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LEITURA E

PRODUÇÃO
TEXTUAL

Professora Me. Raquel de Freitas Arcine

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção Operacional de Ensino
Katia Coelho
Supervisão do Núcleo de Produção de
Materiais
Nalva Aparecida da Rosa Moura
Design Educacional
Yasminn Zagonel
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância:
Editoração
ARCINE, Raquel de Freitas Melina Belusse Ramos
Leitura e Produção Textual. Raquel de Freitas Arcine.
Maringá - PR, 2015.
Revisão Textual
205 p. Keren Pardini
“Graduação - EaD”. Ilustração

1. Leitura. 2. Produção . 3. Textual 4. EaD. I. Título. André Luís Onishi
CDD - 22 ed. 411
CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um
grande desafio para todos os cidadãos. A busca
por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a
educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos
que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela
qualidade e compromisso do corpo docente;
aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
Diretoria Operacional mente, transformamos também a sociedade na qual
de Ensino
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo
competências e habilidades, e aplicando conceitos
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de
professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORES

Professora Me. Raquel de Freitas Arcine


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade
Estadual de Maringá (UEM). Possui Mestrado em Letras, com ênfase em
Linguística - Estudos do Texto e do Discurso - pela mesma instituição. É
membro do Grupo de Estudos Político-Midiáticos da UEM (GEPOMI/Cnpq).
Atua principalmente nos seguintes temas: análise do discurso, política e
mídia.
APRESENTAÇÃO

LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL

SEJA BEM-VINDO(A)!
Prezado(a) acadêmico(a), é com grande prazer que apresento a você o livro que fará
parte da disciplina de Leitura e Produção Textual. Sou a professora Raquel Arcine e pre-
parei este livro pensando em facilitar sua aquisição de conhecimentos a respeito da im-
portância de uma leitura adequada e da maneira de transmitir informações mediante a
escrita com os estudos obtidos em Leitura e Produção Textual em seu meio social.
No decorrer de todo o livro, preocupei-me em escrever com clareza e diversidade de
conteúdo, fazendo uso, sempre que possível, de exemplos, pois, a meu ver, eles auxiliam
muito na fixação do que se está estudando. Peço que você procure realizar as suas lei-
turas com atenção e empenho! Interaja com o texto, faça anotações, responda as ativi-
dades de autoestudo, anote suas dúvidas, consulte sugestões de leitura que percorrem
todo o texto e, especialmente, realize novas pesquisas sobre os assuntos trabalhados
aqui, já que este material não pode ser encarado como o único e absoluto meio de se
estudar e se refletir sobre as questões envolvendo leitura e escrita. Busque sempre mais!
No que diz respeito à primeira unidade do livro, “O texto e a construção dos sentidos”,
você encontrará relevantes informações acerca das definições que possibilitam a signi-
ficação de um texto, assim como será possível pensar sobre como ocorre o processo de
produção de sentidos em um texto. Além disso, conhecerá sobre os fatores de textuali-
dade, refletindo sobre como esses fatores influenciam em nossa leitura e escrita. É tam-
bém na primeira unidade do livro que trataremos sobre coesão e coerência textual, que
estão intrinsicamente ligados ao sentido do texto. Com isso, será possível entender os
fatores relevantes no momento da escrita do parágrafo, mostrando que sempre produ-
zimos algo tendo em vista um leitor em potencial e que o texto, em suma, refere-se a um
conjunto coerente de enunciados, um evento comunicativo que sempre tem uma in-
tenção e que nunca deixa de produzir uma ação, seja ela linguística, social ou cognitiva.
Dando sequência a sua leitura, a segunda unidade enfocará a função social da escrita,
observando qual é a relação existente entre a leitura e a escrita. Discutiremos, ainda,
nessa mesma unidade, a respeito de algumas teorias da comunicação, de maneira bre-
ve, já que se trata de um assunto muito extenso. A partir dos conceitos de teoria da
comunicação explorados, observaremos as funções da linguagem, conhecimento fun-
damental para o estudo de produção textual.
No que tange ao conteúdo da terceira unidade do livro, mais voltada para o ato de ler,
você terá a oportunidade de compreender como ocorre o processo de leitura e de en-
tender o quanto leitura e escrita estão interligadas para a construção do sentido no tex-
to. Aliado a isso, discutiremos sobre o papel da leitura competente na vida pessoal e
social dos indivíduos. Posso garantir a você, caro(a) aluno(a), que receber esse conheci-
mento irá ajudá-lo(a) muito no desenvolvimento das habilidades comunicativas relacio-
nadas à atividade do profissional de Secretariado Executivo.
Na quarta unidade, passaremos, então, ao estudo dos gêneros textuais. Primeiramente,
definiremos o conceito de gênero textual, especialmente a partir das conceituações de
Mikhail Bakhtin (1895-1975), para, em seguida, começarmos a falar de alguns gêneros
APRESENTAÇÃO

