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DESAFIOS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA PORTE DE ARMA DE FOGO.

Marcelo Augusto Resende

RESUMO

No contexto atual em que impera a violência e a insegurança, muitas pessoas buscam se


prevenir comprando uma arma de fogo para proteger a si mesmo, sua família, seus amigos e
seu patrimônio. Percebe-se que o posicionamento das pessoas pode se tornar favorável se elas
são colocadas frente a determinadas situações de violência. As legislações que regulam sobre
o uso de armamento foram sendo modificadas com o passar dos anos. Atualmente exige-se do
candidato, civil ou militar, que deseja usar uma arma de fogo, que ele seja submetido a uma
avaliação psicológica. Esta avaliação tem por finalidade verificar se a pessoa possui
características compatíveis para o trabalho armado ou posse e manuseio pelos civis. Cabe ao
psicólogo prestar esta função avaliativa levando em consideração à própria capacitação
profissional e os preceitos da ética. Muitos são os desafios vivenciados pelos psicólogos nesta
atividade como: credenciamento junto à Polícia Federal; escolha de instrumentos psicológicos
pertinentes à Instrução Normativa n° 78/2014; capacitação para aplicação, correção e
interpretação dos resultados, com elaboração de síntese e laudo conclusivo; remuneração
adequada ao serviço prestado; e devolutiva aos candidatos. O psicólogo devidamente
capacitado, atualizado, ético e atento aos fatores que podem estar envolvidos na vida do
candidato ao porte de arma, tem condições de dar o seu parecer com segurança e embasamento
científico. A prática revela desafios a serem enfrentados e esforços devem ser empregados para
minimizar os problemas nesta área de atuação.

ABSTRACT

In the current context of violence and insecurity, many people seek prevention by buying a
firearm to protect themselves, their family, their friends and their assets. It is noticed that the
positioning of the people may be come favorable if they face certain situations of violence.
Legislation that regulate the use of weapons has been modified over the years. Nowadays it is
mandatory a candidate, civilian or military, who wishes to use a firearm undergoes a
psychological evaluation. The purpose of this assessment is to verify the person has compatible
characteristics for armed work or possession and handling by civilians. It is up to the
psychologist to provide this evaluative function taking into account the professional
qualification itself and the precepts of ethics. There are many challenges faced by psychologists
in this activity, such as: accreditation with the Federal Police; choice of psychological
instruments relevant to Normative Instruction n° 78/2014; qualification for application,
correction and interpretation of the results, with elaboration of synthesis and conclusive report;
adequate remuneration for the service provided; and return to the candidates. The psychologist
properly trained, up-to-date, ethical and attentive to the factors that may be involved in the life
of the candidate carrying the weapon, is able to give his opinion with security and scientific
basis. The practice reveals challenges to be faced and efforts must be employed to minimize
problems in this area.
INTRODUÇÃO

No contexto atual em que impera a violência e a insegurança, muitas pessoas buscam


