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TRIBUNAL ADMINISTRATIVO
PRIMEIRA SECÇÃO
1
O instrutor do processo disciplinar, cuja decisão é matéria do presente recurso,
agindo de má-fé, rasurou a lista passando o corrector no nome do recluso visado e
remeteu assim, para decisão, como forma de ludibriar a Ministra para decidir
erradamente, convencida de que, na verdade, o Dadi não era recluso Brigadista.
Quanto aos demais 17 reclusos visados que eram brigadistas, realizavam tarefas
sob orientação dos chefes dos departamentos, com atribuição de tarefas existentes
em cada um deles, as quais eram dadas num dia para serem realizadas no dia
seguinte, como brigada móvel, de tal forma que, no fim da jornada de trabalho,
aqueles pernoitavam nas residências pertencentes à PIN (Penitenciária Industrial de
Nampula), fora do recinto prisional, situação que prevalece até hoje.
As faltas não foram derivadas pela ausência do recorrente, mas sim, porque foi
impedido de assinar o livro de ponto na secretaria, por ordem do Director do
Estabelecimento Penitenciário.
2
O impetrante alega, ainda, que na nota de acusação não constam de forma clara as
infracções de que é acusado; tal é inverdade de todo, pois nesta, não só se descreve
a matéria factual das infracções como também a respectiva subsunção jurídica.
3
Outrossim, constata-se que, no despacho impugnado (vide fls. 6), consta a
circunstância agravante de reincidência; contudo, esta circunstância não consta de
nenhuma das notas de acusação, assim como a sanção de demissão proposta pelo
instrutor do processo foi alterada para sanção de expulsão sem a devida
fundamentação, o que viola o disposto no n.º 2 do artigo 106 do EGFAE e o n.º 2
do artigo 173 do Regulamento do EGFAE.
I
Ter faltado ao serviço sem justificação formal e não ter comunicado aos seus
superiores hierárquicos, violando neste contexto o n.º 1 do artigo 65 do Estatuto
Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, conjugado com o n.ºs 1 e 2 do artigo
95 do Regulamento (…).
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II
Os artigos da acusação acima deduzidos relevam (revelam?) a incompetência
profissional e incumprimento dos Deveres Especiais do funcionário do Estado, em
particular dos Agentes do Corpo da guarda Prisional. As responsabilidades acima
mencionadas têm por consequência, pelo n.º 2, alínea f), artigo 140 do
Regulamento do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado.
No Relatório Final (fls. 69), o instrutor refere que constata-se que o arguido
usando-se da situação irregular em que se encontra por cometimento de várias
infracções disciplinares tentou sem sucesso induzir aos seus colegas para uma
desobediência colectiva usando os meios de comunicação social provincial para
denegrir a imagem do seu dirigente máximo e da instituição. (…).
Por seu turno, no Processo n.º 05/PD/PIN/2011, a informação dos colegas, acima
referida, está inserida a folhas 27 e 28, sem que seu conteúdo conste da Nota de
Acusação de folhas 27 e 28 nem referida na defesa do arguido (fls. 31 e 32),
embora venha a ser dito, em despacho de 30.08.2011, do Director da Penitenciária
que “Estão provados no presente processo que o arguido cometeu infracção de
desobediência (desacato a autoridade), em incitação a desobediência colectiva,
acção frustrada para o uso de meios de comunicação social como forma de dirimir
conflito no trabalho e persuadir a imagem pública, (…)”.
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Logo, estamos perante uma violação do disposto no n.º 2 do artigo 106 do EGFAE,
segundo o qual “da nota de acusação deve constar, obrigatoriamente e de forma
clara, a infracção ou infracções de que o arguido é acusado, a data e local em que
foram praticadas e outras circunstâncias pertinentes, bem como as circunstâncias
atenuantes e agravantes se as houver e ainda a referência aos preceitos legais
infringidos e às sanções aplicáveis”.
Não consta nenhuma referência ao lapso de tempo que medeia a conclusão dos
relatórios finais e a respectiva decisão, ferindo-se, assim, o disposto nos n.ºs 2 e 4
do artigo 111 do EGFAE, aprovado pela Lei n.º 14/2009, de 17 de Março, tendo,
consequentemente, originado a caducidade do procedimento disciplinar, pois o
prazo de 15 (quinze) dias para a decisão foi largamente ultrapassado, sem
justificação.
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Pelo acima exposto, a irregularidade da nota de acusação, por omissão de factos
referidos no Relatório Final, impossibilitou o pleno exercício do direito de defesa
pelo arguido, pois, o mesmo não teve acesso a todos os factos e circunstâncias,
constituindo assim, uma nulidade insuprível em processo disciplinar, nos termos
do n.º 1 do artigo 108 do EGFAE, conjugado com o n.º 1 do artigo 62 da
Constituição da República de Moçambique (CRM). Igualmente, verifica-se a
caducidade do procedimento disciplinar, por injustificada não observância do
prazo para a decisão, após a elaboração da proposta do instrutor no Relatório Final.
Sem custas.
Registe-se e notifique-se.