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Prof. Marcos Antonio Batista
Orientador
____________________________________________
Prof. Alessandro Caldonazzo Gomes
Examinador
_____________________________________________
Profª Sandra Maria S. Sales Oliveira
Examinadora
Dedico
Agradeço a Deus por permitir a realização desse sonho. Agradeço a Ele também
por ter colocado em meu caminho pessoas especiais, a quem devo esta conquista:
Meus pais, que me deram todo apoio e segurança; que sacrificaram tanto de suas
vidas para que eu pudesse continuar a minha.
Minha família, especialmente minhas irmãs e cunhados, que torceram e oraram por
mim.
Minhas filhas, Fernanda, Amanda e Danielle, que por muitas vezes ficaram sem
minha presença para que eu pudesse me dedicar ao curso; que sentiram minha falta, mas
me incentivaram para que eu seguisse em frente.
Ao Luciano, meu namorado, amigo, companheiro, que me dedicou todo o seu
carinho e cuidado, que foi meu porto seguro nos momentos de angústia e nunca me deixou
desistir.
Meus colegas Geovanni, Vera e Sandra, com quem pude contar e dividir meus
problemas e alegrias.
Todos os meus colegas, pessoas tão especiais, que me fizeram acreditar na amizade.
Todos os meus professores, verdadeiros mestres, com quem aprendi não apenas a
teoria, mas o compromisso e a paixão pela psicologia.
Ao professor Marcos, que me incentivou e acreditou em minha capacidade; com
quem aprendi muito, não apenas como profissional, mas através de seu exemplo de vida
pude crescer principalmente como pessoa.
Às funcionárias Eleuzes e Luciene, por sua amizade e colaboração.
“Qualquer caminho é apenas um caminho e não
constitui insulto algum – para si mesmo ou para
os outros – abandoná-lo quando assim ordena
seu coração (...) Olhe cada caminho com cuidado
e atenção. Tente-o quantas vezes julgar
necessárias... Então faça a si mesmo e apenas a
si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um
coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom.
Caso contrário, esse caminho não possui
importância alguma....”
Carlos Castañeda
CAMPOS, Ana Cláudia Gonçalves. Tipos Psicológicos e Profissões: um estudo
exploratório.2005. Monografia – Curso de Psicologia, Faculdade de Ciências Médicas Dr.
José Antônio Garcia Coutinho, Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, 2005.
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................11
2 A ESCOLHA PROFISSIONAL.................................................................16
2.1 O significado do trabalho............................................................................16
2.2 As transformações no mundo do trabalho...................................................17
2.3 Identidade profissional e escolha...............................................................19
3 A PERSONALIDADE................................................................................25
3.1 A abordagem dos traços..............................................................................27
3.1.2 A teoria de traços de Gordon W. Allport....................................................27
3.1.3 A teoria fatorial de Hans J. Eysenck...........................................................28
3.1.4 A teoria de traço fatorial-analítica de Raymond Cattell..............................29
3.2 A abordagem dos tipos................................................................................30
3.2.1 A tipologia neo-hipocrática.........................................................................31
3.2.2 Outras teorias tipológicas............................................................................32
3.2.3 A tipologia de Kretschmer..........................................................................33
3.2.4 A tipologia de Hans J. Eysenck..................................................................33
4 TIPOLOGIA E PROFISSÕES...................................................................36
4.1 O modelo hexagonal de Holland................................................................36
4.2 O teste de foto de profissões - BBT...........................................................38
4.3 A tipologia junguiana.................................................................................43
4.3.1 A atitude extroversão ................................................................................44
4.3.2 A atitude introversão..................................................................................45
4.3.3 As funções..................................................................................................46
4.3.4 Função principal e função auxiliar............................................................46
4.3.5 Função inferior..........................................................................................47
4.3.6 Funções racionais......................................................................................48
4.3.6.1 O pensamento............................................................................................48
4.3.6.2 O sentimento.............................................................................................48
4.3.7 Funções irracionais...................................................................................49
4.3.7.1 A sensação................................................................................................49
4.3.7.2 A intuição.................................................................................................49
4.3.8 Descrição dos tipos..................................................................................50
5 PROPOSTA DE PESQUISA E RESULTADOS....................................56
5.1 Método.....................................................................................................56
5.1.1 Participantes.............................................................................................56
5.1.2 Instrumentos.............................................................................................56
5.1.3 Procedimentos..........................................................................................56
5.1.4 Tratamento dos dados...............................................................................57
5.2 Apresentação dos dados............................................................................57
5.3 Análise dos resultados...............................................................................63
6 CONCLUSÃO...........................................................................................67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................69
1 - INTRODUÇÃO
Em seus estudos, Lemos (2001) aborda que no capitalismo antigo, o trabalho era
considerado apenas como uma jornada com vínculo empregatício em tempo integral e
reconhecida legalmente. Atualmente, o trabalho é visto de uma maneira mais abrangente,
pois vem assumindo novas formas de ação, novas competências e contextos. Há também
um grande desenvolvimento das empresas de computadores, biotecnologia,
telecomunicações, sistema financeiro e outras. A informação substitui máquinas e
equipamentos, tornando-se a principal fonte de riqueza. Passou-se do eixo produtivo da
indústria para o setor de serviços, gerando fusões entre empresas tradicionais e de alta
tecnologia.
