatro infantil da de Olinda, que havia assumido o Ministé­­­
nossa história. Companhia que, domingo, rio do Império. O corpo de jurados era
23 de maio de 1847 apresentou ali, Os dois composto pelo Conselheiro Antonio Ma-
ou O inglês maquinista, para reapresentar, nuel de Melo, pelo Coronel Joaquim Can-
mais tarde, a peça de inauguração. dido Guillobel e pelo Engenheiro Cristiano
Aí está a verdade. De documento. Que, Benedito Ottoni. Como o concurso era de
infelizmente, só agora apurei, errando tam- âmbito internacional, inscreveram-se ar-
­­bém, como todos os outros.53 quitetos de vários países. O projeto vence-
dor foi o de autoria do arquiteto prussiano,
residente no Brasil e responsável pelo Pa-
1852 lácio do Catete, pela Igreja da Candelária e
Teatro Provisório pela fachada da antiga Estação de Ferro D.
Pedro II, Gustav Waehneldt.
Em 9 de agosto de 1851, um incêndio des- Durante a espera pela construção de uma
truiu, pela segunda vez, o Teatro de São Pe- nova casa de espetáculos, obras foram provi-
dro de Alcântara. Aguardavam-se duas com- soriamente iniciadas em 29 de setembro de
panhias: uma de ópera e outra de bailados, já 1851. Estas edificaram rapidamente o Tea-
contratadas na Europa. Pensou-se então em tro da Praça da Aclamação (Santa’Anna) no
adaptar-se o Teatro São Januário para substi- prolongamento da Rua dos Ciganos (hoje da
tuir a casa destruída pelo fogo. Constituição) e do Hospício (Rua Buenos Ai-
No começo da década de 1850 já era de res), uma frente voltada para Rua do Conde
conhecimento público a necessidade de se D’Eu (Frei Caneca, na linha de fundos para o
construir um teatro novo com melhores con- antigo quartel general. Atualmente ocuparia
dições técnicas e conforto para o público. Os o setor compreendido entre as ruas Visconde
teatros de São Pedro e Imperial D. Pedro II de Rio Branco e Frei Caneca). Tendo a edifi-
eram os únicos que possuíam uma arquitetu- cação sido rápida, ficou com a denominação
ra e estrutura material. Mas esta necessidade de Teatro Provisório, um enorme galpão pro-
era urgente, já que em 1851 o Teatro de São jetado e construído por Vicente Rodrigues.
Pedro sofrera o seu segundo incêndio. Segundo Henrique Marinho,
Essa premência de um edifício teatral
que conciliasse os interesses da ópera lírica a frontaria do edifício consta de três corpos,
e do teatro nacional com um porte maior, um central e dois laterais. O corpo central
tanto para os espectadores como para os apresenta três portas de arcada divididas
artistas, deu início a uma concorrência por pilastras e que dão entrada no saguão;
pública, um concurso de arquitetura para no segundo pavimento há quatro janelas de
um teatro, que foi requerido por Manuel peitoril, coroando este corpo um frontão
Araújo Porto Alegre, diretor então da Aca- reto; vê-se no tímpano uma lira. Os corpos
demia Imperial de Belas-Artes, e Guilher- laterais mostram duas janelas de peitoril
me Schuch de Capanema, em 12 de agosto em cada pavimento. Um ático oculta ali o
de 1851 a D. Pedro II. telhado do edifício.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 109


Há no fundo do teatro uma casa, que edifício serve para os ensaios, e vê-se aí
foi construída para sala de pintura. No um teatrinho, onde a companhia de ópe-
primeiro pavimento dessa casa há duas ra nacional ensaia e representa.54
salas: uma serve de depósito de adornos,
a outra é um guarda-roupa; há também E Lafayette Silva também o descreve:
nesse pavimento três grandes camarins
de primas-donas. Medalhões no teto representavam Auber,
A sala de pintura fica no segundo pavi- Bellini, Taglioni, Bibienne, Verdi, Donizet-
mento. Fazendo simetria com a casa, onde ti, Schiller, Catalani, Servandoni e Meyer-
existe a entrada da tribuna do imperador, beer. Fora desse círculo, isolado entre pal-
há do lado oposto uma outra casa, que é a mas e louros, Rossini.55
guarda-roupa do teatro.
Os retratos eram aplicados sobre fundo
E continua o escritor, numa crítica que rosa vivo, de mau gosto, cor de que eram
ele chama de “feio edifício”: pintadas as paredes. Esse teatro, que durou
23 anos, apesar de sua construção ter sido
...construído sem as regras da arte, este provisória, sofreu várias reformas e remo-
edifício é defeituoso e indigno de servir delações por estar, frequentemente, em
de teatro em uma capital. Não deve ser condições precárias.
conservado; seria indecoroso para nós o Conforme o “plano d’Associação de um
deixar viver esse mau edifício. O gover- novo Teatro”, o Teatro Provisório, edificado
no, a quem pertence esse teatro, deve com um capital levantado com vendas de
demoli-lo, erguendo outro, belo, vasto, ações, deveria ser entregue ao governo para
majestoso, que seja um dos monumen- administrá-lo ou arrendá-lo a um empresá-
tos que tenha de ornar a cidade do Rio rio. Aos acionistas foi concedido o usufruto
de Janeiro. de uma cadeira do teatro, pelo espaço de
três anos, a partir da data de sua abertura,
Depois, Henrique Marinho descreve o in- e ficou designada uma comissão para repre-
terior do teatro: sentá-los junto ao governo.
O teatro teve como empresários, no
...o Teatro é vasto e tem largos corre- período de 1867 a 1872, João Batista Via-
dores, com uma extensa plateia com na Drummond (Barão de Drummond –
248 cadeiras da primeira classe, 443 da 1/05/1825 – 7/08/1888) e Manuel Go-
segunda e 147 gerais; quatro ordens de mes de Carvalho, que em 15 de maio de
camarotes havendo na primeira 30, na 1867 havia sido agraciado com o título de
segunda 29, na terceira 32 e na quarta Barão do Rio Negro; o administrador era o
32. A tribuna imperial ocupa 3 camaro- ator José Maria do Nascimento. Era um tea­
tes da segunda ordem, lado direito, jun- tro sem ventilação e que durante as repre-
to ao proscênio. Há na primeira ordem 2 sentações atingia um calor insuportável.
camarotes, que são ocupados pela guarda
de honra do imperador em dias de gala; ...Joaquim Manoel de Macedo chamava de
há um do juiz inspetor do teatro. Na pri- “monstro do campo da Aclamação” e que
meira e na terceira ordem existem toi- José de Alencar dizia ser “o mais insupor-
lettes para senhoras. A sala da frente do tável dos suadores”.56

110 Teatros do Rio


Sua primeira função foi em 1852, com Teatro Provisório. Campo de Sant’Ana, 1853. Aquarela de José
Reis de Carvalho
bailes mascarados no período carnavalesco.
Depois foi chamado de Teatro Lyrico Provi- nome de alguns empresários que dirigiam o
sório. A inauguração oficial, como casa de teatro: o ator João Caetano em 1853 (La-
espetáculos, deu-se após o período momes- fayette Silva); e pelo Almanak Laemmert, Dr.
co, em 25 de março de 1852, com a ópera Antonio José de Araújo (1864); Dr. Pedro
Macbeth, de Verdi, por uma companhia lírica Velloso Rabello (1866); o artista Amoedo
italiana. O elenco, conforme programação (1868).
anunciada no Jornal do Commercio da época: É fechado em 16 de maio de 1852, para
Srs. De Lauro, Capurri, Zechini, Bertolini, reabrir em 19 de maio de 1854, com a ópe-
Vergini, Sicuro, N. N., Marquesi e Tati Filho. ra Ernani, de Verdi, com o nome de Teatro
Com o comparecimento dos jovens impera- Lyrico Fluminense, por não mais se justifi-
dores D. Pedro II e D. Tereza Cristina. car seu nome primitivo, pelo funcionamen-
O teatro era de propriedade da Câmara to da casa em caráter permanente.
Municipal. Em 1856, tem-se o conhecimen- Nesse teatro, representaram eminentes ar-
to de uma “Sociedade Empresária” que, de tistas: cantores líricos, Rosina Stolz, Augus-
acordo com o plano e estatutos da empresa ta Candiani, Henrique Tamberlick, Juliana
sancionados pelo governo, em 26 de outu- Dejean, Emy la Grua, Rosina Laborde, Ana
bro de 1853, fez nova venda de ações em Lagrange; artistas dramáticos, João Caetano,
benefício do teatro, já então, com o nome Adelaide Ristori, Ernesto Rossi; pianistas,
de Teatro Lyrico Fluminense. Emilio Wrolleski, Gottschalk, Sigismundo
A “Agência Teatral” do Lyrico funcionava à Thalberg; concertistas, Carlota Patti, Theo-
Rua do Cano, 245-A. Tem-se informação do doro Ritter e Pablo Sarazate, e muitos outros.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 111


Gottschalk regeu um concerto memorável, Moraes Filho, foi o Provisório o “berço es-
de mais de trinta pianos acompanhados por plêndido da Ópera Nacional”.
uma orquestra de cerca de quatrocentos mú-
sicos. O final dessa festa de arte foi assina-
lado, às últimas notas do hino nacional, por 1854/1857
uma salva de peça de artilharia. Circo Olympico (Teatro Lyrico)
O declínio do Teatro Lyrico Fluminen-
se começou com a inauguração do Teatro Desde 1854, existia o Circo Olympico
D. Pedro II. Em 30 de abril de 1875, com da “Guarda Velha”, na base do Morro de
o drama O Guarani, é fechado para ceder Santo Antônio com frente para a Rua da
lugar a árvores, canteiros e alamedas na Guarda Velha, e que foi transformado em
construção dos jardins da Praça da Acla- seu vasto terreno onde existira um tre-
mação (Campo de Sant’Anna – projeto do cho já desaparecido da atual Rua Treze de
arquiteto francês Glaziou). Ameaçado de Maio (Tabuleiro da Baiana), hoje Largo da
ruir, o edifício é demolido. Carioca.
Para Moreira de Azevedo,
Era uma casa de diversões suntuosa para a
não foram só as companhias italianas que época, levada a termo com muito trabalho,
conquistaram glórias no Provisório, canta- porquanto o proprietário não dispunha de
ram-se naquele tablado solene as primeiras grande capital e atendia às obras de acordo
óperas de Carlos Gomes e Henrique Al-
ves de Mesquita” e, nas palavras de Mello Largo da carioca, 1844. Aquarela de Eduard Hildebrandt

112 Teatros do Rio


com os rendimentos que a bilheteria do pelhos muito velhos, muito sujos, muito
circo proporcionava.57 enodoados e uns porteiros de apresenta-
ção grotesca...58
No terreno do antigo Circo Olympico, Bar-
tolomeu Correia da Silva construiu definiti- Sabe-se que o Lyrico era um teatro gran-
vamente, o Teatro Pedro II, inaugurado em de, ia até a encosta do Morro de Santo Antô-
19 de fevereiro de 1871, para os festejos de nio, com dois pavimentos. Na frente, havia
Momo. Como teatro, foi inaugurado em 20 uma porta central com quatro bandeiras no
de junho de 1871 com a Ópera de Rossini, térreo, e no pavimento superior, em cima
Guilherme Tell, pela Companhia Lírica Italia- dessa porta, um conjunto de cinco janelas
na, contratada com o tenor Ballarini. francesas, em arco, com sacadas em ferro
Por despacho imperial de 3 de setembro batido. De ambos os lados dessas janelas,
de 1875, passou a chamar-se Teatro Imperial uma sacada aberta seguida de duas janelas
Dom Pedro II. francesas de cada lado. Na fachada lateral,
Em 25 de abril de 1890, com o advento da havia no primeiro pavimento, cinco janelas
República, a 15 de novembro de 1889 – em francesas com sacadas de ferro batido.
razão dos Republicanos desejarem apagar Em seu interior a sala principal era
as referências do período imperial e a seus toda pintada de branco e ouro e descrevia
personagens – o teatro é rebatizado com o a forma de uma ferradura. Em torno das
nome de Teatro Lyrico, reinaugurando com cadeiras, encostada à plateia, corria uma
uma Companhia Equestre, contratada em espécie de estrado, fechando uma balaus-
Buenos Aires, pelo empresário Duci. trada para o lado da sala de espetáculos,
Luiz Edmundo descreve o teatro: que ficava em nível superior; entalhavam-
-se no mesmo arco da boca de cena, pre-
O melhor teatro da cidade é o Lyrico, cedido de uma sala de repouso mais seis
uma ruína dourada, mostrando uma reles camarotes. A tribuna imperial erguia-se
entradinha de ladrilhos, cercada de es- sobre a porta principal da entrada, rema-

Teatro Lyrico. Arquivo particular: Marta Luiza Vieira Lopes


Teatro Lyrico. Arquivo particular: Marta Luiza Vieira Lopes
tando na altura do teto e ocupando a lar- Teatro Lyrico. Arquivo particular. Marta Luiza Vieira Lopes

gura de quatro camarotes.


As cadeiras eram de jacarandá e tinham Em 1934, o Lyrico é demolido para que,
como característica especial um encosto de em seu local fosse construída a Caixa Eco-
três recortes, sendo que na tabela central nômica, o que não ocorreu. Na realidade,
havia uma placa de esmalte preto e branco em seu lugar surgiu um estacionamento
com a letra e o número da poltrona. O as- de automóveis. Desde 1925, em projeto
sento era de palhinha e os pés de cachimbo aprovado por Alaor Prata, vinha-se es-
(característica dos móveis usados na déca- tudando a demolição do Lyrico e outras
da de 1860). O Jornal de 31 de janeiro de edificações (Projeto do Largo da Carioca
1965, em reportagem sobre o teatro, chama e Rua Treze de Maio), para beneficiar o li-
a atenção para “O camarote Imperial [que] vre trânsito de veículos em ponto crucial
era montado em grande luxo”. da cidade.
Contava o teatro com 1.400 cadeiras de É interessante citar alguns fatos que
plateia; diversas ordens de camarotes: 42 marcaram a vida artística deste teatro. Foi
de primeira, com 5 cadeiras, 42 de segunda no Lyrico, então Imperial D. Pedro II, que
com 5 cadeiras, 2 de terceira com 5 cadei- no dia 15 de julho de 1886, Arturo Tos-
ras, 252 galerias, 168 fauteuils de varandas, canini rege pela primeira vez na vida. Era
além da tribuna imperial. Isto dava um total Toscanini o violoncelista da Companhia
de 2.500 lugares. que apresentava Aída, de Verdi, no teatro e,
O teatro era particular e seu primeiro no dia da estreia do espetáculo, o regente
proprietário foi Bartholomeu Corrêa da Sil- adoeceu. Toscanini regeu ópera sem par-
va. Em 1913, o teatro é adquirido pela famí- titura, de cor. No Lyrico se apresentaram
lia Celestino Silva que o arrenda, em 1923, a nomes dos mais famosos como Caruso,
José Loureiro. Em 1o de julho de 1925, ten- Domenico Santenelli, Maria Durand, Ci-
do como proprietária Margarida Chaves, é nira Polônio. A Companhia Espanhola de
arrendado à Empresa Nicolino Viggiani até Revistas Velasco, a Companhia Lírica de
fins de abril de 1931, quando é arrendado Angelis, entre tantas famosas também pas-
pela Empresa A. Sonschein. saram pela cena do Lyrico.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 115


1859 viver por três anos, permaneceu por vinte e
Alcazar Lyrique três anos em atividade.
Pensou-se em construir outro teatro que
Em 12 de abril de 1855, o empresário tea­ melhor se prestasse às representações líri-
tral Joaquim Heliodoro dos Santos rebati- cas, e disso cogitou o Decreto de 10 de se-
zou o velho Teatro de São Francisco de Paula tembro de 1856. Mas o teatro não foi cons-
com o nome de Gymnasio Dramático. O truído. Talvez o maior responsável pelo
repertório da companhia de Joaquim Helio- fracasso da Imperial Academia de Música
doro era revolucionário em comparação ao e Ópera Nacional – cujos estatutos foram
o de João Caetano. O dramalhão, em ves- aprovados por decreto em 27 de outubro
tuário a caráter, foi substituído pelo drama de 1858 e extintos por Decreto de 12 de
de casaca, em que os personagens apareciam maio de 1860 – tenha sido a falta de um
com figurinos modernos e onde se debatiam teatro próprio.
temas da atualidade, teses sociais, análises e Na segunda metade do século XIX, foram
conflitos psicológicos. inaugurados 13 teatros no Rio de Janeiro.
Em 1862, José Ildefonso de Souza Ra- Durante muito tempo alguns tiveram o ser-
mos, depois Visconde de Jaguari, ocupando viço de atendimento nos camarotes. Ser-
a pasta do Império, nomeava uma comissão viam-se refrescos, doces, gelados. O Jornal
composta por José de Alencar, Joaquim Ma- do Commercio de 11 de maio de 1850 esclare-
nuel de Macedo e Cardoso Meneses, para ce o público, em nome da direção do Teatro
estudar as causas da decadência da arte dra- de São Pedro de Alcântara,
mática nacional, e sugeriu as medidas por
meio das quais fosse possível reerguê-la. o botequim do dito teatro acha-se de novo
A comissão externou-se em 1862 com um reformado (...) Terá, todas as noites de
parecer do que constavam, dentre outras, espetáculo, sorvetes, refrescos, gelados,
a seguinte sugestão: a construção de um licores, chás, doces etc., e será enviada
edifício, com moldes modernos, destinado uma conta impressa das despesas que se
às representações dramáticas. Entretanto, fizerem no camarote, a fim de evitar qual-
as medidas julgadas necessárias não foram quer abuso que possa haver da parte dos
levadas a sério, apesar do interesse da co- condutores, ainda que os não julga capazes
missão. Somente o Conservatório Dramá- de tal praticarem (porém resguardo nunca
tico foi criado em 1871, que foi a segunda faz mal aos doentes).
sugestão da comissão. A respeito do teatro,
não mais se falou. O teatro de opereta, que iniciava seu su-
Em face do gosto, sempre crescente, do cesso, era dominado exclusivamente pelos
público pelo teatro, resolveu o governo or- franceses. Foi o exótico Alcazar Lyrique o
denar a construção de um teatro no Cam- lugar em que o gênero celebrava o máximo
po da Aclamação (atual Praça da República) em ostentação. Suas portas foram abertas a
para alocar a Companhia Lírica. 17 de fevereiro de 1859, sob a direção do
O primeiro passo para um teatro de ópera pianista francês Joseph Arnaud, na Rua da
foi a inauguração do Teatro Lyrico Provisório, Vala59, atualmente Rua Uruguaiana. Quan-
em 25 de março de 1852. Depois, em 19 de to às características físicas, Múcio da Pai-
maio de 1854, ele passou a chamar-se Teatro xão pondera: “o fato do estabelecimento
Lyrico Fluminense. Construído para sobre- ocupar três prédios prova que suas propor-

116 Teatros do Rio


ções eram grandes e correspondiam a uma embarcou para Paris, onde contratou um
necessidade da época”.60 elenco francês, que aqui chegou pelo navio
A arquitetura do edifício teatral obedecia Bearn, em 16 de junho de 1864, trazendo
principalmente ao classicismo ditado pelos para sua casa de espetáculos a opereta fran-
alunos de Grandjean de Montigny, mas re- cesa, que iria deliciar as noites cariocas. O
fletia também fortes traços da arquitetura sucesso foi estrondoso, os cariocas jamais
portuguesa. Não há registro sobre o seu in- haviam visto nada semelhante.
terior.
No ano de 1875, com o falecimento de As bailarinas e cantoras da dança, que
Joseph Arnaud “além da arte, dispunham de outros dotes
para atrair a plateia masculina, fizeram do
a viúva ficou com a propriedade do teatro Alcazar a perdição de muito homem res-
em que trabalharam companhias do gêne- peitável e o atrativo constante da boêmia
ro alegre até 1880, ano em que o Alcazar noturna”. A simples menção do nome do
foi vendido ao Capitão Luiz de Carvalho teatrinho despertava apreensões e cuida-
Resende. Nesse mesmo ano o famoso tea- dos nas virtuosas esposas cariocas. O Vis-
tro fechou as suas portas sendo em seguida conde de Taunay dá seu testemunho sobre
demolido, tendo com ele desaparecido a o Alcazar (‘Memórias’): “Para as senhoras
mais ruidosa casa de espetáculos que então de boa roda aquilo só era foco de imorali-
houvera no Rio de Janeiro.61 dade e das maiores torpezas; mas quando
se anunciaram espetáculos extraordiná-
Conhecido também durante alguns anos rios, destinados às famílias, foi uma con-
(1866/1877) como Téâtre Lyrique Fran- corrência enorme e a salazinha da Rua da
çais, Teatro Francez, Alcazar Lyrico Flumi- Vala ficou cheia a transbordar do que havia
nense e Alcazar Fluminense, depois de res- de melhor e de mais embiocado no Rio de
taurado, é reinaugurado em 8 de outubro de Janeiro, deixando bem patente a curiosi-
1877 com o nome de Teatro Dona Izabel, dade – e mais do que isto – a ansiedade de
por ocasião da administração do teatro pelo conhecer o que havia de tão encantador e
ator cômico Martins (Antonio Francisco de delirante naquelas representações.”
Souza Martins), apresentando a peça Lei de “O que não padece de dúvida é que o
28 de setembro. Alcazar exerceu enorme influência nos
Figuram depois como proprietários do costumes daquela época e colocou em ris-
D. Izabel, Antonio Gomes Neto e Lucinda co a tranquilidade de muitos lares. Sei de
Chaband. Luis Ribeiro de Souza aparece co­ fonte muito limpa que um marido despo-
mo proprietário em requerimento 50-2-60, jou a esposa dos brilhantes para levá-los
de 15 de fevereiro de 1879. em homenagem à Aimée e alcançar-lhe os
Quando, com um programa variadíssimo, sorrisos feiticeiros.”
o artista francês Arnaud inaugurou o Alca- As francesas do Alcazar faziam carreira
zar, o público não acolheu o empreendimen- e criavam fama. Uma das figuras que mais
to com entusiasmo e, apesar dos esforços, despertaram a atenção dos frequentadores
o empresário não logrou sucesso. Joseph foi Aimée, que Machado de Assis assim
Arnaud suspendeu, então, as récitas do te- descreveu: “Um demoninho louro, uma
atro e, devido à escassez de artistas no Rio, figura leve, esbelta, graciosa, uma cabeça
impossibilitado de modificar seu repertório, meio feminina, meio angélica, uns olhos

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 117


vivos, um nariz como o de Safo, uma boca teve sempre uma programação intensa.
amorosamente fresca, que parece ter sido De seus incontáveis espetáculos citamos
formada por duas canções de Ovídio”. alguns que, pelas críticas dos jornais da
Aimée que conquistou a cidade com as época e pelo registro dos historiadores, fi-
canções “Rien nést sacré pour un sapeur” zeram o maior sucesso: La Fille de Madame
e “Les noces de Madame Crac” não foi Angot, ópera cômica de Lecocq que foi re-
a única. presentada pela primeira vez no Rio; Pont
Pelo Alcazar passaram artistas que de- de Soupirs, Barbe Bleu, La Bele Helène, Vie Pa-
pois se destacaram na cena brasileira, como risienne foram algumas, entre as inúmeras
Suzana Castera, Rose Meryss (grande in- de Offenbach, que mais êxito tiveram no
térprete de Bocaccio), Cristina Massat e a Alcazar Lyrique”.62
belga Marie Philomène Stevens.
Pelo palco do teatro de J. Arnaud desfi- O Alcazar tornou-se o ponto de encon-
laram os mais variados personagens: Hele- tro de artistas, políticos, homens da cultura,
na, a grega, pondo a mitologia em cancã; a além de, naturalmente, lugar de perdição e
Grã-Duquesa de Gerolstein, na caricatura o atrativo constante da boemia noturna do
da realeza; o Barba-Azul matando suas es- Rio de Janeiro. As francesas desenfreadas
posas culpadas de curiosidade… E, na pla- colhiam louros e dinheiro, sobretudo Ai-
teia desse teatrinho, nomes ilustres, como mée, ambiciosa e “desmanchadora de lares”
o Conselheiro Silveira da Mota, o Conde que, ao voltar à pátria, levou consigo o equi-
de Porto Alegre, Perdigão Malheiro, o Ba- valente a um milhão e meio de francos em
rão de Cotegipe, Francisco Otaviano, Sin- joias e objetos de valor. O fato é que, quan-
zenando Nabuco, o Barão do Rio Branco, do, em 1868, a bela Aimée voltou para a Eu-
Gaspar da Silveira Martins, senadores e ropa, enquanto o navio saía da baía do Rio
deputados que diariamente lá estavam. de Janeiro, algumas famílias “de bem” solta-
Terminada a fase romântica das pri- vam fogos de artifícios na Praia de Botafogo,
meiras décadas do século XIX, seguiu- para celebrar a partida do “diabo loiro”.
-se a fase realista que os historiadores da Durante anos foi moda ter em casa um
época dividiram em duas etapas: a pri- móvel ou objeto que houvessem pertencido
meira, com o trabalho realizado pela em- à atriz. Em 1877, o teatrinho foi restaura-
presa dramática de Joaquim Heliodoro e do e reinaugurou dia 8 de outubro com o
a segunda em que se destaca o gosto pela nome de Teatro D. Izabel, sob a administra-
opereta francesa que o Alcazar despertou ção do ator Martins e com outro gênero de
no público carioca. Este gênero alegre espetáculos. Sua vida foi curta. Vendido em
chegou célere ao Rio: em 1855 Jacques 1880 ao capitão Luis de Carvalho Resende,
Offenbach fundou em Paris o Théâtre des logo depois foi demolido, instalando-se em
Bouffes-Parisiens e, já em 1864, na Rua seu lugar uma padaria. Artur Azevedo co-
da Vala, o autor triunfava. Múcio da Pai- mentou sabiamente que era justo destinar
xão observa que a opereta francesa, ga- à distribuição do pão, o lugar no qual tan-
nhando terreno durante dez anos, apon- ta gente o havia perdido. Desaparecia assim
tou ao Tea­tro Nacional o rumo a seguir. sem deixar sucessora a mais ruidosa casa de
Como espetáculos novos e variados de espetáculos que o Rio conhecera.
cançonetas, danças, quadros vivos, opere- Em 1886, a frequência aos clubes e tea-
tas, vaudeville, óperas bufas etc., o Alcazar tros atraía cada vez mais a aristocracia e a

118 Teatros do Rio


burguesia ascendente. Eram muitas as pu- ses da cidade e propagando o gosto pelos
blicações destinadas a promover os teatros espetáculos ligeiros: vaudevilles, operetas,
e clubes musicais. Todas as camadas sociais chansonnettes e, também, bailes de máscaras
participavam das apresentações teatrais en- e fantasias.
tretanto, havia uma nítida segregação do Entretanto, nos cafés-dançantes o com-
espaço. As “torrinhas” eram frequentadas portamento do público era bastante infor-
por um público de entusiasmo espontâneo, mal e os espectadores não eram os mesmos
os mais aficionados em teatro que, com que frequentavam as salas dos espetáculos
muito esforço, destinavam os seus mingua- destinadas ao drama e à ópera.
dos recursos para apreciar a arte teatral. Em 1886, é inaugurado o Folies-Bré-
Dependendo das casas de espetáculos, as siliennes, na Rua da Guarda Velha – que
plateias eram bem heterogêneas. As senho- não chegou ao nível de um café-dançante
ras e senhoritas da elite frequentavam ex- como o Alcazar Lyrique –, uma casa de
clusivamente o Clube Fluminense, o Teatro espetáculos onde a produção artística era
Lyrico e o Derby Club, sendo-lhes vedados de qualidade duvidosa. Todavia, não eram
os espetáculos de teatro musicado, pelo somente os gêneros de espetáculos que
menos até o final do século XIX. A presen- eram criticados. A maioria desses cafés-
ça feminina nos demais teatros era restrita -dançantes e vaudevilles era constituída
às mulheres que alegravam a vida mundana de teatros precários em suas instalações,
da cidade. O público masculino deliciava- onde muitas vezes a arquitetura era im-
-se com as belas coristas. provisada por mestres de obras, contra-
O Café-Cantante tornou-se Café-Con- tados por ávidos empresários. Por esses
certo, e com a introdução de cenas circen- cafés-teatros passaram várias gerações de
ses e pequenas esquetes, foram se desen- artistas europeus e brasileiros, que muitas
volvendo e formando os teatros de revista, vezes, ao desembarcarem para temporadas
como ocorreu com o Café-Cantante Salão nos referidos teatros, tiveram que ser ins-
Paraizo, mais tarde Folias Parisienses, inau- talados em caráter emergencial no Teatro
gurado em 1858, na Rua da Ajuda. Depois Lyrico Provisório ou no Teatro Lírico, por
veio o Teatro Les Bouffes-Parisiens, na Rua se encontrarem parcialmente destruídas as
da Vala, perto do Alcazar Lyrique, na esqui- salas de espetáculos nas quais atuariam.
na da Rua do Ouvidor.
O Alcazar Lyrique situado na Rua da
Vala, com suas belas e sedutoras atrizes 1860
francesas popularizou o gosto pela opere- Teatro Santa Leopoldina e
ta no Rio; uma convivência saudável com Teatro Variedades
a boemia da cidade, e que veio despertar
na sociedade o gosto pelo mundo colorido Em 7 de abril de 1860 foi inaugurado em
e sensual do teatro ligeiro. O Teatro Alca- Botafogo, o Teatro Santa Leopoldina e, no
zar Lyrique tornou-se a mais famosa casa mesmo ano, um dia depois, 8 de abril, em
de espetáculos no Rio. No início o Alcazar São Cristóvão, foi aberto o Teatro Varie-
Lyrique era apenas um teatro de variedades dades – com o drama Dalila, de Octave
com sucesso relativo, mas as artistas fran- Feuillet –, que abrigou as Companhias de
cesas acabaram encantando o público flu- Guilherme Silveira, de Ismênia dos Santos
minense, remodelando os hábitos burgue- e de Souza Barros.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 119


1863 Foi reinaugurado a 14 de outubro de 1863,
Teatro Eldorado (Teatro Phênix) e querendo, como em outros teatros dessa
época, imitar o Alcazar Lyrique, registrou-
A ideia da fundação do Teatro Phênix, -se um verdadeiro fracasso. Aqui transcrevo
nasceu em 1862 e, levada a cabo, ele foi o extenso programa organizado pelo em-
inaugurado no dia 14 de outubro de 1863, presário/ator:
com o nome de Teatro Eldorado, na antiga
Rua da Ajuda n. 57 que, antes de ser fra- Café, Concert, Spectacle
cionada, começava na Rua São José e ter- Inevocablement et sans remise
minava na Santa Luzia, esquina da Travessa Aujourd’hui Mercredi 14 octobre 1863
do Maia, que desapareceu com o traçado
da Avenida Central. OVERTURE
O Eldorado ficava justamente nos ter- Avec MM. Voizel, Gabel, Chéri, Mme.
renos do Palace Hotel onde, naquele tem- Voizel (débuts de MM. Octave et Delmot-
po, existiu, no n. 57 daquela rua, um outro te, et de Mlle. Anaïs).
hotel, o Brisson, que dispondo nos fundos L’orchestre, composé de quinze musi­
de um amplo terreno ajardinado, deu mo- ciens, será dirigé par l’habile chef d’orches­­­
tivo a seu proprietário de construir um te- tre M. Bazolles.
atro: assim surgiu o Eldorado. Sua lotação Première Représentation de BRUNO
era de 860 lugares, assim divididos: 12 ca- LE FILEUR
marotes, 40 galerias nobres, 308 cadeiras e Vaudeville en deux actes
500 gerais. Em 1926, a lotação total do te- Décors nouveaux par M. João Caetano
atro era de 705 lugares: 25 frisas, 23 cama- Ribeiro
rotes de primeira, 8 camarotes de segun- M. Voizel remplira le rôle de Bruno.
da, 6 camarotes de terceira, 526 poltronas, M. Gabel celui de Beauregard.
267 balcões e 350 gerais. Já o levantamento Mme. Voizel remplira le rôle d’Adèle
realizado por Otávio Rangel indica uma lota- Les autres rôles par MM. Octave, Del-
ção total de 713: no térreo, plateia com 320 motte, Charles (parente et invités).
poltronas estofadas e seis frisas; na sobrelo- LE CHEVAL DE BRONZE
ja, balcão nobre com 135 poltronas estofa- (Aubert)
das, 12 frisas nobres e 2 camarotes especiais Ouverture, exécutée par l’orchestre
com antecâmara destinados à Presidência da La Cantinière de 1a 39me
República e à Prefeitura; no primeiro andar, Marche militaire, chantée par Mme.
balcões de primeira com 115 poltronas, 10 Voizel.
camarotes e mais 2 camarotes com antecâ- Grand pout-pourri sur les motifs de
mara; e no segundo andar, balcão de segunda l’opéra
com 105 poltronas e 4 camarotes, além de 2 IL TROVATORE
outros camarotes com antecâmara. (Verdi)
Foi arrendado inicialmente pelo empre- Exécuté par l’orchestre.
sário/ator Cheri Labocaire, que promoveu L’HOMME À LA CHANCE
grandes reparos no prédio primitivo do Te- Scène comique par M. Chéri.
atro Eldorado. A sala de espetáculos foi de- RONDE DES ÉGOUTIERS DE PARIS
corada pelo artista Tacani, e sofreu outras Chantée par Mlle. Anaïs (pour ses dé-
modificações para ficar mais confortável. buts).

120 Teatros do Rio


LES RASEURS Bruno, pout-pourri sur les motifs de l’opéra
Chansonnette comique, par Mme. Ga- Il Trovatore; 40 – ouverture le Moulin des
bel. Filleuls; 50 – Le Vin des Epicuriens; 60 – Les
LE VIN DES ÉPICURIENS Egoutiers; 70 – L’Homme à la Chance; 80 –
Chant bachique, para Mme. Chéri. La Cantinière; 90 – Les Raseurs.
LE MOULIN DES TILLEULS Prix des Places: Parterre 1$, orchestre
(A. Maillart) et galeries 2$000, Le tarif des Consomma-
Ouverture, exécutée par l’orchestre. tions, à prix modérés, sera affiché dans la
Ordre du spectacle: salle de spectacle.
10 – Ouverture du cheval de Bronze; 20 –
Bruno le Fileurs; 30 – du ler au 2me acte de Teatro Phênix

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 121


Teatro Phênix

Teatro Phênix em 1945


Durante alguns meses o teatro ficou fe- Seguindo-se pela orchestra a chistosa
chado, vindo a ser reaberto pelo empresário valsa, composta pelo Sr. Victor Gusman,
De Giovanni em 27 de novembro de 1864, Os Zuavos
com a estreia das sessões às 16:30 horas Sendo representada depois a muito gra­
atendendo aos interesses da classe comer- ciosa comédia em dois atos, original por­
cial, fazendo com que o Eldorado recebesse tuguês, ornada de música da corda sensí-
a denominação de Teatro Recreio do Com- vel, Filha do Regimento etc., denominada
mercio, somente naquelas sessões. Este foi o O perdão d’ato em perspectiva
programa de inauguração: Personagens
Alfredo, estudante da Universidade de
PROGRAMA Coimbra: Sra. Jesuína
Inauguração do Teatro Recreio do Com- Cesar, ex-estudante, grande pândego: Sr.
mercio De Giovanni
Domingo 27 de novembro de 1864 Carlos, estudante: Sr. Victorino
Espetáculo às 4:30 horas da tarde. Augusto, dito: Sr. Martins
Depois que os professores da orquestra Mendonça, calouro: Sr. Silva Leal
executarem o Hino Comercial Um cauteleiro: Sr. Miguel
Composto expressamente para este dia, Finaliza a comédia com O Kankan infernal
pelo digno maestro Victor Gusman, dedica- dançado pelos estudantes
do e oferecido pelo artista De Giovanni ao O ator Martins, em seguida, vestido de
nobre Corpo do Comercio mulher, executará a cena cômica de sua com-
Representar-se-á a linda comédia em um posição, ornada de música, intitulada: mue
ato, imitação do francês por uma hábil pena panela, dançando com acompanhamento de
portuguesa, ornada de música, composição castanholas a muito graciosa Aragoneza.
do Sr. Victor Gusman, tendo o mesmo se- A orquestra tocará a bela quadrilha,
nhor extraído alguns números das óperas composta, dedicada e oferecida à Sra. Je-
Elixir de Amor, Baile de Máscaras, Aroldo etc., suína pelo digno professor de música o Sr.
adaptando-os perfeitamente, intitulada: Thomaz de Araújo Ribeiro, denominada:
Bolsa e Cachimbo Gloria cênica
Personagens Terminará o espetáculo com a espiri­
Cesar, empregado na companhia do gás: tuo­sa extravagância burlesca, ornada de
Sr. De Giovanni música e dança, entusiasticamente aplau-
Simplício, caixeiro de droguista: Silva dida nos teatros Gymnasio e Lyrico desta
Leal Corte, denominada Uma noite de Carnaval,
Emília, costureira: Sra. Jesuína imitação d’une soirée de carnaval, pelo
A cena passa-se em casa de Emília, em ator Julio Xavier
Lisboa. Personagens
Em seguida a orquestra executará o Narciso Beija-flor, artista em disponibili-
HINO DE D. LUIZ I dade: Sr. De Giovanni
Depois o ator Martins (a pedido) de- Rosa Margarida, florista em exercício:
sempenhará a interessante cena cômi- Sra. Jesuína
ca, ornada de música. O Progressista
D’escacha – Pecegueiro ou o Defensor O novo título pouco durou, pois, em
da classe caixeiral princípios de 1865, voltou a ter seu pri-

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 123


meiro nome: Eldorado, sendo depois mo- O Teatro Phênix, posto abaixo pelo Prefei-
dificado novamente, e reinaugurado em 14 to Passos, não possuía fachada teatral carac-
de agosto de 1866, com a denominação de terística. Possuía 10 camarotes, 308 cadeiras,
Jardim de Flora, apresentando a opereta Te- 40 galerias nobres e 500 lugares de geral.
lémaque et Calypso. Nessa época, passou a ter Respeitando a tradição do teatro que a
a alcunha de Teatro Francez das Variedades. nova planta da cidade suprimia, deliberou o
O nome Jardim de Flora também não per- Governo que o trecho onde o Phênix Dra-
durou muito, pois em 3 de maio de 1868, o mático estivera fosse vendido com a con-
famoso ator da época, Francisco Correa Vas- dição expressa de ser ali construído outro
ques, assumindo sua direção, modificou-o teatro.
para Teatro Phênix Dramática, reinauguran- O terreno foi adquirido por Eduardo Pa-
do com o drama de Cesar Lacerda São Se- lassin Guinle. E, em 1906, o engenheiro F.
bastião, o defensor da Igreja, apresentado pela Januzzi, iniciou as obras do Palace Hotel, do
Companhia Correa Vasques, com os atores Teatro Phênix, terminadas em 1908.
Jacinto Heler, Lisboa, Galvão, Pimentel e Sua fachada principal passa a situar-se na
Julia Heler. Rua Barão de São Gonçalo, depois Avenida
Como Vasques era mau administrador, Almirante Barroso n. 53. Já o novo Teatro
apesar do êxito e da boa frequência ao tea­ Phenix, em 1906, era uma construção de
tro, preferiu entregar a Jacinto Heler a em- esquina, apresentando ângulo chanfrado, fa-
presa do teatro que o arrendou em 1870 e chadas extensas, três pavimentos com trata-
1881. O teatro era particular, sendo seus mento individualizado cada um, elementos
proprietários em 1877, Rita E. Duque Es- decorativos de gosto clássico, tratados com
trada Godfroye e outros. espírito barroco, mais notadamente nos vãos
Depois de uma longa e gloriosa tempo- extremos e, principalmente, no central, co-
rada, fechou-se o Phênix Dramática, rea- roado por um grupo escultórico, além de
brindo em 12 de abril de 1888, como Tea- outras estátuas no 2o e 3o pavimento. O gos-
tro Variedades Dramáticas, com a estreia do to que preside à composição desta fachada
drama de Eugène Sue, Os mysterios de Paris, corresponde a uma tendência classicizante
encenado pela Companhia do ator Guilher- presente no ecletismo dessa época, não dei-
me da Silveira, tendo como atores: Mendes xando, no entanto, de acrescentar-lhe uma
Braga, Maia, Boldrini, Almeida, Sepúlveda, ênfase barroca, que permitira caracterizá-la
Araújo, Ismênia, Dolores, Balbina, Eldevira como uma obra neobarroca. Em seu interior,
e Clélia. havia a sala de espetáculos, os corredores, o
Meses depois, novamente Vasques rea- palco, e a cúpula, bem amplos e suntuosos. As
briu o teatro com o nome anterior Teatro escadarias e os corredores eram de mármore
Phênix Dramática, com a estreia da peça Os de carrara, as cortinas de veludo, sendo a de-
sinos de Corneille, empresariado pela firma coração interior caracterizada pelo estuque
de Guilherme da Silveira, Mattos e Lavre- dourado e pela presença de grandes espelhos
ro. Terminada a temporada de Vasques, o ornamentais. Possuía ainda o teatro, amplos
teatro fechava e abria para abrigar compa- camarins e várias salas de ensaio. O palco era
nhias de pouca duração, até ser demolido separado da plateia por uma cortina de velu-
em 1905, com a abertura da Avenida Cen- do bordada em ouro, de quase 10m, idêntica
tral, atual Rio Branco, na administração de em tamanho à outra cortina de ferro, criado
Pereira Passos. para isolar possível incêndio.

124 Teatros do Rio


Desejaram os proprietários do novo Oleneva, e a direção artística de Abadie de
Phênix inaugurá-lo com uma companhia Faria Rosa, funcionou como Cinema Phê-
brasileira, para isso entraram em entendi- nix a partir de abril de 1929, sendo ainda
mentos com o empresário Celestino Silva. remodelado na administração do Prefei-
Entretanto, fracassaram as negociações e to Henrique Dodsworth, e como Cinema
a família Guinle não pode concluir o seu Ópera, desde 1o de julho de 1937. A partir
propósito. de 1940, volta como teatro: o Teatro Ópe-
Somente dois anos depois de pronto o ra. Ali se apresentaram vários conjuntos
teatro, veio ele a ter a sua inauguração quan- artísticos: portugueses, italianos (Canzo-
do arrendado ao empresário Belloni, que fez ne de Napoli); a Casa de Caboclo (Tea-
do Teatro Phênix cinematógrafo e music-hall. tro Regional Brasileiro); Leopoldo Fróes;
Começou então o Phênix a experimentar Alexandre Azevedo etc. Em 1948, foi no-
dias incertos e amargos. Vários empresários vamente transformado em cinema, voltan-
arrendaram-no, nenhum pondo em prática do à denominação de Cinema Ópera, que
o pretendido pelos proprietários do reno- pouco durou, pois no mesmo ano tornou-
vado teatro. Djalma Moreira foi também -se o Teatro Phênix de sempre, até sua de-
um desses concessionários, que tentou es- molição (1958).
tabilizar no Phênix os espetáculos teatrais; Enfim, em 1926, depois de uma série de
entretanto, seu verdadeiro interesse eram efêmeras realizações teatrais, dentre elas a
lucros advindos do funcionamento da casa de Teatro Pequeno, dirigido por Luiz Ed-
de espetáculos como cabaret e casa de jogo. mundo, que havia se associado a Renato Al-
Proibido o jogo pela polícia, o Phênix ficou vim e Mario Domingos no seu empreendi-
fechado durante mais de um ano. Em 1926, mento, o Phênix foi arrendado a J. R. Staffa
passou por reformas, antes de reabrir efe- (1926 a 1927). Outros empresários vieram,
tivamente como Teatro Phênix. Mereceu como Vital Ramos de Castro (1937-1948),
atenção especial a iluminação do teatro: passando o teatro por uma série de degrada-
ções, chegando a abrigar filmes e represen-
de equipamento completo de refletores X tações do gênero livre.
Rey, que são munidos de lâmpadas de 150 Desde 1940, haviam sido realizadas vá-
wts.; formam a ribalta 40 desses refleto- rias tentativas para pôr fim ao teatro: em
res, em cores diferentes, podendo obter-se novembro de 1940, seus proprietários fi-
efeitos de luz da mais elevada resplandecên- zeram um contrato particular com a Cia.
cia, por isso possuem força equivalente a Imobiliária Rex, para a sua demolição,
1.000 wts. de intensidade, no montante do contrato este que foi rescindido. Em 1948,
proscênio. A iluminação do teatro também o empresário Vital de Castro quis expulsar
obedece às tonalidades as mais diversas e a Cia. de Sandro Polloni e Italia Fausta, que
delicadas, pois dispõe de 5 cores. Instalou ali se apresentava, para transformar o tea-
mais a General Eletric aparelho de fumaça, tro em cinema.
produzida quimicamente. Foi bastante me-
lhorada a sala, mais leve, mais acolhedora e a fim de que não lhe tomassem o teatro
sumamente elegante.63 [Itália Fausta], fez com que todos os artis-
tas se instalassem de cama e mesa em seus
Reinaugurado com espetáculos de féeries camarins, formando uma barreira que se
e bailados, sendo balé, criação de Maria tornou um imenso escândalo público, per-

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 125


mitindo ao advogado Clóvis Ramalhete do informa Italia Fausta. Ele, em troca,
ganhar a questão em juízo, permanecendo exigia das companhias 35% da renda, sob
assim a Cia. no teatro”.64 a condição de que nunca essa renda fos-
se menor do que duzentos mil cruzeiros
Bibi Ferreira ocupou então o assediado mensais. Assim, o Sr. Vital de Castro re-
teatro da Esplanada do Castelo, contíguo ao cebia 70 mil cruzeiros de aluguel e pagava
prédio do Palace Hotel. Terminadas as duas cinco mil. Mas, como não se pode garan-
temporadas de Bibi, o Phênix voltou às in- tir estabilidade de rendas, várias compa-
certezas e vicissitudes. nhias saíram prejudicadas. Bibi Ferreira,
Em 1948, estando o teatro em poder do Maria Sampaio, Iracema de Alencar, Itália
Sr. Vital Ramos de Castro, Paschoal Carlos Fausta, o Teatro do Estudante, todos ti-
Magno operou o milagre de concorrência veram de se retirar com poucos dias de
em que consistiu a primeira atuação ali do aviso. Paschoal Carlos Magno não con-
Teatro do Estudante. Abrigou depois Sandro seguiu montar Antígona, porque Inês de
Polloni, com Maria Della Costa e Olga Na- Castro não dera ao proprietário a renda
varro, com A respeitosa. que esperava. Maria Sampaio até hoje não
O jornal O Globo de 7 de junho de 1948, conseguiu recuperar-se das perdas que
com a manchete “Acampados no Teatro até teve ao ter de dissolver sua companhia.65
a cena final”, apresentava a seguinte história
do Phênix: A última companhia que ocupou o Phênix
no ano de 1950, foi a da atriz Henriette Mo-
Todos conheciam a história do Fenix; rineau, com a peça Os filhos de Eduardo.
mas, para os novatos e aprendizes, ela foi O minucioso levantamento procedido
repetida. Houve uma Sociedade Dramá- por Otávio Rangel, diretor de cena para o
tica que fez doação do teatro à Prefeitura Serviço Nacional de Teatro (SNT), in locum
do Rio, sob a condição de sempre existi- das dependências do Teatro Phênix, relata,
rem ali um teatro e uma companhia na- na época, as condições físicas do teatro:
cional. Quando da construção do Palace
Hotel, a firma Guinle, em troca do terre- Térreo: (Frente do Teatro) Grande hall de
no que lhe foi cedido, construiu no local entrada com… 22 x 6 m escadaria de már-
do antigo Fenix o moderno Teatro Fenix. more e ferro para acesso ao 1o e 2o anda-
Explorado indevidamente como cinema res.W.C. e lavatórios laterais para homens,
até 1945, pela empresa Vital de Castro, peças estas de 10 x 4 m. Bilheterias com
foi, então, desapropriado pelo decreto 7 x 4 m. Bar com 10 x 4 m. Um pequeno
7.759. O Sindicato dos Artistas conse- hall onde se encontra o elevador.
guira, assim, mais uma casa para que seus 1o andar: Grande salão central de 20 x 4
associados trabalhassem. De acordo com m com 5 janelas e mais 2 salas laterais de
aquele decreto, deveria ser entregue às 7 x 4 m.
companhias nacionais; diretamente, sem 2o andar: Outro grande salão central
a intervenção de terceiros. Foi reapare- de 20 x 4 m e também 2 salas laterais de
lhado, e mil e quinhentos contos gastou 7 x 4 m.
a Prefeitura em obras. Mais tarde, voltou Corpo do teatro: (Térreo) Plateia com
às mãos do Sr. Vital de Castro, arrendado 320 poltronas estofadas, 6 frisas, 2 chape-
por cinco mil cruzeiros mensais, segun- leiras com lavatórios e W.C.

126 Teatros do Rio


Sobreloja: Balcão nobre com 135 pol- 3o andar: Do lado direito um salão com
tronas estofadas, 12 frisas nobres, 2 ca- 12 x 4 m; do lado esquerdo 3 camarins,
marotes especiais com antecâmara des- lavatórios e W.C.
tinados à Presidência da República e à 4o andar: Um salão assoalhado com 20
Prefeitura. 2 chapeleiras com lavatórios x 8 m para ensaios de ballet e mais 5 saletas
e W. C. para vestiário. Um outro salão ladrilhado
1o andar: Balcões de 1a com 115 poltro- com 18 x 8 m para pintura de cenários.
nas, 10 camarotes, 2 lavatórios com W.C. Rangel, Otávio. (Levantamento das de-
mais 2 camarotes com antecâmara e 2 va- pendências do Theatro Phênix, em 13 de
randas laterais. abril de 1951, para o Sr. Diretor do Servi-
2o andar: Balcão de 2a com 105 poltro- ço Nacional de Teatro.)
nas, 4 camarotes, 2 outros com antecâ-
mara, 2 lavatórios com W.C. e 2 foyers e Já o Boletim da Sbat (março-abril de 1951)
galerias. publicava em 1951 um artigo com o título:
Palco e caixa: (Térreo) Recinto para “O Teatro Phênix não pode ser demolido e
a Orquestra com 10 m; Boca de cena de deve ser desapropriado por utilidade pública”:
10 m, 16 m de fundo e 18 m de coxia a
coxia. 2 salas laterais de acesso, 3 camarins O Teatro Fenix do Rio de Janeiro, hoje um
e 3 banheiros e W.C. dos mais luxuosos e confortáveis da Capi-
1o andar: 6 camarins com lavatórios.
2o andar: 8 camarins com lavatórios. Teatro Phênix

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 127


tal é, talvez, o que no Brasil possui história Em sua coluna “Teatro”, do Diário de No-
mais interessante... tícias em 2 de junho de 1956, Henrique Os-
...Somente dois anos depois de pronto car publicava um artigo: “A luta do teatro
o teatro veio ele a ter a sua inauguração Fênix”:
quando arrendado...
...Ora, como tantos problemas, esse com-
Pela lei n. 587, de 21 de junho de 1951, a porta duas soluções: uma de resultado
Câmara Federal autorizava o prefeito a desa- imediato e outra talvez idealmente prefe-
propriar o teatro, incorporando-o ao Patri- rível, mas de efeitos muito remotos. Num
mônio Municipal, para que não fosse demo- caso agudo é sempre da primeira que se
lido. Contudo, não houve a desapropriação deve lançar mão. Ninguém acha o Fênix
por falta de verbas. perfeito; mas todos sabemos que há uma
Artigo de Martin Gonçalves publicado terrível falta de casas de espetáculos no
em O Jornal e transcrita no Boletim da Sbat Rio e que há companhias em formação
(março-abril de 1953, pág.21): ou projeto, cuja atividade ainda é uma in-
cógnita, em virtude de não terem onde
Num país onde os teatros são poucos e se apresentar. Dessa situação não escapa
alguns já foram devolvidos, é dever das nem o Teatro Nacional de Comédia, elen-
autoridades esclarecidas promover a cons- co oficial do SNT, que ou aluga um teatro
trução de novas salas de espetáculos, assim privado ou vai congestionar ainda mais o
como tratar da conservação das já existen- Municipal...
tes, evitando que a torre dos arranha-céus Quanto a que este não seja perfeito, é
devore os sobreviventes... outro ponto pacífico. Mas que outro pal-
Continua Martin Gonçalves – cons­ co de comédia se assemelha ao seu? Os de
truído ainda nas formas do teatro oitocen- Copacabana, do Serrador ou do Dulcina,
tistas, possui uma ampla sala de espetácu- que não têm fundo? E que caixa é espaçosa
los com sua plateia, frisas, camarotes, e como a dele? Se precisamos urgentemente
galerias (uma das mais altas que já conhe- de teatro e possuímos um que é mais do
cemos), que além de um palco bastante que satisfatório, não parece mais razoável
amplo que serve maravilhosamente tanto aproveitá-lo, do que esperar vários anos
ao gênero dramático como também aos por um hipotético moderníssimo a ser ins-
espetáculos de ‘ballet’– Os seus camarins talado, segundo consta, no subsolo do edi-
não são como certos cubículos de outros fício que seus proprietários pensam erguer
teatros cariocas. O Teatro Phenix possui no lugar do atual?
várias salas para ensaios e uma vasta cúpula
onde podem ser executados os trabalhos de No mesmo ano, o Correio da Manhã
cenografia. A sua decoração, o seu estuque (22/05/56) também se manifesta contra a
dourado, as suas cortinas de veludo, o seu sua demolição e ressalta suas qualidades:
velário, as suas escadarias de mármore e
ferrala trabalhada, seus lustres, completam ...No entanto, poucas salas respiram o
a atmosfera, criando um ambiente propício “ambiente” que esta possui, poucas dis-
ao espetáculo. Quando se entra no Phenix, põem dos recursos que esta possui e ne-
tem-se a impressão verdadeira de que se nhuma goza da maleabilidade que esta
trata de um teatro (grifo do autor)... possui. No Fênix, drama ou comédia,

128 Teatros do Rio


clássico ou vanguarda, ópera ou concer­ O Globo de 9 de agosto de 1965 estampava
to, conferência ou balé estão bem situa- como manchete: “O Phenix Ressurgirá à
dos, com amparo técnico, além de con- margem da Lagoa Rodrigo de Freitas”:
forto e atmosfera para o espectador. É
difícil imaginar o que seja o outro lado O Teatro Fênix ressurgirá, à margem da La-
deste teatro, com sua ampla sala para balé goa Rodrigo de Freitas, na Avenida Lineu
(barra e cinquenta metros de extensão), de Paula Machado, no local em que se eri-
caixa de 38 metros de altura (permitindo gia a fundação que emprestou nome àquela
uma amplitude de operação somente en- avenida carioca. O novo “Fênix”, segundo
contrada nos grandes teatros do mundo), promessa dos seus proprietários, será, den-
camarins inigualáveis, salas que se pres- tro de mais algum tempo, uma casa de espe-
tam aos mais variados fins e todo um con- táculos à altura das tradições que sustentou,
junto que antecipa o centro artístico que quando funcionava no centro da cidade...
infeliz e incompreensivelmente ele nunca ...Em 1944 foram feitas obras no teatro,
o conseguiu ser. por conta da Prefeitura, que desapropriara.
Não foi logo demolido, por falta de verba...
Em 1957 (04/07/1957), o Diário de No- ...Demolido, não se executaram as
tícias, comenta sobre o impasse, pois nenhu- obras e os herdeiros de Guinle pediram,
ma decisão havia sido tomada até então: por equidade, lhes fosse concedido cons-
truir um teatro em outro local, no que fo-
Desde fins de 1950 – portanto há sete anos ram atendidos. E vai surgir o novo “Fênix”,
– o Teatro Fênix permanece fechado, nesta à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas.
cidade sem casas de espetáculos...
...O Fênix ficou fechado, inútil, estra- Em 1965, Leo Vitor escreve no Jornal dos
gando-se todo esse tempo... Sports, (29/08/1965) em seu artigo “Os ne-
...Como solução intermediária foi pro- gócios da China”:
posta uma permuta de terrenos, mas os
que a municipalidade lhes ofereceu (na …na antiga Rua da Ajuda, que ligava a Rua
Avenida Presidente Vargas) foram recusa- São José à de Santa Luzia, foi inaugurado,
dos pelos proprietários do teatro, que não em 1863, a “Phoenix Dramática”, que teve
os consideraram de igual valor ao em que uma atuação muito importante, ao lado do
se ergue o Fênix, tendo, todavia, aponta- Teatro Lírico, na vida artística da cidade,
do como aceitável o existente na própria até o princípio do século.
Esplanada do Castelo, limitado pela Ave- Sendo um teatro que acolhia revistas e
nida Nilo Peçanha e ruas México e Chile, operetas, tornou-se a casa de espetáculos
atualmente utilizado como local para esta- mais popular do Rio.
cionamento de automóveis e que é de área A última peça representada foi uma
ligeiramente menor, mas em compensação opereta de Flanquette, traduzida por Ar-
tem três frentes. Esse porém, a Prefeitura tur Azevedo.
não quer ceder... Com a abertura da atual Avenida Rio
Branco foram demolidos centenas de pré-
Em 1958, o teatro é demolido, e no local, dios e, inclusive, o Fênix. A área antes
ergue-se o edifício Cidade do Rio de Janeiro, ocupada pelo teatro foi adquirida por 180
um prédio comercial de 22 andares. contos de réis, por Eduardo Palassin Guin-

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 129


le, com a condição contratual do novo res, um teatro para mil espectadores, com
proprietário construir no local um teatro todo o conforto e equipamento modernos.
de mil lugares. As peças inseridas no processo eram lin-
E começou então o jogo tão bem ma- das. Mas a classe não acreditou e protestou
nipulado por esses senhores tão bem-su- em vão.
cedidos. Agora, os herdeiros do Guinle pediram,
Em vez do teatro, construíram um ho- dizem os jornais, por equidade, um terre-
tel, o Palace, e ainda queriam construir no para construírem um teatro.
uma garagem nos fundos. A pretensão foi atendida e será erguido
Houve grito, naturalmente, e o prefeito à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas. O
de então exigiu o cumprimento da cláu- sentido da palavra equidade é, realmente,
sula que ordenava a construção do teatro misterioso, neste caso. O que não consti-
no terreno. tui mistério, para ninguém, é que será cer-
Como já haviam ganho a área do hotel, tamente construído um hotel, ou a coisa
que já estava pronto na parte que dava para que estiver dando a maior rentabilidade,
a Avenida, resolveram construir o teatro no momento.
em 1913.
Serviu como sede da casa do Caboclo, Sobre a omissão do Governo Estadual
do Bailarino Duque, foi arrendado à Em- quanto ao teatro, Yan Michalski, em seu ar-
presa Vidal Ramos, funcionando como tigo no Jornal do Brasil (18/03/1966), co-
cinema. E até, por algum tempo, ficou menta:
alojada em uma de suas salas a Academia
Carioca de Boxe. …Hoje, somos obrigados a chamar a aten-
Quando os proprietários se distraíam ção das autoridades estaduais para um as-
com outros negócios desse gênero, o Fê- sunto já antigo, mas cuja evolução recente
nix acolhia companhias de operetas, “Os parece poder se constituir numa ameaça a
comediantes”, a “Cia. Bibi Ferreira”, “San- um direito legítimo do teatro carioca num
dro Polônio-Maria Della Costa”. setor particularmente importante: o setor
Em 1944, a Prefeitura fez obras no tea­ das casas de espetáculos.
tro, a esta altura em ruínas, e o desapro- Há cerca de dez anos atrás, o belo e
priou. tradicional Teatro Fênix, localizado num
Começou então, novamente, a luta excelente ponto no Centro da Cidade,
pela demolição, uma vez que a família foi demolido para dar lugar a um grande
proprietária queria demolir o hotel, para edifício. Ora, existe uma lei estadual que
construir um gigantesco edifício e o Fê- obriga os proprietários, nestes casos, a
nix, atrás do hotel, representava uma área construir um novo teatro no próprio edi-
preciosíssima, pois o teatro dava frente fício levantado no local do antigo teatro.
para duas ruas, valorizando deste modo Os interessados conseguiram, na época,
todo o edifício. escapar em parte da obrigação à qual esta-
O cansaço em descrever todas essas ma- vam, em princípio, sujeitos, e obtiveram
nobras, fez-me resumir a batalha judicial, a autorização para a demolição do Fênix,
para informar apenas que, finalmente, foi mediante o compromisso de construírem
dada licença para a demolição, com a condi- um novo teatro, não no local original,
ção de ser construído nos 4 primeiros anda- mas sim na Lagoa (ou seja, num terreno

130 Teatros do Rio


mais barato e num ponto comercialmen- emissoras de televisão, para ser transfor-
te muito menos interessante). mado em estúdio de TV.
Cerca de dez anos se passaram desde en-
tão: tempo suficiente não só para construir Respondendo a um artigo de Brício de
um teatro, mas para construir uma cidade. Abreu, no O Jornal de 1968, Paula Machado,
O novo edifício da Rua México, erigido escreve-lhe uma carta publicada a 25 de ja-
em cima do cadáver do velho Fênix, in- neiro no mesmo jornal:
tegra, há muito, a paisagem carioca. Mas
o prometido novo Teatro Fênix da Lagoa O Sr. Brício de Abreu publicou ontem nes-
permanece mergulhado num denso misté- se conceituado jornal, comentários a res-
rio. No ano passado, chegaram a circular peito do Teatro Fênix.
boatos sobre a sua próxima inauguração, Assunto já amplamente esclarecido e
logo seguidos de um completo silêncio. resolvido pelos setores competentes, volta
Um silêncio carregado de significados, a ser tratado por aquele ilustre comenta-
ao que parece: esta semana, com efeito, rista com evidente equívoco.
fomos informados, por fontes cuja ido- O terreno onde se ergueu o antigo
neidade está acima de qualquer suspeita e Teatro Fênix não “foi dado de graça” ou
que nos merecem a maior confiança, que “doado” à família Guinle – foi objeto de
o novo Fênix, já quase pronto, estaria em
vias de ser negociado com uma das nossas Teatro Phênix. Vista aérea

Arquivo Cedoc/Funarte

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 131


escritura onerosa da compra e venda la- espontaneamente, reconhecendo o valor
vrada em 1906, sendo comprador Eduar- cul­­­­­tural de uma casa de espetáculos.
do Palassin Guinle e vendedor a Fazenda Aprovado o projeto de construção do
Nacional, representada pelo Ministério Edifício, foi paradoxalmente negada a licen-
da Indústria, Viação e Obras Públicas – ça para a demolição do velho prédio tendo
Comissão Construtora da Avenida Cen- os proprietários impetrado um mandato de
tral, como consta de escritura lavrada em segurança, que lhes foi concedido.
14 de novembro de 1906, no Cartório do Desejando transferir a construção do
30 Ofício de Notas à fl. 40 do livro nú- teatro para outro local, sem incluí-lo num
mero 768. prédio comercial, por desvantagens de or-
A escritura em apreço, em sua cláusula dem técnica, que surgiram ao se detalhar
4 dizia:
o
o projeto aprovado, voltou o assunto, por
‘… 4o - …a venda é feita … livre de fo- ordem do então governador provisório, a
ros e sob as seguintes irrevogáveis e subs- Consultoria Jurídica do Estado. Sobre o
tanciais condições e obrigações: assunto, afirmou o Procurador Geral do
a) construir o outorgado no referido Estado, Dr. Josino Medeiros: “Em suma.
terreno um ou mais edifícios; A cláusula da escritura de 1906 não é de
b) construir um teatro para cerca de mil ser classificada de “modus” ou “encargo”,
espectadores… tratando-se, como se trata de contrato
ficando entendido que a presente condição oneroso, como é o de compra e venda.
será considerada como tendo tido pleno e Constando, portanto, da referida escritu-
satisfatório implemento, mediante a efeti- ra, a obrigação de – a) ‘construir no terre-
va construção do edifício do teatro, sem no um ou mais edifícios; b) construir um
que o outorgado se ache a mais obrigado teatro para mil espectadores, ficando en-
de futuro…; – (tabelião do Terceiro Ofí- tendido que a presente condição será con-
cio de Notas – 14-11-1906). siderada como tendo pleno e satisfatório
Cumprida a condição, conservou-se o implemento, mediante a efetiva construção
Edifício por mais de 40 anos, até que os do edifício do teatro, sem que o outorgado
proprietários resolveram demoli-lo, por a mais se acha obrigado de futuro…’, tenho
desatualizado e imprestável para o fim que a condição aí imposta, está constante,
a que se destinava como tão bem disse o e, obtido o seu implemento satisfatório, de
próprio senhor Brício de Abreu em artigo acordo com a vontade das partes, com a só
publicado no Diário da Noite em 28 de ju- obrigação da construção do edifício, com
nho de 1956, sob o título “Um punhado de um teatro, o que foi observado”.
verdades à margem de um debate”. Resolvida juridicamente a tese do cabal
Por Lei Municipal, foi autorizada a de- cumprimento da condição imposta na es-
sapropriação do imóvel. Havendo falta de critura de compra e venda de 1906, acima
recursos e pelos graves defeitos técnicos citada, não se efetivou naquela oportu-
do imóvel, preferiu o então prefeito não nidade a construção em outro local, que
realizá-la. Embora os proprietários tives- motivara aquela consulta e despacho.
sem pleno domínio do terreno, sem esta- Em 1963, propuseram os atuais pro-
rem obrigados a manter um teatro, sub- prietários ao governador do Estado a
meteram à aprovação projeto de edifício construção do teatro em terreno próprio,
onde se incluía um teatro o que só fizeram no bairro do Jardim Botânico, bairro esse

132 Teatros do Rio


que, com a construção do túnel Rebouças ...Em 1935, observou o Sr. Francisco Mo-
tornou-se rápida e facilmente acessível à reno, “foi promulgada lei que determina-
zona norte, e já com evidentes vantagens va a construção de três teatros na cidade”.
de acesso para os habitantes da zona centro Em 1949, frisou o advogado, “surgiu a Lei
e sul, facilidades de estacionamento etc. n. 346/24/9, que determinava a constru-
Aceita a proposta, foi lavrado Termo de ção de mais 6 casas de espetáculo. Final-
Obrigações entre os proprietários e Go- mente, dois anos depois surgiram a Lei
verno do Estado, publicado no Diário Ofi- n. 587/21/6, que desapropriou o Teatro
cial de 29-8-1963 (Parte I, página 17.609). Fê­­nix, e o Decreto n. 688, que declarou
Em consequência, construiu-se moder- Zona Teatral da cidade a área compreendida
no teatro com todos os requisitos técnicos, pelos seguintes logradouros: toda a exten-
excelente visibilidade e acústica etc… Foi são das ruas do Passeio,Visconde de Maran-
assim plenamente cumprida a obrigação guape e Praça Mahatma Gandhi, Floriano
assumida voluntariamente pelos proprie- e Largo dos Pracinhas; o trecho inicial da
tários, nada havendo de estranhável e ir- Avenida Men de Sá; e o perímetro da Rua
regular. Senador Dantas compreendido entre as
O imóvel do atual teatro, acha-se, pois, Ruas do Passeio e Evaristo da Veiga.
livre e desembaraçado de qualquer ônus,
podendo os proprietários dele dispor co­ A classe teatral na época não estava dis-
mo melhor lhes convier. posta a concordar com a troca de local para
É o que tínhamos a informar ao prezado o Jardim Botânico, porque achava a distância
amigo, pedindo-lhe o obséquio de publicar muito grande. A TV Globo passou a utilizá-
a presente carta no seu conceituado jornal. -lo, depois do incêndio que destruiu o audi-
Atenciosamente – Francisco Eduardo tório da Rua Lopes Quintas.
de Paula Machado.

Em 8 de julho de 1969, é inaugurado o 1870


Teatro Fênix (já sem o Ph), com o auditório Teatro São Luiz
Vicente Celestino, O Globo faz os seguintes
comentários: Não deve surpreender a ninguém o fato de
se representar tanto em francês no Rio de
Reconstruído há dois anos, à margem da Janeiro, nas primeiras décadas do Segundo
Lagoa Rodrigo de Freitas, e mantido de Reinado. Havia, na cidade, considerável nú-
portas fechadas até agora, será finalmente mero de franceses, empenhados em diver-
inaugurado o novo Teatro Phoenix, com sas atividades, no comércio, na hotelaria, no
a encenação da peça Vidrado, de Cruzoni, ensino, nas artes e até no jornalismo. Circu-
que é dirigida por Ricardo Pupo... lavam no Rio de Janeiro vários semanários
...escolhida para reabertura do Teatro em francês e até uma revista de caricaturas,
Phoenix, marca a estreia de uma atriz de intitulada Ba-ta-clan. Era a colônia francesa
18 anos, Scarlet Moon... do Rio de Janeiro imperial bastante nume-
rosa. Mas não era tão numerosa quanto a
Em 1969, O Globo em sua edição do dia portuguesa, engrossada constantemente por
19 de julho, publica: “Casa dos Artistas vai à novas edições, sobretudo de artistas emigra-
Justiça em defesa do Fênix”: dos de Lisboa.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 133


Arquivo Cedoc/Funarte

Um desses artistas que teve grande in- Teatro São Luís

fluência em nosso meio – o ator dramático


e empresário Luis Cândido Furtado Coe- A da frente, para a Rua S. Francisco de Paula
lho – se fixou no Rio de Janeiro em 1858 e n. 37C que, posteriormente, veio a ter sete
aqui prosperou, naquela dupla condição. A outras denominações: Souza Franco (decisão
ele ficaria o Rio de Janeiro devendo a cons- da Câmara em sessão de 01/06/1874); Tu-
trução de dois teatros. O primeiro deles foi cuman (Decreto n. 1.083, de 08/06/1916);
o Teatro São Luiz, que tinha duas fachadas. Teatro (Decreto n. 1.165, de 31/10/1917);

134 Teatros do Rio


Professor Gomes de Souza (Decreto n. 1.703, nos. Havia ainda ao lado da Tribuna Imperial
de 24/03/1922); Teatro (Decreto n. 2.517, algumas salas de descanso.
de 22/12/1926); Leopoldo Fróes (Decre- No fundo do palco foram construídos vin-
to n. 3.839, de 11/04/1932); e atualmen- te camarins, todos com janelas para a rua e
te, Rua do Teatro (Decreto n. 6.277, de o pano da boca corria inteiro. O risco, o de-
20/08/1938). A outra fachada dava para a senho das fachadas e o teto eram de Leroyer,
Rua do Cano, com a entrada de acesso do que dirigiu também a construção do teatro.
Imperador. A Rua do Cano é a Rua Sete de Os trabalhos de escultura de Sommer e os
Setembro e o local onde existiu o teatro é, das pinturas dos mármores, fachadas e en-
hoje, ocupado pela Galeria Silvestre – Rua tradas principais, de Medeiros; os trabalhos
do Teatro, n. 19. de pintura geral e dourados de Guimarães.
O Teatro São Luiz era uma casa pequena, Nas décadas seguintes à inauguração, Furta­­
cuja inauguração se deu em 1 de janeiro de do Coelho, depois de muitas aventuras e liga­­
1870 com a peça romântica A Morgadinha ções com atrizes, apaixonou-se pela jovem
de Val-Flor, do escritor português Pinheiro por­­­­tuguesa Lucinda Simões. Os dois se casa-
Chagas e teve como empresário o próprio ram, apesar da grande diferença de idade, e em
Luiz Cândido Furtado Coelho, e como pro- honra de sua jovem esposa, Furtado Coe­lho
tagonista a atriz Ismênia dos Santos. deu logo início à construção de um novo tea-
A fachada, sustentando padrões estéticos tro, mais amplo e mais luxuoso que o primei­­ro:
neoclássicos, o Teatro Lucinda, de que falarei mais adiante.
Em requerimento de 6 de julho de 1877,
Apresentava várias ordens de pequenas ja- José Feliciano Castilho solicita à Câmara
nelas, separadas por colunetas, e abria três autorização para a realização de obras no
portas para a rua... A fachada da frente, a teatro a fim de melhorar a sua ventilação.
da Rua do Teatro, que mais obedecia aos O proprietário decide, também, abrir uma
rigores da estética, rematava por uma pla- varanda, na altura dos camarotes, à qual se
tibanda triangular, ornada de três estátuas tinha acesso através de três portas.
em alto-relevo.66 Em 1883, conforme o Almanak Laemmert,
(p.1243) “a lotação do teatro passa para 356
Sua plateia tinha 294 cadeiras numera- cadeiras, 150 lugares nas galerias, 18 cama-
das, divididas por uma grade, separando as rotes e 1 camarote imperial”.
do lado par das do lado ímpar. Ao longo das Como propriedade particular, o Teatro São
paredes laterais havia bancos de palhinha Luiz teve sucessivos donos. Foi fundado pelo
com lotação para 32 pessoas e nas laterais da advogado Francisco Carlos A. Brício, um dos
orquestra existiam duas plataformas eleva- signatários da Proclamação da República.
das destinadas aos camarotes da polícia e de Vários outros proprietários se sucederam:
administração pública, cercadas de grades. Luiz Cândido Furtado Coelho (1869/1872);
Ambas se comunicavam com o palco e com D. Ismênia, empresá­ria (1875); José Felicia-
a plateia. Contava ainda com 34 camarotes no de Castilho (1876/1877); Dr. Joaquim
dispostos em duas ordens, e mais dois que Luiz de Oliveira Castro (1877); D. Emília
formavam a Tribuna Imperial elegantemen- Adelaide Pimentel, empresária (1877).
te dourada e disposta ao lado direito do pal- O Teatro São Luiz desapareceu no início
co, com abertura para a fachada na Rua Sete de 1886. No seu local construiu-se um pré-
de Setembro, por onde entravam os sobera- dio residencial.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 135


1872 fachada se voltava para o Largo do Rossio.
Teatro Casino Franco – Brésilien A entrada do teatro era feita por um amplo
(Teatro Carlos Gomes) corredor da Rua do Espírito Santo porque
não possuía fachada para a rua,
O Teatro Casino Franco-Brésilien, foi inau-
gurado em 1o de fevereiro de 1872 e ficava Aberta pelos lados sobre o jardim que a
situado na Rua do Espírito Santo, n. 2, na cercava, a sala de espetáculos era fresca e
Praça da Constituição. Em 1896, com a mu- agradável. Por sobre a plateia, corria uma
dança de nome do logradouro, seu endere- galeria única, em cujas extremidades se
ço passou a ser Rua Luiz Gama. Pela revisão formavam os camarotes.67
da nomenclatura dos logradouros públicos,
Decreto 1.165 de 31 de outubro de 1917, Em estilo campestre, apresentava um ca-
restabeleceu-se a antiga denominação de marote imperial, 18 camarotes de primeira
Rua do Espírito Santo (1796-1917). Final- e 4 de segunda, 129 varandas, 81 cadeiras
mente o Decreto 1.599, de 6 de setembro numeradas e 300 lugares na galeria.
de 1921, alterou o nome para Rua Pedro I. A empresa foi dirigida pelo ator Sou-
Atualmente o teatro ocupa o n. 19 da Praça za Martins, que permaneceu no teatro de
Tiradentes (ex-Constituição), esquina com 1872 (dois meses após sua inauguração)
a Rua D. Pedro I. até meados de 1877, quando foi arrendado
O teatro havia sido construído com a fina- pelo casal Lucinda Simões e Furtado Coe-
lidade de exibir números de café-concerto, lho, até 1879.
com predominância de artistas franceses e O programa de inauguração constou de
ficava nos fundos do Hotel Richelieu, cuja canções brejeiras, duas árias pelo artista Du-
pont, e duas comédias nas quais tomaram
parte Céline Pons e os atores Auffray e Desir,
Arquivo Cedoc/Funarte

componentes da Troupe Française, sob dire-


ção de Brício. O teatro havia sido proprieda-
de particular e a primeira notícia que se tem
faz referência a João Braulio Muniz como
sendo seu proprietário.
A partir de 29 de outubro de 1880, passa
a chamar-se Teatro Sant’Anna, em homena-
gem a Ana, mulher do novo proprietário,
Pedro Ferreira de Oliveira Amorim. Foi rei-
naugurado com a apresentação da Opereta
de Hervé, La fille du tambour major. Por sua
morte, torna-se propriedade de seus her-
deiros: D. Balbina de Amorim Moraes, José
Fernandes de Faria Machado e sua mulher
D. Maria do Carmo Ferreira Machado, Pe-
dro Ferreira de Amorim Júnior, Dr. João
Paulo de Carvalho e sua mulher D. Alber-
tina de Carvalho e José Bruno Nunes e sua
Teatro Carlos Gomes. Fachada primitiva mulher D. Henriqueta Nunes.

136 Teatros do Rio


O Jornal Méssager du Brésil, de 25 de junho esta ideia, pois estando isolada, esta últi-
de 1880 (Apud, Lafaiette Silva, p. 63), for- ma será preferida pelas famílias. As pro-
nece uma descrição do teatro: porções e a simetria foram observadas em
todo o edifício. A boca do palco cênico
Na esquina da Praça da Constituição e Rua tem 10 metros de largura e mais ou menos
do Espírito Santo eleva-se um edifício ve- outros tantos de fundo. A sua altura desde
dado aos olhos dos transeuntes pelas casas a base é de 4,5 metros. Não somos de opi-
que o rodeiam. Se penetrarmos, porém, nião que este palco seja grande, mas para
pela estreita e baixa entrada entulhada o gênero a que está destinado, o julgamos
por materiais de toda espécie, nos admi- suficiente. Esta é a impressão que nos dei-
raremos em ver um edifício tão majestoso. xou este teatro na nossa rápida visita. O
Com efeito, à frente de seis enormes co- conjunto e as partes honram o arquiteto e
lunas, surge um frontão triangular. O ris- os artistas que o coadjuvaram.
co arquitetônico, apesar da simplicidade,
tem um quê de grandioso. À primeira vista Apesar de possuir uma acústica que dei-
nos lembra a Igreja da Madalena ou Cor- xava a desejar, era um teatro com uma boa
po Legislativo. O antigo cassino lá se foi, frequência de público, pois ficava lotado em
hoje nem vestígio fica dele, e, em seu lugar todas as suas sessões e por lá passaram várias
aparece o Teatro Sant’Ana com elegância e companhias estrangeiras: uma francesa, da
garrídia esperando a sua abertura. Passan- atriz Julie Lentz; uma espanhola, de zarzue-
do o peristilo, nos chama repentinamente las e a companhia italiana Semma Cuniberti.
a atenção a habilidade com que se aprovei- Em 13 de julho de 1888, após algumas re-
tou a forma circular da sala, dando-se-lhe formas, foi reaberto ao público oferecendo
assim toda a comodidade que um recinto segurança e melhores acomodações ao pú-
desta espécie requer: a mesma disposição blico. Uma agradável aparência, quer pelas
se observa no andar dos camarotes: entre pinturas e outras pequenas reformas ou res-
cada coluna há uma sacada, que dá para o tauro tanto da parte externa como interna
jardim. No segundo andar há uma disposi- do teatro. Possuía uma tribuna nobre, 18
ção análoga, com a diferença que aqui os camarotes de primeira classe e 4 camarotes
camarotes são substituídos por uma série de segunda classe, 81 cadeiras numeradas e
de bancos. Tanto aqui como no andar dos 50 lugares nas galerias.
camarotes nada se descuidou para o bem- No final de 1881, o teatro foi arrendado
-estar do espectador e para que se veja e se pela Companhia Jacinto Heler, que montou
ouça comodamente. O teto é muito alto, diversas revistas da parceria de Artur Azeve-
para a comodidade das galerias. As aber- do e Moreira Sampaio.
turas, profissionalmente colocadas hão de Em 1904, o teatro é vendido à Empresa
permitir uma constante ventilação. Paschoal Segreto Diversões S/A, que per-
O teatro poderá conter 1.500 espec- maneceu na propriedade até 31 de dezem-
tadores. Podia aumentar-se este número, bro de 1981. Em 1 de janeiro de 1982, José
porém limitaram-se a este para a como- Rômulo Dantas adquiriu-o.
didade da sala. Há na plateia cadeiras de Em 1905, já de propriedade de Paschoal
primeira e segunda classe, e ao redor das Segreto, o teatro foi todo reformado, mo-
mesmas, existe uma varanda com três ou dernizando suas dependências internas de
quatro fileiras de cadeiras. Foi muito feliz acordo com os preceitos higiênicos exigi-

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 137


dos pela Saúde Pública, e nessa época a di- A galeria que tem 2 camarotes por cada
retoria da Empresa Segreto Diversões, com lado, corre por cima dos camarotes. Tem
sede no primeiro andar do anexo do Teatro uma frisa do lado direito do proscênio que
Carlos Gomes, na Rua Pedro I, era formada não figura na planta. Dimensões: compri-
pelos irmãos Luiz e Martinho Segreto, seu mento da plateia: 14,9 m; largura: 17 m;
sobrinho Caetano Segreto e o Sr. Emílio altura do teto: 9,2 m; largura da boca de
Ibrahim, além de vários acionistas. cena: 10,4 m; altura: 8 m; lotação: cama-
O teatro foi todo pintado em agradável rote de 1ª - 20; camarote de 2ª - 4; cadeiras
tonalidade verde, as escadas forradas de ta- - 537; galerias - 250; entradas gerais - 500;
petes e montado o gabinete de toilette para frisas - 1.
senhoras. O terraço e o bar, mais arejados,
receberam nova decoração. Com estilo mais Já o Almanak Laemmert de 1911/1912
moderno para a época, a iluminação dupla a (p. 97) informa que eram 20 camarotes de 1ª,
bico Auer e a eletricidade; a remoção do ar
fazia-se por ventiladores laterais fixados nas
colunas circulares; a plateia mais alargada,
com as passagens forradas de tapetes; repos-
teiros, cortinas e lavabos nas passagens dos
camarotes; e a caixa, aumentada, foi toda
repintada. Descreve o Almanaque Brasileiro
Garnier, de 1908 (p.421):

Fotografia Augusto Malta


A entrada da Rua Pedro I atual, então ainda do Espírito
Santo, em 1916. À direita o primeiro prédio que abrigava o
Teatro Sant’Ana, depois denominado Carlos Gomes

138 Teatros do Rio


2 camarotes de 2ª; 475 poltronas (fauteils); como tudo quanto possuíam os artistas. O in-
60 cadeiras de 2ª, 260 lugares na galeria e cêndio consternou a cidade e a classe teatral.
400 nas gerais. A Casa dos Artistas fez um apelo às compa-
O teatro situava-se em frente a um largo nhias que se achavam trabalhando para que,
pátio cimentado, defendido por um gradil cada uma das pessoas empregadas cedesse um
de ferro e com cobertura de folhas de zinco, dia de serviço, em favor do pessoal da Com-
mobiliado com mesas e cadeiras de ferro, panhia Margarida Max.
fornecidas por uma companhia de cerveja, Reconstruído, em estilo art-déco, foi rea-
onde eram servidas refeições, antes e depois berto no mesmo local e com o mesmo
do espetáculo. nome, em 6 de abril de 1932, com o pro-
É inaugurado em 26 de janeiro de 1905, jeto do arquiteto Nazareth de Castro. O
com o nome de Teatro Carlos Gomes, apre- teatro em si não era uma nova volumetria
sentando o drama em quatro atos Papa Le- no espaço da paisagem da Praça Tiradentes,
bonnard, de Jean Aicard, versão de Manoel mas sim uma sala de espetáculos no inte-
Penteado e Luiz Galhardo, com a Compa- rior de um prédio, abrindo caminho para
nhia Christiano de Souza e Lucinda Simões, as inovações arquiteturais, cabendo a cons-
compondo o elenco, por personagens; Le- trução à Companhia Construtora Nacional
bonnard, Christiano de Souza; Marquês S.A., sob a direção do engenheiro militar
D’Estrey, Ferreira de Souza; Roberto Le- Hildeberto de Albuquerque. O novo teatro
bonnard, Antônio Serra; Dr. André, Ernesto foi concebido sob um prédio de aparta-
Silva; Madame Lebonnard, Lucinda Simões; mentos cuja fachada arredondada obedecia
Joana Lebonnard, Adelaide Coutinho; Bran- à curvatura da esquina. Apresentava uma
ca D’Estrey, Julieta Pinto; Martha, Adelaide arquitetura despojada, com geometrização
Pereira. Cenografia de Chrispim do Amaral. de elementos decorativos típicos da lingua-
Em 1929, o teatro era ocupado pela gem art-déco.
companhia de revistas empresariada por No pavimento térreo, o teatro oferecia aos
Manoel T. Pinto, sendo a atriz principal seus frequentadores, a novidade da tempora-
Margarida Max. Na manhã de 27 de agosto da: uma sala de chá, no nível dos camarotes
do mesmo ano, o velho casarão foi total- e balcões, além de butiques e pequenas lojas.
mente destruído por um incêndio, ocasião Na época da sua inauguração, o Carlos
da temporada da peça de Luis Iglesias Onde Gomes possuía mil poltronas dispostas na
está o gato?. Só restaram de pé as colunas plateia, no balcão nobre e nas galerias.
de ferro que formavam o esqueleto do tea- A caixa cênica de modelo italiano, com
tro, sustentadoras dos andares onde havia um enorme palco, com ampla boca de cena
camarotes e galerias. e urdimento, permitia que fossem encena-
A causa do sinistro foi atribuída a operários dos quaisquer gêneros teatrais, inclusive,
da Light que, com maçarico aceso, faziam re- óperas e grandes balés. Camarins grandes e
paros na instalação elétrica. Foi total a perda, pequenos foram distribuídos em três pisos:
para as Empresas Paschoal Segreto, M. Pin- O pano de boca, com motivos do Gua-
to e para a Companhia Margarida Max, que rani, foi pintado pelo cenógrafo Hyppolito
ocupava o teatro na ocasião e estava no ápice Colomb com um belo desenho colorido e
de rendosa temporada, com a peça de Luis justeza de perspectivas admiráveis.
Iglesias. Arquivos, cenários e guarda-roupa da Já finalizando as obras, a imprensa é con-
companhia ficaram reduzidos a cinzas, assim vidada para acompanhar os últimos retoques:

Capítulo 2 | O teatrO de uma capital ainda prOvinciana 139


Sua decoração interna é alegre e de bom Fachada do teatro Carlos Gomes em 1929

gosto: as instalações elétricas, quer do pal­


co, como da plateia, nada deixam a dese- formista Fátima Miris. O programa foi di-
jar. Na plateia ficam 900 cadeiras e 200 vidido em duas partes: a primeira, de puro
lugares nos balcões. Possui ainda o teatro transformismo, com a mostra de um arranjo
400 lugares nas galerias e 28 nos camaro- da Viúva alegre e a segunda, de variedades,
tes. Para comodidade dos espectadores foi em que cantou, apresentou duas girls e ofe-
construída no primeiro andar do edifício receu, em companhia de sua irmã Emília
uma luxuosa e ampla sala de espera, onde Frassinesi, um número de imitação. Além
os frequentadores poderão, nos intervalos, dessas exibições, Fátima Miris cantou um
servir-se de chá, sorvetes e refrescos. Além número cômico e outro sentimental.
dessa linda sala de espera, o teatro possui Por mais de uma vez houve tentativa de
outras destinadas aos espectadores das ca- transformar o Teatro Carlos Gomes em ci-
deiras e dos balcões. Embaixo está um es- nema. De 1o de abril a fins de outubro de
paçoso hall decorado com apurado gosto. 1935, funcionou como cineteatro, passando
O palco tem 20m de largura por 17m de somente em novembro de 1935 exclusiva-
comprimento; a boca de cena mede 11m. mente para cinema. Em 8 de abril de 1935,
Os excelentes camarins, em número de com o início da temporada cineteatro, foi
20, estão localizados em 3 andares do lado apresentado Espelho de casa, interpretado
esquerdo do palco, tendo todos especial por Manuel Durães, Conchita de Moraes,
instalação elétrica e água corrente. Possui Hortensia Santos e outros.
ainda o teatro uma ventilação especial no Um segundo incêndio destruiu o teatro,
teto e uma renovação de ar, por aparelhos no dia 7 de maio de 1950. Estava alugado
colocados no assoalho.68 ao empresário Hélio Ribeiro que apresenta-
va a companhia de sua própria esposa, Bibi
Em 6 de abril de 1932, após o primeiro Ferreira, na revista musicada Escândalos de
incêndio, reabriu com a exibição da trans- 1950. O fogo atingiu o palco, a caixa, os

140 Teatros do Rio


camarins (exceto o de Mara Rúbia), os ce- taldo Policena, com direção de José Maria
nários, o pano de boca, a oficina de carpin- Monteiro e cenários de Luiz Paulo Senra.
taria, a central de eletricidade, os aparelhos Dois anos depois, em 1963, foram reali-
de transmissão de uma emissora, o guarda- zadas obras por ordem do Sr. Lívio Bruni,
-roupa das girls e dos artistas e mais alguns visando adaptar o teatro para cinema, com
instrumentos de música. abertura da boca de cena para colocação de
Apesar de todo danificado, o Teatro Car- tela cinemascope.
los Gomes foi reparado em poucos meses, Durante aquele ano, foram apresentados
ficando as obras de reconstrução a cargo da filmes intercalados com espetáculos ao vivo.
Companhia Nacional e foram introduzidos Contra este fato houve veementes protestos
novos melhoramentos aos já adaptados. do Sindicato dos Atores Teatrais, Cenógrafos
Em 31 de agosto de 1950, o teatro refor- e Cenotécnicos do Rio de Janeiro, represen-
mado reabriu com a revista de Luis Peixoto, tados pelo seu Presidente Fred Villar, e da
Mão boba, com Beatriz Costa, Colé, Salomé, Casa dos Artistas, junto ao então Governador,
Rafael Garcia, Spina, Jurema de Magalhães, Carlos Lacerda. A classe teatral movimentou-
Celeste Aída, Zé Coió, Zilca Salaberry, -se a fim de preservar um patrimônio que
Francisco Dantas, Virgínea de Noronha, Re- pertencia, de fato, à cidade, impedindo que o
nato Restier, Vanete e João Elísio. Bailarinas: excelente palco se transformasse em mais um
Inez Helmkapf, Nelida Galvan e Neli Lujan. cinema da cadeia Bruni.
Ballets: Las Chicas del Mar del Plata, vindas de Em 2 de agosto de 1963, o Diretor Na-
Buenos Aires, Garotas de Copacabana e o Ne- cional do Teatro do Ministério da Educação
gro. Música do Maestro Vicente Paiva; José e Cultura, Joaquim Roberto Correia Freire,
de Alencar, diretor de montagem; Humber- e o presidente do sindicato assinaram uma
to Cunha, diretor de ensaios e palco; Helena
Soares, guarda-roupa; Aurélio Sá, chefe de
contrarregra; Lucídio Soares, direção dos
efeitos de luz.
Como consequência de um curto-circui-
to, um terceiro incêndio atingiu o teatro, em
27 de setembro de 1960, destruindo os ce-
nários, o palco, o camarim de Virgínia Lane
e o porão, onde estavam guardados mate-
riais diversos de propriedade da empresa e
de seus empregados. No dia do incêndio ali
se exibia a Companhia de Max Nunes e J.
Maia, que havia estreado no dia 23 e apre-
sentava a revista Segura o Ximango.
O teatro reabriu em 15 de setembro de
1961, completamente reformado, com pal-
co maior, poltronas novas e instalações elé-
tricas modernas, apresentando a peça L.R.S.
– Liga de Repúdio ao Sexo, de Abílio Pereira
de Almeida, contando no elenco com Dercy
Gonçalves, Jean Jacques, Peggy Aubry, Ca- Teatro Carlos Gomes

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 141


Declaração Pública em defesa da permanên- nados a qualquer outro fim, sem expressa
cia do Teatro Carlos Gomes, exclusivamen- autorização, em processo próprio, do Pre-
te como teatro, com amparo legislativo no feito do Distrito Federal.
Art. 2º do Decreto- Lei n. 7.959, de 17 de
setembro de 1945, que determinava: O jornal A Noite, em 8 de agosto de 1963
publicava:
Os atuais edifícios ocupados por teatros,
bem como os que foram ou venham a ser Em 1955, houve da parte da Empresa Pas-
construídos com sua finalidade, não pode- choal Segreto uma tentativa de transfor-
rão ser utilizados como cinemas ou desti- mação da referida sala de espetáculos cêni-

Teatro Carlos Gomes em 1932. Fachada

142 Teatros do Rio


cos, em cinema, sob pretexto de não haver superiores onde, no primeiro, após outro
interesse por parte das empresas teatrais hall, com espelhos nos cantos, se situam
de ocupá-lo em temporadas. os camarotes. No último andar, as galerias,
com suas fileiras de cadeiras. Por trás do
E o jornal A Notícia, no dia 17 do mesmo imenso palco há espaço de sobra. Os ca-
mês, ameaçava: marins, bem espaçosos, em número de 16
se situam nos primeiro e segundo andares.
Se o Governador Carlos Lacerda liberar, Ao percorrer-se o teatro, sente-se a cada
em seu despacho, o Teatro Carlos Gomes passo o estado de abandono em que se en-
para cinema, os artistas vão residir no pré- contra: paredes descascadas, infiltrações no
dio do teatro, caso a polícia venha a inter- teto, portas em mau estado e nas janelas,
vir, daremos um “show” para ela, foi o que que imitam vitrais, os vidros estão aos pe-
declarou ontem, na reunião do Sindicato daços ou são simplesmente espaços vazios.
da classe, o Sr. Fred Villar (Fred do “care- Não há no Teatro Carlos Gomes uma ar-
quinha”), na presença do Sr. Mauricio Fé- quitetura que marque época, nem obras de
lix de Souza, Diretor de Serviços de Teatro arte em sua decoração. Seu valor maior é o
do Estado da Guanabara. sentimental, além do fato de ser uma das
melhores casas de espetáculos do Rio.69
Em novembro de 1966, o teatro, arren-
dado por Lívio Bruni, foi temporariamente Como comentário à observação de Mi-
transformado em cineteatro, apresentando riam Alencar, no último parágrafo, “... uma
como espetáculo de estreia o show dirigi- arquitetura que marque época...”, aponta-
do pelos artistas Colé e Silva Filho, Pra ver mos a falta de informação da autora da ma-
a banda passar, com Manula, José Mafra, téria: na verdade o Teatro Carlos Gomes, em
Osni José, Sandra Moura, Marília, Marlene, estilo art-déco, foi tombado pela Prefeitura
Marinês, Dulcinéia e outras vedetes, sendo da Cidade do Rio de Janeiro, Lei 568, de 20
o espetáculo complementado com o filme de julho de 1984, como Patrimônio Cultu-
O dólar furado. ral (Publicado na relação de Bens Tombados
A situação de funcionamento normal do – Patrimônio Cultural – da Prefeitura da
teatro foi restabelecida em 1966, quando o Cidade do Rio de janeiro, Centro, Glória,
Governador Negrão de Lima determinou Catete, Flamengo. Departamento Geral de
o fechamento do teatro, por estar exibindo Patrimônio Cultural e Secretaria Municipal
filmes nos intervalos dos espetáculos apre- de Cultura, 1996).
sentados por Colé e Silva Filho. Por outra reportagem publicada no jornal
Em 1975, Miriam Alencar, em reporta- O Globo, de 18 de julho de 1980, tinha-se
gem sobre o Teatro Carlos Gomes escreveu: notícia de um movimento para a recupera-
ção do Carlos Gomes, com planos de fazer
O velho prédio cinza não mostra, por fora, reviver o teatro revista. Benjamim Gra-
o que realmente é o teatro. A entrada não ça Aranha, arrendatário, com uma equipe
muito grande, dá acesso a um espaçoso hall constituída por Tânia Scher, atriz; Luiz Sér-
que abriga grandes vitrinas e muitas placas gio Lima e Silva, divulgador e ator; e Luiz
de bronze nas paredes. Uma larga porta dá Garcia, empresário, lançaram o projeto
acesso à plateia, uma das maiores do Rio. “150 pratas” (o preço da entrada), com du-
Escadarias de mármore levam aos andares ração de dois meses.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 143


Teatro Carlos Gomes. Planta baixa, (S.E.)

O prédio do teatro passou por uma gran- Em 1980 o prédio possuía um palco com
de limpeza e, pelo teor da entrevista con- 19m de largura por 15m de altura, 10m de
cedida pela equipe, percebe-se o estado de profundidade, 20m de urdimento e 3m de
abandono em que se encontrava, na época, proscênio. Havia 3 sanitários femininos, e
aquela casa de espetáculos: 3 masculinos, o sistema de refrigeração era
feito por meio de ventiladores, 12 camarins
A entrada do Teatro Carlos Gomes já está individuais e 3 coletivos, comportando 15
diferente: as paredes pintadas de branco; pessoas, cada um.
as vitrinas do hall, que há poucas semanas A iluminação era feita por um quadro de
anunciavam sapatos e bolsas, ou estavam luz existente no palco. Depois do último
vazias e empoeiradas exibem trabalhos de incêndio, esse quadro de 110v. e 220v. pas-
papelão e cartolina feitos por Analu Pres- sou para o fundo do balcão. As aparelhagens
tes, dando um ar mais festivo ao ambiente. de iluminação e de som eram trazidas pela
A equipe descobriu coisas incríveis nes- companhia que estivesse ocupando o teatro.
se período de limpeza. Desde um amon- Havia seis refletores.
toado de placas velhas atrás do cartaz da A capacidade do teatro era de 1.100 pes-
fachada principal, até cortinas e cenários soas, tendo 800 lugares na plateia, 24 ca-
apodrecidos, além de alguns baús fecha- marotes com 15 lugares, e 110 lugares no
dos, onde, garantem, existem guarda- balcão e 100 na galeria.
-roupas de antigas montagens de teatro de O Alvará de Licença para funcionamento,
revistas e mais de 100 textos originais.70 em vigor em 1963, tinha o número 89.303/63

144 Teatros do Rio


e foi expedido pela Secretaria de Estado de Se- E o empresário Rômulo Dantas, que havia
gurança Pública. adquirido por quinhentos milhões o contro-
São várias as placas comemorativas existen- le acionário da Companhia Paschoal Segreto
tes, homenageando: Jardel Jércolis (colocada de Diversões diz, ao Jornal do Brasil de 14 de
em 1932); Leopoldo Fróes (31 de agosto de janeiro de 1982:
1933);Vicente Celestino pelo grande sucesso
obtido com O ébrio e, o centenário de morte A preocupação do Secretário Arnaldo
de Almeida Garret, em 1954. Niskier é válida, mas não há razão para
Muitas companhias nacionais e interna- receios, pois no lugar de Carlos Gomes
cionais passaram pelo Carlos Gomes, das construiremos um outro teatro de mes-
nacionais que arrendaram o teatro pode- ma capacidade, mesmo nome e com o
mos citar: Souza Martins, Lucinda Simões e aval do maior artista plástico do país, o
Furtado Coelho, Christiano de Souza e Dias arquiteto Oscar Niemeyer...
Braga, M.T. Pinto, Barreto Pinto, Procópio
Ferreira, Artistas Unidos, Helio Ribeiro, Vi- Radicado no Rio desde a década de 1950,
cente Celestino, Dulcina e Odilon, Chianca o pernambucano Rômulo Dantas sempre se
de Garcia, Lívio Bruni, Silva filho e Colé. dedicou às atividades de incorporação imo-
O início de 1982 foi marcado por notícias biliária. À frente de três empresas – Rômu-
que deixaram toda uma classe teatral per- lo Dantas, J.R. Dantas e Gonçalves Dantas
plexa: o Teatro Carlos Gomes seria demoli- Participações e Empreendimentos – ele ar-
do para dar lugar a um apart-hotel. ticulava negócios que iam desde construções
No Anuário da Casa dos Artistas era publi- na Barra da Tijuca, Copacabana e Lagoa, até
cado um artigo que comentava o referido loteamentos em Campo Grande, Realengo,
assunto: e em Recife. Sua última transação no ano de
1981, tinha sido a venda à Veplan de uma
Há uma incontrolável fúria imobiliária à ilha ao lado da Ilha dos Pescadores, onde foi
cata de meios para expandir e fazer dinhei- construído um clube de lazer. Em dezem-
ro e essa fúria é responsável pelo desapa- bro de 1981, Rômulo Dantas havia investi-
recimento de monumentos arquitetônicos do quinhentos milhões na aquisição de 82%
cuja não permanência, modificou, total e do valor acionário da Companhia Paschoal
infelizmente toda a fisionomia do Centro Segreto de Diversões, onde a participação
do Rio. anterior de 35 acionistas, ficou reduzida a
E será irreparável a perda do Carlos apenas três. Assumiu assim o controle dos
Gomes se realmente ele vier a desapare- negócios da empresa, basicamente a locação
cer, caso não se encontre meios de con- de lojas, apartamentos, terrenos e edifícios
servá-lo e fazer valer leis de proteção, na área da Praça Tiradentes. Da antiga dire-
como Decreto-Lei n. 7.959, de 17 de se- toria, apenas o diretor Caetano Segreto foi
tembro de 1945 que impediu, em 1977, convidado a permanecer no cargo, como as-
a passagem desse mesmo teatro a cinema sessor direto de Rômulo Dantas.
que é hoje um dos maiores do Rio e um Ainda na reportagem do Jornal do Brasil, de
dos poucos capacitados a abrigar um es- 14 de janeiro de 1982. O empresário afirma:
petáculo de real envergadura, dados a di-
mensão do palco e o número de poltronas De uma coisa faço questão: já me comu-
acessíveis ao público.71 niquei com o Niemeyer na Itália e ele

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 145


se comprometeu, ao chegar, de discutir Há cerca de um mês ele foi convidado pelo
o projeto passo a passo com artistas, a Jornal do Sindicato dos Arquitetos, para que
imprensa, os órgãos públicos e todos os divulgasse o seu plano, mas ele se negou,
interessados. Tudo vai atender o interesse alegando que o Sindicato existia para pro-
coletivo e todos serão beneficiados... teger os interesses dos arquitetos. “Mas
apenas quando esses interesses estão de
A tentativa de colocar abaixo o Teatro acordo com a comunidade” – ressalta Ma-
Carlos Gomes foi o estopim para que toda rilena Barbosa, vice-presidente da AMA
uma classe unida lutasse contra a desfigu- Centro. “E qual projeto de Oscar Nie-
ração da Praça Tiradentes, a destruição de meyer que serve ao povo? Apenas o Sam-
um patrimônio da cidade. A imprensa de um bódromo, talvez, que mesmo assim será
modo geral deu cobertura aos artistas, in- mantido pelo Governo do Estado. O que
formando os leitores da grave situação que deve ser feito em relação aos teatros é uma
estava para ocorrer. reforma para que ali possam ser montados
Em O Globo, de 5 de março de 1982, na espetáculos a preços populares, pois nada
coluna de Carlos Swann, sai a informação: mais resta à grande massa do povo, apenas
praia e samba. O trabalhador já não pode
Serão dos arquitetos Oscar Niemeyer e pagar cinema, e nem mesmo uma entrada
Marinho Estelita os projetos dos maiores no Maracanã.” 72
edifícios que se erguerão na Praça Tira-
dentes onde hoje existem o cinema São O ano de 1984 continua sendo de luta,
José e o prédio do Teatro Carlos Gomes. entidades como Associação de Moradores
Uma comissão de representantes de artis- e Amigos do Centro, Associação Carioca
tas, autores, empresários e músicos esteve de Empresários Teatrais e da Comunidade
com o proprietário do empreendimento, de Preservação do Centro foram recebidos
Rômulo Dantas, recebendo a promessa de pelo Prefeito Marcelo Alencar e, através de
que em lugar do Carlos Gomes surgirá um um documento, pediam o tombamento do
teatro de 1.200 lugares, e que sua demo- Teatro Carlos Gomes e atenção para o ex-
lição só começa após a conclusão de outro -cinema e Teatro São José, que praticamente
teatro, este de 800 lugares, onde hoje se já estava quase todo demolido.
ergue o São José. O São José, um velho teatro que ao lon-
go dos últimos anos mergulhou numa triste
Durante um longo período uma luta foi decadência, poderia ter sido reconquistado
travada contra a demolição do teatro. Diver- como área para a representação teatral não
sas entidades se manifestaram repudiando a só pela sua excelente localização como pelo
iniciativa de Rômulo Dantas, alegando que espaço disponível para que se criasse uma
o mesmo não tinha respeito algum pela me- arquitetura teatral mais adequada à moder-
mória de uma população e que, mais uma na linguagem do espetáculo. O Carlos Go-
vez, esta não estava sendo consultada em mes, entretanto, é uma sala bem ao estilo
relação ao seu patrimônio cultural. A Asso- clássico, com plateia, balcões e galeria, palco
ciação de Moradores do Centro denunciava amplo, urdimento que permite montagens
a omissão de Oscar Niemeyer, responsável mais complexas, e com uma boa reforma se
pelo projeto: transformaria num dos melhores teatros do
Rio, o que de fato veio a ocorrer.

146 Teatros do Rio


Arquivo Cedoc/Funarte
Teatro Carlos Gomes (reforma)

Arquivo Cedoc/Funarte

Teatro Carlos Gomes. Plateia antes da reforma


Arquivo Cedoc/Funarte

Fachada do teatro Carlos Gomes


O Rio de Janeiro, já havia perdido ao tro de Artes Carlos Gomes estava Orlando
longo dos últimos anos vários teatros, como Miranda, empresário teatral, que prometia
o Fênix, Santa Rosa, Tijuca, Manchete e entregar o teatro em janeiro de 1986. Com
Follies, e a experiência com casas de espe- capacidade para 1.700 pessoas, além de um
táculos em Shopping Center estava se con- teatro gafieira, um sebo-arte (livraria especia-
firmando, como os três da Gávea (Vanucci, lizada), uma casa de chá, um espaço para ex-
Clara Nunes e Dos Quatro) oferecendo um posições permanentes e uma galeria de arte.
movimento grande do público que circula
pelos corredores, garantindo ainda segu- A ideia era demolir tudo e construir ou-
rança maior para o público e conforto de es- tro teatro. Fui radicalmente contra porque
tacionamento, que o teatro na beira da rua seria um equívoco. O Carlos Gomes faz
nem sempre oferece. Mas infelizmente, dos parte da tradição desta cidade e não faria
novos shoppings, o da Gávea, até a data, era o menor sentido um teatro moderno no
o único a acreditar no teatro. lugar dele. Foi preciso deixar de lado o
aspecto puramente empresarial. Além do
Em 1 de julho de 1984, O Globo publicava: mais, seria uma agressão à paisagem da
Praça Tiradentes.73 [...] Vamos preservar
No último dia de plenário antes do re- tudo quanto for possível, não só do pon-
cesso, na Câmara Municipal, foram exa- to de vista arquitetônico, mas também de
minados 20 projetos, aprovados em três programação cultural, que será basica-
sessões, duas extraordinárias. Entre as mente em torno de um só gênero teatral:
propostas aprovadas, estão o tombamen- A Revista
to do Teatro Carlos Gomes, da vereadora
Ludmila Mayrinck (PDS) e a do Vereador Todo o segundo semestre de 1985 foi
Alberto Garcia (PDT)... empregado para a reforma, sob a responsa-
bilidade de Rômulo Dantas, que contratou
No mesmo ano, o Prefeito Marcelo Orlando Miranda, ex-presidente do Institu-
Alen­­car sancionou o projeto de lei de au­ to Nacional de Arte Cênicas (Inacen) para
toria da vereadora Ludmila Mayrinck, supervisionar as obras, que não contaram
datado de agosto de 1983, que tombava com apoio financeiro do Estado e tampouco
por interesse histórico e cultural o Teatro da iniciativa privada.
Carlos Gomes. Durante sete meses Orlando cuidou dia-
Assim foi abandonado o projeto que riamente dos aspectos burocráticos e coor-
transformaria o Teatro Carlos Gomes num denou o trabalho de todas as equipes en-
apart-hotel, como pretendia Rômulo Dan- volvidas. E com ar de quem já previa uma
tas, e o teatro ficou funcionando exclusiva- estreia próxima, declarava:
mente com o Projeto Seis e Meia de Música
Popular Brasileira. Não se trata de uma obra de arquitetura
O teatro foi preparado então para, no ano ou de engenharia, com um projeto defini-
de 1985, reviver seus momentos de glória, do. O que está sendo feito é um esforço de
desde 1872, quando foi inaugurado com o restauração, reconstituindo tudo o que foi
nome de Casino Franco-Brésilien. À frente estragado. A lei é obedecer ao estilo que
do projeto de transformá-lo em um Cen- sempre caracterizou o teatro.74

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 149


Com estas palavras pretendia entregar o Depois da restauração e da temporada
teatro à população carioca no prazo de trin- de Miss Banana, o teatro começou a ter que
ta dias. Entretanto, faltava ainda forrar as se equilibrar com as dificuldades na glória
1.700 poltronas de couro, concluir o palco e do passado, foi quando, em 1987 surgiram
fazer toda a instalação do sistema central de dois irmãos vindos de São Paulo: Manoel
ar-condicionado, para plateia, palco, cama- Poladian e Jorge Poladian, através da firma
rins e saguões. Até então o teatro não pos- Poladian Promoções Ltda., que pretendiam
suía um sistema de ar-condicionado. montar shows no Rio de Janeiro. O primeiro
Tudo foi feito de modo fiel à época, ob- seria o de Ney Matogrosso e o segundo o es-
jetivando resgatar o estilo arquitetônico da petáculo infantil A bela adormecida, estrelado
década de 1930. Para polir o mármore ita- por Miriam Rios. Já haviam anteriormente
liano que compõe os degraus das escadarias, assinado contrato com o Teatro Tereza Ra-
bancadas e detalhes nas paredes, um técnico chel, entretanto, acharam melhor pagar a
especialista precisou de dois meses. Os azu- multa de rescisão de contrato e montaram
lejos de cores claras e trabalhados em flores os espetáculos no Carlos Gomes, pois acha-
discretas, foram escovados, pois estavam co- vam o espaço ideal para mostrar ao público
bertos por placas de Eucatex. suas produções e ressuscitar o teatro.
Com louças inglesas compradas numa Através da Light, conseguiram aumentar
demolição, um banheiro feminino foi cons- a capacidade para 500kva para alimentar
truído no subsolo, que só dispunha de um todas as instalações dos sistemas de ilumi-
masculino. Foram adquiridas também lu- nação e refrigeração, que antes funcionavam
minárias antigas com detalhes de um vitral com 50kva; foram restauradas quase 1.400
onde se destacava uma mulher reclinada, poltronas, realizadas pinturas gerais e refor-
cópia de um J. Carlos. Os tacos que reves- mados alguns camarins. As cordas das ma-
tiam a maior parte do solo foram conserva- nobras foram substituídas por cabos de aço.
dos, assim como as cores originais: creme E Jorge Poladian afirmava:
e preto.
Os seis andares de camarins, cada um Temos a intenção de dar a este teatro o pa-
com 80m2, foram completamente modifica- drão que costumamos usar em nossos shows.
dos e, por vezes o espaço de dois camarins E, antes de mais nada, absoluta seguran-
se fundiu em um maior, com um luxo até ça. Acabamos de rever todo o sistema de
então desconhecido, incluindo bancadas de incêndio; mandei encher os extintores,
mármore e antigas luminárias. restaurar mangueiras e refazer o sistema
Em 18 de dezembro de 1985, era realiza- de sinalização. Cada etapa do trabalho aqui
do um coquetel para o lançamento do Cen- dentro é feito por mão de obra especia-
tro de Artes Carlos Gomes e também para lizada. Não temos a menor intenção de
apresentação da equipe da comédia Miss Ba- brincar com a segurança do público, além
nana, de Garson Kenin com tradução de Ge- de querer oferecer o que há de melhor em
raldo Queiroz e Roberto de Cleto; direção termos de conforto.75
de Wolf Maya; cenários de Arlindo Rodri-
gues; figurinos de Marco Aurélio. O elen- Em 1988, já com o Prefeito Saturnino
co era formado por Regina Duarte, Nestor Braga, depois de dois meses de negociações
de Montemar, José de Abreu, Adriano Reis, junto ao empresário Rômulo Dantas, respon-
Oswaldo Loureiro, entre outros. sável pela Companhia Paschoal Segreto, dona

150 Teatros do Rio


do teatro, foi efetivada a transferência do Te- Como havia risco de incêndio, por cau-
atro Carlos Gomes para o Município. Isso foi sa da péssima conservação dos quadros de
possibilitado pela permuta de dois terrenos luz e da má qualidade dos fios elétricos sem
da Prefeitura localizados na Cidade Nova. nenhuma proteção, o teatro foi interditado
A intenção da Prefeitura, vencida esta ba­­ pelo Corpo de Bombeiros.
talha era reformá-lo, substituindo as poltro­ As arquitetas Vera Lúcia Pinto de Lima
nas e fazer uma restauração geral do teatro, e Maria Lúcia Cunha Avelar começaram as
que se encontrava em péssimo estado. obras da reforma e restauração em agosto
Ele havia sido reaberto pela última vez de 1988, contratando firma diferente para
com o show Cantando para o Rio, em que cada serviço. As reformas mais urgentes
artistas famosos se apresentaram para aju- foram os sistemas elétrico e hidráulico, no
dar as vítimas das enchentes de fevereiro palco e no lençol freático.
de 1988; mas artistas e o público estiveram
expostos ao perigo, com fios sem proteção Mas em meio aos sinais de deterio­ração
que se enrolavam nas pernas dos técnicos do prédio, ainda se encontra luxo no ca-
nas coxias, e o público sen­­tado em cadeiras marim reformado especialmente para
quebradas (algumas sustenta­das por pedaços Regina Duarte. O banheiro é revestido
de madeira), convivendo com a total falta de azulejos assinados por Valentino, tem
de segurança. O sistema de prevenção de banhei­ra de hidromassagem, louças sani-
incêndio, embora com mangueiras novas, tárias de luxo e um box de vidro blindex.
possuía dutos de água com cano de PVC, O ca­­­ma­­­­­r im é todo acarpetado, tem dois
que derretem com o calor excessivo. Enfim, apa­re­lhos de ar-condicionado, grandes
a reforma que fizeram foi na verdade uma espelhos, bancadas de mármore e papel
maquiagem, pois os aspectos mais delicados de parede em todo ambiente. O papel
não foram realmente atendidos. Teatro Carlos Gomes. Plateia e palco

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 151


foi exigência de outra grande estrela do transformando-o em sala, ou seja, espa-
show business, o cantor Roberto Carlos, ço tanto para os atores como para espec-
que queria um camarim bonito e leve tadores. O “ Carlitos” e sua estrutura de
para a sua mulher, a atriz Miriam Rios, arquibancadas móveis é um teatro trans-
descansar nos intervalos da peça infan- formável. Com isso, aumenta o número
til que ela encenou no Carlos Gomes. O de salas dentro do teatro e a quantidade
pa­­pel de parede é todo desenhado com de horas utilizáveis. O formato dos no-
sua­ves nuvens em azul-claro.76 vos espaços amplia os gêneros de espetá-
culos que o Carlos Gomes pode abrigar.
Após ser reformado pela Prefeitura do Explorar a coexistência de possibilida-
Rio, o Teatro Carlos Gomes foi entregue ao des teatrais distintas resulta numa práti-
público em 28 de dezembro de 1993, pelo ca fundamental para o teatro hoje.77
Prefeito Marcelo Alencar e os secretários
Carlos Eduardo Novaes (Cultura) e Luis
Paulo da Rocha (Obras), homenageando os 1874
artistas: Bibi Ferreira, Colé, Dercy Gonçal- Teatro Vaudeville
ves, Eva Todor, Grande Otelo, Henriqueta
Brieba, Oswaldo Louzada, Paulo Gracindo, O Teatro Vaudeville foi inaugurado em 11 de
Virgínia Lane e Walter Pinto. junho de 1874 e o espetáculo de inaugura-
A direção artística do teatro coube a ção constou do Hino Nacional cantado pela
Aderbal Freire Filho e o espetáculo de rei- atriz Amélia Gubernatis e todos os artistas
nauguração foi Instruções de uso, apresenta- da companhia. Seguiu-se uma ouverture do
do pelo Centro de Demolição e Constru- maestro Caneppa e, por último, represen-
ção do Espetáculo. tou-se a ópera cômica em dois atos, A ba-
talha de Monterand, tradução do Conselheiro
Mostrava a maneira de um manual de José da Silva Mendes Leal, com música de
instruções como as novas instalações de Casimiro Júnior, elenco composto de: Ma-
iluminação, som e maquinaria podem ser ria das Neves, Amélia Gubernatis, Francisca
utilizadas. Em esquetes – bem-humoradas, Monclar, Barbosa e Guilherme.
assim como nas revistas – foram apresen- O teatro era localizado à Rua São Jorge
tados os modernos recursos instalados no n. 57, 59, 61 e 63, e ficava nos fundos dos
palco centenário como a cortina corta-fo- sobrados que faziam esquina com a Rua do
go, o fosso da orquestra e seu elevador e as Hospício. Posteriormente, a Rua São Jorge
varandas automatizadas. passou a chamar-se Gonçalves Ledo e a Rua
O espaço do teatro vem sendo explo­ do Hospício é hoje a Rua Buenos Aires.
rado para além do uso tradicional do Sobre suas características físicas nada foi
palco italiano. O foyer da galeria, no encontrado a respeito do aspecto externo
terceiro andar, recebeu um tratamen- do teatro, e quanto ao seu interior, segundo
to acústico para ser usado como uma Lafayette Silva, “tinha uma ordem de frisas,
pequena sala de espetáculos. O outro duas de camarotes, espaçosas varandas na
projeto da atual administração – a cria- primeira ordem, galerias na terceira, circu-
ção do Teatro Carlitos – se concretizou. lado de pequenos e bonitos jardins”.78
Trata-se da ocupação do palco (264 me- O teatro era de propriedade de Anastá-
tros quadrados e 20 metros de altura), cio de Miranda Coelho, e por ocasião de

152 Teatros do Rio


sua inauguração, era seu empresário o Dr. aço na cumeeira, de onde pendiam trapézios
Diogo de Pinho, sendo o pano de boca pin- e outros aparelhos destinados a ginásticas
tado pelo cenógrafo português José Anto- aéreas. Os artistas, que se exibiam nos seus
nio da Rocha. trabalhos arriscados, eram protegidos por
Em 1o de janeiro de 1875, o teatro foi extensas redes, fabricadas de tecido encor-
arrendado pela empresa dirigida pelo ator pado e corda, armadas a determinada altura
Martins e não há informações a respeito de do solo.
causa e data de seu desaparecimento. O edifício era aberto em volta e rodeado
de jardins. O acesso do público fazia-se por
corredor, espécie de túnel, com a largura de
1876 cerca de 6m, tendo 20m de extensão. Em
Teatro Circo (Teatro Polytheama 1883, o Almanak Laemmert, informava que o
Fluminense) teatro comportava 1.500 pessoas.
Saindo do corredor, e antes de alcan-
O Teatro Circo foi inaugurado em 26 de se- çar a porta do teatro, o público encontra-
tembro de 1876, uma espécie de pavilhão va um imenso parque arborizado, tendo
de madeira, onde costumavam trabalhar ar- do lado direito, um bar bem apresentado
tistas circenses, sendo localizado à Rua do e bem sortido. Mesas e cadeiras de ferro
Lavradio n. 94, entre as ruas da Relação e achavam-se dispostas no interior do bar e
Resende. O espetáculo de inauguração foi no parque defronte, que criavam aspecto
oferecido pela companhia equestre e acro- alegre e recreativo.
bática dos senhores Hadwin & Wilson, vinda Em fins de 1870, o Teatro São Luiz, ocu-
do Rio da Prata e chegada ao Rio de Janeiro pado pela Companhia Portuguesa de Emília
no dia 17 daquele mês, pelo navio Potosi. O Adelaide, precisou de reparos e a atriz en-
programa compreendia exercícios de arrojo trou em negociações com o proprietário do
e número de variedades. circo, para lá alojar-se. A casa passou por
O teatro era de propriedade do francês algumas modificações, indispensáveis para
Augusto Barthel, que o construiu em grande poder funcionar como teatro: construção de
área de terreno adquirida na Rua do Lavra- um palco, colocação de cadeiras na plateia,
dio. Lafayette Silva refere-se ao proprietário de cortinas etc. Não voltou mais a funcionar
do prédio, como sendo um italiano de nome como circo, e em 1880 foi inaugurado com
Bartelli. Foi construído pelo engenheiro o nome de Teatro Polytheama Fluminense.
Francisco Justin, segundo informações do Faltam maiores dados a respeito da fachada,
Almanak Laemmert de 1883. Edificado em ca- cuja licença para construção foi solicitada
ráter provisório, em estilo de barracão de por seu proprietário em outubro de 1883,
madeira, de proporções grandiosas, destina- e também não foram encontradas informa-
va-se a espetáculos de circo. ções a respeito do espetáculo que inaugurou
Sobre suas características físicas, não há o Polytheama Fluminense.
registros a respeito de sua fachada primitiva, Por requerimentos diversos, dirigidos à
entretanto, sobre o seu interior, há algumas Câmara Municipal em 1883, 1891 e 1893,
indicações de que não tinha palco, os cama- sabe-se que o teatro passou por obras de re-
rotes eram toscos, abertos nos fundos e ha- formas e melhoramentos. Em 1890, o Alma-
via excesso de iluminação. Era quase todo nak Laemmert mencionava uma lotação para
em madeira, com travamentos de vigas de 2.500 pessoas.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 153


Em requerimento feito por Soares & Cia 1877
à Câmara Municipal, a 18 de fevereiro de Teatro Variétés (Teatro Recreio)
1895, o Teatro Plytheama Fluminense cons-
ta como tendo sido localizado no n. 104, e Em 1876, uma fábrica de sabão veio a falir.
não no n. 94. Ficava situada junto à barreira do Morro de
A partir da mudança de circo para teatro, Santo Antonio, ao fundo e fechando a Rua do
tem-se notícia de vários empresários que Espírito Santo n. 43 e 45, com frente volta-
nele apresentaram suas companhias: Com- da para a Praça da Constituição. A Rua Espí-
panhia de Emília Adelaide (1879), Lourenzo rito Santo, posteriormente, denominou-se
Ponini (1880/1881), Sansone (1894). Luiz Gama e Pedro I, nome atual. Com o
O Polytheama, tendo sido construído para desmonte do Morro de Santo Antonio, o te-
ser utilizado como “circo de cavalinhos”, atro passou a confinar com a Avenida Chile.
com picadeiro e tudo mais, transformou- O prédio ficou fechado, em estado de quase
-se em teatro, servindo, especialmente, para abandono, até que o ator francês Roger, que
companhias de operetas e de grande ópera, se encontrava no Rio, resolveu aproveitá-lo,
devido às suas condições acústicas que favo- montando uma casa de espetáculos: o Teatro
reciam muitíssimo os cantores, principal- Variétés, inaugurado no dia 18 de agosto de
mente, aos que eram dotados de limitados 1877, com a opereta Le Canard à Trois Becs,
recursos vocais. de Jonas. No elenco: o diretor Roger, Mar-
Na noite de 14 de julho de 1894, quan- tin, Briet, Blanc, Charson, Peuillet e as atri-
do se exibia a Companhia Lírica Italiana da zes Lafourcade, Clairville e Christiane.
Empresa Sansone, apresentando a ópera Em 12 de abril de 1878, não se sabe ao
Rigoletto, de Verdi, um incêndio irrompeu certo se já sendo propriedade do Visconde
no cenário, propagando-se pelo palco e de Guilhofrey, ou de outra empresa, o tea­
pela plateia, destruindo em pouco tempo tro teve o nome primitivo vertido para o
o teatro. O barítono Atos, encarnando o português: passou a chamar-se Teatro Varie-
protagonista, acabava de entrar em cena e dades. Só depois de dissolvida a companhia
começava a cantar a ária quando o fogo se francesa e substituída, logo em seguida, por
manifestou. O público que lotava a casa – uma nacional, com Peregrino de Menezes,
haviam sido vendidas 1.500 entradas para João Colás, Jesuína Montani etc., que es-
as gerais – dominado pelo pânico, saiu treou a comédia Caprichos do Acaso e com a
em tumulto, registrando-se contusões re- zarzuela Fogo no Céu. Depois dessa, outras
sultantes do atropelo. Os artistas fugiram companhias nacionais realizaram espetácu-
com as vestes com que entrariam em cena, los dramáticos, sem maiores resultados, até
e o empresário Sansone perdeu todo o ma- que fechou suas portas em agosto de 1878.
terial cenográfico. Foram consumidos pelo Melo Morais Filho a respeito do prédio
fogo os cenários da Empresa Clementina escreveu: “Assim, valendo-nos de pesquisas,
dos Santos, que estavam guardados no te- destacamos vasto e abarracado palacete, de
atro, e todos os artistas tiveram prejuízos porta de cocheira, situado no local em que
com a perda de suas joias e roupas. Em 18 ora se acha o Teatro das Variedades”.79
de fevereiro de 1895, um requerimento de Reabriu em 26 de outubro de 1879, com
Soares & Cia, solicitava licença para cons- nome de Brazilian Garden e apresentando
truir um prédio sobre o terreno que fora uma companhia italiana de fantoches, sob a
ocupado pelo teatro. direção de Luiz Lupe, que representava os

154 Teatros do Rio


Fotografia de Augusto Malta
bailes elétricos e fantasmagóricos As pílulas Teatro Recreio em 1906

do Diabo, ou O prodígio do nigromante Concor-


dor, extraído da peça Les pilules du diable. Em 1885, Dias Braga monta, O Conde de
Novamente parou de funcionar, até 4 de ja- Monte Cristo, de Alexandre Dumas, que cau-
neiro de 1880, quando, com o nome de Tea­ sou furor, e teve sucessivas representações.
tro Recreio Dramático, popularizado como Em turnê, Dias Braga passou o Teatro Re-
Teatro Recreio somente, foi franqueado ao creio para a Empresa Silva Pinto que em 1895,
público por uma companhia dirigida por Gui- apresenta O Rio nu, de Moreira Sampaio.
lherme da Silveira, com o drama de E. Blum, Voltando ao Recreio, Dias Braga mon-
Rosa Miguel, traduzido por Lino de Assunção. ta então uma peça sacra, permanecendo
No elenco os atores Guilherme da Silveira, nesse teatro até 1907. Nessa época, o pe-
Amoedo, Silva Pereira, Ferreira de Sousa, queno jardim no interior do teatro era
Machado e Peixoto e as atrizes Ismenia dos lugar preferido por alguns escritores e
Santos, Clairville e Inês Gomes. Apesar da boêmios, que ali se reuniam até alta ma-
completa reforma executada por Guilherme drugada, para também namorar as atrizes,
da Silveira, e de ficar famoso e frequentado, depois dos espetáculos. Conforme relata
o teatro não obteve êxito por muito tempo. Lafayette Silva,
Em 1884, já sob a Empresa Dias Braga,
apresenta O Grã Galeoto, de Echegaray, em era na época a melhor casa de diversões,
tradução de Valentim Magalhães e Filinto para a estação calmosa, cercada de jardins,
de Almeida, desempenhada por Dias Braga, abertos para todos os lados. A sala era
Eugênio de Magalhães, Lívia Magioli, He- oblonga, aproximando-se de um semicír-
lena Cavalier e Leolinda Amoedo. O Impe- culo; em torno corriam duas galerias so-
rador assistiu à pré-estreia dessa peça que brepostas, podendo-se de todos os pontos
constituiu um grande sucesso. ver o palco. 80

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 155


O Almanak Laemmert de 1883 assim se re- Em 1917, Mário Nunes fez referência a
fere: “Este bonito teatro campestre tem 16 obras que resultaram no aumento do número
camarotes, 310 cadeiras e galerias, e lugares de frisas e camarotes – 51 ao todo; modifica-
de entrada geral para mais de 500 pes­soas”. ção da plateia, do vestuário das senhoras e dos
Em 1890 comenta: “... é um dos mais apra- camarins, substituição das colunas existentes
zíveis e bem ventilados e tem em seu âmbito por outras de ferro e pintura bonita e alegre.
toda a confortabilidade exigida para os tem- Segundo o Annuario Theatral Argentino-Bra-
pos calmosos”. E ainda, em 1892: sileiro, de 30 de outubro de 1926, havia uma
ligeira alteração nos dados a respeito da lo-
É frequentado por boa sociedade onde às tação do teatro: 20 frisas; 20 camarotes; 508
noites reúne-se a elite da rapaziada flumi- cadeiras; 223 galerias; 500 gerais.
nense em um jardim no mesmo teatro, em Ainda por Mário Nunes, sabe-se que, em
palestra e passeios durante os intervalos dos 1928, a Empresa Neves, arrendatária do tea-
espetáculos. Tem no interior do mesmo jar- tro, instalou um aparelho para renovação do
dim um buffet bem sortido de bebidas. ar, constituído de “uma bomba que capta 900
metros cúbicos de ar puro por minuto a 40
Em sua longa existência o teatro sofreu metros de altitude e os injeta no teatro”. E o
várias reformas: em 1879, passou pelas pri- mesmo autor refere-se à conclusão das obras
meiras pinturas. Em 1890, tem-se a notícia de remodelação em 1933, para a estreia que
de uma reforma, para puxar o terraço para ocorreu em 31 de março daquele ano.
a frente. Quatro anos depois, houve gastos Com o falecimento de Manuel Pinto, a
com a restauração do teatro pelas avarias so- empresa passou a seus filhos: primeiro Ál-
fridas, em 1893, com a Revolta da Marinha. varo que veio a falecer em um desastre de
Pelo Almanak Laemmert de 1911/1912, avião; depois Walter, que durante anos diri-
constava-se sua lotação como tendo 20 cama- giu o teatro, deslumbrando a cidade com as
rotes, 508 cadeiras, 2 frisas, 60 galerias no- riquíssimas montagens de suas revistas.
bres, 223 entradas numeradas e 500 gerais. O teatro sempre foi de propriedade par-
Em 1909 ocupa-o a Companhia Portugue- ticular. Sabe-se que pertenceu ao Visconde
sa Miranda e nesse mesmo ano outra com- de Guilhofrey e à Beneficência Portuguesa.
panhia lusa, da qual fazia parte o ator Valle. Foram vários seus arrendatários: Roger, o
Vieram, a seguir, as Companhias Carlos Leal, primeiro deles que, em 1877, teve a ideia
Nascimento Fernandes, Aura Abranches e Es- de transformar a antiga fábrica em teatro;
perança Iris. Schmidt C. (diretor e empresário) em 1879;
Mais tarde, surge a Companhia Dramáti- Guilherme da Silveira, de 1880 a 1882; Dias
ca Nacional, tendo como primeira figura a Braga, que de 1884 a 1907 o utilizou como
atriz Itália Fausta e sob direção do Dr. Gomes empresário; José Loureiro – 1917; Rangel
Cardim. A partir daí, outras companhias vão & Cia. (Rangel Júnior); Antonio Neves em
arrendando o teatro, dentre elas a empresa 1930; Manuel Pinto a partir de 1933 e, de-
Rangel Júnior, Empresa A. Neves & Cia, as- pois de seu falecimento, seus filhos Álvaro e
sociada a M.T. Pinto. Dissolvida a sociedade, Walter Pinto.
fica a empresa A. Neves até 1932, sendo que Em 28 de abril de 1961, um incêndio no
em 1933, o teatro é arrendado à Empresa prédio da firma Isnard Cia. Ltda., na Rua do
Pinto Ltda., estreando com a Companhia Lavradio 67, (em seu depósito de gás freion
Margarida Max. para geladeiras e outros materiais elétricos,

156 Teatros do Rio


Reprodução: acervo particular José Dias
Teatro Recreio Dramático. Cena do 1o ato de O destino, representado pela
primeira vez pela Companhia Lucinda-Christiano, em 25 de agosto de 1905

Reprodução: acervo particular José Dias

Teatro Recreio Dramático. Cena do 2o ato de O destino, representado pela


Companhia Lucinda-Christiano, em 25 de agosto de 1905
Reprodução: acervo particular José Dias

Teatro Recreio Dramático. Cena do 4o ato de O destino, representado pela


primeira vez pela Companhia Lucinda-Christiano, em 25 de agosto de 1905

158 Teatros do Rio


de desapropriação. Na verdade, o Teatro Re-
creio já estava em completa decadência. Mas
a Superintendência de Urbanização sugeriu
ser ele totalmente remodelado e conser-
vado, nas suas linhas arquitetônicas, como
monumento histórico artístico da Guanaba-
ra, já que ele havia sido em junho de 1963,
tombado pelo Instituto Histórico.
Em outubro de 1964, Walter Pinto, que
tinha arrendado o teatro até novembro, re-
cebeu ordem de despejo, mas o Dr. Laércio
Pelegrino, seu advogado, já havia entrado
com recurso no Supremo Tribunal Federal,
alegando ser o Teatro Recreio parte inte-
grante do Patrimônio Histórico e Artístico
da Cidade, e pediu a suspensão do despejo.
Mas a imprensa não perdoava Walter Pinto:

A Beneficência Portuguesa, pelo seu advo-


gado, Adalberto Aguiar, requereu e obte-

Teatro Recreio Dramático Teatro Recreio em 1961

além de combustíveis que ali estavam armaze-


nados), causou sucessivas explosões, sacudin-
do toda esta região do Centro da cidade, alas-
trando-se por outros prédios antigos da Rua
do Lavradio com a Avenida República Chile.
As pessoas que naquele momento assistiam
à revista A geripoca vai piar, pela companhia
do empresário Gomes Leal, alarmadas com
as explosões, saíram correndo para a rua,
sendo o espetáculo suspenso imediatamente,
porque quando tomaram conhecimento, o
fogo já estava atingindo os fundos do Teatro
Recreio, onde era localizada a carpintaria do
teatro, que foi totalmente destruída.
Em fins de 1963, o velho Teatro Recreio,
agonizava, estava para ser demolido, em
função do projeto de desenvolvimento ur-
banístico da área do Morro de Santo Anto-
nio, entretanto, a proprietária do edifício
do Teatro Recreio, Sociedade Portuguesa de
Beneficência, apelou em juízo da sentença

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 159


ve da 7a Vara Cível, ordem de despejo da petáculos. O Teatro Recreio havia acabado.
Empresa de Teatro Pinto Ltda. do Teatro O despejo e a emissão de posse foram de-
Recreio. A execução não se efetuou ainda finidos em favor da Superintendência de Ur-
porque está na dependência do STF (Su- banização (Sursan), que iniciara a demolição
premo Tribunal Federal). no mais curto prazo de tempo, para fazer
A tradicional sala de espetáculos não ali passar uma avenida que ligaria a Rua D.
deve desaparecer porque já faz parte do Pedro I à Avenida Chile.
patrimônio histórico e artístico da Guana- Em 1 de abril de 1968, o Teatro Recreio
bara. A Beneficência Portuguesa, proprie- foi definitivamente despejado para conclu-
tária do imóvel declara que não pretende são do plano de urbanização do Morro de
demolir o teatro, pois o recebeu por tes- Santo Antônio, e em seguida iniciou-se todo
tamento do Visconde de Guilhofrey com a o processo de demolição.
condição de não ser demolido e destinado A maior parte dos teatros já citados ou que
a outro fim. Vê-se, pois que a Beneficência existiam no Rio de Janeiro, exteriormente,
Portuguesa está agindo com a maior lisu- não tinha a aparência de uma casa de espetá-
ra e dentro dos seus legítimos direitos. De culos. A quem os mandou construir, ou fal-
15 mil cruzeiros mensais passou a cobrar taram recursos, ou bom gosto em dotar os
55 mil de acordo com a lei que regula a citados teatros de bonitas e vistosas fachadas.
matéria. E foi só. O que ninguém sabe e Como se pode verificar, as reformas eram
se precisa dizer é que o Sr. Walter Pinto, constantes, e em períodos curtos, entretan-
que durante anos pagava pelo teatro 15 to, quase sempre muito superficiais, e não
mil cruzeiros por mês, subalugava-o por solucionavam os problemas de palco, técni-
10 mil por dia às demais empresas teatrais, cos e de acústica. As grandes melhorias eram
sendo que às quintas-feiras, sábados e do- sempre pinturas. Começaram a preocupar-
mingos, subia para 15 mil cruzeiros diá- -se com a segurança tanto do público como a
rios, com garantia mínima e mais cerca de dos atores, com mais saídas independentes e
20 ou 30 poltronas (as primeiras vendidas) mais largas. A caixa cênica também recebeu
cativas, quer dizer: extra bordereau. nesta sua última reforma duas portas ligadas
Graças a esse rendoso negócio, o Sr.Wal- diretamente ao terreno de fundos, para per-
ter Pinto pôde acumular uma boa fortuna, mitir uma rápida evacuação dos artistas em
e tornar-se milionário. Ultimamente, o Sr. caso de incêndio.
Walter Pinto, nem mantém mais compa- Era um teatro bonito, bem ventilado, e
nhia. Vive de subalugar o Recreio e até para bem confortável para as exigências da épo-
uma organização de explora certo “carnet” ca. A sala aproximava-se de um semicírculo,
juntamente com uma cadeia de televisão. em torno do qual corriam duas galerias so-
Muito justo como se espera a decisão brepostas, tinha boa visibilidade do palco.
do STF, confirmando a decisão da 7a Vara O teatro possuía aberturas para todos os la-
Cível.81 dos, permitindo boa ventilação e podendo-
-se ver o palco de todos os lados.
Na manhã do dia 1 de fevereiro de 1968, Em 1940, Walter Pinto assumiu o tea-
um oficial de justiça, executando sentença tro inaugurando a fase de deslumbramento.
emitida pelo Juiz da Terceira Vara da Fazenda Grande empresário, dividiu os setores de
Pública do Estado, ordenava a retirada dos produção e conquistou as camadas mais di-
móveis que guarneciam a velha casa de es- versas da população, dotando a sala de luxos

160 Teatros do Rio


Saída do teatro Recreio em 1961
até então inéditos. Foi a primeira sala a ter ca- de 1878, lê-se na Gazeta de Notícias, uma
deiras estofadas. Pelos dados encontrados na nota com a informação de que “O Grêmio
ficha técnica do SNT, o Recreio possuía 515 Dramático da Gávea realizou anteontem
lugares na plateia, 16 camarotes, 14 frisas, a sua 5a récita”. Sendo essas récitas men-
180 galerias, 40 gerais, 258 super-pulmans, sais, a primeira deve ter sido no mês de
102 pulmans – totalizando 1.100 lugares. dezembro, apesar das festas de aniversá-
O Teatro Recreio foi o último reduto do rio no Teatrinho ocorrerem sempre a 1o
teatro de revista, terminou em 1963, quan- de novembro.
do foi desapropriado e destruído, vindo a A matéria da Gazeta de Notícias, de 30 de
ser demolido em 1969. Os portões de fer- abril de 1879, sobre a 5a récita, foi a primei-
ro que existiam na fachada do teatro, estão ra notícia do Teatrinho da Gávea;
atual­mente na entrada do Retiro dos Artis-
tas, em Jacarepaguá. Realizou-se sábado a 5ª récita do Grêmio
Dramático da Gávea, sociedade muito dis-
tinta e que consegue sempre fazer as suas
1878 festas com muito brilhantismo. O espetá-
Teatrinho da Gávea 82
culo compôs-se do seguinte: sortes de pres-
tidigitação, balada do Guarany, fantasia de
Muito antes de 1878, já morava em uma piano, cena cômica Ventura o bom velhote,
chácara da velha Rua Boa Vista da Lagoa de as comédias Batizado e casamento e Esperteza
Rodrigo de Freitas, hoje Marquês de São do gato. As distintas amadoras e amadores
Vicente, bem próximo da Matriz de Nossa colheram larga messe de justos aplausos.
Senhora da Conceição da Gávea, o Coronel
do Estado Maior do Exército, Conselheiro A récita seguinte teve lugar na noite de
do Império e Engenheiro Superior da Esco- 2 de junho, e os amadores continuaram a fa-
la Militar, Antonio José do Amaral. Fora ali zer sucesso:
residir em busca do excelente clima da Gá-
vea, de que precisava uma de suas filhas, por Realizou-se sábado a 6a récita do Grêmio
motivo de saúde. Em uma reunião em dia de Dramático da Gávea. A concorrência foi
aniversário em sua casa, teve o Conselheiro numerosa e escolhida. Os distintos ama-
a ideia de fundar no bairro, então habitado dores representaram com o melhor êxi-
por uma elite burguesa, uma associação de to as engraçadas comédias Tio Torquato
teatro, idêntica às muitas que existiam na ci- e Mestre Igreja muito em cima. Tiveram
dade, que servisse de traço de união entre uma verdadeira ovação.
as famílias, em boa e agradável companhia.
Não foi difícil ao Conselheiro Amaral, con- É possível que as primeiras récitas se te-
tando com um grupo de alunos da Escola nham realizado na residência do Conselhei-
Militar da Praia Vermelha, levar adiante o ro Amaral, porque as adaptações para teatro
projeto do teatrinho e dentro em pouco no prédio da Rua da Boa Vista n. 39, hoje,
estava organizada a Associação Dramática Marquês de São Vicente n. 147 – alugado ao
União Familiar da Gávea. seu proprietário, o advogado Carlos Taylor
Deve ter começado a funcionar dando – só foram inauguradas um ano depois de
sua 1a récita em novembro ou dezembro fundada a Associação, a 22 de dezembro de
de 1878, pois no número de 30 de abril 1879. O prédio ainda hoje de pé, acomodou

162 Teatros do Rio


Arquivo Cedoc/Funarte
Teatrinho da Gávea ouro, atraindo pelas suas festas a fina flor
da sociedade fluminense.
durante muitos anos a administração e ser- Com o desenvolvimento dos bairros de
viços sociais do Parque Proletário da Gávea. Botafogo a Laranjeiras, com sociedades se-
Nos sete anos de sua existência, a vida do melhantes ao Clube Dramático da Gávea,
Teatrinho da Gávea pode ser dividia em duas foi este entrando em decadência até se ex-
fases. A primeira, da sua fundação, em no- tinguir silenciosamente.
vembro ou dezembro de 1878, até janeiro O teatrinho devia ser de acanhadíssimas
de 1889, e a segunda, até o seu desapareci- proporções. Entretanto, o sucesso das re-
mento, em 1913. presentações levou a diretoria a alugar um
Na fase inicial, como dizia o título da as- prédio em centro do grande terreno, na Rua
sociação, era um teatro familiar, dando aos Boa Vista n. 39, de propriedade do Dr. Car-
sócios e convidados, uma vez em cada mês, los Taylor. A Gazeta de Notícias em 21 de de-
uma reunião artística com representação de zembro de 1879, em poucas linhas, dá conta
uma peça, cenas cômicas, número de pres- da mudança do teatrinho:
tidigitação, recitativos e números de canto,
piano e violino. Vez por outra havia récitas Inaugura-se amanhã o novo teatro do Grê-
em benefício de instituições de caridade e mio Dramático da Gávea, uma sociedade
da Irmandade da Matriz de Nossa Senhora que graças ao zelo de seus membros e es-
da Conceição da Gávea. forços da sua diretoria, está numa próspe-
Na segunda fase, as atividades foram ra carreira de prosperidade.
ampliadas no setor social, reformando-se
completamente a sede para proporcionar Em sua nova casa, pode o teatrinho receber
divertimentos, jogos e bailes. Foi nessa maior número de sócios e acolher convida-
época que o teatrinho viveu sua idade de dos, expandindo-se, assim, nos meios sociais.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 163


Foi a partir de 1886, que se acentuou o nástico Português, a sociedade que alcançou
prestígio do Teatrinho da Gávea na socieda- vida mais longa.
de fluminense. A diretoria chegou a arran- Deve-se a sua existência e o prestígio que
jar com o sócio morador no bairro – Barão disputou durante alguns anos perante a socie-
Ribeiro de Almeida, diretor da Companhia dade fluminense à figura ilustre sob todos os
Jardim Botânico – bondes especiais, com os títulos, do Conselheiro Antonio José Amaral
bancos forrados de pano branco para a con- (01/07/1824 – 28/07/1892), que faleceu
dução dos espectadores. re­­pentinamente aos 68 anos em sua residên-
Às vésperas de completar seu primeiro cia à Rua Marques de São Vicente, n. 75, viti-
decênio, tudo corria às mil maravilhas no mado à tarde por um insulto cerebral.
Teatrinho da Gávea, mas além dos dramas
e comédias, havia algo nos bastidores que
ameaça a sobrevivência da sociedade. 1880
Chegou-se na época, a noticiar o apareci- Teatro Lucinda
mento do Clube da Gávea, como se tratasse
de nova sociedade, sem qualquer ligação de Não fugiu à regra dos teatros existentes na
continuidade com a anterior. Se houve in- época o Teatro Lucinda, localizado na an-
terrupção nas suas atividades, não perdurou tiga Rua do Espírito Santo n. 24, (hoje D.
por mais de trinta dias, o que pode ter ocor- Pedro I), entre a Rua do Senado e o Largo
rido por conta na verdade das obras e adap- do Rossio, hoje Praça Tiradentes. Foi man-
tações introduzidas no teatrinho. dado edificar pelo ator, autor e empresário
O que houve de fato foi uma completa e comendador Luiz Cândido Furtado Coe-
transformação. Elegeu-se uma diretoria e lho (Lisboa, 1831/1900), que desejou ho-
foram criados mais atrativos para os sócios menagear a esposa, a atriz Lucinda (Lucinda
e suas famílias, que propuseram rumos mo- Simões/Lisboa, 1831/1928), filha do ator
dernos à Sociedade, que passou a chamar-se Simões, batizando o teatro em seu nome.
simplesmente Clube da Gávea. A inaugura-
ção do Clube Dramático da Gávea ocorreu O Teatro Lucinda tal como sucedeu à maior
em 19 de janeiro de 1889. parte dos teatros existentes ou que existiam
O prédio em que funcionava o Clube, no Rio de Janeiro, exteriormente, não ti-
desde a reforma por que passou em 1888, nha aparência de uma casa de espetáculos...
dispunha de salas para diversos jogos, biblio- quem passava pela porta, verificava estar
tecas, dependência para moradia do admi- junto a um teatro, por causa dos cartazes
nistrador e um amplo jardim. O palco e a que via estendidos nos portais de entrada
plateia ficavam em um prolongamento nos onde eram anunciadas as peças do dia. 83 Sua
fundos do edifício, feito de madeira e cober- construção era composta de corpos diver-
to de zinco, tudo devidamente disfarçado sos e não ostentava pretensões arquitetôni-
com efeitos de papel pintado, colunas late- cas. A entrada sobre a Rua do Espírito Santo
rais, lustres de gás etc. Lugar de reuniões de era modesta, dando difícil escoamento ao
famílias e dos sócios, era o ponto ideal para público no fim do espetáculo. Um caminho
se tratar de negócios e cuidar da política. coberto estendia-se até ao teatro, cercado
O Teatrinho da Gávea em boa parte de pela frente e pelos dois flancos de um ter-
seus trinta e tantos anos de existência foi, reno assaz vasto. Em torno desse terreno
com exceção da Real Sociedade Clube Gi- corriam caminhos, também cobertos, e di-

164 Teatros do Rio


versos telheiros adjacentes ofereciam mesas tima; ganhou um salão de exposições, serviço
e assentos para os frequentadores do bote- de bar, amplas galerias, jardins, sala de jogos
quim.84 [... ] Era abarracado, circundado e pequenos estabelecimentos comerciais. Foi
na altura dos camarotes por uma varanda a primeira casa de espetáculos no gênero no
que servia de passeio, oferecendo ao lado Rio de Janeiro.
da frente, em que era mais larga, também Os lugares de segunda circundavam toda
espaço para mesas. Interiormente, era de- a sala. Tinha 13 camarotes, 306 cadeiras, 96
corado elegantemente, com simplicidade lugares nas galerias nobres e 200 lugares nas
e bom gosto, sobretudo alegre. galerias gerais.
Era uma sala arejada, dispondo de varan-
Foi inaugurado em 3 de junho de 1880 das ao nível dos camarotes configurada em
com o espetáculo O casamento de Olímpia, de “U” alongado. Um guarda-corpo em gradil
Emílio de Augier, pela Companhia de Fur- de ferro protegia os espectadores. Sob os
tado Coelho – Lucinda Simões. No elenco, camarotes, estreito lambrequim rendilhado
além do casal Furtado Coelho, faziam parte ornava a sala, descrevendo idêntica curva.
do conjunto os atores: Amoedo, Martins, Recobrindo a sala retangular e fazendo tran-
Ferreira de Sousa, Araújo e as atrizes Clélia sição para o formato elíptico, o teto era pin-
de Araujo, Adelaide Pereira, Inez Gomes e tado em motivos florais. Um lambrequim
Clairville. O pano de boca foi pintado pelo mais largo arrematava as colunas de ferro
cenógrafo José Canelas y Clavell, que visi- em sucessivos arcos.
tou-nos em 1879. Por algum tempo perma- Em 9 de fevereiro de 1888 foi inaugurada
neceu fechado, e em 8 de abril de 1882, a luz elétrica no teatro, pelo sistema Julien,
movido por um pequeno gerador a vapor,
no sábado consagrado aos folguedos de por ocasião da estreia da opereta O capelinho
Momo, reabriram-se as portas do teatro vermelho, de Blum e Touché, musicada por
com o nome de Novidades, realizando-se Gastão Serpette.
pomposos bailes à fantasia. A 18 de abril es- Durante muito tempo o Teatro Lucinda
treava ali uma companhia de variedades.85 permaneceu fechado, sendo reaberto em
julho de 1889 para receber uma compa-
Em 1884, Lucinda Simões e seu marido nhia francesa de operetas. Vitorino de Oli-
reassumem o teatro, estreando Fedora, de veira atribuiu ao Lucinda o lançamento, no
Sardou, mudando-lhe o nome novamente Rio, dos “espetáculos por sessões”, quando
para Teatro Lucinda. em 24 de abril de 1904 estreou a comé-
Esta casa de espetáculos apresentava uma dia As obras do Porto. Rubens Gill, porém,
arquitetura simples, sem grandes preten- considera que a implantação do “teatro por
sões, porém possuía um foyer, que era um sessões” no Rio se deve a Paschoal Segre-
ponto de encontro dos intelectuais da épo- to, alegando que as iniciativas havidas ante-
ca, entre os quais Joaquim Serra, Machado riormente no Lucinda, Chantecler e Car-
de Assis e Quintino Bocaiúva. los Gomes foram efêmeras.
Em outubro de 1887, depois de reformado Em janeiro de 1905, o teatro passou por
por Furtado Coelho, é reaberto ao público reformas, sendo realizado o conserto das
com o nome de Éden Concerto. Todo o vas- paredes dos fundos e do lado direito, dos
to espaço que ficava por detrás da plateia foi camarins, das varandas externas e do muro
assoalhado, ficando ao mesmo nível desta úl- divisório; reforço do vigamento do passadiço

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 165


e parte da varanda; aumento das dimensões pestre. Um requerimento de Manoel Do-
das janelas; reparo nos assoalhos e forros; mingues Duarte à Câmara (não sabemos se
as­faltamento do pátio; emboço; reboco e era proprietário ou construtor) – encami-
pintura geral. nhado quatro meses após a inauguração do
Desde 1887, sucessivas Companhias deti- Teatro Príncipe Imperial – solicitava licença
veram a responsabilidade dos destinos do Tea- para demolir a parte coberta do teatro, a fim
tro Lucinda. Foram elas: Companhia de Bur- de construir um prédio com outra licença já
letas e Revistas (do empresário Souza Bastos), obtida. O requerimento n. 50-2-60, fl.s/n.,
1887; Companhia Francesa de Operetas, ju- teve despacho em 5 de abril de 1881, sendo
lho de 1889; o empresário José Fernandes de concedida a licença para as obras. O mes-
Carvalho, em 1894; a Empresa Colás (Silva mo Manoel Domingues, já em 3 de abril
Pinto), em 1902 e, por último, D. Pedro de de 1888, encaminha outro requerimento à
Almeida Godinho, em 1905. Câmara Municipal, solicitando licença para
O Teatro Lucinda teve suas atividades en- alargar o Teatro Príncipe Imperial e dar mais
cerradas em 29 de janeiro de 1909. Foi ven- espaço para o jardim na frente do teatro. O
dido em hasta pública para fins mais lucra- requerimento n. 50-2-63, fl.3, 3v, obteve a
tivos, vindo a ser arrendado à firma Hime licença em despacho de 10 abril de 1888.
& Liz, que possuía no prédio contíguo uma Em 1883, o Teatro Príncipe Imperial pos-
fábrica de ferros de engomar. suía 14 camarotes, 465 cadeiras, 60 lugares
Na ocasião, o teatro era ocupado por uma na galeria nobre, e 150 na galeria geral. Já
companhia de revistas da qual faziam parte em 1908, o teatro comportava duas frisas,
Colás, Brandão, Ismênia Mateus, Gabriela 21 camarotes, 524 cadeiras, 67 varandas,
Montani e outros. 250 galerias e 500 entradas gerais. Cinco
anos depois, em 1886, sofre reforma, trans-
formando-se em um café-dançante com o
1881 nome de Eden Theatre.
Teatro Príncipe Imperial (Teatro Em 26 de maio de 1886, reinaugura como
São José) Teatro Eden Fluminense, com a comédia Re-
médio para curar paixões, encenada pela com-
Mudanças de nome de teatros eram coisas panhia de que era principal figura o ator Flá-
comuns no meio. Em 1 de janeiro de 1881, vio Wandeck.
por exemplo, inaugurou-se na Praça da Em 27 de outubro do ano seguinte, como
Constituição n. 3 – (anteriormente Largo do o novo nome não houvesse dado certo, hou-
Rossio e a partir de 1890 Praça Tiradentes), ve uma nova mudança para Teatro Recreio
com fundos para a Travessa da Barreira (Rua Fluminense, inaugurado com o Barbeiro de
Silva Jardim) – um teatro de verão, o Teatro Sevilha, apresentada por uma Companhia
Príncipe Imperial, que havia sido mandado Italiana, em que atuavam as atrizes Rosina
construir por um monarquista, Dr. Roberto Belegrandi e Marion André. Mas esse novo
Jorge Haddock Lobo. A inauguração se deu nome se prestava a confusões com o do Re-
com a peça O solar do Rocha Azul, do portu- creio Dramático, dois quarteirões adiante. E
guês Eduardo Garrido traduzida do francês; acabou sendo trocado para Teatro Varieda-
seguindo-se a peça As três rocas de cristal. des Dramáticas, em 21 de maio de 1888.
Não se encontrou nenhuma descrição da O Almanak Laemmert de 1890, relata que o
sua fachada. Sabe-se que era um teatro cam- Teatro Variedades Dramáticas

166 Teatros do Rio


reconstruído com todas as regras pres- Fachada do Cine Teatro São José

critas pela higiene e bom gosto, oferece


ao público todas as comodidades e bem- de dezembro de 1900, já em propriedade da
-estar. Possui entre a porta de entrada e o Empresa Paschoal Segreto, num café-cantante,
edifício do teatro um grande pátio arbo- permanecendo durante algum tempo como
rizado e refrigerante e na frente, sobre o Moulin Rouge, tornando-se ponto de reunião
saguão, um longo terraço que se comuni- noturna da juventude burguesa da cidade.
ca com os camarotes. Em cópia, a mais semelhante possível do
original existente na capital francesa. Con-
Como Variedades, foi inaugurado com a forme relata Jota Efegê,
peça O trem do recreio, em quatro atos, de
Hennequim, Saint Alban e Mortier, tradu- por muitos anos, com o indispensável
zida por Azeredo Coutinho e Figueiredo moinho movido a eletricidade (como es-
Coimbra, tendo como intérpretes Gui- clarecia a publicidade alardeando a utili-
lherme da Silveira, Joaquim Maia, Augusto zação desse recurso, à época tido como
Boldrini, Sepulveda, Portugal, Ismênia dos requinte e progresso), girando na fachada,
Santos e outros. o alegre Moinho tornou-se em atraente
Os cafés-cantantes, os cafés-concertos e centro de diversões.86
cabarés floresciam no começo do século XX
para todas as camadas sociais. Foi então que o A estreia de Moulin Rouge, sob a dire-
Variedades Dramáticas transformou-se, em 22 ção artística de J. Cateysson, apresentou

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 167


um programa com a participação de La Mais um velho teatrinho que não mais
Bele Guerrerito, bailarina espanhola, Inez condizia com os progressos de constru-
Alvarez; Enriqueta Guerrero; os Admirá- ção dessa natureza vai sofrer os oportu-
veis Palácios e Geraldo Magalhães, apre- nos embates da picareta: – o Teatro São
sentando cançonetas, além do concurso de José. O ex-Variedades estava requeren-
uma orquestra de 16 professores, dirigida do, com efeito, a sua baixa de serviço, e
pelo maestro José Izzo. não sabemos o porquê da longanimida-
Em 1 de janeiro de 1903, o Moulin Rouge de de nossa Prefeitura, de braços dados
passa a chamar-se Teatro São José, deixando com a Saúde Pública, deixavam-no em
de ser café-concerto para voltar a ser teatro. atividade apesar do patente atestado de
Foi inaugurado com o drama A virgem negra, invalidez afixado no seu velho madeira-
de Eugenio Nus e Raul Bravard, traduzido mento e na sua desgraciosa fachada de
por Azeredo Coutinho, e levado à cena pela coliseu barato. Ademais, numa época em
Companhia Dramática dos atores J. Veiga e que os cinemas estão se transformando
Domingos Braga, participando do elenco os em teatros modernos, luxuosos e higiê­
atores Antonio Marques e Edmundo Silva, e nicos, cujos materiais empregados na
as atrizes Olímpia Montani, Adelina Nunes, construção evitam perigos dos acidentes
e Maria Layrot. pelo fogo, seria exigir sacrifício de nos-
Em janeiro de 1904, com a encenação da so público, obrigá-lo a ir divertir-se em
peça O Mandarim, de Artur Azevedo e Mo- suas salas onde o ar mantém-se impreg-
reira Sampaio o Teatro São José é consagra- nado de gás carbônico, do começo ao fim
do como casa de espetáculos. Com o tempo dos espetáculos; onde a temperatura é de
passou a ser a casa mais famosa com o teatro fornalha devido à reduzidíssima cubagem
de revistas, que durou quase três décadas. de ar e onde, afinal, as saídas são pou-
Apesar das críticas quanto à precariedade da cas, acanhadas no caso de incêndio. Se as
arquitetura, e de sua estrutura frágil, teve tradições teatrais podem lamentar com
longos dias de glória. certo fundamento o desaparecimento
Segundo o Almanaque Brasileiro, em 1908, do Teatro São José, o público e a cida-
o Teatro São José apresentava as seguintes de, porém, exultarão com a edificação
dimensões internas: comprimento da pla- do novo São José que irá dar àquele tre-
teia – 19,1 m; largura – 14,3 m; altura cho da Praça Tiradentes – uma das mais
do teto – 9,4 m; boca de cena – 7,9 m centrais e importantes do Rio – aspecto
de altura por 7,1 m; comprimento do pal- mais compatível com a estética e o grau
co – 14,9 m; largura – 13 m. Na edição de adiantamento de nossa capital. Mas
de 1911/1912, consignava: 21 camarotes, será apenas o São José que está demodé
532 cadeiras; 67 galerias nobres e 800 para a cidade e indesejável para a higiene
entradas numeradas, enquanto em 1926 pública? Não, ali pelas circunvizinhanças,
a lotação do teatro era composta de duas ali na própria antiga Rua do Espírito San-
frisas, 28 camarotes, 840 poltronas, 57 to há muita velharia perigosa à vida de
balcões e 30 gerais. quantos a procuram para passar o tem-
Passados quase vinte anos o teatro foi po, que mereceria sofrer um arrasamen-
alvo de muitas críticas da imprensa, como to semelhante ao do Morro do Castelo.
a de um cronista da revista O Malho, em Mas como Roma não se fez em um dia,
1921: esperamos que a queda de um pardieiro

168 Teatros do Rio


muito brochado de tinta com esmalte, de Almeida, quando tinha início o filme
muito pontilhado de lâmpadas elétricas, A minha noite de núpcias, de Leopoldo Fróes,
arraste ao trambolhão os outros que lhe o prédio incendiou-se, só ficando de pé
são idênticos em idade, em defeitos e em a fachada e as escadas laterais da sala de
malefícios…87 espera. Após sua reedificação passou a
fun­­cionar como Cinema São José. A fim
O teatro passou por várias reformas: em de criar a casa da canção nacional, Duque
1921, foi feita uma completa remodelação (Antônio Lopes de Amorim Diniz), com
em suas instalações; em 1930, uma refor- o concurso da Empresa Paschoal Segre-
ma geral. to, aproveitou a parte não incendiada do
A Empresa Paschoal Segreto, cansada teatro e instalou a Casa de Caboclo, re-
de perder dinheiro, transformou o São produzindo a morada do nosso tabaréu:
José em 3 de setembro de 1926 em Ci- o madeiramento rústico, de paus toscos,
neteatro São José, com o espetáculo de cobertura de sapé, formando frisas e ca-
estreia: A corte na roça, peça de Palhares marotes; palco e uma varanda de casa da
Ribeiro, com a Empresa Sousa Bastos. roça, ao fundo. Foi inaugurada com um
Nesse espetáculo entrou como composi- espetáculo em que o samba “Minha terra”,
tora Francisca Gonzaga. Como relembra de J. Aimberé, foi apresentado pela atriz
Augusto Maurício, Dercy Gonçalves. Fizeram-se aplaudir, tam­­­
bém: João Lino, Jararaca e Ratinho, os
pelo palco do antigo Teatro desfilaram na Rouxinóis Cariocas (com o cantor René
representação das peças que jamais desa- Bittencourt).
pareceram da memória de quem a elas as- Em 13 de dezembro de 1934, tiveram
sistiu. Não somente comédias ou dramas, início as obras de construção do novo
mas óperas, revistas e burletas – artistas cinema, confiadas à firma de Duarte &
dos mais notáveis, quer nacionais, quer Cia., de São Paulo. O São José transfor-
estrangeiros... mado em cinema foi, até 1931, um dos
teatros mais populares da cidade do Rio
A fluência ao teatro era tão numerosa, de Janeiro.
que Paschoal Segreto introduziu um novo Já no então Cinema São José, o sistema
sistema de funcionamento da casa – o es- de refrigeração era feito por meio de ven-
petáculo por sessões, que deu início a uma tiladores e a casa possuía uma aparelhagem
nova modalidade de funcionamento, logo de projeção convencional, de 35mm, com
adotada por quase todos os teatros do Rio. tela plana, e capacidade para comportar oi-
Ruben Gill escrevendo sobre o Teatro São tocentas pessoas.
José lembra que o “teatro de tipos, lingua- A Empresa Paschoal Segretto foi vendida
jar, e assuntos exclusivamente locais, nasceu a José Rômulo Dantas em 31 de dezembro
no palco do S. José”. E ainda, “no São José de 1981.
foi, realmente, empreendido o repertório Nos seus 100 anos de existência, foram
regionalista carioca, o repertório urbano, numerosos os empresários que passaram
melhor dizendo”. pelo São José. Entre eles Guilherme da Sil-
Em 12 de setembro de 1931, com o São veira, Ismênia dos Santos, J. Veiga e Domin-
José funcionando como cineteatro, após a gos Braga, Leopoldo Fróes, Antônio Lopes
apresentação de Amores e modas, de Mauro de Amorim Diniz (Duque).

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 169


1886 ras de primeira; 200 lugares de segunda; 75
Teatro Apollo (Inválidos) galerias nobres e 300 lugares nas arquiban-
cadas. O pano de boca era uma cópia exce-
O Teatro Apollo na Rua dos Inválidos n. 120, lente do Parnaso, de Rafael Sanzio, existen-
da Empresa A. Costa, foi inaugurado em uma te na galeria do Vaticano, e foi pintado por
antiga chácara no dia 2 de janeiro de 1886 um irmão do ator Carlos Rossi.89
com as peças: A casa do diabo ou O espelho má-
gico e As más informações, com a Companhia de Amplo, arejado e luxuoso, de constru-
Comédias do ator Sales Guimarães. ção sólida, sem arcabouço, todo de ferro
Quanto às suas características físicas, a revestido de tijolos e massa, fora impor-
única referência, é feita por Lafayette Silva tado da Europa pelo empresário e pro-
que escreve: “tinha pequenas dimensões mas prietário Celestino da Silva. Erguido em
era arejado”. 88 forma de ferradura, teve sua armação de
Não há precisão sobre o seu período de ferro fabricada na Europa, nas oficinas de
atividades, porém as crônicas mencionam a Moisant Savey, Laureys & Comp., segun-
duração de um ano, não se referindo às cau- do o modelo apresentado pela Casa Eiffel,
sas do seu desaparecimento. e aqui colocada pela firma Haupt e Rapp.
Foi responsável pelo seu projeto a firma
Meanda & Curty.
1890 Em 1891, o Almanak Laemmert assim infor­­­
Teatro Apollo (Lavradio) mava:

Em 18 de setembro de 1890, surge o segun- Este bonito teatro de construção elegante


do Teatro Apollo, à Rua do Lavradio, com e sólida é um dos mais aprazíveis e bem
o projeto de arquitetura de Morais de Los ventilados, tem um grande jardim onde se
Rios, e edificado pelo ator Guilherme da Sil- acha construído um buffet o qual está em
veira, em terreno da antiga chácara do Barão condições de bem servir aos frequentado-
do Flamengo. O Almanak Laemmert de 1891, res deste teatro. A sala é vasta e pode com-
acrescenta ao nome de Guilherme da Silveira, portar mais de mil e quinhentas pessoas.
o do empresário Braga Júnior, como respon- Tem uma ordem de camarotes, tribuna
sável, também, pela construção daquela casa nobre, camarote de polícia e conservató-
de espetáculos. Como espetáculo de inaugu- rio, lugar para quatrocentas cadeiras na
ração, foi apresentada a opereta Mademoisele plateia e uma vasta galeria.
Nitouche, de Hervé, pela Companhia dirigida
pelo ator Guilherme da Silveira. Elenco: nos Essa mesma publicação, em 1911/1912,
papéis principais, figuravam Celestino Silva e especifica sua lotação: 24 camarotes; 2 fri-
Heloisa, Machado e Rose Villiot. sas; 592 cadeiras de primeira; 32 cadeiras de
De acordo com a descrição de Lafayette segunda; 45 galerias nobres; 200 entradas
Silva, numeradas; 500 gerais.
O Teatro Apollo, em seus 26 anos de exis-
era um teatro alegre, ajardinado, com a tência, apresentou artistas consagrados pelo
extensão de 74 metros e a largura de 18... público e pela crítica, registrando grandes
com a seguinte lotação: 18 camarotes de sucessos na vida teatral carioca. Nele traba-
primeira ordem; 10 de segunda; 360 cadei- lhou, na última vez em que aqui esteve, a

170 Teatros do Rio


atriz Sara Bernhardt. Marcando sua passa- Teatro Apollo (Lavradio)

gem, afixou-se em uma das paredes da sala


de espetáculos uma placa com os dizeres empresário José Loureiro, cinco dias após o
alusivos ao evento. Essa placa agora perten- falecimento de Celestino Silva.
ce ao Arquivo do Município. Atualmente, no local onde ficava o teatro,
No Apollo, apresentaram-se muitos ato- há a escola Municipal Celestino Silva.
res portugueses consagrados entre eles José A matéria de Augusto Maurício no Jornal
Ricardo, Ângela Pinto, Augusto Rosa e Pal- do Brasil vem esclarecendo melhor a quanti-
mira Torres. Atores brasileiros também re- dade de teatros com a denominação Apollo.
gistraram grandes sucessos: Eduardo Gar- Entretanto, com relação ao quarto Teatro
rido, Brandão – o popularíssimo, Machado, Apollo, não há nenhum outro registro sobre
Vasques e tantos outros. sua inauguração em 1958 ou de suas ativida-
O Teatro era o preferido das companhias des. Do terceiro teatro com o nome do deus
portuguesas de revistas e operetas, por lá mitológico, situado na Rua Pedro I (antiga
passaram vários empresários: Guilherme da Espírito Santo) de 1940, sabe-se que teve
Silveira (1890), Sociedade Emprezaria Gar- vida efêmera.
rido & Cia. (1892), Cia. Souza Bastos, Afon-
so Taveira (1895), Empresa José Loureiro, e …cogita-se de dotar a Zona Sul de mais
muitos outros. um teatro. (…) Essa casa de espetáculos
O Apollo encerrou sua atividade teatral seria montada na sobreloja do prédio n.
com a morte de seu proprietário, Celestino 750 da Avenida N. S. de Copacabana.
Silva, ocorrida em 3 de setembro de 1916. Soubemos, ainda, que o teatro teria o tí-
O imóvel fora alegado em testamento ao tulo de Apolo, ofereceria uma plateia com
Município, com a condição de ser transfor- cerca de quatrocentas poltronas e seria
mado em escola para o povo. A entrega das inaugurado pelo nosso festejado cômico pa-
chaves do prédio à Prefeitura foi feita pelo trício José Vasconcelos, (…) Seria então, o

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 171


quarto teatro carioca com a denominação 1895
de Apollo. O primeiro era situado na Rua Teatro Eden-Lavradio
dos Inválidos n. 120, inaugurado em janei-
ro de 1886 com as comédias A casa do diabo O Teatro Eden-Lavradio, situado na Rua
e As más informações, por uma Companhia do Lavradio n. 96, pertencia ao Dr. Luis
chefiada pelo ator Sales Guimarães. Teve Delfino dos Santos. Mas foi Luiz Alves da
vida efêmera. Silva Cândido que inicialmente requereu
O segundo Apollo, no entanto, desfru- a construção, sendo substituído por Sera-
tou um período áureo, de grande sucesso. phine. Em requerimentos datados de 8 de
Era na Rua do Lavradio n. 56, onde hoje outubro de 1894 e 23 de abril de 1895,
funciona a Escola Celestino da Silva. Foi ali ao diretor de Obras Públicas do Rio de
levantado no ano de 1890, sendo inaugura- Janeiro e ao Prefeito, aparece o nome de
do a 18 de setembro com uma Companhia Seraphine, solicitando licença para modi-
empresada pelo ator Guilherme da Silvei- ficar a planta do teatro “apresentada pelo
ra, tendo subido à cena a opereta Mademoi- seu antecessor, Luiz Alves da Silva Cândi-
sele Nitouche, de autoria de Hervé. Teve, do...”91 Não está bem claro, se o Sr. Luiz
esse Apollo, a existência de 26 anos e pelo Alves da Silva Cândido era o proprietário,
seu palco passaram artistas celebrados no ou o engenheiro encarregado das obras. O
tempo, entre outros, Corrêa Vasques, José processo de construção foi deferido pelo
Ricardo, Angela Pinto, Brandão – o po- município em 4 de dezembro de 1894.
pularíssimo – Gabriela Montani, Olímpio A polícia efetuou a vistoria final e conce-
Nogueira, e ainda a genial Sara Bernhardt, deu, em 1 de maio de 1895, autorização
quando de sua rápida visita à nossa cidade. de funcionamento. O teatro foi inaugu-
A última Companhia que esteve no te- rado em 28 de maio de 1895 pela Com-
atro da Rua do Lavradio foi a portuguesa panhia Pepa Ruiz com a revista Tim-Tim
do Politeama de Lisboa. Deixou o teatro a por Tim-Tim, de Souza Bastos. Pepa Ruiz,
2 de dezembro de 1916, e no dia seguin- como empresária, levou ao Eden-Lavradio
te falecia o proprietário, Celestino da Sil- várias revistas e uma opereta. Em 1896,
va, que, em testamento, doava o imóvel à ou­­tra companhia ocupou o teatro e fo-
Municipalidade, sob a condição de que no ram apresentados espetáculos de mágicas.
local fosse instalada uma escola. “Construído no fundo de uma chácara, na
O terceiro Apollo é de data recente. Nas- Rua do Lavradio. É pequena e desgraciosa
ceu da transformação em teatro do antigo a sua entrada”.92
Cinema Moderno, da Empresa Pascoal Se- Nesta casa de espetáculos de curta exis-
greto, à Rua Pedro I. A estreia teve lugar a tência, passaram vários artistas do teatro
12 de abril de 1940, com a apresentação da ligeiro, que começaram suas carreiras para
revista em dois atos Ó Seu Oscar, de autoria a fama.
da Freire Júnior. Como o primeiro Apollo, Adquirido pela Prefeitura em 1899, foi
durou pouco. O prédio foi demolido e le- remodelado e nele instalou-se a Escola Pro-
vantado outro, mas sem o teatro. fissional Souza Aguiar.
Efetivando-se, como é desejável, a ins- Em 1824, com o mesmo nome, e na mes-
talação da casa de espetáculos na Avenida ma rua, houve um início de construção de
N. S. de Copacabana, será mais um Apolo uma casa de espetáculo, sem condições para
na história do teatro no Rio de Janeiro.90 funcionar.

172 Teatros do Rio


1900 por André Nerac; a Companhia de Zarzue-
Cassino Nacional las Sargi Barba; a Dramática Italiana Verga-
ni, que representou aqui pela primeira vez
Em 1900 surgia o Cassino Nacional, à Rua do no Rio, O ladrão, de Bernstein; a de ope-
Passeio n. 44. O imóvel pertenceu a Roma- reta, da mesma nacionalidade, Lahoz, que
na G. Rocha Monteiro no período de 1900 a trouxe por principal figura Linda Morosini,
1905, sendo que em 1902 passa a chamar-se e estreou com o Bocaccio; a alemã Augusto
Teatro Cassino Nacional, não havendo refe- Papke, cuja primeira figura feminina era a
rências nas fontes pesquisadas sobre o espetá- Hansen. Foi essa companhia que aqui repre-
culo de inauguração, sabendo-se que foi pro- sentou pela primeira vez A viúva alegre, que
jetado por Grandjean de Montigny. passou despercebida. Mais tarde ocupou o
O teatro teve, originalmente, sua constru- Palace a companhia italiana, Vitale, com Ita-
ção adaptada de um boliche, sendo o projeto lo Bertini. Depois, passaram por ali os artis-
da autoria de Morales de Los Rios. Segundo tas Leopoldo Fróes, Palmyra Bastos, Adelina
o arquiteto e Aura Abranches. Ernesto Vilchas e Irene
Lopes Neredia.
construção leve, completamente aberta,
mas com enormes beirais, permitia que A 21 de dezembro de 1911 o elegante
em sua volta houvesse largas esplanadas, Palace-Theatre voltava a funcionar como
onde os espectadores podiam assistir, ao ar café-concerto, numa temporada de verão,
livre, aos espetáculos. 93 com artistas de um tal “South American
Tour”. O teatro da Rua Joaquim Nabu-
A partir de princípios de 1906 (até 1926), co prestava-se muito bem para o gêne-
passa a ser propriedade da Empresa Theatral ro. Além da bela sala de espetáculos e do
e de variedades de C. Sequim e João Cateys- chamado “promenoir”, havia cá fora, no
son, recebendo o nome de Cassino Palace. pátio, mesas e cadeiras sob árvores para
Foi inaugurado em 25 de abril de 1906 com o refrigério da cerveja e dos refrescos nos
a peça Allons au Palace, libreto de Chicot e intervalos. O café-concerto era, por outro
partitura musical de Luiz Moreira. Faziam lado, da acentuada preferência do carioca.
parte do elenco: Cristiano de Souza, Lucin- “O público há muito, dizia A Notícia, ansia-
da Simões, Itália Fausta e Cinira Polônio. va por esse gênero de espetáculos em que
Apesar do sucesso junto ao público, não ao lado do “flirt”, há os alegres momentos
foram levadas à cena novas revistas e a casa de cançonetas brejeiras, cenas cômicas etc.
voltou a exibir números de canto e músi- Escoando-se as horas rápidas.
ca. Em dezembro de 1906, era inaugurado E a Careta, aplaudindo com entusiasmo
como teatro, Palace-Théâtre, com a revista o retorno do gênero, manifestava a espe-
Chic-chic de João do Rio e J. Brito. rança de que “o empresário, inteligente e
Neste período possuía 400 cadeiras de versado em cançonetas e canções, propor-
primeira, 96 de segunda, 28 camarotes de cionasse um ambiente onde a arte humana
primeira, 25 frisas e 106 galerias nobres, o e singela, doce e confortante do “cabaret”
que dava um total de 655 lugares. iniciasse a sua obra deliciosa de educação
Desde então ficou sendo o teatro do anti- do povo…” O certo é que o público, em
go cassino. Abrigou companhias dramáticas massa, prestigiou a iniciativa da Empresa
francesas, uma de Grand-Guignol, dirigida Luiz Alonso.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 173


Os espetáculos se renovavam periodica- 514 poltronas na plateia, 164 nos balcões,
mente sempre atraentes e bem organiza- 28 camarotes e 32 frisas.
dos. No inaugural, as “chanteuses” que mais Até a remodelação sofrida em 1925, não há
se destacaram todas “alegres e decididas” – referências, nas fontes pesquisadas, quanto ao
foram, segundo a crônica contemporânea, interior do teatro. Naquela data, há uma cita-
as francesas Gilberte, Jane e Bluete e a in- ção, apenas dizendo que, o teatro tornou-se
candescente espanhola La Bela Esmeralda, mais confortável e decorado com cores claras.
que dançava, na verdade, a capricho, per- De 1926 até 1928, foram proprietários os
turbadora nos menores gestos e dona de irmãos Vitor e José Maria Fernandes, sendo
um “salero” que virava, à primeira vista, a em 13 de julho de 1928, reinaugurado como
cabeça a muita gente… Havia também um Palácio Teatro. A partir deste ano, encontra-
duo muito aplaudido – Mademoiselle De- mos mais detalhes quanto ao interior do Pa-
pierke e M. Abelin – que representava um lácio Teatro:
mimodrama terrível de Raul d’Ast, Soir
rouge, história trágica de um apache e de ...tudo é amplo e confortável, bem assim as
uma gigolete, cena de grand-guignol que dependências, salões, terraços e varandas.
causava arrepios. Acrobatas, excêntricos e As linhas da sala, belas na harmonia do seu
cançonetistas menores faziam a contento conjunto, decoração clara, alegre, artística,
geral os demais números do programa. luz profusa, bem distribuída. O palco é de
A concorrência do Palace – sempre grandes dimensões, como a caixa. Os cama-
numerosa e eclética – era especialmente rins e acomodações para artistas são exce-
bem-humorada. “Há no público – registra- lentes, obedecem aos preceitos de higiene
va um diário – ausência completa de pose e máximo conforto. O acesso ao teatro se
e pretensão; todo o mundo ali é camara- faz por longa galeria, rebrilhando toda em
da e se sente fraternal e alegre”. E outro luzes, com serviço de bar; ladeando-as vi-
jornal, falando da estreia, informava: “O trines artísticas, de casas comerciais. Fica o
teatro encheu-se. Os camarotes bem guar- teatro ao fundo, longe dos rumores da rua.95
necidos das mais elegantes demi-mondai-
nes apresentavam lindo aspecto…94 Como Palácio Teatro, em 1928, possuía
1.073 lugares na plateia, 300 lugares nas ga-
Sua inauguração como cinema, em 16 de lerias numeradas e outros 106 nos balcões;
janeiro de 1924, deu-se com Oliver Twist, 28 camarotes acomodavam 140 pessoas,
com Jackie Coogan, o garoto prodígio, re- 40 frisas com acomodações para 200 pessoas;
cebendo o nome de Cinema Palácio. Após balcões de primeira com 202 lugares e, gale-
a exibição do filme, foram apresentados al- rias e gerais com lotações não especificadas.
guns números de atração. A partir de 1928, nova numeração foi
Em 31 de julho de 1925, depois de pas- dada e o prédio passou a ser o n. 38, conser-
sar por algumas reformas, foi reaberto co­ vado até hoje.
mo teatro, recebendo o nome de Palace- Em 20 de junho de 1929, passa a se cha-
-Théâtre, com a peça Um homem encantador, mar Cinema Palácio, sendo a estreia com a
de B. de Garay, tradução de Simões Coelho. exibição do filme sonoro falado, Broadway
O elenco era da Companhia de Declamação Melody, da MGM, que foi muito aplaudido
de Jaime Costa. Neste ano a lotação do tea- com o Presidente da República honrando a
tro reformado era de mil lugares nas gerais, apresentação com a sua presença.

174 Teatros do Rio


Vários foram os arrendatários do teatro: Era situado à Rua do Lavradio n. 49, um
Companhia Lucinda Simões e Cristiano de teatro de construção provisória e precária,
Souza, em 1906; Empresa Luiz Alonso, em que foi objeto de várias exigências do Muni-
1911; Empresa José Loureiro, a partir de ju- cípio, e teve curta duração.
nho de 1917; Empresa Pinfild, em 1925; Com- Em requerimento de agosto de 1898
panhia do Moulin Rouge de Paris, em 1928. consta como proprietária D. Maria Luiza
Atualmente, o Cine Palácio é de propriedade Bonnana da Câmara, pedindo licença para
de Luis Severiano Ribeiro e Fox Film, e, tem conserto do prédio.
1.004 lugares: 774 na plateia, 230 no primeiro Pelo requerimento de José Mourão,
balcão. O segundo balcão foi transformado no seu proprietário, em 13 de agosto de
Cine Palácio II, com 304 lugares. 1900, sabe-se que o teatro tinha uma va-
Possui uma ampla sala de espera, toda for- randa e um jardim. Pode-se precisar as
rada de carpete marrom e suas paredes deco- dimensões do teatro por outro requeri-
radas com espelhos. Na sala de espetáculos, as mento: de 23 de maio de 1903, onde se
poltronas são vermelhas, o revestimento da encontram os seguintes dados: pé-direi-
parede é ocre e, junto ao palco, a forração é to 4,9 x 4,4 m; fachada de 6,4 x 25 m de
com papel de parede ocre com desenhos em comprimento; e a indicação de existên-
marrom. Tem ainda três toilettes masculinos e cia de um terraço no segundo pavimento.
três femininos (dois na plateia e um no pri- Esse mesmo requerimento faz referência
meiro balcão). O palco não é utilizado para ao fato de “o prédio estar semidestruído
espetáculos (tem uma boca de cena de 13 m pelo incêndio”.
de altura por 6 m de profundidade). Por meio de outro requerimento, de 14
O Cassino Nacional, como teatro, café- de março de 1904, “...para que o prédio
-concerto, cinema e, sob seus diversos no- não tivesse mais caráter provisório...” foram
mes, foi sempre muito versátil em seu gê- feitos melhoramentos como: colocação de
nero de espetáculos (variedades, operetas, duas terças na cobertura do palco; coloca-
revistas, comédias, dramas, folies-bergères, e, ção de uma claraboia na cobertura dos ca-
até mesmo atividades de circo-equestre). marins; substituição dos camarins por ou-
tros, e remoção de um camarim existente
no fundo do palco.
1900 Em 1918, era adquirido por Paschoal
Teatro High-life Segreto, não existindo nas fontes data
de encerramento de suas atividades tea-
Em 24 de junho de 1900, foi inaugurado trais, porém, foi reaberto em setembro de
o Teatro High-life, com a ópera Fausto, de 1935, como clube noturno, music-hall e
Gounod, tendo como cantores Camilo Ri- danças, passando depois a funcionar como
cossa, Ernesto Cappa e Rastelli Parodi. casa de jogo.

Capítulo 2 | O teatro de uma capital ainda provinciana 175


Localização das casas de espetáculos na cidade do Rio de Janeiro. De 1767 a 1895
Notas

1 Grande companhia equestre Norte-Americana dos irmãos 27 (Azeredo, 1930).


Carlo, 5a feira, 3 de maio de 1900, no teatro São Pedro de 28 (Jornal A Noite, 28/01/1964).
Alcântara.
29 (Luta Democrática, 22/08/1965).
2 (Correio da Manhã, 24/06/1930).
30 (Alencar, 1979).
3 (Macedo, 1991, p. 240).
31 (Heliodora, 1972, p. 63- 64).
4 (IDEM).
32 (Taunay, 1956).
5 (IBIDEM, p. 244).
33 Praça da Constituição, posteriormente passou a denomi-
6 O Largo do Rossio passou a chamar-se Praça da Constitui-
nar-se Largo do Rossio (Rocio) Grande, sendo atualmente,
ção em 1822 e, a partir de 1890, denominou-se Praça Tira-
Praça Tiradentes. A rua do Cano passou a chamar-se Rua do
dentes. Enquanto Praça da Constituição há menção de ter
Egito, e atualmente Rua Sete de Setembro, enquanto a Rua
o teatro ocupado o número 24, e o número 28. Seu ende-
do Piolho é a atual Rua da Carioca.
reço atual é Praça Tiradentes, s/n. e a área primitiva está
ocupada pelo Teatro João Caetano. Ver: (Cavalcanti, 1878, v.I, 34 (Souza, 1960, p.288).
p. 338), (Alencar, 1979). 35 (Augusto Maurício, s.d., p.115, 117).
7 (Andrade, 1969). 36 (Souza, op.cit.).
8 (Marinho, 1904, p.20). 37 (Paixão, op.cit., p.124).
9 (IDEM, p.22). 38 (IDEM).
10 (Emygdio, 1928). 39 (Marinho, op.cit., p.132).
11 (Correio da Manhã, 24/06/1930). 40 (Paixão, op.cit,p.124).
12 (Marinho, op. cit.). 41 (Paixão, op.cit,p. 130).
13 (Labanca, 1959, p.40-42). 42 (Taunay, 1956).
14 (Souza, 1960, p.284-289). 43 Rua São Francisco de Paula, entre os ns. 27 e 29, dando os

15 (Paixão, 1917, p.141). fundos para a Rua do Cano. A Rua São Francisco de Paula
teve, posteriormente, sete nomes: Souza Franco (decisão
16 (Marinho, op.cit).
da Câmara sessão 01.06.1874); Tucuman (Dec. 1083 de
17 (Correio da Manhã, 17/12/1925). 08.06.1916); Teatro (Dec. 1.165 de 31.10.1917); Prof. Gomes
de Souza (Dec.1.703 de 24.03.1922); Teatro (Dec. 2.517 de
18 (Marinho, op.cit).
22.12.1926); Leopoldo Fróes (Dec. 3.839 de 11.04.1932); e,
19 (Labanca,op.cit). atualmente, Rua do Teatro (Dec. de 20.08.1938). O local
do Teatro São Francisco de Paula é hoje o n. 23 da Rua
20 (Marinho, op.cit).
do Teatro.
21 (IDEM).
44 (Marinho, op.cit., p.72).
22 (Correio da Manhã, 24/6/1930).
45 (Augusto Maurício, op. cit., p.175-177).
23 (Marinho, op.cit.).
46 (Silva, 1991, p.93).
24 (Nunes, 1956, p.88).
47 Rua do Cotovelo, entre a Praia D. Manuel e a Rua Dom
25 (Labanca, 1959.p.40-42). Manuel. Posteriormente a Rua do Cotovelo passou a se
chamar Beco do Cayru e depois Rua Vieira Fazenda. Estas
26 (Revista Teatro Ilustrado, 1959,p.42).
ruas desapareceram com a urbanização do castelo e o lo-
cal onde existiu o Teatro, segundo Brasil Gerson, é hoje o 69 (Alencar, 1975).
Palácio da Justiça. 70 (O Globo, 18/7/1980).
48 (Silva, 1938, p.39). 71 (Anuário da Casa dos Artistas, 1982, p.17).
49 (Jornal do Commercio, 09/05/1847). 72 (Jornal Última Hora, 23/09/1983).
50 (Paixão, op.cit, p.236). 73 (O Globo, 11/11/1985).
51 (Silva, op.cit.,p.48-9). 74 (Jornal do Brasil, 04/02/1986).
52 (Augusto Maurício, op.cit.,p.201-202). 75 (Jornal O Estado de São Paulo, 13/01/1987).
53 (Duarte, 1960). 76 (Chaves, 1988).
54 (Marinho, op.cit.,1904, p.75). 77 (Fabião, 1993).
55 (Silva, op.cit.,p.44-48). 78 (Silva, op.cit., p. 49).
56 (Aguiar, 1971, p.21). 79 (Morais, 1904).
57 (Silva, op.,cit, p.55-59). 80 (Silva, 1938, p.67).
58 (Luiz Edmundo, 1957,p.429). 81 (Revista Careta, 1964).
59 Chamada de Rua da Vala, porque as sobras das águas do 82 (Gazeta de Notícias, 1879).
chafariz do Largo da Carioca corriam para uma vala até a
“prainha”, beira mar, hoje Praça Mauá. Depois da guerra do 83 (Santos, 1956, p.13-14).
Paraguai, com os sucessos militares do Sul, denominaram 84 (Silva, op. cit.,p.72).
Uruguaiana. A localização da casa de espetáculos era entre
os números 43, 45, 47, 49 e 51. Posteriormente com o nome 85 (IDEM, p.73 e 74).
de Uruguaiana, de acordo com requerimento 50-2-60 de 86 (Jota Efegê, 1972).
15/02/1879, o prédio do teatro, recebeu o número 39.
87 (D’az.,1921).
60 (Paixão, op.cit., p.236).
88 (Silva, op.cit.,p.81).
61 (IDEM, p.240).
89 (Silva, op.cit., p. 81-82).
62 (Revista Perspectiva Universitária, 1983).
90 (Augusto Maurício, 1958).
63 (Nunes, op.cit., p.49).
91 (Silva, op.cit.,p.85-86).
64 (Abreu, 1963, p.128).
92 (Azevedo, 1862, p.375).
65 (O Globo, 07/06/1948).
93 (Sousa, 1960).
66 (Silva, op.cit., p.54).
94 (Correio Souza Rocha, 28/1/1962).
67 (Silva, op.cit., p. 59-60).
95 (Nunes, op.cit.,p.105).
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neiro. Dionysos, 1974, p. 102-103. lo. Comoedia. Rio de Janeiro, agosto/setembro de
Macedo, Roberto. História carioca; teatros. O Glo- 1946, p. 72-74.
bo. Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 1962. Nunes, Mário. 40 anos de teatro. Rio de Janeiro: Ser-
Marinho, Henrique. O teatro brasileiro. Paris/Rio de viço Nacional de Teatro, 1956, v. I, p. 38, 118 e
Janeiro: Garnier, 1904, p. 96. 220; v. II, p. 105, 121 e 168.
Nunes, Mário. 40 anos de teatro. Rio de Janeiro: Ser- Silva, Lafayette. História do teatro brasileiro... Rio de
viço Nacional de Teatro, 1956, p. 35. Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1938, p.
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Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1938, p. Sousa, J. Galante de. O teatro no Brasil. Rio de Ja-
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Sousa, J. Galante. O teatro no Brasil... Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura, Instituto Nacio-
nal do Livro, 1960, v. 1. Teatro High-life
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Cassino Nacional Augusto Maurício. Meu velho Rio. Rio de Janeiro:
Almanak Laemmert, 1902, p. 760; 1903, p. 772; 1905, Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de
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Annuário da Casa dos Artistas. Rio de Janeiro, a história anedótica do teatro nacional; II capítu-
1941/1942. lo. Comoedia. Rio de Janeiro, agosto/setembro de
Annuário Theatral Argentino-Brasileiro, 30 de outubro de 1946, p. 72-74.
1926 Nunes, Mário. 40 anos de teatro. Rio de Janeiro: Ser-
Augusto Maurício. Meu velho Rio. Rio de Janeiro: viço Nacional de Teatro, 1956, v. IV, p. 127.
Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de Silva, Lafayette. História do teatro brasileiro... Rio de Ja-
Educação e Cultura (s.d.), p. 204. neiro: Ministério da Educação e Saúde, 1938, p. 772.
Brasil, Gerson. História das ruas do Rio de Janeiro. Rio Sousa, J. Galante de. O teatro no Brasil. Rio de Ja-
de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal, Secreta- neiro: Ministério da Educação e Cultura, Instituto
ria Geral de Educação e Cultura (s.d.), p. 236. Nacional do Livro, 1960, v. 1.
Capítulo 3
Teatros do interior
da província e dos municípios
do R io de J aneiro
Se há dificuldade de se encontrar documentação sobre os teatros da cidade, pode-
-se imaginar o quanto seja escasso o material a respeito dos edifícios teatrais do
interior do Esrado. Por outro lado, em relação ao estado de conservação dos teatros
é triste verificar a precariedade de instalações da maioria deles, como traço domi-
nante durante suas trajetórias. E, quanto ao desaparecimento, também só se tem a
lamentar que, às vezes, o único teatro de uma cidade tenha desaparecido sem que
algum movimento tenha sido feito para substituí-lo ou salvá-lo.
A província também foi sendo aqui- pode-se imaginar o quanto seja escasso o
nhoada com a sua parte na construção dos material a respeito dos edifícios teatrais do
edifícios teatrais, seguindo, na medida do interior do Esrado. Por outro lado, em re-
possível, e dos interesses da Coroa, o de- lação ao estado de conservação dos teatros
senvolvimento da capital. É o que se pode é triste verificar a precariedade de instala-
acompanhar, desde o século XVIII, neste ções da maioria deles, como traço domi-
capítulo dedicado ao inventário e à análise nante durante suas trajetórias. E, quanto
dos teatros das principais cidades da pro- ao desaparecimento, também só se tem a
víncia e, posteriormente, do Estado do Rio lamentar que, às vezes, o único teatro de
de Janeiro, até o final do século XX. uma cidade tenha desaparecido sem que
As cidades serão apresentadas pela ordem algum movimento tenha sido feito para
de inauguração das primeiras casas de espe- substituí-lo ou salvá-lo.
táculos. Neste caso as pioneiras serão São Sal- A história dos teatros no interior da
vador de Campos de Goitacazes (Campos dos província, em tempos passados, e a tra-
Goitacazes) e o Arraial de São João de Itaboraí jetória das casas de espetáculos no nosso
(Itaboraí), locais onde se tem notícia de exis- século não se diferenciam muito em ter-
tência de teatros desde a longínqua data de mos da existência de curvas ascendentes
1795. Seguem-se as outras: Petrópolis, Macaé, e descendentes, revelando os resultados
Friburgo, Nova Iguaçu, Duque de Caxias... críticos da dificuldade de manutenção.
Se há dificuldade de se encontrar do- Acompanhar a trajetória de muitos deles
cumentação sobre os teatros da cidade, é desalentador.

