Sie sind auf Seite 1von 12

O ensino e a aprendizagem de cálculo

diferencial e integral: características


e interseções no centro-oeste brasileiro
Karly Barbosa Alvarenga
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil.
E-mail: <karlyalvarenga@gmail.com>.

Raquel Carneiro Dorr


Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil.
E-mail: <raqueldoerr@gmail.com>.

Vanda Domingos Vieira


Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Goiânia, GO, Brasil.
E-mail: <vandadomingosvieira@gmail.com>.

Resumo

Este trabalho objetiva apresentar os índices de aprovação, reprovação e cancelamento da disciplina


de Cálculo Diferencial e Integral em três instituições de ensino superior do Centro-Oeste brasileiro
e, além disso, mapear ações desenvolvidas por essas universidades que visem dar subsídios aos estu-
dantes para aprenderem os conteúdos ensinados na referida disciplina. Os dados foram coletados por
meio de informações fornecidas pelas Pró-reitorias de Graduação e de entrevistas realizadas com os
docentes. As reflexões levantadas se enquadram nas discussões realizadas a partir da Cultura Escolar
de Viñao (2008). Observou-se que a cultura escolar, nas três universidades, é muito parecida e que
elas desenvolvem ações, buscando qualificar a aprendizagem do Cálculo para, desse modo, diminuir
a reprovação.
Palavras-chave: Cálculo diferencial e integral. Universidades. Ensino. Aprendizagem. Cultura escolar.

1 Introdução sas; como, por exemplo, as realizadas por Cava-


sotto e Portanova (2008), Cury (2003), Santos e
Matos (2012), Pagani e Allevato (2014), Tarmizi
Muito se comenta sobre as dificuldades de
(2010) e outros.
aprendizagem da disciplina Cálculo Diferencial
É notória a importância dos conteúdos, prin-
e Integral (CDI) não só no Brasil, como pode
cipalmente de funções, derivadas e integrais como
ser verificado no trabalho de Wrobel, Zeferino e
ferramentas matemáticas para a análise de fenô-
Carneiro (2013), mas também no exterior, como
menos físicos, biológicos, econômicos, adminis-
apontado por Rasmussen, Marrongelle e Borba
trativos, contábeis, matemáticos, químicos, com-
(2014). Comentários vão desde os meios infor-
putacionais, das engenharias e de outras ciências
mais entre alunos, professores, pais e jornais1, até
que visam não só um avanço tecnológico, mas,
os meios mais acadêmicos, sendo tema de pesqui-
sobretudo, compreender, descobrir e aumentar o
1 http://extra.globo.com/noticias/educacao/vida-de- conhecimento humano que serve à condução da
calouro/por-que-reprova-se-tanto-em-calculo-no- vida ou ao gerenciamento dos negócios.
-ensino-superior-saiba-como-evitar-13356046.html

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 46
DOI: 10.18256/2447-3944/rebes.v2n4p46-57
O ensino e a aprendizagem de cálculo diferencial e integral…

Por volta de 1750, o próprio matemático Eu- e/ou uma abordagem profunda; isso ocorre, por
ler demonstrou uma preocupação com a aprendi- exemplo, em alguns cursos que não são da área
zagem de Cálculo Diferencial e Integral, quando de exatas.
escreveu um texto de “pré-cálculo”, enfatizando a As dificuldades enfrentadas pelos estudan-
ideia de função (BELINGOFF; GOUVÊA, 2008). tes, em geral, são consequência, segundo alguns
Isso pode indicar que ele tinha consciência que en- professores, da falta de base matemática quando
frentar diretamente os conteúdos de CDI não seria eles chegam à universidade. Porém, essa dificul-
tão simples, mesmo para os matemáticos da época. dade é nacional, como indicam Pagani e Allevato
Neste trabalho, exibimos dados sobre ín- (2014), e também internacional, como pontua o
dices de aprovação, reprovação e evasão, refleti- trabalho de Rasmussen, Marrongellee e Borba
mos, a partir de nossa experiência docente e de (2014). Desse modo, tal justificativa não pode ser,
pesquisa, sobre essa disciplina ou, ainda, sobre os exclusivamente, a responsável pelo alto índice de
conteúdos aí estudados, e apresentamos algumas reprovação.
ações da Universidade Federal de Goiás (UFG), Será que todos os alunos que cursam CDI
da Universidade de Brasília (UnB) e da Pontifícia estudaram e aprenderam conteúdos matemáticos
Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) na da educação básica da mesma forma? É claro que
busca de melhorar a aprendizagem dos estudan- não! Tampouco seus professores foram os mes-
tes e aumentar os índices de aprovação. mos e suas metodologias também não são iguais.
Neste trabalho, não trazemos a discussão so- Segundo Tall (1993, p. 10, tradução nossa) “[...]
bre o que vem a ser uma disciplina ou sobre os independentemente do método utilizado, uma
conteúdos elencados nela. Temos, sim, o intuito insatisfação geral com o curso de cálculo surgiu
de mapear alguns índices e ações dessas institui- em vários países ao redor do mundo na última
ções rumo a vislumbrar uma melhoria de apren- década2“. Alguns pesquisadores vão mais longe ao
dizagem dos conteúdos intrínsecos à disciplina, afirmar, como Rezende (2003), que:
normalmente intitulada Cálculo Diferencial
e Integral I (com variações nominais, mas aqui [...] acreditamos que grande parte das dificulda-
denominamos CDI simplesmente, salvo quando des de aprendizagem no ensino de Cálculo é es-
se fizer necessário apontar o nome específico, no sencialmente de natureza epistemológica. Pode-
contexto de cada universidade), e refletir sobre es- se dizer ainda mais: as raízes do problema estão
além dos métodos e das técnicas, sendo inclusive
ses dados.
anteriores ao próprio espaço-tempo local do en-
De maneira global, nos livros e nas univer- sino de Cálculo. (REZENDE, 2003, p.46)
sidades, os cursos de CDI abordam os assuntos:
1. Funções reais. Limites de funções. Limites Por natureza epistemológica podemos en-
laterais e Continuidade de funções. Teore- tender a gênese e o desenvolvimento dos conteú-
ma do Valor Intermediário. Reta tangente, dos ao longo da história da ciência. As afirma-
derivada, regras básicas de derivação. Deri- ções de Tall (1993) e de Resende (2003) possuem
vadas de funções transcendentes. a mesma característica: apontam a insatisfação
2. Derivadas de composições e inversas de com a aprendizagem e o ensino de CDI, e nos fa-
funções. Derivação implícita e taxas relacio- zem observar que, mesmo havendo o intervalo de
nadas. Otimização. Teorema do Valor Mé- dez anos entre elas, a queixa permanece.
dio. Esboço de gráficos. Regra de L’Hôpital. Raad (2012) indica que uma discussão perti-
3. Integral definida e propriedades. Teorema nente é refletir sobre como a cultura do ensino de
Fundamental do Cálculo. Integral indefi- Cálculo se insere nos espaços públicos e privados
nida. Técnicas de integração: substituição, de ensino superior e aponta que ela aparece em di-
partes, frações parciais, substituição inversa, ferentes matizes. O autor relata que os professores
produtos de funções trigonométricas. Apli- da Universidade de São Paulo (USP), na década de
cações da integral ao cálculo de áreas planas, 60, eram influenciados pelo pensamento de Bour-
comprimento de curvas, volumes de sólidos. baki, ou seja, seguiam uma determinada corren-
te para produzir e expor a Matemática. Observa
Contudo, em alguns cursos, são estudados também que, nos Departamentos de Matemática,
apenas parte desses conteúdos, pois a carga horá-
2 [...] whatever method is used, a general dissatisfac-
ria é menor e as demandas não exigem a vastidão tion with calculus course has emerged in various
countries round the world in the last decade.

