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EM TRANSFORMAÇÃO DE CIDADES DA
AMÉRICA LATINA
Organização
Eduardo Alberto Cusce Nobre
Jorge Bassani
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Prof. Dr. Marco Antônio Zago – Reitor
Prof. Dr. Vahan Agopyan – Vice-Reitor
NAPPLAC
Núcleo de Apoio à Pesquisa: Produção e Linguagem do Ambiente Construído
Prof. Dr. Eduardo Alberto Cusce Nobre – Coordenador científico
Profª Drª Maria de Lourdes Zuquim – Vice-coordenadora científica
COMITÊ EDITORIAL
Prof. Dr. Eduardo Alberto Cusce Nobre (FAUUSP)
Prof. Dr. Jorge Bassani (FAUUSP)
Profª Drª Camila D’Ottaviano (FAUUSP)
Profª Drª Maria de Lourdes Zuquim (FAUUSP)
ISBN: 978-85-8089-058-7
ISBN: 978-85-8089-084-6 e-book
CDD: 711.08
Serviço de Técnico da Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP C
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SUMÁRIO
PARTE 1:
MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E INTERVENÇÕES URBANAS:
IMPACTOS DA COPA DO MUNDO FIFA 2014
PARTE III:
INTERVENÇÕES URBANAS NAS ÁREAS DE FRONTEIRA DO
CAPITAL: EXPANSÃO URBANA E REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL.
1
Trickle down foi um conceito da teoria econômica neoliberal usado pelos governos Margareth
Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos, que pregava que a diminuição dos
impostos, especialmente para as grandes empresas e investidores, poderia estimular a economia
como um todo. Para maiores informações, ver: The Guardian, 2014. Revealed: how the wealth
6 Apresentação: intervenções urbanas em áreas em transformação de cidades da América Latina:
o que aprender com elas?
local, não ocorreu (Robson, Parkinson e Bradford, 1994). Mais do que isso, no
longo prazo, a implementação desses projetos geralmente traz consigo a
“expulsão” da população mais pobre, que não consegue conviver com o
incremento nos valores do preço dos imóveis, e é gradualmente substituída por
classes sociais mais ricas, processo esse que ficou conhecido pelo termo
gentrificação2 (Bidou-Zachariasen, 2006; Glass, 1964).
No Brasil e na América Latina, o processo da reformulação das
políticas urbanas ocorreu a partir dos anos 1990, como resultado da ação
combinada das agências multilaterais (BID, Banco Mundial e FMI) e de urbanistas
consultores internacionais, principalmente catalães, baseados no sucesso das
intervenções para os Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona (Vainer, 2000).
A crise econômica da Década Perdida trouxe a justificativa
ideológica necessária aos governos de diversas esferas para a adoção do
neoliberalismo e do monetarismo. Da mesma forma que nos países de
capitalismo avançado, os ditames da cartilha urbana neoliberal aportaram nas
cidades latino-americanas, ocasionando a desregulação urbanística e o
estabelecimento de parcerias público-privadas na implementação das grandes
intervenções urbanas, estimulando o mercado imobiliário, em projetos tais
como: Puerto Madero em Buenos Aires; a recuperação urbana do Pelourinho
em Salvador; as operações urbanas Faria Lima e Água Espraiada em São Paulo;
os projetos para os Jogos Pan-Americanos de 2007 e Jogos Olímpicos de 2016
na cidade do Rio de Janeiro; e, mais recentemente, o Cais Estelita no Recife.
Contudo, no contexto do capitalismo periférico, o descompasso
entre o discurso e a prática se torna mais evidente, pois as cidades se
estruturaram historicamente de maneira fragmentada, concentrando
investimentos nas áreas mais ricas, com enormes diferenciações espaciais e
déficits sociais, os quais as políticas urbanas nunca chegaram a resolver. Dessa
forma, os impactos sociais das grandes intervenções urbanas tendem a ser mais
fortes e mais graves. Assim sendo, parece ser extremamente importante avaliar a
prática dessas intervenções urbanas tomando como balizador a contribuição para
Eduardo Nobre
Jorge Bassani
13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Bidou-Zachariasen, C. (org.), 2006. De volta à cidade: dos processos de
“gentrificação” às políticas de "revitalização" dos centros urbanos. São Paulo:
Annablume.
Fainstein, S., 2001. The city builders: property development in New York and
London 1980-2000. Oxford: Blackwell Publishers.
Glass, R., 1964. London: aspects of change. Londres: MacGibbon & Kee.
Smith, M. e Feagin, J. (orgs.), 1987. The capitalist city: global restructuring and
community politics. Oxford: Blackwell Publishers.
Robinson, F., 1989. Urban Regeneration Policies in Britain in the late 1980s:
Who Benefits? New Castle upon Tyne: Centre for Urban and Regional
Development Studies, University of New Castle upon Tyne.
The Guardian, 2014. Revealed: how the wealth gap holds back economic
growth. Disponível em:
http://www.theguardian.com/business/2014/dec/09/revealed-wealth-gap-oecd-
report?CMP=fb_gu. [Acesso em: 14 Maio 2015]
RESUMEN
Este artículo analiza los impactos urbanísticos y sociales de la
reforma del Estadio Periodista Mario Filho (Maracanã) en Río de Janeiro, en base
a la investigación realizada en el año 2014. El objetivo es traer nuevos elementos
al debate sobre los grandes proyectos urbanos y su relación con los procesos de
estructuración y apropiación del espacio urbano. Tras una breve presentación
del proyecto de renovación del estadio y del contexto sociopolítico de Río, se
presentan las principales conclusiones de la investigación, que se desarrolla en
torno a una lectura del referido proyecto en su relación con los aspectos político,
institucional, simbólico, arquitectónico, urbano, social, ambiental y económico-
financiero. En contrapunto con la noción de "legado", clave en el discurso oficial
de la legitimación de los mega-eventos, buscamos comprender el alcance de la
reforma del Maracanã en sus interfaces con diferentes aspectos de la realidad
social.
Palabras clave: Mega Eventos, Mundial de Fútbol 2014, Río de
Janeiro, Maracanã, planificación urbana.
1
A pesquisa foi desenvolvida no período entre agosto de 2013 e fevereiro de 2015 por
professores e pesquisadores do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ) e da Escola de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal Fluminense (EAU/UFF), como parte do projeto Contribuição da
Universidade Federal do Rio de Janeiro para o acompanhamento e avaliação das obras destinadas
à Copa do Mundo 2014: levantamento de oportunidades e cadeias produtivas , executado pela
UFRJ com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
2
Entre 1993 e 2014, foram prefeitos do Rio de Janeiro Cesar Maia (1993-1996 e 2001-2008),
Luiz Paulo Conde (1997-2000) e Eduardo Paes (de 2009 em diante).
Fabricio Leal et al.
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estenderá, pelo menos, até 2016. A realização de megaeventos, com suas
promessas de promoção da cidade, atração de investimentos e transformação
urbana, é uma das formas de expressão dessa forma de gestão pública,
defendida não apenas pelos prefeitos cariocas, mas, também, pelo atual governo
estadual.
A maior parte dos gastos envolvidos são públicos e compreendem
principalmente investimentos federais (investimentos diretos ou empréstimos
subsidiados), mas há importantes gastos estaduais e municipais. Os ganhos, por
sua vez, geralmente premiam estratégias de acumulação de agentes
internacionais e nacionais, além de ações oportunistas de agentes locais.
Por um lado, grandes empresas brasileiras empreiteiras de obras e
serviços públicos como Odebrecht e OAS, entre outras, ampliam ainda mais seu
poder sobre a cidade, vencem licitações e estão envolvidas na maior parte dos
projetos relacionados à Copa do Mundo ou às Olimpíadas, como a implantação
de sistemas rodoviários de Bus Rapid Transit em grandes vias, a ampliação do
metrô, a reforma do Estádio do Maracanã e a renovação da área portuária (IMD,
2014).
Por outro lado, desde que o Rio de Janeiro emergiu como cidade
olímpica, o recurso às remoções de comunidades de baixa renda parece ter se
constituído na opção preferencial da política urbana, o que tem favorecido
estratégias locais de valorização fundiária. Na imagem internacional que a
Prefeitura quer projetar do Rio Olímpico não há lugar para esta justaposição de
tecidos (formal e informal) tão comuns na cidade (Sánchez, 2014).
Para agravar a situação, os partidos políticos que controlam os
governos municipal, estadual e federal são aliados desde 2009, a partir da
primeira eleição de Eduardo Paes, o que silenciou quase toda a oposição
institucional às ações governamentais. Contudo, há resistências, como aquela
que se constitui por meio do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, uma
esfera pública de denúncia e resistência às remoções e a outras ações
relacionadas ao processo de realização desses eventos.
A reforma do Maracanã, concluída em abril de 2014, traz mais
insumos e permite atualizar o debate sobre os megaeventos, em especial no
que se refere à sua relação com a implementação de políticas públicas que
aumentam a concentração de poder e renda e a privatização de espaços e
serviços públicos. O principal agente público, nesse caso, é o Governo do
Estado do Rio de Janeiro, proprietário do Estádio do Maracanã e responsável
O Complexo do Maracanã
O chamado “Complexo do Maracanã” é formado pelo Estádio do
Maracanã e por um conjunto de equipamentos públicos situados na mesma
quadra no bairro do Maracanã, na zona norte carioca. A construção do Estádio
se inicia em 1948, e o complexo esportivo – que inclui o ginásio Maracanãzinho,
o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Júlio Delamare - é
concluído apenas em 1965. Compõem ainda o Complexo Maracanã a Escola
Municipal Friedenreich, o antigo Museu do Índio e os prédios inicialmente
ocupados por órgãos do Ministério de Agricultura.
Inaugurado em 1950, o Maracanã foi projetado inicialmente para
receber 150 mil pessoas3. Ao longo dos anos, sucessivas reformas, iniciadas
ainda no início da década de 1980, viriam a reduzir a capacidade do estádio à
metade. Em 1999, foram feitas reformas para atender a exigências da FIFA para
a realização do Mundial de Clubes de 2000. Posteriormente, para a adequação
do estádio aos Jogos Pan-Americanos de 2007, as mudanças foram maiores e
mais radicais, e incluíram a supressão da “geral”, setor com ingressos populares
onde as pessoas assistiam ao jogo em pé. Começava, assim, uma tendência
progressiva de elitização dos torcedores, que viria a se completar com a última
reforma, concluída em 2014.
O “Novo Maracanã”
Poucos meses após os jogos Pan-Americanos, a FIFA anunciou o
Brasil como a sede do Mundial de 2014, e um novo período de adaptação do
Estádio começou. O projeto de reforma então elaborado obedecia às exigências
constantes nos cadernos de encargo entregues pela FIFA às cidades-sede.
Além das modificações no estádio de futebol, o projeto previa a
demolição do estádio de atletismo Célio de Barros, do parque aquático Júlio
Delamare, além da escola municipal Friedenreich e do prédio do antigo Museu
3
Esses números seriam recorrentemente superados e, em muitas ocasiões, o estádio recebeu
mais de 190 mil torcedores.
Fabricio Leal et al.
21
do Índio, ocupado pelo movimento indígena intitulado “Aldeia Maracanã”4. Entre
as justificativas para essas demolições destacavam-se a construção de
estacionamentos e de um shopping center, que fariam com que o estádio
atendesse às exigências da FIFA por vagas para carro, além de se tornarem um
importante atrativo comercial para que a iniciativa privada finalmente se
interessasse pela concessão da administração do Estádio, elemento fundamental
da estratégia do governo do estado para a manutenção do equipamento.
O Novo Maracanã, como tem sido chamado, foi totalmente
reformulado, ficando com sua capacidade reduzida para 79 mil espectadores.
Entre as principais modificações, estão a implantação de uma cobertura de
membrana tencionada, a reconstrução total das arquibancadas, o aumento da
área de camarotes e áreas “Vips” e a separação do público em um número
maior de setores. Também foram reformulados os vestiários, salas de imprensa,
banheiros públicos, lanchonetes e demais serviços. O gramado foi rebaixado, e
um novo sistema de drenagem com muito maior capacidade foi instalado. O
resultado de todas essas modificações foi o vertiginoso aumento do preço dos
ingressos e uma mudança radical no perfil do público que passou a frequentar o
Maracanã. Os ingressos mais baratos, em meados de 2014, estavam na faixa de
R$70,00, o que tornava praticamente inviável a presença da população de baixa
renda.
O entorno do estádio
A região de implantação do Estádio do Maracanã é bem servida
por transporte público de massa, com estações de trem e metrô próximas ao
estádio, situado a menos de 15 minutos de distância do centro da cidade por
transporte coletivo. Ao longo da linha férrea, que separa os bairros de classe
média, ao sul, da favela da Mangueira, ao norte, se desenvolve um dos mais
importantes eixos rodoviários da cidade, composto por largas avenidas que
fazem a conexão entre o centro e a zona norte.
Entre os elementos que compõem o entorno imediato do estádio
podem ser destacados o campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ), a favela Metrô-Mangueira, parcialmente removida, e, do outro lado da
4
A ocupação do Museu por grupos indígenas de diversas etnias começou em 2006, com apoio de
movimentos sociais e ativistas autônomos (CPCORJ, 2014).
22 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e
urbanos.
linha férrea, a favela da Mangueira, os conjuntos habitacionais do programa
Minha Casa Minha Vida Mangueira I e Mangueira II e a Quinta da Boa Vista.
5
O Comitê é um espaço de articulação política, composto por movimentos sociais urbanos,
organizações não-governamentais, sindicatos, mandatos parlamentares, entidades de pesquisa e
organizações comunitárias, além de pessoas sem vínculo institucional (CPCORJ, 2014).
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Exceções e inovações institucionais
Enquanto o processo de decisão relacionado à elaboração e gestão
dos projetos relacionados à Copa se mostrou impermeável à interferência da
população em geral, a participação de grupos empresariais na gestão pública
permaneceu acolhida de forma privilegiada, como mostram os espaços de
interlocução criados no contexto da realização da Copa do Mundo e a
articulação, no Rio de Janeiro, da Prefeitura e do Governo do Estado com
grandes empreiteiras de obras públicas na gestão de serviços públicos e na
promoção de grandes projetos.
Desde o anúncio da conquista do direito de sediar a Copa do
Mundo 2014, o governo brasileiro tornou evidente sua decisão de criar
condições especiais para os contratos e licitações públicas vinculados aos
megaeventos (Oliveira et al., 2014: p.100), como mostram, por exemplo, as leis
voltadas para flexibilizar o limite de endividamento dos municípios, alterar
disposições tributárias ou instituir o Regime Diferenciado de Contratações
Públicas nos casos relacionados a obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas6 .
A Lei Geral da Copa, Lei federal n. 12.633/2012, estabelece um conjunto de
exceções à ordem jurídica vigente abrangendo desde a exploração de direitos
comerciais, concessão de vistos, até a venda de ingressos (idem: p. 101).
Já no nível estadual, destacam-se as medidas para concessão
administrativa de gestão, operação e manutenção do Complexo Esportivo do
Maracanã e a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora no Complexo da
Mangueira, com efeitos significativos na apropriação social dos equipamentos
esportivos e do espaço urbano, nas remoções realizadas no entorno e nos
processos de valorização fundiária e de gentrificação.
No nível municipal, as medidas relacionadas diretamente à Copa
do Mundo envolvem alterações significativas na estrutura administrativa. Foram
criadas a Secretaria Especial da Ordem Pública (SEOP), a Secretaria Especial da
Copa 2014 e Rio 2016 (SERIO), extinta em 2011, e inovações institucionais
como o Conselho do Legado da Cidade, com participação de representantes do
poder executivo municipal e estadual, empresas públicas, comitês organizadores
da Copa e das Olimpíadas, associações empresarias e organizações não-
governamentais.
6
Lei nº 12.348/2010, Lei nº 12.350/2010 e Lei nº 12.462/2011.
26 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e
urbanos.
Já o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável,
aprovado em 2011, definiu que as áreas objeto e sob influência de
equipamentos para a Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016
estão incluídas como “áreas sujeitas à intervenção”, o que as credencia como
prioritárias para planos, projetos, obras ou instalação de regimes urbanísticos
específicos – ou excepcionais -, suscetíveis de serem definidas como Áreas de
Especial Interesse Urbanístico (AEIU) ou incluídas em Operações Urbanas
Consorciadas (OUC).
7
De acordo com a Ata da 68ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (IPHAN,
2014).
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Processos de transformação e valorização fundiária
As tendências e as possibilidades de transformação fundiária na
região do Maracanã devem ser lidas no contexto geral da dinâmica imobiliária
carioca, que, vinculada a fatores mais abrangentes de caráter global e nacional
(crise imobiliária de 2008, ampliação do crédito habitacional, etc.), é também
impulsionada pelos investimentos realizados para a adequação da cidade às
Olimpíadas e à Copa do Mundo. Certamente, as obras do Complexo do
Maracanã e as ações complementares empreendidas no entorno influenciam em
alguma medida a distribuição de investimentos privados, potencializam
transformações e modificam expectativas e demandas dos moradores locais,
assim como possivelmente afetam, de diferentes maneiras, as representações
sociais atribuídas ao Maracanã e a áreas e bairros do seu entorno. Com exceção
das ações de despejo, remoção e reassentamento realizadas, contudo, não é
possível atribuir à reforma do Complexo a responsabilidade maior pelas
transformações em curso, especialmente no que diz respeito à dinâmica
imobiliária formal ao sul da via férrea.
Ao norte da via férrea, entretanto, a reforma do Maracanã pode
ter sido bem mais decisiva na transformação do uso do espaço, especialmente se
consideramos a influência da Copa nas medidas complementares implementadas
ou previstas na região. A instalação de uma Unidade de Política Pacificadora -
UPP no Complexo da Mangueira, as expectativas de melhorias de saneamento
na favela, a melhoria da acessibilidade para a região, advinda da construção de
novas passarelas sobre os trilhos e a construção dos conjuntos Mangueira I e II,
certamente podem ser diretamente relacionados a processos de valorização
fundiária em curso.
