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CONCEITO
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Direito Processual Penal é o direito de se invocar
Teoria, dicas, legislação, jurisprudência e a tutela jurisdicional do Estado, ou o direito de se pedir
exercícios por assunto (CESPE e outras) ao Estado a aplicação do Direito Penal positivo ao caso
(Conforme Lei nº 12.736, de 2012) concreto, ou o direito de se pedir ao Estado uma
decisão sobre fato penalmente relevante.
Trata-se do ramo do direito público que regula a
atividade tutelar do Direito Penal.
Pode ser conceituado tendo em consideração
três aspectos: o científico, o objetivo e o subjetivo.
PROFa. LÚCIA SENA -Direito processual penal ciência é o
lucia-sena-1@hotmail.com conhecimento sistemático e metódico das
CONTEÚDO PROGRMÁTICO: normas que regram o processo penal e dos
1 Norma processual penal: conceito e conteúdo; princípios que as inspiram.
espécie, fontes. .......................................................... 5 -Direito processual penal objetivo é o conjunto
2 Processo e procedimento: relação processual; sujeitos de normas do ordenamento jurídico
processuais (juiz, partes, réu ou acusado, ofendido, responsáveis pela regulamentação do
Ministério Público, assistente). ................................. 59 processo penal.
3 Polícia judiciária: funções, inquérito policial, -Direito processual penal subjetivo é a
autoridades policiais e seus agentes, possibilidade de agir do sujeito do processo,
desenvolvimento do Inquérito policial. ....................... 10 assegurada pela lei processual.
4 Ação penal: conceituação, classificação penal, Na lição de Beling, Direito Processual Penal é
condições, decadência, prescrição, preclusão, aquela parte do Direito que regula a atividade tutelar do
renúncia, perda e perempção; da ação penal Direito Penal.
pública; da ação penal privada; da ação penal
Já para Frederico Marques, o Direito Processual
subsidiária da pública; da extinção da ação penal. 25
Penal “é o conjunto de princípios e normas que regulam
5 Competência. .............................................................. 39 a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as
6 Restituição das coisas apreendidas. ........................... 52 atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a
7 Medidas assecuratórias. .............................................. 53 estruturação dos órgãos da função jurisdicional e
8 Incidente de insanidade mental do acusado. .............. 56 respectivo auxiliares”.
9 Citação, notificação e intimação. ............................... 113 Para Fernando Capez “é o conjunto de princípios
10 Prova: conceito, finalidade e obrigatoriedade; do e normas que disciplina a composição das lides penais,
exame de corpo de delito e perícias em geral; do por meio da aplicação do Direito Penal objetivo”.
interrogatório do acusado e da confissão; do
ofendido; da testemunha; do reconhecimento; da
acareação; dos documentos; da busca e apreensão PROCESSO E PROCEDIMENTO
.................................................................................. 69 O processo é o meio que possibilita o exercício
11 Prisão: conceituação; ordem escrita e seus do direito de punir do Estado. Funciona ele como um
requisitos; local de prisão e perseguição; prisão complexo de atos coordenados visando ao julgamento
especial; prisão em flagrante delito; prisão da pretensão punitiva.
preventiva. ................................................................. 90 Os procedimentos são o rito processual, o
12 Liberdade provisória, com ou sem fiança ................... 05 caminho que deve ser seguido ao longo do processo
13 Sentença. ................................................................ 119 para que este último possa atingir sua finalidade.
14 Processo de competência do júri. ........................... 125
15 Processo sobre crimes de responsabilidade dos FINALIDADE DO PROCESSO PENAL
funcionários públicos. ............................................. 141 No processo penal, o grande desiderato não é a
16 Habeas corpus. ....................................................... 144 composição do litígio... é sim desvendar, demonstrar,
17 Legislação especial* aclarear, encontrar a verdade dos fatos. A finalidade do
*Vide módulo LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE processo penal é encontrar a verdade real.
Encontrada, fica fácil a aplicação do Direito, seja
prevalecendo o jus puniendi do Estado, seja
prevalecendo o jus libertatis) do réu. Tanto o jus
NOÇÕES GERAIS puniendi do Estado quando o jus libertatis do réu
INTRODUÇÃO dependem, para serem efetivados, da descoberta de
verdade real.
Praticado o fato que infringe a norma surge para
Sua finalidade, em suma, é a de tornar realidade
o Estado o direito efetivo de punir, logo o ―jus puniendi‖
o Direito Penal. Enquanto este estabelece sanções aos
pertence ao Estado.
possíveis transgressores das suas normas, é pelo
Com a prática do delito, surge para o Estado a
Processo Penal que se aplica a SANCTIO JURIS
pretensão punitiva, o que doutrinariamente se denomina
(Sanção Penal), porquanto toda pena é imposta
jus puniendi (direito penal subjetivo). Assim é que, tendo
―processualmente‖. O objetivo do Direito Processual
o Estado o dever de proteger os direitos mais essenciais
Penal, na lição de Tourinho Filho, é eminentemente
da sociedade, ele apreende para si o monopólio daquele
prático atual e jurídico e se limita à declaração de
direito, ou seja, somente o poder estatal encontra-se
certeza da verdade, em relação ao fato concreto e à
legitimado a exercer o direito de punir, em substituição à
aplicação de suas consequências jurídicas.
antiga ―vingança de sangue.
2 DIREITO PROCESSUAL PENAL
PERSECUTIO CRIMINI O Direito Processual Penal obedece a exigências
Persecutio criminis, pode ser traduzido como próprias e a princípios especiais e particulares, não se
persecução do crime ou persecução penal. Persecução admitindo mais o uso de expressões obsoletas, como,
é o mesmo que perseguição, ou seja, ato de ir ao por exemplo, Direito Adjetivo ou Acessório, uma vez
encalço de alguém, com o fito de aplicar-lhe punição. que, segundo a doutrina moderna, não é mais possível
Persecução penal significa o conjunto de atividades estabelecer uma relação de subordinação entre os
que o Estado desenvolve no sentido de tornar realizável direitos material e processual.
a sua atividade repressiva em sede penal.
Praticado o fato delituoso ―o dever de punir do INSTRUMENTALIDADE DO DIREITO PROCESSUAL
Estado sai de sua abstração hipotética e potencial para Não se pode negar o caráter instrumental do
buscar existência concreta e efetiva. A aparição do Direito Processual Penal, porquanto constitui ele um
delito por obra de um ser humano torna imperativa sua meio, um instrumento para fazer atuar o Direito Material.
persecução por parte da sociedade (persecutio A propósito, essa concepção instrumental do
criminis)‖ a fim de ser submetido o delinquente à pena processo se inspira, basicamente, em duas
que tenha sido prevista em lei. considerações:
Para Belling, ―persecução penal consiste na a) aspecto lógico – o direito processual penal
atividade estatal de proteção penal. está ordenado segundo uma reconstrução
A persecutio criminis, como visto, é o caminho histórica, não como fim em si mesmo, senão
percorrido pelo Estado-Adminsitração para que seja como meio, como instrumento para conseguir
aplicada uma pena ou medida de segurança àquele que um fim que preexiste a ele e o transcende, a
cometeu uma infração penal, consubstanciando-se em saber, a atuação do Direito Material (o direito
duas fases, quais sejam: material tem necessidade, para a sua
Investigação criminal ou pré-processual - é um atuação, de instrumentos processuais, sem
procedimento preliminar, de caráter que estes se identifiquem com aquele); e
administrativo, que busca reunir provas b) aspecto jurídico – a concepção do caráter
capazes de formar o juízo do representante instrumental do processo explica a distinção
ministerial acerca da existência de justa causa entre a admissibilidade da demanda e
para o início da ação penal. fundamento da demanda, ou melhor, entre
Ação Penal – persecutio criminis in juditio - é indagação sobre os pressupostos
o procedimento principal, de caráter processuais e indagação sobre o mérito.
jurisdicional, que termina com um procedimento Releva notar, ainda, que a instrumentalidade do
judicial que resolve se o cidadão acusado Direito Processual Penal torna-se mais evidente quando
deverá ser condenado ou absolvido se constata que o Direito Penal não possui um método
de coação direta, já que o próprio Estado autolimitou o
seu Jus Puniendi, exigindo-se assim, necessariamente,
CARACTERÍSTICAS
que a pena seja aplicada por meio de um devido
a) Autonomia: o direito processual não é
processo legal (CF, art. 5º, LV).
submisso ao direito material, isto porque tem princípios
e regras próprias. Ademais, os princípios do nulla poena sine judice
b) Instrumentalidade: é o meio para fazer atuar e nulla poena sine judicio, elevados à categoria de
o direito material penal, consubstanciado o caminho a dogma constitucional, e segundo os quais nenhuma
ser seguido para a obtenção de um provimento pena poderá ser imposta senão pelo Órgão
jurisdicional válido. Jurisidicional e por meio do regular processo, impedem
a aplicação da sanctio júris sem o devido processo.
c) Normatividade: é uma disciplina normativa,
de caráter dogmático, inclusive com codificação própria Nesse sentido, então, o cânon nulla poena sine
(Código de Processo Penal: Dec-Lei nº 3.689/41) judicio é posto não só como autolimitação da função
d) Finalidade: Há duas finalidades presentes: punitiva do Estado, mas ainda como limite à vontade do
particular, ao qual é negada a faculdade de sujeitar-se à
a) mediata: se confunde com a própria finalidade
pena. Desta forma, tal princípio dá lugar aquele nexo de
do Direito Penal, que é a manutenção da paz
subordinação entre processo e aplicação da sanção
social;
penal que não encontra correspondência em nenhum
b) imediata: realizabilidade da pretensão punitiva outro ramo do direito.
derivada de um delito, através da utilização
da garantia jurisdicional. Portanto, a sanção penal só se concretiza no
mundo dos fatos por meio da norma processual,
inviabilizando, assim, qualquer acordo que seja feito
AUTONOMIA DO PROCESSO PENAL entre os sujeitos ativo e passivo do processo, que venha
O Direito Processual constitui, como diz a afastar a norma processual. Logo, não se pode dizer
Frederico Marques, ciência autônoma no corpo da que a transação penal, prevista na Lei nº9.099/95, de
DOGMATICA JURIDICA, uma vez que tem objetivos alguma forma flexibilizou este vínculo de dependência
que lhe são próprios. entre os ramos do direito material e processual, pois,
No que diz respeito ao Direito Processual penal, como salienta Fernando da Costa Tourinho Filho, a
observa Giovanni Leone que a sua autonomia não pena aplicável por meio de tal instituto processual não
decorre, apenas, da existência de um Código de decorre exclusivamente do acordo celebrado entre as
Processo Penal, mas, sobretudo, da consideração de partes, já que depende da apreciação e aplicação por
que os princípios reguladores do processo penal não parte do juiz).
têm nenhum ponto de contato com os princípios que Este vínculo entre os ramos dos Direitos Penal e
disciplinam a definição de crime, sua estrutura e os Processual Penal não é excepcionado nem mesmo nas
institutos conexos. (Cf. Trattto, cit., p.10) hipóteses de ação penal privada, em que o jus
DIREITO PROCESSUAL PENAL 3
persequendi in judicio (direito de perseguir em Juízo) foi Por fim, sob o enfoque de tal sistema, uma parte
transferido para o particular, pois não será possível a da doutrina moderna sustenta que artigos, como, por
inflação da pena sem o devido processo. exemplo, o Art. 156 do CPP, não foram recepcionados
pela Constituição vigente, devendo, por isso, serem
interpretados de maneira a colocar o juiz numa posição
SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS exclusivamente passiva dentro do processo, retirando-
Segundo as formas com que se apresentam e os lhe toda e qualquer iniciativa, a qual deve estar limitada
princípios que os informam, são três(3) os às partes.
sistemas/tipos processuais utilizados durante evolução
histórica:
c) Misto: (acusatório formal)
Em tal sistema, duas das três etapas do
a) Inquisitivo
processo, quais sejam, a investigação preliminar e a
―O Processo é mais uma forma autodefensiva de instrução preparatória, são regidas pelas regras do
administração da justiça do que um genuíno processo sistema inquisitório, enquanto que a fase de julgamento
de apuração da verdade‖ (MIRABETE); inexistem regras é marcada pelas características do sistema acusatório .
de igualdade e liberdade processuais; o processo é
OBS.:
escrito e secreto; as funções de acusar, defender e
julgar cabem ao Juiz; a confissão é elemento suficiente O Código de Processo Penal adotou o sistema
para condenações. acusatório.
O réu é visto como mero objeto da persecução,
motivo pelo qual as torturas eram frequentemente PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1
admitidas como meio para se obter a confissão, rainha Para a boa aplicação do Direito, em geral, e para
das provas. a efetivação da norma no processo, em especial, o
São traços básicos do processo inquisitivo: intérprete não pode prescindir de uma visão
1) a concentração das três funções, acusadora, principiológica, fundada, primordialmente, na
defensora e julgadora, em mãos de uma só Constituição.
pessoa, o juiz; Evidentemente, como norma fundamental do
2) o sigilo dos atos processuais; arcabouço jurídico, a Constituição deve ser o ponto de
3) a ausência de contraditório; partida do exegeta, seja nas lides civis, seja nas
demandas penais.
4) o procedimento escrito;
O Processo Penal brasileiro é regido por uma
5) os Juízes eram permanentes e irrecusáveis; série de princípios, cujo estudo aprofundado e exata
6) as provas eram apreciadas segundo regras compreensão é de suma importância para a boa
aritméticas e arbitrárias, em vez de aplicação do Direito.
processuais; Analisados aqui os mais importantes princípios
7) a confissão era elemento suficiente para que regem o direito processual. Senão vejamos.
condenação; e
8) era cabível apelação contra a sentença. 1. Princípio do Devido Processo Legal
Segundo Jorge Figueiredo Dias, este tipo de Ninguém será privado da liberdade e de seus
sistema é típico de Estados Absolutistas. bens, sem a garantia que supõe a tramitação de um
processo desenvolvido conforme o direito processual.
b) Acusatório O devido processo legal, portanto, configura
Autor e réu estão em pé de igualdade; o juiz é proteção ao indivíduo tanto sob o aspecto material, com
órgão imparcial; assegura-se o contraditório; o processo a garantia de proteção ao direito de liberdade, quanto
é, em regra, público; a iniciativa do processo cabe à sob o aspecto formal, assegurando-lhe a plenitude da
parte acusadora, que poderá ser o ofendido ou órgão defesa e igualdade de condições com o Estado-
estatal. A publicidade só é restrita excepcionalmente; as persecutor.
funções de acusar, defender e julgar são dados a
pessoas distintas; o juiz não inicia o processo ex-oficio; 2. Garantia de Contraditório e Ampla Defesa
o processo pode ser oral ou escrito.
Os princípios do contraditório e da ampla defesa
Afora isso, esse sistema, como assevera Capez, encontram previsão expressa no art. 5º, LV da CF/88,
pressupõem as seguintes garantias constitucionais: que dispõe: "aos litigantes, em processo judicial ou
1) a tutela jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV); administrativo, e aos acusados em geral são
2) o devido processo legal (CF, art.5º, LIV); assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
3) a garantia do acesso à justiça (CF, art.5º, meios e recursos a ela inerentes."
LXXIV); a garantia do juiz natural (CF, art. 5º, O princípio do contraditório decorre do princípio
XXXVII e LIII); da igualdade processual, pelo qual as partes encontram-
4) o tratamento isonômico das partes (CF, art. 5º, se em posição de similitude perante o Estado e perante
caput e I); o Juiz, sendo que ambas deverão ser ouvidas, em plena
igualdade de condições.
5) a ampla defesa (CF, art. 5º, LV, LVI e LVII);
6) a publicidade dos atos processuais (CF, art. 5º,
LX);
7) a motivação dos atos decisórios (CF, art. 93, 1
Vladimir Aras, Princípios do Processo Penal.
IX) e a presunção de inocência (CF, art. 5º, http://jus.uol.com.br/revista/texto/2416/principios-do-processo-
LVII). penal
4 DIREITO PROCESSUAL PENAL
4. Princípio do Duplo Grau de Jurisdição seus advogados, ou somente a estes, em casos nos
quais a preservação do direito à intimidade do
A despeito de não se encontrar expressamente
interessado no sigilo não prejudique o interesse público
previsto na CF/88, o princípio do duplo grau de à informação; (Redação dada pela Emenda
jurisdição decorre de nosso próprio sistema Constitucional nº 45, de 2004)
constitucional, quando estabelece a competência dos
tribunais para julgar, em grau de recurso, determinadas
6. Publicidade do Juiz Natural e do Promotor Natural
causas.
É imperioso observar a determinação contida no Consagrado pela CF/88, em seu art. 5º, LIII, o
Princípio do Juiz Natural estabelece que ninguém será
art. 108, II, da Magna Carta, que diz competir aos
sentenciado senão pela autoridade competente,
Tribunais Regionais Federais "julgar, em grau de
representando a garantia de um órgão julgador técnico e
recurso, as causas decididas pelos juízes federais e
pelos juízes estaduais no exercício da competência isento, com competência estabelecida na própria
federal da área de sua jurisdição". Constituição e nas leis de organização judiciária de cada
Estado.
Decorre desse princípio a proibição de criação de
3. Princípio da Inadmissibilidade de Provas Obtidas juízos ou tribunais de exceção, insculpida no art. 5º,
por Meios Ilícitos XXXVII, que impõe a declaração de nulidade de
Não é admitida no processo, qualquer prova qualquer ato judicial emanado de um juízo ou tribunal
obtida através de transgressões a normas de direito que houver sido instituído após a prática de
material (LVI de seu art. 5º, CF). determinados fatos criminosos, especificamente para
Essa vedação decorre da observância do processar e julgar determinadas pessoas.
princípio da dignidade da pessoa humana, que deve se
sobrepor à atuação estatal, limitando a persecução 7. Iniciativa das Partes
penal.
A ação penal deve ser provocada pelas partes. A
Conquanto a Magna Carta refira-se à prova ilícita, promoção da ação penal pública cabe privativamente ao
deve-se entender que a proibição abrange as provas Ministério Público (art. 129, I, da CF); não existe mais
ilegais como um todo, incluindo as provas ilegítimas. ação penal com início por portaria do juiz ou da
Pode-se dizer que a prova ilegal é o gênero do qual as autoridade policial; a promoção da ação penal privada
provas ilícitas e as ilegítimas são espécies: essas são cabe ao ofendido ou seu representante legal.
produzidas com violação a normas de direito
processual, enquanto aquelas são produzidas com
violação a normas de direito material. As provas podem 8. Impulso Oficial
ser, ainda, ilícitas e ilegítimas ao mesmo tempo, quando Uma vez iniciada, porém, a ação penal, compete
contrariarem tanto normas de natureza processual, ao juiz do crime manter a ordem dos atos e o
quanto normas de natureza material. seguimento do processo (art. 251 do CPP).
Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do
processo e manter a ordem no curso dos respectivos
4. Inocência Presumida ou da Não Culpabilidade
atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.
O princípio da presunção de inocência ou do
estado de inocência, desdobramento do princípio do
devido processo legal, está previsto no art. 5º, inciso 9. Verdade Real/Material
LVII, da Constituição Federal, que assim dispõe: A função punitiva do Estado só pode fazer-se
"ninguém será considerado culpado até o trânsito em valer em frente àquele que, realmente, tenha cometido
julgado da sentença penal condenatória". Consagrando- uma infração; portanto o Processo Penal deve tender à
se um dos princípios basilares do Estado de Direito averiguação e descobrimento da verdade real ou
como garantia processual penal, visando à tutela da verdade material, como fundamento da sentença.
liberdade pessoal. No processo penal, devem ser realizadas as
Até o trânsito em julgado de sentença penal diligências necessárias e adotadas todas as
condenatória, ninguém será considerado culpado. providências cabíveis para tentar descobrir como os
fatos realmente se passaram, de forma que o jus
puniendi seja exercido com efetividade em relação
5. Publicidade dos Atos Processuais
àquele que praticou ou concorreu para a infração penal.
Os atos processuais são públicos (art. 5º, XXXIII O juiz tem, no Processo Penal, o dever de investigar
e LX; e art. 93, IX da CF). como os fatos ocorreram realmente, e não pode se
Art. 5º, XXXIII da CF- todos têm direito a conformar com a verdade trazida aos autos pelas
receber dos órgãos públicos informações de seu partes.
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, O juiz, segundo o artigo 156 do Código de
que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
Processo Penal, poderá, no curso da instrução criminal
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; ou antes de proferir sentença, determinar, de ofício,
diligências para dirimir dúvidas sobre ponto relevante.
Art. 5º, LX da CF - a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da Ou seja, a lei dá ampla liberdade para que o magistrado
intimidade ou o interesse social o exigirem; faça a busca da verdade real.
Art. 93 da CF- Lei complementar, de iniciativa do Porém, a busca dessa verdade real sofre
Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da algumas limitações, a saber:
Magistratura, observados os seguintes princípios: -Impossibilidade de juntada de documentos na
IX- todos os julgamentos dos órgãos do Poder fase do artigo 406 do CPP.
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as -Impossibilidade de exibir prova no plenário do
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a Júri que na tenha sido comunicada à parte
presença, em determinados atos, às próprias partes e a contrária com antecedência mínima de 03
DIREITO PROCESSUAL PENAL 5
dias. (Art. 475 do CPP) pela forma, início, andamento e fim da atividade
-Inadmissibilidade de provas obtidas por meios processual‖.
ilícitos (Artigo 5º, LVI da CF/88) A localização de uma norma não determina a sua
classificação, que é feita de acordo com seu objetivo.
10. Legalidade ou Obrigatoriedade Assim, haverá normas processuais.
Sendo o processo obrigatório para a segurança e
reintegração da ordem jurídica, devem os órgãos Elementos da norma processual penal
persecutórios atuar necessariamente, ou seja, não A norma processual penal conta com os
podem possuir poderes discricionários para apreciar a seguintes elementos:
conveniência ou oportunidade da instauração do
processo ou inquérito. a) regra de conduta – ―consiste nas disposições
estatuídas sobre as atividades que se desenvolvem no
processo, com seus consectários lógicos, consistentes
11. Princípio da identidade física do juiz na regulamentação da atuação do juiz, das partes e dos
Consiste na vinculação obrigatória do juiz aos terceiros‖;
processos cuja instrução tivesse iniciado, de sorte que b) ordem – ―obrigatoriedade, imposta a todos que
não poderia o feito ser sentenciado por magistrado intervém no processo, de não se afastarem das regras
distinto. Esta consagrado em nível infraconstitucional de condutas traçadas, salvo quando o autorizar a
pela Lei 11.719/2008 ao CPP, no art. 399, § 2º., própria norma‖;
estabelecendo que o juiz que presidiu a instrução
c) garantia – ―série de medidas destinadas a
deverá proferir a sentença.
tutelar o caráter preceptivo da norma, como a imposição
de ônus e sanções‖. (segundo José Frederico Marques)
NORMA PROCESSUAL PENAL: conceito e
conteúdo; espécie, fontes. Classificação
Conceito de norma processual penal São as normas processuais penais:
Norma, em sentido genérico, significa ―regra de a) normas de organização judiciária – tratam da
conduta‖, ou seja, o modo como a pessoa deve ou não estrutura e da criação do órgão jurisdicional, de seus
proceder. Assim, temos normas morais, de etiqueta, auxiliares e do Ministério Público (ex: Lei 8185/91 – Lei
religiosas, jurídicas etc. de Organização Judiciária do Distrito Federal);
As normas costumam prever sanções para o seu b) normas processuais em sentido estrito –
descumprimento, isto é, o sujeito que as desobedecer cuidam do início, desenvolvimento e fim do processo
deve sofrer um mal. O objetivo da sanção é estimular o (ex: Código de Processo Penal);
cumprimento da norma. Nesse sentido, cometer algum c) normas procedimentais ou judiciário-
―pecado capital‖ pode ter como consequência ―ir para o procedimentais – só incidem indiretamente sobre a
inferno‖. atividade jurisdicional (ex: inquérito policial).
As normas jurídicas também prescrevem regras
de conduta e sanções para o seu descumprimento. O
que as diferencia das outras normas é a sua origem Caracteres da norma processual penal
estatal e sua coatividade, isto é, devem ser A doutrina tradicional entendia que a norma
obrigatoriamente cumpridas. De acordo com Miguel material é de caráter político-social, enquanto que a
Reale, norma jurídica é “uma estrutura proposicional norma processual é exclusivamente técnica. Assim, a
enunciativa de uma forma de organização ou de norma material faz a ponderação dos interesses
conduta, que deve ser seguida de maneira objetiva e presentes em determinada sociedade (no caso do
obrigatória‖. Flavio Meirelles Medeiros dá uma Direito Penal, pondera-se entre a necessidade de
definição simplificada: “a expressão norma... em seu prevenção de crime e a liberdade das pessoas). O
sentido jurídico significa a regra de conduta imposta processo penal seria apenas a técnica mediante a qual
pela lei a ser observada”. se aplica o Direito Penal.
Norma jurídica é gênero que comporta várias Porém, essa concepção está ultrapassada, pois,
divisões. a despeito da característica essencialmente técnica, o
Normas materiais ―São aquelas que compõem, processo também ―é encarado como meio indispensável
imediatamente, um conflito de interesses, escolhendo para que o Estado possa alcançar os escopos da
qual dos interesses conflitantes, e em que medida, deve jurisdição (não só o sentido político, mas os sociais e
prevalecer, e qual deve ser sacrificado‖ (Ada Pelegrini políticos...)‖.
Grinover) A jurisdição, que é o ato final do processo, tem
Normas instrumentais ―são aquelas que três finalidades políticas:
apenas de forma indireta contribuem para a resolução -Afirmação do poder estatal,
dos conflitos ocorrentes na vida social, mediante a -Culto às liberdades públicas e
disciplina da criação e aplicação das regras jurídicas -Participação do jurisdicionado nos destinos da
gerais ou individuais destinadas a compô-los, de sociedade‖ .
imediato.‖ (Ada Pelegrini Grinover)
O processo penal é o ramo do ordenamento
As normas processuais são eminentemente jurídico em que ponderação de interesses
instrumentais, isto é, têm por objetivo a aplicação do (punição/liberdade) se torna preponderante. Assim,
direito material ao caso concreto. podemos saber o nível de democracia de uma nação
As ―normas de direito processual penal são (tal por meio do estudo de seu processo penal (quanto
qual as de direito processual civil) aquelas responsáveis maiores as garantias aos acusados, mais forte é a
democracia).
6 DIREITO PROCESSUAL PENAL
c) Analogia
FONTES DO PROCESSO PENAL É a atividade consistente em aplicar a uma
hipótese não regulada por lei disposição relativa a um
Fonte é o lugar onde algo se origina. Em Direito,
caso semelhante. Vale dizer, onde há a mesma razão,
cuida-se de analisar dois enfoques: fontes criadoras e
aplica-se o mesmo direito (ubi eadem ratio, ibi eadem
fontes de expressão da norma. As primeiras são
jus). Todavia, para que haja analogia é necessário que
chamadas de fontes materiais; as segundas, fontes
2 exista uma semelhança relevante (ratio legis), e não
formais.
uma simples semelhança.
Nesse sentido, é necessário distinguir, desde já,
1. MATERIAS (de produção, criam o direito): é só o a analogia da interpretação extensiva. Na analogia
ESTADO inexiste norma reguladora do caso concreto, devendo
Releva notar que o Estado reparte essas fontes ser aplicada norma de que trata de hipótese
da forma descrita na Constituição Federal. Sendo assim, semelhante. Há, portanto, a criação de uma nova norma
compete privativamente à União legislar sobre direito jurídica.
processual (CF, art. 22, I), contudo, lei complementar Por outro lado, na interpretação extensiva
federal pode autorizar os Estados a legislar em existe norma reguladora do caso concreto, mas essa
processo penal, sobre questões específicas de interesse não menciona expressamente sua eficácia, sendo
local (CF, art. 22, parágrafo único). aplicada, nesse caso, a própria norma do fato, havendo,
Além disso, a União, os Estados e o Distrito no entanto, um alargamento do alcance da regra dada.
Federal possuem competência concorrente para legislar Note-se, ainda, que a interpretação analógica é
sobre criação, funcionamento e processo dos juizados 3
diferente da analogia , pois naquela há, após uma
especiais (CF, art. 24, X, c/c art. 98, I) , bem como sobre enumeração casuística, uma formulação genérica que
direito penitenciário (CF, art. 24, I e §§ 1º e 2º). deve ser interpretada de acordo com os casos
E, por fim, no que tange ao procedimento em anteriormente elencados. Vale dizer, na interpretação
matéria processual, a competência para legislar é analógica, a norma regula o caso de modo expresso,
concorrente entre a União, os Estados e o Distrito embora genericamente (v.g., CP, art. 121, § 2º, II e IV).
