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Produção
PARTE I
de texto
Interlocução e gêneros
Reprodução
ao crime na cidade de
Washington é feito com
Como ler um texto – p. 16 base em previsões realiza-
das por três cognitivos (os
1o passo: Identificar o tema do texto.
precogs). Com quatro dias
O primeiro parágrafo do texto fornece uma boa de antecedência, os precogs
“pista” sobre o tema do texto: “A breve história das têm uma visão e, como re-
interações humanas com as tecnologias digitais é sultado, o nome da vítima
marcada por uma intimidade em constante evolução
e o do criminoso aparecem
[...]”. Ao longo do texto, a hipótese de que o tema
trata do impacto das tecnologias digitais na vida das gravados em duas esferas.
pessoas se confirma, quando constatamos que, após Com base nas informações
um breve histórico da invenção e desenvolvimento obtidas nessas visões, uma
dos computadores, os parágrafos do texto passam divisão especial da polícia — Pré-crimes — entra
a abordar essa questão. em ação, para impedir que o crime aconteça. Por
seis anos esse processo funciona sem qualquer
2o passo: Elaborar uma síntese do texto. problema, até que o sistema é posto em xeque por
uma possível falha humana.
No momento de avaliar quais elementos do texto
os alunos selecionam para elaborar sua síntese, o Passou por alguma experiência recente que pos-
professor deve assegurar que as seguintes informa- sa ser relacionada a essa questão? (Situação em
ções estejam presentes: família em que as pessoas, em lugar de dialogar,
• A atração dos computadores para as pessoas estavam todas utilizando smartphones ou tablets?
surpreendeu até mesmo os técnicos e cientistas Saiu com amigos e observou que muitos estavam
envolvidos em sua criação e desenvolvimento. A preocupados em conferir se havia atualizações
partir da década de 1970, centenas de milhares de de mensagens em seus smartphones? Estava no
pessoas passaram a adquirir computadores. cinema e havia pessoas falando ao celular durante
o filme?)
• O desenvolvimento da tecnologia digital está
provocando uma revolução na relação entre as Quando os alunos já tiverem coletado as infor-
pessoas e as máquinas: o “computador pessoal” mações de que dispõem, devem ser orientados a
está se transformando em “computador íntimo”. pensar sobre como tais informações podem ser
• Todas as tecnologias afetam nosso comportamento. articuladas com o que foi dito no texto lido.
• Somos criaturas tecnológicas. Recorremos à tec-
nologia para expandir nossos limites. 4o passo: Estabelecer relações entre os
• O reino digital permite ampliar as experiências elementos relevantes e entre eles e
humanas e simular a criação de outros mundos. outras informações de que o leitor disponha.
Após a apresentação de um breve histórico da cria-
3o passo: Organizar as próprias ideias com ção dos computadores e de como eles se desenvol-
relação aos elementos relevantes. veram até chegar ao ponto em que se encontram nos
Esse é um procedimento necessariamente indi- dias atuais, o texto oferece uma hipótese explicativa
vidual, porque depende das informações de que para a importância das tecnologias digitais: as má-
cada um dispõe sobre o tema abordado no texto. quinas mais modernas oferecem um novo tipo de
Sugerimos que sejam feitas algumas perguntas aos experiência para as pessoas, permitindo que estejam
alunos, para que possam começar a organizar as conectadas a maior parte do tempo. Para desenvol-
informações de que dispõem. ver essa hipótese, o texto introduz a ideia de que os
“computadores pessoais” sofreram uma revolução,
Você já teve oportunidade de refletir sobre o im- com o avanço tecnológico, e passaram a desem-
pacto das tecnologias digitais na vida das pessoas? penhar, com o advento dos smartphones e tablets, a
função de “computadores íntimos”, estabelecendo
Em que contexto se costuma refletir sobre essa um novo nível de integração das tecnologias digitais
questão? às nossas vidas.
Já viu / leu alguma reportagem a esse respeito? Uma citação do teórico canadense Marshall
O que era dito nela? McLuhan é utilizada para apresentar o argumento
que sustentará o ponto de vista apresentado: “mol-
Já assistiu a algum filme que tratasse do assunto? damos nossas ferramentas, e então as ferramen-
Qual? Como a questão da interação entre seres tas nos moldam”. A introdução da ideia de que a
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evolução humana está associada ao desenvolvi- que se há de fazer!’ / Amélia não tinha a menor
mento de diferentes tecnologias permite ao texto vaidade / Amélia que era a mulher de verdade”.
ampliar o campo de análise, demonstrando que a Os alunos podem também identificar trechos
evolução humana, a construção de cidades e de em que as características de Amélia nasçam da
civilizações sempre esteve vinculada a algum salto oposição estabelecida entre a outra mulher e
tecnológico. Esses argumentos reforçam a hipótese
ela. Se alguém disser que Amélia não é egoísta
de que o esforço humano para desenvolver novas
tecnologias se explica pelo nosso desejo de “ampliar ou exigente, estará identificando corretamente
a nós mesmos e ao mundo — ir além dos limites e características implícitas a ela atribuídas pela
nos adaptarmos”. letra da música.
É importante que, ao dar esse passo, o aluno procure • A ideia de uma mulher “passiva” pode ser as-
levar em conta sua experiência pessoal e as infor- sociada aos versos “Às vezes passava fome ao
mações que tem sobre o uso (excessivo ou não) das meu lado / E achava bonito não ter o que comer”.
novas tecnologias digitais: são capazes de se lembrar A mulher, neste caso, é apresentada como um
de como era a vida antes dos smartphones e tablets? apêndice do homem, incapaz de exigir o que
Em que medida seu comportamento (ou o de seus quer que seja (mesmo o alimento necessário
parentes e amigos) foi alterado pelo acesso a esses para sua sobrevivência), quase como se o fato
equipamentos? Essas alterações são positivas ou de estar ao lado desse homem fosse suficiente
negativas? Feita essa reflexão, é hora de o aluno se para sustentá-la. A postura “serviçal” pode ser
perguntar sobre o modo como essas informações entendida como um desdobramento da passi-
podem ser relacionadas ao que diz o texto: ajudam vidade de Amélia. Se ela não reivindica nada
a confirmar a análise feita? Permitem refutá-la? para si, podemos inferir que não só aceita o que
Por quê? lhe dá o marido, como também se submete às
suas vontades, se dedica a servi-lo, aceitando o
5o passo: Interpretar os dados e os fatos papel que, na época, era reservado à mulher no
apresentados. casamento. De certo modo, a visão de Amélia
como “amorosa” deriva também da sua submis-
A interpretação dos dados já é explicitada no próprio são total ao papel de esposa. Não contrariava as
texto: o comportamento dos seres humanos vem vontades do marido e chegava mesmo a anular-
sendo alterado à medida que novas tecnologias -se (“não tinha a menor vaidade”, segundo a
surgem e afetam sua relação com o trabalho e com música), como se não tivesse vontade própria.
