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A UNIVERSIDADE NA GOVERNANÇA DA

CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA

MICHELANGELO GIOTTO SANTORO TRIGUEIRO

1
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

Capítulo 1: A Economia e a Sociedade do Conhecimento;


desafios para a governança da universidade

A economia

O “novo modo” de produção do conhecimento

Capítulo 2: O Direcionamento Estratégico da Universidade

Autonomia universitária

Projeto institucional

Avaliação institucional

Redes de Informações Gerenciais

Secretaria de Direcionamento Estratégico

Capítulo 3: O papel da universidade na governança da ciência e da


tecnologia

Em defesa de uma ciência e uma tecnologia bem-


articuladas

Discussão Preliminar sobre Propostas de Governança da


ciência e da tecnologia

Legitimação na produção científico-tecnológica

1. Contexto Institucional de Produção Científico-


tecnológica

2
a) Dimensão Inter-organizacional

b) Dimensão das atitudes e comportamentos dos


pesquisadores

2. Ideologia da Prática
3. Formação de Consenso na Ideologia da Prática

Uma proposta para a atuação da universidade na


governança da ciência e da tecnologia

Programa Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão


(PIEPE)

Palavras Finais

Anexo 1

Anexo 2

Bibliografia

3
Dedico in memorian ao Professor Brasilmar Ferreira Nunes

4
A UNIVERSIDADE NA GOVERNANÇA DA CIÊNICIA E DA TECNOLOGIA

Michelangelo Giotto Santoro Trigueiro

Introdução

São duas as perguntas que inauguram esta discussão: o que é


governança? E o que o contexto atual traz de especial nessa discussão (sobre
universidade)?

Governança é um assunto recente e polêmico e que não pode ser


confundido com governabilidade, tampouco com regulação, embora com eles
se relacionem. De um modo geral, governança é o conjunto de conceitos e de
práticas que buscam a melhor eficiência e aplicação de políticas de estado,
visando à melhoria da qualidade de vida da população. O termo ganha em
importância em sociedades democráticas, que pressupõem maior acesso a
informações relevantes, e maior envolvimento e participação nos assuntos que
lhes interessam. A construção conjunta de determinadas políticas e do
processo de planejamento, acompanhamento e avaliação são exemplos de
estratégias de governança; a criação de diferentes fóruns, que envolvem vários
atores (lideranças estudantis, grupos de consumidores, reitores, representantes
de comunidades científicas e de sindicatos), para a formulação de propostas e
de estratégias de gastos de orçamentos públicos para o ensino superior é outro
exemplo de ações de governança. Assim, há um sem número de possibilidades
e de iniciativas dos governos e das sociedades civis, a depender da
necessidade, criatividade e disponibilidade de recursos, que podem representar
práticas de governança. Neste trabalho, o foco é a atuação da universidade na
governança da ciência e da tecnologia.

No livro, pretende-se discutir as necessidades atuais, que se lançam


na universidade, e estratégias adequadas de governança, para responder aos
novos desafios que são colocados pelas chamadas economia e sociedade do
conhecimento. Que novas pressões emergem do interior das sociedades e se
projetam na universidade, a demandar soluções para antigos problemas e para
os que surgem em decorrência do atual estágio do processo de acumulação de

5
capital e do desenvolvimento científico-tecnológico? O que torna premente
essa discussão, em que pesem inúmeros outros problemas, como os
relacionados ao aumento da pobreza, da degradação ambiental, das guerras,
da intolerância entre os povos, e de novos blocos geopolíticos, alianças e
conflitos?

O atual contexto da acumulação capitalista e o avanço do


conhecimento não é um qualquer, em que a universidade é apenas mais um
dos vários atores que disputam por hegemonia, para apontar rumos, alertar as
sociedades e os estados, e atuar na busca de superação dos inúmeros
problemas emergentes e dos antigos. Há muitos dilemas inéditos, ligados aos
direitos humanos, ao crescimento acelerado da riqueza, à evolução científico-
tecnológica, ao retorno e ao agravamento de antigas endemias, e aos embates
geopolíticos. Nesse cenário, há que se buscar, na universidade, boa parte do
estoque de providências e de conhecimentos necessários, criatividade e
contestação, para que se enconcontrem os caminhos de construção de novas
utopias, e de superação dos problemas. Esse é o sentido pelo qual se justifica
o exame do contexto atual na discussão sobre a governança da universidade.

A universidade é, desse modo, espaço importante para o


enfrentamento dos agudos problemas do presente. Em primeiro lugar, isso se
deve ao fato de ser a principal instituição da sociedade que é responsável pela
geração, adaptação e transmissão de novos conhecimentos – é sua razão
principal de existir –, e, em segundo lugar, por ser o lócus em que os diversos
saberes estão em direta e constante interação, ao invés de serem um espaço
que se dedica a apenas poucas áreas do saber. Ademais, historicamente, a
universidade foi criada e se desenvolveu para ser uma instituição cuja marca é
a possibilidade do exercício da crítica e da contestação livres, mesmo que tal
possibilidade, também, seja constantemente confrontada, como acontece, hoje,
em face da expansão do neoliberalismo. Aliás, é justamente esse fato, o de sua
atual ameaça, que a torna especialmente relevante, como espaço de crítica e
de resistência aos imparativos do mercado, e, crescentemente, à hegemonia
do sistema financeiro – linha de frente da acumulação capitalista (PIKETTY,
2014; HARVEY, 2011; VAROUFAKIS, 2016; BLYTH, 2002).

6
Em outras palavras, atualmente, presenciamos um quadro
revolucionário, de profundas transformações em vários setores das
sociedades, impulsionado pelo desenvolvimento científico-tecnológico. São
mudanças radicais que, já na década de setenta, atingem a economia, a
política e os ambientes domésticos, com muitos impactos nas empresas, em
organizações não-governamentais, no Estado e em todo um conjunto de
situações do cotidiano dos indivíduos. De um momento mais verticalizado,
dirigido, concentrado, passa-se a cenário de maior globalização e de
democratização dos processos de produção, difusão e acesso aos
conhecimentos especializados.

Novos critérios de qualidade acadêmica – que envolvem acesso


facilitado aos novos conhecimentos, melhoria na relação custo-benefício,
impactos ambientais, qualidade de vida –, e inúmeras questões éticas fazem
parte, agora, de intensas e ampliadas redes de relações e negociações, a
ultrapassar consideravelmente o domínio exclusivo do meio acadêmico (um
exemplo é a discussão e aprovação pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro –
em maio de 2008 – da possibilidade de realização de pesquisas com células-
tronco embrionárias).

Mudanças importantes são verificadas nos padrões de antigas


profissões e em perfis de trabalho, e demandam maior capacidade inovadora e
empreendedora por parte de profissionais. De um lado, a sociedade aponta
para a valorização do conhecimento e para a possibilidade de ampliação de
novos serviços, e, de outro lado, antigas visões de estabilidade no emprego e
de crescente “terceirização” de inúmeras atividades, anteriormente,
desenvolvidas pelas próprias empresas ou órgãos públicos, forçam os
indivíduos a buscarem o aprimoramento pessoal, a atualização de
conhecimentos e a realização de novas ideias, para aumentarem suas chances
de sucesso, em ambiente crescentemente competitivo.

Grandes conglomerados passam a dividir espaços com pequenas


empresas; pesadas indústrias são apoiadas por vastas redes de
microempreendedores e serviços profissionais insólitos; mudanças importantes

7
nos processos produtivos, nas fábricas e nas empresas agrícolas diminuem o
tempo de trabalho e favorecem a proliferação das atividades ligadas ao lazer,
ao turismo e a outras iniciativas no gênero – ainda que sejam, tais atividades,
bastante concentradas em determinados segmentos sociais –, e,
conjuntamente, ampliam as possibilidades de contratação de pessoal e de
atuação autônoma. Tudo isto tende a elevar a complexidade do ambiente
interno da universidade – a evidenciar novas tensões e resistências –, bem
como a ressaltar a importância de sua capacidade propositiva e de seu
compromisso social.

Não obstante, antigas formas de gestão acadêmica e pedagógica


passam a ser confrontadas com a necessidade de agilidade e de flexibilidade
administrativa. Os governos passam a questionar mais a qualidade dos
resultados provenientes das universidades e das instituições responsáveis pela
formação de recursos humanos para o mercado de trabalho, e a repercutir as
cobranças da sociedade. Nesse contexto, as universidades são instadas a
mudar processos, rotinas, currículos e a sua própria forma tradicional de
inserção e relacionamento com a sociedade. Tudo isto ocorre em momento de
ampliação de novas vagas e cursos e de mudanças em estratégias de
competição entre essas instituições, que redirecionam antigas formas de
disputa, envolvendo o setor público/estatal e o setor privado.

Nesse cenário de muitas transformações e desafios para as


universidades, muitas destas têm se lançado na busca da superação de
grandes e históricos obstáculos, na transição de um paradigma organizacional
a outro. Ao mesmo tempo, especialistas vêm questionando a chamada lógica
disciplinar e o grande peso que as comunidades científicas ainda jogam no
contexto atual; isto é, urge, para eles, buscar a ampliação da
interdisciplinaridade e a atuação conjunta de diferentes campos do
conhecimento, na solução dos problemas mencionados anteriormente, e
intensificar o esforço colaborativo no exame de questões teóricas e de práticas
comuns.

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Vale registrar, além do esforço de políticas para acelerar a oferta de
vagas no ensino superior, a ampliação das possibilidades de captação de
novos recursos – mediante a realização de acordos, convênios e parcerias – e
novas estratégias desenvolvidas pelas áreas de extensão das universidades,
com a ampliação de públicos beneficiários e a formulação de um conjunto de
ações, como cursos e programas sociais – a exemplo dos ligados à reforma
agrária e à alfabetização. Há muito ainda o que se fazer, sobretudo no que
tange à necessidade de melhor coordenação de diversos processos
organizacionais – relacionados à gestão, à inovação e à tomada de decisões
nas universidades1.

O que está reservado para o futuro dessas instituições ainda é


incógnito. Contudo, o seu principal desafio é elevar sua capacidade de dar
respostas a muitos anseios sociais, aumentar consideravelmente sua inserção
na sociedade, revitalizar a comunicação, fomentar o debate crítico, e consolidar
direções estratégicas na construção de um projeto acadêmico inovador. Nessa
linha, é inadiável: o reconhecimento da importância da universidade, a
necessidade de se criarem novas fontes de financiamento, e a melhoria da
gestão acadêmica. Algo bem difícil, principalmente, dado o estado de relativo
abandono em que se encontram inúmeras universidades, mundo afora,
principalmente, nos países chamados periféricos; justamente aqueles que
concentram a maior quantidade de problemas a demandar soluções imediatas,
bem como a médio e a longo prazo. O aumento das desigualdades, a
precariedade das moradias, as dificuldades crescentes de mobilização nos
grandes centros, da violência, do desemprego – notadamente entre os mais
jovens –, e o acesso a uma saúde adequada estão entre estes problemas

1
Essa expressão (universidades) também será utilizada, aqui, no singular. No plural,
pretende-se aludir à várias formas de manifestação do fenômeno universitário, que
assume contornos próprios, a depender de sua história, cultura, país ou região, e
estrutura organizacional; nessa alusão, não se estaria preocupado em evidenciar tais
especificidades, mas admitir sua multiplicidade de ocorrência, na realidade concreta,
conquanto, para uma análise mais específica, faça-se necessário olhar diferenciado.
Por sua vez, no singular, tenciona-se ressaltar o gênero, mais que a espécie concreta
– considerações que perpassam, indistintamente, os vários tipos de instituição
semelhantes. No correr do texto, tais terminologias não terão qualquer outro sentido
que, meramente, estilo.

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prementes, que evidenciam as disparidades em termos das diferenças entre
determinados países, e em suas populações.

O mundo se vê diante de muitas encruzilhadas, que se originam e se


ampliam nos antigos espaços políticos de decisão. Constata-se o acirramento
das tensões entre diferentes segmentos sociais, o desgaste das formas
tradicionais de representatividade política dos indivíduos, nos parlamentos e
em outras esferas de atuação do estado, e o aparecimento de novos padrões
de construção de identidade e de estilos de sociabilidade. Nesse cenário, têm
sido fundamentais as possibilidades criadas e expandidas pelas Tecnologias
de Informação e Comunicação (TICs), na configuração das chamadas redes
sociais de relacionamentos, nas novas formas de manifestação política
(CASTELLS, 2013), e nas condições estabelecidas para o funcionamento e a
ampliação dos sistemas financeiros.

Esses fatos, certamente, também interferem no meio acadêmico,


nos currículos, nas pesquisas e nas práticas pedagógicas. Ao mesmo tempo
em que a universidade precisa contar com todo um acervo científico-
tecnológico e inovativo que ela própria ajudou a construir, e atuar em espaços
institucionais inauditos, precisa apontar direções e manter ativo seu pendor
crítico e contestador, em prol de um futuro promissor. Porém, nada disso
ocorrerá de modo automático, sob a égide das forças dominantes – a velha
cantilena da “mão invisível” do mercado. Ao contrário, exigirá iniciativas,
determinação, clareza e liderança – qualidades do “César Acadêmico”,
segundo a terminologia de Steve Fuller, em livro publicado em 2016. A
propósito, Max Weber foi um dos precursores dessa expressão, ao usar
“cesarismo” para caracterizar o papel das lideranças nas democracias de
massa2, consideradas, por ele, ascendentes, no século vinte.

Não há dúvida quanto à importância de lideranças carismáticas na


condução da universidade. O livro mencionado de Fuller é pródigo quanto a
isso, ao destacar os contextos norte-americano e europeus, desde a discussão

2
O termo cesarismo refere-se a Julius César, que foi ditador de Roma a partir de 49
A.C., e desempenhou papel relevante na passagem da República para o Império.

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sobre o trabalho seminal de Friedrich Wilhelm Christian Karl Ferdinand, o
Barão Von Humboldt, até, recentemente, as obras de Derek Bok, “Beyond the
Yvory Tower; social responsabilities of the modern university”, e de Clark Kerr,
“The Uses of the University”. Contudo, também é inegável o peso da estrutura
e da dinâmica histórica e cultural em tal condução, e na construção e
implementação da universidade contemporânea. Isto é, a criatividade e
determinação de grandes líderes é fundamental, necessária, mas não é
suficiente, para dar sustentação e legitimidade à universidade que emerge no
século XXI. Faz-se mister, igualmente, conhecer a história, a estrutura
organizacional e a cultura dos vários segmentos que a compõem, bem como
seu ambiente externo.

Quais as forças sociais que, hoje, atuam na construção e na


consolidação da universidade, a fim de que esta possa intervir adequadamente
na superação dos problemas mencionados anteriormente? Como se dão as
relações entre ela e o Estado, em face a uma sociedade crescentemente mais
informada? Que novos tipos de conflitos surgem dessas relações e como
deverão ser enfrentados? Quais os atores proeminentes e as disputas políticas
que se projetam sobre a universidade? Essas são algumas das questões que
deverão pontuar o debate atual acerca da governança da universidade.

Uma das principais tarefas que se colocam nos ombros dos


responsáveis pela defesa e consolidação da “nova universidade”, nos embates
eventuais com o neoliberalismo, para não perder sua força contestadora e
crítica, é a construção de todo um conjunto de ações, atitudes e estruturas, que
que visem a dar um sentido de conjunto e de coesão, em meio ao presente
ambiente, plural e crescentemente diverso, em termos econômico, social e
cultural – em um mundo cada vez mais competitivo e ansioso por novas
utopias.

Conforme se mencionou, de outro modo, os recursos financeiros


tendem a ser mais escassos, e a disputa por eles mais acirrada, para as
universidades. Por essa razão, há que se buscar ampliar as bases de
legitimidade e de apoio social, para dar respaldo a uma instituição cara e nem

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sempre próxima do dia-a-dia da população, a exemplo da universidade.
Aprofundar esse entendimento e compreender sua complexidade é a principal
motivação do presente livro, ao abordar a governança da ciência e da
tecnologia no contexto contemporâneo.

Em termos de exposição, o livro consta, basicamente, de três


capítulos: 1) A Economia e a Sociedade do Conhecimento; desafios para a
governança da universidade; 2) O direcionamento estratégico da universidade;
e 3) O Papel da Universidade na Governança da Ciência e da Tecnologia.

No primeiro capítulo, é apresentada uma discussão sobre aspectos


relevantes da realidade econômica atual, com ênfase na chamada crise
capitalista do momento e seus impactos nas populações, e o que está sendo
chamado “o novo modo de produção do conhecimento”, e os efeitos da
“globalização” no campo do desenvolvimento científico-tecnológico, com suas
implicações sobre o ambiente universitário. Essa discussão é relevante, na
medida em que apresenta o cenário – os principais grupos sociais e as
tendências para onde apontam seus interesses – em que se deve desenrolar a
governança da ciência e da tecnologia, hoje, e a atuação da universidade.

No segundo capítulo, “O direcionamento estratégico da


universidade”, o foco é a discussão de um conjunto de providências para a
redefinição das estruturas de gestão que hoje dominam essa instituição. Tudo
isso é contextualizado com a discussão a respeito do sentido atual que o
trabalho entende deva assumir a autonomia da universidade, bem como a
formulação de seu projeto institucional. É dada ênfase na necessidade de que
a universidade possa se capacitar, internamente, para lidar com pesados
desafios; o que implica a mudança de padrões habituais de condução da
universidade, calcados em práticas antigas, legadas pelos colegiados, em geral
refratários a às mudanças internas das estruturas e práticas de gestão. O que
se tenciona argumentar é que sem tais providências é inócuo falar no papel da
universidade na governança da ciência e da tecnologia no contexto
contemporâneo, uma vez que um dos grandes obstáculos a vencer,

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internamente, é a morosidade no processo de decisão, a comunicabilidade
obstruída, e a dificuldade em perceber e dar respostas em tempo às demandas
oriundas dos ambientes externos a essa instituição – todos esses aspectos são
sintomas de estruturas burocráticas arcaicas, pesadas e inadequadas para
atuar com consequência na sociedade do conhecimento. O conjunto de ações
levadas adiante nessa perspectiva de gestão da universidade, está se
designando, aqui, por direcionamento estratégico.

Finalmente, o terceiro capítulo, “O papel da universidade na


governança da ciência e da tecnologia”, aborda, principalmente, as relações
entre a universidade e seu entorno, considerado fundamental para reordenar
os assuntos e as práticas internas, e, sobretudo, por ser parte relevante dos
destinos das ações pretendidas para a universidade, na governança da ciência
e da tecnologia. Nesse capítulo, entre outras coisas, é destacada a
problemática da legitimação e a necessidade de que a universidade
desenvolva maior proximidade junto à sociedade, notadamente, a suas esferas
produtivas dinâmicas, e aos setores que mais necessitam de soluções práticas
imediatas. O exame desse assunto propiciará entrever ameaças e novas
oportunidades que sinalizam claramente para a universidade, e que a coloca
em risco ou que a eleva a um novo patamar de qualidade e de reconhecimento
público.

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Capítulo 1: A Economia e a Sociedade do Conhecimento; desafios
para a governança da universidade
A economia3

Os anos de 1970 foram decisivos para muitos acontecimentos que


passaram a marcar novo momento da história humana. Para Peter Drucker, em
meados dessa década, passamos a entrar no que ele chama uma “terra
incógnita”. São tantos os fenômenos inéditos que surgem, muitos deles sem
que os conheçamos inteiramente ou em seus desdobramentos nas sociedades,
a demandar, ainda, um nome. Muitos originam-se da revolução científico-
tecnológica, ora em curso, em particular das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs), ou simplesmente TIs.

Trata-se de conjunto amplo de novas ferramentas tecnológicas, que


elevam, exponencialmente, a capacidade de a humanidade lidar, não apenas
com a comunicação, mas com o desenvolvimento de outras áreas de ponta do
conhecimento, a exemplo das tecnologias do DNA, na análise de Manuel
Castells. Segundo esse autor, vivenciamos, atualmente, o que designa por
capitalismo informacional (ou informacionalismo) – um modo de
desenvolvimento que marca a fase atual do capitalismo e suas características
no mundo da produção, nas finanças, e na relação com o trabalho.

O informacionalismo tem suas origens no desenvolvimento de


tecnologias para finalidades militares. Porém, transcende-o, ao atingir várias
outras esferas da vida em sociedade, e a maneira como seus protagonistas
dele se servem para expandir o modus operandi capitalista. É ainda capitalista
o referido modo de desenvolvimento, ou, mais acertadamente, essencialmente
capitalista. Sua lógica de acumulação é privada e tende a subsumir, cada vez
mais, o trabalho humano, na apropriação, direta ou indiretamente, da riqueza
gerada por ele. Não sem razão, evidencia-se, crescentemente, maior

3
Muito tem sido escrito sobre as transformações atuais na economia, suas tendências,
crises e relações com as diferentes esferas de atuação da sociedade. Certamente, a
discussão que se fará, neste momento, é apenas um esquema geral, bastante
resumido, dentre os assuntos que mais impressionam este autor, quanto ao tema.
Para o aprofundamento, a bibliografia final, indica algumas importantes referências,
citadas na Introdução.

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concentração e centralização do capital e de suas decisões, nas mãos de
reduzido número de pessoas ou de corporações, ao tempo em que se ampliam
as desigualdades e o acesso aos eventuais benefícios gerados pelas
empresas.

Os produtos são vendidos a um número cada vez menor de


pessoas, o que se choca contra qualquer aforismo que decanta a necessidade
expansionista, para conquistar novos mercados consumidores, típica dos
primeiros momentos do capitalismo industrial – sua fase mercantilista. Esse
fato favorece o modo de produção capitalista, uma vez que tais produtos são
resultados de elevados acréscimos de tecnologias e componentes que elevam
consideravelmente seus preços, com altíssimos “valores agregados”, se
comparados com as formas mais simples – “in natura” –, e podem ser sempre
adquiridos pelas parcelas mais abastadas, capazes de “remunerar” o capital4.
Desse modo, é girada a manivela que mantém em marcha o capitalismo,
sempre mais veloz em seu processo cumulativo, agora facilitado pelas intensas
redes de comunicação.

Ademais, os novos produtos, consumidos por parcelas reduzidas da


população, são sinais de distinção social, na medida em que sua aquisição e
posse aufere ao indivíduo a possibilidade de se diferenciar dos demais, ao
colocá-lo em posições consideradas de prestígio e evidência. Esse fato ocorre
com a maioria dos produtos disponibilizados nos grandes shoppings, e em
particular com as “modernidades” e “facilidades” tecnológicas – computadores
com mais recursos, telas especiais, smartphones, tablets, drones, e por aí.

4
Essas observações não se chocam com o fato de que um número cada vez maior de
pessoas compram ou utilizam várias “comodidades modernas”, como os
smartphones. Em uma análise mais aprofundada desses processos, é necessário
cotejar a grande transferência de rendas provenientes dessas compras para
determinadas corporações e ao sistema financeiro – mediante aumento dos
endividamentos das pessoas –, as novas dependências criadas em relação às
mesmas, e a exploração de mão-de-obra barata, em países chamados periféricos. Em
suma, o que se está a apontar, no texto, é o sentido global para onde apontam as
mudanças recentes no capitalismo. Apenas para ilustrar, no início de 2017, a imprensa
mundial registrou que “os 8 bilionários [mais ricos] têm juntos mais dinheiro que a
metade mais pobre do mundo”. (http://www.bbc.com/portuguese/internacional-
38635398)

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Sem contar com as inúmeras redes de serviços que aumentam os recursos de
utilização dos novos equipamentos, a oferecerem maiores níveis de
velocidade, segurança, portabilidade e capacidade de armazenamento de
informações.

O acesso privilegiado a esse arsenal de modernidades tecnológicas


– objeto crescente de cobiça – aumenta o grau de dependência do consumidor
(que deve sempre estar “atualizado” com a última versão do programa de
computador) às corporações responsáveis pela produção, e a toda a
interminável cadeia de “serviços”, responsáveis pelo conserto (quando não se
dá o imediato descarte) e pela introdução de novos recursos nos
equipamentos; o que eleva, também, a subordinação do cliente a essa grande
máquina produtora. Todos esses elos, produtores, clientes, redes de suporte, e
mais, uma legislação adequada e regras de comércio validadas em nível
internacional, atuam de modo articulado, como uma “maquinação” – para usar
uma expressão de Bruno Latour –, para contribuir com o processo de
acumulação capitalista. Há ainda muitos designers, matemáticos, profissionais
de marketing, advogados, psicólogos e cientistas sociais integrados a esse
esforço produtivo, com vistas a criar novas necessidades, que deverão ser
produzidas por grandes corporações; como há também vários desses
profissionais que atuam para criar públicos mais autônomos e conscientes.

