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14 Puberdade e seus distúrbios

Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação   © Permanyer Portugal 2011
Ana Aguiar e C. Calhaz Jorge

1. INTRODUÇÃO ável com o método usado (apenas inspecção


ou também palpação) e que essa identifica-
A puberdade é o período de transição da ção se pode tornar difícil na presença de obe-
infância para a adolescência, marcado pelo sidade. Os estudos populacionais baseiam-se
desenvolvimento de caracteres sexuais se- habitualmente na idade da menarca, mas
cundários, surto de crescimento acelerado, mesmo esse episódio tem registo mais fiável
alterações comportamentais e aquisição da quando é efectuado de modo prospectivo.
capacidade reprodutiva. É um período dinâ- Estudos vários, na Europa e EUA, mostraram
mico e complexo de alterações endócrinas uma diminuição progressiva da idade da me-
várias que irão ser abordadas neste capítulo narca desde o final do século XIX até meio do
apenas na perspectiva do sexo feminino. século XX4,5. Essa evolução tem sido atribuída
A idade da puberdade normal tem uma gran- a melhorias na saúde, na alimentação e nas
de variação considerando-se, de um modo condições de vida em geral. Não existe con-
geral, que ela tem o seu início entre os 8 e os cordância sobre se tal tendência se manteve
13 anos com a média em torno dos 10,5 anos. entre meados e o final do século XX6.
Parte desta variação fisiológica está relacio- O factor iniciador da puberdade permanece
nada com factores genéticos e ambientais. É um mistério embora se considere que resul-
aceite a importância da raça neste domínio, ta de uma complexa inter-relação entre fac-
tal como é reconhecido que a puberdade tores genéticos e nutricionais, com repercus-
ocorre mais cedo em raparigas cuja mãe teve são sobre neurotransmissores e hormonas.
a menarca em idades precoces e em raparigas
que nasceram com baixo peso ou que tiveram
excesso de ganho de peso ou obesidade nos 2. ASPECTOS NEUROENDÓCRINOS
primeiros anos de vida1. O uso de diferentes
marcos para a definição temporal da puber- Em termos endócrinos, a puberdade na
dade é também um factor que justifica algu- nossa espécie é caracterizada por dois pro-
ma da variação apontada2. Os mais utilizados cessos: a produção de androgénios pelas
desses marcos são os estádios de Tanner3 e a glândulas supra-renais (adrenarca) e a reac-
idade da menarca. No primeiro caso, aceita- tivação do eixo hipotálamo-hipófise-góna-
se que o estádio 2 (aparecimento do botão da (HHG) (gonadarca).
mamário) corresponde ao início do processo São numerosas as evidências que apoiam
pubertário e, de acordo com os dados publi- que se trata de dois fenómenos indepen-
cados por Marshall e Tanner (1969), 95% das dentes: em casos de aparecimento de pêlos
raparigas atingem aquele estádio entre os 8 e púbicos e axilares antes dos oito anos (adre-
os 13 anos. Há que ter presente que a acuida- narca prematura), não existe precocidade da
de da identificação do botão mamário é vari- gonadarca; em caso de hipogonadismo, seja

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hipergonadotrófico (como a disgenesia go- período de quiescência do eixo gonado-
nadal) seja hipogonadotrófico (por exemplo, trófico durante a infância está ligado a uma
síndrome de Kallmann), não há gonadarca inibição central da secreção de GnRH. Os

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mas a adrenarca ocorre como habitualmente; mecanismos que levam à libertação dessa
em casos de puberdade precoce (PP) verda- inibição, e consequente efeito estimulante
deira a adrenarca ocorre depois da gonadarca. sobre o eixo HHG por ocasião do início da
Adrenarca é, portanto, a designação atribuí- puberdade, continuam a ser desconheci-
da ao aumento da secreção de androgénios a dos embora tenham sido apontados alguns
partir da zona reticular do córtex supra-renal. dos intervenientes.
É acompanhada por alterações nas estruturas Assim, há dados que indicam que a activa-
pilossebáceas (associadas a desenvolvimento ção da secreção de GnRH possa ser regulada
de acne e de odor corporal), por um surto de por vias inibidoras e estimuladoras onde se
crescimento transitório e pelo aparecimento incluem vias de comunicação transinápticas
de pêlos axilares e púbicos, mas sem desen- e glianeuronais8. À medida que são activadas
volvimento sexual. Chegou a ser sugerido redes neuronais que usam aminoácidos ex-
que a activação da secreção de androgénios citatórios ou o péptido kisspeptina há redu-
pelas supra-renais pudesse constituir o fenó- ção da actividade dos neurónios que usam
meno responsável pelo despoletar da puber- neurotransmissores inibitórios como o ácido
dade. No entanto, as informações disponíveis G-aminobutírico9 (GABA) ou o neuropéptido
são mais no sentido de que a activação das Y10. Estudos recentes sugerem que remode-
supra-renais é um fenómeno progressivo, lações estruturais dos neurónios produtores
com início anos antes, e que a adrenarca clíni- de GnRH podem ter um papel importante
ca apenas reflecte o facto de os androgénios no início da puberdade11.
terem atingido níveis suficientes para produ- Por outro lado, péptidos produzidos por te-
zirem alterações somáticas7. cidos periféricos, como a hormona leptina,
A primeira evidência química da puberda- derivada dos adipócitos, parecem integrar
de é, compreensivelmente, um aumento na este processo complexo, actuando, even-
produção e libertação de desidroepiandros- tualmente, como sinal de que as reservas
terona (DHEA) e respectivo sulfato (DHEA-S) energéticas são adequadas para manter,
pelas glândulas supra-renais. Esse aumento completar e possivelmente mesmo iniciar
inicial é detectado habitualmente entre os a puberdade. A leptina aumenta durante
sete e nove anos de idade, seguindo-se um a infância até ao início da puberdade e há
aumento progressivo para os níveis adultos. uma relação directa entre os seus níveis
Não se conhecem os factores que regulam a e a idade da menarca12. A relação entre a
adrenarca mas ela não parece estar sob con- maturação pubertária e a massa adiposa é
trolo directo de hormona adreno-corticotró- posta em evidência não só pelo reconhe-
fica (ACTH) ou gonadotrofinas. cimento generalizado de que as crianças
A gonadarca, que ocorre anos mais tarde, obesas iniciam a puberdade mais cedo do
relaciona-se com a activação da produção que as magras, mas também pelos estudos
de hormonas esteróides sexuais. Na segun- de Frisch que teorizam que é indispensável
da metade da vida fetal e logo após o nas- uma massa adiposa crítica (cerca de 17%
cimento a secreção de hormona libertadora do peso corporal) para que ocorra a menar-
das gonadotrofinas (GnRH) mantém-se ele- ca sendo necessária uma proporção ainda
vada mas diminui durante a primeira infân- maior (22% do peso corporal) para a manu-
cia e é praticamente ausente até à puber- tenção da capacidade reprodutiva13.
dade, apesar da inexistência de qualquer Foram também encontrados novos genes
retrocontrolo por esteróides sexuais. Este envolvidos na migração dos neurónios de