o lazer. Em lugar de condenar a suposta submissão
das pessoas às tecnologias, o texto vê esse proces- 2. Segundo o texto, Emília deve ser uma mulher
so como inevitável, já que dependemos delas para versada nas prendas domésticas (deve lavar
ampliar nossos próprios limites. e cozinhar), deve acordar cedo e preparar o
café para o homem com quem vive. Por essas
características, pode-se imaginar que ela deva
6o passo: Elaborar hipóteses explicativas se comportar como uma dona de casa perfeita,
para fundamentar a análise do texto. que vive para atender a todas as necessidades
No caso do texto lido, a hipótese explicativa para de seu companheiro.
a maneira como se vem configurando a relação • Não. Emília não poderia ser descrita como
entre os seres humanos e a nova tecnologia digital independente, porque sua imagem sugere
aparece no 6o parágrafo. Ali, lemos que “Mais impor- exatamente o perfil contrário: o de uma mu-
tante do que a capacidade [das máquinas criadas] lher que vive em função de um homem, que
é a experiência que essas máquinas proporcionam”. se subordina a ele.
Mais adiante, o texto chama a atenção para o fato
de que, por meio dos novos equipamentos, o ser 3. A passagem a seguir indica que o autor do texto
humano adquiriu a capacidade de construir novos trabalha com uma imagem de mulher ideal mais
mundos. E conclui: “Talvez esse seja o milagre cen- ampla: “Eu quero uma mulher que saiba lavar e
tral de nossa era — e aquele que melhor explica a cozinhar. / Que de manhã cedo, me acorde na
contínua migração de esforços, atenção, emoção, hora de trabalhar”.
atividade econômica e inovação em direção às
tecnologias digitais”. A sugestão final feita pelo a) Quando afirma que deseja encontrar “uma
autor é a de que as simulações geradas por meio mulher”, o uso do artigo indefinido uma faz
dos equipamentos de alta tecnologia têm, hoje, um com que o referente do substantivo mulher se
poder de sedução maior do que as experiências generalize. O que o autor está dizendo nesse
reais vividas pelas pessoas.
momento é que procura alguém com caracte-
rísticas específicas (saber lavar e cozinhar, que
levante cedo para acordá-lo para o trabalho,
capítulo 1 que faça seu café).
Discurso e texto b) Em “Ai que saudades da Amélia”, vemos con-
frontados dois perfis de mulher: o de Amélia (a
“mulher de verdade”) e o de uma outra mulher,
Análise – p. 26
que “só pensa em luxo e riqueza”, quer tudo o
1. Os versos que constroem a imagem de Amélia que vê, não leva em consideração as dificul-
são os seguintes: “Às vezes passava fome ao meu dades por que passa seu companheiro (“não
lado / E achava bonito não ter o que comer / E vê que eu sou um pobre rapaz”). Essa com-
quando me via contrariado / Dizia: ‘meu filho, o paração tem o efeito de louvar as qualidades
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• O sentido dessa imagem é o de que a Proclama- Bis e a Torre Eiffel) e identifiquem as mãos
ção da Emancipação ofereceu, aos negros, mais que aparecem no desenho como sendo as de
do que a libertação da escravidão. Estendeu Santos Dummont, famoso inventor brasileiro
também a eles os direitos assegurados pela De- considerado o “pai” da aviação. Como se sabe,
claração da Independência e pela Constituição o primeiro voo do 14 Bis foi feito ao redor da
a todos os americanos: “direitos inalienáveis à Torre Eiffel.
vida, à liberdade e à busca da felicidade”.
2. O anúncio se dirige a pessoas que costumam
4. É a metáfora do cheque sem fundos (“A América teclar no celular enquanto dirigem.
entregou à população negra um cheque ruim,
• O texto que aparece no canto inferior direi-
um cheque que voltou com o carimbo de ‘sem
fundos’”). to (“Não escreva enquanto dirige”) faz uma
recomendação direta que sugere serem as
• Essa é uma boa imagem, porque a ideia de uma pessoas que costumam enviar mensagens
“nota promissória” cria a expectativa de que de texto de seus celulares enquanto estão
ela seja honrada, ou seja, que o seu portador dirigindo. Além do texto, deve-se considerar
consiga receber o que lhe é devido. No caso a própria imagem como um elemento que
dos negros, a nota promissória não prometia contribui para definir o perfil do interlocutor,
somente o fim da escravidão, mas também porque ela sugere que, se Santos Dummont
acesso a todos os direitos garantidos aos cida- estivesse desenhando o projeto do 14 Bis
dãos norte-americanos. Como, cem anos mais
enquanto pilotava o avião, provavelmente
tarde, eles continuavam sendo vítimas de dis-
colidiria com a Torre Eiffel.
criminação e preconceito, Luther King afirma
que a “nota promissória” dada aos negros no 3. Como o anúncio faz parte de uma campanha
ato da Proclamação da Emancipação equivale de conscientização sobre o perigo de as pessoas
a um cheque sem fundos. escreverem enquanto dirigem, o enunciado des-
tacado procura deixar claro que nenhum texto
5. Luther King preocupa-se em evitar que os ne-
— nem mesmo os planos de um Santos Dumont
gros, revoltados por não serem reconhecidos
— justifica os riscos associados à atividade de
como iguais e por terem seus direitos constitu-
cionais desrespeitados, apelem para a violên- teclar enquanto se dirige um veículo.
cia. Teme, ainda, que a violência venha como 4. Sim. Tanto o texto (uma marchinha de carnaval)
resposta natural à violência praticada pelos como as imagens indicam que o interlocutor
brancos contra os negros. Por essas duas razões, específico é o folião carioca (incluídos nessa
o reverendo diz que eles devem sempre conduzir imagem todos aqueles que vão brincar o carnaval
a sua luta “no mais alto nível de dignidade e na cidade do Rio de Janeiro).
disciplina”.
5. O anúncio tem a finalidade de promover uma
6. Essa denominação traduz uma imagem explora- campanha para evitar a violência durante o
da no final do discurso pelo reverendo: ao expli- Carnaval no Rio de Janeiro.
citar, para seus irmãos negros, o sonho que tem,
ele enumera as conquistas sociais pelas quais • A letra da marchinha explicita a finalidade da
estão se manifestando em Washington. A repeti- campanha com os versos: “tapa na cara só do
ção introdutória — “Eu tenho um sonho” — vem pandeiro / evite briga pro bloco ficar maneiro”.
acompanhada pela definição de um país ideal 6. Tapa na cara só do pandeiro.
em que a convivência entre negros e brancos não
seja marcada pela violência; em que a igualdade • O slogan explora o duplo sentido associado à
de direitos prevaleça; em que as pessoas não se- ideia de “brincar”. A expressão “brincar o Carna-
jam julgadas pela cor de sua pele e sim por seu val” faz referência à diversão sadia dos foliões.
caráter, até que “os clamores dissonantes” de um “Brincar com o Rio”, por outro lado, significa agir
país segregacionista sejam transformados “em de modo irresponsável com relação à cidade e
uma bela sinfonia de fraternidade”. os episódios de violência seriam uma forma
de irresponsabilidade, porque comprometem
Atividades – p. 44 a imagem do Rio e do seu Carnaval, o mais
famoso do mundo.
