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Vitória da Conquista - BA
2018
Vitória da Conquista - BA
2018
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Resumo
Esta pesquisa objetiva compreender a experiência e o processo de formação do
psicólogo em alunos recém ingressos no curso de Psicologia em um campus
interiorizado pela ação governamental do Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A amostra foi composta
por nove discentes matriculados no primeiro semestre do curso. Os participantes
responderam a entrevistas semiestruturadas. Posteriormente os dados foram analisados
segundo a perspectiva fenomenológica empírica de Amedeo Giorgi. Foram
estabelecidos três eixos de sentidos relacionados: aos vínculos entre discentes e
docentes; as suas compreensões sobre a matriz curricular do curso; a valorização e
desvalorização advindas do processo de interiorização. A partir dos resultados obtidos,
observou-se que as experiências dos alunos expressam: relações proximais com os
docentes, que tornam o ambiente universitário mais acolhedor; compreensão de que
faltam ofertas de optativas por falta de contingente de professores e apreciação de uma
grade mais voltada para a área de Saúde. Conclui-se com proposições de uma pesquisa
comparativa entre as matrizes curriculares da instituição situada no interior e das
sediada na capital, pesquisasse uma pesquisa compreensiva sobre a experiência de
egressos que estão inseridos no mercado de trabalho no interior.
Introdução
formação. (Ferreira Neto, 2010). Todavia são poucas as pesquisas que tem como
universidades nos interiores do País (Costa et al., 2012). Junto a isso, essas contendas
as suas modificações.
social, tendo por recorte histórico, o período do final da década de 1970 ao início dos
anos 2000.
significativas modificações, com destaque para aquelas ocorridas entre os anos de 1995
das Universidades Federais (REUNI) para construção de outros campi que não se
encontrassem no núcleo das capitais. O REUNI foi instituído pelo Decreto Presidencial
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(PDE).
somam um número maior nos interiores, um total de 1.518, superando os 846 cursos das
capitais, muitos desses cursos estabelecidos em cidades que são consideradas como
ensino nos interiores totalizam 3.567.489, enquanto nas capitais a somatória consiste em
3.066.056 matrículas.
aponta Amatuzzi (2007) são as vivências oriundas dela quem direcionam as ações dos
sujeitos. Neste estudo experiência deve ser entendida como um fenômeno tocante à
concebido por Amedeo Giorgi (1997/2008). Eis a justificativa para seu uso como
método para coletar e analisar os dados. Junto a esse conceito, a formação é entendida
interior da Bahia.
Método
prestados pelos pesquisadores. Embora a amostra possa parecer reduzida, o que poderia
entender isso. Por isso, o emprego da epoché na etapa anterior, para que os juízos,
3. Todos os dados coletados nas entrevistas foram transcritos. Mais uma vez será
cada entrevista transcrita, seguirá síntese geral do que se está sendo identificado
como significante.
sentido, as mesmas foram examinadas sob a ótica da variação livre e imaginária com
experiência vivida.
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Ao longo desse processo foi garantida a integridade das falas dos participantes,
empreendido sob o mesmo objeto de estudo e método para acessá-lo foi realizado
Andrade & Holanda, 2010). Nesse sentido, o presente estudo se difere do retrocitado, no
que concerne: aos sujeitos de pesquisa (outra turma de discentes ingressantes no curso,
o que implica em outras experiências); os eixos temáticos levantados a partir das US’s
interiorização nesse processo, neste estudo surgiram os seguintes eixos, os quais serão
universidade interiorizada.
Resultados e Discussões
A partir dos relatos dos discentes, alguns dos aspectos remetem ao vínculo e
convívio entre os discentes e docentes. Em geral, eles expressaram uma satisfação com
dos docentes foram alguns pontos externados dessa relação, pode-se constatar através da
fala de um discente entrevistado: “(...) isso é uma impressão minha, talvez haja uma
mudança na, na forma da relação que o aluno estabelece com o professor. Eu acho que
nem todas as faculdades, talvez, teriam essa proximidade que o IMS proporciona,
sabe?.” (S2:US37).
capitais foi um dos elementos proveitosos de acordo os relatos dos discentes, pois isso
facilmente resolvidas, isso pode ser visto a partir do relato de um dos sujeitos
do diretor, é bem maior do que se eu tivesse numa universidade maior, porque eu acho
que a disponibilidade dessas pessoas seria menor, o acesso a essa pessoa seria
restrita.” (S9:US17).
entre eles, são fatores essenciais para que o docente possa exprimir a evolução do
discente. Unir a questão técnica com a questão ética na carreira é importante para
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e a dinâmica disso em uma cidade de interior de médio porte encoraja esse tipo de
experiência de relação, entendida como mais horizontal e com qualidades proximais que
O curso, atualmente, conta com treze psicólogos docentes efetivos, que, por vezes,
cada qual, ministra até três componentes curriculares para uma mesma turma no
uma relação mais proximal em que cada docente conhece mais o(s) processo(s)
REUNI foi apontada nos estudos de Lima (2013). Há um aumento nas vagas discentes,
mas não ocorre o mesmo nas vagas docentes. Por um lado, isso possibilita mais o
contato entres alunos e professores; por outro, acarreta uma precarização e sobrecarga
de trabalho docente.