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 195


1. SÃO SALVADOR iniciar os trabalhos e de dirigir a construção
do teatro; ele era autor da planta da cidade
DE CAMPOS DOS
de Campos.
GOITACAZES: CAMPOS As obras tiveram início em 1839 e foram
concluídas em 1844, mas o teatro ainda não
tinha nome. Entretanto, diz A Notícia, “em
1823 março de 1842, por exemplo, exibia-se ali
Teatro João Daniel French a Companhia Ginástica e Equestre Berna-
bó”, e no anúncio então publicado, constava:
“Tea­tro da Rua Direita”...
1833 Luis Gonzaga Cony foi responsável pelas
Teatro Campista (Teatro Feliz pinturas internas e do teto. O São Salvador
Esperança) teve três panos de boca: o primeiro, pinta-
do por Cony, o segundo por Paulo Belido
Campos podia ser considerada uma cidade e o terceiro por Clóvis Arrault, no qual re-
bastante fértil em meados do século XVIII presentou cenas do livro Volta ao mundo em
para as manifestações dramáticas. O Teatro 80 dias, de Júlio Verne (1873).
Campista (1833) foi reinaugurado em 1841 Sua lotação era: 21 camarotes, sendo um
com o nome de Teatro Feliz Esperança. privativo da diretoria, 100 varandas, 350 ca-
deiras e 200 entradas para as galerias.
O Teatro São Salvador foi a primei-
1845 ra casa de espetáculos de Campos, que
Teatro São Salvador madrugara na construção de sua Casa
de Ópera, lançando a pedra fundamen-
Em 22 de outubro de 1836 era publicado o tal de seu quinto teatro a 7 de setembro
projeto dos Estatutos da Sociedade que se de 1839, o qual, pronto em 1842, serviu
propunha construir um teatro. Em 8 de janei- de circo, só recebendo o nome de Tea­tro
ro de 1837 reunia-se no consistório da Igreja São Salvador em 2 de outubro de 1844.
do Carmo a primeira Assembleia Geral dos Foi oficialmente inaugurado a 7 de se­tem-­
Acionistas, sob a presidência de Dom José de bro de 1845. O nome deriva do primitivo
Saldanha da Gama. Nesta assembleia foi eleito nome da cidade, que era São Salvador de
o primeiro conselho administrativo, que fun- Campos dos Goitacazes. Relembra o jor-
cionou até 5 de junho de 1853. nal A notícia, de Campos, a 7 de setembro
A princípio, a diretoria da sociedade en- de 1964:
carregou o Major Engenheiro Henrique
Luiz Niemeyer de Bellegarde de apresen- Às dezesseis horas do dia 7 de setembro
tar o projeto e dirigir os trabalhos de cons- de 1839, uma salva de 21 tiros anunciou
trução. Bellegarde chegou a fazer alguns aos moradores da cidade, a partida do car-
croquis e estudos parciais, no entanto, não ro que conduzia a pedra angular do tea-
teve tempo de apresentar o projeto e ini- tro. Esse carro se achava ornamentado de
ciar os trabalhos, por haver falecido em ja- festões, folhas e flores, conduzia a pedra e
neiro de 1839. era seguido da música; na frente marchava
Em face da morte de Bellegarde, o en- uma escolta de policiais, e outra na reta-
genheiro Aurélio Pralon foi encarregado de guarda dos Srs. Juiz de Paz, Inspetor, Di-

196 Teatros do Rio


Teatro São Salvador. Campos. RJ imposição do progresso, no ano de 1921,
quando foi concluída a sua demolição.
retoria da Sociedade, Acionistas e grande
acompanhamento popular.
1874
A pedra foi então depositada em um ter- Teatro Empíreo
reno de esquina das ruas 13 de Maio e Te-
nente Coronel Cardoso, e mais uma salva de O Teatro Empíreo, durou três anos, inau-
21 tiros anunciou o fim da cerimônia. gurado a 6 de setembro de 1874, com o
Para a inauguração programou-se a exi- drama O poder do ouro. Paralisado por três
bição do espetáculo da Companhia Mista anos, só foi demolido em 1893.
Dramática e de Bailados, dirigida por Luiz
Montani, que foi atingido com a queda do
pano de boca, quando participava do baila- 1885
do. Com o acidente, o espetáculo inaugu- Teatro Gynásio Campista
ral teve que ser suspenso e substituído pela
representação da comédia que já estava na Além do Teatro São Salvador, Campos dis-
programação. pôs ainda no Império, do Teatro Gynásio
Dentre as reformas e melhoramentos que Campista, armado a partir de um barracão,
o prédio experimentou, destaca-se a de Cló- por José de Almeida Cabral em 1885, inau-
vis Arrault em 1890. gurado a 1o de novembro, com a comédia de
Em setembro de 1920, começou a ser Joaquim Manuel de Macedo, Luxo e vaidade.
demolido para permitir o alargamento da Entretanto, durou somente um ano, indo a
então Rua Formosa. Desapareceu por uma leilão já em 1886.

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 197


1886 toda a obra custeada pelo capitão Francisco
Alcazar Campista de Paula Carneiro.
O Teatro Trianon era formado de 156
Em 1886, surgiu outra sala de espetáculos, frisas, 554 cadeiras na plateia, 290 balcões,
o Alcazar Campista, meio teatro, meio café- 38 camarotes e 610 gerais para comportar
-cantante. 1.800 espectadores. A caixa tinha 25 cama-
rins, sendo dois luxuosos, para os primei-
ros artistas.
1910 O capitão Francisco de Paula Carneiro,
Teatro Parque contratou os arquitetos da Meanda Curty &
Companhia, do Rio de Janeiro, para ideali-
zar o seu sonho de construir um cineteatro.
1921 A obra foi considerada arrojada e o Trianon
Teatro Trianon (Teatro na época foi considerado um dos grandes
Municipal Trianon) espaços culturais do Estado, pelo seu tama-
nho, arquitetura e decoração.
A obra de construção do Teatro Trianon, A inauguração foi marcada para às 18 ho-
de Campos, foi iniciada em 8 de agosto de ras do dia 25 de maio de 1921, e o capitão
1919, e na primeira quinzena de outubro Francisco de Paula Carneiro foi conduzido
de 1920 foi entregue a parte da construção de sua residência à Rua 13 de Maio, esquina
civil para que fossem feitos os trabalhos ne- com Saldanha Marinho, onde era localizado
cessários de adaptação e decoração exigidos
por um teatro daquela natureza, tendo sido Hall de acesso Teatro Trianon, Campos, RJ

198 Teatros do Rio


Vista do interior do Teatro Trianon, Campos, RJ

Teatro Trianon, Campos, RJ, 1998


o teatro, por uma enorme massa popular, 1948
acompanhada pelas quatro bandas de música Teatro São Salvador
da cidade: Apolo, Guarani, Conspiradora e
Operários Campistas.
À frente do Trianon, na rua estreita, 1960
comprimia-se o povo para assistir à entrada, Teatro Municipal Joracy
abrindo alas à chegada dos carros de luxo Camargo – projeto
da época, como: Benzi, Overland, Hudson
e também os modelos Ford, com as senho- Em 21 de junho de 1960 o prefeito de
ras trajando soirée, calda arrastando, e os ho- Campos, José Alves de Azevedo, lançava-se
mens de casaca e smoking. a missão de construção do Teatro Municipal
O orador da solenidade foi o advogado Joracy Camargo, projeto que nunca se con-
criminalista Carlos Fonseca, que falou em cretizou.
nome do povo campista.
O espetáculo de estreia aconteceu no
dia 29, com a apresentação de A Duqueza de 1968
Balt-Tabarin, da companhia Esperanza Iris. Teatro de Bolso de Campos
A estrela, conhecida como a “Rainha da
Opereta”, era mexicana, dotada de beleza e O Teatro de Bolso de Campos foi inaugu-
virtuosidade. O elenco artístico era forma- rado em 13 de abril de 1968, construído
do por 105 figurantes e mais a orquestra de pela Prefeitura ­– gestão de José Carlos
22 professores, dirigida pelo maestro San- Vieira Barbosa – em convênio com a As-
tiago Sabine. sociação Regional de Teatro Amador. Este
Durante décadas, o Teatro Trianon foi teatro só foi possível graças ao esforço do
palco para grandes nomes: Leopoldo Fróes, movimento amadorista de Campos, apro-
Henriette Morineau, Eva Todor, Jayme Cos- veitando o prédio do Clube Tenentes de
ta, Procópio Ferreira, entre inúmeros ou- Plutão. Possuía 210 lugares e um palco de
tros nomes. Sua última sessão foi realizada 8,4 x 5 m, com a boca de cena de 7 x 3,5 m,
em 8 de junho de 1975, ano em que foi de- profundidade de 5 m, proscênio de 1,2 m
molido. e urdimento com 1,5 m acima da boca de
Passados 14 anos, exatamente em 1989, cena, segundo A Notícia, de 17 de março
a comunidade campista se mobilizou para de 1970.
reconstruir o Teatro Trianon. Para alcançar
este objetivo foram vencidas inúmeras eta- É um teatro nu, inteiramente deserto dos
pas de dificuldades financeiras ao longo de necessários implementos técnicos impres-
alguns anos. E em 31 de julho de 1998, às cindíveis a seu funcionamento.
10 horas era inaugurado o Teatro Municipal
Trianon, na gestão do Prefeito Arnaldo Via- E continua Hervé Salgado Rodrigues, na
na e da Sra. Ilsan Santos Viana, presidente da mesma notícia
Fundação Theatro Municipal. A comemo-
ração contou com os espetáculos: Rota, da Custou muito esforço ao Fernando Go­mes
Companhia de Dança de Deborah Colker, e e o grupo da Arta, muitas gestões junto ao
a peça Brasileiro, profissão esperança, de Paulo Prefeito Rockfeller de Lima, que começou
Pontes, com Bibi Ferreira e Gracindo Júnior. a obra e a deixou no meio. Em seguida, o

200 Teatros do Rio


O Teatro de Bolso, único de Campos, foi
fechado por Zezé Barbosa, por ter sido o
seu nome retirado do out-door colado pela
Prefeitura Municipal de Campos, na facha-
da do prédio, por exigência dos artistas.

A Associação Regional de Teatro Amador,


fez tudo para recuperá-lo, inclusive ingressan-
do na justiça, devido a um comodato vencido
em 1986. Depois de muitas pressões o Prefeito
José Carlos Barbosa anunciou em 2 de setem-
bro de 1988 que reabriria o Teatro de Bolso,
fechado ele por dois anos, o que, oficialmente,
foi acontecer em 15 de abril de 1989.

2. ARRAIAL DE SÃO JOÃO


DE ITABORAHY: ITABORAÍ
Teatro de Bolso, Campos, RJ

Prefeito José Carlos Barbosa completou a 1827


construção do teatrinho que de fato ficou Teatro de Itaborahy (Teatro
uma beleza. Municipal João Caetano)
Mas no sentido técnico, o verbo com-
pletar não corresponde à realidade. Como O Teatro de Itaborahy, o primeiro a levar
dissemos acima, o teatrinho é nu, signifi- nome de João Caetano, ilustre itaboriense,
cando um esforço muito grande a monta- considerado o mais importante ator do país,
gem nele de certos espetáculos. no século XIX, faz parte de uma importante
e destacada página do passado histórico deste
Em outubro de 1975, foi cogitada a trans- município do Rio de Janeiro. A surpreenden-
ferência do Teatro de Bolso para o acervo te presença de um teatro neste município já
municipal, que após decisão tomada em as- no século XVIII, é atestada por Múcio da Pai-
sembleia conjunta da Associação Regional xão, que assim descreve o contexto da época:
do Teatro Amador e o Clube Tenentes de
Plutão, em 5 de abril de 1976, foi efetivada. No ano de 1795 o arraial de São João de
O teatro em 1978, tinha como administra- Itaboraí era composto de 72 casas cobertas
dor Belcy Drummond, que pretendia fazer de telhas e já tinha um teatro. Em uma casa
uma reforma, entretanto foi reaberto em 4 de sofrível aspecto, diz um historiador, na
de agosto de 1978, sem a reforma pretendida, mesma povoação se levantou um teatro,
para que as atividades não fossem interrompi- no qual cumpria os representantes dele
das, pelo fato da verba não ter sido liberada. as cenas com asseio competente, acompa-
Ficou um longo período fechado. E O Flu- nhando esses atos destros professores de
minense, de 30 de abril de 1987 noticia: instrumentos musicais1

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 201


Em 1827, é oficialmente construído o mento da fachada, com a utilização de um
teatro da então freguesia de São João de frontão irregular, semelhante ao prédio da
Itaboraí, conforme escreve o texto do mes- atual Câmara Municipal da Cidade de Ita-
mo autor: boraí.
É neste teatro que se dá, em 1827, a es-
No segundo quarto do século passado o treia de João Caetano, com a peça O carpin-
coronel João Hilário de Menezes Drum- teiro de Livônia, abrindo espaço para que este
mond...dotou a Villa de um teatro cons- talentoso artista, (nascido em Itaboraí, na
truído à sua custa e a que chamava de sua Serra do Lagarto, a 27 de janeiro de 1808),
loucura de pedra e cal. Este teatro que conquistasse o Brasil com suas brilhantes in-
veio substituir aquele referido (...) existe terpretações e seu ousado espírito empre-
ainda hoje no Largo da Matriz, em frente sarial. Também é importante destacar que
à igreja... nesse teatro, já denominado João Caetano, a
Princesa Isabel e seu esposo, o Conde D’Eu,
Embora não seja possível verificar com assistiram à peça A cavalhada, quando visita-
exatidão o projeto arquitetônico deste tea- ram Itaboraí, a 13 de julho de 1863.
tro, percebe-se a influência do neoclássico Sobre a estreia de João Caetano, escreveu
(estilo artístico europeu, adotado tardia- Múcio da Paixão:
mente no Brasil, a partir da vinda da Mis-
são Artística Francesa em 1816) no trata- (...) e nele estreou João Caetano dos
Santos, perante a primeira plateia que lhe
Fachada do Teatro João Caetano em 1927 pagava as entradas. Para esse teatro es-

Reprodução: Acervo Prefeitura Municipal de Itaboraí, Niterói, RJ

202 Teatros do Rio


creveram Joaquim Manoel de Macedo e ficando a cidade órfã de um monumento ar-
Martins Pena, algumas de suas melhores quitetônico histórico.
comédias.2 Com o retorno de João Baptista Cáffaro
à Prefeitura Municipal de Itaboraí (1984-
Em 1920, o teatro é reformado, e na fa- 1988), o Teatro Municipal João Caetano é
chada do antigo frontão é acrescida uma pla- reconstruído, tendo como base a última fa-
tibanda. A segunda reforma ocorre, prova- chada e um novo projeto arquitetônico.
velmente em 1927, com uma alteração mais Apesar de não concluir totalmente as
acentuada na fachada, que se tornou bem obras, o teatro foi reaberto ao público com
mais rebuscada. O refinamento técnico, sur­­­­- eventos culturais, no intuito de que este im-
gido com a importação pelo Brasil, de ma- portante monumento resgatasse sua impor-
teriais e técnicas construtivas, a partir do fi- tância para a irradiação da arte e da cultura.
nal do século XIX, ficou evidenciado nesse
teatro, na bela fachada e nas paredes inter-
nas circulares, compostas por camarotes em
madeira, distribuídos em dois pavimentos. 3. NITERÓI
Preocupado com a manutenção do imó-
vel, que em 1937 já apresentava sinais de
deterioração, o comerciante Januário Cáffa- 1842
ro apresentou ao Executivo municipal, uma Teatro Santa Teresa (Teatro
petição sugerindo algumas medidas para a Municipal João Caetano)
administração do teatro.
Entre as décadas de 1940 e 1960, seu es- O teatro niteroiense surgiu com a Sociedade
paço é utilizado com bastante frequência, Filodramática, estabelecida em 1827, com
tanto por espetáculos teatrais como para um teatrinho no antigo Caminho do Capitão
bailes carnavalescos, saraus e comemora- Mor, hoje Rua XV de Novembro.
ções oficiais da cidade. Do prédio, transformado, de reforma
Ciente do estado precário em que se em reforma, no hoje Teatro Municipal João
encontrava o teatro, o então Prefeito João Caetano, sabe-se que pertencia a José Fran-
Baptista Cáffaro, em seu primeiro mandato cisco Furtado de Mendonça, que em 22 de
(1963-1967), inicia um projeto de reforma julho de 1834 vendeu-o a um dos fundado-
geral do edifício, não concluído em seu go-
Reprodução: Acervo Prefeitura Municipal de Itaboraí, Niterói, RJ

verno por falta de verbas. As administrações


municipais posteriores também não concluí­
ram as obras, nem desenvolveram projetos
de consolidação, ocasionando assim, uma
total deterioração do prédio.
No mandato do governo de Jonas Dias de
Oliveira (1967-1971) houve uma tentativa
de recuperação do imóvel.
Em 1974, com o prédio já em ruínas, o en-
tão Prefeito Francisco Nunes da Silva, não en-
contrando alternativa, decide demolir aquela
importante relíquia histórica do município, Fachada do Teatro João Caetano em 1920

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 203


e XV de Novembro, projeto do Coronel En-
Reprodução: Acervo Prefeitura
Municipal de Itaboraí, Niterói, RJ
genheiro Pedro de Alcântara Belegarde, en-
tão diretor da Escola de Arquitetos Medido-
res de Niterói. A obra não foi adiante; toda
a verba foi consumida nos alicerces, e João
Caetano teve de abandonar o sonho e retor-
nar para o Rio. Em fins de 1841, volta ao
teatrinho para algumas apresentações e con-
segue a prorrogação da concessão do mesmo
até o ano de 1864, e conquista também o
aumento de loterias anuais através do então
Desenho s/autor do primeiro teatro oficial de Itaboraí,
em 1827 Presidente da Província, Honório Hermeto
Carneiro Leão (depois Marquês do Paraná),
res da Sociedade, Joaquim Antonio Correia podendo então adquiri-lo da Sociedade Fi-
Bacelar, que o transferiria, em 31 de julho lodramática em agosto de 1842, por quatro
de 1840, àquele grupo dramático, já então contos de réis.
denominado Sociedade Filodramática de Com ajuda de Albino Joaquim da Silva
Niterói. Esta o explorou até 1842, quando (carpinteiro) e Antonio José Areias (ator de
João Caetano adquiriu o teatrinho e o trans- sua própria companhia) são iniciadas a re-
formou no Teatro Santa Teresa. forma de carpintaria, os trabalhos de pintu-
A importância do teatrinho só se distin- ra e decoração, inclusive confecção de cená-
guirá a partir de 2 de dezembro de 1833, rios e pano de boca.
quando nele estrearia a primeira Compa- Com o nome de Teatro Santa Teresa, ho-
nhia Dramática Nacional, formada por João menagem à Imperatriz Teresa Cristina Maria
Caetano, representando O príncipe amante da de Bourbon, consegue inaugurá-lo em 25 de
liberdade ou A Independência da Escócia. Par- dezembro de 1842, com a comédia As memó-
tindo a Companhia Dramática, voltou o tea­ rias do diabo.
trinho a seu silêncio. Em 1838, volta João Em 1843, João Caldas Viana, sucessor de
Caetano para uma série de récitas que se Honório Hermeto no Governo da Provín-
prolongariam até o ano seguinte. cia, convenceu os deputados da necessidade
Em 12 de abril de 1839, o então Pre- de dotar o teatro de uma sólida construção,
sidente da Província, Paulino José Soares tendo que desapropriar terrenos para ben-
de Souza, sanciona em contrato firmado feitorias na parte do fundo da casa de espe-
no dia 24 de abril com João Caetano, para táculos.
num prazo de 12 anos construir e explorar Em junho do mesmo ano, o engenheiro
o teatro provincial com o produto de 12 Carlos Garçon Revière começou a segunda
loterias anuais no valor de 120 contos de reforma, dando-lhe um frontispício mais ele-
réis cada uma. gante, melhorando os camarins, acrescentan-
O sonho de João Caetano – de construção do as varandas laterais e construindo o cama-
do seu próprio teatro – estava se concreti- rote de honra, destinado ao Imperador. Em
zando e, em 18 de dezembro de 1839, co- 1844 estava definitivamente concluído. Daí
meçava oficialmente a construção do teatro por diante não houve Presidente da Província
elegante e espaçoso com 60 camarotes e 400 que deixasse de beneficiar com dinheiro e fa-
cadeiras, na esquina das ruas Almirante Tefé vores o empresário João Caetano:

204 Teatros do Rio


Teatro Municipal João Caetano em 1935, Niterói, RJ nistro do Estado). Antonio Nicolau Tolentino
triplicou a subvenção em 1857 (era público
Candido Batista Oliveira permitiu-lhe trans­ e notório que esse dinheiro não seria inves-
ferir o contrato de exploração do Santa Teresa tido no Santa Teresa, mas na reconstrução
a seus herdeiros e sucessores. José Ricardo de do Teatro São Pedro do Rio, destruído por
Sá Rego estendeu-lhe a concessão até 1869. um incêndio no ano anterior). Luis Antonio
Pedreira subvencionou-o em 925 contos de Barbosa adiantou-lhe 77 contos de réis, a se-
réis mensais (o salário da época de um Mi- rem cobertos pela extração de loterias, cujo

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 205


Teatro Municipal João Caetano, Niterói, RJ espetáculos do Santa Teresa, apresentados por
outras companhias tornam-se raros e inex-
número Silveira da Mota mandou em 1859 pressivos.
aumentar para quatro por ano, mas com re- Em 1861, depois de retornar da Europa,
troação a 1857, e adiantando-lhe também o João Caetano, monta no Santa Teresa O pres-
valor destes, ou seja, sacando sobre recursos tidigitador; após a representação do drama, a
que não existiam. O Visconde de Barbacena plateia, saudosa dele, aplaudiu-o de pé. Logo
permitiu-lhe contratar companhias dramáti- voltaria à tragédia, encenando Cina, de Cor-
cas de outros empresários, o que lhe possibi- neille, e A Nova Castro, em que contracenou
litou viajar pelo Brasil e exterior. com Ludovina da Costa. Foi no decorrer
Garantido pelas leis e cofres da província, deste espetáculo, em dezembro de 1862,
João Caetano desinteressa-se de Niterói e os que João Caetano caiu do palco, derrubado

206 Teatros do Rio


por um insulto cerebral; o que novamente leilão do patrimônio dos construtores, di-
ocorreu a 14 de junho de 1863, quando re- latação do prazo concedido pela província
presentava Os íntimos, de Sardou, na cena em para inauguração ao teatro, empréstimos e
que beijava uma criança (seu próprio filho execuções, é que Felice Fortunato Tati con-
João Caetano Júnior), nos braços da atriz segue um empréstimo do comendador José
Antonina Marquelou. Não pôde continuar, de Góis Viana, e apronta de fato o teatro.
nem voltaria mais ao palco. O terceiro in- O Teatro Santa Teresa é reinaugurado em
sulto matou-o, no Rio de Janeiro, a 24 de 8 de agosto de 1884, com a representação
agosto de 1863. do drama O grã Galeoto, de José Echegaray,
Com a morte de João Caetano, a viúva, tradução em versos de Filinto de Almeida e
a atriz Estela Sezefredo e os filhos do casal Valentim Magalhães, pela Companhia Dias
ficaram responsáveis pelo teatro. Temendo a Braga, comparecendo o Imperador e a Im-
responsabilidade, ela devolve-o ao Governo peratriz, além do Presidente da Província
Provincial, no estado em que se encontra- José Leandro, ministros, senadores e depu-
va, rescindindo o contrato de concessão. Em tados.
1886, sem recuperação ou novo arrendatá- O grande sucesso na época acaba sendo o
rio, o prédio ruiu. pano de boca que retratava a Praia de Icaraí;
Em 1871, o Presidente da Província, Jo­ trabalho do jovem pintor Antonio Parreiras.
si­no do Nascimento Silva autoriza a sua Apesar de todos os movimentos tais co­
reconstrução a cargo do Major Prudêncio mo ameaça de desabamento, pagamentos de
Luiz Ferreira Travassos, da Guarda Nacio- empréstimos, venda do mobiliário de cena,
nal. Em 1873, é vetada a reconstrução pelo cenários, dos acessórios de instalação de gás
novo presidente, Manuel José de Freitas Tra- e de parte das cadeiras, o maestro Felice Tati
vassos, que entendendo que a reconstrução tenta desesperadamente salvar o teatro. To-
devia processar-se por meio de concorrên- das as suas solicitações ao governo são nega-
cia pública, não mandou realizá-la. das, por não ter instalado a escola dramática.
Em 1875, o Presidente Francisco Xavier O teatro é então adjuciado à província em
Pinto Lima, manda de novo contratar a sua 12 de novembro de 1887, na gestão do Pre-
reconstrução ficando a cargo do Maestro sidente Antonio Fernandes da Rocha Leão.
italiano Felice Fortunato Tati – radicado mui- Durante certo período poucas apresenta-
tos anos em Niterói – e do sogro deste, José ções foram realizadas pelas companhias de
de Sá Carvalho, Deputado Provincial. Dias Braga e Braga Júnior, que se sujeitavam
O teatro é inaugurado, com a promessa de a um teatro sujo e desmobiliado. Entretan-
Felice Tati de instalar uma escola dramática, to, é o deputado Luis Carlos Fróes de Cruz,
para qual o governo concederia uma subven- pai de Leopoldo Fróes, que consegue, no
ção anual de vinte contos de réis, paga por orçamento provincial de 1889, uma verba
trimestre. É organizada então a Companhia para reformar o Teatro Santa Teresa, caben-
Teatro Santa Teresa, mas as obras só tiveram do ao professor de pintura Thomas Driendl
início em 5 de abril de 1876, executadas a decoração interna e a pintura dos cenários
pelos construtores Carlos e Abílio Amand, e do pano de boca, provocando ciúmes no
segundo o projeto do engenheiro provincial jovem pintor Antonio Parreiras.
Ernesto Fernandes Barradon. As obras foram iniciadas em fevereiro
Uma comissão técnica atesta irregulari- de 1889, e Felice Tati é nomeado adminis-
dades na construção e entre ações judiciais, trador, ficando pouco tempo no cargo. As

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 207


Teatro Municipal João Caetano. Reprodução: Projeto de restauração T.M. João Caetano, Niterói, RJ
Teatro Municipal João Caetano. Reprodução: Projeto de restauração T.M. João Caetano, Niterói, RJ
Teatro Municipal de Niterói. Planta baixa, (S.E.)

obras, entretanto, prosseguiram, e o teatro Dias Braga com o drama Capricho feminino,
foi reinaugurado em 31 de julho, sendo ce- de Julia Lopes e a comédia Portugueses às di-
dido ao Clube Dramático Kean. reitas, de França Júnior.
Durante a Revolta da Armada em 1893, Alguns grupos de amadores como o gru-
o teatro localizado junto ao litoral, foi alvo po Chateaux Desireux, o Clube Dramáti-
fácil dos bombardeios e, em abril de 1894, co Vinte e Sete de Julho e o Clube Flumi-
quando a revolta terminou, o Teatro Santa nense conseguem se manter, independente
Teresa estava semidestruído. Leiloado em do Teatro Santa Teresa. Com a competição
30 de junho de 1896, é arrematado pela e o desentendimento entre estes, surge o
Câmara dos Vereadores. As reformas, ou Clube Dramático Assis Pacheco, que es-
melhor, a reconstrução é iniciada a cargo treia em setembro de 1898 e revela Le-
do engenheiro municipal Pedro Joaquim da opoldo Fróes como amador. Durante um
Silva Fontes; ao decorador Roma coube a ano o teatro é arrendado pelo Clube As-
ornamentação, e a Orestes Colina o pano de sis Pacheco, que logo depois é dividido,
boca e os cenários. Pronto, é reinaugurado se extingue e é dissolvido pela Câmara
em 1º de janeiro de 1897 pela companhia em 1900. O teatro então já necessitava de

210 Teatros do Rio


uma boa reforma, que não foi providencia- O teatro é reinaugurado em 1o de setem-
da. O máximo que se fez foi mudar-lhe o bro de 1911 pelo Prefeito Sodré e pelo Go-
nome para Teatro Municipal João Caetano, vernador Oliveira Botelho, e um longo pe-
por deliberação firmada em 24 de julho de ríodo de fausto se estabelece no teatro, com
1900, pelo Presidente Interino da Câmara a Companhia de Ismênia dos Santos.
Pedro Severino Dantas. Depois de um período de turbulência,
Durante alguns anos o teatro permaneceu com a morte de Ismênia, o teatro volta em
em funcionamento em precárias condições: 1922 a ter uma frequência maior com as
sujo, com goteiras e desequipado. Somente temporadas de Renato Viana e a Companhia
com um acidente ocorrido em 1903 com o de Viriato Corrêa.
maquinista é que foram tomadas medidas Durante um longo tempo o teatro passou
emergenciais. Foi contratado o arquiteto por sucessos e incertezas. Reformado em
Felice Antonio Miragle, e sob a supervisão 1944, em 1950 sofreu um início de incên-
do diretor municipal de obras Godofredo dio após a formatura da Faculdade de Filo-
de Freitas Travassos foram iniciadas as obras. sofia. Em 22 de março de 1952 o Prefeito
Mais tarde também foi contratado Ludovico Daniel Paz de Almeida concede autonomia
Berna para auxiliar Felice Miragle. administrativa ao teatro, introduzindo di-
O Teatro Municipal João Caetano foi inau­­­­ versos melhoramentos, entre eles o palco
gurado mais uma vez, a 14 de julho de 1904. giratório, inaugurado pela Companhia Bibi
A presidência da solenidade ficou a cargo de Ferreira. Reformas mais radicais foram
Artur Azevedo, e foi mostrado o busto de executadas em 1956, pelo Prefeito Alberto
João Caetano adquirido a Benevenuto Ber- Fortes, e em 1958 as cadeiras de madei-
na. Foi apresentada a comédia Os três cha- ra foram trocadas por modernas poltronas
péus, de Augusto de Castro, por um grupo estofadas. Daí por diante várias reformas
de amadores. se realizaram nas administrações: Wilson
Os anos seguintes foram de incertezas, de Oliveira (1960), Emílio Abunahman
com as companhias de Cinira Polônio, Dias (1965), Yvan de Barros (1973), Ronaldo
Braga, Silva Pinto, Lucinda Simões, Jacin- Fabrício (1976), todas muito superficiais.
to Heler e Ismênia Santos. Em 1908, é que Reformas definitivas, apesar de necessá-
acontecem os grandes sucessos com a com- rias, iam sendo empurradas de um ano para
panhia de Artur Azevedo e principalmente a outro. Com isso o prédio foi perdendo suas
de Leopoldo Fróes. Mas em 1910 o teatro é características arquitetônicas.
arrendado a Luigi Schisa que o transformou Em 1977, o Prefeito Moreira Franco
numa espécie de circo, cabendo ao Prefei- manda levantar as necessidades imediatas
to Feliciano Sodré rescindir o contrato com do teatro e com recursos liberados via Mi-
Schisa e mandar mais uma vez reformar o nistério do Interior, permite a execução de
teatro, embora reconhecendo que seus de- um projeto de tratamento arquitetônico
feitos originais de construção só desapare- para o mesmo.
ceriam se o demolissem e construíssem de A reforma foi geral, sendo atacadas todas
novo. Foram designados então os engenhei- as partes do teatro, da fachada aos camarins;
ros Valdemar Kastrupp e Romeu Seixas Ma- do palco à plateia; da iluminação cênica à
tos, que encontraram de tudo no teatro, até instalação hidráulica, tudo foi reformado,
mesmo um centro espírita que funcionava revisto e restaurado. As obras iniciadas em
em uma de suas salas. 1978 prolongaram-se até 1983, cabendo ao

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 211


Prefeito Waldenir Bragança a conclusão das 193?
mesmas, sendo reinaugurado em 22 de no- Cineteatro Central
vembro daquele ano.
Em 1991, na administração do Prefeito Em 28 de julho de 1953, por decreto do
Jorge Roberto da Silveira, o teatro entrou Prefeito Altivo Linhares, era desapropriado
novamente em processo de restauração o Cineteatro Central, uma casa de espetácu-
total, coordenada pelo artista plástico los, bem no coração de Niterói. Pertencia
Cláudio Valério Teixeira, com uma equipe a um empresário cinematográfico, e estava
de arquitetos e restauradores. A grande fechado desde 1940.
prova de fogo foi o teto, onde uma grande Além desse teatro, outras casas existiram
área do lado direito tinha se perdido com em Niterói, mas foram demolidas sem que
a ruína total da madeira na qual estavam tenhamos conseguido informações sobre
pintados motivos florais do artista Tho- inaugurações, desativações e demolições.
mas Driendl. Mas o lado esquerdo estava Uma matéria de 29 de julho de 1953, no
inteiro, e era igual ao direito, possibili- Correio da Noite, comenta esses teatros:
tando rebater a pintura de um lado para
o outro. Niterói já foi uma das melhores praças de
A reforma foi completa, resgatando o teatro do Brasil. Ali há anos passados, fun-
estilo arquitetônico do prédio, que ganhou cionavam durante a estação propriamen-
anexos, instalação dos sistemas elétricos, te artística, vários teatros, entre os quais
de refrigeração central e contra incêndio. nos lembramos o Terpsichore, o Roial, o
A iluminação cênica, um sistema compu- Odeon, o Municipal e o Central, o que ora
tadorizado e equipamentos de cenotécnica está em questão. Companhias das melho-
para produções de grande porte. Além do res, desde as líricas, as de comédia até as
teto, o palco, telhado, plateia, balcões, so- de revista. Depois, esses teatros, todos de
frem também reformas profundas. grandes lotações, foram desaparecendo,
Da equipe de Cláudio Valério Teixeira fa- ficando somente o Municipal, justamente
ziam parte as restauradoras Lucineri Telles, o mais fora de mão e o de menor de pesa
Regina Pontim de Mattos e a arquiteta Fer- financeira.
nanda Teixeira.
O teatro reinaugurado em 22 de novem-
bro de 1995, com apresentação da Compa- Parece que não havia uma preocupação
nhia de Ballet da Cidade de Niterói. com o desenvolvimento artístico do povo
niteroiense, e acumulado às péssimas admi-
nistrações, os teatros não conseguiam man-
1880 ter uma organização e programação teatral,
Teatro Fênix Niteroiense ficando abandonados ou entregues a outras
finalidades.
Desde 1880 funcionava regularmente na Em 1953, a administração do Prefeito
Rua Visconde do Uruguai, esquina de Ma- Altivo Linhares – depois da medida de de-
rechal Deodoro, em Niterói, o Teatro Fenix sapropriação do Central – estava disposta
Niteroiense, que duraria até 1891, com uma a reativar o movimento artístico da cidade
frequência assídua e constante durante seu com maior interesse, amparando as repre-
tempo de vida. sentações e facilitando as temporadas da

212 Teatros do Rio


Companhia Dramática Nacional e a de Jay- no sentido mais comercial, oferecia fun-
me Costa no Teatro Municipal João Caetano. ções populares, dando ao grande público a
Em uma nota publicada na Folha Carioca, de chance de assistir a espetáculos culturais a
3 de agosto do mesmo ano, lê-se: preços acessíveis, e sem a obrigatoriedade
do paletó e da gravata.
O Serviço Nacional de Teatro havia estabe- Depois de permanecer dez meses fecha-
lecido entendimentos com elementos da do pela Mitra Diocesana de Niterói, que o
Câmara Municipal da cidade vizinha, neste mantinha para apresentações esporádicas
sentido, desejando viesse aquela casa de de grupos fluminenses e cariocas, o teatro
espetáculos a lhe ser entregue para assim foi reaberto em 9 de outubro de 1973, com
instalar ali a sua delegacia, tal como acon- o recital do Soprano Dalca Azevedo, com
tecera mais ou menos em Natal, Rio Gran- o nome de Teatro Leopoldo Fróes, fican-
de do Norte, e Salvador, Bahia. De qual- do então sob responsabilidade do Instituto
quer forma, o importante é que o Central Niteroiense de Desenvolvimento Cultural.
voltará a ser teatro... Em 1980, a casa passa também a ser explo-
rada como cinema, conforme matéria no
Nada mais se soube do Cineteatro Cen- jornal de Niterói O Fluminense de 18 de ju-
tral de Niterói. lho de 1980:

Com a recente mudança de presidên-


1967 cia, a Cooperativa Brasileira de Cinema,
Teatro Alvorada (Teatro ainda não decidiu se vai ou não explorar
Leopoldo Fróes) o Teatro Leopoldo Fróes, em Niterói,
como cinema de arte em circuito com o
O Teatro Alvorada, na Praça da República, Cine Ricamar, em Copacabana, também
Niterói, foi inaugurado em 14 de dezem- da Cooperativa.
bro de 1967, sendo proprietário na época Já estando instalado o projetor de fil-
a Mitra Diocesana de Niterói, que man- mes, falta apenas a instalação do som e da
tinha convênio com a Associação Recrea­ tela móvel, pois o Teatro Leopoldo Fróes
tiva Comércio e Navegação. Seu primei- continuaria a abrigar atividades teatrais,
ro administrador foi Albino Ferreira dos transformando-se num cineteatro, em ho-
Santos, com a supervisão a cargo do Padre rários intercalados.
Antonio Mazzotti.
A capacidade do teatro era de 450 es- Em 1983, o estado do Teatro Leopoldo
pectadores, e a peça de inauguração foi Esta Fróes era precário, não só pelas suas possi-
noite choveu prata, de Pedro Bloch, tendo bilidades técnicas, mas pelo seu estado de
Procópio Ferreira como ator principal, que conservação. Em março daquele ano, a luz
recebeu uma grande homenagem após a es- havia sido cortada por atraso no pagamento
treia da plateia niteroiense por suas ativida- da conta, desde o mês de dezembro de 1982;
des teatrais. o telefone também já havia sido cortado; as
Niterói passou nesta época a possuir en- inúmeras goteiras no palco, prejudicaram as
tão dois teatros: o Teatro Municipal João apresentações em dias de chuva; além dos
Caetano que tornou-se mais reservado nas ratos que destruíam tudo o que encontra-
suas apresentações, enquanto o Alvorada, vam no palco e nos camarins.

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 213


Depois de algumas melhorias, oTeatro Leo­ No início da década de 1990, o Teatro
poldo Fróes, no decorrer do ano de 1986, Leopoldo Fróes, encerrava suas atividades
já sob administração de Hipólito Gerandes, teatrais. O prédio passou a ser utilizado
passa a receber espetáculos profissionais vin- para fins religiosos.
dos do Rio de Janeiro, com isso os preços dos
ingressos passam a ser mais caros, e para que
possibilitasse as montagens das programa- 1978
ções, permanecia fechado de segunda a quin- Teatro da UFF
ta; esta medida gerou um descontentamento
dos grupos e entidades que faziam uso da casa É no início do século que começa a história
durante toda a semana, com atividades cul- do teatro da Universidade Federal Flumi-
turais bem populares, sempre a preços com- nense. Em 1916, entre o mar e a montanha,
patíveis com seu público, situação denuncia- no aprazível bairro de Icaraí, foi construído
da em uma matéria do dia 28 de outubro de por Eugen Urban um casarão residencial, de
1986, no jornal O Fluminense. três andares. Mais tarde foi adquirido por
Alberto Bianchini e Luciano Airosa para se-
Todos, sem distinção, pedem a ativação diar um cassino. Comprado, nos anos 1930,
da casa de espetáculos durante toda a se- por Luiz Alves Castro, o Capitão Lulu, e
mana, pois sem dúvida é a maior opção Joaquim Rollas – sócios da Empresa Flumi-
de cultura – em termos populares – do nense de Diversões – o palacete foi demo-
centro de Niterói. [...] Não é possível lido para a construção do Hotel Balneário
que o Leopoldo Fróes fique fechado de Casino Icarahy. Em 8 de julho de 1939, uma
segunda a quinta-feira e quando abre suas festa filantrópica, patrocinada pela primei-
portas no fim de semana, sexta à domin- ra dama Darcy Vargas, inaugurava as novas
go, seja para trazer peça com preços al- instalações. Com 107 apartamentos, duas
tos, sem deixar a opção de um trabalho quadras de tênis, dança, música e muito
mais voltado para o povão. jogo. “O Balneário Casino Icarahy” era um
dos mais elegantes e seu único concorrente
A defesa de um “teatro aberto de fato ao era o Hotel Imperial, no centro de Niterói.
povo”, era também a opinião de Presidentes O prédio, estilo Art-Déco, em moda na
de Associações de Bairros e de Sohail Saud, época, já foi importante ponto na noite ni-
ligado a movimentos teatrais em todo Esta- teroiense. Hoje o hall do hotel é o saguão da
do do Rio de Janeiro, em O Fluminense, de 28 Reitoria e a atual entrada do Cine Arte dava
de outubro de 1986: acesso às roletas e às cartas. Na sua melhor
fase – final da década de 1930 e primeira
Criar alternativas culturais para que a metade da década de 1940 – seus shows
população mais carente possa participar, rivalizavam em prestígio com os do Cassi-
numa casa de espetáculos como Leopol- no da Urca e do Cassino Atlântico, no Rio,
do Fróes, instalada no centro e, por- e do Quitandinha, em Petrópolis. Nele se
tanto, de fácil acesso, é mais que uma apresentaram os maiores astros da época,
obrigação , é um dever, pois só assim in- nacionais e internacionais: Josephine Baker,
centivarão a prática de promoções desse Ymma Sumack, Pedro Vargas, Tito Guizar,
tipo para os que não podem ir ver espe- Carmem Miranda, Grande Otelo, Francisco
táculos caros. Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas e muitos

214 Teatros do Rio


outros; todos no auge de suas carreiras. O tradição do local como espaço de lazer, arte
cantor solista ficava em cima de uma estrela e cultura, além de funcionarem o teatro e
móvel, em frente ao palco, que se elevava o cinema (Cine Arte UFF), ainda estão em
impulsionada por um elevador. atividade uma editora, uma galeria de arte, a
Com a proibição de jogo em 1946, o hotel orquestra sinfônica, o coral, um conjunto de
entrou em decadência, embora continuasse música antiga, curso de formação de atores
em funcionamento até o início da década de e uma livraria.
1960. Até 1967, três atividades mantiveram a Apesar da oposição feita na época por se-
tradição do local como estabelecimento de la- tores expressivos da sociedade de Niterói,
zer e entretenimento: O Cine Cassino, onde a desapropriação do antigo hotel e cassino
funcionava o salão de jogos e hoje é o cinema; tirou a Reitoria da UFF do Hospital Univer-
O Cine Grill, onde hoje é o Teatro da UFF, e sitário Antônio Pedro.
a Blue Sky, uma boate, bar e restaurante que O cassino funcionou até 30 de abril de
por cerca de seis ou sete anos foi o principal 1946, quando o jogo se tornou uma atividade
lugar de badalação noturna da cidade. ilegal no Brasil. Desapropriado em 1966, por
A instalação da UFF no antigo hotel-cas- ato do Presidente da República, passou, a par-
sino, manteve, no entanto, de certa forma, a tir de 1967, a sediar a Reitoria da Universida-

Teatro da UFF (ex-Cassino de Icaraí)

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 215


Teatro da UFF. Planta baixa, (S.E.)

de Federal Fluminense. Em 1968 era noticiada vares Cardoso, que visava à participação da
a criação do Teatro da Universidade Federal Universidade no desenvolvimento cultural
Fluminense, conforme palavras de Dias Go- do então Estado do Rio de Janeiro (O Flumi-
mes, no Correio da Manhã, de 12 de outubro nense, 20 de junho de 1975.
de 1968:
A Universidade Federal Fluminense está
Acho a criação do TUF uma iniciativa al- anunciando, para o segundo semestre deste
tamente louvável. Se com isto se obtiver ano, o início da construção de moderno te-
rendimento semelhante aos TUCAS (de atro na sede da reitoria, em Icaraí, Niterói,
São Paulo e do Rio), o teatro lucrará con- no mesmo local onde funcionou o Cinema
sideravelmente. O interesse da juventude Grill, hoje almoxarifado central da UFF.
pelo teatro, com a visão que tem e vem
pondo em prática do papel conscientiza- Em agosto de 1978 inaugurava na Rua
dor da arte teatral, é um dado novo em Miguel Frias n. 9, no andar térreo da Reito-
nosso quadro de cultura. Incentivar o de- ria, o Teatro da UFF, com 342 lugares, pal-
senvolvimento do teatro na área estudan- co, sistema de iluminação e som, camarins e
til, só pode ser recebido com entusiasmo. banheiros, além de uma galeria de arte em
torno do auditório. Sua capacidade com-
O início da construção do teatro ocorreu preendia 286 poltronas na plateia e 56 no
em 1975, na gestão do Reitor Geraldo Ta- balcão, onde ficaram a mesa de som e luz

216 Teatros do Rio


Teatro DCE UFF. Planta baixa, (S.E.)

e parte dos camarins. O palco possuía uma nando toda a fachada do teatro, que passou
boca de cena de 8 m de largura por 4 m de a uma capacidade de 334 pessoas; 278 pol-
altura, com pé direito de 4,5 m até as varas, tronas na plateia e 56 no balcão. Seu piso
que eram fixas e profundidade de 5 m. sofreu uma inclinação para permitir maior
Dezesseis anos depois, passou por uma visibilidade e as paredes foram revestidas de
reforma que alterou o espaço do antigo res- madeira; ganhou duas galerias, nas laterais
taurante. A obra de restauração do Teatro do teatro, assim como no sistema de som
UFF contou com recursos da Fundação Na- e iluminação. Ganhou refrigeração central,
cional de Arte. A professora Lecyr de Paiva ampla sala de espera, três banheiros e duas
Lessa, então diretora do Departamento de saídas laterais. Seu palco de 154 metros qua-
Difusão Cultural, diz em O Fluminense, de 14 drados inteiramente novo tinha 9,8 m de
de agosto de 1982, que: boca de cena por 3,8 m de altura, 10 m de
profundidade e 2,5 m de coxia de cada lado.
A inauguração do Teatro da UFF é uma Era equipado com cortina de boca, câmara
realização que ratifica a destacada posição negra e um ciclorama, além de seis camarins
que a UFF conquistou entre as instituições e cinco banheiros.
de ensino superior do país. O sistema de som, com uma mesa de 16
canais de entrada e dois de saída, possibili-
O teatro construído na parte da frente da tava a utilização de 16 microfones. Toda a
sede da Reitoria, tendo seus jardins contor- iluminação era comandada por uma mesa

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 217


central de frente para o palco. Dispunha interpretado pelo Grupo Galpão de Minas
ainda de um sistema de intercomunicação Gerais; Andersen – O contador de histórias
nos camarins, palco, sala de diretor, central em O soldadinho de chumbo, dirigido por
de iluminação e som, e portaria. Rogério Blat (Prêmio Coca-Cola de Tea-
O teatro reabriu suas portas em 26 de tro Infantil); Três mulheres altas, de Edward
agosto de 1982, com apresentação do espe- Albee; e mais recentemente a pré-estreia
táculo A partilha, textos de poetas brasi­leiros de As três irmãs, de Tchecov com direção
e portugueses, interpretados por Walmor de Enrique Diaz.
Chagas, com roteiro de Paulo Hecker Filho, Todas essas peças tiveram que separar
abertura da exposição Coletiva de Artistas de uma parcela da bilheteria para pagar a ins-
Niterói, reunindo trabalhos de 62 artistas tituição, e como prova do compromisso do
plásticos niteroienses, como Aluízio Valle, teatro com a UFF, em plena temporada,
Candida Boechat, Galizia Tagliaferri, Qui- encontramos o teatro fechado para realiza-
rino Campofiorito, Zaluar e Hilda Campo- ções de formaturas da graduação. O lado
fiorito. O Teatro UFF veio suprir uma das positivo desta interferência é encontrar
maiores carências culturais de Niterói: a fal- também, no decorrer do ano letivo, aten-
ta de espaços profissionais e bem aparelha- dendo a comunidade universitária, o teatro
dos para receber espetáculos. aberto para debates e palestras sobre as-
Atualmente o papel de importante polo suntos atuais, discussões políticas, econô-
cultural ainda é assumido pelo teatro. Por micas e sociais.
estar ligado a uma instituição governamen- Ao começar de sua reinauguração em
tal voltada ao desenvolvimento da educação, 1982, diversos artistas já se exibiram nos
toda a programação do teatro é escolhida palcos do Teatro UFF e vários eventos já
através de um processo rígido, onde é ana- criaram polêmica no local. Desde a épo-
lisado principalmente o aspecto contextual ca do antigo cassino aos debates da última
de cada espetáculo, tendo como objetivo eleição, o n. 9 da Rua Miguel de Frias vem
final trazer ao público além de um bom en- sendo centro de efervescência cultural da
tretenimento, o conhecimento do que há de comunidade de Niterói.
melhor no teatro atual.
Além das representações teatrais, o Teatro
da UFF ainda possui em sua programação, 1980
shows de humor, concertos e balés. O tea­ Teatro de Arena do DCE da UFF
tro, pela sua diversificação, é reconhecido
tanto por diferentes artistas quanto pelo pú- A UFF possui também o Teatro de Arena, do
blico, que já somou em menos de duas déca- DCE, em frente ao terminal sul, estação das
das meio milhão de espectadores em quase barcas, que foi utilizado pelo Serviço Cultural
dois mil espetáculos. da Prefeitura de Niterói, durante dois anos,
O Teatro da UFF leva a Niterói tanto de acordo com convênio assinado em 17 de
peças em cartaz no Rio de Janeiro, quanto julho de 1980, entre a Prefeitura e o DCE.
espetáculos premiados em outros estados. A Prefeitura se propôs a fazer a reforma
Como exemplos: Vau da Sarapalha, base- total, que incluía acabamento, revestimen-
ado em texto de Guimarães Rosa (com o to, limpeza, novas instalações elétricas e hi-
grupo de teatro Piolhim, da Paraíba); Ro- dráulicas, além da construção e instalação da
meu e Julieta, dirigido por Gabriel Vilela e bilheteria, bar e camarins.

218 Teatros do Rio


Com as obras a Prefeitura pretendia que Brito, Guiomar Vasconcelos e Marisa Al-
o teatro do DCE com capacidade para 500 varenga.
pessoas, abandonado desde 1981, pudesse Apesar das limitações do espaço, quanto ao
ocupar o espaço que a paralisação do Teatro palco e condições técnicas, tratava-se de uma
Municipal de Niterói havia deixado. Pelo sala para 100 espectadores, com ar-condicio-
convênio, a Prefeitura passou a usar o teatro nado, que poderia ter sido bem utilizada por
de quinta a domingo, ficando os dias restan- grupos de teatro de Niterói, dando um sopro
tes para a programação artística e cultural de vida cultural a esta região tão carente de
do próprio DCE. espaço cênicos. O teatro teve vida efêmera.
O término da construção do teatro foi Da mesma forma que surgiu, desapareceu.
custeado pela UFF, depois da insistência dos
es­tudantes. Foi inaugurado em 4 de outubro
de 1985 com o nome Teatro MPB 4, com S/d
500 lu­gares e ar-condicionado, uma home- Centro Cultural Paschoal Carlos
nagem ao conjunto nascido em Niterói, e Magno
que havia feito sua estreia exatamente no
esqueleto do anfiteatro. O Centro Cultural Paschoal Carlos Magno,
Rua Lopes Trovão, s/n., Campo de São Ben-
to. O Centro ligado à Prefeitura de Niterói
1980 é pequeno, mas atraente. Uma de suas maio-
Teatro Gay-Lussac res atrações é o projeto “Música no Campo”,
acontecendo todos os fins de semana na va-
Em 5 de setembro de 1980 era inaugurado randa.Também oferece cursos diversos.Tem
o Teatro Gay-Lussac construído ao lado do a sala de vídeo Raul Seixas com 60 lugares e
Colégio Mini-Gay em São Francisco, Nite- a galeria de arte Quirino Campofiorito.
rói, com capacidade para 400 espectadores,
ar-refrigerado central, poltronas e um siste-
ma simples de iluminação e som. Sua estreia 1986
foi com um show de Chico Anysio. Perma- Teatro Abel
neceu servindo à programação artística do
Colégio Gay-Lussac. O Teatro Abel pertencente ao Instituto
Abel, localizado à Rua Paulo Alves n. 2, 2o
andar, Icaraí, Niterói, teve sua inauguração
1981 programada para outubro de 1985, com a
Teatro Pasárgada peça Piaf, dirigida por Flávio Rangel e es-
trelada por Bibi Ferreira. Quando já estava
Em 21 de novembro de 1981, era inaugura- praticamente pronto, não pôde abrir suas
do o Teatro Pasárgada, com sua sala batizada portas por falta de alvará de funcionamento,
de Manuel Bandeira, localizado à Rua Tava- alegando a Prefeitura, que o projeto feria o
res de Macedo n.100, em Icaraí. código de obras, conforme nota:
O espetáculo de estreia foi a peça A
dama de copas e o rei de Cuba, de Timochen- O Teatro... do Instituto que é mantido
co Wehbi, produzida pelo Grupo Grite, pelos irmãos Lassagistas e dirigido atual-
direção de Ademar Nunes, com Evans de mente pelo Irmão Albano, que disse ter

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 219


Teatro Abel. Plateia dos tempos, o teatro tem sido um aconte-
cimento dos grandes centros, mas depen-
recebido uma autorização verbal do Pre- dendo dos animadores culturais de uma
feito Waldemir Bragança para começar a cidade, até mesmo do interior, esta pode
obra em 1983. vir a se tornar palco de grandes manifesta-
ções artísticas.
E continua a matéria, de O Globo de 23 de
agosto de 1985: Bibi Ferreira, em visita ao novo espaço,
afirmava ao Jornal do Commercio, de 29 de
O Secretário de Obras, Almir Antunes, diz agosto de 1986:
que o projeto fere o código em vários itens...
O Teatro Abel é essencialmente profissio-
Flávio Rangel em visita ao teatro comen- nal, tendo todas as condições para realizar
tava para O Fluminense, em 18 de agosto de qualquer espetáculo. Ele é bonito e con-
1985: fortável, além da acústica, da iluminação e
do palco que são perfeitos. Qualquer ator
A dificuldade primeira para uma compa- gostaria de se apresentar nesse teatro.
nhia vir a se apresentar em Niterói era a
falta de um teatro, já que o Municipal vivia O teatro com 538 poltronas estofadas de
constantemente em obras. Depois, vem o veludo vermelho, um palco de aproximada-
fato de que para as companhias, o seu des- mente 170 metros quadrados com piso em
locamento com um espetáculo para outras quarteladas, porão, com 220 pontos de luz,
cidades provoca sempre altos custos, os seis camarins, boa acústica, todo acarpetado,
quais deverão ser necessariamente recu- paredes revestidas de lambris, ar-condicio-
perados. Em suas apresentações através nado, boca de cena de 9 m por 4,85 m de

220 Teatros do Rio


altura, com urdimento a 16m de altura com ta as pessoas dos seus canais de veiculação,
24 varas, cabine e equipamentos para opera- entre eles o teatro.
dores de luz e som. Os projetos de cenotécni-
ca e acústica foram de Fernando Pamplona e Outro profissional com larga experiência
Roberto Thompson Motta, respectivamente. em produção e diretor do Teatro Leopoldo
Possui, ainda, um quadro fixo de profissionais Fróes na época, Hipólito Geraldes, endossa-
que atendem às produções: um maquinista, va as palavras de Isaac e complementava na
um eletricista, um técnico de som, além de mesma matéria:
um guia de plateia e dois porteiros.
A construção da casa de espetáculos gerou ...as coisas não são tão fáceis quanto pare-
muita polêmica, entre a classe teatral de Nite- cem. O público de Niterói – talvez por uma
rói, apesar de todos serem unânimes em lou- política errada dos órgãos culturais – não
var a iniciativa de criação de mais uma casa de está acostumado a comparecer regularmen-
espetáculos. O ator Isaac Bardavid residente te aos espetáculos teatrais aqui apresenta-
em Niterói, mesmo não tendo visitado o tea- dos. Se anunciamos a apresentação de uma
tro, e tomado conhecimento somente através peça para 15 dias, nas primeiras apresen-
de comentários de colegas, afirma em depoi- tações a casa fica praticamente vazia, pois
mento a Simone Botelho, para O Fluminense, todos deixam para assistir nos últimos dias
em 19 de agosto de 1985. de apresentação. Manter um teatro aqui,
contando apenas com o lucro que o mesmo
...por conhecer de perto os problemas que possa vir a dar é muito difícil...
afligem a área teatral em Niterói – embora
meus 37 anos de carreira terem se desen- Agravando-se mais ainda a situação, o
volvido principalmente no Rio de Janeiro ar­­­­quiteto e cenógrafo, na época do con-
– não me arriscaria a tecer comentários al- junto Blitz, Wladimir Cardia Filho (Gringo
tamente esperançosos, por saber das muitas Cardia), entrou com uma ação por perdas
dificuldades que os responsáveis pelo Teatro e danos, cobrando na Justiça honorários
Abel terão que enfrentar. Não acredito, por como autor do anteprojeto do teatro. Um
exemplo, que a possibilidade de uma tempo- dos réus era o engenheiro Massaki Yokoyo-
rada regular – por cerca de seis meses – de ma, que em consórcio pelas construtoras
uma grande companhia em Niterói, venha a Icaraí e Yokoyoma haviam executado a
acontecer, a não ser que haja uma mudança obra. No Jornal do Brasil de 21 de junho de
radical na mentalidade daqueles que dirigem 1985 após ter sido adiada a decisão do Juiz
os órgãos culturais do município, o que cer- era publicado:
tamente provocaria também uma mudança
na cabeça do público niteroiense, que ainda Gringo afirma que, há dois anos, fez um
não criou o hábito de ir ao teatro. [...] Mas anteprojeto para a construção do teatro,
Niterói ainda não tem um público que por intermédio da Construtora Icaraí, de
comporte longas temporadas. Não sei seu cunhado Marcos Sávio Pires Jardim.
ex­­plicar bem o porquê, mas existe ainda “Mas não assinei contrato nenhum”.
nesta cidade – digo isto por experiência
própria – uma falsa moral que acaba por Já o diretor-geral do Instituto na épo-
cercear a liberdade de expressão – tolhe ca, irmão Albano afirmava, na mesma ma-
os movimentos artístico-culturais – e afas- téria:

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 221


Teatro Abel. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Abel. Corte, (S.E.)


O projeto do teatro é de uma ex-aluna do de Helio Eichbauer, e tendo no elenco Fer-
colégio, a arquiteta Patrícia de Mendonça nanda Montenegro, Edson Celulari, Cássia
Taveira, formada pela Universidade Santa Kiss, Jonas Mello, Linneu Dias, Wanda Kos-
Úrsula e empregada da Yokoyoma. mo, Betty Erthal e Joyce de Oliveira.
Em 1988 o espaço sofreu algumas refor-
O irmão Albano desmentia que o ante- mas, e foi reinaugurado com a comédia Ti-
projeto do teatro pertencesse a Gringo Car- nha que ser você, de Joseph Bologna e Renée
dia, alegando ter ele apenas transposto para Taylor, direção de Marília Pera, cenários de
o papel vegetal, “de forma organizada e bo- Colmar Diniz, figurinos de Biza Vianna, ilu-
nita, já que ele é arquiteto”, sua ideia inicial. minação de Maneco Quinderé e trilha sono-
“Ele fez apenas a planta baixa, onde eu podia ra de Fernando Moura.
localizar as salas. Nada mais.” O Teatro Abel pelo conforto para o públi-
A defesa deYokoyoma Construtora basea- co e atores, e pelas condições técnicas, vem
va-se em três pontos, como publica O Flumi- sendo o preferido pelas produções, que en-
nense, de 21 de agosto de 1985: cerram suas apresentações no Rio, fazendo
curta temporada em Niterói.
O autor, ao tempo em que diz haver ela-
borado o estudo era sócio da ré Icaraí
Construtora e Incorporadora (ICI); o au-
tor não provou a existência do projeto, 4. PETRÓPOLIS
mas apenas de estudos preliminares sem
detalhamentos necessários para a execu-
ção da obra; e o autor não provou que 1874
seus estudos foram aproveitados ou utili- Teatro Progresso Petropolitano
zados na obra...
A província do Rio de Janeiro contou ainda
A atriz Debora Bloch, amiga de Gringo, no Império com o Teatro Progresso Petro-
afirmava, na mesma matéria: politano, surgido em 1874, em Petrópolis,
trinta anos após a fundação da cidade.
É um absurdo o que essas pessoas estão
fazendo com ele, conheço Gringo e sua
idoneidade e sei que não seria capaz de se 1921
apoderar de uma coisa que não fosse sua. Teatro Capitólio

Totalmente pronto, o teatro manteve-se À Rua do Imperador n. 992, em Petrópo-


fechado para o público e a inauguração com o lis, ficava o Teatro Capitólio inaugurado em
espetáculo Piaf, com Bibi Ferreira, foi adiado. 1921, todo com piso de mármore, espelhos
A casa passou então a funcionar internamente e lustres de cristal, com capacidade para
para as atividades do curso de teatro da insti- mais de 1.500 espectadores, entre frisas, ca-
tuição e para gravações em vídeo. marotes, gerais e plateia, com sete camarins
Em 11 de setembro de 1986, o teatro foi e amplo foyer.
inaugurado com a apresentação de Fedra, de Suas atividades foram interrompidas em
Racine, tradução de Millôr Fernandes, diri- 1971 e em 1976 era estabelecida no local
gida por Augusto Boal, cenários e figurinos uma agência de automóveis (Capitólio Au-

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 223


tomóveis) e estacionamento. Até 1984 era pintura interna dependendo do orçamento.
ainda proprietária do imóvel a senhora Zai- Do Jornal do Brasil, de 24 de maio de 1997:
de Ferreira Alves.
Outros negócios se estabeleceram no lo- Esta foi a melhor maneira que encontra-
cal, entre eles uma academia de ginástica, mos para usarmos o teatro como está e ti-
que ocupava o segundo andar do prédio. A rarmos o estigma da plaqueta fechado para
Secretária de Cultura de Petrópolis, por in- obras.
termédio da Divisão de Artes Cênicas, tentou
na década de 1980 sensibilizar os políticos e Em maio de 1997, o teatro já apresentava
a comunidade para a restauração e reabertu- sua primeira temporada pós-obras, com o
ra do teatro. Esperavam conseguir cerca de musical Francisco de Assis, de Ciro Barcelos.
dez mil assinaturas e ao mesmo tempo pro- Antes deste espetáculo o teatro já havia feito
curavam a colaboração de empresários para o apresentações únicas do violinista Baden Po-
custeamento das obras necessárias. well e do cantor Edson Cordeiro.
Em 15 de novembro de 1984 era publica- Desta forma, neste mesmo ano, o teatro
da uma nota no Jornal do Brasil: manteve uma programação com atividades
teatrais de artistas locais, shows de música e
A Prefeitura de Petrópolis vai desapro- espetáculos de dança.
priar na segunda-feira o prédio da Rua do
Imperador onde está instalada uma reven-
dedora de automóveis. Vai transformá-lo 1955
no que era originalmente, um teatro: o Teatro Santa Cecília
Teatro Capitólio.
Em maio de 1977 sob a determinação da Es-
Nada mais se soube sobre o Teatro Capi- cola de Música Santa Cecília, era reaberto
tólio. o Teatro Santa Cecília, de Petrópolis, que
durante 20 anos funcionou como cinema ar-
rendado à empresa Art Filmes. Esta casa de
1930 espetáculos, inaugurada em 1955, possuía
Teatro Municipal de Petrópolis 670 lugares, e, servia para apresentações de
teatro, concertos, balés e outras manifesta-
O Teatro Municipal de Petrópolis em estilo ções culturais inclusive cinema.
Art-Déco foi inaugurado por volta de 1930 Para a reinauguração do teatro foi previs-
e acumulou a dupla função de cinema e tea­ ta a apresentação da peça Sonata sem dó para
tro. Em sua sala em 1933 foi exibido Tempos três executantes, de Marcílio de Morais. O es-
modernos, de Chaplin, e com o passar dos petáculo foi produzido pelo Grupo Candeia,
anos, o prédio foi se deteriorando e a pro- direção e cenografia de José Luis Ligièro
gramação também decaiu. Coelho, e no elenco Amelim Fiani, Carlos
Em março de 1996, a então presidente Alberto Lopes e Duca Rodrigues, tendo so-
da Fundação Petrópolis, Katia Chalita e sua noplastia de Caíque Botkay. Diz o Jornal do
equipe passaram a dar função à casa, mesmo Brasil, de 18 de junho de 1977:
estando em obras, responsabilizando-se pe-
las goteiras, limpeza geral, pintura do pal- A sala de espetáculos pertence à Escola de
co, hall e reforma dos banheiros, ficando a Música Santa Cecília, obrigada a assinar

224 Teatros do Rio


contrato com a Art Filmes há duas décadas de Castro e Leônidas de Mattos Filho, am-
porque era difícil levar peças do Rio para bos da Secretaria de Planejamento, e toda
lá. Como teatro, a sala funcionou durante a captação de recursos viabilizada através
dois anos. Na época, o então presidente da dos incentivos da Lei Sarney.
entidade Reynaldo Chaves, disse que ao
firmar contrato com a empresa cinemato- Para se chegar ao antigo matadouro, há
gráfica sentia-se como se estivesse “prosti- toda uma história a ser contada, que come-
tuindo uma filha”. ça com o prédio do ex-Teatro Capitólio. Em
1984, o decreto do prefeito considerava o
O teatro, com palco de 14 metros de Capitólio de utilidade pública, para fins de
boca, sofreu alguns reparos, com a colocação desapropriação, e viável para funcionamen-
de novas pernas, bambolinas e rotundas, fal- to de um teatro municipal. A comunidade
tando para a estreia a cortina de boca. Mes- cultural era chamada a cooperar para pagar
mo em estado precário, sem equipamentos o valor exigido pela família que explorava o
de luz e som e problemas de acústica, o tea- local. Era lançado então um livro de ouro.
tro passou a ser utilizado por outros grupos, Seis meses depois, o projeto não foi adiante,
mas por pouco tempo. Nada mais se sabe do e o decreto estava expirado.
Santa Cecília. Em 1985, o prefeito tenta desapropriar o
Cinema D. Pedro onde já havia espaço pron-
to para funcionamento de teatro com frisas e
1988 camarotes. Entretanto, houve relutância dos
Teatro Municipal de Petrópolis proprietários. E em 1987 o governo tentava
(Matadouro Municipal Modelo) então arrendar o Teatro Santa Cecília, cuja
proposta não foi aceita pelos proprietários,
Em janeiro de 1988, era criado em Petró- apesar do prejuízo com a manutenção do
polis um movimento com o objetivo de teatro que não era utilizado.
trans­formar o extinto prédio, onde funcio- Em 1984, a bailarina Márcia Haydée já so-
nava o sacolão, em instalações para o fun- nhava em ver o então prédio do antigo mata-
cionamento do Teatro Municipal, à Avenida douro municipal transformado numa grande
Barão do Rio Branco n.2.053, Bairro Quar- escola internacional de dança. Encantada com
teirão Brasileiro, Petrópolis. Uma iniciativa a arquitetura do prédio e ao mesmo tempo
de Fernando Portela, Secretário Municipal desolada ao constatar sua subutilização para
de Cultura e de Arthur Varella, Diretor do feirão de atacado de produtos hortifrutigran-
Departamento de Cultura da Secretaria de jeiros, comprados pelo município ao Ceasa.
Cultura, que conta um pouco da viabiliza- Um projeto chegou a ser elaborado pela
ção desse sonho. Lê-se em Última Hora, de arquiteta Bebel Klabin, que previa um cen-
7 de outubro de 1988: tro de dança e um anexo para teatro. O so-
nho ficou só na memória e não chegou a
De início contamos logo com a colabo- despertar muita atenção na época.
ração espontânea do engenheiro Marcelo Três anos depois, coincidência ou não, a
Iliescu, ex-secretário de Obras do Muni- Secretaria de Cultura buscava espaços alter-
cípio, e com a mão de obra especializada nativos para realizar o evento Dançar por
das várias secretarias municipais. O proje- Dançar, voltando ao Matadouro. Após muitas
to arquitetônico foi feito por Luis Ernesto conversações, o próprio prefeito, na época,

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 225


Paulo Rattes resolve, em decreto 761 assina- namento de viaturas para coleta de lixo e
do em 29 de março de 1988, de sessão de sucata de carros da Prefeitura. Quando Pau-
uso, passar a administração da Secretaria de lo Rattes assumiu a Prefeitura resolveu dar
Cultura, o prédio do antigo Matadouro, para um fim social ao prédio, aproveitando o seu
nele ser instalado o Teatro de Petrópolis. primeiro pavimento para promover vendas
De características neoclássicas o prédio a varejo a baixo custo de produtos hortifru-
de propriedade do governo havia sido cons- tigranjeiros, que foi apelidado de “sacolão”.
truído em 1928, às margens de um curso de Antes em 1978, já havia sido tombado pe­
água, o Rio Piabanha, como era frequente lo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
ocorrer com imóveis de uso industrial. O (Inepac) e o próprio conselho de Preserva-
Matadouro tinha capacidade de abate diário ção do Patrimônio Histórico e Artístico Mu-
de 120 rezes, 50 suínos, 30 carneiros e 30 nicipal.
vitelos. Após a Segunda Guerra Mundial, Para que o Matadouro Municipal Modelo
com o aparecimento das companhias frigo- pudesse então dar início às suas transforma-
ríficas, que passaram a monopolizar todo o ções, o Secretário Fernando Portela conse-
setor, o matadouro entrou em processo de guiu instalar o sacolão em terreno adequa-
falência, fechando definitivamente. O pré- do, existente ao lado do prédio. A sucata foi
dio ficou então abandonado por quase dez leiloada e os caminhões de lixo removidos
anos, quando voltou a ser utilizado como para a usina de lixo, que na época estava em
depósito de material de construção, estacio­ construção na Estrada do Contorno.
O projeto para reforma do prédio do Ma-
Matadouro Municipal Modelo. Petrópolis, RJ tadouro Municipal previa obras em seus três

226 Teatros do Rio


pavimentos, além de urbanização externa. De acordo com o andamento das obras a
A primeira fase previa o funcionamento de previsão de conclusão definitiva ficou para
um teatro de palco italiano; plateia (conser- novembro. Sendo que em julho Arthur Va-
vando-se até os trilhos suspensos do teto, rella Guedes, diretor do Departamento de
onde eram penduradas as peças de carne, Cultura, comunicava que o teatro havia re-
integrando-se à sala de espetáculos); hall cebido uma colaboração da General Motors
com dois banheiros para o público; cabine do Brasil, que se encarregaria de instalar a
de controle de iluminação e som; quatro ca­ parte elétrica e a parte da segurança; assim
ma­rins; sala de contrarregragem; e sala de como o Ministério da Cultura liberava uma
administração. O palco teria 120 metros verba para as obras dos camarins e finaliza-
qua­­­drados e plateia com capacidade para ção do palco.
350 espectadores, poltronas que já haviam Na segunda quinzena de julho já estavam
sido doadas pelo dono de um cinema desa- programadas a colocação de esquadrias de
tivado. O projeto cênico foi todo desenvol- madeira das janelas e a pintura externa do
vido por José Dias, que prestava assessoria prédio, para em seguida serem colocados os
técnica à Secretaria de Planejamento, para o carpetes, executado o projeto paisagístico,
desenvolvimento dos projetos executivos e com os jardins externos, e o estacionamento
complementares. no entorno do prédio.
A segunda fase da obra incluía o aprovei- Mesmo em obras, os espetáculos tiveram
tamento do segundo pavimento do prédio continuidade, mantendo a programação do
onde a comissão formada por membros da Festival de Dança que reunia grupos de várias
Secretaria de Cultura, grupos teatrais, mú- partes do país. A inauguração oficial estava
sica e dança optou por fazer funcionar um prevista para 5 de novembro do mesmo ano.
espaço alternativo, criando-se o teatro mo- O empenho de transformar o antigo Ma-
dular, cuja plateia e palco eram dispostos em tadouro Modelo de Petrópolis em Teatro
um módulo de arquibancadas, para várias Municipal foi praticamente abortado pelo
modalidades de teatro: arena, semiarena ou prefeito que assumia a Prefeitura: Paulo
elizabethano. O projeto previa ainda neste Gratacós, conforme palavras de José Dias e
andar, camarins e banheiros. O terceiro pa- Luciana Nunes Leal, para o Jornal do Brasil,
vimento, chamado Torreão, ficaria apenas de 27 de agosto de 1988.
como apoio às atividades do segundo andar.
Além das obras de adaptação como pin- O teatro estava quase inaugurado. Tí-
tura, troca de vidros, reforma de madei- nhamos conseguido doações de materiais:
ramento, troca de telhado, calhas, palco tinta, cadeiras e chegamos a fazer até uma
e cortinas, teria também a de urbanização apresentação de dança. Faltavam apenas os
externa onde seriam aproveitados os anexos camarins. De repente, tudo foi desfeito e
do prédio para funcionamento de restauran- agora ninguém sabe em que vai se tornar o
tes, oficinas, alojamentos e administração antigo matadouro.
do teatro.
Foi pré-inaugurado em 12 de junho de Vários nomes das artes cênicas se empe-
1988, e entregue à comunidade petropo- nharam e se manifestaram, além de notas assi-
litana com o projeto “Dançar por Dançar”, nadas por associações artísticas de Petrópolis,
organizado pela Associação Petropolitana músicos, dançarinos, atores e compositores,
de Dança. denunciando que o prefeito havia tirado a se-

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 227


gurança que cuidava do prédio, desaparecen- 1935
do rapidamente todo o material cedido por Teatro Taboada
empresas particulares para a restauração do
matadouro e construção do teatro. Pouca notícia se tem sobre o Teatro Taboa-
A primeira informação recebida logo após da, localizado em Macaé, Estado do Rio, e
os saques foi confirmada: o matadouro havia que foi inaugurado em 1935, com capaci-
sido em curto espaço de tempo transformado dade para 1.200 espectadores, distribuídos
em depósito da Secretaria Municipal de Trans- entre plateia, camarotes, balcão e galeria.
portes: Na mesma matéria do Jornal do Brasil, Possuía um bom palco com todos os recur-
diz José Dias: sos cênicos, inclusive urdimento. Não se
tem informações sobre sua inauguração, fa-
Isso é um crime contra a cultura. Não chada e nem tampouco sobre a paralisação
tenho coragem de ver o matadouro agora. de suas atividades.

Ao que a jornalista complementa:

Se for ao antigo matadouro – cons­truído 6. FRIBURGO


em 1928, no modelo de matadouros fran-
ceses e tombado pelo Patrimônio Histórico
Estadual – o cenógrafo terá gran­­de decep- 1895
ção. Operários trabalham na construção Teatro D. Eugênia
de um muro em volta do terreno, mas
dentro do prédio tudo está destruído. So- Também em Friburgo, outra cidade serra-
bram pedaços de madeira, tijolos e parte na, em 30 de maio de 1886 foi lançada a
do que seria o palco do Teatro Municipal pedra fundamental em terreno adquirido
de Petrópolis. ao Major Pedro Eduardo Salusse, situa­
do na então Rua General Camera, hoje
A assessoria de imprensa do Prefeito Pau- Rua Augusto Spinelli, para construção do
lo Gratacós, informava que o teatro não se- Tea­tro Victor Hugo. Mas por falta de ver-
ria instalado lá e sim no antigo cinema Dom ba as obras foram paralisadas. Foi então
Pedro no Centro, que em sua gestão foi de- que o fazendeiro de Sumidouro, Manoel
sapropriado para essa finalidade. Amâncio de Souza Jordão, indo morar em
Friburgo, se dispôs a comprar o imóvel, e
dar continuidade à construção, mas com a
condição de que o teatro levasse o nome
5. MACAÉ de sua esposa: Teatro D. Eugênia. Durante
as obras, Manuel Amâncio faleceu, mas a
viúva e seu cunhado, o também fazendeiro
1865 João do Prado Jordão, uniram-se e leva-
Teatro Santa Isabel ram a empreitada a bom termo. No dia
19 de fevereiro de 1895, era inaugurado
A província do Rio de Janeiro contou ainda o teatro.
no Império com o Teatro Santa Isabel, em Durante longos anos sofreu diversas re-
Macaé, a partir de 23 de maio de 1865. formas, chegando ao nome de Teatro Leal, e

228 Teatros do Rio


sendo demolido em 1975, para dar lugar a que existia na cidade, e que já tinha mais de
um grande edifício. Publica O Fluminense, de 1.300.000 habitantes.
23 de julho de 1975: Da Arcádia Iguaçuana de Letras, funda-
da em 11 de agosto de 1955, existe hoje
...reação nos meios artísticos, que não se apenas o nome, pois seus membros aban-
conformam com o desaparecimento de donaram o prédio e criaram a Academia
uma casa de espetáculos que representou Iguaçuana de Letras. Foi da Arcádia Igua-
para os friburguenses um verdadeiro pa- çuana que surgiu o teatro, fundado por um
trimônio histórico. grupo de rapazes interessados em cultura.
Inicialmente eles tomaram emprestado um
projeto de cinema e criaram o Cine Clube
Humberto Mauro. De janeiro de 1976 em
7. ITAPERUNA diante foram exibidos vários filmes nacio-
nais, seguidos de debates.
A maioria do público que participava do
1906 Cine Clube era formada por universitários
Teatro São José da Faculdade de Nova Iguaçu, e o espaço
era destinado a apresentação de cantores
e de filmes, pois não possuía o mínimo de
recursos para a apresentação de um espe-
8. SÃO JOÃO DA BARRA táculo teatral. Como declara o Professor
de Arte Dramática do Teatro Arcádia, Cel-
so Mosciaro a O Globo, em 21 de junho de
1907 1976, que “o Teatro Arcádia não tem mais
Teatro São Joanense condições de funcionar como casa de espe-
táculos...” O teatro foi então cedido à Pre-
feitura de Nova Iguaçu pela Arcádia Igua-
çuana de Letras.
9. NOVA IGUAÇU Na madrugada de 21 de novembro de
1976 foi completamente destruído por um
incêndio, sendo os escombros interditados
1955 sob suspeita. O motivo era que o Corpo de
Teatro Arcádia Bombeiros havia encontrado nos camarins
dois mosquetões velhos desativados, dois
Em 1969 o Teatro Arcádia de Nova Igua- capacetes de fibra de vidro usados e um te-
çu, localizado à travessa Alberto Cocozza, lefone de campanha fora de uso.
n. 38, fazia, regularmente, apresentações, Mesmo tendo a Assessoria de Educação
em convênio com o Serviço Nacional de Artística da Secretaria de Educação da-
Teatro, tornando-se um polo cultural en- quele município informado e provado que
tre a antiga Guanabara e Nova Iguaçu. O o material havia sido cedido pelo Centro
convênio havia permitido, na época, uma de Instrução General Penha Brasil, da Vila
regularidade, para que peças de sucesso, Militar, para a montagem da peça Piqueni-
pudessem se apresentar em Nova Iguaçu. que no Front, de Arrabal, o local continuou
Um teatro de apenas 156 lugares, o único, interditado sob “suspeita de servir a fins

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 229


subversivos”, como revela o Capitão Ma- cadeiras quebradas, tacos do piso da pla-
deira do Batalhão do Corpo de Bombeiros teia soltos, refletores sem lâmpadas, cor-
de Nova Iguaçu ao Jornal do Brasil, em 25 de tinas sujas, e problemas em seu sistema de
novembro de 1976. iluminação. O Fluminense e, em 3 de agos-
Na mesma matéria sabe-se que, embora o to do mesmo ano denunciava; “Descaso das
delegado de Nova Iguaçu Amil Ney Richard autoridades, que ignoram e marginalizam a
tivesse liberado a sala de espetáculos após ter classe teatral, deixando de preservar a única
ouvido os assessores da Secretaria e examina- casa de espetáculo do município”.
do toda a documentação, a interdição conti- Em 1988, a proprietária do imóvel, Nei-
nuou até que fosse dado um laudo pericial. de Carvalho, apelava para que fosse sus-
penso o contrato de aluguel, já que a dívida
Os mosquetões são velhos e sem ferrolho, da Prefeitura somava a dez meses de atraso.
o dito radiotransmissor, é apenas a caixa O apelo sai em Última Hora, em 6 de se-
de um telefone de campanha. A polícia tembro de 1988:
precisa entender que teatro é um espaço
cênico, arrumado de acordo com a peça: Já implorei pelo amor de Deus que sus-
se ela trata de química, vira laboratório; pendam o contrato de aluguel, que não
se fala de guerra, tem de ter armas. foi para o teatro, mas para Arcádia Igua-
çuana de Letras.
Com apoio financeiro do Serviço Nacio-
nal de Teatro, que possibilitou uma com- A Secretária de Educação de Nova Igua-
pleta reforma no prédio, sendo equipado çu, Rosa Forte, admitiu ao Estado de Minas,
com ar-condicionado, sistema de ilumina- de 23 de outubro de 1988, que a popula-
ção, 168 poltronas, camarins e banheiros ção e a classe artística não poderiam mais
destinados ao público e aos artistas, foi re- contar com o único teatro do município.
aberto no final do ano de 1977. “O prédio do Arcádia não tinha as mínimas
Celso Mosciaro, na época assessor de condições de funcionamento, e os artistas
arte da Secretaria de Educação da Prefei- merecem uma coisa melhor”.
tura, pretendia que na reabertura houvesse O Arcádia foi fechado, em caráter de-
homenagem a um famoso ator, antigo mo- finitivo, em 1988, atendendo a parecer
rador do bairro Juscelino, de Nova Iguaçu. técnico de engenheiros da Secretaria de
Lê-se em O Fluminense, em 12 de julho de Obras, que foram no local e concluíram
1977, que ia sugerir a colocação, no Arcá- que problemas na instalação elétrica e a
dia de “uma placa de bronze em homena- falta de manutenção inviabilizavam a con-
gem a Procópio Ferreira...”. tinuidade do teatro no prédio da Rua Al-
Em 1979, a notícia na imprensa (Jornal de berto Cocozza, 38, onde funcionava há
Hoje, de 20 de julho de 1979) era de que 33 anos.
o Teatro Arcádia, o único em Nova Iguaçu,
corria sério risco de ser despejado: “Há
quem diga que o teatro vai virar restaurante. 1967
Há quem diga que o teatro será despejado. Teatro Procópio Ferreira
Há fumaça. E onde há fumaça...”
Em 1982, o Teatro Arcádia estava em O Teatro Procópio Ferreira, localizado
péssimas condições, cheio de infiltrações, à Rua Afrânio Peixoto n.99, em Nova

230 Teatros do Rio


Iguaçu, é de propriedade do Instituto de 10. TRÊS RIOS
Educação Afrânio Peixoto. Possui 12m de
largura de boca de cena, o palco com pro-
fundidade de 6m, seu urdimento está a 1962
10m de altura, tem 3 camarins e sua lota- Teatro Celso Peçanha
ção é de 358 lugares. Compreende ainda
uma sala para ensaios (Sala Paschoal Car- Em Três Rios, o Grupo de Amadores Teatrais
los Magno). Viriato Corrêa, única instituição artístico-
Foi construído pelo diretor Prof. Rui -cultural da cidade, que em 1958, já tinha
Afrânio Peixoto do Instituto de Educação 22 anos consecutivos de inestimáveis servi-
Afrânio Peixoto (antigo Colégio Afrânio ços, deu a arrancada decisiva para a constru-
Peixoto), que também é responsável pela ção de um teatro.
construção da Arcádia Iguaçuana de Le- Depois de um trabalho incessante, em
tras. 1958, junto ao Governo do Estado, conse-
Procópio Ferreira, que antes da inaugu- guem a doação de uma área à Praça São Se-
ração, já estava residindo em Nova Iguaçu, bastião (ao lado do Forum), de 600m2 , com
passou a professor de teatro do Instituto de escritura definitiva e devidamente registra-
Educação, auxiliado por Amilta Ferreira, da no cartório.
desde a abertura da casa de espetáculos que O projeto do teatro coube a Wanderley
recebeu seu nome. José Rodrigues, uma casa de linhas moder-
O teatro foi inaugurado em 16 de janeiro nas, com completas instalações, ficando a
de 1967 com a peça Esta noite choveu prata, execução de maquete a cargo de Júlio As-
de Pedro Bloch, tendo Procópio Ferreira sumpção.
como protagonista. O Grupo de Amadores criou uma classi-
Até 1975, o teatro era utilizado para ati- ficação de sócio benemérito que com uma
vidades da instituição, quando passou então quantia desdobrada em parcelas, em um pe-
a receber na sua programação companhias ríodo pouco superior a três anos, atenderia
profissionais de teatro e grupos amadores. aos custos da obra, com finalidades amplas:
Em 1979, foi construída a bilheteria e a se- as rendas obtidas pelo grupo destinavam-se
cretaria do teatro, com acesso pela Rua Dr. às instituições de caridade locais. Desta for-
Tibau, 462, dando independência ao pré- ma, os doadores tiveram o seu capital em-
dio teatral do colégio. pregado em patrimônio, arte, cultura e bem
O teatro sofreu ao longo desse período social. Foi publicado no Entre Rios, jornal de
outras reformas, como alteração da boca Três Rios, em 29 de novembro de 1958:
de cena, novo sistema de coleta de águas
pluviais, aumento de 4,20m de altura do A campanha do teatro em Três Rios foi re-
urdimento, modificação da varanda e pin- cebida de maneira entusiástica por nossa
tura geral. população, que tem atendido prazerosa-
Apesar das alterações sofridas, pouco foi mente a subscrição dos títulos. Basta di-
utilizado pelas produções profissionais do zer-se que, sendo o plano de 3 milhões de
Rio de Janeiro. Sua ocupação tem sido feita cruzeiros, já se acham subscritos mais de
por grupos amadores e por trabalhos desen- 1 milhão, ou seja, um terço do total exigi-
volvidos pelos alunos do Instituto. do para a construção...

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 231


Teatro Celso Peçanha. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Celso Peçanha. Corte, (S.E.)


Desta forma o Teatro Celso Peçanha foi letreiro que cobria toda a fachada de um
totalmente construído com doações em di- edifício. Resistiu até 1967, porém no pri-
nheiro da população. Sua diretoria foi for- meiro semestre daquele mesmo ano, o
mada por amadores. teatro já não existia mais, não chegou a
O teatro foi inaugurado em 1962, como durar um ano. Seu interior foi transfor-
se vê no mesmo jornal da cidade, de 24 de mado em um parque de diversões, con-
fevereiro de 1962. forme matéria no Jornal Fluminense, de 9
de julho de 1967:
Os detalhes técnicos do novo prédio fo-
ram meticulosamente estudados... os se­ O teatro só existia na fachada. Lá dentro
nões existentes em nada desmerecem a havia mesmo era uma confusão de tabi-
obra, não tendo mesmo encontrado os de- ques dividindo um enorme galpão [...] De
feitos insanáveis existentes na maioria dos teatro mesmo só as máscaras humanas vi-
teatros nacionais... vidas, sofridas e somadas aos defeitos em
que sons e luzes completavam o conflito
Apesar de ser uma boa casa, poucas são as de um bric-a-brac onde criaturas e utili-
companhias profissionais que lá fazem apre- dades compunham um painel de dramas.
sentações, quando em excursão. Continua
hoje atendendo a grupos amadores.
1967
Teatro Municipal Armando
Melo (Teatro Municipal Duque
11. DUQUE DE CAXIAS de Caxias)

O Teatro Municipal de Duque de Caxias fica


1966 no Shopping Center de Caxias. Foi inau-
Teatro Galpão (Teatro Moderno gurado em 1967, e batizado com o nome
de Comédia) de Teatro Municipal Armando Melo, uma
homenagem ao ator que introduziu a arte
Em Duque de Caxias surgia, em 1966, o tea­tral no município de Duque de Caxias.
Teatro Galpão, uma iniciativa de Afon- A casa tem apenas 90 lugares e não possui
so Fernandes e George Feny, uma sala de recurso cênico.
espetáculos em três ângulos que abrigava Em 1972, entrou em reformas que com-
aproximadamente 500 pessoas em arqui- preenderam substituição da parte elétrica,
bancadas. Sua inauguração se deu em 28 melhorias no palco e na plateia. Pronto em
de outubro de 1966 com a peça Um deus agosto do mesmo ano, passou a ser utilizado
dormiu lá em casa, de Guilherme Figueire- para apresentações de peças infantis, ence-
do e com elenco composto de Afonso Fer- nadas por alunos de escolas da cidade e de
nandes, Wanda Frey Muth, George Ferny e grupos amadores. Fechado pela Prefeitura
Elizabeth Sandres. em 1980, a Associação dos Artistas Indepen-
O Teatro Galpão recebeu o nome de Te- dentes do município estabeleceu contatos
atro Moderno de Comédia, e era locali- em 1983 com a administração municipal na
zado à Avenida Rio–Petrópolis n. 1.551, tentativa de reabri-lo. A dramática situação
na Praça da Pacificação, com seu enorme do teatro é narrada por Nélio Menezes e

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 233


Paulo Renato Nogueira, presidente e secre- A ideia de ampliar a sede do Legislativo
tário da associação, afirma a Última Hora, deveu-se à grande aceitação que teve a
de 10 de outubro de 1983: instalação, há cerca de três anos, da bi-
blioteca e do Instituto Histórico, visita-
...O importante espaço cultural teve dos por milhares de pessoas, especial-
gloriosos dias até que, em 1979, quando mente jovens.
encenávamos uma peça infantil, operá-
rios munidos de marretas e picaretas in- Entusiasmado com a iniciativa o dire-
terromperam o espetáculo e passaram a tor administrativo da Câmara Municipal,
quebrar o piso e o palco. Eles cumpriam Elias Lazaroni, propôs a construção do
ordens do Coronel-prefeito “pro-tempo- teatro e da biblioteca, recebendo integral
re”, Américo Barros. [...] Os trabalhado- apoio dos membros da mesa executiva da
res fecharam a passagem, cujo acesso era Câmara.
feito pelo corredor central do Shopping Ao ato inaugural estiveram presentes:
Center. Ali foi construída a Sapataria Fa- Bibi Ferreira, o Senador Nelson Carneiro,
brum...Um buraco aberto na parede la- deputados Amaral Peixoto, Edson Guima-
teral, fechado por uma improvisada porta rães e Sandra Cavalcanti, entre outras per-
de madeira, passou a servir de passagem sonalidades.
a quem desejar chegar ao lugar onde fun- Trata-se de um grande auditório, que
cionava o Teatro Armando Melo. ocupa uma área de 720m2, com capacida-
de para 700 espectadores, com um palco
Na jornada em busca do espaço, em que sem equipamentos técnicos, com dois ca-
pediam a reativação da casa de espetácu- marins, poltronas estofadas e banheiros.
los, os membros da Associação não con- Uma casa que atendia no início de sua
seguem obter respostas do então Prefeito inau­­guração às companhias profissionais,
Hydekel de Freitas. Só em 1986, na gestão grupos amadores, era utilizada como cine-
do Prefeito Juberlan de Oliveira é refor- ma e para outras atividades culturais e ce-
mado e reinaugurado em 17 de março de rimoniais. Durante alguns anos, a casa não
1986, passando a funcionar como oficina foi mais utilizada por grupos teatrais, mas
de artes, onde eram ministrados diversos de forma quase exclusiva para congressos,
cursos de iniciação artística, como espaço reuniões e formaturas dos colégios de Du-
para ensaios e debates culturais, e não mais que de Caxias.
como casa de espetáculos. Em curto período, suas dependências
entraram em desgaste, e em 1981 as con-
dições físicas do teatro não atraíam mais
1975 seu público, levando a uma decadência de
Teatro Procópio Ferreira programação e espectadores como consta-
va matéria do jornal A luta, em 2 de de-
Um outro teatro em homenagem ao ator zembro de 1981. “...em péssimas condi-
Procópio Ferreira é inaugurado em 28 de ções higiênicas e estéticas, causando danos
fevereiro de 1975, em Duque de Caxias, um aos grupos e afastando o público daquela
presente da Câmara Municipal de Duque de casa de espetáculos.”
Caxias à comunidade. Lê-se em O Fluminen- Em 1983, com a nomeação dos atores
se, de 28 de fevereiro de 1975: Nélio Menezes e Ediélio Mendonça para

234 Teatros do Rio


assessores do teatro, uma nova mentalida- 12. VOLTA REDONDA
de artística e profissional foi implantada no
Teatro Procópio Ferreira de Duque de Ca-
xias. Fizeram uma limpeza geral, pinturas 1981
e arrumação das dependências do teatro. Teatro GACEMSS
A nova administração elaborou uma pro-
gramação que incluía temporadas de di- O Grêmio Artístico e Cultural Edmundo
versos grupos teatrais da baixada flu- Macedo Soares Silva (GACEMSS) tem sua
minense e do Grande Rio. Para Nélio o história, e tudo começou no dia 17 de no-
trabalho era exaustivo, mas muito recom- vembro de 1945, numa das salas de aula
pensador, como se considera em maté- do atual Colégio Estadual Professor Ma-
ria da Tribuna da Imprensa, de 7 de abril nuel Marinho, quando um pequeno grupo
de 1983: de pessoas residentes do então 8º distrito
de Volta Redonda, reuniu-se para dar for-
A conquista deste espaço cultural é o ma legal às atividades artísticas e culturais
resultado de um esforço conjunto de- que vinham desenvolvendo e que preten-
senvolvido por artistas da terra, princi- diam incrementar. No início, o GACEMSS
palmente daqueles que, anos a fio, pro- brilhou, e seu patrimônio se limitava aos
duziram cultura em Caxias, resistindo a apetrechos necessários à instalação de um
ausências de apoio de sucessivos gover- concerto ou de uma peça teatral, utilizan-
nos municipais. do sempre local cedido por terceiros. Mas
o Grêmio já possuía o essencial: a alma de
O primeiro ato dos assessores foi mudar uma associação organizada e com objetivos.
o local das solenidades de formatura que Com o decorrer do tempo o GACEMSS
antes eram realizadas no teatro, impedin- se aperfeiçoava, ganhava meios, conquistava
do apresentações teatrais. O segundo ato novos adeptos e formava o seu patrimônio.
foi a criação do projeto seis e meia, que Cada vez mais pessoas uniam-se em torno
fez com que o público voltasse a frequen- dessa iniciativa pioneira na cidade do aço.
tar aquela casa de espetáculos. Por longo tempo viveu fases obscuras,
Nesta administração da dupla de atores por desonestidade de um antigo contador,
o teatro conseguiu dar impulso aos movi- que fez uso do dinheiro da entidade para
mentos artísticos da cidade de Duque de fins particulares, desaparecendo de Volta
Caxias, inclusive com a ida de produções Redonda. Reorganizado, iniciou as obras
profissionais para curtas temporadas. de seu prometido teatro, compreendendo
Entretanto, por estar localizado nas de- lojas em seu conjunto arquitetônico.
pendências da Câmara Municipal, a co- Em 1972 começaram as obras do Teatro
brança de ingressos gerou polêmica entre GACEMSS, e em 1980 ainda não estavam
os vereadores e a nova direção da casa. concluídas, devido às dificuldades financeiras
Como não foi construído para ser um tea­ que impediam a finalização da obra à Rua 14,
tro, mas sim um auditório, permanece n. 22 – Galeria GACEMSS, Volta Redonda.
hoje nesta função, atendendo às neces- A obra que foi projetada pelo arquiteto
sidades da Câmara Municipal de Duque Oswaldo de Oliveira Moreira, compreende:
de Caxias. prédio com três andares, com entrada prin-
cipal, duas saídas laterais, teatro com um pal-

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 235


Teatro Gacemss. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Gacemss. Planta baixa, (S.E.)


co com fosso de orquestra, sala de operações freu uma adaptação em 1983, recebendo o
para teatro e cinema, camarins, banheiros, e nome de Teatro George Gomes, em home-
subsolo onde foram construídas nove lojas. nagem ao palhaço “Carequinha”, residente
No jornal O Fluminense, era publicada uma nesse município.
matéria em novembro de 1980, na qual se Em 1991 José Dias projetou o novo pal-
relatava a dificuldade do Grêmio Artístico co, aumentando suas dimensões, possibi-
de conseguir verba para conclusão das obras: litando uma visibilidade melhor da pla-
teia, além de ser construído um pequeno
Explica Alexandre Geraldine Clemente, urdimento para manobras de cenários e
assessor de Assuntos Culturais e Promocio- varas de luz. Possui 11 m de largura por
nais, que “não sabemos como vamos adqui- 6 m de profundidade e 4 m de altura, com
rir verba para a finalização da obra, é um dois camarins e precário equipamento de
assunto que está sendo debatido pela dire- luz e som. Sua capacidade é de 300 espec-
ção do teatro, pois a parte de acabamento tadores, sem ar-condicionado. Chegou a
apesar de ser fundamental é a mais cara... ser utilizado por alguns profissionais, mas
com o decorrer do tempo permaneceu
Enquanto o teatro não ficava pronto o somente com encenações de grupos ama-
Grêmio Artístico fazia uso de seu Teatro de dores, e atividades culturais da instituição
Bolso do GACEMSS, local que comportava de ensino.
aproximadamente 150 pessoas.
O Teatro GACEMSS é um dos principais
espaços para espetáculos da região compreen­
dida pelas cidades de Volta Redonda, Barra
Mansa, Barra do Piraí e Resende. Mesmo em 14. ARARUAMA
fase de acabamento suas portas foram aber-
tas ao público em 1981. O teatro possui 480
lugares distribuídos entre plateia e balcão, 1987
equipamento de luz e som, palco com 9 m de Teatro Municipal Prefeito
boca, com 6 m de profundidade, sendo que no Graciano Torres Quintanilha
fundo sua largura diminui para 3,5 m.
É procurado pelas companhias que excur- Em 12 de setembro de 1987 era inaugu-
sionam com produções de pequeno porte, rado pelo prefeito de Araruama, Altevir
em virtude de suas condições técnicas. Vieira Pinto, com a presença do Gover-
nador Chagas Freitas o Teatro Municipal
Prefeito Graciano Torres Quintanilha, lo-
calizado na Praça Antonio Maria Raposo.
13. SÃO GONÇALO Uma casa que não teve atividade teatral,
servindo a comunidade local para eventos
políticos, sociais e culturais.
1983
Teatro George Gomes

O antigo auditório do Colégio Municipal


Ernani Faria, em Neves, São Gonçalo, so-

Capítulo 3 | T eatros do interior da província e dos municípios do R io de J aneiro 237


Notas

1 (Paixão, 1917, p.412)


2 (IDEM)
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Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 21 de junho de 1976.
Jornal Diário de Petrópolis. Petrópolis, RJ: 27 de maio
Jornal Última Hora. Rio de Janeiro, 30 de agosto de
de 1977; 21 de junho de 1977; 2 de junho de
1988; 06 de setembro de 1988; 11 de outubro de
1978.
1988; 25 de outubro de 1988.
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 18 de junho de 1977;
24 de maio de 1997.
TRÊS RIOS
Teatro Municipal de Petrópolis (Matadouro
Municipal Modelo) Teatro Celso Peçanha
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 20 de junho de 1988; Jornal Entre Rios. Três Rios, RJ: 22 de novembro de
27 de agosto de 1988. 1958; 29 de novembro de 1958; 6 de dezem-
bro de 1958; 13 de dezembro de 1958; 20 de Jornal Luta Democrática. Rio de Janeiro: 28 de feverei-
dezembro de 1958; 17 de janeiro de 1959; de ro de 1975; 2 de dezembro de 1981.
fevereiro de 1962. Jornal O Dia. Rio de Janeiro: 9 de abril de 1983.
Jornal Última Hora. Rio de Janeiro: 28 de julho de Jornal O Fluminense. Niterói, RJ: 28 de fevereiro de
1975. 1975; 02 de março de 1975; 29 de julho de 1975;
Revista Boa Vista Notícias. Três Rios, RJ: n. 16, julho 30 de abril de 1983.
de 1964. Jornal O Globo. Rio de Janeiro: 1 de maio de 1983.
Revista do GATVC. Três Rios, RJ: ano I, n. 1, março Jornal Tribuna da Imprensa. Rio de Janeiro: 7 de abril
de 1968, p. 9. de 1983.
Jornal Última Hora. Rio de Janeiro: 13 de abril de
DUQUE DE CAXIAS 1983; 20 de abril de 1983.

Teatro Galpão VOLTA REDONDA


Jornal Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro: 22 de outu-
bro de 1966. Teatro GACEMSS
Jornal O Fluminense. Niterói, RJ: 9 de julho de 1967. Informativo Mensal GACEMSS. Rio de Janeiro: n. 2, ju-
nho/julho de 1985.
Teatro Municipal Armando Melo (Teatro Mu- Jornal O Fluminense. Niterói, RJ: 25 de novembro de
nicipal Duque de Caxias) 1978; 06 de novembro de 1980.
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 13 de julho de 1972.
Jornal dos Sports. Rio de Janeiro: 23 de março de SÃO GONÇALO
1986.
Jornal Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro: 22 de outu- Teatro George Gomes
bro de 1966; 11 de abril de 1986.
Jornal dos Sports. Rio de Janeiro: 18 de julho de
Jornal O Dia. Rio de Janeiro: 14 de abril de 1986. 1987.
Jornal O Fluminense. Niterói, RJ: 9 de julho de 1967;
18 de março de 1986.
ARARUAMA
Jornal Última Hora. Rio de Janeiro: 10 de outubro de
1983; 14 de outubro de 1983.
Teatro Municipal Prefeito Graciano Torres
Quintanilha
Teatro Procópio Ferreira (Duque de Caxias) Casa de Cultura. Araruama, RJ: 28 de março de
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 9 de março de 1975. 1987.
Jornal Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro: 5 de março Jornal O Fluminense. Niterói, RJ: 8 de setembro de
de 1975. 1981.
Capítulo4
O s teatros do
R io de J aneiro
no século XX
Em função das prioridades estabelecidas pela reurbanização avassaladora. Entre
abrir uma avenida e sacrificar um teatro não havia dúvida de que o segundo viria
a baixo, sempre com a promessa de uma reconstrução que, na maioria das vezes,
não acontecia.
A história dos teatros no século XX Artur Azevedo foi sem dúvida uma das
conta uma trajetória de resistência. É sur­ vozes mais contundentes em defesa do tea­
preendente o esforço desempenhado por tro nacional. E muito do seu esforço e das
intelectuais e artistas ligados ao universo campanhas que encetou resultaram positi­
das artes cênicas para incentivar, defender e vamente, como no caso da construção do
manter um panorama estável de casas de es­ Theatro Municipal, por exemplo. Mas ou­
petáculos em bom funcionamento. Se a pri­ tras vozes se levantaram ao longo do século,
meira metade do século XIX conheceu um pois década após década aumenta o coro dos
período de impulso e de uma certa euforia insatisfeitos, dos eternos vigilantes da ma­
artística, as décadas seguintes já enfrenta­ nutenção das casas de espetáculos.
ram uma realidade mais difícil para o pano­ Dentre os defensores pode-se apontar
rama teatral, às vezes mesmo em função das Bastos Tigre, cuja opinião manifesta-se em
prioridades estabelecidas pela reurbaniza­ interessante artigo intitulado “O Teatro
ção avassaladora. Entre abrir uma avenida e sem Casa”, publicado originalmente no
sacrificar um teatro não havia dúvida de que jornal Correio da Manhã, de 26 de maio de
o segundo viria abaixo, sempre com a pro­ 1940 e republicado no Anuário da Casa dos
messa de uma reconstrução que, na maioria Artistas, na década de 1940. O artigo é uma
das vezes, não acontecia. das primeiras manifestações mais evidentes
O que se vai conhecer na história dos edifí­ de uma crise que se agravará, sugerindo
cios teatrais do século XX é uma sucessão de alternativas imaginosas da parte de todos
crises, gerando lamentações, reclamações e os interessados na causa dos teatros. Para
protestos, manifestados pelas mais diversas se ter uma visão da situação das casas de
vozes e através dos mais diferentes canais de espetáculos na cidade do Rio de Janeiro no
comunicação. Por isso, para se reconstituir período, transcrevo a seguir, na íntegra, o
a trajetória dos edifícios teatrais, mantendo artigo de Bastos Tigre:
fidelidade às diferentes circuntâncias por
que passou, o melhor veículo será sempre A crise já se tornou, para o nosso teatro,
a imprensa que registrava a opinião no calor uma segunda natureza. Relendo-se, hoje,
do momento. as crônicas de Alencar, de Machado de

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 245


Assis, de Urbano Duarte e de Artur Aze­ E assim é, com efeito. Se não, vejamos:
vedo, encontram-se queixas e lamúrias que imagine-se, por um momento, que dispo­
somente no estilo diferem das atuais. mos de excelentes artistas de cena, peças
Dá-se com o teatro este paradoxo: ele do mais alto valor e público ansioso por
trabalha mesmo quando em “chômage”: assisti-los. Com tudo isso junto teríamos
vive exibindo a sua própria tragédia. De “teatro”? Evidentemente, não; não, porque
que se queixa o teatro? de que o público o faltaria, ainda, o empresário que montas­
deixa às moscas. Mas o público justifica-se; se devidamente as peças e contratasse os
e os autores de peças dizem que lhes fal­ atores, remunerando-os na proporção dos
tam bons intérpretes; e os artistas lamen­ seus méritos.
tam-se porque não há empresários e estes, Esse empresário tem de ser forçosa­
por sua vez, clamam que não existem casas mente um homem de negócios, isto é, um
para espetáculos em condições de propor­ homem que emprega um certo capital no
cionar-lhes uma remuneração convenien­ muito louvável intuito de ganhar dinheiro.
te ao seu capital. A indústria teatral passa, E esse empresário não aparecerá enquanto
portanto, a ser negócio de tanto risco que não existirem casas convenientes.
melhor se diria uma aventura ou um jogo Mas e os teatros A, B, C…X que temos
de azar. por aí? Objetará o meu leigo e amável lei­
À falta de capitalistas – que estes prefe­ tor. Resposta: não são teatros, no sentido
rem inverter capitais em jogos mais certos, econômico da palavra. O problema é mui­
como os dos cassinos – surgem autores que to complicado e eu estou aqui a ver como
se arvoram em empresários, tentando a é que me arranjo para o explicar, sem
parada com meia dúzia de vinténs e mon­ complicá-lo ainda mais.
tam as próprias peças; ou são artistas do Prestem atenção, porque eu não res­
palco que organizam companhias e correm pondo pela minha clareza: a capacidade
à aventura com alguns colegas dispostos a econômica do nosso público é muito baixa;
tudo. Já se tem dado o caso de ser o empre­ as entradas têm, portanto, de ser baratas;
sário, ao mesmo tempo, primeira figura do cinco mil réis, no máximo, pela poltrona.
elenco, autor da peça, ensaiador, acabando Cidade de trabalho e não de turismo (por
por ser, também, o próprio público… mais que lhe pretendam pôr a máscara) o
Esse fregolismo nos mostra a que pon­ Rio não tem gente para encher os teatros
to chega o amor à arte e a disposição para todas as noites. É preciso, por isso, contar
trabalhar dessa brava gente e o quanto po­ apenas com as lotações completas aos sá­
deria ela fazer se fosse possível organizá-la, bados e domingos, e meios, terços, quar­
discipliná-la e dar-lhe os elementos essen­ tos de casa nos outros dias da semana.
ciais para exercer a sua profissão. Mas que Não sendo possível forçar a frequência
elementos são esses? diária de espectadores, numa cidade que
Em primeiro lugar, casas, casas de teatro. dorme cedo, (porque tem o “batente” no
Parece, à primeira vista, um absurdo que dia seguinte) e onde os desocupados são
problema tão transcendente que envolve prontos, “espetadíssimos”, nem aumentar
inteligência criadora, talento artístico, mo­ os preços das localidades (motivos já ex­
vimento de capitais, gosto do público etc., postos) só resta uma solução: casas com
esteja na dependência precípua do fato ma­ um número tal de lugares que os dias de
terial de quatro paredes e um teto por cima. grande afluência, as enchentes de sába­

246 Teatros do Rio


dos e domingos, compensem as vasantes da de conforto e de higiene e, sobretudo, de
semana, facultando o que se chama na gí­ segurança contra incêndios. Um alarme de
ria teatral, “fazer a média”. Precisamos de fogo naquele buraco será o bastante para
teatros “com defesa” para usar ainda o jar­ que se registre uma verdadeira hecatom­
gão dos bastidores. be: só escaparão do sinistro as almas dos
É o que acontece com os cinemas da ci­ espectadores que, essas, poderão fugir
dade, que todos têm essa “defesa”; e, ainda pela quarta dimensão.
assim, raramente uma fita vai mais de uma O governo, mostrando o seu interesse
semana e quando passa para os bairros é pela arte cênica, o que já é alguma coisa,
com redução de 50% nos preços. mantém um Serviço Nacional de Teatro
As casas de teatro com que contamos sob a competente direção de um homem
são míseros cochicholos “indefesos”; os do “métier”, Abadie de Faria Rosa – ativo,
maiores estão fora de mão e alguns, o João inteligente e cheio de entusiasmo. Mas que
Caetano por exemplo, só têm acústica pode fazer o Serviço se não lhe dão casas
para pantomimas e bailados. para as representações?
As empresas cinematográficas (artistas Os auxílios pecuniários não passarão,
estrangeiros em latas de goiabada Cascão) jamais, de injeções de óleo canforado,
açambarcaram tudo quanto de melhor exis­ graças às quais as companhias levam mais
tia. O antigo Phênix, construído em terre­ tempo a morrer…
no doado pelo governo com a cláusula taxa­ Sendo os teatros-casa, além de ruins,
tiva de servir só para teatro, transformou-se em número reduzido, os seus proprietá­
em cinema de bairro, meio “poeira”. rios aproveitam-se e com todo o direito
Mudando de ofício, mudou também da irrevogável lei da oferta e da procu­
de nome: passou a ser Ópera. “Ópera” ra. Daí resulta que as empresas pagam ao
como?!… Concordem que como deboche “senhorio” um mínimo de 50% sobre a
aos contratos e às cláusulas legais e como importância bruta das entradas, ou seja
ridículo em cima do público e dos artistas, de 80% a 90% sobre o líquido. São os
nada mais cômico que isso de crismar-se grandes comandatários, com capital em
de Ópera uma casa de espetáculos, justa­ cimento armado. Convém acrescentar,
mente quando ela passa a servir exclusi­ aqui à margem, que não correm eles o
vamente à exibição de filmes de mocinho, menor risco, visto como os 50% do bruto
dos irmãos Marx e do Gordo e o Magro. passam a não ser computados quando não
Dois teatrinhos de recente construção, atinjam a 500$000; caso em que regula
o Ginástico e o Serrador, vão se desem­ este “minimun” de quinhentos para efeito
penhando, à falta de melhor, do seu papel do aluguel diário.
de agasalhadores da pobre arte cênica na­ Compreende-se que, por esse caminho,
cional. Embora “catitas” de aspecto, a am­ não há quem se atreva a organizar compa­
bos falta a “defesa” a que já me referi. Há nhias em ordem, com finalidade artística e,
também um porão inabitável, o Rival, ir­ ao mesmo tempo, como negócio comercial.
rivalizável como sítio impróprio para fun­ Ou o governo se determina a fazê-lo,
ções teatrais. Só uma extrema benevolên­ criando companhias, organizando elen­
cia – se não a completa indiferença – das cos e considerando o teatro um serviço
autoridades, permite espetáculos públicos público (o que estou longe de aconse­
num local a que faltam todas as condições lhar) ou manda construir casas de es­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 247


petáculos nas condições técnicas e eco­ possa o Rio de Janeiro contar com um bairro
nômicas necessárias; e não somente no ou zona teatral, à semelhança da Broadway,
centro urbano, como nos bairros popu­ em Nova Iorque, e do West End, em Londres;
losos da cidade.Tudo mais são paliativos Considerando que a zona referida, des­­­
que nada adiantam ao pobre doente e à bra­­
vada pelo dinamismo de Francisco
sua numerosa família de autores, artis­ Ser­­rador, era desvalorizada e decadente,
tas, músicos, cenógrafos e pessoal do tendo alcançado a enorme valorização es­
movimento…parado. pecialmente através do prestígio que lhe
deu a construção dos cinemas e dos tea­
A argumentação de Bastos Tigre é lúcida e tros que a tornaram importante centro de
legítima, e continua adequada. Contrapon­ atração e de movimento;
do-se à dramática situação dos teatros, sur­ Considerando, pois, que é justa a re­
gem propostas otimistas, que se propõem versão de uma parte dos benefícios des­
a solucionar definitivamente a crise. Como sa gigantesca valorização e em favor do
um projeto de lei elaborado em 1951, por teatro;
Raymundo Magalhães Júnior, e assinado por Considerando que a vinculação dessa
42 vereadores, que foi apresentado e apro­ área, como zona teatral, pode ser por ou­
vado pela Câmara dos Vereadores do Rio de tro lado, equilibrada pelas facilidades de
Janeiro, publicado na Revista da Sbat, n. 263, obtenção de financiamento pelo Banco da
de set/out de 1951, p.9: Prefeitura do Distrito Federal (n. 12 ar­
tigo 90 do Decreto-lei n. 7.355, de 2 de
Um projeto criando uma zona teatral no março de 1945), bem como pela isenção
centro da cidade do imposto predial sobre a parte que nos
Assinado pelo Vereador Magalhães Ju­ edifícios seja destinada a teatros;
nior e mais 42 vereadores foi apresentado Considerando que é legítimo o con­
à Mesa da Câmara dos Vereadores o se­ dicionamento do uso de propriedade ao
guinte projeto de Lei: interesse social, como a Constituição da
Considerando que é de todos reconhe­ República reconhece:
cida a necessidade e, mais do que isso, a A Câmara do Distrito Federal resolve:
obrigação, por parte do Poder Público, de Art. 10 É declarado zona teatral o tre­
amparar as atividades artísticas e, particu­ cho da cidade compreendido entre as
larmente, o teatro; ruas do Passeio, Avenida Mem de Sá, (até
Considerando que as possibilidades de o Largo dos Pracinhas), Praça Mahatma
construção de novos teatros diminuem à Gandhi, Praça Floriano (ambos os lados),
medida que aumentam as especulações Senador Dantas (trecho compreendido
imobiliárias; entre a Rua do Passeio e a Rua Evaristo
Considerando que já existe uma ten­ da Veiga), Visconde de Maranguape e Eva­
dência de fixação das atividades teatrais risto da Veiga.
numa das zonas centrais da cidade, aquela 10 No plano de urbanização atual, ou no
em que hoje funcionam o Glória, Rival, que vier a ser elaborado, deverá ser previs­
Regina, Serrador e que é das mais acessí­ ta a utilização de lotes destinados a teatros,
veis populações; obedecidas as seguintes condições;
Considerando que tudo aconselha a in­ a) os lotes não poderão ter testada mí­
centivação dessa tendência, a fim de que nima de 15,00;

248 Teatros do Rio


b) em cada lote não deverá haver uma Se a proposta de R. Magalhães Jr. dizia
percentagem menor de 50% (cinquen­ respeito à criação de uma Broadway brasi­
ta por cento) do uso para esse fim, e os leira no centro da cidade, ainda em 1951, o
outros 50% (cinquenta por cento) serão Vereador Hugo Ramos Filho, também pre­
destinados a outros tipos de casas de di­ ocupado com a situação das casas de espetá­
versões diferentes além de estabelecimen­ culos, apresentou à Câmara dos Vereadores
tos comerciais destinados a confeitarias, do Rio de Janeiro um projeto de lei, apro­
“boites”, “music-hall”, bares, restaurantes, vado, que complementa a ideia anterior,
bombonieres etc. porém garantindo a expansão desta rede a
20 Quando no futuro reloteamento da mais dez teatros, desta vez construídos em
quadra decorrente de plano de urbaniza­ bairros periféricos ao centro. Eis os termos
ção, o órgão competente do Secretário da proposta, na íntegra:
Geral de Viação de Obras deverá fixar em
determinados lotes e dentro da percenta­ O rio vai possuir mais dez teatros
gem estabelecida neste artigo, o uso obri­ A Câmara dos Vereadores aprovou,
gatório de construção de teatros com pe­ em votação final, o seguinte projeto do
los menos 500 (quinhentos) lugares, para Vereador Hugo Ramos Filho, mandando
os fins previstos nesta lei. construir, imediatamente, 10 teatros nes­
Art. 20 Na zona teatral criada por esta ta capital:
lei não será permitida a construção de edi­ Considerando que é da mais absoluta
fícios de mais de dez andares, excetuados conveniência estabelecer no Distrito Fe­
os de serviços públicos ou municipais, sem deral uma rede de teatros complementa­
que do respectivo projeto conste um tea­ res por dependências que sirvam ainda a
tro com pelo menos quinhentos lugares. outros fins culturais, a fim de interessar
Art. 30 As construções de novos teatros a população dos bairros, da difusão ar­
serão isentas de quaisquer taxas e do im­ tística;
posto predial pelo espaço de quinze anos. Considerando que a lei n. 1.949, con­
Art. 40 Fica subordinada às exigências substanciou, em parte, esse ponto de vista,
desta lei a construção do edifício do Insti­ mandando construir teatros nos bairros da
tuto dos Arquitetos do Brasil, em terreno Tijuca ou adjacências, Vila Isabel, Madu­
cedido pela Prefeitura na zona teatral de reira (em ponto central), Laranjeiras ou
que trata esta lei. adjacências, Méier (em ponto central) e
Art. 50 Esta lei vigorará pelo espaço de um na zona rural em Campo Grande ou
25 (vinte e cinco) anos. Santa Cruz;
Art. 60 Os teatros construídos na zona Considerando que se torna urgente a
teatral durante o período de vigência desta execução desse objetivo em escala maior;
lei gozarão de isenção do imposto predial A Câmara do Distrito Federal resolve:
pelo prazo de cem anos. Art. 10 – A Prefeitura do Distrito Fede­
Art. 70 Revogam-se as disposições em ral, por intermédio do Departamento de
contrário. Educação de Adultos, manterá uma rede,
Sala das Sessões, 24 de setembro de pelo menos, de dez teatros nos bairros do
1951. R. Magalhães Junior, Amandino de Distrito Federal.
Carvalho, João de Freitas, Índio do Brasil, 10 – Esses teatros deverão ter capacida­
Henrique de Miranda. de para um público entre 600 a 800 pes­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 249


soas, com palco nunca inferior a 8 metros Art. 40 – Fica o prefeito autorizado a abrir
de boca por 6 de profundidade, com seis o crédito especial de Cr$ 20.000.000,00
camarins e demais dependências comple­ para construções, indenizações e auxílios,
mentares. a ser utilizado no decorrer de dois anos.
20 – A rede de teatros será utilizada para Parágrafo único – Fica ainda autorizado
espetáculos de bom nível artístico a pre­ a aplicar, nas mesmas finalidades, as verbas
ços populares, mediante os entendimentos 400-3466 do orçamento de 1951.
que aquele Departamento terá com a Casa Art. 50 – Revogam-se as disposições da
dos Artistas e da Sociedade Brasileira de lei 346 de 24 de setembro de 1949 que
Autores Teatrais. contrariem a presente lei, bem como quais­
Art. 20 – Para o efeito da montagem da quer disposições em contrário.1
rede a que refere o artigo anterior, a Pre­
feitura utilizará os três processos de em­ Não morrem os sonhos da Broadway
preendimentos: carioca. Sem dúvida, o ano de 1959 foi
a) a construção por iniciativa sua; um ano de grandes esperanças para a
b) a aquisição de auxílio especial a en­ classe teatral, porque em maio daque­
tidade privada idônea da natureza cultural le ano, escavadeiras e tratores trabalha­
ou recreativa, em propriedade desta. vam ainda no desmonte do Morro de
Art. 30 – Só poderá ocorrer a concessão Santo Antônio, quando surgiu a ideia do
de auxílio quando: grande projeto; uma “bomba”, como foi
a) a Prefeitura não dispuser de terreno chamada. Uma boa parte da área conse­
em condições no bairro; guida pela Prefeitura ia ser doada, para
b) for mais econômica a cooperação do que ali surgisse a zona teatral da cidade.
que a realização direta; O projeto empolgou a todos e um grupo
c) integrar um conjunto social, com re­ de trabalho foi oficialmente constituído,
cíprocas vantagens; para levá-lo a bom termo. Foram pro­
d) for do interesse da Municipalidade a metidos teatros, circos, concha acústica,
sua localização. anfiteatros para concertos, casas de chá,
10 – A concessão do auxílio se fará na restaurantes, muita coisa, todas ideias mi­
base de 70% sobre o valor da obra e do rabolantes para povoar intensamente uma
terreno, cabendo à Prefeitura a aprovação localidade central que estava relegada ao
do projeto. abandono.
20 – A avaliação do imóvel e a fiscaliza­
ção da obra serão entregues a uma Comis­ Acredito numa retumbante vitória, por­­­­­­­
são especialmente designada para esse fim. que a ideia interessa a todos, isto é, à po­
30 – A importância do auxílio será de­ pulação, à classe teatral e aos eminentes
positada no Banco da Prefeitura, em conta homens públicos de nossa terra. Ninguém
especial. está imune ao teatro.2
40 – A entidade privada entregará ao
Departamento de Educação de Adultos o Através da Casa dos Artistas foi feito um
teatro, durante o prazo de dez anos, para a apelo aos vereadores do Distrito Federal,
sua utilização a critério do Departamento, que aprovassem o mais depressa possível o
ressalvado um dia da semana para livre uso projeto que doaria a esta entidade um terre­
por parte da entidade. no na Avenida Chile, a exemplo do que havia

250 Teatros do Rio


sido feito com todas as outras associações de mens de teatro não souberem aprovei­
classe, para que nele fosse construída a sede tar a magnífica oportunidade que se lhes
própria e seu respectivo teatro. oferece, pois a boa vontade demonstrada
Seria uma autêntica “Broadway” bem no pelo prefeito e por todos os represen­
centro da cidade. tantes dos partidos políticos cariocas é
uma garantia que a ideia vingará no me­
Não tenho dinheiro para construir um nor espaço de tempo possível, pois o Rio
teatro, no entanto se a PDF facilitasse ou necessita de teatros que se localizem no
doasse a aquisição do terreno, eu arran­ centro da cidade, principalmente, agora,
jaria um financiamento por intermédio quando se agita na mudança da capital
do Banco da Prefeitura e lançaria mãos para Brasília.4
à obra.3
Também Raymundo Magalhães Jr., de
A ideia nasceu, e logo cresceu sendo for­ quem surgira a campanha originária, ma­
mada uma comissão composta por diversos nisfesta-se sobre o assunto, em entrevista
políticos e intelectuais do meio artístico, en­ publicada no mesmo número da revista
cabeçada, como presidente de honra, pelo Teatro Ilustrado, chamando atenção para
Prefeito Sá Freire Alvim, seguido de um um fato que talvez pudesse ameaçar o
presidente, jornalista Roberto Marinho (na sucesso do projeto, a mudança da capital
época, diretor de O Globo), e de auxiliares: para Brasília:
Murilo Miranda, vereador; Joracy Camargo,
teatrólogo; Delorges Caminha, presiden­ Esperamos que o resultado do nosso tra­
te da Casa dos Artistas; um representante balho se consubstancie em providências de
do prefeito, um representante da Sursan, alcance imediato e que estas obtenham a
Diretor do Departamento Urbanístico da pronta aprovação da Câmara de Vereado­
Prefeitura e líderes de todas as bancadas dos res, que, aliás, estará muito bem represen­
Partidos na Câmara dos Vereadores. Rober­ tada no grupo de trabalho.
to Marinho manifestou-se deste modo, ao Agora, que se cogita na transferência da
jornalista José Maurício, Capital da República para Brasília, tal mu­
dança não poderá importar na diminuição
No almoço de que participaram o Pre­ das nossas atividades artísticas e culturais.
feito Sá Freire Alvim, o presidente da Ao contrário, teremos por isso mesmo que
Câmara Municipal, os líderes dos parti­ ampliá-las e desenvolvê-las na medida do
dos e os mais expressivos elementos da possível, com o amparo decidido do poder
classe teatral, aventei a ideia da Prefei­ público, cujo empenho será de ver progre­
tura estabelecer na quadra da Avenida dir cada vez esta terra, e não o de vê-la re­
Chile, que confina com a Rua Senador gredir ou marchar para a decadência.
Dantas, o gabarito de 2 ou 3 andares pa­
ra os prédios a serem construídos, de Os membros do grupo, de quando em
modo que os terrenos sejam destinados quando, sempre que possível e necessário,
à construção de teatros. se reuniam em lugares diferentes, apresen­
Posso, desde já, assegurar que o meu tando sugestões, que eram debatidas com o
jornal dará ampla cobertura à ideia. Este intuito de traçar os planos definitivos para a
movimento só não irá à frente se os ho­ execução da futura “Broadway”.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 251


Pela construção de teatros na avenida casas de espetáculos, em face da demolição
chile dos edifícios destinados a esse fim, como
Medidas em andamento, tomadas pelo ainda em relação a um sistema racional de
Grupo de Trabalho, reunido na sede de amparo aos trabalhadores das artes cênicas.
O Globo. Frisou o presidente da reunião o imperativo
Sob a presidência do jornalista Roberto do aproveitamento da efervescência que se
Marinho teve lugar na sede do vespertino verifica nos meios artísticos com intuitos de
O Globo a reunião do Grupo de Trabalho renovação, criando-se condições favoráveis
para o desenvolvimento do teatro no Dis­ à sua expansão, sem esquecer o fato de que
trito Federal. Para que todos os interessa­ a cidade deve reconquistar o seu centro de
dos nesta louvável e oportuna campanha diversões, que tende a erradicar-se da Ci­
possam tomar conhecimento das provi­ nelândia, devendo, por isso, encontrar local
dências assentadas e em andamento, pu­ adequado para a sua instalação. Lembrou,
blicamos, a seguir, a ata dos trabalhos da por fim, a campanha aberta pelo O Globo em
referida reunião. favor do aproveitamento de uma das áreas
Aos vinte e três dias do mês de julho conquistadas com o desmonte do morro de
de mil novecentos e cinquenta e nove, sob Santo Antônio, principalmente no início da
a presidência do Sr. Roberto Marinho, e Avenida Chile. Em seguida, passou a pala­
coordenação do Sr. Joracy Camargo, reali- vra ao coordenador, Sr. Joracy Camargo,
zou-se a primeira reunião plenária do Gru­ que procedeu à leitura da agenda aprovada
po de Trabalho para o desenvolvimento na reunião preliminar, que contara com a
do teatro no Distrito Federal, com a pre­ presença do Sr. Prefeito José Joaquim de Sá
sença dos Srs. Benedito Inácio Maria, lí­ Freire Alvim, e do presidente da Câmara de
der do P.R.P.; Roberto Gonçalves Lima, Vereadores, Sr. Celso Lisboa.
do P.T.B.; Sales Neto, da U.D.N.; Erasmo O Sr. Joracy Camargo propôs que, após
Martins Pedro, do P.S.D.; Albano Marques, o debate de cada um dos itens da agenda,
do P.T.N.; Cristiano Lacorte, do P.L.; Mu­ fosse designado um relator da matéria em
rilo Miranda, da U.D.N.; Levi Neves, lí­ discussão, o que foi aprovado. Amplamente
der da Maioria na Câmara de Vereadores; discutidas as questões constantes da agenda,
Stélio de Alencar Roxo, representante da nos diversos itens, com a intervenção de to­
SURSAN; Raymundo Magalhães Júnior, dos os presentes, o presidente designou os
representante do Sr. Prefeito do Distrito seguintes relatores: Primeiro: “Mensagem
Federal; Daniel da Silva Rocha, presidente de S. Exa o Sr. Prefeito do Distrito Fede­
da S.B.A.T. Foram justificadas as ausências ral à Câmara Municipal, ampliando a Zona
dos Srs. Delorges Caminha e Walter Pinto, Teatral, com possível inclusão da Avenida
representantes, respectivamente, da Casa Chile”. Relatores: Albano Marques e Stélio
dos Artistas e do Teatro Musicado. de Alencar Roxo. Segundo: “Utilização dos
Dando início aos trabalhos, o Sr. Rober­ impostos que recaem sobre Diversões Pú­
to Marinho fez considerações sobre os ob­ blicas na constituição de um Fundo Especial
jetivos do Grupo, salientando a necessidade de amparo financeiro ao Teatro, em todos os
de um movimento de colaboração com os seus setores e atividades”. Relator: Levi Ne­
poderes municipais no sentido de oferecer ves. Terceiro: “Prosseguimento do progra­
ao teatro bases orgânicas e estáveis, não ma de construção da Rede de Teatros Muni­
somente no que concerne à construção de cipais, principalmente nos bairros de maior

252 Teatros do Rio


densidade populacional”. Relator: Raymun­ nicipais e das entidades que congregam os
do Magalhães Júnior. Quarto: “Estudo da trabalhadores do teatro, reafirmando sua
possibilidade de reformas do Lido para a convicção sobre o cumprimento do plano
construção de um teatro, e do Centro de traçado e anunciado que nova reunião será
Recreação da Praça Cardeal Arcoverde, no realizada em breves dias para a discussão e
sentido de seu permanente aproveitamento aprovação dos relatórios, e consequente re­
pelas companhias teatrais regulares”. Rela­ dação de um memorial a ser enviado ao Sr.
tor: Raymundo Magalhães Júnior. Quinto: Prefeito e ao Sr. Presidente da Câmara de
“Recomendação à presidência do Banco da Vereadores. Antes de encerrada a sessão, o
Prefeitura do Distrito Federal no sentido de Sr. Joracy Camargo leu um telegrama do
ser executado o dispositivo de sua própria Sr. Vereador Francisco Silbert, justificando
estrutura, que determina o financiamento sua ausência”.5
da construção de casas de espetáculos, e
entendimentos com a direção da Sumoc no O grupo de trabalho chegou a entregar o
mesmo sentido”. Relator: Levi Neves. Sex­ esboço do projeto ao prefeito, para que ele
to: “Gestões junto aos líderes dos diversos mandasse preparar uma redação definitiva
Partidos para a apresentação de um projeto e fosse então enviada mensagem à Câmara
isentando de impostos a construção de edi­ dos Vereadores. No Legislativo Municipal o
fícios destinados a hotéis, desde que conte­ assunto então seria votado, daí a importân­
nham um teatro, cujas plantas sejam previa­ cia da escolha dos líderes das bancadas jun­
mente aprovadas pela Prefeitura”. Relator: to ao grupo de trabalho. Foram articuladas
Erasmo Martins Pedro. Sétimo: “Gestões campanhas junto à população e através do
junto ao Sr. Prefeito, no sentido de enviar jornal O Globo, além de matérias em outros
mensagem à Câmara de Vereadores, ceden­ jornais. Não se encontraram mais referên­
do um terreno, em regime de comodato, à cias ao projeto. O sonho foi um espetáculo
Casa dos Artistas para a construção de sua de curta temporada.
sede”. Relator: Roberto Gonçalves Lima. Quase uma década depois, na seção “Um
Oitavo: “Gestões no sentido de ser conce­ dia depois do outro”, que mantinha no Diá-
dida uma subvenção à Casa do Estudante rio da Noite, Guilherme Figueiredo expõe sua
do Brasil, especialmente destinada à cons­ preocupação com relação aos teatros, enal­
trução de seu teatro”. Relator: Levi Neves. tecendo as figuras de R. Magalhães Júnior,
Nono: “Diligências no sentido de não per­ Mourão Filho e Murilo Miranda. Foi repu­
mitir-se, na forma do que dispõe o Decreto blicada na Revista de Teatro da Sbat, n. 312 de
n. 7.959, de 17 de setembro de 1945, que nov/dez de 1959 e relembrando a proposta
os atuais teatros sejam demolidos ou des­ inicial de concentração do polo teatral e a
tinados a outra exploração comercial”. contraproposta posterior, de pulverização
Relator: Erasmo Martins Pedro. Décimo: das casas de espetáculos a serem construídas
“Estudo da possibilidade da construção de pelos bairros da cidade. O mote é que não
Conchas Acústicas, para concertos públi­ variava: Mais teatros para o Rio.
cos, no Jardim de Alá, na Praça da Repú­
blica e no Jardim do Meier”. Relator: Mu­ É preciso exaltar aqui os esforços de dois
rilo Miranda. Distribuídas as tarefas, o Sr. vereadores preocupados com o teatro do
Roberto Marinho agradeceu a presença dos Rio de Janeiro. Já tivemos na Câmara dos
senhores representantes dos Poderes Mu­ Vereadores um grande lutador pelo teatro,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 253


que por um desses lamentáveis azares da de­ ca de cenários de um para outro teatro),
sorientação eleitoral não foi reconduzido ao camarins, quadro de iluminação, urdimen­
posto que justamente ocupava: refiro-me a tos, “stands” para venda de livros e serviços
Raymundo Magalhães Júnior, cujos múlti­ de bar etc. As zonas escolhidas para as seis
plos projetos em favor da arte cênica no Rio primeiras construções serão Jacarepaguá,
foram muitos deles aceitos e se encontram Méier, Tijuca, Copacabana, Gávea, Jardim
em vigor como o que concede prêmios às Botânico e Uruçu-Mirim (na Leopoldina
personalidades do mundo teatral mais des­ com ajardinamento dos banhados da Gua­
tacadas anualmente. Numa terra paradoxal­ nabara). Ficará, assim, a Municipalidade
mente amante do teatro e esquecida dele, dispondo de seis teatros de bairro, que
Magalhães Júnior faz falta (...) serão cedidos a entidades públicas e par­
Mas, dizia, dois homens continuam o ticulares, para todo o gênero de reuniões
seu trabalho. O primeiro acaba de prestar de cada comunidade, mas que exercerão a
uma valiosa colaboração à campanha ini­ função principal de alcançar novos públi­
ciada pelo O Globo, para a criação de uma cos para a arte cênica.
“Cinelândia Teatral” na recentemente inau­ O segundo projeto do Vereador Mou­
gurada Avenida Chile. Compreendendo rão Filho “autoriza a doação de terreno à
que o problema do teatro no Rio, cidade­ Sociedade Brasileira de Autores Teatrais”,
-arquipélago, de longas distâncias e difícil para que ali construa sua sede, que será
transporte, é o de levar o espetáculo cê­ uma sala de visitas para escritores de tea­
nico aos bairros mais populosos, o verea- tro, artistas, turistas, e que acolherá o pú­
dor Mourão Filho ofereceu aos seus pares blico num teatro de 800 lugares. O futuro
um projeto que “determina a construção teatro da Sbat será nos aterros da Glória
de centros cívicos e artísticos nos diversos ou do Flamengo, ou na Avenida Chile,
bairros da cidade”. onde se localizará a Broadway brasileira.
Os “Centros Cívicos e Artísticos” são Como profissional do teatro, quero da­
parte do programa de realização para o qui levar o meu abraço a Mourão Filho,
Quarto Centenário do Rio de Janeiro. cujos dois projetos representam uma con­
Compreendem eles uma cadeia de inicial­ tribuição inestimável para o ressurgimen­
mente seis casas de reunião popular, que to da arte teatral no Rio, que enfrenta o
comportem realizações teatrais, solenida­ crucial problema de “não ter onde morar”,
des cívicas, escolares, artísticas, religiosas desde que foram desaparecendo as mais tra­
e políticas promovidas por entidades par­ dicionais casas de espetáculos do carioca. E
ticulares e públicas. Tais centros disporão quero estender esse abraço a outro verea­
de uma sala de espetáculos, comportando dor, cujo nome leio como signatário dos
pelo menos 600 pessoas, com capacidade, projetos Mourão Filho; o ex-diretor do Tea­
condições de acústica, circulação de públi­ tro Municipal, Murilo Miranda, a quem de­
co, serventias, de modo a representarem vemos outras iniciativas em favor da cultura
teatros tão confortáveis quanto os cinemas cênica. A saudação se estende aos verea­
de bairro, e contendo, ainda, sala de ad­ -dores Telêmaco Gonçalves Maia e Castro
ministração, bilheteria, salão de ensaios e Menezes, que também apuseram suas assi­
reuniões menores, “foyer” com capacidade naturas nos dois projetos; e certamente se
para o público, palco de dimensões estan­ estenderá a todos os representantes cario­
dardizadas (de modo a permitir a fácil tro­ cas que prestigiarem tão úteis proposições.

254 Teatros do Rio


Tenho confiança em que tais projetos dos locatários e os locadores ainda não
se tornarão realidade de pedra e cal; eles perceberam a mudança dos ventos.
contarão com o apoio dos partidos po­ Cinco sem contratos
líticos, das igrejas, das escolas, dos clu­ Vejam a real situação do mercado tea­
bes sociais e esportivos, das Sociedades tral neste final de 66. Estão à disposição
de Amigos de cada bairro, que passarão das companhias os seguintes palcos: Teatro
a dispor de um recinto para suas reuni­ Mesbla, atualmente fechado e sem nenhu­
ões; e do público, que será o grande be­ ma possibilidade de locação. As propostas
neficiado. Que a Câmara dos Vereadores que chegaram até à direção do magazin são
aprove os dois projetos, que o prefeito os de grupos amadores e folclóricos, nenhum
sancione, que a Municipalidade construa deles capaz de depositar adiantamento de
os Centros Cívicos, que a Sbat erga o seu dois milhões de mínimo exigido; Teatro
teatro e que o carioca recompense os que Serrador, também sem programação para
lhe deram essas casas de espetáculos são este fim de ano e para o ano próximo. Tem
os meus votos. no palco uma companhia de universitários,
sem nenhuma expressão comercial. Eva
Tantos votos de confiança pouco ou quase Todor, atriz e empresária que poderia ar­
nenhum resultado obtiveram. Os anos 1960 rendar o teatro em caráter permanente, é
não conheceram situação melhor. Com o fe­ hoje um nome queimado da Empresa Ser­
chamento dos teatros nesta década, a crise rador. Não me perguntem por que. Tea-
atingiu não só a classe artística, mas também tro João Caetano, vago desde a saída de
os donos de salas de espetáculos, conforme Víctor Berbara, pertence ao Estado e até
artigo de Ney Machado. o momento nenhuma empresa particular
se candidatou à locação; Teatro Recreio
A crise teatral, da qual tanto se fala, vai terá a Companhia Ítalo Curcio somente
atingir agora os donos dos teatros, os pro­ até o dia 15 de dezembro. Sem programa­
prietários que arrendam as suas salas na ção para 1967. Aliás, o Recreio vem caindo
base de percentagem e mais um mínimo aos pedaços sem que o “dono” do imóvel,
de garantia. Percentagem e mínimo que o ex-produtor Walter Pinto, tome a menor
vinham subindo todos os anos tornando providência. Ele, que lutou tanto para con­
a vida dos produtores e empresários cada tinuar com o imóvel pelo qual paga uma ni­
vez mais difícil. Pela primeira vez na histó­ nharia a uma irmandade, deveria ser obriga­
ria do teatro carioca, nos últimos 20 anos, do a realizar um mínimo de obras no velho
cinco teatros estarão sem programação casarão, sob pena de tê-lo desapropriado a
neste final de novembro. O fato é tão sin­ bem da saúde pública; Teatro de Bolso, atu­
gular que nenhum dos donos dos imóveis almente com a Companhia de Aurimar Ro­
se apercebeu da tragédia, nenhum deles cha, seu arrendatário. O próprio Aurimar
pensou em tomar providências, pois até informa-nos que fechará o teatro a partir do
agora o que vinha acontecendo era o inver­ próximo domingo. Também sem nenhuma
so, assistia-se a uma corrida, uma disputa proposta de arrendamento. Não nos esque­
entre empresários, cada qual oferecendo çamos de que o Teatro Nacional de Comé­
mais vantagens para obter o arrendamento dia está fechado há mais de um mês e só em
deste ou daquele palco. A situação mudou dezembro será reaberto com Lua Minguante
completamente, o mercado virou a favor na rua 14, peça de Jorge Andrade, montada

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 255


pelo SNT. Em dezembro ficará pronto, em que originariamente o local teria sido re­
Copacabana, o Teatro da Praia, o melhor da gistrado como “cineteatro”, comportando
Zona Sul, agravando ainda mais a oferta de nesse caso a sua nova atividade. É verdade
boas casas de espetáculos.6 que eles já tentaram organizar uma ativi­
dade teatral paralela, mas as condições do
Não para aí a história dos fechamentos próprio local, diminuição da já exígua área
dos teatros. O final da década conhecerá do palco pela montagem da tela cinema­
ainda um quadro bastante desesperanço­ tográfica, impedem a mais simples mar­
so. Mais uma importante voz se faz ouvir, a cação cênica. Ainda existem outros “ci­
de Martim Gonçalves, em artigo do jornal neteatros”, que só cuidam da exibição de
O Globo de 25 de agosto de 1969, retratando filmes: o “Kelly” na Rua Senador Vergueiro
a situação dos teatros fechados nessa época: e o “Alvorada” na Rua Raul Pompeia. Este,
aliás, começou como teatro.
Com a atual crise do teatro carioca (muito No Catete, depois que os empresários
embora alguns pretendam negá-la) adqui­ do “Teatro do Rio” mudaram-se para Ipa­
re importância o fato de se encontrarem nema levando as cadeiras que lhes perten­
vários teatros da cidade de portas fecha­ ciam, a sala ficou desaparelhada e inativa.
das, inativos. É o caso do “Teatro Novo” Ninguém se moveu para impedir que mais
(antigo República) que depois de uma cur­ uma casa de espetáculos do Rio de Janeiro
ta temporada cheia de ostentações e pro­ deixasse de existir…
messas, cerrou as suas portas e inexplica­ Em Copacabana o aparecimento do
velmente se mantém inativo. Incapacidade “Mini-Teatro” e do “Arena Clube de Arte”
do seu proprietário e empresário de con­ foram saudados como o advento de uma
tinuar o anunciado programa? O mesmo nova era. Imaginava-se que outros teatri­
destino parece reservado ao “Novo Teatro nhos surgiriam na Zona Sul. Mas tal não
Phoenix” no Jardim Botânico. Por várias aconteceu. Ao contrário, e aqueles teatros
vezes desta coluna reclamei contra o seu tiveram que fechar as portas. E outros,
proprietário que se nega a alugar o teatro como o “Teatro Sérgio Porto” (antigo Mi­
ou pretende fazê-lo a preços tão exorbi­ guel Lemos) e o “Novo Teatro de Bolso”,
tantes que torna impossível qualquer ten­ no Leblon, restringem suas atividades tea­
tativa feita nesse sentido. E há uma lei que trais ao “show” musical” que é sempre mais
impede (ou deveria impedir) que se man­ rendoso. E quando surge um novo grupo
tenham fechados os teatros quando existe que tenta num teatro praticamente desco­
demanda. Imaginem se não houvesse lei nhecido como o Teatro Gil Vicente criar
alguma! O fato é que a classe teatral é ain­ um novo local e uma nova ideia, logo se
da uma classe que cuida muito mal de suas mudam para a Zona Sul porque seus diri­
necessidades e verdadeiras reivindicações. gentes imaginam que a mudança lhes faci­
Temos ainda o caso dos “cineteatros”. lita a tarefa, dispensa os sacrifícios.
Vejamos: O “Teatro de Bolso” (o antigo, Quanto à situação dos teatros fechados,
hoje rebatizado de “Poeira”), funcionou creio que chegou a hora de tomar provi­
sempre como teatro de comédia até que dências sérias e enérgicas.
recentemente foi transformado em cine­
ma. Os arrendatários daquela casa de es­ Mais uma década, renovadas esperanças,
petáculos justificam a mudança dizendo a ideia de financiamento volta à cena, des­

256 Teatros do Rio


ta vez com alguns resultados mais positivos. O programa previa a destinação de verbas
Em 22 de agosto de 1977, em solenidade especiais para: Plano de Restauração de Bens
no auditório da Secretaria de Planejamen­ Arquitetônicos, Plano de Apoio a Difusão
to, sob a presidência do governador do Es­ Cultural e Plano de Restauração e Reequi­
tado, Faria Lima, era lançado o Programa de pamento de Museus. O Programa de Apoio
Apoio a Teatros, que visava estimular instala­ à Construção de Novos Teatros Particulares
ção, ampliação e modernização de salas; um previa financiamentos que poderiam atingir
programa pioneiro no Brasil. até 80% do investimento global, nas seguin­
O programa foi elaborado pelo secretário tes condições veiculadas pela imprensa:
de planejamento, Ronaldo da Costa Couto,
atendendo às diretrizes do Instituto Munici­ 1) Prazo total: até 15 anos com 3 anos de
pal de Planejamento (IPLAN-RIO) que, ao carência incluídos;
definir a programação para o quadriênio 2) Correção monetária: equivalente a
1975/1979, conferiu prioridade ao setor cul­ 60% da aplicada às Obrigações Reajustá­
tural, salientando a urgência de se identificar, veis do Tesouro Nacional (ORTN);
recuperar e ampliar o acervo cultural acumu­ 3) Taxa de juros: 6% ao ano;
lado pelo Estado ao longo de sua formação. 4) Garantias bancárias: o BD-Rio aceita
A iniciativa do Estado partiu de detalha­ a hipoteca de bens imóveis, na proporção
do levantamento da rede de teatros no Rio mínima de 1,3 por unidade de financia­
de Janeiro, e da avaliação do seu mercado mento.
atual e potencial. Em 1977 existiam na cida­ 5) Candidatos: empresas privadas exis­
de 33 casas de espetáculos teatrais em ativi­ tentes ou novas, de capital nacional, que
dade, perfazendo um total de 16.057 lugares. desejem expandir, modernizar ou instalar
Eram casas de todos os tipos, desde as mais teatros no Estado.
simples até as mais modernas, com o máxi­ A equipe do BD-Rio, encarregada da
mo de 1.500 lugares. Quanto à distribuição análise das propostas, acolherá projetos de
geográfica, observava-se uma concentração várias naturezas, em termos de construção
das casas no centro e bairros da zona sul. E e/ou instalação de teatro. Exemplos:
o levantamento realizado demonstrava que a • Construção de um teatro em terreno va­
frequência aos teatros do Rio havia atingido zio. Neste caso, a produção do teatro con­
dimensões surpreendentes, revelando que sistiria, efetivamente na construção civil,
expressivo contingente da população adqui­ instalação de poltronas, tapetes, cortinas,
riu o hábito de ir ao teatro. Em 1972 o teatro palco, ar-condicionado. Desse modo, a em­
contou com 551.297 espectadores; em 1973 presa concorrente deverá ser proprietária
este número aumentou para 1.247.770 es­ do terreno, uma vez que a construção civil
pectadores; em 1975, para 1.093.529 e em será incorporada ao mesmo, de acordo com
1976 para 1.676.844 espectadores. Acredi­ os dispositivos legais vigentes.
tando-se desta forma que as oportunidades
ainda eram atraentes para empresários tea­ • Construção de um teatro dentro de pro­
trais na ampliação da rede de teatros, além jeto mais amplo de construção civil. Qual­
das facilidades de financiamento que o Estado quer empreendimento imobiliário, ou até
oferecia para novos tea­­tros, o financiamento mesmo uma grande loja de departamentos
também objetivava a melhoria da instalação podem propor a construção de um teatro
dos já existentes. inserido no projeto global, a exemplo dos

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 257


que existem na Mesbla, Bloch, Hotéis Co­ As alternativas aparecem em lugares mais
pacabana e Glória, BNH. diversos, pela cidade, como aconteceu com
• Adaptação de área disponível em prédio os cafés-teatro, ou cafés-concerto. Muitos
já construído. Caso da transformação, me­ outros espaços foram sendo inaugurados –
diante reformas, em certo espaço (algumas na maioria das vezes sem a menor condição
salas por exemplo), com vistas a se criar técnica – e logo esquecidos, desaparecendo,
um teatro”. sem deixar marcas, ou sendo mantidos ape­
nas para eventos da própria instituição a que
eram vinculados.
Em abril de 1978 o Banco de Desenvol­ A preocupação da classe artística em solu­
vimento do Estado do Rio de Janeiro (BD­ cionar, ou pelo menos minimizar os proble­
-Rio), aprovou financiamentos de Cr$ 23,8 mas da arte cênica no Brasil já tem uma lon­
milhões através de seu “Programa de Apoio ga história, envolvendo não só os governos
a Teatros”, para mais seis empresas do Rio, federal, estadual e municipal, mas também
possibilitando a instalação de cinco novos tea­ entidades privadas, além da Funarte, da Sbat
tros – Bangu, Madureira, Tijuca e Gávea – e e dos sindicatos.
a ampliação de outro, em Copacabana. “Des­ Por outro lado, novas exigências técnicas
de que foi criado o programa, em agosto de e novas propostas cênicas foram aparecendo
1977, até março de 1978, o BD-Rio aplicou com o surgimento de uma nova geração de
Cr$ 38,8 milhões”, noticiou o jornal O Globo, encenadores, fenômenos que sempre ge­
de 27 da abril de 1978. Das seis operações ram safra rica de alternativas, como se verá
de financiamento realizadas, a maior delas na sessão dedicada aos espaços múltiplos e
– em volume de empréstimos e dimensões alternativos. A vontade de romper paradig­
de projeto – referia-se à instalação de um mas, de fu­­gir às normas consagradas e de
teatro em Madureira para mil espectadores, evitar a es­­­tratificação, aliadas na maioria das
solicitado pela empresa Rio Madureira Ltda. vezes à falta de recursos, resultam no aguça­
Na apresentação dos espaços teatrais haverá mento da imaginação e da criatividade, tanto
referência aos teatros que foram construídos em relação à utilização não convencional de
ou reformados graças a este financiamento, espaços convencionais, como na transforma­
como o Tereza Rachel, por exemplo. ção de qualquer local em espaço cênico.
Se todas essas campanhas visavam ao gran­ Outro fenômeno importante e caracte­
de público, e à construção de teatros com nú­ rístico da trajetória das casas de espetáculos
mero considerável de assentos, também havia neste final de século XX tem a ver com o
esforço da parte de instituições para abrigar surgimento dos centros culturais, das casas
espaços para montagens teatrais. Durante a de cultura e dos espaços culturais, locais po­
década de 1980 muitos teatros nasceram ora livalentes, de articulação de diversas lingua­
por iniciativa de uma instituição de ensino, gens e grande número de ofertas, amplian­
ora por grupos ou ator, ora por vontade pró­ do e às vezes até absorvendo as alternativas
pria de um estabelecimento em desejar pos­ anteriores de fugir à crise, como os cafés­
suir uma casa de espetáculos para atender sua -concertos, por exemplo.
comunidade e abri-la ao público em geral da Novos hábitos de consumo, a dificuldade
região em que se situava. de formação de elenco fixo, o fechamento
Muitos desses espaços que surgiram na dé­ de vários teatros, a falta de novos espaços
cada de 1980 fadaram-se ao esquecimento. e de patrocinadores para os grupos novos

258 Teatros do Rio


da última década, tudo isso motivou busca reconhecimento da classe artística, atenden­
permanente de lugares que pudessem vir do às propostas cênicas dos diretores.
a receber um espetáculo, passando apenas Todavia, as condições técnicas da maioria
por pequena modificação. O aparecimen­ dos teatros do Rio de Janeiro e sua localização
to desses grupos provocou uma mudança (em ruas sem estacionamento) podem ser as
sensível na linguagem estética e no padrão principais razões do desestímulo tanto do pú­
de gosto dos espectadores, consolidando blico como da própria classe teatral.
um movimento que começara a surgir na A maioria dos teatros existentes encon­
década de 1960, e que agora se encontrava tram-se em estado de abandono, desprovi­
em fase de amadurecimento e fortaleci­ dos de equipamentos condizentes com as
mento, reforçando uma tomada de espaço necessidades das encenações e de recursos
no panorama teatral. Através da experi­ técnicos para melhor desempenho dos ar­
mentação, os encenadores e seus peque­ tistas, oferecendo condições precárias de
nos elencos foram criando, dentro de uma conforto para o público. Mas a abnegação
nova ética organizacional, condições e via­ e o idealismo da classe artística que vem se
bilidade de aprimoramento e continuidade dedicando a manutenção e divulgação dessas
de trabalho. casas, mesmo em detrimento de seu fazer
O reconhecimento do público e da crítica artístico, é uma forma de manter vivo o tea­
reforçou a necessidade de ocupação, pelos tro, como arte e razão de ser.
grupos e encenadores, de espaços não con­ O atual estado físico da maioria dos tea­
vencionais, não tradicionais e, por este mes­ tros no Rio de Janeiro, salvo algumas exce­
mo motivo, valorizados. A experimentação ções, não dá condições para a apresentação
determinou linguagens cênicas novas: para de grandes montagens, ficando restritos a
alguns, a solução estaria no desnudamento produções artísticas de grande porte so­
da própria caixa cênica, com a eliminação de mente os teatros com uma boa caixa cênica.
suas vestimentas de palco, e de sua magia; A reforma e o redimensionamento de alguns
outros optaram pelo prolongamento do pal­ teatros não só favoreceria o renascimento
co, aproximando-o ao máximo da plateia, dos valores cênicos, como a multiplicação
às vezes pelo deslocamento das poltronas, das atividades, dinamizando tão importante
transformando palco e plateia em um único setor da cultura brasileira.
campo de energia. A bem da verdade, a situação atual do te­
Essas propostas abriram caminhos para atro brasileiro, enfocada segundo seus múl­­
uma urgente necessidade de se reestrutu­ tiplos aspectos, é caracterizada por dificul­
rarem teatros, preparando-os para receber dades financeiras que evidenciam de maneira
companhias ou grupos, adequando-os a seus categórica a impossibilidade da utilização ape­
desejos e pretensão de encenações diferen­ nas das disponibilidades próprias na solução
tes, tornando possível, assim, o redimen­ dos problemas de grande porte, em que se
sionamento de casas de espetáculos que se enquadram aqueles que determinam este
encontravam em permanente abandono. As estudo. São restritos, sabemos, os caminhos
reformas viabilizaram-se através de projetos existentes para a obtenção de recursos neces­
adequados, corretos e funcio­nais em todos sários à concretização de alguns aspectos, mas
os aspectos técnicos, de mo­do a garantir a algo tem que ser feito para que os teatros não
aprovação do Departamento de Obras Pú­ continuem sendo transformados em templos
blicas dos Municípios, bem como gozar do de seitas religiosas.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 259


4.1. CINETEATRO: teatral na passagem do século XIX ao XX.
O cinema nascente era a grande novidade,
A DUPLA FUNÇÃO DAS
atraindo um público curioso. Era divertimen­
CASAS DE ESPETÁCULOS to mais barato e popular, independia de com­
panhias, aparatos técnicos de palco e podia
ser mantido em permanentes sessões diárias,
A verdade é que o Rio de Janeiro não tem o que não seria fácil no teatro.
teatros. Isto é, não tem casas de espetácu- As primeiras décadas do século conhece­
los que sejam verdadeiramente teatros ram este novo gênero de edifício teatral, de
– no mínimo e na qualidade em que de- dupla função, o cineteatro, em que ora pre­
veríamos possuí-los. É, no fim de contas, valecia uma função, ora outra, como acon­
natural. Quando o espantoso desenvolvi-
teceu com alguns teatros do século XVIII,
mento da cidade se pronunciou, quando
a exemplo do Teatro Príncipe Imperial, de
seria coerente que os grandes teatros
1881, transformado em 1926 no Cine Tea­
surgissem (usando “grandes” no sentido
tro São José, e do Teatro Cassino Nacional,
de bons…) o mundo estava já em pleno
de 1900, adaptado, em 1924, para Cinema,
reinado do cinema, e nós não tínhamos
recebendo o nome de Palácio. Essas altera­
podido formar ainda uma tradição teatral
ções na maioria das vezes refletiam interes­
nossa. Por isso não temos teatros e temos
ses econômicos de empresários e compa­
cinemas – que seriam grandes cinemas
em qualquer capital.
nhias cinematográficas, em geral as maiores
responsáveis pelas contendas jurídicas en­
Ora, o que não foi nem é natural, é que volvendo os partidários da permanência das
o problema não seja enfrentado a fundo atividades teatrais e os que queriam ver
e a sério, por quem de direito. O cinema prevalecerem as ricas promessas da indús­
exibe quase só aspectos e costumes es- tria cinematográfica em início de expansão,
trangeiros, em fala estrangeira. O teatro sobretudo após a entrada do cinema falado.
é escola, é arte, é criação, é vida men-
Em 1956, uma pesquisa é publicada na
tal em sementeira – mesmo que tenha
Revista de Teatro da Sbat sobre a alarmante re­
deixado de ser negócio. Querer que ele
lação entre o número de teatros em relação
viva em casas e salas de quinta ordem,
aos cinemas e relação com o atendimento
ao lado de ótimos cinemas, é condená-
do público. O resultado da pesquisa dá uma
lo a não viver de fato.
ideia bastante precisa da trajetória das ca­
sas de espetáculo no Rio e de como a dupla
Ega Júnior, função acabou se tornando unívoca, infeliz­
Boletim da Sbat,mar-abr, 1950 mente para a maioria de atores, diretores,
cenógrafos, iluminadores e figurinistas, em
benefício dos cinemas.
Décadas depois do estabelecimento do
cinematógrafo, ainda a queixa se apresentava Em 1954 havia no Brasil mais de 3.000 ca­
oportuna. Não que uma invenção devesse ser sas de espetáculos: 1.794 cineteatros, 1.159
rejeitada por puro conservadorismo. Na ver­ cinemas e reduzido número de teatros.
dade, o cinema e o teatro disputaram espaços Em 1954, a rede de casas de espetáculos
desde o início: o cinematógrafo foi um dos espalhadas por todo o Brasil era de 3.142,
responsáveis pela transformação do edifício divididos em quatro tipos: teatros [41], ci­

260 Teatros do Rio


neteatros [1.794], cinemas [1.159] e ou­ Somente São Paulo, Distrito Federal e
tras [148][sem definição], com 1.747.767 Minas Gerais somaram 60% do total de
lugares. Aos estabelecimentos do segundo espectadores de todo o país, registrando
grupo cabia a liderança em número, com aproximadamente 47% dos espetáculos.
1.794, seguidos dos cinemas, com 1.159. No setor cinema o último lugar nas esta­
O setor de teatro demonstrou a carên­ tísticas coube ao Território do Acre, com
cia de estabelecimentos desse gênero em 101 espetáculos e 9.000 assistentes. Já
nosso país, pois apenas 14 unidades ad­ no teatro, esse lugar coube ao Maranhão
ministrativas possuíam tais casas de espe­ com 3 apresentações e mil espectadores.
táculos, incluindo-se o Distrito Federal, Os territórios do Acre, Amapá, Guaporé e
que foi o líder naquele ano, com 13 casas, Rio Branco não tinham teatros e estabele­
assinalando ainda outra particularidade cimentos sem identificação exata.
importante: quase todas em permanente O total de empregados nos 3.142 esta­
funcionamento durante o ano. belecimentos pesquisados subiu a 18.635,
[…] Apenas duas unidades administra­­­­ dos quais 15.762 homens. O pessoal de di­
tivas assinalaram mais de dez teatros: Dis­ reção somava 6.280; o número de técnicos
trito Federal, 13; e São Paulo, 11.[…] sen­ era de 5.079 e o pessoal subalterno, 7.276.
do que 11 unidades não possuíam casas de Um fato era comum em todas essas cate­
teatro. Levando-se em conta o total geral, gorias: o número mínimo de mulheres. Na
São Paulo registrava 809 casas, das quais parte técnica, contra 4.855 empregados,
496 cineteatros; Minas Gerais, 615; Rio havia apenas 224 do sexo feminino.7
Grande do Sul, 226; Rio de Janeiro, 219;
Distrito Federal, 191; Pernambuco, 171; Os números dispensam comentários. A pre­­­
Paraná, 149. Os restantes Estados e Territó­ cariedade da situação das salas de espetácu­
rios ficaram entre 80 e 3 estabelecimentos. los é uma constante em nosso século, bem
Quanto à capacidade, a situação era a se­ como a má distribuição das mesmas pelo
guinte: São Paulo: 341.682; Distrito Fede­ território nacional, por mais que se tenha
ral, 152.087; Rio Grande do Sul, 145.610; ten­­tado solucionar o problema.
Rio de Janeiro, 106.859. No capítulo relativo ao século XX, falare­
Os 13 teatros cariocas tinham 11.902 mos apenas dos teatros cuja função predo­
cadeiras enquanto os 11 paulistas pos­ minante, inicial ou final, foi a de exibir fil­
suíam 8.490. O total do país era da ordem mes. Se é verdade que a maioria dos teatros
de 32.840. funcionou como cinema, alguns desempe­
Os 3.142 estabelecimentos de diversão nharam, não obstante, papel predominante
que funcionaram no Brasil em 1954 deram na história do espetáculo teatral, como se
1.084.289 espetáculos, que foram assisti­ deu com o Teatro República. Estes foram in­
dos por 283.483.000 espectadores. cluídos na relação de “Os teatros do centro
Desse total, os cineteatros realizaram da cidade”, que constitui a segunda parte do
667.066 espetáculos, mais da metade do Capítulo 3, porque, se o principal interesse
ano, com 173.958.000 assistentes; os ci­ deste trabalho é a trajetória do edifício tea­
nemas registraram 400.563 exibições, tral, só deslocamos para um espaço distinto
com 105.391.000 ingressos arrolados. Os aquelas casas de espetáculo em cuja história
41 teatros apresentaram 12.159 espetácu­ de atividades prevaleceu, de algum modo, a
los, com 3.122.000 espectadores. exibição de filmes. Mas mesmo assim, nosso

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 261


enfoque privilegiará as caraterísticas físicas Estreia de um patinador; Guarda-chuva fan-
do edifício teatral e os aspectos relevantes tástico; As duas irmãs; O homem de palha;
de sua trajetória, na disputa pela manuten­ A caverna da feiticeira; Passeio no campo; Pe­
ção de sua prerrogativa como teatro. Não na de Talião; Clown médico; Danças cosmopo-
haverá destaque para as atividades relativas litas e Aprendizagem de Sanchery.8
à vida do prédio como cinema.
De alguns cineteatros não obtive maiores Durante os intervalos e exibição, eram
informações. Casos em que restringi-me ao apresentados números musicais com um
que pude encontrar, às vezes apenas nome e sex­­teto sob a direção do maestro C. Noli.
data em que aparecem referidos em alguns Embora seja o cinema existente mais an­
documentos. tigo do Rio de Janeiro, poucas informações
A relação a seguir respeita mais uma vez a foram colhidas a respeito do prédio onde se
ordem cronológica de inauguração das salas instalara o Cinematógrafo Pathé, sabendo­
ou edifícios, isto é, a data a partir da qual foi -se, pelos comentários do Jornal do Commer-
consagrado aquele nome. As outras denomi­ cio, de 17 e 18 de setembro de 1907, so­
nações dos edifícios aparecem no mapa geral bre sua inauguração, que era “muito amplo,
do século XX. havendo também uma confortável sala de
Chamo atenção para o fato de que, no caso espera”; as projeções animadas que exibiam
dos cineteatros, a seleção e apresentação não eram anunciadas como sendo “isentas de
respeitaram totalmente o critério geográfico. trepidação, claras e perfeitas”.
Estão juntos aqui os cineteatros da cidade do Mudando-se para novo prédio à Avenida
Rio de Janeiro situados sobretudo no Centro Central n. 151/153, que ficava ao lado do
e na Zona Norte. Apenas os de outros muni­ Jornal do Brasil, “foi ampliado, apropriado
cípios estarão em capítulo especial. à representações teatrais e construídos ca­
marins, que eram gaiolas de madeira, umas
sobre as outras”.9
1907 Foi somente na mudança para o novo
Cinematógrafo Pathé prédio que, o Cineteatro Pathé apresen­
tou espetáculos teatrais, com a forma­
Em 18 de setembro de 1907 era inaugu­­rado ção de uma pequena companhia teatral,
o Cinematógrafo Pathé localizado à Avenida organizada por Leopoldo Fróes. Com a
Central n. 147/149, em frente à redação de modificação que sofreu a casa que “pos­
O Paiz. Mudou-se em 1915 para outro pré­ suía um pequeno palco para realização de
dio, na Avenida Central, n. 151/153 (hoje conferências”10 O novo espaço estreou em
Avenida Rio Branco n. 143, onde existe 12 de maio de 1915, com a peça Mulheres
edi­­­fício comercial) e, finalmente, em 1928, nervosas, de Blun e Touché, com tradução
transferiu-se para a Praça Marechal Floria­ de Jaime Vitor, sendo o elenco constituí­
no n. 45, esquina da Rua Ator Jayme Costa, do de: Lucília Peres, Leopoldo Fróes, Tina
onde ainda permanece. Era de propriedade Vale, Montani, Júlia Vidal, Eduardo Leite,
particular da família Marc Ferrez, e era ad­ Comendador Matos, Átila Morais, Mano­
ministrado pela Empresa Arnaldo & Cia. el Pinto e José Castro. A peça, apresentada
Na estreia da casa foram exibidos vários em duas sessões, com a casa repleta, “fora
filmes, conforme publicação na imprensa do montada com elegância e a representação
mesmo dia: tivera um cunho de alta distinção”.11

262 Teatros do Rio


A companhia de Leopoldo Fróes perma­ Branco, o endereço levantado era Rua Vis­
neceu em cartaz até 1 de setembro e o Pathé conde do Rio Branco n. 28 ou 42, não existe
passou a exibir programas exclusivamente um registro fiel quanto ao número certo.
cinematográficos, não se encontrando mais Por ocasião da inauguração do Cinema­
nenhuma notícia a respeito de outros espe­ tógrafo Rio Branco, comentava o Jornal
táculos de palco. O último cinema Pathé, do Commercio, de 3 de novembro de 1907:
inaugurado em 1928, constituiu, segundo “Confortável salão com capacidade para 500
Mário Nunes, “produto do diligente esforço espectadores, bem ventilado e com luxuosa
dos irmãos Marc Ferrez, Julio e Luciano”. instalação da acreditada casa Auler & Cia.”
Trata-se de um edifício com as caracterís­ Para a comemoração do primeiro ani­
ticas arquitetônicas comuns aos demais ci­ versário de sua instalação, o cinema “sofreu
nemas da Cinelândia, com sua fachada prin­ uma grande ampliação e reforma completa”,
cipal voltada para a Praça Mal. Floriano. Seu dizia o Jornal do Commercio, um ano depois.
interior, de amplas proporções, apresentava O Cinema Theatro, de propriedade par­
bela decoração e iluminação, assemelhando­ ticular da Empresa William & Companhia,
-se ao Capitólio e ao Império. foi inaugurado em 30 de agosto de 1911,
com a apresentação da peça Tim-tim por
tim-tim, de Souza Bastos, com a Companhia
1907 de Operetas, Mágicas e Revistas dirigida
Cinematógrafo Rio Branco pelo ator A. Serra. O elenco era formado
por: Pepa Ruiz, desempenhando 18 papéis
O Cinema Theatro Rio Branco, que fun­ de sua criação; o cômico Machado; a atriz­
cionava como cinema desde 24 de novem­ -cantora Annita Cirne e as artistas Julie­
bro de 1907, com o nome de Cinematógra­ ta Pinto e Dina Ferreira; Celeste Matos e
fo Rio Branco foi inaugurado em 1911. Era Carmem Ruiz.
localizado à Avenida Gomes Freire, n. 151,
antigos 13 e 19. Como Cinematógrafo Rio Cine Theatro Rio Branco

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 263


Fechado logo após a estreia, foi reinau­ 1908
gurado em “29 de dezembro desse mesmo Concerto Avenida
ano, com novo elenco a première da má­
gica A pérola encantada, poema e música de O Concerto Avenida foi inaugurado no dia
Sofonias Ornellas”.12 12 de novembro de 1908. Diz o Jornal do
Em 1911, para transformar-se em Cinema Commercio da mesma data que com
Theatro Rio Branco, passou por importantes
e radicais modificações, segundo o Jornal do variedades e atrações de primeira ordem. Pro-
Commercio de 30 de agosto de 1911: “A sala grama sensacional com 20 artistas. Betty Ba-
destinada à exibição dos filmes foi transfor­ ron, Pilar Garcia, Esther Ciampi; Henrietta
mada em luxuoso teatro com elegan­tes e Leblond, Alice Delta, Norah Dally, Arlette
confortáveis acomodações com duas classes Fugêre, Suzanne Raymond, Jane de Neige,
de cadeiras e varandas.” Jane Sagère, Nina d’Íris, Mlle. Starlette e ou-
Não foi possível encontrar a data em que o tras. Zanfreta e Napio excêntricos musicais
CinemaTheatro Rio Branco deixou de funcio­ e Les Bonals, dançarinas e cantoras à trans-
nar. A venda definitiva de todo o equipamento formação.
dessa casa de espetáculos foi realizada no dia
5 de maio de 1915, às 13 horas, no próprio es­ Localizado à Avenida Central, n. 154,
tabelecimento, e pelo anúncio em que seriam onde ho­je encontra-se a sede da Caixa Eco­
vendidos, pelo leiloeiro Elviro Caldas pode-se nômica Federal (Avenida Rio Branco), era
ter uma ideia de sua decoração luxuosa, de sua uma espécie de mafuá instalado nos terre­
lotação e dos móveis e da aparelhagem existen­ nos reservados para o Liceu de Artes e Ofí­
tes. Como noticiava o Jornal do Commercio de cios, de propriedade da Empresa Paschoal
3 de maio de 1915 foram anunciados, pa­­ra Segreto. Lia-se no Jornal do Commercio, de
“venda definitiva em um só lote ou re­ta­­lha­­­ 16 de novembro do mesmo ano:

men­­­to”, os seguintes objetos:
Na dependência principal do Pavilhão
570 fau­­teuils com encosto de couro e as­­ Internacional foi inaugurado o Concer­
sen­­to de palhinha; 48 cadeiras de palhinha to Avenida… a sala de espetáculos tem a
para camarote, estilo mo­­­­­derno; 30 bancos vantagem de ser mais vasta e poder con­
acolchoados de marroquim com encosto ter, em perfeita harmonia, sentados co­
de espelho biseauté; 1 cabi­­­ne armada em modamente à mesa, como nos bares mais
ferro para cinema; 2 apa­relhos Pathé nú­ frequentados, várias dezenas de especta­
meros 14.217 e 10.828 no­­­­­vos; 2 esplên­ dores. O recinto do Concerto Avenida foi
didos pianos dos autores Bluthner e C. Be­ preparado para ringue de patinação e sala
chstein; e mais, espelhos, bambinelas etc. de espetáculos. Por isso, dá-se ali, pela
coincidência de serem o palco dos artistas
O edifício em que funcionava o Rio Bran­ do concerto e o coreto da banda de mú­
co ainda existe e as eventuais modificações sica das patinações o mesmo tablado, o
que teria sofrido sua fachada para adaptar-se fato curioso e novo na cidade, de termos
às atividades comerciais, ora em funciona­ à frente de uma ideia extensa e que pode
mento, demandariam um estudo mais apro­ ser numerosíssima, um cenário cujo pa­
fundado de comparação entre seu aspecto vimento está mais de dois metros acima
original e o atual. do nível daquele em que se aglomeram

264 Teatros do Rio


os espectadores… Este palco elevado, 1909
para quem entra no alegre teatro que, de Cinematógrafo Odeon
ontem para diante, se chama Concerto
Avenida, aparece, no primeiro momento, O Cinematógrafo Odeon era instalado no Pa­
como coisa extravagante. Mas, descer­ lácio Guinle, à Avenida Central (Rio Branco)
rado o velário e exibindo-se em cena os n. 137, esquina da Rua Sete de Setembro, sua
artistas, reconhecem imediatamente os fachada era voltada para a Avenida Central e
espectadores a superioridade daquelas al­ Rua Sete de Setembro, em frente ao Clube de
turas. Toda a gente que está no recinto, Engenharia. Publicou o Jornal do Commercio de
ainda que se ache no ponto mais distante 15 de agosto de 1909:
do palco, vê perfeitamente o que se passa
em cena. O Odeon dispunha de duas salas de exi­
bição. Além dessas salas destinadas às ses­
O teatro foi reaberto em 1 de setembro sões, há uma outra de espera, muito ampla
de 1911, quando passou a chamar-se Ci­ e arejada, com primorosa ornamentação.
nema Teatro Pavilhão Internacional, depois No centro destaca-se uma bela fonte lumi­
de o edifício ter passado por diversas re­ nosa de mais de quinhentas lâmpadas.
formas de embelezamento interno, como
alterações na ideia a fim de oferecer maior A estreia do Odeon, em 16 de agosto de
comodidade aos espectadores. O espetácu­ 1909, constou de um programa exclusiva­
lo de reinauguração foi com a revista em mente cinematográfico, contando com a
três atos e apoteose, original de Joca Rilhas par­­ticipação da banda do Corpo de Bom­
e Lulu Golina, música do maestro Sopho­ beiros para abrilhantar os intervalos. O pro­
nias Dornellas: No olho da rua. grama apresentado na imprensa, conforme
Os principais papéis foram confiados aos Jornal do Commercio de 18 de agosto de 1909
artistas Esther Bergerath, Annita Campili, foi o seguinte:
Ophelia Godinho, Helena Cavalier, Maria
Tavares, Amora Rosani, Rita Cardoso, Le­ Primeira fita – “Pesca à Dynamite nas
onardo, João Ayres, Alessandro Benecchi Ilhas de Salomão”. Segunda fita: “Os pe­
(tenor), Linhares, Álvaro Costa, Silveira, quenos irão aos banhos”, cena humorísti­
Mário Brandão, Pedro Dias, Guarany e ca escrita por Mr. Mitchell e interpretada
Garrido. por Mr. Harry Eaur do Teatro Antoine.
O teatro foi um centro de novidades ar­ Terceira fita: “Lutas aéreas”. Quarta fita:
tísticas, de canto, baile, acrobacias, além de “A Vitrina”, drama com 9 quadros, inter­
atrações como Campeonato Internacional pretado com maravilhoso realismo por
de Box, curiosas experiências de leitura do Mr. Armand Bour do Teatro Renaissence.
pensamento humano e grandiosas sessões Quinta fita: “Amado pela criada”, scena
cinematográficas. comica representada por Mr. Max Lin­
As fontes pesquisadas não informam der, o popular artista criador das afama­
quando deixou de existir o Concerto Ave­ das fitas…
nida Pavilhão Internacional. Entretanto,
Brasil Gerson registra que em seu lugar Em 3 de abril de 1926, o cinematógrafo
surgiu o Liceu de Artes e Ofícios (em cujos mudou-se para a Praça Marechal Floriano
terrenos havia sido instalado o Pavilhão). n. 7, Cinelândia, onde permanece até hoje.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 265


De propriedade particular, pertencia à Azevedo, Roberto Vilmar, Julia Parras, Yole
Empresa Zambelli & C. Passou depois para Burlini, Raphael Parras e João Silva. Cená­
a Companhia Brasil Cinematográphica, pre­ rios de Luiz de Barros. 50) O filme Graustark
sidida por Francisco Serrador, antes mesmo ou Amor de Príncipe, com Norma Talmadge.
de sua mudança para a Cinelândia. Ocupava, Horário das sessões: 2, 4, 6, 8, 10 horas.
no terreno onde se situava o Convento da Por algum tempo, o Odeon ofereceu es­
Ajuda, a parte fronteira ao Palácio Monroe. petáculos de palco intercalados com exibi­
A instalação era a mais completa no gênero, ções de filmes até que, como os demais ci­
dispondo de aparelhos os mais modernos na nemas e cineteatros da Cinelândia, passou
época. Ao instalar-se, o arcabouço do edifí­ em definitivo a apresentar uma programa­
cio estava ainda por acabar, mas o cinema, ção exclusivamente cinematográfica.
ocupando quatro andares do prédio, pronto, O novo Odeon na Praça Mal. Floriano
como os demais do programa Serrador, des­ veio completar “a promessa do sr. Francisco
pertou, por parte da imprensa, elogios en­ Serrador de levantar ou fazer levantar ali os
tusiasmados. Assim se manifestava o Correio quatro grandes cinemas que são o orgulho
da Manhã de 3 de abril de 1926: do carioca”. O Capitólio, o Glória, o Impé­
rio e, por fim, o Odeon.
Grande, formidável, com lotação para mais
de mil espectadores comodamente instala­
dos – luxuoso na sua instalação – magnífico 1909
na visão que proporciona a todos, em uma Cinematógrafo Ideal
sala vasta, a maior do Rio, sem que haja uma (Cineteatro Ideal)
só coluna a servir de impecilho à vista do
espectador, o novo Odeon é a cópia de um O Cinematógrafo Ideal, foi inaugurado em 2
desses esplêndidos cinemas da Broadway. de outubro de 1909, na Rua da Carioca n. 60 e
A vastíssima plateia, a sua varanda de frisas, 62, com um grandioso programa com filmes
e a sua galeria de poltronas dão-lhe um as­ variados, como era comum na época. Mas só
pecto soberbo de grandeza. Há detalhes de começou a funcionar normalmente a partir
arte em cada canto – cor, desenhos, moldu­ do dia 9 de novembro do mesmo ano, exi­
ras, vinhetas, simbolismo – tudo encanta. bindo filmes mudos europeus. Propriedade
A iluminação é deslumbrante e feérico o lus­ particular, pertencia inicialmente, à Empresa
tre central de quatrocentas lâmpadas! Foyers C. Pereira Pinto e Companhia. Conta-se que
luxuosos, halls de entrada e toda uma mar­ Rui Barbosa, frequentador assíduo e patrono
quise – passadiço rodeando as fachadas das da casa, tinha uma cadeira cativa reservada e
ruas – escadarias de mármore, decorações mesmo após sua morte foi cercada com cor­
artísticas – todo o conjunto é soberbo. rentes até o fechamento da sala, no final dos
anos 1950. Hoje esta cadeira encontra-se em
O programa inaugural do novo Cinema exposição na Casa Rui Barbosa, em Botafogo.
Odeon apresentou um espetáculo misto de
tela e palco, assim distribuído: 10) Ouvertu­
re. 20) Apresentação do Jornal. 30) Classic Numa pacata noite quente de 1909, pas­
Jazz Band (somente na matinée). 40) Prólogo, savam alguns filmes mudos no Cineteatro
cantado e bailado, tendo por tema O amor Ideal da Rua da Carioca. No momento em
de príncipe, com interpretação de Carmen de que se passava na tela As surpresas do amor,

266 Teatros do Rio


uma desopilante cena cômica, ouvia-se o Como espetáculo de reinauguração, foi
ruído de uma campainha. Parou-se a pro­ escolhida a peça Cala a boca, Etelvina, de Ar­
jeção e acenderam-se as luzes: era o Sr. mando Gonzaga, em 12 de maio de 1926
Rui Barbosa que entrava na sala de proje­ (data do aniversário do seu dono, Manoel
ção para sentar-se em sua cadeira cativa. Pinto). O elenco era encabeçado por Alda
No teto, a cúpula de vidro aberta deixava Garrido, contava com a participação de
penetrar o vento fresco e permitindo aos Olga Louro, Georgina Guimarães, Rosita
espectadores desatentos o deleite da ob­ Rocha, Manoel Durães, Augusto Annibal,
servação dos astros e estrelas.13 Américo Garrido, Gervásio Guimarães e
Pedro Celestino, além de mais duas figuras
O calor era o maior problema nas salas contratadas especialmente. O ensaiador foi
de espetáculos, e cada uma resolvia, à sua o Sr. Augusto Santos. A música do Sr. Freire
maneira, a melhor forma de refrescar seus Júnior teve versos do Sr. Ruben Gill. O gê­
espectadores. De um modo geral, eram os nero eram peças cômicas, apresentadas por
ventiladores o artifício mais usado. Costinha e Alda Garrido, como os grandes
No Cinematógrafo Ideal, talvez o único sucessos na época: O Piano de dona Loló, Flor
no Brasil, existia uma cúpula vinda da Fran­ do Lodo e As pupilas do meu tio.
ça – toda de ferro e vidro – que se abria nas Durante o horário da tarde a sala funciona­
noites quentes. va como cinema e à noite como teatro. Assim
Era um dos mais importantes da cidade, o Cineteatro Ideal foi conquistando seus fre­
concorrendo com os outros cinemas da Ci­ quentadores que ali não só procuravam as pe­
nelândia, e com o Íris, que fica na mesma ças, mas também os filmes, além do conforto
rua, quase em frente, também inaugurado e da tradição que oferecia.
em 1909, e que funciona até hoje.
A rivalidade entre o Ideal e o Íris era ex­ O ideal tem condições para ser um teatri­
tremamente conhecida. Assim, a iniciativa nho capaz de atrair o público mais elegan­
do Ideal ao introduzir inovação em matéria te. Ele é bem o que os franceses chamam
de arejamento: teto móvel que se abria nas bombonnière. A sua sala de espetáculos
noites de verão, correspondeu o sistema de é verdadeiramente encantadora. Tudo no
abrir o salão afastando as paredes do Íris. Ideal é gracioso. O espectador lá fica con­
Esse teto foi obra do engenheiro Eiffel, o fortavelmente instalado e tem os olhos
mesmo que projetou a torre em Paris. bem impressionados pelo ambiente.
O Cine Ideal teve várias reinaugurações
após diversas reformas, a maior delas ocor­ Assim comentava o Correio da Manhã, em
rida em 1921, quando foi reaberto em so­ sua edição de 29 de abril de 1926.
lenidade com a presença de Rui Barbosa, O conjunto arquitetônico de 350 m2 do
com a construção de um pequeno palco, e Ideal era formado por quatro pequenos pré­
em 1926 tornou-se Cineteatro Ideal, por dios, todos geminados. O salão de espera,
iniciativa do empresário e novo dono Ma­ que ficava no térreo, era composto de dois
noel Pinto, pela dificuldade de se conseguir prédios, que possuía ao fundo um coreto,
cópias de filmes, em consequência da Pri­ para apresentações musicais. Esses dois con­
meira Guerra Mundial, já que a indústria ci­ juntos de prédios foram demolidos para dar
nematográfica entrou em recesso por longo passagem a uma avenida, que teve seu pro­
período após o término do conflito. jeto alterado. Esta área permaneceu como

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 267


estacionamento. Restaram os outros dois visitou o antigo teatro, e encantou-se, fican­
prédios, justamente onde era localizada a do cheio de planos para torná-lo uma casa
plateia, com aproximadamente 800 cadeiras de espetáculos, em sociedade com Chico
de madeira. Mais de ⅓ da área era ocupada Recarey, segundo o Jornal do Brasil de 21 de
pelo balcão, com duas escadas em ferro ba­ outubro de 1996:
tido para a plateia com ornamentação em
art-noveau. Ao fundo, uma outra escada no Dantas aprovou a sugestão dos arquitetos
mesmo estilo permitia aos espectadores que Tato Roorda e Geraldo Pougy, do escritó­
aguardavam no saguão, o acesso ao balcão. rio de Lerner, para transformar o antigo
As paredes foram pintadas com arabescos cinema num “Scalinha”. Os arquitetos pro­
pelo artista André Vento, e usados azulejos põem a reconstrução dos outros dois pré­
ingleses com motivos florais e geométricos dios demolidos, segundo a concepção ori­
para um mosaico de dois metros de altura, ginal, e na parte baixa haveria uma galeria
que decoravam também as paredes. Com entre as ruas da Carioca e 7 de Setembro.
relação à fachada, o andar superior, separa­ Rômulo Dantas pretende fazer das ime­
do do térreo por uma sacada, mantém ainda diações da Praça Tiradentes um centro de
suas características originais. A parede, deco­ espetáculos e depende apenas de conver­
rada em relevo, apresenta quatro janelas em sações com os atuais ocupantes do prédio.
arco, dispostas duas a duas. Já o andar térreo Estes facilitam as negociações: “Basta que
foi completamente desfigurado. Seus traços os interessados encontrem um prédio no
primitivos foram substituídos por placas de centro que nos agrade e poderemos deixar
fórmica branca com letras gigantescas e bri­ este”, diz José Manuel Melo Cunha, dire­
lhantes. A famosa cúpula, grande atração da tor comercial da Polar.
casa de espetáculos, hoje coberta por um Para os herdeiros também a proposta é
teto, não permite com certeza dizer se a ar­ interessante, porque o prédio se valoriza no
mação que esta à mostra são restos da relí­ aluguel, já que não podemos vendê-lo, pois
quia francesa. A plateia foi transformada em é tombado, como todos da Rua da Carioca
uma imensa sala para exposições de modelos – explica Gilberto Monteaux da Silva, neto
de sapatos, da casa de calçados Polar, que fun­ de Leão da Silva, proprietário original.
ciona com uma de suas lojas desde 1960.
Em 1986, o empresário Rômulo Dantas
– que já havia restaurado o Teatro Carlos 1909
Gomes e demolido o Teatro São José – tor­ Cinematógrafo Soberano
nou-se a pessoa mais interessada na época (Cinema Íris)
em recuperar o espaço na intenção de fazer
renascer o Cineteatro. A notícia alegrou a Em 1741, o terreno que vai dos números
classe teatral e a Sociedade dos Amigos da 49 a 51 da Rua da Carioca foi doado à ve­
Rua da Carioca (Sarca), que havia recupera­ nerável Ordem Terceira de São Francisco
do parte da região tombada. Acompanhado da Penitência por João Carneiro da Silva.
em 1986, do arquiteto Jaime Lerner (que Em 1883, Joaquim Jerônimo construiu e
era o autor do plano de revitalização do cen­ doou uma casa à Ordem, com a condição
tro na época, e que tinha um projeto para de nela morar durante pelo menos 6 anos.
preservar o interior do teatro e resguardar a Mais tarde, esta casa iria transformar-se
cúpula de ferro com seus vitrais franceses), no atual Cinema Íris.

