Sie sind auf Seite 1von 7

ZYGMUT BAUMAN- Sociólogo Polonês

“Fluidez” é a qualidade de líquidos e gases. (…) Os líquidos, diferentemente dos sólidos,


não mantêm sua forma com facilidade. (…) Os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”,
“escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam” (…) Essas são
razões para considerar “fluidez” ou “liquidez” como metáforas adequadas quando queremos
captar a natureza da presente fase (…) na história da modernidade.

Zygmunt Bauman

Conceito central do pensamento do autor, a “modernidade líquida” seria o momento


histórico que vivemos atualmente, em que as instituições, as ideias e as relações
estabelecidas entre as pessoas se transformam de maneira muito rápida e imprevisível:

“Tudo é temporário, a modernidade (…) – tal como os líquidos – caracteriza-se pela


incapacidade de manter a forma”.

Zygmunt Bauman

Para melhor compreender a modernidade líquida, é preciso voltar ao período que a


antecedeu, chamado por Bauman de modernidade sólida, que está associada aos conceitos
de comunidade e laços de identificação entre as pessoas, que trazem a ideia de perenidade
e a sensação de segurança. Na era sólida, os valores se transformavam em ritmo lento e
previsível. Assim, tínhamos algumas certezas e a sensação de controle sobre o mundo –
sobre a natureza, a tecnologia, a economia, por exemplo.

Alguns acontecimentos da segunda metade do século XX, como a instabilidade


econômica mundial, o surgimento de novas tecnologias e a globalização, contribuíram
para a perda da ideia de controle sobre os processos do mundo, trazendo incertezas quanto
a nossa capacidade de nos adequar aos novos padrões sociais, que se liquefazem e mudam
constantemente. Nessa passagem do mundo sólido ao líquido, Bauman chama atenção
para a liquefação das formas sociais: o trabalho, a família, o engajamento político, o amor,
a amizade e, por fim, a própria identidade. Essa situação produz angústia, ansiedade
constante e o medo líquido: temor do desemprego, da violência, do terrorismo, de ficar
para trás, de não se encaixar nesse novo mundo, que muda num ritmo hiperveloz.

Assim, duas das características da modernidade líquida são a substituição da ideia de


coletividade e de solidariedade pelo individualismo; e a transformação do cidadão em
consumidor. Nesse contexto, as relações afetivas se dão por meio de laços momentâneos
e volúveis e se tornam superficiais e pouco seguras (amor líquido). No lugar da vida em
comunidade e do contato próximo e pessoal privilegiam-se as chamadas conexões,
relações interpessoais que podem ser desfeitas com a mesma facilidade com que são
estabelecidas, assim como mercadorias que podem ser adquiridas e descartadas. Exemplo
disso seriam os relacionamentos virtuais em redes.

A modernidade líquida, no entanto, não se confunde com a pós-modernidade, conceito


do qual Bauman é crítico. De acordo com ele, não há pós-modernidade (no sentido de
ruptura ou superação), mas sim uma continuação da modernidade (o núcleo capitalista se
mantém) com uma lógica diferente – a fixidez da época anterior é substituída pela
volatilidade, sob o domínio do imediato, do individualismo e do consumo.

 Modernidade líquida: Bauman nos ajuda a entender

Podemos dizer que a modernidade líquida é a época atual em que vivemos.

É o conjunto de relações e instituições, além de sua lógica de operações, que se impõe e


que dá base para a contemporaneidade. É uma época de liquidez, de fluidez, de
volatilidade, de incerteza e insegurança.

É nesta época em que toda a fixidez e todos os referenciais morais da época anterior,
denominada pelo autor como modernidade sólida, são retirados de palco para dar espaço
à lógica do agora, do consumo, do gozo e da artificialidade.

Antes de Bauman criar o conceito de modernidade líquida, Karl Marx e Friedrich


Engels já caracterizavam a modernidade como o processo histórico que derretia todas as
instituições de outras épocas, como a família, a comunidade tradicional (culturalmente
peculiar e fechada para forasteiros) e a religião (vide a secularização dos Estados-nação
no século XX)[2].

O objetivo do derretimento proposto pela modernidade era questionar cada ponto da vida,
descartando a irracionalidade e a falta de justificativa plausível que cada objeto de crítica
continha, mas mantendo ou realocando no projeto racional e iluminista suas
características ainda aproveitáveis.

A destruição da modernidade, portanto, era criativa, na medida em que desenraizava o


velho e o enraizava no novo, o colocando em outra gama de relações. É este o mote de
Zygmunt Bauman para entender que a configuração atual da modernidade é
qualitativamente diferente daquela descrita acima e vigente até a década de 60 (que é
tomada como marco simbólico da mudança de época que trataremos aqui).

