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Capítulo 2 Rei
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A era napoleônica Na1
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"Aterrei o abismo anárquico e pus ordem no caos" forç
dad
A Revolução Francesa havia sido iniciada com uma ampla aliança dos mais diversos setores tras
da sociedade contra o absolutismo monárquico. Uma vez derrubado o absolutismo, as várias fac-
ções, antes unidas, passaram a divergir. O golpe do 9 Termidor de 1799 recolocou a alta burguesia
no comando d;i Revolução. Mas as pressões de monarquistas e jacobinos, aliadas à ameaça exter- pod
junt
na das coligações antifrancesas, exigiam um governo mais sólido . .A era napoleônica (1799-1815)
pr01
satisfaria esse anseio da burguesia, consolidando internamente o novo regime e disseminando ex-
maiJ
ternamente as instituições criadas pela Revolução.
gu~

tre <
coru
"Na minha carreira encontrar-se-ão erros, sem dúvida; mas Arco/e, Rivoli, as Pirâmides, Maren- não
go, Austerlitz, lena, Friedland [batalhas] são de granito; o dente da inveja nada pode contra elas... Eu maiJ
aterrei o abismo anárquico e pus ordem no caos. Eu limpei a Revolução ... E depois sobre que poderiam vam
atacar-me de que um historiador não pudesse defender-me?... Enfim, seria a minha ambição? Ah! sem to ta
dúvida, ele encontrá-la-á em mim - e muita; mas a maior e a mais alta que talvez jamais tenha existi-
do: a de estabelecer, de consagrar o império da razão e o pleno exército, o inteiro gozo de todas as fa-
de n
culdades humanas... Em poucas palavras, eis, pois, toda a minha história... Milhares de séculos decor-
sa p
rerão antes que as circunstâncias acumuladas sobre a minha cabeça vão encontrar um outro na multi-
dão para reproduzir o mesmo espetáculo. " forn
conl
(BONAPARTE, Napoleão. O processo Napoleão. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. v. III,
Lisboa, Plátano, 1976, p. 124.) tóri<

Ple~

O texto acima é de Napoleão Bonaparte falando sobre si mesmo . Resume o significado histó- grali
rico do período em que dirigiu a França: consolidação da revolução burguesa na França através da dad<
contenção dos inimigos internos (monarquistas e jacobinos) e sua expansão para a Europa. fisio
a cor
Em 1799 a Revolução Francesa continuava ameaçada interna e externamente. A burguesia
que
desacreditava o Diretório e exigia um governo forte, capaz de rechaçar com mãos de ferro tanto
que
os remanescentes da monarquia como os jacobinos e, ao mesmo tempo, conduzir com êxito a luta
paz
contra a coligação da Europa aristocrática com a Inglaterra. Napoleão Bonaparte, cujas vitórias
des
na Itália o haviam projetado no cenário político-militar, surgia como o homem indicado para lide-
sob
rar tal empreendimento.
partJ
124
á

1 - Algumas palavras sobre o papel do indivíduo na


história

Napoleão Bonaparte desenvolveu uma fulgurante carreira no cenário político-militar fran-


cês. Aos vinte e quatro anos era promovido a general, aos trinta anos tornou-se cônsul e aos trinta
e cinco anos era imperador. Alie-se a isso sua eclética personalidade (militar, legislador, estadista e
escritor) e não serão poucos os tentados, diante de tais qualidades, a superestimar o papel do indi-
víduo na história. Tal engano pode levar a que se atribua ao gênio de um indivíduo todas as gran-
des realizações de um período histórico.

Relação entre o papel do indiví- Estudando o assunto, o intelectual russo do final do sé-
duo e a conjuntura histórica. culo XIX, Georg Plekhanov, afirmava: "Graças às par-
Napoleão: consolidador da Re- ticularidades de sua inteligência e de seu caráter, as per-
volução. sonalidades influentes podem fazer variar o aspecto in-
dividual dos acontecimentos e algumas de suas conse-
qüências parciais, mas não podem fazer variar sua orientação ge_ral, que é determinada por outras
forças. (... ) os indvíduos exercem freqüentemente grande influência sobre o destino da socie-
dade. Mas esta influência é determinada pela estrutura interna daquela e por sua relação com ou-
tras sociedades".
Em. outras palavras, Napoleão, com todas as suas características e potencialidades, não teria
podido liderar com êxito a consolidação de uma revolução burguesa caso nascesse sob uma con-
juntura histórica diferente. Imagine-se Napoleão vivendo na época de Luís XIV, o Rei Sol: muito
provavelmente, teria uma participação nas modificações superficiais dos acontecimentos, mas ja-
mais conseguiria liderar uma mudança de caráter geral como foi a consolidação da revolução bur-
guesa na França. Não existia então uma conjunção de fatores que permitisse a transformação, en-
tre os quais: a burguesia não estava suficientemente amadurecida como classe social em termos de
consciência e força; a contradição entre os entraves econômicos e a livre expansão do capitalismo
não havia chegado a uma situação insustentável; o rei e a aristocracia ainda tinham condições de
mant~r o domínio político pela força; os valores que justificavam o Antigo Regime ainda não esta-
vam suficientemente desacreditados e os novos valores que os substituiriam ainda não haviam sido
totalmente desenvolvidos, nem sequer divulgados.
O homem atua sobre a história
de maneira transformadora, mas es-
sa possibilidade de atuação e trans-
formação é limitada ou ampliada
conforme a própria conjuntura his-
tórica existente. ·
Citando mais uma vez Georg
Plekhanov: "O grande homem é
grande não porque suas particulari-
dades individuais imprimam uma
fisionomia individual aos grandes
acontecimentos históricos, mas por-
que é dotado de particularidades
que o tornam o indivíduo mais ca-
paz de servir às grandes necessida-
des sociais de sua época, surgidos
Na gravura acima - A apoteose de Napoleão - verificamos que
sob a influência de causas gerais e o imperador dos franceses era encarado como um mito pelos
particulares' ' . seus contemporâneos.