228 Capítulo 14
GnRH e genes envolvidos na regulação do dócrinos de regulação a nível hipotalâmico.
eixo HHG, realçando-se a importância do Distinguem-se vários tipos:
sistema de hormonas kisspeptinas/Gpr-54 — O sistema glutaminérgico que funciona

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no controlo modulador do eixo gonadotró- como estimulador das células produto-
fico na puberdade tendo-lhe sido atribuído ras de GnRH a nível hipotalâmico. Du-
um papel directo na síntese e libertação rante a puberdade foi demonstrada uma
de GnRH14. Mutações do gene Gpr-54 (no neurotransmissão de tipo glutaminérgi-
cromossoma 19p13.3) causam no modelo co aumentada indutora da estimulação
em cobaia e no humano uma situação de da produção de GnRH.
ausência de puberdade (hipogonadismo — O sistema GABAminérgico (GABA) que
hipogonadotrófico [HH]), de transmissão intervém através da activação de recep-
autossómica recessiva, havendo evidências tores específicos (receptor GABAa). Tem
da necessidade da sua normalidade para o um papel inibitório sobre os neurónios
processamento e secreção de GnRH15. secretores de GnRH durante o período
Sejam quais forem os mecanismos subja- pré-pubertário. Na altura da puberdade
centes, o aumento na frequência e ampli- essa acção inibitória diminui.
tude dos pulsos de GnRH e um aparente — As células gliais regulam a secreção de
aumento da sensibilidade hipofisária a este GnRH por intermédio dos factores de
péptido levam a um incremento da produ- crescimento transformador (TGF) tipo
ção de hormona folículo-estimulante (FSH) α e β, factor de crescimento epidérmico
e hormona luteino-estimulante (LH) pela hi- (EGF) e neuregulina (NRG).
pófise anterior. Inicialmente, os pulsos mais — Na regulação neuroendócrina também
intensos de GnRH ocorrem durante a noite. intervêm outros sinais estimulatórios ou
Também os pulsos de LH e FSH do início da inibitórios como o neuropéptido Y, a me-
puberdade são apenas durante o sono não- latonina, as catecolaminas, a serotonina,
REM mas, com o tempo, progridem para a a galanina.
existência ao longo de todo o dia. A LH é a Durante a puberdade a concentração de
gonadotrofina predominante na puberda- hormona do crescimento (GH) circulante au-
de. E não aumenta apenas pelo seu nível menta de forma muito intensa. Por estimula-
imunologicamente mensurável; há tam- ção pela GH, por volta dos 10 anos de idade,
bém um aumento proporcionalmente su- os níveis circulantes de factor de crescimen-
perior da LH biologicamente mais potente, to «insulina-like» (IGF-I) começam a elevar-se
por alteração no padrão de glicosilação da e atingem um pico aquando da velocidade
molécula16. A LH estimula a produção de máxima de crescimento durante a puberda-
androstenediona e testosterona pelas célu- de. A diminuição dos níveis da proteína 1 de
las da teca. A FSH estimula a aromatização transporte de IGF-I (IGFBP-1) durante a pu-
dos androgénios pelas células da granulosa berdade, contribui para uma maior fracção
com a consequente síntese de estrogénios metabolicamente activa de IGF-I.
e a foliculogénese. Os ciclos menstruais
pós-menarca são inicialmente anovulató-
rios; os picos ovulatórios de LH em resposta 3. ASPECTOS CLÍNICOS
aos níveis de estradiol surgem mais tarde na DA PUBERDADE NORMAL
puberdade.
Os mecanismos exactos da reactivação do As alterações físicas seguem-se às modificações
eixo gonadotrófico permanecem impreci- hormonais. Sob o ponto de vista do biótipo, a
sos, tendo sido recentemente postos em puberdade normal consiste numa progressão,
evidência numerosos mecanismos neuroen- em sequência ordenada, de processos que se

Puberdade e seus distúrbios 229


prolonga, em média, por um período de 4,5 é habitual definir níveis ou estádios na sua
anos (entre 1,5 e 6 anos)17: evolução. O sistema habitualmente utiliza-
— Crescimento somático acelerado. do é o proposto por Marshall e Tanner3 e a

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— Maturação dos caracteres sexuais primá- sequência de modificações é comummente
rios (gónadas e genitais). referida como os «estádios de Tanner». Estes,
— Aparecimento dos caracteres sexuais se- no sexo feminino, baseiam-se na avaliação
cundários. do desenvolvimento mamário ou telarca (di-
— Menarca. mensões mamárias e contornos areolares) e
Embora não sejam as alterações que ocor- da pilosidade púbica (muitas vezes designa-
rem em primeiro lugar, são os caracteres da por pubarca). Trata-se de uma escala de
sexuais secundários que marcam clinica- cinco estádios em que o estádio 1 é o pré-
mente o início da puberdade. Se bem que pubertário, o estádio 2 representa o início da
a sua progressão constitua um contínuo e puberdade e o estádio 5 é o de desenvolvi-
não uma sucessão de surtos ou degraus, mento adulto (Fig. 1).

1 1

2 2

3 3

4 4

5 5

Figura 1. Estádios de Tanner.