A gama de produtos gerada para atender a gostos cada vez mais


“refinados” é impossível de ser descrita, e não se circunscreve, obviamente, ao
âmbito das novas tecnologias, mas atinge a moda, o turismo, a educação e a
saúde. Não obstante, a marca excludente e concentradora mantém-se como
característica principal e intrínseca do atual estágio de acumulação capitalista.
Diz-se intrínseca, pois é da natureza própria do estágio atual do capitalismo;
isto é, o mesmo pode se viabilizar, permanentemente, conquanto venha a não
contar, necessariamente, com uma presumida expansão do mercado
consumidor.

Do ponto de vista da extração (crescente) da riqueza proveniente do


trabalho, as indústrias dominantes tendem a desenvolver estratégias de

16
descentração da produção, ao buscarem os locais com custos mais baixos de
“mão-de-obra”, e com facilidades na legislação capital-trabalho e no custo e
remuneração dos impostos, para o que contam com dirigentes e políticos
locais. Assim, produz-se onde é mais barato e vende-se onde é mais caro; o
que parece sempre óbvio. Contudo, as TIs tornam esse anseio uma
possibilidade real, ao facilitarem as estratégias de obtenção de informações e
controle “on line” das mesmas. Nesse ponto, as TIs representam não apenas
uma condição necessária para o momento presente do avanço do capitalismo,
mas um objetivo “em si” – não apenas um meio ou um recurso para a produção
de novos conhecimentos, ao permitirem a expansão dessas possibilidades nas
atividades científico-tecnológicas, e nas econômicas, mas um objeto da própria
produção do conhecimento.

Para o reconhecido autor, Manuel Castells, o essencial das


transformações que estamos experimentando, na economia e no modo de
produção de novos conhecimentos, devem-se às TIs. De acordo com ele,

(...) o cerne da transformação que estamos vivendo na revolução


atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e
comunicação. A tecnologia da informação é para esta revolução o
que as novas fontes de energia foram para as revoluções industriais
sucessivas, do motor a vapor à eletricidade, aos combustíveis
fósseis e até mesmo à energia nuclear, visto que a geração e
distribuição de energia foi o elemento principal na base da sociedade
industrial. Porém, essa afirmação sobre o papel preeminente da
tecnologia da informação muitas vezes é confundida com a
caracterização da revolução atual como sendo essencialmente
dependente de novos conhecimentos e informação. Isso é verdade
no caso do atual processo de transformação tecnológica, mas foi
assim também com as revoluções tecnológicas anteriores, conforme
mostraram os principais historiadores de tecnologia, como Melvin
Kranzberg e Joel Mokyr. A primeira Revolução Industrial, apesar de
não se basear em ciência, apoiava-se em um amplo uso de
informações, aplicando e desenvolvendo os conhecimentos
preexistentes. E a segunda Revolução Industrial, depois de 1850, foi
caracterizada pelo papel decisivo da ciência ao promover a inovação.
De fato, laboratórios de P&D apareceram pela primeira vez na
indústria química alemã nas últimas décadas do século XIX. (...)
(...) O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a
centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação
desses conhecimentos e dessa informação para a geração de
conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da
informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a

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inovação e seu uso. Uma ilustração pode esclarecer esta análise. Os
usos das novas tecnologias de telecomunicações nas duas décadas
passadas passaram por três estágios distintos: a automação de
tarefas, as experiências de usos e a reconfiguração das
aplicações. (CASTELLS, 1999: 68-9)

O fato de as inovações representarem, historicamente, diferenciais


importantes para seus desenvolvedores capitalistas, no conjunto das
empresas, não é novidade. Diferentes autores e correntes teóricas se
detiveram sobre esse tema. Na análise do economista e cientista político
Joseph Schumpeter, por exemplo, é o que o autor designa por destruição
criativa. Na medida em que a universidade se empenha no avanço das TIs, ao
desqualificarem (tais tecnologias) antigas áreas do conhecimento, fortalecerem
grupos novos voltados à expansão dessa especialização, com vistas a obter
maior visibilidade, notoriedade e o monopólio de citações entre os pares,
também age na linha da destruição social criativa, segundo o enfoque de Steve
Fuller (2016).

É importante ressaltar como a dinâmica atual da acumulação


capitalista e o desenvolvimento das TIs são mutuamente conectadas. De um
lado, o mundo corporativo apoia-se em um acervo de conhecimentos
importantes para dar sustentação a toda uma lógica, pervasiva, que atinge os
processos produtivos, e, de outro lado, os centros responsáveis pela geração e
adaptação de novos conhecimentos – representados, aqui, pela universidade –
são mantidos por esse mundo, na medida em que os interesses do mesmo
tendem a ser garantidos e reproduzidos por parte importante dessa instituição.
Desse modo, levada ao extremo, verificar-se-ia grande subordinação da
universidade, em suas diferentes áreas, à lógica do mercado e ao chamado
neoliberalismo5. O que reforçaria a contestação da tese da “autodeterminação”

5
Neste livro, a expressão neoliberalismo, além de sua conotação ideológica conhecida
– como algo que tende a subjugar as pessoas –, possui um conteúdo empírico
determinado e objetivo (no sentido de um realismo filosófico); significa, neste caso, a
realidade histórico-social em que o Estado tende a ser responsável por número
reduzido de atribuições, com o consequente crescimento da esfera produtiva, e a
regulação é mínima. Essa realidade tem aumentado sua prevalência no atual
capitalismo, sobretudo nos países considerados mais dinâmicos, e, segundo muitos de

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da tecnologia; esta mesma permanentemente condicionada pela acumulação
capitalista.

A ciência e a tecnologia, como as que se desenvolvem nas


universidades, são cada vez mais caras e não podem ser mantidas,
exclusivamente, pelos recursos que aportam esse tipo de instituição. Fatos,
estes, que tendem a aumentar a necessidade de respaldo social para a
universidade – a qual não pode ser identificada, no entanto, meramente, como
extensão de uma ou outra empresa capitalista –, e a ressaltar a importância de
se desenvolverem estratégias adequadas de governança, para manter e
ampliar a disponibilidade de recursos financeiros.

O ambiente produtivo propriamente dito não é o único que se


assenta, hoje, sobre as TIs, mas, principalmente, o sistema financeiro. Diz-se
principalmente, pois este último representa um dos setores proeminentes do
estágio atual do desenvolvimento capitalista. Nas análises de Manuel Castells,
ele não existiria, nos moldes em que o vemos, sem os conhecimentos
provenientes das tecnologias de informação e comunicação. A possibilidade de
funcionamento, em tempo real, em todos os países, de decisões e de
negociações muitíssimo mais velozes fazem das TIs os arautos da nova ordem
econômica mundial, especialmente dos sistemas financeiros, os quais
requerem conhecimentos muito especializados e o acesso imediato a
informações para subsidiarem as inúmeras decisões.

O anseio para os mesmos passa a ser buscar encurtar, ao mínimo, o


tempo de processamento de informações e a consequente negociação. Nesse
sentido, as principais empresas responsáveis pelo funcionamento dos
mercados financeiros trabalham, juntamente com engenheiros, estatísticos e
matemáticos, para viabilizarem o encurtamento dos espaços e dos tempos
anteriormente necessários para a realização das negociações que envolvem
ativos financeiros. Está-se falando da ordem de nano-segundos, em tempos

seus críticos, é responsável pelo aumento crescente das desigualdades sociais, da


concentração da riqueza, e das constantes crises verificadas nas economias.

19
infinitésimos, e na formulação de algoritmos6, com elevada capacidade de
precisão para a geração de estimativas consequentes, com vistas, no caso, ao
aumento da segurança e à obtenção de maiores ganhos de lucros e
dividendos.

A decisão tomada instantaneamente à ocorrência dos fenômenos


altera o ritmo e a lógica da mudança e da acumulação capitalista. Antes, mais
dependente dos fatos externos ao mundo das empresas e da imprevisibilidade
no comportamento dos atores; agora, mais controlada e sujeita aos critérios
pré-estabelecidos pelos interesses presentes no ambiente econômico. Se,
antes, a economia dava as cartas – ditava os rumos dos principais
acontecimentos – na sociedade; no presente momento, ela cria os cenários
que lhes são mais favoráveis, reduz as incertezas, reduz consideravelmente o
intervalo de tempo entre a produção, a distribuição e o acesso aos bens, e atua
com grande eficiência para minimizar as perdas. Isso é típico do sistema
financeiro, que lhe permite, ademais, gerar um excedente de dinheiro e de
posses suficiente para interferir diretamente nas eleições dos governantes de
vários países e na formulação das leis, que, em última instância, tenderão a
diminuir a regulação na economia e a deixar o mais livre possível o mundo dos
negócios. Em qualquer dessas circunstâncias, as TIs são decisivas, bem como
a elaboração de modelos matemáticos cada vez mais robustos para atuar
nesses cenários.

A universidade passa a ser uma contraparte indispensável da


economia, especialmente das finanças, sempre mais digitalizadas. Não se
trata, agora, meramente, de uma universidade como a que grassou no medievo
e no chamado iluminismo, responsável pela geração de importante acervo
crítico e de conhecimentos destinados a impulsionar a humanidade em direção
a níveis crescentes de autonomia e de emancipação. Vista em perspectiva,

6
Na terminologia matemática, um algoritmo consiste em uma sequência determinada
de regras, raciocínios, operações e demais procedimentos lógicos, a serem aplicados
a um conjunto de dados, para resolverem grupos semelhantes de problemas. Um
algoritmo pressupõe uma série de etapas que, cumpridas, levam aos objetivos
almejados.

20
esse último almejado objetivo tem ficado mais restrito, na esfera do mercado e
na lógica das finanças. Restringida em suas possibilidades emancipatórias,
cabe-lhe, contudo, a condição de dispor de relevante conjunto de consultores,
economistas, estatísticos, químicos, biólogos e cientistas políticos, de um modo
geral, que fornecem os conhecimentos e o apoio ao desenvolvimento material
e tecnológico e à legitimidade do Estado, bem como, ainda, possibilidades
importantes para a superação das principais mazelas sociais.

Certamente, no passado, as ideias foram fundamentais para apontar


os novos rumos nas transformações históricas, ao lado do componente
material e tecnológico. E ainda o são, hoje. No entanto, a universidade
representa o lócus privilegiado para abrigar e proporcionar o surgimento de
novas ideias e utopias, em um mundo crescentemente especializado e
segmentado. Tratada como mera extensão de necessidades do mercado e da
economia, a universidade representaria uma redução de seu potencial
emancipatório mais relevante, a saber, oferecer os meios para a compreensão
da dinâmica social contemporânea, de sua complexidade, e de possibilidades
de superação, na busca de uma sociedade mais justa e menos desigual; tudo
isso, mediante a possibilidade de buscar estender o acesso aos benefícios
provenientes da revolução científico-tecnológica – na educação, na área
médica, nos transportes públicos e na moradia, por exemplo –, e, igualmente,
na geração ou na adaptação de conhecimentos adequadas a distintas
necessidades e realidades sociais. Nesse sentido, a universidade ganha em
importância não apenas no campo da formulação de novas ideias, mas,
também, na contribuição para a solução de problemas relevantes para a
sociedade como um todo.

21
O “novo modo” de produção de conhecimentos

Nessa esteira de demandas, antigas e novas, que são projetadas


na universidade, configura-se o que tem sido chamado “novo modo de
produção do conhecimento” (GIBBONS et. al., 1994). São mudanças profundas
que ocorrem no plano mundial, intensificadas a partir da década de 70,
mediante descobertas revolucionárias, como, por exemplo, as técnicas ligadas
à genética, à produção de novos materiais, à microeletrônica, às novas
tecnologias de informação e comunicação, à química fina, à nanotecnologia, à
robótica e ao campo aeroespacial.
Tais descobertas abrangem conjunto amplo de avanços
provenientes de áreas as mais diversas, que se superpõem, reforçam, e
estimulam novos desenvolvimentos e campos disciplinares distintos. No
entanto, outra lógica, não-disciplinar, começa a dividir a atenção dos analistas
e dos próprios cientistas, calcada em maior articulação entre os campos do
conhecimento – distintamente do modo como predominou nos estudos de
Thomas Kuhn, não sem muita controvérsia, cuja ênfase era marcadamente
disciplinar e monotemática (KUHN, 2013; MARCUM, 2015; FULLER, 2002). O
quanto a interdisciplinaridade será efetivamente praticada, em face à
proeminência da crescente especialização, e progredirá, na nova lógica da
produção do conhecimento, ainda é uma questão aberta. Mas os sinais vão
nessa direção, sem que isso signifique a perda da importância da
especialização.
No cenário que se descortina, descobertas nas novas
biotecnologias passam a interferir nas ciências agronômicas e na área médica,
condicionar a Biologia Molecular, repercutir no Direito – mediante, por
exemplo, as discussões sobre biossegurança, propriedade intelectual e
patenteamento –, e articular-se às ciências sociais e à filosofia, em debates
sobre questões éticas acerca das novas descobertas7, do curso dos
acontecimentos e de seus impactos em diferentes ambientes sociais. Também

7
É exemplar a esse respeito a controvérsia entre Habermas (2010) e Sloterdijk (2000)
acerca da utilização de técnicas de aprimoramento genético de seres humanos.

22
é atingido por tais transformações o contexto político – da elaboração de leis e
da formulação de estratégias por parte do poder executivo –, no controle e
acesso aos resultados provenientes dos laboratórios.
O que acontece na área das novas biotecnologias também se
observa em outros campos do conhecimento, os quais experimentam intenso
adensamento de articulações de modo interdisciplinar e transdisciplinar, no
nível da produção dos conhecimentos e no nível das relações sociais
estabelecidas, a envolver cientistas e não-cientistas, tecnólogos e dirigentes de
órgãos públicos, além de público bastante amplo, que abrange organizações
não-governamentais e movimentos sociais, interessados nos resultados
gerados pelas universidades, laboratórios e instituições de pesquisa.
A comunicação, segundo várias formas e níveis, é crucial nesses
desenvolvimentos, não apenas na grande mídia – mediante publicações
relevantes em jornais, redes de televisão abertas e a cabo, e rádios –, e na
Internet, mas, também, em diversificados contextos de relações interpessoais,
nos ambientes de salas de aula, nas famílias e em todo um conjunto de
situações, em que o indivíduo se depara com desafios crescentes, perante os
quais precisa opinar, estar informado e responder a questões concretas sobre
a sua vida e a sociedade.
Muitas pessoas sentem-se confrontadas diante de importantes
questões pessoais e crenças, quiçá religiosas, quando, por exemplo, a
expansão das pesquisas com base na utilização de células-tronco é anunciada
como uma possibilidade efetiva. Antigas crenças são perturbadas, ao
envolverem o controle da vida e sua criação, possibilidades de cura de
doenças mediante a utilização de técnicas com a utilização do raio laser, o
consumo de alimentos transgênicos, e assim por diante. Tudo isto passa por
amplo questionamento em sua legitimidade social, não circunscrito aos
ambientes médicos ou de especialistas em congressos científicos, como ficou
evidente, apenas para ilustrar, na decisão do Supremo Tribunal Federal do
Brasil, a respeito da autorização para pesquisas com células-tronco
embrionárias.

23
A comunicação ganha em importância, hoje, não só em razão de
suas novas possibilidades, através da utilização das modernas tecnologias,
porém, igualmente, por atingir a política e o grande marketing, e, desse modo,
interferir diretamente no curso dos acontecimentos mais relevantes, na esfera
do Estado, e em virtude de condicionar os processos de comunicação entre os
indivíduos e os grupos sociais, com o aprofundamento da reflexividade e da
prática argumentativa no interior da sociedade (HABERMAS, 1980), mediante a
ampliação das possibilidades trazidas pela democratização crescente em todo
o plano internacional. As TICs e suas influências no estabelecimento de novos
padrões de sociabilidade e de mobilização política dos indivíduos, via redes
sociais, são a contraparte mais visível desse fenômeno; fato, este, que é
elucidativo, na demonstração do imbricamentos, cada vez mais presentes,
entre tecnologias e relacionamentos sociais; neste caso, está a se referir, aqui,
às tecnologias modernas, geradas no âmbito das transformações na esfera do
conhecimento (Capítulo 1).
A presença crescente de modernas tecnologias de comunicação
na produção dos novos conhecimentos é algo fundamental. Atualmente, como
se disse, é impensável a realização de pesquisas, seja no campo das
chamadas ciências duras (as ciências naturais, de modo geral), seja no das
ciências sociais, sem a condição da troca permanente de informações, no
curso das próprias investigações, entre atores muito distintos, localizados em
dado país ou no âmbito internacional.
A chamada globalização, que não se entende, aqui, apenas como
um efeito de integração de mercados, dentro de um enfoque puramente
econômico, consiste num aumento sem precedentes das possibilidades da
comunicação no campo científico-tecnológico, da circulação de ideias, da
cultura e das relações políticas, que, em última instância, estruturam e
condicionam os demais processos de articulação entre as sociedades, os
Estados Nacionais e as economias. Assim, falar de desenvolvimento científico-
tecnológico e não o contextualizar nesse espaço amplo de questionamentos,
processos e relações sociais globais implica reforçar visões parciais, unilaterais

24
e que dificultam um diagnóstico mais acurado sobre a problemática da
universidade em determinada sociedade.
Em suma, na ciência e na tecnologia, as redes de comunicação
configuram extensos e amplos canais de trocas de informações, resultados de
trabalho, debates e atualização de publicações. Os grupos de pesquisa são
formados e encerrados na velocidade dos projetos, na dinâmica de intensas
articulações entre segmentos bastante distintos, incluindo cientistas e não
cientistas, consumidores, pastores, sacerdotes, políticos e industriais. À luz
dessas novas possibilidades, legadas pelas TICs, o atual modo de produção do
conhecimento aproxima fortemente a pesquisa básica da aplicada; neste
momento, o contexto de aplicação do mesmo passa a condicionar toda a
dinâmica de interações e desenvolvimentos teóricos e experimentais. Não se
trata mais de um modelo linear, da pesquisa científica para a aplicada e daí
para o desenvolvimento de produtos e processos, a sua comercialização e a
ampla difusão. Hoje, fala-se, sempre com mais frequência, em coprodução do
conhecimento, ao aliar pesquisa e extensão em processos complexos, que
envolvem vários atores, grupos e organizações sociais.
Os critérios de qualidade acadêmica tradicionais são alterados, ao
não se apoiarem apenas em avaliações entrepares ou em critérios
estabelecidos fundamentalmente pelas comunidades científicas, ao passarem
a incluir itens como custo, segurança, relevância social e outros indicadores,
provenientes de ambientes de fora dos laboratórios e centros de pesquisa.
Essas alterações não se dão em um mesmo ritmo, tampouco são sujeitas às
mesmas pressões, a depender de cada realidade histórico-social. Entretanto,
vários sinais vêm sendo dados nessa direção, bem como no estabelecimento
de novas demandas, provenientes ou não do mundo acadêmico. A esse
respeito, é importante situar as tendências hegemônicas, mas, também, as
contra tendências, em vasto campo de conflitos os mais diversos, na dinâmica
verificada na esfera científica e em seu entorno.
Juntamente com essas novas tendências, constata-se, cada vez
mais, uma diminuição da influência da hierarquia acadêmica nas decisões e na
condução da prática científico-tecnológica contemporânea, ao ampliar espaços

25
para segmentos jovens e grupos emergentes, antes considerados periféricos
relativamente aos estratos dominantes do campo científico – na acepção de
Bourdieu (1983) –; diminuição, esta, provocada pela abertura de novos canais
de oportunidade, oriundos do meio empresarial, interessado em resultados
práticos e em patrocinar quem possa realizá-los, independentemente de sua
posição na estratificação acadêmica ou universitária. A heterogeneidade de
organizações e o surgimento de novos arranjos interorganizacionais é outra
forte característica do atual modo dominante de produção do conhecimento.
Resumindo, todos esses aspectos ressaltam a centralidade da
comunicação, tanto na relação entre ciência e sociedade, quanto entre os
próprios atores mais diretamente envolvidos com a atividade científico-
tecnológica e o público em geral, possibilitada pelas condições técnicas e
materiais, por intermédio de recursos informacionais e computacionais cada
vez mais eficazes e por toda uma ampliação da reflexividade no interior da
sociedade.
O mundo globalizado contextualiza o desenvolvimento científico-
tecnológico contemporâneo e lhe dá os contornos sociais e organizacionais em
que o conhecimento assume um papel proeminente. As inovações e os
produtos e processos tecnológicos passam a ser condição de desenvolvimento
econômico, vantagem comparativa e possibilidades de ganhos comerciais aos
seus primeiros detentores. Grandes investimentos são aportados em
companhias produtoras de sementes, implementos agrícolas, fármacos, em
indústrias de petróleo e na fabricação de computadores, por exemplo, em
atividades de pesquisa e desenvolvimento; recursos privados são canalizados
para as universidades e seus laboratórios, mediante acordos e parcerias com
várias empresas; e o Estado passa a assumir novos papéis na condução e
implementação da interação universidade-empresa, nas seguintes situações,
por exemplo: ao buscar garantir recursos suplementares, sobretudo no campo
da pesquisa básica; regular o processo científico-tecnológico, através da
supervisão das regras de segurança no desenvolvimento da pesquisa, nas
novas biotecnologias e em outras áreas semelhantes; ao interferir no processo
de patenteamento e propriedade intelectual; ao cuidar da proteção ao

26
patrimônio nacional; e ao garantir o acesso do grande público aos resultados
gerados pela pesquisa nas universidades8.
O Estado tem assumido o caráter de indutor de novas relações,
como na interação universidade-empresa, na medida em que passa a
pressionar, de modo mais efetivo, a universidade a desenvolver programas de
pesquisa voltados à solução de problemas sociais e econômicos, e para
estimular a formação de grupos e equipes de pesquisa interdisciplinares e
interinstitucionais – o que tende a favorecer vínculos mais sólidos e maior
integração no âmbito interno das organizações e entre diferentes setores da
sociedade. Ademais, uma maior exigência por parte da mesma também
pressiona o Estado a cobrar melhores resultados das universidades e das
instituições de ensino superior, o qual desenvolve, crescentemente, ações no
sentido de maior acompanhamento e avaliação dos programas de ensino,
pesquisa e extensão conduzidos por essas instituições e universidades. Isso se
reflete diretamente na pressão pelo aumento do número de vagas ofertado
pelas universidades, responsáveis pela formação das futuras gerações e pela
melhoria da qualidade do pessoal que deverá fazer parte do mercado de
trabalho.
É o quadro do aumento considerável na demanda pelo ensino
superior, consequência da maior democratização das sociedades, e como
efeito da globalização, ao evidenciar a difusão ampliada de novas demandas
sociais e estender as possibilidades de acesso a informações a vários
segmentos; o que tende a elevar a percepção da importância de
conhecimentos especializados e da formação qualificada (TRIGUEIRO, 2010).
Além disto, a busca pelo ensino superior passa a ser considerada como parte
importante da estratégia de competição por oportunidades de emprego e de
oferta de serviços inéditos e de qualidade, seja em nível de cada país, seja no
internacional.

8
As relações entre estado, sociedade e universidade são designadas por “tripla
hélice”, no trabalho de Etzkowitz & Leydesdorff (1997), no contexto atual do
desenvolvimento científico-tecnológico; essa expressão quer indicar o modo
especialmente dinâmico como são estabelecidas tais relações, no entender dos
autores.