125
É neste sentido que pode ser percebida a grandeza de Napoleão- seu talento, virtude e con- que
vicções o capacitavam, mais que a outros, naquele instante, para liderar a consolidação da revolu- volv
ção burguesa na França. tria.
nad<
tran:
2 - O Consulado
prod
gara
O golpe do 18 Brumário de 1799, planejado pelo abade Sieyes (ex-membro do Diretório) e refo1
Napoleão, foi dado sem derramamento de sangue. O Diretório, corrupto e incapaz, ruía pela sua port;
própria fraqueza interna. Com uma coluna de granadeiros, Napoleão invadiu a sala dos Conse-
lhos, obrigando-os a votarem o sistema do Consulado, a partir do que três cônsules passaram a de-
ter o poder: Napoleão, Sieyes e Ducos. Este abade Sieyes era o mesmo que em 1789 insuflara aRe- Con
volução através do panfleto ''O que é o Terceiro Estado'', sendo um dos raros líderes revolucioná- sula1
rios a atravessar vivo os dez anos que separaram as "jornadas revolucionárias" do golpe do 18 Nap1
Brumário. Ducos, general francês, era também ex-membro do Diretório. forte

prom
Nova constituição: Napoleão, Um mês depois do golpe era posta em vigor uma nova ção fi
primeiro cônsul com poderes constituição. Por ela ficava estabelecido que Napoleão Notn
ditatoriais. Apoio da burguesia seria primeiro cônsul pelo prazo de dez anos, além de
e do campesinato. conferir-lhe poderes ditatoriais. Estabelecia-se assim tulo 1
uma ditadura consular cujo objetivo Jlláximo seria a tamp1
consolidação do regime, que fic<?u bem claro quando, logo depois do golpe, Napoleão convocou Oqm
os banqueiros parisienses e requereu um empréstimo. "Todos subscreveremos o empréstimo", de- para 1
clarou Mallais, em nome dos banqueiros presentes. "Há por acaso algum banqueiro ou negociante
parisiense que, em vista de tantas belas esperanças, não se apressará a testemunhar sua absoluta
confiança no Governo?".
A Bolsa respondeu ao golpe do 18 Brurp.ário subindo a cotação dos títulos do Estado. Os
3-
camponeses, que haviam sido beneficiados pela reforma agrária, anteriormente realizada, abriga-
J
vam a esperança de que Bonaparte defenderia a França contra o inimigo do exterior e contra os
rio fra
emigrados, garantindo a posse de terras conquistadas durante a Revolução.
Somer

RivaH
Neutralização da Segunda Coli-
gação antifrancesa. Superação COD E CI V I L cessil
cado~
da crise financeira. Código Ci- D ES
são d
vil Napoleônico.
FHA NÇ AI S.
A primeira tarefa que Bonaparte se impôs foi a çleeli:mi-
vante c
I DI ílO '\. ORr(.l '>ALL t T SEt;l E OFFIC ll LI f. tas ao <
nar o p.er.ig_o externo, avançando so~re a Segunda Coli-
meecL
gação (Inglaterra, Áustria e Rússia), utilizando até mes-
p
mo intrigas diplomáticas bem elaboradas, que acaba-
ram redundando na saída da Rússia da Coligação. A se- burgue:
guir (1800), a Áustria foi derrotada na Batalha de Ma- França
rengo e, finalmente, em 1802, a Inglaterra e a França A
decidiram-se por uma trégua, assinando a Paz de sob COii
Amiens. que sor
À PA R I S, frances:
A neutralização da ameaça externa abriu espaço DL L'l.\lP JU .\ll. l<lE D T: L., R H UB L! QliL
para a " pacificação" interior da França. A crise finan- tabiliza1
ceira foi controlada pela fundação do Banco da França, O código civil de Napoleão.
gimes a

126
que exerceria o controle da emissão de papel-moeda, reduzindo o processo inflacionário. O desen-
volvimento econômico ganhou impulso com a criação da Sociedade Nacional de Fomento à Indús-
tria. As relações com a Igreja, paralisadas após o desencadeamento da Revolução, foram solucio-
nadas pela Concordata de 1801, que estabelecia a ·nomeação dos bispos pelo primeiro cônsul e a
transformação do clero em assalariado do governo consular.
Em 1804 o Código Civil Napoleônico viria a institucionalizar as transformações burguesas
produzidas na França pela Revolução. O novo código assegurou a igualdade formal perante a lei,
garantiu o direito de propriedade, proibiu as greves operárias e a organização sindical e ratificou a
reforma agrária realizada pela Revolução. Este último item garantiu a Napoleão o numeroso e im-
portante apoio dos camponeses ao seu governo. ·

Constituição do ano XII: Con- Estabelecida a consolidação interna da Revolução e


sulado substituído por Império. defendendo-se com êxito dos inimigos externos, Napo-
Napoleão, coroado imperador, leão assegurava o apoio da burguesia, do exército ~ dos
fortalece a burguesia. camponeses. Assim fortalecido, mais um passo seria da-
do para a exaltação de sua personalidade: eni 1804
promulgava-se a constituição do ano XII, aprovada em plebiscito pela imensa maioria da popula-
ção francesa, que substituía o regime de Consulado pelo de Império. Napoleão fez-se coroar em
Notre-Dáme, sob o título de Napoleão I, Imperador dos Franceses.
Seria errôneo concluir que esse ato fez retornar o regime monárquico, pois a mudança de tí-
tulo não alterou a base de sustentação política c;ie Napoleão (burguesia, exército e camponeses),
tampouco desviou seu objetivo de consolidação da ordem burguesa por meio de suas instituições.
O que na realidade ocorreu foi a utilização de uma instituição aristocrática, o título de imperador,
para prosseguir numa obra de cunho nitidamente burguês.

3- O Império
As várias coligações européias foram sempre obra da diplomacia do mais obstinado adversá-
rio francês, a Inglaterra, onde o poder da burguesia já estava consolidado há mais de um século.
Somente ali os setores dominantes da burguesia não nutriram simpatias pela Revolução Francesa.

Rivalidade franco-britânica: ne- Para a Inglaterra, a luta contra os franceses tornava-se