230 Capítulo 14
O primeiro sinal da puberdade é, em cerca metade das jovens irá ovular regularmente
de 80% das raparigas, o aparecimento de nos 4,5 anos seguintes23. Nas adolescentes, a
tecido mamário palpável subareolar. Para as anovulação é responsável por cerca de 80%

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restantes, o primeiro sinal é o surgimento de das hemorragias uterinas disfuncionais.
pêlos púbicos. Embora estejam descritos casos de gravidez
antes da menarca, a capacidade reprodu-
3.1. CRESCIMENTO tiva correspondente à da fase reprodutiva
da vida habitualmente só é atingida após o
O surto de crescimento nas raparigas atinge completar do desenvolvimento dos caracte-
o seu pico cerca de dois anos após o apareci- res sexuais secundários.
mento do botão mamário e entre 0,5 e 1 ano
antes da menarca18. Traduz-se num aumento
de 6 a 11 cm na altura. Resulta da acção con- 4. PUBERDADE ANORMAL
certada de hormona de crescimento, IGF-I e
esteróides sexuais. Os androgénios supra-re- Várias entidades patológicas podem resultar
nais não estão envolvidos (doentes com do- em desenvolvimento pubertário precoce,
ença de Addison têm um padrão normal de tardio ou ausente. Embora muitos casos de
crescimento pubertário). O factor primordial precocidade sexual e alguns de puberdade
parece ser o IGF-I19 mas as hormonas sexuais tardia possam ser constitucionais, é indis-
têm também acção directa positiva sobre pensável excluir situações patológicas sub-
o crescimento ósseo. E são também estas jacentes, eventualmente corrigíveis.
hormonas que, contribuindo para o encerra-
mento das cartilagens de conjugação, limi- 4.1. PUBERDADE PRECOCE
tam a altura final atingida. Aparentemente,
os estrogénios são o esteróide sexual mais É definida como o desenvolvimento dos ca-
importante no crescimento pubertário, quer racteres sexuais secundários antes dos oito
em raparigas quer em rapazes20. anos de idade nas raparigas, o que corres-
Aproximadamente 17-18% da altura em adul- ponde a mais de dois desvios-padrão abaixo
to deve-se ao crescimento na puberdade21. da média. Tem uma prevalência estimada de
cerca de 0,2%24,25.
3.2. MENARCA A PP pode classificar-se conforme se indica
no quadro 1.
A menarca ocorre tipicamente durante a fase O desenvolvimento sexual precoce resulta de
de desaceleração do crescimento linear, isto uma exposição prematura dos tecidos aos es-
é, 6 a 12 meses após o pico máximo de cresci- teróides sexuais seja qual for a sua fonte. Em
mento, e em média 2,5 anos após o início da pelo menos 50% dos casos as manifestações
puberdade3,18,22, usualmente entre os estádios de precocidade sexual regridem ou deixam
3-4 do desenvolvimento dos pêlos púbicos e de progredir não sendo necessária qualquer
4-5 do desenvolvimento mamário. terapêutica26. A probabilidade de se estar pe-
Os períodos menstruais são geralmente rante uma situação patológica aumenta se
irregulares, assim como a ovulação duran- houver desenvolvimento sexual em crianças
te os primeiros 12 a 18 meses e ocasional- muito novas ou se houver um desenvolvi-
mente até três a quatro anos. A progressão mento contra-sexual, isto é, virilização.
para ciclos ovulatórios é temporalmente O mecanismo mais comum da PP progressi-
mais longa quando a idade da menarca é va é a activação precoce da secreção pulsátil
mais avançada; de facto, quando a menarca de GnRH (dependente das gonadotrofinas
ocorre depois dos 13 anos, apenas cerca de ou PP central) que pode resultar de tumores

Puberdade e seus distúrbios 231


Quadro 1. Classificação da puberdade precoce

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— Dependente das gonadotrofinas – central (verdadeira)
u Estimulação precoce do eixo HHG
„ Idiopática – a mais frequente.

„ Associada a lesão do sistema nervoso central (SNC).

— Independente das gonadotrofinas – periférica (pseudopuberdade precoce)


u A fonte de esteróides sexuais pode ser
„ Endógena ou exógena

„ Gonadal ou extragonadal

— Puberdade precoce incompleta – variantes benignas de desenvolvimento pubertário precoce


„ Telarca prematura

„ Adrenarca prematura

„ Menarca prematura

ou lesões hipotalâmicas mas que em grande bém relevante comparar o rácio LH/FSH após o
parte dos casos permanece inexplicada (74% teste de estimulação, sendo uma resposta com
segundo Stein27). As situações de PP periféri- predomínio de LH (LH/FSH > 2) indicadora de
ca (PPP) têm sempre patologia subjacente e puberdade central32,33. Doseamentos ao acaso
tendem a condicionar uma puberdade atípica de níveis LH através de metodologias ultra-
com perda da sincronização dos aconteci- sensíveis podem constituir um instrumento de
mentos pubertários. As variantes benignas rastreio útil para detectar PPC. Assim, níveis de
de PP são relativamente comuns. LH ≥ 0,3 IU/l determinados recorrendo a LH-
Nas raparigas, é mais difícil fazer a destrinça ICMA (immunochemiluminometric assay) são
das categorias de PP pelo exame físico. O tes- fortemente sugestivos de PPC31,34.
te inicial para avaliação da PP é a avaliação da
idade óssea através de radiografia da mão e 4.1.1. PUBERDADE PRECOCE CENTRAL
punho esquerdos. Na PP central (PPC), a ida-  DEPENDENTE DAS GONADOTROFINAS
de óssea será invariavelmente avançada; na
apresentação inicial da PPP pode ser normal. A PP verdadeira é sempre uma precocidade
O exame gold standard para o diagnóstico de isossexual, isto é, o desenvolvimento é ade-
PPC é o teste de estimulação com GnRH. O tes- quado ao sexo e a idade óssea está acelerada.
te de estimulação com GnRH é realizado atra- Pode ocorrer em associação com uma diversi-
vés da administração de 2,5 μg/kg de peso (até dade de lesões do SNC mas 80-90% das crian-
um máximo de 100 μg) de GnRH, ev. ou sc.; os ças não terão uma causa identificável35,36. O
níveis séricos de FSH e LH são medidos antes e predomínio feminino de PPC é sobretudo es-
20 (ou 30) e 60 minutos após a injecção. A inter- pecífico para a categoria idiopática37. A exclu-
pretação dos resultados deste teste não é line- são de neoplasia do SNC por método de ima-
ar mas, se a criança tem uma PP central, o eixo gem é obrigatória em todas as crianças com
HH estará activado e constatar-se-ão níveis de PPC mesmo na ausência de sinais neurológi-
FSH e LH duas a três vezes superiores aos de cos36,38,39. A RM cerebral é o método de eleição
base28. Para outros autores, valores de pico de já que as lesões poderão ser de dimensões
LH > 8 IU/l são diagnósticos de PPC29-31. É tam- extremamente reduzidas33.