268 Teatros do Rio


Cinematógrafo Soberano (Cineteatro Íris)
Em 1907/1908, João Cruz Júnior fez um cesso foi o filme que trazia o nome de uma
contrato de arrendamento com a Ordem vacina contra sífilis, a 606 que antecipou a
Terceira, inaugurando em 30 de outubro 914. O roteiro foi extraído de uma peça de
de 1909 o Cinematógrafo Soberano, assim Luiz Peixoto e Carlos Bettencourt, em que
chamado em homenagem a um dos cavalos os próprios trabalhavam com os pseudôni­
campeões do Derby Clube, do qual Cruz Jú­ mos de Lulu Chelbas e Juju Pelanca.
nior era um dos diretores. Acredita-se que O Soberano, além de exibir filmes can­
na inauguração tenha sido apresentada ape­ tantes, serviu como ateliê para a produção
nas uma sessão de cinema, pelos comentá­ de Cuidado com os selos (uma fábrica de garga­
rios da época que se referem ao Soberano lhadas), O Rio por um óculo (revista cinemato­
como o “mais elegante do Rio”, possuindo gráfica) e 606.
uma tela de “muita nitidez”, representando Uma crise no setor de filmes levou João
figuras de “tamanho natural”. Cruz a mudar seu cinema para uma sala de
No início, como cinematógrafo, era aca­ variedades, nascendo então o Teatro Victó­
nhado, sua lotação era limitada a 200 luga­ ria. No início da Primeira Guerra Mundial
res, divididos em primeira e segunda classe começou a reforma dos dois prédios, que
por uma grade de ferro e diferença de 200 durou de 1914 a 1916, sendo transformado
réis no preço da entrada. Numa primeira re­ num monumento art-nouveau, dando digni­
forma, em data não confirmada, foram am­ dade e aristocracia à casa.
pliadas, passando a comportar um total de As fachadas dos prédios números 49
568 espectadores, incluídos os trinta lugares e 51 da Rua da Carioca passaram a apre­
disponíveis na galeria. sentar um aspecto uniforme, síntese dos
O contrato no qual dizia que a proprieda­ estilos arquitetônicos do início do século,
de do ponto do cinema era hereditária e que com predominância do art-nouveau. Acima
o prédio não poderia ser vendido, enquanto da entrada, no andar térreo, erguiam-se
houvesse um membro da família interessado dois pavimentos, com seis janelas em cada
em manter o cinema. Este contrato é man­ um, que se abriam para uma estreita sacada
tido até hoje. guarnecida por um gradil de ferro artistica­
Durante certo período, o cinema funcio­ mente trabalhado, e que corria ao longo de
nou também como teatro de variedades, toda a fachada. Encimando as janelas exis­
voltando ainda em 1909 a apresentar filmes, tiam cornijas que, juntamente com a pla­
sendo que os americanos não despertavam tibanda que se erguia sobre o último pavi­
tanto interesse; os franceses é que gozavam mento, quebravam a nudez da construção,
da preferência do público, pois eram pelícu­ dando-lhe um aspecto artístico, ao gosto
las com mulheres em colóquios amorosos e da época. A platibanda era arrematada por
nos quais apareciam jardins belíssimos. uma mureta trabalhada que guarnecia um
João Cruz Júnior já lidava com cinema; terraço existente sobre o edifício. No an­
anteriormente inaugurara o Brasil, perto do dar térreo, três portas sob o abrigo de uma
São José, na Praça Tiradentes e o Santana, na marquise davam acesso ao hall de entrada.
Rua de Santana. A do meio, a principal e mais larga, con­
Em 1911, Cruz Júnior exibiu com sucesso tinha uma pequena bilheteria de madeira,
os filmes cantantes. As cenas filmadas eram à semelhança de um móvel. Duas outras
sincronizadas com vozes e cantos de artistas portas laterais, mais estreitas, permitiam,
que ficavam por trás da tela. O maior su­ eventualmente, o escoamento mais rápido

270 Teatros do Rio


do público. Nas colunas que separavam as vista da cidade, principalmente as igrejas de
portas eram afixados cartazes anunciando São Francisco de Paula e São Jorge.
as apresentações. O palco tinha as seguintes O ingresso variava de 1.000 a 500 réis
dimensões: Largura: 9,8 m; profundidade: nas galerias. Para distrair o público, dois
8 m; e uma altura de 10,9 m. Possuía dois quintetos – cada um com piano, contrabai­
sanitários, sendo um masculino, no primei­ xo, clarineta ou flauta, e dois violinos. Um
ro andar e outro para senhoras, no segundo. funcionava na sala de exibição e outro, no
Fato curioso verificado foi o da Prefeitura salão de espera, ao lado, no n. 49. Chegou a
ter negado o alvará de licença, ter uma orquestra só de moças, trazidas do
Norte por Cruz Júnior, uma atração a mais
porque os camarotes, os balcões e a geral para os cavalheiros e uma preocupação para
foram feitos sobre piso de cimento arma­ as distintas senhoras.
do, ao contrário do que era usado. Paulo A 5 de abril de 1919, refeita a cidade do Rio
de Frontin, para provar a resistência das de Janeiro dos terríveis estragos da “espanho­
lages, mandou colocar em cima delas vá­ la” – a gripe que varreu parte da população
rias barricas de cimento, e ele próprio, e e fez diminuir o número de artistas disponí­
convidados, sobre os pisos construídos, veis para os espetáculos do Teatro Victória –
exibiram-se sem nenhum receio. João Cruz, empolgado novamente com a séti­
ma arte, resolve mudar o nome para Cinema
Com arquitetura que teve a supervisão Íris, mandando Guilherme Auler acrescentar
do engenheiro Paulo de Frontin – amigo de em todas as cadeiras, as iniciativas “CI”, o to­
João da Cruz Júnior e presidente do Derby que aristocrático para sua fase gloriosa.
Clube – foi construído com material quase Se passara a teatro por falta de filmes, pas­
todo importado. As escadarias internas e as sava novamente a cinema por falta de artis­
grades de ferro são em estilo art-nouveau e tas, de companhias completas.
constituem o elemento decorativo mais no­ Cruz Júnior naquele momento tinha duas
tável do prédio, tendo sido feitas especial­ paixões: o teatro e o cinema, e as conciliou
mente na Fundição Indígena. unindo-as num módulo especial de espe­
Também se destacavam na decoração os táculo: O Cineteatro. Sessões de cinema,
ladrilhos portugueses em alto-relevo, os lus­ intervaladas por espetáculos teatrais: va­
tres finíssimos, os revestimentos em peroba e riedades ou as chamadas pequenas revistas.
canela e as cadeiras artisticamente trabalha­ Porém, como decorrência da grande e de­
das por Cristóvão Guilherme Auler, em sua morada reforma por que passou, quando foi
fábrica de móveis, que foi o principal mentor transformado em 5 de abril de 1922 em Ci­
do surto de 1908 a 1912 das bilheterias artis­ neteatro Íris, suas dependências foram con­
ticamente trabalhadas, além dos espelhos de sideravelmente ampliadas.
cristal de procedência europeia. A bilheteria Assim é que, no primeiro andar, havia 27
foi desenho de Antonio Borsoi, o autor da de­ camarotes e 20, no segundo.
coração da Confeitaria Colombo.
Entretanto, a grande inovação para a épo­ As frisas ficavam à frente do balcão, no pri­
ca foi a iluminação totalmente indireta. No meiro andar, e lá tinham cadeiras cativas
teto, havia saídas próprias para facilitar a personalidades como Rui Barbosa, Adolfo
ventilação. No seu grande terraço, que exis­ Bergamini, Paulo de Frontin, Pedro Er­
te até hoje, quem quisesse poderia apreciar a nesto, enfim, a nata da sociedade local.14

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 271


A capacidade total da casa de espetáculos, dois programas por dia, sempre incluindo
era de 1.200 espectadores, enquanto outros bangue-bangue, como o público gosta.
lhe atribuíram a capacidade para acomodar As frisas e camarotes foram substituídos
1.600 pessoas. por filas de cadeiras, e só funcionam a pla­
Ao abrir, após a grande reforma por que teia e o primeiro andar. O resto está fecha­
passou, com a denominação de Cineteatro do. Com quatro projetores a carvão cobrea­
Íris, o espetáculo de inauguração apresen­ do rotativo (que permite uma luminosidade
tado foi A última valsa, opereta de Oscar permanente), o Íris mantém a venda de re­
Strauss, encenada pela companhia espanhola frigerantes para a época de calor. Os tradi­
Helena d’Algy. cionais baleiros foram substituídos por uma
A primeira peça nacional representada no bombonnière comum, no hall de entrada.
teatro foi a revista de Duque Estrada com
música de Raul Martins, Iaiá olha a feira, Foi no Cinema Íris que surgiram os pri­
apresentada pela Empresa Cruz Júnior e a meiros críticos de cinema, eles estudavam a
Cia. João de Deus. As sessões eram duas: linguagem e a importância dessa arte. Antes
às 16:00 e às 21:00 horas. Os gêneros de que aparecessem esses estudiosos, havia quem
espetáculos que mais ocuparam o palco do fizesse crítica ou crônicas, mas sem indepen­
Cineteatro Íris foram revistas, variedades, dência ou mesmo o sentido da crônica social,
burletas, operetas e comédias reduzidas para sem o intuito e a finalidade de construir e in­
programas cinematográficos. dicar o nascimento de uma linguagem expres­
A Cinelândia, incentivada por Francisco sa através das imagens. Ali se reuniam Adhe­
Serrador, surgiu no começo dos anos 1930, mar Gonzaga, Paulo Vanderley, Alvaro Rocha,
com vários cinemas, entre o Odeon e o Pa­ Carlos Leal, Brício de Abreu, L. S. Marinho
thé, e fez cair a frequência do Íris. e Leo Reissler. Deste grupo nasceu o padrão
A fase áurea passou, e o declínio do cinema crítico de filmes que orientou durante muitos
se acentuou com o arrendamento à Luiz Seve­ anos os leitores da maioria de nossos jornais e
riano Ribeiro. Foi também quando, perdendo revistas. Diz A cigarra de maio de 1961:
o público seleto, tornou-se mais popular. No
começo dos anos 1930, possivelmente cerca Não se pode negar que um outro cinemi­
de 1935, volta a chamar-se Cinema Íris. nha de bairro acolhia também a esse gru­
Durante 20 anos a família Cruz se afastou po de cultores da arte cinematográfica, o
do Cinema Íris, e somente com a morte de Cinema Pátria, no Largo da Cancela, em
João Cruz Júnior, seu filho Jerônimo reto­ São Cristóvão, fundado em 1910 e agora
mou o cinema em 1955. Era uma luta difícil, transformado num supermercado.15
Jerônimo, o sucessor esbarrava na concor­
rência. Os produtores davam preferência aos As autoridades da Secretaria de Cultura,
cinemas da Cinelândia e ele já não podia ser a Prefeitura, enfim, órgãos ligados ao Patri­
lançador. Em 1981 o Anuário da Casa dos Ar- mônio e a Cultura do Estado deveriam olhar
tistas publica a última entrevista de Jerônimo, para esta situação lamentável do cinema
filho e sucessor de João Cruz Júnior: Pátria (Cinema São Cristóvão), porque o
imóvel, ainda com sua forma arquitetônica
Resolvi conservar as características do Íris original, merece muito bem ser tombado
como cinema popular, alternando filmes como patrimônio artístico e cultural da ci­
de “far-west” com filmes românticos. São dade e reaberto como um centro cultural,

272 Teatros do Rio


onde poderiam ser exibidos filmes, espetá­ O tombamento do Cinema Íris, foi assi­
culos teatrais e exposições sobre a história nado no dia 15 de julho de 1978 pela Secre­
do bairro imperial de São Cristóvão. tária do Estado de Educação, Mirthes Went­
O Íris já estava chegando aos 70 anos, e zel. De acordo com o relatório do Conselho
conservando todas as suas linhas básicas. Nacional de Tombamento é um exemplar
En­­­­tretanto, surgiu em 1977 uma história arquitetônico de valor sobretudo ambiental
de que a Rua da Carioca seria demolida, e e urbanístico, inserido num conjunto que
junto o Íris. Várias associações de morado­ merece ser preservado e dotado também de
res, sindicatos e o Serviço Nacional de Tea­ valor histórico.
tro protestaram e fizeram campanha na im­ Sendo o primeiro prédio a ser tombado
prensa, para que o estudo de reurbanização pelo Instituto Estadual de Patrimônio Artís­
fosse submetido à aprovação do Patrimônio tico Cultural (Inepac), o Íris abriu caminho
Histórico e do prefeito. Afirma, ao Jornal do para o tombamento de toda a Rua da Cario­
Brasil, o assessor do prefeito, Carlos Wer­ ca, hoje Patrimônio Cultural.
neck, em 30 de novembro de 1977: O ato protetor foi o resultado de uma série
de apelos, envolvendo personagens da mais
A Rua da Carioca não vai acabar. Nenhum alta expressão, como Orlando Miranda, dire­
prédio será demolido. O Cinema Íris, raro tor do Serviço Nacional de Teatro, que pediu
exemplar art-noveau, será restaurado. Tudo esse tombamento; Renato Soeiro que, à frente
que for feito na Rua e no Largo da Cario­ do órgão competente, optou pela medida; o
ca terá de contar com a concordância do Vereador Moacyr Bastos que apresentou Pro­
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. jeto de Lei, ressaltando o alto interesse dos
Ao contrário de demolição, o que existe edifícios de uma das mais tradicionais ruas do
são planos de restauração. Rio – a da Carioca –, o então prefeito Marcos
Tamoyo e da Secretária de Estado de Educa­
O arquiteto Sabino Barroso, responsável ção Mirthes Wentzel, que assinaram o decreto
pelo projeto de recuperação do Largo da para cuja efetivação se manifestaram os mem­
Carioca e da rua, afirmava ao Jornal do Brasil bros do Conselho Estadual de Cultura, como
de 30 de novembro de 1977 que “a ideia é registra Manchete, em janeiro de 1974:
manter todo o conjunto arquitetônico”.
Afinal, segundo as autoridades, toda a No dia 5 de abril de 1974, uma sexta-feira,
conversa sobre destruição parece ter sido os jornais falavam da comemoração dos 65
obra de um mal-entendido. Registra O lojis- anos do cinema Íris, com uma noite de
ta 527, de agosto de 1978: nostalgia preparada nos mínimos detalhes
pelo Departamento de Cultura do então
...Como Diretor do Serviço Nacional de Estado da Guanabara junto com a cine­
Teatro, assim que eu soube desse projeto mateca do Museu de Arte Moderna, com
de demolição da Rua da Carioca, adiantei­ filmes de Mack Sennett, o Michael Sinott,
-me e pedi o tombamento do hall de en­ cineasta norte-americano…
trada do Cineteatro Íris… …Lili Borboleta era o título da fita de
…O Dr. Renato Soeiro concordou ver­ inauguração. Ninguém se lembra do títu­
balmente com o meu pedido feito, como lo original do filme, mas muitos garantem
já disse, como Diretor do SNT, mas tam­ que, como continuou por muito tempo,
bém como cidadão. nada tinha a ver com Lili, muito menos

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 273


com borboleta. De qualquer maneira foi lombo, está guardada no sótão, no meio da
o Soberano um dos pioneiros do campo poeira e das teias de aranha.
dos filmes falantes. Eram peças musica­
das, com vozes e músicas de artistas que As obras e trabalhos pesquisados não
ficavam atrás da tela, sincronizadas com as permitem precisar as dimensões e o vulto
cenas filmadas. das restaurações ou reformas pelas quais
passou essa casa de espetáculos no curso da
A partir de 1983, o cinema torna-se popu­ sua história, bem como as datas em que tais
lar, frequentado por gente simples, em busca obras ocorreram.
de diversão de baixo custo. O ingresso dava
direito a assistir a dois filmes e um show de
strip-tease, com sessões às 15:00 e 18:00 horas. 1911
O prefeito César Maia, em 1996, irritado Teatro Chantecler (Cinema
com os shows e com os cartazes com mulhe­ Olympia)
res nuas, e descobrindo que o cinema tinha
alvará apenas para produção artística e não Em 13 de maio de 1911 era inaugurado à
para shows, multa a casa e manda suspender Rua Visconde do Rio Branco n. 53-55 o Tea­
os espetáculos. tro Chantecler, de propriedade da Empresa
Os donos conseguem alterar o Alvará, Júlio Pragana e Companhia, cujo diretor era
sendo que o novo concedia cinema, pro­ Eduardo Pereira. O espetáculo de estreia foi
dução artística, venda de doces, salgados e a opereta Saia-calção, de Gastão Bousquete
refrigerantes, teatro e atração artística (leia­ música de Costa Júnior. Logo depois passou
-se show de strip-tease), voltando a casa a ser a chamar-se Teatro Olympia.
palco para as strippers. Suas condições físicas Em 1913, o teatro encerrou suas ativida­
estavam cada vez mais precárias: os vidros des, voltando a ser cinema com o nome de
e espelhos recolocados em substituição aos Cinema Max. A partir de 1917 passou a cha­
originais, importados, bem como a falta de mar-se Cinema Olympia, ficando com este
alguns antigos azulejos portugueses, desca­ nome até 1959. Quando teatro, havia uma
racterizam e empobrecem o ambiente. De­ predominância de operetas, como gêneros
clarações prestadas pelo sr. Raul Pimenta de espetáculo, mas também se registravam
Neto, bisneto do fundador, resumem as atu­ paródias e revistas.
ais condições do interior da casa: Nas fontes pesquisadas, não há descrição
do teatro. Segundo Mário Nunes, era ori­
Há rachaduras nas soleiras, falhas nos ro­ ginariamente cinema, em que se construiu
dapés, o revestimento de pastilhas está um palco para apresentações teatrais.
parcialmente rachado. As falhas dos azule­
jos que revestem as paredes foram cober­
tas com cimento, os três últimos espelhos 1911
existentes estão completamente gastos Teatro Polytheama
pelo tempo e a simetria do hall não exis­
te mais por causa da construção de uma O Teatro Polytheama, com uma fachada am­
parede, e a bela bilheteria, trabalhada em pla de barracão com arcabouço todo de ferro,
madeira e desenhada por Antônio Borsoi, de propriedade particular de Eduardo Victo­
o autor da decoração da Confeitaria Co­ rino, que o mandou construir, foi inaugurado

274 Teatros do Rio


em 12 de outubro de 1911. Era localizado um teatro popular e merece a boa vontade
à Rua Visconde de Itaúna, que começava na do povo para quem foi feito.
Praça da República e terminava, na Rua Mi­
guel Frias e Avenida Francisco Bicalho. Pelo Decreto de anulação de denominação
A construção do teatro teve início no dia n. 7.635, de 10 de novembro de 1943, a Rua
8 de agosto de 1911 e foi concluída em 66 Visconde de Itaúna foi incorporada à Avenida
dias – num “prodígio de atividades e esfor­ Presidente Vargas, época em que o Cinema
ço do Sr. Eduardo Victorino”, diz o Jornal Polytheama talvez tenha sido demolido.
do Commercio de 13 de outubro de 1911. A
instalação elétrica da casa teve sua execução
confiada à empresa C. Carvalho & Cia. 1913
O espetáculo de inauguração A volta ao Coliseu Sul-Americano
mundo a pé, de Gaston Marot foi com um
discurso do orador oficial, Dr. Coelho Neto; Outra casa de espetáculos também com fun­
apresentou a peça em 3 atos, 12 quadros e ções teatrais foi o Coliseu Sul-Americano,
22 números de música. Os números musi­ inaugurado em 1913, no Boulevard 28 de
cais foram de autoria do maestro Archime­ setembro, Vila Isabel.
des de Oliveira.
Não se pode precisar em que época dei­
xou de apresentar atividades teatrais, e pas­ 1914
sou a programação de cinema, com o nome Teatro República
de Cinema Polytheama. (Cinema República)
Pelos comentários da imprensa, após sua
inauguração, sabe-se de seu interior pelo Jor- A atividade principal como teatro justifica
nal do Commercio de 13 de outubro de 1911: sua manutenção na relação dos teatros ca­
riocas do século XX.
A sala em anfiteatro tem cadeiras no cen­
tro; circunda essa plateia em hemiciclo
uma vasta arquibancada. Nesse recinto 1919
bastante espaçoso, podendo conter uma Teatro Central
assembleia de mais de mil espectadores, há (Cinema Central)
uma única pequena porta estreita de saída.
Se um incidente insignificante, um grito, O Teatro Central foi inaugurado como teatro
uma pilhéria de espectador irrefletido, em 4 de maio de 1923, embora tenha funcio­
produzir um pânico, além do espetáculo nado desde 15 de novembro de 1919 como
da cena haverá uma tristíssima tragédia na Cinema Central. Era localizado à Avenida Cen­
sala. A caixa do teatro é bastante espaço­ tral n. 166/168, posteriormente Rio Branco.
sa para as mais aparatosas representações. A área hoje é ocupada pelo edifício-sede da
Perto de trinta camarins, todos bem ilu­ Caixa Econômica Federal.
minados e arejados, oferecem comodidade O espetáculo de estreia foi com a peça
ao elenco. A iluminação elétrica tem uma O pobre milionário, de Gastão Tojeiro, tendo
instalação bem-feita e dispõe de variados no elenco Augusto Aníbal, Iracema de Alen­
recursos para a cena com os mais impre­ car, Ema de Souza e, como Diretor Cristia­
vistos efeitos. O Polytheama é realmente no de Souza.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 275


Era particular e teve como concessioná­ Inácio Brito e Laís Areda, Medina de Souza,
rio, em 1923, Gustavo Pinfildi e nessa mes­ Albertina Rodrigues, Vitória Soares, Bea­
ma época foi ocupado pela Cia. dirigida por triz Ferreira, Elisa Lopes, Celeste Batista e
Cristiano de Souza e não há menção quanto Alice Tinoco.
à fachada e seu interior. Sua construção foi supervisionada pela
Mesmo depois de ter passado a teatro Empresa Cinematográphica Claude Darlot.
(1923), o Central não deixou de exibir fil­ Ocupava o térreo e o primeiro pavimento
mes. Sua programação diária contava sem­ de um edifício de três andares, que ficava ao
pre com um filme e um espetáculo no pal­ lado do Parisiense e sua capacidade era de
co, espetáculo este dos mais variados, com cerca de mil lugares na plateia, além de fri­
artistas nacionais e internacionais. Como sas e balcões.
gênero, além das canções regionais brasilei­ Segundo Mário Nunes, o Cineteatro Rial­
ras e dos sainetes, ainda apresentava revistas, to,16
bailes, cançonetas e patinadores.
O Central existiu pelo menos até 1929, possui clara e elegante sala de espera… A
conforme informações do Almanak Laemmert, entrada e a saída fazem-se por largos cor­
de 1929, pág. 593. Depois, em 1931, passou redores e escada de fácil acesso. A decora­
a chamar-se Eldorado, exibindo o primeiro ção rósea da sala de espera, simples mas
dos nossos filmes falados e cantados, Coisas de belo efeito, está em harmonia com a
Nossas, de Wallace Downey. Neste período artística da sala de espetáculos, em que
seu proprietário era Generoso Ponce Filho. há panneaux decorativos, representando o
Permaneceu com o nome Eldorado até o fi­ castelo medieval de Valentino, em Turim,
nal de sua existência em 1932, conforme o e a ponte Rialto, em Veneza.
Jornal do Commercio de 21 de agosto do mes­
mo ano. Não se tem informações sobre a

Reprodução: Alice Gonzaga


causa e data precisa de seu desaparecimento.

1921
Cineteatro Rialto

Depois de ser adaptado para este fim, o


Cineteatro Rialto foi inaugurado em 24 de
maio de 1922. Era localizado na Rua Chile
n. 35, atual Rua da Ajuda n. 35, área onde
se ergue o prédio comercial edifício Barão
de Javari.
O espetáculo de inauguração como Ci­
neteatro foi a opereta de Bastos Tigre Ver e
amar, pela Cia. de Brandão Sobrinho, mú­
sica de Roberto Soriano, sendo o elenco
formado por Vicente Celestino, Henrique
Machado, Edu Carvalho, Santos Lima, Car­
los Haillot, Francisco Pezzi, Abílio Pires, Rialto. A publicidade tomando a fachada

276 Teatros do Rio


Reprodução: Alice Gonzaga

Fachada do Rialto, e o velho Parisiense à direita


Rialto com sua sala de espetáculos riedades, operetas, burletas, dramas, gênero
em sua forma original
livre (com exibição de nus artísticos) etc.
Transformado em Teatro Rialto em 11
de agosto de 1925, foi reinaugurado com
a comédia O dançarino de madame, pela Cia. 1922
de Carmen Azevedo, tendo no elenco Car­ Teatro Centenário
men Azevedo, Sílvia Bertini, Palmira Silva,
Armando Rosas, Eduardo Pereira e Oscar Na Praça Onze de junho, 212, Rua Serrador
Soares. Passou por reformas em 1926, rea­ Euzébio 188 e 190, Centro, era inaugurado,
brindo, em 14 de maio de 1927, totalmente
remodelado, apresentando decoração em es­­
tilo mourisco.
Nos anos de 1931 e 1933 sofreu novas
transformações, sendo completamente re­­­­­
formado em 1935, ao tornar-se definitiva­
mente Cinema Teatro, e posteriormente,
Tea­­tro Rialto. Teve como arrendatárias, en­
tre outras, as seguintes companhias: Cia. de
Brandão Sobrinho (1922); Empresa Pon­­­­­­ce e
Cia. (1926); Cia. Negra de Revistas (1927);
Cia. de Revistas Parisienses (empresário
Luís Galvão) (1928), e Cia. Moulin Bleu
(Genésio Arruda e Tom Bill)(1932).
Em seu palco foram apresentados diver­
sos gêneros de espetáculos: revistas musicais
e carnavalescas, comédias, chanchadas, va­ Centenário. Praça Onze

278 Teatros do Rio


em 17 de março de 1922, por uma empresa A sala é de linhas elegantes com decora­
sob a direção de Oduvaldo Vianna e Viria­ ções em que predominam o pérola e o
to Corrêa, o Theatro Centenário. Uma ho­ branco, o que empresta ao ambiente no­
menagem ao aniversário da Independência. breza e distinção. Todos os problemas de
O espetáculo inaugural foi a revista Ai seu arejamento e de luz foram cautelosamente
Melo!. Mais tarde tornou-se um cinema, o estudados e resolvidos…
Cinema Centenário. Possuía 910 lugares.
e continuava o jornal, no dia 25 de abril:

1925 A plateia ocupava o térreo; o segundo pa­


Teatro Capitólio vimento compreendia os camarotes, uma
sala de espera e uma bonbonnière elegan­
Em 23 de abril de 1925 era inaugurado o tíssima em que as obras de marcenaria ar­
Teatro Capitólio, à Praça Marechal Floria­ tística alternam com os espelhos e móveis
no n. 51, edificado em terrenos do antigo de luxo, destinados ao repouso e prazer
Convento da Ajuda, pela Companhia Brasil dos espectadores, ali se achando montada
Cinematográphica, de propriedade de Fran­ uma buvette… e, no terceiro pavimento
cisco Serrador. ficavam o anfiteatro e o promenoir, com
Ocupava três pavimentos do prédio e sua elevada lotação, distribuída por cadeiras
fachada era toda iluminada, apresentando o cômodas e confortáveis.
nome do cinema em cores cambiantes.
A inauguração ansiosamente esperada Nessa época, era dirigido por Octavia­
pelo público carioca, que afluía à frente da no de Andrade, e a programação de es­­­
casa para assistir às experiências de ilumi­ treia contou com a apresentação da Sin­­
nação, foi motivo de comentários por parte fonia do Guarani, executada por vinte
da imprensa, que assim se manifestava, no pro­­­fessores da orquestra da casa e com
Jornal do Commercio de 24 de abril de 1925: um espetáculo exclusivamente cinemato­
gráfico: A voz do Minarete, filme da First
A casa não é muito grande, relativamen­ National, com Norma Talmadge e Euge­
te, pois terá a capacidade de uns 1.300 a ne O’Brien e A tarde de um fauno, produ­
1.400 lugares… mas esses 1.300 lugares ção da Gaumont.
do Capitólio estão divididos em uma pla­ O Capitólio, que vinha apresentando
teia de poltronas confortabilíssimas, uma seus programas cinematográficos interca­
galeria imponente para mais de 500 es­ lados com espetáculos de palco, oferecen­
pectadores e uma ordem de frisas. A orna­ do números variados, em 22 de junho de
mentação interna é distinta e sóbria, mas 1925, estreou a primeira peça teatral, uma
sempre artística. Possui um foyer luxuoso revuette de autoria de José do Patrocínio Fi­
e uma cabine magnífica de operação, em lho e George Boetgen, em 1 ato e 15 qua­
toda a largura do edifício, com quatro má­ dros, intitulada Comme à Paris. O elenco era
quinas montadas. A projeção é excelente e formado por George Boetgen; Suzi Regine
grandemente ampliada. e Zizi Bonjour, dos palcos parisienses; So­
nia Boetgen e Germaine Guise, bailarinas
Nos dias subsequentes o Jornal do Commer- clássicas e fantasistas; as Capitol’s Girls e
cio acrescentava ainda: Gaby Reymo, do Bataclan de Paris.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 279


Nas fontes consultadas, não ficou de­ Era de propriedade particular, tendo sido
terminada a época em que o Capitólio edificado pelo Dr. Luiz da Rocha Miranda
passou a funcionar exclusivamente como Eugênio Honold.
cinema. Foi demolido para dar lugar à O Glória foi arrendado a várias companhias
construção do prédio comercial Paulino teatrais, entre elas, a Companhia Tro-Lo-Ló,
Ribeiro Campos. em 1925, e a Companhia Teatro de Brinque­
do, de Eugênia e Alvaro Moreyra em 1932.
Ocupava o espaço de três andares do edifício
1925 Glória, de oito pavimentos, tendo sua fren­
Cineteatro Glória te voltada para a Avenida Rio Branco, os la­
dos para as duas laterais – Francisco Serrador
O Cineteatro Glória era localizado na Pra­ e Ator Jayme Costa, e os fundos para a Rua
ça Floriano n. 35/37, antiga área ocupa­ Álvaro Alvin. Com portas e janelas rasgadas
da pelo Convento da Ajuda, atualmente para todos os lados, oferecia perfeitas condi­
Rua Francisco Serrador n. 2, onde existe o ções de ventilação e de segurança. Sua entrada
edifício Glória. Lá funcionava o antigo era encimada por um letreiro indicativo que,
night-club Beguin. No dia 3 de outubro de segundo comentários da época de sua estreia,
1925, foi inaugurado como cinema, com o era uma maravilha de perfeição, um jogo de
filme A única mulher, da First National, es­ luzes policromáticas que encantavam.
trelando Norma Talmadge. Os espetáculos Referindo-se às instalações da nova casa
cinematográficos eram precedidos de nú­ de espetáculos, o Jornal do Commercio co­
meros musicais executados pela orquestra mentava, em 3 de outubro 1925:
da casa. As sessões cinematográficas foram
suspensas no dia 25 de outubro, para serem Quanto à sua comodidade tem-na o novo
iniciados os ensaios finais da Companhia Cineteatro com um mobiliário idêntico ao
Tro-Lo-Ló, de Jardel Jércolis e Patrocínio do Capitólio, que é comodíssimo, sendo
Filho, que inauguraria o teatro em 30 de que é todo em tom claro e alegre. Possui
outubro de 1925. Entretanto, a peça que uma série de camarotes que é uma maravi­
abriu as portas do Cineteatro Glória foi a lha, e uma galeria estupenda. O seu palco
revista denominada Fora do sério, assinada é vasto, e a boca de cena magnífica, o que
por Humberto de Campos (Conselheiro lhe dá esplêndidas propensões para explo­
XX) e Oscar Lopes (Barão Oélle), estre­ rar o gênero teatral.
ando nessa ocasião como atriz Lódia Silva,
esposa de Jardel – que antes era corista –; O Cineteatro, e não o prédio, foi demo­
com música de Soriano Roberto; cenários lido, em 1968. Seu proprietário na época
e figurinos de Luiz Barros; guarda-roupa era Edgar Rocha Miranda. O espaço deu lu­
de Raphael Parra e direção de Jardel Jér­ gar a uma galeria, com lojas comerciais, li­
colis. No elenco, Adriana Noronha, Aracy gando a Rua Francisco Serrador à Rua Ator
Côrtes, Ivette Rozolen, Lia Binatti, Lódia Jayme Costa. Naquela ocasião, falava-se na
Silva, Lucilla Jércolis, Manola Matheus, construção, em cima da galeria, de uma
Sonia Botgen, Victoria Miranda, Augusto nova sala de espetáculos, com 400 lugares;
Annibal, Danilo Oliveira, Georges Botgen, fato que não se concretizou, desaparecen­
Jardel Jércolis, João de Freitas, Paschoal do definitivamente o teatro. Nessa ocasião,
Américo, Roberto Vilmar e 18 músicos. entre as razões para justificar sua demoli­

280 Teatros do Rio


ção, dizia-se, no Diário de Notícias, de 5 de nhia Brasil Cinematográphica esmerara-se
fevereiro de 1968), que o “Glória não tinha mais ainda, dando ao Império “um cachet
acústica, era barulhento, incômodo e repre­ de elegância e distinção muito apreciável”,
sentava um enorme espaço perdido…” classificando-o como o “mais agradável e
simpático ao espectador”, completando essa
impressão com um “mobiliário elegante e
1925 um sistema de iluminação primoroso”.
Cineteatro Império A partir de 1 de julho de 1926, surgiram
espetáculos de palco apresentados como
O Cineteatro Império, localizado na Praça prólogo das sessões cinematográficas, pela
Marechal Floriano n. 19, foi inaugurado em Companhia de Comediantes Arthur-Amélia
12 de novembro de 1925 com um espetáculo de Oliveira Teixeira Pinto. A primeira peça
exclusivamente cinematográfico, exibindo o apresentada, no gênero grand-guignol, foi
filme da First National, Vencedora de corações, Onde não há lei seca, com Amélia de Olivei­
interpretado por Conway Tearle, Ben Finney, ra, Tulia Burlini e Arthur de Oliveira. Os
Harry Morey, Arnald Daly e Cliphton Webb. espetáculos tiveram pouca duração: apenas
O Império foi a terceira casa de espetáculos dois meses. A partir de 1 de setembro desse
que a Companhia Brasil Cinematográphica, de mesmo ano passou exclusivamente à exibi­
propriedade de Francisco Serrador, construiu ção de filmes sendo demolido para dar lugar
nos terrenos do antigo Convento da Ajuda; ao à construção de um prédio comercial.
lado do Glória e do Capitólio. Com a frente
voltada para a Praça Mal. Floriano, ocupava o
andar térreo e os dois primeiros pavimentos 1926
de um edifício de oito andares. Cineteatro Yolanda
O Império foi o menor dos três cinemas
construídos pelo sr. Francisco Serrador, mas Existiu, nesta época no Rio, o Cineteatro
dispunha de todos os requisitos de comodi­ Yolanda, localizado no bairro de São Cristó­
dade, elegância e higiene, tendo sido consi­ vão. Conforme algumas fontes, atuou nes­
derado uma das mais luxuosas e confortá­ te teatro uma companhia dirigida pelo ator
veis casas de diversões do Rio. e ensaiador Asdrubal Miranda, com a peça
Planejado nos mesmos moldes do Capitó­ musicada O picareta, fazendo parte do elenco
lio e do Glória, introduziu poucas variantes, Antonio Denegri e Edmundo Maia.
conforme noticiava o Jornal do Commercio de Asdrubal Miranda foi presidente da Casa
15 de novembro de 1925: dos Artistas, e faleceu em 1926 junto a sua
família no bairro de Jacarepaguá.
os lugares, segundo o precedente con­
sagrado na terra-mater dos cinemas, os
Estados Unidos, repartem-se principal­ 1932
mente entre a plateia e o anfiteatro, ambos Teatro Alhambra (Cinema
amplos e bem emoldurados pelo gracioso Alhambra)
contorno da parábola do salão.
O Teatro Alhambra foi inaugurado em
E a respeito da decoração interna da casa, 9 de agosto de 1932, porém antes de ter es­­
o mesmo jornal comentava que a Compa­ treado como teatro, havia sido aberto como

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 281


cinema em 2 de fevereiro do mesmo ano. Alhambra. Fachada. Pouco antes do incêndio que
o destruiria
Era localizado à Rua do Passeio n. 14 e
16, que posteriormente passou a ser Praça Darci Cazarré, Eduardo Viana, Hortência
Mahatma Gandhi com os mesmos números. Santos, Elza Gomes, Luiza Nazareth, Ruth
O teatro era propriedade particular de Viana e o próprio Procópio.
Francisco Serrador e consistia em um pré­ Depois que passou a cinema, em 11 de
dio de três pavimentos de 17 novembro de 1932, ainda apresentou, por
algum tempo, espetáculos de palco, como a
construção provisória”, [foi erguido] “em peça Brasil da gente, de Marques Porto, Ary
50 dias, com a mão de obra de 500 ope­ Barroso, Gastão Penalva e Velho Sobrinho,
rários, empregando, no seu arcabouço, levado no dia 30 de dezembro de 1932 pela
cimento e ferro. O Alhambra serve para Cia. Brasileira de Revistas, que o arrendou
tudo: teatro, cinema, circo, diversões di­ neste período.
versas, mas abriu por dois dias, como rink No dia 10 de março de 1940, período em
de patinação; e logo nos quatro seguintes que já estava fechado, um violento incêndio
para realização de animados bailes carna­ destruiu todo o Cineteatro. Iniciado com a
valescos. Copia o Vaterland, de Berlin. explosão do grande cofre de filmes, situado
na parte posterior do edifício, onde estava
Além da plateia o teatro tinha duas ordens depositado um grande estoque de películas,
de localidades, frisas e camarotes, não sendo entre elas, duas da artista Danielle Darieux
encontradas referências a respeito da lota­ e do ator Henry Bauer.
ção e nem da decoração interior. Não estando o prédio no seguro, o pre­
O espetáculo de inauguração foi a peça de juízo foi total, atingindo, inclusive, as casas
Oduvaldo Vianna, Feitiço, encenada pela Cia. comerciais existentes no edifício. A área
de Procópio Ferreira, que o havia arrenda­ atualmente é ocupada pelo Edifício Serra­
do, tendo no elenco: Delorges Caminha, dor, pertencente à Petrobras.

282 Teatros do Rio


Referências Bibliográficas

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12 de março de 1940. Nacional do Livro, 1960, v. 1.
4.2. OS TEATROS DO teatro nacional, solicitando o interesse dos
CENTRO DA CIDADE governos pelo assunto.
Por ser escritor, e escrevendo diariamen­
te nos jornais, a imprensa foi sua grande
Por que não se cogita a fundo e a sério de aliada, dando-lhe forças para enfrentar a in­
construir “A Comédia Brasileira” – crian­ gratidão, que ele olhava com indiferença. Os
do-se um segundo Municipal, que não intendentes municipais resolveram, no ano
precisa de ter tantos mármores preciosos. de 1894, consagrar a ideia em lei munici­
Que até nisso nos faltou a sorte... pal. A partir do decreto, começou a render
ao município um novo imposto. O tempo
Temos um só e explêndido teatro. Logo
havia de ser para que nele garganteiem
foi passando, e com a indiferença geral, a
seus gorjeios e estrondem seus acordes;
lei não foi executada, apesar da insistência
artistas estrangeiros. Está bem. O que do escritor, cuja tenacidade acabou recom­
está mal, o que não está certo é que no pensada com a construção do tão esperado
Rio tenha ótima casa posta aos artistas Thea­tro Municipal.
de Hollywood e os músicos de Milão, en- A crônica da cidade é insistente na valo­
quanto vivem em avenidas de subúrbio rização dos teatros que fizeram a glória da
os artistas e os autores brasileiros. cidade nas primeiras décadas do século XX
não só pela novidade das construções ins­
Ega Júnior,
piradas em modelos europeus, como pela
função que exercia o teatro como elemen­
to catalisador da vida cultural da sociedade
No início do século XX, a cidade do culta da época. Além disso, o teatro estava
Rio de Janeiro conservava, apesar do imen­ identificado, pela voz de alguns defensores
so progresso devido às novas instituições, do produto autêntico, com a própria cultura
o estilo da antiga cidade portuguesa, tipo nacional. Dentre eles, na trilha aberta por
do Porto, por força colonizadora de Por­ Artur Azevedo, está Paschoal Carlos Magno,
tugal. Com sua paisagem natural, pacata zeloso de nosso patrimônio, manifestando­
e burguesa, não pensava em monumentos -se através da seção teatral do Correio da
arquitetônicos. Manhã, que ele dirigia, e no Boletim Sbat. É
Quando o teatro começou a entrar em um precioso documento sobre a história do
decadência, surge um dramaturgo, Artur teatro na nossa cidade, na primeira metade
Azevedo, lembrando da necessidade de do século.
criação de uma companhia teatral, subven­
cionada pela Prefeitura Municipal. Tendo Um dos meus amigos exibe, entre as pe­
consciência de que o teatro era expoente ças do seu museu de peças brasileiras, duas
de cultura, e que as civilizações caracteri­ poltronas de jacarandá legítimo. Cada uma
zavam-se pelo seu reflexo nesta arte, este no espaldar, sobre uma placa de metal
homem de teatro, vivendo em um país sem branco, um número.
o preparo mental para o produzir, mas pos­ ­– São do “Lírico”.
suído de uma doce alma toda feita de bon­ Lembram-se do Lírico? Era o nosso
dade, tinha a convicção e fé inabalável no melhor teatro, de acústica perfeita, linhas
ressurgimento do teatro nacional. Passou sóbrias, discretíssimo na sua decoração in­
então Artur Azevedo a trabalhar por este terna. Pois não é que vem um prefeito e

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 287


como não gosta de teatro, resolve atirá-lo o transformaram num cinema de segunda
abaixo e transformar a sua antiga área em classe. Pena: não concordam?
parque de automóveis?! Aquelas cadeiras Se o leitor tem menos de vinte anos,
foram vendidas, como todas as outras que não conheceu o Trianon – ficava ali mes­
enchiam a plateia imensa, em leilão. mo onde é atualmente o Cineac Trianon.
Se não me falha a memória, foi o mes­ Era um teatro cordial, simples. Leopoldo
mo prefeito quem mandou destruir o Fróes, Procópio, Apolônia Pinto, Jayme
Cassino Beira-Mar, que era um excelente Costa, Viriato Corrêa, Armando Gonza­
teatro colocado no Passeio Público, entre ga, Tojeiro, Oduvaldo Vianna, Joracy Ca­
árvores, com a frente para a baía. “O tea­ margo e tantos outros intérpretes e auto­
tro ameaça cair”, foi a desculpa que deu. res, têm a sua glória ligada a essa casa de
Mas a queda só foi possível a custa de mui­ espetáculos.Todas as tardes fazia-se comí­
to dinamite. cio de gente de teatro à sua porta. Rafael
A cidade cresce. E o interesse pelo Pinheiro, com seu bigode imperial e sua
tea­­tro também. Aumenta o número de voz de belos tons graves, era o centro das
atores, autores, cenógrafos, diretores, conversas. Eu me recordo voltando da
figurinistas, maquinistas, costureiros, Faculdade ou ainda do ginasial, passando
ele­­­tricistas. Mas seus palcos desapare­ perto dessa gente toda cuja vida e cujos
cem? Dizem que em razão das mudanças nomes conhecia, sonhando poder um dia
que a cidade sofre. Mas frequentemente me aproximar e fazer parte desses comí­
sem razão nenhuma. cios de inteligência.
Um empresário, Celestino Silva, en­ Ouvi, mais tarde, que diariamente esse
riqueceu com o teatro. Era o proprietá­ grupo reclamava como os que são her­
rio do Teatro Apollo, à Rua do Lavradio. deiros do seu sonho e de seu entusiasmo,
Quando morreu, deixou-o em testamen­ reclamam agora, pois no Brasil se gasta di­
to à Prefeitura para que o transformasse nheiro com tudo, menos com teatro. Fala­
numa escola. Ainda bem. Podia ter aca­ va-se então, como se falará sempre sobre
bado em repartição da Municipalidade de a tenacidade heroica de Artur Azevedo,
muitos funcionários e pouco trabalho! que edificou o Municipal. Era sonho dele
Não muito distante dele, à Rua Dr. Pe­ arranjar casa para nossos autores e atores
dro I, existe a Fundação Hime, que nada de prosa. O tempo mutilou seu sonho: o
mais é que o antigo Teatro Lucinda. A gen­ primeiro teatro da cidade serve hoje para
te passa pela rua e dá uma espiadaela para tudo, até para baile de carnaval, que o es­
dentro. Todo o esqueleto do Lucinda resis­ traga e avilta, abriga espetáculos de ópera,
te ao tempo, que é de doer. Na vizinhança, concertos, elencos estrangeiros. Mas de lá
o rei era Paschoal Segreto. Tinha nas mãos enxotam nossos conjuntos de prosa.Tor­
os Teatros S. José, Carlos Gomes, Maison nou-se assim, o menos brasileiro de nossos
Moderne e outros. O segundo, depois de teatros. Coitado do Artur Azevedo! Desde
reformado e incendiado, para ser nova­ então, como acentuou R. Magalhães Jú­
mente reintegrado à sua função, continua. nior na admirável conferência que realizou
O primeiro era o centro das nossas revis­ recentemente na Câmara dos Vereadores
tas populares, com numeroso público. Vi­ sobre “O Rio de Janeiro no tea­tro do Bra­
via sempre repleto. Fazia a glória de muita sil”, a Municipalidade não mais se preocu­
gente. Os herdeiros de Paschoal Segreto pou em dar teatros à cidade.” Mas achou

288 Teatros do Rio


terrenos e recursos para construir quatro existisse um teatro. Depois de muita gente
“boites” para serem cedidas quase de graça tratar do assunto, a Câmara dos Vereado­
aos felizes locatários: a da Estrada das Ca­ res, por obra de um projeto de R. Maga­
noas, a do Joá, a do Lido e o Casablanca, lhães júnior, mandou desapropriá-lo. Mui­
na Praia Vermelha.”. Mestre Coelho Neto, to bem. Quando é que o prefeito pede, em
em 1922 , diante dos gastos suntuários do mensagem, crédito para solucionar toda
Centenário “dessa feira reles que foi a Ex­ essa história e mandar reabrir o teatro da
posição” gritava que, com pouco desse di­ Avenida Almirante Barroso?
nheiro, se devia ter construído um teatro. Devia cada arrabalde ter seu teatro pró­
Um pequeno teatro para a comédia brasi­ prio. Isto acontece em todos os centros ci­
leira. E “tal obra seria mais útil à Pátria que vilizados. Copiamos de fora o pior. Nada
tudo isso aí que jaz, entupindo a cidade, e de coisas boas como essa. É verdade que
proclamando escândalo da administração Copacabana ganhou teatros diminutos, mas
desasada”. A cidade ganhou, é certo, alguns úteis à sua população e aos nossos artistas:
teatros novos como o Dulcina, o Serrador, o De Bolso, o Folies, e o Jardel. Até em
o Rival. Este, exíguo e nada confortável. O Madureira apareceu um teatro, por obra
segundo, ameaçado de perder a sua sala de da coragem da atriz Zaquia Jorge.
espera, com o alargamento que se prepara E estão sendo construídos dois na Ti­
da Rua Senador Dantas. Vão também de­ juca e recentemente foi inaugurado um
molir o Recreio, onde nasceu o Clube Mi­ no Riachuelo. A Prefeitura terminou um
litar. Um incêndio destruiu o harmonioso em Marechal Hermes e outro em Campo
Teatro do Copacabana. Quando o nosso Grande. Mas não serão tão cedo inaugura­
amigo Octávio Guinle o ressuscitará?. dos, porque não há verba para poltronas...
O João Caetano, de cimento armado e a Os moços de Campo Grande, do “Teatro
pior acústica deste mundo, substituíram Rural do Estudante”, ganharam um terreno
o São Pedro, que era um padrão de bom e vão construir a sua própria casa de espe­
gosto e com condições admiráveis de ver táculos. Muita gente se alvoroça atualmen­
e ouvir. Há o República, na Avenida Go­ te sonhando construir, para seus grupos ou
mes Freire. Dos nossos melhores teatros. companhias, de amadores ou profissionais,
Vive fechado dois terços do ano. Não é seu teatro, por menor que seja.
fora de mão, como muita gente diz por aí, Faço parte dessa legião. Por isso, na nos­
se quem estiver lá, apresente espetáculo sa casa de Santa Teresa, construí o “Teatro
que valha, público não lhe faltará. Foi as­ Duse”, de cem lugares, que se destina so­
sim com o Hamlet, do Teatro do Estudan­ mente a encenar originais de autores bra­
te; com o Teatro Experimental de Ópera, sileiros inéditos, sem nenhuma preocupa­
com Katarine Dunham e seus bailarinos ção de comércio ou lucro.
mágicos, e com Henriete Morineau e “Os Tinha vontade de substituir essas cem
Artistas Unidos”. poltronas moderníssimas por cem pol­
Iam acabar com o Fênix. Houve uma tronas do Lírico, de jacarandá legítimo,
gritaria danada. Mas os donos do Fênix que foram todas vendidas em leilão. Meu
têm muita importância financeira. E não amigo, que possui duas, está pronto a me
queriam de maneira alguma saber de que oferecer, se arranjar outras. Mas poderá
aquele terreno fora doado pela Fênix Dra­ guardá-las sem susto, que o endereço das
mática para que ali permanentemente outras é difícil de descobrir.18

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 289


A crônica se completa em outra, de Hen­ Verdun, uma acústica jamais obtida em ne­
rique Pongetti, também de grande abran­ nhum desses antros para conspiradores ou
gência, escrita no Rio de Janeiro, em 1956: surdos-mudos construídos por arquitetos
descendentes em linha reta dos primeiros
O Teatro Fênix continua fechado enquan­ cristãos das catacumbas. Quero referir-me
to se arrasta o drama financeiro da sua aos que fizeram o João Caetano sobre os
desapropriação. Dizem até que está mal­ fundamentos do São Pedro.
-assombrado. Que à meia-noite em ponto O São Pedro era indubitavelmente
as almas de eminentes “canastrões” baixam um teatro. Via-se. Ouvia-se. Depois re­
ao seu palco – sem quebrar um só fio do solveram não homenagear mais o santo
imenso dossel de teias de aranha e se re­ e reverenciar um ator e parece que o céu
vezam num cavernoso ato variado. Deve não gostou da história. Como João Cae­
ser verdade. Mesmo antes do fechamento, tano tudo ficou diferente e sabe a castigo.
algumas temporadas de brilhantes atores Cada cadeira ocupada, graças a um infer­
vivos sentiram a interferência do Além. nal dispositivo, canta apenas os lábios
A ideia se apresentava repleta, mas os ta­ procurando fingir sincronismo. O públi­
lões de ingressos permaneciam virgens e co para e acaba dando concerto. Encabu­
o porteiro jurava pela honra de sua proge­ ladíssimo, por sinal, porque já noites em
nitora que não vira ninguém entrar... Um que as cadeiras indispostas vocalmente
dia houve um detalhe que deu para des­ incitam ruído de roupa... rasgada, e al­
confiar: a primeira atriz recebeu uma be­ guns espectadores receiam erguer-se nos
líssima “corbeille” de saudades bem roxas intervalos, com as luzes acesas... Quan­
e de cravos-de-defunto. Procurou o car­ to à visão, alguns oculistas já fizeram do
tão do admirador e encontrou um mapa palco do João Caetano seu último teste:
do cemitério com uma porção de setinhas – Viu tudo e bem?
marotas indicando o itinerário para se che­ – Vi tudo e bem.
gar a certo túmulo... – Eu percebi logo: o senhor ficou com­
Há uma antiga e triste sina perseguin­ pletamente estrábico...19
do os nossos teatros. Aquele lindo cha­
mado Beira-Mar, no Passeio Público, foi
demolido porque apresentava uma peri­ 1903
gosa fenda em certa parede vital. Quando Teatro da Maison Moderne
quiseram derrubá-lo, a tal parede resistiu
a tudo e foi preciso recorrer à dinami­ O Teatro da Maison Moderne, situado à Rua
te. Parecia um vereador insubornável da do Espírito Santo (atual Pedro I) n. 15, 17
oposição em fim de mandato, querendo e 19, esquina com o Largo do Rossio, foi
reeleger-se. inaugurado em 5 de abril de 1903, com a
O Teatro Lírico foi posto abaixo, em comédia revista O Rio por um óculo, peça em
plena validez, mais por velhice aparente um ato, de autoria de J. Teixeira.
do que orgânica. Com uma sábia refor­ Não era propriamente um teatro, mas
ma externa, e alguns retoques internos, sim um café-concerto de propriedade par­
sua existência gloriosa teria prosseguido ticular e pertencia à Empresa de Paschoal
sem que a cidade em fúria de rejuvenes­ Segreto, não se encontrando referências da
cimento pudesse vexar-se. Paredes tipo fachada do teatro.

290 Teatros do Rio


ras amestradas, já que ao lado, quase esquina
da Praça com a Travessa Barreira (Rua Silva
Jardim) ficava o Teatro São José, que tinha
boa frequência, desde o tempo que se cha­
mava Teatro Variedades.
Na parte descoberta do terreno, funcio­
nava um verdadeiro mafuá bem familiar,
havia ali instalados vários divertimentos
populares, carrossel, montanha-russa, roda­
-gigante, tiro ao alvo, bola ao cesto, e toda
Maison Moderne. classe de jogos permitidos. Era todo de fer­
A sala de espetáculo era o penúltimo prédio
ro e sua armação engenhosamente ajustada.
Com suas características de café-concer­ Ao fundo do terreno era localizado o tea­
to, a ideia era constituída de uma ampla área tro, com um pequeno palco, todo construí­
mobiliada com mesas e cadeiras, onde os es­ do também em ferro. A área destinada à pla­
pectadores se serviam de refrigerantes; en­ teia era mobiliada com mesas e cadeiras para
quanto no palco se exibiam artistas. Possuía os espectadores, e parte ficava ao ar livre e
26 camarotes de primeira; 4 camarotes de parte sob a cobertura.
segunda; 2 frisas; 500 poltronas e 180 gale­ A plateia tinha 15m de comprimento por
rias. Era iluminado a luz elétrica. 17 de largura, constando de camarotes, ca­
Mais tarde, foi transformado em parque deiras de primeira e segunda classe, galerias,
de diversões, com o teatro de verão e um entradas gerais, varanda de primeira e segun­
grande jardim, instalando a exemplo dos Maison Moderne.
grandes parques europeus, brinquedos e fe­ A sala de espetáculo era o penúltimo prédio

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 291


da ordem, além do jardim. Inúmeras refor­ O defeito de família, tendo como ator princi­
mas foram realizadas, adaptando-se a cons­ pal Gulherme Rocha e diretor da orquestra
trução metálica do teatro a diferentes usos. o maestro Brito Fernandes. Não foram en­
Em junho de 1912 era transformado em contradas na vasta bibliografia consultada,
café-concerto, apresentando uma troupe de referências de sua vinculação, e de sua fa­
variedades. Em abril de 1914 é transformado chada e interiores. O teatro que teve vida
em um music-hall e em novembro de 1916, curtíssima, não se encontrando que causas
sofre mudanças arquiteturais, e é transfor­ motivaram o seu desaparecimento.
mado em Teatro Gymnasio, com entrada pela
Rua Luis Cruz Gama (antiga Espírito Santo
e atual Pedro I). Durante a década de 1920, 1909
o teatro sofre todas as pressões e críticas da Theatro Municipal do
imprensa, qualificando-o como um local in­ Rio de Janeiro
decente e imoral, igualando-o a um barracão
foco de infecções, colocando os frequentado­ No quarto ano presidencial de Francisco de
res em perigo de vida. Paulo Rodrigues Alves, tendo como prefeito
Apesar das críticas o teatro continua a da cidade do Rio de Janeiro o engenheiro
funcionar, e em 1929 já havia sido transfor­ Francisco Pereira Passos, foi dada prova de
mado em Cinetatro Moderno. As mudan­ sua grande vitalidade, trabalho e ação. Pe­
ças continuam e em 14 de abril de 1940 é reira Passos imaginou uma cidade inteira­
reinaugurado com o nome de Teatro Apolo mente nova e começou a trabalhar com este
(aliás, diga-se de passagem, o terceiro com objetivo, rasgando a cidade de ponta a pon­
esse nome), resultado da transformação do ta, transformando-a em grande canteiro de
Cineteatro Moderno, antiga Maison Moder­ obras com muita poeira no ar. Aproveitan­
ne em teatro. Em 1942 foi demolido o tea­ do a ocasião, Artur Azevedo continuou sua
tro, sendo erguido no terreno o prédio de campanha por um teatro realmente nacio­
apartamento Gaetano Segreto. nal e Pereira Passos, na febre de edificações,
Como gênero de espetáculos, o Maison pensou nisso. A princípio, pensou em remo­
Moderne foi dos mais diversificados: comé­ delar o São Pedro de Alcântara, pois era seu
dias, revistas, vaudeviles. Havia divertimentos desejo aparelhá-lo exclusivamente para re­
para todos, adultos e crianças: balões, tiro presentações dramáticas, segundo o projeto
ao alvo, malho, diorama, fotografia, roda­ elaborado pelo então engenheiro consultor
-gigante, mulher barbada, máquinas de caça­ da Prefeitura Francisco de Oliveira Passos.
-níqueis, e exposição de feras enjauladas. Mas, para a felicidade de Artur Azevedo, o
Banco do Brasil, proprietário do imóvel na
época, não chegou a um acordo.
1903 Quando a poeira assentou e a cidade es­
Teatro da Exposição de tava com novas avenidas e praças amplas,
Aparelhos a Álcool foi resolvida então a construção do novo
teatro. Para tanto foi realizada uma con­
O Teatro da Exposição de Aparelhos a Ál­ corrência pública por licitação para apre­­­
cool era localizado à Rua do Lavradio n. sentação de projetos – sob anonimato –,
104, e foi inaugurado em 22 de novembro aberta em 15 de outubro de 1903. Na
de 1903 com a comédia de França Júnior, ocasião de seu encerramento, em março

292 Teatros do Rio


de 1904, sete haviam sido entregues, e predominante no mundo ocidental, na (im
dois obtiveram o primeiro lugar: “Isado­ segunda metade do século XIX e déca­
ra” e “Aquila”. Este último, pseudônimo das iniciais do século XX (ao menos até
de Francisco de Oliveira Passos, acabou a 1ª Guerra Mundial). De tendência ec­
sendo escolhido, e o projeto, após ligeira lética, esta teoria caracterizava­se pela
modificação, foi adotado definitivamente absorção de elementos arquitetônicos e
para a construção. Francisco era sobrinho decorativos contidos na tradição clássica
de Pereira Passos, mas ninguém ousou pôr europeia.20
em dúvida a lisura do resultado, seja pela
notória integridade do prefeito, seja pela Em 2 de janeiro de 1905 iniciaram­se
comissão julgadora do concurso, de que as obras, em terreno na maior parte um
faziam parte homens como o ministro alagado, apresentando lençol de água sub­
Lauro Müller, Paulo de Frontin, Adolfo terrâneo. Em 19 de maio do mesmo ano é
Morales de Los Rios, Artur Azevedo, Tris­ apresentado o projeto do decreto que rea­
tão de Alencar, Araripe Júnior e Rodolfo bria crédito de 3.180 contos de réis para o
Bernadeli. financiamento das obras e desapropriações
Formalmente o projeto inspirava­se no complementares no Beco Manuel de Carva­
edifício da Ópera de Paris (1875), projetado lho e adjacências, a fim de ser construído o
por Charles Garnier (1825­1875). O segun­ Theatro Dramático Municipal. E em 20 de
do colocado foi o francês Albert Guilbert, maio, do mesmo ano, nos terrenos onde se
do pseudônimo “Isadora”, de cujo projeto se abria a Avenida Central, depois de dois anos
aproveitou a fachada. de trabalhos executados por duas turmas de
operários que trabalhavam dia e noite sem
O prédio ilustra a influência da teoria
arquitetônica da Ècole des Beaux Arts, Theatro Municipal. Fachada principal

Capítulo 4 | O s teatrOs dO r iO de J aneirO nO séculO XX 293


Theatro Municipal. Fachada lateral Nilo Peçanha e o prefeito da cidade Inno­
cencio Serzedelo Correa. O prédio fica no
parar, estavam concluídas as fundações, sen­ quarteirão formado pela Avenida Rio Bran­
do colocada a pedra angular ao canto do edi­ co (ex-Avenida Central), Praça Marechal
fício entre o Beco Manoel de Carvalho e a Flo­­­riano (ex-Ferreira Viana), Rua Treze de
Avenida Rio Branco. Maio e Rua Manoel de Carvalho (ex-Beco
O novo prefeito Francisco Marcelino de Manoel de Carvalho). Por obra do destino,
Souza Aguiar, substituto de Francisco De Artur Azevedo não compareceu à inaugura­
Oliveira Passos, não interrompeu as obras, ção, pois havia falecido em 22 de outubro de
pois era admirador do projeto, antes mes­ 1908. O Anuário da Casa dos Artistas de 1938
mo de ter sido convidado pelo governo de descreve a inauguração:
Afonso Penna (sucessor de Rodrigues Al­
ves), para Prefeito Municipal. As obras do Às 2 horas da tarde chegou o Presidente da
teatro continuaram com o mesmo ritmo, e República, o Exmo. Sr. Dr. Nilo Peçanha,
no período de quatro anos da data do iní­ ao Theatro Municipal. S. Ex. Fez-se acom­
cio da construção, em 14 de julho de 1909, panhar do chefe de sua Casa Militar, Coro­
inaugurava-se o Theatro Municipal do Rio nel Bento Ribeiro, e do Oficial de Gabine­
de Janeiro, sendo Presidente da República te, Coronel Álvares da Fonseca.

294 Teatros do Rio


Foi recebido, à entrada do suntuoso edi­ trito Federal, e mais autoridades superiores
fício, pelos Srs. Prefeito do Distrito Fede­ da República e deste Distrito, bem assim
ral, General Souza Aguiar; presidente do representantes dos poderes legislativo, Fe­
Conselho Municipal, intendentes muni­ deral e Municipal, do poder judiciário, o
cipais, chefes da comissão construtora do engenheiro chefe da comissão construtora
Theatro, Dr. Francisco de Oliveira Passos, do teatro, representantes da imprensa e das
e pelos demais membros dessa comissão, classes que compõem a força pública, mui­
Drs. Carlos Penna, Alvarenga Peixoto e tas senhoras e cidadãos das demais classes
Antonio Rafin; Raul Cardoso, diretor do sociais, realizou-se, de conformidade com
Patrimônio Municipal e superintendente o programa distribuído e do qual se junta
do Teatro, diversos deputados, funcionários um exemplar, o solene espetáculo de inau­
da Prefeitura, representantes dos jornais guração do referido edifício construído sob
diários junto à presidência, vários atores e os planos e direção do engenheiro Francis­
cenógrafos. Acompanhados por quantos se co de Oliveira Passos, na administração do
achavam no local, S. Ex. percorreu todas prefeito Dr. Francisco Pereira Passos e do
as dependências do edifício, examinando-o atual acima mencionado.
minuciosamente, enaltecendo, por vezes, E, para que em todo tempo possa cons­
os méritos da obra admirável que é aquele tar, foi lavrada a presente ata, que vai subs­
conjunto de arte, em todos os gêneros. crita pelo secretário da comissão constru­
O pessoal do movimento de cena execu­ tora do Theatro Municipal e assinada pelos
tou várias manobras ao proscênio, fazendo exmos. Srs. Presidente da República, mi­
mover o tablado e os cenários e funcionar nistro de Estado, prefeito do Distrito, o
o aperfeiçoado sistema de iluminação. Em engenheiro chefe da comissão construtora
seguida S. Ex. visitou a usina de eletrici­ do Theatro, altas autoridades e outras pes­
dade, que é das mais completas, e depois soas gradas que compareceram.
dirigiu-se ao salão da biblioteca do Theatro. Uma comissão de artistas da Com­
Aí, o engenheiro Dr. Francisco de Oli­ panhia Dramática Arthur Azevedo após
veira Passos procedeu à leitura da ata re­ a inauguração, dirigiu-se ao Cemitério
ferente à inauguração do edifício. Esse de S. Francisco Xavier e ali depositou,
documento está encerrado numa pasta de no carneiro número 4.887, 1° quadro,
chagrin verde-escuro, com desenhos e fe­ onde jazia o corpo do saudoso comedi­
chos dourados. O revestimento é de cetim ógrafo Artur Azevedo, uma linda palma
amarelo e numa larga folha de pergami­ de flores naturais, comemorando desse
nho, encimada pelo escudo do município modo a data da inauguração do Theatro
do Rio de Janeiro, capital dos Estados Uni­ Municipal.
dos do Brasil, assim reza: À noite realizou-se o espetáculo inaugu­
Aos quatorze dias do mês de julho de ral, grandemente concorrido ao qual não
1909, 88° da Independência do Brasil e 21° faltaram todos os elementos indispensá­
da República, sendo presentes no edifício do veis ao brilhantismo da festa.
Theatro Municipal, erecto na Avenida Cen­ Às 8 ½ horas da noite chega ao Theatro
tral, da cidade do Rio de Janeiro, o Dr. Nilo Municipal o Presidente da República, acom­
Peçanha Presidente da República, ministros panhado de sua senhora e dos membros de
do Estado, o general de brigada Francisco suas casas civil e militar. S. Ex. fez-se trans­
Marcelino de Souza Aguiar, prefeito do Dis­ portar do palácio em carro à Daumont. Re­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 295


cebido à entrada do edifício, pelo prefeito feitio moderno, entrelaçada de melodias
do Distrito Federal, superintendente do originais, com um instrumental de empol­
Theatro e pessoas gradas, foi acompanhado gantes efeitos sonoros.
até ao camarote presidencial. Após grande intervalo, a mesma or­
Ao assomar S. Ex. ao seu camarote, a questra executou, no local que lhe é des­
orquestra, sob a regência do maestro Fran­ tinado nesse teatro, o noturno da ópera
cisco Braga, executou o Hino Nacional, “Condor”, de Carlos Gomes.
ouvido de pé por todos os assistentes. Em Finda esta parte orquestral, o Dr. Paulo
seguida, o orador oficial, o poeta Olavo de Frontin, que ocupava uma das frisas da
Bilac, produziu o discurso da inauguração, esquerda, levantou um viva ao Dr. Francis­
fazendo um longo estudo sobre a evolução co de Oliveira Passos, engenheiro chefe da
do teatro, desde os tempos da antiga Gré­ construção do Theatro Municipal.
cia até aos nossos dias. Esse viva foi entusiasticamente corres­
No decorrer do seu discurso enalteceu pondido pela sala, sendo o manifestado
a campanha tenaz, o louvável e sempre obrigado a ir ao proscênio, onde recebeu
crescente empenho com que o inolvidável aplausos e vivas prolongados, estendendo­
escritor Artur Azevedo batalhara em prol -se essas manifestações ao ex-prefeito, Dr.
da fundação do Theatro Municipal. Francisco Pereira Passos, cujo nome foi
Findo o descanso, a orquestra, de 60 então brilhantemente vitoriado.
professores, sob a regência do maestro Houve, depois, novo intervalo ainda,
Francisco Braga, executou, em cena aber­ como o antecedente, bastante longo. Por
ta, o poema sinfônico desse compositor fim, o velório, de veludo ouro-vermelho,
nacional e intitulado Insônia, sob o tex­
Theatro Municipal.
to de Escragnole Doria, obra musical de Aspecto do recinto na noite de inauguração

296 Teatros do Rio


correu, para a representação da peça em Senhor Presidente da República
um ato – Bonança, escrita especialmente, Minhas Senhoras e meus Senhores.
por Coelho Netto para essa récita, cujo
desempenho foi confiado aos artistas da Transportai-vos comigo a uma remota
“Companhia Dramatica Arthur Azevedo”: civilização, a um encantado ponto da ter­
Antonio Ramos, Luiza de Oliveira, Ga­ ra, que ainda hoje conserva o seu encanto,
briela Montani, Candido Nasareth, João o seu céu azul, as suas árvores sagradas
de Deus, e Lucila Péres, aos quais foram em cujo cerne ainda se percebe a queixa
distribuídos os papéis de maior responsa­ abafada das hamadríades, as suas monta­
bilidade. Conduziram-se a geral contento, nhas ainda ressoantes do esquivo passo das
recebendo palmas, bem como o autor, que oédes, os seus vales em cujo seio fresco
foi chamado repetidas vezes à cena. ainda perpassa a ronda leve nas napeas e
Às 12 e 25 minutos da noite, o maestro os seus campos e cidades onde os tem­
Francisco Braga empunhou novamente a pos mutilados ainda estremecem e palpi­
batuta e deu sinal de ataque do prelúdio da tam como guardando a vida imortal dos
“Moema”, ópera Lírica em um ato, de Del­ deuses que os habitaram. Transportai-vos
gado de Carvalho, cantada pelos artistas do comigo Hélade luminosa, ao seu coração,
Centro Lírico Brasileiro. Cantaram a Ópera a essa Atenas sacrossanta, diante de cuja
a Sra. Laura Malta e os srs. Americo Rodri­ acrópole os lábios de Renan murmuraram
gues e Mario Pinheiro, que receberam ova­ a mais bela prece que já brotou, num sur­
ções, bem como o autor da ópera. to de enlevo artístico, da alma e da boca
Assim se pretendeu ter satisfeito a gran­ de um homem civilizado...
de aspiração de Artur Azevedo que, com Espira o século de Péricles – e a demo­
pertinácia ingente tão em contraste com o cracia ateniense esplende em plena pureza,
nosso proceder, se batera pela criação do antes dos exageros e dos abusos que a vão
Teatro Nacional. arrastar aos desastres da guerra do Pelopo­
Construído o edifício, não se cogitou nésio. Eis-nos em Atenas, e eis, repleto o
de saber se os que lhe seriam inquilinos velho Teatro de Dionysos, já transformado
– os artistas – estavam habilitados para e aperfeiçoado pelos arquitetos do grande
aquele ambiente ou quiçá, premeditaram século, mais conservando a simplicidade
desde logo que tão suntuosa casa merecia majestosa da instalação primitiva – as ar­
inquilinos provindos de outras terras, pois quibancadas ao ar livre, os gradins talhados
os indígenas continuariam nas suas tabas na rocha viva da Acrópole sombra do Par­
onde até então estiveram menosprezados thenon, os bancos de mármore, destinados
e afastados do convívio social.” aos archontes, aos estrategistas e a cena, a
ara junto à qual, antes do espetáculo, era
Coube a Olavo Bilac o discurso da inau­ en­toado em versos trocheus o hino em
guração, no qual o poeta entregou à cidade o louvor do filho de Júpiter e Semele. Vinte
sonho realizado de Artur Azevedo. Pela rari­ mil atenienses enchem o imenso âmbito.
dade, o discurso merece ser reproduzido na Do alto dos gradins o povo abrange com
íntegra. Foi publicado por Brício de Abreu, a vista um panorama fúlgido. O llissus e
no jornal Diário da Noite, em 20 de julho o Himeto, do jardim da Academia, os gi­
de 1959, por ocasião do cinquentenário do násios, o templo de Afrodite, o porto do
Theatro Municipal: Pireu, e o mar largo arfando ao peso das

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 297


Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Térreo e subsolo

Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


Planta do pavimento das frisas
triremes vencedoras de Salamina. Ao sol mentares sociedades da Ásia, esboçado em
faiscante, indo e vindo na vasta cena, ato­ cantos e danças de cunho religioso, já re­
res e chorêutas vão interpretar uma das velando esse instinto de imitação, que é o
obras-primas do teatro grego – O Prometeu fator de todas as artes. Vê-lo-eis na Grécia
Acorrentado de Ésquilo, ou o Édipo em Colo- heroica nascer sob a forma de um ditiram­
na de Sófocles, ou a Ifigênia em Taurida de bo animado, cantado e dançado pelo coro
Eurípedes. Um arauto proclama o nome dos sátiros nas cerimônias culto dionisía­
do poeta. co; assistireis então ao aparecimento des­
Mas antes que o Coro apareça para en­ se formidável Ésquilo, herói de Maratona
toar o parodo inicial – um ator, o mais e pai da Tragédia, desbaratador de persas
humilde de todos, o tritagonista encar­ e domador de ideias, cuja última trilogia
regado dos papéis acessórios, vem à boca trágica, formada por Agamenon. As Coeforas
de cena explicar o entrecho da peça. É o e As Eumenides, é um dos monumentos mais
prólogo. E dos seus lábios não saem apenas antigos e gloriosos das letras, e cujo Prome-
em resumo singelo as lendas ou os fatos teu Acorrentado foi o primeiro grito de ira
que atores e chorêutas vão desenvolver; o e de protesto que o homem acabrunhado
prólogo celebra também, no limiar do es­ pela força absurda do Desconhecido, le­
petáculo, a glória dos deuses e da Pátria, as vantou contra a sua própria miséria e a sua
guerras que dividiram os homens ou que própria escravidão; depois de Ésquilo, para
os reuniram em revolta contra a tirania do quem o opressor dos homens era o Des­
Destino, e a grandeza da cidade, e seus so­ tino inexorável; verieis surgir Sófocles, o
frimentos e as suas vitórias... glorificador da Attica, mais filósofo do que
Não é outro hoje o meu papel, senhoras o seu grande rival, deslocando a poesia do
e senhores, nesta cerimônia da inaugura­ céu para a terra, preferindo aos deuses as
ção do Theatro Municipal do Rio de Ja­ criaturas mortais, atribuindo o sofrimen­
neiro. Sou o prólogo desta grande festa da to da espécie ao despotismo das paixões
civilização brasileira. E não venho dizer­ humanas, produzindo mais de cem tragé­
-vos o que são, como documento e glória dias em que se definiu a forma clássica do
da nossa arte, a prosa admirável de Coe­ Teatro Grego, até a obra-prima de Édipo em
lho Neto e a música magnífica de Carlos Colona, último fruto do seu gênio, escrita
Gomes, de Francisco Braga e de Delgado na extrema velhice, e que ainda é hoje o
de Carvalho: venho lembrar a cidade e à mais belo poema de quantos celebram o
Pátria, que esta festa é um atestado de sua sofrimento e a dedicação, a dor e a piedade
cultura; venho de algum modo explicar – redenção do castigo pelo amor, simboli­
o entrecho deste drama social, em que o zada na desgraça do herói tebano e na mi­
Tempo e o Trabalho, os dois criadores das sericórdia de Antígone e vereis suceder a
civilizações enfeixaram as conquistas do Ésquilo e a Sófocles o sombrio Eurípedes,
nosso progresso e da nossa educação. o “destruidor de ilusões”, perseguido e
Pudesse eu alongar os poucos minutos banido por ter duvidado dos mitos, liber­
que me são concedidos para esta oração tando o Teatro da influência da Religião, e
inicial, e procuraria tragar-vos aqui a his­ eternizando nas suas tragédias os últimos
tória do Teatro, como educador e engran­ fulgores da democracia ateniense.
decedor do espírito humano. Mostrá-lo-ia, Nessa mesma Atenas, cuja constituição
em sua origem informe, nas mais rudi­ pôde ser chamada por Platão uma tea­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 299


trocracia, pois a cidade democrática era da; e uma tragédia do ciclo de Péricles não
de fato, um vasto teatro religioso e polí­ desviava a concorrência do circo poeiren­
tico, onde cada cidadão representava um to, onde patrícios, libertos e escravos se
papel definido e preciso; verieis, no lado esmagavam para ver o Imperador Helio­
da Tragédia, nascer e crescer a Comédia, balo representar o papel de Vênus numa
apartando-se pouco a pouco, da brutali­ sátira lasciva. Mas apesar de oprimido do
dade das festas bachicas, começando por descaso público, o Teatro desenvolveu-se
imitar e ridicularizar os defeitos físicos e as em Roma a tal ponto, que ainda no tempo
inclinações grosseiras de certos homens, de Shakespeare os cenários e o movimen­
descrevendo depois grupos de homens e to dos atores eram regulados pela tradição
quadros sociais numa cópia tosca da vida da cena romana. E ainda nesse meio hostil
real depois de sujeita à influência da ima­ a Comédia foi uma grande servidora da
ginação – criando fantasia e lendas – e, fi­ justiça, pois não é justo esquecer que foi
nalmente, posta ao serviço da democracia em uma comédia romana, na Asinaria, de
triunfante vibrada às mãos dela como numa Plauto, pela boca do escravo Leônidas, que
arma terrível, caricatura e sátira, servindo pela primeira vez se afirmou a humanida­
então aos ironistas da Helade, como tantos de dos escravos, iguais aos senhores como
séculos mais tarde devia servir a Beaumar­ homens: “tam ego homo sum quam tu”...
chais, de besta e funda contra a arrogância Na idade média encontrareis a Tragédia,
dos poderosos, e fixando-se tratada e po­ o Drama e a Comédia no refúgio dos con­
lida por Crates, Aristófanes e Menandro, ventos, em cuja recolhida penumbra de
na forma artística e filosófica em que ainda calma e estudo medrava então a inteligên­
hoje se mantém: um ensinamento sério, cia humana ao abrigo das guerras. Como
mascarado por um riso ora alegre e com­ na idade antiga acharieis de novo o Teatro
placente, ora sardônico e vingativo. associado à Religião, nos dramas litúrgi­
Da Grécia verieis o Teatro passar para cos, em prosa latina, em que só apareciam
Roma, com as suas máscaras, os seus ce­ os termos consagrados pelo ritual. Ainda
nários, toda a sua indumentária clássica. de longe em longe aponta vagamente uma
Mas os Romanos não possuíam fino gosto, reminiscência da arte clássica: Philarete
o delicado paladar artístico dos Gregos. As Charles descreve em uma página admirável
tragédias e comédias de Helade, adaptadas a representação de uma peça de Terêncio,
ao gosto da península Itálica, por Névio, adulteradíssima pelo adaptado no Sétimo
Lívio, Andrônico e Pacúvio, ao teatro ori­ século, diante da rude corte de Quipéri­
ginal de Ovídio, Sêneca e Terêncio, e até co: teutões insolentes recamados de ferro,
as farsas e improvisações fesceninas im­ galoromanos cabeludos apoiados aos glá­
portadas da Etruria e aos mimos e às pan­ dios enormes, e aqui e ali alguns romanos
tominas, dos crotalos, e das harpas sírias, puros, pálidos, revelando na densidade do
o povo romano preferia as naumachias, as couro, na indiferença do olhar, a agonia de
corridas de bigas e quadrigas, os comba­ uma raça... Mas o drama da idade média é
tes de feras e de beluários: na decadência essencialmente cristão. Nele se desenvolve
do Império, nem já esses divertimentos progressivamente o gênio inventivo, liber­
brutais deliciavam a plebe: os funâmbulos, ta-se a trama dramática do jugo do ritual
os animais amestrados, os quadros vivos e a prosa é substituída pelo verso, a prin­
eram todo o gozo da sociedade deprava­ cípio livre, depois ornado de alterações e

300 Teatros do Rio


Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Plateia

Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


Balcão Nobre
Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Balcão simples

Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


Galeria
de rimas. Durante alguns séculos o texto dos morais, arquiteto milagroso, cujo tra­
sagrado abastece de poemas o Teatro; é a balho sobre-humano só pode ser simboli­
época dos “jogos” e dos “milagres”, e em zado na epopeia de formas e de cores com
seguida dos “mistérios” e dos fabulários que o gênio de Miguel Angelo representou
metrificados em que os atores são secula­ a criação do Universo nos cinco primeiros
res e a cena profana – até que aparecem as campos do teto da capela Sistina.
“moralidades”, as alegorias e as farsas, de Perdoai-me o enfado da digreção um
onde decorre a restauração da Comédia. pouco longa. Este olhar lançado ao Pas­
No século XVI, já na França, na Espa­ sado era indispensável: era preciso que
nha, em Flandres, na Itália, na Inglater­ aqui se lembrasse toda a história dessa
ra o renascimento teatral é completo e instituição, para mostrar quanto é dela in­
a profissão de comediante definida. Daí separável a história da humanidade; pare
por diante, que assombro, que maravilho­ este templo melhor sagração não poderia
sa fecundidade do espírito humano nesta haver do que a vocação dos serviços que
província da Arte, de que todas as outras a espécie humana deve ao Teatro. Nunca a
províncias se tornam tributárias! Não po­ civilização realizou uma conquista que não
deríamos facilmente, em muitas horas que fosse preparada e anunciada pelo Teatro;
durassem este discurso, abranger a história nunca o Teatro ficou abandonado dos ho­
do Teatro nestes quatro séculos de incom­ mens, sem que esse menosprezo traduzis­
parável fulgor. Rueda, Cervantes, Lope de se um desfalecimento do gênio deles, um
Vega, Calderon, Tirso de Molina, na Espa­ eclipse da sua razão, uma suspensão do seu
nha; Ariosto Metastasio, Gossi, Golsom na progresso. Foi sempre do Teatro que a Li­
Itália; Hans Sachs, Arer, Schiler, Lessing na berdade e a Justiça oprimidas levantaram o
Alemanha; Corneile, Racine, Marivaux, seu grito de revolta. Foi sempre de dentro
Victor Hugo, na França sem falar da pro­ dele que a alma humana se desafogou dos
dução contemporânea, cada um desses seus sofrimentos em brados de angústia ou
nomes, e não são todos, nos deteria longo em explosões de ironia. Lembrar a tudo
tempo. Nessa prodigiosa cordilheira espi­ isto, é dar a esta casa o batismo que mais
ritual em que tantas montanhas se acumu­ lhe convém.
lam e acastelam, o olhar, na rápida volta Mais atendamos agora alguns instantes
com que as abraça, pode apenas fixar-se à nossa raça e à nossa língua, nesta noite
ofuscando nos três cimos rútilos que do­ em que se inaugura na capital do Brasil o
minam a massa confusa, gênios universais Palácio do Teatro. Declaremos bem alto
que enchem toda a idade com a irradiação que este Palácio não surge temporão e
da sua glória; Goethe, o criador de Fausto inexplicável, sem uma história que lhe dê
que é o poema simbólico e definitivo dos direitos de cidade na Cidade. O nosso Tea­
desesperados, das ânsias dos martírios da tro nasceu no século XV, na metrópole de
alma humana; Molière, demolidor im­ que herdamos o gênio e o idioma. Esboça­
placável, extraindo da sua melancolia, o do nos momos e entremezes, formou-se
riso vasto que sacudiu como um sopro de no século seguinte com Gil Vicente e a sua
tempestade toda a sociedade humana; e escola nos autos palacianos de Évora, San­
Shakespeare, o poeta máximo, perfeito no tarém e Coimbra, e renovou-se com Sá de
drama, na tragédia, na comédia e na farsa Miranda e Ferreira, introdutores da tragé­
deus formidável, criador de imensos mun­ dia e da comédia clássicas com a invenção

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 303


das comédias de capa e espada nos pátios Nem esta brilhante reunião nem a or­
dos hospitais e dos conventos, e com as ganização do espetáculo que ides aplaudir
pastoras e alegorias de Rodrigues Lobo, seriam possíveis em uma cidade que não
Souto Mayor e Alexandre de Gusmão, até tivesse cultura bem definida e bem cons­
que, depois de passar pela crise revolucio­ ciente que o Rio de Janeiro possui; e já a
nária da imitação de Voltaire, veio florescer estrutura material deste teatro, a grande­
lindamente com Garrett, aurindo viço no za a um tempo majestosa e sóbria da sua
humo fértil do romantismo. Transplantado fábrica, a harmonia gentil das suas linhas,
para o novo mundo, o Teatro da nossa lín­ o primoroso acabado do seu organismo,
gua teve a mesma evolução; o povo humil­ a nobreza simples da sua decoração, e as
de dos sertões ainda conserva a tradição outras qualidades que o põem em medi­
dos autos místicos do século XVI, nos seus da de afrontar o cotejo com os melhores
ingênuos “mistérios” do Natal, dos Reis e do mundo, fazem dele um monumento
de São João, que são o remanescente do emblemático em que se fixa e perdura­
gênero dramático-religioso, arma de cate­ rá o nosso valor artístico, pois é preciso
quese, em que exceleram a Anchieta e os lembrar que é nosso e bem nosso o jovem
seus companheiros de apostolado; nos dois arquiteto, já agora glorioso, que o ideou e
séculos seguintes imperam a comédia e a executou, como são nossos os artistas que
tragicomédia, sobressaindo a todos os seus o adereçaram de pinturas e esculturas. Re­
cultores o grande e desventurado Antônio conhecer isto, já é reconhecer a utilidade
José; depois com a reforma romântica, e a beleza deste empreendimento com tão
Gonçalves de Magalhães, Porto Alegre e feliz êxito ultimado. Mas é bom insistir em
Gonçalves Dias no Drama, e Martins Pena mostrar a sem-razão de censuras possíveis.
na comédia precedem Alencar e Macedo, Não se aproveite como argumento contra
e preparam o advento do teatro de hoje, esta criação o fato de ser o Theatro Muni­
em que já brilham tantos nomes, de jovens cipal entregue depois desta festa de aber­
escritores e em cujo amor tanto se empe­ tura, a uma companhia estrangeira: não se
nhou o nosso querido Artur, que deveria diga que a cidade quis ter o templo antes
ser o inaugurador deste Palácio, se a morte de ter religião, e que na casa suntuosa hoje
o não houvesse arrancado ao honesto labor inaugurada reside o sintoma de uma funes­
e à admirável atividade que enobreceram ta megalomania.
a sua vida. A religião existe, e espera o seu templo,
Não é preciso que eu vos lembre, se­ e nunca é demasiado o fausto, nem con­
nhoras e senhores, a longa lista dos nomes denável a suntuosidade, quando se quer
que poderiam ser aqui citados, como de alojar dignamente o espírito e a cultura
servidores do nosso Teatro, nem a vasta de um país. A religião, que é neste caso a
relação dos dramas e das comédias com arte nacional, existe, e ainda hoje aqui se
que já se pode abastecer o repertório das vai manifestar na excelência de uma com­
companhias nacionais que hão de em futu­ posição dramática brasileira e no brilho de
ro próximo trabalhar nesse teatro. Falo a composições, também brasileiras do gêne­
quem conhece a valia da inteligência bra­ ro musical, gênero afim do dramático e no
sileira e dirijo-me a um auditório que me qual, para só falar de compositores mor­
não perdoaria a inutilidade de uma prole­ tos, tanto orgulho deram ao Brasil, José
ção didática. Maurício, Francisco Manoel, Carlos Go­

304 Teatros do Rio


mes e Leopoldo Miguez. Fundada a casa os quais não pode haver nas sociedades a
nela se agremiará a escola e da escola sairá ordem e a harmonia em que se fundam no
a teoria dos artistas. Estado civilizado a alegria de viver e o pra­
Seria absurdo que somente fundásse­ zer de trabalhar.
mos a casa do Teatro quando já pudésse­ Essa tradição foi conservada pelo Tea­
mos contar exclusivamente com um tea­ tro, através dos tempos, através de todas
tro todo nosso, não só no elenco das peças as moléstias e convalescenças que têm
como na nacionalidade dos atores. Em abalado o organismo da espécie, através
primeiro lugar, a história do Teatro é uma de todas as síncopes e renascimentos que
longa série de imitações, literárias, em que o espírito humano tem experimentado.
o gênio de cada povo apreende e afeiçoa O Teatro é ainda hoje o salão nobre da ci­
os legados artísticos do passado, de modo dade, o seu “Forum” social, a arena elegan­
que excetuando talvez somente o ciclo das te em que se travam torneios da Moda, da
criações na Grécia antiga, é impossível de­ Graça, da Conversação e da Cortesia.
finir com precisão o que seja um teatro ri­ É por isso que, a fim de enriquecê-lo
gorosamente nacional; esta pretenção se­ de encantos, todas as artes se aliam e es­
ria ridícula em uma civilização, que é das forçam para servi-lo, a Poesia esbanja o
últimas nascidas, em uma época mais de tesouro das ideias; para exaltá-lo a Músi­
expansão industrial do que de criação ar­ ca multiplica as combinações harmônicas
tística. E, além disso, como seria irrisório dos sons para acrescer-lhe a sedução, a
pretendermos fechar os portos da nossa Dança varia as mil graças da Forma e do
inteligência ao comércio das letras estran­ Movimento; para ataviá-lo, congregam­
geiras, cem anos depois do decreto que -se a Engenharia, a Arquitetura, a Pin­
abriu os portos do nosso litoral aos navios tura, a Escultura, a Marcenaria, a Cerâ­
mercantes de todo mundo!... mica, a Indumentária. É que dentro dele
Mas, e esta consideração é a principal reside toda a vida civilizada; tudo quanto
de quantas quero lembrar aqui – um tea­ ela tem de sério e de amável, de forte e
tro não é apenas um campo aberto ao de meigo, de deslumbrante e de encan­
exercício das ideias literárias e da crítica tador, se resume e condensa dentro dele;
dos costumes: no palco impera o Pensamento, na sala
Ele é hoje, como já no tempo de Péri­ impera a Beleza.
cles, o lugar em que se estreitam e apuram Faltava-te este Palácio, cidade amada!
as relações sociais, o horto moral em que No teu renascimento esplêndido, faltava
se cultiva essa melindrosa planta da socia­ esta afirmação do teu gênio artístico! E eu
bilidade, que apenas medra em terreno abençoo a sorte benévola que me reser­
de extremado trato. Em Athenas havia à vou a aventura de ter sido o escolhido para
agora, onde se discutia a política e onde entregar ao teu gozo e ao teu carinho esta
se combinavam os negócios, e havia a Aca­ casa, que é uma das mais belas joias da tua
demia onde as filósofos discreteavam; era coroa de rainha! 21
porém, no teatro que os espíritos repou­
savam e se congraçavam, adquirindo e es­ Para a direção do teatro foi nomeado Oli­
merando esse hábito de convivência, esse veira Passos, que com entusiasmo iniciou a
capricho de tolerância mútua, esse poli­ proteção à arte dramática, abrindo o teatro
mento de costumes e de maneiras, sem aos artistas e aos autores brasileiros.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 305


Theatro Municipal. Pano de boca (A influência das artes sobre a civilização.
Pintura de Eliseu Visconti)

Theatro Municipal. Pano de boca (A influência das artes sobre a civilização.


Pintura de Eliseu Visconti)
O programa da inauguração foi dividido primeiro lance do edifício. O corpo princi­
em três partes. A primeira incluía a execu­ pal e os dois laterais da fachada são na parte
ção do Hino Nacional, o discurso de Olavo inferior de granito. Os pedestais sobre os
Bilac e um poema sinfônico, Insônia; texto quais se assentam as quatorze grandes co­
de Escragnole Dória e música de Francisco lunas do corpo principal, que sustentam o
Braga. Na segunda parte foi apresentada a entablamento, são de granito de candelária,
peça, em um ato, Bonança, de Coelho Neto cuja cor, logo na parte inferior, acentua seu
e um noturno de Carlos Gomes, Condor. destaque entre os bronzes e mármores.
A última parte foi a apresentação da ópera Três portões de bronze dão acesso ao in­
Moema, de Delgado Carvalho. No elenco terior, por sobre portas, os balcões de már­
de Bonança: Antonio Ramos, Nasaré, João more indicam o segundo pavimento, balcões
de Deus, Lucília Peres, Luiza de Oliveira com vitrais. O embasamento, as escadarias,
e Gabriela Montani, Laura Malta, Américo e as guarnições das portas são também de
Rodrigues, Arnaldo Braga e Mario Pinheiro granito da candelária, trabalho de baixo re­
viveram as personagens de Moema. levo. As colunetas são de mármore italiano e
Quanto às características físicas, o teatro belga. As quatorze, do corpo principal, em
ocupa uma área de 4.220m2. Em função da estilo coríntio, lavradas em mármore carra­
desigualdade de resistência do terreno e da ra, tendo como motivo do capitel as armas
existência de um lençol de água subterrâ­ da República. São colunas monumentais,
neo, foi adotado o sistema de estacada para com o diâmetro máximo de um metro e vin­
as fundações do edifício: 1.180 estacas de te centímetros, tendo o fuste composto por
madeira de lei, medindo entre 4 e 11 metros apenas cinco tambores. No friso, ladeando
de comprimento. A construção dos porões, as letras douradas da inscrição “Theatro
sob o palco cênico e o vestíbulo da entrada, Municipal”, nomes de grandes mestres da
apresentou grandes dificuldades devidas ao música e da dramaturgia, e ao alto entre as
lençol subterrâneo de água. duas cúpulas encimadas por globos lumino­
O custo total da obra foi de 10.856.000$000 sos, que completam os dois foyers laterais,
(dez mil oitocentos e cinquenta e seis contos a parte central do edifício tem de um lado
de réis), incluindo a decoração e o preço do a música e do outro a poesia, belas escultu­
terreno, todo custeado pela Prefeitura Muni­ ras de Rodolpho Bernadeli (1852-1931), e
cipal do Rio de Janeiro. sobre a imensa esfera de vidro a águia Real,
Muitos edifícios teatrais marcam a que se que coroa o prédio.
destinam. Do Theatro Municipal, se tem a vi­ Nas fachadas laterais, as cariatides de
são de um templo, a imediata certeza do fim bronze que representam as estações do ano.
a que ele se destina. Um monumento volta­ A mesma pompa de mármore e bronze dou­
do com sua fachada para o mar, que ilustra a rado.
cidade, destacando-se ao fim da Avenida Rio Marquises de ferro forjado resguardam as
Branco. Por ocasião da inauguração, o teatro entradas laterais, com lojas de mármore de­
tinha as seguintes características: coradas com painéis de cerâmica represen­
Na larga calçada de mosaico que separa tando as cenas da dança antiga e moderna
a rua da escadaria, duas grandes colunas sustentadas por seis grandes colunas mono­
laterais de granito e bronze; escudos da líticas. Da rua dá para perceber, abrindo-se
Municipalidade em bronze, sustentam os para o espaço, como dois cofres reluzentes,
lampadários. A escadaria leva o olhar até o o relicário policromo dos mosaicos, as duas

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 307


lojas, e é como uma sensação de encanto, os nobre, em torno do qual estão agrupadas
dois grandes balcões em que a arte se de­ quatro escadas secundárias comunicando-se
bruça para a vida. com a segunda ordem e a galeria. É em seus
As três partes essenciais – foyer, sala de traços gerais, o sistema da Ópera de Paris.
espectadores e caixa cênica – estão perfei­ Entrando à porta principal, chegaremos a
tamente diferenciadas. Estas três partes são um grande espaço suntuoso, a escada prin­
ainda caracterizadas pela diversidade dos cipal, que quebra após o primeiro lance,
andares. O corpo principal, à frente, dispõe abrindo-se em dois lances. Vai-se ao foyer,
apenas de dois andares, que correspondem aos camarotes da primeira ordem, aos sa­
ao hall de entrada e ao foyer; o da sala de guões do primeiro andar. Aí o esplendor da
espetáculos tem cinco, correspondentes ao escadaria se atenua em uma decoração dis­
restaurante, frisas, duas ordens de camaro­ creta. O piso parquet faz deslizar o passo so­
tes, galerias; a caixa cênica tem quatro. A di­ bre o assoalho de marquetaria. De ambos os
versidade dos planos horizontais é uma das lados, abrem as lojas para o ar livre, com o
grandes dificuldades a vencer no projeto das céu e o piso de cerâmica, os painéis e os bal­
fachadas de um teatro isolado em todas as cões de mármore debruçados sobre a rua.
suas faces, como o Municipal. O segundo pavimento tem a mesma for­
A luminosidade através dos vitrais que ma, sem as lojas, tendo ao fundo os balcões.
Feuerstein e Fugel, de Stuttgart, pintaram
especialmente para o teatro é harmoniosa. A
luz de dentro é suave. Subindo as escadarias
encontramos as portas de bronze e de cristal
facetado, portas em que o peso solene do
bronze é como rendilhado pela transparên­
cia da luz, que irradia do cristal em facetas.
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro
possui o que os outros não possuem, ele
guarda a proporção de luxo e graça entre a
parte interna e a parte externa. Não existe
nele um contraste violento entre as partes,
comum em outros teatros.
Quanto à distribuição interna, dados os
limites impostos pela área do terreno e sua
irregularidade, a organização do projeto de
construção é de admirável aproveitamento,
servindo ao público e aos artistas com todas
as comodidades e todos os aperfeiçoamen­
tos técnicos.
Nada mais simples que a distribuição in­
terna do Municipal. No corpo principal, es­
tão colocados o hall de entrada, o foyer e as
escadas. A distribuição obedece ao princípio
do sistema central. Consta de uma escada
principal dando acesso para o pavimento

308 Teatros do Rio


Pelas escadas laterais entra-se para a segunda Nos saguões que circundam a plateia es­
ordem e a galeria, ampla e espaçosa. tão os banheiros das senhoras, um de cada
Mas na primeira ordem, ainda os olhos lado, um amplo banheiro para homens e
encantados com o brilho da escadaria, é de duas entradas em que vêm dar as entradas
certo prazer delicado o estar um momento laterais do teatro, dando ao fundo no palco,
no foyer, suave decoração Luiz XVI, bran­ com o qual se comunica por duas portas.
ca e ouro, que tem nas duas rotundas que o As outras partes são: ao fundo o palco,
terminam, os tetos, pintados por Henrique em subsolo o restaurante Assyrio e ao cen­
Bernardellli (1858-1936). tro a plateia.
Descendo as escadas, chega-se ao novo hall. A sala na época da sua inauguração tinha
Duas estátuas de bronze, assinadas por Verlet, capacidade para 1.739 espectadores, distri­
simbolizam a Poesia e a Dança. As colunatas buídos pela plateia, numa ordem de frisas,
se incrustam de aplicações de mármores e primeira e segunda ordem de camarotes e
bronze dourados e o piso de mosaicos. galerias. As curvas das diversas ordens, em

Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


Corte longitudinal

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 309


forma de ferradura e recuando progressi­ No centro dos Campos Elyseus e fazendo o
vamente umas sobre as outras dão a sala a fundo da tela, ergue-se um Arco de Trium­
forma ampla. Na plateia, poltronas confor­ pho, consagração usada desde remotos
táveis e ao mesmo tempo aconchegantes. tempos aos grandes feitos humanos, em
No palco, os panos de boca pintados por épocas de glórias, e sob esse arco, um gê­
Eliseu Visconti, e ao lado do proscênio, vin­ nio alado, representando a Arte, domina o
do até a boca de cena, florescem grandes desfilar das celebridades que mais concor­
tufos de hortências. Sobre o proscênio es­ reram para o esplendor da sua soberania, e
tão à direita, o camarote destinado na épo­ a qual preside a poesia, como manifestação
ca ao Presidente da República, e a frisa do artística instintiva.
Conselho Municipal, à esquerda o camaro­
te do Prefeito Municipal e a frisa também A fim de estabelecer a coesão das idades
utilizada na época pelo chefe de polícia. As históricas no brilhante desfile dos grandes ar­
antessalas dos camarotes de gala são todas tistas, está dividida em seis etapas a compo­
em estilo Luiz XVI, com painéis de seda e sição. Ao lado do Arco de Triumpho veem-se
mobiliário forrado de tapeçaria Aubusson, Minerva e uma loba indicando as duas gran­
fabricadas especialmente para o Theatro. des cidades da civilização ocidental – Athenas
Pela originalidade da sua concepção, pren­ e Roma, tendo à direita as figuras de Orpheu
dia a atenção a disposição dos parapeitos, misto e Homero, que precedem a um novo período
de balaustrada vazada, em uso geral no Brasil caracterizado pela estátua de Santo Ambró­
e o parapeito fechado, usado nos teatros eu­ sio, o criador da música sacra.
ropeus. No Municipal, o parapeito é fechado. Jotto e Dante seguem-no e abrem a Renas­
Após o proscênio, há o lugar da orques­ cença com a aphoteose de Palestrina, a que se
tra, que, a exemplo de Beyreuth, está si­ agrupam Mantegna, os Bellini, Leonardo da
tuado a um plano inferior ao da plateia, e Vinci, Ticiano, Raphael, Miguel Angelo.
assenta sobre a caixa sonora. Discordan­ A esta segue-se a quarta etapa com os ho­
do de princípios geralmente adotados, o mens célebres: Camões, o maior épico do
autor do projeto do Theatro Municipal seu tempo e grande poeta da língua por­
preferiu para esta, a forma elíptica ou a tuguesa; Corneile e Racine, representando
parabólica, à forma retangular. Separa a a poesia e o teatro francês; Shakespeare, o
orquestra da plateia uma balaustrada de teatro inglês; Mozart, a música; Poussin,
mármore de carrara. Rubens, Van Dyck, Velasquez, Rembrandt,
O mobiliário de Mogno com incrustações Reynold e Gaignsboroughoz, a pintura, ten­
de pau-marfim, a sala de cores esmaltadas, do por culminância Beethoven, o gênio da
cortadas de ouro velho, cores em que pre­ arte musical.
domina o rosa. São os balcões, são as pintu­ Logo após segue-lhe a quinta etapa re­
ras simples da ampla e superposta ferradura presentada por Victor Hugo, Beilioz, Wag­
cortando a tonalidade do branco, do ouro ner, Delacroix, Ingre, Meyerbeer, Menzel,
demasiado e do rosa. Um enorme lustre de Schopenhauer, Rossini e Verdi. É o período
cristal ao centro da sala jorra sobre a plateia Romântico.
o esplendor fixo da luz. A sexta etapa foi destinada às glórias bra­
O pano de boca, pintado por Eliseu Vis­ sileiras, a José Bonifácio, o organizador da
conti, representa a influência das artes na in­­dependência política do Brasil e consagra­
civilização, assim descrita: do poeta; a João Caetano, o maior artista

310 Teatros do Rio


Theatro Municipal. Vestíbulo de entrada

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 311


dramático do passado; a Francisco Manoel, Saindo da plateia para os amplos corredo­
o inspirado autor do Hino Nacional; aos seus res revestidos de mosaicos venesianos, des­
poetas, dramaturgos, autores, tais como cendo a escada de mármore branco, chega-se
Gon­­çalves Dias, Castro Alves, Casemiro de num dos vestíbulos das entradas laterais for­
Abreu, Peregrino de Menezes, Corrêa Vas­ radas de mármore de carrara, cujas paredes
ques e mestre Valentim, que resume a arte se decoram de painéis de mosaicos, reviven­
da escultura no passado. do cenas de grandes peças, passa-se ao subso­
Representando o período moderno acham­ lo transformado em restaurante Assyrio.
-se: D. Pedro II, não o imperador, mas o A mudança é brusca, os estilos se ele­
homem culto despido de ostentações, que vam. Na sala de espetáculos em pleno re­
protegeu instintos literários, que animou nascimento. No subsolo, de repente senti­
talentos dos seus compatriotas e concor­ mos como o sonho de uma das criações de
reu para a educação dos artistas, o que, por Assurbanipal. É o oriente médio, o oriente
destino do nascimento, governou um povo babilônico, a civilização de vários povos,
fazendo timbre da sua índole democrática; que Alexandre ligou ao ocidente no fio de
Pedro Américo e Victor Meireles, as primei­ ouro das suas conquistas; é vivendo em ce­
ras constelações da nossa pintura cultivada; râmica isso que nós víamos em museu, a
José de Alencar, representando o drama e o arte assíria.
romance; Furtado Coelho, a arte dramática Um primeiro plano ligado ao segundo por
moderna e Francisco Oliveira Passos (era o amplos saguões. No centro quadrangular,
único vivo retratado), como arquiteto do afundado, o lugar destinado a comer. Nas
Theatro Municipal, o mais suntuoso mo­ paredes forradas de cerâmica esmaltadas as
numento público levantado na era do sur­ decorações. O subsolo tem 32 metros de
gimento da cidade. Essa reunião de cele­ comprimento por 24 de largura e 4 metros
bridades aclama e leva em triunfo a Carlos e 50 centímetros de altura. Mas essas exten­
Gomes, o maior músico que o Brasil possuiu sões tomam proporções enormes, graças à
dentro de sua época de formação nacional. ciência de impressão dos decoradores.
Acima da multidão popular, caracterizada Anexos ao restaurante existem a cozinha,
em todas as classes, até nas mais humildes, que a copa, a dispensa, a câmara frigorífica, os
acompanha, ao som da Banda Marcial, o carro toilletes para homens e senhoras. É o lado
de triunfo, pairam a ciência e a verdade, sem prático ao lado do sonho realizado.
outros adornos mais do que a beleza de suas A caixa do Municipal é separada da sala de
formas, que são a expressão da sua pureza. espetáculos e de suas dependências por uma
E enquanto esse desfile triunfal passa por grossa parede de granito e cimento, que sec­
diante da arte, enquanto soam trompas de ciona o edifício desde os alicerces até acima
glórias e sobe ao ar, com aclamações, a har­ da cobertura.
monia da música, a dança, que é a arte primi­ Duas entradas dão acesso para a caixa pelo
tiva de figuração dos sons, desenvolve as suas corredor das frisas. Há no fundo do edifício
cortes através dos tempos, desde a Grécia até uma ampla entrada de serviço para os artis­
hoje, desde os compassos simples e simbóli­ tas e equipe técnica. A caixa dá parte para a
cos, até a rapidez elétrica dos bailados. Avenida Rio Branco, parte para a Rua 13 de
À esquerda do Arco de Triumpho acha-se Maio, parte para a Rua Manoel de Carvalho.
simbolizado o mundo espiritual e subjetivo, O palco é o centro, como a sala de espetácu­
o Papado, a Religião e a Música. los o é da outra parte do edifício.

312 Teatros do Rio


Do lado da Rua 13 de Maio ficam o salão aquelas traves sobem, abaixam-se, galgam o
da biblioteca, mobiliado à inglesa, a sala da telhado, mergulham no subterrâneo, tudo
direção, a sala dos jornalistas, o ateliê de rápido, silencioso, sem um ruído a não ser
cenografia, os depósitos de móveis e cená­ o maquinista, que dá em voz alta as ordens.
rios. Na parte dos fundos, com frente para Desço ao fundo da caixa. O meu des­
a Rua Manoel de Carvalho, estão situados o norteamento é maior. Não tenho meios
foyer dos artistas, gabinetes dos eletricistas de compreender aquele labirinto de fer­
e do contrarregra, e a sala especial para en­ ros movediços, a todo momento subindo
saios. Do lado da Avenida estão os camarins e descendo. O empregado do teatro, que
dos principais artistas no primeiro andar, está ao meu lado faz todo o possível para
tendo cada um sala de vestir e salão de re­ me explicar. Ele também não compreende
ceber e no segundo e no terceiro pavimen­ bem aquilo. Não é o profissional encarre­
tos outros camarins. gado do serviço.
O acesso para os pavimentos superiores Subo de novo à caixa. As traves conti­
é facilitado por quatro escadas principais e nuam a ascender e baixar. As escadas galgam
duas secundárias, todas de ferro. para o teto sinuosamente, como cobras, os
Mas a parte principal é a cena, em torno elevadores silenciosamente des­cem. Ouve­
da qual, como já mencionado, agrupam-se -se apenas, longinquamente, e o ruído da
as diversas dependências. As dimensões da oficina elétrica, que ali chega como um arfar.
caixa são de 32 m X 22 m. Está-se armando uma sala. A sala é ri­
Dotada de todos os aperfeiçoamentos quíssima: um salão de palácio, com as
técnicos, com palco móvel, devido a seis paredes forradas de veludo, bambinelas
pontes em que é dividido. Além dessas pon­ de seda azul, dando para um terraço que
tes que dispõem do tríplice movimento ver­ se vê através de uma porta envidraçada a
tical, giratório e inclinatório, existem três cristal; lá no fundo as árvores esbatidas de
plataformas, com movimento horizontal, um pomar.
quatro alçapões simples, um alçapão duplo, Às ordens do maquinista vou vendo os
um grande elevador, dois pequenos elevado­ movimentos do palco. Este é um domesti­
res, e vestimentas que permitem a redução cado às ordens do profissional. Sobe lenta­
de cena, quando utilizada para a apresenta­ mente, bastando que se toque numa mola,
ção de pequenas comédias. desce, distende-se, alarga-se diminui, en­
Possui todos os aparelhos para a produção colhe, como se fosse feito de borracha. Às
de efeitos de relâmpagos, trovoada, venta­ vezes, fica ao plano da plateia, às vezes da
nia, chuva e sinais elétricos para o maestro. plateia não se consegue vê-lo, há momen­
Os panos e os cenários são suspensos sem tos em que ele é visto no alto, enorme, vo­
dobras. O movimento de todo maquinismo lumoso, como um grande caixão.
é manual e elétrico. Vou depois aos terraços. Mesmo aí o
luxo esplende. O mármore raiado, verde
Sigo à caixa. É a maior caixa dos teatros do ou leitoso predomina. Nas paredes, azule­
mundo. Aí os meus olhos se desnorteiam. jos caríssimos têm desenhos de arte: em
Perco-me naquele emaranhado de traves, frente ao colosso do teatro, dançarinas tre­
de bastidores, de arames, alçapões, elevado­ mulando a graça dos véus bailam. A abun­
res que vão para o fundo do palco e sobem dância de luz impressiona ainda. Lustres
pelo teto. Faz-se experiência do mecanismo; gigantescos, ainda de cristal faíscam.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 313


D’aí vê-se a cidade: de um lado a Rua altura do primeiro andar, são de granito, e daí
Treze de Maio e do outro lado a Avenida para cima de tijolo. O vigamento dos soalhos
Central. e a cobertura são de aço. Merecem especial
À noite, para quem passa por ali, o efei­ menção as grandes tesouras sobre o palco cê­
to é deslumbrante. Vê-se o terraço banha­ nico com 10 m de altura e 32 m de vão livre.
do de um fulgor ofuscante, dando o aspec­ A sala de espetáculos forma um siste­
to estonteador de um trecho de lenda. ma construtivo à parte, envolvido pelos
O empregado convida-me: corpos laterais do edifício. Os esteios des­
– Não quer ir à águia?! te sistema são formados por 12 colunas
– À águia?! de aço sólido, que, encaixadas na parede
– Sim, à águia! A que está dominando o existente entre os camarotes e as antessa­
edifício, de asas espalmadas pelo azul. las, ficam invisíveis nas frisas e na primei­
Ir à águia não é de todo agradável. Sobe­ ra ordem de camarotes.
-se por uma escadinha estreita até o ter­ A construção dos porões sob o palco cê­
raço superior do Teatro. Aí o panorama nico e sob o vestíbulo de entrada apresen­
é surpreendente. Vê-se um dos pedaços tou grandes dificuldades, devidas ao len­
mais lindos da cidade. À frente, a baía, çol d’água subterrâneo. O porão do palco,
crespa, azul, cheia de flocos de espuma...22 cujas paredes estão sujeitas à pressão ho­
rizontal de três toneladas por metro qua­
A fim de renovar o ar e abaixar a tem­ drado, foi tornado estanque por meio de
peratura na sala de espetáculos, no palco e revestimento de asfalto. Ideia aproximada
no restaurante, dispõe o teatro de uma pos­ do que foi a construção desse monumen­
sante instalação de ventilação e refrigeração, tal edifício, pode ser feita sabendo-se que
instalada no porão sob o vestíbulo de entra­ nela foram consumidas as seguintes prin­
da. A ventilação do palco cênico é feita in­ cipais quantidades de materiais: 6.779 m
dependentemente da sala de espetáculos, de correntes de estacas de madeira de lei;
forma que a temperatura nestas duas partes 6.262.500 Kg de cimento; 16.253 m3 de
do teatro é sempre igual. areia; 4.794.000 tijolos; 8.669 m3 de grani­
O edifício possui uma usina geradora de to; 3.419 m3 de pedra britada; 2.463.000 l
energia elétrica; de uma rede telefônica, pon­ de cal de pedra; 1.669.000 Kg de aço;
do em comunicação todas as suas dependên­ 1.545.000 Kg de mármore. Do local das
cias; e de um dispositivo contra incêndio. obras foram retirados 27.895 m3 de terra
As obras de construção tiveram início a e entulho durante a construção.
2 de janeiro de 1905, com o fincamento da Não há dúvidas sobre as influências euro­
primeira estaca. Durante o primeiro ano peias da época e particularmente parisien­
trabalhou-se ativamente com duas turmas de ses sobre os riscos do nosso principal tea­
operários, dia e noite, de forma que, apenas tro, influências manifestas, mais ou menos
decorridos cinco meses, estavam concluí­ acen­tuadas em outros prédios construídos
das as fundações e podia ter lugar – a 20 de à época na Avenida Central. Era o gosto da
maio do mesmo ano – a colocação da pedra França estendido a outros países que vinha
angular do edifício, no canto formado pela ocorrendo desde a luxuriante época dos
Ave­nida Rio Branco com o Beco Manoel de “Luízes” e da fase correlata, em matéria de
Carvalho; e no segundo ano, pode ter início o gosto, de Napoleão. O teatro da Ópera de
assentamento da cobertura. As paredes, até a Paris, de Garnier, ditou regras e estabeleceu

314 Teatros do Rio


princípios e o Brasil não foi imune às suas balcões nobres, simples e galerias; e foram
doutrinas em matéria de arquitetura e em feitos pisos para as máquinas de ventilação
todas as manifestações das artes visuais. e refrigeração.
O Theatro Municipal é, sobretudo, uma Outro benefício resultante da obra foi a
obra requintada de acabamento e emprego de instalação do sistema de incêndio, que se
materiais nobres com preocupação de luxo, revelaria ineficiente: ao simples puxar de
a começar pela suntuosidade de sua escada­ uma alavanca, é liberado todo o conteúdo
ria monumental que leva aos camarotes e ao das caixas de água do teatro. Resultado:
rico foyer, realizadas em mármore de cores água apaga o fogo destrói tudo. Numa úni­
distintas, ônix e bronze, revestidos de folhas ca vez em que foi usado o sistema, os pre­
de ouro. Entre grandes colunas de mármo­ juízos foram grandes. Todo esse conjunto
re, encontra-se a estátua do escultor francês de melhoramentos projetado por Doyle
A.Injalbert, simbolizando a “Verdade”. Maia, dizem pessoas ligadas ao teatro, teve
Por certo foram chamados a colaborar os contribuição negativa: diminuiu sensivel­
maiores artesãos disponíveis no Rio de Ja­ mente a qualidade da acústica.
neiro e grandes artistas que regressavam da
Europa com novos pontos de vista sobre pin­ A lei 425 de 28 de novembro de 1949,
turas e decorações de monumentos públicos. cria o Museu dos Teatros do Rio de Janeiro,
Sua primeira reforma foi em 1934, quan­ instalado no Salão Assyrio do teatro, afim de
do a boca de cena foi aumentada de três me­ preservar e expor à visitação pública tudo
tros e ampliados a plateia, os balcões nobres quanto se refira à vida artística teatral.
e simples e as galerias, aumentando a sua ca­
pacidade para 2.205 espectadores, eliminan­ O salão Assyrio foi primitivamente um
do lugares cegos, instalando dispositivos para cabaré, de larga tradição na vida boêmia
incêndio e dotando-o de ar-condicionado. da cidade. Depois transformou-se em res­
A Prefeitura, na ocasião, proibiu qualquer taurante do SAPS e começaram a surgir
modificação em sua fachada. inconvenientes para o funcionamento do
Sua reinauguração deu-se em 15 de agos­ teatro. Os odores da cozinha, o cheiro pe­
to de 1934, com a ópera de Carlos Gomes netrante de gordura, invadiam os corredo­
Maria Tudor com a presença do Presidente da res e penetravam até no salão, durante as
República Getúlio Vargas. récitas. Ouvia-se música e sentia-se cheiro
Passadas duas décadas surgem as críticas de tempero, em uma desagradável combi­
como a de Jorge Segundo publicada no Jor­ nação acústico-olfativa...
nal O Globo de 6 de abril de 1976, sendo o Extinguiu-se então o restaurante e ins­
seguinte o teor: talou-se mais tarde o museu, ao qual se
deve hoje a presença histórica do Theatro
A primeira reforma geral de 1934 foi pro­ Municipal em nossa cultura. A Sra. Stela
jetada por Roberto Doyle Maia. O Prefei­ Werneck, diretora do Museu, e suas filhas,
to Pedro Ernesto deu todo apoio à iniciati­ em trabalho abnegado, de muitos anos,
va. Entre os melhoramentos, aumentou-se levantaram todos os acontecimentos no
a capacidade de quase mil lugares, elimi­ Municipal, desde a sua fundação, que data
nando-se os “lugares cegos” que ficavam de 1909, em painéis, fotos, fichas, vitrinas,
atrás das colunas; construiu-se uma estru­ grupos estatutários, à disposição dos visi­
tura de concreto armado para suportar os tantes, que são muitos...

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 315


A ideia da criação do Museu nasceu da espontâneas de colecionadores particulares,
doação feita à Municipalidade em 1942, por colaboradores dotados de espírito público e
Elyseu Visconti, dos seus croquis e esboços da classe artística e seus familiares, que ofer­
para a decoração do Theatro Municipal. Es­ taram objetos e documentos ligados à vida
ses estudos, acrescidos de peças da antiga profissional dos artistas.
decoração do teatro, remodelado em 1934, Em 1973 o Salão Assyrio, onde então fun­
e de farto material referente à sua constru­ cionava o Museu, foi transformado em res­
ção e inauguração, constituíam o pequeno, taurante de luxo. Sendo o Museu, com todo
mas precioso acervo que, até então sob a seu acervo, transferido para um prédio no
guarda da administração do teatro, levou o bairro de Botafogo.
professor Maciel Pinheiro, Diretor do De­ Em 1951 e 1957 foram introduzidas me­
partamento de Difusão Cultural, a propor a lhorias no setor elétrico e de refrigeração.
fundação de um Museu de Teatros, ao pre­ Em 1959 era publicado um artigo na Revis-
feito, General Mendes de Morais, que deu ta de Teatro da Sbat, em que abordava a si­
todo apoio à iniciativa e sancionou a lei.23 tuação de abandono em que se encontrava
o teatro.
O Museu dos Teatros foi inaugurado em
20 de janeiro de 1950, e através de doações Theatro Municipal. Entrada principal

316 Teatros do Rio


Após 50 anos de existência, o Theatro Mu­ Em abril de 1961, era mecanizado o poço
nicipal começa a cair aos pedaços. da orquestra do teatro, obra que consumiu
“Eu ficarei satisfeito, três meses de trabalho. Consiste num siste­
Se algum leitor serviçal ma de pistões hidráulicos para carga até 30
Me disser o que foi feito toneladas e uma plataforma para orquestra
Do Theatro Municipal com cerca de 85m2 quadrados de superfície.
Artur Azevedo, escreveu esta quadra no O conjunto de compressores a óleo e de
O Paiz, de 27 de fevereiro de 1896, quando estabilizadores com cabo de aço, permite um
ainda se sonhava com a construção de um funcionamento uniforme e suave, isento de
teatro municipal para a comédia brasileira. choques e bruscas paradas, com subida em
Somente treze anos depois, e com ele apenas um minuto. Seu custo na época im­
já falecido é que o teatro foi inaugurado e, portou em cerca de seis milhões e quinhentos
agora passados 50 anos, podemos respon­ mil cruzeiros, sendo de fabricação nacional.
der ao nosso imortal escritor e autor dra­ Em 1964, gestão de Rubem Dinard, o
mático: “Eles o escangalharam, mestre!” teatro passou por algumas reformas, limpe­
Com efeito, nesses 50 anos de existên­ za e restauração, além da recuperação dos
cia, o Theatro Municipal, viu-se desmo­ camarotes do Presidente da República e do
ronando moral e materialmente. Moral­ Governador do Estado.
mente, porque não foi destinado à sua Foram de três a quatro meses de trabalho
finalidade, que era a comédia, mas à ópera, em ritmo acelerado, sendo a remodelação
balets, colações de grau e bailes de carna­ interna supervisionada por Edson Mota; o
val. Materialmente, porque sofreu atenta­ trabalho nas frisas e camarotes das autori­
dos e estragos que estão arruinando toda a dades ficou a cargo do decorador Gregório
sua beleza artística. Medina e a pintura foi entregue a Wilson Al­
Quanto à parte artística-ornamental é ves de Oliveira.
doloroso consignar dos dois lindos painéis O próprio Edson Mota, que na época era
em cerâmica, verdadeiras obras de arte que responsável pelo serviço de recuperação de
vieram da França e que ornavam as duas arte da Diretoria do Patrimônio Histórico
varandas laterais dos camarotes de 1a, que e Artístico Nacional, foi quem restaurou o
dão para as Avenidas Treze de Maio e Rio pano de boca, obra de Eliseu Visconti.
Branco, apenas um existe. O outro, que es­ As instalações elétricas foram inteiramen­
tava na varanda que dá para a Avenida Treze te renovadas, além do telhado e impermea­
de Maio e que representava a dança antiga, bilização da cobertura.
foi se despregando da parede e caindo, sem Em 1 de outubro de 1964, assumia a dire­
que alguém tivesse tomado a menor pro­ ção do Theatro Municipal, Murilo Miranda,
vidência. No seu lugar agora se encontra que já havia sido seu diretor no período de
uma borradela com tinta branca, conforme 1956 a 1959. Mas em uma nota no Jornal
os leitores poderão verificar “in loco”. É a do Brasil de 9/12/65, afirma sua despedida
reprodução fotográfica do belíssimo mural do cargo de Diretor do Teatro e no jornal
que já não mais existe, e que figurava em O Dia, na coluna de H. Marques Porto, do
mosaicos de cerâmica e dança...24 dia 19/02/1967, dá como sendo o diretor,
o jornalista Antonio Vieira de Melo.
Em 1960, era empossado como diretor Em 28/01/1968, o Deputado Nina Ri­
do teatro Antonio Bento de Araújo.25 beiro fez uma denúncia no Jornal do Brasil,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 317


informando que as contas do Baile de Gala arranjar dois convites?” E eu, ingenua­
de 1967 apresentavam irregularidades, e mente, dei dois convites. Chegou outro e
que havia necessidade de uma Comissão pediu para as netinhas, e eu dei mais dois
Parlamentar de Inquérito: Antonio Vieira de convites. E assim vinha. Ora era a família,
Melo fez então um relatório completo das ora era o próprio que no dia seguinte ia
contas já aprovadas pelo Tribunal de Contas descansar e podia assistir ao espetáculo e
do Estado na sessão de 18/07/1967, com a eu comecei a dar ingressos. Qual não foi o
quitação n. 259, de 25/07/1967, e enviou-o meu espanto quando eu percebi que esses
a imprensa. convites que eu dava eram vendidos por
Em 26 de abril de 1968, foi realizado o cambistas do lado de fora do teatro. En­
depoimento das pessoas citadas no inquéri­ tão eu percebi que tudo aquilo faz parte de
to, como publica O Jornal: uma espécie de armadilha para incautos.
Realmente, a temporada aqui no Muni­
sob a presidência do deputado Couto de cipal para mim e para meu elenco foi uma
Souza e com a participação dos deputados espécie de pesadelo.27
Iara Vargas – que conduziu a maior parte do
interrogatório – Nina Ribeiro, MacDowel Nesta fase do Theatro Municipal, os proble­
de Castro, Jamil Haddad e Dalton Sclier. mas eram muito grandes e graves, o que colo­
cava em risco a vida de artistas e funcionários,
Em 1971, assumia a “direção geral do Tea­ mas para o então diretor José Mauro Gonçal­
tro José Mauro Gonçalves, e Ayres de An­ ves “A coisa não é tão feia quanto pintam.”
drade como diretor artístico.” 26
A estrutura física do teatro já estava fi­ Só porque até hoje ninguém morreu den­
cando obsoleta, e sua engrenagem adminis­ tro do Theatro Municipal está tudo bem e
trativa cheia de vícios e hábitos, muito bem na mais perfeita ordem e organização para
organizados, e que não se conseguia deter. o diretor José Mauro Gonçalves, nomeado
Paulo Autran, com o espetáculo Coriola- para o cargo no início do mandato do Go­
no, de Shakespeare, em excursão pelo Bra­ vernador Chagas Freitas.
sil, em agosto de 1974, e com pauta para o Ano passado o maestro Eliasar de Car­
Thea­tro Municipal, comenta em entrevista valho foi convidado ou pelo menos “son­
ao Jornal do Brasil sua trágica experiência dado”, pelas altas autoridades federais para
com esta máquina administrativa na época: assumir a direção do Theatro Municipal,
antes que ele acabe. A resposta de Eliasar
...Outra coisa interessante é a quantidade “Aceito se puder fechar o teatro por dois
de gente que trabalha no palco do Theatro anos, para uma reforma no prédio e na ad­
Municipal. Quando a gente entra, tem a ministração”. Evidentemente, depois des­
impressão de que está entrando numa casa sa resposta, ninguém mais ouviu falar no
de sogra. É uma tensão muito grande, por­ nome do maestro para o cargo, que conti­
que a quantidade de pessoas vagando por nua com o Sr. José Mauro Gonçalves, um
dentro daquele palco não dá nem pra con­ otimista de primeira ordem.28
tar. Todas essas pessoas se aproximaram de A Funterj foi criada em 10 de abril de
mim nos primeiros dias e diziam: “Olha 1975. Ao ser constatado precário estado
seu Paulo, a minha senhora gosta muito das instalações do Theatro Municipal e de
de teatro. Será que o senhor poderia me outros que passaram a integrar a Funda­

318 Teatros do Rio


dependências, instalações e patrimônio,
causada pelas constantes infiltrações de
água, atingindo dois andares superiores até
o subsolo do edifício, com graves riscos até
mesmo para a segurança do imóvel.
b) o acesso do público pelas portas prin­
cipais e escadarias internas estava interdita­
do em virtude da falta de segurança, tendo
estas sido provisoriamente (desde janeiro de
1974) escoradas com estrutura de madeira.
c) a eminência de desabamento da abó­
boda do foyer principal, originando riscos
para a segurança do público e a possibili­
dade de perda de um dos maiores acervos
artísticos do país.
d) o deplorável estado das pinturas de
Henrique Bernardelli e Rodolfo Amoedo,
atingidas pelas infiltrações e também pelo
pano de boca, com pintura de Visconti,
afetado profundamente pelas decorações
Theatro Municipal. Detalhe das lojas de bailes de carnaval.

ção, foi solicitada a formação de uma co­ Theatro Municipal. Decoração das lojas: a dança antiga
(cerâmica)
missão técnica (engenheiros e arquitetos)
encarregada de realizar uma vistoria com­
pleta de todos os teatros.
A comissão foi constituída por ato da
Sra. Secretária de Educação e Cultura, em
22 de maio.
Durante 60 dias a comissão vistoriou
minuciosamente todos os edifícios, insta­
lações, equipamentos e obras de arte exis­
tentes, apresentando suas conclusões em
um extenso e detalhado Relatório, docu­
mentado fotograficamente.

Em resumo, com relação ao Theatro


Municipal, a comissão constatou:

a) que o telhado, com relatórios dramá­


ticos desde 1968, encontrava-se em obras
desde 1973, tendo sido executados apenas
20% da área total. A consequência foi uma
progressiva e contínua deterioração das

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 319


e) a insegurança dos tetos e forros das Outras constatações extracomis-
salas utilizadas pelo guarda-roupa e pelo são de vistoria
Corpo de Baile. (a título de curiosidade, 1) a precariedade dos pisos internos e
em dias de chuva um grupo de funcioná­ externos do teatro, que apresentam gran­
rios corre ao Teatro para arrastar os armá­ des fissuras e falhas no revestimento.
rios de aço que abrigam os trajes). 2) os instrumentos musicais (pianos de
f) o perigo de desabamento das mar­ elevado valor, harpas, órgão, contrabaixos
quises externas sobre as portas laterais de e outros) não têm lugar próprio e adequa­
acesso do público: (Nota: durante todos os do para seu armazenamento.
espetáculos realizados em 1975, essas por­ 3) as Escolas de Dança e Canto encon­
tas permaneceram fechadas a fim de evitar tram-se situadas no prédio anexo em ins­
acidentes pessoais de grande proporção. talações sob todos os aspectos (físico, sani­
g) o lastimável estado das poltronas, tape­ tário, pedagógico etc.) condenáveis.
tes, cortinas, parapeitos, mármores, bronzes 4) a realização de qualquer evento ar­
e outros elementos decorativos, ocasionado tístico obriga o fechamento do teatro para
pelo mau uso do Theatro para realizações de o público, para a preparação de cenários
nível artístico incompatível com suas insta­ (construção e pintura) que são executados
lações e para bailes de carnaval. no palco do Teatro.
h) a falta de conforto, de conservação e
manutenção das instalações sanitárias para As obras
o público e artistas. As obras obedeceram a 4 itens: re­
i) a periculosidade das instalações elé­ formas propriamente ditas, restauração,
tricas do palco, principalmente no que se ampliação e modernização. A 1a visou à
refere ao quadro de comando de luz (ins­ recuperação total do imóvel, do telhado
talado para a inauguração do teatro). que teve suas chapas de cobre deterioradas
j) a antiguidade de equipamentos cê­ substituídas por novas, até o subsolo que
nicos, tais como o ciclorama e a concha foi transformado num restaurante: Café do
acústica, que datam de 1934. Teatro. Nesse item de reformas incluem­
k) as inadequadas instalações de bares e -se o reestofamento em couro de todas as
restaurantes dentro das áreas do público e poltronas do teatro, inclusive as do balcão
dos artistas, sem condições sanitárias. simples e galeria, que eram de madeira; a
l) o Theatro Municipal, assim como todos recuperação das instalações elétricas, com
os demais teatros da Fundação, nunca foi se­ substituição de fiação, hidráulicas e sanitá­
gurado. Durante anos correram processos rias; a forração com placas de cortiça da
burocráticos sem solução objetiva. (Desde plateia do teatro e colocação de tapete em
dezembro próximo passado, o Theatro Mu­ toda a sua extensão; a substituição de pa­
nicipal, pela primeira vez em sua história, nos de boca e cortinas de veludo; a recupe­
está com seu imóvel e patrimônio cobertos ração de mármore danificado e das escadas
por seguro. Os restantes estão em fase de e marquises de ferro corroídas pela ação
vistoria com a mesma finalidade). do tempo e intempéries; douração em
m) a má utilização de espaços internos ouro de todos os adornos, redouração de
para guarda de material facilmente com­ todas as peças metálicas (das barras para os
bustível em áreas reservadas para escoa­ pés, numeração das poltronas, maçanetas,
mento do público e artistas. apliques); recuperação de todos os lustres

320 Teatros do Rio


com reposição de peças danificadas e troca nicipal foi devolvido à função artística,
de fios metálicos de junção. retirando-se dele instalações que serviam
No item restauração entram as obras de às funções administrativas. Os camarins
arte do Teatro de autoria de Eliseu Visconti aumentaram de número, foram reforma­
(pano de boca e abóbada do foyer princi­ dos, modernizados e ampliados. O palco
pal), Rodolfo Amoedo e Henrique Bernar­ foi inteiramente reformado, tendo sido
delli (painéis nas rotundas laterais do foyer dele retirada a mencionada cabina de ilu­
principal), cujo trabalho foi entregue ao minação eletromecânica.
Prof. Edson Motta e sua equipe. Cerca de 100 km de cabos elétricos fo­
A ampliação ultrapassa os limites do ram utilizados. Toda a fiação e tubulação
próprio teatro, pois, além da recuperação antiga foi retirada e substituída por nova.
de espaços em seu interior, foi construída
a Central Técnica de Produção Técnico­ A contribuição de Edson Motta
-Teatral em Inhaúma, com 8 mil m2 em O Professor Edson Motta iniciou suas
galpões modulados, que abrigam todas as atividades em outubro de 1975, logo
oficinas de apoio ao Municipal, e outras após o fechamento do teatro, dando iní­
unidades da Fundação como: ateliês de cio aos trabalhos de restauração do pano
confecção, pintura e testes de cenários; de de boca – obra de Eliseu Visconti – que se
costura, de recuperação de instrumentos encontrava em lastimável estado (rasgado
musicais – todos com locais próprios de e perfurado).
depósitos e previsão de manutenção; la­ Foi, em seguida, executada tarefa mais
vanderias, tinturarias, almoxarifado, ofi­ difícil de restauração artística – a do pai­
cinas mecânicas, elétricas e hidráulicas. nel de Eliseu Visconti, que se encontra na
O conjunto contém ainda uma réplica, abóbada do Grande foyer do balcão nobre.
em termos de espaço, do palco do Thea­ É de notar que a estrutura dessa abóba­
tro Municipal que servirá para os testes da, totalmente rachada, estava em adian­
de cenários e os preliminares de ilumi­ tado processo de desabamento tendo sido
nação; uma casa de força, uma cozinha, toda a sua área interditada ao público fre­
um refeitório e um gabinete médico para quentador.
atendimento dos funcionários. Quando descoberto esse processo, foi
No item modernização estão incluídos solicitada a presença do Prof. Motta e do
a aquisição de um Sistema de Iluminação Engenheiro Paulo Fragoso e outros técni­
cênica dos mais modernos, funcionando cos, para uma análise da situação e provi­
por controle eletrônico. A firma belga dências imediatas.
que o forneceu – por concorrência in­ Decidiu-se injetar inicialmente um ma­
ternacional – o instalou no teatro: é a de terial aglutinante e colante entre as fendas,
um novo ciclorama em material transpa­ o qual, uma vez endurecido, impediria a
rente para substituir o antigo em madeira continuação do processo de deslocamento
e permitir projeções e retroprojeções. A da abóbada.
notar que a iluminação dos espetáculos Realizada essa etapa, foi construída, na
do Theatro Municipal, antes de seu fe­ face superior da abóbada, uma laje com for­
chamento, era feita por um gabinete ele­ ragem delgada, utilizando-se o jateamento
tromecânico datando de sua inauguração de cimento com o objetivo de estabilizar
em 1909. Todo o espaço do Theatro Mu­ permanentemente a estrutura da­quele se­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 321


tor do imóvel. Pôde então o Professor Ed­ Em 1975, comandada por Adolpho Blo­
son Motta e sua equipe iniciarem, pela face ch, então diretor da Funterj na época, ini­
interior da abóbada, os trabalhos de recupe­ cia-se a grande restauração do Municipal,
ração e restauração da pintura de Visconti. entregue ao público em 1978. A posição
Em seguida, iniciaram-se os trabalhos filosófica adotada pelos encarregados do
de recuperação das pinturas de Amoedo e trabalho seria conservar a personalidade
Bernardeli, existentes nas rotundas e abó­ desde a sua arquitetura até os detalhes de
badas laterais, respectivamente (lados Ave­ decoração. A tarefa dividiu-se em duas eta­
nida Rio Branco e Treze de Maio), ao nível pas: restauração artística e restauração de
também do foyer do balcão nobre. engenharia civil. A artística foi dirigida por
Constatou-se que igualmente ao ocorri­ Edson Motta, diretor na época do Museu
do na abóbada central, ambas as laterais se Nacional de Belas-Artes e a de engenharia
apresentavam também com fissuras e ra­ civil pela Wrobel Construtora.
chaduras, o que obrigou a adoção da mes­ Edson Motta e sua equipe dedicaram-se
ma solução adotada. a deixar em condições as pinturas de Vis­
O Professor Edson Motta acompanhou conti, Bernardeli e Amoedo. O dourador
e orientou os trabalhos de injeção e execu­ Primo de Rivera fez um trabalho de colar
ção da laje nas três abóbadas. folhas finíssimas de ouro e Souza Braga, que
Atuou também durante toda a obra era português, e já tendo sido responsável
e, mesmo depois de sua conclusão, vem pela nova decoração dos Teatro São Carlos
atuando como consultor. Nesta última e Dona Maria II em Lisboa, era responsá­
condição, participou de trabalhos executa­ vel pela decoração, obedecendo fielmente
dos por terceiros, tais como: à original, tanto nos desenhos dos móveis,
Pintura das áreas nobres do Teatro, ten­ como nos tecidos que recobriam as cadeiras
do inclusive fornecido e fiscalizado a fabri­ e sofás, até os cristais, maçanetas e comuta­
cação das tintas utilizadas (as tintas foram dores. Carlos Lafayette Barcelos trabalhava
elaboradas na obra) Limpeza e recupera­ com Gitmam Vibranovski e Jones Botsman,
ção de mármores e azulejos decorativos que desempenhavam funções de engenhei­
Escolha de tapetes, cortinados e outros ros fiscais. A acústica estava a cargo de
tecidos decorativos Carlos Eduardo Hime, Júlio Niskier dava
Escolha da cor de tapetes e cortinas assessoramento nos projetos e implantação
Douração de metais das novas redes elétricas e hidráulicas, in­
Recuperação dos sanitários do púbico clusive iluminação cênica. Paulo Fragoso,
Mobiliário das partes do público consultor na parte de cálculo estrutural e
Douração a ouro fino de elementos de­ Aldo Calvo, consultor para parte técnica
corativos do palco e o arquiteto Raphael Peres.
Restauração do salão Assyrio, hoje Café A preocupação maior na reforma foi man­
do Teatro ter o caráter da arquitetura do teatro, que é
Limpeza e recuperação das fachadas resultante da conjugação de vários estilos.
Recuperação de lustres, candelabros e Os estragos sofridos pelo teatro foram
outros elementos de cristal principalmente os bailes de carnaval realiza­
No dia 15 de março de 1978, às 21 horas, dos ali desde 193230 e os abalos provocados
reabriu-se o Theatro Municipal com todo o pelo trânsito intenso nas ruas que ladeiam
esplendor do seu patrimônio artístico.29 o prédio, sobretudo a Avenida Rio Branco.

322 Teatros do Rio


Com relação aos bailes de carnaval, um que deveriam ser refeitos. Como havia esta­
depoimento de Nilson Penna (ex-bailarino, do em julho de 1977 em Paris, com a Escola
cenógrafo e figurinista) ilustra os estragos de Samba Beija-flor, aproveitou para procu­
sofridos: rar a casa que havia feito os azulejos para os
painéis do teatro. A loja havia mudado de
O Municipal não era local para aqueles ba­ endereço, e seu trabalho de detetive levou-o
canais gregos. O teatro é um templo de às novas instalações:
arte. Naqueles bailes acontecia de tudo.
Havia casais escondidos por todo lado, até Ficaram muito surpresos, pois nem sabiam
nas rotundas... mais da existência desses painéis. Seus ar­
Às 23 horas o baile era uma beleza. quivos foram destruídos durante a guerra
Uma hora depois, não dava nem para e eles perderam contato com seus primei­
andar. O teatro ficava muito danificado. ros trabalhos. Levei um azulejo que tinha
As cadeiras de couro marroquino eram caído e eles estudarão a possibilidade de
furadas porque as mulheres pulavam em fazerem outros.33
cima de salto alto. As paredes eram reco­
bertas com folhas de ouro de 14 quilates Os camarins foram inteiramente refeitos.
e eu vi o professor Edson Motta fazendo Foram criados quatorze camarins nobres,
esse trabalho. Pois nos bailes eles arranca­ com sala, antessala e banheiro. Construí­
vam tudo. No restaurante Assyrio, funcio­ ram salas especiais de maquiagem. Nos ca­
nava um cabaré, a partir das 23 horas. Ca­ marins coletivos foram instalados banhei­
baré, naquela época, era frequentado por ros, bancadas individuais de maquiagem,
famílias. O do teatro era muito chique.31 além de guarda-roupa. Um novo elevador
com capacidade para vinte pessoas foi ins­
Tecnicamente o estado do teatro era bem talado para atender aos camarins coletivos.
precário, sendo a obra de mais urgência o O palco ganhou mais espaço com elevador
telhado, devido ao adiantado das infiltra­ monta-carga. Ao lado do palco foi constru­
ções. Através das três cúpulas, a água vinha ída uma sala com 150 m² para afinação, en­
já há bastante tempo danificando as paredes, saios, com isolamento acústico tão perfeito
e a pintura interna da abóbada pintada por que, embora ao lado do palco, podia-se en­
Bernardelli, em alguns pontos toda rachada. saiar uma orquestra inteira mesmo durante
A grande abóbada do foyer do balcão nobre, um espetáculo. Dotou-se o teatro com um
de Visconti, estava visivelmente marcada pe­ sistema de som, principalmente para comu­
las águas. nicações e avisos para os camarins e pessoal
técnico, sem nenhuma interferência com o
Estamos agora com o telhado totalmente espetáculo. No conjunto da portaria foram
recuperado. A chuva chegava a inundar até criadas salas para segurança, guarda-roupa e
o Assyrio, onde funcionava o Museu dos guarda-objetos.
Teatros.32 Os camarotes do presidente e do gover­
nador foram totalmente reformados. En­
Joãozinho Trinta era um dos mais empol­ tretanto, não existe um camarote para o
gados com as obras. Nessa época, encarrega­ prefeito. Agora que o Rio de Janeiro possui
do do guarda-roupa do teatro, ele fiscalizava um prefeito eleito, seria importante que se
também as aquisições de materiais antigos reformulasse seu esquema de camarotes.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 323


Não se justifica um camarote presidencial A iluminação conta com uma mesa de
permanente, uma vez que o Presidente da comando, fabricação ADB tipo Memolight
República não mora no Rio. para 360 circuitos independentes, dotada de
Toda a fiação elétrica foi trocada com ins­ memória magnética para gravação de 123
talação de quadros de luz automatizados. cenas, Floppy-disc para gravação de 300 ce­
Todo fosso de orquestra foi remodelado, nas por disco, teleimpressora. Conjunto de
com aumento de espaço útil e sensível me­ 360 Dimmers com as seguintes caracterís­
lhora das condições acústicas. ticas: 324 Dimmers de 2,5 KW, 24 Dim­
Foi montada uma subestação de energia mers de 5 KW e 12 Dimmers de 10 KW.
elétrica que seria suficiente para atender A potência total para o suprimento ao palco
às necessidades da maioria dos municípios é de 1.050 KW. O sistema de suprimento
brasileiros, garantindo o fornecimento de de iluminação cênica é de 220 KW entre fa­
energia sob qualquer condição. Foi instala­ ses, frequência de 60 HZ. Existem 8 proje­
do também um sistema telefônico (PABX) e tores seguidores de 1.000 W com tripé; 96
reformadas as bilheterias. projetores para piso de ciclorama de 500 W,
O trabalho de restauração foi feito em to­ 3 projetores de efeitos estáticos de 5.000 W,
das as esquadrias de madeira, pisos, janelas 4 projetores de efeitos estáticos e móveis de
e portas. Na restauração dos quatro tipos 2.000 W, com acessórios para nuvens, tem­
de pisos existentes (cerâmica, madeira, vi­ pestades, chamas, chuva, água corrente, fu­
dro e mármore) além da reconstituição dos maça e neve; 64 projetores para ciclorama
desenhos originais, em muitos casos, houve de 1.000 W; 28 projetores de facho con­
necessidade de uma fabricação especial para centrado de alta intensidade de 1.000 W;
que fosse impossível distinguir o piso novo 28 projetores Fresnel de 1.000W;17 gambiar­
daquele colocado há 70 anos. ras contendo, cada, 12 lâmpadas de 150 W;
196 projetores de dupla focalização len­
Para recuperar os mármores de carrara, os tes plano-convexas, espelhos elipsoidais de
especialistas descobriram uma técnica nova: 1.000 W, facho regulável de 10 a 22 graus;
prepararam uma liga com o pó da própria 12 projetores de facho estreito regulável de
pedra, obtendo uma massa com a mesma 10 a 22 graus e 16 projetores de facho regu­
tonalidade do mármore a ser reparado.34 lável de 20 a 36 graus. Na sonoplastia, conta
o teatro com 6 caixas acústicas, 52 caixas de
As paredes internas foram pintadas na cor chamada em áreas de apoio ao palco, 2 mis­
e textura originais, bem como as luminá­ turadores, 8 amplificadores, 6 microfones e
rias, exatamente iguais às anteriores. Exter­ 2 gravadores.
namente o teatro foi lavado com produtos A lotação de 2.357, assim distribuídos:
químicos neutros para não alterar seu aspec­ 502 na plateia (mais 28 suplementares),
to. O novo sistema de iluminação cênica pla­ 400 no balcão nobre, 72 nos camarotes
nejado e executado na Bélgica. (6 em cada), 132 nas frisas (6 em cada),
O Assyrio foi inteiramente remodela­ 500 no balcão simples e, 723 nas galerias.
do e dotado também de ar-condicionado. Os camarins coletivos têm capacidade para
Atualmente, o palco do Municipal tem 16 280 pessoas, e o Restaurante Assyrio, para
m de largura por 9 m de altura da boca de 250 pessoas.
cena, 25 m o urdimento e 3,5 m o pros­ Um dos pontos principais da reforma foi
cênio. a construção, em Inhaúma, da Central de

324 Teatros do Rio


Produção Técnica e Artística. Instalada em dos bombeiros encarregados do serviço de
galpões pré-montados, com área coberta segurança contra incêndio, que várias vezes
de 8 mil m2. Lá funcionam todas as seções já pediram que fosse retirado o material.
de apoio ao teatro, como a oficina de cons­ Enquanto possível esses pedidos vão sendo
trução de cenários, pintura artística, adere­ ignorados, pois não haveria outro lugar para
çagem, acervo de guarda-roupa, acervo de guardá-los...
contrarregra, tinturaria, costura, alfaiataria, ...O encarregado do guarda-roupa, João
chapelaria, perucaria, sapataria, oficinas de Jorge Trinta, o Joãozinho, mostra os blocos
eletricidade e hidráulica. de armários de aço, todos cheios de roupa,
Essa central veio racionalizar toda a pro­ e explica que o problema é que o material
dução cenográfica do Theatro Municipal, – roupas, sapatos e perucas – aumentam in­
como afirma Geraldo Matheus: crivelmente a cada mês, enquanto o teatro
continua do mesmo tamanho.
Antigamente, para realizar uma exibição
de três dias, o Theatro Municipal tinha O objetivo de Geraldo Matheus era de­
que fechar durante 15 dias. Isso para que volver ao público um Municipal reestrutu­
no seu interior fossem construídos cená­ rado artisticamente, e em boas condições
rios, escolhida a iluminação. Agora com a por fora e por dentro.
Central de Produções, as facilidades se­
rão muitas, os cenários poderão ser feitos O Municipal desempenha função vital na
com antecedência e desmontados para nossa cultura. O Governo Federal que
transporte.35 tanto incentivou a recuperação de outros
teatros, como o Amazonas, tem sido solici­
Antes da existência da Central de Produ­ tado a vir em nossa ajuda, já que as verbas
ção Técnica e Artística, todos os cenários, estaduais não são suficientes para cobrir
figurinos e adereços dos espetáculos reali­ todas as despesas que teremos. Estamos
zados no teatro eram transferidos, após a em pleno trabalho e muito já foi consegui­
temporada, para um depósito no Maraca­ do. Já procedi, por exemplo, à mudança
nãzinho, colocados em lugares sem a me­ de todas as oficinas e depósitos de cená­
nor condição de arrumação e manutenção. rios, guarda-roupa, equipamento técnico
Com o tempo tornavam-se imprestáveis às para uma área de dez mil m2 que nos foi
remontagens. doada. Fica em Inhaúma, onde estão sendo
A matéria do O Jornal de 14/06/1973 construídos galpões especiais. As escolas,
confirma: como a de dança, já estão funcionando em
outro local. Assim o Municipal vai reabrir
A solução seria remontar balés e óperas an­ só como teatro que é, com destinação ex­
tigas, cujas roupas e cenários estejam con­ clusiva ao espetáculo. Não mais será usado
servados ou possam ser recuperados. Nem para solenidades de formatura, nem qual­
sempre é possível a recuperação pois o tem­ quer outra finalidade, que não seja exclu­
po e as traças deixam suas marcas e, depois, sivamente artística.
há falta de espaço para uma boa conserva­ O Baile de Carnaval acabou de vez.
ção. Grande parte dos cenários antigos es­ O de 1975 foi o último. Além de todos os
tão guardados “provisoriamente”, há alguns danos e estragos, que sempre provocou,
anos, no Maracanãzinho – sob os protestos não faz o menor sentido fechar o teatro

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 325


Boca de cena do Theatro Municipal Myrtes de Lucca Wenzel; de Adolpho Bloch,
Diretor da Funterj e de Geraldo Matheus
durante dois meses, gastos exclusivamente Torloni, Secretário-executivo, o Municipal
com a sua preparação. apre­sen­ta­va a ópera Turandot, de Puccini, nu­
Orquestra, coro e corpo de baile, fi­ ma montagem produzida integralmente na
cam de férias de dezembro a março ou nova Central Técnica de Produções Teatrais.
abril por causa do baile do carnaval. Pa­ Com relação à produção da ópera, o meio
rece-me absurdo parar todas as atividades artístico ficou indignado com a contratação
artísticas de nossa principal casa de espe­ de profissionais argentinos para confecção
táculos, por tanto tempo.36 dos cenários, figurinos e adereços. É o que
afirma o jornal Última Hora, de 27 de feverei­
Depois da restauração, que levou 3 anos, ro de 1978.
no dia 15 de março de 1978, com a presen­
ça do Presidente da República, Ernesto Dia 15 de março. A reinauguração do Thea­
Geisel; do Governador do Estado do Rio tro Municipal do Rio de Janeiro, com a
de Janeiro, Faria Lima; do Prefeito Marcos ópera Turandot, de Puccini. Artistas, monta­
Tamoyo; dos ministros Nei Braga, Reis Ve­ gem, direção e regência de estrangeiros. O
loso; da Secretária de Educação do Estado, brasileiro não terá vez. Nem mesmo o sapa­

326 Teatros do Rio


teiro, cenógrafo e maquinista. Mais uma vez da própria Funterj. Dez dias depois, Adol­
o artista brasileiro é magoado, preterido. pho Bloch, em entrevista ao Jornal do Brasil,
Trouxeram de fora alguns desconhecidos. anunciava a renúncia do maestro Figueroa.
Os brasileiros ainda passaram por um vexa­ No seu relatório o maestro fazia severas crí­
me: teste de audição para um argentino. Da ticas à reforma do teatro. Segue o texto in­
sua opinião, a contratação ou não. Dia 15 de tegral do relatório:
março, o desrespeito ao nosso artista.
O teatro foi primorosamente reconstruí­
O Maestro Edino Krieger esclarece sobre do, no que concerne ao exterior e à sala.
esta necessidade e preocupação de se criar Quanto ao palco e às dependências téc­
uma nova estrutura: nicas, pouco ou nada foi realizado. E mal
realizado.
...criar uma divisão técnica-artística de a) Chão do palco – Foi refeito, mas de
ópera que nunca houve no Brasil, o que ha­ tal maneira deficiente, que, sem tapetes de
via era a importação sistemática de know- espessura especial, os bailarinos não po­
-how estrangeiro, pacotes que não nos le­ dem dançar. Em todos os teatros do mun­
gavam nada. Por isso tratamos de arrumar do, salvo em velhos teatros de província,
a casa em primeiro lugar. o tapete cumpre uma função estética e
Nesse trabalho tivemos sorte de contar não prática, como no caso do Municipal,
com uma equipe que se formou no Tea­ para nivelar o chão. Portanto, resumindo,
tro Colón, de Buenos Aires, que traz uma a obra realizada no piso foi inútil.
experiência de 20, 30 anos de teatro de b) Alçapões do palco – Foram tão su­
ópera, coisa que nunca existiu aqui e que mariamente reconstruídos que precisaram
determina uma atitude pioneira: a partir de remendo especial efetuado pelo setor
de agora, toda a produção operística do de maquinaria sob a minha responsabili­
Municipal é feita aqui e fica.37 dade (e ao qual estas tarefas não corres­
pondem). Ainda, graças aos tapetes acima
A equipe a que Edino Krieger se refere mencionados, em três oportunidades se
era composta de Oscar Figueroa (Maestro), evitaram acidentes com riscos de vida, já
Andrés Maspero (diretor de coro). Prepara­ que os alçapões cederam sob o peso dos
dores: Osias Wilenski, Larry Fountain, Fre­ bailarinos, os quais teriam caído de mais
derico Egger e Genzon Martineli (os três de três metros de altura (duas vezes com
últimos do Municipal do Rio). Hugo de Ana o Balé Contemporâneo da França e uma
(cenógrafo e figurinista), Pascula Montecal­ com o bailarino solista do Lago dos Cis­
vo (vestuário), Maria Esther Fernbach (mo­ nes, no ensaio geral). Foi, pois, outra re­
delista), Laureano Suarez e Demetrio Man­ construção inútil.
ganaro (chefes de maquinaria), Hilda Perna c) Maquinaria de palco – Encontra-se
e Eduardo Caldirola (pintura e escultura). em situação igual ou pior àquela de antes
No dia 8 de outubro de 1979 o Maestro da reconstrução do teatro. Os portalones
Oscar Figueroa, então diretor de ópera do (elevadores de palco) estão desnivelados.
teatro escreveu uma carta a Adolpho Bloch – O único a funcionar quase normalmente é
presidente da Funterj – à qual anexou um o primeiro. Os outros impossibilitam qual­
relatório sobre a situação do Theatro Mu­ quer jogo cênico porque todas as instala­
nicipal, do Centro Técnico de Produção e ções, de 1906, não foram mecanizadas. Por

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 327


exemplo, todas as meias-voltas precisam randot. Resumindo, o teatro carecia de 80%
ser acionadas manualmente, como aconte­ dos elementos indispensáveis para a realiza­
ce nos teatros de princípios do século. Mes­ ção de qualquer espetáculo com êxito.
mo assim, à mão, não podem funcionar por g) Ciclorama – Comprado para o tea­
causa das dificuldades que surgem por falta tro e sendo de excelente qualidade, não se
de peças jamais substituídas. pôde utilizar porque a estrutura realizada
d) “Pistones” do fosso da orquestra – Não para a sua instalação encontra-se em lugar
houve a mínima precaução de revisá-los, não adequado. Em caso de ter sido utiliza­
fato que logicamente teve suas conse­ do, teríamos diminuído em quatro a seis
quências, como aconteceu num concer­ metros a profundidade de uma cena já pe­
to da Sinfônica Brasileira, com Jacques quena. Conta-se, pois, com material caro
Klein como solista, quando o fosso desceu que não pode ser utilizado.
abruptamente vários centímetros, provo­ h) Parrila Sofita (teto interno do palco):
cando pânico entre os músicos. data de 1906 e é inadequado para os nos­
e) Varas – O teatro foi despojado sem sos dias, já que nem sequer é uma constru­
sentido de um certo número de varas que ção original italiana. Corta as cordas; re­
tinha antes da reconstrução, muitas delas presenta graves riscos nos deslocamentos,
imprescindíveis nas montagens. Não se especialmente na obscuridade durante os
solucionando o sistema de contrapesos espetáculos; impede a colocação de trans­
nem a eletrificação das varas, não se pode versais em espetáculos não complicados,
simplificar a mudança de cenários, nem mas simplesmente modernos.
evitar acidentes com risco de vida, que O Sr. Suárez, chefe de maquinaria e
são problemas inexistentes em qualquer técnico, elaborou, com a minha participa­
teatro moderno. ção um plano que com baixo custo pode­
f) As cordas que acionam todos os movi­ ria solucionar o problema e que podia ser
mentos de solistas não foram substituídas. realizado por etapas sem necessidade de
Quando o teatro reabriu, fomos sur­preen­ cancelar os espetáculos. Esse plano não foi
didos pelas mesmas cordas do velho realizado e, portanto, os problemas conti­
Theatro Municipal, o que provocou um nuam sem solução. La Périchole represen­
sério acidente no ensaio geral de Turandot: tou, pois, mais uma façanha pessoal de um
arrebentando-se uma corda, o contrapeso pequeno número de profissionais.
desceu e, em poucos instantes, um dos i) Acessórios necessários para solistas
maquinistas se viu pendurado a 14 metros (trabalhadores na varanda interna do pal­
de altura, na iminência de cair a qualquer co): faltam as indispensáveis roldanas. As
momento. Depois desse acidente, houve poucas que chegam vêm em número insu­
uma inspeção. Soube-se, então, que 80% ficiente e tarde. A falta de outros elemen­
das cordas estavam podres. A inspeção foi tos é solucionada com improvisações sem
rea­lizada durante as funções de Turandot. a segurança das peças originais. Em resu­
Foi essa a primeira oportunidade para mo, o Theatro Municipal tinha elementos
apreciar o funcionamento do atual meca­ deficientes, mas que funcionavam, mesmo
nismo do palco do Municipal, já que a en­ precariamente, que não foram substituí­
trega do mesmo não se realizou no dia 2 dos nem melhorados.Veja-se o caso das es­
de janeiro, como estava previsto, e sim em truturas metálicas das varas. A maioria está
março, poucos dias antes da estreia de Tu- corroída pela ferrugem e já aconteceram

328 Teatros do Rio


três rupturas durante os espetáculos, não indispensável proteção, apesar de ter sido
ocasionando graves acidentes por milagre. exigida durante muitos meses ao Dr. Ge­
j) Pano de Boca – O Dr. Geraldo Ma­ raldo Mateus (como consta em vários re­
teus Torloni tem um relatório de um téc­ latórios em que pedíamos portas especiais,
nico – solicitado por mim – opinando controle de chaves etc.) já que se trata de
que o pano de boca não tem as medidas instalações muito sensíveis e qualquer
necessárias, não fecha direito e está muito dano a elas pode produzir prejuízos de vá­
longe do original. Faltam-lhe forros inter­ rios milhões de cruzeiros. A única medida
nos (molhetón) para impedir que ele infle de segurança tomada, depois de um grave
ao descer. Em várias funções, o pano caiu acidente, foi a colocação de um simples
desgovernado. A bambolina decorativa cadeado. Entretanto, os dimers continuam
está mal cortada. Cai desigualmente. Não localizados junto à entrada dos decorados
foram feitas as costuras a mão. sem nenhum tipo de proteção contra a
Concluindo, no setor do palco do tea­ poeira, embaixo do palco, em lugar de
tro, o pouco realizado durante a recons­ trânsito, ao alcance de qualquer pessoa.
trução foi deficiente e realizado por ama­ A disposição de todos os artefatos de
dores que desconhecem o funcionamento iluminação está longe de ser prática e fun­
de um teatro lírico, de tal maneira que, cional. A decisão de colocar três herses
atualmente, as condições técnicas são pio­ para este tipo de cenário é prejudicar o
res do que o antigo Municipal. bom funcionamento da maquinaria, além
k) Ombros (espaços laterais) do palco – de desnecessária para a iluminação. Por­
Durante a reconstrução, as pessoas incom­ tanto, foi preciso eliminar uma herse para
petentes que se ocuparam não estudaram não danificar artefatos demasiado caros.
a possibilidade de ampliar estas partes tão Estas herses não foram dotadas de mo­
fundamentais, já que, não existindo, dimi­ tor para manobras rápidas. O sistema para
nuem em 50% o funcionamento do palco. subir ou descer é manual. E a mudança de
Aparentemente, o setor da iluminação uma lâmpada exige o trabalho de três ho­
foi o menos descuidado. Adquiriu-se uma mens durante uma hora. Para solucionar
mesa e um número de spots de ótima qua­ essa deficiência, em janeiro foi solicitada
lidade. Apenas aparentemente. A insta­ uma escada especial. Duas pessoas visita­
lação técnica e o tratamento que recebe, ram a fábrica em São Paulo, mas até hoje a
por força da precariedade das condições, é compra não foi concretizada.
absolutamente deficiente. Assim os artefatos das herses só podem
É impossível acionar as luzes e dar or­ ser utilizados quando por acaso iluminam
dens desde a cabina, pois em lugar de a parte desejada.
vidro polarizado instalaram vidro fumê, Concluindo, 80% do material caríssimo
obstaculizando a correta visibilidade. Den­ estão inutilizados.
tro da cabina, o técnico não pode verificar Seguidores – A localização é totalmen­
o funcionamento dos efeitos. te inadequada. Não existem seguidores do
A luz da orquestra pode ser ligada ou palco. Os complementos para seguidores e
desligada deliberadamente ou por sabota­ outros aparelhos (por ex. projetores) não
gem sem nenhum tipo de controle na cabi­ existem. Não existem mini-spots.
na. Os dimers (parte substancial e alimen­ Gelatinas – A variedade de gelatinas é
to de toda a instalação de luzes) não têm a totalmente inadequada e só podem ser uti­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 329


lizadas duas ou três cores. Isto impede um dação de Artes do Estado do Rio de Ja­
mínimo de refinamento. Foi feito, pois, neiro), cuja história, no governo estadual
um investimento alto em equipamentos estava pontilhada de crises. O primeiro ato
de primeira qualidade que, por falta de co­ de Dalal Achcar foi criar a Associação de
nhecimentos técnicos, não foram dotados Amigos do Theatro Municipal, para tentar
de elementos (gelatinas) de baixo custo, superar a crise econômica (nos moldes de
mas imprescindíveis, prejudicando assim “Friends of Coven Garden”, de Londres e
em 60% o funcionamento. do Metropolitan Opera House, de Nova
A sala do Municipal é a única a não dis­ York). Foi uma forma de angariar fundos
por de uma iluminação em resistência, pro­ para o teatro, reunindo sócios fundadores,
vocando assim um acender e um apagar.38 empresários e personalidades. Na lista de
mais de cem sócios fundadores da Asso­
De propriedade da Prefeitura do Distrito ciação, figuravam entre outros: João Pe­
Federal, quando da sua construção, passou a dro Gouvêa Vieira, Israel Klabin, Leonídio
ser, com a mudança da capital para Brasília, Ribeiro, Adolpho Bloch, D. Sarah Kubits­
no dia 21 de abril de 1960 – de propriedade chek, Arthur João Donato, Roberto Mari­
do Governo do Estado da Guanabara. nho, Carlos Sant’Anna, Sérgio Bermudes,
Em 1973 foi tombado pelo IPHAN (Proc. Ivo Pitanguy, Antonio Galotti, Celso Rocha
860-T-72. INSC 503-fls. 92 do Livro Belas­ Miranda, Aloísio Sales, Jayme Bastian Pin­
-Artes, em 24/05/1973). to, Afonso Capanema.
Em 1975, com a fusão da Guanabara com
o Estado do Rio de Janeiro, o Theatro Mu­ São nomes representativos da comunida­
nicipal é subordinado à Fundação de Tea­ de, que darão prestígio à associação. São
tros do Estado do Rio de Janeiro (Funterj), personalidades conscientes da importân­
sendo na época Diretor do teatro Geraldo cia cultural que tem o Theatro Municipal.
Matheus Torloni; Administradores, Ciro Pe­ Pessoas que dão nome e prestígio, mas
reira da Silva e Adolpho Bloch; o primeiro não dinheiro.39
Presidente da Funterj, no Governo de Faria
Lima e Prefeito Marcos Tamoyo. O segundo Tatiana Memória, preocupada com a escas­
presidente, em 1979, passa a ser o escritor sez de mão de obra especializada necessária
Guilherme Figueiredo. para tocar o trabalho da Central de Produção
Dalal Achcar, convidada pelo Governa­ da Funarj, forma nesta época em Inhaúma
dor Leonel Brizola e seu vice-Governador bons profissionais que hoje preenchem parte
Darcy Ribeiro, foi empossada como direto­ das lacunas existentes nesta área.
ra do Theatro Municipal em 24 de maio de
1984. Tomaram posse, também, Henrique Não é fácil. Para pintores de cenários, por
Morelenbaum, como coordenador de mú­ exemplo, o mínimo necessário seriam 10
sica; Fernando Bicudo, coordenador geral anos e a central só existe há seis. Além de
do teatro; incluindo programação de ópera; saber pintar, esses artífices precisam de
Tatiana Memória como a diretora da Cen­ sensibilidade para reproduzir até quadros.
tral Técnica de Produção e Mário Tavares na Um cenógrafo, quando idealiza uma obra,
direção da Orquestra Sinfônica do teatro. vai rabiscando no papel sem se interessar
Dalal Achcar tomou posse em um perío­ se isso será complicado ou não. Cabe-nos
do em que o teatro, ligado à Funarj (Fun­ viabilizar e descomplicar o que ele conce­

330 Teatros do Rio


beu. Nenhum balé chega a ser tão compli­ achando que isso competia ao governador e
cado quanto a ópera mais fácil.40 ao futuro prefeito.
Em dezembro de 1985, durante as apre­
Uma verba de cinquenta milhões de cruzei­ sentações do Quebra Nozes, de Tchaicovsky,
ros foi liberada em 3 de agosto de 1984, pelo a orquestra sinfônica do Theatro Municipal
Governador Leonel Brizola, com o objetivo – em protesto contra a direção do teatro
de reformas e compra de equipamentos para e do Secretário de Cultura Darcy Ribeiro
o Theatro Municipal. Essa verba foi utilizada – atirou objetos no palco e adiantou pro­
na reforma de todos os elementos do palco, positadamente oito compassos numa peça,
desde as cortinas até a iluminação cênica e os enquanto bailarinos e colegas de profissão,
sistemas de mecânica cênica. Além de restau­ todos num mesmo barco, se exibiam para
ração de obras de arte, revisão de pinturas, uma plateia exigente.
revestimentos e estofamentos.
Em 3 de dezembro de 1985, foi apro­ De fato os músicos do Theatro Munici­
vado pela Assembleia Legislativa do Rio, o pal têm todo o direito de fazer valer seus
projeto do Deputado Italo Bruno, que au­ direitos, mas no episódio do Quebra Nozes
torizava a transferência do Theatro Munici­ de Tchaicovsky, diante do Presidente da
pal e do Estádio do Maracanã para a esfera República e do governador, foram no mí­
municipal. O Deputado fez a lei, a Assem­ nimo grosseiros e desrespeitosos.
bleia aprovou, mas, além da aprovação final Na verdade desejava era espinhar o Go­
do governador, existiam outros aspectos ver­nador Leonel Brizola e expô-lo ao ri­
legais a serem observados. dículo e constrangimento. A atitude era
política...42
O projeto é lei apenas no sentido for­
mal, e não no material. Este acontecimento ameaçou a dissolu­
Formal porque seguiu as exigências da ção da orquestra sinfônica, para dar lugar a
Constituição para formulação de uma lei. uma nova. Dar-se-ia vez aos jovens que saí­
Na verdade, ele apenas autoriza o Poder am recrutados em todo território nacional.
Executivo a fazer uma coisa que já é de sua Entretanto, vieram as férias de janeiro, sem
competência exclusiva...” que nada fosse resolvido. Apenas constatou­
...Só o governador tem condições de -se que haviam agido de forma exagerada
definir o que será melhor, dentro de uma e radical. Apesar de aberta sindicância, as
visão global e institucional do Estado e conclusões da mesma ficaram vários dias em
Município.41 mãos do vice-Governador Darcy Ribeiro.
Para o início da temporada de 1986, o
O Municipal nesta época tinha uma folha palco entrou em obras já que apresenta­
de pagamento, toda paga pelo Estado, de va desníveis e vários buracos. Parte de sua
hum bilhão e meio de cruzeiros, incluindo madeira, que não havia sido trocada na am­
sinfônica com 110 pessoas, coro com 110, pla reforma de 1978, foi substituída, assim
do balé com 150 e dos técnicos (desde ma­ como ajustes das máquinas da ponte. O pal­
quinistas a porteiros) num total de 150, co possui sete pontes que sobem, descem ou
além do pessoal do quadro administrativo ficam inclinadas, conforme a necessidade.
da Funarj. Seu vice-presidente, Lenoel Kaz, Essas pontes, que servem de apoio para os
não quis na ocasião falar sobre o assunto, cenários, também estavam desniveladas.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 331


Serão utilizadas vinte e cinco peças de pe­ tro Municipal. “Está entregue às baratas”.
roba do campo, confeccionadas especial­ Na sua opinião, a orquestra está em situação
mente para o palco, com cinco centíme­ lastimável, o coro não consegue se apresen­
tros de altura, 11 centímetros de largura e tar com frequência necessária, há escassez
cinco metros de comprimento.43 de ensaios e o amadorismo impera nas pro­
duções. “O Balé tomou conta de tudo”, diz
Foram também reformadas 16 varas de O Globo, de 8 de maio de 1986.
maquinaria e as varas de luz passaram a ser Com a manchete “A Salvação do Muni­
elétricas: O teatro possui 78 varas no total cipal” – “Com suas produções em crescente
(luz e maquinaria). Houve também revisão decadência, o teatro tem o seu destino nas
de refletores, sob a supervisão de Aniela mãos do futuro governador da Cidade”, Ma­
Jordan, diretora técnica do teatro. ria Teresa Dal Moro, traça um panorama ge­
Foram também confeccionadas cortinas ral da situação do Theatro Municipal:
novas para a boca de cena, 2 panos de veludo
de 9,00 m por 10,00 m, cada um pesando A melhor orquestra sinfônica do país – Or­
800 kg, sendo trocado também todo o me­ questra Sinfônica do Theatro Municipal –
canismo da cortina e a tubulação do ciclora­ limitou-se a acompanhar ópera e balé, e em
ma; os serviços foram executados pela firma fins de 1985, foi literalmente destruída.
Tecnel, que teve que confeccionar peças es­ Em 1984, a direção do Municipal entre­
peciais para o mecanismo de suporte da pe­ gou a um jovem desconhecido – Fernando
sada cortina. Peças especiais também foram Bicudo – o setor de ópera. Sua única ex­
confeccionadas para as pontes, em bronze e periência na área mais complexa do teatro
latão, que não eram trocadas há 76 anos. era a de apaixonado espectador de ópera.
Enquanto a dança, em governos ante­
Não vamos inovar, apenas fazer uma ajus­ riores, chegou ao apogeu, sob a direção de
tagem geral do sistema, que se desgastou Dalal Achcar, neste último período, sob a
devido ao uso.44 mesma direção, teve inexplicável queda.
Já consertamos as caixas d’água, e a in­ A ópera vai minguando em número de
filtração no foyer do balcão nobre. A pin­ títulos (três em 1984 e quatro em 1985);
tura, que foi afetada por esta infiltração, chega a ser a menor temporada de teatros
também foi refeita. Temos outros proble­ importantes; e paradoxalmente, os patro­
mas, mas não há verbas suficientes para a cínios aumentam.
execução de todas as obras.45 Em dois anos de gestão, Fernando Bi­
cudo consegue fazer de Aída o espetáculo
Para supervisão dos trabalhos do palco foi mais badalado (disse badalado) da histó­
convidado Alfred Seley, técnico do Coven ria lírica do Municipal. São mais de 300
Garden, de Londres. As reformas não foram citações, entre reportagens, fofocas que
amplas, apenas três meses para inaugurar a formam o fabuloso dossiê. O deslumbra­
temporada de balé, com a apresentação do mento é geral antes da estreia. Após, a de­
Royal Balet de Londres, no II Festival Inter­ cepção é colossal.46
nacional de Dança.
Nelson Portela (barítono), que já estava A administração de Dalal Achcar e Fer­
há seis anos vivendo no exterior, e que veio nando Bicudo, no período de 1986 e 1987,
ao Rio, chocou-se com o que viu no Thea­ é atacada implacavelmente pela crítica espe­

332 Teatros do Rio


cializada, em quase todos os jornais da im­ do pela Assembleia Legislativa em 1985,
prensa carioca. autorizando o poder executivo a efetuar a
Aconselhava-se para que procurassem um transferência, bastando para isso um enten­
equilíbrio maior entre a ópera e o balé, que dimento entre prefeito e governador para
sempre conviveram harmoniosamente no que a transferência seja assentada.
Theatro Municipal, e não estavam ocorren­ O Diretor de ópera do teatro, Fernando
do o mesmo peso e a mesma medida, pelo Bicudo, achava que uma medida como essa
fato de que sendo Dalal Achcar ligada à dan­ seria desastrosa e que o teatro sempre ha­
ça, dava prioridade a esta, não havendo um via sido o filho bastardo do governador, e
ponto de equilíbrio. que chegou a usar a Central de Produção
Técnica, para executar palanques e cadei­
E a ópera, que fez? Que foi feito por ela, ras para os Centro Integrado de Educação
melhor perguntando? Qual a oportunidade Pública (Cieps).
que se deu a valores como Viviane Farias, Ressentido com o desinteresse do Go­
Carol Mc Davit, Leda Macedo Luiz, Regi­ vernador Leonel Brizola pela vida do teatro
naldo Pinheiro, Ricardo Tuttman, Ama­­­rilis desabafa Jornal do Brasil de 27 de janeiro de
Rebuá, Cristina Passos, Marcia Brandão, 1987: “Ele considera nossos artistas elitistas
Marcos Thadeu, alguns da novíssima gera­ como a primeira bailarina Ana Botafogo,
ção, esperando oportunidade?” que exibe o vergonhoso contracheque de
...a direção do teatro estenda sua mão Cz$ 4.703,68.”
e passe a assumir a ópera (e a música de E se diz animado com a chegada do novo
modo geral), como assumiu a dança... Há Governador Moreira Franco:
os que dançam muito bem, mas também
há os que cantam muito bem. É uma pessoa sensível, frequentadora da
Vamos procurar o meio-termo, a divisão casa e que tem sido receptivo ao grave
igual. Mas que para isso a ópera trabalhe, problema salarial que Brizola não resol­
faça escola, crie talentos nacionais, sem ni­ veu, chegando até a perseguições pes­
velamentos por baixo, faça voltar uma regu­ soais. Moreira Franco tem se mostrado
lar temporada com várias óperas...47 muito sensível aos problemas da casa que
está com salários aviltantes e orquestra
Em janeiro de 1987, o então Prefeito Satur­ desfalcada.
nino Braga tenta negociações com o Governa­
dor Leonel Brizola para efetuar a passagem do Em 12 de março de 1987, o Theatro Mu­
Theatro Municipal e do conjunto esportivo nicipal começou a mudar. A coordenadora
do Maracanã do Estado para o Município. de produção da Funarj, Tatiana Memória,
havia pedido demissão irrevogável. Ficou no
É um assunto que estamos cogitando com cargo por dez anos, como responsável pela
cautela. Não nos interessa dar a impressão Central Técnica de Inhaúma.
de que ao apagar das luzes do Governo No início do mês de março de 1987, a
Brizola, estejamos depenando o patrimô­ bancada federal do PMDB (Partido do Mo­
nio do Estado.48 vimento Democrático Brasileiro), fazia che­
gar ao então futuro Governador Moreira
Estas negociações são baseadas em um Franco sua opinião unânime contra a ma­
projeto do Deputado Italo Bruno, aprova­ nutenção da diretora do teatro. A bancada

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 333


e dirigindo somente o corpo de baile, foi
motivo de insatisfação dos bailarinos, que
a tinham como uma pessoa arbitrária e di­
tadora.