Federal, conforme o inciso XI, do artigo 24, da Com efeito, não se deve confundir
Constituição Federal de 1988. interpretação analógica com aplicação analógica.
Aquela é forma de interpretação; esta, de auto-
2. FORMAIS (de cognição, revelam o direito criado) integração, e exprime o emprego da analogia.
Dividem, conforme Fenech, em: Diga-se, ainda, que o CPP admite,
1) DIRETAS, que são as LEIS; expressamente, a aplicação ANALÓGICA da norma
Processual, assim como a INTERPRETAÇÃO
2) INDIRETAS (mediatas ou ainda, subsidiárias) EXTENSIVA (CPP, art. 3º), ao contrário do que ocorre
que são: costumes, jurisprudência, princípios no Direito Penal (CP, art. 1º).
gerais do direito, analogia.
Por fim, cabe assinalar que há duas espécies de
analogia:
2.1 INDIRETAS: a) in bona partem (em benefício do agente); e
a) Costumes b) in malam partem (em prejuízo do agente).
Quanto aos costumes, estes, na definição de
Fernando Capez, são um conjunto de normas de
comportamento a que as pessoas obedecem de INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL
maneira uniforme e constante (elemento objetivo), pela PENAL
convicção de sua obrigatoriedade jurídica (elemento Interpretar é revelar o verdadeiro sentido do
subjetivo). texto, buscar a exata vontade da lei, que não é
O costume pode ser: contra legem necessariamente a do legislador, ou seja, é atividade
(inaplicabilidade da norma pelo seu desuso), secundum que consiste em extrair da norma seu exato alcance e
legem (sedimenta formas de aplicação da lei) e praeter real significado.
legem (preenche lacunas da lei). Note-se que a LICC estabelece a conhecida
Por fim, cabe assinalar que o costume, no nosso ―regra de ouro‖ da interpretação da norma jurídica, qual
ordenamento jurídico, nunca revoga uma lei, em face do seja, a de que ―na interpretação deve-se atender aos
que dispõe o artigo 2º, § 1º, da Lei de Introdução ao fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
Código Civil (Dec.- Lei nº4.657/42). comum‖ (art. 5º).
3
2
NUCCI, Guilherme de Souza, MANUAL DE PROCESSO PENAL A lei processual penal admite interpretação analógica plena
E EXECUÇÃO PNEAL, 5ª ED.SP/2008. (Insp.Pol.Civil/SSP-CE/2005).
DIREITO PROCESSUAL PENAL 7
Doutrina: entendimento dado aos dispositivos estadual, o "Chefe de Polícia" é o Secretário de
legais pelos escritores ou comentadores do Direito Segurança Pública etc.
(communis opinio doctorum). DICA DE CONCURSO:
Quando o intérprete, observando que a
Espécies de interpretação: expressão contida na norma sofreu alteração no correr
1) Quanto ao sujeito que a realiza: dos anos e por isso procura adaptar-lhe o sentido ao
a) Autêntica ou legislativa: realizada pelo próprio conceito atual. (Magist.TJ-SP/VUNESP/2009).
legislador. Pode ser contextual (feita pelo próprio texto
interpretado, ex: art.302, 303 do CPP) ou posterior
(quando feita após a entrada em vigor da lei). APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL
LEI PROCESSUAL PENAL: EFICÁCIA NO TEMPO E
b) Doutrinária ou científica: Realizada pelos
NO ESPAÇO
estudiosos e cultores do Direito.
Por eficácia da norma processual compreende-
ATENÇÃO: se a sua aptidão para produzir efeito. No âmbito do
As exposições de motivos constituem forma de processo penal, essa eficácia não é absoluta,
interpretação doutrinária, e não autêntica, uma vez que encontrando limitação em determinados fatores, entre
não são leis. os quais sobressaem:
c) Jurisprudencial ou judicial: interpretação a) Fatores de ordem espacial: são aqueles que,
segundo a orientação que os juízes e tribunais dão à sustentados em aspectos de territorialidade,
norma. impõe à norma a produção de seus efeitos
em determinados lugares e não em outros.
2) Quanto aos meios empregados: b) Fatores de ordem temporal: corresponde ao
período de atividade ou extratividade
a) Gramatical, literal ou sintática: procura-se fixar (retroatividade e ultratividade) da lei,
o sentido das palavras ou expressões empregadas pelo tornando-a apta a vigorar e produzir seus
legislador. Analisa-se a ―letra da lei‖, o seu sentido efeitos apenas em determinados intervalo de
literal. tempo.
b) Lógica: quando o intérprete se serve das
regras gerais do raciocínio para compreender o espírito LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO
da lei, a intenção do legislador (Fernando da Costa Adotou o art. 1º do CPP o principio da
Tourinho Filho). territorialidade como regra geral de solução de
c) Teleológica: busca-se a finalidade da norma. conflitos.
Assim, a lei processual penal aplica-se a todas
3) Quantos aos resultados obtidos: as infrações penais cometidas em território brasileiro,
a) Declarativa: quando o texto examinado não é sem prejuízo de convenções, tratados e regras de
ampliado nem restringido, havendo uma perfeita direito internacional.
correspondência entre a palavra da lei e a sua vontade. Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo
b) Restritiva: quando se reduz o alcance da lei o território brasileiro, por este Código,
para que se possa encontrar a sua exata vontade. Ex.: ressalvados:
Tourinho – Quando o art. 271 do CPP diz que ― ao I - os tratados, as convenções e regras de
assistente é permitido propor meios de prova‖, deve-se direito internacional; (apreciado por tribunal
entender que está excluída a prova testemunhal, senão estrangeiros)
estaria elidida a regra de que a acusação deverá II - as prerrogativas constitucionais do
oferecer rol de testemunhas quando da propositura da Presidente da República, dos ministros de
ação (art. 41). Estado, nos crimes conexos com os do
c) Extensiva: ocorre quando é necessário ampliar Presidente da República, e dos ministros do
o sentido ou alcance da lei ( art. 3º do CPP). Tourinho Supremo Tribunal Federal, nos crimes de
elenca como exemplo o art. 34 do CPP ao dispor que o responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o,
menor de 21 e maior de 18 anos pode exercer o direito e 100); (não são julgados pelo poder judiciário e
de queixa. Se assim o é, poderá também exercer o sim Poder legislativo)
direito de representação, vez que quem pode o mais, III - os processos da competência da Justiça
pode o menos. Militar; (art.124 da CF, Justiça Militar para julgar
crimes militar)
Obs: IV - os processos da competência do tribunal
O CPP admite expressamente a aplicação especial (Constituição, art. 122, nº 17); (art. 109,
analógica da norma processual, assim como a IV, CF)
interpretação extensiva (art. 3º CPP), ao contrário da V - os processos por crimes de imprensa.
norma penal. Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este
Código aos processos referidos nos IV e V,
Interpretação progressiva quando as leis especiais que os regulam não
dispuserem de modo diverso.
Fala-se, ainda, em interpretação progressiva para
se abarcarem no processo novas concepções ditadas - Território:
pelas transformações sociais, científicas, jurídicas ou O território compreende:
morais que devem permear a lei processual a) material: solo e subsolo sem solução de
estabelecida. Pela evolução legislativa do país o continuidade, água interiores, mar territorial, plataforma
"Tribunal de Apelação" pode ser o Tribunal de Justiça continental e espaço aéreo correspondente.
ou Tribunal de Alçada, conforme disponha a lei b) ficto: embarcações e aeronaves.
8 DIREITO PROCESSUAL PENAL
LIVRO I
- Princípio da “lex fori”: DO PROCESSO EM GERAL
A lei do local é aplicada no país. TÍTULO I
Três exceções: DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
o
a) território ―nullius‖; Art. 1 O processo penal reger-se-á, em todo o
b) território ocupado em caso de guerra; território brasileiro, por este Código, ressalvados:
c) território estrangeiro com autorização. I - os tratados, as convenções e regras de direito
internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do
- Extraterritorialidade da lei penal:
Presidente da República, dos ministros de Estado, nos
A lei penal aplica-se aos crimes cometidos fora crimes conexos com os do Presidente da República, e
do território nacional que estejam sujeitos à lei penal dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes
brasileira (CP, art. 7º). de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2 , e
o
procedat iudex ex officio), isso não impede que o Magistrado Da presunção de inocência (ou não-culpabilidade)
determine a realização de diligências que repute necessárias à decorre que aquele que acusa deverá provar suas alegações
elucidação de algum fato, em razão do princípio da verdade acusatórias, a fim de demonstrar a culpa do acusado que, de
real, que também vigora no processo penal. início, é considerado inocente. Assim, não cabe ao réu provar
sua inocência, pois esta é presumida.
02. (Anal.Jud.STM/CESPE/2011) No que concerne aos
princípios constitucionais do processo penal, julgue 04. (Anal.Jud.STM/CESPE/2011) Julgue os itens que se
os seguintes itens. seguem, referentes ao direito processual penal.
1 [85] Não se admite, por caracterizar ofensa ao 1 [90] Na CF, constam, expressamente, dispositivos
princípio do contraditório e do devido processo legal, sobre a inadmissibilidade de provas ilícitas por
a concessão de medidas judiciais inaudita altera derivação.
parte no processo penal. 2 [91] Decorrem do princípio do devido processo legal
2 [86] Conforme entendimento do Supremo Tribunal as garantias procedimentais não expressas, tais
Federal ( STF ), não é nula a citação por edital que como as relativas à taxatividade de ritos e à
se limita a indicar o dispositivo da lei penal, não integralidade do procedimento.
transcrevendo o inteiro teor da denúncia ou queixa, 3 [92] Em decorrência da aplicação do princípio do
inexistindo violação ao princípio do contraditório e da contraditório, constitui nulidade a falta de intimação
ampla defesa. do denunciado para oferecer contrarrazões ao
3 [87] O princípio da inocência está expressamente recurso interposto da rejeição da denúncia, não
previsto na Constituição Federal de 1988 e suprindo a nomeação de defensor dativo.
estabelece que todas as pessoas são inocentes até
que se prove o contrário, razão pela qual se admite
05 . (Juiz Sub.TJ-SE/CESPE/2008) Os princípios
a prisão penal do réu após a produção de prova que
constitucionais aplicáveis ao processo penal incluem
demonstre sua culpa.
Comentários à alternativa 3:
a) a publicidade.
Embora a questão afirme corretamente que o princípio b) a verdade real.
da presunção de inocência está previsto na Constituição, erra c) a identidade física do juiz.
ao afirmar que a mera produção de prova contrária ao réu d) o favor rei.
possa autorizar sua prisão. A prisão do réu, como decorrência e) a indisponibilidade.
de sua culpa, só é admitida após o trânsito em julgado da
Comentários à questão:
sentença condenatória, nos termos do art. 5°, LVII da
CRFB/88. A) CORRETA: O princípio da publicidade está
expressamente previsto no art. 93, IX da Constituição Federal.
B) ERRADA: A verdade real não é um princípio
03. (Anal.Jud.STM/CESPE/2011) Julgue os itens que
previsto constitucionalmente, embora seja um princípio do
se seguem, referentes ao direito processual penal.
processo penal.
1 [87] De acordo com doutrina e a jurisprudência, os
C) ERRADA: A identidade física do Juiz é o princípio
princípio da ampla defesa e da plenitude de defesa
do processo penal segundo o qual o Juiz que presidiu a
são sinônimos, visto que ambos têm por escopo
audiência de instrução e julgamento deverá proferir a
assegurar ao acusado o acesso aos instrumentos
sentença. Entretanto, não está previsto na Constituição.
normativos hábeis ao exercício da defesa.
D) ERRADA: O favor rei ou favor libertatis, embora
2 [88] Entende-se por devido processo legal a garantia
decorra logicamente do princípio da presunção de inocência,
do acusado de não ser privado de sua liberdade em
está previsto implicitamente no art. 386, VII do CPP, mas não
um processo que seguiu a forma estabelecida na lei;
na Constituição Federal.
desse princípio deriva o fato de o descumprimento
de qualquer formalidade pelo juiz ensejar a nulidade E) ERRADA: A indisponibilidade é o princípio pelo
absoluta do processo, por ofensa a esse princípio. qual entende-se que o MP não pode dispor da Ação Penal, ou
seja, havendo prova da materialidade do delito, e indícios de
3 [89] Os efeitos causados pelo princípio constitucional
sua autoria, deverá o MP oferecer denúncia. Na Ação Penal
da presunção de inocência no ordenamento jurídico
Privada, ao contrário, vige o princípio da oportunidade,
nacional incluem a inversão, no processo penal, do
cabendo ao ofendido escolher se oferece ou não a queixa. Este
ônus da prova para o acusador.
princípio não está expressamente previsto na Constituição.
Comentários à alternativa 1: /
5. PENAL SECUNDÁRIA
O prof. Norberto Avena descreve em linhas
magistrais: ―A legitimação secundária (ação penal
secundária) ocorre quando a lei, como regra geral,
estabelece um titular par ao ajuizamento da ação penal
visando à apuração de determinado crime, mas, em
decorrência do surgimento de circunstâncias especiais,
prevê, secundariamente, uma nova espécie de ação
para aquela mesma infração, modificando-se (v.g, a
ação penal de privada transforma-se em pública) ou
condicionando-se (v.g, a ação penal de pública
incondicionada transforma-se em pública condicionada)
a legitimidade para intentá-la.‖ (Processo Penal
Esquematizado – 1ª edição, página 200).
DICAS DE CONCURSOS:
Ação penal secundária ocorre quando a lei estabelece
um titular ou uma modalidade de ação penal para determinado
crime, mas mediante o surgimento de circunstâncias especiais,
prevê, secundariamente, uma nova espécie de ação penal para
aquela mesma infração. (Juiz de Direito-TJ-SE/CESPE/2008)
34 DIREITO PROCESSUAL PENAL
QUADRO SINÓTICO*: improcedentes as razões invocadas, fará remessa do
inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e
este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do
Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido
de arquivamento, ao qual só então estará o juiz
obrigado a atender.
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes
de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
todos os termos do processo, fornecer elementos de
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de
negligência do querelante, retomar a ação como parte
principal.
Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade
para representá-lo caberá intentar a ação privada.
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou
quando declarado ausente por decisão judicial, o direito
de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Art. 32. Nos crimes de ação privada, o juiz, a
requerimento da parte que comprovar a sua pobreza,
nomeará advogado para promover a ação penal.
o
§ 1 Considerar-se-á pobre a pessoa que não
puder prover às despesas do processo, sem privar-se
dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da
família.
o
§ 2 Será prova suficiente de pobreza o atestado
*Fonte: Apostila de Processo Penal, Editora Degrau da autoridade policial em cuja circunscrição residir o
Cultural/2009. ofendido.
Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 (dezoito)
anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
não tiver representante legal, ou colidirem os interesses
1. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL –DECRETO-LEI deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser
Nº 3.689, DE 03.10.41 exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a
TÍTULO III requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente
DA AÇÃO PENAL para o processo penal.
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 (vinte e
promovida por denúncia do Ministério Público, mas um) e maior de 18 (dezoito) anos, o direito de queixa
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do poderá ser exercido por ele ou por seu representante
Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou legal.
de quem tiver qualidade para representá-lo. Art. 35. (Revogado pela Lei nº 9.520, de
o
§ 1 No caso de morte do ofendido ou quando 27.11.1997)
declarado ausente por decisão judicial, o direito de Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa
representação passará ao cônjuge, ascendente, com direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em
descendente ou irmão. (Parágrafo único renumerado seguida, o parente mais próximo na ordem de
pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993) enumeração constante do art. 31, podendo, entretanto,
o
§ 2 Seja qual for o crime, quando praticado em qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante
detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado desista da instância ou a abandone.
e Município, a ação penal será pública. (Incluído pela Art. 37. As fundações, associações ou
Lei nº 8.699, de 27.8.1993) sociedades legalmente constituídas poderão exercer a
Art. 25. A representação será irretratável, depois ação penal, devendo ser representadas por quem os
de oferecida a denúncia. respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no
silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes.
Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será
iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio Art. 38. Salvo disposição em contrário, o
de portaria expedida pela autoridade judiciária ou ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito
policial. de queixa ou de representação, se não o exercer dentro
do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a
Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá
saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29,
provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em
do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento
que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito,
da denúncia.
informações sobre o fato e a autoria e indicando o
tempo, o lugar e os elementos de convicção. Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do
direito de queixa ou representação, dentro do mesmo
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao
prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.
invés de apresentar a denúncia, requerer o
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer Art. 39. O direito de representação poderá ser
peças de informação, o juiz, no caso de considerar exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes
DIREITO PROCESSUAL PENAL 35
especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao Art. 47. Se o Ministério Público julgar
juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade necessários maiores esclarecimentos e documentos
policial. complementares ou novos elementos de convicção,
o deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer
§ 1 A representação feita oralmente ou por
escrito, sem assinatura devidamente autenticada do autoridades ou funcionários que devam ou possam
ofendido, de seu representante legal ou procurador, fornecê-los.
será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do
policial, presente o órgão do Ministério Público, quando crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério
a este houver sido dirigida. Público velará pela sua indivisibilidade.
o
§2 A representação conterá todas as Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de
informações que possam servir à apuração do fato e da queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos
autoria. se estenderá.
o
§3 Oferecida ou reduzida a termo a Art. 50. A renúncia expressa constará de
representação, a autoridade policial procederá a declaração assinada pelo ofendido, por seu
inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à representante legal ou procurador com poderes
autoridade que o for. especiais.
o
§ 4 A representação, quando feita ao juiz ou Parágrafo único. A renúncia do representante
perante este reduzida a termo, será remetida à legal do menor que houver completado 18 (dezoito)
autoridade policial para que esta proceda a inquérito. anos não privará este do direito de queixa, nem a
o renúncia do último excluirá o direito do primeiro.
§ 5 O órgão do Ministério Público dispensará o
inquérito, se com a representação forem oferecidos Art. 51. O perdão concedido a um dos
elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, querelados aproveitará a todos, sem que produza,
neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze todavia, efeito em relação ao que o recusar.
dias. Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido por
conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a ele ou por seu representante legal, mas o perdão
existência de crime de ação pública, remeterão ao concedido por um, havendo oposição do outro, não
Ministério Público as cópias e os documentos produzirá efeito.
necessários ao oferecimento da denúncia. Art. 53. Se o querelado for mentalmente enfermo
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a ou retardado mental e não tiver representante legal, ou
exposição do fato criminoso, com todas as suas colidirem os interesses deste com os do querelado, a
circunstâncias, a qualificação do acusado ou aceitação do perdão caberá ao curador que o juiz Ihe
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a nomear.
classificação do crime e, quando necessário, o rol das Art. 54. Se o querelado for menor de 21 anos,
testemunhas. observar-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir no art. 52.
da ação penal. (Princípio da Indisponibilidade). Art. 55. O perdão poderá ser aceito por
Art. 43. (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008). procurador com poderes especiais.
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual
com poderes especiais, devendo constar do instrumento expresso o disposto no art. 50.
do mandato o nome do querelante e a menção do fato Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito
criminoso, salvo quando tais esclarecimentos admitirão todos os meios de prova.
dependerem de diligências que devem ser previamente
Art. 58. Concedido o perdão, mediante
requeridas no juízo criminal.
declaração expressa nos autos, o querelado será
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita,
privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o
Público, a quem caberá intervir em todos os termos seu silêncio importará aceitação.
subsequentes do processo.
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, extinta a punibilidade.
estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em
Art. 59. A aceitação do perdão fora do processo
que o órgão do Ministério Público receber os autos do
constará de declaração assinada pelo querelado, por
inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou
seu representante legal ou procurador com poderes
afiançado. No último caso, se houver devolução do
especiais.
inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o
prazo da data em que o órgão do Ministério Público Art. 60. Nos casos em que somente se procede
receber novamente os autos. mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação
o penal:
§ 1 Quando o Ministério Público dispensar o
inquérito policial, o prazo para o oferecimento da I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de
denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as promover o andamento do processo durante 30 dias
peças de informações ou a representação. seguidos;
o
§ 2 O prazo para o aditamento da queixa será II - quando, falecendo o querelante, ou
de 3 dias, contado da data em que o órgão do Ministério sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo,
Público receber os autos, e, se este não se pronunciar para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60
dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber
aditar, prosseguindo-se nos demais termos do fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
processo.
36 DIREITO PROCESSUAL PENAL
III - quando o querelante deixar de comparecer, entre duas ou mais figuras típicas. O crime de roubo, por
sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a exemplo, previsto no art. 157, caput do Código Penal,
que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido constitui uma fusão entre os delitos de furto e ameaça/lesão
de condenação nas alegações finais; corporal. No caso do latrocínio, tem-se que essa infração penal
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, combina elementos dos crimes roubo (art. 157, § 3º) e
esta se extinguir sem deixar sucessor. homicídio (art. 121). A consumação do crime complexo
ocorre “quando o agente preenche o tipo penal levando a
Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se
efeito condutas que, unidas, formam a unidade complexa”.
reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de
ofício. Irretratabilidade da representação
Parágrafo único. No caso de requerimento do Art. 102 - A representação será irretratável depois
Ministério Público, do querelante ou do réu, o juiz de oferecida a denúncia. (Redação dada pela Lei nº
mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte contrária 7.209, de 11.7.1984)
e, se o julgar conveniente, concederá o prazo de cinco Decadência do direito de queixa ou de
dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco representação
dias ou reservando-se para apreciar a matéria na Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário,
sentença final. o ofendido decai do direito de queixa ou de
Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz representação se não o exerce dentro do prazo de 6
somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem
o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade. é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste
Código, do dia em que se esgota o prazo para
2. CÓDIGO PENAL: oferecimento da denúncia. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
TÍTULO VII
Renúncia expressa ou tácita do direito de queixa
DA AÇÃO PENAL
Art. 104 - O direito de queixa não pode ser
Ação pública e de iniciativa privada
exercido quando renunciado expressa ou tacitamente.
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
lei expressamente a declara privativa do ofendido.
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
de queixa a prática de ato incompatível com a vontade
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o
Público, dependendo, quando a lei o exige, de ofendido a indenização do dano causado pelo crime.
representação do ofendido ou de requisição do Ministro (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
Perdão do ofendido
11.7.1984)
Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em
§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida
que somente se procede mediante queixa, obsta ao
mediante queixa do ofendido ou de quem tenha
prosseguimento da ação. (Redação dada pela Lei nº
qualidade para representá-lo. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
7.209, de 11.7.1984)
Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele,
§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se
expresso ou tácito: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não
11.7.1984)
oferece denúncia no prazo legal. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - se concedido a qualquer dos querelados, a
todos aproveita; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
§ 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido
11.7.1984)
declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao II - se concedido por um dos ofendidos, não
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (Redação prejudica o direito dos outros; (Redação dada pela Lei
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) nº 7.209, de 11.7.1984)
A ação penal no crime complexo III - se o querelado o recusa, não produz
efeito. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 101 - Quando a lei considera como elemento
ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, § 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de
constituem crimes, cabe ação pública em relação ato incompatível com a vontade de prosseguir na ação.
àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
deva proceder por iniciativa do Ministério Público. § 2º - Não é admissível o perdão depois que
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) passa em julgado a sentença condenatória. (Redação
O crime complexo é aquele que agrega, em seus dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
elementos constitutivos ou circunstâncias, fatos que,
isoladamente considerados, por si só, já são crimes. DICAS DE CONCURSOS
A norma quer dar a entender que só se processará
Quando a ação penal pública for condicionada à
mediante ação penal pública o crime que, contendo elementos
representação do ofendido, o exercício desta pelo
típicos de crimes de ação penal privada, tenha também outros
ofendido ou por quem tenha qualidade para
advindos de delitos que se processam mediante ação penal
representá-lo não torna obrigatório o oferecimento
pública. A contrario sensu, se todos os elementos fossem
de denúncia pelo Ministério Público. (Tec.Jud.TJ-
correlatos apenas aos delitos de ação penal privada, o
PE/FCC/2007)
Ministério Público não poderia ajuizar a ação penal pública.
O latrocínio é doutrinariamente classificado como A ação penal privada subsidiária pode ser ajuizada
sendo um crime complexo. Diz-se complexo o crime quando pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para
um determinado tipo penal é o resultado de uma fusão operada representá-lo se esta não for intentada pelo
DIREITO PROCESSUAL PENAL 37
Ministério Público no prazo legal. (Ofic.Just.TJ- a) A queixa, quando a ação penal for privativa do
PE/FCC/2007) ofendido, não poderá ser aditada pelo MP, que em
Na ação penal pública condicionada, a representação tal situação atua apenas como fiscal da lei.
será irretratável depois de oferecida a denúncia. b) O perdão concedido a um dos querelados aproveitará
(Adv.METRO/SP/FCC/2008, Idem Adv.Traine a todos, não havendo possibilidade de recusa, pois
METRO/SP-FCC/2008) se trata de ato unilateral.
Quando a lei o exigir, dependerão de requisição do c) O perdão judicial somente pode ser expresso, não
Ministro da Justiça os crimes de ação pública. admitindo, o Código de Processo Penal (CPP), o
(Ag.Penit.SEJUS-RO/FUNRIO/2008) perdão tácito.
As fundações, associações ou sociedades legalmente d) A queixa contra qualquer dos autores do crime
constituídas poderão exercer a ação penal privada. obrigará ao processo de todos, e o MP velará pela
(Proc.TCE-AL/FCC/2008) sua indivisibilidade.
Nos casos de exclusiva ação penal privada, o
querelante poderá preferir o foro de domicílio ou de 03. (OAB/SP/CESPE/2009) Assinale a opção correta de
residência do réu, ainda quando conhecido o lugar acordo com o que dispõe o CPP acerca da
da infração. (Juiz Sub.TJ-RR/FCC/2008) perempção.
Quando a ação penal for privativa do ofendido, a a) Na ação penal pública, a perempção é causa extintiva
queixa poderá ser dada por procurador com poderes da punibilidade.
especiais. (Anal.Jud.TRF 5ª R/FCC/2008)
b) A perempção se aplica à ação penal privada
Qualquer que seja o crime, se for praticado em subsidiária da pública.
detrimento do patrimônio ou interesse da União, dos
c) Considera-se perempta a ação penal privada quando,
estados e(ou) dos municípios, a ação penal será
iniciada esta, o querelante deixa de promover o
sempre pública. (Anal.Jud.Exec.Mand.TJ/DF/CESPE
andamento do processo durante trinta dias seguidos.
/2008)
d) A ausência de pedido de condenação, nas alegações
Considera-se perempta a ação penal, nos casos em
finais, por parte do querelante, não enseja a
que se procede somente mediante queixa, quando o
perempção.
querelante deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais.
(Ana.Fin.Cont.CGU/2008) 04. (Anal.Jud.Exec.Mand/STF/CESPE/2008) Acerca das
O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, ações penais, julgue os itens que se seguem.
contado da data em que o órgão do Ministério [133] Nas ações penais privadas, considerar-se-á
Público receber os autos, e, se este não se perempta a ação penal quando, iniciada esta, o
pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não querelante deixar de promover o andamento do
tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais processo durante 30 dias seguidos.
termos do processo. (Anal.Jud.TRF 3ª R/FCC/2007) [134] Nas ações penais privadas, a renúncia ao
Quando a ação penal pública for condicionada à exercício do direito de queixa em relação a um dos
representação do ofendido, o exercício desta pelo autores do crime aproveitará a todos, sem que
ofendido ou por quem tenha qualidade para produza, todavia, efeito em relação ao que o
representá-lo não torna obrigatório o oferecimento recusar.
de denúncia pelo Ministério Público. (Tec.Jud.TJ- [135] Nas ações penais públicas condicionadas à
PE/FCC/2007) representação, será esta irretratável, depois de
oferecida a denúncia.
