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A obra é iniciada com a citação direta do Artigo 205 da Constituição e está dividida
em sete partes e cada uma delas recebendo as seguintes denominações: 1ª
Tempestade e Trovão; 2ª A Chave; 3ª Nunca me sonharam; 4ª Grades; 5ª Utopia; 6ª
Orquestra e 7ªTâmaras.
Na quinta parte – Utopia – as ideias expostas pelos jovens direcionam para os sonhos
que os mesmos pretendem realizar. Os educadores afirmam ser conscientes do fazer
educacional em condições adversas. Há a exposição de projetos interdisciplinares
desenvolvidos por alunos em escola do PI. Pensamentos de que há muita coisa na
escola pública que deve ser valorizado, porém há muita apatia. É preciso inovar,
encantar. Possibilidades de inovar. Contextualizar a aprendizagem, dando
oportunidade de vivenciar realidades diferentes. O homem e o ambiente estão em
constante harmonia. Os relatos sinalizam que é o professor que faz a aula
independente das condições. Há a convocação do professor a pensar positivo mesmo
diante das adversidades.
Na sexta parte – Orquestra – as ideias expostas direcionam ao trabalho em grupo,
cujas relações devam ser horizontais, em rede, sem autoritarismo. A proposta é para
ensinar o professor a ser professor bom, a pensar no/com/para o coletivo, convocando
os professores e os alunos para o desenvolvimento de atividades que não são de
responsabilidade dos mesmos, mas que eles devem colaborar. Convoca a sociedade
a cobrar do governo sobre a educação. O governo vê a educação como problema,
mas já há algo diferente na geração que aqui se encontra.
Por fim, na última e sétima parte – Tâmaras – a finalização ocorre com a apresentação
de uma revolução que deve haver para mudança na escola. Mudança que visa ao
presente e ao futuro dos jovens do Ensino Médio do setor público. Sonhar uma
sociedade menos desigual. Realização do tempo presente. Visão possibilitada de
mundo. Mudanças na forma de pensar dos educadores da escola, professor junto com
os alunos. Questionamento do que é a educação, que ações isoladas dos professores
podem fazer a diferença perpassam pelos pensamentos tanto dos jovens quanto dos
profissionais que explanam suas ideias e opinam sobre a prática educacional. E por
que tâmaras? Porque você planta, mas você não colhe agora, só no futuro.
Apresentação dos sonhos dos jovens para o futuro.
A visão simplista apresentada para questões sérias como ausência de recursos, falta
de políticas públicas, não implicação do poder público no que é de sua
responsabilidade permeiam os discursos dos profissionais sem que estes envolvam
os que devam ter as responsabilidades atuantes. A responsabilidade atribuída aos
professores para executarem ações que não lhes cabem possibilita a visão cética do
nível de formação daqueles que expuseram as suas ideias. Seria o professor o
responsável pelo caos instalado no processo educacional brasileiro?
Dentro deste quadro, percebe-se que o ensino médio no Brasil oferece um cenário
bastante fértil para inúmeras discussões em torno de pautas que versam sobre
problemas, necessidades e limites da educação, entre eles: o acesso e a permanência
dos alunos na escola, a qualidade da educação oferecida, as questões de políticas
públicas, a formação de professor, o financiamento da atividade educacional, as
divergências no campo das metodologias educacionais e questões curriculares. Isto
posto, fica evidente que o grande desafio da educação contemporânea é superar a
desigualdade educacional já que as escolas estão programadas para uma minoria
homogênea, assim como, rever as altas taxas de repetência, evasão precoce e baixas
pontuações dos grupos mais pobres nos exames nacionais. Para tal intento, a
deterioração das condições de trabalho docente e o desprestígio da profissão; a
desvinculação entre o que se ensina nas escolas e o contexto sociocultural, as
diretrizes nacionais para a formação de professore e as questões de financiamento
da educação são pontos que também merecem destaque neste debate.
Deste modo, os estudantes revelam que não têm voz nas decisões tomadas nas suas
respectivas unidades escolares, denunciam o enclausuramento, o isolamento imposto
pelas escolas, na medida que estas instituições apresentam relações
horizontalizadas, privando-os dos desejos, dos sonhos e das emoções com o uso do
poder disciplinar. Segundo os estudantes há uma supremacia de atividades pré-
determinadas “impostas” pelo professor, onde não há espaço para questionamentos.
Em todos os aspectos destacados observa-se que a escola pública contemporânea
está longe de atender às necessidades e interesses destes jovens, à medida que se
distancia significativamente do contexto sociocultural que os estudantes estão
inseridos.
Neste contexto, vários personagens são convidados a falar, são diversas vozes de
estudantes e especialistas em diversos blocos temáticos com objetivos comuns que
se transformam em uma única voz com objetivo de mostrar o sequestro feito pela
escola dos sonhos dos estudantes. Sobre esta questão, Foucault (2009) ressalta que
a escola é uma das instituições de sequestro, ou seja, é uma instituição que impele
os indivíduos a se afastarem do espaço familiar ou social mais amplo e os internam,
durante um período longo, para moldar suas condutas e modelar aquilo que pensam.
