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coNTR¡BUtçAO r Uml nPOLOGTA TEXTUAL .

lrgedore G. Viltaça Koch ..


Loonor Lopos Fávcro ...

A Revista aceita contribuições


inéditas de estudos, resenhas
e outras, dentro da sua
| - TNTRODUçÃO

especialidade. Vide as normas


Embora o problema da tipologia de textos se encontre, ainda, em fase
para apresentação de originais
de controvérsias e longe de soluções salisfatórias, uma LingÍifstica de Texlo que se
na página 194 .
-. proponha trazer conlribuições ao estudo e ao desenvolvímenlo da competência
lexlual, mormente rìo que se refere à produção/intelecção de textos, deve ler a
comparação/diferenciação de texlos como uma de suas tarefas primordiais.
O próprio lato de terem lrulificado as tentalivas de tipificação evidencia
a necessidade dela. As lipologias existenles, porém, ora tomam por base critérios
derivados de retórica, da sociolingtifstica, ou puramente funcionais; ora o modo de
enunciaçäo; ora apenas as caraclerfslicas formais e estruturais. Faltam, portanto,
crilérios abrangenles que se mostrem adequados à descriçäo global dos diversos
tipos de textos, critérios esles que podem e devem ser enconlrados à luz da Lin-
güfstica Texlual.
Reconhecendo, embora, com Orlandi (19g3) e Guimarães (igg6) que
uma tipologia do texlo deve ser arliculada a uma tipologia do discurso, ou seja, que é
preciso considerar a relação enlre texto e discurso, já que "um certo texto parlicular
é de um carto t¡po em virtude da conelaçáo enlre certos elementos de sua organiza-
ção e suas condições de produção" (Guimarães, l986: 76), é preciso lembrar ta¡r¡-
bém, ainda com orlandi (1983: 194), que, dianle de um material a ser analisado, a
escolha de uma lipologia não se faz em abstrato mas depende dos objetivos especÊ
ficos da análise que s€ pretenda empreender. sob esse aspecto, pode-se dizer que
uma lipologia do discurso baseia-se em crilérios ligados às condiçöes de produçäo
LETRAS E LETRAS, V. 3, N. 1 - 1987 - Uberlåndia, Universidade
dos discursos e às diversas formações discursivas em que podem estar inseridos.
Federal de Uberlândia, Departamento de Letras.
Exemplos de tais tipologias seriam, entre oulras:

Semestral (Volume 1, número 1 publicado em março dc lgg5l 1. as que se referem à existência de instiluiçðes: discurso polfìico, jurfdico, religioso,
etc;
rssN 0102-3527
1. Llngua. 2. Literarura - Crftica.3. Lingtiística l.
' As primeiras versôes desle trabalho foram apresenladas para discussáo em dois grupos de tra-
Universidade Federal de Uberlândia. Departamento de Letras. balho realizados por ocasião do GEL - Grupo de Esludos Lingäbticos do Estado ãe Sáo Pauto,
o primeiro em Bauru (1985) e o segundo ern Araraquara (19g6).
CDU 8 " rMeslre e Doulora €m Ciênò¡as Humanas: Lfngua Portuguesa. Docente do Deparlamento de Lin-
güfslica do lnsl¡tuto de Esludos da Linguegetn- lEL, UNICAMP.

"' Doglgra
-em
Lingäfslica: P¡oF Tilular de Ungua Porlugussa cla PUC/SP e docente do Programa
Biblioteca da UFU de Pós-Graduação em Lfngua Porluguesa da mesrna Universidade.

03
de uma tipologia
3. Critérios para o eslabelecimento

2.asquedizemrespeitoadomfnios(institucionais)dosaberequeconstituemva- Visto que o estabelecimento de critérios adequados deve ser o primei.


riaçõesdasanleriores:discursolilosótico,cienlllico,poético,iornalfstico,etc(cf' questäo da tipologia' propõe-se como básicas para a
Orlandi, 1983:); ro passo para solucionar a
três dimensóes interdependentes:
coÅparaçaol¿ilerenciação de lextos,
daantiga retórica: discurso
deliberativo' epidflico' ludiciário;
3. a "' :::::-----'' i;
a)dimensáopragmática,quedizrespeitoaosmacfoalosdelala(cf.VanD¡jk'.l978)
slluaç¿þs comunl-
que o texto realiza e aos diversos rnodos de atualzaÇâô êm
base' de um lado' a relação da linguagem
4. a deOrlandi (1983) que toma corno cativas;
comsuascondiçóesdeprodução;e,deoutro'qquesläodaproduçãodosentido'
de interação e de polissemia: discurso autoritário' global, ou seja, os modelos cognitivos ou esquemas lor-
repousando sobre as ioco", bì
-' dimensáo esquemática
@(cf. superestruturas de Van Diik);
polêrnico e lúdico'
(sintático/semânticas) en-
conta os es- eì dimensäo linqüfstica de superfrcie, islo é, as marcas
-,ffiabcutáriooesforçodecompreensão,permi.
As tipologias de texto, por sua vez' procuram levar em
quemasconceituais.cognitivos,ascaraclerlsticasformaiseconvencionais,eos de texto'
tindo-lhe lormular, a partir delas, hipóteses sobre o tþo
meioslingÜlsticosque,emdadasituaçãodeenunciação,sãoulilizadospelosinter.
loculores para realizar suas inlençóes comunicativas' 4. Em direçäo a uma tipologia de base
Apresenlaremos, no item seguinle' exemplos de lais lipologias'
À bz dos critérios proposlos, proceder-se'á ao exame de alguns dos
2. Sfntese das textuais existentes
tipos que lêm sido apresentados na literatura'

Parece-nos possfvel dislinguir quatro grandes verlenles: 4.1

nas lunções da linguagem a) dimensäo


2.1. as de tipo luncional/comunicativo que se esleiam macro-ato: asserçáo de enunciados de ação
de Jakobson' É o caso dos trabalhos de Vano-
de Bühler e, especialmente,
atitude comunicativa: mundo narrado (Weinrich)
ye (1973) e de Reiss (19771;
atualizações em situações comunicalivas: romances, contos, novelas'
(tempos do verbo' dðiti- reportagens, noticiários, depoimentos, relatórios etc'
2.2. as que parlem de marcas lingüfsticas de superffcie
modo da enunciaçáo ou os
cos temporais, pronomes etcj para reconstruir o b) dimensäo esque¡n4leg-gÞbal
às teses de temporal s causal (cronológica),
tipos de atitude comunicativa do locutor - e se
que reporlam
@sucessão ggPgig
Benveniste.lncluem-seaquialipologiadeWeinrich(1964)(mundonarrado havendo, Portanto, um 4!99 e um
emundocomenlado),adeSimonin-Grumbach(1975)(discurso'história' - calegorias; orientaçlo, complicação, açäo ou avaliação' resolução'
poéticos)' a de Kerbrat - Orec-
discurso relatado, textos teóricos e texlos moral ou estado final.
chioni (1980) e outras;
Esquema:
2.3.asquepartemdotraçoverificabilidadexnãovedficabilidade,classificando T. narrativo
os lextos em ficcionais e factuais; 1
t- DEPOIS
ANTES
segundo "os processos
2.4 as que, como Werlich (1975), classilicam os textos
cada tipo e que são desencadeados e desen'
cognitivos caracterfsticos de Ação ou avaliação
dirigidos para a situação e por reaçðes a.as-
uoiui¿o, por atos de locuçäo
cinco tipos: des-
pectos especflicos da situação" ip' ¿3)' Werlich distingue
critivo, nairativo, expositivo, argumentativo e instrutivo' resumo orientação complicação resolução moral ou moral
estaüo final

lcf. Adam (1985))

05
04
Lgl,l dJ q
partes m espaço; adþtivaçáo abundante; parataxe; tempos verbais; pre-
c) dimensão de superllcie (metáfo-
sente, fx) comentårio; imperfeito, rþ relato; empregp de figuras
ras, metonfrnias, comparações, sinestesias elc).
marcas; lempos verbais predominantemente do mundo narrado; cir'
cunstancializadores (onde, como, quando, por quê. . .); presença do dis-
4.3. Tipo expositivo ou explicativo
curso relatado (direto, indireto, indireto livre) etc.
al dimensäo progmótioo
4.2. TiP descrilivo
macro-ato: gcroþ de conce¡los
a) dlrngl¡ee pEgntátrca_ al¡tude conìunicaliva: fazer saber
atualizações em situações comunicativas: manua¡s didáticos, cientñicos,
macro-alo: asserção de enunciados de eslado/situação
obras de divuþação etc.
atitude comunicativa: mundo narrado ou mundo comentado
alualizações em situações comunicativas: caracterização de persona- b) dimensão esquemática global
gens (flsica e/ou psicológica) e do espaço (paisagens e ambientes) em
- superestfulura exposiliva: análise e/ou slntese de representaçóes
narralivas; guias turfsticos, verbetes de enciclopédias, resenhas de io-
conceiluais; ordenaçäo lfu ica.
gos, relatos de experiências ou pesquisas, reportagens elc.
- cateoorias:
-"'"v""--'a) generalização-especificaçáo (via dedutiva)
b) dimensão esquemálica global
tema: b) especilicação-generalização(viaindutiva)
supereslrutura descriliva: c) generalizaçåo+specificaçãogeneralização (via deduti-
ordenação espácio-temporal (tabularidade predominante) e apresentação vo-indutiva)
das qualidades e elementos componentes do ser descrito.
Calegorias: palavra de entrada (tema-lllulo): denominação, delinição, ex- c) dimensão lingülstica de superffcie
pansão e/ou divisão.
marcas: conectores de lipo lógico, tempos verbais-rnundo comentado,
Esquema presença do interdiscurso, hipotaxe predominante.
Tema-Título
4.4. rip argumentalivo "slricþ sonsu"
situaçâo elementos ou a) dimensãoPragmática:
\ tempo o macro-ato: oonvgncgf, persuadir
espaço f
soes alitude cornunicativa: lazer crer llazer lazer
tamanhos atualizaçb em situaçöes comunicaüvas:
A etc texlos publicitários, propagandlstlcos, peças Judiciárias, matérias opinati-

,lo!^, \t- pa ,.,rrrtáì*,.


vas etc.
outros obietos st

ou personagens ções dades b) dimensão esquenrática global

(cf. Ricardou, apu Neis(861 supercstrutura argumentaliva: ordenação ldeológica dos argumentos e
contra-argumenlos.
c) dimensáo lingüfstica de superffcie
-calegorias:(leseanterior)pemissas-argurnentos-(conlra-argu'
marcas: verbos predominanlemente de estado, situação ou indicadores mentos) - (sfntese) - conclusão (nova tese)
de propriedades, atitudes, qualidades; unidade do estoque lexical asse-
gurada pelo tema-tllulo; relaçöes de inclusáo (hiperontnia'hiponfmia); ne-
xos ou articuladores relacionados à siluaçäo do obieto'tema e de suas

07
06
u\l¡. u 'u'Js!¡'r rJv'
Letras & LetlaS, Lruulldrlurq'

c) dimensáo de supe rffcie


5. Conclusão
marcas: modalizadores, verbos introdutores de opinião, operadores ar-
gumentalivos, metáforas temporais, recurso à auloridade elc. Poder-se.iam acrescentar outros tipos já citados na literalura, como o
que o lipo conver'
conversacional e o retórico (ou æético). Parece-nos, nO entanto,
sacional, o retórico (poét¡co) e o escrito "não-poético" conslituem macrotipos em
4.5. TiPo inir rnlivn or¡ rlirelivo
que os demais se encontram inseridos, merecendo, assim, descrtçao â parte.
a) dimensäo Pragmática Recorde-se, lambém, que qualquer tipilicaçäo só pode ser feita em
que dificilmente se apresentam t¡pos texluais puros. Co'
macro-alo: direcionar, 9!94q1 lermos de dominância, fá
mumenle cOmbinam-se, num mesmg texto, seqüênciaS narrativa5, descritivas, ex-
alilude comunicativa: lazer saber lazer
positivas etc, mais ou menos extensas e homogêneas.
atualizaçöes em situações comunicativas: manuais de inslruções, re-
salienle-se, ainda, que a tipologia apresentada é allamente provisória,
ceilas culinárias, bulas de remédios elc.
jâ que, ao lado de tipos tradicionalmente reconhecidos, como o narrat¡vo' o descriti-
b) dimensão esquemática global vO, O expositivo, elencaram-Se oulrg5 que nãO se acham, ainda, bem caracteriza-
supereslrulura direliva: dos.
Prescrição de comportamentos seq[iencialmenle ordenados Ressalte-se, finalmente, que a argumentatividade está presente em
con-
Tema: Ação, + Ação, + Açãor...... + Açäo- = resultadoou pro- lodos os tipos, de modo mais ou menos intenso, mais ou menos explfcito' Num
' n duto tinuum argumentativo, podem-se localizar textos dotados de maior ou de menor ar-
gumentatividade, a qual, porém, não é jamais inexistente: a narrativa é feita a partir
c) dimensão lingülstica de superffcie de um ponto de vista; na descrição, selecionam-se os aspectos a serem apresenta-
marcas: modos e tempos verbais (imperativo' inlinitivo, luturo do pre- dos de acordo com oS obietivos que se têm em mente; a exposição de idéias envol-
tOmadas de pOSição (nunca se lem a coisa em si, mas como ela é vista
por al-
senle); vocalivos; verbos performativos; perfodos simples; parataxe; ne' ve
guém) e assim Por diante.
xos ou arliculadores adequados ao encadeamenlo seqüencial de ações
Pensou-se em considerar um tipo argumenlativo "striclu-sensu" para
etc.
enquadrar aqueles lextos tradicionalmenle denominados argumentativos, ou seja,
aqueles em que a argumentaçäo se apresenta de maneira explfcita e atinge o seu
4.6. Tipo preditivo
grau máximo.
a) dimensão Pragmática
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁTICAS
macro.ato: predizer (asserçöes sobre o futuro)
atilude comunicativa: lazer crer elou lazer saber atualizações em situa-
ADAMS, J.M. "Quels types de textes?' in: Le Français dans le monde, ne 192, Paris,
ções comunicalivas: horóscopos, profecias, boletins meteorológicos,
previsões em geral. Hachette-Larousse, abril de 1985' 1978.

b) dimensão esquemática global DJlK,T.A.van.@ontheStructuresandFunclionsof


Discourse. Amsterdá, Mimeo, 1978.
supereslrutura Preditiva:
Prenúncio de eventos, situações, comportamenlos (individuais ou coleli'
GUIMARÃES, E.RJ. "Polifonia e Tipologia Textual". ln: fÁvEno e PASCHOAL,
vos) com base em relaçöes de causalidade, em deduções lógicas ou por Paulo, EDUC:
(orgJ. Lingülstica Textual/Texto e Leitura, Cadernos PUC 22, S.
simples casualidade.
FuturidadeI Evenlor, Eventq .... Eventonl 7t88,1986.

c) dimensáo lingûfstica rte superllcie KERBRAT-ORECCHIONI. L'énónciation de la subjetivicté dans le Paris,


Armand Colin, 1980.
marcas: lempos verbais com perspectiva prospecliva;
parataxe; eslruluras nominalizadas; ausência de coneclores; adjetivação
abundante. NEIS, l.A. "Elementos de Tipologia do Texto Descritivo." ln: FÁVERO DE
PASCHOAL, (org.). Ungüfstica Texlual/Texto e Leitura, Cadernos PUC, 22,
S.

Paulo, EDUC, 1986.

09
08
tg
Letras & Letras, Ube:'låndia, 3 (1): &10, jun., 1987 Letras & Letras, Uberlåndia, 3 (1): 11'23, jun., 1987

ORLANDI, E.P. A Unguagem e seu Säo Paulo, Brasiliense, 1983. A PARTICULA fSE'' EII PORTUGUÊS:
ALGI ilAS FUNçÕES E pISEU¡IOFUNçOES
REISS, K.C. Möolichkeiten und Grenzen der und
Kritorion fúr oino ooohqoroohto 9ourtoilung von Uboroot¡ungon. Münohon, 1071.
Sandra D¡niz Cosla'
RÜCK, H. Linguistique Textuelle et enseignement du français. Paris, Hatier-Crédif,
1980.

INTFODUçÃO
S|MONIiJ-GRUMEACIT, J. "Fara uma tipoiogia dos discursos". ln: Lfngua, Discurso,
Sociedade. São Paulo, Global, 1983.
A parlcula se exerce, em Português, múttiplas funções sintáticas, re-
VANOYE, F. Expression et Communication. Paris, Armand-Colin, 1973.
cebendo, por isto, variâdas chssificações pela Gramática Tradicional:

WEINRICH, H. Tempus: Gesprochene und erzåhlte Welt. Stuttgart, 2? ed., 1971


a. pronorne reflexivo, com furìção de objeto direto/o$eto indireto de verbos reflexi-
vos;
WERLICH, E. Typologie des Texte. Entrourf eir'es linguistiches Modells zur
b. pronome reflexivo, com função de sujeito de um ir¡finitivo;
Grundlegung einer Textgrammatik. Heideloerg, 1975.
c. parÚcula expletiva;
d. parte integrante de verbos ditos'pronominais';
e. partfcula de realce;
f. lndice de indeterminaçáo do sujeito;
g. profìome apassivador.

Nosso objetivo, neste trabalho, é lazer uma análise crftica destas


mesmas funções, bem conp analisar alguns desvios da norma padrão, para verifi-
car se estes desvios const¡tuem e¡ros estruturais dos falantes nativos, ou se ape-
nas ferem a gramåtica tradicional, bem como por que o fazern.

Agrupamos as funções do pronome se em dois grandes grupos: no


primeiro, analisamos todos os casos de PRONOMES REFLEXIVOS e, no segundo,
estabelecemos um paralelo entre os Í¡.¡olcgS DE INDETERMINAçÃO Do SUJEI-
TO e os PRONOMES APASSIVADOBES.

Esperamos que este trabalho, embora rnodesb, possa contribuir de


maneira efe,tiva para uma melhor compreensão de corlo funcbna a nossa lfngua'

1. Se r{> PRONOIIE REFLEXwO

A partfcula SE (derominada por aþuns estudiosos corno um dos cllti'


cos), na maioria dos casos em que aparece é um pronorne reflex¡vo.

CELSO CUNHA (1$4:282) define o prorþtne refþxivo:


' Professora de Lfngua Poftugu€sa do Departamefib de Leüas da uFU. Mesranda ern L¡ngúflica
pela UFG.

10 11
r*]
Considerações sobre o capítulo

os recursos linguísticos explorados nos dois textos de análise deste


ra¡ítrrlo, fais rnm¡ exprerrõee dôiticoo c npclativas, funciúli¿ru uuuru
pistas de como interpretar o contexto de produção: a condição social
e intencional dos interlocutores, o suporte em que o texto faz sentido
pelo seu gênero etc. Mas não é só isso. se formos resgatar o princípio
retórico-semântico de que todo texto tem conteúdo argumentativo,
conforme será explorado nos capítulos 3 e 4, essas expressões são
verdadeiras pistas de como o attor fazuso de recursos d.e persuasão,
chamando a presença do leitor ao texto ou mesmo se inserindo no
mundo do leitor no uso da primeira pessoa do plural (nós). Esse co_
mentário funciona como mais uma dica de como podemos explorar
marcas linguísticas do contexto de produção.

Ðid.1s lrrtcril:(i.J!r-"is (le (iel rlcar. ic ir: ?r:'r-,c.:;io (ri r7ì


((::¿inrrr 0rrs¡ie;r¡ (iô l.irro, SP, iI¿sii)

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,¿ùrálise ii¡:Buisticâ nos gó¡ìcl¡t illi,ri:s / li¡er1 a¡ìsìi¡1 ltr¡(iìrr!!r'¡'
CLtriliLìr ì I'Ð1)et, ?0ft) (Sórii L;i:.qr!a
po!lùgti.:r r:r ircto)
-

Bibliogrrlìa.
ISBN 978,6S_7838_-\ór-l

L LiDgülsticâ - Aîäjisc 2. lert¡{ l. fítrrio

c9-1 1599 cDD,4!3

ind!ces para calálogo sislernárico:


l. G¿ncros textuâis : Alálise lìngulslica +1B

48
Neste capítulo, o alongamento teórico percorrerá a noção bakhti- tal forma que frca possível prever, por exemplo, a estrutura de uma
niana de decomposição até os conceitos de sequências textuais, de narrativa, ou de uma opinião. Se a narrativa clássica tinha nas fábu-
Adam (2001): a narrativa, a descritiva, a explicativa, a dialogal e a las um texto que previa uma sequência do tipo situação inicial, ações,
algumcntativa. ,\ idcia ccntral ó cxplorar catruturoo rclotivomcntc complicaçõo, soluçõo c morol finnl, hoje eooa requência é m¡is ou
estáveis entre grupos de gêneros textuais, explorando, novamente, menos prevista em um conto ou romance' ou mesmo em uma novela
marcas iinguísticas aqui características. Isso será ilustrado tanto em ou filme de cinema. Se a oratória retórica dos clássicos (é impossível
textos padrão da escrita quanto em textos de alunos, no sentido de fugir deles!) pressupunha uma tese a ser sustentada por argumentos,
orientar opções de atividades da prática metodológica. que poderiam centrar-se no orador, no auditório ou no mundo ordi-
nário que os englobasse, esse mesmo raciocínio pode ser verifrcado
num artigo de opinião em jornal de circulação diária. Os textos de
3.1 As sequências como categorias sociocognitivas
]ânio de Freitas ou Carlos Heitor Con¡ que publicam na Folha de
S. Paulo, carregam essa estrutllra, mesmo que implícita e ainda que
O elemento composicional do texto é o mais previsível dentre os
possivelmente interpretada de maneira inconsciente'
constitutivos do gênero. Há determinados convencionalismos so-
Em termos mais conhecidos: os gêneros são "tipos relativamen-
ciais que garantem a previsibilidade de estruturas textuais. Bakhtin
te estáveis de enunciados", que nos permitem organizar as relações
mesmo reforça a estabilidade do gênero como pressuposto comuni-
sociais. Na esfera familiar, dos gêneros primários, as Pessoas sabem o
cacional: "Se não existissem os gêneros do discurso e se não os do-
formato de um bilhete - com o nome de quem vai ler, a mensagem' e
minássemos; se tivéssemos de criá-los pela primeiravez no processo
o nome de quem escreveu -, bem como o formato de uma conversa
da fala; se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a
sobre uma fofoca, uma bronca de uma mãe para um filho que não
comunicação verbal seria quase impossível" (Bakhtin, 1992, p. 302).
sabe pendurar a toalha no banheiro, uma lista de supermercado etc'
A mesma previsibilidade, quero enfatizar, é o traço da con-
Na esfera davida acadêmica, dos gêneros secundários, por outro lado,
ceituação de gênero que licencia a transgressão ou a subversão da
há também uma previsibilidade de formatos textuais que garantam
estrutura. Ao escrever um artigo de opinião em formato de poesia, o
a comunicação, a burocracia e também a avaliação: a monografia,
impacto dessa transgressão se justifica justamente pelo pressuposto
a prova, a dissertação, o artigo, o ensaio, a tese, o ofício etc.
da estabilidade, que seria, nesse caso, o texto em prosa conectando o
Adam (2001), apoiando-se na máxima bakhtiniana dos ti-
pontd de vista e os argumentos, em sua forma canônica.
pos relativamente estáveis de enunciado, defende uma tipologia de
Sob o ponto de vista histórico, o tempo e as relações sociais
sequências textuais que frguram na base dos textos prototípicos da
dão conta de sedimentar usos e garantir uma previsibilidade textual.
nossa vida social: a narrativa, a descritiva, a argumentativa, a expli-
Ou seja, a história das experiências letradas - e isso tem a ver com
cativa e a dialogal2. É importante salientar aqui que sequência não é
a própria história da leitura e da escritat -, puttu a organizá-las de

¡ Como sugestão ,
de leitura sobre a história da escrita: Higomet, 2003. Sobre a história da leitura: Cavallo; São vrárias æ tipologias baseadæ em estruturas textuais relativmente fixas, embora com concepçôes de

Cha¡tier, 1998; Mmguel, 2006; Fischer, 2006. lexto diferentes; Wedich, 1973, citado Por Marcuschi, 2005; Dolz; Schneuwl¡ 2004.

50
gênero textual, tampouco a sua contraparte formal. Os gêneros são da experiência" (Kteiber, 1990, p. 13, citado por Adam,2001).
I
I
voláteis: eles continuam sendo instrumento social, com seu pres- Paralelamente ao pressuposto cognitivo, Adam assume igual-
I
¡

suposto dialógico e sua função discursiva; eles também continuam mente a natureza sociocultural das sequências textuais. Seguindo
scndo criaçao natural dos rclaçõcs humonos, com volôncio poro o l¿ruLéur ulra [ratliçãu dc ¿studos sobrc o discurso c acus contornoo
subversão ou para a "intertextualidade inter-gêneros" (Marcuschi, ideológicos de base bakhtiniana, Adam defende que as sequências
2005,p.31) - o emprego da forma mais previsível de um gênero com são esquemas textuais prototípicos, cuja representação é paulatina-
o propósito de outro, como a escrita de um editorial em formato de mente construída pelos sujeitos em sua experiência social e cuja es-
poesia, por exemplo. trutura passa a ser aceita e inclusive nomeada pela sociedade.
As sequências, por seu turno, são segmentos relativamente fi.- Num exemplo - talvez o mais canônico: as pessoas sabem o
xos que compõem os diferentes e vulneráveis gêneros da nossa so- que é uma história ou uma narrativa. Esses nomes figuram na lingua-
ciedade. São tipos que perpassam os diferentes gêneros. Como enti- gem ordinária. Mas elas também sabem que a história vai entrar na
dades de construçäo textual, as sequências são elementos abstratos composição de um romance ou de um filme de cinema, que são os gê-
em razão de que não existem isoladamente na vida real das relações neros que a pressupóem. Digo que as Pessoas "sabent''da diferença so-
comunicativas, e ao mesmo tempo concretos, pois preveem estrutu- bre história e romance no sentido de que, mesmo inconscientemente,
ras linguísticas características. Mas os gêneros é que são os enuncia- isso faz parte de um conhecimento de mundo natural que elas vão
dos da vida real, carregados de condicionamentos pragmáticos, con- adquirindo (e mesmo - friso - subvertendo) na experiência de letra-
textuais e ideológicos. Na estrutura característica de uma sequência mento, sem necessariamente dependência direta com avida escolar. É
textual, preveem-se partes de texto signifrcativamente estruturantes, justamente esse conhecimento natural sobre as composições textuais
nomeadas como macroposições. Nesse sentido, as sentenças ou pro- que podem servir de ponto de partida para o professor levar o aluno a
posiçóes contituem macroposições, que por sua vez constifuem a se- experiências com textos mais variados e de usos mais específicos' que
quência. Num esquema: ilustram uma experiência mais complexa de leitura e produção. Isso,

em uitima instância, o leva a interagir com o mundo das letras.


se'quência > macroposíções > proposiçóes
A associação conceitual que Adam faz - entre pressuposto
cognitivo e pressuposto histórico-social - pode parecer para alguns
Além disso, Adam concebe as sequências através de outro duplo
pressuþosto: sáo categorias cognitivas e ao mesmo tempo produto cul- uma mistura pouco simpática. No entanto, esse tipo de combinação

tural da sociedade. Seguindo uma tradição forte da linguística euro- assusta somente a puristas de suas inescapáveis linhas teóricas, que

peia da segunda metade do século XX3, Adam defende que as sequên- mais agem na defensiva, ao checar e criticar citações e referências
bibliográficas, no lugar de inferir a essência histórica de tal posição.
cias são produto de uma habilidade cognitiva natural do homem - a

'b elemento fun- E, se formos pela história, dá para ir bem longe: Humbolt,
categoriazação. A capacidade de categorizar é, aqui,
damental, em boa parte do tempo inconsciente, na nossa organização já no começo do século XIX, defendia um ideal de linguagem se-
melhante ao formulado por Adam. O ideal humboldtiano era que
r Essa tradiçâo pode ter como ponto de partida
Chaolìes (1989) e segue até trXeiber ( 1990). a linguagem tem como função não apenas transmitir aos outros as

q)
nossas experiências, mas também a de constituí-las (Franchl,2002, cognitivas de Adam que os indivíduos produzem em suas exPe-
p. 61). Há, portanto, uma relação dialética entre linguagem, mente riências no mundo e que acabam se condicionando pela história so-

e mundo que os torna interdependentes: a mente, através da lingua- cial. Mas a noção de sequência textual näo deve ser confundida com

gem, môdula e reorgallza u rtruutlu, quc, pur sud ve¿' recuuúiuiutr¿ "tipt" tcxtual. Scgundo o autor, os tipoc tcrrtuoio oõo oim ontidadco

a linguagem. Daí o conceito de linguagem como atividade criadora puramente estrunrrais, que nada têm a ver com realidades cogniti-
econstitutiva. Quer dizer, arelação mente - linguagem - mundo é vas e/ou sociais: algo semelhante à tipologia de tipos defendida por

muito mais imbricada e complexa do que supõem, de um lado, as Werlich (L973), citado por Marcuschi (2002).
teorias que tratam a linguagem como estrutura independente dos Para não perder a dimensão da vulnerabilidade das formas

processos mentais e sociais, e de outro, as que tratam a linguagem textuais, que são fruto de liberdade criadora dos autores dos textos,
como produto essencialmente social e discursivo, independente de Adam acredita estar em posiçäo intermediaria. Ele defende as for-
natureza cognitiva e estrutural. Para ir direto à fonte: mas relativamente cristalizadas das açöes históricas, mas também
acredita na possibilidade de variação. Quer dizeç uma sequência
O ato de falar é uma condíção necessária Para o ato de pensar do não é diretamente dependente de formas linguístico-gramaticais
indivíduo na solídão isolada. Na sua apørição, porém, a lînguagem congeladas. Nesse sentido, não se pode dizer, por exemplo' que uma
apenas se desenvolve socialmente e o homem aPenas compreende a sequência narrativa depende de verbos no pretérito perfeito. É ¿bvio
si mesmo mediante tentativas de testar a compreensibilidade de suas que o falante ou escritor não se põe nesse engessamento linguísti-
palavras com outros. Pois ø objetividade aumenta se a paløvra por co. E é óbvio também que não é a noção gramatical que queremos
ele formada ressoar de uma boca alheía. Porém, nada é roubødo da desenvolver nesse momento. A partir daí, Adam formula sua defesa
sua subjetividade, poís o homem semPre se sente utlo com o homem; por uma conceituação de sequência que seja ao mesmo tempo mais
ínclusive ela aumenta, pois a representação transþrmada em lingua- fiel às opçoes linguísticas e também articulada ao discurso: "É menos
gem não mais pertence a um sujeito. Ao passar para outros, essa rePre- interessante dizer que um discurso, por exemPlo político, é do tipo
sentação associa-se ao bem comum de toda a raçø humana, do qual argumentativo do que examiná-lo em sua dinâmica de sequências e

cada indivíduo carrega dentro de si a ânsiø de ser completada pelos períodos que se articulam no plano do texto" (Adam, 2004, p. 83).
demais. Sob íguais círcunstâncías, quanto maior e mais vivaz for a Dada a conceituação anterior de sequências textuais, que po-
',interatuação socíal conjunta sobre uma língua tanto mais ela ganha. dem servistas como um desdobramento do elemento composicional
(Humboldt, 2006, p. 13l)a do gênero, bem como a tradução categotizada dos 'tipos relativa-
mente estáveis de enunciados", podemos agora partir para os tipos
Ora, as representações da mente que se associam ao bem co- de sequências de Adam.
mum e que são por ele objetivadas são as mesmas representações

{ O próprio estilo enigmático e às vezæ intræsponlvel de Humboldt é *emplo da mesma relação ent¡e li¡-
guagem e mundo que o autor defende. Não se pode ler Hmboldt, asim como nenhum outro texto seculr,
sem tmnspô-lo à virada do sæulo XVIII pra o XIX.
3. (Im ørranjo de acontecimentos incluindo um conflito ouuma
3.2 Sequência narrativa
íntriga, que se encaminhará de ølguma forma para uma re-
A sequência narrativa, juntamente à argumentativa, é provavelmente solução.

a ustrutura composicional tcxtuol maio cctudodo pclo tradição oci Oo cvcntoc qua 06 ¿ucedem no temFo, mais dn ryre envnìver
dental. Se é a mais estudada, é porque a tradição da reflexão sobre o(s) personagem(ns), garantem-lhes a experiência do conflito e Pos-
a linguagem é igualmente bastante antiga: desde a filosoûa clássica terior clímax. Esse é um traço importante na narrativa que a distin-
grega, há formulações sobre o texto narrativo e o argumentativo. gue de um simples relato: a narrativa não se atém apenas à sucessão
O mais interessante da história dos estudos sobre narrativa de acontecimentos; eles se organizam para a culminação de um con-
e outros textos é que há mais de dois mil anos percebemos a cons- flito que garante a dramaticidade ao(s) personagem(ns).
trução e a perpetuação de estruturas que Passam a ser reconhecidas

e empregadas pelos indivíduos, e mais profundamente sedimenta- q. [Jm juím de valor ou ponto de vista ou opinião - æplícitø ou

da pela tradição histórica oral e letrada. A narrativa existe há muito implícita - que em alguns þrtos canônìcos, como as fábulas' é

tempo: já no que se registrou de Homero e dos textos clássicos. nomeaão como "moral f.nal".

Mas que critérios frguram na sequência narrativa? Segundo a O posicionamento avaliativo ou moral atribuído ao texto nar-

tradição, na formulação de Adam (2001), sintetizada aqui por nós, rativo é na verdade um pressuposto de linguagem clássico que Per-
temos as condições a seguir para a construção narrativa. passa todo e qualquer enunciado. Desde a tradição retórica, temos
a máxima de que qualquer pronunciamento pressupöe um auditorio,
r. Sucessão de eventos no tempo, em que se møntém uma uni- ou, nos nossos termos, um interlocutor. Logo, qualquer enunciado é
dade temática através de transþrmação de predicados - em orientado para um 'butro": como uma resposta, um acordo ou uma
relação de caus alidade. avaliação. Sempre estamos, inexoravelmente, em diálogo com al-
Em outros termos: Precisamos de acontecimentos diferentes guém, mesmo que implicitamente.
que se justapõem no tempo, mas esses acontecimentos devem con- Na sequência narrativa, esse posicionamento, por pressuposto'
vergir para uma unidade temática. De nada adianta um texto contar vai existir.
o que aconteceu com um personagem X, se logo após aparece um
personagem Y, e logo após um Z, semque essas ações tenham algu- s. O traço da verossimilhança.

ma relação de causa entre si. Adam postula a verossimilhança não como um critério, mas
como uma regra pragmática na formulação narrativa que acompa-
z. PeIo menos um personagem antroltomorþ envolvido nesses nha a concisâo e a clareza. A verossimilhança dá à narrativa o traço
eventos. da ficção. Quer dizer, o ouvinte/leitor não se compromete em checar
Um personagem antropomorfo é aquele que tem representa- se o que se conta é verdade, basta que ele tenda a acreditar na plau-

ção humana. Mesmo com personagens animais, ou personagens ob- sibilidade da história.
jeto, o texto narrativo lhes imprime o comportamento humano. Num esquema de ordenamento desses elementos constituin-
tes da nartativa, A.dam propõe a seguinte figura:
Figura 3.1- Elementos da narrativa - ordenamento Mesmo com experiência escolar mínima, e provavelmente de-
ficitária, o aluno com síndrome de down formula um texto narrativo
com todos os elementos pressupostos na sequência narrativa - ProYa

Srtuaçao Situação Avaliaçäo pcsada dc quc û n&rrotivo ó produto do mcio, modulodo no mon
Complicação Açoes Resolução
inicial frnal final te dos sujeitos, conforme a conceituação de Adam. Pegunta: Onde
ele aprendeu a formular uma narrativa? Isso não depende da escola,
As flechas que unem os elementos da sequência narrativa dois porque fazparte da nossa experiência social. Ao mesmo tempo, isso
a dois indicam a dependência mais direta que cada dupla possui: depende da escola, porque objetivamos inserir o aluno na experiên-
uma situação inicial pressupõe que haverá uma final, uma compli- cia de letramento para o agir social.
cação leva a uma resolução, e um quadro de ações condicionará um
juízo ou moral final.
Para ilustrar a sequência narrativa, apresentamos um textos, Análise linguística da sequência narrativa

que denominamos aqui de texto 1, emblemático: uma história soli-


A sequência narrativa tem uma situação especial e ao mesmo tempo
citada a um aluno com síndrome de down (17 anos).
muito bacana para se fazer análise linguística. Há um complexo con-
junto de segmentos, ou macroposiçöes, que preveem o desenrolar
Texto
da história. De início, entre a passagem da situação inicial às ações,
1

Minha mãe morava no sítio. cando há mudança de perspectiva aspectual, sobretudo nos verbos: da
ela era pequena mais a familia de ela. Situação perspectiva imperfectiva da macroposição descritiva à perspectiva
Depois um dia detarde minha mãe inícial
perfectiva das macroposições seguintes. É o que se verifica entre os
estava brincando com o irmão de ela era
todacom mata em volta. Daí eles virão verbos morava, era, estlvabrincando e os verbos viram, pegaram, en-
Açâo +
um triusinho eles pegaram e emtraram
compl¡cação traram, forarn do texto narrativo que vimos do aluno com síndrome
e foram longe da casa deles a onde les morava
O pai deles esta preocupado e saiu a de down. Essa é uma questão semântica que envolve a confrguração
trais deles e foram encontrar eles longe Ræolução + das denotações temporais expressa pelas sentenças' Nesse sentido,
daí trouce. eles para casa e bigol sítuaçao fnal
com eles e dexou de castigo.
aspecto (perfectivo e imperfectivo) é a configuração interna do tem-
O pai falal para eles era pirigoso algum bixo Avaliação po. De acordo com as teorias aspectuais, os valores perfectivo e im-
pegar eles dois fnal
perfectivo podem ser esboçados nas sentenças de diferentes formas,
desde as flexões dos verbos, entrando em questões morfológicas, até
advérbios e tipos de flexões de substantivos. Essas marcas podem ser
s
Transcrição do trecho: "Minia mäemorava no sítio quædo ela era pequena mais a fmflia dela. Depois, um
esboçadas na figura a seguir:
dia de ta¡de minha mãe stava bri¡cmdo com o i¡mão dela. Era toda com mata em volta. Dâí, eles pegüam

m triuinho [trilhazilha]. Eles pegru e entram e form longe da casa dels onde eles moravm. O pai
deles está preocupado e saiu atrás deles e form encontru eles longe. Daí troue eles pua cæa e brigou com

eles e deixou de castigo. O pai falou pua eles que era perigosos algm bicho pegr eles dois'l
as expressões de lugar (sítio, møta, triuzinho), dos personagens (mi-
Quadro 3.7 - Marcas ãe valor perþctivo e imperfectívo
nha mãe, o irmão, o pai). Além disso, há o uso do adjetivo avaliativo
Flexões do passado imperfeito (brincava, chovia etc.) e das
perigoso na construção da mensagem avaliativa final da narrativa.
perífrases de gerúndio (estava bríncando, está chovendo)
Valor aspectual
imperfectivo
Âdrúrbios (tutrptt, toJo 'li¿) lor frm, o tcxto 1 cxibc cituaçõco copccíficoo de quootõoc con
Quantificação indeterminada de substantivos (João dese-
vencionais de escrita, tais como ortografla, concordância e pontuação.
nhormapas)
Obviamente, esse tipo de problema não tem relação direta com gêne-
Flexões do passado perfeito (brínqueí, choveu efc.) da ro textual, e sim com letramento e apreensão da escrita. Logo, consi-
perífrase de particípio, especialmente o passado mais-que-
Valor aspectual perfeito (tinha brincado, tinha chovido).
derando que o contato com a leitura seria uma estratégia indireta, a
perfectivo Advérbios (n aqu ela hor a) única maneira direta de se trabalhar com esse tipo de problema é a
Quantificaçáo determinada de substantivos (|oão dese-
nhou o mapa) mais tradicional possível: verificação do "errd' e reescrita. A ortogra-
fia, sobretudo, é uma questão não gramatical, que tampouco pode ser
considerada como um problema textual. |á a concordância envolve
V¿ários estudos já exploraram essa característica narrativa em
controle gramatical da frase, que é a relação entre palavras, especial-
diversas línguas. No francês, Kamp (1983) já previa a alteração as-
mente entre sujeito e verbo. A pontuação, por fim, vai além de siste-
pectual da forma perfectiva e imperfectiva da narrativa em francês;
mas convencionais, pois envolve significado e efeitos de sentido.
no português brasileiro, Fávero (1995) nomeia esse fenômeno como
As questões linguísticas sinalizadas no texto I podem ser as-
aspectualização, inserindo-o na abordagem da coesão textual.
sociadas à sequência narrativa através do esquema a seguir:
Outro ponto visivelmente explorável na narrativa é o uso de
conectivos textuais, característicos desse raciocínio sequencial. Na
passagem da situação inicial para as ações, por exemplo, a narrativa ve¡bostø Texto 1
osP{to
inperfutivo
marca discursivamente a mudança: daí, do texto 1, é o ponto newál-
Minha mãe no sítio. cando
gico da narrativa: o leitor sabe disso; a partir dessa marca, ele entra pequena mais a familia de ela Situaçao
inicial
Depois um dia detarde minha mãe
nos acontecimentos. Há inúmeras outras possibilidades característi-
com o irmáo de ela era
cas dessa função textual: de repente..., um dia... etc. todacom mata em volta. Daí eles
Aç¡o +
Aaículador um triusinho eles e emtrafam
Na sequência, o desenrolar dos fatos também é marcado por dæ øçõs
cotl,lícaøo
e foram longe da casa deles a onde les morava.
I conectivos temporais, que marcam sequencialidade de eventos. Ain- o i deles esta saru a
I

Ye¡þos rc
I
dano texto do aluno com síndrome de down, podemos observar que 6Itæto trais deles e foram encontrar eles longe Røoluçno +
pefutit'o daí tro eles ra casa e
sitøçãoful
é empregado repetidamente o conectivo e para encadear os aconte-
com eles e dexou de castigo.
cimentos. Mas a opção abre um leque de possibilidades exploradas O pai falal para eles era pirigoso algum bixo Avalíøção
Adjeriw oeoar eles dois faal
marcadamente nos textos narrativos: depois, naquela tarde, no dia at'aliativo
I

seguinte, enquanto, na sequência etc.


.l
'ri
Outra questão linguística, nomeadamente lexical, são os ter-
ii
i¡ mos indicadores dos elementos da narrativa. No texto, destacam-se
Podemos verificar no texto 1a dinâmica da sequência narrativa
mãe, tias, avós orgulhosas de seus bordados e tricôs.
e seus aspectos linguísticos em textos convencionais do padrão escri- Quando crescesse aquela tirania de mulheres
to culto. Ressaltamos aqui o carâter'dinâmicd' da sequência Porque iria acabar. Donzela ou puta, ninguém iria domá-
lo, seu leite iria espalhar pela terra a perfumar num
as formas ltngU{StlCaS nåO såU cuttstautes c rturttr¿tiv¿s. IJru¿ udl1à- rastro comprido, torpor das fêmeas sequiosas de
tiva pode acontecer sem articulação temporal, mas o encadeamento seus carinhos. Agrados dados somente a quem me-
recesse, ou soubesse entender, sujeito livre, selado
dos fatos é inferido pelo leitor; uma narrativa também näo precisa
ao acaso das horas vadias.
explicitar uma moral fi.nal, mas há uma leitura de mundo orientada O doce, porém, sempre acaba quando a boca se
enche de gosto bom. Galo morto, galo posto. Viúva,
ideologicamente que o leitor também infere. E assim por diante.
a mãe reclamava casamento, queria netos antes da
Isso é importante destacar aqui, pois, para fins de orientação cabeça se cobrir totalmente de fios brancos, sinal
curricular do ensino de língua, não podemos trocar o normativismo do fim próximo, soltura da alma. E mais uma vez
elas se intrometiam em seus acertos, arte feminina
da gramática tradicional por um pseudonormativismo de uma falá-
de tecer em fios invisíveis as tramas da vida, seduzir,
cia do tipo'tomo devemos construir uma sequência". escolher, dando linha a ir enroscando o indivíduo
até a total castração!
Nesse sentido, duas outras narrativas se mostram emblemáti-
"E tem mais", vaticinava a matriarca, "esposa
cas. O texto 2 é um conto de Luciana Nabuco, e o texto 3, um conto digna é a que não chora cortando cebola! Mulher
de Machado de Assis: por apego às forças linguísticas que o texto que chora nesse serviço é ou vai ser pecadoral".
Finalmente se arranjou a tal, rotunda, farta em
literário nos provoca. quadris, sinal das boas parideiras, séria, moça dis-
tinta e de pouco conversar. "Meu filho, mulher tem
é que saber de sua lida sem muito discurso". Amar-
Texto 2 rou-se então Magalhães, jovem e também cheio
de saúde à silenciosa e eficiente Ana, mais tarde
A MULHER QUE FICOU chamada respeitosamente pelo marido de don'Ana,
já que nas intimidades ela não acusava um ai,um
Contava seis mulheres. Uma para cada dia da se- gemido qualquer de prazer ou até mesmo de incô-
mana, e no sétimo o repouso merecido, privilégio modo! O que se fizesse estava bem, era obrigação
até do Divino Criador. Companheiro dedicado, pai a cumprir para o aumento da família. E foram oito
extremoso de 14 rebentos da raspa de tacho ao va- para orgulho do pai e ocupação da mãe.
räo recém-formado doutor desses de "bostinha no O pequeno ainda sugava nos peitos da mulhet
dedo", rubra joia, orgulho do pai. quando lhe veio sensação de dever cumprido,e logo
Magalhães já embicava os sessenta sempre le- já estava enrabichado por uma polaquinha frufru,
vando na frente a liberdade, de menino andava nu que lhe reacendeu o gosto pela coisa ao remexet
pelos cantos, cabrito inocente e selvagem. "Menino suas anquinhas em gritos descarados, música que
desaforado, isso, sim", era o eco permanente da lhe fazia falta. Ficou à terça-feira.
casa incompreensível aos pendores naturalistas da- Tempos depois emprestou o lenço à moça que
quele tico de gente. Verdadeira chateação essa de estava ao seu lado no cinema, filme triste e ela com
se vestir, cobriç amarraç dar nós, abotoar, enfiar por seus enormes olhos castanhos disfarçando o choro.
baixo, por cima; isso sem falar no ridículo das cores, Ligou-se primeiro de amizade, aos poucos descobrin-
o costume de marinheiro das missas de domingo, a do os pedaços de sua vida, até o dia em que já bem
obrigação de ser cabide educado às máos zelosas da íntimos, ele viu o singelo vestido de noiva pendurado

ca
I
¡

Gelou pela manhã quando ao se trocaÇ viu suas


no armário. Espera inútil do noivo que nunca che-
peças atadas às dela, bizarra arrumação.
gou. Entendeu o refúgio em salas escuras para po-
'Acorda, Marlene, que sandice é essa?". De nada
der chorar à vontade, era o pretexto do que tinha
adiantaram os pedidos, o choro, o soluço incontro-
velgulllld tJc lut tfessar. ficou ò quorto feira'
lável, deixou-a naquele instante, amuado, porque
Encantou-se também pela Laurinda, cozinheira
lhe perturbava a ideia da prisão invisível, temidos
supimpa do trivial ao requintado. e na cama se lam-
fios de mulheres matreiras.
buzava glutão, do mel dos seus segredos, que ela,
Desfez-se dela e a largou em um canto qual-
generosa, jamais se fartava em lhe oferecer"' Ficou
quer da memória, desgostando também com o
à quinta-feira.
passar dos anos das outras companheiras, tendo
A outra pequena vinha com uma mãe cegueta
apenas como vínculo afetivo os filhos-
e um menino em fraldas, mas não era afeita à trifeza'
Compreendeu que sua liberdade era ilusão, ca-
Conquistou-lhe pelo riso sincero, isento de se-
pricho de menino, tinha regrado sua vida ao cotidia-
dução e trapaças, era transparente. Enchia de leve-
no de mulheres divididas, partilhadas. Acomodadas
za os seus dias sombrios e seu colo representava as
em vidinhas pequenas.
acolhidas e o perdão. Ficou à sexta-feira'Mas sem-
Tudo tinha se tornado água parada. Como gos-
pre há uma perdição.
taria de voltar o tempo e se perder de uma vez só...
Era a que não pode ser moldada' Corre solta
feito água e sendo assim, ora é barrenta, ora é cris-
Fonte: Nabuco, 2009.
talina, envenena e cura, nunca é, por assim d¡zer,
uma só. O recebia de cabelos presos, para que ele
desfizesse o penteado capr¡chado e se derretesse
dentro do seu corpo morno. Os beijos, para ela,
nunca bastavam, havia sempre tempo para aquele
último, da despedida apressada do "até a semana Texto 3
que vem".
Começou a dar ouvido e razão às vizinhas mexe-
Uma tarde, eram quatro horas, o Sr. X... voltava à
riqueiras que falavam de feitiços e amarrações, forma sua casa para jantar. O apetite que levava não o fez
certa de segurá-lo definitivamente. lnsegura, deixou- reparar em um cabriolé que estava parado à sua
se arrastar pelos terreiros da Gamboa, entrou na roda porta. Entrou, subiu a escada, penetra na sala e....
viva de trabalhos e agrados aos guias e entidades do dá com os olhos em um homem que passeava a lar-
além. gos passos como agitado por uma interna aflição.
ignorando a maldade das que a
E pedia sincera,
Cumprimentou-o polidamente, mas o homem
acompanhava, sabedoras do motivo real de suas in- lançou-se sobre ele com uma voz alterada, dizendo-
quietações. De todas as mulheres de Magalhães, era
lhe:
a única de oveiro seco, impossibilitada de gerar, terra Sou o senhor F... marido da senhora Dona E...
salgada, árida. E tinha medo do abandono, da soli- -
Efimo muito conhecê-lo, reponde o Sr. X...;
dão porque amava muito, desses amores doídos"' -
mas não tenho a honra de conhecer a senhora Dona
Sábado de carnaval.
E...
Ele tinha prometido levá-la ao baile. Mascarados,
Não a conhece! Não a conhece!... querjuntar
ninguém os reconheceria, a reputação preservada' -
a zombaria à infâmia?
Brincaram, dançaram feito criança, ele quis voltar
Senhor!...
um pouco mais cedo, história de aproveitar o resto -
E o Sr. X... deu um passo para ele.
da noite sentindo a sofreguidão nos seus olhos' Alto lá!
-
Ã(
O 5r. F..., tirando do bolso uma pistola, conti- Não podia acreditar nos seus olhos e ouvidos; pen-
nuou: sava sonhar. Um engano trazialhe dois contos de
Ou o senhor há de deixar esta corte, ou vai réis, e a realização de um de seus mais caros sonhos.
-
mnrrpr rnmrì rrm rãnl Jrntar.r trrnqr.rillmînte, p daí a rrma hnrâ nâra â têr-
Mas, senhor, disse o Sr. X..., a quem a elo- ra de Gonzaga, deixando em sua casa apenas um
-
quência do Sr. F tinha produzido um certo efeito, moleque encarregado de instruir, pelo espaço de
que motivo tem o senhor?... oito dias, aos seus amigos sobre o destino.
Que motivo! É boa! Pois não é motivo andar No dia seguinte, pelas onze horas da manhã,
-
o senhor fazendo a corte à minha mulher? voltava o Sr. F... para sua chácara de Andaraí, pois
A corte à sua mulher! Não compreendo! tinha passado a noite fora.
-
Não compreende! ohl não me faça perder a Entrou, penetrou na sala, e indo deixar o cha-
-
estribeira. péu sobre uma mesa, viu ali o seguinte bilhete:
Creio que se engana... "Meu caro esposo! Parto no pgguels em compa-
-
Enganar-mel É boa 1... mas eu o vi... sair duas nhia do teu amigo P... Vou para a Europa. Desculpa
-
vezes de minha casa... a má companhia, pois melhor não podia ser. - Tua
Sua casa! E... "
-
No Andaraí... por uma porta secreta... Vamos! Desesperado, fora de si, o Sr. F... lança-se a um
-
Ou... jornal que perto estava: o paquete tinha partido às
Mas senho¡ há de ser outro, que se pareça oito horas-
-
comigo... Era P... que eu acreditava meu amigo... Ah!
-
Não; não; é o senhor mesmo... como escapar- Maldição! Ao menos não percamos os dois contos!
-
me este ar de tolo que ressalta de toda a sua cara? Tornou a meter-se no cabriolé e dirigiu-se à casa do
Vamos, ou deixar a cidade, ou morrer... Escolha! Sr. X..., subiu, apareceu o moleque.
Era um dilema. O Sr. X... compreendeu que Teu senhor?
estava metido entre um cavalo e uma pistola. Pois
-
Partiu para Minas.
toda a sua paixão era ir a Minas, escolheu o cavalo.
-
O 5r. F... desmaiou.
Surgiu, porém, uma objeção. Quando deu acordo de si estava louco... louco
Mas, senhot disse ele, os meus recursos... varrido
- !

