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CONSIDERAÇÕES ACERCA DA INTERCULTURALIDADE E DIÁLOGO DE


SABERES1

Sônia Cristina Vermelho


UFRJ/NUTES

A palavra revela-se, no momento de sua expressão,


como o produto da interação viva das forças sociais.
(BAKHTIN, 2006, p. 66)

INTERCULTURALIDADE

Entendemos que a interculturalidade é um fenomeno da sociedade humana. Ao


tratar desse tema adentramos no universo da cultura, com necessidade de distinção entre
cultura e natureza. Por natureza entendemos tanto como o conjunto de tudo que existe
sem os humanos, as condições físicas, a materialidade; quanto como objeto de
conhecimento construído pela ciência, como um “campo objetivo” produzido pela
atividade do conhecimento por meio da técnica e da tecnologia (CHAUI, 2006).
Historicamente o conceito de cultura foi assumindo significados distintos e mais
abrangentes. Inicialmente, na antiguidade, Cultura significava Processo: cultura (cultivo)
de vegetação ou (criação ou reprodução) de animais. Posteriormente passou a ser
utilizado no sentido de cultura como cultivo da mente. Foi somente no século XVIII que
as línguas alemã e inglesa passaram a denominar cultura como uma configuração ou
generalização do “espírito” que, por sua vez, informava o “modo de vida global” de
determinado povo (WILLIAMS, 1992). Herder (1784-1791) foi o primeiro a utilizar o
conceito no plural (culturas) para diferenciar de uma visão unilinear de civilização.
O uso do conceito de Cultura, portanto, a partir dessa dualidade de origem oscila
entre uma referência mais global e outra parcial. Vinculado ao sentido de cultura como
“cultivo da mente”, alguns significados mais comuns:
Cultura = “Cultivo da mente”
a. Um estado mental desenvolvido  pessoa de cultura
b. Os processos desse desenvolvimento interesses culturais,
atividades culturais
c. Os meios desses processos  as artes e o trabalho intelectual

1Texto em construção produzido para discussão com pesquisadores da Universidad de Calli em encontro promovido
pela equipe de pesquisa do projeto “Diálogo de saberes del Pacifico Colombiano en la Enseñanza de las ciencias.
DISAPAC”, nos dias 06 a 11 de outubro de 2016. Para discussão interna.
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Numa perspectiva antropológica e amplamente utilizada na sociologia, o conceito


se relaciona a uma significação em torno do “modo de vida global”. Neste sentido,
historicamente existiam duas posições filosóficas acerca do conceito nessa perspectiva.
As duas posições podem ser assim resumidas:
Cultura = Modo de vida global
a. Ênfase no espírito formador (IDEALISTA) todos os âmbitos de
atividades sociais, mais voltada as especificamente culturais, como
certa linguagem, estilos de arte, tipos de trabalho intelectual
b. Ênfase em uma ordem social global (MATERIALISTA) no seio da
qual uma cultura torna-se específica quanto a estilos de arte e tipos de
trabalho intelectual; estas são consideradas produto direto ou indireto
de uma ordem constituída por outras atividades sociais.

Atualmente, começa a existir certa convergência no entendimento de Cultura


como uma dada ordem social global, ao mesmo tempo em que é formada, também
constitui práticas culturais e produções culturais. Dentro dessa visão convergente do
conceito, Cultura é entendida como um“(...) sistema de significações mediante a qual
necessariamente (...) uma dada ordem social é comunicada, reproduzida, vivenciada e
estudada. ”(WILLIAMS, 1992, p 13)
Resumidamente, Cultura, num sentido mais global é entendida como um
sistema de significações (identidade) essencial e também essencialmente envolvido em
todas as formas de atividade social,

(...) no conjunto internamente articulado dos modos de vida de uma


sociedade determinada e é concebida como o campo das formas
simbólicas (trabalho, linguagem, religião, ciências e artes), produzidas
pelo trabalho do espírito (em Hegel) ou como resultado das
determinações materiais econômicas sobre as relações sociais (em
Marx) (CHAUI, 2006)
Num sentido mais especializado como as atividades artísticas e intelectuais,
incluindo também as práticas significativas em torno da linguagem, das artes, da filosofia,
do jornalismo, da moda, da publicidade etc. Esse sentido remonta a antiguidade onde a
cultura era considerada como o processo de aprimoramento da natureza humana por meio
da educação para possibilitar sua iniciação na vida da coletividade. Neste sentido, é
entendida como uma segunda natureza. (CHAUI, 2006)
Neste sentido, a questão da interculturalidade deve ser reconhecido como um
processo de Inter-culturas, sempre existente na sociedade, desde tempos imemoriais,
intensificado com a globalização e pelo aumento dos processos migratórios. Migrar é
mover-se,
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(...) deslocar-se de um lugar ao outro, implica necessariamente o


contato com o diverso, pertencer a uma cultura, a uma forma de
compreender o mundo e passar a conviver com a outra, a partir do
deslocamento geográfico. (OLIVEIRA, 2013, p. 85)
Se a cultura é nossa segunda natureza, se a compreendermos como “(...) um
processo permante de construção, desconstrução e reconstrução que, em tempos de
rápidos deslocamentos e constante contato intercultural, torna-se extremamente
dinâmico. ” (DANTAS, 2013, p. 18), concluímos que

(...) cultura não é um dado, uma herança que se transmite imutável de


geração para geração, e sim uma produção histórica, isto é, uma
construção que se inscreve na história e mais precisamente na história
das relações dos grupos sociais entre si. (DANTAS, 2013, p. 18)
A interculturalidade nascendo das/nas relações sociais, que são sempre relações
desiguais, nos colocam o desafio de problematizá-las para superar tais desigualdades.
Para tanto, tomamos como definição de Interculturalidade

(...) encontro entre culturas, ou seja, o encontro de diferentes sentidos a


um mesmo código conforme o lugar de que se fala. Assim mesmo
quando nós aparentemente referimos a uma mesma ideia, esta pode
guardar distintas concepções advindas de diferentes culturas
disciplinares, nacionais, regionais, geracionais e assim por diante.
(DANTAS, 2013, p. 18)
Neste sentido, é oportuno considerar que o contato entre culturas é fator de
conflitos, mais do que de convergências, pois acontecem em lugares/territórios que
guardam características culturais próprias. Entendemos Território como a:

(...) ocupação de determinado espaço por determinado grupo,


constituido por critério social: origem e nacionalidade (área de poder e
jurisdição de um Estado), condição cultural, etnia, raça, cor, condição
socioeconômica, local de moradia e outros. (VÉRAS, 2013, p. 62)
É necessário, portanto, considerar o modo como os territórios são organizados,
definidos na sociedade. Enquanto uma sociedade capitalista burguesa, o uso do espaço é
ditado pelas regras de mercado imobiliário, como resultado das políticas públicas e
estatais as quais sendo o Estado burgues, tem a função de facilitar as condições para a
realização do capital. Porém, é fundamental explicitar que Território é mais do que espaço
físico, território é espaço de memória, de vida, de identificação, impregnado de cultura,
oferece materialidade para a comunicação entre membros de um grupo, dos residentes
com seu entorno, e com isso possibilita a consciência da condição de pertencimento.
(VÉRAS, 2013)
Essas características do território possibilitam a constituição das identidades e da
alteridade, no território realiza-se a Alteridade. Na sua origem latina, Alteridade traz a
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ideia de uma transmissão de uma qualidade, uma condição, um estado de ser do outro.
Esse “Estado de Ser” do outro permite traçar os limites daquilo que se reconhece como
seu e o que é do outro; um processo de reconhecimento por meio do outro, ou seja, daquilo
que não sou.(OLIVEIRA, 2013)
Podemos afirmar que a identidade-alteridade são sustentadas e realizadas nos
territorios, pois o local guarda inextricável relação com a identidade, portanto, com a
cultura. A sociedade moderna passou a conviver de maneira intensa com a contradição
entre o globalismo-localismo trazendo para o território a temática do “outro”, da
alteridade, da identidade e de suas representações. É correto pensar que os grupos
humanos que habitam territórios delimitados não ficam isolados de cultura à priori, “(...)
às quais as pessoas naturalmente pertencem, pelo contrário, eles são continuamente
construídos e desconstruidos através do contato. (...) É a este interagir constante com
culturas e universos distintos e diversificados que chamamos de diálogos interculturais”
(OLIVEIRA, 2013, p. 87-88)
Portanto, ao tratar da interculturalidade, estamos tratando de processos sociais os
quais marcam a formação da sociedade humana, que em tempos recentes assumem
proporções globais, colocando em tensionamento a (relativa) estabilidade interna dos
grupamentos humanos. Organizados pela delimitação do espaço físico ou etnico, as
culturas constróem um conjunto de representações que dão a impressão de que é possível
naturalizar conceitos, classificá-los ou selecioná-los, dependendo do sistema de valores
que “emolduram” as relações sociais, os vínculos e as afiliações, que transitam entre a
comunhão e a exclusão do outro. (VÉRAS, 2013). Contudo, as representações, assim
como a cultura, são resultado de processos de construção e desconstrução, processos em
permanente mudança. Se algo é permanente na cultura, é a sua capacidade de
transformação. A seguir, discutiremos a relação individuo e sociedade na atualidade,
tecendo uma crítica ao modo como a sociedade ocidental se organiza e promove a
cultural.

CULTURA: ENTRE O FASCÍNIO E A BARBÁRIE

A factualidade animou o materialismo antigo e o hedonismo, foi decisiva na luta da


ciência física moderna contra a opressão espiritual e no racionalismo revolucionário do
Iluminismo. A nova atitude difere destas pelo espírito de obediência altamente racional
que a caracteriza. Os fatos que dirigem o pensamento e ação do homem não são fatos
da natureza que devem ser aceitos a fim de serem dominados, ou fatos da sociedade que
precisam ser mudados por não mais corresponderem às necessidades e potencialidades
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humanas. Ao invés, são fatos do processo da máquina que aparece ele próprio como
corporificação da racionalidade e da eficácia.(MARCUSE, 1969, p. 118)

Dimensionar a ação do social sobre o indivíduo nas atuais condições, coloca-nos


a necessidade de buscar elementos conceituais para entender essa relação em algumas
áreas do conhecimento, dada a sua complexidade e natureza. O primeiro deles, por estar
no centro do processo, é o conceito de sociedade. Segundo Horkheimer e Adorno (1973),

(...) os homens que formam agrupamentos sociais de qualquer espécie


ou tipo e mesmo quando se privam das propriedades individuais que
lhes são habituais, passando a comportar-se como se diz que é típico
das massas conduzirem-se, atuam sempre, não obstante, segundo
determinações psicológicas próprias de cada individualidade. (p. 20)
A dialética entre indivíduo e sociedade, por conseguinte, ultrapassa a mera
justaposição do indivíduo e do social, ou seja, para compreender essa relação temos
necessariamente que superar os limites que procuram separá-los. Isso também porque,
como discutem os autores, “(...) a sociologia pura não existe, tal como não existe uma
história pura, uma psicologia ou uma economia pura; o próprio substrato da psicologia
– o indivíduo – não passa de uma abstração, se o retirarmos de suas determinantes
sociais”.(HORKHEIMER; ADORNO, 1973, p. 20). O próprio conceito carrega consigo
a dialética entre o individual e o social, entre o psicológico e o econômico, o histórico, o
filosófico. Com isso, podemos dizer que as formas de socialização estão profundamente
marcadas pelos processos econômicos e do estado da técnica e da tecnologia.
O espaço social, enquanto locus de materialização das ações humanas, atua na
formação do indivíduo, assim como esse, em função do que realiza nesses espaços, o
transforma. Se hoje a tônica da sociedade está nos processos de acirramento dos
mecanismos de coerção para garantir um ajustamento do indivíduo a uma lógica social
que vai contra os seus interesses, temos que pensar que isso traz marcas profundas no
indivíduo e na sociedade: viver, presente e continuamente as contradições sociais acaba
por levar à incorporação dessas contradições no/pelo próprio indivíduo. E, se as técnicas
e as tecnologias assumem uma independência de seus fins, tornando-se um fetiche,
igualmente interferem nos processos de constituição do indivíduo e da sociedade uma vez
que aquilo que ela prometia, libertar o indivíduo da servidão, não se cumpriu: a incerteza,
o descrédito frustra os indivíduos. Com isso, sob a égide da Indústria Cultural, o
mecanismo da sublimação repressiva se amplia e atua sobre o sujeito, levando-o a
experiências de frustrações cada vez mais freqüentes e intensas.
Como pensavam Horkheimer e Adorno (1973, p. 39), na fase atual do capitalismo:
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(...) o aumento da socialização manifesta-se (...) em dois aspectos, um


qualitativo e outro quantitativo. Por um lado, a ‘socialização’ de mais
indivíduos, grupos humanos, povos, arrasta-os para o contexto
funcional da sociedade. Essa tendência socializante já se intensificara
de tal modo no século XIX que mesmo os países que se tinham mantido
na retaguarda do pleno desenvolvimento capitalista viam-se, apesar
disso, envolvidos na socialização, no sentido em que ‘não ser ainda’
capitalista ou ‘não estar ainda totalmente’ capitalizado constituía uma
das fontes de multiplicação do capital nos países dominantes e dava
lugar, justamente por isso, a lutas políticas e sociais.