Devido às péssimas condições salariais e


agora às pressões psicológicas, Lúcia diz
que os bailarinos só têm mesmo condições
físicas de ensaiar...50

A notícia já circulava pela cidade: a Secre­


taria de Cultura procurava caminhos para
superar a crise no Theatro Municipal, sem
atingir Dalal Achcar. A relevância que ela
dera ao cargo de diretora chegou ao pon­
to de torná-lo mais importante e disputado
que a própria Secretaria era realidade difícil
de contestar.
Optou-se então pela solução mais fácil:
Caixa cênica do Theatro Municipal desmembrar a Funarj e transformar o tea­
tro numa fundação, sob o comando do en­
havia ponderado que existiam áreas de resis­ genheiro naval José Carlos Barboza e uma
tência à permanência de Dalal Achcar. equipe de cinco notáveis, sob o comando
Fontes do futuro governo informavam de José Carlos, com longa experiência na
que o diretor de ópera, Fernando Bicudo, área da cultura como ex-diretor da Fun­
deveria ser mantido, pelo menos até o fim dação Roberto Marinho; Luiz Roberto
da temporada de ópera; informava tam­ Nascimento Silva, advogado, experiente
bém que o teatro iria deixar de ter diretor em redação de estatutos para órgãos cultu­
geral, e sim diretores setoriais responde­ rais; Oscar Ornstein, empresário; Carlos
riam integralmente por suas áreas. Leonan, ex-colunista social e publicitário;
Mas as críticas à diretora continuavam: Paulo Afonso Grisoli, dramaturgo e dire­
tor de teatro e TV e Lilian Barreto (homô­
A atual diretora dirigiu o Municipal arbi­ nima da pianista), reformadora do Museu
trariamente, discricionariamente, de for­ da República.
ma prepotente e autoritária. Não atendia Uma decisão do Corpo de Baile do Thea­
ninguém, tem contra ela publicamente a tro Municipal, tomada por aclamação da
orquestra, o coro, o corpo de baile, balet, Assembleia de 21 de abril de 1987, reali­
todos os funcionários dos mais diversos zada com 63 dos 69 bailarinos da compa­
setores. Como manter então uma direto­ nhia foi levada ao conhecimento do Subse­
ra assim? 49 cretário de Cultura do Estado, José Carlos
Barboza e do Vice-Presidente da Funarj,
Em abril do mesmo ano a situação se Luiz Eduardo Conde.
agravou, mesmo tendo sido afastada do Os bailarinos exigiam o afastamento de
cargo de diretora do Theatro Municipal, Dalal Achcar da direção do balé, e afirma­

334 Teatros do Rio


ram que caso ela não fosse demitida, eles De recursos financeiros a contratações de
não dançariam no 3° Festival Internacional última hora, o nosso trabalho acontece prin­
de Dança. cipalmente aos sábados e domingos, quan­
No mesmo dia Dalal Achcar era dispen­ do é grande o número de apresentações de
sada, a seu pedido, da função de diretora do óperas, balés e outros espetáculos. As insti­
Theatro Municipal do Rio, por ato expedi­ tuições estaduais não funcionam nesses dias
do pelo presidente da Funarj e Secretário de e até uma simples falta d’água tornava-se
Cultura Estadual, Eduardo Portela, e que foi um problema monstruoso para nós. Sendo
publicado no Diário Oficial do Estado em assim, todo o regime de trabalho dos fun­
22 de abril de 1987. cionários também difere enormemente da­
Após dez anos de separação, o corpo de quelas instituições e nada mais justo do que
baile do Theatro Municipal voltava para casa. termos a nossa autonomia administrativa.51
Havia sido inaugurado em 13 de julho de
1987 a sala Alberto Romeiro (Bailarino do Os dois meses de férias (janeiro e feve­
Corpo de Baile do Theatro Municipal morto reiro de 1988) foram utilizados para tocar
no início do ano de 1987), no terceiro andar obras de emergência. Desde 1978 o Muni­
do teatro, onde o Balé passaria a ter aulas e a cipal não passava por uma restauração. Ha­
ensaiar suas coreografias. via problemas no telhado, no mármore, no
Esta era uma antiga reivindicação dos sistema de refrigeração e no painel de Eliseu
bailarinos, que não viam sentido em dan­ Visconti. O Governo do Estado liberou ver­
çar no subsolo do Teatro Villa-Lobos, ba para os dois consertos mais prementes,
quando pertenciam ao Corpo de Baile do as três caixas d’água do teatro (25 mil litros
Municipal. cada) estavam vazando e a chave que coman­
A inauguração do espaço contou com a dava toda a energia elétrica do prédio só
presença do diretor interino do Theatro funcionava com um ventilador, para aliviar
Municipal, José Carlos Barboza; do Vice­ o seu perigoso aquecimento.
-Presidente da Fundação de Artes do Rio Com as portas fechadas nestes primeiros
de Janeiro (Funarj), Luiz Eduardo Conde; dois meses do ano, aproveitou-se para arru­
da Regente do Corpo de Baile do Teatro, mar a casa, para temporada que começava
Tatiana Leskova e de Vania Moreira Fran­ em março; com a estreia da ópera Aída, de
co, representando o governador. Verdi. Terminadas as obras, começou a em­
A Assembleia Legislativa do Estado do preitada maior: a restauração propriamen­
Rio de Janeiro aprovou, em novembro de te dita, que foi feita aos pedaços, como um
1987, a mensagem de Lei do Governador verdadeiro mosaico, para não prejudicar o
Moreira Franco, solicitando que o Thea­ funcionamento do teatro.
tro Municipal, administrado pelo Gover­ As obras de restauração e conservação,
no Estadual, passasse a ser uma fundação, que José Carlos Barboza levantou através
com administração autônoma. da Lei Sarney só foram concluídas em ju­
Segundo José Carlos Barboza, então di­ lho de 1989.
retor interino, a causa da transformação Viveu no ano de 1988 mais uma reforma,
do Municipal em fundação residia basica­ deixando, no entanto de pertencer à Funarj
mente na natureza de sua atuação, onde, e ganhou autonomia econômica e adminis­
ao contrário da Funarj, se trabalha basica­ trativa como Fundação presidida por José
mente nos fins de semana. Carlos Barboza.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 335


Theatro Municipal. Planta das localidades.
Reprodução: Catálogo temporada oficial de 1933

Theatro Municipal. Planta das


localidades já com transformação
Theatro Municipal, 1999
Através da Lei Sarney, algumas empresas a Caixa Econômica Federal, na Almirante
de grande porte como a White Martins, Pi­ Barroso, abrigaria toda a parte administra­
relli, Petroquisa (Petrobras) e Banco do Bra­ tiva da Fundação Theatro Municipal, da Fu­
sil, doaram vultuosas verbas para as obras. narj e da Secretaria de Estado de Cultura.
A Multi-Fabril contribuiu com as cortinas As obras iniciadas em 15 de dezembro de
de veludo, a Casa da Moeda e a Diverje fi­ 1988 (a quinta reforma por que passa desde
caram responsáveis pela afinação do piano a sua inauguração em 1909), foram concluí­
Rosendorf, além de equipamentos. das em 28 de fevereiro de 1989 pela Wrobel
Esperava-se que com essas obras fosse Construtora.
possível a construção do anexo, que é um O responsável pelas tarefas de coordenar
projeto de 1976, em um terreno vazio da a restauração do prédio e da documentação
Rua Manuel de Carvalho nos fundos do tea­ do teatro foi o setor de conservação e docu­
tro, onde funcionou a Escola de Dança e mentação do Theatro Municipal, criado em
era um dos sonhos de Guilherme Figueire­ 1988 pelo Diretor José Carlos Barboza; ele
do. O primeiro projeto foi encomendado a também tentava junto aos funcionários uma
Oscar Niemeyer e concluído em 1980. Um renovação do seu comportamento em rela­
projeto arrojado que previa 26 andares. Foi ção à manutenção.
barrado, contudo, pela política do corredor
cultural, que não permitia tal gabarito no Para conservar, o funcionário precisa co­
Centro da cidade. nhecer o material com o qual trabalha.
Em 1985, com a nova legislação para Quantas vezes eu vi serventes usando água
construções (que não ultrapassassem ao sanitária e outros produtos corrosivos nos
gabarito dos prédios existentes), o projeto mármores por pura desinformação. Esta­
foi aprovado e, por indicação do próprio mos orientando cada um sobre a maneira
Niemeyer, foi exposto ao arquiteto Glauco correta de fazer a limpeza.52
Campelo, consultor do IPHAN, e autor do
estudo definitivo do prédio, que passaria a Com quatro arquitetos e dois museólo­
ter 12 andares. gos, além de secretária, contínuo e fotógra­
O anexo teria 600 m2 quadrados de área fo, o setor se encarregava da pesquisa his­
construída, oferecendo o máximo de fun­ tórica para orientar as restaurações e a
cionalidade, transformando-se numa ex­ recu­­peração de toda a documentação do
tensão de coxias do teatro, com vestiários, Theatro Muni­cipal.
salas de ensaio, auditórios, uma “área de vi­ Na primeira fase, os pesquisadores, os ar­­­
vência” na cobertura (um local de encontro quitetos e a comissão consultiva da Funda­
dos frequentadores), e um double de palco, ção do Theatro Municipal preocuparam-se
igual ao do Municipal, ligado por uma ponte com a sala de espetáculos, incluindo todos
coberta, onde o corpo de baile, orquestra e os elementos decorativos e artísticos ali ins­
coro poderiam ensaiar, liberando o palco do talados. Dessa forma, as três grandes telas
teatro para os espetáculos. de Visconti (restauradas sob orientação de
A construção do prédio, que correspon­ Quirino Campofiorito), proscênio e pano
deria então a 12 andares, se harmonizaria de boca foram cuidadosamente limpas e re­
arquitetonicamente com o próprio Munici­ cuperadas, os estofamentos trocados, assim
pal e o vizinho Clube Naval. Em uma lâmi­ como os veludos, a forração foi mudada em
na estreita de doze andares, de frente para todos os andares do teatro, as madeiras en­

338 Teatros do Rio


vernizadas e os metais polidos. Também fo­ – num centro de excelência, formando mão
ram revistos os lustres de cristal da sala de de obra especializada para as artes cênicas.53
espetáculos e executadas obras de caráter
urgente, como revisão do sistema elétrico e O quadro da Central Técnica neste início
hidráulico, no ar-refrigerado e nas marqui­ de ano era de abandono total, deixando fun­
ses externas. cionários desanimados com a sensação de
A preocupação dos restauradores foi a de estarem desaprendendo seus ofícios.
manter a casa sempre de acordo com o seu Seus momentos de glória foram no pe­
projeto original. A pesquisa dos matizes de ríodo compreendido entre 1980 e 1982,
tinta a serem empregados foi um capítulo quando foram preparadas pelo menos seis
à parte. Depois de consultas históricas e da grandes montagens, envolvendo 170 pro­
retirada de camadas de tinta da parede, os fissionais que trabalharam intensamente.
especialistas chegaram ao “rosa municipal”, Em 1995, compreendia 98 funcionários,
um tom de rosa antigo que hoje cobre as perdidos em vários galpões do complexo
paredes da sala, respeitando os dourados e arquitetônico que forma a Central de Pro­
o marfim para as circulações e demais de­ dução. A estrutura física estava necessitan­
pendências. do também de reformas: telhado, piso da
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro sala de cenografia, instalações elétrica e
foi novamente entregue ao público em 10 hidráulica.
de março com abertura da programação Em março de 1998, o Governador do Esta­
de 1989, com concerto que reuniu o coro do Marcelo Alencar assinava um acordo com
e a orquestra sinfônica sob a regência do o presidente da Petrobras, Joel Rennó, atra­
Maestro Mario Tavares, sendo Luiz Pau­ vés do qual a empresa liberaria um milhão
lo Sampaio, o diretor de ópera do teatro, de reais para obras. Esta reforma constava
que abriu a temporada com Dom Pasquale, de melhorias na caixa, como troca das varas
de Donizetti, em uma montagem do Teatro cênicas de maquinaria e vara de iluminação
Cólon de Buenos Aires. (estas passariam a ser motorizadas). O teatro
Em 1995, a Central Técnica de Produ­ já havia adquirido uma nova mesa de luz e no
ção se limitava a remontagens e reaprovei­ ano anterior restaurado os vitrais laterais e
tamento de materiais e figurinos existen­ adquirido tapetes para os cinco andares.
tes em seus acervos. A última produção, Com o empenho do Governo do Estado
O Lago dos Cisnes, havia ocorrido em 1987, através do trabalho desenvolvido pela Se­
depois, ficou o espaço e mão de obra, mas cretaria do Estado de Cultura e Esporte,
faltava trabalho. prosseguiam as obras iniciadas em 1997 do
Para o então presidente da Fundação Thea­ anexo do teatro, onde funcionará a Escola
tro Municipal, Emílio Khalil, “a hora era de Brasileira de Artes.
arrumar a casa e começar de novo” para pro­ Em 1999 Dalal Achcar voltava a ser dire­
duzir duas óperas ainda no ano de 1995, fi­ tora do Theatro Municipal, depois de uma
nanciadas pela Prefeitura. O Secretário Esta­ eleição realizada pelos funcionários, onde foi
dual de Cultura, Esporte e Lazer, Leonel Kaz, feita uma lista tríplice. O Governador An­
dava boas-vindas ao dinheiro da Prefeitura e, thony Garotinho, respeitando a consulta re­
alizada, nomeou o primeiro colocado: Dalal
espera transformar o espaço – o mais Achcar, sendo o segundo colocado Ciro Pe­
complexo cenográfico da América Latina reira da Silva.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 339


1914 famosa Casa Belas Artes, situada na Aveni­
Teatro República da Rio Branco onde hoje se está o edifício
da Caixa Econômica do Rio de Janeiro.55
No Rio de Janeiro, capital do país, no ano de
1914, os jornais se ocupavam com assuntos Na inauguração do Teatro República, em
diversos, em destaque as notícias europeias, 31 de julho de 1914, a Companhia Italiana
pois a Primeira Guerra Mundial era então de Operetas e Tore Vitale levou à cena A mu-
um tumor latente, prestes a estourar. lher ideal, de Franz Lehar, agradando o pú­
Durante os quatro anos seguidos, o mun­ blico, naquela noite; porém o resto da tem­
do se transformaria, ditando uma modifica­ porada não foi sucesso.
ção teatral brasileira. É que, com o conflito, Nessa época, começou a fase mais im­
tornava-se arriscado atravessar o Atlântico portante da história do teatro português no
e por isso mesmo, um grande número de Brasil. Portugueses os donos, portugueses a
companhias portuguesas que aqui estavam grande maioria das companhias, português
resolveram estabilizar-se no Brasil. o público, português o espetáculo, especial­
A “Oliveira & Marquês” era uma associa­ mente depois que José Loureiro (também
ção de dois homens de teatro português, ra­ português) passou a empresariar o teatro.
dicados no Brasil. O Oliveira, homem forte Ainda em 1914, Lucília Peres com Malva-
em dinheiro e experiente como empresário, rosa e Alves da Silva nos primeiros papéis. Já
era João de Oliveira, construtor do teatro em 1915, o maior sucesso da temporada foi
e do prédio, à Rua Gomes Freire n. 474. O a revista É ele, com a companhia de Alvaro
outro Marquês era Justino Marquês, ator, Colás. Em junho do mesmo ano, Brandão
diretor e criador em Portugal do tipo “Zé Sobrinho e Adelina Nobre.
da Paula”, na peça O brasileiro Pancrácio. José Itália Fausta, em 1917, vinda de São Pau­
de Oliveira, um apaixonado por teatro, foi lo, fez vibrar a plateia do República com
quem construiu o República, “considerado a apresentação dos dramas A ré misteriosa;
na época o maior do Brasil, porque tinha Perdão que mata e Fedora. Em 2 de agosto de
2.756 lugares...” 54 1917 é inaugurada uma placa comemorativa
A primeira referência do interior do Re­ da passagem da Sra. Itália Fausta pelo teatro,
pública publicada no Almanak Laemmert de com os seguintes dizeres:
1915, menciona a existência 24 camarotes,
24 frisas, 492 poltronas, 506 cadeiras, 289 Em 1917 fez gloriosa temporada neste Te­
balcões, 459 galerias numeradas e 500 en­ atro a insigne artista Itália Fausta, à frente
tradas gerais. Seu estilo em árabe, de gosto da Cia. Dramática de São Paulo.
meio duvidoso, não era um prédio boni­
to, era localizado à Avenida Gomes Freire Daí em diante a empresa passou a explo­
n. 82, atual 474. Não há registro de sua fa­ rar os gêneros opereta e revista musicada,
chada em 1914, quando de sua inauguração. mais ao gosto da colônia lusa, que frequen­
tava o teatro, merecendo destaque a Com­
João de Oliveira, nascido em 30-06-1878, panhia de Augusto Campos, com o ator vi­
natural de Telões, Vila Pouca de Aguiar. vendo o tipo “O Policial Lucas”, da revista
Portugal. Falecido em 18-11-1943 no Rio O Pauzinho.
de Janeiro. Era proprietário de inúmeras Em 1919, vinda de São Paulo, a Compa­
casas de chá no Rio de Janeiro, entre elas a nhia Arruda de Revistas, que ali se exibiu

340 Teatros do Rio


com grande sucesso, apresentando as revis­ ...Na sua longa trajetória, todas as vi­
tas São Paulo do Futuro, de Danton Vampré; cissitudes, acabando mesmo em cinema
e Mambembe, de Artur Azevedo; e Cenas da poeira. O República acaba de ser com­
Roca, de Avelino Leal. pletamente reformado. É outro. De pal­
Em 1920, volta Italia Fausta, no drama co modernamente equipado. De plateia
de Renato Viana, Os fantasmas, marcando o mais confortável com suas cadeiras novas.
maior êxito da temporada. E assim, como se fosse um teatro com­
Por muitos meses a Companhia Dramá­ pletamente novo.57
tica de São Paulo exibiu-se no Teatro Repú­
blica, sempre com grande êxito. A grande Em 3 de setembro de 1932, passa a cha­
consagração de Itália Fausta foi em A morga- mar-se Moinho Vermelho, em sua fachada
dinha deVal-Flor. foi colocado “o indispensável símbolo gi­
A década de 1920 foi a época de ouro rando suas pás fartamente iluminadas...”.58
do República, pois nele se exibiram os Inaugura com Amorzinho – O Magro e o Gordo.
maiores cartazes portugueses e também Elenco: Cia. M. Pinto, direção artística de
brasileiros: em 1922 Luisa Satanela, Este­ Luís (Lulu) de Barros, com Ivonne Brand,
vam Amarante, Eurico Spineli. Em 1924, Margarida del Castilho, Dora Brasil, Júlia
Beatriz Costa pela Companhia de Antonio Vidal, Augusta Guimarães, Malena de Tole­
Macedo. Italia Fausta novamente em 1926. do, Miss Wanda, Rosa Negra, Georgette Le­
Em 1929, Margarida Max e sua companhia flent, Georgina Teixeira, Manoelino Teixei­
de revistas. Ainda nesse ano, Maria Sam­ ra, João Martins, Vicente Marcheli, Pedro
paio, vinda de Portugal, com a Companhia Celestino, Gus Brown, seis girls e figurantes
de Lucília Simões e Erico Braga. do nu artístico.
Em 30 de outubro de 1926, conforme o Em 1934, depois de sofrer reformas gerais,
Anuário Theatral Argentino-Brasileiro de 1926, pintura, mobiliária e poltronas de plateia, es­
o Teatro República possuía: 24 camarotes, treia no dia 2 de março com a peça Portugal
24 frisas, 690 poltronas, 34 cadeiras, 290 maior, com Lucília Peres, Laís Arruda, Pepa
balcões, 481 galerias e 500 entradas. Outras Ruiz, Armando Ferreira e outros. E em 1942
fontes consignam a existência de volta novamente a ser Teatro República.
Dos anos seguintes há uma grande lacuna
2.756 lugares distribuídos em: 40 frisas, de informações. Passou um longo período
40 camarotes, 904 cadeiras de 1º, 489 sem funcionar, foi reformado e reaberto ao
cadeiras de 2º, 600 galerias e as restantes público em 1936. Entre maio de 1944 e ja­
acomodações nas gerais dos jardins e no neiro de 1949, funcionou como cinema. Só
fundo das plateias.56 vamos encontrar referências em 1957 quan­
do reabre, com a apresentação do espetácu­
A ficha técnica do SNT refere-se a um lo de Katherine Dunham, americana de nas­
to­­­tal de cerca de 2.500 lugares, incluindo cimento, uma internacional no bailado.
1.393, na plateia; 600 nas galerias, além das Depois, a partir de 10 de setembro de
40 frisas e 40 camarotes. 1957, a Companhia Teatro Nacional de Co­
Em 1927, houve uma ameaça de trans­ média do Serviço Nacional de Teatro fez
formar o República em cinema, o que veio temporadas oficiais apresentando: Telescópio,
a acontecer, sofrendo adaptação na plateia de Jorge de Andrade; Jogo de crianças, de João
para tornar-se: Cinema República. Bettencourt; Pedro mico, de Antonio Callado

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 341


e Guerra de alecrim e da Mangerona, de Anto­ presente ao IV centenário da cidade, à al­
nio José, o Judeu. E a apresentação especial tura das necessidades e dos festejos. Neste
de Don Juan Tenório, com cenários e figurinos mesmo ano Medina comprou de Eduardo
de Salvador Dalí. de Oliveira, filho e herdeiro de João de Oli­
O Correio da Manhã, em artigo publicado veira, a casa de espetáculos.
em 10 de julho de 1957 diz:
O Sr. Abraham Medina vem de adquirir,
Neste palco, que ganhou milhares de lâm­ por 150 milhões, o Teatro República, e
padas, refletores, equipamento sonoro, junto a este, um prédio de residência com
chão novo, camarins arejados e agora com o fim de aproveitamento do terreno para
todas as comodidades para os intérpretes, edificar a sala de espera, bilheterias e en­
o Teatro Nacional de Comédia se apresen­ trada da nova casa de espetáculos de sua
tará até dezembro próximo... propriedade. Com as obras em pleno an­
damento, pois o prédio em referência já
Sendo o elenco composto de: Milton Mo­ foi demolido, sabe-se que o Sr. Medina vai
rais, Beatriz Veiga, Beyla Genauer, Haroldo reformar todo o velho e tradicional teatro
de Oliveira, Fábio Sabag, Munira Haddad, da Avenida Gomes Freire, dando-lhe ins­
Vera Lúcia Magalhães, Antonio Soriano, Te­ talações moderníssimas, inclusive no que
reza Rachel, Adila Araújo, Helena Xavier, diz respeito a aparelhagem eletrônica de
Ivan Cândido. som. O Sr. Abraham Medina tem planos,
Em 1950, o teatro começou a caducar, de vasto alcance e incluiu neles elementos
fizeram-lhe algumas reformas, modificaram nacionais, porque assim entende deve co­
o jardim e o bar e depois as frisas, mas nada laborar com o teatro do Brasil.59
adiantou. Em 1953, o empresário Vital Ramos
de Castro resolveu transformar o velho Repú­ Em 25 de março de 1965, o empresário
blica, em cinema. Também não deu certo. Abraham Medina oferecia à imprensa um
Foram vários os empresários que por ele coquetel apresentando a nova casa de espe­
passaram: Oliveira & Marquês (1914), José táculos, já completamente reformada...
Loureiro (1923), M. Pinto (1932), Empresa
Vital de Castro (1942-1953). Em seguida, Seu amplo salão recebeu um tratamento
um longo período de ostracismo, pontilhado especial, com iluminação indireta, nas la­
de apresentações esparsas e sem maior rele­ terais o trabalho em massa (alto-relevo)
vo, parecia marcar o fim do popular teatro. nas partes superiores das paredes. O palco
Em 1960 passou por grandes reformas e sua foi igualmente remodelado. Todo o chão
fachada, que permaneceu a mesma até ser fe­ foi atapetado, principalmente o salão de
chado, era moderna. Um imenso hall, aber­ entrada, cujas paredes foram revestidas de
to, com displays de ambos os lados, onde eram madeira clara, moderna, tendo sido cons­
colocados cartazes das peças. Era um só pavi­ truído um amplo e luxuoso bar. Na remo­
mento e na frente, na parte superior, refleto­ delação do palco, foram construídos dois
res iluminavam os anúncios dos espetáculos. elevadores, tornando-se sua parte central
Em 1964, já eram anunciadas a preten­ giratória. Dois pequenos palcos foram
são do empresário Abraham Medina em ad­ construídos lateralmente, de modo a ofe­
quirir o referido teatro para transformá-lo recer ao público uma visão panorâmica,
em uma grande casa de espetáculos como em ângulos totalmente novos...60

342 Teatros do Rio


O espetáculo de inauguração foi a peça pleto abandono e sem possibilidade algu­
musical Arco Íris, e no elenco: Vilma Ver­ ma técnica de funcionamento.
non, Hilton Prado, Perry Sales, Sylvio Ce­ – Minha primeira preocupação foi recu­
zar, Carlos Leite, Victor Ferrari e grupo de perá-lo, restaurando não com excesso de
bailarinos, além do balé de Beatriz Ferrari. luxo, mas que tivesse um aspecto bastante
Roteiro de Geraldo Casé e Silva Ferreira, agradável e confortável e particularmen­
este também como diretor de cena; coreo­ te qualidades técnicas que um bom teatro
grafia de Lennie Dale e Luciano Lucciani. exige como pode ser verificado.
A iluminação e os efeitos especiais ficaram – Nosso equipamento técnico foi todo
sob responsabilidade do norte-americano comprado nos Estados Unidos e em luz
Sam Leve, figurinos de Carlos Gil e Arlindo e som é o melhor que existe no Brasil.
Rodrigues, direção musical de Roberto Me­ Todo um equipamento de efeitos cêni­
nescal, com arranjos orquestrais do maestro cos, completamente inédito entre nós,
Línio Panicali, cabendo a Murilo Neri a ad­ elevadores no palco e possibilidades de
ministração geral do teatro. fazer chuva, bolas de sabão, neve, noites
O teatro passou a dispor de 1.266 luga­ estreladas etc. O urdimento do teatro
res, ostentando o título de foi todo ampliado permitindo montar­
mos qualquer tipo de espetáculo. A parte
teatro mais bem aparelhado do País, com sonora a cargo da Philips é toda inteira­
um palco giratório de 142 m2, sistema de mente nova e de tal qualidade que prati­
som estereofônico, complementado por camente não teremos necessidade do uso
38 alto-falantes funcionalmente distri­ de microfones individuais.
buídos, iluminação profusa e bem dosa­ – É neste novo República que vamos
da e recursos cênicos que possuem, in­ apresentar a nossa primeira produção, o
clusive, elevadores de até 4 metros, além musical Arco-Íris com o qual entregarei o
de dedicação de Murilo Neri e das aten­ teatro ao público carioca.
ções das 12 recepcionistas que, em traje – Independente desta produção, tere­
de baile, distribuem sorrisos aos frequen­ mos também algumas atrações internacio­
tadores.61 nais para apresentar como Johnny Mathis,
já programado para junho.
No coquetel de apresentação do Teatro – Apenas lamento que o esforço que fiz
República, Van Jafa colheu esta entrevista, e o entusiasmo que tinha com o IV Cen­
com o produtor Abraham Medina: tenário não tenham sido correspondidos
pelo poder oficial que num completo
– Eu sou um homem prático e positivo. descaso e desinteresse deixou passar o
Comprei o Teatro República visando ao IV nosso grande momento de afirmação. É
Centenário, dotando desta forma a nossa lamentável o desinteresse de nossas auto­
cidade de mais um teatro à altura de suas ridades fazendo passar praticamente des­
necessidades dos festejos. percebido o IV Centenário desta grande
– Ninguém ignora o estado em que se cidade, perdendo uma oportunidade úni­
encontrava o Teatro República, de abando­ ca, juntando esforços o poder oficial e a
no e esquecimento. Para se ter uma ideia iniciativa privada, para lançar o Brasil e o
exata o teatro me custou 212 milhões de Rio de Janeiro em particular na rota do
cruzeiros num estado lastimável de com­ turismo e para isso construindo teatros,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 343


jardins, praças, hotéis de toda sorte de se importado muito com os problemas cul­
atrações que o turista quer, gosta e paga turais do seu país”.
para ver e usufruir.62 Enquanto ampliava suas salinas no Nor­
deste e lançava navio após navio em seus
Mas em 1966 o teatro já estava fechado. estaleiros, Paulo Ferraz idealizava a ma­
Abraham Medina não suportou a crise e neira de provar que afinal a autodisciplina
colocou a casa à venda por 1 bilhão e 200 vale tanto para a solução de problemas eco­
milhões de cruzeiros, tornando-se um “ele­ nômicos como culturais. Começou com a
fante branco” para o empresário, pois a “vida Companhia Brasileira de Balé, em outubro
noturna está acabando aos poucos por falta de 1967. Aquele mesmo processo de lançar
de dinheiro”.63 navios ao mar, onde tudo é previsto, servia
Por iniciativa do diretor Meira Pires, então para lançar bailarinos no palco.
empenhou-se para que o Ministro da Educa­ Entretanto, o desafio não parou aí, um
ção Tarso Dutra, decidisse favoravelmente à fator importante iria levar Paulo Ferraz a
compra do teatro, entregando-o ao Serviço ampliar sua participação na vida cultural
Nacional de Teatro. brasileira. O mesmo empenho com que
fez renascer a indústria da construção na­
Os proprietários do Teatro República val brasileira, levou-o do balé à criação de
têm uma dívida com a Caixa Econômica um centro de espetáculos. Compra então o
Federal, dispondo-se a entregar o teatro Teatro República de Abraham Medina, trans­
ao Ministério da Educação pela referida formando-o no Teatro Novo.
dívida, que seria encampada pelo MEC. E com aquele mesmo critério que o faz
O processo referente ao assunto já per­ escolher um engenheiro naval ou economis­
correu todos os canais competentes: Mi­ ta: ambição, disciplina e capacidade de cria­
nistério da Fazenda, Ministério do Plane­ ção: escolheu Gianni Ratto, um artista, para
jamento e foi até mesmo à consideração dirigir seu teatro.
do Sr. Presidente da República. Hoje está Em entrevista a Estefânia Lopes em 1968,
com o Sr. Ministro da Educação, Sr. Tarso Gianni Ratto relata como surgiu:
Dutra, para decisão final.64
...a ideia do Teatro Novo surgiu recente­
Mas o início de 1968 sopraram bons ven­ mente. Tem quando muito 3 meses, e por
tos sobre o velho casarão da Rua Gomes isso há falhas difíceis de serem sanadas,
Freire. Um industrial que nada tinha a ver porque ninguém pode resolver um proble­
com o teatro, o armador Paulo Ferraz, com ma como este, num dia, numa semana ou
seus 46 anos de vida na época, resolveu in­ num mês, devido à sua amplitude.
centivar as artes e acreditar mais no poten­
cial artístico do Brasil. O teatro nasceu de uma exigência espe­
Este desafio só pôde ser concretizado de­ cífica, pois Gianni trabalhava junto com a
pois de muito ouvir amigos e parentes. Seus Companhia Brasileira de Balé, que necessi­
três filhos, então universitários, incentiva­ tava de um espaço para os ensaios e apre­
ram-no a mudar um pouco seu ritmo de sentações, surgindo então a oportunidade
trabalho e de vida “... a mania de acordar de se ter uma sede, com a possibilidade de
todo dia à mesma hora – seis e quarenta e compra e tinha uma série de outras neces­
cinco –” e o fato de que o pai “nunca tivesse sidades.

344 Teatros do Rio


O teatro é, de certa forma, uma caixa má­ dos 200 refletores e de toda a iluminação do
gica, e como tal é também mágica cultu­ teatro passou a ser inteiramente eletrônico.
ralmente falando. É uma ideia que acalen­ O novo centro de espetáculos manteve
to há muito tempo. No momento em que em caráter permanente e profissional três
as pessoas se encontram e os pensamentos grupos distintos: a Companhia Brasileira
se juntam, pode-se formar uma equipe, de Balé, a Companhia Dramática do Teatro
inclusive há ideias que amadurecem no Novo e o Grupo Música Nova do Rio de Ja­
tempo e que encontram o momento cer­ neiro. Esse tripé constituiu a espinha dorsal
to para se realizarem, chega então Paulo do Teatro Novo.
Ferraz com o desejo de estruturar uma Enquanto um dos grupos atuava, os ou­
companhia, e comprar um teatro, no caso tros podiam estar viajando ou preparando o
o velho República. A reforma do teatro foi próximo espetáculo, na sala de aula e ensaios
feita aproximadamente em 50 dias, pois construída no próprio teatro, era a sala Vas­
a sala era velha, sem acústica, visibilidade lav Veltchek, com as dimensões próximas do
e conforto, e se transformou num local palco (16,00m x 11,00m), para evitar perda
onde todos se sentem bem. de tempo com a adaptação dos artistas entre
...o objetivo é fazer do mesmo meio ensaio na sala e a apresentação no palco.
de comunicação mais atuante com o pú­ A filosofia adotada era a de que todo brasi­
blico e por outro servir de centro de leiro gosta de bons espetáculos, e sempre que
atenção na medida em que os artistas se fosse ao teatro, mesmo sem saber da progra­
identifiquem... mação, encontraria algo de bom gosto. Essa
...Partimos do princípio de que este era a ideia de Paulo Ferraz, que resolveu pro­
teatro estava um pouco abandonado e o var a certeza dos seus métodos empresariais,
público quase o ignorava... também no setor cultural, como as palavras
...É a atuação articulada sobre 3 conjun­ de Gianni Ratto a seu respeito:
tos permanentes: Teatro Dramático, Balé e
Música Nova, que são os fundamentais.65 Paulo Ferraz continua acordando cedo.
Desta vez acordou mais cedo do que nun­
A nova casa de espetáculos foi então con­ ca... para tentar impulsionar de uma vez
cebida para apresentar quaisquer tipos de por todas a arte do espetáculo e quebrar­
atividade artística, independente das com­ -lhe os tabus.66
plexidades técnicas exigidas, nada sobrando
do antigo teatro. A equipe para direção-geral do teatro era
A obra foi realizada pelo arquiteto Almir constituída de: Paulo Ferraz, diretor geral;
G. Gadelha e pelo cenógrafo Fernando Pam­ Gianni Ratto, diretor artístico; Agostinho
plona, que ficou sendo o diretor técnico do Condurú, diretor administrativo; Tatiana
novo teatro que ganhou ar-condicionado Memória, coordenadora e Fernando Pam­
central. Sua lotação foi reduzida em 300 plona, diretor técnico.
lugares para oferecer maior conforto aos O teatro passou a ter 1.034 lugares, dis­
espectadores. O palco foi quase duplicado, tribuídos entre plateia e balcão. As poltronas
para permitir apresentações de espetáculos foram pintadas e recondicionadas no pró­
de qualquer envergadura. Todo o sistema prio Teatro Novo, por uma equipe especia­
de som passou a ser transistorizado e este­ lizada. O fosso de orquestra para acomodar
reofônico, acústica planificada. O controle 50 músicos, os camarins com espaço para

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 345


acomodar 80 artistas; boca de cena com 12 não apareceu, como é de praxe em soleni­
metros de largura por 6 metros de altura. dades como essa. Seu nome: Paulo Ferraz.
Palco de 15 metros de profundidade por 17
metros de largura e 17 metros de altura, na mesma reportagem do Jornal do Brasil.
com sistema de manobras de cenários e de­
mais elementos cênicos contrapesados. Um No teatro, o armador Paulo Ferraz gas­
ciclorama de 20 x 18 metros. Além de todas tou rios de dinheiro em obras, equipa­
essas benfeitorias possuía, ainda, ambulató­ mentos, pessoal e em projetos, sem ob­
rio médico, quatro escritórios para adminis­ ter nenhum resultado positivo. Depois da
tração do teatro, restaurante para serviço apresentação de Hair, a situação tornou-se
interno, oficinas completas de carpintaria, cada vez pior, e ele resolveu vendê-lo a
eletricidade, guarda-roupas, pintura e tape­ qualquer preço. O Ministério da Educação
çaria, ateliê de cenografia, livraria de arte e Cultura chegou primeiro e assegurou a
no salão de estar, chapelaria, loja de discos, substituição do teatro pelo Centro de TV
biblioteca, sala de estar para artistas, bar etc. Educativa. Isto mereceu uma observação
O coquetel de apresentação do centro do Sr. Felinto Rodrigues, diretor então do
de espetáculos do Teatro Novo foi em 30 de Serviço Nacional de Teatro:
maio de 1968, a inauguração foi em 8 de ju­
nho com a Orquestra Sinfônica Brasileira, De certa forma o desaparecimento de um
dirigida pelo maestro Isaac Karabtchevsky teatro na cidade como o Rio não deixa de
e a pianista Magdalena Tagliaferro, tendo o ser uma coisa de se lamentar. Mas o que
seguinte programa: Concerto para piano e or- nos conforta, já que não há outro jeito, é o
questra Opus K-595, de Mozart; Andante para fato de que no local não se vai erguer ne­
Cordas, de Edino Krieger; La Mer, de Claude nhum supermercado ou edifício de aparta­
Debussy e Leonora n. 3, de Beethoven; e o mentos. Ele continuará prestando serviços
início da temporada de 1968 foi em 11 de à cultura nacional.67
junho, com a Companhia Brasileira de Balé.
Antes de iniciar o concerto de abertura, o O carioca perdeu o teatro e ganhou um
Embaixador Paschoal Carlos Magno apresen­ Centro Nacional de Televisão Educativa. Ad­
tou o teatro, fazendo uma crítica ao abandono quirido pelo Ministério da Educação e Cul­
em que se encontrava o teatro no Brasil, fri­ tura, o velho – mas não tão velho – casarão
sando que algumas autoridades deviam estar da Avenida Gomes Freire continuou servin­
presentes à inauguração do novo teatro, in­ do ao povo do Rio. Era uma vez um Teatro
clusive o Ministro da Educação e Cultura, Sr. República, a que chamaram de Teatro Novo
Tarso Dutra, o que não aconteceu. na esperança de ver afastado o seu fim como
Quando Paschoal Carlos Magno encerrou casa de espetáculos.
seu discurso, pediu à plateia superlotada que O teatro foi demolido em 1971, no lo­
se levantasse e aplaudisse o grande respon­ cal foi construído o complexo arquitetônico
sável por aquela realização, onde funciona hoje a Televisão Educativa. O
Professor Gilson Amado, então presidente
um homem com cara de garoto encolheu­ da Fundação Centro Brasileiro de TV Edu­
-se todo na poltrona do balcão nobre, últi­ cativa informava ao diretor do Serviço Esta­
ma fila, onde se havia refugiado. O homem dual de Teatro, Geysa Bôscoli, da Secretaria
que aplaudiram e procuravam descobrir de Educação e Cultura do Estado:

346 Teatros do Rio


Todo o equipamento encontrado no Tea­ sua criação “Elazinha em férias a convite
tro Novo, tais como refletores, cortinas, do Marajá de Baroda”, saudações ao cabe­
cadeiras, equipamentos elétricos etc. foi leireiro Carlinhos que vem de “Cinderela
doado pela Fundação a entidades teatrais de vestido azul com miçangas, prontinha
públicas e particulares. Desejo que meu para ir ao baile da fada madrinha”.
compromisso para a construção de novo As famílias até esqueciam que o teatro fi­
teatro, no local em que funcionou, duran­ cava enfurnado no meio da Lapa e iam para
te muitos anos, aquela casa de espetácu­ lá assistir. Durante quatro dias nenhum tea­
los, resulta não apenas de um imperativo tro da cidade podia fazer concorrência, era
legal e de cumprimento da recomenda­ o Teatro República na ponta, disparado.
ção expressa do Governo do Estado, ao Nos outros dias do ano, o teatro fica­
conceder licença para a demolição do an­ va obscuro, nada ou quase nada acontecia,
tigo teatro; isso sim, que representa ini­ nem adiantou um armador/mecenas com­
ciativa, que não poderia deixar de adotar, prar o teatro e tentar revivê-lo, ninguém
visando a atender à absoluta necessidade foi ver Ralé, ninguém prestigiou o esfor­
de contar o Centro Cultural, que ali será ço da boa montagem, o teatro era mesmo
organizado, com um teatro que satisfaça muito fora de mão.
todas as exigências técnicas e artísticas.68 E talvez porque era a despedida, o Tea­
tro Novo conheceu também casa cheia em
Em 1972, todo equipamento da TVE que sua última temporada. É que os cabeludos
estava instalado em Copacabana foi transferido baixaram por lá e todo mundo veio ver
para as novas instalações, no local onde era o Hair. Acostumado com a delicadeza dos
antigo Teatro República. E para encerrar esta falsetes dos frequentadores carnavalescos,
sofrida novela do Teatro Novo, algumas pala­ o teatro estranhou um pouco a moçada
vras bem-humoradas de José Antonio Nonato: que cantava “Aquarius”, mas acolheu-os
por um ano inteiro, encheu-se de símbo­
Numa cidade sem teatros, o Teatro Novo los psicodélicos, sentiu cheiro de incenso
está indo abaixo mas ninguém vai sentir e viu a moçada ficar pelada no palco, rebo­
muita falta mesmo, porque desde o tempo lando contra a Guerra do Vietnam, contra
em que ele se chamava República, nunca foi a família e contra os barbeiros.
lá de fazer muito sucesso com suas apresen­ No teatro, agora, só resta a fachada,
tações. tudo demolido. E nas escavações os ope­
Dias de glória mesmo no teatro eram os rários encontraram duas testemunhas mu­
dias de carnaval, porque era lá que se rea­ das dos dias do apogeu: um anel de cobre,
lizavam os fantásticos bailes de travestis, obra de artesanato e uma pluma cor de
vinha gente até do exterior para concorrer rosa, de avestruz.69
ao prêmio de fantasias – que eram sempre
de luxo e que tinham sempre aqueles no­
mezinhos simples que só os travestis são 1915
capazes de inventar. Aí o teatro enchia e a Teatro Trianon
calçada em frente enchia também, botavam
passarela e os vencedores vinham desfilar O Teatro Trianon foi inaugurado em 16 de
no sereno da Gomes Freire, palmas para março de 1915, com duas peças Guilherme,
o costureiro Gildo que está apresentando o conquistador, comédia em um ato de Flers

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 347


e Cailavet, e Apaches em casa, uma burleta, laterais. De um lado e de outro, nas paredes
também de um ato, de Eustorgio Wander­ espelhos serviam de afiche para as peças de
ley. Essas peças foram levadas pela Com­ cada temporada. Ao fundo da sala de espera,
panhia Cristiano de Souza e Ema de Souza, num palanque, instalava-se a orquestra que
tendo no elenco Cristiano de Souza, Augus­ tocava nos intervalos. Depois de um hall,
to Campos, Carlos Abreu, Augusto Aníbal, onde havia um bar, começava a sala de espe­
João Silva, Antonio Silva, Lezut, Artur de táculos, com escadaria que levava o público
Oliveira, Ema de Souza, Maria Amélia, Elisa aos camarotes e balcões. Embaixo, a plateia
Campos, Corina Silva, Laura Corina, Ame­ e as frisas. À direita da plateia, vedados por
lia Reis e Helena Castro. paredes de lona e madeira, ficavam os dois
O Trianon com 372 lugares, com 12 fri­ camarins das estrelas do elenco e, por esca­
sas e 10 camarotes, localizava-se na Avenida dinha estreita subia-se ao palco. À direita, à
Central (hoje Rio Branco, n. 181), ao lado esquerda e ao fundo localizavam-se os cama­
do cinema Parisiense, onde funcionou o Ci­ rins dos artistas.
neac, no local onde já funcionava o cinema Sobre a sala de espera há maiores referên­
Eclair desde 1910. A área é, atualmente, cias descrevendo-a como agradável, alegre
ocupada por um edifício, localizado entre o e mobiliada com conforto. O saguão de es­
Teatro Glauce Rocha e o Edifício Marquês pera com longos sofás e cadeiras estofadas.
de Herval. Inaugurado em 1915, o teatro foi vendido
Um período em que muito se falava em em 1916 a J. R. Stafa. Durante o período de
nacionalismo, templo dos costumes da épo­ 1916 a 1924, vários foram os seus empresá­
ca. Ele seria também um fato de grande in­ rios: Leopoldo Fróes, de 1916 até abril de
fluência no surgimento da Sociedade Brasi­ 1921; Oduvaldo Vianna, N. Viggiani e Viria­
leira de Autores Teatrais. to Corrêa, até 1924. Nessa época, saem Vi­
Era uma edificação de três pavimentos ggiani e Viriato ficando Oduvaldo sozinho;
com três vãos em cada. No segundo e tercei­ posteriormente, o teatro teve como empre­
ro, esses vãos – janelas rasgadas – abriam-se sário, Procópio Ferreira.
sobre balcões sustentados por mísulas (orna­ Passou um período como Cinema Trianon
tos providos de relevos, estreito na parte in­ até abril de 1921, voltando a ser Teatro Tria­
ferior e largo na superior, que ressai de uma non, em maio de 1921 e, é reinaugurado
parede vertical, e que sustenta uma cornija, com a peça de Ribeiro Couto, Nossos papás,
um busto, um arco de abóboda etc.). Emol­ tendo no elenco Procópio Ferreira, Arthur
duramentos enfáticos e cobertura de ardósia, de Oliveira, Manuel Durão, Abigail Maia,
com duas lucarnas, arrematada por crista Natalina Serra, Gabriela Montani e Palmira
metálica. Em uma das extremidades, a últi­ Silva. Como teatro encerrou suas atividades
ma prumada de vãos. Situava-se num corpo em 1932 e é adquirido por Orlando Rangel
ligeiramente avançado, arrematado por uma que usa o prédio para depósito da Drogaria
cobertura mais elevada, também em ardósia, Orlando Rangel.
com lucarna, e coroada por uma forma bul­ Demolido como teatro em 1932, para no
bosa – esse último conjunto procurando in­ local ser construído o prédio da Sociedade
sinuar um torreão. Uma construção eclética, Sul Riograndense, onde no andar térreo
de gosto predominantemente francês. passou a funcionar um cinema, que é inau­
A sala de espera tinha 22 metros de fun­ gurado em 22 de dezembro de 1938, com o
do com poltronas ao centro e duas bancadas nome Cineac – Trianon, e apresentou o mes­

348 Teatros do Rio


mo programa durante uma semana 70 mi- na grande clareira do parque, à esquerda da
nutos de imprensa animada em volta do mundo. porta da Rua do Senado.
Possuía serviços de bar, com chá, bebidas e O espetáculo de inauguração foi a 23 de
pequenos lanches. janeiro de 1916, com Orestes de Eschilo,
versão em versos livres do Dr. Coelho de
Numa tarde de setembro de 1921, na re­ Carvalho com orquestra e coros regidos por
dação de A Pátria, então no Largo da Ca­ Luís Moreira e Francisco Nunes.
rioca, palestrávamos João do Rio, Joracy Outros espetáculos foram apresentados
Camargo, Ribeiro Couto e eu sobre coisas nesse anfiteatro, de existência tão curta: Bo-
de teatro. Dissemos que o teatro que con­ das de Lia, Cavalaria rusticana, Antígona – com
solidou a comédia brasileira foi o Trianon, adaptação do jornalista Carlos Maul, O Rei
e pelo seu prestígio devia ser chamado Édipo – adaptação de Coelho de Carvalho –
“Doutor Trianon”. e, finalmente, O mártir do calvário.
Eu mesmo, além de ter estreado como Não há registros nas fontes consultadas,
autor no Trianon, aprendi o ofício de en­ da data precisa de seu desaparecimento. Sa­
saiador com o mestre Eduardo Vieira e be-se, entretanto, que teve pouco tempo de
recebi das mãos de Procópio Ferreira o existência. As chuvas torrenciais de verão,
bastão de Diretor Artístico, da sua famosa frequentes em janeiro e fevereiro, impe­
companhia em 1926. Dezoito das minhas diam a realização dos espetáculos.
peças foram estreadas no Trianon.
O “Doutor Trianon” foi, assim, centro ar­
tístico, literário e social de toda uma época 1926
e ficou na história da cidade “et temper”.70 Theatro Casino

Quando o Prefeito Carlos Sampaio cogitou


1916 o aparelhamento da cidade às comemora­
Teatro da Natureza ções do centenário da independência polí­
tica do país, projetou dotar o Rio de hotéis
O Teatro da Natureza foi uma ideia de Alexan­ destinados a forasteiros internacionais, con­
dre de Azevedo, que, animado pelo sucesso tando anexos, salões de festas, gabinetes de
registrado em Lisboa, quis instituí-lo no Bra­ leitura, e dispondo de mirantes sobre deta­
sil, em 1914. Entretanto, o prefeito indeferiu lhes panorâmicos da metrópole brasileira,
seu pedido sob a alegação de que o povo, por atrações a que o turista se mostraria insen­
inculto, jamais o frequentaria. Somente em sível, mas indispensáveis à temporada do
1916, associado a alguns atores portugueses, estrangeiro. Lembrou-se o governo carioca
Itália Fausta, Maria Falcão, Cristiano de Sousa de certa localização privilegiada, ideando le­
e Luiz Galhardo o teatro tornou-se realidade. vantar um desses palaces à testa de superfície
Era um vasto anfiteatro ao ar livre, com 60 dos 17.637 m² plantados no passeio público.
camarotes, 1.000 lugares distintos, 1.000 ca­ Pleiteou e obteve a concessão de explorar
deiras e 1.000 populares sentados e 10.000 o planejado imóvel: Sociedade Anônima Rio-
mil pessoas em pé. O arranjo cênico, cujo -Casino, a qual desejava estabelecer-se com
encarregado era Jaime Silva, auxiliado pelo o jogo e diversões noturnas. Cavados os
cenógrafo Angelo Lasari, que aproveitava a alicerces, erguidos os andaimes, elevaram­
vegetação existente do Campo de Sant’Anna, -se os esqueletos das edificações das torres,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 349


arcadas, jardim de inverno. Entretanto, veio nomes escolhidos encontravam sempre opi­
a firma concessionária a falir, e a municipa­ niões contrárias. Apelando então para Coe­
lidade arrematou em leilão todo o acervo. lho Neto, o autor d’O Quebranto respondeu­
Decorreram-se vários anos. Finalmente, em -lhe com a seguinte carta:
1924, o empresário Nicolino Viggiani, im­
pressionado com aquelas ruínas vivas, veio a Rio, 4 de outubro – 1924.
saber que o prefeito do Distrito Federal, já Ilmo. Sr. Viggiani.
na administração Alaôr Prata, anunciara por Theatro Casino não será um título re­
duas vezes abertura de concorrência para tumbante, tem, porém, a vantagem de
arrendamento da propriedade municipal servir ao que V. S. pretende realizar, man­
entregue à ação do tempo. tendo um nome de saudosa tradição. Tal
Visitou-a e recebeu a impressão de que nome, por predestinação, talvez, foi pro­
aquele arcabouço poderia vir a metamorfo­ nunciado na hora do lançamento da pedra
sear-se em teatro. fundamental do edifício, surgindo, como
Endereçou, nesse sentido, uma proposta, de semente de árvore morta, rebenta para
por contrato que foi aceita e assinada com reproduzi-la, o verde novedio.
a Prefeitura, obrigando Viggiani a concluir Assim, a casa, que se conclui, será um
as obras da ampla edificação, utilizando-a, ponto de falanteria e arte para a nova ci­
do lado do Silogeu (onde se reuniam asso­ dade como foi para a antiga, o prédio onde
ciações literárias e científicas), como teatro se acha instalado o Club dos Diários. E o
e do lado do Palácio Monroe como restau­ nome “Casino”, reviçando no pavilhão gra­
rante, casa de chá, salão para banquetes, cioso, agradará a duas gerações – a uma,
dancing etc. Era necessário e sem demora, recordando-lhe o passado, a outra com os
batizar a futura casa de espetáculos, mas os espetáculos e festas com que V. S. o atrair.

Theatro Casino. Fachada

350 Teatros do Rio


Salvo melhor juízo “Theatro Casino” é torreões e as esquadrias em caixilhos em
o título que me parece ajustar-se melhor diagonal, traem o comportamento eclético.
à casa em que V. S. pretende inaugurar, em Em relação às fachadas laterais e posterior,
breve, a empresa, à qual, sem veleidades valia a pena salientar a presença de marqui­
de profeta, mas por confiar em quem a vai ses de vidro com estrutura de ferro, ele­
dirigir, vaticino prosperidade e glória. De mento em voga na época, assim como bal­
V. S. ven. cões do pavimento superior com balanço,
Coelho Neto71 bastante ousado, servindo de marquise para
portas do pavimento inferior.
Resolvida a parte contratual com o exe­ Curiosa, também, é a presença de vãos de
cutivo urbano, cuidou logo Viggiani da cons­ ventilação e iluminação sobre as janelas do
tituição de uma empresa para objetar as cus­ primeiro pavimento, ora tratado como lu­
tosas obras. carnas (abertura para dar passagem à luz),
Surgiu, por isso, a firma Viggiani & La­ ora com tratamento geométrico bastante
port, com o capital realizado de 560 mil despojado.
cruzeiros, constituída por Nicolino Viggiani Comentava Mário Nunes por ocasião da
e Paulo Laport. inauguração do teatro:
Gusmão, Dourado e Baldasini – arquite­
tos – foram incumbidos do projeto de adap­ O teatro reúne todas as qualidades ineren­
tação do teatro, respeitando o plano dos seus tes ao fim a que se destina. Decorado pri­
colegas Memória e Couchet, autores da pri­ morosamente, mobiliado com elegância e
mitiva planta da construção, arquitetos do distinção, oferece a sala bela perspectiva,
escritório de Heitor de Melo. Compreendia como as ordens de camarotes, frisas e bal­
dois prédios, um em cada ângulo do parque, cões. A sala adapta-se a qualquer estação
ligados por uma pérgula. do ano, no inverno, fechada, agasalha­
Com vista voltada para o mar, era consti­ da por tapeçarias, para-ventos; no verão,
tuída pelas fachadas de dois pavilhões iguais, abertos os janelões, olha para o mar ou se
o Theatro Casino e o Casino Beira-mar, in­ debruça sobre o Passeio Público. A decora­
terligados por uma colunata. Dentro de ção das balaustradas é ouro e verde.
um tratamento eclético, apresentavam-se O hall, como o teto, decorado em rele­
alguns comportamentos arquitetônicos tra­ vo e marchetado de cristal emoldurando
dicionais, como por exemplo: o uso de dois as iluminuras do vitral, a disposição deco­
torreões enquadrando o tramo principal da rativa dos seus lustres é bela.
fachada, a verga curva em serpentina (ar­ Sob a sala ficam os camarins, com água
balète), cartelas, tendo como figura central corrente, campainhas, ventiladores e aque­
um medalhão oval, além de outros orna­ cedores; usina de eletricidade, com gera­
mentos de gosto rococó, combinados com dores próprios; e ateliê de cenografia.72
alguns já francamente neoclássicos.
A presença de um mirante com cobertura O escultor João Confolorieri modelou
em quatro águas encimando a parte central as decorações de estuque, sendo as pinturas
da fachada, parece confirmar o gosto neo­ maiores realizadas pelo mestre decorador
colonial que se fez presente em outros pro­ espanhol Colon. Luiz Peixoto, artista plás­
jetos para a exposição de 1922. Elementos tico e escritor teatral, estabelecido com a
bastante fantasiosos, com o coroamento dos Casa Arlequim, gerando sob a razão social

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 351


Theatro Casino. Lateral e Saul de Almeida, encenação do professor
Eduardo Vieira.
de Luiz Peixoto & Companhia, encarregou­ O elenco inaugurador era composto por
-se de confeccionar as poltronas, estufadas Jayme Costa, Maria Falcão, Maria Lina, Elza
com finos gobelins. O teatro comportava Gomes, Davina Fraga, Eugênia Brazão, Is­
quinhentos lugares na plateia, além de pos­ mênia dos Santos, Carmen Azevedo, Justi­
suir camarotes, frisas e balcões. na Laverone, Guiomar Gualberto, Maria de
Finalmente, na noite de 18 de junho de Lourdes; as bailarinas Moly Bel e La Chloè,
1926, e tendo como diretor o comediógrafo Aristóteles Pena, Delorges Caminha, Jorge
Abadie Faria Rosa e como secretário o revis­ Diniz, Sylvio Vieira, Ramos Júnior, Arman­
tógrafo e libretista de operetas Ruben Gil, foi do Duval, Durval Rebouças, Henrique Fer­
inaugurado o Theatro Casino na esplanada do nandes, Alberico Melo, ponto; Christovão
Passeio Público, construído no terraço, onde Vasques, o primeiro maquinista; e Bernardi­
existiam os pavilhões de Mercúrio e Apolo – no Xavier, contrarregra.
obra do Mestre Valentim – ao lado do Silogeu. Por ocasião da inauguração do teatro, a
Inaugurou-o a companhia Jayme Costa, Revista da Semana assim se manifestava:
que se apresentou com a comédia musicada
em três atos, Sorte Grande, original de Bastos ...Vai o Rio de Janeiro ser dotado de uma
Tigre, partitura de Antonio Lago, cenários sala de espetáculos na verdade digna dessa
dos artistas portugueses Hypolito Colomb sociedade elegante e culta. A sala oferece,

352 Teatros do Rio


nas suas condições de conforto e aprazi­
mento, numa feição de alto e fino gosto, de
estilo quanto possível esmerado. E, se re­
almente houve como se diz, da parte dos
construtores o cuidado perfeito da acústica
e outros requisitos até agora tão despreza­
dos ou ignorados, teremos no Casino o nos­
so primeiro teatro de comédia, um teatro­
-escola para os artistas e para o público.73

Realizaram temporadas no Theatro Casino


companhias nacionais e estrangeiras encabe­
çadas por alguns dos maiores nomes da cena
brasileira e internacional, como Procópio Fer­
reira, Adelina e Aura Abranches, Eva Stachino,
Renato Vianna, Jayme Silva, e Raul Roulien.
Em 1927, funcionou como Cinema Casi­
no, fechando em junho do mesmo ano, por
não ter feito sucesso. É reaberto novamen­
te em 9 de agosto de 1927, como Theatro Theatro Casino. Sala de espetáculos

Casino, apresentando a Companhia de Raul Ainda neste ano, em 1935, por iniciati­
Roulien o espetáculo Futilidades, tendo no va da Casa dos Artistas, foi inaugurado, em
elenco a pequena troupe de Roulien, consti­ frente ao Teatro Escola, o busto de Leopoldo
tuída por Charita Moreno, Andaluza e Rau­ Fróes, esculpido por Benevenuto Berna.
mon e Sosof, além de bailarinos. Nesse mesmo ano, o teatro encerrou de­
Em 1928, foi feita uma tentativa junto finitivamente suas atividades, Renato Vianna
ao Prefeito Prado Júnior para recuperá-lo, foi obrigado a interromper sua temporada e
transformando-o no Teatro Normal, apro­ transferir-se para São Paulo, por intimação
veitando a verba de 800 contos, já votada da diretoria do Patrimônio Municipal, que
para a instalação de um teatro de comédia baseada em laudo técnico, alegou que o edi­
brasileira. O teatro entrou em reformas im­ fício ameaçava desabar.
prescindíveis, executadas pela Prefeitura, e Desapareceu em 1936, tendo sido demo­
que foram concluídas em 1929. lido por ordem do Prefeito Henrique Do­
Em 29 de outubro de 1934, a Prefeitu­ dsworth, com o objetivo de alargamento da
ra instalou sua Escola Dramática, criando pista para automóveis:
Teatro Escola cedido por dois anos, que
estreou, com a peça Sexo, de Renato Vian­ Para justificar esse atentado ao Teatro Na­
na; sendo o elenco: Olga Navarro, ltália cional, alegou que o prédio ameaçava ruir,
Fausta, Renato Vianna, Jorge Diniz, Jayme tão maltratado estava pelo tempo...
Costa, Suzana Negri, Delorges Caminha, ...Uma turma de trabalhadores se in­
Antonio Marzulo, Mário Salaberri, Lúcia cumbiu da tarefa de destruição, que não foi
Delor e Eros Volúsia. Os cenários foram fácil resolver com simples golpes de pica­
pintados por Angelo Lasari, baseado nas retas. Tornou-se necessário o emprego de
maquetes de Osvaldo Teixeira. grandes doses de dinamite para fazer desa­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 353


parecer o Casino que, segundo os engenhei­ Carlos Magno, o fundador dos teatros do
ros municipais, era quase uma ruína...74 Estudante e Duse.

E, ainda, outro comentário sobre a demo­ Para a realização da ideia, Lopes Fernandes,
lição: Ferraz & Companhia, facilitaram a Alvaro
Moreyra o subsolo do Casino Beira-Mar.
...fez demolir o teatro, empregando na Nele, Luiz Peixoto e Lúcio Costa armaram
sua derrocada consideráveis cargas de di­ a sala: “só plateia com capacidade para 180
namite, com essas memoráveis eclosões pessoas” e continua: “O palco foi montado
estilhaçando a vidraçaria, ruindo ornatos pelo maquinista Ozório Zalut. A decoração
e abalando outro prédio oficial, o Palácio da sala foi projetada pelo arquiteto Lucio
Monroe75 Costa e Luiz Peixoto, que também se en­
carregou da encenação; instalações elétri­
cas, Aníbal Bonfim. Direção geral, Álvaro
1927 Moreyra; Tesoureiro, A. Cunha Neves; Pu­
Teatro de Brinquedo blicidade, René de Castro.” 76

Em 10 de novembro de 1927, deu-se iní­ Para Gustavo Dória, em Moderno teatro


cio às atividades do Teatro de Brinquedo, no brasileiro (p.30)
Salão Renascença, um dos salões do Casino
Beira-Mar. O Casino Beira-Mar foi inaugu­ Teatro de Brinquedo foi montado no Salão
rado em 7 de agosto de 1926, localizado na Renascença, com decoração e adaptação
Esplanada do Passeio Público, em prédio de Luis Peixoto e Di Cavalcanti. A estreia
idêntico ao do Theatro Casino situado na ou­ ocorreu em 10 de novembro de 1927, com
tra extremidade do terreno, do lado do Pa­ a apresentação da peça Adão, Eva e outros
lácio Monroe. Funcionava como casa notur­ membros da família, de Alvaro Moreyra.
na, cabaré e oferecia vesperais dançantes aos
sábados e domingos. Em seu espetáculo de O teatro assim se chamava porque os
inauguração, apresentou as girls do Bataclan. cenários imitavam caixas de brinquedos.
A única notícia sobre o funcionamento do A intenção de Alvaro Moreyra era tornar o
Casino Beira-Mar como sala de espetáculos teatro uma arte popular, que fizesse sorrir
teatrais, refere-se ao Teatro de Brinquedo. e ao mesmo tempo pensar, sua companhia
Uma iniciativa modesta de Alvaro Moreyra era formada por amadores provenientes de
(1888-1965) e sua mulher Eugênia. Figuras famílias de classe média alta.
em namoro permanente com o teatro, mas O Teatro de Brinquedo foi destruído a
desanimadas de praticá-lo pelo ambiente e golpes de incompreensão em 1937. Nova
pelas condições precárias. Os espetáculos tentativa foi realizada. Apesar de ser uma
do Teatro de Brinquedo foram a mola pro­ experiência inovadora, não repercutiu de
pulsora do interesse que passou a existir dali forma positiva, tampouco sua retomada
por diante pelas coisas de teatro em criatu­ mais tarde ficou tão incompreendida como
ras que supunham inacessível ou incompa­ a anterior.
tível com as condições sociais, essa forma de O início da Segunda Guerra Mundial pôs
atividade artística. Deste teatro saíram inú­ termo a essa interessante e corajosa ativida­
meras personalidades, entre elas Paschoal de do casal Moreyra.

354 Teatros do Rio


1934 confortável com a marca do último ins­
Teatro Rival tante, construído todo sob o solo, com um
palco dividido em três partes permitindo
Deve-se a decisão e a visão do Sr. Vivaldi a encenação de peças com técnica cinema­
Leite Ribeiro, o aproveitamento do amplo tográfica no que concerne à diversidade
subsolo do Edifício Rex, de sua proprieda­ de cenas e ambientes, com uma acústica
de, situado à Rua Álvaro Alvin n. 33/37 pa­ que nada deixa a desejar e grande maioria
ra a implantação do Teatro Rival. de lugares bons em que o espectador fica
A 22 de março de 1934 inaugura-se o tea­ à vontade, esplendidamente acomodado.
tro, com companhia organizada por Odu­ A sala decorada é realmente de extremado
valdo Vianna, apresentando a peça Amor bom gosto.77
(co­­­­­média-filme) de autoria do próprio
Odu­­valdo, dela fazendo parte: Dulcina de Na época, como era de se esperar, a nova
Moraes, Odilon Azevedo, Manoel Durães, casa de espetáculos causou a maior sensa­
Aristóteles Pena, Duval Rebouças, Roque ção. A estreia da peça Amor, inaugurando-a,
da Cunha, Augusto Baroni, Silvio Miraldo, obteve o maior êxito de crítica e público,
Alberto Dumont, Wanda Marchetti, Justina podendo-se constatar tal fato através de um
Laveroni e Leonor Navarro. trecho do livro 40 anos de Teatro.78
O Teatro Rival tinha características bem di­
ferentes dos demais teatros da época. O palco Duas casas superlotadas, entusiasmo con­
dividia-se em três setores, permitindo a en­ tagiante. A peça – comédia – filme – apre­
cenação de qualquer peça e a largura da boca senta mais de trinta quadros, sucessão de
de cena era bem grande. A capacidade era de coisas interessantes em que se fundem
518 lugares, distribuídos em 104 cadeiras nu­ emoções e caracteres, a ironia e a crítica,
meradas, 260 cadeiras sem número, 106 no o ridículo e a tragédia tudo com fundo
balcão e 12 frisas, comportando quatro pes­ humano e nítida intenção social; pinta o
soas cada uma. A parede da fachada externa inferno em que vive o marido de mulher
é revestida de pedras lisas e irregulares, de ciumenta. Os traços, embora caricaturais,
cor escura. A bilheteria, voltada para a calça­ são de verdade flagrante que a habilida­
da, fica ao lado da entrada. A porta de aces­ de teatral de Oduvaldo acentua, técnica
so do público, em madeira, é precedida de do melhor quilate: só um defeito, o do
uma pequena cancela de ferro.Vinte e quatro repizamento, desejo de esgotar o assun­
possantes ventiladores injetavam e agitavam to. Dulcina emprestou feitio quase his­
ar fresco. Não havia urdimento: entretanto térico à ciumenta exaltada, detalhando o
possuía vários camarins. A decoração da casa tipo com segurança, pondo seus nervos,
coube ao artista Monteiro Filho, e as cores nervosa a plateia. Durães, que já atingiu
usadas: azul, rosa e prata davam agradável as­ a maturidade artística, dicção impecável,
pecto ao seu interior. sentindo-se, porém, o estudioso; retrata a
personagem com fidelidade. Odilon sur­
Para os que amam o Rio de Janeiro, seus preendeu: apesar das qualidades já reco­
foros de cidade moderna e culta, a de on­ nhecidas, só agora pode ser considerado
tem foi uma grande noite. Inaugurou-se na ator de primeiro plano; bem, nas cenas
parte central, no quarteirão dos cinemas capitais. Wanda Marchetti, um valor novo,
um teatro, um teatro elegante, bonito, impõe-se por sua distinção natural equilí­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 355


Arquivo Cedoc/Funarte
brio, coisa difícil em quem começa, infle­ Teatro Rival. Fachada

xões justas. Aristóteles mantém seus cré­


ditos. Fizeram-se notar, Roque da Cunha e de outubro com uma festa organizada e di­
Leonor Navarro. Encenação de acentuado rigida por Oduvaldo Vianna. Porém, ainda
bom gosto moderno. reapresenta Amor despedindo-se realmente
a 7 de novembro do mesmo ano, seguindo
A peça Amor permaneceu em cartaz por para São Paulo, onde foi ocupar o Teatro
98 dias, num total de mais de 200 represen­ Apolo. De regresso de São Paulo, Dulcina
tações. Dulcina de Moraes e sua companhia associada a Odilon, volta a ocupar, com sua
continuaram no Rival onde, levaram a efeito companhia, em 28 de março de 1935, o Te­
brilhante temporada de comédia. À frente atro Rival com a peça Esta noite ou nunca,
do elenco, atingiu seu apogeu artístico. Fo­ de Lily Hatevany, traduzida por Oduvaldo
ram ainda encenadas, naquele ano de 1934, Vianna. No elenco: Dulcina, Sarah Nobre,
as peças: Ela e Eu..., de Beer e Verneuil, com Paulo Gracindo (estreando como ator),
tradução de Alberto de Queiroz; A canção da Ruth Mynssen, Odilon, Roque da Cunha,
felicidade, de Oduvaldo Vianna (esta ficando Aristóteles Pena, Teixeira Pinto, Eduardo
em cartaz por 58 dias num total de mais de Viana; com direção artística de Oduvaldo
100 representações); O Último Lord, de Hugo Vianna e direção cênica de Odilon.
Falena, com tradução de Oduvaldo Vianna; Continuando a temporada, Dulcina e Odi­­
A musa do tango; A bela e a fera, de Bernard lon encenam: Bebezinho de Paris, de Darthê
Shaw, traducão de Oduvaldo Vianna. e Dumel, com tradução de Oduvaldo Vian­
Terminando sua temporada de 1934 no na; Fredaine vai casar, de André Picard, com
Rival, Dulcina se despede do público a 26 tradução de Alberto de Queiroz; Pássaro

356 Teatros do Rio


que foge, de John Drinkwater, com tradu­ representada pelo seu Diretor-Presidente
ção de Oduvaldo Vianna; Matei!, de Berr e Vivaldo Leite Ribeiro, que o arrendou em
Ver­neuil, com tradução de Renato Alvim 15 de fevereiro desse mesmo ano a Luis
e Carlos Bittencourt; Le Bonheur, de Berns­ lglesias e, em 10 de junho a Jayme Costa.
tein, com tradução de Heitor Moniz; Mas- ...Aonde vaes, coração?, 1940 (Luis Iglesias);
cote, de Oduvaldo Vianna e Cleômenes de Feia!,1940 (Cia. Eva Todor); Levada da bre-
Campos; Alegria de amar, de Louis Verneuil, ca, Uma sombra e Revista da Cinelândia, 1940
com tradução de Alberto de Queiroz; Gaiola (Cia. Eva Todor); O trophéo, 1940 (Luis lgle­
dourada, de Michel Durant, com tradução de sias); Eu, tu, ele!, A nossa gente é assim e Pensão
Alberto de Queiroz; O último lord, de Hugo de D. Stela, 1941 (Cia. Jayme Costa); Duas
Falena, com tradução de Oduvaldo Vianna; máscaras, 1942 (Cia. Jayme Costa); Embosca-
A menina do chocolate; Amor, gaiola dourada; da nazista, 1942 (Jayme Costa); Galinha verde,
Pancada de amor, de Noel Coward, com tra­ 1942 (Itala – Casarré – Delorges); Por causa
dução de Carlos Bittencourt e Renato Al­ do Lulu, 1942 (Itala – Casarré – Delorges);
vim; Nono mandamento, de Michel Durand, A Marquesa de Campos, 1943 (Alda Casarré –
com tradução de Brido de Abreu. Delorges); O tio primo, 1943 (Cia. Mario Sa­
A temporada foi um grande sucesso. E, laberry); As solteironas dos chapéus verdes, 1946
para perpetuar a memória das duas tem­ (Cia. Palmeirim – Cecy); A Gilda do Barre-
poradas (1934/1935) de Dulcina no Teatro to, 1946 (Alda Garrido); Rosa das sete saias,
Rival foi inaugurada, com grande festa, uma 1946 (Alda Garrido); A novela da Carlota,
placa no hall do teatro a 31 de outubro de 1946 (Alda Garrido); A lagartixa, 1947 (Alda
1935. Terminando a temporada com reapre­ Garrido); Maria da fé!..., 1947 (Alda Garri­
sentações de: Amor e nono mandamento, em 27 do); Bubuca se casa!..., 1947 (Alda Garrido);
de dezembro. Uma vez na vida, 1948 (Cia. Mesquitinha);
No decorrer dos anos, vários aconteci­ Uma mulher complicada, 1948 (Alda Garri­
mentos marcaram a vida do Rival. Várias do); Um beijo com molho, 1948 (Alda Garri­
companhias fizeram grandes temporadas e do); Sindicato dos maridos, 1948 (Cia. Mes­
muitas peças foram encenadas. Para fazer quitinha); Mamãe dormiu na rua, 1948 (Alda
uma amostragem do repertório encenado Garrido); O folgado, 1948 (Cia. Mesquiti­
por este teatro apresento uma retrospectiva nha); Cabeleireiro de senhoras, 1948 (Cia. Mes­
da história do Rival, relaciono cronologica­ quitinha); O pai de minha filha, 1948 (Cia.
mente algumas peças e respectivas compa­ Mesquitinha); O congresso é que resolve, 1948
nhias, como também os acontecimentos im­ (Alda Garrido); A lógica da poligamia, 1949
portantes que dela fazem parte: A Dictadora, (Cia. Aimée); A noiva deita-se às 11..., 1950
1936 (Cia. Casarré – Elza – Delorges); ... (Cia. Aimée); Especialista em coração, 1950
E o amor é assim, 1936 (Cia. Casarré – Elza (Cia. Déa-Casarré); Aconteceu naquela noite,
– Delorges); As doutoras, 1937 (Cia. Jay­ 1950 (Cia. Déa-Casarré); A caridosa...,1950
me Costa); Assim...não é pecado, 1937 (Cia. (Cia. Aimée); Se o Guilherme fosse vivo..., 1950
Jayme Costa); Conheci uma espanhola, 1938 (Alda Garrido); O amante motorizado e Não
(Cia. Elza Casarré): Marqueza de Santos, ande nua, por favor, 1951 (Cia. Aimée); Sur-
1938 (Dulcina – Odilon); Carlota Joaquina, presas de uma noite de núpcias, 1951 (Cia.
de 1939 (Cia. Jayme Costa). Aimée); Que mulher!, 1952 (Cia. Aimée);
Em 1940, o Teatro Rival ainda era de pro­ Mayá, 1953 (Cia. Marlene e Luis Delfino);
priedade da Cia. Industrial Minas Gerais, Dona Xepa, 1953 (Alda Garrido).

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 357


Nessa época, o Teatro Rival, graças a Alda tou fervendo, 1967; Oh! Que delícia de bonecas,
Garrido, teve uma temporada esplêndida, 1967 (que perdurou em 68); De costa prá
não só pelas comédias por ela encenadas, quem gosta, 1967; Bonecas em ritmo de aventu-
como pelo estouro que foi com Dona Xepa. ra, 1968; Botando pra derreter, 1968; Bonecas
Esta foi a época áurea do Teatro Rival. Além em ritmo de aventura, 1968; e mais; Tem can-
disso, Aimée também contribuiu, no come­ dango no soçaite; Mulheres me afobei; Esperem
ço dos anos 1950, para assegurar ao teatro a que o caldo sai; Quero essa mulher assim mesmo;
sua tradição. A lagosta é nossa; Bonecas (1969/70); Mulheres
No ano de 1953, acontece um fato im­ com aquele plá, 1970. “Para perpetuar a pas­
portante. Foi inaugurada mais uma placa, sagem de Gomes Leal pela direção do Rival,
dessa vez homenageando a atriz Aimée. foram colocadas várias placas comemorati­
Homenagem esta, não só pela sua tempo­ vas dos seus espetáculos” 80
rada, como pela sua extraordinária atuação A partir de 15 de abril de 1970 o Teatro
na comédia Que mulher!, de M. Hennequi­ Rival passa a ser de propriedade de Améri­
va e Pierre Weber, com tradução de Daniel co Leal, que o arrendava desde 1968, jun­
Rocha. Inaugura-se, então, no ano de 1953, tamente com Gunter Langsman, além dessa
oficialmente, uma placa de bronze, no hall informação os jornais da época noticiaram:
do Rival, onde pode-se ler os dizeres: “À
Rainha do Wandewil Aimée pelo seu sucesso Com uma revolucionária revista que vai
em Que Mulher!...” deixar você com a cuca fundida, Gomes
Em 28 de julho de 1955, Gentidumar Go­ Leal se despede do Teatro Rival [...] Amé­
mes Leal tornou-se seu novo proprietário, rico Leal é o comprador. Pagou 800 mi­
através da firma Star Produções Artísticas lhões e espera recuperar isso pouco tempo
Ltda. Um Cravo na lapela, 1954 (Os Artistas [...] Américo Leal, o novo dono, já foi ar­
Unidos); Os ovos do avestruz, 1954 (Os Artis­ rendatário do teatro de 1968... Dia 29 ele
tas Unidos); Mulher de briga, 1955 (Alda Gar­ assina os papéis.
rido); A mulher das quintas-feiras, 1956 (Cia. ...O Teatro Rival, situado na Rua Álvaro
Aimée); Chuvisco, 1957 (Alda Garrido); Dona Alvim, vai ser vendido, dentro de uma se­
Brasília quer casar, 1957 (Alda Garrido). mana, por seu atual proprietário, Gomes
Além das já citadas companhias, também Leal, a Américo Leal, que já o arrendou há
fizeram temporadas: 1957, Oscarito e Cia; 2 anos.81
1957, Cia. Odilon; 1958-59-63, Cia. Dercy
Gonçalves; 1959-60-61, Alda Garrido; Com isto se chega a uma data exata, em
1960-61-62-63-64-65, Gomes Leal; 1960, 15 de abril, e fica a certeza de que no ano
José Vasconcelos; 1961-64, César Ladei­ de 1970, Américo Leal se torna o novo pro­
ra; 1964, Chico Anísio Produções; 1964, prietário do Rival. E, ainda, fica estabeleci­
Raul da Matta; 1964-65, Walter Pinto – da a confirmação de que a partir de 1968
Gomes Leal. ele o arrendara.
A partir de 1966, Gomes Leal, novo pro­ Alguns espetáculos encenados a partir
prietário do Teatro Rival, monta 45 pro­ desta época: Mulheres pra kilo, 1969; Tocando
duções na base do rebolado.79 Dentre elas: na bandinha dela, 1969; Mulheres em ritmo de
Que tudo mais vá pro inferno, 1966; Mulher é a 69, 1969; Oh! Que delícia de bonecas, 1968; É
solução, 1966; Papo firme é pra mulher, 1966; de mulher que eu gosto, 1972; Tem fuque fuque
Elas são tremendonas, 1967: Vem quente que es- no popopó, 1972.

358 Teatros do Rio


No ano de 1974, o Teatro Rival, já aluga­ de 1974 e como temporada até dezembro do
do a um grupo de espanhóis: Albino Cuque­ mesmo ano.
jo Suarez, José Cuquejo Suarez, Camilo Em 1975, a Star Produções mudou de
Cuquejo e Cuquejo e Samuel Lírio, sob a nome, passando a chamar-se “Star Produções
firma Star Produções Artísticas Ltda., pas­ Artísticas e Comerciais Ltda”, continuando
sou por reformas gerais. como arrendatária do Rival. Em julho deste
Em carta-resposta de 23 de outubro de mesmo ano o Teatro foi fechado e, em se­
1974, a Star Produções Artísticas Ltda., tembro Albino Suarez e Samuel Lírio fazem
atendendo à solicitação do antigo Serviço um pedido ao Diretor do SNT, Sr. Orlando
Nacional de Teatro (SNT), informa sobre as Miranda, para ampliá-lo e transformá-lo em
condições e estrutura do Teatro Rival: café-cantante com: bar, boate e restaurante.
O pedido foi aceito, levando à concessão do
O novo Teatro Rival está atualmente dotado Alvará. Foi enviado requerimento ao prefei­
de todos os requisitos para um bom funcio­ to, sendo juntadas as plantas das obras a se­
namento, para qualquer gênero, pois as re­ rem efetuadas, em que seriam gastos cerca
centes obras efetuadas o deixaram na con­ de Cr$ 400 mil. O fato acabou gerando uma
dição de melhor e mais bem situado teatro polêmica na classe teatral.
do Estado da Guanabara. Com as recentes
obras de reforma, pintura etc... Contamos O presidente da Casa dos Artistas, Fernan­
com 8 (oito) excelentes camarins, em óti­ do Moreno, oficiou ao Ministro da Educa­
mo estado e que no momento estão sendo ção e a Prefeitura do Rio de Janeiro, para
ocupados confortavelmente por mais de 30 que não consistam na transformação do
(trinta) artistas sem atropelos e tumultos. Teatro Rival em “boate”, o que é pleiteado
a) Palco – conta com 11,50 de largura pela firma Star Produções Artísticas e co­
e uma altura de 3,50. Um novo e eficiente merciais Ltda.83
quadro de luz completo; nova aparelha­
gem eletrônica, e, um n. de refletores que Em matéria intitulada “Casa dos Artistas
satisfazem a qualquer montagem no novo não quer Rival transformado em Boate”,
Teatro Rival. pode-se verificar o acontecimento:
b) Plateia – A lotação do Novo Teatro
Rival é de 518 lugares, assim distribuídos: ...Explicou o presidente da Casa dos Ar­
104 cadeiras numeradas, 260 cadeiras sem tistas que todos os atores estão contra tal
número, 106 cadeiras de balcão e 12 frisas transformação, “porque teatro é cultura e
com 4 lugares cada uma. desde 1953 que o governo não constrói
c) Aluguel – Sobre esta questão, o mes­ um teatro no Brasil”. Frisou que de acor­
mo se fará, mediante acordo pessoal mas do com a Lei Federal n. 45, “se um teatro
como de praxe, o mesmo se faria com for destruído, no mesmo local terá que ser
porcentagem e um mínimo com garantia, construído outro. [...] Fernando Moreno
porém, como acima foi citado, o mesmo pretende ingressar na justiça com uma in­
somente acordo pessoal será possível.82 terpelação judicial, mostrando inclusive
que o artista Colé há tempos pediu o Tea­
Um dos espetáculos apresentados pela tro Rival para ali apresentar uma revista,
Star Produções Artísticas Ltda., foi Cinelân- não conseguindo, porém” . “Pereira Leite,
dia muito louca que estreou em 5 de setembro o ator mais antigo do Brasil, Colé, Nick

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 359


Nicola,Wanda Lacerda e muitos outros es­ tivo, a atividade teatral, com espetáculos
tão solidários com a direção da Casa dos de duração mínima corrida de 1 hora e 30
Artistas.84 minutos, podendo, a critério da direção,
ter um intervalo. Não havendo espetáculo
Em contrapartida o Diretor do SNT, de revista em cartaz, nenhuma outra ativi­
Orlando Miranda, dizia ter agido “com dade poderá funcionar na casa.88
toda cautela” 85 ao dar parecer favorável
à concessão de Alvará, a título precário, Começaram a partir daí, as reformas para
à Star Produções Artísticas e Comerciais transformar o Teatro Rival num café-con­
Ltda, para a utilização do Teatro Rival certo, com projeto do arquiteto José Júlio
como bar, restaurante, e manter, obriga­ Peçanha de Amorim. “Todo reformado o
toriamente, uma atividade teatral no ho­ Café-Concerto ficou sem a habitual plateia,
rário comercial. transformada em 600 lugares nas mesas dis­
postas pelo salão”.89 A reinauguração do Tea­
Orlando Miranda acrescentou que a uti­ tro Rival como Café-Concerto Rival foi em
lização do tempo ocioso dos teatros pode 9 de dezembro de 1975, com o espetáculo
ser até um caminho para o barateamento O impossível acontece. Isto é revista, tendo no
dos ingressos, pois reduziria o pesado ônus elenco: Cheiroso, Fábio Camargo, Renato
dos aluguéis.86 Castelo, Sebastião Apolonio, Gugu Olime­
cha, Cezar Montenegro, Edy Star, Carlos
Já o Prefeito Marcos Tamoyo que estaria Augusto, Sidney Magal, Robby Rethy Jr. e
estudando o projeto antes da concessão do mais 18 girls. A equipe técnica era composta
Alvará, de acordo com nota do Globo de 13 por 15 profissionais.
de setembro de 1975, “recusou-se a comentar O Jornal do Brasil comentava em sua edi­
a questão antes de ser elaborado um parecer ção de 29 de outubro de 1975:
técnico”. Porém, afirmou que se recusará a
provar o projeto se ficar constatado qualquer Com a reabertura do Teatro Rival, prevista
desvirtuamento das tradições do antigo tea­ para a segunda quinzena de novembro, o
tro.” Enquanto a Casa dos Artistas é contra o Rio vai ganhar seu primeiro café-concer­
projeto, a Sbat e a Acet se manifestaram favo­ to, trazendo de volta às noites cariocas um
ráveis ao projeto.” 87 tipo de espetáculo já quase esquecido, do
Depois de muitas discussões e impas­ começo do século, tempo de glória das
ses, tudo ficou acertado sobre o destino do confeitarias Colombo e Americana.
Teatro Rival, passando ele a ser um café­
-concerto sem deixar de ser uma casa de Jota Efegê comenta:
espetáculos:
O Rio atual, este ano de 75, terá, já no
Tendo em vista o propósito manifestado próximo dia 20 um “café-cantante” ou,
pelo requerente, somos de opinião que como era usual no pernosticismo do
poderá ser concedido o alvará, a título afrancesamento em voga na primeira me­
precário, pelo prazo de 12 meses, sempre tade deste século, um “café-chantant”. E
prorrogável, desde que o requerente se sua instalação, já quase concluída, será no
obrigue, sob pena de cassação de licença, a subsolo do Edifício Rex onde funciona o
manter, de modo permanente e consecu­ Rival Teatro [...] Esse novo “café-cantan­

360 Teatros do Rio


te”, lembrança de tempos passados e tão Teatro Rival. Planta baixa, (S.E)
suspirados pelos setentões, pelos raríssi­
mos boêmios dos alegres salões de diver­ ções Artísticas Comerciais Ltda: Greta Garbo
são que espalhavam pela cidade, em lugar quem diria acabou no Irajá, de Fernando Melo
das graciosas “garçonettes” do galicismo (abril/junho/75); Elas atacam de banda, de
de então, terá, no anglicismo dominante, José Sampaio (jan/março/75) e Cinelândia
“gogo-girls”. Os frequentadores atuais não muito louca.
irão, certamente, pedir que lhes sirvam o Em 1979, mais precisamente no mês de
pipermint , o chartreuse ou anizetti sem­ abril, Angela Leal, filha de Américo Leal,
pre presentes nas mesas dos antigos “cafés­ proprietário do Teatro Rival, assume o tea­
-cantantes”, nos quais se inspiraram os que tro, onde “pretende fazer inúmeras inova­
vão revivê-los agora, na sala da antiga pla­ ções em matéria de utilização da casa de
teia azul-rosa do Rival.90 espetáculos”.91 Outra fonte, informava que
“Angela Leal teria arrendado o teatro, nes­
Assim, no final do ano de 1975, o Teatro te ano, para apresentar peças para adultos e
Rival, palco de grandes espetáculos de co­ crianças, como empresária”.92
média, muda não só de nome, como de es­ Na mesma matéria constava:
trutura, para Café-Concerto Rival.
Vale lembrar alguns espetáculos apresen­ Ela estará no Teatro Rival, ao lado de
tados naquele ano pela firma Star Produ­ Rodrigo Farias Lima e, ambos preten­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 361


dendo transformar a casa de espetáculos Maria Pompeu, Marina Marcel e Rose Ron­
da Rua Álvaro Alvim, num grande cen­ deli. Após esta temporada o Teatro Rival é
tro de entretenimento, mostrando espe­ ocupado por outras companhias profissio­
táculos no horário infantil, outros às seis nais, através de Edital Público de Concor­
e meia e também nos horários noturnos. rência, lançado nacionalmente, norma sem­
Já no próximo mês, ali vai estrear a pri­ pre adotada pelo Inacen.
meira produção no teatro, que é a peça Dessa forma, acreditava-se que o teatro
Quem Fantasmocanta os homens espanta, às de revistas, cada vez mais ameaçado, garan­
16 hs. tiria seu espaço, com a cobrança de taxa de
ocupação de apenas 10% da receita, em con­
A peça foi encenada, em agosto do refe­ dições de melhor produzir os espetáculos e,
rido ano, voltando a chamar-se Teatro Rival. facilitando os profissionais que se dedicavam
Com a empresária Angela Leal à frente a esse gênero artístico.
do Rival foram apresentados os seguintes Após interdição, pela Divisão de Con­
espetáculos: Rio de cabo a rabo (1979/1980); trole e Fiscalização de Diversões Públicas,
TV-Croquettes – Canal Dzi, (1980); Cabaré foi aberto em 15 de julho de 1987, voltan­
S/A, (1981); Mame-o ou deixe-o, (1982); do a apresentar as peças Remédio é mulher e
Evita-me que assim não dá, (1982/83); Lou- Solta a franga e segura o pacotão, com Wilza
cura Gay, (1983); O dia que o Brasil tomou Carla e Chaguinha.
Doril, (1983). Atualmente, o teatro possui entre as suas
Chega-se ao ano de 1983, o Teatro Rival instalações dois camarins individuais e qua­
em outubro é arrendado pelo Inacen, em tro coletivos, ar-condicionado, ribalta, qua­
acordo acertado com o empresário Américo renta refletores de 500 W, seis refletores de
Leal, por intermédio dos artistas Gugu Oli­ 1000 W, mesa de som Gianini com oito ca­
mecha e Angela Leal. nais, gravador, microfone, amplificador, cai­
Durante o mês de novembro o teatro xas acústicas, tendo a boca de cena do palco
fecha suas portas para ser reformado e re­ as seguintes dimensões: largura – 10,7 m;
abrir, na primeira quinzena de dezembro, altura – 4,7 m; proscênio – 0,9 cm e sua
com duas revistas: A tocha na América, de lotação é de 350 pessoas.
autoria de Gugu Olimecha, que ocupa o Está localizado, próximo à estação Cine­
tradicional horário das 21:00 h., e As certi- lândia de Metrô, cercado por diversos ba­
nhas do Lalau, compilação de textos de Sta­ res, restaurantes, hotéis, teatros, cinemas e
nislaw Ponte Preta, no horário alternativo centros culturais.
das seis e meia. O primeiro passo de Angela Leal, na ad­
A tocha na América, com direção de Luis ministração do teatro, foi fazer grande obra:
Mendonça e 15 atores no elenco: Gugu Oli­ troca do carpete, pintura da casa, reforma
mecha, Élida Lastorina, Olney Casarré, Silva da fachada, do palco, dos camarins e a ins­
Filho, Flávio Bruno, Nadia Carvalho, Nedira talação de um sistema de segurança contra
Campos, Ilva Niño, Luis Carlos Niño, Dulce incêndio.
Conforto, Julita Sampaio, Paulo Celestino, A programação foi feita de forma a ocu­
Tânia Moraes, Etori e Daúde. par o teatro em diversos horários, tornan­
As certinhas do Lalau, reúne sete ex-cer­ do-se nesta década uma excelente casa de
tinhas (de diferentes anos): Anilza Leoni, espetáculos, dedicada à MPB, na cidade do
Célia Azevedo, Diana Morel, Irma Alvarez, Rio de Janeiro.

362 Teatros do Rio


1934 liza-se o cinema Orly. É uma edificação de
Teatro Meu Brasil linhas modernas, de 12 andares, encimada
por uma cobertura. No 5° andar funcionou
O Teatro Meu Brasil foi inaugurado pela em­ até 1977, a Fundação Brasileira de Teatro,
presa N. Viggiani em 24 de agosto de 1934, dirigida por Dulcina de Moraes. Era con­
com o espetáculo Coisinha boa, de Viriato siderado na época como “o mais moderno
Corrêa; com música de Joubert de Carvalho teatro do Brasil”.93
e J. Aimberê. No elenco: lsmênia dos Santos, Na fachada do edifício, de concreto em
Dercy Gonçalves, Alma Castro, Rita Ribeiro, quase toda sua extensão, apresenta seis fa­
Apolo Corrêa, Brandão Filho, Walter Siquei­ ces, onde se lê, em relevo, o nome Regina.
ra, Eugênio Paschoal e Pedro Canindé. Até hoje sua parte térrea é revestida de
O teatro era localizado à Rua Álvaro Al­ mármore branco, onde fica a principal en­
vin n. 27, instalado no pavimento térreo do trada, composta de três portas metálicas de
Edifício Góes, Hotel ltajubá, onde funciona enrolar, sobre a qual aparece o nome: Teatro
o restaurante Rosas. Dulcina. A partir do primeiro pavimento, a
Em 5 de outubro de 1934, passou a cha­ fachada tem um recuo, e logo acima da mar­
mar-se Rio-Teatro; sendo inaugurado com a quise, estendendo-se por toda a largura do
peça de Gastão Tojeiro A pequena das amos- prédio, há janelas de madeira e vidros que
tras, com Alda Garrido e seu elenco. permitem a entrada de luz.
Este teatro tinha como gênero de espetá­ Sobre sua fachada na época de sua inaugura­
culos sátiras políticas, críticas sociais, can­ ção nada se encontrou nas fontes pesquisadas,
ções regionais, números sertanejos, burletas entretanto, através de Pepa Ruiz que havia
e revistas. sido administradora do Teatro Regina duran­
Mário Nunes é o único dos autores que te anos, pode-se obter algumas informações
escreveu um pouco mais sobre Meu Brasil, em relação à fachada: “Não houve alteração” o
dizendo que funcionava à maneira das noites foyer “era aberto e a escadaria diferente”.
de Paris, tendo palco de 12 m2 e capacidade Esta afirmação pode ser confirmada na
para 250 pessoas. matéria do jornal A Notícia:

O único defeito do Teatro Regina era e to­


1935 dos apontavam a escada estreita e tortuosa
Teatro Regina (Teatro Dulcina) que dava acesso ao salão e também à sala
de espera acanhada, atrás da entrada do an­
Por iniciativa do Sr. Vivaldi Leite Ribeiro, tigo Cinema Rio.
foi construído o Teatro Regina, responsável Agora, porém, tudo isso desapareceu, a
que era também pela construção do Edifício escada foi demolida e construída uma ou­
Regina, um prédio composto de 12 andares, tra larga, ampla, e a sala de espera se es­
localizado à Rua Alcindo Guanabara, 17/21, tendeu até a porta de entrada do prédio,
na Cinelândia, na mesma quadra do Teatro isto é, até a rua. Tudo isso tornou o Regina
Rival, com o qual faz fundos a Câmara dos um dos teatros melhores e de maior con­
Vereadores. forto do Rio.94
O teatro ocupa a esquerda do térreo e os
três primeiros pavimentos do edifício, ao Atualmente o foyer é separado por um
lado de uma galeria, à direita da qual loca­ painel de madeira e vidro, localizado logo

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 363


após as portas de enrolar. Ainda neste espaço Teatro Regina (Teatro Dulcina). Hall de entrada

e à direita está situada a bilheteria, e trans­


passando as portas deste painel de madeira lhoramento ao Exmo. Sr. Oswaldo Costa,
e vidro chega-se ao foyer. Anteriormente, a quem se deve também a reconstrução do
perto da escadaria havia um bar e um bebe­ referido teatro nos moldes de um perfei­
douro. No outro lado, à esquerda, vê-se uma to conforto moderno. Essa inauguração
curiosa porta pantográfica, que era saída do se realizou durante a temporada Dulcina­
cinema vizinho. O piso em tom avermelhado -Odilon estando em cena a peça Mulheres.
contrasta com as paredes claras: a da direita, de Clare Boothe, traduzida por Lúcia Be­
tem aberturas com grades na parte superior nedetti, no seu 4° mês de representações
e, nesse mesmo lado, uma larga porta de ma­ consecutivas.95
deira permite a saída pela galeria. Na parede
à esquerda, várias placas de bronze registram Do foyer, uma escadaria conduz à sala de
os acontecimentos ocorridos graças ao tea­ espetáculos, onde estão localizadas a plateia,
tro. Uma delas é dedicada a Dulcina e Odi­ o balcão e a galeria. Seu interior na época
lon, uma homenagem de seus admiradores, da inauguração é comentado pela imprensa.
data de 1951; outra registra os dez anos da
Fundação Brasileira de Teatro, e é de 1955; ou­ E os convidados elogiaram com entusias­
tra, perpetua o nome de Oswaldo Costa, que mo o bom gosto e conforto a que tudo ali
remodelou o teatro em 1948, com os dizeres: obedece.96

Foi hoje inaugurada a refrigeração do Tea­ Mário Nunes em seu livro 40 anos de tea-
tro Regina, o primeiro teatro refrigerado tro, descreve as características desta casa de
do Rio. Deve-se esse extraordinário me­ espetáculos na época:

364 Teatros do Rio


A sala em linhas singelas é um portento peça traduzida por Geysa Boscoli, como
de aproveitamento de espaço, bem dis­ O Grande Banqueiro. Tratava-se de uma peça
postos, a plateia, camarotes e balcões. em 3 atos e 9 quadros em “luxuosíssima
Decoração moderna, em cores mortas, montagem devido a Colomb”.99
lisas, luz indireta em tons cambiantes, Apesar da grande divulgação, não chegou
criam atmosfera de satisfação visual. Tem a fazer sucesso, apesar da tradução ser consi­
boca de cena, 8,50 m, e o palco provido derada “fluente e chistosa” 100 e de seu elenco
de urdimento dispõe de espaço para as que era assim anunciado:
necessidades ordinárias de encenação de
comédias.97 A Companhia encabeçada por Olga Navar­
ro e Jayme Costa, e que conta com o pre­
O Teatro Regina tinha capacidade para cioso concurso de Palmeirim Silva, Plácido
447 pessoas, sendo 393 na plateia, 36 no Ferreira, Olavo de Barros, Mathilde Costa,
balcão, 16 nos camarotes e 12 nas frisas. Mario Salaberry, bem como das novas e
O palco cuja boca de cena media 7 m de graciosas figuras de Tamar Moema e Clara
largura por 5 m de altura, era provido de Leone, além de outros artistas de valor.101
um urdimento com 12 m de altura. As co­
xias tinham 1 m de largura; a profundi­ Geysa Boscoli havia sido encarregada de
dade do palco era de 8 m, e o proscênio organizar a companhia responsável pelo es­
tinha 8,0 m. A passarela móvel da boca petáculo, Olavo de Barros foi o diretor ar­
de cena media 10 m de comprimento por tístico. Mas coube a Hypólito Colomb, res­
0,8 m de largura. ponsável pelos cenários os maiores elogios
O teatro dispunha de 8 banheiros, sendo da imprensa:
2 destinados aos artistas e os outros estavam
distribuídos da seguinte forma: 2 na galeria, Montagem arrojada de Colomb, que soube
2 no balcão e 2 na plateia. criar nove ambientes de luxo, onde pre­
A imprensa noticiava a inauguração do domina um gosto artístico jamais visto no
teatro, e a expectativa era grande, o Correio nosso teatro.102
da Manhã no mesmo dia informava:
Sobre a peça o mesmo jornal comentou:
Será inaugurado hoje o Teatro Regina,
moderníssima casa de espectáculos que O grande banqueiro, peça recebida com
acabou de ser construída na Cinelândia, grandes aplausos e maior entusiasmo, é,
obedecendo aos mais rigorosos princí­ sem dúvida, uma das mais interessantes
pios da arquitetura moderna. [...] Colomb comédias até hoje apresentadas ao nosso
executou nove luxuosas cenas, que serão público, quer pelo seu valor intrínseco,
mudadas rapidamente, de acordo com o quer pela sua impecável interpretação.103
caráter dinâmico da peça. Os detalhes da Ainda em dezembro de 1935 foi encena­
mise-en-scene atingiram também os móveis da no Teatro Regina a peça Quando desperta
e objetos de arte.98 o amor, de Mirabean e Dolcy; cenários de
Colomb, o elenco contava com Olavo de
A inauguração do Teatro Regina ocorreu Barros, Olga Navarro, Palmeirim Silva,
em 5 de dezembro de 1935, com o espe­ Plá­­­­cido Ferreira, Mário Salaberry, Clara
táculo La Banque Nemo, de Louis Verneuil, Leone, Tamar Moema, entre outros.104

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 365


Teatro Dulcina. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Dulcina. Corte, (S.E.)


Depois da comédia a companhia dissol­ onde deverá reaparecer em maio próximo.
veu-se. O teatro passará por reformas que lhe da­
rão uma melhor maneira do público atin­
OTeatro reabriu em 2 de abril de 1936, com gir as suas localidades, sendo também feita
a Companhia de Procópio Ferreira, com a uma instalação de ar-refrigerado.106
comédia Tabu, de F. X. Svoboda, traduzida
pelo escritor português João Bastos.105 E no dia 23 do mesmo mês e ano, este
jornal noticiava:
Os dois maiores êxitos da companhia de
Procópio Ferreira, no Teatro Regina em O Teatro Regina vai entrar em obras por
1936, foram as comédias: O homem da cabe- estes dias, a fim de agasalhar a tempora­
ça de ouro, uma sátira aos políticos da épo­ da Dulcina-Odilon, no corrente ano. Já se
ca e Bicho papão, ambas de Viriato Corrêa. encontra no Rio o Sr. José Soares, adminis­
A Companhia de Procópio era então com­ trador daquela companhia, que veio acom­
posta de: Procópio Ferreira, Restier Junior, panhar as aludidas obras.107
Delorges Caminha, Eurico Silva, Modesto
de Souza, Elza Gomes, Hortência Santos e Um violento incêndio, na madrugada do
Wanda Marchetti. Procópio estreou, tam­ dia 2 de julho de 1944, ocorreu no Edifí­
bém no Regina, a comédia de Joracy Ca­ cio Regina, destruindo rapidamente sete de
margo, Anastácio, que foi representada em seus andares; o Teatro Regina praticamente
Buenos Aires. desapareceu; estava arrendado à Companhia
O Teatro Regina era propriedade parti­ Dulcina-Odilon, que já havia realizado algu­
cular, sendo um dos empreendimentos da mas reformas e melhoramentos, avaliadas na
Companhia Industrial Minas Gerais – com­ época em cerca de 100 mil cruzeiros. Com
panhia que lidava nos ramos da construção, o incêndio, os prejuízos da companhia fica­
comércio, indústria e finanças – e seu Presi­ ram em torno de 600 mil cruzeiros. Foram
dente Vivaldi Leite Ribeiro, em carta de 29 destruídos todos os cenários e figurinos de
de junho de 1937, propunha o arrendamento várias peças, entre elas: César e Cleópatra, An-
do teatro ao Ministério da Educação e Saúde. fitrião, Santa Joana, Marquesa de Santos, Rainha
O jornal Diário de Notícias, registrava que Elizabeth, além de objetos pessoais dos artis­
até 26 de dezembro de 1939, o teatro per­ tas deixados nos camarins.
maneceu fechado.
Mas só em 1940, foi então arrendado ao Na madrugada de domingo último, ma­
Ministério, pelo prazo de 4 meses, ou seja nifestou-se no Ed. Regina, que fica situa­
de 1° de agosto a 3 de dezembro de 1940, do na Rua Alcindo Guanabara n. 19 e 21,
pela quantia de doze contos de réis, na ges­ violento incêndio, que teve início no 4°
tão de Abadie Faria Rosa, na direção do Ser­ andar, atingindo em seguida, outros an­
viço Nacional de Teatro. dares.
Em 1941, a imprensa já informava da re­ O fogo começou nos fundos do 4° an­
forma que o teatro iria passar, e da ida para dar, pouco antes das 3 horas da madruga­
lá da Companhia Dulcina – Odilon. da, na seção de máquinas e refrigeração do
edifício, no qual estão instaladas além do
O ator empresário Odilon Azevedo acaba Teatro Regina, vários escritórios comer­
de arrendar por 3 anos, o Teatro Regina, ciais e diversas repartições do Ministério

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 367


da Educação e Saúde, inclusive o arquivo e “uma das maiores atrizes de nossa história
serviço de mecanização. teatral”.109
Logo que se manifestaram as primeiras As obras de restauro foram iniciadas logo
chamas, foram chamados os bombeiros... após o incêndio e custeadas por Dulcina e
Dada a intensidade do fogo, foi inicia­ Odilon que resolveram comprar o teatro
do então o combate às chamas que, em em 1945, ficando o arquiteto Celso Ramos
poucos momentos, passou para o madei­ de Melo responsável pela execução de toda
ramento da instalação interior do teatro, a parte arquitetônica do novo teatro.
envolvendo a sala de espetáculos e por fim Mais tarde, em 1946, Dulcina e Odilon
o próprio palco e os cenários... falavam das obras, em entrevista à Revista
O Teatro Regina desapareceu pratica­ Comédia:
mente sob a violência das chamas... Toda
a sua instalação, que ocupava os 2°, 3° e Tudo foi feito sob a competente direção
4° pavimentos, foi devorada pelas chamas. do Dr. Celso Melo e, não só se procurou
o conforto máximo para o público com
E a matéria do Jornal do Commercio de 4 de vários elevadores, refrigeração, conforto
julho de 1944 prossegue: mesmo de ambiente, dando à sala não so­
mente ótimas poltronas, mas ornamentan­
O trabalho dos bombeiros foi bastante pe­ do-a de forma discreta e elegante, bastando
noso. O combate às chamas durou quase dizer que só a cortina da boca custou Cr$
10 horas, pois estendeu-se das 3 horas da 100.000,00 como ainda se tratou do con­
madrugada até muito depois do meio-dia. forto do artista, dando-lhe o melhor que o
A firma Dahne Conceição e Companhia edifício permite, como camarins etc.110
tinha segurado o prédio do Edifício Regi­
na, em várias companhias, num total de 5 As paredes revestidas de estucamento
milhões de cruzeiros. especial, foram motivo de comentários.
A aparelhagem de iluminação era compos­
Em decorrência do incêndio a Compa­ ta de chave trifásica de 300 A e chaves de
nhia Dulcina-Odilon passou para o Teatro distribuição para todo o teatro, além de um
Ginástico, com o espetáculo Convite à vida, conjunto de resistência eletromecânica,
comédia de Maria Jacinta; cenários e figuri­ com seis unidades e capacidade de 5.000
nos de Oswaldo Motta, e no elenco Conchi­ W cada. Inicialmente, o Teatro Regina não
ta de Morais, Manoel Pera, Atila de Morais, dispunha de aparelhagem especial para seu
Aurora Aboim, Armando Rosas, Dinorah arejamento, tanto que Vivaldi L. Ribeiro,
Marzulo, Luíza Barreto Leite, Milton Car­ ao arrendá-lo ao S.N.T., em 1940 afirma­
neiro, Salu Carvalho, Roque da Cunha, So­ va não se responsabilizar se “as autoridades
lange França e Ribeiro Fortes. públicas determinassem o fechamento do
Em 1945 permaneceu fechado, passando teatro por falta de refrigeração ou outro
a pertencer à Companhia Dulcina-Odilon qualquer motivo.” 111
que criava no mesmo ano a Fundação Bra­ O sistema de refrigeração, tempos depois,
sileira de Teatro “com o objetivo de ensinar contava com uma chave a óleo para partida
teatro aos jovens”.108 Nesse mesmo ano, pas­ do motor de 60 HP, além de uma chave de
sou a chamar-se Teatro Dulcina “em honra 30 A para a bomba d’água e 2 chaves de 60
à grande Dulcina de Morais”, considerada A para os motores de ventilação.

368 Teatros do Rio


Arquivo Cedoc/Funarte
Em junho de 1946, Genolino Amado, que Teatro Dulcina. Vista da plateia e balcão

estreava como autor teatral dizia “... me ale­


gra que Avatar se apresente na inauguração do a forma mais auspiciosa, com uma peça
Regina tão esplendidamente remodelado...” nova, de autor estreante, e uma sala culta
E na mesma entrevista Odilon acrescenta­ e elegante.115
va: “Estrearemos dentro de dias com Avatar Em 1953, a Fundação Brasileira de Teatro
que é uma linda peça”.112 tornava-se proprietária do Teatro Dulcina.116
A reinauguração do teatro só veio aconte­
cer em 12 de julho de 1946, com a apresen­ Em 1961, por meio de um contrato de
tação da peça Avatar, de Genolino Amado. locação, Arthur Fomm aluga o teatro por
Uma comédia escrita especialmente para um ano, para atividades artísticas – de 1° de
Dulcina e Odilon, e que contava ainda no julho de 1961 a 30 de junho de 1962 – pelo
elenco: Manoel Pera, Ribeiro Fortes, Res­ preço de trezentos mil cruzeiros mensais.
tier, Maria Luiza, Dinorah Marzulo e com Várias companhias passaram ao longo
cenários de Luciano Trigo. Era uma peça em dos anos pelo teatro: A Companhia Cacilda
3 atos inspirada num conto de Gauthier, se­ Becker, criada em 1957, estreou em março
gundo declaração do próprio autor. Odilon de 1958 com a peça O santo e a porca, es­
afirmava em entrevista na Revista Comédia: pecialmente escrita para o novo grupo por
“O elenco mais brilhante do Brasil, a ex­ Ariano Suassuna.
pressão maior de nosso teatro.”113 A Companhia Tonia-Celi-Autran estreou
A imprensa no Rio de Janeiro teceu os com Otelo, de Shakespeare, em 6 de março
maiores elogios à peça: de 1956, tradução de Onestaldo Pennafort;
direção de Adolfo Celi; cenários e figurinos
O êxito que coroou todas as estreias foi enor­ de Aldo Calvo; assistente de direção Bene­
me: a do teatro, da companhia e do autor.114 dito Corsi. No elenco: Roberto de Cleto,
A companhia Dulcina-Odilon iniciou Paulo Autran, Tonia Carrero, Margarida Rey,
sua temporada deste ano no Regina sob Myriam Pérsia, Claudio Corrêa e Castro,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 369


Arquivo Cedoc/Funarte
Felipe Wagner, Sebastião Vasconcelos e Tar­ Teatro Dulcina

císio Zanotta.
Grandes êxitos de bilheteria também por necessidade, já que precisa de dinheiro
aconteceram no Teatro Dulcina. As mãos de para terminar a sua Faculdade de Artes Cê­
Eurídice, de Pedro Bloch, monólogo apre­ nicas, em Brasília. Ontem, durante a ceri­
sentado por Rodolfo Mayer, que estreou em mônia, ela contou que o tinha comprado há
março de 1953. Como também pela Com­ 22 anos atrás, já com o objetivo de ensinar
panhia Procópio Ferreira a peça Serão homens teatro aos jovens. Fundou ali uma escola de
amanhã, que estreou em 1943. E em 1945, interpretação, pela qual passaram atores do
Chuva, de Somerset Maughan, com tradução gabarito de Rubens Corrêa, Ivan de Albu­
de Genolino Amado, pela Companhia Dul­ querque, Irene Ravache. Há alguns anos
cina-Odilon. No elenco: Conchita de Mo­ (1972) ela ganhou um terreno em Brasília e
rais, Milton Carneiro, Urbano Silva, Res­ resolveu ampliar seu projeto inicial. Quan­
tier Junior, Manoel Pera, cenários de Mário to ao Teatro Dulcina vai ser transformado
Conde e figurinos de Oswaldo Motta. Esta em sede da Companhia Dramática Brasi­
peça, entre a estreia e suas excursões a vá­ leira, a companhia oficial do SNT que tem
rias cidades e capitais do país, ficou em car­ estreia marcada para agosto.117
taz durante 15 anos.
Em 5 de abril de 1977, o Teatro Dulci­ Sobre a compra, a Casa dos Artistas de
na foi vendido ao Ministério da Educação e 1978, p.21, se manifestou em seu Anuário:
Cultura:
O Teatro Dulcina, adquirido à Fundação
Ontem a veterana atriz (Dulcina) entregou Brasileira de Teatro, tem sido o centro
suas chaves ao diretor do Serviço Nacional de uma efervescente atividade, ensejan­
de Teatro, Orlando Miranda. Dulcina ven­ do, inclusive, a apresentação no Rio, de
deu seu teatro não por desamor à arte, mas espetáculos premiadíssimos em São Pau­

370 Teatros do Rio


lo, como Escuta Zé, e O amor do não, além com infiltrações nas paredes e tintas des­
de abrir suas portas, às sextas-feiras, para cascadas...120
a apresentação do Projeto Pixinguinha,
de incentivo à música popular brasileira, Em dezembro de 1981 era fechado para
da Funarte. reformas e em 13 de junho de 1983, o Ins­
tituto Nacional de Artes Cênicas (Inacen),
Já como propriedade do MEC e sede da promoveu uma visita às obras em execu­
Companhia Dramática Brasileira e sob a ção e exposição dos projetos do novo tea­
responsabilidade do SNT, foi reaberto em tro, à qual compareceu o então Secretário
agosto e lançado o edital n. 12/77 para ocu­ de Cultura, Dr. Marcos Vilaça, Dulcina de
pação do teatro no período de 1° de setem­ Moraes, além de vários representantes das
bro de 1977 a 30 de outubro de 1978, e que artes cênicas.
resultou numa reunião em que a comissão Sobre a visita o jornal O Globo noticiou:
encarregada optou pela peça Dor de amor, de
Bráulio Pedroso, para a categoria de adultos; A sala terá capacidade para 650 especta­
a peça estreou no dia 15 de setembro, en­ dores, entre as inovações anunciadas por
cenada pela Blecberd Produções Artísticas Orlando Miranda, foram aplaudidas a cons­
Ltda, com direção de Paulo Cesar Pereio, trução de rampas para paraplégicos e a de­
cenários de Rodrigo Argolo, direção musi­ molição do camarote construído especial­
cal de Egberto Gismonti, figurinos de Cris­ mente para a censura.121
tiana Bernardes e no elenco: Paulo Cesar
Pereio, Neila Tavares, Rosita Tomás Lopes e Após a reforma a capacidade do teatro
Scarlet Moon. As críticas foram todas unâni­ era de 568 lugares distribuídos da seguinte
mes: não foi bem aceita, como atestaramYan forma: plateia com 330 poltronas, sendo ca­
Michalski118, Armindo Blanco119e O Globo, 2 tivas 8, balcão com 110 poltronas, 4 cama­
outubro de 1977, que não era assinado. rotes, 4 frisas e galeria com 80 poltronas.
A partir de então, até a época em que As dimensões do palco eram: boca de cena
foi fechado para reformas (1981), o SNT com 7 m de largura por 5 m de altura, urdi­
cedia o teatro a companhias selecionadas mento com 12 m de altura, largura das coxias
por uma comissão julgadora. O período com 1 m cada, profundidade do palco com
mínimo de ocupação era de oito semanas 8 m e avant-scêne com 0,8 m, passarela
e o máximo de doze meses, destinando­ com 10 m de comprimento por 0,8 m
-se 8% de renda ao SNT, de acordo com de largura.
os editais de 1977, que regulamentaram a A equipe que trabalhou na reforma do tea­
concorrência para ocupação do teatro por tro era composta de três grupos: projetos,
companhias profissionais. orientação técnica e executores. Da parte de
Em 1981, devido às precárias condições projetos, arquitetura: Robson Gonçalves da
de funcionamento do teatro, o Serviço Na­ Silva; programação visual: Candido de Car­
cional de Teatro o fechou para realização de valho; elementos cênicos: Delfim Pinheiro;
amplas obras de reforma, conforme atesta eletricidade: Carlos Lafayette e iluminação:
Luciano Trigo: Jorginho de Carvalho. A de orientação téc­
nica, Carlos Eugênio Hime: acústica, José
O teatro, caindo aos pedaços, com as ins­ Dias e Luiz Carlos Mendes Ripper: cenógra­
talações elétricas e hidráulicas danificadas, fos e Eric Rzepecki: camarins.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 371


Da equipe de executores faziam parte os Em 1938, com “os comediantes”, preo­
profissionais: iluminação cênica. Frederi­ cupados com a renovação da cena nacional,
co Neumann (Instaladora Eletroeletrônica quebrando todas as convenções, vem a fazer
Ltda), carpintaria teatral: Delfin Pinheiro, um maior aproveitamento do palco e adja­
José João do Nascimento, José Batista de cências. Processou-se a revolução cênica,
Melo e Jorge dos Santos Assis. Pintura e aca­ uma renovação total, e consequentemente
bamento: Delisio Sacramento Bacelar e Re­ numa ampliação do horizonte cênico.
forma do Pano de Boca: Kletza Guerra. Para os historiadores considera-se a fun­
Por ocasião de sua inauguração foi des­ dação do teatro nacional, onde Gonçalves
cerrada uma placa comemorativa com os Ma­­­galhães, Martins Pena e João Caetano
seguintes dizeres: marcaram o início da atividade teatral, com
peças de assunto nacional e escrita por bra­
No dia 5 de dezembro de 1935, o Teatro sileiros. Entretanto, Martins Pena é, sem fa­
Dulcina, então Teatro Regina, construído vor, o verdadeiro fundador do teatro nacio­
por Vivaldi Leite Ribeiro, foi inaugurado nal, embora não se possa negar a Gonçalves
com a peça O grande banqueiro, de Louis Magalhães a primazia no tempo.
Verneuil dirigida por Olavo de Barros e O Teatro Ginástico construído no tér­
encenada pela Companhia Geysa-Palmei­ reo do prédio da Real Sociedade Clube Gi­
rim-Jayme Costa. nástico Português, Avenida Graça Aranha,
Hoje 4 de abril de 1984, o Teatro Dulcina n. 29, atual n. 187, teve o projeto original
é entregue ao público reformado, reequipa­ do arquiteto Raul Penna Firme. É uma de­
do e restaurado com a estreia da peça Gal- pendência do clube, e esteve arrendado nos
vez, o Imperador do Acre, de Marcio Souza, sob anos 1940 ao Ministério da Educação e Saú­
direção de L. C. M. Ripper, pela Empresa de, e nele instalando-se o Serviço Nacio­
Amazonas Produções Artísticas Ltda, sendo nal de Teatro e a Comédia Brasileira, asso­
administradora do Teatro, a atriz Pepa Ruiz. ciação artística organizada por este serviço.
Nessa época tinha a capacidade de 791 lu­­­
Depois de integrar por uma década a Rede gares, distribuídos da seguinte forma: 6 ca­­
de Teatros do Município do Rio de Janeiro, marotes, com total de 27 lugares; balcão,
o Teatro Dulcina passou à administração da com 242 lugares; cadeiras de 1a classe, com
Funarte em 2008. O Teatro foi reaberto em 499 lugares; cadeiras extras, 23 lugares.
agosto de 2011, depois de uma ampla re­ O teatro foi inaugurado oficialmente
forma que lhe devolveu o estilo art déco do em 16 de setembro de 1938, em récita
projeto original de 1935. dedicada aos críticos e cronistas teatrais
do Rio. Foi representada a comédia O co­
ração, de Antonio Rodrigues, por amado­
1938 res da Escola Dramática do Clube Ginás­
Teatro Ginástico tico Português, sob a direção de Djalma
de Castro Vianna. No elenco: Odette Mon­­
O Movimento de renovação surgiu com teiro, Olga Moreira, Hercília Araújo, Ar­
a Semana de Arte Moderna de 1922, só ge­mira Martins, Augusto Araújo, Fernan­des
chegando nas artes cênicas com quase 20 Maia, Drummond Filho e Jorge Mar­tins.
anos de atraso, quase às vésperas da déca­ A montagem técnica ficou a cargo de An­
da de 1940. tonio Monteiro.

372 Teatros do Rio


quatro paredes mestras, vai muito além dos

Arquivo Cedoc/Funarte
cinco milhões dos seguros recebidos.
A preocupação maior foi o aprovei­
tamento integral e racional do espaço; e
proporcionar segurança perfeita e absolu­
ta. Além de emprego de material incom­
bustível (nossos arcabouços de cimento
armado isso facilitou) e isolar, no caso de
incêndio os diferentes setores, a sala (pla­
teia e balcões) a caixa (palco, camarins e
dependências acessórias) haverá amplas
saídas para os mil e tantos espectadores e
todo pessoal do teatro, artistas incluídos,
possibilitando evacuação rápida.
Introduziram-se modificações que melho­
raram sensivelmente as condições técnicas
do teatro, a começar pela acústica. Foi criada
Fachada do Teatro Ginástico
uma galeria, divisão de madeira incombus­
tível no fundo da sala, refração da voz, e es­
O espetáculo de reinauguração, já sob a tudados os ângulos a serem impostos.
direção do Serviço Nacional de Teatro, es­ O palco será provido de toda aparelha­
treou, profissionalmente, no dia 4 de no­ gem moderna, visando facilidade de mo­
vembro de 1938, com a peça em 3 atos de vimento e iluminação perfeita; refletores
Ernani Fornari, Yayá boneca, encenada pela dispostos em hemiciclo na sala, sem ferir o
Companhia Brasileira de Comédias, tendo olhar do espectador, permitirão obter va­
no elenco Delorges Caminha, Olga Navar­ro, riados efeitos.
Luiza Nasaré, Lúcia Delor, Rodolfo Mayer e Foi estudada a circulação do ar, a exaus­
Sadi Cabral, entre os principais. tão do calor, estabelecidas correntes da
Quando o teatro foi devorado no 1° se­ sala para o palco, de modo a impossibili­
mestre de 1957, por um grande incêndio, tar o que aconteceu em fevereiro, a única
estava em cartaz a peça Gato em teto de zinco pessoa que se achava no interior do tea­
quente, montagem do TBC, com absoluto su­ tro pretendeu fugir pela porta da frente e
cesso. Esse grande êxito de bilheteria passou antes de atingi-la morreu asfixiada.
para o Teatro Maison de France, com o mes­ Foram atendidas todas as disposições
mo elenco do Teatro Brasileiro de Comédia. contra o fogo: haverá a cortina de ferro ou
O Jornal do Brasil em 4 de novembro de amianto (o efeito é mais psicológico que
1957 publicava esta entrevista do arquiteto eficaz, disse o Dr. Mário); portas abrindo
Mario José Pinto, a Mário Nunes: para fora, luzes indicadoras das saídas, iso­
lamento das instalações elétricas, mobiliá­
Nosso desejo era recuperar o mais depressa rio fixo, corredores amplos. Estudo, agora
possível o Ginástico, reabri-lo ainda este ano. a possibilidade de estabelecer canalizações
Foi, porém, muito grande a extensão da ca­ que, em caso de sinistro, despejem sobre a
tástrofe, o dispêndio com a sua reedificação sala e palco a água – milhões de litros – da
como casa de espetáculos, só ficaram de pé as piscina do clube...122

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 373


Teatro Clube Ginástico Português. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Clube Ginástico. Corte, (S.E.)


Quanto às melhorias que foram realizadas interferência do Vereador Magalhães Jú­
após o incêndio, Gustavo Dória comenta no nior, junto ao ex-Prefeito Negrão de Lima.
jornal O Globo:
Outro jornal, Última Hora, de 21 de agos­
Examinamos, nas plantas, os esboços das to de 1970, comentava também a respeito
obras que já estão numa fase de plena ativi­ das melhorias:
dade.Verificamos que o Rio ganhará, talvez,
o seu melhor teatro de comédia. Tudo foi O Teatro Ginástico passará a ser, depois do
previsto dentro do que há de mais novo em Theatro Municipal, o mais bem equipa­
matéria de instalação, tais como rendimen­ do do Rio, ao final das reformas que sua
to acústico, visibilidade da plateia, aparelha­ diretoria está fazendo e as quais serão in­
gem de iluminação e de refrigeração, mon­ vestidos Cr$ 100 milhões. Além de ter sua
tagem de cenários etc. Os novos camarins capacidade aumentada para 750 lugares,
serão dotados de banheiro próprio, bem receberá um novo hall de entrada, pintura,
como de luz adequada à maquilagem dos decoração interna, pano de boca e novos
atores, enquanto o palco, alargado em sua equipamentos para a estreia do musical
boca de cena, disporá de meios que facilita­ Promessas e Promessas, de Vítor Berbara, dia
rão qualquer montagem. Funcionando, pe­ 15 de setembro próximo. Vitor, além de
riodicamente como cinema, tendo em vista diretor de teatro é diretor da agência Cen­
as finalidades do clube, está prevista, tam­ tury Publicidade.
bém, a colocação da tela para cinemascópio
sem prejuízo ou interrupção dos espetácu­ Sua lotação após a reforma passou para
los teatrais, uma solução que deveria ser co­ 750 lugares, sendo 500 na plateia e 250 no
nhecida dos nossos teatros. No interior que, balcão, o palco com 9 m de largura, 6 m de
funcionando como cinema, são inacessíveis altura e urdimento com 5 m. A profundida­
aos elencos que excursionam.123 de do palco com 8 m, sendo 1,5 m de pros­
cênio, além de nove camarins individuais e
Em edição da Revista de Teatro da Sbat, dois coletivos, dois banheiros (um masculi­
maio-junho de 1958, p.19, é publicada a no e um feminino).
matéria de visita do Prefeito Sá Freire Alvim O processo utilizado para a movimen­
e do Vereador Raimundo Magalhães Júnior, tação dos cenários é manual; a iluminação
ocasião das obras que estavam sendo execu­ dispõe de refletores apropriados e de um
tadas em virtude do incêndio ocorrido. Na quadro tradicional, com controle através de
visita, foi exibida a nova sala de espera: autotransformadores de 400 A. por fase, tri­
fásico, 60 ciclos.
construída no lugar em que existia uma
passagem para automóveis e com permis­
são do ex-Prefeito Negrão de Lima, me­ 1940
diante interferência do Vereador R. Maga­ Teatro Serrador (Teatro Brigitte
lhães Júnior. Foram também mostrados os Blair II)
camarins que para maior conforto dos ar­
tistas, terão ar-condicionado e foram am­ O Teatro Serrador localizado na Rua Sena­
pliados, ocupando uma área maior, tam­ dor Dantas, n. 13, pertencia a família Ser­
bém concedida ao Clube Ginástico, por rador, que como não tinha maiores ligações

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 375


com o meio teatral, resolveu vendê-lo à fir­ receber o aluguel até dez dias após o seu
ma Gaumont, que pretendia transformá-lo vencimento e mais o seguinte:
em laboratório farmacêutico. Segundo Nes­ A ocupação do Teatro por parte do Ser­
tor de Montemar: viço Nacional de Teatro deverá prolongar­
-se até 31 de dezembro de 1940;
O proprietário dos jornais O Dia e Últi- As despesas de funcionamento de teatro
ma Hora, Ari de Carvalho, quis comprá-lo (luz, força, telefone, mudança de lâmpa­
para nele instalar o estúdio de uma rádio. das, despesas com o pessoal como, bilhe­
E uma outra firma pretendia usá-lo como teiros, porteiros, indicadores, electricis­
cinema de filmes pornô.124 tas, zeladores, serventes etc. e aluguel do
porão e letreiro luminoso da fachada) cor­
Desde 4 de dezembro de 1939 era arren­ rerão por conta da Companhia que ocupar
datário do teatro Procópio Ferreira, sendo o teatro a mando do Serviço Nacional de
sua companhia que o inaugurou no dia 1 de Teatro que assumirá, inteiramente, todas
março de 1940 com a peça Maria Cachucha, as vantagens e todos os ônus decorrentes
de Joracy Camargo. A peça em 3 atos, divi­ do contrato vigente entre mim e a Compa­
didos em 6 quadros, tinha no elenco Pro­ nhia Brasil Cinematográfica, e sob sua in­
cópio Ferreira, Hortênsia Santos, Juracy de teira responsabilidade, ficando eu respon­
Oliveira, Francisco Moreno, Flora May, Léa sável por esses pagamentos somente até 30
Sodré, José Policena, Luiz Cataldo e Sylvio de setembro do corrente ano.
da Silva. Sem outro assunto, subscrevo-me aten­
Antes de iniciar a peça, Abadie Faria Rosa, ciosamente.
então Diretor do Serviço Nacional de Tea­ Procópio Ferreira
tro, dirigiu algumas palavras ao público para
elogiar o novo empreendimento de Francis­ O Anuário da Casa dos Artistas, de 1947, nú­
co Serrador. mero que se refere à inauguração, comenta
Em ofício datado de 1 de março de 1940, quanto ao nome que foi dado ao teatro:
endereçado ao então Diretor do Serviço Na­
cional de Teatro, Procópio Ferreira, colocava ...Francisco Serrador viria a criar em 1°
o teatro à disposição do SNT, conforme carta: de março de 1940 o teatro da Rua Senador
Dantas, que recebeu o seu nome, contra
Saudações. a sua vontade, por sinal, tendo o saudoso
Venho pela presente, em face do nosso empresário insistido, modestamente, em
entendimento verbal, reafirmar que, desta denominá-lo “Moda”.
data em diante, o Teatro Serrador do qual
sou arrendatário nos termos do contrato Registra-se aqui um fato interessante:
de locação lavrado em notas do tabelião
Alvaro Teixeira (livro 349, fls. 6) em 4 de O empresário Francisco Serrador, cons­
dezembro de 1939, fica inteiramente à sua trutor e dono do teatro quis escolher o
disposição, isto é, à desse Serviço, como nome do teatro por votação pública de
de fato ja está a partir desta data, mediante que participavam os espectadores do ex­
o pagamento mensal de Rs 25.000$000, tinto Alhambra. Esses, fraudando a deci­
(vinte e cinco contos de rs) pagável por são dos votantes, deram-lhe o nome de
mês vencido, comprometendo-se ainda a “Moda”, colocando em segundo lugar “Ser­

376 Teatros do Rio


rador”, que era o primeiro colocado. O Um teatro acanhado, sem nenhuma ex­
le­treiro luminoso Moda já estava prepara­ pressão e que por não possuir um palco que
do, quando um grupo de homens de tea­ desse as mínimas possibilidades de monta­
tro – Viriato Corrêa, Armando Gonzaga, gem, permaneceu ao longo do tempo pouco
Joracy Camargo, Eurico Silva, Rubem Gil procurado por empresários e produtores,
e Raimundo Magalhães Júnior, invadiu o além de ter ganho tradição como casa de co­
edifício, deitando abaixo a tabuleta e colo­ médias e shows.
cando, em seu lugar, uma outra provisória Depois de permanecer fechado, durante
com o nome de Serrador.125 três anos e meio, e quase ser transformado
em laboratório farmacêutico, cinema de fil­
Quando da inauguração, em 1940, o Jor- mes pornográficos e estúdio de rádio, o Tea­
nal do Commércio, de 2 de março de 1940, tro Serrador foi reaberto em 1984, adquiri­
questionava a acústica da casa: do pela atriz e empresária Brigitte Blair, a um
grupo de franceses, depois de negociações
O teatro é na verdade elegante, airoso, que vinham desde 1981. A última parcela da
deveras simpático. Precisa apenas, talvez, transação deve ter sido paga em 1985. Em
dalguns reparos no tocante à acústica. 1965, Brigitte Blair fez sua primeira produ­
Quando os artistas baixavam a voz custava ção no Serrador, com Cala a boca, Etelvina,
ouvi-los das primeiras filas. Só se, naquela uma burleta de Armando Gonzaga. Vinte
sala, quanto mais para traz melhor. anos depois, voltava à casa planejando uma
programação intensa e variada. A intenção
A fachada do Serrador, pouco diferencia de Brigitte Blair era transformar aquela
da sua original, podendo assim ser descrita: casa, apresentando peças infantis e shows de
uma ampla porta de vidro com esquadrias música popular semelhantes à programação
de alumínio no andar térreo, ao lado de uma do seis e meia, que aconteciam no Teatro
agência bancária, de um edifício de onze pa­ João Caetano.
vimentos, encimada pelo letreiro luminoso Em 21 de novembro de 1984, uma vez
do teatro. Pertenceram ao teatro o 1º e 2º que havia fracassado o projeto de levar Ro­
andares do edifício. A fachada desses dois berta Close para uma revista, é reinaugura­
pavimentos é enfeitada com 8 colunas de ti­ do com a comédia Tá boa santa?, de Fernan­
jolos vermelhos. Desses andares para cima a do Melo, com direção de Fabio Sabag, com
fachada possui balcões que se projetam para o nome Teatro Brigitte Blair II, tendo no
fora com 3 janelas ao centro e uma pequena elenco Nestor de Montemar, Norma Sueli e
varanda de cada lado, sendo esses ladeados Paulo Celestino Filho.
por janelas. O teatro recebeu uma pintura geral, re­
Em 1961 passou por uma reforma em seu cuperação dos camarins, parte elétrica,
interior; desde então o teatro possuía quatro forração das poltronas, construção de uma
camarins individuais, dois toaletes masculi­ cabine de iluminação e som. Outros repa­
no e feminino; poltronas estofadas, e siste­ ros, no entanto só ficaram prontos depois da
ma de refrigeração central, com capacida­ estreia, como troca dos tapetes, letreiro da
de para 368 espectadores. Nessa época era fachada e o conserto das infiltrações no teto,
particular de propriedade da Empresa Santa que muito danificaram o prédio. O tea­tro
Madalena Diversões S/A, de Antonio Ser­ foi fechado em 1997 por falta de público,
rador, Afonso Serrador e Marlene Serrador. diz a proprietária ao Jornal do Brasil, de 18 de

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 377


outubro de 1998. “Esse teatro eu comprei da empresa Cinema Colonial S/A, da qual
já numa época de mais violência. O centro Arthur Hazel e Ponce Filho eram respecti­
é terrível”. vamente, seu presidente e diretor-gerente.
A iluminação era totalmente indireta e a tela
Com intenções de vendê-lo ou alugá-lo, inteiramente de porcelana, o que constituía
Brigitte Blair enfrenta uma série de obstá­ uma inovação na época.
culos tendo em vista uma Lei Municipal que
impede o prédio de ser usado como banco Por ocasião da visita da imprensa que pre­
ou loja comercial, pelo fato de fazer parte cedeu sua estreia, relatava o Correio da Manhã:
do corredor cultural do Centro, uma Lei es­
pecífica que proíbe para tais usos. Na mesma Os visitantes estiveram na vasta plateia e
ocasião, diz Brigitte Blair: nos balcões, com capacidade para 2.000
pessoas sentadas em ótimas poltronas que
Por isso é que só quem compra são os permitem ao espectador uma perfeita vi­
evangélicos. Essa lei desvaloriza os imó­ sibilidade onde quer que se coloque, em
veis. Se o teatro vale R$ 1 milhão, R$ 300 virtude de apresentarem declive suficiente
mil passa a ser bom preço. Quem faz tea­ para tal... Na cabine das máquinas, os apa­
tro não tem dinheiro para comprar. relhos de som e projeção tipo “Miraphonic”
da Western Electric são os mais perfeitos
Em julho de 1999, após reforma, o teatro do mundo... As amplas dependências do
Brigitte Blair II reabre com o nome de Tea­ Cinema Colonial possuem ar-refrigerado
tro Serrador. sistema “Kooler-aire” que injeta 90.000
metros cúbicos de ar lavado e refrigerado
em serpentinas de água gelada...126
1941
Cineteatro Colonial (Sala Cecília Em 22 de março de 1941, era inaugurado
Meireles) com um espetáculo de palco e cinemato­
gráfico. O filme exibido foi O patriota, rea­
O prédio onde, hoje, se acha a Sala Cecília lização do cinema francês, com Harry Baur.
Meireles, no Largo da Lapa n. 80, antigo A seguir, houve um show luso-brasileiro
n. 40, foi construído em 1896 e nele insta­ com a participação de Beatriz Costa, Alda
lara-se o Hotel Freitas. Com a mudança do Garrido, os Anjos do Inferno, Jararaca e Ra­
arrendatário, mudou o nome para Grande tinho, Jorge Murad e Jurema Magalhães.
Hotel, tornando-se um reduto da política O Cineteatro Colonial funcionou por
na época. Desprestigiado mais tarde, com pouco tempo e por questão econômica,
a transformação da vida noturna na Lapa, transformou-se exclusivamente em cinema.
é ameaçado de demolição em 1939, e no Desapropriado no governo Carlos Lacerda,
ano seguinte, é então adaptado para cinema, o prédio passou a ser patrimônio do Estado
mantendo os três pavimentos existentes. da Guanabara e sua reconstrução ficou a car­
A inauguração do Cineteatro Colonial, go da Secretaria de Turismo.
nome escolhido em homenagem ao espírito Em 1965 é totalmente restaurado pela Se­
de cooperação da colônia lusitana, constituiu cretaria de Estado de Turismo – sendo então
acontecimento muito comentado nos jor­ secretário o engenheiro Enaldo Cravo Pei­
nais da época. Era de propriedade particular xoto – só não foram reformadas suas estru­

378 Teatros do Rio


parte lateral saía dos interstícios dos lam­
bris fundidos, proporcionando uma luz de
efeito decorativo.
A acústica tinha um tempo de reverbera­
ção de 1,53 décimos de segundo, considera­
do pelos técnicos como um dos mais perfei­
tos, e o som natural, dispensando recursos
eletrônicos, em virtude da disposição arqui­
tetônica das paredes e do teto. Para reforçar
o nível sonoro do fundo do palco, foram co­
locadas placas refletoras na boca de cena, ao
mesmo tempo que, na parte superior, havia
dois recintos especiais, para a transmissão
dos concertos pelas estações de rádio.
A nova casa com o nome Sala Cecília Mei­
reles foi inaugurada em 01 de dezembro de
1965, sendo seu diretor o maestro Henri­
que Morelembaun, apresentando o progra­
ma: Poemas, de Cecília Meireles, interpreta­
Antigo Colonial, hoje Sala Cecília Meirelles dos por Maria Fernanda, Maria Riva-Mar,
Mario Tavares e Paulo Padilha. A Orquestra
turas e fundações e o responsável pelo pro­ Sinfônica do Theatro Municipal executou as
jeto foi o próprio secretário, e pelas obras o Bachianas n. 5, de Villa-Lobos, uma Peça de
engenheiro Fernando Sampaio. A adaptação Beethoven e o Concerto n. 2, para piano e or­
para a nova sala, foi feita com aproveitamen­ questra de Brahms, com a participação do
to da fachada do cinema e esteve a cargo do pianista Nelson Freire. Tendo sido inaugura­
arquiteto Carlos Calderaro. da, a título precário esteve fechada por al­
Para a criação da sala, o edifício sofreu guns meses, por falta de condições técnicas
inúmeras modificações, obedecendo às exi­ para funcionar, e foram feitos novos reparos
gências de funcionalidade, conforto e acús­ em consequência dos estragos decorrentes
tica perfeita, além de decoração leve, en­ da inundação de janeiro de 1966.
trada única e larga, duas saídas, com todos
os dispositivos de segurança em caso de Na plateia há lugar para 580 pessoas e nos
incêndio. balcões para 320. O palco com 10 m de
Na plateia, ao nível do palco, foram colo­ abertura por 9.70m de altura. A parede
cadas poltronas reclináveis. E no balcão cria­ do fundo foi trabalhada pelo técnico Hil­
do um pequeno foyer. O foyer principal, lo­ ton Hernandez de Faria, com camadas de
calizado após o hall de entrada, possuía uma gesso superfortes para projeção acústica, o
cafeteira e tinha o piso atapetado, as paredes que resultou em bonito efeito visual.
de lambris decorado com dois painéis pinta­ As obras ainda não terminaram, mas já
dos por detentos do presídio do Estado. estão prontos quatro camarins e o estúdio
A iluminação era feita por luminárias de gravação. No fundo do prédio duas ca­
embutidas em forro falso, abrangendo a sas ali existentes foram desapropriadas e
metade da área da cobertura, enquanto a se destinam à construção de mais alguns

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 379


camarins e apartamentos para abrigo tem­ e sendo a programação de reabertura: Fan-
porário de artistas vindos de fora. tasia em Dó menor para piano, coro e orquestra,
Quando no governo de Carlos Lacerda, solista Arnaldo Estrêla, e a Nona Sinfonia,
nas comemorações do 4° centenário, Mau­ ambas de Beethoven, com o coro e orques­
rício Quadrio sugeriu o aproveitamen­to tra do Theatro Municipal, sob a regência do
do “Colonial” para sala de concertos, lem­ maestro Eleazar de Carvalho.
brou também um nome para a sala: José O maestro Edino Krieger, registrando a
Maurício, o maior compositor das américas. reinauguração, refere-se às excelentes con­
No próximo ano festejar-se-á o bicentená­ dições técnicas e estéticas da nova sala:
rio do compositor que, em nossa opinião e
pela semelhança da obra, é o “Aleijadinho” O extremo bom gosto de sua concepção
da música brasileira. Seria uma justa ho­ arquitetônica interior, com suas linhas em
menagem se seu nome fosse dado a alguma cores harmoniosas em sua simplicidade,
realização idêntica.127 formam um conjunto digno do conceito
da nossa melhor arquitetura. De grande
Foi reinaugurada em 23 de agosto de utilidade a instalação de um stand de mú­
1966, com sua decoração interior desper­ sicas e discos no saguão de entrada.
tando uma [...] Mas a grande revelação da noite,
o que constitui o mérito maior da sala, é
sensação de imponência causada pela tape­ a qualidade excepcional de sua acústica.
çaria em vermelho, as paredes revestidas A nitidez com que se ouvem todos os mí­
de jacarandá e dois grandes painéis coloca­ nimos detalhes, a extrema valorização do
dos no cimos da parede que separa o hall timbre e a docilidade da acústica aos ma­
da sala de concertos propriamente, de au­ tizamentos de intensidades fazem da audi­
toria de Bianco128, ção, na Sala Cecília Meireles, mais que um
prazer – um verdadeiro privilégio. Sem
Cine Colonial prejuízo de sua perfeita integração num

Arquivo Cedoc/Funarte

380 Teatros do Rio


mixing ideal, ouve-se com absoluta nitidez chada de composição acadêmica, vagamente
cada instrumento ou voz, como se os re­ ensimando um arco triunfal romano e, ao
cursos mais avançados da gravação este­ mesmo tempo, deixando transparecer um
reofônica, que permitem captar o som de gosto neocolonial.
uma flauta em meio ao mais altissonante Em 1972, o teatro precisou ser fechado
fortíssimo existissem ali ao natural, sem o mais uma vez para reformas em seu telha­
auxílio de qualquer artifício... do e troca de todo o madeiramento que es­
É igualmente prodigiosa a resposta do tava apodrecendo. Em 1975, com a fusão
ambiente à mais leve mutação de intensi­ do Estado da Guanabara com o Estado do
dade....129 Rio de Janeiro, passou a ser propriedade
do Governo do Estado do Rio de Janeiro,
O responsável pela recuperação e o re­ ficando a Sala Cecília Meireles subordi­
condicionamento da sala foi o arquiteto nada à Fundação de Teatros do Estado do
Hilton Hernandez de Faria, que conseguiu Rio de Janeiro (Funterj). Em 1977, surgiu
um rendimento acústico admirável, in­ a notícia de que a sala era passível de de­
cluindo a sala dentre as melhores do mun­ molição por estar localizada em área para a
do, e toda a decoração foi feita em função qual existia um projeto de alargamento do
da acústica. Largo da Lapa. Diante dos inúmeros pro­
De acordo com as informações fornecidas testos da comunidade, a Prefeitura desistiu
pelo diretor do Departamento de Engenha­ da ideia e a construção acabou protegida
ria e Manutenção, Carlos Lafayette Barcelos, por um tombamento.
o palco mede 15,00m de frente por 15,00m Por causa de um incêndio, em 1978, a
de altura e por 11,00m de profundidade, sala permaneceu fechada por alguns dias,
não possui urdimento nem proscênio. Há e em dezembro de 1979, quando houve a
instalação de ar-refrigerado; está provido de criação da Fundação de Artes do Rio de Ja­
2 camarins individuais apenas; 2 banheiros neiro (Funarj), foi anunciado por Guilherme
masculinos e 2 femininos. A sua capacidade Figueiredo, então presidente da Fundação,
é de 897 espectadores, sendo 520 lugares na que a sala se mudaria para o Palácio das Ar­
plateia e 377, no balcão. tes a ser construído no Parque do Flamengo.
No aspecto atual da sala, observa-se que O projeto acabou engavetado.
sua fachada principal foi tratada como um Fechado em novembro de 1984, para
painel, com poucas aberturas, cuja compo­ reformas, pois pedaços do teto se despren­
sição é dominada por moldura central em diam, havia rachaduras nas paredes, em con­
forma de arco, preenchido por desenho em sequência de defeitos no telhado e obras
gesso, em composição quadriculada. Há vizinhas, que foi inteiramente refeito na re­
coroamento por platibanda de proporções forma, o sistema de ar-condicionado com­
pesadas, subdividida em três faixas verticais pletamente restabelecido, e o revestimento
por pilastras fantasiosas. Nas faixas das ex­ acústico, também todo novo, tudo foi feito
tremidades de menor dimensão sobressaem em minuciosa observância ao que havia an­
dois falsos óculos preenchidos por desenho tes, para não alterar o que era justamente o
em estuque, encimando uma caixilharia motivo de orgulho da sala que foi esvaziada
com emolduramento delicado. As verticais de todos os seus revestimentos, e toda pin­
das pilastras são prolongadas acima da pla­ tada num tom pastel; com a eliminação de
tibanda por pináculos. Trata-se de uma fa­ tons berrantes e criado também um outro

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 381


Arquivo Cedoc/Funarte

Fachada da Sala Cecília Meirelles


espaço, que recebeu o nome de Sala Guio­ 1949
mar Novaes. Tudo graças ao empenho do Teatro Astral
vice-Presidente da Funarj, Leonel Kaz, que
contou com o apoio do vice-Governador A Revista Dionysos informava em junho de
Darcy Ribeiro. 1949 (p.151):
É reinaugurada em 16 de maio de 1985,
com uma programação que incluiu As Fan- Em 1949 era inaugurado o Teatro Astral, à
farras, de Edino Krieger; O Magnificat Ale- Rua 13 de Maio, com o espetáculo A Fera
luia, de Villa-Lobos, com a participação da Rua larga, de Fernando Restier, pela
do coro infantil do Theatro Municipal, do companhia Hortencia Santos.
coro adulto do mesmo e da orquestra de
violões criada por Turíbio Santos. Mas em
1987, os problemas surgiram novamen­ 1950
te, aparecendo os famosos “gatilhos” na Teatro Pen
fiação (a abertura da temporada de 1987
foi tumultuada por um início de incêndio, Em 1951, noticiava-se a presença do Tea­
provocado por um desses gatilhos). Havia tro Pen, localizado na Avenida Nilo Peçanha
goteiras e necessitava urgente de novas n. 26, sede do Pen Clube do Brasil. Uma casa
reformas que já haviam sido averiguadas com 320 lugares, com palco móvel para re­
pelo diretor-geral do departamento de te­ presentações.
atro, Rodrigo Farias Lima. Esta foi a única informação obtida a res­
Em 1988, na administração do maestro peito deste espaço, nada mais se sabe.
Henrique Morelembaun, é fechada para
obras, reabrindo seis meses depois, em 2 de
junho do mesmo ano já com lotação de 900 1955
lugares, com novos camarins, salas de admi­ Teatro Mesbla
nistração, todo redecorado; e uma sala para
ensaios, origem de um aproveitamento do O Teatro Mesbla, localizado à Rua do Pas­
fosso falso entre o foyer e o balcão. A facha­ seio, 42/11° andar, foi inaugurado em ju­
da tornou-se mais imponente por causa dos lho de 1955, por ocasião da realização do
estudos feitos pelo arquiteto Glauco Cam­ Congresso Eucarístico do Rio de Janeiro,
pelo sobre a Lapa. Com base em desenhos juntamente com o Restaurante Panorâmico
antigos, ele descobriu que o então Grande Mesbla.
Hotel, no início do século, tinha grandes co­ Em 9 de agosto de 1956, estreou sua pri­
lunas e arcos de pedra de cantaria, formando meira peça, intitulada My Three Angels, de
os portões de entradas. Durante anos eles fi­ Sam Bela Spervack, com o “The Rio Theatre
caram encobertos pelo cimento, entretanto Guild”.
agora encontram-se à mostra. De propriedade da firma Mesbla S.A. o
Hoje a Sala Cecília Meireles, um templo teatro foi construído originalmente para ser
da música clássica, expressa uma programa­ auditório, passou a teatro depois de obras de
ção com plenitude à musicalidade brasileira, adaptação. Ocupava a parte posterior do 11º
ocupando o espaço excepcional que lhe per­ andar do edifício Mesbla, não tendo, por­
tence, o centro vital das atividades na vida tanto uma fachada típica e própria. As dez
musical da cidade do Rio de Janeiro. primeiras poltronas da plateia eram contí­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 383


Teatro Mesbla.
Planta baixa, (S.E.)

nuas, enquanto as demais, separadas por um metro, que só funcionou uma vez, e depois
corredor. Havia 8 poltronas de cada lado, foi desativado.
por fila. As paredes eram pintadas de verde As instalações elétricas eram bem sim­
e a forração, em vinil, das poltronas tinham ples, mas que serviam bem aos espetáculos.
um tom verde combinando com a tonalida­ Todos os equipamentos de luz e som per­
de das paredes. tenciam às companhias arrendatárias (exce­
O palco era irregular e de pequenas di­ to 54 refletores). Possuía sistema de refri­
mensões: 5,9 m de altura por 7,7 m de lar­ geração central, 7 camarins: 5 individuais e
gura por 9,2 m de profundidade. A boca de 2 coletivos, 4 toilettes: 2 para senhoras e 2
cena 7,88 m de largura por 4,8 m de altu­ para homens. A capacidade do teatro era de
ra. Havia um urdimento bem rudimentar, 500 espectadores, distribuídos da seguinte
que não possibilitava manobras, somente forma: 386 na plateia e 114 no balcão.
para pendurar elementos cenográficos. Durante 13 anos, de 1974 a 1987, esteve
Possuía um palco giratório de 4 m de diâ­ arrendado à Companhia J. Ayer Produções

384 Teatros do Rio


Ltda, e em todo este período ofereceu ao 1956
público a opção de rir. Existia para a comé­ Teatro da Maison de France
dia, a velha comédia de costumes, a cons­
trução explícita em cena, de cenas leves Na antiga Esplanada do Castelo, à Avenida
do cotidiano. As produções da Companhia Presidente Antônio Carlos, n. 58, cresceu
Ayer trabalhavam com o riso, com o prazer um edifício de linhas modernas, projetando
de se divertir. Jorge Ayer cuidava minucio­ para o alto os 12 andares de que se compõe
samente de todos os detalhes dos cenários, a Maison de France, projeto do arquiteto
dos figurinos, tudo era executado conforme francês Jacques Pilon no início da década de
a determinação dos desenhos dos profissio­ 1950. Dentro da Maison de France, abaixo
nais contratados. Com seu falecimento em do nível do solo, de acordo com o clássico
1982, a viúva Elza Ayer assumiu a frente da gosto francês, surgiu uma casa de espetácu­
empresa, auxiliada por seu filho Jorginho, lo: o Teatro da Maison de France.
dando continuidade à programação do tea­ Sua inauguração, em 20 de março de
tro, sempre com a mesma qualidade e zelo. 1956, teve o patrocínio do Embaixador da
Em dezembro de 1987, o teatro é fechado França no Brasil, Bernard Hardin; contou
por decisão da diretoria, encerrando defini­ com a presença do Presidente da República,
tivamente suas atividades após a apresenta­ Juscelino Kubitschek, Ministros de Estado,
ção da peça Direita volver. Corpo Diplomático e ilustres convidados.
Coube a Jean Marsan o privilégio de dar
Desde outubro estou com o contrato ven­ vida ao novo palco, proferindo um pequeno­
cido. Há anos eles querem acabar com o -grande discurso, no qual o orador e o ator se
teatro. É compreensível, teatro é status, mesclavam sempre. O programa elaborado
não é retomo financeiro para eles. Estão para essa inauguração, um “Divertissement”
precisando do espaço que é deles. A clas­ de Jacques Charon, na apresentação de Jean
se teatral e os órgãos competentes não se Marsan, reuniu cenas de Feydean, Alphon­
manifestaram a tempo. Entreguei o teatro se Alais, Jules Renard, Courteline, Tristan
dia 28/12, porque precisei um prazo para Bernard, Sacha Guitry, Giraudoux, Marcel
saldar meus compromissos. Fiquei ain­ Aymé, Jean Anouilh e Jean Marsan.
da com as chaves um tempo para retirar No elenco estavam: Denise Provence, Na­
o material da minha produtora. Não sei o dine Alari, Marthe Mercadier, Raymond Ge­
que dizer, não entendo direito o que está rome, Michel Garland, Jacques Charon e Jean
acontecendo, é um teatro a menos, sinto Marsan, com cenários e figurinos de Marc Do­
muito que tantas casas estejam fechando e elnitz e Roger Harth como diretor de cena.
o problema é que a classe teatral não é uni­ O teatro tinha capacidade para 509 espec­
da. Se houvesse união, isto não acontecia. tadores, sendo a plateia com 333 lugares e
Lamento profundamente, mas não acho balcão com 176 lugares; possuía duas salas
que fazer alguma coisa...130 de espera: uma para a plateia, outra para o
balcão, comportando 200 e 250 pessoas,
De nada adiantaram os esforços da Secre­ respectivamente.
taria Municipal de Cultura, Sindicato dos Sua sala de espetáculos, dentro do clássico
Artistas e Técnicos, Inacen e a Sbat, todos bom gosto francês, de pequenas proporções,
foram vencidos. O Teatro Mesbla, parte da era confortável, com poltronas estofadas em
vida teatral do Rio, agora é história. veludo e ar-condicionado central.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 385


do inclusive alugado ao TBC, por ocasião do

Arquivo Cedoc/Funarte
incêndio ocorrido no Teatro Ginástico e tam­
bém ao Serviço Nacional de Teatro (SNT) por
uma temporada, a partir de 1960 o Teatro da
Maison de France passou a servir ao movi­
mento das jovens companhias teatrais.
Esta ideia partiu de Paschoal Carlos Mag­
no, que havia sugerido ao então Embaixador
da França Bernard Hardin, e logo posta em
execução pelo conselheiro cultural da Embai­
xada, Jean Binon, sob a orientação do profes­
sor e homem de teatro Roger Bernardet.
Em março de 1960, o Teatro da Maison de
France, inaugurava uma nova fase como casa
de espetáculos, à disposição das jovens com­
panhias teatrais, incentivando os grupos em
formação e os já existentes, com repertó­
rios escolhidos não só entre os autores bra­
Teatro da Maison de France em 1964
sileiros, como entre autores estrangeiros,
clássicos ou modernos. O primeiro espetá­
As características técnicas da sala eram: culo dessa fase do teatro foi a apresentação
boca de cena com 16,40m de largura por pelo “Studio 53” da peça Romance deVilela, de
16,00m de altura e 5,60m de profundidade, Francisco Pereira da Silva, com direção de
com 1,30m de proscênio. A aparelhagem de Carlos Murtinho.
iluminação era constituída por um quadro Este movimento acabou não dando bons
de luz, e refletores. Sua aparelhagem de som frutos, porque as atividades no setor tea­
era composta de gravador, microfone, am­ tral eram pobres e não vinham correspon­
plificador e caixas acústicas. dendo às intenções culturais da casa. Não
Desde sua criação, sem possuir, inicial­
mente, uma política cultural específica, sen­ Teatro da Maison de France. Planta baixa, (S.E.)

386 Teatros do Rio


que estivessem interessados em sucesso de ao Cônsul Geral da França no Rio, André
bilheteria com peças comerciais, mas que Cira, um abaixo-assinado com cerca de
fossem montagens de peças de real mérito 1.500 assinaturas de artistas, técnicos e
artístico. produtores teatrais pedindo a reabertura
No final da década de 1960, começaram do teatro.
então sucessos como Black Out, de Frede­ André Cira adiantou na época que o
rick Knott, com direção de Antunes Filho; Embaixador da França, Philippe Cuvilier,
O burguês fidalgo, de Molière, pela Compa­ estaria desenvolvendo já há algum tempo
nhia de Paulo Autran e Galileu Galilei, de contatos com o Governo Francês, visando a
Bertold Brecht, com direção de José Celso liberação de verba para a reforma de todo o
Martinez Correa, cenários e figurinos de Joel prédio do Consulado do Rio.
de Carvalho, tendo como intérpretes: Cláu­
dio Corrêa e Castro, Íttala Nandi, Renato Estamos aguardando apenas a visita de
Borghi, Fernando Peixoto, Renato Macha­ técnicos franceses para acerto de detalhes
do, Flávio San Thiago e Antonio Pedro. da obra, que suponho deva começar ainda
Depois veio a Companhia de Eva e seus este ano, em novembro e dezembro132
Artistas, com Olho na Amélia, de Feydeau
com direção de Paulo Afonso Grisolli, com Em 1988, era publicado na imprensa:
cenários e figurinos de Napoleão Muniz
Freire. No elenco: Eva Todor, Afonso Stu­ Para a reforma, foram contratados os fran­
art, Milton Moraes, Luiz Carlos de Moraes, ceses Renauld Pierard (arquiteto) e Ri­
Helio Ari e Sérgio de Oliveira. Em seguida, chard Peduzzi (cenógrafo) [...] ganhará
Ubu Rei, de Alfred Jarry, pela Companhia poltronas mais confortáveis, telão para ci­
Dramática Reta Três, com direção de Gianni nema e cabine de tradução simultânea para
Ratto e o ator Ivan Setta no papel-título. conferências.133
Ainda no final da década constatou-se
também que a política cultural da Em­ Depois de um silêncio de quase 10 anos,
baixada da França, começava aos poucos saía uma nota, em uma coluna social do jor­
a voltar com o intercâmbio com Paris, nal O Globo:
exercendo dessa forma uma influência
entre a juventude dominada pelo espírito A reforma do Teatro da Maison de Fran­
renovador, com espetáculo do grupo uni­ ce, para reabertura daqui a um ano, deverá
versitário francês L’Aquarium – Comèdie de transformar a sala na mais bem equipada
La Sorbonne, apresentando Les Guerres Picro- do Rio.
cholines, teatralização de um episódio de O projeto, assinado pelo arquiteto Sergio
Gargantua, de Rabelais. Dias, prevê um investimento de R$ 5 mi­
Em 1984, apresenta seu último espetácu­ lhões. 134
lo A Divina Sarah, de John Murrel com a TAC
Produções Artísticas Ltda. “Inquietação na Em março de 1999, eram publicadas no­
área teatral: faz seis meses que o Teatro da tícias de que o teatro seria reaberto no ano
Maison de France permanece fechado, sem 2000, conforme matéria a seguir:
notícias de reabertura breve”.131
Em 14 de janeiro de 1987, o presiden­ Com data certa para sua reabertura (dia 14
te do Inacen, Carlos Miranda entregava de julho de 2000), o Teatro Maison de Fran­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 387


ce deverá entrar em obras em junho. O ar­ seu proprietário sente pelo festejado co­
quiteto francês Eric Gizard está no Rio para mediógrafo carioca.
tratar dos últimos detalhes da decoração do O Teatro Paulo Magalhães acaba de ser
teatro que está fechado desde 1983. inaugurado. À cerimônia festiva compa­
– Será uma homenagem à cultura fran­ receram o Ministro Mário Pinotti, o re­
co-brasileira que celebrará também dança, presentante do Governador do Estado e
música e teatro – diz o arquiteto – na en­ outras altas autoridades administrativas,
trada do teatro, haverá esculturas das mu­ jornalistas e um mundo de amigos do mé­
sas gregas que inspiram estas artes. dico e do escritor.
Gizard vai apostar nas cores azul e mar­ O salão amplo e arejado conta com
rom em toda a decoração do teatro, que quinhentas poltronas, largo palco, cama­
tem capacidade para 400 pessoas.135 rins refrigerados, todas as comodidades
modernas.
O “Maison”, como é chamado pela clas­ Durante a solenidade falou Paulo Ma­
se artística, foi de grande importância para galhães, e entre belas palavras de agrade­
a vida cultural do Rio, uma casa que teve a cimento disse que “recebia a homenagem
vida ativa e de grande repercussão. como prêmio ao seu teatro popular e des­
pretencioso, que nada mais pretende que
não seja alegrar o público, tão necessitado
1960 de esquecer as duras lutas de cada dia”. E
Teatro Paulo Magalhães ainda: “que aquela esplêndida casa de es­
petáculos no progressista bairro da Santa
A única matéria colhida sobre o Teatro Paulo Teresa fora doada à cidade pelo esforço de
Magalhães foi esta, publicada em 1960, na um brasileiro, o Dr. Alexandre Dias Filho,
Revista da Sbat: que nada pediu aos cofres do País”.
Após a oração de Paulo Magalhães, o
INAUGURADO O TEATRO PAULO Dr. Agêncio Tosta Filho tomou a palavra
MAGALHÃES para, em nome do Ministro Mário Pinot­
A propósito da inauguração desse teatro ti, aplaudir o empreendimento da O. F.
no bairro de Santa Teresa, Augusto Maurício I. R., que na mesma ocasião inaugurava
escreveu a seguinte nota no Jornal do Brasil: também um ambulatório, e dizer que
Possui agora o bairro de Santa Teresa “a obra do Dr. Alexandre Dias Filho não
dois teatros: O Duse e o Paulo Magalhães, podia deixar indiferente o poder público,
ambos devidos à iniciativa particular, ao e que estava certo de que o Governo, sa­
amor dos seus fundadores pela arte do bedor só agora da grandeza do empreen­
palco. O Duse é propriedade do Ministro dimento, havia de auxiliá-lo”. Saudando
Paschoal Carlos Magno, nosso brilhante Paulo Magalhães disse que “desde jovem,
confrade, instalado em dependência de sua na sua linda Minas Gerais, aprecia os su­
residência; o outro foi incluído na planta cessos do autor patrício, vendo na sua
pelo Dr. Alexandre Dias Filho, situado à bela obra um serviço de eugenia mental
Rua Conselheiro Lampreia. prestado às plateias tão necessitadas de
A este teatro recém-construído foi da­ alegria e bom humor”.
do o título de Paulo Magalhães, como de­ Restava a palavra do Dr. Alexandre Dias
monstração da grande admiração que o Filho. Falou no final da cerimônia dizendo

388 Teatros do Rio


que “aquela organização fundada em 1948,
agora em sua nova casa, ampla e apta a todos
os fins de apoio físico e espiritual às classes
menos favorecidas pela fortuna inaugurava
o Teatro Paulo Magalhães, autor que só co­
nhecia de renome e através das suas peças
simples e humanas, divertidas e otimistas –
como um presente ao bairro de Santa Teresa
e à cidade do Rio”. O primeiro espetáculo
no novo teatro deverá ser encenado no pró­
ximo mês de junho, com peça do próprio
Paulo Magalhães.
Só pode merecer aplausos a ideia da
criação do teatro. É um testemunho vivo
do interesse que há nos espíritos cultos
pela bela arte que tem tornado famosa
tanta gente”.136

1960
Teatro Nacional de Comédia Cine Parisiense, na Galeria Cruzeiro, onde surgiu a sede do
(Teatro Glauce Rocha) Teatro Nacional de Comédia

De trás de um tapume, que escondia duran­ despacho autorizando a compra pelo Mi­
te meses, o ex-Cine Parisiense, na Avenida nistério da Educação.
Rio Branco n. 179, antiga Avenida Central,
em frente à antiga Galeria Cruzeiro (hoje O Parisiense sempre foi um cinema
edifício Avenida Central) e fazendo esqui­ simpático. Sua localização – no centro
na com a Rua Chile (que passou a chamar­ urbano, tornava-o um ponto privilegia­
-se Melvin Jones e, atualmente, é a Rua da do. Com a edificação da Cinelândia, nos
Ajuda), foi reaparecer, em março de 1960, terrenos em que assentara o Convento
como sede própria do Teatro Nacional de da Ajuda, o maior movimento foi atraí­
Co­­­­­­média. Tudo junto dos esforços incansá­ do para ali, pelo número de cinemas
veis de Edmundo Moniz, diretor na época inaugurados – o Capitólio, o Odeon, o
do Serviço Nacional de Teatro. Império, o Glória, o Pathé Palace, logo
O Cine Parisiense com o tempo foi depois o Rex, o Rivoli e o Vitória, este
abandonado e, por medida judicial, passou último mais recente, e ainda o Palácio,
a pertencer ao Banco do Brasil, gestão de o Metro e o Plaza, da Rua do Passeio.
Sebastião Paes de Almeida. O então diretor Assim o velho Parisiense foi perdendo
do SNT, passou a visá-lo. Tinha o tamanho o esplendor dos seus primeiros tempos,
ideal para um teatro de comédia, apesar quando o coração da cidade era na Gale­
de ser relativamente pequeno, e situava­ ria Cruzeiro e adjacências.
-se num ponto bastante central. Em 1958 Há muito já que se encontra fechado
o Presidente Juscelino Kubitschek já dera o antigo cinema da esquina da Rua Chile.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 389


Cartazes em profusão, colados em sua fa­ Teatro Nacional de Comédia (Teatro Glauce Rocha)

chada, dão ao prédio o aspecto triste, me­


lancólico, de coisa abandonada. Por isso, a num pequeno teatro com capacidade para
notícia de que a casa vai ressurgir, sacudir 300 pessoas.
a poeira, deixar o silêncio em que mergu­ O TNC ocupou o edifício do antigo Cine
lha há anos, para tornar a ser um ponto Parisiense, inteiramente reformado, com
de atração pública, agora como teatro de oito pavimentos, três dos quais abrigaram o
cunho oficial, só pode ser recebida com teatro e os restantes, o SNT.
satisfação pelos que amam o teatro na sua À fachada do TNC foi acrescido um “bri­
cintilação artística.137 se-soleil” em concreto, pintado de azul, que
cobriu toda a sua extensão e todos os pavi­
A partir de 19 de novembro de 1959, o mentos do prédio (com exceção do térreo),
prédio é de propriedade do Serviço Nacio­ ocultando as cinco janelas visíveis anterior­
nal de Teatro, órgão subordinado ao Mi­ mente. O pavimento térreo foi revestido de
nistério de Educação e Cultura e, histori­ material cerâmico cinza e branco em toda a
camente, era o primeiro teatro federal do extensão, sobressaindo a bilheteria e a porta
país. O prédio foi adquirido pelo MEC/ principal, que serve de entrada ao teatro e
SNT, por 36 milhões de cruzeiros, sendo ao prédio.
gastos em sua adaptação 14 milhões. Foi No primeiro pavimento estão oito cama­
encarregado das obras de transformação rins; no segundo, o palco e a plateia e, no
o engenheiro Alberto Vianna Rodrigues, terceiro, o balcão. Sua sala de espetáculos
tendo como assistente Carlos Faber. Diri­ tem o nome de “Machado de Assis”, com­
gida pela Divisão de Obras do Ministério porta 256 pessoas, oferecendo 170 lugares
da Educação, a intenção era transformá-lo na plateia e 86, no balcão.

390 Teatros do Rio


A princípio surgiu a ideia de dar à sala o de teatros em edifícios autárquicos, um
nome de Machado de Assis, em homenagem por conta da Caixa Econômica Federal, na
a uma das figuras expressivas da crítica tea­ área compreendendo as Avenidas Almiran­
tral de todos os tempos. te Barroso, Rio Branco e 13 de Maio; ou­
Para complementar essas informações na­ tro na Avenida Passos, a cargo do IAPC; a
da melhor do que o artigo de Aldo Calvet: Lei Municipal n. 688, de 31/12/51, criava
a zona teatral no antigo Distrito Federal,
Há mais de meio século, a classe teatral se tentando, assim, obrigar a iniciativa parti­
bate e luta visando a um único objetivo: a cular a dotar a cidade de mais teatros. [...]
construção de teatros no país. Os tantos Em tudo, como se observa, faltava a deci­
apelos da gente do palco, neste sentido, fo­ são de modo objetivo do Governo Federal
ram sempre endereçados aos governos, aos que veio precisamente por inspiração da
poderes constituídos da República, pois que tenacidade e do empenho do Sr. Edmun­
da iniciativa privada pouco ou quase nada do Moniz, à frente do Serviço Nacional de
se devia esperar tão segura a convicção ge­ Teatro, no período governamental do Sr.
ral de que o investimento de capital em tal Juscelino Kubitschek.
empreendimento oferece as mínimas van­ A “Sala Machado de Assis” constitui,
tagens de lucros imediatos em relação, hoje pois, um acontecimento histórico na vida
em dia, aos negócios imobiliários. teatral do Brasil, porque foi a primeira er­
O clamor dos trabalhadores cênicos guida pelo Governo Federal, e situada em
no tocante à construção de novas salas de local que põe viva à memória toda uma
espetáculos chegou aos ouvidos das au­ gloriosa época da comédia de costume do
toridades públicas, tanto assim é verdade Brasil. Pois ali ao lado, no “Trianon”, teve
que, em memorável festa no Theatro Mu­ início a emancipação da dramaturgia na­
nicipal, a 17 de setembro de 1945, o Sr. cional com as temporadas inesquecíveis....
Getúlio Vargas, por sugestão do Sr. João
Massot, na época respondendo pelo ex­ E prossegue Calvet:
pediente do Serviço Nacional de Teatro,
assinou o Decreto Lei n. 7.959, dispondo A “Sala Machado de Assis”, sede do Teatro
sobre a locação de teatros, isto é, não per­ Nacional de Comédia, inaugurada no dia
mitindo que os poucos restantes ainda não 20 de dezembro de 1960, em homenagem
transformados em cinema sofressem solu­ ao escritor carioca que tanto pugnou pela
ção de continuidade. arte teatral...”
Ainda quando Presidente Constitucio­ O espetáculo de inauguração foi um
nal, o Sr. Getúlio Vargas reconhecia que o acontecimento de relevo social e artístico,
grande problema que afligia a classe teatral não somente pela apresentação das peças
era exatamente a falta de teatros do Rio Não consultes médico e Lição de botânica, de
Grande ao Amazonas. Este ou aquele, com Machado de Assis, e Boca de ouro, de Nel­
parcela maior ou menor no concernente à son Rodrigues, encenações primorosas,
expansão das artes cênicas brasileiras, nes­ quer pela disciplina dos intérpretes, quer
tes últimos trinta anos, procurou por to­ pela montagem em perfeita sintonia com
dos os modos repisar o mesmo assunto, e os mais avançados processos de tecnologia
enquanto o SNT conseguia, do Presidente teatral, mas também pelo comparecimen­
da República, autorização para construção to do mundo oficial, de figuras expressivas

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 391


da intelectualidade, das artes, da imprensa direção de Armando Couto e com cenários
e das classes trabalhadoras do país...138 e figurinos de Napoleão Moniz Freire. No
elenco de Lição de botânica, Paulo Goulart,
Em 20 de dezembro de 1960, o Teatro Beatriz Veiga, Suzana Negri, Elizabeth Ga­
Nacional de Comédia, do Serviço Nacional lotti. No elenco de Não consultes médico, Ma­
de Teatro, do Ministério da Educação e Cul­ galhães Graça, Sebastião Vasconcelos, Glau­
tura, não inaugurava apenas a sua casa pró­ ce Rocha, Diana Morel e Isabel Teresa.
pria, mas também o primeiro teatro federal
do Brasil, o que dá bem a ideia da impor­ Antes do início da representação, o dire­
tância do evento e das autoridades presen­ tor Armando Couto quebrou a solenidade,
tes: Clóvis Salgado, Ministro da Educação e aparecendo esportivamente para anunciar
Cultura, além do Ministro, falaram, na oca­ à sala repleta que ia haver um ensaio geral!
sião, o Acadêmico Austregésilo de Athayde, Estava muita coisa por concluir, inclusive
Presidente da Academia Brasileira de Letras; o cenário e o guarda-roupa. E teria razão,
Prof. Edmundo Moniz, Diretor do SNT; pois logo a seguir não funcionou a cortina.
Paschoal Carlos Magno; Josué Montello; A representação de Não consultes médico,
Prof. Pedro Calmon, Reitor da Universida­ iniciou-se com a cortina aberta, em vista
de do Brasil. O repertório para inauguração de ter havido a mordida de um nó...
da Sala Machado de Assis foi organizado pelo Esses contratempos comuns nas estreias
Prof. Edmundo Moniz de acordo com o Sr. só merecem reparo no caso por se tratar
Agostinho Olavo, Diretor do TNC. de uma solenidade inaugural do primeiro
Para a inauguração foram encenadas duas teatro federal do Brasil. Se nem os vesti­
peças, em um ato, de Machado de Assis, Li-
ção de botânica e Não consultes médico, sob a Teatro Nacional de Comédia (Teatro Glauce Rocha)

392 Teatros do Rio


dos das atrizes estavam alinhavados (e o da
Diana Morel quase se desmancha no pal­
co), se a cortina estava sujeita a mordide­
las, por que o açodamento da inauguração
com discursos, placas e muitas flores? Não
havia nenhuma data fixa, e nem ao menos
se desejava aproveitar a presença do Presi­
dente da República que não compareceu.
Aquele desarranjo perfeitamente justi­
ficável em qualquer teatrinho de bairro,
destoou do caráter solene e discursivo da
inauguração.139

Fazendo parte da cerimônia de inaugura­


ção do teatro foi colocada uma placa com a
efígie de Machado de Assis, patrono da sala,
e outra em que estavam gravados os nomes
dos realizadores da obra. Ao término do
espetáculo, foi ainda inaugurada uma placa Teatro Nacional de Comédia surgido do velho Cine Parisiense
com o nome do primeiro elenco de estreia
do novo Teatro Nacional de Comédia. fato não justificar mais, hoje em dia, que
O teatro possui oito camarins e uma boca o elenco nacional esteja quase sempre na
de cena de 7,00m por 14,00m de altura, capital de um único Estado.
com urdimento a 17,00m e profundidade Quando Clovis Garcia foi Diretor do
de 7,00m. O Diretor do Teatro Nacional de SNT conseguiu, não sabemos mais se do
Comédia, na época, foi Agostinho Olavo. Presidente da República ou do Ministro
Mas com o tempo o teatro ficou pequeno da Educação, um decreto de regulamen­
para o público, e a Companhia do Teatro Na­ tação exatamente da utilização dos tea­
cional de Comédia, restrita somente a este tros estaduais, municipais ou particula­
teatro e a uma praça: a do Rio. Sobre este res, que aquele órgão se encarregaria de
assunto escreve Henrique Oscar: recuperar e gerir. Se o problema é que
a administração local não tem recursos
Com tudo isso queremos apenas chegar para dar efetivas condições de pleno uso
à conclusão de que a atual sede do TNC ao João Caetano, e se o órgão nacional
poderia funcionar como sala experimental tem recursos, mas não sala, o convênio
e então estaria adequada a seu fim. Agora parece de uma prioridade rara. Com o
para a grande sala, para receber massas, João Caetano no Rio, Broadway em São
proporíamos ao SNT um convênio com Paulo, o Guaíra de Curitiba, Castro Alves
o Governo do Estado, no qual se encar­ Salvador, o Santa Isabel de Recife, o da
regasse de fazer as obras verdadeiramente Paz em Belém, o Amazonas em Manaus,
necessárias no João Caetano, ficando com o que houver em Brasília e por aí afora,
o direito de o usar durante alguns meses o Teatro Nacional de Comédia teria uma
do ano e cedê-lo durante aqueles em que rede que lhe permitisse efetivamente ser
se exibisse noutras cidades, visto o de um conjunto nacional que atuasse no país

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 393


quase todo, possibilitando por sua vez o Teatro Glauce Rocha. Planta baixa, (S.E.)

emprego desses teatros, quando não usa­


dos por ele, por conjuntos particulares, consequente demolição do Teatro Nacio­
que se beneficiariam dos melhoramentos nal de Comédia....
introduzidos nas condições do menciona­ Seria desejável que o Ministério da Edu­
do regulamento.140 cação e Cultura, responsável pelo TNC,
esclarecesse e tranquilizasse logo a opinião
Como já não bastasse a carência de casas pública a esse respeito...141
de espetáculos, em 1973, boatos de todos os
lados intranquilizaram mais ainda a classe tea­ Em 27 de dezembro de 1978, através da
tral: O Teatro Nacional de Comédia estava na portaria n. 53 do Diretor do SNT, Orlando
eminência de ser fechado. A Companhia Dra­ Miranda, o Teatro Nacional de Comédia pas­
mática Nacional já estava parada desde 1964, sa a chamar-se Teatro Glauce Rocha.
e com estas notícias, esperava-se o pior.
...considerando que “Teatro Nacional
A classe teatral mostra-se, com toda ra­ de Comédia”, instituido pelo Decreto
zão, preocupada com os rumores, cada vez n. 38.912, de 21 de março de 1956, é
mais insistentes, sobre a iminente venda e nome de companhia e não da casa de es­

394 Teatros do Rio


petáculos, e estando desativada pela nova dá todas as mensagens humanas e filosóficas.
regulamentação do SNT que criou a Com­ Eu acho que é o dramaturgo que encerra o
panhia Dramática Brasileira; máximo de coisas que se pode transmitir ao
Considerando, finalmente, que a atriz ser humano. O ator tem também que ser
Glauce Rocha, não só pelo seu grande ta­ muito forte psiquicamente porque há deter­
lento e dedicação ao teatro brasileiro, como minados papéis que afetam a gente. Não sei
também pelas suas marcantes participações se você viu Exercício. Se a gente não tem um
em diversas montagens da Companhia Tea­ estofo, uma segurança emocional, a gente
tro Nacional de Comédia deste serviço. pode cair, ir a knock-out, sabe? Electra foi uma
Resolve: coisa que mexeu demais comigo. Se a gente
Denominar o atual Teatro Nacional de não se cuida, se a gente não procura se man­
Comédia, situado à Avenida Rio Branco n. ter muito emocionalmente e psiquicamen­
179, nesta cidade, “Teatro Glauce Rocha”. te, a gente se deteriora como ser humano.143
Portaria n. 53 – 27/12/1978 – Orlan­
do Miranda – Diretor do SNT.142 Em 4 de dezembro de 1981, a tubulação
de gás que se rompeu devido ao peso de um
O teatro é reinaugurado em 4 de janeiro de caminhão carregado de concreto à entrada de
1979, com o novo nome, Glauce Rocha, uma um prédio em construção ao lado do Teatro
homenagem à atriz desaparecida em 1971, Glauce Rocha provocou um incêndio de oito
com o espetáculo Sonhos de um coração brejeiro horas de duração, não chegando à casa de es­
naufragado de ilusão, de Ernesto Albuquerque, petáculos. Mas como toda a área foi interdita­
texto vencedor do “I Concurso Nacional de da, os espetáculos que estavam em tempora­
Peças para Teatro de Bonecos do SNT”. Com da foram suspensos por duas semanas.
direção de Ilo Krugli, e se constituiu uma pro­ Em 1987, foram feitas reformas no telha­
dução da Companhia Dramática Brasileira. do, camarins, ar-condicionado e no palco,
Em uma de suas últimas entrevistas, inda­ sendo reaberto ao público com o espetácu­
gada sobre quais são as aptidões necessárias lo de teatro-dança Uma caixa de outras coisas,
para ser um ator ou atriz, Glauce respondeu: produzido pelo Teatro Brasileiro de Dança,
de São Paulo, com direção de Antonio Abu­
...É necessário a vocação e o talento. Não jamra. No elenco: Clarisse Abujamra, Lu
chega só uma coisa ou outra. O talento é Grimaldi, Cássia de Souza, Leila Garcia e
esse dom da gente se comunicar, de conse­ Giovanni Luquini, coreografia de Val Foly e
guir estudar a personalidade do personagem do grupo, cenários e figurinos de Raul Cruz.
e, não só conhecer, mas saber transmitir. Em 20 de junho de 1994, a Secretária de
Há muitas pessoas que poderão muito bem Estado de Cultura, Angela Maria Rodrigues
compreender uma personalidade, mas não Leal, homologa o parecer do Conselho Es­
saberão encarnar, transmitir. Eu acho que tadual de Tombamento e determina o tom­
o ator deve ser um instrumento muito hu­ bamento definitivo do Teatro Nacional de
milde na hora do trabalho pra construir seu Comédia – Teatro Glauce Rocha; autorizado
papel e transmitir a ideia que o autor quei­ pelo governador e publicado no Diário Ofi-
ra transmitir. Seja essa ideia alguma coisa cial de 8 de junho de 1994, e o que consta
para fazer rir, como são as comédias, seja do Processo n. E-18/001.249/92. Desde os
uma mensagem maior como são as peças de anos 1990, o teatro está sobre administração
Shakespeare que como quem não quer nada da Funarte.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 395


1975
Palácio das Artes e Sala Corpo/
Som do MAM

Em 1975 surgia o Palácio das Artes, projeto


de Oscar Niemeyer para a Funterj, que nasce­
ria de um aterro na Lagoa Rodrigo de Freitas,
mas os protestos da Sociedade dos Amigos da
Lagoa, ecologistas, e imprensa, fizeram com
que a Funterj interrompesse seus planos de
levar adiante o projeto naquele local.
Passados dois anos, surge então, em
1977, em uma placa localizada no Aterro
do Flamengo, o renascimento da proposta,
de construção do Palácio das Artes entre o
Museu de Arte Moderna e o Aeroporto San­
tos Dumont. O mais interessante era que a
localização era justamente onde estavam as
fundações do Teatro do Museu de Arte Mo­ Conjunto arquitetônico no primitivo projeto auditório,
derna, cuja construção foi interrompida por ligado ao Museu de Arte Moderna

falta de verbas.
Sidney Miler que era Coordenador da Sala problema das vaidades pessoais, mas não
Corpo/Som do Museu de Arte Moderna não resolveria os nossos problemas de aluguéis
concordava com a construção do Palácio das de casas de espetáculos, em condições pre­
Artes no Aterro do Flamengo, e ele não era cárias, onde ator até adoece.145
o único, e muitas pessoas da classe teatral se Estamos esperando uma resposta. Por
manifestaram, em apoio às suas ideias: este projeto eu brigo, pois se o Estado
dispusesse de vários teatros simples e eco­
O que quero deixar bem claro é que não nômicos, com um bom miolo – a mágica
estou protestando contra a construção de está dentro do teatro e não nas fachadas –
mais um centro de cultura na cidade, pois veríamos o que iria brotar em termos de
essa iniciativa seria até muito necessária. criatividade. Um palácio das artes, ao con­
Mas discordo da forma com que isto está trário, poderia dar um belo cartão-postal,
sendo feito, porque é ostensiva e inopor­ mas jamais resolveria o problema de quem
tuna. O Rio, hoje, não precisa de mais deseja trabalhar.146
palácios, e o verdadeiro Palácio das Artes
pode ser um circo de lona, com todo res­ A Funterj preferiu, nesta época, silenciar
peito que tenho por Oscar Niemeyer, au­ e negar qualquer informação sobre a cons­
tor do projeto.144 trução do Palácio das Artes que havia sido
Chega de veludos e de mármores, já anunciada em 1975 pelo então presidente
temos monumentos suficientes para as da entidade Adolpho Bloch, época em que
pessoas se divertirem aos domingos. Pre­ assumiu a direção da entidade.
cisamos de casas de trabalho adequadas à Um funcionário da Funterj nesta épo­
nossa realidade. Um palácio resolverá o ca, informou que a colocação da placa era

396 Teatros do Rio


Maquete do projeto primitivo, quando se tratava apenas de auditório, junto
do edifício do Museu de Arte Moderna

Pavimento térreo. Pavimento térreo

Terceiro pavimento
Fachada norte

Fachada sul

Fachada leste

Fachada oeste
para incentivar doadores a contribuir para a possuindo dois pisos e, dentro do vasto re­
construção do Palácio. cinto da Exposição, havia uma capela, o tea­
Entretanto, o terreno do Aterro do Fla­ tro e um amplo restaurante.
mengo já havia sido doado à Fundação dos À entrada do pavilhão, fora colocada uma
Teatros pelo Governo do Estado, e o Gover­ placa com um poema de Fernando Pessoa: “Há
no Federal aberto crédito com recursos da na lareira uma brasa/que está a arder por ti./
Embratur e financiamento do Fungetur, no Entra, pois, quando te aprasa/que, para Ami­
valor de 52 milhões. gos da Casa,/Abrem-se as portas por si”.148
Não foi executado o projeto. A sala Cor­ Do teatro, propriamente, sabe-se que com­
po/Som foi a alternativa utilizada pelo MAM. portava cerca de duzentos espectadores e que
como registra a Voz de Portugal de 17 de janei­
ro de 1965 , “...contará ainda o pavilhão com
1965 um auditório onde serão exibidos filmes mo­
Teatro Gil Vicente dernos de grande nível internacional, teatro
e música de câmara de autores portugueses
Em 11 de setembro de 1965 era inaugurado contemporâneos.”
o Teatro Gil Vicente, à Avenida República do Terminada a Exposição, em março de 1966,
Chile n. 330, fronteiro ao terreno onde hoje em novembro do ano seguinte, a Embaixa­
existe a Catedral Metropolitana. O teatro da de Portugal cedeu o Teatro Gil Vicente à
fazia parte do “Pavilhão Portugal”, montado UPEB-União Portuguesa dos Estudantes no
pelo governo português, para as comemo­ Brasil, para a realização de uma série de ativi­
rações do IV Centenário da Cidade do Rio dades de caráter recreativo-cultural. Abrigou
Janeiro, e que trouxe ao Brasil uma Exposi­ por vários anos a Faculdade de Letras da Uni­
ção, “Portugal de Hoje”, visando a apresen­ versidade Federal do Rio de Janeiro.
tar a imagem da nação portuguesa. Fechado por um período, o teatro foi
A inauguração solene da Exposição contou reaberto no dia 4 de novembro de 1967, es­
com a presença do Presidente Castelo Branco, treando com a peça Antígona, inspirada em
do Governador Carlos Lacerda, do Embaixa­ diversos poetas da Grécia antiga, principal­
dor Bataglia Ramos de Portugal e do Ministro mente na Antígona de Sófocles, sendo esta
de Estado Adjunto da Presidência do Conse­ forma inédita no Brasil, esta versão de Julio
lho Português, sr. Antonio da Mota Veiga. Dantas. O espetáculo foi apresentado por
A primeira informação obtida a respeito do artistas amadores, estudantes pertencentes
teatro, foi de uma conferência em 17 de se­ ao quadro social da UPEB, sob a direção do
tembro, proferida pelo Carlos Maia Gomes, ator português Sousa Bento.
cujo tema “O verdadeiro retrato de Bocage”,
parte das comemorações do IV Centenário Pelas suas características e pelo empenho
de Gil Vicente e do II Centenário de Bocage. que vem sendo dedicado a Antígona, deve­
Projeto do arquiteto português Prof. Fre­ rá marcar na história da UPEB.149
derico George, foi trazido pré-fabricado de Em 1978, o Teatro Gil Vicente, passava
Portugal, sendo sua estrutura metálica e a administração do S.N.T., tinha sua re­
desmontável. O Pavilhão custou “cerca de abertura prevista para o mês de agosto,
dois milhões de cruzeiros ao governo portu­ destinando-se a área da dança. 150
guês, o que representa um esforço ingente”.147
E ocupava uma área de cerca de 5 mil m2, Este teatro desapareceu.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 399


1971 Em função do papel desempenhado pelo
Miniteatro ATA BNH no desenvolvimento urbano, surgiu a
ideia de transformar o grande auditório em
Existiu na Rua do Lavradio n. 54, 1° andar, o teatro, com o objetivo de proporcionar à
Miniteatro ATA, e a única referência sobre ele cidade mais uma casa de espetáculos, con­
é a estreia do espetáculo Lamento pela morte de tribuindo dessa forma para a ampliação do
Ignácio, de Garcia Lorca, com direção de B. espaço cultural do Rio de Janeiro.
de Paiva (José Maria Bezerra de Paiva), com Em junho de 1971, data em que estava con­
elenco composto por alunos do curso expe­ cluído seu edifício-sede, o BNH iniciou con­
rimental de ator, promovido pela Associação tatos com órgãos especializados em casas de
de Teatro Amador (ATA) e Serviço Nacional espetáculos, em vista à implantação do teatro.
de Teatro, em 16 de abril de 1971. Nada mais A promessa de Claudio Luiz Pinto foi
se sabe sobre suas atividades. cumprida. O Teatro do BNH, tornou-se
uma realidade em 1976, ocupando 2 mil e
800 m2 de área, situado no cruzamento da
1976 Avenida República do Chile (mais conhecida
Teatro BNH (Teatro Nelson como Avenida Chile), n. 230, com a Avenida
Rodrigues) República do Paraguai (ex-Avenida Norte­
-Sul), ficando bem em frente à Catedral Me­
Quando o extinto Teatro Recreio teve de ser tropolitana.
demolido para a construção de um conjunto Instalado numa das dependências anexas
na Avenida Chile n. 230, o projeto inicial do do Edifício Presidente Castelo Branco, ocu­
prédio do Banco Nacional de Habitação pre­ pa o térreo, o andar superior e a parte do
via um espaço para um grande auditório des­ subsolo a eles correspondentes.
tinado à realização de seminários, congressos No mesmo anexo, o 3° pavimento é ocu­
e reuniões. O então diretor do BNH, Cláudio pado pelo Salão Nobre e o 4° é um terraço
Luiz Pinto, fez uma promessa de construir ajardinado.
um belo teatro para a cidade do Rio de Janei­ A forma e o volume do teatro “lembram
ro, dentro dos limites do terreno do banco. tronco de pirâmide de bases largas” 151 Onde
O edifício Presidente Castelo Branco – blo­ importa considerar:
co principal e anexos, um dos quais ocupado O lado que dá para a Avenida República
em parte pelo teatro – foi inaugurado oficial­ do Chile, onde um painel de 410 m2 decora
mente em 21 de agosto de 1973 (9º aniversá­ a fachada inteira do teatro, e cujo autor, o es­
rio da promulgação da Lei n. 4.380, que criou cultor Pedro Correia de Araújo, empregou
o BNH), quando foi solenemente descerrado, mármore bruto “Marta Rocha” – mármore
no salão de entrada do bloco principal, o bus­ branco do Espírito Santo e granito preto da
to do Presidente Castelo Branco. Tijuca – numa arrojada concepção abstrata;
Convém observar que a construção do o lado que dá para a Avenida República do
prédio foi iniciada em 1969, e as dependên­ Paraguai é como o prédio do banco em ge­
cias ocupadas pelo teatro e pelo salão nobre ral: concreto e vidro fumê em esquadrias de
(situado no mesmo anexo) foram utilizadas, alumínio, incluindo amplas portas, tanto no
pela primeira vez, já em março de 1971, andar térreo como no superior, divididos,
como sede do 3° Congresso Interamericano externamente, por uma sacada, cuja mureta
de Habitação. serve de suporte aos letreiros; O lado que

400 Teatros do Rio


dá para a parte principal do edifício, dela se­ Teatro Nelson Rodrigues

parada por largo corredor. Aí se encontra,


gravada no concreto, à maneira de placa, a obtidas com formas de isopor, num conjun­
inscrição: to que mede mais ou menos 80 m2. Encra­
vada nesse painel, fica a abertura do guichê
Edifício Presidente Castelo Branco da bilheteria e, logo após, ampla porta de
Comissão de Construção vidro permite, descendo-se por uma escada,
Supervisão acesso direto à frente da plateia.
Engenheiros Mario Trindade – Claudio Continua a parede, agora lisa, e que, antes
Luiz Pinto da extremidade, tem outra porta, de acesso
Coordenador Geral direto ao palco.
Engenheiro – Luiz Carlos Vital “Envolvendo os volumes arquitetônicos,
Coordenador de Execução espelhos dágua, jardineiras e passarelas ar­
Arquiteto – Péricles Memória rematam a composição”. O acesso ao teatro
Assistente – Walter Messner faz-se pela Avenida República do Chile ou
Coordenador Administrativo pela Avenida República do Paraguai, sendo
Tec. Administração – Ernani Duncan a segunda a preferida por situar-se quase
Projeto no mesmo plano da bilheteria e muito mais
Arquitetos Haroldo de Souza – Rogério próxima dessa.
Marques O pátio de estacionamento do BNH, com
entrada pela Rua Silva Jardim, é franqueado
À direita da placa fica a entrada lateral do ao público frequentador do teatro, fora das
teatro, e, após, um painel, assinado por Ca­ horas de expediente do banco.
rybé, que empregou placas retangulares de O teatro oferece “à classe teatral recur­
concreto com figuras humanas, em relevo, sos técnicos e instalações condignas aos ar­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 401


tistas, que pouquíssimas casas de espetáculo do teatro. Curioso, também, é que as tabu­
poderão oferecer”.152 Assim, desde o saguão letas indicando “ímpar”, sobre a porta da
de entrada, com piso de mármore preto. direita, e “par”, sobre a da esquerda, foram
Encontra-se, à esquerda da porta de ingres­ confeccionadas de maneira a se harmoniza­
so pequena sala de estar, guarnecida por um rem com o conjunto do painel e a chape­
conjunto de poltronas estofadas e decorada, laria do teatro, que naquele ocupa um vão
numa das paredes, por um quadro em preto em ângulo reto. A seguir ao painel ficam
e branco, de formas geométricas retilíneas. os sanitários e uma das portas de acesso
Ao longo da parede envidraçada, cujas di­ aos camarins, que nesse andar são em dois,
versas portas podem ser abertas, há dez ban­ cada qual provido de banheiro.
cos sem encosto, revestidos de couro, cada A sala de espetáculos tem forração de
um acompanhado de um cinzeiro de pé. Ao náilon aveludado, de cor verde-musgo, que
final desse lado, uma escada de granito preto combina com a mostarda das poltronas esto­
conduz ao andar superior. fadas, de encosto reclinável. A indicação de
Ainda no saguão do térreo, à direita, lugares se faz por meio de letras vermelhas,
uma porta serve de entrada para a bilhe­ distribuídas no piso dos degraus de ambos
teria e para a sala de administração, com os corredores e iluminadas por lâmpadas
banheiro privativo anexo. Daí por diante, a ocultas sob o mesmo piso.
parede que separa o saguão da plateia é re­ As paredes são recobertas de lâminas de
vestida, inclusive nas portas, por um painel madeira. De cada uma delas sobressai um
de madeira calcinada e trabalhada – obra conjunto de potentes refletores dirigidos
de Ernani Macedo e Roberto Sá – esten­ para o palco, arranjados a modo de escultura
dendo-se por nada menos que 100m2. É moderna e confeccionados, expressamente,
interessante observar que o trabalho foi in­
teiramente executado no canteiro de obras Teatro Nelson Rodrigues. Fachada

Arquivo Cedoc/Funarte

402 Teatros do Rio


Arquivo Cedoc/Funarte
para esse teatro. O teto é revestido de placas Teatro Nelson Rodrigues. Lateral da caixa cênica

de alumínio difusa e suave da plateia.


O teatro dispõe, ainda, de um avançado trole de iluminação. Observa-se, ainda, que o
sistema de combate ao incêndio. Basta dizer painel desse andar compreende, também, as
que “a caixa do palco conta com um duplo portas dos sanitários, colocadas em posição
sistema de proteção contra incêndio – Ex­ correspondente, no térreo, à da chapelaria.
prinker e o gerador de espuma Exkide”, O saguão do andar superior amplia-se num
além de extintores. passadiço, mais largo do que ele, através do
No saguão do andar superior, há outro pai­ qual se liga com a parte principal do edifício,
nel, com as mesmas características daquele do que se divide por uma parede envidraça­
que recobre a parede interna do pavimen­ da, com duas portas, também de vidro.
to térreo. Note-se que, no de cima, a citada O passadiço está sobreposto à área de cir­
parede que divide o saguão do balcão conta, culação que fica entre o anexo e o prédio, no
além das duas portas laterais, uma terceira, pavimento térreo. Numa das paredes, cha­
situada no centro do painel, dando acesso a ma a atenção um painel, de autoria de Fre­
uma cabine, equipada com o mais moderno da, composto de pedras diversas e mosai­
instrumental de projeção luminosa e de con­ cos cerâmicos de colorido natural. Ao lado

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 403


desse painel, uma porta de vidro, e, depois perior e inferior em granito polido, terraço,
uma varanda ajardinada, que conduz ao bar bar, copa, além do enorme estacionamento
do teatro, equipado com balcão frigorífico, gratuito. Um teatro com todo conforto e
de frente em concreto trabalhado; dispõe de bem-estar tanto para o público como para
freezer e cafeteira elétrica. os artistas e técnicos.
A área do subsolo ocupada pelo teatro é
bastante extensa, permitindo abrigar depen­ Todas as dependências são beneficiadas
dências destinadas ao depósito de refletores pelo sistema de condicionamento de ar
e material de efeito, à oficina de carpintaria, [...] constituído de um conjunto frigorífi­
à sala de costura e a dois camarins, cada qual co de condensação, a água com capacidade
com banheiro completo. Os demais camarins de 50 toneladas de refrigeração.154
distribuem-se: dois no térreo e três no andar
superior, todos com banheiros privativos. Trata-se de um sistema de ar-condiciona­
do central de 20 HP e torre de resfriamento.
Tecnicamente, o teatro oferece recursos a A iluminação cênica do teatro é dotada de
qualquer tipo de montagem, desde espetá­ controle eletrônico de fabricação inglesa da
culos de comédia, shows, balés, concertos, marca Rank Strand Eletric Ltda. e compõe­
até pequenas óperas, além de conferências -se de: mesa de controle de luz; projetores
e cursos.153 de feixes luminosos dirigidos; refletores, tan­
gões, gambiarras e colortran; e projetores de
A capacidade do teatro é de 400 lugares, efeitos giratórios. Os equipamentos cênicos
entretanto, a ficha técnica, fornecida pelo são compostos de: 34 varas para cenários, 5
Departamento de Administração, consigna varas de luz, 6 pilões (iluminação lateral), 6
um total de 394 lugares, sendo 305 na pla­ reguladores, 4 reguladores (pernas), 1 corti­
teia e 89 no balcão. na preta, 1 cortina corta-fogo, 1 ciclorama, 6
O teatro com acústica perfeita, teve bambolinas, 3 cabideiros (araras) e 1 cortina
como consultor Roberto Thompson Motta, de boca de cena de veludo verde.
e como consultor cênico Fernando Pam­ Possui em seu corpo permanente: 1 ce­
plona. Suas paredes são forradas de caviú­ notécnico e 2 eletricistas, para atender às
na, possuindo ar-condicionado central. Um montagens que lá se apresentam, coisa rara
palco todo em quarteladas, com dimensões nos teatros da cidade. Seu equipamento téc­
quase idênticas às do Theatro Municipal, e nico e cênico são de qualidade incontestável,
com cortina corta-fogo. Sua caixa tem 24,7 m possibilitando todos os recursos necessários
de largura e 14 m de altura, um urdimento às produções de grande porte.
a 9 m de altura, profundidade de 12,7 m, Em abril de 1975, o Banco Nacional de
coxias com 6 m de cada lado, boca de cena Habitação encerrou os serviços de instala­
de 12,7 m de largura por 5 m de altura, fos­ ção do teatro, e naquele mesmo ano cedeu
so de orquestra com 4 m de profundidade, as dependências ao “Grupo de Teatro Bote­
12,7 m de largura e 5 m de altura. Seus 12 quim Ltda”.
camarins são confortáveis e com banheiros A inauguração do teatro se deu em 14
privativos, sendo cinco individuais e sete de janeiro de 1976, com a remontagem
coletivos, sistema de proteção contra incên­ da peça Vestido de noiva, de Nelson Rodri­
dios à água e espuma, cabine de luz e som, gues, com direção de Ziembinski, cenários
salas de produção e administração, foyer su­ de Santa Rosa, reconstruído por Fernando

404 Teatros do Rio


Pamplona, figurinos de Tawfik. No elenco: repetida integralmente, é um dos traba­
Camila Amado (Alaíde), Carlos Vereza (Pe­ lhos mais perfeitos que já vi em toda a mi­
dro), Norma Benguel (Mme. Clessy), Ma­ nha vida. Com o mesmo texto, a mesma
ria Cláudia (Lúcia), Dirce Migliaccio, Jorge montagem, técnica de ações simultâneas
Chaia, Roberto Pirillo, Estelita Bel, Fran­ em tempos diferentes, a peça torna-se
cisco Dantas, Isabel Teresa, Beatriz Veiga, cada vez mais nova, mais atual. Quando
Lia Farrel, Fabiola Fracaroli, Silvia Martins, Vestido de noiva surgiu, em 1943, não era
Paulo Terra, Adhemar Rodrigues, Eliano contemporânea: estava muito além do
Medeiros e João Vietas. Esta remontagem que o público da época costumava assis­
foi uma oportunidade para se documentar tir. Daí o espanto da plateia quando ela
a peça, pois não havia praticamente nenhum estreou. Agora 32 anos depois, espero
registro da montagem de 1943. que o público a sinta de uma outra for­
A primeira reunião do grupo foi realizada ma – uma forma mais profunda. [...] Eu
na sede do Fluminense Futebol Clube em 28 diria que foi a peça que mais influiu na
de outubro de 1975, para traçar os planos minha vida. Quando a escrevi eu não era
de remontagem e leitura da peça. Presen­ nada, não era ninguém, e só faltava passar
tes a este encontro estavam o presidente do fome (antes Nelson escreveu A mulher sem
Clube Francisco Horta, Nelson Rodrigues, pecado, mas não conseguiu grande reper­
Ziembinski e elenco, conforme matéria do cussão). Na noite de 28 de dezembro de
jornal O Globo: 1943, estreia a peça, tornei-me conheci­
do como o autor de Vestido de noiva. Tenho
Ziembinski à cabeceira da mesa, com Nel­ pela peça um encanto absoluto. Há frases
son à sua direita, começa a falar imedia­ no texto que eu repetiria por toda a mi­
tamente, fazendo uma apreciação sobre nha obra.
a arte de representar. Seu tom de voz é
apostólico, seus gestos próprios de um di­ Ziembinski, também falou de seu
retor de cena. Depois da exposição, que o novo momento, nesta mesma matéria:
Presidente Horta ouviu atentamente, ele
escolhe os atores, de acordo com os per­ Vestido de noiva foi o meu terceiro tra­
sonagens que interpretarão, para a leitu­ balho no teatro brasileiro. Esta será a
ra da peça. A cada instante interrompe-os oportunidade de mostrar que a minha
delicadamente, mostrando a entonação direção ainda pode servir de modelo.
perfeita, a maneira mais correta de dizer Vestido de noiva, na época de sua criação,
as frases, tentando utilizar a mesma orien­ mostrou que havia uma outra maneira de
tação utilizada, com absoluto sucesso, na se fazer teatro, restrito, então a pequenas
estreia da peça em 1943. comédias.155

Leitura feita, Nelson Rodrigues O teatro conheceu alguns grandes êxitos


presta seu depoimento sobre o renasci­ nesta década, entre os quais Equus, de Pe­
mento de Vestido de Noiva: ter Shafer, A serpente, de Nelson Rodrigues
e Testemunha de acusação, de Agatha Christie,
Não fiz nenhuma alteração, não reto­ além de espetáculos de dança e shows a car­
quei nada. Qualquer retoque seria de­ go de nomes da música popular brasileira.
mais. A direção de Ziembinski, que será Entretanto, a exploração do teatro foi bas­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 405


tante irregular até 1978, como confirma a No “2° semestre de 1978 foi feita uma re­
matéria do Jornal do Brasil: forma na acústica do teatro, pois o silêncio
era perturbado pela aparelhagem de ar-con­
O Teatro do BNH, desde sua inaugura­ dicionado – daí se construiu um isolamen­
ção, só pecou num ponto: passa fechado a to” 157, suspendendo-se, no teto do comparti­
maior parte do tempo.156 mento ocupado pelos compressores, diversos
bolsões de estopa, contendo placas de isopor,
Teatro Nelson Rodrigues. Planta baixa, (S.E.) o que minorou bastante o problema.