cessidade de expansão de mer- inevitável, pois sua Revolução Industrial já havia sido
cados. Paz na França: expan- iniciada e a França afigurava-se como concorrente co-
são da ordem burguesa. mercial e industrial nos mercados europeus. Além disso,
o exemplo francês poderia instigar na Inglaterra o le-
vante de camadas da população que desde 1689, data da Revolução Gloriosa, mantinham-se sujei-
tas ao controle da burguesia. Para as monarquias absolutistas européias, partidârias do Antigo Regi-
me e defensoras dos privilégios aristocráticos, derrotar a França era uma questão de sobrevivência.
Por esses motivos as coligações européias colocaram, lado a lado, a Inglaterra parlamentar e
burguesa e a Europa absolutista e aristocrática unidas contra o inimigo comum: a Revolução na
França.
A França, por seu lado, teria de arrebatar os mercados consumidores europeus, até então
sob controle inglês, ao mesmo tempo em que precisava consolidar sua revolução internamente, o
que somente seria possível com a expansão para os países aristocráticos. Dessa maneira, a paz
francesa só viria com a disseminação das instituições burguesas sobre o restante da Europa - a es-
tabilização da ordem burguesa na França tinha como contrapartida necessária a destruição dos re-
gimes aristocráticos europeus.
127
Terceira Coligação. Queda do Diante de interesses antagônicos da Inglaterra e das na- deNá
Sãcm Império. Quarta Coliga- ções absolutistas de um lado e França de outro," apenas a era dt
ção derrotada. Aliança f ranco- forças das armas despontava como solução. do-se
-russa. Em 1803 formou-se a Terceira Coligação antifrance- cas; a
sa (Inglaterra e Rússia e, em 1804, também a Áus-
tria), à qual se opôs a Espanha, que apoiou a França. Em outubro de 1805, a marinha franco-espa- manti
nhola foi dizimada na Batalha de Trafalgar, onde os ingleses eram comandados pelo almirante emT1
Nelson. Em terra, porém, era clara a superioridade francesa: nas batalhas de Ulm e Austerlitz, Na- micar
poleão derrotou as tropas austríacas e russas. Conti
Em 1806, o imperador francês
suprimia o que restava do Sacro Im- rios f
pério Romano-Germânico e criava a
Confederação do Reno, reunindo a Oue1
maioria dos Estados alemães e no- CO: I
meando a si próprio " protetor". ta do
Formou-se, então, a Quarta Coliga- da C
ção (Inglaterra, Rússia e Prússia),
mas a Prússia foi rapidamente der- exérc
rotada na Batalha de Iena e os rus- na pr
sos caíram em 1807 nas batalhas de poleã
Eylau e Friedland, assinando o Tra- ma d
tado de Tilsit, pelo qual se tornavam 1808,
aliados dos franceses. A batalha de Austerlitz (gravura alemO).
• Ol
caz t1
Napoleão: senhor da Europa Derrotada a Quarta Coligação, Napoleão tornou-se o ciava
continental. Contra a Inglaterra grande senhor da Europa continental. Os territórios que
a França impõe o Bloqueio não eram diretamente dominados pelo imperador esta-
Continental. vam entregues a aliados e familiares - seus irmãos Jo-
sé, Luís e Jerônimo tornaram-se, respectivamente, reis

Estados vassalos

Estados aliados

Confederação do Reno
e Grão-Ducado de Varsóvia
ÁUSTRIA
IMPÉRIO
FRANCÊS

A terceira e a quarta coligaçao européia contra à França napoole6nica. Oinc

128
"
das na- de Nápoles, Holanda e Vestfália. Em cada local por onde seus exércitos passavam, a velha ordem
tpenas a era destruída, implantando-se constituições, divulgando-se o Código Napoleônico e modernizan-
do-se as estruturas econômicas. A jovem nação burguesa impunha-se às velhas nações aristocráti-
ifrance- cas; as instituições burgueses substituíam as arcaicas estruturas feudais.
a Áus- Do outro lado do canal da Mancha, entretanto, protegida por suas esquadras, a Inglaterra
:o-espa- mantinha-se incólume. Para atacá-la, a França, tendo perdido boa parte de suas forças marítimas
mirante em Trafalgar e impossibilitada de derrotar militarmente os ingleses, decidiu tentar asfixiar econo-
litz, Na- micamente o reino britânico. Napoleão promulgou em Berlim o decreto que estabelecia o Bloqueio
Continental, proibindo os países europeus de adquirirem produtos ingleses.
O declínio do Império Napoleônico se dá gradualmente de 1808 a 1815 e é explicado por vá-
rios fatores conjuntos:

Queda do Império Napoleôni- • O nacionalismo das nações conquistadas - Napoleão


co: nacionalismo dos conquis- cometeu um grave erro político ao difundir instituições
tados, fracasso do Bloqueio e francesas por toda a parte, ignorando as tradições e o
da Campanha da Rússia. sentimento nacionais dos vários povos europeus. A bur-
guesia dos países dominados, que antes recebera os
exércitos napoleônicos como libertadores, voltou-se mais tarde contra os franceses que assumiam,
na prática, o papel de opressores estrangeiros. A Espanha, antiga aliada, levantou-se quando Na-
poleão colocou no trono espanhol seu próprio irmão, José Bonaparte. Organizando-se sob a for-
ma de guerrilha, os espanhóis destruíram o mito da invencibilidade francesa, derrotando-a em
1808, na Batalha de Baylem. O exemplo espanhol alastrou-se.
• O fracasso do Bloqueio Continental- Uma estratégia que no início pareceu ser extremamente efi-
caz tornou-se, alguns anos depois, altamente inconveniente, pois as esquadras britânicas comer-
nou-se o ciavam com as colônias do continente americano e impediam a França de obter matérias-primas no
'>rios que
dor esta-
nãos Jo-
!nte, reis

RSÓVIA

:SI A

O incêndio de Moscou.

129
Novo Mundo. Por outro lado, as nações européias, na sud ma10ria Cl.grícolas, ressentiam-se da fal-
ta do mercado inglês para onde antes exportavam seus produtos primários, em troca das manufa-
turas inglesas. Começaram, então, a comerciar secretamente com os ingleses, burlando a vigilân-
cia francesa, ao mesmo tempo em que tramavam seu rompimento com o Império. Agravando a si- ---:J

tuação, em 1809 formou-se a Quinta Coligação {Inglaterra e Áustria), mais uma vez derrotada por
- ··-t

---
Napoleão. Mesmo vitorioso, as fissuras do Império iam se toníando mais profundas.
• O fracasso militar na Rússia- Prejudicada pelo Bloqueio Continental, a Rússia rompeu o acordo
que mantinha com a França, rebeldia que Napoleão resolveu punir de forma exemplar: invadiu a
Rússia com um exército de quatrocentos e cinqüenta mil homens, enquanto mais cento e cinqüenta
mil ficavam postados na Polônia fornecendo a infra-estrutura material necessária. Os russos utili- OCt
zaram a tática de "terra arrasada", ou seja, retiravam-se sem enfentar o inimigo, levando tudo
que podiam e incendiando casas, envenenando a água, destruindo as plantações. Napoleão conse-
guiu invadir Moscou, mas encontrou a cidade incendiada pelos próprios russos. Cedendo às difi- Ciudad F
culdades, os franceses decidiram retirar-se, mas um novo e poderoso inimigo iria minar ainda mais
as tropas francesas : o inverno russo. Do gigantesco exército que invadira o território da Rússia,
apenas trinta mil homens retornaram com vida.

