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esclarecimento (Aufklãrung) para ele seria “a saída do homem de sua menoridade,
da qual ele próprio é culpado”[4], menoridade essa que seria a própria incapacidade
do indivíduo de usar o seu entendimento sem ser auxiliado por outra pessoa[5].
Para o esclarecimento, o homem teria que ser corajoso e fazer uso de seu próprio
entendimento. Eis a famosa frase que Kante emprega: Sapere Aude: ‘atreva-se a
saber’, ‘ouse saber’. Ou seja, a razão sendo um exercício da autonomia, e sendo
esta autonomia livre, atingir a ‘maioridade’ seria praticar o uso livre da razão.
É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento,
um diretor espiritual que por mim tem consciência, um método que por mim decide a
respeito de minha dieta, etc., então não preciso esforçar-me eu mesmo. Não tenho
necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão
em meu lugar dos negócios desagradáveis[6].
Então, o ‘não’ uso da razão em busca do Aufklãrung abriria caminho para que outro
tomasse as rédeas da vida do indivíduo, manipulando-o (embora com seu próprio
consentimento), mas impedindo-o (por preguiça ou inação) de pensar e se conduzir
por si mesmo. Neste sentido, ‘atrever-se a saber’ (sapere aude) seria o conselho de
Kant para este indivíduo. Sair da inação (menoridade) e conduzir a sua vida em
busca da maioridade, mesmo que sofra atropelos no início de seu caminhar. Cair e
levante-se sem se deixar intimidar.
Neste contexto, Kant constrói o conceito de direito individual por meio do uso
público da razão pela possibilidade do uso da razão livre (direito de livre pensar).
Segundo este raciocínio, a razão pública é ilimitada e autônima, ao passo que a
privada é constrangida, vinculada as paixões, e está presa em amarras e, portanto,
é heterônoma. O uso público da razão beneficia toda a sociedade, enquanto o uso
privado é mais restrito, não atingindo o bem comum.
Seria muito prejudicial se um oficial, a quem seu superior deu uma ordem, quisesse
pôr-se a raciocinar em voz alta no serviço a respeito da conveniência ou da utilidade
dessa ordem. Deve obedecer. Mas razoavelmente, não se lhe pode impedir,
enquanto homem versado no assunto, fazer observações sobre os erros do serviço
militar, e expor essas observações ao seu público para que as julgue (...). Do
mesmo modo também o sacerdote está obrigado a fazer seu sermão aos discípulos
do catecismo ou à comunidade, de conformidade com o credo da Igreja a que serve,
pois foi admitido com essa condição. Mas, enquanto sábio, tem completa liberdade,
e até mesmo o dever, de dar conhecimento ao público de todas as suas ideias
cuidadosamente examinadas e bem-intencionadas, sobre o que há de errôneo
naquele credo, e expor suas propostas no sentido da melhor instituição da essência
da religião e da Igreja[9].
Sendo assim, para Kant é salutar que se obedeça, porém, é necessário que
também se faça o uso público da razão, pois somente desta forma, o
esclarecimento é alcançado, ou seja, um homem pode pessoalmente e por algum
tempo apenas adiar este esclarecimento, mas “renunciar a ele, quer para si mesmo
quer ainda mais para sua descendência, significa ferir e calcar aos pés os sagrados
direitos da humanidade”.[ 10]
No final do artigo, para sintetizar suas colocações, Kant faz a si mesmo o seguinte
questionamento: “vivemos agora em uma época esclarecida?”. Em seguida, segue
respondendo que: