Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Mas atenção!, a lei portuguesa diz que o filho não vai herdar o pai biológico, (se houver
adopção plena, claro, pois neste tipo de adopção interrompe-se o vínculo biológico por
completo). Assim, o
legislador corta esta herança, porque supõe que o filho vai receber herança do pai
adoptivo. Contudo, a lei iraniana diz que não há herança para filhos adoptivos, pois presume
o contrário, que o filho adoptivo vai herdar o pai biológico!!
Então, o resultado a que chegamos é que este filho não irá receber nada! - Isto traduz-se
no chamado “acidente técnico do DIP”: quando existe a geração de um resultado que
contradiz as políticas legislativas dos estados em conflito! (Posição do Dr. Baptista
Machado).
Como resolver este acidente técnico? Através de um expediente de ficção, frágil e
arriscado (o tal instituto da “adaptação”), que explicaremos melhor mais à frente. Atendendo
ao nosso exemplo prático, o juíz vai ter de ficcionar novas RC (Dra Isabel Magalhães
Colaço), ou ficcionar normas materiais (Dr Baptista Machado): assim sendo, ou regulamos
a sucessão de pai adoptivo pela lei portuguesa, ou a sucessão de pai biológico pela lei
iraniana; deste modo, já conseguimos que o filho tenha direitos sucessórios. Isto responde
à crítica de Currie.
c) Aparecimento de normas espacialmente auto-limitadas: São normas materiais que
determinam o seu próprio âmbito de aplicação; fazem-no de forma autónoma, pois não
querem saber das RC. Porque é que estas normas prescindem das RC? Porque
determinam o âmbito de aplicação tendo em conta a ratio legis - a sua política legislativa.
Estas normas especialmente auto-limitadas podem ser de dois
tipos:
- normas espacialmente auto-limitadas em sentido estrito ou restritivo: só se aplicam em
casos mais raros do que aqueles que são determinados pela RC; exigem uma conexão mais
forte para se aplicarem. Pex, 33 CC
- normas de aplicação necessária imediata (NANI’s - matéria importante): São normas
materiais que estabelecem o seu campo de aplicação, mas estabelecem-no para mais
casos do que aqueles em que a lei portuguesa é competente; exigem pouco contacto com
o caso concreto.
(Porque é que são de aplicação NECESSÁRIA? Porque se aplicam necessariamente
mesmo que a RC não indique a lei portuguesa.
E porque é que são de aplicação IMEDIATA? Porque sabemos que as vamos aplicar ainda
antes de determinarmos a lei competente, ou seja, ainda antes de irmos ver a RC.)
As NANI’s podem ser explícitas ou implícitas: as NANI’s explícitas anunciam a sua aplicação
- pex, 23 do diploma das Cláusulas Contratuais Gerais (pág 716 do meu CC).
Por outro lado, nas NANI’s implícitas, o seu campo de aplicação deduz-se da sua ratio, da
sua política legislativa - pex 53 CRP (“são proibidos os despedimentos sem justa causa”,
que se estendem a outros casos, mesmo que a lei pt nao seja competente, ou seja, aplica-
se sempre que o trabalhador seja português, seja residente em Portugal, ou a todos os
trabalhos realizados em Portugal). Outro exemplo disto: 1682-A/2 CC.
2) Wengler, seguido por Moura Ramos - Tese da Conexão Especial: Devem-se aplicar
NANI’s dos países estrangeiros que tenham uma conexão especial com o caso. Aqui já
poderemos aplicar a NANI do Quénia, pois é no Quénia que se quer proteger os elefantes,
foi lá que o contrato foi celebrado, etc. Aplicar as NANI’s estrangeiras é a única forma de
garantirmos a harmonia jurídica internacional - Moura Ramos. Vamos portanto aplicar a
NANI do Quénia, o que torna o contrato nulo.