Mesmo essas transformações, contudo, não são observadas apenas
no entorno do Estádio, mas são compartilhadas por uma quantidade expressiva
de outras favelas da cidade, que, por diferentes razões – entre elas, a visibilidade
na mídia, a localização em áreas de interesse do capital imobiliário ou a
proximidade com as regiões de implantação de equipamentos e estruturas
relacionadas à realização dos megaeventos -, vêm recebendo Unidades de
Política Pacificadora e recursos significativos do Programa de Aceleração do
Crescimento para urbanização. Tudo indica que a realização dos megaeventos
no Rio de Janeiro influenciou de forma decisiva a distribuição de recursos
federais para a cidade, assim como reorientou as ações do governo estadual,
especialmente no que diz respeito à política de segurança e mobilidade urbana.
30 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e
urbanos.
Em suma, a não ser nos casos já apontados, não é possível
distinguir, no intenso dinamismo do mercado imobiliário da região, o que pode
ser atribuído especificamente às obras de reforma do Complexo Esportivo do
Maracanã, ainda que as intervenções no entorno permitam especulações acerca
da influência da reforma na valorização fundiária ou na apropriação social do
espaço.
Impactos socioambientais
A reforma do Maracanã implicou uma série de mudanças que
afetaram de forma diferente os moradores do entorno e os usuários dos
equipamentos esportivos.
O acesso social e o controle público sobre os equipamentos
existentes no Complexo do Maracanã se deterioraram após a reforma, que
implicou a redefinição das formas de apropriação social do Estádio, de forma a
excluir a participação da população de baixa renda. Por outro lado, as atividades
realizadas no Estádio Célio de Barros e no Parque Aquático Júlio Delamare
foram extintas e a sua posterior dispersão para outras áreas se deu de forma
reduzida e precária, com danos irreparáveis para atletas e usuários beneficiados
pelas políticas sociais desenvolvidas nesses equipamentos.
Como visto, as mobilizações sociais, das quais participaram
trabalhadores e usuários dos equipamentos existentes, lograram reverter a
decisão de demolição dos equipamentos esportivos e da Escola Municipal
Friedenreich, mesmo que não seja ainda conhecida plenamente a extensão nem
a estabilidade dessa vitória. Os funcionários, pais e alunos da Escola Friedenreich
ainda estão vigilantes quanto a novas reformas relacionadas à realização das
Olimpíadas 2016 e os atletas, usuários e os diversos apoiadores que se
mobilizaram contra a demolição dos equipamentos esportivos ainda não têm
informações sobre a reforma que será realizada pela concessionária Maracanã S.
A. e estão apreensivos com relação à possibilidade de retomada plena das
atividades anteriormente realizadas.
As pressões para a desocupação da favela Metrô-Mangueira e do
antigo Museu do Índio envolveram ações de violação de direitos humanos e o
desrespeito a convenções internacionais sobre processos de remoção e
reassentamentos. Os processos violentos de remoção observados tiveram
impactos duradouros e negativos sobre parte da população da favela (os que
aceitaram imediatamente a remoção estão hoje morando a dezenas de
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quilômetros de distância) e sobre os ocupantes do Museu. Ao final, as famílias
de Metrô-Mangueira que resistiram às propostas de reassentamento na periferia
distante foram beneficiadas pela mudança da estratégia da Prefeitura que passou
a oferecer conjuntos habitacionais próximos e bem localizados junto ao
Complexo da Mangueira nos conjuntos habitacionais Mangueira I e Mangueira II.
Já as mobilizações sociais em torno da Aldeia Maracanã não foram suficientes
para garantir a permanência dos ocupantes, ainda que tenham impedido a
demolição do prédio, que será restaurado pelo governo estadual.
Certamente, ainda restam muitas questões a serem resolvidas com
relação à remoção da favela Metrô-Mangueira. A precariedade no acesso à
moradia na cidade fez com que parte das casas vazias fosse novamente ocupada
por famílias sem-teto, o que gerou novos conflitos que evoluíram até chegar ao
confronto e à repressão violenta por parte da polícia militar. Até o final de 2014,
apesar dos compromissos assumidos de reassentamento da população
residente, a situação de Metrô-Mangueira era ainda de extrema insegurança e
precariedade, com moradores convivendo com o lixo e o entulho dos prédios
demolidos.
Para os moradores do Complexo da Mangueira, a maior mudança
foi a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora que, se logrou melhorar as
condições de segurança, é alvo de críticas generalizadas pelas lideranças locais.
As operações da UPP, classificadas pelos moradores entrevistados na pesquisa
como truculentas, desrespeitosas ou abusivas, vieram acompanhadas pela
regularização e formalização dos serviços existentes, com o aumento das tarifas
cobradas, especialmente no que se refere à energia elétrica. De acordo com a
população entrevistada na Mangueira e nos conjuntos habitacionais, o principal
“legado” das obras do entorno do Complexo do Maracanã não é a UPP, mas a
construção de uma passarela ligando o norte da via férrea às estações de Metrô
e trem do Maracanã.
Finalmente, cabe registar que a dinâmica de valorização fundiária
observada nos bairros do Maracanã e entorno se encarregará de operar uma
elitização na apropriação social do espaço, sem eliminar ou diminuir, contudo, a
segregação socioespacial existente, mas reforçando, ao sul e ao norte da via
férrea, diferentes processos de gentrificação.
8
Informações do sítio oficial do Maracanã em http://www.maracana.com/site/.
Fabricio Leal et al.
33
Por outro lado, o alegado impacto positivo da Copa sobre a
economia brasileira, mereceu críticas do próprio Ministro da Fazenda Guido
Mantega que, em entrevista a respeito dos efeitos de evento 2014 no PIB
brasileiro (Costas, 2014), afirmou:
““(A Copa) foi um sucesso do ponto de vista de organização. Do
ponto de vista da produção e do comércio, prejudicou”, disse
Mantega em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo e ao site de
notícias UOL há pouco mais de uma semana. “(Durante o evento)
tivemos muito poucos dias úteis. A produção industrial caiu e o
comércio cresceu pouco. De fato, não foi um bom resultado.””
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de transformação do Maracanã e de seu entorno ainda
está em curso e não se encerra nessa reforma nem com o fim da Copa do
Mundo 2014. A realização das Olimpíadas 2016 traz novas possibilidades e
incertezas sobre o projeto final do Maracanã. A instalação de um shopping
center em área próxima ou anexa ao complexo, por exemplo, como já foi
cogitado pelo governo estadual, pode gerar uma nova centralidade capaz de
atrair ainda mais investimentos. Esse novo equipamento, somado às obras do
entorno do estádio, ao grande potencial de renovação do espaço construído das
vizinhanças e à elaboração de novas diretrizes e leis urbanísticas, certamente
poderia transformar ainda mais a região. Assim, descontinuidades mais
importantes no processo de produção e apropriação social do espaço, mais
diretamente relacionadas às intervenções locais, poderiam ser observadas.
Contudo, espera-se que o desenvolvimento desse processo seja
acompanhado e transformado pelos mesmos movimentos sociais de resistência
que conseguiram alterar decisões públicas após as jornadas de junho de 2013.
Com a realização das Olimpíadas de 2016, novamente o Rio concentrará a
atenção da mídia internacional, e os resultados dessa exposição – como nos
mostrou a experiência da Copa das Confederações – são imprevisíveis.
Broudehoux, A., 2004. The making and selling of post-Mao Beijing, London,
Routledge.
Costas, R., 2014. Afinal foi a Copa que derrubou a economia? BBC Brasil
[Online]. Disponível em:
http://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2014/08/29/afinal-foi-a-copa-que-
derrubou-a-economia.htm. [Acesso em 6 de junho de 2014].
Oliveira, N.; Vainer, C., 2014. Megaeventos no Brasil e no Rio de Janeiro: uma
articulação transescalar na produção da cidade de exceção. In: Sánchez, F.;
Bienenstein, G.; Oliveira, F. L.; Novais, P. (org.) A Copa do Mundo e as
Cidades. Políticas, Projetos e Resistências, Niterói, EDUFF.
Vainer, C. (Coord.); Bienenstein, G.; Fernandes, A.; Fix, M.; Novais, P.; Oliveira,
A.; Oliveira, F. L.; Moura, R.; Sánchez, F. 2006. Grandes projetos urbanos: o
que se pode aprender com a experiência brasileira [Relatório de pesquisa], Rio
de Janeiro, Lincoln Institute of Land Policy e IPPUR/UFRJ.
Vainer, C.; Oliveira, F. L.; Novais, P., 2012. Notas metodológicas sobre a análise
de grandes projetos urbanos. In: Oliveira, F. L.; Cardoso, A. L.; Costa, H. S. M.;
Vainer, C. Grandes projetos metropolitanos: Rio de Janeiro e Belo Horizonte,
Rio de Janeiro, Letra Capital.
RESUMEN
La hipótesis del artículo es que los proyectos urbanos gestados
durante los preparativos para la Copa Mundial de 2014 indican la aparición de un
nuevo programa para la urbanización pública en el país, esencialmente
legitimado el "derecho a la acumulación de la riqueza". El nuevo programa
politiza las acciones y operaciones extremas llevadas a cabo por los gobiernos en
el interés público, que debilita el urbanismo como campo de conocimiento y
gradualmente condena los planificadores que o sirven invisibilidad. En el contexto
de una visión histórica de la relación entre la planificación urbana y las coaliciones
políticas públicas en Porto Alegre, el artículo debate la tesis de la falta de
planificación en Brasil.
Palabras-clave: urbanismo, urbanismo público, proyecto urbano,
Porto Alegre, Copa del Mundo.
1
Para a elaboração desta resenha, além da pesquisa de fontes primárias e de meus próprios
estudos (Rovati, 2001), um grande número de pesquisas foi consultado; por falta de espaço,
apenas algumas serão citadas, sobretudo quando envolverem dado específico ou interpretação
particular. Os números relativos às eleições e população, por exemplo, foram procurados em
diferentes fontes secundárias, que muitas vezes divergem, e por isso citados quase sempre de
maneira aproximada.
42 Porto Alegre: urbanismo público e projetos urbano na Copa de 2014.
faleceu no cargo, em 1928. Foi substituído por seu adjunto, Alberto Bins,
naquele mesmo ano eleito intendente por 7.400 eleitores. Em 1930, já no
contexto do regime presidido por Getúlio Vargas, Bins seria reconduzido ao
cargo por nomeação. José Loureiro da Silva, que em 1937 substituiu a Bins,
igualmente foi prefeito nomeado.
Os números acima, antes de tudo, chamam a atenção para o risco
das comparações envolvendo temporalidades e espacialidades políticas e urbanas
em um país de ocupação territorial recente e demografia pontualmente
explosiva, como é o caso do Brasil. Em 1890, por exemplo, as populações das
cidades de São Paulo e Porto Alegre eram numericamente parecidas: cerca de
60 e 50 mil almas, respectivamente. Em 1960, quando a população de São
Paulo já se aproximava dos 4 milhões de habitantes, a população de Porto
Alegre, capital de um Estado de base econômica ainda sobretudo rural, mal
ultrapassava os 600 mil moradores. Evidentemente, há grandes diferenças em
governar cidades habitadas por 60 mil, 600 mil ou 4 milhões de habitantes,
assim como sob as institucionalidades político-administrativas da República Velha
ou do Estado Novo, no Rio Grande do Sul ou em São Paulo.
De certo ponto de vista, no caso de Porto Alegre, os números
apontados parecem favorecer a hipótese de Villaça: no período 1896-1943,
poucos participaram da escolha dos seus governantes, mesmo quando houve
eleições. Contudo, isto não aconteceu apenas nestas décadas. Entre 1943 e
1948, quando a política local foi marcada por forte instabilidade, ocuparam o
posto seis prefeitos interinos2, todos nomeados. Entre 1948 e 1951, a cidade foi
governada por Ildo Meneghetti, também prefeito nomeado. Se lembrarmos de
que entre 1964 e 1985 os prefeitos das capitais também foram nomeados,
constatamos que, ao longo do século 20, apenas por três décadas de fato houve
participação expressiva da população da cidade na escolha de seus governantes.
O que dizer, em grandes linhas, do urbanismo público praticado
em Porto Alegre na primeira metade do século 20? Teria representado a visão e
os projetos das “elites dominantes”? Teria sido “aplicado e seguido”?
A Comissão de Melhoramentos e Embelezamento, criada em
1912, e seu Plano Geral, explicitamente pautado pelo ideário positivista
conservar melhorando, são frequentemente citados como experiências
fundadoras do urbanismo moderno na cidade (Souza, 2004).
2
Antônio Brochado da Rocha, Clóvis Pestana, Ivo Wolff, Egídio Costa, Conrado Ferrari e Gabril
Pedro Moacyr.
João Farias Rovati
43
Elaborado na segunda metade do governo Montaury, o Plano
Geral de Melhoramentos foi apenas parcialmente implementado no seu longo
mandato (vinte e sete anos), sobretudo no que se refere a obras de
modernização do porto, de ampliação e qualificação da rede viária, das
infraestruturas (redes de água e esgotos) e de serviços urbanos, como o de
pronto-socorro.
A nova regulamentação das construções (1913), o Plano Geral
(1914), as obras e operações propostas pela Comissão e a própria Comissão de
Melhoramentos são definidos por Souza (2004) como resultados de um trabalho
complexo e inovador desde o ponto de vista da interação entre as esferas de
decisão política e do conhecimento – neste último caso, articulando, de maneira
efetiva, diferentes saberes e disciplinas. Desse período, a historiografia reserva
um lugar destacado também para João Moreira Maciel, engenheiro-arquiteto
diplomado pela Escola Politécnica de São Paulo em 1900, contratado pela
municipalidade em 1910, onde trabalhou pelo menos até 1919.
Os papéis efetivamente desempenhados por Maciel e pela
Comissão de Melhoramentos e Embelezamento nos trabalhos realizados no
período, bem como o valor e eficácia do plano e das ações então propostas, são
até hoje objetos de controvérsia (ver, por exemplo, Weimer, 2005). Mas parece
não haver dúvida que se constitui então uma experiência de urbanismo público,
cujo programa era apoiado por uma coalisão de forças políticas com forte
hegemonia na esfera local.
Os governos de Otávio Rocha e Alberto Bins, no plano político,
foram de continuidade da coalisão dominante. O programa de urbanismo
elaborado durante o governo Montaury, grosso modo, igualmente foi
continuado por Rocha e Bins.
Ao assumir o governo, Rocha cria uma Comissão Especial de
Obras Novas, justamente com a finalidade de impulsionar as obras projetadas
pela antiga Comissão de Melhoramentos. Bins, como adjunto de Rocha,
acompanhou este processo de perto e o prosseguiu na condição de prefeito.
Esses dois governos, como o fizera Montaury, valorizaram os quadros técnicos
locais, com destaque para os engenheiros e médicos sanitaristas.
Bins, por exemplo, resistiu às investidas de Alfred Agache visando a
elaboração de um “novo” plano para a cidade. Em seu governo, dois jovens
engenheiros dos quadros municipais, Luiz Arthur Ubatuba de Faria e Edvaldo
Pereira Paiva, organizam – com o apoio da municipalidade – uma concorrida
3
Institut Nacional de Recherche Agronomique (INRA).
João Farias Rovati
51
“Uma das manifestações mais visíveis da autonomia do campo, é
sua capacidade de refratar (sic), retraduzindo, sob uma forma
específica, as pressões e as demandas externas. Dizemos que
quanto mais autônomo for um campo, maior será seu poder de
refração e mais as imposições externas serão transfiguradas, a
ponto, frequentemente, de se tornarem perfeitamente
irreconhecíveis.” (Bourdieu, 2003: 22).
O grau de autonomia de um campo teria por indicador principal,
portanto, seu “poder de refração”. Inversamente, “a heteronomia de um campo
manifesta-se, essencialmente, pelo fato de que os problemas exteriores, em
especial os problemas políticos, aí se exprimem diretamente”. Desse ponto de
vista, conclui, “a ‘politização’ de uma disciplina não é indício de uma grande
autonomia”. Porém, alguns domínios do conhecimento parecem inseparáveis da
política:
“Se você tentar dizer aos biólogos que uma de suas descobertas é
de esquerda ou de direita, católica ou não católica, você suscitará
uma franca hilaridade. Mas nem sempre foi assim. Em sociologia,
ainda se pode dizer esse tipo de coisas. Em economia,
evidentemente, pode-se também dizer isso, ainda que os
economistas se esforcem por fazer crer que isso não é mais
possível.” (Bourdieu, 2003: 22).
Este não seria, irremediavelmente, também o caso do urbanismo?
Este debate, que evidentemente não é objeto do presente artigo, precisou ser
evocado para que possamos retomar, sob outros termos, a hipótese de Villaça.
O apanhado histórico feito acima (e que será concluído a seguir) por certo
contém lacunas, escolhas arbitrárias, interpretações enviesadas nos planos
político e urbanístico.
O leitor obviamente pode contestar estas escolhas e interpretações
por diferentes ângulos. Entretanto, creio que foram apresentadas evidências
empíricas suficientes para que aceitemos o valor conceitual e analítico da noção
de urbanismo público.
Há continuidade e descontinuidades nos “programas” que
identificamos, isto é, o urbanismo público se modifica ou se ajusta, de maneira
mais ou menos evidente, às coalisões de governo, aos esquemas de poder e às
condições urbanas sob as quais seu programa é gestado e gerido. E isto se deve
4
Extinta pela reforma administrativa realizada em 2012.
54 Porto Alegre: urbanismo público e projetos urbano na Copa de 2014.
realização”5. A segunda visava “garantir a aplicação do conceito de Governança
Solidária Local nas ações governamentais, por meio da promoção de um
ambiente de diálogo e da constituição de parcerias com todos os atores sociais”6.