Parece que a fase de expansão territorial do capitalismo encontra-se praticamente


vencida. Dessa forma, nesse início de século XXI, raros os grupos, indivíduos ou povo
que não estão socializados na dinâmica da sociedade da informação, uma sociedade
globalizada em termos de sistema econômico, e tendo ampliado, em dimensão mundial,
as contradições que esse sistema carrega, ou seja, “(...) o progresso acelerado da
socialização não é, sem mais nem mais, uma fonte de pacificação universal nem de
superação dos antagonismos (...)”, antes, podemos afirmar que “(...) será apenas
exagerado dizer que o desenvolvimento da sociedade total faz-se acompanhar,
inevitavelmente, do perigo de total aniquilação da humanidade”. (Horkheimer &
Adorno, 1973, p. 39-40)
A globalização, na sua dimensão sociológica, só foi possível pela existência da
estrutura comunicacional que eliminou as barreiras espaciais e temporais constituindo o
que chamamos hoje de espaço virtual. Mas, há um outro sentido para o aumento do
processo de socialização não quantitativo, mas qualitativo. É a rede de relações sociais
que se torna cada vez mais densa. Desde a mais tenra idade, as pessoas são envolvidas
num processo formativo o qual está muito fortemente alicerçado numa lógica social
homogênea e heterônomica. As instituições sociais, a escola em especial, atuam na
formação e na socialização perpassadas pela mesma racionalidade que governa as
instâncias de decisão dos governos e as empresas.
Essa densa rede na qual o sujeito é envolvido, subjetiva e objetivamente, coloca-
o dentro de limites e autoriza, em grande medida, uma determinada constituição psíquica.
Isso não quer dizer que nas sociedades anteriores à capitalista o controle social fosse
menor ou maior, como os autores mesmo colocam, não cabe fazer medições dessa
natureza; mas é legítimo

(...) observar que foi, justamente, pelo fato de, muito mais tarde e,
sobretudo, na era burguesa, a idéia de Indivíduo ter se cristalizado e,
inclusive, adquirido uma configuração real, que a socialização total
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pôde adquirir agora aspectos que não possuía em tempos idos e pré-
individualistas de Cultura bárbara. Rigorosamente falando, a
socialização afeta o ‘homem’ como pretensa individualidade
exclusivamente biológica, não tanto desde fora mas, sobretudo, na
medida em que envolve o indivíduo em sua própria interioridade e faz
dele uma mônade da totalidade social. Nesse processo, a racionalização
progressiva, como padronização do homem, faz-se acompanhar de uma
regressão igualmente progressiva. (Horkheimer & Adorno, 1973, p. 40-
41)
Essa regressão da qual os autores falam pode ser expressa na sua dimensão
individual e social. Os exemplos são inúmeros: das guerras às políticas econômicas, da
arte à filosofia. Contra essa barbarização crescente, Adorno (1995) em “Educação após
Auschwitz”, alerta que a única força capaz de se contrapor ao princípio que se expressa
nesse processo é a autonomia, ou seja, a capacidade de reflexão, de autodeterminação.
Contudo, a sociedade moderna passou a atuar na formação psíquica das pessoas a
partir de um desmonte do contrato social estabelecido anteriormente no qual havia uma
autoridade maior, um soberano, para o qual devia-se obediência o que permitia, a partir
dessa submissão à autoridade, que os indivíduos sublimassem suas pulsões sádico-
autoritárias para poderem permanecer em sociedade, como integrantes do grupo. A perda
dessa autoridade abriu as possibilidades para que essas pulsões se manifestassem mais
livremente, pois o representante maior da consciência moral, o superego, se viu, a partir
de então, desobrigado diante de uma autoridade que foi destituída de sua potência.
O que Adorno (1995, p. 112) percebe é que “(...) a tendência global da sociedade
engendra hoje, por todas as partes, tendências regressivas, quero dizer, pessoas com
traços sádicos reprimidos”. Se a sociedade deixou o sujeito à deriva, o resultado desse
processo sobre sua própria consciência foi o aumento da servidão. Com a dificuldade cada
vez maior de um sujeito autônomo, o que ele se permitiu foi buscar em outras instâncias
o alicerce para erigir sua sustentação psicológica.
Na cultura ocidental, que vê o sujeito como um objeto que pode produzir riqueza
a partir de sua força de trabalho, as instituições (Escola, Estado, etc) incorporaram as
pessoas transferindo sua servidão para o sistema social, para uma estrutura que
supostamente lhe daria as garantias, a segurança de que precisaria para manter-se material
e subjetivamente, justificando o abandono de parte de si mesmo em prol de um coletivo,
em nome de um contrato social. Mas, o que temos assistido é que esse sistema tem
continuamente mostrado a sua incapacidade de garantir até mesmo o mais básico de uma
vida em sociedade: a própria autoconservação de seus membros. O social, dessa forma,
volta-se para o indivíduo como ameaça, mas também como único espaço para si mesmo.
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Concordando com Adorno (1995), com a consciência mutilada, os problemas de


ordem psicológica se manifestam no corpo também sob a forma de uma personalidade
propensa à violência. Essa violência é hoje estimulada e naturalizada muito fortemente
pelo conteúdo das mídias. A título de ilustração, no relatório elaborado pela Unesco
(CARLSSON; FEILITZEN, 1999) alguns dados são absolutamente preocupantes2: os
heróis da mídia são usados como forma de escapismo e compensação dos problemas reais
das crianças, com uma diferença de que para os meninos são os modelos agressivos que
prepondera, enquanto para as meninas são as estrelas do mundo pop e da música; um
terço do grupo pesquisado cuja origem é de ambiente de agressividade, acredita que a
maioria das pessoas é má; um número significativo de ambos os sexos relata uma forte
coincidência entre o que percebe como realidade e o que vê na tela, reforçando que a
violência é natural; 47% das crianças que preferem conteúdo agressivo na mídia também
gostariam de se envolver em uma situação de risco.
Sgundo Adorno (1965), se nos permitíssemos viver a angústia que a sociedade
nos provoca tanto quanto ela merece ser vivida, provavelmente grande parte do efeito
destrutivo dessa angústia inconsciente desapareceria. Mas isso acaba não acontecendo em
função de mecanismos de defesa que atenuam ou sublimam esse sentimento para garantir
menor sofrimento.
Segundo pesquisas realizadas em meados do século XX, existia (ou existe) a
predominância de uma personalidade mais propensa a ser incapaz de ver-se como produto
de uma cultura; nesse comportamento a pessoa se se considera uma pessoa formada
conforme a sua natureza o permitiu, toma a si como algo dado, naturalizado, e como tal,
toma a todos da mesma forma, identificando a si e aos outros com as coisas. A negação
de uma experiência sensível e imediata impede que essas pessoas dotadas de um Caráter
Manipulador se voltem para si mesmos e reflitam sobre sua própria consciência, pois
como diz Adorno (1995), isso é característico da consciência coisificada.
Na pesquisa que deu origem a essa tipologia, Adorno (1965) descreve esse tipo de
personalidade por possuir a face mais extremada da estereotipização. As suas idéias são
tão rígidas que acabam por deixar de ser meios para se transformar em fim. Para ele, o
mundo todo é dividido em campos administrativos, vazios e esquemáticos, e ainda
apresenta uma dificuldade em estabeler vínculos afetivos. O manipulador possui cindido