Os seus recursos! Ah! tudo previ... descanse... Hoje, quando alguém o visita, diz ele com um
-
eu sou um mar¡do previdente. tom lastimoso:
E tirando da algibeira da casaca uma linda Perdi três tesouros a um tempo: uma mulher
- -
carteira de couro da Rússia, diz-lhe: sem igual, um åmigo a toda prova, e uma linda car-
Aqui tem dois contos de réis para os gastos de teira cheia de encantadoras notas... que bem po-
-
viagem; vamos, parta! parta imediatamente. Para onde diam aquecer-me as alqibeiras!...
vai? Neste último ponto, o doido tem razão, e pare-
Para Minas. ce ser um doido com juízo.
-
Oh! a pátria do Tiradentes! Deus o leve a sal-
-
vamento... Perdoo-lhe, mas náo volta a esta corte... VOCUBUTARIO
Boa viagem!
Dizendo isso, o Sr. F... desceu precipitadamente Cabriolé: carruagem de duas rodas com capota mó-
a escada, e entrou no cabriolé, que desapareceu em vel, puxada por um cavalo.
uma nuvem de poeira. Perder a estribeira: expressão popular muito usada
O 5r. X... ficou por alguns instantes pensativo. no século XlX, significando "perder a compostura".

66
a perspectiva temporal da sucessão de fatos frca em susPenso, sendo
épo-
Andaraí: bairro da cidade do Rio de Janeiro, na os verbos construídos no presente. Aqui hâ o juizo de valor da nar-
econômica e
ca ocupado por pessoas bem situadas
rativa, que se configura também como a emersão do enunciador de
socialmente.
Gonzaga: poeta e lnconfldëllte fulrrás ArrLÛirio Machado, que no câpltulô 5 ganhará o nolne úe ethus'
Gonzaga.
Nas macroposiçöes dos textos 2 e 3, comparativamente ao tex-
Paquete: navio luxuoso, originalmente a vapor'
Algibeira: bolso na vestimenta' to l, figura-se, na verdade, um forte campo de exploração do uso
dos tempos verbais em funçáo da construção narrativa. Mais do que
Fonte: Cavalcante, 2003, P.2-3.

uma dica, essa questão é de fato um exemplo de análise linguística


condicionada ao gênero textual.
con-
No texto 2, há descrição da situação inicial com verbos
que as ações co-
centrados no pretérito imperfeito' No momento em
a tal" os ver- 3.3 Sequência descritiva
meçam, logo após a sentença "Finalmente se arranjou
Interessante
bos que conduzem o tempo estão no pretérito perfeito'
avaliativo' de
A sequência descritiva exibe uma natureza diferente das outras: seu
observar que, no momento em que algum comentário
conteúdo temático e o que se diz sobre ele não são entidades tão con-
juízo moral da narrativa aparece' os tempos verbais também
mudam:
cretas quanto a verificada na sequência narrativa. Se nesta, preveem-
"O doce, porém, sempre acaba quando a boca se enche de gosto bom'
se fatos ordenados no tempo com envolvimento de personagens' na
Galo morto, galo posto"; "Tudo tinha se tornado água parada' Como
sequência descritiva esta organização não está tão sedimentada.
gostaria de voltar o tempo e se perder de uma vez só"1'
Há, de fato, um conteúdo, o tema, que é enfocado sob dife-
O texto 3, na nomeada perspectiva crítica cética de Machado
rentes perspectivas e recebe propriedades igualmente de diferentes
de Assis, extraído do liwo organizado por Cavalcanti (2003), que
naturezas. Isso tudo parece bem mais abstrato, e realmente o é, pois
se estende na
acaba desenvolvendo o efeito de humor, também não
o objetivo de uma sequência descritiva é o levantamento de proprie-
situação inicial. Mantémuma sequência narrativa linear' em que os
os esparsos ver-
dades qualificativas sobre os indivíduos - concretos ou abstratos -'
eventos encadeiam-se na ordem temporal, sem que
a leitura'
muito mais do que fatos reais sucessivos que ocorrem no mundo
bos no presente simples (díz-Ihe e lança-se) comprometam
vê- perceptível. Quer dizer, fazemos descrição de uma construção, de
Na perspectiva de heterogeneidade constitutiva das sequências'
dialogal' cuja uma máquina, de um lugar, de uma pessoa, mas também de um
se que a narrativa se constrói incluindo a sequência
evento, de um projeto, de um procedimento e também de uma ideia.
sucessão temporal frca entremeada pelo narrador'
Lembrete: mesmo
O que motiva a descrição não é a referencialidade do tempo, mas as
gênero conto
em constituiçáo heterogênea, a sequência prevista no
As propriedades que caracterizam esses indivíduos. Daí o caráter me-
é a narrativa. É nesse sentido que a narrativaé ditapredominante-
nos concreto da descrição.
a constituem'
outras sequências (descritiva e dialogal, por exemplo)
a ma-
Embora alguns autores defendam que a sequência descritiva
mas não a substituem. Nas ultimas linhas do conto, figUra-se
que não existe sozinha, pois não exibe estatuto próprio, sendo essen-
croposição da avaliação ou moral final' É interessante observar
cialmente uma sequência constitutiva de outras (Bronckart, 2003),
Adam (2001), por outro lado, postula uma sequência descritiva com a sequência apresenta o objeto que será enfocado. Adam nomeia esse

objetivos e características específrcos' termo como "pivô nominal que funciona como tema-título' (Adam,
A descrição, como pressuposto na própria noção de sequência, 200I,p. 35). Se a descrição pöe-se a apresentar o funcionamento de
exibe heterogenerdade composlClOnal reCtlrrertte, lllesltlu quautl, urua britruatluira, uulr ur¿uu¿l tlc jugus ¿ blinc¿dciråJ pârå crianças,

aparece como sequência constitutiva de outras. A descrição que ini- por exemplo, frcafáci, imaginar que o nome dela vá aParecer inician-
cia a narração, por exemplo, associada à situação inicial prevista na do o texto.

narrativa, opera como uma reduçáo dessa estrutura composicional. A aspectualizaçâo éa parte da descrição que opera com a divi-
Além do traço heterogêneo' a descrição também traz outro são. Tem-se o tema central a ser descrito e segue-se na sequência com

aspecto igualmente característico: a tendência à despersonalização. diferentes aspectos a ele relacionados - sejam aspectos físicos, como

Se a narrativa prevê um Personagem antropomorfo, a referenciali- as partes de um objeto, sejam aspectos abstratos, como as motivações

dade do texto se sustenta por essa concretude. ]á a descrição tende sociais do surgimento de uma corrente literaria. No nosso caso da

ao mundo das propriedades; e isso se transporta ao abstrato' É essa descrição de uma brincadeira infantil, a aspectualização pode ocorrer

tendência à despersonalizaçáo que imprime à descrição a riqueza focando as etapas que devem ser seguidas Para acontecer a brinca-
mesma de suas opções. Podemos fazer descrição topográfrca (de um deira. Associada à aspectualização, ocorre a relação. Na verdade, a
lugar ou de uma entidade visível), cronológica (de períodos de tem- sequência aqui constrói a relação que existe entre as diferentes partes

po, épocas, fases do funcionamento de um evento, como um jogo, do tema, divididas pela aspectualizaçâo. Entre uma etapa e outra de

por exemplo), pessoal (características, virtudes, hábitos etc' de um uma brincadeira, por exemplo, pode haver uma relação condicional:

personagem real ou fictício), pictórica (acontecimentos, hábitos, fe- a criança que alcançar o resultado da primeira etapa deve escolher a

nômenos físicos e/ou morais de uma época), representacional (tra- próxima que desempenhará o mesmo papel.

ços e defrnições envolvidos em conceitos)


e tantas opções quantas Como podemos observar, entre a aspectualização e a relação
'l
I
forem pertinentes à descrição de um tema de natureza concreta ou há operações de diferentes naturezas. Numa imagem espacial do de-
¡
I
abstrata. senvolvimento temático, a aspectualizaçio opera com divisão - na

vertical -, enquanto a relaçio opera com a comparação - na hori-


I
t
I
Formalmente, a definição usual da descrição traz a ideia de
enumeração. Em termos absolutamente simples: a descrição é tida zontal. Na revisitação à tradição retórica das figuras de linguagem,
I

t
I

no sdhso-comum como uma enumeração de atributos de alguma tema que será explorado no capítulo 5, Adam associa à aspectuali-
I

I
t coisa ou alguém. Mas Adam defende uma estruturaparaalém disso: zaçáo aocorrência de frguras como a metonímia e a sinédoque, pois
I

I há de fato uma hierarquizaçáo vertical prevista na descrição que a justamente são elas que exploram a relação parte-todo (texto +). À
t
I
distingue de uma simples justaposição de informações. A estrutura relação ficam associadas as figuras de comparação e metáfora, pois
t
I dessa hierarquização pode ser traduzida para as seguintes etapas: an- predicam sobre um raciocínio de analogia (texto 5).
I

I
I coragem, aspectualização e relação, e reformulação.
t
I A ancoragem éa introdução de um tema. Através de um nome,
!:i
i,1
:r
Assim como a sequência narrativa, a descritiva também exi-
Texto 4
be orientação argumentativa por Próprio pressuposto conceitual:
qualquer texto tem posicionamento, pois Prevê implícita ou expli-
Na Selva vivia uma vez um Macaco que quis ser
escritor satírico. cltamente um mterlocutor. I\trâ descrlçáo, äs opç0es cie apresenl.açåo
Estudou muito, mas logo se deu conta de que
do tema, de construção da aspectualização, de estabelecimento das
para ser escritor satírico lhe faltava conhecer as pes-
todo mundo e ir a todos
soas e se aplicou em visitar relações e do caminho da reformulação fornecem os lugares de atua-
os coquetéis e observá-las com o rabo do olho en-
ção do pressuposto avaliativo.
quanto estavam distraídas com o copo na mão.
Num esquema visual, as macroposições previstas pela sequên-
(...)
cia descritiva podem simplifrcadamente ser assim representadas:
Fonte: Cavalcante, 2003. p. 2-3.

Figura 3.2 - Macroposições nas sequências descrítivas


Texto 5

Selvagem Foribundo, a quem os pais deram ancoragem


esse nome na esperança de que crescesse violento e
áspero, apto a enfrentar um mundo maldoso e fe-
roz, transformou-se num homem moderado e ame- aspectualização reiação
no, respeitador do próximo e do longínquo, visível a
quilômetros de distância pela sua bondade, jamais
daria razão a um cão na briga com um qato, nem reformulaçáo
pensaria em apoiar as mais legítimas reivindicações
de um qato se isso viesse a prejudicar um rato. Seu

senso de justiça e de respeito aos outros lhe era Um texto ilustrativo de sequência descritiva Pode ser obser-
tão natural quanto peixe morto na lagoa Rodrigo vado a seguir. Trata-se de uma atividade de l'série (5-6 anos), com
de Freitas, roubalheira indecente em áreas estatais
e tráfico de influências no BNH. Um homem assim,
uma criança em fase de alfabetização. Note-se, novamente' que essa
mais cedo ou mais tarde ter¡a de ser recompensado. criança obviamente não tem uma intensa experiência de letramento
Já Risonho Meigo Cordiale era exatamente o
que justifrque o domínio sofisticado de construção da descrição. Ao
contrário.(...)
contrário, ela foi levada, através daprática da brincadeira e da con-
Fonte: ternandes, 2001, p. 507.
versa em gmpo sobre a experiência, a construir um texto que pudesse
ensinar outras crianças a como brincar. Mais do que o resultado

Por frm, na reformulação, há uma retomada do tema geral, bem-sucedido de uma opção didática da professora, o texto eviden-

porém sob as novas perspectivas proporcionadas pelo processo da cia uma estrutura cognitiva estimulada lúdica e oralmente que mo-

aspectualização e da relação. Traduzindo um raciocínio dialético, a dula a produção textual escrita da criança, fruto de uma experiência

reformulação surge para refazer e reconstruir â concepção primeira social que requer a mesma estrutura.

do tema.
usualmente filiada à semârrtica formal, essas expressões sáo conhecidas

Texto 6 como quantifcadores,justamente por atuarem como operadores sobre


quantidades de coisas. Os quantificadores podem atuar sobre um con-
CURITIBA, 27 DE JUNHO DE 2008.
junto, tomondo o ouo totalidade coletir'¡ (todo, ndo) otl ? slrâ tntalida-
ALGUMAS CRIANçAS COLÓCAM UM de distributiva (qualquer, cada um etc.); também podem tomar Parte
AspectualiuçAo
RABO DE AUGUMA COISA E UMA CRIANçA por fi'm, podem
do conjunto (metade de, um quarto de, alguns etc.); e,
FICAVA SEM RABO. A CRIANçA QUE FICA
SEM RABO PEGA E A CRIANçA PEGADORA
Relaçao + especificar uma parte mínima do conjunto (uma, algu.mø), podendo
reþrmulafio
TEM/QUE ARANCAR O RABO DAS OUTRAS chegar até a operação dêitica (aquela, sua, esta etc'). No texto 6, os quan-
CRIANçAS E A ÚLÏMA GANHA.
tificadores emblemáticos à construção da sequência são os pronomes:
algumas, uma e úItima. Os quantificadores na descrição têm, pois, uma
BRINCADEIRA: RABO DE CAVALO.
Ì Tema

função texhral enviezada: sua natureza nomeada como morfológica na


gramática tradicional desempenha papel efetivamente semântico.
Nas opções didáticas voltadas ao compromisso com os gêne-
Além disso, podemos observar que a perspectiva da descrição
ros textuais, a professora evidenciou em sala os lugares em que esse
é atemporal. Não há necessariamente eventos encadeados no tempo
tipo de texto aparece: caixa ou panfleto de jogos infantis, manuais
que culminam num clímax, na construção ficcional, como requer a
de atividades e brincadeiras, almanaques da Turma da Mônica etc.
narração. Como observado no texto, a descrição é das etapas de uma
Assim, a criança fi.cou motivada a descrever as regras do jogo como
brincadeira que evidencia uma descrição cronológica. Há fatos que
se fosse para ensinar a brincadeira a seus colegas, pois esse tipo de
se encadeiam no temPo, mas esses fatos não têm referência concreta:
texto - viu - existe nas práticas sociais dela.
ela
num
não se está relatando uma brincadeira localizada num espaço e
No texto 6, porém, a sequência tema-aspectualizaçáo-relação-
tempo definidos. A perspectivanão ê referencial, e sim apenas deno-
reformulação ganha uma inversão motivada pelo ambiente didático
tacional. Isso resulta no aspecto abstrato da descrição. Em resumo:
que em nada compromete a leitura.
esses fatos são descritos, e não narrados.

Na atemporalidade da descrição, no texto 6, a criança optou


Análise linguística da sequência descritiva pelo uso do presente simples (com exceção da formaf cava no pas-
sado imperfeito), o que sugere novamente um trabalho com o uso
O raciocínio descritivo apresenta um movimento bastante particu- dos tempos verbais.
lar: do todo para as partes, e da relação entre as partes. Se isso é um Uma última questão a ser apontada como uma marca das ma-
raciocínio geral, que acompanha uma formulação textual recorrente, croposições da descrição seria o uso dos conectivos relacionais, vis-
é porque tem opção linguística para isso. Iumbrando um tratamento da coesão textual. Ainda no texto 6, há
No texto 6, visto anteriormente, o movimento todo-parte fica um só conectivo relacional - e - que articula a situação em que as

mantido pelo uso de pronomes e artigos nomeados na gramática crianças se encontram no início da brincadeira e o que deve ser feito
tradicional como indefiieldos. Numa perspectiva linguístico-teórica, para a brincadeira efetivamente acontecer.
Na ilustração dessas funçöes textuais, as marcas linguísticas
que possam fazer exames e ser aprovados. Aliás, os
fi.cam assim confi.guradas: alunos aceitam a disciplina que lhes é ministrada na
base da autoridade dos seus professores e dos livros
cm quc c:tudom.
Curitiba, 27 dejunho de 2008. A ciência-processo (ciência em vias de fazer-se)
Quantîfcadoræ é a ciência que o cientista realiza e que pode ser
da relação parte-
todo umas cria nças colócam um rabo dividida em duas fases: a própria pesquisa (isto é, os
Aspectuali-
procedimentos de investigação) e a divulgação de
de¿ ma corsa e criança ficava sem Ì uçâo
seus resultados (isto é, sua publícação original). Essa
tica sem rabo pegaea
Conectívo
da relafio
rabo. A cria
cfla arancar o rabo
I

I Relaçto +
reþmulaçõo
tripla distinção é essencial: de um lado, a ciência -
das outras crian e a última nha disciplina, tal como ela é ensinada em vários níveis
J
A alemporalida- de complexidade e, de outro, a ciência-pesquisa
de dos verbos no
(que possui dois estágios). A primeira é um 'pacote';
pr5ente síñPI6 Brincadeira: Rabo de Cavalo
Ì TenM
e a segunda é um 'processo'. Enquanto a ciência-
pesquisa claramente representa algo de inacabado,
sempre em fase de ampliação e retificação, a cièn-
Outros textos de orientação descritiva trazem opções se- cia-disciplina, com o fim de se facilitar sua didática é,
muitas vezes. ministrada de forma dogmática, isto é,
melhantes. O texto 7, por exemplo, que será aPresentado a seguir,
com características opostas às de sua fonte.
contém uma descrição topográfica. O tema (ciência) e, em última
instância, o contexto de produção (ambiente acadêmico-científico) Fonte: FreireN4aìa, 1 998, p. 1 7.

motivam a descrição. É importante observar que o texto 7 foi ex-


traído de um livro que por si tem outra orientação discursiva: sua
Para o que objetivamos nesta seção, o texto também não deixa
finalidade é argumentativa. A hipótese de Newton Freire-Maia, ge-
de expor as opções linguísticas constituidoras da descrição: 1) há
neticista paranaense de renome internacional, é a de que há dois ti-
movimento quantificacional do todo-parte mantido pela expressão
pos de ciência que se inter-relacionam. Nesse sentido, a descrição
dois aspectos fundamentars, que sustém a aspectualização descritiva;
aqui é parte da argumentação. Mas não deixa de figurar a sequência
2) há perspectiva atemporal nas formas verbais no presente simples
prevista por Adam.
(é,, aceitam, representa etc.); por fim, 3) há também uma cadeia de
referenciação textual na forma de anáforas indiretas ou diretas6, que
Texto 7 mantém a relação parte-todo, quais sejam:

O QUE É OÊNCIA? ciência > disciplina > pesquisa > investigação > divulgação

A ciência pode ser visualizada sob dois aspectos


fundamentais: a ciência já feita (tal como é ensina- 6
Anforas diretas são expressões nominais que recuperam elementos mteriores no texto por coreferenciali-
da) e a ciência-processo (que está sendo feita). A
dade, ou seja, antecedente e máfo¡a referem o mesmo i¡diyíduo no mundo. Por exemplo: cidaàes grøndes
primeira é a disciplina (ciência formalizada que o
e metrópolæ. Anâforas i¡diretas, por seu tuno, são expre$öes nominais que recuperm relações i¡feríveis
professor ministra aos seus estudantes e estes de-
dos elemettos anteriores no texto. Por exemplo: cidade grande e homem urbano. Para estudo de procesos
vem aprender pela linha pela qual é ensinada para
de referenciação: Mucuschi; Koch (2002), Maoschi (2005), Cavalcante (2005).
fá no texto 8, que apresentamos a seguir, há um modelo proto-
estarão armazenadas em DCIM/pasta da câ-
típico de texto instrucional, cujo objetivo é listar procedimentos para
mera. Para obter ajuda na localização de fotos,
fins de execução. Essa orientação é verificada em gêneros do tipo re- clique aqui.

certa culnárra, manual de mstruçao do usuarro, edrtars de concursos,


l, Cliquo du¡¡ ye¿e¡ na foto a ¡cr crribido.
,^, foto
é aberta no aplicalivo padrão registrado para
orientações para realização de prova, entre outros. Segundo Adam, abrir fotos desse formato de arquivo.
é a sequência descritiva que constitui a estrutura desses textos. Logo, Se o software EasyShare for o aplicativo padrão,
podem-se prever os movimentos de apresentação do tema, aspecfua- as fotos serão exibidas conforme descrito a seguir.
Em sistemas executando:
lização,relação e reformulação. O texto 8 é uma seção de um manual > Windows XP, a foto será exibida na janela Vi-
de instruções de uma câmara digital. O movimento predominante sualização. Para adicionar a foto à coleção do
do texto é o de aspectualização, pois seus objetivos dispensam a últi- EasyShare, clique em Adicionar à coleção do
Kodak EasyShare no visor. A foto é transferida
ma macroposição da reformulação. Os recursos linguísticos empre- para o disco rígido e mostrada em exibição Úni-

gados também, por disposição gráfi.ca, säo poucos e desnecessários. ca na exibição Últimas aquisiçoes.
> Windows 98, 988, 2000 ou Me, a foto será
Porém, o âspecto linguístico mais característico aqui é o emprego
transferida automaticamente para o disco rígi-
de formas verbais no imperativo. Um interessante exercício textual do e mostrada em exibição Única na exibição
Últimas aquisiçoes.
seria, nesses textos instrucionais, motivar o aluno a verificar as
ferenças entre o infinitivo, o indicativo e o imperativo, o que seriam Fonte: Kod¿k, 2004.

alternativas de projeção do leitor. A questão levantada estabeleceria


forte relação com efeitos de estilo e projeção do leitor, que são tema
dos capítulos 5 e 2, respectivamente.

3.4 Sequência explicativa

Texto 8
A sequência explicativa define-se basicamente por um objetivo per-
EXIBIR FOTOS DA CÂMERA ceptivelmente real: a justificativa de um fato. Na base da conceitua,

. Para exiblr uma foto da cåmera na tela do com-


ção de sequência textual desenvolvida por Adam, a existência de
putador: uma sequência textual fundamenta-se em uma estrutura relativa-
1 . Conecte a câmera ao computador. Se o software mente cristalizada de segmentos textuais que definem um raciocínio
EasyShare estiver instalado, feche a janela de
transferência quando ela aparecer.
presente em práticas discursivas de determinados gêneros textuais.
2. Na área de trab¿lho, clique duas vezes em Meu Logo, a sequência é, por um lado, uma estrutura textual previsível e,
computador e duas vezes na unidade da câme-
por outro, o resultado de uma prática social que a torna recorrente.
ra. A janela da câmera é exibida.
3. Na janela da câmera, clique duas vezes em um Mas a existência de uma sequência explicativa justifica-se por
:r
local de armazenamento da câmera. 5e você
esses critérios? Adam (2001), naturalmente,vaiåizer que sim. Só que
,ì tiver aberto a pasta do cartão de fotos, as fotos
i
I'
essa classificação não é uma proposta tranquila. A literatura da área
aa
impõe uma questão que é no mínimo pertinente: Não estaria a explica- O outro dilema vem da comparação entre a explicação e a ar-
çáo pressuposta na descrição ou na argumentação? Por que lançar mão gumentação. A explicação também se distingue aqui por apoiar-se
de uma nova categoria de sequência, se ela está presente nas outras? na relaçäo de causa sem a explícita intenção argumentativa da per-
Diaute tlcsse ilr¡rasse, Atlaur upta urautcr ¿ tlcGs¿ tla scguêu- suasäo. O discurso explicativo não tem o objetivo da adesão do in-
cia explicativa reforçando a noção de heterogeneidade das sequências. terlocutor a uma ideia: a dialética das vozes presente na argumen-
Elas não são apenas entidades discursivas - como os tipos discursivos tação não se faz visível na explicação - pelo menos não ao nível da
de Bronckart (2003) -, nem apenas entidades texluais - como os tipos estrutura sequencial. Mesmo se a justificativa presente na explicação
textuais de Werlich (L973), citado por Marcuschi (2002). A sequên- assemelhar-se ao argumento de ligação por processo de sucessão, o
cia textual está no meio do caminho: ela existe enquanto constituinte que requer a relação de causa - conforme trazido de P&O ( 1996) na
(não condicional) dos gêneros e também enquanto forma previsível seção 3.6 -, a sequência explicativa não exibe argumentação, pois
de enunciado - na modulação cognitiva dos indivíduos. Dada essa não explicita a dialética básica da tentativa persuasiva.
natureza, a sequência é uma categoria não discreta, ou seja, seus limi- Nesse sentido, a explicação exibe uma característica discur-
tes não são traçados por propriedades imutáveis e precisas. Uma se- sivo-pragmática bastante peculiar: é a sequência em que os inter-
quênciapode, no nível da constituição textual, entrar em outra, assim locutores (ou suas vozes) são o mais ideologicamente neutros. Nos
como um gênero pode, no nível da constituição discursiva, lançar termos de Adam, 'b recurso à explicação permite ao locutor de se
mão de uma combinatória inédita de várias sequências. Logo, gênero apresentar como uma simples testemunha, observador objetivo dos
e sequência textual são composições heterogêneas, mas as sequências fatos"T (2004,p. ßa).
têm estrutura textual previsível. Logo, diferentemente da argumentação, a explicação não quer
Nesse sentido, o fato de uma sequência explicativa poder estar convencer ninguém de nada. Se a narração tem base argumentativa
inserida numa descrição ou numa argumentação não desqualifica a na inferência ou explicitação de uma "moral final" e se a descrição
natureza mesma de sua constituição textual. A explicação tem esta- tem sua base argumentativa navalorização dos elementos na hierar-
tuto próprio: a justificativa de um fato. quia da aspectualização, na explicação essa base se rarefaz. Mas se,
Ela se distingue da descrição à medida que, entre um fato e por pressuposto discursivo, todo texto tem argumentação, esta es-
outro, há necessariamente a relação de causa. Se a descrição prevê a tará camuflada na explicação, náo havendo estrutura textual de que
ancorggem de um tema e posterior aspectualização e relaçâo, Adam possa ser inferida.
defende que esse movimento não inclui a relação de causa. O desen- Mas a explicação tem estatuto próprio. Adam enumera inicial-
volyimento da aspectualizaçáo de um temapode optarpor diferentes mente as condições pragmático-discursivas:
critérios: as partes de um objeto, os eventos de uma cena (o que con-
figuraria uma informação), os detalhes de uma obra de arte... Enfim,
". O fenômeno a ser explicado é incontestável - ninguém ex-
plica algo cuja existência ou veracidade são questionáveis.
l são tantos os critérios quantas forem as opções de observação de um
!ii indivíduo ou fenômeno. Mas a ideia central é que eles não se justifi-
'l 7
Traduçäo liue da autora desta obra paa o trecho original em francês; "le recours à lèxplication permet ao
I

l;i cam um pelo outro. Esse raciocínio está latente só na explicação.


rl Iocuteur de se présenter comme um simple témoil, obsenateur objectif des facts'l
I ti RO
o. O conhecimento do fenômeno é incompleto - o locutor pres- sições I e 2. E aqui que se infere uma questão do tipo POR QUE...X...?
supõe que seu ouvinte/leitor precisa da justificação do fato. seguida de uma resposta - também possivelmente inferível - do tipo
c. Quem explica tem sua funçäo reconhecida - o ouvinte/leitor PORQUE...Y... A leitura do texto explicativo requer, então, o domí-
pressupõe que o locutor estå de posse das intormações perti- nio desse caminho textual.
nentes para a explicação, ou seja, é "autoridade" no assunto.

Consequente às condições pragmáticas, por resposta à própria Análise linguística da sequência explicativa
noção de sequência, a estrutura prototípica da explicação exibe qua-
tro macroposições: a esquematização inicial, a apresentação de um No texto 9 a seguir, retirado do site da Revista CiênciaHoje, direcio-

problema ou questão, a explicação ao problema e a conclusão. Em nada aos leitores interessados em explicações científicas, encontra-

termos mais intuitivos, primeiro o tema é apresentado no discurso, mos a estrutura explicativa tipica a partir da sentença 'b surgimento

depois, lança-se uma questão sobre ele, num formato de um abstra- dessas falsas ideias esteja associado à principal e verdadeira influên-
cia da Lua sobre a Terra: a gravidadd':
to'þorqud' interrogativo: POR QUE...X... ? Em seguida, explicita-se
uma resposta à questão posta, num formato de um abstrato'þorquê"
explicativo: PORQUE...Y...8. Por frm, desenvolve-se uma conclusão Texto 9

à explicaçäo, que pode trazer uma avaliação final sobre o percursoe.


O LUAR QUE NOS FASCINA
Na figura a seguir, há uma apresentação de um esquema que trata
Para celebrar 40 anos da viagem do homem à Lua,
desses elementos.
colunista trata dos efeitos do satélite sobre a Terra

Quadro 3.2 - Macroposiçoes nas sequências explicativas A Lua brilhando no céu em uma noite limpa pro-
porciona uma imagem que enche nossos olhos e
Macroposição Macroposição Macroposição Macroposição
desperta a imaginação. lnfindáveis versos, poesias,
explicativa 0 explicativa 1 explicativa 2 explicativa 3
músicas e declarações de amor já foram escritos ins-
O problema A explicação pirados no luar. Quando não temos a Lua no céu, as
Esquematização Conclusão - noites ficam mais escuras e as estrelas, mais visíveis.
inicial Questão: POR Resposta: avaliação
Mas, [...] o luar é sempre a visão mais marcante no
QUE...X...? PORQUE...Y.
firmamento.
Mas esse satélite natural não cai sobre nós por- EsqtßfitÃtlza.

É importante observar que, no quadro das macroposições, o que a aproximação ocorre simultaneamente ao seu çdo lnlcial

movimento ao redor da Terra. À medida que a Lua


caminho central do raciocínio explicativo está entre as macropo- "cai", sua movimentação faz com que a superfície da
Terra se afaste devido à curvatura do nosso planeta.

3
A gravidade, nesse caso, é como um cordão pren-
Adam provoca a distinção entre a macroposição explicativa I - com a p€rgùnta "Pour quoi?" - em relação
dendo uma pedra que gira rapidamente. Se cortar-
diretacom a macroposição explicativa 2 - com a resposta'Pace que...'l Obvimente, essa estrutua fica mais
mos o cordão, a pedra escapa, da mesma forma
justiûcada a partir da muca morfológica do francês na diferença entre þour quoi" e 'þuce que..i'.
que aconteceria com a Lua, caso a gravidade não
e
A conclusão pode ser vista como o lugar default da bæe argumentativa da explicação, mas -A.dm não
atuasse sobre ela.
desenvolve essa questão.
li
O fascínio pela Lua estimulou o imaginário po- o qual qualquer força aplicada em um corpo sofre
i.i
pular a atribuir a ela influências mágicas. Todos já uma reação contrária de igual intensidade, mas de
:,
ouvimos falar que, quando há mudança nas fases sent¡do oposto. Assim, a Terra atrai a Lua e a Lua

da Lua, ocorre o nascimento de bebês. Cabelos cor- t¿rrr[-rÉrr¿tr¿i ¿ Terr¿, LUrr d rrcsrrd irrterrsid¿tle.

tados ou árvores podadas na Lua minguante, por Contudo, as dimensões da Terra e a distância
exemplo, enfrentam dificuldade para crescerem média entre nosso planeta e a Lua não podem ser M@opøiçao
desprezadas ao se avaliar essa força. O diâmetro da qliøtiw2
novamente. Por outro lado, se o corte (ou poda)
for feito na Lua cheia, o efeito é o contrário. Além Terra é de aproximadamente 13 mil quilômetros e

disso, a Lua aparece com destaque nas previsóes as- a distância entre Terra e Lua é de cerca de 380 mil
quilômetros. Dessa maneira, a ação da força gravi-
trológicas. Quando a Lua passa em frente a uma de-
terminada constelação, segundo a astrologia, pode tacional da Lua sobre o lado da Terra mais próximo

indicar problemas (ou soluções) para as pessoas de a ela é maior que a força sobre o lado oposto. Esse

um determinado signo. efeito é conhecido como efeito de marés.

Entretanto, todos esses mitos e crenças não A maioria das pessoas já observou que o nível

têm qualquer fundamento científico. Sobre a vali- do mar sobe nas praias quando a Lua está no céu.
dade da astrologia, esse tema já foi discutido an- Esse fato deve ter estimulado a crença de que os

teriormente na coluna de iunho de 2 007. Atribuir bebês no útero materno sofrem açáo lunar e que
M@pFlgo
à Lua qualquer efeito sobre os nascimentos dos os fluidos do corpo humano e das árvores também dplicøriw I

bebês e os cortes de cabelos e árvores é algo que sáo atraídos pela Lua. Contudo, os efeitos de maré

também não tem respaldo científico. Em ambos os somente são relevantes para a Terra. Basta lembrar

casos, talvez o surgimento dessas falsas ideias esteja


que não observamos a água subir em uma piscina
associado à principal e verdadeira influência da Lua
quando a Lua está passando no céu.
Fonte: Oliveira. 2009.
sobre a Terra: a gravidqde.

O efeito da gravldade
O conceito da gravidade foi proposto justamente O texto l0 a seguir, em contrapartida, é de um aluno da edu-
para explicar o movimento da Lua ao redor da Ter- cação para fovens e Adultos do Estado do Paraná (EJA-PR). A pro-
ra. A gravidade é uma das forças fundamentais da
natureza e está presente em todo o universo. É essa posta era voltada especialmente à sequência explicativa: a partir de
força que nos mantém presos ao solo, bem como a um levantamento coletivo, a turma traçou a sua média de idade e,
Lua em volta da Terra.
em seguida, foi solicitada a justifrcar o resultado.
A descoberta da gravidade é atribuída a um tuø@igÁo
que pode nem ter acontecido de fato, mas @øaul
evento -
se tornou lendário: a observação que o físico inglês
lsaac Newton (1643-1727) fez da queda de uma
maçã madura de um pomar em uma fazenda em
Woolsthorpe, no interior da lnglaterra, no ano de
'Atlir¿Ã¿Åø de
Mpão 1666. Ele propôs que a mesma força que atrairia a
&Ñicd:iM maçã também atuaria sobre a Lua.
Outra questão muito importante explicada por
frþdn n6iødl Åe ,I
qe6ild@ Newton foi o princípio de ação e reação, segundo II
i
a seguir, dos quais o antepenúltimo e o último são considerados os
a Texto 10
mais importantes:

A IMPORTÂNCIA DOs ESTUDOS " a oralidade faz uso de elementos extralinguísticos, como
gestos e caretas, ao passo que a escfltâ flca festrrta a srnats
Nesta sala predomina a faixa etaria de 21 a 30 anos
griíficos do sistema convencional ortográfico;
porque quando eram adolescentes, as pessoas pen-
sävam em se divertir e náo tinham conhecimento " a fala explora elementos prosódicos e de entonação, en-
da importância dos estudos, ou até mesmo para quanto a escrita atém-se a tentativas de sua representação;
trabalhar e ajudar a família.
" a fala tende a construir frases mais curtas em comparação
Que naquele tempo os pais náo davam tanta
importância aos estudos, pois não existiam leis que às frases longas da escrita;
os obrigassem a estudar, ou até mesmo por dificul-
' vale-se de redundâncias enquanto a escrita prima pela
dade de acesso a escola na área rural.
Com o passar do tempo a tecnologia foi au- concisão;
mentando e as dificuldades também e com isso to- a oralidade possui flutuação temática, ao contrário da rigi-
maram consciência da falta que os estudos fazem.
"
Dessa forma as pessoas voltaram às salas de
dez construída pela escrita;
aula para obter mais conhecimento e poder melho- , a falapossui apresença do interlocutor, enquanto a escrita
rar suas vidas, no dia dia, e no trabalho por que hoje
não o pressupóe presente; em muito casos, ele é inclusive
tudo exige estudos.
projetado como interlocutor ideal;
a fala aprende-se naturalmente, ao passo que a escrita passa
"
É interessante observar que o articulador que,no início do se- pela aprend izagem artifi cial da escolal 0.

gundo parâgrafo, é tipicamente uma marca explicativa da oralidade.