406 Teatros do Rio


A partir de 1979, após período de ina­ o Ministro Andreazza tinha poder para au­
tividade e cumprindo diretrizes governa­ torizar a mudança. O tempo passou, nada.
mentais, o Banco, após protestos da classe Liguei para Brasília, falei com o chefe de
teatral, iniciou providências a fim de que gabinete, o general Luis Carlos de Urquiza
o teatro fosse mobilizado a serviço da arte Nobre, que sempre me recebeu com muita
e da cultura, tal como concebido no pro­ atenção. O tempo foi passando. Até que no
jeto inicial. dia 22 de dezembro, ele me telefonou que
Passados oito anos de sua inauguração, tinha uma boa notícia. Comecei a tremer.
em 1984, com o objetivo de atender antigo Ele me disse: “O ministro assinou”.158
pleito da classe teatral, o Ministro do Inte­
rior, Mario David Andreazza determina que Já com o novo nome, algumas produções
seja rebatizado em 23 de janeiro do mesmo vieram a acontecer no teatro: 1984, Disque
ano, passando a chamar-se Teatro Nelson “M” para matar, de Frederick Knott, com
Rodrigues, em homenagem ao dramaturgo direção de Claudio Cavalcanti, cenários de
e escritor falecido em 1980. José Dias; em 1985, Pai, de Strindberg, com
Um programa especial foi organizado direção de Celina Sodré, com cenários de
para assinalar festivamente a mudança. José Dias.
No batismo do teatro, os padrinhos foram Por portaria do presidente da Caixa Eco­
Fernanda Montenegro e Fernando Torres, nômica Federal, Marcos Freire, em 1987, o
que conduziram a programação da noite. Teatro Nelson Rodrigues é incorporado ao
Sendo descerrada uma placa à memória Conjunto Cultural da Caixa do Rio de Janei­
de Nelson, uma outra entregue à viúva ro,159 em prédio anexo ao Centro Empresa­
Elza Bretanha Rodrigues e outra em ho­ rial Humberto Castelo Branco. O museu e
menagem à classe teatral, representada a galeria de arte funcionam no 3° andar do
por Henriette Morineau. Em seguida, fo­ centro, a biblioteca instalada no 24° andar
ram apresentadas duas peças: um espetá­ do edifício sede da Superintendência Regio­
culo de dança baseado na Valsa n. 6, texto nal do Rio de Janeiro.
de Nelson, dito pelo ator Rubens Corrêa, Em 1987, o então presidente da CEF,
com música de Chopin, coreografada pelo Maurício Viotti de Barros, solicita ao Minis­
Balé de Lourdes Bastos, efeitos de Vânia tro da Cultura Celso Furtado, indicação do
Dantas Leite, cenários e figurinos de Nil­ órgão para quem o teatro poderia ser trans­
son Penna. A outra foi Viúva porém honesta, ferido. E o ministro recomenda então o Ins­
em versão condensada pelo Grupo TAPA, tituto Nacional de Artes Cênicas (Inacen).
com direção de Eduardo Tolentino. No Com esta medida o Teatro Nelson Rodri­
saguão foi inaugurada uma exposição de gues juntou-se neste mesmo ano aos outros
fotos sobre a vida e obra de Nelson Ro­ teatros do órgão.
drigues. O maior mérito da homenagem Hoje encontra-se novamente sob a admi­
coube a Elza Bretanha Rodrigues, viúva nistração do Centro Cultural da Caixa, po­
de Nelson, que emocionada no dia falou: rém sua programação não tem feito justiça
ao nome. Com todos os aparatos técnicos,
Assim que Nelson morreu foi ventilada a conforto, e estacionamento gratuito, é uma
ideia de dar seu nome ao teatro. Comecei casa de espetáculos, que com o tempo vem
a cuidar eu mesma do assunto, lá no BNH, perdendo seu público, suas atividades hoje
junto ao antigo presidente. Acontece que só são de encenações de curta temporada.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 407


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4.3. MIGRAÇÃO DAS CASAS já nasceram com a vocação do burburinho e
DE ESPETÁCULOS PARA A do ecletismo, como Copacabana.
ZONA SUL DA CIDADE Tem razão Paschoal Carlos Magno quan­do
diz que o ideal é que cada arrabalde tivesse
o seu teatro. De fato a vida moderna vem
Devia cada arrabalde ter seu teatro pró- exigindo economia de es­forço e busca de
prio. Isto acontece em todos os centros segurança. O quarteirão po­de ser ainda um
civilizados. Copiamos de fora o pior. Nada espaço agradável de se encontrar o atendi­
de coisas boas como essa. É verdade que mento às necessida­des cotidianas de compras
Copacabana ganhou teatros diminutos, e de lazer. Fo­­ra deste espaço restrito e familiar, a
mas úteis à sua população e aos nossos saí­da será o shopping, que concentra ain­
artistas: o De Bolso, o Follies e o Jardel. da mais as ofertas, dentro de um padrão
controlado de conforto e segurança, cria­
do especialmente para prender o consu­
Paschoal Carlos Magno160 midor num universo sedutor e artificial.
Onde há sempre lugar para todos os tipos
de divertimento, dentre os quais se inclui
A migração para outras áreas da cida­ o teatro.
de é consequência natural da expansão Em sua migração para zona sul a trajetó­
ocorrida sobretudo a partir dos planos de ria dos teatros conheceu vários percalços,
reurbanização do início do século. Além decepções e glórias passageiras, deixando
disso, a história do estabelecimento dos sempre a sensação de que alguma coisa ficou
bairros e da ocupação territorial da cidade perdida ou esquecida.
aliam-se à sua situação geográfica, espre­ Das histórias que envolvem as casas de es­
mida entre o mar e a montanha: a tendên­ petáculos na zona sul da cidade na primeira
cia foi desenvolver-se ao longo das regiões década do século, as mais curiosas com cer­
mais nobres constituídas pela extensa fai­ teza dizem respeito à breve porém heroica
xa litorânea, rumo ao sul – o que continua trajetória dos cassinos.
acontecendo até hoje, com a expansão da Eram três os cassinos do Rio: o do Copa­
Barra da Tijuca – e instalar-se do outro cabana Palace, o primeiro a ser inaugurado
lado das barreiras naturais formadas pelas (em 1922) – um pouco frio e aristocráti­
serras, dirigindo-se ao norte e ao oeste, co; o Cassino Atlântico, o último a surgir,
estabelecendo bairros mais rurais ou pe­ mais popular e promíscuo, onde funcionou
riféricos, os subúrbios. a emissora TV Rio, localizado onde hoje é o
O descentramento ocupou inicialmente Rio Palace Hotel, no posto 6 em Copacaba­
os bairros mais próximos ao Centro, como na; e o da Urca, “anexo do Hotel Balneário da
Tijuca, Laranjeiras, Flamengo, Botafogo, Urca, propriedade da Sociedade Anônima Empre-
que foram desenvolvendo características sa da Urca, Avenida Portugal, Urca” 161, em que
específicas e adquirindo perfil próprio, de se reuniam diplomatas, turistas estrangei­
modo que nem todos eles viram nascer em ros, milionários da indústria, do comércio
seus territórios casas de espetáculos. Alguns e do mercado de imóveis, os novos-ricos do
mantiveram-se quase que exclusivamente câmbio negro e das especulações do Esta­
residenciais, como é o caso do Cosme Ve­ do Novo, os figurões do oficialismo e a nova
lho, de Santa Teresa e de Laranjeiras. Outros classe emergida da Revolução de 1930.

416 Teatros do Rio


O Brasil possuía então cassinos de norte O empréstimo foi garantido pelas ações
a sul, no Pará, como em Niterói, em Petró­ de Sávio. Mas, aos poucos, Rolla foi sen­
polis, Teresópolis, Araxá, Caxambu, Por­ do absorvido pelo novo negócio e aca­
to Alegre, São Lourenço, Guarujá, Santos, bou assumindo a direção do Cassino, para
Cambuquira etc. Mas era a Urca o cassino transformá-lo, em grande estilo, com palco
dos cassinos. mecanizado, imensos espelhos, orquestras,
O período áureo da Urca foi o da Se­ crooners, espetáculos de grande luxo e bom
gunda Grande Guerra. De 1939 a 1945, os gosto, capazes de atrair a atenção dos turis­
brasileiros ricos deixaram de ir à Europa e tas. Contratou gente a peso de ouro, che­
os norte-americanos que faziam turismo gando a ter sob suas ordens um exército de
descobriram o caminho do Brasil. Monte algumas milhares de pessoas. Por mais lou­
Carlo apagara suas luzes logo que o nazismo cas que fossem as suas despesas, o pano ver­
estendeu suas garras sobre as nações euro­ de sempre deixava um grande saldo.
peias. A Urca esplendeu como nunca. A fa­ O Cassino da Urca elevou os artistas bra­
mosa orquestra de Ray Ventura dava-lhe um sileiros e deu emprego a muitos deles; reve­
toque parisiense, lançando como vocalista o lou uma infinidade de talentos, embora sem
jovem Henri Salvador, que tocava violão e lhes pagar sequer um terço do que ganha­
dizia cançonetas humorísticas. O quase des­ vam os grandes cartazes internacionais. Foi
conhecido Jean Sablon, adotou o Rio como ali que Carmen Miranda mais se projetou,
sua segunda pátria. Rios de champanhe e de tendo ao seu redor os rapazes do Bando da
uísque corriam em algumas mesas. Em ou­ Lua, com os quais havia atuado num filme
tras, pessoas menos abastadas restringiam os nacional, em que cantara “O que é que a
gastos ao mínimo, esperando o maravilhoso baiana tem?”, de Dorival Caymmi, já muito
show e saindo, depois, cautelosamente, sem popular no rádio, e tendo aparecido em nú­
passar pelas mesas de jogo. Sempre presente, meros avulsos de várias películas nacionais,
ora nos bastidores, ora no grill, ora nos sa­ Carmen não conseguira contratos no exte­
lões de jogo, estava o mago que movimenta­ rior, exceto em Buenos Aires e Montevidéu.
va aquele mundo fascinante: Joaquim Rolla. Mas um dia parou no Rio um navio cheio de
Era um mineiro que entrara quase por turistas, um dos quais era Lee J. Schubert,
acaso em tal negócio. Com a Revolução de empresário de vários teatros em Nova York.
1932, deixara o seu meio para fixar-se no Maxwell Jay Rice, então Diretor da Pan­
Rio. Nessa época, a Urca não tinha shows -American Airways no Brasil, e sua esposa, a
e era frequentada quase só por homens. Os antiga atriz da Broadway Claiborne Foster, o
ônibus ali despejavam jogadores invetera­ arrastaram, quase a contragosto, para ver o
dos, que fumavam sem parar e atiravam show da Urca. Quando Lee J. Schubert saiu
nervosamente às roletas as suas esforçadas de madrugada, levava no bolso um contra­
economias. Os donos, Sávio Gama e Vitor to para a apresentação de Carmen Miranda
Fernandes não viviam em harmonia. O pri­ num dos seus teatros. Contrato que lhe abri­
meiro geria a casa e o segundo era o seu ria o caminho para o cinema em Hollywood,
financiador. Tal era desentendimento entre com todo o Bando da Lua de contrapeso.
ambos que, a certa altura, Sávio se dirigiu Figuras internacionalmente famosas pas­
a Joaquim Rolla, pedindo-lhe um emprésti­ saram pela Urca. Quando visitou o Brasil,
mo de 300 contos, a fim de que o jogo não Lord Beaverbrook por lá esteve e escreveu
parasse por falta de recursos para bancá-lo. impressões para os seus jornais ingleses.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 417


Entre os artistas do Cassino da Urca, Gran­ no antigo estilo, inclusive um dueto com
de Otelo, que ali se tornou popularíssimo, Grande Otelo, e Carmem voltou a ser a sen­
era um dos poucos que não jogavam. E, por sação dos velhos tempos.
isso mesmo, era mal remunerado. Não re­ Um serviço de lanchas, entre a Urca e
cebia nem metade do salário de Linda Ba­ Niterói levava os artistas contratados por
tista, por exemplo. Linda fazia exigências Joaquim Rolla para atuar também no Cassi­
tremendas e Joaquim Rolla nunca achava no de Icaraí, contribuindo para diminuir as
excessivos os seus pedidos de aumento. despesas com os astronômicos cachês.
Dizia: “É dinheiro que ela recebe num gui­ Orson Wells, quando tentou filmar no
chê e depois entrega no outro”. Emilinha Rio uma película colorida sobre o carnaval
Borba, Dircinha Batista, Heleninha Costa, carioca, foi frequentador assíduo tanto do
Virgínia Lane, Trio de Ouro e Alvarenga e Cassino da Urca como dos outros cassinos.
Ranchinho ali conquistaram os primeiros Ao fim de uma dessas noitadas, chegou de
aplausos do público. Artistas portuguesas, mau humor ao apartamento, no Copaca­
como Beatriz Costa, Deolinda Saraiva e bana Palace, e atirou os móveis pela janela.
outras, ajudavam a atrair os seus compa­ O colchão caiu dentro da piscina e, com
triotas e os próprios brasileiros. O Cassino toda a sua fama, ele acabou expulso do
da Urca passou a ser o objetivo principal hotel. Saiu do Brasil falando português e
dos que se dedicavam às diversões. tocando cuíca, louco por cachaça e amigo
Carlos Machado, por exemplo, não sabia de vários sambistas, mas o filme jamais foi
ainda o que fosse a Urca nem o movimen­ terminado. Teria como título All This is True
to artístico do Rio, quando veio da Europa (Tudo isto é verdade).
contratado como partner de Mistinguete. Bing Crosby, de passagem pelo Rio, apre­
A célebre artista francesa, já velhusca, pre­ sentou-se na Urca, uma vez, numa festa de
cisava de um galã elegante, que a amparas­ caridade.
se no palco, no momento em que fizesse No Cassino da Urca também se iniciou
os seus vacilantes passos de dança. Carlos no show-business o grande empresário Os­
Machado pouco cantava e pouco dançava, car Ornstein, que ali fora trabalhar como
mas era uma bela figura, moço e elegante, simples fotógrafo, batendo chapas de casais,
servindo-lhe de apoio e também de intér­ no grill, para entrega das cópias 15 minu­
prete, fora de cena. Tinha, porém, larga ex­ tos depois. Insinuante e sabendo línguas,
periência dos palcos e cabarés de Paris, sabia foi promovido mais tarde a public-relations.
como se organizava um show. Ficou, desde O exemplo da Urca suscitou emulação. Os
então, na Urca, onde já estavam Chianca de outros cassinos passaram também a oferecer
Garcia, Luís Peixoto, Madeleine Rosay, Eros espetáculos e a trazer celebridades. O Cas­
Volúsia e outros elementos, uns cuidando da sino Atlântico, onde a orquestra de Romeu
direção, outros dos textos ou da coreogra­ Silva tinha o seu quartel-general, chegou a
fia. Carmem Miranda, já triunfante nos Es­ mandar buscar nos Estados Unidos o baríto­
tados Unidos, voltou ainda uma vez à Urca. no e ator de cinema John Boles. No Copa­
Dessa vez, não teve sucesso. Cantava num cabana, onde Fernando de Barros começou
ritmo muito rápido, que agradava aos norte­ sua carreira como maquilador, Maria Della
-americanos, mas parecia estranho aos brasi­ Costa também iniciou a sua, como simples
leiros. Joaquim Rolla pediu-lhe que passasse corista. O baixo Túlio de Lemos fez sucesso
alguns dias ensaiando um novo repertório, nos cassinos, do mesmo modo que o barítono

418 Teatros do Rio


Cândido Botelho. Este lançou espetacular­ que tivesse atirado uma fortuna nas cores e
mente a “Aquarela do Brasil”, de Ary Barro­ dúzia, e visse a roleta dar o zero.
so, adotando o registro de tenor e forçando Recuando novamente ao início do sécu­
de tal modo a belíssima voz que acabou por lo, podemos acompanhar o movimento dos
perdê-la totalmente. Um dia desapareceu do teatros que trouxeram um pouco de sal e
mundo artístico: transformara-se em sim­ pimenta à pacata vida dos bairros cariocas.
ples comprador de cristal de rocha.
Cantores excêntricos, saltadores, atletas
que faziam números de força (Vic e Damo­ 1902
ne), palhaços, bailarinos, mágicos, transfor­ Parque Fluminense
mistas e fantasistas, imitadores e parodistas
de todos os gêneros passaram pelos cassinos. Parque Fluminense, surgiu no Largo do Ma­
Estes traziam ao Rio o que de melhor ha­ chado e foi inaugurado em 15 de janeiro de
via no mundo em tais especialidades. Mas, 1902, com a opereta O Príncipe da Bulgária,
de repente, a guerra cessou e o Brasil co­ pela companhia Cinira Polônio. Parece que
meçou a mudar. Caiu o Estado Novo e uma recebeu outro nome: Teatro Hodierno.
campanha se desencadeou, de norte a sul,
contra os males sociais que lhe eram atri­
buídos. O moralismo democrático se es­ 1908
candalizava com “a praga da jogatina” ilegal, Teatro da Exposição Nacional
mas tolerada desde 1922. Tanto mais que
Joaquim Rolla havia iniciado, em Petrópo­ Em 12 de agosto de 1908, inaugurou-se
lis, um hotel-cassino em escala monumen­ o Teatro da Exposição Nacional, na Praia
tal, com o nome de Quitandinha. Em uma Vermelha, com apresentação da peça Não
terça-feira, 30 de abril de 1946, ele estava
almoçando quando ouviu pelo rádio a no­
tícia: “O Presidente Eurico Gaspar Dutra
proibiu o jogo em todo o país”. Ainda houve
apelos: os artistas iriam passar fome... Mas
de nada adiantou. Os da Urca foram logo
para o Teatro Carlos Gomes, por iniciativa
de Chianca de Garcia, ali apresentando uma
grande revista, com fabuloso guarda-roupa
doado por Joaquim Rolla. Carlos Machado
foi para o Monte Carlo e o Casablanca, a ca­
minho de se tornar o “rei da noite”. O rádio
reabsorveu valores ausentes e depois a TV
abriu a outros campo novo e ainda mais am­
plo. Entre as figuras simbólicas dessa era – a
que começou em 1930 e terminou com a
queda de Vargas em 1945 –, a de Joaquim
Rolla ficará como a de um homem de sur­
preendente visão, mas que tudo arriscou Teatro da Exposição. Pavilhão do Estado da Bahia.
numa cartada perigosa, como um jogador Praia Vermelha, RJ

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 419


Teatro da Exposição. Palácio das Indústrias. vação que, por outro lado, aumentaria o
Praia Vermelha, RJ
seu valioso patrimônio.
Chegou mesmo, então, o Sr. Arnaldo
consultes médico, de Machado de Assis. Em Guinle a adquirir, na França cenários con­
11 de setembro do mesmo ano repre­ feccionados pelo cenógrafo da “Comédie
senta-se Vida e morte, de Artur Azevedo. Française” que importaram em cento e
Traduzida para o italiano por Carlo Pala­ cinquenta mil francos.
grecco, com a Companhia Della Guardia A iniciativa, porém, por motivo que não
é encenada no Teatro São Pedro em 22 de vem ao caso, deixou de ser levada a bom
maio de 1909. termo, mas a ideia ficou, como uma neces­
sidade inadiável.
E tanto ficou no pensamento dos admi­
1941 nistradores do tricolor a iniciativa feliz que
Teatro do Fluminense um palco improvisado surgiu nele repre­
sentadas comédias ligeiras, além de outros
No jornal A Noite de 17 de abril de 1941, espetáculos.
saía uma matéria intitulada “Uma obra gran­ O vulto do quadro social do Fluminense
diosa digna das tradições do Fluminense”, e o desejo de seus dirigentes de fomentar a
que merece ser descrita: cultura artística do mesmo exigiam a ins­
talação de um palco à altura das tradições
Há quinze anos, precisamente, três figu­ do grêmio das Laranjeiras.
ras de assinalado destaque, os srs. Arnal­ Foi por isso que a atual direção, que, por
do Guinle, Mario Pollo e Coelho Netto, interessante coincidência tem à sua frente
idealizaram a construção de um palco na o Sr. Mario Pollo, resolveu, mesmo enfren­
sede do Fluminense. O desenvolvimento tando os maiores sacrifícios, dar ao Flumi­
cultural e social do club aconselhava a ino­ nense um local onde se pudesse realizar os

420 Teatros do Rio


mais variados espetáculos desde a simples versos de seu pai. Bibi Ferreira e Procópio
música de câmara à mais vistosa ópera. Ferreira também estavam presentes à ceri­
O palco a ser inaugurado obedece aos mônia. E durante duas semanas o teatro es­
mais modernos métodos da técnica teatral teve em plena atividade com apresentações
como tivemos oportunidade de constatar, de ilusionismo, orquestras, apresentações de
graças à gentileza do Sr. Fernando Robler, programas de rádio realizados diretamente
diretor social do Fluminense. do teatro, balé etc. Há poucas informações
Sua inauguração será marcada como sobre o Teatro do Fluminense.
acontecimento na vida social do aristo­
crático club de Álvaro Chaves, tendo sido
confeccionado grandioso e escolhido pro­ 1948
grama.162 Teatro Jardel

A noite de estreia do Teatro do Fluminense Contrariando a vontade do Professor Ventu­


foi com a peça Dias felizes, de Claude André ra Bôscoli, seus filhos Jardel e Geisa entra­
Ponget, traduzida por Maria Jacintha, e ten­ ram para o teatro, no qual realizariam uma
do no elenco: Sonia Oiticica, Zezé Pimentel, das belas páginas do nosso musicado. Jardel,
Marinha Abreu, Athayde Ribeiro, Pedro Veiga durante vários anos considerado um dos
e Geraldo Avellar. Na segunda parte da pro­ nossos melhores produtores de musicado,
gramação, houve uma apresentação da artista
de rádio Zita, e Coelho Netto declamando Teatrinho Jardel

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 421


foi vítima de um mal súbito, durante uma em várias de suas produções, e foi figura de
das suas excursões pelo Sul do país. Geisa, projeção no musicado.
então numa carinhosa e saudosa homena­ Geisa conseguia no pequenino palco que
gem, dava o nome de seu irmão ao novo media apenas 4 m de boca de cena com 3 m
teatro: Teatro Jardel, um pequeno palco, e de altura, colocar 25 pessoas em cena, como
pequena plateia para 192 espectadores, sen­ foi o caso de Tudo é carnaval, onde até uma
do inaugurado em 31 de maio de 1948, com Escola de Samba entrou no palco.
a peça Ciúme, de Louis Verneuill, com tradu­ Várias companhias se apresentaram no
ção de Geisa Bôscoli, e na interpretação de Teatro Jardel: Carlos Machado, Siva, Gra­
Procópio Ferreira e Suzane Negri. cindo Freire que montou Se quer... diz logo, a
Geisa passou a liderar as produções mu­ melhor produção musical de 1957, e Colé.
sicadas, pois a sua inovação de levar peque­
ninas revistas, que ele intitulava “revistas de Muitas têm sido as atividades do Teatro
bolso”, foram a receita do sucesso. Jardel em Copacabana, pois lá estiveram
O Teatro Jardel, era localizado na es­ Odilon e seu elenco, representando A mu-
quina da Avenida Copacabana com a Rua lher de nós dois (La Petite Hutte), de André
Bolívar, e Geisa apresentou sucessos que Roussin, em tradução de Brício de Abreu,
lhe garantiram várias vezes o título de “me­ passando após ocupar aquele palco todas
lhor produtor do ano”. Lá montou Fiu-Fiu as noites, a Companhia Colé que estreou
e Olha a Boa, com Renata Fronzi; Ele vem aí com a burleta Flor de manacá, de Luiz lgle­
e Miss França, com Mara Rúbia; Cuba Libre; sias, e a seguir Brotinhos e tubarões, de vá­
Coroa do Rei; Está em todas, onde prestava rios autores; e agora Olha a boa, de Geisa
uma homenagem a Herbert Moses; Figuri- Bôscoli.163
nha difícil, que dava o estrelato a uma mo­
rena que lá surgira como corista, e foi de­ Passados 11 anos de sua inauguração, o Te­
pois uma das nossas mais completas figuras atro Jardel muda de endereço, mas continua
de vedeta, Nélia Paula. em Copacabana, só que na Avenida Atlântica
Inúmeras foram as produções de Geisa, 3.680, Posto 5, entre os hotéis Miramar e
como inúmeras foram as estrelas lá lançadas, Regente.
como Lia Mara, Iolanda Ferrer, Irene Ber­
tal, Peggy Aubry, Adir Darcel, Diana Morel, ...Geisa começou em setembro do ano
Silvia Fernandes, Jane Grei, Norma Tamar e passado, quando seu amigo Gasparian ofe­
uma quantidade enorme de nomes que fo­ receu-lhe a chave da velha casa situada ao
ram cartaz de letreiros luminosos. lado do Hotel Miramar, na Avenida Atlân­
Geisa lutava já naquela época com o es­ tica. O diálogo foi esse:
trelismo que começava a dominar algumas – Olha, Geisa, aqui estão as chaves.
vedetas. De algumas substituições de última Mas... que pretendes fazer?
hora, seu “olho clínico” jamais falhou quando – Ora, Gasparian, o que poderia ser? O
fazia valer a graça ou o talento de suas con­ novo Teatrinho Jardel naturalmente. E...
tratadas. Rose Rondeli foi um caso típico. você me arrenda esta área por uns 3 anos?
Com a ausência de Joana D’arc que deixava – Claro. E quando terminar o prazo, em
a revista Vai levando, na produção seguinte, 1961, construirei um prédio, mas o teu
A imprensa livre, já mostrava uma nova estrela Jardel não morrerá: continuará no térreo
que se formaria: Valéria Amra que vedeteou do edifício.

422 Teatros do Rio


Perspectiva da fachada do Teatrinho Jardel.
Desenho: Darcy Bove de Azevedo

Perspectiva da plateia do Teatrinho Jardel.


Desenho: Darcy Bove de Azevedo
– Grato, Gasparian. Vou começar hoje por vezes, mas sempre de irresistível ma­
mesmo a providenciar a construção do gia, de fascinante atração166
Teatro.
– Quanto gastarás na obra? O teatro possuía 300 poltronas estofadas,
– Com cerca de 3 milhões poderei ofe­ distribuídas na plateia, seis camarotes e uma
recer uma boa casa de espetáculos, com pequena galeria de balcões; um perfeito sis­
poltronas, renovação de ar e uma acústica tema de ventilação, e um palco adequado aos
de fazer inveja a muito teatro. gêneros de espetáculos musicados, como é o
– Estarei “torcendo” por ti, Geisa! Eu e teatro de revista.
4 milhões de cariocas”.164
Um telefonema de Geisa Bôscoli pôs­ ...Apesar de ser o novo teatrinho uma
-nos a par da situação em que se encontra casa com pequena lotação, foram obser­
no momento, a obra de adaptação por que vados todos os requisitos de conforto, de
passa o prédio do Sr. Levi Gasparian, na modo que, além das suas trezentas loca­
Avenida Atlântica, onde em breve se ins­ lidades com absoluta visibilidade, sem
talará o Teatro Jardel, por ele fundado há qualquer coluna e com aclive na plateia,
onze anos passados.165 houve a preocupação de uma perfeita
ventilação, não somente com meticuloso
Por iniciativa de Geisa Bôscoli, com pro­ estudo na instalação dos exaustores e
jeto do arquiteto Darci Bove de Azevedo, a captadores de ar, como na construção da
obra foi executada, e no dia 18 de agosto de cobertura, em planos diferentes, com per­­
1959 era reinaugurado com novo endereço, manente entrada da brisa que vem da
com a revista de Geisa Bôscoli e Luiz Peixo­ praia ou das montanhas.167
to, O Brasil é nosso, com partitura integral de
Ary Barroso (22 músicas inéditas), cenários
de José Carlos Iglésias, e no elenco: Palmei­ 1949
rim, Teresinha Tapajós, Mary Gil, Rosinda Teatro de Bolso (Ipanema)
Rosa, Judy Clair, Roberto Duval, Celme Sil­
va, Silveirinha, Mendez, Castro Filho, Maria Em 1949, Silveira Sampaio (José da Sil­
Olivia, Calixto, Hélio Colona, Lara Baído, veira Sampaio), aproveitando o espaço
Lia Mara, Farnetto, entre outros. Era um de uma loja em Ipanema, de propriedade
elenco que contava com 12 atores, 18 atri­ de Lauro Lessa, monta um teatro, inau­
zes, 5 músicos comandados por José Maria gurando assim o Teatro de Bolso da Praça
de Abreu, além dos cantores Marcos Miran­ General Osório, com a comédia A inconve­
da e Evanil. niência de ser esposa, de sua autoria, e onde
ao lado de Aimée e Carlos Frias trabalhou
Geisa Bôscoli tem sido sempre um devota­ como ator.
do ao teatro. E esse amor à arte já vem de Outras fontes dão como espetáculo de es­
muito longe, desde quando seu irmão Jar­ treia a peça: Da necessidade de ser polígamo:168
del, empresário de companhia e produtor
de espetáculos, com ele escrevia as peças Em Ipanema, na Praça General Osório,
para a cena. Iniciava, então, Geisa Bôscoli, inaugurou-se o Teatro de Bolso, com Da ne-
os primeiros passos na vida teatral, cheia cessidade de ser polígamo, de Silveira Sampaio,
de tropeços, de incertezas, de decepções peça que ainda se encontra em exibição.

424 Teatros do Rio


Fez como autor e ator uso da referida casa
de espetáculos até 1956. Foi quando um
ator e atleta do fluminense resolve arrendar
o teatro; o jovem Aurimar Rocha, que co­
meça então sua carreira como empresário e
autor, estreando a comédia Os elegantes.
Em 5 de setembro de 1959 o teatro so­
freu um pequeno incêndio, antes do início
do segundo ato da peça A compadecida, de
Ariano Suassuna. Mas os bombeiros, elenco
e público conseguem debelar imediatamen­
te o fogo. Foram queimadas as cortinas e
avançando sobre a plateia, obstruindo cinco
a seis filas de poltronas. Sendo reaberto em
26 de setembro do mesmo ano, com a peça
Pinocchio, de Oswaldo Waddington.
Naquele teatrinho, com um palco super Cine Teatro Poeira Ipanema. Fachada (antigo Teatro de
Bolso de Ipanema)
reduzido, Aurimar foi apresentando seu re­
pertório eclético, de Pedro Mico, de Antonio
Callado a Ratos e homens, de John Steinbeck. Rocha foi lançada como primeira figura de
Em 1964, já havia acumulado posição e su­ companhia, Esther Mellinger, Jô Soares,
cesso, Aurimar com oito anos à frente da casa Márcia de Windsor, João Paulo Adour, He­
de espetáculos, como produtor, tradutor, di­ lena Inês, Rildo Gonçalves, Marilu Bueno,
retor e ator, marcou presença com seu gêne­ Helio Eichbauer, Adriana Prieto, são alguns
ro de espetáculos, e é o próprio quem diz: dos nomes que surgiram para o profissiona­
lismo naquele pequeno palco.170
No teatro é sempre preciso ser huma­
no sujeito a falhas e acertos, passando do Desde o ano de 1956 até 1968, precisa­
cretino ao gênio sem escalas. Daí o meu mente 12 anos ininterruptos, Aurimar Ro­
eclético repertório: comediazinhas, dra­ cha foi o empresário do teatro. Despejado
malhões, peças pretensiosas, vulgares, de em 22 de setembro, sendo que seu último
tudo um pouco, para irritar suficiente­ espetáculo no Teatro de Bolso foi o show
mente os frustrados da praça.169 Agildo Ribeiro em busca de aventuras.

O Teatro de Bolso durante a permanência A minha luta com o dono do Teatro de


de Aurimar, foi a casa onde muitos profissio­ Bolso é mais uma novela detestável. O
nais deram início às suas carreiras. Sr. Antonio Cândido do Azambuja é mais
Cândido que outra coisa. Dorme com
O TB foi sempre um laboratório, lan­ a doce esperança de que as leis brasilei­
çando autores, diretores e cenógrafos, ras não foram feitas para ele. Depois de
bastando lembrar o próprio Aurimar, que perder em duas instâncias e renovatória,
ali estreou como autor com a comédia Os perde subitamente a candura e se torna
Elegantes. Tereza Rachel teve seu primeiro mau caráter, alegando doença para fugir à
contrato profissional no teatrinho: Glauce assinatura de um recibo em data aprazada.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 425


Dono de teatro sem vocação teatral resol­ 1949
veu fazer mau teatro e simula, alegando Teatro Copacabana
falta de pagamento, um despejo. Despe­
jo por cinco dias de atraso (motivado por O Teatro Copacabana, localizado no Copa­
ele, o doente imaginário), depois de oito ca­bana Palace Hotel, com entrada pela
anos de locação. Toninho Azambuja, coi­ Avenida Nossa Senhora de Copacabana, n.
tado, vai acabar virando personagem de 291, foi executado segundo os planos do
minhas próximas peças.171 arquiteto Flávio Léo da Silveira. De linhas
simples e modernas, revestido de madei­
Aurimar Rocha, depois, de receber or­ ra clara, (pequiá Marfim), com capacidade
dem de despejo recorreu ao Supremo Tri­ para 500 espectadores, 384 na plateia e 114
bunal Federal, e perdeu o teatro. no balcão, com poltronas de couro verde,
ar-condicionado, 16 camarins. Possui uma
O Teatro de Bolso de Ipanema será substi­ boca de cena com largura de 8 m e altura de
tuído por outro que está sendo construído 7,3 m e, com profundidade de 8,3 m, com
na sobreloja do edifício. Ele tem muita se­ um urdimento de dar inveja a muitos teatros
melhança com o nosso país: subdesenvol­ do porte dele. Ótima acústica e excelente
vido, mas cheio de charme. visibilidade. É o teatro ideal para comédia e
nele já se apresentaram muitas companhias
Nesse meio-tempo, Antonio Cândido de nacionais e internacionais.
Azambuja proprietário do imóvel onde era Foi inaugurado a 9 de setembro de 1949,
localizado o Teatro de Bolso de Ipanema, ga­ com a peça A mulher do próximo, pela Compa­
rantia que o teatro da Praça General Osório nhia Abílio Pereira de Almeida, que fez nes­
não iria desaparecer como casa de espetácu­ se teatro temporadas também com as peças
los. Pretendia Azambuja explorar diretamen­ Pif-paf e À margem da vida.
te o teatrinho, cedendo-o a qualquer compa­ Em dezembro desse mesmo ano, estreou
nhia de categoria para montagens de shows e a Companhia de Fernando de Barros, que
comédias, chegando a formar a empresa que permanecendo até junho de 1950, com
seria responsável, juridicamente, pelo negó­ peças de grande sucesso: Um deus dormiu lá
cio, a Sociedade de Teatro Jangadeiro. em casa, Amanhã se não chover e Helena fechou
A casa teria que mudar de nome, pois o a porta.
título Teatro de Bolso havia sido registra­ Em agosto de 1950, foi contratada a
do por Aurimar Rocha que o levou, muito Companhia Francesa de François Perier,
justamente, para o Teatro de Bolso do Le­ que apresentou uma série de comédias de
blon. Como proprietário não encontrava “boulevard”, de autores franceses moder­
um nome ideal para a casa o próprio Auri­ nos: Bobosse (Andre-Roussin), Colinette e Ams-
mar chegou a sugerir que se batizasse de Te­ tram-Gram; e, em novembro do mesmo ano,
atrinho de Silveira Sampaio, que seria uma estrearam Os Artistas Unidos.
bela homenagem ao fabuloso autor, diretor,
ator e empresário, que inaugurou o local em O Teatro Copacabana é um capítulo in­
1949 e alimentou o fogo sagrado até 1956. teiro na história do nosso teatro. Foi du­
Todavia, como era de se esperar, o Teatro rante muito tempo o endereço de “Os
de Bolso, acabou virando estabelecimento Artistas Unidos”, comandados pelo gênio
comercial. de Henriette Morineau e pela devoção de

426 Teatros do Rio


Copacabana uma homenagem em bronze,
em uma placa afixada no seu saguão, gra­
vando para sempre os nomes de Morineau,
Carlos Brant e Helio Rodrigues. Não sabe­
mos se há uma rua com o nome de Otá­
vio Guinle, pelo muito que fez a favor da
cultura do Rio de Janeiro. Mas uma per­
gunta se impõe: por que não denominar o
belo teatro que nos deu, de “Teatro Otá­
vio Guinle”?.172

A estreia da companhia Os Artistas Uni­


dos contou com um repertório seleciona­
do: Os filhos de Eduardo, Catarina da Rús-
sia, Frenesi, O pecado original. Ainda nesse
mesmo ano houve diversos espetáculos
Teatro Copacabana. Foyer iso­lados: o de Ramsay Ames, o de Mada­
me Quartin, o do prof. Tempele, o recital
duas grandes criaturas humanas, desinte­ de poesia de Aurelia de La Sierra, audição
ressadas e nobres: Carlos Brant e Helio de piano de Dulce Vaz Siqueira, audição de
Rodrigues. “Os Artistas Unidos” mere­
ciam receber da atual direção do Teatro Teatro Copacabana. Antiga plateia, frisas e balcão

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 427


Violão de Juracy Silveira, teatro infantil Teatro Copacabana. Planta baixa, (S.E.)

com o Chapeuzinho Vermelho e, ainda, uma


curta temporada com a Companhia Maria O Centro Acadêmico Cândido de Olivei­
Jacinta (Teatro de Arte). ra, deu duas representações de Mortos sem Se-
Foi no ano de 1951 que se apresentaram pultura, houve espetáculos de Zé Praxedes,
artistas como Maurice Chevalier, Florence dos Kammerspiele (teatro alemão), dos Qui­
Fisher e Claude Dauphin com sua Compa­ tandinha Serenaders, um recital de piano
nhia de Comédias. de Magdalena Tagliaferro e, de 31 de maio
a 5 de agosto, foi apresentada, com grande
sucesso, a peça Manequim pela Companhia
Eduardo Casali Guimarães. Em agosto vol­
taram os Artistas Unidos, com um grande
repertório: Um cravo na lapela, Josefina e o la-
drão, Os ovos do avestruz, Jezabel e A cegonha
se diverte, continuando no teatro por todo o
ano de 1952.
Os Kammerspiele voltaram a dar novos
espetáculos em 1952, e também houve o
recital de declamação de Manta Pinheiro
Machado, os bailados de Tere Amorós, o
concerto vocal de Yvonne Ramos, a au­
dição de piano de Dulce Vaz Siqueira e o
Teatro Copacabana. Acesso ao balcão espetáculo de Adalgiza Lourival Fontes.

428 Teatros do Rio


Em agosto houve duas apresentações dos Atlântica, e o antigo Cassino, onde fun­
“Teofilianos” – grupo de estudantes da cionou o Golden Room, e o teatro, com
Sorbonne – e, finalmente, a temporada frente para a Avenida Nossa Senhora de
do “Teatro da Semana”, com espetáculos Copacabana, excluído o anexo de aparta­
às segundas-feiras. mentos.
Em agosto de 1953, um incêndio der­ O Copacabana Palace Hotel foi proje­
rubou a sala de espetáculos, prejudicando tado pelo arquiteto francês Joseph Gire e
seriamente a Companhia dos Artistas Uni­ construído em 1922, para comemorações
dos, mas o teatro foi reconstruído para fa­ da Independência do Brasil. Para o seu
zer jus a sua tradição, e em 1954, em noite tombamento, o Sphan considerou que o
de gala em benefício do Patronato da Gá­ projeto marcou época na história da arqui­
vea, foi reinaugurado, com a peça de Geor­ tetura brasileira, pela nobre beleza das suas
ge Bernanos, Diálogos das Carmelitas, pelo linhas e pela perfeita adaptação às finalida­
elenco dos Artistas Unidos, companhia tea­ des do imóvel.
tral que teve os seus espetáculos interrom­ Com uma tradição de um repertório bem
pidos pelo incêndio. comportado, onde não se ouviam muitos
Todos os planos de recuperação e super­ palavrões e cujas peças se destinavam, de um
visão dos trabalhos do Teatro Copacabana modo geral, ao chamado público digestivo,
estiveram a cargo de Caribé da Rocha, Di­ o Teatro Copacabana, do ponto de vista de
retor Artístico da organização hoteleira de conforto e arquitetura era um dos melhores
Otávio Guinle. A execução das obras fica­ da cidade.
ram sob a responsabilidade da Construtora Todo decorado em madeira clara e com
Pederneras S. A. linhas sóbrias, o teatro parecia ter cons­
Em 1976, depois de ficar fechado por um ciência de que os espetáculos se passavam
período, foi reaberto em setembro com a no palco e de que não era necessário fazer
apresentação da peça O equilíbrio instável, concorrência ao cenário, com espalhafatos
de Edward Albee; direção de Luis de Lima, de mau gosto nas paredes, como em tantos
com Jardel Filho, Tereza Rachel, Nathalia outros teatros da cidade.
Timberg, Araci Balabanian, Maria Cláudia O ar-refrigerado era excelente e o
e Hélio Ari. hall enorme permitia aos frequentadores
Em 15 de junho de 1983 o projeto de conversar com conforto, nos intervalos.
lei de tombamento do Copacabana Pala­ Havia um bar com decoração sofistica­
ce Hotel, do Vereador Helio Fernandes da e vitrines de bom gosto espalhadas,
Filho, é aprovado na Câmara Municipal anunciando principalmente joias e roupas
do Rio de Janeiro. Sendo em 27 de junho de alta-costura. E, para quem gostava de
de 1986 homologado pelo Ministro da requinte, o teatro tinha funcionários im­
Cultura Celso Furtado, e aprovado pelo pecavelmente vestidos e que com luvas
Conselho do Patrimônio Histórico e Ar­ brancas, recebiam as entradas e indicavam
tístico Nacional em 3 de abril, e assina­ os lugares com elegância.
do às 17 horas, na sede da Secretaria do Em 1989 o Copacabana Palace é adqui­
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional rido pelo grupo Orient-Express Hotels,
(Sphan), no Palácio da Cultura. que fechou o teatro, no início da década de
O tombamento incluiu o prédio do ho­ 1990, justificando obras. O teatro conti­
tel e a pérgula, com frente para a Avenida nuou fechado.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 429


1949
Teatro Follies

Em 10 de novembro de 1949, era inaugura­


do, em Copacabana, no Posto 6, o Teatrinho
Follies, com a revista Já vi tudo, de Maria Da­
niel e Juan Daniel. Mas até 1953, não havia
uma atração e não andava bem de público,
não conseguindo manter-se com os espetácu­
los que lá se apresentavam. Foi quando surgiu
Follies. Vista do palco
um rapaz magro e alto, ex-aviador, filho de
uma rica família gaúcha: Zilco Ribeiro. Debaixo dessa estranha responsabilidade
O proprietário do imóvel, Antonio Car­ o Follies reabriu suas portas no dia 7 de ou­
rera, já em 1952, desiludido com o teatro, tubro de 1953, com a revista Olha o Piche, de
tinha outros planos para o espaço. Cesar Ladeira, com direção de Renata Fron­
zi. No elenco, Walter Dávila, Nelia Paula,
Já resolvera transformar o teatro em mer­ Norbert, Ruy Cavalcanti (que veio a ganhar
cadinho. Cheguei a ter em mãos a planta a medalha de ouro da Associação Brasileira
com os boxes, balcões etc. Foi quando me de Críticos Teatrais (ABCT), como “maior
apareceu o Zilco. Andava desiludido do ne­ revelação masculina do ano”), Alan Lima,
gócio, mas resolvi tentar pela última vez, Carla Nell, Gene de Marco, Emílio Castelar,
impondo-lhe uma condição: se no fim de Joceline du Carmo, entre outros.
30 dias não houvesse lucro, ele abandonaria
o prédio e não falávamos mais em teatro.173 Follies. Fachada

430 Teatros do Rio


Teatro Follies

Teatro Follies. Sala de espetáculos


No fim de quatro semanas Copacabana despercebido em Mulheres cheguei, torna-se
per­dia um supermercado, e ganhava, de fa­ conhecido da noite para o dia, e tudo cami­
to, um teatro de revista. nha bem para a montagem da sexta revista,
Ainda com Cesar Ladeira e Renata Fronzi, O.K. Baby, já com ar-condicionado instalado
na autoria e direção, Zilco Ribeiro, montou e que também obteve um grande sucesso.
Adorei milhões com o mesmo elenco e mais a Zilco Ribeiro teve, na época, o seu nome
novidade da volta de Renata ao palco, onde lembrado por Paschoal Carlos Magno para
era aplaudida em cena aberta quando canta­ medalha de ouro como melhor produtor de
va Ninguém me ama. Acontecendo também a espetáculo musicado, e depois de todos es­
estreia em teatro de Carmem Veronica, até ses sucessos, teve seu contrato renovado até
então estrelando os shows de Carlos Macha­ maio de 1954, recebendo a promessa verbal
do. Depois dessas duas revistas, o casal Cé­ de Carrera de que poderia permanecer até
sar Ladeira e Renata Fronzi retirou-se da so­ dezembro do mesmo ano.
ciedade (tinham uma percentagem de 12%
sobre a renda bruta). Entrou como sócio o
cômico Colé, com a revista Carroussel de 53, 1950
que além dele tinha João Villaret no elenco. Teatro Alaska (Cinema)
A revista transformou-se em um dos maio­
res sucessos, somente superado por Tout Va O Teatro Alaska, localizado na Galeria do
Très Bien. Além de Colé, Villaret, contava mesmo nome, com entradas pela Avenida
também com Armando Rodrigues (pianista Nossa Senhora de Copacabana n. 1.241 ou
e partenaire do artista português), Nélia Pau­ Avenida Atlântica n. 3.806, por incrível
la, Consuelo Leandro (estreando no teatro que pareça, foi um cinema transformado
profissional), Francisco Serrano, Lafayette em teatro. O fato de possuir um bom decli­
Silva e outros. ve, possibilitou boa visibilidade, com 400
Com a saída de Villaret, Zilco Ribeiro lugares e um palco de tamanho razoável foi
montou nova revista Mulheres cheguei, ainda reinaugurado como casa de espetáculos,
com Colé à frente do elenco. Um grande dispondo de condições toleráveis para re­
fracasso. Depois da mal sucedida montagem, ceber espetáculos teatrais.
termina a sociedade de Zilco com Colé e o Permaneceu durante longos anos como
teatro entra em outra fase. casa de shows eróticos, sendo a mais famosa
Estreava como autor e diretor geral dos casa de espetáculos de travestis do Rio, e no
espetáculos, Norbert, que deixara de dan­ início da década de 1980, encontrava-se em
çar desde Carroussel, aparecendo sozinho estado de abandono total, conforme mate­
como responsável pela coreografia, direção rial do Jornal do Brasil na época.
de cena e figurinos. Consegue contratar Vir­
gínia Lane, que se apresenta pela primeira Mas o seu atual estado de conservação é
vez em um teatro da Zona Sul. Descobre lamentável. Quem se dispuser a assistir
um novo autor, o radialista Mario Meira a Brasil dourado enfrentará, em primeiro
Guimarães, e com a máquina bem engrena­ lugar, o forte cheiro de mofo da sala de
da, Follies conhece o maior êxito da série, espetáculos. Em seguida ficará impressio­
com Tout Va Très Bien, que permaneceu em nado com o estado do teto, com os tijolos
cena 14 semanas e fez cerca de um milhão e as ferragens aparentes. E, finalmente, se
de cruzeiros, o cômico Pituca, que passara tiver a pouca sorte de sentar-se na fila G,

432 Teatros do Rio


Fachada do Teatro Alaska entradas da galeria. Um prédio construído
na década de 1950, com uma população de
poltrona n. 2, receberá em sua cabeça in­ 1.500 pessoas, distribuídas em 314 aparta­
comodos pingos que caem do teto, lem­ mentos de quarto e sala, além das boates,
brança das constantes chuvas.174 do teatro e bares. Em setembro de 1996, o
teatro era posto à venda pelos proprietários.
Nesta década a galeria transformou-se em Já não abrigava mais em suas dependências
ponto de mendigos, bêbados e travestis, ad­ travestis com plumas, paetês e silicone.
quirindo má fama afastou o público do Teatro O espaço recebia fiéis da Igreja Evangélica
Alaska e das boates, Sótão e Stop Club; sendo Assembleia de Deus, assim como a porta
que nesta última, em 1964, Rogéria estrelou vizinha que abrigava a Igreja da Graça de
o show International Set, um sucesso na épo­ Deus, desde 1989.
ca, assistido por artistas, gente da sociedade e
políticos, foi quando a Galeria Alaska come­
çou a se consagrar como point gay.
Em 1 de fevereiro de 1988 era interdita­
do pelo Delegado Romeu Diamante, da 13ª
Delegacia Policial (Posto Seis), a pedido do
Delegado Antônio Carlos Soares de Azeve­
do, Diretor da Divisão de Controle e Fisca­
lização de Diversões Públicas, por estar em
situação irregular de funcionamento, com o
espetáculo A noite dos leopardos. “O Delegado
foi a uma sessão do espetáculo, no último
fim de semana, e o interrompeu após o pri­
meiro ato, dizendo-se estarrecido.” 175
Em 1990, o síndico do condomínio na
época, João Martins, tentou mudar o pano­
rama do local, colocando grades nas duas Teatro Alaska. Vista da plateia e palco

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 433


No início do ano de 1997 o teatro é ar­ alugar o imóvel, conforme nota do jornal
rendado pela Câmara de Arte, uma associa­ O Globo:
ção de espectadores teatrais, dirigida pela
Juíza do Tribunal de Pequenas Causas Mí­ Ultimamente, a bilheteria da casa não tem
riam Calvo da Silva e a Médica especializa­ rendido os R$ 12 mil mensais oferecidos
da em Clínica Geral, Eury Luzia Pessoa de pelo Bispo Macedo.177
Lira, que tentam com grande esforço uma
programação para mudar a imagem do Tea­ Em seguida corre a notícia de que a Se­
tro Alaska. cretária de Cultura do Rio, Helena Severo,
O teatro passou então por uma grande propõe um contrato de aluguel aos donos da
reforma, recebendo o nome de Espaço das casa, querendo integrá-lo à rede de teatros
Artes, com uma atividade voltada para espe­ da Prefeitura, escapando assim do risco de
táculos de música popular brasileira. virar templo da Igreja Universal. Entretan­
Como não tinham experiência na área, to, a boato não foi verdadeiro, conforme no­
e mal assessoradas, começaram a contrair ticiava Ricardo Boechat:
dívidas, que foram acumulando-se durante
os primeiros meses ano, tornando-se uma Foi alarme falso a notícia de que a Secretá­
bola de neve. Desesperadas e com dificul­ ria de Cultura do Rio, Helena Severo, con­
dades levantar recursos, entraram em de­ seguiria impedir o fechamento do Espaço
pressão. A própria mãe de Míriam tentou das Artes [...] Sua proposta para assumir o
captar recursos para tirar a filha da situação teatro não saiu do papel.178
em que se encontrava, conforme matéria
do Jornal do Brasil: Apesar dos esforços feitos pela Secretaria
Municipal de Cultura para que a Prefeitu­
Preocupada com o estado de sua única fi­ ra do Rio arrendasse o teatro, o empresário
lha, que vinha emagrecendo e havia sofrido Abelardo Accetta, proprietário da casa, alu­
um princípio de infarto, a mãe de Miriam, gou por 4 anos o teatro em 14 de setembro
dona Consuelo, chegou a enviar cartas ao do mesmo ano à Igreja Universal, conforme
Presidente Fernando Henrique Cardoso palavras da Secretária:
e a empresas, pedindo patrocínio para o
Espaço das Artes... ninguém respondeu, Não há mais o que fazer. Conversei com o
disse Consuelo.176 dono do teatro e cheguei até a propor um
contrato temporário até dezembro para
Em 24 de julho do mesmo ano, o deses­ evitar o fim do Espaço das Artes. Mas ele
pero diante das dívidas acumuladas com o se mostrou bastante irredutível e prefe­
Espaço das Artes levou a dupla de empresá­ riu alugar o teatro ao Pastor Macedo, da
rias ao suicídio. Igreja Universal.179
Fechado durante meses, é reaberto em
2 de maio de 1998 com o show Paixão A última atração do Espaço das Artes foi
Zen, da cantora Fátima Guedes, cantando o show da Banda Boato, num espetáculo que
composições de Gilberto Gil, Lulu San­ misturava ritmos de reggae, rock e funk,
tos, Lenine, entre outros. Em agosto do com apresentação de cuspidores de fogo,
mesmo ano, seus proprietários recebem que Rodrigo Saal, mais conhecido como
uma proposta da Igreja Universal para “cabelo” prometia uma espécie de pajelança:

434 Teatros do Rio


Será uma espécie de arca de Noé inter­ [...] como me conquistou à primeira vis­
galáctica. Vamos apostar no Posto Seis e ta. Tratei logo de entrar em contato com
soltar os bichos. Nesse terreiro pop, com D. Marina França Pinto, presidente da en­
defumador e tudo, será possível baixar o tidade, cuja simpatia e boa vontade anima­
santo do velho guerreiro e de outras en­ ram-me a lutar pela inauguração de um
tidades. Quando o Espaço das Artes virar teatro até então desconhecido do público.
igreja, os fiéis não se livrarão dos nossos Imediatamente, sentimos a oportunidade
bons fluidos. Faremos uma espécie de má­ de efetuar o casamento de nossos projetos,
gica. Nosso protesto tem sempre muito que se completavam: seu teatro, acolhedor e
bom humor – diz Cabelo, que promete confortável, era efetivamente o “décor” ide­
fechar o show com a música “Jesus”.180 al para o lançamento de meu “Vaudeville”,
cuja ação se desenrola na “Belle-époque”.181
“Entregamos a chave ao Bispo terça-feira”,
contava José Fernando Bastos, ex-coordena­ Em outubro de 1973, o grupo musical
dor da programação do Espaço das Artes, ao MPB 4 estreava no Teatro Fonte da Sauda­
Jornal do Brasil de 18 de outubro de 1998. de, o espetáculo República do Peru, tendo sido
suspenso pela Censura Federal com acusa­
ção de inclusão de músicas proibidas.
1955 Por ser um teatro com palco de propor­
Teatro da Fonte (Teatro da ções bem reduzidas, e sem condições téc­
Fonte da Saudade) nicas, foi deixando de receber espetáculos
teatrais, acolhendo eventos musicais, com
Na Lagoa Rodrigo de Freitas, precisamen­ apresentação de poucos componentes no
te na Fonte da Saudade, nascia o Teatro da acompanhamento. Entretanto, outros fato­
Fonte, situado no amplo quintal dos fundos res começaram a surgir, impossibilitando
da sede das Obras Sociais Santa Margarida, também tais apresentações.
que os padres dominicanos dirigiam. No
mesmo local, anteriormente, Martim Gon­ Quando se inaugura uma sala com obje­
çalves encenara a tragédia Crime na Catedral, tivos especificamente dirigidos ao público
de Elliot, com seu grupo “Teatro do Largo”. da música popular e não se dá a ele um mí­
Em 1956, o Teatro da Fonte surgia nova­ nimo de condições ao seu funcionamento,
mente, dirigido por Luis de Lima, encenan­ o melhor seria transformá-lo, por exem­
do também ao ar livre A descoberta do Novo plo, num supermercado – há bastante es­
Mundo, de Morvan Lebèsque. paço para isso e não são necessárias despe­
Com o passar do tempo o Teatro da Fonte sas com aparelhagem ou técnico de som.
ganhou seu edifício próprio, o Teatro Fonte Este será o caso (e o futuro?) do Teatro
da Saudade foi inaugurado em 30 de julho Fonte da Saudade, na Lagoa, que depois
de 1970, com o espetáculo A dama do cama- de se propor a roubar do Opinião o título
rote, de Castro Viana, direção de Amir Ha­ de templo dos mais importantes aconte­
ddad, cenários e figurinos de Joel de Carva­ cimentos da música popular (o que, em
lho, supervisão musical de Geraldo Torres. parte, conseguiu este ano com as tempo­
No elenco, Elza Gomes, Regina Rodrigues e radas de Milton Nascimento, Hermeto e
outros, e com Produção de Renato Pedroza, Egberto e com os espetáculos extras das
que ficou encantado: serestas, segundas e terças), se desmora­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 435


Arquivo Cedoc/Funarte
liza, cada noite, irritando e afastando um Teatro Fonte da Saudade

público obtido, antes, com as melhores


iniciativas – e muito trabalho. Durante um longo período ficou somente
De fato, é o que se imagina – o Teatro com espetáculos infantis, já que as compa­
Fonte da Saudade transformado num efi­ nhias não se interessavam pelo teatro, devido
ciente supermercado, para sobreviver como às suas proporções e deficiências técnicas.
espaço útil. Pois os irritantes espetáculos
que têm sido oferecidos ali, especialmente ...conseguimos um lugar em que uma
desde a temporada de Egberto Gismonti, produção de teatro infantil independe de
não podem conduzi-lo a outro futuro. iluminação, do cenário e até da vontade
Gismonti, no terceiro dia da sua curta dos produtores do espetáculo noturno. O
temporada (Água e Vinho Número Dois), re­ palco estará montado apenas para O em-
clamava, com razão, das deficiências do te­ barque de Noé, propiciando ao nosso grupo
atro – uma, essencial, o som, da pior qua­ um clima gostoso de convívio e trabalho,
lidade; outra, talvez essencial, o calor que já que o espaço estará o dia todo à nossa
um prometido sistema de ar-refrigerado disposição.183
iria combater.182
Como teatro acabou não resistindo com
Depois de 6 anos fechado foi reaberto suas atividades, e hoje a sala é usada para en­
em 11 de setembro de 1982, com o espe­ saios, como foi o caso do ator Marco Nanini
táculo infantil O embarque de Noé, de Maria que a utilizou para ensaios de O Mistério de
Clara Machado, com direção de Toninho IrmaVap e para Uma noite na lua.
Lopes, direção musical de Ubirajara Ca­
bral, co­reografia de Louise Cardoso, Re­ A Pequena Cruzada é do lado da minha
gina Miranda e Luciana Bicalho. No elen­ casa. Uma ladeira apenas nos separam.
co Alexandre Dacosta, Regina Fontenelle, Descobri este teatro na época de Irma Vap
Marcos Jardim, Thiago Santiago e Rodrigo e, desde então, passei a alugar a casa e a só
Mendonça. ensaiar aqui.184

436 Teatros do Rio


1956 do Queiroz, Roberto de Cleto, Carmem
Teatrinho do Oympico Sílvia Murgel, Emílio de Matos e Roberto
Ribeiro, grupo ao qual depois juntou-se
Em 17 de agosto de 1956, era inaugurado Fábio Sabag. Geraldo Queiroz e Roberto
o Teatrinho do Olympico na Rua Pompeu Ribeiro procuraram o Prefeito Negrão de
Loureiro, 116, Copacabana, com capacida­ Lima, levando uma carta de Paschoal Carlos
de para 300 espectadores. Magno, e conseguiram a cessão do auditório
O teatrinho foi construído dentro dos da escola.
terrenos do Olympico Clube, com destino, O nome escolhido pelo grupo foi o nome
inicialmente, a grupos de amadores em or­ mais fácil e óbvio, desde quando o Cen­
ganização dentro do próprio clube. tro situava-se numa praça: Teatro da Praça.
A ideia de fazer do teatro interno casa de es­ Houve uma grande pressão quanto ao nome,
petáculos para o público foi sugerida pelo ator principalmente partindo de algumas profes­
Fernando Vilar, que era diretor social do clube. soras da Escola e de Laudímia Trotta.
A inauguração foi com a peça Homem, fi- O teatro foi inaugurado em 15 de maio
lósofo e a pasta, de Berliet Júnior, tendo no de 1958 com a peça infantil de Lígia Nunes,
elenco: Cirene Tostes, Grace Moema, Fer­ O bobo bobão, dirigida por Fábio Sabag. No
nando Vilar, Ana Bella, Adolfo Arruda, Luis elenco: Cláudio Corrêa e Castro, Rober­
Alberto Valentim e Hélcio de Souza, com to de Cleto e Roberto Ribeiro. A escolha
direção de Francisco Moreno. “Ontem, após deveu-se ao fato de na época existir uma
a estreia, a nova companhia celebrou seu su­ lei que obrigava a estreia de todas as com­
cesso, oferecendo um coquetel aos diretores panhias com texto nacional. Logo a seguir,
e sócios.” 185 em princípios de junho de 1958, foi leva­
Nada mais se soube do Teatrinho Olympi­ do à cena um espetáculo adulto, que havia
co, após esta estreia, ficou mesmo atenden­ sido escolhido para inauguração, O chapéu de
do à programação do clube.

Arquivo Cedoc/Funarte
1958
Teatro da Praça
(Teatro Gláucio Gill)

O prédio do Teatro Gláucio Gill, localiza­


do na Praça Cardeal Arco Verde, foi cons­
truído como auditório do Centro de Re­
creação e Cultura Dom Aquino Corrêa e
desde origem, como Teatro da Praça, seu
destino foi ligado às transformações e cri­
ses da cidade.
O Governador do Estado da Guanabara,
Carlos Lacerda, em 1958, cedeu o auditó­
rio a um grupo saído do Tablado que sentia
necessidade de se profissionalizar: Kalma
Murtinho, Cláudio Corrêa e Castro, Geral­ Teatro Gláucio Gill. Fachada lateral

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 437


Teatro Gláucio Gill. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Gláucio Gill. Corte, (S.E.)


palha de Itália, de Eugène Labiche, dirigido nanda conseguiu junto a empresas particu­
por Geraldo Queiroz, com um grande elen­ lares os tecidos para confecção da cortina de
co, dentre eles: Ádila Araújo, Carmem Sil­ boca, bambolinas, passadeiras e até mesmo
via Murgel, Isolda de Souza, Kalma Murti­ forração para todas as cadeiras, que eram
nho, Cláudio Corrêa e Castro, Fábio Sabag, de madeira. Foi reaberto ao público em 20
Roberto de Cleto, Roberto Ribeiro, sendo de outubro de 1965 com uma homenagem
Maria Sampaio, atriz principal convidada, e à Cecília Meireles, que falecera em fins de
os cenários foram de Belá Paes Leme. 1964 (Maria Fernanda ocupou o teatro até
Em seguida foram apresentadas pelo mes­ 27 de abril de 1967), com o Quinteto de
mo grupo as seguintes peças: Gentle People, Sopro da Rádio Ministério da Educação e
de lrving Shaw, a peça infantil A volta do ca- Cultura, apresentando música barroca e na
maleão alface, de Maria Clara Machado e Está segunda parte, Maria Fernanda, Paulo Pa­
lá fora um inspetor, de J. B. Pristley. Em 1959 dilha e Jodacyl Damasceno leram versos de
Roberto de Cleto sai do grupo. Depois veio Cecília Meireles.
a montagem de Nossa cidade, de T. Wilder; Outras companhias ocuparam o teatro a
Cândida, de Bernard Shaw, já com Tereza Ra­ partir de 1967: a Companhia Tereza Rachel,
chel e Adriano Reis, com direção de Cláudio por 4 meses; a Companhia Eva Todor; Tonia
Corrêa e Castro. Em seguida Um elefante no Carrero Produções Ltda, com contrato pu­
caos, de Millôr Fernandes, com Maria Sam­ blicado no Diário Oficial em 31 de janeiro
paio, Adriano Reis, Emílio de Matos. Dire­ de 1968.
ção de João Bethencourt. O nome do Teatro da Praça foi mudado
Em 1961, o grupo chamado Teatro da para Teatro Gláucio Gill em 23 de maio de
Praça, se desfez, o teatro ficou vazio e foi 1966, como uma homenagem a Gláucio Gill.
utilizado esporadicamente por grupos de
peças infantis. Em 9 de março de 1965, o A solenidade de mudança da placa do
teatro é cedido pelo Governador Carlos La­ teatro ocorreu ontem, encontrando-se
cerda à atriz Maria Fernanda, que auxiliada presentes Joracy Camargo, o embaixador
pela Administração Regional de Copacaba­ Paschoal Carlos Magno, Pedro Bloch, o re­
na e, por vários órgãos do governo, realizou presentante do Governo Estadual e outras
uma série de reformas estando o engenhei­ figuras de realce do nosso mundo artístico
ro Elias Kaufman à frente dos trabalhos que, e social186
apesar de demorados, garantiram sua ocu­
pação do teatro entre 1965 e 1967. Mas o Simultaneamente o teatro também desen­
termo de cessão de uso do teatro, celebrado volvia o teatro infantil, teatro escolar, con­
entre Fundo Estadual de Educação e Cultu­ ferências e cinema educativo, e no período
ra, da Secretaria de Educação e Cultura do de 1967 a 1968 teve como Diretor Roberto
Estado da Guanabara e a Companhia Teatro de Cleto.
Maria Fernanda só foi assinado pelo Secre­ Em 1986, no Governo Estadual de
tário de Estado, Benjamim Morais Filho, em Leonel Brizola, o espaço era desativado. As
12 de abril de 1966. Foram refeitos do tra­ reformas não aconteceram. O estado geral
tamento acústico à pintura geral, passando do prédio era de total abandono e despre­
pela impermeabilização (havia infiltração de zo. Goteiras em todas as partes, o siste­
água do solo), ao conserto do quadro de luz ma elétrico em situação de risco total, do
e à troca de fiação. Além disso, Maria Fer­ subsolo brotava água em épocas de chuva,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 439


ou quando havia ressaca. O palco era em ca. E as reformas foram executadas de junho
concreto, forrado de tacos, obviamente em a outubro de 1990. Sendo inaugurado com
péssimas condições. As poltronas estavam o espetáculo A mulher carioca aos 22 anos, de
soltas, quebradas e jogadas no centro da João de Minas, uma produção do Centro de
plateia. A mesa da cabine de luz não funcio­ Demolição e Construção do Espetáculo, di­
nava mais, irrecuperável, sem peças para rigida por Aderbal Freire Filho, cenografia
reposição. Não existia urdimento, somente de José Dias e iluminação de Jorginho de
três barrotes sustentavam alguns sarrafos, Carvalho. Aderbal obtivera contrato de ces­
já tomados pelo cupim e cheios de “gati­ são por um período de 2 anos, pagando 15%
lhos”. Os camarins não ofereciam o menor da bilheteria ao Estado.
conforto, não possuíam espelhos, lâmpadas
ou bancadas, e os banheiros estavam que­ Cada época teve seu espaço teatral.
brados e sem chuveiros. Não havia mais O teatro do século do cinema precisa es­
sistema de refrigeração ou contra incên­ tar mais próximo do espectador, precisa
dios. O prédio estava totalmente abando­ envolvê-lo de forma mais efetiva. Ele não
nado, deteriorado, em ruínas; uma ferida pode prescindir do artista-espectador.
no meio teatral, necessitando urgente de Se o cinema pode mostrar tudo, aqui ele
cuidados extremos. tem que completar.188

Nunca deixei de estar desalentada com O responsável pela obra de recuperação


o fechamento do Gláucio Gill um teatro e reforma do Teatro Gláucio Gill em 1990
bem localizado e que sempre abrigou pro­ foi a Companhia Construtora Ponto 3. José
gramação da melhor qualidade...187 Dias com Aderbal Freire Filho foram os res­
ponsáveis pelo projeto executivo do teatro;
Em 1987, no Governo de Moreira Fran­ Jorginho de Carvalho fez o projeto de ilu­
co, Rodrigo Farias Lima, o novo Diretor minação cênica; a programação visual ficou
Geral do Departamento de Teatro do Estado a cargo de Ivan Ferreira e o ar-condicionado
do Rio de Janeiro, assume o cargo definindo central foi projetado por Climarco Refrige­
algumas prioridades, como a utilização do ração Ltda.
Teatro Gláucio Gill, depois de uma reforma
na casa, que estava literalmente desabando. Quando fui chamado, o Aderbal me fez
A precariedade das instalações já era denun­ uma proposta: executar um projeto sem
ciada na parte externa: a casa de espetácu­ trair as características arquitetônicas do
lo era quase um apêndice da Escola Pública prédio. Então, o desenvolvi como um pal­
Dom Aquino Corrêa. co reversível, múltiplo, enfim, palco italia­
Uma pequena porta dava acesso ao foyer no, arena, cortejo, e inclusive elizabetano,
apertado, onde era impossível locomover-se para qualquer gênero de espetáculo. O im­
num dia de maior lotação, porque ali ainda portante, aqui, era integrar completamen­
funcionava um bar. O banheiro público era te a plateia ao espaço, dar versatilidade.
mínimo, os vasos sanitários estavam quebra­ A plateia poderá estar tanto de um lado,
dos. Dividindo a sala de espetáculos uma ve­ como de outro, você tem vários posiciona­
lha cortina de veludo mostarda. mentos e o importante também era criar
Subordinado à Funarj, entra em completa outras áreas de trabalho como a sala de es­
reestruturação, tanto física como ideológi­ tudos, a sala Yan Michalsky, a sala de teatro

440 Teatros do Rio


experimental – que também serve como
balcão. É importante que se diga que o an­
tigo Gláucio Gill continua o mesmo, quan­
do você retira parte da plateia e do balcão,
ele volta a ser o palco italiano que era.
O que foi feito, além de toda essa di­
nâmica no teatro, foi criar um urdimento
que possibilite a utilização total do palco...
Tem uma cabine fixa de luz, mas sua mesa
poderá ser deslocada para qualquer canto.
...abrir caminhos para que a gente pos­
sa dinamizar e dar à classe artística novos
espaços onde possam ser desenvolvidos
quaisquer gêneros de espetáculo...189

O projeto de modificação e reforma do


Teatro Gláucio Gill compreendeu a constru­
ção de um palco, acima de 20 cm. da laje
existente do palco anterior, com prolonga­
mento sobre a plateia, até o limite do balcão.
Desde até o proscênio, toda a construção foi
feita em quarteladas com poleias e america­
nas, facilitando as produções que quisessem
fazer uso do teatro tradicional. Com o pro­
longamento do piso e alongamento da boca
de cena, obteve-se um espaço amplo e livre.
Em toda a sua extensão, englobando palco e
plateia, foi construído um urdimento com
várias carreiras de gornes, para as manobras
das varas de cenografia e iluminação, sendo
a afinação feita através das malaguetas, dis­
postas em todas as laterais.
Abaixo do balcão, foi construída a sala
Yan Michalski, com tratamento acústico,
que poderia ser usada para diferentes fina­
lidades: vídeo, ensaios, leituras, exposições,
aulas etc. A sala tem uma cabine para locali­
zação de equipamentos para cinema, vídeo e
som, de onde o operador pode acompanhar
o que se passa na sala.
O balcão foi totalmente nivelado e trans­
formado em outro espaço cênico, sendo seu
vão fechado com janelas com tratamento
acústico, que através de dobradiças podem Fachada do Teatro Gláucio Gill

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 441


ser levantadas, quando houver necessidade 1958
de se voltar a usar este espaço como balcão. Teatro Santa Terezinha
Foram construídas arquibancadas com ban­
cos móveis acolchoados e desmontáveis, em Existia também nesta época um teatrinho
lugar das velhas poltronas fixas. que ficava na Igreja Santa Terezinha, ao lado
A antiga cabine de luz transformou-se em do túnel novo, chamava-se Teatro Santa Te­
um camarim. E a nova cabine de luz e som rezinha, mas nada ficou sobre ele.
ficou localizada em um lado do balcão, com
acesso independente e janelas para o gran­
de espaço, embaixo, e para o do balcão. Em 1961
toda extensão dos espaços são oferecidas Teatro Santa Rosa
instalações elétricas, permitindo inclusive
que a mesa de luz possa ser deslocada da ca­ O Teatro Santa Rosa surgiu do empreendi­
bine para qualquer lugar. Foi montado todo mento de Gláucio Gill, Léo Jusi e Hélio
um sistema de prevenção contra incêndio, Bloch. Com as dificuldades para encontra­
com extintores próximos a locais de fácil rem um teatro, chegaram à conclusão de
combustão, com agentes próprios. que o ideal seria possuírem um.
Esta reforma no Teatro Gláucio Gill Surgiram então várias alternativas: apro­
veio a atender às necessidades específicas veitamento de salas, arrendamento de tea­
de grupos e companhias que propusessem tro a longo prazo e a montagem de um cir­
montagens experimentais, dando condi­ co. Entretanto, apesar da originalidade da
ções para o desenvolvimento de um tra­ ideia, havia uma série de inconvenientes.
balho teatral, sempre em busca de novas Resolveram então partir para a adaptação
concepções de criação. “O objetivo é poder de uma sala, um local que reunisse todos os
dispor e explorar as diversas possibilidades requisitos necessários. Com isso passaram-se
do espaço...” 190 quase 5 anos, até que finalmente consegui­
Em 1997, no Governo de Marcelo Alen­ ram encontrar uma em Ipanema, próxima à
car, Leonel Kaz, Secretário de Cultura e Es­ Praça General Osório, na Rua Visconde de
porte do Estado; Bianca de Felippes, Direto­ Pirajá n. 22, subsolo. Era um bom espaço,
ra de Artes Cênicas da Funarj e Teresa Frota, com uma loja e uma subloja. Porém inúme­
diretora da casa de espetáculos fazem nova ros problemas haviam para a adaptação do
reforma no teatro, voltando à sua anterior local para teatro, mas graças à boa vontade
forma, com palco e plateia, reinaugurando-o dos proprietários, Fábio Penna da Veiga e
em março de 1998 com o espetáculo Retra- Frederico Darrique de Faro Filho, e gra­
to falado, de Teresa Frota e direção de Henri ças ainda à colaboração de Paschoal Carlos
Pagnoncelli. Em junho de 1999 Teresa Frota Magno, Geraldo Fariosa, Álvaro Americano,
era exonerada do cargo. Murilo Miranda e outros, as dificuldades fo­
O teatro, depois de quatro meses de obra, ram superadas, e o projeto da arquiteta Ade­
apresentou plateia com capacidade de 200 le Moura com a decoração de seu esposo, o
poltronas estofadas, e no balcão foi criado o cenógrafo Claudio Moura, foi aprovado pela
Café do Gláucio com capacidade para 80 lu­ antiga Prefeitura do Distrito Federal. Trata­
gares, voltando assim ao panorama cultural va-se de uma adaptação adequada e provei­
da cidade do Rio de Janeiro. tosa, da garagem do prédio, que foi possível

442 Teatros do Rio


através de uma lei especial sancionada pelo vava à sala de espera com 150 m2. Esta era
Prefeito Sá Freire Alvim, em 1959. ladeada pela galeria de arte de um lado e a
As obras iniciaram-se em 17 de dezem­ livraria do outro. Mais para o interior esta­
bro de 1959 e embora tivessem vendido va um bar e charutaria. Outra escada levava
bens pessoais e juntado tudo quanto pos­ à sala de espetáculos, com capacidade para
suíam Léo Jusi, Hélio Bloch e Glaucio Gill 224 espectadores, com poltronas estofadas,
não conseguiram recursos suficientes, o em 14 filas de 16 lugares.
que os conduziu a administrarem eles pró­ A plateia foi planejada dentro da mais
prios as obras, acompanhando o dia a dia moderna técnica de acústica, permitindo
da realização, pois queriam oferecer con­ boa audição em qualquer lugar e possibili­
forto, e não estavam dispostos a fazer con­ tando aos atores uma entonação mais natu­
cessões quanto à qualidade. Com o passar ral à voz. O palco era de proporções bem
do tempo, os recursos se esgotaram, sem pequenas, mas construído com técnicas que
que a obra estivesse concluída. Foi quan­ tornavam possível a movimentação de cená­
do Paschoal Carlos Magno entrou em ação, rios, pois possuía um urdimento, e ar-con­
e lançou uma campanha de assinantes de dicionado perfeito.
poltronas, enviando cartas de seu próprio Tinha largura de 11 m, profundidade de
punho para mais de duzentas personalida­ 3,5 m, altura de boca de 2,9 m, largura de
des importantes do meio social e cultural, boca de 6 m, urdimento a 8 m de altura
começando pelo escritor Austregésilo de com 26 manobras. Havia também uma área
Athayde, presidente da Academia Brasilei­ útil de 80 m2 quadrados para depósito de
ra de Letras; o deputado Francisco Silbert cenários, uma pequena oficina, e 7 cama­
Sobrinho; Alfredo da Cruz Machado; Regi­ rins com capacidade para 15 pessoas.
ne Feigl; Santos Bahdur; Edmundo Moniz; Foi inaugurado em 27 de abril, e em 4
José Freihaa; Alfredo Monteverde e José de maio de 1961 apresentava Procura-se uma
Luis Magalhães Lins. Dos poderes oficiais rosa, um espetáculo com três interpretações
nada receberam, apenas um despacho do de um mesmo fato, autoria de: Pedro Bloch,
então Presidente Juscelino Kubitschek. Fo­ Vinicius de Moraes e Gláucio Gill; direção
ram dezesseis meses de obras e de imensos de Léo Jusi, cenografia de Claudio Moura,
sacrifícios que o próprio Gláucio Gill reco­ e elenco integrado por Jece Valadão, Agildo
nhecia como verdadeiro milagre: Ribeiro, Átila Iório, Moises Shivelder, Fran­
cisco Milani, Antonio Patiño, Paulo Copaca­
É a melhor prova da existência de Deus, bana, Clementino Kelé, Dirce Migliaccio,
via colaboração de gente. Em inúmeros Norma Benguel, Aracy Cardoso e Maria da
momentos os problemas pareciam efe­ Penha, ficando em cartaz até 24 de novem­
tivamente nos irem sufocar, mas, nestes bro do mesmo ano.
instantes, surgia sempre um milagre pro­ O nome Santa Rosa, foi uma homenagem
videncial. Claro que eram milagres, tam­ ao falecido pintor e cenógrafo Tomás Santa
bém providenciados por nós, mas nem Rosa, mais conhecido entre seus amigos e
por isso deixam de ter sido autênticos classe artística como “Santa”. Em final de
milagres.191 1976, tornou-se impossível a continuação
do trabalho de Léo Jusi e seus companhei­
O público tinha acesso ao teatro por uma ros. O proprietário exigia, para renovar o
escada ligeiramente bem inclinada, que le­ contrato de arrendamento, uma quantia

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 443


correspondente ao que ele poderia, presu­ O último espetáculo foi A família que mata
mivelmente arrecadar destinando o seu va­ unida, de Pfeiffer, tradução de Millôr Fer­
lorizado ponto à exploração de atividades nandes, direção de Léo Jusi, cenários de
comerciais tradicionalmente rendosas. Pernambuco de Oliveira e José Dias. Esta
E em 1977, a empresa teatral, totalmente peça ficou em cartaz nos meses de abril,
impossibilitada de concorrer com essas ati­ maio e junho de 1976, sendo o contrato res­
vidades, não teve outra solução senão abrir cindido em dezembro do mesmo ano. No
mão do local. Era impossível subsistir pagan­ mesmo local foi inaugurada a “Boite Preto
do pelo arrendamento o que lhe era pedido. 22”, que logo depois passou a chamar-se
“Carinhoso”.
Um pequeno anúncio, na seção de clas­ Nesse curto período de vida, o Teatro
sificados do Globo, informa que a subloja Santa Rosa lançou autores como Gláucio
S-101 da Rua Visconde de Pirajá, 22, em Gill (Toda donzela tem um pai que é uma fera e
Ipanema está à venda.192 um dos atos de Procura-se uma rosa), Ziraldo
(Os cangurus e Este banheiro é pequeno demais
[...] Rescindido porque não tínhamos prá nós dois) e Hélio Bloch (A úlcera de ouro);
condições de pagar o preço atual do alu­ lançou atrizes do nível de Norma Bengell,
guel, que subiu para 45 mil cruzeiros”, ex­ Joana Fomm, Íris Bruzzi, Vera Vianna, Eli­
plica Léo Jusi a O Globo, em 8 de junho de zabeth Gasper e Leila Santos. Lançou tam­
1977, que havia feito um contrato de loca­ bém os cenógrafos Manoel Martins da Silva,
ção que era renovado de 5 em 5 anos. Mas Mauro Monteiro e a figurinista Virgínia Gui­
em 1975 não se chegou a um acordo, os marães Ferreira.
proprietários do imóvel argumentavam que
o metro quadrado em Ipanema se valorizava
cada vez mais e pediam um preço mais alto. 1964
Teatro Carioca
Eles entraram com uma ação renova­
tória, na justiça, para não perder o prazo: Em 1964, surgia mais um teatro no Rio,
a ação foi julgada em duas instâncias. De situado na Rua Senador Vergueiro, 238:
acordo com o relator da Quarta Câmara o Teatro Carioca, que provavelmente, na
Cível do Tribunal de Alçada, no processo época, era o menor do Rio, com uma pla­
de apelação, a lei especial de proteção a teia de apenas 120 lugares, e um palco
teatros localizados na Capital Federal – bem reduzido, comparado ao do Teatro
sancionada por Getúlio Vargas em 1945, de Bolso, embora um pouco mais jeitoso.
e que determina que uma sala de espetá­ Apesar de pequena, a sala de espetáculo
culos não pode funcionar para outro fim oferecia todo o conforto ao espectador,
– não se aplica a unidade da Federação que com poltronas estofadas, equipamento de
não ocupam mais esta posição. ar-refrigerado e perfeita visibilidade de
qualquer lugar da plateia.
O relator vai além: Coube ao produtor e diretor Antonio do
Cabo o aluguel do Teatro Carioca, que foi
Na fixação do aluguel, o critério a adotar inaugurado em 26 de agosto de 1964, com o
é o de rentabilidade em função do valor espetáculo Meu querido mentiroso, de Jerome
venal do imóvel193 Kilty, com tradução de Claude Vincent, di­

444 Teatros do Rio


reção de Antonio do Cabo. No elenco, Sér­ – escondido na Rua Senador Vergueiro – o
gio Britto e Nathalia Timberg. fato de ser praticamente desconhecido do
Em 5 de setembro do mesmo ano lança­ público carioca, além da crise teatral na
va a primeira produção infantil Os ciganos da época, foram fatores para que o Teatro Ca­
floresta, de Rubem Rocha Filho, com dire­ rioca tivesse pouco tempo de vida, encer­
ção de Renato Machado. No elenco: Elisa­ rando suas atividades no segundo semestre
beth Gasper, Anita Schmidt, Celina Whately de 1966.
e Edson Guimarães.
O teatro teve vida curtíssima, em setem­
bro de 1966, o proprietário do teatro já ma­ 1965
nifestava desejo de fechar a casa logo após Teatro Princesa Isabel
a temporada de O triciclo, de Arrabal, com
Carlos Vereza. Somente a temporada de dois Em 1964, três homens de teatro: Pernam­
meses de Meu querido mentiroso fez o teatro buco de Oliveira, Orlando Miranda e Pedro
conhecer um verdadeiro sucesso. Todas as Veiga resolvem lutar pelos mesmos ideais
outras peças deram prejuízo. – uma casa de espetáculos, mesmo que seja
pequena – um teatro de comédia para o Rio
Quero transformar o Carioca num misto de Janeiro. Juntando força e vontade levam
de teatro e boate, com balcão de bebidas à frente o projeto de ver o sonho realizado.
na plateia, apresentação de shows, restau­ Durante meses saem à procura de uma
rante, enfim, em qualquer outro ramo de loja, ou um espaço onde pudessem montar
negócio, menos teatro.194 o teatro, vasculharam todas as construções

Seu palco acanhado, que impedia um Teatro Princesa Isabel. Fundo da plateia e balcão
sem número de montagens, sua localização em 1964, época de sua construção

Arquivo particular Orlando Miranda

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 445


de Copacabana, chegaram a encontrar um to de Almeida, Alfredo de Almeida, Brício
local excelente, num ponto ótimo, “mas o de Abreu, Léo Jusi, Roger Bernadett, Emir
condomínio não estava de acordo. Teatro faz Nunes de Oliveira (patrono do Centro Re­
barulho! Saímos desanimados, quase desis­ dentor), Leoberto Castro Ferreira (Diretor
tindo da ideia”.195 da Secretaria de Turismo), Marcelo Garcia,
Foi quando descobriram um grande espa­ o Deputado Jorge Curi, Almeida Braga, Wal­
ço vazio em um edifício que tinha acabado ter Cunto, Josué Montello, Viriato Corrêa,
de ser construído na Avenida Princesa Isa­ lbañez Filho, dentre outros.
bel, n. 186. E é Pernambuco de Oliveira A construção prosseguiu em ritmo rápido,
quem conta, na mesma ocasião: e seus três idealizadores e diretores da Elen­
co Sociedade de Teatro, assim distri­buíram
Soubemos que na Avenida Princesa Isa­ suas funções: Pernambuco de Oliveira fi­
bel estava um teatro quase transformado cou sendo diretor artístico e o cenógrafo da
em cinema. Surge um quarto encontro. companhia; Pedro Veiga, ficou encarregado
Agora com o Dr. Emir Nunes de Olivei­ da parte administrativa; Orlando Miranda,
ra, procurador e advogado do Centro Re­ como relações-públicas e de propaganda.
dentor (proprietário do edifício) e tudo Seu foyer com piso de mármores, portas
veio a se positivar. de madeira e um console com um grande
espelho e arranjo de flores dá acesso a um
E o Teatro Princesa Isabel recebeu seu ba­ corredor com duas entradas com cortinas
tismo político e social em um almoço que para a sala de espetáculo, composta de pla­
Pernambuco de Oliveira, Pedro Veiga e Or­ teia e balcão. Sendo o acesso ao balcão feito
lando Miranda ofereceram ao Governador pelo final do referido corredor.
Carlos Lacerda e à classe teatral no Salão de O teatro tem todo um estilo barroco,
banquetes do Leme Palace Hotel. com elementos autênticos comprados em
Dezenas de artistas, críticos, jornalistas demolição (balaústres de escada, gradil de
estiveram prestigiando o sonho dos três ar­ ferro das janelas, azulejos franceses dos es­
tistas que se tornava realidade. A relação dos pelhos das escadas, tochas das paredes da
presentes a esta cerimônia dá para avaliar a plateia e as duas portas em folha dupla que
importância do almoço; lá estiveram: Cacilda estão na entrada, o portão de ferro, os espe­
Becker, Tônia Carrero, Maria Fernanda, Fer­ lhos), possui ar-condicionado e um palco de
nanda Montenegro, Fernando Torres, Maria 7,50m de boca de cena por 6,00m de pro­
Sampaio, Alda Garrido, Eva Todor, Aimeé, fundidade e 6,00m de altura, não possuindo
Laura Suarez, Barbara Heliodora – Diretora coxias, o palco tem uma elevação de 1,00m.
na época do Serviço Nacional de Teatro – El­ A plateia tem uma boa inclinação e cerca de
sie Lessa, Léa Maria Bonfim, Van Jafa, Paulo 200 poltronas e outras 100 no balcão. Ao ní­
Pôrto, Geraldo Queiroz, Grande Otelo, Os­ vel do balcão fica a administração do teatro,
car Ornstein, Dias Lopes, Joracy Camargo, e os camarins, são localizados sobre a caixa
R. Magalhães Júnior, Olavo de Barros, Au­ cênica e foyer.
rimar Rocha, Almir Azevedo, Flexa Ribeiro Do lado de fora do prédio (área de venti­
(Secretário de Educação), João Bethencourt lação dos edifícios) ao lado do corredor de
(Diretor do Departamento de Cultura do Es­ acesso à plateia existe um pequeno hall onde
tado), Maria Gracinda, Maria Pompeu, Mar­ estão localizados os banheiros masculino e
cos André, Nathalia Timberg, Maria Inês Sou­ feminino do público, além de um pátio com

446 Teatros do Rio


Teatro Princesa Isabel.
Planta baixa, (S.E.)

Teatro Princesa Isabel.


Corte, (S.E.)
jardim de inverno, e um simpático bar. No tregésilo de Athayde, Neuza Leitão, Márcia
hall, também utilizado como galeria, onde de Moura Castro, Sandra Carneiro de Men­
artistas podem expor seus trabalhos. donça, Stella Rodrigo, Octávio Moutinho e
Sua inauguração foi no dia 28 de janeiro de do anjo-tutelar da Casa do Estudante, sua
1965, em benefício da Casa do Estudante do fundadora, sua principal incentivadora e
Brasil já que dois membros da diretoria: Per­ presidente, a poetisa Anna Amelia de Quei­
nambuco de Oliveira e Pedro Veiga foram do roz Carneiro de Mendonça.
Teatro do Estudante da Casa do Estudante do Foram quatro meses de sucesso,
Brasil. A peça de estreia foi A guerra mais ou
menos santa, de Mário Brasini, com direção e depois preparou-se o primeiro espetáculo
cenografia de Pernambuco de Oliveira e figu­ musical Reação, com Marcos Valle, Luiza e
rinos de Celso Cardoso. No elenco: Elza Go­ Chico Feitosa, seguido do espetáculo co­
mes, Antonio Patiño, Beatriz Veiga, Teresinha memorativo dos 150 anos de nascimento
Amayo, Helio Ary, Artur Costa Filho, Orlan­ de Martins Pena...Quem casa quer casa e
do Miranda, Graça Moema, João Ferreira e As desgraças de uma criança, dirigidas por
Martin Francisco. A produção foi da Elenco Sérgio Viotti e interpretadas por um elen­
Sociedade de Teatro. Sobre o nome do teatro, co do qual faziam parte Napoleão Moniz
Pernambuco de Oliveira respondeu a Van Jafa Freire, Helena lnez, Gracinda Freire, Ma­
em entrevista ao Correio da Manhã, de 10 de noel Pera, Marcia Laviola, Dorival Carper,
janeiro de 1965: com cenários e figurinos de Pernambuco
de Oliveira, e assistente de direção Celso
...Por duas razões: uma objetiva, o teatro Cardoso. A produção por sua categoria,
fica na Avenida Princesa Isabel, 186, e não mereceu figurar entre os eventos artísti­
há quem não conheça na zona sul aquela cos dos festejos do 4o Centenário do Rio
avenida dos túneis. A segunda razão é his­ de Janeiro.196
tórica. A augusta princesa que tanto amou
a liberdade, gostava de teatro. Naquela Seguiram-se dois espetáculos musicais
avenida está seu monumento, horrível e Gemini 5, com Pery Ribeiro e Leny Andrade,
feio. Agora naquela avenida estará o teatro e Primeiro tempo cinco a zero, com Claudette
com seu nome, uma homenagem. Soares, Tayguara e Jongo Trio, ambos da du­
pla Miele-Bôscoli.
Uma homenagem também que os três di­ Outro setor que foi de maior importância
nâmicos idealizadores estavam fazendo à ci­ para seus fundadores, foi o teatro infantil.
dade do Rio de Janeiro, presenteando-a com Preocupados com a formação de futuras
um teatro agradável e confortável, pelo seu plateias, deram importante parcela de seus
IV Centenário. esforços para criar espetáculos que ofere­
Presentes à noite de benemerência con­ ciam às crianças o mesmo padrão dos seus
tou com o alto patrocínio das senhoras: espetáculos para adultos, como foi o caso:
Ministro Vasco Leitão da Cunha, Marechal O circo Rataplan, texto e direção de Pedro
Odylo Denys, Marechal Nelson de Queiroz, Veiga, depois foi a vez de o Príncipe valente,
Embaixatriz Eugenia de Macedo Soares, o herói da floresta, com texto e direção de
Condessa Pereira Carneiro, Ondina Ribei­ Orlando Miranda. E a terceira peça infan­
ro Dantas, General Mario Valle, Deputado til já em 1967 foi A revolta dos brinquedos, de
Aureo Mello, Clotilde de Melo Viana, Aus­ Pernambuco de Oliveira e Pedro Veiga, diri­

448 Teatros do Rio


gida por Pedro Veiga, com cenários e figuri­ O palco apenas a 25 cm acima do último (im
nos de Pernambuco de Oliveira. nível do público. A altura média da plateia
O Teatro Princesa Isabel em seus 34 anos de 1 m e 60 cm que é o nível médio visual
de atividade ininterruptos, por onde já pas­ também do ator. Os extremos, mais alto e
saram dezenas de comédias, dezenas de peças mais baixo da plateia, ficam com uma dife­
infantis, além de shows e uma lista imensa de rença mínima apenas 50 cm do plano visual
atores, continua sendo dirigido por Orlan­ do artista, uma vez que o extremo superior
do Miranda, o único que sobrevive dos três sofre a correção da perspectiva geral.
idealizadores. Talvez seja a pessoa mais antiga Com um aproveitamento maior da sua
na responsabilidade de dirigir um teatro par­ área, que é relativamente pequena, possui
ticular, que vem a ser também o mais antigo duas escadas: uma de acesso à sala de espera,
teatro particular do Rio de Janeiro. em comunicação total com a plateia, e outra
de saída do público.
As paredes de tijolos furados, forrados
1965 de lã de vidro, funcionando como elemen­
Teatro Miguel Lemos to acústico e com a elevação da plateia, foi
(Teatro Brigitte Blair I) possível situar a bilheteria e o depósito de
materiais. Toda a arquitetura interna era ex­
No início do ano de 1964, começou a ser tremamente sóbria, bem neutra para não
construído, na Rua Miguel Lemos n. 51, Co­ interferir no espetáculo, sendo o exterior
pacabana, uma pequena casa de espetáculos, (a fachada) bem cenográfica, caracterizando
com projeto do arquiteto Sérgio Bernardes a finalidade do prédio: um teatro.
e tendo Iancel Ghelman como o engenheiro No ano de 1964, existiam na cidade do
responsável, cabendo à Construtora Enge­ Rio de Janeiro, 23 teatros: Bolso, Carlos
nharia Melman & Osório S.A. a construção, Go­mes, Copacabana, Dulcina, Ginástico,
que durou 18 meses e custou 150 milhões Jardel, João Caetano, Jovem, Maison de
de cruzeiros. Um teatro de pequeno porte, France, Mesbla, Municipal, Praça, Recreio,
com capacidade para 200 espectadores em República, Rio, Rival, Santa Rosa, Tabla­
poltronas confortáveis, de couro, um palco do, Tijuca, Teatro Nacional de Comédia e
com 8 m de largura por 3,5 m de altura, Zaquias Jorge, em Madureira; Arthur Aze­
por 5 m de profundidade, com urdimento a vedo em Campo Grande e Armando Gon­
6 m de altura. Um túnel ligava por baixo do zaga, em Marechal Hermes. Porém, nem
palco, as duas coxias, uma boa visibilidade, todos estavam em condições de funcionar,
5 camarins e ar-refrigerado em todas as de­ e outros por vários motivos não eram mais
pendências. procurados pelas companhias, além dos que
O novo teatro, uma iniciativa de Ibañez estavam fechados nessa época.
Filho, Jayme Barcellos e Marcos Kalmon, foi Numa cidade tão carente de casas de es­
batizado com o mesmo nome da rua, onde petáculos, como o Rio de Janeiro, que não
está localizado: Teatro Miguel Lemos. A es­ raro, deixa de ser visitada por companhias
colha de Copacabana para sua construção, de fora, por falta de espaços para se apresen­
justificava-se por ser um bairro de maior tarem, o surgimento de um novo teatro era
densidade demográfica, e estar provado na uma notícia auspiciosa.
época, que ali os teatros eram mais frequen­ No dia 11 de agosto de 1965 houve a pré­
tados do que no centro da cidade. -inauguração, com um coquetel, que compa­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 449


receram entre outras personalidades do meio Um destes abaixo-assinados foi parar nas
artístico e cultural, o poeta Manuel Bandeira mãos do governador, que mostrou à atriz, e
e o Embaixador Paschoal Carlos Magno. Brigitte Blair explicou ao governador:
O teatro foi inaugurado em 27 de agosto
do mesmo ano com a remontagem de um Neurótico de guerra, que já fez diversos
espetáculo cujo destino parecia ser o de abaixo-assinados entre os vizinhos do tea­
inaugurar novos teatros: Procura-se uma rosa, tro, pedindo o seu fechamento.[...] O ca­
que já havia inaugurado o Teatro Santa Rosa. pitão é um maluco, dorme muito cedo e
Ibañez Filho, um dos proprietários, conse­ sempre implica com os artistas.197
guiu algo bastante surpreendente; reuniu,
na sua remontagem praticamente toda a Depois de um período conturbado por
equipe da montagem de 1961: o diretor brigas e abaixo-assinados dos moradores da
Léo Jusi, o cenógrafo Claudio Moura, e um Rua Miguel Lemos, “contra a pouca vergo­
elenco composto de Dirce Migliaccio, Aracy nha e a tremenda bagunça promovida pelo
Cardoso, Antônio Patiño, Agildo Ribeiro, Teatro Miguel Lemos”, como publica o Jor-
Jorge Dória, Átila Iório, Clementino Kelé e nal do Brasil de 18 de setembro de 1966, Bri­
Moisés Ghivelder. gitte se defende:
Faltando para completar o elenco origi­
nal: Norma Benguel (já no final da tempo­ os problemas criados pela turma foram tão
rada no Santa Rosa foi substituída por Aracy grandes que Ibañez filho não aguentou a
Cardoso), que foi convidada por Ibañez Fi­ pressão e vendeu-me a casa. Observando
lho, mas não pôde aceitar, por causa de obri­ os movimentos diários, percebi que não
gações contratuais, e Jece Valadão (impedi­ pagaria sequer a luz se as peças de alto
do por suas atividades cinematográficas). nível continuassem. Por isso, decidi apre­
No ano de 1966, a vedete Brigitte Blair, sentar É uma brasa, mora, com 20 coristas e
arrendou o teatro por 30 milhões e produ­ o espetáculo Les Boys, com as dez bonecas
ziu o show-revista É uma brasa, mora!, e o es­ mais desvairadas do Rio.
petáculo de travestis Les Boys, que por pouco
não foi interditado no dia da estreia. Apesar O teatro, reformado em 1978, graças a
de terem sido liberados pela Censura, só um financiamento do Banco de Desenvolvi­
puderam continuar em cartaz depois que mento do Estado do Rio de Janeiro, passan­
os administradores do teatro, regularizaram do sua ocupação para 159 poltronas.
o Alvará de funcionamento da casa que era Depois foi reaberto com o nome de
concedido anteriormente a título precário e Teatro Sérgio Porto, uma homenagem de
havia sido cancelado, motivando a interdi­ Brigitte Blair e de Claudio Bueno Rocha
ção na véspera da estreia. ao jornalista. O teatro foi então arrenda­
Brigitte Blair para liberar o teatro da in­ do por Tuny Produções (Claudio Bueno
terdição teve que recorrer ao Governador Rocha e Bernardo Tuny) por seis meses,
Negrão de Lima, justificando que a casa com uma programação de shows musicais
já estava toda vendida na estreia. A vedete diferentes todas as noites, com sambistas
aproveitou para fazer a denúncia de que o e cantores da velha guarda, e intérpretes
teatro estava sendo alvo de uma campanha da música jovem.
movida pelo capitão reformado do Exército Depois de um período com o nome de
Alberto Faini. Sérgio Porto, passa a chamar-se Teatro Bri­

450 Teatros do Rio


gitte Blair I, e em 1998 não conseguindo rinense Gunther Laien e o niteroiense José
uma programação que mantivesse o fun­ Paulo Cosme.
cionamento do teatro, Brigitte Blair tenta Um ano após sua inauguração, lá aconte­
negociar o aluguel ou a venda de suas duas cia em 2 de julho de 1966 o I Festival, con­
casas de espetáculos, uma em Copacabana forme noticiado na imprensa em O Estado de
e a outra no Centro, para a Igreja Renascer. S. Paulo, de 3 de julho de 1966:

Pedi ajuda a Helena Severo, mas ela me Inaugurou-se ontem, no Teatro Infantil do
ofereceu uma esmola de 1.800 reais por Parque do Flamengo, o I Festival de Mario­
mês para administrá-los. Eu entregaria as netes e Fantoches. Dependendo dos resul­
chaves e ia parar no Retiro dos Artistas.198 tados, o festival poderá ser incluído no ca­
lendário permanente dos festejos da cidade.

1965 Durante este ano de 1966 apresentou uma


Teatro Infantil do Parque série de espetáculos com grande sucesso de
do Flamengo público. Em março de 1967, volta às suas
atividades depois de ficar parado alguns me­
Em 10 de outubro de 1965, era inaugu­ ses, com a peça Camélia e a Fera, de Henrique
rado o Teatro Infantil do Parque do Fla­ Amoedo e Luis Henrique, com direção de
mengo (Aterro), um teatro aberto, sem Henrique Amoedo, cenários de Leo, numa
portas e, assim, de entrada franca. Com produção de Clorys Daly e Claudio Ferreira.
capacidade para 200 pessoas, sentadas em No final da década de 1960, suas ativi­
bancos de concreto. A casa não se desti­ dades eram esporádicas e sem continui­
nava exclusivamente, àquele uso. Serviu dade, com isso foi perdendo seu público, o
também à apresentação de peças infantis, interesse por parte dos grupos, tor­­nan­
pequenos recitais, conferências e outras do-se uma construção perdida e abando­
atividades culturais, sempre visando à nada na imensidão do Parque do Flamen­
educação das crianças. go. Em 1975, não passava de uma mostra
Sua boca de cena com 6 m de largura, a mais do abandono em que se encontra­
por 3 m de altura e 7 m de profundidade, se va todo o Parque. A arborização em sua
presta também para representações de tea­ volta, tornou-se um grande matagal, ul­
tro amador. Seu palco, externamente é re­ trapassando as plantas do jardim. O pré­
vestido por painéis do pintor Eurico Bianco, dio estava completamente depredado, e
de forma abstrata. era usado pelos mendigos como moradia.
O teatro tem em torno, arborização, que Do teatro nada sobrou, apenas a carcaça.
melhora o seu aproveitamento acústico, e O porão do palco alagado e cheio de lixo, o
torna o ambiente mais ameno, sendo sua ad­ revestimento acústico das paredes do palco
ministração a cargo da Fundação do Parque arrancados, assim como os fios do sistema
do Flamengo. de iluminação. Dos banheiros foi tudo rou­
Sua inauguração em 10 de outubro se deu bado. O descaso e o abandono do Teatro
com a participação do elenco do Teatro dos Infantil do Parque do Flamengo era total.
Três Cataventos, que era composto pela aus­ Na década de 1990, foi reformado e res­
tríaca Rosemarie Rissone, que já na época taurado, voltando às suas atividades, com
vivia há cerca de 10 anos no Brasil; o cata­ casa lotada todas as manhãs de domingo.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 451


Depois de um período fechado em 1998, boa boca de cena, mas pouca altura, sem
retoma o ano de 1999 integrado à Rede urdimento, com coxia somente de um
Municipal de Teatros com o projeto “Faça lado, camarins, cabine de luz e som, ar­
sol, faça chuva”, com o objetivo de dar -condicionado, e 200 poltronas estofadas. O
chance para que muitos grupos de bone­ acesso era entre o restaurante Gatto Par­
queiros possam mostrar seus trabalhos no do e a Boate Resumo da Ópera. Em 14 de
Teatro Carlos Werneck de Carvalho, do agosto de 1996, um incêndio destruiu-o com­­
Parque do Flamengo, administrado por Su­ pletamente. As chamas começaram no
sanita Freire, presidente da Associação Rio pal­co, se alastraram pelos camarins, pla­
de Janeiro de Bonecos. teia e sala da administração.
O espaço, além das representações, pas­ Em setembro de 1997 era entregue à
sou a ser um ponto de encontro dos bone­ Juíza da 8a Vara Criminal, Leony Maria Pi­
queiros, que procuram o teatro para ver os nho de Soledade Lima – por peritos do Cor­
trabalhos dos colegas e trocar informações. po de Bombeiros – o laudo de 97 páginas,
no qual a conclusão, era de que o incêndio
havia sido proposital.
1966
Teatro da Lagoa Segundo a perícia, funcionários dificulta­
ram o trabalho dos bombeiros. A análise
Em 1964 funcionava na Lagoa o Boliche diz ainda que os focos de incêndio foram
Lagoa, de propriedade de Ricardo Amaral provocados separadamente. De acordo
que permaneceu por dois anos, enquanto com o estudo, no caso do Teatro da La­
durava a moda do boliche. Quando a moda goa, o fogo foi “ocasionado por uma ação
passou o espaço foi então dividido em dois: pessoal direta, estabelecida através de uma
metade virou o Teatro da Lagoa e a outra preparação prévia e intencional, praticada
metade a Boate Sucata que funcionou du­ pelos interessados em causar prejuízo, o
rante quase 10 anos; em 1976 o espaço foi que é comprovado pela presença de acele­
novamente recriado, sendo lançado o Papa­ radores (de fogo) no local”.
gaio Disco Club, que durou cerca de quatro
anos. Em 1981 o Papagaio foi transforma­ Os peritos afirmavam ainda ter encon­
do em Café-Cabaret, sendo inaugurado em trado vestígios de propagação e generali­
18 de julho com o espetáculo Village, de Ira zação anormal do incêndio. Além disso,
Evans, com direção de Wolf Maya, cenários apontavam que foram criados obstáculos
Reynaldo Amaral, figurinos Kalma Mur­ para a ação de bombeiros da Gávea e omiti­
tinho, iluminação Jorginho de Carvalho e dos fatos importantes para o esclarecimen­
direção musical de Ubirajara Cabral. De­ to do ocorrido, conforme O Dia, de 4 de
pois o Papagaio Café-Cabaret foi redimen­ setembro de 1997.
sionado e reaberto com o nome de Boate “A Juíza encaminhou o laudo ao Ministé­
Resumo da Ópera. rio Público, que pediu o desarquivamento
O teatro localizado na Avenida Borges do inquérito.”
de Medeiros, 1.426, permaneceu durante Em 27 de maio de 1998 o teatro é rei­
todos esses anos com espetáculos de gê­ naugurado com o show de Chico Anysio,
neros diferentes: comédias, shows humo­ com uma plateia de cadeiras soltas, um
rísticos e musicais. Possuía um palco com palco sem coxias, sem profundidade, sem

452 Teatros do Rio


Teatro da Lagoa. Planta baixa, (S.E.) permitisse o leilão das propriedades, inclu­
sive o teatro.
altura, sem urdimento, sem equipamento Poucas pessoas sabiam da existência do
técnico, sem cabine de luz e som, mas com Teatro da Galeria Astor, mesmo assim alguns
ar-condicionado. artistas, na década de 1970, se aventuraram
em vão comprar o imóvel, entre eles: Sér­
gio Britto, Gracindo Júnior, Ester Tacirtano,
1966 Dina Sfat e Paulo José.
Teatro da Galeria Astor Em 1977 o então síndico do prédio, onde
está localizada a galeria, Milton Pinheiro da
Em 1966 foi construído o Teatro da Galeria Fonseca, afirmava:
Astor, Avenida Visconde de Pirajá n. 605 em
Ipanema, com 450 lugares, que também te­ O ponto é excelente, principalmente de­
ria como atividade o cinema, mas que nunca pois que acabaram com os dois cinemas
funcionou. que tínhamos por perto (o Super-Bruni e
A história do abandono do teatro come­ o Pirajá). E se tornou mais absurdo o não
ça em 1966 quando a Seguradora Industrial aproveitamento de um teatro como este
Companhia Nacional de Seguros, empresa à que existe aqui na galeria.199
qual pertencia o imóvel, de propriedade de
Lívio Bruni, sofreu intervenção federal de­ O caso do teatro abandonado era um
vido a irregularidades administrativas. mistério, uma liquidação judicial que em
A Companhia entrou em liquidação, e fo­ 1977 já durava 10 anos. Nesta época, o
ram nomeados vários liquidantes, em 1977, liquidante da companhia, Aloísio Barbosa
ano da última notícia do teatro, já era o Cunha, o quinto desde que o processo foi
quinto, e o processo continuou se arrastan­ aberto, comentava, no Jornal do Brasil de 20
do na justiça à espera de uma decisão que de março de 1977.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 453


...pelo acúmulo de processos na justi­ n. 48/1° andar, no Centro, que utilizava o
ça. Estamos esperando a ratificação da salão de festas, onde havia um palquinho,
primeira sentença a favor da liquidação. servindo como teatrinho da entidade cul­
Atual­mente o processo está no Tribunal tural judaica. Possuindo dois elencos per­
de Alçada esperando novo julgamento. manentes: um com língua portuguesa, e o
outro com língua Idish. Deste último fa­
O teatro estava exatamente como era ziam parte Moyses Aichenblat e Max Haus.
quando terminaram as obras, e só faltava Paulo Afonso Grisolli estreou como di­
o acabamento final (pintura, colocação das retor neste grupo, quando então ganharam
cadeiras e instalações das louças sanitárias) vários prêmios no 1° Festival de Teatro do
para que ele fosse inaugurado. Estado da Guanabara, sendo governador
Enquanto a decisão da justiça não chegava, nesta época Carlos Lacerda, e Maria Clara
os comerciantes e o síndico continuavam so­ Machado Diretora do Serviço de Teatro do
nhando com o dia em que teriam um teatro na Estado da Guanabara. Moyses Aichenblat
Galeria Astor, conforme palavras do síndico, foi escolhido como melhor ator, empatando
ao Jornal do Brasil de 20 de março de 1977: com Rogério Fróes, que pertencia a um ou­
tro grupo (TRE). Foi criado então um outro
Eu já tinha desistido de lutar pela abertura do prêmio. Moisés ganhou uma bolsa de estu­
teatro, afinal de contas já esperei mais de 10 do no Teatro dos Sete (Gianni Ratto, Sérgio
anos e a maioria dos meus colegas já não tem Britto, Ítalo Rossi, Fernando Torres, Fer­
mais esperanças, mas achei que não valeria nanda Montenegro, Aldo de Maio e Francis­
à pena abandonar a causa, justamente agora co Cuoco). Enquanto Rogério Fróes ganhou
que o problema está para ser solucionado. Se bolsa para fazer o Curso de Formação de
isso acontecer todos seremos beneficiados: Ator da Companhia Tônia–Celli–Autran. E
comerciantes e moradores de Ipanema, que Paulo Afonso Grisolli ganhou como prêmio
depois de perderem várias casas de espetácu­ de melhor diretor, uma bolsa de estudos
los, finalmente vão ganhar uma. com Roger Planchon, no Teatro Nacional
Popular, em Lyon, na França.
Misteriosamente, o teatro nunca foi inau­ Paulo Afonso Grisolli, nesta sua primeira
gurado. direção teve como cenógrafo, o artista plás­
tico Moricconi, e faziam parte do elenco:
José de Freitas e Brás Chediak.
1966 Com a viagem de Paulo Afonso para a
Café-concerto Casa Grande França, Yan Michalski assumiu o cargo, diri­
(Teatro Casa Grande) gindo, As famosas asturianas, de Lope de Vega,
com adaptação de Augusto Boal. Durante esta
A ideia de se ter um teatro próprio sempre experiência Moyses Aichenblat teve a ideia
foi o sonho de atores, diretores, empresários, de ter um teatro próprio, e aliando-se a Max
enfim, de toda a classe teatral. Como não po­ Haus, começaram a procurar um espaço.
deria deixar de ser, o Casa Grande também Foi quando no Jornal do Brasil, encontra­
foi um sonho que se tornou realidade. ram um anúncio, que dizia. “Aluga-se local
Partiu do Grupo Teatro da BIBSA (Bi­ próprio para teatro”. Foram ver, e ficaram
blioteca Israelita Brasileira Sholem Alei­ assustados: era na entrada da antiga favela da
chem), que funcionava na Rua Alvaro Alvim Praia do Pinto, e a rua não era asfaltada. Mas

454 Teatros do Rio


esses fatores não foram motivos de impedi­ teatro infantil, mímica, noites de chorinho
mento, e celebraram contrato com a Mitra (Pixinguinha, Jacob do Bandolim etc.), bai­
Arquiepiscopal (Igreja Santos Anjos) então les do Febeapá, Carnavália, entre outros.
permissionária do uso do respectivo terre­ Noites de novos valores, um conjunto de es­
no que lhe fora cedido pelo antigo Distrito petáculos realizados em 1967/68, ocasião
Federal, cujos termos previam a utilização do lançamento de nomes como Caetano
do mesmo terreno e do precário galpão ali Veloso, Gal, Sá e Guarabira, Sidney Miller,
existente para a instalação e exploração de Sueli Costa e muitos outros. Foi lá que Chi­
uma casa de espetáculos. co Buarque de Hollanda fez seu primeiro
Em 25 de agosto de 1966, era inaugurado show no Rio de Janeiro e onde explodiu o
o teatro na Avenida Afrânio de Mello Franco talento do então desconhecido Milton Nas­
n. 290, no Leblon. cimento no show Travessia.
Durante este período, foram convidados O novo nome Café Teatro Casa Grande
Sérgio Cabral e Moyses Fuks, este ficou so­ durou 3 anos, até meados de maio de 1969,
mente três meses, enquanto Sérgio perma­ quando foi fechado por 45 dias para obras.
neceu por uns dois anos, saindo para abrir o Reaberto, foi reinaugurado em julho de
jornal O Pasquim. Antes, porém, havia sido 1969, como Teatro Casa Grande com 750
convidado um ator do Grupo do Arena de lugares, ar-condicionado, melhorias no pal­
São Paulo, que não aceitou. co, linha de visibilidade, camarins, poltro­
Como não tinham dinheiro para montar nas, cabine de luz e som, e no local onde
o teatro, e Moyses tinha um tio dono de funcionava a cozinha do Café Teatro, ficou
uma loja de móveis, conseguiu através dele sendo a sala de espera e banheiros.
um crédito e montaram o Café Teatro Casa Sílvio Caldas foi o astro principal de seu
Grande. O primeiro nome foi Café Con­ espetáculo inaugural, mas poucos adivinha­
certo Casa Grande, tendo que ser trocado ram que naquele palco seriam encenados
porque Abrahão Medina havia patenteado o não apenas peças teatrais de qualidade, mas
nome Café Concerto, e não permitiu o uso. sobretudo episódios reais, decisivos, da vida
Possuía um restaurante com 100 mesas, política nacional.
com espaço para apresentações artísticas, Foi lá que em outubro de 1974, ocorreu a
uma livraria para venda de discos e livros primeira reunião política aberta no país, de­
e uma galeria de arte, que teve como pri­ pois de quatro anos de proibições. Esperava­
meira exposição os trabalhos de Ivan Serpa -se na época que comparecessem cerca de
coordenada pelo pintor e cenógrafo Ger­ 50 pessoas para ouvirem quatro candidatos
mano Blum. oposicionistas do MDB; apareceram mais
Nesta casa foram lançados alguns dos de 700 pessoas, dando origem aos debates,
mais importantes artistas brasileiros da atu­ que o Teatro Casa Grande promoveu em
alidade, porque a filosofia que desde o início 1975 com o 1° Ciclo de Debates da Cultura
orientou suas atividades foi a promoção da Contemporânea – Meios de Comunicação,
música, das artes e cultura brasileira. Política e Cultura, com a participação de
Nasceram assim os espetáculos exclusi­ Fernando Torres, Leon Hirshman, Darwin
vos de Música Popular Brasileira, de show Brandão, Ziraldo, Zuenir e Mary Ventura,
de samba. Mas também foram ali realizadas Antonio Houaiss, Vilas-Bôas Corrêa, Yan
apresentações de música erudita (organiza­ Michalski, Paulo Pontes, Antonio Cândido,
do em 1968 pelo Maestro Edino Krieger), e muitos outros participantes fizeram por

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 455


Teatro Casa Grande. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Casa Grande. Corte, (S.E.)


alguns momentos o Brasil esquecer a dita­ pendentemente de qualquer indenização
dura e reencontrar a liberdade. por parte do Estado”.200
No ano seguinte foi realizado o 2° Ciclo
de Debates sobre a Cultura, e logo depois o Desta forma os empresários seriam obri­
1° Ciclo sobre Economia. gados a doar ao Estado, sem direito a qual­
Em diferentes oportunidades, o Teatro quer indenização, tudo o que adquiriram e
Casa Grande foi palco de reuniões de diri­ instalaram no teatro: poltronas, equipamen­
gentes sindicais, de líderes comunitários e tos de refrigeração, de som, de iluminação,
defensores de diferentes causas populares e de cenotécnica, além das melhorias do pró­
cívicas. Muitos outros vieram como os even­ prio imóvel, resultantes da transformação
tos em favor da anistia promovidos de 1976 a de um galpão numa casa de espetáculos.
1980; reuniões de artistas e produtores cul­
turais contra a censura. Foi lá também, pela ...A questão comporta, ainda, dois outros
primeira vez no Brasil, proibido um cenário aspectos. Sabe-se que não longe do Teatro
pela censura. Tratava-se do cenário de Helio Casa Grande funcionam, igualmente em
Eichbauer, para o show Tempo e Contra Tempo, terrenos do Estado, pelo menos um outro
com Chico Buarque e MPB 4. Foi então em teatro, e vários outros estabelecimentos
forma de protesto, o cenário montado pelo de diversões públicas e culinárias, nenhum
lado do avesso, ficando bem claro para o pú­ dos quais tem trazido à cidade uma con­
blico a atitude da censura. Outro fato ocor­ tribuição comparável com a que tem mar­
rido neste show foi a proibição da letra da cado a trajetória da empresa em vias de
música Apesar de você. Como Chico Buarque ser despejada. Como explicar essa cruel
era proibido de cantar, só tocava no violão, discriminação em prejuízo de quem, justa­
enquanto o público cantava a letra. Um teatro mente, tem mostrado a melhor qualidade
que, apesar de poucos recursos técnicos no de trabalho?
palco, fez sua história na cultura nacional. Por outro lado, não posso concordar
No início de 1978, o Governo do Estado com o argumento de que nas mãos da
cassou o usufruto do terreno pela Mitra e, Funterj o Casa Grande prestará melho­
logo depois, notificou a empresa arrenda­ res serviços à comunidade, simplesmente
tária de que teria de desocupar o local num porque será alugado por preços mais ba­
prazo de 30 dias, alegando que existindo ratos do que vem acontecendo atualmen­
uma Fundação de Teatros do Estado, tor­ te. O governador talvez não se dê con­
nava-se impraticável o funcionamento, em ta de quão insatisfatório é o mecanismo
um terreno do Estado, um teatro explora­ através do qual a Funterj vem selecionan­
do por particulares. do os ocupantes dos seus teatros. Basta
Em uma carta à Associação Carioca de comparar, por exemplo, o nível médio
Empresários Teatrais, o Governador Faria dos espetáculos levados nos últimos anos
Lima alegava que de acordo com a legislação no Teatro Gláucio Gill com a importân­
em vigor, cia e a repercussão da variada programa­
ção lançada no mesmo período no Casa
qualquer construção ou benfeitoria reali­ Grande. Quem lucrará com a transfor­
zada em imóveis do Estado, utilizados por mação de um dos raros palcos que soube­
particulares, tomar-se-á, à medida que for ram criar sua própria e sólida tradição em
realizada, de propriedade pública, inde­ objeto de concorrências cujos critérios e

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 457


resultados costumam deixar um lastro de tra o uso do terreno e das benfeitorias em
perplexidade? apreço, pelo prazo de cinco anos, median­
Ao mesmo tempo em que reafirmo o te o encargo de aplicar, em obras sociais da
meu ponto de vista em princípio favorável Igreja, eventuais rendas obtidas, expressa­
à existência do maior número possível de mente constando do Termo, entre outras,
teatros estatais, junto a minha voz à de al­ a obrigação de “não ceder ou transferir a
gumas das mais prestigiosas figuras artísti­ terceiros, no todo ou em parte... os di­
cas do Rio, que se empenham em mostrar reitos e obrigações decorrentes da... ces­
ao governador, através de um abaixo-assi­ são de uso” e de “não arrendar o teatro...
nado, a injustiça e o equívoco que corre o em bases superiores àquelas estabelecidas
perigo de cometer, presumivelmente sob pela Fundação de Teatros do Estado do
a influência de conselheiros que só lhe de­ Rio de Janeiro (Funterj) para os teatros
vem ter mostrado uma versão unilateral de categoria igual ou semelhante, sob sua
do problema.201 administração”(cláus. 10a).
3) Ocorre que, não obstante os bons
Em resposta à matéria de Yan Michalski, propósitos da Mitra, não teve ela condi­
respondeu o Diretor geral do Patrimônio ções de cumprir os encargos assumidos e,
Imobiliário do Estado do Rio de Janeiro, à revelia do Estado e em flagrante desres­
resposta publicada no Jornal do Brasil de 12 peito a todos os Termos firmados, o Teatro
de maio de 1978: Casa Grande foi entregue a estranhos, que
pagavam à Mitra um “aluguel” mensal cor­
O Jornal do Brasil, de 3 de maio do corren­ respondente a dez vezes o maior salário
te, na página 5 do Caderno B, sob o título mínimo vigente no país e vinham cobran­
“Um despejo injusto e desumano”, publica do, de companhias teatrais, uma participa­
comentários de Yan Michalski sobre o Tea­ ção mínima, semanal e líquida de Cr$ 17
tro Casa-Grande. E, porque o articulista se mil 500.
mostra pelo menos mal-informado sobre 4) Constatada essa situação irregular, o
a realidade dos fatos, cabem os esclareci­ Estado não poderia quedar-se inerte, ven­
mentos que se seguem. do o seu imóvel servir, não aos fins filan­
1) Por termo de Permissão e Uso, a tí­ trópicos e nobres almejados, mas a que
tulo precário e oneroso, firmado em 23- terceiros, estranhos ao Estado e à Mitra,
10-69, o Estado permitiu à Mitra Arquie­ explorassem a classe teatral. Daí haver o
piscopal do Rio de Janeiro o uso do imóvel Exmo Sr Governador declarado rescindi­
de sua propriedade, situado nesta Capital, da de pleno direito a cessão de uso, por
no Leblon, na Avenida Afranio de Melo despacho publicado, na íntegra, no Diário
Franco n. 290, incluindo as respectivas Oficial de 5-1-78, e do qual foi dada ciên­
benfeitorias existentes, pelo prazo de cin­ cia à Mitra por ofício de 6-1-78.
co anos, salientando que “a permissão de 5) Assim, é profundamente lamentável
uso do imóvel e benfeitorias, concedida... que Yan Michalski venha alegar “flagrante
à Mitra, não poderá ser objeto de qualquer injustiça e desumanidade de uma medida
transferência a terceiros, seja a que título estatizante que o Governo do Estado visa
for” (cláus. 13a.). a concretizar”, quando o que se procura
2) E, por Termo de Cessão de Uso, la­ é, justamente, possibilitar à classe teatral
vrado em 11-3-77, o Estado cedeu à Mi­ dispor de uma casa de espetáculos a pre­

458 Teatros do Rio


ços justos e compatíveis com a realidade atuais ocupantes. A verdade, porém, é que
da vida. o Teatro Casa Grande foi construído por
6) Não seria compreensível que o Es­ nós, sem qualquer ajuda oficial. O que
tado, tendo criado uma Fundação especi­ havia no local, onde hoje funciona o tea­
ficamente para a administração de teatros tro, era, em 1966, um simples galpão com
seus, fosse entregar a terceiros a explora­ telhado de zinco, erguido ali pela Mitra.
ção de um deles, mantendo uma interme­ Esta afirmação pode ser comprovada pelas
diação que eleva os custos operacionais e plantas do projeto arquitetônico, submeti­
mostrando-se indiferente aos reclamos das pelo seu autor; arquiteto Jacob B. Gol­
da prejudicada classe teatral, que urge ser demberg, à apreciação e licenciamento do
amparada. Departamento de Edificações do então Es­
7) Quanto a eventuais investimentos aca­­­ tado da Guanabara, que as aprovou e, pos­
so realizados pelos ocupantes irregulares, teriormente, aceitou as obras executadas.
cumpre salientar que se realmente houve O propósito do Diretor do Patrimô­
– o que se põe em dúvida – esses custos nio, ao sugerir semelhante versão dos fa­
certamente já se encontram de há muito tos, é justificar perante a opinião pública
ressarcidos pelos lucros decorrentes de a ação de despejo, movida pelo Estado,
vantajosos arrendamentos. Ademais, não contra os atuais ocupantes do Casa Gran­
pretende o Estado reter os móveis exis­ de, que em sua carta são tratados como
tentes no Teatro, os quais poderão ser “estranhos”. Essa ação do Governo Esta­
retirados pelos ocupantes, desde que não dual viria, assim, corrigir uma irregula­
causem destruição, modificação, fratura ridade e beneficiar à classe teatral. Fica,
ou dano ao imóvel. no entanto, difícil de explicar como essa
8) É o que este Departamento cumpre medida do Governo, em vez de contar
informar, solicitando a V. Sa. o obséquio de com o apoio da classe que supostamen­
mandar publicar o presente ofício, para es­ te beneficiaria, conta com a oposição da
clarecimento dos numerosos leitores desse maioria dela: daremos divulgação esta se­
Jornal. Almir Laversvéiler de Moraes. Di­ mana a um abaixo-assinado que já conta
retor Geral do Patrimônio Imobiliário do com mais de 500 assinaturas dos nomes
Estado do Rio de Janeiro. mais representativos da classe teatral e
artística do Rio de Janeiro.
Moyses Aichenblat esclarece, através do O Diretor do Patrimônio afirma que
mesmo jornal, em 15 de maio: cobramos das companhias teatrais uma
participação mínima semanal de Cr$ 17
Casa Grande responde: “Em respei­ mil e 500. Se levarmos em conta que o
to à carta do Diretor Geral do Patrimô­ nosso teatro possui 629 poltronas e divi­
nio do Estado, publicada nesta seção em dirmos aquela importância pelo número
12/5/78, temos a declarar que tudo o que de lugares, teremos que o custo de cada
foi citado por Yan Michalski, (3/5/78) é lugar, por seção, é de Cr$ 4,00. Ora, o in­
verdadeiro. Ao contestar o artigo de Mi­ gresso médio dos espetáculos profissionais
chalski, pretendeu o Diretor do Patrimô­ é de Cr$ 60,00. O mínimo cobrado cor­
nio fazer crer ao leitor que o Teatro Casa responde exatamente ao custo operacional
Grande foi construído pelo Estado, que o de nosso teatro, que inclui despesas com
cedeu à Mitra e que esta o transferiu aos energia elétrica, aluguel, funcionários, se­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 459


guro, telefone, conservação, manutenção deste último contrato passaria então a ser
do ar-condicionado, taxas etc. 9 de maio de 1976”. Como até 6 de no­
Resta uma pergunta final: se há tantos vembro de 1975, a Mitra não realizou o
outros empreendimentos particulares em novo contrato com o Estado, o Casa Gran­
terrenos do Estado, por que o governo es­ de entrou na justiça com uma ação renova­
tadual, que se diz interessado em ajudar a tória contra a Mitra, pleiteando a renova­
classe teatral, decide despejar precisamen­ ção daquele contrato por mais cinco anos:
te uma empresa que construiu um teatro? a findar no dia 9 de maio de 1981.
Será que foi esse o nosso crime: construir Dr. Edmundo de Almeida a Maria Ca­
um teatro numa cidade carente de casas de ballero. Jornal do Brasil. RJ – 21/05/1978.
espetáculos? Ou será a linha cultural que
adotamos, promovendo a discussão dos E prossegue o Dr. Edmundo de Almeida:
problemas brasileiros? – Naun Moyses Ai­
chenblat, p/ Teatro Casa Grande – Rio de Esta ação correu até a celebração do se­
Janeiro. gundo contrato Mitra-Estado a de 11 de
agosto de 1977. Neste segundo contrato
Para elucidar um pouco toda esta situa­ com a Mitra, o Estado impôs uma cláusula
ção, devemos retornar a 1955, quando o que não havia no contrato anterior (o de
então Distrito Federal cedera verbalmente 23 do outubro de 1969), segundo a qual
aqueles terrenos a Mitra. Entre o Estado e a Mitra não poderia arrendar o teatro a
a Mitra foram feitos dois contratos. Um, terceiros em tabelas superiores às tabelas
para formalizar a cessão, ainda pelo Estado de preços fixadas pela Funterj. O estado
da Guanabara, a 23 de outubro de 1969, impôs essa cláusula que a Mitra aceitou,
com validade de cinco anos. Outro, já pelo sem que os arrendatários do Casa Grande
Estado do Rio de Janeiro, a 11 de agosto soubessem. Mas quem era o prejudicado?
de 1977, que retroagia a 23 de outubro de O Teatro Casa Grande.202
1974, quando o primeiro teria terminado.
Entre a Mitra e arrendatários do Teatro Passados alguns meses, dois fiscais do
Casa Grande, outros dois contratos foram De­partamento do Patrimônio Imobiliário
celebrados. O primeiro, dia 9 de maio de do Estado verificaram que o Teatro Casa
1966, com prazo de 5 anos. Passado esse Grande cobrava um pouco acima da tabela
prazo a 21 de agosto de 1972 assinaram da Funterj. O governo do Estado decla­
novo, onde se estabelecia prorrogação do rou então rescindido, de pleno direito, o
aluguel do Casa Grande até 23 de outubro contrato de permissão de uso que havia
de 1974 (data do fim do primeiro contrato celebrado com a Mitra no dia 11 de agosto
Estado-Mitra). de 1977.
E o Dr. Edmundo de Almeida, advogado E o Dr. Edmundo esclarece:
da Sociedade Teatral Casa Grande explica:
Depois desse ato, que saiu no Diário Ofi­
Nesse contrato há um parágrafo único cial de 5 de janeiro deste ano (1978), a
que diz: “Caso a Mitra celebrasse com o Mitra notificou o Casa Grande dizendo
Estado um contrato por tempo superior que não pretendia opor qualquer dificul­
ao que faltaria para o presente contrato dade às determinações do governador e
refazer o período de cinco anos, término pedia que o Casa Grande entregasse o

460 Teatros do Rio


tea­tro ao Estado, inclusive negando-se a grupos da intelectualidade foi entregue ao
receber os aluguéis. Finalmente a 6 de Governador Faria Lima.
abril último o Estado notificou a Mitra e A classe artística se manifestou publica­
o Casa Grande através da 3a Vara de Fa­ mente e conforme matéria de Mariza Car­
zenda Pública para que ambos desocu­ dozo, em O Globo de 30 de maio:
passem o teatro no prazo de 30 dias, sob
pena de ser proposta contra os mesmos Estou inteiramente de acordo com a cam­
uma ação de reintegração de posse com o panha de Max e Moyses... não acho justo,
despejo liminar do teatro. que de uma hora para outra, eles sejam
privados do seu instrumento de traba­
A ação foi distribuída a 1a Vara de Fazen­ lho. – Dias Gomes
da Pública. No dia seguinte, 10 de maio, o Acho justo que o teatro continue com
Teatro Casa Grande entra na mesma vara os atuais concessionários, que estão lá há
com uma ação de manutenção de posse dez anos... – Janete Clair
contra o Estado. Eu acho que o teatro está funcionando.
Essas duas ações foram para as mãos do Tem à frente duas pessoas que sempre lu­
Juiz Dauro Ignácio da Silva que, examinan­ taram pelo teatro... – Fernanda Montenegro
do as duas ações propostas, houve por bem
indeferir a liminar pleiteada pelo Estado Em julho do mesmo ano o Juiz Dauro Ig­
do Rio de Janeiro para se defender da ação nácio da Silva mantinha o indeferimento da
de manutenção e posse que lhe foi movida liminar solicitada pelo Estado para ação de
pelo teatro. despejo sumário.
Inconformado e surpreso com a decisão No Casa Grande, em 5 de novembro de
o procurador-chefe da Procuradoria do De­ 1984, foi entregue um documento contra
partamento do Patrimônio Imobiliário do a censura e demais reivindicações da área
Estado do Rio de Janeiro, Paulo Albuquer­ cultural, ao então candidato Tancredo Ne­
que Martins Pereira, comentou no Jornal do ves, em uma reunião com mais de 1.500
Brasil de 21 de maio de 1978 pessoas.
Nesse mesmo ano, o teatro fez realizar
Foi uma surpresa, todos os requisitos exi­ numerosas reuniões em favor das eleições
gidos pela lei foram preenchidos e estamos diretas. Nessa fase de reuniões no teatro que
esperando a publicação do despacho para foi testado o impulso e a aceitação do movi­
recorrer e levar a julgamento pelo Tribu­ mento, permitindo que as reuniões saíssem
nal de Justiça. Esta ação faz parte de um do recinto fechado para as praças públicas.
esquema de reintegração ao Estado de O Ministro da Justiça, Fernando Lyra, em
seus imóveis. Ele paga muito de aluguel, reconhecimento ao papel desempenhado
podendo aproveitar melhor seus imóveis. pelo Teatro Casa Grande na luta contra a
É uma medida de economia. censura escolheu este lugar para assinar pe­
rante intelectuais e artistas o Decreto que
Durante todo este período vários mo­ pôs fim à censura.
vimentos foram realizados manifestando Em dezembro de 1988 os então empre­
discordância quanto à medida do Governo sários-sócios da casa: Max Haus, Moyses
do Estado, um deles, um memorial assina­ Aichenblat, Gustavo Aichenblat e Vilma de
do por 549 artistas e integrantes de outros Freitas Haus, resolvem transformá-lo em

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 461


um centro cultural, com projeto dos arqui­ de Sidney Cruz e cenários e figurinos de José
tetos Borsoi e Janete Costa. Dias, no Teatro João Caetano. Em 1996 Roque
O Centro Cultural do Teatro Casa Grande Santeiro, de Dias Gomes, direção de Bibi Fer­
possuiria um grande teatro para 1.500 luga­ reira, cenários José Dias, figurinos de Fernan­
res, um teatro menor com capacidade para do Pamplona, no Teatro João Caetano.
150 pessoas, dois cinemas de 150 poltronas, Na madrugada de 5 de abril de 1997 às 5
uma galeria de arte, com ateliê livres, um horas da manhã precisamente, um incêndio
departamento de vídeo, um setor editorial, provocado por um curto circuito, destruía o
uma emissora de radioescola e uma Univer­ Teatro Casa Grande, o fogo alastrou-se rapi­
sidade livre e aberta. damente por causa da grande quantidade de
Para que isto pudesse ser realizado o tea­ material inflamável. Estava em cartaz a peça
tro teria que ser demolido, e no mesmo lugar O burguês ridículo, de Molière, com direção
erguido um edifício que abrigaria o Centro de João Falcão e Miguel Arraes, em seu oi­
Cultural. O sinal verde para o projeto que ha­ tavo mês de sucesso; estrelado por Marco
via sido examinado pela Consultoria Jurídica Nanini, Ary França e Betty Goffman. Marco
da Secretaria Estadual de Educação e Cultu­ Nanini logo após receber a notícia, dirigiu­
ra foi dado em 9 de dezembro de 1988 pelo -se para o teatro, ficando desolado com o
Governador Moreira Franco, após reunião que viu: “Quando vi que só havia cinzas fi­
com Antonio Houaiss, Ferreira Gullar, Dias quei em estado de choque. Eu não sei o que
Gomes, Max Haus e Moyses Aichenblat, que sobrou acho que nada...” 203
pediram a Moreira Franco que o terreno ocu­ A atriz Cláudia Gimenez que ficou três
pado pelo teatro fosse cedido para a iniciativa anos em cartaz no teatro, com a peça Como
privada construir um hotel de cinco ou seis encher um biquini selvagem, quando ouviu a
andares sobre o centro cultural. Em maio de notícia no rádio, encontrava-se em uma
1994 era o projeto aprovado pela Assembleia academia. Disse ao Jornal do Brasil, de 6 de
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. abril de 1997: “Parei a ginástica e chorei
Entretanto, durante todo esse tempo, estes igual a uma palhaça. Aquele teatro mudou
empresários não se limitaram às produções minha vida. Pensei em ir até lá, mas não
somente no Casa Grande. Tendo em vista as tive coragem”.
limitações do palco para grandes produções, Em 29 de maio de 1997 era publicada
decidiram em diversas encenações sair em uma matéria no jornal O Globo, que infor­
campo de novos espaços que pudessem rece­ mava que a Construtora Santa Isabel ergue­
ber seus espetáculos de grande porte, como ria um centro cultural:
foi o caso, em 1973 de O Homem de La Mancha,
com direção de Flávio Rangel (e cenário ori­ ...em três meses começa a construção de
ginal da montagem americana), inaugurando um shopping e de um centro cultural na
o Teatro Manchete. Gota D’água em 1975, Avenida Afrânio de Mello Franco 290, ao
com direção de Gianni Ratto e cenários de lado da Cruzada São Sebastião [...] pelo
Walter Bacci, estreando no Teatro Tereza Ra­ acordo firmado entre o governo e a Santa
chel e depois continuando sua temporada no Isabel, em 1993, o estado cede o terreno
Teatro Carlos Gomes. Meu reino por um cavalo em troca do centro cultural. Pelo contra­
em 1989/90, direção de Antonio Mercado, to, já aprovado pela Procuradoria Geral
cenários de José Dias, no Teatro Nelson Ro­ do Estado, pela Assembleia Legislativa e
drigues e As primícias, em 1993, com direção pela Prefeitura [...] No centro cultural,

462 Teatros do Rio


haverá dois cineclubes, discoteca, livraria, desse contrato parar e que ele só volte a
antiquá­rio e oficina de artes e artesanato. valer quando o shopping estiver pronto. Aí
nós reabriríamos o Teatro Casa Grande.205
Mesmo com o teatro completamente
destruído pelo incêndio, em dezembro do A situação chegou a um impasse que a
mesmo ano um grupo de teatro resolveu Construtora Santa Isabel, para prosseguir
encenar entre os escombros a peça Retrato com o trabalho, precisaria demolir o que
de um homem mutante, criação coletiva dos 13 havia sobrado do teatro. Moyses e Max pas­
atores do Núcleo Teatral lndex, sob a dire­ saram então a reivindicar o cumprimento
ção de Thierry Thémourouy. da promessa que o governador teria feito
Aproveitando a iniciativa, em janeiro de em 1997: garantia de que eles ficariam com
1998, outro grupo montou também nos o novo teatro. “O governador sabe que só
escombros, As troianas, de Eurípedes, com desocuparemos o teatro quando tivermos o
direção de Luiz Furlanetto, com 7 forman­ documento que nos garanta o retorno.” 206
dos da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) As atividades do teatro não foram inter­
e mais 14 atores. rompidas, e em dezembro de 1998 estava
Em agosto de 1998 as obras do shopping em cartaz, Mezela, da atriz e diretora Cla­
avançaram sobre os escombros do teatro; rice Prieto.
chegava a hora da construtora fazer o des­
monte da rocha da “pedreira do baiano”,
para isso as atividades do teatro deveriam 1967
ser paralisadas, mas Moyses Aichenblat se Mini Teatro
valia do contrato assinado com o Governo
Estadual de permissão de uso até abril do Em 14 de fevereiro de 1967, era inaugurado
ano 2000. o Mini Teatro, na Galeria do Cinema Condor
de Copacabana, Rua Figueiredo de Maga­
No processo E 06/20237, aberto em no­ lhães n. 286, sobreloja. Iniciativa de Milton
vembro do ano passado, a Sociedade Tea­ Carneiro e Jaime Barcelos. O menor teatro
tral Casa Grande requereu a elaboração de do Rio na época, e sem letreiro foi inaugu­
um novo instrumento legal para garantir rado com o espetáculo intitulado De Brecht a
a execução de atividades exclusivamente Stanislaw Ponte Preta, e era dividido em duas
culturais no teatro integrado ao shopping partes. No primeiro tempo doze poemas
por dez anos, prorrogáveis por outros dez. de Brecht, com tradução de Geir Campos,
O processo será encaminhado à Procura­ intercalados com Crônicas do Festival de Bes-
doria Geral do Estado na segunda-feira e teira, Primo Altamirando, Tia Zulmira e do Ga-
em 15 dias o Governador Marcello Alen­ roto Linha Dura, de Stanislaw Ponte Preta.
car dará a palavra final, disse ontem o che­ No segundo tempo com a peça A exceção e
fe de gabinete civil do governador, Léo a regra, de Brecht, na tradução de Mário da
Bosco Pedrosa.204 Silva, com música de Roberto Nascimento.
Estou preocupado. Está chegando o No elenco: Aldo de Maio, Milton Carneiro,
momento de nós sairmos e nada ainda foi Jaime Barcelos, Camila Amado, com direção
feito. Há uma pressão da construtora, mas e figurinos de Antonio Pedro – seu primeiro
temos um contrato em vigor e estamos so­ trabalho como diretor, pois anteriormente
licitando um documento que faça o tempo havia sido assistente de Paulo Afonso Gri­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 463


solli e de Ademar Guerra no musical Oh, que A intenção da dupla era de fazer no Mini
delícia de guerra. O espetáculo permaneceu Teatro um repertório polêmico, com deba­
seis meses em temporada. tes, discussões, transformá-lo em uma tri­
Tratava-se de um teatro em forma de are­ buna, porém ficaram apenas as boas inten­
na, com arquibancadas com almofadas, em­ ções. Sua vida foi curtíssima.
baixo das quais ficavam os camarins. Possuía
isolamento acústico e ar-condicionado; todo
decorado em estilo colonial brasileiro, com 1968
janelões e lampiões. Teatro Ipanema
(Teatro Rubens Correa)
O Mini Teatro era uma invenção tipica­
mente carioca, menor que qualquer teatro De uma casa na Rua Prudente de Moraes
de bolso, menor que o “La Huchette”, de n. 824, Ipanema, nasceu um teatro. Durante
Paris. Uma sala de sobreloja foi aproveita­ três anos, de 1965 a 1968, Rubens Corrêa
da de maneira mais que funcional. Mila­ e Ivan de Albuquerque não produziram ne­
grosa. Máximo de artistas que podem ficar nhum espetáculo, empenhados na concreti­
no palquinho de arena: quatro.207 zação de um velho sonho: a construção de
um teatro próprio, no terreno onde existira
Era uma miniatura de teatro, contudo a casa da família de Rubens.
teatro no espírito e na forma, com seu estilo Foi um período de muitas dificuldades
de arena. financeiras, mas finalmente, em 1968, era
inaugurado o Teatro Ipanema, com o espetá­
O mini é virtude da moda e o rasgo de fa­ culo O jardim das cerejeiras, de Tchecov, uma
zer teatro é o vício, como o nosso cole­ nova e definitiva etapa na vida desses dois
guinha Bernard Shaw disse que a virtude é amigos.
uma questão de moda e o vício é eterno, A nova casa de espetáculos foi projeto do
permanecemos, apesar de todas as crises arquiteto Henrique Lavoir, com 320 luga­
nacionais, no nosso teatro.208 res, ar-condicionado, palco, urdimento, ca­
marins; de proporções ideais para qualquer
A razão da escolha de um local pequeno tipo de montagem, e um amplo hall, onde
foi devido à falta de recursos da dupla, con­ eram realizadas exposições de pintura, li­
forme Milton Carneiro e Jaime Barcelos ex­ vros etc. transformando-se assim num ver­
plicavam no programa da peça: dadeiro centro de arte.
É o próprio Rubens quem fala da trans­
Quem se arrisca a desembolsar grandes formação da casa em teatro, em um artigo,
capitais nesta época terrível? [...] É que sem data e referência de publicação.
ele não é tão inconfortável assim. Peque­
no, porém decente. E sobretudo sem pre­ No fundo desta casa tinha um quintal; a
tensões. Queremos fazer disto uma espé­ casa era de minha mãe, e o quintal tinha
cie de oficina de trabalho, um laboratório. uma pequena horta, galinhas, pé de goia­
O espetáculo é testado aqui, depois levado beira e um cachorro. Quando entrei para
para teatros maiores, de outras cidades O Tablado, em 1955, morava ainda nesta
brasileiras.209 casa (meu quarto era na terceira janela à
direita); nela decorei meu primeiro papel,

464 Teatros do Rio


nela conheci minhas primeiras dores e ale­
grias teatrais. Nela comecei minha jorna­
da. No fundo do quintal, exatamente onde
fica hoje o palco do Teatro Ipanema, Ivan e
eu construímos um barracão de madeira
para servir de local de ensaio e depósito
de cenários do nosso grupo que estreou no
dia 7 de março de 1959 no Teatro São Jor-
ge, depois Teatro do Rio, hoje Teatro Cacilda
Becker. Pendurados nos muros, crianças da
vizinhança “sapeavam” nossos ensaios. Pú­
blico entusiasta e fiel.
Antiga residência de Rubens Corrêa, local onde foi erguido o
Quando a casa me foi dada de heran­ Teatro Ipanema (1968), hoje Teatro Rubens Corrêa
ça, resolvemos construir um teatro. Todo
mundo nos dizia “vocês estão loucos, é um de onça, exibia suas qualidades atléticas de
absurdo construir um teatro em Ipane­ levantador de peso, na outra extremidade
ma!”. Construímos. Como não tínhamos eu revelava a minha vocação de malabaris­
dinheiro para a obra; negociamos com o ta, tentando impedir que as três bolinhas de
terreno: quem construísse o teatro para borracha confiadas à minha modesta des­
nós teria o direito de explorar a constru­ treza fossem cair no chão, ou na cabeça de
ção e a venda dos quatro andares de apar­ algum espectador sentado na primeira fila.
tamentos. Dr. Henrique Lavoir topou o Antes que nossos caminhos se separas­
desafio, e em 1968 inaugurávamos o Teatro sem – Ivan e Rubens partindo em 1959,
Ipanema, nove anos depois da estreia do para a criação de uma companhia própria
nosso grupo no Teatrinho do Catete. e eu optando, em alguns anos mais tarde,
pelo exercício da crítica – trabalhamos,
Em 1983, Yan Michalski, no programa ainda, juntos em alguns outros espetácu­
do espetáculo Quase 84, de Fauzi Arap, tra­ los do Tablado; e compartilhamos intensa­
ça um panorama completo da dupla Ivan de mente, durante três anos, uma experiência
Albuquerque e Rubens Corrêa no Teatro fundamental: a de nos constituirmos – em
Ipanema, que sendo oportuna a transcrevo companhia, ainda, de um outro intérpre­
na sua íntegra: te de O Baile dos Ladrões, Cláudio Corrêa e
Castro – na primeira turma do Curso de
Um quarto de século atrás Direção formada pela Fundação Brasileira
Há quase 29 anos, a 14 de maio de 1955, o de Teatro de Dulcina de Moraes.
pano do tablado abria-se sobre O baile dos Durante os longos anos em que estive­
ladrões, de Jean Anouilh, onde, em meio mos no que se convencionou chamar de la­
a muita gente boa, Ivan de Albuquerque dos opostos da barricada, nossos contatos
e Rubens Corrêa faziam sua estreia como tornaram-se mais esporádicos: por uma
atores. Lado a lado com eles, estreava tam­ natural timidez, crítico e criticados passa­
bém o autor deste artigo, que dividia, in­ ram a observar uma meio constrangida re­
clusive, com Rubens Corrêa a abertura do serva nas suas relações pessoais. Mais isto
espetáculo: enquanto de um lado do pros­ sem prejuízo de uma solidariedade essen­
cênico Rubens, vestindo uma vistosa pele cial: cada sucesso, cada conquista nova do

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 465


Teatro Ipanema dava ao crítico uma sen­ e a seguir reagindo, através de uma pro­
sação de quase vitória pessoal, cada ques­ posta radicalmente nacionalista e populis­
tionamento que ele se sentia na obrigação ta, contra essa mesma filosofia. No caso
de fazer em relação a realizações even­ de Rubens e Ivan, que estavam saindo de
tualmente mais discutíveis do grupo era um curso de três anos com Adolfo Celli,
um pouco como um corte na própria car­ Ziembinski e Gianni Ratto, entre outros,
ne. De seu lado, Rubens e Ivan sabiam que uma certa submissão inicial à fórmula te­
tinham no jornalista um aliado natural nas becista era quase inevitável. É assim que
lutas em defesa da instituição teatral, ao vemos harmoniosamente equilibrados, nos
mesmo tempo em que ficavam, creio, par­ repertórios desses anos inaugurais, textos
ticularmente chateados quando se sentiam modernos de certa pretensão intelectual,
incompreendidos pelo crítico que havia como Processo em Família, de Diego Fabbri,
percorrido junto com eles a etapa inicial ou Living Room, de Graham Greene; um
do caminho. Sintomaticamente, quando ambicioso clássico, Espectros, de Ibsen; po­
resolvi no ano passado afastar-me do exer­ sições assumidamente comerciais, como
cício regular da crítica, ouvi dos dois do­ Oscar, de Claude Magnier, ou A ratoeira,
nos do Teatro Ipanema exclamar, meio de de Agatha Christie, e ainda esporádicas in­
brincadeira meio a sério: “Que bom, agora cursões pela dramaturgia nacional, como
podemos ser amigos de novo!”. A falecida, de Nelson Rodrigues. Exata­
Conto esta história do meu relaciona­ mente o mesmo tipo de mistura que – tal­
mento pessoal com o Teatro Ipanema para vez com exceção da peça de Nelson – esta­
explicar, pelos menos em parte, por que ria perfeitamente em casa na sala do TBC.
os 25 anos da sua empresa que Rubens e Paralelamente, uma outra influência, a do
Ivan agora comemoram me parecem hoje, Tablado, igualmente natural por parte de
numa visão retrospectiva, exemplarmente quem acabava de iniciar-se na prática tea­
representativos dos caminhos que a sua – e tral naquele grupo: uma peça infantil por
portanto a minha – geração teatral percor­ temporada e mais alguns textos claramen­
reu ao longo deste quarto de século. te próximos de uma tradição tabladina:
Nos primeiros anos da companhia Ru­ O macaco da vizinha, de Joaquim Manuel
bens Corrêa-Ivan de Albuquerque, apro­ de Macedo, e O prodígio do mundo ocidental,
ximadamente até 1962, quando o grupo de Synge; sem falar no Living Room poucos
ocupava o velho Teatro do Rio, onde hoje anos antes montado no próprio grupo de
funciona o Teatro Cacilda Becker, o teatro Maria Clara Machado.
brasileiro estava ainda sob a avassalado­ Ivan e Rubens, que na época reveza­
ra influência do modelo do TBC paulista. vam-se na direção dos espetáculos – com
Mesmo o Teatro de Arena de São Paulo, exceção de duas montagens assinadas por
que aos poucos iria propondo um cami­ Ziembinski, Os espectros e Círculo vicioso, de
nho oposto, não escapou à necessidade Somerset Maugham – estavam ainda tate­
de definir-se tendo o TBC como ponto de ando em busca de um estilo pessoal de en­
referência: inicialmente reproduzindo, só cenação, ao mesmo tempo em que vinham
que num espaço cênico que propiciava um amadurecendo rapidamente seu métier. E,
esquema de produção mais econômico, o fiéis também aos modelos do TBC e do Ta­
tipo de repertório e de encenação que se blado, imprimiam às produções do Teatro
cristalizou a partir da filosofia tebecista; do Rio um grande cuidado de bom acaba­

466 Teatros do Rio


Teatro Rubens Corrêa. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Rubens Corrêa. Corte, (S.E.)


Teatro Rubens Corrêa. Fachada vorecida pelos inspirados cenários de Aní­
sio Medeiros para A invasão e de Bellá Paes
mento artesanal. Enfim, tudo dentro do fi­ Leme para A escada; investe numa pesquisa
gurino daquilo que todos nós entendíamos do comportamento e do cotidiano de duas
então por bom teatro. diferentes faixas da população urbana bra­
O ano de 1962 marca um primeiro sileira; e pela primeira vez parece assumir
divisor de águas. Àquela altura, o mode­ uma postura crítica em relação às injusti­
lo colonizado do TBC já está desgastado, ças e aos desequilíbrios das estruturas so­
o próprio TBC já abriu as portas à dra­ ciais do país.
maturgia nacional, que no quinquênio de A trajetória do teatro do Rio encerra-se
1955 a 1960 dera o maior pulo de sua his­ com um espetáculo antológico; Diário de
tória, através das afirmações de Guarani, um louco, de Gogol. Aqui, Rubens Cor­
Vianinha, Dias Gomes, Jorge Andrade, rêa – sintomaticamente, havia deixado a
Suassuna etc. Captando a novidade no ar, direção de todos os espetáculos da fase
o grupo dá início, com Pigmaleoa, de Mil­ anterior a de Ivan Albuquerque – dá uma
lôr Fernandes, a uma sucessão de quatro arrancada definitiva na sua espantosa evo­
espetáculos baseados em textos brasilei­ lução como ator. Ele já foi responsável
ros, que só se encerraria dois anos depois, por uma composição marcante em A es-
com Mister sexo, de João Bethencourt, e cada: mas no atormentado pequeno fun­
que entre estas duas comédias apresenta­ cionário gogoliano ele se firma como um
ria duas consagradoras encenações de Ivan dos poucos monstros sagrados dos palcos
Albuquerque: A invasão de Dias Gomes e brasileiros e, sobretudo, um ator diferen­
A escada de Jorge Andrade. Com estes gran­ te dos outros.
des e generosamente premiados sucessos Durante três anos – 1965 a 1968 –
o grupo arrisca uma proposta cênica, fa­ Ivan e Rubens não produzem nenhum es­

468 Teatros do Rio


petáculo novo; mas fazem um trabalho de Estamos em 1969. O AI-5, começa a es­
formiga visando à concretização de um palhar os seus devastadores estragos; os ar­
velho sonho: a construção de um teatro tistas e a juventude são colocados no rol dos
próprio, num terreno da Rua Prudente inimigos públicos, reprimidos, censurados,
de Moraes onde antes existira a casa da pressionados. A resposta que se vai genera­
família de Rubens. lizando é uma surda sensação de impotên­
Depois de muitas angústias, dificulda­ cia e de inconformismo, que conduz, entre
des financeiras e adiamentos, a casa é final­ outras coisas, a uma diversificada gama de
mente inaugurada em 1968, dando início, fugas. Os donos do Teatro Ipanema são por
agora sob a razão social de Teatro Ipanema, temperamento avessos a uma participação
a uma nova e definitiva etapa da empresa política atuante, mas sempre foram dotados
dirigida pelos dois fraternos amigos. Ou de antenas muito sensíveis, que lhes permi­
melhor, a essa altura já dirigida por eles tiam captar um estado de espírito que esti­
dois e também por Leyla Ribeiro, mu­ vesse no ar, e transformá-lo numa aventura
lher de Ivan, atriz, tradutora, e presença artística pessoal. Nas circunstâncias dadas,
humana decisiva, sem a qual não sei se o eles esboçaram a sua estratégia de resistên­
Ipanema teria até hoje resistido a muitas cia ao longo de duas trilhas diferentes, mas
crises que poderiam parecer insuperáveis. que acabariam convergindo para uma pro­
A nova etapa começa com uma despedida: posta orgânica e coerente.
O jardim das cerejeiras, de Tchecov, o últi­ A primeira delas consistia em dar gua­
mo espetáculo ao mesmo tempo tebecista rida à nova geração de dramaturgos nacio­
e tabladiano do grupo, de um requinte e nais que estava surgindo, disposta a deixar
uma delicadeza de sentimentos de que o o recado do seu inconformismo através
TBC e o Tablado se orgulhariam, mesmo
nas suas respectivas fases áureas. Teatro Rubens Corrêa. Plateia

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 469


de uma linguagem suficientemente me­ de Rubens e de José Wilker já prenuncia­
tafórica para ter uma chance de driblar vam a fase subsequente, na qual o Ipanema
os rigores da Censura, mas bastante clara definiria um estilo totalmente pessoal de
para que a contundência das suas inten­ linguagem cênica, delirante, onírico, mís­
ções pudesse ser assimilada pelo público. tico, ritualístico, de uma desenfreada be­
Foi assim que José Vicente e Isabel Câma­ leza estética. Linha basicamente saída da
ra tiveram no Ipanema as suas primeiras faiscante cabeça de Rubens Corrêa, que
oportunidades, através de O assalto e As voltava então a dirigir, carregado de ad­
moças, respectivamente. mirável energia criadora; mas apoiada em
A segunda trilha trazia ao palco do Ipa­ contribuições magistrais de colaboradores
nema as repercussões do movimento in­ profundamente identificados com a pro­
ternacional que, na mesma época, estava posta: os cenógrafos Luiz Carlos Ripper
no mundo inteiro revolucionando a lingua­ e Hélio Eichbauer, a compositora Cecília
gem do espetáculo e o espaço cênico, der­ Conde, os orientadores corporais Klauss e
rubando tabus, traçando o esboço de uma Angel Vianna. Curiosamente, duas das três
nova poética teatral. No caso do Ipanema, realizações desta fase – Hoje é dia de rock e
o primeiro passo para esta radical ruptura Ensaio selvagem – baseavam-se em textos de
com os resquícios do teatro realista passou José Vicente, que se tornava assim um elo
por um tardio mas coerente contato com de convergência entre duas tendências do
o teatro do absurdo, através de A noite dos Teatro Ipanema da época: a nova drama­
assassinos, de Triana, e Como se livrar da coi- turgia nacional e generoso desbunde cênico.
sa, de Ionesco. No magnífico O arquiteto e O terceiro texto dessa inesquecível etapa,
o Imperador da Assíria, o texto de Arrabal A China é azul, era de José Wilker.
ainda se vinculava ao teatro do absurdo,
mas a encenação de Ivan e os desempenhos Teatro Rubens Corrêa. Foyer

470 Teatros do Rio


A partir de Hoje é da de rock (1971), que descobrir o que deve ser esse novo teatro!
ficou em cartaz um ano, o Teatro Ipanema Parece claro que ele tem que passar por
tornou-se o segundo (e em alguns casos o uma revalorização do texto, e talvez intuin­
primeiro) lar de uma plêiade de jovens sem do isso o Ipanema lançou de duas grandes
rumo, que se sentiam adotados pelos místi­ obras de dramaturgia universal: Prometeu
cos viajantes da peça. A comovente coleção acorrentado, de Ésquilo, e Homem é homem,
de cartas recebidas ao longo da carreira da de Brecht. Saíram dois espetáculos respei­
peça revela que o Ipanema cumpria então táveis, com a marca de qualidade do teatro
um dos mais altos e raros destinos a que o Ipanema, mas sem o impacto necessário
teatro possa pretender nos dias de hoje: o para reconquistar o público que se afastara.
de mudar concretamente, mesmo que seja O que ajudou o Ipanema a sair da per­
por um tempo limitado, a vida de um certo plexidade e abrir um novo, embora como
número de pessoas. Este papel de centro de sempre provisório, caminho foi um pro­
uma vibração vital e de uma visão do mun­ videncial encontro com Manuel Puig.
do muito definida continuou sendo cumpri­ A sua compreensão da alma latino-ameri­
do até a montagem de Ensaio selvagem em cana, a sua visão poética do mundo, a sua
1974. Mas Ensaio selvagem já anunciava um fascinante mistura de realismo e fantasia
impasse, da mesma forma como o maravi­ permitiram ao grupo realizar, com O bei-
lhoso Na selva das cidades anunciava, aproxi­ jo da mulher aranha, um dos seus maiores
madamente na mesma época, um beco sem sucessos, que teve em Quero... um segui­
saída do Teatro Oficina: os criadores haviam mento coerente e cenicamente interes­
ido tão longe, tão às últimas consequências, sante, embora sem a mesma comunicabi­
no caminho escolhido que o próximo pas­ lidade com o público.
so talvez tivesse de consistir numa ruptura Foi assim que ao longo de 25 anos Ru­
com as estruturas suscetíveis de serem re­ bens e Ivan, mesmo às vezes tachados
conhecidas como teatrais. de alienados por partidários de outras
No caso do Ipanema, o impasse artís­ tendências artísticas, souberam sempre
tico-existencial e o estado das cucas, aliás manter-se, um pouco magicamente, em
representativo do que acontecia em torno estreito contato com a realidade que os
do teatro, conduziu a uma longa e saudável cercava. Outros grupos mais ou menos
pausa para meditação, em bucólicos refú­ contemporâneos seus – o Arena, o Ofi­
gios espirituais de Nova Friburgo. Rubens, cina, o Opinião – conseguiram, através
Ivan e Leyla só retornaram a Ipanema em de caminhos completamente diferentes,
1977, para uma bela mas extemporânea permanecer igualmente fiéis ao seu tem­
despedida da sua fase criativa anterior, po. Esta diversidade de abordagens pelas
através de mais uma obra de José Vicente, quais várias equipes de criadores podem,
A chave das minas. cada uma a seu modo, tornar-se testemu­
A etapa que se seguiu, 1979/1980, foi nhas válidas da sua época talvez seja um
marcada para o Teatro Ipanema pela mes­ dos aspectos mais estimulantes e ricos
ma perplexidade que caracterizou, e até do fenômeno teatral, e a sua descober­
certo ponto continua caracterizando, o ta pode constituir-se num bom antídoto
teatro brasileiro da pós-abertura: os tempos contra as tentações do sectarismo.
são outros, precisamos de um outro teatro E agora? Na leitura, Quase 84, de Fauzi
para refleti-los, mas como está sendo difícil Arap, com que o Ipanema comemora seus

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 471


Teatro Rubens Corrêa. Outro ângulo do foyer cênico, o compromisso com a inteligência,
a inquietação intelectual, a sensibilidade à
25 anos de vida pareceu-me exatamente o flor da pele, o culto da beleza, a coragem de
tipo de peça que faz falta no panorama: uma ousar, a determinação de ir até o fim no ca­
peça que investiga em profundidade, com minho traçado. Por isso considero o direito
calor humano, um aspecto da realidade bra­ que me arrogo de chamá-los de companhei­
sileira de hoje, na qual os traumáticos acon­ ros de caminho como um título de glória no
tecimentos de ontem estão discretamente meu curriculum vitae”.
presentes no pano de fundo, mas em que
o centro de gravidade é mesmo o momen­ Um longo período enfrentando dificul­
to presente, e as perspectivas que ele abre dades para conseguirem patrocinador para
para o futuro. Aprendi, ao longo dos anos, suas montagens, e a exigência permanente
a não colocar a mão no fogo por qualquer de manutenção e folha de pagamento do
nova proposta dramatúrgica antes de ver pessoal técnico do teatro, e tendo que suprir
o seu teste de cena. Portanto, só depois da essas necessidades, alugando a casa a produ­
estreia sentirei até que ponto Quase 84 pos­ ções que não eram de qualidade, foram dei­
sa vir a ser, como promete, a abertura de xando Ivan e Rubens infelizes. Com o tempo
uma nova etapa na trajetória do Teatro Ipa­ percebiam que não dava mais para manter o
nema. Mas dá para pôr a mão no fogo por teatro, pois não interessava a eles o fato de
uma coisa: onde e quando quer que Ivan de ter um teatro somente para administrá-lo,
Albuquerque e Rubens Corrêa estiverem porque haviam construído o Teatro Ipanema
fazendo teatro, e qualquer que seja o texto para nele trabalharem.
montado, estarão fatalmente presentes, em Depois de alguns anos de ponderação,
estado puro, a paixão pelo acontecimento resolveram vender o teatro, no final do

472 Teatros do Rio


ano de 1995, e num desabafo diz Rubens que, Lúcio Mauro Filho, Marcia Monteiro,
Corrêa: entre outros, com cenários de José Dias e
figurinos de Biza Viana, estreia em fevereiro
Está na hora de acabar – resume Rubens, de 1997. A entrada do público era feita pela
num misto de alívio e tristeza – nem apa­ lateral, acesso aos camarins, e no palco era
reço mais lá. As pessoas, hoje, preferem realizado todo o espetáculo com o público
teatros em shoppings. Então, estamos alu­ em arquibancadas.
gando para peças horrendas, uma pior do Com projeto de arquitetura de José Dias
que a outra.210 o teatro entra em reforma geral em 1997:
da fachada ao urdimento. O hall do teatro
Esta decisão foi tomada por não conse­ foi totalmente transformado, criando-se um
guirem mais as condições financeiras neces­ bar e deslocando-se a bilheteria. A cabine de
sárias para se autoproduzirem, e pelo fato luz e som foi aumentada, possibilitando uma
de que o dinheiro arrecadado dos aluguéis visão melhor para os operadores. A plateia
das produções que lá se apresentavam, não recebeu uma pequena inclinação para facili­
era suficiente para a manutenção da casa. tar o ângulo de visibilidade. A caixa cênica:
A si­tuação física do teatro requeria também do piso, as varandas e urdimentos tudo foi
uma reforma urgente, nas cadeiras, insta­ restaurado. Os camarins foram ampliados,
lações elétricas, sistema de som, palco, ar­ e projetada uma copa para os atores, como
-condicionado e infiltrações na plateia. um lugar para camareiras lavarem e passa­
Apesar da longa trajetória artística da rem as roupas.
dupla, não estavam conseguindo patrocínio Durante as obras, depois da temporada
para montar Ninguém me ama, ninguém me de Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém
quer, Ninguém me chama de Baudelaire, que me chama de Baudelaire, Ivan começa os en­
Ivan de Albuquerque havia escrito para o saios de Hamlet, de Shakespeare, pois era
Rubens Corrêa. seu desejo reinaugurar o teatro com a peça.
O quadro dramático tomou proporções A reinauguração ocorreu em 6 de fevereiro
irremediáveis com o falecimento de Ru­ de 1998, passando a chamar-se o Teatro de
bens Corrêa, em 22 de janeiro de 1996, Rubens Correa. O espetáculo de estreia foi
deixando Ivan sem saber o que fazer, foi dirigido por Ivan de Albuquerque, cenários
um ano de sofrimento. Privado então de de José Dias, figurinos de Charles Moeller
seu parceiro de toda uma vida, a quem con­ e iluminação de Paulo César Medeiros. No
siderava “seu duplo”, seguir em frente era elenco: Lúcio Mauro Filho, Marcia Montei­
uma tarefa árdua. Em 1997 através do Ban­ ro, Leyla Ribeiro, Nildo Parente, Heleno
co do Brasil, consegue verba para a refor­ Prestes, Diogo Albuquerque, Rubens Araú­
ma do teatro. jo, Gabriel Gracindo, Renato Reston, Mar­
As reformas são iniciadas, e mesmo sem as celo Assunção e Fabrício Guimarães.
poltronas da plateia, o hall de entrada com­ Para o Ivan a perda do Rubens foi sofrida,
pletamente intransitável, cheio de entulhos, mas com forças e ajuda de sua mulher, sou­
resolve Ivan montar Ninguém me ama, ninguém be conduzir o novo teatro, tornando-o um
me quer, ninguém me chama de Baudelaire, e no espaço atualmente frequentado por jovens;
papel que havia escrito para Rubens, assume como ele tanto desejava: “Gostaria que o
como ator o personagem. Com um elenco Teatro Rubens Correa voltasse a ser fre­
formado de Leyla Ribeiro, Diogo Albuquer­ quentado principalmente por jovens”.211

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 473


1968 [...] Desde o primeiro despejo senti aquela
Teatro de Bolso do Leblon sensação de palhaço que vê o circo pegar
(Teatro Aurimar Rocha) fogo. Mas não me deixei abalar e foram 12
meses de luta. Agora só me resta escrever
Aurimar Rocha, abraçado ao seu ideal artís­ um livro e plantar uma árvore.213
tico, e com forças para dar continuidade ao
trabalho que havia começado no Teatro de O teatro, por ser comprido e estreito, e
Bolso de Ipanema, consegue, no início de possuir somente uma porta para entrada e
setembro de 1968, com o nome já registra­ saída do público, preocupava Francisco Ro­
do, inaugurar o Teatro de Bolso do Leblon, cha, pai de Aurimar e proprietário do teatro,
na Avenida Ataulfo de Paiva, com a peça Mi- mas como a construção havia sido financiada
nha doce subversiva, de sua autoria e que no e fiscalizada por um órgão do Estado, ficava
dia da estreia recebeu alguns cortes da Cen­ mais tranquilo, achando que esta instituição
sura, porém não ficou disposto a obedecer se responsabilizaria. Continua a matéria:
os cortes impostos.
Para agravar mais ainda a situação, em 6 A construção do teatro foi financiada
de setembro de 1968, o teatro recém-inau­ e fiscalizada pela COPEG. Se um outro
gurado, é interditado pelo Corpo de Bom­ órgão do Estado, no caso o Corpo de
beiro, sob alegação de falta de segurança. Bombeiros, proíbe o funcionamento, evi­
Sobre a interdição Aurimar declarou: dentemente que essas autoridades ficam
responsáveis pelos pagamentos das pro­
É ilegal porque não foi feita por engenhei­ missórias no Banco do Estado da Guana­
ro, como manda a lei, mas por um tenente
dos bombeiros e quatro subalternos212 Teatro de Bolso Aurimar Rocha

Arquivo Cedoc/Funarte

474 Teatros do Rio


Arquivo Cedoc/Funarte
bara. Eu é que não vou pagar enquanto o Teatro de Bolso Aurimar Rocha.
Plateia e ao fundo o palco
teatro estiver fechado. O problema agora
é do governo.
Leblon é arrendado, em 4 de setembro de
Aurimar Rocha procura o então Secretá­ 1980, pelo Serviço Nacional de Teatro aos
rio Cotrim Neto, do Serviço de Fiscalização herdeiros de Aurimar Rocha, passando a
de Diversões Públicas, para tentar uma so­ funcionar apenas como teatro de bonecos
lução e reabrir o teatro, que foi fechado por e oficina de titeriteiros. Foi uma iniciativa
lhe faltar o Alvará de Licença que é expedi­ visando dois objetivos: atender uma velha
do pelo Corpo de Bombeiros. reivindicação dos trabalhadores e artistas
Aurimar informa então ao Secretário por­ desse gênero, que desejavam espaço pró­
que não havia ainda conseguido o documento: prio, e evitar que o teatro acabasse fechan­
do de vez, por dificuldades de exploração
Porque há quatro meses meu despachante normal. E em homenagem à memória de
tentava obtê­lo, mas como não dei nenhu­ Aurimar Rocha, o teatro muda de nome
ma propina o Corpo de Bombeiros não o passando a chamar­se: Teatro de Bolso Au­
liberava.[...] rimar Rocha. O espetáculo Festança, do
Não faz muito tempo o Coronel Baldan­ grupo Mamulengo Só­Riso, de Olinda, foi
ça, do Corpo de Bombeiros, recebeu Ncr$ que inaugurou o novo espaço, no dia 3 de
300 mil para dar o alvará a um teatro.214 setembro de 1980.
Essa mudança veio concretizar um anti­
Em maio de 1979, com o falecimento go sonho dos bonequeiros: um espaço ex­
de Aurimar Rocha, o Teatro de Bolso do clusivo para o teatro de bonecos, um lugar

Capítulo 4 | O s teatrOs dO r iO de J aneirO nO séculO XX 475


Teatro Café Pequeno (Ex-Aurimar Rocha). Planta baixa, (S.E.)

Teatro Café Pequeno (Ex-Aurimar Rocha). Corte, (S.E.)


para trabalho prático, troca de experiên­ que ele acabasse sendo transformado em su­
cias e espetáculos. permercado ou igreja.”
Nesta época eram duas casas de espetá­ A Prefeitura entrega ao Diretor Wolf
culos, que se dedicavam inteiramente ao Maya para ser um local destinado a musi­
teatro de bonecos: Sala Monteiro Lobato cais. Wolf considerava a união de música
do Teatro Villa-Lobos e o Teatro de Bolso com comédia a receita perfeita para o lo­
Aurimar Rocha. cal. E afirmava, para O Globo de 2 de agosto
Em julho de 1983 o Instituto Nacional de de 1995:
Artes Cênicas (Inacen) abria concorrência
de ocupação do teatro para infantil e adulto. A comédia de costumes sempre foi forte
Dois anos depois passou por um compli­ no Rio, que é uma cidade extremamente
cado processo de herança: as filhas de Au­ musical. São Paulo tem um teatro mais po­
rimar Rocha, de seu primeiro casamento litizado, mais sério, mas o Rio sempre teve
com Marli Rotondoro, Vivien e Elizabeth, um temperamento irreverente, tanto que
queriam a rescisão do contrato com o Ina­ o besteirol aconteceu aqui. Esse tempera­
cen, que venceria em 1986. Mas a viúva Vera mento está um pouco apagado agora, mas
Brito não concordou com a rescisão, perma­ eu quero ajudar a recuperá-lo.
necendo o Inacen como arrendatário.
No período em que o arrendou fez a ten­ Em 19 de julho de 1996 era reinaugura­
tativa de transformá-lo em sala especializa­ do pelo Prefeito Cesar Maia, o Teatro Au­
da em teatro de bonecos. Não deu certo. rimar Rocha, rebatizado com o nome de
Desde esta época as montagens que por lá Café-Pequeno. Esse novo espaço renasceu
passaram ofereceram poucos atrativos aos depois de seis meses de reforma, tornando­
espectadores. -se um simpático e apropriado lugar para
Uma nova tentativa foi feita, de fazer do realização de pequenos musicais. Foi rei­
Teatro de Bolso uma casa de grupos alterna­ naugurado em 29 de agosto de 1996 com o
tivos, inaugurando o bar “Tirando do Bolso”, musical Quatro carreirinhas, uma adaptação
que servia drinques e sanduíches nos inter­ de Flávio Marinho e Wolf Maya para Forever
valos dos espetáculos, servidos por atrizes, Plaid, de Stuart Ross.
como garçonetes. Com capacidade para 152 espectadores,
Em 1989, Vivien Rocha já estava adminis­ dispostos em mesas de quatro lugares cada,
trando o teatro, mas os espetáculos se suce­ o Café-pequeno possui um serviço de bebi­
dem, sem que o público e crítica tomassem das num sistema self-service.
conhecimento. Em 5 de janeiro de 1997, era publicado
Em 9 de maio de 1995 a Prefeitura da Ci­ no Jornal do Brasil, na seção A Opinião dos
dade do Rio de Janeiro, adquire o teatro em Leitores, uma carta, de Vera Brito, viúva de
leilão. A casa de espetáculos com seus 130 Aurimar Rocha:
lugares foi comprada por R$ 350 mil e es­
tava avaliado em R$ 560 mil, mas como não No dia do Leilão, a Secretária de Cultura
apareceram outros compradores, a Prefei­ deixou claro que o nome de Aurimar Ro­
tura conseguiu adquiri-lo mais barato. He­ cha seria preservado na fachada do teatro,
lena Severo Secretária de Cultura explica, mas essa promessa não foi cumprida. Hoje
no Jornal do Brasil, de 10 de junho de 1995: passados 17 anos de sua morte, o esqueci­
“Queríamos comprar o teatro para impedir mento é geral.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 477


1969 no subsolo. Sua plateia e balcão com pol­
Teatro da Praia tronas estofadas tem uma capacidade para
500 espectadores. No foyer, um painel do
O Teatro da Praia ocupa o andar térreo, pintor Emérico Marcier, tendo a obra o
parte do subsolo e parte do segundo pavi­ tema Antígona.
mento do Edifício Barcelos, na Rua Fran­ Ivan Fernandes de Barros, idealizador e
cisco Sá n. 88, em Copacabana. executor, em entrevista afirmava a O Jornal
O projeto foi do arquiteto e constru­ de 1 de novembro de 1966:
tor Elias Kaufman, e a parte de acústi­
ca foi resolvida pelo engenheiro Roberto Poderíamos ter construído uma gara­
Thompson Motta. O teatro foi idealizado gem no subsolo e um mercadinho no an­
e planejado, desde o início, para ser verda­ dar térreo. É o que muita gente nos diz
deiramente um teatro, com a declividade quando nos vê quebrando a cabeça para
da plateia, balcão, palco, sistema de circu­ arranjar poltronas, ar-condicionado e
lação de espectadores, com portas especiais tanta coisa mais... Por isso, preferimos
de acesso e de saída, visibilidade, acústica, ter dor de cabeça [...] Tivemos três pro­
iluminação e ar-condicionado. jetos diferentes para colocação de pol­
Entretanto, o palco não tem coxias, tronas, todo esse cuidado para que o Te­
nem urdimento, ocupando uma superfí­ atro da Praia, seja uma casa sem defeitos
cie de quase 100m2, e com pé direito de técnicos...
oito metros. Os camarins, banheiros e a
administração do teatro são localizados Teatro da Praia. Perspectiva da fachada

478 Teatros do Rio


Teatro da Praia. Planta baixa, (S.E.)

Teatro da Praia. Corte, (S.E.)


A ou de título pago à vista era considerado
sócio fundador.
Em julho de 1969, era inaugurado o tea­
tro, com um show de Elis Regina e Mieli, e
direção da dupla Mieli e Bôscoli. Em entre­
vista à revista Manchete, em 17 de julho de
1969, Elis Regina fala sobre o arrendamento
do teatro:

É por isso que eu, Ronaldo e Mieli resol­


vemos montar o teatro...
Entrada do Teatro da Praia
...Tínhamos de fazer alguma coisa.
Mieli compreendeu logo, eles arrenda­
Através de títulos de coproprietários ram o teatro, bolaram o show e, agora
do Teatro da Praia, Ivan Fernandes, Elias vamos mandar brasa. [...]
Kauf­man e José Roberto Teixeira Leite,
que formavam a diretoria do empreendi­ Não é só isso. Se tudo correr bem, a
mento, conseguiram 2.500 sócios cotistas. vitória será muito mais de Ronaldo do
Sendo que cada um comprava uma ação que minha. Lógico que, profissional­
que lhe dava direito a assistir aos espetá­ mente, vou dar tudo de mim, mas é para
culos encenados, e um percentual do lucro ele que o teatro representa um sonho.
da empresa. Eram títulos que poderiam Ele organizou sua vida para isso. Será a
ser resgatados, em qualquer época, com estabilidade financeira e emocional de
bonificação especial de 20% sobre o sal­ que ele necessita.
do devedor. Existiam três séries de títulos
(A, B e à vista) e o coproprietário da série Teatro da Praia. Época da construção

Arquivo Cedoc/Funarte

480 Teatros do Rio


Teatro da Praia. Plateia e balcão maio de 1997 o arrendamento é renovado
por mais dois anos. Porém, em 1998 as pro­
Mais tarde, Egon Franklin e José Mil­ prietárias da Câmara de Arte, que também
font, representantes no Brasil da marca haviam arrendado o Teatro Alaska, e o trans­
de relógios Mondaine, compram o teatro, formado em Espaço das Artes, suicidaram­
com o dinheiro que Egon Franklin ganhou -se em virtude das dívidas acumuladas.
com o sucesso da peça Gaiola das loucas, da Permanece fechado por alguns meses e
qual era coprodutor, no Teatro Ginástico. no mesmo ano é arrendado por uma Igreja
Durante muitos anos permaneceu como Evangélica.
uma casa de comédias, onde vários espetá­
culos fizeram sucesso de carreira, como: os
Dzi-croquettes que apresentaram suas per­ 1969
formances andróginas; Maria Bethânia em Teatro Fênix
1971 com o show Rosa dos ventos, e em 1977
com Pássaro da manhã, e Jô Soares com Viva Em 8 de julho de 1969, é reinaugurado o
o gordo e abaixo o regime em 1978, ficando Teatro Fênix (já sem o Ph), na Lagoa, cum­
dois anos em cartaz com sucesso de públi­ prindo a lei que obrigava a construção de
co. E na década de 1980 os grandes suces­ seis teatros (Lei 346/24/9) sobretudo após
sos das comédias de João Bethencourt. a desapropriação do Teatro Phênix (Lei
Na década de 1990 com poucos espetá­ 587/21/6). Mas o local escolhido dista­
culos de nível artístico a casa vai perdendo va muito do original, desagradando à clas­
seu público e os espetáculos a qualidade. se teatral. Passou a ser utilizado pela Rede
Em 1995 é arrendado pela Câmara de Globo, depois que um incêndio destruiu seu
Arte, por um período de dois anos, e em auditório da Rua Lopes Quintas.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 481


Teatro Fênix. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Fênix. Planta baixa, (S.E.)


1970 da, com a presença do Governador Negrão
Teatro Glória de Lima, que descerrou a fita simbólica.
Com uma excelente acústica possui uma
O Hotel Glória foi construído justamente plateia aconchegante com poltronas esto­
no local onde era a casa de João Frederi­ fadas que eram em veludo vermelho, um
co Russel, major da Guarda Nacional, de balcão com banheiros masculinos e femi­
ascendência inglesa. Russel foi quem tor­ ninos, onde está localizada a cabine de luz
nou a iniciativa de que os dejetos da cidade e som. Seu palco é pequeno e de pouca
fossem recolhidos em encanamentos coli­ profundidade e altura, não possuindo co­
gados e recolhidos em embarcações para xias, nem urdimento. Atrás do palco, sepa­
serem lançados fora da Barra. Isto data de rados por uma parede, estão três camarins
1860, antes era recolhido na superfície, pequenos e dois banheiros, um masculi­
nas residências, em carroças de lixo e lan­ no e outro feminino. Possui um pequeno
çadas na praia próxima. foyer com banheiros para o público.
Foi no terreno da antiga casa do Major Com 15 anos em atividades, por onde
Russel, que em agosto de 1922, era inau­ passaram vários sucessos, e fechado em
gurado o imponente prédio da Rua do 1985, pela direção do hotel, com informa­
Russel, um hotel charmoso, que não che­ ção de que o mesmo passaria por reformas.
ga a competir em desfiles de celebridades Já em 1995 arrendado à Prefeitura do
com o Copacabana Palace, porém o Glória Rio, é dirigido pelo Diretor Moacyr Góes,
guarda um trunfo: faz parte da história po­ e é aberto com o espetáculo O livro de Jó,
lítica do país e viu passar por suas depen­ de Clara de Góes, com direção de Moacyr
dências todos os presidentes brasileiros Góes, cenários de José Dias e figurinos de
desde Epitácio Pessoa. Samuel Abrantes.
Jânio Quadros morou no hotel durante Em 1997 ainda aos cuidados da Prefei­
todo o ano de 1960. Getúlio Vargas ocu­ tura, a direção do teatro passa para Ga­
pou uma suíte por dois anos quando era briel Villela, que com o produtor Darson
Ministro da Fazenda. José Sarney e ltamar Ribeiro consegue junto à dona do Hotel, a
Franco eram hóspedes assíduos antes de Sra. Maria Clara Tapajós, viúva de Eduardo
assumirem o cargo. Fernando Collor mo­ Tapajós, e diversas empresas, capital para
rou lá durante dois anos e Fernando Hen­ reformar o teatro.
rique deixou em um dos livros de ouro As poltronas de veludo vermelho foram
uma dedicatória dizendo que o lugar era forradas de cinza-azulado; o chão ganhou
sua casa no Rio. tapetes novos, uma copa, novo revesti­
É neste prédio com tantas histórias, que mento acústico, quatro camarins com
no térreo ao lado, está localizado o Teatro ar-condicionado, banheiros e sala para o
Glória, inaugurado em 1970. O espaço ha­ administrador. Foram três meses de obras,
via sido o antigo bar do Hotel Glória, de­ sendo reinaugurado em 15 de outubro
pois transformado em boate, e remodela­ de 1998 com a peça Quadrante, com Paulo
do, ampliado e adaptado para teatro, com Autran.
entrada própria que dá para a Rua do Rus­ O Teatro Glória continuou arrendado e
sel, n. 632. pertencendo à rede Municipal de Teatros;
Em outubro de 1970 é inaugurado com e em 1999 assumia a direção do teatro a
a peça O estranho, de Edgard Rocha Miran­ atriz Maria Padilha.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 483


Teatro Glória. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Glória. Corte, (S.E.)


1972 O fogo transformou em cinzas parte dos
Teatro D. Pedro I sonhos acalentados por José Tjurs: de dotar
(Hotel Nacional) o Rio de um complexo hoteleiro, com o
hotel com 520 apartamentos, que se salvou
O Teatro D. Pedro I do Hotel Nacional, de do incêndio, e o seu enorme teatro e o seu
propriedade da empresa HGT, da família de centro de convenções, que foram totalmen­
José Tjurs, foi inaugurado em 1972. te destruídos pelo fogo.
Com projeto de todo complexo arqui­ Um ano após o sinistro, o teatro reabre e
tetônico de Oscar Niemeyer, o teatro tinha retoma suas atividades, ficando durante mui­
capacidade para 2.500 espectadores, e já em tos anos somente com espetáculos de balé de
março do mesmo ano o trio José Tjurs, Oscar academias particulares de dança, que lá faziam
Ornstein e Marcos Lázaro, já planejava a pro­ suas apresentações de final de ano, por pos­
gramação do teatro. Porém sempre foi um te­ suir uma plateia para mais de 2.000 pessoas.
atro voltado para shows musicais, nunca teve Em 1995 o hotel é fechado, e decretada
em suas atividades uma temporada teatral. sua falência. Em 1996, o banqueiro Artur
Em 1977 um grande incêndio ocorreu Falk, do grupo carioca Interunion, é o novo
no Hotel Nacional, atingindo o teatro e o dono do Hotel Nacional, fechando negócio
centro de convenções, dois locais da maior em dezembro de 1995 com os administra­
importância para o seu desenvolvimento tu­ dores da massa falida da empresa HGT, da
rístico e para as suas atividades econômicas. família de José Tjurs, antiga proprietária do
No teatro era apresentado todas as noites o empreendimento.
show Brazilian Follies, dirigido especialmen­
te para turistas nacionais e estrangeiros. Teatro do Hotel Nacional. Planta baixa, (S.E.)