textuais específicos relacionados aos seus respectivos agrupamentos. Após isso,


apresentaremos os gêneros textuais relacionados à descrição, à narração e ao re-
lato, à exposição e, por fim, trataremos dos gêneros relacionados à argumentação.
A quinta e última unidade deste livro se detém na abordagem de leitura e escrita do
texto técnico, uma parte fundamental no desenvolvimento do profissional das prá-
ticas secretariais, já que, nessa unidade, trataremos, especificamente, da Redação
Técnica, a qual está ligada aos textos que permeiam os ambientes de escritórios e
empresas. Faremos um breve histórico da Redação Técnica, seguido dos elementos
básicos da linguagem desses textos e da importância da leitura adequada dos mes-
mos. Exemplificaremos, assim, alguns documentos de rotina em escritórios, abor-
dando, principalmente, a estrutura da carta comercial.
Para concluir, acredito sinceramente que este livro pode contribuir, de maneira sig-
nificativa, ao alcance do sucesso em sua prática profissional. Porém é válido ressaltar
que toda teoria apresentada aqui não esgota o assunto voltado à leitura e à escrita
dos textos de modo geral e dos textos técnicos. Portanto busque outras fontes de
conhecimento e queira sempre ser o(a) melhor que puder ser!
Espero que esse nosso “cardápio” nos possibilite discussões enriquecedoras e que
você, aluno(a), consiga levar, o que encontrar neste livro, para sua prática secretarial
e, mais do que isso, para sua vida!
Professora Raquel Arcine.
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS

15 Introdução

16 Definindo Texto e Construindo seus Sentidos

21 Fatores de Textualidade

38 Coesão Textual

45 Coerência Textual

50 A Construção do Parágrafo

56 Considerações Finais

UNIDADE II

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA

63 Introdução

64 Teorias da Comunicação

66 Estrutura e Funcionamento da Comunicação

74 Funções da Linguagem

88 Considerações Finais
SUMÁRIO

UNIDADE III

O PROCESSO DE LEITURA

95 Introdução

96 O Processo de Leitura

100 O Desenvolvimento das Habilidades de Leitura

104 Relação entre Leitura e Escrita 

108 Leitura e a Processo de Significação

111 Leitura como Fonte de Conhecimento e Autonomia do Sujeito

116 Considerações Finais

UNIDADE IV

GÊNEROS TEXTUAIS

123 Introdução

124 Os Gêneros Textuais

131 Os Gêneros Textuais e a Descrição

136 Os Gêneros Textuais: Narração e Relato

139 Os Gêneros Textuais e a Exposição

141 Os Gêneros Textuais e a Argumentação

149 Considerações Finais


11
SUMÁRIO

UNIDADE V

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO

157 Introdução

158 Breve Histórico da Redação Técnica

160 Fundamentos da Linguagem no Texto Técnico

169 Elementos Básicos de Leitura de Textos Técnicos

174 Textos Técnicos: Alguns Documentos de Rotina em Escritórios 

180 Estrutura do Texto Técnico: Carta Comercial 

189 Considerações Finais

197 Conclusão
199 Referências
203 GABARITO
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO

I
UNIDADE
DOS SENTIDOS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender as definições que possibilitam a significação de um
texto.
■■ Refletir sobre o processo de produção de sentidos no texto.
■■ Conhecer os chamados fatores de textualidade.
■■ Refletir sobre a influência dos fatores de textualidade na construção
dos sentidos de um texto.
■■ Destacar a importância da coesão e coerência textuais.
■■ Compreender a diferença entre coesão e coerência textuais.
■■ Entender os fatores relevantes na construção do parágrafo.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Definindo texto e construindo seus sentidos
■■ Fatores de textualidade
■■ Coesão textual
■■ Coerência textual
■■ A construção do parágrafo
15

INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), nesta primeira unidade, você estudará questões essen-


ciais para a compreensão de estudos futuros como também para sua vivência
profissional, pois será necessário entender os sentidos que um texto pode pos-
suir, quais os fatores que estão relacionados a esta ocorrência, além de verificar
aspectos importantes para a realização da escrita de um texto. Diante disso,
nossa preocupação deve ser em entender com exímio as possibilidades de defi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nição daquele que é o objeto central de análise e estudo da disciplina de Leitura


e Produção Textual, o texto.
Com os aprendizados contidos nesta unidade, nosso desejo é que você, aca-
dêmico(a), compreenda que a interação entre indivíduos se dá por meio de textos
escritos ou falados. É nos textos que nós formulamos e reformulamos os sen-
tidos, construindo e negociando os conhecimentos no momento da interação.
Tanto na fala quanto na escrita, para a produção de sentido, é necessário
levar em conta que o falante e o ouvinte fazem uso de uma multiplicidade de
recursos, muito além das simples palavras que compõem as estruturas do texto.
E nessas relações estarão envolvidos conhecimentos individuais, coletivos, de
mundo, da situação comunicativa de cada participante dessa interação. É a par-
tir disso que estudaremos, nesta unidade, os fatores de textualidade, pois há um
conjunto de características que são pertinentes a um texto e que fazem dele um
todo significativo e não apenas um amontoado de frases e palavras soltas, cola-
borando com a construção de sentidos de um texto.
Estudaremos, ainda, dois critérios linguísticos de grande importância nos
estudos de Leitura e Produção Textual, que são a Coesão e a Coerência Textuais.
Esses fatores linguísticos estão inteiramente interligados, pois não podem existir
textos sem coesão, e a coesão, por sua vez, vai levar à coerência.
Por fim, no último tópico da nossa unidade, que está intrinsicamente ligado a
todos os outros, veremos questões relativas à construção dos parágrafos. De acordo
com Figueiredo (1999), o parágrafo é um bloco de raciocínio progressivo. Cada
parágrafo possui a ideia central ao redor da qual giram ideias complementares.
Com estudo, reflexão e entendimento das informações contidas nesta primeira

Introdução
I

unidade, espero contribuir com sua formação acadêmica e, por conseguinte, com
seu trabalho como secretário(a) executivo(a), especialmente, no que diz respeito
às produção de textos bem elaborados e coerentes como também à leitura desses.
Está pronto(a)? Então, vamos lá! Boa leitura!