O exercício da passagem ao padrão escrito culto pode explorar ou- ParaAdam (2001), no entanto, o diálogo é concebido como uma
tras expressöes articuladoras, como: "isso se justifica pelo fato de..Ì] sequência "relativamentd'estável que se combina com outras sequên-
"isso acontece porque...'l 'butra explicação para isso..l'etc. É um bom cias na heterogeneidade prevista nos gêneros textuais - escritos
texto para a atividade da reescrita. e orais. Logo, a sequência dialogal é, por um lado, construída - e

requerida - pelas situações sociocomunicativas e, por outro, identi-


ficável em sua estrutura composicional.
3.5 Se{uência dialogal
Nesse sentido, Adam reelabora a relação entre oralidade e escrita

no sentido de reaproximá-las na combinatória heterogênea dos gêneros


A sequência dialogal aparentemente foge do padrão pressuposto de es-
texhrais tanto primarios, ou próximos às situações orais, quanto secun-
trutura presente em outras sequências. A situação comunicativa aqui é o
drários, ou próximos às situações de escrita. Ou seja, as ci¡rco sequências
dirilogo. Logo, por acomodação contextual, os interlocutores coatuam di-
retamente, numa costura temática emprincípio flutuante e imprevisível.
previstas - narrativa, descritiva, explicativa, dialogal e argumentativa -
podem compor heterogeneamente os gêneros da fala ou da escrita.
O diálogo associa-se à oralidade, pois conserva aspectos comu-
nicacionais e linguísticos distintos da escrita, apresentados nos itens ¡0
A discsão entre æ diferençæ oralidade vrsro scrita encontm-se sistematiadæ em Fuaco e Teu (2001).

Adam chega mesmo a tomar o pressuposto dialógico retórico- aprodmam ou se distanciam da situação do diálogo. Isso é cultural.
bakhtiniano, explícito nos diálogos interativos, e levá-lo à fundamen- Cada sociedade constrói seus modos ritualizados de contato. Logo,
tação do monólogo. A estrutura dialogal, então, aplica-se também ao são sequências mais'descartáveis". Pode-se perfeitamente, pelo me-
t'l-rulrt-tlia",
diälogo interiorizado, lormulado em termos de "linguagem interior", nos em nossa culfltra ocldental, lntclar ullr tllálugu seu u
em que se preveem igualmente um "eu" locutor e um "eu" ouvinte. 'tomo vai' etc. ou sem o "até mais", "te vejo depois" etc. A omissão
(200r,p. 1a6). das sequências fáticas é licenciada pela lei da economia pragmática:
A sequência dialogal, tradicionalmente concebida como de- o contexto jâ diz o que se pode omitir.
sestruturada e instável, ganha, em Adam, estatuto autônomo e previ- O mesmo procedimento, porém, não é licenciado nas sequên-
sível. Isso se justifrca por um pressuposto básico: o diálogo estrutura cias transacionais. Aqui, os modos de ligação são requeridos, pois a
seus componentes temáticos por algum tipo de ligação. Se os turnos unidade temática é pressupostamente condição da interação. As tran-
temáticos estão desconexos, o diálogo não acontece e, por conse- sações, também nomeadas como hlrnos conversacionais pelas teorias

guinte, a situação de comunicação não se constrói. Por outro lado, da conversaçãol2, podem ser encadeadas explicitamente na superfície
mesmo se os turnos se interpõem numa aparente desorganização linguístico-semântica do texto, ou implicitamente, na pragmática-
de conteúdo, o diiilogo se encarrega de reorganizá-lo, configurando A representação esquematizada da sequência dialogal pode
uma unidade interacional. Há, portanto, o elemento de ligação te- ser esboçada a seguir:
mática que subjaz ao diálogo, podendo ser motivado pela situação
Quadro 3.3 - Macroposições døs sequências dialogais
pragmática ou pela situação linguístico-semântica.
Essa 'toconstrução" (Adam, 200I,p.147) prevista na interação Sequência fática Sequência fática
Sequências transacionais
de abertura de encerramento
dialogal e apoiada na coerência temática entre as macroposições dia-
Sequências Sequências
logais, que ao mesmo tempo pode ser vista como "reconstrução] mo- semanticamente pragmaticamente
tiva a descrição unificada do diálogo em termos do modelo adâmico encadeada encadeadas

na hierarquia [texto < sequência < macroposições < proposições].


Nesse sentido, dois tipos de sequências podem ser distinguidas: An¡ilise linguistica da sequência dialogal
, as sequências fáticas: de abertura e de encerramento do
O dirilogo a seguir - texto 1l - acontece entre uma fonoaudióloga
r diálogo;
(INV) e um paciente (O) com AVC. Os dialogos fazem parte de um
, as sequências transacionais: constituintes do corpo da in-
processo terapêutico em que, através da linguagem, a investigadora
teração.
infere questões tanto de natureza fonoaudiológica quanto linguísti-
As sequências füticas, bem no empréstimo da terminologia car3. A sequência fática de abertura não foi registrada por irrelevância

jakobsonianall, dizem respeito ao modo como os interlocutores se


u Sobre teoriæ da conversação e a discusão oralidade versøs escrita: Mucuschi (1986)'

r! O texto l0 foi retirado do corpas de málise de Christiane Delfrate, atualmente em curso de doutormento
rr
A teoria da comunicação de Jakobson (1995) foi rapidmente apresentada no capítulo 2. na UFPR, sob minhå orientação.

aq
no arquivamento dos dados, mas as sequências semânticas estão
O: tô entrevado.
marcadas por itens lexicais específicos, e uma tentativa de turno con-
lnv: O que eu quero saber é se ela disse que quer
versacional também é marcado pelo articulados mas. De outro lado, acabar o casamento.

âs sequênclas pragmátrcas podem ser verrfi.cadas pelos mdrcadores O: ó. Tô cntrevado. Sequència 2


lnv: ela disse que não quer mais ficar casada porque
de gestos e sons vocálicos do paciente. você ta entrevado?
Mas o mais interessante no dialogo é que, ao introduzir uma O:éééééé //sinalizando que era isso mesmo// tô
entrevado.
relação de causa, o personagem "O" trava sua fala através de um fe-
nômeno conhecido na ârea como perseveração, em que o paciente
repete insistentemente uma expressão ouvida ou falada. No caso a |á o texto 12 a seguir é novamente de um aluno do EJA-PR- A
seguir, ao sugerir a relação causal "ela não que mais ficar casada com partir de uma situação-Problema - uma loja de carros com volume
você porque você está entrevado", que faz parte de um turno conver- de som alto para atrair clientes e um vizinho desgostoso dessa situa-
sacional semântico, o paciente "O" repete a sentença: "tô entrevado". ção -, o aluno foi solicitado a desenvolver na escrita um diálogo en-
O aporte linguístico para a análise da situação discursiva em tre os dois - gerente da loja e vizinho:
questão tem na sequência dialogal de Adam um recurso de explica-

ção da construção textual. Texto 1 2

Visinho: a polícia chega na loja e olha o que está


Texto 1 1
acontecendo.
Loja: O rapaz da loja explica que liga o som para
PACIENTE: O.
divulgar seus objetos.
IDADE: 36 anos Visinho: Mas você liga o som muito alto, isso é proi-
EPISÓDIO 4
bido me incomodar, eu chego cansado do serviço e
Abertura tô com vontade de dormi mas com o som alto não
Falando sobre a relação com a mulher em casa. consigo dormi.
O: Fabiana //sinalizou negativo com a mão //. Loja: Como eu vou divulgar as promoções etc.
lnv: o que houve, vocês estão brigados? Visinho: Você pode ligaç mas liga um pouco mais baixo,
O: óóóó //mostrando com as mãos bastanle tempo//. Loja: Então eu vou abaixar.
lnv: aconteceu alguma coisa com vocês? Visinho: Agradeço se você fizer esse favor.
O: ela diz... diz tô entrevado. Sequência I Loja: Senhor policial, pode ficar tranquilo que vou
lnv: mas você tá melhorando bastante, já está con- abaixar.
seguindo andar sem apoio, tá falando mais... Visinho: Obrigado por abaixaç e também policial por vir.
O: ela... ela... não quer mais.
lnv: não quer mais...
O: eu. Falou ela.
Observe que o controle da notação do diálogo na escrita' bem
lnv: ela não quer mais ficar casada com você, ela Sequência 2
quer separar? como o controle das pessoas envolvidas na situação, Pode ser reo-
rientado numa atividade de reescrita.

o1
90
3.6 Sequência argumentativa Se os fatos levam a uma argumentação contrária a ela, a nova tese será
a refor-
oposta à primeirala. Se os fatos levam a uma argumentação que
A sequência argumentativa, tal como a narrativa, tem uma longa ce, a nova tese endossará a primeira. Esse modelo de raciocínio "é um
lrtsttl¡la. Destle a rettlrlca clásslca, {,ernos na l-ratltçåu ocldental um verdaderro esquema do prtlcessu tle reful'açåulaptio dos cnunciodoc
pressuposto de linguagem que perpassa qualquer ato comunicativo: característicos da sequência argumentativa" (Adam, 2001' p' 107)ts'
a linguagem pressupõe sempre o outro. Os fatos esboçados como uma das macroposições da sequên-
Isso parece óbvio, mas naverdade é o apriori que formula e dá cia argumentativa dizem respeito às informações sobre o verdadeiro
corpo ao raciocínio argumentativo. Quando elaboramos um enun- e o que a tradição retórica elegeu como irrefutável, pois
acredita-se
ciado, a voz do outro está sempre presente - seja para refutar ou para que o discurso faz referencialidade aos estados de coisas
do mundo.
bá-
aceitar. As orientações curriculares atuais, com base em Bakhtin, no- É a partir deles que os argumentos são construídos' O caminho
meiam essa noção de dialogkmo. sico para isso são as inferências, que são esquemas de pensamento
É justamente o pressuposto da dialética discursiva, desenvol- sobre os fatos. Ou seja, a partir da observação de um fato no
mun-
de minha
vido na seção 1.3, que Adam recupera como base de um protótipo do, raciocinamos Por inferência: se há um acidente na rua
de sequência argumentativa. E o que é argumentar para Adam? Em casa, por exemplo, infiro que a cidade está mal sinalizada'
Num texto
termos preliminares, é a busca da adesão de um auditório/ouvinte a prototipicamente argumentativo, como o são os artigos de Gilberto
uma tese, cujas vozes e juízos fazem-se pressupostos, através de três Dimenstein, podemos visualizar o esquema argumentativo de
Adam'
etapas: a observação de fatos, a construção de inferêneias sobre eles,
e a construção de uma nova tese. Adam, nesse sentido, esquematiza
Te¡<to i3
como sequência textual o raciocínio silogístico aristotélico, que pre-
vê o caminho entre premissas (argumentos) e conclusão (tese). UM BRINDEAOS QUE NAO MORREM
A4diw
Num formato pictórico das macroposições: od[øtiøø
'ã;'*, A mais estúpida das violências é a morte de crianças' ) Te
não raro vítimas de doenças fáceis de tratar' A des-
Figurø 3.6 - Macroposições clas sequências argumentativas infantil d no 70% nos
AÅBA&ãoit¿h8ø últimos dez anos, segundo divulgou o Ministério da fføo

Saúde neste mês. Nesse período, a mortalidade in-


fantil caiu 44%.
Tese anterior > Fatos> lnferências e construção de argumentos >
Conclusão (nova tese)

A tese anterior, como vimos, é a voz com a qual a construção ¡{ A corrente da semântica ãgumentativa, Êliada sobretudo a Ducrot, defende que a condiçáo dialógica

argumentativa vai dialogar. Essa voz precisa ser concebida de maneira daÙgmentaçãosempreédeoposição.Logo,subiacenteaqualquerlaciocínioilgumentativo,pode-se
depreender ma relação de oposiçáo. Se na superfície, essa relação
ven marcada por operadores oPositivos'
ll
complexa: ela é contrária mas também pode ser a favor do discurso. ao contrário, considera tanto a refutação quanto o apoio
como
tais como o mds, o ø mbora elc., Ldn(2001),

constitutivos do raciocínio argumentativo.


t5 Tradução liwe da autora desta obra.

q)
argumentos a partir de fatos para se chegar a uma tese, que por sua
Não teríamos resultados tão rápidos sem as vez estâfundamentada na oposição e no apoio a outra(s) tese(s). No
campanhas contra a fome, o estímulo ao aleitamen-
entanto, ambas estão presentes em outras Sequências. A sequência
to materno, a disseminação do sal de reidratação
oral e a propagaçåo dos agentes comunrtånos de narrâüvâ, por ëXetllplu, lcur fuuçãu ¿rgu[lcntâtivû' mrrs nõo priorizo
saúde e do médico de familia, além do esforço de
hJerêncía = sua estrutura, ao mesmo tempo em que se baseia no traço da verossi-
saneamento básico. Foi necessário que se expuses- argumento I
sem as experiências pioneiras do Ceará, na década milhança, que é uma construção ficcional sobre a realidade. Logo,
de 1980, de redução da mortalidade infantil para se todo texto é argumentativo, todo texto tem juízo de valor sobre
que aquelas práticas tivessem impulso nacional ou
as coisas do mundo, mas é só a sequência argumentativa que terá
a
para que prosperassem os programas da Pastoral da
Criança, tocados pela pediatra Zilda Arns. estrutura constitutiva do raciocínio.
Esse tipo de ofensiva está associado a um con-
um outro aspecto da sequência argumentativa diz respeito à sua
senso sobre ações que surgiram em ao as-
sistencialismo, tão comum no país. Eram programas ordem vulnerável. O esquema da página 92 de fato é uma abstração
t'p:-',::^d".- de renda mínima InJerêncía =
oDostcao
exigindo contrapartida, depois argumento 2 do raciocínio da prova argumentativa. Sua ordem pode - e até deve! -
unificados no Bolsa-Família - e aqui foram decisivas
as experiências germinadas em Brasília e em Campi- ser transgredida. segundo Adam (200i), a sequência narrativa' por
nas, depois ampliadas pelo governo federal. conta da linearidade temporal, e a sequência descritiva, por conta da
Produziram-se dados mais precisos sobre a
amarração aspectualiza çáo helação, são estruturalmente mais rígidas'
realidade brasileira e vimos o tamanho do desper-
dício de dinheiro público, com a falta de foco e a Portanto, a relação tese anterior > fatos > argumentos > tese posterior é
fragmentação dos recursos. Justamente aí cresceu a discursivas,
Inferência = um esquema de base que, a depender das opçöes textuais e
tendência de estimular o cruzamento de açóes num argunento 3

um processo que ainda está mui- ganha outras ordens. A argumentação pode partf dos fatos para os ar-
mesmo território -
to longe de alterar a gestão de verbas públicas, em- gumentos e finalmente chegar à tese, como no esquema das macropo-
bora já existam modelos locais bem-sucedidos.
sições, e confrgurar um raciocínio indutivo, mas pode também partir
Fonte: D¡menste¡n, 2008. da tese e depois explorar a prova pelos fatos e argumentos e configurar

um raciocínio dedutivo. Quem decide? Ora, quem escreve!


O fato é que a sequência argumentativa' como esquema bási-
Só para deixar o raciocínio das inferências claro: no texto 13, a
co prototípico da prova, tem justamente essa característica essencial-
partir da informação (fato) de que "a desnutrição infantil despencou
mente abrangente genérica. Qualquer texto da linha argumentativa'
e
ea moäalidade infantil caiu'] podemos inferir: 1) que as campanhas
como os gêneros de artigo de opinião, ensaio, dissertação etc'' terão
não-assistencialistas proporcionaram resultados rápidos e 2) a açâo
essa sequência de base: o autor/falante a segue, e o leitor/ouvinte a
antiassistencialismo dá bons frutos. Quer dizer, os argumentos são
infere - consciente ou inconscientemente. Mas as opções de constru-
construídos a partir da observância dos fatos do mundo.
que se refere às inferên-
Nesse ponto, Adam discute duas funções básicas da lingua- ção argumentativa, nomeadamente o passo
cias construídas a partir dos fatos, podem seguir caminhos os mais
gem: a referencial- habilidade de apontar coisas reais do mundo,
nesse sentido,
variados possíveis. A macroposição das inferências,
e a argumentativa - habilidade de julgar ou avaliar as coisas reais
pode ser muita coisa! o próprio Adam (2001) aPonta Pataa riqueza
do mundo. A sequência argumentativapriorizaambas, pois constrói
das alternativas que a argumentação pode tomar: "Investigando explorar a celeuma. Deixamos a referência de Rojo (2005) e outros
mais a fundo as regras de inferências (ou de passagem), será certa- textos do mesmo volume para eventuais interesses na discussão.

mente possível propor uma tipologia de formas de argumentação Em resumo, para olhar marcas linguísticas de gêneros texhrais,
ordinâria"tú (Adam, 2001, p. 108). nao nôS pâfeceu tnOpOrtUrto a esquetrtalizaçáu etu cstrulur¿s dc rt¡¿-
Nós queremos seguir exatamente esse caminho, visualizando croposições das sequências narrativa, descritiva, elplicativa, dialogal e

alternativas de construção argumentativa com marcas linguístico- argumentativa. A relação entre sequências e gêneros pode ser visualiza-
gramaticais específicas. Como apontado na introdução deste livro, da natabela a seguir, inspirada em Dolz e Schnewly (2004), que agruPa

a análise linguística vem condicionada ao domínio do gênero e das gêneros segundo sua convergência a sequências correpondentes:

estruturas (sequências) que o constroem. Portanto, no capítulo 4 se-


guinte, exploraremos uma tipologia argumentativa, de P&O (1996), Quadro 3.4 - Gêneros e sequências
que nos dá alternativas para explorar marcas linguísticas de tipos de
sequências gêneros relacionados
argumentos diferentes.
Conto, novela, fábula, romance, narrativa de ñcção científica,
narrativa
crônica literária, adivinha, piada

Seminário, aula, conferência, verbete, nota relatório científico,


Considera@es sobre o capítulo descritiva notícia de jornal e os instrucionais: receita' regulamento, regra
de jogo, instrução de uso

Neste capítulo, com o objetivo de investigar marcas linguísticas das explicativa Artigo científico, notícia de jornal comentada, ensaio

construções textuais, optamos por estender a noçäo de composição, dialogal Debate, MSN, discussão, consulta médica' sessão de terapia

de Bakhtin para as noções de sequências textuais, de Adam (2001). Artigo, coluna, carta de leitor, discurso de defesa e acusação,
argumentativa
resenha, editorial, ensaio, disse¡tação, tese, monografi a
Sem a menor pretensão de sugerir uma relação teórica diferente, ve-
mos em Adam a mesma proposta, apoiada no mote bakhtiniano das
estruturas relativamente cristalizadas dos gêneros do discurso. Para dar continuidade à proposta deste livro, porém, é funda-

No entanto, é interessante deixar claro que o caminho esco- mental que se recupere a noção de "estrutura relativamente cristali-

lhido veio dos gêneros discursivos até um tratamento mais concreto, zadzi' do gênero de Bakhtin. Não é apenas o elemento composicio-

que boa parte dos autores referidos chama de gêneros textuais)Hâ nal que garante esse pressuposto. A composição fazparte da tríade
uma questão terminológica aqui que envolve questões conceituais tema + composição + estilo, que mantém estruturas recorrentes em

bem mais relevantes, tais como a oposição entre discurso e texto, ou gêneros. Neste trabalho, estendemos a noção de tema ao contexto

gêneros do discurso e gêneros textuais. Mas, para dar conta de obje- de produção, a noção de composiçäo àb sequências textuais e' ago-

tivos mais específicos sobre questões linguísticas, optamos por näo ra, estenderemos a noção de "sequência argumentativa" a possíveis

categorias de argumentos. É na composição textual que as marcas


linguísticas se comportam de forma mais previsível. Esperamos ter
16
Traduçåo liwe da autora destâ obra para o trecho origilal em francès: "En interrogeæt plus à fond les

règles dlinférence (ou de passage), il se¡ait certainement possible de proposer une qpologie des formes de
sinalizado alguns caminhos Para essa investigação - tarefa central

l'rgumentation ordinairei do professor-cientista da língua.