Para Abud (2001), faz parte do cotidiano docente e discente uma interação pessoal e
impessoal, que cria uma relação de satisfação ou insatisfação. Essa relação afetiva
engloba alunos e professores como indivíduos que fazem parte de uma mesma realidade
que podem ser da ordem de vínculos simpáticos, antipáticos ou apáticos (Goto, Telles &
“Conversando com outros colegas que cursam em outros lugares, não existe isso,
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curso(...)” (S2:US17).
acolhedor, sabe? De tipo prestar atenção, ou então, sei lá, tentar ajudar, essas coisas,
auxiliar ou então falar assim ‘ó, qualquer dúvida, me procura’, eu achei tipo isso muito
diferentes recursos que possui, dos limites existentes e das potencialidades a serem
otimizadas.
universidade.
uma grande empresa, tendo a burocracia como seus meios administrativos. A burocracia
universitário. ” (S2: US??). Como falado nos tópicos acima a relação professor - aluno
é muito mais horizontal devido à maior proximidade entre eles, salas com menos alunos
e menos professores lecionando para esses alunos, quebra essa relação de poder. No que
entendermos as suas experiências de formação (Cury & Neto, 2014; Rudá, Coutinho &
A das falas dos sujeitos entrevistados sobre suas percepções da matriz curricular
do curso em que se formam, foi possível constatar que o curso de Psicologia é voltado
das ciências humanas pelo fato dessas disciplinas serem escassas dentro da
Universidade e a matriz curricular voltada para a área da saúde. Houve, pois, uma
com inserção na rede de saúde. Contudo, isso provoca uma tensão formativa ao
campos de conhecimento.
gosto que aqui é bem focado pra saúde mental, essas coisas… Como aqui é um instituto
de saúde, né? Mas o que que eu, assim, que eu acho que eu queria, é que aqui não tem
tipo… filosofia, essas coisas, que assim, eu acho que não senti falta ainda, porque eu
ainda to no primeiro semestre, mas eu acho que ao longo eu ia querer ter (...)”.
(S3US23).
junta a Psicologia a área da saúde, até hoje gera controvérsias sobre o lugar da
na fala dos discentes: ‘’(...) É bem estruturada, apesar de, de algumas, é… faltas, né?
Num tem muito... matérias tão disponíveis, mas assim, eu acho que, que, pro foco que
implementado pelo REUNI, o programa conta com poucos professores para a oferta de
limitação, esboçam uma possível estratégia que poderia ser útil para expandir os
privada como pública para a obtenção desses recursos “eu acho que… distanciou um
pouco do que eu esperava, né? Pois eu pensava que teria mais uma grade, mais… é…
voltada pra filosofia, sociologia, que é o meu interesse e quando eu cheguei aqui, eu vi
que não, que é uma coisa mais voltada pra saúde. E aí foi quando distanciou da… da
minha ideia, que eu, a ideia que eu tinha formado sobre o curso. ” (S1:US20).
Essa concentração não apenas agrada os discentes no que condiz nas disciplinas
ofertadas pela matriz, mas também provoca o senso de que dessa maneira eles estarão
muito centrada nessa área, tem muitas matérias que dão base pra isso, pra onde a
Santos (2004) faz uma crítica às grades curriculares brasileiras, em que elas são
uma espécie de “cardápio fixo” que, não permite maiores desvios para a formação do
portanto, tudo o que ele vai e pode cursar até o seu último semestre. No caso da
universidade interiorizada isso fica ainda mais evidente, pela ainda menor oferta de
disciplinas, tornando a oferta do currículo mais rígida, em razão de não haver recurso
escolheram a universidade pelo fato dela estar sediada sua cidade natal ou próxima a
ela. O S8 relata: “eu pesquisei a cidades que tinham próximas a minha cidade” (US7);
“o primeiro momento foi de alegria, né? De ter conseguido entrar aqui nesse curso,
desenvolvimento acadêmico e pessoal dos discentes (Silva et al., 2009). Para Magalhães
(2013), o desejo de permanecer ou mudar para outra IES está ligado às percepções sobre
municípios de menor porte em regiões vizinhas que não teriam condições financeiras
e/ou emocionais de migrarem para uma capital mais afastada das suas famílias e
unidade cultural/social. Segundo S6, “(...) eu nunca pensei, sabe? Em ir pra uma
capital. Quer dizer, eu já cogitei até ir, mas eu tenho um pouco de aversão assim, à
instituição. Conforme S5, “é(...) isso que eu to falando de estar me identificando muito
com tudo, com as disciplinas, com... eu acho também a questão que você acaba
crescendo muito como pessoa também” (US16). O campus no interior parece promover
esse conjunto de fatores para acolher melhor os alunos e isso acarreta no menor número
de evasões, pois eles são mais integrados tanto academicamente como socialmente.
