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CENTRO UNIVERSITÁRIO HERMÍNIO DA SILVEIRA


IBMR - LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES

CURSO DE PSICOLOGIA

ÂNGELA MARIA DA CONCEIÇÃO AGUIAR

PSICOPATIA: MITOS E VERDADES

Rio de Janeiro
2016
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ÂNGELA MARIA DA CONCEIÇÃO AGUIAR

PSICOPATIA: MITOS E VERDADES

Monografia apresentada ao IBMR – Laureate


International Universities como requisito parcial
para a obtenção de grau de Bacharel em Psicologia.

Orientador: Profª Lúcia Maria Monteiro Dias Nogueira

Rio de Janeiro
2016
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ÂNGELA MARIA DA CONCEIÇÃO AGUIAR

PSICOPATIA: MITOS E VERDADES

Monografia apresentada ao IBMR – Laureate


International Universities como requisito parcial
para a obtenção de grau de Bacharel em Psicologia.

Prof. (a) orientador (a): Lúcia Maria Monteiro Dias


Nogueira

ORIENTADORA: Professora Lúcia Maria Monteiro Dias Nogueira

Aprovada em local e data: ...................................................................


Nota obtida: .........................................................................................

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. ..........................................................


IBMR – Laureate International Universities

Prof. Dr. ..........................................................


IBMR – Laureate International Universities
4

Dedico este trabalho a todas as pessoas que eu


amo e que me ajudaram durante o período de
formação no curso e elaboração deste trabalho,
especialmente ao Leonardo Baddini, meu
companheiro que caminhou comigo em cada
passo desta jornada, à minha querida família
(Pai, Mãe e irmãos) e à minha zelosa
orientadora Professora Lúcia Maria Monteiro
Dias Nogueira.
5

Agradeço à Professora Lúcia Maria Monteiro


Dias Nogueira, à banca examinadora e à minha
família, amigos e meu companheiro de todas
as horas, Leonardo Baddini, que durante estes
cinco anos, me apoiaram, ajudaram e
incentivaram a seguir em frente.
6

“A menos que modifiquemos a nossa maneira


de pensar, não seremos capazes de resolver os
problemas causados pela forma como nos
acostumamos a ver o mundo.” (Albert
Einstein)
7

RESUMO

Este estudo tem por objetivo desmistificar a ideia de que todo psicopata é um serial killer na
eminência de cometer um crime cruel. Psicopatia é assunto pouco debatido e frequentemente
associado à violência. O que nem todos sabem é que psicopatia se apresenta em graus, sendo
pequeno o grupo enquadrado naqueles que são assassinos. A maior parte é conhecida como
“psicopata do colarinho branco”, que são aqueles que vivem em sociedade sem serem
“notados”. Psicopatas são mais comuns no dia-a-dia do que se pode imaginar, no entanto, não
se consegue perceber o quão frequente esta patologia está inserida em nosso cotidiano. O
estudo tem por autor-chave o psicólogo Hare (2013), que escreveu o livro Sem Consciência e
também é o responsável pela a escala PCL-R, principal instrumento de avaliação do
transtorno. Esta revisão integrativa da literatura teve como fonte de pesquisa o Google
Acadêmico, por autores, nas seguintes revistas científicas: Brain - A Journal of neurology
(Cérebro, um jornal de neurologia); RUEP - Revista UNILUS ensino e pesquisa; JAMA
Psychiatry, usando as palavras-chave: “transtorno de personalidade antissocial”, “psicopatia”,
“sociopatia” e “serial killer”, em inglês e português, no período de 2011 a 2016. Considera-se,
ao fim, que não se nasce psicopata. Afinal, o transtorno é influenciado por múltiplos fatores
tais como social, hereditário e biológico, que podem desencadear a doença, não sendo apenas
um fator o responsável pela psicopatia e, mesmo que naturalmente estes indivíduos não
apresentem empatia pelo próximo, sabem como manipular as emoções alheias, em prol de
vantagens próprias.

Palavras-Chave: Psicopatia, transtorno de personalidade antissocial, sociopatia, mitos, serial


killer, psicose, causas da psicopatia, terapia cognitiva comportamental.
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ABSTRACT

This study aims to demystify the idea that every psychopath is a serial killer on the verge of
committing a ruthless crime. Psychopathy is a little debated subject and often associated with
violence. What not everyone knows is that psychopathy is presented in degrees, being a small
group classified as killers. Most psychopaths are known as "white collar psychopaths" who
are those who live in society without being noticed. Psychopaths are more common in day-to-
day we can imagine, however, it is not easy to realize how common this condition is
embedded in our daily lives. The study key’s author is the psychologist Hare (2013) who
wrote the book "Without Conscience" and is also responsible for the PCL-R scale, main
assessment tool disorder. This literature’s integrative review had, as main research
mechanism, Google Academic (by authors) in the following scientific journals: Brain - A
Journal of neurology; RUEP – Revista UNILUS Ensino e Pesquisa and JAMA Psychiatry,
using the key words: “antisocial personality disorder”, “psychopathy”, “sociopathy” and
“serial killer”, in English and Portuguese, in the period of 2011 to 2016. In the end, it is
considered that psychopathy isn’t a disorder to be born with. After all, this disorder is
influenced by multiple factors, such as social, hereditary and biological, which can initiate
this disorder in an individual, not being only one of these factors the responsible for
psychopathy, and even though those individuals doesn’t show any natural empathy with the
others, they know how to manipulate other people’s emotions in order to get self advantage.

