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CURSO DE PSICOLOGIA
Rio de Janeiro
2016
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Rio de Janeiro
2016
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BANCA EXAMINADORA
RESUMO
Este estudo tem por objetivo desmistificar a ideia de que todo psicopata é um serial killer na
eminência de cometer um crime cruel. Psicopatia é assunto pouco debatido e frequentemente
associado à violência. O que nem todos sabem é que psicopatia se apresenta em graus, sendo
pequeno o grupo enquadrado naqueles que são assassinos. A maior parte é conhecida como
“psicopata do colarinho branco”, que são aqueles que vivem em sociedade sem serem
“notados”. Psicopatas são mais comuns no dia-a-dia do que se pode imaginar, no entanto, não
se consegue perceber o quão frequente esta patologia está inserida em nosso cotidiano. O
estudo tem por autor-chave o psicólogo Hare (2013), que escreveu o livro Sem Consciência e
também é o responsável pela a escala PCL-R, principal instrumento de avaliação do
transtorno. Esta revisão integrativa da literatura teve como fonte de pesquisa o Google
Acadêmico, por autores, nas seguintes revistas científicas: Brain - A Journal of neurology
(Cérebro, um jornal de neurologia); RUEP - Revista UNILUS ensino e pesquisa; JAMA
Psychiatry, usando as palavras-chave: “transtorno de personalidade antissocial”, “psicopatia”,
“sociopatia” e “serial killer”, em inglês e português, no período de 2011 a 2016. Considera-se,
ao fim, que não se nasce psicopata. Afinal, o transtorno é influenciado por múltiplos fatores
tais como social, hereditário e biológico, que podem desencadear a doença, não sendo apenas
um fator o responsável pela psicopatia e, mesmo que naturalmente estes indivíduos não
apresentem empatia pelo próximo, sabem como manipular as emoções alheias, em prol de
vantagens próprias.
ABSTRACT
This study aims to demystify the idea that every psychopath is a serial killer on the verge of
committing a ruthless crime. Psychopathy is a little debated subject and often associated with
violence. What not everyone knows is that psychopathy is presented in degrees, being a small
group classified as killers. Most psychopaths are known as "white collar psychopaths" who
are those who live in society without being noticed. Psychopaths are more common in day-to-
day we can imagine, however, it is not easy to realize how common this condition is
embedded in our daily lives. The study key’s author is the psychologist Hare (2013) who
wrote the book "Without Conscience" and is also responsible for the PCL-R scale, main
assessment tool disorder. This literature’s integrative review had, as main research
mechanism, Google Academic (by authors) in the following scientific journals: Brain - A
Journal of neurology; RUEP – Revista UNILUS Ensino e Pesquisa and JAMA Psychiatry,
using the key words: “antisocial personality disorder”, “psychopathy”, “sociopathy” and
“serial killer”, in English and Portuguese, in the period of 2011 to 2016. In the end, it is
considered that psychopathy isn’t a disorder to be born with. After all, this disorder is
influenced by multiple factors, such as social, hereditary and biological, which can initiate
this disorder in an individual, not being only one of these factors the responsible for
psychopathy, and even though those individuals doesn’t show any natural empathy with the
others, they know how to manipulate other people’s emotions in order to get self advantage.
Key Words: psychopathy, antisocial personality disorder, sociopathy, myths, serial killer,
psychosis, causes of psychopathy, cognitive behavioral therapy.
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LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11
2 OBJETIVOS................................................................................................................ 11
2.1 Geral.............................................................................................................................. 12
2.2 Específicos.................................................................................................................... 12
3 DESENVOLVIMENTO............................................................................................ 13
3.1 Psicopatia...................................................................................................................... 13
4 METODOLOGIA........................................................................................................ 25
5 RESULTADOS........................................................................................................... 26
6 DISCUSSÃO............................................................................................................... 26
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 29
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 30
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1. INTRODUÇÃO
Cercado de muitos mitos e verdades, a psicopatia foi descrita pela primeira vez no
ano de 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley e posteriormente definida por
Robert Hare como “um transtorno de personalidade definido por um conjunto específico de
comportamentos e de traços de personalidade inferidos, a maioria deles vista pela sociedade
como pejorativa” (HARE, 2013, [N.A]). Associada à serial killers e assassinatos brutais,
como mostram os filmes hollywoodianos, os psicopatas podem ter muitas facetas, por vezes
são encantadores e amáveis para alguns, para outros, porém, são pessoas sem coração mas
será que todo psicopata é um serial killer?
