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O centro

de São
Paulo
à venda!
Como o Itaú, com a ajuda da Prefeitura de São Paulo,
pretende se apropriar do Vale do Anhangabaú
Quando falamos da venda do centro da cidade de São Paulo,
estamos falando de PRIVATIZAÇÃO. A privatização significa a venda de
um bem público pelo governo (federal, estadual ou municipal) a
uma empresa privada. O bem público pode ser uma indústria pública
(como a Petrobrás) ou uma universidade pública (como a Universi-
dade de São Paulo), por exemplo. Quando a privatização acontece, o
bem público, que antes era propriedade do governo, passa a per-
tencer apenas aos donos da empresa que o comprou. Esses pou-
cos proprietários, então, começam a administrar esse bem segundo
seus interesses. E qual é o principal interesse de uma empresa
privada? O lucro. Ou seja: assim que os donos da empresa privada
compram o bem público, tratam de transformá-lo em um negócio
lucrativo. Mas será que é possível o governo municipal “vender”
um espaço público como as ruas da região da Luz, da Santa Ifigênia,

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por exemplo, ou mesmo o Vale do Anhangabaú?

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Você se lembra que em 2014, durante a Copa do Mundo, o
Vale do Anhangabaú foi usado para a realização das festas oficiais
da FIFA, uma das instituições mais lucrativas do mundo? Naquela
época, o governo federal, aliado aos governos estaduais e mu-
nicipais, permitiu que a FIFA, temporariamente, utilizasse os espa-
ços públicos das cidades que receberam os jogos da Copa para
realizar suas festas. O Vale do Anhangabaú foi totalmente cerca-
do por tapumes e grades de ferro. Para entrar nele, as pessoas
eram revistadas por seguranças particulares e, só depois, podiam
entrar no Vale passando por uma catraca de controle. Se a pes-
soa estivesse portando algum alimento ou bebida, era obrigada a
jogar no lixo. Dessa forma, era obrigada também a consumir os
produtos dos patrocinadores que estavam vendendo suas bebidas
e alimentos ali. Lá dentro havia dezenas de outros seguranças
particulares, além de policiais militares e guardas civis vigiando
cada movimento dos torcedores. O Vale do Anhangabaú, durante
a Copa de 2014, virou uma mistura de shopping center com casa de
show particular, com cerceamento da liberdade de ir e vir, proibi-
ção de consumo de produtos próprios, vigilância policial e incen-
tivo ao consumo de produtos com preços fantasiosos − a lata de
cerveja era vendida a R$ 8! Pessoas em situação de rua, catadores
de material reciclável e profissionais do sexo, que estão todos
os dias no Vale do Anhangabaú, não puderam permanecer com sua
vida normal ali até o fim das festas da FIFA. Até ambulantes fo-
ram proibidos de vender seus produtos no entorno do Vale − a
FIFA, com consentimento dos governos, obrigou os ambulantes
a trabalharem a, no mínimo, 2 quilômetros de distância do Vale.

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Ou seja:
embora os governos não tenham vendido para sempre o Vale
do Anhangabaú para a FIFA, permitiram, por meio de leis e contratos,
que a FIFA usasse o Vale do Anhangabaú da maneira que quisesse
durante alguns meses. A FIFA só é uma das instituições mais lu-
crativas do mundo porque busca o lucro nas suas atividades. Por
isso ela transformou o Vale do Anhangabaú, com a permissão dos
governos, num espaço de consumo feito apenas para quem tinha
dinheiro para consumir. Isso TAMBÉM é PRIVATIZAÇÃO do espaço pú-
blico, pois obriga cidadãs e cidadãos livres a circularem pela cidade
como se estivessem num ambiente privado que tem o lucro como
objetivo, e que por isso controla o acesso das pessoas, as vigia,
as cerca e instiga a consumir e a seguir as regras da empresa.

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Mas
se a Copa já acabou e a FIFA já desmontou seu “shopping”
no Anhangabaú, por que agora estão dizendo que querem vend-
er o Vale? Porque há uma outra empresa, também muito lucrativa,
que está interessada nesse espaço. Essa empresa é o banco Itaú, o
mais lucrativo do Brasil e um dos maiores do mundo. O banco e a
prefeitura de São Paulo desenvolveram uma estratégia para fazer
essa privatização sem parecer que é uma privatização, pois dessa
forma não chamam a atenção da população para algo que pode ser
uma nova “festa da FIFA” (com cerceamento da liberdade, proibições,
consumo de produtos caros, expulsão de populações vulneráveis,
etc), só que agora de maneira permanente. Acompanhe a seguir o
que o Itaú e a prefeitura de São Paulo estão tentando fazer com o
Vale do Anhangabaú.