Key Words: psychopathy, antisocial personality disorder, sociopathy, myths, serial killer,
psychosis, causes of psychopathy, cognitive behavioral therapy.
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LISTA DE SIGLAS

- CID-10: Classificação internacional de doenças.

- DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

- N.A: Nota do autor.

- PCL-R: Psychopathy checklist-revised.

- PET-CT: Tomografia por emissão de pósitrons - tomografia computadorizada.

- PUC-RS: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

- RNMf: Ressonância nuclear magnética funcional.

- TCC: Terapia Cognitiva Comportamental.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11

2 OBJETIVOS................................................................................................................ 11

2.1 Geral.............................................................................................................................. 12

2.2 Específicos.................................................................................................................... 12

3 DESENVOLVIMENTO............................................................................................ 13

3.1 Psicopatia...................................................................................................................... 13

3.1.1 Breve história da psicopatia....................................................................................... 15

3.1.2 Principais causas........................................................................................................ 16

3.1.3 Associação à violência............................................................................................... 18

3.1.4 Psicopatia vs. Psicose................................................................................................. 19

3.1.5 Profissões de sucesso................................................................................................. 20

3.2 Terapia Cognitiva Comportamental (TCC).................................................................. 21

3.2.1 Princípios da TCC...................................................................................................... 22

3.2.2 Técnicas cognitivas.................................................................................................... 23

4 METODOLOGIA........................................................................................................ 25

4.1 Base de dados............................................................................................................... 25

4.2 Critérios de inclusão...................................................................................................... 25

4.3 Critérios de exclusão..................................................................................................... 25

4.4 Estratégia de busca....................................................................................................... 25

5 RESULTADOS........................................................................................................... 26

6 DISCUSSÃO............................................................................................................... 26

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 29

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 30
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1. INTRODUÇÃO

Cercado de muitos mitos e verdades, a psicopatia foi descrita pela primeira vez no
ano de 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley e posteriormente definida por
Robert Hare como “um transtorno de personalidade definido por um conjunto específico de
comportamentos e de traços de personalidade inferidos, a maioria deles vista pela sociedade
como pejorativa” (HARE, 2013, [N.A]). Associada à serial killers e assassinatos brutais,
como mostram os filmes hollywoodianos, os psicopatas podem ter muitas facetas, por vezes
são encantadores e amáveis para alguns, para outros, porém, são pessoas sem coração mas
será que todo psicopata é um serial killer?

Psicopatas são dissimulados, inteligentes, não sentem remorso, podem assumir


qualquer papel para conseguirem o que desejam, possuem temperamento forte, são
impulsivos, gostam de adrenalina, manipulam com facilidade e podem se tornar o seu melhor
amigo, se for conveniente. De acordo com Silva “os psicopatas não apenas transgridem as
normas sociais como também as ignoram e as consideram meros obstáculos, que devem ser
superados na conquista de suas ambições e seus prazeres” (SILVA, 2010, p. 137). Vivem em
prol da sua satisfação pessoal.

Psicopatas gostam do poder e de ser o centro das atenções. Quais seriam as


profissões em que melhor se adaptariam? Há certa dúvida quando se fala em psicopatia e
psicose. Neste estudo será explicado sobre cada doença e suas principais diferenças. E quanto
às causas da doença? Será que se nasce psicopata ou há outras causas que influenciam neste
transtorno?

Esta revisão bibliográfica desenvolve-se com o intuito de responder as questões e


mitos mencionados acima, como causas, diferenças entre psicopatia e psicose, serial killer e
psicopata e se é possível um psicopata ter uma profissão.
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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Ampliar o olhar sobre a psicopatia, para além da violência associada.

2.2 Objetivos específicos

- Desmistificar a ideia de que todo psicopata é violento.


- Desassociar psicose de psicopatia.
- Identificar as causas.
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3. DESENVOLVIMENTO

3.1 Psicopatia

A psicopatia é uma palavra de origem grega, que tem como significado Alma e Doença
(Psykh e Pathós, respectivamente). Enquadrada como transtorno de personalidade antissocial, de
acordo com o CID 10 (F60.2) e o DSM-5 (301.7), também é conhecida como sociopatia ou
transtorno de personalidade antissocial. É caracterizada pelo fato do indivíduo não conseguir se
colocar no lugar do outro, possuir facilidade de manipular, ser impulsivo, tirar proveito de todas
as situações a seu favor, não respeitar regra e enxergar o próximo como objeto para atender suas
necessidades. Os primeiros indícios podem aparecer na infância ou começo da adolescência e
persistir durante toda a vida adulta. Hare (2013), psicólogo Canadense, referência no estudo de
psicopatia, define esta patologia da seguinte maneira:

Para esses indivíduos, com frequência encantadores, mas sempre de maneira fatal, há
um nome clínico: psicopatas. Sua marca registrada é uma assombrosa falta de
consciência; seu jogo é a autossatisfação à custa dos outros. Muitos passam algum
tempo na prisão, outros não. Todos tomam mais do que dão. (HARE, 2013, p. 1).

Alguns autores usam o termo sociopatia e outros preferem o termo psicopatia, isso
pode ocorrer para fazer distinção entre a psicopatia e psicose ou por terem visões diferentes
sobre as bases de origem da doença, como explica Hare (2013):

Alguns médicos e pesquisadores, assim como a maioria dos sociólogos e


criminologistas que acredita que a síndrome é forjada inteiramente por forças sociais e
experiências do início da vida, preferem o termo sociopatia, enquanto aqueles,
incluindo este autor, que consideram fatores psicológicos, biológico e genéticos
também contribuem para o desenvolvimento da síndrome geralmente usam o termo
psicopatia (HARE, 2013, p.39).