EXERCÍCIOS – AÇÃO PENAL
01. (Anal.Jud.TRE/GO/CESPE/2009) Acerca da ação 05. (Juiz Su.TJ-SE/CESPE/2008) Assinale a opção
penal pública, assinale a opção correta. correta quanto à ação penal.
a) Quando o ofendido for declarado ausente por decisão a) Ação penal secundária ocorre quando a lei
judicial, haverá caducidade do direito de estabelece um titular ou uma modalidade de ação
representação. penal para determinado crime, mas mediante o
surgimento de circunstâncias especiais, prevê,
b) Seja qual for o crime, quando praticado em secundariamente, uma nova espécie de ação penal
detrimento do patrimônio ou interesse da União, para aquela mesma infração.
estado ou município, a ação penal será pública.
b) O princípio da suficiência da ação penal relaciona-se
c) Depois de iniciado o inquérito policial, a com as questões prejudiciais heterogêneas, em que
representação, no caso de ação penal pública a ela a ação penal é suficiente para resolver a questão
condicionada, será irretratável. prejudicial ligada ao estado de pessoas, sendo
d) Se o órgão do MP, em vez de apresentar a denúncia, desnecessário aguardar a solução no âmbito cível.
requerer o arquivamento do inquérito policial ou de c) Nos crimes de ação penal pública condicionada, a
quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de requisição do ministro da Justiça admite retratação,
considerar improcedentes as razões invocadas, desde que esta ocorra antes do oferecimento da
remeterá os autos a outro promotor, para que esse denúncia, e o direito à requisição deve ser exercido
ofereça a denúncia. no prazo de seis meses.
d) O prazo de seis meses para mover a ação penal
02. (Anal.Jud.TRE/GO/CESPE/2009) Com relação à privada é prescricional e se inicia da data em que
ação penal privada, assinale a opção correta. ocorreu o fato.
e) Ação penal privada subsidiária da pública é a única
exceção à regra da titularidade exclusiva do
38 DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ministério Público sobre a ação penal pública, e tem 3) e, recebida a peça de acusação, o ofendido vier a
cabimento tanto no caso de inércia da acusação conceder perdão a Firmino, o juiz não deverá
quanto no pedido de arquivamento. extinguir a ação penal, se Firmino recusar o perdão.
4) se, intimado para apresentar alegações finais, o
06. (Anal.Jud.TJ-RJ/CESPE/2008) Quanto à ação penal, acusador deixar de apresentá-las, estará perempta a
assinale a opção correta. ação penal instaurada e Firmino não poderá receber
sentença penal condenatória.
a) Salvo disposição em contrário, em caso de ação
penal pública condicionada à representação, o 5) por tratar-se de ação penal privada, mesmo se
direito de representação prescreve, para o ofendido, condenado, Firmino não estará sujeito à ação de
se ele não o exercer dentro do prazo de seis meses, execução civil para reparação do dano causado por
contado do dia em que o crime foi praticado. seu crime.
b) A representação é ato formal, exigindo a lei forma
especial, isto é, deve ser feita por procurador 09. (Anal.Jud.TSE/CESPE/2007) Fernando Capez
especial, em documento em que conste o crime, o sustenta que o fundamento da ação penal privada é
nome do autor do fato e da vítima, além da evitar que o escândalo do processo provoque ao
assinatura do representante e do advogado ofendido mal maior que a impunidade do criminoso,
legalmente habilitado. decorrente da não propositura da ação penal. A
c) Nos crimes sujeitos à ação penal pública diferença básica entre a ação penal pública e a ação
incondicionada, se o Ministério Público não oferecer penal privada seria apenas a legitimidade de agir;
a denúncia no prazo legal ou se requerer o nesta última, extraordinariamente atribuída à vítima
arquivamento do inquérito policial e o juiz não apenas devida a razões de política criminal - em
concordar com o pedido, será admitida ação penal ambos os casos, todavia, o Estado retém consigo a
privada. titularidade do direito de punir. Rafael Lopes do
Amaral. A ação penal privada e os institutos da lei
d) A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do
dos juizados especiais criminais. In: Jus Navigandi.
ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público,
Teresina, ano 9, n.º 765, ago./2005 (com
a quem caberá intervir em todos os termos
adaptações). Acerca da ação penal privada, assinale
subsequentes do processo.
a opção correta.
e) Ainda que a representação contenha elementos que
a) Quando o Ministério Público pede arquivamento da
habilitem o Ministério Público a promover a ação
representação, descabe o ajuizamento de ação
penal, não poderá o promotor oferecer denúncia
penal privada, subsidiária da ação penal pública, já
imediatamente, devendo remeter a representação à
que não houve omissão do Ministério Público.
autoridade policial para que esta proceda ao
inquérito. b) Em crimes contra a honra praticados contra
funcionário público propter officium, não se admite a
legitimidade concorrente do ofendido para promover
07. (Prom.Justiça/MPE/AM/CESPE/2007) A respeito de ação penal privada. Nesses casos, a ação deve ser
denúncia, assinale a opção correta. pública condicionada à representação.
a) Denúncia alternativa é aquela que omite a descrição c) O perdão do ofendido, seja expresso ou tácito, é
de comportamento típico e sua atribuição a cada causa de extinção da punibilidade nos crimes que se
autor individualizado. apuram exclusivamente por ação penal privada e
b) Se o promotor denuncia o autor de crime de naqueles em que há ação penal pública
homicídio por crime qualificado por motivo fútil ou incondicionada.
torpe, trata-se de denúncia genérica. d) O benefício do sursis processual, previsto na Lei n.º
c) O acórdão que provê recurso contra rejeição da 9.099/1995, não permite a aplicação da analogia in
denúncia vale, desde logo, por seu recebimento, se bonam partem, prevista no Código de Processo
não for nula a decisão de primeiro grau. Penal, razão pela qual não é cabível nos casos de
d) É inepta a denúncia que, nos crimes societários, não crimes de ação penal privada.
descreve e individualiza a conduta de cada um dos
sócios. 10. (Anal.Tec.Adm.DPU/CESPE/2010) No tocante às
e) Rejeitada a denúncia por falta de condição da ação, condições da ação penal, assinale a opção correta.
fica obstado posterior exercício da ação penal, em a) As chamadas condições de procedibilidade, para a
face da coisa julgada material. doutrina, constituem situações específicas a serem
atendidas antes da propositura de todas as ações
08. (Consltuor Leg.SF/CESPE/2002) Firmino foi penais públicas condicionadas.
acusado, em juízo, pelo cometimento de um crime b) O interesse de agir, como condição da ação penal,
sujeito, exclusivamente, a ação penal privada. Nesse está sempre presente em todas as infrações penais,
caso, uma vez que somente o Estado é o titular da
1) a peça de acusação, seguramente, foi uma queixa. persecução penal em juízo. Desse modo, sempre
2) e o crime cometido por Firmino contou com a co- que ocorrer um crime, haverá interesse de agir do
autoria de Mário, e o acusador renunciou, Estado na persecução penal, obrigando-o, em
expressamente, ao seu direito de formalizar a qualquer hipótese, a propor a ação penal em face do
acusação contra Mário, essa renúncia abrangerá agressor.
Firmino e a peça de acusação não deverá ser c) No sistema jurídico brasileiro, a legitimidade ativa
recebida. para persecução penal em juízo, como condição da
ação penal, encontra-se somente nas mãos do MP,
por expresso dispositivo constitucional.
DIREITO PROCESSUAL PENAL 39
d) A possibilidade jurídica do pedido diz respeito à 1. Princípio da inafastabilidade de jurisdição
previsão legal do tipo e da sanção a ser aplicada ao Esse princípio basilar de nosso ordenamento
réu e requerida pelo autor da ação penal, sob pena veda qualquer tentativa, ainda que por meio de lei, de se
de ofensa ao princípio da legalidade estabelecido na dificultar ou de excluir o acesso dos particulares ao
Constituição Federal de 1988. O juiz julgará Poder Judiciário na busca de tutela a direitos que
improcedente o pedido constante na ação penal, entendam estarem sofrendo ou ameaçados de sofrer
caso o fato narrado não se ajuste ao tipo descrito lesão.
pelo autor.
Por força desse princípio, no Brasil, somente o
e) A justa causa, que constitui condição da ação penal, Poder Judiciário tem jurisdição, ou seja, somente ele
é prevista de forma expressa no Código de Processo pode fazer a coisa julgada, dizendo, em caráter
Penal (CPP) e consubstancia-se no lastro probatório definitivo e imutável, o direito aplicável a determinado
mínimo e firme, indicativo da autoria e da caso concreto.
materialidade da infração penal.
2. Princípio da investidura
Gabarito: 01/B; 02/D; 03/C; 04/CEC; 05/A; 06/D; 07/C;
A jurisdição só pode ser exercida por quem tenha
08/CCCCE; 09/A; 10/E
sido legalmente investido no cargo e esteja em
exercício. A falta de jurisdição importa nulidade do
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA processo e da sentença e dá lugar ao excesso de poder
jurisdicional. A usurpação de função pública, como a
JURISDIÇÃO jurisdicional, é crime - art. 328,CP.
CONCEITO
Significando o poder, a função e a atividade 3. Princípio do juiz natural
estatal exercida com exclusividade pelo Poder Este princípio diz que o autor do ilícito só pode
Judiciário, consistente na aplicação de normas da ser processado e julgado perante o órgão a que a CF,
ordem jurídica a um caso concreto, com a consequente implícita ou explicitamente, atribui a competência para o
solução do litígio. julgamento.
Como Poder: emanação da soberania nacional De acordo com a CF "ninguém será processado
Como Função: incumbência afeta ao juiz. nem sentenciado senão pela autoridade competente
Como Atividade: é toda diligência do Juiz, dentro (art. 5° LID). Assim, prevê ela quais são os órgãos
do processo, visando dar a cada um o que é seu, jurisdicionais, federais ou estaduais, comuns ou
objetivando fazer justiça. especiais, competentes para a apreciação das ações
inclusive penais (art., 92 a 126). Daí decorre a vedação '
de juízos ou tribunais de exceção (art. 5°, XXXVII, CF).
ELEMENTOS
A Jurisdição caracteriza-se pelos seguintes
6 4. Princípio do devido processo legal (nulla poena
elementos :
sine judiclo)
- finalidade de realizar o Direito;
Quando a Constituição assegurou a prestação
- inércia, ou seja, o juiz em regra deve aguardar jurisdicional pelo Estado, também assegurou o princípio
a provocação da parte; do devido processo legal. Para que o socorro
- presença de lide, ou seja, presença de conflito jurisdicional seja efetivo é preciso que o órgão
de interesse; jurisdicional observe um processo que assegure o
- produção de coisa julgada, ou seja, respeito aos direitos fundamentais, o devido processo
definitividade da solução dada. legal.
Art. 5°, inciso LIV, da CF "ninguém será privado
ELEMENTOS QUE ENTREGAM A JURISDIÇÃO da liberdade ou de seus bens sem devido
processo legar.”
a) Notio ou cognitio (conhecimento) - poder
atribuído aos órgãos jurisdicionais de conhecer 40s
litígios, 5. Princípio da indeclinabilidade
b) Vocatio (chamamento) - poder de fazer Consagrando expressamente o princípio da
comparecer em juízo todo aquele cuja presença é indeclinabilidade (ou da inafastabilidade, também
necessária ao regular desenvolvimento do processo, chamado de princípio do controle jurisdicional por
c) Coertio - poder de aplicar medidas de coação Cintra, Grinover e Dinamarco), dispõe o artigo 5°, inciso
processual para garantir a função jurisdicional, como XXXV, da Constituição Federal que "a lei não excluirá
fazer comparecer testemunhas, decretar a prisão da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
preventiva, etc, direito".
Desta forma, a Lei Maior garante o acesso ao
d) Juditium (julgamento) - é a função conclusiva
Poder Judiciário a todos aqueles que tiverem seu direito
da jurisdição.
violado ou ameaçado, não sendo possível o Estado-Juiz
e) Executio (execução) - consiste no eximir-se de prover a tutela jurisdicional àqueles que o
cumprimento da sentença, tornando-a obrigatória. procurem para pedir uma solução baseada em uma
pretensão amparada pelo direito.
PRINCÍPIOS Em suma, apregoa o princípio da
indeclinabilidade que o juiz não pode subtrair-se da
função jurisdicional, sendo que, mesmo havendo lacuna
6
FUHRER, Maxiliannus. Resumo de Processo Civil, 1995, p. ou obscuridade na lei, deverá proferir decisão (art. 126,
45). CPC).
40 DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 126.(CPC). O juiz não se exime de terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente
sentenciar ou despachar alegando lacuna ou interessado no feito.
obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-
lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo,
recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios DICAS DE CONCURSOS:
gerais de direito. (Redação dada pela Lei nº 5.925,
de 1º.10.1973). O juiz poderá exercer jurisdição no processo
criminal em que tiver funcionado seu amigo íntimo como
defensor do acusado. (Anal.Jud.TJ-RL/FCC/2008)
6. Princípio da indelegabilidade
Nenhum juiz pode subtrair-se ao exercício de sua
O juiz não pode delegar sua jurisdição a outro função jurisdicional porque a lei não excluirá da
órgão, exceto nos casos permitidos, como nas cartas de
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
ordem, art.9°, §. 1°, Lei 8.038/90.
direito. Essas situações dizem respeito,
respectivamente, aos princípios da relatividade e
7. Princípio da correlação (congruência ou indeclinabilidade. (Anal.Jud.TRE-RN/FCC/2005)
relatividade)
Estabelece o princípio da correlação que há
necessidade imperiosa da correspondência entre a DA COMPETÊNCIA
condenação e a imputação, ou seja, o fato descrito na INTRODUÇÃO
peça inaugural de um processo – queixa ou denúncia – O instituto jurídico da competência surge, através
deve guardar estrita relação com o fato constante na da demarcação da jurisdição Estatal, como sendo a
sentença pelo qual o réu é condenado. parte da jurisdição a que cabe cada órgão, mais
O princípio da correlação, também chamado de especificamente, como sendo o âmbito no qual
princípio da relatividade ou da congruência da magistrado pode exercer a jurisdição.
condenação com a imputação ou ainda da Embora seja una a jurisdição (atividade do juiz
correspondência entre o objeto da ação e o objeto da quando aplica o direito), pela soberania estatal que a
sentença, [32] representa uma das mais relevantes consagra, inconcebível seria a existência de um único
garantias do direito de defesa, pois assegura ao réu a juízo incumbido de atuar em todo o Estado.
certeza de que não poderá ser condenado sem que
tenha tido oportunidade de, previa e Em razão da vastidão do território, a dimensão
pormenorizadamente, ter ciência dos fatos criminosos populacional e o consequente número gigantesco de
que lhe são imputados, podendo, assim, defender-se controvérsias presentes nas sociedades modernas, das
amplamente da acusação. mais simples as mais complexas, é imprescindível não
só a criação de numerosos órgãos jurisdicionais, como
Este princípio assegura a correspondência entre
a sentença e o pedido. também a correlata limitação do poder jurisdicional
destes órgãos. Neste contexto, todos exerceriam a
função jurisdicional, dentro, porém, de restrições
8. Princípio da improrrogabilidade (aderência) delineadas em lei. Assim sendo, o autor conceitua
Como um juiz não pode invadir a jurisdição competência como ―medida de jurisdição‖, mais
alheia, também não pode o crime de competência de precisamente como ―porção do Poder Jurisdicional que
um juiz ser julgado por outro, mesmo que haja cada órgão pode exercer‖ (TOURINHO FILHO, 1989,
concordância das partes. O que pode ocorrer, por p.64).
vezes, é a prorrogação da competência" (arts.73; 74,2°; É através da competência que se alcança o
76-83; 85, 108; 424, do CPP). Por tal princípio as partes efetivo funcionamento dos órgãos jurisdicionais dentro
estão sujeitas ao juiz" que o Estado lhes deu e que não de uma determinada limitação, sempre imposta pela
pode ser: recusado, a não ser nos casos de suspeição, norma legal, tendo em vista que apenas a lei tem o
impedimento e incompetência. poder de designar as competências dos vários órgãos
ATENÇÃO 1! jurisdicionais, isto é, somente através da lei é possível
estabelecer as limitações do exercício de cada um
Esses princípios são imprescindíveis à
destes órgãos.
regularidade processual, sob pena de NULIDADE.
A competência é delimitada, inexoravelmente, por
intermédio do direito positivo, principalmente no que
ATENÇÃO 2!! tange à competência no âmbito penal, tendo em vista a
CPP, ART. 252 ultima ratio do direito penal.
O juiz não poderá exercer jurisdição no processo
em que: CONCEITO
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, Portanto, a competência nada mais é do que a
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o função de exercer a jurisdição nos limites legalmente
terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, predeterminados.
órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar De acordo com a dicção de Vicente Greco Filho,
da justiça ou perito; a competência é ―o poder de fazer atuar a jurisdição que
II - ele próprio houver desempenhado qualquer tem um órgão jurisdicional diante de um caso concreto.
dessas funções ou servido como testemunha; Decorre esse poder de uma delimitação prévia,
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, constitucional e legal, estabelecida segundo critérios de
pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; especialização da justiça, distribuição territorial e divisão
de serviço. A exigência dessa distribuição decorre da
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente,
evidente impossibilidade de um juiz único decidir toda a
consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o
massa de lides existente no universo e, também, da
DIREITO PROCESSUAL PENAL 41
necessidade de que as lides sejam decididas pelo órgão Assim, estabelece o CPP em seu art. 69 que a
jurisdicional adequado, mais apto a melhor resolvê-las.‖ competência jurisdicional será determinada:
Competência é a medida da jurisdição, é a I - pelo lugar da infração:
quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído por Ratione II – pelo domicílio ou relativa
lei a um órgão ou grupo de órgãos. loci residência do réu;
É, portanto, uma verdade medida da extensão do
poder de julgar. (Fernando Capez).
Ratione III – pela natureza da absoluta
materiae infração;
FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA
A Constituição Federal e as leis de
IV - pela distribuição;
organização judiciária fixam a competência dos Juízes
e dos Tribunais, que se distribuem por seu território, Ratione V - pela conexão ou
para os casos concretos, permitindo-lhes exercer suas personae continência; absoluta
atribuições jurisdicionais. VI - pela prevenção;
A fixação da competência se realiza em razão de VII - por prerrogativa de
dois elementos: função.
a) causa criminal: a competência é delimitada As competências material e pessoal são
tendo em vista a natureza do litígio, é determinada conteúdo de interesse público e de natureza absoluta,
conforme a causa a ser julgada (competência material). não podendo ser modificadas pelas partes sob pena de
b) atos processuais: o poder de julgar é nulidade absoluta do processo.
distribuído de acordo com as fases do processo, ou o 7
Já a competência territorial caracteriza-se por
objeto do juízo, ou o grau de jurisdição (competência ser de caráter relativo, onde prevalece o interesse
funcional). privado de uma das partes, não sendo alegada a
irregularidade em tempo oportuno, é possível haver
TIPOS DE COMPETÊNCIA: prorrogação da competência, podendo gerar apenas a
Competência absoluta - as partes não podem nulidade relativa do processo, desde que comprovado
dispor da justiça, sendo assim, o juiz recebendo uma que a parte interessada sofreu prejuízo.
causa que está fora de sua competência, declara a sua
incompetência e envia à justiça respectiva para COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR –
julgamento, ainda que nada aleguem as partes. Esta TERRITORIAL (RATIONE LOCI - TERRITORIAL)
competência é improrrogável. A competência territorial atende ao princípio
Competência relativa – é prorrogável, isto é, a jurisdicional de aderência ao território por estarem,
vontade das partes ou a eleição de foro pode modificar obviamente, intimamente relacionadas. Esta
as regras da competência. O valor da causa é também competência diz respeito à que o juiz ou tribunal terá
um fator importante para determinação de competência, para conhecer, processar, julgar e executar o direito
este é um fator relevante. Pois há justiças que só julgam contido na pretensão deduzida no âmbito dos limites
causas até determinadas quantias, tal qual se dá nas físicos de atuação de sua jurisdição.
justiças de pequenas causas.
ATENÇÃO!!
As espécies de competência definidas na lei
A competência territorial é relativa: não alegada
processual penal levam em consideração três aspectos
no momento oportuno, ocorre a preclusão (art. 108 do
diferentes:
CPP). Por conseguinte, é prorrogável.
1. Ratione loci - territorial - Em razão do lugar:
de acordo com o local em que foi praticada a Dispõe o art. 70, caput, que a competência é
infração ou pelo domicílio ou residência do réu determinada "pelo lugar em que se consumou a
(Art. 69, I e II do CPP). infração". Lugar da infração é o foro competente para
apreciá-la. Assim, é da competência de cada juiz o
2. Ratione materiae – Competência Material:
processo e julgamento dos fatos ocorridos em sua
estabelecida em natureza da infração (Art. 69,
circunscrição territorial, ou seja, sua "comarca" ou
III do CPP) em que o juiz pode conhecer
"distrito".
unicamente de determinadas causas. É ela
delimitada pelas leis, inclusive as de ATENÇÃO!!
organização judiciária, salvo quanto à A regra é o lugar da infração. O domicilio ou
competência fixada por preceito constitucional residência do réu é a exceção.
(art. 5°, XXXVIII, CF). DICA DE CONCURSOS:
3. Ratione personae – Competência em razão Caso o lugar da infração seja desconhecido, a
da função: não importa o lugar da prática da competência será regulada pelo domicílio ou residência
infração, é ditada pela prerrogativa da função do réu. (Anal.Jud.Exec.Mand.TJ-DFR/CESEP/2008)
que a pessoa exerce (Art. 69, VII, CPP),
delimita-se a competência de modo a que nem
todos os juízes exerçam jurisdição sobre
qualquer pessoa, pois é ela fixada pela função
exercida pelo autor da infração.
7
A competência territorial é relativa; não alegada no momento
oportuno, ocorre a preclusão. Por conseguinte, ela é
prorrogável. (Anal.Mun.Pre.Mun.B.Vista/ CESPE/2010)
42 DIREITO PROCESSUAL PENAL
TEORIAS SOBRE DO LUGAR DO CRIME: sido praticado, no Brasil, o último ato de execução" (§1°)
a) Teoria da atividade - o lugar do delito é o e "quando o último ato de execução for praticado fora do
da infração (ação ou omissão), independentemente do território nacional, será competente o juiz do lugar em
lugar da produção do resultado; que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou
devia produzir seu resultado" (§2°).
b) Teoria do resultado – o lugar do delito é o
do resultado, independentemente do local da ação ou Seguindo as regras do art. 70 do CPP, seu §3°
omissão; estipula que "quando incerto o limite territorial entre
duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição
c) Teoria da ubiquidade – o lugar do delito é
por ter sido a infração consumada ou tentada nas
tanto o da ação ou omissão quanto o do resultado.
divisas de duas ou mais jurisdições, a competência
A teoria contemplada no CPP é a teoria do firmar-se-á pela prevenção". Neste caso específico,
resultado, para a qual o foro é o lugar onde o delito se Mirabete leciona que a sede do delito se equipara à
consumou. Isto posto que a lógica do legislador foi a de sede do juízo, tornando-se prevento o órgão jurisdicional
considerar como lugar do crime o local onde a que primeiro tiver praticado algum ato do processo ou
sociedade teve sua realidade perturbada e, assim, onde de medida a este relativa (art. 83, CPP).
o agente deva ser punido.
Quanto aos delitos qualificados pelo
O Código Penal adotou a teoria pura da resultado, como seria o caso dos previstos nos artigos
ubiquidade, valendo ressaltar que na própria previsão 127, 129, §3°, 133, §§1° e 2°, 135, parágrafo único, 136,
do art. 6° do Código Penal esta incluída o lugar da §§1° e 2°, 137, parágrafo único, 148, §2°, 157, §3°, 159,
tentativa, ou seja, "...onde se produziu ou deveria §§2° e 3°, 223, parágrafo único, 258, 263 e 264,
produzir-se o resultado". parágrafo único, todos do Código Penal, a doutrina
A teoria da ubiquidade se explica pelo fato de entende que a consumação ocorre onde se verifica um
que um crime que se inicia no país e produz resultado dos eventos que majoram a pena.
no exterior (e vice-versa), ou seja, o fato de o crime A fixação de competência relativa aos crimes
tocar o país em algum momento, afeta sua soberania, continuados e permanentes, praticados em duas ou
ensejando punição. mais áreas distintas de exercício jurisdicional, é tratada
DICAS DE CONCURSOS: com bastante clareza no art. 71 do Código Processual
Reserva-se a teoria da ubiquidade para a Penal, onde está previsto o critério da prevenção para
hipótese do delito que tenha se iniciado em um país sua determinação.
estrangeiro e findado no Brasil ou vice-versa. DICA DE CONCURSO:
(Adv.SP/CESPE/2008) Tratando-se de infração permanente, praticada
O foro competente no caso de tentativa é o local em território de duas ou mais jurisdições, a competência
onde o agente praticou o primeiro ato executório. firmar-se-á pela prevenção.(Outorga de Deleg.TJ-
(Adv.OAB/SP/CESEP/2008) AP/FCC/2011)
Legitimidade
Fases da decretação do sequestro
O pedido de especialização da hipoteca legal
Pode ser decretado em qualquer fase do
pode ser formulado pelo ofendido (art. 134 do CPP),
processo, ou ainda antes de oferecer a denúncia ou
pela parte (art. 135 do CPP), pelo representante legal da
queixa.
vítima ou seus herdeiros (art. 842, I e 827, VI do CCB) e
pelo Ministério Público, quando o ofendido for pobre e a
Depósito e Leilão dos bens sequestrados ele requeira, ou se houver interesse da fazenda pública
O depósito e a administração dos bens (municipal, estadual ou federal).
sequestrados é regulado de acordo com as regras do
Código de Processo Civil (arts. 148 a 150), que serão Finalidade da medida
aplicadas subsidiariamente no processo penal. A especialização da hipoteca legal possui duas
Transitada em julgado a sentença penal finalidades básicas, a primeira, é a de satisfazer o dano
condenatória, sem ter sido a medida de sequestro sobre ex delicto; e a segunda, pagar as penas pecuniárias se
os bens levantada, o juiz que determinou a medida será aplicadas, e também, as despesas processuais. Deve-
o competente para ordenar a avaliação dos bens e a se ficar bem claro, que a primeira finalidade tem
venda destes em leilão público. O dinheiro obtido servirá prioridade em relação à segunda, isto é, indeniza-se a
para indenizar à vítima, o terceiro de boa-fé, por ventura vítima primeiro, e o que sobrar o Estado recolhe,
lesado, e para pagar as despesas existentes no conforme o disposto no artigo 140 do CPP.
processo; o restante, se houver, será recolhido ao
tesouro nacional. Não existindo licitante, o bem será Procedimento para a especialização da hipoteca legal
adjudicado à vítima.
O procedimento para especialização da hipoteca
DICA DE CONCURSO: legal está expresso no art. 135, caput e seus
O sequestro será levantado se for julgada extinta parágrafos.
a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença
transitada em julgado. (OAB/CESPE/2009). Caução para evitar a hipoteca legal
O Código de Processo Penal, no § 6º do artigo
2 Hipoteca legal: 135, permite que a hipoteca legal seja impedida através
Destina-se a assegurar a reparação do dano de caução, prestada pelo réu. A caução poderá ser
causado à vítima, bem assim o pagamento de eventual realizada em dinheiro ou títulos da dívida pública, a
pena de multa e despesas processuais, tendo a primeira serem cotados na bolsa, no dia em que for procedida.
preferência sobre estas últimas. A grande discussão a respeito da caução, gira
Hipoteca legal é o direito real de garantia em em torno desta ser mera faculdade do juiz ou direito
virtude do qual um bem imóvel, que continua em poder subjetivo do réu.
do devedor, assegura ao credor, precipuamente, o Os que entendem da última forma, argumentam
pagamento da dívida. que se estiverem presentes todos os requisitos legais
Três são as espécies de hipoteca: a para se evitar a medida, não poderá o juiz, negá-la ao
convencional, a judicial ou a legal. A primeira, decorre requerente. Entendemos ser este posicionamento o
do contrato celebrado entre o credor e o devedor da mais acertado, pelos motivos esposados.
obrigação. A segunda, advém de uma sentença judicial. Os defensores da primeira posição, afirmam que
A terceira, a legal, é a que nos interessa, pois sobre ela o dispositivo é bem claro ao expressar ―o juiz poderá
que se refere o Código de Processo Penal. A hipoteca deixar de mandar proceder à inscrição da hipoteca
legal é aquela instituída pela lei, como medida cautelar, legal‖.27 Tratando-se a decisão, de liberalidade do juiz.
favorável a certas pessoas, com o fim de garantir
determinadas obrigações (vide art. 827, VI do Código
Civil Brasileiro). 3 Arresto:
Enquanto o sequestro recai necessariamente
sobre bens relacionados à prática criminosa (adquiridos
com os proventos da infração), o arresto consiste na
constrição de bens móveis pertencentes ao agente, para
garantir a satisfação da pretensão indenizatória do
ofendido.
Requisitos Arresto é a retenção de qualquer bem do
Dois são os requisitos necessários para a acusado, com a finalidade de assegurar o ressarcimento
especialização da hipoteca legal: do dano, evitando-se desta feita, a dissipação do
a) a prova inequívoca da materialidade do fato patrimônio deste.
delituoso; Art. 137. Se o responsável não possuir bens
b) indícios suficientes de autoria. imóveis ou os possuir de valor insuficiente, poderão
ser arrestados bens móveis suscetíveis de penhora,
nos termos em que é facultada a hipoteca legal dos
Competência para autorizar a medida imóveis.