1. O anúncio apresenta os seguintes elementos
visuais: veem-se, em primeiro plano, duas mãos 7. O texto trabalha com a imagem de mulher como
enluvadas que fazem desenhos em uma folha de alguém consumista e que não é independente
papel onde se pode ver o esboço de um veículo. Do financeiramente.
lado da mão esquerda vê-se uma roda; do lado da a) No texto, a “simpatia para pegar mulher” con-
mão direita, uma alavanca. Imediatamente à frente siste em colocar um cartão de crédito como
da folha de papel aparece o que se pode reconhecer “isca” em uma ratoeira. A sugestão é óbvia:
como sendo o “nariz” do famoso 14 Bis. Em segundo como deseja poder comprar o que quiser e ter
plano, vê-se parte da Torre Eiffel, de Paris. alguém que pague as suas contas, a mulher
• O autor do texto espera que os leitores re- seria atraída pelo cartão de crédito e cairia na
conheçam as pistas oferecidas (o bico do 14 armadilha preparada para capturá-la.
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consequência da presença desse tipo de poluição companhia aérea, para qualquer parte do
no oceano. mundo (“qualquer lugar”). Por essa razão, o
corpo do violão foi composto pelo planisfério,
• Sim. As figuras humanas que saem dos orifí-
dando assim a ideia de que o serviço de carga
cios do corpo do golfinho morto representam
pode ser utilizado para enviar objetos para os
os vermes que participam do processo de
cinco continentes.
decomposição das espécies animais. O fato de
terem forma humana cria uma relação direta 2. O texto 4 traz a imagem de um hambúrguer
entre a ideia de consumo irresponsável (que queimado. É possível identificar todos os com-
não se preocupa com o descarte adequado ponentes originais desse tipo de sanduíche: o
dos detritos), praticado em larga escala pe- pão, as fatias de queijo, a carne, as rodelas de
los seres humanos, e o acúmulo de plástico tomate, as folhas de alface, só que todos esses
nos oceanos que vem provocando a morte de componentes são representados em uma tonali-
milhares de espécies marinhas. dade cinza-avermelhada que evoca o processo de
incineração do hambúrguer. Há, inclusive, cinzas
6. Como fica claro no enunciado “Pelo consumo na parte de baixo e uma fumaça branca que sai
consciente”, o texto 2 pretende sensibilizar da fatia superior do pão.
seus interlocutores para a necessidade de levar
em consideração a maneira como os produtos a) O logotipo “Gustavo Borges Academia” só será
(e / ou suas embalagens) que adquirem serão compreendido pelo leitor que souber quem
descartados. Trata-se, portanto, de uma cam- foi Gustavo Borges, nadador brasileiro que
panha de conscientização que tem uma função conquistou várias medalhas em importantes
claramente persuasiva. campeonatos internacionais, quatro delas em
olimpíadas. Quando deixou as piscinas, Gus-
7. O primeiro texto investe na criação de uma cena tavo Borges montou uma rede de academias
alegre, criada não só pelo traçado dos desenhos esportivas que levam seu nome.
do cãozinho e do esqueleto do pirata, como
também pela escolha das cores de tonalidades b) A mensagem pretendida é a de que precisa-
suaves, que sugerem um dia ensolarado e tran- mos queimar as calorias ganhas ao ingerir
quilo. No texto 2 vemos uma cena impactante determinado tipo de alimento (principalmente
marcada pelo uso de cores escuras e fortes: os considerados “fast-food”, como os hambúr-
tons de verde, vermelho e marrom criam um gueres) e a Gustavo Borges Academia é o lugar
cenário de destruição. Em segundo plano, o céu ideal para isso.
escuro, no qual se destacam as labaredas e a
fumaça evoca imagens apocalípticas. O traçado 3. O objetivo dos dois textos é “vender” um tipo
do desenho investe em um hiper-realismo que específico de prestação de serviços: o texto 3
obriga o interlocutor a reconhecer não só o divulga os serviços de transporte realizados por
golfinho morto que se decompõe, mas também uma companhia aérea e o texto 4, os serviços de
as figuras humanas que saem como vermes de uma rede de academias de ginástica.
seu corpo.
• A função de todos os textos é a mesma: persua-
• Resposta pessoal. Espera-se que os alunos dir. O objetivo específico dos textos, no entanto,
reconheçam que as diferentes estratégias
formais relacionam-se à natureza de cada é diferente. Enquanto os textos 1 e 2 pretendem
uma das campanhas e que, nesse sentido, são conquistar a adesão dos leitores para deter-
ambas muito eficazes. Enquanto o primeiro minadas campanhas (adoção de animais e
texto procura criar uma cena agradável, que consumo consciente), os textos 3 e 4 desejam
evoque sentimentos positivos, alegria, afeto, vender serviços. Podemos dizer, portanto, que
de modo a incentivar a adoção de animais de a diferença entre os dois conjuntos de textos
estimação, o segundo texto procura criar em decorre da natureza do que é divulgado por eles.
seu interlocutor uma sensação de responsabi-
lidade por um processo de destruição da vida 4. Em todos os textos a articulação entre imagens e
marinha que não é visível para a maioria das enunciados breves produz o sentido desejado. É
pessoas. Nesse caso, o incômodo provocado importante destacar, porém, que há um grande
pela imagem tem justamente a função de levar investimento na imagem, que ocupa a maior
o interlocutor a se dar conta de que todos os parte do texto. Além disso, também é possível
consumidores precisam se interessar e res-
reconhecer uma mesma função associada a todos
ponsabilizar pelo modo como os detritos são
descartados. os quatro textos: persuadir o interlocutor a agir
de determinada maneira (aderindo a campanhas
ou comprando serviços).
Análise – p. 54
1. São as formas de um violão e de um pla-
nisfério (representação, em forma plana, do capítulo 4
mapa-múndi). Na verdade, o que se vê é uma Leitura e gêneros do discurso
acomodação dos cinco continentes ao formato
de um violão.
• A intervenção foi feita para complementar a Análise – p. 57
ideia divulgada pelo enunciado que aparece
no canto superior direito: “Qualquer coisa 1. Pode-se imaginar que, ao ler o título, as pessoas
para qualquer lugar. TAM Cargo”. O violão, o interpretem literalmente, ou seja, esperem en-
nesse caso, representa a “coisa” a ser trans- contrar no texto alguma explicação relacionada
portada, pelo serviço de cargo de uma grande ao sucesso na tarefa de lavar a louça.