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 47
K. B. Alvarenga, R. C. Dorr, V. D. Vieira

existem variedades de professores com formações É importante observar que existem outros
distintas: algebristas, analistas, geômetras e, mais trabalhos que levantam ações e propõe estraté-
recentemente, educadores matemáticos. Assim, o gias que visam à melhoria da aprendizagem de
professor, de alguma forma, tenderá a ministrar CDI, como Sousa (2015). Nesse trabalho há o re-
um curso de acordo com a sua formação: mais lato de uma experiência realizada, durante quatro
formal e demonstrativo, se for um matemático semestres, em um programa extracurricular cria-
“puro”; mais aplicado, se for um matemático da do pela necessidade de se oferecerem alternativas
área de equações diferenciais; mais preocupa- a estudantes de Cálculo que enfrentam dificulda-
do com todo o entorno do processo de ensino e des de aprendizagem. As atividades foram divi-
aprendizagem, se for um educador matemático. didas em três momentos. No primeiro deles, os
Nessa mesma linha, a investigação de Fragoso estudantes realizavam sequências didáticas com
(2011) destaca a influência da formação dos do- o software livre, de geometria dinâmica, GeoGe-
centes na condução dos seus cursos. bra, em laboratório de informática. Nos outros
Não são poucas as pesquisas e inquietações momentos, eles podiam participar de monitorias
em torno do ensino e da aprendizagem dos con- orientadas e de plantão de dúvidas.
teúdos de CDI. As academias já passaram por Historicamente, o modelo dos cursos de
várias experiências, inclusive, houve um movi- CDI, que foram implantados nas universidades
mento, na década de 80, denominado Reforma do brasileiras, teve suas origens na Europa e nos
Cálculo, que ultrapassou as fronteiras estrangei- Estados Unidos (LIMA, 2012). Esse mesmo au-
ras chegando ao Brasil. Esse movimento preconi- tor defende a necessidade da construção de uma
zava, principalmente, o uso de computadores e de identidade própria para o CDI, levando em con-
mais contextualizações, como recursos metodo- ta as exigências e os objetivos específicos de cada
curso de Matemática ou de Engenharia. Tudo
lógicos para melhorar a aprendizagem.
isso com vistas ao progresso da compreensão dos
No Brasil, Pagani e Allevato (2014) indicam
estudantes sobre o que é e para que essa discipli-
que os anos de 2010, 2011 e 2012, foram anos de
na é ministrada.
muita produção de dissertações, representando
Dessa forma, o nosso interesse vai além de
aproximadamente 54% dos trabalhos mapeados
apresentar dados numéricos relativos à discipli-
relacionados a esse tema. Isso mostra interesse da
na, ministrada em três universidades do Centro-
comunidade acadêmica nessa discussão, inclusive
-Oeste. Mapeamos também algumas alternativas
ressaltamos que os conteúdos estudados em CDI,
já implantadas que visam dar suporte para a su-
em muitas circunstâncias, são essenciais para a peração dos obstáculos de aprendizagem.
continuidade dos cursos superiores. Assim, um
alto índice de retenção, nessa etapa, implica em
um tempo maior para que os estudantes se profis-
sionalizem. Portanto, essa preocupação é explicá-
2 Aspectos teórico-metodo-
vel e não atinge somente a esfera da sala de aula, ela lógicos
também atinge os gestores de graduação superior.
Alguns estudos têm sido realizados, como o Para a coleta de dados, entramos em contato
de Raad (2013), na direção da investigação histó- com os órgãos administrativos das universidades,
rica sobre o ensino de Cálculo Diferencial e Inte- fizemos um levantamento dos índices, analisamos
gral. No caso desse autor, a pesquisa foi realizada registros de ações que já haviam sido implantadas
com dados coletados na Universidade Federal de por meio de projetos e fizemos algumas entrevis-
Juiz de Fora (UFJF), durante as décadas de 1970 e tas. Percebemos que estávamos entrando em uma
1980, com a intenção de identificar traços ou ves- área tangente à história da educação. Sentimos
tígios da cultura desse ensino. Já a dissertação de falta de registros e, por isso, tivemos que conta-
Oliveira (2009), intitulada Uma disciplina, uma tar alguns professores, inclusive aposentados,
história: cálculo na licenciatura em Matemática para que nos fornecessem dados. Além dos dados
da Universidade Federal de Sergipe (1972-1990), quantitativos, percebíamos que também merecia
estabelece como ponto central as discussões em- uma atenção as atuações que as universidades vi-
preendidas na Universidade Federal de Sergipe nham realizando para minimizar as reprovações.
(UFS) sobre o CDI no Curso de Licenciatura em Não queríamos analisar os índices isoladamente,
Matemática daquela instituição. e sim, de modo a agregar tais índices às ações que
impulsionam a aprendizagem.