DIREITO PROCESSUAL PENAL 55
§ 1o Se esses bens forem coisas fungíveis e substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e
facilmente deterioráveis, proceder-se-á na forma do quantidade.
§ 5o do art. 120.
§ 2o Das rendas dos bens móveis poderão ser
Rendas
fornecidos recursos arbitrados pelo juiz, para a
manutenção do indiciado e de sua família. Se os bens móveis arrestados gerarem rendas,
caberá ao juiz arbitrar uma importância proveniente
destes rendimentos, a ser entregue à vítima para a sua
Oportunidade e Requisitos manutenção e a de sua família.
O arresto poderá será interposto em qualquer
fase do processo, pois, como veremos no Arresto
Recurso cabível
(sequestro) prévio, pode servir de preparação para a
especialização da hipoteca legal. O recurso cabível contra a decisão que concede
ou não o arresto, será a apelação, como nas demais
Dois requisitos deverão ser satisfeitos para poder medidas assecuratórias.
se interpor o arresto: a) a prova da materialidade do
delito; b) a existência de indícios suficientes de autoria.
4 Busca e apreensão
Depósito e administração dos bens arrestados Busca do verbo buscar, sinônimo de encontrar,
Os bens arrestados (sequestrados) serão descobrir, procurar, investigar. Significa a procura de
entregues a terceiro estranho à lide, que ficará alguma coisa ou de alguém.
responsável pelo depósito e administração dos objetos, Apreensão do verbo apreender. É a medida
segundo as regras processuais civis (art. 139 do CPP). que se sucede à busca.
Busca domiciliar. Expressão dia e noite.
Arresto (sequestro) prévio Critérios a serem usados: luz solar e critério legal (art.
A lei possibilita um arresto prévio, cautelar, diante 172 CPC).
da possibilidade de haver demora no processo de Art. 5º, (...)
especialização e inscrição da hipoteca legal. Assim, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo,
quaisquer bens imóveis do réu podem ser sequestrados, ninguém nela podendo penetrar sem
para posteriormente ser objeto do pedido de inscrição consentimento do morador, salvo em caso de
flagrante delito ou desastre, ou para prestar
da hipoteca legal, não se confundindo com o sequestro
socorro, ou, durante o dia, por determinação
previsto no art. 125. O arresto provisório é revogado, se judicial;
no prazo de quinze dias, não for promovido o pedido de
inscrição da hipoteca legal. A noite, portanto, é possível o ingresso no
domicílio do investigado (ou réu) quando:
Note-se que esta medida, aplicar-se-á, apenas a
bens imóveis, vez que é preparatória para a a) o morador der o consentimento;
especialização da hipoteca legal. b) houver flagrante delito;
c) ocorrer desastre;
Arresto (sequestro) definitivo d) for para prestar socorro.
Antes de tudo, cabe-nos alertar sobre o erro
tipográfico na última palavra do caput do artigo 137: Requisitos do mandado
trata-se de ―imóveis‖ e não de ―móveis‖, pois só os
Prova irregular. Vide art. 243 CPP, in verbis:
primeiros podem ser hipotecados, salvo as exceções
legais. Além disso, a lei trata não verdadeiramente de Art. 243. O mandado de busca deverá:
―sequestro‖ (art. 822 do CPC), mas de ―arresto‖ (art. 813 I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em
do CPC). Só podem ser objeto desse tipo de sequestro que será realizada a diligência e o nome do
respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de
os bens que sejam suscetíveis de penhora. busca pessoal, o nome da pessoa que terá de
Além disso, é necessário que não haja bens sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
imóveis ou sejam eles insuficientes para garantir a II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
responsabilidade do acusado ou de seu responsável, III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela
para que os bens móveis possam ser arrestados. autoridade que o fizer expedir.
Logo, não se admite expedição de mandado de
Levantamento busca e apreensão coletivo. Se houver, a prova será
O arresto será levantado ou cancelado, quando a irregular.
sentença penal for absolutória ou houver sido julgada
extinta a punibilidade. Cancelada a medida nestes dois Sistema acusatório e a busca feita pelo magistrado:
casos, os bens deverão ser devolvidos ao acusado. art. 241 CPP.
Quando a própria autoridade policial ou judiciária
Bens Fungíveis não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá
Se os bens móveis arrestados, nos termos do art. ser precedida da expedição de mandado
137, forem fungíveis e facilmente deterioráveis, estes
deverão ser avaliados e levados à leilão público,
devendo ser o dinheiro apurado, depositado ou entregue
a terceiro idôneo, que assinará termo de
responsabilidade (art. 137, § 1º c/c art. 120, § 5º do
CPP).
São fungíveis os bens móveis que podem ser
56 DIREITO PROCESSUAL PENAL
14
VII INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO (ARTS.
149-154) Autuação e nomeação de curador
Introdução: O juiz mandará autuar o pedido em apartado (art.
Crime é fato típico e ilícito. A culpabilidade é 153, primeira parte) e nomeará um curador ao réu,
pressuposto de aplicação da pena e se compõe de quando determinar o exame (art. 149, § 2º, primeira
imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e parte).
potencial conhecimento da ilicitude. A imputabilidade é a Somente após a apresentação do laudo o
capacidade de ser responsabilizado por determinado incidente será apensado ao processo principal (art. 153,
crime. Para ser imputável, alguém deve ser capaz de última parte).
compreender o ilícito e de se comportar de acordo com
essa compreensão. Suspensão do processo
A pessoa que não tem esse discernimento e/ou Tendo sido iniciado a ação penal, o juiz
essa liberdade é inimputável. A causa dessa determinará a suspensão do processo, salvo quanto as
inimputabilidade pode advir de doença mental, diligências que possam ser prejudicadas com o
desenvolvimento mental incompleto ou retardado (CP, adiamento (art. 149, § 2º, última parte). A prescrição, no
art. 26) ou da menoridade (CP, art. 28). Esse último entanto, corre normalmente.
caso não nos interessa, pois o menor de 18 anos e
maior de 12 que cometa crime (chamado de ato Exame pericial
infracional) é julgado de acordo com o Estatuto da
O juiz ordenará a realização de exame pericial,
Criança e do Adolescente (ECA) e o menor de 12 anos
que será feito por dois peritos, normalmente por dois
não é responsabilizado, podendo contar ainda com
médicos psiquiatras. Os peritos deverão concluir a
medidas protetivas.
perícia em 45 dias, podendo tal prazo ser prorrogado se
A pessoa portadora de insanidade mental não demonstrarem necessidade (art. 150, § 1º).
pode ser punida, nem condenada, pois não tem
Se o acusado estiver preso, será internado em
capacidade de se responsabilizar pelos próprios atos.
manicômio judiciário, onde houver, para que se realize o
Pode, porém, ser processada, e, caso o juiz considere
exame. Se estiver solto, os peritos poderão requerer
que o réu cometeu um fato típico e ilícito, lhe aplicará
que o réu seja recolhido em estabelecimento adequado
uma medida de segurança, espécie de sanção voltada
designado pelo juiz (art. 150, caput).
para a cura e tratamento.
Pois bem. Se, durante o processo ou inquérito,
Resultado do exame pericial
surge dúvida a respeito da sanidade mental do acusado,
o juiz deve instaurar uma perícia médico-legal para - Se os peritos concluírem que o acusado era, ao
esclarecer a situação. tempo da infração, irresponsável nos termos do art. 26
do Código Penal, o processo prosseguirá, com a
A perícia pode mostrar uma das seguintes
presença do curador (art. 151, CPP).
possibilidades:
- Se os peritos verificarem que a doença mental
a) o acusado não é insano – o processo continua
surgiu após a prática da infração, o processo continuará
normalmente;
suspenso até que o acusado se restabeleça (art. 152,
b) o acusado é insano – o juiz deve nomear um CPP). O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação
curador, que é um representante legal do réu. Podem do acusado em manicômio judiciário ou em outro
ocorrer as seguintes hipóteses: estabelecimento adequado (art. 152, § 1º, CPP).
I) o acusado se tornou insano após o O processo retomará o seu curso, desde que se
cometimento do crime – o processo fica restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a
suspenso até o seu restabelecimento, faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem
podendo ser internado em manicômio (CPP, prestado depoimento sem a sua presença (art. 152, §
art. 152); 2°, CPP).
II) o acusado já era insano ao tempo do crime. Observação:
A insanidade pode ser verificada no inquérito,
durante o processo ou mesmo após a Se a insanidade mental ocorrer no curso da
condenação. No último caso, a pena será execução penal, o réu deverá ser removido do
substituída por medida de segurança (LEP, estabelecimento prisional para a casa de custódia
183). judicial. Se for caso de doença incurável, a pena será
substituída pela medida de segurança. Se o réu se
curar, os dias de internação contarão como dias de
Abertura do incidente pena e retornará ao presídio para cumprir o resto da
O incidente poderá ser instaurado mediante (art. pena.
149/CPP):
a) representação da autoridade policial, sendo o exame
pericial efetuado ainda na fase do Inquérito Policial DICA DE CONCURSO:
(art. 149, § 1º); O exame de avaliação da saúde mental do
b) requerimento do Ministério Público; acusado poderá ser ordenado na fase do inquérito,
c) de ofício pelo juiz; mediante representação da autoridade policial ao juiz
d) requerimento do defensor, do curador, do competente. (OAB/CESPE/2009.3)
ascendente, do descendente, irmão ou cônjuge do
réu.
DISPOSITIVOS DO CPP:
14
TÍTULO VI
Tem como finalidade verificar a saúde mental do acusado
DAS QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES
quando da prática do ilícito penal.
DIREITO PROCESSUAL PENAL 57
CAPÍTULO I depositário ou do próprio terceiro que as detinha, se for
DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS pessoa idônea.
o
Art. 92. Se a decisão sobre a existência da § 5 Tratando-se de coisas facilmente
infração depender da solução de controvérsia, que o juiz deterioráveis, serão avaliadas e levadas a leilão público,
repute séria e fundada, sobre o estado civil das depositando-se o dinheiro apurado, ou entregues ao
pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que terceiro que as detinha, se este for pessoa idônea e
no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença assinar termo de responsabilidade.
passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da Art. 121. No caso de apreensão de coisa adquirida
inquirição das testemunhas e de outras provas de com os proventos da infração, aplica-se o disposto no
natureza urgente. art. 133 e seu parágrafo.
Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Art. 122. Sem prejuízo do disposto nos arts. 120 e
Ministério Público, quando necessário, promoverá a 133, decorrido o prazo de 90 dias, após transitar em
ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com julgado a sentença condenatória, o juiz decretará, se for
a citação dos interessados. caso, a perda, em favor da União, das coisas
Art. 93. Se o reconhecimento da existência da apreendidas (art. 74, II, a e b do Código Penal) e
infração penal depender de decisão sobre questão ordenará que sejam vendidas em leilão público.
diversa da prevista no artigo anterior, da competência Parágrafo único. Do dinheiro apurado será
do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação recolhido ao Tesouro Nacional o que não couber ao
para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa lesado ou a terceiro de boa-fé.
questão seja de difícil solução e não verse sobre direito Art. 123. Fora dos casos previstos nos artigos
cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do anteriores, se dentro no prazo de 90 dias, a contar da
processo, após a inquirição das testemunhas e data em que transitar em julgado a sentença final,
realização das outras provas de natureza urgente. condenatória ou absolutória, os objetos apreendidos não
o
§ 1 O juiz marcará o prazo da suspensão, que forem reclamados ou não pertencerem ao réu, serão
poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não vendidos em leilão, depositando-se o saldo à disposição
for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz do juízo de ausentes.
cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará Art. 124. Os instrumentos do crime, cuja perda em
prosseguir o processo, retomando sua competência favor da União for decretada, e as coisas confiscadas,
para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da de acordo com o disposto no art. 100 do Código Penal,
acusação ou da defesa. serão inutilizados ou recolhidos a museu criminal, se
o
§ 2 Do despacho que denegar a suspensão não houver interesse na sua conservação.
caberá recurso. CAPÍTULO VI
o DAS MEDIDAS ASSECURATÓRIAS
§ 3 Suspenso o processo, e tratando-se de crime
de ação pública, incumbirá ao Ministério Público intervir Art. 125. Caberá o sequestro dos bens imóveis,
imediatamente na causa cível, para o fim de promover- adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração,
lhe o rápido andamento. ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.
Art. 94. A suspensão do curso da ação penal, nos Art. 126. Para a decretação do sequestro, bastará
casos dos artigos anteriores, será decretada pelo juiz, a existência de indícios veementes da proveniência
de ofício ou a requerimento das partes. ilícita dos bens.
CAPÍTULO V Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do
DA RESTITUIÇÃO DAS COISAS APREENDIDAS Ministério Público ou do ofendido, ou mediante
Art. 118. Antes de transitar em julgado a sentença representação da autoridade policial, poderá ordenar o
final, as coisas apreendidas não poderão ser restituídas sequestro, em qualquer fase do processo ou ainda
enquanto interessarem ao processo. antes de oferecida a denúncia ou queixa.
Art. 119. As coisas a que se referem os arts. 74 e Art. 128. Realizado o sequestro, o juiz ordenará a
100 do Código Penal não poderão ser restituídas, sua inscrição no Registro de Imóveis.
mesmo depois de transitar em julgado a sentença final, Art. 129. O sequestro autuar-se-á em apartado e
salvo se pertencerem ao lesado ou a terceiro de boa-fé. admitirá embargos de terceiro.
Art. 120. A restituição, quando cabível, poderá ser Art. 130. O sequestro poderá ainda ser
ordenada pela autoridade policial ou juiz, mediante embargado:
termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao I - pelo acusado, sob o fundamento de não terem
direito do reclamante. os bens sido adquiridos com os proventos da infração;
o
§ 1 Se duvidoso esse direito, o pedido de II - pelo terceiro, a quem houverem os bens sido
restituição autuar-se-á em apartado, assinando-se ao transferidos a título oneroso, sob o fundamento de tê-los
requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a prova. Em adquirido de boa-fé.
tal caso, só o juiz criminal poderá decidir o incidente. Parágrafo único. Não poderá ser pronunciada
o
§ 2 O incidente autuar-se-á também em apartado decisão nesses embargos antes de passar em julgado a
e só a autoridade judicial o resolverá, se as coisas forem sentença condenatória.
apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, que será Art. 131. O sequestro será levantado:
intimado para alegar e provar o seu direito, em prazo I - se a ação penal não for intentada no prazo de
igual e sucessivo ao do reclamante, tendo um e outro sessenta dias, contado da data em que ficar concluída a
dois dias para arrazoar. diligência;
o
§ 3 Sobre o pedido de restituição será sempre II - se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos
ouvido o Ministério Público. os bens, prestar caução que assegure a aplicação do
o
§ 4 Em caso de dúvida sobre quem seja o disposto no art. 74, II, b, segunda parte, do Código
verdadeiro dono, o juiz remeterá as partes para o juízo Penal;
cível, ordenando o depósito das coisas em mãos de
58 DIREITO PROCESSUAL PENAL
III - se for julgada extinta a punibilidade ou Art. 138. O processo de especialização da
absolvido o réu, por sentença transitada em julgado. hipoteca e do arresto correrão em auto apartado.
Art. 132. Proceder-se-á ao sequestro dos bens (Redação dada pela Lei nº 11.435, de 2006).
móveis se, verificadas as condições previstas no Art. 139. O depósito e a administração dos bens
art. 126, não for cabível a medida regulada no Capítulo arrestados ficarão sujeitos ao regime do processo civil.
Xl do Título Vll deste Livro. (Redação dada pela Lei nº 11.435, de 2006).
Art. 133. Transitada em julgado a sentença Art. 140. As garantias do ressarcimento do dano
condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do alcançarão também as despesas processuais e as
interessado, determinará a avaliação e a venda dos penas pecuniárias, tendo preferência sobre estas a
bens em leilão público. reparação do dano ao ofendido.
Parágrafo único. Do dinheiro apurado, será Art. 141. O arresto será levantado ou cancelada a
recolhido ao Tesouro Nacional o que não couber ao hipoteca, se, por sentença irrecorrível, o réu for
lesado ou a terceiro de boa-fé. absolvido ou julgada extinta a punibilidade. (Redação
Art. 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do dada pela Lei nº 11.435, de 2006).
indiciado poderá ser requerida pelo ofendido em Art. 142. Caberá ao Ministério Público promover
qualquer fase do processo, desde que haja certeza da as medidas estabelecidas nos arts. 134 e 137, se
infração e indícios suficientes da autoria. houver interesse da Fazenda Pública, ou se o ofendido
Art. 135. Pedida a especialização mediante for pobre e o requerer.
requerimento, em que a parte estimará o valor da Art. 143. Passando em julgado a sentença
responsabilidade civil, e designará e estimará o imóvel condenatória, serão os autos de hipoteca ou arresto
ou imóveis que terão de ficar especialmente remetidos ao juiz do cível (art. 63). (Redação dada pela
hipotecados, o juiz mandará logo proceder ao Lei nº 11.435, de 2006).
arbitramento do valor da responsabilidade e à avaliação Art. 144. Os interessados ou, nos casos do
do imóvel ou imóveis. art. 142, o Ministério Público poderão requerer no juízo
o
§ 1 A petição será instruída com as provas ou cível, contra o responsável civil, as medidas previstas
indicação das provas em que se fundar a estimação da nos arts. 134, 136 e 137.
responsabilidade, com a relação dos imóveis que o Art. 144-A. O juiz determinará a alienação
responsável possuir, se outros tiver, além dos indicados antecipada para preservação do valor dos bens sempre
no requerimento, e com os documentos comprobatórios que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração
do domínio. ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua
o
§ 2 O arbitramento do valor da responsabilidade e manutenção. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
a avaliação dos imóveis designados far-se-ão por perito o
§ 1 O leilão far-se-á preferencialmente por meio
nomeado pelo juiz, onde não houver avaliador judicial, eletrônico. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
sendo-lhe facultada a consulta dos autos do processo o
respectivo. § 2 Os bens deverão ser vendidos pelo valor
o fixado na avaliação judicial ou por valor maior. Não
§ 3 O juiz, ouvidas as partes no prazo de dois
alcançado o valor estipulado pela administração judicial,
dias, que correrá em cartório, poderá corrigir o
será realizado novo leilão, em até 10 (dez) dias
arbitramento do valor da responsabilidade, se Ihe
contados da realização do primeiro, podendo os bens
parecer excessivo ou deficiente.
o ser alienados por valor não inferior a 80% (oitenta por
§ 4 O juiz autorizará somente a inscrição da cento) do estipulado na avaliação judicial. (Incluído pela
hipoteca do imóvel ou imóveis necessários à garantia da Lei nº 12.694, de 2012)
responsabilidade. o
o § 3 O produto da alienação ficará depositado em
§ 5 O valor da responsabilidade será liquidado
conta vinculada ao juízo até a decisão final do processo,
definitivamente após a condenação, podendo ser
procedendo-se à sua conversão em renda para a União,
requerido novo arbitramento se qualquer das partes não
Estado ou Distrito Federal, no caso de condenação, ou,
se conformar com o arbitramento anterior à sentença
no caso de absolvição, à sua devolução ao
condenatória.
o acusado. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
§ 6 Se o réu oferecer caução suficiente, em o
dinheiro ou em títulos de dívida pública, pelo valor de § 4 Quando a indisponibilidade recair sobre
sua cotação em Bolsa, o juiz poderá deixar de mandar dinheiro, inclusive moeda estrangeira, títulos, valores
proceder à inscrição da hipoteca legal. mobiliários ou cheques emitidos como ordem de
Art. 136. O arresto do imóvel poderá ser pagamento, o juízo determinará a conversão do
decretado de início, revogando-se, porém, se no prazo numerário apreendido em moeda nacional corrente e o
de 15 (quinze) dias não for promovido o processo de depósito das correspondentes quantias em conta
inscrição da hipoteca legal. (Redação dada pela Lei nº judicial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
o
11.435, de 2006). § 5 No caso da alienação de veículos,
Art. 137. Se o responsável não possuir bens embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à
imóveis ou os possuir de valor insuficiente, poderão ser autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de
arrestados bens móveis suscetíveis de penhora, nos registro e controle a expedição de certificado de registro
termos em que é facultada a hipoteca legal dos imóveis. e licenciamento em favor do arrematante, ficando este
(Redação dada pela Lei nº 11.435, de 2006). livre do pagamento de multas, encargos e tributos
o
§ 1 Se esses bens forem coisas fungíveis e anteriores, sem prejuízo de execução fiscal em relação
facilmente deterioráveis, proceder-se-á na forma do § 5
o ao antigo proprietário. (Incluído pela Lei nº 12.694, de
do art. 120. 2012)
o
o
§ 2 Das rendas dos bens móveis poderão ser § 6 O valor dos títulos da dívida pública, das
fornecidos recursos arbitrados pelo juiz, para a ações das sociedades e dos títulos de crédito
manutenção do indiciado e de sua família. negociáveis em bolsa será o da cotação oficial do dia,
DIREITO PROCESSUAL PENAL 59
16
provada por certidão ou publicação no órgão processo de modo permanente ou acidental, no
oficial. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) exercício de uma profissão ou em defesa de um
o interesse.
§ 7 (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.694, de
2012) Os sujeitos processuais podem ser considerados
principal (ou essencial) e secundário (ou colaterais ou
CAPÍTULO VIII assessórios).
DA INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO Sujeitos Principais
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a Os sujeitos principais ou essenciais do processo
integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício são o Juiz e as partes, quais sejam, autor (Ministério
ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do Público/acusação) e Réu (acusado/defesa).
curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge
do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.
o
§ 1 O exame poderá ser ordenado ainda na fase Sujeitos Secundários
do inquérito, mediante representação da autoridade Os sujeitos secundários (acessórios ou
policial ao juiz competente. colaterais) são as pessoas que têm direitos perante o
o
§ 2 O juiz nomeará curador ao acusado, quando processo, podendo existir ou não, sem afetar a relação
determinar o exame, ficando suspenso o processo, se já processual, citando como exemplos, o ofendido, que
iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que pode ser assistente de acusação, o fiador do réu, etc.
possam ser prejudicadas pelo adiamento.
Art. 150. Para o efeito do exame, o acusado, se Terceiros
estiver preso, será internado em manicômio judiciário,
Terceiros são os sujeitos que não têm direitos
onde houver, ou, se estiver solto, e o requererem os
processuais, e que apenas colaboram com o processo,
peritos, em estabelecimento adequado que o juiz
podendo ser eles, interessados (ex. o Ministério da
designar.
o Justiça nos crimes de ação pública condicionada à
§ 1 O exame não durará mais de quarenta e cinco sua requisição) e os não interessados (ex. as
dias, salvo se os peritos demonstrarem a necessidade testemunhas, os peritos, os intérpretes, os tradutores,
de maior prazo. os auxiliares de justiça).
o
§ 2 Se não houver prejuízo para a marcha do
processo, o juiz poderá autorizar sejam os autos
entregues aos peritos, para facilitar o exame. PARTES
Art. 151. Se os peritos concluírem que o acusado Partes em sentido material, quanto à infração
era, ao tempo da infração, irresponsável nos termos do penal em si, são o autor do crime e a vítima. Em sentido
art. 22 do Código Penal, o processo prosseguirá, com a formal, ou seja, no processo penal, parte é aquele
presença do curador. sujeito processual que deduz ou contra o qual é
Art. 152. Se se verificar que a doença mental deduzida uma relação de direito material-penal,
sobreveio à infração o processo continuará suspenso portanto, autor e réu.
o
até que o acusado se restabeleça, observado o § 2 do Para haver a aptidão de ser parte exige-se:
art. 149. a) Capacidade processual, qual seja, a
o
§ 1 O juiz poderá, nesse caso, ordenar a capacidade de ser parte que o indivíduo tem
internação do acusado em manicômio judiciário ou em por ser titular de direitos e obrigações.
outro estabelecimento adequado. b) Legitimação para a causa, ativa ou passiva,
o
§ 2 O processo retomará o seu curso, desde que que reflete o vínculo das pessoas com o
se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a litígio, ou seja, a pessoa tem que ter interesse
faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem na lide. A legitimação para a causa ativa é a
prestado depoimento sem a sua presença. titularidade do direito de ação: o Ministério
Art. 153. O incidente da insanidade mental Público. A parte passiva é a pessoa que
processar-se-á em auto apartado, que só depois da transgrediu, ou se presume que transgrediu,
apresentação do laudo, será apenso ao processo a ordem do direito com a prática da infração
principal. penal: o réu.
Art. 154. Se a insanidade mental sobrevier no c) Capacidade postulatória, que é a capacidade
curso da execução da pena, observar-se-á o disposto de requerer, representar ou postular em
no art. 682. juízo: Ministério Público e o advogado.
15 16
Sujeito propriamente dito, é aquele que participa do Processo – relação jurídica estabelecida entre as partes e
processo penal sem efetivar qualquer tipo de postulação, juiz, por isso mesmo, é uma relação pública angular, isto
qual seja, o juiz. é, sempre no topo estará o juiz.
60 DIREITO PROCESSUAL PENAL
Administrativo ou de Polícia: manutenção da b) se ele, seu cônjuge, ascendente ou
ordem no decorrer do processo. descendente, estiver respondendo a
Instrutório: o juiz pode requisitar a produção de processo por fato análogo, cujo caráter
provas para esclarecer algum ponto da controvérsia. criminoso haja controvérsia;
Anômalo: o juiz atua como um auxiliar da c) se ele, seu cônjuge ou parente consanguíneo,
acusação (parcial). ou afim até o terceiro grau, sustentar
demanda ou responder a processo que tenha
de ser julgado por qualquer das partes;
Funções não jurisdicionais
d) se tiver aconselhado qualquer das partes;
Funções não jurisdicionais (anômalas) exercidas
e) se for credor ou devedor, tutor ou curador de
pelo juiz:
qualquer das partes;
a) quando requisita o inquérito policial;
f) se for sócio, acionista ou administrador de
b) quando concorda com uma decisão de sociedade interessada no processo.
arquivamento do inquérito policial;
c) quando ele leva a notitia criminis;
Capacidade para ser juiz do processo
d) quando preside o ato de prisão em flagrante.
Para ser juiz de um processo, deve ter
capacidade funcional, especial e objetiva:
Prerrogativas a) capacidade funcional: capacidade para o
O juiz possui algumas garantias (prerrogativas) exercício das funções judicantes;
constitucionais tais como, a vitaliciedade, a b) capacidade especial (não deve ser suspeito ou
inamovibilidade e a irredutibilidade dos vencimentos. estar impedido), sob pena de praticar atos
No que se refere a vitaliciedade (adquirida após nulos;
2 anos de exercício da função), a mesma somente c) capacidade objetiva: competência para o
poderá ser perdida em virtude de sentença judicial. processo.
A prerrogativa da inamovibilidade garante ao juiz Resguardar os direitos e garantias do cidadão
a estabilidade no local onde ele exerce sua função. (réu, em especial), daí, não poder participar da
Neste sentido, o juiz está livre de eventuais produção de provas, apenas na função supletiva
transferências exigidas pelo Executivo, salvo em
CPP:
situações de interesse público onde deverá constar o
voto de 2/3 dos membros do Tribunal. Trata-se da Art. 155. O juiz formará sua convicção pela
denominada remoção compulsória, penalidade livre apreciação da prova produzida em
administrativa aplicada ao magistrado que, contraditório judicial, não podendo fundamentar
comprovadamente, através do devido processo sua decisão exclusivamente nos elementos
administrativo, haja cometido falta funcional. informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis
Finalmente, quanto a irredutibilidade dos
e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº
vencimentos, a Constituição Federal assegura que os
11.690, de 2008)
vencimentos dos juízes são irredutíveis.
O juiz deve ser sempre imparcial, e, desta forma,
não poderá exercer jurisdição no processo em que: Pressupostos processuais do juiz
a) houver funcionado seu cônjuge ou parente, Investidura: a pessoa deve estar legalmente
consanguíneo ou afim, em linha reta ou empossada no cargo de juiz.
colateral até o terceiro grau, inclusive, como Competência: o juiz deve ter a atribuição legal
defensor ou advogado, órgão do Ministério de julgar o caso.