27
Não obstante, o quadro é de grande instabilidade, em razão de
seguidas ondas de desemprego nos centros urbanos, decorrentes da
intensificação produtiva, mediante a introdução de inovações poupadoras de
mão-de-obra; esse fato, por sua vez, tende a elevar os indicadores de violência
e da insegurança social. Também neste setor, da segurança, torna-se crucial a
atuação do Estado e a demanda por soluções que passam pelos ambientes
universitários, organizações não-governamentais e por vários movimentos
sociais.
A busca de maior legitimação para o Estado – na coordenação da
economia e na regulação de inúmeros processos daí decorrentes –, visibilidade
para as empresas – ao abrangerem, por exemplo, o chamado “compromisso
social” e a ideia do “desenvolvimento sustentável” –, e aceitabilidade social
para as universidades – na linha do accountability e da exigência por maior
qualidade para o ensino e a pesquisa –, adquirem um sentido bastante especial
nos dias correntes. A necessidade de integração, articulação e de novos
consensos entre atores com interesses, tradições e valores bastante distintos e
com linguagens próprias aponta para um lado muito problemático e ainda
obscuro quanto ao seu enfrentamento.
Experiências bem-sucedidas, como a do Silicon Valey, que
envolve a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, ao integrar a
pesquisa acadêmica, o desenvolvimento tecnológico e a obtenção de produtos
e processos para uso industrial, procuram ser copiadas, em outros países e
regiões. Porém, na maior parte das vezes, as tentativas de adaptação de tais
experiências a outros contextos sociais são malsucedidas, em razão de
peculiaridades históricas e culturais, para uma assimilação automática de
modelos e estratégias exógenas.
Como desenvolver e aprofundar as possibilidades do novo modo
de produção do conhecimento, que se verifica em áreas de ponta do
desenvolvimento científico-tecnológico e em sociedades mais avançadas, para
diferentes contextos e realidades regionais e nacionais? Como enfrentar os
desafios trazidos pela globalização quanto ao acesso, às oportunidades e aos
problemas gerados pela grande quantidade de informações e demandas

28
socioeconômicas, estas mesmas ampliadas e produzidas localmente – em
cada sociedade –, e pelos avanços do conhecimento, sem descaracterizar as
potencialidades nacionais e suas peculiaridades culturais? Qual o novo papel
da universidade, notadamente em sociedades menos desenvolvidas e
consideradas periféricas, para estas poderem se beneficiar de oportunidades
importantes de consolidar o seu potencial científico-tecnológico, ao realizarem
novas pesquisas e garantirem o ensino de qualidade para as crescentes
demandas, que visam ao progresso da ciência e da tecnologia, e à melhoria de
vida das pessoas? Qual o sentido contemporâneo da autonomia universitária,
em face a essa realidade? De que modo a universidade deverá enfrentar os
desafios trazidos pelo contexto e pela dinâmica social contemporânea, em sua
estrutura, seus processos e sua gestão? Como a cultura interna, os valores,
atitudes e padrões de comportamento nessa instituição são afetados por todo o
conjunto mencionado de pressões e demandas sociais e econômicas? Qual o
novo tipo de relacionamento entre o Estado e a universidade, no contexto atual
do desenvolvimento histórico-social? De que maneira o setor privado tende a
interferir no ambiente interno da universidade, a condicionar os currículos, a
pesquisa e as atividades de extensão? Enfim, como deverão ser garantidas
áreas e interesses menos proeminentes, do ponto de vista da lógica de
mercado, no ambiente acadêmico contemporâneo, e qual a atuação do Estado
a esse respeito? Essas são questões relevantes que, de um modo ou de outro
serão abordadas adiante, ao se deter no exame do papel da universidade na
governança da ciência e da tecnologia.

29
Capítulo 2: O direcionamento estratégico da universidade

A universidade, ao longo dos últimos anos, vem sofrendo pressões


de todos os lados, para que possa responder de modo mais imediato aos
reclamos da sociedade, seja na formação e no treinamento de pessoas, seja
na realização e no desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas.
Percebe-se, interna e externamente, a necessidade de rever procedimentos,
regras de decisão e mudar determinadas estruturas responsáveis pela gestão.
Em todo esse conjunto de pressões, as novas TICs jogam papel decisivo e
oferecem poderosos recursos, para capacitar a universidade a atender a novas
e continuadas demandas sociais, e para tomar iniciativas relevantes.

O argumento básico, aqui, é que, assim como qualquer organismo


biológico, para sobreviver e superar as restrições ambientais, a universidade
requer a adaptação contínua às forças provenientes de seu entorno; este
mesmo dominado por conjunto bem diversificado de outros organismos, que
disputam por recursos escassos em uma luta permanente. Com a
universidade, hoje, não é diferente: o mundo é cada vez mais competitivo (não
necessariamente no sentido liberal da expressão), e as várias instituições, em
particular aquelas ligadas à produção e divulgação de conhecimentos, atuam
em amplo campo de conflitos, os mais diversos. Neste caso, o que está em
disputa não são apenas os recursos materiais e a infraestrutura para garantir a
permanência da mesma e sua expansão necessária (se para nada, ao menos
para a ampliação da oferta de vagas e de cursos, voltados a um mercado
crescentemente exigente por qualidade). Também é objeto da disputa o
reconhecimento social – ou legitimidade – capaz de dar respaldo junto aos
diferentes contribuintes e populações às atividades desenvolvidas pela
universidade.

A necessidade de essa instituição se ajustar e se adequar a um


tempo e a um cenário social instável e altamente imprevisível requer a
modificação de inúmeras rotinas e práticas, que, aos poucos, vão se tornando
obsoletas e incapazes de atuar com celeridade e qualidade. Não é suficiente a
existência de quadros altamente qualificados, cujos índices de publicação são

30
meritórios, e o reconhecimento de pares. Tudo isso, certamente, é importante.
Contudo, faz-se mister que a instituição como um todo passe a atuar,
sinergicamente, em que pese e a propósito de sua própria diversidade interna.

Tem sido bem demonstrado na literatura especializada que a


diversidade de grupos e de visões-de-mundo melhora a própria objetividade do
conhecimento (KITCHER, 2001). O argumento a esse respeito é que o
conhecimento científico que resultar de um embate mais ampliado, entre
diferentes correntes de pensamento e perspectivas, ao vencer muitos outros
concorrentes teóricos, será mais (e não menos) objetivo. Assim, a inclusão de
novos segmentos na universidade deve ser vista não apenas sob a égide da
versão dominante da ciência e da tradição epistemológica, mas como algo que
se faz necessário, para que tal conhecimento venha a ser mais robusto e
representativo de perspectivas muitas vezes marginalizadas no debate.

Assim, o que está em jogo é muito mais que a reivindicação de mais


recursos para a universidade, porém, juntamente com isso, maneiras insólitas
de se avançar em conhecimentos mais objetivos, e novas bases de apoio e
reconhecimento social, tanto por parte dos próprios acadêmicos, quanto por
parte da sociedade mais ampla. Sem o questionamento e eventual revisão de
determinadas práticas e estruturas internas, a universidade tenderá a
desaparecer ou a perder seu pendor crítico e transformador, mencionado
anteriormente, e que representa uma de suas características mais marcantes,
desde seus primórdios, em Bolonha. Deixada como está, o risco de perder
suas importantes marcas e prerrogativas desaparecerá, e será transferida para
várias outras instituições que desempenham, pelo menos em parte, o papel
que historicamente tem cabido à universidade.

A terminologia pode variar, nas análises e prognósticos sobre essa


instituição, a depender da concepção ideológica e da natureza da sociedade
que a abriga – multiversidade, “além da torre de marfim”, flexibilidade,
universidade propositiva, e universidade necessária. No presente ensaio, a
governança da universidade contemporânea terá como tema central a
qualidade, e como elemento constitutivo básico a informação e a comunicação,

31
e buscar-se-á propor visão menos idílica, mas, também, não negativa, ao se
insistir na ideia de contemporaneidade. Nesse sentido, as necessidades de
redefinição das estruturas de gestão das universidades visam ao aumento de
sua eficiência interna, ou à necessariamente incessante busca da qualidade de
seus resultados aos principais públicos que as mantêm. As informações,
sempre mais bem apuradas e precisas, representam os insumos
indispensáveis para estruturar e consolidar toda a sistemática da governança
interna da universidade e do papel que esta desempenha na condução da
ciência e da tecnologia.

A pergunta fundamental, aqui, é: mudar para que? Redefinir as


estruturas de gestão para que? O que se pretende com isso? Onde se tenciona
chegar? A resposta preliminar é que a redefinição de estruturas de gestão da
universidade, é indispensável, para dar um sentido e uma coerência interna às
inúmeras ações que são empreendidas, hoje, pelas universidades. Contudo,
essa coerência deve apontar para uma direção consequente, a saber, a
melhoria global da qualidade dessas instituições. A todo o conjunto de medidas
e práticas organizacionais propostas está-se designando, neste ensaio, por
direcionamento estratégico.

Essa última expressão significa, grosso modo, uma abordagem


organizacional para determinada gestão, calcada nos seguintes pressupostos:
1) ênfase no olhar externo à instituição, ao privilegiar a dinâmica social e
política que condiciona, em última instância, as ações tomadas internamente;
2) importância de se construírem perspectivas de médio e de longo prazos para
a trajetória da instituição; 3) relevância da participação direta dos atores mais
atingidos pelas mudanças internas e pelos resultados almejados, o que inclui
não apenas os membros da instituição, mas outros públicos, afetados pelos
acontecimentos que ocorrem na mesma; e 4) grande flexibilidade, para corrigir
rumos e alterar estruturas e práticas institucionais, na medida em que for
instada a isso, pelas forças em jogo e pela dinâmica econômica e sociopolítica.
Esse processo requer permanentes diagnósticos, amplos, internos e externos,
no esforço do que ficou conhecido na literatura especializada como avaliação
institucional. O que está em jogo, neste caso, é, fundamentalmente, a busca

32
por maior autonomia para a universidade, para a realização adequada de seus
múltiplos objetivos, como a ampliação de vagas e a realização e divulgação de
pesquisas.

Assim, para este trabalho, a discussão a respeito do papel da


universidade na governança da ciência e da tecnologia deve passar, antes,
pela compreensão do modo como essa instituição precisa se organizar,
internamente, para se reposicionar diante do cenário descrito no capítulo 1. O
atual modo de acumulação de capital, o impulso proporcionado pelo avanço do
conhecimento – em particular das novas tecnologias de informação e
comunicação, e sua consequente reestruturação em termos de lógica de
produção e de organização levaram, como se comentou anteriormente, a
elevado grau de instabilidade e incerteza às instituições públicas e privadas, e
ao ambiente econômico e científico-tecnológico, de maneira geral.

Diante de novas ameaças e oportunidades colocadas às


universidades, tornou-se inadiável o relançamento de suas bases internas de
organização e funcionamento, bem como implicou o surgimento de desafios
inéditos na maneira como tradicionalmente atuou na dinâmica científico-
tecnológica e em sua relação com antigos e novos atores. Tudo isso justifica o
aprofundamento, acerca da reestruturação de estruturas de gestão e de
relacionamento interno às universidades, como parte fundamental do processo
de governança da ciência e da tecnologia.

Em termos gerais, governança significa “o conjunto de ideias que


podem dar norte às atividades humanas – a toda forma de ação coletiva. (...).
O que distingue a governança da gestão diz respeito a como as grandes (ou
estratégicas) decisões são tomadas – decisões para atingir objetivos
importantes, manter relacionamentos chave e fornecer feedback – e quem
toma as decisões” (Santos et. al., 2005: 288). Nessa acepção, governança não
pode ser confundida com regulação (relacionada às práticas que dizem
respeito à formulação, supervisão e cumprimento de determinadas normas –
técnicas ou sociais, de modo mais amplo), embora se articule com esta.

33
Tampouco governança significa governabilidade – condições adequadas e
legítimas para o exercício do poder (em geral, expressão ligada ao Estado).

De acordo com o que se mencionou na Introdução, o tema da


governança é algo relativamente recente e está ligado à crescente
democratização das sociedades, e a maior engajamento social nos assuntos
considerados mais relevantes. Entre estes situam-se, certamente, as
discussões sobre o futuro da universidade e o papel do desenvolvimento
científico-tecnológico, na solução de problemas novos e dos recorrentes. No
texto de Marcio de Miranda Santos, Gilda Massari Coelho e Dalci Maria dos
Santos, intitulado “Foresight, Engajamento Social e Novos Modelos de
Governança”, o engajamento social “refere-se a uma mudança de padrão no
comportamento dos cidadãos que passaram a ser mais participativos e cientes
de seus direitos” (página 281).

Em que pese a grande variedade de definições de governança, há


um núcleo comum que ressalta a necessidade de que esta venha a oferecer
aos cidadãos as condições adequadas e informações úteis, para que possam
fazer escolhas sempre mais conscientes e responsáveis. Isso requer a
redefinição de antigas práticas de formulações de políticas, muitas vezes
calcadas apenas em visões técnicas e de especialistas. No caso de uma
universidade, a sua governança contemporânea implicará, em muitos casos, a
redefinição de antigas práticas e estruturas de gestão.
É nesse sentido que se faz mister a defesa da autonomia da
universidade. Porém, isso não pode ser feito, tradicionalmente, isto é,
meramente repetindo antigas frases e apelando para a “sensibilidade” de seus
interlocutores. “O sucesso do passado não significa o do presente”, e “a
pesquisa é algo muito sério para ficar somente nas mãos dos especialistas”
são frases que se escutam cada vez mais. É por essa razão que se pretende
avançar no presente capítulo com a discussão acerca do que se considera o
sentido atual da defesa da autonomia da universidade – um valor considerado
crucial, não apenas para os acadêmicos, mas para muitos que a defendem,

34
fortemente, em face às eventuais ameaças provenientes de seu ambiente
externo.

Autonomia Universitária

Este é o tema mais inquietante no meio universitário


contemporâneo. A sua polêmica está no centro das atenções dos acadêmicos,
técnicos, estudantes e dirigentes de universidades. É bem verdade que o termo
“autonomia” sempre significou coisas bem distintas para os vários grupos que
compõem o ambiente universitário; uma mesma palavra empregada com
sentidos bem diversos. Este fato dificultou o entendimento e a formação de
consenso sobre o tema, seja na direção de um apoio efetivo, seja na
perspectiva oposta. Muitos fóruns, mesas redondas e seminários foram criados
nas universidades, mundo afora, para buscar esclarecer as dúvidas e ampliar o
consenso sobre a autonomia.

A esse respeito, têm sido produzidos, recentemente, vários artigos


de opinião em importantes jornais, que destacam confusões conceituais, entre
outras coisas, sobre a distinção entre instituição e organização, e reivindicam
para as universidades uma total independência de pressões provenientes do
mercado, no entendimento de que são “instituições seculares”, cujas
existências “devem ser preservadas e garantidas pela ordem pública”; ou seja,
que “sua lógica não corresponde a de organizações, voltadas, estas, para a
realização de produtos determinados, obtidos segundo critérios de eficiência e
eficácia”. Nessa linha, muitos argumentam que as instituições universitárias
necessitam da mais ampla liberdade para exercerem a reflexão e o
pensamento, a pesquisa e a manifestação artística e cultural, desvinculadas de
qualquer obrigação comercial ou econômica, típicas das organizações e do
mercado.

Em quadro de tensões e conflitos, os mais diversos, as diferentes


propostas de maior autonomia para a universidade são vistas, por vários
indivíduos e segmentos sociais, como estratégia para reduzir a “verdadeira”

35
autonomia da universidade. Em suma, a reivindicação predominante é a
seguinte: “garantam-nos as condições institucionais básicas que nós (dirigentes
e membros das universidades) saberemos conduzir o dia-a-dia acadêmico”. As
interferências, sejam estas do mercado ou do governo, são vistas, desse modo,
como verdadeiras ameaças à autonomia, “secular”, como se disse, da
universidade.

As controvérsias e as resistências aos programas de mudança na


universidade, em diferentes países, tendem a se mover em campo ideológico
muito forte, no qual não sobra muito espaço para refutações ou posições
distintas. A controvérsia é muito mais suposta ou referida aos interlocutores
externos (ao ambiente acadêmico), considerados “ameaças”, que devidamente
explicitada e esmiuçada, em busca dos melhores argumentos. As tendências
hegemônicas confluem para aquilo que se chama de propensão dogmática, ao
esvaziarem, de imediato, no terreno da contestação fácil e superficial,
eventuais alternativas para a autonomia universitária, que não sejam aquelas
consagradas, historicamente, pelo movimento sindical docente e pelas
principais entidades de dirigentes do ensino superior e das universidades.
Desse modo, o debate não avança, barrado por pressões políticas e embates
ideológicos de grande vigor e tradição no meio universitário.

O fantasma do neoliberalismo, da privatização, da invasão pelo


mercado está sempre presente, em quase todas as discussões, que,
invariavelmente, terminam em palavras de ordem, chavões e apelos
sensibilizados aos “verdadeiros defensores” da universidade. No meio de toda
essa celeuma, o “não dito” é fundamental, na compreensão dos entraves para
avançar propostas consequentes de autonomia, sejam estas na linha dos
governos, dos movimentos sindicais ou das demais entidades ligadas às
universidades. Entre esses “não ditos”, está o receio difuso de se quebrar o
vínculo e a organicidade das instituições, lançando-as naquilo que se tem
chamado o “darwinismo” do ensino superior e da universidade, ao reproduzir a
concentração de benefícios nas mãos de determinados segmentos
hegemônicos e países.

36
Ademais, muitos acadêmicos entendem que a busca por uma
autonomia diferente daquela que sempre vigeu, tenderia a individualizar os
problemas de cada universidade, enfraquecendo o conjunto das instituições e a
defesa de princípios e orientações gerais, bem como a solução de problemas
comuns, afetos à realidade universitária contemporânea. De qualquer modo, a
dificuldade em se definir claramente esses aspectos, que dizem respeito à
discussão sobre o todo e as partes, o conjunto e as especificidades locais,
decorre principalmente do receio das lideranças dos movimentos docentes e
dos acadêmicos, de modo geral, de que suas posições sejam identificadas
como arcaicas, pelas suas bases, “na insistência em caminharem de modo
uniforme”; fatos, estes, que colocam dificuldades à figura do “César
Acadêmico”, preconizado por Fuller (2016).

O receio difuso de repetir antigos erros leva a certa cautela por parte
das principais correntes acadêmicas e das sindicais – nas universidades –, a
depender do país e de sua região, ao abordarem o tema da autonomia. De um
lado, a autonomia é bem-vinda, ao facultar melhores condições jurídicas a
essas instituições, para agirem com consequência na captação de recursos
físicos, financeiros e humanos. Por outro lado, esse fato tenderia a levar a uma
crescente diferenciação no conjunto das universidades, o que é visto,
eventualmente, como algo positivo, mas que pode levar antigos quadros
hegemônicos a assumirem posições conspícuas no campo, e novas formas de
dominação interinstitucionais. Segundo boa parte dos membros das
universidades, ao ameaçar a unidade desse conjunto, vincular mais
intensamente a forças do mercado e a novas pressões sociais, e, desse modo,
tornar tais instituições mais vulneráveis a um quadro ainda incerto, a autonomia
é percebida como algo muito ameaçador, no presente contexto.

Em suma, o tema da autonomia universitária se esvai e se perde em


inúmeros caminhos e descaminhos da vida acadêmica contemporânea. Ao se
acentuar muitos eventuais novos conflitos e as distintas reações manifestadas
pelos vários atores envolvidos no tema, pretende-se ressaltar uma dimensão
importante da autonomia universitária, que se projeta no ambiente interno,

37
segundo injunções e contradições, as mais diversas; trazidas para o interior
das universidades são, em muitas situações, percebidas como “verdadeiras
ameaças”, “perigos” que precisam ser bem avaliados e questionados, “para
não se render aos inimigos da instituição”. Ato contínuo, divulgam-se vários
números e apelos nesse sentido, mediante convocações do movimento
estudantil, docente, dos técnico-administrativos.

Não obstante os apelos e todo o esforço interno de mobilização,


percebe-se grande apatia, e envolvimento reduzido dos membros da
comunidade universitária. Por que não se discute de modo mais aprofundado o
assunto? O que move as pessoas na universidade a se concentrarem em sua
labuta diária, em seus afazeres e preocupações, colocando em segundo ou
terceiro plano os grandes temas da instituição como um todo, como seu
comprometimento social e a necessidade de mudança de suas estruturas de
gestão?

A dificuldade em construir espaços criativos e ricos em


possibilidades para formulações e propostas alternativas, a fim de poder
defender sem restrições ou “patrulhamentos” de qualquer ordem novas ideias,
acaba por empobrecer a participação interna, a afastar o grande público de sua
discussão, premido pelas possibilidades de desgastes desnecessários,
desconfiado de todo um “jogo de cartas marcadas”, para o qual ele não deseja
contribuir. A tradicional manipulação de opinião, já bem conhecida de todos os
membros das universidades, muito frequente em assembleias e em fóruns
dirigidos para mobilizar apoios políticos e institucionais, pode ter sido um dos
fatores que tendeu a esvaziar a atenção e a participação dos vários indivíduos
e grupos nesses debates.

O esvaziamento e a relativa pequena participação na discussão


sobre a autonomia podem ser decorrentes, também, do modo como é
assimilado, internamente, o tom de ameaça e catástrofe de que se reveste o
assunto que envolve a autonomia, e, neste caso, a governança da ciência e da
tecnologia. Isto é, são pouquíssimos os aspectos positivos abordados, e
quando o são, há quase sempre um certo ceticismo por parte do seu defensor,

38
para criar, quem sabe, alguma simpatia entre os seus interlocutores. As novas
possibilidades são diminuídas, e tende a permanecer a ideia de que “o melhor
é deixar tudo do jeito que está” – “nada de grandes mudanças”. Nesse misto de
ceticismo e denúncia, sobra pouca margem para se investir em novos projetos
ou para estimular o desenvolvimento de propostas ousadas. Assim, o
permanente pessimismo não propicia o aparecimento de ideias mais originais,
e a participação mais efetiva na discussão sobre o futuro da universidade e da
governança.

O simples investimento de esforços no sentido de ampliar os


horizontes da reflexão e buscar novas alternativas para a autonomia
universitária é vista como uma estratégia de comprometimento com o Estado, o
“sistema financeiro” e o projeto “neoliberal”, “entreguista” ou qualquer coisa no
gênero, o que acaba por inibir o imaginário do meio acadêmico. O resultado
final é uma imensa omissão, justificada por muitas vozes, em prejuízo do
debate e da construção adequada de novas ideias.

Na busca para identificar oportunidades inusitadas para a


universidade, há um aspecto bastante auspicioso para o momento atual, que
tem sido minimizado nas críticas predominantes, ou que não tem sido de fato
abordado. Trata-se da ideia de “projeto institucional”, que coloca em evidência
a necessidade de planejamento ou de visão estratégica para a universidade.
Esse é um aspecto de fundamental importância e tem sido negligenciado nas
discussões sobre a autonomia universitária. Contudo, entende-se que esta
última só faz sentido se a instituição demonstrar saber, de fato, como irá
caminhar, no médio e no longo prazos, de modo a atingir seus objetivos, evitar
a duplicação de esforços, gastos desnecessários, e a perda de oportunidades.

A omissão da universidade na formulação de um projeto de


desenvolvimento institucional – o projeto institucional, aqui, referido – e o
adiamento desse tema – de sua discussão e implementação interna –, não só a
impedirá de exercer adequadamente a pretendida autonomia – por lhe faltar
visão clara a respeito dos caminhos por onde deverá trilhar proximamente e
dos grandes objetivos a atingir, e vir a desperdiçar energias e parte

39
considerável de seu patrimônio –, como as impedirá de sobreviver em mundo
bastante exigente e competitivo, como se comentou anteriormente.

O projeto institucional não é uma panaceia, no entanto pode ser um


elemento indispensável no conhecimento de ameaças, oportunidades, pontos
fortes, debilidades, objetivos, diretrizes e metas, acadêmicas e administrativas,
ao considerar o conjunto da instituição e da realidade social mais abrangente.
É, no entendimento do trabalho, o modo mais promissor para enfrentar os
desafios do ambiente externo, e aumentar o grau de autonomia e de
capacidade propositiva da universidade.

Projeto institucional

A construção de um projeto institucional é uma tarefa urgente e


inadiável, na universidade. Mas o que é isso, precisamente? É mais uma
panaceia ou é algo que realmente pode representar um benefício para as
universidades? Isto já não sido feito, atualmente? Quais as suas diferenças
para o conhecido plano diretor? Enfim, o que isso tem a ver com a gestão e a
com a governança?

Primeiramente, a implementação de projetos institucionais não


significa panaceia. Por si sós eles não constituem solução alguma para as
universidades e para os seus desafios. Talvez, o contrário seja verdadeiro; isto
é, a inexistência de um projeto institucional representa uma séria ameaça para
as universidades no contexto contemporâneo, ao tender aumentar sua
dispersão, levar à perda de oportunidades e limitar o acesso a vantagens
comparativas na luta pela sobrevivência.

