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SEGURANÇA
alimentar e nutricional
1 Doutoranda - Programa de Pós-Graduação em Energia Nuclear na Agricultura do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo. Rua
Ipiranga, 2581, bloco 3 , apt 204 - Cep: 13417-390 - Piracicaba - São Paulo – SP. E-mail: neila_moura@yahoo.com.br
uma característica marcante, prestando pouca global Regulatory Environment registra uma revisão das
atenção a detalhes e qualidade; regulamentações mundiais sobre publicidade e
propaganda de alimentos, especialmente para crianças.
5-8 anos: nesta fase, ocorrem mudanças na forma de Dos 73 países analisados, 32 possuem restrições
persuadir dos pais; à medida que a criança cresce, ela específicas sobre publicidade televisiva para crianças.
deixa de pedir, fazer manha, resmungar, demonstrar Alguns exemplos são mostrados a seguir [6]:
raiva e começa a superar sua dificuldade em lidar
com o retardo da gratificação. Crianças mais velhas 1. Noruega e a Suíça proíbem veiculação de qualquer
tendem a usar técnicas mais sofisticadas de comercial de televisão para crianças abaixo de 12
persuasão, como negociação, e adulação; sua anos de idade;
capacidade de atenção é maior, e começam a fazer
gastos independentes; 2. Áustria e Bélgica proíbem comerciais antes e depois
de programas infantis;
8-12 anos: com a chegada da pré-adolescência,
3. Dinamarca faz restrições quanto à utilização de
ocorre um aumento da influência da opinião dos
colegas, atenção a detalhes e a qualidade; devido à figuras e animais de programas infantis nos
comerciais;
sua lealdade a marcas e estratégias de negociação,
influência sobre as compras domésticas aumenta 4. Itália apresenta um código de auto-regulamentação
neste período. Até a idade de 12 anos, uma criança já com restrições específicas, incluindo previsão de
se familiarizou com todos os aspectos de seu perfil penalidades financeiras;
de consumidor.
5. Austrália proíbe comercial durante a exibição de
Publicidade e propaganda são técnicas programas para crianças em idade pré-escolar e
largamente usadas pelas empresas para encorajar o restringe quantidade e freqüência de comerciais
consumo de seus produtos. As indústrias investem durante a programação infantil;
pesadamente divulgando fast-food ricos em calorias,
bebidas carbonatadas, cereais açucarados matinais e 6. Em 10 dos 16 países avaliados na Ásia existe alguma
snacks, alimentos os quais tendem a ser ricos em forma de regulamentação;
gorduras, açúcar e sal, bem como pobre em nutrientes [6].
Dadas as crescentes prevalências globais de obesidade e 7. Malásia, Paquistão e Tailândia existem sistema de
doenças crônicas não transmissíveis, muitos especialistas pré-avaliação e aprovação dos comerciais.
têm sugerido que a propaganda e a publicidade de tais
alimentos contribuem para um ambiente “obesogênico” No Brasil, existem acervos reduzidos de
que torna as escolhas saudáveis mais difíceis, resultados de pesquisas sobre a propaganda, a
especialmente para crianças [7]. publicidade e a promoção de alimentos. No entanto,
assim como em outros países, a maioria dos comerciais
Segundo a revisão sistemática elaborada pelo veiculados na televisão aberta brasileira é relacionada aos
Comitê de Publicidade de Alimentos e Dieta de Crianças alimentos ricos em açúcar, gordura e sal por parte das
e Jovens do Instituto de Medicina dos Estados Unidos, crianças e adolescentes. Uma análise das propagandas
existem fortes evidências de que a propaganda televisiva veiculadas por meio das três principais emissoras de
influencia as preferências, os pedidos de compra e as televisão brasileira que detinham, em 2001, 90% da
opiniões sobre alimentos e bebidas por parte das crianças audiência, mostrou que 44% das propagandas de
entre dois e onze anos. Há também evidências que o alimentos voltadas ao público infantil eram de alimentos
referido recurso, num prazo curto de tempo, influencia o ricos em açúcar e gordura [10]. Outro estudo realizado por
consumo semanal e até diário das crianças, levando-as a pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP
preferir e pedir alimentos e bebidas com alto teor sobre propaganda de alimentos no Brasil apontou que
calórico e baixo teor nutritivo. Além disso, esta revisão 57,8% dos produtos alimentícios anunciados, entre 1998
também encontrou fortes evidências de que há e 2000, eram considerados ricos em gordura e açúcar [9].