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a) O subtítulo tem a função de oferecer informa- 7. A imagem criada pelo autor é a da “sujeira in-
ções mais específicas sobre o assunto tratado crustada na louça”.
no texto. • Essa imagem tem a função de “traduzir” para
os leitores o que significa ser capaz de perce-
b) Sim. Nesse caso específico, o leitor terá a infor-
mação de que o texto vai tratar das condições ber “a natureza mais profunda do outro”, a sua
para os seres humanos serem capazes de potencialidade de transformação. Em outras
sentir compaixão pelos seus semelhantes. palavras, como lembra o autor no 6o parágra-
fo: do mesmo modo como temos dificuldade
3. “Sempre perguntamos se somos inerentemente em olhar para uma taça de vinho suja e ver
bons e generosos ou maus e egoístas.” o cristal puro de que é feita, também não
4. a) Porque os biólogos, como os cientistas em conseguimos reconhecer a possibilidade de
geral, desenvolvem um olhar analítico e des- boas ações em pessoas que julgamos serem
critivo com relação aos fatos que estudam. más em função dos comportamentos que
Em termos discursivos, ao falarem sobre apresentam.
suas observações e conclusões, referem-se 8. A imagem da “sujeira incrustada na louça”, no
aos fatos, dados e fenômenos em 3 a pessoa parágrafo final, cumpre a função de ampliar o
(falam sobre X, Y ou Z). A psicanálise, por sentido do que é dito sobre os outros (devemos
outro lado, investe na interlocução entre reconhecer seu potencial de transformação) para
psicanalista e paciente. Em termos discursi- incluir a nós próprios.
vos, por basear-se no diálogo, a perspectiva
construída é de 2a pessoa (o analista fala com • O sentido da imagem é, essencialmente, o
o paciente). mesmo, com a ressalva de que, agora, passa a
fazer referência à capacidade de mudarmos o
b) Usando a própria mente para pesquisar a men- nosso próprio comportamento, “Podemos nos
te, os “cientistas contemplativos” descobriram aproximar de nossas aflições [...] com a mesma
que “todas as maldades são artificiais, cons- confiança inabalável que brota ao encararmos
truídas, e até mesmo o mais violento dos seres uma pia cheia de pratos imundos.”.
humanos pode, sim, erradicar completamente
aflições e confusões, até se tornar veículo de 9. Resposta pessoal. Os alunos podem questionar
inteligências benéficas”. o alcance absoluto da afirmação feita no texto.
O autor, com essa generalização, parece excluir,
c) O aspecto revolucionário seria a afirmação do
por exemplo, todos os casos em que as pessoas,
potencial de todas as pessoas para florescerem
motivadas por doenças mentais graves (a esqui-
internamente, ou seja, de passarem por uma
zofrenia, por exemplo), cometem atos violentos,
transformação. Nessa perspectiva, não exis-
como assassinatos. Ainda que se possa afirmar
tem pessoas intrinsecamente más.
que esses indivíduos não são intrinsecamente
5. A generalização de que aceitamos como verdades maus, não basta a compaixão ou a decisão indi-
inquestionáveis duas visões, apresentadas em vidual para eles se transformarem ou se verem
programas de TV: 1) “há pessoas boas e há pes- livres do problema que os leva a agir de modo
soas essencialmente más”; 2) “o ciúme, a raiva, incontrolável.
o orgulho, a inveja, o preconceito são humanos
e não podem ser superados”. 10. Dada a intenção clara do autor de convencer
seus leitores de um ponto de vista específico
• Ao aceitar essas visões, segundo o autor, abri- sobre a compaixão, o texto tem natureza pre-
mos mão da possibilidade de “acordar”, ou seja, dominantemente argumentativa. Essa intenção
de ver as coisas sob uma perspectiva diferente, se concretiza no modo como ele estrutura seu
que pressupõe a possibilidade de transforma- texto; no uso que faz da referência a biólogos,
ção individual. psicanalistas e “cientistas contemplativos”
6. Essa condição natural de liberdade é representa- para introduzir o ponto de vista que pretende
da, no texto, pela imagem de alguém fixado em defender; na criação de uma imagem (a sujeira
videogames que, de uma hora para outra, pode incrustada na louça) para garantir que os leito-
“levantar os olhos e fazer outra coisa”. Em outras res compreenderão o que significa o potencial
palavras, essa pessoa não está condenada a jogar de transformação a ser reconhecido em todas
videogame pelo resto da vida. as pessoas.
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fazem recordar-lhe mais visualmente”; “Com sorridente, sempre meiga e cheia de encan-
saudades se despede a sua Maria”. Os assuntos tos”. Maria Angélica também associa, no
tratados são claramente pessoais: locais por texto 2, trechos de caráter narrativo, quando
onde passearam juntos, fotografias tiradas du- relata acontecimentos a algumas passagens
rante o passeio, familiares dos interlocutores. descritivas (“A lua refletindo-se nas ondas,
Todos esses elementos confirmam tratar-se de quebrando-se nas pedras, prateando todo o
cartas pessoais. mar!”).
2. Os dois são provavelmente namorados. Pelo tom b) Porque escolhemos o tipo de composição a ser
adotado nas cartas, que falam de saudade, do utilizado em função dos objetivos do texto que
desejo de saber notícias um do outro, da bus- está sendo produzido. No caso das cartas, seus
ca por lugares que tragam de volta à memória autores desejavam, além de narrar, descrever
momentos que passaram juntos, fica evidente o cenários que tornam mais real o que contam
envolvimento sentimental entre Emílio e Maria um para o outro.
Angélica. A intimidade entre os dois fica evidente,
por exemplo, na maneira como se despedem: “... Análise – p. 83
para você toda a saudade do seu Emílio”, “Com
1. Como aconteceu nos textos 1 e 2, os autores dos
saudades se despede a sua Maria”. textos 3 e 4 também se dirigem a um interlocutor
• As cartas resgatam uma proximidade entre os específico (Leticia, Marcelo). O tom dos textos
interlocutores, que estão em cidades diferentes. é informal, denotando intimidade. A intenção
Nesse sentido, funcionam como uma extensão de Marcelo e Leticia é recuperar, por meio dos
das conversas que costumam manter quando e-mails, uma proximidade que lhes permita
se encontram pessoalmente. “conversar”, já que se encontram afastados
pelo espaço. No final das mensagens, os dois se
3. Logo no início, Emílio afirma: “Da minha partida, despedem carinhosamente: “Até mais, mulher.
às 9h20, até a chegada, 10h45, quase nada há de Marcelo”, “Beijos mil, Leticia”.
