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A DIDÁTICA NECESSÁRIA

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ARGEMIRO ALUÍSIO KARLING

IBRASA

INSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE DIFUSÃO CULTURAL LTDA

SÃO PAULO

3
Aos meus pais, Osvino e Clara
Karling, que me educaram e deram
exemplo de amor ao próximo,
solidariedade, ética e amor ao
estudo.
Aos Missionários da Sagrada
Família, aos quais devo muito pelos
seis anos de formação em internato
em Santo Ângelo – RS.
Á minha família, pela privação da
presença. Esposa: Laura. Filhos:
Lessi, Elise, Gleise, Sueli, Aluísio e
Suzana.

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SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................. 10

Capítulo I – Educação, ensino e aprendizagem ....................................................................... 13

1. Educação ...................................................................................................... 13
2. Ensino ............................................................................................................ 15
3. Aprendizagem .............................................................................................. 17
4. O que é estudar ............................................................................................ 23
5. Conclusão ..................................................................................................... 23
Capítulo II – Didática: considerações gerais .......................................................... 24

1. O que é Didática ............................................................................................ 24


2. O histórico da didática ................................................................................. 25
3. Por que todo professor precisa conhecer bem a Didática ........................ 28
4. Funções da Didática ..................................................................................... 30
5. A validade da Didática no entender de alguns professores....................... 36
6. O que há de errado no ensino de hoje ......................................................... 38
7. O que deve ser estudado em Didática no entender dos alunos de cursos
de licenciatura na UEM ................................................................................. 39
8. Conclusão ...................................................................................................... 40
Capítulo III – Ideais, fins e objetivos da educação e do ensino ............................. 41

1. O que se entende por ideal ........................................................................... 41


2. Quais são os ideais para a educação .......................................................... 41
3. Que se entende por fins da educação ........................................................ 42
4. Quem estabelece os fins da educação ....................................................... 42
5. Quais são os fins e objetivos da educação brasileira ................................ 42
6. O que é objetivo ............................................................................................ 43
7. Por que devemos fixar objetivos ................................................................. 43
8. Fontes de objetivos educacionais e do ensino ........................................... 44
9. Classificação dos objetivos ......................................................................... 49
10. Exemplos de objetivos em algumas classes ............................................. 50
11. Distinção entre fins, objetivos gerais, específicos e detalhados .............. 55
12. Exemplos de objetivos mais expressivos ................................................... 57
13. O que o aluno precuisa aprender ................................................................ 58
14. Conclusão ...................................................................................................... 60

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Capítulo IV – O contexto social e a educação ........................................................ 61

1. O que deve ser feito para melhorar nosso país .......................................... 64


2. Um caso real ................................................................................................. 65
3. Conclusão ..................................................................................................... 67
Capítulo V – O professor ........................................................................................... 68

1. Qualidades e características de um bom professor .................................. 68


2. Exemplos de professores mal e bem sucedidos ........................................ 70
3. Funções do professor ................................................................................... 73
4. Relacionamento professor x aluno .............................................................. 77
5. Fatos relativos a professores narrados por alunos ................................... 80
6. Depoimentos de alunos ............................................................................... 87
7. Em vez de “dar aula” o que é que o professor deve fazer? ...................... 88
8. Deficiências, erros e críticas aos professores ........................................... 89
9. A formação do professor ............................................................................. 91
10. Conclusão ...................................................................................................... 92
Capítulo VI – Fundamentos e princípios da didática .............................................. 93

1. Fundamentos ................................................................................................ 93
2. Princípios da Didática .................................................................................. 97
3. Tecnologia educacional ............................................................................. 101
4. Conclusão .................................................................................................... 102
Capítulo VII – O que faz o aluno gostar de estudar .............................................. 104

1. Depoimentos de alunos ............................................................................. 104


2. Fundamentos da motivação ...................................................................... 106
3. Motivação e incentivação ........................................................................... 108
4. Por que o professor não deve motivar os alunos .................................... 110
5. Fontes de incentivação .............................................................................. 110
6. Como conseguir a participação ativa dos alunos .................................... 111
7. O que leva os alunos a estudar com gosto e satisfação ......................... 114
Capítulo VIII – Métodos e técnicas individualizados ............................................ 116

1. Método do estudo dirigido ......................................................................... 116


2. O método científico .................................................................................... 119
3. O método da investigação ......................................................................... 121
4. O método da descoberta............................................................................. 123
5. O método da leitura de livros .................................................................... 126
6. O método da demonstração ...................................................................... 129

6
7. Técnica da exegese ou exegética .............................................................. 130
8. Técnica da exposição e a comunicação .................................................... 133
9. Técnica da conferência .............................................................................. 135
10. A palestra ..................................................................................................... 136
11. Técnica da tomada de decisão .................................................................. 136
12. Conclusão .................................................................................................... 139
Capítulo IX – Métodos e técnicas socializados .................................................... 140

1. O método da dinâmica de grupo ................................................................ 140


2. Círculos de estudo ou estudo em grupos ................................................. 142
3. Painel simples ............................................................................................. 144
4. Painel com interrogadores ......................................................................... 145
5. Painel de debate .......................................................................................... 146
6. Painel integrado .......................................................................................... 147
7. Importância das técnicas de painel .......................................................... 148
8. Júri simulado ............................................................................................... 148
9. A técnica da discussão .............................................................................. 150
10. Phillips 66 .................................................................................................... 152
11. Técnica de Phillips 22 ou do cochicho ...................................................... 153
12. Técnica do simpósio .................................................................................. 154
13. Técnica do seminário ................................................................................. 155
14. Técnica da dramatização ........................................................................... 156
15. Técnica do fórum ........................................................................................ 157
16. Técnica do debate ....................................................................................... 158
17. Técnica do bomabardeamento mental ..................................................... 160
18. Técnica da assembleia ............................................................................... 165
19. Técnida de G.V. x G.O. ............................................................................... 167
20. Conclusão ................................................................................................... 169
Capítulo X – Os métodos socioindividualizados ................................................... 170

1. Método de projetos .................................................................................... 170


2. Unidade de experiências ............................................................................ 175
3. Centro de interesse .................................................................................... 180
4. O método de solução de problemas ......................................................... 183
5. O método da excursão ............................................................................... 186
6. Conclusão ................................................................................................... 188

7
Capítulo XI – Currículo e conteúdo de aprendizagem .......................................... 190

1. Que se entende por recursos de ensino ................................................... 190


2. Importância do seu uso ............................................................................. 190
3. Exemplos de uso de recursos de ensino .................................................. 191
4. Classificação dos recursos de ensino ...................................................... 193
5. Recomendações quanto aos recursos de ensino e seu uso.................... 195
6. O Livro didático .......................................................................................... 195
7. Tecnologia aplicada à educação ............................................................... 197
8. Conclusão .................................................................................................... 197
Capítulo XII – Currículo e conteúdo de aprendizagem ......................................... 198

1. Que se entende por currículo ..................................................................... 198


2. Como se organiza o currículo ................................................................... 198
3. Exemplos de elaboração de currículo ...................................................... 199
4. Quem organiza o currículo ........................................................................ 207
5. Conteúdo da aprendizagem ........................................................................ 208
6. O Programa ................................................................................................. 210
7. Conclusão .................................................................................................... 211
Capítulo XIII – Avaliação da aprendizagem ............................................................ 212

1. Em que consiste ......................................................................................... 212


2. O que deve ser avaliado ............................................................................ 212
3. Por que se deve avaliar............................................................................... 213
4. Quando se deve avaliar .............................................................................. 214
5. Quem deve avaliar ...................................................................................... 214
6. Como deve ser a avaliação ......................................................................... 215
7. Tipos de avaliação ...................................................................................... 216
8. Formas e insrumentos de avaliação ......................................................... 217
9. O que deve ser feito quando muitos alunos vão mal na avaliação ........ 224
10. Recomendações gerais quanto às provas ................................................ 225
11. A autoavaliação ........................................................................................... 228
12. Experiências sobre avaliação..................................................................... 229
13. Conclusão ................................................................................................... 232
Capítulo XIV – Planejamento .................................................................................. 233

1. Em que consiste ......................................................................................... 233


2. Tipos de planejamento ............................................................................... 233

8
3. Importância do planejamento ..................................................................... 234
4. Etapas do planejamento ............................................................................ 235
5. Plano de disciplina de curso ..................................................................... 242
6. Plano de unidade ........................................................................................ 246
7. Exemplo de plano de aula .......................................................................... 248
8. Conclusão .................................................................................................... 249
Bibliografia .............................................................................................................. 250
Sobre o autor ......................................................................................................... 253

9
INTRODUÇÃO
No decorrer de meus anos de magistério, fui observando as dificuldades
dos alunos dos cursos de magistério de nível médio e das licenciaturas na
compreensão da teoria da educação e na posterior aplicação desta em sala de
aula. Fui, também, registrando as possíveis causas e soluções a esses
problemas.
Entendi ter chegado o momento de escrever minhas reflexões e
experiência, esperando que sejam proveitosas aos que se preocupam com a
educação.
Para isso, tomei como critérios a praticidade, a utilidade e a fusão entre a
teoria e a ação. Ouvi muitos alunos dizerem, após realizar o estágio, que a teoria,
na prática, é outra. Tenteis traduzir a teoria como se fosse prática, numa
linguagem simples e clara para facilitar a compreensão e o uso.

Mas, não fiquei só nisso. Além de integrar a teoria com a prática, tentei
fazer uma verdadeira “costura” da escola com a sociedade, afinal a escola está
em função da sociedade e do próprio aluno e não pode ser uma instituição
desligada e alienante.
Procurei destacar os aspectos positivos do processo da educação e como
deve ser ele, limitei-me ao mínimo em apontar as falhas ou fazer críticas. Ao
professor pouco interessa saber sobre os erros que outros cometeram. Nenhum
curso de Matemática, de Eletrônica ou de Engenharia vai ensinar o que não deve
ser feito e, sim, o que deve ser feito. O mesmo deve ocorrer com a formação do
professor.

Uma professora, há pouco tempo, disse-me que há alguma coisa errada


na Didática: “Eu ensino tantas coisas interessantes para o aluno, mas ele
aprende um mínimo e só aquilo que interessa a ele”.

Não se podem confundir coisas que o professor julga interessantes com


coisas que sejam realmente interessantes para o aluno. Em geral, nosso aluno
possui interesses totalmente diferentes daquilo que é normalmente tratado nas
escolas.
Se o aluno só aprende o que interessa a ele – e isto é um fato -, o que a
escola deverá fazer? Como tornar a escola útil para os alunos e para a
sociedade, se o professor não se adaptar à realidade? O desinteresse e a apatia
dos alunos serão tamanhos que o professor nem terá mais condições de
trabalhar em sala de aula.
Aprender deve ser uma atividade agradável e que dê prazer, que seja
também útil e significativa. Sem isso, terá pouco sentido, e a evasão será certa.

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Devem–se oferecer condições para que os alunos permaneçam o máximo
de tempo na escola. Além disso, é preciso que tirem o máximo proveito dela.
Daí, a minha proposta de se oferecer, de início, uma aprendizagem
predominante psicológica, isto é, ligada às experiências dos alunos e bem
agradável. À medida que eles passarem a ter amor ao estudo e descobrirem o
processo de aprender, o ensino poderá ser mais lógico e sistematizado, mas
sempre significativo.
Criar condições para o desenvolvimento da inteligência, por exemplo, é
uma das mais importantes funções da escola. Os alunos precisam aprender a
pensar, raciocinar, questionar, criticar e a criar. Mas, tudo isso deve ser feito
utilizando-se experiência e conteúdo do próprio contexto biológico, político,
cultural e social do aluno. Assim, os alunos trabalharão conteúdos significativos
e da realidade sociocultural e terão uma aprendizagem efetiva.
É inegável que o homem precisa ser educado, porém, a quem cabe
educá-lo? Aos pais? Aos pedagogos? Quantos pais estão disponíveis ou têm
preparo para educar seus filhos? Quais as crianças que têm pedagogo como
professor? Por isso, todo professor deve se prover de instrumentos para ser
educador. Deve ser formador e não informador.

A minha tentativa é facilitar ao professor a integração do saber, do saber


fazer e do ser, em seus alunos. Entendo que tem pouco valor o aluno dominar
muitos conhecimentos e não saber utilizá-los para benefício próprio e social.

Além do saber e do saber fazer, o aluno precisa ser um sujeito observador,


questionador e crítico. Ser um sujeito honesto, responsável, criativo e corajoso.
Ser cooperador, solidário e participante. Enfim, ser uma pessoa humana,
democrática e política.
É minha intenção facilitar aos professores a formação desse cidadão. Não
só de alguns, mas o maior número possível deles. A nossa escola ainda é muito
elitista, de maneira que apresento algumas ideias e sugestões de como atingir e
trazer melhorias às camadas mais humildes e às menos privilegiadas
intelectualmente.
O livro contém muitos exemplos práticos em situações concretas, visando,
com isso, facilitar a compreensão e a aplicação da didática. Contudo, não deixa
de apresentar também situações ideais em que deveria atuar o professor. Se
este não conhecer o “como deveria ser”, como pode se empenhar em inovar e
melhorar sua prática?
No campo da educação, há muita coisa nova. É impossível estarmos bem
atualizados sempre. Dentro das limitações de tempo, tentei fazer o máximo.
Procurei conhecer a linguagem acessível e prática. Julguei mais importante
socializar o conhecimento relativo à Didática que realizar mais pesquisas, as
quais quase sempre se restringem a uma elite intelectual. É preciso, portanto,
que a ciência e seus benefícios alcancem o maior número possível de pessoas.

11
Espero, com este trabalho, apresentar e traduzir, de forma eclética, o
pensamento de alguns educadores e algumas teorias mais atuais na educação,
especialmente de Piaget, Ausubel, Bruner, Rogers, Freinet Dewey, Paulo Freire
e Vygotsky. Em todo o livro, estão embutidos os princípios das disciplinas que
fundamentam a Didática.
Tentei englobar, num mesmo compêndio, o conteúdo de Didática que
entendo ser necessário ao conhecimento do professor para que ele tenha
suficiente desempenho profissional. Além disso, pretendo dar uma visão
integradora e de conjunto do processo educacional.

Enfim, espero que o presente trabalho seja, de uma forma ou de outra, útil
para os alunos de cursos de Pedagogia, de Formação Pedagógica e de outras
licenciaturas e até mesmo para os professores que já estejam atuando.

Sugestões e críticas serão bem-vindas, pois reconheço minhas


limitações. Todavia, entendo ser preferível ser alvo de críticas a deixar de dar
minha contribuição.

Esse fascículo é a adaptação e atualização do livro de minha autoria, “A


didática necessária”, editado pela IBRASA em 1992.

“A Didática necessária” é um livro didático, não um texto científico. Tentei


traduzir fielmente as ideias dos autores citados, sem, contudo fazer referência
para facilitar o entendimento.

Este fascículo é um resumo do meu livro. É extenso, mas certamente terá


utilidade nas atividades práticas do magistério.

Fiz o curso de Pedagogia em Universidade pública, gratuitamente. É justo


que eu retribua os benefícios recebidos, para que mais pessoas possam
aproveitar dos meus estudos e experiências.

12
Capítulo I

Educação, ensino e
aprendizagem
O que a Didática tem a ver com educação, ensino e aprendizagem? A
Didática deve ser usada para educar, ensinar ou facilitar a aprendizagem do
aluno?

Primeiramente, é necessário conceituar o que seja educação, ensino e


aprendizagem. É o que faremos nas próximas páginas.

1 Educação

Educação é o processo que visa ao desenvolvimento integral da


personalidade. É o processo pelo qual a pessoa se autorrealiza e, ao mesmo
tempo, integra-se por meio do qual se integra à sociedade.
Educação, na verdade, tem muito de autoeducação. Neste sentido,
educar-se é esforçar-se para praticar o bem, é canalizar seus impulsos e
energias na busca da perfeição.
Para se entender de forma mais concreta o que seja educação, vamos
tentar caracterizar uma pessoa educada, na visão de nossa sociedade.
A pessoa educada sabe resolver seus problemas pessoais. Sabe ler e
escrever corretamente e fazer os cálculos necessários para a sua vida. Trabalha
e ganha seu sustento.
Tem segurança. Confia em si mesma e nas suas qualidades. Economiza,
não esbanja dinheiro, nem material, nem comida. Preocupa-se, primeiramente,
com o necessário; em segundo plano, com o útil; só em último, com o agradável;
a pessoa educada tem qualidades pessoais, é honesta, responsável, justa,
disposta, corajosa, otimista, persistente e humilde.
A pessoa educada mostra-se curiosa e aberta às inovações. Gosta de ler
e estudar. Quer conhecer e aprender tudo o que vê em sua frente. É livre
psicologicamente. Não é sectária, ou seja, não é fanática por uma ideologia, por
uma linha de pensamento ou por um partido político. É aberta a todas as
correntes e ideias.
A pessoa educada sabe cuidar de sua saúde física e mental. Pratica
atividades físicas, esporte e lazer.

13
A pessoa educada tem uma razoável gama de conhecimentos. Conhece
o passado da humanidade: filosofia, política, economia, evolução da ciência.
Conhece o meio que a cerca: físico, político, econômico, social e cultural.
A pessoa educada é solidária e preocupa-se com o social. Estuda e
pesquisa soluções para os problemas sociais. Trabalha e pensa na utilidade de
seu trabalho para o bem da comunidade e tudo faz para produzir mais.
Preocupa-se com o bem e a felicidade dos outros. Procura fazer sempre o
melhor que pode em tudo o que faz. Defende o que considera justo e certo, sem
ceder ante pressões e ameaças.
A pessoa educada é sensível e ama o belo. Tem olhos para contemplar
tudo o que é bonito no mundo: a natureza, as aves, as flores, as pinturas, a
música, a poesia, enfim, a própria vida. E é capaz de emocionar-se.
A pessoa educada sabe conviver em grupo e se comunica bem. Sabe
ouvir, analisar, organizar e comunicar seu pensamento. Não é tímida. É
simpática, sincera e tem muitos amigos. É capaz de trabalhar e tomar decisões
em conjunto.
A pessoa educada é ligada à família, ao grupo no qual se dá e se recebe
mais amor e serve de ponto de apoio para as pessoas que o integram.
A pessoa educada tem espírito crítico. Sabe interpretar corretamente o
que vê e ouve; emite opinião e defende-a com conhecimento de causa. Participa
e envolve-se na solução dos problemas, não se esconde atrás de sua
incompetência, com críticas vazias.
Esses são apenas alguns aspectos de pessoas bem-educadas.
Certamente, pode-se observar que, nas características citadas, estão
compreendidos os aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor, ou seja, o homem
como um todo, com razão, sentimento e ação.

1.1 O que é educar?

Educar, com relação à ação do professor, é orientar para o bem, para a


verdade e para a justiça; é dar exemplo de coragem, de persistência, de luta, de
sacrifício, de doação aos outros.
Educar é despertar o aluno para a solidariedade, para a responsabilidade,
para a lealdade, para a autenticidade, para a honestidade, para o patriotismo,
para a participação, para a cooperação, para a constante busca da verdade e da
perfeição.
Educar é preparar o aluno para uma profissão.
Educar é desenvolver a inteligência do aluno, sua capacidade de refletir e
raciocinar.
Educar é dar condições para que o aluno se torne independente e crítico.
Educar é estimular e influenciar positivamente uma criança, com atitudes,
conselhos e exemplos.
Educar é oferecer e criar condições para que o aluno desenvolva a
imaginação e a criatividade, enfim, todas as suas capacidades.

14
1.2 Por que o homem precisa ser educado

O homem precisa ser educado em virtude de sua natureza psico-


biológica. Quando nasce, ele é o único animal inteiramente dependente e
incapaz de sobreviver sem a ajuda de outros.
É a educação que faz com que o homem vá se tornando independente
biológica e psicologicamente, que faz com que ele aprenda a trabalhar, a ganhar
seu sustento e alcance o seu pleno desenvolvimento.
O homem tem tendências boas e más. É um ser social, portanto faz parte
duma comunidade. Como tal, não pode permitir a si mesmo que se desenvolvam
as tendências más.
Ele é um ser, além de social, intelectual, moral e espiritual. Tem toda uma
personalidade a construir, para ser um homem pleno, consciente e livre. O
homem quer e precisa de segurança psicológica, social e espiritual e a educação
é o principal meio para alcançar isso.
O homem é um ser perfectível, isto é, pode torna-se cada vez mais
perfeito. Ser é melhor que não ser; ser é melhor que não ser perfeito. E para que
o homem seja mais ser e seja mais perfeito, ele precisa ser educado.
O homem nasceu para ser feliz. Para tal, precisa estar plenamente
ajustado consigo mesmo; precisava viver numa sociedade que lhe dê segurança
psicológica, física e econômica. Para que a sociedade assegure isso, precisam
ser eliminados os problemas sociais e o homem precisa ser bem educado, assim
como todos os elementos dessa sociedade.

2 Ensino

Antigamente, ensinar era passar matéria, dar conteúdo, passar exercícios


ou tarefas. O professor era o “sabe-tudo”, e o aluno, o “sabe-nada”. O professor
era autoridade; e o aluno, subordinado.

Hoje, a visão de ensino é bem diferente. A evolução social e as novas


descobertas em Psicologia e Didática fizeram com que o professor revisse suas
atitudes. Temos, assim, uma nova concepção de ensino.

Sabemos, e a psicologia confirma, que a criança não gosta de ser


mandada; não gosta de imposições e de ser forçada a fazer as coisas.

O mesmo ocorre com os animais: ou lidamos com jeitinho, ou os


condicionamos, ou então temos que atender a uma necessidade deles. Como
diz um ditado: “você pode levar um burro à água, mas não pode obrigá-lo a
beber”. Ele só bebe se tiver sede.

15
Além disso, o homem é um ser livre. É inteligente. É moral. É curioso e
ativo por natureza. Não consegue ficar parado. Sempre quer descobrir coisas
novas.

A própria sociedade está se organizando para propiciar um ambiente de


liberdade ao homem. É que logicamente deve ser de liberdade, com
responsabilidade.

Por que o professor haveria de impor programa, conteúdo, tarefas e


atividades para os alunos? Para fazê-lo ficar manso ou rebelde? Para domesticá-
lo com o conteúdo que o professor escolher para ele? Para que não aprenda a
ser pesquisador, questionador e crítico? Para que ele não tenha personalidade
própria?

As expressões “dar aula”, “dar matéria”, “transmitir conteúdo” não devem


mais ser usadas pelo professor, pois são de uma pedagogia autoritária, já
ultrapassada. Aprendizagem, sem ensino, pode existir; mas ensino, sem
aprendizagem, é cair no vazio. Devemos, nos preocupar com que o aluno
aprenda; o restante é supérfluo.

2.1 O que se entende por ensinar

Ensinar é criar condições favoráveis para a aprendizagem do aluno:


psicológicas, didáticas e materiais.

Ensinar é procurar descobrir interesses, gostos, necessidades e


problemas do aluno; escolher conteúdo, técnicas e estratégias; prover materiais
adequados; e criar ambiente favorável para o estudo.

Ensinar é selecionar experiências, propor atividades, mostrar as pistas, o


caminho e os meios que o aluno poderá usar para alcançar os objetivos pré-
estabelecidos. É facilitar e não forçar a aprendizagem.

Ensinar é estimular e orientar a aprendizagem. É instruir o aluno a


observar as semelhanças e diferenças entre um fato e outro, entre uma ideia e
outra. É incentivar o aluno para que ele próprio estabeleça relações, organize
sua estrutura mental e resolva problemas. É orientar o pensamento do aluno.

Ensinar é, também, persuadir; é convencer. Persuadir para o valor do


estudo e para o valor de determinadas matérias e para a importância de ser uma
pessoa educada.

Ensinar, portanto, não é dar matéria, não é dar conteúdo. O conteúdo está
nas revistas, nos jornais, nos livros, nas fitas sonoras e de vídeos, nos
computadores e nas bibliotecas. O conteúdo vem ao aluno também pelas
conversas com os pais, com os colegas, com os vizinhos, pelo rádio e pela TV.

16
A escola tem por função desenvolver o gosto pelo estudo e ajudar o aluno
a organizar e aproveitar esses conteúdos, não mais os passar ou transmiti-los.

Resumindo, ensinar é orientar a aprendizagem; é estimular o aluno; é


sugerir o que e como aprender; é facilitar a aprendizagem e providenciar formas
para deixar à disposição dos alunos todos os meios de que ele possa precisar
para aprender. É ajudar o aluno a resolver problemas. É experimentar e praticar
junto com ele.

3 Aprendizagem

Fala-se tanto em ensinar e pouco em aprender. Mas, de que adianta tentar


ensinar, se o aluno não aprende?

Hoje, já está sendo invertida essa situação. Toda preocupação gira em


torno do educador e da aprendizagem. Afinal, se o aluno não quer, não aprende.
Se não se interessa, não presta atenção, não faz esforço e não pensa, portanto
não aprende. Adianta ensinar? O aluno é o objeto e o agente da aprendizagem.
A aprendizagem ocorre dentro dele e por meio da sua ação, do seu pensamento.
Por mais que um professor se esforce, é inútil tentar incutir algo na cabeça do
aluno, se este não quiser.

3.1 O que se entende por aprender

Dizemos que uma pessoa aprendeu, quando mudou sua maneira de agir,
de pensar e de ser; a partir do momento em que ela passa a ter atitudes
diferentes. Uma pessoa que não gostava de estudar e depois que teve um bom
professor passou a gostar de estudar, é porque aprendeu. Mudou de atitude.

Uma criança egoísta, que sempre desprezava os pobres, foi visitar uma
favela, junto com seu professor e colegas. Após ouvir o relato dos pais das
crianças da favela e algumas aulas sobre as causas da pobreza, passou a ser a
criança mais prestativa da classe para com os pobres. Mudou de atitude.
Aprendeu.

Adquirir novas atitudes é certamente mas importante que a aprendizagem


de qualquer conteúdo. Mais adiante, voltaremos a tratar deste assunto.

Aprender é também formar hábitos: hábitos de esmero nos trabalhos;


hábitos de higiene; hábitos de pontualidade; hábito de cumprimentar os outros;
hábitos de agradecer; hábitos de economizar.

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Adquirir habilidade é também aprender. Uma pessoa que desenvolveu a
capacidade de ouvir uma palestra e anotar quase todas as ideias aprendeu. Uma
pessoa que toca violão, ou piano, desenvolveu habilidades. Uma pessoa que
dirige um carro aprendeu habilidades e também automatismos. Há outras formas
de habilidades: costurar, cozinhar, escrever, falar em público, comunicando as
ideias com clareza, desenhar, pintar, bordar, entre outras. É adquirir a
capacidade de fazer alguma coisa.

Aprender é tirar proveito daquilo que vemos e observamos, é tomar


conhecimento daquilo que se ignorava até então.

Aprende-se, ainda, quando se adquire o significado de novas palavras,


quando se compreendem novas ideias e se formam novos conceitos.

Aprender é desenvolver a capacidade de aprender melhor e com mais


facilidade.

Aprender é adquirir novas experiências, por exemplo, uma criança, pela


manhã, põe algumas garrafas de refrigerante no congelador da geladeira para
uma festinha à noite. Chegada a hora da festinha, metade das garrafas estão
estouradas. Falta refrigerante! Foi uma experiência. Ela aprendeu que não se
deve pôr bebidas no congelador por tempo indeterminado. Ela se pergunta por
que as garrafas estouram. Isto é assunto para mais experiências em sala de aula
a serem feitas pelos alunos. A vida é uma sucessão de experiências. A escola
deveria organizar uma experiência após outra. Isso facilitaria muito a
aprendizagem.

Certa vez, duas meninas estavam brigando. A professora aproximou-se


delas e disse: “Olhem aqui, suas burrinhas...”. Uma delas interpelou a professora
e respondeu: “Burrinha é a sua mãe”. Foi uma experiência para a professora.
Nunca se deve ofender ou agredir uma criança.

Aprender é compreender as coisas que se veem, se ouvem, se sentem e


se fazem. É ligar as ideias e experiências novas com as velhas, e as velhas entre
si para formar uma nova ideia. É incorporar novas experiências à sua bagagem
cultural, mudando sua maneira de pensar, ser e agir.

Aprende-se, ainda, quando se compreende novas ideias de novas


palavras, quando se compreendem novas ideias e se formam novos conceitos.
Formam-se novos conceitos também, quando são comparados ideias,
princípios, teorias ou analisados fatos e experiências.

a. Como sabemos se uma pessoa aprendeu realmente

Sabemos se uma pessoa aprendeu pela observação e análise do seu


comportamento, das suas ações e dos seus pensamentos, emitidos verbalmente
ou por escrito.

18
A pessoa que aprendeu sabe pensar sobre o assunto. É capaz de explicar
a outras pessoas o que aprendeu. Sabe usar o que aprendeu.
A pessoa que aprendeu é capaz de fazer, na prática. É capaz de
solucionar os problemas relacionados com o que estudou.
A pessoa que aprendeu é capaz de transferir o aprendido para outras
situações. É capaz de generalizar.

b. O que é necessário para que ocorra aprendizagem

Somente haverá aprendizagem, se o aluno quiser aprender, se estiver


interessado, se estiver motivado.
A vida está cheia de coisas agradáveis que dão prazer para a criança, por
isso, é necessário que o conteúdo, a matéria e as experiências também sejam
agradáveis; que atendam aos interesses e às necessidades do aluno. O
conteúdo tem que ser convincente, útil e significativo; tem que estar relacionado,
de alguma forma, com a vida do aluno, com as suas experiências anteriores.
As crianças gostam de mexer, de tocar nas coisas, de experimentar.
Gostam de ação. Por isso, é necessário que a escola tenha muitos materiais
para experiências. Tenham muitos livros e revistas para os alunos pesquisarem.
E os professores devem usar técnicas que possibilitem ao aluno participar
ativamente. Os alunos devem ter oportunidade de aplicar seu pensamento.
O aluno precisa sentir e notar alguma coisa, entender o seu significado,
comparar o entendido com os outros conceitos, fazer, praticar, ensinar, aplicar e
concluir.
O aluno precisa, também, prestar atenção, pensar ao ler e ao fazer as
atividades. Precisa pesquisar analisar, refletir, compreender, e colocar em
prática o que está aprendendo.
O aluno deve fazer um esforço para combinar os elementos com que
trabalha; ligar uma ideia com outra; produzir sua própria ideia e fazer esquemas
do que compreendeu.
Primeiramente, o aluno deve ler e analisar o que lê. Em seguida, deve
fazer síntese. Tirar e anotar as ideias principais, com suas próprias palavras,
sem copiar nada. Depois fará uma reflexão crítica, se aquilo está certo ou não,
e como isso poderia ser provado. Por fim, ele tirará sua conclusão.
O aluno deve se preocupar em compreender o que lê e nunca procurar
decorar alguma coisa, sem antes ter entendido o que está estudando. Decorar
cegamente é tempo perdido. Decora-se algo depois de tê-lo aprendido ou
mesmo pelo simples fato de ter compreendido. O aluno, quando se preocupa em
decorar, é porque não foi capaz de compreender. Isso é sinal de que o que ele
está estudando é muito difícil e está totalmente desligado daquilo que ele já sabe.
Nesse caso, o professor precisa reexaminar o conteúdo e adequá-lo ao
nível de dificuldade em que se situa o aluno. Deve tornar a aprendizagem mais
acessível, mais fácil, mais semelhante às experiências que o aluno já possui
sobre o assunto.

19
Assunto compreendido dificilmente será esquecido. O aluno que
compreende terá condições de elaborar ideias com suas próprias palavras sobre
o assunto, sem ter que repetir as mesmas palavras do texto.
É fácil de pensar, e falar sobre um assunto que se compreendeu. Já sobre
um assunto que se decorou às cegas, é impossível. O aluno pode repetir o que
leu, mas não será capaz de esclarecer nenhuma dúvida; não será capaz de
resolver problema.
O próprio aluno deve executar o processo de aprender; fazendo e
participando, aprende-se melhor.
Se o aluno tiver o desejo de aprender a pescar, o objetivo a ser colocado
é aprender a pescar.
Suponhamos que um professor irá ensiná-lo a pescar. A primeira coisa a
ser feita é verificar o que ele já sabe sobre o assunto. O professor descobriu que
ele não sabe nada. O professor deve explicar-lhe como se pesca? De pouco
adianta. É preciso ir direto para a ação.
Inicialmente, o professor convida-o a ir junto com ele a uma loja. Ali
compra anzol, linha, chumbada, boia e vara, se for o caso. Em seguida, pega
uma enxada e vai para um lugar onde possa ter minhocas. Passa a enxada ao
aluno para que ele próprio as arranque. O professor orienta como cavoucar, onde
ele por as minhocas e como proceder para que elas permaneçam vivas.
O passo seguinte é ir ao rio. O próprio aluno prepara o anzol, isca-o e
joga-o na água. O professor orienta-o em tudo, até mesmo sobre qual o momento
certo para puxar o peixe para fora d’água, como tirá-lo do anzol e como cuidar
para que não se deteriore.
O aluno aprendeu, assim, o processo todo. Foi uma experiência em que
se envolveu e participou. Seguramente, aprendeu a pescar, sem ter que decorar
texto sobre isso.
O professor criativo imagina uma situação atrás da outra para facilitar a
aprendizagem do aluno. Isto é o que se chama de verdadeiro ensino para uma
verdadeira aprendizagem.

c. Por que é mais importante conhecermos como se realiza a


aprendizagem do que como se ensina

O ato de ensinar só tem sentido, se os alunos aprenderem. Não adianta


o professor se desdobrar, se os alunos não querem, ou não estão prontos para
aprender. Além disso, quem faz com que ocorra a aprendizagem é o aluno.
Aprendizagem é um processo individual. Implica interesse e esforço do aluno.
Cada aluno é diferente. Por isso, as atividades, as estratégias e mesmo o
conteúdo devem atender a cada um.
Precisamos saber também o que ocorre na cabeça do aluno, o que ele
faz com o que conhece e o que ele ainda quer saber. Precisamos conhecer as
causas que levam o aluno a estudar. Só depois, o professor pode oferecer
condições e atividades que atendam aos desejos e a essas causas do aluno.

20
Para que o aluno aprenda, é preciso que ele preste atenção, pense,
analise; é necessário “entrar” na cabeça do aluno e imaginar como ele aprende.
Ensinar é exatamente ir ao encontro do aluno. É orientar a caminhada deste em
direção à aprendizagem.

d. Quais são as melhores maneiras de aprender

Depende de cada aluno. Depende do interesse e do tipo de inteligência,


capacidade de atenção, da vontade e até das necessidades que o obrigam a
aprender. Depende, também, em grande parte, da idade que ele tem.
Há crianças que aprendem pela simples observação de como os outros
fazem o que elas querem aprender. Outras podem observar dez vezes e praticar
outras tantas que ainda não aprendem.
Quando as crianças são novas, com um, dois, três anos, elas aprendem
mexendo nas coisas, testando, fazendo experiências. Aos três e quatro anos, já
exploram bastante e descobrem que existe outra forma de obter respostas para
suas questões; É fazendo pergunta aos pais, aos mais velhos. É a idade dos
porquês.
O que nos interessa mais é como a criança aprende na escola. É aí que
o professor irá atuar mais diretamente com a criança. Ao seis e sete anos, a
criança está pronta para descobrir um novo mundo: o mundo da leitura. Ela já
possui certa bagagem de experiências que lhe servirão de base para aprender
a ler. Ela passa a associar as ideias conhecidas à sua representação na palavra
escrita. Nesta fase, a competência e a ajuda do professor é muito importante.
Mesmo tendo aprendido a ler, a criança está na fase concreto-operatória.
A melhor forma de aprender continua sendo a observação, o que fazer e a
experimentação.
O professor tem função importante também nesta etapa. Ele poderá
ajudar o aluno a selecionar as experiências, a orientá-lo em sua execução e
relacioná-las às experiências e descobertas feitas pela humanidade sobre o
assunto. O professor deve levar o aluno a descobrir como os pesquisadores
agiram para fazer as descobertas. Os alunos devem seguir os mesmos passos:
observação, levantamento destas, análises das conclusões e aplicação ou
generalização.
Aparentemente, essas experiências é perda de tempo, mas é de
fundamental importância para o aluno. Chega-se a um ponto em que o aluno
passa a notar que está redescobrindo aquilo que outros já haviam descoberto.
Isso é importante por duas razões: uma porque a criança descobriu o
processo de descobrir, de pesquisar; outra, porque ela passará a valorizar as
descobertas feitas por outros. Passa a valorizar os livros e a leitura para
satisfazer a sua curiosidade, pois é nos livros que estão registradas as
descobertas que a humanidade fez.
Voltemo-nos agora para o que seja aprender. Reflitamos também sobre o
que o aluno precisa aprender. Imaginemos as melhores formas ou maneiras que

21
ele poderia usar para aprender. Enumeramos apenas algumas. Outras poderão
ser descobertas.
Aprende-se a fazer, fazendo. Enquanto o aluno não tiver desenvolvido um
alto grau de pensamento abstrato, simbólico, é bom que tenha oportunidade de
mexer nas coisas, tocar, fazer experiências e descobrir pela ação. O aluno
aprende principalmente pelo que faz e não pelo que houve.
A análise e a solução de problemas é outra maneira de grande valor
na aprendizagem, pois leva o aluno a buscar dados, aprender onde e como os
procurar. Faz o aluno analisar, refletir, integrar suas experiências com as novas
ideias que vai formando, com os dados e informações que encontra. O aluno
aprende a pensar, a relacionar as coisas, a criticar as ideias e a formar opinião
própria.
Assim, ele passa também a analisar e a aproveitar as descobertas, as
teorias já existentes sobre o assunto, para aplicá-las na prática e solucionar os
problemas do nosso dia-a-dia.
Fácil de ser usado e de grande importância é também o método do
estudo dirigido. Imensidade de técnicas pode ser utilizada para
desenvolvê-lo.
Através do estudo dirigido, o aluno aprende a gostar de ler, aprende a ler
com proveito, aprende a estudar, a interpretar, a resumir, a fazer esquemas e a
analisar o que lê.
O grande segredo desse método é o professor conseguir fazer com que
o aluno crie amor à leitura, ao estudo. Se o aluno quiser e tiver vontade de ler e
aprender, o processo será facilitado.
O essencial é que o aluno tenha aprendido a ler com proveito, com espírito
crítico, e saiba usar o que leu para resolver os seus problemas e os da
sociedade.
As maneiras de aprender descritas anteriormente desenvolvem objetivos
mais em nível individual. Mas “nenhum homem é uma ilha”. Ele precisa conviver
com os outros. Para aprender isso, são utilizados os métodos socializados.
Discutindo e debatendo, o aluno aprende a falar, a pensar com coerência
e sentido, a ter respeito às opiniões dos outros, a se desinibir e a ter coragem de
defender suas ideias. Ele rapidamente combina, liga, relaciona as experiências
e as informações que já possui para argumentar ou para apresentar sugestões
sobre a questão em julgamento.
Enfim, o aluno aprende melhor, jogando, brincando, participando,
pesquisando, fazendo experiências, debatendo, discutindo, analisando,
refletindo sobre o que faz e sobre o que lê.
O aluno precisa, primeiramente, compreender tudo o que faz, o que
estudar; integrar e combinar as ideias que tem e que formou e tentar usá-las em
situações concretas.

22
4 O que é estudar

Com frequência, ouvimos uma pessoa dizer que está estudando


determinado assunto. O que quer dizer com isso?
Depende da intenção dela. Para alguns, estudar é decorar, para saber na
hora da prova. Para outros, é compreender. De qualquer forma, sempre se pensa
que estudar é ficar com os olhos no livro ou no caderno.
Pode-se “estudar”, sem aprender? Claro que sim. Mas, o que o aluno
deve fazer para estudar e aprender? A resposta é simples: aprender a estudar.
Como? Com a ajuda de um bom professor, que saiba realmente ser um técnico
em orientação da aprendizagem.
Estudar é ligar-se, concentrar-se, prestar atenção nos meios que se têm
em mãos para alcançar um objetivo. Estudar é fazer o esforço para compreender
o que se lê, o que se ouve e o que se faz. Estudar é concentrar esforços na
captação de informações e na elaboração de ideias para a solução de
problemas. Estudar é pesquisar, testar, analisar, refletir e concluir.
Estudar é concentrar o pensamento em um objeto, em um texto, para
compreendê-lo; é aplicar a inteligência para examinar e resolver problemas; é
fazer esforço mental para alcançar um objetivo.
Estudar é tentar descobrir o caminho que nos leva a aprender.

5 Conclusão

Nesse capitulo, conceituei educação, ensino e aprendizagem. Comentei


um pouco sobre por que o homem precisa ser educado, sobre o que é necessário
para que ocorra a aprendizagem e sobre quais são as melhores maneiras de
aprender.
O capítulo dá uma visão sintética, globalizada, sistêmica do processo de
educação-ensino-aprendizagem.
Certamente, pode-se estar intrigado com as duas perguntas colocadas no
início do capítulo: “O que a Didática tem a ver com educação, ensino e
aprendizagem?” e “A Didática deve ser usada para educar, ensinar ou para
facilitar a aprendizagem do aluno?”
A esse respeito, já podem ter sido tiradas algumas conclusões. Mas, o
capítulo seguinte abordará mais diretamente essas questões.

23
Capítulo II

Didática: considerações
gerais

1 O que é didática

Didática é a ciência, a técnica e a arte de bem orientar a aprendizagem


e de conseguir que o aluno queira aprender.
A Didática é ciência, enquanto se fundamenta em princípios
científicos. É técnica, quando aplica esses princípios na ação docente. É arte, na
medida em que o professor utiliza a imaginação, a criatividade e tem habilidades
na integração dos princípios para a condução das atividades discentes, de forma
a obter resultados eficazes.
Segundo Aguayo, Didática é “a técnica de estimular, dirigir e encaminhar,
no decurso da aprendizagem, a formação do homem”.
A Didática ensina como o professor deve agir para conseguir que o aluno
aprenda e se eduque da melhor forma possível.
Por que a Didática é ciência? Porque muitos estudiosos experimentaram
e testaram as maneiras pelas quais o professor deve agir para conseguir bons
resultados com seus alunos. Aquelas que deram resultados positivos foram
registradas em livros para as conhecermos.
Imaginemos entrar numa sala de aula e ir testando quais as técnicas ou
procedimentos que dariam certo. Quanta bagunça os alunos fariam, quanto
tempo se perderia para descobrir quais as técnicas mais adequadas?
As recentes estatísticas indicam que os professores perdem mais de 20%
de seu tempo para manter disciplina em sala de aula. Isso ocorre, certamente,
por não conhecerem ou não observarem os princípios da aprendizagem e da
Didática.
Centenas ou milhares de psicólogos, didatas (especialistas em Didática)
e outros estudiosos fizeram experiências em forma de pesquisa. Destas,
surgiram as teorias. E o conjunto dessas teorias forma uma ciência. No caso, a
ciência da Didática.
A Didática dará orientação de como proceder em sala de aula. Ela indica
quais são as técnicas mais adequadas. Se procedemos de acordo com essas
orientações, certamente seremos bem-sucedidos.
Mas, Didática não é só ciência, tem alguma coisa de arte. Por quê pouco
adianta conhecer a ciência, se não tiver um jeitinho especial de usá-la; se não

24
se usar a imaginação e a criatividade. A arte em Didática pode ser comparada à
arte em pintura. Não adianta alguém conhecer a ciência respectiva, a ciência da
combinação das cores, da geometria, se na hora de pintar não tiver imaginação
ou habilidade na mão para pintar.
A arte em Didática pode ser comparada ainda com a técnica ou arte do
médico. Este pode conhecer todos os princípios e as teorias das ciências
médicas, mas, se não tiver imaginação e habilidade suficiente para suturar,
“costurar” o tecido, fatalmente terá falha em sua atividade.
A Didática é uma disciplina norteadora da ação. Ela integra as demais
disciplinas pedagógicas com conteúdo específico da matéria às experiências dos
alunos, formando um todo útil para que os objetivos da educação sejam
alcançados.

2. O histórico da didática

Sócrates, grande filósofo e sábio grego, viveu entre o ano 474 e 399 antes
de Cristo. Os métodos que ele utilizou para levar o conhecimento e sabedoria
aos cidadãos gregos era o diálogo. O objeto do diálogo eram as coisas do mundo
e do ser humano.
O método do diálogo foi se aperfeiçoando e em decorrência têm-se a
dialética que é a arte do diálogo.
Com o diálogo, Sócrates tinha como objetivo fazer com que as pessoas
encontrassem as verdades universais para a prática do bem e da virtude. No
diálogo ele fazia perguntas e mais perguntas para o interlocutor sobre o que este
sabia e pensava sobre o assunto. Depois fazia perguntas sobre novos conceitos,
para que a pessoa tirasse suas próprias conclusões, para ser uma pessoa
melhor e mais sábia. Essa técnica, foi chamada de “maiêutica”, que significa
“parto do conhecimento”.
Agostinho de Hipona (ou Santo Agostinho) já afirmava, por volta do ano
390, que a criança precisa aprender primeiro o que as coisas são e só depois
aprender o nome delas. Dizia, também, que os sentidos nunca se enganam, o
que eles captam é o real, é a verdade.
Isso tem sentido, pois sabemos que a criança aprende o que as coisas
são desde que nascem. Hoje, essas afirmações de Santo Agostinho,
transformaram-se em princípios, que podem ter os seguintes termos:

- Aprende-se primeiro o concreto, depois o abstrato.


- Só se aprende aquilo que é significativo.
- A demonstração é melhor que as palavras.

Ele diz, ainda que, “palavras nada mais são do que palavras”; “não é
através de palavras que conhecemos”; “não podemos transmitir conhecimento
pela linguagem”.

25
Até hoje, esses princípios estão sendo pouco respeitados, apesar de
serem importantes. Há muitíssimos professores que ainda dão aula e julgam que
eles são a causa da aprendizagem do aluno. Sem esforço do aluno, sem que o
aluno observe, pense, compreenda, não existe aprendizagem, por mais que o
professor se esforce. Isto está amplamente comprovado pela Psicologia da
Aprendizagem e hoje confirmado pela Neuroeducação.
São Tomás de Aquino, viveu de 1.225 a 1.274 ele acreditava “que o
intelecto pode ser movido por Deus a agir”, e que a pessoa aprende através dos
sentidos.
Neste último sentido, pensa como Sócrates. Vejamos o que diz Lauand,
sobre Tomás de Aquino:

De acordo com o filósofo, há dois tipos de conhecimento: o sensível,


captado pelos sentidos, e o intelectivo, que se alcança pela razão. Pelo
primeiro tipo, só se pode conhecer a realidade com a qual se tem
contato direto. Pelo segundo, pode-se abstrair, agrupar, fazer relações
e, finalmente, alcançar a essência das coisas, que é o objeto da
ciência. O processo de abstração que vai da realidade concreta até a
essência universal das coisas é um exemplo da dualidade entre ato e
potência, princípio fundamental tanto para Aristóteles quanto para a
filosofia escolástica.

Para extrair das coisas sua essência, é necessário transformar em ato


algo que elas têm em potência. Disso se encarrega o que Tomás de
Aquino chama de inteligência ativa em complementação a uma
inteligência passiva, com a qual cada um pode formar os próprios
conceitos. A ideia, transportada para a educação, introduz um princípio
pedagógico moderno e revolucionário para seu tempo: o de que o
conhecimento é construído pelo estudante e não simplesmente
transmitido pelo professor. "Tomás nos lega uma filosofia cuja
característica principal é uma abertura para o conhecimento e para o
aluno", diz Lauand.
(Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/mestre-razao-
prudencia-423314.shtml).

Segundo Agostinho, o primeiro livro sobre didática foi escrito em latim por
Santo Agostinho, com título “De magistro”, que quer dizer “Sobre o Mestre”.
Comênio:
Foi um pensador do século Cultura e Educação na Idade Média.
A pedagogia de Comênio, também pregava que o aprendizado deve
começar pelos sentidos; que é pelos estímulos exteriores que se percebe o real;
que as percepções sensoriais seriam impressas no interior do ser e analisadas
racionalmente.
Ele tinha como objetivos a perfeição intelectual e espiritual.
Pregava que se deve ensinar tudo a todos totalmente, ou seja, a
democratização do ensino.

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Escreveu a Didática Magna. Neste livro ele diz que a educação é uma
maneira de humanizar o homem, de transformar o homem de um estado bruto
para o de ser humano de verdade.
Insistia em afirmar que a educação deve começar desde a infância.
Comênio classifica as coisas em três tipos; as que são objeto de
observação; as que são objeto de imitação e as que são objeto de fruição.
Ele entende que o aluno é constituído de três faculdades; inteligência,
vontade e memória.
Maria Montessori, foi a primeira médica italiana. Deixou a medicina para
cuidar de crianças com necessidades especiais.
Desenvolveu um método revolucionário para a educação de crianças. É
tão importante que você tem que ler um artigo de Ana Lúcia Santana sobre o
assunto, que você pode encontrar, acessando o Google, no título: “O método
Montessoriano”.
Piaget é outro pesquisador famosos. Este trouxe, também, importante
contribuição para a Didática. Ele fez muitas pesquisas sobre como a criança
desenvolve a inteligência.
Esta se desenvolve com ações entre o sujeito e o objeto ou
acontecimento. A criança registra o que percebe, formando um ponto na mente.
Novas percepções vão formando mais pontos ou nós no esquema mental.
Quanto mais ações, mais percepções, mais amplo fica a estrutura mental.
Quanto mais a pessoa agir, mais obstáculos poderá ter que enfrentar.
Com isso mais problemas surgirão. Mais problemas, mais desequilíbrios
mentais. Esses desequilíbrios geram a necessidade de mais ação, até chegar à
assimilação e/ou acomodação.
Hoje, com as neurociências, os esquemas mentais são chamados de
redes neurais. Quanto mais pontos ou nós forem formados, maior será a rede.
Podemos aproveitar os estudos de Piaget para fundamentar o método de
estudo dirigido, os métodos de solução de problemas, de projetos e de
descoberta.
Em todos eles o estudante é o agente da aprendizagem. Veja mais sobre
este autor em “Teorias de aprendizagem de Piaget”, de André Luís Silva da Silva.
Outro pesquisador que trouxe contribuições significativas para a Didática
foi Lev Vygotsky.
Este tem em comum com Piaget que ambos são construtivistas e
defendem a aprendizagem significativa. Para os dois a aprendizagem ocorre
pela interação entre sujeito, objetos e outros sujeitos.
Vygostky, porém, dá ênfase nas relações do homem com a sociedade. É
esta que influencia e molda o sujeito e suas funções psicológicas.
Os métodos e técnicas para aplicar a teoria de Vygotsky constam no
capítulo que trata dos métodos sociondividualizados.
Tem muita coisa interessante sobre a teoria de Vygotsky. Para acessar o
artigo, busque no Google: “Vygotsky: sua teoria e a influência na educação”.

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A Didática teve imensidade de contribuições de vários outros autores,
vejamos alguns:
Jhon Dewey, por exemplo, tem uma frase muito significativa: “O professor
que desperta entusiasmo em seus alunos, conseguiu algo que nenhuma soma
de métodos sistematizados, por mais corretos que sejam, pode obter”.
Rogers afirma que o professor deve se colocar no lugar do aluno; dá
ênfase à empatia.
Segundo Ausubel, a aprendizagem para ser significativa precisa partir
daquilo que o aluno já conhece.
“A maior parte do comportamento humano é aprendida por imitação”
(Albert Bandura).

3 Por que todo professor precisa conhecer bem a didática

Já se deve ter percebido, no capitulo I, que a tarefa do professor não é tão


fácil. É por isso que a Didática é fundamental para o eficiente trabalho do
professor.
A primeira coisa que se precisa saber ao entrar em uma sala de aula é o
que se vai fazer lá dentro. Deve-se ter bem claro o que se espera dos alunos,
que resultados e objetivos devem ser alcançados.
Se tivermos estudado filosofia da educação, já teremos alguma ideia do
que seja o homem, de qual é sua natureza, por que e para que ele precisa ser
educado; caso contrário, teremos que buscar luzes para isso na própria Didática
que ensinará quais são os objetivos a serem selecionados, onde os buscar e que
critérios devem ser observados para selecioná-los.
Feito isso, começa-se a trabalhar com os alunos. Sabem-se quais são os
objetivos que precisam ser alcançados e escolhem-se algumas técnicas para
isso. Mas, os alunos não querem nada com nada. Não estudam, não fazem as
tarefas, enfim, é um desinteresse total. E agora, o que fazer?
Aprendem-se, em Didática, métodos, técnicas e processos de ensino.
Mas, observe-se bem: Pode ser que essas técnicas não sejam do agrado dos
alunos. Pode ser que elas não considerem o aspecto da aprendizagem individual
do aluno, ou seja, não adianta o professor ensinar, se o aluno não quer aprender.
Aí vão as perguntas: “Então, é preciso usar uma técnica para cada aluno?”
Seria melhor mesmo. Mas, isso é quase impossível. O que fazer, então?
A didática dirá que se devem escolher as técnicas, partindo das
características, interesses e curiosidades dos alunos. Todos têm sentimentos e
emoções. Assim, as técnicas que tiverem suspense, que apelar para as emoções
a atender á curiosidade dos alunos terão mais sucesso.
As crianças gostam de brincar e de jogar. Gostam de fazer alguma coisa;
gostam de ação. E por que não usar isso em sala de aula? Aliás, é a própria
didática que ensina que a melhor forma para a criança aprender é exatamente
por meio de jogos, de ação e de participação.

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A didática dirá, ainda, quais os critérios que se devem utilizar para
selecionar o conteúdo, que o conteúdo deve ter ligações com a vida do aluno,
alguma semelhança com as experiências dele. Isso fará com que ele participe
com mais vontade, pois, assim, o conteúdo será significativo e útil para ele.
Lembre-se dos professores de outrora. Alguns certamente eram
“chatérrimos”; outros, regulares; e havia ainda os simpáticos e competentes.
Professores simpáticos têm a estima dos alunos. Por isso, quase sempre
conseguem melhores resultados. Há alunos que chegam a estudar matéria de
que não gostam, só porque o professor é “bacana”. Por isso, este profissional
precisa conhecer bem as atitudes e as características de um bom professor. A
didática também trata disso.
Sabe-se, também, que, com material didático adequado, fica mais fácil
aprender. Mas, é preciso saber qual seria o melhor material, onde e como
selecionar e, ainda, como usá-lo com o máximo de proveito.
Bem, agora já fica mais fácil trabalhar com os alunos. Mas, não é só isso
que interessa. Os alunos estão realmente aprendendo, isto é, alçando os
objetivos? Como podemos saber disto? É pela avaliação. É preciso aprender
como avaliar de forma correta, segura, para que o professor possa ter certeza
de que os alunos estão aproveitando bem seu tempo.
Pode-se perceber quantas coisas têm que ser observadas no exercício de
magistério? Mas, essas coisas não podem ficar soltas, precisam ser ligadas
entre si a essa ligação chama-se planejamento.
Em síntese, o professor deve conhecer bem a Didática para descobrir o
que precisa aprender. E precisa conhecer, ainda, o que a sociedade espera que
os alunos aprendam.
Em Didática, o professor aprende que deve considerar as condições da
escola, dos alunos, do meio e as dele próprios para planejar as atividades de
aprendizagem.
Em síntese, a Didática apresenta várias técnicas de ensino que podem
ser usadas e indica os princípios e critérios a serem adotados pelo professor
para selecionar as melhores opções. Indica, ainda, os critérios para a seleção do
material didático, do conteúdo e a avaliação. Revela também que o
comportamento do professor é importante para o envolvimento do aluno no
processo de aprendizagem. Por fim, ensina como planejar para evitar perda de
tempo e obter o máximo de rendimento.
Quando os professores seguem as orientações da Didática, os alunos têm
prazer em estudar, participar e aprender. Haverá “disciplina”, envolvimento e
aprendizagem eficiente.
Antes de começar a aprender, o aluno deve ter a força interior que o faça
desejar aprender, que o leve a agir. O professor deve conseguir que o aluno
estude com satisfação e amor. Para isso, deverá descobrir situações,
experiências e técnicas que sejam agradáveis, que despertem prazer durante o
estudo e que levem, como decorrência, o aluno a aprender coisas úteis.
Em resumo, a Didática ajuda o professor a:

29
Conhecer os fundamentos e os princípios científicos que embasam
o processo de aprendizagem;
Desenvolver habilidades de identificação, levantamento e solução
dos problemas sociais;
Saber tomar decisões adequadas quanto à escolha dos fins,
objetivos e meios de ensino;
Saber como agir para respeitar, ao máximo, as diferenças
individuais;
Conhecer os fatores de motivação dos alunos e técnicas de
incentivação;
Desenvolver habilidades que levem o aluno a ter gosto e amor aos
estudos;
Saber como identificar e como remover os fatores que dificultam a
aprendizagem;
Reconhecer a importância de ter bom relacionamento com os
alunos;
Adequar o ensino às possibilidades e necessidades do aluno;
Exercer melhor papel de educador e estimulador do
desenvolvimento integral do educando;
Conhecer os métodos, técnicas e procedimentos mais adequados
para alcançar cada tipo de objetivo;
Ter orientação mais segura de como organizar e planejar as para
uma aprendizagem mais significativa e eficiente;
Saber como avaliar.

4 Funções da didática

No item anterior, “Por que o professor precisa conhecer bem a Didática”,


ressaltei algumas funções da Didática. Tentarei, aqui, explicitar um pouco mais
o assunto.
A principal função da Didática é o alcance de objetivos educacionais e de
aprendizagem. Grande parte deles já vem determinada pelas leis. Mas, esses
objetivos são muito abstratos e distantes da realidade e têm pouco sentido
prático. A educação deve, antes de tudo, resolver os problemas reais, sentidos
pela população.
Cabe à Didática analisar esses problemas e, em função deles, elaborar
objetivos mais palpáveis, mais concretos e mais práticos.
Muitos professores costumam trabalhar na escola por força do hábito. Do
jeito que aprenderam, costumam ensinar. Falam em “Dar aula”. “Dar aula” por
que e para quê? Apenas para cumprir programa? Que programa? Programa feito
por quem? Com que finalidade?

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O professor, hoje, precisava ter espírito crítico, deve analisar tudo o que
vê, ouve e recebe; verificar sua utilidade e validade. Por isso, ele precisa pensar
com cuidado sobre o que vai fazer.
Na escola, o aluno pode aprender a ler, também a escrever corretamente
e calcular com segurança. De que adianta isso, se ele não aprendeu a ser
honesto, justo, responsável, solidário, compreensivo, trabalhador, corajoso,
cooperador e ter iniciativa, persistência e força de vontade? De que adianta, se
o aluno não aprender a pesquisar, a integrar as ideias, a concluir, a imaginar, a
pensar, a raciocinar, a criar e a resolver problemas?
Educar o homem é seguramente uma função muito importante da
Didática. Esta precisa preocupar-se constantemente em desenvolver as
qualidades e habilidades enumeradas anteriormente.
A Didática, no início do processo escolar, tem função predominantemente
educativa. À medida que o aluno avança em escolaridade, ela cuida também da
facilitação da aprendizagem.
É no processo de aprendizagem que a criança aprende a usar o conteúdo,
a estruturar as experiências; forma hábitos, atitudes e habilidades para o seu
consumo próprio e desenvolvimento social.
A ação pedagógica deve estar presente em toda atividade docente.
Por que educar é função da Didática? Simplesmente porque a criança
precisa ser educada, e a Didática é um dos meios mais adequados para isso.
Além disso, educação hoje tem um significado muito mais abrangente que
simplesmente integrar a criança em seu meio.
Os índios desenvolveram atitudes e habilidades necessárias para atender
a sua sobrevivência e seus costumes de maneira rudimentar, pela imitação de
conselhos e do uso de materiais concretos que manipulam.
Em nosso meio, as crianças, antes de entrar na escola, e os analfabetos
também desenvolveram muitas destas atitudes e habilidades.
Não podemos nos limitar e essas formas simples de educação. As
relações sociais, econômicas e políticas já estão cada vez mais complicadas e
vão se complicando cada vez mais. A ciência e a tecnologia vão ocupando
enormes espaços dentro dessas novas formas de vida, que se chama civilização.
A Didática tem função relevante para a educação formal do homem, para
essa nova civilização. Vejamos por quê.
É a Didática que, por meio de estímulos, orientações e técnicas
adequadas, leva os alunos a se autoeducarem e a aprender por si mesmos. Ela
abre, também, a mente dos alunos para a predisposição de aceitar as coisas
novas que vão surgindo, com rapidez cada vez maior. O mundo muda tão
rapidamente que nem sabemos o que vai acontecer amanhã. Se não sabemos
o que vai acontecer, como podemos preparar os alunos? Que conteúdo eles
devem aprender? É por isso que eles têm que aprender a aprender por si
mesmos. É a Didática que faz isso. Assim, eles serão capazes de aprender as
novidades que surgirão. Assim, estarão mais preparados para o imprevisível.

31
Mas, isso não é suficiente. O aluno precisa desenvolver o gosto pelo
estudo, pela pesquisa e pelo trabalho.
Pelo uso adequado da Didática, o professor poderá conseguir isso.
Formado o hábito de leitura e estudo, o aluno estudará a vida toda e terá prazer
em fazê-lo.
Também não é suficiente o aluno estar inteirado de tudo, ter muitas
informações, mas não saber usá-las com proveito. A Didática deverá ajudar o
aluno a aprender a estruturar as informações recebidas, para ter pensamento
autônomo, original, e, assim, ser criativo e capaz de resolver problemas pessoais
e sociais.
O aluno, com inteligência bem desenvolvida, será capaz de
desempenhar-se bem em quase todas as situações da vida. A Didática dirá quais
são as técnicas, processos e atividades adequados para isso. Evidentemente
que deverão ser técnicas que exijam reflexão, solução de problemas,
imaginação e criatividade.
O aluno terá que viver na sociedade. Nesta, ele encontra propostas,
informações e situações as mais diversas possíveis. Quais delas são corretas,
justas e verdadeiras? O aluno precisa aprender a descobrir a forma de saber o
que é certo e o que é errado. Deve, também, aprender a ter coragem de defender
o que é certo e a contestar o que é errado. Enfim, o aluno deve ter espírito crítico
e ter coragem.
De que adianta um aluno ser aparentemente educado, ter muitos
conhecimentos, mas aceitar passivamente o que os outros dizem, escrevem ou
fazem e não saber se justificar?
Poder-se-á perguntar como a Didática poderia desenvolver a coragem no
aluno e como desenvolver o espírito crítico. Nos capítulos que tratam de métodos
e técnicas, veremos alguma coisa sobre isso.
A sociedade aí está. Ela é constituída pela soma dos indivíduos. Mas, se
esses indivíduos forem individualistas, passivos e não se preocuparem com o
bem-estar dos outros, a sociedade não poderá ser boa. A Didática deverá
contribuir para a formação de cidadãos honestos, participativos, preocupados
com o bem-estar dos outros e da sociedade como um todo.
O mundo, hoje, caracteriza-se por alto desenvolvimento científico e
tecnológico. Isso deve ser bom para a humanidade. Deve melhorar a vida do
homem. Mas, o cientista não nasce feito. Precisa ser educado e é formado
principalmente nas escolas. Quanto mais cedo o aluno aprender a ter atitude
científica, tanto melhor. Mais uma vez, entra em ação a Didática.
Aliás, a atitude científica é útil à pessoa, em qualquer situação da vida.
Ninguém deveria aceitar algo como verdade, a não ser o que fosse evidente, o
que desse, de certa forma, para ser comprovado. Isso evitaria que muitas
pessoas tivessem tantas crendices e superstições. Se alguém diz que algo é
bom, mas isso não presta, deve apresentar razões e provas; do contrário, não
deve merecer crédito.

32
A última e talvez a menos importante das funções da Didática é facilitar a
transmissão do conteúdo de determinada matéria oralmente. Parece esquisito?
Sem dúvida. Mas, vejamos por quê.
Suponhamos que a Didática somente seja usada nas escolas. Pelas
estatísticas, sabemos que são poucos os alunos que concluem o Ensino
Fundamental e Médio; e pouquíssimos são os que concluem Educação Superior
e a pós-graduação.
O que a Didática deveria fazer por eles? Em primeiro lugar, deveria ajudar
a manter os alunos na escola por mais tempo, para que eles ao menos recebam
melhor educação.
O que normalmente acontece é a reprovação em grande quantidade. É a
seleção dos “melhores”, dos mais “inteligentes”, ou dos que tiverem mais
oportunidade social? O que é que o professor esperava alcançar em termos de
objetivos? Que o aluno aprendesse o conteúdo? Qual conteúdo? O conteúdo
que o aluno quer aprender ou o conteúdo que o professor pensa que o aluno
deveria aprender?
Para o aluno aprender a questionar, a discutir, a ser honesto, cooperador
e crítico, pode ser usado o conteúdo que ele já conhece. As experiências que
ele já possui.
Para quem está na extrema miséria, interessa aquele conteúdo que, em
situação normal, é apresentado para os alunos?
Sabemos, pela Psicologia, que o que faz uma pessoa agir, mover-se e
estar motivado são suas necessidades. Ora, quais são as necessidades das
crianças que desistem ou reprovam? Os professores levam isso em
consideração?
Os professores encontram o pretexto: “mas como aprovar? O aluno não
tem condições de acompanhar no 2º ano seguinte. Por isso, tem que repetir o
ano”, - dizem eles.
Por que o aluno tem que acompanhar? Acompanhar o quê e por quê?
Será que os alunos são células homogêneas de uma mesma massa, e assim
todos têm que fazer a mesma coisa?
Claro que não. Todos os alunos são diferentes entre si; têm necessidades,
interesses e capacidades diferentes. Por que cada aluno não pode ser ele
mesmo? Crescer e se desenvolver, segundo suas possibilidades, de acordo com
seu ritmo, sem sofrer quedas por culpa de um processo massificante e seletivo?
Por que as escolas de ensino regular não fazem como as APAEs? Nestas,
as crianças com deficiência mental permanecem até 10 anos e nunca sofrem
reprovação de ano. São atendidas em suas necessidades e crescem
continuamente, sem reprovações. São educadas, atendendo-se ao limite de sua
capacidade.
Se as crianças excepcionais são tratadas assim, por que as tidas com Q.I.
normal, que teriam maior facilidade de aprender, não têm o mesmo tratamento?
Será que, com um atendimento diferenciado, visando a outros objetivos, que não
os de conteúdo, não conseguiríamos manter, por mais tempo na escola, esse

33
grande número de alunos que deixam a escola antes dos 14 anos? Será que
não seria muito mais produtivo utilizarmos a Didática para educar as crianças em
todos os seus aspectos, do que nos preocupar com que ela seja instruída e
selecionada para fazer parte de uma elite pensante? Educar para aprender a
pensar, sim, mas sem pretender que todos sejam capazes de um pensamento
abstrato e sofisticado.
Voltemos à questão das necessidades dos alunos e, principalmente, dos
que desistem da escola e reprovam. Com frequência, é noticiado pelos meios de
comunicação que 40% das crianças brasileiras são subnutridas. Está
comprovado, também, que são as crianças mais pobres que mais desistem e
são reprovadas na escola. Ora, não seriam justamente essas crianças que mais
precisariam de educação, para sair da situação de fome e de miséria? Por que
elas não são retidas na escola? A Didática tem alguma coisa a ver com isso?
Certamente que tem. Vejamos por quê.
É a Didática que orienta o professor e indica critérios para que sejam
selecionados os objetivos para a educação. É a Didática, com a ajuda da
Filosofia da Educação, que diz quais os critérios que devemos utilizar para
selecionar o conteúdo, as atividades e as experiências de aprendizagem dos
alunos. É a Didática que orienta o professor quanto aos recursos de incentivação
e maneiras de trabalhar, de forma a envolver o aluno, conseguir sua participação
ativa e tornar a aprendizagem agradável. Para qualquer uma das situações
acima, o primeiro critério a ser considerado é o que toda atividade, experiência
e objetivo a ser buscado pela educação deve atender, primeiramente, às
necessidades do aluno, pois estas é que são as principais determinantes da
motivação dele.
Mas, como saber quais são as necessidades das crianças? Quais
necessidades são as mais fortes e quais devem ser atendidas primeiro?
A Didática diz que se deve atender às necessidades dos alunos, mas é
na Psicologia que se vai ver quais são as necessidades da pessoa humana. É
na Sociologia e na Estatística que se vão encontrar os dados para análise da
realidade sócioeconômica da população com a qual se irá trabalhar. Com a
análise destas, poder-se-á deduzir quais são as necessidades mais prementes
a serem atendidas.
No campo da Psicologia, conviria que todo professor conhecesse e
considerasse a teoria da motivação humana, de Abraham H. Maslow. Este
psicólogo classifica as necessidades humanas em sete categorias diferentes e
as coloca em degraus, como se fossem numa escada. No primeiro, encontram-
se as necessidades fisiológicas; no segundo, as necessidades de segurança; no
terceiro, as necessidades de filiação e amor; no quarto, necessidades de estima;
no quinto, necessidades de autorealização; no sexto, as necessidades de
conhecer e compreender; e no sétimo, as necessidades estéticas.
Maslow insiste em afirmar que a pessoa precisa ter atendidas,
primeiramente, as necessidades do 1º degrau, visto que as necessidades

34
fisiológicas são as mais fortes. Enquanto estas não forem satisfeitas, as outras
não se manifestam, ou são secundárias e não causam muita tensão.
Enquanto a criança tiver fome e sede, por exemplo, todos os impulsos e
os motivos de ação dela serão para conseguir alimentação e água. Só depois de
a criança matar sua fome, poderá aprender alguma coisa.
Mas, isso não resolve. A necessidade de alimentação persiste. Ela
continua preocupada com a alimentação. Ela sabe que, em casa, não tem o que
comer.
Além disso, as necessidades de aprender (conhecer e compreender)
ocupam o 6º lugar na hierarquia das necessidades. São cinco, portanto, as
categorias de necessidades que devem ser satisfeitas antes sendo que a
Didática tem muito a ver com todas elas.
A necessidade de alimentação pode ser uma preocupação constante a
ser trabalhada no currículo, no conteúdo, nas atividades e experiências. A
criança pode e deve aprender como conseguir produzir alimentos ou como
trabalhar para poder comprá-los.
As necessidades de segurança podem ser atendidas, quando o professor
evita rixas com as crianças ou que elas sejam ameaçadas pelos colegas. Ele
próprio não deve ameaçar as crianças com castigos, notas baixas ou
reprovações. O professor precisa, no caso, criar clima de paz, harmonia e bom
relacionamento com e entre os alunos e estes com todos os membros da
comunidade escolar.
Quanto ao 3º e 4º níveis das necessidades, o professor pode, no que for
possível, atendê-los, tratando os alunos com todo o respeito, consideração e
amor. O aluno precisa ser estimado pelo que é e por tudo o que faz. O professor
pode utilizar técnicas que permitam que os alunos, todos, de uma forma ou de
outra, tenham oportunidade de fazer coisas pelas quais sejam estimados tanto
pelos pais professores como pelos colegas.
No 5º nível, estão as necessidades de autorrealização. Satisfeitas às
necessidades anteriores, as de autorrealização aparecem como as mais fortes.
O aluno quer fazer e aprender as coisas de que ele gosta. O professor deve ouvir
o aluno, sondar seus interesses e observar o que ele quer ser. As necessidades
de autorrealização podem ser estranhas às atividades escolares. Mesmo assim,
o professor deve ajudar o aluno, animá-lo, orientá-lo e promover as facilidades
necessárias para que ele consiga autorrealizar-se.
Somente no 6º nível surgem as necessidades de conhecer e
compreender. A maioria dos professores desconsidera as necessidades
anteriores e tenta empurrar, “goela-abaixo”, “matéria” no aluno. É tempo perdido.
No capítulo sobre currículo e conteúdo, trataremos melhor desse assunto.
Em vista do alto índice de evasão e repetência e baixo percentual de
alunos que concluem o Ensino Fundamental, do direito que todos têm à
educação e à felicidade, da hierarquia das necessidades, já comentada, das
demais considerações apresentadas anteriormente neste item, entendo que a
função básica da Didática é a de educar.