2. OBJETIVOS
3. DESENVOLVIMENTO
3.1 Psicopatia
A psicopatia é uma palavra de origem grega, que tem como significado Alma e Doença
(Psykh e Pathós, respectivamente). Enquadrada como transtorno de personalidade antissocial, de
acordo com o CID 10 (F60.2) e o DSM-5 (301.7), também é conhecida como sociopatia ou
transtorno de personalidade antissocial. É caracterizada pelo fato do indivíduo não conseguir se
colocar no lugar do outro, possuir facilidade de manipular, ser impulsivo, tirar proveito de todas
as situações a seu favor, não respeitar regra e enxergar o próximo como objeto para atender suas
necessidades. Os primeiros indícios podem aparecer na infância ou começo da adolescência e
persistir durante toda a vida adulta. Hare (2013), psicólogo Canadense, referência no estudo de
psicopatia, define esta patologia da seguinte maneira:
Para esses indivíduos, com frequência encantadores, mas sempre de maneira fatal, há
um nome clínico: psicopatas. Sua marca registrada é uma assombrosa falta de
consciência; seu jogo é a autossatisfação à custa dos outros. Muitos passam algum
tempo na prisão, outros não. Todos tomam mais do que dão. (HARE, 2013, p. 1).
Alguns autores usam o termo sociopatia e outros preferem o termo psicopatia, isso
pode ocorrer para fazer distinção entre a psicopatia e psicose ou por terem visões diferentes
sobre as bases de origem da doença, como explica Hare (2013):
O Psicopata é guiado pela razão, mas isso não significa que não possua emoção,
apenas faz uso de forma diferente daqueles que não apresentam sinais da patologia. Pessoas
sem traços de psicopatia são levadas a maior parte do tempo por suas emoções, criam
vínculos com o seu semelhante e outros seres vivos devido à capacidade de empatia. Goleman
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define empatia da seguinte forma: “a compreensão dos sentimentos dos outros e a adoção da
perspectiva deles, e o respeito às diferenças no modo como as pessoas encaram as
coisas” (GOLEMAN, 2001, p. 282). O psicopata não sabe se colocar no lugar do outro de
forma espontânea, ele aprende a trabalhar com as emoções de acordo com a finalidade
necessária. Um exemplo disto é a importância dada aos bens em comparação aos entes: para
um psicopata, um carro e um filho podem ter o mesmo peso, entretanto, isso não quer dizer
que não tenham apreço por algo ou alguém.
O profissional da saúde deve ter em mente que, para concluir o quadro de psicopatia,
o indivíduo em questão deva ter histórico de alguns dos sintomas antes dos 15 anos de idade,
possuir comportamento persistente de violar regras e ignorar o direito do próximo. Por
questões éticas, jovens menores de 18 anos não podem receber o diagnóstico de psicopatia,
dado que o cérebro ainda está em formação e um precipitado parecer médico pode “rotular” o
jovem, influenciando os próximos anos de sua vida. Antes dos 18 anos, a nomenclatura
utilizada, portanto, deve ser Transtorno de Conduta.
histórico familiar, pessoal, social e antecedentes criminais. Além disto, possui mais 20 itens
que englobam questões comportamentais, aspectos positivos e pessoais, que serão pontuados
de 0 (zero) a 2 (dois), levando em conta os seguintes fatores: o primeiro diz respeito aos
aspectos positivos e extroversão. O segundo leva em conta agressividade, violência, raiva,
impulsividade, criminalidade, ansiedade e tendência ao suicídio.
Pinel (1801, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008) é considerado um dos
primeiros médicos a relatar padrões de comportamentos e descrições científicas da psicopatia
ao publicar o livro Tratado Médico-Filosófico - Sobre a Alienação Mental ou a Mania. Pinel
usou o termo “mania sem delírio” para indivíduos que eram dados como loucos devido às
suas ações e comportamentos mas que tinham ciência de seus atos e consequências.
Kraepelin (1904, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008) em sua classificação de
doenças mentais, usa o termo “personalidade psicopática” para classificar pessoas que não se
enquadram no perfil de psicóticos, neuróticos ou no esquema de mania-depressão, e também
não se adequam as normas e padrões sociais vigentes.