As transformações do mundo do trabalho, ainda segundo a mesma autora (2001)
alteram e redefinem os significados que as profissões possuíam até então. Profissões
antigas, que existiram por muitos anos, estão se reorganizando. O emprego tradicional que
obedece a um plano de carreira individual traçado na empresa, com carga horária definida
e delimitação das funções, dá lugar ao trabalho em projetos específicos e temporários,
realizados por equipes multiprofissionais.
Alteram-se também, de acordo com Bernardes (2002) as relações de trabalho; os
serviços passam a ser terceirizados, os organogramas são reestruturados. Novas profissões
surgem, outras são desvalorizadas e extintas, outras passam por alterações em seu perfil
profissiográfico. Até pouco tempo atrás, as pessoas escolhiam as profissões
tradicionalmente conhecidas, para obterem segurança e terem seus direitos trabalhistas
reconhecidos. Atualmente, nem as profissões mais tradicionais estão imunes ao processo
de transformação da era moderna.
Araújo (2004) salienta que o processo de trabalho é histórico, mutável, sofrendo
modificações ao longo da história, e desencadeando mudanças na carreira profissional. Na
medida em que o trabalho se modifica, provoca mudanças também na vida do ser humano,
determinando seu comportamento, sua linguagem, seu afeto, seus projetos para o futuro.
Lemos (2001) comenta que a característica principal das sociedades pós-modernas,
é a existência de valores muito divergentes e a grande quantidade de opções no mercado de
trabalho, que exige do indivíduo um posicionamento contínuo. Bernardes (2002)
corroborando com esta idéia, diz que se por um lado a diversidade de opções faz crescer o
desejo de liberdade do indivíduo, por outro lado, quando este não é devidamente orientado
para lidar com as constantes mudanças e as novas exigências decorrentes do mundo do
trabalho, pode sentir-se ameaçado, causando desequilíbrio profissional e emocional.
Na sociedade globalizada, em que as transformações ocorrem com muita rapidez,
jovens sente-se pressionado, tanto pela própria complexidade do mercado de trabalho,
como pelo avanço da tecnologia. Vê-se frente a uma multiplicidade de profissões, áreas de
estudo, cursos, ficando muitas vezes confuso diante de tal complexidade (ANDRADE,
MEIRA e VASCONCELOS, 2002). Nesta mesma concepção, Bernardes (2002) salienta
que o ritmo acelerado das alterações tem afetado o equilíbrio emocional das pessoas, pois
as noções básicas de tempo e espaço, valores e volumes de informações recebidas e
contradições dessas mesmas informações, geram grande instabilidade e desorientação no
momento de posicionamento e decisão do indivíduo.
A diversidade de opções e a constante renovação que o mundo pós-moderno
oferece, torna mais complexo o processo da constituição da identidade do indivíduo. O
processo de aquisição da identidade é influenciado pela perda das tradições, pelos modelos
oferecidos pela cultura e também por modelos frágeis e descartáveis que são inseridos
neste novo contexto (LEMOS, 2001).
No que se refere ao ato da escolha, Ximenes (2004) acentua que este reflete o
desejo, o modo de ser e agir, a perspectiva de um futuro de realizações e conquistas de um
indivíduo, significando assim o seu projeto de vida. Vários fatores estão implicados neste
processo, pois escolher implica recorrer trajetórias de construção de saberes, exercitar uma
crítica e respeitar o esforço coletivo do pensar. A escolha profissional deve ser vista pelo
aspecto psicológico, assim como pelos aspectos sócio-históricos, reconhecendo que o
indivíduo é parte atuante de um contexto regido por relações sociais, políticas e
econômicas.
Sobre os aspectos da identidade profissional, Bohoslavsky (1977 citado por
OLIVEIRA, 2004) considera que a identidade adolescente apóia-se na elaboração de lutos
básicos pelo corpo e formas antigas de relações com os pais. A vivência dessas perdas
implica na capacidade de separação do outro; escolher algo é também deixar, perder algo
que se deixa para trás. Apenas por meio da diferenciação eu - não eu é que o jovem pode
desenvolver sua identidade profissional.