Não apenas o ambiente externo é extremamente competitivo, e não


há sinais de que esse fato seja reversível, como a disputa interna tende a se
tornar mais aguda, o que colocaria em risco a estabilidade e a unidade de uma
universidade. O projeto institucional significa, grosso modo, o conjunto de
interesses, necessidades, demandas, objetivos, diretrizes e ações planejadas

40
pela universidade, capaz de dar sentido, coesão e fundamentação ao próprio
desenvolvimento da organização, e auxiliar na competição externa e
incrementando a integração interna. É, antes de tudo, a explicitação clara dos
grandes rumos a serem seguidos pela organização, das suas trajetórias e
grandes decisões, dos seus limites e possibilidades de ação.

Dele devem constar três grandes figuras programáticas: os objetivos


estratégicos, as diretrizes e as principais ações, a serem desenvolvidas em
determinado período de tempo. Porém, não se trata de colocar a universidade
inteira dentro de uma formulação programática geral. O projeto institucional
corresponde, na verdade, às grandes linhas de ação e de decisões, que
envolvem não apenas um setor da universidade, mas todo o seu conjunto, em
suas diferentes políticas e atividades. O projeto institucional, que, aqui, é
tomado como parte do Direcionamento Estratégico, não pode se confundir com
o chamado planejamento estratégico, que tem um cunho mais instrumental – é
um instrumento importante para se construir o projeto institucional (OTANI et.
al., 2011)9.

Na construção de um projeto institucional, destaca-se a preocupação


com o médio e o longo prazos (mais ampliado que o planejamento tático e o
operacional), para dez anos, por exemplo, e com as condições e restrições
impostas pelo ambiente externo. Entretanto, este último critério e

9
Para alguns autores (OTANI et. al., 2011), a concepção de “direcionamento
estratégico” é mais adequada que a de planejamento estratégico, por entender que a
primeira forma de planejar a instituição é mais flexível que a última, ao permitir
permanentes ajustes, correções e um acompanhamento efetivo. No caso de
direcionamento estratégico, não há a necessidade de se definir a “missão” ou as
metas físicas, resultados quantitativos e preestabelecidos; tampouco há uma
preocupação muito grande com a formalização de todo o processo, a sua
documentação detalhada ou um diagnóstico descritivo e exaustivo da realidade. O que
se busca são grandes orientações e objetivos, grandes diretrizes e ações.

41
preocupação não deve ser o único referencial, tampouco deve ser reificado,
levando-se em conta também os interesses e a dinâmica interna da própria
organização no processo de planejamento e de formulação do projeto
institucional.

Não obstante, a terminologia ou o enfoque utilizado o que se


pretende ressaltar, no presente trabalho, é a efetiva elaboração do projeto
institucional da universidade, o qual indicaria os principais rumos, orientações,
objetivos e recursos empregados nas mais diferentes ações programadas, que
envolvem o ensino, a pesquisa, a extensão e inúmeros setores desse tipo de
instituição, articulando-os entre si e dando sentido à sua gestão. Nesse
processo, são muito importantes a integração e o conhecimento dos vários
aspectos e particularidades envolvidos na universidade, e a conexão de partes
e atividades, diferentes níveis hierárquicos e as várias dimensões – materiais,
econômicas, ideológicas, políticas, culturais e psicológicas, por exemplo.

Desconsiderar essa complexidade no processo de construção do


projeto institucional é correr o risco de não o implementar ou de o condenar a
uma vida curta, transformando-o apenas em mais um grande amontoado de
informações, dados e papéis sem utilidade. Assim, é fundamental ter claro que
o projeto institucional é algo que deve ser efetivamente aplicado. A sua não
execução poderia implicar a sua perda de credibilidade, ao comprometer
inúmeras outras ações da gestão universitária e contribuir para o desgaste da
legitimidade da administração superior da instituição.

Na implementação das grandes linhas e ações, o projeto


institucional se desdobra em atividades e, eventualmente, em metas que
poderiam ser atingidas, sem que estas signifiquem realidades absolutas. O
importante é a consecução das ações e atividades a estas relacionadas, e ter
claro a que diretrizes corresponde cada ação, no trabalho de acompanhamento
e execução. A elaboração dos níveis, tático e operacional, do planejamento,
que trabalham com a figura das “atividades”, pode ficar sob os cuidados de
cada setor ou instância da instituição diretamente responsável pela sua
implementação.

42
Com o planejamento global da universidade, que considera o todo e
as partes, bem como os diferentes aspectos e dimensões, será possível obter
conhecimento amplo da instituição, o que facilitaria bastante o processo
decisório e a superação de inúmeros obstáculos, no que concerne ao âmbito
acadêmico, à comunicação interna, ao processo de inovação e à superação de
resistências, na construção de uma autonomia efetiva e promissora para a
universidade. Trabalho que não pode ficar concentrado nas mãos de um
indivíduo – um “César”, segundo a terminologia de Fuller (2016) –, ou de um
grupo, isoladamente, em uma comissão ou em um setor da administração
superior, que requer mudanças profundas em vários aspectos da estrutura
universitária.

Trata-se de um rol de transformações conjugadas, conduzidas


dentro das possibilidades políticas e institucionais do momento, na
universidade, e no país, bem como da disponibilidade de recursos e de
condições materiais. São processos extremamente complexos e em geral
demorados, difíceis de serem alterados, uma vez que há toda uma cultura
arraigada. Ademais, não há fórmulas antecipadas, receitas; o resultado e a
dinâmica de cada processo depende de cada caso, e, salvo orientações gerais,
dificilmente podem ser transpostas de uma realidade a outra. É cada instituição
que irá descobrir, nas suas discussões e dentro de seus interesses e
possibilidades, os caminhos e direcionamentos que irá seguir, os primeiros
enfrentamentos, quais as prioridades, enfim quais os cenários estratégicos a
serem considerados. Nesse sentido, não existe um diagnóstico ou uma
“caracterização da realidade” únicos, ou que sigam uma mesma orientação
metodológica; antes, são diferentes olhares, enfoques, concepções e
estratégias de abordagem, situados em plano histórico, cultural e regional
específico. É nesse ponto, da caracterização e do conhecimento da realidade
institucional e de seus problemas e potencialidades de desenvolvimento, que a
chamada avaliação institucional cumpre papel fundamental.

43
Avaliação Institucional10

Em linhas gerais, a avaliação institucional, como parte do


direcionamento estratégico da universidade e articulada à formulação do
projeto institucional, significa um processo, mais que um conjunto de
resultados. Corresponde a todo o esforço empregado pela instituição em
conhecer-se e ser conhecida por outros setores da sociedade. Não se resume,
assim, a meros relatórios estatísticos ou a estudos provenientes da aplicação
de questionários entre os vários segmentos da instituição; tampouco limita-se a
dados agregados (à avaliação de resultados, por exemplo), objetivos, e a
inúmeros indicadores, como a relação professores/alunos ou
professores/funcionários, a área dos laboratórios e o acervo bibliográfico, entre
outros. Mas diz respeito a essas e a outras informações, qualitativas,
documentais, apresentadas em entrevistas, encenadas por estudantes,
apresentadas em mesas redondas, e que envolvem membros internos e
externos. Em suma, é todo o conjunto amplo de conhecimentos recolhidos com
o propósito de oferecer um entendimento a respeito dos principais problemas e
acertos da instituição, do qual podem fazer parte quadros comparativos e
mensurações que relacionam diferentes áreas ou instituições –, do passado –
mediante a comparação com algo planejado anteriormente ou com
experiências históricas consolidadas –, e do presente, e com vistas ao futuro –

10 Neste ponto do trabalho, não se pretende tecer considerações conceituais e


estender a discussão sobre a avaliação institucional, que compreende um tema
muito estudado entre os especialistas. Para eventuais aprofundamentos, têm-
se os seguintes trabalhos: 1) Adelman (1980), Amorim (1992), Arredondo
(1993), Belloni (1989), Both (1992, 1995), Campelo de Souza (1995), CRE
(1997), CRUB (1996), Cunha (1997), Cuttance (1994), Días Barriga (1996), Dill
et. al. (1996), Estrela & Nóvoa (1993), Fernandez & Mateo (1994), Ferreira
(1995), Flores et. al. (1993), Galli (1979), Gonzalez & Ayarza (1996), Granger
et. al. (1993), Guerra (1993), Keim (1994), Leite & Figueiredo (1996), Machado
(1993), Mansetto (1992), Moretti (1995), Nevo (1994), Patrick & Stanley (1998),
Patton (1990), Pennafirme (1994), Requena (1995), Saul (1998), Scriven
(1994), Sobrinho (1995, 1996), Stufflebeam (1978), Trigueiro (1994, 1995a,
1999), Trindade (1995), Van Vught (1993), Velho (1985).

44
mediante olhar prospectivo e relacionado a algo desejado proximamente pela
organização, o que inclui as condições efetivas para atingir esses objetivos.

Finalmente, a avaliação institucional, e o projeto institucional não


deverão ser parte constitutiva de uma universidade, mas compreenderão
determinado horizonte temporal, ou um ciclo, para o qual eles deverão ser
formulados e implementados. A mudança das condições e dos interesses
internos e externos à universidade, a depender do reconhecimento de sua
importância, segundo os atores direta ou indiretamente envolvidos com a
instituição, pode requerer nova rodada de elaborações estratégicas, e o
desenvolvimento de uma avaliação mais orientada a um ou a outro objetivo
específico. Isso dá um caráter dinâmico à governança da universidade – ao
conjugar o projeto institucional ao processo amplo de sua avaliação –, que,
sobretudo atualmente, em razão de elevado grau de incertezas e turbulências,
requer permanente adaptação de seu ambiente interno e da sociedade como
um todo.

As estruturas de gestão para elaborar e dar sustentação ao projeto


institucional deverão se apoiar, além da avaliação mencionada, no que se está
designando, neste ensaio, “redes de informações gerenciais”. Ademais, as
mesmas, que demandam atualização permanente, independentemente de uma
exigência ou outra, como na feitura do citado projeto, são fundamentais para o
dia-a-dia das próprias instituições, seja em suas ações administrativas, seja
naquelas relacionadas à produção de novos conhecimentos e às práticas
educacionais, bem como na governança da ciência e da tecnologia, nas
sociedades.

45
Redes de Informações Gerenciais

Um dos aspectos fundamentais na construção de modelos


adequados de governança para a universidade, e nas providências internas,
como as da avaliação e da elaboração do projeto institucional, é o trabalho de
construção ou de consolidação das chamadas redes de informações
gerenciais: um conjunto bastante amplo de sistemas de informações sobre
aspectos administrativos e voltados à gestão das universidades. Alguns
exemplos são os sistemas de custos, de patrimônio, de pessoal e cadastro, de
atividades docentes – que incluem informações sobre a distribuição do tempo
no ensino, na pesquisa, na extensão, na orientação, na preparação de aulas e
em atividades administrativas –, de convênios e captação de recursos, de
registro e controle de acervos de bibliotecas e de acompanhamento de
processos.

Esses sistemas constituem elementos indispensáveis para uma


boa decisão e precisam ser confiáveis, de fácil acesso, leitura e interpretação,
e bem protegidos. Ademais, devem estar bem articulados uns aos outros e
coordenados por determinadas instâncias da universidade, que se
responsabilizam pelo seu controle, aprimoramento e contínua alimentação,
tanto em termos de máquinas, equipamentos e estruturas físicas, quanto em
termos de elaboração de programas e processos.
A qualidade dessas redes de informações é extremamente
relevante para a gestão universitária, e deve consistir em uma prioridade, no
momento atual, ao facilitar o trabalho de avaliação institucional, de formulação
estratégica, e do chamado “accountability”, e responder a necessidades de
maior transparência e visibilidade da instituição, tanto para o público interno,
quanto para o externo. A existência de uma boa qualidade nas redes de
informações gerenciais é, como se diz, “meio caminho andado” no trabalho de
consolidação da avaliação institucional e na construção do projeto estratégico
da universidade. Assim, esses três componentes da gestão são o que se pode
chamar o “chip” da gestão organizacional contemporânea, o seu elemento
propulsor das transformações e da obtenção de novo quadro institucional.

46
Dentre os três elementos mencionados, as redes de informações
gerenciais podem ser o primeiro passo nas mudanças a serem introduzidas.
Primeiro, porque, em geral, tendem a representar potencial menor de conflitos
– restrita aos antigos “detentores” das informações gerenciais e responsáveis
pela “guarda” desses sistemas –; segundo, por apresentarem rápidos e visíveis
sinais de bons resultados em várias práticas e no cotidiano das universidades,
o que pode ser muito importante na negociação interna para enfrentar as
próximas mudanças; e ao servir de “efeito demonstração” e favorecer o
processo de legitimação da administração superior da instituição. Em suma,
investir na melhoria das redes de informações gerenciais é algo de grande
repercussão interna e externa, e uma condição indispensável para poder
avançar na direção de outras importantes transformações.

Secretaria de Direcionamento Estratégico (SDE)

As redes de informações gerenciais, a avaliação institucional ou o


processo de planejamento global e a gestão nas universidades não têm
condições, por si sós, de serem implementados, a não ser que outras
providências acompanhem essas ações. Em outras palavras, todo um conjunto
de mudanças necessárias, na universidade, para manter sua autonomia e
atender às novas demandas sociais, não podem ser tarefa, apenas, de uma
comissão ou instância superior, tampouco de um grande e criativo líder, por
mais que o seja necessário. Tudo isso requer redes de informações confiáveis,
velozes e devidamente integradas.
A consolidação da rede de informações gerenciais abrange a
utilização de modernas TICs, ou o seu desenvolvimento, o que pode ser
delegado aos setores responsáveis por esse tipo de conhecimento na
universidade. Certamente, as áreas de Administração, Contabilidade, Gestão
de Pessoas, Engenharia de Redes, e outras afins. A precariedade dessa rede,
sua fraca integração e a não continuidade dos investimentos em sua melhoria
podem fazer da governança da universidade mera peça retórica.

47
Figura 1: Os sistemas constitutivos da Secretaria de Direcionamento Estratégico

48
A Figura 1 apresenta os três componentes mencionados – o
planejamento, a avaliação e os sistemas de informações gerenciais –, bem
como sua articulação, na gestão da universidade. Para dar um sentido de
coesão e responsabilidade na condução das transformações necessárias,
propõe-se que tais componentes sejam parte constitutiva do que se está
designando, na presente discussão, por Secretaria de Direcionamento
Estratégico (SDE), a ser criada e vinculada à administração superior da
instituição. O nome atribuído não é relevante, mas a atividade para a qual está
sendo pensada. O sentido da SDE seria o de desenvolver e coordenar ações
estratégicas para a universidade, em sua gestão. Mas, também, teria
responsabilidades com atividades cotidianas, indicadas na elipse referente ao
ambiente interno, na Figura 1.
Cabe, à SDE, fundamentalmente, a atribuição de coordenar e
articular todo o processo de avaliação e planejamento na instituição, em
estreita ligação com os sistemas de informações gerenciais. Diferentemente de
comissões de avaliação muito centralizadoras, a SDE deve ser, basicamente,
uma facilitadora e articuladora de todo esse processo de implementação da
gestão estratégica na instituição. Além disso, a SDE poderia também
desenvolver vários estudos sobre a avaliação e planejamento, bem como os
que incluem os trabalhos teórico-metodológicos e aqueles que abordassem
especificidades da instituição universitária, mediante a contribuição de
diferentes áreas do conhecimento e enfoques.
Resumindo, a SDE deveria acompanhar, apoiar, coordenar e
consolidar, no nível global da instituição, todas as ações e resultados dos
trabalhos de avaliação, planejamento e desenvolvimento das redes de
informações gerenciais; buscaria reforçar visão de conjunto, e impedir a
fragmentação dos projetos e das inúmeras iniciativas no sentido da governança
da ciência e da tecnologia.
Na Figura 1, estão representados os três núcleos de ações do
direcionamento estratégico da universidade: o Sistema de Informações
Gerenciais – contido nas redes de informações gerenciais –, o Sistema de
Avaliação Institucional e o Sistema de Planejamento. Estes diferentes sistemas

49
integram amplas redes de relações, perpassando diferentes níveis
hierárquicos, processos e instâncias da Instituição; ou seja, compreendem
determinados espaços de regulação e funcionamento de ações organizacionais
específicas, implicando inúmeras possibilidades de articulação e participação
de diferentes atores e instâncias da instituição nas atividades correspondentes.

Seguindo uma abordagem sistêmica, evidencia-se, na figura


anterior, a dimensão de insumos/processos e a dimensão
processos/resultados. Com isso, pretende-se destacar as conexões
estabelecidas entre as atividades desenvolvidas no âmbito da SDE, as
condições, os recursos e as necessidades que garantem e sustentam as suas
ações, e os produtos obtidos com o conjunto dessas ações. Assim, os
insumos/processos e os processos/resultados estão diretamente relacionados
a todo o contexto de funcionamento da SDE, em suas múltiplas articulações
internas e externas. Outro aspecto ressaltado na Figura 1 é a complexa e
mútua relação estabelecida entre os três sistemas presentes na SDE, conforme
indicado pelas setas cheias e tracejadas, sugerindo esquema contínuo de
alimentação e retroalimentação.
O sistema de planejamento, que ganha importância na figura,
desdobra-se em atividades que culminam com o desenvolvimento
organizacional, o planejamento orçamentário e com atividades relacionadas à
formulação de metodologias e de propostas de articulação intra e Inter-
organizacional. É também a instância central para a formulação do projeto
institucional e das demais atividades que estão diretamente relacionadas ao
ambiente externo da instituição.
Finalmente, vale observar a ligação direta entre o sistema de
informações gerenciais e os ambientes interno e externo à organização, que se
tenciona indicar, desse modo, ao se ressaltar, seja a importância desse
sistema para a tomada de decisão na instituição e o trabalho de avaliação
institucional, seja a relevância de se atender a crescentes necessidades da
sociedade por informações produzidas nas universidades e na governança da
ciência e da tecnologia; esta mesma sociedade que interfere, diretamente, nas
atividades e no funcionamento dos três sistemas apontados.

50
Capítulo 3: O Papel da Universidade na Governança da Ciência
e da Tecnologia

Em defesa de uma ciência e uma tecnologia bem-articuladas

A ideia básica para este capítulo é que a universidade não é apenas


mais um ator no ambiente científico-tecnológico11, mas exerce um papel
proeminente nesse ambiente, e, em razão disso, requer pensar sua atuação
consequente, na governança do mesmo. É certo que, além da universidade,
atualmente, têm-se vários outros atores que compõem a atividade científico-
tecnológica de uma sociedade. São laboratórios de indústrias, pequenas
empresas de alta tecnologia geradas nas universidades, “START UPs”,
universidades corporativas – ligadas a uma empresa ou a determinado produto
comercializável –, parques tecnológicos, e, obviamente, um conjunto bem
diversificado de agências de fomento do governo, ou internacionais, e
organismos responsáveis pela formulação de leis e editais públicos para o
setor de pesquisa e a formação de recursos humanos. A propósito, são essas
duas as principais atividades ligadas ao desenvolvimento científico-tecnológico
mencionado, em que, grosso modo, predomina a ação da universidade.

Um dos principais desafios do momento, para a atividade científico-


tecnológica de uma sociedade, em que pese algo positivo na existência de
muita diversidade organizacional, é cuidar para que o conjunto não se
fragmente em múltiplas e descoordenadas organizações, o que poderia levar a
um empobrecimento da qualidade dos resultados aí produzidos, a duplicação
de recursos e de esforços intelectuais, e o não atingimento de objetivos

11
A noção de ambiente científico-tecnológico é bem distinta daquela desenvolvida no
enfoque econômico, principalmente entre os chamados evolucionistas e a corrente
neoschumpeteriana. O ambiente tecnológico, na presente discussão, consiste no
campo de todas as possibilidades científicas e tecnológicas, que serão objeto de uma
seleção, mediante mecanismos os mais diversos, envolvendo conflitos, busca de
hegemonias e também muitas negociações, entre os mais diferentes atores e
organizações da sociedade (TRIGUEIRO, 2009); já, no enfoque econômico, ambiente
tecnológico significa, em geral, o contexto externo ao de uma firma, que inclui o
mercado, outras organizações e os instrumentos legais, locais ou internacionais, a
afetar a demanda e a produção de inovações e novos resultados científicos e
tecnológicos.

51
estratégicos gerais, eventualmente buscados pelas instâncias governamentais,
apoiados pelos novos conhecimentos. Em uma palavra, é zelar pela melhoria
da articulação interna das várias partes que compõe o conjunto dessas
organizações.

Todos esses aspectos são relevantes para a concepção de “ciência e


tecnologia bem-articuladas” (TRIGUEIRO, 2012), no entendimento deste
ensaio, como resultados principais de uma governança consequente. A
preocupação em formular um adequado projeto institucional para a
universidade, cuidar de a preparar para a implementação de novas bases para
sua gestão, em que se destaca o aprimoramento e a modernização de suas
redes de informações gerenciais, é parte importante de todo um trabalho para a
obtenção de uma ciência e uma tecnologia bem articuladas.

Sem negligenciar os vários interesses, muitas vezes em conflito entre si,


dentro de um enfoque que identifica as hegemonias, os grupos de pressão e as
sabotagens, a ciência e a tecnologia bem-articuladas não devem ser aquelas
que tenham como prioridade exclusiva, necessariamente, os grupos menos
favorecidos nas sociedades12; é claro que deve haver esforço mais
concentrado para que os graves problemas, mencionados na Introdução, como
os relacionados à fome, aos elevados índices de analfabetismo, à falta de
condições básicas de moradia e de acesso restrito aos recursos voltados à
12
Na linha das formulações de Max Weber, a noção de uma ciência e uma tecnologia
bem-articulada é um tipo ideal, e visa a identificar problemas que apontem para graves
bloqueios de “comunicação” ou de articulação interna e externa da ciência e da
tecnologia – aspectos muito importantes para a governança das mesmas –, ou para
aquilo que autores da área da Administração chamam de problemas de falta de
“sinergia” ou de “conectividade”, ou que os cientistas sociais chamariam de “problemas
de integração”. Nesse sentido, uma ciência e uma tecnologia bem-articuladas
possuem boa sinergia interna e externa; no extremo oposto, apresentam graves
problemas de articulação. No entendimento de Kitcher (2001) e de Brown (2001), de
acordo com o que se mencionou nos capítulos precedentes, há grande débito da
ciência moderna para com o que eles chamam “menos favorecidos” da sociedade, e,
para eles, esse é um problema importante que se coloca para a ciência
contemporânea. Acompanhando os mesmos, mas não limitando esse débito a apenas
os “menos favorecidos”, sustenta-se que, em linhas gerais, a ciência e a tecnologia
modernas não estão bem-articuladas, ao identificar sérios “problemas de integração”
com o seu ambiente externo. Essa observação se insere no debate mais amplo acerca
da problemática de legitimação da ciência e da tecnologia no mundo contemporâneo,
a ser mais discutido neste capítulo.

52
saúde e à educação, por exemplo, sejam superados. Há um débito muito
grande da ciência e da tecnologia, no sentido de atuarem mais diretamente na
busca de soluções para essas persistentes mazelas de nossas sociedades
(Kitcher, 2001; e BROWN, 2001). Contudo, fora os problemas que afligem os
que mais precisam de ajuda, no momento, há ainda as demandas de vários
outros, no setor produtivo, em organizações não-governamentais e no próprio
meio acadêmico, local e internacional. Muitas vezes, as soluções não estão ou
não dependem estritamente do “circuito científico e tecnológico”, mas estão a
depender da dinâmica política; e inúmeros conhecimentos importantes
poderiam ser transferidos, prontamente, para a sociedade.

Em que pesem as restrições reais, políticas, culturais e institucionais,


uma ciência e uma tecnologia bem-articuladas, passam, também, pela rede de
atores (entre os citados anteriormente) que precisam estar motivados, para que
haja uma “sinergia” de informações, demandas e comunicações entre a
sociedade e a ciência e a tecnologia, bem como maior integração entre as
diferentes esferas da sociedade. Isto é, a ciência e a tecnologia bem-
articuladas precisam, também, integrarem-se com as políticas industriais, com
as políticas educacionais e de formação de recursos humanos, com as políticas
ambientais e com as políticas energéticas, por exemplo, para evitarem a
duplicação de esforços, gastos inadequados de recursos públicos e a perda de
foco dos principais objetivos.