Na visão do psiquiatra Schneider (1923, apud BALLONE GJ, MOURA EC, 2008),
define-se o psicopata como aquele que não engloba desvio de normalidade suficiente para ser
classificado como doente mental mas que possui personalidade anormal que sofre com sua
condição e/ou faz a sociedade sofrer. Schneider distinguia os seguintes tipos de
personalidades psicóticas: Hipertímicos, depressivos, inseguros, fanáticos, carentes de
atenção, emocionalmente lábeis, explosivos, desalmados, abúlicos e astênicos.
A neurociência cognitiva é uma área que tem feito muitas contribuições nos estudos
sobre as bases biológicas que afetam o sujeito com tendências psicopatas. O cérebro humano
se desenvolveu visando adaptação e continuidade da espécie, o que possibilitou o crescimento
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de áreas e circuitos cerebrais, como cortex, sistema límbico, amígdala, etc..., para aprimorar
importantes habilidades, das quais menciono primariamente empatia, tomada de decisão,
inteligência emocional e capacidade de viver em grupo. O indivíduo foi programado para
facilitar a convivência em grupo, já que era mais fácil preservar a vida e gerar descendentes
inserido em uma sociedade do que se defender individualmente dos perigos incertos.
Não se sabe ao certo qual é o peso da carga genética, mas acredita-se que este não é o
único fator determinante para o desenvolvimento da psicopatia. Fatores como ambiente e
sociedade também podem contribuir para o desenvolvimento da patologia. Ambientes hostis,
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Portanto, pode-se considerar como mito a afirmação que se nasce psicopata. Todos
esses fatores citados acima colaboram para o desenvolvimento da psicopatia, mas o fato de
existir apenas um destes fatores não significa que o indivíduo se tornará uma psicopata.
Como cita Vascocellos, “Estamos apenas começando a compreender que por trás da
psicopatia existe uma disfuncionalidade cerebral que só pode ser entendida a partir de seus
componentes biológicos, psicológicos e sociais” (VASCONCELLOS, 2014, p. 81), assim
corrobora a autora Stout, “Uma predisposição para determinado traço já se encontra
presente no momento da concepção, mas o ambiente irá regular a forma de expressá-lo”
(STOUT, 2010, p.137).
É um mito afirmar que todo psicopata é um serial killer. Um psicopata pode ser um
serial killer sim, mas nem todo serial killer é obrigatoriamente psicopata. Poucos psicopatas
chegam ao extremo de matar. Para eles, manipular pessoas é mais atraente do que matar. De
acordo com Hare “a maioria dos criminosos não é psicopata, e muito dos indivíduos que
consegue agir no lado obscuro da lei e permanecem fora da prisão são psicopatas” (HARE,
2013, p. 22).
Nas palavras de Cleckley, que bem define e compara Psicose vs. Psicopatia em seu
livro, diferencia o psicopata da seguinte forma:
Diante dos argumentos expostos acima, pode-se concluir que Psicose e Psicopatia
são patologias diferentes, derrubando o mito de doenças iguais, visto que a psicose é um
transtorno mental e a psicopatia um transtorno de personalidade. Na psicose, o indivíduo
comete atos sem ter o discernimento real das consequências, pois tal discernimento é afetado
pelo transtorno, enquanto que o psicopata tem total consciência de seus atos e punições,
decorrentes de infrações e delitos.
Outra área muito “fértil” para o sucesso desejado por psicopatas é a política, cenário
ideal para alcançar projeção, ocupar cargos com privilégios e regalias e ter possibilidades de
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tomar grandes decisões que envolvam a vida de um número significativo de pessoas. Eles se
saem muito bem como políticos, pois conseguem encantar o público com sua retórica
rebuscada em brilhantes discursos, movendo multidões em palanques com sua carisma
inigualável. (STOUT, 2010).
A TCC foi desenvolvida por Aaron Beck, caracteriza-se por ser uma psicoterapia
breve, com foco no cliente, orientada ao presente para resolver problemas atuais. Beck
acredita que os transtornos psíquicos podem ser tratados ajudando o cliente a identificar seus
pensamentos e crenças disfuncionais e corrigi-las. Crenças e pensamentos estão arraigados no
sujeito e são as lentes com os quais o indivíduo usa para interpretar os fatos e eventos de sua
vida. A abordagem desta terapia focaliza o trabalho terapêutico sobre os fatores cognitivos
que estão na etiologia e na manutenção de determinada psicopatologia. (BECK, 1997).