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 48
O ensino e a aprendizagem de cálculo diferencial e integral…

De acordo com Viñao (2012), a iniciativa não somente formado por universidades públicas,
de colocar a análise histórica das disciplinas es- mas também por uma universidade privada.
colares na formação do professor é quase ausen- De acordo com Viñao (2008), para estudar
te, pois eles próprios esquecem que a história da as disciplinas escolares é importante considerá-las
educação não começa quando eles ingressam no como organismos vivos, pois elas não são entes
mundo escolar. Assim, ignoram que a sua disci- abstratos com uma natureza global e imutável.
plina já passou, ou não, por transformações, que Elas surgem e se desenvolvem, evolucionam, se
é fruto de um processo político acadêmico, é con- alteram, esvanecem, tragam umas às outras, se
sequência do pensamento de um grupo de estu- atraem e se rechaçam, se desgarram e se conec-
diosos e é efeito de uma cultura escolar, muitas tam, concorrem entre si, se relacionam e inter-
vezes, instituída há anos. cambiam informações.
Todavia, nesta nossa investigação, nos ate- Muitas vezes, as disciplinas mudam as de-
mos aos relatos de testemunhas e registros ele- signações ou o nome que as identifica frente às
trônicos para subsidiar reflexões que visem situar demais, ainda que, em algumas ocasiões, deno-
essa disciplina no contexto de três universidades minações diferentes mostrem conteúdos simi-
do Centro-Oeste brasileiro. Isso porque entende- lares. Essas designações as representam frente
mos que estamos imersos em uma cultura acadê- a uma comunidade acadêmica ou não. Esse é o
mica, portanto, escolar. Assim, adotamos a defi- caso de Cálculo Diferencial e Integral como dis-
nição de Viñao (1995, p. 69, tradução nossa), que ciplina universitária. Optamos, aqui, pela deno-
a define da seguinte maneira “[...] a cultura esco- minação CDI, mas é relevante destacar que exis-
lar é toda a vida escolar: atos e ideias, mentes e tem inúmeras variações.
corpos, objetos e condutas, modos de pensar, de- Para Bloch (2001, p. 52), o historiador tem a
cidir e fazer. O que acontece é que neste conjunto função de pesquisar, examinar, analisar, porém:
existem alguns aspectos que são mais relevantes
que outros, que a definem”. Também entendemos Não deixa de ser menos verdade que face à
como explica Raad (2013, p. 33) que: imensa e confusa realidade, o historiador é ne-
cessariamente levado a nela recortar o ponto
A noção de cultura escolar trouxe ao campo de aplicação particular de suas ferramentas:
historiográfico educacional a possibilidade de em consequência, a nela fazer uma escolha que,
ampliação de estudos, antes limitados ao enten- muito claramente, não é a mesma que a do bió-
dimento das políticas, organização e pensamen- logo, por exemplo; que será propriamente uma
to educacionais. Esta mudança perpassa logica- escolha de historiador. Este é um autêntico pro-
mente pelo universo documental a ser utilizado blema de ação. Ele nos acompanhará ao longo de
pelo pesquisador, que necessariamente se amplia. nosso estudo.
Quando se tem como objetivo analisar as normas
e finalidades que regem uma faculdade ou um Em nossa pesquisa, o recorte é realizado
departamento, ou o papel desempenhado pela não só ao mapear as estratégias que as universi-
profissionalização do educador, ou ainda os con- dades selecionadas têm seguido para dar suporte
teúdos ensinados e as práticas de ensino é preciso à aprendizagem de CDI, mas também, ao fazer
tenacidade ao procurar os documentos, conside- um levantamento de dados numéricos recentes
rando que a riqueza e confiabilidade que caracte- relativos às desistências e às aprovações.
riza um trabalho parte do número e dos tipos de
fontes recorridas. Isso, por conseguinte, exige re-
finamento metodológico e analítico da pesquisa.
3 Universidade Federal de
É a história sendo gerada para discutir pro- Goiás: dados e discussões
blemas que permeiam todo o entorno de uma ins-
tituição de ensino superior. Neste caso, decidimos O Instituto de Matemática e Física (IMF) foi
que três universidades, consideradas importantes criado em 1964. Inicialmente era composto pelos
para a formação profissional em Goiás e no Dis- Departamentos de Matemática (criado em 1971),
trito Federal, seriam nossos objetos de estudo. Elas de Física (1971), de Estatística e Informática
foram escolhidas porque nelas trabalham as auto- (1975). Depois foi subdividido em três institutos:
ras deste artigo e também por formarem um grupo IME (criado em setembro de 1996), Instituto de
triangular de investigação sobre CDI. Deste modo, Física (IF) e Instituto de Informática (INF).
as fontes são variadas e delineiam um contexto

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 49
K. B. Alvarenga, R. C. Dorr, V. D. Vieira

Os cursos que possuem conteúdos relacio- B), em um total de 34 cursos diferentes. Em 2015-
nados ao Cálculo Diferencial e Integral - CDI, ou 2, segundo semestre de 2015, o IME ofereceu em
seja, cujos conteúdos tratam de funções, limites, torno de 30 turmas com média de 50 alunos por
derivadas e integral, todos ou parcialmente, são turmas, perfazendo um total aproximado de 1500
ofertados, principalmente, nas engenharias: de vagas. Levando em consideração às proporções
Alimentos, Civil, da Computação, Ambiental, de matrículas na UFG-Goiânia, o número de va-
Elétrica, Mecânica, Florestal, de Transportes, de gas é alto. Essa é uma tentativa de proporcionar
Produção, Química e Física. Os demais são: Quí- aos estudantes mais oportunidades de superar
mica (licenciatura - L e Bacharelado - B), Física essa etapa e avançar em seus cursos.
(L e B), Física Médica, Zootecnia, Agronomia, Em relação aos índices de aprovação, re-
Farmácia, Biomedicina, Ciências Ambientais, provação e cancelamento, podemos verificar, de
Ciências da Computação, Geologia, Arquitetu- acordo com a Tabela 1, que o índice de reprova-
ra e Urbanismo, Biotecnologia, Administração, ção e de cancelamento dos alunos matriculados
Matemática (L e B), Ciências Contábeis, Ciências no primeiro semestre de 2015-1, na UFG, foi o
Econômicas, Estatística, Ciências Biológicas (L e seguinte:

Tabela 1 – Dados sobre reprovação e cancelamento de 2015-1


Reprovados (mé- Cancelamento
dia aritmética) (média aritmética) Reprovados Cancelamento
Denominação
Intervalo Intervalo (moda) (moda)
5% a 78% 2% a 47%

Cálculo 1, Cálculo 1A, Cál-


culo 1B, Cálculo 1C, Cálculo
Dif. e Int. e Geometria Ana-
lítica, Matemática Aplicada, 39% 17% 39% 22%
Cálculo I, Cálculo para Eng.
Elétrica 1, Elementos de Ma-
temática
Fonte: Elaborado pelas autoras com dados fornecidos pela PROGRAD- UFG.
A taxa de trancamento de matrícula não foi Tabela 2 – Dados de 2015-1 sobre Matemática
apresentada por não ser significativa, isto é, hou- Elementar
ve pouca ocorrência desse fenômeno. O fato da Reprovados Cancelamento
porcentagem da média aritmética ser a mesma (média arit- (média arit-
da moda pode indicar que, realmente, essa é uma Denominação mética) mética)
taxa próxima do real. Isto é, aproximadamente, Intervalo 5% Intervalo 2% a
39% dos estudantes que ficam até o final do curso a 78% 47%
são reprovados. A taxa de cancelamento também
Matemática
é alta e o erro dessa previsão é pequeno, pois a 49,5 18,25
Elementar
moda também não se distancia dela.
Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da PRO-
Até o semestre referente a 2015-2, o IME
GRAD-UFG.
oferecia turmas de Matemática Elementar para os
alunos dos cursos de Bacharelado e de Licencia-
As taxas de reprovação e de cancelamento
tura em Matemática, com o intuito de subsidiar
do curso de Matemática Elementar são maiores
a aprendizagem, principalmente, dos conteúdos
que as taxas da disciplina de CDI.
abordados na disciplina CDI. Contudo, o índice
de reprovação também tem sido alto (conforme
se verifica na Tabela 2) e não foi possível estabe- 3.1 O curso de CDI da UFG
lecer, até o momento, a existência de uma relação
entre o desempenho dos alunos em Matemática Hoje, a UFG, por meio do IME, oferece vá-
Elementar e o de CDI. rios tipos de CDI (vide Tabela 1), cujas diferenças
estão no âmbito da abrangência de conteúdo e na
carga horária, que varia de 96h a 64h semestrais.

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 50
O ensino e a aprendizagem de cálculo diferencial e integral…

Isso visa atender, de forma mais direta, às deman- Vivenciando o Cálculo no Curso de Matemática,
das de cada curso. projeto fundamentado na Educação Tutorial, no
Em 2014, a Pró-reitoria de Graduação apre- qual a equipe realiza atividades junto a alunos da
sentou um dado que preocupou várias instâncias disciplina de Cálculo em um ambiente de estudo
acadêmicas: em torno de 1800 estudantes, naque- denominado Círculo Tutorial, com o intuito de
le ano, já haviam sido reprovados, pelo menos propiciar mais aprendizagem; Cálculo como ativi-
uma vez, em CDI. Então, em acordo com o IME, dade de descoberta de vocações para as Engenha-
resolveram ministrar um curso de Matemática rias, cujos objetivos principais são trabalhar com
Básica, principalmente para atender às necessi- atividades de Cálculo Diferencial e Integral com
dades de “fortalecê-los” para enfrentar novamen- alunos voluntários da educação básica para desco-
te essa disciplina. Foram feitas várias chamadas, brir e orientar talentos para as Engenharias.
por meio de divulgação interna, para que os es- Há ainda uma ação desenvolvida pela Coor-
tudantes realizassem uma avaliação para que, denação de Inclusão e Permanência, por meio
depois, aqueles que realmente quisessem e sen- do Espaço Afirmativo, em que os alunos estran-
tissem necessidade, participassem de tal curso. geiros e também os estudantes transexuais, qui-
Somente 390 se inscreveram e desses, em torno lombolas e indígenas têm apoio para desenvolver
de 180 realizaram essa avaliação. Foram oferta- seus estudos em CDI. Ademais, o IF tem uma
das, no primeiro semestre de 2015, três turmas de disciplina Introdução à Física, oferecida no pri-
Matemática Básica e uma denominada Matemá- meiro período dos estudantes dos cursos, sob a
tica Básica Inclusiva, no geral, em torno de 150 responsabilidade desse instituto, com o intuito de
matriculados, incluindo aí não somente os que se sanar algumas dificuldades básicas e melhor pre-
submeteram à avaliação. pará-los para enfrentar os conteúdos pertinentes
Os resultados não foram os previstos, isto é, à Física e, em especial, ao CDI.
esperavam-se mais interessados e o índice de re- Além dessas oportunidades, os estudantes
provação também foi alto. Essa ação foi suspensa têm a opção de frequentar um projeto de Mo-
e depois o IME passou a oferecer turmas extras nitoria para sanar suas dúvidas. Atualmente, o
de CDI, porém, os ministrantes foram escolhidos IME disponibiliza seis monitores de CDI e um
dentre os que são denominados de “professores de Matemática Inclusiva. Não se tem uma análi-
com perfil inclusivo”. se específica dessas ações, isto é, não tivemos in-
O IME tem empreitado iniciativas que vi- formações sobre os impactos delas no aumento
sam à melhoria do ensino e da aprendizagem dos de conhecimento dos participantes, mas estamos
cursos de CDI. Há alguns anos, houve uma nego- cientes de que novas tentativas ainda precisam ser
ciação entre os professores do IME e do IF para realizadas.
que eles trocassem as disciplinas: um professor
do IME ministraria um curso de Física Básica e
um do IF um curso de CDI. Porém, essa iniciativa 4 Universidade de Brasília –
foi pontual e demandava o interesse de mais pro-
fessores para expandir e a experiência não teve
UnB: dados e discussões
continuidade. Ela tinha por objetivo dar outro
tom a essas disciplinas, oportunizando aos alu- O Departamento de Matemática da UnB foi
nos e professores vivenciar uma aprendizagem e criado em 1962 como Instituto Central de Mate-
um ensino mais contextualizado. mática para atender aos cursos de Administra-
Um grupo de professores, na década de 90, ção, Economia e Arquitetura e Urbanismo. Ele
chegou a escrever um texto, que mais tarde se tor- teve entre seus fundadores os professores Geral-
nou um livro, no qual registraram suas observa- do Ávila e Djairo Guedes Figueiredo, importan-
ções e experiências de forma a atender as deman- tes nomes relacionados à Análise Matemática no
das dessa disciplina. Tal obra tinha por finalidade Brasil (SOUZA, 2015). Nos dias atuais, o departa-
ser mais didática e objetiva. mento está inserido no Instituto de Exatas – IE –
Existem alguns projetos, acolhidos pela Pró- juntamente com os departamentos de Estatística
-reitoria de Extensão da UFG, que também pos- e de Ciência da Computação.
suem o intuito de dar suporte aos estudantes no A UnB oferece, atualmente, aproximada-
desenvolvimento dos cursos de CDI. Por exemplo: mente 1900 vagas de CDI, com denominações di-
ferentes, como Cálculo I, Introdução à Matemá-