Nesse sentido, de acordo com o que foi discutido no capítulo anterior, é


de grande importância a elaboração de planejamentos estratégicos (e de um
projeto institucional), e perspectivas que busquem a integração e a melhoria da
comunicação entre os diferentes setores da sociedade. Aliás, será tanto melhor
para os propósitos aludidos que eles – os setores econômicos, as empresas e
demais grupos dinâmicos da sociedade, bem como os representantes de
moimentos sociais e determinados consumidores – participem, de algum modo,
dessa elaboração, com vistas a uma ciência e a uma tecnologia bem-
articuladas.

53
O que se deve buscar, fundamentalmente, com a governança das
atividades científico-tecnológica, é maior “conectividade” entre os diferentes
interesses, setores e demandas da sociedade, com o aparato científico-
tecnológico. E isso passa, necessariamente, pela construção de agendas de
pesquisa e de formação de pessoas, que, além do meio acadêmico, possam,
também, aglutinar pessoas de outros segmentos da sociedade; deixada
inteiramente autônoma e autorregulada, a ciência e a tecnologia tenderão,
possivelmente, a reproduzir as desigualdades existentes nas sociedades – é o
que Fuller (2016) designa por “inércia institucional”.

Ao chamar a atenção para a defesa de uma ciência e uma tecnologia


bem-articuladas não se tenciona apoiar qualquer iniciativa que procure diminuir
a liberdade dos pesquisadores e a autonomia de suas próprias decisões;
distintamente, pretende-se ressaltar a importância de que os governos e os
órgãos responsáveis pelo desenvolvimento científico-tecnológico passem a
investir muito mais no esforço em estreitar as redes de ligação entre esses
muitos atores e a sociedade. Isso não brota, espontaneamente, mas decorre
de decisões bem respaldadas e legitimadas no interior da sociedade, o que
requer abrir ou ampliar os canais de comunicação com o grande público, o qual
precisa e deve ser mais bem informado a respeito do que está em jogo no que
concerne à ciência e à tecnologia (além do lado visível de progresso, nos
celulares, na informática, nos novos materiais e assim por diante). Em outras
palavras, é tarefa dos governantes e dos cientistas e filósofos alertarem à
sociedade sobre as novas possibilidades e os novos riscos advindos do avanço
da ciência e da tecnologia, o que inclui a mobilização e a criação de iniciativas
propícias ao acesso ampliado dos benefícios.

Como já foi comentado, aqui, “pesquisa é algo muito sério para ficar
somente nas mãos dos pesquisadores”. Tentar aproximar ciência, tecnologia e
sociedade não é tarefa para poucos “iluminados”, nem é algo que se alcance
de uma hora para outra. Mas é preciso começar a avançar mais nessa direção,
darmos os primeiros passos. É um grande desafio, o qual só pode ser

54
enfrentado com mais conhecimentos, confiáveis, objetivos e precisos, acerca
do mundo físico e social.

Discussão Preliminar sobre a Elaboração de Propostas para a atuação da


universidade na governança da ciência e da tecnologia

Ao se pensar em desenvolver propostas para a atuação da


universidade na governança da ciência e da tecnologia, toma-se como
premissa que não existe um modelo único, a ser aplicado em diferentes
contextos sócio históricos. Ao contrário, deve-se considerar as características
da economia mundial e, em particular, de determinada sociedade, a
disponibilidade de recursos – físicos e financeiros –, a disposição política dos
atores envolvidos e daqueles atingidos pelos resultados provenientes dos
laboratórios, o projeto institucional da universidade – seus pontos fortes e
fracos, e suas ameaças e oportunidades –, a existência e a disposição de
certos líderes ou dirigentes máximos da instituição – para colocar em prática
uma agenda de governança, bem como sua capacidade de iniciativa e de
criatividade, a fim de buscar inseri-la em novo contexto; ao mesmo tempo, é
necessário considerar os interesses presentes no ambiente acadêmico, e o
grau de articulação entre os diferentes atores – internos ou externos à
universidade –, ou seja, o quão bem ou mal articulada é a ciência e a
tecnologia de determinada sociedade. Os aspectos históricos e culturais, e o
acervo de conhecimentos científicos e tecnológicos precisam, igualmente, ser
levados em conta nas decisões acerca do processo de elaboração e de
implementação do modelo de governança da ciência e da tecnologia, e da
atuação da universidade em todo esse processo.

Não obstante as inúmeras diferenças entre os tipos de instituições


e sociedades, para colocar em prática a governança da ciência e da tecnologia,
alguns atores estão, via de regra, presentes, e certas ideias têm sido
recorrentes, quando se discute esse assunto entre os especialistas. Os atores
mais diretamente envolvidos com a governança da ciência e da tecnologia são:
pesquisadores e especialistas, estudantes, técnicos – de universidades e do

55
meio acadêmico, em geral –, dirigentes de órgãos públicos – responsáveis pela
formulação das leis destinadas a regularem a ciência, a tecnologia e áreas
afins na economia –, empresários – nacionais e de outros países –,
movimentos sociais – ambientalistas, trabalhadores sem moradia, e defensores
da reforma agrária –, religiosos – na medida em que lidam com questões éticas
relacionadas aos resultados científicos e tecnológicos –, e determinados
consumidores. A variabilidade e o número de tipos de indivíduos e de grupos
sociais que deverão participar de determinada governança da ciência e da
tecnologia depende do assunto e das condições mencionadas anteriormente.
De mais a mais, pode-se defender uma proposta mais abrangente de
governança de ciência e tecnologia, e, ao mesmo tempo, propostas
específicas, de acordo com o tema relacionado, o alcance do público atingido e
do interesse do país e dos seus grupos mais mobilizados.

Algumas ideias, no entanto, podem ser colocadas em prática, em


razão do elevado consenso em torno das mesmas: a criação e imediata
execução de um programa de educação para a ciência e a tecnologia, do qual
participem, não apenas as escolas e as universidades, mas a grande mídia e
os movimentos sociais mais interessados no assunto. A esse respeito, é bem
evidente a precariedade de informações acerca da ciência e da tecnologia – o
que é mito e o que é realidade –, para o grande público, o que se reflete em
posições muitas vezes irracionais – em vista do medo dos resultados
eventualmente prejudiciais provenientes dos laboratórios –, em decisões
intempestivas perante os tribunais, e junto às instâncias executivas dos
governos e os parlamentos. A realização de amplo programa de educação para
a ciência e a tecnologia pode ajudar a esclarecer alguns dos temas trazidos à
tona pela grande mídia, auxiliar no processo de tomada de decisões, e
contribuir para maior legitimidade das mesmas. Outro ponto consensual tem
sido o reconhecimento a respeito da importância de se ampliar o número de
vagas nas universidades, os tipos de públicos atendidos, e a criação de cursos
de extensão que venham a aprimorar a qualidade da formação de pessoal.

56
Um aspecto nem sempre consensual, mas que vem ganhando
destaque, em face às mudanças apontadas no Capítulo 1, na economia e no
novo modo de produção de conhecimentos, refere-se à natureza dos recursos
fomentados para o desenvolvimento científico-tecnológico. Trata-se da
necessidade de se criarem ou se alargarem os montantes destinados ao que
se chamam “demandas induzidas”, a despeito da tendência constatada de
redução dos recursos financeiros alocados pelos governos a esse
desenvolvimento – seu custeio e investimento. Grosso modo, as demandas
induzidas contrastam com o tipo de financiamento de pesquisas que venha a
beneficiar um ou mais indivíduos ou grupos, e que atuam, em geral, em
universidades. Nesse caso, tais instituições funcionam, basicamente, como
espécies de hospedarias para esses indivíduos e grupos, os quais prestam
contas – em termos dos conhecimentos produzidos –, fundamentalmente, para
as suas comunidades acadêmicas ou campos disciplinares; o que parece algo
relevante, mas, longe de ser suficiente, hoje. A propósito, isso é um aspecto
que, no entender deste livro, precisa ser redimensionado ou reestruturado,
diante das mudanças em curso e das necessidades que se projetam sobre a
universidade, a afetar as bases de sua legitimidade. Em outras palavras, não
há como se manter o mesmo modus operandi que dominou o ambiente
acadêmico no século passado. A máxima “deem-nos os recursos que o resto
fazemos”, se funcionou em determinada quadra de nossa história, torna-se,
cada vez mais, insustentável; há que se repensar o novo significado e o sentido
contemporâneo da expressão e da prática da autonomia nas universidades,
conforme se discutiu no capítulo anterior.

De modo mais específico, as demandas induzidas significam


necessidade identificadas na realidade social, sejam estas, do mundo
econômico ou do cotidiano dos indivíduos, como aquelas relacionadas à
mobilidade urbana, escoamento de esgotos, aproveitamento do lixo, moradia,
saúde, segurança e educação. Para muitas dessas, a universidade pode atuar
de imediato, o que requer, inicialmente, inventário do estoque de
conhecimentos disponíveis e seu cotejamento com determinadas necessidades
econômicas e das populações. O que se argumenta, neste ponto, é que,

57
deixadas a mercê, muitas demandas da sociedade, que requerem soluções
provenientes da ciência e da tecnologia, ou da universidade, permanecerão
como estão. Nesse sentido, como apontam muitos autores, há uma “inércia
institucional”, na universidade, a ser quebrada, unicamente, se uma “força
externa” – um grande líder ou dirigente, ou um programa consistente de
governança – atuar para reverter o imobilismo e a reprodução de antigas
lógicas da organização e do funcionamento dessa instituição, e de sua relação
com o “mundo externo” à mesma.

Uma das principais conquistas que podem ser obtidas com a


governança consequente da ciência e da tecnologia, no sentido de poder vir a
contribuir para algo mais bem articulado (segundo as observações iniciais
deste capítulo), é trabalhar na construção e na implementação de modelos em
que a universidade venha a quebrar o “círculo vicioso” do benefício
praticamente exclusivo dos seus grupos hegemônicos e do estrato superior do
campo científico. Em determinados países, somam-se aos grupos consolidados
no meio acadêmico, o entrelaçamento de interesses com alguns órgãos do
Estado, mormente aqueles ligados ao fomento e à formulação de regras de
funcionamento dos cursos de pós-graduação.

A esse respeito, um item que está a merecer urgente atenção e


mudança nos padrões dominantes de regulação da ciência e da tecnologia é a
ênfase no sistema de avaliação por pares. Tal modo de avaliação tem sido a
tônica, seja na decisão pela aprovação ou não de um artigo científico para
publicação, na classificação de programas, cursos de pós-graduação e de
universidades, na promoção ou não de um cientista-docente, na concessão ou
não de recursos para pesquisa ou em quaisquer eventos científicos
patrocinados pelos governos e por suas agências de fomento, seja na escolha
do número de estudantes orientados e assim por diante. Hoje, qualquer
avaliação da ciência e da tecnologia que não passe pelo crivo dos pares não é
dignamente reconhecida como aceitável (pelos próprios pares). E, como a
publicação de artigos em periódicos internacionais é a meta mais ambicionada
da maioria dos sistemas de avaliação da ciência e da tecnologia, acaba que

58
tudo o mais tende a girar na busca obstinada por índices mais elevados de
publicação – a designada “produtividade”, que, no frigir das contas, é um
indicador do número de artigos que um cientista-docente ou um grupo destes
publicou em um certo período.

Muita crítica tem sido feita, mundo afora, ao se procurar contestar


tal método “produtivista” de avaliação, bem como o destaque dado aos pares
na avaliação da ciência e da tecnologia contemporânea. Muitas das quais
reclamam: do empobrecimento da qualidade do conhecimento (calcado,
basicamente, em indicadores de produtividade); da “rendição do ensino”, nas
universidades – em geral, avaliadas sub-repticiamente, ou em função do que a
pesquisa (lê-se a quantidade de publicações por um período de tempo)
considera prioritário –; da tendência a reforçar as desigualdades da ciência e
da tecnologia em um país ou entre vários deles; e do crescente distanciamento
que se pode daí derivar, relativamente a outros setores da sociedade. Em que
pese a contundência dessas críticas, o ambiente acadêmico, e sua inércia,
tendem a mudar muito pouco em tudo isso, quando não, deixar as coisas como
estão.

Os riscos daí decorrentes são muitos, com a perda de


legitimidade, e, consequentemente, de recursos financeiros. O que, no final das
contas, poderá levar à limitação relativa da importância da universidade, ao
contrário do que se espera – ao menos essa é a expectativa do presente
ensaio, no conjunto das demais instituições ligadas à atividade científico-
tecnológica. A defesa, feita anteriormente, da construção de um projeto
institucional para a universidade vem no sentido de buscar superar ou
contornar muitos desses problemas. E, também, juntamente com o
reconhecimento de sua proeminência em tal conjunto de instituições, no que
concerne à produção de conhecimentos e ao exercício da liberdade de
pensamento, essa é a razão de se defender, enfaticamente, a atuação da
universidade na governança da ciência e da tecnologia.

Diante disso, em novo cenário, a universidade não pode ser uma


instância meramente reativa, refém dos interesses econômicos ou dos grupos

59
hegemônicos no campo científico. Um de seus principais desafios, hoje, é
trabalhar para inverter essa linha de atuação. Desse modo, deve passa a ser
não apenas mero ator no processo de governança da ciência e da tecnologia,
mas, também, objeto de ações previstas, voltadas a reposicioná-la no
desenvolvimento histórico-social. Visto por esse ângulo, o tema em foco deve
ser prioridade dos próprios membros da universidade, especialmente de seus
mais elevados dirigentes, e do Estado. Contra si estarão os principais
beneficiários da lógica dominante, e da tecnocracia do Estado, que têm urdido
inúmeras medidas, em duradouras parcerias, com tais beneficiários. Nesse
sentido, a construção do projeto institucional em uma universidade, ou sua
atualização, vem ampliar as possibilidades de que certos segmentos excluídos
ou preteridos possam ganhar força, nas eventuais negociações e pressões por
mudanças, na medida em que possibilite a abertura de novos canais de
participação e a sensibilização de quadros antigos, para os problemas
emergentes. Numa palavra, em muitos locais, a maior democratização de
inúmeros espaços é caminho promissor para a reestruturação de instituições
bem consolidadas, a exemplo da universidade.

A ampliação da comunicabilidade interna, com as muitas


inovações introduzidas pelos sistemas de informações gerenciais, e as
modernas tecnologias de informação e comunicação, é, inegavelmente,
conquista importante para a governança contemporânea da ciência e da
tecnologia. Porém, também o é sua extensão para setores de fora da
universidade, e a inclusão de públicos, antes colocados à parte dos assuntos
atinentes ao desenvolvimento científico-tecnológico. Isso não significa,
necessariamente, a imediata solução de problemas emergentes, que atingem a
universidade, as empresas e a população, os quais dependem dos resultados
advindos dos centros produtores de novos conhecimentos; mas, certamente, é
importante condição, sem o que fica comprometida a própria possibilidade da
governança da ciência e da tecnologia.

Como se disse, no início, o modelo a ser proposto e


implementado de governança depende de muitos fatores. A universidade, em

60
qualquer circunstância, será um ator fundamental. Muitas das propostas podem
vir dos próprios centros ou unidades acadêmicas, como as áreas de
administração, psicologia, história, economia, contabilidade, ciências da
comunicação, ciências da computação, matemática, ciência sociais e
engenharia, ao fornecerem estratégias que considerem a história e a cultura
das diferentes instituições envolvidas com a ciência e a tecnologia, as diversas
estruturas organizacionais, e, se for o caso, criação de programas de
computação e de componentes eletrônicos.

Neste ensaio, defende-se a importância dos organismos do


Estado e das corporações privadas na condução dos destinos da ciência e da
tecnologia e da formação de pessoas. Também, aqui, a atuação da
universidade é crucial na implementação de modelos de governança da ciência
e da tecnologia, seja porque é quem, principalmente, forma novos quadros de
profissionais ou atualiza os seus conhecimentos, seja porque é quem, de fato,
é a responsável mais destacada na produção de tais conhecimentos. É preciso,
contudo, estar consciente de que há muito mais que atores e interesses, além
da universidade, que dela dependem (e, reciprocamente), com os quais precisa
lidar, a fim de se buscar uma ciência e uma tecnologia bem articuladas.

Muita coisa precisa ser feita, interna e externamente às


universidades, para atingir essa meta. Os especialistas terão, sempre, posição
de destaque – serão eles que, na prática, irão produzir os estudos e irão formar
pessoas para desempenharem as diferentes tarefas na sociedade. Mas daí não
decorre que suas agendas de pesquisa, e os compromissos que deverão
assumir, em conjunto cada vez mais diversificado de atores, seja algo
garantido, pura e simplesmente, em razão de sua notoriedade acadêmica. Será
imprescindível, crescentemente, negociar, pesar custos e benefícios, e
ponderar as consequências de suas ações como cientistas. Não será
suficiente, apenas, para utilizar expressão de Max Weber, uma ética da
convicção (na defesa, por exemplo, do conhecimento ou da verdade, pelo
conhecimento), reiterar que o sucesso do passado é seu aliado, nem que a
ciência é algo sagrado e a universidade, intocável. Juntamente com essa ética,

61
haverá cobrança maior, em favor de outras éticas, como a da responsabilidade,
a qual, contrapõe meios a fins, necessidades com possibilidades (sociais e
políticas), e muito “senso de proporção”, para continuar com a terminologia
weberiana.

Diante dessas considerações, a avaliação por pares, e o


“produtivismo” tenderão a perder espaço para o tema da busca da qualidade,
da eficiência no uso dos recursos (públicos), e das novas formas de
legitimidade acadêmica, que deverão marcar os mais diferentes ambientes
sociais, em vasto campo de conflitos. As relações internacionais, atinentes à
ciência e à tecnologia, por sua vez, deverão considerar as possibilidades
eventualmente crescentes do surgimento de novos atores e de novas lógicas –
multicentradas e regionais –, ao invés de polarizadas nos esquemas centro-
periferia, ou dominante-dominado. Isto também é objeto de discussão sobre a
legitimação da ciência e da tecnologia nas sociedades contemporâneas.

A par desse cenário possível, as múltiplas conexões de atuação


das universidades e de demais instituições e atores ligados à atividade
científico-tecnológica, bem como as novas bases de legitimação para as
mesmas, deverá receber, num crescendo, maior atenção dos especialistas, dos
empresários e dos dirigentes de órgãos públicos. Por esse motivo, tenciona-se,
a partir deste ponto, dar destaque à discussão a respeito da legitimação na
produção científico-tecnológica contemporânea. Embora a mesma não se
traduza, de modo imediato, em ações concretas, na formulação e
implementação da governança da ciência e da tecnologia, ela precisa ser muito
considerada e mais bem compreendida, como um fenômeno “silencioso”, mas
necessário para tornar possível o consenso, a confiança, e, em última
instância, a aprovação (ou não) do seguimento de uma ou de outra iniciativa,
agenda de pesquisa, ou atividade investigativa.

Ao se iniciar o capítulo anterior, buscou-se destacar o fato de que o


engajamento social é a novidade presente na discussão atual a respeito da
governança. Ao mesmo tempo, de acordo com o preconizado há pouco, não se
imagina a formulação de qualquer projeto institucional que venha no sentido de

62
restringir a autonomia dos acadêmicos (de modo mais amplo), a universidade,
tanto na condução das pesquisas, quanto na formação dos futuros quadros
(acadêmicos ou não). Conciliar essas duas forças – uma que tende a ampliar o
engajamento da sociedade nas questões relacionadas atinentes à ciência e à
tecnologia (centrípeta), e outra, que procura manter as principais decisões e os
assuntos ligados a elas, nas mãos dos especialistas e dos acadêmicos
(centrífuga), é, possivelmente, o principal desafio da governança das mesmas
e do papel que cabe à universidade nesse cenário. Em termos teóricos, esse
dilema se situa, também, no debate, mais amplo, a respeito da legitimação das
atividades ou da prática científico-tecnológica13.

Legitimação na produção científico-tecnológica

Embora a ciência e a tecnologia sejam formas de conhecimento


distintas – a primeira, voltada, principalmente, para a explicação dos
fenômenos, a segunda, dirigida para o domínio e o controle da natureza
(física e social) –, elas serão abordadas, aqui, em sua relação, como uma
determinada prática social. Isto é, a prática científico-tecnológica, que articula
esses dois campos do conhecimento no desenvolvimento histórico-social.

Assim, este trabalho não tratará, sistematicamente, de nenhuma


área científica ou tecnológica em particular, mas discutirá a atividade científico-
tecnológica, e o seu desenvolvimento. São exemplos de atividades que
relacionam intensamente o campo científico ao campo tecnológico: as
tecnologias de informação e comunicação, a química fina, os novos materiais,
a informática, a microeletrônica, a fibra ótica, e as chamadas novas
biotecnologias.

Apenas para ilustrar, estas últimas apresentam uma dimensão mais


científica – ligada ao estudo das questões básicas, ao envolver a Biologia

13
No presente trabalho, os termos produção, prática e atividade científico-
tecnológica serão tomados como sinônimos.

63
Molecular, a Bioquímica e a Microbiologia, a Genética, a Química de Proteínas
–, e outra, tecnológica – voltada para a busca de produtos e processos de
origem biológica, para aplicação industrial e comercial. De um lado, a pesquisa
científi7ca das novas biotecnologias não pode mais prescindir de equipamentos
sofisticados, como microscópios eletrônicos, computadores e
ultracentrifugadoras; por outro lado, os resultados dessas pesquisas
interessam ao desenvolvimento tecnológico e à indústria, na geração de
vacinas, hormônios e proteínas.

O tema da legitimação não é muito frequente na abordagem do


fenômeno científico e tecnológico recente. Embora muitos autores na
Sociologia, na Ciência Política e no Direito tenham levado em conta esse
aspecto em diversos estudos teóricos e empíricos14, de um modo geral, os
mecanismos e processos de legitimação não têm sido muito considerados no
esforço de construção de uma teoria sobre a produção de ciência e de
tecnologia.

Para Habermas, por exemplo, a inserção da legitimação na geração


de tecnologia não teria muito sentido, uma vez que esse autor a considera
como “auto legitimável” (pertencente à esfera sistêmica da sociedade)15, na

14
A partir de Max Weber, na Sociologia, mais especificamente, na Sociologia do
Direito, o tema da legitimação passa a ocupar parte importante no debate dos
cientistas sociais. Atualmente, a Sociologia Política e a Ciência Política têm insistido
na discussão a respeito da legitimação, ao abordarem o que alguns autores chamam
“Crise de Legitimação do Estado Contemporâneo”.
15
Esquematicamente, a concepção de sociedade de Habermas, na sua Teoria da
Ação Comunicativa, apresenta dois grandes níveis: o sistêmico e o do “mundo vivido”.
O nível sistêmico é aquele verificado pelo observador externo (semelhantemente à
noção de sistema em Parsons e Luhmann). Nele, estão os subsistemas econômico,
regido pelo dinheiro, e político, regido pelas regras de poder. Ambos os subsistemas
são orientados por uma racionalidade técnico-instrumental, que associa meios a fins
visando à eficácia. Por sua vez, o mundo vivido é o lugar aonde ocorrem as interações
espontâneas entre os indivíduos _ é nele que os sujeitos compartilham regras sociais,
vivências e emoções. Ao contrário do nível sistêmico – exterior ao indivíduo – o mundo
vivido resulta da perspectiva subjetiva dos atores. Ou seja, ele compreende a “visão
de dentro” da sociedade, percebida pelos atores a partir do seu cotidiano e das
experiências partilhadas. Para Habermas, é o pano de fundo implícito no processo
comunicativo, de certezas pré-reflexivas, evidências não questionadas, vínculos nunca
postos em dúvida; mas é também nesse nível que ocorre a “razão comunicativa
reflexiva ou discursiva”.

64
medida em que ela se fundamentaria exclusivamente em critérios de eficiência
e eficácia. Outros autores excluem a referência à legitimação no processo de
produção de tecnologia, em razão de a abordarem como algo isento de todo o
condicionamento social (a concepção da neutralidade na produção da
tecnologia).