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1.

Em 2 de agosto de 2013, o banco Itaú enviou uma carta à
vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, oferecendo um “pro-
jeto arquitetônico para reorganização dos espaços do Vale do
Anhangabaú”. O projeto seria feito por um escritório de arquite-
tura da Dinamarca chamado Ghel Architects. A prefeitura aceitou a
doação. O Itaú pagou 500 mil euros pelo projeto, algo em torno
de 2,5 milhões de reais na época.

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2.

Depois daquela carta, a prefeitura realizou encontros com
associações, entidades e empresas para discutir o que seria feito
no Vale do Anhangabaú. Embora tenha dito que as discussões
foram democráticas, a prefeitura escolheu a dedo quem participou.
Das 75 empresas, entidades e associações convidadas, apenas 2 ti-
nham alguma relação com a defesa dos direitos de populações vul-
neráveis. Ou seja: população em situação de rua, movimentos de
moradia, catadores de material reciclável e profissionais do sexo,
que estão todos os dias no Vale, não foram ouvidos pela prefeitu-
ra.

ENTIDADES CONVIDADAS
Artemide Brasil Ltda
Associação Brasileira de Agências de Publicidade
Associação Brasileira de Psicólogos
Associação Brasileira de Psicoterapia
Associação Comercial de São Paulo
Associação Escola da Cidade
Associação Viva o Centro
Assossiação Comercial Centro
Bacco Arquitetos Associados
Baixo Centro coletivo de cultura
Banco Itaú
Benito Urbanismo
C40 Cities, Climate Leadership Group
Câmara Municipal
Caminhada Noturna
Celso A. Sampaio Arquitetura
Centro de Estudos da Metrópole
Centro Gaspar Garcia de Diretos Humanos
Centro Universitário Senac 7
Ciclocidade - Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo
Cidade escola aprendiz
Câmara Municipal
Caminhada Noturna
Celso A. Sampaio Arquitetura
Centro de Estudos da Metrópole
Centro Gaspar Garcia de Diretos Humanos
Centro Universitário Senac
Ciclocidade - Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo
Cidade escola aprendiz
Cidade para pessoas
Comissão de Proteção à Paisagem Urbana
Companhia de Engenharia de Tráfego
Companhia do Metropolitano de São Paulo
Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo
Convias
Davis Brody Bond Architects and Planners
Embarq Brasil
Faculdades Metropolitanas Unidas-FIAM-FAAM
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo
Gabriella Ornaghi arquitetura da paisagem
Green Mobility
Guarda Civil Metropolitana
Instituto de Arquitetos do Brasil
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP (IAU)
Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento
Instituto Religare
International Association of Public Transport (UITP)
Jansana, de la Villa, de Paauw, Arquitetos
Kipnus Arquitetos Associados
LLa Arquiteta
Luz Urbana arquitetura
Marcos Paulo Caldeira arquitetos associados
MMBB arquitetura e urbanismo
Núcleo de Arte, Design e Arquitetura
Odebrecht
Parkinson desenvolvimento imobiliário ltda
Pedala São Paulo

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Piratininga Arquitetos Associados
Secretaria de Governo
Secretaria do Verde e Meio Ambiente
Secretaria Estadual de Saúde
Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida
Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social
Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras
Secretaria Municipal de Cultura
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
Secretaria Municipal de Diretos Humanos e Cidadania
Secretaria Municipal de Habitação
Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras
Secretaria Municipal de Políticas Para as Mulheres
Secretaria Municipal de Relações Internacionais e Federativas
Secretaria Municipal de Serviços Urbanos
SP OBRAS
SP TRANS
SP Urbanismo
Subprefeitura Sé
TCUrbes
Tem Amor em SP coletivo de cultura
Universidade de São Paulo
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Universidade Paulista
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Universidade São Judas Tadeu

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3.
Em dezembro de 2013, a prefeitura apresentou os resulta-
dos das discussões. As pessoas presentes supostamente decid-
iram que achavam importante que o Vale do Anhangabaú tivesse
espe-lhos d’água (mesmo com a grave crise da falta de água), cafés
e quiosques para a venda de diversos produtos. Se tudo o que
foi planejado sair do papel, o Vale deve ter mais de 50 estabe-
lecimentos comerciais, um shopping subterrâneo onde é a Galeria
Prestes Maia (na praça patriarca) e um hotel perto da Praça das Ar-
tes. Importante lembrar que a função do espelho d’água não é só
“embelezar” o Vale, Mas controlar a circulação das pessoas. Num
dia de protesto, por exemplo, basta ligar as torneiras do espelho,
fazer a água jorrar e assim manter as pessoas afastadas do Vale.