232 Capítulo 14
No quadro 2 apresentam-se as causas da PPC. tumores da glândula pineal e gliomas ópticos
e hipotalâmicos. A irradiação do SNC pode
Puberdade precoce central idiopática associar-se a PPC com défice de GH. Outras

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Quase sempre esporádica, raramente autossó- lesões do SNC como traumatismos, hidroce-
mica recessiva. Mais frequente nas raparigas. falia, quistos, doença inflamatória do SNC e
PP com desenvolvimento pubertário normal defeitos da linha média, como a displasia sep-
mas com progressão da maturação dos carac- to-óptica, são também causas raras de PPC.
teres sexuais secundários geralmente mais rá-
pida. Idade óssea superior à cronológica com Puberdade precoce central – terapêutica
encerramento precoce das epífises dando Para além das importantes consequências
origem a baixa estatura na idade adulta. Há psicológicas, incluindo muitas vezes dificul-
indícios que apontam para risco aumentado dades de inserção junto das outras crianças
de desenvolvimento de síndroma metabólica do mesmo grupo etário, a única consequên-
e carcinoma da mama em adulto40. cia da PPC idiopática não tratada é o com-
promisso potencial e significativo da esta-
Lesões hipofisárias e/ou do SNC tura na idade adulta devido à fusão precoce
Quadro clínico semelhante ao de uma PP das zonas de crescimento epifisárias.
idiopática mas associado a problemas neu- A decisão de quem deve ser tratado não é
rológicos (por ex. defeito campos visuais). sempre consensual. A maioria dos endocrino-
A RM de alta resolução permite a identifica- logistas concorda que crianças com evidência
ção de lesões que anteriormente passavam bioquímica de PPC e sem causa identificável
indetectáveis resultando num declínio dos para a situação, que apresentam uma idade
casos considerados idiopáticos. óssea muito avançada e uma altura estima-
Os hamartomas do tuber cinereum são tumo- da para a idade adulta baixa, devem ser tra-
res raros mas os que mais vezes estão associa- tadas. A maturidade esquelética da criança
dos a PPC, contêm neurónios de GnRH e actu- pode ser estimada pela comparação da ida-
am como tecido hipotalâmico ectópico com de óssea com medidas-padrão estabelecidas
produção autónoma de GnRH; podem tam- por Greulich e Pyle41,42. A altura previsível em
bém produzir TGF-α que modula a libertação adulto pode então ser calculada pelo método
de GnRH. Outros tumores do SNC associados de Bayley-Pinneau que utiliza quadros de pre-
com PPC são o astrocitoma, ependimoma, dição de altura no atlas da idade óssea. Nas

Quadro 2. Causas da PPC ou dependente das gonadotrofinas

— Idiopática
— Alterações do SNC
u Genéticas: neurofibromatose tipo 1
u Congénitas: hidrocefalia; quistos araquidónicos
u Patologia adquirida: radiação; pós-traumática; infecções (meningite/encefalite); acontecimento
hipóxico-isquémico
u Tumores: hamartoma hipotalâmico; astrocitoma; ependimoma; microadenoma hipofisário secretor
LH; glioma
u Defeitos estruturais: displasia septo-óptica; hipoplasia hipofisária
u Formas reversíveis (lesão ocupando espaço ou associada a pressão) – Abcesso; Hidrocefalia

Puberdade e seus distúrbios 233


crianças com PPC em que a puberdade pro- na puberdade, após avaliação da maturida-
grida a um ritmo lento pode não ser neces- de esquelética e do potencial de crescimen-
sário qualquer tratamento. Por isso, crianças to em altura. Em média, a menarca ocorre 18

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com diagnóstico precoce de PPC idiopática meses após a suspensão do tratamento.
devem ter o crescimento e a progressão pu- O uso prolongado de agonistas de GnRH
bertal avaliados durante um período de pelo nestes casos não parece ter efeitos significa-
menos seis meses no sentido de decisão de tivos a longo prazo no eixo HHG embora seja
instituição ou não de terapêutica. Claro que necessário não esquecer eventual repercus-
se for identificável uma lesão do SNC a tera- são sobre a massa óssea.
pêutica deve ser, sempre que possível, dirigi-
da à causa patológica subjacente. 4.1.2. PUBERDADE PRECOCE PERIFÉRICA
São indicações para instituição de terapêuti-  INDEPENDENTE DAS GONADOTROFINAS
ca na PPC sem causa identificada: PSEUDOPUBERDADE PRECOCE
— Rápida progressão dos acontecimentos
endócrinos num período de seis meses A PPP é mais rara que a PPC. Ocorre em me-
a um ano. nos de 1/5 das raparigas com desenvolvi-
— Menarca nas raparigas com menos de mento sexual precoce. O quadro clínico é de
nove anos de idade. uma puberdade em que a consonância dos
Na PPC idiopática, o objectivo da terapêuti- acontecimentos pubertários muitas vezes
ca é interromper a progressão ou, desejavel- não se verifica. O desenvolvimento ocorre
mente, conseguir a regressão do desenvol- apesar de níveis de FSH e LH pré-púberes.
vimento pubertário. A terapêutica baseia-se Na PPP existe também uma aceleração da
na administração de um agonista de GnRH idade óssea mas as gonadotrofinas estão
(injectável, de longa acção, ou intranasal, de baixas após a estimulação com GnRH. Os
curta acção), que, após um período transitó- estrogénios estão elevados. Os androgénios
rio de estimulação da secreção de gonado- ováricos ou supra-renais podem originar viri-
trofinas, provoca uma dessensibilização da lização. O tratamento depende da etiologia.
hipófise anterior à estimulação pulsátil pela Consideram-se no quadro 3 as causas da PPP.
GnRH hipotalâmica com consequente hipo-
estrogenismo. O regime terapêutico usual Síndrome de McCune-Albright (MAS)
é a administração mensal de um agonista Doença rara caracterizada pela tríada clássi-
depot (por exemplo, acetato de leuprolide, ca de displasia poliostótica fibrosa, manchas
injectável, numa dose inicial de 0,3 mg/kg). café au lait e PPP. É uma síndrome heterogé-
O regime de administração trimestral de leu- nea com múltiplos tipos de padrão de trans-
prolide depot 11,25 mg, apesar de inibir efi- missão hereditária. Está associado a muta-
cazmente o eixo HHG em 95% das crianças ções pós-zigóticas somáticas esporádicas
com PPC aos seis meses43, apresenta resul- activadoras do gene que codifica a α-subuni-
tados subóptimos na supressão da secreção dade da proteína G3 que activa a adenilcicla-
de gonadotrofinas quando comparado com se o que conduz a uma estimulação contínua
o regime mensal de 7,5 mg44. Um novo e da função endócrina. Pode estar associado
promissor implante subcutâneo, de liberta- a hipertiroidismo, síndrome de Cushing, ex-
ção contínua, do agonista de GnRH, histreli- cesso de hormona do crescimento, hiper-
na (actualmente apenas disponível nos EUA) prolactinemia e raquitismo hipofosfatémico.
demonstrou uma supressão mantida e con- A PP afecta mais as raparigas que os rapa-
sistente durante pelo menos um ano45. zes. A sua forma de apresentação clássica é
A terapêutica é interrompida na época em desenvolvimento mamário acelerado e início
que as crianças devem entrar normalmente súbito da menarca. A razão para o início súbito

234 Capítulo 14
Quadro 3. Causas da PPP ou independente das gonadotrofinas

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— Activação gonadal autónoma
u Síndrome de McCune-Albright
u Quistos ováricos recorrentes autónomos

— Tumores
— Alterações supra-renais
— Exposição a agentes exógenos
— Hipotiroidismo primário grave, não tratado – síndrome de van Wyk-Grumbach

e evolução rápida dos acontecimentos pu- clássica e formas não clássicas. A causa mais
bertários é a existência de quistos dos ovários frequente é a deficiência de 21-hidroxilase.
produtores de estrogénios. Tal torna possível Na forma clássica, os fetos do sexo feminino
um diagnóstico fácil através de exame eco- estão expostos in utero a níveis elevados de
gráfico. Dado que existe uma hiperactividade androgénios o que resulta em virilização e
ovárica não controlada a produção de estro- ambiguidade genital externa à nascença. A
génios é acentuada, resultando níveis de es- forma não clássica, também denominada de
tradiol até 500 pg/ml e superiores. manifestação tardia, pode tornar-se clinica-
mente evidente na infância com sinais de
Tumores dos ovários androgenecidade (pilosidade púbica, odor
Os quistos foliculares dos ovários produtores corporal, acne) ou mesmo virilização. Se os
de estrogénios são a causa mais frequente de níveis basais de 17-OH progesterona não se
PPP isossexual nas raparigas. Se isolados são apresentarem claramente anormais, deverá
autolimitados e regridem espontaneamente. ser realizado um teste de estimulação com
Os tumores ováricos como os das células gra- ACTH para um diagnóstico definitivo.
nulosas, os tumores das células de Leydig e
os gonadoblastoma são causas raras de PP. Hormonas sexuais exógenas
(disruptores endócrinos)
Outros tumores Químicos ambientais, naturais ou sintéti-
Tumores das supra-renais, que podem ser cos, podem perturbar o funcionamento
malignos, associados em 85% dos casos com endócrino normal por uma acção agonista
virilização, têm como idade média de diag- ou antagonista, assim como interferir na si-
nóstico os cinco anos de idade. Tumores se- nalização celular ou expressão dos recepto-
cretores de HCG, como os coriocarcinomas res. Várias substâncias têm sido implicadas
e os germinomas, podem causar PPP dado como factores potenciais neste processo,
que a HCG é estruturalmente semelhante à como é o caso de fitoestrogénios, estrogé-
LH e estabelece ligações de alta afinidade nios tópicos e naturais, pesticidas, químicos
com os receptores de LH. industriais e ftalatos. A ingestão de hormo-
nas esteróides sexuais por crianças pré-pú-
Hiperplasia congénita beres condiciona o desenvolvimento de
da glândula supra--renal (CAH) caracteres sexuais secundários associado
É devida a um de vários defeitos enzimáti- a níveis suprimidos de gonadotrofinas. Os
cos que resultam na síntese diminuída de metabolitos das hormonas exógenas po-
cortisol. O seu espectro clínico inclui a forma dem ser identificados na urina.

Puberdade e seus distúrbios 235


Síndrome de van Wyk-Grumbach A activação secundária de PPC pode ocorrer
Raramente, crianças com hipotiroidismo em raparigas com PPP e, nessas situações,
primário grave podem ter precocidade pu- pode ser necessária uma terapêutica adju-

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bertária (desenvolvimento mamário, hemor- vante com agonista de GnRH.
ragia vaginal e quistos nos ovários) embora
nestes casos a idade óssea esteja significati- 4.1.3. PUBERDADE PRECOCE INCOMPLETA
vamente atrasada e as crianças apresentem  VARIANTES DE PUBERDADE PRECOCE
baixa estatura e crescimento lento. A situ-
ação resulta da capacidade da THS activar Na terminologia geral classifica-se a PP
directamente os receptores da FSH dada a em incompleta na presença de um sinal
similaridade estrutural de ambas46. pré-pubertário isolado. Assim, neste grupo
estão incluídas a telarca prematura, a adre-
Puberdade precoce narca prematura e a menarca prematura.
periférica – terapêutica A determinação radiológica da idade ós-
A terapêutica é dirigida à causa subjacente. sea deve ser realizada para confirmar que
As crianças com tumores das supra-renais ou o crescimento não se encontra acelerado.
do ovário são tratadas com cirurgia. As porta- Se estiver normal, serão desnecessários ou-
doras de tumores produtores de HCG podem tros exames.
necessitar de terapêutica combinada cirúrgi-
ca, radioterapia e quimioterapia dependendo Telarca prematura
da localização e do tipo histológico. Crianças Caracteriza-se por desenvolvimento ma-
com alterações na esteroidogénese supra-re- mário prematuro mas limitado, sem pro-
nal devem ser tratadas com glucocorticóides. gressão para a maturação, não associado
Nos casos de hipotiroidismo, os sinais de de- a outros sinais pubertários e por idade ós-
senvolvimento pubertário regridem a com a sea adequada à cronológica. Pode ser uni
terapêutica com tiroxina. As raparigas com ou bilateral. A maioria das raparigas tem o
MAS devem ser fazer terapêutica médica con- diagnóstico aos dois anos de idade poden-
ducente a inibição da esteroidogénese go- do estar já presente à nascença. Os níveis
nadal e não terapêutica cirúrgica, no sentido de gonadotrofinas e estradiol são normais.
de preservar a sua fertilidade. Foi proposto o O curso é variável, resolve espontaneamen-
uso de testolactona, que inibe a aromatização te em 1/3 das raparigas, em 1/3 permane-
dos androgénios em estrogénios, com algum ce constante e 1/3 progride não passando
sucesso no atraso da progressão pubertária normalmente o estádio 3 de Tanner. A cau-
apesar de se verificar uma perda da eficácia da sa exacta é desconhecida. A vigilância deve
sua acção com o tempo47. O tratamento com ser mantida já que uma pequena percenta-
inibidores da aromatase como o fadrozole, gem (18%) das raparigas desenvolve uma
o anastrozole e letrozole parece ser ineficaz verdadeira PP (central).
para um tratamento prolongado. A terapêu-
tica com tamoxifeno nestas raparigas é eficaz Adrenarca prematura
em relação às hemorragias vaginais mas não Refere-se ao desenvolvimento de pilosidade
existem estudos sobre o seu efeito no cresci- púbica e/ou axilar antes dos oito anos, mais
mento ósseo. Outros fármacos como o fulves- frequentemente entre os seis e os oito. Mais
tranto, que é um antagonista puro e potente frequente no sexo feminino, em crianças
dos receptores de estrogénios, demonstra- obesas e de raça negra. Entidade benigna
ram eficácia efectiva na atenuação da acção rara, de etiologia desconhecida, apresenta
estrogénica sobre a maturação esquelética em cerca de 73% casos uma distribuição di-
em estudos realizados em cobaias48. ferente da que ocorre na puberdade normal