4 - O governo dos Cem Dias


Incentivada pelo enfraquecimento do Império Napoleônico, mais visível após o grande fra-
casso da Campanha da Rússia, formou-se a Sexta Coligação {Prússia, Áustria, Rússia e Inglater-
ra). A partir de então, as derrotas e perdas foram se sucedendo: em março de 1813, Napoleão era
derrotado na Batalha de Leipzig, e, já um ano depois, os exércitos da Sexta Coligação tomavam
Paris. O Império estava desfeito. Napoleão foi desterrado para a ilha de Elba, próxima à Corsega, Napol
ficando em sua cpmpanhia mil soldados . rase é
lha de
Restauração monárquica: o Com a ajuda das baionetas aliadas, retornava ao trono rotado
Terror Branco. Napoleão foge a dinastia dos Bourbon, coroando-se o Rei Luís XVIII,
da ilha de Elba e retoma o co- irmão de Luís XVI {o filho de Luís XVI, que por direito Mas,à t
mando do exército. sucessório seria Luís XVII, morreu aos dez anos de ida- ocupou
de na prisão por ocasião da Revolução Francesa). Ares- vel avru
tauração monárquica favoreceu a volta à França dos emigrados (aristocracia e membros do alto sua fiel
clero), que haviam sido despojados e exilados pela Revolução. O período que seguiu caracterizou-
se pela violência e arbitrariedade dos que retornavam e passou à história com a denominação Ter- Lt
ror Branco. Paralelamente às perseguições e massacres, os emigrados exigiam as terras confiscadas manteri
durante a Revolução, o que naturalmente causou descontentamento em meio aos camponeses, le- Sétima •
vando à explosão de revoltas. travado
Em Elba, Napole·ã o acompanhava, atentamente, a evolução dos acontecimentos e, em 1815, ilha de ~
julgando ser propício o momento, fugiu da ilha e avançou em território francês à frente de sua
gu.a rda pessoal de mil homens. Un
ra: " Altc
Ciente do que ocorria, Luís XVIII enviou um batalhão para aprisioná-lo e, próximo a Gre-
Europa,
noble, às margens do rio Mure, deu-se o histórico encontro em que o ex-imperador retomou o co-
britânico
mando do exército. Apeado do cavalo, Napoleão aproximou-se, ficando a dez passos das tropas mais pod
reais e dirigindo-lhes então a palavra: "Soldados do 5? Batalhão, sou vosso Imperador. Reconhecei-
me: se entre vós houver um soldado que queira matar o seu Imperador, aqui estou". Dito isso, en- Ap
treabriu seu capote cinzento. Nervosos, os oficiais ordenaram fogo e os soldados recusaram-se a ati- ções bur1
rar. Um grito soou em meio à tropa: "Aqui estão nossos irmãos! Aqui está nosso General! Viva o nunca ch
Imperador!" A guarda que acompanhava Napoleão responde: "Viva o Imperador!" Os oficiais do-o n
entreolharam-se e aderiram às saudações ao Imperador. go Regirr
130
..

D Estados s atélites

No mapa acima, observamos as conquistas e campanhas de Napoleão, e o contra-ataque de Wellington.

Napoleão engrossa suas filei- Com o apoio dos soldados e engrossando suas fileiras
ras e avança sobre Paris. Bata- pelo caminho, Napoleão avança rapidamente em dire-
lha de Waterloo: Napoleão der- ção a Paris. As manchetes dos jornais parisienses da
rotado e exilado. época informavam: "O monstro corso desembarcou na
baía de São João", "O canibal marcha sobre Orasse".
Mas, à medida que o avanço de Napoleão obtinha êxito, os jornais mudavam de tom: "Bonaparte
ocupou Lyon", "Napoleão aproxima~se de Fontainebleu". Finalmente, um dia antes do irreversí-
vel avanço sobre Paris, as manchetes anunciavam: "Sua Alteza Imperial é esperada amanhã em
sua fiel Paris".

Luís XVIII fugiu para a Bélgica e Napoleão conseguiu pela segunda vez o poder, onde se
manteria por mais cem dias. Organiza suas tropas e avança contra os aliados que estabeleceram a
Sétima Coligação, procurando enfrentá-los antes que invadissem a França. O embate decisivo foi
travado na Batalha de Waterloo, na Bélgica, onde ele foi definitivamente derrotado. Exilado na
ilha de Santa Helena, na costa africana, faleceu a 5 de maio de 1821.

Um mês depois de sua prisão, o ex-imperador enviava carta ao príncipe regente da Inglater-
ra: ' 'Alteza Real: alvo das facções que dividem o meu país e da inimizade das maiores potências da
Europa, terminei a minha carreira poHtica. Venho como Temístocles, sentar-me no lar do povo
britânico; ponho-me sob proteção das suas leis, que reclamo de Vossa Alteza Real, como a do
maís poderoso, mais constante e mais .generoso dos meus inimigos.''

Apesar da aparente derrota, seu papel havia sido cumprido. Por toda a Europa, as institui-
ções burguesas haviam se difundido e se solidificado; a restauração que se seguiu foi momentânea,
nunca chegando a se reorganizar nos moldes da época de Luís XVI. Era impossível reviver o passa-
do - o máximo que a restauração conseguiria seria o retorno de algumas das instituições do Anti-
go Regime e, assim mesmo, por poucos anos.
131
Documento complementar
A Coroação de Napoleão (02112/1804)

"Chegado a Notre-Dame (catedral de Nossa Senhora de Paris), o imperador demora-se algum tempo no arce- 1. Anali
bispado para aí se revestir do traje de cerimónia, que parecia esmagá-lo um pouco. A sua fraca figura fundia-se sob es-
2. ldenti
te enorme manto de arminho. Uma simples coroa de louros lhe cingia a cabeça: parecia uma medalha antiga. Mas es-
tava extremamente pálido, verdadeiramente comovido, e a expressão do seu olhar parecia severa e um pouco pertur- 3. ldemi
bada. Toda a cerimónia foi imponente e muito bela. O momento em que a imperatriz foi coroada produziu um movi- f r ano
mento geral de admiração, não pelo acto em si, mas ela estava tão graciosa, caminhou para o altar tão bem, ajoelhou-
4. Identi
se duma maneira tão elegante e ao mesmo tempo tão simples, que satisfez todos os olhares. Quando teve de ir do altar
para o trono, ela teve um momento de altercaç~o com as cunhadas, que lhe levavam o manto com tanta repugnância 5. Descr1
que vi o instante em que a nova imperatriz não poderia continuar a andar. Oimperador, que se apercebeu disso, diri-
6. Analli
giu a suas irmãs algumas palavras secas e firmes que puseram toda a gente em movimento. O Papa durante toda esta
cerimónia teve sempre um pouco o ar duma vítima resignada." 7. Após
(RE!.!USAT, Madame de. Memórias. In: FREITAS, Gusr.avo de. 900 t extos e documentos de história. v. 111, Lisboa, P!át.ano, 1976, p. 118-1 19.) analiSl