35
A Didática ajuda a desenvolver a inteligência, a imaginação e a
criatividade do aluno. É ela o principal instrumento para desenvolver o senso
crítico, a capacidade de resolver problemas e integrar o aluno no seu grupo ou
meio social, tornando-o um sujeito político. Ora, isso é tarefa de educação e não
de ensino.

5 A validade da didática no entender de alguns professores

Essa validade é analisada por uma pequena amostra feita junto a


professores de Ensino Fundamental e Médio em escolas da cidade de Maringá.
A pergunta feita foi:

“A Didática que o(a) Sr(a) aprendeu no curso que fez foi válida, útil e
aplicável? Por quê?”

Dos 11 professores do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental, 8


responderam “sim” e 3 responderam “não”.
Eis algumas justificativas dos que responderam “sim”:

- mas é preciso usar de criatividade para aperfeiçoá-la (a Didática);


- porque dá visão geral de como preparar as atividades discentes;
- pois a professora que ministrava a matéria usava de dados reais e
palpáveis que me serviriam como exemplo a seguir;
- porque nos dá valiosa contribuição de como levar o aluno a aprender;
- mas só a prática e a vivência real nos ensinarão quais são as técnicas
mais eficientes.

Os que responderam “não” justificaram sua resposta, dizendo:

- a Didática que estudei foi fora da realidade, a professora se preocupava


muito com a teoria e se esquecia da prática;
- a Didática que aprendi foi muito superficial, e não aprendi a aplicá-la com
os alunos;
- os métodos aprendidos não eram atuais.

Dos 17 professores do 6º ao 8º ano do Ensino Fundamental e do Ensino


Médio, 11 responderam “sim” e 5 responderam “não”.
Eis algumas justificativas dos que responderam “sim”, isto é, que a
Didática que aprenderam no curso foi válida, útil e aplicável:

- porque a Didática me fez descobrir novos meios e técnicas de


aprendizagem e me ajudou a lidar com a classe;
- porque me ajuda a alcançar os objetivos com mais facilidade;

36
- porque aprendi novas técnicas e como aplicá-las;
- porque a Didática me ensinou técnicas para trabalhar com um conteúdo
variável; e nos torna mais criativos;
- porque é preciso analisar a situação concreta e o dia-a-dia da sala de
aula;

Os que responderam “não”, isto é, que a Didática não foi útil, válida e
aplicável, apresentaram, entre as justificativas, as seguintes:

- porque a Didática no curso foi pouco prática;


- porque tive pouca Didática no curso e ainda com professores que não
tinham Didática;
- porque as aulas de Didática eram cansativas e pouco práticas; o que
aprendi foi pesquisando por conta própria e na prática;
- porque as técnicas aprendidas não se adaptam à realidade, precisam
sofrer alterações.

Outra questão colocada no questionário a esses mesmos professores foi:


“Que sugestões o(a) Sr(a). apresenta para melhorar a disciplina de Didática
nesse curso?” (“Neste curso” refere-se ao curso feito pelo professor).
Em síntese, foram as seguintes sugestões:

- que o professor de Didática apresente situações reais para confrontá-las


com as técnicas apresentadas nos livros;
- que a Didática tenha mais conteúdo prático do que teórico;
- que sejam realizadas mais atividades práticas em sala de aula
(planejamento, confecção de material e aplicação de técnicas) para serem
aplicadas em qualquer escola;
- inovar e adaptar as técnicas mais comumente usadas nas escolas;
- que haja maior relação entre a disciplina de Didática com as outras
disciplinas do curso;
- unir a teoria à prática;
- mostrar e analisar a realidade encontrada nas escolas;
- que o professor assuma realmente o seu papel de educador;
- que sejam apresentadas novas ideias, novas sugestões, novas
alternativas para inovar a Didática;
- que sejam utilizadas novas formas de se avaliar os alunos;
- que os alunos participem mais do processo de aprendizagem;
- que sejam estudados os problemas reais que existem dentro da escola
e também os da sociedade;
- que os métodos e as técnicas usadas sejam mais criativos;
- utilizar recursos didáticos mais variados;

37
- que sejam apresentadas situações para os alunos analisarem e eles
chegarem à conclusão de que técnicas e procedimentos podem ser
utilizados.

6 O que há de errado no ensino de hoje

Em sondagens feitas junto a alunos dos cursos de licenciatura da


Universidade Estadual de Maringá, obtive os seguintes dados sobre as falhas no
ensino:

- alguns conteúdos são trabalhados com muitos detalhes desnecessários


e supérfluos;
- despreparo de alguns professores que não organizam os objetivos a
serem alcançados;
- os professores se apegam demais ao livro didático, como se ele fosse
infalível, e por ali direcionam suas aulas;
- os professores, muitas vezes, impõem tarefas sem valor algum;
- os professores se esquecem de considerar os problemas sociais no seu
ensino;
- o ensino não ensina o aluno a analisar e a refletir em cima do conteúdo;
- o ensino não desenvolve o senso crítico, mas só a memorização;
- ensino e métodos que não condizem com a realidade do aluno;
- o aluno é medido por nota e não pelo seu desempenho;
- falta de preparação do professor, que sabe falar sobre o assunto, mas
não sabe orientar e nem desenvolver o gosto pelo estudo;
- aprendizagem que não ajuda o aluno em sua vida prática;
- muitos professores não relacionam seu ensino com os objetivos a que
deveriam visar;
- professores que fazem planos bonitos, mas não seguem o planejamento;
- professores não consultam os alunos para escolher o conteúdo e fazer
seu planejamento;
- sobrecarga de matéria aos alunos em curto espaço de tempo;
- ensino muito verbalista, com muitas aulas expositivas;
- o ensino continua visando à quantidade em vez de qualidade;
- professores que não sabem transmitir o conteúdo;
- o professor que não sabe explicar com suas palavras;
- professores sem interesse e sem empenho;
- falta de material didático;
- professores que não dominam a disciplina, desatualizados e
despreparados;
- professores que criticam muito, mas não têm propostas para solucionar
os problemas;
- o não atendimento às individualidades do aluno;

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- estudam-se muitos textos, sem entendermos qual é o real objetivo de
estudá-los;
- muita reprovação;
- ensino seletivo.

7 O que deve ser estudado em didática no entender de alunos de


cursos de licenciatura na UEM

No decorrer de um semestre letivo, perguntei aos alunos de algumas


turmas de Didática o que gostariam de aprender em Didática. Sintetizamos
abaixo as respostas deles do que gostariam de aprender em Didática:

- dar aula, lidar com alunos, ir ao quadro, ser avaliado e corrigido quando
necessário. Mais prática de ensino;
- saber para que devemos formar o educando;
- ter experiências de métodos e técnicas;
- ir até o colégio, observar aulas e apontar as falhas;
- os aspectos negativos do ensino lá fora;
- métodos para motivar os alunos;
- como fazer com que o aluno rebelde pegue gosto pelo estudo;
- como tratar cada aluno com psicologia para que o trabalho produza
frutos;
- a aplicação prática das teorias, ao dar aula;
- como agir em caso de indisciplina na sala de aula;
- como formular um plano de aula que incentiva a criança e que a deixe
ocupada o tempo todo;
- mais técnicas para manter ardente o interesse do educando sobre
determinada matéria;
- maneiras práticas de fazer com que os alunos aprendam;
- como usar os trabalhos em grupo nas escolas;
- como usar e praticar os métodos vistos nas escolas, pois o que se vê
nos livros não é aplicado;
- como selecionar o conteúdo, na prática;
- como usar o conteúdo de Didática, pois deveria ter, junto, a prática;
- um método válido, real, em que se pudesse aplicar a teoria aprendida
com a prática; um estágio de Didática;
- como enfrentar os alunos e como se comunicar com eles;
- como avaliar os alunos, sem ser da forma tradicional;
- aprender os métodos como aprendemos, mas usando o conteúdo
específico de nosso curso;
- como fazer o planejamento de ensino;
- analisar e solucionar os problemas reais na sala de aula;

39
- ver os problemas reais dos professores de todos os níveis e, a partir
desses, discutir e analisar o ensino;
- como ajudar o aluno a aprender;
- como preparar uma aula e dar aula;
- como deve ser um bom professor;
- qual é o papel do professor perante a sociedade.

8 Conclusão

Nesse capítulo, vimos o que é Didática, sua importância e funções. Foram


relacionados, também, erros que são praticados no ensino de hoje e o que deve
ser estudado em Didática, segundo os alunos de cursos de licenciatura.
No capítulo III, vamos abordar a questão dos objetivos. Para que a
educação seja eficaz, precisamos antes saber o que queremos alcançar. Sem
isso, trabalha-se no vazio e marca-se passo.

40
Capítulo III

Ideais, fins e objetivos da


educação e do ensino
1 O que se entende por ideal

Ideal é um sonho, é uma coisa possível de existir somente na imaginação,


é a suprema perfeição.
O ideal, em educação, é a formação, ou ao menos a tentativa de formação
de um homem modelo, perfeito, imaginário, pouco possível de existir; que seja
feliz, que tenha condições de se autorrealizar, seja político e capaz de ajudar a
melhorar o mundo.
Pode-se não conseguir formar o homem idealizado, mas se ele for
imaginado, saberemos em que direção orientar as atividades educativas.

2 Quais são os ideais para a educação

Cada época tem os seus ideais de educação e de homem.


Os ideais são tirados da concepção que se tem do homem, da vida e do
mundo. Como o mundo evolui e o pensamento muda, mudam também os ideais
da educação. Cada época tem os seus ideais.
Paremos um pouco e pensemos sobre o homem. Donde ele veio? Para
que ele existe? Qual é a sua natureza? Como ele vive? De que necessita ele
para viver? O que diz a Filosofia a respeito do homem?
O homem pode ser educado? Educado por que e para quê? Para ser livre,
justo, patriota, político, santo, sábio? Devemos prepará-lo para trabalhar, para
agir ou prepará-lo para pensar? Que tipo de homem a sociedade espera ter hoje?
Podemos ir longe, fazendo esses tipos de perguntas. É bom e necessário
fazê-las. A partir das respostas às questões acima, podemos ter a nossa
concepção, o nosso ideal de educação.
Imaginemos a limitação dos professores que se preocupam apenas em
fazer a criança aprender a ler, a escrever e a contar. Ler, escrever e contar não
são ideais, nem fins e nem objetivos educacionais.
Que tipo de homem sonhamos em formar? Só após termos a resposta
para esta questão, podemos entrar numa sala de aula.

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3 Que se entende por fins da educação

Fim é o objetivo final. É um resultado a ser alcançado em longo prazo pela


educação. A finalidade em educação é tão ampla que é até difícil de ser
alcançada por completo. É por isso que a educação do homem deve ser
permanente.

4 Quem estabelece os fins da educação

No Brasil, os princípios, fins e objetivos da educação nacional foram


estabelecidos pela Constituição Federal e pela LDB. Mas a lei foi feita por
deputados e senadores. Estes certamente foram assessorados por filósofos,
educadores, sociólogos e outros especialistas que, baseados na Filosofia da
Educação, sugeriram os fins e objetivos da educação.
Em última instância, a Filosofia da Educação é a fonte básica dos fins da
educação. Ela baseia-se na análise que fez do homem e de sua natureza, o e
destes emanam os fins da educação.

5 Quais são os fins e objetivos da educação brasileira

Resumindo o que prevê a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e


Bases da Educação (LDB), podemos dizer que a lei quer que o homem seja
educado para:

- que aprenda a respeitar os outros homens;


- que os brasileiros fiquem cada vez mais unidos e que ninguém pense
em dividir o Brasil ou fazer dele dois ou mais países;
- que as pessoas do mundo todo se ajudem entre si para que todas
possam ser mais felizes;
- que toda a pessoa se desenvolva ao máximo de que é capaz:
desenvolva seu sentimento, sua inteligência, seu corpo, sua capacidade
de agir e de trabalho etc.;
- que ajude a sociedade a melhorar e não pense ou busque as coisas só
para si;
- que conheça bem um campo da ciência e como se aplica essa ciência
para que os homens vivam melhor;
- que a pessoa respeite e preserve tudo que o homem criou e inventou
até hoje e também que crie e invente mais coisas para aumentar mais
ainda a cultura da humanidade;
- que todas as pessoas respeitem as ideias e a religião dos outros e não
tratem de forma diferente as pessoas por serem pobres, ricas ou de outra
raça ou cor.

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Muitos outros podem ser os objetivos da educação, mas os que constam
das leis brasileiras são esses.

6 O que é objetivo

Objetivo é o resultado e/ou a mudança que se pretende alcançar. No caso,


objetivo de educação é o comportamento que se espera que o aluno tenha ao
final de determinada atividade ou período. É o que se espera que o aluno seja
capaz de executar ao final do plano que se fez. É o resultado que se pretende
atingir com o processo de aprendizagem. Objetivo da educação é o marco que
indica a direção a seguir, com eventual orientação do professor. O alcance de
vários objetivos semelhantes deve conduzir à busca de um fim.

7 Por que devemos fixar objetivos

Para saber onde ir. Para que nossa ação seja direcionada, seja racional
e possa ser planejada. Tendo objetivos, saberemos melhor como escolher os
meios, os instrumentos, as técnicas e os processos para alcançá-los. Assim, o
professor agirá com intenção, sabendo exatamente o que pretende. Se tivermos
claramente definidos os objetivos, seguiremos a lógica e o bom senso na seleção
dos meios e métodos, sem nos preocuparmos com os modismos sem sentido.
A fixação de objetivos evita perda de tempo, de material e de energia.
Sem traçar objetivos, o professor caminha para lugar nenhum, marca passos.
Se o professor fixar objetivos e conseguir alcançá-los, é o que importa.
Neste caso, dispensa-se até o programa. Os termos “dar matéria” e “cumprir o
programa” devem ser eliminados da linguagem do professor. Matéria e programa
só têm sentido quando estiverem a serviço e em função de objetivos previamente
estabelecidos.
Se o aluno souber que objetivos deve perseguir e aceitá-los, terá mais
empenho no estudo. Poderá, por conta própria, procurar os meios e informações
necessárias para alcançá-los.
Um engenheiro, antes de iniciar a construção de um prédio, deve ter a
ideia de como a construção vai ser: número de andares, fachada, distribuição e
tamanho das dependências, decoração etc. A essa ideia que o engenheiro tem
sobre o prédio chama-se objetivo. O objetivo do engenheiro é expresso na
planta, no projeto. Neste, está representado exatamente como o prédio vai ficar
depois de pronto. É o objetivo imaginado que foi desenhado e escrito. É o
objetivo expresso.
O prédio é feito de areia, cimento, tijolo, ferro, enfim, é feito de matéria. O
homem, porém, é feito de ideias, de qualidades, de virtudes e de valores.

43
Queremos formar um homem manso, humilde, obediente, subserviente,
ou um homem livre, independente, rebelde, consciente e crítico? Queremos um
homem preguiçoso, acomodado, egoísta, ou um homem trabalhador, atuante e
preocupado com os outros? Queremos um homem mandão, autoritário, ou um
líder democrático?
Podemos estabelecer outros desses contrastes. Nós mesmos poderemos
fazer isso e traçar o perfil do homem que esperamos formar.
O professor precisa ter em mente, com o máximo de detalhes, as
qualidades que espera que o homem tenha. Mesmo que imaginemos um
homem ideal, pouco possível de existir, é preciso ter um modelo deste
homem em mente.
Em educação, fixar objetivos consiste em detalhar as qualidades
que esperamos que o homem passe a ter depois de educado.
Definidos os objetivos, cabe ao professor pensar nos meios,
técnicas, estratégias ou processos que deverá usar para alcançá-los.
Tendo claros os objetivos, o professor terá facilidade em analisar e
comparar o que esperava e o que realmente foi alcançado. Esta
comparação é a avaliação. Por meio da avaliação, teremos certeza se
estamos no caminho certo ou se precisamos mudar ou melhorar alguma
coisa.

8 Fontes dos objetivos educacionais e do ensino

Todo professor deve elaborar objetivos para serem alcançados


pelos alunos. Aí, vem a pergunta: em que ele deve pensar para elaborar
os objetivos? Donde ele vai tirar os objetivos? É claro que existem muitos
objetivos possíveis, mas quais são os que interessam? Quem nos diz que
esses são melhores que aqueles? Com base em que critérios ele escolhe
uns e deixa outros de lado?

As fontes dos objetivos educacionais são: a Filosofia da Educação,


o próprio aluno, a cultura, as necessidades da sociedade e os
especialistas das diversas matérias ou áreas do conhecimento humano.

A partir das fontes são elaboradas as leis, as resoluções do CNE


(Conselho Nacional de Educação) deliberações dos CEEs (Conselhos
Estaduais de Educação), onde constam os princípios, fins e objetivos da
educação que devem ser observados pelos sistemas de educação, pelas
instituições de educação e de ensino.

A lei, porém, prevê a possibilidade de as escolas ampliarem a lista


de objetivos para atender as necessidades locais. Não prevê apenas a
possibilidade, mas determina que a elaboração do projeto pedagógico

44
seja elaborado democraticamente pela escola.

8.1 A Filosofia da Educação como fonte de objetivos

A Filosofia faz uma análise geral do homem, da sociedade e do


mundo. A Filosofia interpreta, pela lógica, a vida, o conhecimento, a
ciência e a sociedade e diz o que é bom, o que tem valor e o que é
legítimo. Ela interpreta a própria possibilidade de o homem ser educado.
E, assim, oferece luz para o processo de educar.
Cada povo, cada cultura, cada época e mesmo cada pessoa podem
ter uma filosofia de educação diferente. E, para cada filosofia, são traçados
objetivos próprios.
A Filosofia da Educação responde a perguntas como: Que é o
homem? Por que ele existe? Ele pode ser aperfeiçoado, educado? Ele é
capaz de aprender? Por que e para que precisa ser educado? O que ele
precisa saber e ser para ser mais perfeito? O que é legítimo que se faça
com o educando? Qual é o valor do conhecimento? Qual é a função do
homem na sociedade?
A Filosofia pode afirmar, por exemplo, que o homem é um ser livre.
Livre porque é capaz de pensar, tem vontade e deve ser responsável pelos
seus atos. Como conclusão, a Filosofia da Educação recomenda que o
aluno tenha liberdade para se autoeducar, que o método, os conhe-
cimentos ou as experiências não podem ser impostas aos alunos. O
método deve facilitar a autoaprendizagem. O aluno deve aprender a
aprender por si e a ser independente intelectualmente. Enfim, a educação
deve oferecer condições para que o aluno realize seus sonhos, se
autorrealize. A Filosofia analisa se é bom que as pessoas se deem bem
com as outras, sejam cooperadoras e solidárias. Se isso é bom, o
professor pode adotar como fim da educação e transformá-lo em objetivos
educacionais.
O homem é capaz de aprender a resolver problemas e a ser criativo?
Sim. A Filosofia defende que isso é bom para o homem e para a sociedade.
Então, a educação deve orientar o aluno a aprender a resolver problemas
e a ser criativo.
O que caracteriza o homem é a sua inteligência, a sua razão. A
Filosofia constatou, pela análise da Psicologia, que o homem é capaz de
desenvolver sua inteligência pela educação e que isso é bom para ele e
para a sociedade. Portanto, desenvolver a inteligência deve ser colocado
como objetivo da Educação.
A Filosofia concluiu também que o homem é capaz de pensar sobre
as coisas e os fatos que o rodeiam no mundo. Pelo pensamento crítico, o
homem pode usar isso para seu bem e o do seu semelhante. Ora, isso é
bom. Pode ser desenvolvido pela educação? Sim. Então, deve ser
colocado como objetivo da educação.

45
A Filosofia orienta também a educação, dizendo que é mais justo que
os homens tenham mais igualdade econômica, que devem ter iguais
oportunidades à educação e que todos têm direito à felicidade.
Esses são alguns exemplos de como a Filosofia interpreta o homem,
o mundo e a ciência para nos orientar sobre a legitimidade e o valor dos
objetivos da educação a serem selecionados.

8.2 O aluno como fonte de objetivos

Quando analisamos o aluno, temos que ver qual é a sua natureza.


Será que a mente da criança é uma folha em branco na qual podemos
escrever o que queremos? Será que a mente é como uma lavoura na qual
se pode cultivar o que se quer? Será que é um galho mole que se pode
dobrar para o lado que se quiser? Será que é uma bola de barro com a qual
se pode fazer a figura que se quiser? Ou ele é um ser livre, que tem
vontade, que é inteligente e é agente de sua educação?
Afinal, até que ponto podemos mudar uma criança? Todas as
crianças são iguais ou são diferentes? Todas têm a mesma capacidade de
aprender? A Biologia Educacional, especialmente a Genética, dá-nos
algumas explicações sobre o assunto.
O homem tem 23 pares de cromossomos, sendo que cada cromos-
somo tem uma infinidade de genes. Cada gene tem também uma
imensidade de qualidades ou defeitos. Dependendo com quem a pessoa se
casa, ela terá filhos com melhores combinações de genes ou até mesmo
com genes defeituosos. Assim, cada criança é diferente uma da outra,
portanto não existem crianças com a mesma capacidade.
Essa é uma das razões pelas quais o professor não deve exigir que
todas as crianças tenham a mesma capacidade de aprender ou então que
todas se comportem da mesma maneira. Há crianças agressivas, rápidas
e há as lentas. Todas estão dentro dos padrões da sua natureza particular.
Por isso é preciso respeitar esses padrões.
Assim sendo, cada criança tem potencial diferente de se emocionar,
de agir, de reagir e de aprender, mas todas as crianças são curiosas e
gostam de fazer coisas. O professor tem que aproveitar ao máximo as
características que elas têm em comum.
Em cada idade, as crianças têm interesses diferentes, necessidades
e características próprias de se comportar. É preciso, desta forma, levar
estes aspectos em conta ao se elaborar objetivos.

8.3 A cultura como fonte de objetivos

A pessoa nasce com uma série de qualidades, potencialidades, ou


então capacidades. Umas pessoas têm mais facilidade para memorizar;

46
outras, para raciocinar; outras, para imaginar. Umas são mais franzinas,
outras são mais fortes.
Supondo, porém, que as crianças tenham nascido com as mesmas
qualidades, mesmo assim elas são diferentes, porque cada uma vê e lê
coisas diferentes, ouve coisas diferentes, sente coisas diferentes, enfim,
vive em meios diferentes.
O meio em que a pessoa nasce, vive e se desenvolve tem enorme
influência sobre a formação de sua personalidade. Tirá-la daquele meio,
forçá-la a mudar é o mesmo que tirar um peixe da água salgada, do mar,
para viver em água doce, do rio.
É por isso que o professor, ao elaborar seus objetivos, precisa examinar
o meio em que a criança vive, seus costumes, crenças, modos de vida,
experiências, em outras palavras, a cultura que cerca e influencia a criança.
A cultura determina interesses e necessidades diferentes nas
crianças, desenvolve habilidades, concepções, crenças e hábitos
diferentes.
Imaginemos, por exemplo, alguém que tivesse nascido em Manaus
ou Porto Alegre, na Rússia ou nos Estados Unidos, numa favela ou numa
mansão, na cidade ou no sítio; ou então se tivesse nascido no século X,
ou vinte mil anos antes de Cristo. Como pensaria ou teria pensado? O
que poderia ter aprendido?
O homem é um ser que aprende muito por imitação. Quem
viveu tempo num mesmo meio já aprendeu muito. Por isso, é difícil fazer
nessa pessoa transformações profundas. É quase impossível transformar
um covarde em corajoso; um índio, em acumulador de capital; um
marginal, em pessoa de caráter.
A questão é fazer o melhor que se pode dentro das limitações e
restrições impostas pela cultura e pelo meio em que vive o educando. É
por isso que a cultura, ou seja, o meio em que a criança vive, precisa ser
considerada ao se escolher objetivos para a educação.

8.4 As necessidades da sociedade como fonte de


objetivos

A educação é um dos principais meios para melhorar e desenvolver


a sociedade. Por isso, se a analisarmos, veremos que ela tem muitas
falhas, problemas e necessidades que podem ser transformados em ob-
jetivos da educação.
Temos, em nosso meio, muita gente passando fome e até morrendo
de fome. Temos problemas de saúde e de higiene. Uns não têm o que
comer; outros não sabem o que comer para atender às exigências do seu
organismo e, assim, preservar sua saúde.
Poderíamos colocar como objetivos extraídos desses problemas:

47
- aprender a trabalhar para ganhar seu pão;
- conhecer o valor nutritivo de cada alimento;
- conhecer as necessidades do corpo humano quanto aos elementos
nutritivos de que precisa;
- identificar as causas de muitos problemas de saúde.

Sabemos, também, que muitas pessoas poderiam ajudar a resolver


os problemas da fome e da falta de alimentação e, todavia, nada fazem.
Ou, ao contrário, pioram ainda mais a situação. São as que dão golpe na
Previdência Social; funcionários públicos ou outros trabalhadores que não
cumprem com seus deveres; pessoas desonestas e acomodadas.
Como objetivos para resolver esses problemas, podemos citar:

- desenvolver a iniciativa e a responsabilidade;


- desenvolver o espírito de honestidade e de justiça;
- desenvolver o altruísmo e o espírito de solidariedade humana;
- desenvolver a coragem para que sejam combatidas as coisas
erradas.

Faltam, também, em nosso meio, líderes, cientistas, técnicos,


homens de ação e criativos.
Podemos ir longe, enumerando problemas e necessidades. Qualquer
um poderá fazer isso e elaborar objetivos. Assim, o trabalho na escola terá
utilidade e sentido social.

8.5 Os especialistas nas diversas matérias como fonte de


objetivos

Hoje, os conhecimentos existentes no mundo são tantos que é


impossível uma pessoa conhecer tudo. Ela pode, no máximo, conhecer
uma pequeníssima parte do que existe.
Os conhecimentos podem ser divididos em diversos campos, áreas
ou disciplinas: geografia, história, física, eletrônica, filosofia e muitas outras.
Mas, o que cada aluno precisa conhecer de cada uma dessas disciplinas?
Que objetivos devem ser alcançados em cada uma delas? Que objetivos
seriam mais importantes, válidos ou úteis para os alunos e para a
sociedade? Quem melhor poderia responder estas questões seriam os
especialistas nas diversas matérias ou disciplinas.
Só a título de exemplo, poderíamos colocar a opinião de um
sociólogo. Este poderia dizer que o país não progride, porque o povo é
alienado e não possui suficiente formação política; que o povo não sabe o
que ocorre ao seu redor, muito menos em nível nacional. Por isso, ele
sugeriria três objetivos:

48
- conscientização (o aluno que "se conscientiza" e não "é
conscientizado");
- conhecimento dos direitos e deveres (previstos e assegurados na
Constituição, nas leis e nos costumes);
- cultura geral (que pode ser adquirida por muita leitura: livros,
revistas e jornais).

Podemos ouvir especialistas em muitas outras áreas, pois isso


enriquece os nossos objetivos.

9 Classificação dos objetivos

Antigamente, pensava-se que o objetivo da escola era apenas fazer


o aluno adquirir conhecimento. Mais tarde, constatou-se que isso não era
suficiente e que outros objetivos deveriam ser buscados.
A educação precisa estar acompanhada da preocupação com a
qualidade e com outros objetivos que não só acumulação de
conhecimentos e aprendizagem cognitiva. Os aspectos qualitativos da
educação devem preponderar sobre os quantitativos. De que adianta uma
pessoa ter muitos conhecimentos e não saber utilizá-los, não querer usá-
los ou não ter coragem de usá-los?
Pode-se observar, por exemplo, nas reuniões de grêmios estudantis,
centros acadêmicos e em assembleias em geral, que são poucas as
pessoas que falam ou que tomam posições. Por quê? Porque as demais
não foram desinibidas, quando pequenas, a falar em público; ou não foram
educadas para ligar as ideias para saber expressá-las, quando necessário;
ou, então, ainda não foram educadas para ter coragem de enfrentar, em
debate, colegas com ideias contrárias; ou, até mesmo, não foram
despertadas a participar da solução de problemas comuns e ficam
omissas.
Além de conhecimentos, é preciso que a pessoa tenha interesse e
vontade de aprender; que a pessoa tenha perseverança, coragem, força
de vontade; que a pessoa tenha sentimentos, compaixão, solidariedade e
amor. São os objetivos relacionados com atitudes e sentimentos.
Saber cozinhar, digitar, tocar piano, tocar violão, escrever e fazer
alguma coisa são objetivos que implicam habilidades. São também
habilidades: interpretar, analisar e aplicar. De que adianta a pessoa
conhecer muito, se não souber fazer nada?
Além de boas atitudes e habilidades, a pessoa precisa ter bons
hábitos, também, chamados de automatismos, costumes. Temos os
hábitos de perseverança, de organização, de trabalho, de leitura, de
atualização e de higiene.

49
São várias as formas de se classificar os objetivos. Vejamos algumas
classificações que mais nos interessam.
Segundo Benjamin Bloom, os objetivos podem ser classificados em
três categorias, a que ele chama domínios:

a - cognitivos: nesta classe, inserem-se os conhecimentos, conceitos,


ideias, princípios, habilidades e capacidades mentais e a memória;
b - afetivos: compreendem ajustamentos, julgamentos, valores,
atitudes, sentimentos, tais como interesse, vontade e solidariedade;
c - psicomotores: implicam saber fazer coisas, ter habilidades e ter
prática.

Outros autores, dentre os quais Magger, classificam os objetivos em:

a - atitudes: objetivos relacionados com interesses, sentimentos,


vontade, disposição e inclinações;
b - hábitos: estão relacionados com atividades automáticas,
costumes e modos;
c - habilidades: é o saber fazer, é a prática de alguma coisa;
d - conceitos: são as ideias que se têm de alguma coisa; é o
pensamento próprio que a pessoa faz a respeito de alguma coisa; é
o conhecimento de alguma coisa, mas um conhecimento
compreendido, capaz de ser explicado.

Há, ainda, autores que classificam os objetivos em: fins, objetivos


gerais, objetivos específicos e objetivos específicos operacionalizados.
Existe também a classificação de objetivos por área, principalmente
quando se trata do ensino básico:

a - objetivos de Português;
b - objetivos de Estudos Socais;
c - objetivos de Ciências.

10 Exemplos de objetivos em algumas classes

A1 - Atitudes

responsabilidade dedicação aceitação da ciência


autenticidade senso crítico honestidade
cordialidade espírito cívico humildade
cooperação iniciativa bondade
tolerância autodomínio sinceridade

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patriotismo modéstia delicadeza
fraternidade compaixão confiança em si

respeito: aos pais, ao próximo, às autoridades, à Pátria, a Deus;


amor: aos humildes, à família e ao próximo em geral;
abertura para inovações;
colaboração: para solucionar problemas no grupo e para o progresso da nação;
espírito democrático;
garra para enfrentar os obstáculos, com coragem e firmeza;
coragem e dinamismo;
audácia para enfrentar as injustiças e a opressão;
simpatia pelos outros;
apreciação pela arte, pelo belo e pela vida;
gosto e amor ao estudo;
apreciação pela justiça, pela verdade, pelo bem;
lealdade aos amigos, à democracia e à Pátria.

A2 - Atitudes com características de sentimentos. Temos, por


exemplo:

amor lealdade caridade


compaixão justiça satisfação
amizade bondade esperança
solidariedade moralidade alegria
fidelidade religiosidade paz

Esses objetivos são ou não importantes? Será que a Didática não


pode selecionar técnicas que facilitem o alcance dessas atitudes?
De que adianta uma pessoa ter grandes conhecimentos, se ela é má,
injusta e não tem amor aos outros? De que adianta conhecer muito, se a
pessoa enxerga a vida com tristeza, sem satisfação e sem paz?

B – Hábitos de

ler organização higiene


estudar alimentação sadia cooperação
pesquisar assiduidade ordem
pensar observação de detalhes disciplina
perseverança cortesia questionar
economizar buscar a verdade atenção
trabalhar boa postura observar
pontualidade ouvir e calar analisar e concluir

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Note que algumas atitudes são também hábitos. Por quê?
Vejamos, por exemplo, a "cooperação". Se eu quero cooperar, tenho
uma atitude. Mas, se eu estou acostumado a cooperar, tenho um hábito. A
"ordem" é outro exemplo que pode ser usado. Se eu tenho o costume de
deixar tudo sempre em ordem, já adquiri um hábito; mas ter inclinação
consciente em querer deixar as coisas em ordem é uma atitude.

C - Habilidades

a - mentais

interpretar o que lê estudar


criticar o que lê observar
organizar ou estruturar as ideias pesquisar
encontrar as informações aprender
julgar e selecionar as informações analisar
argumentar para defender uma ideia sintetizar
imaginar, criar e resolver problemas raciocinar
pensar por si mesmo criar e inovar
apreciar e criticar criatividade

b - manuais

escrever de forma legível cozinhar


desenhar colar
pintar plantar
recortar colher
tocar violão datilografar
tocar piano modelar

c - outras habilidades

saber situar-se em mapas e saber lê-los declamar


expressar-se com clareza liderar
relacionar-se com os outros comunicar-se
pensar e raciocinar cantar
calcular juros e correção monetária ler corretamente
resolver as quatro operações situar-se no espaço

Observe que existem habilidades com a mesma redação que os


hábitos. Estudar é hábito, enquanto a pessoa está acostumada a estudar. É
uma habilidade, quando a pessoa sabe estudar.

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D – Conceitos

O aluno pode formar conceitos sobre

moral pátria poder higiene


justiça patriotismo autoridade ebulição
lealdade civismo família solidificação
liberdade estado personalidade reprodução
bem democracia metro cúbico germinação
verdade desenvolvimento metro quadrado numeral

Nessa classe de objetivos, podem também ser incluídos os


conhecimentos os quais podem ser, por exemplo:

- sobra o mundo;
- sobre a história do homem;
- sobre a história da ciência;
- sobre o corpo humano;
- sobre como preservar a saúde;
- sobre como se alimentar.

E – Objetivos de Português

Entre os objetivos de Português, podemos citar:

- redigir com clareza, correção e criatividade;


- ler com compreensão e espírito crítico;
- ler pausadamente, com entonação e de acordo com o sentido
das palavras;
- expressar as ideias com facilidade e clareza;
- expressar-se oral, lógica e fluentemente;
- falar corretamente;
- conhecer o uso ou aplicação dos verbos.

F – Objetivos de Ciências

Os objetivos relacionados com as Ciências podem ser, por exemplo:

- saber cuidar da própria saúde;


- ter noções sobre evaporação;
- identificar os estados físicos da água.

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G - Objetivos de Estudos Sociais e Cidadania

Os objetivos de Estudos Sociais e Cidadania são:

- viver bem na comunidade;


- distinguir o que é bom do que é mau;
- ter habilidade em participar de atividades de grupo;
- saber encontrar informações que mereçam confiança antes de tomar
decisões sobre problemas sociais;
- saber cooperar com os outros;
- criticar, visando melhorar, sugerindo o que pode ser feito, em vez de
só achar defeito;
- ouvir com atenção e esperar a vez de falar;
- compartilhar os materiais de uso próprio;
- não guardar ideias para si que possam ser úteis para os outros;
- ser capaz de participar de atividades de grupo, sem provocar atritos;
- ser comunicativo;
- fazer amizades;
- assumir lideranças;
- saber discordar delicadamente;
- desenvolver o espírito de solidariedade e de grupo;
- desenvolver o respeito e a consideração pelas ideias dos outros;
- ter hábitos e atitudes de cooperação;
- ter espírito cívico e patriótico;
- identificar as principais datas cívicas;
- relacionar-se bem com os outros;
- integrar-se na sociedade.

Há autores que classificam os objetivos em gerais e específicos.


Gerais são objetivos mais ligados à educação e à formação do aluno. São
Gerais, porque todas as disciplinas e áreas visam aos mesmos objetivos.
Específicos, porque são de uma determinada área de conhecimento.
Os objetivos, classificados acima como atitudes, habilidades e
hábitos, são, em sua maioria, objetivos gerais ou educacionais. Os
classificados em Português, Ciências e Estudos Sociais são objetivos
específicos, pois são específicos, pois se referem a uma determinada área.
A classificação em gerais e específicos é relativa, uma vez que os
últimos concorrem para se atingir os primeiros, ou então, enquanto se
procura alcançar objetivos específicos, deve-se também estar pensando e
buscando os gerais. Por outro lado, um objetivo específico de um curso
pode se tomar geral, quando se vai elaborar o plano de curso de uma
disciplina.
A classificação dos objetivos é importante para se comunicar aos
professores os diferentes aspectos que precisam ser considerados na

54
educação. Fica mais fácil para os professores observar se todos os
"ingredientes" necessários para formar integralmente o aluno foram
lembrados. Ingredientes, no caso, são as classes de objetivos que atingem
a mente, o coração e a mão. São os conceitos, as atitudes, as habilidades
e os hábitos.

11 Distinção entre fins, objetivos gerais, específicos e detalhados

Fim é um resultado a ser alcançado em longo prazo. É uma utopia.


Implica resultados finais do processo de educação, tanto com relação ao
homem, como à sociedade. O enunciado do fim educacional tem sentido
vago, abstrato e amplo. E difícil sabermos se um fim foi alcançado.
O objetivo, porém, já é um resultado que pode ser sentido,
constatado e avaliado. Pode ter resultado concreto alcançável, em algumas
horas, dias, meses ou mesmo em alguns anos.
Um fim pode ser dividido em vários objetivos.
Exemplo:
Fim: "o desenvolvimento integral da personalidade humana e a sua
participação na obra do bem comum".
Quando é que a personalidade humana estará bem desenvolvida?
Nunca. Mas, a educação deve sempre visar a isso como fim. Deve ter em
mira o seu desenvolvimento, embora nunca o alcance plenamente.
Esse fim pode ser dividido em vários objetivos gerais, tais como:

- desenvolver a inteligência e o raciocínio;


- desenvolver o senso de responsabilidade;
- desenvolver a moralidade;
- desenvolver o espírito crítico;
- desenvolver o espírito de solidariedade;
- desenvolver a habilidade de cooperação.

Esses objetivos são classificados como gerais porque podem ser


alcançados por qualquer disciplina, ou seja, todas as disciplinas colaboram
para que os objetivos gerais sejam alcançados. Alguns denominavam
esses objetivos como educacionais, cujo resultado pode ser constatado
após algum tempo de escolaridade.
Um mesmo objetivo geral pode servir para alcançar vários fins ao
mesmo tempo. Por isso, é bom que o professor escolha os que alcançam
maior número de fins ao mesmo tempo.
Os objetivos específicos são os objetivos das matérias, das
disciplinas as quais têm os objetivos que são buscados por ela mesma.
Exemplos:

55
De Língua Portuguesa:
- redigir com clareza, correção e criatividade;
- conhecer o uso dos verbos.

De História:
- estabelecer relações de causa e efeito da Segunda Guerra Mundial.

De Matemática:
- ser capaz de resolver equações de 2º grau.

Os objetivos específicos normalmente podem ser alcançados em


menor tempo que os gerais. Mas, há também os que levam anos para
serem alcançados.
Os objetivos detalhados é o desdobramento dos objetivos
específicos. São objetivos que podem ser alcançados em curto espaço de
tempo e cujo resultado pode ser constatado com absoluta certeza. Para
maior clareza e para não confundir com a redação de estratégias, é
conveniente que sua redação inicie com: "o aluno deverá ser capaz de".

Exemplos de objetivos detalhados:

Língua Portuguesa:
O aluno deverá ser capaz de:
- justificar o acento de cinco palavras, em dois minutos, sem
consulta;
- conjugar o verbo arguir no Presente do Indicativo, em um minuto,
com, no máximo um erro.

Não vamos nos alongar muito nas explicações sobre esse assunto,
pois, para aprofundamentos, podem ser consultados outros livros citados
no final deste material.
Nós, brasileiros, não gostamos muito de organização e de trabalho muito
minucioso. Por isso, essa pretensão de classificação dos objetivos torna-se
bastante maçante.
O importante não é classificar os objetivos. O que interessa mesmo
é que nós e o aluno tenhamos objetivos a alcançar. Objetivos que devem
ser definidos, antes de se iniciar qualquer atividade com os alunos. É
preciso saber para onde ir e ir nesse sentido. O que não deve ser
esquecido, porém, é que é preciso alcançar objetivos que envolvam
atitudes, habilidades, hábitos e conceitos, ou seja, que envolvam a mente,
o sentimento e a ação.
Pode-se simplesmente fazer uma lista de fins, objetivos gerais e
específicos, sem se distinguir as diferentes categorias, como consta no
item a seguir.

56
12 Exemplos de objetivos mais expressivos

A lista de objetivos a seguir foi elaborada a partir de discussões e


sessões de bombardeamento mental com os alunos dos cursos de
Licenciatura da Universidade Estadual de Maringá. No momento de serem
elaborados, não houve preocupação em os classificar. São objetivos a
serem buscados pela educação, no entender deles. Segundo os alunos, o
homem deve ser educado para:

- viver bem em sociedade;


- atingir a tão esperada paz entre os homens;
- tornar-se mais útil;
- auxiliar os outros a resolver problemas;
- conhecer a cultura do meio em que vive para poder se situar nele;
- desenvolver a cultura;
- aprender a respeitar os outros;
- ser cada vez mais livre;
- conseguir os bens materiais com mais facilidade;
- autorrealizar-se e desenvolver dons pessoais;
- compreender melhor e amar o próximo;
- integrar-se fraternamente com os semelhantes;
- comunicar-se melhor com os outros;
- poder colaborar de alguma forma com o progresso da humanidade
e da civilização;
- conhecer os direitos e deveres do cidadão;
- construir uma nação forte, livre e independente;
- desenvolver integralmente a própria personalidade;
- tomar o homem racional e sociável;
- tomar o homem mais humano, solidário e altruísta;
- enfrentar as dificuldades da vida;
- saber apreciar a beleza da arte, da vida e do mundo;
- abrir nossa mente para aceitar as mudanças;
- desenvolver a inteligência e o raciocínio;
- saber solucionar os próprios problemas;
- viver uma vida alegre e feliz.

A pergunta feita aos alunos foi: "Para que o homem deve ser
educado?" As respostas a esta questão abrangem fins, objetivos gerais e
até específicos. Os alunos não fizeram distinção entre as diferentes
classes e nem era necessário que o fizessem.

57
13 O que o aluno precisa aprender

A resposta a essa questão é outra forma de se pensar ou redigir


objetivos. Também não classifica os objetivos, mas considera fins,
objetivos educacionais e específicos.
O aluno precisa aprender a ler, a escrever e a contar. São objetivos
que quase todos consideram, mas são objetivos apenas intermediários
para que outros mais importantes sejam atingidos.
Aprender a pensar, a refletir, a raciocinar, a tirar conclusões e a
resolver problemas é de fundamental importância para qualquer pessoa.
Conhecer como era a vida do homem no passado e aprender lições
para se viver melhor no futuro.
Se o aluno vê ou ouve alguma coisa, sempre deveria questionar sua
veracidade ou validade. Assim, ocorreria o desenvolvimento do senso
crítico.
O aluno precisa aprender também a argumentar, a defender ideias,
pontos de vista e a verdade, se for o caso.
Mas, não é só isso. De nada adianta questionar, argumentar e, ao
aparecer alguém, aparentemente mais forte, a pessoa se intimidar. É
preciso ter coragem, persistência e confiança em si. Só se deve entregar
os pontos diante da evidência de que o adversário tem razão.
Aprender a economizar. A maioria da população não ganha o
suficiente nem para se alimentar. Por isso, tem que saber aplicar
corretamente o que ganha e deixar uma reserva para as emergências.
Quem pode economizar, é ótimo. É triste uma pessoa ganhar
razoavelmente bem, esbanjar e morrer na miséria.
Aprender a falar corretamente. Isso é necessário para os outros
compreenderem as ideias de quem fala e, assim, defender e lutar por
aquilo que é justo. O homem, numa democracia, não vive só para si, vive
também para os outros. Como pode ele participar e cooperar numa
sociedade, sem saber se expressar? Mesmo que ele vivesse só e para si
mesmo, quanta dificuldade teria para comunicar uma necessidade ou
interesse?
Na vida, surgem situações em que são necessários bons
argumentos para a pessoa se defender ou para convencer alguém. A
escola pode e deve ajudar o aluno a desenvolver essa facilidade de
argumentar. É um objetivo muito importante.
Aprender a escolher o que de melhor existe para a própria vida; do
que se gosta e ser capaz de fazer, de acordo com a natureza, a capacidade
e vocação individual.
O aluno deve sempre aprender a querer o bem, a verdade e a justiça.
Deve aprender a buscar a verdade por ele mesmo e não aceitar "verdades"
impostas.

58
O aluno deve aprender a sentir e a apreciar a música, a poesia,
a arte, enfim, a natureza e a vida. A vida é cheia de beleza. Seríamos
injustos, se não ajudássemos os alunos a vivê-la com intensidade, a
serem alegres e felizes.

A vida exige também muito trabalho, sofrimento e luta. É preciso


aprender a enfrentá-los com orgulho, com altivez. É preciso aprender a amar o
trabalho, pois é nele que passamos grande parte de nossa vida. Seria
conveniente aprendermos a fazer do trabalho uma fonte de satisfação, de prazer.
É um crime, em educação, não ensinar o aluno a trabalhar.

Quantas crianças, desde cedo, aprendem a odiar o trabalho, passam


a vida como adultos, fugindo dele e pagam quase sempre um alto preço
por isso: passam fome, ficam na miséria, ou são considerados parasitas
inúteis da sociedade.
Conhecer a ciência e a tecnologia moderna faz-nos entender que a
ciência prova como são as coisas, e que a tecnologia nos mostra como usá-
la para tomar a vida e o mundo melhor. Antigamente, os senhores, os
nobres, não trabalhavam, e eram homens livres. Eles usavam os escravos
para trabalhar por eles. Os escravos não eram considerados gente, não
tinham direitos. Assim, os homens "livres" tinham dinheiro, tempo para es-
tudar, pintar, cuidar de sua inteligência, da sua moral, enfim, "gozar" a vida.
O que o homem tem de mais nobre é a sua inteligência e sua
moralidade. Desenvolvê-la ao máximo leva-o a ser mais gente. Se a
tecnologia pode livrar o homem do trabalho excessivo, por que não fazê-
lo? Por isso, toda pessoa deve conhecer a tecnologia que pode empregar
para ter tempo para poder dedicar-se à construção pessoal e ao seu aper-
feiçoamento.
Se a máquina pode trabalhar pelo homem, por que o homem precisa
gastar energias, inteligência e suas mãos com o trabalho? Mandando a
máquina, ele terá tempo de colocar sua inteligência e criatividade a serviço
da diminuição do sofrimento dos outros e da melhoria do mundo. Poderá
ajudar a usufruir a própria vida com as coisas belas que ela oferece.
O aluno deve preparar-se para interpretar o mundo de hoje,
compreendê-lo, envolver-se com ele, tentando melhorá-lo. Para isso,
precisa incorporar a herança cultural que nos foi legada pelos antepassados;
interpretar as novas necessidades e participar ativamente do processo de
mudança.
Aprender a ser um homem prático, para saber agir, fazer e resolver.
Os problemas. Diz um ditado: "Quem sabe faz, quem não sabe ensina". Isso
é dito, porque o professor é considerado pessoa pouco prática.
Pouco adiantam livros, professores e escolas, se o aluno não
aprender a fazer, não se tomar prático e não for capaz de decidir e resolver
problemas. Falar, criticar, contestar é fácil. Fazer é que é difícil.

59
Dar regras e receitas, qualquer um pode dar. Mas, só tem valor
mesmo quem souber fazer. O Brasil está cheio de gente que dá palpites
para resolver crises, mas poucos têm competência e coragem para resolvê-
las.
Compreender a vida e o mundo. Para isso, deve-se adquirir uma
cultura geral, bem ampla, e ler muito.
Podemos ter uma sociedade mais justa, mais humana, se todos
participarem com ideias e trabalho. É a sociedade democrática. Mas, viver
democraticamente exige aprendizagem também e a escola deve preocupar-
se com isso.

14 Conclusão

A questão dos fins e objetivos da educação costuma trazer muita


confusão para estudantes e professores. Por isso, abordei o tema de forma
a tentar deixar clara a questão: descrevendo objetivos, apresentando
exemplos e também elaborando listas de alguns objetivos.
Toda ação inteligente deve visar a objetivos. Definir quais objetivos
escolher e buscar é uma das mais importantes tarefas do professor. Nesse
capítulo, tratamos de ideias, fins e objetivos da educação, bem como das
fontes dos objetivos. Entre as fontes, temos as necessidades da sociedade.
Por ser um assunto de grande importância a que normalmente não é
dada a devida consideração pelos professores, vamos reforçá-lo no próximo
capítulo.
Por favor, não fique apenas neste livro. Pesquise na Internet, via
Google, e você vai se admirar a quantidade de informações que pode
encontrar.
Busque, por exemplo, pelo título: “Educação e psicomotricidade”. Aqui
você encontrará enorme lista de objetivos úteis para elaborar plano de
atividades de um curso ou unidade de aprendizagem. Já imaginou a
competência de um estudante se alcançar todos esses objetivos?
Outro artigo muito importante sobre objetivos é “Educação e Didática:
objetivos de ensino”. Não deixe de ler.

60
Capítulo IV

O contexto social e a
educação
A educação é um dos principais instrumentos para acabarmos com os
problemas sociais, uma vez que grande parte deles surge exatamente em virtude
da falta de educação.
Neste capítulo, vamos analisar alguns desses problemas e relacionar
outros que poderiam ser solucionados por meio da educação e, especialmente,
com a ajuda da Didática.
Nota-se, hoje, falta de consciência social, de consciência política e de
preocupação com o coletivo. Há muita gente sofrendo, sem que haja uma luta
conjunta para solucionar os problemas. O homem brasileiro é, na sua maioria,
socialmente impotente, fraco.
Impera, em nosso meio, o individualismo. Muitos só cuidam da própria
vida e não se importam com a vida e a sorte dos outros.
Onde há o individualismo, não funciona bem nem grêmio estudantil, nem
centro acadêmico, nem cooperativa, nem associação. Nestas entidades, a
preocupação deve ser com o bem-estar da maioria e não com os caprichos e
interesses pessoais e particulares, pois elas são pequenas estruturas sociais nas
quais poderiam ser treinados os futuros responsáveis pela estrutura social mais
ampla – o país. Infelizmente, o que se vê são pequenos grupos, muitas vezes
desonestos, manipulando pessoas e recursos.
Falta espírito crítico. As pessoas recebem as informações e não
pensam para verificar se elas são válidas, verdadeiras e se são legítimas.
Aceitam-nas como boas e certas. Assim acontece com os alunos em geral.
O professor falou, o aluno acreditou. Aliás, o povo, em geral acredita no que
lê em jornais e ouve no rádio e na TV e nem imagina que os meios de
comunicação podem ser usados como veículos de doutrinação ou
propaganda. O povo simples espera sempre que os outros decidam por
eles. Até mesmo muitas pessoas da classe média têm atitudes de
submissão. A maioria do povo brasileiro não tem conhecimento de suas
próprias potencialidades, de sua força e de sua competência. Muitas
pessoas, que são capazes, não fazem o que poderiam fazer, por medo e
por insegurança. Pensam que isso é coisa para os outros fazerem e que
elas não têm competência para isso.

61
O próprio assistencialismo é um problema. O governo manipula o
povo, de forma que este não reclame e não aprenda a se "virar" e a
reivindicar. Assim, o povo não se toma livre, independente e crítico e não
aprende a tomar decisão.
Existe uma ânsia grande pelo poder por parte de muitas pessoas.
Algumas derrubam as outras para subir. Umas querem ser mais fortes que
as outras. Usam, para isso, dinheiro, força política, prestígio e até a calúnia
e a difamação.
A obsessão pelo poder de alguns políticos é tamanha, que chegam
a gastar, em campanhas, dez vezes mais do que todo o capital que
possuem. Outros provocam verdadeiros desfalques em empresas estatais
ou órgãos públicos, para conseguir recursos para a própria campanha.
Uma pessoa educada vai perceber que isso é desnecessário; que
existe lugar para todo mundo; que todos somos iguais. Por isso, o homem
precisa ser educado para a solidariedade.
Milhões e milhões de crianças ainda estão limitadas ao mundo
biológico, ao mundo concreto. Pensam e falam somente sobre coisas
triviais e concretas, sem muita capacidade de abstração, de sentimentos
profundos e de raciocínio.
Refletindo sobre esse aspecto, deveríamos ficar profundamente afli-
tos. Cada criança é um de nós, semelhante a nós, mas está longe de nós
em capacidade de pensar, raciocinar, sentir e ver o mundo. Só a educação
pode tirar essas crianças deste submundo intelectual.
Estamos no mesmo mundo, portanto, no mesmo barco; vivemos
numa mesma época. Por que não somos todos iguais? Ou, então, por que
não crescemos todos, ao máximo de que somos capazes?
Grande parte da população brasileira ainda não vive, vegeta, é
biologicamente raquítica, faminta e impotente. Tem sentimento, sofre, mas
não reage. Tem inteligência, mas pensa apenas na sua miserável
sobrevivência. Não vislumbra, em seu horizonte intelectual e social, nada
que possa fazer sua vida se tornar diferente. Nem imagina que possa ser
sujeito ativo e participante da história. Nem sequer pensa que, um dia, possa
ser feliz.
A felicidade, para grande parte de nosso povo, é simplesmente saúde.
Observe-se, por exemplo, a imensidade de peregrinos do Nordeste em
busca de cura, ou pagamento de promessas em sofridas romarias para
lugares famosos por curas. E um povo que tem fé em Deus, mas não tem
uma religião transcendental, utiliza a religião para ter saúde e obter curas e
não por amor a Deus. Esta talvez seja a camada da população de nível mais
baixo, de subserviência e dependência quase absoluta.
A camada média baixa também é extremamente sofredora.
Igualmente, tem consciência ingênua, é submissa e dependente. Não tem o
mínimo de conhecimento de seus direitos e para se defender, não tem

62
argumento. Vai à polícia e esta não se importa. Busca justiça, mas não tem
como pagá-la. Bebe; vai preso.
Existe ainda uma terceira camada. Tem condições razoáveis para a
sobrevivência, mas ainda é extremamente dependente. Desde cedo
aprendeu a obedecer. O próprio pai já recomenda ao filho: "Quando a gente
faz o que os grandes querem, a vida fica mais fácil". Assim, a criança, desde
pequena, aprende a ser subserviente, aprende a obedecer à família, à
escola, ao emprego. Passa a ser joguete nas mãos do vereador, do prefeito
e de outros caciques políticos.
Alguns julgam que devem agir assim, por serem mais fracos. Outros,
para viver mais comodamente, sem conflitos.
A quarta, e última camada, é a dos que têm tudo, mas nada fazem
pelo bem dos outros. Nesta enquadram-se os patrões exploradores, os
ricos opressores, os políticos corruptos e inescrupulosos e mesmo os
intelectuais que só se preocupam consigo próprios. São os egoístas, os
passivos, os acomodados.
Como você pode notar, a falta de responsabilidade social é bastante
generalizada. Uns, por não ter o mínimo de condições para isso: fome,
miséria, incapacidade, ignorância; outros, por falhas de educação,
comodismo, preguiça, egoísmo, passividade ou mesmo irresponsabilidade.
Essa falta de participação ativa e sem responsabilidade é talvez a
principal causa de nossos problemas sociais. Além disso, temos como
causas a falta de capacidade crítica, de criatividade, de um nível de
educação mais elevado, a insegurança e a falta de capacidade de decidir.
Com um povo com tais deficiências educativas, têm-se facilmente
outros problemas: o desemprego, a marginalidade e as favelas que são
decorrência disso. Como também não deixam de sê-lo a fome, a
desnutrição, a prostituição, a doença e a falta de higiene. A pobreza
extrema torna o indivíduo incapaz de reagir, de lutar por seus direitos, tanto
por desconhecê-los, como por não ter aprendido a trabalhar em grupo, a
questionar e a criticar.
De outro lado, estão os acomodados, os omissos, os irresponsáveis.
A estes, falta espírito de solidariedade, de cooperação, de humanismo.
Ao lado disso, há ainda os corruptos, os gananciosos, os com sede
insaciável de poder e de dinheiro. Estes pagam mal seus empregados,
fazem gastos supérfluos, exploram os consumidores e devastam os
recursos naturais. Tudo para satisfazer sua sede pelo dinheiro, pelo lucro.
Esta sede faz também com que não haja uma distribuição de renda melhor
e, consequentemente, mais justiça social.
Os problemas sociais é uma das fontes em que o professor deverá
buscar seus objetivos. Grande parte dos problemas sociais aqui citados
foram levantados em sessões de bombardeamento mental, com algumas
turmas de Didática, dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual de
Maringá.

63
Eis os problemas levantados pelos alunos:

- egoísmo, individualismo, comodismo;


- todos sabem falar e criticar, mas poucos sabem decidir.
Isso, em nível de escola, nas administrações e, principalmente, no
governo Federal;
- os problemas são enunciados, mas poucos apresentam propostas
de solução;
- falta de espírito, de solidariedade, de cooperação e de justiça;
- abortos, violência, greves;
- alcoolismo, prostituição, roubos e assaltos;
- desnutrição, fome, falta de higiene e de saúde;
- êxodo rural, favelas, promiscuidade, falta de habitação;
- falta de respeito com a natureza, desmatamento, poluição;
- má alimentação da maioria da população;
- exploração do trabalho do menor;
- o povo não tem hábito de leitura, é desinformado, acomodado, não
tem espírito crítico, não tem consciência política, não tem voz ativa;
- a justiça funciona mal; é muito burocrática e lenta;
- falta de mentalidade científica;
- nossa gente não é livre. De uma forma ou de outra, a maioria é
escrava de alguma coisa - da fome, do trabalho, do chefe, do dinheiro,
do poder;
- analfabetismo, ignorância, despreparo geral para viver na
sociedade;
- falta de educação e de cultura.

1 O que deve ser feito para melhorar o nosso país

A lista de alternativas para melhorar o nosso país é, sem dúvida,


enorme. Citarei, a seguir, apenas as mais relacionadas à educação,
resultado de sessões de bombardeamento mental, com alunos do Instituto
Estadual de Educação de Maringá:

- o aluno deve ler mais para conseguir maiores informações e


diferentes visões do mundo para firmar sua independência
intelectual;
- devemos estimular pesquisas e debates para as crianças de 1º a
5º ano do Ensino Fundamental;
- a criança deve aprender a procurar o que interessa a ela ou o que
precisa;

64
- temos que agir de forma que as crianças tenham ideias próprias e
criatividade;
- tornar o povo consciente e crítico;
- tornar o homem livre;
- desenvolver e ampliar a cultura popular;
- todos devem se engrandecer como pessoa, interiormente;
- que todos trabalhem e se preocupem com o bem comum;
- desenvolver mais o patriotismo e o humanismo;
- deve haver mais justiça;
- diminuir a exploração;
- melhorar as condições de saúde, moradia, trabalho e economia;
- preservação da natureza;
- repor a natureza onde ela foi prejudicada;
- maior conscientização para o plantio de hortas caseiras e em
terrenos baldios;
- assumir bandeiras de luta pela melhoria social.

A sociedade, hoje, caracteriza-se por rápidas mudanças. As


inovações, as invenções e as novas descobertas tecnológicas, a todo
instante, deixam-nos perplexos.
O homem inserido nessa sociedade precisa de muitas habilidades,
precisa conhecer o mundo físico, científico e tecnológico. Para estar
devidamente integrado, precisa também saber usar os recursos que a
cultura coloca à sua disposição. É o preço do progresso. O homem precisa
usar a tecnologia e as facilidades que ela oferece para poder voltar a ser
livre; para poder dedicar-se ao lazer e às coisas da mente e à vida
espiritual. Para isso, também ele precisa aprender a pensar, a analisar, a
criticar e a criar.
Mas, o homem deve ficar acima das coisas materiais, pois a sua
verdadeira essência e natureza é outra: é um ser espiritual e social, com
direitos inalienáveis que o tornam o mais digno e nobre dos seres.

2 Um caso real

Vejamos como se podem extrair objetivos de problemas sociais a


partir de um caso concreto.
Em 1980, foi produzido um filme no Brasil que fez muito sucesso:
Pixote - a Lei do Mais Fraco. Nele, foi apresentada a situação dos menores
abandonados e delinquentes das grandes cidades. Assisti ao filme em 1983
e fiquei chocado com a situação dos menores representados no filme.
O personagem principal do filme, com o nome Pixote, foi
representado por Fernando Ramos da Silva, então com 12 anos, que
encenou fatos da vida de um menino delinquente. Tinha 12 anos, mas

65
aparentava ter 7 ou 8, de tão franzino que era. Ele representou exatamente
a situação dos menores delinquentes.
O filme foi um sucesso de bilheteria. Foi visto por 2,5 milhões de
pessoas, em vinte países, e Fernando atuou nele como estrela maior.
Em agosto de 1987, já com 19 anos, ele foi morto pela policia de São
Paulo com oito tiros. Muitos previam que seu fim seria esse.
Fernando foi bom filho, bom pai, mas tivera uma infância triste e
carente. Ele tinha nove irmãos. Perdeu o pai aos oito anos. Sua mãe
ganhava de pensão 1/5 do salário mínimo. O que ele ganhava ia para a
mesa de 11 pessoas.
Se fez tanto sucesso, por que não continuou fazendo filmes?
Quanto à sua personalidade, alguns diziam que ele não tinha talento.
Outros diziam que faltou cultura para compreender a vida, ou, então, seria
a má alimentação que teve na infância a causa de tal comportamento.
Poucas vezes ia à escola; mostrava-se indisciplinado; era incapaz de ficar
em emprego fixo. Fumava maconha, praticou vários assaltos à mão
armada e, principalmente, roubava carteiras e relógios.
Era arisco, conservador, mas ambicioso e orgulhoso. Não gostava
de trabalhar, chegava atrasado ou mesmo faltava ao trabalho. Até no
boteco, que era dele, muitas vezes não ia. Sua ambição era fazer sucesso
no teatro e no cinema, porém não tinha dedicação e paciência para isso.
Foi ajudado de várias maneiras, com dinheiro, professora, psicóloga
e casa. Foi contratado para outro filme, mas não aparecia para filmar.
Tinha muita dificuldade em ler, isso o envergonhava muito. Essas
informações e dados foram extraídos da Revista Veja, nº 991, de 2/9/1987.
Assim como Fernando, existem no país outros 10 ou 12 milhões de
crianças. Veja bem, milhões e não mil. É de partir o coração de qualquer
cidadão honesto, e muito mais o coração dos professores, dos
educadores.
Quais são os problemas que podem ser extraídos desse caso? A
falta de comida provoca fraqueza, desânimo e preguiça. Ao lado disso,
têm-se a falta de persistência, de vontade, de disciplina e de dedicação.
Até mesmo a falta de paciência.
O fato de não saber ler bem e a falta de cultura também
atrapalharam o sucesso de Fernando. Apesar disto, era orgulhoso e
ambicioso e não gostava de trabalhar.
Havia também o aspecto de ajustamento pessoal, social e moral.
Fumar maconha é indicativo de uma necessidade não satisfeita, talvez de
falta de amor. Assaltos e roubos indicam necessidades materiais e de
fraquezas morais.
Em termos mais amplos, temos, como problemas, a injustiça social
e a falta de assistência social. Estes também são problemas decorrentes
da falta de educação dos nossos governantes.

66
Agora, podemos tomar esses problemas e transformá-los em
objetivos a serem colocados para as nossas escolas:

- aprender a trabalhar;
- desenvolver o amor ao trabalho;
- aprender disciplina, força de vontade e a ter paciência;
- desenvolver a coragem e a persistência;
- desenvolver o espírito de humildade;
- desenvolver o espírito de solidariedade e de justiça;
- aprender os princípios de moral e as normas de conduta social;
- desenvolver a responsabilidade e a iniciativa;
- aprender a ler corretamente;
- ampliar a cultura.

Observe que só os dois últimos objetivos são, normalmente,


perseguidos pelas nossas escolas. Mas, os anteriores são tão importantes
quanto esses dois e também devem ser preocupação dos professores.

3 Conclusão

A Didática não pode ficar alheia a esses tipos de problemas. Ela


deve considerá-los e objetivar a solução dos mesmos. Os fins e objetivos
da educação devem brotar, sobretudo, da análise desses problemas, e
não vir prontos e ser copiados como costuma acontecer. Devem ser
elaborados em função da realidade social, das novas descobertas da
ciência e das concepções filosóficas que vão surgindo.
A sociedade muda constantemente e os problemas passam a ser
outros. Em consequência, os objetivos também devem mudar. Sejamos
criativos e inovadores!