Por possuir um método mais objetivo, próximo ao modelo médico, tendo como pilar
uma estrutura de trabalho bem delimitada, com cronograma estabelecido (início, meio e fim),
e por abordar questões da cognição, a TCC é um caminho utilizado para ajudar a reeducar o
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A TCC segue 10 princípios que são aplicados para todos os clientes e ajustados de
acordo com as peculiaridades de cada caso (BECK, 1997):
2) É de suma importância formar uma aliança terapêutica com o cliente para que o
trabalho possa fluir. Empatia e respeito são palavras chaves para uma boa
aliança. Alguns casos requerem tempo para desenvolver o vínculo.
3) A TCC é participativa. O cliente tem voz e precisa ser ativo durante todo o
tratamento.
5) A terapia inicia com foco nos problemas atuais da vida do cliente. Retorna-se
para situações do passado apenas em 3 situações:
A TCC trabalha em crenças que são formadas na infância, como, por exemplo, a
visão que o sujeito tem de si, dos outros e do mundo a sua volta. Estas crenças são tidas como
verdades absolutas e é o modo como o indivíduo interpreta a vida. Tais crenças podem ser
divididas em dois grupos: Centrais e Intermediárias.
b) Intermediárias: são regras e atitudes baseadas nas crenças centrais. Por exemplo,
o sujeito se negar à candidatura de uma determinada vaga de emprego por não ser
capaz (teria, este sujeito, uma crença de desvalor), apresentando, portanto, um
pensamento automático disfuncional, já que não se acha qualificado para ocupar
o cargo.
O tratamento não significa a cura, mas ajuda os psicopatas a conviverem melhor com
as pessoas que os cercam.
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4. METODOLOGIA
Estratégia de busca adotada no Google acadêmico foi acrescentar artigos por meio de
autores ou de referências consideradas clássicas da literatura científica (transtorno de
personalidade antissocial, antisocial personality disorder).
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5. RESULTADOS
Do total encontrado, 3 artigos não foram aceitos para esta revisão, sendo os seguintes
motivos para exclusão: 1 revisão literária, 1 fora do período de data estabelecido (anterior a
2012) e 1 por abordar parcialmente o tema escolhido.
6. DISCUSSÃO
Três artigos foram utilizados como base para pautar o tópico de discussões, sendo
um estudo sobre a capacidade de criar empatia por psicopatas, e dois relatórios de imagens de
cérebros de indivíduos com psicopatias.
como Ramachandran (2004), Vasconcellos (2014) e Stout (2010) defendem que além do fator
biológico, fatores ambientais e sociais influenciam no transtorno, bem como a existência de
apenas um não ser predominante para o transtorno se manifestar. O uso de neuroimagem
(PET-CT e RNMf) pode ser um diferencial para o diagnóstico adequado, contudo, as autoras
deste artigo entendem que estudos mais aprofundados precisam ser conduzidos para
diagnosticar, efetivamente, a psicopatia em exames de neuroimagem.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A diferença entre o psicopata e o serial killer é que este comete uma sequência de
crimes em um determinado período de tempo e o psicopata possui desvio de comportamento
que o leva a quebrar regras e a se colocar acima da lei, ou seja, um psicopata pode se
comportar como um serial killer, assim como outra pessoa, mas não é regra geral afirmar que
todo psicopata é um serial killer.
A psicopatia pode variar em graus de acordo com cada indivíduo, o que significa que
nem todos chegam ao extremo da violência. É preciso buscar mais estudos na área, sugerindo
métodos de tratamento, como a linha de Terapia Cognitiva Comportamental, que, por abordar
questões da cognição, ajuda a reeducar o psicopata e a como lidar com seus sentimentos,
utilizando exercícios e ensinando técnicas de comportamento social.
Promover conteúdo educativo para ajudar pessoas que estão lidando diretamente com
esse transtorno, representados por famílias, amigos e cônjuges, também será uma tarefa
necessária para os próximos anos, pois é preciso divulgar o assunto de forma objetiva, tirando
o foco apenas da violência associada, sem criar mitos, crenças ou conceitos equivocados.
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REFERÊNCIAS
BECK, JUDITH S. (1997). Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas.
CLECKLEY, H.M (1988). The mask of sanity. 5ª ed. Augusta: Emily S. Cleckley.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Trad. Marcos Santarrita. 84. ed. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.
HARE, R.D. (2013). Sem consciência: o mundo pertubador dos psicopatas que vivem entre
nós. Porto Alegre: Artmed.