Para compreender porque uma profissão é escolhida em detrimento de outras,
Bohoslavsky (1971 citado por LEMOS, 2001) utiliza o conceito kleiniano de reparação,
em que as carreiras ou profissões são respostas ao ego diante de chamados interiores,
provavelmente de objetos internos danificados, que pedem, reclamam, impõe, serem
reparados pelo ego. A carreira escolhida seria então a depositária exterior desse objeto
interno que necessita ser reparado. A escolha implica também a elaboração de lutos por
objetos que se deixa, que se perde e dos quais se separa. A elaboração de lutos, assim como
a reparação, são mecanismos que auxiliam o ego a suportar a culpa frente ao objeto
danificado. Portanto, a escolha supõe que o ego deve ser capaz de reparar ou elaborar lutos,
de tolerar dor e aceitar a realidade.
O mesmo autor (1977 citado por LEMOS, 2001) enfatiza que uma escolha ajustada
deve ser aquela em que os conflitos possam ser elaborados e resolvidos e não controlados e
negados. O indivíduo, ao realizar sua escolha, deve mobilizar seus recursos, a organização
de seu ego, avaliando suas capacidades e características pessoais e confrontá-los com a
possibilidade de seguir ou não as carreiras pretendidas. Portanto, os aspectos envolvidos na
escolha da profissão devem ser um entrelaçamento de fatores externos, como o momento
histórico e cultural e fatores internos, como os processos psíquicos.
Lobato (2003) vê o trabalho como uma peça fundamental na construção da
identidade e considera que o homem moderno encontra dificuldade em adaptar-se às
mudanças do mundo atual. Por conferir ao trabalho o significado de formador de
identidade e meio de sobrevivência, depara-se com grande angústia quando entra no
mercado de trabalho.
Atualmente os jovens vêm apresentando maior dificuldade em escolher uma
profissão; talvez pela dificuldade de pensarem em si mesmos e pela insegurança das
mudanças de mercado (OLIVEIRA, 2004). Andrade, Meira e Vasconcelos (2002) apontam
a complexidade do mercado de trabalho e o avanço da tecnologia como motivos de pressão
que os jovens encontram ao escolher o caminho a ser seguido. É também preciso
considerar que os jovens atravessam um período de conturbação relacionado a aspectos
maturacionais e psicológicos, em que dúvidas trazem confusões e conflitos.
Outros motivos para a dificuldade da escolha são citados por Oliveira (2004) como
a ansiedade e insegurança dos pais frente ao momento da escolha profissional dos filhos, o
que interfere diretamente nesta escolha. O momento da escolha da profissão por um
adolescente é uma transição, sinalizando o processo de diferenciação do jovem, que
repercute no contexto familiar. A autonomia do filho aumenta, enquanto entra em declínio
o poder decisório dos pais, que tentam mantê-lo a qualquer custo. Os rituais de passagem
na adolescência como por exemplo, o namoro e o primeiro emprego, têm o objetivo de
marcar a ruptura do jovem com os laços domésticos e a sua saída da vida familiar para a
comunitária.
Escolher a profissão, de acordo com Silveira e Calheiros (2004) é motivo de muitas
dúvidas, insegurança e indecisão. Apontam algumas dificuldades que os jovens enfrentam,
como escolher a profissão dos pais ou as que possuem maior status. A situação da escolha
profissional fica ainda mais difícil para as camadas mais pobres que não conseguem
ingressar nas universidades. Por esse motivo, a real identidade no processo da escolha da
profissão é afastada, em função do medo da concorrência no vestibular. O fator financeiro
é sem dúvida um grande empecilho de uma escolha por identidade, pois muitos jovens são
impossibilitados de cursar universidades particulares, optando por outros caminhos. A
ameaça de desemprego e a tendência para o mercado informal também têm gerado grandes
mudanças no momento de escolher a profissão.
Lemos e Ferreira (2004) apontam que, tentando escolher uma profissão, o jovem
dispõe de informações rápidas. No entanto, não sabe o que fazer com elas, partindo então
para outra informação descartando a primeira opção. Segue neste percurso até que percebe-
se bombardeado de informações e perdido. Porém, todo processo de escolha envolve
possibilidades boas e ruins; deve-se portanto, tolerar o ruim para usufruir do bom, ou seja,
tolerar as frustrações e abrir mão da fantasia de que se pode tudo, de que se tem todas as
possibilidades. Para escolher uma profissão é preciso estar ciente que, quando se escolhe
uma carreira, depara-se com estes dois lados.