67
Capítulo V

O professor

1 Qualidades e características de um bom professor

De todas as profissões, professor é talvez a que exige mais qualidades


pessoais. É lógico que é utopia esperar que o professor tenha todas as
qualidades que os alunos esperam que ele tenha.
Cada professor precisa ter a soma de algumas qualidades que dêem a
ele condições mínimas de ser um bom professor. Ele precisa ter, ao menos,
algumas qualidades que se combinem entre si.
De maneira geral, os alunos gostam de professor disposto, animado,
dinâmico, alegre, extrovertido. As brincadeiras, o humor e a extroversão facilitam
o relacionamento com os alunos. Os alunos sentem-se mais à vontade, e cria-
se um ambiente de descontração e de participação, qualidades fundamentais
para obter a confiança dos alunos e ter disciplina em sala de aula.
Com esse clima instalado, o professor deve ser, ainda, democrático. Deve
não só permitir a participação dos alunos, mas envolvê-los nos grupos, na classe
e no processo social. O professor deve ser líder e não autoridade. Ele não deve
mandar, mas apenas sugerir, pedir com bons modos, com delicadeza, com jeito.
O professor deve ser muito calmo, delicado, humilde, compreensivo e
humano. Assim, ele consegue o respeito e a estima de seus alunos. Se isso for
acompanhado de sinceridade, fraqueza e “jogo aberto”, melhor ainda. Os alunos
gostam muito disso.
O professor deve, ainda, ser muito paciente; não discutir com os alunos,
muito menos, “perder a esportiva” ou gritar com eles. Isso mostra fraqueza e falta
de segurança por parte do professor. Os alunos ofendidos tentam se vingar, ou
fazendo “bagunça” ou “aprontando” alguma para o professor. Mas, ao mesmo
tempo, ele pode ter firmeza e até “passar sermão” nos alunos. Tudo vai depender
da maneira como fazê-lo. O professor deve falar com firmeza, mas com
tonalidade de como se dá conselho, ou se faz um pedido. Deve transparecer
sentimento de tranquilidade, de amor e não de exaltação e de ódio.
O professor deve conhecer bem a matéria ou disciplina com que
trabalha, mas deve, também, ter cultura geral ampla. É preciso conhecer
de tudo um pouco: economia, política, sociologia, filosofia e outros
assuntos. Deve ser uma pessoa curiosa e querer acompanhar a evolução
da sociedade, da ciência e da tecnologia. Para tanto, deve ler muitos livros,

68
revistas, jornais; ouvir os bons programas de rádio e TV e participar dos
cursos de atualização.
Hoje, ninguém pode saber tudo. O professor pode deixar bem claro
para os alunos que ele não é o dono da verdade. Os alunos, por sua vez,
também pesquisarão e o farão o que for solicitado com muito prazer, se for
assunto de que eles gostam.
Seria ótimo, se todo professor fosse um pequeno sábio. Mas, nem
por isso o professor deve deixar de ser humilde. Ter segurança é bom, mas
esnobar inteligência ou cultura ofende os alunos. O que ele deve fazer é
mostrar que é um observador, um pesquisador, um eterno buscador da
verdade e da sabedoria. O professor tem que ser também um poço de
imaginação e de criatividade.
O professor deve ter abertura mental para compreender e aceitar o
que o aluno considera importante. Os alunos gostam de pesquisar sobre
tudo o que for novidade para eles. Com frequência, eles apresentam ideias
esquisitas e muitas delas estranhas ao professor. Mesmo que pareçam
absurdas, o professor deve considerá-las ou tolerá-las.
O professor deve ser idealista, sonhador e ter uma causa. Causa
aqui pode ser, por exemplo, melhorar o mundo, diminuir o sofrimento dos
pobres, não admitir injustiça, principalmente com os mais fracos.
Vi, certa vez, num filme, um personagem dizer para outro: "Um
advogado com causa é um perigo. Mas muito mais perigoso é um professor
sem causa".
De qualquer forma, o professor tem que ser altruísta, isto é, deve
preocupar-se com os outros, ter muito amor à humanidade e à causa dos
desprotegidos. Deve ser um eterno inconformado. Jamais deve se
acomodar, cruzar os braços ou perder as esperanças. Deve estar sempre
pronto e disposto a ajudar os outros em suas dificuldades e necessidades.
Deve ter coragem, ser muito otimista e sempre perseverante.
Seria bom que todo professor tivesse o domínio da palavra. Com bons
recursos verbais, com boa dicção, com voz alta e clara, o professor
comunica-se melhor. Se, além disso, ele tiver linguagem fluente, simples e
coerência de ideias, fica fácil para os alunos o compreenderem. Assim, eles
prestam atenção e participam melhor.
Seria bom também que o professor, ao lado de boa capacidade de se
comunicar, tivesse muita afetividade, muito amor aos alunos e à causa da
educação. Assim, ele convenceria, sugestionaria nos alunos a ter amor ao
estudo, à justiça, à verdade e ao bem.
Diz um ditado: “as palavras comovem, mas os exemplos arrastam”.
Por isso, mais que usar palavras bonitas, o professor deve dar exemplo. O
dom da palavra, nem todos possuem, mas dar bons exemplos e ser modelo
de estudo e de vida, todo professor poderá ser capaz.

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Assim, o professor deve ser modelo de estudo, de pesquisa, de justiça
e de amor à verdade, ao bem e à Pátria. Deve dar exemplo de pontualidade,
de assiduidade, de honestidade e de trabalho.
O professor deve ainda ser coerente, sociável, comunicativo, franco,
leal e simpático. Deve ser disciplinado, organizado e ter muita segurança;
deve ser firme, mas não “durão”. Mas, ao mesmo tempo, deve ser flexível;
deve ser aberto a sugestões e a críticas.
Deve compreender, respeitar e estimar os alunos; conhecer seus
anseios e seus problemas. Deve ser amigo, confidente e conselheiro dos
alunos.
O professor que tem "moral" perante os alunos tem o respeito e a
consideração destes. Este respeito ele conquista não pela função que
ocupa, mas pelo comportamento e pela competência que tem.
Enfim, o professor deve amar muito os alunos e a profissão e gostar
do que faz.

2 Exemplos de professores mal e bem sucedidos

Fui professor de Prática de Ensino em escolas normais do Ensino


Médio e de alunos do curso de Pedagogia. Vi e observei os mais diferentes
tipos de estagiários. Ouvi os mais diversos relatos de professores e de
alunos sobre características dos professores. Por isso, posso relatar
experiências que sejam úteis.
Certa vez, distribuí as estagiárias do magistério, de duas em duas,
para a prática do ensino nas escolas da comunidade. Algumas das
situações vividas por elas merecem registro aqui.
Uma dessas duplas dava, constantemente, exercícios para os alunos
fazerem em sala de aula. À medida que os alunos os terminavam,
chamavam as "tias" para corrigi-los.
Enquanto isso, os demais aprontavam uma bagunça total. Alunos
trocando tapas de um lado, dando beliscões do outro, derrubando carteiras
no fundo. Era só gritos e pedidos de ajuda às "tias".
As estagiárias também gritavam: “fiquem quietos!” “Calem a boca!” “Mário,
vá para o seu lugar!” “Robson, vamos parar com isso!” “Lúcia, que é isso?”
Quais seriam as causas disso? Certamente, despreparo das
estagiárias. Não procuraram conhecer a turma ou não adaptaram as
atividades às características dela. Não aplicaram os princípios da Didática
à turma.
Uma outra dupla, na mesma escola e na mesma semana, agiu de
forma completamente diferente. Ela descobriu, no primeiro dia, que a turma
era ativa. Em vez de dar tarefas "chatas", as estagiárias passaram a contar
histórias alegres. Uma delas tocava violão e envolveu todas as crianças a
cantar com ela. Em seguida, pegaram as estrofes dos versos cantados e
procuraram o significado das palavra nos dicionário.

70
No dia seguinte, fizeram leitura silenciosa de histórias, com
suspense, bem interessantes, seguidas de dramatização. Com
matemática e ciências, realizavam experiências de fazer os alunos ficarem
de boca aberta.
Essas estagiárias eram extrovertidas, alegres e dispostas. Tinham
ânimo para tudo. Ao lado do humor, tinham muita firmeza e segurança.
Para elas, tudo ia bem. Os alunos brincavam, pesquisavam, estudavam,
faziam o que elas pediam. Elas contagiavam os alunos com as
brincadeiras, com os jogos, com as atividades e com as experiências
interessantes que faziam. Eram sociáveis, comunicativas, delicadas,
francas e muito simpáticas. Tratavam os alunos como companheiros de
brincadeira, como verdadeiros amigos. Tinham imaginação e criatividade
fora de série. Eram verdadeiras artistas; conseguiram ótimos resultados.
Uma outra estagiária, que fez o estágio sozinha, também conseguiu
sucesso extraordinário. Ela nos surpreendeu muito, pois, como aluna, era
quieta, parada, embora tivesse boas notas.
Certo dia, chegamos na turma dela e a encontramos no meio da
sala, rodeada de alunos, em pé, demonstrando experiências sobre
ciências. Junto a uma das paredes da sala de aula, ela havia juntado várias
carteiras, sobre as quais havia flores, caules, folhas, raízes, vasos com
plantas e vários outros tipos de material. Em cima das carteiras dos alunos,
havia recortes de jornais, livros e cadernos.
Fiquei curioso para saber como ela conseguia a atenção e a
participação dos alunos. Por isso, observei seu trabalho bem de perto.
A estagiária era uma dessas minicientistas. Ela descobriu o veio que
poderia seguir para envolver os alunos: a curiosidade. Pegou alguns temas
e, em torno deles, organizou leituras, pesquisas e experiências. Sabemos
que a TV é forte incentivadora para os alunos. A professora soube explorar
as novidades apresentadas na TV. Abordou algumas invenções.
Respondeu às questões levantadas pelos alunos e incentivou os alunos a
aprofundar vários temas propostos por eles, em revistas, livros e
enciclopédias. Mas, ela se saiu bem não só em Ciências, mas também em
Comunicação e Expressão e em Estudos Sociais.
Essa professora estagiária, certamente, tinha qualidades diferentes
daquelas duas que descrevi anteriormente. Mas, fez sucesso
extraordinário. Por que será?
No meu entender, foi porque ela tinha cultura geral muito boa. Ela
não se apertava com as perguntas dos alunos. Soube atender às diferenças
individuais; soube alcançar os objetivos, sem ter que "dar aula" no sentido
tradicional da palavra. Ela era curiosa e contagiava seus alunos para a
pesquisa, para a busca das respostas.
Nunca a vi gritar com seus alunos. Era humilde, calma, paciente e
muito delicada. Estava sempre disposta e pronta para ajudar os alunos. As

71
novidades que estes traziam ela imediatamente aproveitava para
las às atividades. Agradecia aos alunos que traziam coisas diferentes.
Pode-se dizer que era uma professora com bom conhecimento de
psicologia, Didática e relações humanas. Era estimada, respeitava e
compreendia seus alunos. Conseguiu o respeito e a consideração das
crianças, pela competência e pelo interesse por elas.
Outro fato interessante aconteceu com a estagiária de uma colega
minha. Essa estagiária estava com uma turma de crianças de nível
socioeconômico bem baixo que viviam em ambiente de promiscuidade e
eram acostumadas com todos os tipos de palavrões.
Alguns dias antes de a estagiária vir, a professora da classe havia
estudado, com as crianças, o significado dos palavrões no dicionário. As
próprias crianças procuraram as palavras. Em seguida, a professora fez
comentários sobre os órgãos sexuais, masculinos e femininos, e sobre a
denominação destes. Procuraram também, no dicionário, a palavra boceta,
muito usada pelas crianças. Viram o significado da respectiva palavra é
caixinha redonda ou caixa de rapé. A professora explicou que, como órgão
sexual, o nome correto é outro.
O objetivo dela foi fazer com que as crianças deixassem de achar
graça no uso dos palavrões. A professora fez o jogo deles, sem o mínimo
de vergonha. Enfrentou a situação da forma mais natural do mundo.
Quando veio a estagiária, os alunos tentaram "pô-la na parede" de
todas as maneiras. Perceberam que ela ficava vermelha, quando falavam
palavrões. Ela já não aguentava mais aqueles "capetas".
Certo dia, após o intervalo, já todos sentados, uma aluna se levantou
e falou bem alto: "Professora, roubaram a minha boceta, roubaram a minha
boceta".
Os outros alunos se levantaram e fingiram que estavam ajudando a
procurá-la. Corriam de um lado para outro e perguntavam: "Mas quem
poderia ter feito isso?".
A estagiária, escandalizada, pegou seu material e foi correndo até a
sala da direção. Após relatar o ocorrido, disse: "Chega! Nunca mais vou pôr
os pés numa sala de aula!". E foi embora.
Observe o que crianças de 10, 12 anos são capazes de aprontar. E
comum planejarem situações como essas para professores. É por isso que
os professores devem estar preparados para tudo, sem se escandalizar.
Para contrastar com o fato acima, vamos citar outra ocorrência. Uma
professora, já com experiência, estava explicando gênero de palavras. A
certa altura, uma aluna perguntou: "Professora, 'cutia' é masculino ou
feminino?". A professora dá a resposta. A aluna pergunta: "E cuteu?". A
professora respondeu prontamente: "O teu é masculino". Foi uma gar-
galhada só. A professora cortou a gracinha pela raiz. Dificilmente os alunos
voltariam com brincadeiras semelhantes.

72
Citamos esses exemplos para que o estudante e o professor novato
criem resistência psicológica para tais fatos. É preciso encará-los com
naturalidade. Um professor experiente sabe como agir. Mas, é bom que o
professor esteja, ao menos, prevenido quando começar, para que não
desista como a estagiária protagonista do caso acima.
Todo professor, certamente, quer ser um bom profissional; quer ser
feliz como professor; e quer fazer sucesso. Vejamos algumas sugestões
para isso:
a. Primeiramente, o professor precisa ter cultura geral bem
ampla. Precisa conhecer os problemas do mundo, do país e da
comunidade. Problemas atuais e não de três ou quatro anos atrás. Para
isso, ele precisa ler jornais e revistas periódicos, semanais de preferência.
Precisa visitar o bairro onde se situa a escola, as famílias e saber como
vivem seus alunos.

b. O professor precisa conhecer as novas descobertas


científicas no campo da educação e as descobertas tecnológicas em geral,
pois estas abrem os horizontes, fazem-no admirar, pasmar e animar-se.
Ele passa a querer que seus alunos também saibam o que ele sabe; que
seus alunos sintam o prazer intelectual que ele próprio sente.

c. O professor será, ou deverá ser, uma pessoa constantemente


ocupada e preocupada em imaginar as melhores formas de fazer com que
seus alunos aprendam o máximo e da maneira mais fácil possível. Isso
não cansa, ao contrário, dá prazer e satisfação, porque ele sentirá
imediatamente o fruto do seu trabalho. Ver os alunos brilhar na escola dá
ânimo e disposição ao professor.

d. O professor deve ser entusiasta, animado, e se interessar


pelos alunos, pela comunidade e pela classe dos professores a que
pertencer. Deve ser ativo e atuante onde quer que esteja. Não deve
decepcionar ninguém. É certo que dá trabalho, mas vale a pena ajudar a
melhorar o mundo.

3 Funções do professor

As funções do professor nem sempre foram as mesmas e variam de


acordo com a época, com a evolução da ciência, da sociedade e da
concepção que se tem da Filosofia da Educação. Para ser breve,
enumeraremos as funções do professor, sem muitos comentários. Assim,
o professor deve:

73
a. Assistir o aluno e orientá-lo em seus estudos leituras e
pesquisas; incentivá-lo a buscar e a ler fontes novas; indicar temas,
revistas e livros relacionados aos assuntos de que gosta; tentar fazer o
aluno gostar da matéria e aprender a estudar. Isto o leva a estudar sozinho,
sem precisar de professor.

b. Estimular e propor novas experiências que venham a


enriquecer a vida do aluno; que possibilitem a integração das informações
das leituras e dos conhecimentos teóricos adquiridos; criar clima e ambiente
favoráveis para estudo, para experiências e pesquisas na escola. Deve ser
criado, na sala e escola, um clima emocional altamente favorável à
aprendizagem, o qual deve ser de harmonia, entusiasmo, alegria,
compreensão, tolerância e muito amor. O clima deve ainda ser democrático,
de liberdade, de franqueza, mas de muita segurança e disciplina.

c. Ser amigo, conselheiro e estimulador do aluno. Incentivá-lo na


busca de seu ajustamento e mostrar o caminho para a sua autorrealização.

d. Ajudar a resolver eventuais problemas entre o aluno e a família.


Sondar, junto à família, preferências, interesses e gostos dos alunos e dar-
lhes condições para que possam se sentir satisfeitos na escola. Buscar o
apoio e a compreensão da família para a inovação de métodos, técnicas e
introdução de novas ideias. Ser elo de ligação entre a escola e a família.

e. Estar a serviço do aluno para a construção, a mais completa


possível, da personalidade deste, para que alcance a razão de sua
existência: a felicidade. Conseguir que o aluno aprenda e alcance os
objetivos. Satisfazer às necessidades intelectuais dos alunos. Preocupar-se
com que o aluno desenvolva qualidades e não simplesmente aprenda
matéria.

f. Dar ao aluno oportunidade e condições para conhecer, tomar


contato e viver o mundo atual e real. Trazer o mundo até ele no que for
possível. Situar o aluno e introduzi-lo no mundo moderno.

g. O professor deve estar a serviço da sociedade, da mudança e


do desenvolvimento desta. Conhecer os problemas sociais e envolver-se
em sua solução.

A sociedade está cheia de problemas. Quem irá solucioná-los? Sem


dúvida, grande parte deles é de responsabilidade do professor. Mas, o
professor está preparado para isso? Conhece os problemas? Tem vontade
de solucioná-los? É idealista?

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Infelizmente, são poucos os professores que se preocupam com a
sociedade. São poucos os professores que espalham espírito de
solidariedade, cooperação e amor.
O professor, de qualquer área ou matéria, deve ter em mente a
sociedade e o homem antes da matéria. Certamente, verá muitas coisas
erradas. É comum atribuir-se culpa ao governo, à secretaria da educação,
à direção da escola e ao próprio povo, mas quem deve começar a corrigir o
que está errado na sociedade é o próprio professor. É ele que tem sangue
nas veias; que vê o que precisa ser feito; que é idealista e que tem amor à
humanidade.
Cada um de nós tem uma missão a cumprir e, se cada um cumprir
rigorosamente com o seu dever, o mundo será outro.

h. Incentivar os alunos a solucionar os desafios que encontrarem


na comunidade, a ter coragem e ser criativos. Acordar os alunos para que
tenham coragem de reivindicar, lutar e contestar.

i. Ser uma ponte que liga a curiosidade, as necessidades do


aluno e suas experiências com a realidade do mundo, seus problemas e os
fins e ideais da educação. O professor deve ser um conhecedor do mundo
para poder integrar o aluno nele. Além disso, o professor deve ajudar os
alunos a estabelecer objetivos e a encontrar o rumo de sua vida. Deve
ajudá-los a solucionar as próprias dificuldades, quer sejam psicológicas,
afetivas, intelectuais ou de relacionamento.

Com relação à autonomia dos alunos para a aprendizagem, temos


uma afirmação interessante de Freinet, em seu livro Pedagogia do Bom
Senso: "As águias não sobem pela escada". Isto quer dizer que os alunos
inteligentes não se contentam em subir vagarosamente os degraus da
aprendizagem; eles querem voar. Por isso, um professor não pode querer
que seus alunos sigam unicamente as orientações dadas por ele. Os alunos
podem ser mais inteligentes que o professor e descobrir formas melhores
de alcançar os próprios objetivos. Assim, em vez de tolher e refrear o
progresso dos alunos, o professor deve criar espaço para que eles voem o
mais alto e depressa que puderem.

j. Uma das principais funções do professor é orientar a aprendizagem


do aluno e conseguir que ele aprenda da melhor forma possível. Que o aluno
aprenda, é o que importa. O aluno pode aprender, mesmo sem a ajuda do profes-
sor.

75
Se o professor der tudo pronto para o aluno, este nunca vai aprender
a estudar, a procurar as coisas de que precisa e a resolver os problemas
por conta própria. Recebendo tudo pronto, não aprenderá a pensar.
A esse respeito, diz um provérbio chinês: "Se quiseres matar a fome
de uma criança por um dia, dá-lhe um peixe; se quiseres matar-lhe a fome
para o resto da vida, ensina-lhe a pescar". Assim, a função do professor
passa a ser orientar o aluno a pesquisar, a estudar e a pensar e não mais
"dar matéria" e nem "dar aula".

k. Ajudar os alunos a formar o próprio caráter. Normalmente, o


professor se preocupa com a inteligência do aluno, mas o sentimento e a
sua vontade deste são tão importantes quanto a inteligência. De que
adianta uma pessoa inteligente, ou até sábia, se não tem vontade para
nada, se não tem amor aos outros, à sociedade ou a alguma coisa? De que
adianta uma pessoa inteligente, se tem medo? Medo de falar, medo de
trabalhar e medo até de ajudar?

O que vem a ser uma pessoa sábia? Certa vez, lemos que sábia é
a pessoa que procura saber; ignorante é a que procura se encher de
conhecimentos. Daí a necessidade de o professor estimular os alunos a
sempre querer saber mais, a ser curiosos e a buscar a resposta a seus
questionamentos. Os conhecimentos serão um subproduto desta busca e
não devem ser um objetivo imediato a ser perseguido pelo professor.
O professor deve criar um clima de camaradagem, de compreensão,
porém, ao mesmo tempo, de desafio para que o caráter dos alunos se
fortaleça. Os trabalhos em grupo, onde seja estimulada a cooperação, são
importantes para isso. Nesta interação, as pessoas podem ajustar-se,
ajudar-se mutuamente e desenvolver-se a vida toda.

l. Preparar para o imprevisível, para o desconhecido.

O mundo, hoje, muda com tanta rapidez que é impossível saber o que
vai acontecer daqui a cinco ou dez anos. Nem sabemos se os
conhecimentos aprendidos hoje serão válidos para daqui a um ou dois anos.
Para que aprendê-los? Precisamos, sim, aprender como aprendê-los.
Assim, saberemos aprender a vida toda.

m. Desenvolver a sensibilidade do aluno.

De que adianta o aluno saber que o desmatamento é prejudicial ao


homem, à vida, se ele não tiver seu sentimento educado para ficar triste com
o desmatamento? O professor precisa levá-lo a ficar com o "coração partido"
com isso, por meio de dramatizações, por exemplo, que o levem a ter amor
à mata e à natureza.

76
n. Enfim, o professor deve ser, acima de tudo, um educador.

Ele deve partir das experiências dos alunos, dos seus interesses e, por
meio de atividades, processos e técnicas adequadas, integrá-los com ideias,
conceitos para formar atitudes e incorporar valores sadios para formar um
cidadão sábio e de caráter.

4 Relacionamento professor x aluno

O bom relacionamento do professor com seus alunos é fator


fundamental no processo educativo. Os alunos têm natureza,
personalidade própria, são gente querem ser tratados como tal.
Os alunos podem ser comparados a uma planta. Suponhamos que
essa planta seja cultivada por um agrônomo. Este analisa o solo em que
ela vai ser plantada, aduba a terra e prepara tudo para que a planta possa
se desenvolver bem. Depois, rega a planta, elimina as ervas daninhas,
enfim, trata a planta de acordo com as características de sua natureza.
O agrônomo não puxa a planta para que ela cresça mais
rapidamente e nem a força para ficar mais bonita. Ele apenas ajuda, zela
e cuida dela.
O mesmo deve ser feito com os alunos. O educador deve, antes,
conhecer a natureza da criança. Para conhecê-la, o professor precisa
estudar biologia, psicologia, filosofia, sociologia, antropologia e
neuroeducação.
O aluno é um ser biológico: sente fome, sede, pode ser fraco e
subnutrido.
Ele é um ser psicológico: quer ser livre, independente; tem vontade;
gosta de coisas que tragam prazer para ele; precisa ser amado, aparecer
e receber consideração.
É um ser sociológico e antropológico: quer e precisa viver em grupo,
sofre influência de seus pais, de seu grupo, de seu meio e da cultura que
o influencia e o forma.
É essa natureza que o professor precisa levar em consideração para
relacionar-se bem com seus alunos e respeitar cada um de per si tal como é.
Respeitando a natureza do aluno, o professor relacionar-se-á bem com
ele. Tentarei, a seguir, traduzir o que precisa ser feito concretamente para
isso.
Tenhamos disposição de atender às solicitações dos alunos.
Demos condições para os alunos terem resposta às suas perguntas,
questionamentos e curiosidades. Criemos oportunidades para conversas,
troca de ideias e bate-papos informais com os alunos. Nunca "cortemos"
um aluno. Sejamos abertos e aceitemos sugestões dos alunos.
Permitamos reclamações e críticas e assim seremos considerados

77
simpáticos. Com isso, teremos mais poder emocional para conquistar os
alunos.
Certa vez, vi um aluno dizer ao professor: "Professor, eu não entendi
isso que o senhor explicou agora". Respondeu o professor: "Isso já foi visto
na aula passada". O aluno voltou a insistir: "Mas, é exatamente o que eu
queria; eu queria ligar aquilo que o senhor explicou na aula passada com o
que está explicando agora". Respondeu o professor, secamente: "Isso
vamos ver na próxima aula". E continuou a aula, sem dar maiores
explicações àquele aluno.
Depois de duas "patadas" destas, algum aluno vai perguntar mais
alguma coisa a esse professor? Certamente, não. O professor se distancia
e o aluno se retrai.
É lógico que o professor pode não saber tudo, e nem todas as perguntas
devem ter uma resposta imediata por parte do professor. Mas, o mínimo que tem
que ser feito é respeitar e dar atenção às perguntas dos alunos. O correto seria
mostrar interesse pelas perguntas e até estimulá-las. Em seguida, devem ser
indicadas as pistas pelas quais os alunos poderiam obter as respostas: revistas,
livros, experiências, pesquisas. O professor acompanha, estimula e, se
necessário, orienta e ajuda os alunos na busca das respostas, sempre com muito
entusiasmo. Mostremos interesse pela curiosidade dos alunos. Con-
sideremos as suas ideias, as suas iniciativas. Respeitemos e apoiemos a
vontade do aluno em querer aprender determinadas coisas, mesmo que
sejam fora da matéria que se está sendo estudada. Favoreçamos ou
criemos situações que levem o aluno a se entusiasmar com os resultados
obtidos. O aluno precisa ter o seu esforço reconhecido, quer pela satisfação
da realização da atividade em si, quer pelo reconhecimento do professor.
À medida do possível, o professor deve manter a classe com alto
moral; elogiar a classe como um todo; pela colaboração, pelo esforço, pela
lealdade e por qualquer razão merecida. O elogio à turma deve ser em
público, porém o elogio para o aluno deve ser em particular, para não
diminuir os outros ou provocar inveja. Sejamos diplomáticos: procuremos
não magoar o aluno. Consideremos todo e qualquer aluno como gente
importante.
Se tivermos que negar alguma coisa ao aluno, nunca digamos na
"cara" dele. Primeiramente, ouçamos as suas justificativas, as razões que o
levaram a fazer o pedido. A partir disso, levemos o aluno a entender por
que não pode ser atendido.
Levemos tudo na "esportiva": as conversas, as peraltices, as
bagunças e mesmo as eventuais ofensas. O aluno tem que ser conquistado
pela amizade. Agressão provoca reação; e o aluno é o lado mais fraco, que
reage para se defender.
Tenhamos espírito jovem, mente aberta, saibamos brincar. O aluno
relaciona-se bem com os que pensam e agem psicologicamente de forma
semelhante a ele. Brincar e sorrir não custa nada. O sorriso amolece o

78
coração e abre as portas para a tolerância, para a compreensão. Por isso,
entremos sempre na sala de aula sorridentes, dispostos e alegres. O
dinamismo e o entusiasmo do professor contagiam o aluno.
Utilizemos apenas nossa personalidade como autoridade, e não o
cargo ou o fato de sermos o professor. Cativemos o aluno pelo nosso calor
humano, pela nossa simpatia, pela nossa delicadeza. Prezemos a verdade,
a justiça e o bem. Os alunos detestam a mentira e a injustiça.
Sejamos amigos sinceros, francos e leais dos alunos. Nada de
hipocrisias ou segundas intenções na amizade com eles. Não queiramos
com isso apenas conseguir que se interessem pelas atividades, mas, sim,
que progridam, que cresçam e se autorrealizem. Façamos com que sintam
apoio e confiança. Assim, teremo-nos como amigos e poderemos exercer
melhor nossa função de educadores.
Criemos clima agradável em sala de aula. Clima de amizade, de
coleguismo, de harmonia e de calor humano. Clima em que o aluno sinta-
se bem, sinta-se útil, aceito, compreendido e livre para se expressar à
vontade, imaginar e criar.
Esse clima dá ao aluno segurança, apoio e tranquilidade; é condição
para uma boa aprendizagem e para um crescimento emocional e psicológico
saudável.
Nenhuma pessoa gosta de solidão, de isolamento. Todas sentem
necessidade de estar com outras pessoas. Crianças e adolescentes
sentem essa necessidade mais forte ainda.
Consideremos o aluno como ele é. Respeitemo-lo. Tratemo-Io
sempre com calma e compreensão. Não tentemos mudá-lo ou fazer com
que aprenda sob pressão. Aguardemos; sejamos persistentes; não
percamos a paciência. Ele pode amadurecer e mudar.
Costuma-se respeitar o governador, um ministro de Estado ou o
Presidente da República. Por quê? Porque, em nossa sociedade,
costumamos tratar bem as pessoas importantes. Imagine essas pessoas
importantes, lembrando-se de seus primeiros professores. Que
recordações terão?
Os adjetivos atribuídos a cada um deles poderiam ser: grosso, bruto,
estúpido, antipático, agressivo, mal-educado, fechado, sério, triste; ou
então, alegre, camarada, bonzinho, brincalhão, legal, bacana, simpático,
sincero, amigo, gente fina, competente, uma sumidade. Com quais desses
adjetivos gostaríamos de ser tratados?
Não existe pessoa mais importante. Todas são iguais. Todas são
importantes e merecem o máximo de respeito e consideração, pelo simples
fato de serem gente. Todo aluno deveria ser tratado como se presidente
fosse, como um príncipe, como um rei. Por isso, devemos tratar as crianças
sempre com bondade, carinho, amizade e simpatia. O professor simpático
e competente é que é imitado pelos alunos. Aquele exerce maior influência
nas atitudes dos alunos e passa a ser o modelo de vida para eles.

79
Os alunos têm pais, porém a maioria dos alunos busca outros
padrões de referência, principalmente nos professores. Os alunos buscam
apoio, segurança em pessoas que conheçam psicologia, que as
compreendam, que as possam orientar. Aproveitemos essa oportunidade!
Exerçamos a influência que pudermos para aconselhar e orientar os nossos
alunos para os objetivos educacionais e para a vida.
Para que possamos exercer com mais eficiência nossa importante
função de educadores, procuremos conhecer bem cada um de nossos
alunos. Tentemos descobrir os seus interesses, desejos, necessidades e
mesmo as fraquezas e limitações. Calcemos os sapatos dele, coloquemo-
nos em seu lugar e imaginemos como seríamos, se tivéssemos os pais que
ele tem, as condições que ele recebeu até aqui. Sejamos pacientes,
ouçamos o aluno, ajudemo-Io. Ele pode estar precisando de amigo, e de
amigo forte, de amigo que ele julgue uma figura importante dentro de seu
mundo limitado de aluno. Toda pessoa gosta de ser amada, estimada e
considerada. Alguns alunos não só gostam, mas necessitam disso,
principalmente os mais sensíveis, emotivos ou inteligentes e que não
recebem a necessária compreensão e afeto dos pais. É preciso dar a eles
segurança e afeto. Fiquemos do lado deles quando precisarem. Ajudemo-
Ios a resolver os problemas deles, mesmo que sejam particulares.
O homem nasceu para ser feliz. A primeira coisa que todo aluno
deveria ter assegurada é a sua felicidade. O professor pode e deve ser um
instrumento assegurador de felicidade para o aluno.

5 Fatos relativos a professores narrados por alunos

Os fatos narrados a seguir foram levantados por alunos da


Universidade Estadual de Maringá, junto a alunos do Ensino Fundamental e
do Ensino Médio da comunidade.

5.1 Primeiro fato

"Certo dia, alguns alunos bagunceiros de uma classe resolveram


fazer uma brincadeira. Levaram para a sala de aula dois ratos. A
professora sentou perto dos alunos 'bagunceiros', e eles soltaram um dos
ratos, que pulou no colo da professora. Esta deu tamanho grito, que
acorreram professores e alunos de várias salas contíguas para ver o que
tinha acontecido.
Chamado o diretor da escola, este e mais dois professores
revistaram as carteiras para verificar se descobriam quem fez a
brincadeira. Encontraram o segundo rato, que já tinham matado, na
carteira de uma aluna muito estudiosa e comportada, que nada tinha a ver
com o acontecido.

80
A professora investiu contra a aluna, gritando e puxando seus
cabelos: 'ah! Foi você, sua praguinha. Você vai me pagar!', A aluna, por
mais que quisesse explicar sua inocência, não foi ouvida. Levou uma
semana de suspensão.
A aluna, humilhada, ficou com tamanha vergonha que não voltou
mais para a escola naquele ano, por mais insistentes que fossem os apelos
de seus colegas."

Comentários:

Cada professor pode ter reações diferentes perante situações


inesperadas, entretanto sua formação didático-pedagógica deve ter dado
a ele elementos suficientes para que reconheça a necessidade de se
recompor e manter o necessário equilíbrio para as atitudes subsequentes.
A professora, no caso, poderia simplesmente ter achado graça da
brincadeira e, assim, evitaria predisposição de os alunos "aprontarem"
para o futuro.
Além disso, por que punir, se não ficou comprovado que a aluna
tinha culpa?
Pela imperícia, despreparo e descontrole da professora, a aluna
perdeu um ano de estudos, sem considerar as sequelas psicológicas que
podem ter ficado para ela.

5.2 Segundo fato

"Eu sempre tirava nota baixa com um professor. Passei a ficar


indiferente, não me interessei mais em estudar a matéria dele e passei a
não gostar mais dele. Certo dia, ele sentou na carteira vaga ao lado da
minha e começou a conversar comigo. Perguntou o que estava
acontecendo e disse que, apesar de eu ter uma inteligência boa, tirava
notas baixas. Expliquei que eu não estava entendendo a matéria
O professor, então, indicou-me dois livros que continham o assunto.
Estudei-os e tirei 10 na prova seguinte.
Eu acho que os livros que ele indicou eram mais claros que a
explicação do próprio professor. Dali em diante, passei a ler mais nas
outras matérias também. Tudo ficou mais fácil."

Comentários:

A lição que pode ser tirada desse fato é que professor e aluno
devem dialogar. O professor deve descobrir por que o aluno (cada aluno)
não está aprendendo. Depois disso, o professor deve orientá-lo como
estudar e indicar a necessária bibliografia.

81
5.3 Terceiro fato

"Marcos era um menino muito travesso. Certo dia, sua professora


se irritou e mandou que ele saísse da sala. Ele não saiu e respondeu-lhe
mal. A discussão foi crescendo, até a professora dar-lhe um tapa no rosto.
Marcos chorou muito, mas não saiu da classe. O clima da sala ficou
muito tenso e sem condições de aprendizagem.
Marcos ficou vários dias sem vir à aula."

Comentários:

A professora procurou saber quais as razões que levaram aluno a fazer


travessuras? Não seriam suas aulas que não agradavam a ele? Será que ele
não tinha problemas em casa?
Nós, professores, pregamos a paz, a não agressão, o respeito
mútuo e a tolerância. Que moral teve a professora de pregar isso depois
do que fez?
A professora mandou o aluno sair. Ele não saiu. O professor,
querendo ter autoridade, não pode correr o risco de perdê-la. O professor
não tem poder para mandar um aluno para fora da sala. Por isso, ele não
deve fazê-lo.

5.4 Quarto fato

"No terceiro ano do Ensino Fundamental, eu tinha uma professora


muito autoritária. Nenhum aluno podia interromper a aula dela. Certa vez,
um aluno ia saindo e ela disse: 'Oh! Você, aí! Saia, saia logo, mas não
volte mais'. Depois que o aluno saiu, ela continuou resmungando: 'isso
aqui não é passarela e nem a casa da sogra'.
Certo dia, fiquei com vontade de ir ao banheiro. Não tive coragem
de pedir licença para a professora. Fiquei com medo de que ela
perguntasse se eu não poderia aguentar até o fim da aula, ou que desse
'um pito'. Evacuei ali mesmo, antes de terminar a aula. Depois, esperei
todo mundo sair para ir ao banheiro”.

Comentários:

Será que a escola tem que ser lugar de terror, de tortura ou é lugar
agradável, onde a pessoa se sente bem e vai para aprender e para se
relacionar com os outros?

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5.5 Quinto fato

"Certo dia, entrou uma professora nova em minha classe. No


segundo dia, desentendeu-se com uma aluna. Daí em diante, 'dava em
cima' dela com perguntas difíceis para humilhá-la. No começo, a aluna pôs-
se a estudar com afinco para ter respostas à altura, mas não adiantou.
Começaram perguntas até absurdas.
A aluna tornou-se, então, displicente e arredia quando a professora
falava com ela.
A professora, por sua vez, dizia que ela era louca.
O resultado foi que esta minha colega passou a incentivar os outros
colegas a não mais assistirem às aulas da professora. O número de alunos
foi diminuindo, até ficar apenas dois.
A professora teve que ser substituída para que os alunos voltassem
às aulas."

Comentários:

Essa professora, certamente, tinha uma boa dose de sadismo.


Professor deve ter muita tolerância, compreensão e amor. Desentender-se
com aluno é normal, porém o relacionamento de professor e aluno deve ser
como irmão com irmão; brigam, e dois minutos depois, estão de bem outra
vez.

5.6 Sexto fato

"Eu tive uma professora que, sempre que entregava as provas,


passava em público um bruto dum sermão aos alunos que tiveram nota
abaixo de seis.
Certa vez, sobrou para mim. - 'Você ... filha de ..., nem acredito. Você
não tem vergonha de tirar uma nota dessas? Ficou vagabunda também?'
Eu não sabia onde enfiar a cara. Pensei que tivesse tirado um belo
zero, pela forma como fui ofendida. Quando vi a minha nota, 4, não achei
que merecia tal sermão. O problema era meu, se tivesse tirado 10 ou zero.
Sei que a professora se preocupou; mas ela tem que entender quais são
as condições do aluno. Ela nem levou em consideração que eu tive mais
quatro provas naquela semana."

Comentários:

Note que o aluno quer ser responsável pelas suas notas: "o
problema era meu, se tivesse tirado 10 ou zero". O próprio aluno sabe fazer
sua autocrítica. Não há necessidade de o professor arrasá-lo ainda mais.

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Na escola, ninguém deve ser filho de ninguém. Cada aluno é ele
mesmo. Tem sua própria personalidade e não tem nada a ver com seus
pais, ou melhor, não quer ter.
O bom professor comenta as provas na sala em termos de bondade,
lamentando que alguns não tenham alcançado sucesso que ele esperava.
Não diz quem foi mal nas notas e não faz julgamento dos alunos, muito
menos em público. Depois disso, ele se coloca à disposição para comentar
as provas em particular e orientar os alunos, que quiserem, de como
aprender melhor.

5.7 Sétimo fato

"Nós, geralmente, fomos reprimidos. Numa sala de aula, nunca nos


soltamos, ficamos sempre inibidos, e, às vezes, não conseguimos nem
redigir, imaginando o que o professor vai pensar ao corrigir a redação.
No ano passado, tivemos uma disciplina que era um 'saco'; não pela
matéria, mas pelo professor. Ele, como pessoa, era ótimo, mas como
professor, estranho.
Certo dia, ele pediu que fizéssemos a análise de um texto.
Redigimos nosso próprio texto, com nossas críticas.
Após a correção, o professor chamou um por um dos alunos. Um
deles, porém, foi ridicularizado em público. O professor leu o trabalho
daquele aluno em sala. Colocou-o em má situação, pois o trabalho dele
era realmente fraco; não dizia coisa com coisa.
Nós rimos muito, pois era realmente engraçado. Porém, eu não
gostei de ver o professor fazer isso. E não era a primeira vez que o
professor ridicularizava um aluno."

Comentários:

Como será que esse aluno se sentiu? Com que direito um professor
ridiculariza um aluno dessa forma?
São tais atitudes que reprimem os alunos; fazem com que eles se
tornem subservientes. Além disso, provocam tensão em todos os alunos e
ninguém vai sentir-se livre e tranquilo ao fazer trabalhos ou provas.
Qual deve ser o objetivo do professor, ajudar os alunos ou fazer
sessão de humor?

5.8 Oitavo fato

"Este fato se passou no 1º ano do Ensino Médio.


Certo dia, Antônio, meu colega de classe, compareceu às aulas com
a camisa colegial branca que era de manga curta, por cima de uma blusa

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de frio, azul, de manga comprida. O uso da camisa branca era obrigatório,
pois fazia parte do uniforme.
O diretor entrou na sala para dar um recado ao professor.
Todos ficaram em pé, como de costume, quando entrava o diretor.
Quando este avistou Antônio vestido daquele modo, fez os
seguintes comentários:
Eh! Você, aí! Não tem senso de ridículo? – e todas as atenções se
voltaram para Antônio.
Você está horroroso, vestido assim. Sabe o que parece? Um desses
lixeiros que andam por aí. Por que você não vai lá em casa fazer par com
minha empregada?
Isso não foi dito em tom irônico, mas como se estivesse transmitindo
algo sério e muito importante. Antônio corou. Pelo fato de ser um menino
muito quieto e tímido, não disse nada.
Mal o diretor saiu, ele sentou-se e não disse uma palavra o resto do
dia.
O que me chocou foi a crueldade desse diretor. Um aluno
completamente inocente ter que pagar pela irritabilidade e mau humor
dele."

Comentários:

Há muitos professores que também procedem de forma


semelhante. Isso demonstra que não tiveram boa formação para ser
professores ou, então, que não possuem o mínimo de controle emocional.
No caso do diretor, ele não considerou que o aluno poderia ser
pobre e não ter roupa para se proteger do frio. A camisa branca tinha que
aparecer, do contrário não entraria na escola.
O diretor deu também mau exemplo, discriminando socialmente
o lixeiro e a empregada doméstica.
Esse tipo de acontecimento marca um aluno para o resto da vida.
Poderá determinar nele os mais variados tipos de atitude. Ele poderá se
revoltar tanto e fazer o firme propósito de nunca mais ser pobre e partir
para assaltos e roubos.
Eis um exemplo de como a escola pode destruir uma vida.

5.9 Nono fato

"Eu tive um professor que sempre descarregava seus problemas


em sala de aula. A grosseria e a estupidez era uma constante, ou seja, as
aulas eram nervosas e agitadas.
O professor gesticulava muito e falava alto. Fazia cobranças do tipo:
'Ei, você aí, diga o que é isto!' Outras vezes dizia: 'Nem isso vocês
sabem?'.

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Os alunos viviam inquietos e tensos. Se ninguém respondesse, ele
dizia que ninguém sabia. Se respondessem errado, era bom sair de perto.
A maioria da turma reprovou com ele. Não podia ser diferente, pois
ele passava mais tempo xingando que ensinando. E nosso nervosismo,
então!”

Comentários:

O professor deve deixar fora da sala de aula os problemas


familiares. Ele deve ter equilíbrio emocional e muito respeito pelos alunos.

5.10 Décimo fato

"Certa vez cheguei à aula atrasada. O professor estava fazendo a


chamada. Entrei e sentei.
Depois que terminou a chamada, ele começou seu sermão.
Começou a dizer que as moças que pisam forte não são femininas e que,
por isso, são chamadas de 'sapatão'. É bom que leiam livros de boas
maneiras para aprenderem a se comportar. E continuou por aí afora.
Só no finalzinho do discurso foi que eu percebi que tudo isso era
para mim."

Comentários:

Para os professores também existem livros que explicam como eles


devem se comportar em sala de aula. Nunca o professor deve ofender
seus alunos. Respeito traz respeito. Se o professor não gosta que seus
alunos cheguem atrasados, basta que coloque as regras no primeiro dia
de aula, com toda a franqueza e sinceridade, e pronto.

5.11 Décimo primeiro fato

"Certa vez, uma senhora perguntou ao filho de uma sua vizinha e


amiga como ele estava indo nos estudos. 'Ah! - diz ele - mais ou menos.
É que eu não estudo'.
- Mas, por que você não estuda?
- É que eu quero sair daquele colégio e o meu pai não deixa.
- Sim, mas aquele colégio é ótimo - diz a vizinha.
- É que todos os moleques da sala, quando fazem bagunça, sempre
dizem que fui eu que fiz, e a professora acredita. Não aguento mais! Por
isso não tem graça estudar."

Comentários:

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Observe bem o caso. É um menino dócil, talvez “um tanto ingênuo”.
Em qualquer classe sempre há os supermalandros, que não têm o mínimo
de escrúpulo em atribuir a culpa das bagunças a outros. A professora
deveria saber disso e não acreditar nos peraltas.
Toda pessoa tem necessidade de ser estimada, valorizada e
respeitada. Se a própria professora, que deveria ter atitudes de mãe, não
estimava a criança, por que ele iria fazer esforço para estudar? Se o pai
não dá atenção ao aluno, que comportamento de defesa ela poderá
adotar? A criança revolta-se, fecha-se em si mesmo, como vingança; não
estuda, para ser reprovada. Assim, ela pensa forçar o pai a transferi-la, ou
então escapar da turma em que está, pois ficará para trás.
Além dos prejuízos escolares, tais acontecimentos podem provocar
profunda ferida psicológica na criança.

6 Depoimentos de alunos

Os depoimentos a seguir foram apresentados por alunos de Didática,


da Universidade Estadual de Maringá.
"Eu tive alguns maus professores; mas também tive bons. Um deles,
eu admirei muito.
Esse professor colocava a camaradagem acima de tudo e, assim,
conseguia a participação cooperativa de todos. Era um professor calmo,
não do tipo neurótico. Falava pausadamente, sem explosões. Com o seu
jeito calmo, contagiava os alunos que sentiam liberdade para pensar, e
todos cumpriam com seus deveres.
O professor dava tempo para os alunos raciocinarem e não
empurrava o conteúdo de uma forma forçada e violenta."

***

"Eu tive um professor de Biologia para o qual não havia um dia


especial; todos eram especiais. Suas aulas eram simplesmente
maravilhosas.
Ele era bem-humorado, divertido, comunicativo e inteligente. Sabia
transmitir o conteúdo de maneira simples, direta e agradável.
Era o tipo de professor que não precisava fazer chamada, pois sabia
que todos viriam. Os alunos sentiam-se realizados e gratificados com as
aulas dele. Seu relacionamento com os alunos era ótimo. Conversava com
todos como amigo. Enfim, era um exemplo de professor."

***

87
"Quando fazia o 8º ano, eu tinha uma professora de Matemática
muito bondosa. Ajudava a todos. Ninguém queria contrariá-la. Por isso, o
comportamento da turma sempre era ótimo.
Certo dia, dois dias antes da prova, faleceu o pai de um menino da
sala. Ela foi ao velório; lá o menino falou da prova. A professora respondeu
que não se preocupasse com isso, pois daria jeito.
Um dia depois da prova, a professora comunicou-nos que iria dar
uma nota boa para o menino sem que ele precisasse fazer a prova. Todos
concordamos, pois ele sempre foi ótimo aluno e estava muito chocado com
a morte do pai."

6.1 Comentários aos depoimentos

Chamo atenção para as virtudes e qualidades que os alunos


destacam no professor, nestes três depoimentos: camaradagem, calma,
bom humor, divertido, comunicativo, inteligente, bom relacionamento,
amigo, bondoso. Com estas qualidades, segundo os alunos, o professor
consegue a participação, o respeito e a consideração de todos. Além disso
contagia, envolve e consegue que os alunos se sintam satisfeitos.

7 Em vez de "dar aula" o que é que o professor deve fazer?

O "dar aula", aqui, quer dizer "transmitir matéria", "dar conteúdo"


ou dar informações verbais. Estes termos devem ser eliminados da
linguagem didática, pois estão ultrapassados há tempo. Esse assunto
será retomado no capítulo referente aos métodos individualizados.
O professor sempre deve ter em mente os fins e os objetivos que
pretende que seus alunos alcancem. Supondo que os objetivos que ele tem
em mente sejam os que constam nos capítulos I e lI, em face das ciências
que fundamentam a educação, o professor deve fazer um trabalho coerente
com os mesmos.
Para haver aprendizagem eficiente, o professor pode lançar mão de
uma infinidade de meios, dentre os quais podemos relacionar os seguintes:
- apresentar situações que levem os alunos a acionar o processo
intelectual, analisando, comparando, concluindo e organizando as
informações e experiências na mente;
- solicitar pesquisas, fazendo com que o próprio aluno busque as
informações de que precisa;
- trabalhar com o concreto e a partir da realidade do aluno;
- orientar os alunos a eles próprios formularem objetivos, a definir e
tornar claro o que e por que querem aprender;

88
- sugerir ou apresentar temas e atividades interessantes e
significativas para os alunos fazerem ou estudar;
- criar situações em que os alunos possam aplicar as informações
teóricas;
- provocar os alunos a falar, a discutir, a dar a sua opinião;
- o professor deve ser como aquele pai que toma a frente nas
brincadeiras com seus filhos. Pula, fica alegre, entusiasma-se e
contempla o filho aprendendo a brincar. O mesmo deve acontecer
com o professor. O aluno imita-o, compraz-se com o entusiasmo
contagiante do professor. Imita o professor nas qualidades deste, no
estudo, na pesquisa, em sua ânsia de buscar a verdade e o saber;
- de que adianta alguém ter a casa cheia de móveis, artigos e
eletrodomésticos, piano e não saber utilizá-los? O mesmo ocorre
com o estudante cheio de conteúdo, mas que não sabe utilizá-lo
quando necessário.
Observe quantas formas de atividades podem ser usadas em vez de
“dar aula”. E essas atividades são, seguramente, mais importantes para se
alcançar objetivos úteis ou se chegar à aprendizagem. O professor deve
deixar de “dar aula”, sofrer menos e fazer com que os alunos aprendam
mais.

8 Deficiências, erros e críticas aos professores

Em pesquisas feitas junto a alunos do Ensino Fundamental e Ensino


Médio, por alunos de Didática, foram levantadas muitas situações que
indicam críticas, falhas ou deficiências dos professores que, certamente,
não deveriam existir:
- incapacidade de controlar a turma;
- professores que não dominam o conteúdo;
- professores que não admitem atraso ou falta dos alunos;
- professores muito inteligente que “não conseguem passar o
conteúdo para alunos”;
- professores cansados ou muito idosos que não têm disposição e
até dormem em sala de aula;
- aulas monótonas, sempre no mesmo ritmo, com as mesmas
técnicas;
- ler o livro e fazer os exercícios, sem maiores explicações;
- paternalismo, dar notas boas e passar todo mundo. A fama desse
professor faz com que ninguém estude;
- voz fraca e pronúncia horrível; os alunos não entendem;
- dividir a classe em alunos fortes e fracos;
- cobrar detalhes que não interessam;
- proibir os alunos de dar opiniões ou fazer perguntas;

89
- professor inseguro, não sabe o que fazer na sala;
- criar barreira entre alunos e professor. Isso inibe os alunos;
- professores que se julgam muito inteligentes e querem se mostrar
como tais;
- acúmulo de conteúdos no final do semestre. Isso demonstra falta
de planejamento;
- perder a confiança no aluno, quando este tira nota baixa;
- professores que correm muito com a matéria, têm programas muito
extensos, “puxam muito e explicam pouco (superficialmente)”;
- há professores que não saem daquilo que foi planejado para o dia.
Diante de qualquer coisa fora disto, eles se perdem;
- há professores que chegam para a aula, sem saber o que vieram
fazer. Não têm planejamento nenhum: “Eu já tive um professor que
nem sabia que matéria ele dava para a minha turma. Certo dia, ele
chegou na sala e perguntou: “Que matéria eu dou para essa turma?’”;
- professores muito além do nível da turma;
- o professor impor sua opinião e até chantagear o aluno para aceitá-
la;
- há professores que não veem os alunos como seres humanos, nem
sequer conversam e não têm interesse por eles;
- há professores que trazem os problemas pessoais para a escola e
falam sobre eles o tempo todo;
- demonstrar medo do diretor perante os alunos;
- “eu tive um professor que jogava o meu caderno no chão, quando
eu errava”;
- passar a matéria do livro no quadro e fazer questionário muito fácil
sobre ela: “Parece que era para matar tempo, por não saber como
dar aula”;
- “certo professor batia na cabeça dos alunos, quando eles erravam;
um outro atirava giz neles”;
- muitos professores humilham seus alunos, dando até apelido para
alguns;
- impedir que os alunos conversem;
- falar a aula toda. Isso provoca monotonia, desatenção e conversas;
- tratar os alunos como crianças;
- “um professor apresentava sempre conteúdos medíocres”;
- “o professor exigia que os alunos decorassem os verbos, mas não
sabia aplicá-los”;
- professor que não respeita o potencial individual dos alunos;
- falta de humildade de certos professores;
- professores que ficam no convencional, no tradicional, sem abrir
novos horizontes para os alunos;
- há professores que não “sabem explicar a matéria e nem se
expressar com clareza’;

90
- professores que fazem questões de prova que nem eles sabem
responder;
- a maioria dos professores não sabe ensinar as coisas práticas que
interessam para a vida dos alunos.

Esses foram alguns pontos levantados. Alguns mereciam


comentários ou explicações, porém deixemos por conta do leitor a análise
de cada um deles, quanto à validade, causas e maneiras de evitar esses
erros.

9 A formação do professor

A primeira coisa que todo professor precisa saber é para que o aluno
precisa ser educado, o que e como deve aprender.
O professor, na prática, tem que pensar constantemente no tipo de
homem que pretende formar e que transformações espera que ocorram na
sociedade com ou por meio dessa pessoa assim formada.
O professor precisa ter conhecimento claro dos pressupostos que
fundamentam sua ação. Deve saber explicitar por que trabalha esses
conteúdos, por que utiliza esses métodos e por que visa a tais e tais
objetivos. O professor precisa ter os conhecimentos de um educador.
A ideia de que a escola tem por função preparar o aluno para o futuro
já é do passado. Prepará-lo para viver na sociedade é muito pouco, ou é
muito indefinido. É preciso que o professor tenha ampla visão do ser
humano, da sua origem, da sua natureza, da razão de sua existência. É
preciso que ele conheça sua história, a história da civilização e do mundo
que ele criou e que continua criando. É preciso conhecer o meio em que
ele vive: físico, biológico, social e político. É preciso, sim, prepará-lo para
saber enfrentar o futuro, para ser capaz de se adaptar facilmente às rápidas
mudanças que vêm ocorrendo.
O professor está inserido num contexto social o qual deve conhecer
bem e em todos os aspectos. Deve saber como é o país em que ele mora,
quais são os seus problemas e como vivem as pessoas da comunidade que
os cerca.
Para isso, ele precisa ler muito e estar atualizado. O professor, sem
uma vasta cultura geral, não pode estar engajado em seu meio; não pode
ser professor competente.
O professor competente tem autoconfiança, é crítico e capaz de
tomar decisões. O professor competente é respeitado e imitado em função
do seu conhecimento e das posições que assume.

91
10 CONCLUSÃO

Este capítulo ficou um tanto longo em virtude da importância do


professor no processo de educação/aprendizagem. Ele realmente é a vida,
é a alma da escola. É o centro animador e dinamizador da aprendizagem.
Os próprios alunos, ao avaliar a escola e a qualidade do ensino, se referem-
se quase sempre ao professor. Por isso, tentei explorar mais o assunto.

92
Capítulo VI

Fundamentos e princípios
da Didática
1 Fundamentos

A Didática tem seus fundamentos em várias ciências. Dentre elas,


podemos citar a Filosofia, especialmente a Filosofia da Educação, a Biologia, a
Psicologia, a Sociologia, a Metodologia Científica, História e as Neurociências.
A Filosofia levanta várias questões que levam o educador a refletir, entre
as quais: o que é o homem? por que existe? donde veio? qual a sua natureza?
de que ele é capaz? o que ele deve ou não fazer? quais seus direitos? quais
seus deveres?
A partir da resposta a essas questões, o homem forma a sua própria
filosofia de vida.
A maioria das correntes filosóficas afirmam que o homem é um ser
especial, educável, livre; mas, inquieto. O homem é um ser capaz de sempre ir
em busca da perfeição. Ora, se é capaz, ele deve se aperfeiçoar. Daí a
importância da educação.
A Biologia, por sua vez, indica a natureza biológica do homem. Este
precisa de alimentação, água, repouso e temperatura adequada para sobreviver.
Sem isso, ele também não tem condições de aprender. A Didática tem que levar
em consideração a hereditariedade do aluno, o temperamento, a saúde, a fadiga
e seu sistema nervoso, entre outros fatores biológicos.
A Sociologia estuda as formas e condições de vida social. Indica os
valores, os costumes e os problemas sociais. O homem deve viver bem em seu
ambiente. Para isso, precisa conhecê-lo e atuar positiva e cooperativamente
para melhorá-lo. Numa sociedade democrática, é preciso que o homem participe
ativa e responsavelmente para o desenvolvimento do meio ambiente. O homem
é um ser gregário e comunitário. O relacionamento do aluno com o seu meio e
as influências deste sobre o aluno precisam também ser consideradas para que
ele tenha uma boa educação. Ajudar a solucionar os problemas sociais e tornar
o homem mais feliz é uma das importantes funções da Didática.
A Didática vale-se também da Metodologia Científica. Esta indica os
métodos e técnicas para se fazer ciência. Os fundamentos, os métodos e as
técnicas da Didática foram testados, experimentados e comprovados como
válidos cientificamente. A ciência da Didática nos diz quais as técnicas que
deram certo e quais são as mais eficientes para se alcançar os objetivos do

93
ensino. Isso evita que cada professor tenha que começar tudo de novo, com o
risco de não dar certo.
O próprio tratamento que se atribui à educação deve ser científico. O
planejamento do ensino, a sua execução, a elaboração dos currículos, a seleção
das técnicas, dos conteúdos e a avaliação devem ter procedimentos científicos.
A História informa-nos sobre o passado do homem, sua evolução, suas
descobertas, sua forma de viver e sobreviver. A História exerce enorme
influência sobre a criança, pois reflete todo o passado do homem sobre ela
mesma. A criança assimila, consciente ou inconscientemente, o meio em que
ela vive, os costumes, as atitudes, as habilidades, enfim a cultura que a cerca ou
que chega até ela.
Os mais importantes fundamentos da Didática, porém, são encontrados
na Psicologia. Dela, podemos aprender que o educando tem características
distintas em cada fase da vida. Em cada fase, ele tem necessidades, motivos e
capacidades diferentes para aprender.
A Psicologia da Educação define como é a natureza da pessoa humana
e, sobretudo, da criança. Explica a importância dos motivos, dos desejos, dos
impulsos, das emoções e dos interesses dos alunos. Orienta-nos quanto às
influências das tensões, das angústias, das frustrações e do desajustamentos
na aprendizagem. Diz-nos que a criança é essencialmente irrequieta e ativa e
que é incapaz de ficar parada.
Há várias teorias que pretendem explicar os fenômenos da motivação, da
natureza e do processo da aprendizagem para tornar esta mais consciente, mais
duradoura e mais dinâmica. Vejamos, a seguir, algumas ideias e conceitos de
educadores e teorias psicológicas.
Kerschensteiner deu ênfase à atividade do aluno. Os conceitos, segundo
ele, formam-se pela ação e não pela abstração da realidade ambiental. Pelo
fazer do aluno, é que ele aprende, e não pelas informações passadas por outros
e pelos livros.
O aluno deve ter oportunidade de observar, tocar, fazer e experimentar. A
observação exige processo mental intenso. Isso leva o aluno a formular
hipóteses e a experimentar o que gera saber de experiência, e não de
informações verbalistas. O conhecimento está na atividade do aluno, e não no
do professor.
Dewey teve ideias parecidas, mas com a ação voltada para a sociedade.
Segundo ele, é a atividade que leva à reflexão. A observação e o pensamento
seriam instrumentos de adaptação. A criança estaria constantemente se
adaptando às situações que surgem, ao grupo e ao meio. Para fazer isso, a
criança estaria sempre atenta, prestando atenção. Muita coisa, ela não sabe.
Mas, ela é curiosa e pensa em alternativas de resposta, de solução para os
problemas desconhecidos. Ela vai experimentando as alternativas ou hipóteses
mais prováveis para satisfazer sua curiosidade, até que as encontre.

94
Essas situações sucedem-se continuamente. Cada resposta é analisada
pela criança, é ligada com as que ela já conhece e é generalizada para resolver
os problemas sociais.
Segundo Dewey, isso ocorre mais facilmente quando os alunos têm
condições de discutir os problemas e conviver em grupos, como se fosse numa
sociedade em miniatura.
Claparéde teve ideias semelhantes às de Kerschensteiner e Dewey.
Segundo Claparéde é o ato e a reflexão que readaptam o indivíduo que
constantemente estaria encontrando dificuldades. Dificuldades estas que
passariam a ser necessidades. Necessidades que provocariam o pensamento e
a ação.
Essas situações levam a pessoa a buscar dados, informações, conceitos
e meios para satisfazer às necessidades. E essa busca de dados leva o indivíduo
à aprendizagem, sem sentir e sem saber que está aprendendo.
Piaget foi um psicólogo e educador que maiores contribuições trouxe para
a Didática. Ele admitia uma pedagogia científica, baseada na genética da
atividade intelectual. Afirma que há níveis de atividades intelectuais que vão dos
mais simples para os mais complexos e que neles, os alunos ampliam as
concepções de espaço, tempo, quantidade, qualidade, entre outras.
A inteligência é constituída por uma estrutura. Constrói-se a estrutura ao
organizar o real. A inteligência é formada pela ação, pelo fazer, pelo resumir,
pelo debater, pelo pesquisar e pela solução de problemas.
O conhecimento, assim, resulta da ação. No exterior, lida-se com objetos;
no intelecto, com ideias. É com ideias que criamos estruturas mentais
operatórias superiores.
Falamos em estruturas, mas o que vem a ser isso em psicologia? É a
ligação de neurônios que permitem percepções e formam associações; é a
ligação de ideia com ideia, que se transforma em pensamento e raciocínio.
A concepção behaviorista defende que o conhecimento é cópia da
realidade por meio dos sentidos. A concepção piagetiana é a interiorização das
ações, que leva ao pensamento operatório.
Não somos recipientes vazios, nos quais podem ser derramadas ideias.
Estas precisam ser captadas por um intelecto ativo, com estruturas próprias,
capazes de reelaborá-las.
Quando uma pessoa se expressa de forma elegante, estética,
criativamente, é porque tem uma estrutura mental operatória bem desenvolvida.
E isso é conseguido pela atividade intelectual graduada na qual sempre atua a
ação mental do aluno.
Bruner, por sua vez, preocupa-se com a captação da estrutura de um
assunto que facilite o relacionamento com outras coisas de maneira a dominá-
lo.
A aprendizagem deve ser progressiva. A pessoa pode aprender as
mesmas coisas em todas as etapas de sua vida, mas, cada vez, de forma mais
complexa e profunda.

95
Inicialmente, a criança deve deduzir intuitivamente as ideias e aplicá-las.
Depois, passa ao pensamento lógico-dedutivo. A intuição leva à perspicácia, à
formulação de hipóteses e a conclusões. A intuição descobre novos fatos; é uma
captação imediata do problema ou da solução.
Bruner apela para que didatas e especialistas encontrem meios para
estimular a intuição, que é a base da criatividade. Ele preocupa-se também com
a motivação. Um filme pode ser um bom incentivo, mas é passageiro. O que
importa mesmo é desenvolver, no aluno, o amor e a paixão pelo saber. Isso fará
com que ele prossiga na busca pelo saber durante toda a vida.
O ambiente de onde a criança procede tem grande influência sobre o
processo. Por isso, a escola deve criar um ambiente que desenvolva, no aluno,
a prontidão para aprender coisas, mais cedo do que na idade considerada como
própria. A criança deve aprender tudo o que for possível e aprender o mais cedo
que puder.
Carl Rogers foi outro psicólogo que estudou com profundidade a questão
da aprendizagem e trouxe várias inovações interessantes para a educação.
Segundo Rogers, toda pessoa deve chegar a compreender-se e a
resolver seus problemas. O educador criaria, portanto, uma atmosfera de
segurança e de calor que possibilitaria ao aluno alcançar a compreensão e a
encontrar, por si mesmo, a solução para o seu problema. Usar-se-ia a empatia,
por comunicação verbal ou não verbal, e a compreensão e a aceitação do
aprendiz. O ensino deveria ser centrado nos problemas e nos sentimentos do
aluno. Assim, o aluno sentir-se-ia livre para elaborar suas experiências.
A liberdade que o autor prega é apenas quanto à representação mental e
à expressão dos dados de experiência e não por atos antissociais. Isso quer
dizer liberdade de pensar e produzir, e não de fazer o que se quer. A concepção
aplicada ao ensino, defendida por ele, visa estimular a iniciativa, a
responsabilidade, o espírito crítico, a cooperação, a criatividade, a
adaptabilidade e a socialização. O educador estimula e dá condições, mas quem
aprende é o aluno. Devemos, portanto, deslocar o eixo da matéria do ensino
para a pessoa que vai aprender e dar toda atenção ao aluno, pois a matéria a
aprender é objeto dele e não do professor; os próprios objetivos seriam
estabelecidos pelos alunos em função de seus interesses e necessidades.
Para ser possível a Didática não-diretiva de Rogers, é necessário que as
turmas sejam reduzidas; que os professores tenham sólida base psicológica; e
que os critérios de avaliação sejam elásticos.
Allport foi outro grande psicólogo que abordou a questão da educação.
Ele preocupou-se muito com o estudo do “eu” da pessoa. Toda pessoa se
preocupa consigo mesma, com sua autoimagem e se autovaloriza.
As vezes, a pessoa retrai-se, fica na rotina para garantir segurança, evitar
angústia e ansiedade. Outras vezes, busca a aventura e a novidade. Tudo está
em função do seu “eu”, mas qualquer atitude vem acompanhada de tensão
psíquica. Qualquer sinal para aliviá-la se torna fator de motivação.

96
O que move, com mais intensidade, uma pessoa é o seu desejo de
autorrealização. Esta é motivação de alto nível. É fonte de ideias.
Allport preocupou-se muito com a felicidade do aluno. Disse que a
descrença, em si e o desânimo com relação à sociedade são problemas
relacionados à educação e podem, portanto, ser evitados por ela.
Segundo ele, o homem tem que ser educado para o futuro. Formar o
homem não é ensinar matéria específica, mas abrir sua mente, faz com que ele
tenha abertura e flexibilidade mental.
Mais importante que métodos, técnicas, procedimentos e recursos é a
visão global do processo de educação e do que se pretende alcançar. Quando
nos preocupamos com os problemas educacionais e amamos nossos alunos,
descobrimos a melhor maneira de trabalhar. É uma didática da liberdade.
Vejamos, a seguir, alguns princípios da aprendizagem que expressam,
resumidamente, os fundamentos da Didática.

2 Princípios da didática

2.1 O que se entende por princípio

Princípio é quase o mesmo que norma, lei. São afirmações geralmente


extraídas das ciências que fundamentam a Didática, especialmente da
Psicologia da Educação e das neurociências. Elas dizem, sinteticamente, o que
deve ser respeitado ou feito para que a aprendizagem seja mais eficiente e
científica.
Os princípios da Didática podem também ser chamados de princípios da
aprendizagem.