Resumo
Napoleão e a Revolução conso-
lidada.
Em 1799 a Revolução Francesa continuava amea-
çada interna e externamente. A burguesia desacre-
~ ~~JJI
ditava o Diretório e exigia um governo que elimi- 8. (UNIF
nasse o "perigo" jacobino e monarquista e conduzisse com êxito a luta contra a coligação 1. Anl
antifrancesa. O golpe do 18 Brumário de 1799 pôs fim ao Diretório, iniciando o regime de 2. o ~
Consulado, tendo à frente Napoleão Bonaparte. 3. Os <
O período de Napoleão consolidaria internamente o novo regime e difundiria externa- 4. Sur1
mente as instituições criadas pela Revolução. 5. SuaJ
A ssinal
Substit uição do Consulado pe- De 1799 a 1804, Napoleão foi primeiro cônsul.
a) se a1
lo Império. Comandou as vitórias sobre a Segunda Coligação
b) se aJ
antifrancesa e consolidou a Revolução interna-
mente, controlando a crise financeira, estimulando o desenvolvimento econômico, reor de- 9. (UFBA
nando as relações com a Igreja e promulgando o Código Civil, que institucionalizava as
transformações burguesas . a) do r
b) do c
Em 1804, a nova constituição, aprovada em plebiscito, substituía o regime de Consula-
c) da n
do pelo de Império. Nesta fase, Napoleão conduziu a vitória dos exércit os franceses sobre as
terceira, quarta e quinta coligações antifrancesas. d) do iJ
e) da a
Declínio do Império, governo O declínio do Império teve suas principais razões
dos Cem Dias e exílio. na reação nacionalista dos países conquistados, no 10. (UM-SI
fracasso do Bloqueio Contin~ntal e no fracasso através
militar na Rússia. a) temi;
Em 1814, Napoleão foi desterrado para a ilha de Elba, de onde ainda retornaria para b) p OSSl

mais cem dias de governo. Em 1815, na Batalha de Waterloo, o imperador francês seria defi- Revc
nitivamente vencido. Apesar de militarmente derrota do, seu papel havia sido cumprido. Por c) a COJ
toda a Europa, a s instituições burguesas foram espalhadas e a restauração que se seguiu foi mer c
apenas momentânea. d) senti;
e) o go~

132
Questões para redação
1. Analise as possibilidades e limites do papel do indivíduo na história.
2. Identifique os fatores que geraram o golpe do 18 Brumário de 1799.
3. Identifique os fatores que levaram a Inglaterra e aliar-se às nações aristocráticas contra os
franceses.
4. Identifique e analise os fatores que geraram a decadência do Império Napoleônico.
5. Descreva as alterações produzidas na França com o .retorno dos emigrados.
6. Analise as conseqüências da derrota de Napoleão em Waterloo.
7. Após ler o Documento Complementar, que mostra a transição do Consulado em Império,
analise se houve um retorno às instituições monárquicas.

Testes
8. (UNIFOR-CE) Sobre a Revolução Francesa é correto afirmar:
I. Antecedeu de imediato ao Império Napoleônico.
2. O seu fim foi decretado pelo Congresso de Viena.
3. Os Cem Dias ocorreram durante a citada revolução.
4. Surgiu do conflito entre a burguesia e o absolutismo.
5. Suas repercussões foram profundas na Europa e na América.
Assinale:
a) se apenas 2, 3 e 5 forem corretas c) se apenas 2, 3 e 4 forem corretas
b) se apenas 4 e 5 forem corretas d) se apenas 1, 2 e 4 forem corretas

9. (UFBA) A pressão napoleônica sobre a Europa resultava, no plano sócio-econômico:


a) do rompimento do Bloqueio Continental pelos russos
b) do crescimento da burguesia francesa e seu interesse no controle de mercados
c) da rivalidade militar entre França e Inglaterra
d) do interesse em apossar-se dos portos marítimos do Mediterrâneo
e) da aliança franco-russa com o objetivo de dominar a Europa

10. (UM-SP) A Inglaterra esteve presente em todas as guerras contra a França napoleônica e,
através da diplomacia, procurou obter aliados no ·continente contra os franceses. Isto porque:
a) temia a propagação dos ideais revolucionários pelo continente europeu
b) possuindo uma estrutura política semifeudal, não aceitava a ideologia liberaL.burguesa da
Revolução Francesa
c) a concorrência da França, como potência burguesa emergente, ameaçava a primazia co-
mercial e marítima inglesa
d) sentia-se ameaçada pela hegemonia francesa nos mercados da América ibérica

e) o governo inglês não apoiava o intervencionismo reacionário francês nos países europeus
133
~pios da

lásticos

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olução

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Capítulo 3
O Congresso de Viena e a Santa Aliança
o de 1791 a
"A aliança entre o altar e o trono"

roe analisa A partir de 1815 os ideais de Liberdade, Igualdade, Fraternidade da Revolução Francesa fo-
ram substituídos pelos princípios de Fé, Autoridade, Tradição do Co.ngresso de Viena. Seguiu-se
uma época de reação marcada pelo triunfo da ideologia conservadora, pelas intervenções da Santa
Aliança e pela política de restauração do Antigo Regime, que havia sido varrido da Europa pela
Grande Revolução e pelas guerras napoleônicas.

"Em nome da santíssima e indivisível Trindade:


As potências que assinaram o Tratado estabelecido em Paris, a 30 de maio de 1814, reunidas em
Viena, em conformidade com o artigo XXXII desta ata, com os Príncipes e Estados aliados, para com-
plementar os dispositivos do dito Tratado (.. .) desejando agora abranger num acordo comum os dife-
rentes resultados de suas negociações (. .. ) autorizaram seus plenipotenciários para que reúnam, num
tratado de paz geral, as disposições de interesse maior e permanente(.. .) A queles dentre estes plenipo-
tenciários que assistiram à conclusão das negociações, após apresentação de seus plenos poderes, reco-
nhecidos válidos e legais, decidiram colocar neste tratado geral de paz, e de apor sua assinatura coletiva
nos artigos seguintes: (. .. ) ".
(Ata do Congressn de Viena, assinada em 9/ 6/ 1815. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história.
v. III, Lisboa, Plátano, 1976, p. 154.)

O trecho acima é a reprodução do preâmbulo da ata principal do Congresso de Viena, assi-


nada em 1815. Neste ano, com a Hatalha de Waterloo, chégou ao fim a era napoleônica, que, por
ser um desdobramento da Revolução Francesa, representou um prolongamento do século XVIII.
Iniciada em 1815, a história do século XIX dividiu-se em duas fases. A primeira estendeu-se até
1848 e se caracterizou pela tentativa de restauração do Antigo Regime pelo Congresso de Viena,
após a derrota momentânea da burguesia e da Revolução Francesa. A segunda, caracterizada pelo
triunfo da burguesia, do liberalismo e do nacionalismo, perdurou até a eclosão da Primeira Gran-
de Guerra em 1914.