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Esses dados são resultado de pesquisa realizada em 1998, sobre a televisão no qual responderam
350 mil crianças de ambos os sexos, na idade de 12 anos, de várias nacionalidades, nos espaços rurais e
urbanos, em ambientes de alta e baixa agressão e que freqüentavam a escola.
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seus afetos, e isso faz com que a divisão entre mundo interno e externo não conduza à
introversão, ao contrário, ele acaba por criar uma sorte de hiperrealismo compulsivo que
faz com que passe a tratar a tudo e a todos como objeto que está ali, disponível para ser
manejado e utilizado pelos sujeitos, segundo seu interesse teórico ou prático. Para ele, os
aspectos técnicos da vida e as coisas são como instrumentos os quais estão carregados de
libido; o importante é fazer algo, com profunda indiferença quanto ao conteúdo de sua
ação. Possui uma sóbria inteligência, unida a uma carência quase absoluta de sentimentos.
O seu modo de ver as coisas como organizações o predispõe a buscar soluções totalitárias.
Em termos de estrutura da personalidade, temos que recordar que a
compulsividade é o equivalente psicológico do que em sociologia se chama de reificação.
O manipulador apresenta traços compulsivos e sádicos. Ele consegue mostrar
simultaneamente um extremo narcisismo e uma certa superficialidade e vacuidade. A
única qualidade moral que podemos atribuir a esses indivíduos é a lealdade, talvez para
compensar sua falta de afeto. É provável que por lealdade ele entenda a identificação
completa e incondicional com o grupo ao qual pertence no momento, supondo que a
pessoa leal se entregará completamente a este grupo e deixará de lado todo o caráter
pessoal em benefício da totalidade.
Diante disso, os estereótipos tornam-se peças importantes para que ele consiga
organizar o mundo de forma esquemática, de acordo com categorias administrativas,
mostrando que há uma ausência completa de mobilização e transformação de energia
pulsional. Ele tem dificuldade com as emoções, vendo os objetos de seu preconceito como
um problema técnico que deve ser solucionado.
A dificuldade de enfrentar o real, de estabelecer uma relação social afetiva e
verdadeira, uma vez que todos são seus inimigos, criam as condições para que o indivíduo
busque outros objetos para fixar sua libido, por exemplo, no apego à tecnologia, na
relação fetichizada com a mídia e seu conteúdo. Mas, como é fruto de uma situação
tensionada e caótica, o apego aos objetos também é tensa. Isso nos leva a refletir que uma
consciência fragilizada quanto à sua capacidade de reflexão e de autodeterminação,
impermeável a si mesmo e às experiências sensíveis que poderia ter, numa sociedade
muito fortemente permeada pela tecnologia, por coisas que substituem ou que se
sobrepõem ao humano, tende a fazer com que as pessoas mobilizem na sua relação com
a tecnologia algo de excessivo, com uma dose de irracionalidade na medida em que a
técnica e a tecnologia tornam-se fim em si mesmo e não são vistas como extensões das
capacidades humanas (Adorno, 1995). Toda tecnologia, como meio para ampliar um
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potencial humano, toma uma direção autônoma quanto aos seus fins, que deveria ser um
mundo verdadeiramente humano para todos. O apego aos meios e o descaso quanto ao
que esses meios vão causar às outras pessoas mostram o quanto nossa cultura hoje tem
produzido pessoas com um forte traço de indiferença, de frieza em relação ao outro,
porque esse outro, assim como os meios do qual ele dispõe, são também coisas com as
quais ele se relaciona, se apropria e utiliza. Com isso, o que podemos identificar como
social é uma:

(...) sociedade [que], em sua estrutura atual – e, provavelmente, há


milênios – não se funda, como se afirma ideologicamente desde
Aristóteles, no encanto e na atração, senão na perseguição do interesse
próprio, em detrimento do interesse dos demais. Isto se sedimentou no
caráter das pessoas até o mais íntimo. Aquilo que contradiz, o impulso
gregário da chamada ‘lonely crowd’, a multidão solitária, é uma reação,
um amontoar-se de gente fria que não suporta sua própria frieza, mas
tampouco pode modificá-la. (Adorno, 1995, p. 119-120)
Se a preocupação de Adorno (1995) era que Auschwitz não se repetisse na
história, atuando sobre aqueles que violentam a si próprios no cumprimento de ordens, as
quais são contraditórias para ele e para um ideal de sociedade provedoras, hoje isso se
torna um tanto quanto mais complexo, dado que essa sociedade tem conseguido ser cada
vez mais coercitiva, mais opressiva e totalitária sob um discurso não-totalitário, não-
coercitivo e não-opressivo. Para que as pessoas percebam essa contradição haveria que
recorrer a um processo de reflexão que elas pouco foram ensinadas a realizar. Com a
tendência forte de mutilação da consciência, tornam-se cada vez mais tênues e frágeis as
ações que poderiam indicar uma oposição a esse estado de coisas, as pessoas estão cada
vez mais expostas e suscetíveis à servidão de seu corpo, com os modelos que atuam na
sua formação, e de sua consciência, com os comportamentos que lhe é ditado, os quais
são sancionados e ampliados pelas mídias que atuam como elemento agregador e ao
mesmo tempo homogeneizador dessa lógica do progresso e do apego a um modelo de
comportamento individual dado como natural.
Temos de enfrentar o desafio de saber que os sujeitos, incapazes de reconhecer-se
a si mesmos na sociedade e nem esta neles próprios, a tomam por algo externo, como um
conjunto de relações que a estabelecem. A falsa consciência da cisão entre indivíduo e
sociedade possui um valor de verdade no momento em que demonstra a cisão do
indivíduo de si mesmo em relação à objetividade da qual ele é expressão e é produtor
(ADORNO, 1986).
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Com isso, o indivíduo encarna o princípio mais íntimo da sociedade contraditória:


toda sua constituição, suas qualidades são elementos da totalidade social, ele representa
o todo contraditório, sem, no entanto, ter consciência do todo, encara como formação do
seu eu, como questão individual algo que é social, ou que a cultura impõe a ele de forma
heteronômica. No momento em que ele não tem consciência da contradição do todo, não
tem consciência também da própria contradição de si como sujeito cindido.
Desde a antiguidade a interiorização da repressão para que pudesse haver a fixação
da libido nas coisas, o que permitiu a própria sociedade e, na era burguesa, o aumento de
produtividade, nos trouxe a possibilidade de um mundo capaz de produzir o essencial
para todos por meio das tecnologias. Contudo, atualmente com um excessivo
investimento da libido na técnica, está representando um comportamento regressivo. A
energia pulsional investida no social não necessariamente tem trazido as compensações
necessárias para justificar a sua sublimação diante do objeto real do desejo. Abrir mão de
si, ou de algo de si em nome de uma vida social tem sido o movimento cotidiano de todos,
indistintamente de sua classe social. No entanto, torna-se irracional quando essas
exigências vão além do necessário ou se perpetuam para não permitir a emancipação
humana. Aquilo que foi colocado como promessa, uma sociedade humana, torna-se uma
realização impossível dado que ela deixa de ser um fim, e os meios tomam o seu lugar.
(Adorno, 1986)
A exigência feita sobre o eu, tanto sobre suas necessidades libidinais como de
autoconservação, é excessiva, e esse eu fragilizado, não encontra as condições para se
contrapor e buscar a sua realização, o que o leva mais uma vez a regredir. O movimento
faz com que, naquilo que não consegue alcançar sua própria identidade, regrida frente ao
social. Dessa forma o indivíduo permanece nesse jogo contraditório e insano de buscar a
si mesmo e de negar-se a si mesmo. Vive, por fim, das imagens que projeta e são
projetadas para si mesmo.
Como conseqüência dessa sociedade totalitária sobre os indivíduos surge o
sentimento de extrema impotência frente ao real. Mas, por outro lado, diz Adorno, essas
experiências podem ter uma certa racionalidade diante da constituição psíquica do
indivíduo, pois podem se tornar uma das poucas, senão única, forma de resistência do eu
frente ao sistema social.
O mecanismo psíquico de que acabam por lançar mão é reelaborar esse sentimento
para não ter que se deparar com a angústia de se sentir oprimido pelo sistema social.
Tendo que lidar com esse jogo de forças, acabam por mobilizar os mecanismos de defesa
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que melhor se adaptem ao esquema dos conflitos sociais, ainda que esse movimento
signifique uma regressão cada vez maior.
Certamente, o comportamento econômico racional das pessoas não se produz
somente pela busca do lucro, senão que, a questão subjetiva que se coloca central na
racionalidade objetiva é a angústia provocada pelo sentimento de impotência, de
abandono a sua própria sorte sem condições subjetivas de suportar tamanho desafio.
Assim, na sociedade atual são negados aos indivíduos os desafios que Ulisses se colocou
no seu retorno a Ítaca para que se constituísse indivíduo e pudesse ter resistência para
enfrentar os mitos. As experiências frente aos desafios do real, as quais são cada vez mais
mediadas, abrandadas pelos esquemas da Indústria Cultural, promovendo com isso um
ego frágil, acabam por transformar em angústia e imobilizar o eu em direção à sua
emancipação.
A quantidade de energia para conseguir se contrapor ao real, aliada a um aumento
da angústia - pois o esclarecimento não necessariamente a elimina –, é imensa. Na lógica
do mal menor, a adaptação acaba sendo a melhor solução para o sujeito, enquanto
possibilidade de se garantir material e subjetivamente. Nisso, o apego que as pessoas
passam a ter em relação aos bens culturais, a toda tecnologia, a qual deveria garantir um
comportamento econômico racional das pessoas, dada sua irracionalidade, provoca sérios
danos à economia pulsional psicológica. Como diz Adorno (1986, p. 145), na sociedade
de trocas (desiguais) mais desenvolvida “(...) esa angustia ante la desproporción entre el
poder de las instituiciones y la impotencia del individuo se há generalizado de tal modo
que se precisarían fuerzas sobrehumanas para mantenerse frente a ella, mientras al
mismo tiempo el trabajo reduce insoslayablemente las fuerzas de resistência de cada
individuo”.
Esse jogo de forças acaba por impor uma dinâmica social na qual os indivíduos se
entregam aos ditames sociais, se mobilizando contrário a essa dinâmica em doses brandas
ou de maneira fragmentada, acabam por construir uma relação de subordinação ante o
real.
Nas entrevistas realizadas na pesquisa sobre personalidade autoritária, Adorno et
al.(1965) buscou conhecer quais os vínculos que unem as opiniões ideológicas e os
determinantes psicológicos, guiados pela hipótese de que a ideologia, como todos os
comportamentos manifestados pelos sujeitos, são mediações de conflitos psicológicos
inconscientes. Além dos determinantes iminentemente ligados à personalidade, Adorno
(1965, p. 614) identifica um outro,
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(...) es lo que podriamos llamar nuestra atmosfera cultural general y,


particularmente, la influencia ideológica que ejerce sobre el pueblo la
mayoria de los medios destinados a moldar la opinión pública.
Um clima cultural geral é criado, forjando as representações sociais, as quais serão
o alicerce das opiniões, dos comportamentos em torno de questões como a liberdade, a
justica, a igualdade etc.
O que os pesquisadores observam, em termos de traços comuns entre os sujeitos,
como constituintes formais que permitem a standartização ou o estabelecimento desses
comportamentos irracionais, são a ignorância e a confusão nos assuntos relacionados à
política, bem como o hábito de pensar em rótulos e de personalizar os acontecimentos
políticos e sociais, além de outros. A falta de esclarecimento, pela incompreensão do que
realmente ocorre na sociedade e o porquê ocorre, gera uma tal ansiedade e incerteza nas
pessoas que estas acabam por se fragilizarem criando as condições psicológicas ideais
para se apegarem a movimentos de massa que prometem aliviar esse estado de tensão.
Segundo os autores, para o estabelecimento de movimentos autoritários e totalitários a
situação mais propícia é, por um lado, uma ação por parte das pessoas voltadas para si,
preocupadas em produzir o melhor a partir da técnica mais adequada, não importando as
conseqüências que terá sobre os outros aquilo que produziu, e, por outro lado, uma
resistência ou incapacidade de penetrar na realidade através de sua consciência, de refletir
sobre o real.
Essas condições estão dadas em nossa sociedade atual. Com isso, o que assistimos
é a um sistema que utiliza todos os mecanismos e forças possíveis para manter as pessoas
na ignorância, impedindo como podem na compreensão da própria irracionalidade do
social, da falta de justificativa para a manutenção desse sistema funcionando com base na
opressão, no sofrimento, na abdicação de si em prol de um social injusto e incoerente. Na
sociedade da informação, ou sociedade do conhecimento, o que vemos é que “(...) la
información sea una función dirigida y se exalten ciertos valores con el fin de detener el
esclarecimiento universal que, por outra parte, es fomentado por el desarrollo técnico de
las comunicaciones”.(ADORNO et al., 1965, p. 620)
Com isso, a sociedade que promete agora o acesso ilimitado à informação o
transforma em grande medida numa informação e num conhecimento destituído de sua
força de transformação e de esclarecimento, porque os sujeitos que seriam os agentes da
transformação para um real mundo humano estão ficando cada vez mais incapacitados de
utilizá-lo para tal fim. As informações e os conhecimentos são utilizados para manter o
estado de inconsciência, o qual pode ser atribuído muito mais como conseqüências das
14

repressões psicológicas do que a uma incapacidade natural das pessoas em conseguir


compreender o real a partir das informações e conhecimentos disponibilizados.
Certamente hoje, mais do que em qualquer outra época da história humana, uma parcela
da população tem acesso às informações de forma muito mais fácil e rápida, bem como
houve uma ampliação do processo de escolarização. Isso tudo deveria fazer com que as
populações tivessem maiores condições de compreensão e intervenção no real; no
entanto, o que assistimos é exatamente o inverso: as pessoas são cada vez mais integradas
ao sistema social e incapazes de compreender a contradição desse mesmo real.
A forma como os meios de comunicação trata as questões sociais e políticas,
colocando no mesmo nível de importância uma notícia política e uma sobre o lançamento
da moda francesa de primavera-verão, faz com que se perca a relação que existe entre
essas questões políticas e sociais com a produção de sua própria vida. Com isso, o
conhecimento, a compreensão da sociedade que ele vive perde seu poder de guiar as suas
ações, ele age conforme pensa ser mais correto pois espelha-se no que o todo dita,
principalmente, pelos próprios meios de comunicação de massa, que diz levar-lhe
informações. Essa ignorância, segundo Adorno et al.(1965, p. 622)