se prevenir comprando uma arma de fogo para proteger a si mesmo, sua família e seu
patrimônio. Em pesquisa realizada por um jornal de grande circulação na cidade de Belo
Horizonte/MG (MIRANDA, 2018), buscou-se verificar o que a população pensava sobre o
assunto. Dos 648 entrevistados, foram a favor do porte de arma 51,4% dos homens e 33,3%
das mulheres. Em relação à situação sócio-econômica, 55% de pessoas de classes sociais A e
B são favoráveis ao direito da população se armar, enquanto que nas classes C, D e E o
percentual é de 38,7%. Em relação à idade: de 16 a 34 anos, 40,2%; de 35 a 44 anos, 42,1%; e
de 45 ou mais, 43,3%. Pode-se observar que a opinião dos pesquisados quanto a portar uma
arma de fogo tende a ter mais aceitação pelas pessoas do sexo masculino, de classe econômica
mais elevada e de idade mais avançada.
Os entrevistados que foram contra a liberação das armas justificaram suas respostas
dizendo que: “isso não reduziria a violência”, “o brasileiro tem a mania de fazer justiça com as
próprias mãos, já que a justiça é lenta, e a liberação seria caótica”, “ficaria preocupado se
soubesse que os meus vizinhos estão armados” e que “qualquer briga boba poderia terminar
em morte”. Por outro lado, os participantes que responderam a favor do porte de arma disseram
que: “se eu visse minha família em risco, eu não pensaria duas vezes antes de atirar”, “eu
apertaria o gatilho se minha filha estivesse sendo violentada por um bandido”, “os criminosos
se sentiriam menos confortáveis para realizar crimes se presumissem que seus potenciais alvos
estão armados”, e que “se eu pudesse andar armado me sentiria mais seguro para trabalhar
como taxista”, entre outras justificativas.
Ao ser questionado em que situação de violência você teria coragem de atirar em um
bandido, os entrevistados responderam em mais de uma situação, como pode ser constatado a
seguir: assalto a residência (56,3%), estupro de alguém próximo (50,4%), sequestro de familiar
(43,3%), assalto na rua (36,6%), agressão física a alguém próximo (27,2%), ameaça em briga
de trânsito (7,2%) e ameaça em briga de bar (6,2%). Percebe-se que o posicionamento das
pessoas pode mudar se elas são colocadas frente a determinadas situações de violência, fazendo
com que o porte de arma seja uma saída para se defender ou proteger familiares e amigos.
O conceito de portar arma de fogo, segundo Jesus (2002), está relacionado com a ação
de transportar pessoalmente a arma nas mãos, roupas, bolsa, maleta, sacolas, meios de
transporte como automóveis, barcos e até no arreio do cavalo, entre outros, de maneira a
permitir seu pronto uso, demonstrando o requisito da ofensividade. Não se exige o contato
físico com a arma, basta que esteja junto da pessoa, possibilitando a utilização imediata. O
porte de arma só se concretiza se a pessoa o faz fora de casa, não sendo considerado “porte” o
transporte da arma no interior da residência.
Para portar arma de fogo, afirma Sznick (1997), é preciso ter licença de autoridade
policial. As legislações que regulam sobre o uso de armamento foram sendo modificadas com
o passar dos anos. O artigo 14 da Lei nº 10826 (BRASIL, [2003]/2018) afirma que portar, deter,
adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, terá como pena a reclusão de 02 (dois) a 04 (quatro) anos, e multa. O parágrafo
único esclarece que o crime previsto neste artigo é inafiançável. Exemplo recente foi a prisão
do médium “João de Deus” em Abadiânia/GO, que além das acusações de estupro de
vulneráveis, mantinha em seu poder várias armas de fogo sem a devida autorização.

A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CONCESSÃO DE PORTE DE ARMA DE