interessante a relatar”. Em seguida, começa a • Não vemos, nos e-mails, a identificação inicial
contar como foi a viagem de volta de Guarapari do local, e a data vem incluída em um conjunto
a Vitória: “Todos vinham cansados e o jogo con- de informações que são automaticamente in-
tinuado do carro, provocado pela irregularidade seridas no cabeçalho-padrão do programa de
da estrada, convidava para um cochilo. Acabaram composição de e-mails, que também identifica
todos cochilando mesmo, exceto eu, a princípio”. o assunto da mensagem, quem a enviou, ende-
Conta também o que fez no dia seguinte (“Hoje reço eletrônico e a hora do envio. Também não
pela manhã, depois de dormir bem e de ter so- ocorre, nos textos 3 e 4, a identificação inicial
nhado, desci para o banco, a fim de reencetar a do interlocutor. Tanto Marcelo quanto Leticia
vida banal e insípida de todo o dia. [...] Ao chegar começam suas mensagens como se fossem
ao banco encontrei sobre a mesa, a sua carta do turnos de uma conversa: “Olha só, Leticia...”;
dia 6”; “À tarde fui ao Empório apanhar as foto- “Você também está ensolarando a minha vida”.
grafias!”). Outra diferença evidente é a da extensão dos
textos. As cartas de Emílio e Maria Angélica
a) Sim. Maria Angélica conta a Emílio como têm são bem mais longas que as duas mensagens
sido os dias em Guarapari, após a sua partida eletrônicas.
(“Isso por aqui anda movimentado: bailes
2. Quando as cartas eram o meio de contato fre-
quase toda noite, serenatas... Segunda-feira
quente entre as pessoas e demoravam dias para
à noite fizeram uma lá perto da rebentação.”).
chegar a seu destino, era natural que os autores
b) É natural, em cartas pessoais, a ocorrência de tivessem mais acontecimentos para contar nos
trechos em que são relatados acontecimentos, textos que escreviam. As mensagens eletrônicas
porque esse gênero apresenta uma estrutura são “entregues” instantaneamente. Isso faz com
que reflete um olhar particular para eventos que a comunicação ocorra de modo muito mais
cotidianos. intenso e frequente. Nesse caso, os textos tornam-
-se mais curtos, porque geralmente tratam de um
4. A descrição.
assunto específico e os interlocutores têm a certe-
a) No texto 1, logo após narrar o que aconteceu za de que podem continuar rapidamente a trocar
quando partiu de Guarapari, Emílio recorre mensagens e, assim, continuar a “conversar” um
à descrição: “Deliciava-me a contemplar o com o outro. Nesse sentido, cada mensagem é
espetáculo deslumbrante que proporcio- semelhante a um turno de fala em um diálogo.
nava a lua, projetando seus abundantes e
3. a) Os pronomes marcam a interlocução, ou seja,
luminosos raios pelos campos e montes
deixam claro que quem escreve está se diri-
que desfilavam céleres, numa formatura
gindo especificamente ao interlocutor identi-
desalinhada, à proporção que o automóvel
ficado no início do texto.
devorava a estrada. E, enquanto uma bri-
sa, fresca e suave, entrando pela janelinha b) Os pronomes que aparecem em itálico identi-
semiaberta, fustigava-me a fronte, eu via, ficam sempre o interlocutor do texto, fazendo
dançando no pensamento, a sua figura com que reconheça que o autor está “falando”
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hábito). Com isso, prepara o leitor para a afirma- conversa entre a freguesa e o livreiro: dia de
ção final de que é uma pessoa livre ([Sou movida] lançamento de um livro publicado por uma
Por mim, enfim!), capaz de definir os rumos da grande editora. O modo como a autora do tex-
própria vida. to caracteriza esse contexto explicita o tom
humorístico do texto: “ingredientes para um
6. No 1o parágrafo, Diego Quinteiro enumera quatro
delírio inesquecíver” (a qualificação do episó-
ações que não se aplicam a ele: vestir-se bem,
dio como um “delírio”, portanto, algo insano, e
aparar a barba, decorar o próprio quarto e desa-
o uso de uma forma estigmatizada do adjetivo
massar o carro. Percebe-se que há um elemento
inesquecível contribuem para a imagem que o
comum a essas quatro ações: todas elas estão
leitor fará da freguesa, sugerindo se tratar de
voltadas para a criação do que se considera uma
uma pessoa muito desinformada); “caprichou
boa aparência. Faz sentido que alguém que diga
no bobó de alucinação” (a referência a um tipo
não ser vaidoso não dê importância, por exemplo,
de comida — o bobó — caracterizado por apre-
à aparência do próprio carro.
sentar a consistência de uma papa e que seria,
7. Segundo o autor, há pessoas que dão valor à be- nesse caso, constituído de elementos insanos,
leza, há pessoas que valorizam a permanência, e confirma para o leitor que o caso a ser relatado
há pessoas, como ele, que valorizam o bem-estar é absurdo).
e a felicidade. Os tênis são utilizados para ilustrar
12. A primeira passagem é a seguinte: “fregueses
de que maneira escolhas aparentemente simples
que olham a página de eventos da livraria na
(um par de sapatos) revelam uma postura frente
internet antes de pedir informações: amamos
à vida. Assim, as pessoas que gostam de tênis
vocês”. Pode-se relacionar tal passagem a uma
bonitos seriam vaidosas, sempre preocupadas
recomendação de como devem se comportar
com a aparência; quem opta pelos tênis duráveis
os fregueses de uma livraria: espera-se que eles
seriam as pessoas acomodadas, que desejam
cheguem informados sobre os eventos que estão
construir uma vida segura e imutável; já as pes-
planejados, para evitarem perguntas absurdas
soas que preferem os tênis confortáveis fariam
aos livreiros.
suas escolhas de vida sempre guiadas pelo desejo
A segunda passagem aparece no final e é re-
de alcançar o maior bem-estar possível.
forçada pela identificação “manual prático de
8. a) Supõe-se que o leitor de um blog com esse bons modos em livrarias: recomendamos aos
título espere encontrar recomendações sobre senhores fregueses o uso diário e sem mode-
como as pessoas devem se comportar em ração do site ‘quem morreu hoje’”. Nesse caso,
livrarias, já que o gênero manual corresponde a recomendação é explícita e inusitada: os
a um texto com um conjunto de instruções a frequentadores de livrarias devem saber quais
serem seguidas. autores já morreram, para evitar situações
constrangedoras como a ilustrada no texto.
b) Confirma em parte e contradiz em parte. Con-
firma em parte, porque a autora ilustra, em
seu texto, um comportamento inadequado de capítulo 8
uma freguesa de uma livraria. Contradiz em Biografia
parte, porque não se espera que um manual
seja constituído por exemplos do que não
deve ser feito. Análise – p. 114
9. O texto relata um diálogo absurdo entre uma 1. Renato Russo, cantor, compositor e letrista da
compradora e um livreiro, em que essa compra- banda de rock Legião Urbana, faleceu de compli-
dora pergunta se a escritora Clarice Lispector, cações decorrentes da Aids.
morta em dezembro de 1977, estará presente no
• Ídolo da juventude brasileira, que cativou com
lançamento de sua biografia escrita pelo norte-
suas letras líricas, melancólicas e de protesto,
-americano Benjamin Moser. Dado o absurdo da
Renato Russo definiu-se como intérprete da sua
pergunta, o leitor pode reconhecer a intenção de
geração. A banda de rock de que fazia parte era a
humor associada ao título (por onde anda clarice? tá
mais popular do país. Sua morte, portanto, teve
tão sumida essa menina). A legenda da foto oferece
grande impacto no cenário cultural, porque foi
uma resposta irônica para a pergunta que dá títu-
vista como uma perda muito grande por todos
lo ao texto: “tô em casa, bolando frases pro facebook
os fãs do cantor e da banda.
de vocês” e faz uma referência bem-humorada
às muitas frases falsamente atribuídas a Clarice 2. Os curiosos “amadores” são os leitores de jor-
Lispector que circulam por essa rede social. nal. Os curiosos “profissionais”, os jornalistas.