O trabalho ocupa a maior parte da vida das pessoas. Mesmo que a escolha
profissional seja de responsabilidade individual, não deixa de ter repercussões sociais, pois
quando uma pessoa exerce motivada a sua profissão, apresenta um serviço de melhor
qualidade, além de sentir-se mais segura e realizada (ARAÚJO, 2004).
Para que as pessoas consigam administrar bem suas escolhas, é de suma
importância o investimento no desenvolvimento de instrumentos que auxiliem na reflexão
profissional (ANDRADE, MEIRA e VASCONCELOS, 2002). Os vários autores citados
neste capítulo comentam a importância da orientação profissional, que tem se direcionado
em busca desses instrumentos, propiciando o desenvolvimento do auto-conhecimento,
agindo como meio facilitador, dando ao jovem subsídios para que faça a escolha mais
adequada.
A prática da avaliação da carreira ajuda um indivíduo a discernir a escolha da
profissão mais apropriada, à luz das habilidades, dos interesses, dos objetivos, dos valores
e do temperamento de cada pessoa, assim como dos requerimentos de uma determinada
ocupação. O trabalho oferece oportunidades para muitas recompensas extrínsecas e
intrínsecas; além disso, o clima atual de rápidas mudanças nas condições de emprego faz
com que muitas pessoas considerem suas escolhas de carreira várias vezes em seu período
de vida. Escolher uma carreira implica, frequentemente, em escolher um estilo geral de
vida, com seu conjunto característico de valores (ANASTASI e URBINA, 1997).
Toda profissão, de acordo com Jaquemin, Melo-Silva e Pasian (2000) constitui-se
por uma estrutura de exigências e também de um potencial de gratificação e satisfação.
Exige do indivíduo alguns elementos como disponibilidade afetiva, aptidões, motivação,
interesses, inclinações pessoais. É nesse conjunto que o indivíduo irá desenvolver sua
identificação e identidade profissional.
Primi et al (2002) citam que as tarefas a serem executadas nas profissões exigem
um certo nível de habilidades e reforçam também alguns interesses específicos. Se uma
pessoa possui as habilidades que uma determinada tarefa requer, mais chance de se adaptar
satisfatoriamente ao ambiente ela terá; e à medida que se interessa pelo tipo de valor,
atitudes e estilos reforçados pelo ambiente, maior será sua satisfação. As escolhas possuem
maior eficácia quando existe uma coordenação harmônica entre as características pessoais
e as da profissão desejada. Entende-se então, que para uma determinada profissão existem
algumas características de personalidade que são mais complementares, ou mais adequadas
que outras.
Para Bernardes (2002)
a satisfação no trabalho e na vida depende da amplitude na qual o
indivíduo encontra emprego para suas capacidades, interesses, traços de
personalidade e valores; a adequação decorre do tipo de trabalho e da
forma de vida na qual o indivíduo possa desempenhar o tipo de papel
para o qual suas experiências de crescimento e exploratórias levam-no a
considerar como apropriadas. (p.29)
No que se refere ao conceito de traços, estes são concebidos por Atkinson et al.
(1995) como dimensões contínuas, presumindo que as pessoas variam simultaneamente em
diversas dimensões da personalidade, ou escalas. Para uma descrição global da
personalidade, é necessário conhecer a classificação do indivíduo em diversas escalas e
quanto de cada traço ele possui. Isso permitirá caracterizar consistências no seu
comportamento e então prever como ele responderá a determinadas situações.
Em seus estudos, Nunes (2000) argumenta que a personalidade e sua avaliação
estão muito ligadas com a linguagem natural e com os principais princípios das Teorias
dos Traços. Nestas teorias, a personalidade pode ser compreendida por meio de níveis
hierárquicos de estruturas que modulam e delimitam o comportamento humano. Cita que
os traços de personalidade são descritos e identificados usualmente pelos descritores de
traços, que são termos identificados na linguagem natural e representam importantes
componentes de comportamentos observados em indivíduos e diferentes sociedades.
Hall, Lindzey e Campbell (2000) apontam que Cattell define a personalidade como
aquilo que permite prever o que uma pessoa fará em uma dada situação. Deve-se
estabelecer leis sobre o que diferentes pessoas farão em todos os tipos de situações
ambientais sociais e gerais. Vê a personalidade como uma estrutura complexa e
diferenciada de traços. Para ele, traço é uma estrutura mental, uma inferência feita a partir
do comportamento observado para explicar a regularidade ou consistência deste
comportamento.
Cattell (1950 citado por HALL, LINDZEY E CAMPBELL, 2000) distingue entre
traços de superfície e traços de origem. Os traços de superfície representam agrupamentos
de variáveis manifestas que ocorrem juntas; traços de origem representam as variáveis
subjacentes que podem determinar várias manifestações de superfície. Os traços de origem
são as influências reais por trás da personalidade, como os fatores fisiológicos,
temperamentais, graus de interação dinâmica e exposição às instituições sociais.