2.2 Por que o professor deve conhecer os princípios da Didática

É comum os professores terem problemas em sua sala de aula. Entre


estes, destacam-se a falta de interesse dos alunos, a indisciplina e a falta de
participação. Muitos alunos, mesmo interessados e prestando atenção, não
aprendem, ou, no sistema tradicional, tiram notas baixas e os professores ficam
sem saber o que fazer.
Há professores que se desesperam com isso e sofrem muito. Outros
perdem todo o ânimo e se tornam professores relapsos. Por quê? A causa
principal é, seguramente, o não conhecimento dos princípios da aprendizagem
ou a não aplicação deles na prática.
O professor, conhecendo os princípios, pode, ele mesmo, inventar
estratégias ou técnicas que levem os alunos a participar mais e entender melhor.
Estará, assim, respeitando a natureza do educando e a Didática como ciência.
Pobre é o professor que utiliza técnicas e não sabe por que as usa e nem
prevê os resultados que pode alcançar com elas. Este é um professor que não

97
tem mentalidade científica e não conhece as teorias da educação ou da
aprendizagem.
Vejamos, a seguir, algumas situações que envolvem princípios de
Didática.
Todo aluno quer ser livre, autônomo e independente. É a própria natureza
da pessoa humana que determina que ele queira ser assim. Se o professor os
respeita, está agindo cientificamente.
Às vezes, veem-se crianças pequenas, de um ano ou dois, reagirem aos
nossos pedidos. Não aceitam nem ser beijadas, sem sorrir para elas ou agradá-
las antes.
O aluno é um ser de vontade. Ele só faz alguma coisa, se quiser fazer. Só
aprende, se quiser aprender. Obrigá-lo a aprender por meio de ameaças e
castigos, de nada adiantará. Ele até pode aprender, mas vai ficar revoltado e
com ódio de estudar, da escola, do professor ou da matéria.
Viver é aprender. E aprender deve ser viver. O aluno deve aprender o que
tem relação com a vida dele, com o que ele gosta e que tem sentido para ele. O
aluno precisa ter oportunidade e liberdade para viver a sua vida intensamente.
Por isso, o professor precisa criar, na escola, ambiente de liberdade e respeitar
interesses, necessidades, objetivos e ideais dos alunos. Deve orientá-los e
assisti-los para que alcancem a plenitude de seus ideais.
Todo aluno quer ter reconhecidas suas qualidades e seu esforço. Pode
ser difícil para o professor dar atenção a cada um dos alunos, procurar conhecer
suas qualidades e reconhecer o esforço de cada um deles, mas vale a pena.
Não é assim que gostaríamos de ser tratados?
O homem é sujeito de prazer, isto é, faz aquilo que dá prazer, que é
agradável, de que gosta. Cada aluno tem gostos diferentes. Daí o professor ter
que procurar conteúdos, experiências e atividades que possam agradar a cada
um em particular, ou ao menos à maioria da classe.
Cada aluno amadurece e se desenvolve psicológica e intelectualmente
em ritmo próprio. Isto quer dizer que alguns alunos se desenvolvem mais
rapidamente que outros. Assim, numa mesma sala, temos alunos com os mais
diversos níveis de capacidade de aprender, segundo o estágio em que se
encontram e segundo as capacidades que têm.
Todos os alunos são curiosos. Uns mais, outros menos. Alguns, por umas
coisas; outros, por outras. Ligando este princípio com o anterior, percebemos
que nem todos os alunos têm as mesmas condições de aprender, e que nem
todos querem aprender as mesmas coisas. Mas, é certo que todos têm
condições de aprender alguma coisa. Muitos têm curiosidade por poucas coisas,
mas há também os que têm curiosidade por muitas coisas. É direito deles
aprenderem ao menos o que querem aprender. É dever do professor atender a
esse direito.
O próprio aluno é o seu agente de aprendizagem. Quem aprende é o
aluno. Por melhor que seja o professor e por mais que ele queira, o aluno só
aprende se quiser e pelo próprio esforço. Por isso, o professor deve selecionar

98
conteúdos e atividades que sejam do agrado do aluno e deixar o próprio aluno
trabalhar, e não trabalhar por ele.
O aluno tem sentimentos e emoções. O aluno gosta de fazer amigos, de
ser estimado, considerado e amado. O professor deve criar clima de calor
humano em que possa ser cultivada a amizade, a camaradagem, a compreensão
e o respeito. Deve evitar que possa haver problemas entre colegas e jamais
humilhar os alunos.
Se pedirmos para os alunos lerem assuntos que não sejam do interesse
deles, vão dizer que é tudo a mesma coisa, não vão distinguir entre um assunto
e outro, não prestarão atenção. Mas, se apresentarmos assuntos que interessam
a eles, perceberão os mínimos detalhes e ficarão atentos a tudo.

2.3 Exemplos de aplicação de princípios

Paulo é encarregado de colocar trilhos para uma estrada de ferro. Para


que colocar trilhos? O objetivo, é lógico para o trem passar por cima deles. O
objetivo imediato é, portanto, propiciar condições para a passagem do trem.
Na primeira vez que passou pelos trilhos, o trem tombou. Paulo tinha
colocado os trilhos, mas o objetivo não foi alcançado. Por quê? Ou melhor, qual
a causa do descarrilamento?
É que Paulo não conhecia o princípio da dilatação dos corpos: “ferro,
quando esquenta, dilata”. Ele colocou os trilhos, com 10 metros de comprimento
cada um, com uma ponta encostada na outra, em dia bem frio. No dia em que o
trem passou, estava um sol muito forte; os trilhos haviam se dilatado e entortado.
Ele devia ter deixado o espaço de uns 3 centímetros entre um trilho e outro, já
que no dia em que ele os colocou fazia muito frio.
Paulo devia ter aprendido antes que o “ferro, quando aquecido, dilata”.
Faltou o conhecimento de um princípio científico para ele fazer o serviço. Como
não o conhecia, não alcançou o objetivo e provocou um enorme prejuízo.
A outra situação se refere a uma moça muito gorda, que queria emagrecer
a todo custo. Onde ela soubesse que poderia conseguir receita de comida para
emagrecer, ela ia. Chegou a juntar 70 receitas diferentes. Imaginemos o trabalho
que ela teve para colecionar as receitas e depois para as preparar.
Em vez de colecionar receitas, ela poderia ter procurado conhecer os
princípios científicos para emagrecer. Vejamos alguns exemplos de princípios,
de forma bem simples:

- evitar frituras e carnes gordas emagrece;


- evitar doces, massas e tubérculos emagrece;
- comer alimentos fibrosos emagrece;
- correr emagrece.

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Aqui estão quatro princípios. Se for respeitado cada um separadamente,
já dá para emagrecer. Mas, se forem atendidos os quatro ao mesmo tempo, a
probabilidade de isso acontecer aumenta muito.
O mesmo pode acontecer em Didática. Um professor pode procurar
receitas de técnicas em toda parte e, mesmo assim, não conseguir resolver os
problemas de aprendizagem de seus alunos. Todo professor deve conhecer, e
muito bem, os princípios de Didática.
A História da Educação está cheia de princípios de Didática. Embora não
constassem como princípios, eles nortearam a educação no passado. Apenas
recentemente, muitos deles foram confirmados como princípios.
As ciências que confirmaram esses princípios são decorrentes da
tomografia computadorizada do cérebro, chamadas de neurociências. Hoje
temos a neuropsicologia, neuropedagogia, neurodidática. Com estas, podemos
descobrir novos princípios em questão de dias e não mais em anos e séculos
como vinha sendo feito.
Agostinho de Hipona (ou Santo Agostinho) já afirmava, por volta do ano
390, que a criança precisa aprender primeiro o que as coisas são e só depois
aprender o nome delas. Hoje, aquela recomendação de Santo Agostinho
transformou-se em princípio que pode ter os seguintes termos: Aprende-se
primeiro o concreto, depois o abstrato.
Outros dois princípios vindos de Agostinho:

- A demonstração é melhor que as palavras.


- Só se aprende aquilo que é significativo.

Até hoje, esses princípios estão sendo pouco respeitados, apesar de


serem importantes. Há muitíssimos professores que ainda dão aula e julgam que
eles são a causa da aprendizagem do aluno. Sem esforço do aluno, sem que o
aluno observe, pense, compreenda, não existe aprendizagem, por mais que o
professor se esforce. Isto está amplamente comprovado pela Psicologia da
Aprendizagem e hoje confirmado pela Neuroeducação.
Vejamos, a seguir, uma lista de princípios de Didática. Alguns têm redação
um pouco diferente, mas o sentido é o mesmo.

2.4 Princípios básicos

- só há aprendizagem quando houver atividade do aprendiz;


- aprende-se melhor, participando ativamente;
- aprende-se a fazer, fazendo;
- aprende-se melhor o que se pratica;
- o aluno deve fazer alguma coisa;
- nunca se aprende uma coisa só;
- deve-se ir do conhecido ao desconhecido;
- o homem é um ser que busca prazer;

100
- o homem é um ser de vontade;
- aprender primeiro as coisas, só depois as palavras;
- aprender do concreto para o abstrato;
- “formar a inteligência antes da língua”
- “dar exemplos antes de ensinar as regras.”
- deve-se ir do próximo para o remoto;
- deve-se ir do todo para as partes;
- antes de começar a aprender, o aluno deve querer aprender;
- o aluno deve ter prontidão para a aprendizagem;
- aprende-se do mais fácil para o mais difícil;
- aprende-se melhor aquilo que é significativo;
- só o significativo chama a atenção do aluno;
- só se aprende o que se compreende.

2.5 Princípios complementares

- o raciocínio desenvolve-se pela ação;


- o aluno deve aprender coisas úteis;
- em tudo que o aluno aprende, ele deve ver uma utilidade;
- a aprendizagem ocorre melhor, quando satisfaz a motivos individuais;
- apresentar aos alunos coisas ou atividades que eles sejam capazes de
compreender;
- a aprendizagem deve ser iniciada no nível em que se encontra o aluno;
- nada o aluno deve aprender, sem aprender também o como e por que está
aprendendo;
- é a dificuldade que provoca o pensamento e a ação;
- o aluno deve sentir dificuldade ou problema;
- o conhecimento e os conceitos resultam da ação;
- a atividade intelectual aparece e desenvolve-se quando há um fim a atingir;
- o esforço é proporcional aos motivos que impulsionam o aluno;
- as atividades de aprendizagem devem ser relacionadas com a vida real e
com as aspirações do aluno;
- dominar a estrutura do assunto facilita a aprendizagem;
- o aluno deve ter interesse pelo que estuda e pelo que faz;
- toda aprendizagem nova deve ter ao menos alguma semelhança com a
aprendizagem velha.

3 Tecnologia educacional

Tecnologia educacional é a aplicação dos princípios e das descobertas


científicas das diversas disciplinas do campo da educação na educação. É
aplicar ciência na educação.

101
A tecnologia educacional tem seus fundamentos na Psicologia da
Educação, na Biologia Educacional, na Sociologia, nas neurociências. Estas
estudam a natureza da criança e apresentam os princípios que devem ser
seguidos pelo educador para que este tenha êxito na sua função de educar.
Tecnologia educacional é compreensão e respeito à natureza do aluno.
A tecnologia educacional pode e deve utilizar a tecnologia aplicada à
educação, mas de nada adianta. Isso seria o mesmo que puxar uma planta para
crescer mais depressa a qual pode se quebrar ou ficar deformada por não ter
sido respeitada sua natureza. A força da planta vem de dentro dela.
O mesmo acontece com os alunos. A força para sua educação vem de
dentro deles, de suas necessidades, interesses, aspirações e, principalmente,
de sua vontade.
A ciência agrícola descobriu que cada planta só cresce bem em
determinados tipos de solo. Coletou amostras desse solo e as examinou em
laboratórios especiais. Após muitos estudos, foram elaboradas tabelas,
contendo os elementos minerais e as respectivas porcentagens que o solo deve
ter para cada tipo de planta. A cenoura, a beterraba, o repolho, cada uma
necessita de elementos e/ou porcentagens diferentes.
Hoje, o agricultor não precisa mais escolher o solo para fazer suas
plantações. Faz a análise do solo e corrige-o, acrescentando os minerais que
faltam para cada tipo de planta que pretende cultivar. A isso, chama-se
tecnologia agrícola.
De forma semelhante, deve trabalhar o professor: conhecer os
fundamentos da educação para poder trabalhar cientificamente com seus
alunos.

4 Conclusão

O que vem antes, a teoria ou a prática? Em educação, a prática veio


antes. Foi da prática que surgiram as teorias. Mas, hoje, a teoria deve vir antes,
pois já foi feita muita prática e têm-se muitos princípios decorrentes dela.
Todo professor tem sua teoria de aprendizagem, embora nem sempre
tenha consciência disso ou não a saiba fundamentar. Ele pode também se guiar
por teorias ultrapassadas e até empregar mal estas teorias.
O professor precisa estar atualizado quanto ao que existe de mais recente
sobre os fundamentos da educação e sobre Didática. Precisa conhecer as várias
teorias, analisá-las e extrair o que cada uma tem de bom e de útil. A ação do
professor deveria ser consciente e bem fundamentada.
De Dewey, podemos aproveitar o princípio de que o aluno aprende
solucionando problemas; que ele observa, levanta hipóteses, experimenta e
conclui; que o problema o faz pensar, raciocinar. Dá um bom fundamento quanto
aos métodos de aprendizagem.

102
Da teoria de Piaget, conclui-se que é a necessidade de respeitar os
alunos; que se monta a estrutura da inteligência pela ação sobre o real. Traz
base para a organização do currículo e para os métodos também.
E, assim, podemos ir longe, analisando as teorias, uma a uma, para
fundamentarmos o nosso trabalho com os alunos.

103
Capítulo VII

O que faz o aluno gostar


de estudar
Nada se move, sem uma causa. Tudo o que se move tem uma direção.
O aluno é assim: a causa que o move é a sua natureza. A direção é a sua
autorrealização. O aluno é como um objeto muito pesado que foi jogado com
força numa direção. Seria loucura querer impedi-lo ou dar-lhe direção contrária.
O que podemos fazer é auxiliar, canalizar suas forças ou abrir o caminho para
que consiga alcançar seu alvo.
A natureza humana tem seus segredos que precisam ser conhecidos e
respeitados pelos professores. A personalidade do aluno é uma força que tem
rumos próprios. Seria contra a natureza e contraproducente tentarmos dar rumos
diferentes.
O homem sempre tem necessidades, sempre tem motivos. É necessário
que o professor saiba quais são eles e os canalize para a aprendizagem e/ou
educação.
A maioria dos professores ainda se pergunta: por que meus alunos fazem
“bagunça”? Por que muitos alunos não estudam, não fazem tarefa? O que é que
deve ser feito?
Primeiramente, precisamos conhecer a natureza humana e cada aluno
em particular; depois, analisar constantemente o meio que o cerca, a sociedade
que o envolve, e ver quais são as forças que o puxam em uma determinada
direção.
Vejamos agora, dos próprios alunos, o que os faz gostar de estudar.

1 Depoimentos de alunos

1.1 Por que o aluno gosta de estudar

Fiz uma sondagem com alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e


do Ensino Médio para verificar o que os leva a gostar de estudar. A pergunta
colocada para eles foi: “você gosta de estudar? Em caso afirmativo, o que faz
você gostar de estudar?”.
Vejamos algumas respostas, com a redação melhorada por nós:

104
“O que me faz gostar de estudar são as matérias mais práticas,
movimentadas e que tenham interesse para mim.”
“A maneira de o professor se expressar; o dinamismo com que é dada a
matéria e a compreensão da mesma.”
“Se consigo resolver os exercícios, gosto da matéria.”
“Se o professor é animado, a aula também é interessante.”
“Gosto de estudar para ser alguém no futuro, para ter uma colocação
melhor e para aprender a falar certo.”
“Se a matéria me agrada... eu vou bem. Mas, se o professor é legal,
também ajuda.”
“Quando eu consigo compreender bem a matéria, fica gostoso estudar.”
“Existem matérias que eu gosto de estudar, devido à facilidade, clareza e
objetividade do professor; devido à concretização e ao bom relacionamento entre
o professor e o aluno. Existem matérias com as quais não tenho muita afinidade
devido ao alto número de teorias e pouca prática.”
“As matérias preferidas são as da área de exatas, devido à facilidade e
por estarem ligadas ao ramo da tecnologia. Não gosto de literatura, pois, prá
mim, não há nenhuma utilidade.”
“Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa. Portanto, gosto de estudar para
satisfazer as minhas curiosidades e também porque somente através de estudo
terei maiores conhecimentos e oportunidades de trabalho.”
“Eu gosto de estudar Química e Física, pois a gente estuda os elementos
químicos, velocidade, tempo e outros. Educação Física eu gosto, porque tenho
chance de participar de campeonatos e fazer novas amizades.”
“Eu gosto de estudar para estar por dentro de tudo o que me diz, ou não,
respeito. Porque estou sempre me testando. Também porque faço muitas
amizades.”
“Para ter uma profissão.”
“Porque aprendo coisas novas e diferentes.”
“Para ter uma vida melhor.”
“Gosto de estudar, tendo preferência por algumas matérias, por causa dos
professores que são mais legais.”
“Porque o professor transmite segurança, objetividade e carinho pelo que
faz e principalmente pelos alunos.”

1.2 Por que o aluno não gosta de estudar

A pergunta colocada é a negativa da anterior. “Em caso negativo, o que


faz você não gostar de estudar?”
Vejamos algumas respostas:
“Eu não gosto de estudar, porque sou obrigado, mesmo gostando da
matéria ou do professor. Porque os professores usam métodos não muito
aceitos. Se o aluno não tira uma nota boa, dentro da média exigida pela escola,
ele não passa de ano.”

105
“Não gosto de estudar, porque é cansativo, e exige muito esforço mental.
E existem alguns professores que não colaboram com os alunos para que
possam ter mais interesse. Assim, não haverá integração entre ambas as
partes.”
“Porque existem matérias de que não gosto por causa das dificuldades,
por ter antipatia pela matéria e pelo professor e por ter muita abstração. Torna-
se cansativa e chata.”
“Se não consigo resolver o exercício, perco o interesse.”
“Não gosto de estudar, porque é chato.”
“Porque não tenho incentivo dos pais.”
“Porque as aulas são cansativas.”
“Não gosto da matéria, quando tiro notas baixas. Então, desanimo e não
consigo mais ir bem ou voltar a gostar dessa matéria.”
“Porque preciso trabalhar para ajudar em casa.”
“Porque perco os finais de semana estudando ou fazendo trabalhos.”
“Por ter que fazer provas e ter que estudar, o que não é de meu interesse.”
“Os conteúdos expostos pelo professor são desestimulantes.”
“Não gosto de Matemática e Geografia, porque são matérias
complicadas.”
“Não gosto de algumas matérias, pois os professores não demonstram
entusiasmo ao transmitir a matéria. Transformam esta em algo estafante; não
aparentando, assim, ser ela de grande importância.”
“Porque sou muito distraída, não consigo fixar a atenção em nada. Vou à
escola por causa das amizades e dos paqueras. Acho que, na vida, a gente não
precisa estudar para ser feliz.”
“Devido ao cansaço e à falta de tempo.”
“Porque a escola está fora da realidade.”
“Porque é sempre a mesma rotina.”
“Não gosto de Matemática, pois a professora não dá atenção, quando eu
faço perguntas sobre o que eu não entendo.”
“Porque toma meu tempo de brincar e de trabalhar.”

2 Fundamentos da motivação

É importante estudarmos os fundamentos da motivação, porque eles nos


dão as bases científicas das razões pelas quais a pessoa age, uma vez que ela
não é capaz de ficar parada. Muitos estudiosos fizeram pesquisas sobre o
assunto, principalmente psicólogos e educadores. Assim, teremos algum
conhecimento sobre a natureza humana.
Motivação vem de motivo para a ação. E os motivos para a ação vêm de
dentro da pessoa. É fruto ou consequência de suas necessidades, interesses,
desejos, aspirações e intenções. De forma que, se quisermos saber quais são

106
os motivos que levam um aluno a agir, precisamos, basicamente, conhecer suas
necessidades e interesses. Analisemos um pouco a questão das necessidades.
As necessidades mais fortes são relacionadas à sobrevivência, são as
biológicas. A pessoa faz toda força possível para se manter viva e não sentir dor.
A fome e o frio é uma ameaça para a vida ou fazem sofrer.
Se, por exemplo, um aluno está passando fome, o primeiro motivo que o
leva a fazer alguma coisa é para saciar essa fome. Se tem sede, ele age para
matar a sede. Se tem frio, ele procura agasalho. A ele, não importa escola, nem
matéria, nem professor, nem reprovação, nem ameaças e nem punições. A
satisfação das necessidades biológicas vem em primeiro lugar.
Suponhamos que essas necessidades estejam satisfeitas e que não
sejam mais problema. Outras aparecerão. Ainda no nível biológico, ele poderá
querer segurança, prazer, conforto e bem-estar. Ele age para ter onde morar,
para não ter ameaça física, para não sofrer punições e maus tratos. Qualquer
sintoma, neste sentido, coloca-o tenso e disposto a fazer algo para evitar esses
perigos. Ele pode procurar, também, fazer esforço para ter uma vida melhor.
Dependendo da idade do aluno, a segurança pode implicar também estar
com seus pais ou com quem o ame, apóie-o e proteja-o.
Satisfeitas as necessidades biológicas, passam a ter destaque as
necessidades sociais. O aluno precisa sentir que é amado. Isso dá a ele
tranquilidade e gera bem-estar. Ele gosta de estar com outras pessoas, pais,
amigos, colegas. Ficar sozinho faz com que ele se sinta mal. Ele age e esforça-
se para ser amado, estimado, compreendido e para poder estar com outros.
No grupo das necessidades sociais, está ainda o prestígio. O aluno quer
e precisa sentir que tem aceitação ou posição relevante no grupo ou na
sociedade. Ele sente-se bem, quando é elogiado pelo professor, aplaudido ou
bajulado pelos colegas. Ele quer vencer, aparecer, ser alguém. Ele precisa, de
uma forma ou de outra, chamar atenção sobre si, ou com notas boas, ou com
desordem, ou com agressões ao professor; sobretudo ao professor “chato”.
Mais uma vez, tendo o aluno satisfeito às necessidades anteriores, outras
surgem. A pessoa humana é eternamente insatisfeita. Está sempre ansiosa.
Agora, aparece a necessidade de fazer sucesso e se autorrealizar. Ele quer fazer
sucesso nos estudos, o que demonstra pelas notas; quer fazer sucesso no jogo,
no esporte ou no trabalho. É por isso que os alunos têm pressa em conhecer sua
nota após fazer provas.
A autorrealização e a busca do ideal são as necessidades mais elevadas.
Como a pessoa nunca alcança o ideal, vai, ao menos, sempre crescendo,
aperfeiçoando-se.
Logo adiante, veremos com mais detalhes como podem ser aproveitadas
as necessidades dos alunos e como manter acesa essa motivação ou fazer com
que ela seja aumentada.

107
3 Motivação e incentivação

Já vimos anteriormente que motivação é o motivo que leva alguém a agir


para satisfazer uma necessidade, um interesse, uma intenção.
As necessidades provocam certo grau de tensão na pessoa que a deixa
preocupada, inquieta, até conseguir satisfazer a necessidade e alcançar o
objetivo.
Motivação é, portanto, estado psicológico em que a pessoa sente falta de
alguma coisa. Todas as pessoas têm motivação para uma ou para outra coisa.
Se o aluno não vê nenhuma perspectiva de satisfazer sua necessidade,
ou de aliviar seu grau de tensão, e se isto perdurar por longo tempo, ele entra
em estado de angústia, de aflição e até de neurose.
Se, porém, notar uma possibilidade de resolver o problema, ele anima-se
e passa a agir com mais esforço e até com sacrifício, se necessário.
O que é incentivação? Incentivação é o oferecimento dos meios, das
condições ou dos objetos que satisfaçam as necessidades das pessoas, para
que, assim, consigam diminuir o estado de tensão. É ir ao encontro da motivação
das pessoas, com aquilo que corresponde aos motivos delas mesmas.
Se alguém tem fome, tem motivação para procurar comida. Indicar onde
e como consegui-la é incentivação. Se alguém tem sede, deve-se mostrar como
conseguir água. Observe-se bem, mostrar como e onde conseguir comida e
água e não simplesmente dar comida e água. Porque, se der comida e água,
acaba a motivação. A pessoa acomoda-se. Não age mais.
Se alguém tem necessidade de afeto – e todas as pessoas têm – a
motivação é procurar afeto. O incentivo que corresponde a esta necessidade é
dar afeto. Aqui, sim, o professor pode dar o incentivo diretamente, pois a
necessidade de afeto não acaba nunca.
Para que o professor possa incentivar corretamente, precisa conhecer
bem o aluno: seu meio, sua família, sua saúde, seu temperamento, suas
necessidades, suas aspirações, seus hábitos e seus valores. É preciso saber de
que o aluno precisa e ir ao encontro dele. É preciso animá-lo, dando esperanças
de que ele terá satisfeitas as suas necessidades em breve.
A motivação pode ser intrínseca ou extrínseca.
Existe motivação intrínseca no aluno, quando ele estuda o assunto ou a
matéria por gostar da matéria em si, por ter visto nela algo que lhe agradou.
Um exemplo claro de motivação intrínseca é aquele depoimento dum
aluno, visto anteriormente: “Eu gosto de estudar Química e Física, pois a gente
estuda os elementos químicos, velocidade, tempo e outros”.
O aluno certamente se encontrou com esses assuntos. Ele está motivado
intrinsecamente, pela importância, valor ou satisfação que a própria matéria traz
para ele.
Motivação extrínseca é aquela em que o aluno é impelido a estudar uma
matéria para obter alguma vantagem ou benefício com ela. Um exemplo temos
com o mesmo aluno que deu o depoimento acima. Mais adiante, ele diz:

108
“Educação Física eu gosto, porque tenho chance de participar de campeonatos
e fazer novas amizades”. Note-se que ele gosta de Educação Física por razões
externas à matéria, para satisfazer às necessidades de competir, de vencer, de
estar com os outros e fazer novas amizades. Não é a matéria em si que lhe
agrada.
Quando o aluno estuda só por nota, para passar, para agradar ao
professor, agradar aos pais ou ganhar um prêmio prometido, tem apenas
motivação extrínseca.
Bom seria, se todos os alunos tivessem sempre uma forte motivação
intrínseca. Esta pode durar a vida toda; enquanto que a extrínseca desaparece
com o tempo.
Incentivação intrínseca é o uso de estímulos pelo professor para atender
a motivos que demonstrem interesse pela matéria, por parte do aluno. Aqui o
professor pode apresentar a beleza da matéria por meios auxiliares, por
atividades sobre conteúdo significativo e que seja facilmente compreendido
pelos alunos. O exame de células ao microscópio pode levar um aluno a se
maravilhar pela Biologia ou pela Botânica. É um meio de incentivação intrínseca.
Aproveitando também o depoimento de um aluno, que disse: “Quando eu
consigo compreender bem a matéria, fica gostoso estudar”, assim, tudo o que o
professor utilizar para satisfazer a curiosidade dos alunos sobre a matéria ou
para torná-la de fácil compreensão é incentivação intrínseca.
Incentivação extrínseca são todos os outros estímulos usados pelo
professor para conseguir fazer com que o aluno estude e se esforce. Os
estímulos podem ser positivos ou negativos.
Temos incentivação extrínseca positiva quando o professor utiliza
elogios, promete recompensas, dá notas altas, utiliza técnicas atraentes,
apresenta os benefícios que o aluno poderá obter com o conhecimento da
matéria na vida dele. O próprio professor, sua maneira de ser e seu entusiasmo,
pode ser incentivação extrínseca positiva. Estes procedimentos podem ser
utilizados pelo professor. Em si, não há inconveniente. Pode até mesmo ser o
ponto de partida para que o aluno, estudando, passe a gostar da matéria,
chegando a ter motivação intrínseca, que é o ideal.
A incentivação extrínseca negativa caracteriza-se por ameaças. Ameaças
de reprovação, de notas baixas, de castigo, de chamar os pais. Não deve ser
usada. Ela só faz os alunos se aborrecerem com a escola; ficar com ódio do
estudo e do professor.
Certa vez, um aluno de 4º ano, que sempre tirava notas nove e dez, tirou
uma nota dois. Ficou três dias sem falar com ninguém. Imagine o choque que
levou, a revolta que tomou conta dele e o ódio que deve ter sentido pelo
professor. Considerando-se que a melhor nota da classe foi cinco, conclui-se
que o erro foi do professor.
Cabe observar, nesse caso, que o aluno tinha o hábito de levar tudo a
sério, de ser caprichoso, de estudar. Ele tinha convicção de que sabia bem a

109
matéria e, no entanto, tirou nota dois. Estragou seu boletim, magoou seu ego,
sua autoestima. Enfim, ficou arrasado.
É por isso que o professor precisa conhecer também os hábitos dos
alunos para não provocar desincentivos absurdos como esse.

4 Por que o professor não deve motivar os alunos

Simplesmente porque os alunos estão cheios de motivos. Se o professor


conseguir satisfazer esses que o aluno já tem, conseguirá alunos atentos,
estudiosos, disciplinados e esforçados. Motivar, aqui, assume o sentido de
reforçar motivos ou criar novos motivos. Isso não deve ser feito, pois seriam
artificiais e pouco fortes. Se uma pessoa acabou de almoçar, ele faria o mesmo
esforço para buscar comida do que quem está com fome? Adianta querer
despertar nela motivo para comer mais? Pode ser provocada a fome ou
intensificada a vontade de comer naquele instante?
O que deve ser feito é descobrir os outros motivos que a pessoa tem para
agir que ainda não foram satisfeitos, e descobrir os incentivos correspondentes
para atendê-los.
Ao professor, cabe incentivar e não motivar. A motivação será reforçada
pelo próprio aluno, à medida que estiver recebendo os incentivos em dose
correta e estiver despertando, em si mesmo, novas necessidades e intenções.

5 Fontes de incentivação

As fontes de incentivação podem facilmente ser notadas nos próprios


depoimentos dos alunos, no início do capítulo. Eles falam que o que os faz gostar
de estudar é o conteúdo, o professor, os métodos, os seus próprios objetivos.
São estas, portanto, as fontes de incentivação. É delas que vêm todos os
incentivos que atendem aos motivos dos alunos e que os fazem gostar de
estudar.

5.1 O conteúdo

O conteúdo trabalhado deve ser significativo. Deve ir ao encontro dos


motivos dos alunos e estar ligado às suas experiências, ao seu nível de
entendimento, e ser de fácil compreensão. Eles não admitem estudar matéria
em que não veem sentido e utilidade.

5.2 O professor

O professor é, sem dúvida, a mais importante fonte de incentivação. Ele


dá afeto, carinho, segurança e atenção ao aluno. Ele o apoia, elogia-o e ajuda-o

110
a conseguir prestígio. É ele que analisa o aluno e o meio social e ajuda a
selecionar os objetivos, o conteúdo, as técnicas. Ele avalia o aluno, informa
sobre o progresso e sobre o alcance dos objetivos do mesmo. É ele ainda que
dinamiza a aula, facilita a compreensão e torna o estudo agradável.

5.3 Os métodos

Os alunos têm necessidade de atividade. Eles gostam de métodos ativos


de que possam participar. Eles não gostam de ficar parados. Se as técnicas
usadas forem para trabalhar em grupo, ou em forma de jogo, melhor ainda. Aí
terão oportunidade de estar com os outros, obter prestígio, reconhecimento. De
qualquer forma, porém, os métodos devem também ser agradáveis, facilitar a
compreensão e ser adequado para o alcance dos objetivos.

5.4 Os objetivos

O aluno quer a satisfação de suas necessidades e de suas intenções. Os


objetivos deveriam ser traçados de forma a ficar embutida a satisfação daquelas.
Os alunos querem, também, alcançar os objetivos educacionais. Querem
compreender, fazer progresso e ser alguém no futuro.
Se os objetivos forem traçados de acordo com isso, serão fonte de prazer
e, ao mesmo tempo, de esforço. Serão incentivos adequados para a dedicação
e o empenho dos alunos.

6 Como conseguir a participação ativa dos alunos

Esse título poderia ser também: “como incentivar adequadamente”, pois


incentivo adequado leva à participação ativa.
O que interessa mesmo não é incentivar os alunos para esse ou aquele
assunto, neste ou naquele momento. O importante é conseguir que os alunos
tenham amor permanente ao estudo, à pesquisa e ao crescimento pessoal. É
preciso criar neles o gosto e o hábito de estudar. Assim, passarão a estudar com
dedicação a vida toda e não só um instante.
Para fazer o aluno gostar de estudar, não bastam incentivos isolados,
ocasionais. É necessário conhecer a natureza humana e o meio social e acionar
um conjunto de medidas de forma coerente para respeitar a natureza do aluno.
Lembremo-nos dos fundamentos da motivação, já vistos anteriormente. O
indivíduo é um ser com necessidades biológicas: precisa de alimento, água,
agasalho, prazer e segurança. É um ser psicológico e social: precisa de afeto,
compreensão, prestígio, proteção e reconhecimento. Ele precisa de outras
pessoas: pais, irmãos, amigos e colegas. Ele quer vencer, fazer sucesso e se
autorrealizar. Ele tem também hábitos, é curioso e essencialmente ativo.

111
Se soubermos relacionar os incentivos de forma a corresponder às
necessidades em ordem de prioridade, certamente conseguiremos a
participação dos alunos. E se conseguirmos satisfazer adequadamente à maioria
dos seus motivos, é provável que consigamos fazer com que os alunos tenham
amor ao estudo para sempre. Vejamos o que pode ser feito.
Primeiramente, precisam ser observadas quais são as necessidades
básicas dos alunos ainda não satisfeitas. Se possível essas devem ser
atendidas. Sem isso, será difícil obter-se muito progresso.
Grande parte dos alunos, porém, já vem com elas atendidas. Entra na
escola com outras necessidades e tem alguns interesses, desejos, ideias e
valores definidos. Este é o grande veio que os professores precisam descobrir.
A partir disso, e com a análise da Filosofia da Educação e das necessidades
sociais, eles devem traçar objetivos, selecionar o conteúdo e propor as
estratégias e técnicas.
O aluno está cheio de necessidades: as naturais e as adquiridas na
convivência com o meio. Elas exigem que o aluno faça alguma coisa para
satisfazê-las. Esses são os motivos para ação que ele tem e que devem ser
aproveitados, pois são energia em potencial.
O aluno é um sujeito de prazer. Precisamos propor atividades, trabalhar
conteúdos e utilizar técnicas que causem prazer. Deve ter oportunidade de
vencer: resolver um problema, vencer um obstáculo, descobrir ou redescobrir
alguma coisa.
O problema não deve ser tão fácil, que não seja desafio; e nem tão difícil,
que não possa ser resolvido.
O aluno quer vencer também nas matérias, nas notas; vencer nos estudos
e na vida. Quer alcançar seus objetivos, seus ideais. Se não se sair bem, frustra-
se, desanima e desiste de estudar e até de lutar. O professor deve dar
oportunidade de mostrar vitórias, em atividades ou em notas.
Os próprios alunos querem saber se estão progredindo. O professor deve
informá-los constantemente do seu progresso. Sensação ou reconhecimento de
progresso dá prazer. E esse prazer mantém e aumenta a motivação. Quando os
alunos perguntam: “O Sr. Já corrigiu as provas, professor?” ou “E as notas,
professor, como foram?”, eles estão querendo saber sobre o progresso deles
mesmos.
O aluno é essencialmente ativo, não é capaz de ficar quieto. Essa é uma
necessidade a que a escola menos atende, ou melhor, que mai reprime. O
professor precisa propor atividades para serem executadas. Atividades, não
tarefas rotineiras e desinteressantes. Podem ser usados: pesquisas, estudo
dirigido, experiências, projetos, debates, discussões, sempre significativos ou
desafiadores.
O aluno gosta de participar, de fazer, de enfrentar desafios. Se as
atividades, o conteúdo, enfim, se a aprendizagem for significativa, o aluno
prestará mais atenção e se envolverá mais. A aprendizagem deve ter relação

112
com a vida real; ou, ao menos, o aluno deve saber para que serve, como se usa
ou para que se estuda determinada coisa.
O aluno é um ser inteligente e tem personalidade própria; quer
compreender o que está fazendo ou estudando. Não admite que o façam de
bobo e não aceita que o professor não seja capaz de fazê-lo entender o que está
sendo estudado. Por isso, o professor tem que ser competente e estar
atualizado. Deve usar de todos os meios que facilitem a compreensão. A
concretização da aprendizagem pode ser facilitada, sobretudo com o uso dos
meios auxiliares.
O aluno é extremamente curioso, porém se a curiosidade for satisfeita
prontamente, acaba o estado de tensão no aluno; acaba a motivação. É como a
fome: se for satisfeita, acaba a necessidade de procurar comida.
A curiosidade deve ser satisfeita aos poucos. Deve exigir algum esforço
do aluno, pesquisa, solução de problema, para encontrar a resposta. O professor
pode colocar vários obstáculos no caminho para serem vencidos antes. Assim,
ele aprende muitas outras coisas antes para satisfazer o mesmo estado de
tensão provocado por uma curiosidade.
O aluno tem necessidade de ser amado, estimado, reconhecido e
respeitado. O professor pode dar a todos carinho e afeto, pois não custa nada.
Muitos alunos passam a gostar de estudar e da matéria, só por causa do afeto
que recebe do professor. O aluno sempre faz alguma coisa que merece
reconhecimento e aprovação, por mais simples que seja.
Mas o aluno deve merecer carinho, respeito e afeto, não pelas atividades
que pratica, mas por ser pessoa, por ser gente. Isso traz a ele mais segurança e
o torna mais feliz.
O prestígio é outra necessidade que pode ser controlada. O aluno só deve
ser prestigiado se tiver algum mérito: se faz algum esforço que o fez merecer.
Prestígio, o aluno pode obtê-lo junto ao professor ou junto aos colegas. Mas, os
padrões para o reconhecimento de mérito podem ser estabelecidos em conjunto,
professor e alunos.
A colocação de problemas, obstáculos, também pode ser controlada. A
tensão a ser provocada deve ser de nível médio: muito baixa não provoca ação;
e muito forte provoca angústia. Alguns problemas, até mesmo, devem ser
colocados de tal forma que não tenham resposta imediata. Podem ser uma
interrogação a ser levada para a vida toda. Isso fará dele um eterno estudioso e
pesquisador.
O aluno interessa-se mais pelo futuro que pelo passado. Ele se interessa
mais pelas naves espaciais, pelas sondas que são lançadas para outros
planetas, pela guerra nas estrelas, que por história. São os desafios para o
professor de hoje.
O fato de o aluno queixar-se que os professores não respondem às
questões é sinal de seu estado de tensão. Mas, os professores não as devem
responder diretamente e, sim, dar a devida atenção e orientar os alunos onde e
como poderão obter as respostas. Isso prolonga o estado de tensão e permite

113
que o aluno aprenda muitas coisas a mais pelo caminho. Vejamos como um
professor pode provocar um bom estado de tensão, sem provocar angústia.
Certa vez, pegamos no ar um comentário, mais ou menos, nos seguintes
termos:
“Esse professor me mata, não me deixa sossegar. Ele fala com tanto
entusiasmo, com tanta vida, com tanta paixão sobre a matéria que eu fico
verdadeiramente angustiado, aflito. Saio da escola e não descanso, enquanto
não procuro resolver o problema que ficou em pé na aula. Esse professor sempre
deixa um porquê, uma dúvida para resolvermos. E eu não consigo fazer nada,
sem antes ter resolvido esse porquê.”
Há alunos que têm problemas emocionais que perturbam sua
tranquilidade psicológica. Para eles, há necessidade de uma incentivação muito
forte.
Contudo, se os problemas forem tão fortes, a ponto de provocar
desajustamentos, é necessário, antes, conseguir o ajustamento, para, depois, a
incentivação para a aprendizagem surtir efeito. A necessidade de resolver o
problema é a mais forte. É esta que precisa ser satisfeita antes.

7 O que leva os alunos a estudar com gosto e satisfação

Apresentei, a seguir, conclusões de sessões de bombardeamento mental


e de sondagens feitas por alunos de Didática da Universidade Estadual de
Maringá junto a escolas de Ensino Fundamental e Ensino Médio da região de
Maringá.
Os alunos estudam com gosto e satisfação quando:

- há incentivo e apoio da família;


- estão bem alimentados e emocionalmente tranquilos;
- o professor gosta do que faz e demonstra entusiasmo e amor;
- o professor atende o que o aluno gosta e precisa aprender;
- o professor leva em consideração o que o aluno quer ser ou fazer quando
crescer;
- o professor tem prestígio intelectual e social entre os alunos;
- o professor preocupa-se com a vida familiar e social do aluno e com os
problemas destes;
- o professor considera tudo o que o aluno faz em sala de aula;
- o professor dá atenção e satisfaz as dúvidas, anseios e necessidades
do aluno;
- o professor não compara notas;
- o professor conhece bem a matéria;
- o professor respeita e reforça os ideais dos alunos;
- o professor respeita as características individuais de cada aluno, suas
habilidades e capacidades;

114
- o professor respeita a condição socioeconômica dos alunos, sobretudo,
a dos mais humildes;
- o professor é acessível, compreensivo e simpático;
- o professor compreende e tolera as explosões emocionais dos alunos;
- o professor não força os alunos a estudar o que não gostam e nem os
sobrecarrega de atividades;
- o professor consegue fazer com que o aluno aprenda com facilidade,
sem muito esforço;
- o professor tem boa didática e utiliza técnicas atraentes e diversificadas;
- o professor evita qualquer atitude que possa inibir os alunos na sala;
- o professor utiliza mais aulas práticas;
- o professor utiliza muitos debates e discussões;
- o professor utiliza métodos e técnicas adequados;
- o professor atende aos interesses e necessidades do aluno;
- o professor trata os alunos com respeito e consideração;
- o professor relaciona-se bem com os alunos;
- podem estudar e fazer o que interessa a eles e podem ficar bem à
vontade na sala;
- existe ambiente democrático na sala de aula;
- o aluno tem liberdade de expressão na sala de aula;
- o aluno pode participar ativamente das aulas;
- o aluno tem interesse pela matéria;
- podem aprender coisas significativas e relacionadas à realidade social;
- o conteúdo está ligado às experiências dos alunos e a sua realidade e
tem valor para eles;
- existe ambiente escolar adequado, agradável e alegre;
- sentem-se bem na escola;
- os objetivos do professor são os mesmos do aluno;
- sabem o porquê de estar estudando determinado assunto;
- podem crescer interiormente e autorrealizar-se.

É uma lista longa, mas dá indicativos bastante amplos sobre os elementos


que devem ser considerados para a incentivação. É bom lembrar que a lista nada
mais é que a opinião dos próprios alunos. Os alunos estão manifestando, aqui,
os motivos que fazem com que eles gostem de estudar. Esses motivos
expressam as necessidades subjacentes: ser amado, respeitado, considerado;
ter autonomia, liberdade e independência; ter prestígio, vencer e se autorrealizar;
sentir bem e ter prazer.
Da lista, podem ser extraídas inúmeras outras ligações para a Didática:
sobre objetivos, conteúdos, técnicas, relacionamento professor x aluno,
qualidades do professor, avaliação e outros.

115
Capítulo VIII

Métodos e técnicas
individualizados
Alguns métodos e técnicas são chamados de individualizados porque,
neles, os alunos trabalham quase sempre sozinhos, ou então é o professor que
trabalha sozinho, mas tentando fazer com que cada aluno participe mentalmente
e de forma individual.
Eles são importantes, pois devem atender às diferenças individuais,
possibilitando a cada aluno crescer segundo o próprio ritmo e às aspirações
particulares de cada um.
Grande parte das atividades, a pessoa as faz individualmente. É preciso,
pois, aprendê-las individualmente. Nestes casos, estão: estudar, pesquisar,
sintetizar, investigar, raciocinar, criticar, resolver problemas, criar, entre outras.
Vejamos, a seguir, alguns métodos e técnicas que atendem a essas
características.

1 Método do estudo dirigido

1.1 Em que consiste

O estudo dirigido consiste num estudo orientado pelo professor. Também


poderia ser chamado de estudo orientado, em vez de estudo dirigido. Nele, o
professor atua como um técnico e como um especialista em aprendizagem de
uma determinada área de estudos, matéria ou disciplina. O professor planeja
objetivos, sozinho ou com os alunos e, em seguida, sugere atividades, visando
alcançar aqueles objetivos, que podem ser gerais ou específicos.
O estudo dirigido é chamado de método, e não de técnica, devido a sua
amplitude. Ele pode ser desenvolvido por meio das mais variadas formas,
chamadas de técnicas de estudo dirigido. De acordo com os objetivos que se
pretende alcançar, escolhe-se esta ou aquela técnica.

1.2 Importância

O maior problema dos alunos, em quase todos os níveis, é não saber


estudar. Os alunos que não sabem estudar perdem muito tempo, não aprendem

116
direito, tiram notas baixas, desanimam, reprovam e deixam a escola. Estudar e
aprender deve ser coisa fácil, gostosa, agradável, e não tortura para os alunos.
Como diz um velho ditado – que em Didática se chama de princípio – “só
se aprende fazer, fazendo”. O mesmo pode ser dito de estudar: “só se aprende
a estudar, estudando”. O estudo dirigido pode ser o meio que o professor utiliza
para que os alunos aprendam a estudar, aprendam o ofício de estudante.
Aprender a estudar, aprender a aprender é uma necessidade fundamental
nos dias de hoje. Você já imaginou um estudante daqui a trinta anos usar apenas
os conhecimentos que ele aprendeu hoje? A evolução da ciência e da tecnologia
são tão rápidas que, em dois ou três anos, a maior parte destas estarão
ultrapassadas e não servirão mais. O aluno tem que estar preparado para
acompanhar o mundo e até, se possível, ir à frente dele.
O estudo dirigido levará o aluno a aprender sozinho: fará com que tenha
amor ao estudo, desenvolva a capacidade de interpretar e analisar textos e o
hábito de ler. Sabendo ler e tendo o hábito de se interar de tudo, terá condições
de participar ativamente da sociedade, lutar contra as coisas erradas e
influenciar para melhorar o mundo. O homem ignorante aceita tudo, pois não
distingue entre o certo e o errado, ou, então, nada aceita: é um eterno
desconfiado. Só o letrado e devidamente educado tem as necessárias
informações e segurança para poder tomar decisões nos problemas sociais.
O melhor que um professor pode fazer é treinar adequadamente os alunos
para que aprendam quando e onde buscar as informações e como aproveitar
delas. Os alunos vão precisar buscar informações pela vida toda e não só
enquanto forem alunos.
O estudo dirigido é um método que respeita muito os alunos. Treina-os a
serem livres, independentes do professor e estes aprendem a usar diretamente
as fontes de informação que têm uma grande vantagem em relação às aulas dos
professores, pois são democráticas. Elas não impõem, não exigem e não
cobram. São fontes democráticas: os livros, as revistas, os jornais, os mapas, as
tabelas, o computador, entre outros.
Cita-se o provérbio chinês que diz: “Se quiseres matar a fome de uma
criança por um dia, dá-lhe um peixe; se quiseres matar-lhe a fome para o resto
da vida, ensina-lhe a pescar”.
Transportando o provérbio para a situação de estudo, podemos dizer: “Se
quiseres satisfazer a curiosidade de uma criança por um dia, dá-lhe a resposta;
se quiseres matar a curiosidade para o resto da vida, ensina-lhe a estudar
(aprender ou pesquisar)”, pois pelo estudo dirigido o aluno pode aprender a
estudar, a aprender e a pesquisar.
Com estudo dirigido bem feito, o aluno aprende sem muito esforço, com
prazer. Aprende, compreendendo, e sem decorar. O aluno procura
semelhanças, diferenças, faz esquemas, chaves, organogramas. Ele estrutura
tudo em sua mente até ter a visão do todo, até ver sentido no que estudou. Viu
sentido, compreendeu, integrou. Esta é uma aprendizagem pronta para ser
usada em outras situações.

117
As questões de estudo dirigido, bem colocadas, deixam os alunos em
estado de tensão, alertas, curiosos. Isso deixa-os motivados, estimula-os à ação.
Eles, estando em atividade, buscando um objetivo, não haverá problemas de
disciplina em sala de aula e haverá aprendizagem.
Para se fazer estudo dirigido, basta ter, em mãos, um texto ou um livro;
não há necessidade de ter uma biblioteca ou farto material bibliográfico. É
evidente que quanto mais fontes de consulta se tiver, tanto melhor.
O estudo dirigido facilita enormemente a tarefa do professor. Ele não
precisa dar aula, no sentido tradicional, e o aluno aprende muito melhor. O aluno
aprende no ritmo dele, segundo sua capacidade; tem o texto em mãos e não
precisa tentar adivinhar o que o professor está falando, como ocorre muitas
vezes.
Ele livra também o professor daquelas situações vexatórias de os alunos
não prestar atenção, ficar conversando e não aprender nada. No estudo dirigido,
os alunos ficarão mais disciplinados, pois estarão em atividade. O aluno estar
em atividade é a primeira condição para haver aprendizagem. o professor pode
até não fazer nada.

1.3 Técnicas de estudo dirigido

O professor escolherá as técnicas mais adequadas para alcançar os


objetivos que pretende. Vejamos algumas técnicas do estudo dirigido a serem
executadas pelos alunos:
a) Ler um assunto e explicá-lo para a classe, sem olhar o texto ou
apontamentos;
b) Ler um texto para dizer do que este trata;
c) Ler um texto, fechar o livro e reescrevê-lo com as próprias palavras;
d) Ler um texto e extrair detalhes, pormenores ou aquilo que ainda era
desconhecido;
e) Extrair do texto o que é mais importante, útil ou prático;
f) Ler um texto e criticar seu conteúdo, forma, estilo, validade, atualidade,
profundidade;
g) Ler um texto e escrever as dúvidas para serem respondidas pelo
professor;
h) Ler um texto e elaborar questões ou problemas sobre o mesmo e cujas
respostas possam ser encontradas no próprio texto, sem, porém,
respondê-las;
i) Extrair os termos técnicos de um texto e procurar o significado deles;
j) Comparar dois textos, colocando as ideias principais de cada um em
colunas, uma ao lado da outra;
k) Dar exemplos concretos sobre textos lidos;
l) Procurar em dicionário o significado de palavras desconhecidas;
m) Localizar países, cidades ou acidentes geográficos em mapas;

118
n) Responder às perguntas: o que é? onde? quando? como? qual?
quanto? por quê?
o) Fazer chaves, esquemas ou organogramas;
p) Resolver problemas colocados pelo professor que exijam reflexão;
q) Fazer perguntas que iniciem com por quê? como? quando? quanto?
qual? o que é? Sem, contudo, respondê-las.

1.4 Atuação do professor no estudo dirigido

Antes de iniciar qualquer técnica de estudo dirigido, o professor deverá


deixar bem claro como ela funciona e que objetivos pretende alcançar.
Enquanto os alunos estão trabalhando, o professor fica andando entre
eles para orientá-los, se tiverem dificuldades, ou esclarecer dúvidas. Sempre
deve usar palavras de estímulo para encorajar os alunos que porventura
cometam falhas ou ainda não souberem trabalhar.
O professor deve fazer com que os alunos gostem do que estão fazendo
e deixá-los livres. Os alunos não gostam que o professor diga a toda hora como
devem fazer as atividades. Se o aluno não acertar, não faz mal. O professor deve
agir de tal forma que o próprio aluno descubra que errou. O professor não deve
dizer diretamente ao aluno: “Não é assim que se faz”; ou “está tudo errado”.
Enquanto o professor percorre as carteiras, já nota quais são os alunos que
trabalharam corretamente. Pode chamar estes para apresentar as respostas e
explicar como chegaram aos resultados, ou, então, pode reunir os alunos em
equipes para eles discutirem os resultados entre si.
O professor sempre deve estar preocupado com que a aprendizagem se
torne consistente, devidamente integrada e estruturada na mente do aluno.
Nenhum conceito, ideia ou aprendizagem deve ficar isolado. Tudo deve ser
combinado, ligado com as experiências dos alunos e em função do seu uso na
vida prática.
O professor estimula, acompanha e orienta os alunos. Orienta como tomar
nota, como resumir, como fazer esquemas e onde buscar dados e informações.
Enfim, ele procede como um técnico que ensina a “profissão” de estudante.

2 O método científico

Aos 3 e 4 anos de idade, a criança pergunta sobre tudo o que vê e ouve,


quer explicações para os fatos e experiências. Mas, ela pergunta exatamente
porque vê, ouve e experimenta. A curiosidade faz parte da natureza da criança.
Na escola, o professor pode aproveitar essa mesma curiosidade para que
a própria criança aprenda a satisfazê-la, utilizando o método científico: observar,
levantar hipóteses, testá-las, concluir e generalizar.
A criança aprende que ela própria pode descobrir a verdade e que nem
tudo precisa estar escrito ou ser falado pelo professor. Passa a perceber,
também, que todo fato tem uma explicação, e que a explicação das causas de

119
um efeito se dá pelo método científico; que a teoria é a explicação de um fato,
mesmo que seja bem simples.
Imensidade de fatos podem ser apresentados aos alunos para que eles
os expliquem. Eis alguns exemplos:

- o gelo colocado na água flutua;


- um fio de arame, quando aquecido, fica mais comprido;
- um peixe num vidro fechado morre;
- uma semente na terra seca não germina.

Com semente, podemos fazer um grande número de experiências


combinando variáveis diferentes. Plantemos feijão em vasos, ou copinhos,
alterando algumas variáveis.
No 1º vaso, planta-se o feijão em terra seca e põe-se no sol: não germina.
No 2º vaso, planta-se a semente em terra úmida, adubada, e põe-se no
sol: germina, a planta fica verde e vigorosa.
No 3º vaso, planta-se a semente em terra úmida, não adubada, e põe-se
no sol: germina, fica verde, mas franzina.
No 4º vaso, planta-se a semente em terra úmida, adubada, e deixa-se na
sombra: germina, o caule fica comprido, branco e inclinado.
No 5º vaso, planta-se a semente em terra úmida e põe-se na geladeira:
não germina.
Explica-se para as crianças que, se essas experiências forem repetidas
centenas de vezes e tendo-se sempre os mesmos resultados, tem-se uma
conclusão científica.
E assim podemos continuar combinando as mais diversas variáveis:
sombra, sol, terra adubada, não adubada, água, calor, frio, cal etc.
Podemos, ainda, levar os alunos a um lago e pedir para que joguem na
água pedaços de pau seco e pau verde. Os próprios alunos concluirão que pau
seco boia e pau verde afunda. Por quê?
Podemos agora voltar à escola e fazer experiências: pesar paus do
mesmo tamanho e o volume de água igual ao do pau. Conclusão: pau seco é
mais leve que a água, por isso fica por cima; pau verde é mais pesado que a
água, por isso afunda.
São experiências simples, mas que servem para os alunos
compreenderem e conhecer o método científico. Pode-se pensar que isso seja
perda de tempo; que seria mais rápido passar o “conhecimento” para o aluno,
sem realizar as experiências. Mas, de que adianta esse conhecimento seco,
aprendido pela leitura ou verbalmente?
O aluno precisa ver para crer, fazer para sentir e participar para se
envolver.
Pelo uso do método científico, o aluno, além de descobrir os resultados,
aprende também o processo de se produzir conhecimentos, de se fazer ciência,

120
e não apenas reproduzir o que os outros descobriram ou escreveram. É muito
importante que ele saiba que ele próprio é capaz de produzir conhecimentos.
Além de aprender a produzir conhecimentos, os alunos passam a ter uma
mentalidade científica. Passam a questionar fenômenos, fatos e ideias, e a exigir
provas objetivas de sua validade. Com isso, tenta-se eliminar as crendices, a
mentalidade ingênua, e prepara-se o aluno para solucionar os problemas e as
situações imprevisíveis com mais facilidade.

3 O método da investigação

3.1 Em que consiste

Método da investigação consiste em busca, em pesquisa, em realização


de experiências para se obter uma resposta, satisfazer uma curiosidade ou
resolver um problema. A pesquisa, aqui, é apenas uma pesquisa didática, não
científica.

3.2 Importância

A teoria prega que se deve atender às diferenças individuais dos alunos


– seus interesses, necessidades, desejos e propósitos. Mas, é difícil saber quais
são os interesses e necessidades de um único aluno. Então, como o professor
poderá conhecer e atender 30 ou 40 alunos de uma sala?
O método da investigação é uma das formas de melhor se atender às
diferenças individuais. Cada aluno pode atender às suas curiosidades
individuais, investigar segundo sua capacidade, possibilidade e ritmo, sem
pressão e sem atropelamentos. Cada aluno tem experiências diferentes, formas
diferentes de aprender, de pensar, que devem ser respeitadas.
O aluno que é deixado livre para pesquisar entrará em atividade com
prazer, automotivado. A própria ação motiva o aluno. Com os resultados que
obtém da pesquisa, essa motivação é aumentada, pois o seu esforço foi
recompensado.
Investigando, ele aprende a estudar, a buscar as informações de que
precisa. Aprende a ser independente, autônomo e a ter confiança em si mesmo.
Só o aluno sabe o que já sabe e o que falta saber. Ele busca aquilo que
quer saber e o que precisa saber para satisfazer suas necessidades intelectuais
ou ambientais. Assim, fica livre de ouvir do professor o que ele já sabe, o que
não entende e o que não quer saber.
Na investigação, o aluno reflete sobre tudo o que sabe para descobrir
coisas novas ou resolver um problema. As informações novas, que ele vai
buscando, já são pensadas, integradas e estruturadas na mente dele em função
do objetivo que ele quer alcançar. Com isso, a aprendizagem torna-se mais fácil
e consistente.

121
3.3 O aluno e o professor na investigação

A criança tem necessidade inata de investigar. Quando tem entre um e


três anos, ela mexe em tudo que pode. Para quê? Para descobrir o que é, o que
tem e quais os efeitos de sua ação. Aos 3 e 4 anos, ela pergunta, questiona,
quer obter respostas verbais para sua curiosidade. Já está madura para isso. É
uma característica dessa fase evolutiva.
Aos 5 e 6 anos, ela investiga o meio social, seus amiguinhos, seus
vizinhos da mesma idade e analisa as consequências das próprias atitudes.
A criança, enquanto é pequena, explora o mundo por conta própria, sem
orientação de ninguém. E quanta coisa aprende! Na idade escolar, deveria fazer
o mesmo, continuar investigando. Cabe à escola e ao professor propiciar o
ambiente e os meios para que o aluno possa realizar as investigações que tiver
vontade de fazer.
O que investigar pode e deve ser sugerido pelo aluno. Ao professor, cabe
assisti-lo no processo de investigar. O professor deve criar ambiente e condições
para que seja possível a investigação e a realização de experiências. Deve,
também, deixar o aluno bastante livre para que ele próprio aprenda como
pesquisar. Nada de regras fixas. Ele próprio deve investigar, coletar os dados e
organizar seus conceitos. Nem sempre o aluno sabe exatamente o que está
procurando, qual é sua meta. Mas, tem em mente um conjunto de preocupações,
uma ideia vaga do que quer saber. Passa a ler, estudar e a pesquisar sobre o
assunto. Enquanto tiver interesse e motivação por aquilo, o professor deve deixá-
lo livre. Essa pesquisa vai provocar, no aluno, novos motivos, novas
curiosidades. E, assim, sucessivamente. É essa corrente que mantém viva a
motivação e o desejo constante de aprender.
Não se deve dizer para o aluno o que deve investigar e nem como deve
fazê-lo. Ninguém diz para uma criança de 2 a 5 anos que objetos ela deve
manipular ou que perguntas ela deve fazer para os adultos. É a idade dela, é a
sua natureza, é o seu grau de maturação que determinam os assuntos e a
maneira de investigar. Só quando estiver acabando o embalo dos alunos é que
o professor deve entrar. Para estimular a investigação, o professor pode usar
demonstrações, realizar experiências rápidas e apresentar filmes sobre
determinados assuntos. O professor deve tomar o necessário cuidado para que
estas apresentações sejam dramáticas e que deixem interrogações na mente
dos alunos para provocar pesquisas.
Depois disso, as crianças começam novamente a investigar. A
investigação pode ser feita em grupos e individualmente. Começar pelo grupo
talvez seja mais interessante para estimular os alunos menos curiosos e envolvê-
los na pesquisa.
Para que o método de investigação seja possível e dê bons resultados, o
professor precisa acreditar nele e criar as condições necessárias para que os
alunos tenham fartura de material e liberdade para pesquisar. O professor deve
manter clima animador durante a investigação. Deve responder às perguntas

122
dos alunos, sem, porém, dar as respostas ou as conclusões. Deve,
discretamente, fazer perguntas para aguçar mais ainda a curiosidade dos
alunos. É preferível que os alunos fiquem com perguntas sem resposta a vida
toda que o professor responder a todas elas.
As técnicas, as formas ou maneiras de investigar são as mais diversas
possíveis. Cabe a cada professor imaginar e escolher as mais adequadas para
a turma, em função da disciplina ou da área em que atua.

4 O método da descoberta

4.1 Em que consiste

Descoberta é a interpretação de um fenômeno; é a compreensão de um


fato; é o encontro de um significado para alguma coisa.
O método da descoberta implica uma sequência de tentativas por parte
do aluno para encontrar as respostas certas para as hipóteses ou problemas que
ele tem na mente.
No método da descoberta, a preocupação básica deve ser a de criar
condições favoráveis para o estudo, para a pesquisa, para a busca. A função do
professor será a de facilitar a formação de conceitos e a compreensão daquilo
que o aluno vai estudar por esforço do próprio aluno.
Ele também é chamado de método de redescoberta, pois os alunos vão
redescobrir o que os adultos já sabem.

4.2 Importância

O método da descoberta inicia o aluno no processo de observar, imaginar,


tentar, descobrir e criar. Aprenderá a ser autônomo, a confiar em si mesmo e
também a questionar; questionar e comprovar os fatos duvidosos.
O aluno, descobrindo por si mesmo, aprende, compreendendo, usando
imediatamente as informações para montar novas ideias, as quais são
combinadas para que, com elas, ele possa raciocinar e tirar conclusões sobre
suas pesquisas. Assim, o aluno passa a ser um estudioso independente,
autônomo.
Aprende métodos de estudar e até inventar. Aprende a organizar as
informações, as ideias. Ideias já organizadas são mais fáceis de serem usadas
e são também muito mais úteis para o pensamento, para a criatividade e para a
solução de problemas.
Outra vantagem do método da descoberta é que o aluno vai procurar
informações úteis, significativas, aplicáveis à sua vida prática e para satisfação
de sua curiosidade, interesses e necessidades. Não é acúmulo de informações
sem sentido e sem finalidade, como costumam ser as que são dadas pelos
professores em aulas expositivas.

123
A busca para descobrir, quase sempre, traz uma recompensa que é a
própria descoberta. Esta causa satisfação e prazer e faz com que o aluno
enverede para as novas pesquisas. É fonte altamente motivadora. É motivação
intrínseca.
Outra grande vantagem do método da descoberta é que o aluno vai
aprender a investigar, a pesquisar. O conteúdo que ele aprende será subproduto
do processo de pesquisa. Sua preocupação não é aprender o conteúdo, mas a
solução do problema. É a resposta encontrada, a descoberta, que dará prazer a
ele. O estudo realizado desta maneira fará com que o aluno sempre tenha
vontade de estudar, de pesquisar.
Aprendendo a pesquisar numa disciplina, certamente ele saberá
pesquisar em outras, pois o processo de pesquisa é fundamentalmente o
mesmo. Desenvolve, além disso, a atitude favorável à pesquisa, bem como o
hábito de fazê-lo.
A melhor aprendizagem é aquela que é transferível para outras
aprendizagens. O processo de pesquisar pode ser utilizado em qualquer
situação.
Aprende-se a pesquisar, pesquisando; a estudar, estudando; o método da
descoberta leva a isto.
Nesta altura, é conveniente que reflitamos um pouco sobre aprendizagem.
Aprender muito não quer dizer guardar muitas coisas na memória. De que
adianta saber muitas coisas de cor, se a pessoa não souber usar essas coisas
e se, muitas vezes, não compreende o que guardou na memória? Importante é
sabermos aplicar na vida prática, na solução dos problemas, aquilo que foi
guardado na memória. Para que isso aconteça, é preciso que as coisas sejam
aprendidas com compreensão, de forma organizada, fazendo-se uso delas no
próprio processo de aprendizagem; a própria prática da solução de problemas
ou descoberta. As informações são, assim, guardadas para pronto uso e são
facilmente recordadas quando surge uma situação em que sejam necessárias.
Nesse processo de aprendizagem, entra muito o raciocínio, muito superior
à memória. Memorizar é reter, é guardar imagens; raciocinar é ligar, é combinar
imagens. Ligar imagens é compreender, é formar ideia própria, é ter a
aprendizagem pronta para uso. Assim sendo, a aprendizagem será muito mais
útil.
Segundo Mainômides, citado por Nelson (1980), a verdadeira perfeição
do homem é “a posse das mais altas faculdades intelectuais...”. Assim,
desenvolver as faculdades intelectuais é um dos principais objetivos gerais da
educação. Entretanto, que meios utilizaríamos para isso?
O método da descoberta é, sem dúvida, um ótimo meio, porque o aluno
usando sua própria mente para descobrir coisas, conhecimentos e verdades. A
busca, com a esperança de vir uma surpresa, deixa o aluno ansioso. Essa
ansiedade é incentivadora, porque o aluno buscará informações com intensidade
para confirmar eventual hipótese que ele tenha levantado.

124
O método da descoberta é útil, mesmo que o aluno não encontre as
informações ou chegue às respostas erradas, pois, enquanto ele as procura,
encontrará, certamente, muitas novidades, muitos conceitos úteis pelo caminho.
Além disso, a resposta errada o fará retomar o estudo para nova tentativa,
eliminando o caminho seguido antes.
Um professor habilidoso saberá colocar problemas que sejam desafio
para o aluno. Feita a descoberta, novos problemas são colocados de tal forma
que o aluno já utilize as descobertas anteriores como meios para as novas
descobertas. É a graduação das dificuldades em problemas. É a utilização e a
integração das aprendizagens antigas com as novas.

4.3 Funções do professor no método da descoberta

Uma das funções do professor, neste método, é treinar os alunos à


observação. O professor poderá chamar a atenção para os detalhes do
fenômeno, para as características especiais, fazer perguntas sobre as causas
ou consequências. O professor deverá criar condições necessárias para que
haja o que observar e clima favorável para a observação e posterior pesquisa
para esclarecer as dúvidas ou hipóteses sobre aquilo que se observou.
O aluno pode encaminhar-se em questões complexas e dificilmente
chegará à descoberta correta. É o momento de o professor apresentar os
conceitos ou explicações para que o aluno se reencontre, ou poderá mesmo
apresentar a resposta. Toda descoberta traz satisfação, anima, motiva.
O professor, percebendo que o aluno tem dificuldades de realizar
descobertas, poderá expor conceitos auxiliares. Estes seriam pré-requisitos ou
noções que o aluno deveria adquirir antes, para que possa fazer as descobertas
que está tentando fazer. O professor faz exposições, explica, demonstra
exatamente aquilo que o aluno está querendo saber. O professor vê quais são
as dificuldades dos alunos e vai em seu auxílio. É bem diferente da aula
tradicional, na qual a exposição não considera o que o aluno quer saber e está
desvinculada de seus motivos.
A criança de dois anos, ao se falar de caixa, pode fazer ideia talvez de
apenas uma caixa, concretizada, que é a caixa de sapato. Ela não teve contato,
ou nunca viu outro tipo de caixa. Ela precisa ter contato com outras caixas para
poder fazer a apresentação abstrata, genérica. Situações semelhantes podem
ocorrer na escola. Ao professor, caberia apresentar vários tipos de caixas e
deixar que o próprio aluno descobrisse o conceito de caixa.
Há os professores que defendem com insistência a necessidade de
ensinar o conteúdo. Que conteúdo? Para quê? Interessa para o aluno? O aluno
tem experiências anteriores sobre o assunto para poder compreendê-lo? Esse
conteúdo é válido por quanto tempo? O aluno vai usá-lo? Se não for usá-lo, que
vantagens há em ser aprendido? Se não for usado imediatamente na prática,
não vai se perder no tempo até ser usado? No método de descoberta, o aluno
vai aprender, sobretudo, o processo de aprender. O conteúdo também será

125
aprendido, mas como subproduto e com uma vantagem: será aprendido com
sentido, com utilidade e de forma integrada.

4.4 Quando utilizar

O método da descoberta não precisa ser utilizado sempre pelo aluno.


Quando atinge um certo grau de experiências e de cultura, o aluno perceberá
que as suas descobertas já tinham sido descobertas por outros. Assim, ele
reconhece como válidas as descritas em livros onde os conhecimentos podem
ser obtidos com maior rapidez.
O método da descoberta é mais apropriado para o estágio concreto, dos
7 aos 11 anos. Serve também para adultos que ainda não viveram experiências
concretas e verdadeiras, para formar seu lastro simbólico. É conveniente para
que o aluno chegue mais facilmente à descoberta, que o professor organize as
pistas, os dados e os processos para a pesquisa.
Para anos mais avançadas, não se recomenda o método da descoberta
por levar muito tempo. Além disso, nesses níveis, as descobertas já seriam
complexas demais para serem feitas, e nem sempre se tem em mãos material
suficiente e apropriado. Neste estágio, os alunos já acreditam nas descobertas
feitas pelos outros e descritas em livros. A essa altura da aprendizagem, já
aprenderam a descobrir, ou seja, conhecem o processo da descoberta.