FOGO

O Sistema Nacional de Armas (SINARM), do Ministério da Justiça (BRASIL,


[1997]/2018), através da lei 9437 de 20/02/97, tornou obrigatória a avaliação psicológica para
o candidato que desejar obter porte de arma de fogo, objetivando diminuir o número de
ocorrências de má utilização desta arma por pessoas despreparadas ou inabilitadas. A lei federal
10.826, conhecida como Estatuto do Desarmamento (BRASIL, [2003]/2018), foi criada com o
objetivo de manter um maior controle sobre as armas de fogo no Brasil. Tornou proibido o seu
uso pela população, exceto por agentes de segurança e casos funcionais, como agentes de
inteligência, auditores fiscais e cidadãos maiores de 25 anos, que comprovem idoneidade e
motivação justificável para ter uma arma, conforme legislação da Polícia Federal (2014).
A avaliação psicológica para concessão do porte de arma de fogo, segundo o Conselho
Federal de Psicologia (CFP, [2008]/2018), tem por finalidade verificar se a pessoa possui
características compatíveis para o trabalho armado ou posse e manuseio pelos civis. Cabe ao
psicólogo prestar esta função avaliativa levando em consideração a própria capacitação
profissional e os preceitos da ética.
Esse processo avaliativo pretende, mais do que predizer o risco de sofrer ou produzir
conflitos ou acidentes, identificar as dimensões psicológicas relevantes para um manejo
adequado do porte e manuseio do armamento. Toledo, Montoro e Civera (2005) enfatizam que
a cultura da segurança se efetiva por meio de ações preventivas, não bastando ações
interventivas posteriores a um inadequado desempenho do uso da arma de fogo. Uma vez
disparada, a arma já causou danos a terceiros ou contra si mesmo. Deve-se tomar os devidos
cuidados para quem será concedido o direito de portar uma arma de fogo.
No Brasil, todas as pessoas que buscam se armar, seja no meio civil ou militar, tem que
se submeter a uma avaliação psicológica para verificação de sua aptidão para porte e manuseio
de uma arma de fogo, segundo o CFP (2018). Na prestação desta avaliação, o Código de Ética
da Psicologia (CFP, 2005) estabelece princípios e normas sobre a prática do psicólogo, que
deve se pautar pelo respeito ao ser humano e a seus direitos fundamentais. Cabe ao psicólogo
atuar com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, e assumir
responsabilidade somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e
tecnicamente; podendo lançar mão de ferramentas, como testes psicológicos de uso privativo
dos profissionais da psicologia.
A Instrução Normativa nº 78 (POLÍCIA FEDERAL, 2014) descreve em seu anexo V,
a relação dos indicadores psicológicos do portador de arma de fogo. São eles: atenção
necessária (concentrada e difusa), memória (auditiva e visual) e indicadores psicológicos
necessários (adaptação, autocrítica, autoestima, autoimagem, controle, decisão, empatia,
equilíbrio, estabilidade, flexibilidade, maturidade, prudência, segurança e senso crítico. São
considerados indicadores psicológicos restritivos: conflito, depressão, dissimulação, distúrbio,
exibicionismo, explosividade, frustração, hostilidade, imaturidade, imprevisibilidade,
indecisão, influenciabilidade, insegurança, instabilidade, irritabilidade, negativismo,
obsessividade, oposição, perturbação, pessimismo, transtorno e vulnerabilidade.
A aptidão psicológica deverá ser atestada em laudo conclusivo por psicólogo da própria
Polícia Federal ou por esta credenciada. A instrução normativa 78, de 10/02/2014, estabeleceu
ainda uma bateria mínima de testes na aferição das características de personalidade e
habilidades específicas dos usuários de arma de fogo: um teste projetivo, um expressivo, um
de memória, um de atenção difusa e concentrada, além da entrevista semi-estruturada.
(POLÍCIA FEDERAL, 2014). Nota-se que a referida instrução não determina qual teste deve
ser utilizado, mas estipula algumas áreas essenciais para serem avaliadas como: personalidade,
memória, atenção e contexto sócio-histórico. Isso possibilita que o psicólogo escolha as
técnicas que tem maior capacitação e experiência, possibilitando identificar pontos fortes e
fraquezas que irão embasar o seu parecer de aptidão.

DESAFIOS DA AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DE PORTE DE ARMA DE FOGO