Considera-os mais importantes, apesar dos traços de superfície parecerem mais válidos e
significativos para o observador comum, por serem mais facilmente observáveis.
Entretanto, os traços de origem são mais úteis para explicar o comportamento, pois
refletem fatores de hereditários, constitucionais e ambientais.
Segundo os mesmos autores (2000) Cattell divide também os traços por meio da
modalidade na qual se expressam: traços dinâmicos, que acionam o indivíduo rumo a uma
meta, e traços de capacidade, quando têm relação com a efetividade em que o indivíduo
busca atingir essa meta. Os traços dinâmicos importantes no sistema de Cattell são de três
tipos: os ergs, que correspondem às pulsões com base biológica; os sentimentos, que
focalizam um objeto social como a escola ou o país, por exemplo; as atitudes, que são
traços dinâmicos de superfície, manifestações ou combinações específicas de motivos
subjacentes. Os vários traços dinâmicos estão inter-relacionados em um padrão de
subsidiação, em que certos elementos são subsidiários a outros, ou servem como meios
para seus fins. Estes relacionamentos podem ser expressos no que Cattell chamou de
treliça dinâmica.
Muitos sistemas de tipologia têm sido criados desde a antigüidade. Estes sistemas,
de acordo com Zacharias (1995) são baseados na observação direta dos comportamento
humano e num conjunto de representações mágico/religiosas e filosóficas. Cita como
exemplo o sistema da Astrologia, que foi desenvolvido na Mesopotâmia e entre os caldeus.
Conforme este sistema, a matéria, inclusive o homem, são formados por quatro elementos:
a terra, o fogo, o ar e a água. Cada um destes elementos compartilha de três signos do
zodíaco, que é um cinturão de constelações que se localiza no caminho do sol, da lua e dos
planetas no céu, observados na terra. As pessoas que nascem sob a influência de um destes
signos, são influenciadas pelas características próprias do signo e pela natureza do
elemento correspondente a este signo.
A antiga medicina grega, desenvolveu uma tipologia fisiológica semelhante ao
sistema astrológico descrito acima; a classificação das pessoas era também quaternária e
baseada nas denominações das secreções do corpo. O que caracterizaria o temperamento
de alguém seria a maior quantidade de um dos humores em circulação no corpo: o sangue,
fleugma, bilis amarela e bilis negra ( ZACHARIAS, 1995).
A filosofia grega, de acordo com Lee (1994) estava baseada na doutrina dos quatro
elementos, que eram relacionados com as quatro faculdades do homem: a moral, que
corresponde ao fogo; estética e alma, que correspondem à água; intelectual, correspondente
ao ar; e física, correspondente à terra. Baseado nesta idéia, Hipócrates desenvolveu a
medicina da Patologia Humoral, considerando o elemento fogo como Bile Amarela, terra
como Bile Negra, água como Fleugma e ar como Sangue. Posteriormente, Galeno
correlacionou-os com os quatro humores que deram origem aos quatro temperamentos
humanos específicos: Colérico, Melancólico, Fleugmático e Sanguíneo. Segundo o autor
(1994):
Compreende-se tenham os gregos se convencido da real existência desses
humores; pois quando há uma contusão o sangue não acorre? A tosse não
elimina a Fleugma (catarro)? Os colágogos não tornam as fezes escuras
pela bili negra? E os vômitos não vêm com a bili amarela para tingí-los?
(p. 13)
Zacharias (1995) cita que Ernest Kretschmer, partindo de seus trabalhos como
psiquiatra, desenvolveu uma tipologia com base na compleição física correspondente a
determinados traços de personalidade. Divide as pessoas em quatro tipos: Pícnico, que é o
indivíduo baixo e forte, possuindo pernas, peito e ombros arredondados; é sociável, amigo,
vivaz, prático e realista, e em caso de patologia oscila no ciclo mania-depressão. O
segundo tipo, o Leptossômico, é o indivíduo de estatura alta, esbelto, pernas e face
alongadas; são introspectivos e reflexivos, apresentando em caso de patologia, extrema
introversão e falta de contato com o mundo. O terceiro tipo, o Atlético, é proporcional,
estando entre o pícnico e o leptossômico. Os Displásicos são o quarto tipo, apresentando
misturas incompatíveis durante o seu desenvolvimento.