A ideia de legitimação, empregada neste trabalho, significa, em


termos gerais, um estado ou uma disposição dos indivíduos para aceitarem
determinadas decisões tomadas pelos níveis políticos (Weber, 1984). Tais
níveis referem-se, por exemplo: aos órgãos do governo formuladores de
políticas industriais e para o setor de ciência e tecnologia, aos centros de poder
dentro das organizações de pesquisa, e aos estratos hierárquicos superiores
no campo científico. Resumindo, a legitimação compreende, aqui, todo um
processo de interações, envolvendo indivíduos e instituições sociais, buscando
a formação de consensos em torno de questões específicas. Entretanto, não
há uma legitimidade em si, estável (Bourricaud, 1987). A sua natureza é
dinâmica, instável, processual. Nela, atuam as normas jurídicas e sociais
estabelecidas, mas, também, os “fatores contingentes”, dentro de terminologia
de Niklas Luhmann, a desordem, o imprevisível.

A preocupação com a legitimação na ciência e na tecnologia


culminou, aqui, com a formulação da noção de “ideologia da prática”. A
intenção, com esse conceito, é destacar o papel e a importância de
determinados consensos entre os atores mais diretamente envolvidos com uma
atividade científico-tecnológica (pesquisadores, estudantes, técnicos, dirigentes
de órgãos públicos e empresários), a respeito dessa mesma atividade, o que é
exemplarmente importante na governança da ciência e da tecnologia.

Tais consensos referem-se a questões teóricas e metodológicas


(que interessam mais de perto a pesquisadores e estudantes), bem como
referem-se a todo um conjunto de outras necessidades – econômicas, políticas,
práticas e éticas, em geral, ligados à produção científico-tecnológica, ou que

65
dela dependem. Antes de se avançar nessa discussão, tenciona-se apresentar
a noção de Contexto Institucional de Produção Científico-Tecnológica,
importante, não apenas para aprofundar o entendimento acerca da legitimação
da ciência e na tecnologia, hoje, mas para situar o cenário em que se
desenvolve suas governanças. Nessa noção, os pesquisadores estão em
posição de destaque, os quais representam, nesta discussão, a universidade e
o ambiente acadêmico, de modo geral.

1. Contexto Institucional de Produção Científico-tecnológica

O contexto institucional de produção científico-tecnológica (CI) visa a


auxiliar na compreensão do modo como se dá a articulação entre as várias
dimensões que compõem essa produção. Ele não se reduz, deterministicamente, às
esferas produtiva e política da sociedade – está, no que se chama, em um nível
meso-sociológico de manifestação, no nível macrossociológico; tampouco se refere,
exclusivamente, às relações interpessoais cotidianas – num enfoque micro
sociológico. Uma de suas particularidades é a de procurar relacionar esses dois
níveis extremos de abordagem, ao ressaltar as variáveis organizacionais do
fenômeno em foco. Ademais, o CI não se aplica a um contexto institucional
“mundial”, mas a uma formação social concreta (segundo a terminologia de Louis
Althusser, ao se referir a uma sociedade, em um dado lugar e tempo).

A ideia básica para a formulação do CI partiu de uma constatação


de que dois aspectos da realidade se revestem de uma importância destacada
no novo modo de produção do conhecimento. Um desses aspectos refere-se
ao que se está chamando, aqui, dimensão Inter-organizacional; o outro, diz
respeito à dimensão das atitudes e comportamentos dos pesquisadores.

A Figura 1 procura representar esquematicamente os elementos


componentes do contexto institucional de produção científico-tecnológica.

66
Dimensão das atitudes e
comportamentos dos
Dimensão pesquisadores
Inter-organizacional (do ambiente acadêmico e da
universidade)
Nível - Expectativas, crenças, valores e
Estrutural padrões de comportamento entre
- Principais organizações ligadas a os pares
determinada prática científico- - Atitudes com relação aos pares
tecnológica - Atitudes quanto à natureza do
fenômeno estudado
- Principais tipos de
- Atitudes para com a sua
articulação entre as organização de pesquisa
organizações - Atitudes quanto aos paradigmas
- Grupos e organizações anteriores
dominantes - Atitudes e comportamentos
quanto aos sistemas de premiação
- Recursos humanos e e punição
financeiros, insumos, - Realização/frustração com a
equipamentos e natureza do seu trabalho
infraestrutura física - Atitudes e comportamentos em
relação a demandas da sociedade
- Atitudes e comportamentos em
relação aos diferentes públicos
Nível engajados na governança da
- Alocação deProcessual
recursos financeiros ciência e da tecnologia
- Formulação de políticas industriais - Atitudes e comportamentos
- Formulação de políticas para C, T&I quanto a uma “ética” científica
- Definição de acordos, convênios e dominante (busca desinteressada
parcerias entre as organizações
- Realização de programas de pesquisas
por conhecimentos,
- Realização e definição de programas de universalismo, ceticismo, abertura
formação de recursos humanos à crítica da comunidade científica)
- Compra e venda de empresas na área - Atitudes e comportamentos com
- Decisões sobre o patenteamento e a relação à autonomia do seu
propriedade intelectual trabalho
- Aplicação dos resultados científicos e - Atitudes e comportamentos
tecnológicos a determinadas necessidades
quanto ao patenteamento dos
práticas da população e da economia
resultados da pesquisa

Figura 2: Contexto Institucional de Produção Científico-tecnológica

67
a) Dimensão Inter-organizacional

A dimensão Inter-organizacional consiste de um arranjo


estruturado de organizações (instituições públicas de pesquisa, universidades,
órgãos de fomento, órgãos do Estado formuladores de política para os setores
industrial e de ciência e tecnologia, e empresas privadas nacionais e
multinacionais), as quais fornecem as condições materiais objetivas para a
produção científico-tecnológica. Estas condições envolvem os recursos físicos
(laboratórios, instalações, máquinas, equipamentos), materiais (enzimas e
anticorpos utilizados nas novas biotecnologias, por exemplo), financeiros e
humanos; bem como envolvem as definições de prioridades de pesquisa
estabelecidas nos programas governamentais.

A ideia de a dimensão Inter-organizacional significar conjunto


articulado significa que a sua característica básica é a ligação e o
relacionamento entre as várias unidades organizacionais componentes do
contexto institucional de produção científico-tecnológica. Ou seja, pretende-se
insistir no fenômeno da integração entre tais unidades, conforme se procurou
destacar no capítulo anterior. Assim, por exemplo, uma empresa privada
depende de uma política industrial, formulada pelos órgãos do governo, que
também se articulam às universidades e aos institutos de pesquisa, mediante o
fornecimento de recursos materiais e das políticas para a ciência e tecnologia;
as indústrias interagem com as universidades, por meio da contratação de
serviços; estas últimas fornecem recursos humanos e conhecimentos para as
novas empresas produtoras de tecnologia, e assim por diante. Desse modo,
cada organização afeta, direta ou indiretamente, todo o conjunto articulado de
organizações.

A dimensão Inter-organizacional compreende um nível estrutural, e


outro, relativo a processos, conforme indicado na Figura 1. O nível estrutural
refere-se aos padrões e formas de articulação entre as diferentes unidades
organizacionais, aos grupos e organizações dominantes, e aos recursos

68
humanos e à infraestrutura utilizados nas atividades científico-tecnológicas. Por
sua vez, os processos decorrem de ações organizacionais concretas, como a
formulação de políticas públicas, a definição de propostas para acordos entre
as organizações, os resultados de pesquisa, a aplicação prática dos resultados
científicos e tecnológicos na solução de necessidades sociais, os intercâmbios
técnico-científicos, os convênios entre universidades e indústrias para o
desenvolvimento de produtos e processos, e os programas de formação e
treinamento de pessoas, que abrangem os setores público e privado.

b) Dimensão das atitudes e comportamentos dos pesquisadores

Esta dimensão visa a identificar e a compreender as principais


expectativas e os padrões de comportamento dos indivíduos pesquisadores (do
ambiente acadêmico), bem como as modificações nesses padrões de
comportamento. Inicialmente, convém distinguir atitudes de comportamentos. A
atitude relaciona-se ao “modo pelo qual um agente social se posiciona perante
objetivos de valor; é uma maneira organizada e coerente de pensar, sentir e
reagir em relação a pessoas, grupos e questões diversas, como as sociais,
econômicas e políticas”. Por sua vez, o comportamento é a ação manifesta,
mantendo, contudo, íntima relação com os componentes que formam a atitude
(Sousa, 1989: 13). Neste sentido, as atitudes que as pessoas aprendem por
quaisquer meios influenciam seus comportamentos de aproximação-
afastamento em direção a pessoas, objetos, eventos e ideias, e também seus
pensamentos sobre o mundo físico e social. Tanto os comportamentos, como
as atitudes podem ser modificados. Para isto, é fundamental o aparecimento de
desafios objetivos na situação atual ou a existência de uma situação
estimuladora, que possa ser estabelecida por um outro agente/grupo social,
ou por um evento significativo para o sujeito: por exemplo, o impacto produzido
por uma descoberta revolucionária na área de atuação do pesquisador, ou a
possibilidade de aplicação de determinado conhecimento na solução de um
problema que atinge a muitos, como os relacionados à mobilidade urbana.

69
A separação entre atitudes e comportamentos é importante, uma vez
que atitudes ou concepções de cientistas acerca de sua área de trabalho, sua
investigação e seu relacionamento com diferentes públicos, nem sempre são
transformadas em ações concretas. Além disso, a noção de ideologia da
prática consiste não propriamente de comportamentos, mas de atitudes que
determinados atores têm a respeito de uma atividade científico-tecnológica
particular ou de alguns de seus resultados. Assim, é aspecto muito importante
do contexto institucional de produção científico-tecnológica: é para lá que
convergem decisões tomadas no âmbito interno de uma organização de
pesquisa, e de uma universidade, e em outras instâncias da dimensão Inter-
organizacional, seja por meio de seu nível estrutural, seja mediante seus
processos.

Em suma, o contexto institucional de produção científico-tecnológica


compreende um conjunto de procedimentos institucionalizados, através de
padrões de comportamento interiorizados pelos pesquisadores, e um arranjo
organizacional que sustenta e estimula esses comportamentos.

2. Ideologia da Prática

Basicamente, a ideologia da prática (IP) compreende valores,


crenças, modelos teóricos e atitudes dos atores mais diretamente envolvidos
com determinada atividade científico-tecnológica (pesquisadores, estudantes,
técnicos, dirigentes de órgãos públicos, empresários, representantes de
movimentos da sociedade civil, e consumidores, de um modo geral), acerca
dessa atividade. Esses atores devem participar mais ativamente da
governança da ciência e da tecnologia, e, desse modo, é fundamental a busca
de consenso (bem como as inúmeras possibilidades de conflitos) entre eles, no
entendimento do presente trabalho. A IP abrange não apenas elementos
conscientes e questionadores face a padrões científicos e tecnológicos
dominantes, mas, também, aspectos internalizados de modo espontâneo no

70
processo de socialização do pesquisador e dos demais agentes indicados
anteriormente.

Ideologias da prática compreendem entendimentos sobre


problemas e metas de pesquisa, conceitos, técnicas, pressupostos
metodológicos, a demanda por novos produtos, e o controle de questões que
entram em choque com ideias científicas tradicionais, a exemplo da utilização
da engenharia genética no controle e manipulação da vida, com sérias
implicações éticas e sócio-políticas – no âmbito da pesquisa acadêmica –,
sobre a disponibilidade de recursos financeiros, a realização de intercâmbios
internacionais e o controle e a fiscalização de regras de biossegurança – entre
os dirigentes de organismos de fomento e formuladores de políticas para a
ciência e a tecnologia –, e a respeito das muitas possibilidades de utilização de
conhecimentos provenientes das universidades para o setor produtivo e para
grandes segmentos populacionais – no meio empresarial, entre os
consumidores, e nos demais segmentos sociais.

Uma diferença importante entre o conceito, aqui, utilizado, de


ideologia da prática e a noção de “paradigma”, formulada por Thomas Kuhn
(2013), é que a IP não se limita aos pesquisadores e cientistas (à “comunidade
científica” e às universidades), ou a um campo disciplinar específico, como é
típico da abordagem desse último autor, mas refere-se, também, a outros
agentes sociais (técnicos, empresários e dirigentes de órgãos públicos,
representantes de movimentos sociais e de organizações não governamentais,
e os consumidores). Desse modo, a IP pretende ressaltar a importância das
atitudes e dos comportamentos de todo o conjunto de indivíduos mencionados,
e não somente de cada grupo isoladamente (como o dos pesquisadores),
conquanto sejam, estes últimos, atores proeminentes na governança da ciência
e da tecnologia. Isto é, no atual contexto, em que é muito grande a articulação
e mútua dependência desses vários segmentos, conforme se procurou
ressaltar no Capítulo 1, tornam-se indispensáveis certos consensos entre eles,
acerca da prática científico-tecnológica da qual participam. O que reforça o
papel da negociação e legitimação nesse processo.

71
3. Formação de Consenso na Ideologia da Prática

A abordagem desta parte do trabalho será feita mediante o destaque


dado a três níveis distintos de análise, conforme procurou-se representar na
Figura 3. Nessa figura, os três níveis indicados referem-se à base sócio
material, às relações interpessoais cotidianas (“ mundo vivido”) e ao contexto
institucional de produção científico-tecnológica.

72
Contexto Institucional de
Produção Científico-
tecnológica (CI)

Efeito do contexto institucional na ideologia da prática


ÁREA CENTRAL DE INTERESSE DESTE TRABALHO
Influência da ideologia da pratica

Quadro das relações


Base sócio material sociais cotidianas
(“mundo vivido”)

Ideologia da prática

A formação de consenso
Figura 3: A formação de consenso e seus efeitos no CI

73
A base sócio material compreende a esfera do trabalho e da
produção propriamente dita. Num sentido mais amplo, ela é a estrutura que
abriga as forças produtivas e as relações entre as classes e grupos sociais – as
relações de produção –, condicionando, em última instância, todos os
componentes da estrutura da prática tecnológica. É de lá que partem os
interesses dominantes da sociedade, influenciando decisivamente outras
instâncias sociais. Do ponto de vista do indivíduo, a base sócio material
corresponde ao nível mais estruturado e objetivado da realidade social. Numa
terminologia habermasiana, ela refere-se ao nível sistêmico da sociedade, que
pressupõe o domínio de uma racionalidade técnico-instrumental.

Outro componente da Figura 3 é o quadro das relações


interpessoais cotidianas – o “mundo vivido” (HABERMAS, 2012; 1980). É
nesse nível que são trocados sentimentos, emoções e informações; onde
predomina uma racionalidade comunicativa. Para o indivíduo, esse quadro
corresponde à dimensão menos estruturada da realidade social, em que ele
vivencia experiências pessoais e coletivas.

Por fim, o CI está indicado, na Figura 3, como a estrutura de


mediação entre a base sócio material e o quadro das relações interpessoais
cotidianas, na produção científico-tecnológica. A relação entre o CI e a IP, que
ganha destaque na discussão sobre o papel da universidade na governança da
ciência e da tecnologia – corresponde à área central em que se dará todo o
processo de construção e de estabelecimento dos primeiros momentos do
modelo de governança, a ser utilizado – deve merecer atenção especial nessa
discussão. Por sua vez, as relações entre o CI e a base sócio material, e entre
ele e as relações interpessoais cotidianas, não serão tratadas neste ensaio,
embora representem aspectos relevantes na compreensão de como aqueles
níveis extremos da realidade condicionam a atividade científico-tecnológica.

Com as linhas tracejadas está-se querendo indicar as ligações que


não se discutirão no momento. Assim, por enquanto, interessa examinar: 1) de

74
um lado, as ligações que convergem para a IP – a percepção dos indivíduos
envolvidos com a produção científico-tecnológica, a respeito de aspectos e
níveis distintos da realidade, relacionados com essa produção; e 2) de outro
lado, a influência exercida pela IP no CI. A delimitação dos componentes
apresentados na Figura 3 não deve ser vista de modo muito rígido, pois
poderia levar a algumas distorções da realidade concreta. Por exemplo, a IP
está representada na figura como algo separado do CI; o que não é bem
assim, pois ela se insere naquele contexto, ao fazer parte dos valores e
padrões culturais subjacentes às relações sociais ali existentes.

A ligação que vai, na Figura 3, da base sócio material para a IP


corresponde à “ visão externa “ da sociedade por parte dos indivíduos que
formam essa ideologia. Ou seja, refere-se à percepção que pesquisadores,
estudantes, técnicos, dirigentes de órgãos públicos e empresários fazem do
nível mais objetivado da realidade, que diz respeito aos grandes temas e
interesses nacionais, bem como à forma como se organiza econômica e
politicamente a sociedade.

Uma vez que esses indivíduos pertençam a grupos sociais


diferentes, é de se esperar que tais visões acerca da base sócio material sejam
distintas, levando-se ainda em conta a posição que eles ocupam na estrutura
social e no campo científico (segundo a terminologia de Pierre Bourdieu), suas
origens socioeconômicas, o prestígio de que dispõem e o acesso a
informações importantes. A caracterização de tais prováveis diferenças, numa
situação concreta, não será realizada neste trabalho. É neste nível de
percepção que os indivíduos procuram formar determinados consensos, em
torno, por exemplo, das seguintes questões: concorrência internacional,
subordinação ao capital externo, soberania, autonomia científica e tecnológica
do País, distribuição de renda, aumento do acesso aos novos resultados
científicos e tecnológicos, criação de novos produtos para o atendimento de
necessidades prementes de diferentes grupos sociais, privatização de
empresas públicas, reformulação da constituição, escolha do sistema de
governo e as características do parque industrial nacional. Tudo isto envolve

75
amplo questionamento, que não se restringe aos agentes mais diretamente
envolvidos com determinada atividade científico-tecnológica, mas que atinge,
também, vários outros segmentos da sociedade, no processo global de
legitimação.

Ao se indicar a seta, na Figura 3, no sentido da IP para a base sócio


material pretende-se indicar a interferência dessa ideologia nos arranjos e
disposições dessa base, como um dos efeitos possíveis do processo mais
abrangente de legitimação da esfera política da sociedade. Por seu turno, a
ligação que vai do quadro das relações interpessoais cotidianas para a IP
corresponde à “visão interna” da sociedade, na perspectiva dos pesquisadores,
estudantes, dirigentes de órgãos públicos, representantes de movimentos
sociais, consumidores, empresários, participantes, de um modo ou de outro, de
determinada atividade científico-tecnológica. Perspectiva, esta, diferenciada, de
acordo com os contextos diários de relacionamentos desses indivíduos.
Nesse caso, os indivíduos não se colocam, simplesmente, como “observadores
externos”16, mas, em seus cotidianos, vivenciam e trocam experiências
pessoais e profissionais importantes, capazes de influenciar a formação de
consenso na ideologia da prática.

Ao se examinar a influência das relações interpessoais cotidianas na


ideologia da prática, entende-se que não apenas o capital ou o poder do
Estado e dos grandes grupos privados são questionados, mas, também,
surgem outras questões, existenciais, e também as que dizem respeito aos
próprios destinos da humanidade...No entrechoque de forças que emergem do
interior da sociedade, o cotidiano passa a revelar novos problemas: dos
movimentos ecológicos às preocupações com a sobrevivência das espécies;

16
Mesmo em relação às dimensões mais estruturadas da realidade social os
indivíduos não se posicionam como meros observadores externos; de um modo ou
de outro eles se envolvem com aspectos que estão mais distantes de seu cotidiano,
trazendo-os, então, para o seu contexto de relações diárias, e influenciando, num certo
sentido, a realidade global: é o somatório de todas as “microinterferências”, que
produz a configuração geral. Ao se fazer essa distinção – visão-externa e visão-interna
da sociedade, quer-se sugerir a importância do envolvimento pessoal dos atores, em
seu dia-a-dia, em torno de determinadas questões relevantes para a produção
científico-tecnológica da qual participam diretamente. Fato, este, que pode ter uma
influência decisiva no processo de formação de consenso da ideologia da prática.

76
da possibilidade de utilização de células embrionários em pesquisas sobre
células-tronco, dos alimentos geneticamente modificados (os “transgênicos”),
do aproveitamento do lixo das cidades, das condições adequadas de moradia e
de mobilidade pública, da redefinição da ideia de público e privado; do
indivíduo, mais que do partido; do mundo e não apenas da nação; da busca de
sentido para a vida e para a história; da crítica aos sistemas de representação
políticos tradicionais, e da expansão das chamadas redes sociais.

Além disso, os temas científicos e tecnológicos também tocam a


problemática existencial e o universo de representações simbólicas do mundo
vivido – as pessoas sentem-se seduzidas pelo luxo e pelas comodidades e
possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias: “um CD traz a orquestra à
sua casa”; o acesso a toda uma discografia mediante o sistema de “arquivos
virtuais”, “um cidadão comum viaja num ônibus espacial”; “uma televisão que
cabe no bolso”; a “melhoria dos humanos por meio da programação genética”,
“o maior emprego da inteligência artificial e da robótica”, “os micros invadem
todos os ambientes”; “a guerra pode ser acompanhada, via satélite, em todo o
mundo, ao mesmo tempo”, “a invasão de poderosos sistemas de
processamento de dados”, “a perda ou a restrição da privacidade”; “novas
variedades de plantas para regiões áridas”; “novas fontes de energia através
da exploração da biomassa”; “cirurgias a raio laser”; “o prolongamento da vida
humana”, e “o desenvolvimento de novas vacinas”. Inegavelmente, são muitas
novidades – conquistas e eventuais ameaças, das quais não se pode afastar, e
muito pesam sobre as universidades e os centros de pesquisa.

Esse mesmo homem (do cotidiano, o cidadão comum), sente-se


dividido diante desse “mundo novo”, que requer o avanço do pensamento
crítico e da reflexão, ao reforçar o papel da universidade na governança da
ciência e da tecnologia, e na construção de novas bases de legitimação, em
face às grandes transformações ocorridas no início deste século, decorrentes,
sobretudo, do grande avanço do conhecimento. Ao lado do encantamento com
as novidades, os indivíduos incomodam-se e questionam-se, entre outras
coisas, sobre o acesso a tais tecnologias; na maior parte das vezes está

77
excluído daqueles benefícios, especialmente no chamado “ terceiro mundo: a
fome continua sendo um problema sem solução; ouve falar da vacina contra a
malária, mas não sabe quanto vai custar ou se vai chegar às suas mãos; sabe
de novas fontes de energia, mas continua assistindo a desastres ambientais;
percebe que o raio laser da cirurgia serve também para a guerra e para a
morte... “E a geração de novos seres cibernéticos? Tudo isso virá para o bem
ou para escravizá-lo? É lícito o patenteamento de novos seres vivos?” São
questões que deverão fazer parte da governança da ciência e da tecnologia,
para a qual a universidade joga papel imprescindível.

Nesse quadro, típico da vida contemporânea, todos são instigados a


pensar e a questionar sobre essas novidades. E, evidentemente, isso tudo
aumenta o peso e a pesquisadores, estudantes, técnicos e dirigentes de
órgãos públicos. Em suma, a problemática científico-tecnológica recente torna
muito sensível determinadas questões e valores presentes no cotidiano das
sociedades, ao tocar em temas éticos cruciais para a humanidade, e implicar
alto grau de tensão na formação de consenso da ideologia da prática.

A partir de discussões sobre experiências comuns, os atores mais


diretamente envolvidos com determinada prática científico-tecnológica trocam
informações, debatem e mantêm contatos formais e informais, escrevem em
revistas especializadas, manifestam-se em programas de pesquisa, participam
de congressos no País e no Exterior, ministram e assistem cursos em
universidades locais e estrangeiras e formam, nessas situações, algum
consenso em torno de temas social e politicamente relevantes. Consenso, este,
entendido, aqui, não como uma única concepção, mas como uma concepção
predominante no conjunto, capaz de dar respaldo (legitimidade) às políticas
públicas formuladas para o setor científico e tecnológico, e a importantes
programas de pesquisa, e à governança da ciência e da tecnologia, de um
modo geral.

78
Se, por um lado, a base sócio material representa o nível mais
estruturado da realidade e o quadro das relações interpessoais cotidianas, o
seu nível menos estruturado e objetivado, por outro lado, o contexto
institucional de produção científico-tecnológica apresenta aspectos de cada um
desses níveis extremos de manifestação da realidade. Na dimensão Inter-
organizacional desse contexto, a base sócio material procura reproduzir a sua
arquitetura no nível estrutural), a qual possibilita o desenvolvimento de
determinados processos e ações organizacionais, ajustando interesses e
atendendo a diferentes necessidades na produção científico-tecnológica.