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 51
K. B. Alvarenga, R. C. Dorr, V. D. Vieira

tica Superior e Matemática I. São em torno de 33 A carga horária semestral do curso é de 90


cursos superiores, que demandam os conteúdos (noventa) horas que equivalem a 6 (seis) créditos.
antes elencados, ou parte deles. Assim como na Essas noventa horas são distribuídas em três en-
UFG, os cursos na área de engenharia são os que contros semanais, com duração de cento e dez
mais apontam a necessidade de tais assuntos. minutos no período diurno e cem minutos no
Em relação aos índices de aprovação, repro- período noturno.
vação e trancamento, tivemos acesso às informa- A partir do segundo semestre de 2013, o
ções que nos foram repassadas pela Comissão de Departamento de Matemática introduziu, nos
Graduação do Mat/UnB. No curso de Matemáti- cursos de CDI (Cálculo I, neste caso), uma meto-
ca I, os dados mais recentes mostram que o índice dologia de ensino em que a primeira aula sema-
de aprovação é de 53,10% no segundo semestre de nal é teórica e as demais são aulas de exercícios.
2014. Não há dados de Introdução à Matemática A aula teórica recebeu o nome de aula magistral.
Superior. Quanto ao Cálculo I, os dados da Tabe- Elas são realizadas em anfiteatros com capacida-
la 3, apresentada a seguir, trazem, em termos de de para abrigar duas turmas de diferentes cursos.
porcentagens de aprovação, reprovação e tranca- As aulas de exercícios são realizadas em grupos
mento de matrículas, os resultados do primeiro menores. Nesse momento, as turmas que estavam
semestre de 2015. Observamos que entre os re- juntas na aula magistral são atendidas separada-
provados foram computados os estudantes que mente. Para essas aulas, são designados, na maio-
desistiram do curso. ria das vezes, professores que não são os mesmos
professores da teoria. A orientação para essas
Tabela 3 – Dados sobre aprovação, reprovação e aulas é que os professores sejam mediadores nas
trancamento de 2015-1 resoluções das listas de exercícios.
Aprova- Reprova- Tranca- Semanalmente, são distribuídas duas listas.
Denominação Uma delas foi denominada Lista de Fixação da
dos dos mentos
Teoria. Ela contém exercícios de resolução mais
Cálculo 1 51,10% 44,05 4,85
direta. A segunda lista é a Lista de Aplicação, que
Fonte: Elaborado pelas autoras com dados fornecidos pela
Comissão de Graduação MAT/UnB.
traz aplicações práticas do conteúdo ministrado
na semana, pertencentes a diferentes áreas.
Dados como os da tabela acima têm sido Os estudantes têm como apoio extraclasse
catalogados desde 2011 por um grupo de profes- as monitorias que são oferecidas pelo departa-
sores do MAT/UnB. Eles revelam que os índices mento, todos os dias, entre 12h e 13h50min ou
de reprovação têm se mantido em torno de 50% entre 18h e 19h. Além disso, os estudantes podem
nos últimos cinco anos. Por serem elevados, esses tirar dúvidas em fóruns específicos, na página
índices necessitam ser considerados pelos profes- do curso no ambiente de aprendizagem construí-
sores e coordenadores para discutirmos ações a do no Moodle (Acrônimo para Modular Object-
fim de se buscarmos alternativas para aumento -Oriented Dynamic Learning Environment, que
de aprovação. é um Software livre e gratuito desenvolvido para
uso educacional).
Esses fóruns são respondidos por qual-
4.1 O curso de CDI da UnB quer professor ou monitor da disciplina. Todas
as informações sobre o curso, incluindo as lis-
A disciplina CDI, da Universidade de Bra- tas, bem como links para vídeo-aulas e material
sília, oferece vagas para todos os cursos de gra- complementar, com teoria e exercícios para cada
duação que tem essa disciplina como obrigatória tópico do curso, são disponibilizados no Moo-
em sua grade curricular. No Departamento de dle. A maior parte desse material foi elaborada
Matemática, que fica no Campus Darcy Ribeiro, por professores do Departamento de Matemática
foram ofertadas, no primeiro semestre de 2015, da UnB.
dezenove turmas (quatorze no período diurno A reestruturação do CDI na UnB revela
e cinco no período noturno) no modelo magis- uma preocupação do corpo docente com a atua-
tral, que será descrito a seguir, e mais 10 turmas lização de suas práticas de sala de aula bem como
na modalidade semipresencial, com um número uma preocupação com o ensino e a aprendizagem
total que ultrapassa mil estudantes matriculados da disciplina. Entendemos que tais inquietações
no início do semestre.