De acordo com Stout, “transtorno de personalidade antissocial, uma incorrigível


deformação de caráter que hoje se acredita estar presente em 4% da população – ou seja – uma
em cada 25 pessoas” (STOUT, 2010, p. 18). Este é um transtorno de difícil diagnóstico, uma
vez que a maioria das pessoas que possuem algum traço da patologia não se sentem
incomodadas e dificilmente buscam ajuda.

O Psicopata é guiado pela razão, mas isso não significa que não possua emoção,
apenas faz uso de forma diferente daqueles que não apresentam sinais da patologia. Pessoas
sem traços de psicopatia são levadas a maior parte do tempo por suas emoções, criam
vínculos com o seu semelhante e outros seres vivos devido à capacidade de empatia. Goleman
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define empatia da seguinte forma: “a compreensão dos sentimentos dos outros e a adoção da
perspectiva deles, e o respeito às diferenças no modo como as pessoas encaram as
coisas” (GOLEMAN, 2001, p. 282). O psicopata não sabe se colocar no lugar do outro de
forma espontânea, ele aprende a trabalhar com as emoções de acordo com a finalidade
necessária. Um exemplo disto é a importância dada aos bens em comparação aos entes: para
um psicopata, um carro e um filho podem ter o mesmo peso, entretanto, isso não quer dizer
que não tenham apreço por algo ou alguém.

O profissional da saúde deve ter em mente que, para concluir o quadro de psicopatia,
o indivíduo em questão deva ter histórico de alguns dos sintomas antes dos 15 anos de idade,
possuir comportamento persistente de violar regras e ignorar o direito do próximo. Por
questões éticas, jovens menores de 18 anos não podem receber o diagnóstico de psicopatia,
dado que o cérebro ainda está em formação e um precipitado parecer médico pode “rotular” o
jovem, influenciando os próximos anos de sua vida. Antes dos 18 anos, a nomenclatura
utilizada, portanto, deve ser Transtorno de Conduta.

Para ser diagnosticado como um psicopata, o indivíduo deve apresentar os seguintes


sintomas, de acordo com o DSM-5 (2014):

a. Não se adequar às normais sociais no que diz respeito a comportamento, infringir


normas que podem resultar em detenção.
b. Tendência à falsidade, uso de mentiras e trapaça para obter vantagem em algo.
c. Impulsividade ou insucesso em planejar o futuro.
d. Excitabilidade e hostilidade, marcado por constantes agressões físicas e lutas
corporais.
e. Indiferença pela sua segurança e a dos outros.
f. Irresponsabilidade reiterada, não consegue manter uma conduta consistente no
trabalho ou cumprir com deveres financeiros.
g. Falta de remorso, age de forma indiferente ou racionalizada em relação a ter
ferido, maltratado ou roubado.

Especialistas utilizam a escala Hare PCL-R (Psychopathy checklist-revised),


desenvolvida pelo psicólogo Robert D. Hare para diagnosticar a psicopatia e o nível em cada
indivíduo. A escala é aplicada da seguinte forma: Entrevista semiestruturada para investigar
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histórico familiar, pessoal, social e antecedentes criminais. Além disto, possui mais 20 itens
que englobam questões comportamentais, aspectos positivos e pessoais, que serão pontuados
de 0 (zero) a 2 (dois), levando em conta os seguintes fatores: o primeiro diz respeito aos
aspectos positivos e extroversão. O segundo leva em conta agressividade, violência, raiva,
impulsividade, criminalidade, ansiedade e tendência ao suicídio.

A avaliação deste quadro é delicada e requer cautela, sendo realizada por um


profissional qualificado que use recursos como entrevista estruturada e semiestrurada, além da
escala Hare PCL-R (psichopaty checklist revised). Pode se fazer uso também de algum exame
de imagem de correlato neural, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada.

3.1.1 Breve história da psicopatia

Pinel (1801, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008) é considerado um dos
primeiros médicos a relatar padrões de comportamentos e descrições científicas da psicopatia
ao publicar o livro Tratado Médico-Filosófico - Sobre a Alienação Mental ou a Mania. Pinel
usou o termo “mania sem delírio” para indivíduos que eram dados como loucos devido às
suas ações e comportamentos mas que tinham ciência de seus atos e consequências.

Kraepelin (1904, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008) em sua classificação de
doenças mentais, usa o termo “personalidade psicopática” para classificar pessoas que não se
enquadram no perfil de psicóticos, neuróticos ou no esquema de mania-depressão, e também
não se adequam as normas e padrões sociais vigentes.

Na visão do psiquiatra Schneider (1923, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008),
define-se o psicopata como aquele que não engloba desvio de normalidade suficiente para ser
classificado como doente mental mas que possui personalidade anormal que sofre com sua
condição e/ou faz a sociedade sofrer. Schneider distinguia os seguintes tipos de
personalidades psicóticas: Hipertímicos, depressivos, inseguros, fanáticos, carentes de
atenção, emocionalmente lábeis, explosivos, desalmados, abúlicos e astênicos.

O conceito de psicopatia se consolidou a partir dos estudos de Cleckley (1941) que


publicou o livro The Mask of Sanity (A máscara da sanidade), livro este considerado um
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marco no estudo da psicopatia, no qual Cleckley considera traços de personalidade, dando


ênfase aos aspectos afetivos e interpessoais. Apesar de seus estudos terem sido realizados
principalmente com criminosos, Cleckley visou separar o conceito de psicopatia ao crime em
si, focando nas características de personalidade e comportamentos atípicos de psicopatas
(WILKOWSKI e ROBINSON, 2008 apud FILHO; TEIXEIRA; DIAS, 2009).