1 - O Congresso d e Viena
Na primeira fase do século XIX, quatro correntes ideológicas formavam o quadro político
do continente europeu: o liberalismo, o democratismo, o socialismo e o conservadorismo, que cor-
respondiam às principais classes existentes na época.
135
As ideologias do início do sécu- O liberalismo tinha s.ua origem no Ilumirtismo, corres- As n
lo XIX: o liberalismo, o demo- pondia à ideologia da burguesia em ascensão e difundiu- gresso bas
cratismo, o socialismo e o con- se pela Europa com a Revolução Francesa. Seus princi- Antigo Re
servadorismo. pais postulados eram a liberdade individual, o governo ras napole
constitucional e a liberdade econômica. O democratis- peu, que'
mo defendia os interesses das camadas médias e lutava pelo sufrágio universal e pelo regime repu- através da
blicano. O socialismo, que carregava os anseios da nascente classe operária, ensaiava seus primei-
ros passos e era ainda meramente utópico. O conservadorismo defendia como princípios básicos a As decis
fé, a autoridade e a tradição, típicos da aristocracia decadente. Partidária do absolutismo monár- Viena: a
quico e do dogmatismo religioso, esta ideologia cimentou a célebre aliança entre "o altar e o tro- e compe1
no", cujos alicerces eram o clero e a aristocracia. restaura•
A vitória das potências européias sobre a França napoleônica representou um triunfo tempo-
rário do conservadorismo sobre o liberalismo, da restauração sobre a Revolução, da aristocracia -mar dura
sobre a burguesia. lônia do C
regiões de
O Congresso de Viena e o Co- Em 1814, após a derrota de Napoleão na Batalha de extensão t
mitê dos Quatro. A restaura- Leipzig (também conhecida como Batalha das Nações), outra part
ção, a legitimidade e o equilr- as potências vitoriosas realizaram na capital do Império a Bessarál
brio europeu. Austríaco uma conferência internacional, conhecida co- rotada, p1
mo Congresso de Viena. Esta conferência, momenta- territorial
neamente interrompida durante o governo dos Cem Dias, foi concluída em 1815, após a derrota de 1792. A P
Napoleão na Batalha de Waterloo , e representou uma reação às idéias liberais e nacionalistas di- neceram d
fundidas pela Revolução Francesa. Seu principal objetivo era restabelecer a situação existente an- gemonia ~
tes da Grande Revolução, ou seja, a restauração do Antigo Regime.
Em
- hm 1te da Confederação Germânica
do princí]
~ aQUISIÇões dos países vitoriosos tigas din
nos tronc
peus: os
RÚSSIA reinos da
Nápoles;
locada no
de Braga
OCEANO ATLÂNTICO
Portugal
sou à Ho
lecido no

2- A
AS
gresso de
política d
pela Áus1
pla AliaJJ
As fronteiras européias em 1815.
Aliança.
Nas diversas sessões realizadas pelos congressistas as decisões mais importantes fo ram toma-
das pelo Comitê dos Quatro, formado por Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia. Entre os partici- Santa
pantes do Congresso de Viena estavam os mais destacados representantes do conservadorismo eu- militare
ropeu: Czar Alexandre I da Rússia, lorde Castlereagh da Inglaterra, Talleyrand da França e Har- e triunf
denberg da Prússia, e o Príncipe Metternich, chanceler da Áustria, que foi a figura dominante do rais.
Congresso.
As negociações entre os monarcas, diplomatas e embaixadores que participaram do Con-
gresso basearam-se em três princípios políticos: a) a restauração do absolutismo monárquico ou
Antigo Regime; b) a legitimidade das antigas dinastias que haviam sido depostas durante as guer-
ras napoleônicas e que se pretendiam recolocar nos tronos dos países europeus; c) o equilíbrio euro-
peu, que visava congelar indefinidamente a velha ordem restaurada e preservar a paz na Europa
através da manutenção de uma equivalência de forças entre as grandes potências.

As decisões do Congresso de As decisões do Congresso de Viena, firmadas na ata de


Viena: a política de concessões 1815, restabeleciam o equilíbrio de forças entre as po-
e compensações territoriais e a tências européias através de uma política de compensa-
restauração . ções territoriais. A Inglaterra consolidou sua suprema-
cia naval retendo as possessões conquistadas no além-
-mar durante a guerra contra a França napoleônica, entre as quais as ilhas de Malta e Ceilão e a co-
lônia do Cabo. A Áustria cedeu a Bélgica à Holanda, mas recebeu em troca parte da Polônia e as
regiões de Lombardia e Veneza, que lhe asseguravam a supremacia na Itália. A Prússia dobrou sua
extensão territorial, incorporando parte da Polônia, da Pomerãnia e da Saxônia. A Rússia anexou
outra parte da Polônia, a Finlândia e
a Bessarábia. A França, mesmo der-
rotada, preservou a sua integridade
territorial voltando às fronteiras de
1792. A Alemanha e a Itália perma-
neceram divididas e submetidas à he-
gemonia austríaca.
Em conseqüência da aplicação
do princípio de legitimidade, as an-
tigas dinastias foram restauradas
nos tronos de diversos países euro-
peus: os Bourbon retornaram aos
reinos da França, da Espanha e de
Nápoles; a dinastia Sabóia foi reco-
locada no Reino do Piemonte; os reis
de Bragança voltaram a governar
Portugal e a dinastia Orange regres-
sou à Holanda. O papa foi restabe- Em uma caricatura da época, vemos os representantes das po·
lecido nos Estados Pontifícios. tências vitoriosas dividindo entre si o império napoleônico.

2 - A Santa Aliança
A Santa Aliança foi um pacto militar firmado entre as grandes potências européias no Con-
gresso de Viena, cujo objetivo era a repressão aos movimentos liberais que colocassem em risco a
política de restauração, o princípio de legitimidade e o equilíbrio europeu. Formada inicialmente
pela Áustria, Prússia, Rússia e Inglaterra, a Santa Aliança ficou conhecida também como Quádru-
pla Aliança. Em 1818, com a adesão da França ao pacto militar, transformou-se na Quíntupla
Aliança.