Instável
Rabujento Melindroso
Ansioso Inquieto
Rígido Agressivo
Sóbrio Excitável
Pessimista Mutável
Reservado Impulsivo
Melancólico Colérico
Insociável Otimista
Quieto Ativo
Introvertido Extrovertido
Passivo Sociável
Cuidadoso Expansivo
Fleumático Sangüíneo
Reflexivo Conversador
Pacífico Responsivo
Controlado Despreocupado
Confiável Animado
Tranquilo Descuidado
Calmo Líder
Estável
Na classificação dos tipos psíquicos, pode ser considerado como grande exemplo a
Tipologia de Carl Gustav Jung. Ao longo de dez anos, Jung dedicou-se a um estudo
detalhado dos tipos abordados na literatura, na mitologia, na filosofia e principalmente na
psicopatologia. A origem da tipologia junguiana surge como um dos principais frutos do
desenvolvimento dos estudos sobre inconsciente e das descobertas científicas de Freud e
Jung (ZACHARIAS, 1995).
Hall (1986) salienta que Jung fez uma vasta revisão histórica da questão dos tipos
psicológicos na literatura, na mitologia, na estética e na filosofia, na qual baseou o
desenvolvimento do sistema tipológico. Tipos Psicológicos foi um dos primeiros livros de
Jung, sendo publicado em 1921. No modelo tipológico de Jung, existem dois tipos de
atitude: a extroversão e a introversão, termos que ficaram conhecidos e que são usados
popular e culturalmente; também existem quatro funções que são chamadas pensamento,
sentimento, intuição e sensação.
Para Moraes (2001) a teoria tipológica de Jung, no que diz respeito à introversão e
à extroversão, talvez seja uma das mais conhecidas, pois dentre as características descritas
encontram-se as tendências para a escolha da profissão e o ambiente de trabalho.
Zacharias (1995) cita que a idéia de que é possível classificar as pessoas em
determinados tipos de atitudes e comportamentos, consta de longa data. Esses sistemas de
tipologia baseiam-se na observação direta do comportamento humano e em um conjunto
complexo de representações simbólicas mágico-religiosas-filosóficas. A grande
contribuição da tipologia junguiana, é a introdução do conceito de energia psíquica e como
cada pessoa se orienta em relação ao mundo, contribuição esta inovadora frente aos
sistemas anteriores, em que as classificações eram baseadas na observação de padrões de
comportamento temperamental ou emocional.
Inicialmente, Jung elaborou sua teoria tipológica com o fito de explicar a forma
como a qual ele, Freud, Adler e outros podiam ter concepções tão divergentes a respeito do
mesmo material clínico. Jung chegou à conclusão de que eles interpretavam os fatos
relevantes de formas diversas, em função das variações da maneira como esses fatos
funcionavam graças a tipologia de cada um. Percebeu que Freud era voltado para o objeto
e Adler era voltado para o sujeito. Freud partia do princípio de que as coisas evoluíam
segundo as diretrizes do instinto sexual; Adler concedia a primazia ao instinto do poder.
Assim, tanto Freud quanto Adler, criam um sujeito em relação a um objeto, mas Adler
enfatiza o sujeito que se afirma e procura manter sua superioridade em relação aos objetos.
Freud, ao contrário, enfatiza os objetos, que conforme suas características são proveitosos
ou prejudiciais ao desejo do sujeito. Jung, baseando-se em suas observações, concluiu
então que há dois tipos de pessoas, uma que se interessa mais pelo objeto e outra que se
interessa mais por si mesma, chegando ao conceito de extroversão e introversão (HALL,
1986).
Os tipos gerais de atitude são distinguidos por seu comportamento peculiar em
relação ao objeto. O introvertido preocupa-se em retirar a libido do objeto para se prevenir
contra um superpoder desse objeto. O extrovertido, ao contrário, tem um comportamento
positivo frente ao objeto, afirmando sua importância na medida em que dirige a ele sua
atitude subjetiva (JUNG, 1991).
O conceito de extroversão e introversão é baseado no modo como se processa o
movimento da energia psíquica em relação ao objeto: na extroversão a libido flui em
direção ao objeto; na introversão a libido recua frente ao objeto, pois o sujeito sente nele
algo de ameaçador (SILVEIRA, 1997).
Cada pessoa, de acordo com Jung (1991) se orienta pelos dados que o mundo
externo lhe fornece. Quando a orientação pelo objeto e pelo dado objetivo é predominante,
de maneira que as decisões e as ações são determinadas por circunstâncias objetivas e não
por opiniões subjetivas, fala-se de uma atitude extrovertida. Se esta característica for
habitual, fala-se do tipo extrovertido:
Vive de tal modo que o objeto, como fator determinante, desempenha em
sua consciência papel bem maior do que sua opinião subjetiva (...) Sua
consciência toda olha para fora porque a determinação importante e
decisiva sempre lhe vem de fora. ( p. 319)
O tipo extrovertido está relativamente bem ajustado às circunstâncias dadas, não
possuindo outras pretensões além das possibilidades dadas objetivamente. Não leva muito
em consideração a realidade de suas necessidades e precisões subjetivas. O extrovertido
pode correr o risco de ser atraído para dentro do objeto e perder-se nele completamente,
originando-se daí perturbações corporais, funcionais ou reais.