DEFININDO TEXTO E CONSTRUINDO SEUS SENTIDOS

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“O todo sem a parte não é todo
A parte sem o todo não é parte
Mas se a parte o faz todo, sendo parte
Não se diga que é parte, sendo o todo”.
Gregório de Matos

Como você viu, começamos este tópico com o célebre poema do poeta barroco
Gregório de Matos, que já dizia algo sobre as considerações acerca do texto.
Nesse poema, o poeta nos leva a pensar que o texto é um conjunto de partes arti-
culadas e organizadas entre si. Mas vamos aprofundar nossos conhecimentos.
Pensemos: qual o significado a palavra “texto”? De acordo com Saraiva (2000),
o vocábulo vem do termo latino “textum”, que originou a palavra em Língua
Portuguesa “texto” e está relacionado, morfologicamente, a outras, como “tex-
tilis”, “textio”, “textorius”, “textrix”, “textura”, todas derivadas do verbo “textere”,
cujos significados, dependendo do seu complemento, podem ser “tecer, fazer
tecido”; “fazer a teia (aranha)”; “entrançar, entrelaçar”; “construir sobrepondo ou
entrelaçando”. Figuradamente, pode ter o significado de “arranjar, dispor, orde-
nar”; “entabular a conversação”; “compor, escrever uma obra”; “referir, relatar,
narrar, contar”.
Para que fique mais claro, podemos refletir na seguinte associação para que
todos esses significados façam sentidos para você, caro(a) aluno(a). Veja bem
como é simples: o texto é como um tecido, no qual o tecelão vai juntando os fios
soltos para formar um todo, de acordo com a ideia do desenho ou da textura que

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


17

ele deseja criar. Assim como o tecido, o texto também é resultado da formação de
dizer do falante que formula e reformula enunciados, construindo os sentidos.
Apenas em um ponto essa associação se difere: enquanto ao artesão é dado
o poder de criar algo, independente de quem seja seu cliente; o emissor neces-
sita de seu receptor para dar vida aos sentidos. Ele não sabe o que virá, apenas
projeta seus objetivos, um fim, o qual precisa ser compreendido pelo receptor.
Precisamos pensar que o emissor, tecelão do discurso, articula-se com o
outro utilizando a língua como instrumento dessa interação. Ele produz dize-
res e constrói sentidos, criando sua própria identidade, pois se encontra situado
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

histórica, social e ideologicamente e, assim, vai recriando o mundo durante o


jogo da linguagem com o outro.
É a partir dessas interações entre emissor e receptor que ocorre a formação
do texto. O texto não é apenas o resultado, mas o próprio lugar da interação,
lugar em que os sentidos ganham forma na situação comunicativa.
O doutor em Filosofia da Linguagem, Luiz Antônio Marcuschi, explorou
vários temas na área da Linguística Textual, entre eles, a definição do que é um
texto. Para o renomado estudioso, o texto não é um produto, mas um fenômeno,
pois sua existência depende do processo feito por alguém, para alguém, em
algum contexto. Assim a junção sequencial de elementos linguísticos “será um
texto na medida em que consiga oferecer acesso interpretativo a um indivíduo
que tenha uma experiência sociocomunicativa relevante para a compreensão”
(MARCUSCHI, 2008, p. 89).
Da mesma maneira, Geraldi (1997) define o texto como uma sequência ver-
bal escrita coerente, que se constrói em uma relação entre um eu e um tu. Além
disso, tem um significado, construído na produção e na leitura, consequência das
múltiplas estratégias possíveis de interpretação compartilhadas por uma comu-
nidade linguística. Para o autor, para que um texto construa sentidos, é preciso
que haja coerência e que os elementos de coesão se façam presentes, pois uma
simples justaposição de palavras ou sequências verbais escritas não é possível
formar um texto.
No entanto é importante ressaltar que, antes de todas essas definições apre-
sentadas, o texto já foi definido de diversas formas. Com base no breve histórico
desenvolvido por Koch (2008, p. 25-26), primeiramente, o texto foi apresentado como:

Definindo Texto e Construindo seus Sentidos


I

a. unidade linguística (do sistema) superior à frase;


b. sucessão ou combinação de frases;
c. cadeia de pronominalizações ininterruptas;
d. cadeia de isotopias;
e. complexo de proposições semânticas.
f. Em seguida, o texto passou a ser concebido no interior de estudos de
natureza pragmática:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
g. como as teorias acionais, nas quais o texto era visto como uma sequên-
cia de atos de fala;
h. pelas vertentes cognitivistas, como fenômeno primariamente psíquico,
resultado, portanto, de processo mentais;
i. p
elas orientações que adotam por pressuposto a teoria da atividade comu-
nicativa, como parte de atividades mais globais de comunicação, que vão
muito além do texto em si, já que este constitui apenas uma fase desse
processo global.
Koch (2008), após apresentar as diferentes maneiras pelas quais um texto já
fora concebido, conclui que:
um texto passa a existir no momento em que os parceiros de uma ati-
vidade comunicativa global, diante de uma manifestação linguística,
pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem situa-
cional, cognitiva, sociocultural e interacional, são capazes de construir,
para ela, determinado sentido (KOCH, 2008, p. 30).

Assim a autora completa afirmando que essa concepção de texto está relacio-
nada à visão de que o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, na
relação entre o escritor/falante e o leitor/ouvinte.
A autora acrescenta ainda que emissor e receptor possuem saberes e conhe-
cimentos acumulados quanto aos diversos tipos de atividades da vida social, têm
informações na memória que necessitam ser ativadas para que a comunicação tenha
sucesso. A comunicação gera expectativas, tanto no emissor, pois ele planeja sua fala
(ou escrita) a fim de que seu receptor compreenda, quanto no receptor, que precisa
ativar os saberes e conhecimentos acumulados para que o texto lhe faça sentido.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


19

A partir da noção de que o texto constitui um processo, os sentidos de um


texto podem ser depreendidos por meio de quatro grandes sistemas de conhe-
cimento, que são responsáveis pelo processamento textual, conforme apresenta
Koch (2004):
a. Conhecimento linguístico: corresponde ao conhecimento gramatical e
lexical, ou seja, a língua escrita e suas regras, e à língua em uso, na qual
o falante faz a seleção e a combinação lexical, procurando obedecer às
regras já estabelecidas no sistema gramatical de sua língua.
b. Conhecimento enciclopédico ou de mundo: corresponde a conheci-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mentos gerais sobre o mundo, assim como informações armazenadas na


memória de cada indivíduo. Refere-se, ainda, a conhecimentos alusivos
a vivências pessoais e eventos espaço-temporais situados, permitindo a
produção de sentidos.
c. Conhecimento interacional: refere-se à realização de certas ações por
meio da linguagem. Divide-se em:
• conhecimento ilocucional: compreende as maneiras empregadas pelo
produtor do texto para atingir um determinado objetivo em uma dada
situação interacional;
• conhecimento comunicacional: diz respeito aos meios mais adequados
para atingir os objetivos almejados, tais como: a quantidade de informa-
ção necessária para que o parceiro da comunicação seja capaz de entender
o sentido pretendido de um texto, a seleção da variante linguística ade-
quada e a adequação do gênero textual à situação comunicativa;
• conhecimento metacomunicativo: está relacionado aos meios empre-
gados pelo emissor para prevenir e evitar distúrbios na comunicação e
assegurar a compreensão do texto. Para isso, são utilizados procedimen-
tos como a paráfrase, uso de parênteses de esclarecimento, entre outros.
d. Conhecimento acerca de superestruturas ou modelos textuais globais:
também conhecido como conhecimento sobre gêneros textuais, já que
permite aos indivíduos a identificação de textos como pertencentes a
determinado gênero ou tipo textual.