236 Capítulo 14
cuja distribuição se inicia ao longo da super- genismo na adolescência o que sugere que
fície interna dos grandes lábios. Nesta situa- as alterações metabólicas destas podem
ção localiza-se nos grandes lábios e monte ser devidas a uma predisposição genética49.

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de Vénus. Sem sinais de puberdade central Cerca de 20% das raparigas com adrenarca
associada como o desenvolvimento mamá- prematura progride para uma puberdade
rio, nem evidência de excesso patológico de precoce central49.
androgénios como clitoromegalia. Pode ha-
ver aceleração ligeira do crescimento e avan- Menarca prematura
ço mínimo, mas não significativo, da idade Define-se como a ocorrência de um ou mais
óssea. Laboratorialmente há níveis séricos episódios de hemorragia vaginal ainda sem
de sulfato de DHEA apropriados para o es- desenvolvimento mamário e sem altera-
tádio de pubarca e concentrações séricas de ções físicas, hormonais ou imagiológicas.
LH, FSH e de esteróides sexuais a níveis pré- É uma condição rara, devida a actividade
pubertário. A resolução espontânea ocorre ovárica transitória e autolimitada, por even-
na grande maioria dos casos até aos 12 me- tual exposição a estrogénios exógenos. Em
ses. Há um risco aumentado de desenvolver cerca de 25% dos casos não se estabelece
na adolescência e idade adulta síndrome de uma causa.
ovários poliquísticos, hiperinsulinismo, dis-
lipidemia, doença cardiovascular precoce e Pontos a realçar na marcha diagnóstica
síndrome metabólica49. Constatou-se que as em casos de PP
raparigas com baixo peso à nascença desen- No quadro 4 sumariza-se a marcha de diag-
volvem adrenarca prematura e hiperandro- nóstico em casos de PP.

Quadro 4. Exames auxiliares de diagnóstico em casos de PP

— Uma história clínica bem estruturada e um exame objectivo meticuloso são elementos fundamentais a
permitir:
u A confirmação de que se trata de uma situação de PP.
u A definição da velocidade de evolução do processo.
u A valorização de uma história familiar relevante.
u A identificação das características da criança (altura, peso, estádios de Tanner, sinais de androgenização,
alterações neurológicas, presença de achados específicos de entidades particulares).
u A exclusão de causas não-endócrinas para perdas de sangue por via vaginal (traumatismos, corpos
estranhos, vaginites, neoplasias genitais).

— O recurso coerente a exames auxiliares de diagnóstico é fundamental:


u Determinação da idade óssea.
u Doseamentos de FSH, LH (basais e/ou após administração de GnRH).
u Doseamentos de TSH e T4 livre.
u Doseamentos de DHEA-S, testosterona, estradiol, 17-OHProgesterona.
u Ecografia pélvica.
u RM da hipófise e hipotálamo.
u Fundoscopia e avaliação dos campos visuais.
u TC abdominal, orientada para avaliação das supra-renais.

Puberdade e seus distúrbios 237


4.2. PUBERDADE RETARDADA excepcionais a procriação é possível. Para
as mulheres com hipogonadismo hipergo-
A puberdade retardada (PR) é definida como nadotrófico, técnicas de procriação medi-

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a ausência ou falência da progressão apro- camente assistida com recurso a doação de
priada dos caracteres sexuais secundários ovócitos poderão ser uma opção no contex-
numa idade correspondente a dois desvios- to de um desenvolvimento uterino normal.
padrão acima da média da idade de início Um passo importante na avaliação da
da maturação sexual para o mesmo sexo e criança com atraso pubertário é a avalia-
cultura. Na prática clínica define-se como a ção radiológica da idade óssea. A avaliação
ausência de desenvolvimento mamário nas diagnóstica complementar pode incluir o
raparigas após os 13 anos e ausência de me- doseamento de gonadotrofinas, hormonas
narca após os 16 anos. É uma situação muito tiroideias (T4 e TSH), prolactina e determi-
rara. A maioria dos casos é funcional (53% no nação do cariótipo.
global, 30% nas raparigas)50 com um atraso Não existe um teste diagnóstico fiável que
pubertário simples e de bom prognóstico. permita a distinção das doentes com atraso
As situações patológicas da puberdade re- constitucional da puberdade das que têm
tardada podem ser divididas em duas cate- outras causas subjacentes para o atraso pu-
gorias: a disfunção hipotalâmica-hipofisária bertário, particularmente na deficiência con-
que implica um defeito central a nível hipo- génita de GnRH51.
talâmico ou hipofisário (HH); e o hipogona-
dismo primário que implica uma disfunção 4.2.1. ATRASO CONSTITUCIONAL
ovárica intrínseca (hipogonadismo hipergo- DO CRESCIMENTO E DA PUBERDADE
nadotrófico).
No quadro 5 resumem-se as principais cau- É uma variante benigna da PR, mais frequen-
sas de PR. te nos rapazes. O padrão de desenvolvimento
Em termos de fertilidade futura, nas alte- pubertário é normal apesar de o seu início
rações hipotalâmico-hipofisárias ela é teo- ser tardio. Associada a história familiar pelo
ricamente possível com administração de que na sua origem pode estar uma causa
gonadotrofinas exógenas. Nas alterações genética, contudo o gene ou genes exactos
gonadais primárias só em situações muito envolvidos são ainda desconhecidos. Estas

Quadro 5. Causas de PR

— Constitucional
—Hipogonadismo hipogonadotrófico
u Deficiência isolada de gonadotrofinas
u S. Kallman e variantes
u Deficiência funcional de gonadotrofinas – doença sistémica crónica e má nutrição; anorexia
nervosa; amenorreia induzida pelo exercício
u Alterações SNC – tumores; radioterapia; defeitos anatómicos (displasia septo-óptica)

—Hipogonadismo hipergonadotrófico
u Disgenesia gonadal e variantes
u Falência ovárica primária

238 Capítulo 14
crianças apresentam estatura pequena (dois A síndrome de Kallman, definida como a
a três desvios-padrão abaixo da média de combinação de HH e anosmia, é a causa
altura para a idade)52 e idade óssea atrasada mais comum de deficiência isolada de go-

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o que reflecte um atraso na maturação ós- nadotrofinas. Tem uma incidência de 1 em
sea (dois a três anos abaixo da idade crono- 10.000 homens sendo menos frequente nas
lógica), atraso na adrenarca e imaturidade mulheres (1 em cada 50.000), pode ocor-
sexual. Trata-se de um diagnóstico de ex- rer de forma esporádica ou num padrão de
clusão devendo ser investigadas eventuais transmissão familiar. A síndrome de Kallman
situações patológicas. É, contudo, por vezes ligada ao X resulta de uma mutação no gene
difícil distinguir entre causas hipotalâmico- KAL1 que codifica a proteína anosmina-1,
hipofisárias de PR e o atraso constitucional. como resultado desta mutação há uma defi-
Um tratamento de curto prazo com baixas ciente migração e interacção dos neurónios
doses de esteróides sexuais pode ser útil do centro olfactivo, assim como um desen-
para o desenvolvimento sexual secundário volvimento anómalo dos neurónios hipo-
e aumento do crescimento linear. A grande talâmicos secretores de GnRH56. A anosmia
maioria das crianças com atraso constitucio- é um dado importante na história clínica e
nal atinge a altura final em adulto para a qual exame objectivo de uma doente com PR.
apresentava potencial genético mas, por ve- Outros achados associados são a agenesia
zes podem ficar abaixo da altura alvo. A mo- renal unilateral (40%) e a hipoacusia neu-
nitorização do crescimento e do desenvolvi- rossensorial. A aplasia dos bolbos olfactivos
mento são importantes para assegurar que a pode ser por vezes identificada na RM. As ra-
progressão pubertária ocorre normalmente parigas podem apresentar defeitos parciais
à medida que a idade óssea avança. ou completos com infantilismo e anosmia
ou diminuição do olfacto, atraso da menar-
4.2.2. HIPOGONADISMO ca ou irregularidades menstruais. Também
HIPOGONADOTRÓFICO existem formas autossómicas recessivas ou
esporádicas da doença. Mutações no gene
O defeito na libertação pulsátil de gonado- FGFR1 foram também associadas a forma
trofinas pode resultar de uma variedade de autossómica dominante da síndrome57.
entidades patológicas hipotalâmicas ou hi- Mutações no receptor nuclear DAX1 associa-
pofisárias. O padrão bioquímico das formas das ao X dão origem a uma síntese e liberta-
de PR hipotalâmico-hipofisárias é níveis bai- ção alterada de gonadotrofinas, assim como
xos de LH e FSH em medições ao acaso e após a hipoplasia supra-renal58.
estimulação com GnRH53. Têm sido descritas Outras causas de HH incluem mutações nos
mutações em genes específicos que resultam genes para a β-subunidade quer da FSH
num atraso ou ausência de puberdade como quer da LH56. Têm sido também descritas
consequência de disfunção HH. Deficiência mutações no gene do receptor da GnRH
combinada HH pode resultar de várias muta- mas não no gene da própria GnRH56. Ou-
ções nos factores de transcrição que são im- tras causas raras de HH são as mutações na
portantes no desenvolvimento hipotalâmico leptina ou no seu receptor, o que reforça a
e hipofisário. A mutação mais frequentemen- noção de que a leptina é um factor impor-
te identificada é a PROP-1 que pode condu- tante para a puberdade.
zir a uma deficiência de GH, TSH, prolactina, Mas a maioria dos casos de HH mantém-se
ACTH e deficiência parcial ou completa de idiopática. Estudos recentes demonstraram
gonadotrofinas54. Outra causa rara de defici- que a ausência do gene Gpr54 resulta na
ência hormonal combinada HH é a mutação deficiente produção de gonadotrofinas
dos factores de transcrição HESX-1 e LHX-355. apesar de níveis de GnRH no hipotálamo

Puberdade e seus distúrbios 239


normais15. Contudo com a administração de nadal nas raparigas e pelo menos 90% das
GnRH exógena há libertação de gonadotro- raparigas com síndrome de Turner necessi-
finas metabolicamente activas. tam de compensação hormonal para iniciar