I PréÎi(a iextu¿l em Lingua Portuguesa

3. Relacrone as colunas:

tI,doô1rr1to dlscurSlvo ) llvru

(2)gênero ) editorial
(3) suporte ) outdoot

)romance
)jornalismo
)jornal
) ficção
Seqüências textuais
Como sabemos, a quantidade de gêneros textuais que circulam socialmente é enorme.Tambérn
sabemos que esses gêneros'podem se modificar com o passar do tempo, cair em desuso ou surgirjunto
S58(r -eilvlr, I-Llciana Pcrcila cla a um novo evento sociocomunicativo.

Paralelamente a essa fluidez dos gêneros, temos um agrupamento l¡ngüístico muito mais perene,
presente desde a origem da linguagem e encontrado em todas as sociedades. Estamos tratando aqui
Pr¿ilica TcxIual enì l-íugu¿ì Portuguesa./l-r,rciaua Per.eira cla das seqüências (ou tipos) textua¡s.
Sili,a. *- ('i¡ritiba: IiTSDE Illasii S.4..100li. As seqüências textua¡s sâo em número relativamente pequeno e apresentam características lin-
güísticas facilmente identificáveis. Em decorrência dessa estabilidade, as seqüências textuais såo muito
importantes para o ensino de leitura e produçáo de textos. Nos P¿râmetros Curriculares Nacionais (final
ló3 p. dos anos i 990) encontrávamos a indicaçåo do trabalho com gêneros, mas tendo em vista sua multlpli-
ciciade, fez-se necessário um outro tipo de agrupamento - daí a emergência das seqüências textuais,
recomendaçöes presentes nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006).

I ii Ll l.i : 97 [Ì-lÌ-s - 7(r3 ä-,3 3 9--s

| . Pliilic¿r 'lbrtr.ral. ?. (--Lresiìo. 3. ('ocr.ônci¿r. 4. Pai.áuralìrs Definição de seqüências (ou tipos) textuais
5. ,rccubrrlhl'i¡t. l. T'ítulo. Bonini (2005, p. 208) vê a seqüênciâ textual "como um conjunto de proposiçoes psicológicas oue
se estabilizaramcomo recurso composicional dos vários gêneros'i.-
Para Baltar (2OO6, p.47)"seqúências textuais são modos de organizaçåo linear que visam fornrar
{'i)D lì011.0-tr(r9 uma unidade textual coesa e coerente, que väo expressar lingüisticamente o efeito de seniido que os ti-
pos de discursos - modalidades discursivas - pretendem instaurar na interaçäo entre os ¡nterlocutores
de uma atividade de linguagem".
Pereira (2006, p. 3i) emprega a expressão modo de organização do discurso lcunhada por Patr¡ck
Charandeau) para se referir às seqüências ou tipos, definindo-o como uma'êspécie de seqüência teo-
ricamente definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticot tempcs
verbais, relaçóes lógicas) e pela funçâo que desempenha no conjunto que é o texto".

A maioria dos estudos sobres seqüências recorrem aos trabalhos de Adam (1 997) para sua funda-
mentação. Encontramos, no entanto, algumas divergências em relação a quais seriam essas seqüências.
Adam, por exemplo, apresenta que as seqüênc¡as textuais seriam narrativa, argumentativa, explicativa,
seqüèn(ias textuais | 145

I Práìk; Textu¿l em Língua Portuguesa

ou d¡retiva, e a pred¡tiva, nomeando


descritiva e dialogal. Koch e Fávero (l 987) acrescentam a ¡njuntiva,
c,rpusitiva, lvlattu¡chi (t003) con¡idor¡ of til:rnt narrativo âr0llmenÌativo' Barragem rompe em Rondônia e áqua
â êxpltcärtv¿ t¿iltbÉiltrurrru
(2OO4t), tratam de ogrupamenfos, que
expos¡t¡vo, descritivo e injuntivo. Finalmente, Schneuwly e Dolz pode atingir municíPios
seriam: narra¿ relatar, argumentar, expor e descrever açóes' em Rondônia,
textual, sinalizando os Parte da barragem da pequena central hidrelétrica de Apertadinho, em Vilhena,
Nosso principal objet¡vo é apresentar um exemplar de cada seqüência quarta-feira, de acordo o Corpo de Eombeiros. A água deverá atingir princi-
vamos nos valer de um material de rompeu na tarde desta
aspectos que podem ser observados nesses textos. Para isso,
vários
três dimensões para tratar
palmente os municípios de Pimenta Bueno e Cacoal, no sudeste do Estado'
análise organizado por Koch e Fávero (1 987, p. 3-1 0). As autoras apresentam
mas o
das seqriências textua¡s: dimensäo pragmática, esquemática global e lingüística de superfície' Até as 21 h45 a água näo havia chegado ao vale do Apertadinho, a 20km da barragem,
que'cor-
faz, o objetivo corpo de Bombeiros e a Prefeitur¿ de Pimenta Bueno estão ret¡rando moradores das áreas
A dimensoo pragmática dizrespeito aos macroatos de fala, ou seja, ao que o texto rem risco de inundação.'Temos informaçóes que a tromba d'água pode chegar a seis
ou sete metros
(o objetivo do
principal a ser atingido; compóe, ainda, a dimensåo pragmática, a atitude comunicativa as casas". contou.
gêneros em que essa seqüência pode de altura. Algumas pessoas estäo resistindo, mas ¿ maioria está desocupando
comunicativas; os
texto) e, também, as atualizaçöes em situåçöes
' O lago da barragem de Apertadinho tem capacidade total para 1 14 niilhões de
litros de água,
ser encontrada.
da capital,
segundo ocorpo deBombeiros. A regiåo da central hidrelétrica fica a cerca de 5lOkm
A dimensõo esquemát¡ca global são os modelos cogn¡tivos ou esquemas formais responsáveis Porto Velho.
pelo 'þsqueleto" do texto.
.Disponível em:<wwfolhaonline.com.br>' Acesso em:'10ian'2008'
(sintát¡co/semånt¡cas) reconhe-
Finalmente, a dimensao lingüística de superfícæ abarca as mãrcas
cíveis no texto. A segu¡r, ¡remos ãiscutir cada uma das seqüências
a part¡r do arcabouço teórico acima seqüência
Adam(apud BoNlNl,2005, p.219) considera seis característ¡cas para identificar uma
explanado.
narrativa:
:: sucessãodeeventos;
:: unidade temática;
Seqüência narrat¡va :: predicadostransformados;
(fábula) e outro nåo-ficcional (no-
vamos trabalhar nesta seção com dois exemplos: um ficcional :: processo;
de Schneuwly e Dolz (2004), que vêem no primeiro
tícia) a fim de atender, também, às orientaçóes
(textos da ordem do ficcional) o agrupamento do narrar e, no segundo (textos de ordem
nåo-ficcional), :: intriga; e

o aqrupamento do relatar. :: moral.

o macroato reatizado pela seqüência narrat¡vâ, dentro da dimensão pragmática, seria a asserçåo
(apresentação) de enunciados de açäo. A at¡tude comunicativa é o mundo narrado2.Seqilências nar-
0LeãoeoRato
i.iiuut poa"rn ser encontradas em romances, contos, novelas, reportagens, not¡c¡ários, depoimentos,
(t50Po,2oò8) relatórios etc-
a captação de eventos em
Um Leão dormia sossegado, quando foi despertado por um Rato'
que passou correndo sobre Quanto à dimensåo esquemática-global, na seqüência narrat¡va temos
ação ou ava-
seu rosto. Com um bote ágil ele o pegou, e estava pronto para matá{o' ao que o Rato suplicou: uma sucessåo temporal e Causal3. Quanto às categorias, temos or¡entação, complicação,
estado final.o dimensäo lingüísticá-de superfície, podem ser encontrados
liaçäo, resolução. moral ou Na
n arrado (dormia'
-ora,seosenhormepoupasse,tenhocertezaqueumdiapoderiaretribuirsuabondade. como marcas da seqüência narrativa, tempos verbais predominantemente do mundo
Rindo por achar rídícula a idéia, assim mesmo, ele resolveu libertá-lo. Aconteceu
que, pouco :
passou, resolveu); advérbios indicadores de tempo e espaço ou outras palavras/expressões
com essa
por caçadores. Preso ao chão, amarrado por discurso direto,
tempo depois, o Leåo caiu numa armadilha colocada finalidade - (Ro ndônia, tarde desta quartaleira, quondo, tempo depois, numa armadilh¿),
seu rugido' se apioximou e roeu äs poderia retribuir suo
fortes cordas, sequer podia mexer-se. O Rato, reconhecendo indireto ou indireto livre (- Oro, se o senhor me poupasse, tenho certeza que um dia
cordas até deixá-lo livre. Então disse: bondade. / "Temos informações que o tromba d'água pode chegara o seis ou sete metros de altura' Algumos
esperava receber de pessoas estao res¡st¡ndo, mas a maioia esta desocupando as casas') eic-
- o senhor riu da idéia de que eu jama¡s ser¡a capaz de ajudá{o. Nuncapequeno Rato é capaz de
mim qualquer favor em troca do seu! Mas agora sabe' que mesmo um 2 Mundo narrado: o locutor se dist¿nc¡a do discurso, sem interferência d¡r€ta; predom¡nam verbos
no pretér¡lo perfe¡Îo e no futuro do Preté-
* presenle futuro do presente e prelérito ¡mperfeitq preferenc¡al
ri¡o. Múndo comentado:o locutor secoñpromete com aquiloqueenuncia
retribuir um favor a um poderoso Leão. por Hðcld we¡nfich (dpud KocH, 1997)'
mente. As noçóes sobre mundo narrado e mundo comentãdo fofam fofmuladas
mais leais aliados.
Moral da história: os pequenos am¡gos podem se revelar os melhores e (l já c¡tado.
3 Em vários pon¡os dessa análise KoÍemos a termos cunhados por Koch e Fávero 987). conforme
4 Formulaçáo da Sociolingüís¡¡ca ðmeric¿na (LABOV;WALETZKY i967)'

1 Veja o teno complementar


seqüénc¡as textuais | 147

I Práti(a Textual em Lingua Portuguesa

para inviabilizar outras premissas ou teses) - coos aéreo, combate ao crime organizado, armamento de
(ou nova tese).
outros países lat¡no-omericanos. F¡nalmente, chega-se a uma síntese e à conclusäo
Seqüência argumentativa
euanto à dimensão lingüística de superfície, as marcas são modalizadores!, verbos lntrodutores
de opiniáo, operadores argumentativos (nunca), metáforas temporais6, recurso à autoridade.
[arta ao leitor
Sob o poder civil

Desde o fim da ditadura militar. em 1 985, nunca o papel das Forças Armadas esteve no centfo
Seqüência expos¡tiva 0u expl¡cativa
principais
da atenção do debate político como agora - e isso não é uma má notícia. Muitas das
aéreo é um exemplo' O (IRASK, 2006, P. l5l)
discussöes nacionais tocam de alguma forma o estamento militar. O caos
sob
controle do tráfego de avióes é a Única atividade com impacto cotidiano na populaçåo ainda Langue (longuel- o sistema lingüístico abstrato compartilhado pelos falantes de uma língua.
O
o comando direto dos homens defarda. Mas muita geñte gostaria de vê-los interferindo
em outras
termo francês /angue foi introduzido pelo lingüista suíço Ferdínand de Saussure no início do século
dimensóes da vida civil. Alguns governadores, como 5érgio cabral, do Rio de Janeiro, reivindicam XX. No tratamento de Saussure, esse{ermo contrasta especificamenle com
parole, isto é, os enun-
a participação de tropas do Êxéfcito no combate ao crime organizado, cujo
poder de fogo supera o essencial
ciados efetivamente realizados. Uma distinção desse tipo foi freqüentemente considerada
das polícias estaduais. Quando se discute a obsessão de Hugo Chávez por armar a Venezuela
com
para a lingüística desde o tempo de Saussure, e a distinçâo mais recente feita por Noam chomsþ
surge a queståo do preparo de nossas
um årsenal moderno e mais apropriado para açôes ofensivas,
entre competência e desempenho é análoga a ela, em termos gerais; note-se, porém, que a longue
Forças Armadas para conter um eventual gesto tresloucado do imperialista bolivariano. de Saussure é uma propriedade que caracteriza toda uma comunidade de falantes, ao
passo que a

[...] Constatou que a tropa está insatisfeita com os soldos e atônita


d¡ante da obsolescência do competência deChomsþ é própria de um único falante'
armamento disponível, com fuZis de 30 anos de idade e carros de combate amer¡canos remanes-
953. A reportagem revela a aceitaçåo
Adam (1997) e Bronckart (1999) falam de seqüências explicativas,Scheneuwly e Dolz (2004) em
centes da Guefra da coréia, cujo cessar-fogo foi assinado em 1
(apud Bonini, 2005,
expor e Koch e Fávero (1987) empregam indistintamenïe expor ou explicar. Adam
inconteste do poder civil pelos militares, conceito tåo arraigado agora que nem mesmo a insatisfa-
grandes preocupaçöes se concentram p. 223) apresenta que essa seqtiência objetiva responder à questáo Como? ou Por quê? "mostrando
çåo com as condições de vida e trabalho pode abalar. Suas
ao po- quadros parciais da significaçåo da idéia". lndependentemente da nomenclatura, nessa seqüência, ao
na defesa da Amazônia, na incapacidade de vigiar o mar territorial brasileiro ou fazer frente (visäo de mundo), objetiva-se
contrário da seqüência argumentativa, que visa a modificar uma crença
pulismo dos países vizinhos caso eles se mostrem agressivos'
transformar uma convicção (estado de conhecimento).
veio,28 P.9.
^ov.2007, O macroato da seqüência explicativa cons¡ste na asserção de conceitos, e a at¡tude comunicativa
é fozer saber (o que é /angue,l. Seqüências explicativas podem ser encontradas em manuais
didáticos,
Fiorin ('199,l, p.4l) nos lembra que todo fazer comunicativo é argumentativo - no sent¡do de
ar- exposiçóes orais, seminários, conferências, comunicaçôes orais, palestras, verbetes, artigos enc¡clopédi-
manifestar um ponto de vista sobre um dado assunto -, mas aqui nos interessam as seqüências esquemática global
gumentativas str¡cto sensu. Para Bonini (2005, p. 220-221l,"argumentar, no sentido mãis elementar, é cos, resumos de textos expos¡tivos e explicativos, relatórios científicos. A dimensão
da seqüência explicativa compreende a análise e/ou síntese de representações conce¡tuais.
direcionar a atividade verbat para o convencimento do outro ou, mais especificamente, é a construção
por um falante de um discurso que visa modificar a v¡såo de outro sobre determinado objeto, alteran- As marcas lingüísticas de superfície presentes nessa seqüência säo - na maioria dos casos,
mas
(con-
do, assim, o seu discurso". nåo obrigatoriamente - os conectores de tipo lógico, os tempos verbais do mundo comentadoT
e a predomi-
persu- trasto, nota-se, é), a presença do discurso de autoridade (ou de dados de fundamentação)
As seqüências argumentat¡vas propriamente ditas têm como macroato convencer e/ou
nância de períodos comPostos.
adir; e como atitude comun¡cativa, fazer crer (em algo)/fazet fazer (algo)' Seqüências argumentãt¡vas
podem ser encontradas em peças publ¡citárias, textos de opìnião, cartas ao leitor, debates regrados,
ensaios, editoriais, artigos de opinião, discurso de defesa e acusação (na área do direito).

