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NATAL/RN
2018
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NATAL/RN
2018
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Prof. Dr. Melissa dos Santos Lopes
Orientador
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Márcia Lohss
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George Rocha Holanda – Especialista em Cinema/UFRN
NATAL/RN
2018
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por todo o esforço que fizeram e fazem para que eu seja feliz.
À Fernanda e Pedro, donos do meu mais sincero amor, por me permitirem ser
uma criança pelo máximo de tempo possível.
À minha maravilhosa avó Elza, e ao meu lindo avô João, por me ensinar a
cantarolar pelos cantos e a me emocionar e rir com as coisas mais simples.
Às minhas amigas Luiza Gurgel, Fernanda Cunha e Ana Clara Veras, que já
eram artistas antes de mim e me mostraram que eu também podia (e devia) ser.
À José Neto Barbosa, a quem posso chamar de mestre, por ter me ensinado
tanto, me dado tantas oportunidades, e me mostrado o teatro através dos seus
olhos.
Ao brilhante Heath Ledger, que mesmo não estando mais nesse mundo, é
minha fonte mais viva de inspiração.
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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo refletir acerca do trabalho da(o) atriz(ator), a
partir das linguagens, teatral e audiovisual. O texto tem como
inspiração, minhas primeiras experiências de atuação, durante o processo de
formação no curso de Licenciatura em Teatro, da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). Pretendo traçar um caminho tendo o teatro como o ponto
de partida para o cinema, e a verdade cênica como objetivo final. Como mote, o
recorte de algumas metodologias voltadas para a preparação de atores, a saber, do
ator e encenador-pedagogo russo, Constantin Stanislavski (1863-1938), da atriz
americana, Stella Adler (1901-1992), do ator russo, Michael Chekhov (1891-1955) e
do ator e professor de atuação norte americano, Sanford Meisner (1905-1997). A
escrita deste trabalho de conclusão de curso tem como fim colaborar com o trabalho
de atrizes/atores que atuam tanto no Teatro como no Cinema.
1
É aluna concluinte do Curso de Licenciatura em Teatro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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Melissa Lopes é atriz e professora no Curso de Licenciatura em Teatro e na Pós Graduação em Artes Cênicas e
orientadora desse trabalho de conclusão de curso.
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ABSTRACT:
This article aims to reflect on the work of the actress (actor), from the theatrical and
audiovisual languages. The text is inspired by my first experience of acting during the
process of degree course in Theater in Federal University of Rio Grande do Norte
(UFRN). I intend to draw a path with the theater as starting point for cinema, and
scenic truth as the ultimate goal. The main subject, being the cut of some
methodologies headed to the preparation of actors, future known, by the russian
actor and director, Constantin Stanislavski (1863-1938), by the american actress
Stella Adler (1901-1992), by the russian actor Michael Chekhov (1891-1955) and by
the american actor and acting professor Sanford Meisner (1905-1997). The writing of
this undergraduate thesis aims to collaborate with the work of actresses/actors who
act both in Theater and Cinema.
Ser atriz... ser ator, é ser um momento efêmero como uma explosão, um fogo
de artifício, uma curva, um gol, um piscar de olhos. É com essa rapidez que um
personagem vem e vai, seja entre o palco e a coxia, ou entre as palavras de
comando: “ação” e “corta”. Interpretar é viver em um eterno jogo de perguntas e
respostas, onde tudo é inventado, mas são histórias que os atores nunca se cansam
de contar. O público, ao entrar para uma peça ou em um filme, assume também um
papel: de se permitir ser totalmente levado pelo que vê e sente. E assim, a arte se
concretiza por meio de duas linguagens fantásticas: o teatro e o cinema.
Existe um senso comum estabelecido que alega que teatro e cinema são
completamente diferentes, geralmente acompanhado das frases “teatro é mais,
cinema é menos”, ou até mesmo “uma peça é aqui e agora, um filme é onde e
quando você quiser”. A proposta deste artigo é debater este assunto sob a
perspectiva da atriz e do ator, na busca por desmistificar conceitos já existentes e
propor outras possibilidades de abordar a preparação destes artistas.