5 O método da leitura de livros

É viável esse método? Certamente, sim. Vale a pena experimentá-lo.


A criança e o adolescente, desde cedo, querem imitar os adultos. Isso
ocorre em qualquer meio, em qualquer cultura. Se os adultos leem muito se
obtêm suas informações pela leitura, as crianças tendem a fazer o mesmo.
A leitura de livros não deve ser uma imposição, mas uma atividade
espontânea. O professor pode e deve estimular a leitura e elogiar os alunos pela
aprendizagem que obtiverem por meio dela.

5.1 Como fazer

Nos primeiros anos do Ensino Fundamental, devem-se utilizar livros de


leitura infantil. Se for difícil utilizar a biblioteca da escola, ou se ela for deficiente,
forma-se a biblioteca da própria classe. Para isso, pode-se fazer campanhas,
organizar festas, pedir para que cada aluno contribua com um livro, ou obter
doações das editoras etc. Não se espere do governo ou da prefeitura; use a
imaginação e forme a biblioteca.
Não são necessários muitos livros. Basta que tenham uns 40 ou 50. O
empréstimo dos livros pode ser revezado entre os alunos. Se cada aluno lesse
20 livros por ano, já seria ótimo.

126
Se o professor não encontrar livros sobre os assuntos que gostariam que
os alunos lessem, pode ele mesmo escrever um livro. Em educação, quase tudo
está por ser feito. Pode escrever, por exemplo, sobre higiene, saúde,
reflorestamento, cooperação, história do município, enfim, sobre o que julgar de
interesse e utilidade para os alunos. O segredo é tornar o livro emocionante e,
ao mesmo tempo, útil.
Do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio, os livros podem
ser sobre assuntos relacionados ou afins aos objetivos que o professor pretende
alcançar. Não se deve esquecer de que os primeiros livros devem ser sempre
muito agradáveis. Podem ser de aventuras, romance ou policial. A partir destes
livros, o aluno vai querer conhecer os outros mais específicos.
Em nível universitário, por exemplo, Os Sertões, de Euclides da Cunha,
são um desafio para o aluno. A partir dele, o aluno vai querer conhecer as outras
lutas, as revoluções e as guerras havidas no Brasil; vai se interessar pela história
e geografia do Brasil; vai querer estudar português para saber donde vieram as
palavras difíceis usadas pelo autor. Além disso, o aluno, possivelmente, vai
querer conhecer os outros escritores, comparar estilos, enfim, fazer uma análise
literária. Isso porque em Os Sertões são tratados os mais diversos assuntos. É
uma obra de literatura, mas que tem como conteúdo a geografia, a história, a
antropologia, a política e a sociologia.
Algumas sugestões de como se pode conseguir que os alunos passem a
ler livros:
Desde o 1º ano, mesmo antes de os alunos aprenderem a ler, o professor
pode ler livros para as crianças, ou pedir para elas lerem. Pode perguntar para
as crianças, com frequência, quantos livros já leram. Colocar ao lado do nome
de cada uma, no quadro-mural, o número de livros que cada um leu, mês a mês.
Pode pedir que as crianças relatem, para a classe, o conteúdo do livro
lido. Pode até dar nota por isso, se for necessário, mas nunca baixar a nota do
aluno por ele não ter lido. Assim, as crianças não se sentem obrigadas a ler. A
leitura deve ser uma atividade de prazer e não de obrigação.
Se for possível, pode ser solicitado, ou sugerido, para que todas as
crianças da classe leiam o mesmo livro. Depois, fazer a dramatização sobre o
conteúdo, um debate, uma discussão, ou usar outra técnica que seja mais
apropriada àquele conteúdo. Enquanto isso, os alunos que não leram o livro
poderão realizar outras atividades.
Para os alunos que demonstraram interesse por determinados assuntos,
pode também ser indicada a bibliografia específica, porém o professor deve
sempre acompanhar o trabalho do aluno. Perguntar a ele o que leu na semana,
o que achou do livro, o que pode ser aproveitado. Elogiar o aluno pelo seu
progresso e sugerir novos livros, se for o caso. Em classes mais adiantadas,
pode também ser usada esta última alternativa. Dá ótimos resultados.
Pode também colocar um problema para provocar a leitura por parte dos
alunos. O problema tem que ser interessante para eles, significativo e, de
preferência, polêmico. Pode até dividir a classe em duas partes. Cada uma delas

127
poderá pesquisar um aspecto do problema, para posterior confronto em debate.
Cada equipe vai fazer o possível para vencer a outra. Em seguida, indica-se uma
lista de livros para cada um ler ou consultar, para poder defender a sua opinião.
Muitas outras razões podem ser colocadas para a leitura de livros. Não
precisam ser descritas. O professor pode usar a imaginação, descobrir e
experimentar outras nunca antes usadas.

5.2 A importância deste método

Com ele, o aluno desenvolve o hábito e o gosto pela leitura, pois o mesmo
o leva a descobrir que tudo que ele quer saber está nos livros. Ele passa a sentir-
se livre para aprender como, onde e quando ele quiser.
Com leitura, o aluno enriquece normalmente seu vocabulário; aprende
uma imensidade de expressões; aprende ortografia, concordância, enfim,
aprende gramática, sem sentir e sem fazer esforço. Isso facilita especialmente a
redação. Aprende conteúdo, ideias, conceitos, princípios e teorias. Diz-se que a
leitura forma a personalidade da pessoa. Se não tanto, ao menos influencia
enormemente. Existe um ditado popular que diz: “diga-me o que lês que eu te
direi o que és”. Um outro diz: “existem três regras para te tornares um sábio: a
primeira é ler: a segunda é ler, e a terceira é ler”.
Todo cidadão deveria participar ativa e criticamente nas decisões
comunitárias em nível local, estadual e nacional. Ninguém pode fazer isso, se
não tiver muitas ideias e se não estiver bem inteirado do que ocorre em seu país
em termos sociais, econômicos e políticos. Para isso, é preciso ler, e quanto
mais, melhor.
Até mesmo para pensar ou para raciocinar, se a pessoa não tiver lido
muito e não tiver muita matéria-prima em sua mente, terá raciocínio pobre, sem
muitos elementos para combinar. Quanto mais “matéria-prima” tiver, mais
recursos terá para formular novas ideias. Quanto mais malhação cerebral fizer,
mais ampla será sua estrutura ou rede neural.
Usando o método da leitura de livros durante um ano, em escola normal,
na disciplina de Psicologia, a turma destacou na avaliação que fez, entre outros
pontos, o seguinte:

“Sentimo-nos seguros em suas aulas e o Sr. nos estimulou muito.”


“Aprendo, sem sentir pressão das tarefas.”
“Tenho bom proveito, lendo livros e pesquisando.”
“Aprendo a viver.”
“Tenho bom proveito, método bom, compreendi a necessidade de
compreender a natureza humana. Agora gostaria de ler todos os livros de
Psicologia do mundo.”

128
6 O método da demonstração

6.1 Em que consiste e formas de demonstração

Consiste em mostrar como funciona, o que acontece, como deve ser feito.
É a concretização da exposição. É provar uma teoria, um fenômeno, uma
afirmação.
Há várias formas de demonstração:
a) Demonstração experimental, quando se faz uma experiência para
comprovar algo.
Afirmamos que é o Sol que dá clorofila às plantas. Para provar isso,
podemos colocar uma bacia de boca para baixo sobre a grama por quinze dias
ou um mês. Depois desse período, as folhas da grama ficam brancas ou
amareladas.
Afirmamos que uma espécie de semente, para germinar, precisa de água
ou umidade. Põem-se alguns grãos de feijão ou arroz num copo, com algodão
embebido em água; e outros grãos sobre algodão seco. Prova-se, assim que só
os grãos que estavam no molhado germinam.
Assim, pode-se fazer para provar que os metais, quando aquecidos,
dilatam; que o gelo é mais leve que a água, e milhares de outras demonstrações.
b) Demonstração operacional é mostrar e explicar como se costura, como
se limpa a casa, como se bate um bolo, como se pinta um quadro ou uma
casa, como se conserta um ferro, como se emenda um fio elétrico, como
funciona um motor, como se planta alface, como se usa um flanelógrafo,
como se preparam transparências para retroprojetor etc.
c) Demonstração documental – é provar uma afirmação com documentos,
livros, jornais ou revistas. Se alguém dissesse, por exemplo, que o Brasil
não consegue pagar sua dívida por falta de honestidade de seus
governantes, seria necessário comprovar isso para os alunos com
documentos. Pegaríamos jornais e revistas que abordam fraudes,
importações desnecessárias, excesso de funcionários nos órgãos
públicos etc.
Se alguém dissesse que o Brasil não foi descoberto por Pedro Álvares
Cabral, precisaria comprovar isso com escritos, com documentos.
d) Demonstração intelectual – é provar, com argumentos lógicos, com fatos
que se encadeiam, com provas concretas que levem o aluno à
compreensão de algo.

6.2 Recomendações para se fazer demonstração

O professor deve experimentar antes, para ver se dá certo.


Não fazer demonstrações muito longas, pois os alunos perdem a
capacidade de atenção.

129
Todos devem ver a demonstração e, se possível, participar dela ou até os
próprios alunos fazerem a demonstração.
Na demonstração, podem e devem ser usados recursos auxiliares.
Quanto mais real a demonstração, tanto melhor.

6.3 Exemplos de demonstração

a – De área
É comum encontrar-se alunos de último ano de curso Superior que não
têm a necessária compreensão do que seja área. Alguns nem sequer sabem o
que é metro quadrado. Certo dia, solicitei a um aluno, de curso superior, que
explicasse o que é metro quadrado. Ele foi ao quadro e escreveu m2. Outro foi e
desenhou um quadradinho no quadro e disse, indicando cada um dos lados do
quadrado: “é um metro aqui, outro aqui, outro aqui e outro aqui”. Pedi que
explicasse melhor. Ele simplesmente mostrou: “É um metro de cada lado”.
Vendo isso, mandei cortar um metro quadrado em compensado. Trouxe-
o à sala e o coloquei no chão. Em seguida, fiz um risco com giz em seu contorno.
Tirei a chapa e hachuriei a área toda com giz. Mostrei, assim, para a turma que
metro quadrado é essa área e não aquele metro por metro explicado no quadro
pelo aluno.
Porém, demonstração lógica, propriamente dita, foi feita colocando no
quadro, quatro fileiras de cinco pontos. Perguntei aos alunos quantas fileiras
temos. Eles responderam que eram quatro. “Quantos pontos são?” Resposta:
“São vinte pontos.”
Fiz o mesmo com o metro quadrado. Risquei quatro fileiras de cinco
metros quadrados na terra.
Mostrei por que se fala quatro por cinco e por que quatro por cinco são
vinte metros quadrados.

b – Que um cubo com meio metro de cada lado é um oitavo de metro


cúbico
Mandei confeccionar um metro cúbico de compensado e quatro cubos de
meio metro de cada lado. Coloquei esses quatro sobre o metro cúbico e mostrei
que os quatro juntos formavam apenas metade do metro cúbico. Para completá-
lo, precisaríamos de mais quatro. Ficou evidente que um cubo, com meio metro
de cada lado, é um oitavo de metro cúbico.
Depois, fiz ainda a demonstração por cálculo. Escrevi, no quadro, a
medida de cada lado: 0,5 x 0,5 x 0,5 = 0,125. Isso corresponde a 1/8 de m3.

c – Origem e função do π em matemática


Mandei confeccionar três círculos de tamanhos diferentes. Um com
diâmetro de 0,70m.; outro com 0,50m.; e o terceiro com 0,20m.

130
Pedi aos alunos que medissem, com trena, a circunferência e o diâmetro
de cada um deles. As circunferências tiveram as seguintes medidas,
respectivamente: 2,198m.; 1,570m.; e 0,628m.
Dividindo-se a circunferência pelo seu diâmetro, tivemos:
2,198m: 0,70m. = 3,14; 1,570m. : 0,50m. = 3,14; 0,628m. : 0,20m. = 3,14.
Os alunos estranharam por sempre dar o mesmo número como resultado.
Expliquei que é essa constante que se chama π.
Mas, a demonstração não ficou por aí. Saí com a trena e solicitei aos
alunos que medissem o diâmetro de algumas árvores de grossuras diferentes.
Alguns chegaram a afirmar que não era possível fazer isso. Demonstrei, então,
que bastava tomar a circunferência e dividir por π (3,14), que se teria o diâmetro,
ou seja, a grossura da árvore, sem ter que cortá-la.
É lamentável que muitos alunos tenham ouvido falar e tenham trabalhado,
muitas vezes, com π, sem saber o que era e nem para que servia. Com as
demonstrações feitas, da forma ora descrita, fica facílima a compreensão disso.
É ensino que parte do concreto para formar abstrações significativas. Observe
que, mais uma vez, combinam-se conteúdo, técnica e meios auxiliares. O
professor, sempre que possível, deveria trabalhar assim, pois a compreensão
será muito mais fácil e haverá uma aprendizagem mais eficiente.

7 Técnica da exegese ou exegética

7.1 Em que consiste

Consiste na análise e interpretação exata de um texto, tanto de seu


sentido real, quanto oculto ou subentendido.

7.2 Como se faz

O professor apresenta ou indica um texto aos alunos para ser


interpretado. Os alunos leem a primeira frase e pensam ou explicam o que
entenderam. Certamente, aparecerão muitas interpretações. O professor orienta
os alunos para procurar o significado das palavras no dicionário, nos livros
técnicos ou nos glossários. Faz-se, assim, a interpretação de palavra e, em
seguida, interpreta-se a frase. De frase em frase, chega-se à oração; de oração
em oração, ao período; e de período em período, ao texto todo.
Para reforçar a interpretação de certos conceitos, de teorias, ou de textos,
simplesmente o professor indica a bibliografia apropriada para que os alunos
leiam mais sobre o assunto e tenham uma visão bem clara do que o texto original
quer dizer.

131
Os textos, para uso dessa técnica, não devem ser os mais fáceis, do
contrário não haveria trabalho exegético para ser feito. Textos adequados são
os técnicos literários que apresentem alguma dificuldade.

7.3 Exemplo de aplicação da técnica

Temos o seguinte texto:


“A personalidade da professora tem um impacto incalculável. Está ao seu
alcance inspirar aos seus alunos, encorajá-los, e provocá-los, implantar um
sentido de responsabilidade e de perseverança e desenvolver a sua imaginação.
Infelizmente, também o oposto pode ser verdadeiro; uma professora pode ter
uma repercussão ou influência indesejáveis sobre a sua classe” (SHIPLEY,
1969, p. 20).

A primeira palavra que necessita reflexão é “personalidade”. O professor


orienta os alunos a procurar o significado desta palavra no dicionário. Como o
professor sabe que “personalidade” é um termo usado em Psicologia e que o
dicionário não explica tudo, ele indica uns dois ou três livros de Psicologia que
tratem do assunto para que os alunos busquem a interpretação completa do
termo.
Feito isso, volta-se à frase. Vamos ligar esta palavra com a seguinte e
fica: “a personalidade da professora”. Agora, basta pensar o que as duas juntas
querem dizer no contexto. “Personalidade da professora” quer dizer as
qualidades ou defeitos, habilidades ou inabilidades, virtudes ou defeitos,
competência ou incompetência da professora.
Vamos adiante. A próxima palavra é “impacto”. O aluno procura
significado da palavra no dicionário. A palavra que melhor explica é “choque”.
Choque pode ser entendido no contexto como influência, força. A palavra
seguinte é “incalculável”, que quer dizer “incomensurável”, “difícil de medir”.
Voltamos à primeira frase como um todo: “A personalidade da professora
tem um impacto incalculável”. Isto quer dizer que as qualidades da professora
têm uma influência incomensurável, enorme.
Nessa frase, falta alguma coisa. Influência enorme sobre o quê? Sobre
quem? É uma frase incompleta, portanto. Mas, se lermos a oração que a segue,
dá para entender que aquele “impacto incalculável” é sobre o aluno.
Assim, podemos continuar até o final de todo e qualquer texto. Porém, se
desta forma os alunos ainda não conseguiram entendê-lo bem, é preciso
pesquisar o assunto em outros livros, em outras fontes, em revistas, em textos
técnicos e até mesmo realizar experiências.

7.4 Importância

A técnica da exegese é de suma importância. Ensina o aluno a aprender


com disciplina e com capricho. Ele tem que pesquisar e compreender cada

132
termo, cada frase, cada oração. Isso facilita a compreensão do que vem depois
e torna possível a integração de todas as partes entre si.
A aprendizagem não dá saltos; e com essa técnica o aluno caminha passo
a passo e com toda segurança. Nada deve ficar sem ser entendido. Tudo é
analisado nos mínimos detalhes.
Essa técnica pode ser utilizada para qualquer nível de escolaridade e
disciplina. Serve tanto para história, geografia, português, licenciatura, como
para matemática, química e biologia. Na verdade, ela é uma técnica de estudo
dirigido um pouco mais sofisticada. Todo professor deveria utilizá-la até que os
alunos soubessem estudar, analisar e interpretar sozinhos os textos.

8 Técnica da exposição e a comunicação

A técnica expositiva tem sido muito criticada. De fato, ela não atende aos
princípios psicológicos e didáticos que exigem atividades do aluno para que haja
aprendizagem. Mas, nem por isso ela pode ser de todo desprezada. Vejamos o
que devemos fazer para aproveitá-la da melhor forma possível.
Exposição nada mais é do que comunicação. Esta, hoje, tem boa teoria
que a fundamenta. Numa linguagem simples, tentarei comunicar o que é
comunicação, como funciona e como pode ser usada.
Comunicação significa tornar comum alguma coisa com alguém. Essa
alguma coisa pode ser uma ideia, um conceito ou atitude, ou mesmo uma ação.
Donde vem a comunicação? Ela pode vir de jornal, revista, livro, TV, rádio,
Internet, ou então de pessoas, são as chamadas fontes de comunicação.
Que meios usa a comunicação, ou seja, que meios usam as fontes de
comunicação para comunicar alguma coisa? Eles usam as letras, as palavras,
as frases, escritas ou faladas, o gesto, a mímica, o desenho, os modelos. Estes
são os códigos, os sinais, que levam a mensagem.
Quem recebe a comunicação? Eis o problema. Recebe a comunicação a
pessoa que tiver condições de recebê-la. Quem estiver maduro, quem estiver
atento. Todos os sentidos da pessoa são instrumentos para receber uma
comunicação, porém é preciso estar em forma para isso. A quem é mandada a
comunicação, dá-se o nome de destinatário.
Quando se tem uma ideia ou uma informação para passar a alguém,
imaginamos qual seria a melhor forma de fazê-lo. Para uma criança, falamos,
mostramos, explicamos, fazemos sinais, gestos e, muitas vezes, esperamos ela
fazer o que pedimos para ter certeza que entendeu. Transformamos a
informação que tínhamos a dar em código. No caso, vários códigos. Passamos
nossa informação, a ideia que queríamos passar para a criança, em palavras.
Ela não entendeu, não decodificou as palavras, não interpretou a mensagem.
Apelamos para outro código, o gesto. Ainda não decodificou direito. Usamos um
terceiro código, o gesto. Ainda não decodificou direito. Usamos um terceiro

133
código, a demonstração. Agora, sim. A reação da criança foi positiva. Ela faz o
que esperávamos. Decodificou o código que usamos para mandar a mensagem.
Por que a criança não fez o que queríamos, quando usamos como código
as palavras? É porque ela não tinha experiência sobre o significado das palavras,
ou, então, ainda não tinha maturidade suficiente para combinar todas as palavras
que usamos para dar sentido à mensagem.
A criança manifestou que não entendeu a mensagem. Tivemos uma
avaliação imediata. Desta vez, foi a criança que mandou uma mensagem para
nós, por meio da demonstração de que não entendeu. Mas, nós decodificamos
imediatamente a mensagem dela; de que não tinha entendido.
Porém, por que não usamos um código mais simples, logo no começo?
Por que não usamos palavras mais fáceis que sejam da experiência da criança?
Porque nós também não tínhamos experiência de como comunicar aquilo para
crianças daquela idade, ou, então, não podíamos imaginar quais eram as
experiências daquela criança.
Observemos bem. Mandar a mensagem para uma criança já é difícil, que
dirá mandar para 35 ou 40! No caso acima, mandamos a mensagem e logo
recebemos uma resposta: não entendido. E numa sala de aula, quando
recebemos a resposta de que os alunos entenderam ou não uma mensagem?
Só na época da avaliação? E se os alunos ficaram todo esse tempo sem
decodificar as nossas mensagens? Quanta perda de tempo. Quanta frustração
para os alunos. E isso é comum acontecer.
Deduz-se, assim, que devemos verificar constantemente, junto aos
alunos, se eles realmente entenderam as nossas mensagens. Podemos fazer
isso com perguntas, pela observação de suas atividades e de suas atitudes. Se
não entenderam, devemos usar imediatamente outros códigos, como foi feito
com a criança dessa ilustração.
Com o tempo e com o melhor conhecimento de fundamentos e técnicas
de comunicação, podemos desenvolver competência para nos comunicar com
grandes públicos, em vez de com um de cada vez. Podemos utilizar a fala e a
entonação, a escrita, gráficos, sinais, recursos materiais, a mímica, os gestos,
as cores, a ação, a dramatização, entre outros.
Para que a comunicação provoque a reação que a fonte espera provocar
no destinatário, é preciso que:

- tanto a fonte quanto o destinatário conheçam o significado dos sinais da


mensagem e que um determinado sinal signifique a mesma coisa para
ambos;
- a mensagem tenha força para atingir realmente o destinatário;
- ela precisa ter conteúdo significativo, voz forte, luz intensa, bastante
movimento ou situação dramatizada;
- a mensagem vá ao encontro das necessidades e interesses das
pessoas. Do contrário, a pessoa diz: isso não me interessa. E “desliga” os
sentidos receptores da mensagem;

134
- a mensagem tenha embutida a maneira pela qual a pessoa poderia
satisfazer essas necessidades.

A comunicação pode ter também fatores perturbadores. A voz fraca do


comunicador, a sua “voz de taquara”, isto é, fanhosa, os ruídos no ambiente, a
luz fraca, letra fraca, ou muito pequena, imagens ruins, entre outros.
Observemos as condições didáticas necessárias para uma boa comunicação.
O comunicador deve cuidar para eliminar esses fatores perturbadores
antes de enviar sua mensagem. Assim, ela terá maior probabilidade de sucesso.
A forma de comunicação mais permanente e mais econômica era a
escrita. Hoje a fala pode ser gravada. Mas, até há pouco tempo, isso não era
possível. As primeiras escritas da humanidade, podem estar em algum lugar do
mundo. O comunicador, o professor, no caso, deve saber utilizá-la com o máximo
de perfeição. Para combinar bem as palavras, organizá-las de uma forma tal que
a mensagem seja interpretada, como queremos que seja, não é fácil. O
comunicador precisa conhecer muito bem vocabulário e semântica. Deve saber
o que as palavras que vão ser usadas significam para o destinatário. Quais são
as experiências que o destinatário tem sobre o assunto. Por isso, sem conhecer
bem o meio cultural do destinatário, é difícil codificar mensagens proveitosas. O
comunicador precisa também conhecer muito bem o conteúdo.
O comunicador ainda precisa conhecer bem a Didática. A forma de redigir
ou falar precisa ser muito bem cuidada. A mensagem deve ter conteúdo que
atinja as emoções dos alunos, suas necessidades e interesses. Ela deve ter
maneira psicológica de ser enviada. Numa comunicação, tem fundamental
importância a fisionomia do comunicador, seus gestos, suas atitudes, seu
entusiasmo e sua fé no conteúdo.
Para a comunicação ser eficaz, não basta só isso, é preciso que o
comunicador demonstre que gosta do que faz e, por eles e por sua felicidade,
principalmente em se tratando de alunos.

9 A técnica da conferência

9.1 Em que consiste e como funciona

Consiste na apresentação de um tema por meio da leitura, quase sempre


por uma pessoa de renome, técnico ou pesquisador. O assunto precisa ser lido
por não ser ainda do inteiro domínio do conferencista, ou então por apresentar
muitos dados, fatos ou ideias que não podem ser esquecidos ou alterados pelo
apresentador. É quase sempre assunto novo, ou muito complexo.

135
9.2 Importância da técnica

Por meio da conferência, pode ser atingido um grande público. É uma


forma de se passar o que existe de mais atual, ideias ou pesquisa às pessoas
interessadas. O assunto pode provocar novos estudos, pesquisas e mesmo
debates. Por essa técnica, as informações complexas são passadas de forma
ordenada, lógica e com todos os detalhes.
O aspecto mais didático é a novidade que normalmente é apresentada.
Todos estão curiosos em conhecer o assunto. Um habilidoso apresentador
também saberá usar de recursos linguísticos e retóricos, de forma a tornar a
conferência agradável e bem inteligível.
A conferência é uma boa oportunidade para os alunos aprenderem a
escutar e tomar nota das ideias centrais, ao mesmo tempo.

10 A palestra

A palestra consiste na fala de uma pessoa, de maneira informal, sobre


determinado assunto.
Quando um assunto não é de inteiro domínio do professor ou é muito
específico, costuma-se convidar um especialista no assunto para fazer uma
palestra aos alunos.
A palestra pode ser usada para trazer novidades a qualquer grupo de
pessoas interessadas em determinado tema: professores, comerciantes,
estudantes.
O palestrista pode utilizar o quadro-de-giz, cartazes, retroprojetor e
apresentar esquemas, gráficos e tabelas.
Não há regras a seguir, a não ser as do bom senso e da boa comunicação.
O que distingue a palestra da conferência é que esta é a leitura formal de
um texto especialmente preparado para a ocasião, enquanto aquela é uma fala
livre, informal, comentada e mesmo dramatizada, se for o caso.

11 Técnica da tomada de decisão

11.1 Em que consiste e como se faz

Consiste em tomar decisões, seguindo-se algumas regras. Normalmente,


toma-se decisão a respeito de um problema, ou como encontrar melhores saídas
ou alternativas para uma situação, sem se preocupar em seguir certos passos.
Pela técnica da tomada de decisão, procura-se, primeiramente, definir
com clareza qual é o problema. Depois, faz-se uma lista, a mais completa
possível, das causas desse problema. Em seguida, faz-se mais uma lista das
alternativas que poderiam ser usadas para se resolver o problema.

136
A decisão pode ser tomada individualmente ou em grupo, pode-se usar a
discussão ou o bombardeamento mental.

11.2 Importância da técnica

A vida está cheia de situações, de problemas que constantemente exigem


de nós escolha por uma ou outra alternativa para resolvê-los. Muitas pessoas,
para não dizer a maioria, ao encontrar um obstáculo, simplesmente ficam
perdidas; não sabem o que fazer ou tomam decisões erradas.
Essa técnica orienta-nos como agir. O ponto básico em que ela se
sustenta é a criatividade. É criar o maior número possível de ideias, de
alternativas, para se resolver o problema. Depois de criadas muitas alternativas,
fica fácil escolher as melhores.
A tomada de decisão pode ser utilizada para resolver qualquer problema
que surgir, tanto dentro como fora da escola.

11.3 Exemplos de tomada de decisão

Uma senhora pede para o marido trocar a lâmpada que está queimada.
Ele pega uma cadeira, tira a lâmpada e a joga no lixo, onde esta se quebra. Vai
à despensa, pega outra lâmpada e a coloca no lugar donde tirou a primeira.
Também não acende. Perdeu uma lâmpada por não ter utilizado a técnica de
tomada de decisão.
Ambos analisaram a situação de forma errada. O problema, na verdade,
era a falta de iluminação e não a lâmpada queimada. É preciso distinguir bem
problema de causas de problema.
No caso, quais poderiam ser as causas do problema?
Vejamos algumas:

- lâmpada queimada;
- fios soltos;
- soquete desligado;
- falha no contato da tomada;
- defeito na rosca do soquete.

Alternativas de solução:

1. trocar a lâmpada;
2. verificar se os fios fazem o necessário contato com o soquete;
3. rosquear melhor a lâmpada;
4. mexer na tomada;
5. abrir a tomada e verificar se existe falha de contato;
6. observar a rosca do soquete;
7. observar se a lâmpada dá contato no fundo do soquete.

137
Depois de termos relacionado algumas alternativas, selecionamos as
mais prováveis para serem testadas. No caso da lâmpada, as mais prováveis e
fáceis de serem experimentadas, por ordem de prioridade, são as de número: 1,
4, 7, 6, 3, 2 e 5.
No caso, foi trocada a lâmpada e não foi solucionado o problema,
entretanto a lâmpada não precisava ter sido jogada no lixo. Poderia ter sido
testada em outro local.
Vamos para a alternativa seguinte, a de nº 4. Não resolveu. É a vez da
alternativa nº 7. Foi observado o fundo do soquete. A molinha estava muito
achatada. Possivelmente não dava contato. Não custa experimentar levantá-la
um pouco com uma chave de fenda. Feito isso, e colocada a lâmpada, ela
acendeu. Ficou resolvido o problema.
Tomemos como exemplo agora uma situação escolar: uma professora,
com 1,55m de altura, magra, voz fraca, formada há quatro anos e com três anos
de experiência no magistério, com uma de suas turmas de 6º ano, não conseguia
trabalhar de forma alguma. Os alunos trepavam nas carteiras, jogavam papel,
empurravam uns aos outros e chamavam a professora em voz alta a todo
instante.
Nessa situação, o problema é: a professora não consegue alcançar os
objetivos que se propõe devido à falta de disciplina da turma.
Quem deve resolver ou decidir primeiramente sobre o problema é a
própria professora. Ela deve fazer uma lista, a mais extensa possível, das causas
dessa “bagunça”. Feito isso, e com base nas causas, ela pensa nas diversas
maneiras de solucionar o problema. Essas diferentes maneiras são chamadas
de alternativas de solução. Ela deve, pois, elaborar uma lista extensa das
possíveis alternativas. Vejamos algumas que poderiam ser colocadas para o
problema dela:

- escolher um conteúdo mais interessante, mais significativo para os


alunos;
- usar técnicas mais dinâmicas, que exijam mais atividades dos alunos;
- escolher conteúdo mais fácil de ser compreendido;
- escolher conteúdo de nível um pouco mais elevado;
- mandar os alunos “bagunceiros” para fora da sala;
- encaminhá-los à supervisão ou à direção da escola;
- ameaçar reprovar;
- dar notas baixas;
- falar aos pais que eles fazem muita “bagunça” e pedir que tomem
providências;
- ver junto às famílias as possíveis causas de tal comportamento;
- ler, em livros de psicologia, como tratar com alunos assim;
- conversar com a supervisão da escola e pedir sugestões e ajuda.

138
A lista pode ser bem maior ainda. Certamente, teríamos outras
alternativas para acrescentar, mas fiquemos por aqui. Se fôssemos escolher seis
das alternativas acima, em que ordem de importância as colocaríamos? Quais
as que resolveriam o problema com maior probabilidade?
Porém, não basta escolher as alternativas mais lógicas para resolver o
problema. É preciso analisar se elas podem ser executadas; se o seu uso é
psicológico e didático; se não, vai “machucar” os alunos ou a classe.
Na vida de qualquer pessoa, surgem problemas a todo instante. É bom
conhecer uma técnica para enfrentá-los. Outros problemas que poderiam ser
colocados para serem resolvidos:

- excesso de pernilongos à noite em nossa residência;


- excesso de mortes provocadas pelo trânsito;
- a fome em nosso município;
- as notas baixas dos alunos nas disciplinas que “ministramos”.
Esses assuntos são bons para serem analisados em grupos de discussão
ou de bombardeamento mental. Não esquecer três aspectos: listar as prováveis
causas do problema; listar as possíveis alternativas de solução do problema em
ordem de prioridade; só depois disso, é que se pode experimentar uma ou
mesmo algumas alternativas ao mesmo tempo.
Podemos colocar problemas simples para os alunos treinarem a técnica
e mesmo problemas sociais ou de conteúdo escolar. Desenvolvem-se, assim, a
criatividade e como resolver problemas.

12 Conclusão

Embora cada método ou técnica tenha características distintas, o


professor pode trabalhar sem se preocupar em as respeitar rigorosamente. Ele
pode mudar a maneira de trabalhar as técnicas, pode fundir várias e até inventar
técnicas novas.
O importante mesmo é que o professor identifique os passos e a maneira
como vai trabalhar as técnicas. Isso fará com que o professor demonstre
segurança no uso da técnica e evitará que cada aluno trabalhe
desordenadamente.
Seria interessante que o professor, após trabalhar com técnicas
individualizadas, utilizasse também técnicas socializadas. Isso fará com que haja
uma melhor integração da aprendizagem e, ao mesmo tempo, favorecerá a
socialização dos alunos.
Vejamos, no capítulo seguinte, os métodos e técnicas socializados.

139
Capítulo IX

Métodos e técnicas
socializados
Nos métodos socializados, os alunos trabalham ou apresentam resultados
de pesquisas em grupo. Tais métodos exigem participação coletiva, debate,
discussão e, principalmente, integração grupal.
Os objetivos que podem ser alcançados por meio deles e a sua
importância podem ser deduzidos pela análise dos métodos e técnicas que serão
apresentados abaixo.

1 O método da dinâmica de grupo

1.1 Em que consiste e que importância tem

Esse método tem como fundamento a Psicologia, a Sociologia a Filosofia


e a neuroeducação. Ele visa reforçar a vivência do homem no grupo, atendendo
a sua natureza e, ao mesmo tempo, às exigências da sociedade moderna.
O aluno gosta de estar e viver em grupo. No grupo, ele fala, participa,
reage, critica e também obedece. É no grupo que ele amadurece para a
sociedade.
A vida moderna, porém, exige um homem democrático, crítico, seguro,
mas que seja, ao mesmo tempo, muito responsável, organizado e disciplinado.
A dinâmica de grupo é um dos importantes meios para isso. À medida que o
aluno for conhecendo e vivenciando as regras e normas das diversas técnicas
de dinâmica de grupo, ele vai crescendo em condições para participar, com mais
eficiência, de uma sociedade democrática, pois as regras são tiradas desta
sociedade e colocadas como objetivos a serem desenvolvidos ou alcançados
pela escola.
A vida em sociedade sempre foi difícil. Parece que hoje isso é mais
complexo ainda. A escola tem, entre suas finalidades, que preparar o aluno para
viver bem na sociedade e, ao mesmo tempo, ser um agente de crescimento e
mudança dessa mesma sociedade.
Com frequência, vemos expressões como: “você não tem nada com isso”,
“deixe que se virem”, “eu não me meto nisso”, “nem quero saber”, “ele que faça
como eu”. É o individualismo; é o egoísmo.

140
É comum as pessoas apelarem para expressões como: “isso não é
democrático”, “o fulano é autoritário”, “precisamos democratizar as decisões”.
Mas, essas mesmas pessoas que assim falam, muitas vezes, não sabem o que
é democracia ou decisão democrática e não têm habilidades para trabalhar
participativamente.
Democracia é participação ativa e responsável de todos para o bem
comum. É definição de democracia de John Dewey, grande educador norte-
americano.
Democracia é forma de vida, de trabalho, de liderança, de governo. Numa
verdadeira democracia, não seria necessário chefe, governador e nem
presidente. Todos participariam ativamente, com responsabilidade e estariam
visando ao bem de todos. Ninguém precisaria ser mandado.
Os problemas desapareceriam? Claro que não. Os problemas seriam
analisados em grupo, estudados em grupo, discutidos em grupo e se tomariam
decisões por consenso ou por votação pelo grupo. Depois disso, o próprio grupo
executaria sua decisão. Todos assumiriam o trabalho, pois todos estão
comprometidos com a decisão e com o grupo.
O homem, por natureza, é rebelde à autoridade. Não gosta de ser
mandado e de obedecer. Por isso, decisão e trabalho em grupo é bom. Todos
mandam e ninguém manda, e as coisas que têm que ser feitas são feitas. Mas,
que o homem precisa ser educado e treinado para trabalhar em grupo. Embora
o aluno, principalmente o adolescente, goste de trabalhar em grupo, este método
traz muitos vícios, defeitos de educação e tendências instintivas que precisam
ser corrigidos e canalizados.
Qualquer casal pode ter filhos, mesmo sem ter feito curso para ser pai ou
mãe. E a lei garante a esse casal o pátrio poder e o direito de escolher o tipo de
educação que deseja para seus filhos. Todos sabemos que tipo de pais existem
por esse mundo afora. Educar, sabendo como se deve educar, já é difícil.
Imagine a educação que é dada por pais que possuem o mínimo de cultura, nem
de bom senso, nem de vontade e nem de tempo e condições para educar.
Sejam lá os motivos que forem, a verdade é que todas as crianças têm
defeitos, fraquezas e tendências que precisam ser aproveitadas ou corrigidas
por meio das diversas técnicas do método da dinâmica de grupo.
Para termos uma rápida ideia, vejamos alguns desses defeitos ou
fraquezas: medroso, egoísta, agressivo, retraído, áspero, falador, calado,
teimoso, inquieto, impulsivo, falso, fingido, mentiroso, convencido, inseguro,
antipático.
Pela dinâmica de grupo, podemos alcançar vários objetivos educacionais,
corrigindo um pouco os defeitos apontados anteriormente, ou seja, podemos
desenvolver muitas qualidades no aluno. Essas qualidades são, dentre outras:
que o aluno seja sincero, leal, simpático, altruísta, criativo, livre, seguro, meigo,
ativo, participante, corajoso, ponderado, colaborador, conciliador, desinibido e
até falador, quando necessário. Estas qualidades são úteis para o aluno e muito
necessárias à sociedade.

141
O método da dinâmica de grupo pode, também, trazer enormes benefícios
para a cura das pessoas. As crianças que se sentem desprezadas pelos colegas,
as tímidas, as que têm problemas com a família, as que não se sentem amadas
podem se tornar alegres e normais. Elas passam a sentir que o mundo não é
constituído só de coisas ruins.
A dinâmica de grupo desenvolve habilidades no próprio grupo, que passa
a ter mais condições de melhorar a sociedade, em termos de criatividade,
originalidade, união, solidariedade e força grupal. Aqui se encaixam os ditados:
“A união faz a força”; “Um por todos e todos por um”. Mas, sem serem
desenvolvidas as qualidades individuais e sem que haja treino em grupo, isso se
torna impossível.
Além disso, a dinâmica de grupo aproveita e soma todas as experiências,
as ideias e a imaginação dos membros do grupo para a solução de problemas.
É o desenvolvimento do raciocínio do aluno e de sua criatividade para melhorar
a própria sociedade.

1.2 Regras a serem observadas na dinâmica de grupo

- colaborar e não obrigar; não impor e nem atacar;


- contribuir com o máximo de que é capaz;
- entrosar-se bem com todos os membros do grupo;
- no grupo, todos são iguais: o único prestígio a ser considerado no
indivíduo é sua responsabilidade e participação;
- pode-se discordar, desde que não seja para perturbar;
- limitar-se ao problema em questão: não fugir do assunto;
- buscar resultados, respostas;
- ser simples, humilde, sincero e amigo;
- não querer mostrar que sabe mais que os outros;
- o fracasso, os erros e os sucessos é responsabilidade da equipe;
- todos devem falar, mas um de cada vez;
- todos devem escutar e respeitar o colega na fala deste;
- deve-se chegar a conclusões.

2 Círculos de estudo ou estudo em grupos

Como funciona
A classe é dividida em grupos de quatro a oito alunos. Os grupos podem
estudar o mesmo assunto ou assuntos diferentes. Cada equipe deve escolher
seu coordenador e relator.
O professor indica o assunto, a bibliografia e onde esta pode ser
encontrada. Coloca, também, o problema e indica os objetivos a serem
alcançados com toda clareza, as estratégias e os passos a serem seguidos.
Deixa bem claro, ainda, o prazo para a conclusão do estudo em grupo.

142
As atribuições do coordenador são:

- marcar horário e local para os encontros, se for o caso;


- distribuir atividades;
- verificar se todos estão trabalhando, orientar os mais inseguros e
incentivar os acomodados;
- assegurar-se de quer todos tenham o material para estudo;
- ajudar o relator a redigir as conclusões do grupo;
- consultar o grupo para verificar se não está fugindo do problema, do
tema ou do assunto;
- preocupar-se para que o grupo chegue a conclusões.

As atribuições do relator são:

- registrar, com fidelidade, o problema ou tema a ser estudado;


- anotar as bibliografias e as orientações do professor;
- redigir as conclusões que forem sendo apresentadas pelos membros do
grupo;
- cumprir também sua parte na pesquisa ou no estudo;
- submeter à apreciação do grupo o seu relato para eventuais correções,
melhoramentos e aprovação;
- apresentar para a classe ou para o professor as conclusões do grupo.

Concluídos os estudos, os relatores fazem a apresentação de cada


equipe para a classe toda. Em seguida, pode ser feita discussão para
aprofundamento do tema ou esclarecimentos.
Se a forma adotada for que cada grupo fique com parte do tema, após a
conclusão, os resultados devem ser passados para os demais grupos, para
estudo, ou os próprios relatores podem fazer apresentação detalhada.
Se o estudo for realizado com a presença do professor, este deve limitar-
se a orientador da pesquisa. Não deve interferir nos resultados. É preciso deixar
os alunos livres para que se sintam independentes e passem a adquirir confiança
em si mesmos. É uma oportunidade para que os alunos, aos poucos, libertem-
se da dependência do professor.
Ao final da apresentação dos grupos, o professor poderá integrar as
conclusões, dar uma visão globalizada do tema, sem, porém, criticar os grupos
ou seus resultados.
São duas formas de desenvolver a técnica de estudo em grupo. Podemos
imaginar e criar outras e mesmo enriquecer estas. Em metodologia não existem
receitas, apenas exemplos. Por isso, todo professor deveria realizar suas
próprias experiências.

143
3 Painel simples

O painel simples consiste numa conversa ou discussão informal de três


ou quatro pessoas, colocadas na frente da classe ou do auditório, sobre um
assunto interessante ou polêmico. Essas pessoas podem ser especialistas,
interessadas, com posição diferente sobre o assunto, ou mesmo alunos que
foram convidados a estudar profundamente o tema.

3.1 Como funciona

O tema pode surgir no transcorrer de uma aula pelos próprios alunos, ou


proposto pelo professor. Se houver condições e especialistas disponíveis, seria
interessante que fossem convidados para expositores. Caso contrário, o
professor solicita a apresentação de voluntários, ou indica alguns alunos para
estudar o assunto. O professor explica a eles a técnica, indica a bibliografia e
marca a data para a apresentação.
Deve também ser indicado um moderador ou coordenador do painel e um
secretário. O coordenador pode ser o próprio professor ou, então, um aluno. Nas
primeiras vezes, seria interessante que fosse o professor para que os alunos
vissem como funciona a técnica.
O coordenador combina com os participantes do painel, especialista ou
alunos, o tempo que cada um terá para expor e o tempo para responder a cada
pergunta que for feita pelos alunos. Ao secretário, cabe anotar as conclusões a
que o aluno chegou. Estas conclusões podem ser anotadas em folha, para serem
lidas em seguida, ou postas no quadro.
O coordenador abre a sessão, apresentando o assunto e os objetivos do
painel, os participantes e as regras seguidas. Informa o tempo que cada um terá
para expor seu ponto de vista e que, após ter feito sua apresentação, os alunos
do plenário podem fazer perguntas para esclarecimentos. O coordenador é o
responsável pelo bom funcionamento dos trabalhos. É ele quem controla o
tempo da fala de cada um. Esgotado o tempo, ele pode dar mais alguns minutos
para a conclusão da exposição.
Ao final das apresentações dos expositores, o coordenador passa a
palavra para o plenário, para os alunos. Informa a eles que as perguntas a serem
feitas devem ser relacionadas ao assunto exposto. Se o plenário ficar meio
tímido e se não surgirem, ou surgir poucas perguntas, o coordenador levantará
problemas aos alunos: colocará questões e estimulará os alunos a fazer
perguntas aos expositores, mas o coordenador não deverá expressar suas
ideias sobre o assunto.
As questões colocadas aos alunos podem ser respondidas por qualquer
um dos expositores, que podem também discutir o assunto sobre si, se alguns
deles não concordar com alguma resposta.
Ao final da sessão, os expositores devem apresentar as conclusões finais
para serem anotadas pelo secretário.

144
O coordenador agradece aos expositores e encerra a sessão.
Recomendações a serem observadas:

a) O coordenador do painel tem que ser uma pessoa segura e que


conheça o funcionamento da técnica.
b) Se os expositores forem alunos, estes devem ter tempo suficiente para
preparar o assunto.
c) As perguntas dos alunos devem ser curtas e não exposições para
demonstrar que entendem do assunto ou para tentar humilhar os
expositores.
d) Eventuais falhas do painel ou no comportamento dos alunos é motivo
para que o professor tente outras vezes a técnica. Isso mostra que os
alunos ainda não estão educados para atividades diferentes ou em
grupo.

3.2 Importância

Com esta técnica pode-se:


- fazer os alunos verem que um mesmo assunto pode ser focalizado por
ângulos diferentes; que as opiniões diferentes também devem ser
consideradas e respeitadas;
- estimular os alunos a pesquisar mais profundamente a questão.
Certamente, os alunos inclinam-se mais por um ou por outro ponto de
vista. É um desafio para a busca de aprofundamento;
- analisar mais profundamente um tema, vendo o maior número possível
de aspectos.
Do ponto de vista didático, o uso de técnicas diferentes é sempre
interessante.

4 Painel com interrogadores

Procede-se de forma semelhante ao painel simples.


Quatro ou cinco expositores apresentam o seu ponto de vista de forma
resumida. Em frente deles, são colocados três ou quatro interrogadores que
farão perguntas aos expositores, após as apresentações.

4.1 Como funciona

Escolhido o tema, escolhe-se o coordenador, o secretário, os expositores


e os interrogadores. O coordenador pode ser o professor; se os expositores
forem especialistas, ou então aluno, se os expositores forem alunos. Marca-se o
dia do painel.

145
O professor orienta os estudos preparatórios. Depois de prontos os
estudos, faz-se uma reunião com os interrogadores, com os expositores e com
o coordenador, se for aluno. Entre si, eles combinam as regras a serem
observadas e as perguntas a serem feitas.
Os expositores já podem saber o que vai ser perguntado pelos
interrogadores. Assim, eles já prepararão as respostas, entretanto eles devem
cuidar para não dar as respostas na exposição, antes de serem feitas as
perguntas.
Tanto as perguntas como as respostas devem ser claras, objetivas e de
suposto interesse e utilidade para os alunos.
Após as exposições e terminado o prazo dos interrogadores, o
coordenador dará oportunidade aos alunos do plenário para fazer suas
perguntas e esclarecer suas dúvidas.
Qualquer técnica de ensino pode ser mudada, adaptada e melhorada por
quem for usá-la. Da mesma forma, os detalhes que faltam podem ser imaginados
e completados pelo professor.

5 Painel de debate

5.1 Como funciona

Essa técnica pode ser usada quando surgir um tema polêmico e os


estudantes estiverem manifestando opiniões divergentes. A classe escolhe cinco
alunos para defender um ponto de vista e cinco para contestá-lo ou defender
ponto de vista contrário.
O professor indica a bibliografia para cada equipe, marca o dia do debate,
deixando sempre um prazo razoável para que as equipes se prepararem. Nesse
tempo, cada equipe redige a sua tese para ser apresentada no dia do debate. A
tese deve ser bem curta, para poder ser lida em dez minutos. Os demais alunos
também devem estudar bem o tema para poder fazer perguntas inteligentes, ao
final.
Chegado o dia, o professor pode escolher um aluno neutro, se houver,
para moderador de debate. As duas equipes ficam uma em frente à outra, nos
cantos da frente da sala; e o moderador, no lugar em que normalmente fica o
professor. Seria interessante que cada equipe tivesse seu coordenador, para
que o trabalho de pesquisa e o debate sejam bem organizados.
O moderador abre a sessão apresentando o tema, os seus objetivos e as
equipes que vão defender um e outro ponto de vista. Em seguida, concede a
palavra para a equipe “A” apresentar as ideias, sem interrupções, durante dez
minutos. Em seguida, pelo mesmo prazo, para a equipe “B”. Enquanto uma
equipe fala, a outra toma nota dos pontos falhos, fracos ou inconsistentes que
são apresentados.

146
Terminada a apresentação dos argumentos básicos que fundamentam
uma posição e outra, o moderador coloca as normas para o debate, que começa
em seguida.
Inicialmente, o moderador concede a palavra à equipe ”A” para que um
de seus elementos provoque o debate. Para esta provocação, ele toma os
argumentos fracos da equipe “B” e tenta comparar as duas teses, sempre
valorizando a sua. Logo em seguida, um elemento da equipe “B” rebate a
provocação, procurando inverter a imagem. Usa os argumentos inconsistentes
do provocador, mais as ideias fracas apresentadas no início pela equipe “A”, e
tenta provar, com argumentos lógicos, que a tese da equipe “B” é correta, ou a
melhor.
Faz-se, assim, um verdadeiro pingue-pongue. Fala um de cada equipe
para em seguida falar um da outra, até esgotar-se o tempo previsto para o
debate.
As regras a observar e a importância da técnica são bastante semelhantes
à técnica do painel, já visto.

6 Painel integrado

6.1 Como funciona

Escolhido o assunto, o professor divide a classe em equipes iguais de


cinco ou seis alunos para realizar estudo em grupo. Em seguida, indica a
bibliografia e o prazo para conclusão do estudo. Cada equipe se organiza da
melhor forma possível para distribuir os trabalhos. Depois ela pesquisa, os
componentes da equipe estudam, encontram-se, discutem e escrevem as
conclusões a que a equipe chegou.
No dia marcado, formam-se novas equipes, constituídas por um aluno de
cada equipe inicial. Nenhuma equipe pode ter dois alunos que pertencem à
mesma equipe da etapa inicial. Nestas, deve ser indicado um coordenador e um
relator.
Na nova equipe, cada aluno apresenta as conclusões da equipe original
a que pertencia, com o máximo de fidelidade possível. Em seguida, o tema é
discutido novamente, buscando-se novas conclusões que podem até mesmo ser
bem diferentes das conclusões das equipes iniciais.
Para facilitar a formação das novas equipes, é interessante distribuir
fichas numeradas de 1 a 5 ou 6 para os alunos das equipes iniciais. Para as
novas equipes, todos os alunos com ficha nº 1 ficariam numa equipe; os com
ficha nº 2, noutra, e assim por diante.
Na primeira etapa, em vez de os alunos realizarem seus estudos em casa
e em vários livros, o professor pode indicar um capítulo ou texto para estudo na
própria sala de aula. Pode-se ocupar uma aula para a primeira etapa, e outra

147
aula, para a segunda. Tudo vai depender da convivência, do assunto e do tempo
de que se dispõe.
Depois de esgotado o tempo concedido, ou então todas as equipes terem
concluído suas discussões, o relator de cada equipe apresentará as conclusões
para o plenário, ou seja, para a classe.

7 Importância das técnicas de painel

O aluno estuda com interesse, pois visa a um objetivo.


Desenvolve a responsabilidade nos alunos, uma vez que cada um tem
que dar conta à equipe de seus trabalhos e das conclusões a que chegou na 1ª
etapa.
Dá oportunidade a que todos os alunos da classe conheçam diferentes
atitudes e respeitem as opiniões dos outros.
Desenvolve a integração com outros alunos, quebrando um pouco as
famosas “panelinhas” da classe, formando-se novas amizades.
Desenvolve o espírito de coleguismo, de cooperação e de trabalho.

8 Júri simulado

É uma técnica que se assemelha a júri de fórum onde é julgada uma


pessoa acusada de crime, nesta situação, entretanto, não é uma pessoa, mas
um assunto que vai a julgamento, que é escolhido como réu.

8.1 Como Funciona

Para o júri, escolhe-se, dentre os alunos, um juiz, um promotor, um


advogado de defesa, cinco jurados, três testemunhas a favor e três contra.
O promotor e o advogado de defesa poderão ter assessores, os quais
fornecerão “pistas” para auxiliar.
Ao juiz, cabe coordenar a sessão, ouvir as testemunhas, passar a palavra
ao promotor e ao advogado de defesa e, depois, pedir aos jurados que emitam
seu parecer, considerando o réu inocente ou culpado.
Ao promotor, cabe estudar muito bem o problema, prestar atenção aos
depoimentos das testemunhas e apresentar os argumentos finais contra o réu.
Ao advogado de defesa, compete analisar os aspectos positivos do réu,
ouvir os depoimentos das testemunhas e apresentar os argumentos a favor do
réu, tentando defendê-lo.
As testemunhas devem estudar os assuntos em livros, revistas, jornais, e
usar todas as formas possíveis para conhecer bem o assunto. As testemunhas
de defesa anotam e apresentam apenas as ideias que são favoráveis ao réu. E
as de acusação, apenas as ideias para condená-lo.

148
Os jurados devem prestar atenção a todos os argumentos para poderem
votar com seriedade. Para decidir, eles devem guiar-se apenas pela qualidade
dos argumentos apresentados pelas partes. Devem deixar de lado as opiniões e
inclinações pessoais a favor ou contra. Se o plenário ou o professor conseguir
indicar como jurados alunos neutros, será até melhor.
No dia marcado, o “juiz” abre a sessão, explicando como funciona o júri e
as regras que cada parte deve observar. O juiz pede que o promotor leia os autos
do processo. Neste caso, os autos são todos os argumentos que o promotor
pesquisou e arrolou contra o réu.
Em seguida, o “juiz” chama a primeira testemunha de acusação para vir
depor. Ela apresenta tudo o que sabe contra o réu; Chama a segunda; e depois,
a terceira testemunha. Após serem ouvidas as testemunhas de acusação, são
ouvidas as de defesa.
Em seguida, o “juiz” passa a palavra ao advogado de defesa para que
este apresente seus argumentos a favor do réu.
Ouvidos os argumentos contra e a favor, o juiz suspende a sessão e pede
para os jurados decidirem quanto à inocência ou culpa do réu. Os jurados votam
para decidir.
O juiz reabre a sessão e pede para que um dos jurados diga a que
resultado chegaram. Em vista deste resultado, o juiz redige as razões e declara
o réu culpado ou inocente. Com isso, está concluído o júri. O juiz encerra a
sessão.
Os temas que se prestam para júri simulado são: o desmatamento, os
tóxicos, a pena de morte, a energia nuclear no Brasil, a imigração de
estrangeiros, o roubo, o trabalho, a poluição.
Os detalhes que faltam para a realização de um júri podem ser inventados.
Se quisermos, também, mudar a forma de realizá-lo, não há nenhum problema.
O professor não deve ser escravo do método ou da técnica. Deve ser criativo e
imaginar formas diferentes que facilitem a aprendizagem dos alunos.
A classe para um júri pode ser organizada de várias formas. Vejamos uma
delas:
Na frente, onde costuma estar a mesa do professor, são colocadas três
carteiras. A do meio será ocupada pelo juiz, as dos lados, pelo promotor e pelo
advogado de defesa.
Os jurados ficam na frente, do lado direito e as testemunhas ficam na
frente, do lado esquerdo.
Coloca-se uma carteira com cadeira, em lugar especial, do lado esquerdo
da classe, para o depoimento das testemunhas. Estas, ao deporem, ficam de
frente para os jurados.
O réu fica em frente do juiz, a uns três metros e os demais alunos ficam
na parte do fundo da classe.

149
8.2 Importância da técnica

A técnica apela bastante para as emoções dos participantes e do auditório


em virtude do seu caráter competitivo. Cada equipe, ou cada parte, pesquisa e
procura usar os melhores argumentos possíveis para convencer.
Ela desenvolve a iniciativa, a habilidade de pesquisar, de falar, de
argumentar. Desinibe os alunos e leva-os a desenvolver a esperteza na armação
do raciocínio. Eles aprendem a ganhar, com modéstia e a perder com
resignação. Aprendem a ouvir, a tomar notas e a organizar as ideias.

9 A técnica da discussão

9.1 Em que consiste

A discussão consiste na troca de ideias entre as pessoas de um grupo,


em que cada um deles reflete sobre a questão ou problema para encontrar
soluções ou respostas. É a cooperação mental entre os membros de um grupo
para a compreensão de uma questão ou elaboração de alternativas para resolver
um problema.

9.2 Objetivos que podem ser alcançados:

- desinibir os alunos;
- respeitar as ideias dos outros;
- esperar sua vez para falar;
- desenvolver a tolerância com as ideias que parecem absurdas;
- organizar as ideias e expressá-las de forma sintética, lógica e coerente;
- desenvolver habilidades de liderança;
- cooperar.

9.3 Importância

A discussão envolve emocionalmente os alunos e pressiona-os para


buscar na estrutura mental, as informações e experiências que já possuem sobre
o assunto para organizar logicamente o próprio pensamento. Analisam,
sistematizam e selecionam o que é mais válido para ser falado.
Na discussão, o aluno ouve as ideias dos outros, compara estas ideias
com as próprias experiências, leitura e convicções, aciona o seu pensamento
criativo, elabora ideia nova e a comunica ao grupo.
As ideias são formadas por palavras, mas para as palavras serem bem
usadas, precisam ser compreendidas e precisam ter seu significado conhecido.
E o que faz com que as pessoas procurem o significado das palavras? É
a necessidade que sentem de usá-las para se comunicar ou para entender o que

150
os outros querem dizer, ao falar. São as situações em que são colocadas que as
obrigam a aprender as palavras. E é na discussão que eles as ligam, que as
associam para formar ideias, formar pensamentos coerentes e com sentido.
A ideia é a forma mais fácil e precisa de nos expressarmos. A formação
de ideias deve ser bem treinada para que o aluno possa se expressar da forma
mais rica possível. Esse treino pode ser feito por meio da discussão.
O grupo de discussão é um laboratório de ideias. Nele, as ideias chocam-
se, cruzam-se e combinam-se para formar novas ideias. A discussão traz luz aos
assuntos em discussão.
A discussão provoca emoções, adrenalina e ativa sensivelmente os
neurônios. Gera uma enorme fogueira no cérebro para a busca de ideias e
solução ao problema em discussão.

9.4 Como funciona

A discussão pode ser realizada de várias formas, com objetivos diversos


e em momentos diferentes. Pode ser usada no início de uma atividade, para
incentivar os alunos. Pode ser usada no decorrer duma atividade, para
integração de informações, para melhor compreensão do assunto ou para
solução de problemas. Pode ser utilizada no final de uma atividade, para avaliar
a aprendizagem.
Dependendo da necessidade, o professor indica os objetivos, a forma e a
duração da discussão.
Os grupos de discussão, normalmente, são constituídos de cinco ou seis
pessoas. Número maior facilita a conversa paralela, aumenta a inibição dos
tímidos e dá menor oportunidade de participação a todos. Número menor não
faz pressão psicológica suficiente para haver disciplina no grupo e oferece menor
oportunidade de surgimento de ideias divergentes.
Cada equipe deve escolher seu coordenador e secretário.
O coordenador tem as seguintes funções:

- estimular para que haja a participação de todos;


- evitar ataques pessoais, discórdias, conversas paralelas, discursos e
tudo o que possa atrapalhar o bom funcionamento do grupo;
- assegurar a palavra por ordem de inscrição, se for o caso;
- jogar ideias para provocar discussão;
- lembrar sempre o objetivo da discussão e fazer todo o possível para
chegar às melhores conclusões;
- ajudar o secretário na interpretação, síntese e registro das ideias;
- animar, criar clima de bom humor, sugerir e não mandar.

Funções do secretário:

151
- registrar as ideias discutidas (não as palavras) e, principalmente, as
conclusões;
- pedir ajuda ao coordenador ou ao grupo, quando tiver dúvidas;
- prestar esclarecimentos, quando solicitado;
- redigir, enquanto ocorre a discussão.

Funções dos demais membros do grupo:

- pensar, criar e participar;


- ouvir; só falar quando autorizado pelo coordenador;
- estar presente e ativo mentalmente;
- ter atitude de simpatia e encorajamento aos demais membros do grupo;
- evitar conversas paralelas;
- respeitar as ideias dos colegas, mesmo que discorde delas;
- falar pouco, de preferência menos de um minuto;
- visar à solução do problema, sem se desviar do assunto;
- acatar as conclusões e decisões tomadas pela maioria;
- buscar a verdade, sem querer vencer ou impor ideias.

Concluídos os trabalhos ou esgotado o prazo fixado, o professor solicita


que os secretários venham à frente da classe para ler as conclusões de cada
equipe.
Em seguida, o professor comenta a forma como as equipes trabalharam,
apontando os aspectos positivos e as falhas. Evita dizer quais as equipes que
erraram. Cada uma sabe se foi ela ou não quem errou.
Faz também uma análise geral das ideias apresentadas. Sugere mais
leitura, indica a bibliografia e atividades de preparação para aula seguinte, se for
o caso. Em seguida, declara encerrada a discussão ou o término da aula.

10 Phillips 66

10.1 Em que consiste e como funciona

É dado esse nome à técnica por ter sido criada por J. Donald Phillips. É
66 porque são seis pessoas que discutem por seis minutos uma questão ou
tema. A questão pode ser colocada pelo professor, por conferencista ou pelo
coordenador dos trabalhos.
A pessoa que propõe a discussão normalmente passa a ser o
coordenador geral. Pode também ser indicado um secretário. Este anota todas
as conclusões que forem apresentadas pelos grupos, em folha de papel ou no
quadro.
O coordenador geral esclarece, ao plenário, que os grupos devem ser
constituídos por seis pessoas e que têm apenas seis minutos para tirarem

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conclusões. Ele pode, ainda lembrar, de vez em quando, o tempo que falta. Essa
pressão quanto ao tempo faz com que não haja distração, perda de tempo,
indisciplina e que o grupo se atenha a pensar e a buscar conclusões.
Excepcionalmente, o prazo pode ser prorrogado por um ou dois minutos. Isso,
se não tiver havido desvio da questão.
Cada grupo indica um coordenador e um relator; o coordenador estimula
o pessoal a falar, evita desvio da questão e ajuda o relator a redigir as
conclusões.
Esgotado o prazo, o coordenador geral solicita que cada relator apresente
oralmente as conclusões de seu grupo para o plenário. O relator fará isso de
forma clara, objetiva, procurando ser fiel às decisões do grupo. Não deve fazer
comentários particulares e nem manifestar que não concordou com algumas
conclusões. Estas são do grupo, e o relator deve acatá-las.

10.2 Importância

Ela pode ser usada no início de uma aula, de um seminário, para


despertar curiosidade, para sondar opiniões, ou mesmo como pré-teste. Pode
ser usada durante uma aula ou conferência para tirar a monotonia, para
integração de ideias, para “fixação” da aprendizagem. Pode ser usada no final
de uma aula, conferência ou palestra para avaliar o aproveitamento dos alunos,
para se dar solução a problemas, ou provocar novos estudos. Esta técnica leva
o aluno a usar as ideias apresentadas para formar novas ideias em sua mente.
Cobra mais atenção e ajuda a desenvolver a imaginação.
Ela oferece outra grande vantagem ao permitir que, em poucos minutos,
o professor tenha as opiniões ou conclusões sobre um tema e de todos os alunos
da classe.
É também uma forma de ir acostumando os alunos a expressar suas
ideias em público. Em pequenos grupos, isso é mais fácil que apresentar para
uma classe toda. Desinibir o aluno é importante objetivo da educação.

11 Técnica Phillips 22 ou do cochicho

11.1 Em que consiste e como funciona

É uma variante da técnica Phillips 66. São apenas dois alunos que
cochicham durante dois minutos. Em caso de carteiras fixas, esta técnica
funciona melhor que a 66, mas pode ser usada em qualquer situação.
Segue as mesmas normas e tem a mesma importância que a Phillips 66.
Ela, porém, não precisa ter coordenador de grupo. Os dois membros preparam-
se para relatar as conclusões da equipe.

153
Esgotado o prazo, o professor, ou coordenador geral, indica quem vai
falar. Não é necessário ouvir todas as equipes. Basta ouvir algumas e, depois,
perguntar se alguma dupla chegou a resultados diferentes e ouvi-la.

11.2 Importância

Esta técnica pode ser usada com frequência, pois ocupa pouco tempo e
serve para “acordar” os alunos, além de levá-los a uma participação mais ativa.
O professor pode também aproveitar e escolher os mais tímidos para apresentar
as conclusões. Desta, eles não escapam, como poderia acontecer com a outra
técnica. Além disso, todos estão preparados para falar. A probabilidade de
alguém não ser indicado é de apenas 50%.
Alunos tímidos, que nunca falaram em público, podem apresentar as
conclusões da dupla de uma forma tão elegante e segura de modo a surpreender
a classe e o próprio professor. Assim, será dado o impulso que faltava para que
aqueles alunos soltem a língua em público. A nossa sociedade precisa de gente
desinibida e com coragem de participar das decisões coletivas e com esta
técnica se poderá dar os primeiros passos.
Quem aprende para ensinar, melhor aprende. O aluno, sabendo que terá
que falar, passa a preparar ideias para isso. Ele rapidamente junta tudo o que
sabe sobre o assunto e organiza as ideias.

12 A técnica do simpósio

12.1 Em que consiste

Consiste na exposição de várias pessoas. Cada uma focaliza um ângulo


diferente de um mesmo tema. Por exemplo: queremos explorar o tema: “as
plantas”. Podemos analisar as plantas de diversos aspectos. Por isso,
convidamos um botânico para falar sobre classificação e utilidade das plantas;
um farmacêutico-bioquímico para falar sobre o valor medicinal das plantas; um
nutricionista para falar sobre as plantas como alimento; um agrônomo para falar
sobre o cultivo das plantas; um geógrafo para falar da origem das plantas, climas
e regiões onde são mais cultivadas, entre outros aspectos, se for o caso.
Mas, há dificuldades para se organizar um simpósio com especialistas, ou
pessoas estranhas à escola, assim ele normalmente é feito pelos próprios
alunos.

12.2 Como funciona

O professor divide a classe em tantos grupos quantos forem os aspectos


a serem abordados. Indica a bibliografia e o material a ser usado.

154
Cada equipe estuda o seu ponto profundamente. Realiza encontros para
apresentação das conclusões individuais. O relator de cada equipe, por sua vez,
organiza as conclusões para apresentá-las no dia combinado.
No dia da apresentação, os relatores sentam-se à frente do plenário e, um
a um, de preferência em pé, apresenta a sua parte. O tempo para cada um
deverá ser de, aproximadamente, dez minutos.
Antes do início de cada exposição, o professor apresenta o relator e
informa o tempo que cada um terá.
Depois que todos os relatores apresentar seu trabalho, o professor
destaca os pontos principais, faz as complementações e as necessárias ligações
entre os diferentes aspectos do tema.
Outras técnicas podem ser utilizadas a partir desta, para que todos os
alunos tenham a oportunidade de conhecer melhor os pontos estudados pelas
demais equipes.

13 Técnica do seminário

13.1 Em que consiste e como funciona

Consiste no estudo aprofundado de um tema e assuntos afins. É uma


minipesquisa, cujo desenvolvimento deve respeitar as regras da pesquisa
científica. Deve usar instrumentos lógicos, analisar os fatos de forma sistemática
e ter objetividade.
O tema pode surgir das aulas ou ser proposto pelo professor e deve ser
bastante significativo para os alunos.
O professor divide o tema em partes, ou aspectos. Distribui-os pelas
diversas equipes. Em seguida, indica as fontes de pesquisa e orienta os alunos
quanto às técnicas a serem usadas.
Um seminário pode durar um dia, como também um mês ou mais. Tudo
vai depender do assunto, da sua validade da utilidade e do interesse dos alunos
por ele.
O professor deve dar o prazo mínimo de 15 dias para os alunos
pesquisarem. Todos os alunos devem estudar e se preparar muito bem. Depois
desse prazo, o professor apresenta aos alunos o cronograma para a
apresentação dos trabalhos. Poderá ser uma equipe por dia, ou por aula.
A própria equipe organiza a sua apresentação. Pode ter um relator,
representando toda a equipe, ou cada membro da equipe pode apresentar uma
parte. A apresentação pode ser em forma de conferência, exposição,
demonstração ou outra qualquer.
É recomendável o uso da discussão após a apresentação de cada equipe,
pois esta integra a aprendizagem, oferece elementos para a avaliação e
apresenta problemas sobre pontos que não ficaram bem claros. Em vez de

155
discussão, os alunos podem solicitar esclarecimento aos relatores e apresentar
sua opinião e ponto de vista.
Depois da apresentação das pesquisas da última equipe, o professor
retoma todas as partes apresentadas e faz comentários sobre os aspectos
positivos, sugerindo medidas para melhorar as futuras pesquisas. Faz também
um apanhado geral, procurando dar uma visão integradora do tema.

13.2 Importância

O seminário pode ser utilizado com melhor proveito a partir do 5º ano do


Ensino Fundamental. O mais recomendável, porém, é usá-lo no Ensino Médio e
na Educação Superior.
É uma técnica para o aluno aprender a usar o método científico e
desenvolver o gosto pela pesquisa. Além disso, desenvolve a atitude científica,
isto é, a postura de só aceitar como verdade o que puder ser comprovado. Assim,
ele aprende a questionar e a comprovar o que questiona. Isso desenvolve a
disciplina, a ordem, a exatidão, a organização mental e o raciocínio objetivo.
É uma técnica que ajuda a formar o aluno. Que dá a ele instrumental
necessário para reflexão, para analisar os dados, pesquisar e descobrir a
verdade.
É o treino para a dispensa do professor. É a busca da independência
intelectual, do pensamento livre e científico.

14 Técnica da dramatização

14.1 Em que consiste

Dramatização vem da palavra drama; a dramatização envolve situações


psicológicas com emoções e suspenses. É uma espécie de peça de teatro com
duração de cinco a 20 minutos, envolvendo alguns alunos sobre um determinado
assunto.

14.2 Como funciona

O professor elabora a “peça” ou o “drama”. Escolhe os alunos para


prepará-la. Marca o dia para a apresentação para os colegas da classe.
O assunto a ser escolhido deve, de preferência, visar à solução de um
problema social, porém pode ser usado também para a aprendizagem e a
aplicação em outros temas. Exemplos de temas para dramatização:

- o mal causado pelos tóxicos;


- o mal causado pelo fumo;

156
- a função das vitaminas no corpo humano. Cada aluno pode representar
uma vitamina e argumentar sobre a importância desta para o corpo;
- a proclamação da independência do Brasil;
O tema deve ser claro e simples e cada aluno deve conhecer bem o seu
papel.
A avaliação pode ser feita, solicitando-se a opinião dos alunos que
assistiram à dramatização. Pode ser avaliado o conteúdo, a originalidade e a
forma de apresentação.

14.3 Importância

- desinibe os alunos;
- torna-os mais espontâneos e livres para atividades socializadas;
- aprendem a representar e a se colocar no lugar de outras pessoas ou
mesmo de objetos;
- aprendem a se expressar verbalmente, por mímica, pela fisionomia e
pelo tom de voz;
- os alunos procuram estudar, a fundo, a situação ou o tema para ter bom
desempenho, pois a dramatização envolve o aluno psicologicamente.

A dramatização pode ser usada em qualquer nível de escolaridade, do


Fundamental à Educação Superior. É especialmente útil para atingir os
sentimentos dos alunos e desenvolver atitudes neles.

15 Técnica do fórum

15.1 Em que consiste e como funciona

A técnica do fórum consiste na análise de uma palestra, conferência ou


mesmo de um filme, realizada por grupos.
O professor, ou coordenador do fórum, convida palestristas,
conferencistas, ou entendidos sobre um filme, informando o dia e horário.
Os participantes do fórum prestam o máximo de atenção às
apresentações e anotam as perguntas que eventualmente tenham.
Após as apresentações, o coordenador do fórum solicita que os
participantes, quase sempre alunos, organizem-se em grupos de cinco a 20,
dependendo da quantidade de pessoas presentes. Se forem menos de 50
pessoas, os grupos podem ser formados por cinco a seis pessoas. Se for mais,
é conveniente que os grupos sejam maiores. Do contrário, poderia haver muitas
perguntas a serem esclarecidas pelos apresentadores.
Quem anotou dúvidas as deve colocar ao grupo para discussão ou
esclarecimento. O grupo seleciona aquelas que entende como significativas ou
mesmo elabora novas, se for o caso.

157
Findo o prazo fixado para as discussões nos grupos, volta-se às
exposições normais, e o responsável pelo grupo coloca as questões aos
apresentadores, para serem respondidas.

15.2 Importância

O fórum obriga as pessoas a prestar atenção às apresentações para fazer


perguntas pertinentes e importantes, porém o grupo pode responder às mais
simples e discutir as mais complicadas, antes de colocá-las para o palestrista. É
uma boa forma de incentivo e de garantir uma melhor compreensão.
É mais recomendado para o 6º ano do Ensino Fundamental em diante.

16 Técnica do debate

16.1 Em que consiste

O debate é o confronto de dois grupos, em que cada um tenta defender


seu ponto de vista, sua tese. É uma verdadeira luta intelectual. Cada grupo tenta
usar os melhores argumentos para provar que tem razão. Entra em jogo a
esperteza, a lógica, a oratória, a melhor preparação e a desinibição dos membros
do grupo.

16.2 Objetivos que podem ser alcançados

- desenvolver a agilidade mental e a capacidade de argumentar com


lógica;
- desenvolver a argúcia em observar detalhes na argumentação dos
adversários que possam servir para a contra-argumentação;
- fortalecer o espírito de combatividade e a confiança em si mesmo;
- aprender a suportar derrotas e eventuais injustiças;
- aprender a respeitar ideias alheias;
- aprender a controlar os impulsos de agressão;
- desenvolver a habilidade de argumentar, sem ofender, usando apenas
ideias lógicas, sem fazer ataques pessoais;
- melhor compreensão e integração do conteúdo estudado.

16.3 Importância

Pelos objetivos que podem ser alcançados, conclui-se que a técnica é


importante. Além disso, é altamente incentivadora, pois envolve a emoção dos
alunos. Como o assunto a ser tratado é polêmico e cada equipe quer comprovar
que tem razão, os alunos vão ler tudo o que puderem para conseguir melhores
ideias, melhores argumentos. Enquanto os alunos estiverem lendo, estarão

158
aprendendo muitas outras coisas além do assunto do debate. A leitura e os
estudos são feitos com muita atenção, pois estão buscando objetivos,
procurando ideias válidas e úteis para serem usadas no debate. As ideias e
conhecimentos que os alunos já possuem sobre o assunto são integrados pelo
pensamento para a busca de uma resposta original.
Os alunos são colocados em situação de combate, e porque ninguém quer
perder, eles fazem um esforço incrível para organizar os argumentos. São
obrigados a falar com clareza e lógica. Isto faz com que a aprendizagem seja
devidamente compreendida, estruturada e esteja disponível para o uso em
qualquer situação futura. Mas o importante não é o conteúdo, e sim as atitudes
e as habilidades mentais que constam da relação dos objetivos acima.

16.4 Como funciona

O tema pode surgir naturalmente. O professor, percebendo que há duas


tendências diferentes sobre um mesmo assunto, entre os alunos, poderá
aproveitar a situação para propor um debate. Ou então o próprio professor pode
escolher o assunto quando estiver tratando de um tema que possa provocar
polêmica.
Em História ou Política, pode surgir, por exemplo, a questão:
presidencialismo x parlamentarismo. O professor divide a classe em duas
equipes: presidencialistas e parlamentaristas. Indica a bibliografia e as fontes de
pesquisa, e cada uma das equipes pode buscar as informações e fundamentar
sua tese. Dá orientação de como coletar e organizar os dados e as ideias.
Os alunos podem consultar constituições de países em que tenha o
presidencialismo e o parlamentarismo. Podem ler jornais, revistas e livros que
tratem sobre o tema e entrevistar pessoas que entendam bem do assunto:
sociólogos, políticos, historiadores, entre outros.
Ao definir o tema, o professor já marca o dia para o debate. Sempre deve
dar prazo ou tempo suficiente para que os alunos possam fazer suas pesquisas:
uma semana, dez dias, quinze dias, dependendo do tema e do número de aulas
semanais da disciplina. De qualquer forma, os alunos devem conhecer bem o
assunto para o debate.
O secretário anota os argumentos principais apresentados pelas equipes,
que poderão ser comentados após o julgamento feito pelos observadores.
Os observadores serão indicados pelo professor dentre os alunos que não
tinham opinião definida a favor de um ou de outro aspecto do tema, ou seja,
alunos neutros. Podem ser três ou cinco, para o caso de desempate de
julgamento, se assim for decidido.
Após o debate, os observadores indicam o grupo cujas ideias mais os
sensibilizaram, ou que melhores argumentos usou, ou seja, indicam a equipe
que os convenceu a ficar a favor da tese apresentada.

159
Para o debate, as equipes colocam-se uma em frente à outra, ficando uma
ao lado esquerdo e a outra ao lado direito da sala. À mesa, ficam o moderador,
o secretário e os observadores.
Ao iniciar o debate, o moderador dá a palavra a uma das equipes para
que o representante desta apresente as ideias centrais a favor de sua tese. O
tempo mínimo e máximo para isso deve ser fixado para não haver exageros. O
razoável seria o mínimo de cinco e o máximo de dez minutos.
Terminada a apresentação da primeira equipe, concede-se igual prazo à
outra, para que também esta coloque as ideias básicas da sua tese.
Em seguida, o moderador abre o debate propriamente dito. Recomenda
e observa que sempre fale um de uma equipe para, em seguida, falar um da
outra equipe. Nunca devem falar duas pessoas de um mesmo lado, ou seja, é
preciso fazer o pingue-pongue.
O moderador pode limitar a três ou quatro vezes a fala de cada equipe
sobre uma mesma ideia. É preciso mudar, para evitar debates vazios e
repetitivos sobre um mesmo item.
Os debatedores devem falar pouco, não fazer discurso e nem rodeios;
devem ser objetivos. Não devem dizer “eu acho”, “minha opinião é”, pois os
argumentos devem ser seguros e com fundamento.
Todos os membros da equipe devem ter oportunidade para debater. Os
mais faladores devem se controlar um pouco e dar a vez para seus colegas falar
também.
As demais regras a serem observadas são as mesmas de qualquer
trabalho em grupo: falar um de cada vez, não interromper o colega que está
falando, respeito mútuo etc.
Esgotado o tempo fixado para os debates, os observadores manifestam
sua opinião. Em seguida, o professor faz os comentários sobre todas as etapas
do debate: preparação, regras, atitudes, conteúdo e argumentos; agradece o
empenho dos alunos, e encerra o debate.
Nesse exemplo de debate, a classe foi dividida em duas equipes, porém
podem ser feitos debates com qualquer número de alunos e de muitas outras
formas. O importante é que sejam colocadas as regras e que estas sejam
observadas. Outras modalidades de debate usadas: o debate-simpósio; o
debate intercolegiado; o debate-investigação; e o debate para solução de
problemas.
Cada grupo deve permanecer com sua posição até o fim; mesmo que
concorde com ideias dos adversários, não deve demonstrá-lo.
O que não tiver ficado claro, nas explicações da técnica, pode ser
preenchido pelo que for julgado melhor. Em todas as técnicas, vale muito a
imaginação do professor.

160
17 Técnica do bombardeamento mental

17.1 Em que consiste

Também chamada de explosão de ideias, é uma técnica em que um grupo


de pessoas reunidas procura, mentalmente, ideias originais para solucionar um
problema.

17.2 Objetivos que podem ser alcançados

- desenvolvimento do pensamento criador. Nós, normalmente, não


sabemos criar, inventar ou solucionar problemas de forma original. Na
maioria das vezes, procuramos resolver os problemas de forma original;
em outras procuramos resolver os problemas da mesma forma que os
outros resolveram;
- desenvolvimento do espírito de cooperação. Quando surge um
problema, cada um quer resolvê-lo a sua maneira. Somos muito
orgulhosos para aceitar sugestões dos outros. Com o bombardeamento
mental, aprende-se que, em grupo, fica mais fácil se obter alternativas de
solução aos problemas. Aprende-se a cooperar para decidir;
- respeito e tolerância para com as ideias dos outros. É comum ver-se
pessoas darem uma ideia, e as que estão do lado as criticar, achar
defeitos ou discordar. Por que algumas sempre querem ter razão? Só
porque são mais mandonas, mais autoritárias? Com essa técnica, os
alunos aprendem a ouvir e a respeitar as ideias dos outros; aprendem a
ter educação;
- habilidade em resolver problemas concretos. Podem ser colocados
problemas simples, mas da vida real. Com isso, os alunos passam a usar
as técnicas aprendidas na escola, no seu dia-a-dia;
- utilizar conhecimentos e informações para solucionar os problemas. Os
alunos devem aprender que o que se estuda nos livros, o que se lê e as
informações que se obtêm podem ser utilizadas na vida prática, para
resolver problemas.

17.3 Como funciona

O assunto, ou problema, pode surgir a partir dos alunos ou ser proposto


pelo professor; deve ser o mais significativo, real e claro possível, de forma a
possibilitar respostas originais e criativas.
As questões a serem colocadas podem iniciar com: por quê? como?
solucione; resolva, entre outros.
Em seguida, o professor indica a bibliografia e as demais fontes de
pesquisa. Deve ser dado um prazo de, no mínimo, dois dias para que a questão
seja pesquisada e devidamente amadurecida.

161
No dia combinado, o professor divide a classe em equipes de doze alunos
ou o mais próximo possível a doze, tendo em vista que esse número é o ideal
para funcionar o bombardeamento.
Cada equipe é convidada a escolher um coordenador, um secretário e um
subsecretário. Atribuições:
O coordenador:

- solicita e “pressiona” um por um dos membros de sua equipe, a partir de


sua direita, a dar uma ideia para a solução do problema;
- zela para que sejam cumpridas todas as regras da técnica;
- auxilia o secretário, quando este solicitar, na redação da ideia ou das
conclusões.

O secretário:

- anota todas as ideias que forem sendo apresentadas pelos colegas,


auxiliado pelo subsecretário;
- lê uma por uma as ideias apresentadas para serem discutidas e
aprovadas;
- redige as conclusões aprovadas pela equipe;
- lê as conclusões para o plenário.

A técnica divide-se em duas etapas: a primeira é a de produção de ideias;


a segunda é a do melhoramento e seleção de ideias.
Etapas:
a) Etapa de produção de ideias
É a etapa em que são produzidas ideias para a solução do problema ou
resposta à questão colocada. Neste momento, ninguém intervém, nem para
apoiar, nem para discordar e nem para ajudar. O pensamento tem que ser livre
e, não direcionado e sem censura. Cada um dos membros da equipe apresenta
a sua ideia, a partir da direita do coordenador. A ideia tem que ser com poucas
palavras, objetiva e sem explicações. Todas as ideias devem ser registradas pelo
secretário, mesmo as que pareçam absurdas.
Podem ser dados dois ou três giros para a produção de ideias. Isto quer
dizer que, depois que todos falaram, pode-se começar outra vez para mais uma
ou duas rodadas.
Nessa etapa, o fundamental é a imaginação livre e sem direcionamento.
Imaginar é combinar fatos ou elementos conhecidos de maneira
desconhecida, nova e original.
Regras a serem observadas nesta etapa:

- só fala quem estiver na vez de falar;

162
- não interromper o colega que está falando: não apresentar crítica, não
achar graça, não cochichar e nem apoiar, enfim, não fazer nenhum
comentário sobre a ideia apresentada;
- todos são obrigados a falar. O coordenador não deve passar a palavra
adiante, sem que o membro, que estiver na vez de falar, fale;
- ninguém pode repetir ideia já apresentada ou simplesmente dizer que
concorda com a ideia já falada. Pode, sim, inspirar-se nas já apresentadas
e, a partir delas, produzir outras mais originais;
- não fugir ao tema ou ao problema. Pensar, tendo sempre presente o
problema;
- produzir o maior número possível de ideias. Das muitas que forem
apresentadas, poderão surgir as boas ideias;
- ninguém deve preparar a lista de ideias e nem registrar sua ideia no
papel. Deve falar o que surge no momento de sua vez de falar;
- não fazer discurso e nem justificar sua ideia.

b) Etapa de melhoramento e seleção de ideias


Esta etapa é mais informal. É a etapa em que se faz a discussão das
ideias apresentadas para verificar sua pertinência, validade ou exequibilidade.
Nesta etapa, todos podem julgar e criticar.
A ordem para falar deve ser a de inscrição e qualquer um pode se
inscrever. Devem ser observadas as regras aplicáveis a qualquer tipo de
discussão.
Antes de iniciar a discussão, a equipe também poderia decidir os critérios
que adotaria para escolher as ideias ou classificá-las. Estes critérios estariam
em função do tipo de problema colocado. Seriam aprovadas apenas ideias que
a equipe pudesse executar? Ideias que outros deveriam executar? Que seriam
executadas em curto, médio e longo prazo? As mais baratas? As que levariam
manos tempo? As mais fáceis? Qualquer uma que pudesse, de uma forma ou
de outra, resolver o problema.
O coordenador solicita ao secretário que leia, uma a uma, as ideias
apresentadas pela equipe. Após a leitura de cada uma, o secretário faz uma
pausa para os colegas pensar.
Lida a ideia; se alguém tiver alguma dúvida, restrição ou correção a fazer,
deve imediatamente levantar a mão.
O coordenador passa a palavra para que ele esclareça a dúvida,
apresente propostas de mudança ou mesmo de supressão. A ideia é discutida
pela equipe toda. Se não houver consenso quanto à ideia ou sua forma de
redação e para não se prolongar muito a discussão, o professor coloca-a em
votação. O que a maioria decidir fica valendo.
As ideias discutidas podem ser suprimidas, melhoradas quanto ao
conteúdo ou redação e/ou aprovadas.
Após apreciadas todas as ideias da equipe, as que melhor podem
solucionar o problema devem ser colocadas antes.

163
Em seguida, o professor faz comentários quanto às falhas cometidas, ao
comportamento dos membros das equipes e às conclusões. Não deve apontar
quem cometeu os erros, apenas analisá-los.

17.4 Importância

A maioria dos alunos gosta de trabalhar com esta técnica, porque traz
muita satisfação. Ela é uma espécie de jogo, emocionante e desafiador.
Com ela desenvolvem-se a confiança e a liderança.
Ela desinibe os tímidos, porque são obrigados a falar. Entretanto, eles
sentem-se seguros porque ninguém pode achar graça e censurar suas ideias.
Eles sentirão que suas ideias também são importantes.
Não se deve fazer julgamentos prematuros. Deve-se evitar a crítica até
que a criação esteja concluída. É preciso evitar a discussão destruidora. Deve-
se criar e colaborar e não ficar teimando sobre um mesmo ponto.
As pessoas devem sentir-se livres para produzir ideias, as quais não
podem ser criticadas e nem menosprezadas. As pessoas são pressionadas a
falar, mas são livres para falar o que quiserem.
Depois de bem vivenciada a técnica de bombardeamento mental, o
professor pode solicitar aos alunos que resolvam problemas individualmente.
O aluno habituado a produzir ideias vai saber utilizar a imaginação para
procurar as causas dos problemas e elaborar alternativas para solucioná-los.
Assim, ele cria o hábito de pensar, com criatividade, em tudo o que for fazer.
Saberá aplicar as experiências e os conhecimentos que for adquirindo para
melhorar a sua vida, resolver os seus problemas e colaborar na solução das
questões sociais.
Até os quinze anos, pode-se ajudar uma pessoa a se tornar mais
inteligente, mas durante a vida toda, pode-se treiná-la a usar a inteligência com
mais inteligência; o que se faz pelo treino da imaginação.
A sociedade está cheia de problemas, assim, é preciso que todos se
preocupem com a criatividade e com a produção de ideias, mesmo que seja em
particular. Quando se está descontraído, as ideias surgem em maior profusão.
No banheiro, por exemplo, descansando, ou mesmo na cama antes de dormir,
ou até sonhando, as ideias aparecem. Em qualquer situação, deve-se pegar
imediatamente uma caneta e papel para registrá-la. Se for perdido esse
momento, a ideia poderá ser esquecida e nunca mais reaparecer. Não se pode
confiar na memória.
Precisamos valorizar o método de inventar. A solução dos problemas, a
ciência e a tecnologia é fruto da criatividade.
No pensamento de Alex F. Osborn, um dos grandes defensores da
técnica: “A imaginação humana é um dos maiores e menos explorados tesouros
da terra”.

164
18 Técnica da assembleia

18.1 Em que consiste

É a discussão de um ou de vários assuntos previamente conhecidos


pelas pessoas interessadas ou envolvidas por eles, para tomar-se decisões a
esse respeito.
A palavra assembleia quer dizer reunião de pessoas para determinado
fim. Normalmente, chama-se de assembleia a reunião dos membros de uma
associação, de uma sociedade, de um sindicato ou de um gênero estudantil,
especialmente convocados para decidir determinados assuntos. Funcionam,
também, em forma de assembleia o Congresso Nacional, as assembleias
legislativas dos Estados e as câmaras municipais.

18.2 Como funciona

O presidente da entidade convoca os sócios por meio de edital que manda


publicar em jornais, de forma a tornar público os assuntos, o local, o dia e a hora
da assembleia. Pode também afixar editais em lugares frequentados pelos
sócios ou fazer chegar uma cópia às mãos de cada um. De qualquer forma, o
presidente deve observar rigorosamente o que estiver previsto no estatuto da
entidade, mesmo quanto ao prazo de convocação.
Em se tratando de sala de aula, o professor informa aos alunos, com certa
antecedência, os assuntos a serem discutidos e o dia em que será aplicada a
técnica da assembleia.
A assembleia terá um presidente e um secretário, no mínimo. Pode,
também, ter o cronometrista e o controlador. A primeira assembleia de classe é
conveniente que seja presidida pelo próprio professor. As demais devem ser
assumidas integralmente pelos alunos. Estes mesmos devem fazer as
necessárias críticas ao funcionamento da assembleia, ao seu final, com base
nas regras e nos resultados obtidos.

Funções do presidente:

- cumprir e fazer cumprir as regras da assembleia;


- pôr em votação as propostas apresentadas;
- chamar a atenção, ou cassar a palavra, dos oradores, quando estes
fugirem do assunto; ultrapassar o tempo a que têm direito ou passar a
ofensas pessoais;
- evitar que sejam discutidos assuntos estranhos ao item em pauta;
- manter a ordem e a disciplina.

Funções do secretário:

165
- ler a ata da assembleia anterior;
- lavrar a ata da assembleia registrando as propostas apresentadas,
discutidas e postas em votação, anotando os votos favoráveis, contra e
as abstenções a cada uma;
- registrar, sinteticamente, as razões apresentadas a favor e contra cada
proposta.

Funções do cronometrista:

- informar ao presidente quando tiver esgotado o tempo de fala de cada


orador;
- informá-lo de outros prazos fixados pelo plenário.

Funções do controlador:

- registrar as inscrições dos oradores e passá-las ao presidente;


- receber as propostas do plenário; analisar sua pertinência; fundir
propostas semelhantes, quando for o caso, sempre com anuência dos
proponentes;
- auxiliar o presidente no que se refere aos oradores, propostas e assuntos
discutidos.

18.3 Regras gerais a serem observadas em qualquer assembleia

Entre outras regras que a própria assembleia pode fixar, é necessário


observar as seguintes:

- os oradores devem falar pouco, ser objetivos e não fugir ao item em


discussão;
- deve falar uma pessoa de cada vez e apenas a que tiver sido autorizada
pelo presidente;
- apresentar e defender ideias e não ofender ou fazer ataques às pessoas;
- as propostas para votação devem ser claras e sobre o item que está em
discussão (o plenário pode colocar como regra obrigatória que as
propostas sejam encaminhadas à mesa por escrito pelos respectivos
autores. Isso evita discussões e perda de tempo);
- se as regras não estiverem sendo cumpridas, se houver fuga do
votação, qualquer pessoa do plenário pode solicitar questão de ordem
(demonstrada, levantando-se em pé, e colocando as pontas dos dedos de
uma das mãos na palma da outra mão);
- a questão de ordem tem que ser atendida imediatamente, podendo, para
isso, ser interrompida a própria fala dos oradores.

166
18.4 Importância da técnica

O seu uso em sala de aula é importante, porque:

- os alunos se desinibem e desenvolvem a habilidade de argumentar com


coerência, com lógica e com objetividade;
- os alunos aprendem a participar das decisões, desenvolvendo atitudes
e habilidades de trabalho democrático;
- as grandes decisões sociais são tomadas em assembleias: nos
sindicatos, nas associações, no Congresso Nacional e mesmo na ONU.
É importante que todos conheçam bem a técnica para ter segurança nas
intervenções ou na sua condução;
- os alunos aprendem atitudes de respeito e atenção aos pontos de vista
dos que têm ideias contrárias;
- aprendem a respeitar regras e normas.

Se a assembleia exigir estudo prévio, os alunos estudam com empenho,


pois sabem que precisam estar bem preparados para defender sua posição.
A assembleia pode ser usada desde o 1º ano do Ensino Fundamental,
embora seja mais fácil trabalhar com ela em anos mais avançados.

19 Técnica de G.V. x G.O.

19.1 Em que consiste

G.V.G.O. quer dizer grupo de verbalização e grupo de observação.


Enquanto o grupo de verbalização fala e discute; o de observação observa.

19.2 Como funciona

O tema para discussão pode ser sugerido pelo professor ou pelos próprios
alunos. Dá-se um tempo para estudo, para preparação em casa. Se o tema for
polêmico e/ou emocionante, é melhor.
A técnica pode ser aplicada também após a leitura de um texto em sala
de aula, conferência, palestra ou exposição de um tema pelo professor.
Estando todos preparados, divide-se a classe em dois grupos. O G.V. fica
em círculo, no centro da classe; e o G.O. fica em pé, em torno do G.V.
O G.V., inicialmente, estabelece as regras complementares para a
discussão; em seguida, discute o tema e tira conclusões que são colocadas no
quadro ou escritas em folha de papel.
Cada membro do G.O. observa o comportamento do G.V. e de todos os
seus membros, registrando as observações numa folha ou caderno. O G.V. só
fala; o G.O. só observa.

167
Deve ser observado no G.V.:

- se o tema está sendo abordado com profundidade;


- se as ideias são expressas de forma clara;
- se todos participam da discussão;
- se alguns falam mais que os outros;
- se alguns querem dominar e mandar no grupo;
- quantos não falam ou demonstram medo de falar;
- se existem conversas paralelas;
- se as discussões não fogem do assunto;
- se há quem queira aparecer se exibir;
- se houve pausas longas, sem ninguém falar;
- se há quem faça discurso longo;
- se todos sabem ouvir e esperam a própria vez para falar;
- se houve agressões verbais;
- se todos colaboraram para que a equipe chegasse a bons resultados;
- se houve respeito às ideias dos colegas;
- se não houve atitudes de vingança particular no grupo;
- se o coordenador da equipe soube cumprir suas funções;
- se foram observadas as demais regras de trabalho em grupo.

É bom lembrar que quem muito fala, mesmo que apregoe a democracia,
é ditador disfarçado. Terminado o tempo do G.V., o professor solicita que os
membros do G.O. façam seus comentários sobre o que observaram.
Em seguida, invertem-se os papéis. O G.V. passa a G.O; e o que era G.O. passa
a G.V; este já deve ter visto as falhas do grupo anterior e tentará evitá-las.
Terminado o tempo deste, o G.O. faz também suas observações. Essa inversão
dos grupos pode ser feita na mesma aula, se for geminada, ou então, se for uma
aula só, na seguinte.

Regras básicas que o G.V. pode observar:

- manter a harmonia da equipe;


- não fugir ao assunto;
- buscar e chegar a resultados, de preferência bons.

19.3 Importância da técnica

Ela é usada, principalmente, para educar os alunos para o trabalho em


grupo: aprenderem a se respeitar mutuamente, a falar um de cada vez, a assumir
a responsabilidade pelo grupo etc.

168
O conteúdo que é discutido é mero instrumento para o desenvolvimento
de atitudes nos alunos. É evidente que pode ser aprendido muito conteúdo, e a
técnica é ótima para estruturar a aprendizagem, mas não é o objetivo principal.
Pode ser usada em qualquer nível de escolaridade, embora seja mais
apropriada para os alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino
Médio.
Na Educação Superior, ela é recomendada apenas para as disciplinas
pedagógicas. Para as outras disciplinas, seria muita perda de tempo.

20 Conclusão

As técnicas socializadas, descritas anteriormente, são as mais usadas;


quase todas de fácil aplicação. A partir delas, o professor pode fazer adaptações,
mudanças e mesmo criar outras.
Existem muitas outras técnicas socializadas. É interessante que todo
professor conheça o maior número delas para que possa variar bastante as
formas de os alunos trabalharem. Isso evita monotonia e dá mais vida às aulas.
No capítulo anterior, vimos os métodos individualizados; neste, os
socializados. No próximo capítulo, veremos uma mistura dos dois: os métodos
socioindividualizados.

169
Capítulo X

Os métodos
sociondividualizados
São assim chamados os métodos em que os alunos ora trabalham
individualmente, ora em grupo. Realizam estudos e pesquisas individuais e, em
seguida, colocam os resultados para os grupos, ou então, planejam em grupo,
dividem as tarefas, e cada um vai cumprir a sua.
Os métodos socioindividualizados são importantes porque são mais
naturais, mais de acordo com o que os alunos fazem no seu dia a dia: alternam
suas atividades, passando de individualizadas para socializadas e de
socializadas para individualizadas. Além disso, o conteúdo trabalhado é mais
significativo, pois é mais ligado às suas experiências e à sua vida.

1 Método de projetos

1.1 Em que consiste

Consiste na elaboração de um projeto para ser executado pelos próprios


alunos de uma determinada turma. Implica ação real, com objetos e fatos
concretos, e coordenação de várias atividades em vista de um fim único.

1.2 Importância

O método do projeto desenvolve a iniciativa, a responsabilidade, a


criatividade e o espírito prático. Com ele, os alunos aprendem a solucionar os
problemas e não somente criticar. Desenvolvem a capacidade de cooperar, a
solidariedade, o espírito comunitário e a união. Aprendem a trabalhar em grupo,
a tolerar os defeitos dos colegas e a se respeitarem entre si mesmos.
É aprendizagem verdadeira por toda a vida, porque nela não existe
aprendizagem mecânica, “decoreba”, e, sim, observação, análise, reflexão,
compreensão, ação e solução de problemas.
Atende às mais diferentes aptidões dos alunos, tais como: desenhar, fazer
cartazes, fazer cálculos, liderar, coordenar, pesquisar, entrevistar, falar em
público e redigir.

170
Várias disciplinas podem colaborar ou tirar proveito da execução de um
projeto. A aprendizagem feita assim será mais significativa, mais envolvente,
pois se relaciona com a prática, com a vida real. Faz com que os conteúdos das
diferentes disciplinas sejam integrados e fundidos em situações reais.
Desenvolve o gosto pelo estudo, pois os alunos estudam para produzir o
projeto, para resolver uma situação concreta, que tenha sentido. A
aprendizagem, assim, torna-se agradável.
Dá oportunidade para o surgimento de líderes. Os alunos trabalham livres,
sem pressão por parte do professor. Cada um dá o que pode para que tudo dê
certo. É uma aprendizagem para a democracia, visto que os alunos assumem
responsabilidades, tomam decisões, cooperam e executam-nas.

1.3 Como se faz

O projeto em si tem um objetivo final único, mas pode ser subdividido em


pequenos projetos. Para coordenar o projeto, deve ser escolhido um
coordenador geral entre os alunos da classe.
A classe pode ser dividida em grupos para a execução dos subprojetos.
Cada grupo deve ter também um coordenador, que pode ser eleito pelos
colegas. Todos os subprojetos visam ao mesmo fim, ou seja, o alcance dos
resultados previstos para o projeto. Aqui, os alunos podem também fazer
pesquisas individuais, para trazer informações para os seus grupos.
Depois do impulso inicial, o professor deve dar o máximo de liberdade
para os alunos. Ele continua à disposição para prestar assistência aos alunos,
mas não para ditar normas ou dar atividades.
Se o professor perceber que alguma coisa pode não dar certo, apenas
sugere; nunca impõe. Os alunos têm o direito de errar e depois consertar os
erros. Isso também é aprender.
O professor pode sugerir que os alunos discutam o projeto em
assembleia. É uma boa oportunidade para vivenciarem a tomada de decisão.
Isso pode ser feito tanto na fase de separação, como na de execução. Após
concluídos os trabalhos nos subprojetos, os coordenadores fazem seus
relatórios em equipe, que serão apresentados para a assembleia da classe.

1.4 Cuidados que os professores devem ter ao desenvolver um projeto

Cuidar para que a aprendizagem seja intensa: devem ter muitos objetivos
em mente a serem alcançados. Cuidar para que nenhuma disciplina seja
prejudicada em função do projeto. Os fundamentos teóricos e os conhecimentos
fazem parte da civilização atual, não podem ser esquecidos ou desprezados.
Com boa habilidade, os professores podem explorar profundamente qualquer
disciplina, de forma que o conhecimento seja sentido como útil.
Aproveitar bem o tempo: há alunos que tentam atrapalhar o andamento
do projeto e há equipes que não cumprem suas atividades no tempo previsto.

171
Verificar a possibilidade e o tempo disponível dos alunos: se for o caso,
executar o projeto somente no período de aula.

1.5 Exemplos de temas para projetos

Combate ao pernilongo do bairro; criação de peixes; implantação de horta


na escola; embelezamento da escola; combate à erosão no município;
reflorestamento no município; criação de abelhas.
Um tema bem simples para o projeto seria, por exemplo, a organização
de uma festa junina. Neste caso, encarrega-se uma ou duas classes para
assumir toda responsabilidade da festa.
Existe, também, a possibilidade de se fazer projetos para simples
pesquisa bibliográfica ou de campo, mas este tipo de atividade parece que fica
melhor em centro de interesses ou unidade de estudo.

1.6 Um exemplo de projeto: combate ao pernilongo, em área residencial

O pernilongo – o mosquito – é um problema que perturba grande parte


dos habitantes das cidades. Os alunos e os pais destes ficariam muito satisfeitos,
se pudessem eliminá-lo.
Este exemplo pode ser aplicado, da mesma forma, para o mosquito da
dengue, o temido “aedes aegypte”.

1.6.1 Como surgiu o tema

Certo dia, um aluno perguntou ao professor de biologia: “Professor, donde


vem o pernilongo?” O professor deu a resposta. Em seguida, perguntou ao aluno
se, na casa dele tinha, muito pernilongo. O aluno respondeu que sim. Outros
alunos também disseram ter muito pernilongo em casa. O professor aproveitou
e disse:
“Vamos acabar com o pernilongo aqui do nosso bairro?” Os alunos
fizeram várias perguntas de como isso poderia ser feito. Ficaram entusiasmados
com a ideia e aceitaram a proposta do projeto feita pelo professor. Foi assim que
nasceu o projeto.
O professor sugeriu as seguintes atividades preparatórias:

a – Identificar o tipo de pernilongo;


b – Descobrir e estudar como ele se reproduz;
c – Verificar onde ele se cria.

O professor indicou a bibliografia na qual os alunos foram pesquisar os


vários tipos de pernilongos, como e onde se reproduzem, de que se alimentam,
as doenças que podem transmitir etc. Os alunos trouxeram algumas espécies de

172
pernilongo de casa. Com a ajuda do professor, identificaram o tipo de cada um
dos pernilongos.
Um dos alunos disse que, no quintal da casa dele, há um pneu velho,
cheio de pernilongos. Como este aluno morava perto do colégio, o professor
aproveitou e levou a turma toda para observar a água parada, poluída e cheia
de larvas de pernilongo naquele pneu.
De volta à escola, o professor dividiu a turma em 3 equipes para fazer um
bombardeamento mental, cujo objetivo foi o de encontrar alternativas para
combater o pernilongo, e, assim, ter pistas de como encaminhar o projeto.
Surgiram ideias muito interessantes por parte dos alunos as quais foram
aproveitadas para o projeto. O professor pediu também a colaboração dos outros
professores da turma para o planejamento e a execução do projeto.
Os alunos e o professor, em planejamento conjunto, decidiram formar
comissões de alunos para executar tarefas distintas. O projeto ficou, ao final,
com a seguinte estrutura:

1.6.2 Projeto de combate ao pernilongo

a) OBJETIVO FINAL

Combate ao pernilongo do bairro.

b) OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS

- que a população conheça os males que o pernilongo pode causar;


- que a população conheça a forma e locais da procriação do pernilongo;
- que a população acredite na possibilidade de eliminação do mosquito;
- que a população crie sensibilidade para as atividades da escola.

c) ESTRATÉGIAS OU ATIVIDADES:

- elaboração de um folheto explicativo para os pais de todos os alunos da


escola, sobre o pernilongo e doenças que ele pode transmitir e como
combatê-lo;
- envio de uma comissão de alunos para solicitar a colaboração da rádio
mais ouvida pela população do bairro;
- formações de pelotões para visita ao quarteirão da residência de cada
aluno para distribuir folhetos, esclarecer moradores e fazer vistorias para
verificar se não há água parada em latas, pneus e outros lugares;
- envio de uma comissão para falar com o prefeito e entregar a ele ofício,
solicitando a drenagem ou aterro do banhado que há no bairro;
- envio de uma comissão para falar com o vereador do bairro, para pedir
o apoio deste e para que se discuta o projeto na câmara municipal;

173
- visita de uma comissão às demais classes da escola para distribuição
do folheto; explicação sobre o projeto; e pedir ajuda para acabar com a
água parada em volta da casa do aluno e vizinhos.

d) DURAÇÃO

Três semanas.

e) AVALIAÇÃO

Foram feitos relatórios das comissões e discussão final de avaliação dos


resultados obtidos quanto à eliminação do pernilongo.
Dois alunos informaram, nessa avaliação, que, na casa deles, os
pernilongos não haviam acabado. Um deles disse que perto do local em que
mora há um “ferro-velho” cujo proprietário não permitiu vistoria. O outro informou
não ter ideia por que o pernilongo não acabou, pois, em volta de sua casa, foi
feita vistoria completa pelo seu pelotão.
Em vista disso, o professor prontificou-se a integrar um novo pelotão de
vistoria junto com outros quatro alunos.
No “ferro-velho”, mais uma vez, não tiveram licença para vistoria. O
proprietário simplesmente disse que não ia permitir que mexessem num monte
de latas, só por causa de uns “pernilonguinhos”.
Na casa do outro aluno, fizeram nova vistoria e não encontraram água
parada. Levantaram a hipótese de que os mosquitos poderiam estar se criando
nos tubos de águas pluviais que passam em frente da casa. O professor pediu
ao aluno que observasse, ao anoitecer, se não saíam pernilongos de lá. Foi
confirmada a hipótese.
Discutidos os problemas na classe, no dia seguinte, foi escolhida a
seguinte alternativa de solução: redigir um ofício ao prefeito, explicando a
situação e pedindo colaboração e providências.
O prefeito mandou fazer limpeza nos tubos e exigiu que o “ferro-velho”
fizesse cobertura sobre o monte de lataria.
Em 15 dias, estava solucionado o problema.

1.6.3 Colaboraram no projeto

O professor de português, para ajudar a redigir o folheto explicativo aos


pais e alunos e os dois ofícios ao prefeito.
O professor de Estudos Sociais pode discutir, com os alunos, as
atribuições do poder Executivo e do poder Legislativo do município e a legislação
sobre saúde.
O professor de Geografia, para delimitar, no mapa da cidade, a região a
ser abrangida pela campanha; estudar noções de cartografia; e comparar a
cidade com outras mais organizadas e limpas.

174
O professor de história, para ajudar a levantar dados sobre a fundação da
cidade, a evolução desta, e compará-la com cidades do passado e sem
condições de cuidados higiênicos que se têm hoje.
O professor de biologia apresentou tabelas e gráficos sobre as mortes e
o número de doentes, em percentual, em regiões atacadas pelo “dengue” e
febre-amarela.
O professor de matemática ajudou a analisar os gráficos e explicou como
se chega a eles. Vários exercícios de porcentagem foram feitos.
O professor de Biologia estudou, ainda, com os alunos, as doenças
transmissíveis por certos mosquitos, locais de procriação e respectivos ciclos de
vida.
Certamente, dá para imaginar quanto os alunos aprenderam com esse
projeto. Aprenderam, com satisfação, os fundamentos científicos sobre o inseto
e doenças; aprenderam que os problemas devem ser enfrentados e que, com a
ajuda de todos, isso torna-se mais fácil. Assumiram responsabilidades,
desenvolveram atitudes e, certamente, adquiriram muitas informações úteis para
a vida.
Alguns alunos demonstraram muita curiosidade sobre a procriação do
mosquito em água parada.
O professor deu algumas explicações e disse que iria estudar com os
alunos sobre água e tudo que fosse relacionado com ela, logo após a conclusão
do projeto.

2 Unidade de experiências

2.1 Em que consiste

Consiste em atividades relacionadas às experiências dos alunos sobre


determinado assunto do conhecimento destes. Unidade de experiências são
experiências que, relacionadas entre si, formam uma unidade, um todo. Uma
experiência ajuda a compreender outra e, todas juntas, a compreender o todo.
Elas devem ser tiradas da própria realidade vivida pelo aluno em seu meio
sociocultural.
Na unidade de experiências, não se fala em matérias, disciplinas. O
conteúdo trabalhado é psicológico e não lógico. Isto quer dizer que o conteúdo
nasce dos interesses e experiências dos alunos e não da cabeça dos adultos. É
conteúdo vivo, com sentido, e não morto e desligado da realidade.
Quando os alunos não conseguem resolver alguma dúvida ou questão,
aí, sim, buscam socorro nas diversas áreas ou disciplinas do conhecimento
humano, nas quais passam a buscar informações das mais diversas formas e
fontes. Informações de que eles precisam e não que os professores querem que
eles aprendam. Essas informações são imediatamente organizadas para
servirem à experiência em questão.

175
2.2 Importância

A unidade de experiências provoca muito entusiasmo e esforço nos


alunos. Eles vão descobrindo que o que aprendem tem uso na vida, tem sentido.
Satisfazem a curiosidade e aprendem conversando, brincando e praticamente
sem estudar. Sem estudar, aqui, está no sentido de fazer aquele esforço
desagradável de aprender, decorar matéria, sem interesse e sem sentido.
As atividades e as experiências são reais ou sobre coisas reais. Os alunos
pensam sobre algo concreto e não fictício e abstrato. O material que usam é
concreto. São situações da própria vida e não distanciadas dela. As informações
que buscam são usadas para satisfazer as curiosidades e as necessidades do
próprio aluno. Elas formam um todo orgânico e estruturado igual à vida ou ligado
a ela. É o processo de educação, associado ao processo de informação. Os
alunos conhecem e se educam ao mesmo tempo.
Com a unidade de experiências, o aluno estará altamente motivado.
Observará tudo com mais atenção. A aprendizagem ocorre globalmente, sem
ser engavetada em compartimentos estanques por disciplina. Isso facilita a
transferência e o uso da aprendizagem. Faz com que a aprendizagem se torne
útil para a vida do aluno e para a sociedade. Isso torna o conteúdo também
prático e significativo.
O conteúdo a ser aprendido é aquele necessário ao desenvolvimento das
experiências. Será um conteúdo fundido ou integrado à situação real de vida; é
usado na prática e não fica na cabeça do aluno, sem este saber o que fazer com
ele.
A matéria a ser aprendida será subproduto do processo de aprender e das
experiências que forem sendo realizadas. As disciplinas ou matérias entram em
jogo para ajudar a realizar as experiências, para dar a eles fundamento ou base
teórica. A grande vantagem disso é que as informações obtidas são
imediatamente compreendidas, estruturadas e utilizadas. A aprendizagem feita
assim dificilmente será esquecida e estará pronta para ser utilizada em outras
situações.
Os alunos têm oportunidade de atender à própria curiosidade. Eles
podem falar, participar, fazer e não precisam ficar quietos e parados como nas
aulas tradicionais. Eles têm oportunidade de aparecer, de se exibir, sem
prejudicar a classe. Os alunos têm oportunidade de realizar as próprias
experiências e, com isso, passam a ter conteúdo para falar e redigir textos.
As experiências dão oportunidade ao desenvolvimento de objetivos
educacionais que são mais importantes que os objetivos instrucionais, ou de
simples aprendizagem de informações.

2.3 Temas que podem ser utilizados como unidade de experiências

A água, as plantas, os animais, a criação, a reprodução, a eletricidade, o


calor, o ar, o solo, a árvore, entre outros.

176
2.4 Exemplo de desenvolvimento de unidade de experiência

Para facilitar a compreensão de como se desenvolve uma unidade de


experiências, é melhor descrever um caso prático. Tomemos como exemplo “a
água”.

1 – Título

A água

2 – Justificativa

A água é conhecida de todos os alunos. Eles conhecem muitas de suas


utilidades, mas, seguramente, muito ainda há a conhecer. Além disso, ela se
presta a uma imensidade de experiências interessantes e que atendam à
curiosidade dos alunos. Os alunos já haviam feito várias perguntas sobre a água,
quando foi desenvolvido o projeto sobre o combate ao pernilongo. Outras vezes,
já haviam surgido situações que recomendavam um estudo mais aprofundado
sobre a água.

3 – Tempo previsto

Duas semanas.

4 – Ano a que se destina

6º ano do Ensino Fundamental.

5 – Objetivos a serem atingidos

a – atitudes:
gosto pelo estudo; desenvolver a imaginação, a criatividade, o senso
crítico, o espírito de cooperação, a iniciativa, a perseverança, a
sensibilidade para não poluir a água, o respeito à natureza;
b – conhecimentos:
sobre os usos e a importância da água; distinguir água pura de água
impura; conhecer as fontes de água pura; identificar as formas de
tratamento da água; saber que a água é unidade de volume e de
densidade; conhecer a circulação da água na natureza e os fenômenos
que a provocam;
c – habilidades:
observar, anotar, planejar, juntar e analisar dados, pesquisar, fazer
resumo, pesar, calcular densidade, calcular volume;
d – hábitos:

177
de limpeza, de tomar apenas água potável.

6 – Planejamento das estratégias de ação

Até essa etapa os alunos só haviam participado para definir ou sugerir o


tema. O restante, a justificativa, o tempo provável e a colocação dos objetivos,
foi feito pelo professor. Agora, os alunos voltam a participar.
O professor tem em mente os objetivos que considera úteis e válidos, mas
os alunos poderão acrescentar outros que queiram alcançar. No
estabelecimento das estratégias de ação, o professor sempre pergunta aos
alunos que objetivos pretende alcançar.
Nessa altura, o professor pergunta aos alunos o que eles gostariam de
aprender sobre a água. Muitas propostas e perguntas vão surgir. De qualquer
forma e, para incentivar e facilitar a escolha dos objetivos, o professor pode
lançar perguntas que os alunos ainda não tenham feito, tais como: Donde vem
a água? Qual a sua importância? Toda água é limpa? Á água apodrece? Por que
a gente precisa tomar água? Como se purifica a água? Donde vem a chuva? Por
que chove? Donde vem o granizo? Quanto pesa um litro de água? Por que a
água some, quando é fervida? E assim por diante. O professor pode imaginar
uma imensidade de outras perguntas a serem feitas.
Primeiro objetivo a ser alcançado: saber donde vem a água. O professor
sabe donde ela vem. Sugere algumas experiências para levar os alunos a tecer
a própria conclusão.
Primeiramente, apanha ramos de árvores ou de arbustos com folhas e os
coloca dentro de um saco plástico. Este é amarrado e deixado um tempo assim.
O saco vai ficar inteiramente molhado por dentro.
Os alunos vão ficar curiosos. “Por que o saco ficou molhado?” “Donde
veio aquela água?”
O professor manda os alunos pesquisar a resposta em textos.
Conclusões: as plantas tiram água do solo e soltam-na no ar; as folhas murcham,
porque perdem a água e não estão mais no tronco para puxar água do solo. Nos
dias quentes, as folhas murcham mais depressa. Se tivesse bastante mato, seria
mais fácil chover, pois, quando fica muito quente, as árvores soltam mais água
no ar, favorecendo que chova.
Com essa experiência, foi alcançado mais que um objetivo. O aluno tinha
em vista apenas um, mas o professor possuía outros que certamente foram
alcançados, mesmo que parcialmente:
- devemos conservar as matas;
- as plantas soltam água no ar;
- as plantas precisam de umidade no solo para absorver seus nutrientes;
- sentiram gosto e satisfação na pesquisa.

Os alunos, provavelmente, perguntam: “por que não se vê a água sair das


folhas?” “Como se junta a água nas paredes do saco plástico?”

178
O professor parte para outra experiência.
Para mostrar por que a água se junta nas paredes do saco, o professor
sugere outras atividades.
Ele providencia, para isso, o seguinte material auxiliar: fogareiro, uma
leiteira ou panela com água, uma tigela com gelo e um suporte de arame ou ferro
para colocar a tigela a uns 20 cm acima da leiteira.
Em seguida, põe a água a ferver. Quando estiver fervendo, coloca a tigela
com gelo no suporte.
O professor pede aos alunos que observem que o vapor da água, ao bater
na parede fria, condensa e pinga de volta na leiteira. O mesmo acontece com o
vapor das folhas na parede do saco plástico.
Explica, em seguida, para os alunos, que o sol e o vento também fazem
evaporar a água do solo, dos rios e das árvores.
Os alunos perguntam: “Mas, como é que a gente não vê o vapor?” O
professor responde: “Quando o ar está quente, o vapor não aparece, mas ele
está no ar”. O professor pergunta mais: “Vocês nunca observaram que, nos dias
frios, a gente vê o vapor sair da panela e até da boca? Ele desaparece, porque
se espalha muito. Quando vêm as frentes frias, o vapor volta a aparecer e se
formam as nuvens, junta-se muito vapor e chove”.
Muitas outras informações podem ser dadas ou obtidas pelos próprios
alunos em leituras sobre o assunto.
Está explicado o fenômeno da chuva, circulação da água na natureza,
lençóis de água, vertentes, rios e lagos.
Parte-se para outra experiência. O professor pergunta: “Qualquer água
pode ser tomada?” Os alunos respondem “não”, e que só pode ser tomada água
limpa.
O professor convida os alunos para uma excursão à beira de rio, córrego
ou banhado. Lá, pede para os alunos colherem água parada de alguma poça
que tem aparência de ser limpa. Essa água é levada para o microscópio e
observada pelos alunos. Certamente, vão aparecer micro-organismos. Isso
deve ser feito para comprovar para os alunos que a água, mesmo aparentando
ser limpa, pode ser impura e contaminada.
A partir desse ponto, podem-se fazer novas leituras sobre as
características da água pura, onde e como obtê-la etc.
Em seguida, o professor pode realizar algumas experiências sobre o
tratamento da água: destilação, filtragem, visita à estação de tratamento de água,
entre outras atividades.
Depois disso, o professor pode perguntar aos alunos: “A água tem peso?”
“Quanto pesa um litro de água?”
Parte-se para novas experiências. O professor providencia o material:
balança que pese de 10 em 10 gramas; um litro com água; um decímetro cúbico
de vidro com um furo num dos lados; um litro com mel.
Pesa-se o litro com água. O peso líquido deve dar um quilo. Despeja-se a
água no cubo de vidro, que tem espaço interno de um decímetro cúbico. O litro

179
de água coube certinho dentro do cubo. Conclusão: um decímetro cúbico de
água pesa 1 quilo. Portanto, temos 1Kg/l dm3, o que dá densidade de 1,0.
Em seguida, pesa-se o litro de mel. Deu 1 quilo e quatrocentos e cinqüenta
gramas. Temos, portanto, 1,45 Kg/l dm3. A densidade do mel é, portanto, 1,45.
Uma infinidade de outras experiências podem ser feitas ainda com água.
Os alunos não precisam de incentivação melhor que essas experiências para
participar com todo o entusiasmo. Quanta coisa o aluno pode aprender, sem
muito esforço.
Certamente, pode-se notar que uma experiência puxa a outra e que a
anterior quase sempre ajuda a seguinte. Isso é o que se chama de sequência e
continuidade da aprendizagem.

7 – Apresentação dos resultados

Os alunos apresentam, por escrito, relatório de tudo o que viram no


desenvolvimento da unidade de experiências. Discutem em grupos a importância
do estudo que fizeram e como este pode ser aplicado na vida prática. Os
relatores dos grupos apresentam para a classe os resultados a que chegou cada
grupo.
Outras formas de apresentação podem ser usadas, dependendo da
imaginação do professor e dos tipos de experiências que forem feitas.

8 – Avaliação

O professor, que observou tudo, já tem suas conclusões a respeito do


aproveitamento dos alunos. Pode solicitar a apresentação de relatórios, dossiês,
apenas para que os alunos sistematizem um pouco mais a aprendizagem. Pode
ser feita prova para verificar o grau de compreensão e a capacidade de aplicação
do aprendido na vida prática.

3 Centro de interesse

3.1 Em que consiste

Este método consiste num conjunto de atividades, girando em torno de


um assunto que seja significativo e de interesse dos alunos.
O assunto possibilita pesquisas e estudos variados, mas não é apropriado
para realização de projeto e nem de experiências sobre ele. Por isso, chama-se
centro de interesse.

180
3.2 Importância

O centro de interesse, se o tema for bem escolhido, vai ao encontro dos


interesses, necessidades e curiosidades dos alunos. São assuntos relacionados
à vida deles, ao seu meio, ao seu mundo. São, portanto, úteis e significativos
para eles.
Dá oportunidade para os alunos desenvolver muitas atividades em
perfeita liberdade, podendo ler, pesquisar, discutir e satisfazer curiosidades, sem
interferência ou pressão do professor.
Os diversos aspectos do assunto são estudados de forma globalizada, em
que não aparecem as matérias. Eles tudo fazem como se estivessem apenas
vivendo. É uma aprendizagem gostosa, agradável, que acontece sem muito
esforço e que faz com que os alunos gostem de estudar. Se algum aluno se
interessar por um determinado assunto especial, ou livro, o professor deve
estimulá-lo para que continue estudando e se interessando por aquele conteúdo.

3.3 Como funciona

O centro de interesse inicia o aluno numa atividade sem previsão de


término. Pode durar dois ou dez, como também 20 dias, vai depender do assunto
e da criatividade do professor em envolver os alunos.
O tema pode surgir dos próprios alunos ou ser proposto pelo professor.
Vejamos alguns exemplos de como pode surgir o tema:

a) o professor está desenvolvendo o tema sobre o índio. Um aluno


observa, numa gravura, a “casa” dos índios, e pergunta se ela não tem
janela e se tem banheiro. Após uma série de outras perguntas e
explicações, o professor aproveita e propõe, como centro de interesse,
“a habitação”;
b) outro professor está trabalhando com exercícios de matemática, num
dia de chuva e trovoadas fortes. Um aluno pergunta donde vem a
chuva e por que troveja. Surge a oportunidade para ser proposto um
centro de interesse sobre a chuva;
c) numa outra situação, um aluno, que dorme muito em sala de aula,
desmaia. Levado ao médico, feito exame de sangue, foi constatada
anemia profunda. A professora aproveita para tratar da “alimentação”
como centro de interesse.

3.4 Exemplo de centro de interesse

Aproveitamos o assunto “a alimentação” como exemplo. Ele é um dos


itens do programa do plano de ensino, apresentado na capítulo sobre
planejamento.

181
A professora aproveita a situação emocional provocada pelo desmaio do
aluno, chamado Paulinho. Inicialmente, informa que o desmaio dele foi por comer
pouco. Um amiguinho não concorda e informa que ele comia bastante. No dia
seguinte, Paulinho volta à aula e esclarece a situação. Diz que comia só feijão e
arroz e que, há algum tempo, não tinha mais vontade de comer. “E verduras e
legumes, você não come?” “Não gosto, professora”.
A professora explica as funções das vitaminas, dos sais minerais, das
proteínas e das gorduras na alimentação. Os alunos passam a fazer várias
perguntas sobre o assunto: se o feijão tem vitamina, se a beterraba tem proteína,
e muitas outras.
A professora encaminha os alunos à biblioteca e escolhe os livros
apropriados para cada um encontrar as respostas às suas questões.
No dia seguinte, a professora coloca algumas perguntas aos alunos para
continuar as pesquisas: Quais são os alimentos que contêm proteínas? Quais
os que contêm hidratos de carbono? Quais os que contêm vitamina A?, e outras.
No terceiro dia, são analisados os elementos nutritivos contidos em alguns
alimentos. Os alunos levantaram os elementos contidos no feijão e no arroz.
A professora chama atenção para a necessidade que o corpo humano
tem também de outros elementos que não se encontram no feijão e no arroz.
Nesse mesmo dia, é elaborada uma lista de alimentos que cada pessoa
deveria comer por semana e a quantidade em peso. A professora já providencia
vários tipos de alimentos e uma balança que pese de 10 em 10 gramas. São
pesados maçã, banana, beterraba, cenoura, tomate, uma xícara de feijão, uma
de arroz e mais alguns alimentos. As crianças pesam, fazem cálculos e cada
uma faz uma tabela do que prefere comer para atender às exigências do próprio
corpo.
No quarto dia, a professora convida uma nutricionista para fazer uma
palestra sobre alimentação. Uma imensidade de perguntas são feitas pelos
alunos sobre o assunto e respondidas pela palestrista. É muito discutido o
problema da carne e do leite e o perigo de intoxicação, quando estragados.
No quinto dia, é organizada uma sessão de bombardeamento mental
sobre a questão: o que pode ser feito para que todos tenham a alimentação que
o corpo exige?
Por fim, é feita uma redação sobre a importância da alimentação
balanceada.
Com boa imaginação do professor, esse tipo de atividade pode ser
estendido por vários dias. Além disso, um centro de interesses pode conduzir a
outro, de tal forma que os alunos estejam sempre em atividade significativa.

182
4 O método de solução de problemas

4.1 Em que consiste

Este método consiste na identificação e delimitação de problemas reais


para serem solucionados por meio de estudos e pesquisa. Esses problemas
podem estar relacionados a sociedade, a um campo profissional ou mesmo a
assuntos escolares.

4.2 Como funciona

Escolhe-se um problema que esteja afligindo a população para ser


estudado em todos os seus aspectos como, por exemplo, a fome, a poluição
ambiental, a erosão, o desmatamento, entre outros. Em cursos de formação de
professores, podemos selecionar como problemas: a repetência, a falta de
higiene, a desnutrição, entre outros.
Destaquemos como exemplo, a poluição ambiental. É um tema que pode
ser tratado desde o Ensino Fundamental à Educação Superior e que está
afligindo a maioria das grandes cidades.
No Ensino Fundamental, o problema pode ser trabalhado pelo professor
da classe. Daí em diante, todos os professores do ano podem se envolver, de
uma forma ou de outra.
Trabalhemos com um 5º ano, em que vários professores possam
participar.
Suponhamos que a escola esteja situada em São Paulo, próxima a uma
indústria. O dia está “pesado”, ameaçando chuva. O ar está todo esfumaçado e
um mau cheiro forte perturba os alunos. Alguns deles se queixam que as vistas
estão ardendo.
O professor de ciências aproveita e faz alguns comentários sobre as
formas de poluição e os prejuízos que ela causa à saúde. Em seguida, convida
os alunos a irem à biblioteca para fazer uma pesquisa sobre o assunto. Seleciona
os livros e sugere os itens a serem lidos.
No dia seguinte, o professor solicita que os alunos se reúnam em grupos
de seis para listar as fontes de poluição que conhecem no bairro onde moram.
Os grupos apresentam, também, sugestão de se fazer uma visita a esses locais
para observar de perto o problema e como este poderia ser resolvido.
O professor de ciências convida os demais professores da classe e cada
um se responsabiliza por uma equipe de alunos para a realização das visitas.
As equipes visitam fábricas, observam a fumaça das chaminés, as águas
poluídas e o mau cheiro que exalam no ar, a poluição nos córregos e nos rios, e

183
vão anotando tudo. Conversam ou fazem entrevistas com responsáveis, com
relações públicas ou com o gerente das fábricas.
Todos esses profissionais apresentam explicações e justificativas. Alguns
chegam a afirmar que a fumaça da fábrica não faz mal à saúde. Os alunos
observam, também, a fumaça que os carros e caminhões soltam pelos canos de
escape. Alguns, com fumaça intensa e bem escura.
Para certificar-se do mal que a poluição pode causar, convida-se um
médico, especialista em doenças do pulmão, para fazer uma palestra. Este
aborda os vários tipos de doenças que a poluição pode provocar. Apresenta
tabelas com os tipos e graus de poluição e a tolerância do organismo humano a
cada um. Os alunos anotam o que podem.
Os alunos querem saber como se descobre e se mede o tipo e o grau de
poluição da atmosfera e do ar. O médico sugere que seja convidado um químico
para explicar isso.
É convidado um químico especialista em meio ambiente. Ele traz vários
aparelhos e convida os alunos a acompanharem-no na análise do ar e da água.
Vão ao laboratório e fazem várias análises. O resultado é discutido em sala de
aula com o professor de ciências e de geografia. Embora os alunos nada
entendessem de química, viram e sentiram a importância prática dos
conhecimentos desta ciência para o bem do homem.
O professor de estudos sociais organiza uma sessão de bombardeamento
mental para que os alunos apresentem propostas de solução ao problema.
Muitas alternativas são apresentadas. Entre estas, destacam-se:

- publicar em jornais os resultados das análises feitas no laboratório;


- solicitar ajuda das demais turmas da escola;
- encaminhar ofício ao governador, ao prefeito e aos responsáveis pela
saúde pública do Estado e do Município, solicitando providências;
- mandar carta a todas as escolas da Grande São Paulo, pedindo reforço
para a campanha;
- elaborar cartazes com as tabelas dos níveis de poluição constatados nas
análises e afixá-los no metrô e nos ônibus urbanos.
A partir daí, os alunos organizam-se em equipes para executar as
alternativas propostas. Fazem tudo o que foi previsto. Conseguem a adesão das
outras escolas e executam uma bela campanha.
O professor de estudos sociais estuda com os alunos os direitos do
cidadão: à vida, à saúde. Estuda a evolução econômica do Brasil, o crescimento
industrial e a legislação que proíbe a poluição e que manda aplicar multas às
indústrias poluidoras.
O professor de matemática ajuda a elaborar as tabelas, após terem feito
os cálculos dos índices de poluição e as porcentagens.
Meio ano transcorre e nada foi resolvido. Os alunos decidem envolver os
pais e a comunidade no projeto. Redigem circulares às outras escolas, aos pais

184
e aos comerciantes. Organizam uma manifestação numa praça, no centro da
cidade.
Mais três meses transcorrem e apenas algumas indústrias acabam com a
poluição.
Os estudantes voltam a se reunir para tomar novas decisões. Várias
alternativas são colocadas e executadas. Mais um tempo se passa e organizam
uma greve geral dos estudantes da Grande São Paulo. Aqui, mais uma vez entra
a assistência dos professores de estudos sociais.
Numa das escolas, o diretor encaminha comunicado aos pais, pedindo
para que os alunos não participem da greve. Ele entende que greve é só para
trabalhadores e que o assunto é de competência das autoridades do Município
e do Estado.
Os estudantes organizam-se e preparam um folheto para rebater e
fundamentar a necessidade da paralisação das aulas (greve). Entre outras
razões, destacam a omissão das autoridades com relação ao assunto,
necessidade de conscientização geral da população sobre os males causados
pela poluição e que todos são responsáveis pela defesa dos direitos dos
cidadãos. Fazem um histórico das várias tentativas e movimentos já feitos, sem
êxito. Chamam atenção para que o bem da maioria, no caso, a saúde da
população que está acima dos interesses econômicos de uma minoria que não
quer ter gastos para sanar o problema. Em face disso, entendem que a greve é
medida válida, legítima e certamente eficaz.
Conseguem, também, a adesão dos colegas daquela escola e o apoio dos
pais. A greve foi um sucesso total, como também os seus resultados. Em poucos
dias, o Estado lançou pesadas multas às indústrias, e vários gerentes
encaminharam ofícios ao comando de greve, informando que, em três ou quatro
meses, teriam solucionado o problema.

4.3 Importância e objetivos que podem ser alcançados com o método de


solução de problemas

- leva os alunos a conhecer os problemas a sua volta;


- o aluno deixa de ser observador passivo para se tornar agente ativo;
- aprende a observar e analisar a realidade que o rodeia, a fazer análise
crítica e a se envolver com os problemas da comunidade;
- descobre que os problemas sociais podem ser resolvidos, desde que
haja união, organização e persistência;
- desenvolve o espírito de cooperação e solidariedade;
- desenvolve a iniciativa, a responsabilidade e a autoconfiança;
- integra o aluno ao meio e à sociedade;
- torna a aprendizagem significativa, pois está relacionada à realidade do
aluno. Além, disso, ele tem tendência natural de conhecer e estudar o
meio que o cerca;

185
- os estudantes, e mesmo toda pessoa, gostam de se sentir úteis. Neste
método, eles têm oportunidade para isso: de servir, de ajudar, de
participar e ver resultados com sua participação;
- estudam com o objetivo de aplicar os conhecimentos que vão adquirindo.
É um estudo gostoso, que visa à prática, à solução de um problema;
- obriga os alunos a compreender, a raciocinar sobre o que leem e a
estruturar criativamente a aprendizagem em função do problema a ser
solucionado;
- permite a avaliação pela simples observação do aluno no transcorrer do
processo;
- atende a vários princípios da aprendizagem: “vai do concreto para o
abstrato”; “participação ativa do aluno”; “atende à curiosidade dos alunos”,
“o pensamento e o raciocínio são ativados por um problema”, entre outros.

5 O método da excursão

5.1 Importância

- O aluno vê e aprende concretamente as coisas.


- Descobre novas coisas sobre as quais poderá vir a ter curiosidade.
- Podem ser levantadas muitas questões para pesquisa bibliográfica e
experiências em sala de aula.
- Satisfaz a curiosidade do aluno.
- Permite análise concreta da realidade.
- Aprende a observar e a anotar o que observa.
- Fornece assunto concreto para as redações que poderão ser feitas
depois.
- Permite a aprendizagem em clima de liberdade.
- Provoca perguntas.
- Oferece conteúdo para discussões e trabalhos em equipe.
- O aluno tem oportunidade de adquirir uma série de experiências novas.

5.2 Para onde fazer excursão

Isso vai depender do nível dos alunos, dos objetivos que se têm em vista,
da distância, das condições dos alunos e, principalmente, da importância do local
a ser visitado.
Locais que podem ser aproveitados são, por exemplo, horta, bosque, sítio,
fazenda, indústria, estação de tratamento d´água, vertedouros, lagos, riachos,
zoológico, prefeitura, correio, serra, praia, mar, pantanal, lugares turísticos,
museus, posto ou centro de saúde, entre outros.

186
5.3 Como fazer a excursão

Uma excursão pode ter início, com perguntas formuladas pelo professor,
em sala de aula:

- “Serginho, onde você lavou as mãos?”


- “Na torneira, professor”.
- “A água da torneira dá para beber?”
- “Dá, sim, professor”.
- “Como é que você sabe?”
- “Todo mundo bebe”.
- “Muito bem. Quem já viu donde vem a água que tomamos aqui na
escola? Onde é que a água entra nos canos? Um dia, vamos lá ver”.

Com esse diálogo, foi lançado o convite para a ação. A partir desse
instante, as crianças ficam ansiosas em querer ver a estação de tratamento
d´água, mas o professor nada deve prometer a elas ainda. Primeiramente, ele
próprio deve fazer uma visita à estação para solicitar autorização para a visita e
levantar todos os objetivos que podem ser alcançados com o referido método.
Deve observar tudo o que possa aproveitar para mostrar e explicar às
crianças. Deve também entrevistar os encarregados, que poderão dar muitas
orientações a ele e até dar palestras e responder às perguntas dos alunos no dia
da excursão.
O professor não deve esquecer de observar os locais que possam
oferecer perigo às crianças, para evitar acidentes, e pedir autorização dos pais,
com antecedência.
Antes do dia da excursão, o professor deve ter feito um bom
planejamento. Assim, ele poderá assegurar melhor aproveitamento, maior
segurança para os alunos e evitar atropelos e aborrecimentos.
Para uma excursão, o professor deve definir, claramente, os objetivos que
pretende alcançar. Se possível, deve estabelecê-los junto com os próprios
alunos, ou então fazer com que eles saibam exatamente o que se pretende
alcançar com a excursão.
Para uma excursão à estação de tratamento d´água, podem-se buscar os
seguintes objetivos:

- identificar e descrever a água antes do tratamento;


- caracterizar a água depois do tratamento;
- relacionar os elementos químicos usados no processo de tratamento;
- relacionar os diferentes processos pelos quais passa o tratamento;
- justificar o tratamento da água;
- desenvolver senso de responsabilidade de cada aluno e dos grupos.