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4.
Embora a prefeitura tenha dito que se tratava de um pro-
jeto feito em conjunto com a população em 2013, esse projeto
para o Vale já existia desde 2007, quando Gilberto Kassab ainda
era prefeito da cidade. O projeto de 2007 também falava de espe-
lhos d’água, cafés e quiosques e foi feito pelo mesmo escritório
dinamarquês. Quem encomendou o projeto em 2007 foi uma ONG
dos Estados Unidos chamada itdp. Em 2013 quem encomendou foi,
como sabemos, o banco Itaú.

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5.
A principal diferença entre os dois projetos é que o de 2007
mencionava a população em situação de rua, ambulantes e profis-
sionais do sexo como pessoas que estavam no Vale do Anhangabaú
e que podiam ser atendidas de alguma forma. já O projeto de 2013,
comprado pelo Itaú, ignora totalmente essas populações, e não
as menciona em nenhum momento.

6.
Alguns meses antes de o Itaú doar o projeto à prefeitura, ele
enviou ao município ofícios pedindo que a administração municipal
“convidasse moradores de rua e desocupados” (palavras do Itaú) a
se retirarem da frente de suas agências. Foram 4 ofícios emitidos:
um para a agência da 7 de Abril, no centro; outro para uma agência
da Consolação, outro para o trianon e outro para uma agência de
Perus. A prefeitura atendeu prontamente aos pedidos.

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7.
Fora as mudanças no Anhangabaú, que ainda não
começaram a ser feitas, o Itaú já começou a alterar os
espaços do centro de São Paulo. No Largo São Francisco
e no Largo Paissandú o banco mandou instalar estruturas
de madeira, cadeiras de praia e realizou eventos culturais.
Logo que as estruturas foram instaladas no largo São
Francisco, a população em situação de rua que se abrigava
ali teve que sair de lá. A presença da PM e da Guarda Civil é
constante e numerosa nesses lugares.

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8.

O Itaú não tinha autorização para modificar os espaços nos
largos São Francisco e Paissandú. Ainda assim, contratou uma em-
presa chamada Entre Produções para realizar as obras. A tal empre-
sa é investigada desde 2012 pelo Ministério Público de São Paulo
por suspeita de fraudar contratos públicos com a prefeitura. As
autorizações que a subprefeitura da Sé emitiu para as obras nos
largos foram dadas em nome de Luciano Bonilha Daoud, um dos
principais investigados.

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Notícia retirada do site Spresso SP
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O QUE ISSO TUDO SIGNIFICA?
• significa que o banco Itaú, ao escolher sozinho quem vai fazer um
projeto para a cidade, está decidindo como e para quem será esta nova
cidade. Lembrando que o Itaú é uma empresa interessada primordial-
mente no lucro, portanto a cidade idealizada por ele deve ser lucrativa
também, feita para quem pode pagar por ela − o que exclui, certamente,
as populações vulneráveis já citadas aqui;

• significa que quando a prefeitura aceita que um banco escolha como


vai ser a cidade e diz sim para a “doação” do projeto (aliás, você já viu
banco doar algo para alguém?), está aceitando que toda a população
seja submetida aos interesses do banco;

• significa também que a prefeitura, ao fazer um “processo partici-


pativo” para decidir algo que já estava decidido, coloca à disposição
do Itaú seus instrumentos de gestão e legitima a atuação do banco
como administrador da cidade. Assim, a população fica achando que é a
prefeitura que está no comando, mas quem está dando as cartas nos
bastidores é o banco;

• significa que o banco Itaú se sente tão à vontade com as facilidades


que a prefeitura lhe dá para reformular a cidade que ele até contrata
empresa investigada por suposta fraude para atuar no espaço público;

• por fim, significa que o banco Itaú, assim como a FIFA durante a
Copa de 2014, está recebendo carta branca para fazer o que quiser no
centro da cidade. A única diferença é que a “cidade-shopping” da FIFA no
Vale do Anhangabaú foi desmontada no fim da Copa; a “cidade-shopping”
do Itaú, se for realmente montada, deve permanecer.
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QUANDO O PROJETO
PARA O VALE DO
ANHANGABAÚ VAI
SAIR DO PAPEL?
Ainda não há uma data exata, mas é possível que pelo menos
até a segunda metade de 2015 já exista uma previsão. Quem está
no comando das obras é a SPUrbanismo, submetida à Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU). Pelo menos uma vez
por mês, uma comissão executiva se encontra no Edifício Marti-
nelli (Rua São Bento, 405, décimo andar, sala 104), para decidir as
transformações no centro da cidade. É durante essas reuniões
que são discutidos, entre outros temas, o projeto para o Vale.
Você pode participar como ouvinte. Ligue para saber a data da próx-
ima reunião: (11) 3113-7611. Ou veja as atas online das reuniões
realizadas: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/
desenvolvimento _ urbano/sp _ urbanismo/operacoes _ urban-
as/centro/index.php?p=19621

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MAS SE O ITAÚ ESTÁ
PAGANDO, QUAL O
PROBLEMA DESSE
PROJETO?
Bom, o maior problema de todos é um banco (ou qualquer
outra empresa privada) assumir a autoria e gestão das transfor-
mações da cidade. Como já foi dito, empresas privadas existem para
gerar lucro para seus donos. Uma cidade que tem dono (!), e dono
que quer muito lucro (!!), certamente deixará de fora muita, mas
muita gente que não tem o bolso cheio pra consumir as merca-
dorias que ela irá oferecer. E deixar de fora significa exatamente
isso: tirar os não consumidores da cidade, e mandá-los cada vez
mais para longe, lá onde não passa ônibus, onde não tem escola e
nem lugar pra se divertir, onde não tem trabalho, nem hospital,
lá onde não tem nada.

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Mas também tem um
segundo grande
problema, que é a
questão da grana:

É A PREFEITURA,
E NÃO O ITAÚ,
QUEM VAI PAGAR A
CONTA!!

(você achava mesmo que


banco dava algo a alguém?)
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200 MILHÕES DE REAIS
é o valor das obras no Vale do Anhangabaú caso o
projeto saia do papel (essa estimativa é da própria prefeitu-
ra). Esse dinheiro vai sair dos COFRES PÚBLICOS. Fora isso, A
PREFEITURA JÁ GASTOU MAIS DE 2 MILHÕES DE REAIS contratan-
do um escritório de arquitetura brasileiro para desenhar o
projeto. Isso porque, segundo a prefeitura, o que o es-
critório dinamarquês fez foi apenas um estudo do Vale e
algumas propostas, e é com base nesses estudos que o
escritório brasileiro vai desenhar e detalhar as obras.

O principal argumento do poder público para aceitar a doação


do projeto é que o Vale do Anhangabaú precisa ser refor-
mulado e a prefeitura não tem dinheiro pra isso. Portanto, a
doação do “projeto-estudo” feita pelo Itaú (ao custo de 2,5
milhões de reais) foi uma grande ajuda.

Mas, se a prefeitura não tem dinheiro e o Itaú é um parceiro


“generoso e de mãos abertas”, por que é a prefeitura (COM
DINHEIRO PÚBLICO) quem vai pagar a fatura mais alta? Essa
conta não fecha.

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Nessa parceria entre Itaú e prefeitura, está claro que aos
poucos se desenha um processo de privatização do espaço público
(de venda do centro da cidade) difícil de ser percebido pela popu-
lação, justamente porque acontece nos bastidores: enquanto o
Itaú, sem aparecer (tanto), define desde o princípio o quê, como, por
quem e para quem será feita a transformação urbana, a prefeitura
executa o projeto e o apresenta à população como rea-
liação sua definida coletivamente com a sociedade civil.

Se este é um processo difícil de ser percebido, pelo menos


hoje estão disponíveis dezenas de *documentos públicos oficiais,
produzidos pela prefeitura, que tornam as relações entre o ban-
co e a administração municipal mais evidentes. Esses documentos
foram conseguidos e disponibilizados pelas mãos da própria po-
pulação − e não pelo poder público − a todas as pessoas interes-
sadas em interferir democraticamente nos rumos da cidade. Se a
resistência contra a venda da cidade aos donos do dinheiro é fun-
damental, a informação pode indicar os caminhos dessa resistência.

* Este zine foi produzido com base nos documentos públicos levantados pelo projeto
jornalístico “Arquitetura da Gentrificação” durante o ano de 2014. Esses e outros
documentos podem ser encontrados na íntegra, para download, no site do projeto:
www.reporterbrasil.org.br/privatizacaodarua. Sua reprodução é totalmente livre.

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