Desde muito pequena sinto um desejo de ser artista. Nunca tive aptidão para
pintura e escultura, por exemplo, mas de uma maneira muito deleitosa, quase
mágica, pude ser atravessada pela música, pela dança, pela literatura, pelo teatro e
mais recentemente, pelo cinema. O teatro e o cinema, no entanto, chamaram
atenção especialmente, numa visão profissional. Independentemente do que
estivesse fazendo, sempre quis me expressar usando mais do que palavras,
comunicar, passar uma mensagem, tocar o ser humano de alguma forma. Ao
mesmo tempo, de tão grande que era meu deslumbre ao ver na tela uma atriz que
me fizesse morrer de rir ou chorar, comecei a despertar um interesse singular por
essa profissão e a dizer para mim mesma: “quero ser atriz quando crescer”.
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No último ano do ensino médio, todos são reféns da pressão de ter que tomar
uma decisão para a carreira profissional e entrar na universidade. Querer o Teatro
me fazia parecer um desajuste em relação aos outros. Eu não conseguia fazer com
que as pessoas entendessem que era tão certo e respeitável quanto Medicina,
Direito ou Engenharia. Por essa razão, numa iniciativa da própria coordenação, com
consentimento da minha família, fui proibida de permanecer em quaisquer atividades
artísticas do ano letivo, e afastada do grupo de teatro da escola.
Como eu percebia que meu interesse era grande por esta linguagem passei a
me inquietar cada vez mais com esta lacuna e me perguntar o que era necessário
para me tornar também uma atriz de audiovisual. Por conta própria, comecei a
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Minha curiosidade pela atuação para a câmera surge principalmente por ter
sido espectadora, em primeiro lugar. Sou daquelas pessoas que entra na sala de
cinema e esquece absolutamente tudo que está lá fora para se envolver em cada
minuto de filme. Naturalmente, era mais tocada pelos filmes em que os atores
prendiam minha atenção inteiramente, pelo que talvez pudesse ser considerado uma
boa atuação, e me retirava da sala de cinema em êxtase, precisando me “recuperar”
de algo, que eu nunca soube ao certo o que era. Então, a chama da curiosidade ia
queimando cada vez mais para descobrir como se fazia aquilo. Como era possível
que eu me emocionasse tanto, com uma coisa que eu sabia que nem sequer tinha
acontecido e só era estritamente planejada para ser filmada.
O estudo para elaboração deste artigo confirma que a (o) atriz (ator) que
passou pelo teatro encontra alguns pontos em comum com o que é exigido no
cinema. Isto ficou mais claro, quando procurei teorias de atuação para cinema e me
deparei com várias técnicas que derivavam do Sistema de Constantin Stanislavski
(1863-1938), grande ator e encenador russo.
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https://www.imdb.com/title/tt4145178/videoplayer/vi1177399321
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em Omaha, Nebraska, o ator americano foi indicado oito vezes ao Oscar, dos quais
dois venceu como melhor ator4. Para além da vida de celebridade, era um artista
muito competente em seu ofício, e ficou eternizado como um grande ícone do
cinema. Era aprendiz de Stella Adler5, e influenciado por seus ensinamentos, se
concentrava muito em uma atuação que fosse verdadeira. Ele afirmava que os seres
humanos desenvolvem a técnica de atuação desde a infância, e usava o exemplo de
quando jogamos nosso prato de comida no chão só para chamar a atenção da
nossa mãe. Nas palavras do ator norte americano: “Todos atuam, mas algumas
pessoas são pagas por isso”. Complemento a reflexão da seguinte maneira, essa
verdade a que se refere o ator é o que Stanislavski procurou e desenvolveu ao longo
de toda a sua investigação. Quando se decide ser atriz/ator, começamos cedo e
seguimos esta busca de ser verdadeiro até o fim de nossas vidas. É uma
investigação contínua.
Para isso, antes de qualquer material que colabore com a criação, os atores
precisam mergulhar em si mesmos e estarem atentos à realidade em que estão
inseridos. Caso contrário, nenhuma técnica de atuação será suficiente. É preciso
estar disposto a vivenciar e experimentar a realidade, em outro nível. Estar aberto
aos encontros.
Encontro.
Troca.
O ator troca com o seu público, bem como com seu parceiro de cena, com
quem o dirige, com quem o ilumina, com quem escreve sua história, com quem está
por detrás da câmera ou em outra função do set de filmagem. É uma relação direta e
de cumplicidade tão bonita, que de alguma forma une cada um que fez parte
daquele momento específico em que a cena acontece.
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Sindicato de Ladrões (1954), de Elia Kazan e O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola.
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Vou abordar o trabalho de Stella Adler mais adiante.
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Vamos então refletir sobre a noção de “verdade cênica”, da qual tanto se fala
nos processos de criação e que é igualmente importante para a interpretação que
ocorre tanto no teatro, quanto no audiovisual. A verdade cênica pode ser alcançada
através de um conjunto de fatores que compõem o trabalho do ator.
DO PALCO
Não existe uma única resposta para cada uma destas questões, pois há
semelhanças e diferenças nestas duas linguagens que podem ser discutidas. E,
podemos partir da ideia de que nenhuma arte substitui a outra. Pelo contrário,
ambas se complementam.
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Dessas transformações, vale ressaltar a vanguarda russa como uma série de movimentos artísticos e culturais
que ocorreram na Rússia (em que o Teatro e o cinema russo estavam em evidência) aproximadamente entre as
décadas de 1890 e 1930, especialmente durante a primeira fase da Revolução Russa.
7 Natural da Geórgia, mas estabelece sua vida na Rússia. Além de co-fundador do Teatro de Arte de Moscou
com Constantin Stanislavski, foi ator, diretor de teatro, escritor, dramaturgo e pedagogo.
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O mágico “SE”, transporta o ator do plano da vida real para o universo fictício
em que a história se passa. Nesse caso, o ator se envolve inteiramente com este
imaginário e recria sobre ele. Deste modo, desenvolve as ações internas e externas
de uma maneira orgânica porque assume e aceita as questões da personagem.
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Viola Spolin desenvolveu grande parte de suas pesquisas em Teatro, a partir do Sistema elaborado pelo
encenador russo. Autora e diretora de teatro, é considerada por muitos como a fundadora norte-americana do
teatro improvisacional.
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recurso é muito utilizado pelos atores não somente no teatro, mas também no
cinema. “Se o texto de uma obra dramatúrgica é criação exclusiva do dramaturgo, o
"Monólogo Interior" é obra exclusiva do ator que assume o papel.” (KUSNET, 1985,
p. 71)
funcionalidade no trabalho preparatório, pode, por vezes, salvar o ator em uma cena
aberta. A Atenção Cênica junto aos círculos de atenção levam o ator ao contato e
comunicação com o ambiente, isto é, com todos os elementos do espetáculo.
Jerzy Grotowski, encenador polonês, usava uma metáfora que dizia que o
ator deveria ser como um pássaro que ao mesmo tempo, que bica, observa. Eu
acredito que essa imagem reflete aquilo que Stanislavski defendia sobre o estado de
atenção cênica que o ator precisa ter durante sua atuação.
Um ator deve acreditar no que está fazendo e no que ocorre à sua volta,
adquirindo a fé cênica na realidade de sua existência sobre a qual alicerça seu
processo criativo. Diferente de uma fé real e espiritual, a verdade cênica é “aquilo
que não existe, mas que poderia existir” (KUSNET: 1985,9) graças ao plano
ficcional.