Ainda em 2005, é criado o Gabinete de Programação
Orçamentária (GPO), diretamente vinculado ao Gabinete do Prefeito. Mais
tarde, em 2010, também vinculado ao Gabinete do Prefeito, cria-se o Gabinete
de Planejamento Estratégico. A unificação desses dois organismos (GPO e GPE)
deu origem, em 2012, à Secretaria Municipal de Planejamento Estratégico e
Orçamento (SMPEO). Além das estruturas já citadas, cria-se em 2008 a
Secretaria Extraordinária da Copa (SECOPA) “com o objetivo de gerenciar, em
parceria com as demais secretarias municipais, a preparação de Porto Alegre
para a Copa do Mundo de 2014”.
Também a gestão de projetos considerados estratégicos é
colocada no centro da missão institucional da SECOPA; nesse caso, tratando da
“gestão das relações da prefeitura com parceiros privados, organizações não-
governamentais e outras instâncias e organismos públicos”.
Observe-se que as mudanças administrativas se multiplicaram sob
os governos Fogaça e Fortunati, como a indicar que a institucionalidade existente
não mais servia às políticas e ao programa do urbanismo público que queriam
implementar.
Em 2012, é extinta a Secretaria do Planejamento Municipal, cujo
último titular efetivo foi o vereador, advogado e corretor de imóveis Marcio Bins
Ely. Todo um ciclo, marcada pelo protagonismo concedido ao planejamento
pelos governos militares e pelo empoderamento do planejamento urbano, no
plano local, parece viver o seu último ato. Em seu lugar, cria-se a Secretaria
Municipal de Urbanismo (SMURB). Ela “substitui a SPM e incorpora atribuições
da Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV)” e tem assim definida sua
principal missão: “tratar especificamente do planejamento urbano de curto
prazo”7.
A SMURB seria “a guardiã do Plano Diretor e a executora do Plano
Regulador e das tarefas relacionadas às edificações, tais como aprovação,
5
Cf. http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smgae/default.php?p_secao=10 [Acesso em 27 jul.
2011].
6
Cf. http://www.secopapoa.com.br/default.php?p_secao=5 [Acesso em 27 jul. 2011].
7
Cf. http://www2.portoalegre.rs.gov.br/spm/default.php?p_secao=123 [Acesso em 16 fev.
2015]; inclusive as demais citações sobre a SMURB feitas neste parágrafo.
João Farias Rovati
55
licenciamento e vistoria, e ainda atividades relativas à manutenção e conservação
das edificações e seus equipamentos, antes vinculadas à SMOV”. Sua criação é
situada como “parte da reforma administrativa implantada pelo prefeito José
Fortunati” que tem, entre suas metas, “a agilização dos procedimentos, eficiência
na prestação de serviços e transparência”. No caso específico da criação da
SMURB, “o objetivo é dar mais agilidade às análises de licenciamentos e mais
atenção para o que ocorre hoje na cidade”, criando assim “condições para a
futura implantação do Instituto de Planejamento da Cidade de Porto Alegre”.
Os exemplos poderiam se multiplicar, mas as evidências
apresentadas acima nos parecem suficientes para caracterizar as escolhas da
coalisão que governa Porto Alegre desde 2005, como a valorização das práticas
gerencialistas, do planejamento estratégico e do governo por projetos. As
referências ao urbanismo, nesse novo quadro, muitas vezes parecem
meramente retóricas, o que, no entanto, não deve levar à conclusão que não há
planejamento ou não se gesta ali um novo programa para o urbanismo público.
8
Cf. http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/esportes/noticia/2009/05/multidao-no-parque-da-redencao-
comemora-escolha-de-porto-alegre-como-sede-da-copa-2529350.html [Acesso em 30 jul.
2013].
9
Cf. http://www.aairs.com.br/em_revista/AAI_SetOut_09.pdf. [Acesso em 16 fev. 2015].
João Farias Rovati
57
Copa é uma oportunidade concreta de modernização e melhoria da qualidade
de vida da população”10.
Um grande número de ações e “projetos” (urbanos?) é
11
anunciado , alguns deles propostos como resposta às “exigências” da FIFA
(como o estádio do Sport Club Internacional); outros porque “existiam há mais
de 30 anos” e, agora, finalmente obteriam recursos para sua execução; outros,
ainda, simplesmente como resultado de investimentos privados que trariam
“benefícios à cidade” (Oliveira, 2013).
Em outubro de 2011, uma “reportagem especial” do jornal Zero
Hora (ver figura 1) traduzia muito bem o entusiasmo dominante e celebrava a
profusão de projetos que “transformariam a capital gaúcha”.
A matéria comemora o anúncio de investimentos para o metrô e a
nova Ponte do Guaíba, afirmando que o momento é oportuno para viabilizar
muitos projetos antigos que permaneceram décadas parados:
“Neste 2011, por uma conjunção de fatores, os projetos que
durante décadas alimentaram os sonhos de 1,4 milhões de
habitantes finalmente superaram os obstáculos e começaram a
tomar forma. Somando-se a isso um punhado de outros projetos
grandes em construção ou prestes a entrar em obras – os novos
estádios de Grêmio e Internacional, a ciclovia da Avenida Ipiranga,
o alargamento de avenidas importantes, o surgimento de novos
bairros do nada, mega shoppings quase prontos – o panorama é
promissor. Em 2017, se o cronograma for cumprido, o metrô será
entregue não a Porto Alegre, mas a uma nova Porto Alegre, bem
diferente e melhor do que a atual.”12
Na mesma reportagem, Zero Hora apresenta uma lista de vinte e
seis obras que, até o ano de 2017, “transformariam” Porto Alegre (ver Quadro
10
Cf.
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/portal_pmpa_novo/default.php?p_noticia=161355&FORTUN
ATI+MOSTRA+PREPARACAO+DA+CIDADE+A+UM+ANO+DA+COPA+DO+MUND
O [Acesso em 15 jun. 2013].
11
As ambiguidades da noção de projeto urbano são um componente do problema abordado.
Mas, por falta de espaço, não é possível aprofundar aqui este tema. Sobre o assunto,
especificamente com relação à Copa em Porto Alegre, ver Oliveira, 2013.
12
Cf. “O sonho está em obras. Bem-vindo à Porto Alegre de 2017”. Zero Hora, Porto Alegre,
15/10/2011, pp. 4-5.
58 Porto Alegre: urbanismo público e projetos urbano na Copa de 2014.
nº 1). Não cabe analisar aqui os critérios e as fontes que o jornal utilizou para a
escolha destas obras e para classifica-las como públicas, privadas e parecerias
público-privadas. Mas a lista é reveladora do projeto de cidade sustentado pela
coalisão de forças políticas da qual participa o próprio jornal, por sua linha
editorial e como braço de um conglomerado empresarial que atua inclusive no
segmento imobiliário.
A “nova” Porto Alegre resultaria de investimentos na construção ou
ampliação de cinco shoppings centers (Cristal Tower, Praia de Bellas, Floresta
Shopping, Porto Alegre Center Lar, Shopping Alto Norte); dois estádios de
futebol (Arena do Grêmio e Gigante para Sempre) e respectivos “complexos” de
atividades (torres residenciais e comerciais, hotéis e centros de convenções); três
hotéis localizados no bairro cujo solo é o mais valorizado da cidade (Moinhos de
Vento), um “empreendimento residencial e comercial” (oferta de cerca de 2.700
unidades) com “status de bairro” (Rossi); duas grandes intervenções na orla do
Guaíba, em áreas públicas concedidas, envolvendo a construção de “parques
urbanos” e de shoppings centers e torres comerciais (Pontal do Estaleiro e
Revitalização do Cais do Porto); construção de um novo teatro (OSPA) e
ampliação de outro (Multipalco); investimentos em pontes (Guaíba), viadutos
(Terceira Perimetral), alargamentos e extensões viárias (Anita Garibaldi, Moab
Caldas, Beira Rio e Voluntários da Pátria); construção de uma nova estrada
(Rodovia do Parque). Seria um exagero dizer que a valorização destas obras está
fortemente marcada por uma concepção segregativa (shoppings, áreas
residenciais e de lazer “diferenciadas”, grandes “equipamentos culturais”) e
rodoviarista da cidade e de seus problemas?
Fonte: Pontapé inicial. Novo cais até a Copa. Zero Hora, 23/11/2011, p. 4.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Abreu, L. A., 2005. O Rio Grande estadonovista: interventores e interventorias.
São Leopoldo: UNISITOS. Tese de Doutorado (História).
Bakos, M. M., 1996. Porto Alegre e seus eternos intendentes. Porto Alegre:
EDIPUCRS, Porto Alegre.
Bourdieu, P., 2003. Os usos sociais da ciência. São Paulo: UNESP, 2003.
Rovati, J. F., 2001. La modernité est ailleurs. Paris: Universidade de Paris-8. Tese
de Doutorado (Urbanismo e Projetos Urbanos)
Rovati, J. F., 2011. Mundial de Fútbol 2014: los grandes proyectos como
estrategia de gestión y planificación urbana. In: Anales del 1er. Congreso
Latinoamericano de Estudios Urbanos: Pensar la ciudad, cambiar la ciudad. Los
retos de la investigación en América Latina a comienzos de siglo XXI. Los
Polvorines (Provincia de Buenos Aires, Argentina): Universidad Nacional de
General Sarmiento, 24, 25 y 26 de agosto, 16 p.
Larissa Viana
Larissa Viana
71
RESUMO
O presente artigo busca compreender os impactos causados com
a realização do megaevento da Copa do Mundo FIFA 2014 na vida da
população de baixa renda da cidade de Fortaleza – CE. Para isso faz-se
necessário compreender o processo pelo qual as grandes cidades brasileiras
estão passando no intuito de adentrar a chamada globalização, tornando-se
cidades globais. Para conseguir essa imagem globalizada de cidade, é necessário
investir em grandes equipamentos e infraestrutura no intuito de atrair eventos de
grande porte que tragam visitantes de alto poder aquisitivo para as cidades.
Observa-se que com investimentos por parte do poder público, a população
pobre, o lado frágil da sociedade, passa por processo de remoção para áreas
distantes, não usufruindo, assim, desses investimentos. Questiona-se para quem
de fato serve esse modelo de cidade cada vez mais segregada e excludente.
Palavras-chave: globalização; infraestrutura; megaevento; remoção.
RESUMEN
En este artículo se busca entender los impactos de la finalización del
mega evento de la Copa Mundial de la FIFA 2014 en la vida de la población de
bajos ingresos de la ciudad de Fortaleza - CE. Para esto, es necesario entender
el proceso por el cual las grandes ciudades están pasando con el fin de entrar en
la llamada globalización, convirtiéndose en las ciudades globales. Para lograr esta
imagen global de la ciudad, es necesario invertir en los principales equipos e
infraestructura con el fin de atraer grandes eventos que reúnen a los visitantes de
altos ingresos a las ciudades. Se observa que con las inversiones realizadas por el
gobierno, los pobres, el lado débil de la sociedad, implican proceso de remoción
para las zonas distantes, no disfrutando así de estas inversiones. Preguntas a que
en realidad sirve este modelo de ciudad cada vez más segregado y excluyente.
Palabras clave: globalización; infraestructura; mega evento;
remoción.
1
O fechamento das fronteiras urbanas a visitantes e usuários insolventes certamente se funda no
mesmo tipo de visão de cidade e de mundo: o direito à cidade, neste caso, passa a ser
diretamente proporcional ao índice de solvência dos estrangeiros e visitantes. Aquilo que, de certa
maneira, já é uma realidade, transforma-se agora em projeto, em estratégia de promoção da
cidade. (VAINER, 2000, p. 80).
74 Copa do Mundo e legado para quem? O Furacão Copa em Fortaleza – CE
O planejamento de Barcelona ganhou força pelo marketing
proporcionado pelas Olimpíadas de 1992 e tornou-se amplamente exportado
para cidades do mundo todo, especialmente para as cidades da América Latina.
Um rápido panorama das intervenções urbanas realizadas em
virtude dos Jogos Olímpicos traçado por Raeder (2010), de acordo com Gold e
Gold (2007), retrata que nos Jogos de 1896, 1900 e 1904, em Atenas Paris e
Saint Louis, respectivamente, houve baixo investimento urbano.
Entre 1908 e 1936, o principal investimento se deu nas instalações
esportivas e foi ainda nesse período, em Paris, no ano de 1924, que tiveram
início as Vilas Olímpicas, construídas com o objetivo de alojar os atletas. Porém,
apesar da tentativa em Paris, a construção de fato de uma Vila Olímpica
aconteceu apenas em Los Angeles, em 1932. Berlim, em 1936, foi a última
cidade a sediar os Jogos antes da 2ª Grande Guerra Mundial “e se destacou pelo
forte apelo político do evento conferido pelo partido nazista, bem como pelas
grandiosas instalações esportivas construídas” (Raeder, 2010, p. 03).
A primeira cidade a sediar os Jogos após a Guerra foi Londres, em
1948, que, frente à restrição orçamentária oriunda do pós-guerra, apresentou
modestos equipamentos esportivos e vilas olímpicas. Essa fase restrita perdurou
até a edição dos Jogos em Melbourne, no ano de 1956. “Uma nova fase se inicia
com Roma 1960, se estendendo até Montreal 1976” (Raeder, 2010, p. 03).
“Superada as dificuldades financeiras e contando ainda com receitas
de oriundas das transmissões televisivas, os Jogos passam a contar
com generosos aportes de recursos para a construção não
somente de equipamentos esportivos, mas também para infra-
estruturas urbanas que viabilizam a mobilidade e a comunicação
entre arenas, vilas, hotéis e aeroportos.” (RAEDER, 2010, p. 03)
Foi especialmente a partir da década de 1970 que os eventos
esportivos passaram a fazer parte do planejamento urbano, fortalecendo o
discurso de trazer atrativos aos centros urbanos que caiam em desuso frente às
novas centralidades urbanas.
“Nos anos 70, nota-se um aprimoramento desta conjugação entre
J.O2. e planejamento urbano. Entre urbanistas, crescia naquele
momento a preocupação para com a indesejável obsolescência das
2
Abreviação paras Jogos Olímpicos utilizada por Mascarenhas (2004).
Larissa Viana
75
áreas centrais, em favor de novos subcentros e subúrbios de perfil
econômico elevado, processo acionado sobretudo pela difusão do
uso do automóvel. Nos J.O. de Munique (1972) e Montreal
(1976) nota-se, segundo Muñoz (1996), uma clara política de
instalação ou aproveitamento de equipamentos esportivos junto à
área central, valorizando-a. Podemos afirmar que neste momento
os J.O. propiciaram a oportunidade de concretização de novas
idéias urbanísticas, que ainda hoje situam-se no centro do debate
sobre a renovação das cidades. Seul (1988) e Barcelona (1992)
constituem claros exemplos de uso dos J.O. como poderosa
alavanca para o desenvolvimento urbano. Ambas as cidades
investiram vultosas quantias e implementaram projetos urbanísticos
de elevada envergadura, redefinindo centralidades e constituindo
verdadeiros marcos na evolução urbana. [...]” (MASCARENHAS,
2004, p. 03)
Observa-se então, principalmente depois dos Jogos Olímpicos em
Seul e Barcelona, que os megaeventos esportivos passaram a ter características
de um amplo conjunto de transformações urbanas focado na realização do
megaevento e atrelado à tentativa de atração de capital e de clientes solventes e
inserção global das cidades sedes e, com isso, impactando o desenvolvimento
urbano dessas cidades.
De acordo com Vainer (2011), os megaeventos estão relacionados
ao novo modelo de planejamento urbano, pautado no planejamento estratégico,
onde os interesses do grande capital prevalecem ao da população.
“Esses megaeventos não acontecem por acaso, estão ligados a uma
revolução no sistema urbano, a uma nova modalidade do
planejamento que surge nos anos 1980 e que torna a cidade uma
empresa a concorrer no mercado com outras ‘cidades empresas’,
na busca de capitais, investimentos e pelos próprios eventos. As
regras de organização do espaço urbano, todas as normas, devem
ser subordinadas à lógica do negócio. [...] Surgem as operações
urbanas, aquelas autorizadas contra a lei de uma cidade, você abre
uma exceção, em tese, para aproveitar as oportunidades – o que
na verdade transformou a cidade num mero espaço de realização
de negócios, numa mercadoria a ser vendida, teoricamente em
nome do progresso. [...] É a cidade da exceção, porque as regras
76 Copa do Mundo e legado para quem? O Furacão Copa em Fortaleza – CE
são a da ‘flexibilização’, o que quer dizer na verdade ‘tudo o que
for necessário para viabilizar os negócios’. [...] E a contrapartida é o
que eu chamo de democracia direta do capital, os projetos não são
expressões de forças políticas, não são os partidos, as organizações
das diferentes classes – aquilo que caracteriza a democracia
burguesa é banido e as decisões são tomadas numa relação direta
entre o capital privado e o poder público. Não há mais mediações
entre os interesses do capital e os processos de decisão, eles são
imediatos. E aí avançam as PPPs (Parcerias Público Privadas),
avança o patrimonialismo. [...] O megaevento radicaliza o modelo
da cidade empresarial e da exceção.” (VAINER, 2011, p. 01)
Vainer (2011) afirma ainda que os megaeventos fomentam a
criminalização da pobreza: “Se o objetivo é fazer da cidade uma vitrine, é preciso
esconder tudo aquilo que gera críticas, tudo o que não se coloca na vitrine, que
é pobreza, miséria. A cidade é reduzida a sua faceta de exportação, é voltada
para o exterior e não para os seus cidadãos”. (Vainer, 2011, p. 01)
Larissa Viana
77
Fortaleza e a Copa das remoções
Fortaleza é uma cidade litorânea, capital do estado do Ceará,
localizada na região Nordeste do País e com população de 2.452.185 pessoas
de acordo com dados do IBGE (2010).
Frente aos preparativos para a Copa do Mundo FIFA 2014 em
Fortaleza, a cidade foi contemplada com um pacote de investimentos para
elaboração de projetos que, teoricamente, visavam a melhoria urbana. Esses
investimentos são provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento,
focado nas cidades-sede da Copa do Mundo 2014 – PAC COPA 2014, e tem
como prioridade projetos de mobilidade urbana.
