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Obsolescência programada: realidade ou

mito?
por Alice Marcondes

Comprar, descartar e comprar novamente, em um


tempo cada vez mais curto. O que para uns é o padrão da sociedade atual, para outros é a manipulação
das indústrias em prol do consumo.

“No meu tempo, os eletrodomésticos duravam muito mais.” Quem nunca ouviu os avós ou uma tia mais
velha dizerem esta frase? De geladeiras que funcionavam por mais de 20 anos até roupas que passavam
de geração em geração, o fato é que realmente os artigos comercializados no início do século passado
tinham mais qualidade. Era comum que aparelhos eletrônicos fossem enviados para a manutenção,
fossem consertados e voltassem a funcionar perfeitamente. Atualmente, o quadro que se desenha é
bastante diferente. Os bens ficam velhos e obsoletos em um curto período de tempo e os consumidores
não têm mais o hábito de repará-los. A regra é comprar de novo!

Esse ciclo de consumo cada vez mais veloz é encarado com naturalidade por grande parte da sociedade,
mas, segundo algumas organizações, ele é na verdade algo planejado pelas indústrias e atende pelo nome
de obsolescência programada. “No final da década de 1920, após a recessão de 1929, se tornou
necessário gerar empregos. Então surgiu a ideia de diminuir o tempo de vida dos produtos, de modo que
as pessoas tivessem que comprar de novo mais rapidamente. Isso aumentava a produção, gerava postos
de trabalho e ainda trazia um suposto benefício secundário, que era o produto ser mais barato”, explica
Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu .

Segundo Helio, esse conceito se enraizou na filosofia das indústrias e persiste até hoje. Com o tempo ele
cresceu, ganhou novas ferramentas e atualmente não se alicerça apenas na baixa qualidade. “A indústria
de confecções, por exemplo, antigamente não fazia com que seus produtos fossem mudados a cada
estação. Hoje você compra uma roupa, mas ela só vale por uma estação, na próxima ela está
ultrapassada. Mudar as cores e modelos periodicamente é um conceito de obsolescência programada”,
comenta Helio.

Outro exemplo de programação da curta durabilidade são os eletroeletrônicos que apresentam defeitos
assim que termina o prazo de garantia. “A relação é nítida quando falamos de celulares. Se você quebra o
aparelho, na maioria das vezes fica mais caro arrumar do que comprar outro novo, ou a peça para troca
nem existe, já que o modelo sai de linha em poucos meses”, diz João Paulo Amaral, pesquisador Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Ele lembra que o design e a tecnologia também são
ferramentas da obsolescência programada. “Alguns notebookstêm a tela acoplada às peças de modo que
é impossível abrir para reparação ou upgrade. Além disso, a cada ano são lançadas inovações que fazem
com que as pessoas sintam que seus aparelhos estão ultrapassados, já que eles também dificilmente
podem ser atualizados.”
Estimular o consumo para gerar empregos foi uma ideia que funcionou bem e parecia a princípio ter
apenas pontos positivos. Contudo, seus idealizadores se esqueceram do fato de que a produção
necessitava de matéria-prima, proveniente do planeta Terra, que é um sistema finito. “O conceito de
obsolescência programada gerou uma demanda de recursos naturais que a própria natureza não é capaz
de prover. Prova disto é que, nos dias de hoje, a gente tem 16% da população consumindo 78% do total
do consumo mundial e já estamos demandando 50% a mais em recursos renováveis do que a natureza é
capaz de regenerar. Na época em que o conceito surgiu, não havia a percepção da limitação da natureza
de prover recursos para produzir produtos que terminam cada vez mais cedo”, destaca Helio.

O grande volume de resíduos produzidos e descartados no ambiente é outra consequência desse sistema.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor no Brasil desde 2010, traz regras que têm o objetivo de
minimizar esse impacto, porém, segundo João Paulo, ela ainda não é suficiente. “A legislação estabelece a
responsabilidade de destinação correta dos resíduos, mas isto não significa uma melhora na qualidade
deles. A gente ainda tem a cultura de pensar sobre como reciclar de não de evitar a geração do resíduo”,
diz o pesquisador do Idec.

Para João Paulo, o caminho para a solução desse impasse, passa pela mudança de atitude, principalmente
dos consumidores. “É muito importante que as pessoas procurem os seus direitos e comprovem que os
produtos deixam de funcionar por conta própria e não por mau uso. Mesmo que ele não esteja mais na
garantia, o consumidor pode buscar seus direitos nos órgão responsáveis”. Ele lembra também o papel do
governo nessa mudança. “As políticas públicas precisam assegurar o padrão de qualidade dos produtos.
Nos últimos tempos, houve avanços com relação á eficiência energética, com o selo Procel, de geladeiras
e ares-condicionados, mas não necessariamente isso veio junto com critérios de padrão de qualidade. Não
está relacionado à durabilidade do produto.”

Sobre os postos de trabalho que seriam extintos com a superação da obsolescência programada, Helio
acredita que essa mão de obra seria redirecionada para atividades mais qualificadas. “O setor de
assistência técnica vai absorver esses trabalhadores, que vão precisar de treinamento constante, o que vai
demandar profissionais capacitados para treinar e assim por diante.”

Helio aponta a educação para o consumo consciente como o primeiro passo a ser dado rumo à mudança
no padrão de produção. “As pessoas precisam perceber que esse sistema não vai sobreviver. Para isto, a
educação para o consumo consciente é fundamental. O governo e as empresas precisam entender
também que se as pessoas não tiverem condições financeiras para comprar o produto melhor, porém mais
caro, esse sistema não vai cair. Precisa reduzir a taxa de juros e aumentar o prazo de pagamento. A
mudança para uma sociedade mais sustentável é uma responsabilidade compartilhada por empresas,
governo e consumidores.”

Fonte: Agência Envolverde

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