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Atualmente é uma Associação de atores profissionais, diretores de teatro e roteiristas situado em Manhattan,
na cidade de Nova York.
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Quando eu cursei a disciplina de Atuação I10, ministrada pela Profa. Ms. Carla
Martins11, um dos exemplos que foi estudado foi à personagem Medéia, de
Eurípedes. Na tragédia grega, o ápice emocional de Medeia se dá quando ela mata
seus filhos, enquanto a de Jasão é encontrar as crianças mortas pelas mãos da
própria mãe. Suponhamos que uma atriz e um ator que nunca tiveram filhos estejam
montando essa peça. Será que eles são completamente incapazes de interpretar
10
Ementa: A atuação naturalista partindo da perspectiva de Stanislavski e seus desdobramentos nas principais
correntes de teatro do século XX.
11
Carla Martins é atriz, preparadora corporal e coreógrafa formada em Interpretação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e pela Escola Técnica de Teatro Martins Pena. Mestre em Artes Cênicas pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Doutoranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4402038U8> Acesso em: 5 de
novembro de 2018.
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O sistema de Stanislavski não é uma fórmula, o próprio autor sugere que seu
estudo não seja encarado como uma cartilha. Para dar início as suas
experimentações, Stanislavski acompanhava o trabalho de alguns artistas geniais de
seu tempo. Ao assisti-los ficava intrigado ao perceber que, boa parte destes
resultados não tinha uma compreensão clara de quem estava em cena, mas ao
contrário, uma forte intuição.
O ator e encenador russo sabia que não é possível ter domínio sobre esses
instantes que acontecem de forma espontânea. E, movido por esta dificuldade de
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algo que não é palpável, desenvolveu uma série de exercícios com o objetivo de
entender possíveis pontos de partida e direcionamentos que tornassem o trabalho
dos atores, mais natural e verossímil. Graças à sua dedicação, o método extrapola
os limites do palco e se populariza também no cinema.
AO SET DE FILMAGEM
Quando me utilizo do advérbio de tempo “já” nesta frase acima, tento lembrar
o fato de que Stanislavski era um estudioso que elaborava, experimentava e
documentava suas teorias. Por isso, é muito comum perceber em seus textos que
dentre seus erros e acertos, o autor reviu muitas vezes a sua teoria e questionava
algumas de suas primeiras conclusões. É tanto que dizem, que os principais livros
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Elia Kazan, cineasta greco-americano, célebre pelos A Streetcar Named Desire (1951) e On the Waterfront
(1954); Robert Lewis, americano fundador do Actors Studio, foi ator, diretor, escritor e professor. Sanford
Meisner, ator e professor, fundador da Técnica Meisner.
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Ao citar uma atuação mais naturalista, a que geralmente está atrelada aos
roteiros cinematográficos, abordo na verdade a interação que esta linguagem
estética propõe entre ficção e realidade.
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A questão da tradução destas publicações também é bastante polêmica, porque no caso da tradução em
português ela foi feita a partir do livro em inglês e hoje é sabido que a versão americana difere em vários
aspectos da versão original em russo. É importante compreender como esses ensinamentos se desdobram, no
sentido de que, naturalmente, o teatro apresenta Stanislavski, mas nem sempre é fácil ter acesso ao que seus
escritos originalmente querem dizer.
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disponível para construir esta vida interior/exterior. Assim, o ator cria por meio do
imaginário, um passado, presente e futuro que pertence apenas a esta personagem
de ficção.
Para Stella, o ator deve fazer o seu “dever de casa”: treinar a mente a
sempre, analisar o seu roteiro, pesquisar sobre ele, estuda-lo da forma mais
aprofundada possível, para assim entender tudo que há de ser compreendido sobre
sua personagem e aquela história.