Público, autoridade policial, auxiliar da justiça Imparcialidade: o interesse do juiz deve ser a
ou perito; descoberta da verdade dos fatos, sem dar preferência à
b) ele próprio houver desempenhado qualquer acusação ou à defesa.
dessas funções ou servido como testemunha;
c) tiver funcionado como juiz de outra instância, Jurisdição
pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre
Quando se fala em jurisdição (a soberania do
a questão;
Estado-juiz de trazer para si a resolução dos conflitos),
d) ele próprio ou seu cônjuge ou parente, há que se ter em mente conceitos como: investidura,
consanguíneo ou afim em linha reta ou capacidade e imparcialidade.
colateral até o terceiro grau, inclusive, for
Capacidade se presume a partir do concurso
parte ou diretamente interessado no feito.
público. Imparcialidade diz respeito tratar com igualdade
Esses impedimentos, em regra, têm caráter as proposições das partes, art 252, CPP. Ato processual
objetivo e geram a nulidade absoluta do processo. Já as praticado por juiz incompetente, torna-se inexistente.
suspeições terão também, em regra, caráter subjetivo, Vício mais grave que a nulidade. No impedimento o
gerando nulidades relativas, ou seja, se não arguidas vício é da causa.
pelas partes interessadas, não impedirão que o juiz
Há que se ressaltar que se exige a prova da
continue instruindo o processo.
parcialidade do juiz. (exemplo: suborno ao juiz), artigos
Será considerado suspeito o juiz, e, com isso, 112 e 564 do CPP.
poderá ser recusado por qualquer das partes:
a) se for amigo íntimo ou inimigo capital de
qualquer das partes;
DIREITO PROCESSUAL PENAL 61
Identidade física do juiz As causas de suspeição se referem ao ânimo
O juiz que instrui o processo deverá ser o mesmo subjetivo do juiz quanto às partes. Em regra, têm caráter
a julgar o feito. Consagra o princípio da imediatidade, subjetivo e geram nulidade relativa. São denunciáveis
facilita, portanto, a busca da verdade real, art. 502, tanto por objeção (nos autos, sem forma especial) como
parágrafo único. por exceção (em petição autuada em separado).
A Lei 11.719/08 alterou os artigos 399 do CPP, Conforme o art. 254 do Código de Processo
acrescentando o parágrafo 2º, que diz: ―o juiz que Penal, o juiz deverá dar-se por suspeito, e, se não o
presidir a instrução deverá proferir a sentença.‖ fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
> se for amigo íntimo ou inimigo capital de
qualquer deles;
Regularidade do processo: Princípio do impulso
oficial > se ele, seu cônjuge, ascendente ou
descendente, estiver respondendo a
O juiz no processo penal, deve, a todo momento,
processo por fato análogo, sobre cujo caráter
manter a regularidade do processo. O processo deve
criminoso haja controvérsia;
ser isento de vícios e nulidades. O juiz deve a todo
tempo dar andamento regular ao processo, > se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo,
promovendo-o naturalmente, por isso, que em processo ou afim, até o terceiro grau, inclusive,
penal, não existe abandono da causa, como no caso da sustentar demanda ou responder a processo
perempção no Processo Civil, que ensejará julgamento que tenha de ser julgado por qualquer das
sem resolução do mérito. partes;
> se tiver aconselhado qualquer das partes;
Impedimento e suspeição > se for credor ou devedor, tutor ou curador, de
qualquer das partes;
O juiz, se for o caso, deve dar-se por suspeito ou
impedido, declarando o motivo e remetendo o processo > se for sócio, acionista ou administrador de
ao seu substituto. Se a abstenção se der por motivo sociedade interessada no processo.
íntimo, este não constará dos autos, sendo apenas
comunicado aos órgãos superiores (em analogia com o Suspeição provocada
art. 135, parágrafo único do Código de Processo Civil).
A suspeição não poderá ser declarada nem
Pelas partes, o impedimento do juiz pode ser
reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de
denunciado por objeção, sem forma especial. E a
propósito der motivo para criá-la (CPP, art. 256).
suspeição pode ser denunciada tanto por objeção como
por exceção, esta última, autuada e decidida em O impedimento ou suspeição decorrente de
separado (arts. 98 a 100). parentesco por afinidade cessará pela dissolução
do casamento que lhe tiver dado causa, salvo
ATENÇÃO: Conforme o Código de Processo Penal, os sobrevindo descendentes; mas, ainda que
impedimentos e suspeições aplicam-se também aos dissolvido o casamento sem descendentes, não
jurados (arts. 106 e 462), ao representante do Ministério funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o
Público (arts. 104, 112 e 258), bem como aos peritos, cunhado, o genro ou enteado de quem for parte
intérpretes e funcionários da Justiça (arts. 105 e 112). no processo (CPP, art. 255).
Não se pode opor suspeição à autoridade policial (art.
107).
2. MINISTÉRIO PÚBLICO - Arts. 257 e 258
Conceito
Impedimentos - Arts. 252 e 253
De acordo com a Constituição Federal, em seu
As causas de impedimento se referem a vínculos art. 127, "o Ministério Público é instituição permanente,
objetivos do juiz com o processo, independentemente essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
de seu ânimo subjetivo. Em regra, têm caráter objetivo e lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
geram nulidade absoluta. Em geral, são denunciáveis dos interesses sociais e individuais indisponíveis".
por objeção, sem forma especial. Os casos estão
previstos no artigo 252 do Código de Processo Penal, O Ministério Público, desta maneira, é um órgão
que veda o juiz exercer jurisdição no processo em que: constitucional, que tem a função de promover e
fiscalizar a execução da lei.
> tiver funcionado seu cônjuge ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou Os órgãos do Ministério Público não funcionarão
colateral até o terceiro grau, inclusive, como nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for
defensor ou advogado, órgão do Ministério seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha
Público, autoridade policial, auxiliar da justiça reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles
ou perito; se estendem, no que lhes for aplicável, as prescrições
relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.
> ele próprio houver desempenhado qualquer
dessas funções ou servido como testemunha; Aos membros do Ministério Público, assim como
aos magistrados, são atribuídas garantias que lhes
> tiver funcionado como juiz de outra instância, asseguram autonomia no exercício de suas atribuições,
pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a tais como a vitaliciedade, inamovibilidade e
questão; irredutibilidade dos vencimentos.
> ele próprio ou seu cônjuge ou parente,
consanguíneo ou afim em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte Divisão do MP
ou diretamente interessado no feito. O MP divide-se em Estadual e da União, que, por
sua vez, se divide em Federal, Militar, do Trabalho e do
Distrito Federal e Territórios.
Suspeição - Arts. 254 e 255
62 DIREITO PROCESSUAL PENAL
ou da execução da sentença, se for descoberta a sua
Funções - Art. 257 qualificação, far-se-á a retificação por termo nos autos,
sem prejuízo da validade dos atos precedentes.
- promover, privativamente, a ação penal pública,
na forma estabelecida e (Incluído pela Lei nº 11.719, de Se o acusado não atender à intimação para o
2008). interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato
que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade
- fiscalizar a execução da lei (Incluído pela Lei nº
poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
11.719, de 2008).
Ao acusado, por ser este considerado a parte
mais fraca da relação jurídica, são asseguradas
Princípios algumas garantias constitucionais, dentre as quais
Unidade: De onde se entende a capacidade dos pode-se citar: o preso será informado de seus direitos,
membros do Ministério Público de constituírem um só entre os quais de permanecer calado, sendo-lhe
corpo, uma só vontade, de tal forma que a manifestação assegurada a assistência da família e de advogado; às
de qualquer deles valerá sempre, na oportunidade, presidiárias serão asseguradas condições para que
como manifestação de todo o órgão; possam permanecer com seus filhos durante o período
Indivisibilidade: Que se caracteriza na medida de amamentação; é assegurado ao preso, também, o
em que os membros da instituição podem substituir-se respeito à sua integridade física e moral.
reciprocamente sem que haja prejuízo para o exercício DICAS DE CONCURSOS:
do ministério comum;
O acusado, embora preso, tem o direito de
Independência funcional: no exercício de suas comparecer, de assistir e de presenciar, sob pena de
atividades, o membro do MP é absolutamente livre para nulidade absoluta, os atos processuais, notadamente
agir como quiser. Em questões administrativas, porém, aqueles que se produzem na fase de instrução do
existe hierarquia dentro do mesmo MP. processo penal, que se realiza, sempre, sob a égide do
Autonomia funcional e administrativa: cada contraditório. (OAB/CESPE/2007)
MP tem orçamento próprio e liberdade para gerir esse A apresentação espontânea do acusado à
orçamento da maneira que achar melhor. autoridade não impede a decretação da prisão
preventiva nos casos em que a lei a autoriza.
Suspeição e impedimentos (Anal.Jud.TRE-MA/CESPE/2010).
Os órgãos do Ministério Público não funcionarão Se o acusado, citado por edital, não comparecer,
nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo
seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim, em e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a determinar a produção antecipada das provas
eles se estendem, no que lhes for aplicável, as consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos preventiva. (Anal.Jud.TRE-MA/CESPE/2010).
dos juízes (CPP, art. 258).
ENTENDIMENTO DO CESPE: Identidade do acusado
Considera-se impedido o juiz cujo cônjuge ou Dispõe o Art. 259 que: “A impossibilidade de
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, tenha funcionado outros qualificativos não retardará a ação penal, quando
como defensor ou advogado, órgão do Ministério certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do
Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito. processo, do julgamento ou da execução da sentença,
(OAB 137º-SP/CESPE/2009) se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a
retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da
validade dos atos precedentes.”
3. DO ACUSADO E DEFENSOR - Arts. 259 a 267
3.1 ACUSADO
Condução coercitiva - art. 260
Acusado é a pessoa contra quem é interposta a
ação penal. É a parte passiva da relação processual. Se o acusado não comparecer ao interrogatório
será considerado revel (art. 366), mas o juiz poderá
O acusado é a pessoa contra quem é interposta a determinar a condução coercitiva, se necessário.
ação penal, é a parte passiva da relação processual.
Os menores de 18 anos não têm legitimidade
passiva, visto que são considerados inimputáveis, Garantia do acusado
ficando sujeitos apenas ao Estatuto da Criança e do A Constituição Federal prevê uma série de
Adolescente, que é uma legislação especial. Já os garantias ao acusado no processo penal, entre as quais:
inimputáveis portadores de doenças mentais, - Devido processo legal (art.5º, inciso LIV, da
desenvolvimento mental incompleto ou retardado Constituição Federal).
possuem legitimidade passiva, pois a eles pode ser - Contraditório e ampla defesa, com os meios e
aplicada medida de segurança. recursos a ela inerentes (artigo 5.º, inciso LV,
Pessoas que gozam de imunidade parlamentar da Constituição Federal). A ampla defesa
ou diplomáticas também não podem ser acusadas no compreende a defesa técnica, exercida por
processo penal por falta de legitimação passiva ad profissional habilitado, e a autodefesa,
causam. manifestada no interrogatório, no direito de
A impossibilidade de identificação do acusado audiência com o juiz, possibilidade de interpor
com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não recurso etc. Observação: o acusado poderá,
retardará a ação penal, quando certa a identidade física. sem o defensor: impetrar habeas corpus,
A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento interpor recurso (salvo algumas exceções),
DIREITO PROCESSUAL PENAL 63
promover revisão criminal, pagar fiança LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local
arbitrada pelo juiz e arguir suspeição. onde se encontre serão comunicados
- Direito de estar em juízo, devendo para tanto imediatamente ao juiz competente e à família
ser regularmente citado. Sendo citado, o do preso ou à pessoa por ele indicada;
acusado poderá ou não comparecer em juízo, LXIII - o preso será informado de seus
conforme sua conveniência. Poderá até direitos, entre os quais o de permanecer
utilizar sua ausência como meio de defesa. calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
Há casos, entretanto, em que a presença do família e de advogado;
acusado é obrigatória, como nos crimes LXIV - o preso tem direito à identificação dos
inafiançáveis da competência do Tribunal do responsáveis por sua prisão ou por seu
Júri, cujo julgamento não se realiza à revelia interrogatório policial;
(artigo 451, § 1.º, do Código de Processo
LXV - a prisão ilegal será imediatamente
Penal). Há também outros atos que reclamam
relaxada pela autoridade judiciária;
a presença do acusado. ―Se o acusado não
atender à intimação para o interrogatório, LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela
reconhecimento ou qualquer outro ato que mantido, quando a lei admitir a liberdade
sem ele não possa ser realizado, a provisória, com ou sem fiança;
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua LXXIV - o Estado prestará assistência
presença‖ (artigo 260 do Código de Processo jurídica integral e gratuita aos que
Penal). Quanto ao interrogatório vale a comprovarem insuficiência de recursos;
seguinte observação: o réu pode calar-se LXXV - o Estado indenizará o condenado por
quanto aos fatos, mas deve comparecer para erro judiciário, assim como o que ficar preso
ser qualificado. além do tempo fixado na sentença;
- Direito à defesa técnica. ―O preso será Além desses, outros dispositivos da Constituição
informado de seus direitos, entre os quais o Federal dispõem sobre direitos individuais (artigo 5.º, §
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada 2.º, da Constituição Federal).
a assistência da família e de advogado‖
JURISPRUDÊNCIA:
(artigo 5.º, inciso LXIII, da Constituição
Federal). ―Nenhum acusado, ainda que STF Súmula do STF nº 523 - No processo
ausente ou foragido, será processado ou penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas
julgado sem defensor‖ (artigo 261 do Código a sua deficiência só o anulará se houver prova de
de Processo Penal). Se o réu não tiver prejuízo para o réu.
advogado constituído, o juiz deverá nomear STF Súmula do STF nº 708 - É nulo o
um. A ausência de defesa técnica gera julgamento da apelação se, após a manifestação nos
nulidade absoluta. A defesa deficiente poderá autos da renúncia do único defensor, o réu não foi
gerar nulidade, se houver demonstração de previamente intimado para constituir outro.
prejuízo para o réu.
- Direito de permanecer em silêncio. Curador - art. 262
- Direito à integridade física e moral. Ao acusado menor de 21 anos deve ser
A Constituição Federal no art. 5º assegura ainda nomeado curador.
ao acusado:
ATENÇÃO!
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral; Tem-se entendido que artigo 262 do CPP está
tacitamente revogado em decorrência do Código Civil de
L - às presidiárias serão asseguradas 2002 que reduziu a maioridade civil de 21 anos para 18
condições para que possam permanecer com anos de idade.
seus filhos durante o período de amamentação;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou
de seus bens sem o devido processo legal; STF Súmula do STF nº 352:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou Não é nulo o processo penal por falta de
administrativo, e aos acusados em geral são nomeação de curador ao réu menor que teve a
assegurados o contraditório e ampla defesa, assistência de defensor dativo.
com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as 3.2 DEFENSOR - Art. 263 e 264
provas obtidas por meios ilícitos;
Inicialmente cumpre esclarecer que o Defensor
LVII - ninguém será considerado culpado até não se encaixa como sujeito processual, mas sim um
o trânsito em julgado de sentença penal representante do acusado que age em nome e no
condenatória; interesse desde.
LVIII - o civilmente identificado não será Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado
submetido a identificação criminal, salvo nas defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo
hipóteses previstas em lei; tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo
LXI - ninguém será preso senão em flagrante defender-se, caso tenha habilitação.
delito ou por ordem escrita e fundamentada de Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido,
autoridade judiciária competente, salvo nos será processado ou julgado sem defensor, sendo que
casos de transgressão militar ou crime ao acusado menor será nomeado um curador.
propriamente militar, definidos em lei;
Duas são as espécies de defensor: o
constituído e o dativo.
64 DIREITO PROCESSUAL PENAL
O defensor constituído é o escolhido pelo a) propor meios de prova, entre eles, arrolar
acusado, por este confiar naquele. O defensor também testemunhas, se junto com o oferecimento da
é denominado de procurador. denúncia;
Já o defensor dativo é aquele nomeado pelo b) realizar perguntas à testemunhas, sempre
juiz, se o acusado não tiver um advogado de sua posteriores às do MP e da defesa;
confiança. Nada impede, porém, que o acusado, a c) editar, por analogia, o libelo em 48 hs.
qualquer tempo, nomeie outro de sua confiança, ou
d) oferecer alegações finais após o MP;
defender-se a si mesmo, caso tenha habilitação.
Somente o acusado sem condições financeiras ficará e) participar dos debates orais;
isento do pagamento dos honorários advocatícios de f) fazer seus recursos e os interpostos pelo MP.
seu advogado dativo. STF Súmula do STF nº 208:
JURISRPUDÊNCIA: O Defensora dativa não tem o O assistente do Ministério Público não pode
dever de recorrer, mas se o acusado interpor recurso, recorrer, extraordinariamente, de decisão concessiva de
aquele terá a obrigação de arrazoar o recurso (TR habeas-corpus.
605/426/382). STF Súmula do STF nº 210:
O defensor não poderá abandonar o processo O assistente do Ministério Público pode recorrer,
senão por motivo imperioso, a critério do juiz. A falta de inclusive extraordinariamente, na ação penal, nos casos
comparecimento do defensor, ainda que motivada, não dos arts. 584, parágrafo 1º e 598 do Código de
determinará o adiamento de ato algum do processo, Processo Penal.
devendo o juiz nomear substituto, ainda que STF Súmula do STF nº 448:
provisoriamente ou para o só efeito do ato. Este
defensor é denominado de defensor ad hoc. Porém, O prazo para o assistente recorrer,
nada impede que, neste caso, o juiz valendo-se de sua supletivamente, começa a correr imediatamente após o
discricionariedade adie a realização da audiência. transcurso do prazo do Ministério Público. (Revisão
Preliminar pelo HC 50417-RTJ 68/604)
Os parentes do juiz não poderão atuar como
defensores.
DICA DE CONURSO:
Abandono do defensor - art. 265 A vítima pode intervir no processo penal por
Art. 265. O defensor não poderá abandonar o intermédio de advogado, como assistente da acusação,
processo senão por motivo imperioso, depois de iniciada a ação penal e enquanto não
comunicado previamente o juiz, sob pena de transitada em julgado a decisão final.
multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários (OAB/CESPE/2008)
mínimos, sem prejuízo das demais sanções
cabíveis. Impedimento do co-réu
o
§ 1 A audiência poderá ser adiada se, por Art. 270 - O co-réu no mesmo processo não
motivo justificado, o defensor não puder poderá intervir como assistente do Ministério
comparecer. Público.
o
§ 2 Incumbe ao defensor provar o
impedimento até a abertura da audiência. Não
Atuação
o fazendo, o juiz não determinará o adiamento
de ato algum do processo, devendo nomear O assistente pode secundar o Ministério Público
defensor substituto, ainda que provisoriamente em praticamente tudo, pode propor meios de prova,
ou só para o efeito do ato. requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os
articulados, participar do debate oral e arrazoar os
recursos interpostos pelo Ministério Público.
4. ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO - Arts. 268 a 273
Na ação penal pública, onde o titular do direito de
Audiência do ministério público
ação é o Ministério Público, é possível ao ofendido ou
seu representante legal intervir em todos os termos do O Ministério Público será ouvido previamente
processo, a sua falta, qualquer das pessoas elencadas sobre a admissão do assistente.
no artigo 31 do CPP.
Trata-se, no caso, da figura do assistente de Irrecorribilidade do despacho negatório - art. 273
acusação. É irrecorrível o despacho que indefere a
É a posição ocupada pelo ofendido, quando atua assistência, porém, no caso de indeferimento, existe a
ao lado do MP, sendo parte secundária, haja vista tratar- possibilidade de ser impetrado mandado de segurança.
se de Ação Pública Incondicionada.
A figura do assistente só admissível após o 5. FUNCIONÁRIOS DA JUSTIÇA - Art. 274
recebimento da denúncia e antes do trânsito em julgado 5.1 Introdução
da sentença, sendo o processo recebido no estado em
que se encontrar. Para compor a lide, inúmeros atos devem ser
realizados: citação do réu, notificação das testemunhas,
O ofendido pode habilitar-se como assistente do
tomada de depoimentos e declarações, etc. E, se o juiz
Ministério Público, através de advogado, para reforçar a
não tivesse quem o auxiliasse nessa tarefa ingente,
acusação e acautelar a reparação civil.
seria quase impossível a realização da Justiça. Assim, é
O Art. 271 estabelece um rol taxativo dos notável o auxílio que prestam certas pessoas,
poderes do assistente: propiciando uma justiça mais rápida. São elas
denominadas, genericamente, ―auxiliares da Justiça‖.
DIREITO PROCESSUAL PENAL 65
O Código de Processo Penal, ao contrário do escrivães. No DF, são os analistas judiciários titulares
Código de Processo Civil, não menciona quais são os dos Cartórios de Distribuição.
funcionários da justiça, limitando-se a tratar apenas dos
casos de suspeição. f) Contador
Todos são considerados terceiros, não fazem É o servidor incumbido de proceder aos cálculos
requerimentos, mas atuam no processo auxiliando. aritméticos, por determinação do juiz. Assim, quando
transita em julgado uma sentença penal condenatória,
5.2 Categorias: os autos são remetidos ao contador para proceder à
a) Serventuários da Justiça liquidação. É ele quem vai dizer quando expirará a
pena. Procede, também, às contas de custas,
São aqueles que ocupam cargo criado em lei,
liquidações, etc. No DF, é considerado analista
com denominação própria, podendo receber
judiciário.
vencimentos do Estado e emolumentos das partes, ou
receber apenas custas ou emolumentos. No DF, são
apenas os oficiais e escreventes dos Ofícios de Notas, g) Depositário Público
Protesto e Registro Público. As coisas apreendidas, os objetos dados em
fiança (art. 331), objetos sequestrados ou arrestados, às
b) Servidores da Justiça vezes, são entregues ao depositário público para que
deles tome conta.
São aqueles que ocupam cargos criados por lei,
com denominação própria, sendo, entretanto,
estipendiados somente pelos cofres públicos. Podem h) Peritos (art. 159, 275-278)
ser escrivães de cartórios oficializados ou secretários de É aquele que tem pleno conhecimento sobre
Tribunal. Designam-se também como funcionários da determinado assunto e fornece materiais, opiniões e
Justiça todos os servidores do Poder Judiciário, conceitos que podem guiar o juiz na formação de seu
categoria esta que não será objeto de nosso estudo. convencimento.
Os peritos exercem o múnus público de
c) Escrivão assessorar tecnicamente o juiz. Os exames de corpo de
delito e outras perícias deverão ser realizados por dois
Dos auxiliares do juízo, o mais importante, pelas
peritos oficiais, e somente na hipótese de não havê-los
relevantes funções que desempenha, é o escrivão. É ele
é que o juiz ou a autoridade policial determinará a
quem redige normalmente os atos e termos
realização da perícia por duas pessoas idôneas que
processuais; quem executa as ordens judiciais,
prestam compromisso de bem desempenhar o cargo, de
promovendo citações e intimações, autenticação das
preferência aquelas que tiverem habilitação técnica.
folhas dos autos, e tem sob sua guarda e
responsabilidade os processos, não permitindo que eles A ausência de diploma superior ou de
sejam retirados dos cartórios, a não ser nos casos compromisso de um dos peritos não oficiais só acarreta
previstos em lei. No DF, a atividade é exercida pelo nulidade do processo ou da perícia se essa
técnico ou pelo analista judiciário. circunstância houver influído na decisão da causa,
prejudicando uma das partes. Não há no processo penal
DICA DE CONCURSOS: a figura do perito particular ou do assistente técnico; o
Encontra-se impedida de funcionar como defensor não poderá intervir na perícia (STF). O perito
escrivão no processo pessoa que nele tenha sido ouvida responde penalmente por sua negligência (CP, art. 342),
como testemunha. (Anal.Jud.TJ-DF/CESPE/2003) o que não inclui o especialista contratado pela parte que
redige parecer técnico.
d) Oficial de Justiça As partes não intervirão na nomeação do perito.
Dentre outras atribuições que lhe são conferidas, O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito
destacam-se: à disciplina judiciária, e se uma vez nomeado recusar o
a) fazer pessoalmente as citações, prisões, encargo, incorrerá na pena de multa, do mesmo modo
sequestros, arrestos, buscas e apreensões e lhe será aplicada a pena se:
outras diligências próprias de seu ofício, a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado
certificando no mandado tudo o que tenha da autoridade;
ocorrido, mencionando dia, local e hora; b) não comparecer no dia e local designados
b) entregar em cartório os mandados logo depois para o exame;
de cumpridos, com a certidão por eles assinada c) não der o laudo, ou concorrer para que a
de que cumpriu ou não, esclarecendo, neste perícia não seja feita nos prazos
último caso, porque não o fez. No DF, a estabelecidos.
atividade é exercida por analista judiciário –
De acordo com o art. 279 do CPP, não poderão
especialidade execução de mandados que
ser peritos:
pode também: auxiliar o juiz na manutenção da
ordem nas audiências; funcionar como perito I - os que estiverem sujeitos à interdição de
na determinação de valores que não exijam direito mencionada nos ns.I e IV do art. 69
conhecimento técnico especializado; e realizar do Código Penal;
praças. II - os que tiverem prestado depoimento no
processo ou opinado anteriormente sobre o
e) Distribuidor objeto da perícia;
É ele o servidor incumbido de proceder à III - os analfabetos e os menores de 21 (vinte e
repartição dos processos, entrados em juízo, entre os um) anos.
66 DIREITO PROCESSUAL PENAL
Os peritos, assim como os juízes, também podem TÍTULO VIII
ser considerados suspeitos pelas partes, pelas mesmas DO JUIZ, DO MINISTÉRIO PÚBLICO, DO ACUSADO
razões que geram a suspeição dos juízes. E DEFENSOR,
STF Súmula do STF nº 361 DOS ASSISTENTES E AUXILIARES DA JUSTIÇA
No processo penal, é nulo o exame realizado por CAPÍTULO I
um só perito, considerando-se impedido o que tiver DO JUIZ
funcionando anteriormente na diligência de apreensão.
Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade
do processo e manter a ordem no curso dos respectivos
i) Intérpretes (art. 281, 192, 193 e 223) atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.
São auxiliares eventuais, nomeados pelo juiz Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no
para analisar documento redigido em língua estrangeira, processo em que:
para verter em português as declarações das partes e I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente,
das testemunhas que souberem o idioma e para consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o
traduzirem a linguagem mímica dos surdos-mudos que terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado,
não puderem se manifestar por escrito. Em sentido órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar
estrito, temos, no primeiro caso, intérprete, e, no da justiça ou perito;
segundo, tradutor. II - ele próprio houver desempenhado qualquer
dessas funções ou servido como testemunha;
Suspeição dos auxiliares da justiça (art. 274 e 105) III - tiver funcionado como juiz de outra instância,
Estendem-se aos serventuários e servidores da pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
Justiça as regras de suspeição dos juízes, no que lhes IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente,
for aplicável (art. 254). O termo suspeição, por consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o
interpretação extensiva, inclui as causas de terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente
impedimentos e incompatibilidades (art. 252). As partes interessado no feito.
podem arguir de suspeitos ou impedidos os Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir
serventuários e os servidores da Justiça (art. 105). no mesmo processo os juízes que forem entre si
parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou
Impedimentos (art. 279-280) colateral até o terceiro grau, inclusive.
Além da extensão das causas de suspeição dos Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o
juízes aos peritos, estão estes impedidos por razões de: fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
a) indignidade ou inidoneidade (CP, art. 47, I e II); I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de
b) incompatibilidade – os que já tiverem prestado qualquer deles;
depoimento no processo ou opinado II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou
anteriormente sobre o objeto da perícia; descendente, estiver respondendo a processo por fato
c) incapacidade – analfabetos e menores de 18 análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
anos. III - se ele, seu cônjuge, ou parente,
consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive,
Resumo: sustentar demanda ou responder a processo que tenha
de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de
qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de
sociedade interessada no processo.
Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente
de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do
casamento que Ihe tiver dado causa, salvo sobrevindo
descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento
sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o
padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for
parte no processo.
Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada
nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de
propósito der motivo para criá-la.
CAPÍTULO II
DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 257. Ao Ministério Público cabe: (Redação
dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - promover, privativamente, a ação penal pública,
na forma estabelecida neste Código; e (Incluído pela Lei
nº 11.719, de 2008).
II - fiscalizar a execução da lei. (Incluído pela Lei
DISPOSITIVOS DO CPP: nº 11.719, de 2008).
DIREITO PROCESSUAL PENAL 67
Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não Art. 268. Em todos os termos da ação pública,
funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o
das partes for seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ofendido ou seu representante legal, ou, na falta,
ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, qualquer das pessoas mencionadas no Art. 31.
inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for Art. 269. O assistente será admitido enquanto não
aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos passar em julgado a sentença e receberá a causa no
impedimentos dos juízes. estado em que se achar.
CAPÍTULO III Art. 270. O co-réu no mesmo processo não
DO ACUSADO E SEU DEFENSOR poderá intervir como assistente do Ministério Público.