A avaliação psicológica para concessão de porte de arma de fogo apresenta diversos
desafios ao psicólogo que trabalha ou pretende trabalhar nesta área. Uma questão inicial dos
profissionais é saber como se faz o credenciamento para oferecer este serviço. Segundo a
Polícia Federal, o psicólogo deve apresentar alguns requisitos quando abrir o edital, divulgado
por esta instituição, a partir do preenchimento de um formulário próprio. Além deste, é preciso
apresentar: I. Foto 3x4 recente; II. Original e cópia, ou cópia autenticada de documento de
identidade e do CPF (poderá ser apresentada a carteira do Conselho de Psicologia); III.
Comprovante de inscrição ativa e regular no Conselho Regional de Psicologia e certidão
negativa de infrações éticas do respectivo Conselho; IV. Documentos que comprovem que
dispõe de ambiente e mobiliário adequado para a aplicação dos testes (planta baixa/croquis e
fotografias); V. Original e cópia, ou cópia autenticada dos documentos que autorizam o
funcionamento do local onde serão aplicados os testes (Alvará de Localização e
Funcionamento e Alvará da Vigilância Sanitária); VI. Comprovante de que possui pelo menos
dois anos de efetivo exercício na profissão de psicólogo; VII. Certificado que ateste sua aptidão
para aplicação dos instrumentos psicológicos previstos nos incisos I e II do art. 5º da IN
78/2014 – DG/PF; e VIII. Comprovação de idoneidade, com a apresentação das certidões
negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e
Eleitoral e de declaração de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal,
que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos. O local de trabalho será vistoriado pela
Polícia Federal, devendo contar com ambiente e equipamentos adequados para aplicação dos
testes, composto de banheiro, sala de espera e sala de aplicação individual de testes, com o
mínimo de quatro metros quadrados, ou sala para aplicação coletiva de testes, onde sua
capacidade de uso permita o espaço mínimo de dois metros quadrados por candidato, equipada
com os materiais necessários à execução das atividades e isolada acusticamente. (POLÍCIA
FEDERAL, 2018). Constata-se que é exigida uma série de requisitos, não sendo viabilizado o
credenciamento a qualquer psicólogo.
Uma vez credenciado, o psicólogo passará por uma fiscalização pelas psicólogas da
Polícia Federal no período de validade do credenciamento, que é de quatro anos, para verificar
sua capacitação na realização deste trabalho e se o profissional está atuando conforme as
instruções e orientações da PF e CFP. Será verificado se: realiza a completa avaliação do teste;
mantêm atualizados os conhecimentos relativos ao teste; utiliza material original na testagem;
utiliza manuais atualizados e referendados pelo CFP; mantêm os protocolos (testes) dos
candidatos arquivados na clínica ou consultório; observa o nível de escolaridade do candidato
para aplicação dos testes; anota a parte, os dados qualitativos e quantitativos de cada
instrumento com a respectiva síntese; não anota nada nos testes dos candidatos, somente
medidas indicadas nos manuais dos mesmos; o candidato assinou e datou todas as folhas
utilizadas dos instrumentos; e inseriu junto com o material do candidato um laudo de toda a
avaliação psicológica realizada. Esta fiscalização torna-se imprescindível para manter uma boa
qualidade técnica dos psicólogos credenciados, sendo oportunidade para orientações e troca de
informações entre os profissionais. O problema é que apenas uma pequena quantidade de casos
é fiscalizada, permitindo que vários outros passem despercebidos.
Na prática, muitos psicólogos credenciados não estão devidamente capacitados para
aplicação, correção, interpretação e integração dos dados obtidos em diversas técnicas
utilizadas neste tipo de avaliação. Isso decorre, muitas vezes, da própria deficiência dos cursos
de graduação e de curta duração de capacitação em avaliação psicológica. Alguns profissionais
não fazem as correções conforme o previsto no manual técnico, realizando correções
superficiais. Algumas clínicas com demandas muito grandes, realizam aplicações coletivas,
tornando o tempo de correção dos testes bem limitado e favorecendo as popularmente
conhecidas “correções no olho”. Um dos testes em que é muito frequente tal procedimento é o
teste Palográfico.
A escolha dos testes a serem utilizados na bateria também é fonte de preocupação.
Soube de uma credenciada, que ela utilizava apenas o teste de Rorschach em suas avaliações.
Disse que o teste era muito completo e por meio dele era capaz de verificar se a pessoa era ou
não apta a portar arma de fogo. De fato, o citado teste demonstra muitas qualidades
quantitativas e qualitativas, mas não se pode basear um parecer de aptidão apenas em um
instrumento, além disso, contraria o prescrito na Instrução Normativa nº 48 (POLÍCIA
FEDERAL, 2014), que estipula uma bateria contendo, no mínimo, seis técnicas psicológicas
(entrevista, expressivo, projetivo, memória, atenção difusa e concentrada). Outra psicóloga, em
um congresso científico nacional, relatou usar o teste do desenho da casa, árvore e pessoa
(HTP) em aplicações coletivas para concessão de porte de arma de fogo. Esta escolha é
equivocada, uma vez que o HTP é uma técnica individual. Tais fatos demonstram que não se
pode aplicar qualquer técnica ou de qualquer maneira, devendo o profissional estar
devidamente capacitado e atualizado em relação à prática que pretende trabalhar. Além disso,
os testes devem estar considerados favoráveis pelo Sistema de Avaliação dos Testes
Psicológicos (SATEPSI) e devem ser usados para o contexto e propósito que foram criados,
segundo o CFP (2013, 2018). Aqui cabe uma ressalva quanto a IN 78, pois ela descreve a