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 52
O ensino e a aprendizagem de cálculo diferencial e integral…

necessitam ser revertidas em ações ainda mais os dados sobre a quantidade de alunos aprovados,
eficazes, que propulsionem a aprendizagem real reprovados e reprovados por falta (não temos in-
de nossos estudantes. formações precisas sobre o índice de cancelamento,
então aqui estamos considerando a característica,
reprovados por falta) de um total de 8074 matrícu-
5 Pontifícia Universidade las entre 2010 e 2013-1.
Católica de Goiás – PUC GO:
Tabela 4 – Dados sobre aprovação, reprovação e
dados e discussões reprovados por falta, em geral, no curso de CDI I
entre 2010 e 2013-1
Em 1961, foram criados os cursos de Mate- Cancelamento
mática e Física, com um único coordenador; esses Denomi- Aprova- Reprova-
/ reprovado por
nação ção ção
cursos eram vinculados à Faculdade de Filosofia falta
Ciências e Letras. Com a Reforma Universitária CDI I 38,12% 61,88% 14,8%
de 1968 e com base na Lei no 5.540/68, criou-se o
Fonte: Secretaria do Departamento de Matemática, Física
Departamento de Matemática e Física. A partir Química e Engenharia de Alimentos.
desta reforma, a Universidade de Goiás passou
a denominar-se Universidade Católica de Goiás As licenciaturas, no mesmo período, tive-
(UCG), que optou por uma organização em de- ram 346 matrículas com 132 aprovados, isto é,
partamentos com cursos e disciplinas considera- no período observado, a aprovação foi de 38,15%
das epistemologicamente afins. e a reprovação de 61,85%. A partir desses dados,
O Departamento de Matemática, desde a sua pode-se verificar que o percentual de aprovados
criação, foi o responsável por quase todas as dis- e reprovados nas licenciaturas é praticamente
ciplinas dos cursos de matemática, física e, mais o mesmo quando se observa o número total de
tarde, química, além daqueles cursos que trazem matriculados no período compreendido entre os
em sua proposta curricular disciplinas envolven- anos de 2010 a 2013. Considerando a Licenciatu-
do CDI. Atualmente, a PUC GO deixou a sua or- ra em Matemática, os aprovados foram 47,62% e
ganização de departamentos para uma organiza- reprovados 53,38%, só em 2013-1.
ção em Escolas. Os cursos de Matemática, Física Em 2012, o percentual de aprovados foi mais
e Química foram agregados a Escola de Ciências elevado, comparando com os outros semestres.
Exatas e da Computação, que ainda são os res- Isto aconteceu no semestre em que foi implanta-
ponsáveis por disciplinas que compõem as grades do o Projeto Calcule! (descrito no tópico a seguir).
curriculares das diversas engenharias, Biologia, No entanto, nos períodos que sucederam essa
Farmácia, Economia, dentre outros. implantação, o percentual foi inferior a este. Nos
Em relação aos índices de aprovação, repro- dois primeiros semestres deste projeto, a meto-
vação e cancelamento, Machado (2013), em sua
dologia foi discutida e modificada considerando
pesquisa, mostra que:
a avaliação diagnóstica aplicada no início do se-
mestre. Isso indica que as propostas de apoio à
Através de dados fornecidos pelo Departamento
Matemática, Física, Química e Engenharia de ali- aprendizagem de CDI ainda não são suficientes
mentos, desde o segundo período de 2010 até o para aumentar o conhecimento dos estudantes.
primeiro período de 2013, a quantidade de matrí-
culas realizadas na disciplina MAF 2001 – Cálcu- 5.1 O Curso de CDI da PUC GO
lo Diferencial e Integral I em toda a universidade
foi de 8074, destes apenas 38,12% foram aprova-
dos. Nos cursos de licenciatura, em seis semestres Existem ainda poucos estudos voltados para
o número de alunos matriculados foi de 346, em o ensino de graduação, uma vez que se fala mui-
que apenas 132 foram aprovados, corresponden- to em reprovação, principalmente nas disciplinas
do a 38,15%. (MACHADO, 2013, p. 32). que envolvem matemática. Em relação à repro-
vação, na graduação, CDI continua sendo um
A disciplina CDI, com o mesmo código, é grande desafio para os professores. Na PUC GO,
ofertada para os cursos de Matemática, Física, Quí- a disciplina CDI (aqui denominada Cálculo Di-
mica e Engenharias. Na Tabela 4, são apresentados ferencial e Integral I) tem seis créditos semanais

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 53
K. B. Alvarenga, R. C. Dorr, V. D. Vieira

distribuídos em três aulas de 1h e 30min. A meto- Observamos que, apesar da PUC-GO ter
dologia mais usada é a aula expositiva dialogada, apontado um índice pouco maior de reprovação,
finalizando com lista de exercícios. deve ser observado se as regras de cancelamento
Para auxiliar o aluno com dificuldades nessa da disciplina constituem impeditivo para o estu-
disciplina, a universidade tem o programa de Mo- dante desistir e, assim, esse fato pode ter incidido
nitoria e, nos últimos três anos criou–se o Projeto diretamente nessa taxa. A UFG apresenta várias
Calcule!. Ele é diferente da monitoria, porque é ações que visam à melhoria do ensino e da apren-
desenvolvido pelos professores do curso de Ma- dizagem de CDI, mas não tem estudos sobre o
temática, que atendem aos alunos da disciplina impacto delas.
Cálculo Diferencial e integral I em diversos horá- Em relação à quantidade de cursos ofereci-
rios. Ele surgiu diante das dificuldades em estudar dos por essas instituições que indicam a necessi-
de forma autônoma, de ler e entender conceitos e dade de CDI em sua profissionalização, o número
definições, além do pouco conhecimento de ma- de alunos e a quantidade por turma são próxi-
temática básica, geometria plana e espacial, apre- mos, em ambas as universidades. Dessa forma,
sentado pelos alunos. São oferecidos atendimen- as culturas acadêmicas dessas instituições refle-
tos aos alunos com o objetivo estudar Matemática tem a constante preocupação com essa disciplina
Básica e resolver exercícios e problemas de CDI I. e, em sintonia com Viñao (2008), notamos que,
Nos cursos CDI I da PUC GO, a ementa traz mesmo mudando de denominação nas próprias
o estudo de derivadas, integrais e suas aplicações. instituições, ela se desenvolve de forma parecida:
Mas isto não garante que todos os alunos consi- existem ações que visam à melhoria da aprendi-
gam estudar e aprender o que está previsto. Nas zagem dos alunos, que se alteram com o passar
reuniões de CDI I, planejamos e discutimos a dos tempos, mas essencialmente não percebemos
proposta do curso, mas quando fazemos atendi- uma implementação que realmente minimize os
mento aos alunos, em geral, o que foi planejado e efeitos negativos da falta de aprendizagem.
discutido não aparece. Semestralmente, o número Muitos são os cursos de graduação que ne-
de turmas varia entre 30 e 35 com 60 alunos cada. cessitam de CDI para formarem seus estudantes.
Não temos dados recentes sobre o trabalho Assim, vemos o quão impactante é investigar não
que é desenvolvido no Projeto Calcule! Porém, a só numericamente os dados relativos à essa dis-
partir dele, sugiram subprojetos que investigam ciplina, mas também as atuações dessas univer-
contribuições para a aprendizagem nas discipli- sidades rumo a mudanças nesses índices de de-
nas dos cursos de Física e engenharias. sistência e reprovação. Desse modo, poderemos
O programa Monitoria ocorre da mesma nortear novos planejamentos e execuções que
forma que ocorre em várias universidades: um visem à alteração desses fatos.
ex-estudante de CDI I, que obteve bom aprovei- Interessante observar que nessas universi-
tamento, participa de uma seleção e, se seleciona- dades o CDI foi iniciado em tempos iguais, isto
do, de acordo com o número de vagas, recebe um é, em torno de 1961, então a cultura escolar dessa
bolsa para atender aos estudantes que possuem disciplina principiou, com características locais e
dúvidas. próprias diferentes, mas com fragilidades e desa-
fios muito parecidos.