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 485


Em julho de 1998 passou ao controle da Como era localizado no porão, o acesso à
Servlease, quando a empresa comandada sala de espetáculos era meio tortuoso; pas­
pelo empresário Gilberto Bomeny com­ sava-se por corredores que desembocavam
prou, em conjunto com o banco goiano no hall do restaurante, o que não era muito
BBC, a Interunion Capitalização, do em­ agradável para quem estava comendo, não
presário Artur Falk, que comercializava os importando para quem se dirigia ao teatro.
títulos Papa Tudo. Com a injeção de capital A pequena casa era simpática e com boa
na Interunion, o Hotel Nacional saiu das re­ acústica, seu palco italiano foi modificado
servas técnicas da empresa e foi substituído para arena, para montagem do cenário da
por debêntures do WTC Rio de Janeiro. peça Dorotéia vai à guerra, de Carlos Alberto
Ratton, espetáculo que inaugurou o espaço
em outubro de 1972, com Dina Sfat e Ítalo
1972 Rossi, cabendo a Paulo José a direção. Outras
Teatro Cachimbo da Paz modificações foram feitas no espaço, que des­
figuraram inteiramente a concepção original.
O Teatro Cachimbo da Paz, na Rua Visconde Sobre a continuidade de suas atividades
de Pirajá n. 351, ocupando parte do subsolo teatrais nada existe, tampouco sobre seu en­
da Casa de Nossa Senhora da Paz, em Ipa­ cerramento. Não resta dúvidas que sua vida
nema, onde já existiram um boliche e uma foi curtíssima como casa de espetáculos.
pista de patinação no gelo, teve coquetel
de inauguração em 22 de junho de 1972. À
frente do evento, Joel Vaz, Diretor da San 1972
Francisco Empreendimentos Turísticos, fir­ Teatro da Galeria
ma responsável pelo empreendimento.
Em entrevista a Ney Machado, no Diário Em 1972, um teatro com 400 poltronas,
de Notícias de 22 de junho de 1972. Joel afir­ palco giratório, sem urdimento e pouco es­
ma, que além do teatro, com bar, tipo Pub paço para coxias, com ar-condicionado, ca­
inglês e boutiques darão vida ao bairro: marins espaçosos, poltronas estofadas, bom
ângulo de visibilidade, cabine de luz e som e
O Cachimbo da Paz tem a intenção e a bar, era inaugurado ao fundo de uma galeria
pretensão de acontecer com alguma coisa comercial na Rua Senador Vergueiro, n. 93,
de diferente na vida de Ipanema. O teatro no Flamengo.
com 200 lugares será palco para musicais, O nome do teatro ficou de ser escolhi­
pequenas comédias, cursos etc. [...] Es­ do por uma comissão formada pelos críticos
tamos preparando uma programação va­ teatrais cariocas, e com um coquetel em 25
riada, com início às 10:00 da manhã com de setembro do mesmo ano, foi apresenta­
cursos... As tardes serão reservadas para da para convidados a casa de espetáculos e o
espetáculos especialmente dirigidos a de­ elenco da peça de estreia: O Peru, de Feydeau,
terminado tipo de público... À noite, o es­ com direção de José Renato, cenários de Tú­
petáculo de carreira normal pode ser um lio Costa, figurinos de Ninete, com Renata
musical ou uma comédia. À meia-noite, Fronzi, Ari Fontoura, Felipe Carone, Paulo
o teatro ainda funcionará com sua última Araújo, Maria Helena Dias, José Lewgoy
sessão de cinema de arte. (que estrelava em palco), Dirce Migliaccio,
Juju Pimenta, Maria Gomes, Roberto Cesar

486 Teatros do Rio


Teatro da Galeria foi o caso da apresentação de Cartola, acom­
panhado pelo conjunto Galo Preto, outros
Teófilo e João Carlos Barroso. “O teatro terá vieram, como Wanderléa, também alcan­
seu nome escolhido por uma comissão espe­ çando boa temporada.
cial formada pelos críticos teatrais cariocas e Entretanto, na década de 1980, começa
será batizado amanhã, ...”.215 novamente o declínio, sendo arrendado em
O construtor do teatro, o engenheiro e novembro de 1981 pelo Serviço Nacional de
empresário Moisés Duec pretendia ofere­ Teatro por um período de seis meses, para
cer ao público bom humor e alegria, por ocupação com espetáculos de dança, mímica
isso escolheu a primeira peça de Feydeau, e dança-teatro. E o contrato se estendeu até
um vaudeville bem de acordo com suas 3 de julho de 1983, tendo em vista o sucesso
propostas. alcançado, voltando novamente a permane­
Apesar do teatro pronto, dos cenários e cer com produções sem repercussão artísti­
figurinos também prontos, a estreia de Peru ca e de público.
só foi acontecer na última semana de outu­
bro, a fim de que o elenco ficasse bem en­
trosado com toda a mecânica do palco e da
peça, já com o nome Teatro da Galeria.
Apesar do espetáculo fazer um grande
sucesso de temporada, ao longo dos anos, a
casa foi perdendo o seu público.
Durante o final da década de 1970, a ten­
tativa de produzir shows conseguiu resgatar
uma boa parcela de seus espectadores, como Teatro da Galeria. Vista da plateia e palco

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 487


Permaneceu com atividades teatrais espo­ cenário, um bar nos camarins, para os ar­
rádicas, porém já sem aquele público que o tistas e técnicos, departamento médico da
prestigiou no início do seu funcionamento. empresa localizado nas dependências do tea­
A qualidade das produções que lá se apre­ tro, e posto também a seu serviço, sistema
sentaram influenciaram bastante, o quadro de ar-condicionado.
do Teatro da Galeria. Sua plateia, em acentuado declive com
426 poltronas forradas de veludo acrílico
vermelho, que foram fabricadas pelos car­
1973 pinteiros da própria empresa, possui uma
Teatro Adolpho Bloch visibilidade de qualquer lugar e uma acústica
perfeita.
Adolpho Bloch com a edificação da nova A dimensão do palco é de 15,5 m de boca
sede de sua organização, na Glória, deu à de cena por 10 m de profundidade e 15 m
cidade, na época dos festejos do IV Cente­ de altura, com porão e proscênio que co­
nário, o que seria um dos mais modernos bre o fosso de orquestra. Porém, nem tudo
teatros do Rio de Janeiro. é perfeito. Suas coxias são pequenas, assim
O Teatro Adolpho Bloch, na Rua do Rus­ como o urdimento é baixo, dificultando en­
sel n. 804, foi projeto original de Oscar cenações que tenham que fazer uso desses
Niemeyer, e que integra o Edifício Manche­ elementos da caixa cênica.
te numa área de 13.000 m2, uma construção A parede do fundo do palco tem uma
dos engenheiros Isaac Hazan e Jayme Bloch, enorme porta que uma vez aberta, faz apa­
com cálculos de Rui Moreira Reis, assesso­ recer no mesmo nível do palco a piscina do
ria na parte cênica de Aldo Calvo e Igor Sre­ edifício.
nensky na parte acústica, tendo à frente do Toda a parte da iluminação e som foram
complexo arquitetônico das empresas Bloch montadas por técnicos especializados, por­
um monumento de Bruno Giorgi, uma obra tanto possuindo alto nível profissional.
de arte abstrata, em quase duas toneladas de O tamanho e o acabamento dos 18 ca­
bronze. As jardineiras são de Burle Marx. marins e respectivos banheiros, todos em
O acesso ao teatro é feito subindo pelo mármore, as instalações técnicas, o elabo­
principal lance de escadas ou elevadores, rado tratamento acústico, a qualidade do
que saem do hall do edifício, e antes de in­ acabamento em todas as dependências, são
gressar na sala de espetáculos, atravessa-se surpreendentes em se tratando de um teatro
um grande saguão, onde se pode admirar para 426 espectadores, onde até as escada­
em exposição permanente o rico acervo de rias internas têm revestimento de mármore.
artes plásticas pertencentes à empresa Bloch A porta é no gênero de porta de Batistério,
(Di Cavalcanti, Djanira, Portinari, Pancetti, com placas em bronze esculpidas por Agos­
Guignard e Marcier); ao lado uma galeria tinelli, contando a história do teatro.
independente para exposições temporárias; Em 1970 ainda em fase de acabamento,
e um pequeno bar para o público, servido com instalações provisórias, e atendendo a
por garçons, impecavelmente vestidos. um pedido da Rhodia, promoveu um show
O teatro possui gerador próprio, sala de com Rita Lee em caráter de pré-estreia.
costura, circuito interno de televisão, ins­ No dia 15 de janeiro de 1973 era reali­
talação e cabine para tradução simultânea, zada a cerimônia da benção do novo teatro,
complexo sistema de quatro guinchos para oficiada pelo Cardeal Eugênio Sales no ce­

488 Teatros do Rio


rimonial católico e no judaico pelo Rabino tagens que marcariam aquela casa de espe­
Henrique Leme. táculo: Pippin, em 1974, com Marco Nanini
Emocionado, Adolpho Bloch comentou e Marília Pera, mais tarde substituída por
sobre seu grande sonho, em O Globo, 16 de Suely Franco, e cujos cenários e figurinos
janeiro de 1973: foram importados da Broadway; A morte do
caixeiro viajante, com Tônia Carrero; O paga-
Há meio século que espero esta noite para dor de promessas, com Tony Ramos, em 1979;
poder mandar flores ao camarim dos artis­ e Amadeus, em 1982, com Marieta Severo,
tas no teatro que leva meu nome. O palco Raul Cortez e Edwin Luisi, marcando o fim
tem sido a minha vida. [...] A minha expe­ das atividades do teatro.
riência com o teatro data de 1918. Eu ti­ Mas em 1975, o teatro abrigou a tempo­
nha dez anos de idade e precisava trabalhar. rada da Comédie Française. A companhia
Seguindo a tradição da minha família de francesa, por disposição estatutária, só po­
editores eu vendia na ópera de Kiev os li­ deria se apresentar em palcos oficiais, entre­
bretos por nós impressos e colava “affiches” tanto, o Theatro Municipal estava em obras,
nos quiosques que antes da revolução russa e na época o presidente da Funterj (Funda­
pertenciam a meu pai. Eu gostava daquilo ção dos Teatros do Rio de Janeiro) era Adol­
que fazia e o teatro representava o palco da pho Bloch. Os responsáveis pela turnê, com
minha vida. Desde aquele tempo, eu dizia a aprovação da Embaixada da França no Bra­
que haveria de ter um teatro. Hoje, víti­ sil, acabaram escolhendo o Teatro Adolpho
ma do meu entusiasmo, aqui está ele, em Bloch, por acharem o melhor para abrigar o
concreto, na cidade que tanto amo. O pri­ repertório: Partage de Midi, de Paul Claudel,
meiro espetáculo está na plateia, ocupada e o clássico de Molière, Le Malade lmaginaire.
pelos meus companheiros das redações e Com a inauguração da TV Manchete em
oficinas, parte de uma família de três mil 1983, enquanto não eram construídos os
amigos. Sou um homem feliz. O espetácu­ novos estúdios em Água Grande (subúrbio
lo da vida continua. do Rio), o palco do teatro se transformou
em estúdio oficial da emissora para grava­
O teatro foi inaugurado em 16 de janei­ ções como: Clube da Criança, com Angéli­
ro de 1973, com a montagem de O homem ca; Cabaré do Barata, com Agildo Ribeiro,
de la Mancha, baseada na obra de Miguel de entre outros programas da linha de show
Cervantes, com direção de Flávio Rangel e da emissora.
cenografia original da montagem america­ Em junho de 1997, sendo administrador
na, protagonizada por Bibi Ferreira, Paulo do teatro Geraldo Matheus Torloni, o Adol­
Autran e Grande Otelo. Ao final do espetá­ pho Bloch é reaberto ao público, depois de
culo, Adolpho Bloch fez a entrega do teatro permanecer fechado durante quase 15 anos,
à cidade e ofereceu dois troféus artísticos – com o espetáculo Salomé, de Oscar Wilde,
obras de Agostinelli – um a Procópio Ferrei­ em tradução de João do Rio, com direção de
ra “que dedicou sua vida ao teatro”, e outro José Possi Neto, cenários de Felippe Cres­
a Paschoal Carlos Magno “que fez o Brasil centi, e no elenco Christiane Torloni, Luis
amar o teatro”.216 Melo e Tuca Andrada.
Tão grande foi o sucesso do espetáculo Hoje o teatro está com suas atividades pa­
que Adolpho Bloch contratou Flávio Rangel ralisadas.
como diretor, entregando-lhe outras mon­

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 489


1975 Uma grande polêmica foi criada quando
Teatro Eldorado da realização da missa em memória de Ziem­
binski, que havia falecido em 20 de outubro
A única notícia que se tem de um teatro cha­ de 1978, quando a Secretária de Educação e
mado Eldorado, saiu em coluna de Armindo Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Myr­
Blanco no jornal Última Hora de 25 de agos­ thes Wendzel, extraoficialmente, informou
to de 1975: que o teatro que estava sendo erguido na
Avenida Princesa Isabel, deveria receber o
...um novo teatrinho será oferecido ao Rio nome do ator e diretor polonês, conforme
a partir de amanhã: o Eldorado, anexo à suas palavras, publicadas em O Globo de 27
Clínica de Recuperação Nossa Senhora da de novembro de 1978:
Glória, no Humaitá. [...] E informando
que a peça de estreia será O jogo das pro- A inauguração do teatro que está previs­
fecias, de Paulo Galvão, com direção de ta para dezembro, com a entrega ao povo
Jesus Chediak e interpretação dos atores pelo Governador Faria Lima. Embora
Breno Moroni, Fatima Maciel, Jota Diniz anteriormente fosse cogitado o nome de
e Vera Cândido. Villa-Lobos para a casa, acho que a home­
nagem a Ziembinski, chamando o teatro
Nesta mesma matéria, Armindo Blanco de Teatro Ziembinski ou Teatro Mestre
cita um outro teatro, que desapareceu, antes Zimba, seria mais do que merecida por­
de ser inaugurado. que, embora não queira aqui desmerecer
a maravilhosa obra de Villa-Lobos, o nome
E que não se repita com ele o que aconte­ do primeiro está muito mais ligado à arte
ceu com o Teatro Jayme Costa, ali na Ben­ cênica. Agora, a palavra final vai depender
jamin Constant, que ia começar com um da Funterj e de sua diretoria, em reunião
texto de Brecht e de repente silenciou... mercada para os próximos dias.

Diversas críticas e manifestações surgi­


1979 ram, e as hipóteses foram muitas, inclusive
Teatro Villa-Lobos a carta de Raymundo Magalhães Júnior, pre­
sidente na época da Sbat, publicada no jor­
Em 1978, o Governo do Estado e a Funda­ nal O Globo, e que apresentava também um
ção de Teatros do Rio de Janeiro (Funterj), nome, dando suas justificativas:
construíram em Copacabana um teatro, com
parte da verba liberada pela Secretaria de Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1978.
Estado de Fazenda, provenientes do Fundo Sr. Redator,
de Desenvolvimento Econômico e Social Escrevo-lhe como presidente da Socie­
(Fundes); em um terreno próprio do Estado, dade Brasileira de Autores Teatrais para
onde funcionava irregularmente uma oficina manifestar minha surpresa e desconten­
particular de reparos de automóveis. Desde tamento, em face das notícias de que o
que começaram a identificar as linhas arqui­ teatro, em final de construção à Avenida
tetônicas da nova casa de espetáculos, logo Princesa Isabel, viria a ser denominado
sucederam-se a pergunta que nome teria. Tea­­­tro Zimba, ou Teatro Ziembinski. Não
ignoro os relevantes serviços prestados por

490 Teatros do Rio


Teatro Villa-Lobos. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Villa-Lobos. Corte, (S.E.)


Espaço 3 do Teatro Villa-Lobos. Planta baixa, (S.E.)
binski. Ele mereceria muito mais essa home­
nagem do que Gláucio Gill, ator de modes­
tíssimos recursos e autor de uma peça única,
para espetáculo completo, Toda donzela tem
um pai que é uma fera, e que tem o seu nome
no teatrinho da Praça Cardeal Arcoverde. É
simplesmente inacreditável – e dentro de
15 a 20 anos será ainda mais – que Gláucio
Gill tenha o seu nome num teatro, e não o
tenham um Joracy Camargo, um Oduvaldo
Vianna (pai), um Viriato Corrêa, um Coelho
Fachada Teatro Villa-Lobos
Neto e outros autores brasileiros. A morte
súbita de Gláucio Gill, durante um programa
Ziembinski ao teatro e à televisão brasileira. de TV, quando saudava Cláudia Cardina, que
Longe de mim contestar que ele deva ter o viria filmar no Brasil uma peça curta de sua
seu nome num teatro do Rio de Janeiro ou autoria, Procura-se uma rosa, provocou uma
de São Paulo, cidades entre as quais dividiu a onda de sentimentalismo, que fez com que
sua atividade de diretor e de ator. Mas sei que as autoridades e o povo perdessem o senso
o teatro em construção na Avenida Princesa das proporções. A pressa em dar o nome de
Isabel ia se chamar Teatro Joracy Camargo, Ziembinski a um teatro que já estava batizado
em honra de um grande autor nacional, au­ se caracteriza pelo mesmo sentimentalismo,
tor de peças de grande êxito, tanto no Brasil pela mesma passionalidade irracional, que
como no exterior, e um defensor incansá­ leva a injustiças difíceis de serem corrigi­
vel de direito autoral. Depois disso, já hou­ das. Ziembinski fez muito pelo nosso tea­
ve quem sugerisse a mudança de seu nome tro, sem dúvida, mas não foi o seu pai, pois
para Teatro Villa-Lobos, nome eminente da que antes dele esse teatro já existia, com a
nossa música, que melhor ficaria numa sala tradição que vem de João Caetano (com o
destinada a espetáculos musicais, como a Sala seu nome num teatro) e Martins Pena (sem
Cecília Meireles, poetisa eminente, de quem nome em teatro algum no Rio), de Artur
Carlos Lacerda foi secretário particular, na Azevedo (com nome num teatro) a Leopol­
época em que fundamos o Diário de Notícias do Fróes (sem nome em nenhum teatro),
(meados de 1930). O nome de Cecília Mei­ de Lucília Peres (sem nome em teatro) a
reles, professora carioca, que chegou a ser Dulcina (que batizou o seu, antes Regina,
expulsa da Escola Normal pelo atrabiliário antecipando-se à justiça da posteridade), de
diretor Heilborn, por ter declamado o “po­ Procópio Ferreira a Alda Garrido e outros,
eta erótico” Olavo Bilac no recreio, e que foi esquecidos e injustiçados, principalmente
readmi­tida, em seguida, por Afrânio Peixoto, em face da inexplicável prioridade concedi­
ficaria melhor numa escola, grupo escolar da a Gláucio Gill. Precisamos deixar que es­
ou escola normal, e aquela sala poderia, com frie um pouco o nosso passionalismo, para
melhores razões, ser a Sala Villa-Lobos. O evitar a repetição de casos dessa natureza.
governo estadual ou municipal poderia cons­ Com os melhores cumprimentos de
truir outro teatro, usando a mesma planta R. Magalhães Júnior
de Copacabana, em Botafogo, Laranjeiras ou Presidente da Sociedade Brasileira de
Leblon, dando-lhe o nome de Teatro Ziem­ Autores Teatrais.217

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 493


Em 2 de fevereiro de 1979, a Assessoria seu projeto, apesar de moderno, não previu
de Comunicação do Palácio das Laranjeiras, uma ligação da cabine de luz e som direta
informava que por decisão do Governador com o palco. O acesso à cabine só pode ser
Faria Lima, o Teatro da Funterj teria o nome feito através da plateia.
do compositor Villa-Lobos. A fachada do Teatro Villa-Lobos, na Aveni­
da Princesa Isabel com suas imensas arcadas
O governador enviou ainda carta à viúva de concreto aparente lembra o Lincoln Cen­
do compositor, Sra. Arminda Villa-Lobos, ter; se o luxo e a sofisticação do primeiro
comunicando sua decisão. Em determina­ também se assemelham aos da famosa casa
do trecho diz: “com esse gesto quis a mi­ de espetáculos de Nova York, é difícil dizer.
nha administração homenagear o insigne O certo, é que a Funarj, ao construir o Villa­
carioca que conquistou para o Brasil um -Lobos, pretendeu atender às mais moder­
lugar imorredouro no panorama musical nas técnicas funcionais. Apesar de algumas
contemporâneo”.218 restrições, ainda é uma das melhores casas
de espetáculo do Rio.
O prédio do Teatro Villa-Lobos foi inau­ Predominam em sua construção, o grani­
gurado em 8 de março de 1979 com um to, o mármore, aço escovado, vidros blindex,
espetáculo dedicado a Heitor Villa-Lobos, tijolo aparente e veludo. Ao todo foram 13
organizado por Carlos Kroeber, que apre­ meses de uma construção, inicialmente di­
sentou diversos números em homenagem ficultada, porque o terreno fica em cima do
ao compositor: Paulo Autran fazendo a lei­ emissor oceânico, o que fez com que o esta­
tura de Villa-Lobos visto por R. Magalhães; o queamento fosse cuidadosamente estudado.
pianista Jacques Klein, interpretando Prelú- A parte da administração e produção se
dio da Bachiana n. 4, a Lenda do Caboclo e Alma divide em cinco andares, com um subsolo.
Brasileira; o Duo Assad, ao violão, mostrava Nesses cinco andares, estão 20 camarins,
Prelúdio n. 5. Estudo n. 10 e Alnilan; o conjun­ cada um com banheiro próprio, e há tam­
to Galo Preto ficou responsável pela Suíte bém uma cozinha que serve aos artistas. No
Popular Brasileira, Choro n. 1 e um pot-pourri subsolo há três salas de ensaio, a maior delas
de Mazurca-choro; Sonia Maria Strutt tocou com 200m quadrados, que eram utilizadas
Impressões Brasileiras, do ciclo brasileiro, e a pelo corpo de baile do Theatro Municipal,
A Valsa da Dor, e finalmente, Maria Lúcia além de mais três camarins, outra cozinha
Godoy, acompanhada pela pianista Maria e aparelhagem de ar-condicionado central.
Lúcia Pinto, cantou o Lundu da Marquesa de A plateia foi construída em declive acen­
Santos e a ária Cantilena, das Bachianas n. 5 tuado, com poltronas de veludo sintético
O teatro foi inaugurado no dia 13, com e tapete de forração em que predomina o
a peça inglesa Pato com laranja, de Wilson vermelho. Uma escadaria central divide
Douglas Home, dirigida por Adolfo Celli, a plateia. O teto em curva, em função da
tendo no elenco Paulo Autran, Marília Pera, acústica, é feito com placas de fórmica que
Denis Carvalho, Karin Rodrigues e Rosita revestem o material acústico. As paredes
Tomás Lopes. laterais são forradas de veludo negro, com
O teatro, que possui 488 lugares, dota­ painéis de madeira em louro. Há uma dife­
do de luxo e sofisticação, é uma casa que rença de 40 centímetros entre uma fila de
pode receber os mais variados espetáculos. poltronas e outra, permitindo bom ângulo
Porém, apresenta limitações de coxias e de visão em qualquer lugar do teatro.

494 Teatros do Rio


O palco possui uma abertura de boca de engenheiro Julio Niskier. As poltronas são
cena regulável, de 11m por 7m de altura e Kastrup, do Paraná. A iluminação cênica é
10m de profundidade útil até o ciclorama da firma Belga ADB e a mecânica cênica foi
e dispõe ainda de seis varas específicas para da Andersen. A execução da obra ficou in­
fins de iluminação – comandada por uma teiramente a cargo da Wrobel Construtora.
mesa belga com 120 canais – além das varas Em função do retorno do corpo de bai­
de maquinaria contrapesadas, operadas das le do Theatro Municipal, que realizava seus
varandas. Todas as paredes do palco são re­ ensaios no porão do Teatro Villa-Lobos, pa­
vestidas de climatex para garantir perfeição ra sua sede, sobraram espaços para outras
acústica. O fosso da orquestra tem cerca de finalidades. Aproveitando esta ocasião, em
80m quadrados e pode ser fechado de acor­ 1988, o Superintendente de teatros da Fu­
do com a necessidade do espetáculo. O piso narj, Rodrigo Farias Lima, resolve pedir
do palco, em quarteladas, facilita vários ti­ um projeto à arquiteta Hildegard Moreira
pos de espetáculos. Escher, para ampliar e transformar o po­
Integram ainda o conjunto arquitetônico, rão, em teatro de arena com 300 lugares,
a Sala Monteiro Lobato, construída espe­ a que seria dado o nome de Luiz Antonio
cialmente para teatros de bonecos, graças ao Martinez Correa, e uma sala de ensaios, que
empenho de Rogério Fróes, que era Diretor também seria utilizada para espetáculos de
do Teatro Villa-Lobos na época. É o primeiro mímica, com capacidade de 100 lugares; no
espaço fechado dedicado especialmente ao prédio anexo, outro teatro de palco italia­
teatro de bonecos. A pequena sala comporta no, além de duas salas de ensaios, escritórios
60 espectadores, com ar-condicionado e um de administração, um restaurante/cantina e
palco especial para espetáculo de animação. um estacionamento no terreno dos fundos.
Ficou sob a responsabilidade da Associação O custo do teatro de arena Luiz Antonio
Brasileira de Teatro de Bonecos, criada em chegou a ser orçado pelo engenheiro Carlos
1972 por Clórys Daly, que no Rio, na época, Lafayette Barcelos, então do Departamento
a representação era dirigida por Maria Luiza de Engenharia e Manutenção da Funarj. Po­
Lacerda, o espetáculo infantil de estreia em rém não aconteceu.
30 de outubro de 1979 foi O caso Juvenal, Este projeto, entretanto, não supriria as
com o Grupo Revisão, que lançou o horário necessidades da classe teatral, principalmen­
matutino das 10:00 horas. No mesmo dia às te pelas características do espaço cênico.
17:00 horas o Grupo Navegando mostrou O porão do Teatro Villa-Lobos, após a
Tá na hora, tá na hora, de Lúcia Coelho. E, saída do corpo de baile, ficou completamen­
nos fundos do Teatro, a Sala Arnaldo Niskier, te abandonado. Suas instalações apresenta­
que será apresentada na seção relativa aos vam precário estado de conservação. Apesar
espaços alternativos (4.6.5). de não ser um espaço adequado, suas duas
O Teatro Villa-Lobos foi projetado pelo amplas salas, com pé direito baixo, passaram
arquiteto Raphael Matheus Péres, e a acús­ a ser usadas por companhias e grupos para
tica coordenada e supervisionada pelo en­ leituras e ensaios, defrontando-se com um
genheiro Roberto Thompson Motta. As ambiente insalubre para qualquer fim.
instalações hidráulicas e elétricas ficaram a Em 1990, Rodrigo Farias Lima convi­
cargo de Estela Engenharia e Siemens, apa­ da José Dias para fazer um outro projeto
relhagem de refrigeração com a CeiBrasil e para o porão, e neste manteve um só acesso
projetos técnicos com a IECIL, a cargo do para entrada/saída, com o alargamento das

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 495


portas, de acordo com o Código de Obras 1980
e exigências do corpo de bombeiros, a fim Teatro Tapume
de não deslocar a casa de força existente do
lado oposto na fachada do prédio, que enca­ O Teatro Tapume – um espaço dedica­
receria em demasiado o custo da obra. do ao teatro infantil – foi inaugurado em
No local onde existiram três salas ociosas, agosto de 1980 com a peça O Palhaço e a
foram criados dois camarins com banhei­ Bruxinha, de Limachen Cherem e era loca­
ros independentes para sete ou mais atores, lizado na Voluntários da Pátria n. 24, Praia
além de uma sala de administração. Todas de Botafogo.
estas dependências situando-se ao fundo A iniciativa foi de Benedito Cherem,
de um espaço à italiana, com boca de cena, de nome artístico Limachen Cherem, que
pernas, rotunda, coxias e um pequeno urdi­ transformou um salão da antiga cervejaria
mento; e com uma plateia para 144 lugares, Schnitt (falida desde a morte do pianista e
com tratamento acústico. jurado de TV José Fernandes, que a admi­
A extensão longitudinal do prédio com­ nistrava), em casa de espetáculos infantis.
portaria um outro teatro, de dimensões me­ Uma matéria no Jornal do Brasil, de 5 de
nores, também com tratamento acústico, setembro 1982, comentava a situação fí­
para representações simples, e com capaci­ sica do espaço:
dade para 80 pessoas.
Uma única cabine de operação para luz O desconfortável e sujo Teatro Tapume
e som, dividindo essas duas salas, com um que fica na Rua Voluntários da Pátria,
visor para cada sala e tratamento acústico, está ameaçado de desaparecer. É evidente
serviria aos dois teatros, independentemen­ que do jeito que está, não tem as mínimas
te dos horários de apresentações. condições de funcionar como uma decen­
Ao fundo do corredor dos teatros, estaria te casa de espetáculos, mas com uma boa
localizada uma sala de vídeo para atender um reforma e o mínimo de condições técni­
outro tipo de público, podendo ser utilizada cas se poderá transformar num endereço
também como sala para leituras ou ensaios, teatral cobiçado por grupos profissionais.
por grupos e companhias. Dois grandes ba­ Por enquanto está sendo defendido pelo
nheiros (masc./fem.) atenderiam ao público Grupo Tapume...
frequentador dos espaços, além de um bar e
uma livraria especializada em teatro. O grupo encenava as peças O palhaço da
Essa transformação do porão do Teatro cidade, Rebeca, a bruxinha amadora e O grito
Villa-Lobos, entretanto, não veio a se con­ no andaime, nos fins de semana, e dava um
cretizar por falta de verbas, apesar de todos cursinho de teatro nos dias úteis, mas em
os esforços dispensados pelo então supe­ 22 de novembro de 1982, por determina­
rintendente de teatros da Funarj, Rodrigo ção do Juiz Amunto Vilela Vergara, da 8a
Farias Lima, e do apoio do Governador Mo­ Vara Cível, foi despejado. O imóvel per­
reira Franco. Fato lamentável, porque este tencia à rede de supermercados Mundial
era um projeto que criava possibilidades e havia sido alugado a Manuel Caballero,
para representações de pequeno porte, com proprietário falido da Cervejaria Schnitt,
qualidade artística em um pequeno corre­ que funcionou no local, e estava subloca­
dor cultural, dentro do próprio prédio do do. No local surgiu em 1983 um super­
Teatro Villa-Lobos. mercado.

496 Teatros do Rio


1982 O projeto de iluminação foi de Jorginho
Teatro Delfin de Carvalho, com 106 refletores (Telem) e
(Teatro UniverCidade) mesa de 35 canais de 5.000 watts, com três
pré-ajustes de intensidade de luz e 400 pon­
O Teatro Delfin, localizado à Rua Humaitá, tos de luz.
n. 275, Humaitá, foi criado sem fins lucra­ Na ocasião de sua inauguração, contou
tivos pela Caderneta de Poupança Delfin, com a presença do dramaturgo francês Eu­
aberto a companhias de todos os gêneros e gène Ionesco, que lá realizou depois duas
administrado pela Belgrávia Promoções, di­ conferências.
visão da empresa Belgrávia, do grupo Del­ Em 1982/1983, o Grupo Delfin foi mar­
fin. Foi inaugurado em 28 de julho de 1982, cado por um escândalo financeiro envolven­
com a peça Eu posso, de Reynaldo Loy, com do seus administradores, havendo um pro­
direção e cenografia de Luiz Carlos Ripper, cesso de intervenção pelo Banco Central.
figurinos de Madeleine Saade, expressão Nesta época estava em cartaz a peça Agnes de
corporal de Angel Vianna e no elenco Jar­ Deus, de John Pielmeir, com direção de Jor­
del Filho, Yara Amaral, Silvia Bandeira, José ge Takla, e no elenco Lucélia Santos, Nicete
Mayer e Fábio Pillar. Bruno, Yara Amaral, que ficou em cartaz de
O teatro, com acústica perfeita, todo ata­ 19 de janeiro a 2 de maio de 1983.
petado, ar-condicionado central, tem capa­ Nos dois anos que se seguiram, o teatro
cidade para 216 espectadores, num palco permaneceu fechado, havendo saques de
não muito grande, pé direito baixo, sem seus equipamentos. Esta situação estendeu­
urdimento, poltronas estofadas de couro -se até meados de 1986, quando então en­
preto, coxias, camarins e bar. Equipado com trou em reforma por quase um ano. Em
um sistema de iluminação e som. outubro de 1987, foi reinaugurado por Fer­
nanda Montenegro, com um recital de poe­
Formado por uma mesa de 16 canais, sias de Adélia Prado.
quatro amplificadores de 1.000 watts de Em 1993 já estava integrado à rede mu­
potência, dois equalizadores gráficos e nicipal de teatros, e em abril Sérgio Britto
acústicos e duas caixas de som para 600 era designado por Helena Severo – então
watts cada uma, havendo a possibilidade Secretária Municipal de Cultura da Prefei­
de gravação e reprodução em cassete e tura da Cidade do Rio de Janeiro, para a
rolo profissionais. Diversos microfones direção artística e administrativa do teatro;
estão espalhados pelo teatro, sendo pos­ dentro de um projeto de dinamização de
sível obter inúmeros efeitos de áudio vários teatros municipais. E um acordo da
em processamento digitalizado. Todos Secretaria com a General Eletric do Brasil
os equipamentos são de qualidade com­ (GE) foi possível remodelar toda a ilumi­
patível com os de um estúdio de gra­ nação do teatro, desde fachada, letreiros,
vação que inclui, ainda, um sistema de painéis e sala de espetáculos.
comunicação com possibilidade de falar Na administração de Sérgio Britto o
para todas as áreas técnicas do teatro tea­tro abriu horários nobres, infantis e
através de 12 canais, simultaneamente. alternativos, enriquecendo sua progra­
Também a acústica é comparável à dos mação com concertos de câmara, recitais,
estúdios de gravação.219 debates e workshops para atores e dançari­
nos, que eventualmente eram contratados

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 497


Teatro da Cidade Ex-Delfin. Planta baixa, (S.E.)

Teatro da Cidade Ex-Delfin. Corte, (S.E.)


para as pro­­duções da casa. Em sua gestão Seu palco com 17 m de frente por 10 m
já passaram pelo teatro: Brincante e Figu- de fundo, com fosso de orquestra, sendo
ral, com Antonio Nóbrega (1993); O dia uma parte fixa e outra móvel, transforman­
de Alan, de Vladimir Capella, com direção do-se em pista de dança após o show.
de Ewerton de Castro (1993); Quintana, Bares colocados em pontos estratégicos
montagem do Ballet Contemporâneo do e três cozinhas, atendem aos espectadores
Rio de Janeiro, homenagem ao poeta Ma­ deste salão. O segundo andar da casa, um
rio Quintana (1993); A.M.O.R., do Grupo outro salão com capacidade maior do que o
de Dança DC (1993); Cartão de Embarque, primeiro, é um espaço dedicado a nomes de
de Daniel Herz e Suzana Braga (1994); destaque da música brasileira e estrangeira.
De Berlim a Broadway, de Wolf Maia base­ A iniciativa coube a um grupo de em­
ado na vida do autor e compositor Kurt presários, liderado por Chico Recarey. Sua
Weill (1994); Ballet Carmem, Sérgio Brito inauguração se deu em janeiro de 1984, com
e Fábio de Mello (1994); Na era do rádio, o show Golden Rio, dirigido por Maurício
de Clóvis Levi (1995/1996); Heleno, um Sherman, cenografia de Arlindo Rodrigues,
homem chamado Gilda, direção de Marcelo figurinos de Marco Aurélio, coreografia de
Saback (1996), entre outros pelos anos de Juan Carlos Berardi, regência e arranjos dos
1997 e 1998. maestros Guio de Moraes e José Briamonte.
A direção artística de Sérgio Britto impri­ O Scala Rio é uma casa de shows para tu­
miu uma linha de espetáculos, resgatando fa­ ristas nacionais e internacionais, não tendo
tos, emoções e particularidades de nossa his­ atividades teatrais.
tória. O Delfin passou a casa de espetáculos
particular em regime de contrato com a Pre­
feitura do Rio de Janeiro, e seu nome mudou 1984
para Teatro UniverCidade. Teatro Alice

Pequeno e modesto no início do ano de


1984 1984 era inaugurado um teatrinho na Rua
Teatro Scala Alice, Laranjeiras, que recebeu seu nome:
Teatro Alice, uma iniciativa de Emily Pir­
No local do antigo Restaurante Vivará, Ave­ mez, Adilio Athos, Ruyter de Carvalho,
nida Afrânio de Melo Franco, no Leblon, foi Roberto Salomão e Adilson Gomes, já que
erguida uma casa de shows: Scala Rio, uma não estavam conseguindo um local para
cópia maior do Scala de Barcelona, com seus montar seu espetáculo, e como o grupo
1.700 m2 de ocupação, com estacionamento também trabalhava com cenografia e figu­
próprio, em dois andares e com uma deco­ rinos, decidiram aproveitar a casa, que an­
ração sofisticada idealizada por Giles Jac­ tes era o estúdio do grupo, e transformá-la
quard, na base de espelhos, granito e már­ em um teatrinho.
more de carrara. Do lado de fora da casa, somente uma
No primeiro pavimento um salão para placa com o número 146 da rua, indicava
1.600 pessoas distribuídas em cadeiras, acom­ que ali era uma casa de espetáculos, in­
panhadas de mesas ricamente vestidas, ilumi­ ternamente uma sala com arquibancadas
nado por um lustre de 17 m de comprimento e refletores havia sido transformada num
por 5 m de largura. teatrinho. A estreia do espaço foi com a

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 499


peça Minha doce funcionária, uma comédia aos donos das companhias. Decidindo então
de Ruyter de Carvalho. Sendo utilizado so­ produzir seus próprios espetáculos, vivendo
mente como local de trabalho do grupo, o então às voltas com os altos custos de uma
teatrinho teve vida curtíssima. produção. Em 1985 começa a pensar em ter
seu próprio espaço, e sai em campo procu­
rando um lugar para construir seu teatro.
1988 Em 1987, depois de tanto procurar, acaba
Teatro Continua que achando uma loja disponível à Rua Francis­
tava ótimo co Sá, n. 51, Copacabana. Sendo o bastante
para que a atriz empresária vendesse seus
O Teatro Continua que tava ótimo, foi inau­ quatro imóveis, e investisse na compra e
gurado em agosto de 1988 pelo Grupo Ofi­ adaptação da loja, transformando-a em um
cina de Artes, na ladeira Ari Barroso n. 1, pequeno teatro.
no Leme. Um espaço alternativo, que teve Conforme palavras da própria Thaís Por­
como estreia o Mês da dança, com poucas tinho a Gustavo Abruzzi, na Tribuna da Im-
apresentações. Uma sala que não teve reper­ prensa, de 9 de novembro de 1988:
cussão e teve vida curtíssima.
Vou ter uma certa autonomia para dirigir
minha vida. [...] Se esse teatro der o que
1989 os meus quatro imóveis dariam alugados
Teatro Posto 6 eu fico satisfeita.

O Teatro Posto 6 foi uma iniciativa da atriz Uma casa com capacidade para 140 es­
empresária Thaís Portinho, que em toda sua pectadores, com 20 poltronas estofadas que
carreira de mais de 20 anos, sempre foi con­ eram do ex-Teatro Mesbla e as restantes
tratada de diversas companhias de teatro, diferentes dispostas, em dois módulos de
notando durante esta trajetória profissio­ arquibancadas, ar-condicionado, cabines de
nal que os melhores papéis eram destinados luz e som e camarins. O palco quase ao ní­
vel do piso, uma meia arena de pé direito
baixo, que comporta montagens simples,
pouco complexas tecnicamente, pois não
possui urdimento, nem estrutura de caixa
cênica. Trata-se de uma pequena sala, com
um foyer, para no máximo vinte pessoas.
Thaís Portinho para construir seu teatro
teve que vencer a intolerância e incompre­
ensão dos condôminos do edifício onde o
mesmo era localizado, conforme palavras
de Marco Nanini, ao Jornal do Brasil, de 7 de
setembro de 1987:

...chega a ser inacreditável que uma pes­


soa (no caso Thais Portinho) após uma saga
Fachada Teatro Posto 6 de 10 anos de procura, venda todos os seus

500 Teatros do Rio


bens para construir um novo espaço te­ O público duas horas depois, já sem pa­
atral para o público carioca e esbarre ciência, começou a pular e por fim arrom­
na intransigência de alguns condôminos bou o portão. O espetáculo só foi começar
que não querem um teatro entre tantas com duas horas de atraso: Brasil, a peça, de
lojas da galeria de seu edifício, alegando quatro autores, cada um com esquetes di­
que isto atrairia “bêbados, maconheiros ferentes a respeito de nossa história: Mi­
e motoqueiros” desconsiderando – por guel Falabella, Luiz Carlos Góes, Maria Lú­
ignorância – o público frequentador do cia Dahl e Vicente Pereira; com direção de
teatro e desconhecendo que a maioria Jacqueline Laurence, estrelando Edwin Luisi e
das pessoas que têm moto não é formada Thaís Portinho, que também ficou com a pro­
por bandidos. dução e figurinos e os cenários assinados por
Guilherme Karan. Uma casa em plena ativi­
Em 16 de janeiro de 1989, foi a inau­ dade teatral, com espetáculos de produção de
guração do teatro, marcada por mais uma pequeno porte, devido às condições técnicas
violência dos síndicos do prédio: Hum­ do espaço. Em abril de 1999, em uma maté­
berto Lins Calheiros e Ari de Melo; que ria do jornal O Globo, sobre a crise enfrenta­
trancaram às 20:00 horas o portão que da pelos teatros do Rio, onde muitos estavam
dá acesso à galeria, onde está localizado sendo alugados e outros vendidos. Thaís Por­
o teatro, impedindo o público de entrar; tinho afirmava: “Hoje em dia, o teatro é uma
apesar de toda documentação da casa es­ preocupação, mas só irei vendê-lo quando se
tar legalizada. transformar num peso para mim”.220

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 501


Casas de Espetáculos
desativadas no Rio de Janeiro
1. Teatro Santa Rosa – 2. Cine Rian – 3. Teatro Jardel – 4. Teatro Phênix – 5. Cineac Trianon – 6. Cinema Eldorado – 7. Cinema Império – 8. Cinema Metro-Tijuca – 9. Teatro Delfin –
10. Teatro Glória (novo) – 11. Theatro Casino – 12. Theatro Recreio Dramático (Teatro Recreio) – 13. Cine Plaza – 14. Cassino Atlântico – 15. Theatro República Novo – 16. Cinema Primor
– 17. Cinema Santa Alice – 18. Teatro Mesbla – 19. Teatro Madureira (Teatro Zaquia Jorge) – 20. Teatro Follies – 21. Teatro Fênix – 22. Cinema Olinda – 23. Cinema Miramar – 24. Teatro
de Arena da Guanabara – 25. Teatro Glaucio Gill – 26. Cinema Azteca – 27. Metro Copacabana – 28. Cine Theatro Glória (antigo) – 29. Balneário da Urca (cassino) – 30. Teatro Adolfo
Bloch – 31. Cinema Irajá – 32. Teatro da Maison de France – 33. Pavilhão Internacional
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Teatro Delfin (Teatro UniverCidade) Teatro Continua que tava ótimo


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4.4. TEATROS DE BAIRROS A maioria das análises das crises dos tea-
tros, no entanto, apenas se reporta ao tem-
po em que o Centro era o único a oferecer
“Essa história de Zona Norte – Zona Sul hoje casas de espetáculos. Esse tempo, incluindo
é decisiva. Fazer teatro além túnel é inútil, os séculos XVIII, XIX e início do XX, tam-
porque as pessoas do lado de lá estão sem- bém passou. A cidade cresceu, as neces-
pre querendo vir para o lado de cá por causa sidades mudaram, mas os defensores não
do passeio. O dinheiro gasto com o teatro na se conformaram com os fechamentos dos
zona sul se valoriza. Isso existe, isso é deci- teatros que fizeram o gosto de algumas ge-
sivo. Eu sou cético – confesso – a qualquer ex- rações. Em 1957, era publicado na Revista
periência com teatro da zona norte para cima. de Teatro da Sbat, o artigo com o seguinte
Acho que não funciona ”. título: “O Teatro no Rio de Janeiro há cem
anos” em que aparece este tom melancólico
e inconformado
Orlando Miranda a José Castello 221
O teatro no Rio de Janeiro, em 1857, pos-
sui extraordinária vitalidade em relação às
Nesta entrevista a José Castello, condições da cidade e em vários aspectos
publicada no Diário de Notícias de 18 de supera as condições de agora.
novembro de 1973, Orlando Miranda O número de casas de espetáculos não
demonstra muito bem o sacrifício que é era, naturalmente, o de agora. Funcio-
levar o público a um teatro na Zona Nor- navam o Teatro São Pedro de Alcântara,
te: qualquer esforço, por maior que seja, onde hoje está o Teatro João Caetano, o
não consegue manter repletas, por muito Teatro Ginásio Dramático, na atual Rua
tempo, as casas de espetáculos. Claro que do Teatro, o Teatro São Januário, onde
dirigir-se a um centro maior, onde estejam a Rua D. Manoel toca a Rua São José, o
bares, restaurantes, cinemas e outras atra- Teatro Lírico Fluminense, ex-Provisório,
ções, é mais interessante do que perma- na atual Praça da República, perto da Rua
necer em bairro residencial, ou em bairro da Constituição e os menores que eram
afastado. Em geral, os chamados subúrbios o Teatro Paraíso e o Teatro de Botafo-
passam a atrair público quando investem go, nesta praia, além do vizinho Teatro
na construção de shoppings centers, a ver- de Santa Teresa, em Niterói, aonde João
são contemporânea do centro comercial Caetano levava elencos do Rio. Ao todo
de rua, cujas características principais – seis teatros, que viviam em permanente
economia de tempo e espaço, conforto e ação, o que, para uma cidade de duzentos
segurança – são os maiores atrativos. e poucos mil habitantes, significa muitís-
Na verdade, a tradição que a história dos simo mais do que os atuais dezessete, dos
edifícios teatrais sustenta é a da atração quais dois – Fênix e República – de há
exercida pelos polos culturais. O primeiro muito fechados, para capital de três mi-
foi, sem dúvida, o Centro da cidade. Mas, lhões, desvantagem de agora que bem se
num segundo momento, a migração para a precisa, se estabelecermos proporção en-
Zona Sul, tanto quanto para outros bairros tre as duas épocas, o que daria à presente
da cidade, mais ou menos periféricos, ocor- pelo menos sessenta teatros, pois real-
reu simultaneamente. mente esta metrópole é dez vezes maior

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 509


do que há cem anos. É claro que então dureira, começou a ser construído em 1951,
não havia cinemas e com isto se verifica por iniciativa da atriz Zaquia Jorge. Durante
que na verdade o filme fez terrível con- o período de obras enfrentou sérios proble-
corrência ao palco. mas financeiros, sendo então subvencionada
Da pequenez do público resultava as pelo Serviço Nacional de Teatro, na gestão
peças ficarem pouco tempo no cartaz, em- do então Diretor Aldo Calvet. Em 1951, foi
bora houvesse casos de um mês, o que era concedida a importância de quarenta mil
muito, sobretudo se compararmos com o cruzeiros; em 1952, mais quarenta mil cru-
ocorrido há três decênios e tanto, como no zeiros, e em 1953 a importância de sessenta
Trianon, onde uma comédia só durava em mil cruzeiros; para a construção do teatro.
regra uma semana, obrigando os artistas a Em 1951, as obras estiveram paralisa-
esfalfante trabalho de intensificar os ensaios das porque a Prefeitura não autorizava a
de uma peça assim que outra surgia no car- aprovação do projeto, tendo o SNT que
taz. Ademais os teatros de então andavam intervir.Em 14 de julho de 1951, foi en-
tão em dia, e até mais, do que os atuais com viado ofício ao Prefeito João Carlos Vidal
a produção europeia, com a montagem de solicitando aprovação urgente da planta da
obras sem grande demora após a sua estreia referida instalação da casa de espetáculos.
na Europa, e isso num tempo em que a via- Em 17 de novembro do mesmo ano, foi
gem do Velho Mundo para cá era qualquer enviado outro ofício, ao mesmo prefeito,
coisa de dois meses e dias. E a acrescentar pedindo aprovação da planta do teatro, que
a essas considerações há o fato das com- se encontrava na Secretaria de Obras, com
panhias dramáticas serem muito melhor o engenheiro Jorge Diniz. Em 7 de dezem-
constituídas do que as de agora, pois esses bro de 1951 outro telegrama era enviado
elencos presentes não possuem em regra pelo SNT ao Dr. Alim Pedro, Diretor de
mais de quatro ou cinco intérpretes de pri- Viação e Obras da Prefeitura, sendo o se-
meira ordem, e outrora eles eram quase guinte o teor:
que só de excelentes artistas.222
Tendo sido embargadas obras instalação
Teatro Madureira vg constituindo seme­
1913 lhante determinação sério prejuízo Empresa
Coliseu Sul-Americano Teatral Zaquia Jorge vg solicito in­­­tervenção
urgente V.S. a fim tenham pros­­seguimento
Casa com funções teatrais e cinematogáfi- referidas obras. Pt.223
cas foi o Coliseu Sul-Americano, inaugura-
da em 1913, no Boulevard 28 de setembro, Em 3 de janeiro de 1952, mais um tele-
Vila Isabel. grama era enviado ao engenheiro Jorge Di-
niz, citado na mesma revista:

1952 Sabendo da aprovação planta Teatro Ma-


Teatro Madureira dureira depende parecer V.S. vg em nome
(Teatro Zaquia Jorge) artistas brasileiros solicito melhor boa
vontade sentido possa nossa capital contar
O Teatro de Madureira localizado no bairro mais uma casa espetáculos tão necessário
do mesmo nome, em frente à estação de Ma- crescente desenvolvimento teatral.

510 Teatros do Rio


Teatro Madureira (Teatro Zaquia Jorge)
Planta baixa, (S.E.)

Teatro Madureira (Teatro Zaquia Jorge)


Corte, (S.E.)
Enfim, o teatro é inaugurado em abril de Zaquia Jorge iniciava, em 1952, uma cru-
1952, com a revista Trem de luxo, de Walter zada em prol do teatro pelos subúrbios, em-
Pinto e Freire Junior, escrita especialmen- pregando todos os seus recursos na constru-
te para a ocasião. Possuía duzentos lugares. ção de uma sala de espetáculos que pudesse
Apesar da qualidade da casa, a falta de há- abrigar um elenco profissional. E apesar do
bito do público em frequentar teatro quase êxito de que se revestiu a estreia, os tem-
leva Zaquia Jorge ao desespero. Revela, em pos que se seguiram foram difíceis, pois uma
O Jornal, de 19 de outubro de 1958: população absolutamente desacostumada às
funções teatrais pouco interesse demonstra-
Havia noite em que a plateia era composta va pela nova diversão que ali se instalava.
de funcionários da casa, apenas. Outras, Mas ela pouco a pouco foi conquistando
alguns ingressos eram vendidos à razão de terreno. Facilitava o acesso ao teatro a todos
um, dois e no máximo cinco cruzeiros. que assim o desejassem e, em companhia de
seus contratados, saía ela pelas ruas de Ma-
Somente depois de dois anos de funda- dureira fazendo propaganda do seu teatro
ção, consegue obter os primeiros resulta- e facilitando o seu acesso, em especial, às
dos. O marco histórico foi a peça Banana famílias locais. Com isso ela venceu, muito
não tem caroço, de Geisa Bôscoli, em 1954. embora não tivesse recuperado tudo o que
Outras revistas obtiveram êxito: O Peque- havia perdido em temporadas passadas.
nino é quem manda; Alegria do peru; Pintan- O Teatro de Madureira tornou-se uma
do o sete; Macaco olha o teu rabo; Mengo tu é realidade, com seu gênero revista, e com
o maior; Tira o dedo do pudim; Sacode a jaca; seu público permanente. Em 30 de abril de
Vamos brincar; Vira o disco; Mistura e manda; 1956 abriu suas portas para uma festa come-
Tá na hora; O negócio é rebolar;Você não gosta morativa de aniversário. Para comemorar
e, finalmente, O negócio é mulher, a que mais data tão festiva, os demais colegas de revista,
sucesso alcançou entre o público e a crítica. que atuavam na cidade, foram até lá levar o
O aparecimento da “filipeta” (convites seu aplauso a Zaquia Jorge, entre eles: Mara
com direito a certo abatimento) veio solu- Rúbia, Colé, Silva, Lilian Fernandes, Silva
cionar, em parte, o problema que afligia a Filho, Mione Amorim, Sonia Mamed, Wal-
empresária e atriz Zaquia Jorge. Diante do ter D’Ávila, Costinha, Badaró, Ester Tarci-
pequeno preço dos ingressos, da propagan- tano, Wellington Botelho, Salúquia Rentini
da e das suficientes provas de que as revistas e muitos outros.
levadas à cena eram de categoria idêntica A certeza de que os ordenados seriam pa-
às levadas na Praça Tiradentes e em Copaca- gos e a prova de que o teatro não era uma
bana, o público começa a frequentar a casa aventura ou um capricho de vedeta fizeram,
com mais assiduidade. com o tempo, que para lá se dirigissem não
Restava apenas solucionar um problema: apenas jovens desejosas de uma oportunida-
as girls e as artistas relutavam em não querer de, mas figuras realizadas no meio teatral.
trabalhar em Madureira, sob a alegação de Os madureirenses passaram a ver Joel de
ser um subúrbio distante. Zaquia resolveu Almeida, Luz del Fuego, Araci Cortes, Bla-
a questão pondo à disposição de todas uma ck Out, Celeste Aída, Tiririca, Manoel Pêra,
camioneta especial que durante muitos anos Áurea Paiva, Míriam Dolores e outras.
saía da Praça Tiradentes às 19:15 horas e as Na época, sob a direção de Zaquia Jorge,
conduzia de volta ao final do espetáculo. despontaram: Glória May, Lia Mara, Sandra

512 Teatros do Rio


Sandré, Peggy Aubry. Meses depois Gloria Depois das infrutíferas investidas do trio
May conseguia bons contratos nos teatros de Carioca-Farias e Nóbrega, o teatro perma-
Copacabana, depois vieram Madrid (Teatro nece por algum tempo com atividades espo-
Fuencarral) e o ABC de Lisboa. rádicas. É fechado e logo depois alugado ao
Desde a fundação até 1958, somente du- Curso pré-vestibular ADN.
rante dois meses o teatro esteve fechado. Fernando Prucoli Moreira que fazia parte
O fato verificou-se após a morte de Zaquia, da faixa de público possível do Teatro Zaquia
a 23 de abril de 1957. Em junho, com O espe- Jorge, também dá seu depoimento nesta en-
táculo continua, o teatro foi reaberto pelo seu trevista sobre o teatro:
irmão, Abrahão Jorge Filho com o nome Tea-
tro Zaquia Jorge. A casa de espetáculos ficou A última vez que vim aqui foi para ver o
4 meses sob sua direção, mas a seguir, passou Costinha. Era sexta-feira de noite e devia
à orientação de Osvaldo Salgado Rodriguez, ter no máximo umas vinte pessoas. Sabe
marido de Zaquia e continuador de sua obra. como é, nem todo o pessoal por aqui sabe
Houve um grande hiato nas atividades que este teatro existe... Na minha turma
do Teatro Zaquia Jorge. Somente na década do ADN tem um grupinho que fala muito
de 1970, três artistas prestam uma home- em teatro e costuma ir às vezes ver peças
nagem àquela que armou-se de coragem e lá no Centro.
boa vontade, conseguindo um teatro para o
subúrbio. Zé Carioca, Artur Farias e Manoel Em outubro de 1985, Lafayette Galvão
da Nóbrega, com entusiasmo e disposição, tenta reinaugurá-lo com um musical.
tentam dar continuidade ao trabalho de Za-
quia Jorge, montando Madureira de pernas pro
ar, em que um dos quadros era uma home- 1954
nagem à atriz-empresária. Teatro Popular de
Apesar do esforço, não conseguem man- Marechal Hermes
ter a casa de espetáculos por muito tempo. (Teatro Armando Gonzaga)
O sacrifício de se levar o público a frequen-
tar teatro na zona norte é o que comenta Em 19 de abril de 1954 era inaugurado o Te-
Orlando Miranda, em uma entrevista a José atro Popular de Marechal Hermes, situado
Castello: na Rua General Oswaldo Cordeiro de Fa-
rias n. 511, projeto arquitetônico de Afonso
A pessoa hoje pode morar em cima do Tea- Eduardo Reydi, no governo do Presidente
tro de Madureira, por exemplo, que chega Getúlio Vargas.
o sábado e o programa é sempre a zona A Secretaria Geral de Educação e Cultu-
sul. Gastar quinze cruzeiros para ver uma ra da Prefeitura do então Distrito Federal
peça na vizinhança, no caso da zona nor- dirigiu-se à Sociedade Brasileira de Autores
te, é desvalorizar o pouco dinheiro que se Teatrais (Sbat), em nome do Prefeito Ne-
tem para diversões. Então a pessoa apanha grão de Lima, pedindo a indicação do nome
um ônibus, dá uma volta pela cidade, e vê de um teatrólogo para dar ao teatro de Ma-
o mar. A peça – pode ser a mesma peça rechal Hermes. A Sbat indicou o nome de
– fica valorizada. Nos subúrbios, no máxi- Armando Gonzaga para patrono da sala de
mo, se consegue promover um espetáculo espetáculos, que passou a chamar-se Teatro
na base de escolas, entidades, coisas assim. Armando Gonzaga.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 513


Teatro Armando Gonzaga. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Armando Gonzaga. Corte, (S.E.)


Em 1973, o Diário de Notícias de 18 de Em 1987, Rodrigo Farias Lima, estando
novembro publicava uma matéria sobre o na direção geral do Departamento de Teatro
teatro, falando de suas “290 cadeiras de ma- do Rio de Janeiro, Funarj, constatou que o
deira” e de seu “palco bem grande”. teatro estava em bom estado de conserva-
Devido às precaríssimas condições é fe- ção, sem necessidade de reformas. O teatro
chado em 1978. Mas O Globo, de 7 de março era dirigido por Augusto Soares, que havia
de 1981 noticia: programado para 1987, espetáculos com al-
guns trechos de ópera.
...vai ser reaberto, finalmente, o Teatro Durante todos esses anos o teatro man-
Armando Gonzaga, em Marechal Hermes. tém uma programação que atende um pú-
Tudo foi feito de novo, da fachada aos in- blico de Marechal Hermes e bairros adja-
teriores, atingindo o palco e a plateia de centes.
350 lugares... O objetivo sempre foi de oferecer ativi-
dades constantes, como cursos de extensão
A obra havia sido executada pelo Gover- de música, poesia, teatro e dança, durante
no Estadual, a pedido de dois parlamenta- a semana, para atender os jovens da região.
res: Deputado Jorge Leite, presidente da Nos fins de semana, são apresentados espe-
Alerj e do Deputado federal Miro Teixeira, táculos de grupos amadores.
como também a iluminação a vapor de mer-
cúrio da praça em que está localizada a casa A dificuldade maior está na relutância dos
de espetáculos. O Globo, novamente noticia, grandes grupos de teatro em se apresenta-
em 1 de maio do mesmo ano: rem. Eles alegam que não compensa finan-
ceiramente, e há falta de público, já que
Foi reaberto ontem o Teatro Armando nos fins de semana, os que trabalham no
Gonzaga, em Marechal Hermes, em so- centro e na zona sul acabam emendando
lenidade presidida pelo Deputado Jorge por lá mesmo, nos bares, cinemas, shows
Leite... O teatro que estava desativado há e praias. Por isso, o espaço acaba ficando
quatro anos, reiniciou suas atividades com para os grupos amadores...291
um show do cantor Moreira da Silva.
Em 28 de junho de 1989, o Teatro Ar-
O teatro, pertencente ao Estado, sofreu mando Gonzaga era tombado pelo Instituto
total reforma e ampliação, como aumento Estadual de Patrimônio Cultural, conforme
da capacidade para 350 espectadores e ar- publicação no Diário Oficial do Rio de Janeiro,
-condicionado. Foram feitas reformas e re- de 15 de junho de 1989:
paro no telhado, com troca de todo o madei-
ramento de sustentação e das telhas, numa [...] fica determinado o tombamento de­­­
área aproximada de 800 m2. Na parte cênica finitivo nos termos do artigo 5o, inciso V, le­­
o teatro ganhou novos pisos e palco, cortina tra a e seu parágrafo 2o do Decreto n. 5.808,
e circuito para iluminação com capacidade de 13 de julho de 1982, de acordo com o pa-
para 24 canais. A boca de cena tem 10,4 m recer do Conselho Estadual de Tombamento
de largura por 3,9 m de altura. Urdimento do Processo n. E-03/38. 238/78 e confor-
com 7,5 m, profundidade do palco 6 m e me Resolução n. 1.504, de 9 de julho de
proscênio 2 m. Possui 2 camarins coletivos 1989, da Excelentíssima Senhora Secretária
e sala de ensaios. de Estado de Educação e Cultura.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 515


Em 1993, no governo Leonel Brizola, 1956
surgiu um projeto de transformação dos Teatro Tijuca 292

teatros Armando Gonzaga, Arthur Aze-


vedo (Campo Grande) e Faria Lima (Vila Em março de 1956, era inaugurada uma no­
Kennedy), em centros culturais, com va casa de espetáculos, o Teatro Tijuca, na
atividades educativas de teatro, música, Rua Conde de Bonfim, n. 422, próximo à
artes plásticas, dança e literatura. O pro- Praça Saens Peña, localizado na sobreloja de
jeto não chegou a ser colocado em prá- um edifício, junto ao cinema Eskye.
tica. A proposta da rede estadual, com Propriedade do empresário Eduardo Jorge
os teatros localizados no subúrbio, como Farah, o Teatro Tijuca possuía 400 poltronas
é o caso do Armando Gonzaga, era a de estofadas, ar-refrigerado, um palco amplo
formação de artistas e de plateia, buscan- com uns 6 m de boca de cena, 11 m de pro-
do o reencontro do teatro com o público fundidade, porém sem recursos técnicos; a
suburbano. Isto, começou a dar resultado proposta de seu proprietário na época era de
em 1996. levar espetáculos de revista, e para essas ati-
A disputa por melhores lugares para as- vidades Farah convidou para direção artística
sistir a espetáculos musicais e de dança, e do teatro Chianca de Garcia.
comemorar a reforma do Armando Gon- A concepção do teatro era bastante ultra-
zaga foi um fato no teatro de Marechal passada, com um pequeno proscênio, luz de
Hermes a partir de 1996. ribalta e escada lateral ao lado, que se comu-
A fórmula para tudo isso seguiu a mes- nicava com a plateia. O sistema de ilumina-
ma receita: ingressos a preços reduzidos ou ção original era bem antiquado, pois era de
entrada franca, e a alternância de grupos e gambiarras e ribalta. Sua plateia era longa,
espetáculos de sucesso na cidade com uma com mais de vinte e duas filas.
forte presença de artistas locais, transfor- Apesar da inexperiência de seus planeja-
mando o teatro em verdadeiro centro co- dores, o Teatro Tijuca representaria um pas-
munitário, com cursos profissionalizantes e
de extensão artística. Galeria do Teatro Eskye

516 Teatros do Rio


so importante para a divulgação do teatro na Teatro Galeria Eskye. Planta baixa, (S.E.)

zona norte, pois a assiduidade com que os ti-


jucanos visitavam as casas de espetáculos do Desta vez, recentemente, procurei Rober-
centro e zona sul indicava sua potencialidade to Farias, Diretor da Embrafilme, para,
de plateia de primeira ordem. através dele, adquirir o teatro, e me propus
Durante a década de 1960, aconteceram a qualquer forma de negócio, mas também
alguns espetáculos, quando ainda era pro- desta vez a resposta foi a mesma: vamos
prietário Eduardo Jorge Farah. É vendido transformar o teatro em cinema de arte.
então para a Companhia União Cinemato-
Entretanto não foi o que aconteceu, a
gráfica Brasileira (Circuito Luiz Severiano
casa continua fechada até hoje.
Ribeiro). É fechado por dez anos, em 1975
torna-se a principal meta do Serviço Na-
cional de Teatro, que se propõe a comprá-
-lo, alugá-lo ou arrendá-lo. Como diz Or- 1956
lando Miranda a O Globo, em 14 de janeiro Teatro Arthur Azevedo
de 1975:
Por iniciativa do Secretário Geral de Edu-
Há cinco anos, como produtor de teatro, cação e Cultura, Benjamim Albagli e Fran-
me interessei pela casa e procurei a dire- cisco Negrão de Lima, prefeito do então
ção da União Cinematográfica Brasileira Distrito Federal e satisfazendo integral-
para tentar negociar aquela sala. Recebi mente ao programa de teatros populares,
na ocasião, de Brício de Abreu a resposta foi inaugurado em 18 de agosto de 1956,
de que a UCB faria ali mais um cinema o Teatro Arthur Azevedo, localizado à Rua
de arte. Victor Alves 454, em Campo Grande,
zona Oeste da cidade, e é o único teatro
Como Diretor do Serviço Nacional de da zona Oeste do Rio de Janeiro. Mas a
Teatro, Orlando Miranda fez nova investida, grande artífice desta obra para a cultura da
na tentativa de negociar o Teatro da Tijuca. região Oeste foi, sem dúvida, a engenheira
Revela, na mesma matéria: Elza Pinho Osborne.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 517


Teatro Arthur Azevedo. Planta baixa, (S.E.) ves, Josélia D’Angelo, Rogério Fróes, Dani-
lo Carneiro e Adil Gil.
O teatro composto de uma plateia de No período de julho a novembro de 1977
300 lugares, caracterizada pela inclinação o teatro foi reformado na gestão do diretor
do teto em sentido ascendente para o pal- Roberto de Castro Moreira e apresentava
co, o que para a época foi uma inovação algumas modificações: sua capacidade havia
no Rio, permitiu dispor de uma cabine de aumentado para 353 lugares, sendo 8 cati-
luz e outras vantagens. Possui um vestíbulo vos, somando um total de 361 lugares. Ou-
com bilheteria e 2 salas para administração tras alterações foram também realizadas.
e um salão de espera com instalações sani- A atuação do Teatro Artur Azevedo no
tárias; camarins e depósito para cenários. início da década de 1980, e que se manteve
A boca de cena possui altura de 4,6 m por durante muitos anos, foi determinante na
6,5 m de largura e 5 m de profundidade, tentativa de reparar a carência de lazer cul-
com urdimento a 14 m de altura, dotado tural para os habitantes de Campo Grande e
para receber e movimentar vários tipos de bairros adjacentes.
cenografias, além de equipamentos elétri- Em 1979, Ody Ramos assumia a direção
cos. Um teatro que apesar de sua simpli- do teatro, ele imprimiu uma nova filosofia
cidade em termos de decoração, permite administrativa à casa de espetáculos, confor-
recursos para encenações. me entrevista a Macksen Luiz publicada no
A inauguração do teatro se deu com a Jornal do Brasil de 10 maio de 1981:
apresentação da peça A Almanjarra, de Artur
Azevedo, dirigida por Mário de Almeida e Os teatros de Campo Grande e Marechal
no elenco integraram, entre outros: Hercu- Hermes (o Armando Gonzaga) são classifi-
lano Carneiro, Regina Pierim, Elza Gonçal- cados categoria B pela Funarj, e ainda que

518 Teatros do Rio


obedeçam à orientação da fundação quan- No entanto, após dois meses de colabora-
to aos critérios de sua ocupação, os direto- ção, concluiu que “não vale a pena continuar
res têm alguma autonomia. Obedecidos os com o Serviço Público”.225
editais de concorrência, o Artur Azevedo Em 1989, no governo de Moreira Franco,
procura programar grupos, músicos, espe- o teatro passa por uma grande reforma, re-
táculos que se enquadrem nas características cebendo equipamentos e cadeiras de outras
da comunidade. [...] Buscar espetáculos de- salas de espetáculos.
claradamente po­­pulares com componentes
peculiares à cultura do bairro. Não se pode O Teatro Arthur Azevedo, em Campo Gran-
falar ainda numa cultura periférica urbana, de, zona oeste do Rio, foi totalmente re-
mas pelo menos numa tentativa de criá-la. formado pela Funarj, que aproveitou 360
poltronas estofadas e os aparelhos de ar-con-
Mas a temporada de 1982 foi um marco dicionado da Sala Cecília Meireles, e as lu-
para o Teatro Arthur Azevedo, começou com minárias da Central Técnica de Inhaúma.226
a apresentação do espetáculo Macunaíma, di-
rigido por Antunes Filho, que constituía um As obras partiram do governo do estado,
verdadeiro acontecimento teatral mobilizan- através da Funarj, com o apoio da comuni-
do não somente a Funarj e a equipe do teatro, dade local. Além da recuperação do teatro,
mas outros setores da comunidade. a novidade ficou por conta da programação:
Outros espetáculos foram apresentados:
No natal a gente vem te buscar, O auto das sete luas Por determinação do Governador Moreira
de barro, e até a revista Rio de cabo a rabo. Além Franco, todas as companhias que vencerem
de apoiar pequenos grupos representativos a concorrência para ocupar o Tea­tro Villa-
da cultura do Grande Rio (teatro amador, -Lobos, em Copacabana, terão que se apre-
balé, música), continuando com a diretriz de sentar durante uma semana no Arthur Aze-
incentivar os valores de Campo Grande. vedo, com ingressos a preços populares227
Em 1987, já tendo tomado posse o novo
Diretor-geral do Departamento de Teatro do A partir de 1990 entrou em total deca-
Rio de Janeiro, Rodrigo Farias Lima tomou dência por falta de verbas, inclusive para re-
como uma das prioridades um levantamen- forma. Somente a partir de maio de 1998,
to para restauração das poltronas do teatro as esperadas obras foram reiniciadas, com
que se encontravam em estado lamentável. término em setembro de 1998. O Estado
O Diretor do teatro Odyr Ramos, que se não cumpriu os contratos com as empreitei-
encontrava no cargo há 8 anos pede, em ou- ras que executavam as obras, que foram pa-
tubro do mesmo ano, exoneração do cargo ralisadas, permanecendo em funcionamento
ao Governador Moreira Franco. Odyr Ra- os cursos livres de teatro.
mos havia trabalhado na Divisão de Teatro da
Secretaria de Educação e Cultura em 1967
e em 1976, foi Diretor do Teatro Armando 1959
Gonzaga, em Marechal Hermes; assumindo Teatro Solar
o Arthur Azevedo em 1979. Na época, Odyr
Ramos foi convidado para integrar a equipe O Teatro do Solar, inaugurado em 27 de ou-
de Rodrigo Farias Lima, no Departamento tubro de 1959, era localizado no Campo de
Geral do Teatro. São Cristóvão n. 402. Um espaço destinado

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 519


inclusive a festivais de poesia. Carlos Nobre 3) Quanto ao desenvolvimento de ati­­
e José Brasil fundaram no Solar Bezerra de vidade teatral na cidade: O Rio de Janeiro
Menezes, o Teatro Solar, com recursos ad- se ressente da falta de casas de espetáculos,
vindos de apresentações de peças em clubes para servir às companhias existentes.228
e cidades do interior do Estado do Rio. Nada
mais se sabe sobre o Solar, nem sobre suas Em 1963, estando as obras paralisadas por
características físicas, como palco ou plateia, falta de recursos, a empresa, encaminha do-
nem sobre suas representações teatrais. cumentação ao SNT propondo229:

a) entregar a este serviço o referido tea-


1960 tro que tem a parte da construção concluí­
Teatro Miami da ocupando uma área de 1.300 m2 que
pelo custo atual tem o valor mínimo de
O Teatro Miami, começou a ser construí- Cr$ 50.000.000,00;
do em 1960 à Rua José Bonifácio, n. 705, b) o preço que cederíamos o prédio no
no Méier, pela empresa Teatro Miami S.A., estado atual em que se encontra seria de
sociedade registrada no Departamento Na- Cr$ 30.000.000,00, nas seguintes condições:
cional de Indústria e Comércio sob o n. 1) Assumir o Serviço o financiamento
68.934, em primeiro de dezembro de 1959. da Caixa Econômica Federal no valor de
Em 1961, o diretor do Serviço Nacional Cr$ 12.600.000,00;
de Teatro, Dr. Clóvis Garcia, manifestou-se 2) Pagamento do saldo de Cr$
favorável ao projeto de construção da casa e 17.400.000,00 em condições a combinar,
no Parecer n. 01/61 do referido órgão do 3) A entrega do referido bem seria com
Ministério de Educaçao e Cultura, assim es- todos os seus pagamentos liquidados, livre
tava especificado: e desembaraçado de qualquer ônus, menos
o financiamento que seria assumido por
1) Quanto à localização: O teatro, já com esse Serviço.
as obras iniciadas, situa-se no populoso
bairro do Méier, no Rio de Janeiro, em rua As obras foram totalmente paralisadas, e
central da zona. A falta de teatros em bair- sua estrutura está até hoje, nas mesmas con-
ros, para atender ao plano de popularização dições. Nada mais existe sobre esta casa.
da arte teatral, é um problema que tem pre-
ocupado este serviço. A construção do Tea-
tro Miami virá atender a essa necessidade. 1970
2) Quanto às condições técnicas: O pro­ Teatro Jayme Costa
jeto prevê um teatro de tipo médio, com (Engenho Novo)
600 lugares, ideal para o gênero decla-
mado. Visibilidade boa, com correção da Nobel de Medeiros, foi o idealizador do es-
altura do palco. Palco com dimensões ra­ paço, que em 1969 havia realizado como ex-
zoáveis, com o problema do pequeno es- periência a montagem Auto da alma, de Gil
paço das coxias resolvido satisfatoriamen- Vicente. Animado com o sucesso, decidiu
te pela altura do urdimento. Dimensões partir para a construção do teatro, como ele
do palco bem como as demais instalações mesmo comenta para O Jornal de 10 de no-
atendem ao tipo previsto. vembro de 1970:

520 Teatros do Rio


Partimos para uma ideia mais arrojada, e Uma casa voltada exclusivamente para
estamos aí, com um palco e mais 160 ca- atender aos eventos sociais do clube.
deiras, acústica satisfatória. É claro que
muita gente nos ajudou. E não podemos
nos esquecer de Pernambuco de Oliveira, 1978
do pessoal da Universidade Piedade e de Teatro Gracinda Freire
outros, sem os quais dificilmente chega­
ríamos ao que propúnhamos. Em 29 de dezembro de 1978 era inaugurado
o Teatro Gracinda Freire, localizado à Rua Ar-
O Teatro Jayme Costa foi fundado em thur de Oliveira Vecchi n. 260, nas dependên-
9 de novembro de 1970, pelo Grupo Teatro cias do Tênis Clube de Mesquita, no terceiro
Expressão, localizado na Rua Barão do Bom pavimento da sede social, com a peça A noite
Retiro n. 941, no Engenho Novo; subúrbio das mal dormidas, uma tragicomédia em dois
do Rio de Janeiro. atos, com as participações de Neils Peterson,
Não se tratava de uma casa de espetáculos Guilherme Ostey, Renato Bastos e outros. No
nos moldes de um teatro completo, mas de entanto, este espaço ficou no esquecimento.
um espaço simples e modesto que estreou
com a peça O ciúme de um pedestre, farsa de
Martins Pena. 1979
O Teatro Jayme Costa, atende a grupos Teatro da Vila Kennedy
amadores e com frequência oferece cursos, (Jacarepaguá)
palestras e seminários de autores nacionais.
Não é uma casa utilizada por companhias O Teatro da Vila Kennedy, Rua Jaime Redon-
ou grupos profissionais, sua programação é do n. 2, foi inaugurado pelo Governador Fa-
toda formada por amadores. ria Lima, em 8 de março de 1979, e recebeu
seu nome logo depois que ele deixou o cargo.
O teatro possui 192 lugares e foi construí-
1978 do aproveitando-se um galpão, a pedido das
Teatro do Monte Sinai associações dos moradores e dos artistas da
Vila Kennedy. A primeira peça apresentada
Em 1978, o Teatro do Monte Sinai, à Rua foi encenada por um grupo local. Este espaço
São Francisco Xavier, na Tijuca, depois de atende a grupos amadores da região, e não
muito tempo desativado, voltou às suas ati- mantém uma atividade teatral profissional.
vidades como casa de espetáculos, com re- Depois de sua inauguração, o espaço ficou
frigeração e capacidade para 800 especta- restrito ao uso da própria comunidade, con-
dores. Seu funcionamento se dava somente firmando as palavras do Governador Faria
em fins de semana. Lima, publicadas no Jornal do Brasil de 9 de
Permaneceu fechado e foi reinaugurado março de 1979:
em 17 de outubro de 1983, com o nome
Teatro Rachmil Baratz, em solenidade que ...E lembrou que os usuários do teatro
contou com a presença da então Deputada devem cuidar dele como cuidam de suas
Daisy Lúcidi, do Deputado Léo Simões e do casas. Acrescentou que, agora, os mem-
Vereador Túlio Simões, sendo a festa coman- bros da comunidade da Vila Kennedy já
dada por Neuza Amaral e Felipe Wagner. tem um teatro...

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 521


Em 1995, já sob a direção de uma equipe 1979
da Funarj, Sérgio Alves, do Grupo Macaco Cine Show Madureira
(Movimento de Arte e Cultura Alternativa
Comunitária e Organizada), tenta reabrir o O Cine Show Madureira é localizado atrás
teatro, que se encontrava fechado para re- do mais importante centro comercial do
formas, e propôs mudanças. Lê-se no Boca de bairro, a duzentos metros da estação de
Cena, jornal editado pelo Sated (N. 2, Ano I, trem, na Rua Carolina Machado n. 542.Teve
out/1995): sua construção financiada pelo BD-Rio, até
então a maior das operações realizadas pelo
A gente vai lutar para conseguir ver- Banco de Desenvolvimento do Rio de Janei-
bas para acabar logo os consertos”. [...] ro, através do seu programa de apoio a tea-
Hoje quem dirige o teatro é uma equi- tros. Foi uma iniciativa praticamente indivi-
pe da Funarj que tem até boa vontade, dual do arquiteto Marco Antonio Khair, que
mas não conhece as necessidades das abriu uma firma em sociedade majoritária
pessoas daqui. Queremos propor uma com Sérgio Saraceni.
cogestão ao Governo, formando um O teatro tem capacidade para 1.080 es-
colegiado com a participação da comu- pectadores, distribuídos em plateia e balcão,
nidade na direção. numa área de 1.200 m2 construídos, com
Não queremos também ficar abandona- um palco de 14 m de boca de cena, equipa-
dos à própria sorte. O apoio do poder pú- do e aparelhado dentro de uma simplicidade
blico é fundamental para colocar o teatro funcional, com poltronas estofadas, ar-refri-
em funcionamento. gerado, todo em tons do marrom ao bege.
Foi inaugurado em 15 de junho de 1979,
O fato de a Vila Kennedy possuir na épo- com um show de Beth Carvalho.
ca aproximadamente 200 mil habitantes, e A programação da casa atende uma linha
só contar com o Teatro Faria Lima para suas de teatro musicado, complementada com
atividades culturais, fez com que o Grupo shows semanais de artistas populares e com
Macaco lançasse a ideia de transformar o apresentações de cinema, com prioridade
espaço em um centro cultural, com teatro, para filmes nacionais, e que através de um
música, shows e exibição de filmes. convênio na época de sua inauguração com
E esclarece Sérgio Alves, na mesma re- a Embrafilme, concretizaria o projeto, con-
portagem, com relação à proposta: forme palavras de Marcos Antonio Khair em
entrevista a Lena Frias, Jornal do Brasil, 12 de
Aqui não tem nem cinema. A vila é mui- abril de 1979:
to rica culturalmente, temos a Banda Afro
Negritude e o Grupo de Teatro Neurose, [...] minha casa pretende ser um centro
por exemplo, que precisam de um espaço polivalente de cultura, em que teremos
para se apresentar. Meu sonho é fazer um também cinema. Minha ideia é realizar lá
dia um intercâmbio de espetáculos entre grandes lançamentos de cinema nacional,
o Faria Lima, o Artur Azevedo e as lonas grandes retrospectivas de cinema brasilei-
de Bangu e Campo Grande. Agitar a zona ro; grandes reprises do cinema internacio-
oeste como nunca aconteceu antes. Não ia nal. [...] Está [tudo] preparado: a cabine
sobrar para ninguém. de projeção é moderníssima, arejada, nada
daquela aparência cubicular e terrível.

522 Teatros do Rio


Separada da plateia por parede de vidro, espetáculos infantis e peças com poucos
ela se integra à sala como decoração.[...] atores em cena, movimentando assim a pro-
Show porque, neste primeiro momento, gramação noturna do clube.
estamos voltados para linha de espetáculos
de música, particularmente, e com toda a
ênfase, para música popular brasileira. 1983
Teatro Jardim Encantado
A construção de uma casa de espetá- (Jacarepaguá)
culos do porte do Cine Show Madureira
vinha de encontro aos objetivos prioritá- Em 1983 surgia o Teatro Jardim Encan-
rios do programa de apoio específico do tado, à Rua Araguaia n. 13, Freguesia, em
BD-Rio; um teatro na capital do subúrbio Jacarepaguá, uma casa de teatro de bone-
da Central do Brasil, na época, com quase cos, sem nenhum aparato técnico. Estreou
dois milhões de habitantes, sem uma sala com a peça O rabo do gato, de Eliardo Fran-
sequer de espetáculos. Viria então a con- ça e Mary França, com Marcondes Mes-
tribuir, ampliando as oportunidades da po- queu, ator manipulador; Osvaldo Rosário,
pulação de acesso à cultura. músico; e bonecos de Paulo e Aurora. Um
espaço que durante algum tempo foi man-
tido por sua bilheteria, sem apoio de ver-
1980 bas oficiais.
Teatro América

O Teatro América localizado no prédio do 1966


Clube América, à Rua Campos Salles, n. 118, Teatro Redentor
Tijuca, é uma pequena casa voltada para co-
médias, com produções de pequeno porte. Em 1966, era inaugurado o Teatro Reden-
Devido às limitações do palco, recebe tor, pelo grupo de Walter Sequeira “Os
com muita frequência shows humorísticos, amigos da comédia”, com a peça O tio boê-
mio, de sua autoria. O teatrinho tinha quase
Fachada do Teatro América 200 lugares, e funcionava à Rua Hadock

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 523


Lobo n. 253, ao lado da Igreja dos Capu- pacidade para 220 pessoas, cabine de luz e
chinhos na Tijuca. som, camarins, palco sem urdimento, sem
Apesar do seu caráter experimental fun- coxias, de pequenas proporções e com as
cionando aos sábados e domingos, pode- mínimas condições técnicas.
ria ter tido vida permanente se o público Nascia então no coração da Tijuca, em
corres­pondesse ao esforço de seus ideali- plena Praça Saenz Peña, casa de espetá-
zadores. Mas não foi o que aconteceu, e o culos do tradicional centro comunitário,
teatrinho veio a desaparecer, não ficando uma reivindicação das associações de mo-
registro algum sobre suas atividades ou es- radores e amigos da Praça Saenz Peña e
pecificações técnicas. adjacências. O teatro foi inaugurado em
3 de agosto de 1984, com um concerto
de Luiz Eça, e durante alguns anos pro-
1984 porcionou aos seus espectadores uma ati-
Teatro Cawell vidade artística em que as comédias de
costumes, shows musicais e peças infantis
À Rua Desembargador Isidro n. 10, na Ti- predominavam.
juca, existia na década de 60 um cineminha Na década de 1990 chegou a ser arren-
conhecido Eskie, e que foi fechado por Se- dado por algum tempo pela Prefeitura, e
veriano Ribeiro, o proprietário, sob pretex- recebeu o nome de Teatro Rio Arte, sendo
to de obras. Durante anos permaneceu de o espetáculo inaugural a peça Essa história é
portas cerradas. uma parada, de Benjamim Santos. A casa teve
Na década de 1980 é adquirido pelo ator pouco tempo de vida.
e produtor Cawell Raposos, e após reforma,
transforma-se no Teatro Cawell, com ca-
1987
Cineteatro Moça Bonita

O Instituto de Administração Financeira da


Previdência e Assistência Social (Iapas) era
o proprietário do Cineteatro Moça Bonita,
uma sala de 1.700 lugares que foi construída
na década de 1950 em Padre Miguel, subúr-
bio do Rio de Janeiro.
Em janeiro de 1987 era cedido à Prefei-
tura para ser transformado em um espaço
cultural, conforme nota no Jornal do Brasil
de 17 de janeiro de 1987.

O Coordenador da Comissão de Produção


de Projetos Culturais da Secretaria Muni-
cipal de Cultura, Roberto Costa, informa
que o local será administrado por produ-
tores culturais locais.
Fachada do Teatro Rioarte Tijuca (antigo Teatro Cawell)

524 Teatros do Rio


Teatro Cawell. Planta baixa (S.E.)

Teatro Cawell. Corte (S.E.)


Sobre a funcionalidade do centro cultural 1988
não existe informação, tampouco sobre o Teatro Óperon
destino do Cineteatro Moça Bonita.
O Teatro Óperon, na Ilha do Governador, é
propriedade do Colégio Óperon, fundado
1987 no ano de 1988. O espetáculo de inaugura-
Teatro Belas Artes ção foi a peça O amante do meu marido, com
Cláudio Cavalcanti.
Em 17 de outubro de 1987 era inaugurado Além de suas atividades teatrais, é uti-
o Teatro Belas Artes, à Rua Olegário Maciel, lizado para oficinas e cursos para a comu-
162, Barra da Tijuca, com a comédia O caso nidade do bairro, e que esporadicamente
que eu tive quando me separei de você, título resultam em montagens no próprio teatro.
com que era rebatizada a peça Dois na Gan- Tem como programação exibição de vídeos
gorra, de William Gibson, com direção de de balés e óperas, com entrada franca para
Domingos de Oliveira e no elenco Priscilla o público.
Rozenbaum e Bernardo Jablonski. Durante a semana são realizadas sessões
Sobre esta casa de espetáculos de 250 lu- de teatro infantil, para as escolas particula-
gares não existe mais registro, sua vida foi
efêmera. Teatro Óperon. Planta baixa, (S.E.)

526 Teatros do Rio


res da região e aos sábados e domingos para Um espaço mais utilizado por comé-
o público em geral. O horário da noite é re- dias, de produções simples e espetáculos
servado para teatro adulto, sempre de curta de humor. Não tem carreira de atividades
temporada, geralmente fins de semana, de teatrais profissionais.
produções que estão excursionando.
A programação normalmente é sugerida
pelo público, que comunica-se com a bilhe- 1988
teria ou por telefone, predominando as co- Teatro Ziembinski
médias.
O teatro é pequeno, tem apenas um nível Uma viagem sem escala, de Santos para
de plateia com 170 lugares, mais 30 lugares Nova Orleans, Estados Unidos, dentro de
extras, somando um total de 200 especta- um navio cargueiro durante treze dias em
dores. As dimensões do palco são: 4 m de alto mar, foi o tempo suficiente para que
altura de boca de cena por 6,4 m de largura um desejo de Walmor Chagas se tornasse
e 7 m de comprimento, tem urdimento, va- realidade: a construção de um teatro. Esco-
randa estreita, e as manobras são manuais. lheu o bairro da Tijuca por ser mais viável
Há uma aparelhagem de som com caixas economicamente, precisamente um peque-
laterais ao palco, sistema de iluminação e
de projeção de videos. Teatro Ziembinski. Corte, (S.E.)

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 527


Teatro Ziembinski. Planta baixa, (S.E.)
melho. Do foyer com dois banheiros para o
público, tem-se também acesso através de
uma escada em pinho de riga, a uma sala onde
é localizado um simpático café com balcão,
mesinhas e cadeiras. A caixa cênica de 8 m
de boca de cena por 4 m de altura e 10 m
de profundidade, não possui coxias, tem boa
profundidade e urdimento. Com quatro ca-
marins, três banheiros (dois no piso superior
e um no piso de baixo), uma sala de vídeo e
administração no subsolo.
Construído com o apoio de empresas
como o Unibanco, Banco Econômico, Gru-
po Ruy Barreto, Grandene, SESC, Xerox,
General Motors, Shell e IBM – estimuladas
pela Lei Sarney – E com doações de várias
outras empresas – Santista doou as corti-
Fachada do Teatro Ziembinski
nas, a Coral entrou com as tintas, a Springer
com os aparelhos de ar-condicionado, a Vo-
no largo chamado Largo do Sapo, que fica torantim com setecentos sacos de cimento,
nos limites do antigo bairro do Engenho a Flacta com as cadeiras reclináveis, a Con-
Velho e Tijuca, próximo à estação do Me- cretex com os blocos de cimento, e outras
trô Afonso Pena, ao lado da Igreja de São quase vinte empresas.
Francisco, que não ganharia proporção e O nome do teatro escolhido por Walmor
nem o largo seria tão bem revelado ao pú- foi Teatro Ziembinski, em homenagem ao
blico se não fossem as áreas desapropriadas ator e diretor polonês, conforme ele mesmo
pelo Metrô, onde surgiram pequenas pra- explica:
ças, no lugar das velhas casinhas ali cons-
truídas. Duas dessas, foram transformadas Apesar de ter nascido na Europa, foi ele
por Walmor Chagas em teatro, localizado à quem descobriu para nós, artistas brasi-
Rua Urbano Duarte n. 30. Walmor se des- leiros, como o grande Nelson Rodrigues.
fez de todos os bens que conseguiu juntar Minha escola – como a de Fernanda, Tô-
ao longo de 40 anos de carreira. nia, Paulo Autran e a de muitos outros –
As obras foram iniciadas em dezembro foi o teatro estrangeiro. Agora, que estou
de 1986, com um projeto de Sérgio Jamel prestes a comemorar 40 anos de teatro
e Antonio José de Oliveira, que não se po- (ano que vem), quero viver nossos perso-
deria chamar de um grande teatro, mas um nagens, aprender com eles...230
simpático e acolhedor espaço, com recursos
técnicos apropriados às encenações de médio Sua intenção era transformar a casa de es-
e pequeno porte. São dois andares distribu- petáculos em um espaço para o autor brasi-
ídos numa área de 450 m2, compreendendo leiro, retomando a linha evolutiva do teatro
um foyer com acesso à sala de espetáculos de brasileiro, interrompida há muitos anos com
154 espectadores, com cabine de luz e som, o Oficina e o Arena, como ele mesmo afirma-
ar-condicionado, cadeiras estofadas de ver- va ao jornal Estado de São Paulo.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 529


Será a casa do autor brasileiro, [...] faço Albano, coreografia de Marilena Ansaldi e
parte de uma geração que foi obrigada a os figurinos de Lessa de Lacerda.
fazer teatro estrangeiro para provar que Com o passar dos anos sua programação
sabia fazer teatro.231 foi atingindo também a música, com o objeti-
vo de divulgar artistas, através do “seis e meia
Em 6 de abril de 1988 era inaugurado o no Zimba”, seguindo a mesma linha tea­tral da
Teatro Ziembinski, com três peças curtas casa de apresentar autores nacionais.
na programação de estreia: a primeira foi Durante alguns anos, funcionou como polo
“?” de Millor Fernandes, direção de Mau- de dança, por onde passaram vários grupos.
rice Vaneau; a segunda Deu ladrão, de Her- Em 1994, o teatro passou a ser adminis-
bert Daniel, também direção de Maurice trado pela Secretaria Municipal de Cultura,
Vaneau e a terceira de Carlos Henrique Es- da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.
cobar, A três quateirões daqui, com direção A direção do espaço coube a Enrique
de Walmor Chagas. A atuação era formada Diaz, e que ficou até 1997, quando assumiu
por um elenco fixo do teatro: Ana Rosa, o Espaço Cultural Sérgio Porto. Em seu lu-
Clara Becker, Deborah Figueiredo, Silvia gar entrou Aderbal Freire Filho, que havia
Aderne, Nenna Camargo, Paulo Villaça, acabado de deixar o Teatro Carlos Gomes,
Rider Santos e Tarcísio Ortiz, com cenários delegando a Gillray Coutinho, da Compa-
de Helio Eichbauer e figurinos de Dianna nhia Paraíso, criada no Carlos Gomes, e a
Eichbauer. Dudu Sandroni a tarefa de administrarem o
A ideia de manter um elenco fixo surgiu teatro, que foi reativado com espetáculos e
da concepção do teatro, que quanto mais a criação do Teatro Aberto para a Infância,
uma equipe atua junto, maiores são as possi- um núcleo, que além de atividades teatrais,
bilidades de sucesso. A proposta de Walmor promove com frequência seminários sobre
era o ator ser sempre contratado por um teatro infantil. Foi a primeira casa da Rede
ano, recebendo mensalmente para atuar e Municipal de Teatros a ter um projeto es-
ensaiar, somente com textos de autores na- pecial voltado para o teatro infantojuvenil,
cionais contemporâneos, possibilidade que mantendo uma política de integração com o
havia conseguido graças ao apoio de várias público, dos bairros adjacentes à Tijuca.
empresas que investiram no projeto.
A segunda montagem da companhia de
teatro foi Fernando em Pessoa, textos reu- 1989/90
nidos de Fernando Pessoa e a terceira foi Teatro da Barra
Os reis do ferro velho, e em seguida Prezado
amigo, roteiro do próprio Walmor, baseado O Teatro da Barra foi inaugurado em 1989
na correspondência de Mário de Andrade com a peça Quadrante, e está situado na ex-
a Carlos Drummond de Andrade. Walmor Avenida Sernambetiba n. 3.800; atual Ave-
dirigiu e também interpretou Mário de nida Lúcio Costa, Barra da Tijuca.
Andrade, o ator Tarcísio Ortiz viveu Carlos Uma iniciativa de Joyce Produções Cultu-
Drummond de Andrade, sendo o elenco rais, de propriedade de Ecila Mutzenbecher,
complementado por Sílvia Aderne, Rider Rosali Finkielsztejn e Wilson Nogueira Ro-
dos Santos, Ana Rosa, Deborah Figueiredo drigues.
e Clara Becker. A cenografia de Walmor e Foi o falecido marido de Rosali, Davi,
Pedro Domingues, a iluminação de João quem deu inspiração para que Wilson cons-

530 Teatros do Rio


truísse o primeiro teatro do grupo; confor- provisado com papel de parede de árvores
me palavras de Ecila: e um telão onde correm letras de música
evangélica...233
O Wilson recebeu a loja como pagamento
de uma dívida. O Davi foi ver e sugeriu a O Teatro da Barra não conseguiu man-
construção do Teatro da Barra.232 ter-se com uma atividade teatral, tentou
o musical, que também não obteve resul-
O curioso é que a sala já possuía alvará tados, sendo arrendado ao Pastor da Sara
para a instalação de uma empresa ligada a Nossa Terra.
cinema ou teatro, o que facilitou em muito
o projeto.
A concepção da casa obedeceu ao pro- 1991
jeto de especialistas em iluminação e acús- Imperator
tica. Seu palco, de estilo italiano, mede
11 m de boca de cena por 4,7 m de altura Na galeria Imperator à Rua Dias da Cruz,
e 7 m de profundidade. A curva de visibi- Méier, subúrbio carioca, existia o Cine Im-
lidade da plateia é tecnicamente correta, o perator, e que nos anos 1960 e 1970, fazia
que permite uma visão perfeita de todos os sucesso com a “juventude transviada”, pois
assentos, dispondo de 375 poltronas, ladea- era ponto de encontro de jovens com suas
das por 47 bancos reversíveis (strapontain), lambretas e calças jeans de bainha virada.
perfazendo um total de 375 cadeiras estofa- Com o passar dos anos foi perdendo seu
das confortáveis. público, e é fechado. É reaberto em março
Sua sala de espera tem capacidade para de 1991 como casa de shows, sendo inaugu-
cerca de 100 pessoas, possuindo um bar, e rado com um mega espetáculo com Shirley
uma galeria que dá acesso à sala de espetá- Maclaine.
culos. Seu equipamento de luz, com 52 re- O primeiro ano de existência da casa foi
fletores, comandados por uma mesa ADB um grande sucesso, repetindo-se em cada
System 520 (belga), com capacidade para estreia. No começo sua programação com
operação de até 90 pontos de luz e progra- as principais estrelas da MPB chegou a pre-
mação contínua. Já seu equipamento de som ocupar a direção do Canecão (uma grande
é semiprofissional, destina-se apenas a pro- cervejaria misto de casa de shows). Nesta
porcionar som ambiente. fase do Imperator passaram: Marisa Monte
Dentre as atividades realizadas no Teatro com Mais, Rita Lee lançando seu Bossa n’roll
da Barra, os shows musicais sempre foram e Gal Costa com O sorriso do gato de Alice.
os eventos de melhor resposta de público, Em julho de 1995 as portas do Imperator
vertente mantida durante alguns anos. foram fechadas, devido a um esvaziamento,
Em 1999, já tinha se transformado em em decorrência da programação massificada
sala para os cultos da Igreja Sara Nossa Ter- do Metropolitan e do Canecão, tirando por
ra, com sucesso emergente de bilheteria, algum tempo a prometida vida cultural do
conforme matéria de Paula Autran: coração da zona norte.
Inicialmente havia sido concebido para ser
O antigo Teatro da Barra, na Avenida Lú- uma casa de shows, e como estava fechado o
cio Costa, nunca esteve tão apinhado de Prefeito César Maia propôs a Kleber Leite,
famosos... [...] No palco – um altar im- um dos proprietários, alugá-lo, e em parceria

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 531


com a Souza Cruz manter o Carlton Dance do em 9 de agosto de 1996 por Roberto
Festival, cabendo ao município a administra- Carlos, com o show Amor, o mesmo que
ção do teatro por quatro anos. havia apresentado, no mês de maio do
No jornal O Globo, de 13 de julho de 1995, mesmo ano, no Metropolitan. E é reaber-
Luis Fernando Vianna, confirma a intenção to com o nome Centro Cultural e Tea­tral
da Prefeitura: Imperator.
A casa foi toda reformada e ampliada, para
O Prefeito César Maia e o empresário ser um grande complexo cultural com gale-
Kleber Leite se encontraram na tarde de ria de arte, livraria e teatro. Sua capacida-
terça-feira para buscar um acordo. Se- de que antes era de 1.800 lugares, passou a
gundo Kleber, presidente do Flamengo e possuir 2.240 lugares sentados, distribuídos
dono da Klefer, empresa proprietária do entre 1.992 na plateia e 248 nos camarotes.
Imperator ao lado da Mills & Niemeyer, Dependendo do espetáculo, este número
as negociações estão adiantadas e preveem pode ser aumentado para 4.500 pessoas,
o aluguel da casa à Prefeitura pelos próxi- com a retirada das mesas. Todo equipado
mos cinco anos. com um completo sistema de iluminação e
Desde que cogitamos negociar o Im- de som, controlados por computador.
perator, eu tenho demonstrado preferên- Depois do show de Roberto Carlos, ou-
cia, mesmo com o sacrifício do aspecto tros cantores lá se apresentaram: Emílio
financeiro, pela possibilidade de mantê- Santiago, Roberta Miranda, Flávio Ventu-
-lo como uma casa de espetáculos – diz rinni, Beto Guedes, 14 BIS, Roupa Nova e
Kleber, que afirma ter recebido cerca de Elymar Santos.
30 propostas para transformar o Impe- Seu palco de 500 m2 tem de boca de cena
rator em bingo – É uma questão moral. 17,4 m, e na plateia dois telões de 12 m2,
A Prefeitura quer também abrir uma es- dispostos nas laterais do palco, possuem
cola de artes no local, o que vai ser muito também cabine de luz e som, e ar-condicio-
importante para a zona norte. nado.
A matéria de Mauro Ferreira, no jornal
A luta de compra do Imperator ficou O Globo, de 9 de agosto de 1996, com o tí-
entre três concorrentes: Edir Macedo que tulo: “O Segredo é Segmentar a Programa-
desejava incluir o Imperator na sua cadeia ção”. “Imperator deve se especializar como
de templos; a Prefeitura, que estava dis- a casa dos artistas populares”, faz uma re-
posta a anexar a casa de espetáculos à rede lação de estilos entre as casas de shows do
municipal de teatros e Marcellus de Oli- Rio, com uma visão muito interessante:
veira. As intenções do “Bispo” foram bar-
radas por Hélio Di Mier, do grupo Mills, A reinauguração do Imperator deve re-
sócio majoritário da casa, que se manifes- democratizar o acesso do público cario-
tou favorável para que o Imperator fosse ca aos grandes espetáculos. O Imperator
parar nas mãos de Marcellus de Oliveira, fechou porque, passado o entusiasmo
dono da Marxand Promoções que compra inicial, o público da zona sul se cansou
o estabelecimento com mais dois sócios de ir ao Méier ver shows. Agora fica cada
com ajuda da Coca-Cola. Voltando com um na sua região. O segredo está na seg-
uma programação popular destinada ao mentação da programação. Falta ainda
público da zona norte, sendo reinaugura- uma casa de médio porte na cidade, mas

532 Teatros do Rio


Teatro Imperator. Planta baixa, (S.E.)

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 533


o mapa musical está bem distribuído. O 1991
Metropolitan deverá permanecer como Sala Henriqueta Brieba
o preferido do público de meia-idade da
zona sul, que vai em vans para a Barra A Sala Henriqueta Brieba é localizada no
ver seu ídolo. O Canecão, pela localiza- complexo arquitetônico do Tijuca Tênis
ção excepcional, provavelmente conti- Clube, à Rua Conde de Bonfim, n. 451, na
nuará recepcionando as grandes estrelas. Tijuca, com acesso pela entrada social do
Até porque já ficou provado que muitas clube. Sua inauguração foi em 16 de dezem-
delas, como Elba Ramalho e Ney Mato- bro de 1991, recebendo o nome em home-
grosso, aguentam bem um Canecão, mas nagem à atriz. O clube sempre desejou con-
não lotam o Met. Já o Imperator certa- tar com um teatro, chegando a dar início à
mente será o palco dos artistas de tra- construção de uma sala, mas acabou ceden-
balhos mais populares. Aqueles que não do lugar a uma piscina olímpica.
desfrutam de prestígio no meio musical, O teatrinho conta com 200 poltronas
mas têm público vasto e fiel. confortáveis, e um pequeno palco de pre-
cários recursos técnicos, mas que não impe-
Em 24 de agosto de 1998 uma ordem judi- de uma atividade teatral de pequeno porte.
cial mandando selar as portas do Imperator A peça de estreia foi Se... um casal às avessas,
foi expedida a pedido do Escritório Central de Sérgio Jockyman, com Jalusa Barcelos e
de Arrecadação e Distribuição (ECAD), que Ewerton de Castro.
não recebia os direitos autorais por cinco Uma sala que se mantém com uma progra-
anos, tendo sido suspensa temporariamente mação mais voltada às crianças, com apresen-
a programação, até que a casa regularizasse tações de peças infantis e esporadicamente
sua situação junto à ECAD, e outras dívidas shows humorísticos para os adultos, não tem
em atraso. carreira com espetáculos em temporada.

534 Teatros do Rio


Referências Bibliográficas

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Teatro Popular de Marechal Hermes
(Teatro Armando Gonzaga)
Boletim da Acet. Rio de Janeiro, maio/junho de 1981. Teatro Miami
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7 de março de 1981; 1 de maio de 1981; 3 de Teatro do Monte Sinai
janeiro de 1985; 3 de agosto de 1986. Jornal A Notícia. Rio de Janeiro: 28 de abril de 1978.
Jornal Última Hora. Rio de Janeiro: 19 de outubro Teatro Ziembinski
de 1983. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 17 de janeiro de
Revista de Teatro Sbat. Rio de Janeiro: n. 293, setem- 1988; 20 de janeiro de 1988; 2 de abril de 1988;
bro/outubro de 1956; n. 294, novembro/dezem- 8 de abril de 1988; 19 de junho de 1988; 4 de
bro de 1956. setembro de 1988.
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Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 12 de abril de de 1988.
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de maio de 1989.
Revista de Teatro Sbat Rio de Janeiro: n. 352, julho/
agosto de 1966. Revista de Teatro Sbat. Rio de Janeiro: n. 465, janeiro/
fevereiro/março de 1988.

Teatro Cawell
Teatro da Barra
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 12 de agosto de 1984.
O Globo. Rio de Janeiro: 18 de abril de 1999.
Programa Inaugural. Rio de Janeiro: 3 de agosto de 1984.
Jornal Boca de Cena. Sated. Rio de Janeiro: n. II, s/d.

Cineteatro Moça Bonita


Imperator
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 17 de janeiro de 1987.
Jornal O Globo. Rio de Janeiro: 13 de julho de 1995;
10 de setembro de 1995; 9 de agosto de 1996; 28
Teatro Belas Artes de agosto de 1998.
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 6 de setembro de Revista Veja Rio. Rio de Janeiro: 24 de julho de
1987; 18 de outubro de 1987. 1996.
4. 5. TEATROS DE protetor e tapetes beges nos corredores. O
INSTITUIÇÕES teto é de arcada de concreto, com três lus-
tres franceses, assim como os candelabros
laterais. O declive é acentuado e as poltro-
1930 nas são de couro bege. Ainda na plateia, sete
Teatro do Instituto de Educação janelas laterais de um lado, e de outro; qua-
(Teatro Fernando de Azevedo) tro janelas e três grandes portas, todas com
saída para o ar livre e cobertas por corti-
Em 1930, o público da Zona Norte ganhava nas de veludo marrom. Também de veludo
um teatro situado no Instituto de Educação, marrom, a cortina do palco e as cortinas das
à Rua Mariz e Barros, entrada pelo n. 273. janelas do balcão. O palco também é taquea­
Luxuoso, sem ostentação, moderno e con- do, abrigando um grande ciclorama.
fortável, dentro das condições que o sólido O imenso balcão, todo em tábuas cor-
edifício oferece, foi inaugurado, como parte ridas, ainda originais, tem forma de meio
do conjunto arquitetônico do Instituto, pelo arco. As poltronas são iguais às da plateia,
prefeito do antigo Distrito Federal, Antônio em couro bege. Do palco, há saídas laterais,
Prado Júnior. Fechado em 1977 para refor- e saídas que dão para os novos camarins,
mas, que foram orçadas em 6 milhões e 800 dois, com acomodações modernas para até
mil cruzeiros, tinha uma programação sob a 12 pessoas cada um. Há também saída para
responsabilidade da Funterj, que pretendia o porão, onde anteriormente se localizavam
fazer da nova sala uma alternativa do Thea- os camarins que com a reforma o local pas-
tro Municipal e Sala Cecília Meireles. saram a guardar materiais dos espetáculos.
Com o palco ocupando uma área de 198 m2: O Teatro do Instituto de Educação já pos-
11 m de profundidade por 18 m de largura, suía em 1979, época da reforma, uma boa
plateia com 508 lugares e balcão com 220, acústica, sem que para isso fosse necessário
candelabros e apliques franceses. O Teatro mexer na arquitetura do prédio. Possui duas
do Instituto de Educação tinha tudo para ser baterias de doze refletores laterais; um ca-
uma das mais confortáveis e modernas salas nhão de luz, duas gambiarras originais com
de espetáculos da cidade. Sua reinauguração, vidros coloridos na área do palco e mais um
em 1979, serviu para compor um conjunto grupo de doze refletores, seis de cada lado,
de teatros, como pretendia a Funterj, abri- dentro do palco. Tem também cabine cine-
gando espetáculos numa programação con- matográfica com dois projetores de 35 mm,
junta com a Sala Cecília Meireles e Theatro antigos, a carvão, os únicos que ainda não
Municipal, já que o Instituto de Educação foram trocados.
pertencia também à Secretaria de Educa­ Olhando de frente para o prédio na Rua
ção do Estado. Mariz e Barros, de um lado, o direito, está
O acesso do público se faz pela Rua Ma- o ginásio de esportes e piscina; do lado es-
riz e Barros, para onde dá frente, por uma querdo, a grande porta que se vê é a do tea-
imensa porta de ipê roxo. A partir daí tem-se tro. A pedra fundamental do conjunto, todo
acesso a uma grande sala de espera, com bar à em granito, obra das mais sólidas, ainda dos
direita e chapelaria à esquerda, separados por velhos empreiteiros portugueses, é de 27 de
colunatas de pó de pedra e chão de granito. novembro de 1927. O prédio foi inaugura-
Outra grande porta dá acesso à plateia do em 12 de outubro de 1930. Na época,
com piso em tacos de peroba com verniz já tinha todas as instalações que tem hoje,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 537


sendo, portanto, uma obra de vanguarda, as poltronas eram de couro azul na plateia,
considerado funcionalmente perfeito. Mas e de madeira no balcão. Todas as cortinas já
a Câmara dos Vereadores da época resolveu eram de veludo marrom. A grande reforma
contestar a obra, por achá-la faraônica, difi- de 1979 atingiu os camarins, que ficavam no
cultando com isso a inauguração. Enquanto porão sob o palco, mas tinham infiltrações,
o edifício não era ocupado pelo Instituto, por isso passaram para o alto, onde puderam
que na época funcionava em São Cristóvão, ser feitos com mais conforto.
correu a notícia de que as tropas que vinham Uma das coisas mais curiosas do teatro
do Sul, fazendo a Revolução de 30, se ins- era o seu sistema de refrigeração, com gelo,
talariam no edifício, onde seriam aquarte- como explica o diretor do Instituto:
ladas. Felizmente, eles andaram um pouco
mais e preferiram o Obelisco. Mas foi o su- No porão do teatro, perfeitamente utilizá-
ficiente para que os professores corressem vel fica toda a maquinária do sistema de
com tudo o que tinham e iniciassem seu tra- refrigeração. São gavetas, onde era coloca-
balho no prédio, com as primeiras aulas. do o gelo partido, fechadas por uma tela
O teatro já existia com bastante requinte,
o material francês empregado ainda está lá, Teatro Fernando de Azevedo. Planta baixa, (S.E.)

538 Teatros do Rio


filtro, e com saída para a rua. Um grande 1949
ventilador com insuflador jogava o ar na O Tablado
sala, fazendo a renovação do ar. Todo o sis-
tema está em perfeito estado. Só não sabe- No auditório do Patronato Operário da
mos se vamos utilizá-lo pelos altos preços Gávea, Maria Clara Machado, em abril de
que o gelo atingiu, pois se precisa de cami- 1949, reuniu Cláudio Rubens Fornari, Ge-
nhões para abastecê-lo.234 raldo Queiroz, Elio de Alencar, Cândido de
Almeida, João Sérgio Nunes, com quem le-
Ao mesmo tempo, todo o piso do porão vou à cena A Farsa do advogado Pathélin, tra-
onde ficava a refrigeração era de ladrilhos duzida e dirigida por Sebastião Hasselmann.
tendo como desenho a cruz suástica, e con- Estava assim lançada a semente do que seria,
tinua o diretor: mais tarde, o Tablado.
Anteriormente, Maria Clara já trabalha-
Não encontrei nenhuma referência sobre va na instituição, em atividade de assistência
isso. Nada explica. O teatro foi inaugurado social, quando então passava seus dias diver-
em 1930 e sua construção vem da década tindo os filhos de operários com sessões de
anterior. Portanto, não sei se poderíamos teatro de marionetes.
atribuir o fato à subida do nazismo na Ale- Agraciada com uma bolsa de estudos,
manha. Não há explicação para isso. parte para Paris, para estudar teatro. Ao re-
tornar, em 1951, em companhia de Martins
Todo o sistema de acústica e som foi pro- Gonçalves, reúne um grupo de dez pessoas
jeto de Roberto Thompson Motta, também criando um núcleo fundador do conjunto
responsável pelo mesmo trabalho nos Tea- amadorista. Entre elas estavam Aníbal Ma-
tros Municipal, Villa-Lobos e João Caetano. chado (escritor e seu pai), Kalma Murtinho
Renovado também todo o sistema elétrico e e Napoleão Moniz Freire.
hidráulico. O teatro tem uma área total de Como já trabalhava no Patronato, encon-
792 m2. O balcão tem uma grande sala de trou receptividade junto à diretoria para
espera atapetada, com duas saídas: uma para realização de espetáculos teatrais. Foi então
o hall da plateia e outra para a área inter- cedido ao grupo, pela instituição, o salão do
na do edifício. Os banheiros para o público, patronato, quando na época a presidência
também modernizados, têm acesso pelas era ocupada por D. Helena Bahiana.
três portas laterais da plateia. O teatro pode Em 17 de dezembro de 1951 inauguram o
ser utilizado em qualquer horário sem atra- salão, apresentando duas peças para adultos:
palhar as atividades escolares, graças a suas O moço bom e obediente, teatro Nô japonês de
entradas e saídas independentes. E junto ao Betty Barr, dirigida por Martin Gonçalves,
hall do balcão uma grande sala serve à admi- com cenários de Stélio Roxo e figurinos de
nistração do teatro. Yuki Kikushi; e A farsa do pastelão e da torta,
Após longa reforma foi reinaugurado em texto medieval de Michel Richard, dirigida
14 de agosto de 1980 com o nome Teatro por Maria Clara Machado, cenários de Jorge
Fernando de Azevedo, pela Orquestra do Hue e figurinos de Ivanizo Ribeiro.
Theatro Municipal, sob a regência do ma- Mesmo com estas apresentações o grupo
estro Henrique Morelenbaum, que apre- ainda não tinha nome. Partindo de Martin
sentou a Sinfonia n. 104, de Haydn, e Imagem Gonçalves a sugestão do nome tablado, que
carioca, de Ricardo Tacuchian. foi aceito pelos demais integrantes do gru-

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 539


Estudo para reforma do Teatro O Tablado. Planta Geral, (S.E.)

Estudo para reforma do Teatro O Tablado. Sugestões de utilização do espaço, (S.E.)


Estudo para reforma do Teatro O Tablado. Sugestão de utilização do espaço –
Detalhe, (S.E.)

Estudo para reforma do Teatro O Tablado. Corte AA Detalhe da plateia, (S.E.)


Teatro O Tablado. Palco e vista parcial da plateia adultos e um estilo exclusivo para a forma-
ção da criança.
po que não tinha estrela, porque todos par- Dois anos depois (1953), com a saída de
ticipavam, ora como protagonista em um Martin Gonçalves e Brutus Pereira, Maria
espetáculo e bilheteiro em outro, depois Clara permaneceu na organização como di-
como contrarregra. Não existia a com- retora – levando adiante um programa que
panhia, mas um grupo coeso que fazia de iria caracterizar-se pela boa escolha de ori-
tudo. Rubens Corrêa confirma: ginais, constituindo um espetáculo por ano.
Um incêndio ocorrido na sala de espe-
Em 1955 entrei no Tablado. Fiz muita figu­ra­ táculos, em novembro de 1956, contribuiu
ção, trabalhei de contarregra e ganhei mi­nha para se fazer uma reforma completa, basea-
grande chance no final daquele ano numa da no projeto do arquiteto Sabino Machado
montagem de TioVânia, do Tchecov 235 Barroso e com colaboração do decorador
Jorge Hue.
Este sonho de criar um teatro amador fez A lista dos que estrearam no Tablado é
surgir o Tablado, incentivando, revolucionan- imensa, além dos já citados: Rubens Corrêa,
do e mostrando a vitória do teatro infantil. Ivan de Albuquerque, Kalma Murtinho, Na-
Nesses 48 anos de atividade já foram apre- poleão Moniz Freire, Joel de Carvalho, Isa-
sentados: do teatro Nô japonês à comédia bel Tereza, Germano Filho, Yan Michalski,
medieval; teatro elizabetano; a comédia clás­­ Roberto de Cleto, Cláudio Corrêa e Castro,
sica francesa e italiana; o drama psicológico, Paulo Padilha, Jorginho de Carvalho, Djena-
enfim as modernas tendências do drama e ne Machado, Anna Letycia, Carlos Lyra, Eg-
da comédia; uma variação de estilos para os berto Gismonti, Wolf Maya, Louise Cardoso,

542 Teatros do Rio


Teatro Tablado. Corte, (S.E.)

Teatro Tablado. Planta baixa, (S.E.)


Andréa Beltrão, Malu Mader, Roberto Bata- Sobre o Tablado, algumas palavras de Pas-
glin, Drica Morais, Jacqueline Laurence, Ma- choal Carlos Magno:
ria Pompeu, Eric Rzepecki, Fernanda Torres,
Carlos Wilson, Rosita Tomás Lopes, Carmi- O Tablado me revelou uma maneira de
nha Brandão, Beatriz Veiga, e muitos outros. fazer teatro que só conhecera com os jo-
Foi no Tablado que Maria Clara apresen- vens de Cambridge, os artistas de Vittorio
tou pela primeira vez seus grandes sucessos Gassmann, os Pitoeff e alguns elencos in-
de peças para crianças: Pluft, o fantasminha; gleses.238
A menina e o vento; A bruxinha que era boa e
O Cavalinho azul.
Desde sua fundação e, principalmente, a 1952
partir de 1964, com a criação do curso de Teatro Duse
interpretação, o Tablado vem descobrindo e
revelando talentos, conquistando militantes O Teatro Duse, uma homenagem a Eleono-
para a causa teatral e cultivando público. Mas ra Duse, famosa atriz italiana (1858-1924)
o teatro já estava necessitando de uma boa foi inaugurado por Paschoal Carlos Magno
restauração para abrigar seus espetáculos e em 12 de agosto de 1952, localizado na Rua
alunos, tudo estava por fazer, mas faltavam Hermenegildo de Barros, n. 161, esquina de
recursos. Usando então a Lei Sarney de in- Paranaguá, uma das mais belas ladeiras do
centivos fiscais à produção cultural, a Mesbla bairro de Santa Teresa, antiga casa de Pas-
S. A., bancou a reforma geral do teatro. choal, um prédio de três andares que serviu
de albergue de artes e artistas.
O resultado é um teatro todo reformado
– cadeiras, aparelhagem de luz e som, ba- Suas paredes pintadas de verde-claro se
nheiros, camarins, coxias, ar-condicionado, harmonizam com a pesada cortina bran-
telhado e até uma cozinha, que não existia236 ca da boca de cena e com as poltronas
confortáveis verde brancas. Iluminação
Com projeto do arquiteto Sérgio S. Morais indireta através dos olhos de vidro das
e do cenógrafo Maurício Sette, o teatro pas- máscaras gregas esculpidas por Stélio Al-
sou a ter a capacidade de 250 pessoas, sendo ves de Souza239
200 espectadores na plateia e 50 no balcão. Meu pai, que tinha uma biblioteca no
crânio, havia armado em uma das salas da
Só não houve ampliação do teatro por falta sua casa em Paula Matos, o Teatrinho do
de espaço. Para quem conhecia o Tablado Arlequim, para os filhos e os emprega-
antigo, foi ótimo... que bom se fizessem isso dos.240
com todos os teatros do Rio!.237
Paschoal Carlos Magno funda, em 1932,
O teatro foi reinaugurado com a repre- a Casa do Estudante do Brasil, que se trans-
sentação do espetáculo O gato de botas, de formaria em teatro, e que em seus 15 anos
Maria Clara Machado, com músicas de Ubi- de vida revelou: Sérgio Cardoso, Cacilda
rajara Cabral, cenários e figurinos de Anna Becker, Maria Fernanda, Sérgio Britto,Tere-
Letycia, coreografia de Nelly Laport e no za Rachel, José Maria Monteiro, Silvia Or-
elenco Luiz Carlos Tourinho e Marcus Mo- thof, Pernambuco de Oliveira, B. de Paiva,
rais se revezando no papel-título. entre outros.

544 Teatros do Rio


Foi com o desaparecimento do Teatro do rios e figurinos eram, respectivamente,
Estudante que Carlos Magno fundou em sua de Pernambuco de Oliveira (já com uma
própria casa um teatro-laboratório, a Escola boa folha de serviços prestados ao Teatro
de Arte Dramática do Teatro Duse, cujas ati- do Estudante do Brasil, desde a sua estreia
vidades se iniciaram em agosto de 1952. como cenógrafo e intérprete em Hamlet,
em 1948) e de Mario Gatti, um jovem de
Foi em 1932, quando Paschoal Carlos 16 anos. A interpretação esteve a cargo de
Magno começava sua carreira diplomática Glauce Eddé (Glauce Rocha), Lígia Nu-
em Manchester, que entrou em contato nes, Geni Borges, Luiza Sigéa, Ruthy An-
com um pequeno teatro-laboratório de drey, Mariuaska Lembke, Hélcio de Souza,
autores, diretores, atores, cenógrafos, fi- José Luiz Pinho, Moacir Deriquem, Edson
gurinistas, iluminadores e contrarregras, Silva, René Vincent, todos amadores e a
chamado “The Onamed Theatre” (teatro maioria estreante totalmente em teatro.242
sem nome), dirigido por um célebre tea-
trólogo inglês da época: Sladen Smith. Como toda iniciativa cultural existente
Depois de observar outros teatros do no Brasil, esta também não teve um apoio
gênero na Inglaterra, França, Alemanha, oficial decisivo, vivia muito mais da cora-
Itália, e em Nova York, tendo ainda mais gem do próprio Paschoal, que ia descobrir
tarde formado jovens artistas no Teatro do verbas e doações para juntá-las aos emprés-
Estudante do Brasil...241 timos e às colaborações de amigos que nele
acreditavam.
O pequeno Teatro Duse instalou-se no Foi assim que, em 1955, consegue en-
porão de sua própria casa, onde morava viar à Europa, em grande parte às suas
com suas irmãs Orlanda e Rosa Carlos próprias custas, seu grupo de 18 jovens
Magno. Uma sala de pouco mais de cem do Teatro do Estudante do Brasil, chefia-
lugares, diante de um pequeno palco, onde dos por sua irmã Rosa, e que na Alemanha
iria desenrolar-se mais um capítulo da his- participam do Festival de Erlagen, uma
tória do Teatro do Estudante, talvez o mais competição internacional de estudantes-
importante. -atores de teatro, onde representaram
A inauguração do Teatro Duse, com pre­ peças de autores nacionais, divulgando a
sen­ça de João Carlos Vital, prefeito do Dis- arte dramática brasileira, e tiveram opor-
trito Federal, foi à meia-noite de 12 de tunidade de conhecer de perto os grandes
agosto de 1952, com o original de Hermilo progressos da ribalta europeia, bem como
Borba Filho, João sem terra. entrar em contato direto com os homens
de teatro do velho mundo.
...num espetáculo que tinha a direção de Era também o Teatro Duse, uma escola de
José Maria Monteiro, jovem que vinha arte dramática, não nos moldes acadêmicos
de uma experiência como ator, no elen- atuais, mas onde, através de palestras, ofi-
co de O filho pródigo, de Lúcio Cardozo, cinas e cursos, nomes de projeção nacional
apresentado pelo “Teatro Experimental e internacional marcaram presença como:
do Negro”, e, como diretor, no conjun- Jean-Louis Barrault, Vittorio Gassmann,
to “Os Quixotes”, onde foi o responsável Vincenzo Spinelli, Harry Cole, João Villa-
pela montagem de uma série de originais ret, Madeleine Renaud, Bibi Ferreira, Ma-
também de autores inéditos. Os cená- ria Paula, José Jansen, José Maria Monteiro,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 545


Ester Leão, B. de Paiva, Sálvio de Oliveira, Othon Bastos, B. de Paiva, Teresa Austregé-
Jorge Kossowsky e Nina Ranswsky, um cen- silo, Orlando Macedo, Nelson Mariani, en-
tro de irradiação intelectual e uma casa de tre outros.
recepção de estrangeiros ilustres. As atividades não eram resumidas somen-
Entre os 28 autores lançados no Teatro te às representações no palco. Através da
Duse, alguns podem ser citados: Raquel de PRA-2, Rádio Ministério da Educação, na
Queiroz, Antonio Callado, Francisco Perei- gestão do diretor Celso Brant, ia ao ar, todas
ra da Silva, Hermilo Borba Filho, Aristóte- as segundas-feiras, às 20:10, “Rádio Teatro
les Soares, Ivan Pedro Martins e José Paulo Duse”, sob a orientação de Armando Carlos
Moreira da Fonseca, Leone de Vasconcelos, Magno, um programa de leituras dramati-
Pedro Martins, Herolt Miranda, Edmundo zadas, de autores nacionais e estrangeiros,
Lys, Léo Vitor, Lúcio Fiúza. representadas por uma equipe de alunos do
Peças de autores brasileiros inéditos e de Duse com patrocínio da própria rádio.
autores estrangeiros, considerados não co- A última tentativa, em 1965, antes da rea-
merciais pelo teatro profissional, eram apre- bertura do Duse, foi fundar em Arcozelo, no
sentadas para um reduzido número de es- Estado do Rio, um centro de repouso para
pectadores, especialmente convidados, pois artistas de todas as artes: escritores, jorna-
não havia bilheteria. Do Largo da Glória listas, professores. Um colégio de arte no
partiam dois ônibus especialmente fretados, qual figuram escolas de teatro, dança, mú-
que apanhavam os atores, diretores, bem sica, artes plásticas. Nesse recanto de mon-
como os espectadores convidados, e os con- tanha, para não fugir à sua vocação, colocou
duziam até o n. 161, da Rua Hermenegildo dois teatros, um ao ar livre, todo de pedras e
de Barros, em Santa Teresa: o Teatro Duse. jardins, com capacidade para 1.200 pessoas,
Durante os intervalos das representações, e um fechado de 400 lugares.
eram feitas coletas destinadas a financiar a Em 1969, é reaberto, depois de uma re-
alimentação do grupo de alunos e atores que forma: “O Duse vai voltar. Já com bilhete-
pertenciam ao teatro. ria. Com bilhetes a preços mínimos”.243
O Duse fez nome e fez época. Durou O movimento deu frutos até 1971, quan-
quatro anos, de 1952 a 1956, suas atividades do Paschoal Carlos Magno realizou seu últi-
foram interrompidas por falta de recursos mo Festival Nacional de Teatro do Estudante
financeiros com uma apresentação do Auto na Aldeia de Arcozelo.
de Edmundo Lys sobre Joana D’Arc, em ho- Foi reinaugurado em 8 de agosto de
menagem a Gilberto Amado. 1973, pelo Ministro da Educação e Cultura
Durante os quatro anos de existência fi- Jarbas Passarinho. A cerimônia contou com
cou provado que apesar de pequeno, o Teatro a colaboração dos corais das Universidades
Duse era grande de espírito e entusiasmo. Gama Filho e UFF, e ainda a Orquestra de
Uma geração de talentos foi formada pelo Câmara da Casa do Estudante do Brasil.
Duse, encontramos nomes como: Myriam As reformas foram somente no primei-
Pérsia, Maria Pompeu, Ana Edler, Míriam ro andar, funcionando o Teatro Duse com
Carmem, Celme Silva, Beatriz Veiga, Lour- capacidade para 100 pessoas, uma sala de
des Costa, Consuelo Leandro, Rui Caval- música, exclusivamente para apresentações
canti, Gloria Cometh, Edson Silva, Jeci Ca- de autores brasileiros eruditos, uma galeria
margo, Moacyr Deriquém, Glauce Rocha, para jovens artistas plásticos e uma bibliote-
Lafayette Galvão, José Maria Monteiro, ca com 5.000 volumes.

546 Teatros do Rio


Teatro Duse. Corte, (S.E.)

Teatro Duse. Planta baixa, (S.E.)


Antes da reabertura do teatro, na praça do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio­
defronte que o governo da Guanabara de- nal. A compra da casa foi efetuada com re-
nominou de Glauce Rocha – a grande atriz cursos do Fundo Nacional de Desenvolvi-
que iniciou sua carreira no Teatro Duse – foi mento da Educação (FNDE), após autori-
inaugurado um pequeno e belo monumento zação da Ministra da Educação e Cultura,
à sua memória: um pássaro de bronze, de Professora Esther de Figueiredo Ferraz no
concepção do escultor Angelo Ktenes, que dia 1o de outubro.
foi descerrado pelo Ministro Jarbas Passari- O Inacen pretendia desta forma resgatar
nho, em honra à atriz. assim a memória de um espaço que tinha
Em 1973, Paschoal, desejava que o novo por finalidade promover autores nacionais
Duse não tivesse o mesmo fim das outras e manter a hospitalidade do antigo proprie-
tentativas. “Acabaram pelo desamparo que tário, dando alojamento eventual a grupos
a atividade cultural sofre do governo e dos que chegavam ao Rio para participar de
homens de dinheiro no Brasil.” 244 projetos como o Mambembão e o Ciclo de
Reabre a 9 de junho de 1975 com o grupo Dança, além de um plano de atividade para
Duse encenando Os cordeiros de Deus, de Silva o Teatro Duse.
Ferreira, com direção de Lauro Gomes. O desejo de Paschoal Carlos Magno, an-
Em abril de 1977, a casa foi vendida, con- tes de morrer, em 24 de março de 1980, aos
sumando o temor de seu proprietário que, 74 anos, era que sua casa ficasse sob os cui-
há vários anos, via aproximar-se a hora de dados do Inacen, frequentada por artistas de
ser obrigado a desfazer-se da própria resi- teatro, circo, ópera e dança.
dência para salvar a Aldeia de Arcozelo, uma Após a compra da casa de Paschoal, a meta
fazenda centenária construída por João Pi- do Inacen era recuperar a Aldeia de Arcoze-
nheiro, que era uma obra cultural, sem au- lo, que estava completamente abandonada e
xílio do governo. sem qualquer vida cultural, ao contrário do
Em outubro de 1976, Paschoal já havia que imaginara Paschoal.
tentado recursos junto ao Departamento Em 5 de julho de 1985, é novamente re-
de Cultura do Rio de Janeiro, da Embra- aberto com a montagem do Grupo Crisis,
tur e da Flumitur, mas suas tentativas fo- com o espetáculo No Brasil todo mundo é Pei-
ram em vão. Em 1975, já havia vendido seu xoto (ou Cunhado não é parente), uma adap-
acervo artístico, desfazendo-se inclusive de tação de seis contos de Nelson Rodrigues,
uma coleção de santos barrocos. Na mesma realizado por José Eudes, José Humberto e
época, iniciaram-se gestões para que o Ser- Paulo Val.
viço Nacional de Teatro (SNT) adquirisse a Depois permanece fechado durante 8
residência. A tentativa também fracassou; anos, quando Helena Varvaki, Fátima Saa-
não restou alternativa: vendê-la a uma em- di, Antonio Guedes e Otoniel Serra – que
presa particular. buscavam um espaço para pesquisa da lin-
Mas em 3 de outubro de 1984, o Institu- guagem cênica, livre dos meios acadêmicos
to Nacional de Artes Cênicas (Inacen), na – apresentaram, em março de 1991, uma
pessoa de Orlando Miranda, adquiriu a casa proposta ao então Instituto Brasileiro de
de Paschoal Carlos Magno, na presença do Arte e Cultura (IBAC), que já vinha estu-
Secretário da Cultura, Marcos Vinícios Vila- dando a possibilidade de redinamização do
ça; Orlando Miranda, presidente do Inacen; teatro. A ideia aprovada pelo IBAC permi-
Irapoan Cavalcanti de Lyra, Subsecretário tiu a ocupação do espaço.

548 Teatros do Rio


Sendo reinaugurado em 3 de abril de nada ao Departamento de Difusão Cultural
1991, tendo à frente do projeto Fátima Sa- da Secretaria de Educação. Depois foi para o
adi, Antonio Guedes, Helena Varvaki, Pris- João Caetano, em seguida para a Avenida Ve-
cilla Duarte e Ricardo Carlos Gomes, com nezuela e, em 1950 para o prédio da Rua 20
o projeto “Teatro Duse Volta à Cena”. Per- de Abril. Em 1952, a lei n. 751, que dispõe
manecendo depois somente Fátima Saadi e sobre o Festival do Rio de Janeiro, reorga-
Antonio Guedes à frente do projeto, com nizou a Escola de Teatro, transferindo-a do
uma série de atividades. Departamento Municipal e, subordinando-a
Em outubro de 1992, foi realizado o Pe- à direção deste último, como no tempo de
queno Festival do Teatro Duse, promovido sua fundação e, procurando homenagear o
pelo Projeto Teatro Duse volta à cena, em teatrólogo Martins Pena, modificou o nome
colaboração com o IBAC, em comemoração da Escola, que então passou a chamar-se Es-
aos 40 anos do Teatro Duse. cola Dramática Martins Pena.
É novamente fechado em 1993, e só volta Dando frente para a antiga Rua do Sena-
a suas atividades para o Festival de Inverno do, o casarão conservou as características
em 1998, abrigando uma mostra de teatro dos sobrados do início do século XIX, cuja
de bolso. fachada exibe um balcão com guarda-corpo
E para encerrar o Teatro Duse, lembro das de ferro em torno de três janelas emoldu-
palavras de Paschoal: “Cumpriu uma gran- radas de pedra de cantaria. Semelhante a
de e nobre missão: lançou autores inéditos, outros exemplares da arquitetura colonial
atores, cenógrafos, figurinistas”.245 urbana, o sobrado da Escola de Teatro, cons-
truído em torno de 1835, distingue-se de
inúmeras construções do mesmo tempo, si-
1957 tuadas no bairro. Em 1936, decreto sancio-
Teatro Luís Peixoto (Escola de nado pelo Prefeito Pedro Ernesto conside-
Teatro Martins Pena) rou a casa monumento da Cidade do Rio de
Janeiro e, em 1937, o recém-criado Serviço
A Escola Dramática Martins Pena é mantida do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-
pelo Governo Estadual e surgiu em 1911, nal, protegeu o sobrado, incorporando-o ao
na administração do Prefeito General Ben- seu cadastro de bens tombados.
to Ribeiro. Em julho do mesmo ano a Es- A escola, instalada em 1950, veio ocupar
cola de Teatro iniciou suas atividades como um prédio histórico, o Solar Barão do Rio
um dos órgãos do Theatro Municipal, sob o Branco, à Rua Vinte de Abril, n. 14, no Cen-
nome de Escola Dramática Municipal, com tro do Rio.
direção do escritor Coelho Neto. No primeiro andar da casa, onde está o
Em 1914, desligou-se do Theatro Mu- busto de Martins Pena, há um salão de ex-
nicipal e passou a fazer parte da Diretoria posições. No segundo, encontra-se a Sala
Geral de Instituição Pública. Em 1935, foi Coelho Neto com obras de Orlando Teruz.
para o Instituto de Educação, depois para a No terceiro pavimento estão salas de aulas.
Rua Gomes Freire, desligando-se da Dire- A biblioteca com 2.500 obras está localizada
toria Geral em 1939, por força do Decreto- em um prédio anexo e no mesmo conjunto,
-Lei 1.063. Daí até março de 1940, surgiu a secretaria e a sala da direção da Escola de
com o nome de Escola de Teatro e Cinema, Teatro Martins Pena, que possui duas salas
na gestão de Matheus da Fontoura, subordi- de espetáculos: o Teatro Luiz Peixoto, com

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 549


110 lugares, 74 plateia e 36 no balcão. Foi Universidade Federal do Rio de Janeiro, na
inaugurado em 14 de dezembro de 1957, na Avenida Pasteur, Urca, o Teatro de Arena.
gestão de Luiz Peixoto, (de 1954 a 1967), A construção desse espaço cênico foi uma
época em que a instituição chamava-se Es- iniciativa do diretório acadêmico da Uni-
cola Dramática Martins Pena, pelo então versidade e do diretor, professor Raymun-
Prefeito Negrão de Lima, com o espetáculo do Barbosa Carvalho, e que contou em sua
Quebranto, de Coelho Neto, estando presen- inauguração com a presença do Presidente
tes à solenidade Viriato Corrêa, Raimundo da República.
Magalhães Júnior, Olegário Mariano e os
atores Sérgio Cardoso e Nídia Lícia. Passou
a chamar-se Teatro Luiz Peixoto em 1969, 1960
na gestão de Carlos Lemos. Teatro da União das Operárias
A outra sala, o Teatro Armando Costa, de Jesus (Teatro Jovem)
um espaço para encenações livres, teve sua
construção iniciada em 1981, na gestão do No início de 1960 era inaugurado o Teatro
Diretor José Wilker, sendo concluída em 5 da União das Operárias de Jesus, localizado
de novembro de 1986, na administração de na Praia de Botafogo n. 524, em frente ao
Sérgio Sanz, com a colaboração da Associa- antigo Mourisco com o Grupo Studio 53,
ção de Amigos da Escola de Teatro Martins integrado por Rosamaria Murtinho, Telcy
Pena e outros. Perez e Carlos Murtinho. A peça de Maria
Passaram pela Escola: Procópio Ferreira, Inez Barros de Almeida, Exposição 1935,
Sadi Cabral, Ambrósio Fregolente, Orlando tinha no elenco Adila Araújo, Ana Maria
Miranda,Tereza Rachel, Joana Fomm, Denise Magnus, Camila Amado, Ivone Vieira, Leila
Fraga, Iremar Brito, Loly Nunes, Angela Ma- Jorge, Maria Esmeralda, Virgínia Coutinho,
terno, Vladimir José Benício e muitos outros. Virgínia Valli, Emílio Vardi, João da Silva Ra-
O edifício compreende salas destina- mos e Roberto Montenegro. A casa possuía
das às atividades da Escola de Teatro, com capacidade para 200 espectadores, um palco
montagens semestrais realizadas por pro- com 7 m de largura de boca de cena por 10 m
fessores e pelos alunos da Escola. Eventu- de profundidade, 3 camarins, cabine de luz
almente profissionais (cenógrafos e figuri- e som.
nistas) participam dos espetáculos, como Em agosto de 1966, o teatro, então já de-
convidados, para que os alunos tenham nominado Teatro Jovem foi invadido e inter-
noção do processo de trabalho do diretor ditado por três agentes do Dops e por um
com sua equipe de criação, importante choque da Polícia Militar, suspendendo um
para formação do alunado. debate público sobre o teatrólogo alemão
Bertold Brecht, que era organizado pelo es-
critor Helio Silva, Diretor da Editora Civili-
1959 zação Brasileira, promotora da reunião den-
Teatro de Arena da UFRJ tro da série “Encontro da Civilização” que
contava com a presença de Flávio Rangel,
Em 24 de agosto de 1959 era inaugurado Paulo Francis, Paulo Afonso Grisolli e Luis
nos jardins internos da antiga Faculdade Carlos Maciel.
Nacional de Arquitetura da Universidade Hélio Silva procurou então uma razão le-
do Brasil, hoje Escola de Comunicação da gal para a inesperada ação dos policiais, sem

550 Teatros do Rio


encontrá-la, limitou-se a ouvir uma explica- 5 anos na Secretaria de Administração,
ção de um dos agentes do Dops:Viemos aqui que nunca se dispôs a dar uma solução
para prender o comunista Brecht.246 para o caso.248
Após reunião do Secretário de Segurança
Pública do Estado da Guanabara, General Mas para todos que lá estavam a interdi-
Dario Coelho, Helio Silva, três Generais e ção era uma medida violenta e terrorista.
o Diretor do Dops, foi então liberado o de- O ator Carlos Vereza, um dos integrantes do
bate público. E Helio Silva cordialmente fez elenco afirmava:
um convite em tom de desafio:
O Governo declarou guerra à cultura no
Convido qualquer um dos senhores para país. A interdição do Teatro Jovem, reves-
comparecer aos debates, na próxima se- tida de um aspecto pseudamente legal,
gunda-feira, em companhia de quem os encobre uma atitude nitidamente fascista
senhores quiserem. Se sentarão ao meu contra o teatro em geral.249
lado. Se o debate for desvirtuado, podem
me prender na hora.247 O Diretor Kleber Santos afirmava que
o problema do Alvará seria tratado legal-
Depois de uma longa pausa e sob a ad- mente, porém não aceitava as exigências
ministração de Kleber Santos, em junho de da Secretaria de Segurança que pedia que
1967 o Teatro Jovem sofreu importantes re- o teatro fosse dotado de cortina metálica e
formas em sua sala e no palco, executadas boa acústica.
com a ajuda da Secretaria de Turismo.
Simultaneamente foram sendo iniciados os ...porque, neste caso, somente o Munici-
ensaios de Álbum de família, a terceira peça pal e o Maison de France, poderiam fun-
de Nelson Rodrigues, proibida em 1945, e só cionar. Apegaram-se num ponto de vista
em 1967 liberada para montagem. burocrático para fechar o Teatro Jovem e
No ano seguinte, em 25 de março, du- farão isso com quase todas as casas de es-
rante o ensaio aberto de Barrela, de Plínio petáculos.250
Marcos, dirigido por Luis Carlos Maciel, o
Serviço de Censura Federal, proibia sua lei- O teatro ficou fechado por mais de dez
tura e apresentação. anos, sendo reaberto ao público em outu-
Em 23 de julho do mesmo ano foi inter- bro de 1982. Inicialmente apenas aos sá-
ditado e lacrado pelo Serviço de Fiscaliza- bados e domingos, com peças infantis nos
ção da Secretaria de Justiça do Estado, no horários das 10, 16 e 17 horas. Sendo que
momento antes da estreia da peça Trágico no dia 22 do mesmo mês estreava O homem
acidente destronou Teresa, de José Wilker, a do princípio ao fim, de Millôr Fernandes,
alegação foi de que a documentação de fun- pelo Grupo Gama.
cionamento estava incompleta. Já com novo nome, Teatro Imperial, era
Kleber Santos explicou que: então ocupado pela Sociedade de Espetá-
culos Infantis (SEI), que havia firmado con-
...Realmente o Teatro Jovem não possui vênio com a Escola Maria José Imperial. O
ainda o Alvará de funcionamento, ape- Diretor do SEI, Nobel Medeiros, que era
sar da casa existir há 8 anos. O proces- professor de Educação Artística da escola,
so para obtenção do Alvará se arrasta há formou grupos com os alunos, e aproveitou

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 551


o espaço do teatro, oferecendo cursos para A plateia e o balcão são de excelente
a comunidade. visibilidade, porém já não se pode falar
Esta casa de espetáculos nunca mais re- o mesmo do palco, que não possui boas
tomou suas atividades profissionais, perma- coxias, nem urdimento, faltando equipa-
necendo o espaço para uso do educandário mento cênico e ar-condicionado. Talvez
José Maria Imperial. por esses problemas, não tenham passado
por este espaço companhias profissionais,
tampouco grupos amadores ou experi-
1964 mentais. Ficou sendo um monumento de
Teatro Pedro II uso exclusivo do Colégio Pedro II para as
suas cerimônias.
Há no Colégio Pedro II, no Campo de São Com capacidade para mais de mil espec-
Cristóvão, um teatro que, apesar de poucos tadores, muito poderia ter contribuído para
recursos técnicos, possui boa acústica e uma incrementar à população daquele bairro e
excelente plateia; além de possuir acesso di- adjacências o gosto pelo teatro.
reto à rua, sem necessidade de passar pela
parte interna do colégio. Teatro Colégio Pedro II. Planta baixa, (S.E.)

552 Teatros do Rio


1966 como conferencista, marcou época em de-
Teatros do Conservatório bates públicos e participação de alunos nas
Nacional de Teatro (Unirio) temporadas francesas do Theatro Municipal.
Atores, mestres de balé e cantores apresen-
A implantação do ensino de arte dramática taram-se para os alunos, comunicando-lhes
no Brasil data da criação da Escola Dramá- vivências importantes na arte de represen-
tica Municipal, de que foi Diretor Coelho tar: Jean-Louis Barrault, Serge Lifar, João
Neto. Mas só em 1939, Abadie de Faria Rosa Villaret, Catherine Dunham, Juliette Greco
conseguiu criar o Serviço Nacional de Tea- e Marcel Marceau.
tro e, nele, o Curso Prático de Teatro, curso Santa Rosa organizou a 1a Mostra de Ce-
livre, sem estrutura curricular definida. De nografia, surpreendendo com os resultados
instalação precária, numa sala do corredor didáticos de alto nível técnico e criativo.
do Teatro Ginástico, na Avenida Graça Ara- Vera Janacópulos, na época a maior canto-
nha, sobrevivia graças à esperança e luta de ra de câmara do Brasil, vinda da Europa em
Lucília Peres, Chaves Florence, Otávio Ran- plena guerra, ministrou aulas de dicção, de-
gel, Guizelda Lazzaro Shelleder, Eros Volú- pois sucedida por sua aluna Lília Nunes.
sia, todos dirigidos por Benjamim Francklin A ideia de se transformar o curso em um
de Araújo Lima; com uma organização de Conservatório Nacional de Teatro ganhou
caráter experimental, propunha a renovação realidade a partir de fevereiro de 1953:
dos quadros cênicos. No seu primeiro ano muitos vieram juntar-se à tarefa de elevar o
de vida matricularam-se 152 alunos, prove- nível da formação dos intérpretes cênicos:
nientes dos inúmeros grupos amadores, ce- Joaquim Ribeiro, Edmundo Muniz, Olavo
leiros de novos talentos. de Barros, Guilherme Figueiredo, Bandeira
Com o falecimento de Chaves Florence Duarte, Maria Clara Machado, Sadi Cabral,
e a ida de Otávio Rangel para dirigir a co- Luísa Barreto Leite, Jaime Burchtein, Lopes
média brasileira, Lucília Peres ficou sozinha. Gonçalves, Daniel Rocha, Maria Vanderley
Mesmo assim, em seus 5 anos de funciona- Menezes, Adauto Filho, Lopes Gonçalves,
mento conseguiu encenar com os alunos, José Lewgoy, José Jansen, Emmanuel Has-
no palco do Teatro Ginástico um repertório selmann, Sofia Magno de Carvalho.
em que destacavam Machado de Assis, Artur O Conservatório sai das instalações da
Azevedo, Cláudio de Souza e outros autores ABI em 1955, localizando-se, precaria-
mais complexos. mente, em um prédio do IAPC, na Avenida
Em 1949, Thiers Martins Moreira, en- Presidente Vargas. Graças à interferência
tão Diretor do Serviço Nacional de Teatro do Deputado Barreto Pinto, conseguiu-se
(SNT), conseguiu melhorias consideráveis, uma casa na Avenida Oswaldo Cruz, 151,
localizando o curso no 3o andar da Associa- no Flamengo, para onde se mudou, sem-
ção Brasileira de Imprensa (ABI), onde ga- pre vinculado ao SNT, sem palco, com o
nhou salas de aulas e um auditório. Já re- barulho do tráfego intenso, recebe cons-
gulamentado, abrangia dois anos de ensino, tantes reclamações da vizinhança, com or-
depois passando para três, com exigência de çamentos exíguos, foi mais um teste para a
instrução secundária para admissão. Aldo resistência de seus idealizadores. A direção
Calvet é uma força dinamizadora desta fase. nesse período esteve a cargo dos profes-
A presença de personalidade como Michel sores Moreira de Souza, Bandeira Duarte
Simon entre os professores e Albert Camus, e Santa Rosa. Os planos de anexação do

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 553


Conservatório à Universidade do Brasil porém sem recursos técnicos: Sala Glauce
nunca se concretizaram. Rocha, com capacidade para 73 espectado-
Em um antigo prédio da Praia do Fla- res, e ainda o Auditório Villa-Lobos, com
mengo n. 132, havia funcionado o Clube lotação de 80 lugares.
Germânico, e que durante a segunda guer- Com a aprovação da lei n. 4.641, os cur-
ra mundial passou para o governo federal. sos de Direção, Cenografia e Professorado
Anos mais tarde acolheu a União Nacional de Artes Dramáticas, aprovados pelo Con-
dos Estudantes (UNE), como sede, e que selho Federal de Educação, passaram para
durante o golpe militar, foi incendiado, e nível universitário, provocando uma diver-
parcialmente destruído. sidade de nível, pois o curso de ator, o mais
Em 1964, Barbara Heliodora Carneiro de procurado, continuava em nível médio e
Mendonça, então diretora do Serviço Na- sem reconhecimento oficial.
cional de Teatro, pede ao governo que lhe Em 1969, com o nome de Escola de Tea­
transfira a posse do prédio, onde estava o tro da Federação das Escolas Federais Iso-
teatro da UNE. Sendo lá instalado o Conser- ladas do Estado da Guanabara (FEFIERG),
vatório Nacional de Teatro, e que conservou mais tarde, FEFIERJ, com a fusão em 1975
o famoso teatro, conhecido como “Palcão”, do Estado da Guanabara com o Estado do
ex-Teatro do CPC com todas as queimadu- Rio de Janeiro, desvinculou-se do SNT,
ras da época da ditadura militar. Sendo cons- assumindo, definitivamente, estatuto uni-
truído um palco com projeto de Anísio Me- versitário, graças ao esforço do Professor
deiros, era sem dúvida um espaço mágico e Alberto Soares Meireles, primeiro presi-
deslumbrante, com lotação de 150 lugares. dente da Federação e seu criador.
Seu primeiro diretor foi o Professor José
Recuperado do incêndio que o destruiu Maria B. de Paiva, seguido, em 1973, pelo
quando pertencia à UNE, o Teatro do Con- Professor Pernambuco de Oliveira. Fizeram-
servatório – agora anexado ao Conservató- -se melhorias no prédio e os trabalhos didáti-
rio Nacional de Teatro – está encenando o cos ganharam impulso. A partir de 1974, ain-
Auto da alma, em comemoração ao quinto da sob a direção de Pernambuco de Oliveira,
centenário de nascimento de Gil Vicente... que se tornou Decano do Centro de Letras e
Uma coisa que chama a atenção no Tea- Artes (CLA) em 1975, a Escola de Teatro pas-
tro do Conservatório, é o aspecto verdadei- sa a oferecer quatro habilitações: Cenografia,
ramente fantasmagórico da sala e do palco, Direção, Interpretação e Teoria do Teatro.
ainda sob os efeitos do incêndio. Como a No dia 13 de março de 1980, o Centro
verba não chegou para a pintura, as paredes de Letras e Artes foi transferido para o pré-
e o teto estão, ainda, chamuscados, dando dio do Instituto de Saúde Mental, antiga
ao ambiente uma visão impressionante. Ne- Casa de Juliano Moreira, situada à Avenida
nhum artista idealizaria, em preto e branco, Pasteur, n. 296. Ali ficou provisoriamente
decoração tão original – e autêntica. instalado até o final daquele ano letivo. No
Por isso mesmo seria aconselhável que período de férias (janeiro e fevereiro) os
permanecesse como está, pois a opinião pertences do CLA foram levados para a
geral é de aprovação.251 Avenida Pasteur, 436, fundos, sede da anti-
ga Escola de Química, endereço que ocupa
Existia também no prédio um pequeno atualmente. Em 13 de março de 1981 são
teatro, projeto de Pernambuco de Oliveira, inauguradas as novas instalações.

554 Teatros do Rio


Teatro da UNE. Planta baixa, (S.E.) põe de acomodações próprias a uma sala
de espetáculo.
O Palcão da Escola de Teatro da Unirio As provas dos alunos que aí acontecem,
foi improvisado em um antigo laboratório por falta de aparato técnico, às vezes sofrem
de Química. Tendo que se manter as ca- alterações para adaptar-se às condições pre-
racterísticas externas do prédio construí- cárias, que em geral prejudicam a realização
do em 1908, foram feitas alterações inter- das montagens.
nas, tais como: um hall com dois banheiros Em 1993, preocupado com a situação, o
para o público, uma pequena plateia e um Reitor Dr. Sérgio Luiz Magarão, pediu ao
acanhado palco, sem urdimento ou coxias, Professor José Dias, chefe do Departamen-
recebendo de um dos lados, pequenos ca- to de Cenografia do CLA, que projetasse a
marins. Os banheiros dos alunos ficam, reforma e a ampliação do Palcão. O pro-
porém, dividindo a parede com a plateia. jeto foi elaborado, mas sua realização foi
Esse espaço, apesar de jeitoso, não possui inviabilizada por falta de condições finan-
recursos técnicos para movimentação e ceiras. Para remediar a situação, a Reitoria
mutação de cenários. A plateia, apesar de liberou uma verba reduzida, que permitiu
ter sido construída em concreto, com an- melhorias na acomodação do público, mas
gulação para uma boa visibilidade, não dis- que mantém as mesmas deficiências de re-

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 555


cursos técnicos e de modo algum realiza as O primeiro passo foi unir os dois gran-
profundas alterações propostas. Foi apenas des galpões, onde estão localizados o Palcão
possível troca de piso do palco, com co- e a Sala Villa-Lobos. Dessa união surgiu um
locação de quarteladas; instalação de ar- grande teatro italiano com coxias com mais
-condicionado, pintura geral, forração com de 5 m de largura cada, um palco com 10 m
carpete e colocação de poltronas estofadas de profundidade, sendo só o proscênio de
na plateia. 2,7 m, com um fosso de orquestra, boca de
O projeto foi elaborado a partir de es- cena de 9 m de largura por 5 m de altura.
tudos com o Professor Anísio Medeiros, Duas varandas, nas laterais da caixa, uma
buscando atender às ansiedades dos alu- manobra manual e outra de lastro, auxiliam
nos e professores da Escola de Teatro e as operações manuais e contrapesadas, res-
manter as características arquitetônicas
do prédio. Centro de Letras e de Artes da Unirio

556 Teatros do Rio


pectivamente, durante as montagens e apre- sões correspondem ao espaço do atual teatro.
sentações de espetáculos. Duas passarelas ao Ao lado, ainda no 1o piso, foi projetado um
fundo do palco fazem a ligação das varandas. outro teatro de 75 lugares, destinado à Escola
Por impossibilidade de se alterar a es- de Música, no lugar da atual Sala Villa-Lobos,
trutura arquitetônica, os camarins, passam com um palco de 7 m de boca de cena, com
a ficar localizados no porão, assim como os 3,8 m de altura e 7,5 m de profundidade,
banheiros, todos no alinhamento das coxias, duas salas laterais, com painéis de correr para
deixando toda a área que corresponde ao guarda-piano. Este teatro terá entrada inde-
palco, para as mutações ou outras necessida- pendente através de duas amplas portas, com
des de uso do porão, que está a 4 m do nível rampas para portadores de deficiência física,
do palco. Os camarins seriam: um grande, além do foyer e dos banheiros para o públi-
para dez atores ou mais, com banheiro, e co. Através de uma porta ao fundo do palco,
dois menores com capacidade para quatro faz-se a ligação deste espaço com o porão do
atores em cada, com dois banheiros. grande teatro, servindo os camarins às duas
A ligação com os camarins é feita através salas de espetáculo.
de duas escadas situadas, logo após a boca Trata-se de um projeto de teatro de palco
de cena. Uma escada, tipo “marinheiro”, italiano, adequado às necessidades de uma
nas laterais da caixa, liga ao porão, ao urdi- Escola de Teatro, de modo a permitir a ex-
mento, atravessando todo o palco e passan- ploração de todas as possibilidades de recur-
do pelas varandas. sos técnicos. É bom lembrar que o respeito
A plateia, com inclinação bem acentuada às características arquitetônicas do prédio
e localizada no 2o piso, com 305 lugares, é impuseram uma série de limitações que não
projetada toda em ângulo, permitindo uma chegaram a comprometer o estudo e seu re-
linha de visibilidade de qualquer ponto, sultado. Infelizmente, não pôde ser executa-
sendo a circulação feita através de quatro do por falta de verba.
corredores laterais, deixando livre o centro A Escola de Teatro do Centro de Letras e
para os assentos. O acesso pode ser feito por Artes possui ainda mais três salas: A Glauce
escadas, através do foyer, ou por rampas nas Rocha, mais conhecida como Sala Cinza,
duas laterais à boca de cena, servindo tam- que é uma sala ampla de forma retangu-
bém aos paraplégicos. lar, 24 m por 12 m, completamente livre,
Duas portas na altura das varandas late- sem ar-condicionado, com dois camarins,
rais de manobras permitem a ligação desta banheiros; possui cabine de luz e som. Aí
com 6 salas de aula, que, situadas sobre a são montados espetáculos dos mais dife-
laje da plateia dos teatros, podem ser uti- rentes estilos cênicos com arquibancadas
lizadas para aulas de música, ensaios etc. móveis. Não possui urdimento, e sua pla-
O acesso a estas salas é feito por um passa- teia é formada através de arquibancadas,
diço que liga o prédio do teatro ao 2o pa- que são dispostas conforme as encenações,
vimento do Bloco III, edifício principal da sua capacidade é de 200 pessoas. Existem
Escola de Teatro. A cabine de luz e som, ainda as salas Esther Leão e Lucília Peres: a
com 18 m2 e um imenso visor, permite aos Sala Lucília Peres com capacidade para 70
operadores uma visão total do palco. pessoas, não tem ar-condicionado, com 3
No 1o piso permanecem localizados: o camarins, e cabine de luz e som, sendo o
foyer, os sanitários para o público, e, abaixo palco pequeno, utilizado mais para cenas,
da plateia, um grande depósito, cujas dimen- e como sala para aulas; a Sala Esther Leão

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 557


também com palco de proporções redu- 1967
zidas e sem recursos técnicos, apesar de Teatro Lemos Cunha (Ilha do
possuir cabine de luz e som; tem capaci- Governador)
dade para aproximadamente 65 pessoas, é
um teatro também utilizado para cenas, e O Teatro Lemos Cunha, localizado na Es-
como sala para aulas, que dispõem de um trada do Galeão, Ilha do Governador, per-
palquinho, com ciclorama, camarins, cabi- tence à Companhia Nacional da Escola da
ne de luz e som, sem ar-condicionado e Comunidade (CNEC), possui uma plateia
capacidade para 80 pessoas em cada sala. bem inclinada com capacidade para 700
Todos esses quatro espaços são utilizados espectadores, e seu palco mede 9 m de
somente pelos alunos da Escola de Teatro. largura por 9 m de comprimento, com 3
O prédio da Praia do Flamengo foi total- ca­­marins que ficam no porão. Não possui
mente demolido em 1980, e até 1994 fun- ar-condicionado, suas cadeiras são de ma-
cionou como estacionamento, quando então deira, e urdimento com manobras manuais.
o Presidente da República, Itamar Franco, Seu “foyer” é pequeno, com uma bombon-
devolveu-o aos seus antigos usuários: UNE.
Hoje é um imenso estacionamento. Teatro Lemos Cunha. Corte, (S.E.)

558 Teatros do Rio


Teatro Lemos Cunha. Planta baixa, (S.E.) do em 15 de julho de 1969, com o espetácu-
lo Vidrado, de E. Canazoni, com direção de
nière à direita de quem entra e banheiros Renato Pupo. No elenco: João Damasceno,
masculino e feminino. Foi inaugurado em Luiz Fernando, Leila Santos, Marília Amo-
19 de agosto de 1967, sendo o presidente rim e Rose Marie. Eram administradores
do Conselho Nacional Consultivo Senador Flávio Cerqueira e Renato Pupo.
Paulo Sarasate. Uma sala bem pequena com capacidade
É um teatro que atende as atividades do para 178 espectadores com poltronas es-
Colégio Capitão Lemos Cunha, porém pou- tofadas, palco bem reduzido, sem coxias,
co usado por companhias profissionais, pos- sem urdimento, com camarins, com cabi-
sui estacionamento, acesso ao teatro inde- ne de luz e som.
pendente do colégio, e condições técnicas Depois de permanecer fechado durante
razoáveis para espetáculos, apesar de não muitos anos foi reformado, recebendo nova
possuir coxias. pintura, colocação de tapetes, ar-condicio-
Sua exploração comercial pouco interessa nado, camarins mais adequados e o palco
aos dirigentes do CNEC, talvez por isso não recebeu um ligeiro aumento e o equipa-
tenha uma programação anual, ficando mais mento de luz foi renovado. E em dezembro
em função dos eventos culturais da institui- de 1983 foi cedido à atriz e diretora Camila
ção e recebendo esporadicamente espetácu- Amado por um ano.
los teatrais. Em março de 1984 foi reinaugurado
com o nome Teatro da Cidade, tendo como
espetáculo de estreia a peça O banquete, de
1969 Mário de Andrade, adaptada e dirigida por
Teatro das Artes Camila Amado. No elenco: Stepan Nerces-
sian, Otávio Augusto, Martim Francisco,
O Teatro das Artes, localizado à Avenida Epi- Jacqueline Laurence e Thais Portinho. Mú-
tácio Pessoa n. 1664, na Lagoa, foi inaugura- sica de Francis Hime.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 559


Teatro da Cidade (Ex- Das Artes). Planta baixa, (S.E.)

Teatro da Cidade (Ex- Das Artes). Corte, (S.E.)


Por mais de 5 anos fica fechado, e em 1970
1997 com projeto de José Dias é reforma- Teatro da Amizade
do, com pintura geral, colocação de tapetes, (Teatro Iracema de Alencar –­
sendo todo o palco modificado, e ampliado Jacarepaguá)
em suas dimensões com construção de um
pequeno urdimento, e colocação de vesti- O ator Leopoldo Fróes, nascido em família
mentas de palco. Foi reaberto em maio de de alto poder aquisitivo e sendo bacharel em
1997 com o espetáculo A vida como ela era, direito, não descansou enquanto não abriu
sobre textos de Artur Azevedo, com dire- uma casa para retirar os colegas das penú-
ção de André Paes Leme e elenco formado rias provenientes da recessão provocada pela
por atores do curso dirigido pela atriz Íttala Primeira Guerra Mundial. Alguns artistas fi-
Nandi, da Faculdade da Cidade, prédio onde cavam à espera do fim dos espetáculos para
o teatro está localizado. conseguir de outros atores os mil réis neces-
Atualmente, as atividades do Curso de sários para a subsistência.
Artes Cênicas da Faculdade da Cidade ocu-
pam basicamente toda a programação do Tea­
tro da Cidade. Teatro Iracema de Alencar. Corte, (S.E.)

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 561


Teatro Iracema de Alencar. Planta baixa, (S.E.)
1970
Teatro Senac Copacabana
O Teatro Iracema de Alencar está locali-
zado no Retiro dos Artistas, com seus 200 O Teatro Senac – Copacabana era localizado
lugares, construído com carinho, tijolo a no subsolo do prédio, situado na Rua Pom-
tijolo, tendo sido inaugurado em setembro peu Loureiro n. 45, sede do Serviço Nacional
de 1970, pela Companhia de Vanda Lacer- de Aprendizagem Comercial, administração
da, com o monólogo A vinda do Messias, de regional do Estado da Guanabara.
Timochenko Weby. A segunda companhia a Sob a responsabilidade do ator Sérgio
se apresentar nesse espaço foi a do ator Nick Britto foi inaugurado em outubro de 1970,
Nicola com a peça Virgem até certo ponto. com a peça Fim de jogo, de Samuel Becket,
Sua primeira denominação foi Teatro da e simultaneamente foram oferecidas pales-
Amizade, mas o nome foi mudado em 1972, tras de profissionais para prestarem seus de-
em homenagem à atriz Iracema de Alencar. poimentos, sobre suas respectivas atuações
O palco tem boas dimensões, perfeito naquele momento teatral, organizados por
para espetáculos de pequeno porte, conta Rubem Rocha Filho.
com apoio de coxias e urdimento. Possui O teatro com palco, sem coxias, sem urdi-
ainda entrada para cenários e camarins para mento, com dois camarins nas laterais, pos-
os atores. Sua capacidade é de 200 lugares. suía 4,9 m de altura de boca de cena, com
Em 1998, passa por mais uma reforma, 9,37 m de largura com 4,7 m de profundida-
como também o casarão sede. de. Sua capacidade era para 169 espectadores

562 Teatros do Rio


Teatro Senac Copacabana. Planta baixa, (S.E.) Depois de permanecer um longo tempo
fechado é reinaugurado, sob a direção de
com poltronas estofadas, cabine de luz e som, Cláudio Cavalcanti, com a peça Disque M
e hall com banheiros para o público. para matar, de Frederick Knott, com tradu-
Na década de 1970/80, a direção do ção e adaptação de Domingos de Oliveira,
teatro esteve nas mãos de Rosamaria Mur- cenografia de José Dias, figurinos de Kal-
tinho, que montou um repertório voltado ma Murtinho e no elenco o próprio Cláu-
para a discussão da realidade brasileira, ten- dio Cavalcanti, Maria Lúcia Frota, Roberto
do começado com Aracelli, de Marcílio Mo- Pirillo, Rogério Fróes e Marcos Waimberg.
raes; Sérgio Brito, que encenou: A noite dos Em seguida a mesma companhia monta Es-
campeões, Huis Clos, Os filhos de Kennedy, Os tou amando loucamente (Key Exchange), de
efeitos do Raio Gama, O marido vai à caça e fim Kewin Wade, tradução de Antonio Mercado,
de jogo. Em 1984 é reinaugurado, com su- direção de Cláudio Cavalcanti, cenografia e
pervisão de Chico Ozanam e Márcio Cola- figurinos de José Dias, com Cláudio Caval-
ferro, com a peça Brincando em cima daquilo, canti, Maria Lúcia Frota e Gracindo Júnior.
de Dario Fó e Franca Rame, com direção de Sob a responsabilidade da Canti Produ-
Roberto Vignati. ções Artísticas Ltda, empresa de Cláudio

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 563


Cavalcanti, outras montagens vieram como prédio no Largo da Carioca, sendo trans-
em 1986, Uma transa muito louca, de Bill Ma- ferido em 21 de agosto de 1959 para um
nhoff, com tradução e direção de Geraldo edifício construído à Rua Frederico Silva
Queiroz, cenografia de José Dias e figurinos 86, na Praça Onze.
de Kalma Murtinho. Em 1987, foi a vez de Quando ficava no Largo da Carioca, o Te-
Obrigado pelo amor de vocês, de Edgar Neville, atrinho do Liceu ficava no último andar da
com direção de Antonio Mercado, cenogra- parte que dá para a Rua Almirante Barroso.
fia de José Dias e figurinos de Kalma Murti- Ali durante muito tempo, Ernesto Francis-
nho, e elenco composto por Cláudio Caval- coni comandava grupos encenando peças
canti, Maria Lúcia Frota e Gracindo Júnior. de autores nacionais, quase sempre inéditos
Durante o final da década de 1980 sua e desconhecidos.
programação foi intensa, com apresentações O Teatro do Liceu foi inaugurado em 14
de peças teatrais para adultos, infantil, shows de setembro de 1971, apresentando O jogo
e também um curso livre de artes cênicas. do amor, de Shakespeare, com cenas de três
Foi fechado no início da década de 1990, peças do autor: Romeu e Julieta, Ricardo III e
encerrando assim suas atividades. A megera domada, encadeadas, didaticamente
por texto. Adaptação de Vera Salin de Oli-
veira, e direção de Francisco Fernandes.
1971 A partir de 5 de outubro de 1982, a So-
Teatro do Liceu ciedade Propagadora de Belas Artes, em co-
laboração com Inacen, entrega ao público o
O Liceu de Artes e Ofícios, que pertence que anteriormente era um modesto auditó-
à Sociedade Propagadora de Belas Artes,
funcionou durante muitos anos em um Teatro do Liceu de Artes e Ofícios

Arquivo Cedoc / Funarte

564 Teatros do Rio


rio usado para solenidades e apresentações légio, na Rua Francisco Otaviano n. 131,
de alunos do Liceu de Artes e Ofícios, o Ipanema, com toda uma tradição de teatro
novo espaço reformado, com 660 lugares, infantil, tendo sido inaugurado em 1972
incluindo obras de piso do palco e instala- com O rapto das cebolinhas, de Maria Clara
ções completas no quadro de iluminação. Machado, e permanecido durante anos com
uma atividade extracurricular e vinculada
Desde 1978, o Inacem vem mantendo ao Colégio Isa Prates, apenas como entida-
contatos com o Liceu de Artes e Ofícios, de mantenedora.
para tratar da reforma do teatro. Há mui- O teatro de 150 lugares se destina espe-
to desativado. Até a inauguração foram cificamente às montagens de peças infantis
gastos quatro milhões, divididos entre o realizadas pela instituição, não recebendo
Liceu e o Inacen. produções externas. Não possui poltronas
Segundo Gersilga de Almeida, coorde- fixas, nem recursos técnicos, trata-se de um
nadora do Liceu, o teatro que foi projeta- grande salão com ar-condicionado, que re-
do por Fernando Pamplona na década de cebeu em 1981 um sistema de iluminação,
1950, mantém a mesma estrutura arqui- projetado por Jorginho de Carvalho.
tetônica do palco italiano. Toda parte de
iluminação foi trocada, recebendo 72 no-
vos spots, e um quadro de luz completo. 1972
O piso do palco foi reformado, as poltro- Teatro do Clube de
nas ganharam novo revestimento e todas Engenharia
as dependências do teatro, que incluem 12
camarins, sala de figurinos e cenários, toi- O Clube de Engenharia possuía um audi-
lette e hall, foram pintados.252 tório, situado no 25° pavimento do Edifí-
cio Edison Passos, na Avenida Rio Branco,
A programação prioritária atendia à po- e que foi em 1972 reformado e dotado de
lítica difundida pelo Serviço Brasileiro de recursos cênicos, um grande palco, cama-
Dança, cuja intenção era abrir novos teatros rins e sistema de iluminação e som. As 503
para apresentação de espetáculos de dança, poltronas foram reformadas, o teto modi-
criando condições de trabalho para o artista ficado segundo exigências de acústica, um
e, para o público, a possibilidade de assisti- bar, duas chapelarias, cabine para proje-
rem a bons espetáculos. ção de filmes e um sistema de alçapão que
O Teatro do Liceu não tem como ativi- oculta a mesa de conferências, cadeiras e
dade a apresentação de espetáculos teatrais, tribuna, reconstituindo-se o tablado do
eventualmente são encenadas peças por palco para espetáculos.
grupos amadores ou grupos formados por O novo Teatro do Clube de Engenharia
alunos do próprio Liceu de Artes e Ofícios. foi apresentado em 29 de maio de 1972 aos
associados, à crítica especializada, imprensa
em geral e aos demais interessados no movi-
1972 mento artístico cultural. E em 6 de junho do
Teatro Isa Prates mesmo ano foi inaugurado com uma confe-
rência do Ministro Reis Velloso e no dia 7
O Teatro Isa Prates é um teatrinho que fun- do mesmo mês com uma audição da pianista
ciona nas dependências do prédio do Co- Magdalena Tagliaferro.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 565


Com todas as melhorias, o novo espaço em teatro de arena, os 144 m2 eram dotados
passou a funcionar como sala de conferên- de um sistema de ar-condicionado, e capaci-
cias e cinema para os associados do clube. dade para até 250 espectadores, camarins e
Quanto a atividade teatral, que se saiba serviço de bar.
nenhuma companhia profissional ou grupo A iniciativa foi de Henrique Dubois que
apresentou-se no local para curta ou longa criou além do teatro e galeria de arte, um
temporada. cineclube e um centro de criatividade. Foi
No final da década de 1980 foi reinau- inaugurado em outubro de 1975, com a
gurado. Com 450 lugares foi projetado apresentação de Ubu, de Jarry, pelo grupo
por Teresa Gonçalves, Norma Taulois e Asdrúbal Trouxe o Trombone, em seguida
Carlos Lafayette Barcellos, o tratamento foi encenado E Deus criou a varoa, uma an-
acústico de Carlos Eugênio Hime. A sala tologia de textos que vão da Bíblia a Clarice
nunca teve como programação atividades Lispector, com Maria Pompeu, e sob a dire-
teatrais. ção de Roberto de Cleto.
Além das atividades teatrais, nos primei-
ros anos de vida do Teatro Louis Jouvet,
1975 foram também apresentados espetáculos
Teatro Louis Jouvet musicais: Vitor Assis Brasil, Música Antiga,
(Aliança Francesa) Quadro Cervantes, com Helder Parente, Myr-
na Herzog Feldman e Rosana Lanzelotte, e
O Teatro Louis Jouvet da Aliança Francesa muitos outros shows com Sérgio Sampaio,
da Tijuca, ficava na Rua Andrade Neves Clementina de Jesus, Rosinha de Valença, a
n. 315. Tinha um palco reversível, que po-
dia transformar-se em qualquer momento Teatro Aliança Francesa da Tijuca. Fachada

Arquivo Cedoc / Funarte

566 Teatros do Rio


fina flor do samba, João Bosco, Paulinho da de grupos permanentes de artistas amado-
Viola e Alceu Valença. res. Alguns teatros da rede, por possuírem
A Aliança Francesa da Tijuca, em 1976, recursos técnicos e palco adequado são mais
sob a direção de Jean Pierre Surjus, sofreu procurados pelas companhias profissionais,
algumas reformas e ganhou uma programa- e outros por serem pequenos, e sem pos-
ção cultural permanente, dando início, em 3 sibilidades cênicas, são usados por grupos
de maio do mesmo ano, à temporada de Bric amadores e experimentais.
a Brac, peça de Jean Tardieu, com tradução Entretanto, a instituição, preocupada
de Pina Roux, apresentada pela primeira vez com esta situação, manteve o “Circuito Sesc
em língua portuguesa. de Teatro”, com o objetivo de levar teatro
A Aliança Francesa possui uma outra casa às comunidades mais afastadas do eixo cen-
de espetáculos, Teatro da Aliança Francesa tro-sul da cidade, e também ao interior do
de Botafogo, localizado na filial de Botafogo, estado, um processo de descentralização do
à Rua Muniz Barreto, n. 730, que tem uma acesso às atividades de cunho cultural.
atividade mais constante, mais expressiva, e Ubiratan Correia, diretor regional do
com temporadas mais prolongadas de espe- SESC-RJ, em 1977, explicava o objetivo
táculos teatrais do que a filial da Tijuca. do trabalho. Diz O Globo de 28 de abril de
Trata-se também de uma sala pequena, 1977:
com um palco bem reduzido, sem possibili-
dades de recursos técnicos, mas com cabine O que se pretende é que os centros fun-
de luz e som, poltronas confortáveis e ar- cionem como um polo de animação cul-
-condicionado. tural em cada região onde se localizem,
em um papel semelhante ao que desem-
penham as casas de cultura criadas na
1977 França, por iniciativa do então Ministro
Teatros do Sesc da Cultura André Malraux.

O Sesc (Serviço Social do Comércio), man- O Teatro Sesc de São João de Meriti, loca-
tém uma rede de casas de espetáculos no lizado na Rua Tenente Manoel Alvarenga Ri-
Estado do Rio de Janeiro, com 10 teatros ao beiro n. 66, foi inaugurado em 20 de janeiro
todo: Copacabana, Tijuca (2 salas), Engenho de 1977, com a peça Sacos e canudos, de Dedi-
de Dentro, Madureira, Niterói, São João de res Demrés, pelo Grupo Teatral de Abertura
Meriti, Nova Iguaçu, Nova Friburgo, Cam- Lúdica (TAL), de Duque de Caxias.
pos e Barra Mansa. O primeiro diretor do teatro foi Alfredo
Além de toda uma atividade teatral, que Mallet, que conseguiu fazer com que a po-
mantém em suas casas de espetáculos, esta pulação do município adquirisse um novo
instituição tem uma programação de diver- hábito: frequentar teatro. Com uma progra-
sas tendências, com participação de associa- mação contínua, intercalada de música e pe-
dos e não associados, que vão desde encon- ças teatrais, Mallet conseguiu manter duran-
tro de grupos, mostras, festivais, seminá- te anos o teatro lotado. Ele mesmo explica
rios, ciclos de leituras dramáticas, oficinas, sua experiência:
cursos etc.
É uma entidade que se preocupa com o Não há nenhum segredo em relação ao
trabalho de formação de plateia e a criação trabalho que estamos realizando aqui.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 567


Teatro Sesc São João de Meriti. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Sesc São João de Meriti. Corte, (S.E.)


Começamos com uma peça de quinta a pintura interna em tons sombrios, assim
do­­mingo, e no princípio o povo vinha como a forração de tapetes. Foi instalado
mo­­­vido pela curiosidade em torno da ar-condicionado central, eliminando assim
coisa nova. Com o tempo, como era de o maior desconforto que ele oferecia antes
se esperar, o teatro passou a integrar o da reforma.
cotidiano da cidade e hoje já existe um Outras melhorias para o funcionamento
interesse natural pela programação com das encenações e bem-estar dos artistas que
as pessoas sugerindo textos ou concertos lá se apresentam também foram realizadas:
de músicos brasileiros. [...] Passada a fase o palco foi todo reformado, o urdimento te­­
inaugural minha preocupação maior era ve sua altura elevada para 21 m, permitin­do
de dar continuidade ao movimento, in- a utilização de cenografias complexas; tudo
tensificando a programação, a fim de não com orientação do cenógrafo Fernando
deixar esfriar o entusiasmo da moçada ou Pamplona. Os camarins que anteriormente
arrefecer as atividades teatrais, então ini- ocupavam as laterais do palco foram deslo-
ciadas no município.253 cados para o porão, com acesso independen-
te, ganhando o palco duas coxias.
Sem dúvida alguma a iniciativa do Sesc na O palco passou a ter 8,85 m por 7,65 m
baixada fluminense, uma região periférica, e com 7 m de profundidade, com 21 varas
afastada dos centros tradicionais do consu- de maquinaria, além de varandas para as res-
mo cultural, transformou-se numa das mais pectivas manobras.
significativas tentativas de descentralização e A acústica da sala foi totalmente corrigi-
popularização do teatro. Em nove meses de da com supervisão de Roberto Thompson
funcionamento ininterruptos foram realiza- Motta, o equipamento de luz totalmente
das 210 atividades artísticas e culturais, das renovado, cabendo a Jorginho de Carvalho
quais 202 pagas e oito gratuitas (palestras), a instalação e supervisão do material, com
conforme relatório de 1978, de funciona- 196 refletores e uma mesa de 60 canais. As
mento da casa intitulado “Como conquistar cabines de luz e som foram instaladas em
um público não preparado para o teatro”, de confortáveis salas frontais ao palco, com
Alfredo Mallet Soares Bastos. perfeita visibilidade dos operadores.
Apesar de todo sucesso, o teatro deixava a O Teatro do Sesc Meriti é um dos três
desejar quanto às condições técnicas e con- únicos da baixada fluminense e não só pro-
forto, tanto para o público como para os ar- vou sua viabilidade, como se impôs como
tistas, resolvendo o Sesc fechá-lo para uma uma dinâmica casa de espetáculos do mu-
reforma geral, que durou dois anos e meio. nicípio e periferia, recebendo realizações
Em abril de 1980 é reinaugurado com o teatrais e de música popular do centro e
espetáculo Auto das sete luas de barro, de Vital zona sul do Rio.
Santos, pelo grupo Folguedo de Arte Popu- O Teatro Sesc da Tijuca, inaugurado em
lar de Caruaru. 1971 no Centro de Atividades Sesc-Tijuca,
Sua arquitetura externa não foi modifi- está localizado na Rua Barão de Mesquita n.
cada, entretanto, toda a parte interna do 539, Tijuca.
teatro foi completamente transformada. O teatro possui um palco com urdimen-
Sua capacidade anterior era de 382 luga- to, sem coxias, poltronas confortáveis para
res, passando para 402 espectadores, com o público, ar-condicionado, cabine de luz
poltronas estofadas na cor preta. Toda a e som, capacidade para 264 espectadores,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 569


sendo 148 lugares na plateia, 116 no balcão Teatro Sesc Tijuca. Planta baixa, (S.E.)

e 10 cativas. O palco possui uma boca de


cena de 8 m de largura por 10 m de altura, O Sesc do Engenho foi inaugurado em
profundidade 9 m, proscênio com 2 m e 3 m 15 de maio de 1987, no centro de ativida-
de urdimento. Projeto dos arquitetos Mar- des do Engenho de Dentro, Avenida Amaro
co Antonio Coelho da Silva, Sérgio Jamel, Cavalcanti, n. 1661 (em frente à estação da
Maria de Lourdes Daveis de Freitas e Angela Estrada de Ferro). O espaço para 154 es-
Tâmega Menezes. pectadores já existia anteriormente, porém
Foi inaugurado em 27 de abril de 1977, como auditório necessitava de uma adapta-
com a peça El Retablo de Maestro Pedro, pelo ção da caixa cênica, realizada para receber
grupo de teatro de bonecos Giramundo de a III Mostra de Teatro Amador, em que reu-
Belo Horizonte. A programação regular foi niu 24 grupos da comunidade; com novos
com a peça infantil Dom Quixote de La Man- camarins, sistema de som e iluminação, ar-
cha, de Alexandre Marques, com direção de -condicionado, vestimentas de palco, plateia
Luis Mendonça. com poltronas estofadas etc.
O Teatro Sesc da Tijuca vem funcionando O objetivo do Teatro do Engenho era criar
sem interrupção desde a sua estreia, com es- e desenvolver um novo espaço cultural fora
petáculos adultos e infantis, além de toda uma do circuito centro-sul da cidade, incentivan-
programação teatral da própria instituição. do o trabalho dos grupos amadores e ofere-

570 Teatros do Rio


Teatro Sesc Engenho de Dentro. Planta baixa, (S.E.) em levar peças de produções ou companhias
que já conseguiram seu lugar ao sol. Era um
cendo ao público espetáculos teatrais, além espaço que tentava despertar a consciência
de cursos, palestras e oficinas de teatro. através da troca de informações entre pe-
Atualmente, o teatro apresenta regular- quenos grupos. Possui um palco pequeno
mente espetáculos adultos e infantis, recitais e limitado (40 m2) e capacidade para 251
de música, canto coral, cinema, vídeo e ofi- pessoas, ar-condicionado central, poucos
cinas de teatro, já fazendo parte da progra- refletores, além de mesa de luz e som. Uma
mação cultural de um público fiel frequen- boa acústica. Está localizado na Rua Padre
tador de suas dependências. Anchieta, n. 66, Niterói. Só na cidade do
Em 1994 sofreu nova reforma com am- Rio, o Sesc já está operando os teatros de
pliação do sistema de ar-condicionado, Madureira, Engenho de Dentro, Tijuca, São
sistema de iluminação, reforma do palco João de Meriti, Nova Iguaçu e Copacabana.
e melhorias na plateia, abrindo espaços al- Os demais são no interior do Estado (Nova
ternativos aos grupos de teatro amador e de Friburgo, Barra Mansa e Campos).
música, num esforço de estimular o produto OTeatro Sesc de Niterói vinha funcionan-
cultural da comunidade. do precariamente e precisava passar por re-
O Teatro Sesc de Niterói abriu suas portas formas de adaptação que possibilitassem a
em abril de 1977, com a finalidade de dar locação de montagens mais complexas. Em
espaço a todos que estivessem começando. 1989, com supervisão de Marcos Flaksman
Em princípio não era uma casa preocupada foi realizada uma reforma ampliando-se o

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 571


Teatro Sesc Niterói. Planta baixa, (S.E.) tando um espetáculo que havia recebido em
sua temporada no Rio, o reconhecimento
palco, modificando a inclinação da plateia do público e da crítica: Machado em Cena –
para uma melhor visibilidade, moderniza- Um sarau carioca, uma adaptação da obra de
ção do equipamento técnico e melhorias Machado de Assis, com roteiro e direção de
no sistema de refrigeração. A casa passou a Luís de Lima, com Pedro Paulo Rangel, Lília
contar com 250 lugares, amplos e confor- Cabral, Ludoval Campos, Ester Jablonski e
táveis camarins e moderna aparelhagem de Maria Lúcia Dahl.
som e iluminação. Sobre os outros teatros do Sesc – Nova
A peça de reinauguração em 1989 foi Iguaçu, Nova Friburgo, Barra Mansa, Madu-
O feitiço da mariposa, um espetáculo infan- reira e Campos – há pouca referência como
tojuvenil baseado em texto de Garcia Lor- casa de espetáculos, estes são utilizados mais
ca. E a peça adulta foi Perversidade sexual em por grupos em virtude das condições técni­
Chicago, de David Mamet, sob a direção de cas do palco, impossibilitando as companhias
José Wilker, e interpretação de Vera Tajardo, de lá se apresentarem. Suas atividades são
Eliane Giardini e Paulo Betti. palestras, shows musicais, oficinas de tea­
Depois de outra breve reforma é reaberto tro, peças infantis e apresentações de grupos
ao público em 6 de junho de 1990, apresen- amadores das comunidades periféricas.

572 Teatros do Rio


O Teatro do Sesc de Barra Mansa, locali- Em 24 de junho de 1995, com projeto de
zado na Rua Tenente José Eduardo n. 560, Oscar Niemeyer e assessoramento de Mar-
tem uma plateia para 200 espectadores, cos Flaksman, foi inaugurado o Teatro Sesc
com um palco estilo italiano de 48 m2, sen- de Copacabana.
do 6 m de largura por 8 m de profundidade
por 6 m de pé direito.
Possui também um anfiteatro, com palco 1978
em ferradura com capacidade para aproxi- Teatro Santos Rodrigues
madamente 2.000 pessoas, com as seguin-
tes dimensões de palco: boca de 4,24 m por Em janeiro de 1978 foi inaugurado o Teatro
15,2 m de profundidade. Os dois espaços Santos Rodrigues, do Clube dos Subtenentes
encontram-se equipados com três amplos e Sargentos do Exército, na Rua Henrique
camarins e dois banheiros. Dias n. 25, no bairro do Rocha, com esta-
O Teatro Sesc de Nova Friburgo, localiza- cionamento próprio. A peça de estreia foi
do à Rua Galdino do Valle n. 61, possui ca- O embrião, de Othon P. P. Berquó, direção de
pacidade para 81 espectadores em poltronas Paulo Ramos, com figurinos de Célia Ramos
estofadas, um palco com 6,2 m de boca de e sonoplastia de José Marques. No elenco:
cena, por 4 m de profundidade, com 2,9 m Paulo Ramos, Kátia Kelly, Paulo Feitosa, Gio-
de altura. Possui um camarim localizado na vanni Magnalen, Nardel Ramos, Sandra Emí-
parte externa com acesso ao palco. lia, Chardes Miara e Melise Maia. A sala tem
Em 17 de outubro de 1997 era inaugu- capacidade para 200 pessoas, e um palco de
rado o Teatro Sesc de Nova Iguaçu, com o 7 m de boca de cena por 6 m de profundidade.
espetáculo O rei da vela, de Oswald de An-
drade. Também é um teatro com poucas Teatro Clube Subtenentes e Sargentos do Exército.
possibilidades cênicas. Planta baixa, (S.E.)

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 573


Ficou fechada durante alguns anos e retomou 1980
suas atividades em 1 de outubro de 1983 com Teatro Dirceu de Matos
a peça Iemanjá a rainha do mar, de lêda Freire.
Uma casa que serve a grupos amadores, sem Em 1980 era inaugurado o Teatro Dirceu de
atividades profissionais, hoje atende à progra- Mattos, na Rua Barão de Petrópolis n. 897,
mação do clube. limites dos bairros de Santa Teresa com Rio
Comprido, em frente ao túnel da Rua Alice,
uma região desprovida de salas de espetá-
1978 culos. Um pequeno teatro particular, cuja
Teatro da ABI construção e manutenção deve-se ao ator
e diretor Dirceu de Mattos, que deu seus
O Teatro da ABI (Associação Brasileira de primeiros passos no Teatro Duse e no Tea-
Imprensa) na Rua Araújo Porto Alegre, foi tro Universitário, e integrou, entre outras a
inaugurado em 1973 com um espetáculo companhia de Procópio Ferreira.
em homenagem ao Tricentenário da Trou- Como no caso do Teatro Duse, também
pe de Molière, com Henriette Risner-Mo- está dentro de uma casa, onde moram seus
rineau, e a outra informação que se tem, proprietários. No teatro funciona a Escola
é de uma temporada do espetáculo O pro- de Teatro Dirceu de Mattos, com 88 lugares,
cesso da violência, de H. Pereira da Silva, com um pequeno palco, sem muitos recur-
di­reção de Jesus Chediak, com cenografia sos técnicos, onde seus alunos encenam seus
e figurinos de José Dias, em 1979. Nada trabalhos. A experiência do palco é a tônica
mais se sabe de sua atividade teatral, a não da Escola de Dirceu, que apresenta interna-
ser do uso do espaço pela própria ABI para mente dez montagens por ano, sempre com
reuniões, palestras e conferências. supervisão dos professores.
Sua produção inaugural foi em 25 de abril
Teatro da ABI. Planta baixa, (S.E.) de 1980 com A reforma, de autoria e direção

574 Teatros do Rio


de Dirceu de Mattos, cenografia de Wilson grupos, somente produções constituídas por
Dray. No elenco: Dirceu de Mattos e Yon- membros do seu corpo docente e discente.
ne Storni. Depois suas portas foram abertas
para o segundo espetáculo Ópera do chou-
riço, texto de Lauro Benevides e Francisco 1981
Carvalho, direção de Dirceu de Mattos e no Teatro do Sindicato dos
elenco: Dirceu de Mattos, Lauro Benevides, Médicos
Carlos Gonçalves, Yonne Storni, Julie Susan
e Irene Meinberg, que se manteve em cartaz Em 27 de abril de 1981 o Sindicato dos Mé-
durante vários meses. Em 25 de setembro dicos, na Avenida Churchill, n. 97-10° andar,
de 1981, estreava sua terceira produção, in- inaugurava sua sala de espetáculos, com a
titulada Por todos os séculos, amém!, texto de peça Império do Condor, texto e direção de Édi-
João Carlos Rodrigues, distinguido com son Nequete, que também estava no elenco,
uma premiação da Fundação Cultural de ao lado de Elisa Simões e Tárcio Marcondes,
Curitiba. com uma temporada de segunda a sexta-feira.
O teatro mantinha também uma progra- A sala não manteve uma atividade teatral.
mação infantil e a peça de estreia foi com
Maria minhoca, de Maria Clara Machado.
Entretanto, as boas intenções de seu 1982
dono não eram suficientes para manter um Teatro do Beco
nível de qualidade em sua programação, fi-
cava bem característico o lado doméstico Em 1982, há uma única referência no jornal
em suas produções, conforme palavras de O Globo sobre o Teatro do Beco:
Clovis Levi:
O Teatro do Beco (Largo de São Francisco
Sentado na plateia quase vazia, domingo n. 1 ­– centro – Anfiteatro 107) vai discutir,
passado, senti o alto grau de coisa (mal) hoje, às 18h30m, “Teatro e Ensino”...255
improvisada, um clima de “ação entre
amigos”, de brincadeira familiar domin-
gueira, que, na realidade, não carrega o 1982
mínimo de condições para transformar Teatro da Casa D’Itália
aquele espaço num teatro. Atualmente
está sendo quando muito, um quintal ra- O Teatro da Casa D’Itália, que funciona-
zoavelmente sofisticado. [...] Para que o va em 1982 no quarto andar do prédio do
Teatro Dirceu de Mattos passe a servir Consulado Italiano, à Avenida Presidente
aos moradores de Santa Teresa, sua dire- Antônio Carlos n. 40, era um espaço sem
ção precisa adotar um esquema profissio- recursos técnicos. O palco era pequeno em
nal para seus espetáculos, deixando de relação ao tamanho da Sala, havia poucos re-
lado a improvisação....254 fletores e as cadeiras eram moduladas, colo-
cadas apenas em função do número de pes-
Apesar de o teatro oferecer estaciona- soas previstas. Não tinha ar-condicionado, e
mento próprio, ar-condicionado, poltro- sim ventiladores, que não permitiam que se
nas estofadas e serviço de bar, não mantém abrissem as amplas janelas, já que o barulho
atividades teatrais de outras companhias ou do trânsito da avenida prejudicava a audição.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 575


1982 Várias encenações foram realizadas neste
Teatro do IBAM espaço, mas A tempestade, de Shakespeare e
Círculo de giz, de Brecht, foram as que mais
O Teatro do IBAM (Instituto Brasileiro de marcaram. Mas por decisão da Escola de
Administração Municipal), localizado à Rua Artes Visuais foram encerradas as atividades
Visconde Silva, n. 157, no Humaitá, teve teatrais que ali se realizavam, sendo substi-
vida curta. Suas atividades passaram a ser re- tuídas por shows de rock.
gulares quando foi arrendado por dois anos Em 4 de outubro de 1986, o espaço volta
(1982 e 1983) à Merlino Produções Artísti- a ter vida teatral, com a estreia de A Dispu-
cas, que realizou durante este período shows ta, de Marivaux, em montagem dirigida por
de música popular, série instrumental e es- Luis Antonio Martinez Correa, com alunos
petáculos infantis. da Escola de Teatro da Unirio, tendo como
Um espaço com um palco pequeno sem ator convidado Marcus Alvisi e participação
recursos técnicos, com uma cabine de luz e especial do soprano Ivonete Rigot Muller,
som, e outra de tradução, com capacidade iluminação de Aurélio de Simoni e coreo-
para 234 espectadores, poltronas estofadas grafias de Nelly Laport.
e ar-condicionado. Uma casa sem tradição O espaço é usado esporadicamente para
teatral, manteve-se somente com espe- encenações de grupos e não mais retornou a
táculos infantis e musicais. Hoje atende a sua atividade teatral instigante como na dé-
palestras, congressos e conferências do re- cada de 1980.
ferido instituto.