No extrovertido, segundo Zacharias (1995) a energia psíquica está voltada para o
mundo exterior, dos objetos e dos fenômenos. Ele experimenta o mundo antes de
compreendê-lo e o discurso é o seu melhor meio de expressão.
No introvertido, a libido desloca-se de fora para dentro, fazendo com que foque sua
atenção para seu mundo interno de impressões, emoções e pensamentos. O indivíduo
introvertido possui sua energia psíquica voltada para o interior, tendendo a compreender o
mundo antes de experimentá-lo, o que o leva a uma certa hesitação frente à vida. Possui
maior facilidade com a escrita e uma vida interior rica em imagens e impressões
(ZACHARIAS, 1995).
4.3.3 - As funções
Para Jung (1991) a função psicológica seria uma forma psíquica de atividade que
inicialmente, permanece idêntica sob condições diversas. A função é uma das formas de
manifestação da libido, assim como a força física pode ser considerada uma forma da
energia física.
Cloninger (1999) cita que Jung descreveu quatro funções psicológicas que mostram
os processos cognitivos fundamentais que as pessoas usam, fornecendo uma descrição da
tipologia da personalidade. Essas funções são denominadas pensamento, sentimento,
intuição e sensação. Foram divididas em funções racionais e funções irracionais. O
pensamento e o sentimento são denominados funções racionais, pois através dessas funções
ordena-se eventos e atitudes. São formas alternativas de se fazer julgamento ou tomar
decisões. As funções irracionais, sensação e intuição, são consideradas modos
complementares de obter-se informações sobre o mundo, são formas de perceber.
De acordo com Jung (1991):
O pensamento e o sentimento são funções racionais enquanto
decisivamente influenciados pela reflexão. Realizam sua finalidade
enquanto concordam plenamente com as leis da razão. As funções
irracionais, ao contrário, são as que objetivam a mera percepção como a
intuição e a sensação; devem ser desprovidas, tanto quanto possível do
racional - que pressupõe a exclusão de tudo que é não-racional – para
chegar a uma percepção completa de todo o porvir. (p. 437)
Jung (1991) postula a existência de uma função que seria a que fica para trás no
processo de diferenciação. As exigências sociais fazem com que as pessoas diferenciem
algumas funções, ou por condizerem mais com sua natureza, ou porque lhes fornecem
meios para seu sucesso social. Na maioria das vezes as pessoas identificam-se mais
plenamente com a função privilegiada e mais desenvolvida; nesse processo evolutivo uma
ou mais funções são relegadas, sendo chamadas de inferiores, porém, estas funções não
podem ser consideradas doentias, apenas retardadas em vista da função principal.
A função inferior representa a parte desprezada e inadaptada da personalidade, mas
também constrói a conexão com o inconsciente, faz a ponte para o mundo simbólico. Um
dos aspectos da função inferior é o fato de que ela costuma ser lenta, por isso as pessoas
têm dificuldade de trabalhar com ela, ao contrário da reação da função superior, que se
exterioriza rapidamente. Muitas pessoas ocultam a sua função inferior, pois descobrem que
essa parte de sua personalidade é emocional, suscetível e inadaptada. Exemplificando,
pode-se dizer que um tipo pensamento, função superior, não consegue expressar ou
demonstrar sentimento, função inferior, no momento apropriado. Da mesma forma é muito
difícil para um tipo sentimento usar o pensamento de maneira correta no momento
apropriado (VON FRANZ, 1971).
4.3.6.2 - O sentimento
Zacharias (1995) enfatiza que o sentimento não deve ser confundido com afeto ou
emoção, mas representa a dimensão valorativa, o valor pessoal que o indivíduo atribui às
coisas. O tipo sentimento toma suas decisões baseados em seus valores pessoais, sempre
levando em conta o que sentem em relação a algo e sua preocupação com o sentimento de
outras pessoas.
Para Jung “o sentimento é uma espécie de julgamento, mas que se distingue do
julgamento intelectual, por não visar ao estabelecimento de relações conceituais, mas a
uma aceitação ou rejeição subjetivas.”(1991, p. 440)
O tipo sensação valoriza os detalhes e conhece o que percebe através dos cinco
sentidos. É incapaz de entender insinuações, pois essas ultrapassam os detalhes concretos.
Por ficar preso aos detalhes, pode correr o risco de perder a visão geral dos fatos
(CLONINGER, 1999). A sensação constata a presença daquilo que cerca o indivíduo e é
responsável pela sua adaptação à realidade objetiva (SILVEIRA,1997).