6 CDI e as Universidades
7 Conclusões parciais
As universidades, aqui analisadas, desenvol-
vem ações de melhoria, procurando diminuir a Observamos que as áreas científicas, que
reprovação e também qualificar os seus cursos. demandam o ensino dessa disciplina, são va-
A metodologia desenvolvida pela UnB é interes- riadas como: biológicas, físicas, tecnológicas,
sante e parece estar surtindo efeito, pois a taxa matemáticas, arquitetônicas, administrativas,
de aprovação é superior às taxas apresentadas químicas, econômicas, estatísticas e outras.
pela PUC-GO e pela UFG. No entanto, é preciso Isso nos leva à reflexão sobre o tipo de CDI que
traçar um perfil dos alunos que frequentam es- será ministrado. Seria de forma única para to-
sas universidades e dizer como esta metodologia dos os cursos, não considerando as nuances e
pode ser eficiente independentemente do aluno. demandas de cada um? Seria importante que pro-

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 54
O ensino e a aprendizagem de cálculo diferencial e integral…

fessores que ministrassem essas disciplinas tives- Quais são os perfis dos alunos que os estudam?
sem um perfil diferenciado dos demais? Existiria Os objetivos dessa disciplina são os mesmos nes-
um tipo de metodologia de ensino que mais acar- sas instituições? Que tipo de avaliação poderia
retasse a aprendizagem? Haveria instrumentos ser realizada diferentemente da tradicionalmen-
avaliativos mais adequados para essa disciplina? te realizada? Dessa forma, torna-se importante a
Quais são os tipos de avaliações implementadas análise da cultura que subsidia o desenvolvimen-
pelas instituições aqui pesquisadas? Essas e ou- to e a consolidação de CDI.
tras questões continuam sem respostas e inquie-
tam a comunidade universitária.
Como foi apresentado anteriormente, o CDI Referências
tem em sua proposta os conteúdos de funções,
limites, derivadas, integrais e aplicações. Indepen- BELINGOFF, W. P.; GOUVÊA, F.Q. A Matemática
dente da área científica, aprender cálculo é com- através dos tempos. São Paulo: Ed. Blucher, 2008.
preender o significado de derivar e de integrar uma
BLOCH, M. Apologia da História, ou, o ofício de his-
função. A aula Magistral da UnB é ministrada ao toriador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
mesmo tempo para dois cursos diferentes e consi-
CAVASOTTO, M.; PORTANOVA, R. Reflexões sobre
dera grupos menores para exercícios e aplicações.
as dificuldades na aprendizagem de Cálculo Diferen-
Na UFG e na PUC GO não foi explicitado
cial e Integral. In: III MOSTRA DE PESQUISA DA
o modelo de sala de aula, ou seja, se existem tur- PÓS-GRADUAÇÃO-PUCRS. Anais... 2008. Dispo-
mas específicas para as engenharias ou áreas das nível em: <www.pucrs.br/edipucrs/online/IIImostra/
ciências biológicas, dentre outros. É importante EducacaoemCienciaseMatematica/62352%20-%20
considerar que as três universidades desenvolvem MARCELO%20CAVASOTTO.pdf>. Acesso em: 06
ações, que buscam qualificar a aprendizagem do jun. 2016.
cálculo, procurando diminuir a reprovação. CURY, H. Análise de erros em cálculo diferencial
Em se tratando de cursos com grande nú- e integral: Resultados de Investigações em Cursos
mero de matriculados, como os de CDI, todas De Engenharia. In: CONGRESSO BRASILEIRO
essas iniciativas revelam a preocupação de uma DE EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA (COBENGE),
comunidade de acadêmicos com as consequên- Campina Grande, PB. Anais... 2003. Disponível em:
cias de altos índices de reprovação e o desejo de se <www.abenge.org.br/CobengeAnteriores/2005/arti-
encontrarem caminhos que promovam a apren- gos/PR-7-62459910053-1115735558533.pdf>. Acesso
em: 06 jun. 2016.
dizagem dos conteúdos aí estudados. Sugerimos
a ampliação e a continuação da pesquisa para, se FRAGOSO, W. C. História da matemática: uma
possível, avaliarmos tais iniciativas. Além disso, disciplina do curso de Licenciatura em Matemática
é preciso que estas ações façam parte da cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora. 2011. 211f.
Dissertação (mestrado profissional em Educação
do ensino dessa disciplina, permitindo sua apren-
Matemática) – Instituto de Ciências Exatas. Universi-
dizagem independente da forma como alunos
dade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG. 2011.
aprenderam Matemática na Educação Básica.
Essa disciplina é arterial, pois se encontra LIMA, G. L. A Disciplina de Cálculo I do Curso de
Matemática da Universidade de São Paulo: um Es-
em praticamente todos os cursos das áreas de
tudo de seu Desenvolvimento, de 1934 a 1994. 2012.
exatas e ainda em alguns de outras áreas. Logo, 445f. Tese (Doutorado em Educação Matemática)
ela reflete a interdisciplinaridade das áreas. – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Da mesma forma, outras investigações são Paulo, 2012.
oportunas, como a análise dos livros didáticos
LIMA, G. L. Em busca de uma identidade para a
adotados, os principais erros cometidos pelos disciplina de Cálculo: primeiras reflexões. In: VI
estudantes, os obstáculos cognitivos, didáticos e SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA
epistemológicos e os mitos matemáticos que po- EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA - SIPEM, 2015,
dem permear essa cultura que, às vezes, leva à Pirenópolis. Anais... Pirenópolis, 2015.
crença equivocada de que “passar em cálculo é MACHADO, D. M. O. Prática metodológica de
para poucos”. resolução de problemas, aplicada no Cálculo Diferen-
Logo, conhecer os elementos que permeiam cial e Integral I da Pontifícia Universidade Católica
essa disciplina pode gerar um impacto reflexivo de Goiás. 2013. 95f. Trabalho Final de Curso (Gra-
em seu planejamento: a melhor forma de minis- duação) – Departamento de Matemática. Pontifícia
trar tais conteúdos é essa que tem sido realizada? Universidade Católica de Goiás. 2013.