Com base em seus trabalhos, Cleckley (1988) listou as seguintes características


comuns em psicopatas: Charme superficial e boa inteligência, ausência de delírios e outros
sinais de pensamento irracional, ausência de nervosismo e manifestações psiconeuróticas, não
confiabilidade, tendência à mentira e insinceridade, falta de remorso ou vergonha,
comportamento antissocial inadequadamente motivado, juízo empobrecido e falha em
aprender com a experiência, egocentrismo patológico e incapacidade para amar, pobreza
generalizada em termos de reações afetivas, perda específica de insight, falta de reciprocidade
nas relações interpessoais, comportamento fantasioso e não convidativo sob influência de
álcool e às vezes sem tal influência, ameaças de suicídio raramente levadas a cabo, vida
sexual impessoal, trivial e pobremente integrada e falha em seguir um plano de vida.

3.1.2 Principais causas

Especialistas apontam 3 possíveis causas que contribuem para o desenvolvimento da


psicopatia: fatores genéticos - não sendo raro que membros da família apresentem alguma
disfunção - fatores ambientais, tendo o meio onde o indivíduo transita grande influência em
suas ações ao longo da vida e fatores sociais. Adicionalmente, o espaço onde a violência é
semeada, sem regras ou carinho, instiga os instintos do psicopata. Alguns estudiosos
defendem que o indivíduo nasce psicopata e se desenvolve ao longo da vida. Vasconcellos
cita em seu livro, “Não são apenas as circunstâncias externas que moldam a mente de um
psicopata. Se algo no cérebro desses indivíduos se tornou verdadeiramente disfuncional, é,
em parte, pelo fato de que algo já estava lá antes” (VASCONCELLOS, 2014, p. 62).

A neurociência cognitiva é uma área que tem feito muitas contribuições nos estudos
sobre as bases biológicas que afetam o sujeito com tendências psicopatas. O cérebro humano
se desenvolveu visando adaptação e continuidade da espécie, o que possibilitou o crescimento
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de áreas e circuitos cerebrais, como cortex, sistema límbico, amígdala, etc..., para aprimorar
importantes habilidades, das quais menciono primariamente empatia, tomada de decisão,
inteligência emocional e capacidade de viver em grupo. O indivíduo foi programado para
facilitar a convivência em grupo, já que era mais fácil preservar a vida e gerar descendentes
inserido em uma sociedade do que se defender individualmente dos perigos incertos.

O psicopata apresenta problemas em algumas destas áreas fundamentais para


convivência humana, como cortex pré-frontal, cortex ventromedial, amígdala e sistema
límbico. O Cortex pré-frontal, conhecido como sistema executivo, é responsável por tomada
de decisão, comportamentos sociais, atenção, expressão de emoção, afetividade, inibição de
impulsos, etc..., possuindo conexão com o sistema límbico, que é o responsável por processar
e modular as emoções vividas. A amígdala interage com várias áreas do cérebro para executar
suas funções de mediar as atividades emocionais nas externações e preservar a espécie,
gerando em situações de aparente perigo, medo e ansiedade que servem para alertar e
priorizar a sobrevivência. Nas palavras do cientista Ramachandran e Blakeslee (2004), a
amígdala é considerada a “entrada” para o sistema límbico, sendo esta uma estrutura
fundamental para o desenvolvimento de comportamentos e manifestações sociais. O Cortex
ventromedial é uma área envolvida no processamento de medo e risco, bem como inibição de
respostas emocionais e tomada de decisão, sendo uma área importante para mediar a
convivência social. O cérebro trabalha de maneira complexa, com várias divisões funcionando
em um grande circuito, conforme cita Vasconcellos “Para entendermos, portanto, o que há
de errado com o cérebro do psicopata, precisamos pensar não em estruturas isoladas, mas
sim em circuitos dinâmicos” (VASCONCELLOS, 2014, p. 71).
.
Evidências atuais apontam para uma hiperresponsividade límbica por parte do
psicopata, ou seja, incapacidade do sistema límbico de reagir com as emoções. No entanto,
isso não significa que os psicopatas não compreendem ou reagem as emoções dos outros,
Vasconcellos questiona, “Se eles não conseguem fazer nada disso, então como conseguem
manipular e, em muitos casos, manipular tão bem outras mentes” (VASCONCELLOS, 2014,
p. 68).

Não se sabe ao certo qual é o peso da carga genética, mas acredita-se que este não é o
único fator determinante para o desenvolvimento da psicopatia. Fatores como ambiente e
sociedade também podem contribuir para o desenvolvimento da patologia. Ambientes hostis,
18

onde a violência psicológica e física é rotina, reforçam a agressividade e a falta de cuidado


com o outro, corroborando que estas são formas corretas de agir. Esta não é uma regra, pois
há casos em que um ambiente feliz e considerado normal (dentro dos padrões da sociedade),
pode dar origem a um indivíduo psicopata.

Portanto, pode-se considerar como mito a afirmação que se nasce psicopata. Todos
esses fatores citados acima colaboram para o desenvolvimento da psicopatia, mas o fato de
existir apenas um destes fatores não significa que o indivíduo se tornará uma psicopata.
Como cita Vascocellos, “Estamos apenas começando a compreender que por trás da
psicopatia existe uma disfuncionalidade cerebral que só pode ser entendida a partir de seus
componentes biológicos, psicológicos e sociais” (VASCONCELLOS, 2014, p. 81), assim
corrobora a autora Stout, “Uma predisposição para determinado traço já se encontra
presente no momento da concepção, mas o ambiente irá regular a forma de expressá-lo”
(STOUT, 2010, p.137).