A dimensäo esquemática global da seqüência argumentat¡va procura ordenar ideolog¡camente


os argumentos e contra-argumentos. Para tanto, em linhas gerais, é possível encontral-se, inicialmen-
te, uma premissa (tese anterior) - aceitação inconteste da necessidade da discussôo do
papel das Forças 5 Modol¡zadotes sâo uocábulos que exprimem o 'modo' como aqu¡lo que se d¡z é diro- Ë¡emplos:
ne(essário, possiv€|, obrigatór¡o' talve¿

Armados -; na seqüência, sâo apresentados argumentos para validar essa tese (ou contra-argumentos poder, dever, prov¿velmenle.
'6 no ¡nter¡or do oulro Exemplo: uso de um t€mpo
Metòfotos temporais:'emprego de !m tempo de úm dos mundos lnarrado ou comentôdo]
A caravana cam¡nhava lentamen¡e pelo
do mundo comentado no interior do mundo narr¿do. Tat exped¡ente provocå maior enq¿jðmeoto.
aSSUStadOS, SUrge Um disco voador, em que efa eSpeGdO
ouvru'se e
aaeAl desefto. De repente, Ouve-Se um fOne ruído e, d¡ante dO' b€dUinOs

sutgiú" IKOCH,19971.
7 Conferir nota 4.
5eqüénci¿s textuais | 149
r¿6 I Prálka Textual em Lingua Portuguesa

5eqüência descritiva
Seqüência injuntiva
-
Miúda, Eslovênia é o terceiro país ma¡s verde da Europa
Penne com molho de lingüiça calabresa
((LAUDlA,2008¿,P' 5) Chegar à Eslovênia de avião apresenta, de cara, ao viajante, uma das principais características
desse país: a abundância de verde. O pequeno território esloveno - menor do que o estado de Sergi-
3 pacotes (5009) de lingüiça calabresa fina cortada em rodelas pe - tem 57% de sua área coberta por florestas. É o terceiro país mais verde da Europa, atrás apenas
2 dentes de alho Picados das escandinavas Suécia e Finlândia.

1 cebola pequena picada Dividido em reg¡óes geográficas com características peculiares e muito preservadas, a Eslo-
'I lata de molho de tomate temperado vêniaé descrita, muítas vezes, como uma mini-Nova Zelåndia. E é palco de inúmeras atraçöes para
amantes de esportes e ativ¡dades ao ar livre.
8 tomates grandes. maduros, sem pele e sem sementes, picados grosseiramente
É preciso, em tempo, que fique claro: esse país, ainda relativamente desconhecido, nada tem a
1 galho de manjericäo picado ver com a Eslováquia. A não ser pelo prefixo do nome.
Sal a gosto No coração da Europa central, a Eslovênia faz f¡onteira com a ltália, a Áustria, a Hungria e a Cro-

5 litros de água fervente ácia. Com essa últ¡ma, compartilha uma estreita faixa de litoral banhado pelo cristalino Mar AdriátÈ
co. A capital, Liubliana, fica estrategicamente localizada entre cidades famosas, como Veneza
(ltália).
5009 de macarräo tipo penne Viena (Áustria) e Budapeste (Hungria).
Em uma frigideira funda, leve ao fogo a lingüiça, o alho e a cebola e refogue até a cebola ficar Ex-integrante da República Socialista Federal da lugoslávia e independente desde 199'1, a Es-
transparente. Junte o molho de tomate, misture e deixe cozinhar por cinco minutos. Adic¡one o lovênia integra a União Européia desde 2004- quando entrou para o mapa do turismo europeu e
tomate, o manjericåo e sal. Mexa e cOzinhe por mais cinco minutoS ou até o tomate ficar macio' passou a ser servida por vôos da com panhia lowfare-lowcost Easy Jet.
Reserve. Em uma panela grande com a ágUa fervente e sal, cozinhe o macarrão até ficar al dente'
Neste pr¡meiro semestre de 200& o país será sede da presidência da Uniåo Européia (que é rota-
Escorra e sirva com o molho. Rende oito porçóes.
tiva). posição que pela primeira vez desde a formaçåo da UE será ocupada por um país ex-socialista.
A seqüência injuntiva pode ser nomeada, também, como diretiva ou de descrição de açoes. Contrar¡ando as expectativas,já que saiu de um regime comunista, a Eslovênia não se enqua-
schneuwly e Dolz (2oo4,p. 121) apresentam que, pensando em um domínio social de comunicação rns-
dra naquele perfil de "Europa do Leste", em que se percebe nitidamente a distância ou a relativa
truções e prescrições, o descrever ações seria responsável pela regulação mútua de comportamentos.
obsolescência em relaçäo aos países orienta¡s.
Aqui teríamos as instruções de montagem, as receitas, os regulamentos, as regras do
jogo, as
O jovem país é extremamente próspero e une harmoniosamente modernidade e tradição. A
¡nstruçöes de uso, os comandos diversos, os textos prescrit¡vos, os enunciados (de um problema de
história eslovena começa no século Vl, data dos primeiros registros dos primeiros eslovenos, habi-
matemática, por exemplo), as bulas de remédio. Em uma dimensão pragmát¡ca, o macroato seria dire-
tantes dos vales da baía do rio Danúbio e dos Alpes, muito antes de o país ser anexado ao lmpério
cionar,orientar;eaatitudecomunicativa fazersaberfazer(nocaso,fazersaberfazerPennecommolho Austro-Húngaro, no século XlV, que perdurou por seis séculos.
de lingüiça calabreso).
CE, Ana. DilPonível em: <wwl.folha.uol.com-br/folha/
A superestrutura da seqüência iniuntiva comporta a prescrição de comportamentos seqüencial-
turismo/noticias/u1t338u361 932.shtml>. Acesso em I 0 jan. 2008.
mente ordenados, ou seja, a execuçåo das açöes deve, na maioria das vezes, obedecer a ordem eStabe-
lecida com risco de comprometimento dO resultado final. Esquematicamente, teríamos: Bonini (2005, p. 222) informa que a descriçäo'ë a seqüência menos autônoma dentre todas. Difi-
cilmente será predominante em um texto. Sua ocorrência maiS característ¡ca é como parte da seqüência
narrativa, principalmente na parte inicial (a situação), quando sâo introduzidos o espaço e os persona-
gens do fato." Também é possível encontrá-las em guias turísticos.
Penne com molho de Leve... Refogue... ... Penne pronto
Na dimensäo pragmát¡ca, o macroato é apresentaçåo de enunciados de estado e/ou situaçåo
lingûiça calabresa
e a atitude comunicat¡va pode ser do mundo narrado ou do mundo comentado. Quanto ås marcas
Na dimensão lingüística de superfície, as marcas identiñcadoras da seqüência injunt¡va são mo- lingüísticas - dimensåo lingüística de superfície -, predominam os verbos de estado, situaçáo ou indi-
dos e tempos verbais no imperativo (leve, refogue,junte seld), infinitivo ou futuro do presente, vocativo caãores de propriedades, at¡tudes e qualidades (tem, é, faz, compart¡lha, frca). Há, ainda, uma unidade
(parte-todo),
(explícito ou não); verbos performa Tivos (mexa, escora); períodos simples, conect¡vos que indiquem a do estoque lexical assegurada pelo tema-título (no caso, Estovênial; relações de inclusão
seqüenciação das ações (primeiro, depois, finalmente).
Seqüènrias rextuais | 15'l
I Prática Textual em Lingua Ponuguesa

conectivos relacionados à situação do objeto-tema e de suas partes no espaço; adjetivação abundante


Seqüência dialogal
(uLr.¡rrdôncia veldct pcquono tofritór¡o¡ p7k maîr vcrdï, ecrarteríslirÀ< r"flil¡nre\ e ml¡iÎn I\reservqdas|,
tempos verbais no presente ou no ¡mperfe¡to (tem, é, faz, compartilha), emprego de figuras de lingua-
gem (Eslovênia é descrita, mu¡tas vezes, como uma minïNova Zelândia)' lnquérito 147
L1

não moro em lpanema... mas queria te perguntar uma coisa... qual é a tua imagem você mora em
5eqüência preditiva Copacabana né? qual... qual a imagem que você faz de lpanema?
a2
Áries olhä... eu...
2113 a2014 L1

Amor não é sobre o bairro não... eu quero saber como vivem as pessoas que moram lá..,
se con-
Quem já tem um par deve apostar na estabilidade; para as solteiras, as oportunidades L2
centram no segundo semestre. A vida Social será part¡cularmente agitada, com gente entrando em
t
seu círculo de amigos e saindo dele. Fique atenta: cada pessoa será uma nova fonte de aprendizado.
das pessoas... da vida ( )
Fará parte de seu convívio quem busca a espiritualidade ou o desenvolv¡mento inter¡or.
L1
Trabalho
é... qual a imagem que você faz?
Este será o ponto alto de sua vida em 2008. Trabalhe bastante, pois a natureza conspirará pelo
seu sucesso, valorizando esforços e favorecendo as mudanças. O que é frágil será transformado. L2
Mas nem penie em cruzar os braços. Faça sua parte sem medo de assumir novas responsabilidades' olha... eu acho...
Esteja alerta às possibilidades de viagem.
L1
Saúde
pode ser franca... hein...
O segredo será respeitar seu ritmo. Como o trabalho exigirá muito, haverá a tendência a ultra-
L2
passar limites. Se isso acontecer, seu corpo vai lembrá-la da imponância de cuidar de si. Repouso e
boa alirnentação são os antídotos para a fadiga. Verifique com seu médico a necessidade de repor está ok ((risos)) eu não vou malhar não... olha eu acho...

cálcio e magnésio. L1

Auto-afirmação não... mesmo se malhar...

Exercite o otimismo diante da vida e não fique só fazendo planos. O momento é de agir. L2

Clá ud ¡a, iaî. 2oo8, P. 9 4. bom eh... está bom... eu acho ... pri/... prímeiro lugar o bairro... acho um bairro espetacular... e acho
que quem mora em Copacabana deseja à beça morar lá... bom.:: já estou entrando aqui no à be/ à...
O macroato da seqüência preditiva é predizer enunciados sobre o futuro. A at¡tude comunicativa hein? agora e... quanto às pessoas que moram lá... eu tenho a impressäo que não såo diferentes das
é fazer crer e/ou fazer saber. outras que moram noutro bairro... só QUE... em vista do locaÞeh... das possíbilidades e:... eh... e... do...
Podemos encontrar seqüências preditivas nos horóscopos, profecias, boletins metereológicos e do meio de... maior comunicação que parece que existe lá... diversäo e tal... deixa assim elas mais
previsöes em geral. A superestrutura preditiva comporta prenúncio de eventos, situaçöes, comporta- à vontade mais,,. mais dadas... comunicat¡vas isso... fazendo uma diferença entre as pessoas dos
outros bairros né... agora... em relaçäo ao pessoal que mora em Copacabana,.. eu sou bairrista hein
mentos (individuais ou coletivos) com base em relaçöes de causalidade, em deduçóes lógicas - Koch e
sou bairrista... mas acho que.,. se comportam quase que da mesma maneira... só que... a evolução
Fávero ( 1 987) - (caso dos bolet¡ns metereológicos) ou por simples casualidade (horóscopo).
natural eh... transportar... a cidade se transportar sempre pra outro lugar outros... pra outros bairros
tempos
Para realizar lingüist¡camente a seqüência preditiva sáo necessários, na maioria das vezes, né... quer dizer... bairros se transportam pra outros bairros... e que... dão mais condiçåo de vida... de
verbais com perspectiva prospect¡va ldeve opostar, será, fará, conspiraró\, períodos simples, estruturas
calma... tranqriilidade... e vai... vai por aí... é por aí... agora o pessoal é legal... comunicativo...
nominalizadoras (sem verbo); ausência de conectivos do tipo lógico e adjetivação abundante.
Oisponivel em: <http//M.letras.ufrj.brlnurc-rjlcorporald2/d2-'147.hÌml>. Acesso em: l4 jan.2008.

A seqüência dialogal está presente na conversaçáo e suas variantes (entrevistas, conversaçäo te-
Seqúênc¡as textuais | 15i

tit I PráticaTextual em Lingua Portugue5a

- De acordo com as orientaçóes dos PCN, os diferentes gêneros textuais devem ser trabalhados no
lefônica,debate),bemcomoemsuasversöesficcionais_comoosdiálogosemromances.Umadesuas
CâtactërlsrlLds é scr puliger atJa (r r r¿i¡ .jc um interlocutor),
¡o contrárin ¡as nlllras sPqi¡ênçia5' tncino Fundamont¡1, do[dc¡t 5óri¡¡ lnici¡i¡
pìincrpars

Adam(apudBonini,2005,p.225)segmentaaseqüênciadialogalemduasoutras:afáticaeatransa- No Brasí1, desde ineados da década de 1990, circulam art¡gos, teses, livros e mater¡ais didáticos
portanto, ritualística, no sentido de ser padroni- inspirados nessa abordagem. Essas produçöes procuram explorardiferentes aspectos do trabalho
cional. A seqüência fática abre e iecha a inieração, sendq
zada (ex.: Oli, como vai?/Tchau.). Já a seqüência transacional
abarca o assunto que motivou a interaçâo' com gêneros textuais. Um desses aspectos estudados é a p rogressão curricular em espiral dos gêne'
ros no ensino de !íngua, que procura responder a uma pergunta que se r€pete entre os
professores:
quais os gêneros maís adequados para cada série do Ensino Fundamental? Essa questão é orientadora

Finalmente, é importante reg¡strar duas outras formas de


planificaçåo (além das planificações do planejamento dó ensino de língua portuguesa. tanto do planejamento anual como do planeja-
convencionais, de acordo com Bronckart, (2003, p.238-240):
o scípt e a esquematizaçåo' mento desse ensino no sentido vertical, ao longo das nove séries do Ensino Fundamental.

oscrþtassemelha-seàseqüêncianarrativa,mas,aocontráriodesta,nãoapresentaconflito,ten- As propostas de progressão curricular resultantes desses estudos têm como paråmetro, em

são, apenas os acontecimentos em ordem cronológica.


Veja o exemplo a seguir, ret¡rado da letra de geral, um quadro publicado no artigo "Gêneros e progressäo em expressãooral e escr¡ta: elementos
para reflexöes para uma experiência suíça", escrito porJoaqu¡m Dolz e Bernard Schneuwly em 1 996.
música "Cotidiano'i de Chico Euarque:
Nele, os autores propóem agrupamentos dos gêneros naffar. expot. argumentaL instruir e relatar,
Todo dia ela faz organizados pelas semelhanças que as s¡tuaçôes de produçåo dos gêneros de cada um dos agrupa-
mentos possuem,
Tudo sempre igual
No agrupamento narraL são colocados os gêneros da cultum literária ficcional, como contos,
Me sacode
lendas, romances, fabulas, crônicas. A s¡tuação de produção desses gêneros sempre envolve a fic-
Às seis horas da manhã ção e a criação.
Me sorri um sorriso Pontual No agrupament o expor, estão agrupados os gêneros científicos e de divulgação científica, e os
didáticos constituídos para o ensino das diversas áreas de tonhecimento. Estão nesse agrupamento
E me beija com a boca
os artigos científicos de todas as áreas do conhecimento, os relatos de experiências científicas, as
De hortelã... conferências, os seminários, textos explicativos dos lívros didáticos, os verbetes de enciclopédia e
outros afins. A situação de produção desses gêneros sempre envolve a necessidade de divulgar um
para galtar a esquemat¡zação ocorre:"Quando um conteúdo temático no mundo do expor não conhecimento resultante de pesquisa científi ca.
a característica de neutralidade' e o
é considerado nem contestável nem problemático, apresentando No agrupamento instruir ou prescrever ñguram os gêneros com manuais de instrução de di-
propriedades fe¡to a pãrtir de um segmento de texto puramente expositivo
desenvolvimento de suas é ferentes tipos, ¡nclusive aqueles que acompanham máquinas, ferramentas e eletrodomésticos, as
as definiçóes, as enumera-
ou informativo,,(BALTAR, 2006, p. 85). seriam exemplos de esquematizaçóes, bulas de remédio, as receitas culinárias, as regras de jogo, os regimentos e estatutos e todos os de-
etc' (BRONCKART' 2003)'
çoes, o enunciado de regras, a cadeia
causal mais gêneros cuja função é estabelecer formas corretas de proceder. A situaçäo de produçåo desses
gêneros sempre envolve a necessidade de informar como deve ser o comportamento daqueles que
vão usar um equ¡pamento ou med¡camento ou, äinda, real¡zar um procedimento.

No agrupamento relatar estâo os gêneros relacionados çom a memória e as experiências de


vida, como memórias literárias, diários íntimos, diários de bordo, depoimentos, reportagens, rela-
Texto complementar tos históricos, biografias e outros semelhantes. Nas situações de produção desses gêneros está a
necessidade de contar alguma coisa que realmente o.orrËu, o qu" torna os relatos diferentes das
narrativas, que são ficcionais.
No agrupamento Argumentar ñcam os gêneros que têm or¡gem nas discussóes sociais de as-
Planejando 0 ens¡n0 de língua pgrtuguesa n0 Ens¡n0 Fundamental
suntos polêmicos, que provocam controvérsias. Estäo nesse agrupamento as cartas de solicitação,
(AMARAI", 2008.Adaptadc ) cartas de leitor, cartãs de reclamação, os debates políticos, os artigos de opinião jornalísticos, os
editor¡ais e outros semelhantes. Nas s¡tuaçöes de produção desses gêneros existem questöes polê-
A or¡entação para o trabalho de ensino de língua a
part¡r do uso de diferentes gêneros textuais
micas que estão sendo discutidas em sociedade, e que exigem dos autores um posicionamento e a
área sejam anteriores,
no Ensino Funàamental é felat¡vamente recente. Embora as pesquisas nessa defesa desse posicionamento.
é com os paråmetros Curriculares Nacionais de Língua
Portuguesa (publicados pelo.Ministério da
Educação-MEC,em1996),queessapropostadetrabalhocomeçaacircularemâmbitonacional.

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