A diferença entre eles está somente no fato de
10. Os parênteses são usados, pela autora, para
os jornalistas serem profissionais pagos para
introduzir uma série de comentários irônicos
investigar a vida alheia, enquanto os leitores
a respeito do diálogo absurdo travado entre a
pagam (compram o jornal) para satisfazer sua
freguesa e o livreiro.
curiosidade.
11. O primeiro trecho entre parênteses apresen- A afirmação do autor significa que tanto leitores
ta para o leitor o contexto em que se dá a quanto jornalistas são movidos pela curiosidade
Respostas e comentários 13
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PARTE I
de texto
Interlocução e gêneros
e que a curiosidade dos jornalistas está a serviço d) Com essa expressão, o autor do texto deixa
da curiosidade dos leitores. claro que, após a morte, a importância de Re-
nato Russo seria ainda maior, porque sua obra
3. O roteiro apresentado pelo autor do texto resu-
se imortalizaria. É esse o sentido de afirmar
me os procedimentos necessários para apurar
que a “respiração” (a vida) “cederia espaço ao
as informações que deveriam constar das repor-
mito”, ou seja, à fama, aos elogios, ao cultivo
tagens a serem escritas sobre a vida e a morte
da memória do grande artista e de sua obra.
de Renato Russo.
Morto, Renato Russo deixaria a dimensão de
a) Resumidamente, os jornalistas responsáveis ser humano igual aos outros para se elevar à
por escrever sobre o compositor morto de- categoria de mito, artista idealizado e louva-
veriam: descobrir em que circunstâncias ele do por suas criações. O impacto criado pela
morreu e como foram seus últimos dias de indicação de que o trabalho de Renato Russo
vida; obter informações com a família e os sobreviveu a várias décadas é, portanto, in-
amigos do morto; reconstituir a história da tensificado pela notícia de que sobreviveria
sua vida; narrar sua carreira e obter as infor- também à morte do compositor.
mações sobre sua produção artística; conse-
6. O texto 2 reconstitui um momento do passado
guir textos (letras de música, testemunhos de
de Renato, quando, mesmo que os envolvidos
amigos e parentes) e imagens que pudessem
não tenham se dado conta, ocorreu o primeiro
ilustrar o texto da reportagem.
encontro entre os futuros parceiros da Legião
b) Não. Na verdade, o roteiro sugerido permite Urbana: Renato Russo e Dado Villa-Lobos.
que se reconstituam os aspectos mais impor-
7. Porque, além de registrar o primeiro “encontro”
tantes da vida de uma pessoa célebre, desde o
entre os futuros parceiros, o episódio relatado
seu nascimento até a sua morte, destacando
permitiu falar da primeira banda da qual parti-
suas realizações pessoais e profissionais.
cipou Renato Russo: o Aborto Elétrico.
Nesse sentido, pode servir como orientação
para uma investigação sobre a trajetória de • O que se infere, pela comparação feita com
alguém, quando se precisa conhecer melhor as bandas grunge de Seattle, é que o Aborto
em que circunstâncias viveu e morreu. Elétrico teve uma grande influência no cenário
musical de Brasília, sinalizando para tendências
4. O Jornal Nacional é o telejornal de maior audiência
futuras que iriam se concretizar com a forma-
da televisão brasileira, sendo transmitido em
ção de outras bandas de rock (Legião Urbana,
horário nobre. Como telejornal, tem a finalidade
principalmente, já que Renato participou das
de informar os principais fatos e acontecimentos
duas bandas).
do país e do mundo. Todas as suas edições têm
um tempo fixo. Dedicar metade de um programa 8. O texto 3 trata da confirmação de que Renato
a um único acontecimento — a morte de Renato Russo era soropositivo, ou seja, portador do vírus
Russo — significava, necessariamente, deixar de HIV. Como, no início dos anos 1990, não havia
fora daquela edição muitas notícias e aconteci- tratamento que garantisse uma longa sobrevi-
mentos importantes do dia. A decisão de dedi- da aos pacientes infectados pelo HIV, o título
car meio programa à sua vida e obra, portanto, anuncia uma perspectiva melancólica associada
significou um reconhecimento público feito por a alguém que sabe pairar sobre sua vida uma
parte da maior rede de televisão brasileira, no seu sentença de morte. Nesse sentido, é “bom estar
programa de maior audiência, sobre a importân- vivo” enquanto se pode.
cia da obra do líder da Legião Urbana.
9. O autor comenta um episódio ocorrido em um
5. Ele informa que, 19 anos antes de sua morte, belo dia de setembro, quando a Legião Urbana
Renato Russo havia lançado a música decorada estava na cidade de Vitória (ES) para lançar o
pelo jornalista William Bonner; que 27 anos antes disco “O descobrimento do Brasil”. A narrativa
desse lançamento a música havia sido composta; leva o leitor a criar, nesse momento, uma ima-
e que 46 anos antes Renato Russo havia nascido. gem agradável de uma cena tranquila à beira da
piscina. Criado esse contexto, Arthur Dapieve
a) Esses números são escolhidos porque a soma
conta o fato central dessa passagem, o momento
deles é igual ao número de anos vividos por
em que o baixista Gian Fabra se dá conta de que
Renato Russo.
Renato Russo estava mesmo muito doente e de
b) A escolha de acontecimentos que remetem que os boatos sobre ele ser soropositivo eram
a essas décadas acaba por formar um breve verdadeiros.
painel cronológico de importantes fatos rela-
• Do modo como o texto foi escrito, o leitor não
cionados ao compositor. Essas datas formam
só recebe a informação sobre a doença de Re-
uma breve linha do tempo.
nato (o que, nessa altura do texto, não era mais
c) O recurso empregado ressalta a permanência novidade), mas pode acompanhar o impacto
do trabalho de Renato Russo através do tem- que, naquela época, uma descoberta como essa
po, o fato de ele estar presente no cenário da provocava nas pessoas que conviviam com
música popular brasileira durante as quatro alguém soropositivo. Gian Fabra comenta, sem
décadas mencionadas. qualquer malícia ou preocupação, “como é bom
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PARTE I
de texto
Interlocução e gêneros
estar vivo” e, ao perceber a tristeza no olhar de abertos, comprimindo o homem contra a janela.