Santa Aliança: intervenções O apogeu dessa instituição foi marcado por interven-
militares, retirada da Inglaterra ções militares, que esmagaram os movimentos liberais
e triunfo das revoluções libe- ou nacionalistas ocorridos em alguns países da Europa.
rais. Em 1819 a Santa Aliança reprimiu os nacionalistas que
lutavam pela unificação da Alemanha; em 1821 e 1822
137
realizou intervenções em Nápoles e na Espanha para combater os liberais que lutavam contra o ab- Em 182•
solutismo. Mas a retirada da Inglaterra da Santa Aliança e o triunfo de novas revoluções liberais ultra-realistas
levaram ao declínio esta política intervencionista. A saída da Inglaterra do pacto militar foi conse- tenção de anil
qüência .dos planos da Santa Aliança de remeter tropas à América para sufocar os movimentos de le ano decren
independência e restaurar o antigo colonialismo. eleitoral desf:
Essa discordância da Inglaterra deve-se ao seguinte fato: os novos países independentes ade- rais, dariam 1
riam ao livre comércio e abriam seus mercados aos produtos industriais ingleses. Em vista desse lar e em pow
relacionamento comercial extremamente lucrativo, a Inglaterra adotou uma política não-interven-
cionista, opondo-se ao envio de tropas à América. Outro sério golpe na Santa Aliança foi a procla- A Revoluç~
mação da Doutrina Monroe, em 1823. Baseada no lema "a América para os americanos", essa deposição 1
doutrina tinha como pedra angular o princípio de que o são de Lui~
Novo Mundo deveria solucionar seus problemas inter- guês".
nos sem nenhuma ingerência externa das potências eu-
iOpéias. Fundado nesse princípio, o governo norte- de Orleans . .J
?mericano afirmou que consideraria um ato de guerra guesa, cujo n
contra os Estados Unidos qualquer agressão estrangeira queiros" ou
a um país americano . narquia de J1
O golpe final à política da Santa Aliança veio com A vitór
o triunfo de novas revoluções liberais na Europa, que, Aliança e na
vitoriosas, tiveram duas características principais. Por triunfo da Re
um lado, restabeleceram a independência política de a aristocracü
países dominados por outras potências, como ocorreu
com a Grécia em relação à Turquia, em 1828, e com a
Bélgica em relação à Holanda, em 1831. Por outro lado, 4 -. Retr
substituíram o absolutismo por um regime constitucio-
nal e parlamentar, como ocorreu na França com a Revo- Talleyrand foi o representante francês no Fim da San
lução de 1830, fato que será analisado mais adiante em Cor:gresso de Viena. Graças à sua habili· beral (lngla
dade, a França manteve seus limites territo·
virtude do papel de destaque da França na história da nais anteriores a Napoleão intac tos. gica) e cq
Europa. Prússia e R

A parti
de poder na
3 - Restauração e revolução na França pólo conserv
ral. A políti
Em 1814, a volta dos Bourbon e a coroação de Luís X\lli, após a derrota de Napoleão na Ba- adotada pela
talha das Nações, inaugurou o período de restauração na Fr211ça. Bruscamente interrompida em dência dos p
1815 pelo governo dos Cem Dias, a restauração foi retomada após a derrota definitiva de Napoleão e a vitória da
em Waterloo. ropéias desn
e abalaram a
A restauração na França: o go- A restauração na França não foi integral. A partir de do Congres.!
verno de conciliação de Luís 1815, Luís XVIII adorou uma política de meio-termo , mente a Eu:
XVIII e a reação absolutista de procurando conciliar a restauração do absolutismo com blocos: um li
Carlos X. a manutenção de algumas conquistas da Revolução de glaterra, Fra
1789. Com esse objeti\·o outorgou uma constituição conservador.
instaurando uma assembléia que seria eleita por voto censitário. De uma população de trinta e tria, Prússi<
três milhões de franceses, apenas noventa e quatro mil cidadãos ::inham direito ao voto e somente uma nova o
quatorze mil atingiram o rendimento exigido para candidatar-se a deputado. No Parlamento fran- rais e nacio:u
cês os deputados agruparam-se em três partidos: os ultra-realistas, adeptos ferrenhos do absolutis- pa os últim<J
mo; os constitucionais, vinculados a Luís XVIII; e os liberais, burgueses d~fens ores do princípios ção imposta
da Revolução Francesa. sq de Viena.
138
~oab­
Em 1824, após a morte de Luís XVIII, ascendeu ao trono Carlos X, chefe do partido dos
:.:berais ultra-realistas, que, em 1830, apoiado pela aristocracia, desfechou um golpe de Estado com a in-
. conse- tenção de aniquilar a oposição liberal burgue~a e restaurar o absolutismo no país. Em julho daque-
!'mos de le ano decretou a dissolução da Assembléia, a abolição da liberdade de imprensa, uma nova lei
eleitoral desfavorável à burguesia e convocou novas eleições, que, excluindo três quartos dos libe-
es ade- raís, dariam vitória certa aos ultra-realistas. O golpe de Carlos X encontrou forte oposição popu-
ra desse lar e em poucos meses levou a uma revolução liberal.
~:terven­
p:-ocla- A Revolução Liberal de 1830: Após a insurreição popular em Paris, que se estendeu
;", essa deposição de Carlos X e ascen- por três dias -conhecida como as "jornadas de julho"
são de Luís Felipe, o "rei bur- -, a Revolução Liberal colocou abaixo o absolutismo.
guês". Carlos X foi deposto, a dinastia Bourbon foi afastada
do trono e a alta burguesia colocou no poder Luís Felipe
de Orleans. A velha monarquia aristocrática e absolutista cedeu lugar a uma nova, liberal e bur-
guesa, cujo representante máximo, Luís Felipe, foi inclusive apelidado pelo povo de "rei dos ban-
queiros" ou "rei burguês". Devido ao momento em que se iniciou, esse período chamou-se Mo-
narquia de Julho e se estendeu até 1848.
A vitória da Revolução Liberal na França foi o golpe final no intervencionismo da Santa
Aliança e na política de restauração do Congresso de Viena. As jornadas de julho representaram o
triunfo da Revolução sobre a restauração, do liberalismo sobre o absolutismo e da burguesia sobre
a aristocracia.

4 -. Retrocesso conservador
Dês no
! hablli -
Fim da Santa Aliança: bloco li-
1 :ernto- beral (Inglaterra, Franca e Bél-
1 gica) e conservador (Áustria,
Prússia e Rússia).

A partir de 1830 o equilíbrio


de poder na Europa deslocou-se do
pólo conservador para o pólo libe-
ral. A política não-intervencionista
naBa- adotada pela Inglaterra, a indepen-
.da em
dência dos países latino-americanos \
tpoleào e a vitória das revoluções liberais eu- _,. ,. . .-·\
ropéias destruíram a Santa Aliança ;-..--.J.,
e abalaram a política de restaeyação ' ,
c. ... \, .. '
:-rir de do Congresso de Viena. Politica-
ermo, mente a Europa dividiu-se em dois
tO com blocos: um liberal, formado pela In-
ção de glaterra, França e Bélgica, e outro,
i::uição conservador, integrado pela Áus-
rinrae tria, Prússia e Rússia. Em 1848,
lmeme uma nova onda de revoluções libe- ~ países hbera1s
• agitações
o fran- rais e nacionalistas varreu da Euro- c::::J potênc,_as conser~adoras
IOlutis- c.=..:::J e suas mtervençoes __..., mfluênc1a d a Re volução France sa
pa os últimos vestígios da restaura-
t:~,;:>ios ção imposta em 1815 pelo Congres- D.
países que se
tornaram Independentes
~
~
fracassos .
das revoluções de 1830

sq de Viena. Os movimentos nacionais de 1830.

139
Documento complementar

A restauração: Luís XVIII no trono da. França. (1814)


I
I.
"Tenho presente na memória, como se o visse ainda, o espetáculo de que fui testemunha quando Luís XVIII,
entrando em Paris a 3 de maio, foi a Notre-Dame: tinha-se querido poupar ao rei o aspecto das tropas estrangeiras;
2.
era um regimento da velha guarda a pé que formava a guarda de honra desde Pont-Neuf até Notre-Dame ... Não creio
que figuras humanas tenham jamais exprimido qualquer coisa de tão ameaçador e de tão terrível. Aqueles granadei-
ros, cobertos de feridas, vencedores da Europa, que tinham visto tantos milhares de balas passar sobre suas cabecas, 3.
que cheiravam a fogo e pólvora; aqueles mesmos homens, privados do seu capitão (Napoleão), eram obrigados a sau- 4.
dar um velho rei, inválido do tempo, não da guerra, vigiados, como estavam, por um exército de russos, de austrlacos
e de prussianos... Uns, agitando a pele da. testa, faziam descer o largo gorro de peles sobre os olhos, como para não 5.
ver; outros abaixavam os cantos da boca no desprezo da raiva; outros, por debaixo do bigode, deixavam ver os dentes
como tigres. "
6.
(CHATEAUB!ll'-ND, Frllll<;Ois René. "Memórias de além·Lúmulo". In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. v. In, Lisboa, Plátano, 1976,
p. 134.)
7.
8.

9.
Resumo
10.
Congresso de Viena e a Santa Na primeira metade do século XIX as ideologias
Aliança. predominantes na Europa eram o liberalismo, o
democratismo, o socialismo e o conservadorismo.
A principal luta travou-se entre o liberalismo burguês e o conservadorismo aristocrático. O
Congresso de Viena (1814-1815) representou um triunfo momentâneo do conservadorismo e
uma reação contra o liberalismo difundido pela Revolução Francesa. A figura mais destaca-
da do Congresso foi Metternich, chanceler da Áustria. As principais decisões do Congresso
foram tomadas tendo em vista a política de restauração, o princípio de legitimidade e o equi-
líbrio europeu. 11.
Para combater os movimentos liberais que colocavam em perigo a ordem conservadora
restaurada pelo Congresso de Viena, foi criado um pacto militar entre as grandes potências:
a Santa Aliança, que na época de seu apogeu realizou intervenções na Alemanha, em Nápo-
les e na Espanha. Seu declínio foi provocado pela defecção da Inglaterra e pelo triunfo de re-
voluções liberais na Grécia, na França e na Bélgica.

A restauração monárquica e Na França a restauração, que correspondeu aos


Revolução liberal na França. reinados de Luís XVIII e Carlos X da dinastia
Bourbon, não foi integral e buscou uma concilia-
ção entre o absolutismo monárquico e a manutenção de algumas conquistas da Revolução de 12. I
1789. Este período chegou ao fim em julho de 1830 quando uma revolução liberal derrubou
Carlos X e colocou no trono Luís Felipe de Orleans, o "rei burguês", cuja Monarquia de Ju-
lho, liberal e burguesa, estendeu-se até 1848.
A Revolução de 1830 selou o fim da Santa Aliança e dividiu a Europa em dois blocos:
um liberal (Inglaterra, França e Bélgica) e outro conservador (Áustria, Prússia e Rússia). Em
1848 (a Primavera dos Povos) novas revoluções abalariam a Europa e destruiriam definitiva-
mente a política de restauração imposta pelo Congresso de Viena.

140
ll ~lll-llllll Questões para redação
1. (FUVEST-SP) Napoleão Bonaparte foi vencido pelos ingleses em 1815. Relacione este fato
:..:lls XVC com o Congresso de Viena e a Santa Aliança.
ee:.""a!!geiras.
2. Descreva as principais correntes ideológicas existentes na Europa na primeira metade do sécu-
e . Não creic
lo XIX.
ie6 granade:-
:..:M cabeças. 3. Analise as diferenças básicas que opunham o liberalismo e o conservadorismo.
- dos a sau-
4. O que foi o Congresso de Viena e quais eram seus principais objetivos?
!e a'US:ría.cos
c ::: para nã::: 5. Analise sinteticamente a política de restauração, o princípio de legitimidade e o equilíbrio eu-
~-: os dentes ropeu.
6. O que foi a Santa Aliança e quais eram os seus principais objetivos?
7. Analise as causas do declínio da política da Santa Aliança na Europa.
8. Os historiadores afirmam que na França a restauração não foi integral. Justifique esta afirma-
tiva.
9. Quais as características da Revolução de 1830 na França?
10. O Documento Complementar relata a entrada de Luís XVIII em P_aris após a derrota de Na-
logias poleão Bonaparte. Leia-o atentamente e descreva a situação política da França em 1814.
10, o
!)rismo.
·ico. O
rismo e
!estaca~
gresso Testes
o equi~
11. (FMU/ FIAM-SP) Metternich foi uma das principais figuras do Congresso de Viena, de 1815,
..,·adora e, sob sua inspiração, tentou-se um reordenamento da organização política européia, abalada
ências: pela expansão napoleônica. Qual das afirmações a seguir reflete os objetivos desse ordena-
~ápo~
mento?
>de re- a) A Quíntupla Aliança e a restauração do Antigo Regime
b) A Tríplice Aliança e a Tríplice Entente
c) A Conferência de Potsdam e a Conferência de Bandung
eu aos d) A divisão da França e a criação do protetorado de Vichy
mastia e) A internacionalização de Strasburgo e do vale do Rhur
cilia-
p ode 12. (UFMG) A idéia básica do Congresso de Viena (1814-15)- o princípio da legitimidade - es-
:ubou tabelecia que:
de Ju- a) as monarquias absolutistas seriam substituídas por governos liberais.
b) os princípios feudais da nobreza precisariam ser eliminados segundo a filosofia da Revolu-
'ocos: ção Francesa.
1). Em c) as nações orientariam sua política econômica de acordo com os postulados do mercantilis-
rutiva- mo.
d) as dinastias reinantes antes da Revolução de 1789 deveriam ser restauradas.
e) os princípios políticos das monarquias constitucionais basear-se-iam no liberalismo.
141

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