Art. 259. A impossibilidade de identificação do Art. 271. Ao assistente será permitido propor
acusado com o seu verdadeiro nome ou outros meios de prova, requerer perguntas às testemunhas,
qualificativos não retardará a ação penal, quando certa aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral
a identidade física. A qualquer tempo, no curso do e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério
processo, do julgamento ou da execução da sentença, Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584,
o
se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a § 1 , e 598.
retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da o
§ 1 O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá
validade dos atos precedentes. acerca da realização das provas propostas pelo
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação assistente.
para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro o
§ 2 O processo prosseguirá independentemente
ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade de nova intimação do assistente, quando este, intimado,
poderá mandar conduzi-lo à sua presença. deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução
Parágrafo único. O mandado conterá, além da ou do julgamento, sem motivo de força maior
ordem de condução, os requisitos mencionados no devidamente comprovado.
art. 352, no que Ihe for aplicável. Art. 272. O Ministério Público será ouvido
Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou previamente sobre a admissão do assistente.
foragido, será processado ou julgado sem defensor. Art. 273. Do despacho que admitir, ou não, o
Parágrafo único. A defesa técnica, quando assistente, não caberá recurso, devendo, entretanto,
realizada por defensor público ou dativo, será sempre constar dos autos o pedido e a decisão.
exercida através de manifestação fundamentada. CAPÍTULO V
(Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
DOS FUNCIONÁRIOS DA JUSTIÇA
Art. 262. Ao acusado menor dar-se-á curador.
Art. 274. As prescrições sobre suspeição dos
Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á juízes estendem-se aos serventuários e funcionários da
nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, justiça, no que Ihes for aplicável.
a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si CAPÍTULO VI
mesmo defender-se, caso tenha habilitação.
DOS PERITOS E INTÉRPRETES
Parágrafo único. O acusado, que não for pobre,
será obrigado a pagar os honorários do defensor dativo, Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará
arbitrados pelo juiz. sujeito à disciplina judiciária.
Art. 264. Salvo motivo relevante, os advogados e Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do
solicitadores serão obrigados, sob pena de multa de perito.
cem a quinhentos mil-réis, a prestar seu patrocínio aos Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será
acusados, quando nomeados pelo Juiz. obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de cem
Art. 265. O defensor não poderá abandonar o a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
processo senão por motivo imperioso, comunicado Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o
previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 perito que, sem justa causa, provada imediatamente:
(cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da
sanções cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de autoridade;
2008). b) não comparecer no dia e local designados para
o
§ 1 A audiência poderá ser adiada se, por motivo o exame;
justificado, o defensor não puder comparecer. (Incluído c) não der o laudo, ou concorrer para que a
pela Lei nº 11.719, de 2008). perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos.
o
§ 2 Incumbe ao defensor provar o impedimento Art. 278. No caso de não-comparecimento do
até a abertura da audiência. Não o fazendo, o juiz não perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar
determinará o adiamento de ato algum do processo, a sua condução.
devendo nomear defensor substituto, ainda que
provisoriamente ou só para o efeito do ato. (Incluído Art. 279. Não poderão ser peritos:
pela Lei nº 11.719, de 2008). I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito
Art. 266. A constituição de defensor independerá mencionada nos ns. I e IV do art. 69 do Código Penal;
de instrumento de mandato, se o acusado o indicar por II - os que tiverem prestado depoimento no
ocasião do interrogatório. processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da
Art. 267. Nos termos do art. 252, não funcionarão perícia;
como defensores os parentes do juiz. III - os analfabetos e os menores de 21 (vinte e
CAPÍTULO IV um) anos.
DOS ASSISTENTES Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for
aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes.
68 DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 281. Os intérpretes são, para todos os consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral,
efeitos, equiparados aos peritos. até o terceiro grau, inclusive.
b) A suspeição do juiz não poderá ser declarada nem
EXERCÍCIOS reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de
propósito der motivo para criá-la.
01. (OAB/CESPE/2008.1) Acerca dos sujeitos
c) Aos órgãos do Ministério Público se estendem, no
processuais, assinale a opção correta.
que lhes for aplicável, as prescrições relativas às
a) O juiz deve declarar-se suspeito caso seja amigo ou suspeições e aos impedimentos dos juízes.
inimigo das partes, esteja interessado no feito ou
d) As partes intervirão na nomeação dos peritos.
quando a parte o injuriar de propósito.
b) A participação de membro do Ministério Público no
inquérito policial acarreta o seu impedimento para o 05. (Prom.Just.MPE-CE/FCC/2009) Contra a decisão do
oferecimento da denúncia. juiz que não admitir o assistente de acusação:
c) A vítima pode intervir no processo penal por a) não caberá recurso, nem será admissível habeas
intermédio de advogado, como assistente da corpus ou mandado de segurança.
acusação, depois de iniciada a ação penal e b) caberá recurso em sentido estrito.
enquanto não transitada em julgado a decisão final. c) caberá agravo, observado o procedimento do Código
d) O assistente da acusação pode arrolar testemunhas e de Processo Civil.
recorrer da decisão que rejeita a denúncia, d) não caberá recurso, mas será cabível mandado de
pronuncia ou absolve sumariamente o réu, tendo o segurança.
recurso efeito suspensivo.
e) caberá apelação.
11. (CESPE-UnB/Perito Oficial Criminal/ PCPB/2009) 14. (CESPE - 2009 - PC - PB - Agente de Investigação e
Acerca da prova testemunhal, assinale a opção Agente de Polícia) Acerca da prova no processo
correta. penal, assinale a opção correta.
a) O informante, por não ter vínculo com a a) São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do
imparcialidade e com a obrigação de dizer a processo, as provas consideradas ilícitas. No
verdade, não presta compromisso. entanto, a legislação não proíbe a produção de
provas derivadas das ilícitas.
b) Testemunha referida é a denominação dada à pessoa
que testemunha a leitura do auto de prisão em b) Poderá o juiz, de ofício, ordenar, mesmo antes de
flagrante na presença do acusado e assina ao iniciada a ação penal, a produção antecipada de
referido auto em lugar do indiciado que não quer, provas consideradas urgentes e relevantes.
não sabe ou não pode fazê-lo. c) Quando a infração deixar vestígios, será
d) Um animal pode ser levado a juízo para reconhecer, indispensável o exame de corpo de delito, podendo
pelo faro, um ladrão e pode, assim, ser considerado supri-lo a confissão do acusado.
testemunha. d) Em regra, a perícia deverá ser realizada por dois
d) A autoridade policial que presidiu o inquérito, indiciou peritos oficiais.
o acusado e colocou no relatório final as suas e) Em regra, o laudo pericial será elaborado no prazo
conclusões sobre o crime e seu autor não pode ser máximo de trinta dias, podendo este prazo ser
arrolado como testemunha. prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento
e) Prevalece, em nosso ordenamento, o princípio dos peritos.
segundo o qual um único testemunho é considerado
de nenhuma validade (testis unus testis nullus). GABARITO: 01.C; 02.D; 03.ECE; 04.ECECE 05.E;
06.CC; 07.EC; 08.A; 09.C; 10.A; 11.A 12.A; 13.B;
12. (CESPE-UnB/Perito Oficial Criminal /PCPB/2009) 14/B
Quanto ao interrogatório do acusado, assinale
aopção correta.
DA PRISÃO
a) Antes da realização do interrogatório, o juiz terá de
assegurar o direito de entrevista reservada do Segundo Fernando Capez, prisão é a privação
acusado com seu defensor. da liberdade de locomoção determinada por ordem
b) O silêncio do acusado importará em confissão e será escrita da autoridade competente ou em caso de
interpretado em prejuízo da defesa. flagrante delito.
c) Havendo mais de um acusado, serão interrogados DICAS DE CONCURSOS:
simultaneamente na presença da mesma A lei processual penal considera em flagrante
autoridade. delito aquele que é perseguido pela autoridade, pelo
d) Não se toma o interrogatório do surdo-mudo em ofendido ou por qualquer pessoa, logo após cometer
respeito a sua peculiar situação. infração penal, e ainda quem é encontrado com
instrumentos, armas e objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração. Nessas situações, a
DIREITO PROCESSUAL PENAL 91
autoridade policial tem o dever legal de prender o a lavratura do auto de prisão em flagrante, se for o caso,
agente do fato delituoso.(Adminstrador- e determinará a remoção do preso para a apresentação
PM/CESPE/2010) ao juiz que expediu o mandado original.
CONCEITO DE FLAGRANTE
6) Prisão administrativa
O flagrante é a situação, prevista na lei, de
Não há mais, por revogação, a previsão de
imediatidade em relação à prática da infração penal
prisão de natureza administrativa, como havia na
(crime ou contravenção) que autoriza a prisão,
anterior redação do art. 319, do CPP. A Lei 12.403/11,
independentemente de determinação judicial.
corretamente, aboliu semelhante despautério.
O ideal é que ela tivesse se referido de modo
expresso à prisão cautelar para fins de extradição. Não ESPÉCIES DE FLAGRANTE
o fez, porém. 1. Flagrante obrigatório ou compulsório X Flagrante
Por isso, somente será possível a aludida facultativo
modalidade de prisão quando as circunstâncias do Será compulsória a prisão em flagrante
crime e dos fatos se enquadrem nas hipóteses do art. quando resultar da obrigação imposta à autoridade
312 e art. 313, ambos do CPP, embora, nos processos policial e seus agentes sempre que encontrarem-se
de extradição não se encontrem os riscos para a diante das situações de flagrância, e facultativo quando
instrução ou investigação ali previstos. A prisão seria, ocorrer a opção do cidadão comum em efetuar a prisão,
então, para garantir a aplicação da lei (não a lei penal, ou não, de acordo com as circunstâncias de cada caso.
que não seria a nossa!).
2. Flagrante próprio (perfeito ou real – art. 302, I e II)
PRISÃO EM FLAGRANTE São as duas primeiras hipóteses do art. 302 do
CPP (o agente está cometendo a infração penal ou
CONCEITO
acaba de cometê-la). O agente é surpreendido no
É uma prisão que consiste na restrição da exato momento da ação delituosa ou após o
liberdade de alguém, independente de ordem judicial, cometimento, mas ainda se encontra no local onde se
possuindo natureza cautelar, desde que esse alguém deu a ação criminosa, sem intervalo de tempo.
esteja cometendo ou tenha acabado de cometer uma
infração penal ou esteja em situação semelhante
prevista nos incisos III e IV, do Art. 302, do CPP. É uma 3. Flagrante Impróprio (ou quase-flagante, irreal ou
forma de autodefesa da sociedade. imperfeito- art. 302, III)
Trata-se de uma prisão provisória. Havendo evasão, o agente é perseguido, logo
após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da
NATUREZA JURÍDICA infração. É necessário que a perseguição se inicie
Prisão cautelar de natureza processual: a imediatamente após o fato e que seja contínua até a
prisão em flagrante é providência nitidamente efetivação da prisão.
cautelar e como toda medida cautelar se sujeita A lei não fixa nenhum prazo limite para a
aos seus dois pressupostos: o fumus boni juris duração da perseguição, mas há exigência de que esta
e periculum in mora. não sofra interrupção. Entretanto, as buscas aleatórias
Ato de natureza administrativa: se for não caracterizam estado de flagrância.
particular, ainda assim continua sendo um ato
administrativo, e o cidadão estará exercendo 4. Flagrante Presumido (ficto ou assimilado – Art.
um direito público subjetivo de natureza 302, IV)
política. O agente é encontrado logo depois do fato,
Embora a prisão em flagrante se efetive pelo com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
juiz, esse ato não deixa de ser administrativo, pois o presumir ser ele o autor da infração. Se distingue da
magistrado estaria, então, exercendo uma função hipótese em que o agente acaba de cometer a infração,
administrativa e não jurisdicional. Entretanto, depois de porque não existe, no caso, a imediatidade visual da
efetivada a prisão e lavrado o auto de prisão em infração penal, mas da descoberta de materiais
flagrante, ela pode converter-se e se convolar numa supostamente utilizados no evento delituoso.
verdadeira medida cautelar, analisando então seus
pressupostos aqui já mencionados.
DIREITO PROCESSUAL PENAL 95
5. Flagrante Preparado X Flagrante Esperado entende que é possível quando evidenciada a intenção
Tem-se impossível o crime, mesmo que o meio do agente em burlar a aplicação da lei penal.
empregado e o objeto sejam idôneos, se não há
qualquer possibilidade de sua consumação em face das FLAGRANTE NOS CRIMES PERMANENTES,
providências adotadas previamente pela polícia ou até CONTINUADOS, HABITUAIS, NAS
por terceiro, que induzem o agente ao cometimento da CONTRAVENÇÕES PENAIS E NOS CRIMES DE
ação delituosa. Não haverá flagrante, porque não há AÇÃO PENAL PRIVADA
crime, já que impossível a consumação.
Crime permanente: Nas infrações permanentes,
JURISPRUDÊNCIA: Súmula 145 do STF: entende-se o agente em flagrante delito enquanto não
"Não há crime quando a preparação do cessar a permanência (art. 303, CPP). Como a
flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação nesse tipo de delito se prolonga no tempo,
consumação". o agente encontra-se sempre em estado de flagrância,
podendo a prisão ocorrer a qualquer momento enquanto
Se há intervenção policial ou de terceiro apenas
perdurar a conduta típica. Ex: cárcere privado, redução
aguardando o exato momento da ocorrência do delito,
a condição análoga de escravo, ter em depósito drogas.
sendo perfeitamente possível que este venha a se
No crime permanente cabe o flagrante em qualquer
consumar, ocorre o flagrante esperado, de modo que a
tempo, enquanto não cessada a permanência, art. 303
interrupção da atividade criminosa é válida, e válido o
do CPP.
flagrante.
Continuidade delitiva: um benefício para agente
JURISPRUDÊNCIA: que pratica uma série de crimes da mesma espécie,
Se o agente policial induz ou instiga o acusado a modo e lugar. Ex: estuprador em série, ladrão de carros.
fornecer-lhe a droga que no momento não a possuía, Na continuidade delitiva cabe o flagrante em cada crime
porém saindo do local e retornando minutos depois com isoladamente.
certa quantidade de entorpecente pedido pelo policial Crime habitual: crime plurissubsistente, precisa
que, no ato da entrega lhe dá voz de prisão, cumpre de vários atos. Ex: curandeirismo. No crime habitual
reconhecer a ocorrência de flagrante preparado(RT prevalece na doutrina o descabimento do flagrante
707/29) porque, por se tratar de crime plurissubsistente que
Não há flagrante preparado quando a ação exige a reiteração de atos para a sua configuração, um
policial aguarda o momento da prática delituosa, só deles isoladamente representa fato atípico.
valendo-se de investigação anterior, para efetivar a Contravenções penais: só se admite o flagrante
prisão, sem utilização de agente provocador (RSTJ, quando o autor do fato não assume o compromisso de
10/389). comparecimento ao Juizado Especial Criminal (JECrim).
Flagrante em crimes de Ação Penal Privada -
6. Flagrante prorrogado, retardado, adiado ou É possível o flagrante, desde que haja requerimento do
diferido ofendido no prazo da entrega da nota de culpa, sob
É possível ao agente público, segundo a Lei do pena de não se lavrar o auto, liberando-se o agente.
Crime Organizado, prorrogar o flagrante, que ―consiste
em retardar a interdição policial do que se supõe ação PROCEDIMENTOS DA AUTORIDADE POLICIAL
praticada por organizações criminosas ou a ela Além das situações de flagrância que são o
vinculada, desde que mantida sob observação e seu requisito substancial, o flagrante tem requisitos
acompanhamento para que a medida legal se concretize formais, sob pena de invalidade.
no momento mais eficaz do ponto de vista da formação
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
de provas e fornecimento de informações‖ (Lei nº
9.034/95, art. 2º, II). I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
Também na Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas)
como medida de maior eficiência da atuação policial, é III - é perseguido, logo após, pela autoridade,
pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação
possível o flagrante prorrogado em qualquer fase da
que faça presumir ser autor da infração;
persecução criminal, mediante autorização judicial,
IV - é encontrado, logo depois, com
ouvido o Ministério Público.
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração.
7. Forjado, fabricado, maquinado ou urgido
Ocorre quando alguém cria provas de um crime ETAPAS DA PRISÃO EM FLAGRANTE
inexistente, tentando incriminar a vítima. Sempre que o Estado toma conhecimento
(notitia criminis) de uma infração é dever deste
SITUAÇÕES QUE IMPEDEM A LAVRATURA DO APF averiguar e apurar os fatos. No caso de prisão em
>Art. 69, parágrafo único da Lei 9.099/95: nas flagrante, estando presentes os pressupostos legais, a
infrações de menor potencial ofensivo, lavra-se termo autoridade policial está obrigada à lavratura do
circunstanciado. competente auto de prisão em flagrante.
>Art. 301 da Lei 9.503/97: motorista que presta a) Apresentado o preso à autoridade
pronto e imediato socorro para a vítima. competente, que é a autoridade policial do local da
prisão, o condutor (a pessoa que trouxe o preso até a
> Art. 48, § 3º, ―in fine‖ da Lei 11. 343/06: usuário autoridade policial, podendo ser agente público ou o
de drogas – termo circunstanciado. particular) será ouvido e colhida, desde logo, sua
>Apresentação Espontânea – prevalece na assinatura no auto, e lhe será entregue cópia do termo e
doutrina que impede a lavratura do Auto de Prisão em recibo de entrega do preso.
Flagrante, mas não impede a prisão preventiva. Nucci
96 DIREITO PROCESSUAL PENAL
b) Em seguida, a autoridade procederá à oitiva fielmente, os requisitos formais para a
das testemunhas que acompanharam (no mínimo lavratura do auto, que está substituindo o
duas), podendo o próprio condutor ser testemunha. A mandado de prisão expedido pelo Juiz.
testemunha lançará sua assinatura logo em seguida ao Assim, a ordem de inquirição deve ser
seu depoimento, em termo próprio, devendo ser liberada exatamente exposta no art. 304 do CPP: o
imediatamente. condutor em primeiro lugar; as testemunhas,
Na falta de testemunhas presenciais da em seguida, e, por último, o indiciado. A
infração, deverão assinar o termo com o condutor, pelo inversão dessa ordem deve acarretar o
menos duas pessoas que tenham presenciado a relaxamento da prisão, apurando-se a
17
apresentação (testemunhas de apresentação, responsabilidade da autoridade (pg. 598).
instrumentais ou indiretas). Com o objetivo de efetivar o controle jurisdicional
da prisão em flagrante, é necessário que em até 24
c) Passo seguinte, proceder-se-á ao (vinte e quatro) horas da sua realização, os autos sejam
interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe
encaminhados ao juiz competente para a sua avaliação,
é feita, devendo ser alertado do direito constitucional de para que possa, depois de analisá-lo, relaxá-la, caso a
permanecer calado. Após a oitiva, deverá ser colhida considere ilegal; a converta em preventiva, desde que
sua assinatura, lavrando, a autoridade, afinal, o AUTO todos os pressupostos estejam presentes; ou, conceder
DE PRISÃO EM FLAGRANTE. a liberdade provisória com ou sem fiança.
d) Em até 24 horas após a realização da
prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto
de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o EXCEÇÕES À REALIZAÇÃO DA PRISÃO EM
nome de seu advogado, cópia integral para a FLAGRANTE
DEFENSORIA PÚBLICA. Existem algumas exceções constitucionais ou
e) No mesmo prazo de 24 horas, será legais à realização da prisão em flagrante, pois há
entregue ao preso, mediante recibo, a NOTA DE pessoas que, em razão do cargo ou da função exercida,
CULPA, assinada pela autoridade, com o motivo da não podem ser presas dessa forma ou somente dentro
prisão, o nome do condutor e o das testemunhas. A de limitadas opções.
finalidade da nota de culpa é que o preso fique ciente É o que ocorre nos seguintes casos:
dos motivos de sua prisão, bem como a identidade de a) diplomatas, que não são submetidos à prisão
quem o prendeu, fornecendo-lhe breve relatório do fato em flagrante, por força de convenção
criminoso de que é acusado. internacional, assegurando-lhes imunidade;
ATENÇÃO: b) parlamentares federais e estaduais, que
A falta de entrega da nota de culpa provoca o somente podem ser detidos em flagrante de
relaxamento da prisão. crime inafiançável e, ainda assim, devem,
logo após a lavratura do auto, ser
f) Por fim, a autoridade policial deverá observar imediatamente encaminhados à sua
se é caso em que o agente se livra solto respectiva Casa Legislativa;
independentemente de fiança, hipótese em que o
acusado deverá ser colocado imediatamente em c) magistrados e membros do Ministério
liberdade após a lavratura do auto de prisão em Público, que somente podem ser presos em
flagrante. flagrante de crime inafiançável sendo que,
após a lavratura do auto, devem ser
apresentados, respectivamente, ao
FORMALIDADES PARA A LAVRATURA DO AUTO Presidente do Tribunal ou ao Procurador
DE PRISÃO EM FLAGRANTE Geral de Justiça ou da República, conforme o
O art. 304 traz as assertivas que, depois de caso;
apresentado o preso à autoridade competente, será d) Presidente da República, cumprindo-se o
ouvido o condutor e as testemunhas que o estabelecido no art. 86, § 3º, da Constituição
acompanharem, será pega a sua assinatura e lhe será Federal: "enquanto não sobrevier sentença
entregue a cópia do termo e recibo de entrega do preso. condenatória, nas infrações comuns, o
O texto se utiliza da palavra testemunha no plural, Presidente da República não estará sujeito a
dando a impressão que seria necessária mais de uma, prisão";
mas, nada impede que uma pessoa prenda em flagrante STF entendeu que governador do estado não goza da
algum infrator que invada sua casa e ao conduzi-lo para mesma garantia, todavia o STJ tem decisões reconhecendo a
as autoridades competentes poderá também ser garantia por simetria de cargos.
considerado uma testemunha necessitando apenas de e) advogados, se o crime for cometido no
mais uma. desempenho de suas atividades profissionais
Quanto ao interrogatório, o indiciado não é (art. 7º, § 3º da Lei 8.906/94);
obrigado a realizá-lo, uma vez que a Constituição f) menores de 18 anos de idade - art. 228 da CF
Federal de 1988 assegura expressamente no rol das e art. 27 do CP. Porque não cometem
garantias do art. 5º, mais precisamente em seu inciso qualquer crime, cometem ato infracional.
LXIII, a direito inquestionável de permanecer calado.
OBS.:
Como preleciona GUILHERME DE SOUZA
Doente mental pode ser preso em flagrante – no
NUCCI, decorrer do processo, auferida a doença mental, terá medida
Registre-se ser a prisão em flagrante uma de segurança.
exceção à regra da necessidade de
existência de ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária para a detenção de
alguém. Por isso, é preciso respeitar, 17
Manual de Processo Penal e Execução Penal, 5ª ed.RT/SP.
DIREITO PROCESSUAL PENAL 97
DECISÕES A SEREM TOMAS PELO JUIZ AO c) quando do fato atípico;
RECEBER O AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE d) quando os prazos não forem respeitados ou
Conforme art. 310, com redação da Lei 12.403, quando houver excesso no prazo da prisão.
quando o Juiz receber o auto de prisão em flagrante É necessário que se observem estes requisitos
deverá, fundamentadamente tomar uma das seguintes para que a prisão não seja relaxada.
decisões:
Uma vez relaxada a prisão, a consequência
a) relaxar a prisão ilegal; imediata será a soltura do preso, sem a imposição a ele
b) converter a prisão em flagrante em prisão de quaisquer restrições de direitos, uma vez que não se
preventiva, quando presentes os requisitos cuida de concessão de liberdade provisória, mas de
dessa modalidade de prisão ou quando forem anulação de ato praticado com violação à lei. A
inadequadas ou insuficientes as medidas liberdade deverá ser plenamente restituída, tal como
cautelares diversas da prisão; ocorre na revogação da preventiva, por ausência dos
c) conceder a liberdade provisória, com ou sem motivos que justificaram a sua decretação.
fiança, podendo impor ou não uma das
medidas cautelares abaixo analisadas. CONCESSÃO DA LIBERDADE PROVISÓRIA
Parágrafo único do referido artigo dispõe ainda A liberdade provisória, agora, passou a
que, “Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em significar apenas a diversidade de modalidades de
flagrante, que o agente praticou o fato nas condições restituição da liberdade, após a prisão em flagrante. O
constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do art. 321, CPP (ausentes os requisitos que autorizam a
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade
Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder provisória, impondo, se for o caso, as medidas
ao acusado liberdade provisória, mediante termo de cautelares previstas no art. 319) deve ser entendido
comparecimento a todos os atos processuais, sob pena nesse sentido (de restituição da liberdade do
de revogação.“ aprisionado) e não como fundamento para a decretação
A regra de concessão da liberdade, quando for o de medidas cautelares sem anterior prisão em flagrante.
caso da presença de uma excludente de ilicitude A base legal para estas últimas providências reside no
(estado de necessidade, legítima defesa, estrito art. 282, § 2º, CPP.
cumprimento do dever legal e exercício regular do SÚMULA Nº 697 – STF:
direito) permanece.
Liberdade Provisória nos Crimes Hediondos -
Relaxamento da Prisão por Excesso de Prazo
APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA A proibição de liberdade provisória nos processos
A Lei 12.403/11 suprimiu os arts. 317 e 318 do por crimes hediondos não veda o relaxamento da prisão
CPP. Contudo, o regramento legal da apresentação processual por excesso de prazo.
espontânea do acusado segue vivo e ativo com base
em sua natureza enraizada na lógica.
DISPOSITIVOS DO CÓDIGO PENAL:
Cumpre obervar que a Lei 12.403/2011 mudou o
o
seu foco do Capítulo IV, que antes tratava ―Da Art. 8 Havendo prisão em flagrante, será
Apresentação Espontânea do Acusado‖ e passa a tratar observado o disposto no Capítulo II do Título IX deste
―Da Prisão Domiciliar‖. Livro.
Poderá o agente ficar em prisão domiciliar (na ...
sua própria residência) quando: Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será
- for maior de 80 (oitenta) anos; iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio
- extremamente debilitado por motivo de doença de portaria expedida pela autoridade judiciária ou
grave policial.
- quando imprescindível aos cuidados especiais
de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade DISPOSITIVOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL:
ou com deficiência TÍTULO IX
-ou ainda quando gestante a partir do 7 (sétimo) DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA
mês de gravidez ou sendo esta de alto risco LIBERDADE PROVISÓRIA
Para a substituição da prisão preventiva por (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
prisão domiciliar o juiz deverá ter prova idônea da Art. 282. As medidas cautelares previstas neste
ocorrência de um dos casos retro expostos Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação
dada pela Lei 12.403/2011)
RELAXAMENTO DO FLAGRANTE I - necessidade para aplicação da lei penal, para a
A prisão em flagrante é imediatamente relaxada investigação ou a instrução criminal e, nos casos
pela autoridade judiciária quando se constata sua expressamente previstos, para evitar a prática de
ilegalidade, nos termos do Art. 5º, LXV da CF/88. infrações penais; (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
As hipóteses são as seguintes: II - adequação da medida à gravidade do crime,
a) na falta de formalidade essencial na lavratura circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado
do auto. Ex.: falta de entrega da nota de ou acusado. (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
culpa; § 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas
b) quando não estiverem presentes os requisitos isolada ou cumulativamente. (Redação dada pela Lei
da prisão em flagrante presentes no Art. 302 12.403/2011)
do CPP;
98 DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de
juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando exibição do mandado não obstará à prisão, e o preso,
no curso da investigação criminal, por representação da em tal caso, será imediatamente apresentado ao juiz
autoridade policial ou mediante requerimento do que tiver expedido o mandado.