utilização de seis técnicas, mas não limita o psicólogo a usar outras, se necessário for. Caso o
candidato ao armamento apresente indícios de déficit intelectual, deve ser aplicado um teste de
inteligência para eliminar as possíveis suspeitas.
Outra dificuldade detectada entre os profissionais é a elaboração de documentos.
Alguns não sabem diferenciar o que é uma síntese e um laudo. Isso demonstra uma deficiência
na formação e na atualização das resoluções do CFP (2008), que orienta como fazer os
documentos advindos da prática psicológica. Síntese é o resultado alcançado em uma técnica
específica, enquanto o laudo é o resultado de diversas técnicas utilizadas numa avaliação
psicológica, compilando as principais características de personalidade e demais fatores
avaliados, como inteligência, memória e atenção, entre outros. No caso específico da avaliação
no âmbito do porte de arma, a PF criou um modelo específico de laudo para que o credenciado
enviasse o resultado de forma objetiva e conclusiva, sem descrição de detalhes. Isso, no
entanto, não isenta o psicólogo de elaborar um laudo completo do caso avaliado, que deverá
ser anexado e guardado em local sigiloso, juntamente com todo o material do candidato ao
porte.
A remuneração tem sido outro desafio encontrado pelos psicólogos em sua prática. A
instrução normativa nº 48 estipula que o preço a ser cobrado por este tipo de avaliação não
pode exceder o valor médio dos honorários profissionais cobrados para realização de avaliação
psicológica para o manuseio de arma de fogo constante da tabela do Conselho Federal de
Psicologia. Segundo a referida tabela (CFP, 2018), o preço médio para este tipo de avaliação é
de R$468,12 (quatrocentos e sessenta e oito reais e doze centavos). Infelizmente, este preço
está muito além da realidade praticada pelos psicólogos. Uma média de preço usada pelos
credenciados está em torno de R$200 a R$250,00 (duzentos a duzentos e cinquenta reais). Não
é incomum o interessado na avaliação dizer que já encontrou por preço mais barato, como
R$80,00 (oitenta reais). Tal valor é cobrado em clínicas que utilizam a aplicação coletiva e
podem, desta forma, oferecer preços mais competitivos. Além disso, oferecem disponibilidades
de tempo maiores, oferecendo quase que uma avaliação instantânea à demanda feita, tipo um
“self-service psicológico”: você quer, você tem. Isso acaba inviabilizando quem trabalha em
consultório, com aplicação individual, que precisa agendar a avaliação com antecedência e
cobrar um preço que seja compatível com os gastos e serviço realizado. A perversão do
mercado abre espaço para que psicólogos menos criteriosos realizem avaliações menos
consistentes e em desacordo com o prescrito pela PF, CFP e o código de ética da Psicologia.
A devolutiva tem sido outro ponto que levanta muito questionamento por parte dos
psicólogos. Toda pessoa que passa por um processo de avaliação psicológica tem o direito a
uma entrevista de devolução de seus resultados, segundo o CFP (2005). O problema está
justamente nos casos que não foram aptos ao porte de arma. Muitos candidatos não aceitam o
resultado e tem condutas inadequadas com o psicólogo, chegando, em algumas situações, a
ameaçá-lo ou suborná-lo. Existe uma falsa ideia de que se pagou pelo serviço, deve ser
aprovado. O credenciado não pode ficar intimidado ou seduzido a dar um parecer favorável.
Ao mesmo tempo, tem que buscar uma postura ética e profissional para revelar ao sujeito as
razões que o impede de neste momento ter ou manusear um armamento. É preciso que a pessoa
tome consciência dos fatores de contra indicação para que possa tratá-los adequadamente e
quem sabe no futuro poder se armar. Caso contrário, irá peregrinar de consultório em
consultório, de clínica em clínica, até conseguir alguém que lhe dê o parecer de aptidão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tantos desafios que atravessam a prática do psicólogo que trabalha com
avaliação psicológica para concessão do porte de arma de fogo, é fundamental uma reflexão
sobre o papel e a função deste profissional. Armar ou desarmar alguém é de extrema
responsabilidade. Imagine que essa pessoa possa ser um psicótico, um bandido, um
sequestrador, um irresponsável, um desleixado, um inseguro, um homicida ou um suicida. Que
uso fará da arma? Deixará em qualquer lugar, podendo ficar acessível ao uso pelos filhos ou
amigos? Eliminará o demônio que acredita estar encarnado? Ficará na dúvida se deve ou não
atirar ao ser ameaçado de morte? Usará para benefícios escusos ou ter poder sobre os outros?
Será vítima da própria arma?
Existe um ditado que diz: “quem vê cara, não vê coração”. Não se pode basear uma
avaliação apenas na imagem que vemos de alguém. Pode até ser que a imagem reflita aquilo
que a pessoa é de fato. Mas os psicólogos têm um saber para além das aparências, afinal elas
podem enganar. E é aí que se pode fazer a diferença. Ao realizar uma avaliação psicológica
consistente, bem embasada, é possível distinguir os que podem e os que não podem estar
armados. É de extrema relevância social armar apenas os que apresentarem requisitos para tal.
O psicólogo devidamente capacitado, atualizado, ético e atento aos fatores que podem
estar envolvidos na vida do candidato ao porte de arma, tem o dever de dar o parecer de aptidão
se julgar que o mesmo demonstrou condições psicológicas e capacidade para portar e manusear
uma arma de fogo. Da mesma forma, negar o porte de qualquer pessoa que não apresente tais
requisitos. A prática revela vários desafios a serem enfrentados e esforços devem ser
empregados para minimizar os problemas nesta área de atuação.
Referências:

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos Jurídicos. Lei nº
9437/1997. [Revogado pela lei nº 10826, de 22.12.2003]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9437.htm. Acessado em: 22 ago. 2018.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos Jurídicos. Lei nº
10826/ 2003. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L10826.htm. Acessado em: 22 ago. 2018.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 002/2003. Define e regulamenta o


uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/legislacao/resolucoes-do-cfp/ Acessado em: 15 jul. 2018.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 007/2003. Manual de Elaboração


de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/legislacao/resolucoes-do-cfp/ Acessado em: 15 jul. 2018.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de ética profissional do psicólogo.


Brasília: CFP, 2005.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 018/2008. Avaliação psicológica


para concessão de registro e/ou porte de arma de fogo. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/legislacao/resolucoes-do-cfp/ Acessado em: 10 jun. 2018.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Cartilha Avaliação Psicológica. Brasília: CFP,


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Disponível em: https://site.cfp.org.br/servicos/tabela-de-honorarios/. Acessado em: 26 dez.
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POLÍCIA FEDERAL. Instrução normativa no. 78/2014-DG/DPF, (10 de fevereiro de 2014).


Disponível em: http://www.dpf.gov.br. Acessado em: 22 ago. 2018.

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TOLEDO, F.; MONTORO, L.; CIVERA, C. La psicología aplicada a la selección de


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http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=28439112. Acessado em: 01 out. 2018.

SZNICK, V. Crime de porte de arma. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito
Ltda., 1997.

Referências sobre o autor:

Mestre e Doutor pela UFMG, Professor Adjunto da PUC MINAS São Gabriel, Tenente
Coronel PM QOS psicólogo da reserva, Coordenador e professor da pós-graduação em
Avaliação Psicológica do IEC/MG, Membro da Comissão de Avaliação Psicológica do CRP
04 e Membro da Diretoria da Sociedade de Avaliação Psicológica de MG (SAPSI/MG).

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