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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE GOIÂNIA - GOIÁS

Autos Nº: 201200564078


Autor: Ministério Público Do Estado De Goiás
Acusada: Carla Carluana Pereira Da Costa

CARLA CARLUANA PEREIRA DA COSTA, já qualificada nos autos em epígrafe,


através de seu representante, vem perante Vossa Excelência com fulcro no artigo 403, §3º, do
Código de Processo Penal (CPP), apresentar MEMORIAIS na presente ação penal.

1 – SINOPSE FÁTICA

Narra a peça acusatória de fls. 02/03 que em 15 de fevereiro de 2012, por volta das
11h30min, na Avenida Independência, Lote 01/06, Setor Norte Ferroviário nesta Capital, a
denunciada Carla Carluana Pereira Da Costa, em companhia de Ítalo da Silva e Lenice dos
Santos, agindo de forma dolosa, premeditada e com animus furandi, adentraram ao
Supermercado Walmart onde subtraíram vários objetos.
De acordo com as testemunhas, o denunciado Ítalo da Silva Brito recolheu as
mercadorias e as depositou nas bolsas das denunciadas Carla e Lenice. Narram também que
após o furto os três acusados evadiram-se do local sem o devido pagamento pelos objetos.
Posteriormente foram abordados pelo segurança e fiscal já no estacionamento do
hipermercado, portanto sendo presos em flagrante.
Extrai-se da fl. 28 dos autos de inquérito policial que o valor total dos objetos
apreendidos é de R$ 1.066,41 (um mil e sessenta e seis reais e quarenta e um centavos). Dessa
forma o órgão ministerial ofereceu denúncia, capitulando os autores com fulcro no artigo
155, § 4º, inciso IV, do Código Penal Brasileiro (CPB). A denúncia foi recebida em 26 de
abril de 2012, conforme decisão de fl. 43.
Os acusados Ítalo e Carla apresentaram resposta à acusação às fls. 118/125 e
126/132, respectivamente. A audiência de instrução e julgamento foi iniciada em 14 de
novembro de 2013, conforme fl. 176 e finalizada em 20 de setembro de 2018, conforme fl.
300.
Após houve apresentação de alegações finais em forma de memoriais,
respectivamente pelo Ministério Público, fls. 310/315, bem como por parte da Defensoria
Pública representando a denunciada Lenice do Santos, fls. 317/320. Nesta oportunidade, a
defensora da acusada Carla Carluana foi intimada para a apresentação de suas alegações finais
por memoriais.

2 - FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

As partes são legítimas: O Ministério Público como titular da ação penal pública e a
acusada Carla Carluana como denunciada.
As partes encontram-se devidamente representadas, presentes o interesse de agir e a
possibilidade jurídica do pedido.
Não existem nulidades ou irregularidades formais que obstem o exame do mérito da
pretensão punitiva.

3 – MÉRITO

Diante da análise minuciosa do caso em tela, entende-se que não existem provas
suficientes para a condenação da acusada, conforme disserta-se a seguir.

3.1 – MATERIALIDADE

A materialidade do delito encontra-se no Auto de Exibição e Apreensão, fl. 26, onde


é evidente a descoberta da res furtiva, assim como pelo Termo de Restituição, fl. 27.

3.2 – AUTORIA

Percebe-se dos autos que os requisitos básicos para configuração do crime, ou seja,
autoria e materialidade, estão ausentes na situação descrita. Conforme a denúncia, Ítalo
subtraiu os objetos do supermercado Walmart, posteriormente depositando os itens nas bolsas
de Carla e Lenice, sendo que supostamente teriam tentado fuga do estabelecimento logo em
seguida. Em depoimento integral, a mãe de Carla afirma:
Que Carla é sua filha e Ítalo era um vizinho. Que Carla está presa. Que acha que
Ítalo está preso. Que Ítalo respondia uma ação penal em Goiânia. Que veio na
companhia de sua filha e de Ítalo para Goiânia porque queria comprar umas
roupas para vender. Que Ítalo disse que iria comprar um lanche no
estabelecimento comercial Walmart. Que ficou juntamente com Carla
aguardando Ítalo. Que Carla foi atrás de Ítalo, e estava demorando muito ai foi
atrás dela. Que quando chegou no interior do hipermercado, Carla e Ítalo já
estavam detidos. Que disse para o segurança que era a mãe de Carla, que
diante disso foi colocada em um quartinho junto com eles (Carla e Ítalo). Que
conhecia Ítalo de Brasília, pois eram vizinhos. Que foi a primeira vez que veio para
Goiânia. Que veio porque Ítalo disse que aqui tinha roupas baratas na feira. Que
locaram um carro em Brasília para virem até Goiânia. Que foi presa quando
entrou no supermercado no intuito de procurar sua filha. Que não tem nada a
ver com os fatos. (Mìdia de fl. 301, grifo nosso).