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Qualquer doença sistémica grave, doença cró- e completar a puberdade.
nica ou malnutrição significativas pode pro- A síndrome de insensibilidade completa aos
vocar uma disfunção HH que resulta em PR androgénios, que resulta de uma mutação do
e em crescimento deficiente. Quando o peso receptor de androgénios no cromossoma X,
corporal é inferior a 80% do ideal para a altura ocorre em 1 em cada 20.000 raparigas e está
pode ocorrer deficiência funcional de gona- associada a um cariótipo 46,XY. Fenotipica-
dotrofinas como a que se associa à anorexia mente caracteriza-se, na adolescente, por
nervosa e à amenorreia induzida pelo exercí- amenorreia primária na presença de desen-
cio52. O tratamento adequado da doença cró- volvimento mamário normal e ausência de
nica subjacente pode resolver a disfunção HH pilosidade corporal. Há ausência das estrutu-
e a puberdade progredir normalmente. ras müllerianas que regridem por influência
Certas síndromes como a de Prader-Willi e a da hormona anti-mülleriana; assim como as
de Bardet-Biedl podem estar associadas a PR de Wolff, que não se desenvolvem na ausên-
hipogonadotrófica. Na primeira há evidên- cia de receptores funcionantes para androgé-
cias recentes que sugerem que o atraso pu- nios. O desenvolvimento mamário é normal
bertário resulta da combinação da disfunção ou aumentado por aromatização da testoste-
HH com um defeito periférico no desenvolvi- rona em estrogénios pelos testículos. Os tes-
mento gonadal na puberdade59. tículos encontram-se quer intra-abdominais
Lesões do SNC como os tumores selares ou su- quer no canal inguinal sendo responsáveis
pra-selares (craniofaringeoma, p. ex.) podem por 2% das hérnias inguinais da infância.
interferir na função hipofisária ou hipotalâmi- Há também casos de PR ou ausente asso-
ca condicionando um atraso pubertário. ciados a disgenesia gonadal XY. Estas ra-
parigas parecem completamente normais
4.2.3. HIPOGONADISMO com genitais externos femininos pré-pu-
HIPERGONADOTRÓFICO bertário, mas internamente apresentam
gónadas em fita. Apresentam um cariótipo
Se for realizado um doseamento de go- 46,XY e são tipicamente mais altas quando
nadotrofinas ao acaso na idade em que a comparadas com as raparigas do mesmo
puberdade normal deveria ocorrer, a LH grupo etário. São exemplos de disgenesia
e a FSH estarão elevadas dada a ausência gonadal XY a síndrome de Swyer, também
de retrocontrolo negativo pelos esterói- denominada disgenesia gonadal XY pura, e
des sexuais. Muitas situações resultam de a síndrome de Frasier, associado a nefropa-
anomalias genéticas ou congénitas mas é tia lentamente progressiva.
também importante considerar causas ad- Há outras causas de disgenesia gonadal em
quiridas. O cariótipo é fundamental como raparigas fenotipicamente normais incluin-
parte da avaliação. do a disgenesia gonadal XX pura. Um dos
A síndroma de Turner, com uma incidência exemplos é a síndrome de Perrault, doença
de 1 em 2.000 nados vivos do sexo femi- autossómica recessiva associada a disgene-
nino, resulta da perda parcial ou completa sia ovárica e surdez neurossensorial. Outras
do cromossoma X. Fenotipicamente apre- causas cromossómicas que frequentemente
sentam baixa estatura, hábito feminino e causam paragem pubertária como resultado
desenvolvimento pubertário ausente ou de uma falência ovárica prematura e ausên-
retardado e achados fenotípicos variados. cia de desenvolvimento pubertário incluem
É a causa mais frequente de disgenesia go- o cariótipo 47,XXX e deleções Xq.

240 Capítulo 14
Crianças submetidas a quimioterapia ou ra- No hipogonadismo permanente, que resul-
diação como parte de tratamento oncológi- ta numa puberdade ausente ou retardada,
co estão em particular risco de desenvolver é necessário o tratamento com estrogénios

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um hipogonadismo primário. Crianças sub- para induzir e suportar a puberdade. Pontos
metidas a tratamento oncológico têm fre- a considerar no início da compensação hor-
quentemente um início de puberdade tem- monal são a idade da doente, a dose, forma
poralmente alterado e pode desenvolver-se e via de administração e a fase de desenvol-
um quadro parcial ou misto de disfunção HH vimento da puberdade. A monitorização do
e hipogonadismo primário. crescimento linear e do desenvolvimento
Há causas raras de hipogonadismo primário dos caracteres sexuais secundários são im-
adquirido incluindo erros inatos do metabo- portantes assim que iniciada a terapêutica.
lismo, doenças auto-imunes e formas pouco A terapêutica deve iniciar-se quando é feito
frequentes de CAH. Uma doença metabóli- o diagnóstico. Dependendo da formulação
ca que resulta em hipogonadismo primário, a administração pode ser oral, injectável ou
sobretudo nas raparigas é a galactosemia em aplicadores transdérmicos. Como sempre
dado que os metabolitos da galactose pare- que se administram estrogénios, em presença
cem ser tóxicos para os ovários. Condições de um útero funcional, é obrigatório associar
auto-imunes associadas a falência gonadal progesterona ou um progestagénio durante
são provocadas por mutações no gene AIRE pelo menos 10 dias em cada ciclo. A adição
que resulta na síndrome auto-imune poli- desta hormona deve ser feita 12 meses após
glandular tipo 1 (APECED – autoimmune o início dos estrogénios ou logo após a pri-
polyendocrinopathy (APE), candidiasis (C), meira hemorragia menstrual de privação61.
and ectodermal dystrophy (ED)). Os acha- Após pelo menos seis meses de terapêutica
dos incluem doença de Addison, candidíase com estrogénios e progesterona, pode passar
crónica mucocutânea e hipoparatiroidismo. a usar-se um contraceptivo combinado estro-
Várias doenças auto-imunes podem ocorrer progestativo oral mas, apesar da manutenção
na APECED mas 17 a 50% dos casos estão as- do desenvolvimento dos caracteres sexuais
sociados a falência gonadal primária. secundários estudos revelam que as raparigas
A CAH está mais comummente associada com síndrome de Turner tratadas com contra-
a produção excessiva de androgénios mas ceptivo oral combinado apresentam um de-
situações extremamente raras de defeitos senvolvimento uterino fraco e imaturo62.
enzimáticos partilhados pelas gónadas e Assim como a PP interfere negativamente
supra-renais podem resultar em ausência ou com a altura final, a PR (na presença de GH
deficiência de androgénios e/ou produção normal e eixo IGF-I) conduz a uma altura
de estrogénios com eventual puberdade re- total acima da previsível pelo valor médio
tardada ou ausente. Exemplo de tais defeitos parental, com membros longos e uma altura
é a deficiência da proteína reguladora este- relativamente inferior do tronco.
roidogénica aguda (StAR) que é necessária
para o transporte de colesterol do exterior
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Puberdade e seus distúrbios 243


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