Ministério Público. (Redação dada pela Lei 12.403/2011) Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem
§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de que seja exibido o mandado ao respectivo diretor ou
perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o carcereiro, a quem será entregue cópia assinada pelo
pedido de medida cautelar, determinará a intimação da executor ou apresentada a guia expedida pela
parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento autoridade competente, devendo ser passado recibo da
e das peças necessárias, permanecendo os autos em entrega do preso, com declaração de dia e hora.
juízo. (Redação dada pela Lei 12.403/2011) Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no
§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das próprio exemplar do mandado, se este for o documento
obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante exibido.
requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou Art. 289. Quando o acusado estiver no território
do querelante, poderá substituir a medida, impor outra nacional, fora da jurisdição do juiz processante, será
em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão deprecada a sua prisão, devendo constar da precatória
preventiva (art. 312, parágrafo único). (Redação dada o inteiro teor do mandado. (Redação dada pela Lei
pela Lei 12.403/2011) 12.403/2011
§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou § 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar
substituí-la quando verificar a falta de motivo para que a prisão por qualquer meio de comunicação, do qual
subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem deverá constar o motivo da prisão, bem como o valor da
razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei fiança se arbitrada. (Redação dada pela Lei
12.403/2011) 12.403/2011)
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando § 2o A autoridade a quem se fizer a requisição
não for cabível a sua substituição por outra medida tomará as precauções necessárias para averiguar a
cautelar (art. 319). (Redação dada pela Lei autenticidade da comunicação. (Redação dada pela Lei
12.403/2011) 12.403/2011)
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em § 3o O juiz processante deverá providenciar a
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da remoção do preso no prazo máximo de 30 (trinta) dias,
autoridade judiciária competente, em decorrência de contados da efetivação da medida. (Redação dada pela
sentença condenatória transitada em julgado ou, no Lei 12.403/2011)
curso da investigação ou do processo, em virtude de
Art. 289-A. O juiz competente providenciará o
prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação dada
imediato registro do mandado de prisão em banco de
pela Lei 12.403/2011)
dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título essa finalidade. (Acrescentado pela Lei 12.403/2011)
não se aplicam à infração a que não for isolada,
§ 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a
cumulativa ou alternativamente cominada pena privativa
prisão determinada no mandado de prisão registrado no
de liberdade. (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
Conselho Nacional de Justiça, ainda que fora da
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer competência territorial do juiz que o
dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas expediu. (Acrescentado pela Lei 12.403/2011)
à inviolabilidade do domicílio. (Redação dada pela Lei
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a
12.403/2011)
prisão decretada, ainda que sem registro no Conselho
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, Nacional de Justiça, adotando as precauções
salvo a indispensável no caso de resistência ou de necessárias para averiguar a autenticidade do mandado
tentativa de fuga do preso. e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este
Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará providenciar, em seguida, o registro do mandado na
expedir o respectivo mandado. forma do caput deste artigo. (Acrescentado pela Lei
Parágrafo único. O mandado de prisão: 12.403/2011)
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela § 3o A prisão será imediatamente comunicada
autoridade; ao juiz do local de cumprimento da medida o qual
providenciará a certidão extraída do registro do
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por
Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo que a
seu nome, alcunha ou sinais característicos;
decretou. (Acrescentado pela Lei 12.403/2011)
c) mencionará a infração penal que motivar a
§ 4o O preso será informado de seus direitos,
prisão;
nos termos do inciso LXIII do art. 5o da Constituição
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando Federal e, caso o autuado não informe o nome de seu
afiançável a infração; advogado, será comunicado à Defensoria
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe Pública. (Acrescentado pela Lei 12.403/2011)
execução. § 5o Havendo dúvidas das autoridades locais
Art. 286. O mandado será passado em duplicata, sobre a legitimidade da pessoa do executor ou sobre a
e o executor entregará ao preso, logo depois da prisão, identidade do preso, aplica-se o disposto no § 2o do art.
um dos exemplares com declaração do dia, hora e lugar 290 deste Código. (Acrescentado pela Lei 12.403/2011)
da diligência. Da entrega deverá o preso passar recibo § 6o O Conselho Nacional de Justiça
no outro exemplar; se recusar, não souber ou não puder regulamentará o registro do mandado de prisão a que
escrever, o fato será mencionado em declaração, se refere o caput deste artigo. (Acrescentado pela Lei
assinada por duas testemunhas. 12.403/2011)
DIREITO PROCESSUAL PENAL 99
Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao VII - os diplomados por qualquer das faculdades
território de outro município ou comarca, o executor superiores da República;
poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar, VIII - os ministros de confissão religiosa;
apresentando-o imediatamente à autoridade local, que,
IX - os ministros do Tribunal de Contas;
depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagrante,
providenciará para a remoção do preso. X - os cidadãos que já tiverem exercido
o efetivamente a função de jurado, salvo quando
§ 1 - Entender-se-á que o executor vai em
excluídos da lista por motivo de incapacidade para o
perseguição do réu, quando:
exercício daquela função;
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos
interrupção, embora depois o tenha perdido de vista;
Estados e Territórios, ativos e inativos. (Redação dada
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, pela Lei nº 5.126, de 20.9.1966)
que o réu tenha passado, há pouco tempo, em tal ou o
§ 1 A prisão especial, prevista neste Código ou em
qual direção, pelo lugar em que o procure, for no seu
outras leis, consiste exclusivamente no recolhimento em
encalço.
o
local distinto da prisão comum. (Incluído pela Lei nº
§2 Quando as autoridades locais tiverem 10.258, de 11.7.2001)
fundadas razões para duvidar da legitimidade da pessoa o
§ 2 Não havendo estabelecimento específico para
do executor ou da legalidade do mandado que
o preso especial, este será recolhido em cela distinta do
apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até que
mesmo estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 10.258,
fique esclarecida a dúvida.
de 11.7.2001)
Art. 291. A prisão em virtude de mandado o
§ 3 A cela especial poderá consistir em alojamento
entender-se-á feita desde que o executor, fazendo-se
coletivo, atendidos os requisitos de salubridade do
conhecer do réu, lhe apresente o mandado e o intime a
ambiente, pela concorrência dos fatores de aeração,
acompanhá-lo.
insolação e condicionamento térmico adequados à
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de existência humana. (Incluído pela Lei nº 10.258, de
terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à 11.7.2001)
determinada por autoridade competente, o executor e as o
§ 4 O preso especial não será transportado
pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios
juntamente com o preso comum. (Incluído pela Lei nº
necessários para defender-se ou para vencer a
10.258, de 11.7.2001)
resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito o
também por duas testemunhas. § 5 Os demais direitos e deveres do preso
especial serão os mesmos do preso comum. (Incluído
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com
pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001)
segurança, que o réu entrou ou se encontra em alguma
casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for
ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, possível, serão recolhidos à prisão, em
o executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, estabelecimentos militares, de acordo com os
entrará à força na casa, arrombando as portas, se respectivos regulamentos.
preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao Art. 297. Para o cumprimento de mandado
morador, se não for atendido, fará guardar todas as expedido pela autoridade judiciária, a autoridade policial
saídas, tornando a casa incomunicável, e, logo que poderá expedir tantos outros quantos necessários às
amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão. diligências, devendo neles ser fielmente reproduzido o
Parágrafo único. O morador que se recusar a teor do mandado original.
entregar o réu oculto em sua casa será levado à Art. 298. (Revogado pela Lei 12.403/2011)
presença da autoridade, para que se proceda contra ele Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à
como for de direito. vista de mandado judicial, por qualquer meio de
Art. 294. No caso de prisão em flagrante, comunicação, tomadas pela autoridade, a quem se fizer
observar-se-á o disposto no artigo anterior, no que for a requisição, as precauções necessárias para averiguar
aplicável. a autenticidade desta. (Redação dada pela Lei
Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a 12.403/2011)
prisão especial, à disposição da autoridade Art. 300. As pessoas presas provisoriamente
competente, quando sujeitos a prisão antes de ficarão separadas das que já estiverem definitivamente
condenação definitiva: condenadas, nos termos da lei de execução penal.
I - os ministros de Estado; Parágrafo único. O militar preso em flagrante
II - os governadores ou interventores de Estados delito, após a lavratura dos procedimentos legais, será
ou Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus recolhido a quartel da instituição a que pertencer, onde
respectivos secretários, os prefeitos municipais, os ficará preso à disposição das autoridades competentes.
vereadores e os chefes de Polícia; (Redação dada pela (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
Lei nº 3.181, de 11.6.1957) DA PRISÃO EM FLAGRANTE
III - os membros do Parlamento Nacional, do Art. 301. Qualquer do povo poderá e as
Conselho de Economia Nacional e das Assembléias autoridades policiais e seus agentes deverão prender
Legislativas dos Estados; quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
IV - os cidadãos inscritos no "Livro de Mérito"; Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares I - está cometendo a infração penal;
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; II - acaba de cometê-la;
(Redação dada pela Lei nº 10.258, de 11.7.2001) III - é perseguido, logo após, pela autoridade,
VI - os magistrados; pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que
faça presumir ser autor da infração;
100 DIREITO PROCESSUAL PENAL
IV - é encontrado, logo depois, com Art. 310. Ao receber o auto de prisão em
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam flagrante, o juiz deverá fundamentadamente:
presumir ser ele autor da infração. I - relaxar a prisão ilegal; ou(Redação dada pela
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende- Lei 12.403/2011)
se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a II - converter a prisão em flagrante em
permanência. preventiva, quando presentes os requisitos constantes
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas
competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde ou insuficientes as medidas cautelares diversas da
logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo prisão; ou (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à III - conceder liberdade provisória, com ou sem
oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao fiança. (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é
Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de
feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas
prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas
assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto.
condições constantes dos incisos I a III do caput do art.
(Redação dada pela Lei nº 11.113, de 2005)
o
23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940
§ 1 Resultando das respostas fundada a - Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder
suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou comparecimento a todos os atos processuais, sob pena
de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou de revogação. (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
processo, se para isso for competente; se não o for,
enviará os autos à autoridade que o seja.
o
§ 2 A falta de testemunhas da infração não PRISÃO PREVENTIVA
impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse CONCEITO
caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos Trata-se de medida cautelar de privação de
duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação liberdade adotada na persecução penal, em face da
do preso à autoridade. presença dos pressupostos legais e diante dos motivos
o
§ 3 Quando o acusado se recusar a assinar, autorizadores da medida, com o objetivo de impedir que
não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em eventuais condutas praticadas pelo alegado autor do
flagrante será assinado por duas testemunhas, que delito possam comprometer a efetividade do processo.
tenham ouvido sua leitura na presença deste. (Redação
DICAS DE CONCURSOS:
dada pela Lei nº 11.113, de 2005)
Diferem a prisão temporária e a prisão preventiva
Art. 305. Na falta ou no impedimento do
porque esta pode ser decretada em qualquer fase do
escrivão, qualquer pessoa designada pela autoridade
inquérito policial ou da instrução criminal, podendo ser
lavrará o auto, depois de prestado o compromisso legal.
decretada de oficio pelo juiz, enquanto a prisão
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local temporária somente tem cabimento antes da propositura
onde se encontre serão comunicados imediatamente ao da ação penal e não pode ser decretada de oficio pelo
juiz competente, ao Ministério Público e à família do juiz.( Analista Judiciário/Jud./ TJDFT/ CESPE/2008)
preso ou à pessoa por ele indicada. (Redação dada pela
Lei 12.403/2011)
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a CABIMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA
realização da prisão, será encaminhado ao juiz O § 6º do art. 282, em sua atual redação, trata
competente o auto de prisão em flagrante e, caso o das hipóteses em que, à exceção da prisão em
autuado não informe o nome de seu advogado, cópia flagrante, é possível a decretação da prisão preventiva:
integral para a Defensoria Pública. (Redação dada pela pronúncia e demais casos consubstanciados em lei.
Lei 12.403/2011) Dispôs de forma louvável a legislação ao
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, prever expressamente ser a prisão preventiva ultima
mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela ratio no que se refere às prisões cautelares (§§ 4º e 6º
autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor do art. 282 do CPP), forçando o juiz, no momento da
e os das testemunhas. (Redação dada pela Lei escolha, a fundamentar o motivo da opção por
12.403/2011) determinada medida cautelar ao invés de outra. Assim,
Art. 307. Quando o fato for praticado em a decretação da prisão preventiva, que antes já deveria
presença da autoridade, ou contra esta, no exercício de ser excepcional, passará a ser, em tese, ainda
suas funções, constarão do auto a narração deste fato, subsidiária, sendo apenas cabível quando não possível
a voz de prisão, as declarações que fizer o preso e os substituir a prisão por uma das medidas cautelares
depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado previstas no art. 319.
pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e No sistema anterior à Lei 12.403/11, a prisão
remetido imediatamente ao juiz a quem couber tomar preventiva somente seria cabível nos casos
conhecimento do fato delituoso, se não o for a expressamente arrolados no art. 313, CPP, e desde que
autoridade que houver presidido o auto. presentes as circunstâncias de fato do art. 312, CPP. É
Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em dizer: se o crime em apuração ou sob acusação não se
que se tiver efetuado a prisão, o preso será logo enquadrasse nas hipóteses do art. 313 não caberia a
apresentado à do lugar mais próximo. prisão, ainda que em risco a efetividade do processo.
Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser Agora, com a introdução de diversas medidas
posto em liberdade, depois de lavrado o auto de prisão cautelares alternativas ao cárcere, haverá nova
em flagrante. fundamentação e novas situações de cabimento da
prisão preventiva, independentemente das situações
arroladas no art. 313, CPP.
DIREITO PROCESSUAL PENAL 101
É que também será possível a decretação da penal, ou a requerimento do Ministério Público, do
preventiva, não só na presença das circunstâncias querelante ou do assistente, ou por representação da
fáticas do art. 312, CPP, mas sempre que for necessário autoridade policial.
para garantir a execução de outra medida cautelar, Com a nova lei, a prisão preventiva tanto poderá
diversa da prisão (art. 282, § 4º, CPP). ser decretada independentemente da anterior imposição
Assim, será admitida a decretação da prisão de alguma medida cautelar (art. 282, § 6º, art. 311, art.
preventiva: 312 e art. 313, CPP), quanto em substituição àquelas
I - nos crimes dolosos punidos com pena (cautelares) previamente impostas e eventualmente
privativa de liberdade máxima superior a 4 descumpridas (art. 282, § 4º, art. 312, parágrafo único,
(quatro) anos; CPP).
II - se tiver sido condenado por outro crime Poderá, do mesmo modo, ser decretada como
doloso, em sentença transitada em julgado, conversão da prisão em flagrante, quando presentes os
ressalvado o disposto no inciso I do caput do seus requisitos (art. 310, II, CPP), e forem insuficientes
art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de as demais cautelares.
dezembro de 1940 - Código Penal; Poderá, ainda, ser substituída por medida
III - se o crime envolver violência doméstica e cautelar menos gravosa, quando esta se revelar mais
familiar contra a mulher, criança, adequada e suficiente para a efetividade do processo
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa (art. 282, § 5º, CPP).
com deficiência, para garantir a execução Quando decretada autonomamente, ou seja,
das medidas protetivas de urgência; como medida independente do flagrante, ou, ainda,
Por disposição do parágrafo único do art. 312, como conversão deste, a prisão preventiva submete-se
também será admitida a prisão preventiva quando às exigências do art. 312 e do art. 313, ambos do CPP;
houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando, porém, for decretada subsidiariamente, isto é,
quando esta não fornecer elementos suficientes como substitutiva de outra cautelar descumprida, não se
para esclarecê-la. Porem, após a identificação, salvo exigirá a presença das situações do art. 313, CPP.
se outra hipótese recomendar a manutenção da medida, DICAS DE CONCURSOS:
o preso deve ser colocado em liberdade imediatamente. A prisão preventiva pode ser decretada em
DICAS DE CONCURSOS: qualquer fase da persecução penal. A apresentação
A simples alusão à gravidade abstrata do delito espontânea do acusado à autoridade policial não
ou referência a dispositivos legais não valida a ordem de impede a sua decretação, nos casos em que a lei a
prisão preventiva, porque o juízo de que determinada autoriza. (Manut.Armamento PM/DF/CESPE/2010)
pessoa encarna verdadeiro risco à coletividade só é de Não cabe prisão preventiva na hipótese de crime
ser feito com base no quadro fático da causa e, nele, culposo, de contravenção penal e no caso de o réu ter
fundamentado o respectivo decreto agido acobertado por causa de exclusão da ilicitude.
prisional.(Adv.DETRAN-ES/CESPE/2010) (Anal.Jud.TRE-MACESPE/2009)
A prisão preventiva é decretada para garantir a
CARACTERÍSTICAS DA PRISÃO PREVENTIVA ordem pública, a ordem econômica, por necessidade da
instrução criminal e para a segurança da aplicação da
A prisão preventiva passou a apresentar duas pena. (Proc.BACNE/CESPE/2009).
características bem definidas, a saber,
a) ela será autônoma, podendo ser decretada
independentemente de qualquer outra FUNDAMENTAÇÃO
providência cautelar anterior; e, A decisão que decretar, substituir ou denegar a
b) ela será subsidiária, a ser decretada em prisão preventiva será sempre motivada(art. 315),
razão do descumprimento de medida constituindo exigência formal de validade da decisão,
cautelar anteriormente imposta. devendo citar com precisão os motivos concretos de
convicção do magistrado, não sendo suficiente a
simples remissão genérica às hipóteses legais.
SITUAÇÕES EM QUE PODERÁ SER IMPOSTA A
PRISÃO PREVENTIVA JURISPRUDÊNCIA:
Há três situações claras em que poderá ser O despacho que decreta a prisão preventiva,
imposta a prisão preventiva: quando falho, não se considera sanado por
a) a qualquer momento da fase de fundamentação suplementar, depois de haver produzido
investigação ou do processo, de modo efeitos. (1) Com base nesse entendimento, a Turma
deferiu habeas corpus para conceder liberdade
autônomo e independente (art. 311, CPP);
provisória ao paciente, cuja situação fora agravada por
b) como conversão da prisão em flagrante, despacho de juiz convocado do TRF da 2ª Região. Na
quando insuficientes ou inadequadas outras espécie, o aludido magistrado, em igual medida, embora
medidas cautelares (art. 310, II, CPP); e tivesse reconhecido a fragilidade do decreto de prisão
c) em substituição à medida cautelar preventiva, determinara ao juízo de origem que
eventualmente descumprida (art. 282, §4º, motivasse adequadamente sua decisão. Considerou-se
CPP). que, no caso, o ato do juiz convocado configurara
reformatio in pejus, viabilizada com a impetração do writ
MOMENTO DA DECRETAÇÃO – ART. 312 naquela Corte, uma vez que o correto seria a concessão
da liminar. (2) Asseverou-se, também, que a
Em qualquer fase da investigação policial jurisprudência do STF orienta-se no sentido de que, se o
ou do processo penal, caberá a prisão preventiva paciente foge para não se sujeitar à prisão reputada
decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação injusta, não há razão nem necessidade da prisão
102 DIREITO PROCESSUAL PENAL
cautelar para garantia da aplicação da lei penal. d) Garantia da ordem econômica: Hipótese
Precedentes citados: HC 44499/SP (DJU de 23.2.68); introduzida pela Lei Antitruste (Lei nº 8.884/94) consiste.
RHC 56900/RJ (DJU de 27.4.79); HC 91971/RJ (DJE Na verdade, trata-se de uma especificação da garantia
22.2.2008). (3) HC 93803/RJ, rel. Min. Eros Grau, da ordem pública.
10.6.2008". e) descumprimento das obrigações impostas
com as medidas cautelares.
DICA DE CONCURSO: Com a nova Lei 12.403/2011 , além dos
elementos já consagrados para fundamentar o decreto
Configura reformatio in pejus, que invalida a
de prisão preventiva (garantia da ordem pública,
ordem de prisão, a decisão de tribunal de justiça que, ao
conveniência da instrução processual e para assegurar
negar provimento à apelação da defesa, determina a
a aplicação da lei penal) foi acrescido mais um motivo
expedição de mandado de prisão contra recorrente que
para o decreto de prisão preventiva: quando for
adquiriu, na sentença condenatória, o direito de recorrer
violada uma das medidas cautelares impostas.
em liberdade até o trânsito em julgado da decisão.
(Anal.Jud.Exec.Mand.STF/CESPE/2008) ATENÇÃO:
Os motivos ou fundamentos da prisão
REQUISITOS PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO preventiva são taxativos, não se permitindo a utilização
PREVENTIVA fora das hipóteses legais, sob pena de ensejar
concessão de habeas corpus, face à ilegalidade do
O Art. 312 do CPP exige três requisitos: decreto prisional.
1) Indícios suficientes de autoria
Já não será exigida a absoluta certeza da autoria
CONDIÇÕES DE ADMISSIBILIDADE - REQUISITOS
delitiva, entretanto, deverá estar presente uma
NORMATIVOS:
convicção razoável, em termos de probabilidade, de que
o acusado tenha sido o autor da infração ou de que Uma vez presentes os pressupostos e
tenha dela participado. fundamentos, nos termos do art. 312, será admitida a
decretação da prisão preventiva:
JURISPRUDÊNCIA:
a) nos crimes dolosos punidos com pena
'Não se pode exigir para a prisão preventiva a privativa de liberdade máxima superior a 4
mesma certeza que se exige para a condenação. O in (quatro) anos;
dubio pro reo vale ao ter o juiz que absolver ou
b) se tiver sido condenado por outro crime
condenar o réu. Não, porém ao decidir se decreta ou
doloso, em sentença transitada em julgado,
não a custódia provisória' (RT, 554/386)".
ressalvado o disposto no inciso I do caput do
o
art. 64 do Decreto-Lei n 2.848, de 7 de
2) Prova da existência (materialidade) do crime dezembro de 1940 - Código Penal;
Não bastam indícios, devendo ser conclusiva a c) se o crime envolver violência doméstica e
prova da materialidade da infração penal, representada, familiar contra a mulher, criança,
via de regra, em se tratando de infração que deixou adolescente, idoso, enfermo ou pessoa
vestígios, pela presença do exame de corpo de delito. com deficiência, para garantir a execução
das medidas protetivas de urgência.
3) Requisitos de necessidade (periculum in mora): ATENÇÃO!!
a) Garantia da ordem pública: Visa evitar que o Também será admitida a prisão preventiva
delinquente pratique novos crimes contra a vítima, seus quando houver dúvida sobre a identidade civil da
familiares ou testemunhas, representando ainda pessoa ou quando esta não fornecer elementos
proteção social contra réu perigoso que poderá voltar a suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
delinquir, garantindo credibilidade à Justiça, em crimes colocado imediatamente em liberdade após a
que provoquem grande clamor público, diante do perigo identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
social decorrente na demora do provimento definitivo. manutenção da medida.
JURISPRUDÊNCIA: A Lei nº 11.340/06, que cuida do sistema de
STJ: "... quando o crime praticado se reveste de proteção à mulher contra a Violência Doméstica e
grande crueldade e violência, causando indignação na Familiar, já havia incluído nova modalidade de
opinião pública, fica demonstrada a necessidade da autorização para a preventiva, quando o crime
cautela" (RT, 656/374). envolvesse violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos da lei específica, para garantir a
b) Conveniência da instrução criminal: Quando execução das medidas protetivas de urgência (art. 42).
ressaltar a necessidade de assegurar a prova
A recente Lei 12.403/11 manteve a aludida
processual, de modo a impedir a ação do criminoso no
modalidade de prisão preventiva, ampliando-a para a
sentido de fazer desaparecer as provas do crime,
proteção da criança, o adolescente e do idoso, enfermo
apagar vestígios, subornar, aliciar testemunhas ou
ou pessoa com deficiência, de modo a garantir a
ameaçá-las, etc.
execução das medidas protetivas previstas em leis (art.
c) Segurança da aplicação da lei penal: A 313, III, CPP).
necessidade da prisão impõe-se como forma de impedir
o desaparecimento do autor da infração que pretenda se ATENÇÃO!!!
subtrair aos efeitos penais da eventual condenação, Nas modalidades de prisão preventiva, incisos
podendo tornar ineficaz a punição. II e III, do art. 313, e seu parágrafo único:
Não pode ser decretada a preventiva para a) a preventiva somente será decretada se as
assegurar a execução da pena de multa. demais cautelares não se revelarem suficientes ou
adequadas;
DIREITO PROCESSUAL PENAL 103
b) somente será possível a preventiva para A nosso aviso, a nova contagem, no rito
crimes dolosos; ordinário, chegará aos 86 (oitenta e seis) dias, como
regra (e de 107 dias, na Justiça Federal), ressalvadas
c) não se exigirá a pena máxima superior a
circunstâncias específicas de cada caso concreto:
quatro anos, mas, sim, que se trate de pena privativa da
liberdade (ver art. 283, §1º, CPP). a) 10 (dez) dias, ou 15 (quinze) na Justiça
Federal, prorrogáveis, para a conclusão das
investigações;
PRISÃO PREVENTIVA EX OFFICIO b) 05 (cinco) dias para o oferecimento de
Nos termos do art. 311 do CPP, na fase de denúncia;
investigação, a prisão preventiva poderá ser requerida c) 10 (dez) dias para a resposta escrita (art.
pelo Ministério Público, pelo querelante (na ação 396, CPP);
privada) e pelo assistente, além da capacidade de
d) até 60 (sessenta) dias para a audiência de
representação da autoridade policial. Já na fase de
instrução (art. 400, CPP), a serem
processo, instaurada a ação penal, poderão fazê-lo as
acrescidos do prazo de vinte e quatro horas
partes, o assistente e o juiz, de ofício.
para a decisão de recebimento da peça
Uma observação já se impõe: a assistência da acusatória, e, eventualmente, do prazo de
acusação somente tem início no curso da ação penal, prisão temporária (Lei nº 7.690/89).
ou seja, na fase de processo (art. 268, CPP), daí porque
No processo do Tribunal do Júri, o prazo de
incorreto afirmar-se possível o requerimento do
conclusão do procedimento reservado à acusação e à
assistente para a decretação da preventiva na fase
instrução preliminar é de 90 (noventa) dias (art. 412,
preliminar, investigatória, tal como consta do disposto no
CPP), aos quais se somariam o prazo de prisão anterior
citado art. 311, CPP.
(preventiva e temporária, se houver) ao recebimento da
De tudo quanto se disse, chega-se a algumas denúncia ou queixa.
conclusões, a saber:
a) a prisão preventiva, na fase de investigação,
VEDAÇÃO LEGAL À PRISÃO PREVENTIVA
somente pode ser decretada a requerimento
dos responsáveis pela investigação e A prisão preventiva em nenhum caso será
legitimados à persecução em juízo; decretada se o juiz verificar pelas provas constantes
dos autos ter o agente praticado o fato nas condições
b) no curso da ação penal, será possível a
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do
decretação ex officio da prisão preventiva, já
Código Penal, quais sejam:
que, uma vez em curso a atividade
jurisdicional, pode e deve o juiz velar pelo seu I - em estado de necessidade;
desenvolvimento regular e finalístico. II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou
PRAZO DA PRISÃO PREVENTIVA no exercício regular de direito.
O CPP não prevê prazo expresso para a duração O Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65), por sua vez
da prisão preventiva e nem das demais cautelares, ao no art. 236, vedada a prisão ou detenção de qualquer
contrário de algumas legislações. A única exceção em eleitor, no período de cinco dias antes e 48 horas depois
nossa legislação encontra-se na Lei nº 9.034/95, que do encerramento das eleições, salvo em flagrante delito,
cuida das ações praticadas por organizações em virtude de sentença penal condenatória por crime
criminosas, cujo art. 8º estabelece o prazo de 81 dias inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto.
para o encerramento da instrução criminal, quando De outro lado, o § 1º do citado art. 236 prevê que
preso o acusado. os membros de mesa receptora e os fiscais do partido,
bem como todos os candidatos, gozarão do mesmo
Súmula 52 do STJ:
benefício, vedada a prisão ou detenção, porém, 15 dias
―Encerrada a instrução criminal, fica superada a antes das eleições (e, também, 48 horas depois).
alegação de constrangimento por excesso de prazo.‖
Embora o Código Eleitoral não se refira à prisão
A Súmula 21 do STF é no mesmo sentido, temporária, cumpre assinalar a desnecessidade de
referindo-se, porém, à decisão de pronúncia, nos qualquer referência expressa, para estender também a
procedimentos do Tribunal do Júri, para o fim de superar ela (a temporária) a vedação contida no citado art. 236
a alegação de excesso de prazo. do Código Eleitoral.
A Lei nº 11.719/08, no entanto, veio modificar Em primeiro lugar, porque tanto a prisão
totalmente os ritos procedimentais do processo comum, preventiva quanto a temporária são prisões de natureza
ordinário e sumário, com o que haverá que ser feita cautelares, devendo, no ponto, receber o mesmo
nova contagem de prazos para a aplicação da antiga tratamento.
jurisprudência. Em segundo lugar, porque, ao tempo do Código
A contagem do prazo terá início com a prisão do Eleitoral, não existia ainda a prisão temporária, daí por
acusado, seja ela preventiva, seja ela decorrente de que impossível qualquer referência legislativa a ela.
flagrante delito, convertida (em preventiva) em razão da
existência de seus requisitos (art. 310, II, parágrafo
REVOGAÇÃO
único, CPP). É que, a partir da prisão, terá início a
contagem de prazo para o encerramento do inquérito Conforme § 5o do art. 282, o juiz poderá revogar
policial (dez dias na Justiça Estadual; 15 dias, a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta
prorrogáveis, na Justiça Federal), seguindo-se os de motivo para que subsista, bem como voltar a
demais atos processuais (oferecimento da denúncia e decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. O §
início da instrução criminal). 6o ainda dispõe que ―a prisão preventiva será
104 DIREITO PROCESSUAL PENAL
determinada quando não for cabível a sua substituição se sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação
por outra medida cautelar (art. 319).‖ dada pela Lei nº 5.349, de 3.11.1967)
Já o art. 361 dispõe que ―O juiz poderá revogar a
prisão preventiva se, no correr do processo, verificar a DA PRISÃO DOMICILIAR
falta de motivo para que subsista, bem como de novo
decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.‖ A Lei 12.403 deu nova redação ao art. 317 do
CPP, que antes tratava da apresentação espontânea do
acusado. O novo texto trata da prisão domiciliar, que
DISPOSITIVOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL:
determina o recolhimento permanente do indiciado
CAPÍTULO III ou acusado em sua residência, dali não podendo
DA PRISÃO PREVENTIVA ausentar-se senão por meio de autorização judicial
expressa.