3.1.3 Associação à violência

A mídia associa assassinatos em série ou crimes chocantes aos psicopatas, quando na


verdade nem todos os psicopatas chegam a matar. Qualquer indivíduo considerado dentro dos
padrões sociais pode cometer um crime brutal. O que também ocorre é que portadores de
outros transtornos mentais cometem crimes e, ainda assim, por desinformação, o feito é
creditado a um psicopata. O serial killer Ed Gein, que inspirou os filmes Psicose, O Massacre
da Serra Elétrica e deu origem ao personagem Búffalo Bill, do filme O Silêncio dos Inocentes,
invadia cemitérios para roubar cadáveres e fazer souvenirs, matou 2 mulheres de forma
monstruosa e não era um psicopata como os filmes “pintam”, mas sim incapaz mentalmente,
terminando os seus dias num hospital psiquiátrico. (CASOY, 2014).

Serial killer são indivíduos que cometem uma sequência de crimes, em um


determinado período de tempo. Suas vítimas são escolhidas ao acaso, tendo em comum as
mesmas características, como faixa etária e mortes sem justificativa (apenas para saciar o
desejo do carrasco em questão). Este tipo de assassino sente prazer em matar e só param
quando são mortos ou presos pela polícia. Há dois tipos de assassinos em série: 1. Os
organizados: planejam o crime, são metódicos, na sua maioria casados e bem empregados,
19

geralmente “antenados” com o trabalho da polícia e evitam deixar provas. 2. Os


desorganizados: são impulsivos, geralmente utilizam as ferramentas disponíveis no local do
crime, não se preocupam em apagar seus rastros, tentam carreira militar ou profissão similar
sem muito sucesso e estão enquadrados em tipos como canibais ou necrófilos. Os crimes
cometidos possuem 3 elementos que ajudam a polícia a identificá-los: modus operandi, ritual
e assinatura. (CASOY, 2014).

Esses assassinos começam a agir entre 20 e 30 anos de idade, escolhendo


individualmente os mais fracos que se encaixam em algum estereótipo e levam uma
lembrança ou um troféu de cada assassinato cometido. Por se sentirem acima do
bem e do mal , acreditam ser muito espertos, têm autoconfiança e muitas vezes
“jogam” com a polícia. (CASOY, 2014, p.23).

É um mito afirmar que todo psicopata é um serial killer. Um psicopata pode ser um
serial killer sim, mas nem todo serial killer é obrigatoriamente psicopata. Poucos psicopatas
chegam ao extremo de matar. Para eles, manipular pessoas é mais atraente do que matar. De
acordo com Hare “a maioria dos criminosos não é psicopata, e muito dos indivíduos que
consegue agir no lado obscuro da lei e permanecem fora da prisão são psicopatas” (HARE,
2013, p. 22).

3.1.4 Psicopatia vs. Psicose

Devido à semelhante nomenclatura, é comum confundir psicopatia com psicose,


apesar de serem transtornos de origens e classificações diferentes. A psicose é uma doença
mental, na qual o sujeito perde o contato com a realidade, criando seu próprio mundo. As
principais funções afetadas na psicose são o pensamento e a afetividade. O psicótico perde a
racionalidade, muitas vezes se torna incapaz de exercer suas atividades em virtude da doença,
diferente do psicopata que é movido pela razão de forma desproporcional, como já explicitado
nos tópicos acima. (DALGALARRONDO, 2008).

A psicopatia é classificada como transtorno de personalidade do grupo B no DSM-5


(F60.2): “a característica essencial do transtorno da personalidade antissocial é um padrão
difuso de indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou no início
da adolescência e continua na vida adulta.” (DSM-5, 2014, p. 659), enquanto transtornos
psicóticos “são definidos por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a seguir:
delírios, alucinações, pensamento, (discurso) desorganizado, comportamento motor
20

grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos.


(DSM-5, 2014, p.87).

Segundo Dalgalarrondo “As síndromes psicóticas caracterizam-se por sintomas


típicos como alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamento claramente
bizarro, como fala e risos imotivados” (DALGALARRONDO, 2008, p. 327). A psicose mais
comum é a esquizofrenia.

Nas palavras de Cleckley, que bem define e compara Psicose vs. Psicopatia em seu
livro, diferencia o psicopata da seguinte forma:

Ele conduz suas atividades no que é considerado consciência normal sobre as


consequências e sem influências distorcidas de qualquer demonstração de um
sistema delirante. Sua personalidade externa é aparentemente ou superficialmente
intacta e sem sinais de distorção (Cleckley, 1988, p. 247).

Diante dos argumentos expostos acima, pode-se concluir que Psicose e Psicopatia
são patologias diferentes, derrubando o mito de doenças iguais, visto que a psicose é um
transtorno mental e a psicopatia um transtorno de personalidade. Na psicose, o indivíduo
comete atos sem ter o discernimento real das consequências, pois tal discernimento é afetado
pelo transtorno, enquanto que o psicopata tem total consciência de seus atos e punições,
decorrentes de infrações e delitos.

3.1.5 Profissões de sucesso

Atraídos por profissões que proporcionam poder e facilidade, os psicopatas tendem a


escolher carreiras corporativas, nas quais escalam degraus para chegar ao topo e manipulam
quem estiver no caminho. Em alguns casos, aquele “chefe carrasco”, que suga do funcionário
a sua última gota de suor, toma decisões frias e focadas no crescimento econômico,
desprioriza o bem estar de seu empregado, escolhendo com que tipo de profissional dentro da
hierarquia se relacionará (distrata seus liderados e enaltece seus líderes), apresenta um perfil
com indício típico de psicopata.