(...) crea al nível de yo una ansiedad que enlaza demasiado bien con las
ansiedade de la niñez. El individuo debe hacer frente a problemas que,
en realidad, no compreende y se ve obligado a crearse ciertas técnicas
de orientación, por groseras y falaces que sean, que lo ayudan a
encontrar su camino en la oscuridad, por lo decirlo.
Os recursos que os indivíduos utilizam para compreender aquilo que para eles é
absolutamente incompreensível - a sociedade -, conforme encontraram Adorno e
colaboradores, são a estereotipia e a personalização, recursos largamente utilizados
pelas mídias, como repetições de estratégias infantis, funcionam ao mesmo tempo como
instrumentos de ação e como cicatrizes sobre o sujeito. O fato de não compreender com
clareza, de não conseguir interpretar o mundo que vive, proporciona as condições
psíquicas ideais para que ele retroceda aos níveis de elaboração infantis da
estereotipização e personalização. O estereótipo ajuda o sujeito a organizar aquilo que lhe
parece caótico, como afirma o autor, “(...) cuanto menos capaz es de entrar en un proceso
realmente cognitivo, tanto más tozudamente se aferra a ciertas pautas pues el creer en
ellas le evita el trabajo de profundizar verdaderamente en las cosas”.(Adorno et al.,
1965, p. 623). Com isso, “(...) allí donde la naturaleza rígidamente compulsiva del
estereótipo corta la dialéctica de la prueba y el error, entra en el cuadro el
embrutecimento”. (Adorno et al., 1965, p. 623)
15

Mas esse processo tem um custo individual: o fato de colocarem a realidade dentro
de imagens prontas, estereotipadas, acaba por manter esse mundo tão afastado, abstrato e
não experimentado que, ao final, muito pouco ajuda no alívio da ansiedade e tensão
gerados pela sua incompreensão.
O estereótipo é um produto de nossa cultura, que se relaciona com mecanismos
psíquicos infantis durante o processo de diferenciação com o mundo externo (CROCHIK,
1997). Segundo Crochik (1997), existem muitos fatores que contribuem para a utilização
de estereótipos. Um deles seria a predominância de um sistema produtivo que busca uma
ação eficiente: necessidade de definições precisas, restando muito pouco espaço para a
dúvida, pois para uma boa administração das pessoas e das coisas, para que as ações
tenham eficácia, deve ser eliminada toda e qualquer dúvida, incerteza.
Isso acarreta uma obrigatoriedade da certeza, exigindo comportamentos
standartizados, em função das modernas tecnologias que exige rápida adaptação às
mudanças. O sujeito é coagido a se posicionar em relação a tudo, posto que a ignorância
é menos um saber que se dever buscar por ele do que uma falha na formação. A
dificuldade de dar conta de tudo leva os indivíduos a buscarem esquemas ordenadores já
prontos, impossibilitando a experiência. Um outro fator é que a Indústria Cultural dá os
clichês para o sujeito pensar, o que o exime de ter que passar pela ansiedade que gera a
reflexão, bem como as experiências de formação. Um pensamento a partir de clichês
fragmenta o mundo e dicotomiza-o em bom-mau, perfeito-imperfeito, certo-errado,
direita-esquerda.
Com isso, o recurso da estereotipização, não conseguindo provocar o alívio de um
mundo ameaçador sobre o sujeito, acaba por evocar o seu próprio contrário: a
personalização. Esse recurso consiste em tomar uma pessoa, um representante político,
por exemplo, como chave para descrever processos políticos e sociais; essas questões não
são tratadas como aspectos do sistema social, mas fruto da ação ou do pensamento de
certa pessoa ligada à questão: o problema é personalizado. O culpado da crise econômica,
com isso, passa a ser o presidente da República, o governador do Estado.
Essa imagem da realidade é perpassada pelo discurso das mídias que atendem hoje
aos interesses do sistema, porque, entre outras coisas, é financiado por ele, marcando
profundamente a formação do indivíduo. Nesse processo ainda resta a possibilidade de
que o desalento causado na grande maioria da população pela direção desse progresso
que tem excluído cada vez mais pessoas de sua ordem, essa experiência de impotência e
de abandono possa se tornar um sentimento que leve a ações concretas e com isso causar
16

alguma reação na dinâmica social. Esse contexto social é a base sobre a qual as
representações sociais são construídas e desconstruídas, no embate permanente entre o
fascínio e a barbárie, entre o desejo de vida e de morte.

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Conceitualmente, entendemos por Representações Sociais como

(...) uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada,


com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma
realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como
saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de
conhecimento é difderenciada, entre outras, do conhecimento
científico. (JODELET, 2001, p. 22)
São entendidas como fenômenos complexos, organizados sempre sob a aparência
de um saber sobre um estado ou sobre algo da realidade num espaço e num tempo,
funcionam como “sistemas de interpretação”, como tal acabam por organizar as condutas
e o próprio conteúdo das comunicações.
As representações intervem em processos sociais como a difusão e assimilação de
conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo, as transformações sociais, a
formação e expressão de grupos. Porém, fundamentalmente as representações sociais
fazem parte do processo de formação das identidades pessoais e sociais, o que significa
que elas atuam no âmbito das emoções, das condutas, das crenças, das ideias etc. O seu
estudo, por isso, é tomado nas dimensões de Produto e de Processo, pois trata de
atividades cognitivas de apropriação da realidade exterior e de elaboração psicológica e
social da realidade. (JODELET, 2001)
Enquanto ato de pensamento de um sujeito sobre um objeto, como uma forma de
saber prático, possui características específicas, diferenciando-se das demais atividades
mentais (percepção, conceituação, memória etc).
Podemos relacionais algumas características gerais das representações sociais:
1. Representação social é sempre de alguém (sujeito) sobre alguma coisa
(objeto), fazendo com que as características do sujeito e do objeto se
manifestem no fenômeno
2. A representação tem com seu objeto uma relação de simbolização e de
interpretação, ou seja, tanto substitui o objeto quanto lhe confere significação;
3. É uma forma de saber prático, em que o objeto se tornará legível por diversos
suportes línguísticos, comportamentais ou materiais;
17

Toda representação coloca em ação quatro termos: a própria representação, seu


conteúdo, um produtor e um usuário. Uma representação social difere das representações
mentais, pois nesta última, o usuário e o produtor são a mesma pessoa. Portanto, ma
representação social está colocada a obrigatoriedade da comunicação a alguém sobre
alguma coisa. Algumas representações ao serem comunicadas amplamente num grupo
social e, por isso, passam a habitar de modo “duradouro” nesse grupo, são consideradas
culturais ou sociais.(SPERBER, 2001).
Uma característica essencial das representações sociais é a impossibilidade de
descrição, pois na prática, uma representação é comunicada, “transmitida” de um sujeito
a outro por meio de uma outra de conteúdo similar. Conforme Sperber (2001), “(...) não
se descreve o conteúdo de uma representação; ela é parafraseada, traduzida, resumida,
desenvolvida; em resumo: interpretada. ” (p. 93) Ou seja, o que está colocado é a
existência dos processos de interpretação inerente à comunicação.
Com isso, ao tratar da interculturalidade na perspectiva das representações sociais,
estamos problematizando em torno dos processos de contato entre culturas que
comumgam de sistemas de representações sociais distintos e a comunicação entre esses
sujeitos é mediada por processos interpretativos acerca de objetos culturais.
O que se coloca é uma perspectiva epistemológica para compreender o fenômeno
da interculturalidade e a complexidade investida nesse processo. Podemos pensar que
muitos dos problemas em torno da formação dos pré-conceitos têm sua origem na
dificuldade de compreensão dos universos representacionais de grupos distintos, além da
dimensão social e econômica que organiza a vida em sociedade.