Pode-se começar criando uma conexão com o lugar onde está, construir
relacionamentos passados, memórias, experiências. Ao interpretar a história dessa
personagem, você entende o que ela passou e dá a plateia os detalhes para os
quais somente os espectadores são capazes de se atentar. Criar esses detalhes,
fazer escolhas, ensaiar e trabalhar com seu parceiro/parceira de cena, permite que
novas informações sobre a personagem comecem a aparecer: atitudes,
comportamentos, gestos, modos de falar, de pensar. Através do trabalho que é feito,
a partir do texto e com a imaginação criativa, começa-se a revelar ideias sobre a
história e sobre o que o autor deseja que o ator/a atriz e a plateia compreendam
sobre aquele determinado papel.
Para Stella Adler, atuar é fazer. No palco, cada ação tem que ter uma
justificativa, isto é, que o ator ou a atriz saiba exatamente o porquê da realização de
cada ação. A atriz e professora americana almejava que o ator estivesse sempre
comprometido com os elementos do acontecimento teatral. Assim, como com seu
próprio crescimento como indivíduo, pois tanto a formação artística quanto a
formação humana caminham juntas, a partir de novas experiências e diferentes
perspectivas.
O ator russo propõe cinco princípios orientadores, e destes citarei dois que
considero imprescindíveis para a atuação voltada para a câmera: o trabalho
psicofísico e a criação de uma atmosfera.
O primeiro essencialmente quer dizer que para criar, o ator deve sempre
buscar uma conexão corpo-mente e jamais dissociá-los. A chamada atmosfera é
como o estado de espírito criado pelos atores para aquele momento de dedicação. É
um fenômeno externo que predomina sobre o coletivo, mas não retira a
individualidade das ações e dos sentimentos de cada ator. Quando uma atmosfera é
perfeitamente criada, o espectador mergulha no universo proposto pela obra e assim
permanece até que as luzes acendam.
A partir destas vivências práticas e de textos que li, pude compreender que
para Meisner, o grande problema do ator era pensar demais durante a cena e ouvir
de menos o que estava acontecendo no momento presente. Incomodava-o que o
ator fosse tão autoconsciente a ponto de não conseguir se concentrar no outro e no
que estava fazendo no instante do aqui/agora.
14
Pernambucano, formado em Jornalismo pela UFRN (2005), trabalha em Natal-RN como produtor de elenco
pelas agências Elenco Mosh e Trama Produção.
15
Atriz, Diretora e Preparadora de Elenco, formada em Teatro na Escola de Artes Dramáticas de Hamburgo
(2003) e em Comunicação Social pela UFRN (2014).
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pessoa a fazer qualquer coisa. O que você faz não depende de você, depende do
seu parceiro, portanto é um processo de retroalimentação.
Acredito que, principalmente pelo mundo em que vivemos, o ser humano tem
a tendência de não escutar o outro e de racionalizar excessivamente. Partindo do
princípio do quão coletiva são as artes com que trabalho, exercitar a escuta e o
diálogo e conseguir que o grupo esteja numa mesma sintonia são tarefas árduas
mas infalíveis para um bom filme, ou uma boa peça. Me identifico com a Técnica
Meisner, no que diz respeito ao valor dado a essa percepção da escuta para chegar
a uma execução de qualidade e desencadeamento de emoções.
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Do original: “What then must you be doing? You mut be listening and, you know what? The more
you are listening the less you will be preparing, controlling. The success of this game
comes from really listening and taking what you get. The more you can do this, the more
you will trust that a word will in Fact come our of your mouth and that with that word,
you will tell the storv.” (SILVERBERG, 1979, p.9)
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O objetivo se estendia também à uma preparação desse grupo para lidar com
a câmera mais confortavelmente, em testes de elenco e gravações. Eu, por
exemplo, costumava ficar extremamente nervosa e insegura ao fazer testes, e isso
me travava e atrapalhava muito – e já deve ter me custado alguns papéis. A
insegurança de que falo, fazia com que as palavras decoradas fugissem da minha
cabeça, minhas pernas tremessem, e eu não conseguisse colocar em prática
quaisquer pequenas ações que tivesse pensado previamente para preencher aquele
texto. Quando fiz o trabalho de Meisner no Núcleo, ressignifiquei a sensação trazida
pelo exercício de repetição. Aprendi a conscientemente me desligar da atmosfera de
tensão instaurada pelos testes de elenco e de certa forma, subverti a insegurança.
Por essa razão, penso que a escolha da Técnica Meisner para este fim, foi
uma decisão bastante apropriada, justamente pela proposta concreta de exercitar a
escuta, se desprendendo do resultado. Racionalizando menos, e fazendo mais.
Depois dessas poucas vivências, eu já comecei a me sentir muito mais
independente de certos vícios, e por mais que ainda haja muito treinamento a ser
feito dentro da abordagem, já consigo compreender o que ela pretende, e já estou
em busca disso para os meus próximos trabalhos de atriz. É libertador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
quando está seduzido pela peça ou filme, sente a ação e reage a sua maneira sobre
o que está assistindo.
Parando para pensar, é incrível que as pessoas deem seu dinheiro suado
para entrar numa sala escura onde sentam e ou olham para um palco iluminado com
gente em cima, andando de um lado para o outro, ou para uma tela cristalizada na
qual as imagens se movem e falam. A sala escura e silenciosa existe para deixar o
espectador mergulhado em sua fantasia. Os atores, ali na frente, podem fazer todas
as coisas que você quer fazer, dizer todas as coisas que você quer falar, beijar como
você gostaria, ser corajoso de uma maneira que você quer ser. O público
simplesmente tem a oportunidade de se entregar.
cena, aos estímulos imaginários que um roteiro ou uma peça nos propõem; ser outra
pessoa por alguns minutos, para comunicar, transmitir algo significativo, transformar,
transportar, tocar e arrepiar quem assiste e estimular visões críticas. O teatro e o
cinema, de fato, se aprendem na experiência de fazer. Mas nada se aprende nem se
realiza sem acompanhar uma reflexão rigorosa e exigente.
Hoje entendo que, sempre existirão desafios e que por isso, precisarei buscar
mais informações, mais estudos e práticas. O importante é estar disponível para o
que vier, principalmente em se tratando de arte.
o que eu quero dizer. Porque existem tantas coisas para serem ditas por tanta
gente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADLER, Stella. Stella Adler sobre Ibsen, Strindberg e Chekhov. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2002. 378 p. Tradução de Sônia Coutinho.
CHEKHOV, Michael. Para o Ator. São Paulo: Martins Fontes, 1986. Tradução de
Álvaro Cabral.
KUSNET, Eugênio. Ator e Método. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Artes
Cênicas, 1985. 151 p.
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FLINT, Peter B. Stella Adler, 91, an Actress And Teacher of the Method. The New
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Slides:
ELLIS, Brittany. Stella Adler and The Art of Acting. Estados Unidos: Honors
College Acting Leadership, 2012. 12 slides, color. Disponível em:
<https://prezi.com/uprk2vlrg3kh/stella-adler-and-the-art-of-acting/>. Acesso em: 05
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Páginas na Internet:
STRAUS, Estrela. Método Lee Strasberg - Actors Studio (Turma Out/2018). 2018.
Disponível em: <https://barco.art.br/curso/metodo-lee-strasberg>. Acesso em: 05
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Vídeos:
CONHEÇA a Técnica Meisner. 2012. (17 min.), Youtube video, son., color.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0HO9secY7Ic&t=99s>. Acesso
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STELLA Adler Method & Technique. EUA: The Actors Academy, 2017. (5 min.),
Youtube video, son., color. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=eadazrBpjso>. Acesso em: 05 nov. 2018.
WHAT is the Meisner Technique? Free Class with Anthony Montes. EUA:
Playgrounds Channel, 2017. (100 min.), Youtube video, son., color. Legendado.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wU4QgsqaXCE&t=1411s>.
Acesso em: 05 nov. 2018.