1983
1982 Teatro Cândido Mendes
Espaço da Escola de Artes
Visuais Parque Lage O Teatro Cândido Mendes, pertence à So-
ciedade Brasileira de Instrução – Fundação
A Escola de Artes Visuais do Parque Laje, Rua Cultural Cândido Mendes, à Rua Joana An-
Jardim Botânico n. 414, ex-lnstituto de Be- gélica, n. 63, em Ipanema, uma casa locali-
las-Artes (IBA), no início da década de 1980 zada no térreo do edifício onde funciona a
começou a prestar um valioso serviço à faixa faculdade, e no final do corredor, em frente
jovem do teatro carioca: criando um espaço aos elevadores que servem à instituição.
aberto para os trabalhos dos grupos e dos es- Um espaço pequeno sem palco, com três
petáculos mais assumidamente alternativos. áreas de plateia para o público, dispostas em
Aproveitando esta oportunidade o gru- declive, com uma cabine de luz e som, um
po teatral “Pessoal do Despertar”, abria camarim e um banheiro para os atores. É
mais um espaço cultural na cidade, e es- tudo muito pequeno, de pouca altura, po-
treava em 31 de março de 1982 A tempes- rém um local que mantém uma atividade
tade, de William Shakespeare, num palco constante com espetáculos simples de con-
especialmente montado sobre a piscina da cepção cenográfica e com elenco pequeno.
escola com direção de Paulo Reis, tradução Veio suprir a dificuldade para o teatro jovem,
de Geraldo Carneiro e direção de arte de de obter horários e casas de espetáculos, com
Helio Eichbauer. o chamado horário alternativo à meia-noite,
oficialmente criado em 1983.

576 Teatros do Rio


Teatro Candido Mendes. Planta baixa, (S.E.)
Em final de 1987, era dado sinal verde Teatro Candido Mendes. Palco e vista parcial da plateia

pelo professor Cândido Mendes de Almei-


da, para inplantação de um novo teatro, no ta por músicas de Egsberto Gismonti, ce-
Centro da cidade. Um projeto que fazia par- nários e figurinos ficaram a cargo de Tawfic
te das comemorações dos dez anos da Fun- e Gilberto Vigna.
dação Cultural Cândido Mendes. A sala com capacidade para 400 lugares,
com poltronas estofadas, ar-condicionado,
cabine de luz e som, camarins e um palco
1988 pequeno sem recursos cênicos. Uma casa
Teatro João Theotônio com pouca atividade teatral.
Infelizmente este novo espaço não veio
Em 7 de janeiro de 1988 era inaugurado suprir a perda – na mesma época de sua
o Teatro João Theotônio, à Rua da Assem- inauguração – de quatro casas de espetáculos
bleia n. 10, na Praça XV com o espetáculo tradicionais: o Maison de France, o Gláucio
O Homem sobre o parapeito da ponte, de Guy Gill, o Glória e o Mesbla; pois as encenações
Foissy, com produção e direção de Carlos teatrais nesta casa sempre foram esporádi-
Vereza, no elenco também Vereza e Cle- cas, com repercussão maior em apresenta-
menteVizcaino. A trilha sonora era compos- ções musicais, palestras e conferências.

578 Teatros do Rio


1983 1984
Teatro Senac de Bonsucesso Teatro Pinheiro Guimarães

Na segunda quinzena de maio de 1983 era O Teatro Pinheiro Guimarães, à Rua Silveira
inaugurado o Teatro Senac de Bonsucesso, Martins, 151, no Catete, de propriedade do
à Rua Dona Isabel n. 700, localizado no pré- Colégio Pinheiro Guimarães, foi inaugurado
dio onde funciona o centro de formação em outubro de 1984, com um show do can-
profissional do Senac, com capacidade para tor Marcelo Pascoal, uma casa relativamen-
200 pessoas, ar-condicionado e estaciona- te pequena, sem condições de equipamento
mento. cênico, com apenas 120 lugares. A casa não
Foi inaugurado com Feira de adultério, es- mantém atividades teatrais sendo utilizada
petáculo que reúnia cinco peças: Deus nos para eventos da instituição.
acuda, de Bráulio Pedroso; Flagrante do adul-
tério, de Jô Soares; Xurra na Secretaria de Edu-
cação, de João Bethencourt; Ejaculatio Prae- Circa 1984
cox ou Exercício para um boulevard carioca, de Teatro das Faculdades
Ziraldo e Repouso do guerreiro, de Armando Integradas Castelo Branco
Costa e Paulo Pontes. Com direção e par-
ticipação de Rosamaria Murtinho, Miguel O Teatro das Faculdades Integradas Castelo
Carrano, Haroldo de Oliveira, Mario Jorge, Branco, com capacidade para 250 pessoas,
Fernando Palitot e Cláudia Martins. ar-condicionado central, camarins, equipa-
Um teatro com suas limitações e que aca- mentos de iluminação e sonorização, é lo-
bou não entrando no circuito profissional, calizado à Avenida Santa Cruz n. 1.655, em
ficando voltado mais para pequenos grupos Realengo, anexo ao Campus das Faculdades
e atividades do próprio Senac. Integradas. Não possui uma programação
teatral, sendo utilizado apenas para cerimô-
Teatro Senac Bonsucesso. Palco e vista parcial da plateia nias da instituição.

Arquivo Cedoc / Funarte

Capítulo 4 | O s teatrOs dO r iO de J aneirO nO séculO XX 579


1984 1984
Auditório da Casa de Rui Barbosa Teatro Benjamin Constant

Em 7 de novembro de 1984 era inaugurado O Teatro Benjamin Constant originou-se


o auditório da Casa de Rui Barbosa, Rua São do antigo auditório que se encontrava em
Clemente, Botafogo, com concerto de Tu- situação precária, sem os requisitos míni-
ríbio Santos e da Orquestra de Câmara da mos à sua utilização, e que, portanto, teve
Rádio MEC. que sofrer obras essenciais de recuperação,
Uma casa destinada a abrigar seminários, adaptação e instalação de equipamento,
simpósios, conferências e espetáculos mu- obtendo-se assim, um ambiente multiuso.
sicais instrumentais. Projeto do arquiteto Devido à sua versatilidade, este local, hoje,
Sérgio Porto, o auditório tem capacidade permite alternadamente: atividades tea-
para 280 espectadores, ocupando uma área trais, dança, música, cinema, conferências,
de 231 m2, de linhas amplas, com palco com debates, seminários e solenidades.
fundo e laterais em tons de bege, equipado Localizado na Avenida Pasteur, 350, Urca,
com 40 refletores, placas acústicas e um ji- pertence ao Instituto do mesmo nome e foi
rau para cabine de luz e som, projeções de construído especialmente para deficientes
filmes e tradução simultânea. físicos, auditivos e visuais, o primeiro no
Não é uma sala para atividades teatrais, Brasil, no gênero.
trata-se de um auditório, usado também A casa com 360 lugares tem outra fun-
em eventos correlatos com todos os proje- ção além de receber com conforto um
tos desenvolvidos pela instituição. Utilizado público sem oportunidade de adaptar-se
pelo Centro de Pesquisa de História, Estu- adequadamente às salas de espetáculos da
dos Jurídicos e Estudos Filológicos, bem
como pelo Museu de Literatura. Teatro Benjamin Constant. Planta baixa, (S.E.)

580 Teatros do Rio


cidade: rampas em todos os corredores, Foi inaugurado em 17 de dezembro
espaço maior entre as cadeiras, fones in- 1984 com a peça Simon/Simon, de Isaac
dividuais para receber melhor o som do Chocrón, com direção de Marcos Fayad e
palco. Além do uso de rampas, o especta- cenografia de José Dias, com a qual ganhou
dor que precisa de cadeira de roda pode o Prêmio Mambembe de 1984 e no elenco
tornar mais confortável sua circulação no Marcos Fayad e Paulo Guarnieri.
teatro. Entre as poltronas e o palco há O palco tem 10 m de largura por 8 m
uma área destinada às cadeiras de roda. de profundidade, com boca de cena me-
Quem usa muletas também não tem pro- dindo 9 m de largura por 4,5 m de altu-
blemas de locomoção no Benjamin Cons- ra, cuja abertura pode ser regulada até
tant, já que entre as poltronas, o espaço é 6 m. A caixa cênica tem 12 m de altura e
maior do que outros teatros, e os banhei- 2 m de coxias de cada lado. O sistema de
ros também têm sanitários apropriados a urdimento, fabricado em estrutura me-
paraplégicos. tálica, composto de varas: de maquina-
Todas as colunas internas da sala são ria, de iluminação, tela de cinema etc.,
acolchoadas para que, durante a locomo- possui vestimentas de palco, camarins e
ção, espectadores com deficiência visual banheiros no nível do palco, adequados
não se machuquem em eventuais choques. à utilização por deficientes que se loco-
E caso o deficiente seja o ator, também movem em cadeiras de roda. Abaixo do
tem o trabalho mais seguro, já que na ex- nível do palco, existem outros dois ca-
tremidade do palco há um revestimento marins. Seu sistema de iluminação cênica
de carpete. Quem tem problemas de au- é comandado da cabine de luz, especial-
dição recebe fones de ouvido através dos mente construída para ser operada por
quais terá o som do palco no volume que deficientes físicos; da mesma forma o
desejar. sistema de sonorização. Todo o ambiente
O diretor do Instituto Benjamin Cons- cênico e plateia tem tratamento acústico
tant, Professor Victor Mattoso, comenta a compatível com a qualidade sonora ade-
funcionalidade do teatro e sua adaptação quada aos espectadores cegos.
para os deficientes físicos:

Aqui a comunidade vai conviver com os 1987


deficientes, o que significa na prática a Teatro Etla
concretização dos nossos sonhos de in-
tegração social... [...] Isso não existia Em maio de 1987, começava a funcionar
antes no Brasil e nem em qualquer outro o Teatro Etla, com a peça Quase ministro,
país da América Latina. Em qualquer te- de Machado de Assis, com direção de
atro ou cinema, o deficiente só encontra Leonardo Alves, localizado à Rua Correia
barreiras. Eliminamos escadas, cadeiras Dutra n. 99/218, Catete. Uma sala sem a
apertadas, corredores estreitos, detalhes menor condição técnica, que atendia so-
que podem não significar muito para mente aos alunos dos cursos de expressão
uma pessoa fisicamente normal, mas que corporal, impostação de voz, improvisa-
para o deficiente são, muitas vezes, mo- ção e interpretação, da Escola de Teatro
tivo de desistência para deslocamento Leonardo Alves.
aos teatros.256

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 581


1987 1994
Teatro Suam Teatro do Sesi
O Teatro Suam de propriedade da Sociedade O Teatro Sesi, localizado à Avenida Graça
Universitária Augusto Motta, é uma casa lo- Aranha n. 1, no Centro do Rio, foi inau-
calizada na Praça das Nações, em Bonsuces- gurado em setembro de 1994, com 350
so, onde anteriormente funcionava um ci- lugares, sendo 258 na plateia e 92 lugares
nema. Possui 745 lugares, ar-condicionado, no balcão, e é integrado ao Centro Em-
seu palco é pequeno e sem recursos cêni- presarial Arthur João Donato, do Serviço
cos, foi reinaugurado em 22 de outubro de Social da Indústria.
1987, com um espetáculo de Juca Chaves. A peça que inaugurou o teatro, em 3
Durante a década de 1980, algumas comé- de novembro de 1994, foi Uma rosa para
dias produzidas por companhias profissio- Hitler – Um grito de alerta, de Greghi Fi-
nais chegaram a fazer curtas temporadas lho e Roberto Vignati, direção de Rober-
nesta casa. Com o tempo passou a uma ati- to Vignati. No elenco: Francisco Milani,
vidade musical. Hoje é uma casa que atende
às necessidades da instituição de ensino. Teatro do SESI. Planta baixa, (S.E.)

582 Teatros do Rio


Alice de Carli, Rubens de Falco, Henri- O teatro, que na verdade não é um teatro,
que César, Júlio Braga, Dinho Valadares e mas uma sala retangular com 90 cadeiras de
Cláudio Chiesse. vime com almofadas, distribuídas pelos três
Seu palco é tipo caixa italiana sem coxias, cantos da sala em níveis diferentes. Ao cen-
boca de cena de 10 m por 11,5 m de profun- tro, uma semiarena, um espaço mínimo, sem
didade e altura de boca de 4,8 m, com urdi- qualquer recurso cênico, e com mesa de luz
mento, de pouca altura, possuindo 4 varas de e alguns poucos refletores e ar-condiciona-
iluminação, vara de ciclorama motorizada; do. Trata-se de uma sala simpática, para mo-
11 varas acionadas por manobras manuais e nólogos, cursos, palestras e seminários, ou
3 varas acionadas por manobras contrapesa- uma encenação infantil com quatro atores no
das; cabine de luz e som; 3 camarins; bar; máximo, sem cenografia e poucos adereços.
foyer amplo, além de todo equipamento de A inauguração do Teatro Bibi Ferreira deu-
iluminação, som e vídeo. -se em março de 1995, com as peças infantis:
Uma casa com atividade teatral constan- Pinóquio e a pequena loja de brinquedos e Peter
te, além de outros eventos artísticos, como Pan em busca do pássaro encantado, ambas com
também cursos, seminários, exposições, direção de Di Veloso.
conferências, entre outros. Uma casa dedicada mais ao teatro infantil
e cursos, não possuindo uma atividade tea-
tral com espetáculos profissionais de adulto.
1994
Teatro Bibi Ferreira
1997
Em 29 de dezembro de 1994, por iniciativa Teatro da Uerj (Teatro Odylo
do ator e diretor Eduardo Cabús, era inaugu- Costa, filho)
rada a Casa de Cultura Eduardo Cabús, insta-
lada em um antigo prédio de quatro andares, Em 14 de julho de 1972 o Governador
em Botafogo, que compreende o Teatro Bibi Chagas Freitas acompanhado do Reitor
Ferreira e o Espaço Henfil, à Rua Visconde
de Ouro Preto, n. 78. Teatro Odylo Costa Filho. Plateia

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 583


da então UEG (Universidade do Estado da Uma publicação de Odylo Costa, filho,
Guanabara), atual Universidade do Esta- em carta do editor, no Jornal da UERJ n. 6 de
do do Rio de Janeiro (UERJ), Prof. Oscar 1 de novembro de 1977, relata a peregrina-
Tenório, colocou a primeira pá de pedra ção para conclusão das obras:
britada na caçamba do bate-estaca que
começava a fazer as fundações do Teatro Este é um depoimento para a história da
do Departamento de Alunos da Universi- Universidade.
dade do Estado da Guanabara, localizado Em fins de 1976 o Conselho Estadual de
no campus universitário Francisco Ne- Cultura veio incorporado visitá-la. Reali-
grão de Lima, Rua São Francisco Xavier zou aqui uma das suas sessões. Mostrei-lhe
n. 524, Maracanã. o esqueleto do teatro.
A construção ficou a cargo da Constru- Fomos agradecer a visita, o Reitor Caio
tora Norberto Odebretch, e compreendia Tácito e eu. José Cândido de Carvalho me
a última fase da obra, junto com a concha disse: – “Vamos receber umas verbas. Da-
acústica. Projeto dos arquitetos Flávio Ma- remos recursos para acabar o teatro. Pode
rinho Rego e Luiz Paulo Conde. ser o grande teatro do Rio na Zona Norte”.
Durante alguns anos a obra ficou pa- Pedi uma estimativa orçamentária à Su-
ralisada e em 17 de outubro de 1977, na perintendência de Obras, a SOU. Coisa
gestão do Reitor Caio Tácito, era assinado para oitenta milhões. José Cândido ficou
convênio com o Serviço Nacional de Te- desolado. Era impossível.
atro, Orlando Miranda, para a conclusão Foi depois a vez de Orlando Miranda,
das obras, com recital de Paulo Autran Diretor do Serviço Nacional do Teatro.
(Angústia, de Graciliano Ramos; Cabelos Veio. Correu tudo. Ficou deslumbrado.
compridos, de Monteiro Lobato; O retrato, Mas oitenta milhões! Ainda assim, bo-
de Érico Veríssimo e Meu tio Iauauretê, de
Guimarães Rosa). Teatro da UERJ

Fotografia: Ricardo Fasanello / Strana

584 Teatros do Rio


Teatro Odylo Costa Filho – UERJ. Planta baixa, (S.E.)
tou o teatro na cabeça. Não saiu mais de Autran morreu no palco a grande morte de
dentro dela. Germinou em seu espírito a Iauauretê, no jogo de terror e medo que o
ideia de obras de emergência. Talvez um gênio de Guimarães Rosa botou no papel, e
pequeno teatro como se fez em Curi- fez o grande ator tremer de emoção na noi-
tiba, como se fez em Brasília, um tea- te em que leu a história pela primeira vez.
trinho moderno, experimental, de van- Este testemunho devia ter título. Cha-
guarda. Uma tarde, procurei Roberto mar-se-ia “Quem deve o que a quem”. Mas
Parreira, Diretor Executivo da Funarte. devemos tanto a tantos!
Conversamos. Ele me falou no teatro. E
de repente: – “Com dez milhões vocês Em 17 de dezembro de 1979, o Teatro
não poriam o teatro funcionando?” Sem da Uerj passou a chamar-se Teatro Odylo
hesitar, garanti-lhe que sim, se não fun- Costa, filho; quando foi descerrada a pla-
cionando definitivamente pelo menos ca inaugural, com seu verso “Canção de
alguma coisa de provisório. E por que Exílio” e em seguida ao espetáculo Boca da
perguntava? A Funarte tinha dez milhões noite, com leituras de poemas de Odylo,
para dar? Não, não tinha, mas estava feitas por Paulo Autran e Tônia Carrero.
certo de que o Ministro Nei Braga, cujo O nome foi uma homenagem póstuma
nome estava ligado ao Teatro Guaíra, se- da Universidade ao poeta e jornalista, de-
ria sensível a um apelo. saparecido em agosto de 1979, depois de
Nessa luta pelos dez milhões aliaram- empenhar-se pessoalmente na obtenção
-se muitos. Orlando Miranda se engajou de recursos para a conclusão das obras.
logo ao lado de Roberto Parreira, e Car- O final feliz dessa história que du-
los Alberto Direito, Chefe de Gabinete do rou 25 anos, mas que ficou este tempo
Ministro da Educação, apadrinhou junto a todo funcionando precariamente, só no
Nei Braga, e Nei entrou também a cons- esqueleto, só pode se concretizar numa
pirar para que Euro Brandão, Secretário captação de recursos da Universidade do
Geral do Ministério, descobrisse no mapa Estado do Rio de Janeiro, da Secretaria Es­­
da mina, onde estava o tesouro. tadual de Cultura e Esporte e do Minis-
Mas dez milhões eram muito – e eram tério da Cultura.
pouco. E então, numa reunião com o Em 28 de julho de 1997 na gestão do
Governador Faria Lima, presente gente Reitor Antonio Celso Alvares Pereira, era
do Conselho Estadual de Cultura, e da inaugurado o Teatro Odylo Costa, filho,
Funarte, e do Serviço Nacional do Tea- com a orquestra e coro do Theatro Mu-
tro, e atores, e atrizes, e empresários, nicipal. Com uma lotação de 1.100 luga-
falou-se no auxílio que a União ia dar, res com poltronas estofadas, visibilidade
mas que não bastava para concluir o tea- total, acústica perfeita, ar-condicionado
tro. E o Governador Faria Lima declarou central, estacionamento localizado no
que se a União desse os dez milhões pro- campus da Uerj, dotado de equipamento
metidos ele destacaria o dobro – mais de luz com mesa computadorizada com
vinte – para que o teatro funcionasse. E 272 canais de uso, equipamento de som
cumpriu o prometido. (MD, CD, 14 microfones, 2 sem fio), equi-
Foi por isso que, no dia 17 deste mês de pe técnica (maquinistas, operador de luz,
outubro, um palco provisório se abriu para som, eletricistas, equipe de manutenção,
mais de um milhar de espectadores, e Paulo de administração) e hall para exposições.

586 Teatros do Rio


Seu palco com 16 m de boca de cena por 2o andar, um espaço cultural pertencente à
7 m de altura, 14 m de profundidade por Academia Brasileira de Letras.
16 m de altura, com urdimento, varas para A inauguração aconteceu com recital
cenografia, iluminação e ciclorama, além de do Grupo de Música Renascentista Tro-
camarins. varte. Canções de Cláudio Monteverdi,
temas elisabetanos e músicas compostas
por integrantes do grupo fizeram parte
1998 do espetáculo. A atividade teatral foi inau-
Arte & Cia gurada em 21 de junho de 1999, com Ca-
pitu, de Machado de Assis, com adaptação
Em 22 de maio de 1998 era inaugurado feita por Marcus Vinícius Faustini e Wal-
Arte & Cia, casa da Universidade Estácio ter Daguerre; direção de Marcus Vinícius
de Sá, localizado na Avenida Érico Veríssi- Faustini e no elenco: Ednei Giovenazzi,
mo n. 359. Em seus 1.200 m2 estão dis- Bel Kutner, Alexandre Barillari, Leonardo
tribuídos: no térreo, sala de vídeo, uma li­ Netto, Silvio Ferrari, Walter Daguerre e
vraria, cafeteria e tabacaria. No primeiro Suzana Faini.
andar, uma lojinha de produtos de arte e A casa, por suas condições técnicas, não
um grande salão que de dia abriga exposi- permite uma atividade teatral constante.
ções, e à noite recebe montagens tea­trais
e shows.
A casa inclui ainda: uma galeria e duas 1999
oficinas para cursos no subsolo. O deck, Espaço Yan Michalski
na área externa, é usado também para
peças de teatro. O projeto de iluminação Em abril de 1999 era inaugurado o Es-
é de Ajalmar Silveira e a acústica é de paço Yan Michalski, na Casa das Artes de
George Monteil. Laranjeiras (CAL), uma escola de forma-
Os espetáculos de estreia apresentados ção de atores, à Rua Rumânia n. 44, La-
pela Companhia de Teatro Medieval, foram: ranjeiras.
Enganado, surrado e contente, com direção de O Espaço Yan Michalski foi uma home-
Márcia Frederico; e O médico camponês, um nagem ao crítico de teatro que ajudou a
outro conto medieval. fundar a escola. Foi construído onde an-
Trata-se de um espaço alternativo, não tes era uma sala de aula, e conta com 96
abrigando companhias profissionais, tam- lugares, com ar-condicionado, sistema de
pouco fazendo carreira com espetáculos ex- iluminação, gride, cabine de luz e som. O
perimentais. projeto de José Dias, foi concebido para
tornar flexível todo o espaço, já que no
teto da sala foi projetada uma estrutura
1998 metálica para cenários e iluminação, além
Teatro R. Magalhães Júnior de seis arquibancadas, que se deslocam
(Academia Brasileira de Letras) conforme a encenação.
A inauguração foi com o espetáculo
Em 28 de maio de 1998 era inaugurado o Em busca da felicidade, texto e direção de
Teatro R. Magalhães Júnior, com 336 lu- Rosyane Trota, com elenco de formandos
gares na Avenida Presidente Wilson, n. 203, da CAL.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 587


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Teatro do Beco Teatro Etla


O Globo. Rio de Janeiro: 22 de março de 1982. Jornal Última Hora. Rio de Janeiro: 19 de dezembro
de 1984.
Teatro da Casa D’ltália
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 9 de novembro de Teatro Suam
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maio/junho de 1990.

Espaço da Escola de Artes Visuais


Parque Lage Teatro Bibi Ferreira
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dezembro de 1982; 10 de dezembro de 1985. O Globo. Rio de Janeiro: 14 de julho de 1995.
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Teatro Cândido Mendes Jornal da Uerj. Rio de Janeiro: n. 6, 1 de novembro de
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de novembro de 1987. 1980.
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Teatro Pinheiro Guimarães O Globo. Rio de Janeiro: 28 de julho de 1997.
Jornal O Globo. Rio de Janeiro: 23 de outubro de 1984.
Arte & Cia
Teatro da Faculdade Castelo Branco Jornal O Globo. Rio de Janeiro: 22 de maio de 1998.
Castelo Branco Notícias. Rio de Janeiro: n. 26, abril de
1984. Espaço Yan Michalski
O Globo. Rio de Janeiro: 20 de maio de 1984. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 26 de março de 1999.
4.6. SOLUÇÕES TEATRAIS troca de serviços de terraplanagem em
ALTERNATIVAS outras terras de sua propriedade, duran-
te as obras de construção do viaduto Alim
Pedro, em 1957.
Nos três terrenos doados começaram
4.6.1. ARENAS
a construir os dois teatros, o de Arena e o
Laboratório, projetos do arquiteto Afonso
Eduardo Reidy, autor também do Museu de
Entende-se por teatro de arena o edifício Arte Moderna, com painéis de Miguel An-
cujo espaço está disposto de tal maneira que tonio Pastos. Era um projeto especial com
o público é acomodado em torno de uma teatro laboratório, um alojamento para os
área de atuação em forma circular. estudantes que moravam longe, biblioteca,
bar e salas onde seriam ministradas aulas de
arte dramática, balé e canto. Anexo, o Teatro
1957 de Arena para os espetáculos, e um amplo
Teatro de Arena do T.R.E. estacionamento. Mas de tudo isso, apenas
(Teatro Rural do Estudante) foi construído o teatro.
Tudo começou com uma ideia, que se
O primeiro teatro de arena no Rio começou tornou sonho de jovens amantes de teatro,
a ser construído em 1957, na Zona Oeste de inspirados pelo movimento que Paschoal
Campo Grande, já então batizado de Teatro de Carlos Magno espalhava por todo o Bra-
Arena do T.R.E. (Teatro Rural do Estudante). sil: Herculano Leal Carneiro, estudante de
As obras estavam bem encaminhadas, e a Direito, juntou-se a Rogério Fróes, Sérgio
inauguração com data marcada, conforme Leal Carneiro e Fernando Gameleira e mais
divulgação na imprensa, no jornal A Noite, alguns colegas da Faculdade de Direito, e re-
de 14 de dezembro de 1957: solveram formar um grupo de teatro ama-
dor em 1952. O primeiro problema era que
No próximo dia 28, o Teatro Rural do Es- não tinham um local certo como sede, foi
tudante inaugurará o seu Teatro de Arena, quando decidiram alugar uma casinha na
representando as peças Onde a cruz está Rua Tatuoca. Logo surgiu o segundo proble-
marcada, de O’Neill e Farsa e justiça do cor- ma, conseguir recursos para as montagens
regedor, de Alejandro Casanova; a inaugu- dos espetáculos e público para as suas repre-
ração será às 21 horas, havendo condução sentações.
especial para a crítica e convidados. A palavra de ordem do grupo era edu-
car o público de Campo Grande quanto ao
Sua pedra fundamental foi lançada pelo interesse pela cultura. E decidiram usar de
então Presidente Juscelino Kubitschek e todos os meios para fazer publicidade jun-
pelo prefeito do antigo Distrito Federal, to ao povo: pelas ruas, trabalhos gráficos no
Negrão de Lima. asfalto, nos muros, em todos os lugares de
Localizado na Praça dos Estudantes, Campo Grande deixavam registrado que lá
em Campo Grande, o Teatro de Arena foi existia um grupo decidido a fazer teatro.
construído pela então chefe do Distrito O primeiro espetáculo, foi Sábado de Ale-
de Obras, Elza Pinho Osborne, em ter- luia, de Martins Pena, representado em clu-
reno doado por Maria Tereza Botelho, em bes sociais, em palcos improvisados.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 591


O movimento foi tomando proporções, Grande. Enquanto as vaias zumbiam por
o povo aderiu a ideia e logo as autoridades todo o teatro, eles não desanimaram e a
locais começaram a se interessar pelos jo- peça, que fala da abolição e de José do Pa-
vens atores. Apoiados pelo diretor teatral trocínio, foi executada até o fim. Quan-
Mario de Almeida, que havia deixado São do a cortina se fechou, os jovens atores
Paulo, as montagens começaram a marcar tiveram a maior surpresa de suas vidas:
presença e consequentemente vieram os aquele público exigente aplaudiu de pé
sucessos de público. durante alguns minutos e a seguir, todos
Foi então doada uma sede ao grupo. os espectadores, emocionados, cantaram
O Teatro Artur Azevedo de Campo Gran- juntos o Hino Nacional.
de, onde montaram A Almanjarra, de Arthur
Azevedo, um grande sucesso. Obtiveram o Mas há um lamentável depoimento de um
1o Prêmio do I Festival de Teatro Amador do dos componentes, registrado na Última Hora
Rio de Janeiro. No elenco – Rogério Fróes, de 7 de outubro de 1980:
Regina Pierini, Joselia Dangelo, Danilo Car-
neiro, Herculano Carneiro. Direção de Má- Por esse tempo – diz o ator Wilson Dray,
rio de Almeida. um dos integrantes do TRE – nós rece-
Outro diretor se junta ao grupo, desta bemos a doação dos três terrenos ao
vez é José Maria Bezerra de Paiva, e com lado do viaduto e Elza Pinho começou
o entusiasmo de B. de Paiva e as mon- a construir os dois teatros, o de Arena
tagens realizadas, Elza Pinho Osborne, e o Laboratório. Acontece que um des-
então Diretora do Distrito de Obras de ses terrenos, justamente onde está cons­
Campo Grande, os apoia e cede um ter- truído o de Arena, foi doado verbalmen-
reno onde seria instalado o Teatro Rural te e a escritura não foi lavrada. Depois
dos Estudantes. da morte da doadora Maria Tereza Bo-
Na ocasião, o Teatro de Arena passou en- telho, esse terreno coube, por herança,
tão a ser administrado pelo grupo TRE, um a um dos seus parentes, ao qual eu e Al-
dos mais importantes da época, sendo agra- bino Carrasco oferecemos o outro ter-
ciado com 14 prêmios em um só festival, reno, não construído em troca. Daí, nós
conforme registra Lêda Maria, no Jornal dos fomos falar com Herculano Carneiro,
Sports de 3 de maio de 1970: ex-líder do TRE e até hoje detentor de
todos os seus documentos, e ficou acer-
O Festival Nacional de Teatro Amador foi tado que ele iria procurar esse herdeiro,
realizado no Teatro Santa Isabel, em Re- o que acabou não acontecendo.
cife, no ano de 1958. O público amante
de teatro compareceu em massa. Após a Mas depois do sucesso de 1958, veio a
apresentação da terceira peça, os espec- estagnação. O grupo passou a se apresentar
tadores, descontentes, só conheciam um esporadicamente no mesmo Teatro de Are-
jeito de externar seu desagrado: vaiar. na, e uma grande lacuna se estabeleceu e
Mas a 4a peça tinha que se apresentar. nunca mais foi preenchida.
O quarto espetáculo foi anunciado. A Dineyas Valente Paiva e Wilson Dray, um
peça, Zé do Pato, era de Elza Pinho Os- dos fundadores, comentavam com Lêda
borne, a direção de B. de Paiva e a inter- Maria, do Jornal dos Sports, de 3 de maio
pretação do grupo do T.R.E. de Campo de 1970:

592 Teatros do Rio


Nós alcançamos um sucesso tão grande, 1959/60
que não estávamos preparados. Depois Teatro de Arena
daquela noite, só queríamos realizar es- (Teatro Opinião)
petáculos maiores. E não chegamos a fa-
zer nem melhores nem piores. Paramos. Apesar de instalado no Shopping Center
da Siqueira Campos, Copacabana, Rua Si-
Já Albino Plaza Carrasco, o sócio núme- queira Campos 143, o Teatro de Arena será
ro 13 do Teatro Rural dos Estudantes é mais examinado dentro desta sessão pela impor-
otimista. Diz, na mesma reportagem: tância que teve na história das salas de espe-
táculos do Rio de Janeiro para implantação
Algum dia vai se realizar nosso anti- deste formato de sala e tipos de encenação
go ideal. Se alguém conseguir fazer isto que possibilitou. Teve sua inauguração com
aqui – e mostrou com um gesto largo o a peça Eles não usam Black-tie, de Gianfran-
teatro – por que a juventude não pode cesco Guarnieri, tendo no elenco Xandó Ba-
acrescentar mais alguma coisa? Algum dia tista, Lélia Abramo, Vera Gertel, Oduvaldo
as autoridades conseguirão se interessar Vianna Filho, Flávio Migliaccio, Henrique
por nós. Nós éramos estudantes quando José, Francisco de Assis, Riva Nimitz e Mil-
começamos. E deixamos para os estudan- ton Gonçalves.
tes de Teatro de hoje uma obra que cabe Em seguida vieram os outros espetáculos,
a eles acabar. também todos do Teatro de Arena de São
Paulo. Em 28 de janeiro de 1960 estreava
Em 1980, com o passar do tempo se as- Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vian-
semelhava aos escombros deixados por uma na Filho, com direção de Augusto Boal, e
obra não concluída. Abandonado, suas ins- no elenco: Nelson Xavier, Flávio Migliac-
talações eram refúgio de marginais e men- cio, Chico de Assis, Dirce Migliaccio, José
digos que aos poucos foram destruindo as Renato, Milton Gonçalves, Oduvaldo Vian-
instalações reservadas às bilheterias, arqui- na Filho e Xandó Batista. Em 1º de abril de
bancadas, esculturas (de Miguel Pastos) e 1960, apresentavam A farsa da esposa perfeita,
instalações elétricas. Até seus mármores comédia de Edy Lima, com direção de Au-
negros, que faziam parte do revestimento e gusto Boal; cenários e figurinos de Edgard
decoração foram arrancados. No subsolo, ao Koetz, e no elenco Riva Nimitz, Henrique
lado, onde seria construído um Teatro Labo- Cesar, Arnaldo Weiss, Percival Ferreira e
ratório, bandos de mosquitos e ratos se mis- Celeste Lima. Em 12 de maio de 1960, a
turam às águas poluídas. mesma empresa Teatro Arena de São Pau-
A notícia que corria na época (1980), era lo, estrelava com a sátira musical Revolução
que seria demolido, se o governo do Estado na América do Sul, de Augusto Boal, direção
não desapropriasse o terreno e concluísse as de José Renato, música de Geni Marcondes
obras, que foram paralisadas. e Chico de Assis. Direção musical de Geni
Tudo começou com o ideal de um grupo Marcondes, figurinos de Deb Bourbornais,
de jovens atores, que se tornou um sonho, e elenco composto de Nelson Xavier, Flávio
um sonho que em 1980 ainda era inacabado. Migliaccio, Dirce Migliaccio, Xandó Batis-
Aquele esqueleto de concreto alagado pelas ta, Milton Gonçalves, Hugo Carvana, Maria
chuvas, era um pouco das lágrimas de quem Pompeu, Vera Gertel, Oduvaldo Vianna Fi-
o idealizou. lho, Arnaldo Weiss e Carlos Miranda.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 593


O teatro ficou famoso durante a década Teatro de Arena – Copacabana. Planta baixa, (S.E.)

de 1960, quando sediou o projeto Opinião,


e que foi lembrado em 1992 na minissérie época repressora. Ele resolveu dar conti-
Anos Rebeldes, de Gilberto Braga, pela TV nuidade ao trabalho, enfrentando as difi-
Globo. Um espaço de resistência e ideias culdades financeiras e as pressões políticas
que chegou a ganhar o Prêmio Mambembe constantes na época. Deu então início à
de 1980, pelos seus 15 anos de resistência. nova fase do teatro, escrevendo e dirigindo
O Grupo Opinião nasceu em maio de um show para Milton Nascimento, acom-
1964, mas só no ano seguinte a companhia panhado pelo conjunto Som Imaginário.
foi organizada como empresa. Os sócios Com o sucesso desse show, João das Ne-
eram Ferreira Gullar, Oduvaldo Vianna Fi- ves pôde pagar as dívidas e se livrar de uma
lho, Paulo Pontes, Pichin Plá, João das Ne- ação de despejo, e continuar, sozinho, um
ves, Tereza Aragão e Armando Costa. O trabalho cultural.
grupo sobreviveu de 1964 até 1970, quando O primeiro grande movimento realizado
a última reunião marcaria a dissolução defi- nesta nova fase foi o Concurso Nacional de
nitiva do grupo. Dramaturgia, que o Opinião assumiu quan-
Para João das Neves seria uma derrota do o SNT suprimiu o concurso por proble-
política muito grande entregar o local de ma de censura. Realizavam-se seminários.
trabalho, entregar o teatro alugado pelo gru­­­­ Uma peça era escolhida e montada pelo
po e encerrar tão melancolicamente o mo- Opinião, e outras eram lidas e debatidas pu-
vimento, um trabalho de resistência à uma blicamente.

594 Teatros do Rio


Em 1971, foi realizado o primeiro con- O Opinião e toda a vertente teatral im-
curso premiado, com o texto de Aldomar buída de crítica social refletiam as preocu-
Conrado Ponte sobre o pântano. A tentativa de pações políticas de uma geração. Manten-
reestruturar o Grupo Opinião com a mon- do-se sempre uma coerência ideológica até
tagem deste texto frustrou-se mais uma vez, seus últimos anos de funcionamento.
com a morte da atriz Glauce Rocha, inte- Em 1980, o teatro ainda arrendado por
grante do novo grupo. João das Neves, porém, com vencimento
Após o Concurso de Dramaturgia, vários no dia 15 de maio do mesmo ano, não foi
grupos independentes começaram a girar em renovado, porque o proprietário o sena-
torno do Opinião, mas só depois da mon- dor alagoano Arnon de Mello, desejava
tagem de O último carro, em 1977, o teatro vendê-lo por quatro milhões e meio de
ganhou força, contando com a participação cruzeiros. Nem a manifestação da classe
dos grupos de periferia, interessados em teatral realizada no dia 10 de março do
continuar com a política cultural de um es- mesmo ano, em frente ao teatro, protes-
paço aberto ao artista novo, tanto na música tando contra a ameaça de fechamento e
como no teatro. Nesta época foram lançados tentando impedir a venda, comoveu o
cantores como Fagner, Zé Ramalho, Eduar- proprietário.
do Dusek, Grupo Maria Déia e muitos ou- Em janeiro de 1980, interditado por dois
tros em horários normais e alternativos. dias, sob alegação de falta de segurança e
Em 1972 o trabalho do Teatro Opinião higiene. Na época, João das Neves atribuiu
era dedicado aos grupos jovens, uma casa de o fato a “manobras”, visando a expulsar o
trabalho disposta a investir no artista novo. teatro do valorizado espaço da Rua Siquei-
A partir de 1976, venceram a terceira ação ra Campos. Dizia então João das Neves, em
de despejo e se recuperaram, conseguindo reportagem do Estado de S.Paulo, de 11 de
estabilidade, até a notícia de que o teatro es- março de 1980: “Até maio ainda vamos so-
tava à venda, em 1979. O Grupo Opinião frer muita pressão.”
nesta época era formado por: Simone Hoff- Vários artistas estiveram na tarde do dia
man, Germano Blum, Pichin Plá e João das 10 de maio defronte ao prédio onde se lo-
Neves, que não tinham condições financeiras calizava o teatro, protestando contra o fe-
de comprar o teatro. Foi pedido ao Serviço chamento daquele espaço: o Sindicato dos
Nacional de Teatro que o comprasse para o Artistas, se fazendo representar pela sua
Sindicato dos Artistas e Técnicos, deixando presidente na época a atriz Vanda Lacerda;
a administração a cargo do Grupo Opinião. Jaguar; Zé Keti autor do samba “Opinião”,
Mas o pedido não foi atendido. que em 1964 fez o público vibrar durante
O Opinião começou tímido, não tendo o show-manifesto de mesmo nome, além
uma estrutura teatral tradicional, caracteri- de Maria Pompeu, João Nogueira, Stepan
zava-se como um show musical apoiado na Nercessian, Camila Amado, e Hermínio
personalidade dos intérpretes, que passa- Bello de Carvalho.
vam à condição de personagens, e daí a mi-
tos. O espetáculo teatralizava a vida real das ...preservação de um espaço quase intei-
pessoas, e contou com Nara Leão, João do ramente dedicado à dramaturgia brasi-
Valle e Maria Bethânia, e espetáculos como leira, num momento em que se tornava
Liberdade, Liberdade e Se correr o bicho pega, se perigoso promover a discussão da nossa
ficar o bicho come. realidade. [...]

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 595


O opinião representou uma nova lingua- preocupações; o Opinião era uma espécie
gem teatral e uma nova postura para o mu- de trincheira entre a massificação cultural.
sical brasileiro. Fazia um teatro de intervenção, critica-
mente situado em relação aos problemas do
O proprietário não queria mais conti­ povo brasileiro e privilegiando a nossa cul-
nuar apenas alugando-o, e deu um ultimato tura; e promovia, ainda, seminários e con-
ao grupo locador: ou compra, no prazo de cursos de dramaturgia, mantendo sempre as
30 dias, ou sai. Ora o Opinião, que jamais portas abertas a grupos de teatro alternativo
pautara a escolha do seu repertório pelo que, de outro modo, sem o crédito que ali
propósito de ganhar dinheiro, e sempre vi- encontravam, não teriam como realizar suas
vera no vermelho, não dispunha do dinhei- experiências.
ro necessário. E perdeu a última batalha da Depois de uma grande reforma que du-
difícil guerra que vinha travando. Esgotado rou 14 meses, foi reinaugurado em 3 de
o prazo, logo apareceu um comprador com novembro de 1981 (na qual Adaury presta
dinheiro vivo na mão: o industrial Adaury no programa uma homenagem ao Teatro do
Dantas, um ex-sócio de João Bethencourt Estudante e a Paschoal Carlos Magno), com
e Sérgio Britto, em algumas produções tea­ a peça A Senhorita de Tácna, de Mário Var-
trais. gas Llosa, com elenco composto por Wal-
mor Chagas, Tereza Rachel, Luis de Lima,
Moço ainda, seu projeto de vida era o de Tamara Taxman, Ana Lúcia Torres, Marcos
ser ator. Fez inclusive, o curso do Semi- Waimberg, Regina Rodrigues, Pedro Veras
nário de Arte Dramática, no Teatro do e Dema Marques. Direção de Sérgio Britto.
Estudante de Paschoal Carlos Magno... Tradução de Millôr Fernandes, cenários de
Mas a verdade é que, concluído o curso, Paulo Mamede e figurinos de Mimina Ro-
ele se profissionalizou na Companhia Bibi veda.
Ferreira, e depois com Aimée, passando O antigo Opinião, foi rebatizado com o
em seguida à Companhia Paulista de Tea- novo nome de Teatro de Arena, com vidros
tro, uma dissidência do TBC, liderada por fumês, no lugar dos painéis de madeira pin-
Madalena Nicol e de que faziam parte, tados de preto, o foyer foi ampliado, ganhou
entre outros, Sérgio Britto e Jaime Barce- um bar e pintura em tons degradês, além de
los. Mas, de volta ao Rio, começou a pas- todo um sistema de ar-condicionado com
sar dificuldades. [...] Para não enfrentar a sua casa de máquinas.
fome pegou o diploma que, por imposição O projeto de reforma foi do arquiteto Ar-
familiar tirara na Escola de Química e foi naldo Ferraz de Abreu, que assumiu também
trabalhar para a Dupont... [...] Com mais o comando das obras, mandando demolir
dois colegas resolveu montar negócio pró- tudo que existia. O bar que no projeto ori-
prio... [...] Agora a fábrica Inpal S/A... ginal era banheiro, voltou a ter tal função. O
[...] é a única Nacional que, na sua espe- escritório montado na loja ao lado, foi inte-
cialidade, compete com as multinacionais grado à saída do teatro, que se transformou
em qualidade e assistência técnica.257 em foyer. Foram criados mais dois camarins,
a entrada foi modificada, e no porão, pas-
O Teatro Opinião não era exatamente um saram a funcionar mais três camarins. Em
modelo de conforto, mas quem o frequen- volta do palco, arquibancadas modulares
tava ou nele trabalhou, tinha outro tipo de que podem ser removidas e permitem a aco-

596 Teatros do Rio


modação de 400 pessoas, anteriormente a Opinião com Nelson Sargento,Walter Alfaia-
capacidade era de 330 lugares. Todo o equi- te, Cristina Buarque, Paulo César Pinheiro,
pamento de luz, como os demais, foi novo e Nei Lopes, Pedro Amorin, Jayme Vignoli,
embutido. A parte da iluminação foi entre- Luciana Rabello, Carlinhos 7 cordas, Her-
gue a Jorginho de Carvalho. A administra- mínio Bello de Carvalho e outros bambas do
ção do Teatro de Arena e produções ficaram samba.
a cargo de Pichim Plá, uma das fundadoras
do Opinião.
1964
O prédio foi construído para ser uma Teatro de Arena da Guanabara
boate. Nós instalamos o Opinião com coi-
sas emprestadas. Adaury queria melhorar A ideia de criar o Teatro de Arena da Gua-
o local, oferecer conforto ao público.278 nabara surgiu em 1961, por iniciativa de
Hélio Carvalho, quando ainda integrava o
Adaury Dantas não estava muito preocu- elenco do Teatro Social, dirigido por Nelson
pado em dar continuidade à linha de tra- Pompéia, no Arena da Universidade do Bra-
balho de João das Neves e de seu grupo. sil (hoje UFRJ), na Praia Vermelha, unindo-
Suas metas eram outras, como ele mesmo -se a ele: Pernambuco de Oliveira, Gracinda
explicava: Freire, Aurélio Teixeira, Sérgio Cardoso e
Glauce Rocha.
A minha preocupação não é a de montar Uma arena desmontável foi oferecida a
somente textos políticos. O que eu que- Hélio de Carvalho, por Renato de Souza,
ro é montar peças importantes – políticas então presidente do Teatro Universitário.
ou não – em montagens de qualidade. Não O estado de conservação da estrutura não
existe uma rigidez de repertório. O prin- era dos melhores, mas depois de examiná-lo
cipal é a qualidade de texto, espetáculo e no Maracanã, local onde estava guardada,
elenco... Ainda vamos estabelecer horários achou que mesmo nas condições em que se
de seis e meia ou meia-noite, além do tea- encontrava, dava para montar um teatro em
tro infantil aos sábados e domingos à tarde. forma de ferradura.
Ao mesmo tempo, pretendemos manter as Depois de conseguirem a estrutura, fun-
noitadas de samba das segundas-feiras.259 daram o grupo Teatro de Arena da Gua-
nabara em 4 de outubro de 1961, o pas-
O objetivo de Adaury Dantas é reconhe- so seguinte era conseguir um local para
cido, e ele é contemplado com o Prêmio montá-la. Como não tinham, resolveram
Paulo Pontes-82 da Associação Carioca de procurar o Dr. Hélio Walcacer, que se
Empresários Teatrais (Acet). Com a saída de prontificou a arranjar um lugar no Centro
Pichin Plá, a administração do teatro foi as- da cidade; mas precisava da aceitação do
sumida por Carlito. O Teatro de Arena, de- Governador Carlos Lacerda. Este atendeu
pois de passar cinco meses fechado para uma à solicitação de Hélio de Carvalho e desti-
grande reforma, transformou-se em um ca- nou um terreno, cessão em caráter provi-
fé-teatro, com uma programação dedicada à sório, no Largo da Carioca, junto à encosta
música e ao teatro musical. do Morro do Convento de Santo Antônio.
Para reabertura em 19 de janeiro de Área atualmente ocupada pela Estação Ca-
1998, foi apresentado um show Revendo o rioca do Metrô.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 597


Vários outros artistas se prontificaram a nho, Edgard Sanches, Paulo Pôrto, Décio
participar da luta, lançando mão de todos Rangel, Glauce Rocha, Ida Gomes, Cléa
os recursos possíveis: campanha financeira, Goulart, Lourdes Maier, Wagner Ribeiro,
venda de cadeiras cativas, e a obtenção de Maria do Carmo, Edson Oliveira, Luciano
todo tipo de ajuda. Carvalho, Paulo Neves, dentre outros.
A princípio a ideia era simplesmente Nesta fase a diretoria do Teatro de Arena
construir um galpão, que pudesse receber a da Guanabara era composta por: Hélio Car-
arena. Entretanto, o trabalho ininterrupto e valho, diretor; Silvio Moreira, secretário;
com a conquista de colaborações, fez com Décio Rangel, tesoureiro; Orlando Miran-
que elevassem uma estrutura pré-fabricada, da, diretor de relações-públicas; Dr. Fernan-
segundo o projeto de Helcio B. S. Freitas, do Motta, consultor jurídico; Professora Le-
“um especialista neste tipo de construção”.260 tícia C. Barbosa, diretora do Teatro Infantil.
Um teatro com 250 lugares, em cadei- Foram sócios fundadores: Décio Perei-
ras dispostas em arquibancadas, construído ra Rangel, Fernando L. S. Motta, Glauce
com estrutura metálica desmontável e com Rocha, Hélio Carvalho, Inês S. Campos,
placas de filtro de cimento pré-fabricadas, Letícia C. Barbosa. Milton Duque Estrada,
com sua fachada em linhas modernas, des- Sérgio Cardoso, Thaís M. Lima e Maria do
pojadas, retangular, de forma que, apresen- Carmo Ferreira. Admitidos por assembleia
tava duas fachadas, a principal e uma lateral, geral: Orlando Miranda, Germana de La-
voltadas para o Largo da Carioca. mare, Helcio B. S. Freitas, Silvio Moreira e
A entrada do teatro dava para um espa- Wilson Rocha Meirelles, e sendo grandes
çoso hall, à direita do qual havia o bar, o beneméritos: Sra. Germana Ribeiro de La-
escritório da administração e a bilheteria, mare, Dra. Mercedes Gross e o Deputado
e à esquerda, sanitários masculino e femi- Mario Tamborindeguy.
nino. A sala de espetáculos, com uma área de Entretanto, as obras que não haviam sido
368 m2, tinha três lances de arquibancadas, concluídas, continuaram seu ritmo, não
disposta em forma hexagonal, com dois cor- impossibilitando que as atividades também
redores de acesso. A arena, servindo de pal- prosseguissem seu rumo. Desta forma foi
co, ocupava a parte central. Aos fundos fica- montado no Teatro de Arena, a peça infantil
vam cinco camarins, instalações sanitárias e A revolta dos brinquedos, de Pernambuco de
um depósito. O acesso do público à sala de Oliveira e Pedro Veiga, e em seguida mon-
espetáculos se fazia pelo hall de entrada; sua tada a peça infantil Joãozinho e Maria, de Da-
saída por uma porta lateral externa. niel Filho.
Em abril de 1963, começando o seu fun- Dias antes da estreia oficial foram apre-
cionamento, ainda em fase de instalação, sentadas as peças infantis: Mistérios da bruxa
houve uma pré-inauguração, destinando-se trapaceira, de Pedro Touron, e o Dragão ino-
a renda ao término das obras, com a monta- cente, de Ruy Costa Duarte, com direção
gem de A Paixão, de Luiz Peixoto, inspirado de Mário de Oliveira. E em 5 de novem-­­­­
na adaptação de Gustavo Cohen do texto bro de 1964, era inaugurado o Teatro de
de Arnoul Gréban. Direção de José Rena- Arena da Guanabara, fechando assim o ci-
to, cenários e figurinos de Celso Cardoso, clo inaugural com a montagem oficial da
músicas de Edino Krieger. No elenco Cel- peça A torre em concurso, de Joaquim Manoel
so Cardoso, Humberto Nogueira, Gracinda de Macedo, direção de Paulo Afonso Gri-
Freire, Magalhães Graça, Gilberto Marti- solli, música de Catulo de Paula, cenários

598 Teatros do Rio


e figurinos de Celso Cardoso, sendo o elen- Depois no final de 1965, Luiz Carlos Maciel
co integrado por quase trinta atores, dentre dirige Labirinto, de Arrabal, também no Are-
eles: Grace Moema, Modesto de Souza, Hé- na da Guanabara, com Marieta Severo, Ary
lio Ary, Gracinda Freire, Magalhães Graça, Kolovski, Tetê Medina, Moyses Aichenblat,
Antonio Luiz, Ruy Duarte, Dilze Pragana, Rogério Fróes, e outros.
Paulo Neves, Walter Tobias etc. Em 1968 o Teatro de Arena da Guanaba-
No programa de estreia da peça A torre em ra é ameaçado pela Sursam, que pleiteava a
concurso, João Bethencourt ressalta a vitória área ocupada pelo teatro para reurbanização
do empreendimento afirmando: do Largo da Carioca. Em 1971, passou a ser
Sociedade de Arte Teatro de Arena da Gua-
Sem dúvida o T.A.G. terá um futuro nabara, arrendado por professores do Colé-
cheio de sucessos: a teimosia de seus ar- gio Pedro II e da Escola de Teatro Martins
tífices, o fato de terem chegado até aqui é Pena, tendo como Diretor administrativo
um penhor do resto. Mas o momento da Gas­­­­tão Nogueira, que tentou solucionar os
primeira grande festa é agora: com a pri- inúmeros problemas existentes no teatro,
meira montagem importante, com o tea- desde a falta de ventilação, iluminação, pin-
tro funcionando pela primeira vez a todo turas, camarins, até as goteiras. Enquanto
vapor. [...] Acompanhei a sua luta insana: não conseguiam verbas para recuperação
cada viga de madeira, cada chapa de maté- do teatro, utilizavam-se da área em torno do
ria plástica, foi conseguida através de um mesmo para estacionamento, que através de
combate feroz, silencioso, contra a falta de pagamento mensal de uma taxa, possibilita-
dinheiro, desinteresse, ou simplesmente va uma renda para pequenos reparos, mas
a inércia. [...] O terreno sobre o qual re- não o suficiente para os gastos. O Serviço
pousa, foi cedido pelo Estado; as cadeiras Nacional de Teatro chegou a liberar uma
da plateia trazem o sinete respeitável do verba que foi usada para aquisição de mate-
Teatro João Caetano, cedidas mediante rial hidráulico para puxar água para o teatro,
acordo perfeitamente legalizado; e houve revisão sanitária, recuperação do telhado e
até um pequeno empréstimo do Banco do outros serviços de reparos.
Estado suficiente para eliminar ao menos Em final de 1973, encerrava sua atuação
uma noite de insônia. no Largo da Carioca apresentando as peças
Sócrates e As incelenças, e em janeiro de 1974
O Grupo Teatro da Bibsa durou sete anos, recebia ordem de despejo.
vindo a ser formado um outro grupo per-
manente com Marcos Flaksman, Tite de Le- A Companhia do Metropolitano do Rio de
mos, Luis Carlos Maciel, João Ruy Medei- Janeiro disse que não pode esperar. Segun-
ros, José Mauro Gonçalves e Eduardo Por- da-feira põe abaixo o teatro. Terça-feira
tella, com o nome de Teatro de Repertório, terá tudo empilhado.
que funcionou no Teatro de Arena da Guana- Gastão se bate pela necessidade de que
bara. Paulo Afonso Grisolli dirigiu então em sejam preservadas organizações como esta.
1965 Morte sem sepultura, de Jean Paul Sar- Esteve no Metrô e cobrou do General Mil-
tre, convidando Moyses Aichenblat para o ton Gonçalves os estudos realizados pela
elenco, estando este em plena atuação na TV comissão que ele criou em outubro, visan-
Continental e Rádio Globo, sendo esta sua do à remoção do teatro. O presidente do
primeira experiência profissional em teatro. Metrô disse que esses estudos não incluem

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 599


a reconstrução do teatro, mas a desmon- 1970
tagem e a retirada dele para outro local. Teatro Bertold Brecht
A Divisão do Patrimônio já liberou duas (Teatro de Arena do Planetário)
áreas para o teatro, mas o processo está
nas mãos do Secretário Fernando Barata, O Teatro do Planetário da Gávea (Teatro
há alguns meses, que ainda não deu seu pa- Bertold Brecht), situado à Rua Leonel Fran-
recer. Uma delas é o terreno no número ca n. 240, na Gávea, teve como primeiro
45 da Rua Farani, o segundo é ao lado do endereço a Rua Marquês de São Vicente,
Drive-in na Lagoa.261 n. 146. O planetário possui uma arquitetura
moderna, de linhas arrojadas, em concreto
Em janeiro de 1974 interrompia suas ati- aparente, de autoria dos arquitetos Renato e
vidades com ordem definitiva de despejo, Ricardo Menescal. O prédio é composto de
tendo sido demolido no dia 22 do mesmo um pavimento e de um terraço que circunda
mês, para execução das obras do Metrô. sua cúpula.
A mudança para a Lagoa foi dificultada Em março de 1970 foram iniciadas as
pela Sociedade dos Amigos da Lagoa, e espe- obras, ficando a Tecnosolo S.A., com a parte
ravam todos que o novo Teatro de Arena pu- de sondagens do solo; as fundações do pré-
desse ressurgir no terreno de Botafogo (Rua dio foram concluídas pela firma ENARC
Farani, n. 45). Porém ficaram promessas, S.A. Engenharia de Fundações e a Constru-
e nada se concretizou. Desapareceu como
tantos outros. Planetário da Gávea

600 Teatros do Rio


Teatro Planetário da Gávea. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Planetário da Gávea. Corte, (S.E.)


Teatro de Arena do Planetário da Gávea tão Diretor Santiago Pereira Nunes fecha
o planetário, solicitando à secretaria de
ção Civil ficou a cargo da Construtora Re- obras orçamento para reformas. A situação
becchi S.A., sob a orientação do engenheiro era precária, com infiltrações em todo pré-
Myres Lorenco Lagiotto. Foi inaugurado a dio. As instalações elétricas eram de 220v.,
19 de novembro de 1970, com a presença quando deveriam ser de 110v.. O sistema de
do secretário de Ciência e Tecnologia Arnal- ar-condicionado funcionava precariamen-
do Niskier. O espaço físico do Planetário é te e a casa de máquinas havia sido alagada.
dividido em Área Administrativa, Galeria de “Isso aqui era uma bomba-relógio. Quando
Arte, Anfiteatro, Auditório, Cúpula, Sala de assumi, havia lixo, teia de aranha e ratos por
Cursos, Biblioteca, Livraria e Cantina. toda parte.” 262
O anfiteatro, situado no terraço do pré- Chamar o auditório do Planetário da Gá-
dio, tinha capacidade para 1.600 lugares, e vea de Teatro Bertold Brecht era no mínimo,
destina-se a apresentações ao ar livre de pe- indecoroso, pois o espaço em nada vinha a
ças teatrais, concertos musicais, assim como prestigiar o dramaturgo; pelo contrário, era
de local para observação com telescópio. O inadequado para a representação teatral,
auditório possuía capacidade para 200 pes- sem os mínimos recursos técnicos. A come-
soas, e era dotado de um camarim, e volta- çar pelo palco de concreto, com réguas ma-
do para atividades culturais como peças tea- cho-e-fêmea, aplicadas diretamente sobre
trais, concertos musicais, palestras e cursos, ele. Uma área acanhada, sem profundidade,
e possuía também um cineclube. sem qualquer aparato técnico para as produ-
Depois de duas décadas de funciona- ções teatrais. Uma rotunda e pernas laterais
mento, em 2 de fevereiro de 1989, o en- improvisadas reduziam ainda mais o espaço,

602 Teatros do Rio


Teatro Planetário da Gávea (II). Planta baixa, (S.E.)

Teatro Planetário da Gávea (II). Corte, (S.E.)


funcionando mais como obstáculos, do que para viabilizar execução do projeto. Mas
como vestimentas do palco. Um precário foi a própria Secretária de Cultura, Helena
camarim ao fundo impossibilitava a troca de Severo, que designou uma verba específi-
figurinos de mais de dois atores. O banheiro ca para as obras. O projeto de reforma e
não apresentava condições melhores. modificação de José Dias previa então o re-
A plateia de 200 lugares, com grande dimensionamento de toda área física, man-
parte das poltronas completamente danifi- tendo as características arquitetônicas do
cadas, impedia a acomodação de um públi- prédio. As estruturas não são tocadas, até o
co mais exigente. O rebaixamento do teto desnível da plateia é mantido, a fim de não
em gesso foi totalmente destruído, com encarecer o desmonte da obra.
fiações, arames e muitos outros elementos A bilheteria e a entrada do teatro, com
estranhos que serviam para a colocação de suas portas em vidro Blindex, são conser-
refletores em seus buracos abertos para vadas, por fazerem parte da fachada do
fins de iluminação. O piso da sala, forrado prédio, sendo alterada apenas a angulação
em alguns lugares com carpete, em outros dos degraus de acesso à sala, para facilitar
só no concreto, criando sérios empecilhos a circulação do público, assim como a bi-
à circulação. lheteria, que também é conservada. Atra-
A cabine de luz e som era o que se po- vés de cortina de veludo faz-se uma ligação
deria chamar de mais uma improvisação, com o foyer, de 15 m2 com 4 m de altura,
com toda sua fiação exposta. Tendo um ras- criado no espaço em que, antes, era locali-
go como janela, o técnico, sem uma linha zada a cabine de luz, som e projeções.
de visibilidade, operava uma mesa de luz A casa de máquinas do ar-condicionado
apoiada em caixotes e pequenos praticá- é mantida no mesmo local, com a intenção
veis. de não dificultar e encarecer o novo siste-
Passou por um breve período de refor- ma de refrigeração para a sala.
mas e foi reinaugurado no dia 21 de julho Um corredor de circulação com 4,5 m2
de 1990, pela Secretaria Municipal de Cul- permite a ligação do pequeno foyer, pin-
tura da Prefeitura da Cidade do Rio de Ja- tado na cor terracota, com a sala de es-
neiro, com o projeto “Vinte anos de Inau- petáculos. A antiga plateia, concretada e
guração do Planetário da Cidade do Rio de em desnível, foi conservada, recebendo
Janeiro”. arquibancadas pintadas de PVA preta, não
Quando assume a direção do Planetário, impedindo que uma arena fosse criada. As
Domingos de Oliveira convida José Dias arquibancadas são divididas em três blocos,
para elaborar um projeto de reforma do sendo um maior e dois menores. Estes úl-
auditório (Teatro Bertold Brecht). Logo timos separados por uma ampla porta de
em seguida, todo o complexo é transfor- Blindex de 3 m de largura, com cortinas
mado em 16 de março de 1993, em Funda- de veludo terracota, permitindo acesso ao
ção Planetário da Cidade do Rio de Janeiro. grande corredor principal do prédio.
Durante todo o ano de 1993 foram desen- Acima de um dos blocos menores da ar-
volvidos vários projetos, que eram analisa- quibancada, sobre o antigo palquinho de
dos e discutidos com o então diretor. concreto, estão situadas as cabines de ope-
Neste período, toda a equipe ligada dire- ração, sendo a de luz com 9,5 m2 e a de
tamente a Domingos de Oliveira tenta, em som e vídeo com 7,5 m2, ambas com espa-
vão, captar recursos no meio empresarial ços suficientes para o trabalho dos profis-

604 Teatros do Rio


sionais. É o único teatro no Rio de Janeiro 1995
equipado com sistema de vídeo de última Teatro Sesc de Copacabana
geração, que o torna simultaneamente tea-
tro e sala de vídeo. As paredes são forradas Em 24 de junho de 1995, com projeto de Os­­
em formipiso preto fosco e o teto em PVA, car Niemeyer e assessoramento de Marcos
também na cor preta. Esta nova localização Flaksman, era inaugurado o Teatro Sesc de Co-
permite uma linha de visibilidade completa pacabana, uma feliz soma de conforto e fun-
do espaço cênico. cionalidade localizado à Rua Domingos Fer­­
Tendo em vista o pé direito da sala, e a reira, n. 160. Apesar de pertencer ao grupo
visibilidade dos espectadores foi projetado de teatros do Sesc, o Copacabana está incluído
um palco de 15 cm de altura, com 3,4 m de nesta sessão por ser um teatro de arena ocupa-
raio, pintado em PVA, sobre o qual há um do por atividade profissional permanente.
grid, em estrutura tubular para iluminação O acesso ao teatro pode ser feito pela es-
cênica. cada em caracol ou pelo elevador. Com uma
Uma porta aberta na parede do fundo, ampla antessala, cujas paredes curvas acarpe-
onde estava localizado o palquinho, possi- tadas em marrom justificam a preocupação
bilita o acesso ao antigo sanitário mascu- com a acústica. A sala de espetáculo, também
lino, que foi totalmente transformado em marrom, possui 288 poltronas estofadas em
um único camarim de 15 m2, com ban- que azul circunscrevem a arena de 7 m de
cadas e araras, e um banheiro completo, diâ­metro. Através de uma porta tem-se aces-
conservando uma área independente para so ao bar. Possui 4 camarins com banheiros,
o sanitário do público masculino. O piso um almoxarifado, duas salas para produção,
do camarim é em formipiso cinza azula- uma grande sala de ensaios e duas oficinas:
do fosco, paredes e tetos em branco PVA uma para cenografia e outra para figurinos.
e as bancadas em cedro, forradas em fór- O espetáculo de estreia foi Torre de Babel,
mica fosca cinza azulado. As paredes do de Fernando Arrabal, com direção, cenários
banheiro azulejadas na cor cinza-azulado, e figurinos de Gabriel Villela, e com Marieta
teto branco, e bancadas em granito carijó. Severo protagonizando a encenação.
Os artistas têm acesso direto à área de re- Uma casa de espetáculos que mantém
presentação, através de um corredor que a constante atividade de produções profissio-
liga ao camarim. nais para um assíduo público.
Com capacidade para 140 espectadores
em cadeiras, que são de plástico sobre es-
trutura metálica, e as paredes da sala são de
cor terracota, formando, com o preto das
arquibancadas, um conjunto agradável, não
interferindo nos espetáculos que ali serão
apresentados.
Este projeto de transformação do antigo
auditório do Planetário em teatro de arena
preencheu uma lacuna de espaços com este
formato existente na cidade do Rio de Ja-
neiro, satisfazendo ao anseio de toda classe
teatral. Teatro de Arena Sesc Copacabana

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 605


4.6.2. OS CORETOS NÃO Janeiro, constatou-se a grande concentração
na zona sul da cidade e a carência na zona
ESTÃO MORTOS: O PALCO
norte, principalmente nos locais de grande
AMBULANTE, VERSÃO concentração populacional. Esta situação fi-
MODERNA DOS CORETOS. cou evidenciada nos conjuntos residenciais,
onde a total inexistência de atividades artís-
ticas favorecia um gradual processo de dete-
Numa cidade como o Rio de Janeiro, onde rioração de identidade cultural.
cinemas e teatros ficam a distâncias e pre- Foi verificada a superposição de formas
ços inacessíveis a muita gente, o coreto já foi elitizantes na promoção das manifestações
uma instituição. Bandinhas, teatros de fan- culturais, em detrimento de uma arte po-
toches, os regionais ou mesmo um solitário pular rica e mobilizadora, mas com espaços
seresteiro podiam, de graça, alegrar a vida exíguos de divulgação.
de muita gente. Hoje, porém, os coretos Para superar tais condições foi elabora-
estão mortos. Mas em seu lugar uma outra do um projeto para integrar-se ao Plano
diversão móvel e mais sofisticada foi criada. de Ação Cultural: uma unidade móvel, que
pudesse deslocar-se até os mais distantes lo-
No fim da Segunda Guerra Mundial, na gradouros da cidade – o Palco Sobre Rodas
Europa, quando os palcos eram poucos – um exemplo de experiência americana e
para dar vazão ao renascimento cultural do europeia, que deram resultados.
teatro, foi inventado o palco ambulante, Traçados os primeiros esboços do veícu-
geralmente uma carreta que percorria as lo, pelo próprio Diretor do Departamento
cidades levando as peças aos lugares mais Geral de Cultura, Martinho de Carvalho,
distantes. A ideia foi agora adotada tam- veio a fase de procura do empresário brasi-
bém pela Prefeitura do Rio de Janeiro.263 leiro que aceitasse o desafio. Com algumas
dificuldades, o projeto foi encontrar apoio
Idealizado pelo Departamento Geral de na Carbruno S.A. ­– Indústria e Comércio,
Cultura, o “Palco sobre rodas” tinha como de São Paulo, que assumindo o desenvolvi-
objetivo levar uma programação cultural in- mento dos estudos técnicos, se responsabili-
tegrada de teatro, dança e música a grupos zou pela construção da unidade móvel. De-
comunitários. Visava reduzir as distâncias pois de alguns meses de trabalho, o palco se
que os mantinham do convívio com as ma- tornou uma realidade, e em 26 de março de
nifestações artísticas e culturais. 1977 era inaugurado na Praça Filomena Car-
Começa em março de 1975. Nesta épo- los Magno com um espetáculo para crianças.
ca, a direção do Departamento de Cultura Ao ato compareceram: o Prefeito Marcos
procedeu ao levantamento do que caberia à Tamoyo; César Seroa da Mota, seu Chefe de
Secretaria Municipal de Educação e Cultu- Gabinete; Terezinha Saraiva, Secretária Mu-
ra, por força da fusão Estado da Guanabara / nicipal de Educação e Cultura; Orlando Fe-
Estado do Rio de Janeiro, em termos de bens liciano Leão, Secretário Municipal de Obras;
materiais que sustentassem a programação Luiz Fernando Portella, Subsecretário de
cultural no novo município, verificando-se Planejamento; Walter Cunto, Assessor-chefe
que não se poderia contar com nenhum tea- da Assessoria de Comunica­ção Social da Se-
tro próprio. Após um exame da situação das cretaria Municipal de Edu­­cação e Cultura;
casas de espetáculos existentes no Rio de Therezinha Pinto Mac-Culloch, Diretora do

606 Teatros do Rio


17° Distrito de Educação e Cultura; Leda Rodas funciona também como elemento
Lúcia B. M. Carvalho, chefe do Serviço Téc- de instigação do espírito comunitário.264
nico de Assuntos Culturais do 17° E-DEC;
Moacyr Bastos e um público de mais de E assim estava lançado o Palco Sobre Ro-
2.500 pessoas. das, uma unidade móvel especial, tipo palco
Nessa ocasião, foi apresentada a peça in- e concha acústica, montado em um semirre-
fantil A Betoneira não é de brincadeira pelo boque de dois eixos, construído em chassis
Teatro Cataflor do CEMCG, além dos gran- de longarinas de aço, com dois eixos, com
des fantoches do Teatro do Gibi e da Banda quatro rodas cada um; sistema de freios de
Carioca. E à noite, o Palco deslocou-se para comando hidráulico; sistema de engate com
a Praça Teimo Gonçalves Maia, em Campo pino de segurança; sistema elétrico com
Grande, com um espetáculo de teatro, dan- sinalização de acordo com o exigido pelo
ça e música popular brasileira. Departamento Nacional de Estradas e Ro-
O projeto não era propriamente didático, dagem (D.N.E.R).
mas desempenhava um papel educativo e de A carroceria é construída em estrutura de
formação, pois se destinava a um público em perfilados de aço, com revestimento exter-
sua maioria composta de pessoas completa- no em chapas de alumínio. O revestimento
mente marginalizadas do processo cultural, interno é feito de Duraplac, teto e laterais,
não apenas por motivos econômicos, mas e em passadeiras plásticas especial no piso.
também por morarem longe do Centro e da Uma das laterais abre-se totalmente, com
zona sul, onde está localizada a maioria dos o auxílio de sistema de contrapesos, per-
teatros. As palavras de Martinho de Carva- manecendo aberto por meio de suportes
lho, então Diretor do Departamento Geral especiais. Do piso, abre-se uma extensão,
de Cultura, ilustra bem o quadro social e o que serve como palco apoiando-se em duas
objetivo do projeto na época: estruturas tubulares metálicas, e na parte
traseira, uma porta com respectiva escada
Não há, no momento, condições para im- de embarque e desembarque. O sistema de
plantar casas de espetáculos nos subúrbios. iluminação é por meio de luminárias equi-
Aí o Palco Sobre Rodas se impôs como padas com lâmpadas fluorescentes.
uma solução. Ele pode se apresentar em O sistema de som, através de cornetas com
qualquer lugar, em praças, logradouros, interligação, a um microfone de pedestal, in-
favelas, conjuntos habitacionais. Em maté- clusive o respectivo amplificador. A caixa de
ria de acomodações, o público não faz exi- entrada e distribuição de força, é com sistema
gências. Uns levam almofadas e cadeiras de fusíveis de segurança e transformador de
de casa, outros sentam-se no chão mesmo. força de 200V para 100V, pois todo o siste-
Em alguns conjuntos habitacionais, as pró- ma elétrico de iluminação e som é em 100v.
prias janelas dos apartamentos funcionam A pintura em azul (cor oficial do município)
como camarotes. E tem sempre lotação com a inscrição Palco Sobre Rodas. O pal-
esgotada. O clima é de festa. E a partici- co, com 5,4 m de profundidade e 8,53m de
pação das pessoas chega a ser comovente. comprimento, tem capacidade para 60 com-
Sempre há alguém oferecendo cafezinho ponentes de uma Banda, ou 40 de uma Or-
e lanches aos artistas, outros emprestan- questra ou 120 de um Coro.
do suas casas para servirem de camarins, A programação desenvolvida pelo Palco
o que mostra até que ponto o Palco Sobre Sobre Rodas dura em média cinco horas;

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 607


com espetáculos variados, levados regular- 4.6.3. CIRCOS
mente todos os sábados, aos mais distantes
logradouros da cidade do Rio de Janeiro.
O espetáculo sempre começa com sensi-
bilização lúdica do público presente, pros- 1982
seguindo com teatro infantil, depois um Circo Voador
adulto, dança e encerra com apresentação
de música popular brasileira. Durante os in- Em 15 de janeiro de 1982, nascia em pleno
tervalos são apresentados números de pan- Arpoador, o Circo Voador, uma iniciativa de
tomima, mágica e circenses. um grupo de artistas que achava que o Rio
Durante 1977/1978, a programação do necessitava de um espaço para manifestações
Palco Sobre Rodas contou com o apoio da alternativas de teatro, música, artes plásti-
Funarte/MEC, que contribuiu com 1/5 dos cas, dança e o que mais viesse a acontecer. E
custos da programação de música e dança, assim, Marcio Galvão, com chancela de Luis
o SNT com uma colaboração representada Fernando Guimarães, Regina Casé, Perfeito
por 50% dos custos da programação de tea­ Fortuna, e projeto de Maurício Sette, levan-
tro. A substancial participação desses dois taram a lona do circo, que não tinha palco,
órgãos federais tornou possível a realização e que pouco durou na praia do Ar­poador,
da programação desenvolvida. pois foram convidados a se retirar do logra-
A participação da empresa particular no douro público.
Plano de Ação Cultural Integral desenvolvido De março a outubro do mesmo ano não
pelo Departamento de Cultura evidenciou- conseguiram levantar a lona, e em 23 de
-se de maneira especial no projeto do Palco outubro do mesmo ano, se estabeleceram
Sobre Rodas, sobretudo, através do apoio das ao lado dos Arcos da Lapa, com a intenção
Organizações Disco S/A. O presidente desta de permanecer no local por alguns meses e
empresa, Sr. Antônio do Amaral, reconhecen- depois pegar a estrada. Entretanto, o novo
do a dimensão social do trabalho desenvolvi- espaço cultural criado, e com a procura cada
do pelo Departamento, atendeu à solicitação vez maior de grupos querendo se apresentar
de assegurar com viatura da própria empresa, e de público, fez com que o circo não mais
o reboque da unidade móvel, sem qualquer baixasse sua lona, tornara-se um espaço in-
aspecto promocional. Tal colaboração veio formal para as diversas manifestações artís-
caracterizar a união de esforços entre o poder ticas e se transforma no principal palco do
público e as entidades particulares. Rock na cidade.
A experiência do Palco Sobre Rodas, uma O Circo Voador foi a grande mola propul-
versão moderna dos coretos foi um exemplo sora do rock nacional, debaixo daquelas lo-
que deu certo, e que deveriam ser construí- nas vários grupos foram impulsionados para
das outras unidades móveis, para levar a arte o sucesso, bandas como Kid Abelha, Blitz,
brasileira às comunidades mais distantes, tão Barão Vermelho, Plebe Rude, Legião Urba-
carentes das manifestações artísticas. Em na e Ultraje a Rigor, lá cresceram e ganha-
suas viagens pelo Estado deu a noção do que ram fama, fazendo com que o Circo tam-
pode ser o teatro como meio de cultura e bém recebesse um impulso e se colocasse no
discussão, lançando a semente da formação maior centro cultural da cidade do Rio de
de grupos locais que possam por si mesmo Janeiro, com sua programação aos sábados
criar o seu teatro. “Rock Voador” e as famosas “Domingueiras”,

608 Teatros do Rio


que foi um sucesso permanente, com suas um centro de turismo, lojas, salão de con-
noites de gafieira. ferências, café, lanchonete, e como não bas-
Suas lonas também abrigavam assembleias tasse um estúdio de gravação de vídeos, um
de sindicatos, de grupos dos direitos huma- de gravação de discos e um terceiro estúdio
nos, entre outros. Mantinham um compro- para rádio. Além de uma galeria de arte, um
metimento com os projetos de comunidades cabaré para 1.000 pessoas, quatro restau-
carentes, inclusive uma creche, um trabalho rantes, uma choperia e um banco.Tudo isso
social totalmente pioneiro e uma horta co- em uma área de 12.000 m2, que ocupa a ve-
munitária. lha fundição de ferro, um prédio que está há
Começa então a perder suas forças e fecha 117 anos na Rua dos Arcos.
em novembro de 1996, com o alvará cas- Apesar de o teatro, em 1992, não ter fi-
sado por César Maia, até que resolvesse o cado pronto, nos meses de julho a setem-
problema da acústica da casa. bro do mesmo ano, abrigou em seus espa-
Desde que se instalaram na Lapa, já pensa- ços ainda inacabado o projeto Teatro 3X3,
vam em trocar a lona pelo prédio da Fundi- que consistia três peças, cada qual em três
ção Progresso, Rua dos Arcos n. 24 a 50, que semanas, todas montadas no espaço onde
fica bem em frente ao Circo. E em janeiro de viria a ser o cabaret da fundição, e que foi
1988 apresentavam o projeto de recuperação um grande sucesso. Além disso, cursos e
do prédio da Fundição, que estava há anos oficinas vinham sendo ministradas durante
abandonado, e ia ser demolido. O produtor todos esses anos, mesmo com suas instala-
Marcio Galvão, deixa o circo para então se ções incompletas. Em 20 de novembro de
dedicar ao futuro shopping cultural. 1997, era inaugurado o anfiteatro, com a
Com muito sacrifício, junto ao governo festa Estação Verão.
e com o apoio da imprensa e classe artísti- Em 1995 Marcio Galvão se retira, e Mau-
ca, conseguiram evitar a demolição, e com rício Sette assume seu lugar, passando a alu-
recursos financeiros advindos da Sul Améri- gá-lo para cobrir os custos de manutenção.
ca, White Martins, Brahma e Pró-Memória, Entretanto, o prédio continuava em ruí-
através da Lei Sarney passaram as novas con- nas, apesar de todas as promessas de que se
truções da Fundição Progresso. Chegaram tornaria em shopping cultural no prazo de
a criar a FAM (Fundição de Amigos), uma dois anos.
associação que arrecadava recursos finan- Já se passaram onze anos, e na presidência da
ceiros para construção e funcionamento da casa esteve primeiro Marcio Calvão, depois
Fundição Progresso. Maurício Sette. Em março de 1999, depois
O projeto para Fundição compreendia: de longos anos afastado do Circo Voa­dor e da
um espaço para shows com capacidade para Fundição Progresso, volta Perfeito Fortuna
4.000 pessoas. Uma área de oficinas: de cou- para assumir a presidência da organização.
ro, gráfica, fotografia, pintura, escultura,
tapeçaria etc. Um teatro com 600 lugares
que na época seria coordenado por Marieta 1982
Severo e Renata Sorrah; um teatro de dança Escola Nacional de Circo
de 300 lugares, um cinema com 200 lugares
e um outro de 300 lugares. Os dois cinemas A Escola Nacional de Circo, localizada na
seriam destinados ao Estação Botafogo. Mais Praça da Bandeira, foi fundada pelo então Di-
um teatro experimental para 350 pessoas, retor do Instituto Nacional de Artes Cênicas

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 609


(Inacen), Orlando Miranda, e pelo artista cir- bacia aérea, de solo, trapézio, arame e perna
cense, Luis Olimecha, um profissional que já de pau, além de disciplinas teóricas como
havia tido vários circos, e que também tinha história da arte, dentre outras.
sido gerente de grandes picadeiros como o É mantido pelo Centro de Artes Cêni-
Gran Circo Bartholo. Sua inauguração se deu cas da Funarte, e por lá já passaram mais de
em 13 de maio de 1982, sendo na época lan- 800 alunos, sendo que várias turmas já con-
çado o edital de regulamentação do Curso de cluíram o curso regular de iniciação à arte
Iniciação à Arte Circense. circense, de currículo profissionalizante, e
A escola foi projetada pelos arquitetos com duração de três anos. Vários grupos se
Carlos C. Pini e Marcos Flaksman tal e qual formaram, constituídos de ex-alunos, que
um circo de verdade, com cobertura de 50 hoje integram os “Irmãos Brothers” e a “In-
metros de diâmetro, com um picadeiro de trépida Trupe”.
12,5 m de diâmetro, com frisas, camarotes, Para Luiz Olimecha, que foi posto em
arquibancadas para 4.000 pessoas e todo disponibilidade no Governo Collor e não
aparato técnico. Possuía em seu quadro do- retornou ao posto, o início foi difícil para a
cente 12 instrutores, um fisioterapeuta e escola especializada no fazer circense:
um médico. As matérias técnicas são acro-
Foi a primeira instituição do gênero na
Escola Nacional de Circo América Latina. Tivemos que lutar para ter

610 Teatros do Rio


confiança, o que aconteceu quando mostra- E continua Altair Lima, acreditando que o
mos a primeira turma, formados em 85.265 musical não tivesse envelhecido:

Durante um ano, entre os anos de 1990 O Hair talvez tenha, realmente, esse
e 1991 a Escola teve que cerrar suas portas problema. É um espetáculo a que a gente
durante o Governo de Fernando Collor de assistiria como se fosse um marco histó-
Melo. Em 1995 seu quadro de professores rico. Já o Godspell aborda a vida e a morte
estava reduzido a apenas seis instrutores, de Cristo, um tema eterno, agora trans-
pois dependia de autorização do Governo posto para um espaço irreverente – o
Federal para realizar os concursos. picadeiro de um circo –, mesmo sendo
Hoje, a primeira instituição do gênero um drama sagrado. Na versão anterior,
no Brasil e na América Latina, continua realmente existia um espírito hippie do-
com problemas de deficiência no seu qua- minando a montagem. Agora, sob a lona
dro docente, mas graças ao esforço de pou- de um circo evoluem palhaços, acroba-
cos, que lutam para manter aquele espaço tas, bailarinos e cantores de 1983 co-
em plena atividade, a Escola Nacional de mentando o Evangelho. Tudo muito bem
Circo mantém acesa a chama da esperança atualizado, inclusive as letras e arranjos.
em seu picadeiro. As orquestrações, agora, têm momentos
que lembram certas músicas do Milton
Nascimento, do Djavan. No todo, pro-
1983 curamos fazer um espetáculo alegre, pra
Circo Esperança (Circo Delírio) cima, bem no clima do verão carioca.
[...] aquela visão espiritual que se tem do
Em janeiro de 1983 era montado o Circo mundo está lá. Isto está inalterado. Nós
Esperança, à Rua vice-Governador Rubens nos vigiamos para não mexer nisso. Nós
Berardo s/n., ao lado do Planetário da Gá- mexemos, isso sim, na forma, na inter-
vea, uma iniciativa de Altair Lima e Isabel pretação dessa mensagem, que ganhou
Ribeiro. Dez anos depois (1973) da bem- uma leitura cênica circense.266
-sucedida encenação de Godspell, em São
Paulo, que permaneceu oito meses em car- O Circo Esperança tinha capacidade para
taz, tendo sido montado no Rio em 1974 mil espectadores, com instalações sanitárias,
com pouca repercussão, Altair inaugurava serviço de bar, box para venda de fitas casse-
seu Circo Esperança, em 26 de janeiro de te, camisetas e objetos vinculados à progra-
1983, com o mesmo espetáculo, como ele mação do circo.
mesmo afirma: A ficha técnica de Godspell era: Autoria
de Stephen Schwartz e John Michael Te-
Creio que este é o real momento de se belak. Tradução de Renata Pallotini, dire-
fazer o Godspell. A meu ver, ele está mais ção de Altair Lima, coreografia de Nelly
atual do que nunca. Porque a sensibilida- Laport, arranjador e direção musical de
de do público está, hoje, mais aberta para Marcos Leite e Luizão. Cenografia de Gil-
receber uma mensagem de amor ao pró- berto Vigna e figurinos de Tawfic. Elenco:
ximo, numa linguagem do cotidiano, sem Fernando Eiras, Isabel Ribeiro, Denise Du-
nenhum formalismo, a partir da adaptação mont, Tião Dávila, Luiz Damasceno, Clara
do Evangelho segundo São Mateus. Sandroni, Paulão e Bebel.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 611


Em março de 1983, o musical saía re- Sheila dizia que uma peça não iria ren-
pentinamente de cartaz, estreando no dia 7 der o investimento. O local precisava de
de abril para uma curta temporada o show algumas obras, como camarins, refleto-
de Arrigo Barnabé, em seguida Kabaré Bre- res. Economicamente era inviável mon-
no Moroni, uma mistura de música, humor tar uma peça só e pensei em formar um
e números circenses. grupo. Ao invés de montar uma só peça,
Muitos planos e ideias ocuparam a dupla montaríamos três ou quatro.268
Altair Lima e Isabel Ribeiro, tentando via-
bilizar uma programação para o circo, que Mesmo em dificuldades, os empreen-
além de espetáculos, realizaram cursos, lan- dedores Paulo Reis, Dora Pelegrino, Ivan
çamento de livros e seminários sobre música, Marques, Marga Abi-Rama, Maria Clara
teatro, cinema e televisão, para os quais eram Mourthé, Ricardo Kosovsky, Rômulo Ma-
convidados nomes expressivos de cada área. rinho, entre outros, construíram arquiban-
Em 1º de maio de 1987, o Circo Espe- cadas, es­­critório, três camarins, dois ba-
rança, foi rebatizado com o nome Circo nheiros, to­­do sistema de iluminação e som,
Delírio, acabando com as brigas com os dois bares, bilheteria, fachada do teatro e
moradores devido ao barulhento e mal fre- iluminação externa. Durante este processo
quentado pagode nas madrugadas de sex- foram surpreendidos por uma ação de sus-
tas-feiras. pensão do alvará do circo, que havia sido
Com direção de Paulo Reis, o Circo De- movida na justiça pela Associação de Mo-
lírio programou quatro peças teatrais, cur- radores da Gávea, devido ao barulho nas
sos, e em tempo recorde e com muito pou- noites de sextas-feiras.
co dinheiro empregado, conseguiram fazer Após inúmeras reuniões com a Associa-
obras de melhoramento do circo, dando- ção de moradores, onde conseguiram mos-
-lhe infraestrutura de teatro de arena. trar que o circo não seria mais usado para
O projeto já estava ameaçado antes da fins comerciais como vinha anteriormente,
inauguração, devido à falta de recursos e sim culturais. Conseguem então uma li-
para quitar prestações atrasadas, contas de cença provisória.
luz e telefone, conforme declarava o Dire- E em 19 de janeiro de 1988 o Circo
tor do teatro Paulo Reis: Delírio era inaugurado com a peça Grafitti
Coração, de Bernardo Horta e Marcos Mi-
O projeto está ameaçado por falta de di- lone. Mais três peças foram estreadas aos
nheiro. Não temos recursos para divulgar domingos. A partir do meio-dia, era reali-
nosso trabalho e aí não vem público. Não zado um pagode-almoço com o grupo Raça
vindo público, não arranjamos dinheiro Samba Show. Esta relação profissional do
para investir.267 circo com o grupo de pagode acabou apro-
ximando o circo dos moradores da favela
A lona do Circo Delírio de propriedade da Rocinha.
de Sheila Borg, era armada sobre o terre- Com todos os obstáculos o grupo con-
no da Secretaria Municipal de Cultura que seguiu precariamente concluir todas as
nada cobrava por isso, ela foi procurada obras e realizar uma programação propos-
por Paulo Reis que queria encenar no lo- ta inicialmente; além de cursos de teatro
cal a peça O Sr. Puntila e seu criado Matti, de que eram ministrados por Paulo Reis, Dora
Bertold Brecht. Pelegrino, Lúcia Botelho e Zdenek Hampl.

612 Teatros do Rio


A intenção do grupo era explicada por Transvídeo, da qual faziam parte o cenó-
Paulo Reis. “Procuramos a integração das grafo Mario Monteiro, o iluminador Peter
classes econômicas, será uma ponte de li- Gasper e Antonio Faya, responsável pela
gação entre o Alto Gávea e a Rocinha”.269 sonorização. E no setor de diversões infan-
O projeto do grupo, que pretendia que tis, Treme-Treme contava com a colabora-
fosse demorado, teve vida curta, não teve a ção de Joel Vaz.
força que precisava para criar raízes cultu- O Teatro de Lona foi o primeiro espaço
rais e desapareceu. aberto às artes cênicas da Barra da Tijuca,
e tinha um estacionamento para dois mil
veículos e agregava uma área de lazer in-
1984 fantil com uma série de brinquedos como
Teatro de Lona “bicicletas anfíbias gigantes”, para andar no
asfalto, na terra e na lagoa, além de carri-
Em 15 de fevereiro de 1984 era inaugurado nhos de choque, aviõezinhos, carrossel, e
o Teatro de Lona, na Avenida das Américas, balão pula-pula.
2.000, Alvorada, Barra da Tijuca, em ter- Por época de sua inauguração existiu
reno pertencente ao Freeway, que o cedeu também uma réplica do barco do Missis-
ao palhaço Treme-Treme (Doraci Campos) sippi, ancorado na lagoa de Jacarepaguá e
para montar sua estrutura de alumínio que funcionava como bar, onde simpáticos
e lona. Um sonho acalentado durante 40 marinheiros e oficiais serviam refrigeran-
anos de profissão; inaugurar seu próprio tes e drinques.
circo, um espaço para funcionar de forma O Teatro de Lona manteve uma progra-
permanente, generoso e bem localizado. mação permanente nos fins de semana e es-
Com capacidade para 3.000 especta- petáculos vesperais de circo para crianças,
dores, na estreia – quando apresentado o ocasião em que o palco se transformava
show Anjo Avesso, com Alceu Valença – fo- em picadeiro.
ram acomodadas 3.500 pessoas, no grande
circo, que ocupava uma área de 1.300 m2,
instalado num espaço que abrangia cerca 1983
de 3 mil m2. Sua fachada com inúmeras Circo Azul – Espaço Cultural
lâmpadas coloridas que circundam a lona, Gama
emanavam um clima de magia, atraindo
seu público. O Circo Voador, instalado primeiramente
As bilheterias funcionavam em peque- em Ipanema, e depois na Lapa, conquistou
nos caminhões tipo trailer. Logo na entra- adeptos e deu frutos em outros bairros da
da, um bar com mesinhas azuis de um lado cidade do Rio de Janeiro, e também em ou-
e do outro as indispensáveis barraquinhas tros municípios, chegando a vez de Nova
que vendem pipoca, algodão-doce, churros Friburgo, onde surgiu em plena praça do
e sorvetes. As cores predominantes eram o Suspiro, o Circo Azul – Espaço Cultural
vermelho, o azul e o branco, e não faltavam Gama, uma iniciativa do Grupo Gama (gru­­-
as bandeiras que tremulavam ao vento. po de arte, movimento e ação). O Circo Azul
O Teatro de Lona foi uma iniciativa pes- teve como objetivo promover e desenvolver
soal de Doraci Campos, que se associou ao os valores culturais, artísticos e sociais de
produtor Roberto Nascimento e à firma Friburgo, que devido à falta principalmente

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 613


de locais exclusivamente destinados a essas comunidade e diversas entidades públicas
manifestações, vinha desaparecendo do co- e privadas, o Grupo de Artes e Teatro da
tidiano dos seus habitantes. Outro objetivo Ilha do Governador (Gatig), conquistou
era atender às necessidades de lazer e de e inaugurou em 31 de julho de 1987 seu
religião, contando com a participação cons- Circo Teatro, batizado com o nome Elbe de
ciente da população friburguense. Holanda, atriz e diretora, idealizadora do
O Circo Azul de Friburgo, ocupava uma projeto, visando preencher o vazio cultural
área de 660 m2, com arquibancadas para da Ilha.
1.500 pessoas, mais espaço de picadei- O Circo Teatro com capacidade para
ro para 500 assistentes e palco de 80 m2. 600 pessoas foi instalado no Parque Poeta
Foi inaugurado em 4 de novembro de Manuel Bandeira, Aterro do Cocotá, com
1983 com a centenária Banda Euterpe Fri- o objetivo de programar peças teatrais,
burguense, o projeto “Um canto em cada shows musicais e oficinas de arte, além de
canto” e o grupo “Nós da Dança”. Tendo a apoiar as atividades culturais e esportivas
seguinte programação: conjuntos musicais da comunidade da Ilha do Governador.
(14 Bis; Gangster; Viúva Negra; Anomalia), O Circo Teatro Elbe de Holanda foi a
Balé (Bandança; Enlouqueceu; Fração de primeira lona instalada dentro do projeto
Segundo; Academia Ribas; Stagium), tea- lonas culturais da Secretaria Municipal de
tro adulto (O beijo da mulher aranha; Apenas Cultura da cidade do Rio de Janeiro, sen-
bons amigos; O dia em que o Brasil tomou Do- do entregue a Gatig, mediante um contrato
ril) e peças infantis como: Fala palhaço, O de cessão de uso, ficando responsável pela
que fazer pela flor?, dentre outros. organização das atividades culturais do es-
O Grupo Gama era dirigido, desde a sua paço.
fundação por Júlio Cesar Seabra Cavalcan- A estreia oficial do circo-teatro teve
te, o popular “Jaburu”. O grupo, na época como apresentação grupos de dança afro,
da inauguração do circo, já havia realizado frevo e folia de reis, seguido de show com a
28 montagens teatrais; participando diver- Escola de Samba União da Ilha, e do cantor
sas vezes do Festival de Ouro Preto. Era de- Elimar Santos, encerrando o ato inaugural,
tentor dos prêmios “Paschoal Carlos Mag- um baile com o maestro Raul de Barros e
no”, “O Governador do Estado Versão 77”, orquestra.
entre outros. Muitas atrações foram programadas no
O circo ficou sob a responsabilidade dos segundo semestre de 1987, como apresen-
atores Paulo Carvalho e Nobel Medeiros, tação de bandas de rock (Detrito Federal;
além do diretor Jaburu, e a administração Picassos Falsos; Plebe Rude e Celso Blues
foi entregue a Mario Castilho Filho. Veio a Boy), e organização da I Mostra de Teatro
desaparecer, com o tempo, do panorama Amador da Ilha, com a participação de 26
cultural dos friburguenses. grupos.
Durante sua existência, o Circo Teatro
revitalizou a vida cultural da Ilha, preen-
1987 chendo com seu espírito circense uma fan-
Circo Teatro Elbe Holanda tasia perdida.

Depois de trinta meses com a campanha


“Teatro a Ilha quer”, desenvolvida junto à

614 Teatros do Rio


4.6.4 O SURGIMENTO DAS LONAS e laboratórios e de noite abrigariam shows,
CULTURAIS NA DÉCADA DE 1990 conforme palavras de Helena Severo a Da-
niel Stycer, publicadas em O Globo de 30
de janeiro de 1993: “Precisamos também
disseminar o produto cultural pela cidade
“As lonas culturais estão para o subúr-
e não ficar restritos à zona sul”.
bio assim como o Circo Voador estava
Uma das tendas foi montada então em
para a Lapa”.270
Bangu em 1993, e batizada de Lona Cul-
tural Hermeto Pascoal, e coordenada pelo
ator e diretor de teatro Gilson Barros, onde
A iniciativa de Gilson Barros, Ney Ayala, eram apresentados raríssimas vezes, alguns
Ives Macena e Sérgio Alves era a de formar espetáculos teatrais, por grupos amadores.
uma espécie de corredor cultural unindo Tendo funcionado com oficinas de teatro
Bangu, Vila Kennedy e Campo Grande, e de capoeira para jovens da comunida-
através dos únicos espaços dedicados à de. Para que pudesse funcionar com uma
cultura na região: A Lona Cultural Her- programação, teria que passar por algumas
meto Pascoal, o Teatro Arthur Azevedo, o reformas, criando-se arquibancadas para o
Teatro Faria Lima e o Teatro de Arena Elza público que permitiria uma capacidade de
Osborne. 400 pessoas.
A intenção do grupo era estimular e va- Conseguindo passar esta etapa, e trans-
lorizar os grupos teatrais e musicais das re- formando o espaço em local próprio para
giões, e apresentar em curtas temporadas atividades, teriam condições de apresentar
possíveis espetáculos que estivessem em uma versão do “Seis e Meia” do Teatro João
carreira no centro e zona sul da cidade. Caetano, como pretendiam, além de shows
As mudanças que ocorreram na zona de música e espetáculos infantis.
oeste do Rio, precisamente Bangu e Cam- A intenção de Gilson Barros, era a de
po Grande, foram motivadas pelo “Movi- conseguir para a Lona Cultural Herme-
mento de Arte e Cultura Alternativa Co- to Pascoal, o mesmo sucesso do Teatro de
munitária e Organizada”, mais conhecido Arena Elza Osborne, em Campo Grande,
nesta região como “Grupo Macaco”. que foi a segunda lona. Entretanto, somen-
O grupo conseguiu, através da Prefeitu- te em 1995 estava em pleno funcionamen-
ra do Rio de Janeiro e da Secretaria da Cul- to, sob a administração de Ives Macena, en-
tura, a doação de duas imensas e coloridas quanto os outros espaços necessitavam de
lonas usadas durante a “Eco-92”, abrigan- reformas para poderem serem entregues
do as Organizações Não Governamentais ao público. Em 1997, a Lona Hermeto Pas-
(ONGs), no Aterro do Flamengo. coal já conseguia se consagrar como espaço
A Secretaria de Cultura em janeiro de cultural tão musical quanto a sua irmã, a
1993 já estava planejando dar uma utilida- Lona de Campo Grande (Elza Osborne).
de às tendas, que desde o término do Fo- A receita era simples, seguia a filosofia de
rum Global, em junho de 1992, estavam vender ingressos a preços reduzidos ou en-
entregues à sorte, no Aterro do Flamengo, trada franca e a diversificação de grupos
e que poderiam ser transformadas em mi- e espetáculos de sucesso na cidade, com
nicentros culturais, distribuídos pela cida- forte presença de artistas locais, além da
de, que de dia funcionariam como oficinas participação dos próprios moradores no

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 615


comando das lonas, reunindo artistas da do teatro com o público vinha acontecendo
música, dança, teatro e artes plásticas. Diz em outros espaços destinados às artes cê-
a Secretária Municipal de Cultura, Helena nicas, localizados em bairros do subúrbio
Severo, a Eduardo Graça, do Jornal do Bra- e zona oeste do Rio, onde os lugares eram
sil, em 12 de dezembro de 1997: disputados por milhares de pessoas. Isto
fez com que no início de 1998 os teatros
São os moradores que decidem a progra- da região em boas condições, integrassem
mação, nós apenas contactamos os artis- a Rede Estadual de Teatros da Zona Norte
tas e montamos a estrutura. As lonas são e Suburbana, e sendo liberadas verbas para
hoje o maior formador de plateia e artis- reforma daqueles que necessitassem de re-
tas da cidade. paros, como o Teatro Armando Gonzaga,
de Marechal Hermes e Teatro Arthur Aze-
Nas ruínas do inacabado Teatro de Arena vedo, em Campo Grande.
do Teatro Rural do Estudante, e que estava As lonas de Bangu (Hermeto Pascoal) e
em céu aberto, e já há muito tempo desa- Campo Grande (Elza Osborne), acomo-
tivado, foi montada, em 1995, a segunda dam em suas arquibancadas, em formato
lona, batizada de Teatro de Arena Elza Os- de semiarena, 300 e 400 pessoas respec-
borne, em homenagem à engenheira, dra- tivamente. O palco tem 8 m por 6 m de
maturga e primeira administradora regio- profundidade, e uma arena entre o palco e
nal da Zona Oeste (Campo Grande). a plateia com diâmetro de 7 m, que tam-
Este espaço com programação muito in- bém pode ser usada para encenações, in-
tensa, funcionando de domingo a domin- tegrando-se ao palco. Possui ainda sistema
go, sendo durante alguns anos, o lugar mais de iluminação e som, com equipamentos
concorrido da região, cabendo a adminis- de operação.
tração a Ives Macena, um dos membros As lonas nestas regiões têm demonstra-
do Teatro Rural do Estudante, mantendo do melhor resultado para atividades mu-
apresentações de shows, teatro infantil e sicais, tendo em vista os intérpretes que
adulto, exposições, dança e cursos de tea- por lá passaram: Luiz Melodia, Zé Rama-
tro, pintura e balé. lho, Kleiton e Kledir, Selma Reis, Herme-
A partir de 1995, o Elza Osborne pas- to Pascoal, Joyce, Geraldo Azevedo, entre
sou a integrar a rede municipal de teatros outros que ajudaram a incluir as lonas no
– Rioarte e a cogestão com a Prefeitura, roteiro musical da cidade. Em relação à
permitiu repasses de verbas viabilizando atividade teatral os resultados não são tão
uma programação mais diversificada, por visíveis, mas diversos profissionais que se
onde passaram muitos atores, cantores, apresentaram na lonas reconhecem o po-
além de integrarem o Projeto Teatro Es- tencial dos espaços.
cola, possibilitando estudantes da região
de assistirem aos espetáculos, e a reali-
zação de festivais de mágica e de teatro,
comprovando o prestígio do Teatro de
Arena Elza Osborne.
Em 1997 o próprio governo estadual
acompanhou o fenômeno de abandono dos
teatros tradicionais, enquanto o reencontro

616 Teatros do Rio


4.6.5. ESPAÇOS MÚLTIPLOS e com direção de Willy Keller. O elenco era
composto de Dulce Rodrigues, Jece Vala-
dão, Rodolfo Arena, Grijó Sobrinho, Nor-
O espaço é considerado múltiplo quando ma de Andrade, Geny Borges, André Luiz,
todo o vão do edifício possui recursos e Raymundo Furtado, Gessy Santos, Wilson
equipamentos técnicos que permitem di- Marcos e Heitor Dias.
versas linguagens cênicas, adaptando-se às Em 1960, é ocupado por Rubens Corrêa
necessidades das encenações, podendo ser e Ivan de Albuquerque, passando a chamar-
transformado em palco italiano, elisabetano, -se Teatro do Rio.
arena, cortejo etc.
O Teatro do Rio, dirigido por Rubens
Corrêa e Ivan de Albuquerque, encontra-
1957 -se novamente entre nós, depois de uma
Teatro São Jorge (Teatro ausência de um ano, durante o qual, exi-
Experimental Cacilda Becker) biu-se em São Paulo e Curitiba.
Voltou para o mesmo local: Rua do
O Teatro São Jorge foi inaugurado em 13 Catete, mas nesta nova fase seus direto-
de setembro de 1957, localizado no final de res compraram o ex-teatro São Jorge e o
uma galeria, na Rua do Catete n. 338, entre reformaram inteiramente. Não só dando
o Largo do Machado e Praça José de Alen- um aspecto muito mais acolhedor à pla-
car, um teatro pequeno com características teia, mas, principalmente construindo
à italiana com uma pequena plateia e balcão. camarins, banheiros, escadas, derruban-
O espetáculo de inauguração foi Viúva, porém do paredes inúteis e equipando, conve-
honesta, de Nelson Rodrigues, com a Com-
panhia de Dulce Rodrigues – Jece Valadão, Teatro do Rio

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 617


nientemente, a parte técnica. Agora a Rio, 2 de maio de 1973.
reforma, abrangendo desde a entrada Heitor Moniz, Relator.
com o novo nome em gás Neon, Teatro Aprovado pela Comissão de Teatro, em
do Rio, até as paredes da sala de espetá- reunião de 2 de maio de 1973. Conselheiro
culo, que foram raspadas, pintadas e, em Afrânio Coutinho, presidente; Conselhei-
vários lugares, guarnecidas de madeira ro Heitor Moniz, relator; Conselheiros:
clara, encerada, o chão atapetado, um Laudimia Trotta, Maria Helena Künner e
novo pano de boca, os seus aparelhos de João Ruy Medeiros.
ar-condicionado em condições técnicas Aprovado em sessão plenária de 2 de
de funcionar com toda a sua capacidade, maio de 1973 – Fernando de Carvalho Ba-
fez do ex-Teatro São Jorge, praticamente rata, presidente do Conselho Estadual de
uma outra sala de espetáculos. Cultura.273
...Os rapazes do Teatro do Rio esperam
resolver suas aperturas financeiras ven- O Serviço Nacional de Teatro, na gestão
dendo cadeiras cativas”.271 de Orlando Miranda, não mede esforços e
graças ao empenho pessoal do Ministro da
Em 1966 o teatro é ameaçado de fecha- Educação e Cultura Ney Braga junto a Ste-
mento. Era instalado em um imóvel de pro- phan Reinhold, então presidente do INPS,
priedade do IAPETC, que era consegue a feitura do convênio de cessão
ao SNT.
alugado na base mensal de 30.500 cru- O antigo Teatro do Rio que era habitado
zeiros em contrato de 5 anos que está por fortes lembranças de alguns espetáculos
findado. Agora a alta direção daquele ins- de Ivan de Albuquerque e Rubens Corrêa,
tituto fixou para renovação do contrato, sofreu substancial reforma. Em primeiro
aluguel mensal na base de 1 milhão e 450 lugar, tratou-se de recuperar a sala tremen-
mil cruzeiros...272 damente arruinada em todas as suas instala-
ções em decorrência do absurdo e inexpli-
Em 1967 é fechado, e assim permanece cável fechamento por cerca de 10 anos. Ou-
por longos dez anos. Mas o Serviço Nacional tro aspecto da reforma consistia em adaptar
de Teatro começa então processo de aquisi- o espaço disponível às exigências específicas
ção do referido, conforme publicado no para diversos tipos de espetáculos.
Diário Oficial de 13 de maio de 1973: O responsável pelo projeto de reforma
foi Pernambuco de Oliveira, tendo como
Parecer n. 228 – Aquisição do Ex-Teatro assistente José Dias. Como premissa foi eli-
do Rio – (Processo n. 03- 30.137-72) minado o palco italiano e o balcão, que se-
...vemo-nos levados a sugerir que, para riam de pouco interesse para a maioria dos
solução do assunto em pauta, se analise a usuários, e manteve-se basicamente as pare-
viabilidade de sua aquisição com o fim de des, pintadas de tom de vermelho brique,
instalar, no local, um teatro experimental cercando um arredondado espaço livre.
e ser ocupado exclusiva e permanente- Módulos de arquibancadas de madeira
mente por grupos idôneos cujas propostas foram criados para serem arrumados de
ou projetos de trabalho para cada período diversas maneiras, dentro ou em torno do
– a serem devidamente examinados por espaço, dependendo da concepção e do re-
comissões especializadas... lacionamento pretendido entre espetáculo

618 Teatros do Rio


e espectador. Com algumas cadeiras extras, Assuntos Culturais do Ministério da Educa-
este espaço chegava a uma lotação de 300 ção e Cultura.
pessoas. Foram reformadas também duas Inaugurado em 25 de outubro de 1975,
salas, no andar superior da galeria, onde se pelo Serviço Nacional de Teatro, na admi-
localiza o teatro, destinadas à realização de nistração de Orlando Miranda, com o espe-
cursos e ensaios, formando um conjunto táculo, Ubu, de Alfred Jarry, com o grupo
denominado Centro Experimental Cacilda Asdrúbal Trouxe o Trombone, montagem
Becker. Desse encontro com Orlando Mi- selecionada para a estreia, com direção de
randa, comenta Pernambuco de Oliveira: Hamilton Vaz Pereira. Elenco: Julita Sam-
paio, Regina Casé, Daniel Dantas, Luiz
Do nosso último encontro, em 1965, nas- Fernando Guimarães, Luis Arthur Peixoto,
ceu o Teatro Princesa Isabel, dedicado às Gilda Guilhon, João Carlos Mota e Jorge Al-
montagens convencionais. Agora tivemos berto Soares.
mais oportunidade de reviver esse encon- Neste espaço foi esquecido o luxo em
tro criando um Teatro Experimental, vol- favor do funcional, a iniciativa foi de não
tado para a utilização total do espaço cêni- resolver todos os problemas que os grupos
co, sem limitações da imaginação.274 experimentais enfrentavam, mas sem dú-
vida, suprir algumas de suas necessidades
O Teatro Experimental Cacilda Becker foi mais prementes e servir exclusivamente aos
a primeira sala permanente concebida no grupos que se dedicassem à pesquisa, inves-
Rio de Janeiro a partir das exigências de fle- tigação e experimentação de novas formas e
xibilidade que caracteriza o espetáculo con- linguagens teatrais, não só no Rio de Janei-
temporâneo. Mas só oficializada dois anos ro, como de outros estados.
depois, no dia 2 de junho de 1977, ofício n.
18 do diretor do SNT ao Departamento de Teatro do Rio em 1961. plateia

Arquivo Cedoc / Funarte

Capítulo 4 | O s teatrOs dO r iO de J aneirO nO séculO XX 619


Muito mais importante que a inauguração A partir de 1979, Almério Belém diri-
de mais uma casa de espetáculos é o valor gindo o Cacilda Becker reforçou a ideia do
da ideia. A partir desse instante a margi- Centro, onde eram discutidos e avaliados
nália foi reconhecida e passará a ser esti- em profundidade os aspectos relacionados
mulada em sua criatividade por um órgão às produções e quanto ao resultado final
oficial... O Cacilda Becker estará aberto a dos espetáculos.
todos os grupos experimentais... e experi- Em abril de 1986, o teatro virou um
mental para nós é o grupo que busca algo café-concerto, com 50 mesas, serviço de
novo, que faz um trabalho de pesquisa, de bar e palco em três níveis. Na década de
preocupação mais com o trabalho, com a 1990, esteve duas vezes com as portas la-
obra, que com o público.275 cradas devido a problemas com o síndico
do prédio (pois o acesso tanto para o edi-
Na época, o assessor de Orlando Miran- fício de apartamentos como para o teatro,
da, João Ruy de Medeiros, baseado em sua era feito através da galeria), que não que-
vivência anterior, de produtor de teatro ria que o teatro continuasse funcionando
ao lado de Amir Haddad, Joel de Carvalho e criava uma série de obstáculos, como,
e Paulo Afonso Grisolli, e de ter fundado por exemplo fechar a portaria no horário
o Grupo Comunidade do Museu de Arte das peças.
Moderna (MAM) – ficou responsável pela Em 1995, o Ministro da Cultura, Fran-
discussão da comissão de trabalho sobre o cisco Weffort, liberava uma verba de 500
sistema de ocupação do espaço, onde fo- mil reais, para a Funarte, para ser usado na
ram estabelecidos critérios. reforma e equipamentos dos teatros Cacil-
Um ano e meio depois é fechado para da Becker e Glauce Rocha.
reforma e manutenção dos equipamentos Depois de seis meses fechado, no ano
elétricos, sistema de iluminação e refrige- de 1996, é reaberto em 9 de agosto com
ração. A reabertura se deu em 2 de agosto o grupo Oikoveva, apresentando dois es-
de 1977 com o espetáculo A farsa do rei, petáculos: Programa I – A Cidade de São Se-
criação coletiva do Grupo H. Papanatas, bastião e Programa II – O Cidadão Sebastião.
sob a direção de Eric Nielsen. No elenco: Em 1997, ganhou nova arquibancada,
Alice Reis, Arnaldo Marques, Octacílio com encosto nos assentos e reforma geral
Coutinho e Suli. em suas instalações, um projeto do Centro
Através do ofício n. 50 de 15 de de- Técnico de Artes Cênicas da Funarte, pro-
zembro de 1979, do Serviço Nacional de prietária da casa.
Teatro, o Diretor Orlando Miranda ofi- O Teatro Experimental Cacilda Becker
cializava a criação das salas: Santa Rosa, tornou-se uma realidade não só para gru-
Napoleão Moniz Freire, Joel Carvalho e pos experimentais, como também profis-
Elias Contursi, uma homenagem aos três sionais e com uma atividade dedicada tam-
cenógrafos e ao cenotécnico, como figuras bém ao teatro infantil.
de incontestável importância na história Desde sua inauguração cumpriu seu pa­­­­­
do teatro brasileiro. As salas localizadas na pel de teatro dedicado a grupos não co-
sobreloja do teatro foram destinadas a cur- merciais, abrigando inclusive montagens
sos, oficinas, palestras e também a ensaios de outros estados através do projeto Mam-
dos grupos, constituindo o conjunto do bembão.
Centro Experimental Cacilda Becker.

620 Teatros do Rio


Teatro Cacilda Becker. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Experimental Cacilda Becker. Planta baixa, (S.E.)


1986 O responsável e idealizador do projeto foi
Espaço Cultural Sérgio Porto Gerardo Mello Mourão, na época presiden-
te da RioArte, segundo ele:
Em um velho galpão, à Rua Humaitá n.163,
funcionava o antigo depósito da Secretaria Acho muito importante que os jovens pos-
Municipal de Educação e Cultura, no qual sam produzir e trocar informações cultu-
o Instituto de Nutrição Annes Dias, sedia- rais, sem nenhuma imposição ideológica
do na Avenida Pasteur, depositava os man- ou política. Este projeto beneficiará muito
timentos da merenda escolar da rede mu- os artistas, que terão a oportunidade de
nicipal. Em setembro de 1983 é cedido à apresentar seus projetos.276
Fundação Rio para que o espaço fosse trans-
formado em um centro cultural, com uma Para Celina Sodré, Diretora de Artes Cê-
atividade de processo cultural permanente, nicas também neste período, manifestava a
mas que por outro lado não constitui-se em importância do projeto, contribuindo para
uma programação estabelecida de eventos, o crescimento cultural da cidade, conforme
reproduzindo as fórmulas preestabelecidas suas palavras:
de uma ação cultural.
A proposta dos dirigentes da Fundação Até então, a sociedade cultural limitou-
Rio era a de que o novo espaço não se trans- -se a criar poucos espaços para um públi-
formasse em uma instituição programada de co restrito, visando o lucro. Já o Espaço
ensino, não vinculasse suas funções simples- Cultural Sérgio Porto visa integrar o gran-
mente como uma escola, mas que pudes- de público às artes, sem fins lucrativos.
se se estabelecer autofinanciando-se como A diferença está na política inteligente uti-
uma propagadora de prestadora de serviços lizada para possibilitar às pessoas uma nova
ligada à cultura. relação com a arte, onde a base não é o
Com esta iniciativa pretendiam conduzir a dinheiro.277
um estabelecimento que ao ser implantado,
partindo do mínimo de recursos e através de O velho galpão foi todo remodelado re-
uma cobrança mediante taxas, ingressos, pa- cebendo o nome de Espaço Cultural Sérgio
trocínios e parceria com terceiros, pudesse Porto, em homenagem a Stanislaw Ponte
manter-se gerenciando suas próprias recei- Preta (Sergio Porto), subordinado à Funda-
tas, e com os recursos obtidos criar uma casa ção Rio e ao Instituto Municipal de Arte e
autofinanciável com uma produção artística Cultura – RioArte. Foi inaugurado em 21
bem abrangente, atingindo: música, teatro, de outubro de 1986, com a bênção das ins-
artes plásticas, vídeo, cinema e fotografia. talações, coquetel-recepção às autoridades e
A proposta era de fazer no velho galpão convidados, lançamento do livro de ensaios
um trabalho não convencional, mantendo Sobre o óbvio, de Darcy Ribeiro, publicado
atividades diárias, de manhã à noite, e apre- pela Editora Guanabara, e de três monogra-
sentando simultaneamente várias formas de fias da Coleção Teatro RioArte.
expressão artística, incluindo também cur- Quanto ao espetáculo de estreia do novo
sos, oficinas e seminários; dando oportuni- espaço (sala principal), constava na pro-
dade aos jovens de apresentarem seus proje- gramação oficial a apresentação, no dia 23
tos culturais e também oferecer ao público a de outubro, da peça Arena contra Zumbi, de
possibilidade de contato com a arte. Guarnieri, do Grupo Experimental Raiz da

622 Teatros do Rio


Liberdade. Entretanto, as matérias da im- linguagem contemporânea aos espetáculos,
prensa dão como espetáculo de estreia no o próprio espaço físico do ex-galpão arma-
dia 21 de outubro, a peça A desinibida do Gra- zém, direcionava para uma ocupação dife-
jaú, de Stanislaw Ponte Preta. rente e consequentemente uma exploração
A programação do Espaço Cultural começa do espaço cênico.
intensa e diversificada, além dos espetáculos A década de 1990 do Espaço Cultural
já citados, até novembro de 1986 foram apre- foi marcada pelas atividades: A Galeria
sentados shows de música popular brasileira, Sérgio Porto, inaugurando uma exposição
lançamento de livros, apresentações de mais a cada mês, apresentando nomes já consa-
de trinta vídeos sobre temas que iam desde grados e jovens artistas que despontavam
ecologia até artes plásticas, mostras fotográfi- no circuito de artes plásticas. O Gabinete
cas, exposições de artes plásticas, artesanatos de Arquitetura, espaço único no Rio de
e produção alternativa dos anos 70/80 com Janeiro, tinha por objetivo divulgar proje-
livros, jornais, revistas e discos. tos de arquitetura e design, colocando-os
Com o decorrer dos anos, em 1990, mais próximo do público, também com
tendo Tertuliano Passos como presidente exposições mensais. O projeto Mizanceni,
da RioArte, ficava demonstrado através de abria espaço para mostra de trabalhos de
sua programação a consagração do impor- pesquisa cênica. Encenações advindas de
tante ponto de encontro da cultura da ci- pesquisas e estudos, de experimentação,
dade, com novas manifestações nas áreas de nos campos da mise en scène, dramaturgia e
teatro, poesia, artes plásticas, arquitetura e interpretação. O projeto Drama consistia
design. Seus diferentes projetos, diversifi- em leituras dramatizadas, levando ao pú-
cando as áreas, direcionavam suas atividades blico, textos clássicos. O Centro Interna-
a fim de concentrar uma programação que cional de Teatro (Citec), era um convênio
se diferenciava das restantes casas de cultu- entre a Prefeitura da Cidade do Rio de
ra. O aspecto físico da casa, por não ser um Janeiro, através da RioArte, e o Instituto
teatro nos moldes tradicionais, nem auditó-
rio, nem sala para concertos, imprimia uma Teatro Espaço Cultural Sérgio Porto. Planta baixa, (S.E.)

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 623


Italiano di Cultura, que viabilizavam apre- podendo ou não possuir um palco, que
sentações de grupos italianos e conferên- é montado com módulos de praticáveis;
cias de diretores que abordavam o tema: os mesmos podem ser distribuídos de di-
teatro experimental nos anos 1990 na Eu- versas formas, sendo inclusive espalhados
ropa. Outro projeto desenvolvido foi o ví- pelo espaço, obtendo-se vários planos de
deo, onde eram produzidos e exibidos ví- ação. As arquibancadas também são mó-
deos da série RioArte Vídeo, e veiculados veis, e podem ser distribuídas de muitas
na televisão educativa (TVE), sempre di- maneiras.
vulgando o trabalho de artistas brasileiros As máquinas de ar-condicionado se lo-
contemporâneos. Outro projeto, dirigido calizam dentro do espaço, prejudicando por
por Chacal e Tavinho Paes, era o Cep 20 mil vezes as apresentações, como também o
– Centro de Experimentação Poética, que fluxo de veículos que transitam pelas duas
reunia mensalmente poetas, resgatando ruas, já que o espaço não possuía tratamento
personalidades, e abrindo espaço para os acústico.
poetas mais jovens. O projeto Musisfério O Espaço Cultural Sergio Porto, con-
era uma atividade inicialmente voltada seguiu resultados de grande repercussão
para a música instrumental, e que com como templo do experimentalismo, prin-
novas propostas foi ampliando sua progra- cipalmente a partir de 1989. Lá foram apre­
mação a outras tendências. sentados sucessos como a leitura dramáti-
Quanto ao seu espaço físico, trata-se de ca de Hamlet, de W. Shakespeare, dirigida
um grande galpão, com duas frentes: uma por Gerald Thomas; e de Um grito parado
para a Rua Humaitá, que por possuir uma no ar, de Gianfrancesco Guarnieri, dirigi-
calçada muito estreita e grande movimenta- da por Marcelo Souza; leituras promo­
ção de veículos, logo foi desativada, ficando vidas com atores conhecidos do público
como oficial a entrada dos fundos, à Rua Vis- apresentando textos que não são monta-
conde e Silva. O galpão possui algumas di- dos com frequência.
visões, que identificam a galeria de arte, os Com o objetivo de oferecer espaço para
camarins com banheiros para o público, fun- novos diretores, que queriam arriscar sem
cionários e atores, e um grande salão com compromisso, este espaço lançou nomes
arquibancadas, onde são encenadas as peças. como Enrique Diaz, Márcio Vianna e ou­
Tudo no térreo. Através de uma estrutura de tros. Além de grupos internacionais que
ferro, que não se trata de urdimento, mas se apresentaram, convidados pelo projeto,
uma armação de tubos de sustentação do te- como foi o caso do Centro Per la Speri-
lhado, são afixados os refletores e elementos mentazione e La Ricerca Teatrale di Pon-
cenográficos para as representações. No tedera, da Itália.
primeiro pavimento encontra-se uma área Em julho de 1998 suas portas são fecha-
de menor proporção, a metade do galpão, das para uma reforma completa, colo-
onde estão localizados o gabinete de arqui- cando-se em prática um projeto elabo-
tetura e administração do espaço cultural. rado por Ricardo Macieira, arquiteto da
Trata-se de um espaço aberto, com vista RioArte. Uma das novidades do projeto
para a sala de encenações. é a construção de um prédio anexo para
Por não possuir uma arquitetura cêni- ampliação dos camarins e construção de
ca, isto é, um edifício teatral, seu espaço rampas de acesso nas entradas sociais e de
é modificado de acordo com a encenação, serviço, para deficientes físicos, e outras

624 Teatros do Rio


benfeitorias conforme palavras de José 4. 6. 6. ESPAÇOS
Carlos Pinto, então Diretor de obras:
ALTERNATIVOS
Vamos investir num novo sistema de ar
refrigerado e no tratamento acústico do
espaço. Serão instalados forros que per- É alternativo o espaço com pouco ou quase
mitam maior conforto climático e sonora. nenhum recurso cênico, onde são apresen-
[...] Na verdade, nos baseamos num ante- tados espetáculos que não requerem apara-
projeto enviado pela Secretaria de Cultu- tos técnicos, utilizados, em muitos casos, de
ra. A RioUrbe fez uma adequação arquite- forma simples e que melhor convenha às en-
tônica, mas com a manutenção do espaço cenações.
cênico.278

No projeto estão incluídos também um 1964


urdimento móvel todo metálico, projetado SALA CORPO/SOM DO MAM
por José Dias, que poderá ser utilizado nos
300 m2 do espaço cênico, de acordo com as No conjunto arquitetônico à Avenida Beira
montagens; além de arquibancadas modu- Mar, no Aterro do Flamengo, além do Mu-
lares para 200 pessoas, adaptadas de acordo seu de Arte Moderna, estava incluído o Tea-
com os espetáculos; foyer e bar. A galeria de tro do MAM e um edifício para a sua escola.
arte de 60 m2 foi mantida, ganhando ilumi- A iniciativa em 1956 foi da Sra. Niomar
nação, teto e pisos especiais. Muniz Sodré, presidente na época do Mu-
Uma outra galeria com 100 m2 foi criada seu de Arte Moderna, o projeto de autoria
no 1o pavimento, onde também ficará a ad- de Afonso Reidy, Diretor então do Departa-
ministração. Uma escada que dava acesso ao mento de Urbanismo da Prefeitura do Rio,
1o pavimento foi transferida para a entrada que ouviu na parte técnica Aldo Calvo.
do prédio, que facilitará a passagem dos visi-
tantes, sem que haja interferência nas ativi- Um dos pontos mais importantes do progra-
dades do espaço cênico. ma futuro do Museu de Arte Moderna do
A fachada sofreu algumas alterações, Rio, quando estiver concluído o seu esplên-
mas mantém a característica de um grande dido teatro, é o das atividades cênicas – arte
armazém, e Ricardo Macieira conta como dramática, dança, cenografia etc. – dentro
foi: “Aproveitamos somente a casca do pré- da linha característica da vida da instituição:
dio, já que o interior foi totalmente modi- vanguarda, pesquisa, experiências. O teatro
ficado. Quem conheceu o lugar vai se sur- do Museu será, sem dúvida, o mais bem
preender.” aparelhado e tecnicamente melhor resol-
Com estas melhorias o Sérgio Porto po­­ vido, proporcionando ao público e artistas
derá realmente ser considerado um espaço conforto e condições favoráveis à boa reali-
múltiplo, transformando-se em agente zação do espetáculo. Daí o grande interesse
dinâmico e polarizador da vida cultural num contato seguido cheio de espectativa e
da cidade, capaz de centralizar a atividade entusiasmo. Atores, diretores, cenógrafos,
artística criadora e integrar público e artis- todo o mundo do teatro tem visitado segui-
tas de todas as áreas em um só movimento damente o grande centro de arte dando-lhe
renovador. sempre o mais vibrante apoio.279

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 625


Enquanto a sala de espetáculos definitiva o espaço que resta a partir da instalação
não ficava pronta, um teatro improvisado dos espetáculos.
em 1964, passou a funcionar numa sala
destinada a conferências, localizada em um Neste espaço descrito, com cadeiras co-
bloco ainda inacabado do Museu, um espaço muns enfileiradas, o teto baixo demais, uma
que era completamente nu da arquitetura extensa parede negra separando a Sala Cor-
viril e contagiante de Eduardo Afonso Reidy po/Som do enorme salão de exposição do
e que contava com uma plateia com 180 lu- MAM, não eram elementos ideais para se le-
gares. O começo de suas atividades dramáti- var adiante um plano que visava mostrar e dar
cas foi com a estreia do espetáculo Pena que chance a todos os bons projetos experimen-
ela seja o que é, de John Ford, com direção de tais. Sobre um tablado de madeira que servia
Martin Gonçalves, em um esquema cênico de palco aos artistas que lá se apresentavam.
elizabetano, com várias entradas e saídas. Tendo Sidney Miller nesta época como
Esta sala mais tarde recebeu o nome de coordenador da sala, a programação atingiu
Sala Corpo/Som do MAM, passando a ser níveis de excelente qualidade na apresen-
mais utilizada para shows musicais, do que tação, porém de shows musicais.
espetáculos teatrais. No final de 1971, com Paulo Afonso Gri-
Uma carta resposta de 9 de dezembro solli e Klaus Vianna, Sidney deu um curso:
de 1974 enviada ao Diretor do Serviço Na- Corpo/Som/Palavra, que terminava com um
cional de Teatro, por Heloisa Aleixo Lus- espetáculo. Daí veio a ideia de se montar um
tosa, fornece alguns detalhes físicos da Sala departamento que servisse a estas formas de
Corpo-Som: expressão. A partir daí se fez música e teatro
(principalmente infantil) com regularidade.
Em resposta à sua carta do dia 13 de se-
tembro de 1974 solicitando dados sobre o Como temos uma sala para vários atendi-
Teatro do Museu de Arte Modema do Rio mentos, é preciso um espaço de grande
de Janeiro temos a informar que: rotatividade. E o estado do local sendo
a) O Museu de Arte Moderna do Rio precário, é difícil para a montagem de pe-
de Janeiro não dispõe ainda do seu teatro ças teatrais, a não ser as infantis. Todos os
propriamente dito, que consta do projeto sábados e domingos temos um grupo se
de Afonso Eduardo Reidy, dispõe sim, de apresentando. À noite a sala já está livre
um espaço colocado à disposição de gru- para novos espetáculos.280
pos experimentais de teatro, conjuntos
musicais, e eventos de diversas naturezas De uma maneira ou de outra, a improvi­
artísticas. sada Sala Corpo/Som acabou se impondo,
b) A medida deste espaço chamado dando nascimento a Sala Corpo/Som B,
Corpo/Som, é de 520 m2, sem palco de- inteiramente equipada para seu fim, com
finido, o que o torna extremamente ver- projeto de Marcos Flaksman. Seu palco des-
sátil. Quanto à iluminação, é disposta de montável, em módulos, ocupava uma área
acordo com a ambientação proposta. de 7,1 m por 7,5 m, no teto rebatedores
c) A capacidade de lotação é variável acústicos, ar-condicionado, sistema de ilu-
pois sendo uma sala de expressão artís- minação e duas cabines (uma para som e
tica experimental, as condições de alo- outra para luz), coisas que a Sala Corpo/
cação do público variam de acordo com Som A não possuía.

626 Teatros do Rio


Esta nova sala também foi usada para tra- onde fora montado um palco, sem quaisquer
balhos plásticos experimentais. recursos técnicos e uma plateia com cadei-
ras soltas. So­fria-se com o calor e o barulho
O próprio MAM não se limita à exposi- do trânsito na Avenida Rui Barbosa. Por um
ção de artes plásticas, mas abre-se a outras período muito curto chegou a suprir a falta
atividades culturais que esbarram sempre de espaços alternativos disponíveis. E sendo
na falta de recursos financeiros. O setor um amplo salão foi muito usado por com-
em que atuo, Sala Corpo/Som, ocupa um panhias profissionais como sala para ensaios.
espaço que não foi planejado, nem pensa- Sua vida como casa de espetáculos foi curta,
do para essa finalidade. Não há palco, não pois não possuía o mínimo de recursos para
há altura para montagem de cenários e a uma encenação, somado ao desconforto do
acústica é deficiente. E todos esses proble- público, higiene e segurança.
mas seriam solucionados se o museu con- Em sua coluna de crítica no Jornal O Glo-
tasse com um local adequado para estas bo, Flávio Marinho em poucas linhas, mostra
atividades de extensão. a realidade que era o Teatro da CÉU:
E este lugar existiria, se a construção
do teatro, anexo ao MAM, não tivesse sido ...Inventaram que uma certa sala no primeiro
abandonada, com as fundações já prontas, andar da Casa do Estudante Universitário...
por falta de verbas.281 era teatro, a invenção não teve vida muito
longa, abrigando apenas dois espetáculos
Quando o arquiteto Maurício Roberto interessantes – Instituto Naque de Quedas e
foi Diretor do MAM fez um novo projeto Rolamentos, de Isis Baião, e Meu companheiro
que mantinha a característica arquitetônica querido, de Alex Polari – em quase dez anos
original do projeto elaborado por Afonso de existência. Assim, após um período de si-
Reidy. Era um redimensionamento inter- lêncio, em que só abrigou, esporadicamente,
no, para a utilização simultânea do espaço, apresentações isoladas do grupo “Tá Na Rua”,
multiplicando suas possibilidades. Permi­ de Amir Haddad, aquela sala de espetáculos
tin­do um desmembramento ou a utilização volta a funcionar, agora rebatizada Tea­­­­tro de
na sua totalidade. Arena Céu, apresentando uma remontagem
Hoje o que encontramos no MAM não é Corpo a Corpo, de OduvaldoVianna Filho. Mas
um teatro, com as especificações que foram só a distribuição palco-plateia foi alterada.
mencionadas, infelizmente ficou somente Do tradicional palco italiano, passou à dispo-
no projeto, como quase tudo no que tange a sição de arena. O resto continua o mesmo:
cultura neste país. assentos desconfortáveis, falta de ar-condi-
cionado, inexistência de recursos técnicos
(são apenas 12 refletores, com uma mesa de
1970 luz aparente e barulhenta), enfim tudo traba-
Teatro da CÉU (Casa do lhando contra uma montagem que teria que
Estudante Universitário) ser muito boa para superar tudo isso.282

O Teatro da Casa do Estudante Universitá- Para complementar as palavras de Flávio


rio, na Avenida Rui Barbosa n. 762 – Fla- Marinho, registro uma outra matéria publi-
mengo, surgiu na segunda metade da década cada um ano depois em outro jornal, com o
de 1970, em um salão no térreo do prédio, título: “De dar medo”.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 627


Entregue à sua própria sorte, o Teatro da em Rock e com playbacks de todos os gru-
Céu..., não devia cobrar ingressos a quem pos nacionais.
ousasse frequentar suas dependências. O salão de dança e shows continuou no
Totalmente sujo, com vazamentos por mesmo lugar, com algumas melhorias, co­­
todos os lados..., o teatro é hoje um ver- mo sistema de luz e som, e colocação de um
dadeiro risco para aqueles que se aventura- telão para exibição de vídeo clips ou para
rem a um programa noturno. mostrar os próprios dançarinos que estavam
Pelo estado de abandono, pode-se di- na pista.
zer que é tão perigoso frequentar o Tea- O salão de vídeo, que havia sido um dos
tro da Céu como passar em plena Central pioneiros no Rio, foi transformado num
do Brasil na madrugada. Nunca se sabe o res­­
taurante e lanchonete, sendo o local
que pode acontecer, pois os cantos sujos mais tranquilo da casa, conforme o ambi-
e escuros servem de esconderijo perfeito ente pedia, com música de fita, com espaço
a marginais.283 também para dançar, com luz mais amena,
quase como uma boate dos anos 1950, era
um espaço reservado para se conversar e
1978 namorar. Uma casa exclusivamente para
Noites Cariocas shows musicais.

Em 1978 era criado no Morro da Urca uma


danceteria, de nome Noites Cariocas, a de- 1986
cana das danceterias do Rio, uma realização Espaço III (Sala Arnaldo Niskier)
de Nelson Motta e que durante sete anos,
até 1985 precisamente, se manteve com seu Nos fundos do Teatro Villa Lobos, está lo-
público de frequentadores. calizada a Sala Arnaldo Niskier, conhecida
Em 12 de setembro de 1985 após passar como Espaço III, um espaço alternativo, sem
por uma grande reforma, mudando total- recursos técnicos, que foi inaugurado em
mente seu aspecto e criando vários ambi- 1986 com Nosferatu, pela Companhia de En-
entes, foi reinaugurada com o show Normal, cenação Teatral, que tinha como produtora
de Lulu Santos. Julia Valladares, e direção de Moacyr Góes.
Nesta nova fase, Noites Cariocas ti- No ano seguinte era encenado Woyzeck, de-
nha três ambientes principais, escolhidos pois Baal, A trágica história do Doutor Fausto,
pelas pessoas de acordo com seu estado A escola de bufões e Epifanias, todos com dire-
de espírito. A chegada era no local onde ção de Moacyr Góes. Esses espetáculos de-
funcionava a antiga estação do bondinho, ram uma identidade ao espaço que antes não
transformada no Cabaret 2000, a estação existia como sala de espetáculos.
havia sido reformada em sala de vídeo,
onde eram exibidas gravações de shows
internacionais e produções independentes 1988
ou do próprio Noites Cariocas. O espaço Mercado São José das Artes
também era reservado para espetáculos de
grupos iniciantes ou experimentais, não O antigo Mercado São José, localizado à Rua
necessariamente de música. Já funcionava das Laranjeiras, no bairro do mesmo nome,
também o Karaoke Karioka, especializado esquina com Rua Gago Coutinho, formado

628 Teatros do Rio


por um conjunto de dois casarões do sécu- pejados; passando então para o pátio de um
lo XIX, era usado desde a década de 1940 colégio, o Almirante Tamadaré, na própria
como estabelecimento que abastecia os mo- comunidade, onde contavam com o apoio
radores da região de frutas, legumes e ver- da diretora Márcia Soares Dutra.
duras, até seu fechamento em 1983. A construção do grande sonho só se tor-
Depois do tombamento pela Prefeitu- nou realidade depois de muitos sacrifícios,
ra em 1984, seu destino foi decidido pela como conta Guti Fraga:
comunidade do bairro, que resolveu aliar a
função de mercadinho à transformação do Montamos, em 93, o show Das sete às oito
espaço em centro múltiplo de cultura. Esta- em ponto, um misto de programa de audi-
vam assim lançadas as bases do Mercado São tório com variedades, aberto a todo tipo
José das Artes, inaugurado em abril de 1988 de manifestação artística.
e coordenado pela Associação de Amigos e Tínhamos um público médio de 500
Moradores de Laranjeiras e adjacências. pessoas por show e ao final sorteávamos
O espaço é utilizado para peças: infantil um quilo de carne, doado pelo açougue,
e adulto, além de possuir lojas de doces e ou uma cortesia no salão de cabeleirei-
restaurantes com pratos típicos de Minas ro.284
Gerais, Norte e Nordeste.
A conscientização dos comerciantes e
o apoio às atividades foi tornando viável o
1997 projeto do grupo, e continua Guti: “Uns
Teatro do Vidigal da­­vam uma maçaneta, outros a fechadura,
além de tijolos”.
Por volta de 1986, nascia o Grupo Nós do E assim com o tempo foram conseguin-
Morro, formado pelo diretor de cena e ator do: as poltronas doadas pelo Hospital Sama-
Guti Fraga, junto à comunidade do Vidigal, ritano e a mesa de luz e som pelo Conselho
e sendo o primeiro trabalho do grupo, a Britânico.
criação coletiva Encontros. No início, tudo foi difícil, como para qual-
No princípio, Guti contava somente com quer grupo, mas a situação que enfrentavam
a colaboração do iluminador Fred Pinheiro, era bem diferente do que qualquer outro,
e do cenógrafo Fernando Mello da Costa. pois lá ninguém tinha o hábito de frequentar
Atualmente são mais de uma centena de teatro, nem o da escolinha. Mas, de grão em
pessoas que frequentam os cursos ofereci- grão, Guti e seu grupo, foram conseguindo
dos pelo Teatro do Vidigal: de roteiro à di- mudar a mentalidade dos moradores da fa-
reção, passando por todas as áreas das ar- vela, como ele mesmo conta.
tes cênicas, informando um pouco do que
aprenderam aos jovens da grande favela do Hoje a gente se orgulha em dizer que, além
Vidigal, em São Conrado. do grupo, formamos uma plateia de teatro.
O pequeno e modesto Teatro do Vidigal, Há dez anos não existia este tipo de com-
sem recurso cênico algum, comporta ape- portamento. Hoje os moradores do Vidigal
nas 50 pessoas, com um palco de 5 m por vão ao teatro, independente de vir aqui.
6 m, que foi conquistado duramente. [...] Antigamente 90% da plateia se levan-
Antes o grupo era alojado em uma escola tava no meio do espetáculo para ir ao ba-
na Avenida Niemeyer, de onde foram des- nheiro. Eu tinha que chegar no ouvido das

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 629


pessoas e falar baixinho para não deixarem 4. 6. 7 DOS CAFÉS-CANTANTES
seus lugares.
AOS CAFÉS-CONCERTO
A repercussão do grupo desceu o morro
e chegou ao asfalto, conseguindo o Prêmio
Shell de Teatro de 1997, com a montagem Se o impulso inicial do movimento artís-
de Machadiando, três textos curtos de Ma- tico e cultural no Brasil do início do anos
chado de Assis, além da indicação para o 1800 ocorreu graças à benéfica influência
Mambembe. da Missão Francesa, a influência francesa
Depois dos prêmios, o grupo fez tempo- permaneceu durante o século XIX inteiro,
rada no Teatro do Museu da República. O marcando as tendências dominantes, ma-
Teatro do Vidigal, com seu modesto e precá- nifestadas não só nos estilos arquitetônicos
rio espaço, conquistou com muito suor, sua e nas preferências literárias, mas também
merecida identidade. nos hábitos da vida burguesa cotidiana,
entre os quais se incluem os hábitos ali-
mentares, o modo de vestir, as expressões
vocabulares, as preferências pelos cafés,
cassinos e logo em seguida, pela sedução
do cinematógrafo. De tal modo que a vira-
da do século XIX-XX ainda permitia refle-
xões sobre a influência francesa na cultura
teatral brasileira, feita por um dos nossos
intelectuais mais observadores e críticos
dos costumes contemporâneos ao Brasil de
então: Artur Azevedo.

Não nos esqueçamos de que outrora, en-


tre a maioridade (1840) e a Guerra do
Paraguai (1865), quando esta cidade não
tinha ainda monumentos nem avenidas,
foi a mais sensível, a mais encantadora da
América do Sul, devido principalmente à
colonia francesa, que era esclarecida e nu-
merosa. A Rua do Ouvidor é uma inven-
ção dos franceses. A colônia era tão impor-
tante que construiu um teatro e, durante
algum tempo, manteve no Rio de Janeiro
uma Companhia Dramática Francesa de
primeira ordem, que dava quatro espetá-
culos por semana.
Por essa época a colônia francesa domi-
nava o comércio de modas, o mais sofisti-
cado do Rio, centralizado na Rua do Ou-
vidor. Costureiras, modelos, balconistas,

630 Teatros do Rio


em grande número oriundas de França, A relação dos cafés-cantantes, também
à falta de outros divertimentos públicos, chamados no início do século de cafés-con-
reuniam-se em clubes particulares, decla- certo, é longa e a sua permanência, dura-
mando poesias, representando peças fran- doura. Na verdade, foi um hábito surgido
cesas, organizando conjuntos musicais. no final de século como alternativa de lazer
A iniciativa da colônia levou em 1832 o e centro de atração, tanto de famílias bem
francês Jean Victor Chabry a encomendar a comportadas, nos horários diurnos, como
seu compatriota de nome Fortuné Segond oferta de diversão para cavalheiros, na vida
a construção de um teatro em terreno na noturna, dois universos da sociedade em de-
Rua São Francisco de Paula, que tomaria senvolvimento que buscavam ser atendidos
o mesmo nome”. “Pelo Decreto n. 245 de forma prazerosa, adequada e mais eco-
(30.XI.1841) o govemo autorizava quatro nômica.
loterias, pelo espaço de quatro anos, em Daniel Rocha em artigo publicado na Re-
benefício da “Companhia Dramática Fran- vista de Teatro da Sbat (n.469, jan/fev/mar,
cesa” do Teatro São Januário. 1989), refere-se aos Cafés-Concerto que se
Em 1855 inaugurava-se o Café Can- multiplicaram pela cidade do Rio de Janeiro
tante Salão do Paraíso (depois Follie Pa- no fim do século:
risiennes). Finalmente, em 1859, inaugu-
rava-se na Rua da Valla, com a adaptação O café-concerto com seu espetáculo ao ar
dos três prédios de números 47-49-51, livre encontrou a melhor acolhida de nos-
o Alcazar Lyrique Français da empresa so público, pois era naturalmente indicado
Arnaud & Garnier, que monopolizou a para o nosso clima, constituindo um refri-
atenção de nosso público até 1880, intro- gério nas noites de verão.
duzindo em nosso país o gênero alegre Esses estabelecimentos instalavam-se
em voga em Paris (ópera cômica, comé- em aprazíveis jardins, com mesas e cadei-
dia musicada etc.). No Alcazar Lyrique ras destinadas ao público e tendo ao fundo
brilharam atrizes como a famosa Aimée, um palco (quase sempre coberto), onde se
além de galantes atrizes que aqui perma- apresentavam os artistas.
neceram integrando elencos nacionais Na publicação Palcos e Salões (1906) e
como a Delmary. Com o sucesso das pe- outras do mesmo gênero se pode ler “tea­
ças desse gênero, vários empresários lo- tro campestre”, referindo-se ao Recreio
cais se dedicaram à montagem de versões Dramático, ao Apoio, ao Sant’Anna. Até
de mágicas, óperas cômicas, operetas, pouco era possível constatar esses jardins
com enorme êxito, especialmente em no Teatro Recreio e no Teatro República,
tradução e adaptação de Artur Azevedo no Rio, tal como no Teatro Parque Antár-
e Eduardo Garrido, incorporando vede- tica, em São Paulo. Os Cafés-Concertos se
tes francesas como Rose Villiot, Del Sol espalhavam pela cidade, no Passeio Públi-
e outras. co, na Lapa, no Largo do Machado, ofe-
Em 1867 o Jardim da Flore passaria a recendo à população carioca uma diversão
chamar-se Teatro Francês de Variedades e, econômica, alegre e saudável.
em 1869, Fênix Dramático. Os franceses
e seu teatro exerceram um longo domínio A solução dos cafés permite um confron-
em nossos palcos até o início da Primeira to entre o que ocorreu no início do século
Guerra Mundial (1914-1918).285 XX, no período focalizado por Artur Aze-

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 631


vedo, com o que aconteceu no final deste que também possuíam, em alguns casos, pista
século, quando esta forma de utilização das de dança, livraria e boate, além do bar e do
casas de espetáculo voltaram a constituir teatro. Onde a ambientação se fazia em geral
moda. Aí também a tentativa de implantação com objetos pendurados pelas paredes (pen-
deste novo hábito surgiu como solução en- duricalhos), estantes com livros, antiquário
contrada por pequenos empresários e com- com peças à venda, atingindo assim todas as
panhias para momentos de crise de público idades, gostos e classes sociais.
ou de crise financeira, pois o café-concerto Alguns desses pequenos espaços mere-
oferece não só o espetáculo, como também cem ser descritos, para se ter uma noção
os “comes-e-bebes” que, em geral, a ele se mais detalhada de como funcionavam e que
sucedem, num mesmo local. saídas ofereceram à chamada crise de lugar,
Com o fechamento de várias casas de es- a crise de espaço que se instaurava na ci-
petáculos, e sem perspectivas de espaços, dade após o fechamento de vários teatros.
aos poucos foram surgindo, na década de A situação mereceu comentários amargos
1980, em vários pontos da cidade do Rio de por parte da imprensa. Transcrevo parte da
Janeiro, uma espécie de off Rio ou off off Rio: matéria de Licínio Neto, para a Tribuna da
o café-teatro e café-concerto, onde peque- Imprensa de 21 de março de 1980, que pode
nos grupos, que não conseguiam uma sala servir de termômetro para a temperatura
do Estado ou Município, ou não dispunham dos ânimos. Ele aponta como possíveis cau-
de recursos para manter o aluguel de um sas da situação
teatro particular, saíam em busca de outros
espaços, ocupando áreas reduzidas e espre- [...] a predação imobiliária e a incompe-
midas em bares e restaurantes, onde atores tência da municipalidade, quando a came-
e público se uniam numa espécie de celebra- lice não é estadual ou federal; demolição,
ção. Muitos surgiram com a temporada de desapropriação, venda, troca, insegurança,
um único espetáculo, para em seguida desa- inatividade etc., tudo isso contribui para
parecer, e logo surgir outro, em algum lugar que um cutelo anticultural paire, ad vita
da zona sul da cidade, com apresentações de aeternam, sobre o delgado pescoço da ma-
companhias que tentavam vencer a falta de nifestação teatral. Contra a legislação em
salas, enfrentando condições precárias, com vigor, o Teatro Santa Rosa deu adeus às
a intenção de dar continuidade a sua arte. ilusões; [em questão de][...] dois meses,
Desta forma, qualquer local por próximo a Companhia do Metropolitano disse que
a um fluxo diário de pessoas e que apresen- iria implodir o Gláucio Gill. Já o Teatro do
tasse alguns metros quadrados disponíveis, BNH ficou anos sujeito aos caprichos dos
não importando a altura ou possibilidades de tecnoburocratas da casa própria. [...] Ago-
recursos técnicos, era o bastante para se criar ra, quando todos ainda estão perplexos
um espaço cênico, na verdade caracterizado com a venda do Teatro Opinião a um obs-
a partir da ação dramática desenvolvida pelo curo empresário de boulevards – medida
ator, de tal modo que, num só lugar, fosse ofe- que pode extinguir o Grupo Opinião –, o
recido o espetáculo teatral ou o show, além Rio de Janeiro perde o Teatro do Conser-
das refeições, da dança e da bebida. Foram vatório, a Sala Glauce Rocha e mais dois
surgindo assim vários espaços alternativos auditórios, com a recente (e estúpida) in-
e suas programações múltiplas, abrangendo vasão do Centro de Artes da Unirio, que,
exposição, shows e festivais gastronômicos, aliás, começou a ser demolido. É inacre-

632 Teatros do Rio


ditável, para não dizer sensacionalmente Vereza e Ricardo Bandeira, para transforma-
nojento. Em questão de duas semanas, rem em um local de ciclo de conferências.
quatro espaços foram riscados do mapa e Em 1967 passa por remodelação, com
um alienado, porque ninguém garante que melhorias das condições da sala, inauguran-
o senhor Adauri Dantas dará sequência ao do novo sistema de luz e também de ar-con-
tipo de atividades que o Grupo Opinião dicionado. E a dupla Clorys Daly e Cláudio
vinha desenvolvendo. Ferreira reabre as portas do Arena Clube em
Eis o quadro. E o que me deixa desgra- 3 de agosto de 1967, com os espetáculos:
çadamente revoltado é saber que comento Um mais um é igual a dois, em um ato, adapta-
fatos consumados. Porém, sobra um ponto ção da peça O crime do homem dos passarinhos,
de luz, na medida em que todos os setores de John Mortimer e de Grande Otelo de corpo
ligados não só ao teatro mas ao espetácu- inteiro. O Crime do homem dos passarinhos (The
lo somem esforços. Caso contrário, temo Dock Brief), com tradução de Ewa Procter e
a substituição da cultura pela degustação: direção de John Procter, e tendo como in-
em vez de teatros, supermercados. térprete Grande Otelo e Manuel Pêra.

1964 1970 /1980


Arena Clube de Arte Rock Dreams

Apesar do nome, o Arena Clube de Arte, O Rock Dreams, no Leblon, inaugurado


inaugurado em 17 de novembro de 1964, em fins da década de 1970, e o Suburban
foi um projeto idealizado por Clorys Daly, Dreams, no centro da cidade, em meados de
seu marido o americano Eugene Edward 1980, foram os precursores dos bares de mil
Daly e Cláudio Ferreira. Não tinha nada de e uma utilidades.
uma arena e não tinha quase nada de um O Rock Dreams, com seu público da zona
teatro, mas veio preencher na época uma sul, atraídos pela música, vídeos e sanduí-
lacuna que já devia ter sido preenchida. Foi ches. O Suburban Dreams, do Centro, foi
inaugurado na sobreloja da Rua Barata Ri- a primeira tentativa do casal Christopher
beiro, n. 810/1° andar, quase esquina de Crocker e Ursula Westmacott (que tam-
Miguel Lemos e tratava-se de um bar como bém foram proprietários do “Crepúsculo
outro qualquer, com uma dúzia de mesi- de Cubatão” e do “Cochrane”), de integrar
nhas, e com serviço de drinques, salgadi- jovens da zona norte e sul. A proposta, um
nhos, etc.. Numa certa hora, apagavam-se ambiente inspirado numa piscina, deu cer-
as luzes do bar; e no pequeno palco mon- to, tornando-se um bar de vanguarda, com
tado num canto do salão era realizado um shows e exposições.
espetáculo de bolso.
A peça de estreia foi Bonito, bonito é o coli-
bri, de Lôbo Júnior, direção de Cláudio Fer- 1980
reira, com Dirce Migliaccio, Hugo Mayer, Café-Teatro Roda Viva
Carmem Saveiros e Luciano Carvalho.
Tratava-se de um ponto de encontro para O Café-Teatro Roda Viva, localizado nas
as pessoas que gostavam de teatro. Chegando dependências do Restaurante Roda-Viva,
em 1966, a ser arrendado pelo ator Carlos Avenida Pasteur n. 520, Praia Vermelha, foi

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 633


inaugurado em 20 de setembro de 1980, 1987
com o musical revista infantil Fantasia 80, Café-Teatro Mágico
de Paulo Werneck, com Fernando Reski,
Lia Farrel, Michelli Nailli, Eduard Roessler, O Café-Teatro Mágico nasceu por inicia-
Laura Carvalho, Thiago Monteiro, Claudia tiva do mímico argentino Olucaro Oci-
Netto, Afonso Reginier e Adriana Guetti. montano, que em fins de 1987 descobriu
O Café-Teatro Roda Viva era um espaço na Rua das Palmeiras, em Botafogo, um so-
cultural que se abria para as mais diversas ma- brado português do início do século, e com
nifestações teatrais, tendo como padrinhos a ajuda da arquiteta Lélia Bastos Vieira,
Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça. transformou-o no Café-Teatro Mágico, um
recanto cultural em que cabia tudo, a par-
tir das suas propositadas semelhanças com
1983 os cabarés expressionistas alemães, em que
Café-Teatro Viro da Ipiranga despontaram personalidades como Bertold
Brecht e Kurt Weill e, mais modernamen-
O Café-Teatro Viro da Ipiranga, na virada do te, Fassbinder.
viaduto de Laranjeiras, à Rua Ipiranga n. 54, O sobrado tinha um salão, um palco de
um velho casarão de 1893, adaptado, onde 4 m por 4 m, plateia, camarotes e um meza-
funcionava bar, porão de arte, botequim e ca- nino, além de camarins.
baré, com uma programação teatral e musi- O tango era a especialidade da casa que,
cal; foi inaugurado em janeiro de 1983. no entanto, pretendia que a cada noite acon-
O prédio de fachada colonial já havia ser- tecesse uma coisa diferente, diferentes tipos
vido até de abrigo para mendigos, o pro- de manifestação artística, desde teatro, dan-
prietário Renan Correa da Silva resolve en- ça, poesia e shows musicais.
tão transformá-lo em bar, iniciando as obras
em junho de 1981.
Uma casa com uma produção musical, 1992
onde se incluem Lecy Brandão, Fátima Gue- Mostarda
des, Jane Duboc, Cartier, Tim Rescala, en-
tre outros, além de atrações teatrais, onde Inaugurado o Mostarda, na Avenida Epitácio
atores interpretavam, cantavam, dançavam e Pessoa n. 980, com pista de dança, boite, bar
faziam números de humor. e restaurante, configurou-se também como
um espaço que nasceu com dupla função:
café-concerto e café-cantante.
1983
Café-Teatro Dom Camilo
1995
Em abril de 1983, era inaugurado o Café- Ritmo
-Teatro Dom Camilo, à Rua Toneleiros
n. 76, em Copacabana, com direção do ator Surge a Ritmo, na Estrada do Joá n. 256,
e produtor Deny Perrier, que mantinha a São Conrado, com restaurante, boate e um
mesma programação teatral e musical que o palco para espetáculos. Era um ambiente
Viro da Ipiranga, com os mesmos espetácu- cercado por um jardim assinado por Burle
los e shows. Marx.

634 Teatros do Rio


Década de 1990 sen, um argentino que trocou sua terra natal
Rock in Rio Café pela Lapa.
A casa, um misto de bar, teatro e sala de
Bar temático Rock in Rio Café, na Avenida vídeo se dedica exclusivamente à dança con-
das Américas n. 4.666, no Barra Shopping, temporânea. Sobre sua empreitada, Gatto
com vitrines com instrumentos musicais, diz a Eduardo Graça, do Jornal do Brasil, em
roupas e acessórios de artistas que partici- 7 de dezembro de 1997:
param dos dois festivais “Rock in Rio”; com
bar, pista de dança e um palco. Vivia no Rio há anos, mas não saía de casa,
simplesmente porque não havia um lugar
parecido com meu apartamento, onde re-
Década de 1990 cebia os amigos, em um antigo cortiço na
Rock Memória Café Lapa. Decidi atravessar a rua, alugar o edi-
fício em frente para a Companhia de Dan-
Rock Memória Café, na Avenida Epitácio ça Rubens Barbot e, com a ajuda de uma
Pessoa n. 1.210, Lagoa, o primeiro temáti- verba da Prefeitura, bancar a construção
co do Rio, com exposição permanente de do café.
objetos doados por músicos, além de bar,
restaurante e pista de dança e performances. Tratava-se de um espaço para cem pes­
A partir de 1994 a multiplicidade atinge soas, seguindo o estilo alternativo, onde o li-
as próprias casas de espetáculos, que come- nóleo tomava conta de quase metade da área
çam então a abrir suas portas não só para total, permitindo ampla movimentação aos
apresentações de montagens teatrais, mas bailarinos, consignando a dança como tema.
também para uma aproximação maior com
seu público, oferecendo também comidas e
bebidas, sem hora para fechar. 1997
Essa tendência começou a virar moda, Espaço off
quando alguns teatros começaram a refor-
mar suas salas, transformando-as em es- O Espaço off do Teatro Casa Grande, ide-
paços múltiplos, permitindo diversos gê- alizado por Silvia Haus e pela produtora
neros de manifestações artísticas. Um dos Beta Leporàge, foi inaugurado em janeiro
precursores foi o Café do Teatro, criado de 1997, no hall da casa de espetáculos, si­­­
no foyer do Teatro dos Quatro, com uma tuada à Rua Afrânio de Melo Franco n. 290,
ambientação ao estilo cabaré, confortável Leblon.
e super agradável, para que, após o espe- Sua estrutura era mínima com apenas seis
táculo, o público pudesse permanecer em mesas, bar e uma pista de dança. O palco era
sua mesa para jantar.
 improvisado no patamar de acesso à sala de
espetáculos.

1996 Queremos um lugar informal, que sirva


Café de La Danse como pista de dança e ponto de encontro,
sem ter a obrigação de ser uma casa de
Em 7 de dezembro de 1996 inaugura-se o shows. O barzinho é na mesma linha: a pes-
Café de La Danse, pelo produtor Gatto Lar- soa se levanta e pega direto o que quer286

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 635


1997 o caso do Teatro de Arena do Planetário da
Teatro Pequeno Gávea, que em 1997, após o encerramen-
to do espetáculo Cabaré Filosófico, a arena se
Seguindo este mesmo estilo o ex-Teatro de transformava em discoteca, um programa
Bolso Aurimar Rocha, após sofrer uma refor- três em um, com teatro, chope e discoteca
ma, reabre suas portas em 29 de agosto de em um só lugar.
1997, com o nome de Teatro Pequeno, seguin- Outros, além de um espetáculo, ví-
do a mesma tendência, criando um café-con- deos, comes e bebes, possuem até “bre-
certo aconchegante para 152 pessoas, onde o chó”, onde o frequentador pode adquirir
público acabava fazendo um programa com- qualquer peça do mobiliário da casa, até a
pleto, bebendo e divertindo-se assistindo a um própria mesa ou cadeira que ocupa, como
espetáculo musical ou espetáculo de humor. também, a que esteja ocupada por algum
cliente, levando-a na mesma noite, como
acontece no Café de La Danse. E assim
1997 muitas outras casas vieram a aderir tal
Teatro de Arena transformação possibilitando espaços para
grupos e pequenas companhias poderem
Em alguns, existe até a possibilidade do pú- mostrar suas artes.
blico dançar depois do espetáculo, como é

636 Teatros do Rio


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Folha Metropolitana. São Bernardo do Campo, SP: 21 Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: 17 de julho de 1981;
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21 de outubro de 1975; 22 de outubro de 1975; bro de 1985; 17 de agosto de 1996; 24 de janeiro
30 de julho de 1977. de 1997; 26 de junho de 1997; 7 de dezembro de
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novembro de 1998.
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Teatro da Céu (Casa do Estudante Tribuna da Imprensa. Rio de Janeiro: 26 de julho de
Universitário) 1966.
Jornal do Commercio. Rio de Janeiro: 30 de julho de Revista de Teatro Sbat. Rio de Janeiro: n. 341, setem-
1985. bro/outubro de 1964.
4.7 A FUGA PARA OS mos o espetáculo uma noite porque cho-
SHOPPINGS E A PERDA via muito no palco. Mas este é apenas um
DA VOLUMETRIA exemplo, embora as nossas reinvindicações
ARQUITETÔNICA entrem em choque com as opiniões dos
proprietários dos teatros, que alegam es-
tarem fazendo bem à cultura brasileira, um
favor ao desenvolvimento do teatro. Com
A história das casas de espetáculos do raras exceções, eles contra-argumentam
Rio de Janeiro demonstra claramente a si- que, se transformassem aqueles espaços
tuação de incertezas com que a classe tea- em lojas comerciais, ganhariam muito di-
tral convivia, durante a década de 1970: o nheiro. [...] Os nossos problemas em rela-
fechamento dos teatros. Esta lista se iniciou ção ao teatro no Brasil são tantos (censura,
com os teatros Phênix e República, que logo montagens caras, recursos técnicos reduzi-
depois foram acompanhados pelo São Jorge, dos), que os quesitos básicos de segurança
Carioca, Recreio, Arena. Nesta época o Ser- ficam até esquecidos. E na medida em que
viço Nacional de Teatro realizava campanha se raciocina que um prédio imenso não
para abertura de novas casas, mas a preo- tem uma escada de incêndio, é perfumaria
cupação também dos produtores e artistas exigir que as pessoas se preocupem com as
eram as condições de funcionamento das possíveis catástrofes em teatro.
ainda existentes num cenário sombrio, com
camarins apertados, equipamentos precá- Havia uma urgência muito grande em se
rios, palcos exíguos e pouca segurança e construir novas salas, para suprir a deficiên-
acomodação para o público. Entretanto, elas cia existente e de prevalecer também as leis
só permaneciam abertas devido à teimosia de consolidação do trabalho, que andavam
de seus proprietários e do incansável espí- um pouco esquecidas, quanto aos ambientes
rito de luta, velho hábito dos profissionais desconfortáveis e anti-higiênicos que eram
de teatro. oferecidos à classe teatral.
Com isso, em 1976 o Rio não podia re-
Eu só não pedi a interdição das casas de ceber grandes espetáculos, pois o Municipal
espetáculos durante os três anos que per- estava fechado e o João Caetano saturado,
maneci como presidente do Sindicato dos e as casas existentes com capacidade para
Artistas porque teria que solicitar o fecha- mais de mil espectadores eram mal locali-
mento de quase todas e isso prejudicaria as zadas ou não apresentavam boas condições
nossas companhias. técnicas, vindo a ocorrer o deslocamento
para Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e
Eram as palavras de Luiz Franco Olime- Porto Alegre, como foi o caso de Sarah Vau-
cha, que considerava péssimas as condições ghan, Royal Ballet, Cleveland Orchestra e
dos teatros do Rio de Janeiro, em entrevista outros, atrações que o público carioca dei-
a O Globo em 15 de abril de 1975. Na mesma xou de assistir, exatamente por falta crônica
reportagem, Fernanda Montenegro expõe de poltronas e palcos que pudessem receber
sua opinião: os nomes vindos de fora.
Todos reclamavam pela construção de
Quando estávamos apresentando O Interro- novas salas, enquanto os órgãos oficiais se
gatório, no Teatro João Caetano, não fize- queixavam da falta de verba para suprir a de-

640 Teatros do Rio


ficiência. Uma matéria de Sérgio Zobaran, O problema era um beco sem saída: os
no Jornal do Brasil, de 28 de junho de 1976, donos das salas particulares cobravam alu-
traça em poucas linhas o que se esperava de- guéis exorbitantes, que desequilibravam ca­
pois de tantas promessas: da vez mais os orçamentos das produções;
e mesmo assim queixavam-se de que a vida
Radio City Brasileiro, Lincoln Center Ca- para eles era tão dura que não podiam inves-
rioca, Broadway Nacional. Estes e muitos tir o mínimo necessário para a manutenção
outros eram os planos para 1976. Previa- de seus teatros. Com isso, as salas ficavam
-se a construção, adaptação ou reforma de cada vez mais sujas e desequipadas, calo-
nossas salas de espetáculos para que o Rio rentas, pouco convidativas, perdendo uma
pudesse receber as grandes companhias parcela de seu público e das companhias
estrangeiras com todo o aparato necessá- teatrais, pelas condições precárias de uso.
rio, ou mínimo, além de levar nosso tea- Esses problemas eram temas constantes
tro, dança e música popular e erudita a um no início de 1980 não só dos artistas como
público cada vez maior. dos frequentadores dos teatros: o calor,
Mas isto foi em 75, ano da fusão, da a visibilidade, as poltronas quebradas, os
criação da Funterj-Fundação dos Teatros banheiros anti-higiênicos, a falta de segu-
do Rio de Janeiro, das posses de governan- rança, o conforto, os camarins inadequa-
tes e das promessas. Hoje, passado pouco dos e tantos outros problemas estruturais.
mais de um ano, os empresários abando- O público, em muitos casos, escolhia a
naram o Rio, na esperança de encontrar peça pelo teatro, ou seja, preferia um es-
o público perdido. Não que a plateia não petáculo que o agradasse menos, mas esti-
possa ou não queira ver os espetáculos ou vesse sendo exibido em uma sala que asse-
prestigiar os artistas, mas a falta de locais gurasse o mínimo de conforto.
para apresentações é cada vez mais gritan- Para se ter um panorama das condições
te. Cinemas e hotéis, estádios e circos já dos teatros nesta época, transcrevo na ínte-
foram alternativas prováveis, mas os pro- gra a matéria de Patrícia Mayer, sobre de-
blemas encontrados são muitos: falta de poimento de Yan Michalski, publicada no
condições tanto de palco como de acomo- Jornal do Brasil, de 31 de março de 1980:
dação para a plateia, localização inadequa-
da a grande parte do público... Quem entra no saguão do Teatro Brigitte
Blair, numa transversal na Rua Miguel Le-
No início da década de 1980 a situação mos, em Copacabana, fica impressionado
é tão parecida e até pior em alguns casos, com as dimensões. Tudo é de tamanho re-
o Rio estava notadamente mal servido de duzido: porta de entrada, banheiros, inte-
casas de espetáculos, não tanto quantitati- rior do teatro, incluindo palco e camarins.
vamente, embora as aproximadamente 40 Mas a aparência geral não é má. No sa-
salas que funcionavam mais ou menos re- guão, disputam espaços dois bancos, uma
gularmente já não estivessem dando vazão geladeira e um bebedouro. Um tapete
ao movimento teatral e musical; mas em vermelho está bem conservado, parece
termos de qualidade: conforto para o pú- novo. Os banheiros também estão em
blico e os artistas, condições técnicas de bom estado, limpos e providos de sabo-
suas instalações, facilidade de acesso, de netes e toalhas de papel. Não há papel
estacionamento etc. higiênico, porém. Numa placa de bronze

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 641


presa à parede, lê-se que o teatro foi re- ção do show de jazz de domingo passado,
formado em 1978 graças a um financia- quando o salão estava abafado, calorento (e
mento do Banco de Desenvolvimento do não estava lotado).
Estado do Rio de Janeiro. Saída e entrada funcionam independen-
Na sala de espetáculos propriamente temente, as portas são largas, espaçosas.
dita, nada que aparente reforma recente. O saguão é o ponto alto: ventilado, bem
O tapete, apesar de livre de lixo, está en- decorado, com mesas de acrílico, poltro-
cardido de chicletes e balas. As 195 pol- nas e plantas, bem conservado e limpo.
tronas são antigas, o que se constata pelas O bar, que chama atenção por sua localiza-
molas apontando através do gasto forro de ção central, não mais funciona durante os
plástico. Mas não são de todo inconfortá- espetáculos. Quem quer matar a sede deve
veis. As paredes de tijolo aparente pintado usar o bebedouro, também no saguão.
de branco, também aparentam bom esta- Os camarins – cinco e os banheiros ane-
do. O ar-condicionado funciona razoavel- xos são modernos, têm ar-condicionado e
mente, embora com um dos três aparelhos servem aos atores o conforto necessário.
quebrado. Entrada e saída funcionam in- O palco é grande e a visibilidade é exce-
dependentemente, não havendo perigo de lente de qualquer ponto. Entre o palco e
tumulto nessas ocasiões. O palco, apesar plateia não existe, porém, cortina.
de pequeno, também parece em bom es­ Também no Shopping Center da Gávea,
tado. Notam- se nele sinais de pintura re- o Teatro Vanucci, inaugurado há dois anos
cente. Nos camarins, toda a ligeira impres- e com 410 lugares, é um boa casa de es-
são de reforma antes deixada é afastada. petáculos. Tem entrada e saída pela mesma
São oito, todos pequenos e abafados, com porta, mas esta é ampla. Alguns lances de
iluminação precária, paredes infiltradas e escada levam ao saguão, decorado sim-
sujas, roupas e acessórios de cena amon- plesmente mas limpo e com bonbonnière,
toados. Alguns estão com espelhos que- cadeiras, bancos e alguns posters na pa-
brados e sem ventilador. Todos denotam o rede. Já aí sente-se o bom funcionamento
pouco conforto oferecido aos atores. Os do ar-condicionado. Os banheiros – muito
banheiros dos camarins estão um pouco bonitos, com ladrilhos decorativos – estão
sujos, mas em condições razoáveis: pia, limpos e completos.
toilette, chuveiro com água quente. No interior do teatro as poltronas estão
em ótimo estado e são confortáveis. Tape-
Dos quatro teatros do Shopping Center tes limpos e novos, paredes com a mesma
da Gávea, o Clara Nunes é o maior: 452 lu- apresentação. O palco tem bom tamanho e
gares, poltronas acolchoadas em excelente é provido de cortinas. A visibilidade é boa,
estado e muito confortáveis. Depois de quer da plateia principal quer dos 100 lu-
três anos de existência, a casa mantém-se gares do balcão. Nos cinco camarins, ar-
bem conservada: os tapetes das passadeiras mários para pendurar roupas, banheiros
estão limpos, as paredes forradas de papel com toilette e chuveiro individual, boa
parecem novas, os banheiros – amplos e iluminação, espelhos amplos, fórmica nas
arejados – têm sabonetes, toalhas de papel bancadas. É fácil a circulação entre o palco
e papel higiênico. O ar-condicionado não e os camarins.
é dos melhores ou pelo menos não pare- Já o Teatro da Gávea, ainda no Shopping
cia funcionar direito durante a apresenta- Center da Gávea (último andar), poderia

642 Teatros do Rio


antes ser chamado apenas de sala, princi- Entre o saguão de entrada e a plateia,
palmente se comparado com os seus vi- um corredor decorado com posters de
zinhos de prédio. Deixa má impressão a peças e artistas antigos serve também de
partir do saguão, que por sinal é bem mais circulação para os atores, se a peça exige
amplo do que a sala de espetáculos. Sem teatro de arena. Entrada e saída se dão por
decoração alguma, ainda que com uma portas diferentes e os camarins, com ban-
bonbonnière, se estende para um terraço cada de fórmica e luzes especiais em redor
através de uma abertura sem portas. Nesse dos espelhos têm armários para guardar
saguão, umas 20 cadeiras de plástico e uma roupas e sapatos. Há pia em cada um e o
mesa servem para palestras em dias de se- ar-condicionado é central. Os banheiros
mana (atualmente o teatro só apresenta es- dos camarins – um para homens e outro
petáculos aos sábados e domingos). para mulheres – têm chuveiro com água
Um corredor estreito, que também ser- quente e fria. A cabina de som e luz é mo-
ve de saída, leva finalmente à sala do teatro, derna, inteiramente forrada de cortiça.
esta lembra um anfiteatro de universidade: Os teatros do Shopping Center da Gá-
palco na parte de baixo e 100 cadeiras de vea, ao contrário da maioria, têm esta-
plástico arrumadas em degraus. Três apa- cionamento seguro, em garagem subter-
relhos de ar-condicionado se encarregam rânea.
de refrescar um pouco a sala abafada. O Entrar no Teatro Ipanema é ter de ime-
palco – muito pequeno – está precisando diato a sensação de que ali não houve
de uma pintura. A iluminação é deficiente qualquer preocupação com conforto e es-
em toda a sala. tética. Os bancos da sala de entrada estão
Os camarins não oferecem o menor quebrados, os banheiros não têm sabão
conforto. São três. Pequenos, abafados, nem toalha e pedem urgente reforma. As
com pouca iluminação e espelhos míni- cadeiras – com encosto de madeira, muito
mos. É difícil imaginar que ali um ator antigas – estão manchadas e sujas, o tape-
consiga trocar de roupa. Não há ar-condi- te é velho e encardido, as paredes estão
cionado ou ventiladores. O único banheiro descascando. Desconfortáveis bancos de
não está limpo e nada nele separa o chu- madeira são colocados na lateral da plateia
veiro do resto do compartimento. A admi- quando os 285 lugares não são suficien-
nistração do Teatro da Gávea está entregue tes. Para a refrigeração, funciona um ar-
ao próprio Shopping Center. -condicionado central. Por trás do palco,
Com 396 lugares e palco com versa- uma escada íngreme, de cimento, leva ao
tilidade para teatro de arena, modular e subsolo, onde ficam os camarins. O espaço
italiano, o Teatro dos Quatro (também no é grande, mas mal dividido: há 10 cama-
Shopping da Gávea) é um dos bons espaços rins pequenos e abafados, com pouca luz e
cênicos da cidade. Suas poltronas estão em bastante empoeirados. Os banheiros estão
excelente estado, a refrigeração é correta e em estado precário e exalam mau cheiro.
a visibilidade está assegurada de qualquer O palco, apesar do aspecto sujo, é bem lar-
lugar onde se esteja sentado. O saguão de go e tem cortinas. Entrada e saída depen-
entrada, amplo, encerado, decorado sobria- dem da mesma porta.
mente com posters e plantas, oferece luga- No Teatro Tereza Rachel, a impressão
res para sentar e bar com refrigerantes. Os inicial é enganosa. O saguão da entrada é
banheiros são limpos e bem equipados. bem amplo, tem bar com refrigerantes,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 643


bancos para sentar e plantas decorativas. proliferam insetos, combatidos nem sem-
Os banheiros, embora velhos e com pa- pre com sucesso em sucessivas dedetiza-
redes cheias de infiltração, estão limpos, ções – por alvenaria.
mas sem sabonete ou toalha. Passando ao Sair do Teatro Tereza Rachel é um alívio,
interior da sala de espetáculos, o espec- quando não há tumulto, pois entrada e saí-
tador espanta-se em primeiro lugar com da funcionam pela mesma portinhola.
o calor. Sem ar-condicionado, o teatro Nos últimos dias, o Teatro Opinião es-
conta apenas com sete ventiladores de teve nas manchetes: falou-se que seria fe-
teto que não fazem mais do que refor- chado e que em seu lugar surgiria mais um
çar o ar quente da sala. Os 700 lugares supermercado. Não se confirmou a notí-
espalham-se por poltronas antigas, fre- cia: o Opinião – de invejável tradição na
quentemente manchadas ou rasgadas, e vida teatral da cidade – foi apenas vendido
bancos extras de madeira colocados nas a um empresário do ramo, que promete
laterais da plateia e do balcão, este um reformá-lo.
constante perigo, principalmente do lado Tal reforma deveria começar pelo pró-
esquerdo, onde o espaço é muito estreito prio Shopping Center da Rua Siqueira
e as madeiras de sustentação rangem, de Campos (onde está o teatro), um centro
tão velhas. Do lado direito, há um pouco de compras sujo, quase abandonado, com
mais de espaço. No meio, quem se sen- escadas rolantes quase sempre emperradas.
tar na primeira fila nada enxergará, pois O teatro propriamente dito é tão calorento
uma trave de madeira estará exatamente quanto seu vizinho, Tereza Rachel (o Opi-
a sua altura. nião teria sido construído para ser boate,
O palco é grande e funcional. Con- o que implica teto baixo, ao qual são ina-
trasta com o subterrâneo, de difícil dequadas as quatro máquinas de ar-condi-
acesso e numa área que cheira mal, onde cionado ali existentes). Os 350 lugares da
estão os camarins. Há quatro do lado di- plateia estão dispostos em banquinhos de
reito, mas só três são utilizados, todos madeira com estofamento de almofadas
com banheiro próprio. Não tem janelas estampadas, algumas já rasgadas. O palco
e o calor é enfrentado com alguns venti- é amplo, mas deixa ver em alguns pontos
ladores. As coxias parecem em obras, tal madeiras soltas. Os camarins – cinco – são
o entulho. Há um banheiro para os ato- precaríssimos, com pouca luz e pouco espa-
res em cena que melhor seria não exis- ço. Um só banheiro – que parece em obras,
tisse: chuveiros em péssimo estado, chão com infiltração nas paredes e tijolos soltos –
manchado, escuro, buracos nas paredes serve a todos. Os banheiros que servem ao
deixando tijolos à mostra, cheiro de- público também precisam de reforma.
sagradável. Perto desse banheiro, mais Recentemente, a administração do Opi-
dois camarins completam o desconfor- nião aplicou Cr$ 60 mil em melhorias, to-
to que o teatro oferece aos atores. Para das ligadas a exigências do Corpo de Bom-
estes, chegar ao palco é uma operação beiros na área de prevenção de incêndios.
complicada; exige a travessia, às escuras, O Teatro Copacabana é imponente, mas
de um caminho de tábuas soltas. decadente. Seu saguão de entrada – que
Dizem estar nos planos da administra- dá acesso, por uma escadaria, ao Golden
ção do teatro uma reforma na plateia su- Room do Hotel Copacabana Palace – é
perior, com a troca das madeiras – onde amplo e pomposo, mas necessita de nova

644 Teatros do Rio


pintura e de limpeza nas pastilhas do chão. geral do teatro, até que não são dos piores:
Como lembranças de tempos melhores, têm janelas e estão limpos.
mantém um balcão com divisões para O principal problema do Teatro Mesbla é
guardar casacos e chapéus e, no bar, um apresentado por suas poltronas reclináveis,
garçom a caráter para servir água e refri- que fazem barulho quando movimentadas e
gerantes. As poltronas da sala de espetácu- estão – algumas – bastante sujas ou quebra-
los, se bem que antigas, não são descon- das. Outro senão: o palco tem sua ampli-
fortáveis, mas algumas estão quebradas. tude e sua funcionalidade prejudicadas por
A iluminação mal permite a leitura do pro- um elevador de serviço que lhe toma espaço
grama. O ar-refrigerado funciona bem. O do lado direito. No mais, é uma casa satis-
palco é visto de bom ângulo, de qualquer fatória, com entrada e saída que funcionam
lugar. Na plateia e em outras dependências independentes, grande saguão de entrada,
o odor é de mofo e poeira. banheiros do público espaçosos, limpos e
Os camarins espalham-se por dois anda- abastecidos, camarins – sete – organizados
res, mas só os de cima estão bem cuidados e confortáveis. O ar-condicionado é bom –
e até enfeitados pelos atores da peça atu- “até demais”, segundo alguns espectadores
almente em cartaz. Os de baixo não têm que reclamam de frio.
sequer banheiro. A amplitude e as cortinas No Teatro Rival, ninguém pode recla-
do palco, bem como a presença unifor- mar das poltronas, pois elas não existem.
mizada de porteiros e lanterninhas, dão à A plateia da casa espalha-se por 150 mesi-
casa um ar de fausto antigo, idade denun- nhas de quatro cadeiras, num salão talvez
ciada também pelo desabamento, há pou- escuro demais. As mesas têm toalhas: há
cos dias, do teto do corredor que leva aos serviço de bar e comida durante os espe-
camarins, assustando atores e assistência. táculos. O palco é amplo, as coxias estão
sujas, cheias de entulhos. Os camarins
No Teatro Gláucio Gill, a precariedade mostram-se em estado razoável, mas com
das instalações é denunciada já do lado de paredes infiltradas e molhadas. O banheiro
fora: a casa é quase um apêndice de uma do público, municiado de papel, sabão e
escola pública da Praça Cardeal Arcover- toalha, apresenta, contudo, paredes risca-
de. Uma miniporta dá acesso a um minis- das e exala mau cheiro.
saguão onde é quase impossível alguém O grande problema do Teatro Rival é,
locomover-se num dia de maior lotação. porém, não oferecer possibilidade de saída
Nesse espaço mínimo, ainda funciona um rápida no caso de incêndio ou outro aci-
bar. O banheiro, à disposição do público, dente: a única porta que leva à rua fica no
também é pequeno, mas limpo. O ar-con- topo de uma escada, em corredor estreito.
dicionado agrada e as cadeiras do teatro, O Teatro Dulcina deveria estar fechado
apesar de antigas, apresentam-se em esta- para reformas tal o estado em que se en-
do razoável. Dividindo o saguão da sala de contra. Mas continua funcionando. Com
espetáculos, uma cortina de veludo mos- tapetes que já perderam a cor, de tão ve-
tarda está suja e rasgada. O balcão é amplo lhos; poltronas remendadas, rasgadas e
e é boa a visibilidade do palco (mas não o imundas; paredes encardidas, molhadas e
verá direito quem se sentar na primeira fila com diversas tonalidades na pintura; ilu-
do balcão, pois estará atrapalhado por uma minação sombria, lustres escassos; parte
grade de apoio). Os camarins, no contexto do teto, no lado direito do balcão, a ponto

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 645


de desabar, vidros e esquadrias sujos; ba- Utilizado atualmente apenas para peças
nheiros sem sabão nem toalha. O ar-con- de teatro experimental ou alternativo, o
dicionado também não funciona direito. Teatro Cacilda Becker está razoavelmente
equipado para a sua função, contando até
Muito luxo. É o Teatro João Caetano. com um bom sistema de ar-condicionado.
Mármore, granito, vidro fumê. Muita lim­ Seu grande problema é a localização: já si-
peza também, inclusive nos banheiros. As tuado num fundo de galeria, tem sido, de
poltronas são confortáveis, os tapetes es- uns tempos para cá, caprichosamente es-
tão bem-conservados. Camarins em esta- condido pelo labirinto das obras do Metrô.
do impecável. De qualquer lugar, a visibi- O grande defeito do Teatro do BNH
lidade do palco é excelente. Nada parece (Banco Nacional de Habitação) é passar a
faltar ao João Caetano – talvez um pouco maior parte do tempo fechado. Quando
de simplicidade. abre suas portas, mostra poltronas de cou-
Do outro lado da Praça Tiradentes, o ro reclináveis e muito confortáveis, palco
Teatro Carlos Gomes também se mostra de bom tamanho, ar-condicionado central
em lado oposto como casa de espetáculos. eficiente, camarins que oferecem todo o
O ar de decadência se faz notar desde a conforto. Os banheiros do público chegam
entrada, empoeirada e com móveis vazios. a ser luxuosos e a entrada e o foyer exi-
Seguem-se salas espaçosas, sem uso; dos bem extremo bom gosto. O equipamento
três andares do prédio, só dois estão ativa- de segurança inclui um telão de amianto à
dos. As poltronas, acolchoadas no assento prova de fogo e tanques cheios de espuma
e com encosto de madeira, de um modo a serem acionados em caso de incêndio.
geral estão manchadas ou quebradas. O ta- O Teatro Maison de France de um
pete está solto em muitos pontos, o cheiro modo geral está bem-conservado, com
de mofo é constante, não há ar-condicio- ar-condicionado funcionando a contento,
nado e o sistema de ventilação a hélice, banheiros limpos e bem supridos. Suas
no teto, é meramente – ou quase – deco- agradáveis poltronas de veludo seriam até
rativo. Morcegos sobrevoam a plateia e o um luxo desnecessário, se considera o cli-
palco, e ratos e baratas costumam passear ma da cidade.
entre as cadeiras.
O palco tem bom tamanho e há um fosso O texto de Yan, em sua notável capaci-
para orquestras e até elevador para os mú- dade de síntese, já aponta para uma saída
sicos, desativado. Nos camarins, o panora- para a crise: a fuga para os shoppings. Mas
ma reflete o mesmo descaso, repetido ain- para os shoppings construídos dentro dos
da nos banheiros para o público. Há pouco padrões de conforto do recente Shopping
houve uma reforma: pintaram de branco as da Gávea, coisa que não ocorria no Shop­
paredes da entrada, que eram azuis. ping de Copacabana, mais antigo, que já
O Teatro Glauce Rocha tem poltronas nascera decadente e, de certa forma, mar-
– 280 – confortáveis e em bom estado. ginal. Os teatros nele instalados sofriam,
A sala de espetáculos está limpa, bem- conforme analisa Yan, dos mesmos males
-conservada. O ar-condicionado funciona que os outros, de beira de rua. A situação
como deve, os camarins são amplos e têm dramática da cidade pedia soluções como
o essencial ao conforto dos atores. A visi- essa apresentada pelos teatros do Shopping
bilidade do palco é boa. da Gávea.