associação estatística entre a exposição à propaganda
televisiva e o sobrepeso entre as crianças e adolescentes O investimento do mercado publicitário de
[8]. alimentos evidencia a extensão do poder deste setor. Em
2001, o orçamento publicitário mundial das indústrias de
O documento da Organização Mundial de alimentos foi estimado em aproximadamente 40 bilhões
Saúde (OMS) intitulado Marketing Food to Children: the de dólares. No Brasil, em 2005, foram investidos cerca de
1 bilhão de reais. Para cada dólar despendido pela de televisão. As crianças parecem formar os seus
Organização Mundial da Saúde - OMS tentando conceitos a partir de atributos do produto, tais como:
promover a nutrição saudável, 500 dólares são gastos aparência, doçura, textura, diversão, figuras de heróis,
pela indústria de alimentos na promoção de alimentos mágicas e ofertas de brindes. Menos importantes
processados [10]. parecem ser as informações a respeito de valores
inerentes ao alimento e ligados à nutrição e saúde em
A concretização do direito humano à geral [2].
alimentação adequada e ao mais alto padrão de saúde
possível, o respeito aos direitos da criança e adolescente, Entre os componentes da mensagem que
e o alcance da segurança alimentar e nutricional devem podem maximizar o seu efeito, a oferta de brindes tem
formar a base da regulamentação da publicidade de ocupado uma posição central. Essa prática, objeto de
alimentos, que alinhada com a promoção da saúde e a grande criticismo, tem sido bastante utilizada para
prevenção de doenças, deve incorporar prioritariamente persuadir a criança. Tem se indagado em que medida a
as seguintes questões [11]: sua inclusão em comerciais de TV contribui para distrair
a criança dos principais méritos do produto. Nos Estados
1. a informação adequada e correta sobre o valor Unidos, propostas posteriormente abandonadas
nutricional do alimento, evitando qualquer tipo de chegavam a sugerir a total eliminação dessa prática [12].
erro ou equívoco sobre seus atributos e de
mecanismos de indução sobre vantagens associadas Atualmente, os debates a respeito focalizam a
ao consumo de alimentos não saudáveis; necessidade ou não da imposição de algumas restrições à
prática da oferta de brinde nos comerciais. Alguns
2. a caracterização e definição do que são alimentos recomendam que os comerciais devotem mais ênfase na
ricos em açúcar, gordura e sal; apresentação do produto em si, reservando para a oferta
de brinde um papel secundário. Recomendações
3. o uso de advertências após a veiculação das indicando o banimento total dessa prática têm sido
propagandas destes alimentos; substituídas por sugestões para que sejam impostas
4. a restrição da utilização de figuras, desenhos e restrições de tempo ao oferecimento de brinde em um
personalidades, quando direcionada a crianças; comercial [2].
5. a restrição do horário de veiculação (após 21 horas e Crianças pequenas, em sua maioria, atribuem
até 6 horas); um alto grau de credibilidade a personagens animados
tipo Flintstone e Barney. Como motivos principais
6. a publicidade em instituições de ensino; expressos por crianças, com idade entre 4 e 7 anos, para
o consumo de determinada marca de cereal chocolatado,
7. a associação com brindes, prêmios, bonificações e mais da metade desejava o cereal porque, por exemplo,
apresentações. Barney e Flintstone gostavam dele. Além de personagens
animados os comerciais também utilizam figuras de
O diálogo entre o setor das empresas de autoridade da vida real e celebridades. Essa prática tem
alimentação e o setor das empresas dos meios de sido bastante utilizada na realidade brasileira [2].
comunicação e marketing deve ser aprofundado visando a
diminuição progressiva da demanda e eliminar a A influência persuasiva dos comerciais de
promoção de produtos alimentícios e de bebidas que televisão procura atingir o comportamento de consumo
contribuem para o comprometimento da dieta na do público em geral. A sua intenção explícita é a de
infância e na adolescência e a perspectivas de morte estimular a aceitação e venda do produto anunciado.
precoce e/ou a anos de vida incapacitante na idade Ocorrem, contudo, alguns efeitos não pretendidos e
adulta. Sabe-se que algumas empresas já começaram a altamente indesejáveis. Os comerciais de televisão podem
alterar seus produtos a fim de torná-los menos se constituir em fonte de conflitos entre pais e filhos.
prejudiciais. Essa iniciativa é bem acolhida e deve Como mencionado anteriormente, os comerciais
prosseguir sistematicamente, em escala e ritmo mais estimulam a criança a adotarem altos níveis de exigência
intenso [11]. em relação à aquisição de produtos que ela vê
anunciados. As exigências infantis, quando não são
Os critérios infantis a respeito do que constitui atendidas, resultam em discussões e agressões verbais
um bom alimento parecem ser significativamente dirigidas aos pais [2].
afetados por algumas práticas utilizadas nos comerciais
problemático é que mais de 90% dos atores ou modelos anúncios. O número de comerciais na televisão
destes comerciais são magros ou muito magros, e aumentou de 11 para 40 por hora nas últimas duas
anunciam produtos ricos em calorias. Este tipo de décadas. Note-se também, que de acordo com o referido
estratégia pode influenciar as pessoas a pensarem que o autor, na época da pesquisa um comercial dura
consumo de tais alimentos não as levará a ganhar peso aproximadamente 22 segundos.