Outra área muito “fértil” para o sucesso desejado por psicopatas é a política, cenário
ideal para alcançar projeção, ocupar cargos com privilégios e regalias e ter possibilidades de
21

tomar grandes decisões que envolvam a vida de um número significativo de pessoas. Eles se
saem muito bem como políticos, pois conseguem encantar o público com sua retórica
rebuscada em brilhantes discursos, movendo multidões em palanques com sua carisma
inigualável. (STOUT, 2010).

Carreiras militares e médicas também chamam atenção, uma vez que há a


possibilidade real de manipular vidas, uma boa maneira de extravasar todo seu desejo de
agressividade e domínio. O psicopata busca na sua carreira uma profissão que traga sucesso,
dinheiro e reconhecimento pelo trabalho excepcional. A sua vaidade e o ego inflado fazem
com que sinta necessidade de estar sempre nos holofotes, colhendo os louros do sucesso.
(STOUT, 2010).

3.2 Terapia cognitiva comportamental (TCC)

A TCC foi desenvolvida por Aaron Beck, caracteriza-se por ser uma psicoterapia
breve, com foco no cliente, orientada ao presente para resolver problemas atuais. Beck
acredita que os transtornos psíquicos podem ser tratados ajudando o cliente a identificar seus
pensamentos e crenças disfuncionais e corrigi-las. Crenças e pensamentos estão arraigados no
sujeito e são as lentes com os quais o indivíduo usa para interpretar os fatos e eventos de sua
vida. A abordagem desta terapia focaliza o trabalho terapêutico sobre os fatores cognitivos
que estão na etiologia e na manutenção de determinada psicopatologia. (BECK, 1997).

A TCC trabalha a mudança de comportamento através da influência cognitiva,


visando reeducar o cliente sobre como seus pensamentos e crenças tem impacto direto no seu
estado de humor e comportamento. A principal característica desta linha terapêutica é a
importância que se dá aos pensamentos, que são sustentados por um sistema de crenças
responsáveis por determinados sentimentos e comportamentos do indivíduo. A TCC trabalha
com técnicas como identificação, avaliação e modificação de pensamentos, ensaio cognitivo e
treinamento de habilidades sociais. (BECK, 1997).

Por possuir um método mais objetivo, próximo ao modelo médico, tendo como pilar
uma estrutura de trabalho bem delimitada, com cronograma estabelecido (início, meio e fim),
e por abordar questões da cognição, a TCC é um caminho utilizado para ajudar a reeducar o
22

psicopata e a lidar com seus sentimentos, abordando exercícios e ensinando técnicas de


comportamento social. Um importante argumento a se usar é que a forma natural de
manipulação de um psicopata com os seus entes pode lhes causar sofrimento, angústia e dor.

3.2.1 Princípios da TCC

A TCC segue 10 princípios que são aplicados para todos os clientes e ajustados de
acordo com as peculiaridades de cada caso (BECK, 1997):

1) A formulação do caso é dinâmica, sendo necessário trabalhar com um tripé:


a. Identificar pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais que
influenciam no problema;
b. Identificar principais fatores de manutenção do problema; e,
c. Levantar hipótese sobre os eventos, refinando-a com o passar da terapia.

2) É de suma importância formar uma aliança terapêutica com o cliente para que o
trabalho possa fluir. Empatia e respeito são palavras chaves para uma boa
aliança. Alguns casos requerem tempo para desenvolver o vínculo.

3) A TCC é participativa. O cliente tem voz e precisa ser ativo durante todo o
tratamento.

4) É preciso focar nos problemas e desenvolver metas para orientar o tratamento.

5) A terapia inicia com foco nos problemas atuais da vida do cliente. Retorna-se
para situações do passado apenas em 3 situações:

a. Caso o cliente demande;


b. Se o trabalho desenvolvido no presente atual não esteja surtindo efeitos
cognitivos; ou
c. Se o terapeuta sentir necessidade.
6) É Educativa e tem por objetivo a independência do cliente, de modo que ele
aprenda a lidar com outras situações da sua vida. É feito um trabalho de
prevenção e recaída.
23

7) Estima-se um tempo de duração de 4 a 14 sessões, em média.

8) As sessões são estruturadas, sendo desenvolvido um cronograma de atividades


com agenda, feedback, tarefas, anotações, etc;

9) Tem por objetivo ensinar o cliente a identificar pensamentos e crenças


disfuncionais, bem como lidar com eles.

10) Possui uma variedade de técnicas para trabalhar comportamento, humor e


pensamento. O terapeuta cognitivo comportamental escolhe as técnicas, sempre
em alinhamento com o cliente, de acordo com a necessidade de cada caso.

3.2.2 Técnicas cognitivas

A TCC trabalha em crenças que são formadas na infância, como, por exemplo, a
visão que o sujeito tem de si, dos outros e do mundo a sua volta. Estas crenças são tidas como
verdades absolutas e é o modo como o indivíduo interpreta a vida. Tais crenças podem ser
divididas em dois grupos: Centrais e Intermediárias.

a) Centrais: podem ser positivas (amparo, amor e valor) ou negativas (desamparo,


desamor e desvalor).

b) Intermediárias: são regras e atitudes baseadas nas crenças centrais. Por exemplo,
o sujeito se negar à candidatura de uma determinada vaga de emprego por não ser
capaz (teria, este sujeito, uma crença de desvalor), apresentando, portanto, um
pensamento automático disfuncional, já que não se acha qualificado para ocupar
o cargo.