646 Teatros do Rio


Mas a consequência da incorporação dos existem os que o fazem comercialmente,
teatros aos shoppings era, com certeza, a per- e outros com propostas de linguagens, em
da da fachada, da ideia de edifício teatral como busca de novos conceitos e experimenta-
monumento, o desaparecimento da identida- ção cênica, cabendo ao público a escolha, de
de visual externa do teatro como prédio. compartilhar ou não com estas comunhões,
O ano de 1996 estava terminando e com conforme palavras de Macksen Luiz:
ele a das mais profundas crises teatrais da his-
tória, o público que lotava outrora os teatros. A sua permanência é indiscutível e aten-
Basta lembrar que na década de 1960 eram de a uma necessidade de consumo que não
oferecidas nove sessões semanais, de terça se acomoda a uma realidade estritamente
a domingo, com vesperais às quintas-feiras, comercial. O produto que é oferecido não
duas sessões aos sábados e duas aos domingos. se enquadra, como uma mercadoria repro-
Essas passaram apenas a cinco sessões e em dutível da indústria cultural, na inflexível
alguns teatros somente quatro sessões por se- lei da oferta e procura. Há que considerar
mana. O número de poltronas vazias passou a o imponderável desta atividade em que,
ser visível; raros espetáculos mantinham uma muitas vezes, os sentimentos e a razão,
boa frequência de espectadores, geralmente além do mais puro entretenimento, são os
os localizados em shoppings. objetos de troca. Difícil é encontrar o seu
As entidades da classe como Sindicato verdadeiro valor intrínseco para torná-lo
dos Artistas (Sated), Sociedade Brasileira vendável. [...] Mas o maior trunfo do tea-
de Autores Teatrais (Sbat) e Associação Ca­­ tro na reconquista do público está em suas
rioca de Empresários Teatrais (Acet) se or- próprias entranhas. É de dentro de si que o
ganizavam buscando uma solução para o teatro deve reforçar a sua identidade como
grave problema que reinava no panorama um veículo expressivo único e definitivo.
teatral carioca. A sua permanência por tantos milênios
As causas levantadas em princípio foram os prova que seu fôlego é inesgotável.288
aumentos dos preços dos ingressos, a violên-
cia urbana, estacionamento, segurança, críti- No início de 1998 surge então o grande
ca e ausência de textos que poderiam ir de fantasma da crise, e dá-se início ao fecha-
encontro aos interesses do público, a falta de mento de vários teatros no Rio de Janeiro,
uma campanha de formação de plateia, além uma cidade já carente de casas de espetácu-
de uma lei de incentivo às artes cênicas, con- los. Não foram somente os que se encontra-
forme palavras de Stepan Nercessian. vam com acesso direto às ruas, em prédios
residenciais, ou comerciais, mas também os
Poderíamos continuar dizendo que está localizados dentro dos shoppings, com segu-
tudo bem, mas decidimos parar de fazer rança e estacionamento.
este jogo, porque nunca nos levou a nada. As dificuldades financeiras foram trans-
Dessa vez, vamos mostrar que o teatro formando as casas de espetáculos em tem-
está atravessando realmente uma crise e plos evangélicos, como o espaço das artes
tentar encontrar soluções.287 (ex-Teatro Alaska), fechado em 12 de ou-
tubro de 1998, arrendado pela Igreja Uni-
Com suas características bem particulares versal do Reino de Deus, restando para a
por força de sua própria linguagem artesanal, memória cultural de Copacabana, o antigo
o teatro é uma atividade econômica, onde cinema da década de 1950, que em 1919

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 647


foi modificado para teatro, marcando épo- A primeira vítima da crise é o teatro. A
ca com os sucessos como os espetáculos: prioridade é comprar comida, remédios,
Os Leopardos, ficando em cartaz de 1988 a ir ao mercado, ao cinema.
1993; Feitiço, show de Ney Matogrosso, logo Estou procurando um crente, alguém
após deixar o Grupo Secos e Molhados. Em que queira comprar. Está todo mundo
1997, arrendado, passa a chamar-se Espaço passando os teatros. Como não podemos
das Artes, com shows musicais. transformá-los em mais nada, nem ven-
O declínio de algumas casas começaram dê-los, temos que alugar para igrejas ou
no início da década de 1990, perdendo es- morrer de fome com eles na mão.
paço com a transferência das salas, para den- Já fizemos de tudo. Só falta buscar o
tro de shoppings, para onde o público vai, à público em casa para assistir de graça. Já
procura de divertimento e segurança. Com pensei em lotar a casa sem cobrar entrada
o passar dos anos, a situação veio a se agra- e passar o chapéu avisando: Se não puser
var, já que ficava inviável manter alguns es- dinheiro, amanhã não tem espetáculo.290
petáculos em cartaz devido aos empecilhos ...os incentivos estão ligados a descon-
de produzi-los, conforme palavras do pro- tos do Imposto de Renda das empresas
dutor João Paulo Pinheiro: que patrocinam. Como eles não estão ten-
do lucro, não têm o que descontar. O que
Faço teatro há 32 anos e nunca vi uma si- sempre investiram era dinheiro que deixa-
tuação como essa. Há dez anos, bastava um vam de pagar, dinheiro do governo. Não
espetáculo ficar dois meses em cartaz para vão investir dinheiro deles.291
começarmos a recuperar o investimento.
O ingresso custava cinco vezes mais do que O que vem ocorrendo, e tornou-se uma
o pago em cinema e as pessoas compare- preocupação de algumas camadas da socie-
ciam, mesmo assim. Hoje, cobramos quase dade, e indignação da classe artística, é que
o mesmo preço de um ingresso de cinema, somente os evangélicos estão conquistando
mas as pessoas não aparecem.289 esses espaços, porque um decreto municipal
de 1986, assinado pelo então Prefeito Sa-
Depois outras casas vieram, como Impe- turnino Braga, diz que cinemas e teatros são
rator e Teatro da Praia, sem falar dos que proibidos de se transformarem para uso de
anteriormente já haviam sido fechados para outras atividades. Entretanto, o decreto não
reformas, e continuam há anos com suas proíbe que casas de espetáculos e cinemas
portas lacradas, como por exemplo o Mai- sejam modificados para lojas comerciais.
son de France e Copacabana. Além daqueles Helena Severo, Secretária de Cultura, co-
que passam mais tempo sem atividades, do menta o decreto:
que com uma temporada mesmo que seja
curta, no caso o Princesa Isabel e o Brigitte A Procuradoria do Município entendeu que
Blair I e II (Centro e Copacabana). só os teatros e cinemas dos shoppings têm
Existem também os que estão à venda que continuar a ser teatros e cinemas. O Es-
e os que foram vendidos ou arrendados, e paço das Artes não é atingido por essa lei,
transformados em templos religiosos, como não é obrigado a continuar como teatro.292
Teatro da Praia, Teatro da Barra, Espaço das
Artes e Tereza Rachel. As palavras de alguns Nesta ótica, os Teatros de Arena e Tereza
empresários dão uma ideia da situação: Rachel, que estão localizados dentro de um

648 Teatros do Rio


shopping, ficam impedidos de virarem lojas hora, eu não consiga mais sustentá-lo e
comerciais. Não foi por acaso que o Tereza seja obrigado a me desfazer dele!
Rachel já foi arrendado pelos Evangélicos, Ivan de Albuquerque
ficando como bola da vez, o Teatro de Arena, (Teatro Rubens Corrêa).
conforme palavras de seu proprietário: “Se
uma igreja quiser eu vendo, alugo, prefiro Hoje em dia, o teatro é uma preocupação,
vender, mas faço qualquer negócio. A ex- mas só irei vendê-lo quando se transfor-
pectativa do futuro está muito ruim”.293 mar num peso para mim.
Em 1999, o fantasma da crise continuava Thaís Portinho
a rondar suas futuras vítimas, deixando os (Teatro Posto 6).
teatros do shopping, acusados de terem sido
os causadores da crise no início da década
de 1990, já em estado de doentes terminais, 1972
como o Teatro dos Quatro, Teatro de Are- Teatro Tereza Rachel
na, Clara Nunes, e que aguardam uma boa
proposta, enquanto outros como Posto Seis O Teatro Tereza Rachel, também conhecido
e Rubens Correa, lutando contra, tentando como “Terezão” foi projetado em 1958 pelo
com todos os recursos, uma tentativa de arquiteto Henrique Mindlin, e aberto provi-
afastar o fantasma da crise. soriamente em 16 de outubro de 1971, com
Eis as palavras de alguns empresários dos o show da cantora Gal Costa. Parte integran-
teatros citados à Roberta Oliveira, publica- te do Shopping Center de Copacabana, loca-
das no jornal O Globo de 26 de abril de 1999. lizado na Rua Siqueira Campos, 143, sobrelo-
ja, foi inaugurado oficialmente em 1972.
Se recebermos uma boa proposta vende- Para montá-lo, Tereza Rachel fez emprés-
mos... timo em banco, comprou cadeiras usadas
Sérgio Britto de um antigo cinema da Rede Luiz Severia-
(Teatro dos Quatro). no Ribeiro, e o dotou de todos os recursos
técnicos necessários: boca de cena de 12 m
Não estamos tendo um retomo à altura do por 16 m de altura e 12 m de largura, urdi­
capital que investimos... se eu ou o Pauli- mento, uma boa coxia e profundidade para
nho tivéssemos que viver do que o teatro grandes montagens. Sua capacidade é de
nos dá, no entanto, seria um problema... 550 espectadores sentados, com dois bal-
Danilo Rocha cões, subdivididos em primeiro e segundo,
(Teatro Clara Nunes). rodeados de bancos de madeira, o que per-
mite uma capacidade de cerca de 600 luga-
Não sei como os outros teatros estão rea- res. Não possuía ar-condicionado, somente
gindo à crise..., se houver um bom negó- ar renovado.
cio, a gente aceita.
Carlito Ferreyra A ideia para a movimentação do teatro é
(Teatro de Arena). dividi-lo em duas temporadas nos meses
de verão, como o teatro ainda não tem
Quero manter o teatro em funcionamento ar-condicionado, somente ar renovado,
e estou lutando com unhas e dentes para apresentações de shows musicais e, duran-
isso, mas tenho medo de que, em alguma te os meses de inverno, peças teatrais: daí a

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 649


fama do Teatro Tereza Rachel como teatro Teatro Tereza Rachel. Palco e vista parcial da plateia

de shows musicais e o seu apelido...294

Durante os três primeiros anos de exis- Em 1981, o Serviço Nacional de Teatro


tência, a Companhia Tereza Rachel apresen- aluga a casa por um período experimental
tou duas produções: Tango, de Mrozek, em de um ano (8/12/1981 a 4/4/1982), para
abril de 1972 e a peça Mais quero um asno realização de espetáculos de dança, intitu-
que me carregue que cavalo que me derrube, de lando-o Teatro de Dança. Pela primeira vez
Carlos Alberto Sofredini, uma adaptação da no Rio de Janeiro, um teatro era transfor-
Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente. mado em espaço destinado exclusivamente
a espetáculos de dança.
De propriedade do ex-Senador Arnon de O teatro que abrigou espetáculos do por-
Melo que o arrendou à atriz... [...] te de Missa Leiga, A Gaivota, Gota D’água etc.
...o Tereza Rachel precisa de reformas. além de shows de Caetano Veloso, Ney Ma-
A consequência disso é a ausência de bons togrosso, Gal Costa etc., o “Terezão” foi du-
espetáculos na casa. A falta de conforto rante doze anos de existência um martírio
afasta o público. O teatro também está à para seus frequentadores, pela total falta de
venda, mas Tereza Rachel, que tem a prefe- conforto, ausência de ar-refrigerado e a falta
rência, não tem dinheiro para comprar.295 de cadeiras numeradas, entre outros entraves

650 Teatros do Rio


impostos ao público, fechando suas portas Morineau e Dulcina de Moraes, que ainda
em 1982. Neste mesmo ano Tereza Rachel eram vivas na época, e Paulo Autran.
deixa de ser arrendatária e passa a proprie- É reinaugurado então com o show Chico
tária, comprando a casa. Fechando-o nova- Set, com Chico Anysio, e em seguida abre
mente, e durante sete meses é feita uma re- espaço para musicais do porte de Chorus Line
forma geral. Uma nova e bem equipada sala e Drácula.
de espetáculos, sem luxo, porém confortável Em 1985, era inaugurada em 22 de julho
com poltronas estofadas, novos camarins e em suas dependências a sala de ensaios Pau-
banheiros, ar-condicionado central, parede lo Pontes, com a apresentação do elenco da
com tratamento acústico, revestidas de cor- peça Um bonde chamado desejo, de Tennessee
tiça, novo equipamento de luz e som, e uma Williams, com direção de Maurice Vaneau.
fachada toda com vidros blindex, e com o A sala de 10 m por 9,3 m, dispõe de mesa
nome do teatro em letras de aço escovado. de leitura com 12 cadeiras, ar-condicionado
Sua capacidade passou a ser de 560 especta- e dois banheiros.
dores. Uma reforma que já era esperada não Em 1997, o grande sonho de Tereza Ra-
só pelo público mas por todo o meio artísti- chel era comprar algumas salas do shopping
co, como comenta Tereza Rachel. próximas ao teatro e fazer uma parceria
com o vizinho Teatro de Arena, para poder
Essa demora aconteceu porque nunca expandir seus domínios, transformando o
me foi dado um contrato comercial, de segundo andar do shopping, numa espécie
cinco anos. Eu tinha que renovar meu de centro cultural.
contrato anualmente, não era um contra- Com o tempo nada aconteceu, e o teatro
to comercial. No momento em que seu foi transformando-se em um fardo pesado
proprietário decidiu vender o espaço ano para a atriz-empresária, já que as compa-
passado, eu na realidade, nem tinha prio- nhias procuravam outras casas de espetácu-
ridade na sua compra; só numa espécie de los, conforme palavras de Tereza Rachel:
direito moral adquirido ao longo de 13
anos como arrendatária. Vários grupos O teatro é cada vez mais um artigo de luxo,
quiseram comprá-lo, mas eu tive a pre- as pessoas, quando vão, querem ir a um
ferência. E o fiz, usando o financiamento shopping. O meu não tem tanto luxo, mas
do BD-Rio, o mesmo que deu margem tem estacionamento, segurança. Só que
à construção do Teatro dos Quatro, do os empresários das peças de sucesso não o
Vanucci, do Cine-show Madureira. Foi procuram, preferem os teatros da Gávea.297
um empreendimento do Governo Faria
Lima, intensificado com a ação do filho Em 1998 começaram a surgir propostas
de Tancredo Neves...296 de aluguel, mas não de produtores teatrais,
e sim da Igreja Universal. E a empresária
No hall do teatro, Tereza Rachel prestou tentou por todos os meios uma ajuda junto
uma homenagem aos nossos muitos falecidos aos órgãos culturais do Município, do Es-
e eternos, com pôsteres de Cacilda Becker, tado, e Federal mas foram infrutíferas suas
Ziembinski, Sérgio Cardoso, Glauce Rocha, apelações. E mais uma derrota para a cultura
Paschoal Carlos Magno, Oduvaldo Vian- carioca veio acontecer, o teatro foi alugado à
na Filho, Jayme Costa, Roberto Viana, Alda Igreja Universal do Reino de Deus, a partir
Garrido e Jardel Filho. E também a Madame do dia 1º de janeiro de 1999.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 651


E em 6 de janeiro do mesmo ano Tereza Foi com facilidades quase associativas
Rachel era notificada pelo 2° Departamen- que lá estreou, em 1975, o clássico Gota
to de Licenciamento e Fiscalização da se- d’água, de Paulo Pontes e Chico Buarque,
cretaria Municipal de Urbanismo, por não e que veio a se transformar numa espécie
haver pedido licença para modificação de de marco do teatro brasileiro contemporâ-
uso do espaço. Em 9 de janeiro daquele ano neo. Um grande número de encenadores
era publicada uma matéria em O Globo, em materializou seus experimentos e acertos
que Tereza Rachel se dirige ao “Ao Respei- cênicos, e podem-se contar nos dedos os
tável Público”. atores brasileiros de envergadura que não
representaram no palco do Tereza Rachel.
O Teatro Tereza Rachel fecha as suas portas Ao todo, foram mais de três mil eventos
depois de 28 anos de bons serviços pres- realizados, alguns extraordinários e ex-
tados à vida da cidade do Rio de Janeiro, trateatrais, como quando, por exemplo, o
considerada a capital cultural do país. Pro- teatro abriu suas portas aos anistiados, nos
jetado pelo arquiteto Henrique Mindlin, anos 80, recepcionando Darcy Ribeiro e
um dos criadores do MAM, a casa de espe- dezenas de expatriados que voltavam jubi-
táculos foi construída obedecendo a todos losos ao país que amavam.
os ditames da boa engenharia teatral, com No que se refere à música popular, qual-
espaços funcionais, palco diverso e acús- quer historiador pode encontrar na pauta
tica excepcional, um dos raros teatros do do teatro o acervo de informações que
Rio idealizado para ser, de fato, teatro. Foi comprova que o Tereza Rachel represen-
uma luta incessante mantê-lo funcionan- tou para a consolidação da MPB, nos anos
do por mais de um quarto de século, sem 70, o mesmo papel que desempenhou o
nenhum tipo de ajuda dos assim chamados auditório da Rádio Nacional na vida mu-
poderes públicos. sical brasileira dos anos 50. Personalidades
Aberto provisoriamente em 1971 e como Gal Costa, Gilberto Gil, Ivan Lins,
inaugurado em 1972, o Teatro Tereza Ra- Gonzaguinha, Ney Matogrosso, Paulinho
chel logo se tornou, de forma supreen- da Viola, Turíbio Santos, entre muitos
dente, um dos principais espaços culturais compositores e instrumentistas hoje con-
da cidade, tanto no que dizia respeito à sagrados, deram os primeiros passos de
encenação de peças quanto ao que se re- suas vitoriosas carreiras no espaço então
feria à apresentação de shows musicais e considerado o templo da nossa moderna
festivais de dança. Centenas de autores música popular.
nacionais e estrangeiros ali foram encena- Depois de um breve período de refor-
dos, de Shakespeare a Plínio Marcos, de ma, no início dos anos 80, o Tereza Rachel
Tennessee Williams a Guarnieri, de Da- tornou-se um espaço para o brilho dos
rio Fo a Nelson Rodrigues, passando por musicais e festivais de danças. Chorus Line,
Tchecov, Noel Coward, Maria Adelaide Drácula, Rock Horror Loja dos horrores fo-
Amaral, Dias Gomes, Ariano Suassuna ram alguns dos espetáculos que dividiram
até Chico Anysio. Sem ser escola formal, funções com festivais de balé e ciclos de
dezenas de novos dramaturgos ganharam, danças contemporâneas e que enriquece-
nos palcos do Terezão, campo para seus ram a agenda cultural da cidade. Por conta
projetos, concretizando sonhos e somando desta atuação e a receptividade do público,
experiência e projeção. o Tereza Rachel foi considerado, em pes-

652 Teatros do Rio


quisa de opinião promovida pelo Globo, Teatro Tereza Rachel. Planta baixa, (S.E.)

em 1994, como o segundo melhor teatro


privado da cidade, com desempenho de Para não fechar o legendário teatro, mo-
público maior do que o Municipal. bilizei todos os esforços, meios e instân-
Ao completar 25 anos, pressentindo cias, procurando a ação do Prefeito Luiz
que o teatro não apresentava as necessárias Paulo Conde, que permaneceu insensível
condições para se manter competitivo, ar- a qualquer tipo de negociação e apoio, coi-
regimentei forças e, contando com proje- sa intrigante, porque teatros sem a mesma
to inteligente do arquiteto Shigeo Adachi, envergadura histórica e sem as condições
procurei o Ministro Welfort. O ministro e a amplitude do Tereza Rachel foram am-
não me recebeu mas fui aconselhada a en- parados pela Prefeitura e incorporados à
caminhar o projeto da reforma à Secreta- rede municipal de teatros. Mas o Tereza
ria de Apoio à Cultura, para que recebesse Rachel, não.
endosso e, assim, auferisse os benefícios O Tereza Rachel sempre foi para mim
da Lei de Amparo à Cultura. Até hoje, não motivo de orgulho. Por ele enfrentei ad-
obtive resposta formal sobre o projeto en- versidades, dívidas e até marginalizei mi-
caminhado. nha profissão de atriz. Tenho consciência
No plano estadual, procurei as secre- de que manter um teatro aberto para uma
tarias do Governo do setor, inutilmente. comunidade é tão importante quando

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 653


man­­­ter um parlamento, um templo ou 1977
uma universidade de portas abertas, pois Teatro Clara Nunes
através da permanência dessas instituições
se mede o grau de civilidade dos povos e O Teatro Clara Nunes, situado no Shopping
de suas elites. Mas sem condições, sozinha, Center da Gávea, Rua Marquês de São Vi-
de reformar ou manter o Tereza Rachel de cente n. 52, foi inaugurado em 11 de maio
portas abertas, e incapaz de sensibilizar os de 1977, com o show de Clara Nunes Canto
poderes públicos quanto ao dever de não das três raças, com direção de Arlindo Ro-
se deixar fechá-lo, a alternativa possível foi drigues, uma casa especialmente construída
deixá-lo aberto para servir a outro tipo de para shows.
função e público. Antes isto, do que vê-lo Artista consagrada na música popular
em ruínas. brasileira, Clara Nunes sempre desejou
Tudo isto é muito grave, especialmen- empregar o dinheiro que ganhou na vida
te no momento em que se fala muito nas artística em alguma coisa que beneficiasse
garantias constitucionais às atividades cul- o seu trabalho e o de seus colegas, surgindo
turais, e proliferam-se leis, incentivos, or- a possibilidade (que anteriormente perten-
çamentos bilionários, ministérios, secreta- cia a Chico Anysio, que por não ter tempo
rias e um enorme aparato de instituições e para administrá- lo, concordou em vendê-
agências culturais. Como o Tereza Rachel, -lo) de comprar o teatro do Shopping da
fechou-se nos últimos tempos grande nú- Gávea, em sociedade com seu marido Pau-
mero de teatros, cinemas, livrarias e espa- lo Cesar Pinheiro e Danilo Rocha, como
ços afins não só em Copacabana, mas em ela mesma comenta em entrevista a Alber-
toda a cidade, como já disse, considerada a to Mara.
capital cultural do país. E os sinais – salvo
se não se pertence a fechado núcleo de in- Acho que estou retribuindo ao público o
terlocutores oficiais – não são dos melho- que ele me deu durante todo esse tempo.
res. A perspectiva é de que outros espaços Eu poderia pegar esse dinheiro e comprar
e mesmo atividades culturais venham a uma casa em Cannes, ou então comprar
desaparecer. um iate, enfim, gastar o dinheiro parti-
Mas este escrito não busca acusações cularmente, mas eu quis consolidar uma
nem ressentimentos, pelo contrário, pro- coisa pensando nos outros também. Ainda
cura o reconhecimento. Do fundo do meu parece um sonho, mas já é realidade.298
coração, quero agradecer a todos aqueles
que ajudaram com seu trabalho e suas pre- Com capacidade para 470 espectadores,
senças – as pessoas que estiveram na pla- em confortáveis e espaçosas poltronas esto-
teia, no palco e nos bastidores – a manter fadas na cor gelo, ar-condicionado perfeito,
aberto por tanto tempo o Teatro Tereza boa acústica e 5 camarins. O palco com po-
Rachel. A essas pessoas, que formam le- rão de pouca altura, tem uma boca de cena
giões, meu especial reconhecimento e mi- das maiores do Rio de Janeiro, porém com
nhas desculpas por não ter sabido ou podi- pouca profundidade e altura, sem possuir
do manter vivo um espaço tão intenso de urdimento e coxias. Uma caixa que recebe
magia, arte, conhecimento e paixão. melhor espetáculos musicais, devido ao seu
Minhas sinceras desculpas e meu eterno palco e plateia de 180º, uma sala de espe-
reconhecimento. táculo em forma de leque. Possui uma boa

654 Teatros do Rio


cabine de luz e som, camarins e um simpá- Teatro Clara Nunes. Planta baixa, (S.E.)

tico foyer.
Clara Nunes confirma em entrevista a O Teatro Clara Nunes não completou
O Globo o porquê do estilo de sala e palco o terceiro dia de apresentação do show
para o seu teatro: Canto das três raças. O primeiro show foi
vendido para uma entidade beneficente;
Outra coisa que me influenciou a fazer o segundo, na última quinta-feira, foi de-
o meu teatro é a carência de salas de es- dicado à imprensa e convidados especiais;
petáculos que existe no Rio. Quando se e anteontem, quando a casa estava com a
quer fazer um show, tem que se esperar lotação vendida, a cantora teve de devol-
seis a sete meses um teatro disponível. ver os 470 ingressos vendidos porque sua
Depois, nem todos os teatros atendem às casa fora interditada a mando do Diretor
necessidades técnicas de determinados es- de Fiscalização da Prefeitura, Renato Pa-
petáculos. Por isso eu fiz um teatro com quet Netto.300
os cuidados técnicos essenciais, tendo um
palco com 17 metros de boca e com foço, E uma simples assinatura tumultuava a
acústica perfeita e mais outro detalhe: esta carreira do show de Clara Nunes, depois de
sala pode funcionar tanto para espetáculos cumprir todas as exigências com respeito à
musicais como teatrais.299 segurança, à fiscalização do corpo de bom-
beiros e da censura (que existia na época),
No seu terceiro dia de funcionamento, conforme ela explicava, na mesma ocasião:
em 13 de maio de 1977 a casa foi interditada
por falta do “habite-se” para funcionamento Este senhor negou-se a assinar o alvará
conforme publicado na imprensa: para funcionamento provisório, dizendo

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 655


que para mim ele só dará o alvará defi- 1978
nitivo. E se eu quiser o provisório, só as- Teatro Vanucci
sinará com a ordem do Prefeito Marcos
Tamoyo. No terceiro andar do Shopping Center da
Gávea, Rua Marques de São Vicente n. 52,
O Teatro Clara Nunes veio a perder sua era inaugurado em 20 de abril de 1978, o
fundadora, mas o compositor Paulo César Pi- Teatro Vanucci, de propriedade de Augusto
nheiro e o advogado Danilo Rocha conti­nuam Cesar Vanucci. A peça de estreia foi A história
à frente da casa de espetáculos, que apesar de é uma história, de Millôr Fernandes, com dire-
um palco limitado tecnicamente (ausência de ção de Jô Soares, e sendo o primeiro elenco
urdimento e coxias), possui uma confortável integrado por Antonio Fagundes, Sandra Bréa
plateia; e as encenações lá apresentadas geral- e Olney Cazarré; e o segundo com José Au-
mente têm seu público certo. gusto Branco, Angela Leal e Olney Cazarré.
Uma nota publicada no início do ano de A ideia da montagem do texto de Millôr
1999, em uma coluna do jornal O Globo, dei- Fernandes foi de Olney Cazarré, que tam-
xou a classe artística preocupada: bém foi produtor em sociedade com Augusto
Cesar Vanucci e Ingrid, na época sua mulher.
O Teatro Clara Nunes está à venda. Seus pro- Cenários e figurinos de Flávio Phebo, arran-
prietários, Paulo César Pinheiro e Danilo jos musicais de Guio de Moraes, e Pedro Pau-
Rocha, já receberam duas propostas pelo es- lo Rangel como assistente de direção.
tabelecimento, avaliado em R$ 3 milhões.301 O teatro possui 500 lugares, distribuídos
na plateia e balcão, com bom ângulo de vi-
Três meses depois mais uma notícia vei- sibilidade, um palco que apesar de boa boca
culada na imprensa, onde Danilo Rocha, só- de cena, não possui profundidade, coxias e
cio de Paulo César Pinheiro, em entrevista nem urdimento. Tem 8 camarins, poltronas
ao jornal O Globo de 26 de abril de 1999 fala estofadas, ar-condicionado, cabine de luz e
de abrir mão de seu teatro, mas evitando som e um bar-bombonière (Café-Nice).
afirmar que o teatro estivesse à venda. Para Vanucci a inauguração de seu teatro
tornava-se um verdadeiro evento, conforme
Não estamos tendo um retorno à altura do ele explica:
capital que investimos no teatro. As des-
pesas com pessoal, condomínio e luz são Ter um teatro é o privilégio da realiza-
muito altas, mas temos conseguido ter al- ção de um sonho. E significa também uma
gum lucro porque as temporadas das peças forma de dizer muito obrigado à arte que
têm sido razoáveis. Se eu ou o Paulinho ti- me deu tudo. Quanto a peça, não fui o di-
véssemos que viver do que o teatro nos dá, retor, porque não fiz um teatro para uso
no entanto, seria um problema. Quando exclusivo, além de saber que não poderia
os grandes nomes da música começaram dedicar-me como gostaria, pelas preocu-
a preferir o Canecão ou o Metropolitan, pações com os detalhes finais da inaugu-
mudamos a nossa filosofia.302 ração.303

E onde há fumaça, há fogo. Aguardemos. Augusto Cesar Vanucci dedicou vinte


Por enquanto o teatro vem mantendo sua anos de sua carreira aos palcos, indo então
programação com atividades teatrais. para televisão: TV Excelsior, TV Rio e, na

656 Teatros do Rio


TV Globo, percorreu todos os caminhos, Teatro Vanucci. Planta baixa, (S.E.)

até chegar a Diretor da Linha de Shows da


emissora, onde foi responsável por progra- portante é retribuir, tudo de bom que me
mas como Brasil pandeiro, com Betty Faria foi proporcionado”.305
e Saudade não tem idade, com Bibi Ferreira. Mineiro de Uberaba, Vanucci chegou ao
Mas sua grande paixão sempre foi o teatro Rio com uma carta endereçada a Paschoal
de revistas, que pretendia estimular com a Carlos Magno. Após realizar os testes, foi
abertura de sua própria casa de espetáculos, o primeiro colocado, ganhando uma bolsa
como ele mesmo comenta: “Quero voltar a de estudos, e logo foi convidado por Re-
montar teatro de revista como fiz na televi- nata Fronzi para trabalhar na peça Loura ou
são com Brasil Pandeiro”.304 Morena. E como forma de reconhecimento
Mas Vanucci, na época, afirmava que àquelas pessoas que o ajudaram comentava,
apesar de não ser ligado a nenhuma espé- na mesma ocasião:
cie de seita ou grupo religioso, tinha um
compromisso com a espitirualidade, que A sala vai se chamar Paschoal Carlos Mag-
o havia ajudado muito em seus momentos no, e isso é o mínimo que poderia fazer
difíceis, e que pretendia em seu teatro, fa- como homenagem ao pai do teatro bra-
zer também alguma coisa nesse sentido, sileiro, dos maiores catalizadores de ta-
como: palestras, conferências de caráter lentos, mas extremamente injustiçado.
humanístico e, peças de conteúdo espiri- Teremos fotografias de pessoas que con-
tualista. E Vanucci justificava: “Mas o im- tribuíram para a profissão, como Renata

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 657


Fronzi, Bibi Ferreira, Virgínia Lane, Pro- pre foi uma constante, pela dificuldade em
cópio Ferreira, Ziembinski e outros... achar um nome. No Teatro dos Quatro, so-
mos na verdade, três sócios ...307
Seus desejos em grande parte foram con-
cretizados, pois o Teatro Vanucci, adminis- Projetado para ser uma casa versátil, com
trado atualmente por Ingrid e Fernando, vários tipos de palco (italiano, arena e eliza-
continua mantendo um repertório de co- betano), com 402 lugares, se propunha a ser
médias, shows e espetáculos de conteúdo um elemento catalizador das atividades tea-
espiritualista, sempre com muito sucesso. trais cariocas, tendo à frente Sérgio Britto,
um homem de teatro, que além de sua visão
empresarial, era capaz de avaliar a criação de
1978 um centro teatral.
Teatro dos Quatro
Nós pretendemos criar sem excessiva mo-
Com projeto de Thompson Motta e Fernando déstia e também sem pretensões mirabo-
Pamplona, em março de 1977, foram iniciadas lantes, um trabalho do melhor nível artís-
as obras do Teatro dos Quatro, no Shopping tico e cultural. Nosso repertório, pensado
Center da Gávea, localizado onde funcionava e sonhado, incluirá Gorki, Tchecov, Brecht
a ex-discoteca Frenetic Dancing Days, de Nel- e O’Casey. E nesse gosto pelo melhor es-
son Motta. A construção foi entregue a Hugo tou plenamente apoiado pelos meus sócios
Mamede. Sérgio Britto faz a apresentação dos que podem não ter sido pessoas de teatro
proprietários: “Somos quatro sócios: Um ve- até ontem, mas que foram sempre pessoas
lho amigo, o José Ribeiro Neto: os outros dois profundamente interessadas nos caminhos
amigos recentes, Paulo Mamede e Mimina Ro- do teatro brasileiro.308
veda, cineasta e pintora” 306
Depois surge o nome de Waldemar Mar- Pronto o teatro, com financiamento do
ques (o ator Dema Marques), retirando-se BD-Rio, foi inaugurado em 11 de julho de
da sociedade em 1982, conforme noticiava 1978, com a peça Os veranistas, de Máximo
Yan Michalski no Jornal do Brasil em 20 de Gorki; tradução de Millôr Fernandes; dire-
julho de 1982. O Teatro dos Quatro deveria ção de Sérgio Britto, cenários de Helio Ei-
chamar-se “dos três”, pois nunca consegui- chbauer. No elenco: Sérgio Britto, Renata
ram um quarto sócio estável, como explica Sorrah, Luis de Lima, Pedro Veras, Angela
Sérgio Britto. Vasconcelos, Eliza Simões, Ítalo Rossi, Tetê
Medina e Nildo Parente.
Em 33 anos de teatro tenho sempre pro- Depois do sucesso de Os veranistas, vieram
curado o caminho mais difícil, não que eu outras produções do Teatro dos Quatro,
não queira o mais fácil, mas não me sinto mantendo o mesmo critério de qualidade,
monumento do teatro e nem tenho maio- e com excelentes repercussões de público
res pretensões. Quero apenas fazer teatro, e crítica: Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna
foi de repente que acordei e vi que produ- Filho, com direção de Nelson Xavier; Afinal
zo há 17 anos. Primeiro foi o Teatro dos uma mulher de negócios, de Reiner Werner
12, com o grupo que tinha saído do Teatro Fassbinder, direção de Walter Schorlies e Os
do Estudante; depois o Teatro dos Sete, e órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes, direção
agora, Teatro dos Quatro. O número sem- de Sérgio Britto.

658 Teatros do Rio


Teatro dos 4. Planta baixa, (S.E.)

Teatro dos 4. Corte, (S.E.)


Durante seus primeiros anos de vida seu absoluta, sem peças vazias, inúteis. O Tea­
palco foi cedido para espetáculos infantoju- tro dos Sete, do qual participei de 1959
venis: A revolução dos patos e As ilhas do dia a a 1965 junto com Fernanda Montenegro,
dia. Promoveu cursos teóricos e práticos de Fernando Torres, Ítalo Rossi, Gianni Rat-
iniciação teatral, com duração de dez meses, to, já tinha essa preocupação com a qua-
e aulas a cargo de Sérgio Britto, Eric Niel- lidade dos textos; mas Ratto, que era o
sen, Amir Haddad e Hamilton Vaz Pereira. nosso diretor artístico, achava então que
Seus horários ociosos foram preenchidos estávamos apenas nos exercitando para
com um ciclo de música de câmara, de que fazermos mais tarde um repertório ainda
participaram renomados artistas, mas que mais exigente e importante. Acho que no
teve vida efêmera. Também lá fez uma tem- Teatro dos Quatro estamos fazendo esse
porada Gal Costa, que alugou o teatro. repertório que não tivemos tempo de fa-
Entretanto, o Teatro dos Quatro fun- zer no Teatro dos Sete, porque a compa-
cionava mais próximo ao conceito de uma nhia se desfez. Tenho a sensação de estar
companhia estável, pois seus três sócios recuperando o tempo perdido e retoman-
constituíam um núcleo que trabalhava junto do a uma ideia muito amadurecida.309
em quase todas as produções: Sérgio Brit-
to como ator e/ou diretor, Paulo Mamede Sérgio afirmava, em 1978, que a intenção
como cenógrafo e também diretor, e Mi- era a de dar uma atividade constante à casa,
mina Roveda como figurinista, da mesma uma intensa programação cultural, que ha-
forma que alguns atores atuavam em várias viam esquematizado, como ele mesmo es-
montagens por eles produzidas. Suas pro- clarece:
duções não se limitavam à própria casa de
espetáculos, como foi o caso de A ópera do Não pensamos em alugar o teatro em hi-
malandro, de Chico Buarque e Rui Guerra, pótese alguma, por isso, pretendemos mo-
apresentado no Teatro Ginástico, antes mes- vimentá-lo permanentemente. Queremos
mo da inauguração da própria casa. um centro ativo de cultura e arte, pois só
O repertório produzido traduzia uma assim se completará o plano que traçamos
constante preocupação com a qualidade dos desde o início.310
textos, para crítico nenhum botar defeito,
como outras montagens que se sucederam, Mas nem tudo era um mar de rosas para o
depois de Os órfãos de Jânio; Morte acidental de grupo, muito pelo contrário, era uma cons-
um anarquista, de Dario Fo; O suicídio, de Ni- tante luta contra os problemas econômicos,
colai Erdman; Imaculada, de Franco Scaglia; que em 1981 impossibilitaram a compa-
As lágrimas amargas de Petra Von Kant, de Fass­ nhia de produzir seus próprios espetáculos.
binder. Foi hospedado e patrocinado pelo A amortização da dívida junto ao BD-Rio
grupo a encenação Ato cultural, de Cabrujas; (Ban­­­­co de Desenvolvimento do Estado do
e Comunhão de bens, de Alcione Araújo, pro- Rio), para a construção do teatro, era a
duzido também pelo grupo. gran­­de, e talvez a maior dificuldade que en­­­
Sobre a qualidade, é Sérgio Britto quem frentavam, sem contar a manutenção do te-
fala: atro e a folha de pagamento da equipe téc-
nica. Nem todos os projetos idealizados pela
Há quatro anos estamos desenvolvendo companhia quando de sua criação foram
uma tentativa desesperada de qualidade concretizados, como afirma Sérgio Britto:

660 Teatros do Rio


Não conseguimos, por exemplo, realizar o da falta de patrocínio. Sérgio Britto que já
nosso desejo de abrir espaço para grupos vem pensando nisso há alguns anos, explica
jovens, independentes, a não ser sob for- o porquê da decisão:
ma de aluguel, como fizemos com Capitães
de Areia. E não conseguimos formar um Se recebermos uma boa proposta, vende-
elenco estável, que seria o ideal para o tipo mos. Não é uma questão de dinheiro, por-
de trabalho que queremos fazer. Hoje em que o teatro é um dos mais procurados do
dia seria impensável manter um ator sob Rio. Poderíamos viver do seu aluguel para
contrato sem trabalhar. Nem sequer pude- sempre, mas o nosso objetivo, quando com-
mos conservar, como gostaríamos, toda a pramos o Teatro dos Quatro, não era nos
equipe técnica inicial...311 tornarmos locatários. Queríamos produzir
nossos espetáculos, o que se tornou impos-
Entretanto, os horários alternativos e a sível à medida que foram faltando patroci-
sessão das cinco da tarde ajudaram bastante nadores. Há dois anos, descobri que aqueles
a minimizar os problemas financeiros, como tempos não voltariam, não só pela falta de
também a abertura da casa para novos auto- apoio, mas também porque seria difícil reu-
res, como foi o caso de Fassbinder, que era nir um elenco como os que tínhamos.312
um ilustre desconhecido na época, e que com
As lágrimas amargas de PetraVon Kant, montada Na mesma matéria, Paulo Mamede con-
em 1983, conseguiram se aprumar. Depois firmou a intenção:
de Fassbinder outros autores vieram: Quatro
vezes Beckett; Morte acidental de um anarquista, Há questões complicadas dentro da socie-
de Dario Fo e Ato cultural, de Cabrujas, já dade que cuida do teatro sobre as quais pre-
citados anteriormente. O caso também de firo não falar. Não há como negar, no entan-
A cerimônia do adeus, de Mauro Rasi; Sábado, to, que, desde 1993, quando coproduzimos
domingo e segunda e Filumena Marturano, am- Mephisto, não conseguimos tocar um proje-
bas de Eduardo De Filippo; Rei Lear, de W. to nosso e podemos vir a vender o teatro,
Shakespeare; Tio Vânia e O jardim das cerejei- desde que recebamos uma boa proposta.
ras, de Tchecov.
Ao longo de seus anos de atividades, a
simpática sala do Shopping Center da Gávea, 1987
hoje com seu foyer, transformado também Teatro Barrashopping
em uma sala de espetáculos com restaurante
e bar, firmou-se como uma organização sui O Teatro Barrashopping no Shopping Center
generis no panorama teatral do Rio. Seus três da Barra, à Avenida das Américas n. 4.666,
sócios constituem um núcleo, que apesar de fica no 1º andar, nível da Lagoa, foi o 1º tea-
alugarem a casa a outras produções, mantêm tro a surgir na Barra da Tijuca.
uma constante preocupação com a qualidade. A iniciativa de construção desta casa de
Em 26 de abril o jornal O Globo publicava espetáculos partiu dos sócios empresários
uma matéria intitulada “Crise pode provo- da Zoom Produções Artísticas Ltda, Rejane
car a venda do Teatro dos Quatro”. Os só- Galveas e o engenheiro Marco Antonio Ta-
cios estavam realmente dispostos a vender a coli, que já haviam produzido alguns espe-
casa de espetáculos, já que estão afastados da táculos com sucesso, como Férias Extracon-
produção de peças desde 1993, em virtude jugais, de Peter Yelbhan e Donald Churchill,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 661


com tradução de Marisa Murray, direção de Teatro Barrashopping. Planta baixa, (S.E.)

Atílio Riccó e cenografia de José Dias, no


Teatro da Praia em 1986; e Segura o Afonso O projeto do teatro coube ao arquiteto
prá mim, de Paulo Figueiredo, com direção Nelson da Silva Souza e as obras iniciadas em
de Cláudio Cavalcanti e cenografia de José setembro de 1986, foram conduzidas pelos
Dias, no Teatro Vanucci em 1986. engenheiros Márcio Ferreira da Silva, Luis
O espaço já existia desde a inauguração Alberto Roditi e Ciro Amaral Cassiano; este
do Shopping em 1981, mas era utilizado último proprietário da firma Raiar Enge-
como depósito, até que o engenheiro e pro- nharia, responsável pela construção da casa
dutor teatral Marco Antonio Tacoli, em con- de espetáculo. “Essa foi uma obra trabalhosa,
versa com Isaac Peres, um dos proprietários pois tivemos que escavar o subsolo do Bar-
da Embrapan, soube de sua existência. rashopping e durante dois meses só traba-
lhamos à noite”.314
Sabia das dificuldades de conseguir uma Para saberem da preferência de estilos de
temporada em teatros bons e das limita- espetáculos, os empresários-sócios Marco
ções de prazos contratuais que tiram de Antonio e Rejane realizam uma pesquisa
cartaz uma peça de sucesso, então fiz uma com a comunidade local, adjacências e pú-
proposta para ocupar aquela área livre...313 blico frequentador do shopping: 80% dos

662 Teatros do Rio


entrevistados davam preferência a comédias com a montagem de espetáculos infantis, e
leves e inteligentes, confirmando o núme- em 11 de junho era apresentado Eternos me-
ro de ingressos vendidos nas campanhas da ninos, de Paulinho Tapajós, sendo os horários
Kombi, para o público da Barra da Tijuca. alternativos também preenchidos com ou-
Assim foi que, pronto o teatro, a dupla tros eventos. Nesta filosofia de administra-
de empresários procurou durante alguns ção, o teatro até hoje se mantém neste rit-
meses um texto de comédia nacional para mo de ocupação, com uma atividade teatral
inaugurar o teatro sendo escolhido Seja o intensa apesar das qualidades das produções
que Deus quiser, de Adelaide Amaral, como lá encenadas.
confirma Rejane Galveas: “Eu queria mon-
tar uma peça de autor nacional, e meu co-
ração está balançando pela da Maria Ade- 1994
laide Amaral”.315 Teatro Leblon (Sala
A casa compreende uma sala comprida, Marília Pêra; Sala Fernanda
com entrada do público pela parte interna Montenegro)
do shopping, com um pequeno foyer, onde
estão localizados: a bilheteria, bar e dois ba- O Teatro Leblon, compreende duas salas:
nheiros para o público (masculino e femi- Marília Pêra e Fernanda Montenegro. Lo-
nino). Por uma escada tem-se acesso à sala calizado à Rua Conde de Bernadotte n. 26,
de espetáculos, com capacidade para 290 es- loja 104, Leblon. A iniciativa de construção
pectadores, com ar-condicionado, poltronas do Teatro Leblon foi de Ecila Mutzenbecher,
estofadas de vermelho, piso todo acarpeta- Rosali Finkielsztejn e Wilson Nogueira Ro-
do, tratamento acústico, cabine de luz e som drigues, sócios da Empresa Joyce Produções
e três camarins com banheiros. Um corre- Culturais Ltda, constituída em 15 de agosto
dor ao lado do palco permite o escoamen- de 1986, que tem
to do público para o exterior do shopping.
O palco é pequeno, sem coxias, sem altura, por objetivo social, entre outros, a promo-
sem urdimento, não possuindo qualquer re- ção de atividades culturais, especialmente
curso cênico. Sua ocupação vem sendo até produções de espetáculos teatrais, explo-
hoje com produções com mínimos recursos ração de serviços de locação e administra-
cênicos e envolvendo um elenco bem redu- ção de teatros, salas e outros ambientes
zido. Conta com um sistema de segurança e destinados às atividades artísticas e cultu-
iluminação de emergência. rais em geral.316
A inauguração do teatro deu-se em 3 de
julho de 1987, com a peça de Maria Adelaide O primeiro empreendimento dos sócios
Amaral, Seja o que Deus quiser, com direção empresários da Joyce foi o Teatro da Barra
de Cecil Thiré, cenários de Colmar Diniz e com 400 lugares, localizado à Avenida Se-
figurinos de Helena Gastal. Elenco compos- nambetiba n. 3.800, Barra da Tijuca, uma
to de Rubens de Falco, Marilu Bueno, Car- das pioneiras casas de espetáculos no grande
los Kroeber, Tânia Scher, Marcos Waimberg, bairro. Wilson N. Rodrigues em 1987 havia
Luis Carlos Tourinho e Claudio Ferrari. ganho a sala como parte de uma transação
Após a estreia, apesar de seus recursos imobiliária, quando decidiram então cons-
técnicos, a dupla de sócios empresários par- truir na loja o teatro. Foram três anos de
tiu para uma ocupação plena da nova casa, obras até a sua inauguração, o que permi-

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 663


tiu aos seus sócios-proprietários, durante Teatro do Leblon – Sala Marília Pêra
Planta baixa, (S.E.)
o período de administração da sala, adqui-
rir conhecimentos sobre o fazer artístico, e para o público, quanto para os artistas. E não
aguçar o gosto pelo teatro. “Foi uma grande desejam nunca mais passar da plateia, con-
dificuldade. Não tínhamos dinheiro e não forme palavras de Rosali:
conhecíamos ninguém do meio” 317
Depois da experiência com o Teatro da Tivemos uma única experiência como pro­
Barra, os sócios empresários, entusiasma- dutores. Na peça Ciúme, para nunca mais.
dos pelas artes cênicas, resolvem trans- É uma loucura. Queremos claramente
formar um outro imóvel localizado no ape­­nas ser empresários do ramo.318
Leblon, em uma nova casa de espetáculos.
Da decisão partiram para construção do Uma casa com capacidade para 482 pes-
teatro, e em abril de 1994 era inaugura- soas, sendo 308 poltronas na plateia com
da a Sala Marília Pêra, com o espetáculo 37 cadeiras extras e 131 poltronas no bal-
Ciúme, de Sacha Guitry, com direção de cão com 6 cadeiras extras. Um palco com
Marília Pêra. 11 m de largura de boca de cena, com
O objetivo dos sócios é somente empre- profundidade de 9,7 m e altura da boca de
sariar: economizar em tudo; da aquisição do cena de 4,2 m. Cabine de luz e som, equi-
terreno, da construção do teatro e da sua pamentos e sistemas de iluminação e som,
manutenção, mas adotando como padrão, o poltronas confortáveis, ar-condicionado e
bom gosto, o conforto e a segurança, tanto camarins. Não tem urdimento.

664 Teatros do Rio


Outros espetáculos após sua inauguração marins interligados entre as duas salas, que
sucederam: Rock Horror Show, com direção podem ser usados por qualquer uma das salas.
de Jorge Fernando; Pérola, de autoria e dire- Para justificar a ausência dos urdimentos
ção de Mauro Rasi; A dama do cerrado, de au- das salas, o arquiteto Robson Jorge Gonçal-
toria e direção de Mauro Rasi; Master Class, ves da Silva esclarece: “Os teatros do Le-
de Terence Mc Nally, estrelado por Marília blon eram lojas, não foram construídos para
Pera; entre outros espetáculos. serem teatros, e deve-se ressaltar que essa
Com os sucessos obtidos com a Sala Ma- adaptação apresenta limitações”.320
rília Pêra, Ecila, Rosali e Wilson resolvem A empresa “Joyce”, de Ecila, Rosali e Wil-
ampliar seus empreendimentos na área ar- son, hoje é proprietária dos seguintes tea-
tística, aumentando as dependências do Tea­ tros: da Barra; do Leblon, que compreende
tro Leblon. Com a transformação da loja duas salas: Marília Pêra e Fernanda Monte-
ao lado em um outro teatro: Sala Fernanda negro; dos Grandes Atores, com duas salas:
Montenegro, com 450 lugares, sendo 280 a Azul e a Vermelha e das Artes, que vem a
poltronas na plateia, com 45 cadeiras extras ser a última aquisição do grupo, e é locali-
e 117 poltronas no balcão. Um palco com zada no Shopping Center da Gávea, antigo
quarteladas de 10 m de boca de cena, com Cinema Gávea. Para eles não há mistério
9 m de profundidade e 3,85 m de altura, investir em casas de espetáculos, conforme
camarins, poltronas estofadas, ar-condicio- palavras de Wilson:
nado, cabine de luz e som, equipamentos e
sistemas de iluminação e som, entretanto, Tudo o que consegui foi assim, entrando
também sem urdimento. naquilo que ninguém queria investir. [...]
A inauguração foi em junho de 1996 com Gosto de teatro, o que não é razão sufi-
a peça As tias, de autoria e direção de Mauro ciente para tudo que estou fazendo. Mas
Rasi. Por ocasião da estreia, Ecila declarava: como engenheiro, investidor e interme-
“Queremos mostrar que cultura dá dinhei- diário de negócios imobiliários, transito
ro, que se pode investir nessa área, que é bem nesse setor.321
economicamente viável”.319
Em seguida, Cenas de um casamento, de Ing- Com relação ao sucesso dos sócios-empre-
mar Bergman; depois Anônima, de Wilson sários e fato inédito no Rio, Sérgio Britto, se
Sayão, com direção de Aderbal Freire Filho, sente surpreso: “Jamais houve no Rio alguém
cenografia de José Dias, figurinos de Biza com tal quantidade de salas particulares”.322
Viana, com Pedro Paulo Rangel, Gracindo
Júnior, Estela Freitas, Felipe Camargo e San-
dra Barsotti. 1994
Com a ampliação de suas dependências, o Metropolitan
Teatro Leblon ficou constituído de duas salas:
Marília Pêra e Fernanda Montenegro, confor- O Metropolitan, na Avenida Airton Senna
táveis, com estacionamento no próprio pré- n. 3000, Unidade 1.005, Barra da Tijuca,
dio, dispondo cada uma de modernos equi- era uma casa com infraestrutura para mega­
pamentos, com mesa de luz computadoriza- shows, que ocupava uma área de 14.000 m2,
da, mesa de som de 8 canais, caixas de som na parte de trás do Shopping Via Parque,
da marca Bose, 80 refletores de vários tipos. com plateia em dez níveis, com capacidade
Sistema de ar-condicionado, além de 11 ca- para 5.000 pessoas sentadas e mais 500 nos

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 665


50 camarotes em 2 andares. Por ocasião de O projeto de iluminação com 300 refleto-
shows de rock, a capacidade duplica, em res, foi assinado pelo iluminador Peter Gas-
virtude da retirada das mesas. per, com quatro sistemas com finalidades
O projeto do complexo arquitetônico é distintas: o palco, as mesas, as áreas de cir-
de autoria de Sérgio Moreira Dias, com- culação e o sistema balizador; que tem por
preendendo 3 andares e formato de um finalidade corrigir os desníveis de degraus
anfiteatro, uma iniciativa do empresário Ri- e patamares. Ainda na parte de instalações,
cardo Amaral, que fala da boa visibilidade de a casa conta com um importado sistema de
todos os lugares. “As curvas de nível foram renovação de ar, que o distribui uniforme-
calculadas por computador. De qualquer lo- mente e consegue retirar a fumaça.
cal se tem uma visão perfeita” 323 O projeto de sonorização e acústica, com
O palco com 1,4 m de altura possui po- 4 mesas de som com 80 canais de entrada
rão com 2,5 m de altura, sem proscênio, cada uma, é do engenheiro Solon do Vale:
retilíneo, tem 192 m2, com 5 m de coxia
de cada lado. A boca de cena tem 32 m de A novidade é a presença de uma acústica
largura por 9 m de altura. O urdimento de última geração num espaço gigantesco.
está a 18 m do piso do palco, com 20 va- De qualquer parte do teatro se ouvirá per-
ras. A caixa cênica possui varandas laterais feitamente. O volume do som disponível
e acima da boca de cena, a 10 m de altura é ensurdecedor. É comparável ao ruído de
do piso do palco. Dispõe de um sofisticado um carro de fórmula 1.324
sistema mecânico que permite todos os ti-
pos de montagens. A programação visual do Metropolitan
Duas salas para 35 pessoas cada, são para ficou a cargo do cartunista Miguel Paiva,
ensaios, e quatro salas de produção que com- que desenhou das placas de sinalização
portam 20 pessoas cada uma. Conta ainda aos ingressos. Ao nível do segundo andar
com uma carpintaria com 75 m2, que aten- dois telões de tecido de 120 m2 cada, da
de às necessidades das produções durante as artista plástica Mucki de Paula Machado,
construções e montagens dos cenários dos simulando a carta celeste. Ricardo Amaral
espetáculos. Para os artistas existem 19 ca- queria um nome para sua casa que desse a
marins, sendo dois para estrelas, com toaletes

Fotografia Anna Hernandez


com banheira Jacuzzi e sala de massagens. Metropolitan sem mesas e sem cadeiras

666 Teatros do Rio


Fotografia Anna Hernandez
Metropolitan. Plateia vazia

Fotografia Anna Hernandez

Metropolitan com mesas e cadeiras


sensação da eternidade, que fosse grandio- Cada sala do Teatro dos Grandes Atores
so, sendo então sugerido pelo publicitário possui 400 lugares, sendo o foyer decorado
Edson Coelho, da agência DPZ, o nome pelo cenógrafo Gringo Cardia, que prestou
Metropolitan. Uma casa concebida para uma homenagem, em um painel colorido, a
ser a maior e a melhor casa de shows do nomes importantes do teatro brasileiro.
Brasil. Sua inauguração foi com a cantora São duas salas confortavelmente instala-
Diana Ross, uma apresentação exclusiva das com poltronas estofadas em suas respec-
para convidados e aberta ao público em 3 tivas cores (azul e vermelha), todo piso ata-
de setembro de 1994. petado, ar-condicionado perfeito, cabine de
luz e som, equipamentos de iluminação e de
sonorização, entretanto já não se pode falar
1995 o mesmo das condições técnicas dos palcos,
Teatro Grandes Atores que não possuem os mínimos recursos, con-
(Salas Azul e Vermelha) forme palavras de Sérgio Britto:

O Teatro dos Grandes Atores se localiza Acho maravilhoso o que eles estão fazen-
no Barra Square Shopping Center, Avenida do. Não me lembro de ter visto um trio
das Américas, n. 3.555 – Barra da Tijuca, de pessoas que, não sendo do meio artís-
é uma casa que compreende duas salas de tico fosse tão animado em relação ao te-
espetáculos: a Sala Azul, que foi inaugura- atro. Mas quando faço uma pausa, penso:
da em 9 de outubro de 1995 com a peça não era melhor que fizessem menos tea-
Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde, tros porém melhores? [...] A sala não tem
com Marília Pêra, direção de Aderbal Frei- urdimento e o cenário fica achatado. O
re Filho. A Sala Vermelha iniciou sua pro- Teatro Leblon tem seus defeitos, mas são
gramação em 17 de outubro de 1995, com superados porque as salas são realmente
A era do rádio, de Clóvis Levi, com direção gracinhas.325
de Sérgio Britto.
Vários sucessos foram apresentados em Apesar das críticas, a visão empresarial
cada uma das salas do Teatro dos Grandes era bem maior, são sócios que estão à frente
Atores, destacando-se E continua tudo bem, dos teatros: da Barra, do Leblon (duas sa-
com Tarcísio Meira e Glória Menezes, dire- las) e Dos Grandes Atores (também duas
ção de Marco Nanini; Seria trágico se não fosse salas). Um empreendimento que vem se
sério, de Friedrich Dürenmatt, direção de equilibrando bem, apesar do constante de-
Luis Artur Nunes, cenografia de José Dias, safio que é preencher as mais de duas mil
com Cláudio Corrêa e Castro, Jacqueline poltronas.
Laurence e Rubens de Falco. Numa época em que a maior parte dos
A iniciativa da construção das salas foi donos de teatro querem passar adiante o ne-
da Joyce Produções Culturais Ltda, criada gócio para o poder público, ou para qual-
em 15 de agosto de 1986, pelos sócios- quer outra atividade que dê um retorno
-empresários: Ecila Mutzenbecher, Rosali satisfatório, explicar o bom desempenho
Finkielsztejn e Wilson Nogueira Rodri- dessa iniciativa privada, parece que para os
gues, proprietários também dos teatros proprietários da Joyce Produções, não é lá
da Barra e Leblon, já comentados ante- um bicho de sete cabeças, conforme pala-
riormente. vras de Rosali:

668 Teatros do Rio


Em geral a cultura é muito desprezada. cinemas e estacionamento, possui uma casa
Mas existem incentivos do governo, Leis de espetáculos para mil pessoas, que será
que permitem quase completa isenção de aberta a eventos, shows e peças teatrais,
IPTU, e se formos pensar em crise, ora, pois até a elaboração deste trabalho, ainda
vários setores estão em crise.326 [...] A re- não havia sido inaugurada.
gra básica da economia é que o negócio se Esta casa pertencia a Joyce Produções
pague. Quando vemos o custo dos teatros (Ecila, Rosali e Wilson Rodrigues) e foi ven-
públicos ficamos estarrecidos. Eles gastam dida a um grupo americano.
20 vezes mais. Nós podemos controlar o
custo. É quase como cuidar de um orça-
mento doméstico. 1997
Teatro Miguel Falabella
Entretanto, os espaços não são exclusiva-
mente de atividades teatrais, para que pu- O Teatro Miguel Falabella, localizado no Nor-
dessem gerar receita, os sócios começaram teshopping, à Avenida Suburbana n. 5.332/2°
a diversificar a programação, não só das salas Piso, foi uma iniciativa do empresário Paulo
Dos Grandes Atores, como Leblon e o Teatro Gama, da Ecisa Engenharia, e que custou dois
da Barra, com convenções, treinamentos e milhões de reais à empresa, empreendedora
reuniões de executivos, como lembra Ecila: do Norteshopping.
Sua inauguração foi em 6 de novembro
Estamos começando a implantar essa ideia de 1997, com a peça A partilha, texto e
e tem sido ótimo. O importante é fazer direção de Miguel Falabella, e elenco for-
com que o circuito cultural entre no cir-
cuito financeiro capitalista. Se o empresá-
rio consegue desfrutar das Leis de incenti-
vo, acabamos com essa história de favores
constantes.

Apesar dos limitados recursos técnicos, as


duas salas vêm desenvolvendo uma progra-
mação constante, não só teatro de adulto,
como também infantil, além de cursos etc.,
espaços que lutam contra a crise.

1997
Barra Garden

O Barra Garden, na Avenida das Américas


n. 3.255, um Shopping vizinho ao Barra
Square, na Barra da Tijuca, foi inaugurado
em 31 de outubro de 1997, além de todos
os atrativos, com 163 lojas comerciais, 29
salas comerciais, praça de alimentação, três Teatro Miguel Falabella. Palco visto do balcão

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 669


nhos. Eu entro com meu nome, o que já é
o bastante.” 327
Em uma pesquisa realizada com 2,8 mi-
lhões de pessoas no shopping, sobre que
peças os seus frequentadores gostariam de
assistir, as primeiras três colocadas foram
comédias de Falabella, o que lhe rendeu
um convite para administrar o teatro, jun-
to com as sócias Jane dos Santos e Cristina
Lara Rezende.
O ator e diretor ficou então pensando
sobre que decisão tomar sobre o convite, já
que era uma empreitada colocar em ativida-
Teatro Miguel Falabella. Plateia e balcão de uma casa de espetáculos, daquele porte,
como ele próprio confirma:
mado por Rosamaria Murtinho, Nívea Ma-
ria, Claudia Alencar e da jovem atriz baiana Quando me ofereceram pela primeira
Magaly Evangelista. vez este espaço, não quis aceitar e pedi
Miguel deu somente seu nome ao tea- que Deus me desse um sinal. O sinal veio
tro, não entrando com um centavo na obra, a caminho do Teatro Casa Grande, quan-
como ele mesmo conta: “É como se eu fos- do peguei uma carona com um casal que
se um lojista, mas vendendo ingressos e so- vinha de um bairro da zona norte só para
me ver. Cheguei à conclusão que as pes-
Teatro Miguel Falabella. Palco visto de outro
soas que moram por aqui têm direito à
ângulo do balcão cultura328

670 Teatros do Rio


Teatro Miguel Falabella. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Miguel Falabella. Corte, (S.E.)


A atividade infantil não poderia ter sido Teatro Miguel Falabella. Entrada

esquecida na inauguração do teatro, por uma


razão muito emotiva: foi no Tablado que Mi- em 312 na plateia e 144 no balcão, com pol-
guel Falabella começou sua carreira de ator, tronas Giroflex revestidas de curvim azul-
conforme palavras de Maria Clara Machado: -marinho, piso da plateia e balcão com tape-
“Ele era um menino muito disciplinado. É te 8mm cinza azulado.
um prazer ver meu texto ser apresentado O foyer com bar e bombonière com piso
num palco que é o dobro do meu.” 329 em granito, paredes em terracor, gradis e
A estreia infantil foi com a montagem partes metálicas com detalhes em latão dou-
de A Bela Adormecida, último texto de Ma- rado, espelhos em paredes junto às escadas.
ria Clara Machado, com direção de Cacá Em dois níveis, sendo o primeiro nível com
Mourthé. Os jovens também não foram es- 75 m2 e o segundo nível (do balcão) com
quecidos, e fazendo parte da programação, 70 m2. O conceito do teatro com balcão foi
foi apresentada a peça Confissões de adolescen- projetado de modo a que todo o público te-
te, de Maria Mariana, com direção de Do- nha perfeita visão de todo o palco, as curvas
mingos de Oliveira, o elenco formado por: de visibilidade também contribuíram para a
Cassia Linhares, Irene Faria, Luísa Mariane, definição do pé direito, altura total igual a
Mariana Leoni e Daniel Del Sarto. 12 metros.
O teatro que compreende uma área total A parte de maquinário compreende três
de 1.800 m2, com 456 lugares, distribuídos casas de máquinas de ar-condicionado e ven-

672 Teatros do Rio


tilação mecânica, uma sala de dimmers para Todo o sistema de proteção contra in-
iluminação cênica e partes comuns e cama- cêndio com rede de sprinklers em todos os
rins e cabine de som condicionados indivi­ ambientes, rede de detetores em todos os
dualmente. ambientes, hidrantes e extintores.
O palco possui uma boca de cena de A obra envolveu mais de cem profissio-
12 m de largura por 6 m de altura, com co- nais durante seis meses, sendo a equipe
xias, urdimento a 12 m de altura, com 12 composta de:
varas, sendo 8 cenográficas e 4 de ilumina-
ção cênica, todas contrapesadas. A área to- Estudos iniciais/viabilidade:
tal do palco é de 200 m2, seu piso todo em José Dias
cedro, vestimentas de palco (rotunda, bam- Gerenciamento e projeto de arquitetura:
bolinas, reguladores) em veludo preto, além Lindi
de um ciclorama. Especificações e detalhamento
São cinco camarins, sendo um de 12 m2, Regina Messer
um com 13,5 m2 com banheiro, outro com
Urdimento de palco:
13 m2, outro com 17,5 m2 e o maior deles
Álvaro Ferreira
com 18 m2 com banheiro. Todos com banca-
das, iluminação adequada para os atores se Tratamento Acústico:
maquiarem e ar-condicionado. Solon do Valle e Lourdes Zunino
A acústica, quanto ao direcionamento do Iluminação:
som foi baseada no princípio do diagrama Peter Gasper
dos raios, foi determinada a forma do forro Projetos de:
da plateia e painéis refletores nas paredes, • Instalações:
objetivando melhorar a audição no fundo da Enit
sala e permitir o espalhamento de som de • Ar-condicionado/ventilação mecânica:
maneira uniforme. Datum
As paredes do teatro são duplas em al- • Estrutura Metálica:
venaria, e o espaço entre estas preenchidos Tecton
com duas polegadas de lã de vidro. Os pai- • Estrutura concreto armado:
néis refletores das paredes são em madeira Caltec
(frejó) e tapete, sendo todo o fundo do pal- • Programação visual:
co em painéis climatex. Rejane Shainberg
Quanto aos equipamentos especiais, o tea- Instaladores:
tro possui um sistema Clear-com, comunica- • Instalações:
ção interna entre técnicos de cenografia, ilu- Araújo Abreu
minação e som. Mesa de som ambiente para as • Ar-condicionado/ventilação mecânica:
partes comuns, mesa de iluminação com capa- Huna
cidade de 256 dimmers controlados e central • Caixa cênica/urdimento:
de telefone para quatro linhas e dez ramais. Tetis
A iluminação cênica é composta de 66 re- • Vestimenta cênica:
fletores instalados em 4 varas de iluminação, Cineplast
sendo que 3 no palco e uma na ponte de luz. • Obras civis:
A cabine de luz e som com 22 m2, toda com Congel
tratamento acústico.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 673


O teatro com seus 456 lugares é uma casa dos para 500 espectadores, do Teatro das
de extremo bom gosto, conforto e funcio- Artes, pela trinca Wilson Rodrigues, Eci-
nalidade, compreendendo todos os recursos la Mutzembecher e Rosali Finkielstejn. As
cênicos necessários a uma caixa cênica, só obras começaram tão logo obtiveram a li-
não possuindo porão, em virtude de ser rea­ cença de reforma, pois manter o cinema não
lizado no segundo piso do shopping, sobre estava nos planos dos sócios-empresários,
área já construída. conforme palavras de Ecila:
Sobre as acomodações e possibilidades
técnicas da casa, Barbara Heliodora, crítica O Cine Gávea era independente, não esta-
do jornal O Globo, de 18 de abril de 1998, va ligado a nenhuma grande cadeia. Houve
comenta: um tempo em que se conseguia manter essa
autossuficiência numa boa, mas hoje não dá
O Teatro Miguel Falabella, sem dúvida, a mais. A concorrência entre os cinemas do
melhor casa de espetáculos a aparecer no Leblon e de São Conrado é grande.331
Rio nos últimos anos, 456 lugares, tem
um palco de grandes dimensões e – in- Com este é o quarto teatro do shopping,
crível!!! – aquilo que outrora nenhum pois lá já funcionam o Clara Nunes, o Vanuc-
teatro deixaria de ter, um urdimento de ci e o dos Quatro, sendo o sexto da trinca
verdade, um veículo tecnicamente pri- (Leblon, 2 salas, Grandes Atores com 2 salas
moroso, que pode servir muito bem ao e o da Barra). Com a experiência que ad-
grande público da zona norte, até hoje quiriram nas construções e adaptações dos
tão esquecido. espaços anteriores, este já não os surpreen-
deu quanto ao redimensionamento da sala.
Em 22 de fevereiro de 1999, em uma co- Em princípio diminuíram o saguão, já que
luna do Jornal do Brasil, saía a seguinte nota: era grande; ganhou um palco com 14,5 m
de boca, prejudicado pela altura, pois é bai-
Está perto do fim a incursão de Miguel Fa- xo em relação à boca de cena; ganhou novas
labella no subúrbio carioca. O ator decidiu poltronas e mais confortáveis do que as exis-
não continuar mais à frente do teatro que tentes na época do cinema. Foram criados
leva seu nome...330 cinco camarins. A caixa cênica é prejudicada
em virtude de tratar-se de um ex-cinema,
Só com o tempo saberemos a confirmação e de ser dentro de um shopping, não ten-
da matéria, porque até hoje Miguel Falabella do sido construído para fins teatrais. Com
ainda se encontra à frente do teatro. isso perdeu todos os recursos que seriam
necessários ao fazer teatral, pois não possui
urdimento, além de outras limitações que o
1998 próprio espaço impõe. Mas possui cabine de
Teatro das Artes luz e som, ar-condicionado e equipamentos
de iluminação e som.
Em novembro de 1997 era fechado o Cine- A inauguração foi com a peça Arte, de Yas-
gávea, anteriormente Cine Rio-Sul, à Rua mina Reza, com direção de Mauro Rasi e
Marquês de São Vicente n. 52, sobreloja elenco integrado por Paulo Goulart, Pedro
264, Shopping Center da Gávea. Seus 450 Paulo Rangel e Paulo Gorgulho, em 6 de no-
lugares, quando cinema, foram transforma- vembro de 1998.

674 Teatros do Rio


Referências Bibliográficas

Teatro Tereza Rachel Teatro dos Quatro


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julho de 1998; 6 de novembro de 1998. Revista de 1998.
4.8. O SURGIMENTO investe em áreas de alto valor no mercado e,
DOS CENTROS CULTURAIS guiados pelos interesses econômicos e com
apoio de alguns políticos, acabam desfigu-
E A DUPLA FUNÇÃO rando a cidade do Rio de Janeiro.
DOS MUSEUS Pegando o fio da história podemos co-
meçar com a demolição do Jóquei Clube,
“O Centro [Cultural] poderá ser um espaço na Avenida Rio Branco, um dos mais be-
para realização de eventos em conjunto” los exemplares do ecletismo francês, estilo
Luiz XVI; a Embaixada da Itália, nas Laran-
jeiras, demolida em um fim de semana; a
José Carlos Barbosa
Embaixada da Argentina, num dos grandes
(Centro Cultural da Justiça Federal)
palácios da Belle époque construído no
Rio, na Praia de Botafogo, que veio a dar
lugar ao Centro Empresarial Rio (Grupo
As diversas alterações sofridas na fi- João Fortes Engenharia); o Palácio Ducal,
sionomia da cidade do Rio de Janeiro du- casa em que viveu o patrono do Exército,
rante as três últimas décadas vieram desper- na Tijuca, entre os anos de 1846 e 1880, e
sonalizar o seu centro urbano, ao colocarem que já pertencia à história do Brasil (foi lá
abaixo alguns prédios tradicionais da cidade, que Caxias recebeu o convite para assumir
transformados em escombros em nome do o comando das tropas na guerra contra o
progresso, e sempre sob os auspícios da in- Paraguai), foi demolido para que no local
dústria de construção civil e, o que é pior, fosse construída uma filial do Grupo Mes-
com o consentimento daqueles que gover- bla na Tijuca.
nam e administram o patrimônio da cidade. Os edifícios teatrais também não ficaram
É difícil compreender a ausência de qual- imunes, e nesta avalanche de interesses po-
quer tipo de compromisso com a memória líticos e econômicos muitos vieram a de-
da cidade, permitindo-se que conceitos pro- saparecer. Todavia, no emaranhado de leis
gressistas desfigurassem monumentos his- municipais, existem duas que protegem o
tóricos, eliminando-se praças, mutilando-se cinema e o teatro, obrigando a construção
ruas e explodindo quarteirões. As mudanças de uma nova sala, sempre que a antiga for
das maneiras de ser pela especulação imo- demolida. No entanto, estas leis nunca são
biliária foram tão brutais, que os próprios cumpridas. Os teatros República e Recreio,
habitantes se sentiam agredidos por atos foram postos abaixo, sem que outros fossem
praticados impunemente por esta indústria construídos, assim como o Jardel (Avenida
e seus patrocinadores. Atlântica), Arena da Guanabara, Phenix (na
Os efeitos de modificação e de desca- Almirante Barroso), São José, enquanto o
racterização são responsáveis pela perda de Fênix (da Lagoa) e o Adolpho Bloch (na Gló-
identidade cultural da cidade, com a elimi- ria), foram transformados em auditórios de
nação dos seus mais expressivos pontos de emissoras de televisão. Sem falar do Teatro
referência arquitetônica e paisagística, sen- Carioca (Flamengo), que virou supermerca-
do irreparáveis os golpes praticados contra do, Teatro Follies, hoje é uma casa de teci-
o patrimônio histórico e artístico da cidade. dos, o Mesbla que transformou-se em sala
Nestas últimas décadas, a cidade vem so- de informática da empresa, do Santa Rosa
frendo com a especulação imobiliária, que (Ipanema), que hoje é a boate Carinhoso,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 677


o Fonte da Saudade (usado só como sala de urbanas, passando a ocupar lojas em prédios
ensaios), o Imperial (antigo Jovem), fechado comerciais e ou residenciais.
sem nenhuma explicação etc. Não que fossem edificados, com fins es-
Mas foi justamente durante o primeiro pecíficos, novos teatros; mas prédios histó-
governo de Chagas Freitas que a indústria ricos aos poucos foram sendo tombados e
da construção civil colocou seus interesses transformados em centros culturais com di-
acima das próprias aspirações da comuni- versos atrativos para o público, livrando-os
dade. Um exemplo dessa atrocidade infame assim da demolição predatória.
contra a memória da cidade foi a construção Esses usos múltiplos de complexos arqui-
na Praça XV, (onde se encontram alguns dos tetônicos vêm permitindo a criação de salas
melhores exemplares da arquitetura do sé- para fins de conferências, exposições, espe-
culo XVII), de um espigão de 42 andares no táculos musicais e teatrais, provocando uma
pátio interno do Convento do Carmo, um competição de eventos programados, aflo-
dos prédios mais antigos do Rio. rando em diversas instituições, promovendo
Com as modificações introduzidas, a vida um benéfico desenvolvimento da cultura.
cultural foi perdendo espaço para os gran- No entanto, os espaços teatrais que aí
des empreendimentos imobiliários, os tea­ foram surgindo estão localizados em sa-
tros de beira de rua desaparecendo, e aos las improvisadas, adequando-se a elas, não
poucos surgiram alguns em shoppings. Com apresentando, portanto, soluções técnicas
a carência de salas de espetáculos e com a de caixa cênica que possibilitem grandes
modificação da vida da cidade foram surgin- encenações. Todavia, mesmo com essa po-
do na década de 1980 alguns cafés-teatros breza de recursos, como ocorre em sua
em pequenos recintos escondidos em bares grande maioria, vieram suprir uma gran-
e restaurantes, para suprir essas necessida- de lacuna existente no Rio, substituindo,
des, criando um efeito modificador, no pú- da melhor maneira possível nas condições
blico carioca. que apresentam, as casas de espetáculos
A partir da década de 1990, essas mu- fechadas durante todos esses anos. Mes-
danças sofridas começaram a sensibilizar os mo impossibilitadas de oferecerem palcos
órgãos municipais, estaduais, federais e até ideais, por não ser possível a transformação
empresários de outras áreas, gerando uma e a descaracterização dos bens tombados,
força em prol da conservação, manuten- algumas salas ganharam recursos técnicos,
ção e restauração do patrimônio histórico. suficientes para encenações de pequeno
A cidade do Rio de Janeiro foi então sitia- porte, satisfazendo companhias e grupos
da pela arte, com o surgimento de espaços teatrais, e fornecendo ao público, que aos
culturais, havendo uma verdadeira explosão poucos foi se tornando cativo, uma pro-
desses centros, a Prefeitura e o Governo do gramação permanente, diversificada e de
Estado respondendo por imensa parte não qualidade. O público foi descobrindo ser
só da instalação dos centros culturais como possível desfrutar todos os benefícios des-
também se responsabilizando pelas formas ses espaços, explorar suas potencialidades,
de apoio e programação dos eventos; fazen- aderir às atividades que oferecem, sem
do com que as casas de espetáculos retor- abrir mão do conforto e da segurança.
nassem às ruas (edifício de frente para a via O aumento de salas de espetáculos fez
pública), já que há algumas décadas vinham crescer a oferta cultural da cidade, a fre-
deixando de ocupar prédios de referências quência nos centros culturais modificou-se

678 Teatros do Rio


quando esses polos culturais modernizaram E, na mesma matéria, a própria Secretária
seus serviços, tornando lugares vivos, onde de Cultura, Helena Severo, confirma a defi-
os eventos se multiplicam pelos quatro can- ciência de nossas casas de espetáculos: “Pre-
tos, dando a certeza ao público de que a cada cisamos de um palco no estilo do Radio City
visita ele vai descobrir novas manifestações Music Hall. Nossos teatros não comportam
artísticas. espetáculos de dança, é um absurdo.”
Mas é preciso considerar também a outra O mesmo aconteceu com a peça O misté-
face da moeda, os prédios de belas fachadas rio de Irma Vap, com direção de Marília Pêra,
que escondem alicerces abalados e abrigam o elenco formado por Marco Nanini e Ney
ofertas de atividades capengas. Alguns deles, Latorraca, que, depois de longa temporada
pobres em programação, também restrin- no Teatro Casa Grande, também se apresen-
gem muito a oferta de espetáculos, só acei- tou no Metropolitan, para poder satisfazer a
tando os de pequeno porte, em função da uma demanda reprimida de público devida
limitação de seus espaços internos, que não ao sucesso obtido.
permitem que obras de médio ou evento de Atualmente são 57 centros culturais exis-
grande porte. Além da falta de equipamento tentes no Rio de Janeiro, tornando desneces-
próprio para encenações, também não ofe- sário abordá-los todos, privilegiando-se os
recem elementos de apoio e suporte para que apresentam teatros, dentre as alternativas
eventuais exposições de obras. oferecidas pela trinca arte-cultura-e-lazer.
Essas observações equivalem a esfriar
um pouco o entusiasmo sobre a existência
de centros culturais espalhados pela cida-
de, não querendo dizer que a população
carioca esteja bem servida culturalmente.
As produções se veem obrigadas muitas
vezes a recorrer a casas de shows, que tec-
nicamente estão mais bem aparelhadas e
com melhores acomodações para público
e artistas. Nestes casos as temporadas são
curtas, como aconteceu com o espetáculo
5 X Comédia, que foi abrigado no Canecão,
uma cervejaria que trabalha com shows, e
em julho de 1999, no Metropolitan, uma
megacasa com uma programação diversi-
ficada com shows musicais, peças teatrais
e até balé, conforme palavras de Ricardo
Amaral a André Luís Barros, do Jornal do
Brasil, em 11 de fevereiro de 1996:

O Metropolitan vai virar sala de con-


certos nos shows de José Carreras (1º
de Março) e do Balé Bolshoi (em abril).
Serão 4 mil lugares. Ou seja, três teatros
municipais.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 679


4.8.1. CENTROS CULTURAIS

Centro Cultural Banco


do Brasil

Encabeça a lista o Centro Cultural Banco do


Brasil, aberto ao público em 12 de outubro
de 1989. Ocupa o histórico prédio n. 66 da
Rua Primeiro de Março, de linhas neoclás-
sicas, que no passado, esteve ligado às finan-
ças e aos negócios. A pedra fundamental do
prédio foi lançada em 1880, materializando
projeto de Francisco Joaquim Bethencourt
da Silva. Inaugurado como sede da Associa-
ção Comercial em 1906, sua rotunda abri-
gava o pregão da Bolsa de Fundos Públicos.
Na década de 1920, passou a pertencer
ao Banco do Brasil, que o reformou para
abertura de sua sede. Esta função tornou o
edifício emblemático do mundo financeiro
nacional e duraria até 1960, quando cedeu
lugar à Agência Centro do Rio de Janeiro e Centro Cultural Banco do Brasil. Reprodução: Prospecto de
depois a Agência Primeiro de Março, ainda divulgação do Centro Cultural Banco do Brasil.

em atividade. No final dos anos 1980, resga-


O Teatro I do CCBB possui 182 lugares,
tando o valor simbólico e arquitetônico do
com confortáveis poltronas estofadas recli-
prédio, o Banco do Brasil ofereceu à cidade
náveis, todo piso atapetado, inclusive as pa-
um Centro de Cultura.
redes, que ajudam bastante a acústica, refri-
O projeto de adaptação preservou o re-
geração central e cabine de luz e som.
quinte das colunas, dos ornamentos, do
O palco é pequeno, não possui coxias,
mármore que sobe do foyer pelas escada-
tem 7,07 m de boca de cena por 4,02 m de
rias e retrabalhou a cúpula que encobre
altura, com um piso de palco de 1,1 m de
a rotunda.
altura em relação à primeira fileira de pol-
Sem dúvida o Centro Cultural Banco do
tronas. A total área do palco é de 10,45 m
Brasil é o centro cultural que mais tem atraí­
por 7,7 m de comprimento, contando com
do frequentadores, por ser o mais comple-
o proscênio. A altura da caixa é de 5,3 m,
to: atrai pela beleza arquitetônica, luminosi-
com uma estrutura de urdimento com: 5
dade, limpeza, segurança, instalações, aten-
va­­ras com catracas de 8,4 m de compri-
dimento, serviços e pela agenda cultural.
mento, 25 varas cênicas de 8,4 m que não
Vem atingindo não só populações do grande
possuem contrapeso, 1 vara para ciclorama
Rio, mas uma frequência bem marcante de
de 9,6 m de comprimento não contrapesa-
turistas nacionais e estrangeiros, alcançando
da. Possui um elevador no palco de 2,93 m
todas as idades.
por 1,44 m, 4 camarins com banheiros ex-

680 Teatros do Rio


clusivos, um depósito de 4,4 m de com- Pecci Filho, o Toquinho, quando este tinha
primento por 1,8 m de largura, um escri- 13 anos de idade.
tório de 2,48 m por 1,9 m, um banheiro O projeto deste espaço é unir sempre um
de serviço, além de todo equipamento de cantor e um instrumentista, em curtas tem-
iluminação e de som. poradas, viabilizando o projeto original do
O Centro Cultural conta também com o CCBB que foi elaborado em 1987.
Teatro II, com 143 lugares que recebe peças O Teatro III ocupa a área onde anterior-
teatrais, espetáculos de música e de dança, mente fora um almoxarifado e a sala de en-
com cabine de luz e som, e equipamentos saios, conforme palavras de Cláudio Vascon-
de iluminação cênica e de som. Seu palco é celos, Diretor do Centro Cultural:
mais limitado que o do Teatro I.
Em 18 de março de 1998, o CCBB, inau- Desde 1989, aquele espaço era usado para
gurou mais um espaço, chamado Teatro III. ensaios. Mas, com o aumento do fluxo de
Com o projeto “Bossa Brasil”, uma curta público, sentimos a necessidade de mate-
temporada dos violinistas e compositores rializar o que estava no papel. E isso foi
Toquinho e Paulinho Nogueira. Um encon- possível com o incremento das parcerias
tro acima de tudo afetivo, pois Paulinho junto às empresas privadas.332
havia sido professor de violão de Antonio
Uma sala diferente das outras duas (Tea-
Centro Cultural Banco do Brasil tro I e Teatro II), pois suas cadeiras são dis-

Reprodução: Prospecto de divulgação do Centro Cultural Banco do Brasil

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 681


Teatro I – CCBB. Corte, (S.E.)

Teatro II – CCBB. Planta baixa, (S.E.)


Teatro I – CCBB. Planta baixa, (S.E.)
Reprodução: Prospecto de divulgação do Centro Cultural Banco do Brasil
postas uma ao lado da outra, em fileiras, Centro Cultural Banco do Brasil

ou em mesas que servem como ponto de


encontro, onde o público pode sentar para No primeiro andar, um museu, com ex-
tomar um drinque antes de cada show. posição permanente chamada “O Brasil
Ocupa uma área de 152,15 m2, sendo 8,18 Atra­­­vés da Moeda”, que inclui uma moeda
m de largura por 18,6 m de comprimento, de ouro feita para a coroação de Dom Pedro
com 5 m de pé direito. Sua capacidade é I e documentos importantes sobre a traje-
para 164 pessoas. Quando necessário, as tória do Banco do Brasil, arquivo histórico
41 mesas e 164 cadeiras podem ser reti- e salão de exposições. No segundo andar,
radas e o local comportar mais espectado- salão de chá, salas de exposições, Teatro II
res, transformando sua aparência de casa e Teatro III. No terceiro e quarto andares,
de shows. O espaço é dotado também de dois confortáveis auditórios cada um com
duas arquibancadas que dão mobilidade capacidade para 90 pessoas, equipados com
para os espetáculos que não necessitem de dispositivos para áudio e vídeo e sistema de
cadeiras, ampliando a capacidade de pú- retransmissão para outros espaços do CCBB.
blico. Possui dois camarins com banheiros No quinto andar funciona a biblioteca, com
para os artistas e um pequeno depósito 140 mil títulos, com prioridade para as
para serem guardadas as mesas quando não áreas de ciências sociais, artes e literatura.
se fizerem necessárias.
No térreo se localizam: O Teatro I; a sala
de cinema com 99 lugares e sala de vídeo Paço Imperial
(mezzanino sobre o cinema) que dispõe de
48 lugares; uma agência do Banco do Brasil; O Paço Imperial, além do passado histórico
a loja destinada a venda de livros, catálogos, relacionado com a vida político-administra-
postais e cartazes de eventos realizados pelo tiva da cidade, é museu e centro cultural.
Centro Cultural e de outras publicações e O antigo Paço Imperial do Rio de Janeiro,
produtos culturais. No foyer, o cafezinho da localizado na Praça XV de Novembro foi
bonbonnière. Degraus acima, o restaurante devolvido à cidade em 6 de março de 1985,
do mezzanino, “Coluna Social”. depois de dois anos de restauração, um tra-

684 Teatros do Rio


balho que demandou muitas pesquisas e sileiro, direção de Luiz Antonio Martinez
estudos e que envolveu historiadores, enge- Correia e em 1992 Tiradentes – A inconfidên-
nheiros, arquitetos, arqueólogos, operários cia no Rio, de Aderbal Freire Filho e Carlos
e centenas de pessoas. Eduardo Novaes, com direção também de
Em seus dois pavimentos completa- Aderbal, cenografia de José Dias e figuri-
mente restaurados, o Paço abriga hoje nos de Biza Viana, um espetáculo itineran-
um centro cultural, com uma diversifica- te que percorria com seu público, diversos
da atividade, como: projeções de filmes, locais como: Museu Histórico Nacional,
venda de produtos culturais, palestras, Centro Comercial do Rio de Janeiro, Mu-
seminários, apresentações musicais e tea- seu da República, Paço Imperial e finalizava
trais. Também está aberto ao público todo na Praça Tiradentes, com o enforcamento.
o processo de descobertas arqueológicas, Outro espetáculo em 1996 no Paço Im-
realizada pelo núcleo de arqueologia da perial, na sala dos “Archeiros”, foi Os desas-
Pró-Memória, como o histórico do edifí- tres de Sofia, da Condessa de Ségur, com di-
cio, sua restauração e de peças encontra- reção de Celina Sodré, com cenografia de
das durante o período de restauro. José Dias, que usava a sala em sua plenitude,
As atividades teatrais e musicais acon- inclusive a claraboia como efeito de abertu-
tecem, geralmente, no pátio interno, que ra do espetáculo.
foi restabelecido durante o período de Há ainda sete salas de exposições, sendo
restauro, graças à demolição de um pré- duas no térreo e cinco no primeiro andar.
dio de quatro pavimentos construído em A biblioteca Paulo Santos, no primeiro an-
seu interior e na sala dos “Archeiros” (o dar, com seis mil livros e 200 títulos de
nome dado aos guardas imperiais que por- revistas; abrindo para a rua, no térreo, há
tavam uma arma chamada archa) ou salão uma livraria, uma loja de CDs, papelaria
da claraboia, local onde se evidenciam um e, no pátio, os restaurantes Bistrô do Paço
amontoado de reformas, testemunho de e Atrium.
um período de transformações no edifício
e sala do trono. Entretanto, nenhum des-
ses espaços possui instalações técnicas e Centro Cultural Cândido
equipamentos cênicos para as encenações. Mendes
Mesmo assim importantes montagens por
lá passaram, firmando seus espaços como Também localizado no Centro, próximo ao
possíveis para algumas encenações. Paço, está o Centro Cultural Cândido Men-
Os mais expressivos que lá aconteceram des, da Rua da Assembleia n. 10, que ofe-
na área musical, foram: Camerata Antigua, rece ao público um teatro e duas salas de
de Curitiba, regência de Roberto de Regi- exposições: grande galeria só para fotogra-
na, música de Orlando di Lasso; do quar- fias e pequena galeria para pintura. O Cen-
teto K-Ximbinho; e o seminário de música tro Cultural Cândido Mendes também tem
Pró-Arte. No setor do teatro em 1985 po- sede em Ipanema.
demos destacar: Ouro sobre azul, adaptação Inaugurado em 7 de janeiro de 1988,
da peça O usuário, de Martins Pena, dire- com o nome de Teatro João Theotônio,
ção de Domingos de Oliveira; Auto da In- subsolo, com o espetáculo O Homem sobre
dependência, com o grupo Feliz Meu Bem, à o parapeito da ponte, de Guy Foissy, com
frente Tonio Carvalho; o Teatro Musical Bra- produção e direção de Carlos Vereza, que

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 685


atuava também como ator, ao lado de Cle- Casa de Cultura Laura Alvim
mente Vizcaino. A trilha sonora era com-
posta por músicas de Egberto Gismonti, A Casa de Cultura Laura Alvim, à Avenida
cenários e figurinos ficaram a cargo de Vieira Souto, n. 176, Ipanema. Lá encon-
Tawfic e Gilberto Vigna. tramos um teatro com 285 lugares, dois ci-
A sala tem capacidade para 400 lugares, nemas, salas de exposições, um porão para
com poltronas estofadas, ar-condicionado, teatro, música e dança, bar, livraria.
cabine de luz e som, camarins e um palco Laura Agostini de Villalla Alvim nasceu em
pequeno sem recursos cênicos. É uma casa Botafogo, no Rio de Janeiro, no dia 2 de no-
com pouca atividade teatral. vembro de 1906. Aos 4 anos, devido a pro-
Infelizmente este novo espaço não veio blemas respiratórios, mudou-se com a família
suprir a perda, na mesma época de sua para Ipanema a conselho médico, pois era o
inauguração, de quatro casas de espetá- lugar “saudável” da época, ainda selvagem, re-
culos tradicionais: o Maison de France, o pleto de pitangueiras e cajueiros.
Gláucio Gill, o Glória e o Mesbla; pois as Filha do médico Álvaro Alvim, pionei-
encenações teatrais nesta casa sempre fo- ro da radiologia no Brasil e neta de Ânge-
ram esporádicas, com repercussão maior lo Agostini, pintor e famoso caricaturista,
em apresentações musicais, palestras e que gozavam de grande prestígio no meio
conferências. intelectual. Laura atravessou a infância con-
Na sede de Ipanema, Rua Joana Angélica vivendo, em casa, com as celebridades da in-
n. 63, há um teatro para 133 lugares, um teligência carioca. Era uma mulher de gênio
cinema para 99 lugares, uma sala de vídeo irreverente e contestador. Tinha ideias arro-
com 25 lugares e uma sala de exposições: a jadas para sua época e o teatro era sua maior
galeria Candido Mendes. paixão, e seu grande desejo era ser artista,
O Teatro Cândido Mendes pertence à So- mas foi proibida por seus pais de realizá-lo.
ciedade Brasileira de Instrução – Fundação Laura, 15 anos antes de seu falecimento,
Cultural Candido Mendes e se localiza no declarava:
térreo do edifício onde funciona a faculda-
de, no final do corredor, em frente aos ele- Vou transformar a casa em que vivo desde
vadores que servem à instituição. os quatro anos – e onde meu pai viveu seus
Um espaço pequeno sem palco, com três 14 anos de martírio – numa fundação. No
áreas de plateia para o público, dispostas terreno ao fundo, construirei uma galeria
em declive, com uma cabine de luz e som, de arte, com teto de abóbada, luzes indire-
um camarim e um banheiro para os atores. tas e bancos de sacristia. No andar de cima,
É tudo muito pequeno, de pouca altura, um teatro. Conferências, cursos de arte, re-
porém um local que mantém uma ativi- citais, música de câmara e balés serão apre-
dade constante com espetáculos de con- sentados. Um ateliê semelhante aos de Paris
cepção cenográfica simples e de elenco será cedido aos pintores pobres. Este centro
pequeno. de cultura chamar-se-á Centro de Cultura
Este teatro veio suprir a dificuldade que Ângelo Agostini, em homenagem a meu
tem o teatro jovem de obter horários e casas avô, o grande pintor da abolição.
de espetáculos, oferecendo o chamado ho-
rário alternativo à meia-noite, oficialmente Enquanto vivia, Laura foi reformando e
criado em 1983. reconstruindo sua casa.

686 Teatros do Rio


Laura também se preocupava com os ne- Teatro Laura Alvim. Palco e vista parcial da plateia

cessitados. Era em sua casa que os ambu-


lantes da época guardavam seu material de ao estado através da Funarj. Laura Alvim
trabalho (carrocinhas, barracas etc.) e que teve um final de vida triste. Vivia trancada,
pessoas pobres e doentes conseguiam abrigo não queria que a vissem doente e fez tudo o
e comida. Porém, isso era visto por algumas que pôde para investir em seu sonho, mor-
pessoas como um ato de insanidade mental. rendo em 1984. Dois anos depois, em 12
E essas mesmas pessoas com falsas ações e de maio de 1986, seu sonho era concretiza-
investimentos foram, aos poucos, destruin- do; transformando-se a casa em um polo de
do o patrimônio de Laura Alvim a fim de arte e cultura: Casa de Cultura Laura Alvim,
convencê-la a vender a casa, já que era um Avenida Vieira Souto, n. 176, Ipanema.
ponto nobre. Com 13 anos, a Casa de Cultura Laura Al-
Sua casa, já na época, estava sendo de vim é plena concretização do sonho de sua
muita importância para os novos artistas. idealizadora. Hoje é uma unidade da Funarj,
Era lá que encontravam apoio e lugar para órgão pertencente à Secretaria de Cultura
os ensaios. A princípio não pagavam, porém, e Esporte do Rio de Janeiro, e conta com o
já sem dinheiro, a empregada de Laura pas- patrocínio do Banco Boa Vista.
sou a cobrar uma taxa a fim de garantir a O objetivo da casa é promover a cultura
alimentação. através de atividades que abordem os mais
Os herdeiros da casa abriram mão de seus variados aspectos: do teatro à literatura, do
direitos e Laura, ainda em vida, doou a casa cinema às artes plásticas, da música ao vídeo.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 687


Teatro Casa de Cultura Laura Alvim. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Laura Alvim. Planta baixa, (S.E.)


A casa tem salas para cursos de gravura, e forrados sem lugar marcado (galeria).
desenho, canto, música e computação; um O projeto das cadeiras em couro é de Os-
teatro com 300 lugares com palco italiano, car Niemeyer, utilizando o conceito de rede
concebido por Laura, como, aliás, todo o nordestina.
resto – nichos, recantos, colunas nos mais Ligado ao pátio interno (arcadas) o tea-
diversos estilos; um teatrinho flexível para tro possui câmaras e salas de figurino e con-
70 pessoas, chamado Porão, com cadeiras trarregra é, sem dúvida, uma das maiores
soltas; dois cinemas, e três galerias de arte. atrações da casa, tendo atualmente, sem-
Muitos são os projetos em funcionamento pre espetáculos às noites de 5a, 6a, sábado
nos diversos espaços da Casa de Cultura: nas e domingo para adultos e à tarde nos fins
arcadas, sob as abóbadas do pátio coberto, de semana peças infantis. Durante a semana,
uma programação variada nos fins de tarde à tarde, é usado para aulas com cursos de
– shows de música, dança, teatro, poesias, teatro e nas noites de folga apresenta espe-
mímica, apresentação de mágicos, saltim- táculos de música.
bancos, cômicos, humoristas, performances A primeira peça em cartaz no Teatro Lau-
individuais e coletivas; no Porão, sala infor- ra Alvim foi Kataztrophé – o Teatro de Samuel
mal com cerca de 50 m2, há música, teatro, Beckett hoje, com 27 apresentações e um
lançamento de livros, discos e outros even- público de 2.153 pessoas. Inaugurando o
tos; na sala de vídeo – 40 lugares, equipa- teatro em junho de 1986 e deixando uma
da com telão Sony quatro a cinco sessões pequena história curiosa e cômica: no dia da
diárias, com programação aberta a todas as estreia, durante o espetáculo, uma pessoa
tendências em artes e espetáculos. do público teve que ir ao banheiro. Fato nor-
Existe ainda a Galeria de Arte para expo- mal, se não fosse a péssima ideia de quem
sições, formada por três salões, com uma idealizou o espaço do teatro e resolveu co-
programação privilegiando a produção de locar os banheiros exatamente nos cantos do
arte em papel – desenhos, gravuras, xilo- proscênio do teatro. Ou seja, durante uma
gravuras, aquarelas e fotografias. cena de Maria Alice Vergueira (a cena: Foco
No segundo andar da casa estão insta- somente em sua boca – monólogo) ouviu-se
lados os museus de Laura e Álvaro Alvim, o barulho da descarga do banheiro! Resulta-
ocupando os mesmos espaços em que eles do: desde aquele dia o banheiro perdeu sua
viveram. Estes museus buscam reconstruir função e está há 13 anos fechado.
o universo e a época de cada um destes per- Foi feita uma obra que possibilita a en-
sonagens revolucionários que enriqueceram trada de um deles pela varanda (fecharam a
consideravelmente a ciência, a política e a entrada pela frente do palco) e tiveram que
arte brasileira. colocar uma descarga com menos potência.
O Cinema Clube Laura Alvim I possui 70 E outro continua fechado sendo utilizado
lugares com ar-condicionado e projetor de para depósito. Esse foi um dos problemas
35 mm e o Cinema Clube Laura Alvim II, da estrutura do teatro. Outro é que só ha-
também com ar-condicionado, com 60 lu- via uma passagem para o palco. Depois que
gares. O Teatro Laura Alvim com palco ita- foram abrindo as outras passagens (uma da
liano de 9m de boca de cena por 6,07m de coxia para a varanda e outra da varanda para
profundidade, possui 250 lugares, sendo o corredor que dava na plateia e galeria).
164 lugares em poltronas numeradas (pla- Existem também mais dois problemas: a
teia) e 86 lugares em bancos com encostos acústica da casa e a inclinação de uma das

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 689


paredes laterais do palco, dificultando imen- soas – Os clones, infantojuvenil. Em 1992:
samente o trabalho dos cenógrafos. O veneno de Lucrécia Borgia, direção de Paulo
Durante seus 13 anos várias peças lá se Cesar Coutinho e cenografia de José Dias;
apresentaram, muitas merecem destaque, Confissões de adolescentes, direção de Domin-
entre elas: em 1986: Quartett, de Heiner gos de Oliveira. Em 1994: Acerto de contas,
Muller, direção de Gerald Thomas com Tô- de Sebastian Juniente, direção de Elias An-
nia Carrero e Sérgio Britto, cenários e figu- dreato e cenografia de José Dias. Em 1997:
rinos de Daniela Thomas; em 1987: O ho- Companhia de repertório Tristão e Isolda.
mem que sabia Javanês, de Luis Barreto, com Em 1998: Companhia Atores de Laura (com
o Grupo Tapa e direção de Eduardo Wotzik. adulto e infantil); O julgamento, direção de
O primeiro infantil foi João e Maria, texto e Daniel e Suzana Krieger; Noel – O feitiço da
adaptação de Ana Maria Nunes, direção de Vila; Muito barulho por nada; Omelete direção
Eduardo Wotzik, com o Grupo Tapa; Hamlet de Hamilton Vaz Pereira e iluminação de
Machine, criação e direção de Gerhard Dres- Jorginho de Carvalho.
sel, cenários de Carlos Alberto Nunes e ilu-
minação de Pedro Ascher; Garganta Profunda
(musical) com direção de Marcos Leite. Em Centro Cultural da Light
1988: Teatro Musical Brasileiro – 1914/1945,
direção de Luiz Antonio Martinez Correa; Centro Cultural da Light, inaugurado em
Denise Stoklos in Mary Stuart – este espetá- 1994, Avenida Marechal Floriano, n. 168,
culo é o grande recorde do teatro em 87
apresentações e um público de 15.620 pes- Fachada Centro Cultural Light

Reprodução: Prospecto da Superintendência de Comunicação Social do Centro Cultura Light

690 Teatros do Rio


Reprodução: Prospecto da Superintendência de
Comunicação Social do Centro Cultural Light
Centro, é um polo múltiplo, com 4.000 m2, Teatro Lamartine Babo. Plateia. Centro Cultural Light

situado na tradicional Avenida Marechal Flo-


riano, antiga Rua Larga n. 168, em prédio arte e a cultura, uma viagem no tempo. Os
construído em 1911 para abrigar a então “The balcões-guichês, em mármore e metal no-
Rio de Janeiro Tramway Light and Power bre, foram preservados, com cerca de 500 m2
Company”. Hoje o prédio é tombado pelo de área livre e pé direito de 6 m.
Patrimônio Histórico, e em seu andar tér- A praça coberta de 1.600 m2, é um am-
reo, onde funciona o centro cultural, era uma plo espaço alternativo, onde são apresenta-
grande garagem para bondes. das mostras temporárias, shows de música,
Na década de 1930, a garagem desapa- peças teatrais e espetáculos de dança ao ar
receu para dar lugar a uma agência comer- livre, além de dar acesso aos demais espaços
cial, cujo saguão, todo em mármore, con- do centro cultural, com infraestrutura ne-
servado até hoje, constitui-se no principal cessária para mostras de tela, pôsteres, char-
acesso do público ao centro cultural. A be- ges e esculturas. Uma parte do acervo his-
leza do traçado original do prédio, tanto tórico da Light, como mobiliários da época,
externa quanto internamente, foi criterio- relógios, fotos do Rio antigo (assinadas por
samente respeitada. Malta) e painéis de Di Cavalcanti, estão em
O foyer de acesso, com suas quatro vitri- exposição permanente.
nes que divulgam os eventos, é a porta de Integrando-se ao espaço uma cafeteria
entrada para um encontro com a história, a com linhas arrojadas, que oferece lanches

Capítulo 4 | O s teatrOs dO r iO de J aneirO nO séculO XX 691


Reprodução: Prospecto da Superintendência de
Comunicação Social do Centro Cultural Light
Centro Cultural Light. Planta baixa, (S.E.)

Teatro Centro Cultural da Light. Corte, (S.E.)


rápidos, de onde se pode assistir aos shows sendo no início dos anos 1970, transforma-
programados na praça coberta. do em casa de cômodos e, caindo mais ain-
Em abril de 1994 era inaugurado o Teatro da, virou refúgio de desabrigados e alvo de
Lamartine Babo, no térreo do complexo do mendigos que o invadiram.
Centro Cultural da Light. Uma sala de 196 Posteriormente, o imóvel foi desapro-
lugares, com ar-condicionado, confortáveis priado com o intuito de demoli-lo a fim de
poltronas, com cabine que fica na última dar novo alinhamento à Rua dois de Dezem-
carreira de poltronas da plateia, pequeno bro. Diversos setores da comunidade liga-
palco, sem urdimento, pouca profundidade, dos ao bairro do Flamengo uniram-se para
mas que tem desempenhado importante pa- evitar este crime contra o patrimônio arqui-
pel com sua programação dedicada ao públi- tetônico da cidade.
co infantojuvenil. Em dezembro de 1982 o Castelinho foi
A diretora, Karen Acioly, que ocupou o incorporado ao patrimônio da Prefeitura da
teatro vários anos, vem demonstrando, atra- cidade do Rio de Janeiro, sendo no mesmo
vés de seus espetáculos, a qualidade e nível ano seu tombamento, passando a pertencer
profissional de suas encenações, atingindo à Riotur por decisão do prefeito de então, e
não só crianças, como adultos. Além de es- em junho de 1983 recebia o nome do dra-
petáculos infantis são programados shows maturgo Oduvaldo Vianna Filho.
musicais, geralmente instrumentais, filmes,
seminários, palestras, conferências e tem Centro Cultural
pouca utilização como atividade de teatro Oduvaldo Vianna
Filho. Castelinho do
de adulto, suas atividades são mais voltadas Flamengo
para o público infantojuvenil.

Centro Cultural Oduvaldo


Vianna Filho

O Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho


(Castelinho do Flamengo), situado à Praia
do Flamengo n. 158, Flamengo. Foi proje-
tado em 1916 pelo engenheiro-arquiteto
Francisco dos Santos e construído pelo co-
mendador Joaquim da Silva Cardoso, con-
cluído em 1918, obra do arquiteto italiano
Gino Copede. Um prédio num estilo ecléti-
co, que mistura tendências diversas, in-
clusive o art-noveau. A execução
do projeto coube à Construtora
Silva Cardoso.
Seu proprietário residiu no
Castelinho até 1932, e o imóvel
foi vendido para Avelino Fernan-
des. Chegou a ficar abandonado,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 693


Após longo processo de restauração ini- recebeu crédito especial através do Decreto
ciado em 1983, passou a abrigar em 1990, “E” n. 3864, de 14 de maio de 1970.
o Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, O prédio de três pavimentos de projeto
que foi oficialmente inaugurado em 1992. das arquitetas Riza Conde e Cléia Braga,
Possui a única videoteca pública do mu- tem a infraestrutura necessária para garantir
nicípio, oferecendo à comunidade, em 14 ao carioca um espaço cultural com todo o
cabines individuais, um variado acervo de conforto necessário.
filmes nacionais e estrangeiros, entre docu- A origem do Centro de Artes Calouste
mentários, ficção, musicais etc. Desenvolve Gulbenkian está na introdução do ensino de
regularmente atividades audiovisuais como artesanato nas escolas da rede oficial do Esta-
mostras de videoartistas, exposições foto- do. O Decreto “E” n. 5.130, de 22 de novem-
gráficas sobre pesquisas estéticas e shows de bro 1971, criou o antigo Centro Educacional
música clássica e popular. Calouste Gulbenkian, subordinando-o dire-
Sendo uma construção com fins resi- tamente ao Gabinete do Secretário de Estado
denciais, com pequenos cômodos e es- de Educação.
treitas áreas de circulação, foi reservado Em 1975, com a fusão do Estado Guana-
o último pavimento como espaço cênico. bara com o Estado do Rio de Janeiro, o en-
Porém, tem pouco pé direito, sem palco, tão Centro Educacional ficou vinculado ao
sem condições técnicas para o fazer teatral. Departamento de Educação do 2o Grau, da
Não possui equipamentos e nem recursos Secretaria de Estado de Educação e Cultura.
cênicos a uma encenação, mais simples que O Decreto 157, de 11 de junho de 1975,
seja. Entretanto, lá são apresentadas peças transferiu o Centro Educacional Calous-
infantis, utilizando-se de um pequeno pra- te Gulbenkian para a esfera municipal,
ticável de aproximadamente 30cm de altu- integrando-o à estrutura da Secretaria de
ra, e sua plateia constituída de cadeiras sol- Educação e Cultura do Rio de Janeiro, com
tas para umas 60 pessoas. Em algumas oca- subordinação direta do Diretor do Departa-
siões é utilizado também para cenas com mento Geral de Cultura.
elenco pequeno, e que não requer cenários Com a separação das Secretarias de Edu-
ou um desenho de luz. cação e Cultura, através do Decreto n. 5.649
O Teatro do Castelinho mantém desta de 1 de janeiro de 1986, o Centro Educa-
forma sua atividade com esporádicas repre- cional ficou subordinado ao Departamento
sentações cênicas. Geral de Ação Cultural ligado diretamente à
Secretaria Municipal de Cultura.
Em 1986, com a publicação do decreto n.
Centro Cultural Calouste 6.024, o Centro Educacional passou a de-
Goulbenkian (Teatro nominar-se Centro de Artes Calouste Gul-
Gonzaguinha) benkian (CACG), tendo por finalidade atuar
na área da cultura, servindo-lhe de agente
Situado à Rua Benedito Hipólito n. 125, Pra- de transmissão e renovação, proporcionan-
ça Onze, Centro, o Centro Cultural Calous- do atividades culturais; cursos de atualiza-
te Goulbenkian ganhou o nome português, ção e de aperfeiçoamento; assistência à rede
porque foi construído graças à verba doada escolar através de programação artística, e
pela Fundação Lusitana, que leva o mesmo de serviços técnicos de sua especialidade; e
nome, ao antigo Estado da Guanabara, que oportunidade de orientação e espaço àque-

694 Teatros do Rio


les que desejam realizar experiência artís- registro sindical de ator. Tudo é feito aqui
tica no campo das artes plásticas, das artes dos figurinos ao cenário”.
cênicas e da música. Em outubro do mesmo ano outro texto
Ele abriga o Teatro Calouste Goulbenkian, de Rogério Blat, O futuro era hoje, estreava
oferecendo sala pequena com capacidade com igual sucesso de público, mantendo as-
para 200 espectadores, plateia não confor- sim durante algum tempo a casa como um
tável e um palco reduzido, limitado e sem centro gerador de criatividade na tradicio-
quaisquer recursos cênicos. Tem ar-condi- nal Praça Onze.
cionado e cabine de luz e som. Fechado para Em 1997, a Rio-Urbe (Empresa Muni-
atividades teatrais durante algum tempo, foi cipal de Urbanismo) gerenciou a reforma
reaberto em 2 de abril de 1987, com a peça do teatro, tendo início as obras em primei-
Pelo avesso, de autoria e direção de Márcio ro de dezembro, com ampliação do palco
Augusto, cenografia de Luciano Costa, fi- para dar mais visibilidade para o público.
gurinos de Tetê Caetano, trilha sonora de Foram reformados também os banheiros;
Vicente de Luca, coreografias de Debby cobertura do teatro, com troca das telhas
Gromald e mímica de Patrícia Mansur. No e impermeabilização das calhas. As insta-
elenco: Marcelo Silveira, André Furquim, lações elétricas, hidráulica e do ar-condi-
Cristiane D’Amato, Sallo Tchê, Anemarie cionado foram vistoriadas e foi construída
Anderson, Welington Bibiano e Silvia Gui- uma rampa substituindo a escada nos fun-
marães. A produção de Luzia Mariana con- dos do teatro.
tou com apoio do Serviço Brasileiro de Tea-
tro do Inacen.
Em 9 de dezembro de 1991, o Teatro Ca- Centro Cultural Gama Filho
louste Gulbenkian, passou a chamar-se Tea-
tro Gonzaguinha, em homenagem ao cantor O Centro Cultural Gama Filho é um projeto
e compositor Luis Gonzaga Júnior. idealizado pelo Chanceler da Universidade,
O Teatro Gonzaguinha, com recursos da Dr. Paulo Gama Filho, localizado no Cam-
Secretaria Municipal de Cultura, e apoio pus à Rua Manoel Vitorino, n. 553, prédio
da iniciativa privada, passou a ser um ver- AG – 1o andar, Piedade, que propicia à zona
dadeiro polo irradiador de novas propostas norte do Rio de Janeiro um espaço aberto a
cênicas, a partir de 1996, com a presença apresentação e discussão de diferentes ma-
de Rogério Blat e um grupo de profissionais nifestações artísticas e culturais, e foi inau-
que transformaram o ocioso espaço em uma gurado em setembro de 1995.
atuante casa de espetáculos, com apoio da O centro compreende uma sala de 300 m2
artista plástica Thereza Miranda, diretora do reservada a exposições e o Cine Teatro Dina
Centro desde 1993. Sfat, que teve projetos: cênico de Cristina
Em 22 de junho de 1996 estreava a peça DeLamare, iluminação de Jorginho de Car-
O passado a limpo, de Rogério Blat, com di- valho, e cenotécnica de Pedro Girão, dispõe
reção de Ernesto Piccolo e elenco formado de um palco com aproximadamente 100 m2,
integralmente por alunos que cursaram du- boca de cena de 12 m por 4 m de altura,
rante oito meses as oficinas de teatro, con- profundidade de 8 m, urdimento baixo e
forme conta Ernesto Piccolo a Edmundo porão de 1,38 m. Sua sala de espetáculos
Barreiros, no Jornal do Brasil de 22 de junho tem 244 lugares, com poltronas estofadas,
de 1996: “Alguns alunos conseguiram até o boa visibilidade, ar-condicionado, acústica,

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 695


Teatro Dina Sfat. Planta baixa, (S.E.) do estado sua programação, para ser assisti-
do pelo público em geral, sua estreia deu-se
além de três camarins, cabine de luz e som, no Arpoador.
equipamentos de iluminação e sonorização.
O centro cultural tem uma programação
bem diversificada, com apresentação de Centro Cultural da Justiça
teatro, dança, poesias e cinema. A galeria Federal
de artes é aberta a pintores, fotógrafos, es-
cultores, tecelões etc. No foyer um piano O Centro Cultural da Justiça Federal está
de cauda é usado para recitais e música de localizado à Avenida Rio Branco n. 241, an-
câmara. tiga sede do Supremo Tribunal Federal (foi
Com o propósito de levar à população, tombado provisoriamente em maio de 1988
produções teatrais próprias, e de outras e oficialmente em novembro de 1989).
companhias, Lúcia Coelho cria o “Caminhão Vizinho da Biblioteca Nacional, do Mu­­­
da Cultura”, um autêntico Chevrolet ano seu Nacional de Belas Artes e do Theatro
1939, que apresenta em diversas localidades Municipal, o novo Centro vai trabalhar em

696 Teatros do Rio


Teatro do Palácio da Justiça Federal. À esquerda, a estrutura da boca de cena

Teatro do Palácio da Justiça Federal


parceria com estas instituições e também O prédio estava desabando: os tetos de
abrigar a sede da recém-criada Escola de madeira pintada, tomados de cupins, as
Magistratura Federal Re­­ gional, conforme paredes furadas para colocar aparelhos
José Carlos Barbosa, responsável pela res- de ar-condicionado, as salas divididas
tauração, em depoimento a Anabela Paiva por tabiques.334
publicado no Jornal do Brasil, de 25 de janei-
ro de 1998, o centro seria excelente para Um quinto andar acrescentado ao prédio
realização “de eventos em conjunto”: original foi removido. No primeiro andar
O prédio de quase 6.000 m2, projetado funcionarão, salas de exposições, uma loja,
por Morales de Los Rios, encomendado pelo cafeteria, e um teatro de 180 lugares, no
Prefeito Pereira Passos, tem pisos de azule- local onde era a antiga garagem, projetado
jos hidráulicos, três vitrais (o maior de 6 m por José Dias. Para a execução do projeto
por 4 m), com uma alegoria representando a foram retirados 600 caminhões de terra
justiça, portas esculpidas, pinturas artísticas e que saíram das escavações que estabilizaram
uma escada de ferro, importada da Inglaterra. o lençol freático e criado um subsolo para
O centro é uma iniciativa da Justiça Fe- abrigar camarins, porão do palco, e outras
deral, em convênio com o Instituto Herbert dependências.
Levy e a Caixa Econômica, única patrocina- No segundo andar, a bela sala das sessões
dora da reforma. solenes do Tribunal vai servir para palestras,
O início de sua construção data de 1904. com as pinturas do teto de Amoedo restau-
O prédio foi projetado para ser a sede da radas e o mobiliário antigo reconstruído
Cúria do Rio, e comprado pelo governo com base em plantas do Arquivo Nacional.
para ser a sede do Poder Judiciário, confor- Já as pinturas das paredes estavam dema-
me Milton Mendonça Teixeira: siadamente danificadas, não sendo possível
recuperá-las.
Projetado em 1904 por Adolpho Morales Com três salas destinadas à Justiça Fede-
de Los Rios, como Palácio Cardinalício, ral, o novo centro também vai contar com
mas o Cardeal curiosamente recusou o uma biblioteca especializada em livros de di-
prédio, que passou a abrigar o Supremo reito antigo e processos microfilmados.
Tribunal Federal. Daí o estilo arquitetôni-
co ser intimamente inspirado na Igreja St.
Sulpice de Paris, apesar de, atualmente ser
um prédio público...333

De 1909 até 1960 funcionou como sede


do Supremo Tribunal Federal. Com a trans-
ferência da capital para Brasília, o prédio
foi cedido à Justiça Estadual. Abandonado
desde 1980, quando infestações de cupins
e riscos de desabamento causados pelas
obras do Metrô causaram a sua interdição.
Em 1994, o edifício encontrava-se em
ruí­nas, por pouco não foi destruído, o con-
teúdo cultural do prédio.

698 Teatros do Rio


4. 8. 2. ESPAÇOS CULTURAIS telão, permitindo àqueles de fora da casa,
assistirem às palestras. Esse tipo de evento
teve que ser suspenso em 1996, devido ao
Casa da Gávea seu custo.
Em 1997, a Sala Chiquinho Brandão dei-
A Casa da Gávea, Praça Santos Dumont, xa de ser um espaço com arquibancadas, e é
n. 116, Gávea, instalada em um prédio de transformada numa semiarena com 90 pol-
1922, foi idealizada em 1992 para ser um tronas que pertenciam ao Teatro Ipanema,
espaço de ensaios e de pesquisas de um atual Teatro Rubens Corrêa. E pela primeira
grupo de atores, um centro de convivên- vez neste mesmo ano Paulo Betti e Antonio
cia artística, fruto da união de José Wil­ Grassi, idealizadores da casa, ocupavam o
ker, Paulo Betti, Cristina Pereira, Eliane espaço com o espetáculo O inimigo do povo,
Giardini, Antonio Grassi, Rafael Ponzi, produção dos próprios sócios, que era pro-
Guilherme Abrahão, Vera Fajardo, Marcia posta original do grupo, de não cedê-los a
Dias e Míriam Brum, que se agregaram outras produções.
para resolver de forma mais madura e efi- A Casa da Gávea que se manteve durante
ciente os vários problemas da produção alguns anos como centro gerador de ideias,
cultural. começa no início de 1999 a sofrer o pro-
O sobrado acabou se transformando em blema da crise teatral, conforme palavras da
centro de produção de cultura. A proposta atriz Cristina Pereira:
era pensar na realidade brasileira e seus as-
pectos socioculturais, através da literatura, Na semana passada, concluímos que a úni-
da música e do debate sociopolítico e, so- ca saída para acabar com as dívidas seria
bretudo, a partir do teatro. dividi-la entre nós e fechar a casa.335 [...]
Na programação da casa estavam incluí- Além da obra que acabou com o dinheiro
dos, além de espetáculos, em seu pequeno que tínhamos em caixa, as chuvas destruí-
teatro, que foi batizado de Sala Chiquinho ram parte do nosso acervo, o que nos deu
Brandão, cursos de teatro, seminários, de- mais despesas. Descobrimos que, desde o
bates e produções de vídeo, ampliando seu início, há sete anos, somos ótimos artistas
projeto de TV comunitária, com o “Telão e péssimos produtores e queremos tentar
de Rua”. mudar daqui para frente.
Um dos projetos de fundo social era o
do barracão de cenografia e figurinos, onde A intenção dos sócios Paulo Betti, Rafael
meninos de rua participariam da recicla- Ponzi, Vera Tajardo, Miriam Brum, Cristina
gem de materiais específicos doados pelas Pereira e Guilherme Abrahão é a de inves-
produções, junto a técnicos especializados, tir em projetos que levantem discussão, mas
e que seriam trocados depois, por peças que sejam rentáveis, devendo por algum
novas recicladas por ocasião de montagem tempo servir apenas de sede para cursos,
de um espetáculo. palestras e oficinas.
A Casa da Gávea, por ser um centro de Ficando demonstrado assim como a Casa
convivência artística, promove cursos de te- da Gávea e outros teatros, o ano de 1999,
atro para principiantes e profissionais, além vem sendo impiedoso com a classe artísti-
de seminários abertos sobre temas atuais, ca, confirmando a crise teatral do fim do
sendo transmitidos ao vivo através de um milênio.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 699


Sala Funarte (Sidney Miller e é suficiente para permitir a apresentação de
Cine Teatro Belas Artes) orquestras de até 28 músicos, sendo possí-
vel, em caso de necessidade, a retirada das
A Sala Funarte inaugurada em 26 de maio quatro primeiras filas de poltronas, aumen-
de 1978 é localizada no prédio do Museu tando o espaço para os músicos. Sua lotação
Nacional de Belas Artes, inaugurado em é de 179 lugares na plateia e pode abrigar
1908 e projetado pelo arquiteto Morales até 200 pessoas. A iluminação conta com
de Los Rios e que ocupa o quarteirão com- uma mesa de resistência de 40 KW, um qua-
preendido entre a Avenida Rio Branco e as dro de transferência de 60 refletores.
Ruas Araújo Porto Alegre, México e Hei- A aparelhagem sonora compreende mesa
tor de Melo. e cabine de som Rack Sonestel, microfones
A Funarte (Fundação Nacional de Ar- direcionais, caixas embutidas, gravadores
tes), na época de sua criação em 1976, ins- Akay 4000 Ds, dois amplificadores e um
talou-se no Museu, no espaço antes ocupa- toca-discos marca Philips, para a montagem
do pela Escola de Belas Artes e Faculdade de trilhas sonoras e gravação de conferên-
de Arquitetura. cias. Atrás do palco existem dois camarins
O prédio do Museu é tombado pelo Ins- completos, e sob a cabine de som e luz há
tituto do Patrimônio Histórico e Artístico um depósito de material, bem como as ins-
Nacional e, por esse motivo, a Sala Funarte talações da equipe de coordenação da sala.
foi construída tendo-se o cuidado de pre- A comunicação entre seus diversos se-
servar suas particularidades arquitetônicas. tores é feita por um sistema de interfones,
O projeto de instalação da Sala foi de autoria com aparelhos na cabine, plateia, portaria,
dos arquitetos Marcos Flacksman, Roberto camarins e palco.
Thompson e Carlos Cesar Pini. Para o cinema, foi instalada uma tela Ci-
É a fachada lateral do Museu, voltada clorama e há um projetor Incol 35/16mm e
para a Rua Araújo Porto Alegre. A bilhe- Super 8, além de um projetor de slides. Esse
teria foi construída aproveitando uma das projetor de 35/16mm, que pode operar em
janelas gradeadas do andar térreo, que dá 16 quadros, tem autonomia para duas horas
diretamente para a rua, junto à porta de e vinte minutos de projeção, e possui uma
entrada. janela silenciosa, permitindo a exibição de
A sala, localizada no primeiro pavimen- filmes mudos.
to, resultou da adaptação de sala de aula da O espaço foi criado com o objetivo de dar
Escola de Belas Artes. As modificações in- vazão à produção artística dos setores inter-
troduzidas procuraram não desfigurar as ca- nos da Funarte e oferecer oportunidade a
racterísticas originais do edifício. O teto foi artistas brasileiros que, apesar do valor ar-
rebaixado, oferecendo, assim, maior prote- tístico, encontram dificuldades em mostrar
ção às sancas existentes; as paredes, reves- seus trabalhos.
tidas com madeira, sofreram o mínimo de A programação da sala foi baseada no
alteração, indispensável para a instalação de sucesso do “Seis e meia”, do Teatro João
cabine de som, luz e proteção e, também, Caetano, na Praça Tiradentes, com o “Pro-
dos camarins. jeto Vitrine”, shows de música popular em
Seu palco tem sete metros de boca por que um artista conhecido apresentava um
cinco metros de profundidade e quatro me- artista novo. A sala também é cedida para
tros de altura; não há urdimento. Essa área exibição de filmes super-8, longas e curta

700 Teatros do Rio


Arquivo Cedoc / Funarte
metragens nacionais, além de usada para Sala Sidney Miller – Funarte

debates, cursos e seminários relativos a ati-


vidades artísticas. -se pela iluminação. No elenco: Célia Hele-
A coordenação da sala, na época, era de na, Maria Rita, Irene Portela, Marcus Alvisi,
Érico de Freitas, e foi oficialmente inaugura- Miran, Eliana Estevão, Jair Antonio Alves,
da com a exibição do filme Limite, de Mário Júlio Consentino, Cláudio Savietto, Julio de
Peixoto, responsável por sua produção, ro- Almeida, Edson Aparecido da Silva.
teiro, direção e montagem. O assistente de A antiga sala, que servia de depósito, e que
direção foi Rui Costa; fotografia e câmera de foi equipada com poltronas confortáveis e
Edgar Brazil e o comentário musical foi or- um palco não muito grande, mas viável, e que
ganizado por Brutus Pedreira. Elenco: Olga transformou-se em Sala Funarte, recebeu em
Brenno, Taciana Rei, Raul Schnoor, Brutus julho de 1980, o nome de Sala Funarte Sid-
Pedreira, Carmen Santos, Mário Peixoto. ney Miller, uma homenagem do então Dire-
O primeiro espetáculo teatral musicado, tor Executivo da Funarte, Roberto Parreira,
encenado na sala, estreou no dia 16 de junho ao primeiro administrador da sala, e um de
de 1978, sendo apresentado até o dia 12 de seus principais programadores e idealizado-
agosto do mesmo ano foi Rezas do sol para a res, falecido em 16 de julho de 1980.
missa do vaqueiro Jesus Sertanejo, de Janduhy A sala esteve fechada para reformas por
Filizolla, sob a direção de Renato Borghi. dois anos, sendo reinaugurada em 18 de
A cenografia, figurinos e adereços ficaram a abril de 1995, com um programa que con-
cargo de Elifas Andreato; Irene Portela foi tava com a participação de Turíbio Santos e
a diretora musical; Elias Andreato, assistente João Carlos Assis Brasil, voltando desta for-
de direção e cenografia; Leônidas Lara, ce- ma, com toda a sua força fazendo parte da
notécnico e Gerson Pereira responsabilizou- vida cultural da cidade.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 701


Foi na Sala Funarte Sidney Miller que os teatro; porém num belo prédio, chegando a
independentes e os instrumentistas encon- fazer carreira com o espetáculo Tari – no país
traram abrigo mais constante, como o gru- de Mr. Ludwig, que teve o mérito de lançá-lo.
po Alquimia. Foi com uma temporada na Este novo espaço tratava-se do auditório
sala que Angela RoRô estourou como artis- da Casa Laurinda Santos Lobo. A extrema
ta popular, e foi lá que os cariocas aprende- precariedade do auditório era recompen-
ram a reavaliar a música carnavalesca, atra- sada pela beleza arquitetônica e paisagística
vés de dois ciclos de espetáculos que, entre do espaço, um patrimônio construído em
outras coisas, repuseram Braguinha como 1899, residência de Laurinda Santos Lobo,
assunto de conversa, e revelaram para um que nos anos 20 recebia gente como Villa
novo público a “showperson” Rogéria. Na Lobos,Tarsila do Amaral etc.
sala se encenaram além de Missa do Vaquei- Laurinda faleceu em 1946, deixando a
ro, O Poema Sujo, de Ferreira Gullar, e uma casa à Fundação Hannemaniana, que nunca
versão nova de Maroquinhas Fru-Fru, de Ma- ocupou o imóvel. Em 1979, a Prefeitura fez
ria Clara Machado. a desapropriação, mas conservou-a fechada.
Em 17 de dezembro de 1997 era inaugu- O projeto de recuperação só veio anos
rado o Cine Teatro Belas Artes, ocupando as depois e a cargo dos arquitetos Ernani Frei-
antigas instalações da Sala Sidney Miller, que re e Sonia Lopes. A inauguração da casa, no
passou a funcionar no Palácio Gustavo Ca- Parque das Ruínas, foi em 12 de dezembro
panema, em abril de 1998. Para a cerimô- de 1997, quando a administração ficou sob
nia de estreia do Cine Teatro foi convidado a responsabilidade do Patrimônio Histórico
Turíbio Santos, com um repertório de Fer- e Artístico Nacional (IPHAN), que havia fir-
nando Sor, Albeniz, Bach e Chiquinha Gon- mado um convênio com a Fundação Parques
zaga. Além do concerto de Turíbio, foram e Jardins.
programados outros: Quinteto Villa-Lobos, Mais tarde, a administradora da casa che-
Quadro Cervantes e Líliam Barreto, produ- gou à conclusão de que o lugar tinha mais
zidos pela produtora Neném Krieger. vocação para centro cultural, e por isso de-
A criação do Cine Teatro Belas Artes foi veria ser mantida pela Secretaria Municipal
um projeto defendido por Helena Lustosa, de Cultura em parceria com o Museu da
então Diretora do Museu, que fazia parte de Chácara do Céu, situado ao lado do terreno
seu plano de transformar o Museu Nacional onde a casa está localizada.
de Belas Artes (MNBA) num local de inte- A Secretaria Municipal de Cultura ga-
gração das artes. nhou, em 1998, um aliado na tarefa de pre-
servar o patrimônio histórico e transformou
o espaço em um verdadeiro centro cultural.
Casa Laurinda Santos Lobo A parceria foi firmada com Maria Monteiro
de Carvalho que passou então a administrar
Casa Laurinda Santos Lobo, Parque das o espaço com o apoio de Maurília Castelo
Ruínas, inaugurada em 12 de dezembro de Branco e de Mauro Afonso e Afonso.
1997, à Rua Murtinho Nobre, n. 196, San-
ta Tereza, vem dedicando-se a exposições e É importante dizer que a nova administra-
pequenos eventos culturais. ção não está ligada ao Instituto Marquês de
Na década de 1980 alguns espetáculos fo- Salamanca, coordenado pela família Mon-
ram encenados em um modesto e curioso teiro de Carvalho. Estou entrando como

702 Teatros do Rio


pessoa física, numa parceria com a Secre- redes queimadas e ferros retorcidos, serviu
taria Municipal de Cultura.336 de palco, criando uma atmosfera para ence-
nação.
Com a administração de Maria Montei- Em março de 1995 o espaço foi inaugurado
ro de Carvalho, o Parque das Ruínas teve a com o espetáculo A vida é sonho, de Calderón
possibilidade de ser palco para variadas ma- de La Barca, um espetáculo do grupo Teatro
nifestações artísticas, em sua sala de proje- Canto do Bode, com direção de Vitor Lemos
ção, anfiteatro e galeria de arte, que antes Filho, cenários e adereços de Rostand Albu-
não estavam funcionando por falta de uma querque, figurinos de Kika de Medina, mú-
equipe. sicas e direção musical de Sérgio Zoroastro,
Inaugurando esta nova fase da casa, o pal- e elenco composto de Afonso Celso, André
co foi ocupado pela primeira vez pelo “Mo- de La Cruz, Carla Andrea, Carla Nascimen-
vimento Viva Santa”, com uma programação to, Marco de Aquino, Sérgio Barreto, Sérgio
bem diversificada. A casa mantém eventos Zoroastro e Silvano Monteiro.
infantis nos fins de semana, porém não pos-
sui uma atividade teatral.
Casa França-Brasil

Centro Cultural da CPRM A Casa França-Brasil, localizada na Rua Vis-


conde de Itaboraí, n. 78 começou sua histó-
O prédio do Centro Cultural da CPRM foi ria com a vinda da Missão Artística Francesa
inaugurado em 1994 pela Companhia de e de Grandjean de Montigny, seu arquiteto
Pesquisa de Recursos Minerais, empresa oficial, em 1816, que projetou este prédio,
pública, vinculada ao Ministério de Minas e símbolo neoclássico.
Energia. O Centro Cultural fica numa área O prédio foi inaugurado em 13 de maio
de 3.500 m2, hoje em ruínas, fruto de um de 1820 como a primeira praça de comér-
incêndio ocorrido em 1973. O fogo des- cio do Rio de Janeiro, e quatro anos depois,
truiu três pavimentos, inclusive a biblioteca assumiu a função de Alfândega, permane-
onde se encontrava o mais completo acervo cendo até 1944. Entre 1956 e 1978, a obra
bibliográfico da América Latina em Geo- de Montigny abrigou o II Tribunal do Juri.
ciências, com 165.000 volumes. Com a mudança do Tribunal, o prédio foi
Monumento arquitetônico da Urca foi desativado e sofreu com a modernização.
tombado em 1992 pelo Conselho Munici- Foi tombado em 1938 pelo Departa-
pal de Proteção do Patrimônio Cultural do mento de Patrimônio Histórico e Artístico
Rio de Janeiro, o prédio da Avenida Pasteur Nacional, Iphan. O antropólogo Darcy Ri-
n. 404, construído em 1881, entrou para beiro, então Secretário de Estado de Cul-
a memória da cidade por ter sediado em tura do Rio de Janeiro, através de recursos
1908, a exposição comemorativa do Cente- brasileiros e franceses conseguiu restaurar a
nário da Abertura dos Portos do Brasil ao construção e resgatar as linhas arquitetôni-
Comércio Mundial, e hoje integra o roteiro cas do projeto de Grandjean de Montigny.
turístico cultural da cidade. Toda a década de 1980 foi necessária para
Com tanta tradição, o prédio abriu suas restaurar e criar o Centro Cultural. E em
portas às artes, e mesmo com seu interior 29 de março de 1990 era inaugurada a Casa
ainda com as marcas do incêndio, com pa- França-Brasil, considerado como um dos

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 703


principais espaços culturais do Rio de Janei- originais foram preservadas e recuperadas
ro. Sua estrutura física é composta por um e ganharam a incorporação de uma praça
salão central com 700 m2 de área e salas la- com 1.246 m2 para realização de eventos
terais que comportam as mais diversas ativi- ao ar livre. Ao todo são mais de 5.000 m2
dades artísticas. distribuídos em três pavimentos interliga-
dos pelo elevador original. Suas instalações
compõem sala de vídeo, salas de exposições
Espaço Cultural dos Correios e um teatro com 190 lugares.

O Centro Cultural dos Correios, prédio er-


guido entre 1921 e 1922 para abrigar uma Centro de Artes Helio Oiticica
escola profissionalizante do Lloyd Brasileiro,
localiza-se na Rua Visconde de Itaboraí, n. 20. Centro de Artes Helio Oiticica, está loca-
Em 1992 a Empresa Brasileira de Cor- lizado em um prédio inaugurado em 1872
reios e Telégrafos decidiu transformar um para funcionar como sede de uma academia
dos mais belos edifícios que integram o seu de música, mas não ficou só nisso. Serviu
patrimônio arquitetônico em um Centro de sede para a Escola de Engenharia e para
Cultural, preservando não apenas a história o Instituto de Matemática Pura Aplicada
da instituição mais antiga do país como tam- (IMPA), e há alguns anos apresentava sinais
bém todo o seu conjunto arquitetônico. de abandono. Até que em 30 de setembro
O Centro Cultural dos Correios foi inau- de 1996 foi transformado no Centro, à Rua
gurado em agosto de 1993. Suas instalações Luis de Camões com uma enorme retros-
pectiva do artista composta de 150 obras.
Teatro Centro Cultural dos Correios. Planta baixa, (S.E.) Possui lojinha, livraria, centro de palestras,

704 Teatros do Rio


cafeteria, salas de exposições no térreo e ditório, confortável, mas seu palco não se
primeiro andar. No terceiro andar fica o presta para encenação de peças, não possui
acervo de Oiticica com 1.400 objetos, de- os mínimos recursos, apesar de lá acontece-
senhos, croquis e textos. Um espaço dedi- rem shows. Seus salões para exposição são
cado às artes plásticas. amplos e bem iluminados.

Centro Cultural José Bonifácio Centro Cultural do Instituto


Villa Maurina
O Centro Cultural José Bonifácio, à Rua
Pedro Ernesto n. 80, na Gamboa, que per- Centro Cultural do Instituto Villa Mauri-
tence à Prefeitura da Cidade do Rio de Ja- na foi inaugurado em 1994, à Rua General
neiro, criado em 1983, e tem como objetivo Dionísio, n. 53, Botafogo, dedicando-se ini-
preservar, promover e divulgar a história cialmente às exposições, e que aos poucos
do povo negro no Brasil, através de estu- foi diversificando suas opções culturais.
dos multidisciplinares e de manifestações Funciona em um casarão de 2 andares do
artísticas, é um importante polo dedicado início deste século. Por quatro décadas serviu
à guarda da memória e da documentação de residência para a Condessa Pereira Carnei-
sobre a cultura afro-brasileira, também não ro, diretora-presidente do Jornal do Brasil.
tem teatro, mas mantém uma atividade te- O Instituto pretendia constituir um
atral, utilizando seus espaços físicos como acervo bibliográfico e iconográfico sobre
área de representação. a imprensa brasileira, além de atuar como
um espaço onde as diversas formas de arte
seriam privilegiadas: exposições, concer-
Casa da Leitura tos de câmara, saraus de poesia e lança-
mentos de livros.
Casa da Leitura, à Rua Pereira da Silva, n.
86, Laranjeiras é um reduto voltado exclu-
sivamente para leituras, uma casa em estilo Centro Cultural Euclides
Art Nouveau, construída em 1925. O pré- da Cunha
dio já havia funcionado como salão de bai-
les, abrigou escoteiros, pertenceu à Mari- O Centro Cultural Euclides da Cunha foi
nha, e permaneceu 6 anos abandonado, até inaugurado em 7 de novembro de 1996, no
ser cedido à Fundação Biblioteca Nacional. Cocotá, Ilha do Governador, tendo sido uma
Ganhou um auditório e um salão de chá. iniciativa da Secretaria Municipal de Cultu-
ra. É o primeiro centro cultural da Ilha, e
abriga uma biblioteca, uma galeria de arte,
Espaço Cultural BNDES uma sala de vídeo e um auditório, além de
jardim com brinquedos.
Espaço Cultural BNDES (Banco Nacio- A inauguração foi com a apresentação do
nal de Desenvolvimento), está localizado à grupo musical Garganta Profunda. A pro-
Avenida Chile, n. 100, Centro. O saguão do gramação do Centro compreende exposi-
prédio é um espaço alternativo para os que ções, concertos, espetáculos teatrais, leitu-
trabalham no Centro. Possui um grande au- ra, debates e seminários.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 705


Centro Cultural da Escola as “Casas Casadas”– que foram os primeiros
Alemã Corcovado prédios construídos na cidade – transfor-
mando-as em um centro.
O Centro Cultural da Escola Alemã Corco- Esta atuação deve-se muito à Associação
vado foi inaugurado em 1997, sendo um es- de Moradores e Amigos de Laranjeiras. As
paço especialmente reservado às atividades obras que chegaram a ser iniciadas foram
culturais, com auditório para 300 pessoas, porém paralisadas pela RioUrbe. A primeira
aberto às companhias, grupos para shows, fase consistia em troca imediata dos telha-
seminários, conferências e outros eventos. dos, impermeabilização das calhas, escora-
Entretanto, não levantou voo, ficando como mento da estrutura e substituição das ma-
um centro para os eventos da Escola Alemã. deiras atacadas por cupins. A segunda fase
que estava prevista para o mês de fevereiro
de 1998, seria a recuperação da fachada ori-
Espaço Cultural Professora Dyle ginal, os aposentos interiores e escadas. No
Sylvia de Sá centro se instalaria o centro de documenta-
ção de movimentos populares e de um posto
Espaço Cultural Professora Dyle Sylvia de de acesso à Internet.
Sá, foi inaugurado em 17 de dezembro de Entretanto, as obras estão paralisadas até
1998, localizado à Rua Barão n. 1.180, Pra- hoje.
ça Seca, Jacarepaguá. O espaço ocupa as ins-
talações de uma igreja construída em 1940,
que integrava um colégio religioso; a capela Espaço MEC 488

da Escola Municipal Sobral Pinto.


O nome foi uma homenagem a uma in- Espaço MEC, na Rua da Imprensa n. 16,
centivadora de atividades do gênero no uma sobreloja, do Palácio da Cultura, antigo
bairro. Foi criado pela Secretaria de Cul- prédio do Ministério da Educação. Havia um
tura, com o objetivo de promover ativida- auditório projetado por Oscar Niemeyer,
des voltadas prioritariamente para jovens usado apenas para algumas solenidades. Um
e pessoas da terceira idade, com oficinas palco ladeado por dois imensos painéis de
de teatro, artes plásticas, música e dança; Portinari e 400 lugares.
além de apresentações e concertos musi- A classe teatral fez a então Ministra Es-
cais, com a parceria de escolas e universi- ther de Figueiredo Ferraz, quando de sua
dade da região. visita ao Inacen, de que o auditório do MEC
fosse transformado em casa de espetáculos.
O Secretário de Cultura Marcos Vinícius
Centro Cultural Herbert de Villaça já tinha a intenção de abrir não só o
Souza auditório, mas todo o conjunto arquitetôni-
co da sobreloja.
O Centro Cultural Herbert de Souza, uma Num convênio assinado com a Delegacia
homenagem ao “Betinho”, passou a ocupar do MEC, o Inacen e a Embrafilme, ficou o
o conjunto arquitetônico do século XIX, Inacen encarregado da ocupação e adminis-
na esquina das ruas das Laranjeiras e Xavier tração desse espaço.
Leal, por decisão da Prefeitura do Rio, cujo O Espaço MEC foi inaugurado em 16
projeto era resgatar em novembro de 1997, de março de 1983 com a peça A ópera dos

706 Teatros do Rio


três vinténs, de Bertold Brecht, dirigida por Entretanto, uma matéria do Jornal do Bra-
Luis Mendonça. sil, Caderno B, de 26 de fevereiro de 1987,
O prédio do MEC é tombado pelo Pa- deixava a classe teatral perplexa, com o de-
trimônio Histórico Nacional, e assim não é poimento do ator e diretor Antonio Pedro,
permitido se colocar nada em suas paredes. então secretário de cultura do município.
O iluminador Jorginho de Carvalho foi o Em resposta, foi publicada na seção de leito-
responsável pela montagem do sistema de res, uma carta de Noilton Nunes, diretor de
iluminação da sala, e para isso instalou tor- cinema, que transcrevo:
res móveis ao lado da plateia, onde foram
instalados 60 refletores e uma mesa de luz. O sonho do Armazém Cultural não aca-
O palco, embora baixo, foi ampliado, mas bou... temos a informar que o Sr. Antonio
continuou sem recursos técnicos, e foram Pedro, secretário de cultura do município,
criados dois camarins. Durante o período quando afirma que o sonho do Armazém
em que esteve sob a administração do Inacen Cultural já era, está cometendo um ato de
abrigou o espetáculo Fausto, de Goethe, com cegueira artística e cultural, inadimissível
direção de Paulo Afonso de Lima. Natural- para o cargo que ocupa. O Armazém Cul-
mente, através de editais de ocupação, a sala tural é uma necessidade vital para a arte e
foi sendo utilizada, e a terceira produção a a cultura carioca com irradiações por todo
se apresentar foi Amor, de Oduvaldo Vianna, Brasil e até mesmo para o exterior. No
com direção de Marco Antonio Palmeira. momento existe um movimento do qual
Em 1984, o Espaço MEC, foi fechado fazem parte os sindicatos da indústria ci-
para reformas, não mais retomando suas ati- nematográfica e dos artistas e técnicos da
vidades teatrais. Associação Brasileira de Cinema Cultural
e a própria Embrafilme, interessados na
ocupação do Armazém. Aguarda-se apenas
Espaço Cultural Francisco a posse do novo secretário de cultura do
Alves Estado, Eduardo Portela, e a posse do novo
presidente da Companhia Docas do Rio de
O Espaço Cultural Francisco Alves, à Rua Janeiro para uma articulação orquestrada
Farme de Amoedo n. 57, Ipanema, mais co- pelo próprio Ziraldo, um dos que acredita
nhecido como Teatro do Brizolão foi inau- que o sonho está apenas começando para
gurado com o espetáculo O Sr. Puntila e seu que o Armazém possa reabrir suas portas
criado Matti, em março de 1987, mas teve com todas as condições de transformar
vida curtíssima em virtude de sua localiza- num dos mais importantes centros cultu-
ção e condições técnicas. rais do Brasil 337

Em 23 de junho de 1987, o Governador


Armazém Cultural Moreira Franco e o Ministro dos Trans-
portes, José Reinaldo Tavares, assinavam
O sonho em 1986 de transformar o velho no Palácio Guanabara, um convênio pelo
armazém “A” do cais do porto em Armazém qual o Ministério dos Transportes cedia ao
Cultural foi uma iniciativa de Ziraldo Alves Estado o Armazém “A” do Cais do Porto.
Pinto, o cartunista Ziraldo, que ocupava na Participaram do ato o Secretário de Cultu-
época o cargo de presidente da Funarte. ra, Eduardo Portela, o presidente da Por-

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 707


tobrás, Carlos Theófilo e o presidente da O urbanista Jaime Lerner, outro nome
Companhia Docas do Rio de Janeiro, Mar- importante do projeto não se conformava
cio Macedo. ver em ociosidade, cerca de vinte enormes
O velho armazém passou a chamar-se galpões que serviam ao porto na época de
Armazém Cultural, ficando sob a coor- grande movimentação de navios transatlân-
denação de Ziraldo Alves Pinto, com o ticos, conforme ele mesmo comenta:
projeto de transformá-lo em espaço cul-
tural, com ofi­ci­nas de teatro e música; dez São mais de vinte, com áreas que vão de
estúdios para gravação e fotografia; salas 3.600 metros quadrados a 20 mil, com
de ensaios pa­­­ra or­questras, ateliês, salões dez metros de pé direito. A trabalhada
de exposições e au­ditórios para debates e estrutura de ferro fundido, no estilo da
conferências. arquitetura francesa do começo do sé-
Em 28 de janeiro de 1988 era assinado culo, jamais foi alterada por qualquer
um termo de compromisso entre o Se­ reforma desde a inauguração do porto,
cretário Estadual de Cultura, Eduardo em 1910. 339
Por­tela e o presidente da Empresa Rio
Par­­­ticipações, Paulo Protásio, onde fo- Tanto o Centro de Comércio Exterior
ram estabelecidas as bases de cooperação como a Secretaria de Cultura estavam in-
para as reformas do local, na intenção de teressados na recuperação do Armazém
transformá-lo em centro cultural, com ocioso de seis mil metros quadrados e da
es­­critórios de produção, um teatro e um periferia urbana. Entretanto, necessita-
restaurante no Armazém “A”. Idealizado va também de um complexo projeto de
pelo cartunista Ziraldo, o Armazém Cul- reurbanização da zona do cais do porto.
tural, se estabeleceria junto ao Centro de Mas o primeiro passo já havia sido dado;
Comércio Exterior, que também ocupa- conseguir o apoio financeiro para o gran-
ria dois armazéns do porto, com o objeti- dioso projeto seria o segundo.
vo de revitalizar o cais. As obras do Armazém Cultural estavam
Embora o termo assinado não tivesse previstas para serem concluídas em dois
estabelecido qualquer ajuda financeira da anos e não aconteceram.
Associação Comercial para as obras de re-
modelação do Armazém “A”, o apoio dos
empresários ao projeto já era assegurado, Espaço Margarida Rey
conforme palavras de Eduardo Portela: “-
Estamos todos igualmente interessados na A Casa de Cultura Margarida Rey, batizada
recuperação daquela área.” 338 de Espaço Margarida Rey, em homenagem
À solenidade de assinatura do termo de à atriz falecida em 1983, foi inaugurado em
compromisso, compareceram o Governa- 15 de maio de 1998, à Travessa Cristiano La-
dor Moreira Franco; o Ministro dos Trans- corte, Copacabana.
portes, Reinaldo Tavares; o Secretário da O teatro com 120 lugares está disponí-
Indústria e Comércio,Vitório Cabral; o pre- vel para apresentações teatrais, musicais,
sidente da Associação Comercial do Rio de debates, work­­shops, exposições de artes
Janeiro, Amaury Temporal; e a Coordenado- plásticas, apre­­­­sentações de vídeo e cinema.
ra do projeto, Helena Severo, Assessora da A iniciativa foi de Maria Teresa Amaral e
Secretaria de Cultura. Ignez Soares Pinto, um sonho antigo, que

708 Teatros do Rio


fez com que transformassem a casa n. 45, 4.8.3. A DUPLA FUNÇÃO DOS
da travessa abandonada durante dez anos,
MUSEUS
em um Centro Cultural, que apresentasse
alternativas de espaço para o teatro.
O palco que a casa ganhou foi construí­
do com praticáveis modulados, que possibi- Antes de surgir a denominação Centro
litam a criação de várias disposições, con- Cul­tural, eram os museus os responsáveis
forme a necessidade da cena, podendo ser pela aglomeração cultural das cidades. A
italiano, arena etc. Dispõe de poucos refle- diferença entre o centro cultural e o museu
tores, equipamento de luz e som. está basicamente nos acervos, que apenas
A inauguração do espaço alternativo foi os museus possuem. Os centros culturais
com o espetáculo Involuntários da Pátria, es- dependem dos materiais que são cedidos
crito e dirigido por Maria Teresa Amaral. para uma exposição. Alguns museus se as-
É uma casa que não mantém uma ativida- semelham aos centros culturais e criaram
de teatral permanente. um novo impulso na vida cultural da ci-
dade, desenvolvendo dupla função, ofere-
cendo, além dos acervos, salas para outras
Via Arte 22 atividades, criando espaços com programa-
ções e serviços, transformando o que era
Em junho de 1996 era inaugurado o Via Arte apenas acervo histórico ou um espaço para
22, um espaço cultural, na Avenida Nossa exposições, em lugar atraente para quem
Senhora de Fátima n. 22, no Riachuelo com gosta de cinema, teatro, música, fotogra-
concerto do pianista João Carlos Assis Brasil. fia etc.; com a intenção de promover além
Um centro com teatro para 300 pessoas, qua- da visitação aos seus acervos, um atendi-
tro salas de música, três salões para ensaios, mento, com atividades culturais, ajudando
uma sala de vídeo e um estúdio de som. a formação de público, cumprindo assim
A programação do centro contou com dupla função.
apresentações de música ao vivo, cursos de
teatro e workshops, porém não se concreti-
zou como uma casa de espetáculos. Museu da República

O Museu da República desde que foi cons-


Outros Espaços Culturais truído em 1867, o Palácio do Catete, onde
está localizado o museu desde 1960, teve
Além do Espaço Cultural Sérgio Porto, já várias atividades até virar a residência ofi-
analisado na seção 4.6.5. existem outros es- cial de 18 presidentes da República. Aber-
paços culturais como: Capemi, localizado à to a visitação em 1989, o museu oferece
Rua São Clemente n. 38, em Botafogo; Fi- várias atrações culturais: sala de exposição,
nep, na Praia do Flamengo n. 200; e Fesp, biblioteca infantil, sala de pesquisa equipa-
à Avenida Carlos Peixoto n. 54, Botafogo; da com computadores, uma sala de multi-
porém todos tem uma programação voltada mídia, um teatro, o cinema Estação, uma
para artes plásticas e música, não atendendo cafeteria e uma livraria, além do restauran-
as necessidades básicas, como espaços dedi- te Museum e de um jardim de 24.000 m2
cados as atividades teatrais. onde acontecem serestas.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 709


Helena Severo, como Diretora, desen- tipo manual, com 2.597 linhas, atendendo
volveu nos anos em que esteve à frente da ao ritmo do progresso da cidade do Rio
instituição, um projeto de ação continua- de Janeiro no início do século.
da, que não se fragmentou em espetáculos Em 1930, com a automatização dos servi-
avulsos, e que veio a alargar para a cidade, ços, a Estação Beira-Mar passou a funcionar
depois como Secretária de Cultura, com o como escritório da rede externa.
projeto de ocupação dos teatros por direto- Em 1981, a antiga Beira-Mar é transfor-
res conceituados, criando a Rede Municipal mada em Museu, contando em seu acervo
de Teatros. a trajetória das telecomunicações no Brasil,
A cultura é tão importante quanto as tornando-se um centro de referência na área
obras que são realizadas na cidade, e os go- das comunicações, consolidando-se como
vernos deveriam manter, e dar continuida- um espaço da comunidade através das suas
de aos projetos, ampliando e modernizando galerias, e programação cultural.
seus serviços. No início do ano de 1994 o prédio sofreu
reformas, sendo redimensionado seu espa-
Antigamente os museus eram considera- ço físico, em função de seu acervo, de seu
dos depósitos de velharias. Hoje é dife- público e da programação cultural que en-
rente. A cultura é um processo dinâmico volvia diversas áreas: teatro, música, vídeo,
e os novos e antigos espaços estão perce- artes visuais e exposição permanente. Neste
bendo isso.340 mesmo ano é improvisado um espaço para
atividades teatrais que, apesar de ser peque-
no e precário, recebia muitas solicitações,
Museu de Arte Moderna além de uma boa frequência de público.
Possui uma sala no terceiro andar adap-
O Museu de Arte Moderna, na Avenida In- tada confortavelmente para um pequeno
fante Dom Henrique, n. 85, Aterro do Fla- teatro: Teatro Beira-Mar, que nos dias úteis
mengo, foi criado em 1948, mas só ganhou funciona também como sala de vídeo, e nos
o endereço atual dez anos depois. Ocupa um fins de semana apresenta peças teatrais. No
espaço de 40 mil m2. O carro-chefe são as segundo andar há exposição permanente da
exposições. Tinha uma cinemateca, uma das história do telefone.
maiores da América, com mais de 12 mil fil-
mes, muitos deles raros.

Museu do Telefone

O Museu do Telephone, à Rua Dois de De-


zembro, n. 63, Flamengo, funciona desde
1981, mas a vida como centro cultural
foi iniciada na década de 1990. O prédio
onde se localiza o Museu do Telephone
é um marco na história da telefonia no
Brasil, pois nele, em 1918, foi instalada a
Teatro Beira Mar (Museu do Telefone). Palco e vista parcial
Estação Beira-Mar, uma das primeiras do da plateia

710 Teatros do Rio


Depois da reforma, em 1997, o teatrinho instalações da Sala Sidney Miller, que passou
deixa de ser improvisado, e é construído, a funcionar no Palácio Gustavo Capanema,
um outro com pequeno palco, um camarim, em abril de 1998, com capacidade para 180
sem possibilidades técnicas, uma precária pessoas, oferecendo recitais somente uma
cabine de luz e som, uma plateia com decli- vez por semana, sempre às 12:30h. A pro-
ve para aproximadamente 80 pessoas, com posta era de dar uma nova opção de entre-
poltronas confortáveis e ar-condicionado, tenimento na hora do almoço para quem
recebendo o nome de Teatro Beira-Mar. trabalha no Centro, além de sistematizar a
Apesar das condições, é uma sala com ativi- integração entre diferentes manifestações
dades teatrais frequentes. Sempre espetácu- artísticas.
los de poucos elementos cênicos, geralmen- Comparando-se o número de museus
te adereços, e que tem tido também boa existentes no município do Rio de Janeiro,
aceitação para música instrumental, além de que são da ordem de 79, com os que amplia-
seu uso para sala de vídeo. ram suas dependências e criaram espaços
com programações e atividades culturais, é
uma relação muito baixa. Deveriam seguir
Chácara do Céu o exemplo dos que já comprovaram que a
dupla função dá certo, caso contrário con-
A Chácara do Céu, Rua Murtinho Nobre, tinuarão como instituições desconhecidas
n. 93, Santa Teresa. Antiga residência de até dos próprios cariocas, como é o caso do
Raymundo Ottoni de Castro Maya, o mu- Antonio Lago (de farmácia); do de Gemo-
seu localizado numa área de 25 mil m2 foi logia (de pedras preciosas); do Carpológico
aberto ao público em 1972, quatro anos (de frutos) no Jardim Botânico. E o que não
após a morte de Castro Maya. A casa, de falta é a curiosidade: o coração de Santos
1957, tem um vasto acervo de obras, e Dumont, por exemplo, está embalsamado
abriga exposições, lançamento de livros e no Museu Aeroespacial, em Santa Cruz; em
concertos ao ar livre. A sala de vídeo tem Campo Grande fica o único hangar de zepe-
capacidade para 20 pessoas e foi inaugura- lin do mundo; e a Fortaleza da Conceição,
da em 1994. no Centro, está a masmorra onde ficou To-
más Antonio Gonzaga, e muitos outros.
Estes espaços não podem apenas conser-
Museu Nacional de Belas-Artes var um acervo histórico, devem criar me-
canismos promovendo além da visitação,
O Museu Nacional de Belas-Artes, inau- atividades culturais, ampliando desta forma
gurou em 17 de dezembro de 1997 o Ci- seus serviços e transformando-os em cen-
neteatro Belas-Artes, ocupando as antigas tros culturais.

Capítulo 4 | O s teatros do R io de J aneiro no século XX 711


Notas

1 23
(Revista da Sbat, 1951, p. 4). (França, Correio da Manhã, 3/6/1973). Municipal fica muti-
2 lado seu museu.
Entrevista de Daniel Rocha a José Maurício. (Revista Teatro
24
Ilustrado, 8/1959). (A., Revista da Sbat, 1959).
3 25
Entrevista de Walter Pinto a José Maurício. (Ibidem). (Corseuil, Correio da Manhã, 13/11/1960).
4 26
(Ibidem). (O Globo, 15/4/1971).
5 27
(Revista de Teatro da Sbat, 1959, p. 06). (Machado, Jornal do Brasil, 19/8/1974).
6 28
(Machado, Diário de Notícias, 13/11/1966). (Diário de Notícias, 20/5/1974).
7 29
(Revista de Teatro da Sbat, 1956, p.02). Barcelos, Carlos Lafayett. Engenheiro Diretor do Departa-
8 mento Técnico da Fundação de Teatros do Rio de Janeiro e
Jornal do Commercio, 18 /9/1907).
encarregado de elaborar o planejamento e o plano diretor
9
(Nunes, 1956, p. 68, 76). das obras de reforma do Teatro Municipal. (Revista Artefato,
10 1978, p. 10- 11).
(Ibidem).
30
11 Criado em 1932 pelo saudoso Pedro Ernesto por iniciati-
(Ibidem).
va do Touring Clube e seu benemérito Presidente Otávio
12
(Silva, 1938, p. 106). Guinle, este baile tornou-se, desde logo, o ponto alto do
13 carnaval do Rio e constitui, já agora, tradição arraigada
(Nepomuceno, Revista Refletor, 6/1983).
dessa festa tão brasileira e tão particularmente carioca’.
14
(Anuário da Casa dos Artistas, 1981). Palavras do Governador Negrão de Lima no programa ofi-
15
Inaugurado no dia 25 de maio de 1910, o Cinema Pátria, cial do Baile de Gala do Carnaval no Theatro Municipal de
na Rua São Luiz Gonzaga, 220, na Cancela, bairro de São 25/2/1968.
Cristóvão, foi considerado uma das salas de projeções 31
(Daddario, O Globo, 5/7/1984).
mais elegantes do bairro, na época. Em 17 de agosto de 32
(Rangel, Jornal do Brasil, 4/9/1977, p. 7).
1932, o Cine Pátria foi fechado para reformas e reaberto
em maio de 1933, quando mudou de nome, passando a 33
Entrevista de Joãozinho Trinta a Maria Lúcia Rangel. (Jornal
se chamar Cinema São Cristóvão. Infelizmente, no dia 31 do Brasil, 4/9/1977, p.8).
de dezembro de 1954, tinhamos o fechamento do tradi- 34
(Revista O Cruzeiro, 7/1/1978).
cional Cinema São Cristóvão. Anos depois, em meados
35
dos anos 60, foi transformado em um pequeno super- (Ibidem).
mercado. 36
Entrevista de Geraldo Mateus à Maribel Portinari. (O Globo,
16 (Nunes, op.cit., p. 3). 24/9/1975).
17 37
(Nunes, op.cit., p. 39, 44). (Silva, Jornal do Brasil 12/3/1978).
18 38
(Boletim da Sbat, 1954, p.2-4). (Jornal do Brasil, 10/1/1979).
19 39
publicada em O Globo, na crônica diária “O show da cida- (Achcar, O Globo, 16/6/1984). Matéria de Heloisa Dadda-
de” Pongetti, Henrique. (Revista de Teatro Sbat, 1956, p.10). rio.
20 40
(Xexéo, 1989,p.6). (memória, Jornal do Brasil, 24/5/1984).
21 41
Diário da Noite – RJ – 20/7/1959 – Suplemento. Orgão dos Eduardo Oberg, Ex-assessor da Secretaria Estadual de Jus-
Diários Associados. Reportagem – Documentário de Brício tiça e autor de uma tese de mestrado sobre o Poder Legis-
de Abreu. Artigo: “50° Aniversário do Theatro Municipal”. lativo, O Globo, 9/12/1985, Isa Pessoa.
22 42
(Ilustração Brasileira, 1909, p.68). (Gonzaga, Jornal do Commércio, 18/12/1985).
43 81
Entrevista de Carlos Lafayette Barcelos, diretor de Enge- (Jornal do Commercio, 22/5/1970).
nharia da Funarj à Heloisa Daddaro. (O Globo, 15/1/1986). 82
Documento que se encontra arquivado no Setor de Docu-
44
(Barcelos, O Globo, 15/1/1986). mentação do CENACEN/INACEN.
45 83
(Oberg, O Globo, 15/1/1986). (A Notícia, 12/9/1975); (Diário de Notícias, 1975).
46 84
(Última Hora, 12/11/1986). (O Dia, 12/9/1975).
47 85
(Góes, Jornal do Commércio, 3/12/1986). (O Globo, 13 de setembro de 1975).
48 86
(BRAGA, Jornal do Brasil, 27/1/1987). (O Globo, 13/9/1975).
49 87
(Tribuna da Imprensa, 21/3/1987) (O Globo, 13/9/1975).
50 88
(Guimarães, Tribuna da Imprensa, 27/4/1987). (Última Hora, 15/9/1975).
51 89
(Barbosa, O Globo, 27/11/1987). (Jornal do Brasil, 29/10/1975).
52 90
Mattos, O Globo, 31/1/1989). (Jota Efegê, O Globo, 14/11/1975).
53 91
(Beaurepaire, O Globo, 30/4/1995). (Revista Nacional, 11/2/1979).
54 92
(Jornal do Brasil, 3/8/1965). (Luta Democrática, 23/7/1980).
55 93
(O dia, 1/8/1965). (Correio da Manhã, 4/12/1935).
56 94
(O Jornal, 19 de maio de 1965). (A Notícia, 7/5/1941).
57 95
(Correio da Manhã, 10/7/1957). (Rio de Janeiro, 24/12/1948).
58 96
(O Globo, 5 de abril de 1972). (Jornal do Commércio, 5/12/1935).
59 97
(Revista Canta, 10/1964). (Nunes, p. 121).
60 98
(Medina, O Globo, 26/3/1965). (Correio da Manhã, 5/12/1930).
61 99
(O Jornal, 31/7/1965). (Jornal do Commercio, 6/12/1935).
62 100
(Van Jafa, Correio da Manhã, 25/4/1965) (Jornal do Commercio, 6/12/1935).
63 101
(Medina, O Globo, 5/5/1966). idem
64 102
(Pires, Gazeta de Notícias, 28/11/1967). (Correio da Manhã, 7/12/1935).
65 103
(Lopes, Revista Guanabara, 1968). (Correio da Manhã, 7/12/1935).
66 104
(Jornal do Brasil, 30/6/1968). (Nunes, op.cit., 131).
67 105
(O Globo, 23/7/1971). (Correio da Manhã, 17/3/1936, p. 12).
68 106
(O Globo, 11/9/1971). (Diário de Notícias, 12/3/1941).
69 107
(Nonato, Correio da Manhã, 8/7/1971). (Diário de Notícias, 23/3/1941).
70 108
Discurso de Paulo de Magalhães em 27/9/1964 na Sbat. (Folha de S. Paulo, 05 de abril de 1977).
71 109
(Anuário da Casa dos Artistas, 1949). (Duarte, s.d., p. 31,67).
72 110
(Nunes,1956, p. 14). (Ludo, 30/6/1946).
73 111
(Revista da Semana, 12/6/1926). (Revista Comoedia, 20/30 junho de 1946).
74 112
(Augusto Maurício, s/d., p.125). (Ibidem).
75 113
(Ibidem). (Ibidem).
76 114
(Nunes, 1956, p. 74, 144). (Revista Comoedia, 7/1946).
77 115
(Jornal do Brasil, 23/3/1934). (Cardim, Jornal do Commercio, 13/7/1956).
78 116
(Nunes, 1956, p.107-8). (Jornal do Brasil, 1/6/1982).
79 117
(Correio da Manhã, 21/5/1970). (Folha de S. Paulo, 6/4/1977).
80 118
(Correio da Manhã, 21/5/1970). (Jornal do Brasil, 27 de setembro de 1977).
119 156
(A Notícia, 07 de outubro de 1977). (Schild, Jornal do Brasil, 7/12/ 1978).
120 157
(Jornal do Brasil, 1/6/1982). (Jornal do Brasil, 7/12/1978).
121 158
(O Globo, 14/6/1983). (Jornal do Brasil, 22/1/1984).
122 159
(Nunes, Jornal do Brasil, 4/11/1957). O Conjunto Cultural da Caixa Econômica Federal foi
123 inaugurado em Brasília, em 12/8/1980, sendo implanta-
(Dória, O Globo, 10/11/1957).
das posteriormente representações em outras regiões
124
(Jornal do Brasil, 17/11/1984). do país.
125 160
(Magalhães Júnior, 1946, p. 216). Correio da Manhã s/d, republicado no Boletim Sbat, 282,
126 nov/dez, 1954.
(Correio da Manhã, 12/3/1941; 16/3/1941).
161
127 (Revista Para Todos, 10 de janeiro de 1925).
(O Jornal, 11/9/1966).
162
128 (A Noite, 17/4/1941).
(O Jornal, 11/10/1966).
163
129 (Revista Dionysos, 1949, p. 150-151).
(Krieger, Jornal do Brasil, 25/8/1966).
164
130 (Revista Teatro Ilustrado, 1959).
(Ayer, Última Hora, 12/2/1987).
165
131 (Jornal do Brasil, 23/5/1959).
(O Globo, 3/11/1985).
166
132 (Jornal do Brasil, 23/5/1959).
Consul André Cira, Boletim do Inacen. MEC, Assessoria de
167
Comunicação Social do Inacen, 14/1/1987. (Revista Teatro Ilustrado, 1959).
133 168
(O Globo, 25/2/1988). (Dionysos, 1949, p. 151).
134 169
(Zózimo, O Globo, 27/4/1997). (Correio da Manhã, 15/10/1964).
135 170
(O Globo, 11/3/1999). (Machado, Diário de Notícias, 22/9/1968).
136 171
(Revista da Sbat, 1960). (Correio da Manhã, 15/10/1964).
137 172
(Augusto Maurício, Jornal do Brasil, 25/1/1958). (Correio da Manhã, 28/9/1969).
138 173
(Calvet, Revista Dionysos, 1961, p.72-73). (Jornal A Noite, 6/11/1953).
139 174
(Alencar, Jornal A Notícia, 23/12/1960). (Macksen, Jornal do Brasil, 17/4/1982).
140 175
(Oscar, Diário de Notícias, 5/1/1964). (O Globo, 2/2/1988).
141 176
(Michalski, Jornal do Brasil, 30/3/1973). (Jornal do Brasil, 29/7/1997).
142 177
Esta portaria foi publicada no Diário Oficial de 6/1/1979, (Ricardo Boechat, O Globo, 30/8/1998).
p.560. 178
(Ibidem, 15/9/1998).
143
(Tribuna da Imprensa, 2/1/1979). 179
(O Globo, 4/9/1998).
144
Sidney Miler a Cleusa Maria (Jornal do Brasil, 12/5/1977). 180
(Priscila Guilayn, O Globo, 8/10/1998).
145
Dina Staf a Cleusa Maria. (Jornal do Brasil, 12/5/1977). 181
(Tumscitz, O Globo, 17/6/1970).
146
(Ibidem). 182
(Hungria, Jornal do Brasil, 28/12/1973).
147
(Voz de Portugal, 16/5/1965). 183
(Lopes, O Globo, 10/9/1982).
148
(Diário Carioca, 12/9/1965). 184
Marco Nanini a E.G (Jornal do Brasil, 18/10/1998).
149
(Diário de notícias, 4/11/1967). 185
(Jornal do Brasil, 18/8/1956).
150
(Anuário da Casa dos Artístas, 1978, p. 21). 186
(Tribuna da Imprensa, 24/05/1966).
151
(Livreto do BNH, p. 2). 187
Maria Fernanda a Linda Monteiro (Última Hora, 22/2/1989).
152
(Ibidem, p.7). 188
(Freire Filho, Teatrarte, 1990).
153
(Ibidem p. 7). 189
(Dias, idem).
154
(Ibidem p. 4). 190
Aderbal Freire Filho a Adriana Ferreira e Teresa Cristina Pi-
155
O Globo, 31/10/1975). menta (O Globo, 5/11/1990).
191 226
Gláucio Gill a Rachel de Queiroz, (O Jornal, 15/4/1961). (Jornal do Brasil, 3/4/1989).
192 227
(O Globo, 8/6/1977). (O Globo, 16/4/1989).
193 228
(Ibidem). Garcia, Clóvis. SNT. MEC. Parecer n. 01/1961.
194 229
Proprietário do Teatro (O Jornal, 3/9/1966). Documento da Empresa Teatro Miami ao diretor do SNT,
195 datado de 14/5/1963.
Pernambuco de Oliveira a Van Jafa (Revista de Teatro da
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Listagem dos teatros do Rio de Janeiro
Século XVIII ao Século XX

SÉCULO XVIII
Inauguração Teatro Encerramento

1767 Casa da Ópera do Padre Ventura 1769


Outros nomes:
Ópera dos Vivos
Casa da Ópera Velha
Casa do Padre Ventura

1776 Teatro de Manuel Luiz 1813


Outros nomes:
Ópera Nova
Nova Casa da Ópera
Nova Ópera
Casa da Ópera de Manuel Luiz

SÉCULO XIX
Inauguração Teatro Encerramento

12/10/1813 Real Teatro de São João


Outros nomes:
Theatrinho Constitucional 01/12/1824 a 1826
Imperial Teatro de São Pedro de Alcântara 15/09/1826 a 1831
Teatro Constitucional Fluminense 03/05/1831 a 09/06/1838
Teatro São Pedro de Alcântara 27/05/1839 a 1923
Teatro João Caetano 24/08/1923

1823 Teatro João Daniel French (Campos)

1823 Teatro de Luis de Souza Dias 20/09/1824


Outro nome:
Teatro do Plácido 23/01/1823

1824 Teatro do Porphyrio (Teatro da


Rua do Lavradio)

1826 Teatrinho da Rua dos Arcos 1834

1827 Teatro de Itaborahy (São João de Itaborahy) 1974


Outros nomes:
Teatro João Caetano (em 1863 já era este nome)

720 Teatros do Rio


Teatro Municipal João Caetano (1984 a 1988 é
reconstruído)

09/06/1828 Teatrinho do Largo de São Domingos

1832 Teatro São Francisco de Paula 1884


Outros nomes:
Teatro São Francisco – 19/09/1846
Teatro Gymnasio Dramatico – 12/04/1855

1833 Teatro da Vila de São Salvador de Goitacazes (Campos)

1833 Teatro Campista (Campos) 1841


Outro nome:
Teatro Feliz Experança – 1841

02/08/1834 Teatro da Praia Dom Manuel 1868


Outros nomes:
Teatro São Januário – 19/09/1938
Atheneu Dramatico – 23/05/1862
Teatro São Januário – 1863

1834 Teatro São Pedro

1834 Teatro do Valongo 1843

25/12/1842 Teatro Santa Teresa (Ex-Sociedade Filodramática


de Niterói, de 1827)
Outro nome:
Teatro Municipal João Caetano – 14/07/1904

07/09/1845 Teatro São Salvador (Campos) 1921

09/05/1847 Teatro Tivoly


Outros nomes:
Café-dançante do Pavilhão Paraizo – 25/02/1858
Teatro Pavilhão Fluminense 1868

02/1852 Teatro Provisório 1875


Outros nomes:
Teatro Lyrico Provisório – 25/03/1852
Teatro Lyrico Fluminense – 19/05/1854

1854/1857 Circo Olympico


Outros nomes:
Teatro Pedro II (no terreno do Circo Olympico) –
20/06/1871
Teatro Imperial D. Pedro II – 03/09/1875
Teatro Lyrico – 25/04/1890 1934

1858 Café-cantante Salão Paraízo

Listagem dos teatros 721


Outro nome:
Folias Parisienses

17/02/1859 Alcazar Lyrique 1880


Outros nomes:
Théâtre Lyrique Français
Teatro Francez
Teatro Alcazar Lyrico Fluminense
Alcazar Fluminense
Teatro Dona Isabel – 08/10/1877

185? Teatro Les Bouffes Parisiens

07/04/1860 Teatro Santa Leopoldina

08/04/1860 Teatro Variedades

14/10/1863 Teatro Eldorado 1905


Outros nomes:
Teatro Recreio do Commércio – 27/11/1864
Eldorado – 1865
Teatro Jardim de Flora – 14/08/1866
Teatro Phênix Dramatica – 03/05/1868
Teatro Variedades Dramáticas – 12/04/1888
Teatro Phênix Dramática – 1888
Teatro Phênix – 1906/ 1908
Teatro Phênix – 1926
Cinema Phênix – 04/1929
Cinema Ópera – 07/1937
Teatro Ópera – 1940
Cinema Ópera – 1948
Teatro Phênix – 1948

23/05/1865 Teatro Santa Isabel (Macaé)

01/01/1870 Teatro São Luiz 1886

01/02/1872 Teatro Casino Franco-Brésilien


Outros nomes:
Teatro Sant’Anna – 29/10/1880
Teatro Carlos Gomes – 26/01/1905

1874 Teatro Progresso Petropolitano (Petrópolis)

11/06/1874 Teatro Vaudeville

06/09/1874 Teatro Empíreo (Campos) 1893

26/09/1876 Teatro Circo 14/07/1894


Outro nome:
Teatro Polytheama Fluminense – 1880

722 Teatros do Rio


18/08/1877 Teatro Variétés
Outros nomes:
Teatro Variedades – 12/04/1878
Brazilian Garden – 26/10/1879
Teatro Recreio Dramático – 04/01/1880

11 ou 12/1878 Teatrinho da Gávea 1913


Outro nome:
Club Dramático da Gávea – 19/01/1889

1880 Teatro Fênix Niteroiense 1891

03/06/1880 Teatro Lucinda 29/01/1909


Outros nomes:
Teatro Novidades – 08/04/1882 a 1884
Teatro Lucinda – 04/07/1884
Eden Concerto – 10/1887

01/01/1881 Teatro Príncipe Imperial


Outros nomes:
Eden Theatre – 1886
Teatro Eden Fluminense – 26/05/1886
Teatro Recreio Fluminense – 27/10/1887
Teatro Variedades Dramáticas – 21/05/1888
Moulin Rouge – 22/12/1900
Teatro São José – 01/01/1903
Cine Teatro São José – 03/09/1926
Cinema São José – 12/09/1931

01/11/1885 Teatro Gynasio Campista 1886

02/01/1886 Teatro Apollo (Inválidos)

1886 Folies Brasiliennes

1886 Alcazar Campista (Campos)

18/09/1890 Teatro Apollo (Lavradio) 1916

19/02/1895 Teatro D. Eugênia (ex-Victor Hugo) –


Friburgo 1975
Outro nome:
Teatro Leal

28/05/1895 Teatro Eden Lavradio 1899

1900 Teatro Santana (no terreno do antigo Provisório)

1900 Cassino Nacional


Outros nomes:
Teatro Cassino Nacional – 1902
Cassino Palace – 25/04/1906

Listagem dos teatros 723


Palace Théâtre – 12/1906
Cinema Palácio – 16/01/1924
Palace Théâtre – 31/07/1925
Palácio Teatro – 31/07/1928
Cinema Palácio – 20/06/1929

24/06/1900 Teatro High-life (reaberto em 1935 como clube


noturno)

SÉCULO XX
Inauguração Teatro Encerramento

15/01/1902 Parque Fluminense


Outro nome:
Teatro Hodierno

05/04/1903 Teatro Maison Moderne 1942


Teatro Gymnasio – 11/1916
Cineteatro Moderno – 1929
Teatro Apollo – 14/04/1940 (o 3° com este nome)

22/11/1903 Teatro da Exposição de Aparelhos a Álcool

25/11/1906 Teatro São José (Itaperuna)

18/09/1907 Cinematógrapho Pathé


Outros nomes:
Cineteatro Pathé – 12/05/1915
Cinema Pathé – 1928

24/11/1907 Cinematógrapho Rio Branco


Outro nome:
Cinema Theatro Rio Branco – 30/08/1911

22/12/1907 Teatro São Joanense (São João da Barra)

12/08/1908 Teatro da Exposição Nacional

12/11/1908 Concerto Avenida do Pavilhão Internacional


Outro nome:
Cinema Teatro Pavilhão Internacional – 01/09/1911

14/07/1909 Theatro Municipal do Rio de Janeiro

16/08/1909 Cinematógrapho Odeon (em 03/04/1926


mudou-se para a Cinelândia)

02/10/1909 Cinematógrapho Ideal


Outro nome:
Cineteatro Ideal – 12/05/1926

724 Teatros do Rio


30/10/1909 Cinematógrapho Soberano
Outros nomes:
Teatro Victória – 1916
Cinema Íris – 05/04/1919
Cineteatro Íris – 05/04/1922
Cinema Íris – 1930 -1935

19/05/1910 Teatro Parque (Campos)

13/05/1911 Teatro Chantecler


Outros nomes:
Teatro Olympia
Cinema Max – 1913
Cinema Olympia – 1917 a 1959

12/10/1911 Teatro Polytheama 1943


Outro nome:
Cinema Polytheama

1913 Coliseu Sul Americano

31/07/1914 Teatro República 1971


Outros nomes:
Cinema República – 1927
Cinema Moinho Vermelho – 03/09/1932
Teatro República – 1942
Teatro República – 25/03/1965
Teatro Novo – 30/05/1968 – 08/06/1968

16/03/1915 Teatro Trianon 1932


Outros nomes:
Cinema Trianon (até abril de 1921)
Teatro Trianon – 05/1921

23/01/1916 Teatro da Natureza

15/11/1919 Cinema Central 1932


Outros nomes:
Teatro Central – 04/05/1923
Cinema Teatro Central
Central Cineteatro – 1929
Eldorado – 1931

1921 Teatro Capitólio (Petrópolis)

25/05/1921 Teatro Trianon (Campos) 08/06/1975

01/10/1921 Cinema Rialto


Outros nomes:
Cineteatro Rialto – 24/05/1922
Teatro Rialto – 11/08/1925

Listagem dos teatros 725


Cinema Teatro Rialto – 1935

17/03/1922 Theatro Centenário


Outro nome:
Cinema Centenário

1922 Cassino Copacabana Palace

1925 Cassino da Urca


Cassino Atlântico
Cassino Quitandinha
Cassino Icaraí, etc...
*Em 30/04/1946 o Presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu o jogo em todo o país.

23/04/1925 Teatro Capitolio

30/10/1925 Cineteatro Glória 1968

12/11/1925 Cineteatro Império

1926 Cineteatro Yolanda

18/06/1926 Theatro Casino 1936


Outros nomes:
Cinema Casino – 1927
Theatro Casino – 09/08/1927
Teatro Normal – 1929
Teatro Escola – 1934

10/11/1927 Teatro de Brinquedo 1937

1930 Teatro Municipal de Petrópolis

1930 Teatro do Instituto de Educação


Outro nome:
Teatro Fernando de Azevedo – 14/08/1980

09/08/1932 Teatro Alhambra 10/03/1940


Outro nome:
Cinema Alhambra – 11/11/1932

22/03/1934 Teatro Rival


Outro nome:
Café-concerto Rival – 09/12/1975
Teatro Rival – 1979/1980

24/08/1934 Teatro Meu Brasil


Outro nome:
Rio-Teatro – 05/10/1934

1935 Teatro Taboada ( Macaé)

05/12/1935 Teatro Regina


Outro nome:

726 Teatros do Rio


Teatro Dulcina -12/07/1946

16/09/1938 Teatro Ginástico

193? Cine Teatro Central (Niterói) 28/07/1953

01/03/1940 Teatro Serrador


Outros nomes:
Teatro Brigitte Blair II – 21/11/1984
Teatro Serrador – 07/1999

22/03/1941 Cineteatro Colonial


Outro nome:
Sala Cecília Meireles – 01/12/1965

04/1941 Teatro do Fluminense

02/1948 Teatro São Salvador (Campos)

31/05/1948 Teatro Jardel

1949 Teatro de Bolso (Ipanema)

1949 Teatro Astral

04/1949 Teatro Tablado

09/09/1949 Teatro Copacabana (fechado em 1990)

10/11/1949 Teatrinho Follies

1950 Cinema Alaska 1998*


(Arrendado em 01/01/1999 para a Igreja
Universal do Reino de Deus.)
Outros nomes:
Teatro Alaska
Espaço das Artes – 1997

1950 Teatro Pen

30/04/1952 Teatro Madureira década de 1970


Outro nome:
Teatro Zaquia Jorge – 06/1957

12/08/1952 Teatro Duse 1956


Teatro Duse – reinaugurado em 08/08/1973

19/04/1954 Teatro Popular de Marechal Hermes


Outro nome:
Teatro Armando Gonzaga

1955 Teatro da Fonte década de 1980


Outro nome:
Teatro da Fonte da Saudade – 30/07/1970

1955 Teatro Santa Cecília (Petrópolis)

727
Listagem dos teatros
07/1955 Teatro Mesbla 28/12/1987

11/08/1955 Teatro Arcádia (Nova Iguaçu) 1988

1956 Teatro Tijuca

20/03/1956 Teatro da Maison de France 1984

17/08/1956 Teatrinho do Olympico

18/08/1956 Teatro Arthur Azevedo

1957 Teatro de Arena do Teatro Rural do Estudante (TRE)

13/09/1957 Teatro São Jorge


Outros nomes:
Teatro do Rio – 1960
Teatro Experimental Cacilda Becker –
25/10/1975 (só oficializado em 02/06/1977)

14/12/1957 Teatro Luis Peixoto (Escola de Teatro Martins Pena)

15/05/1958 Teatro da Praça (ex-auditório do Centro de


Recreação e Cultura Dom Aquino Corrêa).
Outro nome:
Teatro Gláucio Gill – 23/05/1966

1958 Teatro Santa Terezinha

18/08/1959 Teatro Jardel (na Av. Atlântica, 3.680)

24/08/1959 Teatro de Arena (Ufrj)

27/10/1959 Teatro Solar

1959/1960 Teatro de Arena


Outros nomes:
Teatro Opinião – 1964
Teatro de Arena – 03/11/1981

1960 Teatro Municipal Joracy Camargo (Campos)

1960 Teatro da União das Operárias de Jesus


Outros nomes:
Teatro Jovem – 1966
Teatro Imperial

1960 Teatro Paulo Magalhães

1960 Teatro Miami

20/12/1960 Teatro Nacional de Comédia (1° teatro


federal do país)
Outro nome:
Teatro Glauce Rocha – 04/01/1979

27/04/1961 Teatro Santa Rosa (com espetáculo em 04/05/1961) 12/1976

728 Teatros do Rio


1962 Teatro Celso Peçanha (Três Rios)

1964 Teatro do Colégio Pedro II

1964 Sala Corpo/Som do MAM

26/08/1964 Teatro Carioca 1966

05/11/1964 Teatro de Arena da Guanabara 1974


(pré estreia em 04/1963)

17/11/1964 Arena Clube de Arte

1966 Palcão (Conservatório Nacional de Teatro) 1980

28/01/1965 Teatro Princesa Isabel

27/08/1965 Teatro Miguel Lemos (pré inaugurado – 11/08/1965)


Outros nomes:
Teatro Sérgio Porto – 1978
Teatro Brigitte Blair- 1980

11/09/1965 Teatro Gil Vicente

10/10/1965 Teatro Infantil Parque do Flamengo


Outro nome:
Teatro Carlos Werneck de Carvalho

1966 Teatro Redentor

1966 Teatro da Lagoa (incêndio em 1996,


reinaugurado em 27/05/1998)

1966 Teatro da Galeria Astor (não chegou a ser inaugurado)

25/08/1966 Café Concerto Casa Grande (teve que ser


mudado porque era patente de Abrahão Medina).

Outros nomes:
Café Teatro Casa Grande
Teatro Casa Grande – 07/1969

28/10/1966 Teatro Galpão (Duque de Caxias) 1967


Outro nome:
Teatro Moderno de Comédia

1967 Teatro Municipal de Duque de Caxias


Outro nome:
Teatro Municipal Armando Melo

16/01/1967 Teatro Procópio Ferreira (Nova Iguaçú)

14/02/1967 Mini-teatro

19/08/1967 Teatro Lemos Cunha (Ilha)

14/12/1967 Teatro Alvorada (Niterói) 1990

Listagem dos teatros 729


Outro nome:
Teatro Leopoldo Fróes – 09/10/1973

1968 Teatro Ipanema


Outro nome:
Teatro Rubens Corrêa – 06/02/1998

13/04/1968 Teatro de Bolso de Campos (Campos)

09/1968 Teatro de Bolso do Leblon


Outros nomes:
Teatro de Bolso Aurimar Rocha – 03/09/1980
Café-pequeno – 19/07/1996 (com espetáculo
em 29/08/1996)
Teatro Pequeno – 29/08/1997

07/1969 Teatro da Praia 1998


* Arrendado em 1998 pela Igreja Evangélica

07/1969 Teatro Fênix

15/07/1969 Teatro das Artes


Outro nome:
Teatro da Cidade – 1984

09/1970 Teatro da Amizade (Retiro dos Artistas – 24/04/1919)


Outro nome:
Teatro Iracema de Alencar – 1972

10/1970 Teatro Glória

10/1970 Teatro Senac Copacabana década de 90

09/11/1970 Teatro Jayme Costa

19/11/1970 Teatro Bertolt Brecht


Outro nome:
Teatro de Arena do Planetário da Gávea – 1994

1970 Teatro da CEU (Casa do Estudante Universitário)


Outro nome:
Teatro de Arena CEU – 02/1984

16/04/1971 Mini Teatro ATA

14/09/1971 Teatro do Liceu

1972 Teatro Calouste Gulbenkian


Outro nome:
Teatro Gonzaguinha – 09/12/1991

1972 Teatro Tereza Rachel 01/01/1999


(aberto provisoriamente em 16/10/1971)
*Arrendado em 01/01/1999 para a Igreja Universal do Reino de Deus.

730 Teatros do Rio


1972 Teatro Isa Prates

1972 Teatro D. Pedro I (Hotel Nacional)

06/06/1972 Teatro do Clube de Engenharia

10/1972 Teatro Cachimbo da Paz

10/1972 Teatro da Galeria

16/01/1973 Teatro Adolpho Bloch

1974 Sala Glauce Rocha (Conservatório Nacional de Teatro) 1982

28/02/1975 Teatro Procópio Ferreira (Duque de Caxias)

1975 Palácio das Artes (Projeto não executado)

26/08/1975 Teatro Eldorado

10/1975 Teatro Louis Jouvet


Outro nome:
Teatro Aliança Francesa da Tijuca

14/01/1976 Teatro do BNH


Outro nome:
Teatro Nelson Rodrigues – 23/01/1984

1977 Sesc: São João de Meriti – 20/01/1977


Tijuca (2 salas) – 27/04/1977
Niterói – 05/1977
Madureira
Nova Friburgo
Campos
Barra Mansa
Engenho de Dentro – 15/05/1987
Copacabana – 24/07/1995
Nova Iguaçú – 17/10/1997

26/03/1977 Palco Sobre Rodas

11/05/1977 Teatro Clara Nunes

1978 Teatro do Monte Sinai


Outro nome:
Teatro Rachmiz Baratz- 17/10/1983

01/1978 Teatro Santos Rodrigues

20/04/1978 Teatro Vanucci

26/05/1978 Sala Funarte


Outros nomes:
Cine Teatro Belas Artes – 17/12/1997
Sala Funarte Sidney Miller – 07/1998

Listagem dos teatros 731


11/07/1978 Teatro dos Quatro

08/1978 Teatro da UFF (Niterói)

29/12/1978 Teatro Gracinda Freire

1978 Teatro da ABI

1978 Noites Cariocas

08/03/1979 Teatro da Vila Kennedy


Outro nome:
Teatro Faria Lima

08/03/1979 Teatro Villa Lobos


(possui Sala Monteiro Lobato – 30/10/1979 e
Sala Arnaldo Niskier (espaço III) – 1986).

15/06/1979 Cine Show Madureira

Cafés Teatros: (de 1970 a 1997)


1970 Rock Dreams

1980 Suburban Dreams

20/09/1980 Café Teatro Roda Viva

01/1983 Café Teatro Viro do Ipiranga

04/1983 Café Teatro Dom Camilo

1987 Café Teatro Mágico

1992 Mostarda

1994 Café do Teatro (Teatro dos Quatro)

1995 Ritmo

? Rock in Rio Café

? Rock Memória Café

07/12/1996 Café de La Danse

1997 Espaço Off (Teatro Casa Grande)

1997 Cabaré Filosófico (Planetário da Gávea)

25/04/1980 Teatro Dirceu de Mattos

08/1980 Teatro Tapume 22/11/1982

05/09/1980 Teatro Gay-Lussac (Niterói)

1980 Teatro Clube de Engenharia

1980 Teatro América

732 Teatros do Rio


1981 Teatro GACEMSS (Volta Redonda)

27/04/1981 Teatro do Sindicato dos Médicos

21/11/1981 Teatro Pasárgada (Niterói)


Outro nome:
Teatro Manuel Bandeira

1982 Teatro do Beco

1982 Teatro da Casa D’Itália

1982 Teatro do IBAM 12/1983

15/01/1982 Circo Voador (Arpoador) 11/1996


Circo Voador (Arcos da Lapa – 23/10/1982)

13/03/1982 Palcão – da Unirio

13/03/1982 Sala Glauce Rocha – da Unirio

13/03/1982 Sala Esther Leão – da Unirio

13/03/1982 Sala Lucília Peres – da Unirio

31/03/1982 Espaço da Escola de Artes Visuais Parque Laje

13/05/1982 Escola Nacional de Circo

28/07/1982 Teatro Delfin


Outros nomes:
Teatro da Cidade
Teatro da UniverCidade

1983 Teatro Cândido Mendes

26/01/1983 Circo Esperança


Outro nome:
Circo Delírio (a partir de maio de 1987, mas
só inaugurou em 19/01/1988

16/03/1983 Espaço MEC

05/1983 Teatro Senac de Bonsucesso

04/11/1983 Circo Azul (Friburgo)

1983 Teatro George Gomes (São Gonçalo)

1983 Teatro Jardim Encantado

01/1984 Scala

1984 Teatro Alice

15/02/1984 Teatro de Lona

03/08/1984 Teatro Cawell


Outro nome:

Listagem dos teatros 733


Teatro RioArte (década de 1990)

10/1984 Teatro Pinheiro Guimarães

198? Teatro das Faculdades Integradas


Castelo Branco

07/11/1984 Auditório da Casa de Rui Barbosa

17/12/1984 Teatro Benjamin Constant

06/03/1985 Paço Imperial

12/05/1986 Casa de Cultura Laura Alvin


Teatro Laura Alvim (inauguração em 06/1986)

11/09/1986 Teatro Abel (Niterói)

21/10/1986 Espaço Cultural Sérgio Porto

05/11/1986 Teatro Armando Costa (Escola de Teatro


Martins Pena)

1987 Cine Teatro Moça Bonita

03/1987 Espaço Cultural Francisco Alves (Teatro do Brizolão)

05/1987 Teatro Etla

03/07/1987 Teatro Barra Shopping

31/07/1987 Circo Teatro Elbe de Holanda

12/09/1987 Teatro Municipal Prefeito Graciano Torres


Quintanilha (Araruama)

17/10/1987 Teatro Belas Artes

22/10/1987 Teatro Suam

1988 Teatro Óperon

01/1988 Fundição Progresso (apresentação do projeto)

07/01/1988 Teatro João Theotônio

04/1988 Mercado São José das Artes

06/04/1988 Teatro Ziembinski

12/06/1988 Teatro Municipal de Petrópolis (Matadouro 1989


Municipal Modelo)

08/1988 Teatro Continua que Tava Ótimo

16/01/1989 Teatro Posto 6

1989/1990 Teatro da Barra


*Arrendado à Igreja Sara Nossa Terra

734 Teatros do Rio


12/10/1989 Centro Cultural Banco do Brasil
Teatro I
Teatro II
Teatro III- 18/03/1998

1991 Teatro do Museu da República

03/1991 Imperator 24/08/1998


Outro nome:
Centro Cultural e Teatral Imperator –
09/08/1996

16/12/1991 Sala Henriqueta Brieba

1992 Casa da Gávea (Sala Chiquinho Brandão)

1992 Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho


(Castelinho do Flamengo) – Abriga o Centro
desde 1990.

1993 Lona Cultural Hermeto Pascoal

03/1994 Centro Cultural da CPRM

04/1994 Teatro Lamartine Babo (Centro Cultural


da Light)

04/1994 Teatro Leblon (Sala Marília Pera)

03/09/1994 Metropolitan

03/11/1994 Teatro SESI

29/12/1994 Casa de Cultura Eduardo Gabús (Teatro


Bibi Ferreira – Inaugurado em 03/1995)

1995 Teatro de Arena Elza Osborne

09/1995 Cine Teatro Dina Sfat (Centro Cultural


Gama Filho)

09/10/1995 Teatro Grandes Atores – Sala Azul

17/10/1995 Teatro Grandes Atores – Sala Vermelha

Espaços Culturais
06/1996 Teatro Leblon – Sala Fernanda Montenegro

1997 Teatro Beira Mar (Museu do Telefone)

17/10/1977 Teatro da UERJ


Outro nome:
Teatro Odylo Costa, filho – em 17/12/1979,
sendo Inaugurado em 28/07/1997.

735
1997 Teatro do Vidigal

06/11/1997 Teatro Miguel Falabella

12/12/1997 Casa Laurinda Santos Lobo

15/05/1998 Espaço Margarida Rey (Casa de Cultura


Margarida Rey)

22/05/1998 Arte e Cia (Universidade Estácio de Sá)

25/05/1998 Teatro Raymundo Magalhães Júnior

03/07/1998 Teatro Municipal Trianon (Campos)

06/11/1998 Teatro das Artes

04/1999 Espaço Yan Michalski

736 Teatros do Rio


Bibliografia Geral

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Este livro foi produzido no ano de 2012 e
impresso na Gráfica Duo Print com arquivos
para CTP fornecidos pela Funarte.

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