[19].
Apesar da propaganda ser um importante
Inatividade física e estilo de vida determinante do comportamento consumidor infantil,
outros fatores também influenciam a preferência infantil
A atividade física praticada durante a por produtos e seus pedidos de compra: gênero
adolescência é de fundamental importância tendo em (meninos são mais persistentes em seus pedidos que
vista a possibilidade de exercer grande influência desta na meninas); nível socioeconômico da família, freqüência e
idade adulta, principalmente pela adolescência ser uma tipo de interação entre pais e filhos, envolvimento com
fase da vida que possibilita grandes alterações e grupos de amigos. À medida que crescem, as crianças se
configurações de novos comportamentos.Por exemplo, tornam mais críticas, menos suscetíveis ao apelo da mídia
no estudo de Silva e Malina [20], foi avaliado o nível de e mais sensíveis à influência de seus colegas. Tais fatores
atividade física em adolescentes de 14 e 15 anos de idade podem influenciar diretamente o comportamento
da cidade de Niterói (RJ). Os autores verificaram que consumidor da criança, mas também aumentar ou inibir
85% dos meninos e 94% das meninas eram inativos. os efeitos cognitivos, afetivos e comportamentais da
Outros autores também encontraram elevada prevalência propaganda [23].
de inatividade física em adolescentes como apontou o
estudo de Gomes, Siqueira e Schieri [21], envolvendo Muito pouco se discute a respeito dos meios
adolescentes do Rio de Janeiro. Os autores verificaram pelos quais os conceitos, corretos ou incorretos sobre
que 59,8% dos meninos e 77,8% das meninas foram alimentação e nutrição, são transmitidos para as crianças
classificadas como inativos. e adolescentes. Um destes meios poderia ser a
comunicação de massa, também considerado como fator
O comportamento da inatividade física pode ser de influência na mudança ou aquisição de hábitos
incrementado por diversos outros fatores, dentre eles o alimentares durante, especialmente, a adolescência. A
ambiente. A falta de locais públicos adequados e seguros literatura sugere que os meios de comunicação são
para a prática de atividade de lazer e o constante fatores de influência na formação, aquisição e
incremento dos índices de violência nos grandes centros incorporação de novos hábitos alimentares durante a
urbanos pode levar a maior prática de atividade adolescência [23].
sedentária como assistir televisão, jogar vídeo game e jogos
de computador, principalmente entre crianças e O adolescente, por deter a característica de
adolescentes [20]. freqüente busca de novas sensações, é alvo facilmente
atingido pela propaganda que transmite constantemente
O preocupante aumento na obesidade infantil estímulos, inclusive relacionados à nutrição. O alimento
tem atraído atenção para o papel da mídia, preconizado, por exemplo, pelos diversos meios de
principalmente da televisão sobre o comportamento comunicação, pode ser aquele que se configurará
infantil. Os estudos têm identificado associação entre o inadequado às necessidades do indivíduo, mas que será
hábito de assistir TV e o sobrepeso, pois a criança que consumido numa perspectiva de experimento ou
passa muitas horas assistindo televisão gasta menos identificação com imagens que a própria propaganda usa,
calorias por não estar praticando uma atividade física, sem a incorporação de qualquer análise mais profunda. A
além de desenvolver preferências pelos alimentos propaganda reforça também o traço de identificação com
anunciados, o que leva a um maior consumo de energia o grupo, à medida que transmite para os adolescentes,
na dieta. No entanto, a ocorrência concomitante de todas imagens de outros grupos de indivíduos, com idades
estas variáveis não permite que os pesquisadores sejam semelhantes, consumindo determinado produto,
categóricos ao relacionar causa e efeito [20]. reforçando ou criando novas perspectivas geradoras do
hábito [24].