Renato como resposta, toda a situação se revela A chuva torrencial faz com que o avião, ao de-
de súbito. O modo encontrado para relatar esse colar, balance bastante, o que também contribui
acontecimento torna o texto mais rico, por não para aumentar o desconforto do passageiro.
se prender somente às informações, mas por
3. Primeiro, ele tenta exercer pressão, com seu
permitir, também, que o leitor reconstitua um
cotovelo, sobre o braço da mulher para adverti-
pouco das emoções e sofrimento por que pas-
-la de que está invadindo o espaço alheio. Como
savam as pessoas no momento em que a cena
isso não surte efeito, tenta empurrar, com o
narrada aconteceu.
seu braço, o braço dela. A terceira tentativa
10. O texto 4 traz informações sobre os dias que consiste em introduzir o seu cotovelo, que fun-
antecederam a morte de Renato Russo que não cionará como uma alavanca, entre o braço dela
haviam sido apresentadas no texto 1: fala sobre e a poltrona para recuperar o espaço invadido.
o clima de apreensão, nas redações de jornal, Mais uma vez ele não atinge o seu objetivo e
com muitos boatos dando conta de que o artista resolve, então, encostar o seu braço ao dela para
havia morrido e eram, depois, desmentidos. estabelecer um “elo psíquico” que lhe permitirá
Por isso, o editor do Segundo Caderno, ao dar ordenar mentalmente que ela retire o braço.
a notícia para Arthur Dapieve, preocupa-se em Quando esta última medida não funciona, ele
dizer que “agora é sério”. volta a investir com o cotovelo.
a) Ele parte de uma música da Legião Urbana • Não; apenas no final do voo, quando ele volta
que tocava no rádio do carro (“Quando o sol a investir com o cotovelo, a mulher retrai o seu
bater na janela do seu quarto”) para desta- braço sem oferecer qualquer resistência. Apesar
car o momento em que se deu conta de que de todos os esforços do passageiro para eviden-
a morte de Renato Russo era um fato real e ciar seu desconforto e o desejo desesperado de
para constatar que, daquele momento em recuperar o espaço que lhe cabe, a passageira
diante, o país não contaria mais com um continua absorta na leitura do jornal, parecendo
artista tão genial (“nunca mais escutaría- ignorar completamente o homem ao seu lado
mos nada parecido”). e demonstrando não perceber que ele se inco-
moda com a invasão dela.
b) Ao recorrer aos versos do próprio cantor para
“traduzir” a imensa tristeza do momento 4. A intenção do autor é levar o leitor a “reler” o conto
(“Tudo é dor / E toda dor / Vem do desejo / De e procurar uma interpretação para os fatos capaz
não sentirmos dor”), Arthur Dapieve acaba de explicar o comportamento do homem à luz da
por tornar evidente a importância de Renato revelação final. Seria de se esperar que, como são
Russo comentada no texto, pois afirma que casados, tivessem intimidade suficiente para que o
é uma obra do próprio Renato que encontra marido simplesmente pedisse à esposa que tirasse
as palavras para interpretar os sentimentos o braço da poltrona. Como isso não ocorre, o leitor
de tristeza e dor provocados pela morte do deve, diante do final surpreendente, perguntar-se
compositor. qual é a razão para o passageiro se comportar
como um estranho ao lado da própria esposa.
capítulo 9 a) A caracterização da mulher como “muito gorda”
Conto faz com que o leitor “sinta”, de modo mais in-
tenso, o drama vivido pelo passageiro que tenta,
a todo custo, conquistar seu lugar no avião. É
Análise – p. 129 como se o tamanho físico da personagem femi-
1. O conflito inevitável é a disputa pelo apoio de bra- nina simbolizasse o “espaço” que ela ocupa no
ço que fica entre as poltronas da classe turística casamento. Nesse sentido, a luta desesperada
de um avião. do marido para reconquistar o braço da poltro-
na e recuperar o espaço invadido pela esposa
• O conflito seria inevitável, segundo o narrador, simboliza seu desejo de ocupar o espaço que
porque, além de o espaço entre as poltronas ser lhe pertence no casamento que o oprime. Isso
mínimo, o passageiro que deseja usar o apoio fica evidente no trecho em que há a referência
de braço tem, sentada a seu lado, uma senhora ao fato de que sua família não é de longevos e
obesa, que lê um jornal. Isso faz com que ele fi- de que ele, portanto, precisa ocupar logo o seu
que espremido contra a janela, sem espaço para espaço, que evidentemente sente como vital,
se acomodar direito. Por esse motivo, precisaria pois pode não viver mais muito tempo.
resistir à invasão do braço da poltrona.
b) No início da leitura, pode-se imaginar que o
2. O passageiro sente-se oprimido, porque está em “espaço vital” referido pelo título é mesmo o
um avião, sentado em uma poltrona cujos braços do braço da poltrona. Quando se descobre que
são “necessariamente estreitos”. as personagens são casadas, fica evidente que
• A sensação de opressão é intensificada pelo fato o título faz uma alusão metafórica ao espaço
de a passageira, que está sentada ao seu lado, que o passageiro precisa conquistar no seu
começar a ler um jornal matutino, com os braços casamento. Esse é, de fato, seu espaço vital.
Respostas e comentários 15
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PARTE I
de texto
Interlocução e gêneros
5. No caso desse conto, a construção do cenário segundos (hora de Brasília) do dia 20 de julho
tem por objetivo evidenciar como o passageiro de 1969”. Os alunos devem identificar a data
se sente oprimido pelo fato de estar casado com na fonte, ao fim do texto transcrito. Como se
a mulher que está sentada ao seu lado. Por isso, trata de uma notícia publicada no dia seguinte
torna-se um elemento muito importante na ao acontecimento, não havia necessidade de o
construção do sentido do conto. jornalista incluí-la no corpo do texto. Como?
