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Pequena reflexão sobre o modo marxista de fazer história.

GILBERTO ALVES JUNIOR LEAL


UFRGS. História da Arte Noturno
Disciplina: Teorias da História
Prof. Joana Bosak de Figueiredo
Porto Alegre, 10 de Janeiro de 2017

“Vai estudar história!” É um dos xingamentos favoritos da esquerda para a direita.


Mas não é incomum encontrar estes mesmos militantes cometendo equívocos
historiográficos que o próprio Karl Marx, há quase dois séculos atrás, já havia
superado. No espírito de compartilhamento daquilo que já se sabe—e não de
desenvolvimento de um conhecimento ou pesquisa nova sobre o assunto—este
pequeno ensaio se propõe a refletir brevemente sobre o marxismo e o legado do
pensamento de Marx para a escrita da história.

Uma introdução.

O marxismo é um dos sistemas de pensamento que mais influenciaram o Século XX


e exerce uma grande influência ainda hoje. No contexto do pensamento social, o
marxismo desenvolveu conceitos como luta de classes, ideologia, alienação, mais
valia, proletariado, fetichismo, socialismo e comunismo.

O contexto de origem de Karl Marx.

Filho de judeus convertidos ao protestantismo, Karl Marx (1818-1883) é natural da


Renânia na Prussia (oeste da atual Alemanha). Completou seus estudos
secundários aos 17 anos e aos 23 anos defende sua tese de doutorado em Filosofia,
tendo passado pelas universidades de Bomn, Berlin e Jena. Na filosofia, toma
contato com o pensamento de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), que tem
uma influência decisiva no seu pensamento.

O contexto intelectual do jovem Marx.

Em sua juventude, na Prussia, havia dois campos políticos de pensamento bem


definidos e antagônicos que disputavam o legado e a interpretação do pensamento

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de Hegel: os jovens hegelianos e a direita hegeliana, envolvendo-se em debates a
respeito de conceitos metafísicos, teológicos, políticos e principalmente sobre o
Estado Prussiano. Marx associa-se aos jovens hegelianos.

Os jovens hegelianos tinham uma concepção de mundo pautada em referenciais


materiais, negando a idéia de um Espírito Absoluto e buscando uma interpretação
revolucionária. Eles buscaram converter o idealismo em materialismo, renunciando
explicações materialistas e assim voltando Hegel contra si mesmo.

Já a direita hegeliana defendia que o Estado era a mais alta realização do Espírito
(geist) representando a completude da dialética de Hegel. Mantinham-se fiéis ao
idealismo metafísico e buscavam conciliar a doutrina de Hegel e os dogmas cristãos
(com respaldo da obra do fillósofo).

O conceito hegeliano de história.

A grosso modo, para Hegel, a história era algo como um único Espírito que se
movia, do qual cada geração da humanidade era uma mera manifestação.

Na época de Marx já era notória a revolução que Hegel havia feito no conceito de
história, ao determinar principalmente duas coisas: 1) os acontecimentos não estão
no tempo, mas eles são o próprio tempo, e 2) o tempo não é uma sucessão de
causas e efeitos, mas tem um motor interno que são as contradições que vão se
resolvendo em sínteses que por sua vez formam novas contradições e assim por
diante.

Um exemplo simples desse “motor da historia” poderia ser a relação entre um


escravo e um senhor. A contradição entre eles está na sua negação interna: um
escravo é um não-senhor e um senhor é um não-escravo; na relação entre senhores
e escravos um conceito não existe sem o outro. No fim de um sistema de
escravidão, ambos deixam de existir como tais, isso é a síntese. Mas dessa relação
aparentemente “resolvida”, nascem novas contradições: o antigo senhor de escravos
agora é o patrão, dono da fábrica e do poder econômico e o antigo escravo agora é

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um trabalhadora assalariado, dono apenas da sua força de trabalho, surgem dois
novos conceitos, com interesses contraditórios: a burguesia e o proletariado.

Vendo a história como movimento do Espírito, Hegel via a realidade como cultura, e
a cultura como os movimentos de exteriorização e interiorização daquele único
Espírito. No movimento de exteriorização o ser humano produz obras culturais, no
movimento de interiorização ele se reconhece naquilo que produziu. Esse
reconhecimento de si na sua própria produção cultural ele chama de “reflexão” e a
ausência dessa relação ele chama de “alienação”. Quando alienado, o ser humano
vê as obras e a própria história como forças estranhas, alheias, que o dominam e
perseguem.

Hegel ainda trabalha com o conceito de oposições entre o imediato e o mediado, o


abstrato e o concreto, a aparência e o ser. Essas ideias seriam aproveitadas por
Marx em toda sua obra, mas não da mesma maneira que Hegel.

Marx diz que a filosofia de Hegel está de cabeça pra baixo.

Em mais uma super simplificação, poderíamos dizer, a grosso modo, que Hegel
compreendia que esse Espírito se manifestava através das exteriorizações
modificando o mundo físico, material. Marx propõe o oposto, que a realidade
material é que se impõe e influencia de modo determinante o pensamento e as
ações do ser humano.