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 55
K. B. Alvarenga, R. C. Dorr, V. D. Vieira

OLIVEIRA, F. C. O. S. Uma disciplina, uma história: RESEARCH 2010 (ICMER 2010). Procedia Social and
Cálculo na Licenciatura em Matemática da Univer- Behavioral Sciences 8, p. 377-383, 2010.
sidade Federal De Sergipe (1972-1990). 2009. 198f. VIÑAO, F. A. A história das disciplinas escolares.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade Revista Brasileira de História da Educação - SBHE.
de Educação da Universidade Federal de Sergipe, Maringá, n. 18, 2008.
Aracaju, SE, 2009.
______. História de la educación e história cultural.
PAGANI, E. M. L.; ALLEVATO, N. S. G. Ensino e Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 0, p.
aprendizagem de Cálculo Diferencial e Integral: um 63-82, 1995.
mapeamento de algumas teses e dissertações produ-
zidas no Brasil. VIDYA, Santa Maria, v. 34, n. 2, p. ______. História de las disciplinas, profesionali-
61-74, 2014. zación docente y formación de professores: el caso
espanhol. Pró-Posições, Campinas, v. 23, n. 3, p. 103-
RAAD, R. M. História do ensino de Cálculo Dife- 118, 2012.
rencial e Integral: a existência de uma cultura. 2012.
129f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educa- WROBEL, J. S.; ZEFERINO, M. V. C.; CARNEIRO,
ção Matemática) – Programa de Pós-Graduação em T. C. J. Ensino de Cálculo Diferencial e Integral
Educação Matemática. Universidade Federal de Juiz na última década do ENEM: uma análise usando
de Fora, Juiz de Fora (MG), 2012. o Alceste. In: XI ENCONTRO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. Curitiba, PR. Anais…
RASMUSSEN, C.; MARRONGELLE, K.; BORBA, M. Curitiba, Paraná, 2013. ISSN 2178–034X.
Research on calculus: what do we know and where
do we need to go? ZDM Mathematics Education, v.
46, p. 507–515, 2014.
REZENDE, W. M. Ensino de Cálculo: dificuldades
de natureza epistemológica. 2003. 450f. Tese (Dou-
torado em Educação) – Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
SAD, L. A.; SILVA, C. M. SILVA. Vestígios do Ensino
de Cálculo Diferencial e Integral na Escola Politécni-
ca do Rio de Janeiro (1874-1885). In: 6º ENCONTRO
LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA MATEMÁ-
TICA, 2014. Natal, Brasil. Anais/Actas do... Natal,
2014.
SANTOS, S. P.; MATOS, M. G.O. O ensino de Cálcu-
lo I no curso de Licenciatura em Matemática: obstá-
culos na aprendizagem. Revista Eventos Pedagógicos,
Sinop, v. 3, n. 3, 2012.
SOUSA, G. C. Impacto de programas auxiliares na
disciplina de cálculo diferencial e integral I. In: VI
SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA
EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA - SIPEM, 2015,
Pirenópolis. Anais do... Pirenópolis, 2015.
SOUZA, M. M. Uma história do Departamento de
Matemática da Universidade de Brasília – UNB:
1962-1972. 2015. 229f. Tese (Doutorado) – Universi-
dade Anhanguera de São Paulo, 2015.
TALL, D. Students’ Difficulties in Calculus. In:
INTERNATIONAL CONGRESS ON MATHEMAT-
ICAL EDUCATION - ICME, Plenary presentation
in Working Group 3.Québec, Anais... Québec, CA,
August 1992. Publicado em 1993. Disponível em
<homepages.warwick.ac.uk/dot1993k-calculus-wg-
3-icme.pdf>. Acesso em: jan. 2013.
TARMIZI, R. A. Visualizing Students’ Difficulties in
Learning Calculus. In: INTERNATIONAL CON-
FERENCE ON MATHEMATICS EDUCATION

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 56
O ensino e a aprendizagem de cálculo diferencial e integral…

Teaching and learning of differential and integral calculus:


features and intersections in the brazilian midwest

Abstract

This work aims to analyze the rates of approval, failure and cancellation of Differential and Integral
Calculus discipline of in three higher education institutions in the brazilian Midwest, and also map
actions developed by these universities that aim to give support to students to learn the content taught
in that discipline. Data were collected through information provided by Graduation Pro-Rectors and
interviews with teachers. Analyses were performed from the theoretical based on School Culture,
Viñao (2008). It was observed that the school culture in the three universities, is very similar and they
develop actions seeking to improve learning Calculus to thereby reduce failure rates.
Keywords: Differential and integral calculus. Universities. Teaching. Learning. School Culture.

Data de recebimento: 22/08/2016


Data de aprovação: 14/02/2017
Sistema de Avaliação: Double Blind Review

REBES - Rev. Brasileira de Ensino Superior, 2(4): 46-57, out.-dez. 2016 - ISSN 2447-3944 57

Das könnte Ihnen auch gefallen