É notório que nos Autos de Apreensão inexistem detalhes ou informações precisas


sobre quais objetos foram encontrados em poder dos acusados, ou seja, existe apenas uma
atribuição genérica acerca da res furtiva.
O policial militar Gilberto Nunes Borges, responsável pela condução dos acusados,
atestou que ao chegar no local dos fatos, os acusados já estavam detidos e os objetos já
haviam sido recuperados, obstando ao mesmo a capacidade de descrever os referidos objetos.
Prestou o seguinte depoimento:

Que foi acionado para apoiar na condução dos acusados. Que ainda no interior da
loja foram encontrados os objetos. Que quando chegou no local os acusados já
estavam em uma sala reservada. Que não se recorda da justificativa dada pelos
acusados. Que no estabelecimento comercial havia sistema de monitoramento. Que
os acusados foram monitorados. Que todos os objetos foram recuperados. (Mídia de
fl. 177).

Destaca-se que embora a testemunha havia mencionado o sistema de monitoramento


presente no local dos fatos, tais imagens não foram juntadas aos autos a fim de contribuírem
com as investigações.
Logo, havendo dúvida razoável quanto a atuação da acusada, a absolvição é a medida
imposta perante o princípio in dubio pro reo. Este princípio também é fundamental para
outro, isto é, a verdade real. Cabendo ao Estado levar em consideração apenas o que for
comprovadamente realidade, este não deve se nortear por incertezas.
Acerca do tema, é contundente a doutrina de Cleber Masson (2015. p. 323-324):

Como estabelece o art. 386, inc. VI, do Código de Processo Penal, com a redação
conferida pela Lei 11.690/2008: “Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a
causa na parte dispositiva, desde que reconheça: (…) VI – existirem circunstâncias
que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1.º do art.
28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua
existência”.
A parte final do dispositivo legal – “ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua
existência” – encontra-se em sintonia com a teoria da tipicidade como indício da
ilicitude. De fato, a tipicidade do fato funciona como presunção da ilicitude, uma
vez que a absolvição reclama “fundada dúvida” acerca da causa excludente da
ilicitude.
Cuida-se, na verdade, de manifestação do princípio in dubio pro reo (a dúvida
favorece o réu, pois o ônus da prova da imputação é da acusação), há muito
consagrado nos ordenamentos jurídicos dos povos civilizados1.

Conforme fls. 310 a 314 o próprio Parquet, autor original da ação penal, pugnou pela
absolvição da acusada, tendo em vista não existirem elementos probatórios suficientes a
elucidar a conduta da acusada.
Integra-se a este princípio a prevalência do interesse do réu, garantindo que, em caso
de dúvida, deve sempre prevalecer o estado de inocência, absolvendo-se o acusado. Reforça,
ainda, o princípio da intervenção mínima do Estado na vida do cidadão, uma vez que, a
reprovação penal somente alcançará aquele que for efetivamente culpado.
Neste sentido, é este o entendimento da jurisprudência nacional

APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO QUALIFICADO. RECURSO MINISTERIAL.


CONDENAÇÃO NOS TERMOS DA DENÚNCIA. IMPOSSIBILIDADE.
FRAGILIDADE DAS PROVAS. DÚVIDAS QUANTO À AUTORIA OU
PARTICIPAÇÃO. IN DUBIO PRO REO. Não se mostrando as provas dos autos
suficientes à comprovação da autoria ou participação do apelante no crime tipificado
pelo artigo 155, § 4º, incisos IV do Código Penal, e havendo dúvidas acerca das
circunstâncias que permearam a conduta, mostra-se imperiosa a manutenção das
absolvições dos apelados, em atenção ao princípio do “in dubio pro reo”, e a teor do
art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO2.

A prova nebulosa, capaz de gerar dúvida quanto a autoria, não autoriza a condenação
de um acusado não confesso, devido a sua incapacidade de conduzir o julgador a um juízo de
certeza. É preferível, sem dúvida, absolver um culpado a condenar um inocente, eis que, para
a absolvição não é necessária a certeza da inocência, antes basta a dúvida quanto a culpa.

3.3 – CRIME IMPOSSÍVEL

Considerando a possível ação de monitoramento da acusada, conforme relatada


perante a autoridade policial às fls. 09 e 10, verifica-se que tal acompanhamento impediu a
concretização do iter criminis.

1
MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado - parte geral - vol. 1. 9ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2015.
2
(TJ-GO - APR: 04948492920118090084, Relator: DR (A). FABIO CRISTOVAO DE CAMPOS FARIA, Data
de Julgamento: 19/07/2018, 1A CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: DJ 2597 de 27/09/2018).
A ausência do prejuízo é evidente, pois um delito só se consuma quando nele estão
reunidos todos os elementos de sua definição legal, conforme aduz o artigo 14, inciso I, do
CPB: “consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal”. Na
verdade, trata-se de hipótese de crime impossível, como prevê o artigo 17, do CPB: “ Não se
pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do
objeto, é impossível consumar-se o crime”.
As únicas testemunhas oculares, Willian e Eliciandro, não foram localizadas para
deporem em juízo; não obstante, as provas jurisdicionalizadas não são contundentes, pois
também não foram anexadas aos autos as imagens das câmeras de segurança.
Nas palavras do renomado doutrinador Rogério Greco (2008, p. 289):

O art. 17 do Código Penal é claro quando diz que somente quando o meio
for absolutamente ineficaz é que poderemos falar em crime impossível; caso
contrário, quando a ineficácia do meio for relativa, estaremos diante de um crime
tentado.
[...] Pelo fato de ser relativamente ineficaz, o meio utilizado pelo agente
pode vir ou não a causar o resultado. Na ineficácia absoluta, em hipótese alguma o
resultado será alcançado com a sua utilização 3.

Acerca do tema, é adotado o seguinte posicionamento pelo Supremo Tribunal


Federal:

EMENTA Recurso ordinário em habeas corpus. Penal. Furto simples tentado. Artigo
155, caput, em combinação com o art. 14, inciso II, ambos do Código Penal.
Conduta delituosa praticada em loja de departamento. Estabelecimento vítima que
exerceu a vigilância direta sobre a conduta do paciente. Acompanhamento
ininterrupto de todo o iter criminis. Ineficácia absoluta do meio empregado para a
consecução do delito, dadas as circunstâncias do caso concreto. Crime impossível
caracterizado. Artigo 17 do Código Penal. Atipicidade da conduta. Recurso provido.
Com fundamento diverso, votaram pelo provimento do recurso os eminentes
Ministros Celso de Mello e Edson Fachin. 1. A forma específica mediante a qual os
funcionários do estabelecimento vítima exerceram a vigilância direta sobre a
conduta do paciente, acompanhando ininterruptamente todo o iter criminis, tornou
impossível a consumação do crime, dada a ineficácia absoluta do meio empregado.
Tanto isso é verdade que, no momento em que se dirigia para a área externada do
estabelecimento comercial sem efetuar o pagamento do produto escolhido, o
paciente foi abordado na posse do bem, sendo esse restituído à vítima. 2. De rigor,
portanto, diante dessas circunstâncias, a incidência do art. 17 do Código Penal,
segundo o qual “não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”. 3. Esse
entendimento não conduz, automaticamente, à atipicidade de toda e qualquer
subtração em estabelecimento comercial que tenha sido monitorada pelo corpo de
seguranças ou pelo sistema de vigilância, sendo imprescindível, para se chegar a
essa conclusão, a análise individualizada das circunstâncias de cada caso concreto.
4. Recurso provido para conceder a ordem de habeas corpus, reconhecendo-se a

3
GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 10ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008.
atipicidade da conduta imputada ao paciente na Ação Penal 0000802-
76.2016.8.24.0039, com fundamento no art. 17 do Código Penal. 5. Com
fundamento diverso, votaram pelo provimento do recurso os eminentes Ministros
Celso de Mello e Edson Fachin4.

4 – PEDIDO

Ante o exposto, requer a ABSOLVIÇÃO de CARLA CARLUANA PEREIRA DA


COSTA nos termos do art. 386, inciso IV ou VII, do CPB, diante da insuficiência na
capacidade probatória para imputação do delito descrito no artigo 155, §4º, inciso IV, do
CPB.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Goiânia, 10 de abril de 2019.

__________________________
Advogado
OAB/GO XXXX

4
(RHC 144516, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 22/08/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-021 DIVULG 05-02-2018 PUBLIC 06-02-2018).
ALUNOS:

Gilvan de Barros Pinangé Neto


Giselly Santos Guimarães
Lidya Santos Moreira da Silva
Pedro Henrique Fernandes Mesquita de Oliveira
Rayner Abreu e Silva
Tálita Vieira Santa Barbara

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