Com essa contribuição, aproveitando o materialismo que já o influenciara desde sua


tese de doutorado (envolvendo o conceito de atomismo de Epicuro e Democrito) e o
trabalho de seu colega jovem hegeliano Feuerbach (que também é criticado por
Marx), uma nova compreensão da história se estabelece, junto com um projeto
político de libertação da humanidade.

Conceitos como a divisão social do trabalho, a propriedade privada dos meios de


produção e a divisão da sociedade em classes, tendo como causa a já mencionada

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alienação (agora com um conteúdo mais materialista) tornam-se centrais para a
maneira marxista de pensar a história.

Assim, Marx determina que o modo de produção da vida material condiciona o


desenvolvimento da vida social, política e intelectual. “Não é a consciência dos
homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina
sua consciência”. Assim, as forças produtivas e os meios de produção é que devem
determinar a atividade do ser humano na história.

Ou seja: primeiro o historiador deve observar as condições materiais de produção de


uma sociedade, para a partir daí procurar entender como aquela sociedade
pensava, agia e se relacionava.

Trabalhos do Jovem Marx que influenciam seu pensamento sobre história.

Aos 23 anos, Karl Marx defende sua tese comparando o atomismo de Epícuro e
Democrito, um estudo orientado pelo seu colega na juventude hegeliana Bruno
Bauer. Esse trabalho já teria uma influência no seu pensamento materialista e sua
posterior crítica aos jovens hegelianos.

Aos 25 anos, em 1843 entra em uma polêmica com Bruno Bauer, escrevendo "a
questão judaica". Enquanto Bauer entendia que a religião e o estado eram a origem
da opressão, Marx compreendia que a religião não se opõe à emancipação política.
Embora, muitos anos mais tarde, ele fosse escrever no Capital a frase que os ateus
e os cristãos de direita adoram citar, “a religião é o ópio do povo”, poucos lembram-
se que junto a essa sentença está outra na qual Marx diz que a religião é “a alma de
um mundo sem alma”.

Aos 27 anos, polemizando com outro de seus colegas da juventude hegeliana, Marx
critica o materialismo de Feuerbach, entendendo-o como ainda muito idealista e
dizendo uma de suas frases mais famosas: os filósofos se limitam a interpretar o
mundo, mas o que importa é transformá-lo.

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Aos 28 anos, em a ideologia alemã, Marx lembra que para “fazer história”, antes é
preciso estar vivo: comer, beber, morar, ter as mínimas condições materiais de vida
que eram negadas aos trabalhadores das crescentes cidades industrializadas da
Europa que trabalhavam (homens, mulheres e crianças) 16, 18 horas por dia, de
segunda a segunda, sofrendo violência física e psicológica e todo tipo de abusos
sem nenhum direito trabalhista.

Aos 29 anos, tendo morado frança e conhecido Proudhon, Marx toma contato com o
livro deste filósofo anarquista entitulado “a filosofia da miséria”. Como resposta, sem
nenhum esforço para atenuar seu pronunciado estilo polêmico, Marx escreve “a
miséria da filosofia”. Sua critica ao trabalho de Proudhon é que ele estaria tratando
as relações de produção burguesas (divisão de trabalho, crédito, moeda etc) como
se sempre tivessem existido. Dessa forma, Marx traz uma grande contribuição à
historiografia, que é a ideia da história como processo.


A liga comunista e o manifesto comunista.

Aos 30 anos, o já maduro (casado e com duas filhas) e viajado militante Karl Marx
havia entrado, junto com seu fiel companheiro Friedrich Engels, em uma
organização política internacional chamada “Liga dos Justos”—cujo lema era “o
estabelecimento do Reino de Deus na Terra, com base nos ideais de amor ao
próximo, igualdade e justiça”. Juntos, eles convenceram o grupo a mudar seu nome
para Liga Comunista, e seu lema para “trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”,
enfatizando a luta de classes (e não mais as contradições do Espírito hegeliano)
como motor da história. Escrevendo o manifesto comunista em 1848, Marx e Engels
determinam que o objetivo de emancipação da humanidade não é a reconciliação e
o amor, mas a luta entre a burguesia (classe opressora) e o proletariado (classe
oprimida), da qual os proletariados sairiam vitoriosos como classe revolucionária.

Sua compreensão de que a produção é social e culturalmente determinada ao longo


do processo histórico chega à conclusão de que a revolução é a força motriz da
história, fundamentada em bases materiais.

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Assim, a compreensão de que a historiografia marxista se resume a determinar os
modos de produção de cada era é muito reducionista e característica de um
marxismo vulgar. O pensamento de Marx, na realidade, é muito mais profundo e sua
compreensão, principalmente sobre a divisão social do trabalho, a propriedade
privada dos meios de produção e as origens estruturais da desigualdade social no
sistema capitalista marcariam profundamente todo o modo de pensar a história do
século XX até hoje.

Referências bibliográficas
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FUNARI, P.P.; SILVA, G. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008.


Marx, K. Obras Escolhidas. São Paulo: Alfa-omega, s.d.

HOBSBAWM, E. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história.

CHAUI, Marilena. O Que É Ideologia - Col. Primeiros Passos. São Paulo : Brasiliense, 2008.

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