A modernidade líquida, nos dirá Bauman, é o momento em que os referenciais que


possibilitavam o desenraizamento e reenraizamento do velho no novo são liquefeitos e,
assim, perdidos[3].
Quando não há mais tais referenciais, a vida passa a ser entendida como projeto
individual. E quais são esses referenciais? A classe, a religião, a família, a nacionalidade,
a ideologia política. Todos eles foram solapados por uma crescente tendência ao
consumo, à transformação das relações sociais em mercadoria, portanto, da própria
identidade em mercadoria.

Isso pode ser visto principalmente no “processo de desregulamentação política, social e


econômica que se manifesta na expansão livre dos mercados mundiais, no
desengajamento coletivo e esvaziamento do espaço público”, diz Tiago de Oliveira
Fragoso[4].

Fragoso complementa, “Na modernidade líquida os indivíduos não possuem mais padrões
de referência, nem códigos sociais e culturais que lhes possibilitassem, ao mesmo tempo,
construir sua vida e se inserir dentro das condições de classe e cidadão. Chega-se no
entender de Bauman a era da comparabilidade universal, onde os indivíduos não possuem
mais lugares pré-estabelecidos no mundo onde poderiam se situar, mas devem lutar
livremente por sua própria conta e risco para se inserir numa sociedade cada vez mais
seletiva econômica e socialmente”[5].

É nesta época que as relações de trabalho cada vez mais se desgastam e que a
própria esfera do trabalho se transforma num campo fluido desregulamentado. Então,
empregos temporários, meia jornada, empregos em que as relações de empregado-
empregador são constituídas somente pelos dois (como os trabalhadores que são Pessoa
Jurídica), se tornam situações fáceis de observar e consideradas legítimas pela sociedade.
Nisto, emerge a figura do desempregado crônico[6].

Nas relações pessoais, as conexões predominam. Conexão é o termo que Zygmunt


Bauman usa para descrever as relações frágeis. A grande sacada desta palavra envolve a
noção de que, em uma conexão, a vantagem não está só em ter várias conexões, mas,
principalmente em conseguir desconectar sem grandes perdas ou custos.

A relação frágil tem como pressuposto a transformação dos humanos em mercadorias que
podem ser consumidas e jogadas no lixo a qualquer momento – a qualquer momento eles
(os humanos) podem ser excluídos. A conexão é frágil porque o sujeito líquido lida com
um mundo de consumo e opções, mas esse mundo nunca é objetivo e frio, ele ainda causa
frustrações e, como já dito, insegurança. O sujeito líquido não tem mais referenciais de
ação: toda a autoridade de referência é coloca em si e é sua responsabilidade construir ou
escolher normas a serem seguidas – tudo se passa como se tudo fosse uma questão de
escolher a melhor opção, com melhores vantagens e, de preferência, nenhuma
desvantagem[7].

Isso tudo é coberto por uma mentalidade que, não só valida as instituições e as normas,
mas também dá base para a vida dos sujeitos: os imperativos de consumo são inscritos
naquilo que há de mais fundamental na constituição do sujeito líquido. Até mesmo no
sexo.

Na modernidade líquida, o sexo é uma força de atomização, não de união. As conexões


sexuais fortalecem a noção do indivíduo isolado, porque elas não são muito mais que o
acúmulo de sensações que os sujeitos pós-modernos foram construídos para buscar. O
sexo é sempre a satisfação instintiva individual sem qualquer responsabilidade ou ligação
com o outro, sempre a acumulação de prazeres[8].

No entanto, para além da prática sexual, a própria noção da sexualidade foi modificada.
Percebe-se isso nas crianças: atualmente, a expressão da sexualidade na criança é tida
como produto do abuso de adultos – os adultos as abusam e este ato criminoso seria
refletido na criança em ações simples, como quando começa a mexer nos próprios órgãos
genitais. Antes desta conceituação da sexualidade infantil, as crianças eram tidas como
sujeitos sexuais, elas tinham interesse pelo prazer sexual e se masturbaram em busca
destas sensações (basta ler Freud).

Portanto, o autor chega a conclusão que essa nova significação da sexualidade infantil é
o oposto da sexualidade, digamos, “sólida”: nela, a sexualidade era parte do instinto
incontrolável que deveria ser vigiado constantemente pelos pais. A criança passou de
sujeito sexual a objeto sexual.

