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Capa

você está fazendo um trabalho melhor do que supõe

As melhores coisas que os pais fazem

SUSAN ISAACS KOHL prefácio de _ M. J. RYAN,


lombada

As melhores coisas que os pais fazem

idéias e insights de pais da vida real


críticas elogiosas a

As melhores coisas que os pais fazem

"Baseando-se em sua rica experiência pessoal e profissional, Kohl descreve as

dificuldades típicas que os pais de hoje enfrentam, e oferece estratégias práticas para se

lidar com elas".

Lilian G. Katz, Ph. D., professora emérita de Educação Infantil, co-diretora de

ERIC Clearinghouse on Elementary & Early Childhood Education, Universidade de

Illinois.

"Numa época em que todos, leigos e profissionais, parecem ter conselhos

intermináveis para dar aos pais e estarem mais que dispostos a apontar deficiências, As

melhores coisas que os pais fazem é um livro que fala com uma voz decididamente

diferente e animadora. Este livro apresenta um espelho que reflete amor, compaixão e

coragem. Kohl escreve: "Que grande privilégio é ser a pessoa na vida de uma criança

que enxerga além de suas fraquezas, para ver os talentos que se transformarão nos

portões para o novo desenvolvimento". Isto é, na verdade, exatamente o que ela faz

pelos pais neste livro.

"As melhores coisas que os pais fazem é 'leitura obrigatória' para qualquer pai ou

mãe que algum dia se sentiu incompetente, desanimado ou assoberbado _ ou seja,

'leitura obrigatória' para todos os pais e mães!"

_ Wendy L. Ritchey, Ph. D., psicóloga licenciada com consultório próprio.

"Estou impressionada com a capacidade demonstrada por Susan Kohl de se

colocar no lugar dos pais, com sensibilidade e compaixão. As formas como apresenta o

conhecimento e as intuições obtidas de muitas fontes revela criatividade e um rico

conhecimento de psicologia, teoria do desenvolvimento, e problemas associados à vida


cotidiana. Como sua ex-professora, eu a nutri. A mim emociona profundamente a

oportunidade de reverenciá-la".

_ Mary B. Lane, doutora em educação, professora emérita, San Francisco State

University, e autora de Our Schools: Frontline for the 21st Century; Education for

Parenting; Understanding Human Development.


PREFÁCIO

A primeira vez em que falei com Susan Kohl foi pelo telefone. Eu tinha feito a

inscrição de minha filha Ana Li para freqüentar Meher Schools, estabelecimento muito

próximo à nossa residência, que mantém turmas da pré-escola aos cinco anos. Naquela

época Ana tinha dois anos e meio, um vocabulário muito restrito e nenhum treinamento

higiênico. Abandonada ao nascer, na China, foi alvo de séria negligência. Com um ano e

um mês de idade ela não chegava aos seis quilos, e era incapaz de rolar e ficar de

bruços. A partir do momento em que os funcionários do orfanato a colocaram em meus

braços, ela nunca havia sido separada de mim ou de meu marido, Don.

Susie telefonou porque era a diretora da escola. "Depois de ler o formulário de

inscrição de Ana", disse em tom suave, "acho que seria melhor a gente se encontrar em

sua casa". Então ela veio até minha casa e se abaixou na porta para ficar falando com

Ana. Brincaram juntas algum tempo; no dia seguinte Susie voltou para mais um pouco do

mesmo. Então sugeriu levarmos Ana para conhecer a sala de aula onde ficaria quando

eu não estivesse por perto. Fizemos isso durante algumas tardes, para ela se acostumar

com a sala e os brinquedos. Finalmente, chegou o grande dia _ Ana foi para a escola _ e

a única pessoa que tinha lágrimas nos olhos e a angústia da separação foi o papai dela,

que chorou o tempo todo a caminho de casa.

Ana ficou naquela sala com Miss Susie, como a chamava, por três anos. Hoje ela

está na 1ª série _ uma criança inteligente, confiante e talentosa, que não guarda vestígios

do trauma inicial. Desde aquele primeiro telefonema, Susie tem sido minha confidente e

consultora em matéria de criar filhos. Sei que minha filha está feliz e segura, e que se sou

uma mãe melhor eu o devo em grande parte à orientação e ao cuidado de Susie.

No começo de nosso relacionamento, perguntei a ela o que eu poderia fazer para

tornar suave a transição da casa para escola. "A melhor coisa você pode fazer é passar

vinte minutos com Ana de manhã, sem nada agendado. O resto do dia vai correr mais

tranqüilo", aconselhou. E vejam vocês, ela estava certíssima. Não só era bastante indolor
tirar Ana de casa, como eu ainda contava aqueles vinte minutos diários como nossos

momentos mais preciosos. Deitadas na cama, nós ficávamos olhando o céu pela

clarabóia e falando sobre qualquer coisa que lhe passasse pela imaginação. Depois

disso, toda vez em que me sentia paralisada ou confusa, eu procurava Susie. Todas as

vezes constatei que as sugestões dela foram sábias e eficazes.

Agora que você conhece minha história, entenderá por que não tenho como

recomendar suficientemente seu livro As melhores coisas que os pais fazem. Estou muito

feliz que ele tenha sido publicado. Agora todos poderão receber o benefício da sabedoria

e da experiência de Susie. Por muitos anos ela tem sido mãe, professora, professora de

professores, administradora de pré-escola e escritora de artigos e livros sobre pais e

filhos. Ela sabe de que está falando.

E o que ela diz é tão importante! Como dar apoio ao crescimento desse ser

pequenino e vulnerável que foi confiado a nosso cuidado. Como dar apoio a nós

mesmos, enquanto vivemos esse processo miraculoso e desafiador, ao mesmo tempo

em que fazemos todo o demais que nos toca fazer em nossas vidas. E como gerir a

complexidade disso tudo sem nos deixar abater por culpas ou remorsos.

Assim como eu, Susie vem de uma abordagem a que os psicólogos chamam

'focalizada nos bens disponíveis'. O que isso quer dizer é que ela sabe que é melhor se

focalizar no correto e bom _ em nós mesmos e nossos filhos _ e fortalecer isso, em vez

de se concentrar nas falhas, fraquezas ou fracassos, o que redunda em colocar o foco no

elemento deficitário. Nisso consiste a beleza deste livro. Ele nos ajuda a perceber aquilo

que fazemos bem agora, para que possamos fazer mais do mesmo, em vez de nos atolar

em tudo que "deveríamos" fazer ou "teríamos de" fazer.

Recentemente li duas coisas que enfatizam a diferença entre a abordagem dos

bens disponíveis e a do déficit. A primeira foi um artigo no qual se afirmava que hoje em

dia, mais que em qualquer outro período histórico, os pais se angustiam em agir

corretamente. A segunda foi a frase inicial do famoso livro do doutor Benjamin Spock

sobre o cuidado de bebês: "Tenha confiança em si, você sabe mais do que imagina".
Portanto, considero As melhores coisas que os pais fazem um antídoto contra a

angústia parental, uma mão à qual nos agarrar, para podermos confiar cada vez mais em

nós mesmos como pais. Mais saúde e felicidade para nossos filhos serão sua própria

recompensa. E isso será, por sua vez, uma dádiva para o mundo em geral".

_ M. J. RYAN, AUTOR DE THE POWER OF PATIENCE E ATTITUDES OF

GRATITUDE
As melhores coisas que os pais fazem

idéias e insights de pais da vida real

SUSAN ISAACS KOHL prefácio de _ M. J. RYAN,


A carol, cujo amor despertou meu apreço pelas melhores coisas que os pais

fazem
SUMÁRIO

PREFÁCIO vii

AGRADECIMENTOS ix

INTRODUÇÃO 1

PRIMEIRA PARTE

AS MELHORES ATITUDES ADOTADAS PELOS PAIS

CAPÍTULO 1

PROGRESSO, E NÃO PERFEIÇÃO

Progresso, e não perfeição 8

As comparações só confundem 11

Eu não falaria assim com uma amiga 14

Qualquer um comete erros 17

O esforço conta 20

CAPÍTULO 2

A OPÇÃO PELO OTIMISMO

Uma hora de cada vez 24

As crianças refletem pensamentos positivos 27

O mundo precisa dos dotes de nossos filhos 30

Troque o medo pela confiança 33


CAPÍTULO 3

FOCO NOS SENTIMENTOS

Fomente a alegria 38

Não ignore os medos deles 41

Eu também já me senti assim 44

Meus filhos me têm muito amor 47

SEGUNDA PARTE: AS MELHORES COISAS QUE OS PAIS FAZEM

CAPÍTULO 4

DESPERTE NELES O MELHOR

Ensine auto-suficiência 54

Alimente grandes expectativas 57

Acenda o fogo da realização 60

Dê início aos ideais 63

Surpreenda seus filhos em atos de gentileza 66

CAPÍTULO 5

DISCIPLINA POR INTENÇÃO, E NÃO POR OMISSÃO

Encontre alguém para observar 70

Dê a eles uma opção 73

Deixe as conseqüências falarem por si 76

Defenda os limites que fixou 79

CAPÍTULO 6
VEJA A OPORTUNIDADE NO OBSTÁCULO

Tolere a indecisão 84

Dê seu tempo como prêmio 87

O adulto sou eu 90

Eu agradeço 93

Pense como os especialistas 96

CAPÍTULO 7

CONHEÇA SEUS FILHOS DE COR E SALTEADO

Pare o mundo para realmente ouvir 100

Analise o efeito das atividades 103

Ensine-os a sintonizar a voz interior 105

Leia nas entrelinhas 108

Volte em pensamentos à sua infância 111

Ouça os espíritos deles 114

CAPÍTULO 8

DÊ IMPORTÂNCIA À FAMÍLIA

Procure criar cooperação 118

O tempo gasto num piquenique vale a pena 121

Abra as portas de sua casa 124

Compartilhe suas paixões 127

TERCEIRA PARTE:

AS MELHORES COISAS QUE OS PAIS PODEM FAZER PARA SI


CAPÍTULO 9

CUIDE BEM DE SI

Encontre ilhas de paz 132

Aplauda seu próprio esforço 135

Perceba seus dotes maravilhosos 138

Ria para espantar seus problemas 141

QUARTA PARTE:

AS MELHORES COISAS QUE OS PAIS FAZEM UNS PELOS OUTROS

CAPÍTULO 10

CONSTRUA PONTES PARA O FUTURO

Ponha-se no lugar deles 148

Busque orientação 151

Elabore um plano conjunto 153

Reformule seu conceito de família 155

Acredite num novo mundo 158

LEITURAS RECOMENDADAS 161

ÍNDICE REMISSIVO 163


PREFÁCIO

PREFÁCIO

A primeira vez em que falei com Susan Kohl foi pelo telefone. Eu tinha feito a

inscrição de minha filha Ana Li para freqüentar Meher Schools, estabelecimento muito

próximo à nossa residência, que mantém turmas da pré-escola aos cinco anos. Naquela

época Ana tinha dois anos e meio, um vocabulário muito restrito e nenhum treinamento

higiênico. Abandonada ao nascer, na China, foi alvo de séria negligência. Com um ano e

um mês de idade ela não chegava aos seis quilos, e era incapaz de rolar e ficar de

bruços. A partir do momento em que os funcionários do orfanato a colocaram em meus

braços, ela nunca havia sido separada de mim ou de meu marido, Don.

Susie telefonou porque era a diretora da escola. "Depois de ler o formulário de

inscrição de Ana", disse em tom suave, "acho que seria melhor a gente se encontrar em

sua casa". Então ela veio até minha casa e se abaixou na porta para ficar falando com

Ana. Brincaram juntas algum tempo; no dia seguinte Susie voltou para mais um pouco do

mesmo. Então sugeriu levarmos Ana para conhecer a sala de aula onde ficaria quando

eu não estivesse por perto. Fizemos isso durante algumas tardes, para ela se acostumar

com a sala e os brinquedos. Finalmente, chegou o grande dia _ Ana foi para a escola _ e

a única pessoa que tinha lágrimas nos olhos e a angústia da separação foi o papai dela,

que chorou o tempo todo a caminho de casa.

Ana ficou naquela sala com Miss Susie, como a chamava, por três anos. Hoje ela

está na 1ª série _ uma criança inteligente, confiante e talentosa, que não guarda vestígios

do trauma inicial. Desde aquele primeiro telefonema, Susie tem sido minha confidente e

consultora em matéria de criar filhos. Sei que minha filha está feliz e segura, e que se sou

uma mãe melhor eu o devo em grande parte à orientação e ao cuidado de Susie.

No começo de nosso relacionamento, perguntei a ela o que eu poderia fazer para

tornar suave a transição da casa para escola. "A melhor coisa você pode fazer é passar
vinte minutos com Ana de manhã, sem nada agendado. O resto do dia vai correr mais

tranqüilo", aconselhou. E vejam vocês, ela estava certíssima. Não só era bastante indolor

tirar Ana de casa, como eu ainda contava aqueles vinte minutos diários como nossos

momentos mais preciosos. Deitadas na cama, nós ficávamos olhando o céu pela

clarabóia e falando sobre qualquer coisa que lhe passasse pela imaginação. Depois

disso, toda vez em que me sentia paralisada ou confusa, eu procurava Susie. Todas as

vezes constatei que as sugestões dela foram sábias e eficazes.

Agora que você conhece minha história, entenderá por que não tenho como

recomendar suficientemente seu livro As melhores coisas que os pais fazem. Estou muito

feliz que ele tenha sido publicado. Agora todos poderão receber o benefício da sabedoria

e da experiência de Susie. Por muitos anos ela tem sido mãe, professora, professora de

professores, administradora de pré-escola e escritora de artigos e livros sobre pais e

filhos. Ela sabe de que está falando.

E o que ela diz é tão importante! Como dar apoio ao crescimento desse ser

pequenino e vulnerável que foi confiado a nosso cuidado. Como dar apoio a nós

mesmos, enquanto vivemos esse processo miraculoso e desafiador, ao mesmo tempo

em que fazemos todo o demais que nos toca fazer em nossas vidas. E como gerir a

complexidade disso tudo sem nos deixar abater por culpas ou remorsos.

Assim como eu, Susie vem de uma abordagem a que os psicólogos chamam

'focalizada nos bens disponíveis'. O que isso quer dizer é que ela sabe que é melhor se

focalizar no correto e bom _ em nós mesmos e nossos filhos _ e fortalecer isso, em vez

de se concentrar nas falhas, fraquezas ou fracassos, o que redunda em colocar o foco no

elemento deficitário. Nisso consiste a beleza deste livro. Ele nos ajuda a perceber aquilo

que fazemos bem agora, para que possamos fazer mais do mesmo, em vez de nos atolar

em tudo que "deveríamos" fazer ou "teríamos de" fazer.

Recentemente li duas coisas que enfatizam a diferença entre a abordagem dos

bens disponíveis e a do déficit. A primeira foi um artigo no qual se afirmava que hoje em

dia, mais que em qualquer outro período histórico, os pais se angustiam em agir
corretamente. A segunda foi a frase inicial do famoso livro do doutor Benjamin Spock

sobre o cuidado de bebês: "Tenha confiança em si, você sabe mais do que imagina".

Portanto, considero As melhores coisas que os pais fazem um antídoto contra a

angústia parental, uma mão à qual nos agarrar, para podermos confiar cada vez mais em

nós mesmos como pais. Mais saúde e felicidade para nossos filhos serão sua própria

recompensa. E isso será, por sua vez, uma dádiva para o mundo em geral".

_ M. J. RYAN, AUTOR DE THE POWER OF PATIENCE E ATTITUDES OF

GRATITUDE
AGRADECIMENTOS

Meu trabalho em The Best Things Parents Do inspirou muita discussão e

colaboração dentro de minha família. Estou agradecida a meu filho Matt, minhas filhas

Gabrielle e Mari, minha mãe Mary, e minha nora Lana, por me autorizarem a contar

histórias a respeito deles. Ademais, agradeço calorosamente a Matt, Gabrielle, Mari, meu

genro Peter e minha amiga Sharon Hatami por dedicarem horas preciosas de seu tempo

à leitura das provas e contribuírem com importantes observações. Meu marido Jeff, que

considero o melhor padrasto e avô que conheço, colaborou de tantas formas que não há

como agradecer o bastante. Considero o apoio recebido de minha amada família um

reflexo da alegria e do privilegio que vivencio diariamente só por eles estarem em minha

vida.

Agradeço igualmente aos amigos que compartilharam informações, conhecimento

especializado e historias, e aos pais que se converteram em amigos por intermédio de

nossa colaboração, em especial: Ellen Evans, minha parceira na exploração do que é

"melhor" para as crianças; Ira Deitrick; Caryl e Michael Marks; Karen Mulligan; Monika

Kochowiec; Adell DePersia; Diane Frolov e Andy Schneider; Ann Reed; Cecília Soares;

Dana Evans; Denise Brooks; Kathy Dadachanji; Karen Love; Eric e Terry Hummel;

Amanda Wall; Lily Remer; Maggie O'Hern; Aida Faria; Carolyn Newbergh e Kevin Fagan;

Rosemary Kirbach; Margo McKenna; Sarah Truebridge; Carol Palley; Robineve Cole; Loel

e Rob Miller; Lynn Tidd; Lisa Andrews; Tamara Freda; Steve Harrell; Susie Smart.

Obrigada a todos vocês que são mencionados neste livro e aos que me forneceram

ótimos enredos que deverão figurar numa seqüência deste livro.

Quero agradecer a Jim Peterson, meu amigo e parceiro de autoria, por me

apresentar a Barbara Deal, minha maravilhosa nova agente; e à querida Mary Jane Ryan,

por acreditar de todo coração neste projeto, escrevendo o prefácio, e por me apresentar

aos maravilhosos editores Jan Johnson e Jill Rogers, que me deram seu estímulo.
Finalmente, quero enviar gratidão e amor a todos os pais com que me envolvo

diariamente, e àqueles com que trabalhei durante anos, por seu denodado empenho em

iluminar, agora e no futuro, os caminhos dos pais.


INTRODUÇÃO

Vocês são pais melhores do que imaginam

Suspenda todo o interesse que possa ter pela fraqueza, e em vez disso explore os

detalhes complexos dos dotes que possui.

MARCOS BUCKINGHAM E DONALD CLIFTON

Você já ouviu falar em gente que observa os pássaros e em gente que observa

gente. Pois bem, eu sou alguém que observa os pais. Por mais de trinta anos, na

qualidade de educadora e consultora de pais, venho observando as maneiras

maravilhosas que pais encontram de amar os filhos e apoiar o crescimento deles. Quero

que os pais de toda parte vejam o que eu vejo. Eis a que se propõe esta obra: ajudar

você e outros que cuidam de crianças a perceberem as coisas sensacionais que estão

fazendo. O livro realça a forma como pessoas comuns desenvolvem extraordinárias

habilidades, à medida que vão enfrentando os desafios da condição paterna em todos os

estágios do desenvolvimento.

Os pais que observo provavelmente se surpreenderiam ao descobrir o quanto eles

são de fato notáveis Quando os pais me procuram para expor seus dilemas com um filho,

quase sempre estão confusos e duvidam de si próprios. Os pais de hoje são

bombardeados por opiniões contraditórias vindas de terceiros, muitos dos quais

especialistas. Não admira que acabem ansiosos. Nossa cultura considera uma fraqueza

a perplexidade, mas eu vejo como uma força o ato de dedicar tempo à análise de uma

situação. A confusão dos pais é um "primeiro passo" e uma saudável reação.

Quando os pais analisam a confusão, eles se esforçam por aprender. Os pais com

os quais eu trabalho são, em geral, pais muito melhores do que imaginam ser. Em minha

visão, meu trabalho consiste em ajudá-los a se conscientizar de seus pontos fortes e


encorajá-los na tentativa de alcançar novo crescimento. É o que desejo ver este livro

fazer por você também.

As melhores coisas que os pais fazem também tem a intenção de ser uma carta

de amor e um bilhete de agradecimento aos pais. Ele diz: "Estas são as coisas

maravilhosas que eu vejo vocês fazerem, ainda que não consigam enxergá-las por si

mesmos".

Em quase todos os campos do esforço humano entende-se, hoje em dia, a

premissa de que as pessoas precisam de um retorno positivo e da percepção dos

próprios dotes. Como parte da rotina, as empresas dão premiações aos empregados pelo

alto desempenho, e muitas ajudam os indivíduos a diagnosticar os talentos naturais e

expandir as habilidades que possuem. Em outras áreas da vida, pessoas que desejam

perder peso ou fazer mais exercícios físicos são ensinadas a aplaudir os próprios

esforços e a anotar cada nova conquista, por menor que seja. Tornamo-nos especialistas

em aplaudir a nós mesmos em praticamente todas as arenas da vida, com exceção da

criação de filhos.

Minha história é a história de cada mãe ou pai

Para a maioria de nós, o esforço de ser um pai ideal é uma experiência capaz de

abater o orgulho. Com certeza foi assim no meu caso. Quando meus filhos eram

pequenos, minhas amigas e eu acreditávamos estar agindo diferente de nossos pais,

criando ambientes apoiadores perfeitos. Eu era uma fanática em relação à importância da

"família". Desde o tempo em que meus filhos eram pequenos, eu me referia à nossa

família nuclear como um círculo mágico. Mas no caminho houve guinadas imprevistas e

meu casamento se desfez. Percebi angustiada que não poderia proteger meus filhos de

maneira mágica, e nem a vida deles se desenrolaria na forma perfeita que eu imaginara.

Fiquei confusa. Eu não sabia como ser uma mãe solteira e tinha sérias dúvidas

quanto à minha capacidade de enfrentar o desafio. A própria expressão "mãe solteira"


soava incongruente para mim. De minha própria família eu tinha herdado a crença de que

a função parental era algo que duas pessoas exerciam juntas. Mas como precisava tentar

ser "uma mãe completa em mim mesma", apliquei-me a viver uma hora de cada vez. Se

eu tivesse me deixado afundar falta de autoconfiança que me acometeu, não teria

conseguido encorajar meus filhos em seu próprio crescimento. Em conseqüência, fui

forçada a examinar meus pontos fortes e a anotar os êxitos que alcançava. Encorajar

acabou sendo uma das coisas que fiz com mais sucesso, em relação a mim e aos

demais.

Também sou muito engenhosa. Comecei a buscar o apoio de outras pessoas que

se preocupavam com meus filhos. Foi então que minhas definições das palavras "pais" e

"família" começaram a mudar Descobri que em relação a meus filhos muita gente estava

exercendo a função paterna, mesmo sem haver adquirido o título por meios biológicos.

Cada um dos meus filhos recebeu amparo e amor de pessoas significativas que estavam

envolvidas nas vidas deles. Comecei a ver que eu não estava sozinha e que as pessoas

que se preocupam com crianças se relacionam como família. Eu estive nos dois lados da

questão. Ao longo dos anos, servi de mãe a inúmeras crianças. Eis porque, quando esse

livro se refere aos pais, na verdade está se dirigindo a todos os que têm uma relação de

cuidador com uma criança.

Em certo sentido, minha história é a história de cada pai ou mãe. Todos partimos

de nossa própria fantasia sobre como deve ser a parentação, e o que desejamos que

nossos filhos sejam. Então, a vida real desfaz repetidamente a fantasia, e chegamos a

novas percepções, formamos novas atitudes, e tentamos fazer as coisas de forma

diversa. Nem sempre é fácil, mas o abandono de nossas ingênuas convicções nos

oferece o privilégio de saber mais. Obstáculos, enigmas e crises nos oferecem a

oportunidade de compreender mais plenamente a maravilha do crescimento humano _

nosso próprio e de nossos filhos _ da forma como realmente ocorre.

As melhores coisas que os pais fazem lhe oferece a chance de mudar sua

perspectiva inteira da condição paterna/ materna e ver a si mesma e aos pais a seu redor
sob uma nova luz. Cada vez que ler um capítulo você terá chance de meditar de que

forma "a melhor coisa" descrita se relaciona a você e a situações de sua vida. Reserve

uns momentos para reflexão pessoal pela análise das perguntas e sugestões no final de

cada sessão. Essas "Reflexões" operam a ligação do material contido nos capítulos com

sua experiência de pai e de filho. Reservar tempo para entrar em sintonia com as

percepções de nossa infância, ainda que dolorosas, nos permite entender melhor nossas

reações automáticas, enxergar nossos filhos com mais clareza.

O livro está dividido em quatro partes. Começamos pela exploração das atitudes

que ajudam os pais a se sentirem felizes e se tornarem mais sensíveis a seus papéis. A

segunda parte examina as maneiras positivas pelas quais os pais se relacionam com os

filhos: as coisas que eles realmente fazem. A terceira parte aponta para formas cruciais

de que os pais necessitam para cuidar de si mesmos: as melhores coisas que os pais

fazem para se reabastecer e alimentar o próprio crescimento. A quarta parte focaliza a

capacidade dos pais de se prestar apoio mútuo, de trabalhar juntos e de ajudar os filhos a

darem ao mundo a contribuição de seu talento.

Este não é um livro para se devorar e depois deixar de lado. Leia um capítulo e

reflita sobre o modo como pode estar relacionado à sua vida. Como ele se conecta com

as formas pelas quais lhe trataram na infância? O que lhe diz ele sobre uma criança que

você ama, na condição de pai, de avô ou de amigo? O que lhe estimula a aprender?

Espero que você se torne um observador de pais

Imagino que vocês olham em torno para as pessoas que conhecem (e não

conhecem), avaliando de que maneira elas se relacionam bem com os filhos. Se todos

notarmos os exemplos positivos a nosso redor, o mundo irá mudar. Haverá mais

consciência da forma como os pais se esforçam para entender as necessidades dos

filhos e satisfazê-las. O fato de começar a anotar e compartilhar nossas percepções do

crescimento positivo vai suscitar um novo apreço pelos pais e cuidadores. Aumentará o
respeito pelos pais, professores e cuidadores, e a sociedade vai atribuir prioridade à

satisfação das necessidades deles. Vejo o apreço pelos cuidadores das crianças se

levantar como uma poderosa onda de apoio que irá mudar as formas como nos

percebemos. Ela se inicia a partir de nós, mas acredito firmemente que a revolução da

puericultura positiva está só começando.


Primeira parte

AS MELHORES ATITUDES ADOTADAS PELOS PAIS


O primeiro passo em nossa viagem é o exame das atitudes que adotamos _

aquelas que herdamos de nossos famílias e sociedades _ e as expectativas singulares

que trazemos para a condição parental. Com freqüência nossa opção por ser pais surge

da fantasia popular de que ter filhos vai nos completar e nos alimentar com um tipo

especial de amor. A experiência parental é, de fato, um curso em amor, mas para lhe

entender as lições precisamos estar dispostos a adotar atitudes realistas e flexíveis.

Nossa sociedade nos leva a acreditar que nossa função de genitores será fácil se

comprarmos o tipo adequado de livros e parafernália infantil. Alguns aspectos da

experiência de ter um filho podem ser instantaneamente gratificantes. Mas ao

descobrimos que saber o que fazer como pais e mães é realmente um dos desafios mais

complexos que enfrentaremos, certos dias serão de perplexidade. "O que está errado

comigo?" "Há algum problema com meu filho?" "Talvez meu filho não goste de mim". "Se

eu cometer erros, vou prejudicar minha filha?"

A percepção de que essas dúvidas se fundam nas perspectivas ingênuas

promovidas por nossa sociedade pode nos ajudar a dar apoio uns aos outros e a

aprender mais sobre o desenvolvimento humano.

Nossas atitudes estão subjacentes a tudo que fazemos; logo, cabe a nós percebê-

las e transformá-las. Uma das melhores coisas que podemos fazer é aprender a

examinar e atualizar nossas atitudes, mas sempre de uma forma compassiva. O mundo

pode ver defeitos nos pais, porém a aprendizagem não decorre do fato de criticamos a

nós mesmos e a nossos filhos. Não é por termos trazido todas as qualidades adequadas

à função que somos bons pais, nem porque aprendemos com os pais perfeitos. Nós nos

tornaremos melhores pais se promovermos mudanças e visarmos à sabedoria, e não se

evitarmos cometer erros. A verdadeira empolgação e realização trazidas pela experiência

parental vem de observar crescimento _ não só em nosso filho, mas também em nós

mesmos. Conforme declarou William James: "A maior descoberta de qualquer geração é

a de que o ser humano pode alterar sua vida pela alteração da própria atitude".
Capítulo 1

Progresso, e não perfeição

Ninguém vai lhes dar nota pelo fato de serem pais. Ninguém está tomando conta

do placar. Vocês não precisam fazê-lo com perfeição. Vocês cometerão erros... Aceitem

essa verdade e vão achar muito mais fácil a tarefa de serem bons pais.

JOHN E LINDA FRIEL

Quando promovo um workshop de disciplina, os novos participantes sempre

chegam parecendo um pouco nervosos. Aprendi a contar com isso. Falar a respeito de

nosso modo de lidar com os filhos pode deixar em muitos de nós a sensação de estar

fazendo autocrítica. Quem poderá alegar que faz bem a tarefa? E qual de nós não

comete erros? Durante essas oficinas, os participantes suspiram audivelmente de alívio

quando percebem que os outros pais compartilham as mesmas frustrações deles.

Ninguém acerta o tempo todo. O reconhecimento de que o objetivo é adquirir perspectiva,

e não receber respostas instantâneas, suplanta a voz que diz a esses pais que eles não

estão fazendo um trabalho suficientemente bom.

É raro encontrar alguém que não tenha um crítico interno fazendo furos em sua

confiança como pai ou mãe. Por que?

Não recebemos praticamente nenhum retorno sobre o que estamos fazendo de

forma acertada.

. "Os especialistas" estabelecem padrões impossíveis que talvez tenham pouco a

ver com nossos desafios diários.

. Psicólogos culpam freqüentemente os pais pelos problemas emocionais dos

filhos, sem oferecer comentários sobre o que mães e pais fazem bem.
- com muita frequência, nós nos criticamos porque nossos pais nos criticavam.

Quanto mais defeitos nossos pais encontraram em nossas ações, mais intensa e

insistente será nossa resistência à idéia de nos sentirmos bem no papel de pais.

Estou convencida de que o primeiro passo no crescimento como pais é se

conscientizar de que a voz do crítico não é realidade. Além disso, podemos facilmente

nos opor a ela. O problema é que a maioria de nós tenta afastar o pensamento crítico

empurrando-o para o lado. Negar os pensamentos críticos pode na verdade fortalecê-los.

Em vez disso, eu quase sempre anoto o que diz meu crítico interno para poder analisar

objetivamente as afirmativas.

Se neste exato instante (embora meus filhos estejam crescidos) eu fosse listar as

opiniões de meu crítico interno sobre meu desempenho de mãe, ele poderia dizer:

- você está sempre dizendo as coisas erradas às crianças.

- você perturba seus filhos com a preocupação a respeito deles.

- você deveria saber as melhores formas de apoiá-los, mas não sabe.

A lista poderia prosseguir indefinidamente. Quando olho para meus

apontamentos, constato facilmente que o crítico reforça seus argumentos pelo uso de

palavras como "sempre" ou "nunca" ou "deveria". O objetivo de meu crítico é fazer crer

que um bom genitor precisa ser onisciente e ter um perfeito desempenho. Em objeção a

semelhantes absolutismos posso lembrar que:

- eu não digo sempre a coisa errada.

- eu procuro não falar de minhas preocupações com meus filhos.

- eu sempre me esforço por escutar e apoiar meus filhos, mas às vezes cometo

erros. Eu sou só humana.

Examinar de forma objetiva nossos pensamentos críticos lhes desarma o poder e

nos permite começar a ver a nos enxergar sob uma luz mais favorável. Criticar-nos ou

nos comparar, ou a nossos filhos, com os outros só confunde. Uma das melhores coisas

que podemos fazer é adotar a atitudes de que a experiência parental é um processo de

aprendizagem, e que ninguém está na posse das "respostas corretas". Aprender exige
aumentar nossa percepção e auto-aceitação. Enquanto nós aprendemos, precisamos nos

encorajar da mesma forma como faríamos a um amigo. Um pai me confessou

recentemente: "Eu sempre me desempenho melhor como pai quando estou relaxado e

satisfeito comigo mesmo".

Sem emitir juízo, observe as ocasiões em que você questionou seu desempenho

parental. Você procura respostas para suas preocupações, ou simplesmente se sente

mal?

Para identificar seu crítico e lhe diminuir o poder, atribua um nome à voz interior

que fica minando sua confiança. Dizer "Obrigada, Dona Perfeição" ou "claro que sim,

'seu' Melindroso" pode ajudar os pais a reconhecerem e combaterem sua voz crítica.

Escreva a si mesma uma carta de agradecimento por tudo o que você faz.
Comparações só confundem

Ouvimos dizer que uma criança nasceu e fazemos perguntas como "Como foi o

parto?"; "Quanto ela pesa?" e "Já tem cabelo?" Os índios Athasbaskan ouvem falar de

um nascimento e perguntam: "Quem chegou?" Desde o começo se respeita o recém-

nascido como uma pessoa plena.

LISA DELPIT

Quando meu filho Matt tinha quatro ou cinco meses, uma amiga e eu

costumávamos juntar nossos bebês para "brincarem". Nós os colocávamos deitadinhos

num cobertor, um de frente para o outro e ficávamos observando seus movimentos. A

filha dela, Angel, alguns dias mais nova que Matt, era um pouco mais adiantada do ponto

de vista físico. Ela conseguia engatinhar para diante e agarrar o rosto de Matt ou tentar

cutucar o olho dele enquanto minha amiga e eu discutíamos as coisas mais recentes que

nossos bebês estavam fazendo.

Muito cedo descobri que quando as novas mães se reúnem o assunto mais

popular costuma ser as últimas conquistas dos bebês. O ideal de nossa cultura de que o

mais rápido é melhor atinge o cúmulo do absurdo nas expectativas que temos para

nossos filhos. Que importância tinha Angel conseguir cutucar o olho de Matt antes que

ele fosse capaz de engatinhar para puxar a orelha dela? A observação de diversas

gerações de crianças em crescimento me provou que em geral as comparações nada

significam. Mas elas podem confundir. E se naquele ponto eu tivesse formado a idéia

maluca de que Matt não era fisicamente apto? Será que teria tentado influenciá-lo mais

tarde a não jogar futebol ou escalar o monte Shasta em companhia do pai? Ainda bem

que não atribuí nenhum significado à disparada precoce de Angel, e tenho certeza de que

isso pouco significa na vida dela hoje em dia. Eu quisera que fôssemos capazes de ficar

apenas observando reverentes nossos lindos bebês, imaginando que característica

singular eles teriam trazido para o mundo.


Agora que meus filhos são adultos, é mais fácil constatar que as formas como

variavam em desenvolvimento tinham pouca relação com as pessoas que se tornaram.

Mas quando eles eram pequenos, eu estranhava como conseguiam diferir tanto um do

outro. Temos a ilusão de que compará-los vai nos trazer importantes revelações. No

entanto, assinalar diferenças em nossos filhos tem quase sempre efeitos limitantes e até

mesmo negativos.

O problema das comparações é que elas inevitavelmente dão a alguém a

sensação de estar sendo rotulado. As comparações mais exaltadas que nossa cultura faz

se referem à inteligência das crianças. Quais os pais que não gostam de pensar no filho

como inteligente e capaz de competir por notas altas? O sucesso na escola, entretanto,

não reflete necessariamente o grau de inteligência. Em seu revolucionário livro How Your

Child Is Smart: A Life-Changing Approach to Learning, a dra. Dawna Markova descreve

os diversos padrões de aprendizagem exibidos pelas crianças. Infelizmente, as escolas

são projetadas para atender as necessidades de aprendizes auditivos ou visuais, logo

tais crianças são consideradas mais dotadas. Markova recomenda criar condições para

os aprendizes que se beneficiam da experiência direta e necessitem circular pelo

ambiente. Compreender os estilos de aprendizagem nos impede rotular as crianças de

pouco capacitadas.

Em casa, freqüentemente ocorre para os filhos uma distribuição de papéis: uma

vai ser um bom garfo, enquanto a outra apenas belisca a comida; uma adora ler, mas a

outra não está interessada; uma é extrovertida, a outra, taciturna e reservada. Muitos

desses papéis resultam de elogios bem-intencionados. "Vejam como ele come tudo

direitinho!" Talvez seja mais proveitoso observar "Parece que hoje você está com fome".

Quando a criança nota que um papel já foi tomado, busca outra forma de encontrar sua

identidade. Talvez comer bem ou ler avidamente seja a tendência natural de um menino,

mas a constatação de que a irmã é considerada a "boa" leitora ou comensal pode

empurrá-lo em outra direção.


Em seu best-seller The Tipping Point, Malcolm Gladwell assinala que os seres

humanos são tão complexos que não podemos guardar de memória todas as qualidades

deles. As pessoas têm comportamentos diversos em contextos e relações variáveis, e

são contraditórios muitos de seus traços. Quem poderia entender todos eles? Gladwell

afirma que as mentes humanas têm uma espécie de "válvula redutora" que nos ajuda a

simplificar e solidificar nossa imagem de uma pessoa, ainda que ela esteja em constante

mudança.

Se quisermos superar nossa válvula redutora, podemos tentar não confinar

nossos filhos a uma imagem específica ("Johnny é muito tímido". "Tillie não é

organizada".) uma das atitudes que podemos assumir é acreditar que as comparações

entre crianças são especialmente detestáveis. Pense em cada criança como um

manancial de excelentes qualidades, à espera de emergir. Para continuar atentos ao

vasto potencial que possuem podemos pensar na citação de Ralph Waldo Emerson: "O

que temos por trás e o que temos por diante são de pouca monta, se comparados ao que

temos por dentro de nós". Nossos filhos merecem o mesmo respeito e tolerância que

ofereceríamos a um amigo.

Lembre-se de sua infância. Alguma vez um adulto atribuiu a você uma qualidade

negativa? Você conseguiu superá-la?


Eu não falaria assim com uma amiga

Se você falar quando está com raiva dirá coisas de que se arrependerá mais que

tudo na vida.

AMBROSE BIERCE

Cora se considera rápida e eficiente. Tudo indica que duas das filhas parecem ter

saído a ela, que vê a filha do meio, Phoebe, como sonhadora e vagarosa. "Quando a

família está pronta para sair à rua, talvez Phoebe ainda esteja se vestindo", afirma Cora.

"Ela pode gastar uma hora preparando um sanduíche para a merenda, porque passou o

tempo conversando com todo mundo. Eu me preocupo com ela porque tudo indica que

uma garota de 12 anos deveria ser capaz de trabalhar mais rápido. Por enquanto ela

ainda está na sétima série; mas, na adolescência, será seguro deixá-la dirigir um carro?

Ela poderá sair da estrada e colidir com uma árvore". A lentidão de Phoebe por vezes

irrita Cora, e ela precisou aprender a controlar os nervos. Quando sente crescer a

irritação, arranja uma desculpa e se afasta.

"Eu sei que se eu falar quando estou enfurecida, vou acabar dizendo coisas que

depois lamentarei, e será tarde demais para retirar minhas palavras. Se uma hora depois

de ela supostamente ter começado a arrumação, entro no quarto de Phoebe e ainda vejo

coisas espalhadas pelo chão, tenho vontade de dizer: "Qual é o problema? Não enxerga

não? Ai, como você é mole! Suas irmãs já terminaram há meia hora". Mas eu nunca faço

isso. Posso me zangar, mas não posso emitir um juízo sobre minha filha que vá solapar

sua autoconfiança. Eu nunca diria tais coisas a uma amiga, e quero ter o mesmo respeito

pela minha filha."

Já vi Cora ficar fora de si, de tanta raiva, e sua capacidade de não dizer uma

palavra me surpreendeu. Posteriormente poderá falar sobre o que lhe despertou a fúria;

porém, depois daquela pausa a questão não surge como um problema alheio. Ela pode
dizer a phoebe que sente frustração porque esperava que a filha estivesse pronta a

tempo. Mas Cora aprendeu a só fazer isso depois de dissipada a irritação.

Por vezes, quando chateada por causa de Phoebe, Cora telefona para sua "amiga

mais sensata" e pede que lhe forneça um "ajuste de atitude". A amiga lembra a ela que

Phoebe é só uma menina normal de doze anos, e que está certo ela ser diferente da

mãe. Talvez a filha não tenha pressa, porém é boa aluna e cumpre suas

responsabilidades; é generosa e tem fama de se relacionar muito bem com outras

pessoas. Depois de ouvir a opinião da amiga, Cora se dá conta de que teve uma reação

exagerada. Ela ama Phoebe, e tenta lembrar constantemente que a necessidade de

ligeireza é seu problema pessoal. Cora não quer atribuir à filha o papel de distraída da

família. Por conseguinte, tenta conscientemente adotar uma nova atitude.

É inevitável sentir irritação diante de certas ações de nossos filhos. Mas descobrir

o que nos deflagra o mau humor e tomar cuidado para não ofender ou agredir nossos

filhos estão entre as melhores as medidas que podemos adotar. Embora na qualidade de

mãe Cora seja responsável pela orientação de Phoebe, ela sabe que críticas inflamadas

só farão a filha se sentir desmoralizada e desrespeitada. Se apontássemos os defeitos de

nossos amigos, não teríamos tantas amizades íntimas. Agrada-me o teste mental de

adequação usado por Cora: "Será que eu falaria assim com uma amiga?" Basta pensar

nas coisas que os pais dizem tradicionalmente aos filhos ("não acredito que você fez isso!

Onde estava com a cabeça? Como pôde ser tão burro?") e o quanto essas palavras

pareceriam hostis e desmoralizantes, ditas por um adulto a outro (infelizmente, alguns as

dizem).

O velho ditado "pense antes de falar" expressa uma das atitudes mais importante

que podemos adotar. As palavras podem ferir e machucar como bofetadas, e a violência

verbal pode causar efeitos duradouros. Como pais é nossa responsabilidade construir a

confiança, e não destruí-la, independentemente da provocação.

Tendo em mente essa premissa alguns resolvem que jamais se zangarão de novo

com os filhos. Mas eliminar a raiva de nosso repertório emocional nos predispõe a
quedas. O exercício da paternidade é uma das tarefas mais difíceis que podemos

empreender, e por vezes as exigências da condição provocarão nossa ira. Entretanto, ao

adotar uma atitude de que precisamos entender o que aciona a raiva, para aprender a

lidar adequadamente com ela, é uma das melhores coisas que podemos fazer. A

consciência das situações que nos tiram do sério pode até nos capacitar para ser mais

tolerantes em situação de estresse.

Aprender a controlar a língua é fundamental para preservar nossas relações com

os filhos e reforçar os sentimentos positivos que eles têm em relação a nós. Pedir

desculpas quando perdemos a cabeça ajuda nossos filhos a entenderem que gerenciar

sentimentos exaltados requer trabalho, e que qualquer um está sujeito a errar.

Procure gravar algumas vezes seu desempenho quando pedir a seu filho que

mude o próprio comportamento. Ouvir as próprias palavras como soam de fato irá tornar

você mais eficiente.


Qualquer um comete erros

O homem que não comete erros, em geral não comete nada.

Theodore Roosevelt

No time do campeonato de basquete de Meredith, 14 anos, os erros são alvo de

intensa crítica. O time dela representa a área inteira da baía de San Francisco, e todos os

anos conseguem se qualificar para o torneio nacional. Nesse nível de competição, há um

certo escrutínio constante de cada jogada que as garotas fazem. Todos os jogos são

gravados em vídeo, os erros são analisados e o técnico orienta as garotas para lhes

aperfeiçoar as habilidades. Por vezes os pais chegam a castigar as filhas pelos erros

cometidos. É muita pressão!

De que jeito a mãe de Meredith, Dawn, lida com as ocasiões em que todos estão

aos berros porque um erro cometido pela filha fez o time perder um ponto? Ela diz à

menina que não se preocupe, que qualquer um perde uma cesta de vez em quando _ e a

idéia é curtir o jogo. "Para ser franca, a mim não importa quem vença" _ declara a mãe.

"Não estou empenhada em transformá-lo numa estrela. Outras pessoas desistem porque

desejam que a filha seja excelente e receba mais tempo de quadra que os demais. só se

importam com a filha e se ela está jogando bem. Um dos pais ficou tão transtornado com

o árbitro que até trouxe uma arma para o jogo. É de dar medo! _ prossegue Dawn com

veemência. "Só dou força para minha filha jogar basquete porque ela quer. Eu me

preocupo com todas as garotas e com seus sentimentos pela partida que estão jogando.

Elas dão dedicação extraordinária, e é preciso que o jogo também lhes dê prazer".

Dawn e o marido John perguntam todo ano à filha se deseja continuar. Embora o

esporte pudesse até lhe trazer uma bolsa de estudos para a universidade, eles não

colocam pressão para ela melhorar o desempenho ou mesmo continuar a jogar. O

interessante é que a atitude serena dos pais ante os erros cometidos deu a Meredith uma

atitude relaxada nas situações tensas do jogo, permitindo-lhe exercer um bom


julgamento. "Ela foi escolhida capitã do time porque se nota que consegue permanecer

calma durante as partidas difíceis", assinala a mãe. Quando você sabe que vai ouvir

berros porque cometeu um erro, fica tensa e não consegue pensar com clareza". Tanto

Dawn quanto John acreditam que os erros são parte importante da aprendizagem, e

sempre disseram isso à filha.

Diante dessas atitudes, também é interessante o fato de ser Meredith a única

jogadora a se manter no time desde a segunda série. Hoje consideram-na a jogadora

mais valiosa. Para seus pais, no entanto, ser a melhor ainda não é a razão de tudo. "Se

amanhã ela sair do time, já terá aprendido muito sobre as pessoas. No começo o time se

compunha só de brancas, e hoje só duas jogadoras são brancas. No verão passado as

outras garotas deram a ela um nome honorário afro-americano. Depois de ser eleita

capitã do time, ela precisou aprender muito sobre liderar e ser justa com os demais. Ela

se importa profundamente com todas as meninas e com o desempenho delas". Portanto,

dentro dessa atmosfera furiosamente competitiva, Dawn e John foram capazes de instilar

na filha os valores de compaixão, cooperação e tolerância ante os erros cometidos.

Qual é a nossa atitude em relação aos erros? Mostrar à criancinha como enxugar

o leite que derramou ou considerá-la alguém que está tentando estragar nosso dia? Na

primeira vez que uma criança se senta à mesa para colorir, lhe ensinamos a manter o

colorido no papel ou nos enfurecemos com ela pelo mau comportamento? Tratamos erros

de grafia como oportunidades de aprendizagem?

Colocar pressão nas crianças para que não cometam erros só consegue lhes

inibir a experimentação. O famoso educador John holt escreveu um best-seller chamado

How Children Fail [como as crianças fracassam], em que relata de que forma crianças

desistem de problemas de matemática por terem aprendido a ter medo de cometer

enganos. Os alunos que são bons em matemática aprendem que um erro significa a

necessidade de tentar algo diverso, e continuam confiantes. Aquele princípio não se

aplica apenas à matemática, mas sim à vida inteira. Acreditar que os erros promovem o

aprendizado é uma das melhores atitudes que podemos ter para nossos filhos e nós
mesmos. Ela ajuda a conservar a confiança em que nossos esforços são valiosos, não

importa quantas vezes se fracasse. Como afirmava Theodore Roosevelt na citação que

abre este capítulo, gente que não comete enganos normalmente "não comete nada" .

Pense na ocasião em que alguém reagiu com compaixão a um erro que você

lamentou. O que você sentiu? Anote as ocasiões em que os erros de uma criança são

tolerados por você com paciência, e as ocasiões em que lhe causam frustração. De que

maneira você poderia se lembrar do valor dos erros cometidos?


O esforço conta

As escolas deveriam ensinar as crianças a aprender, e os pais deviam ensiná-las

a trabalhar, estabelecendo em casa normas de trabalho e uma ética de trabalho.

DR. MEL LEVINE

Corinne começa a rir quando fala sobre a tentativa de convencer o filho a fazer um

intervalo no dever de casa. "Acho que não é um problema corriqueiro, mas Ahmed gosta

de trabalhar com afinco no dever de casa, e precisamos lembrar a ele que faça uma

pausa para descansar entre as tarefas". Este é o papel que Corinne e o marido Al sempre

desempenharam em relação às tarefas escolares do filho. Eles o treinaram para alcançar

máximo desempenho por meio de abordar as tarefas de forma organizada e reservar

tempo para repouso. Também estabeleceram rotinas: o dever de casa precisa ser feito

imediatamente e tem precedência sobre os esportes ou qualquer atividade

extracurricular.

Quando Ahmed começou a cursar o ensino médio, a mãe lhe perguntou se podia

ajudá-lo a organizar as tarefas. Até elaboraram juntos um sistema de arquivo que

guardava em seqüência as tarefas já corrigidas. Em diversas ocasiões o sistema permitiu

a Ahmed consertar as notas quando um professor anotava errado os pontos obtidos por

ele no dever de casa. O aluno descobriu que tinha a capacidade de melhorar a nota ao

notar os enganos do professor, comprovando-o com o exercício.

Os pais de Ahmed sempre o elogiaram por trabalhar com afinco no dever de casa

e se alegrar pelo trabalho bem-feito, em lugar de bancar o esperto e querer vida fácil.

"Não falamos em termos de inteligência, e sim do tanto que ele aprende por se dedicar

ao máximo, e do quanto nos alegram as coisas incríveis que ele cria nas tarefas".

A ênfase dos pais na dedicação reflete o que a pesquisa já localizou. As doutoras

Cláudia M. Mueller e Carol S. Dweck, psicólogas da Columbia University advertem que

rotular as crianças de "inteligentes" força-as a continuar tentando manter o rótulo. Os seis


estudos realizados em 1988 pelas psicólogas, sobre alunos de 5ª série, mostraram que

quando crianças carimbadas de "inteligentes" sofrem um revés, supõe que na verdade

são incapazes de enfrentar o desafio. Os estudos concluem que o elogio ao trabalho

dedicado estimula as crianças a confiar que no longo prazo irão se desempenhar bem.

Adotar a atitude de que o esforço conta e dar apoio a nossos filhos em seu

trabalho estão entre as melhores coisas que os pais fazem. Mas pode ser complicado.

Avaliar as próprias experiências escolares e tornar-se um bom consultor de trabalho

exige intuição e esforço. Meus pais me davam estímulo louvando minha inteligência e

facilidade de fazer qualquer coisa. Quando cheguei ao estudo de geometria e outras

matérias difíceis, não percebi que só exigiam maior aplicação de esforço, e acabei tirando

notas baixas.

Ao me tornar mãe, também dizia a meus filhos que eram muito inteligentes.

Quando eles chegaram à idade adulta, discutimos o quanto o rótulo de inteligente pode

fazer as crianças se sentirem pressionadas. Felizmente eu também os elogiei pelo

esforço que empenharam e até hoje continuam a ser trabalhadores dedicados.

Cabe a nós analisar nossos sentimentos em relação ao dever de casa e decidir se

a intervenção será benéfica ou prejudicial. Se atribuirmos mais valor à nota que ao

aprendizado, nossa tendência será a de pressionar os filhos, fazendo-os detestar o

trabalho escolar e adiar o dever de casa. Se reagirmos com frustração e críticas, não

seremos os indicados para ajudar. Por outro lado, se adotarmos uma atitude

complacente, deixando à criança a função de adivinhar como fazer sozinha o dever de

casa, ela poderá facilmente fracassar. Se ajudar os filhos nos deveres nos deixa

estressados, esse peso não deveria cair sobre nós, principalmente nos casos em que a

criança enfrenta dificuldades na tarefa escolar. Centros de ensino e explicadores

qualificados devem ser capazes de diagnosticar o tipo exato de ajuda que uma criança

necessita.

Em seu livro A Mind at a Time, o Dr. Nelson Levine, especialista em aprendizado,

fala sobre as diversas formas de ajuda de que uma criança necessita para o dever de
casa. Com freqüência, uma criança que parece preguiçosa tem problemas em gerar e

sustentar a produção mental. Em vez de lhe dizer que se dedique mais à tentativa, é

preciso lhe dar estímulo e sugestões práticas para controlar a energia mental. A base da

ajuda às crianças está em nossa atitude; precisamos entender de forma solidária que

cada intelecto aprende de forma distinta, e nos sintonizar com seus dotes e deficiências

individuais. Assim você pode descobrir formas concretas de dar apoio a elas.

Recorde algumas das aptidões que você lutou para adquirir. Qual foi sua

motivação para continuar a tentar? De que forma um de seus pais ou um outro adulto lhe

ajudou com os desafios de aprender?


CAPÍTULO 2

A opção pelo otimismo


Uma hora de cada vez

... só por hoje, eu serei feliz. Não me entregarei a pensamentos que me

deprimem...

extraído do credo original alanon

Um dia, jantando fora com um casal acompanhado de duas crianças pequenas,

meu marido e eu fomos notando, no decorrer da refeição, uma drástica mudança na

atitude dos pais. Por meia hora a criança de um ano e quatro meses ficou chorando em

pé na cadeirinha alta, e a criança de dois anos exigindo que a levassem para fora, após o

que pai e mãe exibiam uma expressão de derrota. Tinham aguardado com prazer a

chance de sair para jantar, mas agora se culpavam pelo comportamento dos filhos

pequenos. Eles previam a possibilidade de passar muitos anos sem jamais fazer uma

refeição agradável fora de casa.

Estou intimamente familiarizada com esse tipo de raciocínio _ é a chamada

"concretização temporal das projeções de uma experiência negativa". Um dia em que

minhas filhas brigassem sem descanso bastava para me convencer de que o resto da

minha vida seria passado na mediação de disputas. Se minha filha sofria uma recaída da

infecção de ouvido, eu previa passar o inverno inteiro correndo para o médico e me

julgava culpada pelas infecções recorrentes.

A concretização é criada pelo pessimismo, a tendência a ver o copo como meio

vazio, em vez de meio cheio. O pessimismo surge quando nos sentimos impotentes para

administrar uma situação que foge ao controle. Em breve estamos num território

fantástico de agruras incessantes. A solução? O verdadeiro antídoto para nossa

impotência é uma atitude otimista, já que a forma de explicar uma situação estressante

pode nos catapultar na depressão ou fortalecer nossa resistência.

Em seu livro Learned Optimism o Dr. Martin Seligman afirma que mudar a

explicação de um acontecimento pode levantar nosso ânimo e nos ajudar a enfrentar o


futuro com sentimentos de esperança e competência. "Encontrar causas temporárias e

específicas para a infelicidade é a arte da esperança: as causas temporárias limitam a

impotência em termos de tempo, e as causas específicas limitam nossa impotência à

situação original". Na qualidade de pais, isto é algo que precisamos aprender

urgentemente _ a pensar em situações como tendo causas temporárias e específicas.

Para explicar de forma otimista nosso jantar desastroso, por exemplo, eu poderia

assinalar que o restaurante estava muito escuro e repleto de gente, e os garçons não

eram solícitos com as famílias. Compreensivelmente, as crianças reagiram ao barulho, à

penumbra, e à longa espera pela comida. Em vez de culpados, os pais eram pacientes e

extremamente criativos. E o mais importante: eu poderia afirmar que aquela hora difícil foi

um episódio insignificante no contexto maior, mas um episódio do qual os pais puderam

aprender como tornar mais agradáveis os futuros jantares.

Na vez seguinte, comemos num restaurante que tinha um pátio aberto e

iluminado, onde as mesas estavam bem espaçadas e havia pouco barulho. As crianças

comeram alegremente, e depois do jantar ficamos relaxando e desfrutando nosso

momento de convívio. Quem sabe minhas suposições eram corretas, quanto à mudança

de ambiente? Meu argumento é de que culpar o ambiente pelo mau momento nos leva a

sentir menos impotência e nos livra da culpa. Fazer a explicação girar em torno de uma

situação temporária e muito específica transforma o intervalo de uma hora em nada mais

que isso, sem implicações para o futuro.

Pelo espaço de uma hora podemos suportar praticamente qualquer coisa, e a

idéia de só precisar ser pais por uma hora de cada vez é uma das melhores atitudes que

podemos adotar. Ela nos ajuda a não ficar presos aos retrocessos, a nos agarrar ao

otimismo e a ensinar atitudes positivas a nossos filhos. É nosso dever para com eles ter

da vida uma visão esperançosa e acreditar em nossas capacidades de administrar

obstáculos, mesmo ao nos sentirmos impotentes. Os filhos captam nossos pensamentos

positivos, principalmente quando temos consciência do quanto é importante para nós

acreditar neles e em nós mesmos.


Analise suas atitudes quando se sentir perturbado pelo comportamento de seus

filhos. Você atribui a perturbação aos problemas do momento, ou se imagina continuando

a lutar com seu filho no futuro?

as crianças refletem pensamentos positivos

a vida espelha cada pensamento meu. Enquanto mantenho positivos os

pensamentos, a vida só me traz boas experiências. Assim como digo sim à vida, a vida

me diz sim.

LOUISE HAY

Quando Paula e seu marido Dave se cansavam de uma situação insustentável

com um dos filhos, por vezes faziam um jogo. Revezavam-se em afirmar as boas

qualidades da criança. "Ela toca piano com muita concentração e beleza". "Ela gosta

mesmo de divertir a família". "Ela tem fantasias maravilhosas quando está brincando". No

final, começavam a rir, já que os comentários positivos que faziam destoavam por

completo da recente má conduta. Procurar coisas positivas para dizer era um exercício

de restauração de uma imagem positiva da criança.

Quando uma criança está se comportando mal, nossa sociedade nos encoraja a

nos preocupar se tal atitude será parte de um problema maior _ um distúrbio, um

problema psicológico, uma deficiência. Porém, ver o comportamento dos filhos numa luz

tão drástica normalmente não ajuda _ de fato, tal visão pode levar a criança a duvidar de

si. Como o filho absorve os pensamentos dos pais qual esponja absorve água, Paula e

Dave faziam este jogo para se livrarem da visão negativa que adotaram e começar do

zero.

Quando os pais ficam frustrados com o comportamento dos filhos, eu lhes peço

com freqüência que parem e pensem, por um momento, como se ressentiriam se o


cônjuge ou o melhor amigo pensasse neles como um problema. As pessoas normalmente

se arrepiam de imaginar os próprios sentimentos caso percebessem insatisfação no ser

amado.

Em seu livro You Can Be Happy No Matter What, o dr. Richard Carlson nos

adverte de que podemos resolver problemas produtivamente se não os ruminarmos. E

descreve o "efeito bola de neve" _ percebemos algo como um problema, e nossa atenção

leva o problema a crescer em nossas mentes e afetar os que nos cercam. Ele assinala

que não pensar nos problemas do parceiro é uma forma instantânea de melhorar um

casamento. O processo de não se concentrar nos problemas funciona maravilhosamente

num casamento ou relacionamento. Ele informa que seus clientes muitas vezes

aperfeiçoaram a "arte do mau casamento em suas mentes _ eles ficam remoendo o

tempo todo as mesmas coisas, na tentativa de resolvê-las. O que irá ajudar é aumentar o

sentimento positivo em nós mesmos, graças à não focalização nos problemas".

A conseqüência de reconhecer que os sentimentos negativos prejudicam o

relacionamento é reconhecer o quanto o pensamento positivo o ajuda. Ao longo dos anos

aprendi que uma das melhores coisas que posso fazer em relação a minha preocupação

com uma criança é me concentrar em suas maravilhosas qualidades. Isso não quer dizer

que eu esqueça o problema comportamental. Entretanto, eu mudo o foco para incluir

cada vez em que o problema não ocorre, e para prestar atenção a outras facetas da

personalidade da criança. Não quero vê-la pensar em si como um problema. Adotar a

atitude de que as crianças reagem a meus pensamentos me deixa atenta a minhas

próprias ruminações.

Um dia eu estava intrigada com o hábito de um garotinho de quatro anos de gritar

quando queria alguma coisa, em vez de pedi-la ao professor. Conversei com os

professores sobre várias formas de reagir. Dias mais tarde a criança veio se sentar no

meu colo. Um sentimento caloroso se desenvolveu entre nós, e ficamos sentados juntos

por 45 minutos ou mais. Comecei a notar o quanto ele era terno e afetuoso. Que lindo

sorriso. Enquanto eu pensava nessas coisas, ele olhava para mim e sorria ou me
afagava.. Percebi que ele estava absorvendo meus pensamentos felizes a seu respeito.

À medida que os professores faziam amizade com ele, observaram que seus gritos

diminuíram. De repente ele estava se banhando na atenção positiva e não precisava ficar

aos berros para recebê-la. O hábito não desapareceu, mas aos poucos ele foi

descobrindo que podia conversar com seus professores.

As crianças não são conscientes de suas qualidades especiais, nem

necessariamente têm nomes para elas. Ao mostrar que percebemos e reagimos

favoravelmente a suas características, estamos lhes ensinando quais são seus pontos

fortes.

Uma professora me contou recentemente que diz com freqüência a uma criança

como as qualidades positivas desta a afetam. Ela pode dizer "Eu vi como você foi valente

quando alguém lhe xingou hoje, e você não respondeu nada. Sua coragem também me

deu coragem".

Os dotes das crianças irão afetar outros por toda a vida delas. É nossa tarefa

perceber que continuaram a tentar, quando alguma coisa se revelou difícil para elas, ou

que se abstiveram de fazer uma má escolha. Torná-las conscientes dos próprios dotes

em desenvolvimento irá ajudá-las a abordar a vida com confiança.

Renomear o que vemos como pontos fracos de uma criança pode ajudar a mudar

nossa perspectiva.

Circunde os adjetivos reformulados que descrevem seu filho:

tímido

devagar para aquecer

medroso

cauteloso
mandão

sabe o que quer

gosta de liderar

teimoso

decidido, perseverante

exige atenção

capaz de comunicar necessidades

pegajoso

gosta de se conectar

travesso

espontânea

rígido

apurado senso de ordem

egoísta

valoriza a posse

ruidoso

expressivo

o mundo precisa dos dotes de nossos filhos

A verdadeira educação consiste em tirar o melhor de si próprio.


GANDHI

Uma das vozes de maior autoridade do mundo dos falentes de inglês pertence ao

ator James Earl Jones, famoso pelos numerosos papéis cinematográficos, e também por

dublar as vozes de Darth Vader em Guerra nas estrelas e do rei Mufasa em O Rei Leão.

Jones é considerado por muitos como um dos maiores atores do século XX. Entretanto, o

fato de poder usar a voz para se comunicar resultou de um milagre do pensamento

positivo por parte de um dos adultos de sua vida.

Dos seis anos aos quinze anos de idade James ele foi quase inteiramente mudo.

Nativo do Mississsipi, ele foi criado pelos avós, depois de abandonado por pai e mãe logo

após o nascimento. O estresse causado pela mudança da família para o Michigan levou

James a começar a gaguejar. E então o medo de gaguejar deixou-o com medo de falar.

Os avós jamais o castigaram por não falar, mas o avô se lamentava de nunca ouvir a voz

de James, pois esta sempre foi muito bonita.

Na escola, os professores de James aceitaram as limitações que este se

impusera, permitindo-lhe comunicar por escrito o que aprendia. Suas habilidades

potenciais de ator podiam ter se perdido para o mundo, não fora seu professor da 1ª série

do ensino médio, Donald E. Crouch. Ele iniciou James na literatura _ Shakespeare,

Emerson e Longfellow. James se mobilizou para escrever poemas e ao provar pela

primeira vez um pomelo escreveu um poema baseado na cadência no ritmo do poema

Hiawatha, de Longfellow. Encantado em saber que o aluno estava escrevendo poesias,

Crouch apontou que a forma de James provar a real autoria daquele poema sobre a fruta

seria lê-lo em voz alta diante da turma. A abordagem do professor foi sutil. Ele não

pressionou James nem lhe disse que deveria ler poemas. Solidarizou-se com o aluno,

dizendo que sabia o quanto lhe custava falar e que não lhe exigiria tal esforço.

Entretanto, percebia o amor de James pelas palavras como um dos dote do rapaz, e

apelou para tal paixão para ajudá-lo a vencer sua fraqueza.


James acreditava na premissa de Crouch de que um poeta devia ler em voz alta

suas próprias palavras e concordou em ler o poema. Entretanto, no dia em que se postou

diante da turma para ler a obra, seu corpo começou a tremer e ele se recorda de ter

empurrado as palavras "desde o fundo da alma". Todos ficaram atônitos, inclusive James

e seu professor, de que o rapaz lesse a página inteira sem gaguejar nem uma vez.

"Basicamente, ele usou um truque para me fazer falar", recorda Jones.

No processo eles descobriram que James, como tantos outros gagos, era capaz

de ler perfeitamente um roteiro. "Aha!", o professor exclamou. "Agora usaremos isto para

recapturar sua capacidade de falar". Sob a tutela de Crouch, James tornou-se o campeão

de oratória da escola e foi o orador da turma. Foi assim que o mundo começou a se

beneficiar com o talento de James.

Que privilégio ser a pessoa na vida de uma criança que enxerga além de suas

fraquezas, para ver os dotes capazes de se tornar os portões de seu novo

desenvolvimento! Isso não implica ignorar as áreas em que nossos filhos precisam de

ajuda. Nós só precisamos enfatizar suas capacidades e interesses naturais. Se ninguém

perceber o que agrada a elas, as crianças talvez nunca cheguem a se conectar com suas

paixões e trabalhar para expandi-las. Acreditar que os dotes de nossos filhos importam

mais que suas deficiências é uma das melhores atitudes que podemos tomar.

Na quinta e na sexta séries eu tive uma dessas professoras que mudam a vida de

uma criança: Anna Candia. Ela via cada criança de nossa turma como dotada de um

talento único. Ela me encorajava a escrever, e, embora eu fosse tímida ao extremo,

comecei a gostar de ler meus escritos para a turma. A outros ela encorajou a cantar, ou a

praticar esportes. Sua fascinação pelo que fazíamos nos ajudou a não pensar no que não

conseguíamos fazer. Era como se nossa professora estivesse decidida a que cada um de

nós contribuísse com nossos dotes para o mundo. Ela acreditou em nosso futuro, mesmo

quando estávamos em nossa pior fase, e colocou todo o seu esforço em nos ajudar a ter

autoconfiança.
Você consegue se lembrar de um pai ou professor que acreditou em você, mesmo

quando você estava fracassando e se recusava a crer em si mesmo? Que palavras ele

ou ela teria usado para lhe descrever?

Troque o medo pela confiança

Faça o melhor que puder. Não se preocupe, seja feliz.

_ Meher Baba

O telefonema veio tarde da noite.

_ Não fique estressada _ avisou-me ao telefone minha filha de 26 anos. Meu

coração disparou, mas não respondi.

_ Só posso lhe contar o que está acontecendo aqui se você prometer não se

preocupar.

"Que alternativa tenho?" Pensei comigo mesma. Minha filha está longe de casa

16.000 quilômetros, estudando na Rússia, e não vai confiar em mim se eu não me

acalmar.

_ Tudo bem, querida _ respondi com voz calma. _ Eu quero saber o que está

acontecendo. Estava imaginando por que não tivemos mais notícias suas.

_ Talvez ainda não esteja saindo no noticiário dos Estados Unidos, mas a cidade

de Moscou inteira está em crise _ ela disse apressada, como se precisasse desligar a

qualquer momento. _ Você ouviu falar da crise bancária?

Respondi que sim.

_ Bem, aqui está muito pior do que a mídia dos EUA talvez esteja apresentando.

As pessoas estão em pânico. Não posso retirar dólares do banco, então não consigo

nenhum dinheiro. Estou tentando imaginar o que fazer.

"Volta pra casa!", eu queria gritar. Mas temias que tal pudesse revelar meu

frenético estado de ânimo. Em vez disso respirei fundo e peruntei:


_ o que você está planejando fazer?

Naquela situação eu queria dar força a ela demonstrando minha fé em suas

decisões, mais que preocupá-lo com minha apreensão. Além disso, se eu começasse a

chorar ela poderia desligar. Comecei a me concentrar em todas as formas pelas quais

minha filha está mostrando sua competência. Ela é responsável, eu disse a mim mesma,

e incrivelmente decidida. Ela é forte.

Aprendi essa técnica de me concentrar em suas aptidões quanto ela tinha uns três

anos. Quando comecei a levá-la às aulas do pré-escolar, ela sempre chorava agarrada à

minha perna como um siri. A professora disse que eu ajudaria se me despreocupasse.

Imaginei se a professora saberia que eu era uma preocupada inveterada, ou se dizia isto

a todos os pais. Mas a visão da professora abriu minha mente para novas possibilidades.

Comecei a imaginar a preocupação como uma espécie de eletricidade estática

que as crianças conseguem captar. Portanto, quando deixava a sala do pré-escolar eu

me forçava a imaginar minha filha passando bons momentos. Ela gosta de outras

crianças, eu me dizia. Ela quer aprender. Ela é incrivelmente decidida. Fiquei surpresa ao

descobrir que quando me concentrava na capacidade de minha filha para lidar com a

situação, em vez de me concentrar no choro, ambas nos saíamos melhor. O pensamento

em suas habilidades naturais para lidar com a situação reforçava a minha própria

capacidade.

Minha história russa teve um final satisfatório. Minha filha voltou para casa como

uma pessoa feliz e até mais confiante. Mas entre o telefonema e o momento em que ela

desceu do avião, precisei trabalhar muito para confiar, em vez de temer.

Não está errado se preocupar, mas a preocupação nos rouba energia. Antes de

nossos filhos serem adultos, ainda podemos avaliar os riscos dos lugares onde querem ir

e estabelecer limites. Mas muitos desafios que nossos filhos enfrentam chegam

inesperadamente, e o fato de nos preocupar não nos dá a capacidade de controlar suas

vidas. Concentrar-se em seus talentos de gestão da situação pode nos dar mais paz de

espírito e ajudá-los a confiar em si mesmos.


Uma mulher de seus trinta anos me contou um dia sobre a despreocupação de

seu pai e o quanto isso tinha ajudado o desenvolvimento dela. "Meu pai simplesmente

não se preocupava conosco", afirmou com orgulho. "Não por nunca entrarmos em crises

ou jamais cometermos erros. Ele apenas tinha fé em que lidaríamos com as dificuldades

e ficaríamos bem". Ela achava que a fé inquebrantável que o pai depositava nela lhe

trazia confiança em si mesma e a competência para lidar com o que a vida trouxesse. Ela

é uma das moças mais confiantes que já conheci!

A vida no mundo de hoje promete desafiar nossos filhos a alimentar todo tipo de

medos e dúvidas. Uma das melhores coisas que podemos fazer por eles e por nós

mesmos é dizer: "A preocupação roubar a você a alegria de viver. Eu acredito em você,

que sabe que é capaz!"

Imagine que está começando no novo emprego ou partindo em viagem para um

novo local. Que sensação você teria se sua melhor amiga se preocupasse com você e

lhe enchesse os ouvidos de conselhos apreensivos? Que mudança haveria em sua

reação se ela agisse como quem confia em sua capacidade de lidar com os desafios

envolvidos? Observe como as crianças reagem ante as recomendações de cautela dos

adultos.
capítulo 3

Foco nos sentimentos


Fomente a alegria

Podemos intensificar deliberadamente a alegria, não por tomá-la como ponto

pacífico, mas sim ao nos permitir alegria ante uma criança contente... nós sabemos que a

alegria aumenta nas crianças quando recebe reforço.

DRA. VERENA KAST

Quando meu netinho de um ano de idade fica feliz, ele bate palmas ou dá

tapinhas em meu braço. Às vezes ele se limita a sorrir, jogando a cabeça para trás e

fechando os olhinhos. Observando, tento participar com ele. A fonte de sua alegria é por

vezes aparente _ a areia escorrendo entre seus dedos, a tampa aberta de uma caixinha

de metal ou o ritmo da música que escorre do aparelho de som. Também percebi que ele

não precisa dessas diversões para encontrar a felicidade. Ela está entranhada nele.

Meu desejo é que com o passar do tempo sua capacidade de se alegrar possa se

expandir, em vez de diminuir. Mas, em geral, quando observamos as crianças crescerem,

vemos que muitas parecem perder esta capacidade. Que tragédia! Quais são as

habilidades necessárias para ajudar as crianças a reter esse sentimento de júbilo? Como

professora, eu adquiri técnicas para ajudar uma criança acometida de raiva, tristeza e

frustração. Mas encorajar a alegria de uma criança é um tema que nunca foi tratado em

minha formação.

A doutora Verena Kast, uma das raras psicólogas a estudar emoções positivas,

recomenda aprendermos sobre a alegria recorrendo a nossas memórias de felicidade da

infância. Ela afirma que perguntarmos o que nos trazia deleite quando éramos pequenos

nos ajuda a descobrir a felicidade em nossas vidas agora. Essa abordagem diverge da

ênfase colocada por nossa sociedade em aprender sobre as feridas precoces. Como

teriam sido nossa infância se as pessoas tivessem se dedicado a nos tornar mais

alegres?
Não me lembro de que a alegria constituísse um objetivo de vida durante meus

anos de formação. Quando me falavam sobre meu potencial, era sempre em termos de

atributos que me ajudassem a "vencer" no mundo. Para mim, os momentos de intensa

felicidade eram secretos: descobrir tremoços azuis e morangos silvestres durante a

escalada de um morro, ganhar de meu pai numa corrida, acertar a bola com toda força,

no jogo de..... Eu me pergunto se meus pais perceberam o quanto essas experiências me

deixavam feliz.

Hoje observo os pais perceberem os momentos felizes dos filhos e procurarem

fomentá-los. Em nossa escola, mesmo os pais atarefados, por vezes percorrem o longo

caminho que corta nosso jardim de borboletas, para observar uma roseira em flor ou

procurar girinos no lago. Esses pais observaram a transformação ocorrida quando uma

criança descobre alguma coisa que lhe interesse.

Entretanto, quando as crianças vão ficando mais crescidas, nossa sociedade

também lhes ensina que a alegria acontece quando elas conseguem algo desejado _

seja um novo brinquedo, uma roupa nova ou estar no lado vencedor de um jogo de

beisebol. Se a sensação boa depende da conquista de um objetivo, então a lei das

probabilidades determina a nossos filhos ficarem infelizes pelo menos durante parte do

tempo. Será realizadora a felicidade que se deriva da obtenção do desejado?

Muitos pais são capazes de ajudar os filhos a buscar alegrias até mesmo em

momentos em que a vida se complica. Quando Sam tinha quatro anos e sua família se

mudou, ele teve dificuldades de adaptação. Manifestou sinais de estresse e os pais se

empenharam em lhe dar apoio. Porém, não se concentraram apenas em lidar com a

situação _ buscaram atividades que trouxessem abundância de sensações agradáveis.

Eles notaram que Sam gostava de olhar para as nuvens. Uma noite quando olhavam

através da janela para uma formação de nuvens, Sam declarou: "Mamãe, um dia vou

fazer um museu de nuvens. Assim todo mundo pode vir ver as nuvens mais bonitas". a

mãe se deliciava com o senso de encantamento do filho. Ela e Sam começaram a

fotografar nuvens e colocá-las em álbuns. A mãe de Sam ajudou-o a aprender que a


alegria espera por ele até mesmo nos momentos mais difíceis, caso ele não esqueça de

se voltar nessa direção.

A capacidade de acessar um fluxo positivo de emoção é um talento que pode

durar a vida inteira. Porém, assumir a alegria não quer dizer que devamos descartar os

sentimentos perturbadores das crianças, tais como o raiva ou medo. Assim como

aprendermos a nos concentrar nos sentimentos, podemos ajudar nossos filhos a

entender todas as emoções que sentem e a manejá-las com cuidado.

Lembre-se do que os adultos lhe disseram sobre a alegria, durante sua infância.

Ela era retratada como um sentimento que precisava ser contido? Imagine uma ocasião

da infância em que sentiu felicidade. Como você expressou a alegria? Como você a

vivencia agora? Como reage quando seu filho se mostra esfuziante?

Não ignore os medos deles

Não funcionou dizer a meu filho de quatro anos que "monstros não são reais". Ele

não conseguia entender o conceito de irrealidade. Fiquei solidário com seu medo e lhe

disse que também me sentia assim quando criança. Dei a ele um frasco de esguichar

para borrifar os monstros à noite. Ele adorou.

TIM, PAI DE DOIS FILHOS

Durante o intervalo do almoço a perspectiva de minha filha de quatro anos em

relação à pré-escola deu uma virada de 180°. Pela manhã Mari adorava a escola, qual

havia feito durante o último ano. Depois do almoço não queria voltar nunca mais. Eu tinha

telefonado para dizer à professora que me atrasaria alguns mínimos _ o que não era

problema, pois minha filha adorava ficar até mais tarde. Mas desta vez ela ouviu as
palavras da professora como "sua mãe não vai voltar". Em sua cabeça, minha filha

acrescentou as palavras "nunca mais". Naquele momento a imagem de que eu nunca

mais iria voltar ficou impressa de forma indelével em sua mente. Mari ficou traumatizada

e no caminho de volta da escola para casa não falava de outro assunto.

Devo admitir que durante os dias seguintes comecei a enlouquecer. Não

importava quantas vezes eu explicasse a ela que entendera mal, quando a professora

explicou que eu ia me atrasar, a imagem assustadora se apossou dela.

Conforme vi muitas vezes, o terror se apodera qual incêndio da mente sensível de

uma criança. Nenhuma explicação racional parece capaz de apagá-lo. A terapeuta Cecilia

Soares de Walnut Creek, Califórnia, assinala: "para a criança é muito difícil usar o

raciocínio contra os medos. É isso que torna sua angústia mais primitiva e intensa. A

afirmativa de que "não há nada de que ter medo" não faz conexão com os sentimentos

dela, cuja necessidade é ser tranqüilizada. O que ela quer que você diga é que tornará

seguras as coisas.

Um orientador profissional e amigo me aconselhou a não tirar Mari da escola por

causa do susto que levou, e sim ajudá-la a elaborar o medo. Assim ela iria adquirir fé na

própria capacidade de lidar com a questão. Mantê-la em casa a reforçaria seu medo de

que fosse perigoso sair pelo mundo porque a mamãe talvez não voltasse. Quando

estimulamos carinhosamente as crianças a encontrar formas de expressar seus medos e

lidar com eles, nós as ajudamos a descobrir sua coragem e resistência.

Pensei na angústia que eu sentia na infância, com medo de que minha mãe não

voltasse, e no quanto eu teria gostado de receber consolação. Em vez de dizer a Mari

que não havia nada a temer, eu validei os sentimentos dela, dizendo-lhe que na sua

idade eu tinha, por vezes, os mesmos medos. Se minha mãe se atrasava, eu ficava

chorando muito. Depois de um tempo entendi que de fato minha mãe voltava. Declarei a

Mari que a amava e que eu sempre voltaria. "Você acredita?", perguntei. Ela disse que

sim, mas que ainda estava amedrontada. Sugeri-lhe que dissesse a si própria na escola,

durante a manhã: "Minha mãe gosta de mim e ela sempre volta". Mari tentou repetir a
frase e descobriu que funcionava. Senti-me ou um pouco menos perturbada. Afirmações

desse teor não equivalem a afastar o medo ou oferecer uma explicação racional. Elas

são palavras destinadas a programar de forma positiva nosso subconsciente e emoções.

Gradualmente os medos de Mari foram diminuindo e quando ela passou ao jardim da

infância mal podia esperar a hora de ir para a escola. Mais tarde a psicóloga Wendy

Ritchey e eu escrevemos juntas um livro chamado I Think I Can I Know I Can [acho que

posso, sei que posso], sobre como ajudar a criança a ter consigo um diálogo positivo.

Entrar em sintonia com os medos de nossos filhos por meio da lembrança de nossos

momentos de medo na infância é uma das melhores coisas que podemos fazer. Dizer

que temos medo agora, como adultos, poderia levá-los a sentir insegurança, mas saber

que outrora tivemos medo das mesmas coisas mostra a eles que sempre podem nos

confidenciar suas angústias. Mas quase sempre nossos filhos não sabem o que os

perturba e manifestam suas angústias de formas que não entendemos. Zangar-nos com

eles pelo "mau comportamento" que a comoção íntima faz eclodir não funciona.

Precisamos abrir mão de nossas construções metais sobre a forma como elas deveriam

agir, quando o medo persiste, e entrar em nossa própria esfera de sentimentos para

entender.

Lembre-se de alguns dos medos que lhe perseguiam na infância. Como os

adultos reagiam a eles? Se você sentiu algum medo persistente, que abordagem teria lhe

dado a sensação de segurança?

Eu também já me senti assim

O que finalmente me ajudou mais foi me colocar de fato no lugar de meus filhos.

Eu me perguntei "e se eu fosse uma criança cansada, com calor ou entediada? e se

quisesse que aquele adulto importantíssimo de minha vida soubesse o que eu estava

sentido?"
ADELE FABER E ELAINE MAZLICH

Sue e Luis não conseguiam entender o comportamento de Jacob, seu filhinho de

quatro anos. Ultimamente ele vinha sofrendo ataques de mau gênio sem nenhuma razão

aparente. Se a irmã gêmea cantasse no carro, ele se desmoronava. Se em casa um

brinquedo o frustrava, ele começava a gritar.

Os livros de puericultura lidos pelos pais recomendavam ignorar os ataques de

birra. mas Sue e Luis descobriram que quanto mais tentavam se desligar das explosões

do filho, mais freqüentes e ferozes ela se tornavam. Será que seu desafio era uma forma

de se vingar deles por alguma coisa? Como lidar com uma conduta tão esquisita? Foi

então que vieram à minha procura.

Perguntei a eles se tinha havido algum novo estresse na vida familiar. As crianças

com freqüência expressam suas tensões por meio do aumento da irritação ou acordando

de noite. Os pais disseram que nada estava mudado em casa. Percebi que a luta para

entender intelectualmente o filho estava frustrando o casal.

Perguntei se algum deles conseguia pensar em ocasiões atuais ou de suas

infâncias em que essas emoções fugiram do controle. Sue respondeu que se sentia

daquela forma nos dias em que estava sobrecarregada de trabalho. Perguntei-lhe se ela

gostava de que Luis a ignorasse em tais ocasiões.

_ Eu ficaria furiosa _ respondeu enfática. _ Provavelmente me sentiria

abandonada, como se ele não se importasse. Refletiu por um momento.

_ O que eu quero é que ele fique calmo. Não quero que se zangue por meu

estado de esgotamento emocional.

Então, pensando no desejo de que o marido mantivesse a calma, Sue

acrescentou:

_ não sei por que me zanguei tanto com os sentimentos de Jacob, nem por que os

tomei no nível pessoal. Ele deve estar magoado por nós o ignorarmos.
Solidária com o filho, ela se lembrou de repente que eles tinham, de fato, passado

por um novo estresse na família. Por causa da doença do pai, Sue ficava muito tempo

com ele no asilo.

_ o Jacob deve ter ficado perturbado porque eu tenho estado muito ausente, além

de estressado por causa de meu pai, quando eu estou em casa. Ele não sabe como me

dizer.

Pensei que a percepção de Sue de não desejar que Luis a ignorasse, ou que ele

"ficasse perturbado com a perturbação dela" ofereceu um profundo insight. Quando

estamos emocionalmente assoberbados, não queremos que os outros fiquem agitados

ou indignados. Precisamos de apoio sereno da parte deles. Ignorar não significa fingir

que a pessoa não está presente; tem mais a ver com não se irritar nem ceder a

exigências. Nossa necessidade de solucionar as explosões dos filhos pode acrescentar à

deles nossa energia negativa.

Quando a perturbação de nossos filhos nos deixa inquietos, também é fácil

imaginar explicações negativas que se afastam da realidade. Diante da dificuldade em

consolar nosso recém-nascido, podemos achar que ele está irritado conosco ou que

somos incompetentes. Quando uma criança exige aos gritos o que deseja, podemos

temer estar criando um monstro. Lembrar-se das ocasiões em que nos sentimos

alucinadamente cansados ou desapontados por não conseguir alguma coisa pode nos

dar uma imagem mais realista e tranqüilizante.

Dito assim parece simples, mas por vezes a abordagem mais direta se revela a

mais profunda. Em qualquer faixa etária, a solução é apenas conseguir que alguém

perceba, "estou vendo que você está triste (ou irritada com frustrada)", sem emitir juízo.

Duas semanas depois sue me revelou que conversara com Jacob sobre a razão

de se ausentar tanto. Eles também estão passando mais tempo em companhia um do

outro. "Eu já não estou mais preocupada", afirma Sue com um sorriso. "Ele não está

tendo mais tantos ataques". A descontração dela também é parte da cura. Agora está

mais calma.
Nossos vínculos emocionais com os filhos nos dão uma singular sensibilidade

para efetivamente lhes dar apoio. Quando estamos conectados, nossa mera presença

tem o poder de fazê-los sentir segurança. Fazemos isso melhor quando nos lembramos

da força do amor deles e colocamos um esforço constante em proteger tal conexão.

Escreva sobre uma época da infância em que um adulto ajudou você a superar

um abalo sofrido. Qual foi o elemento, na maneira do adulto, que lhe ajudou a recuperar

seu senso de equilíbrio?

Meus filhos me têm muito amor

Minha mãe foi a razão de meu sucesso. Ela era muito verdadeira e segura de

mim. Eu sentia ter alguém a quem não devia decepcionar. A lembrança de minha mãe

sempre será uma bênção para mim.

THOMAS A. EDISON

Quando foi lançado o livro It Takes a Village, de Hillary Clinton, fui uma noite ouvir

uma palestra dela sobre crianças. A palestrante era culta, inspiradora e obviamente tinha

uma profunda preocupação com as crianças do mundo. Mas a história que jamais

esquecerei foi a que ela contou sobre sua própria filha, Chelsea. Quando a menina tinha

oito anos, a família foi à igreja no Dia das Mães, em Little Rock, arkansas. O pastor

perguntou a cada criança da congregação: "Se você pudesse dar qualquer coisa a sua

mãe, o que seria?" Uma criança disse que seria um lindo vestido roxo, outra disse que

jóias. Quando chegou a vez de Chelsea, ela disse que desejava dar à mãe um seguro de

vida. Hillary sorriu para a filha, apreciativa, mas se perguntava o que a menina teria em

mente. A caminho de casa perguntou, amável e curiosa, por que a filha queria lhe dar um

seguro de vida. "Porque eu gosto tanto de você que não quero que morra nunca",

respondeu Chelsea. Hillary ficou atônita e compartilhou conosco a percepção que tinha
vislumbrado na manhã daquele Dia das Mães. "Nunca poderíamos imaginar o quanto

nossos filhos nos querem bem, e o quanto somos cruciais nas vidas deles, mas

precisamos tentar fazê-lo".

Essa história me recorda o quanto é maravilhoso os pais não subestimarem os

sentimentos de apego dos filhos a eles. John Bowlby foi um dos primeiros psicólogos a

estabelecer que fortes apegos oferecem à criança uma base segura. Uma mãe sai para

trabalhar de manhã e deixa seu bebê com outra pessoa _ um cuidador ao qual se espera

que a criança aprenda a amar. Mas talvez a mãe se preocupe, quando o filhinho não vem

correndo para os braços dela quando vai buscá-lo no final da tarde. Separação e reunião

são muito importantes e despertam emoções complexas, mesmo quando a criança está

mais crescida. Eu conheci uma criança de oito anos, segura de si, que urinava nas calças

quando a mãe passa a noite fora. Parte da noção do quanto nosso filho nos ama é

prestar muita atenção ao processo de separação e ajudá-lo a transcorrer bem.

Qual Hillary Clinton, muitos pais têm profissões ou papéis que exigem que de vez

em quando se afastem dos filhos durante alguns dias. Essas crianças talvez gostariam de

dar aos pais um seguro de vida. O pensamento de que um dos pais talvez não volte pode

estar assombrando as mentes das crianças, mesmo quando elas não o demonstram.

Mães e pais que se mantém conscientes dos avassaladores sentimentos de apego dos

filhos não descartam os intensos sentimentos daqueles dizendo coisas como "você nem

vai notar que não estou aqui". Não sei como Hillary Clinton ajudou a filha a lidar com os

períodos de ausência materna, mas eu tenho o privilégio de ver de que forma muitos pais

que conheço lidam de forma delicada com tais separações.

Minha amiga Mary Jane elaborou um "gráfico da mamãe" para a filha, com um

quadrado para cada dia que passaria fora em viagem de negócios. O papai Don ajudou a

Ana a colorir o quadrado de cada dia, e eles contavam os dias até a volta dela para casa.

Observei Mary Jane buscar Ana na escola um dia, depois de voltar da viagem. Naquele

dia específico, Ana virava o rosto e não olhava para a mãe. Mary Jane comentou que Ana

estava zangada. Declarei a ela que achava maravilhosa sua percepção de que a raiva de
Ana era parte do amor que sentia pela mãe. "Por que ela não ficaria zangada?"

perguntou Mary Jane. "A pessoa mais importante do mundo dela foi embora. Ana adora o

pai, mas quando eu viajo, é realmente difícil para ela, e disso eu tenho plena

consciência". É por isso que Mary Jane torna especiais seus retornos a casa.

Um dia, vi outro reencontro que me fez parar para observar: uma mãe, com seu

melhor terno, apoiada num joelho, no corredor do pré-escolar do filho pequeno. A criança

estava vindo do extremo oposto. A mãe abriu os braços, e sua voz soava como houvesse

um mês que os dois não se viam, quando, na verdade, fosse só desde aquela manhã.

"Tive tanta saudade de você!", ela disse, abraçando a criança. Suas palavras e

linguagem corporal lhe mostravam que entendia que ficar o dia inteiro distante dela podia

parecer um mês. O imenso sorriso de adoração da criança me alegrou o dia.

Quais foram as situações que permitiram a você se conectar com seus pais?

Houve coisas que eles fizeram ou deixaram de fazer que levaram você a se afastar deles

ou se sentir carente e inseguro?


Segunda parte

As melhores coisas que os pais fazem

Nosso próximo passo é explorar as coisas úteis que os pais realmente fazem.

Onde se ouve falar sobre os progressos notáveis que os pais realizaram nas gerações

recentes? Os pais de hoje são bombardeados por quantidades maiores do que poderiam

processar, de informação sobre psicologia infantil e desenvolvimento infantil, e, no

entanto, fazem um trabalho surpreendentemente bom de integração da informação e de

"aplicação da teoria" que recebem. Por que ignoramos com que freqüência os pais de

hoje são bem-sucedidos em agir segundo o melhor de sua capacidade de conhecer? Se

não documentarmos as incontáveis coisas que os pais realizam bem, não teremos

nenhum modelo de boa puericultura.

As histórias deste capítulo não refletem as vidas de pais "oniscientes", que

exercitam sua melhor percepção o tempo todo. Elas se baseiam em histórias de gente de

verdade _ inclusive eu mesma _ cometendo erros; ganhando percepção; aprendendo

com as observações, discussões e leituras; fazendo cursos; lembrando o que era ser

criança; e seguindo a própria intuição.

Enquanto você lê sobre essas situações, espero que pense em suas próprias

idéias sobre as melhores coisas que os pais fazem, e principalmente as coisas que você

faz em seu melhor momento. Também espero que você não vá se comparar com essas

pessoas, exceto para se identificar com os sentimentos delas e a disposição que

mostram para experimentar e aprender. Em matéria de relacionamento com crianças,

cada um de nós tem seu próprio trajeto, e as coisas que fazemos de fato ajudam a criar

nossa sabedoria.

Conforme o antigo ditado atribuído a Lao Tsé "Uma viagem de mil quilômetros

começa com um simples passo". Cada passo que damos facilita o caminho para outros

caminharem com sabedoria e se abrirem a novo aprendizado.


CAPÍTULO 4

DESPERTE NELES O MELHOR

Ensine auto-suficiência

Dar um peixe a um homem o alimentará por um dia. Ensinar um homem a pescar

o alimentará pela vida inteira.

DITADO CHINÊS

Há muitos anos uma repórter telefonou da Flórida para me entrevistar. Tinha lido

em algum lugar que minha filha de doze anos lavava a própria roupa, e estranhava que

uma mocinha conseguisse lidar com tamanha responsabilidade. Fiquei um pouco

constrangida. Há vários anos minha filha (e meu filho também) vinha lavando a própria

roupa. Se a jornalista achava que doze anos era muito cedo para lavar roupa, o que dizer

de oito ou nove anos? Garanti-lhe que minha filha era competente em lavar roupa. Então

ela passou à essência da questão: "lavar roupa não seria trabalho de mãe?", ela

perguntou num tom suave, mas confuso. "Tenho uma filha, e cuidar das roupas dela é

uma das formas de cuidar dela". Gulp!

Pensando nisso, percebi que a repórter e eu não víamos da mesma forma o amor

e o cuidado. Lavar a roupa de alguém é cuidar _ exceto se você continuar a fazê-lo

depois que os filhos já estiverem capacitados e, contudo, forem impotentes para lavar

suas próprias camisetas e shorts. Para mim uma das formas de cuidar de meus filhos foi

fazê-los se sentirem capazes de cuidar de si próprios. Eu queria que se sentissem

confiantes e auto-suficientes quando fossem embora de casa. Na faculdade meus filhos

encontraram pessoas que nunca tinham aprendido a lavar roupa ou preparar uma

refeição. Constrangidas, sentiam-se velhas demais para aprender.


Uma sábia professora me revelou certa vez que o segredo de motivar as crianças

a fazer tarefas práticas era ensiná-las enquanto essa habilidade representa desafio. Uma

criança de quatro anos implora para varrer o chão e limpar a mesa. Uma criança de oito

anos ainda gosta de aprender a lavar roupa. Logo, tentei começar a ensinar essas tarefas

a meus filhos enquanto eles ainda queriam aprendê-las.

Fui motivada por minha percepção de jovem adulta de não ter adquirido

habilidades suficientes antes sair de casa, e eu me sentia deficiente. Minha mãe, para me

mostrar amor, fazia as coisas para mim. Tenho uma amiga cuja mãe ainda lhe preparava

o banho na adolescência, e ela também teve uma difícil transição para o mundo adulto.

Quase todos os contos de fada giram em torno da questão simbólica: "será que eu

sou bastante auto-suficiente para sair pelo mundo?" Bem no fundo, as crianças realmente

gostam de tudo que aprendem sobre como cuidar de si mesmas, porque a essência da

auto-suficiência é a capacidade de fazer tudo para si próprio. Por isso as crianças

adoram Píppi Meia-Longa, a história de uma garotinha que mora sozinha e sabe fazer

tudo.

Há uma célebre história nos círculos educacionais que ilustra a gratidão das

crianças por aprender auto-suficiência. Quando a doutora Maria Montessori, a grande

educadora italiana, abriu sua escola para crianças de cortiços, ela ficava constantemente

surpreendida diante do profundo desejo delas de aprender habilidades práticas. Como as

crianças estavam sempre com o nariz escorrendo, ela resolveu ensinar a seus alunos as

sutilezas de assoar discretamente o nariz. As crianças observaram em silêncio e depois

prorrompem em aplausos, fato que veio como um choque. Elas tinham sido

ridicularizadas por causa do nariz escorrendo, e, no entanto, ninguém jamais lhes

mostrara o jeito de limpá-lo.

Decididamente, eu colocaria "assoar o nariz" no alto da minha lista de habilidades

para as crianças adquirirem na vida. E que tal a sua lista? Já que a sensação que temos

é de que cada estágio vai durar para sempre, é proveitoso mudar ocasionalmente de

perspectiva e imaginar seu filho saindo porta afora, de mala em punho, para a faculdade
ou alguma outra aventura, aos 17 anos. Que coisas você deseja que ele conheça? Que

habilidades práticas ela deveria ter? Guarde essa imagem para poder planejar em tempo

hábil o modo de ensinar a seu filho a ser auto-suficiente.

Não podemos ensinar tudo a nossos filhos antes de sua saída de casa. Mas

podemos treiná-los para aprender as habilidades práticas da vida necessárias para se

sentirem confiantes. Podemos esperar que eles se transformem em contribuintes

capazes em nossos lares e lhes mostrar o apreço que temos por seus esforços de fazer

tudo correr suavemente.

Elabore uma lista de todas as coisas que você desejaria ter aprendido antes de

deixar a casa de seus pais.

O que deseja que seu filho saiba quando tiver 18 anos?

De que modo você poderá começar a trabalhar agora por esses objetivos?

Alimente grandes expectativas

O engraçado nesta vida é que se você se dispuser a aceitar só o melhor, irá

consegui-lo com frequência.

SOMERSET MAUGHAM

Na época em que conheceu as filhas do vizinho, Lynn trabalhava como dançarina

exótica. Achou-as bonitinhas, mas totalmente descontroladas. A mais velha tinha acabado

de dizer à professora do jardim-de-infância: "F...-se! Pode morrer!" as garotas moravam

na casa ao lado, com o pai, e Lynn ouvia quando elas brigavam entre si e davam

ataques. O pai tinha acabado de receber a guarda exclusiva das crianças, e Lynn teve

pena delas, pois pareciam viver num mundo sem expectativas nem estrutura. Ela sabia o

quanto era assustador para uma criança precisar ficar testando os limites para descobri-

los. As meninas tiveram catapora, e o pai não tinha ninguém que as cuidasse enquanto
ele trabalhava. "Meu trabalho era noturno; então, pensei, por que não tentar ficar com as

crianças durante o dia?" Lynn descobriu que tinha um jeito especial para criar ordem e

felicidade a partir do caos.

Em breve conseguiu fazer as meninas ajudarem a manter a casa limpa, seguirem

regras e ficarem de castigo quando não obedeciam ou machucavam uma à outra.

"Ninguém esperava muito das meninas, que tinham sido autorizadas a xingar e

mostrar desrespeito aos adultos. Eu mudei tudo isso ao vê-las como auxiliares capazes".

As crianças gostaram da estrutura suave e coerente imposta por Lynn. O pai ficou

surpreso ao voltar do trabalho no final do dia e ver um apartamento impecável, e

encontrar as filhas aconchegadas lendo uma história com a vizinha.

Com o passar do tempo Lynn se apaixonou pelo homem e eles se casaram; ela

deixou seu emprego de dançarina, criando um alicerce ainda mais firme para as crianças.

O casal teve outro filho e de repente Lynn era a mãe de três crianças. Como ela

consegue lidar? O segredo é esperar que todos ajudem. Ela criou uma estrutura que faz

a família funcionar com tamanha cooperação que nem todas as tarefas caem sobre ela.

As meninas mais velhas estão agora no primeiro e no segundo graus, e cumprem uma

escala de tarefas que define o que precisa ser feito antes e depois da escola. As escalas

lhes recordam as tarefas de cuidado pessoal, como colocar a roupa suja no cesto, tomar

banho e preparar o almoço para a escola. Além disso, cada garota tem tarefas que

ajudam a casa inteira a funcionar com eficiência, como retirar o lixo, pôr a mesa e lavar a

louça. A criança mais nova está na pré-escola; dela se espera que ponha a mesa e ajude

a preparar a comida.

"Em ocasiões as meninas me perguntam por que têm de fazer tarefas, quando

poucos de seus amigos o fazem. Eu lhes digo que não consigo fazer sozinha todas as

tarefas ou ficaria maluca o tempo todo. Talvez outras pessoas tenham medo de pedir

ajuda aos filhos por temer que fiquem ressentidos, mas eu não fizesse isso me sentiria

deficiente como mãe. Para mim é difícil manter a regularidade, mas sei que nossa

regularidade dá a elas uma estrutura interna. Eu adoro ver como elas são capazes. É
fantástico! Sentem-se confiantes para fazer qualquer coisa. Uma delas acaba de

organizar uma festa-surpresa para uma amiga".

As meninas também têm permissão de fazer tarefas extra-crédito. Se o fizerem,

podem escolher uma aventura divertida para a família, como ir ao restaurante de sua

preferência.

Em minha perspectiva, Lynn proporcionou exatamente o contexto certo para as

filhas. No estudo de disciplina realizado na década de 1960, a doutora Diane Baumrind, e

da Universidade da Califórnia em Berkeley constatou que as crianças cujos pais

coerentemente alimentavam grandes expectativas em relação a elas, e impunham limites

firmes, se desenvolviam com mais autoconfiança e autonomia.

Para tornar competente uma criança não precisamos ser magos da organização

como Lynn. Um lar estruturado consiste apenas em limites claros, rotinas previsíveis e

tempo dedicado a ensinar cada um de seus membros a colaborar. Podemos começar

com as coisas que a criança quer fazer para si, não importa o quanto pareça inepta, já

que o desejo de "realizar" está na essência da realização.

Decomponha as tarefas domésticas em etapas para ajudar as crianças a aprendê-

las com mais facilidade.

Quais são as etapas de pôr uma mesa?

De dobrar uma toalha?

De arrumar uma cama?

De varrer o chão?

Acenda o fogo da realização

A confiança dos indivíduos vai crescendo à medida que eles tentam completar

tarefas. O sucesso faz aumentar a confiança; o fracasso a diminui... As mensagens que

os indivíduos recebem de outros podem influenciar fortemente seu desenvolvimento.


FRANK PAJARES

Quando quero ilustrar de que forma uma criança desenvolve uma atitude pró-

ativa, sempre me lembro do pai de Johnny, Fred.

Aos oito anos Johnny assistiu a uma produção escolar da peça O violinista no

telhado. Como na época tinha aulas de violino, ficou motivado pelo homem que se

sentava no telhado tocando violino e confidenciou ao pai que desejaria ter um telhado

sobre o qual tocar. O pai levou a sério as palavras do filho e juntos reuniram madeira para

construir um "telhado" para Johnny. Mas como fazer um telhado sem uma casa? Então

eles construíram uma torre de 1,80 m com uma escada que dava para um telhado plano

de compensado. Johnny ficou absolutamente encantado de se sentar ali tocando suas

músicas. Em adulto não se tornou violinista, mas sua confiança na própria capacidade de

realizar aquilo que se propusera levou-o a produzir seu próprio dinheiro para freqüentar a

escola de medicina e se tornar um médico, que toca o violino por prazer.

O grande mestre sufi Inayat Khan escreveu certa vez "A realização é a mais

valiosa que o realizado. Por exemplo, se alguém desmanchar um nó num barbante,

aparentemente não ganhou nada, o tempo foi gasto numa coisa pequena. E, no entanto,

a ação de completar a tarefa é proveitosa, o indivíduo construiu uma coisa em seu

espírito que lhe será útil quando quiser realizar grandes trabalhos".

Inayat Khan enfatiza a ação de completar como dotada de significado especial. No

entanto, hoje em dia com freqüência nós não consideramos a importância, para a

criança, de completar o que começou. Uma criança começa a montar um quebra-cabeça

e o abandona quando a montagem se complica. No meio da tarefa de pôr a mesa, uma

criança atende ao telefone e se esquece da tarefa. Uma garota diz que deseja desenhar

um unicórnio, mas dois minutos depois ela amarrota a folha de papel, insatisfeita com a

primeira tentativa. Talvez o Johnny até tivesse desistido de todas as tarefas de cerrar e

martelar e quisesse sair correndo para brincar, mas o pai o ajudou a continuar

trabalhando até haverem terminado.


Ter auto-eficácia significa ter confiança no próprio "poder de produzir um efeito

desejado". Esse poder é diferente da auto-estima, ou da sensação de satisfação pessoal.

Intensificar a sensação de capacidade das crianças irá influenciá-las a se avaliar mais

positivamente. Os adultos podem lhes ampliar as realizações ao ajudá-las a persistir nas

coisas até o fim. Por vezes as crianças ficam frustradas quando estão construindo com

blocos de madeira ou desenhando, porque não possuem a habilidade de fazer o produto

de acordo com a imagem interna que formaram dele. Se um adulto perceber, pode

contribuir por meio da resolução de problemas, juntamente com a criança, em discernir

um jeito de ela realizar aquilo a que se propôs. Fazer a tarefa em seu lugar não ajudará a

construir um espírito interno de realização, mas ajudá-la a executar a tarefa até o fim

contribuirá para tanto. Talvez seja desgastante ver a criança chorar e querer desistir, mas

se considerarmos positiva a frustração dela e dissermos "você quer fazer tudo direitinho,

não é?", ela acabará mais capacitada a tentar completar aquele e outros projetos.

A filha de Millie acabou de ingressar no ensino médio _ uma fase em que os

interesses quase sempre se espalham por muitas direções. "Sempre que a vejo ficar

frustrada com um projeto, ofereço-me para ajudá-la a terminá-lo. Em meus anos de

formação, nunca me senti capaz de fazer qualquer coisa, e quero que ela tenha essa

confiança. Recentemente, Millie teve a idéia de que podia compor canções para uma

resenha de livro e fazer um vídeo em que cantasse as composições. Creio que não

percebeu o quanto a idéia era complicada, mas ajudei-a a encontrar as notas musicais e

a fazer o vídeo. Foi uma empreitada ambiciosa, mas funcionou, e ela o apresentou.

O ditado "o que determina nossa magnitude é a atitude, e não a aptidão" expressa

o fato de aquilo que acreditamos ao próprio respeito é até mais importante que nossas

habilidades e talentos inerentes. Muitas pessoas geniais jamais realizam seus sonhos

nem dão sua contribuição ao mundo; o que nos mantém a sensação de realização na

vida é a convicção de sermos capazes e podermos viver nossos ideais.

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