Art. 311. Em qualquer fase da investigação
policial ou do processo penal, caberá a prisão A prisão domiciliar, portanto, não se inclui como
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da alternativa à prisão preventiva, tal como ocorre com as
ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do medidas previstas no art. 319. Ela somente será
querelante ou do assistente, ou por representação da aplicada como substitutivo da prisão preventiva e desde
autoridade policial. (Redação dada pela Lei que estejam presentes algumas das hipóteses arroladas
12.403/2011) no art. 318, CPP, ou seja:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser I- ser o indiciado ou acusado maior de 80
decretada como garantia da ordem pública, da ordem (oitenta) anos;
econômica, por conveniência da instrução criminal, ou II- estiver ele extremamente debilitado por motivo
para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver de doença grave;
prova da existência do crime e indício suficiente de III- for imprescindível a medida para os cuidados
autoria. (Redação dada pela Lei 12.403/2011) especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos
Parágrafo único. A prisão preventiva também ou com deficiência;
poderá ser decretada em caso de descumprimento de IV- para a gestante a partir do 7º (sétimo) mês de
qualquer das obrigações impostas por força de outras gravidez, ou quando esta for de alto risco.
medidas cautelares (art. 282, § 4o). (Redação dada pela
Observa-se que, em caso de o juiz determine a
Lei 12.403/2011)
prisão domiciliar, este poderá definir a fiscalização por
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, meio da monitoração eletrônica, conforme art. 146-B, da
será admitida a decretação da prisão Lei 7.210/84 com redação dada pela Lei 12.258/2010.
preventiva: (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
I - nos crimes dolosos punidos com pena
DISPOSITIVOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL:
privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos; (Redação dada pela Lei 12.403/2011) CAPÍTULO IV
II - se tiver sido condenado por outro crime DA PRISÃO DOMICILIAR
doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei Art. 317. A prisão domiciliar consiste no
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código recolhimento do indiciado ou acusado em sua
Penal; (Redação dada pela Lei 12.403/2011) residência, só podendo dela ausentar-se com
III - se o crime envolver violência doméstica e autorização judicial. (Redação dada pela Lei
familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, 12.403/2011)
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão
execução das medidas protetivas de preventiva pela domiciliar quando o agente
urgência; (Redação dada pela Lei 12.403/2011) for: (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
IV - (revogado). I - maior de 80 (oitenta) anos; (Redação dada
Parágrafo único. Também será admitida a prisão pela Lei 12.403/2011)
preventiva quando houver dúvida sobre a identidade II - extremamente debilitado por motivo de
civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos doença grave; (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a III - imprescindível aos cuidados especiais de
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com
manutenção da medida. (Redação dada pela Lei deficiência; (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
12.403/2011) IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de
Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso gravidez ou sendo esta de alto risco. (Redação dada
será decretada se o juiz verificar pelas provas pela Lei 12.403/2011)
constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas Parágrafo único. Para a substituição, o juiz
condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste
23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 artigo. (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
- Código Penal. (Redação dada pela Lei 12.403/2011)
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou DAS MEDIDAS CAUTELARES
denegar a prisão preventiva será sempre motivada.
(Redação dada pela Lei 12.403/2011) A Lei 11.403/2011 criou no capitulo o título ―Das
Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão Outras Medidas Cautelares‖ em substituição ao ―Da
Prisão Administrativa‖.
preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de
motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la,
DIREITO PROCESSUAL PENAL 105
A nova redação apresenta uma gama de imposição de cautelares e, menos ainda, da prisão
medidas cautelares pessoais diferentes da prisão para preventiva, aos crimes para os quais seja cabível a
assegurar a ordem processual. Não são medidas transação penal, bem como nos casos em que seja
originais ou estranhas ao nosso ordenamento. Parte proposta e aceita a suspensão condicional do processo,
delas já estava prevista na legislação penal pátria, seja conforme previsto na Lei 9.099/95, que cuida dos
como sanção restritiva de direitos - como a proibição de Juizados Especiais Criminais e das infrações de menor
frequentar determinados lugares - , seja como espécie potencial ofensivo.
peculiar de cumprimento de privação de liberdade - Em se tratando de crimes culposos, a
como a prisão domiciliar. imposição de medida cautelar, em princípio, não será
admitida, em face do postulado da proporcionalidade;
Espécies: contudo, quando – e somente quando – se puder
antever a possibilidade concreta de imposição de pena
Alem da prisão cautelar, passa a compor o rol de
privativa da liberdade ao final do processo, diante das
medidas cautelares:
condições pessoais do agente, serão cabíveis,
I- comparecimento periódico em juízo, no prazo e excepcionalmente para os crimes culposos, as
nas condições fixadas pelo juiz, para informar cautelares do art. 319 e art. 320, segundo a respectiva
e justificar atividades; necessidade e fundamentação.
II- proibição de acesso ou frequência a
determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o DA LIBERDADE PROVISÓRIA E FIANÇA
indiciado ou acusado permanecer distante Introdução
desses locais para evitar o risco de novas
A Constituição Federal garante o princípio da
infrações;
presunção da inocência ao dispor em seu artigo 5º,
II- proibição de manter contato com pessoa inciso LVII, que "ninguém será considerado culpado até
determinada quando, por circunstâncias o trânsito em julgado de sentença penal condenatória".
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou Assim, o agente preso em flagrante tem o direito
acusado dela permanecer distante; à concessão da liberdade provisória, para que responda
IV- proibição de ausentar-se da Comarca quando ao processo em liberdade.
a permanência seja conveniente ou Dispõe o art. 310, do CPP:
necessária para a investigação ou instrução; Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante,
V- recolhimento domiciliar no período noturno e o juiz deverá fundamentadamente:
nos dias de folga quando o investigado ou (...)
acusado tenha residência e trabalho fixos; III – conceder liberdade provisória, com ou sem
VI- suspensão do exercício de função pública ou fiança.
de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua Definição
utilização para a prática de infrações penais;
A liberdade provisória, segundo Nucci
VII- internação provisória do acusado nas
hipóteses de crimes praticados com violência é a liberdade concedida ao indiciado ou réu,
ou grave ameaça, quando os peritos preso em flagrante ou em decorrência de
concluírem ser inimputável ou semi-imputável pronúncia ou sentença condenatória
(art. 26 do Código Penal) e houver risco de recorrível, que, por não necessitar ficar
reiteração; segregado, provisoriamente, em homenagem
ao princípio da presunção de inocência, deve
VIII- fiança, nas infrações que a admitem, para ser liberado, sob determinadas condições. O
assegurar o comparecimento a atos do fundamento constitucional é encontrado no
processo, evitar a obstrução do seu art. 5º, XXVI (NUCCI, 2006, p.621)
andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial; Trata-se de um Direito subjetivo do acusado
quando se verificar a ocorrência das hipóteses legais
IX- monitoração eletrônica. (Lei nº 12.258, de 15 de que a autorizam.
junho de 2010)
Tem a denominação de liberdade provisória
As medidas cautelares, quando diversas da
porque:
prisão, podem ser impostas independentemente de
prévia prisão em flagrante (art. 282, § 2º, CPP), ao - pode ser revogada a qualquer tempo;
contrário da legislação anterior, que somente previa a - vigora até o trânsito em julgado da sentença
concessão de liberdade provisória para aquele que final condenatória.
fosse aprisionado em flagrante delito. Por isso, podem
ser impostas tanto na fase de investigação quanto na do Diferença entre liberdade provisória, relaxamento e
processo; revogação
As referidas medidas cautelares, diversas da 18
Lembra Leonardo Barreto que ―a liberdade
prisão, poderão também substituir a prisão em flagrante provisória é o remédio cabível para atacar uma prisão
(art. 310, II, e art. 321, CPP), quando não for cabível e em flagrantes legal desnecessária (jamais combate
adequada a prisão preventiva (art. 310, II, CPP). prisão preventiva). Todavia, se a prisão for ilegal, o
Nenhuma medida cautelar (prisão ou outra remédio a ser utilizado é o relaxamento desta prisão.‖
qualquer) poderá ser imposta quando não for cominada
à infração, objeto de investigação ou de processo, pena
privativa da liberdade, cumulativa ou isoladamente (art. 18
283, § 3º, CPP); do mesmo modo, não se admitirá a ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Processo Penal - Parte
Especial. Ed.Juspodivm/2011.
106 DIREITO PROCESSUAL PENAL
No que diz respeito a revogação da prisão, está Nos casos em que couber fiança, o juiz,
pode ocorrer nos casos de prisão preventiva legal e verificando a situação econômica do preso, poderá
necessária e prisão temporária quando esgotado os eu conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às
prazo de duração. obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código
e a outras medidas cautelares, se for o caso. (Art. 530)
Espécies de liberdade provisória: A autoridade policial somente poderá conceder
fiança nos casos de infração cuja pena privativa de
a) Liberdade Provisória com fiança.
liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
b) Liberdade Provisória sem fiança;
ATENÇÃO!
Antes da Lei 12.403 a Autoridade Policial
LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA
somente poderia conceder fiança se a infração fosse
Trata-se de uma premissa constitucional do punida com detenção ou prisão simples.
instituto da liberdade provisória (5º, LXVI).
Nos demais casos, a fiança será requerida à
―ninguém será levado à prisão ou nela mantido, autoridade judiciária, que decidirá em 48 (quarenta e
quando a lei permitir a liberdade provisória, com oito) horas.
ou sem fiança.‖
Pode ser conceda de ofício ou a requerimento do
Para Frederico Marques ―trata-se, pois, de interessado ou de terceiro, sempre em decisão
contracautela destinada a impedir que a dilação do motivada, quando o Juiz julgar conveniente (art. 333
processo condenatório cause dano ao ‗jus libertatis‘ de CPP):
par com o caráter de sub-rogado cautelar da prisão
provisória‖. a autoridade policial, mas apenas nos casos
de infração cuja pena privativa de liberdade
A liberdade com fiança tem, portanto, natureza
máxima não seja superior a 4 (quatro) anos;
cautelar.
a autoridade que presidir os autos nos casos
A principal finalidade da fiança é fazer com que
de prisão em flagrante;
o indivíduo fique vinculado ao processo por laços
econômicos rígidos, evitando seu encarceramento, de juiz competente, nos casos de recusa ou
forma que acompanhe os atos processuais dos quais foi demora da autoridade policial na concessão
intimado e que se apresente em caso de condenação. da fiança, mediante simples petição (Art. 310,
III);
Outras finalidades são a de garantir as custas, a
multa e o pagamento da indenização do dano ex delicto juiz competente nos casos de habeas corpus;
causado pelo crime se for condenado, conforme art.336 juiz competente ou a autoridade policial – a
do CPP (NUCCI, 2008). quem tiver sido requisitada a prisão;
A liberdade provisória com fiança se distinguirá relator nos casos de competência originária
das outras, sem fiança, ou vinculada, pela simples dos Tribunais (art. 557 CPP);
imposição da fiança, que poderá, ou não, vir O termo de fiança deve ser explícito quanto às
acompanhada de outra cautelar (art. 282, §1º e art. 319, condições o obrigações do afiançado e juntado aos
§4º, CPP). autos (art. 329 CPP) e o valor será recolhidos aos cofres
A imposição de fiança será cabível para todos os públicos (art. 331 CPP).
crimes, à exceção: Recusando ou retardando a autoridade policial a
a) dos crimes aos quais não seja imposta pena concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele,
privativa da liberdade (art. 283, §1º) poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o
b) no caso em for cabível a transação penal, e, juiz competente, que decidirá em 48 (quarenta e oito)
ainda, na hipótese de efetiva (proposta e horas.
aceita) suspensão condicional do processo
(art. 76 e art. 89, da Lei 9.099/95); Valor da Fiança – Arts. 325 e 326
c) nos crimes culposos, salvo situação O valor da fiança será fixado pela autoridade que
excepcional, em que seja possível a a conceder nos seguintes limites:
aplicação da pena privativa da liberdade ao
final do processo, em razão das condições a) de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos,
pessoais do agente; quando se tratar de infração cuja pena
privativa de liberdade, no grau máximo, não
d) dos crimes para os quais é vedada a fiança, for superior a 4 (quatro) anos;
expressamente, conforme art.323 e art. 324.
b) de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos,
A primeira e a última hipótese de não cabimento quando o máximo da pena privativa de
da fiança estão previstas em lei e apresentam liberdade cominada for superior a 4 (quatro)
justificativas totalmente diferentes e quase anos.
contraditórias, como já alertamos.
Se assim recomendar a situação econômica do
preso, a fiança poderá ser:
Concessão - Arts. 322 e 335
a) dispensada, na forma do art. 350 deste
Ausentes os requisitos que autorizam a Código;
decretação da prisão preventiva, o juiz deverá
b) reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou
conceder liberdade provisória, impondo, se for o
caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste c) aumentada em até 1.000 (mil) vezes.
Código e observados os critérios constantes do art. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão
282. (Art. 321) ao pagamento das custas, da indenização do dano,
DIREITO PROCESSUAL PENAL 107
da prestação pecuniária e da multa, se o réu for inquérito e da instrução criminal e para
condenado. julgamento;
Se a fiança for declarada sem efeito ou passar >não poderá mudar de residência sem prévia
em julgado sentença que houver absolvido o acusado permissão da autoridade processante, ou
ou declarada extinta a ação penal, o valor que a ausentar-se por mais de oito dias de sua
constituir, atualizado, será restituído sem desconto, residência, sem comunicar àquela autoridade
salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste o lugar onde será encontrado.
Código. (Art. 337). >não pratica outra infração penal (art. 341)
DICA DE CONCURSO:
A fiança, nos casos em que é admitida, será Consequências do descumprimento
prestada enquanto não transitar em julgado a sentença Em caso de descumprimento das obrigações dos
condenatória e tem por finalidade, se o réu for art. 327 e 328, ou de outras medidas cautelares fixadas
condenado, o pagamento das custas, da indenização do pelo juiz, aplica-se o § 4.° do art. 282: "(...) o juiz, de
dano, da prestação pecuniária e da multa.(Anal.Min.MP- ofício ou mediante requerimento do Ministério Público,
PI/CESPE/2012) de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a
medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso,
decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único).
Formas de Prestação de Fiança
-Dinheiro
Cassação - Arts. 338 e 339 CPP
-Pedras
Hipóteses:
-Títulos da Dívida Pública (TDP)
a fiança que se reconheça não ser cabível na
-Imóvel que não esteja gravado com cláusula de
espécie será cassada em qualquer fase do
hipoteca (o juiz analisa o valor do imóvel).
processo;
A fiança poderá ser prestada enquanto não
será cassada a fiança quando se reconheça a
transitar em julgado a sentença condenatória.
existência de delito inafiançável, no caso de
inovação na classificação do delito.
Vedação da fiança – Arts. 323 e 324 Da decisão que cassar a fiança cabe recurso em
O art. 323 traz as situações em que não é cabível sentido estrito (art. 581, V, CPP) sem efeito suspensivo,
fiança, contemplando, de forma expressa, os crimes de que só ocorre no caso de perda de fiança (art. 584
racismo, tortura, tráfico de drogas e terrorismo. Por meio CPP), oportunidade em que a coisa caucionada será
de cláusula aberta, prevê que nos crimes previstos devolvida integralmente ao acusado.
como hediondo e equiparado também não pode haver a
aplicação do beneficio.
Reforço da fiança
Assim não é cabível fiança
O Art. 340 trata das hipóteses de reforço da
a) nos crimes de racismo; fiança.
b) nos crimes de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, terrorismo e
nos definidos como crimes hediondos; Quebra da fiança
c) nos crimes cometidos por grupos armados, Hipóteses:
civis ou militares, contra a ordem regularmente intimado para ato do processo,
constitucional e o Estado Democrático. deixar de comparecer, sem motivo justo;
deliberadamente praticar ato de obstrução ao
Outros casos de não concessão de fiança andamento do processo;
encontra-se disposto no artigo 324 CPP.
descumprir medida cautelar imposta
a) aos que, no mesmo processo, tiverem cumulativamente com a fiança;
quebrado fiança anteriormente concedida ou
resistir injustificadamente a ordem judicial;
infringido, sem motivo justo, qualquer das
obrigações a que se referem os arts. 327 e praticar nova infração penal dolosa.‖
328 deste Código; O quebramento injustificado da fiança importará
b) em caso de prisão civil ou militar; na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz
c) quando presentes os motivos que autorizam a decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares
decretação da prisão preventiva (art. 312). ou, se for o caso, a decretação da prisão preventiva.
Súmula nº 697 do STF: (Art. 343)
A proibição de liberdade provisória nos No caso de quebramento de fiança, feitas as
processos por crimes hediondos não veda o deduções previstas no art. 345 deste Código, o valor
relaxamento da prisão processual por excesso de prazo. restante será recolhido ao fundo penitenciário, na forma
da lei.(Art. 346)
2 - (CESPE - 2008 - PGE-ES - Procurador de Estado) 9 - (CESPE - 2008 - STJ - Analista Judiciário - Área
Ainda acerca do direito penal e do direito processual Judiciária) Julgue os seguintes itens, que versam
penal, julgue os itens a seguir. acerca de habeas corpus e das relações
I- A citação válida no processo penal vincula o réu à jurisdicionais com autoridade estrangeira. As cartas
instância, com todas as consequências dela rogatórias emanadas de autoridades estrangeiras
decorrentes, e, ainda, constitui causa interruptiva da competentes dependem de homologação pelo STF
prescrição. para serem cumpridas e devem estar
acompanhadas de tradução em língua nacional.
3 - (CESPE - 2010 - DPE-BA - Defensor Público)
Considerando o disposto no direito processual penal, 10 - (CESPE - 2008 - DPE-CE - Defensor Público) O art.
julgue o item subsecutivo. 366 do CPP dispõe que, se o acusado, citado por
I- Na atual sistemática processual penal, considera-se edital, não comparecer a audiência nem constituir
completa a formação do processo quando realizada advogado, ficarão suspensos o processo e o curso
a citação válida do acusado, que consiste em causa do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a
de interrupção da prescrição. produção antecipada das provas consideradas
urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva,
4 - (CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Área nos termos do disposto no art. 312. Com base nesse
Judiciária) No que concerne aos princípios dispositivo e no entendimento sobre ele firmado pelo
constitucionais do processo penal, julgue os STF, julgue os itens subsequentes. O disposto no
seguintes itens. art. 366 do CPC é norma processual, de aplicação
DIREITO PROCESSUAL PENAL 119
imediata aos processos que estavam em andamento indicar os artigos aplicados à situação (art.
desde sua entrada em vigor, independentemente da 381, IV e V).
data do fato. Para as decisões interlocutórias, será cabível
apelação, ou em alguns casos, recurso em sentido
11- (TJ/MT–Técnico Judiciário/2008 – VUNESP). estrito.
Quando o réu residir fora do território da jurisdição São requisitos específicos previstos no art.
do juiz processante, sua citação será 381:
a) suspensa até que ele seja encontrado. 1. A qualificação das partes;
b) suspensa e o réu será declarado revel
2. A fundamentação jurídica;
c) realizada por edital.
d) realizada por carta precatória. 3. Os dispositivos legais;
e) realizada com hora certa. 4. Assinatura do Juiz que prolatou a sentença.
ATENÇÃO!!
Gabaritos: 1 - E / 2 – E/ 3 – E/ 4 – C/ 5 – E/ 6 – C/ 7 A falta dos requisitos gera NULIDADE da
– C/ 8 – C/ 9 – E/ 10 – E/ 11-D sentença.
A expedição de precatória
21 O parágrafo único, do art. 514, veda a expedição
Wellington Ataíde Alves, REVISTA JURÍDICA ATAÍDE
de precatória para que seja o réu notificado para a
ALVES. http://ataide.alves.sites.uol.com.br/funcionario.htm
142 DIREITO PROCESSUAL PENAL
apresentação da defesa prévia. Neste tocante – Predominantemente, os tribunais têm dispensado
vedação da expedição de carta precatória – a fundamentação do despacho de recebimento da
doutrinadores da lavra Ada Pellegrini defendem com denúncia no procedimento do art. 514, CPP. Ao
acerto que será possível a expedição de carta contrário, cotejando a questão o princípio da
precatória, sob efeito de violar-se a ampla defesa. fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX, CF),
Tourinho Filho, mais restrito, posiciona-se pela impõe que haja um pronunciamento judicial sobre a
possibilidade de expedição de precatória em caso de ter defesa preliminar do acusado, antes de receber a
sido o servidor transferido pela Administração para outra denúncia. Se assim não for, ou seja, se o juiz estivesse
Comarca. dispensado de fundamentar o recebimento da denúncia,
esvaziado estaria os objetivos de uma defesa preliminar
antes do recebimento da denúncia. O que adiantaria ao
O Ministério Público se manifesta sobre a defesa
réu elaborar uma defesa preliminar se o juiz não está
preliminar?
obrigado a esclarecer os motivos pelos quais não a
Não existe previsão legal. No entanto, a abertura acolhe?
de vista para o Ministério Público tomar conhecimento
Quanto à fundamentação da denúncia nos
da defesa preliminar atende ao mister do Ministério
crimes de ação penal originários, o Supremo Tribunal
Público de promover e fiscalizar a execução da lei (art.
Federal decidiu brilhantemente pela necessidade de
257, CPP).
fundamentação da seguinte forma:
"Considerando a falta de fundamentação do
A notificação prévia (art. 514, CPP) poderá ser acórdão que recebeu a denúncia oferecida contra ex-
dispensada na hipótese de a denuncia fundar-se em prefeito, a Turma deferiu habeas corpus para anular
inquérito policial? decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
Sim, a notificação prévia (art. 514, CPP) objetiva determinando que outra seja proferida, com atenção ao
garantir ao servidor o conhecimento prévio dos fatos disposto no art. 93, IX da CF ("Todos os julgamentos
que lhe são imputados, quando a queixa ou a denúncia dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
estão instruídas com documentos ou justificação, fundamentadas todas as decisões, sob pena de
independentemente de inquérito. nulidade..."). Ponderou-se, ainda, que na ação penal de
Se houve a instauração de inquérito, evita-se que competência originária dos tribunais, na deliberação
o servidor tenha "surpresa" com relação aos fatos lhe sobre o recebimento da denúncia, o tribunal de origem
serão imputados pela queixa ou a denúncia. deve examinar as questões suscitadas no contraditório,
Vejamos a jurisprudência do Supremo Tribunal ainda com possibilidade de declaração de
Federal: improcedência da acusação, em decisão fundamentada
examinando as alegações produzidas, embora com a
"EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E
PROCESSUAL PENAL. PROCESSO-CRIME
discrição imposta por se tratar de juízo de delibação.
CONTRA FUNCIONÁRIO PÚBLICO: NOTIFICAÇÃO Precedentes citados: HC 75.846-BA (DJU de 20.2.98);
PARA RESPOSTA ESCRITA (ART. 514 DO HC 76.258-SP (DJU de 24.4.98)".
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL). INTIMAÇÃO Noutro momento, o Pretório Excelso foi
PARA DILIGÊNCIAS (ART. 499 DO CÓDIGO DE categórico ao afirmar que "na ação penal de
PROCESSO PENAL). NULIDADES. PRISÃO SEM competência originária dos Tribunais, o rito especial
TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO (ART.
5°, INC. LVII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL).
para o recebimento da denúncia é o estabelecido pelos
"HABEAS CORPUS". 1. A notificação do denunciado, arts. 1º ao 6º da Lei nº. 8.038/90 (e Lei nº 8.658/90): há
para resposta escrita, prevista no art. 514 do Código contraditório antes da deliberação sobre a denúncia,
de Processo Penal, só é necessária quando a cujas alegações devem ser obrigatoriamente
denúncia vem acompanhada apenas de documentos examinadas pela decisão que sobre ela delibere".
ou justificação. Não, assim, quando precedida de A fase preliminar do art. 514, do Código de
inquérito policial, que a instrui. Precedentes do S.T.F.
2. Sua falta, ademais, só induz a nulidade relativa,
Processo Penal, se assemelha à do procedimento dos
que fica preclusa, quando não arguida no momento servidores com foro por prerrogativa de função, mas o
próprio". Supremo Tribunal Federal somente em relação a este
último procedimento tem exigido fundamentação do
recebimento da denúncia.
Saída dos autos do cartório
Durante o prazo concedido para a resposta
preliminar, os autos devem permanecer em cartório, Conexão de crime funcional e não funcional: Deverá
onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu ser concedido prazo para a defesa preliminar?
defensor (art. 515). Majoritariamente, tem-se entendido em tais
hipóteses pela dispensa da defesa preliminar,
principalmente que baseada a denúncia em inquérito ou
Ação Penal Originária e Art. 514, CPP quando, nos termos Súmula nº 81, do Superior Tribunal
Decidiu o STF que o art. 514, CPP, "não se de Justiça, "em concurso material, a soma das penas
aplica às hipóteses de ação penal originária (Leis mínimas cominadas for superior a dois anos de
8.038/90 e 8.658/93) que possui normas procedimentais reclusão". Ada Pellegrini defende a imprescindibilidade
próprias". Na ação penal originária, "é assegurado o da notificação preliminar quando o acusado responde a
direito de resposta do denunciado antes da outro crime não funcional.
manifestação do colegiado sobre o recebimento da
denúncia (Lei 8.038/90, art. 4º)" (HC 75.048-RJ, rel. Min.
Carlos Velloso, 2.9.97). O funcionário público que deixou a função ou cargo,
após a prática do delito, e o co-réu não funcionário
têm direito à defesa preliminar?
Recebimento da denúncia exige fundamentação?
DIREITO PROCESSUAL PENAL 143
Não. Quanto ao funcionário público que deixou a permanecerão em cartório, onde poderão ser
função ou cargo, após a prática do delito, notadamente examinados pelo acusado ou por seu defensor.
com o cancelamento da Súmula 394 do STF — no Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída
sentido de que a competência especial por prerrogativa com documentos e justificações.
de função não alcança as pessoas que não mais
Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia,
exercem o cargo ou mandato. O Supremo Tribunal
em despacho fundamentado, se convencido, pela
Federal já havia entendido que a então vigente Súmula
resposta do acusado ou do seu defensor, da
394 não se aplicava à espécie. Ada Pellegrini exige a
inexistência do crime ou da improcedência da ação.
notificação preliminar mesmo quando acusado não mais
exerce a função pública. Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será
o acusado citado, na forma estabelecida no Capítulo I
A tese segundo a qual co-réu não funcionário
do Título X do Livro I.
não tem direito à defesa preliminar é unanimemente
aceita entre os doutrinadores constitucionalistas e entre Art. 518. Na instrução criminal e nos demais
os tribunais superiores . termos do processo, observar-se-á o disposto nos
Capítulos I e III, Título I, deste Livro.
RESUMO:
Denominação Cabimento Prazo para Interposição
Recurso em Sentido Nos 24 casos previstos no art. 581 do CPP 5 dias, razões - 48 h,
Estrito contra-razões - 48 h
Apelação Nas sentenças definitivas condenatórias ou absolutórias de 1° grau 5 dias, razões - 8 dias,
contra-razões - 8 dias
Carta Testemunhável De despacho que deixa de receber qualquer recurso 48 h
Embargos Declaratórios Quando o acordão (sentença de 2.° grau) for ambíguo, contraditório, 2 dias
omisso ou obscuro
Embargos Infringentes Quando não for unânime a decisão de 2.° grau desfavorável ao réu 10 dias
Agravo Regimental Do despacho do relator que deixar de receber os embargos infringentes 5 dias
ou de nulidade
Recurso Ordinário Quando o Tribunal denegar "habeas corpus" 5 dias
Constitucional
Recurso Extraordinário Nos casos enumerados do art. 102, III, alíneas .a., .b., .c. da Constituição 10 dias
Federal
Correição Parcial Sempre que não houver nenhum outro recurso previsto - cabe do erro ou 48 h
abuso que importem em inversão tumultuária do processo
Habeas Corpus Nos casos enumerados no art. 648 do CPP ou quando houver uma Não tem prazo, sempre
coação ilegal que houver uma coação
ilegal
Revisão Nos casos previstos no art. 621 do CPP Em qualquer tempo,
desde que já tenha
condenação
DIREITO PROCESSUAL PENAL 149