Se os pais, quando próximos, podem ser considerados abusadores sexuais (o autor dá um


ótimo exemplo no Mal Estar da Pós-Modernidade sobre um caso em que a escola de uma
criança processou seus pais por abuso, mas eles acabaram sendo inocentados, porém não
antes de recebem um grande linchamento moral), então a atitude correta é se afastar.
Logo, o filho cresce sem a relação íntima e profunda (e vigilante, autoritária) que era
sempre construída na modernidade sólida. é importante dizer que nada disso é meramente
consciente e intencional – esse afastamento se dá “naturalmente”, daí a característica de
qualquer época ser marcada por um véu de naturalidade.

 Comunidade e identidade em tempos pós-modernos

Identidade e comunidade se combinam em uma relação de liberdade X segurança.


As identidades cada vez mais são compradas e não desenvolvidas durante toda a
vida, e a comunidade é um sonho utópico.

Comunidade é o lugar da segurança e da confiança mútua, já a identidade entra como um


substituto para impossibilidade da constituição de uma comunidade. Se um dos maiores
problemas da atualidade é a sensação de insegurança estrutural em nossa sociedade
líquido-moderna, a sensação da impossibilidade de se fixar em uma determinada condição
de trabalho, condição econômica e social que seja estável, fazer uma comunidade seria a
resposta para toda falta de referencial ético, moral ou para a simples sensação de
insegurança a respeito do próprio lugar dentro da sociedade.

A impossibilidade de reencaixe

A oposição entre modernidade sólida x modernidade líquida traz consigo as diferenças


entre uma época em que os indivíduos tinham centros de referência para tomarem atitudes
morais, julgamentos estéticos, para decidirem sobre suas vidas e para se encaixarem na
ordem social, e uma outra em que esses centros de referência já não exercem seus papéis
como deveriam.

A modernidade líquida é o lugar em que o processo de destruição criativa, em que se


destrói uma ordem para criar uma nova, com novos espaços sociais e com novas
coordenadas de convivência, com uma nova moral e talvez com práticas substancialmente
diferentes, só acontece como destruição.

Isso quer dizer que o desengajamento coletivo – uma das características marcantes da
pós-modernidade – também carrega em seu bojo uma transformação das instituições que
funcionavam como guias coletivos e como laços para ações coletivas: não há mais criação
de possibilidades de reencaixe em nossa sociedade, os indivíduos flutuam sobre a
estrutura social sem saber muito bem como se portar com segurança e com garantia de
aceitação dentro da diferentes situações em que se encontram.

As identidades perdem seu caráter de raiz e se transformam em meras âncoras: não são
mais presas ao chão, já não são o resultado daquilo que o sujeito é por pertencer a uma
cultura, família, religião ou partido, não é algo mais ou menos nuclear, algo que não se
troca, algo que é necessário lidar para sempre. Elas são âncoras na medida em que a
âncora é um peso sem fixação. É um peso banal.

O desengajamento coletivo tem como sintoma (ou como causa) a completa


desvalorização do Estado-nação enquanto instituição agregadora e da família enquanto
um forte aparelho de reprodução ética e cultural – os filhos já não serão cristãos porque
seus pais são, também não seguirão a mesma profissão da família e provavelmente não
serão partidários das mesmas causas que eles.

Os indivíduos são abandonados a sua própria sorte para conseguir formar sua identidade
e sobreviver em uma sociedade ultracompetitiva e individualista, a busca da felicidade
individual passa a ser a única coisa que vale a pena ser investida. Segundo Tiago Fragoso,
“Chega-se no entender de Bauman a era da comparabilidade universal, onde os indivíduos
não possuem mais lugares pré-estabelecidos no mundo onde poderiam se situar, mas
devem lutar livremente por sua própria conta e risco para se inserir numa sociedade cada
vez mais seletiva econômica e socialmente.”

A busca pela felicidade individual

Entretanto, a felicidade individual é buscada em termos de mercadoria. Os novos


lançamentos de produtos que prometem fazer o consumidor feliz são substitutos – e
comprados em grande quantidade – de artigos não monetários que de fato trazem a
felicidade, como o “o amor, a amizade, os prazeres da vida doméstica, o companheirismo,
a autoestima por um bom trabalho, o respeito mútuo etc”.

É a velha história da qualidade que é substituída pela quantidade. Porém, as mercadorias


não suprem a necessidade humana por relações sociais de qualidade, o resultado disso é
a vida em uma sociedade com altos índices de depressão, transtornos bipolares e síndrome
do pânico.
A busca da felicidade dentro do mercado nunca tem fim, o consumo nunca terá um fim.
Como a felicidade nunca é alcançada e os padrões de satisfação são sempre altíssimos
(afinal, se busca a felicidade plena, não uma vida gostosa de se viver – melhor, uma vida
gostosa de se viver é unicamente uma vida de felicidade plena e orgástica, a vida estável
perde seu valor), o mercado se mantém sempre em alta, produzindo e inventando novas
necessidades para a busca da felicidade.

E felicidade está relacionado também com sentir-se parte dos grupos em que se convive.
Em uma sociedade (ou em grupos), todas as pessoas buscam aprovação. Não ser rejeitado
é algo de enorme valor para qualquer um. Em uma sociedade de consumo, não ser
rejeitado envolve adaptar-se a todas as situações, envolve conseguir o reconhecimento
social – o reconhecimento social é a única garantia de que a posição que um sujeito aspira
ou pertence está sendo de fato vista e respeitada.

A identidade sofre com essa necessidade constante de re-adaptação e reconhecimento


social (lembrando que a necessidade de reconhecimento social está associada com a
necessidade de ter segurança em relação à permanência em uma posição social. Como
isso não existe em uma sociedade líquida, a força para se adaptar nas diferentes
circunstâncias aumenta vertiginosamente).

Identidade e comunidade

A identidade é uma maneira de sentir-se seguro fora da comunidade. A comunidade é


“um lugar seguro, quente e aconchegante. A sociedade pode ser má, mas a comunidade
não. Viver em comunidade possibilita a experimentação de prazeres que não se encontram
mais acessíveis. Todos estão seguros e têm a certeza de que estão livres de perigos
ocultos“. A comunidade é o lugar em que os acordos são feitos tacitamente, a
comunicação dominante é informal e tudo que é necessário saber coletivamente está em
espaço público, mas oculto. Todo mundo sabe o que deve ser sabido e todo mundo está
preso as regras coletivas.

A comunidade é, então, assim como a noção rousseoniana do contrato social, uma troca
de liberdade por segurança. A liberdade individual é sacrificada em nome da segurança
existencial e material de viver em comunidade. Mas a comunidade se desfaz quando
novos horizontes são abertos e mais grupos/pessoas, que estavam do lado externo da
comunidade, já não são mais “eles” e podem fazer parte do “nós”.

A comunidade é uma utopia que serve como ideal para a parte vulnerável da sociedade.
É esta parte vulnerável que forma “comunidades estéticas”. Comunidades com laços
frouxos, que passam uma sensação de segurança, de união, de cumplicidade, mas que não
são mais que momentos para aliviar o sufoco cotidiano de viver sem garantias futuras.
São os clubes, os grupos étnicos, os coletivos artísticos, os sindicatos e etc e etc. As
minorias se investem do objetivo de fazer uma comunidade para se protegerem da
realidade líquida.

Quando as relações deixam de ter como fundamento uma lógica interna “natural” e são
mediadas por regras “autoconscientes”, ou seja, quando é necessário nomear claramente
e formalizar aquilo que media as relações sociais, a comunidade desaba e cada indivíduo
é convidado pela situação dramática do abandono a procurar um espaço social e cultural
para se alojar – é necessário que se construa uma identidade.

Na dita pós-modernidade, as identidades perdem seu caráter de “natureza” e ficam cada


vez mais superficiais e compradas em lojas de departamento e os espaços para construção
coletiva social desaparecem ao serem constantemente privatizados.

Espaços públicos

Então como sair dessa sinuca de bico em que as identidades (que representam a liberdade
fora da comunidade) expressam o fardo de ser livre, ao invés de representarem uma
possibilidade maior de viver sob as próprias rédeas? As elites globais podem exercer sua
liberdade como quiserem, já a massa de humanos, que não se encontra com poder nenhum
de decisão, está fadada ao desespero e à solidão em meio ao mundo competitivo. A
liberdade é, na verdade, uma sina para quem não tem condições de aproveitá-la.

As elites podem ter a identidade que quiserem. Não se fixam em lugar nenhum, moram
em todos os lugares e podem pertencer a todas as culturas. Já a massa precisa se adaptar
sozinha a um mundo sem uma linguagem cultural precisa e segura, em um mundo de
insegurança que não lhes reserva um destino garantido. Todos estão jogados em uma
competição louca e agressiva.

É necessário, para Zygmunt Bauman, retomar os espaços públicos, os retirando da


iniciativa privada. Isso significa não só ocupar o espaço público, mas coletivizá-lo. Tomar
para o coletivo (ou para as instituições que o representam) todos os pedaços que
fomentam ações coletivas. É necessário uma nova onda de engajamento e para isso,
também é necessário a construção de instituições que “fabriquem” engajamento político,
que combinem o projeto de vida com a Política (essa mesma com letra maiúscula, que
significa a política da própria sociedade).

Das könnte Ihnen auch gefallen