experiências previas de vida e do seu contexto familiar. Tudo isso tem influência no
universidades e nos interiores há melhores condições para que isso ocorra (Lima, 2013;
mais acolhedor, possibilitando que a relação do discente com a própria instituição seja
professores, também, ajuda nesse quesito, pois ajuda a integração do estudante com o
corpo docente. Quanto mais integrado maior é a congruência pessoal com as atitudes,
valores, crenças e normas da comunidade universitária. Essa congruência pode ser vista
professora, que me chamou na sala dela pra conversar tudo, não vi nenhum orientador
fazendo isso, falou que se eu quisesse conversar alguma coisa com ela, foi muito
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legal.” (US15). Esse tipo de experiência condiz com as expectativas do aluno sobre o
atrasos e recuos nas tarefas necessárias para o melhor alcançar o seu objetivo, da
devido à falta de professores não possibilita uma formação mais completa e variada dos
capitais. Contudo, intuíam que a formação se diferenciava: “O dia a dia diferente lá, os
professores e tal. Eles poderiam me passar isso de uma forma diferente” (S4:US39).
Outros já imaginavam uma disparidade maior, como o S8: “Eu acho que nem só em
psicologia, mas me qualquer curso que seja aqui no interior tem muitas barreiras. Uma
porque pode ser muito desvalorizadas por outras regiões ou... ate mesmo outros lugares
aqui no estado. Por exemplo, se for colocar no patamar entre aqui e a capital, que lá tá
sede. Muita gente vai achar que o ensino lá é bem superior do que aqui. Tem essas
questões também... de ser visada a faculdade, como tá aqui no interior o pessoal vão
subordinação à capital, em que nada é decidido sem o seu aval. Por conseguinte, isso
aumenta a burocracia, pois toda solicitação deve ir para o campus matriz. Essa realidade
não é exclusiva deste caso, dado que outras instituições que aderiram ao REUNI
Somado a tudo isso há, ainda, a sobrecarga da carga horária docente. Segundo
Padim (2014),
todos os docentes que têm funções administrativas, formalizadas ou não, visto que o
outros docentes que não tem essa função formalizada, mas estão em comissões de
planejamento do campus, por exemplo, tem aumento em sua carga de trabalho, sem
o trabalho administrativo, que sofre queda em sua qualidade. Esse ciclo tende a ser
Com efeito, ajuíza-se que um fator que influência tal vivência de desvalorização
Considerações Finais
um campus perto das cidades natais dos estudantes; as percepções sobre a instituição, o
sobretudo, para um campo micro e macro político que remetem às discussões sobre os
poder ser considerado um limite do estudo, dado que, muitos alunos podem não ter uma
percepção mais ampla sobre o seu processo formativo, a exemplo dos discentes
cidades de interior. Sugerem-se, ainda, pesquisas documentais que comparem o que tem
Referências
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a13/01Amatuzzi.pdf
10.1590/S0103-166X2009000100010
Andrade, C., & Holanda, A. (2010). Apontamentos sobre pesquisa qualitativa e pesquisa
268. doi:10.1590/S0103-166X2010000200013
Beato, M., & Ferreira Neto, J. (2016). Formação em Psicologia em uma universidade
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/per/v22n2/v22n2a16.pdf
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v20n2/v20n2a06.pdf
com os campos da educação, saúde e direitos. (Vol. 7., pp. 557-566). Curitiba:
CRV.
Ferreira Neto, J. (2004). A formação do psicólogo: clínica social e mercado. São Paulo:
http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/a18/ferreiraneto01.pdf
publicado em 1997).
Goto, T., Telles, T., & Paula, Y. (2016). A questão dos afetos na fenomenologia de
http://portal.inep.gov.br/visualizar/-/asset_publisher/6AhJ/content/resultados-de-
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2015-ja-podem-ser-consultados-e-revelam-desafios-para-a-educacao-superior-
brasileira?redirect=http%3a%2f%2fportal.inep.gov.br%2f
49802013000200012
script=sci_arttext&pid=S1679-33902013000200007&lng=pt&tlng=pt.
Mancebo, D., Valle, A., & Martins, T. (2015). Políticas de expansão da educação
doi: 10.1590/S1413-24782015206003
3394rpds.v7i3.1922
Rudá, C., Coutinho, D., & Almeida Filho, N. (2015). Formação em Psicologia no
Disponível em:
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http://www.fafich.ufmg.br/memorandum/wpcontent/uploads/2015/11/rudacoutin
hoalmeidafilho01.pdf
Silva, S., & Ferreira, J. (2009). Família e ensino superior: que relação entre dois
file:///D:/DOCUMENTOS/Downloads/Dialnet-
FamiliaEEnsinoSuperiorQueRelacaoEntreDoisContextos-3398329%20(1).pdf
Anexo
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27
28
Apêndice1
29
30
31
Apêndice 2
Perguntas - Discentes do IMS/UFBA
3. Como você percebe o seu percurso de formação desde a entrada no curso até
este momento?