Definindo Texto e Construindo seus Sentidos


I

Diante disso, podemos afirmar que o processamento do sentido de um texto


depende não só das características internas do texto, mas também do conheci-
mento dos participantes da comunicação, pois é esse conhecimento que define
as táticas a serem empregadas pelo emissor/receptor do texto.
Além disso, de acordo com Costa Val (1991), um texto também será bem
compreendido quando analisado sob os seguintes aspectos:
a. o pragmático, que está relacionado ao funcionamento do texto em ter-
mos de atuação informacional e comunicativa;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
b. o semântico conceitual, de que depende sua coerência;
c. e o formal, relacionado ao uso dos elementos coesivos no texto.
É importante que você, prezado(a) aluno(a), saiba que um texto tem extensão
variável, podendo ser formado por uma única palavra, uma frase ou um con-
junto maior de enunciados. No entanto, para que sejam considerados textos, é
preciso, obrigatoriamente, que estejam presentes em um contexto significativo,
já que toda unidade linguística, para ser considerada um texto, precisa ser enten-
dida pelo receptor como um todo significativo.
De maneira geral, diante das propostas de definição de texto por vários auto-
res, podemos concluir, de maneira sucinta, que um texto, falado ou escrito, de
qualquer extensão, é uma unidade de linguagem em uso, na qual alguém sempre
diz algo a outro alguém, que precisa ser um todo significativo coeso e coerente
dentro de determinada situação comunicativa.
Espero que, com as informações expostas, eu tenha acrescentado e contri-
buído para seu entendimento sobre o que vem a ser um texto, visto que meu
objetivo aqui é esclarecer a definição desse termo para que, posteriormente, você
possa utilizá-lo das mais diversas formas no momento de produção ou recepção
de textos. O próximo tópico desta unidade será enfocado nos fatores de textu-
alidade, que mostrarão um conjunto de características pertinentes a um texto.
Vamos lá! Continue estudando!

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


21
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

FATORES DE TEXTUALIDADE

Os fatores de textualidade que serão discutidos a seguir foram formulados ini-


cialmente pelos linguistas Beaugrande e Dressler (1983) e bastante discutidos
por vários linguistas brasileiros, como Costa Val (1991), que será nossa base para
os estudos aqui abordados.
Perceba que as ideias apresentadas acima nos levam a pensar sobre os indiví-
duos presentes na comunicação, pois, como já fora exposto anteriormente, todo
texto corresponde a uma interação social, na qual o emissor sempre tem algo a
dizer a seu receptor em um determinado contexto comunicativo.
No entanto, para um texto ter sentido em um evento comunicativo, para ser
um todo coerente e significativo, é necessário que apresente textualidade, ou
seja, apresente conexões gramaticais e articulação de ideias. Além disso, é neces-
sário que apresente um conjunto de características pertinentes a um texto. São
essas características as responsáveis para que um texto seja um texto e não ape-
nas uma sequência de frases e palavras soltas.
Consideremos, aqui, os sete fatores que compõem a textualidade. Dois deles,
a coesão e a coerência textual, são considerados fatores linguísticos e serão estu-
dados nos próximos tópicos desta unidade. Esses dois fatores linguísticos estão
relacionados aos elementos materiais que constituem o texto.
Os outros cinco fatores são designados fatores pragmáticos, pois estão rela-
cionados às situações de significação, isto é, ao uso da linguagem em contextos
reais de produção de sentido.

Fatores de Textualidade
I

Neste tópico, começaremos estudando os cinco fatores, a começar pela


intencionalidade, que se refere à intenção do produtor do texto de alcançar seu
objetivo comunicativo. Em seguida, estudaremos a aceitabilidade, que está rela-
cionada à atitude do receptor do texto. Após, veremos o fator situacionalidade,
que está ligado ao contexto social e comunicativo no qual um determinado texto
está inserido. A seguir, analisaremos o fator informatividade, que compreende
a previsibilidade dos dados contidos no texto. Finalmente, discutiremos sobre
a intertextualidade, ou seja, veremos como é possível criar-se um texto novo a
partir de outro já existente.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Como sabemos, cada um desses fatores colabora de forma significativa com
a aquisição do sentido do texto, por isso a importância de se estudar esses con-
ceitos, já que você, em sua prática profissional, trabalhará, frequentemente, com
a construção de sentidos de um texto, seja no momento de leitura, seja na pro-
dução de um texto. Por isso, vamos nos aprofundar no assunto!