A sensação para Jung (1991) é a função psicológica que proporciona a percepção
de um estímulo físico. Relaciona-se não apenas com os estímulos externos, ou sensação
dos sentidos, mas também com as transformações dos órgãos internos, os estímulos
internos, o sentido do corpo.
4.3.7.2 - A intuição
5.1 - Método
5.1.1 – Participantes
5.1.2 - Instrumento
5.1.3 - Procedimento
A coleta de dados realizou-se por meio da aplicação do teste QUATI, que ocorreu
de forma coletiva em participantes da pesquisa nas suas respectivas salas de aula e também
no Laboratório de Avaliação Psicológica – LAP da UNIVÁS. O teste foi aplicado em
períodos variados dos cursos de Psicologia, Enfermagem, Medicina, Nutrição, Fisioterapia,
Farmácia, Biologia, Ciências Contábeis e Matemática.
Após assinatura do termo pelos participantes, o aplicador deu as consignas aos
mesmos para o preenchimento do teste.
Psicologia
31 Enfermagem
30 92 Medicina
17 Nutrição
Fisioterapia
23 Farmácia
16 45 Biologia
35 38 Ciências contábeis
Matemática
21%
Masculino
Feminino
79%
A tabela 1 mostra a distribuição dos gêneros nos cursos pesquisados. Na Psicologia
há um total de 83% de participantes do gênero feminino e 16,3% do gênero masculino; na
enfermagem, 86,7% feminino e 13,3% masculino; na medicina 63% feminino e 36,8%
masculino; na nutrição houve participação apenas do gênero feminino, num total de 100%;
na fisioterapia 87,5% feminino e 12,5% masculino; na farmácia 82,6% feminino e 17,4%
masculino; na biologia 64,7% feminino e 35,3% masculino; no curso de ciências contábeis
70% feminino e 30% masculino e na matemática 58,1% são do gênero feminino enquanto
41,9% são do gênero masculino.
Masculino Feminino
Psicologia 15 77
16,3% 83,7%
Enfermagem 6 39
13,3% 86,7%
Medicina 14 24
36,8% 63,2%
Nutrição 0 35
0 100,0%
Fisioterapia 2 14
12,5% 87,5%
Farmácia 4 19
17,4% 82,6%
Biologia 6 11
35,3% 64,7%
Ciências Contábeis 9 21
30,0% 70,0%
Matemática 13 18
41,9% 58,1%
Total frequência 69 258
A figura 4 representa a distribuição da faixa etária. Dos 327 participantes, 186
estão entre 18 e 22 anos, o que corresponde a 57%; 7 pessoas possuem entre 43 a 47 anos,
correspondente a 2%.
2%2% 18a22
9%
8% 23a27
28a32
33a37
57%
22% 38a42
43a47
Psicologia 57 35 8 51 12 21 11 22 37 22
62,0 38,2 8,7 55,4 13 22,8 12 23,9 40,2 23,9
Enfermag 31 14 3 24 8 10 1 17 20 7
68,9 31,1 6,7 53,3 17,8 22,2 2,2 37,8 44,4 15,6
Medicina 23 15 1 25 8 4 2 10 13 13
60,5 39,5 2,6 65,8 21,1 10,5 5,3 26,3 34,2 34,2
Nutrição 23 12 1 20 9 5 2 12 10 11
65,7 34,3 2,6 57,1 25,7 14,3 5,7 34,3 28,6 31,4
Fisioterapia 11 5 1 7 6 2 0 8 5 3
68,8 31,3 6,3 43,8 37,5 12,5 0 50,0 31,3 18,8
Farmácia 17 6 1 10 9 3 2 10 3 8
73,9 26,1 4,3 43,5 39,1 13,0 8,7 43,5 13,0 34,8
Biologia 13 4 1 8 6 2 2 6 4 5
76,5 23,5 5,9 47,1 35,3 11,8 11,8 35,3 23,5 29,4
C. Contab 18 12 2 15 8 5 1 12 9 8
60,0 40,0 6,7 50,0 26,7 16,7 3,3 40,0 30,0 26,7
Matemática 21 10 8 8 6 6 9 10 6
67,5 32,3 25,8 25,8 29,0 19,4 19,4 29,0 32,2 19,4
5.3 – Análise dos resultados
ALLPORT, G. W. Pattern and Grouth in Personality. New York: Holt, Rinehart and
Winston, Inc, 1961.
ATKINSON, R. L. et al. Introdução à Psicologia. 11a ed. Porto Alegre: Artmed, 1995.
SILVEIRA, N. Jung: vida e obra. 16a ed. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1997.