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‘EPIDEMIA É DE DIAGNÓSTICOS, NÃO DE TRANSTORNOS

MENTAIS’, DIZ ESPECIALISTA DA UNICAMP

É cada vez maior o número de pacientes diagnosticados com algum


transtorno mental, como a depressão, a bipolaridade e o
transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). O
crescente aumento do número desses diagnósticos será tema da
conferência A epidemia de transtornos mentais, que ocorre em 21
de julho, a partir das 10h30, em local a ser definido, como parte da
programação da 69ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
O Portal UFMG conversou com a conferencista e professora Maria Aparecida Affonso Moysés, da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sobre o
aumento do número de diagnósticos de transtornos mentais que caracterizam uma epidemia que
assola todos os países do ocidente.
Militante do Despatologiza – movimento pela despatologização da vida, iniciativa que articula
discussões, eventos e ações sobre a medicalização da vida e da educação, a pesquisadora avalia
que o diagnóstico errôneo de tais distúrbios dificulta ao país pôr em prática uma política efetiva de
saúde pública que atenda quem realmente apresenta os transtornos. “O número de diagnósticos
de transtorno mental é absurdo, e isso impede que muitas pessoas que realmente possuem o
problema consigam ser tratadas na saúde pública”, diz.

O que é o fenômeno da medicalização da vida? Medicalizar a vida significa transformar um


problema coletivo em um problema pessoal. Hoje em dia, o sofrimento e a tristeza, que são
sentimentos comuns, normais e gerados pelo modo como a sociedade se organiza, estão sendo
transformados em problemas médicos. Um bom exemplo da medicalização da vida pode ser visto
nas escolas. Se tem dificuldade de aprendizado, a criança é rapidamente diagnosticada com
TDAH. Muitas vezes, ela não tem nada, e os seus problemas de aprendizado estão relacionados
à política educacional do país e à falta de qualidade de muitas escolas. Um problema coletivo (a
educação brasileira) pode ser transformado em um problema pessoal (a criança é diagnosticada
com um transtorno mental).

O que a medicalização tem a ver com a epidemia de transtornos mentais? É importante não
falarmos em epidemia de transtornos mentais, e sim, em epidemia de diagnóstico de transtornos
mentais. A medicalização está diretamente ligada a essa epidemia, porque, nos dias atuais,
qualquer problema está sendo diagnosticado como transtorno mental. Sentimentos psíquicos que
fazem parte da vida de qualquer pessoa, como os momentos de tristeza, por exemplo, estão sendo
diagnosticados como depressão. A quantidade de diagnósticos mostra que há algo estranho nesse
campo, a ponto de se pensar que talvez a normalidade tenha sido descartada. Nos Estados
Unidos, registros dão conta de que 46% da população sofrem com algum tipo de transtorno mental.
É um número absurdo, que nos mostra que há algo errado.

O que está errado nesse número de diagnósticos de transtornos mentais? O que está sendo
diagnosticado de fato? A tristeza, por exemplo, é algo normal do ser humano, mas as pessoas
estão vendo a tristeza como depressão. As pessoas acham chique se auto intitularem bipolares;
é como se estivesse na moda dizer que se está com depressão, que se é bipolar. Isso prejudica
aqueles que realmente possuem o transtorno.
Vou dar um exemplo: antigamente, o autismo estava presente em 0,5% da população. Hoje se
fala em um caso a cada 84 pessoas. Isso é exagerado porque, depois que se mudou o diagnóstico
para “diagnóstico de transtorno do espectro autista”, muitas pessoas passaram a pertencer a essa
categoria. Acontece que muitas vezes, essas pessoas têm sintomas muito leves, que não
atrapalham em nada suas vidas.

Como essa epidemia de diagnósticos afeta a saúde pública brasileira? Ela é terrível porque
é impossível pensar qualquer política de saúde pública que dê conta de metade da população com
problemas de transtornos mentais. Há pessoas precisando de acolhimento, sim, mas quando se
tem essa epidemia, os pacientes que possuem problemas reais não são percebidos, pois ficam
imersos nesse mar de diagnóstico de transtornos: eles não são identificados e,
consequentemente, ficam sem atendimento. Nenhum governo é capaz de tratar um povo que
apresente metade da sua população com transtornos mentais.

Qual a importância de se trazer esse assunto para a reunião da SBPC? É fundamental que
as pessoas ligadas ao campo da ciência, e que estarão reunidas na 69ª Reunião da SBPC, tomem
conhecimento dessa discussão. Ainda se fala pouco, no Brasil, sobre esse assunto, que atinge o
mundo inteiro. Passamos por uma epidemia de diagnóstico, não de transtorno. Precisamos
enfrentar o processo de medicalização, atuando na formação de profissionais de saúde e
educação e na criação de políticas públicas voltadas para esse entendimento.

Tags:69ª Reunião Anual da SBPC, 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), entrevista, Maria Aparecida Affonso Moysés, saúde mental, SBPC

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