Com base na identificação das crenças e pensamentos automáticos, são escolhidas as


melhores técnicas para cada caso (BECK, 1997). Podem ser desde técnicas de respiração (que
tem por objetivo de tranquilizar), como registro de pensamentos diários (onde registra-se o
pensamento, emoção e comportamento decorrente), treinamentos de assertividade (para lidar
melhor com determinadas situações), treinamentos de habilidades sociais (para lidar melhor
com situações cotidianas) e também cartões de enfrentamento, mensagens de apoio e suporte,
exposições e experimentos graduais à situações traumáticas, role play, etc.
24

Para o tratamento de psicopatas, Beck entende que “o modelo de TCC dá ênfase às


interações entre as crenças nucleares dos indivíduos, às estratégias interpessoais
disfuncionais e caracteristicamente superdesenvolvidas e às influências ambientais” (BECK,
2004, apud COSTA e VALERIO, 2008).

Traçar objetivos são importantes para iniciar o tratamento, entender a relação de


pensamentos e comportamentos desadaptativos, regulação de emoções, autocontrole, tolerância
a frustração, auto monitoramento, domínio interpessoal e habilidade de fazer escolhas
construtivas (BECK et al, 2005, apud COSTA e VALERIO, 2008). A grande questão é que
psicopatas não se incomodam com o seu jeito de ser, sendo raros os casos em que adultos
buscam ajuda. As pessoas que conviveram com psicopatas são as que mais procuram apoio
profissional para si, visando reduzir o impacto psicológico causado em suas vidas. No que diz
respeito à faixa etária, é predominante a frequência de pais que recorrem por auxílio aos seus
filhos quando notam comportamentos excessivos se comparado com crianças e/ ou jovens na
mesma idade.

O tratamento não significa a cura, mas ajuda os psicopatas a conviverem melhor com
as pessoas que os cercam.
25

4. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão integrativa de literatura, realizado nas bases de


dados multidisciplinares e nas bases específicas da área de saúde no período de março de
2016 a agosto de 2016.

4.1 Base de dados

Pesquisa feita no Google acadêmico por autores nas revista científicas:


- Brain - A Journal of neurology – Cerebro, um jornal de neurologia;
- RUEP - Revista UNILUS ensino e pesquisa;
- JAMA Psychiatry.

4.2 Critérios de inclusão

- Artigos científicos de revistas indexadas, em inglês e português, que abrangem o


período de 2011 a 2016;
- Artigos que descrevam ou mencionem o tema abordado.

4.3 Critérios de exclusão

- Artigos científicos em espanhol, francês e alemão;


- Artigos científicos que abordem outros temas. Ex: estudos realizados com animais;
- Artigos que não se enquadrem no período de 2011 a 2016.

4.4 Estratégia de busca

Estratégia de busca adotada no Google acadêmico foi acrescentar artigos por meio de
autores ou de referências consideradas clássicas da literatura científica (transtorno de
personalidade antissocial, antisocial personality disorder).
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5. RESULTADOS

Foram encontrados 6 artigos científicos no Google Acadêmico, sendo 1 na revista


cientifica BRAIN A Journal of Neurology, 1 na Resvista UNILUS de Ensino e Pesquisa
(RUEP), 2 na revista JAMA Psychiatry, 1 na revista Frontiers in Human Neuroscience e 1 na
PUC-RS (acervo eletrônico).

Do total encontrado, 3 artigos não foram aceitos para esta revisão, sendo os seguintes
motivos para exclusão: 1 revisão literária, 1 fora do período de data estabelecido (anterior a
2012) e 1 por abordar parcialmente o tema escolhido.

6. DISCUSSÃO

Três artigos foram utilizados como base para pautar o tópico de discussões, sendo
um estudo sobre a capacidade de criar empatia por psicopatas, e dois relatórios de imagens de
cérebros de indivíduos com psicopatias.

O artigo "Reduced spontaneous but relatively normal deliberate vicarious


representations in psychopathy” - Redução de representações espontâneas, porém,
relativamente normais em psicopatia (MEFFERT; GAZZOLA; BOER; BARTELS;
KEYSERS, 2013) é um estudo interessante que corrobora com a ideia de que o psicopata não
é desprovido de empatia, apenas a utiliza de forma racional, sempre em prol de seu benefício.
Conforme citado neste trabalho, o psicopata não tem empatia de forma natural para com o
próximo, mas sabe, como ninguém, interpretar e jogar com as emoções dos outros, conforme
entende Vasconcellos “Se eles não conseguem fazer nada disso, então como conseguem
manipular e, em muitos casos, manipular tão bem outras mentes” (VASCONCELLOS, 2014,
p. 68).

O artigo “A utilização de exames de Neuroimagem no auxílio do diagnóstico do


transtorno de personalidade antissocial” (PAZ e SANCHES, 2014) aborda o fato da
psicopatia, além de ter como um de seus fatores a biologia, enaltece outros importantes
fatores: o peso social e a hereditariedade, corroborando que há múltiplas causas e, dentre elas,
a influência comunitária e a genética, que podem trazer à tona traços de psicopatia. Autores
27

como Ramachandran (2004), Vasconcellos (2014) e Stout (2010) defendem que além do fator
biológico, fatores ambientais e sociais influenciam no transtorno, bem como a existência de
apenas um não ser predominante para o transtorno se manifestar. O uso de neuroimagem
(PET-CT e RNMf) pode ser um diferencial para o diagnóstico adequado, contudo, as autoras
deste artigo entendem que estudos mais aprofundados precisam ser conduzidos para
diagnosticar, efetivamente, a psicopatia em exames de neuroimagem.