De sua parte, a dimensão das atitudes e comportamentos dos


pesquisadores, e em todo o conjunto de relações sociais diárias, mantidas
pelos vários agentes que integram o CI (sejam nos órgãos públicos, nas
universidades, nos laboratórios ou nas empresas privadas, nos parques
tecnológicos e nas pequenas empresas com alta base tecnológica), verifica-se
um meio mais fluido, menos estruturado.

Assim, o efeito do CI sobre a IP se dá, tanto a partir de uma


percepção de seus aspectos mais estruturados e objetivados (no seu todo),
quanto a partir da visão interna desse contexto institucional, por parte dos
indivíduos que nele vivenciam e trocam experiências. O próprio CI pode ser
objeto da atenção e questionamento dos indivíduos mais diretamente
envolvidos com essa produção, condicionando o conteúdo da ideologia da
prática e o seu processo de formação de consenso.

As consequências de uma rede visão de trabalho público-privado, na


coordenação e execução da pesquisa; perda crescente de recursos destinados
às universidades; aumento considerável no número de vagas oferecidas no
ensino superior; dificuldade de se aplicarem determinados conhecimentos
produzidos nas universidades; barreiras de comunicação entre as
universidades, o empresariado e o grande público; compra de instituições de
pesquisa por grupos privados; maior participação de empresas e instituições
internacionais na geração e apropriação de resultados tecnológicos; novos
acordos universidades-indústrias; decisões quanto ao patenteamento de novos

79
produtos; definição de novos programas de formação e treinamento de
recursos humanos; estabelecimento de certos grupos hegemônicos e
centralização na alocação de recursos financeiros – que ocorrem na dimensão
Inter-organizacional do contexto institucional – são algumas situações a
demandar respostas e posicionamentos daqueles atores.

As reações podem ser as mais variadas, desde uma pronta


aceitação das modificações organizacionais observadas (quando
pesquisadores veem positivamente privatização crescente da organização da
pesquisa, que poderá lhe aumentar salários num primeiro momento), até
rejeição radical de determinados rumos (como a perda de sua autonomia, em
razão, por exemplo, daquela mesma privatização), passando por toda uma
polêmica envolvendo determinadas políticas sobre patenteamentos, direitos de
propriedade intelectual, e formação de recursos humanos.

Finalmente, Ideologias da Prática condicionam e interferem no


contexto institucional de produção científico-tecnológica, seja em sua dimensão
Inter-organizacional ou nas atitudes e comportamentos dos pesquisadores. O
pressuposto para isso é que valores, crenças e atitudes, que compõem as
ideologias da prática, possuem uma contraparte comportamental; isto é, as
ideologias da prática não existem como um fim em si mesmas – não se
constituem, meramente, como um pensar sobre a atividade científico-
tecnológica –, mas é um pensar que diz respeito ao próprio comportamento dos
atores mais diretamente envolvidos com aquela atividade. É, desse modo, uma
ideologia das suas práxis e das reações concretas, de conformidade com essa
ideologia. Essas considerações não implicam cair num determinismo, que
atribui às ideias valores absolutos, realizações imediatas; há limites estruturais
para tais realizações, que dizem respeito à própria natureza da base sócio
material, e, inclusive, aos interesses dos atores em agir de acordo com suas
crenças e atitudes.

A interferência da IP no CI pode ser vista em várias situações. No


estudo realizado por Yoxen (1981), por exemplo, fica bastante evidente a
mútua influência entre determinadas ideologias da prática (incluindo princípios

80
e convenções epistemológicas, concepções sobre o objeto de estudo e sobre o
papel de sua atividade profissional para a sociedade) e os arranjos
organizacionais – sistemas de administração e gerenciamento da pesquisa
científica e tecnológica. Nesse mesmo estudo, o autor citado verifica que o
conceito de “programa genético” (componente básico da ideologia da prática da
Biologia Molecular) “interage com um desenvolvimento da estrutura da
pesquisa gerenciada, que, por sua vez, é inscrita num sistema dinâmico de
poder econômico e político, que tem recentemente forçado uma mudança na
Biologia Molecular, da reprogramação da biologia para a reprogramação da
natureza” (YOXEN, 1981: 106). Esse fato precisa ser considerado
adequadamente, no momento da elaboração do Projeto Institucional, bem
como na linha de governança a ser seguida.

Outro exemplo da interferência da IP pode ser visto na criação do


sistema cooperativo de pesquisa agropecuário no Brasil e da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA –, o que reflete toda uma
discussão e concepção de como se deveria organizar e realizar a pesquisa
agropecuária nacional, “para dar respostas rápidas e imediatas” aos anseios de
modernização no campo, a partir da década de setenta.

Em resumo, certas concepções dominantes sobre determinada


atividade científico-tecnológica podem interferir na forma e na disposição dos
arranjos organizacionais da atividade científico-tecnológica: ao facilitar ou
dificultar novos acordos entre as unidades organizacionais, e, com isso, criar
ou estabelecer condições para o surgimento de novas organizações; modificar
a disponibilidade de recursos humanos e financeiros; ao aglutinar maior
quantidade e diversidade de atores na governança da ciência e da tecnologia,
e assim por diante. Ademais, a IP condiciona, diretamente, atitudes e
comportamentos dos pesquisadores no CI, seja na escolha de uma área de
pesquisa, de um novo método ou abordagem teórica, no envolvimento mais
direto com a transferência de conhecimentos para a sociedade, em eventuais
trocas de informações com o grande público, a respeito de seu trabalho e das

81
urgências deste, ou mesmo nas decisões relativas à divulgação ou à retenção
dos resultados de pesquisa.

A última parte deste capítulo deverá se ocupar da discussão e da


apresentação de uma proposta ilustrativa para a governança da ciência e da
tecnologia, com destaque à participação da universidade nesse processo.

Uma proposta para a atuação da universidade na governança


da ciência e da tecnologia

A parte anterior, sobre a problemática da legitimação na produção


científico-tecnológico, é central na discussão a respeito da governança da
ciência e da tecnologia e do papel da universidade. Sem a consideração de
que qualquer modelo de governança requer uma necessária aceitabilidade
social, e que esta deverá condicionar, em última instância, o seu êxito ou o seu
fracasso, tudo o mais fica no campo da retórica e da mera intencionalidade. Os
atores envolvidos na governança da ciência e da tecnologia precisam não
apenas participar de sua concepção inicial, mas, também, dos vários fóruns
formados para identificar as diferentes demandas por novos resultados
científicos e tecnológicos, o acervo de conhecimentos e de experiências, e as
condições materiais e políticas para sua formulação e execução. Assim, a
governança da ciência e da tecnologia deve passar por todo um crivo de
opiniões, pressões e embates, os mais diversos, assentados no cotidiano das
sociedades, em diferentes circunstâncias.

Resumindo: a legitimação da atividade científico-tecnológica é parte


constitutiva importante da própria governança, e precisa ser levada em conta
pelas principais lideranças e pelos responsáveis pela condução e direção da
mesma. O primeiro passo é reconhecer sua complexidade e evitar tratá-la
como mero dado da realidade; ao contrário, precisa ser construída e
permanentemente reavaliada, em face às transformações ocorridas nas
universidades, e em seu ambiente interno e externo. O passo seguinte é
buscar um conjunto de situações e arranjos sociais possíveis para desenhar

82
uma proposta consequente de governança da ciência e da tecnologia. Tudo
isso não pode olvidar da responsabilidade dos agentes do Estado, os quais
deverão acompanhar, supervisionar e traçar as linhas gerais do papel da
universidade na governança da ciência e da tecnologia.

A proposta que se apresentará considera cumpridos previamente


tais requisitos. Além disso, como se procurou dar ênfase em outros momentos
do texto, não se tenciona propor qualquer fórmula pronta, a ser aplicada,
indistintamente, em qualquer situação; mas sugerir caminhos possíveis para a
condução de uma coerente governança da ciência e da tecnologia em dada
sociedade. De todo o modo, insiste-se, é fundamental a atuação do Estado, em
prol de uma ciência e uma tecnologia bem articuladas, seja na criação de
fóruns especializados de levantamento de necessidades sociais e econômicas,
na elaboração de editais para a pesquisa, seja na busca da melhoria da
qualidade da formação e do treinamento de pessoas na universidade.

Ademais, existem muitas outras instituições, como parques


tecnológicos – os quais também se relacionam fortemente com as
universidades –, laboratórios de grandes empresas, universidades
corporativas, e pequenas empresas de base tecnológica, que, igualmente,
tomam iniciativas relevantes na governança da ciência e da tecnologia e na
aplicação de resultados práticos dos conhecimentos produzidos. Todos esses
fatos não impedem as inúmeras possibilidades de ação e de formulação de
propostas teóricas e práticas de governança da ciência e da tecnologia.

A ideia, neste ponto, é poder contribuir para o debate, com vistas a


aprimorar a participação da universidade nos destinos dos novos
conhecimentos e da formação de pessoas, tornando-a mais visível a diferentes
setores da sociedade. Esse fato vem ao encontro da busca pela melhoraria de
sua legitimidade e aceitabilidade social, a fim de fomentar ambiente mais
adequado para a participação social nos rumos do desenvolvimento científico-
tecnológico.

83
A presente proposta compõe-se de diferentes etapas, não lineares –
condicionadas politicamente, ao longo de todo um processo de iniciativas e de
decisões – e possuem um caráter dinâmico da governança da ciência e da
tecnologia. Outro aspecto preliminar importante é que não necessariamente,
cada iniciativa deva envolver toda a universidade, em suas mais diferentes
áreas e interesses. Finalmente, a linha que orienta o conjunto dessas ações é a
da abordagem baseada na solução de problemas – o Problem-Based Learning
(PBL)17; abordagem, esta, que deverá se repercutir, aqui, não apenas no
ensino, mas, também, nas atividades de pesquisa e na extensão universitária.

1. O primeiro momento se inicia, por parte das universidades, com o


exame de aspectos relevantes de seu Projeto Institucional, ao destacar seus
pontos fortes e fracos, suas ameaças e oportunidades, sua visão de médio e
longo prazos, e o conhecimento do ambiente externo. A partir dessas
informações, seriam organizados determinados fóruns, que reuniriam
diferentes membros da sociedade – líderes comunitários, sindicais,
empresários, dirigentes de órgãos públicos e consumidores, de um modo geral.
Estes fóruns teriam como objetivos principais a identificação, junto a esses
públicos e indivíduos, de problemas e oportunidades, necessidades prementes
e certa ordem de prioridade das mesmas, segundo o entendimento entre eles

17
No trabalho de Thomas (2009), A base da abordagem do PBL é “transformadora”.
Ao citar a obra de Steinemann (2003), o autor comenta que a PBL enfatiza o
aprendizado, fazendo. Essa abordagem também fornece um contexto de
aprendizagem. Nesse sentido, os alunos recebem um problema do mundo real como
profissionais. Thomas (2009) menciona que Steinemann (2003) identifica cinco
características principais do PBL: 1) torna o conhecimento mais acessível e aplicável,
em razão de que é usado para resolver problemas reais.; 2) desenvolve habilidades
para resolver problemas do mundo real, ou seja, “mal estruturados” – “problemas
abertos do tipo frequentemente enfrentado na prática: ‘isto é especialmente
verdadeiro’, com problemas de sustentabilidade, que exigem flexibilidade, integração e
multidisciplinaridade, (...) em vez de soluções singulares " (p. 256); 3) facilita a
aprendizagem ativa, para encontrar e avaliar informações de várias fontes (desde
documentos até entrevistas com membros da comunidade), o que ajuda os alunos a
aprenderem a aprender; 4) facilita a motivação, ao centrar-se no mundo real e em
problemas atuais; ou seja, conceitos são tornados mais significativos mediante sua
utilização na resolução de problemas práticos, ou na melhoria dos atuais problemas
para os estudantes ou para a sociedade; e 5) desenvolve competências profissionais,
em especial na solução de problemas cooperativos e interdisciplinares, juntamente
com aprender a trabalhar de forma independente.

84
(EIPO’s – Encontros de Identificação de Problemas e Oportunidades). Como
sugestão, propõe-se que um mesmo EIPO ocorra em mais de um dia, a fim de
que haja maior circulação de informações entre representantes e
representados, e, também, maior possibilidade de formação de consenso – em
razão de ações dos organizadores nesse sentido –, para o que valem os
comentários desenvolvidos em item anterior do livro, quando se discutiu o
processo de formação de consenso da Ideologia da Prática, no tópico acerca
da legitimação na produção científico-tecnológica.

2. Com base no conjunto das informações coletadas na fase 1, os


responsáveis por cada assunto, na administração superior da universidade,
segundo metodologias e a atribuição de papéis de cada liderança, definidas
previamente, lançariam, em acerto comum, na instituição, editais para pesquisa
e abririam possibilidades de criação de disciplinas (de ensino, pós-graduação e
de extensão), voltadas aos problemas específicos mencionados anteriormente
– à busca de suas soluções e a suas diferentes maneiras e possibilidades de
articulação, entre as diferentes áreas do conhecimento, departamentos, centros
e institutos; assim procedendo, espera-se poder atingir os objetivos propostos a
partir dos EIPO’s. Um exemplo que pode ser colocado em prática,
internamente, é o que se está chamando, aqui, Programa Interdisciplinar de
Ensino, Pesquisa e Extensão.

Programa Interdisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão


(PIEPE)

O PIEPE significa o desenvolvimento de um conjunto


de ações e práticas acadêmicas voltadas para a reflexão e a
formulação de soluções para problemas considerados relevantes
para a comunidade acadêmica e a sociedade. A formulação de
propostas dentro deste programa pode partir de qualquer nível de
decisão ou área de conhecimento da universidade.

No nível de sua administração superior, pretende-se,


por exemplo, no início de cada período letivo, após a realização

85
de um ou mais EIPO, propor um edital de participação no
programa, que apresentará, para toda a comunidade, um conjunto
de questões relevantes, que vão desde aspectos mais pontuais,
até temas de grande escopo, como aqueles em torno da
problemática da fome (veja Anexo 1), do saneamento básico, da
habitação e assim por diante, atinentes ao País ou à realidade
local do município ou da região (oportunidade em que poderá
estar relacionado ao projeto “Universidade Integrada” – Anexo 2).
Essas questões tanto poderiam concorrer com determinada
pesquisa, quanto com uma ou mais disciplina (de graduação, de
pós-graduação ou de extensão), devidamente integradas e
previamente acordadas para esse propósito.

Os diferentes docentes-cientistas, estudantes e


técnicos manifestar-se-iam, nesse momento, mediante o envio de
respostas individuais, ou de grupos de pessoas interessadas em
trabalhar com uma ou com outra questão apontada em
determinado EIPO. A partir desse momento, a administração
superior da universidade definiria, junto aos diferentes grupos de
interessados, a realização de encontros de discussão, para
debater as estratégias de abordagem da questão geradora, em
termos de disciplinas ou de tópicos de estudo, a serem
desenvolvidos. Em tais encontros, que se realizariam
independentes uns dos outros, seriam definidas e divulgadas para
a comunidade universitária as disciplinas que deveriam ser
oferecidas nos próximos períodos letivos (de preferência
repetindo-as, a fim de que um estudante possa participar do maior
número de disciplinas ou atividades de estudo, concernentes
àquela questão). Todos os estudantes poderiam integralizar tais
créditos em seus currículos. No que concerne ao ensino, a ideia é
que sejam oferecidas disciplinas sem pré-requisito, a fim de
facilitar o acesso de qualquer estudante às mesmas. Um aspecto
importante é o fato de que diferentes áreas deveriam estar

86
integradas, no esforço conjunto de reflexão e abordagem da
questão geradora. Por exemplo, se o tema for o da biotecnologia,
poderemos ter reunidos a biologia, a química, a sociologia, a
filosofia, a história, a economia e assim por diante. Nesse mesmo
momento de organização dos encontros e de proposição de
questões, a própria comunidade acadêmica poderia propor
teóricas ou mais voltadas à realidade prática, desde que
envolvessem diferentes campos do conhecimento, uma vez é
este aspecto que confere peculiaridade ao presente programa.

Outra possibilidade de ação no PIEPE consiste no


direcionamento das disciplinas que os estudantes de um
determinado curso (de graduação, de pós-graduação ou de
extensão) precisariam fazer para a integralização curricular. Em
geral, um estudante necessita cursar várias disciplinas em outras
unidades acadêmicas, e compor um agregado de conhecimentos,
muitas vezes desarticulados e sem qualquer conexão com os
interesses acadêmicos do estudante e da área na qual ingressou
na universidade. O que se propõe é que esta área, mediante o
acompanhamento e a supervisão do coordenador do curso ou da
atividade de extensão, e respaldado pelo colegiado do curso ou
da atividade de extensão, apresente para esse estudante uma ou
mais questões que ele poderia abordar, ao cursar as disciplinas
de outras unidades acadêmicas, independentemente do conteúdo
a ser ministrado nessas disciplinas. Caso o estudante concorde
em desenvolver tal ou qual questão, o trabalho daí resultante –
uma monografia, uma pesquisa de campo, um filme e assim por
diante – poderia constituir em determinado número de créditos
para integralização curricular.

Desse modo, ao se enfocarem diferentes áreas do


conhecimento sob o abrigo de uma questão geradora, o estudante
poderia realizar uma prática de integração efetiva entre disciplinas

87
e conhecimentos, tradicionalmente apresentados de modo
estanque e independentes uns dos outros. Por exemplo, se um
conjunto de disciplinas compõem um módulo que se poderia
chamar de “pesquisa social”, a envolver disciplinas da estatística,
da economia, da sociologia e da geografia, esse mesmo módulo,
ao invés de constituir-se em agregado de matérias desarticuladas
entre si, poderia abordar a problemática da ocupação urbana, do
perfil político do eleitor e outros temas, a fim de possibilitarem
gerar visão de conjunto das várias contribuições teóricas e
práticas, em torno de uma problemática que confere sentido ao
conjunto. Tudo isto pode ser fator importante de motivação a mais
para o estudante.

Muitas outras possibilidades também poderiam ser


estimuladas, dentro desses objetivos de integração de diferentes
áreas do conhecimento e de abordagem a partir de questões
geradoras, ao envolverem, internamente, estudantes, docentes, e,
eventualmente, técnicos – o que possibilita ampliar o acervo dos
conhecimentos formais e não formais, provenientes de histórias
pregressas desses atores –, e contribuir para a melhoria da
qualidade do ensino.

Ao mesmo tempo em que o PIEPE procurasse avançar


na realização de cursos de graduação e de pós-graduação, em
sintonia com o que pretendesse determinado edital do Programa,
muitas novas pesquisas também poderiam ser realizadas, no
mesmo horizonte dos problemas geradores, provenientes dos
EIPO’s. Isso também poderia se refletir nas disciplinas ofertadas,
e, assim, permitir maior sinergia entre ensino e pesquisa.

O PIEPE é apenas uma dentre tantas outras


possibilidades abertas às universidades, na governança

88
consequente da ciência e da tecnologia18. Muitas outras
iniciativas, certamente, podem ser buscadas e tentadas, a
depender de muitos fatores. Contudo, há inegável peso nessas
decisões de determinadas lideranças e dos estratos superiores de
uma universidade. De qualquer modo, pretende-se insistir que tal
proposta governança (ou outra, consequente) não poderia ser
tratada como panaceia, na medida em que seja voltada,
efetivamente, para ações concretas, devidamente legitimadas,
interna e externamente. Em outras palavras, faz-se mister o
desdobramento de práticas concretas, para que não se fique,
meramente, em discursos, que, com a mesma rapidez em que
podem ganhar adeptos, também podem gerar perdas importantes
de credibilidade, e inviabilizar o processo de governança
mencionado.

3. Simultaneamente à fase de implementação de ações internas,


como a da realização do PIEPE, a administração superior da universidade
precisaria aumentar seu esforço em captar recursos financeiros para o custeio
e o investimento em atividades de pesquisa, ou mesmo de ensino, haja vista o
escasseamento dos mesmos, nas fontes tradicionais de fornecimento estatal.
Isso irá demandar muitas ações combinadas por parte da universidade, o que
inclui a possibilidade de realização de muitas novas parcerias – entre diferentes
universidades e programas nacionais e internacionais, ligados ao
desenvolvimento científico e tecnológico –, e, eventualmente, a suplementação
dos mesmos por parte dos governos que já possuam disponibilidades
orçamentárias e financeiras, em programas específicos, e para os quais os
resultados provenientes de pesquisas de universidades venham ao encontro. É
a fase da captação de recursos, a qual poderá contar com a contribuição dos
especialistas presentes nos ambientes acadêmicos.

18
O Anexo 2 apresenta outra proposta de intervenção a partir dos EIPO’s, a
“Universidade Integrada”.

89
4. Após determinado período de tempo, que pode ser de um ou dois
anos, seriam realizados novos fóruns com os indivíduos e grupos que
participaram dos primeiros EIPO’s, e que deveriam reunir, agora, os
especialistas, estudantes e técnicos envolvidos com alguma disciplina ou
atividade de pesquisa ou de extensão, desenvolvida nesse intervalo. Nesse
momento, seriam apresentados resultados preliminares e reavaliados os
problemas e as necessidades, em termos de suas prioridades. É possível, por
exemplo, que, antes, certa necessidade não tenha sido vista como prioridade,
mas que, em face a mudanças na economia, na política, a exiguidade de
recursos, e a novos interesses, venha a merecer destaque em nova rodada de
discussões. Feitos os ajustes, os especialistas avaliariam o momento em que
poderiam iniciar uma ou outra transferência de conhecimentos, em articulação
com outros setores da sociedade – como empresas privadas, ministérios ou
secretarias estaduais –, bem como discutiriam as metodologias a serem
utilizadas para a suas transferências, junto aos diretamente interessados no
acesso a tais conhecimentos.

5. No último momento dessa proposta, os membros internos à


universidade realizariam reuniões de avaliação de todo o processo, a qual
poderia também contar com públicos externos à instituição, para verificar as
possíveis falhas e obter novos subsídios para novas rodadas.

A visão que orienta o conjunto de etapas descritas anteriormente é a


de algo dinâmico, sujeito a contínuas adaptações, correções de rumos, e
convite para a participação de atores originalmente de fora do processo. Não
há, desse modo, percurso linear, em que cada fase deveria ser seguida
somente quando encerrada, mediante direção rígida. Ao contrário, a discussão
sobre a formulação do projeto institucional da universidade, bem como sobre o
processo de formação de consenso – no debate sobre a legitimação na
produção científico-tecnológica – procuraram ressaltar o caráter instável, pleno
de incertezas e aberto a muitas possibilidades, a depender dos interesses dos
atores mais diretamente envolvidos com a mesma, e dos conflitos, em busca
de exercer maior autonomia. Em razão disso, cresce a relevância dos

90
mecanismos de arbitragem, os quais poderiam ser delegados a atores não
relacionados com os processos mencionados anteriormente – um dirigente de
órgão público, um membro de uma organização internacional, ou mesmo um
cientista pertencente a outra universidade ou instituição, capazes de agir com a
maior isenção e senso de compromisso com os melhores resultados a serem
alcançados.

A governança da ciência e da tecnologia, e a atuação de uma


universidade é, não apenas necessária, mas inadiável, ao se pensar na
sustentabilidade de importantes instituições da sociedade, que, em sua
dinâmica, tende a modificar antigos padrões de conduta e de regulação da vida
coletiva. São muitos os desafios, mas, também, as oportunidades, para a
construção de uma nova condição de organização e de funcionamento da
universidade, mundo afora, ao se considerarem as rápidas transformações
ocorridas no processo de acumulação de capital – sobretudo aquelas que são
intensificadas mediante maior utilização das modernas tecnologias de
informação e comunicação –, e grandes mudanças introduzidas pelo atual
modo de produção do conhecimento.

A tudo isso, desafios e novas oportunidades, a universidade


contemporânea não pode deixar de considerar, sob o risco de vir a ser uma
instituição obsoleta, que cumpriria apenas, de modo muito parcial, as
expectativas colocadas tradicionalmente sobre seus ombros, ao longo de toda
a sua história – um centro de produção e transmissão de conhecimentos
críticos e emancipadores.

91
PALAVRAS FINAIS

Não se pretende repetir as considerações tratadas ao longo do livro.