“Descendo a escadinha do módulo lunar, depois
6. O primeiro tempo referido pelo narrador é a de ter pousado na superfície do satélite natural
“fração de segundo” em que o passageiro perde da Terra”. Por quê? “Para tornar realidade um
o espaço conquistado a duras penas: bastou a sonho milenar do homem: a conquista da Lua”.
chegada da aeromoça com os lanches para ele ter
4. As informações oferecidas no primeiro pará-
seu cotovelo deslocado pela passageira. O segun-
grafo ajudam o leitor a se situar diante do fato
do tempo referido é o da vida do passageiro. Ele
relatado. Nesse sentido, trazem dados precisos
não diz respeito ao desenvolvimento da ação que
está sendo narrada, mas faz parte das reflexões a para responder às perguntas: “o quê?, quem?,
que se lança a personagem, depois de constatar quando?, como?, por quê?”. Nos parágrafos se-
que “perdeu” o braço da poltrona. guintes, o texto traz informações mais ampliadas
e detalhadas sobre o acontecimento relatado
7. Porque a reflexão do passageiro sobre a proba- no parágrafo inicial. O parágrafo inicial tem a
bilidade de ter uma vida curta parece exagerada função de localizar no espaço e no tempo o fato
no contexto da disputa por um braço de poltrona apresentado, atribuindo sua “autoria” a alguém
durante um voo. e, se possível, explicando como e por que motivo
• Quando descobrimos a natureza da relação ocorreu. Os demais parágrafos do texto trazem
entre as personagens e nos damos conta de que novas informações que ajudam o leitor a com-
a opressão que sente o passageiro se refere a preender melhor as circunstâncias em que o fato
essa relação, entendemos por que ele questiona noticiado ocorreu, mas não modificam o foco do
se terá tempo, em uma vida que pode ser cur- texto, estabelecido no primeiro parágrafo.
ta, para “recomeçar”, ou seja, se terá tempo (e
forças) para conquistar seu espaço vital dentro 5. Não. Na primeira e na última passagens, as
do casamento. aspas foram utilizadas somente para indicar
que foi Armstrong quem disse algo (informa
que a porta se abria, informa sobre o que vê ao
capítulo 10
olhar para cima, na direção do módulo), mas
Notícia não há, nessas falas, qualquer opinião, pois o
astronauta americano apenas relata fatos. A
segunda e a terceira falas, porém, refletem opi-
Análise – p. 147
niões particulares sobre a sensação provocada
1. Informar como se deu a chegada do primeiro pelos primeiros passos no solo lunar (“a super-
homem à Lua. fície da Lua é fina e poeirenta, como carvão em
• O texto informa, de modo detalhado, como o as- pó sob meus pés”), algo que somente quem pisou
tronauta americano Neil Armstrong, primeiro, naquela superfície poderia descrever; e sobre a
e depois seu companheiro Edwin “Buzz” Aldrin impressão provocada pela paisagem lunar: “É
saem do módulo lunar e tocam a superfície da algo parecido com o deserto no Oeste dos Estados
Lua. Traz também uma série de impressões Unidos. Mas é muito bonito aqui fora”. Armstrong
de Neil Armstrong sobre a cobertura do solo lu- usa o recurso da comparação com algo terrestre
nar e o grau de dificuldade para se movimentar,
conhecido para descrever o que vê a seus inter-
colher amostras, etc.
locutores. É interessante observar, na segunda
2. Não, porque não é possível colocar um satélite fala de Armstrong, a preocupação do astronauta
do tamanho da Lua no bolso, como também é em afirmar a beleza do que via, como se temesse
absurda a ideia de que ela poderia ser “retirada” ser mal interpretado pela comparação feita (as
do espaço. O título precisa, portanto, ser interpre- pessoas poderiam pensar que, por se tratar de
tado de modo figurado. No contexto, a expressão uma paisagem semelhante à do deserto do Oeste
pôr “a Lua no bolso” ganha uma conotação me- americano, não fosse algo bonito).
tafórica e significa conquistar a Lua.
6. A descrição é essencial em uma notícia como
• Como o texto informa detalhadamente a “con-
essa, porque o fato relatado é algo inimaginável
quista” da Lua pelo homem, descrevendo o
sucesso da primeira missão tripulada a aterris- para os leitores. Trata-se da primeira vez que um
sar no satélite da Terra, o título antecipa, com homem pisa na Lua. Tudo o que acontece, por-
uma metáfora, o resultado da missão. Como tanto, é novo. Ao recorrer à descrição, o autor do
os homens conquistaram a Lua, estavam com texto oferece imagens que auxiliam os leitores
ela “no bolso”. a reconstruírem, mentalmente, os movimentos
3. O quê? “A chegada do homem à Lua”. Quem? “O dos astronautas e, assim, a criarem represen-
astronauta americano Neil Armstrong”. Quan- tações visuais para o que aconteceu naquele
do? “Exatamente às 23 horas, 56 minutos e 31 histórico momento.
Respostas e comentários 16
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PARTE I
de texto
Interlocução e gêneros
capítulo 11 capítulo 12
Crônica Tira cômica
diferentes respostas para uma mesma pergunta diferentes dadas a “Fala com seu pai”: a pri-
e isso desencadeia o efeito de humor. meira interpretação, pretendida pela mãe e
vinculada ao contexto específico do pedido
a) A resposta à pergunta “Qual é a palavrinha
feito por Armandinho, é a de que o filho
mágica?” deveria ter sido “Por favor”.
deve pedir autorização ao pai para comer
b) O contexto inicial é fundamental para de- chocolate; a segunda interpretação, atribuí-
terminar a resposta adequada porque, no da por Armandinho, desvincula o sentido
primeiro quadrinho, o menino pede à mãe do verbo falar daquele que ele assume no
que lhe prepare um sanduíche. Faz sentido, contexto em que foi usado pela mãe, ou
portanto, que a mãe procure fazer com que ele seja, o menino interpreta a ordem da mãe
se lembre sempre de pedir “por favor” quando como significando falar qualquer coisa com o
solicita algo. pai e é isso que ele faz (pergunta como foi
o dia de trabalho).
c) No terceiro quadrinho, vemos Armandinho
pensativo. Parece que ele não entende o sen- c) Porque nele o leitor vê a mãe de Armadinho
tido dado pela mãe à expressão “palavrinha conferir com o filho se ele fez o que ela man-
mágica” no contexto em que ela a utilizou. dou, ou seja, se perguntou ao pai se podia
Passa, então, a procurar no seu repertório comer chocolate (“Falou com seu pai?”). O que
pessoal algo que possa corresponder a uma fica evidente para o leitor, ao ver o menino
“palavra mágica”. Por isso, responde “Abraca- comendo chocolate, é que o que ele falou com
dabra!” no último quadrinho. o pai não tem qualquer relação com o con-
texto criado no primeiro quadrinho. É nesse
6. “Fala com seu pai!”
momento que o efeito de humor se concretiza
a) Essa fala é essencial para o desenvolvimento para o leitor.
da cena, porque o verbo falar, nesse contex-
7. Por se tratar, nos três casos, da representação de
to, admite duas interpretações diferentes. O
um diálogo oral, entre mãe e filho, observa-se um
humor será construído a partir da exploração
uso coloquial da linguagem. Marcas explícitas
dessas duas interpretações.
desse uso coloquial podem ser identificadas nas
b) O autor revela para o leitor, nos dois pri- duas falas iniciais do texto 2: “Mãe, tô com fome!”
meiros quadrinhos, as duas interpretações e “Faz um sanduba?”