O artigo “Brain Response to Empathy-Eliciting Scenarios Involving Pain in


Incarcerated Individuals With Psychopathy” – É uma resposta cerebral num cenário de
estimulação de empatia que envolve dor em indivíduos encarcerados com psicopatia
(DECETY; SKELLY; KIEHL, 2013). É um estudo sobre identificação de potenciais
diferenças nos padrões de atividade neural em indivíduos encarcerados, com e sem psicopatia,
num processo de percepção de estímulos e respostas, quando expostos à situações de outras
pessoas vivenciando a dor e analisando sua capacidade de criar empatia nesta situação. O
estudo mostrou, através de imagens, uma significativa falta de ativação do córtex pré-frontal
ventromedial, córtex órbito-frontal lateral e na massa cinzenta periaquedutal relativos a
controles emocionais, para os sujeitos com psicopatia quando comparados aos sujeitos sem
esta patologia.

O artigo "Reduced spontaneous but relatively normal deliberate vicarious


representations in psychopathy” (Redução de representações espontâneas, porém,
relativamente normais em psicopatia), de MEFFERT, GAZZOLA, BOER, BARTELS,
KEYSERS, 2013, versa sobre estudo realizado com criminosos psicopatas e não psicopatas,
expostos à cenas de amor, exclusão, dor e neutralidade, para se verificar a empatia sentida. O
grupo de psicopatas inicialmente não demonstra empatia, mas quando são instruídos a
demonstrar para obter pontos, assim o fazem.

Conforme aborda o artigo “A utilização de exames de Neuroimagem no auxílio do


diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial” (PAZ e SANCHES, 2014) e
corroboram os autores Vasconcellos (2014), Hare (2013) que norteia a maior parte deste
trabalho, Stout (2010) e Ramachandran & Blakeslee (2004), fatores como a biologia,
hereditariedade, influência comunitária e genética podem desencadear em traços de
psicopatia.
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No artigo “Brain Response to Empathy-Eliciting Scenarios Involving Pain in


Incarcerated Individuals With Psychopathy” DECETY; SKELLY; KIEHL, 2013) os autores
expõem alterações nos circuitos cerebrais de psicopatas em áreas relacionadas à emoções,
apresentando assim uma possível causa biológica deste transtorno, bem como o artigo “A
utilização de exames de Neuroimagem no auxílio do diagnóstico do transtorno de
personalidade antissocial” (PAZ e SANCHES, 2014) menciona as múltiplas causas deste
transtorno, dentre elas a influência biológica.

Portanto, considera-se um mito a afirmação de que se nasce psicopata, afinal o


transtorno é influenciado por vários fatores, como: social, biológico, hereditário ou ambiental.
Apenas um destes não caracteriza regra absoluta para que o transtorno de psicopatia se
manifeste. Em suma, não é uma causa específica, mas o conjunto de fatores em si que torna
um indivíduo psicopata, o qual não possui empatia de forma natural, mas sabe reconhecer e
jogar com as emoções dos outros, para obter aquilo que deseja.
29

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho pode-se concluir que o transtorno de personalidade antissocial,


também conhecido como psicopatia ou sociopatia é pouco debatido e muito “midiatizado”.
Devido à grande exposição na mídia, algumas ideias errôneas são divulgadas, e, para
desmistificá-las, devem ser aprofundados os seguintes pontos:

Psicopatia e psicose são dois transtornos diferentes. O primeiro é um transtorno de


personalidade, no qual o indivíduo não tem prejuízo cognitivo e tem total consciência de seus
atos. O segundo é classificado como um transtorno mental, em que o indivíduo perde contato
com a realidade e, consequentemente, com a consciência de si e de seus atos.

A diferença entre o psicopata e o serial killer é que este comete uma sequência de
crimes em um determinado período de tempo e o psicopata possui desvio de comportamento
que o leva a quebrar regras e a se colocar acima da lei, ou seja, um psicopata pode se
comportar como um serial killer, assim como outra pessoa, mas não é regra geral afirmar que
todo psicopata é um serial killer.

Tendo a psicopatia múltiplas causas para se desencadear, tais como, comunitárias ou


genéticas, não é possível afirmar que uma única causa é a razão para o transtorno. A soma de
estímulos negativos, oriundos de ambiente interno e externo, bem como influências humanas
e naturais é que levam um indivíduo a apresentar o quadro de psicopatia.

A psicopatia pode variar em graus de acordo com cada indivíduo, o que significa que
nem todos chegam ao extremo da violência. É preciso buscar mais estudos na área, sugerindo
métodos de tratamento, como a linha de Terapia Cognitiva Comportamental, que, por abordar
questões da cognição, ajuda a reeducar o psicopata e a como lidar com seus sentimentos,
utilizando exercícios e ensinando técnicas de comportamento social.

Promover conteúdo educativo para ajudar pessoas que estão lidando diretamente com
esse transtorno, representados por famílias, amigos e cônjuges, também será uma tarefa
necessária para os próximos anos, pois é preciso divulgar o assunto de forma objetiva, tirando
o foco apenas da violência associada, sem criar mitos, crenças ou conceitos equivocados.
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REFERÊNCIAS

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Transtornos Mentais. 5ª ed. Texto revisado (DSM-5-TR). Porto Alegre: Artmed.

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