As representações elencadas pelos estudantes, condizem com a perspectiva de
Foucault (2009) que compara a educação na sua modalidade escolarizada com uma
maquinaria destinada a disciplinar corpos em ação, a submissão dos conhecimentos
à disciplina institucional. A escola disciplinar não distingue entre corpo e
conhecimento, praticando a moralização de ambos na medida em que seu objetivo é
a produção do sujeito sujeitado, a escola se constituiu, assim, como local privilegiado
da realização exaustiva de exercícios, exames, punições e recompensas centradas
no corpo infantil. (FOUCAULT, 2009, p. 164).
Em uma das cenas, um diretor que convoca os alunos desmotivados para compor um
time de futebol e, após a primeira derrota, conseguiu fazê-los visualizar a importância
da dedicação, tais recortes deixam claro que os problemas educacionais podem ser
resolvidos no âmbito do esforço pessoal do professor e do aluno, ou seja,
evidenciando a falácia que todos os entraves educacionais podem ser resolvidos
dentro da escola. Cabe estacar que não existem soluções simples para os problemas
educacionais que dependam exclusivamente dos protagonistas, tal visão simplista,
comum no meio educacional, não traz à baila a raiz dos problemas educacionais,
apenas aponta soluções pontuais que podem amenizar alguns problemas específicos
a curto prazo.
Outra questão a se pensar que é um verdadeiro empecilho para educação de
qualidade é o caráter claramente utópico de muitas de nossas políticas educacionais,
muitas delas não estão associadas a uma política social e não pensarem nos
obstáculos econômicos, políticos e culturais que precisam atendidos para que atenda
as demandas educacionais. Neste cenário, faz-se pertinente rever os problemas
crônicos relacionados ao uso dos recursos públicos disponíveis, de descontinuidade
institucional e administrativa, pois a qualidade da educação depende de
representantes políticos comprometidos com as questões educacionais.
Além disso, é fundamental destacar que qualquer debate sério sobre educação
precisa responder aos seguintes questionamentos: A educação é considerada uma
prioridade para os representantes políticos do meu país, estado, munícipio? A política
de valorização atende as expectativas dos professores? Os professores estão
inseridos e agem dentro de uma gestão e de uma cultura do sistema ou possuem
autonomia dentro de suas escolas? Qual o papel da gestão e das políticas
educacionais no fazer do professor? Há investimento em projetos de formação
continuada que contemple a realidade dos educadores? Os professores participam na
formulação, execução e avaliação das políticas educacionais? Os recursos do Fundo
Nacional de Desenvolvimento Educacional estão sendo usados de forma eficaz?
Existe viabilidade material (recursos humanos, tempo, recursos materiais) disponíveis
na escola? Sob essa perspectiva, cabe destacar que as propostas de mudanças
educacionais que não consideram tais questionamentos não trazem mudanças
significativas ao cotidiano.
Observou-se, também, que a educação é tratada como instância única e redentora,
evidenciando a ideia de redenção social através do ensino, capaz de realizar os
sonhos das pessoas. É inegável o poder de transformação que a Educação de
qualidade pode realizar, no entanto, é imprescindível que este tema saia das
propostas políticas e assume prioridade real nas suas agendas. A perspectiva que se
pode resolver o problema da pobreza e da educação apenas abrindo escolas sem
preocupação alguma com sua infraestrutura e com uma política de valorização do
professor é uma verdadeira falácia.
Assim, para atacar a raiz dos problemas educacionais faz-se pertinente pensar na
dinâmica política e social como um todo. É necessário articular as políticas
educacionais com as demais políticas de saúde, assistência social e trabalho, para
que as famílias que estão em contextos socioeconômico desfavoráveis sejam
contempladas.
Por fim, cabe destacar que as dificuldades inventariadas neste documentário são
pertinentes e constituem um passo fundamental para mobilizar e dar visibilidade aos
problemas educacionais relacionados a escola pública brasileira. É importante
entendermos que as políticas públicas tão decisivas para mudança estrutural da
educação são conquistadas com luta e mobilização social. A sociedade precisa se
engajar para haver a reversibilidade da precariedade educacional; faz-se necessário
políticas intersetoriais a educação que viabilize condições de equidade e infraestrutura
adequadas para que a escola cumpra seu papel. É fundamental que dentro e fora da
escola, que as diferentes perspectivas, concepções, interesses sejam debatidos,
confrontados até que se chegue a um consenso geral.
O educador pode usar o documentário em suas aulas para discutir com seus alunos
os olhares reducionistas apresentados na película. Focando a negligência sofrida
pelas instituições públicas de ensino médio, tanto a nível social como político, como
também para fomentar a reflexão e a criticidade em relação à implicação do poder
público no cumprimento das suas responsabilidades.
REFERÊNCIA