Em Fortaleza, dentro desse pacote, tem destaque projetos focados
no sistema de transporte, como a construção do Veículo Leve sobre Trilhos
(VLT) e a implantação do Bus Rapid Transit (BRT), além da ampliação do
Aeroporto Internacional Pinto Martins, a construção do Terminal de Passageiros
do Mucuripe/Porto do Mucuripe e a ampliação e modernização das vias
expressas.
Para legitimar esses investimentos, os governos federal, estadual e
municipal, bem como a iniciativa privada, alegavam que essas novas construções
e melhorias contribuiriam para facilitar e melhorar a vida da população local
durante e depois da Copa, gerando, assim, o discurso do legado. Afirmavam
ainda que o megaevento e as obras em decorrência aqueceriam a economia
local, gerando emprego e renda em diversos setores como, por exemplo, na
construção civil e no turismo.
Dentro do pacote das obras da Copa previstas para Fortaleza, o
VLT é a maior intervenção urbana, possui 12,7 km de extensão e atinge
diretamente 22 bairros, causando remoção e transtorno a milhares de famílias.
O número de famílias desapropriadas pelo projeto do VLT não é exato e, ao
longo do tempo, teve bastante variação. De acordo com a imprensa local, em
2010 a estimativa era de 3.5003, em 2011 de 2.7004 e em 2013 era de 2.1405.
3
Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/obra-do-metrofor-
na-via-expressa-gera-polemica-1.688420 [Acesso: março de 2013].
4
Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/negocios/aprovado-rima-
do-vlt-familias-questionam-1.712813 [Acesso em março de 2013].
5
Disponível em:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/brasil/2013/01/07/noticiasjornalbrasil,2983700/atrasos-nas-
remocoes-afetam-o-ramal-do-vlt-em-fortaleza.shtml [Acesso em março de 2013].
78 Copa do Mundo e legado para quem? O Furacão Copa em Fortaleza – CE
De acordo com o Comitê Popular da Copa Fortaleza a estimativa era de
10.000, 4.000 e 5.000 em 2011, 2012, 2013, respectivamente.
Além disso, sua implementação é bastante questionável devido ao
alto custo de construção6, e de manutenção frente à real demanda para o
percurso a que se destina real e aos impactos socioespaciais. Além do que,
segundo o EIA-RIMA do VLT, ele está sendo implantado em área nobre que já
conta com diversos privilégios:
6
Custo de R$ 265,5 milhões de acordo com a Matriz de Responsabilidade. Esta é um documento
assinado pelo ex-Ministro dos Esportes, Orlando Silva, pelos 12 governadores de cada estado a
sediar o mundial, bem como pelos 11 prefeitos de cada cidade sede (Brasília não tem prefeito).
Esse documento define as responsabilidades de cada esfera de governo, bem como as áreas
prioritárias de implantação de infraestrutura para realização da Copa do Mundo FIFA 2014 no
Brasil.
Larissa Viana
79
Figura 1: Delimitação das SER na cidade de Fortaleza.
Larissa Viana
81
Em países como Canadá, Estados Unidos e França, o VLT foi
usado para introduzir novos parâmetros de desenvolvimento urbano. Ele pode
gerar um processo de valorização na sua área de influência uma vez que sua
implantação geralmente vem acompanhada de um projeto de revitalização
urbana7 para a área e seu entorno. O design do VLT também pode ser um
atrativo. Com isso a localidade onde este é implantado atrai um novo público
morador e frequentador e gera a expulsão dos tradicionais moradores e
frequentadores da região. Através de observação da atuação do Governo do
Estado para a implementação do VLT é possível dizer que esta modificação de
público morador e frequentador da região de implantação do VLT é desejado.
Além disso, o EIA-RIMA do VLT alerta sobre seu trajeto que atravessa locais de
menor faixa de renda.
“Cabe salientar que o Ramal Parangaba – Mucuripe percorre
alguns dos bairros de menor renda ‘per capita’ da cidade, atravessa
algumas áreas com povoamentos de baixas condições de vida,
características da favela. Esses assentamentos ocuparam a faixa de
domínio da ferrovia, construindo moradias com pouco espaço de
separação da ferrovia, às vezes em escassos 1 – 2 metros”
(CEARÁ, 2011, p. 2.2)
Como exemplo de comunidades diretamente atingidas por obras
em função da Copa do Mundo FIFA 2014 temos a Comunidade Lauro Vieira
Chaves (CLVC) e a Comunidade João XXIII (CJXIII).
A Comunidade Lauro Viera Chaves (CLVC) localiza-se entre os
bairros Vila União e Montese (figura 3), dois bairros de centralidade própria na
capital cearense. A Comunidade foi formada, em terreno desocupado, no início
da década de 1960, por pessoas vindas do interior do estado e também da
própria capital. Atualmente, de acordo com um morador entrevistado pela
autora, existem 203 casas na CLVC, com uma população de cerca de 1.200
pessoas. Ao lado da CLVC encontra-se o Aeroporto Internacional de Fortaleza
que tem sua área delimitada por um muro de arame farpado, como pode ser
observado na figura 4.
7
O termo revitalização urbana é aqui utilizado de acordo com a Carta de Lisboa apud
Vasconcellos e Melo (2009, p.59): “engloba operações destinadas a relançar a vida econômica e
social de uma parte da cidade em decadência”.
82 Copa do Mundo e legado para quem? O Furacão Copa em Fortaleza – CE
Figura 3: localização da Comunidade Lauro Vieira Chaves.
8
De acordo com a página oficial do Comitê Popular da Copa Fortaleza no Facebook, trata-se de
uma organização local de movimentos sociais, ONG’s, organizações populares, organizações
políticas e da sociedade civil que luta pela garantia dos direitos humanos no processo da Copa das
Confederações 2013 e Copa do Mundo 2014.
Larissa Viana
83
Figura 4: grade de delimitação do Aeroporto.
Larissa Viana
85
de moradores. O padrão construtivo predominante é de alvenaria com
revestimento e o gabarito é horizontal.
A CJXXIII faz parte de 22 comunidades ao longo do trilho que
estão ameaçadas por conta das obras do VLT e que lutam há quatro anos na
tentativa de reverter a quantidade de remoções. Na CJXXIII mais de 10 famílias
que residiam à margem da linha férrea já foram removidas e outras 10 famílias
estão ameaçadas de remoção direta e indiretamente. Parte destas famílias está
ameaçada pelo próprio governo, outra parte pelo proprietário das casas que
alugam. Porém, em ambos os casos o motivo é por conta das obras do VLT.
Tanto os moradores da CJXIII quanto os da CLVC foram
surpreendidos por funcionários do governo do Estado que chegaram à
comunidade para medir, fotografar e marcar as casas, sem dar informações
sobre o que estava acontecendo. Quando o governo se dispôs a conversar,
inicialmente afirmou que os moradores precisavam deixar suas casas e que
seriam indenizados com base no valor do imóvel, sem incluir o valor da terra,
uma vez que se tratava de posseiros.
Durante todo o processo de luta e resistência, as duas
comunidades conseguiram reverter esse processo de indenização e conseguiram
agregar uma parte do valor relativo ao terreno, bem como receber unidade
habitacional construída através do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV).
Porém, o local destinado para o reassentamento encontra-se no extremo sul da
cidade, distante do atual local de moradia, bem como da área central e dos
locais de trabalho e estudo. Essa localização tem deixado os moradores das
comunidades atingidas pelas obras do VLT bastante insatisfeitos, uma vez que
esses moradores desejam permanecer em área próxima aos locais da atual
moradia.
A repetição da lógica de reassentamento distante do local de
moradia, consequentemente longe do local de trabalho e do ambiente onde a
população criou laços, bastante típica no planejamento atual, pode ser observada
na figura 6. É essa lógica de reassentar os moradores distantes da região onde
viveram a vida inteira que tem dado continuidade ao movimento de luta e
resistência daqueles que desejam continuar próximos à sua localização atual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que para garantir o sucesso do megaevento, o Poder
Público infringe as leis e age de maneira a violar os direitos humanos da
população, como se pode observar no caso das remoções. É possível ainda
perceber a tradicional repetição na forma de agir, removendo a população
pobre para bairros distantes, desprovidos de infraestrutura e sem levar em conta
os problemas gerados para a população removida, como maior gasto de tempo
e de dinheiro com transporte para se locomover aos locais de trabalho e de
estudo. Não se considera também os vínculos sociais e afetivos estabelecidos
pela população com a localidade e vizinhança onde residiram por tanto tempo.
Percebe-se que essa lógica de remoção causa uma verdadeira
higienização na cidade, levando para distante da vista da burguesia local, bem
como dos visitantes com grande poder aquisitivo, a população pobre da cidade,
88 Copa do Mundo e legado para quem? O Furacão Copa em Fortaleza – CE
tornando-se cada vez mais uma cidade para poucos, apenas para quem pode
pagar caro. E o legado prometido em ocasião do megaevento também fica
restrito a uma pequena parcela da população. À população pobre restam as
franjas periféricas, distantes da centralidade e da infraestrutura, não podendo
usufruir dos lugares onde residiam, como observa Vainer (2000, p. 83): “[...]
transformada em coisa a ser vendida e comprada, tal como constrói o discurso
do planejamento estratégico, a cidade não é apenas uma mercadoria, mas
também, e sobretudo, uma mercadoria de luxo, destinada a um grupo de elite
de potenciais compradores [...]”.
Frente a essa realidade de cidade excludente, garantida pelo poder
público, quando este deveria garantir o direito de todos os cidadãos, questiona-
se para quem está destinado esse modelo de cidade, a quem de fato ele
interessa, qual o local da população pobre nas grandes cidades? Observa-se
ainda que a realização do megaevento contribui e acelera o processo de cidade
excludente no momento em que, justificado por obras de infraestrutura, remove
para áreas cada vez mais distantes da centralidade a população pobre indesejada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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(orgs.). A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. Rio de
Janeiro: Petrópolis, pp. 11–75.
Barros, M.; Araújo, M., 2012. "Daqui não saio, daqui ninguém me tira": uma
análise da Lei Estadual nº 15.194 em face da sistemática jurídica de defesa do
direito à moradia. Anais do XXXI Encontro de Iniciação Científica, Fortaleza,
Universidade Federal do Ceará. Disponível em:
http://www.prppg.ufc.br/eu2012.ufc.br/Resumos/wrappers/MostrarResumo.php
?cpf=01947973339&cod=002. [Acesso em: junho de 2013].
Iacovini, V., 2013. Plano sem projeto (PDP-FOR) e projeto sem plano (VLT
Parangaba/Mucuripe): Descaminhos da política urbana em Fortaleza, CE.
Trabalho Final de Curso (Bacharel em Geografia). Departamento de Geografia
da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
Larissa Viana
91
Paula, M.; Bartelt, D. D. (org.), 2014. Copa para quem e para quê? Um olhar
sobre os legados dos mundiais no Brasil, África do Sul e Alemanha. Rio de
Janeiro: Fundação Heinrich Boll.
Vainer, C., 2000. Pátria, empresa e mercadoria. In: Arantes, O.; Vainer, C.;
Maricato, E. (org.). A cidade do pensamento único: desmanchando consensos.
Rio de Janeiro: Petrópolis, pp. 75–105.
RESUMO
Desde a sua concepção, em 1866, o Paseo de la Reforma, tem
desempenhado um papel de liderança no desenvolvimento econômico e
expansão territorial da cidade do México; enfrentado um processo contínuo de
transformação, booms ou deterioração, tem sido uma das áreas geográficas
privilegiadas da cidade. Nos últimos 14 anos, tem sido objeto de intervenção do
capital imobiliário, no âmbito da implementação de políticas econômicas e
urbanas neoliberais, tornando-se um projeto de renovação urbana ambicioso,
para transformá-lo em um corredor urbano terciário moderno, ícone da
modernidade, sob a lógica da acumulação de capital, exclusivo e excludente e
gerando fortes desigualdades sócio-territoriais. Agora reaparece como um
símbolo de modernidade e também como alteração do valor da propriedade
nas chamadas cidades globais do mercado. Paradoxalmente, o passeio também
é ocupado quase que diariamente por movimentos sociais e políticos da
oposição em protesto e reivindicações.
Palavras-chave: Paseo de la Reforma, cidade do México, capital
imobiliário financeiro, políticas públicas, modernização neoliberal.
1
Régimen dictatorial que encabezó el General Porfirio Díaz en México entre 1876 y 1911,
disuelto por la Revolución Mexicana iniciada en 1910.
2
El Distrito Federal o Ciudad de México y los municipios conurbados del Estado de México
generaban en 2009 cerca del 26.7 % del PIB total y del 24.9% del PIB industrial de país.
Lisett Márquez López
97
LAS TRANSFORMACIONES URBANAS DEL SIGLO XX EN LA
CIUDAD DE MÉXICO
Los grandes proyectos públicos de renovación urbana en el intervencionismo
estatal
Entre 1940 y 1970, México y la capital experimentaron el modelo
del desarrollo estabilizador; esta etapa se caracterizó por presentar un constante
crecimiento económico y por la formación de una nación moderna e
industrializada. El desarrollo urbano de la ciudad de México estuvo marcado por
las acciones de renovación urbana desarrolladas por el Estado en términos de su
función intervencionista. Grandes proyectos fueron construidos: el Multifamiliar
Presidente Miguel Alemán (1947), la Unidad Modelo (1947), el Multifamiliar
Presidente Benito Juárez (1951), la Ciudad Universitaria (1952), el Conjunto de
la Secretaría de Comunicaciones y Obras Públicas, el Conjunto Urbano
Nonoalco-Tlatelolco (1964) y la Villa Olímpica (1968), entre otros (Sánchez,
1999). La construcción de estas obras giró en torno a la inversión del Estado. Sin
embargo, estas condiciones favorables no se mantuvieron por largo tiempo; la
desaceleración económica de los 70 y la crisis de los 80 repercutieron
negativamente en la construcción de grandes obras públicas.
3
Frase empleada por el expresidente Carlos Salinas de Gortari (1º-12-1988 – 30-11-1994) para
responsabilizar de la crisis económica y financiera desatada en México en diciembre de 1994, –que
causó la devaluación del peso mexicano, la caída del PIB, la quiebra del sistema bancario y el
incremento del desempleo– a su sucesor Ernesto Zedillo (1º-12-1994 – 30-11-2000)
atribuyéndola a los errores de manejo de la política económica cometidos durante su
administración, tres semanas después de tomar posesión (Ver Cué, 2001).
4
El capitalismo que se extendía por el territorio mexicano durante la segunda parte del siglo XIX,
emergió, como modo de producción dominante, durante el régimen de Porfirio Díaz, durante este
periodo la deuda interior se redujo, logrando un equilibrio económico, permitiendo la generación de
un proyecto de desarrollo urbano elitista, oligárquico y autoritario que privilegió a la inversión de
capitales extranjeros, ampliamente favorecidos en la construcción y operación de infraestructura
férrea, la introducción de una red de energía eléctrica y telegráfica, y en la modernización urbana
(Garza, 2003; Tello, 1994). Estas inversiones aunque se realizaron en gran parte del país fueron más
evidentes en la ciudad de México, transformándola en una “ciudad moderna”, profundizando, al
mismo tiempo, las desigualdades económicas y sociales, sobre todo las de los más empobrecidos.
5
Delegaciones: unidades político-administrativas de cercanía en que se encuentra dividido el
Distrito Federal o ciudad de México.
6
Mecanismo legal que permite adquirir una parte del índice de construcción (pisos y/o metros
cuadrados) no utilizado en otras áreas de la ciudad, en particular en el Centro Histórico.
115
116
Cuadro 2
Principales proyectos en desarrollo sobre el Paseo de la Reforma
U niv er s ity To wer Reforma 150 Habitacional, comercio y servicios 250 2.000 42.000 ND 39 154 110 2020
Fuente: Elaboración propia a partir de diversas páginas web de inmobiliarias, de los principales periódicos del Distrito Federal y de revistas de arquitectura y promoción inmobiliaria
Febrero 2015
REFERENCIAS BIBLIOGRAFÍCAS:
Acevedo, E., 1995. El legado artístico de un imperio efímero. Maximiliano en
México, 1864-1867. In: Instituto Nacional de Bellas Artes, Testimonios artísticos
de un episodio fugaz (1864-1867). México: INBA.
Gobierno del Distrito Federal, 2001. Acuerdo por el que se crea el Consejo
Promotor de Proyectos Especiales para el Desarrollo Económico del Distrito
Federal. Gaceta Oficial del Distrito Federal, 20 de febrero de 2001.
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Pradilla, E., 2005, Los errores del Bando 2. Malacate, año 1, n. 3, México.
Pradilla, E., 2011. Zona Metropolitana del Valle de México: una ciudad baja,
dispersa, porosa y de poca densidad. In: Pradilla, E (comp.), Ciudades
compactas, dispersas, fragmentadas. México: Miguel Ángel Porrúa.
Pradilla E.; Moreno F.; Márquez L., 2012. Changements économiques, sociaux et
morphologiques dans la Zone Métropolitaine de la Vallée de Mexico 1982-2010.
In: Tellier L. N.; Vainer C., Métropoles des Amériques en mutation. Quebec:
Presses de l’Université du Québec.
Tamayo, S., 2007. Los desafíos del Bando 2. México: Gobierno del Distrito
Federal: Secretaría de Desarrollo Urbano y Vivienda.
Simone Gatti
Simone Gatti
121
RESUMO
Este trabalho apresenta uma análise do Projeto Nova Luz, lançado
pela Prefeitura Municipal de São Paulo em 2005, com o objetivo de renovar um
perímetro composto por 45 quadras no distrito central de Santa Ifigênia, a partir
da aplicação de um instrumento urbanístico sem precedentes na legislação
brasileira, a Concessão Urbanística. A pré-existência de uma Zona Especial de
Interesse Social no perímetro do projeto, a ZEIS 3 C 016 (Sé), possibilitou a
formação de um Conselho Gestor para elaborar e aprovar o Plano de
Urbanização da área e debater as questões inerentes à produção habitacional de
interesse social em áreas centrais. A atuação da sociedade civil no Conselho
Gestor, único veículo de participação social efetiva formado durante o projeto,
foi responsável pela introdução de um processo de resistência popular e pela
formulação de medidas mitigadoras em prol da inclusão social e de garantias de
atendimento habitacional à população residente, bem como pelo embargo
definitivo dos processos antidemocráticos que desconsideraram a leitura da
cidade existente e a vida cotidiana dos seus moradores.
Palavras Chave: Projeto Nova Luz; ZEIS; Conselho Gestor.
RESUMEN
En este trabajo se presenta un análisis del Proyecto “Nova Luz”,
puesto en marcha por el Ayuntamiento de São Paulo en 2005, con el objetivo
de renovar un perímetro formado por 45 bloques en el barrio central de Santa
Ifigênia, São Paulo, a través de un instrumento urbano sin precedentes en la
legislación brasileña, la Concesión Urbanística. La pre-existencia de una Zona
Especial de Interés Social en el perímetro del proyecto, ZEIS 3 C 016 (Sé),
permitió la formación de un Consejo de Administración para preparar y aprobar
el Plan Urbano de la zona y discutir temas relacionados con la producción de
viviendas de interés social en las zonas centrales. El papel de la sociedad civil en
esto consejo fue el responsable por la introducción de un proceso de resistencia
popular y la formulación de medidas de mitigación para la inclusión social y la
garantía de producción de vivienda a la población residente, así como la
prohibición permanente de los procesos anti-democráticos que desatendieron la
lectura de la ciudad existente y la vida cotidiana de sus habitantes.
Palabras clave: Nueva Luz de Proyectos; ZEIS; Consejo de
Dirección
122 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
INTRODUÇÃO
Há um fator comum que vem permeando a vida urbana
contemporânea em diferentes partes do mundo: a forma como territórios
populares, na maioria das vezes de grande representatividade histórica, vem
sendo transformados e recompostos socialmente, tornando-se pontos turísticos,
mercado imobiliário para as classes médias e altas ou simplesmente sendo
ocupados por novas infraestruturas urbanas. Esse fenômeno, latente na lógica do
capitalismo tardio, remete não somente às transformações físicas das cidades,
mas, sobretudo, às transformações das estruturas sociais, construídas
historicamente, onde a população de baixa renda é deslocada para ceder lugar a
novos moradores da classe média. O que até a metade do século passado podia
ser identificado como consequência involuntária de um amplo processo de
mudanças econômicas e sociais em curso, passou a ser utilizado como estratégia
de intervenção sobre territórios já não tão rentáveis e não tão atraentes aos
investimentos do mercado imobiliário, tendo em muitos casos a regulação
urbanística como canal viabilizador de tais intervenções.
A partir do final do século XX, a desigualdade na produção e na
ocupação do espaço urbano brasileiro, já legitimada pelo zoneamento e lei de
uso e ocupação de solo, passa a ser reforçada pelos novos instrumentos de
flexibilização da regulação urbanística existente, como as Operações Interligadas,
as Operações Urbanas Consorciadas e, como exemplo mais recente, a
Concessão Urbanística. Instrumento previsto no Plano Diretor Estratégico de
2002 de São Paulo (São Paulo, 2002), ele foi utilizado para tentar viabilizar o
Projeto Nova Luz, projeto de renovação urbana da área central lançado pela
Prefeitura Municipal em 2005. Embora estes instrumentos de flexibilização
apresentem como contrapartidas ao desenvolvimento imobiliário a mitigação de
impactos para a população de baixa renda e a inclusão social, seus resultados
têm sido altamente excludentes, gerando grandes impactos negativos para a
população pobre, que vive e trabalha nas áreas de intervenção.
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO
A partir desta perspectiva, o Centro de São Paulo se apresenta
como exemplo emblemático de um dinâmico processo de investimentos e
desinvestimentos, onde o desenvolvimento de novas centralidades para o vetor
Sudoeste da cidade afastou os investimentos públicos e o interesse do mercado
Simone Gatti
123
imobiliário da área central, mantendo-a acessível para as classes populares. A
partir dos últimos anos, com a escassez de estoque construtivo em outras áreas
da cidade, o interesse econômico pelo Centro é retomado, iniciando um
processo de reversão do esvaziamento populacional e passando também a ser
foco de grandes projetos urbanos.
É neste contexto que se enquadra o tradicional distrito de Santa
Ifigênia, localizado a oeste do Centro Histórico da cidade de São Paulo, cujo
comércio elegante e residências de alto padrão foram sendo substituídos pelo
comércio popular e moradores de menor poder aquisitivo a partir da década de
1950. Hoje, apesar da perda populacional que sofreu nas últimas décadas, é
repleto de atratividades e dinamismo característicos dos centros urbanos: possui
um importante polo comercial de produtos eletroeletrônicos localizado na Rua
Santa Ifigênia e imediações; é beneficiado por importantes equipamentos de
cultura e lazer e está inserido em uma região amplamente atendida por
transporte público de alta capacidade. Contudo, é também foco de diversidade e
contradições sociais marcadas pela presença do mercado informal, pelos cortiços
habitados por moradores de baixa renda e pela presença dos moradores de rua
e usuários de drogas, mais especificamente o crack, o que favoreceu a
estigmatização da área e sua denominação como “cracolândia”.
Este território repleto de contradições passou a ser alvo das
políticas públicas desde a década de 1970 a fim de se reverter o processo de
deslocamento das elites e a popularização da área, através de projetos de
renovação urbana. As propostas tiveram início com o projeto do renomado
escritório Rino Levi Arquitetos Associados para a área em 1977 (César, Franco e
Bruna, 1977), passando pelo Projeto “Luz Cultural” desenvolvido em 1984 na
gestão do prefeito Mário Covas (1983-1985), até culminar no Projeto Nova
Luz, lançado em 2005 na gestão do prefeito José Serra1 (2005-2006), do
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), cuja continuidade foi atribuída ao
seu sucessor, o então vice-prefeito, Gilberto Kassab (2006-2012), do Partido
Democratas (DEM).
O Projeto Nova Luz teve como objetivo a renovação de 45
quadras do distrito de Santa Ifigênia (figura 1), área limite a outro grande projeto
1
José Serra e Gilberto Kassab foram eleitos em 2004 para os mandatos de prefeito e vice-prefeito
respectivamente de 1º de janeiro de 2005 a 31 de dezembro de 2008. Em 31 de março de 2006,
José Serra renunciou ao cargo para concorrer às eleições do Governo do Estado de São Paulo e
Gilberto Kassab assumiu a prefeitura. Em 2008, Kassab foi eleito prefeito para o mandato entre 1º
de janeiro de 2009 e 31 de dezembro de 2012.
124 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
urbano promovido pelo Governo do Estado de São Paulo, a Escola da Dança,
projetada pelo escritório suíço Herzog & de Meuron. Seu principal antecedente
foi um Programa de Incentivos Seletivos, lançado na gestão do então prefeito
José Serra (2004-2006) para atrair empresas da área de tecnologia da
informação e telecomunicação, prevendo isenções fiscais às empresas
interessadas em se instalar na região (São Paulo, 2005). Porém não houve
interesse por parte das empresas em função da estrutura fragmentada do
território, cujos terrenos pequenos e grande número de proprietários
dificultavam as negociações para aquisição dos imóveis. Com intuito de
pressionar os proprietários, a Prefeitura promulgou um Decreto de Utilidade
Pública, a fim de possibilitar eventual processo de desapropriação.
Simone Gatti
125
Dada a dificuldade na aquisição de imóveis e a falta de recursos do
Poder Público Municipal para a transformação da área, foi definida a Concessão
Urbanística como instrumento viabilizador do projeto. Através do instrumento,
previsto pelo Plano Diretor de 2002 e aprovado pela Lei nº 14.917 de 2009
(São Paulo, 2009a), o poder executivo concede ao empreendedor privado o
direito de desapropriar e explorar os imóveis localizados na área do projeto,
dando como contrapartida investimentos em transporte, sistema viário, criação
de áreas verdes e novos espaços públicos, infraestrutura e habitação de interesse
social, previstos em projeto urbanístico específico.
O argumento para o uso da Concessão Urbanística se baseia na
possibilidade de induzir as transformações urbanas em áreas degradadas e
minimizar a necessidade de investimentos pelo poder público em áreas
declaradas como de utilidade pública e interesse social. Contudo, o instrumento
é questionável juridicamente por ser vedada ao poder público a desapropriação
de imóveis para fins de revenda e por serem permitidas desapropriações apenas
por empresas de fornecimento de serviços públicos. A legislação, conforme foi
aprovada, não concede ainda garantias de permanência aos proprietários e
inquilinos dos imóveis a serem desapropriados.
Aprovada a Lei nº 14.918 de 2009 (São Paulo, 2009b), que
autorizou o executivo a aplicar a Concessão Urbanística na área do Projeto
Nova Luz, estava formado o cenário para o início de uma intervenção urbana
viabilizada pelo chamariz do megaprojeto, onde o papel do ente público seria
definidor para a elaboração dos pactos e definição dos atores, mas cujo ônus
seria remetido ao mercado privado através da aplicação de um instrumento
inédito na regulamentação urbanística brasileira, sem precedentes de aplicação.
Nesta trama de articulações e definições de responsabilidades
sobre a produção do espaço público e a exploração do espaço privado, o
principal ator, o morador, aquele que habita o espaço em questão, usufrui de
sua estrutura e sofre com seus problemas cotidianos, foi mantido à margem do
processo. Seria informado na hora do despejo ou nos exíguos canais de
comunicação formalmente construídos para a divulgação de um projeto já pré-
estabelecido.
Após a aprovação da lei, foi lançada no final do mesmo ano a
licitação para a contratação dos projetos, no valor de 12 milhões de reais. O
consórcio vencedor, formado pelas empresas brasileiras Cia City, Fundação
Getúlio Vargas e Concremat e pelo escritório de arquitetura norte-americano
AECOM, finalizou os estudos em meados de 2012, último ano da gestão
126 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
Kassab, trazendo no seu repertório modelos importados de contextos muito
diversos da complexidade social existente na área central de São Paulo.
Foram utilizadas referências como a Rambla de Barcelona, o
Campo Santa Margherita de Veneza, o Parque Victoria Manalo de São Francisco
e o Bryant Park de Nova Iorque, conforme figura 2. São referências de desenho
urbano que buscaram compatibilizar escalas semelhantes e eixos geradores de
perspectivas significativas para compor espaços públicos generosos, porém, a
estrutura social existente e suas formas de interação com a paisagem e com a
vida urbana não foram colocadas como pré-requisitos de projeto.
Simone Gatti
127
edificações preservadas por critérios formais e desarticuladas das relações de
coletividade construídas historicamente.
O desenho urbano proposto teve como objetivo principal a
ruptura da estrutura fundiária fragmentada do centro de São Paulo para a
liberação de grandes áreas para investimentos imobiliários. Este desenho, belo
ou não, é ainda mais estranho aos olhos daqueles que seriam impactados
diretamente, pois o traço no papel foi feito de forma autoritária, não permitindo
o redesenho. Foi impositivo, definindo quem sai e quem entra, já que a
participação da sociedade não foi pré-requisito para sua elaboração. Embora
estivesse presente a prerrogativa da elaboração de um Plano de Comunicação
no decorrer do projeto, este não foi elaborado com metodologia de
participação efetiva. Audiências Públicas, um posto de informação localizado na
Rua General Couto de Magalhães e o site oficial do projeto funcionaram como
procedimentos formais para legitimar um projeto pré-definido nas instâncias do
governo, sem interação real com a comunidade.
128 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
Inicialmente os embates políticos em torno do Projeto Nova Luz
eram polarizados na questão do comércio local, cujos comerciantes se
mobilizaram para a formação de uma associação frente à aprovação da Lei de
Concessão Urbanística, em 2009. Os moradores não possuíam
representatividade e a problemática habitacional não era sequer debatida. A
partir da formação de uma associação de moradores no perímetro do projeto, a
AMOALUZ (Associação de Moradores e Amigos da Santa Ifigênia e Luz), os
doze movimentos de moradia atuantes na região central se reuniram para
pressionar o poder público a formar o Conselho Gestor da ZEIS.
A formação da AMOALUZ possibilitou que o debate sobre a
moradia local alcançasse a imprensa e a opinião pública, bem como a
participação da população residente na pauta de negociações com a Prefeitura
Municipal de São Paulo e com a equipe do Consórcio Nova Luz. O processo de
formação da AMOLUZ foi caracterizado pela dificuldade de mobilização junto à
população local que, pelo grau de vulnerabilidade social existente na região, se
manifestava indiferente ao projeto urbanístico ou descrente de qualquer
possibilidade de transformação do processo advindo da manifestação popular.
Os inquilinos, responsáveis por 49,5% da população local (Gatti, 2015), eram os
mais relutantes em atuar politicamente frente ao processo imposto pelo poder
público, à medida que se julgavam despossuídos de qualquer direito frente a sua
moradia e à vida no bairro, mesmo sendo muitos deles residentes no mesmo
local há décadas. E os comerciantes locais, embora engajados na luta contra a
Concessão Urbanística, recusavam-se a debater o projeto com a comunidade
enquanto a legislação não fosse revista.
O Conselho Gestor da ZEIS 3 C 016 (Sé) teve suas atividades
iniciadas em junho de 2011, em um processo que envolveu muitas
particularidades. Dentre elas: a ZEIS estava inserida no perímetro do Projeto
Nova Luz e por isso o PUZEIS seria elaborado em conformidade com as
propostas do Projeto Urbanístico Específico; o Plano já havia sido desenvolvido
pela prefeitura e pela Cia City, que integrou a equipe do Consórcio Nova Luz, e
não pelo Conselho Gestor da respectiva ZEIS; e o PUZEIS seria viabilizado por
legislação específica, a Lei nº 14.917/2009 que autorizou o executivo a aplicar a
Concessão Urbanística na área da Nova Luz. Todos estes fatores indicavam o
comprometimento, a priori, do processo de construção democrática do Plano
de Urbanização da ZEIS.
Simone Gatti
129
Ainda assim, a formação deste Conselho, após intenso processo de
pressão por parte da sociedade civil, representou um momento histórico para as
políticas públicas de São Paulo, seja pela forma como a sociedade se organizou
para viabilizar a sua formação, unindo todos os movimentos de moradia atuantes
na área central da cidade, seja pelo fato de ser o 1º Conselho Gestor a ser
formado em São Paulo para uma ZEIS demarcada em áreas centrais, a ZEIS 3.
Isto significa que, independentemente da viabilização do Projeto
Nova Luz, foi formado um Conselho Gestor deliberativo para acompanhar o
Plano de Urbanização de uma porção do território demarcado pelo Plano
Diretor de 2002, prioritária para a construção de habitação para a população de
baixa renda, com vitalidade não apenas durante a etapa de projeto do plano de
urbanização, mas, em tese, durante todo o processo de sua implantação,
acompanhando e fiscalizando as projeções pactuadas e deliberadas.
GANHOS E PERDAS
A atuação da sociedade civil no conselho, composta por entidades
sociais, moradores e comerciantes, possibilitou a viabilização do cadastramento
130 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
de moradores e comerciantes presentes no perímetro do projeto, o que tornou
possível pela primeira vez a identificação do perfil populacional da área, já que
todo o projeto havia sido elaborado com base em pesquisas amostrais.
O cadastro no perímetro da ZEIS identificou que 85,27% da
população possuía renda inferior a três s.m. (salários mínimos), 72,09% viviam
em imóveis alugados e 84,35% eram trabalhadores informais, contrariando as
pesquisas anteriores que apontavam graus bem inferiores de vulnerabilidade
social, com apenas 44,39% das famílias com renda inferior a três s.m. (Gatti,
2015).
Estes dados reforçaram o argumento da necessidade de se
repensar a forma de atuação nas ZEIS demarcadas em áreas bem localizadas e
sujeitas a intensos processos de valorização imobiliária, onde as habitações
existentes certamente terão os seus aluguéis elevados após a reurbanização e os
futuros moradores das novas unidades habitacionais terão dificuldades para arcar
com os custos de financiamento habitacional, ou ficarão reféns dos processos de
valorização impulsionados pelo mercado.
Outro fator de interesse obtido no cadastro é o tempo de
residência das famílias no bairro, onde a grande maioria vive na área há menos
de dois anos, o que evidencia o alto índice de mobilidade residencial da região,
não compatível com políticas habitacionais somente destinadas ao sistema da
casa própria. O número de imóveis tipo estúdio, para pessoas que vivem
sozinhas, também foi predominante na região, sendo item fundamental para
equacionar o dimensionamento das habitações a serem propostas para a
respectiva ZEIS.
A sociedade civil no ambiente do Conselho viabilizou ainda uma
série de alterações significativas no projeto urbanístico do projeto Nova Luz,
iniciadas pela revisão das diretrizes apresentadas pelo projeto original.
Considerando as especificidades que envolvem um Plano de Urbanização para
esta área, as diretrizes apresentadas pelo Consórcio Nova Luz foram pensadas
de forma simplista e genérica, com indicações abstratas, que não consideraram
seu fator locacional, não incluíram a necessidade de garantias de atendimento
habitacional à população residente e de permanência dos atuais moradores e
comerciantes, um dos objetivos principais das ZEIS 3, já que foram demarcadas
em áreas de ocupação precária.
Com base nesta análise, os representantes da sociedade civil
apresentaram a proposta de ampliação das 11 diretrizes iniciais para 37
Simone Gatti
131
diretrizes, incluindo a obrigatoriedade do desenvolvimento do cadastro, que
ainda não tinha sido realizado pela Secretaria Municipal de Habitação, e as
demais demandas relacionadas às especificidades de se produzir em ZEIS 3.
Durante a apresentação das novas diretrizes, a proposta de revisão
dos critérios de intervenção do Projeto Nova Luz gerou um longo e caloroso
debate. A proposta colocada pela sociedade civil (aprovada após exaustivas
discussões) da necessidade de revisão dos critérios para definição dos imóveis a
renovar e a permanecer a fim de não considerar apenas elementos construtivos
e do interesse do mercado imobiliário, mas também a atividade produtiva
existente e usos que representavam a memória do bairro e da região provocou
a reação da coordenação do Projeto Nova Luz em defesa do projeto já
concebido e desses critérios como viabilizadores econômicos da Concessão
Urbanística.
O Plano de Urbanização da ZEIS foi apontado como conteúdo da
Concessão Urbanística e que, portanto, deveria estar submetido aos seus
critérios e objetivos e ser desenvolvido nas áreas liberadas para produção
habitacional. No entanto, foram justamente os critérios de exclusão da realidade
socioeconômica e territorial existente que levou à proposta de revisão,
considerando que a demarcação da ZEIS é anterior ao Projeto Nova Luz e o
Conselho Gestor tem a função não somente de aprovar o Plano de Urbanização
de ZEIS, mas de elaborá-lo a partir de novos critérios.
A proposta para a ampliação das Diretrizes do Plano de
Urbanização de ZEIS incluiu ainda a necessidade de priorização da produção de
HIS sobre as demais intervenções do Projeto Nova Luz, a fim de que as
contrapartidas sociais não fossem os últimos elementos do projeto a serem
implantados.
Foram inseridas diretrizes que vincularam as demolições ao início
das obras, bem como a não interrupção das mesmas, para que os terrenos
vazios não se multiplicassem na área de intervenção, como os muitos já
existentes desde as demolições iniciadas em 2007.
Foram introduzidas questões específicas sobre a atividade produtiva
local, como a necessidade de se reservar áreas comerciais nos térreos dos
edifícios habitacionais, a fim de garantir a permanência do ponto existente nas
áreas a serem demolidas. Os representantes do comércio no Conselho Gestor
incluíram ainda diretrizes referentes à atuação da Concessão Urbanística sobre o
comércio da região, como a criação de instrumentos que lhes dessem garantias
132 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
econômicas, financeiras e securitárias em caso de desapropriações e
indenizações pelo fundo de comércio.
A necessidade da criação de instrumentos que garantissem o
atendimento habitacional da população residente e a sua permanência na área,
por prioridade definida de acordo com o impacto sofrido pela população, foram
introduzidas como diretrizes do PUZEIS, bem como que as políticas
habitacionais fossem formuladas de forma a coibir a mercantilização das
habitações sociais produzidas na ZEIS, considerando o fator locacional da ZEIS 3
e os processos de valorização da área, sobretudo para a população com renda
de até três s.m., que necessita de políticas alternativas ao modelo da casa própria
por estarem sujeitas aos processos de gentrificação. Segundo as novas diretrizes,
deveria ser garantida a realocação do morador de sua habitação atual apenas
para a habitação definitiva, sem ter que se dirigir a habitações provisórias, para
que fossem evitadas as dispersões comuns em processos de remoção, ou
mesmo para que mudanças na gestão governamental não provocassem a
alteração das decisões pactuadas.
O Plano de Urbanização proposto pelo Consórcio Nova Luz não
considerou diretrizes de cunho social, como políticas multidisciplinares para a
geração de emprego e renda e qualificação profissional, bem como não
apresentou propostas para qualquer sistema de acompanhamento social pós-
ocupação. Temas que foram, portanto, inseridos nas novas diretrizes
apresentadas pela sociedade civil, como a implantação de uma gestão
compartilhada entre poder público e movimentos de moradia, a fim de garantir a
adaptabilidade dos moradores de baixa renda à nova habitação, à convivência
em condomínio e à emancipação econômica.
A revisão das diretrizes do PUZEIS abriu caminho para a
materialização de propostas que possibilitaram alterações significativas não
apenas no planejamento proposto para o território da ZEIS, mas para todo o
perímetro do projeto Nova Luz. Com relação à produção habitacional, que é o
ponto central do debate no Conselho Gestor da ZEIS 3 C 016 (Sé), mesmo
com todas as tentativas de convencimento por parte do poder público de que
haviam números suficientes de habitação social no projeto, a sociedade civil
conseguiu elevar o percentual de área construída destinada à HIS de 50% para
80%, restando 20% para a produção de HMP, conforme número de famílias
com renda inferior a seis s.m. identificada na pesquisa amostral no perímetro do
projeto.
Simone Gatti
133
Mesmo com a recusa pela extensão do número de
empreendimentos de habitação social para fora do perímetro da ZEIS,
mantendo-se apenas o exigido pela legislação, a ampliação no número de HIS
sobre HMP no perímetro da ZEIS representou uma importante conquista dos
movimentos de moradia na luta pela reserva de áreas para a população de baixa
renda na região central, já que absorve o maior déficit habitacional da cidade e
poderia ampliar as possibilidades de manutenção das famílias afetadas
diretamente pela intervenção, de oferta habitacional para os moradores
impactados pela valorização imobiliária decorrente da reurbanização da área e da
destinação de habitação social bem localizada para famílias que vivem em áreas
distantes, mas trabalham no centro, contribuindo assim para a redução dos
conflitos de mobilidade e a democratização da terra urbana.
Já a Instrução Normativa do cadastro, importante documento
construído pela sociedade civil no ambiente do Conselho Gestor para regular o
atendimento habitacional e garantir a permanência da população residente, não
foi incluída no PUZEIS aprovado. Foram excluídos importantes direcionamentos
pactuados entre poder público e sociedade civil, tais como o compromisso do
poder público em substituir o protocolo de cadastro entregue às famílias por um
cartão de atendimento, que funcionaria como a garantia de atendimento
habitacional, e as diretrizes para o atendimento às famílias de imigrantes em
situação irregular, que representam um alto percentual entre os moradores do
perímetro de intervenção.
Ainda com os percentuais de HIS ampliados, haveria o risco de só
serem atendidas famílias com rendas maiores de três s.m., não favorecendo a
real demanda da região, já que o Plano Diretor de 2002, então em vigor, não
definia um percentual para as famílias de baixa renda, e com a produção de HIS
a cargo do concessionário, possivelmente o atendimento habitacional se
concentraria nas rendas entre cinco s.m. e seis s.m., como já apontava o
histórico da produção privada de HIS em ZEIS.
Este tipo de distorção promovido pela regulação em vigor só
poderia ser coibido através de um acompanhamento preciso do Conselho
Gestor durante todo o processo de indicação da demanda e reassentamento das
famílias nas unidades habitacionais construídas. O cadastro já se configurava
como o início deste processo, pelo menos em relação à população de baixa
renda residente na área de intervenção. Outra forma de coibir esta distorção
seria com a implementação de uma política habitacional alternativa ao modelo da
propriedade individual privada, como a criação de um parque público de locação
134 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
social. Contudo, este modelo prescindia alocação de subsídios aquém do
planejado no modelo da Concessão Urbanística, onde o lucro do concessionário
era a guia mestra para as intervenções do poder público.
Outro importante assunto debatido durante a elaboração do Plano
foi a reivindicação da sociedade civil para impedir a demolição de
estabelecimentos representativos do patrimônio cultural e do processo histórico
de construção da identidade do lugar e de seus moradores, bem como a
necessidade da criação de políticas públicas para garantir sua preservação.
Com base no questionamento sobre as demolições propostas, a
AMOALUZ realizou uma pesquisa com moradores da região, sobretudo os mais
antigos, presentes no bairro há décadas, na tentativa de identificar esses lugares e
garantir sua permanência. Este levantamento identificou a existência de 12
estabelecimentos de comércio ou serviços representativos da história e da
memória do bairro, como a Tabacaria Reis, no bairro desde 1915, a loja de
instrumentos musicais Casa Del Vecchio, desde 1921, o restaurante Filé do
Moraes, desde 1929 e o Bar Léo, inaugurado em 1940.
A proposta de preservação dos comércios e serviços de valor
histórico e cultural gerou um intenso e cansativo debate no Conselho Gestor da
ZEIS, considerando a posição inflexível do coordenador do Projeto Nova Luz,
arquiteto Luiz Ramos, em preservar usos ligados ao espaço construído. Na visão
dele, as atividades existentes hoje estariam sempre sujeitas a transformações e
por isso não haveria sentido comprometer um plano urbanístico para preservá-
las. “O projeto urbanístico, ele não é um projeto que tem esse caráter de
programação cultural, programação social [...] Isso é uma coisa complementar”,
argumentou Ramos (GATTI, 2015). Ou seja, a cidade existente e o uso que se
faz dela não possui qualquer valor perante o “novo” que poderia ali ser
instaurado.
O edifício localizado na Rua Mauá 342 a 360, na quadra formada
pela Rua General Couto de Magalhães, Rua Washington Luiz e Avenida Cásper
Líbero, sede da “Ocupação Mauá”, foi outro representativo ponto de
questionamento sobre as demolições propostas pelo Projeto Nova Luz. O
imóvel ficou abandonado por 17 anos, sem cumprir a função social da
propriedade, com tributos e taxas não pagas pelo proprietário desde 1974,
quando foi ocupado em 2007 para abrigar 237 famílias.
As famílias moradoras da ocupação, que trabalhavam na região
central e tinham suas 180 crianças frequentando escolas e creches próximas,
Simone Gatti
135
ocuparam o prédio, tiraram o lixo acumulado por anos de desuso e
transformaram um local abandonado em moradia. O edifício seria demolido
pelo Projeto Nova Luz para a construção de um centro de entretenimento no
local, ocupado por cafés, restaurantes e cinema, não respeitando os critérios
definidos pelo próprio projeto, onde seriam mantidas as edificações com mais de
20 unidades residenciais.
Embora não estivesse no perímetro da ZEIS, e sim na área
envoltória, a Ocupação Mauá entrou no debate do Plano de Urbanização de
ZEIS por pressão dos movimentos de moradia presentes no Conselho Gestor.
A luta e a conquista pela permanência do edifício da Ocupação Mauá no
contexto do Projeto Nova Luz representaram mais do que a luta pelo direito à
moradia, representou a batalha dos movimentos sociais para a reconversão dos
prédios abandonados do centro da cidade em moradia para a população de
baixa renda que trabalha, estuda e possui laços sociais com o bairro e com o
centro de São Paulo.
Estes foram alguns dos temas debatidos ao longo de 10 meses de
reuniões do Conselho Gestor, do início da sua formação, em junho de 2011,
até a aprovação do plano, em abril de 2012, tempo consideravelmente inferior à
complexidade do debate e das questões a serem equacionadas para um projeto
de tal dimensão.
O PUZEIS foi aprovado antecipadamente, à revelia da sociedade
civil, para que fosse viabilizado o edital da licitação de execução do projeto ainda
na gestão do prefeito Gilberto Kassab. O Conselho Gestor, a priori, teria a
atribuição de deliberar apenas sobre o Plano de Urbanização da ZEIS 3, que
requer a liberação de áreas para a produção de moradia de interesse social, não
tendo atribuição legal nas tomadas de decisões sobre o restante do perímetro
do Projeto Nova Luz. Contudo, muitas das propostas apresentadas pela
sociedade civil no Conselho Gestor da ZEIS 3 C 016 (Sé) objetivaram a
ampliação do debate para questões além do escopo definido, seja por estarem
de uma forma ou de outra vinculada às questões tratadas pelo PUZEIS, ou por
considerar a importância de que canais de gestão participativa como Conselhos
Gestores pudessem fomentar sua atuação sobre políticas públicas de maior
alcance, já que o objeto de deliberação envolve questões que se relacionam
com o restante da cidade, por várias frentes.
Por outro lado, as propostas apresentadas não vislumbraram
apenas o cenário ideal inerente a um Plano de Urbanização de ZEIS, já que este
plano estaria vinculado às diretrizes do Projeto Nova Luz e sua viabilização pela
136 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
Concessão Urbanística, mas possibilidades de minimização de impactos,
sobretudo aos moradores e comerciantes locais e a população mais vulnerável,
cujas garantias de participação e inclusão no processo de transformação urbana
eram altamente remotas.
Estas propostas vieram para materializar as Diretrizes aprovadas
pelo Conselho Gestor, a fim de serem transformadas em políticas públicas
efetivas presentes no PUZEIS e, com sorte, transcender ao cenário de sua
viabilização econômica pela Concessão Urbanística, tão indesejada. Algumas
destas propostas de mitigação dos impactos sobre a população residente foram
introduzidas no plano aprovado no dia 4 de abril de 2012, porém com ressalvas
significativas e não na sua plenitude.
Das propostas apresentadas ao Conselho Gestor como revisão do
Plano de Urbanização da ZEIS 3 C 016 Sé, foram aprovadas proposições
referentes ao desenho urbano, porém as garantias de atendimento, as políticas
de salvaguarda ao patrimônio e as propostas que demandavam grandes
alterações no Projeto Nova Luz não foram acatadas pelo poder público, seja
porque a própria lei da Concessão Urbanística, da forma como foi redigida,
inviabilizaria garantias e direitos aos atuais ocupantes da área (sobretudo os
inquilinos, que compõe a grande maioria dos moradores e comerciantes), seja
porque alterações que modificassem a área a ser comercializada pelo
concessionário vencedor da licitação da Concessão Urbanística poderiam
acarretar numa significativa diminuição da lucratividade e uma consecutiva perda
de interesse do mercado em intervir na área.
A forma simplista e genérica como este debate foi transcrito para o
Plano de Urbanização de ZEIS final, retirado do seu contexto, com grande parte
das propostas inseridas como “sugestões” sem nenhuma garantia de efetivação,
foram algumas das motivações pela qual a sociedade civil se absteve de votar o
plano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urb
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140 O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de exclusão e resistência popular
TRANSFORMACIONES RECIENTES EN EL CHALLAO
(ARGENTINA): ESCALAS Y DIMENSIONES URBANÍSTICAS
RESUMO
Este capítulo trata dos processos de transformação urbana de uma
perspectiva sociológica. O objeto de estudo é Challao na área metropolitana de
Mendoza, Argentina. Tendo sido historicamente uma área de descanso e
adoração, a população recente e movimentos urbanos têm gerado várias
transformações no distrito. O foco do governo provincial e local para esta área
está em assumir um novo papel dentro da cidade. Neste contexto, foi lançado
em Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo. A análise apresenta as
transformações urbanas de vários níveis: nacional, regional e local. Ao reproduzir
mecanismos conhecidos na América Latina e no mundo - gentrificação, o
crescimento urbano - Challao evidencia complexidade atingida pelos fenômenos
urbanos. Este estudo traz uma contribuição para a corrente em plena
consolidação em estudos urbanos: foco no social e no local.
Palavras-chave: escalas urbanas, sociologia urbana, paradigma
multidisciplinar.
El Challao
Centro de la ciudad de Mendoza
Distancia aproximada entre el microcentro y el Challao: 6 Kilómetros
1
Distribución demográfica en la Provincia de Mendoza. Fuente: Atlas Interactivo del Ministerio de
Educación de la Nación Argentina http://mapoteca.educ.ar/.
Maria Jimena Sanhueza
149
Este conjunto de transformaciones urbanas trae aparejado
consecuencias de orden social. Por un lado el aumento de desigualdades en la
zona estudiada. El departamento de Las Heras es actualmente un área de
contrastes sociales: constituido tanto por barrios populares como por barrios
privados, clubes y countries. Las Heras proyecta el mapa simbólico de
desigualdades sociales que gobiernan la región: la coexistencia de núcleos de
bajos y altos recursos, fuente de conflictos difíciles de gestionar para el municipio
(Revista Veintitres, 2011). Por otro lado la evolución reciente del departamento
lo ha convertido en el nuevo foco político y económico del Gran Mendoza
generando nuevos planes, proyectos y nuevas políticas públicas.
El distrito de El Challao, situado al oeste en zona montañosa, ha
sido poblado desde épocas indígenas por disponer de una fuente de agua
subterránea. Desde la conquista se forjó como el mirador y lugar de vacaciones
de la población de mayores recursos. Esto es lo que atestiguan libros y artículos
escritos sobre el distrito:
“Esta zona de Las Heras es un oasis de la precordillera y una
reserva natural de flora y fauna. Allí está el divisadero largo.
Además, fue habitado por tribus huarpes; es un sitio internacional
de fe cristiana y un lugar turístico y recreativo del Gran Mendoza
por excelencia” (Guerrero, 2003)
El Challao cuenta actualmente alrededor de 24.000 habitantes.
Hacia el sur, se puebla por 4 barrios privados y áreas urbanizadas. Hacia el norte
se ruraliza, siendo el área donde se encuentran campings, residencias y áreas
naturales.
La población mendocina conoce a El Challao por su iglesia, donde
se venera a la Virgen de Lourdes desde 1926. Recientemente a las funciones
residencial y religiosa se han articulado otras actividades recreativas y turísticas:
restaurantes, campings, zonas de entretenimiento, deporte aventura y complejos
de eventos. La coexistencia de estas múltiples actividades genera, como veremos
más adelante, conflictos diversos en la población local.
El Challao representa un caso de estudio enriquecedor en
urbanismo por diversas razones. Por un lado, el crecimiento del Gran Mendoza
y “su necesidad de nuevas tierras para urbanizar” (Abraham, Roig y Salomon, sin
fecha) se está orientando hacia las zonas del oeste, entre las cuales se incluye el
distrito estudiado. Como consecuencia y habiendo sido el Challao
históricamente un área relegada debido a su distancia del centro, la expansión
150 Transformaciones recientes en El Challao (Argentina): escalas y dimensiones urbanísticas
física de la ciudad ha generado su inclusión y revalorización provocando el
desplazamiento de las poblaciones humildes. Por otro lado, esto ha obligado al
gobierno municipal a fomentar el desarrollo de infraestructuras de servicios (luz,
agua, gas, transporte), o al menos asumir el compromiso. Finalmente, el
gobierno actual (2011-2015) ha proyectado desarrollar la actividad turística,
sacando provecho de la cercanía con el centro de Mendoza, multiplicando así las
fuentes de empleo y valorizando el patrimonio natural e histórico del distrito.
Este conjunto de factores invitan a un estudio complejo e interdisciplinario del
área.
El proyecto público que someteremos a análisis en este trabajo es
el actual “Plan de posicionamiento de El Challao como destino turístico
sustentable” lanzado por el municipio de Las Heras y la Cámara de Turismo y
Comercio El Challao con la asistencia técnica de profesionales de la Universidad
Nacional de Cuyo. Las líneas principales apuntan a proporcionar mejor calidad
de vida a la población local, a través de la planificación participativa y la gestión
conjunta entre los sectores públicos y privados. El plan forma parte de un
proyecto urbano y económico orientado hacia la principal actividad de la región:
el turismo. La actividad turística ha visto “un continuo crecimiento a lo largo de la
última década y con su consecuente impacto positivo en la economía mendocina
en su conjunto y principalmente en las economías regionales” (Observatorio
para el Turismo Sostenible de Mendoza, 2013). Es en este contexto regional y
local se fomenta el desarrollo turístico que el municipio lanzó en 2013 el Plan de
Turismo Sustentable de El Challao.
El objetivo del Plan es “Posicionar a El Challao como un destino
turístico con perfil sustentable, integrado a los actores privados y públicos
vinculados al desarrollo de la actividad en un proceso de planificación y gestión
estratégica”. En primer lugar lograr que el Challao sea parte del circuito turístico
de la ciudad. En segundo, conseguir un turismo sustentable a largo plazo,
ecológico e integrado.
Como hemos visto, El Challao – una zona históricamente relegada
– se une al tejido urbano a raíz del crecimiento demográfico y la expansión física
de la ciudad. Esto brinda la posibilidad de crear una zona de explotación turística
que sea fuente de crecimiento y desarrollo; poniendo en valor su patrimonio
natural e histórico. El objetivo se persigue a través de diversas líneas de acción:
perfeccionamiento de la oferta turística, inversiones para señalización,
cartelización, puesta en valor del patrimonio histórico y cultural, formación y
Tabla 1
Producto Bruto Geográfico 2009 (en pesos argentinos)2
Actividad Mendoza Area Metropolitana
Minas y Canteras 7.118.720 1.236.815
Industria Manufacturera 5.380.206 4.369.157
2
El valor del peso argentino en 07 de julio 2015 fue de 35 centavos de real (ARS $ 1,00 = R$
0,35) como el sitio “Conversão de Moedas do Banco Central do Brasil”. Disponible en:
http://www4.bcb.gov.br/pec/conversao/conversao.asp [Accesado el día 8 jul. 15]
Maria Jimena Sanhueza
153
La financiación de planes de vivienda por parte del gobierno, las
políticas desarrolladas por el municipio y la expansión territorial del Gran
Mendoza han generado de igual forma el crecimiento demográfico del
departamento Las Heras. El proceso de expansión física de la ciudad ha llevado a
diversas transformaciones físicas, sociales y económicas de la zona. Procesos
que toman la misma forma en diversos contextos: primero, la ciudad atrae
población la cual para instalarse necesita avanzar sobre tierras vacías, industriales
o barrios vulnerables. La ubicación de nuevos pobladores genera, a su vez,
negocios y oportunidades económicas que son creados en la zona. Pero el
proceso no se detiene allí. La ciudad continúa creciendo, cada vez más
individuos requieren o desean habitar estas zonas, provocando un alza en el
valor de esos terrenos.
El Challao, al formar parte del primer anillo metropolitano, entra
rápidamente en los procesos de revalorización – política, económica y turística –.
Consecuentemente, desde los años 90 el Estado lanza las primeras políticas de
inclusión y planificación de las zonas aledañas al centro de Mendoza, entre las
cuales se incluye el distrito observado (Abraham, Roig y Salomon, sin fecha). En
el área que rodea el Challao se instalaron alrededor de diez barrios privados. La
zona cambió su perfil, habiendo sido predominantemente residencial y periférica,
es hoy en día un adyacente a la ciudad, concentrando espacios de
entretenimiento, descanso y recreación frecuentados por visitantes de la región y
de afuera.
El nuevo rol del Challao se vislumbra en varios niveles. Los
servicios públicos, algunos ausentes hasta la hora actual, están siendo
desarrollados. Se construyen hoteles y cabañas. Se multiplican las líneas y
frecuencias de transporte urbano. Se construye en terrenos abandonados.
Socialmente, esto trae aparejado la formación de una unión vecinal que
reivindica los derechos, el patrimonio y la identidad del lugar; que lucha por
tener servicios y mantener la “calidad de vida” de los lugareños (Gray de Cerdan,
2005) y ganó cierto protagonismo en los medios locales; entre otras
consecuencias que abordaremos adelante.
A la hora actual la puesta en práctica del Plan de Turismo
Sustentable es reciente y paulatina, por lo cual las consecuencias del mismo son
aún de carácter hipotético. El crecimiento demográfico y desarrollo económico
del área puede engendrar dos cambios en los negocios locales: la primera
opción es que crezcan y desarrollen su potencial económico – como es el caso
de las cabañas, áreas de entretenimiento o deporte aventura - . También es
154 Transformaciones recientes en El Challao (Argentina): escalas y dimensiones urbanísticas
posible que otros negocios no puedan sostenerse por el alza en alquileres,
debiendo cerrar, fenómeno que también se observa en el distrito estudiado. En
un sentido puramente económico podría decirse que no todos los empresarios
o negocios podrán crecer gracias al Plan, probando la dualidad
beneficios/perjuicios que encierra el mismo.
3
Mapa 4: Barrios Privados del Gran Mendoza
El Challao
3
Barrios privados en el Área Metropolitana de Mendoza. Fuente: Molina, A (2013) pág. 57.
Maria Jimena Sanhueza
155
comerciante? ¿O bien enfocar de las políticas públicas y la población local? La
población local a su vez dividida entre los sectores pudientes – fruto del proceso
de gentrificación de Mendoza – y los sectores modestos que han habitado
históricamente esta zona por estar alejada del centro. Escogimos concentrarnos
en los habitantes del lugar, dado que toda intervención urbana debe garantizar
ante todo una mejora en la calidad de vida de los ciudadanos.
El Plan de Desarrollo Turístico atraerá hoteles, cabañas y otros
servicios para los turistas generando en consecuencia empleo para la gente de la
zona. Multiplicará asimismo las articulaciones de transporte urbano con el centro.
Se construirán nuevas redes viales y mejorarán las existentes. Se unirá el centro
con el Challao. Se desarrollarán servicios públicos: el alumbramiento público se
colocó en 2000 y el gas no llegó sino hasta el año 2011. Aún no cuentan con
sistema cloacal o distribución de agua (Naranjo, 2011), servicios que el gobierno
deberá garantizar para llevar a cabo el Plan de Turismo Sustentable.
Las entrevistas con los lugareños demuestran que estas políticas de
desarrollos son percibidas como positivas. Varios habitantes del lugar opinan que
el Plan atraerá avance y progreso al Challao – dado que creará empleo, se
realizará infraestructura y se mejorarán los servicios. Otros vecinos expresaron,
simultáneamente, que el Plan demuestra el nuevo interés político en la zona
debido a que antes “estaban abandonados”.
Sin embargo este proceso puede ser perjudicial para los habitantes
de menores recursos ya que pueden profundizar el proceso de gentrificación
actual resultando – a mediano y largo plazo - en la expulsión de las clases bajas.
Desde un punto de vista económico, la propuesta de desarrollo
apunta a fomentar la instalación de supermercados, restaurantes y comercios
reemplazando a las discotecas obsoletas y los negocios actualmente
abandonados. Recientemente el municipio de Las Heras otorgó permiso para la
construcción del Mendoza Norte Country Club el cual “en un total de 300
hectáreas, contará con 1.200 lotes (en distintas etapas), una cancha de golf de 18
hoyos, un Club House -con gimnasio, vestuarios y restaurante-, un paseo
comercial y viñedos”. Algunos vecinos del Challao no tardaron en poner en
cuestión la construcción de este espacio, alegando que agotaría la fuente hídrica
del distrito y podría causar catástrofes climáticas (Conte, 2014).
Por otro lado, la convivencia de múltiples funciones (residencial,
turística y recreativa) es fuente de conflictos. En el año 2008, por ejemplo, la
instalación de bares, campings y las termas generó reacciones negativas algunos
ciudadanos que se sintieron invadidos por el tránsito, ruidos molestos y el
156 Transformaciones recientes en El Challao (Argentina): escalas y dimensiones urbanísticas
movimiento nocturno. Para contrarrestar esto el municipio deberá reforzar los
controles y la presencia policial y municipal. Asimismo, es probable que el Plan
de Turismo Sustentable engendre un reemplazo de actividades: que los
campings y discotecas sean desplazados para dar lugar a hoteles y otros
atractivos. Hay quienes consideran esto como positivo, dado que habrá menos
ruido en las noches: es probable que las manifestaciones y protestas en contra
de estas perturbaciones disminuyan. Estas regulaciones sin embargo han
desencadenado cierta melancolía en los habitantes, quienes manifiestan que el
Challao no volverá a ser un lugar de descanso y reposo. La llegada de turistas
impedirá conservar la tranquilidad que caracterizaba el distrito.
Otra consecuencia podría ser el reforzamiento de los lazos sociales
y la creación de una identidad local. Hace diez años, los vecinos del Challao
conformaron el “Foro de la búsqueda de la identidad de la villa el Challao”. Ya en
2003 el Foro pujaba por convertir el área en polo turístico y poner en valor su
patrimonio, proponiendo por ejemplo que las construcciones sean realizadas
con los recursos naturales del lugar (Guerrero, 2003). El Plan de Turismo
Sustentable podría reforzar la identidad y fuerza de estos grupos locales.
De manera general los vecinos del lugar han observado numerosos
cambios en El Challao y afirman que el Plan puede ser provechoso, en la medida
que se reciba bien al turista, se limpie y se cuide mejor el distrito. Muchos de
ellos se muestran escépticos – las mejoras quedarán en promesas vacías y no
habrán cambios significativos en el distrito - .Sin embargo la mayor parte de los
habitantes encuestados valoran el Plan como una oportunidad de avance y
crecimiento, y entienden como positivo el acercamiento del municipio al área y
la posibilidad de que sus problemas sean escuchados y resueltos.
Como conclusión, podemos decir que el Plan de Turismo
Sustentable es a su vez producto y origen de cambios políticos, económicos y
sociales. A través del presente artículo analizamos como las intervenciones
urbanísticas son áreas de cruce. El Plan de Turismo Sustentable es resultado del
crecimiento económico de Mendoza, de su nuevo rol adentro de Argentina y
del Mercosur. El desarrollo económico fue acompañado por el crecimiento
demográfico, la expansión territorial y diversificación de servicios públicos –
como transporte o gas –. El departamento Las Heras y el distrito Challao toman
un nuevo rol adentro de la ciudad, participando de las múltiples transformaciones
que tuvieron lugar en el Gran Mendoza. El distrito se forja como uno de los
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Piedemonte al Oeste de la Ciudad de Mendoza. Un asunto pendiente,
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Sassen, S., 2001. The Global City. Princeton: Princeton University Press.
RESUMEN
Los cambios observados en las ciudades brasileñas que resultan de
las acciones de capital inmobiliario y del Estado se ha estudiado debido, ya que
debido a su gran potencial, las operaciones urbanas han cambiado una parte
significativa de las ciudades de América Latina, en la renovación de las zonas de
ocupación obsoletos, o abriendo nuevas frentes inmobiliarias. Así ha ocurrido en
la ciudad de Belém, capital del estado de Pará, norte de Brasil. Al centrarse en
dos partes de la zona de expansión de Belén, este trabajo aporta a la discusión
financiera, la tierra y la infraestructura creada para la instalación de proyectos en
los que los componentes importantes, tales como el origen de la tierra pública
utilizada en la construcción de comunidades cerradas, centros comerciales y
establecimientos, los cambios introducidos en la propiedad de la tierra,
incluyendo la enajenación de las tierras de las fuerzas armadas en barrios Val de
Cães y de propiedades privadas en el barrio de Parque Verde.
Palabras clave: expansión urbana, capital inmobiliario, Belem.
1
Em algumas entrevistas realizadas em Ventura Neto (2012) os agentes locais falam de uma
elevação no preço da terra urbana na ordem de aproximadamente 200%, o que exigiria maiores
pesquisas.
José Júlio F. Lima, Raul Ventura Neto, Rebeca S. N. Lopes 167
ambos, já que não há interesse de segmentos do circuito de acumulação
financeira pela cidade, pelo simples fato de o circuito imobiliário de Belém não
estar conectado fortemente a esses circuitos, diferentemente de Manaus e
mesmo de algumas cidades médias do Sudeste do Pará, como Marabá e
Parauapebas (Melo, 2015).
Em outras palavras, a possibilidade de extração de riqueza pela
transformação do ambiente construído de Belém é tão reduzida, que parece
não despertar interesse de agentes globais relevantes ao ponto de mobilizar
coalizões na forma de operações urbanas ou na forma de capturar megaeventos
esportivos para a cidade. Como se evidencia ao longo do texto, independente
dessa peculiaridade relacionada à formação da economia urbana local, os efeitos
e as estratégias presentes no seio do movimento da “Nova Belém” apresentam
evidências que parecem incluí-la como um grande projeto de intervenção
urbana recente no Brasil.
A justificativa para a escolha das duas áreas que compõem a “Nova
Belém” pauta-se na possibilidade de análise no contexto de Belém de questões
encontradas na literatura sobre grandes projetos urbanos no Brasil e na América
Latina. A perspectiva de análise de categorias diversas, tais como das condições
financeiras criadas para a instalação de empreendimentos âncora no caso em
análise, traz componentes importantes, tais como a origem pública da terra
utilizada, as alterações fundiárias promovidas nas propriedades, inclusive com a
presença das Forças Armadas no caso da área do Bairro Val de Cães, além da
forte inserção do setor imobiliário, cuja participação foi viabilizada pelas
transformações recentes na flexibilização do capital imobiliário no país.
Discutem-se quais seriam as características que pela literatura
incluem certas intervenções urbanas recentes no rol de grandes projetos
urbanos, para a partir disso evidenciar suas similitudes com as transformações
urbanas incluídas no bojo do projeto da “Nova Belém”. Argumenta-se no artigo
que, a despeito de não contar com um resultado morfológico que a relacione
diretamente a grandes projetos urbanos consagrados, o projeto da “Nova
Belém” traz consigo uma carga de peculiaridades que a tornariam a face do
grande projeto urbano em espaços de formação econômica periférica como
Belém.
2
BM&FBOVESPA – Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo
José Júlio F. Lima, Raul Ventura Neto, Rebeca S. N. Lopes 173
Tal área passou a ser denominada pelo mercado imobiliário como
"Nova Belém”. A localização do Cinturão Institucional, citado acima, ao estar
situado entre a área central e a “Nova Belém”, suas terras passaram a ser
estratégicas, uma vez que o número de terrenos disponíveis para construção no
interior e nas proximidades da área central de Belém e dotadas de infraestruturas
diminuíram e encareceram. O fato das terras do CI pertencerem aos militares
garantiu que permanecessem “intocadas”, não sendo, inclusive, ocupadas por
populações de baixa renda, como aconteceu em outras áreas pertencentes à
União dentro da área urbana de Belém. Atualmente, as pressões do mercado
pelas terras do CI somam-se aos interesses das Forças Armadas em se desfazer
de terras e ainda se beneficiar de contrapartidas oriundas da alienação de seus
bens imóveis.
Localização das áreas objeto de estudo nos bairros Parque Verde (área 1) e Val de Cães
(área 2). A área 1 compreende os empreendimentos localizados na Av. Augusto
Montenegro e Av. dos Trabalhadores, na área 2 estão situados os empreendimentos
construídos em torno da ligação Av. Centenário com a Av. Augusto Montenegro.
Complementando as informações, observa-se a localização do Empreendimento Hangar
Centro de Convenções (identificado com o número 3) inaugurado em 2007 e a Av.
Protásio ligando a Primeira Légua Patrimonial com o Cinturão Institucional por meio da
Av. Júlio Cesar e o Viaduto Daniel Berg.
Governo do Av. Júlio Cesar e Av. Duplicação da Av. Júlio Cesar, construção da
Estado do Protásio de Oliveira Av. Protasio de Oliveira (inaugurados em
Pará 2006)
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Diretor de Belém. Não publicado. COGEP.
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verde-belem-pa. [Acesso em: 27 de fevereiro de 2015]
http://www.freiremello.com.br/fm/site2013/exibirTesiFm.php?id=12&t=J
http://www.statuseng.com.br/property-item/chacaras-montenegro-ipe/ [Acesso
em: 27 de fevereiro de 2015]
RESUMEN
Este artículo presenta los resultados generados por el Programa
Social y Ambiental para el Manaus Igarapés - PROSAMIM realizadas por
Gobierno de Amazonas, en colaboración con el Banco Interamericano de
Desarrollo - BID, para el urbanismo, la vivienda y las intervenciones ambientales
en los cursos de agua de las cuencas hidrográficas el Educandos y São Raimundo
en Manaus. El texto basado en fuentes documentales primarias y secundarias, si
dividido en cuatro partes. En un primer momento, para contextualizar, presenta
la evolución de la ciudad de Manaus. El segundo presenta ejemplos de modelos
de renaturalización y aborda las acciones PROSAMIM. En la tercera parte,
basada en el Registro Socioeconómico Física Territorial (2004) y datos primarios
se describen las características de la zona poligonal. En la cuarta parte, con base
en los resultados esperados proporcionados por el BID (2005), basada en
hechos y datos verificados.
Palabras Claves: PROSAMIM; cuenca hidrográfica; la planificación
urbana; renaturalización.
1 A cota de 30 metros determinada no ano de 19691, equivale à cota arbitrária de 29,96 metros,
definida como cota máxima de inundação das cheias do Rio Negro, com medições feitas desde
15/09/1902, na estação fluviométrica do Roadway instalada no Porto de Manaus, na zona sul da
cidade.
192 O Caso PROSAMIM: O Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus.
Em 1967, com a chegada do modelo econômico baseado na
plataforma de exportação da Zona Franca de Manaus, instala-se o Polo Industrial
de Manaus em área de 1.168,59 hectares localizado na margem esquerda do
igarapé do Quarenta, tributário da bacia hidrográfica do Educandos. Neste novo
cenário econômico, o adensamento populacional adentra a foz dos igarapés de
Manaus, Mestre Chico, Bittencourt, Quarenta e Cachoeirinha. E as pontes
Romana I, II e Benjamin Constant, à função de equipamentos urbanos, agregam,
em sua parte inferior, a função de abrigo para um contingente populacional cada
vez maior residente em Áreas de Preservação Permanente, em moradias tipo
palafitas em situação de vulnerabilidade, na expectativa de uma vaga no mercado
de trabalho do Polo Industrial de Manaus – PIM.
A proibição de edificações em mata ciliares e leito de rios data do
ano de 1965, quando o Código Florestal Brasileiro foi instituído pelo Governo
Federal, definindo os cursos d’água como Áreas de Preservação Permanente,
non edificandis. Respaldado na legislação, uma ação de higienização urbana leva à
extinção a “Cidade Flutuante” e se institui em Manaus o primeiro modelo de
desapropriações por interesse público. Por intermédio da Lei nº 4.380 de 1964,
que criou o SFH – Sistema Financeiro Habitacional, a transferência da população
do rio para a terra firme foi realizada com recursos provenientes do Banco
Nacional de Habitação – BNH.
O PROSAMIM E O BID
Para as intervenções promovidas pelo PROSAMIM em fragmentos
das bacias hidrográficas do Educandos e São Raimundo, o aporte financeiro
contraído com o Banco Interamericano de Desenvolvimento totalizou o
montante de US$ 930 milhões de dólares, com contrapartidas do Governo do
Estado do Amazonas de 30% do valor total.
4. Parque Bittencourt
EQUIPAMENTOS 27.402,28 m2 - Inaugurado em 24/03/2010
SOCIAIS
5. Parque Linear do Quarenta
20.041,40 m2 -
Inaugurado entre Outubro/2006 Julho/2008 e
Dezembro/2010
6. Centro de Convivência
para uso da comunidade e Associações de Moradores
2
Portal da SUHAB. Disponível em http://www.suhab.am.gov.br [Acesso em 2014]
Selma Paula Maciel Batista
207
ocupação dos conjuntos nessa área colocou em risco a população já nos
primeiros anos, elevando o número de casos de positividade para o vetor de
transmissão da malária.
Figura 5
3
Dados obtidos na apresentação no Seminário de Avaliação do PROSAMIM I. Dias 14 e 15 de
maio de 2013.
4
Disponível em: http://www.prosamim.am.gov.br [Acesso em: 22 fev. 2012]
5 Extraído de Relatório Analítico ML 120/12 de 06.01.2012, emitido pelo Laboratório de Análises
e Pesquisas. Disponível em: http://www.prosamim.am.gov.br [Acesso em 12 ag. 2012]
Selma Paula Maciel Batista
209
na mobilidade urbana, na dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, no
aumento do risco por segurança alimentar, entre outras implicações de ordem
social, financeira e ambiental.
Com base no BID (2005), do previsto de 3.000 unidades
habitacionais ligadas ao sistema de água potável, em 2012, tinha-se como
resultado as unidades dos Parques Residenciais monitoradas por hidrômetros.
Da meta de 50.000 residências ligadas à rede de esgoto, no mesmo ano, se
tinha as mesmas unidades habitacionais dos Parques Residenciais e algumas
moradias do entorno imediato da área de intervenção. No mais, as conexões de
esgoto instaladas pelo Programa permaneciam ociosas.
Do previsto de 153 indústrias atuando em conformidade com o
Plano de Controle da Contaminação Industrial e a aplicação do Plano Diretor de
Resíduos Sólidos para a cidade de Manaus, os mesmos foram elaborados por
consultorias contratadas com recursos do PROSAMIM. Mas, devido à dificuldade
na articulação compartilhada entre os órgãos envolvidos, ainda não se
encontram totalmente implementados.
De acordo com os produtos previstos pela consultoria de
profissionais do BID, para evitar novas ocupações, mais de 15 hectares de áreas
verdes foram criadas, mas não estão arborizadas. Dos cinco parques urbanos
entregues à população, apenas o Parque Senador Jefferson Péres se encontra
em condição de uso para o esporte e o lazer. Os demais, sem manutenção
pública, comprometem a paisagem urbana com o abandono dos equipamentos
instalados. Por fim, os igarapés não recuperados, associados às implicações
descritas, coloca em questionamento a proposta socioambiental que dá nome
ao Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos produtos urbanísticos gerados, não se nega a relevância do
modelo de intervenções do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de
Manaus para o reordenamento da área central da cidade que, em 2014, como
subsede na Copa do Mundo, conquistou o título de cidade hospitaleira.
Os gestores envolvidos, ao tomarem a bacia hidrográfica do
Educandos como unidade de planejamento, teoricamente, em conformidade
com as demandas da população em situação de vulnerabilidade à sazonalidade
das águas e ao cenário das tendências econômicas, aproximaram as ações ao
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Acselrad, H.; Mello, C.; Bezerra, G., 2009. O que é justiça ambiental? Rio de
Janeiro: Garamond.
Sen, A., 2001. A ideia de justiça. São Paulo: Companhia das Letras.
Ricardo Robles
Ricardo Robles
215
RESUMEN
En el siglo XIX, las infraestructuras ferroviarias de la ciudad de Santa
Fe (Argentina) simbolizaban al pensamiento moderno sobre el progreso. Sin
embargo, en la actualidad sus espacios tienen una significación social compleja
producto de la diversidad de situaciones que en ellos se reconocen, tales sea:
abandono, subutilización, invasiones y nuevas intervenciones estatales. En
relación a las intervenciones, es posible argumentar que sus espacios expresan
una superestructura ideológica que en gran medida no descarta al pensamiento
moderno. En función de generar un entendimiento profundo de esta temática,
se ha realizado un estudio particularizado de algunas de ellas, considerando la
importancia de las diferentes escalas urbanas involucradas y el intercambio de
flujos en dichos espacios. Como resultado se ha determinado una serie de
problemas y potencialidades en lo que se podría considerar uno de los espacios
de la ciudad con mayor capacidad de cambio a favor de un desarrollo local y
metropolitano.
Palabras clave: Ferrocarril; modernidade; intervenciones e
potencialidades
RESUMO
No século XIX, as infraestruturas ferroviárias da cidade de Santa Fe
(Argentina) simbolizavam o pensamento moderno sobre o progresso. No
entanto, atualmente seus espaços têm um significado social complexo, produto
da diversidade de situações em que é possível reconhecer em todo o processo:
abandono, subutilização, invasões e novas intervenções estatais. No que
concerne às intervenções, se poderia argumentar que seus espaços expressam
uma superestrutura ideológica que não descarta o pensamento moderno. Com
o intuíto de gerar uma compreensão mais profunda do assunto, tem sido feito
um estudo pormenorizado de algumas delas, considerando a importância das
diferentes escalas urbanas envolvidas e a troca dos fluxos nesses espaços. Como
resultado, foram identificados problemas e potencialidades no que poderia ser
considerado um dos espaços com a maior capacidade de mudança para um
desenvolvimento local e metropolitano.
Palavras-chave: Ferrovia; modernidade; intervenções e
potencialidades.
1
Cita extraída de MULLER, L., y COLLADO, A. (2000). “Arquitectura, ciudad y territorio. El
ferrocarril Santa Fe a las Colonias”. En “Serie Polis Científica Nº 2”. Santa Fe. Ediciones UNL.
2
El presente texto ha sido realizado en el mes de marzo del 2015. Es una versión revisada, con
algunas pocas modificaciones, del trabajo presentado en el curso de posgrado "Seminario de
Investigación sobre Arquitecturas Insertas en el Tejido Urbano" dirigido por el Dr. Arq. Jorge
Bassanni en el año 2014.
Ricardo Robles
217
desbordada3.
Es importante aclarar que estas intervenciones urbanas parten de
proyectos realizados por un grupo de arquitectos que pertenecen a un ente del
estado provincial. La idea de que el gobierno de turno genere una estética
propia y la replique en la ciudad (o al territorio que le compete) no es algo
nuevo, lo que varía es el contexto en el cual esta dinámica se aplica. Un contexto
en el que el afán por pertenecer a una cadena global de imágenes, implica que
las intervenciones de un gobierno local puedan adquirir relevancia en diferentes
escalas: barrial, municipal, provincial, nacional y global. Es en definitiva una
concepción moderna de la arquitectura y del urbanismo que continúa en gran
medida vigente, al dejar de lado ciertos sectores y realidades sociales. El cuadro
"Repensando a Gautherot” (Figura. 2) permite ilustrar la postura crítica hacia la
arquitectura contemporánea que el presente trabajo esboza, donde la imagen de
uno de los candangos de Brasilia representa a uno de los tantos obreros que
construye la ciudad que no habita.
Figura 1 - Camino en el que usaron las vías del tren como guía para el colado del hormigón.
Fuente: p/p.
Figura 2 - "Repensando a Gautherot" - Acrílico 50 x 50. Fuente: p/p.
3
Appadurai define un contexto caracterizado por un Estado-Nación con una forma política
moderna compleja que se encuentra en crisis; flujos migratorios; comunidades diaspóricas y
medios masivos de comunicación. Esto genera nuevos escenarios y procesos, en donde la noción
de lo local es relacional y contextual, dejando de lado la idea de que se circunscriba al espacio físico
solamente e introduce de esta manera al espacio virtual (Appadurai, 2001).
218 El Ferrocarril en Santa Fe: una modernidad desbordada
UN “MERGULHO”: UNA CUESTIÓN DE ESCALA
El arquitecto paulistano Angelo Bucci rescata la necesidad de
enfrentarse a un ámbito concreto y reducido, a una serie de problemas socio-
urbanísticos con nombres y rostros propios. Para ello reclama necesario hacer
un “mergulho” (zambullida), un término que utiliza para referirse a la necesidad
de meterse dentro de una ciudad para poder analizarla (Bucci, 2010). No es
suficiente observarla desde un avión o un satélite hay que recorrer las calles, vivir
las plazas y recorrer los espacios para luego poder proponer algún cambio. Al
respecto, Walter Benjamin, en Infancia en Berlin hacia 1900, escribe: “Importa
poco no saber orientarse en una ciudad. Perderse, en cambio, en una ciudad
como quien se pierde en el bosque, requiere aprendizaje”. (Benjamin, W.,
1929). Esta postura, además de buscar capturar la belleza de lo cotidiano de las
ciudades, nos muestra que para conocer una ciudad es necesario aprender a
perderse en ella. Otro autor que rescata la importancia de los andares por la
ciudad es Michel de Certeau, quien escribe que el simple estudio superficial de la
huella hace olvidar una manera de ser en el mundo (Certeau, 1978).
Sin embargo, para generar un entendimiento más profundo de la
realidad es también necesario entender los problemas urbanos desde las
diferentes escalas de la ciudad.
En relación a esto Edward Soja escribe: “Mientras yo considero
que mi propio trabajo ha sido parte de este campo cada vez más
transdiciplinario, últimamente me siento disconforme con lo que percibo como
la creciente sobreestimación de lo que se ha llamado, a menudo con referencia
al trabajo de Michel de Certeau, la “visión desde abajo” (los estudios de lo local,
el cuerpo, el paisaje callejero, las psico-geografías de la intimidad, la
subjetividades eróticas, los micro-mundos de la vida cotidiana) a expensas de la
comprensión de la ciudad como un todo, de la visión más macro del urbanismo,
de la economía política de los procesos urbanos”.4
En base a estas dos premisas, es posible argumentar que ya se ha
reflexionado en parte sobre la escala macro generada por las intervenciones
urbanas recientes en los espacios ferroviarios de la ciudad de Santa Fe. En
relación a la escala micro, es necesario generar una serie de reflexiones
particulares de algunos de los espacios intervenidos:
4
- Cita extraída de REYNOSO, C. (2010) “Análisis y Diseño de la Ciudad Compleja”. Buenos
Aires. Editorial Sb.
Ricardo Robles
219
A. PASEO ESCALANTE
En primer lugar, es necesario tomar en consideración la gran
aceptación inicial que algunas de las intervenciones urbanas adquirieron a escala
barrial, especialmente la correspondiente al Paseo Escalante (Figuras 4, 5, 6).
Esto se logró en gran medida al demoler terraplenes en desuso que dividían
barrios, lo que en su conjunto redujo en parte la inseguridad en el área y
modificó sustancialmente la legibilidad del paisaje. La imagen 3 y 4, dan cuenta
del cambio y la relación entre bordes del tejido.
Sin embargo, los cambios realizados hasta el momento responden
a cambios en el paisaje, el espacio público y la movilidad, pero no existió un
cambio en relación a las actividades (Figura. 5). Es posible argumentar que
actividades de tipo convocante en principio ayudarían a fomentar la ocupación de
dichos espacios, los cuales son utilizados esporádicamente y se encuentran la
mayoría del tiempo vacío. Por otro lado, actualmente representan sobre todo
espacios de flujos, sin condiciones espaciales que fomenten la permanencia. En
cuanto a la movilidad, existen mejoras sustanciales a nivel de la microaccesibilidad
de los espacios.
Ricardo Robles
221
Figura 7 - Cruce de ferrovía y avenida. Fuente: p/p.
Figura 8 - Juegos para niños. Fuente: p/p.
Figura 11 - Análisis de sintaxis espacial del cruce realizado con Depthmap 0.30.
Figura 12 - Candiotti Park. Fuente: p/p. Figura 13 - Candiotti Park. Fuente: p/p.
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223
Figura 14 - Plano de ubicación. Fuente: p/p.
Figura 15 - Candiotti Park. Fuente: Diario "El Litoral".
D. PEDRO VÍTTORI
En cuarto lugar, se aborda el caso del tramo del ferrocarril que se
ubica paralelo a la calle Pedro Víttori. Este es uno de los tramos más
característicos del trazado ferroviario en la ciudad producto de la mezcla de
situaciones urbanas (viviendas, fábricas, centros culturales, parques, vegetación
exuberante). Este tramo actualmente está siendo promovido como parte de una
de las futuras trazas del tren urbano de la ciudad (Figura. 22). Es necesario aclarar
la relevancia a escala municipal que posee este tipo de intervención, la que
incluso tiene un potencial regional y/o metropolitano. Este sistema posibilitaría
una integración de diferentes barrios en la ciudad generando modificaciones
profundas a escala barrial a lo largo de la traza. A nivel del paisaje, se repite
nuevamente una estética similar a la trabajada en el primer fragmento de este
trabajo, incluso desprestigiando el valor patrimonial de algunas de las
construcciones históricas del ferrocarril.
Figura 18 - Vittori y el ferrocarril. Fuente: p/p. Figura 19- Plano de ubicación. Fuente: p/p.
Ricardo Robles
225
E. GRANDES EQUIPAMIENTOS FERROVIARIOS
En quinto lugar, los grandes equipamientos ferroviarios en desuso
funcionan en la actualidad principalmente como centros culturales y de eventos.
Por un lado la estación Belgrano (la cual posee un fuerte aporte financiero por
parte del municipio) es escenario de eventos de todo tipo, los cuales son
montados y desmontados para la ocasión. El centro cultural "La Redonda"
funciona de manera similar y además posee un espacio con juegos e
instalaciones para niños. Por otro lado la Estación Mitre es un centro cultural que
inicialmente comenzó a partir de la ocupación ilegal de un colectivo social. Tiene
una participación activa de la comunidad del barrio y la ciudad, en él se realizan
diferentes tipos de actividades. Esta última es un claro exponente de los
conceptos de terrain vague (Solá-Morales, 1995) y post-it city (La Varra, 2008).
Ricardo Robles
227
Figura 28 - Plano de ubicación. Fuente: p/p.
Figura 29 - Comisaría en Barranquitas. Fuente: http://www.santafe.gov.ar/obras/
CONCLUSIÓN
En este marco complejo, es posible argumentar que ya no existe
un “camino del ferrocarril” sino que varios. Esto se representa en gran medida a
partir de dos imágenes: una relacionada con una modernidad desborda
(Appadurai, 2001) en donde se intenta unificar una imagen de ciudad en
detrimento del carácter real de los espacios que se intervienen; y otra
caracterizada por la incertidumbre, en consonancia con los conceptos de terrain-
vague (Solà-Morales, 1995) y post-it city (La Varra, 2008). De cualquier manera,
como diría Jean-Louis Deotte, las relaciones que existen entre infraestructura
material y superestructura ideológica, son de expresión y no de causalidad. Lo
que se cambia cuando se reemplaza una relación de causalidad por una relación
de expresión es el valor del contenido material, que no es resguardo, de la causa
Ricardo Robles
229
y del efecto. Existe una mediación simbolizante, mediación que permite dar
cuenta de la consistencia especial de la fantasmagoría colectiva. (Déotte, 2013).
Es necesario aclarar que si bien existen críticas en cuanto a la
primacía del carácter paisajístico de algunas de las intervenciones, en detrimento
de los usos y actividades que se podrían articular en estas, se debe considerar la
dificultad de concertación que implica trabajar en estos espacios los cuales
competen a diferentes escalas de gobierno. Lo que en última instancia lleva a
realizar intervenciones “frágiles” y/o “removibles” producto en gran medida de la
incertidumbre política en relación a la puesta en funcionamiento del sistema
ferroviario (Saus, A., 2010).
Para concluir, cabe destacar el hecho de que la inversión en
infraestructuras públicas es fundamental para el desarrollo de las ciudades
contemporáneas (Mohan, R., 2011; Busquets, J., 2003; Ascher, F., 2012). En
este sentido, tal vez se podría afirmar que el espacio de los trazados ferroviarios
representa una de las mayores oportunidades para el desarrollo de las ciudades
pampeanas de escala media en la Argentina, por lo que resulta fundamental
considerar las diferentes escalas urbanas involucradas en las intervenciones y sus
respectivos mesosespacios.
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propuesta teórica para comprender la vinculación entre las personas y los
lugares. Anuario de Psicología de la Universitat de Barcelona.
Ricardo Robles
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SOBRE OS AUTORES
Felippe Fideles
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Giselle Tanaka
Glauco Bienenstein
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Jorge Bassani
Lucas Faulhaber
Ricardo Robles