LINGUAGEM, DISCURSO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Consideramos que o conceito de representação social desempenha um papel


essencial para explicar, teoricamente, a organização dos comportamentos coletivos
humanos. (HARRÉ, 2001). Uma teoria, bastante simples, para explicar esse processo é
de que “(...) muitas representações sociais importantes são adquiridas como crenças
individuais no curso da aprendizagem de uma língua, em particular a língua materna. ”
(HARRÉ, 2001, p. 107)
A partir desse entendimento, recorremos aos estudos de Bakhtin para pensar a
relação da linguagem, do discurso e das representações sociais. Bakhtin defendeu que o
enunciado é a unidade de comunicação discursiva. No processo de comunicação,
18

(...) ouvinte, ao perceber e compreender o significado (linguístico) do


discurso, ocupa simultaneamente em relação a ele uma ativa posição
responsiva: concorda ou discorda dele (total ou parcialmente),
completa-o, aplica-o, prepara-se para usá-lo etc; essa posição
responsiva do ouvinte se forma ao longo de todo o processo de audição
e compreensão desde o seu início (...) toda compreensão é prenhe de
resposta, e nessa ou naquela forma a gera obrigatoriamente: o ouvinte
se torna falante. (BAKHTIN, 2003, p. 271)
Portanto, para haver comunicação, os sujeitos do discurso produzem enunciados,
limitados pela alternância dos sujeitos e, dependendo das funções da linguagem e das
condições e situações de comunicação, assume naturezas diferentes e formas variadas.
(BAKHTIN, 2003) Como afirma Bakhtin (2003), os enunciados são os elos na cadeia de
comunicação discursiva, incorporados do elemento expressivo que denota a relação
subjetiva do sujeito, ou seja, a emoção é incorporada à palavra e a oração no momento
em que são enunciadas. Como diz Clark (1998), o discurso é uma ação complexa,
produzido por meio de enunciados, naquilo que Bahktin vai chamar de “enderecividade”,
ou seja, produzido para um outro.(CLARK; HOLQUIST, 1998). Neste sentido, podemos
relacionar a ideia presenta na teoria das representações sociais de que uma representação
social é sempre de um sujeito sobre um objeto e, no processo de comunicação, é
endereçada a alguém.
Uma dimensão fundamental dos enunciados é a da semiótica, ou seja, de que a
comunicação (emissão de enunciados) acontece por meio de signos e não de palavras
vazias, portanto, a realidade do pensamento e da linguagem é sempre semiótica
(BAKHTIN, 2006). O signo constitui-se como o meio que faz a “tradução” entre o
universo de simbolização do mundo e o corpo físico, em outros termos, entre o corpo e a
mente (CLARK; HOLQUIST, 1998). Portanto,

A compreensão de cada signo, interior ou exterior, efetua-se em ligação


estreita com a situação em que ele toma forma. (...) o signo e a situação
social em que se insere estão indissoluvelmente ligados. O signo não
pode ser separado da situação social sem ver alterada sua natureza
semiótica. (BAKHTIN, 2006, p. 62)
Na comunicação, dois processos são acionados, porém são distintos: o da
compreensão e o da identificação. Compreender significa que num processo de diálogo,
o ouvinte pertencente à mesma comunidade linguística, reconhece que o signo possui
flexibilidade e variabilidade, o que possibilita a compreensão do conteúdo do diálogo na
sua dimensão signica. Identificar é um processo que ocorre em relação ao sinal, o qual é
uma entidade com conteúdo imutável. No processo de comunicação acionamos o
universo semiótico da lingua, como signo compreendido pelos sujeitos da comunicação.
19

Numa comunicação, compreender é se “descolar” do sinal e mobilizar os signos para


materializar o pensamento (exemplo da aquisição de uma segnda língua). Como diz
Bakhtin, “(...) não são palavras que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou
mentiras, coisas boas ou más, importante ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc.
A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou
vivencial”. (2006, p. 96).
Assim como a representação social guarda aderência com o lugar, com o território,
Bakhtin já enunciava essa relação nos seus estudos sobre a linguagem. Dizia ele:

A comunicação verbal não poderá jamais ser compreendida e explicada


fora desse vínculo com a situação concreta. A comunicação verbal
entrelaça-se inextricavelmente aos outros tipos de comunicação e
cresce com eles sobre o terreno comum da situação de
produção.(BAKHTIN, 2006, p. 126)
Os lugares de produção dos enunciados criam características próprias, assim num
meio acadêmico os enunciados de alguma maneira possuem características especificas,
assim como em outros espaços dialógicos. Isso pode explicar as diferenças que um objeto
representacional apresenta diferenças, muitas vezes dentro de um mesmo grupo
linguístico. Conforme explicitam os autores:

Há enormes diferenças entre os signos que comunidades particulares


consideram apropriados, em um dado tempo e lugar, a esferas tão
diferentes quanto a lei, a religião ou a bisbilhotice. Mas, na medida em
que estão organizadas como diferentes categorias de signos, todas essas
esferas participam de uma natureza semiótica. (CLARK; HOLQUIST,
1998, p. 245)
As multivalências das palavras vão conferir a elas um poder, capaz de criar um
ecossistema em que o domínio da linguagem enquanto signo, abrem campos de
interlocução ampliados pela capacidade de compreender e descontextualizar os
significados das palavras, o que possibilita uma ampliação do raciocínio reflexivo. Das
pesquisas de Luria foi possível compreender que a capacidade de livrar as palavras da
situação imediata, possibilitando a multivalências, depende em larga medida da
capacidade de refletir sobre outros significados verbais desvinculados do contexto
imediato da experiência, ou seja, no momento em que se tem a compreensão variada das
palavras, na forma de signos relacionados a contextos distintos.
É neste sentido que compreendemos que os estudos das representações sociais
podem ajudar a compreender a problemática envolvendo a interculturalidade, pois o
próprio processo de comunicação que realiza os processos interculturais está marcado
pelo simbólico, encarnada na dimensão signica das palavras.
20

EDUCAÇÃO INTERCULTURAL

A proposta de uma educação intercultural surgiu no final dos anos 1970, a partir
da formulação da UNESCO em torno da proposta de uma eduação para a paz, de
prevenção ao racismo, entendida como a condição estrutural para a convivência
democrática em sociedades multiculturais. Muito focada na ideia de uma educação
bilingue, multilingue, na América Latina tem avançado para além dessa perspectiva. No
Peru, com enfoque analítico e político para tratar as diferentes culturas numa perspectiva
de diálogo horizontal; Equador a partir da lente do enfoque fronteiriço, propõe o
bilinguajamento, nesta direção também se encontram Argentina, Bolívia, Guatemala e
Chile.
Alguns pesquisadores utilizam o conceito de “pensamento fronteiriço” em que se
leva ao limite o entendimento do que se entende por educação popular e intercultural.
Propõem a produção de uma prática pedagógica em que estejam colocadas as condições
para a realização de outros processos de subjetivação, tensionando processos onde se
produziam exclusões e dominações. Neste sentido,