187
No planejamento, o professor pode fazer a lista de atividades a serem
realizadas durante a excursão. Listar o que deve ser observado, analisado,
relacionado. Sugerir algumas perguntas a serem feitas aos encarregados do
serviço.
No planejamento, devem também ser previstos o horário e local de saída,
tempo para se chegar ao local, duração da visita, meio de transporte,
alimentação, se for o caso, material a ser levado pelo aluno, orientações sobre
o comportamento esperado de cada um.
Antes da excursão, o professor deve colocar uma série de questões para
os alunos, tais como: Quem colocou os canos para a água na terra? por que a
água pode ser tomada? Quem cuida para que sempre tenha água? por que, em
tempo de seca, todo mundo deve economizar água? Donde vem a água?
Durante a excursão, o professor deve ficar bem atento para que a
atividade seja realmente bem aproveitada. Chamar a atenção dos alunos para
os pontos e detalhes a serem observados e analisados. Não deixar espaço para
os alunos se distraírem, se dispersar e fazer “bagunça”. O professor deve ser
dinâmico, ativo e esperto. Deve usar a imaginação para que tudo saia bem.
Se surgirem problemas durante a excursão, que isso não seja motivo para
deixar de usar o método. Ao contrário, é fazendo que se aprende. Os erros e
falhas devem ser analisados com os alunos e evitados em outras oportunidades.
A partir da excursão, o professor pode realizar uma série de outros
estudos e atividades sobre o tema central, que é a água. Pode ser estudada a
utilidade da água, locais e formas de se obter água limpa e potável, a chuva, os
estados da água, os rios e o mar, a navegação, entre outros.
O professor pode solicitar que os alunos façam discussão sobre pontos
que forem julgados oportunos para isso. Os alunos, certamente, terão muito que
falar. Verão que cada um observou coisas diferentes e que muitas outras
passaram sem ser percebidas.
Podem ser feitas experiências com decantação e filtragem da água;
experiências com gelo e evaporação, entre outras.
Uma excursão pode servir como incentivo para uma série de atividades
que podem ser muito úteis para os alunos. Os alunos viram o concreto; têm uma
série de dúvidas. O professor, em vez de respondê-las, encaminha os alunos
para leituras, para pesquisas. É uma forma de iniciar outras atividades e manter
os alunos sempre em certo grau de tensão para que continuem curiosos,
participantes e ativos.

6 Conclusão

Os métodos socioindividualizados são mais que métodos; são


verdadeiros processos que levam os alunos a aprender, a ter experiências mais
ricas, a viver e a se educar. Envolvem conteúdo, estratégias e recursos de ensino

188
de forma integrada e funcional, tornando a aprendizagem fácil, agradável e útil
para a vida.

189
Capítulo XI

Recursos de ensino
1 O que se entende por recursos de ensino

São recursos humanos e materiais que o professor utiliza para auxiliar e


facilitar a aprendizagem dos alunos. São também chamados recursos didáticos,
os meios auxiliares, meios didáticos, material didático, recursos audiovisuais,
multimeios ou material instrucional. Preferimos, porém, “recursos de ensino”, por
ser mais abrangente.

2 Importância do seu uso

Os recursos de ensino atendem, em parte, à afirmação de Aristóteles:


“Nada está na inteligência que antes não tenha passado pelos sentidos”.
Os sentidos são, sem dúvida, as portas de entrada das sensações que se
transformam em percepções e que, uma vez organizadas e estruturadas,
constituem-se em aprendizagem. Assim, os recursos didáticos levam as
imagens, os fatos, as situações, as experiências, as demonstrações até o campo
de consciência do aluno. Na consciência do aluno, estes são transformados em
representações, abstrações, em ideias. Vendo concretamente, é mais fácil para
o aluno transformar a realidade e os fatos em ideias.
Por mais que queiramos, por exemplo, descrever o bicho-barbeiro, será
difícil distingui-lo de outros insetos apenas por palavras. É fundamental que a
pessoa veja o bichinho e, com ele à vista, o professor chame a atenção para as
características deste inseto.
É por isso que existe o ditado: uma imagem vale por dez mil palavras. A
imagem, a visão real, não só economiza palavras, mas permite sentir algo tal
como é, sem ter que imaginar a partir das palavras do professor.
Quanto mais experiências concretas o aluno tiver vivido, mais ideias ele
terá. Quanto mais ideias ele tiver, mais condições ele terá para pensar,
raciocinar, inventar e resolver problemas.
Alguns recursos de ensino servem também para levar para a sala de aula
fatos, experiências ou imagens que seriam difíceis ou impossíveis de serem
vividas em primeira mão, ou seja, diretamente pelo aluno.
Além disso, os recursos de ensino são estimuladores, incentivadores. O
aluno que vê, que toca, que manipula os objetos, que realiza as experiências,
que age sobre os objetos tem mais facilidade de compreender. Desta forma, a
aprendizagem torna-se mais real, mais concreta, mais significativa.
190
***

Os recursos podem estar na escola, ou fora dela. Estes só podem ser


usados, se levarmos o aluno até eles, ao local em que se encontram.
Os recursos de ensino, bem utilizados, podem provocar impacto,
suspense e, com isso, deixar os alunos mais atentos para as atividades ou para
o estudo. Eles levam os alunos a observar e a prestar mais atenção e mesmo a
tentar distinguir melhor as coisas. A partir disso, fazem perguntas, levantam
hipóteses e realizam pesquisas.
Os recursos de ensino podem mostrar a forma, a sequência de
fenômenos, a posição, o tamanho, a estrutura, o funcionamento de
equipamentos, o movimento. Facilitam o reconhecimento de semelhanças e de
diferenças: de animais, de plantas, de sexos, de insetos, de objetos.
Imaginemos explicar a diferença entre abóbora e moranga. Por mais que
tentemos, é difícil fazê-lo com êxito.
Os recursos de ensino ajudam enormemente na comunicação,
compreensão e na estruturação da aprendizagem cognitiva.
Eles têm função importante, também, no incentivo e no alcance de
objetivos afetivos: fazer o aluno gostar de estudar, gostar de uma disciplina ou
de um assunto. Um aluno que vê uma célula de planta pode-se encantar por
botânica, e mesmo por biologia, e passar a gostar da matéria para o resto da
vida.

3 Exemplos de uso de recursos de ensino

Se o objetivo for estabelecer o conceito de ilha, o melhor a ser feito é


verificar se existe, perto da escola, alguma lagoa ou rio que tenha ilha. Ir com os
alunos até lá e, se possível, pisar na ilha. Depois disso, porém, seria interessante
utilizar mapas, mostrando outras ilhas no mar ou em rios mais próximos à escola.
Se o objetivo for identificar ou caracterizar água potável, podemos utilizar
vários meios. Levar os alunos para observar uma vertente (de preferência forte),
um poço fundo, e explicar por que aquela água é pura. Observar também uma
cacimba, chamando a atenção para as possíveis fontes de contaminação desta
água. Em seguida, analisar um poço artesiano. Observá-lo concretamente e
também por cartazes, mostrando as camadas de solo e as razões da pureza da
água por ele fornecida. Depois, pode ser visitada uma estação de tratamento de
água, desde a captação até o tratamento final.
Por fim, podem ser realizadas observações e experiências de purificação
da água, na própria sala de aula. Para isso, podem ser utilizados os seguintes
materiais: microscópio, água parada e meio esverdeada, coletada em uma das
visitas a rio ou lago, fogareiro, chaleira, balde, cal, flúor, mangueira, gelo, carvão
mineral, areia, garrafão claro sem fundo e arame.

191
Com esses meios auxiliares, podem-se fazer quatro experiências ou
demonstrações de como transformar água suja, ou água com microorganismos,
em água potável.
Antes disso, porém, é necessário demonstrar para os alunos que a água
coletada contém “bichinhos”, microorganismos. Para isso, utiliza-se o
microscópio. Todos os alunos devem ver os “bichinhos” no microscópio. Em
seguida, passa-se às experiências.
Pega-se uma parte da água suja do balde e põe-se para ferver na chaleira
durante seis minutos e, após isso, deixa-se esfriá-la. Em seguida, pega-se um
pouquinho dessa água para que os alunos a observem no microscópio. Não irão
mais ver “bichinhos” vivos.
É o momento de se fazer a segunda experiência. Toma-se o garrafão sem
fundo, de bico para baixo, amarra-se nele um arame e acha-se um lugar apara
dependurá-lo. Coloca-se primeiro o carvão mineral, 1Kg mais ou menos, em
seguida 1 ou 2 Kg de areia e, depois, água suja por cima. Embaixo, coloca-se
uma vasilha para receber a água que vai saindo limpa e cristalina.
Outra experiência é colocar água suja numa vasilha, de mais ou menos 1
litro, e jogar dentro dela uns 50 g de cal, com um pouco de sulfato de alumínio.
A sujeira deposita-se no fundo e a água fica cristalina. Essa água precisa receber
ainda um pouco de flúor e cloro, para se tornar potável.
A última experiência é ferver a água na chaleira. Coloca-se no bico de
saída da chaleira uma mangueira, que deve fazer uma curva para o alto. A parte
que desce coloca-se entre duas barras de gelo ou faz-se passar por dentro de
água gelada.
O vapor de água vai sair na outra ponta da mangueira novamente como
água. É a água destilada.
Os objetivos que podem ser alcançados e que, no caso, devem-se ter em
mente são:

a) desenvolver atitudes de rejeição da água impura, “suja”;


b) identificar e caracterizar água potável, ou ao menos suas fontes;
c) identificar as formas e desenvolver habilidades de se obter água potável.

O conteúdo trabalhado foi a água potável e a água suja, com os micro-


organismos.
As técnicas utilizadas foram a demonstração e a experiência.
Certamente, pode-se perceber que os recursos de ensino, o conteúdo e
as técnicas se entrosam tão bem que não há nem necessidade de os separar.
Assim, os objetivos serão alcançados pelos alunos, sem que eles tenham que
decorar matéria, e de forma mais agradável e fácil.
São apenas alguns exemplos. Para cada objetivo que tivermos em mente,
podemos “bolar” recursos que irão ajudar a alcançar tais objetivos. É lógico que
temos que conhecer o assunto; quanto mais profundamente, tanto melhor;
precisamos, além disso, dar assas à imaginação para combinar os meios

192
auxiliares, o conteúdo e as técnicas para que haja coerência e, assim, realmente
seja alcançado um determinado objetivo.
Vejamos, a seguir, outros exemplos de recursos de ensino que podem ser
utilizados.

4 Classificação dos recursos de ensino

A primeira grande classificação que se pode fazer dos recursos de ensino


é: recursos humanos e recursos materiais.

4.1 Recursos humanos

Os recursos humanos são: o próprio professor, o pessoal da escola, os


alunos e as pessoas da comunidade que participam do processo da educação.
As pessoas da comunidade podem ser convidadas para participar de
seminários, simpósios, debates; fazer palestras, conferências, demonstrações.
Assim, considera-se recurso um médico que vai à escola falar sobre os tóxicos;
um nutricionista sobre nutrição e alimentação; um técnico que acompanha e
explica para os alunos como ocorre o tratamento de água numa estação de
tratamento; é o vereador que recebe os alunos e explica o funcionamento dos
três poderes; é o pedreiro que demonstra como se faz a massa e se assentam
tijolos.

4.2 Recursos materiais

Como o nome já diz, são recursos não humanos que podem ser
classificados em:

- gustativos;
- olfativos;
- táteis;
- visuais;
- auditivos;
- audiovisuais.

4.2.1 Recursos gustativos

São todos os que implicam sensação do gosto. Podem ser: comida,


bebida, ácidos, sais, folhas, raízes, cascas. São úteis para distinguir e identificar
folhas, raízes, bebidas e outros.

4.2.2 Recursos olfativos

193
São os que se relacionam a cheiros. Cheiro das folhas, raízes, plantas; o
mau cheiro do ar, da água, da carne “estragada”; ou então os perfumes e o bom
cheiro das comidas e bebidas.

4.2.3 Recursos táteis

São os que afetam ou usam o tato. Podem ser considerados aqui: as


superfícies ásperas, lisas, onduladas, ou ziguezague; o alfabeto braile; as coisas
redondas, finas, compridas, moles, duras, macias, flexíveis, rígidas, leves,
pesadas, frias, quentes, estreitas, largas, que provocam choque elétrico, e
muitas outras. Parece que se incluem aqui também a caneta, a régua, o
compasso e o transferidor.

4.2.4 Recursos visuais

Os recursos que tocam a vista são chamados de visuais. Estes, por sua
vez, podem ser divididos em:
Naturais: peças, objetos, coleções, amostras, espécimes, que podem ser
de insetos, animais, plantas, raízes, flores, folhas, minérios, floresta, rio, mar,
água, barro.
Gráficos: livros, revistas, jornais, folhetos, apostilas, cartazes, cartões,
figuras, fotografias, gravuras, mapas, organogramas, fluxogramas, álbum
seriado, transparências, lâminas, slides, gráficos, diagramas, quadro-de-giz.
Modelos: maquetes, miniatura de peças, objetos, casas, instalações,
aparelhos, carro.
De apoio: flanelógrafo, imantógrafo, retroprojetor, epidiascópio, diascópio,
laboratório, mural.
Reais: máquinas, motores, objetos, casas, equipamentos, instalações,
navio, piano, violão, computador, máquina de escrever.

4.2.5 Auditivos

Os recursos auditivos são aqueles que atingem os ouvidos: discos, CD,


rádio, a fala das pessoas, a música, o canto.

4.2.6 Audiovisuais

Implicam visão e audição ao mesmo tempo. Entre eles temos: filme, TV,
videocassete.
Alguns recursos necessitariam de explicações sobre o que são ou como
poderiam ser usados, mas exigiria o uso de muitas palavras. É preferível buscar
conhecê-los diretamente.

194
5 Recomendações quanto aos recursos de ensino e seu uso

Os recursos de ensino devem ser usados para facilitar, acelerar e


intensificar a aprendizagem e não para poupar trabalho do professor e simplificar
o trabalho dos alunos. Também não devem ser usados para imitar outros
professores que os usam ou para esnobar.
Os recursos devem, de preferência, ser simples e de fácil uso e
conservação. Assim, podem ser usados por maior número de professores e
atingir maior número de alunos. Apesar desta recomendação, toda escola
deveria ter um ou mais videocassetes, devido a sua grande utilidade.
Ao se adquirir material didático, deve- se ter lugar seguro para guardá-lo
e condições de manutenção. É necessário, ainda, que haja pessoas preparadas
e com disposição de usá-lo. É preciso considerar, também, se o uso é possível,
em vista do tempo, do currículo e das condições que a escola oferece.
O professor, ao selecionar os recursos de ensino, deve:

- analisar se são adequados aos objetivos que pretende alcançar e se


realmente trazem benefícios;
- verificar se conhece e sabe usar o recurso;
- testá-los para ver se estão em condições de funcionamento;
- certificar-se de que nada falta para seu uso;
- planejar devidamente todas as etapas do seu uso para evitar surpresas,
imprevistos e eventuais falhas.

O planejamento do uso dos recursos pode ser feito de tal forma que um
complemente ou reforce o outro. Cuidar sempre que eles formem ou provoquem
ideias para maior enriquecimento da aprendizagem.
Todo cuidado deve ser tomado, ainda, para que haja intensidade
adequada dos estímulos de forma a provocar a percepção, isto é, que as
sensações sejam suficientemente fortes para chegar até a mente e que surtam
os efeitos que se espera. Os estímulos têm que ser também nítidos e claros,
enfim, devem chamar a atenção pela novidade, pela intensidade ou pelo
movimento. Porém, se envolver ainda emoção, tanto melhor.

6 O livro didático

O livro didático continua sendo o mais econômico e completo recurso de


ensino. Por isso, todo professor deveria adotar pelo menos um livro para cada
disciplina. O aluno precisa ter um ponto de apoio seguro em que se basear para
estudar. Precisa saber, com segurança, ao menos o que vai ser cobrado dele. A
pior coisa é o aluno não saber o que estudar e onde encontrar a matéria. Isso
desanima qualquer um.

195
Se o professor “dá matéria” ditada, ou no quadro, o aluno pode ouvir mal
ou deixar de anotar certo. Isto, fatalmente, vai provocar aprendizagem incorreta.
Além disso, matéria ditada ou escrita no quadro quase sempre é tão resumida
que é difícil levar o aluno a compreender. Resta a ele decorar. Matéria decorada
serve para a prova e não para a vida.
Certa vez, um aluno estava mal em Física. Tinha ficado para recuperação.
Supus que o aluno não sabia estudar. Prontifiquei-me a ajudá-lo. Pedi a ele o
livro de Física adotado pelo professor. Ele respondeu que o professor não
adotava livro. Aí pedi a apostila. Também não usava apostila. Solicitei, então, o
caderno de Física. “Joguei-o fora”, disse ele. “Por quê?”, perguntei. “É que eu
não conseguia pegar tudo que o professor falava. O que eu tomei nota só serviu
para me confundir. Por isso é que eu fui mal”. Continuei a questionar:
- Como é que você vai fazer agora?
- Vou pedir um caderno emprestado de um colega que eu sei que tem
tudo direitinho.
- E por que você não fez o mesmo?
- É que quando eu estava copiando e estava na metade da frase, o
professor passava a explicar outra coisa e eu queria prestar atenção. Depois, eu
esquecia o que ele tinha falado antes.
Este é apenas um exemplo. Milhares de outros fatos semelhantes podem
estar ocorrendo. O prejuízo do aluno, com isso, é muito grande.
É inacreditável que, nos dias atuais, em escolas que têm todos os
recursos para fazer apostilas, aconteçam tais coisas.
Numa outra situação, um professor faz uma apostila – apostila-telegrama
– e ainda cheia de erros. Meia página da apostila era assunto para duas aulas
expositivas. Ele complementava essas apostilas com ditado, com esquemas e
frases escritas no quadro.
Escrevia, ora no meio do quadro-de-giz, ora no fim, e voltava para o
começo do quadro, sem nada apagar. Era uma verdadeira confusão. Eram
frases esparsas, incompletas: às vezes, faltava o verbo; outras vezes, faltavam
elementos de ligação. Era difícil entender. Os alunos tentavam anotar tudo,
mesmo compreendendo pouco ou quase nada.
Por que tudo isso? Basta que o professor adote um bom livro e conheça
bem as técnicas de estudo dirigido para evitar toda essa angústia e confusão
que provoca no aluno.
Um bom livro didático deve conter a essência do conteúdo da matéria ou
disciplina. O conteúdo deve ser útil e significativo, na medida do possível. O
assunto deve ser estruturado de forma a facilitar a compreensão, com uma
linguagem clara e muitos exemplos.
Para a seleção do conteúdo de um livro, no que for possível, podem-se
seguir, em linhas gerais, os mesmos princípios da seleção do conteúdo para um
plano de ensino.

196
7 Tecnologia aplicada à educação

Tecnologia aplicada à educação é a busca e a aplicação da tecnologia


dos vários campos do conhecimento humano na educação.
Assim, a tecnologia elétrica, a tecnologia eletrônica, a tecnologia da
comunicação, quando usadas na educação ou pela educação, são tecnologias
aplicadas à educação.
Aqui, incluem-se o computador, a TV, o videocassete, o gravador, o rádio,
o retroprojetor, o filme e, ainda, a própria teoria da comunicação.
A maior parte dessa tecnologia é rica em recursos de ensino. Alguns são
até bem sofisticados. À medida que se desenvolve essa tecnologia, deve o
professor acompanhá-la e aperfeiçoar sua aplicação. No futuro, seguramente,
serão muito usadas as facilidades que poderão trazer para o desenvolvimento
da educação.

8 Conclusão

Não podemos esquecer que, por melhores que sejam os recursos, se o


professor não os utilizar com habilidade e criatividade, pouco valor terão. Para
saber utilizá-los, é preciso imaginação e treino.
Outro aspecto importante a lembrar é que nenhum sistema de ensino vai
oferecer todos os recursos para o professor ou para a escola, por isso é preciso
demonstrar interesse e competência destes. Isso pode ser feito pelo
encaminhamento de requerimento e projetos que demonstrem necessidade
desses recursos para que a sua aquisição e uso sejam racionais.

197
Capítulo XII

Currículo e conteúdo da
aprendizagem
1 Que se entende por currículo

Currículo são todas as experiências e atividades que o aluno executa com


a orientação da escola, com vistas ao alcance dos objetivos.
Currículo é o processo escolar, é a caminhada escolar do aluno. Nele,
insere-se tudo o que possa interessar para a aprendizagem do aluno: conteúdo,
experiências, atividades, estratégias, técnicas, meios auxiliares, cultura
ambiental, sociedade, valores. Até mesmo o exemplo, os conselhos e as atitudes
do professor fazem parte do currículo. Este é o conceito mais completo de
currículo.
Por currículo, entende-se também o rol de matérias ou disciplinas de uma
etapa da educação, de uma fase ou de um curso. Esta concepção é pobre, é
incompleta.
À medida que o aluno vai avançando em escolaridade, as matérias vão
se tornando mais específicas, mais entra em consideração o conteúdo das
diversas matérias. Não devemos esquecer, porém, que no currículo entra tudo
que possa servir de instrumento para ser transformado em ideias, pensamentos
e objetivos.

2 Como se organiza o currículo

Organizar o currículo é interligar e estruturar todos esses componentes,


para que se tornem úteis à aprendizagem dos alunos. É preciso conhecer a
realidade, o que os alunos já sabem e planejar a trajetória provável que eles
seguirão para alcançar os objetivos desejáveis. Começa-se sempre do mais
próximo, do mais simples, graduando as dificuldades, de acordo com as
possibilidades, interesses e necessidades dos alunos.
Se temos como objetivo desenvolver a responsabilidade e a
solidariedade, não precisamos nos preocupar com o conteúdo em si. Este vem
embutido nas técnicas que forem utilizadas.
198
Para desenvolver a responsabilidade, podem ser usados trabalhos em
equipe, em que cada um tem que cumprir sua tarefa. A cobrança é feita pelos
próprios membros do grupo. O professor colabora, elogiando a responsabilidade
de cada um. As técnicas, a cobrança dos colegas e o elogio do professor é
currículo nesta situação.
Existem várias formas de se organizar o currículo que irão depender da
abrangência: Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Superior, curso
profissionalizante, um ano, ou mesmo um período mais curto de dois meses ou
15 dias.
Vamos ater-nos, aqui, à organização do currículo em nível de ano, que
interessa mais de perto ao professor. Vejamos, a seguir, alguns exemplos de
organização de currículo.

3 Exemplos de elaboração de currículo

3.1 Currículo centrado nos problemas do aluno e nos sociais

Há pouco tempo, chegou a um pequeno distrito do interior do Paraná uma


jovem professora recém-nomeada pelo governo do Estado. A professora
apresentou-se à diretora da escola para assumir suas funções. Coube a ela um
terceiro ano do Ensino Fundamental. Aliás, a escola possuia apenas seis salas
de aula. Havia, para aquele ano letivo, duas turmas de 1º ano, duas de 2º ano,
uma de 3º e uma de 4º ano.
A professora ficou sabendo que, na escola, não havia material didático,
que a biblioteca era bem pobre de livros, que os alunos, em sua maioria, eram
filhos de “boias-frias” e que tinham muitos problemas de saúde.
Faltavam dez dias para o início das aulas. A professora aproveitou para
conhecer um pouco sobre a realidade da população do distrito. Saiu para a rua
e, alguns metros adiante, deparou-se com uma menina de aproximadamente
sete anos, varrendo o pátio. Chegou perto dela e começou a conversar. Depois
de certo tempo, apareceu a mãe da garota. A professora apresentou-se e a
conversa continuou.
A professora saiu dali, com uma porção de informações e de dados que
julgava importantes para si, como professora.
Notou que a menina andava de pés descalços, tinha muitos dentes bem
escuros e cariados. Descobriu que a família comia apenas feijão e arroz, ou só
polenta, e de vez em quando uma “gordura” de boi ou sopa de osso; chupava,
também, cana-de-açúcar, que na família não se usava escovar os dentes, que
não havia banheiro e nem “casinha”, e que faziam as necessidades na capoeira,
no fundo do terreno, que lavavam as mãos e os pés na panela de fazer polenta
e que tomavam banho uma vez por semana.
No dia seguinte, como era quinta-feira, foi fazer uma visita ao médico no
“postinho”. Aliás, às quintas-feiras eram os únicos dias em que ele vinha ao

199
distrito. Dali, saiu pasmada pelo que ouviu. O médico contou a ela que cerca de
90% das crianças tinham vermes e que cerca de 80% eram subnutridas.
Descobriu, também, que muitas crianças estavam cheias de bichos-de-
pé, que a dor de barriga e os vômitos eram frequentes entre elas.
Visitou, também, o cerealista do distrito. Descobriu, ali, o que era
produzido na localidade: feijão, milho, arroz, algodão, pipoca e amendoim. A
certa altura, entraram dois senhores no armazém do cerealista, oferecendo
feijão. O cerealista propôs pagar R$30,00 a saca. Um deles disse: “mas o preço
mínimo que o Banco do Brasil paga é R$60,00. Respondeu o cerealista: “mas
eu só posso pagar R$30,00. Se não concordar, leve o seu feijão para o Banco
do Brasil e espere 50 ou 60 dias para receber”.
Os dois senhores fecharam negócio ao preço proposto.
A professora, a partir desses dados, passou a elaborar o currículo para a
sua turma. Ela destacou como princípio, para isso, a solução dos problemas das
crianças e a utilidade do conteúdo.
Selecionou uma série de temas sobre higiene, nutrição e saúde. Ela
própria elaborou textos bem simples e claros sobre os assuntos, envolvendo
ciências, matemática e estudos sociais.
Nos procedimentos de ensino, trabalhou com centros de interesse em
torno de alimentação, higiene e saúde. Trabalhou com projetos, com apoio da
prefeitura, para construção de patentes para as famílias das crianças e para
acabar com os vermes nas famílias da população.
As próprias crianças ajudaram na construção das “casinhas”.
Conseguiu o tratamento dentário de graça, pela Secretaria da Saúde, para
todas as crianças da escola.
Formou uma cooperativa com os alunos para fazer uma horta e vender os
produtos ali cultivados. Um dos pais vizinhos da escola cedeu um hectare para
a horta. Os próprios alunos cortaram bambu e cercaram o terreno. Em dois
meses, começaram as primeiras vendas.
Enquanto se formava a cooperativa dos alunos, a professora trabalhou
também com os pais. Após meio ano, estes também organizaram sua
cooperativa. Era uma cooperativa informal, sem registro, mas que valeu muito
para eles. Juntaram a mercadoria num lugar só e passaram a vender os produtos
para comerciantes da cidade e para o Banco do Brasil, em vez de serem
explorados pelo cerealista da localidade.
Ao final do ano, a professora havia recuperado a saúde das crianças e
formado atitudes e hábitos de grande importância para a vida delas.
Desenvolveu o espírito de união, de solidariedade e cooperação entre as
crianças e também entre os membros da comunidade.
A professora elaborou um currículo centrado nos problemas sociais e dos
alunos e, à medida do possível, avançava para o domínio das técnicas sociais.

200
3.2 Currículo centrado em necessidades

Esta é outra forma de organizar o currículo, cuja importância consiste em


se basear em motivos fortes do próprio aluno.
Há crianças que nunca tiveram a fome saciada completamente. A busca
de alimento chega a ser obsessão para elas. Segundo as estatísticas, 40% das
crianças brasileiras são subnutridas. Organizar um currículo em função desta
necessidade é até questão de humanidade e de justiça.
Como se faz isso?
O professor pode selecionar conteúdos, experiências e atividades que
envolvam a produção de alimentos, ou, então, a aprendizagem de um ofício para
poder comprá-los.
Se for possível, pode ser conseguida uma área de terras próxima à escola
para essa aprendizagem. O professor convida um agricultor experiente ou um
técnico agrícola para ajudá-lo nessa tarefa.
Começa-se, preparando o terreno: tombando-o, adubando-o e fazendo a
necessária limpeza. Depois, faz-se a plantação. Tomam-se os cuidados
necessários para o bom desenvolvimento das plantas. Por fim, os alimentos são
colhidos para ser consumidos ou comercializados.
Os alunos participam em tudo: no preparo do solo, na escolha dos
produtos a serem cultivados, na aquisição das sementes ou mudas, no cuidado
com as plantas, na colheita e na comercialização.
Em todas as atividades, os alunos têm que ler para seguir instruções;
fazer cálculos de quantidade de semente, área, distância, porcentagem de
adubação e de mistura de defensivos. Aprendem noções de peso e medida:
centímetro, metro, metro quadrado, milímetro, quilo etc.
Podem e devem aprender como preparar os alimentos. Aí se deve
envolver o nutricionista e a cozinheira.
O professor e o nutricionista estudam, com os alunos, o valor nutritivo de
cada alimento e as necessidades do corpo humano. São feitas leituras, cálculos
de quantos gramas de cada alimento a pessoa precisa por semana para estar
bem nutrida.
Destacam-se, também, os cuidados higiênicos a serem tomados com
relação ao preparo dos alimentos, com relação à alimentação e ao corpo.
O professor pode aproveitar as oportunidades para fazer trabalhos em
grupo e discussões. Para as discussões, pode sugerir temas sociais e políticos:
O que é que o governo deveria fazer para eliminar a fome? O que é que nós
podemos fazer para não passarmos fome?
Assim, vimos mais um exemplo de organização de currículo. Certamente,
pode-se notar que conteúdo, atividades, experiências, meios auxiliares ficaram
fundidos. É assim mesmo que o conteúdo tem que funcionar. As coisas têm que
ser estruturadas em função dos objetivos. Matéria separada, estática, apenas
para ser estudada, não tem sentido. Tudo foi selecionado em função dos
objetivos; satisfazer à necessidade de alimentação, desenvolver habilidades de

201
produção de alimentos, gerar hábitos de higiene, identificar os alimentos
necessários à alimentação humana, melhorar a habilidade de preparo dos
alimentos.
Observe-se que leitura, estudos sociais e cálculo vieram como meios e
não como objetivos em si.

3.3 Currículo centrado na ação

Uma historinha interessante sobre currículos apareceu na revista em


quadrinhos “Chico Bento”, nº 14, editada pela Globo.
A professora estava sentada a sua escrivaninha, e Chico Bento, em pé,
perto desta. A professora “tomava” a lição dele:

- “Quem descobriu o Brasil?


- Num sei!
- Quem rezou a primeira missa?
- Num me alembro!
- Quem foi o pai da aviação?
- Sei lá!
- Ô Chico! Você não sabe nada!
- Sei! Mais a senhora num pergunta nada do qui eu sei!
- E o que você sabe?
- Eu mostro prá senhora! Diz Chico, apontando o dedo para fora.”

A professora saiu junto com o Chico até a casa dele. O Chico pegou uma
enxada e foi à lavoura. Ali ele mostrou à professora o que ele sabia. Começou a
capinar a terra e disse:
“- Sei como roçá a terra! Como perpará! Como ará!”
Em seguida, ele pegou um saquinho com semete e a semeou no solo.
“- Sei como semeá a terra, iscoiendo as mió semente!”
Foi à horta e mostrou à professora como se muda verdura.
“- Di como se repranta as mudinha di verdura im outro canteiro!”
Foi ao galpão e pegou um pacotinho de milho e saiu jogando milho para
as galinhas.
“- Di como cuidá das galinha, ganso, pato...
- Dos remédio qui tenho di dá, quando tão duentinha!
- Também sei ordenhá uma vaca!”
E mostrou para a professora que realmente sabia.
A professora foi acompanhando Chico por toda parte. E ele ia mostrando
o que sabia fazer.
“- Aprendi cum minha mãe como fazê mantega, queijo, o mussarela!
Também aprendi a cuidá do pomar! Como evitá as praga, os inseto!”
Chico trepou na árvore e apanhou uma fruta. Mostrando a fruta para a
professora, disse:

202
“- Pra senhora!”
Dali voltaram para a escola. Voltaram ao mesmo lugar em que estavam
antes. Chico estava perto da escrivaninha da professora. Esta, então, disse a
ele:
“- Dez!”
Oxalá, todos os professores fossem sensíveis como a professora da
história. Foi ver, observar e constatar, na casa do aluno, o que ele sabia, e que
não sabia dizer, mas sabia fazer. Este é o saber de fato, não só de palavras. É
o currículo centrado na ação.

3.4 Currículo centrado em interesses

O ser humano é tremendamente complexo. É um verdadeiro mistério! Há


alunos que não querem saber de estudar. E muitos professores se irritam com
isso. É que esses professores estão acostumados a ver tudo pelo lado
tradicional: que o aluno teria que estudar, estudar todas as “matérias” de forma
igual e tirar nota mínima em cada uma.
É bom lembrar que cada criança, ou adolescente, tem inteligência
diferente, gostos diferentes, temperamento diferente, enfim, personalidade
diferente. Não existe uma criança igual à outra. Há algumas que são tão
nervosas que não têm paciência de estudar. Outras simplesmente dizem: isso
não me interessa. E por mais que o professor se esforce, nada consegue.
O que fazer com esses alunos? Se reprovados, desistem da escola. Isso
não é a solução. Uma coisa a ser feita seria organizar um currículo especial para
cada aluno ou para cada grupo de alunos com interesses semelhantes. Do
contrário, podem ser desperdiçadas muitas inteligências. Até gênios são
colocados para fora do sistema escolar pelo currículo tradicional por matérias.
Há poucos dias um professor universitário contou um fato que podemos
aproveitar para ilustrar, a situação. Diz ele que conheceu um senhor que, na
escola, nunca conseguia aprovação. Ficava o tempo todo desenhando. Ele
desistiu de estudar. Depois de adulto, desenhou um lindo castelo e o construiu.
É verdadeira obra de arte. Mas, ficou apenas nisso.
Pergunta-se: se a escola tivesse criado um currículo especial para essa
pessoa, o que ela poderia ser hoje?
Em Ouro Preto, cidade histórica de Minas Gerais, de dia veem-se meninos
com violino ou violão debaixo do braço, certamente indo ou vindo de uma escola
de música. À noite, ouve-se, em todos os cantos da cidade, o som de violino,
acordeão, piano, violão. Cada menino faz o seu currículo e procura os meios
para alcançar seus objetivos, mas só pode fazer isso quem tem condições
financeiras. O pobre não tem essa liberdade.
É por isso que a escola deveria dar oportunidade de opções, ter currículos
diversificados para atender às diferenças individuais e dar condições de
autorrealização para todos. É, aliás, o que manda a legislação brasileira: atender
às diferenças individuais.

203
3.5 Currículo centrado no conteúdo

Este tipo de currículo pode ser subdividido em vários outros.

3.5.1 Currículo por disciplinas

É o mais conhecido, mas é o mais ultrapassado. As disciplinas estão


constituídas, quase sempre, por conteúdos estanques, isolados um do outro e
desligados da realidade. É o currículo lógico, organizado pelos adultos. Estes
supõem saber o que os alunos querem, precisam e são capazes de aprender.

3.5.2 Currículo fundido

Neste, as matérias são trabalhadas, sem aparecer. Usam-se atividades


em que se unem português, estudos sociais, ciências e matemática, sem o aluno
se dar conta disso.
Quando se trabalha com unidade de experiências, centro de interesses e
mesmo com projetos, o conteúdo, as estratégias e os meios auxiliares é uma
coisa só. As matérias também se fundem para alcançar os objetivos. Os alunos
falam, pesquisam, fazem contas, estudam o passado, analisam plantas, olham
flores, desenham, cantam, tudo como se estivessem apenas vivendo e não
estudando.
Esse tipo de currículo é o mais recomendado para os cinco anos iniciais
do Ensino Fundamental, depois do centrado na ação, no interesse e nas
necessidades.

3.5.3 Currículo por áreas ou disciplinas integradas

Ocorre quando se ligam os assuntos de duas ou mais áreas. Assim, os


alunos sentirão maior significância das áreas e a sua aplicação, o que facilitará
a compreensão.
Se adotássemos o projeto como método de trabalho, seria fácil a
integração. Suponhamos ter como projeto “o desmatamento”. Poderíamos
estudar, em ciências, as espécies vegetais extintas, a ecologia, o meio ambiente
e as influências sobre saúde.
Em história, estudar-se-iam o povoamento do Brasil, os ciclos culturais,
as migrações, fontes de renda. Em geografia, estudar-se-iam os efeitos do
desmatamento sobre erosão, as águas, o clima; os produtos agrícolas; vida rural
e urbana. Em matemática, far-se-iam cálculos sobre a renda dos diferentes
produtos agrícolas, cubagem de toras, medidas de nível de água em rios, médias
de temperatura mensal ou anual. Em português, seriam elaborados relatório de
excursões a locais de erosão e a matas; leitura e interpretação de textos sobre
desmatamento, ecologia e saúde.

204
3.6 Currículo centrado na aprendizagem significativa

Esta forma de organização de currículo envolve principalmente a postura


e a formação pedagógica do professor. O centro em torno do qual vai girar a
aprendizagem são assuntos, temas ou experiências bem próximos aos que o
alunos já conhece e gosta. O professor dá liberdade para que os alunos ajudem
a organizar o currículo, e também relaciona o conteúdo e as atividades, de forma
a que os alunos sintam utilidade ou possibilidade de aplicar aquilo que estão
aprendendo.

3.6.1 Em que consiste a aprendizagem significativa

Aprendizagem significativa é aquela que tem significado para o aluno, que


tem algum interesse ou importância para ele; que vem atender a uma
necessidade ou ajudar o aluno a resolver um problema.
Aprendizagem significativa é aquela que o aluno sente a utilidade do que
aprendeu para a vida e que vem ao encontro de suas curiosidades. É aquela
aprendizagem que o aluno tem gosto de estudar, que ele compreende e que
provoca alguma reação nele mesmo. É a aprendizagem em que o aluno liga as
experiências anteriores às ideias que está aprendendo. É a aprendizagem que
parte da base que o aluno já possui. Do contrário, ele vai ligar o que com o quê?
Aprendizagem significativa é a aprendizagem semelhante à vida, aplicável
à vida e relacionada com as experiências que ela proporciona à pessoa.
É a aprendizagem ligada às aspirações e à realidade do aluno. É a
aprendizagem que parte da vida deste para melhorá-la. É a aprendizagem que
satisfaz o “eu” do aluno.
Segundo David F. Ausubel, a aprendizagem significativa pode ser
receptiva ou por descoberta.
Na aprendizagem significativa receptiva, o aluno recebe tudo pronto. É a
aprendizagem preparada pelo professor, mas organizada em função dos
interesses, desejos, necessidades e aspirações dos alunos. Ela é válida nos
anos mais avançadas, quando os alunos se tornam mais homogêneos em
desenvolvimento intelectual.
O professor, para trabalhar com esse tipo de aprendizagem, deve
conhecer muito bem os alunos, ou mesmo cada um dos alunos, para poder
apresentar conteúdo, ou estruturas, que os alunos possam entender. Aqui se
enquadra a aula expositiva clara e a leitura de fácil compreensão.
Já, a aprendizagem por descoberta é a que o próprio aluno elabora. Ele
levanta hipóteses, faz experiências, realiza pesquisas, tenta solucionar
problemas e chega a conclusões.

205
3.6.2 Importância da aprendizagem significativa

A aprendizagem por descoberta é sempre significativa. Quando a pessoa


tem um problema, busca a solução deste, pesquisando as informações de que
precisa para solucioná-lo. Ela busca, sabendo o que quer. Cabe ao professor,
no caso, auxiliar o aluno na busca das informações. Ninguém procura
informações que não entende e de que não precisa. Essas informações
compreendidas são ligadas às experiências que o aluno já possui e usadas para
solucionar o problema.
A grande vantagem da aprendizagem significativa por descoberta é que,
nesta, o aluno quer aprender, ele precisa aprender e passa a gostar de aprender.
Assim, o esforço que precisa fazer para ajeitar as ideias não se torna um peso,
pois ele descobre o que interessa a ele mesmo e pensa sobre o que entende. O
material a ser aprendido será tanto mais significativo, quanto maiores forem as
experiências do aluno, sua prontidão, interesses e necessidades.
A nova aprendizagem é mais fácil, quando as ideias são agrupadas e
organizadas. O professor deve ajudar o aluno a organizar as ideias de forma
compreensiva. Se não houver compreensão, não haverá aprendizagem
significativa. Sem aprendizagem significativa, não há aprendizagem verdadeira.
A aula expositiva pode ser um excelente método, mas requer muito
conhecimento de psicologia, de Didática e de conteúdo específico por parte do
professor. Este precisa escolher o melhor conteúdo, traduzi-lo em linguagem
clara e apresentá-lo aos alunos de maneira que todos compreendam. Mas, cada
aluno tem capacidades e interesses diferentes, seria impossível então, atender
a cada um. Daí ser melhor a redescoberta.
Muitas vezes, ouvimos os alunos dizerem que sabem, mas não sabem
explicar. Isto quer dizer que eles não têm o significado, sabem o que é, mas não
sabem falar ou escrever, pois certamente falta experiência, leitura, compreensão
e melhor estruturação do assunto. Esses significados devem ser adquiridos pela
atividade, a partir do concreto, e não apenas pelos livros. As experiências
concretas facilitam a aquisição de significados. Os termos transacionais, para
ligar uma ideia à outra, podem ser adquiridos pela leitura. E quanto mais o aluno
ler, mais facilidade terá de expressar os significados. Mas, se o aluno não ler,
terá dificuldade de comunicar suas ideias, seus significados.
O Ensino Médio e a Educação Superior tornam-se fáceis, quando os
conceitos foram bem desenvolvidos por meio de atividades concretas e
integradoras. Mas, a maioria dos alunos aprendeu de forma muito abstrata, com
poucas experiências concretas. É por isso que eles sentem tanta dificuldade com
relação à aprendizagem, às vezes, até simples.
A ligação das novas ideias com as que a pessoa já possui se faz pela
análise, reflexão e solução de problemas. As novas ideias deveriam ligar-se a
uma porção de ideias velhas e não a uma só. Isso faz com que a aprendizagem
se torne mais rica.

206
Se os alunos souberem resolver um problema criativamente, fica
comprovada a compreensão significativa.
Na aprendizagem por descoberta, é o próprio aluno quem elabora o seu
conhecimento. Passa a ter um conhecimento elaborado, estruturado pela
compreensão, pelo raciocínio, e não o conhecimento mecânico.
A aprendizagem significativa provoca alguma reação no aluno, pois tem
importância para ele. Pode provocar euforia, curiosidade, preocupação,
ansiedade e levá-lo a fazer muitas experiências. Quanto mais experiências o
aluno tiver, maior será sua capacidade para adquirir novas aprendizagens e
elaborar novas estruturas mentais.
O próprio aluno quer e pode construir a sua personalidade, “costurando”
as ideias que for selecionando como úteis e importantes. Se o aluno sentir,
perceber que aquilo que estiver aprendendo o ajuda a sentir-se melhor, que o
ajuda a construir sua vida, então aquilo se torna significativo.
A aprendizagem significativa é importante também porque o aluno
aprende compreendendo e não decorando. Aprende o sentido e não apenas as
palavras. Uma aprendizagem compreendida pode ser usada para formar novas
ideias e para resolver problemas.
Quando o aluno compreende o que faz, o que lê, estuda ou ouve, sente
satisfação, porém, se não compreender, ele se distrai, aborrece-se e até
“bagunça” pode fazer.
Se o aluno não notar semelhança entre o conteúdo novo e suas
experiências e a vida, não sentirá utilidade no que vai estudar. Não sentindo
utilidade, não terá interesse e não fará esforço.

4 Quem organiza o currículo

Os componentes dos currículos para a Educação Básica, são previstos


na Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB.
Ao Conselho Nacional de Educação (CNE) cabe fixar as diretrizes
curriculares para níveis, etapas e modalidades de educação/ensino e curso de
Educação Superior, bem como os conteúdos da base nacional comum.
Os Conselhos Estaduais de Educação – CEEs, podem acrescentar outras
matérias ou áreas na parte diversificada para serem observadas pelo sistema
estadual e escolas existentes no respectivo estado.
Depois, cada escola elabora o seu próprio currículo, que é chamado de
currículo pleno. Nas escolas públicas normalmente o currículo é aprovado pela
congregação da escola. A congregação é constituída pelos professores, diretor,
secretários, supervisor e orientador educacional. Mas, para elaborar o currículo,
a congregação solicita a participação da comunidade e dos alunos. Os membros
da comunidade e os alunos são os mais interessados no currículo. É justo, pois,
que participem ativamente da sua elaboração.

207
Dependendo da região, os pais podem querer que seus filhos estudem
inglês e eletrônica. Em outro lugar, podem querer que seja estudada técnica
agrícola e língua japonesa. Em algumas comunidades, podem desejar que se dê
destaque à educação moral, à educação cívica e à disciplina mental.
Por fim, o próprio professor elabora o currículo para cada turma ou
disciplina. Para fazer isso, ele sonda as condições, interesses e necessidades
dos alunos; seleciona as atividades, conteúdos e experiências mais úteis e
significativos e estrutura sua programação para o ano.

5 O conteúdo da aprendizagem

5.1 Que se entende por conteúdo

Conteúdo são os conhecimentos acumulados pelo homem no decorrer da


história; são os fatos, as informações e as experiências; são as atitudes e os
valores. É tudo que possa servir para desenvolver atitudes, experiências e ideias
no aluno. O conteúdo é também chamado de matéria.

5.2 Quem deve selecionar o conteúdo

Cada professor é responsável pela seleção do conteúdo para sua


disciplina ou turma, pois é ele quem faz a análise da realidade, conhece os
alunos, suas necessidades e interesses. É ele quem elabora os objetivos para a
turma e é ele quem vai buscar o seu alcance. Portanto, ninguém melhor do que
o professor para saber qual é o conteúdo mais adequado.
Mas, é lógico que ele pode ouvir os alunos e mesmo atender às
inclinações e preferências destes quando estiver trabalhando o conteúdo. Pode,
também, fazer a seleção do conteúdo, discutindo com seus colegas e mesmo
com os pais.
Antigamente, quando os professores eram menos titulados, o conteúdo
era elaborado por especialistas do MEC e da Secretaria de Educação do Estado.
Esse conteúdo era encaminhado às escolas, em forma de programas para cada
ano. Hoje, não se admite mais isso. Quem planeja melhor executa. E quem
executa deve planejar.
Quanto às matérias e disciplinas, temos poucas opções, pois o currículo
já está pronto. Mas, quanto ao conteúdo de cada uma, o professor pode escolher
o que entender como sendo o melhor, em função das necessidades dos alunos
e dos objetivos traçados.

5.3 Critérios a serem respeitados na seleção dos conteúdos

Na Pré-história, era possível o homem conhecer quase tudo o que tinha


descoberto no passado. Hoje, isso é absolutamente impossível. Os

208
conhecimentos são tantos, tão diversificados e tão complexos, que o homem,
com toda sua inteligência e usando todo o tempo de vida, pode aprender uma
pequeníssima parte. Isso se complica, quando temos que escolher uma parte
desses conhecimentos para apenas alguns anos de escola. Pior ainda, a maioria
das crianças reprova ou desiste nos primeiros anos. O que é que elas devem
aprender, considerando o pouco tempo que ficam na escola?
Além disso, temos que levar em conta que não é qualquer conteúdo que
pode ser aprendido pelos alunos. É evidente que existem uns conteúdos
melhores que outros, mais fáceis; e outros, mais complexos. Quais deles
selecionar?
Para melhor selecionar o conteúdo é necessário levar em conta alguns
critérios, que veremos a seguir.
O conteúdo deve ser apropriado à idade dos alunos. Não pode ser muito
difícil e nem muito fácil. Deve também considerar as características biológicas,
psicológicas e sociais da maioria dos alunos da sala. Crianças subnutridas e de
condições econômicas precárias não têm condições de aprender conteúdo difícil
e abstrato. Deve-se considerar, também, a saúde e as possibilidades intelectuais
dos alunos. Enfim, o conteúdo deve estar relacionado à realidade deles.
O conteúdo deve ir ao encontro dos interesses, necessidades, aspirações
e aptidões dos alunos. Cada aluno já tem experiências de vida que servem de
base para novas aprendizagem e que provocam uma série de curiosidades que
precisam ser atendidas.
É necessário considerar o nível de desenvolvimento intelectual dos alunos
incluindo as competências. De nada adianta selecionar um conteúdo muito
acima de suas condições de aprendizagem, ou um conteúdo abaixo que não os
fazem progredir.
O conteúdo tem que ser adequado e coerente com os objetivos, fins e
ideal de homem imaginados por nós. Se quisermos formar um homem manso,
pacífico, obediente, o conteúdo é um. Se quisermos um homem rebelde,
contestador, criativo e crítico, o conteúdo deve ser outro. Não podemos esquecer
que as leis já fixam muitos objetivos, fins e ideais da educação, e que devem ser
lembrados por ocasião da seleção de conteúdo.
O conteúdo tem que ser selecionado também em função dos problemas
e necessidades sociais. Não tem sentido uma educação alienada e desligada da
realidade. O homem nasceu para ser feliz. Se a sociedade tem problemas, estes
refletem-se sobre o homem, fazendo-o sofrer. A educação pode ajudar a resolvê-
los.
O conteúdo tem que acompanhar a evolução social e o desenvolvimento
tecnológico. As mudanças são tão rápidas que certos conteúdos precisam ser
substituídos, mesmo no decorrer do próprio ano letivo. O professor precisa estar
sempre bem atualizado para ter condições de selecionar conteúdo atual e de
acordo com as mais recentes descobertas. O conteúdo deve estar ligado com
outras áreas ou disciplinas, pois facilita a compreensão e dá uma visão mais
abrangente de sua utilidade e aplicação.

209
Se determinado conteúdo servir para o alcance de vários objetivos ao
mesmo tempo e para aplicação em outras áreas, tanto melhor. Este é um
conteúdo mais rico, mais abrangente e mais econômico.
O conteúdo selecionado deve ser a “nata”, a essência da matéria. Deve
também abranger aquilo que é mais válido, prático e útil para a vida do aluno e
para a sociedade. Conteúdo que não vai ser usado nos dias de hoje é perda de
tempo.
Deve-se considerar, também, a filosofia de vida e os costumes da
população. Não se pode, por exemplo, defender o candomblé ou o espiritismo
numa comunidade essencialmente luterana, presbiteriana ou católica. Não se
pode apoiar o divórcio em comunidades em que isso não é aceito.
O conteúdo tem que ser significativo; ter alguma relação com a vida dos
alunos que devem sentir a utilidade e a aplicabilidade dos mesmos. O professor
julgar que determinado conteúdo seja útil para o aluno. Outra bem diferente é o
próprio aluno sentir sua importância e utilidade.
O conteúdo deve ser tal que propicie condições de se desenvolver,
sobretudo, uma aprendizagem qualificativa e não apenas quantitativa. Deve
facilitar o desenvolvimento, por exemplo, do raciocínio, da imaginação, da
criatividade, da estruturação do pensamento, e não apenas conhecer ou guardar
nomes, dados, fatos e ideias.

6 O programa

O programa expressa a forma de organização e de estruturação de


conteúdos. É a relação coerente e integrada das diversas atividades,
experiências e itens de conteúdo entre si.

6.1 Critérios a serem observados na organização do programa

No Ensino Fundamental, os programas devem ter organização


psicológica, isto é, as atividades e experiências devem ser organizadas a partir
das experiências que os alunos já possuem de casa ou de anos anteriores. É
organizar o programa nas possibilidades e interesses dos alunos e não naquilo
que os adultos julgam como lógico e necessário. No programa psicológico, uma
experiência puxa a outra e, em cada uma o aluno, obtém informações, tira
conclusões que servem para a experiência seguinte. A aprendizagem de
conteúdo é decorrência natural das atividades.
Nos anos mais adiantadas, é possível a organização mais lógica. Cada
tópico ou item do programa deve ter ligação com o anterior e com o seguinte e
também com a matéria toda. Ideias, informações ou itens soltos ficam perdidos,
pois não serão compreendidos, “costurados” ou estruturados.
Cada item do programa deve ter sentido e ligação com os demais; deve
ser de fácil compreensão em função da sua estruturação com os itens próximos.

210
Os itens, juntos, devem representar a estrutura da matéria como um todo. Devem
formar um todo com suas partes bem ligadas.
Os tópicos mais fáceis devem vir antes para servir de fundamento para os
subsequentes. Devem ser graduados e ter sequência para que sejam de fácil
compreensão e não tenham interrupção.
A enunciação do tópico deve ser clara e objetiva, isto é, não deve oferecer
dúvida quanto ao que queria dizer e ser escrito com poucas palavras.
O programa deve ser organizado, de tal forma que haja coerência entre
os seus itens, que sua estrutura possibilite o uso do que for aprendido e facilite
a transferência para outros campos do conhecimento, assim como para a
solução de problemas específicos e sociais.

7 Conclusão

A questão do currículo ainda é bastante complexa, alguns autores querem


que o currículo seja tratado como parte da Didática, como um capítulo da
Didática; há aqueles, entretanto, que consideram currículo como um processo
global, integrador dos objetivos da educação, do conteúdo, dos procedimentos
de ensino, dos recursos de ensino e da avaliação. Seria tratado como disciplina
à parte e com visão sistêmica mais abrangente que o próprio planejamento de
ensino.
Nesse capítulo, utilizamos a abordagem integradora por entender ser
mais coerente com o desenvolvimento do processo da educação. Talvez o que
mais falte na educação seja exatamente essa integração entre objetivos,
conteúdos, procedimentos de ensino, recursos, meios, estrutura do ensino e
avaliação.
Preferimos, também, abordar o currículo de forma mais livre, mais
psicológica, menos lógica. Por isso, destacamos a questão do conteúdo e não
do programa. O conteúdo foi tratado tendo como componentes: o conteúdo
propriamente dito, as experiências, as atividades, a palavra, os valores sociais e
as atitudes e o exemplo do próprio professor. Programa dá impressão de coisa
pronta, estática, invariável. É preciso que todo professor tenha uma visão mais
aberta e mais flexível sobre a forma de trabalhar o conteúdo.

211
Capítulo XIII

Avaliação da
aprendizagem
1 Em que consiste

Avaliação é busca de certeza de que o aluno aprendeu, de que alcançou


os objetivos. É juntar todas as informações possíveis para se conhecer as
atitudes, as habilidades, os hábitos, os conceitos que o aluno desenvolveu. É
fazer um julgamento das qualidades que o aluno já possui.
É análise e interpretação do efeito que as informações produzem no
comportamento do aluno.
Avaliar é julgar, é apreciar o progresso do aluno, do ponto de vista
quantitativo e qualitativo.

2 O que deve ser avaliado

Deve ser avaliado tudo o que o aluno já sabe, aprendeu e está


aprendendo. Devem ser avaliadas suas atitudes, seu comportamento, suas
maneiras de agir.
As atitudes que podem ser avaliadas são, por exemplo, honestidade,
cooperação, responsabilidade, coragem, respeito, consideração, solidariedade,
espírito crítico, interesse, e vontade de trabalhar, de estudar; seu ajustamento
pessoal e integração social.
Os hábitos do aluno também devem ser avaliados: hábitos de questionar,
de trabalhar, de ler, de estudar, de pesquisar; hábitos de limpeza, de higiene, de
ordem, de organização.
Em termos de habilidades, devemos avaliar o que o aluno sabe fazer,
como ele pensa, sua maneira de estudar, de pesquisar, de ler, de resumir, de
analisar, de trabalhar em grupo; se ele sabe analisar situações, pesquisar, tirar
conclusões e resolver problemas; se é capaz de criar e inovar.
O professor deve conhecer, também, as potencialidades de cada um dos
alunos. O que ele é capaz ou não de fazer e as condições que ele tem para
aprender. É preciso descobrir, também, tudo o que possa atrapalhar a
aprendizagem do aluno.
Avaliar conhecimento e quantidade de informação é o que menos
interessa. Infelizmente, é o que mais se faz. As informações somente são úteis,

212
se ajudar os alunos a ser melhores, a desenvolver qualidades. Informações que
ficam armazenadas na memória do aluno, sem que este as saiba usar, de nada
adiantam. Por isso, precisamos avaliar o efeito que elas produzem no aluno e
como o aluno as utiliza. Só assim a avaliação terá realmente sentido.
Em resumo, deve ainda ser avaliado:

- a capacidade de observação, de análise, de síntese, de estruturação e


de integração;
- a incorporação de princípios, ideias, conceitos;
- a capacidade de crítica;
- a compreensão, a organização do conhecimento, sua coesão e
integração;
- se o aluno participa, coopera e questiona;
- se é capaz de fazer síntese;
- se o aluno sabe aplicar aquilo que aprendeu na teoria;
- se ele sabe aproveitar os dados, os fatos e as ideias, as informações
para resolver um problema prático;
- a capacidade de pesquisar, de apreciar, de elaborar conceitos;
- se o aluno aprecia a vida e o mundo.

Enfim, devemos avaliar se cada um dos objetivos propostos foi alcançado.

3 Por que se deve avaliar

Primeiramente, devemos avaliar para conhecer o potencial de


aprendizagem dos alunos: o que já sabem, as experiências que possuem, o que
querem e o que são capazes de aprender. Assim, saberemos quais qualidades
o aluno já possui e quais as que faltam para alcançar o nível de sua capacidade,
isto é, atingir o modelo de homem possível e de acordo com o que pensamos.
Depois, avalia-se para verificar até que ponto os objetivos que esperávamos que
o aluno alcançasse, realmente, foram alcançados.
Conhecidas as potencialidades dos alunos, teremos condições de
planejar o processo de aprendizagem. Dada a partida inicial, fica-se observando
o comportamento dos alunos constantemente. Em qualquer parada deles,
dificuldade ou tropeço, faz-se uma análise para verificar qual é a causa.
Abordarei as possíveis causas do fracasso do aluno, no item 9, neste mesmo
capítulo.
Portanto, avalia-se para:

- saber se os objetivos estão sendo alcançados;


- verificar o que o aluno aprendeu, como aprendeu e em que profundidade;
- saber se o conteúdo é interessante, importante e significativo para os
alunos;

213
- conhecermos especificamente quais são os problemas de aprendizagem
dos alunos e o que fazer para que eles sejam eliminados;
- saber se as atividades, experiências e currículo produziram os efeitos
esperados;
- verificar a eficiência dos métodos e técnicas para alcançar aquele tipo
de objetivos;
- concluir pela adequação ou não de recursos de ensino;
- conhecer a adequação dos objetivos de aprendizagem;
- saber o que mudar no processo de ensino;
- refletir sobre as condições da sala, da escola, do ambiente escolar e do
sistema de ensino;
- refletir sobre nossa atuação como professor: relacionamento,
atualização, entusiasmo, capacidade de envolvimento;
- saber se o aluno está ou não fazendo progresso;
- saber se o aluno fez ou não o esforço necessário.

Enfim, uma boa avaliação indicará o ponto a que se chegou no alcance


dos objetivos; informará se estamos ou não aproveitando bem o tempo.
Após a avaliação, saberemos onde buscar o aluno. As atividades e
experiências devem ser planejadas de tal forma que o aluno seja capaz de as
executar sem muita dificuldade. Se forem muito difíceis, o aluno não saberá fazê-
las, e desanima, frustra-se e não aprenderá. A avaliação serve, assim, para nos
orientar como dosar as atividades. Indicar-nos-á, também, a etapa em que o
aluno está em relação ao nível a que deveria ter chegado.

4 Quando se deve avaliar

Deve-se avaliar sempre. Do início ao fim da aula, o professor pode


observar os alunos: dificuldades, atitudes, habilidades, hábitos e conceitos. Pode
observar os alunos no recreio, na biblioteca. Pode falar com os pais dos alunos
para avaliá-los no comportamento destes em casa.
O professor deve avaliar o aluno a todo instante, o dia todo, durante o mês
todo e durante o ano todo.

5 Quem deve avaliar

Devem participar da avaliação dos alunos todos os interessados em seu


progresso: professores, pais, direção, orientação educacional e, principalmente,
o próprio aluno.
Se o aluno gostar de progredir, estará muito interessado em saber como
está se saindo. O professor deverá ajudá-lo a encontrar parâmetros, modelos,
padrões e critérios com os quais poderá comparar seu progresso.

214
Se o próprio aluno não estiver interessado em progredir, de nada adianta
a avaliação externa. É preciso incentivar a autoavaliação. É preciso que o aluno
aprenda a cuidar de si próprio. Somente assim, ele se tornará responsável e
independente.

6 Como deve ser a avaliação

A avaliação de um aluno deve ser como a avaliação da pintura de uma


tela. Avaliar o todo: a estética, a combinação das cores, a forma, o motivo e o
efeito. Avaliar somente a matéria estudada pelo aluno é como avaliar apenas a
matéria de que é feita a tinta, deixando de lado toda a estruturação da tela, toda
a parte artística.
A avaliação deve considerar, também, como o aluno aprende e se a
maneira de ele aprender está correta. Se ele estiver alcançando os objetivos,
tudo bem; mas, se ele não estiver, de nada adianta dizer para ele que não está
aprendendo. É preciso verificar o que está acontecendo no processo que ele usa
para aprender.
Essa situação pode ser comparada à de uma pessoa que fez uma
caixinha. Se conseguiu fazê-la bem feita e bonita, supõe-se que tenha utilizado
processo correto. Do contrário, se ficou feia ou malfeita, não adianta dizer para
fazê-la outra vez. É preciso acompanhar e verificar como ela a faz, para corrigir
e orientá-la para usar os pregos no tamanho certo e as ferragens e instrumentos
de forma correta. Se tivéssemos acompanhado o processo de fazer a caixinha
já da primeira vez, teríamos evitado perda de tempo e de material.
O mesmo acontece com a aprendizagem. Devemos nos preocupar mais
com o processo pelo qual o aluno aprende do que com o produto. Piaget, afirma
que o aluno deve ser capaz de criar coisas, se o objetivo da educação é fazer
com que o aluno é capaz de criar coisas. Isso nos leva a refletir sobre as formas
de avaliação que costumam ser utilizadas e reforça o que foi afirmado
anteriormente de que devemos nos preocupar mais em avaliar o processo de
aprendizagem que o produto, ou seja, avaliar tudo que o aluno faz e
continuamente. Para haver maior segurança, o professor deve ter o maior
número possível de informações.
***

As formas de avaliar o aluno dependem das metas, dos objetivos que se


têm em mente e das técnicas de ensino usadas. É a natureza dos objetivos que
nos dirá como devemos avaliar.
A avaliação deve ser feita continuamente: antes, durante e depois da
aprendizagem. Precisamos saber sempre onde se encontra o aluno em termos
de alcance dos objetivos previstos.
O processo educativo é dinâmico. A cada minuto, o aluno estará
prendendo coisas novas. É preciso, portanto, que o professor saiba o que o aluno

215
está prendendo. Assim, poderá propor novos objetivos e atividades adequadas
para uma nova aprendizagem.

7 Tipos de avaliação

7.1 Avaliação de entrada

É a avaliação que se faz do aluno, antes que ele inicie o processo de


aprendizagem.
De que adianta fazer planos bonitos e bem feitos, se não sabemos do que
cada aluno é capaz? Precisamos, antes, conhecer quais são as condições que
ele possui para aprender. Quais são seus interesses, curiosidades, atitudes,
hábitos e habilidades. É bom sabermos, também, o que ele já conhece, como
ele age e como pensa. Enfim, precisamos saber qual é seu grau de maturidade
e prontidão para determinado tipo de aprendizagem.
A avaliação de entrada é de suma importância, porque vai indicar o grau
de dificuldade que a nova aprendizagem poderá ter. Saberemos qual é a medida
de aprendizagem a ser usada, pois a medida que indica quanto o aluno deve
aprender é o próprio aluno; são suas possibilidades. Mas, isto não basta. É
preciso, também, saber se o aluno quer aprender, o que ele gosta de aprender
e como ele prende.

7.2 Avaliação de processo

É a avaliação que ocorre enquanto o aluno está aprendendo; enquanto


ele está executando as atividades.
Não tem sentido avaliarmos só no final de certo período. Se o aluno estiver
fazendo experiências ou atividades de forma errada, certamente chegará a
resultados errados. É preciso observar tudo que o aluno faz, para ver como faz
e orientá-lo para fazer tudo certo, sem, todavia, impor nada. Pois, errando
também se aprende.
Assim, o aluno aprende de forma correta, o professor evita que o aluno
cometa erros, e ninguém perde tempo.

7.3 Avaliação de saída

É a avaliação realizada no final de um certo tempo, uma semana, quinze


dias, um bimestre ou um ano. Ela é realizada para se fazer um balanço do
aproveitamento dos alunos, pelo menos em termos de objetivos cognitivos e de
algumas habilidades mentais. Normalmente é feita por provas escritas.
É importante para indicar o grau de alcance dos objetivos e nos faz
analisar eventuais causas do insucesso dos alunos.
Quanto mais frequêntes forem as avaliações, mais rapidamente podem
ser removidos os problemas que impedem uma melhor aprendizagem.

216
8 Formas e instrumentos de avaliação

a. Observação

A observação é a forma mais correta de se avaliar o aluno. Ela é a mais


flexível, abrangente, informal e mesmo a mais justa. Pela observação, podemos
verificar o alcance de quase todos os objetivos.

O que pode ser observado:

- as atitudes do aluno: responsabilidade, honestidade, lealdade,


sinceridade, cooperação, solidariedade, coragem, persistência, tolerância.
- o comportamento do aluno: seu relacionamento; sua disposição de
cooperar, de ajudar os colegas em suas dificuldades; se ele demonstra ser uma
pessoa livre, crítica, independente ou, ao contrário, submissa, pacata e
subserviente.
- as habilidades: se sabe ler com compreensão; se sabe interpretar e
analisar um texto com espírito crítico; se sabe estudar; se tem facilidade de
compreender, em perceber relações; se sabe realizar as experiências e
atividades que forem solicitadas a ele; se sabe trabalhar em equipe; se tem
originalidade, criatividade; se sabe falar corretamente; se sabe argumentar.
- os interesses: as perguntas que faz; os assuntos ou livros que lê, que
retira da biblioteca; o que gosta de fazer; pelo que demonstra mais curiosidade;
se ele se interessa por fatos sociais, por certas notícias em televisão, jornais e
revistas.
- as atividades, exercícios e tarefas: se o aluno faz as tarefas; se ele
acerta; se tem zelo; se é pontual no cumprimento dos prazos; se mostrou que
compreendeu e é capaz de aplicar os conhecimentos na solução de exercícios
ou problemas práticos.
- conhecimento: se o aluno demonstra conhecimento quando fala, discute,
ou faz suas atividades.
Certamente, pode-se notar que, pela observação, é possível avaliar quase
tudo sobre a personalidade do aluno. Será que precisamos usar provas para
avaliar a aprendizagem do aluno? Será que o professor não poderia dispensá-
las?

b. Trabalhos

Por meio dos trabalhos, o professor poderá constatar a capacidade de


análise, de síntese, de crítica e de organização das ideias dos alunos, bem como
suas dificuldades.
Os trabalhos não devem ser solicitados para que o aluno faça cópias
volumosas. Ele deve elaborar, e o professor cobrar, ideias pessoais sobre o
assunto; deve fazer pesquisas em várias fontes, comparação das ideias de uma
fonte com outra e análise crítica.

217
Os trabalhos têm grande inconveniente, pois podem ser feitos por outras
pessoas. Para evitar isso, o professor deverá valorizar a aprendizagem do aluno,
elogiando-o pelos seus progressos, analisando o trabalho com cada aluno e
desprezando o aspecto nota. Se quiser dar nota, deve ser com peso baixo, não
significativo para a aprovação.

c. Entrevistas

As entrevistas são ótimas para uma aproximação entre professor e aluno.


O professor deve deixá-lo bem à vontade para que ele extroverta todas as suas
mágoas, angústias e dificuldades. Assim, o professor poderá descobrir as
limitações, bem como os interesses, as necessidades, as atividades e os
conteúdos preferidos do aluno.

d. Situação-problema e estudo de caso

O professor apresenta a situação-problema, ou o caso. A avaliação será


feita, observando se os alunos localizam as fontes onde obter as informações
necessárias para resolvê-la e se já sabem usá-las. Observa se os alunos usam
a imaginação, se sabem relacionar as variáveis e resolver o problema. Enfim, o
professor observa como o aluno age e se usa a metodologia adequada para
resolver o caso.

e. Ficha cumulativa

É uma ficha grande, na qual o professor e o orientador educacional vão


registrando tudo o que notam sobre o aluno. Nela, estão relacionadas as
qualidades que esperamos que o aluno desenvolva. São os objetivos gerais a
serem alcançados.
O ideal seria que a escola tivesse uma ficha cumulativa; e o aluno, outra
igual. Ao final de cada mês, o aluno e o professor fariam, em conjunto, a
avaliação das dificuldades e dos avanços do mês. Pelo diálogo, chegariam a um
consenso de qual nota deveria ser registrada em cada item. Em caso de dúvida,
dá-se preferência à nota do aluno. Ele tem que aprender a assumir
responsabilidade e a ser honesto consigo mesmo. É preferível que o aluno se
atribua uma nota ou conceito superior do que o professor impor uma nota abaixo
da merecida, que pode ser injusta.
Apresento, a seguir, a título de exemplo, uma ficha de avaliação
cumulativa para objetivos gerais. Poderíamos fazer, também, fichas cumulativas
para objetivos específicos, por matéria ou disciplina.