Segundo Strasburger [22], crianças e adolescentes
americanos dedicam em média 6,5 horas por dia Segundo Grazini [25], em qualquer época
assistindo televisão, jogando vídeo game ou usando o adolescentes assistirão comerciais de alimentos pela
computador. Tornaram-se o alvo de uma indústria televisão, com as mais variadas mensagens, freqüências e
disposta a gastar anualmente 2 bilhões de dólares em intensidade que variam de acordo com o planejamento
publicitário de seu anunciante. Por serem produtos que qualquer outra atividade considerada de lazer. O tempo
satisfazem as necessidades biológicas, que precisam levar dedicado à televisão também é maior do que aquele
as pessoas à sobrevivência, os alimentos têm um destinado à permanência nas salas de aula e até mesmo
mercado consumidor potencial muito grande e, tratando- do tempo que compartilham com seus pais. Mesmo não
se ou não de adolescentes, as indústrias investem, de dispondo de amplo conjunto de dados, acredita-se que os
forma intensa, em publicidade a fim de despertar cada números nos países em desenvolvimento, como o Brasil,
vez mais motivações para a compra de seus produtos. revelem comportamento semelhante [26].
Em uma pesquisa conduzida no Chile, Olivares [4] McNEAL, J. U. Children as consumers of commercial
[27]concluiu que a expressiva proporção de crianças que and social products. Washington, DC: Pan American Health
assistem muitas horas de televisão, associada à influência Organization, 2000. 104 p.
dos comerciais sobre suas preferências alimentares,
[5] VALKENBURG, P. M.; CANTOR, J. The development
requer uma estratégia urgente de educação nutricional of a child into a consumer. Appl. Dev. Psychol., v.22, p. 61-
que promova hábitos alimentares saudáveis. 72, 2001.
Em 2004, os brasileiros permaneceram mais de [6] HAWKES, C. Marketing food to children : the global
5 horas por dia em frente ao televisor, assistindo não só regulatory environment. Marketing food to children.
TV aberta, mas também TV por assinatura e DVD [28]. Geneva, World Health Organization, 2004.
Ronque [37] avaliou escolares de elevado nível
socioeconômico em Londrina (Paraná) e encontrou [7] HILL, J.O; PETERS, J.C. Environmental contributions
valores de prevalência de sobrepeso bastante superiores à to the obesity epidemic. Science, 1998.
média da população brasileira com idade entre os sete e [8] INSTITUTE OF MEDICINE OF THE NATIONAL
dez anos. Apesar dos hábitos de vida não terem sido ACADEMIES (IOM). Committee on Food Marketing and
controlados no estudo, este revelou que todos os the Diets of Children and Youth. Food Marketing to
escolares possuíam em sua residência mais de um Children and Youth: Threat or Opportunity?. Whashington,
aparelho de televisão, além de vídeo, vídeo game e 2006, p.ES 2-13.
computador, o que pode estar contribuindo para um
estilo de vida sedentário e conseqüente aumento de peso. [9] HALPERN,G. Comerciais veiculados em programação
infanto juvenil de canais abertos de TV e sua relação com a
Considerações finais escolha de alimentos em amostra de escolares. Dissertação
de mestrado. Universidade Federal de São Paulo, 2003.
Observou-se que é grande a influência que o [10] LANG,T.; MILLSTONE, E. The atlas of food.
marketing exerce no comportamento alimentar de crianças Easthscan Books, 2002.
e adolescentes bem como o tempo gasto com a televisão
e jogos eletrônicos. Visando alterar esse panorama é [11] COMITÊ PERMANENTE DE NUTRIÇÃO DO
fundamental que os pais acompanhem de perto o que os SISTEMA DAS NAÇÕES UNIDAS (SCN). Declaração
seus filhos assistem bem como o tempo gasto em frente preliminar do grupo de trabalho sobre Nutrição, Ética e
da televisão. Direitos Humanos e Nutrição ao Longo do Ciclo de Vida.
Brasil, 2006.
A Educação Nutricional é uma ferramenta
muito importante para combater a influência negativa do [12] WARD, S. The effects of television advertising on
consumer socialization.In Adler, R.P.; Lesser,G.S.;
marketing sobre as crianças e adolescentes. Além da Meringoff, L.K.; Robertson, T.S.; Rossiter, J.R.; Ward,S.
educação nutricional, faz-se necessário uma (eds) The effects of television advertising on children-
regulamentação das propagandas de alimentos Review and recommendation. Lexington, Mass., D.C. Heath
direcionadas ao publico infantil e jovem a fim de ando Co. Lexington Books, 1980.
combater os maus hábitos alimentares e a inatividade
física. [13] GOLDBERG, M.; GORN, G. Some unintended
consequences of TV advertising to children. Journal of
Referências Bibliográficas Consumer Research 5, p.22-29, 1978.