Não se trata de produzir consensos pela supressão das ambiguidades,


mas deixar emergir as ambiguidades e ambivalências até o limite do
paradoxo, provocando, pela emergência de interconexões antes não
produzidas ou não percebidas, a possibilidade de invenção de outros
significados e posições do sujeito.(AZIBEIRO; FLEURI, 2013, p 222)
É importante entender que o diálogo de saberes é uma das dimensões inscrita
nesse processo de contato entre as culturas. Para além dos saberes, existe um processo de
troca entre culturas distintas, com universos de sentido diferentes e, em certas situações,
incomensuráveis, pois, conforme discutido acima, trata-se de representações sociais
cosntruídas na relação dos grupos sociais nos territórios, marcados por trocas simbólicas.
Na América Latina, a interculturalidade coloca o desafio de se pensar numa
perspectiva epistêmica, ética e política, pois uma educação intercultural, de diálogos
interculturais coloca um desafio de construir projetos que considerem a história local e as
articulações que envolve historicamente a colonialidade do poder, do saber e do ser na
formação dos grupos; coloca a necessidade de ampliar a consciência da incompletude
mútua (das culturas envolvidas), não caindo na perspectiva salvacionista ou missionária.
(AZIBEIRO; FLEURI, 2013).
No limite, podemos pensar num projeto intercultural que se constitua:

(...) numa forma de dissolução de relações colonialista, que se mantém


na escola e na sociedade, possibilitando a desconstrução de
21

subalternizações e exclusões, inventando possibilidades de um


conhecimento prudente para uma vida decente.(AZIBEIRO; FLEURI,
2013, p.224)
Neste sentido, alguns conceitos são inseridos no processo, tais como o de “Espaço
de Ressignificação”, como “Espaços Polifônicos, no sentido bakhtiniano, ou ainda de
dialogia de Bakhtin e Edgar Morin, um entre-lugar, espaços a serem construídos nas ações
educativas em que sejam criadas “(...) condições para a dissolução de estereótipos e
preconceitos e de empoderamento, de fortalecimento da autoconfiança e da capacidade
de ação das pessoas e dos grupos populares. ” (AZIBEIRO; FLEURI, 2013, p. 225),
trazendo à tona as realidades ausentes, silenciadas pela supressão ou marginalização,
promovendo o que Boaventura vai chamar de Ecologia dos Saberes (SANTOS, 2002).
Concordamos com Azibeiro e Fleuri (2013) de que uma educação intercultural

(...) deixa de ser assumida como um processo de formação de conceitos,


valores, atitudes a partir da relação unidirecional, unidomensional e
unifocal, conduzida por procedimentos lineares e hierarquizantes. A
educação passa a ser entendida como o processo construído pela relação
tensa e intensa entre diferentes sujeitos, criando contextos interativos
que, justamente por se conectar dinamicante com os diferentes
contextos em relação aos quais os diferentes sujeitos desenvolvem suas
respectivas identidades, se tornam ambientes criativos e propriamente
formativos, ou seja, estruturantes de movimentos de identificação
subjetivos e socioculturais. (AZIBEIRO; FLEURI, 2013, p. 229)
Um aspecto apontado por Harré (2001) em relação ao uso do léxico de outras
culturas (línguas) é que deve-se ter claro a inviabilidade de um vocabulário universal,
capaz de suportar uma ordem moral e representacional universal, isso é uma falácia. Essa
crença só evidencia o etnocentrismo e a ignorância frente aos fenômenos das
representações sociais diante da problemática da interculturalidade.
Como afirma Windisch (2001), no contexto da interculturalidade,

(...) estudar os contatos linguísticos significa necessariamente prestar


atenção às representações que os grupos em interação têm uns com os
outros, às expectativas, aos motivos, aos conflitos, aos processos e
estratégias de adaptação ou, ao contrário, aos mecanismos de rejeição,
de resistência e de defesa. (WINDISCH, 2001, p. 147)
Especificamente em relação a educação, as representações sociais podem nos
ajudar a compreender os “(...) mecanismos pelos quais fatores propriamente sociais agem
sobre o processo educativo e influenciam seus resultados (...)” (GILLY, 2001, p 321).
Um desses aspectos da instituição escolar muito bem apontado pelo autor diz respeito à
contradição profunda entre um discurso ideológico igualitário e um funcionamento não
igualitário. Essa contradição, segundo ele, foi resolvida em parte pelo discurso construído
22

sobre a escola em que ela explica as desigualdades sociais de desempenho por meio das
diferenças individuais atribuídas às crianças em termos de diferenças intelectuais, de
dom, aptidão etc. (GILLY, 2001)
Ainda que essa explicação já tenha sido superada pela evolução das pesquisas na
área, o discurso oficial não deixou de tentar explicar a desigualdade pela via do indivíduo,
pois ao invés de dom e aptidão, a desigualdade passou a ser associada às diferenças,
formulando uma “pedagogia do desenvolvimento das potencialidades”, novamente sem
entrar no cerne do problema, de que as diferenças são resultado das desigualdades
socioeconômicas impostas aos mais desfavorecidos. Como afirma Gilly (2001):

(...) se as crianças dos diferentes meios sociais não são iguais perante a
escola igualitária, não é porque as dos meios desfavorecidos sejam
menos ´dotadas´do que as coutras, mas sim porque estão em situação
de desvantagem devido às privações e ao déficit cultural de seu meio.
(p. 325)
Essa mudança de discurso fez com que fossem criadas políticas e medidas
compensatórias nas escolas dos bairros pobres, porém, a norma escolar continua sendo a
da cultura dominante. Com isso, “(...) o sistema articula, num todo coerente, as
contradições entre ideologia e realidade, assegurando sempre sua função de legitimação
do sistema e de justificação das práticas. ” (GILLY, 2001, p. 325) O fato, observado
pelas pesquisas sobre representações sociais na educação é que o discurso sobre o sistema
escolar se transforma quando pressionado por questões econômica e sociais, mudando os
critérios de rendimento segundo uma lógica heteronômica. Em relação aos professores,
apesar de todos os avanços, ainda predomina uma representação em relação aos alunos
de que existem os fortes e os fracos, e que os percursos desiguais é fruto de diferenças
individuais, ou seja, do mérito individual.
Condordamos com Gilly (2001) de que a escola está longe de realizar as mudanças
esperadas, com isso os individuos que atuam nela acabam por buscar apoiar suas
representações sociais sobre a educação, para orientar e justificar seus comportamentos,
“(...) em sistemas representacionais que privilegiam mais frequentemente elementos e
esquemas caracterizados por forte inércia. ” (p. 337). Para que isso ocorra, entretanto,
será necessárias mudanças mais profundas na sociedade para que a lógica da dominação,
da meritocracia, das hierarquias e desigualdades sejam eliminadas ou ao menos
transgredidas para que as representações sociais sobre a escola possam ser transformadas.
É importante lembrar que as representações sociais têm uma base material, que são as
práticas cotidianas, contra isso, somente uma transformação do sistema social vigente.
23

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