218
FICHA DE AVALIAÇÃO CUMULATIVA
(exemplo)

Nome do aluno: ...........................................


Disciplina: ....................................................
Professor: ....................................................
Ano: .............................................................

Objetivos gerais - Meses F M A M J J A S O N D


Iniciativa
Responsabilidade
Dedicação
Pontualidade
Espírito crítico
Criatividade
Cooperação
Solidariedade
Honestidade
Raciocínio
Independência
Persistência
Coragem
Hábito de ler
É cumpridor dos deveres
É econômico
Respeita a opinião dos outros
É curioso

f. Dossiê

O dossiê pode ser um caderno, ou folhas grampeadas, no qual o aluno


registra todas as atividades que desenvolveu num certo período: pesquisas,
análises e conclusões de leituras, conclusões de trabalhos em equipe,
anotações das falas do professor ou de colegas.
No final do período, o professor recolhe o dossiê para ser examinado. O
professor observa se o aluno registrou todas as atividades, a quantidade do
registro. Nesta avaliação, podem ser considerados o capricho, a organização
das ideias, a ortografia; a capacidade de interpretar, de redigir, de correlacionar
fatos, de analisar ou sintetizar.

219
g. Memorial

É a exposição de uma pessoa sobre aspectos ou lembranças principais


da vida dela, dirigida a um objetivo específico. Ela discorre sobre suas atividades,
preocupações em relação ao tema para ser apresentado ao professor, à turma
ou a um órgão. Pode envolver leituras, experiências pessoais, discussões,
viagens e, também, conceitos e informações que a pessoa possui sobre o tema.

h. Inventário

Consiste num levantamento de tudo que o aluno fez e sabe sobre um


determinado assunto. Podem ser considerados neste tipo de avaliação: leituras,
experiências, seminários, discussões, viagens e também os conceitos e
informações que o aluno possui sobre o tema ou disciplina.
Cada professor deve imaginar como fazer o inventário e com que fim o
utilizar.

i. Questionário

É uma espécie de prova informal. Pode ser usado para verificar o que o
aluno já conhece sobre determinado assunto. Seria um pré-teste para um
diagnóstico.

j. Álbum de atividades

É uma espécie de dossiê, o diferencial consiste em o aluno juntar os


recortes de jornais, cópias de revistas, de folhetos, anota e arquivar as novidades
e recordações que ele julga importantes.

k. Amostras

Solicitar que o aluno traga amostras de material sobre o que está sendo
estudado. De certa forma, força o aluno a ver as coisas na prática. Se o aluno
trouxer as amostras certas, estará comprovando que aprendeu. Podem ser
amostras de raízes, folhas, plantas, insetos, pedras, terra, entre outras.

l. Coleções

O aluno fará, nesse caso, uma busca, a mais completa possível, sobre um
material de um mesmo conjunto, de uma espécie. O professor avaliará a
qualidade e a quantidade da coleção, dependendo dos critérios fixados.

220
m. Provas objetivas

Seu uso tem uma série de inconvenientes. Pedagogicamente, são pouco


recomendáveis, pois, em geral:

- não exigem reflexão do aluno;


- não demonstram a capacidade de análise e síntese;
- o aluno pode acertar muitas questões ao acaso;
- o aluno não precisa se preocupar com a redação;
- servem para avaliar, principalmente, a memorização;
- não possibilitam a avaliação de aspectos mais amplos da formação e da
personalidade do aluno;
- exigem muito trabalho para serem elaboradas.

As provas objetivas são úteis e muito importantes:

- quando se faz avaliação para um grande número de pessoas e se necessita


dos resultados com certa urgência;
- em concursos para classificação de candidatos.

As provas objetivas apresentam, nestes casos, algumas vantagens:

- podem ser corrigidas com rapidez;


- haverá menos possibilidade de ser alegada injustiça ou favorecimentos, pois
as questões são objetivas e têm respostas certas, já previstas;
- permitem avaliar maior número de itens, podendo abranger a matéria toda;
- diminuem o fator sorte ou azar, por terem sido cobrados pontos que os alunos
estudaram ou não estudaram;
- não entra o fator subjetivo na correção, como pode ocorrer com as provas mais
descritivas. Nestas, pode acontecer de o professor dar nota 9 para uma prova
que é igual para a qual deu 6, dependendo do momento ou do estado de espírito
em que as corrigiu.

As provas objetivas de uso mais comum são:

n.1. Prova de múltipla escolha


Ex.: Quem descobriu a imprensa foi
( )a. Henry Ford
( )b. Franklin Roosevelt
( )c. João Gutenberg
( )d. Albert Sabin
( )e. Louis Pasteur

221
n.2. Prova de completar ou de lacuna
Ex.: Didática é a ________ e a ________ de bem orientar a aprendizagem.

n.3. Prova de acasalamento


Ex.: Ligue com um traço, a lápis, as respostas que se correspondem:

ESTADO CAPITAL

Maranhão Curitiba
Goiás Belém
Pará Goiânia
Paraná Porto Alegre
Pernambuco Recife
Rio Grande do Sul São Luís

n.4. Prova de verdadeiro ou falso


Ex.: Assinale com “V” as respostas verdadeiras e com “F” as respostas falsas:
( ) O Estado do Maranhão fica no norte do Brasil.
( ) O Estado de Goiás fica no centro do Brasil.
( ) O Estado do Rio Grande do Sul fica no leste do Brasil.
( ) O Estado de Pernambuco fica no oeste do Brasil.

Essa forma de prova não é muito recomendada. O aluno lê uma afirmação


errada e ela fica na mente dele. Passado certo tempo, ele não tem mais certeza
se ela é verdadeira ou falsa. Portanto, esse tipo de prova, em vez de reforçar a
aprendizagem, só provoca confusão.
Sabemos que, didaticamente, a primeira imagem, ou a primeira afirmação
sobre uma coisa, sempre é a mais lembrada. Por isso, é bom não apresentar
afirmações que não sejam verdadeiras, ou seja, não se deve usar esse tipo de
prova.

n.5. Prova de ordenação


Ex.: Enumere os fatos abaixo em ordem cronológica de 1 a 5, iniciando por
aqueles que aconteceram há mais tempo:
( ) A Guerra do Paraguai
( ) A abolição da escravatura no Brasil
( ) O enforcamento de Tiradentes
( ) A Guerra dos Farrapos
( ) A Proclamação da República

Essa forma de prova é ótima. Pode ser feita mediante consulta. Com isso,
o aluno aprende muitas outras coisas pelo caminho e não só as respostas às
questões. Ela é mais uma técnica de estudo dirigido que um tipo de prova. Mas,

222
a avaliação não tem momento certo; enquanto o aluno aprende, também pode
estar sendo avaliado.

n.6. Prova de organização lógica


Consiste em fornecer ao aluno, ou a um grupo de alunos, um amontoado
de palavras, formando uma frase que dê sentido. Ela pode formar um conceito,
um princípio, ou uma afirmação referente a algum fato.
Ex.: Você fornece as seguintes palavras para os alunos:
Bem – participação – comum – ativa – de – democracia – cidadão – a – e
– para – é – todo – responsável – o.

Os alunos colocarão as palavras em ordem e terão o conceito de Dewey,


referente à democracia: Democracia é a participação ativa e responsável
de todo cidadão para o bem comum.

n.7. Prova de identificação


Ex.: Indique a classe das seguintes palavras:
- manada: ...................................................................................................
- Paraná: .....................................................................................................
- cadeira: ....................................................................................................
- bonito: ......................................................................................................
- correr: .......................................................................................................
- porém: ......................................................................................................
É um tipo de avaliação, pois deverá exigir pesquisa do aluno.

n.8. Múltipla escolha


Ex.: Nas questões abaixo, assinale a alternativa certa ou mais completa:
A principal função da avaliação é:
( ) classificar os alunos;
( ) verificar seus conhecimentos;
( ) verificar se os objetivos foram alcançados;
( ) constatar a eficiência das técnicas;
( ) constatar a validade do conteúdo.

n. Prova subjetiva

Consiste em questões abertas que permitem ao aluno descrever a


resposta. As questões não exigem uma resposta categórica e permitem certa
flexibilidade.
Usamos a prova subjetiva para verificar se o aluno sabe pensar. Neste
caso, uma mesma questão pode ter respostas diferentes e, assim mesmo, ser
considerada certa. A respeito, diz Bigge:

223
“No ensino ao nível de reflexão, o melhor tipo de questão é aquele que
admite mais de uma resposta correta. Assim sendo, as respostas não podem ser
definidas quando da elaboração da prova”.

Vantagens da prova subjetiva:

- exige demonstração de compreensão;


- permite avaliar a capacidade de análise, de crítica, de apreciação e,
principalmente, de síntese;
- exige organização e estruturação das ideias;
- possibilita verificar a criatividade.

o. Prova oral

Seu uso é pouco recomendável. Serviria para avaliar a leitura e a


pronúncia em língua estrangeira. Mesmo assim, não deveria ser chamada de
prova. A leitura e a pronúncia podem ser avaliadas sempre que o aluno for ler
algum texto. Não deve existir momento especial para prova oral.
Para avaliar os alunos em outros objetivos, ela não é aconselhada. Pode
deixar o aluno nervoso e fazer com que ele esqueça de tudo. Além disso, permite
a avaliação subjetiva, em que o professor dá a nota que quiser. Embora não se
admita que um professor faça isso, é possível que aconteça.

9 O que deve ser feito quando muitos alunos vão mal na


avaliação

Deve-se procurar descobrir as causas e removê-las, quanto possível.


Pode-se, neste caso, aplicar a técnica de tomada de decisão. Em termos gerais,
poderíamos listas as seguintes causas do insucesso escolar:

- baixo nível socioeconômico dos alunos;


- baixo QI médio da classe;
- desnutrição e fome;
- desânimo;
- revolta contra os pais, colegas e contra a próprio mundo;
- falta de maturidade e de prontidão àquele tipo de aprendizagem;
- doenças: verminose, anemia, inflamações, dentes cariados;
- diferenças culturais: aquilo que o professor fala, faz e exige dos alunos
não corresponde à cultura a que eles estão acostumados em casa. O
aluno sente-se mal na escola. Está em ambiente diferente. É um peixe
fora d’água;
- pais incultos: não têm o mínimo de condições de ajudar os filhos nas
dificuldades escolares. Até mesmo, muitas vezes, dizem para o filho que

224
aquilo que estão estudando não vai valer nada para a vida dele. A esta
altura, o aluno vai dar crédito aos pais, pois teve uma manifestação de
apoio e é também mais cômodo não fazer esforço;
- a aprendizagem que o professor desenvolve é livresca: o professor
preocupa-se somente com o conteúdo, com o programa e com
conhecimentos, em vez de se preocupar mais com objetivos, atividades,
experiências e pesquisas;
- o professor utiliza o conteúdo lógico, em vez de conteúdo psicológico.
Isto quer dizer que, em vez de o professor trabalhar um conteúdo
relacionado com a vida, com as necessidades, possibilidades e
experiência dos alunos, o professor trabalha com o conteúdo que ele acha
que possa ser útil aos alunos;
- o conteúdo não é útil e nem significativo para o aluno;
- o conteúdo é de nível muito acima das possibilidades de compreensão
dos alunos;
- as técnicas, os processos e as estratégias de ensino não possibilitam a
participação ativa do aluno na aprendizagem;
- o professor avalia apenas a quantidade de informações e
conhecimentos, quando deveria verificar mais as qualidades que o aluno
desenvolveu.
A partir das possíveis causas anteriormente citadas, o professor deverá
organizar uma lista de alternativas de solução para melhorar o
aproveitamento dos alunos. Devem-se colocar as alternativas de solução
em ordem de importância, isto é, em primeiro lugar, relacionar as que
removem as causas com mais eficiência.

10 Recomendações gerais quanto às provas

Um dos objetivos mais importantes da educação é o desenvolvimento da


inteligência do aluno, do seu raciocínio. Por isso, as questões das provas devem
ser feitas de forma a exigir o raciocínio para respondê-las. Assim, o aluno
prepara-se para as provas, usando o raciocínio. São as formas de avaliação
adotadas pelo professor que fazem com que o aluno adote estas ou aquelas
maneiras de estudar. Se o professor exige respostas decoradas nas provas, o
aluno vai estudar decorando; se exige análise crítica, ele vai refletir e analisar as
situações e o conteúdo de aprendizagem. Se for exigida aplicação, ele vai
estudar, estruturando seu pensamento para a aplicação.
Questões boas para as provas são as instituições-problema. Elas exigem
que o aluno, enquanto se prepara para a prova, compreenda, reflita, busque
ideias e princípios que ajudem na solução dos problemas. Com isso, o aluno
desenvolve o instrumento de descoberta e a habilidade de fazer ciência, e
também a criatividade, quando tem que pensar na forma de os resolver.

225
De qualquer maneira, as melhores questões são abertas. Elas permitem
o uso livre de ideias, o raciocínio, a generalização e a criatividade, pois o aluno
não precisa ter decorado nada para respondê-las. As respostas podem ser até
bem diferentes de um aluno para outro e, assim mesmo, serem consideradas
certas. O que importa é que o aluno demonstre que compreendeu; que é capaz
de estruturar o pensamento com ideias sobre aquele assunto; que é capaz de
fazer análise crítica e de sintetizar; que é capaz de apresentar uma resposta
original e criativa ao problema.
Os instrumentos de avaliação devem avaliar o que realmente se pretende
avaliar. Eles devem ser adequados e válidos. Se pretendemos avaliar o espírito
de cooperação, a habilidade de pesquisa, ou a iniciativa, não devemos, por
exemplo, usar prova escrita. O instrumento válido para isso é a observação.
Ao elaborarmos uma prova, devemos organizar questões que cubram
todos os objetivos que pretendemos alcançar e todo o conteúdo estudado
naquele período. As questões podem ser amplas, de tal forma que permitam ao
aluno fazer uma abordagem crítica e uma síntese sobre todo o conteúdo, ou,
então, a prova pode ter grande número de questões, sendo ao menos uma para
cada subunidade. Nunca deve acontecer de o aluno dizer: “Caiu exatamente o
que eu não sabia”; ou então, “Caiu o único ponto que eu não estudei”.
Uma prova deve ter questões fáceis, médias e difíceis. Assim, poderemos
identificar os alunos que mais aprenderam dos que menos aprenderam. Não é
justo fazermos questões tão fáceis que até os alunos preguiçosos e relapsos
tirem notas ótimas. É recomendável ter 20% de questões fáceis, 40% médias e
40% difíceis.
Enquanto estivermos num sistema de concorrência em que não há
condições de dar assistência individual a todos os alunos, é necessário
tomarmos esses cuidados.
As avaliações não devem ser complexas; devem ser fáceis de aplicar,
analisar e interpretar.
É conveniente que seja elaborado um número bem maior de questões
para depois selecionarmos as melhores. Se tivermos um grande número de
questões, é mais fácil fazer isso.
Devemos evitar a possibilidade de questões diferentes exigirem a mesma
resposta. É preciso analisar com muito cuidado cada questão para verificar se a
redação está bem clara, de forma à que os alunos distingam claramente uma
resposta da outra, ou melhor, não deem a mesma resposta para questões
diferentes.
A prova deve permitir que ela seja concluída por todos no tempo previsto
para sua realização. Pode-se pensar que dá tempo, mas é preciso considerar a
experiência do professor em relação à dos alunos. Além disso, temos as
diferenças individuais. Há alunos de raciocínio rápido; e outros, com raciocínio
bem lento. Todos têm direito de concluir a prova.
As questões das provas devem ser claras, para que o aluno saiba
exatamente o que o professor espera que ele responda.

226
As questões devem, também, exigir respostas abrangentes e
compreender assunto significativo. As questões devem abranger o essencial e
não particularidades, minúcias, detalhes ou conteúdo que não terão utilidade. O
aluno pode não ter se preocupado com os detalhes, os quais, muitas vezes, nem
interessam para a vida dele. Não se devem perguntar coisas de pouca
importância e nem coisas que vão ser esquecidas na semana seguinte.
As questões das provas devem sempre ser apresentadas por escrito aos
alunos. Se forem ditadas, quase sempre ocorre de alguns alunos entenderem as
questões de forma errada. Isso trará prejuízos ao aluno, por culpa do professor.
É conveniente solicitar que os alunos façam perguntas de esclarecimento
no início da prova. Podem ser concedidos, por exemplo, cinco minutos para isso.
O professor deixará bem claro que depois disso ninguém mais deverá falar para
não atrapalhar os colegas. Não se deve dar nenhuma explicação, em público,
depois de iniciada a prova, muito menos em particular. O próprio professor não
deve fazer qualquer comentário ou conversar durante a prova.
No dia da prova, o professor deverá comportar-se como qualquer outro
dia de aula. Ser alegre, brincalhão, para deixar os alunos descontraídos e bem
à vontade. Deve-se evitar um clima que possa provocar tensão e nervosismo
nos alunos. O professor poderá animar a turma, dizendo até mesmo que a prova
é fácil.
Recomendar aos alunos que distribuam o tempo para cada questão, e
que escrevam, primeiramente, o essencial de cada uma, para, assim, terminar a
prova em tempo.
Para evitar a famosa “cola”, o professor pode utilizar questões com
respostas longas, que exijam análise, reflexão e à do livro, como as questões de
memorização.
É desagradável ouvir comentários dos alunos a respeito de professores
que deixam seus alunos colar. Ele deve fazer questões que não possibilitem a
cola, ou então deve evitá-la. Os bons alunos, que sabem e não têm coragem de
colar, muitas vezes tiram notas piores que os alunos reconhecidamente
medíocres e se revoltam com isso, e com toda razão.
Por isso, é conveniente que o professor circule entre as carteiras para
inibir os alunos coladores.
Se for pego um aluno colando, o professor não deve fazer alarde e nem
escândalo. Isso atrapalha os demais alunos e poderia provocar reações
inesperadas por parte do “colador”.
Também não se deve recolher a prova de um aluno, se não se tiver
absoluta certeza de que ele está colando. Se realmente ele não estiver colando,
tal medida, além de injusta, provocará um enorme choque e revolta no aluno.
As provas devem ser corrigidas o quanto antes para que o aluno possa
conhecer sua nota, pois a demora provoca expectativa e ansiedade.
Se os alunos cometem muito erros de português, o professor pode
descontar nota por isso. Mas, os alunos devem saber desse critério no início do
ano, ou, ao menos, bem antes da prova. Se a prova vale 10, o razoável seria

227
descontar até 2 pontos por erros de português. Há professores que, se irritam
quando há uma quantidade muito grande de erros, e chegam a descontar tudo
e a dar nota zero. Isso não é correto, a não ser que seja prova de português.
Os erros indicam o que o aluno não aprendeu corretamente. Eles podem
ser comentados pelo professor, na classe. Neste caso, deve ser destacada a
forma correta das questões, sem chamar atenção para os erros e sem identificar
quem os cometeu. Chamar a atenção do erro destaca o erro, e o aluno poderá
confundir-se posteriormente.
Na apreciação das avaliações, todo cuidado é pouco. Não se pode criticar
o aluno pelos seus erros, nem pelas notas baixas. Isso poderá criar frustração,
desânimo e complexo de incompetência. Um aluno que se sente fracassado
perderá a vontade de estudar. E a vontade é o primeiro fator de sucesso.
Também não se deve elogiar em público alguns alunos. Os elogios devem ser
dados à classe, como um todo.
É bom que o professor conheça bem os alunos: o que fazem em casa, o
que gostam de fazer, como se comportam em casa e com os colegas.
O professor, vendo e sentindo constantemente o progresso do aluno,
poderá elogiá-lo discretamente, mostrar satisfação pelo seu progresso e indicar
novas pistas de estudo. Pode dizer para o aluno que ele conseguiu bom
desempenho numa atividade: “Vamos ver se você consegue fazer isto também”.
E mostra ou explica uma outra atividade a ser executada.

11 A autoavaliação

Como a palavra já diz, autoavaliação é a avaliação que o aluno faz de si


próprio, isto é, ele próprio julga e aprecia o próprio progresso.
Poder-se-ia perguntar: mas a autoavaliação é possível? Depende da
filosofia educacional do professor; depende da sua maneira de trabalhar em sala
de aula; depende, principalmente, dos objetivos que tem em mente a alcançar.
Se queremos que o aluno cresça, desenvolva-se, torne-se responsável e
independente, então a autoavaliação é possível. Mas se nós nos preocuparmos
em fazer com que ele tire notas, seja aprovado no ano se nós não podemos
confiar nele, então a autoavaliação não pode ser usada.
De qualquer forma, a autoavaliação deve ser uma preocupação do
professor, que deve deixar cada vez mais a responsabilidade pelo controle da
aprendizagem aos próprios alunos. Assim, o aluno aprende a julgar e,
principalmente, a julgar-se.
A autoavaliação obriga professor e alunos a conhecerem objetivos, pois,
sem eles, os alunos não saberiam em que se basear para se avaliar a si mesmos.
O aluno sempre tem alguma percepção de seu progresso, embora possa
ser vago, difuso. O professor deve ajudá-lo a estabelecer diretrizes, objetivos
definidos e a formular pontos mais claros para se tornar possível a autoavaliação.
A partir daí, o professor pode fazer com que o aluno veja seus avanços e,

228
gradativamente, prepará-lo para que ele mesmo se avalie. O sentimento de
liberdade e de autocontrole deve ser respeitado e até estimulado.
O reconhecimento da importância da autoavaliação é até uma questão de
lógica. Quem é ou deve ser o maior interessado no progresso do aluno? Se não
for o próprio aluno, o professor está falhando em sua função de educador.
Quanto tempo o aluno fica na escola? Ele estuda por que é obrigado ou
por que gosta? Se ele estuda porque é obrigado, não terá interesse em progredir
e nem em autoavaliar-se. Se ele estuda porque gosta, ele estará interessado em
seu progresso. Terá interesse em autoavaliar-se. Neste caso, fazer controle
externo é contraproducente, pois o aluno, ao sair da escola, não terá aprendido
a se avaliar. Poderá até dizer: “até que enfim, livre! Ninguém mais vai me
controlar. Ninguém mais vai me dizer o que devo estudar e nem me dar nota
baixa”.
Com a autoavaliação, o aluno desenvolve a responsabilidade; assume a
culpa pelas próprias omissões, erros e, eventualmente, pelos fracassos.
Poderá alguém dizer que, se o aluno tiver a oportunidade de se
autoavaliar, sempre vai atribuir-se nota alta. Acontece que, no sistema de
autoavaliação, não se avalia para a nota, mas para verificar o grau em que os
objetivos foram alcançados e as dificuldades dos alunos. Aliás, a nota não
deveria nem existir. A nota é instrumento de pressão, de humilhação; é usada
para comparar um aluno com outro. O certo é cada aluno comparar seu nível de
aprendizagem atual com o seu nível de aprendizagem da semana anterior. A
medida de capacidade de aprendizagem de cada aluno é ele mesmo e não a
média da classe ou a vontade do professor.
Mesmo no sistema de notas, com objetivos bem definidos e com diálogo
franco e sincero do professor sobre avaliação, são raros os alunos que atribuem
a si mesmos notas não merecidas.
Como autoavaliação é coisa nova, não convém haver precipitação. São
necessárias muitas experiências e pesquisas

12 Experiências sobre avaliação

Certamente, pode-se notar que a avaliação deve ser coerente com os


objetivos que se pretende alcançar. Se queremos que o aluno desenvolva o
raciocínio, temos que avaliar se o aluno desenvolveu o raciocínio. Isso podemos
fazer pelas provas e atividades que exijam raciocínio.
Mas, a trabalho do professor não se deve limitar a alcançar um objetivo
de cada vez e, sim, o máximo de objetivos possível. Assim, o trabalho será mais
útil ao aluno. Quanto mais objetivos pudermos alcançar com uma mesma
atividade, tanto melhor.
Em minhas atividades como professor de curso de formação de
professores para a Educação Básica, tenho procurado alcançar os seguintes
objetivos:

229
- hábito de ler jornais, revistas e livros;
- habilidade de ler com compreensão, espírito crítico e criatividade. Dessa
forma, os alunos deverão ler, compreender, selecionar o que é útil e ser
capazes de usar as ideias na argumentação, ou na prática;
- espírito de luta, de solidariedade e de cooperação;
- sentimento de independência, de força, de coragem, de liberdade e de
autoconfiança;
- cultura geral do desejo de sempre saber mais;
- imaginação, criatividade e mente aberta;
- habilidade de consultas a fontes bibliográficas;
- habilidade de pesquisa;
- conhecimento dos princípios da disciplina para aplicá-las na educação;
- iniciativa e responsabilidade;
- amor à causa da educação.

Como atividades, técnicas e material, para alcançar esses objetivos,


usávamos leituras de livre escolha do aluno, temas para pesquisa em várias
fontes, estudo dirigido, discussões, debates, bombardeamento mental, jornais,
revistas e livros.
Em minhas atividades como professor, observava e considerava tudo o
que o aluno fazia: leituras, participação nos debates, discussões, apresentação
de ideias em sala de aula. Solicitava que os alunos apresentassem relatórios de
suas atividades ao final de cada bimestre, seguidos de uma autoavaliação
justificada.
No final de um desses anos, solicitei, em duas turmas, que cada aluno
escrevesse o que achava das formas e critérios de avaliação que eu havia
adotado. Os alunos foram unânimes em aprová-los. Apresento, a seguir, alguns
depoimentos:

- “Assim os fatos ficam mais coordenados.”


- “É ótimo, pois avalia não só conhecimentos da matéria, mas também
assuntos de todos os campos: cultural, social etc. Assim, os alunos
participam com interesse, entusiasmo, enfim, com desejo de saber mais
coisas, ampliar os conhecimentos. Faço votos que todos os professores
adotem este método, não só em nossa escola, mas em todas. O único
ponto negativo é a falta de fontes de pesquisa, livros etc.”
- “Assim nos esforçamos ao máximo para aprendermos e, também, a estar
atentos a tudo o que ocorre no meio em que vivemos.”
- “Assim mostramos o que realmente aprendemos. É ótimo para quem
estuda.”
- “Sua atitude em adotar esse método é superfavorável, pois sou contra o
tipo de provas adotado pelas escolas. Não gosto de provinhas em que a
gente, às vezes, é obrigada a passar horas inúteis decorando o assunto,

230
para depois de uma hora esquecer completamente o que leu (tentou
estudar). Com o senhor, o aluno tem que se esforçar para aprender.”
- “Assim o professor não impõe suas ideias.”
- “É ótimo, pois estimula a aprendizagem dentro e fora da sala de aula.”
- “Deixa-nos livres para nos interessarmos pela matéria e dela tirarmos
proveito. Houve aprendizagem real e não pseudo-aprendizagem como no
caso de quando se tem que decorar a matéria.”
- “Desperta mais interesse nos alunos e faz com que os mesmo ampliem
seus conhecimentos, por meio de leituras de livros, revistas, jornais,
pesquisa etc. é o critério de avaliação mais certo que já vi.”
- “... obriga-nos a ler bastante para ampliarmos os conhecimentos. Dá-nos
o direito de espontaneidade nos trabalhos.”
- “Disso vem a aprendizagem concreta, real.”
- “Pois o aluno se interessa mais por tudo, pelos fatos do mundo que o
rodeia, pelas notícias. Assim, aprenderá mais.”
- “Interessa-me por tudo, aprendendo, assim, sem sentir.”
- “Porque assim ele não precisa lançar mão de cola, o que vai contra sua
consciência, mas precisa de nota. Com esses critérios, demonstramos o
que sabemos e não nos preocupamos com nota.”
- “Porque assim o aluno tem chance de demonstrar o que sabe. E não um
sorteio de prova, em que se pode tirar zero. Aqui se considera tudo o que
se faz.”
- “Porque assim o aluno se sente com mais responsabilidade. Assim,
procuramos um conhecimento mais amplo, pois não nos prendemos a um
só livro. E não se fica apenas nas perguntas e respostas.”
- “Porque se dá valor a tudo que se faz: participação, trabalho; pois nunca
concordei com a maneira de basear-se só na prova para dar nota. Prova
é até muito injusta, considerando os eventuais problemas que podem
surgir na hora da prova: nervosismo, que pode fazer fracassar os
melhores alunos.”
- “Pois, desta maneira, o aluno tem mais garantia de assegurar sua nota
pelo esforço. Há pessoas que, na hora da prova, fracassam por não
possuírem boa memória, que muitas vezes são ótimos pesquisadores e
sabem pôr em prática o aprendido.”
- “Pois tudo que o aluno se interessa em saber ou a fazer deve-se levar
em conta. Pois mais vale satisfazer a curiosidade dum aluno do que lançar
matérias que ninguém entende.”
- “Isso estimula a fazermos bem os trabalhos. E o aluno, obtendo
confiança e cooperação da parte do professor, se sente mais adulto.”

Note-se a importância desses depoimentos. Foram alunos de escola


normal, de nível médio, que os deram, e não pedagogos. Expressam a realidade
das provas tradicionais e as vantagens de avaliação mais livre, em que tudo o
que os alunos faziam era observado, considerado e valorizado.

231
13 Conclusão

A avaliação é uma das questões mais sérias da educação. A avaliação


malfeita é, talvez, a maior causadora de frustrações, de fracassos e de
desistências escolares. Ela tem um enorme efeito psicológico sobre os alunos.
A avaliação tem sido usada muito como instrumento de pressão para
obrigar os alunos a estudar. Isso devido, principalmente, ao comodismo de
muitos professores de não tentar procedimentos, conteúdos e recursos de
ensino mais adequados. Tem sido usada também, simplesmente, para
classificar, aprovar ou reprovar alunos.
Convém destacar que as principais funções da avaliação é de constatar o
nível de desenvolvimento em que o aluno se encontra e de julgar se os meios
que estão sendo usados estão contribuindo para esse desenvolvimento com a
eficiência que se espera.
O sujeito (agente) da avaliação deveria ser o aluno que precisa saber em
que grau de aprendizagem se encontra. O professor entraria como mero
técnico de avaliação, acompanhando o aluno.
Assim, como a avaliação tem efeitos psicológicos negativos, tem também
os positivos. Apresenta, ainda, efeitos pedagógicos influentes sobre a
educação do aluno. Por isso, o professor deve ter o máximo de cuidado com a
avaliação.
O capítulo seguinte vai tratar do processo integrador de todos os capítulos
anteriores, o planejamento. É ele que estrutura e dinamiza o processo de
ensino-aprendizagem por intermédio do professor.

232
Capítulo VII

Planejamento

1 Em que consiste

Planejar é pensar no que se espera fazer; é a previsão de uma ação


futura. É antecipar mentalmente os passos que se pretende dar. É prever, ou ver
com antecedência, o que se pretende alcançar e os meios necessários para isso.
Planejar é escolher as melhores formas de se fazer alguma coisa ou de
se alcançar um resultado, um objetivo.
Planejamento, em ensino, é a previsão dos resultados ou objetivos
educacionais, gerais, ou específicos que se pretendem alcançar, seguidos da
previsão do conteúdo, dos procedimentos de ensino e dos meios auxiliares
necessários para alcançá-los. No planejamento, deve ser considerado, também
para quem se vai planejar, o tempo necessário para se alcançar os objetivos.
Convém lembrar que planejamento e plano são duas coisas distintas. O
primeiro é dinâmico, o segundo é estático.
Planejamento é o processo de se fazer o plano. O planejamento é pensamento,
é ação.
Plano é o planejamento pronto, passado no papel. O plano contém os
objetivos e o que precisa ser feito para alcançá-los.

2 Tipos de planejamento

No campo da educação podem, existir vários tipos de planejamento. Os


principais são:
a. Planejamento educacional: feito em nível nacional ou estadual. Nele, são
previstos objetivos mais amplos da educação, tipos de profissionais que
se espera formar, nível de educação desejado para a população do país
ou Estado. Para isso, é definida uma política em que se preveem
recursos, estrutura da educação para o sistema, currículos mínimos,
meios e estratégias para se alcançar os objetivos.

b. Planejamento curricular: existem também várias formas de planejamento


curricular. Vamos limitar-nos a planejamento curricular de um
determinado nível, etapa ou curso. Se formos planejar o currículo para o
Ensino Fundamental, do 1º ao 5º ano de uma determinada escola, temos
que conhecer a realidade da comunidade, definir os objetivos que
pretendemos e prever os meios de que vamos precisar. Os objetivos

233
previstos são para os quatro anos, ou seja, atividades, habilidades,
hábitos e conceitos que os alunos devem desenvolver até o final do 5º
ano. Definidos os objetivos, procura-se adequar o conteúdo para alcançá-
los. O conteúdo pode compreender experiências, valores, informações,
atividades, áreas e disciplinas.

c. Planejamento de disciplina ou de curso: faz-se para um ano ou para um


semestre, se a disciplina for semestral. O professor dos primeiros anos do
Ensino Fundamental faz o planejamento fundido ou integrado,
compreendendo todas as matérias para o ano. É um esboço geral, sem
entrar em muitos detalhes. Para o professor do 6º ao 9º ano do Ensino
Fundamental ou do Ensino Médio, é o planejamento da área de estudos,
ou disciplina, para o ano todo.

d. Planejamento de unidade: faz-se de um item do programa, de um tópico.


A sua duração pode ser de 4,7,10 ou 15 horas. Tudo depende do tempo
que o professor dispõe para trabalhar, sua importância e o número de
itens do programa. O planejamento de unidade pode também ter a forma
ou denominação unidade de trabalho, unidade de experiências, centro de
interesses. Tudo depende da maneira ou natureza do assunto a ser
trabalhado, a unidade é uma aula longa que pode durar vários dias.
No planejamento de unidade, não são previstas atividades para cada dia.
É um planejamento de conjunto, para a unidade como um todo. Depois
de pronto, o plano da unidade é que se vai pensar sobre os objetivos e
atividades a serem desenvolvidos no primeiro dia. A partir dos resultados
alcançados neste dia, parte-se para planejar o que vai ser feito no 2º dia.
E assim por diante.

e. Planejamento de aula: separadamente, não é muito recomendado, mas o


planejamento de aula, em que uma é a sequência da outra, sim, é
necessário. Seria o planejamento da aula de um dia após o outro,
começando onde se parou na aula anterior. É a “amarração” das
atividades de um dia para o outro.

3 Importância do planejamento

O planejamento evita improvisação, serviço malfeito, perda de tempo e de


dinheiro. Com planejamento, fica bem claro o que se pretende e o que deve ser
feito para se chegar aonde se quer.
Um bom planejamento dá segurança ao professor e evita que este se
atrapalhe e fique nervoso. Planejando, tem-se sequência nas atividades e na
aprendizagem. Prevê-se aquilo que precisa ser conhecido para ser possível uma
nova aprendizagem.

234
O tempo também precisa ser previsto; do contrário, pode-se utilizar muito
tempo em alguns objetivos e esquecer-se de outros, também importantes.
Escolhem-se as melhores técnicas e atividades e não aquelas com as
quais se está costumado ou as mais fáceis. Deve-se planejar sempre para sair
da rotina, da monotonia.
Da imensidade de conteúdos existentes, escolhe-se o essencial, aquele
que atende às necessidades e aspirações dos alunos e que seja mais
significativo e útil para eles e para a sociedade. Um professor habilidoso saberá
conciliar interesses dos alunos em aprender determinadas coisas e o
planejamento feito. Mesmo que tenhamos que fugir do planejado, é importante
tê-lo feito. O que importa é tornar a aprendizagem eficiente, sem perda de tempo
para os alunos. Se estes se inclinarem para outro rumo, e o professor julgar isso
de utilidade, deem-se asas aos alunos.
O planejamento é necessário para se ter um rumo, mas se virem
propostas melhores que o próprio plano, por que não segui-las?
O planejamento visa à obtenção de resultados, de forma mais eficiente,
intensa, rápida e segura.

4 Etapas do planejamento

Quatro são as etapas do planejamento:

a. conhecimento da realidade;
b. elaboração do plano:
- determinação dos objetivos;
- seleção do conteúdo;
- seleção dos recursos auxiliares;
- determinação das formas de avaliação;
c. execução do plano;
d. avaliação do plano.

Passemos, a seguir, a um breve comentário sobre cada uma destas


etapas.

4.1 Conhecimento da realidade

Antes de se fazer qualquer plano, é preciso saber para quem se vai fazer,
quais são as possibilidades de dar certo e as condições que se têm para executá-
lo. Não adianta fazer planejamento bonito, bem feito, mas que não possa ser
executado ou que não traga resultados proveitosos. É preciso conhecer a
realidade.

235
O médico, antes de receitar um remédio, faz uma série de perguntas a
seu paciente: sobre o que este sente e mesmo sobre o passado dele; vê a
pressão, examina-o de alto a baixo e manda fazer exames de laboratório.
Conforme a situação, pergunta até se ele tem dinheiro para comprar remédios
mais caros. Caso contrário, tenta com remédios mais baratos mesmo.
O engenheiro, ao planejar uma obra, examina a consistência do solo, o
tipo de material disponível, os recursos de quem vai construir, a pressa do
proprietário, o tempo para supervisionar a obra e a sua própria competência.
Além disso, tem que considerar a disponibilidade de construtores, pedreiros e
carpinteiros.
Em educação, precisamos conhecer a realidade do aluno, da
comunidade, da escola e do próprio professor.
Com relação ao aluno, precisamos conhecer seu estado de saúde, de
nutrição, os interesses dele, necessidades, aspirações, possibilidades e
vontade. É preciso verificar o grau de maturidade, o nível cultural, as
características, as experiências, enfim, o grau de prontidão do aluno, incluindo-
se, também o tempo que o aluno dispõe para estudar e suas condições
financeiras para comprar livros e material escolar. Com estes dados, levanta-se
o que os alunos já sabem, o que falta saber e o que são capazes de aprender.
Sobre a comunidade, precisamos levantar seus problemas, suas
necessidades e tendências, pois de nada adianta querermos planejar um ensino
livresco, desligado da realidade e que não venha solucionar os problemas
sociais.
Quanto à escola, o professor precisa analisar primeiramente o currículo;
entender que outras disciplinas fazem parte do currículo; quais os objetivos que
cada um deve perseguir e quais são os limites e carga horária da que ficou na
sua responsabilidade. Examinar, também, os meios que facilitarão a
aprendizagem que a escola oferece: biblioteca, laboratórios, meios auxiliares,
salas especiais. Sondar as qualidades e seriedade dos professores, do diretor e
dos outros profissionais da escola. Considerar, ainda, o número de alunos da
classe, a estrutura e o tamanho da escola.
Por fim, o professor precisa examinar a si próprio: sua formação, suas
qualidades, sua disposição, sua saúde e sua segurança.
Quanto às informações necessárias, há muitas formas de se obtê-las.
Podem-se realizar pré-testes e observar as condições de aprendizagem dos
alunos nos primeiros dias de aula; sondar as atitudes e o rendimento da turma
junto aos professores do ano anterior. O professor pode entrevistar os alunos,
visitar as famílias e ouvir os pais, observar as suas condições culturais e
socioeconômicas. A própria ficha de matrícula pode fornecer dados para isso.
De posse desses dados, faz-se a análise do que precisa ser feito e do que
pode ser feito para ajudar o aluno a crescer, em termos de aprendizagem e
educação, e do que precisa ser feito para melhorar a vida do aluno e a sociedade.
Só depois desse conhecimento e dessa análise, pode-se passar para a
etapa seguinte do planejamento, a elaboração do plano.

236
4.2 Elaboração do plano

Plano, como vimos acima, é o planejamento colocado no papel. Elaborar


o plano é pensar o que vai ser posto no papel.
O plano é constituído, basicamente, de cinco componentes ou elementos:
objetivos, conteúdo, procedimentos de ensino, recursos auxiliares e avaliação
que devem estar interligados entre si para formar um todo bem estruturado e
harmônico, para se tornar eficiente na busca dos objetivos.
Cada um dos componentes deve ser considerado em função da realidade
com a qual se vai trabalhar. Quando se trata de plano de ensino, cada professor
tem que fazer o seu, pois o plano é feito para cada turma e em função das
características próprias de cada uma. Ele deve ser feito para ser trabalhado por
aquele professor, dentro daquelas condições e para aquele ano. Por isso, não
pode ser copiado de outros colegas ou de anos anteriores.
Examinemos, a seguir, cada um dos elementos que compõem o plano.

4.2.1 Determinação dos objetivos

Os objetivos é o componente mais importante do plano, sem eles, o


professor não saberia para onde ir, o que fazer. Os objetivos são as mudanças
que se pretende que aconteçam nos alunos, após a execução do plano. São os
faróis que orientam o professor na seleção dos conteúdos, procedimentos, meios
auxiliares e formas de avaliação. É a bússola para orientar os alunos e o
professor em suas atividades.
Para traçarmos o plano de ensino, temos que saber sempre o que
pretendemos alcançar: Uma sociedade mais justa, mais desenvolvida, mais
humana? Um homem mais participativo, mais inteligente, mais crítico, mais
criativo? Enfim, precisamos ter em mente que tipo de homem e de sociedade
queremos preparar. Tendo isso claro, fica fácil determinar os objetivos e o
restante do plano.
Para se elaborar os objetivos para o plano de ensino, deve-se levar em
conta, também, o ano, o nível da turma e as demais condições apuradas no
levantamento da realidade.
No plano de ensino, entram os objetivos gerais e específicos. Os objetivos
gerais são os objetivos a serem alcançados pelos professores de todas as
matérias ou disciplinas da turma, durante o ano. Cabe observar que alguns
objetivos gerais entram em todas os anos, pois, em geral, são alcançados em
longo prazo. Os objetivos específicos são aqueles próprios da matéria ou
disciplina com a qual o professor irá trabalhar.
Tanto para os objetivos gerais, quanto para os específicos, não devem ser
esquecidos os aspectos afetivos e psicomotores. A determinação dos objetivos
deve, portanto, abranger conceitos, habilidades e hábitos.

237
Na elaboração do plano de unidade e de aula, entram também os
objetivos detalhados que são os objetivos alcançáveis em curto prazo, desde
alguns minutos até alguns dias. É o desdobramento dos objetivos específicos.
Com o alcance dos objetivos detalhados um a um, deve-se alcançar os objetivos
específicos.
Ao se determinar os objetivos detalhados, deve-se:

- pensar no diagnóstico, nos interesses, nas necessidades, nas


aspirações e possibilidades dos alunos;
- pensar na possibilidade de serem alcançados em curto espaço de
tempo;
- pensar na possibilidade de ser constatado, com certeza, o seu alcance;
- dar aos objetivos redação de forma sintética, mas bem clara.

Melhores esclarecimentos, estão no capítulo que trata dos fins e objetivos.

4.2.2 Seleção e organização do conteúdo

O conteúdo deve ser considerado como um dos ingredientes para se


alcançar os objetivos, e não o objetivo em si. Conteúdo é meio e não objetivo de
ensino.
No planejamento, o professor deve selecionar o conteúdo apropriado e
coerente com os objetivos que foram traçados. Deve selecionar conteúdo amplo
e flexível para dar oportunidade de os alunos terem opções de escolha, de
acordo com o que mais agrade a eles, ou para atender oportunidades para
trabalhar outros conteúdos que surgirem.
O conteúdo são os próprios conhecimentos existentes no mundo. O aluno
pode, também, já ter muitos conhecimentos e trazê-los para a escola em forma
de experiências e valores. Deve ser selecionado o conteúdo mais útil para o
aluno, que signifique alguma coisa para ele, que seja do seu interesse e da
atualidade.
Dependendo do nível de escolaridade, o conteúdo pode ser subdividido
em partes distintas, denominadas itens ou unidades do programa, ou
simplesmente programa. Muitos alunos – e mesmo professores – julgam que os
programas são elaborados pelo sistema estadual de ensino.
O sistema estadual de ensino e outros sistemas de ensino não têm
programa para impor e nem devem tê-lo. O professor é que deve elaborar o seu
programa, considerando a sua competência, o diagnóstico feito e os objetivos
que pretende alcançar. Ele pode, sim, fazer o planejamento em conjunto com
professores da mesma disciplina ou disciplinas afins. Receber programa pronto
ou copiar de outros é demonstrar despreparo ou subserviência.
Outro erro que se costuma cometer é elaborar os objetivos a partir dos
programas ou dos conteúdos. Primeiramente, devem ser determinados os
objetivos; só depois, é selecionado o conteúdo.

238
Os itens não devem ser jogados soltos no programa. Devem ser
organizados de tal forma que os mais simples venham antes; e os mais
complexos, depois, pois existem unidades que os alunos não entendem, sem ter
estudado outras que servem de base para elas. Assim, uma unidade deve ter
relação com a outra; a anterior servir de base para a seguinte; e todas juntas
formar um todo orgânico.
Quanto aos critérios e formas de selecionar o conteúdo, encontre
informações no capítulo que trata deste assunto.

4.2.3 Seleção e organização dos procedimentos de ensino

Procedimentos são as técnicas com as quais os alunos vão trabalhar, as


estratégias, as atividades e as experiências que os alunos vão realizar para
alcançar os objetivos.
Cada técnica, cada experiência pode ser minuciosamente planejada. Na
sua descrição, podem entrar os conteúdos, meios auxiliares e mesmo as formas
de avaliação. Cada atividade que for escolhida tem que ser apropriada à idade
e às capacidades dos alunos e ao objetivo que se pretende alcançar, pois ela
nem teria sentido, se não fosse em função do objetivo. Todavia, se com uma
mesma atividade se puder alcançar vários objetivos, tanto melhor. Economiza-
se tempo, e o aluno ganha em aprendizagem.
Os objetivos também não poderiam ficar soltos. Eles precisam ter relação
um com o outro e ser devidamente “costurados”, estruturados. Para que isso
aconteça, usam-se técnicas apropriadas, tais como a discussão, o debate, a
solução de problemas ou projetos.
As técnicas a serem selecionadas devem prever ação do aluno: observar,
levantar hipóteses, fazer experiências, realizar pesquisas, solucionar problemas
e concluir. Deve-se pensar em técnicas que levem os alunos a desenvolver uma
aprendizagem de qualidade, que desenvolvam neles a capacidade de pensar,
raciocinar, distinguir, relacionar, concluir e criar. As técnicas a serem usadas
devem ser tais que facilitem a compreensão e a integração da aprendizagem.
Devem propiciar oportunidade a que os próprios alunos formulem seus conceitos
e não fiquem apenas na reprodução de ideias e conceitos que eles veem nos
livros.
Para os objetivos que implicam habilidades, devem ser selecionadas
técnicas ou atividades que exijam prática real. Deve-se considerar, aqui, o
princípio de que “se aprende a fazer, fazendo”.

4.2.4 Seleção dos meios auxiliares

Conforme os objetivos traçados, escolhem-se os meios auxiliares, o


material didático, ou recursos de ensino mais adequados.

239
Pode também ser descrito, com detalhes, como vão ser utilizados esses
recursos. Essa descrição pode ser feita juntamente com as técnicas e com o
conteúdo.

***

No plano de ensino, costuma-se apenas fazer uma relação dos


equipamentos e meios auxiliares. Já, nos planos de unidade e de aula, é
conveniente fazer-se uma descrição de como vai ser usado cada um. Essa
descrição é, de certa forma, um planejamento para seu uso; evita improvisações,
que possam trazer aborrecimentos, e dá mais segurança ao professor.
O professor deve pensar em todos os meios para contribuir para a
concretização da aprendizagem, para a compreensão e a estruturação das
ideias.

4.2.5 Seleção dos meios de avaliação

É a determinação ou escolha das formas que vão ser utilizadas para se


verificar se os alunos estão ou não progredindo, se estão ou não alcançando,
satisfatoriamente, os objetivos previstos no plano. Vão ser observadas as
atividades escritas dos alunos, exercícios, pesquisas, atitudes, participação
deles nos debates? Vão ser feitas provas? De que tipo? Provas objetivas,
subjetivas, de pesquisa, sem pesquisa? Provas que exijam síntese, análise,
compreensão ou simples descrição de fatos? A avaliação vai ser contínua ou de
tempos em tempos? Vai ser considerada a avaliação que os alunos fizeram de
si mesmos, a autoavaliação?
O professor registrará, no plano de ensino, de forma bem clara, a escolha
das alternativas anteriores. É interessante que os próprios alunos saibam os
critérios e formas pelas quais vão ser avaliados.
Para os objetivos da parte psicomotora e afetiva, a melhor forma de
avaliação é a observação direta das atividades, do comportamento e das
habilidades dos alunos. Para os objetivos da área cognitiva, são mais usados
testes, provas, exercícios e trabalhos.

4.3 Execução do plano

Concluído o plano, ou projeto, parte-se para a sua execução. O plano


sempre deve estar presente no pensamento dos seus executores, para orientar
e direcionar suas atividades.
Na construção de uma casa, o construtor orienta-se pelo projeto. Junta
cimento, areia, água, tijolo e ferro. Combina todos os materiais nas proporções
certas. Nada é jogado solto. Tudo é devidamente “amarrado”, de acordo com o
planejado: massa, tijolo, ferro, arame, madeira, pregos, e sempre entra em jogo
a atenção, a imaginação e a habilidade do construtor.

240
Depois do material combinado e a casa pronta, o cimento não é mais
cimento, a areia não é mais areia: o tijolo, o ferro e o arame desaparecem. Tudo
junto e amarrado deu à matéria nova estrutura e nova forma.
Em educação, ocorre quase o mesmo. Temos em mente a construção do
homem, mas este não pode ser construído tão rapidamente como uma casa,
pois é formado em várias etapas.
O professor verificou, por meio do estudo da realidade, em que etapa cada
aluno está, e tem pronto o plano para a etapa seguinte ou de parte dela (que é
o plano da sua disciplina).
Chegou o momento de o professor juntar tudo para alcançar os objetivos
previstos no plano, para construir mais uma etapa do homem planejado.
O aluno toma o conteúdo, a matéria, que são as informações, as ideias,
os conhecimentos, as experiências e amarra tudo através dos meios auxiliares,
das técnicas e das atividades. Forma-se uma nova estrutura na mente do aluno.
As ideias, as informações e as experiências, que são a matéria, não são mais as
mesmas. Foram transformadas em atitudes, em novos conceitos, em novos
comportamentos.
Observe-se que, em educação, o próprio aluno é o construtor. O professor
é mero ajudante no processo.
Ao professor, cabe prover os meios, facilitar a integração entre conteúdo,
técnicas, meios auxiliares, com vistas aos objetivos; e facilitar aos alunos a
percepção de seu progresso pela avaliação. É o trabalho, é a ação do professor
com seus alunos. Assim, ele estará executando o plano que fez.

8.4 Avaliação do plano

Avaliar um plano é verificar se foram alcançados ou não os objetivos; é


verificar o que deu certo e o que deu errado; é descobrir quais são suas falhas,
o que faltou e em que poderia ser melhorado.
Se o plano estiver alcançado os objetivos, sem muita perda de tempo, ele
é bom. Do contrário, precisa ser revisado. Num e noutro caso, precisa ser
avaliado.
No ensino, o melhor termômetro para se avaliar um plano é a
aprendizagem dos próprios alunos. Se a aprendizagem for de boa qualidade e
quantidade, conclui-se que o plano seja bom.
Se a aprendizagem não estiver sendo boa, ou se os alunos estiverem indo
mal nas avaliações, é preciso reavaliar o plano. Reavaliar o plano é analisar cada
um de seus componentes: objetivos, conteúdo, procedimentos de ensino, meios
auxiliares e avaliação. O próprio professor precisa se analisar.
O plano pode ter objetivos de nível muito elevado e estes serem muito
difíceis para aquela turma ou mesmo para aquele ano. Podem, também, ser
muito fáceis e todos irem bem nas avaliações. Neste caso, as atividades não
fazem os alunos crescer. É preciso analisar a situação e adequar os objetivos ao
nível do ano e da turma.

241
O conteúdo escolhido pode ultrapassar a possibilidade dos alunos ou ser
fácil demais, e não provocar desafio para os alunos e não os levar a aprender
coisas novas. Neste caso, precisa ser revisto para ser adequado à turma, ser
útil, significativo e adequado aos objetivos.
Os procedimentos de ensino podem não ser coerentes com os objetivos
que se pretendia alcançar. Se queremos que os alunos aprendam a distinguir
fatos, elementos, princípios, os procedimentos de ensino devem levar o aluno a
distingui-los. Se queremos que o aluno aprenda a analisar, sintetizar, raciocinar,
os procedimentos selecionados devem fazer o aluno trabalhar raciocinando,
analisando ou sintetizando. A aula expositiva, por exemplo, é inadequada para
se alcançar qualquer um destes objetivos.
Quanto aos meios auxiliares, o professor pode se perguntar: será que eu
usei todos os meios que poderia para facilitar a aprendizagem? Será que usei
os meios de forma correta? Ou, até mesmo, usei meios auxiliares? Tive preguiça
de usá-los ou de levar os alunos até eles?
Pode ser que os alunos tenham alcançado muitos e bons objetivos, mas
as formas de avaliação não foram adequadas. Pode ocorrer de o professor
elaborar questões confusas, sobre assuntos não trabalhados pelos alunos,
questões difíceis ou complexas que deixaram os alunos nervosos; pode ser que
os alunos alcançaram os objetivos. Mas, se o professor se prende a provas e a
outros formalismos para fazer a avaliação, pode chegar a resultados falsos.
Pode ocorrer de a causa do fracasso do plano ser o próprio professor:
conhece pouco psicologia, Didática e o próprio conteúdo; trabalha os assuntos
de forma superficial, é negligente e grosseiro com os alunos.
É importante observar que o plano deve ser avaliado, enquanto ele é
executado. É a avaliação em processo. De que adianta avaliá-lo depois de
executado? Aí o aluno e o professor já perderam muito tempo; mesmo porque o
plano não pode ser executado outra vez. Assim, sempre que o professor notar
qualquer falha no plano, deve mudá-lo imediatamente. É por isso que o plano
tem que ser flexível: para poder haver replanejamento, sempre que necessário.
Avaliar o plano depois de executado pode servir, eventualmente, para a
turma do ano seguinte ou para corrigir falhas do professor no plano de unidade
a ser feito para a etapa seguinte.

5 Plano de disciplina ou de curso

É o plano que o professor elabora para cada turma e/ou disciplina para
ser trabalhado num certo período de tempo, geralmente um ano. É também
chamado de plano anual.
Nos currículos de regime semestral, o plano de disciplina é feito para um
semestre.

242
No plano de disciplina, deve ser considerado o currículo do curso, ou seja,
as demais disciplinas do curso, os objetivos e conteúdos trabalhados nos anos
anteriores e previstos para os anos seguintes e a carga horária da disciplina.
Os professores devem dividir a responsabilidade do alcance dos objetivos
do curso entre si. Por isso mesmo, é necessário um planejamento conjunto para
evitar que dois ou três professores trabalhem o mesmo conteúdo e visem aos
mesmos objetivos específicos.
Em qualquer situação, deve-se levar em conta o diagnóstico feito, o que
os alunos já sabem, o que é possível que eles possam aprender naquele ano ou
naquela disciplina, a capacidade e a possibilidade deles.

5.1 Exemplo de plano de disciplina

PLANO DE DISCIPLINA (OU DE ÁREA)

Escola: Rodrigues Alves Localidade: Maringá


Curso: Ensino Fundamental 9º Ano Turma: B
Ano: 1988
Área: Ciências Carga horária total: 120 horas

I. Objetivos
Gerais

Desenvolver:
- o senso crítico;
- o espírito de cooperação;
- a responsabilidade;
- o hábito de pesquisar;
- o hábito de observação de detalhes;
- a inteligência e o raciocínio;
- a mentalidade científica;
- o hábito de organização e de ordem;
- a iniciativa;
- o espírito de honestidade;
- a confiança em si;
- o gosto e amor ao estudo;
- o hábito de perseverança;
- o amor à verdade.

Específicos

Os alunos ao final do ano deverão:

- reconhecer a importância do estudo dos fenômenos físicos e químicos;

243
- formar conceito correto de higiene;
- reconhecer a necessidade de se preservar a pureza do ar e da água;
- saber calcular peso e massa;
- identificar as fontes de calor;
- identificar os processos e instrumentos de medir temperatura;
- adquirir conhecimentos sobre como alimentar-se;
- reconhecer a importância e usos do calor;
- conhecer os elementos necessários para a alimentação humana;
- conhecer os diferentes tipos de habitação;
- identificar as condições de uma habitação saudável;
- saber classificar os seres vivos;
- reconhecer a importância das plantas;
- conhecer as formas de reprodução das plantas;
- conhecer alguns tipos de peixes;
- conhecer suas formas de reprodução;
- reconhecer a importância do peixe como alimento;
- distinguir insetos úteis dos nocivos;
- conhecer as funções dos diversos órgãos do corpo humano.

II. Conteúdo

Fenômenos físicos e químicos


A água
O ar
Peso e massa
Calor
Alimentação
Os seres vivos
As plantas
Os peixes
Os insetos
O corpo humano

III. Procedimentos de ensino

Experiências
Demonstrações
Visitas e excursões
Pesquisas
Estudo dirigido
Discussão
Bombardeamento mental
Tomada de decisão
Outros, de acordo com a oportunidade

244
IV. Recursos de ensino

Retroprojetor Lago
Videocassete Bosque
Aquário Vertente
Fios de cobre Exemplares de plantas
Fogareiro Laboratório de física e química
Chaleira Estação de tratamento d’água
Água Médico
Geladeira Esqueleto humano
Gelo Árvores
Exemplares de insetos Sementes
Balança Terra
Cubos de 1 dm3 Reálias
Litro Livro texto
Trena Slides
Projetor Outros

V. Avaliação

- observação direta das atitudes, atividades e experiências que os alunos fizerem


e da sua participação nas pesquisas e discussões;
- relatórios de experiências e pesquisas;
- amostras de insetos e plantas;
- coleções de espécies de insetos e plantas;
- provas escritas subjetivas em que os alunos tenham que demonstrar ora
capacidade de síntese, ora de análise, ora de apreciação, de julgamento, de
crítica;
- provas escritas objetivas em que os alunos tenham que demonstrar
conhecimento de termos técnicos, conceitos básicos e distinção de elementos
principais.

VI. Bibliografia

Do professor:
BARROS, Carlos. Ciências – programas de saúde, ecologia. 36ª Ed. São Paulo,
Ática, 1987.
PORTO, Dinorah Poleto e MARQUES, Jenny de Lourdes. Ciências – o corpo,
saúde – primeiro grau. 4ª Ed. São Paulo, Scipione, s/d.
Do aluno:
MAESTRELLI, Therezinha e ARAÚJO, Dione de Godoy. Ciências e saúde. São
Paulo, FTD, 1972.
VERSIANI, Maria Z.B. Iniciação à ciência. 10ª Ed. São Paulo, Ática, 1974.

245
6 Plano de unidade

O plano de disciplina traz, normalmente, no conteúdo previsto, uma lista


de itens que vão ser trabalhados, chamada de programa. São os pontos, os
tópicos ou unidades a serem estudados. Veja-se no plano de disciplina
apresentado anteriormente os itens do conteúdo. Cada um desses itens ou
unidades merece um plano em separado.
Os planos de unidade podem ser organizados de várias formas: como
unidade de experiências, como projetos, como centro de interesse ou,
simplesmente, como unidade. Tudo vai depender do tipo de assunto ou da
maneira com que o professor pretende tratar o tema.
As unidades “água”, “ar”, “peso e massa” são apropriadas para se
desenvolver como unidade de experiências, pois podem ser feitas muitas
experiências ligadas às experiências que os alunos já conhecem sobre elas.
Sobre “insetos”, “plantas”, “peixes” podem ser desenvolvidos projetos.
Além de se alcançar objetivos relacionados às unidades, podem ser atingidos
objetivos pelo desenvolvimento do projeto em si. O projeto que foi apresentado
sobre a erradicação do pernilongo, no capítulo dos métodos
socioindividualizados, é um exemplo disso. Pode-se elaborar projeto para
embelezamento da escola com plantas, projeto de paisagismo, por exemplo. Ou,
então, projeto de criação de peixes, onde isso for possível.
As unidades “habitação” e “os seres vivos” podem ser trabalhados em forma
de centro de interesses, se sobre elas os alunos demonstrarem interesse.
“Alimentação” e “corpo humano” podem ser trabalhados, simplesmente,
como unidades em torno das quais se faz estudo e pesquisa. Para estes
assuntos, faz-se um plano comum, como veremos a seguir.

6.1 Exemplo de plano de unidade

Plano de Unidade

Escola Rodrigues Alves Localidade: Maringá


Curso: Ensino Fundamental 9º Ano Turma B
Disciplina: Ciências Ano: 1988
Assunto: Alimentação Duração: 7 horas

I. Objetivos
Específicos:
- conhecer os elementos necessários para a alimentação humana;
- identificar as classes de alimentos;
- conhecer a função dos alimentos no corpo humano;
- conhecer o valor nutritivo dos principais alimentos;
- conhecer a origem dos alimentos;
- identificar as principais formas de conservação dos alimentos;

246
- conhecer as medidas higiênicas a serem tomadas com relação
aos alimentos.

Detalhados:
Ao final da unidade, os alunos deverão ser capazes de:
- relacionar os 20 principais elementos nutritivos necessários para o corpo
humano;
- relacionar 5 doenças provocadas por subalimentação;
- fazer a lista de 10 alimentos que contenham hidratos de carbono, em
ordem de maior concentração;
- selecionar os alimentos que contenham, no conjunto, todos os
elementos necessários para o corpo humano;
- calcular, em gramas, a quantidade de cada alimento necessário para
uma alimentação completa para uma semana;
- listar 8 alimentos que contenham gordura;
- ordenar 10 alimentos de maior concentração de vitamina “A”;
- ligar 10 doenças com as respectivas deficiências nutricionais;
- citar as 3 infecções mais perigosas transmissíveis pela carne;
- citar 3 formas de conservação da carne para mais de um ano;
- listar os elementos nutritivos do espinafre;
- comparar o valor nutritivo do mel e da maçã através de percentual de
cada elemento.

II. Conteúdo
A alimentação humana
As classes de alimentos
A função dos alimentos no corpo humano
O valor nutritivo dos alimentos
A origem dos alimentos
A conservação dos alimentos
A higiene dos alimentos

III. Procedimentos de ensino


- pesquisar em livros e analisar as tabelas com o valor nutritivo de
cada alimento;
- realizar estudo dirigido realizando as seguintes técnicas:
fazer um esquema com as classes dos alimentos e suas
subdivisões;
fazer lista dos alimentos em função do que foi fixado nos objetivos;
- palestra de nutricionista ou médico, com perguntas ao final para
solucionar questões pendentes;
- discussão sobre as causas da subnutrição no Brasil;

247
- demonstração, pelo professor ou por químico convidado, de como
se descobre a composição dos elementos nutritivos de frutas ou
legumes;
- apresentação de slides sobre conservação da carne, legumes,
frutas, e verduras;
- entrevista com higienista ou sanitarista sobre as medidas
higiênicas a serem tomadas com relação aos alimentos;
- visita a frigorífico para observar a inspeção e conservação da
carne;
- exposição integradora após cada atividade acima.

IV. Meios auxiliares


- humanos: nutricionista, médico, químico, higienista ou sanitarista,
o professor e os próprios alunos.
- materiais: projetor de slides, slides, frutas, legumes, geladeira,
frigorífico, charque, livros, folhetos, tabelas, jornais, revistas.

V. Avaliação
O desempenho dos alunos será avaliado por meio da observação de
interesse, participação, conclusão e acerto das atividades.

Ao final da unidade, será feita uma verificação escrita contendo três


questões que exijam capacidade analítica e crítica, três questões com múltipla
escolha e quatro com preenchimento de lacunas.

VI. Bibliografia
Do professor:
GOMES, Wellington Caldeira e outros. Ciências – Programa de Saúde –
Ecologia – 8ª série. Belo Horizonte, Lê, s/d.
DÍAZ BORDENAVE, Juan e PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de Ensino
Aprendizagem. Petrópolis, Vozes, 1977.
Do aluno:
BARROS, Alencar. Biologia Educacional. São Paulo, Editora do Brasil, s/d.
OLIVEIRA, Valdemar de. Higiene e Puericultura. São Paulo, Editora do Brasil,
1975.

248
7 Exemplo de plano de aula

PLANO DE AULA
Dia: 15-10-88 Assunto: A carne

I. Objetivos detalhados
- citar as 3 infecções mais perigosas transmissíveis pela carne;
- citar 3 formas de conservação da carne para mais de um ano;
- listar as características da carne tóxica.

II. Conteúdo
A carne

III. Procedimentos de ensino


- leitura da parte do capítulo do livro que trata da carne, do qual os alunos
deverão listar as 3 infecções mais perigosas e as 3 formas de conservação da
carne;
- cochicho (2 minutos) sobre o perigo de se comer carne infectada;
- observar e cheirar um pedacinho de carne que ficou fora da geladeira por 24
horas;
- exposição oral sobre os cuidados que se deve ter com a carne e os perigos de
se comer carne infectada ou intoxicada;
- demonstração das formas de se conservar a carne: mostrando charque,
salame, carne fria mergulhada em gordura, carne congelada e carne em
conserva.

Meios auxiliares
- livro-texto, pedaço de carne estragada, pedaço de charque, pedaço de salame,
latinha de carne em conserva, pedaço de carne congelada, latinha de carne frita
mergulhada em gordura.

Avaliação
Observar se os alunos fizeram as atividades solicitadas; se demonstraram
interesse e compreensão.

8 Conclusão

Não existem receitas para se planejar. O importante é ter bem claro o que
se quer alcançar e como se pode alcançar o que se quer.
O plano deve ser um roteiro que dê segurança ao professor para evitar
confusões e perda de tempo. Seria bom que ele previsse muitos detalhes para
assegurar que nada foi esquecido e para facilitar o trabalho. Mas, se surgirem

249
formas novas, e talvez mais importantes de executar o plano, ele pode deixar de
lado os detalhes.
O plano deve ser flexível, isto é, deve poder ser alterado assim que se
notarem falhas ou se descobrirem outros meios de alcançar os objetivos de
forma mais fácil e eficiente. Se os próprios alunos fizerem seu plano de estudo,
melhor ainda. É sinal que demonstram interesse e têm, iniciativa. O professor
será um orientador de seus estudos.
Normalmente, os professores não escrevem o seu plano de aula. Nem é
necessário, se tiverem um bom plano de unidade. Mas, seria bom que
elaborassem um roteiro para evitar esquecimento. Não é necessário seguir
nenhum modelo de plano. Cada assunto pode até exigir formas de planos
diferentes.
De aula em aula, o professor cumpre o plano de unidade. De unidade em
unidade, o professor cumpre o plano da disciplina ou anual, mas sempre o
professor deve ter em mente os objetivos detalhados, específicos, gerais, os fins
e ideais da educação.

250
BIBLIOGRAFIA

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2001. Disponível em: < http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/vigo.html>, com
acesso em 21 jul 2015.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. Ed. 12. Ícone Editora. 2001.

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SOBRE O AUTOR

Formação: Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal do


Paraná.
Mestre em Educação pela PUC-RS.
Atuação: Professor efetivo do Estado do Paraná – atuando nos cursos de
normal de nível médio para formação de professores para os anos iniciais do
Ensino Fundamental, de 1966 a 1990, nas áreas de Fundamentos da Educação
e Teoria e Prática.
Professor na Educação Superior, de 1966 até a presente data, nas áreas
de Estrutura e Legislação da Educação, Didática e Tecnologia da Educação e
Educação a Distância.
Foi Diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari
(PR), de 1969 a 1973.
Foi diretor da Diretoria de Assuntos Acadêmicos da Universidade
Estadual de Maringá, em 1977 e 1978.
Foi presidente da Associação dos Professores Licenciados do Paraná, de
1976 a 1979.
Foi diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da
Universidade Estadual de Maringá (UEM), de 1980 a 1984.
Atualmente, é professor de Neurociência e Educação, Metodologia de
Educação a Distância, Didática, Projeto Político Pedagógico, na Faculdade
Instituto Superior de Educação do Paraná - FAINSEP.
É, também, diretor administrativo da FAINSEP desde fevereiro de 2005, até
a data de hoje 21/08/2015.

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