Foram muitos os temas abordados, da crise de legitimidade e de representação
das instâncias políticas responsáveis pela execução e pela formulação das leis
a propostas práticas de formulação e implementação da governança da ciência
e da tecnologia. Temos presenciado novas formas de mobilização e
organização social, e o crescimento da importância das chamadas redes
sociais, na difusão e manifestação da vontade coletiva. Tudo isso tem muito de
inédito e precisa ser devidamente considerado por todos, especialmente pela
universidade e pelas instituições que historicamente sempre buscaram espaços
para o desenvolvimento de um pensamento crítico e transformador.

Verifica-se aumento da influência de especialistas, os quais


procuram indicar o que entendem serem os necessários rumos a serem
seguidos pelas sociedades. Ao procederem dessa maneira, alguns tendem a
minimizar soluções não habituais para os problemas por eles tratados, ao
sugerirem que se trataria de um “jogo do tudo ou nada” – ou se aplica esta ou
aquela recomendação, ou seria o “desastre” – o imperativo do “pensamento
único”, na terminologia de Pierre Bourdieu, que desqualifica o interlocutor antes
mesmo de este apresentar as evidências contrárias a suas teses, ou mesmo de
se manifestar. Na direção contrária, muitos texto e relatos empíricos vêm em
auxílio às teses vencidas a priori; só para citar um, o livro de Richard Sclove,
“Democracy and Technology”, que reúne várias experiências bem-sucedidas
de desenvolvimento de novas tecnologias e de suas aplicações, em contextos
sócio históricos os mais diversos19.

Do ponto de vista teórico, os trabalhos de Steve Fuller – “The


Governance of Science” –, Philip Kitcher – “Science, Truth and Democracy” –,
de James Robert Brown – “Who Rules in Science?”, e de Hugh Lacey –
19
Não se pretende, no trabalho, quantificar esta ou aquela posição dentre as mencionadas –
“narrativas e contra narrativas”, na obra de Campbell (2002) –, pois interessa, sobretudo, realçar
diferentes discursos que estão presentes no meio acadêmico e no contexto contemporâneo da
economia e das ações do Estado. Nesse sentido, ambas as tendências são verificadas, embora se
verifique, por suposto, o predomínio do que Bourdieu (2002) considerou a “tirania do
pensamento único”.

92
“Valores e Atividades Científicas” – são exemplos importantes para uma crítica
ao padrão dominante da ciência e da tecnologia, no mundo, e à tradição
epistemológica dominante. Nesses trabalhos, os autores defendem, ainda, o
que entendem devam ser os novos compromissos que tais conhecimentos
devem ter diante das desigualdades e das populações mais necessitadas.

Na economia, não se pode deixar de considerar os trabalhos de


Yanis Varoufakis – “O Minotauro Global” –, e de David Harvey, sobre “O
Enigma do Capitalismo”20, em que apresentam análises aprofundadas a
respeito das crises recentes na economia Mundial, relevantes para se
vislumbrarem caminhos alternativos diante de seu aparente esgotamento. E,
igualmente, merecem atenção, nessa linha de preocupações, os estudos
coordenados por Manuel Castells, acerca dos novos movimentos de reação à
lógica dominante e a determinadas ditaduras, os quais apresentam elementos
novos quanto à utilização dos recursos informacionais, na mobilização política
e na construção de identidades sociais.

Nada disso esgota o conjunto de narrativas em busca de realidades


inéditas e possibilidades de uma vida mais justa e digna para as pessoas. Há,
ainda, os inúmeros filmes e documentários que procuram desvelar a face
oculta da dominação contemporânea, que abordam o modo como os sistemas
financeiros e os mercados de ações têm atuado, em todo o mundo: “Trabalho
Interno”, “ Corporação”, “A Grande Aposta”, “Snowden – Heroi ou Traidor”, “The
Square” – sobre as manifestações recentes no Egito –, e tantos outros, que
não podem ser negligenciados, no momento. Chama a atenção certo silêncio
da grande mídia ou dos grupos dominantes e de seus porta-vozes, para
contestarem ou mesmo apresentarem uma visão diferente daquela que é
destacada nesses filmes ou documentários (o trabalho está errado?; essa é
uma questão em aberto). De qualquer sorte, o chamado pensamento único
seria mais uma dentre as muitas narrativas que se colocam, no presente,
perante o grande público, no jogo de disputas pela hegemonia ideológica e
prática.

20
As citações completas estão em Varoufakis (2016) e Harvey (2011), na Bibliografia.

93
Diante desse cenário, a universidade pode não ter sido um ator
crítico proeminente, preocupada, principalmente, em manter elevados índices
de produtividade e de publicação (em geral, sobre muitas banalidades, e
assuntos marginais), em ampliar rapidamente a oferta de vagas e de cursos de
graduação e de pós-graduação, e de obter posição de destaque em listas de
classificação divulgadas por governos ou por organismos nacionais ou
internacionais que realização avaliações e que conferem reconhecimento
mediante sistemas de “acreditação”. Não há dúvida que são preocupações
legítimas, mas estima-se que urge reunir esforços para se contrapor a tudo
aquilo que, ao final, poderia vir a comprometer a qualidade de suas pesquisas
e de seus cursos, em razão de alguma presumível compulsão pela
produtividade, e em desfavor do pendor crítico e contestador que sempre
pontuaram sua existência. Certamente, a busca por se inserir, crescentemente,
na “big science” e se pautar por critérios mais universais de avaliação, bem
como na busca por elevar os índices de publicação não implica,
necessariamente, algum comprometimento com a qualidade.

Alguns diriam que, ao contrário, é justamente esse movimento, para


aumentar os índices de inserção internacional e de publicação, que pode
estimular a ciência, nos diferentes países, a incrementar sua qualidade –
quantidade versus qualidade seria, para esses, um falso dilema. Mas, há,
certamente, riscos: o de favorecer a concentração de conhecimentos (e da
riqueza em que neles se apoiam); aumentar as desigualdades no acesso aos
resultados científicos e tecnológicos e entre diferentes segmentos sociais –
cada vez mais dependentes desses resultados –; empobrecer a qualidade dos
mesmos; e ficar mais submissa aos grupos que comandam a economia.

No avanço dos questionamentos, faz-se mister enfrentar o discurso


de que quantidade não compete com qualidade. Seria um fato inédito, se fosse
verdade. A maior velocidade na produção dos novos conhecimentos, a
limitação na circulação e divulgação junto aos vários grupos de pesquisadores,
dispersos pelo mundo, e o açodamento por sua conclusão, com a tendência à

94
redução do necessário número de testes de validação, podem vir a
comprometer as bases institucionais da ciência contemporânea.

A esse respeito, se forem considerados os quatro componentes do


que Merton (1968) identifica como os fundamentos institucionais da ciência
moderna ou o ethos científico21, pode-se inferir que os mesmos ou não se
aplicam ou apenas de modo bem restrito à ciência contemporânea. A obra de
Bourdieu (1983) é pródiga na tentativa de demonstração dessa afirmação. Em
que pesem as ressalvas que esse último autor fizera, em seu trabalho
publicado em 2001, seus argumentos anteriores (do texto de 1983, sobre o
campo científico), não são anulados, ao identificarem a narrativa de Merton
como mera expressão da “ciência oficial”. Some-se a essas observações o fato
de que, mesmo na perspectiva de Bourdieu, a ciência contemporânea, em
versão oficial ou não, vem sendo, crescentemente, ameaçada em sua ambição
– a busca permanente de conhecimentos fidedignos –, diante da “tirania” (para
usar expressão desse autor) do neoliberalismo, ou da lógica do processo atual
de acumulação de capital. De uma maneira ou de outra, há que se aprofundar
a discussão a respeito da contraposição quantidade versus qualidade, no
momento em que se especulam sobre novas formas de autonomia da
universidade, a ampliação do acesso ao conhecimento científico-tecnológico, e
a defesa do pensamento crítico e transformador.

Não resta dúvida que a busca por novos aliados, junto ao grande
público e aos ambientes mais dinâmicos da economia, que se obtém, entre
outras iniciativas, mediante adequada governança, é caminho promissor para
que a universidade possa lidar com eventuais ameaças. Para alguns autores, a
reaproximação do ensino à pesquisa – crescentemente distanciados em
práticas cotidianas nas universidades, e reforçadas pelos sistemas de

21
O comunismo (norma que obriga moralmente o cientista a divulgar os resultados de
seus trabalhos), o desinteresse (o principal motivo do trabalho acadêmico deve ser a
busca do conhecimento e não qualquer notoriedade pessoal), o ceticismo organizado
(os fatos somente poderão ser aceitos depois de serem devidamente comprovados) e
o universalismo (a ciência não deve ter fronteiras sociais, nem ideológicas).

95
avaliação predominantes, notadamente os que se fazem sob a égide do exame
dos pares de cientistas – é, igualmente, uma necessidade premente do
momento atual, vivido, de modo geral, pela universidade.

Há muito o que se fazer: colocar publicamente o assunto, ampliar os


canais de sua discussão, e buscar práticas acadêmicas não convencionais de
relacionamentos entre antigos e novos atores. Tudo isso deverá possibilitar
impulsionar as universidades e a ciência e tecnologia, de modo a que possam
atingir partes importantes da sociedade, tradicionalmente apartadas das
mesmas.

Enfrentar a complexidade da universidade e pensar propostas de


governança para a ciência e a tecnologia é um trabalho que jamais será
inteiramente concluído; é um processo, mais que mera busca de resultado.
Seguir as mudanças na sociedade, em sua economia e na maneira de se
organizar e produzir o conhecimento, e entender o seu sentido de futuro não é
tarefa simples.
Em resumo, tem-se muito o que se investir nesse cenário, não
apenas em termos materiais, mas, principalmente, de ideias, e, melhor, na
construção de novas utopias, em todos os níveis e dimensões do cotidiano da
universidade: da comunicação administrativa às relações interpessoais,
mencionadas, por exemplo, no item sobre o tema da legitimação. Os “canais
estão bastante obstruídos”, para usar uma expressão corriqueira. Há muitos
bloqueios de comunicação, preconceitos, entraves burocráticos, hierárquicos,
culturais, eletrônicos, materiais, simbólicos, políticos e estruturais. “Limpar”
essas vias, facilitar a interlocução, abrir novos fóruns de discussão e reflexão
sobre os problemas das universidades e de seus rumos futuros, enfim, facilitar
a comunicação interna e com a sociedade é a principal contribuição que os
dirigentes dessas instituições podem proporcionar a elas, no presente
momento. As soluções, a superação de seus impasses e desafios, e a
implementação de novas possibilidades de condução da instituição certamente
serão encontradas com a mobilização efetiva da organização acadêmica; e

96
isso não pode ser tarefa para um ou poucos, apenas. As inteligências são
muitas; e não se precisa de receitas ou de modelos previamente concebidos.
Finalmente, o momento requer muita imaginação criadora e
ousadia. Ultrapassar os limites, acreditar no trabalho sério e competente,
proporcionar ambientes ricos em comunicação e entendimento, negociar e lidar
adequadamente com as diferenças, buscar os ingredientes de um futuro
promissor para as universidades e para o futuro das populações, rever crenças,
abrir-se para novas atitudes e manter-se fiel aos princípios mais elevados da
instituição, são condições para o difícil e incerto percurso. Trabalho árduo de
construção, que requer muita coragem e determinação; mas que jamais poderá
dispensar o conhecimento, a reflexão sistemática e a boa argumentação.

97
ANEXO 1

PROGRAMA DE ESTUDOS SOBRE A FOME; uma problemática em busca


de soluções no Brasil

Michelangelo Trigueiro

INTRODUÇÃO

Desnecessário dizer da relevância deste tema, sempre, enquanto


persiste o problema. Em muitos ambientes e discursos, quando o assunto vem
à tona, percebemos a preocupação, a aguda sensibilização para este terrível
drama, brasileiro e mundial. No entanto, ao se pensar em como resolvê-lo nos
deparamos com um sem número de justificativas para o seu adiamento,
mencionando a complexidade, a noção de problema estrutural – ligado à
natureza da sociedade, excludente – e assim por diante. Em suma, é a ideia de
que não se pode resolver a fome, em sua dimensão social.

É bem verdade que a chamada “revolução verde” – a modernização


tecnológica da agricultura nos anos 60 e 70 – veio com o discurso de ser uma
condição para solucionar a fome no planeta. E, recentemente, as Novas
Biotecnologias replicam esse mesmo discurso. Analistas de vários campos do
conhecimento reconhecem que a gravidade da questão não depende
unicamente da tecnologia ou do conhecimento – as soluções estariam além do
“circuito tecnológico”. As eventuais soluções não se constrangem a um
pragmatismo ou a um mero voluntarismo político ou assistencialista. Requer
conhecimentos consequentes e a formulação de alternativas adequadas, que
não surgem espontaneamente. Ademais, as universidades, ainda se restringem
a uma visão muito academicista, na qual se evidencia grande débito frente a
questões e necessidades prementes da sociedade, entre estas a problemática
da fome.

Diante destas preocupações surge esta ideia de se pensar um


programa de estudos que vise à compreensão da problemática contemporânea
da fome e à busca de sua solução. Ou seja, pretende-se não apenas conhecer

98
e traçar um diagnóstico atual da fome em diferentes sociedades, mas,
sobretudo, gerar um conjunto de alternativas racionais e viáveis, ao se
considerar o que foi produzido sobre o assunto, que inclui acervo científico-
tecnológico relativo aos alimentos, bem como aspectos sócios-econômicos,
políticos, culturais e organizacionais.

O presente programa buscará apontar caminhos, soluções


possíveis; porém, estas somente serão colocadas em prática pela própria
sociedade e pelos grupos envolvidos e interessados, na medida de suas
condições e possibilidades técnicas e sócio-políticas.

1. ESTRATÉGIA GERAL:

Em termos bem abrangentes, propõe-se um amplo programa de


trabalho para um período de 12 meses, envolvendo esforços de vários
profissionais e diferentes campos do conhecimento, relacionando distintos
ambientes e organizações de pesquisa.

A condução do programa será feita mediante quatro módulos


relacionados entre si e a sua implementação deverá ser gradual,
desenvolvendo por etapas diferentes projetos e a sistematização de
procedimentos e estudos, cujo escopo e profundidade, em cada etapa,
dependerá do tipo de profissional e pesquisador engajado e dos recursos
conseguidos. Assim, o programa será construído, planejado e avaliado, passo
a passo, dentro do horizonte máximo de tempo aqui estabelecido. Os contatos
iniciais e o primeiro projeto serão da responsabilidade deste proponente, em
termos de sua coordenação. Os recursos serão alocados para cada projeto,
sendo este programa o termo de referência global do trabalho.

99
2. ESTRATÉGIAS ESPECÍFICAS:

Para efeito de alternativas de escolha, por parte dos contratantes,


propõe–se, basicamente, duas opções: 1) realizar o programa como um todo,
para o País, seguindo o cronograma estabelecido em cada módulo; e 2)
realizar, inicialmente, um trabalho piloto, em algum município ou região, de
acordo com os mesmos módulos apresentados a seguir. Neste caso, o primeiro
módulo seria comum à opção anterior, tanto em termos de informações
levantadas, quanto em termos do tempo estimado para a sua execução. Os
demais módulos seriam específicos, quanto às informações levantadas sobre o
município ou região escolhidos. O tempo previsto para essa opção é estimado
em 4 meses para o conjunto de todos os módulos.

3. MÓDULOS DE IMPLEMENTAÇÃO:

Módulo 1 - O diagnóstico: Neste primeiro módulo, pretende–se


realizar o diagnóstico global do problema da fome no país que se dispuser a
colocar em prática o projeto. Seus principais objetivos e atividades envolverão:
a) revisão bibliográfica sobre o tema; e formulação teórica e conceitual sobre a
“fome”, como categoria sociológica, e a identificação de suas várias dimensões
– biológica, social, política, econômica e cultural; b) levantamento de dados
secundários – estatísticos e documentais – sobre a fome no país, o qual deverá
conter a evolução histórica da problemática da fome, as soluções tentadas no
passado e presentemente, e a caracterização do problema, em sua dimensão
biológica e do ponto de vista médico e social.

Nesse módulo, serão importantes as contribuições das áreas da


sociologia, geografia, história, nutrição, estatística, economia e medicina. O
tempo estimado para este módulo é de 2 meses.

100
Módulo 2 - A oferta de alimentos: Neste segundo módulo, o
objetivo central é o levantamento e a análise de informações concernentes à
oferta de alimentos e de tecnologias disponíveis sobre as distintas regiões do
País. Trabalho que passa por investigações junto às empresas locais
produtores de tecnologias agropecuárias, e a demais Institutos afins de
pesquisa. Nesse momento, também poderão ser incluídos estudos sobre o
conhecimento gerado por instituições de outros países. Igualmente, deve ser
levantado o potencial de grãos, frutas e de produtos pecuários, gerados no
chamado “complexo agroindustrial” brasileiro. Os dados serão
fundamentalmente secundários, com base nas informações disponíveis no nas
entidades, governamentais ou não, que produzem informações sobre o setor.

Além destas informações, buscar-se-á ressaltar aspectos culturais e


a evolução histórica de diferentes modos de alimentação no município ou na
região escolhida para este Projeto. As principais áreas deste módulo serão:
sociologia, antropologia, ciências ambientais, economia, estatística, agronomia
e zootecnia. A realização deste módulo, na estratégia geral, deverá se dar em
até 2 meses.

Módulo 3 - As causas do problema: Neste ponto do programa,


pretende–se investigar as principais causas do problema da fome no país e de
sua persistência. Mais do que apresentar visão geral sobre o assunto,
tenciona–se identificar os aspectos mais minuciosos, e o que se entendem por
seus reais obstáculos – econômicos, políticos, culturais e organizacionais –
presentes nessa problemática. Tenciona–se sair de certo “lugar comum”, que
aponta a persistência do problema como devida a causas macro e estruturais,
que têm a ver com a natureza global da sociedade. Ao contrário, quer–se
chegar nos aspectos mais específicos e menos evidentes, a fim de se
pensarem soluções consequentes, ainda que nos limites da estrutura da
sociedade. De modo mais detalhado, pretende-se saber: a) por que a fome não
é erradicada, tendo em vista determinada oferta de alimentos e tecnologias?; b)
por que os programas governamentais no passado e no presente não foram e
não são suficientes para solucionar o problema da fome no país?; c) quais as

101
dificuldades, no nível de determinadas organizações de pesquisa e de certos
órgãos formuladores e executores de políticas públicas, que dificultam ou
impedem o fluxo mais efetivo de informações e soluções técnicas até os
contextos em que a fome se apresenta?; d) quais os impasses, no nível das
ações e da estrutura política do país, e no âmbito de suas regiões, que limitam
a solução da fome?; e) quais as principais características da organização
econômica e produtiva que impedem a superação da fome no país?; e f) quais
as características culturais da sociedade que limitam a busca de alternativas
adequadas para a erradicação da fome?

Estas questões terão como áreas principais a sociologia, a


economia, a antropologia, a administração, a psicologia, a história, a geografia,
as ciências políticas e as ciências ambientais. O tempo previsto para a
realização deste módulo, na estratégia geral, é de 4 meses.

Módulo 4 - Em busca das soluções: Finalmente, este módulo


representa uma síntese de todos os anteriores. O seu objetivo fundamental é
reunir um conjunto de alternativas e possíveis soluções para a superação ou
redução da fome. Para isto, deverá apoiar–se em todo o conjunto de
informações produzidas em todos os outros momentos do trabalho.

Para a sua consecução, uma estratégia importante será a realização


de vários seminários, a fim de se apresentarem os resultados anteriores e
ouvirem propostas concretas. Também serão gerados estudos propositivos, a
partir de equipes interdisciplinares, o que inclui todos os campos do
conhecimento mencionados anteriormente, e será estimulada a participação de
técnicos governamentais, estudantes, membros de organizações não
governamentais e representantes de movimentos sociais.

Ao final, pretende–se gerar um grande conjunto de informações num


relatório abrangente, que vai do diagnóstico às formulações de alternativas em
torno da fome. O tempo previsto para a realização deste módulo, na estratégia
geral, é de 4 meses.

102
ANEXO 2

PROJETO UNIVERSIDADE INTEGRADA

Michelangelo Trigueiro

1. Objetivos:

O Projeto Universidade Integrada tem como objetivo fundamental


propiciar ao estudante de graduação e de pós-graduação uma importante
experiência prática de ensino, num contexto real de aplicação de
conhecimentos. Além deste objetivo, pretende-se desenvolver mecanismos
relevantes de integração da universidade com a comunidade externa, mediante
a atuação concreta numa experiência acadêmica, a envolver professores e
estudantes, juntamente com membros e lideranças de comunidades locais.

Este Projeto tem como linha básica incrementar o processo ensino-


aprendizagem, mediante a participação de estudantes e professores em
situações reais no cotidiano dos indivíduos e de grupos presentes na
sociedade. Também deverá ter claros os eventuais desdobramentos nas
atividades de pesquisa e de extensão, ao permitir o exercício de profícua
experiência de articulação entre essas atividades acadêmicas; o que se
constitui, também, em outro objetivo importante do presente projeto.
Finalmente, buscar-se-á, permanentemente, a prática da interdisciplinaridade,
ao envolver diferentes áreas do conhecimento e da formação acadêmica,
reunidas num mesmo espaço físico e de problematização prática.

2. Estratégias de implementação:

A idéia básica é realizar uma parceria com os governos,


organizações não-governamentais, e demais entidades ou organizações da
sociedade civil, ao se exercerem ações de ensino e de pesquisa, em ambientes
fora da universidade, nas diferentes disciplinas oferecidas, e unidades
acadêmicas.

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Inicialmente, em comum acordo com os parceiros, define-se um
local como experiência-piloto, que pode ser um lote urbano, ou área inserida
em escola pública, no qual se instalaria a sede do projeto em determinada
comunidade. Nesse local, ouvidas as necessidades da comunidade local e as
prioridades consensuais para a região, o coordenador do projeto faria uma
proposta temática, a ser enfatizada na vigência do projeto, que deveria conter
as principais reivindicações e demandas dessa comunidade, os problemas e as
necessidades de soluções e um rápido diagnóstico socioeconômico da região,
que inclui a população, principais atividades econômicas e outros indicadores
julgados relevantes para uma primeira caracterização da realidade local.

Com base nesse plano geral, o coordenador do projeto contataria


várias áreas acadêmicas na universidade, e apresentaria a proposta de uma
ação no local escolhido, a ser desenvolvida no contexto de determinadas
disciplinas, que podem ser estágios supervisionados ou quaisquer outras com
possibilidades de desdobramento prático, ou melhor, ao relacionar diferentes
enfoques teóricos e práticos. Concretamente, isto significa, por exemplo, definir
um conjunto de atividades a serem desenvolvidas, integradamente, no local
definido previamente, em determinado núcleo urbano ou rural. Uma
possibilidade pode ser a participação de determinadas disciplinas em um
contexto prático, que envolva, por exemplo: um restaurante comunitário; um
escritório jurídico; um posto de orientação odontológica e outro, de prevenção
de doenças; uma horta comunitária; e um balcão de inovações. Diferentes
áreas do conhecimento e disciplinas poderão participar do projeto, na alçada
que compete a cada área, sob a supervisão direta do professor responsável
pela disciplina.

Todas as atividades ocorridas nas disciplinas deverão ser bem


planejadas, e deverão abranger a avaliação, e executadas conforme o
programa da mesma. Ao final, o professor encaminhará ao coordenador do
projeto um relatório sucinto indicando a sua própria avaliação da experiência. A
depender do interesse dos professores e da natureza dos problemas a serem
trabalhados, o planejamento das disciplinas poderá ser feito conjuntamente, em

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reuniões específicas, visando a otimizar os recursos envolvidos e a maximizar
os objetivos esperados pelos professores, alunos e membros da comunidade
escolhida.

Com a evolução do Projeto, ele poderá desdobrar-se para várias


outras comunidades, o que implicaria a necessidade de definição de
subcoordenadores e de maiores recursos a serem investidos. Nesse caso, a
universidade comprometer-se-ia a atuar diretamente no local definido
previamente, em conjunto com tais comunidades, e poderia oferecer serviços e
informações geradas no âmbito de cada disciplina, em cada uma das áreas e
atividades presentes no local. O pessoal responsável pelo dia-a-dia das
atividades – no restaurante universitário, nos postos de atendimento
odontológico e assim por diante – deverão ser membros da comunidade local,
das organizações não governamentais parceiras e dos funcionários dos
governos que forem envolvidos no Projeto, que deveriam trabalhar
articuladamente com os estudantes, técnicos e professores presentes no
mesmo.

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