A Pragmática é o ramo da Linguística que estuda o sentido do texto (oral ou


escrito) em seu uso real. Por exemplo, a pergunta “Você fuma?” feita por um
médico que examina o exame de seu paciente, iniciará uma conversa total-
mente diferente de outra feita por um homem com um cigarrão na mão,
dirigindo-se a outra pessoa para o pedido de fósforos. Nesses casos, vemos
que o sentido da indagação “Você fuma?” depende da situação, do contexto
em que usamos tais palavras.
Fonte: a autora.

A intencionalidade
Quando vamos produzir um texto, antes de iniciarmos a escrita, fazemos plane-
jamentos mentais a respeito do que iremos escrever sobre determinado assunto.
Nesse momento, pensamos em qual será nosso objetivo ao escrever aquele texto.
É por meio dessa reflexão que chegaremos ao fator intencionalidade.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


23

Todo autor, ao escrever um texto, possui intenções e objetivos que precisam


ser compreendidos pelo leitor. Por isso, esse fator de textualidade destaca o pro-
dutor do texto e, em decorrência disso, dá destaque também a sua intenção ao
construir suas respectivas sequências verbais de forma coesa e coerente. A fina-
lidade pode ser informar, convencer, pedir, sugerir, opinar, impressionar etc.
Podemos, ainda, entender a intencionalidade como uma forma indireta de
se dizer, por meio de um texto, aquilo que se quer dizer. Isso ocorre por conta
dos possíveis implícitos encontrados nas entrelinhas das produções textuais.
Vejamos como isso acontece no exemplo a seguir:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Joãozinho
O tio pergunta ao sobrinho:
− Joãozinho, o que você quer fazer quando crescer? É ficar grandão assim
como eu?
E o Joãozinho responde:
− Eu quero fazer regime...1

Nesse exemplo, em que há uma simulação da linguagem oral, percebemos que o


tio, em tal situação, gostaria de saber se o garoto gostaria de ser um adulto, pro-
vavelmente alto e forte, como o tio. Mas vemos que há uma intenção implícita
na fala de Joãozinho, ou seja, ele, possivelmente, queria que o tio fosse magro
ou que ele não seja gordo como o tio.
Em nossa comunicação habitual, tanto na fala quanto na escrita, é comum
passarmos por situações em que nossos interlocutores entendem de maneira
diferente ou equivocada aquilo que gostaríamos de dizer, de fato, não apreen-
dendo, com isso, nossa real intenção.
Muitas vezes essa ocorrência se dá quando queremos deixar implícitas algu-
mas intenções (de modo proposital ou por mero deslize), quando não usamos
a linguagem de forma clara e objetiva, não atendendo às expectativas do nosso
interlocutor.

1 Disponível em: <http://piadas.net.com/piada886joaozinho.htm>. Acesso em: 16 jan. 2015.

Fatores de Textualidade
I

Além disso, quando nosso receptor/ouvinte não possui os conhecimen-


tos prévios necessários para compreender uma mensagem, ele também poderá
entender essa mensagem de forma diferente da qual propusemos.
Por isso, é importante que, ao falarmos ou escrevermos, façamos uso de
uma linguagem clara e objetiva. Ao contrário, teremos problemas em relação
ao entendimento do que falamos/escrevemos.
Na escrita, precisamos ter ainda mais atenção, já que não dispomos de meca-
nismos de correção imediata, enquanto na fala isso é possível. Assim, é necessário
planejar com cuidado nossa mensagem, adicionar detalhes e dar mais pistas para

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que o outro compreenda bem o que queremos comunicar.
O exemplo a seguir, uma piada, mostra uma situação comunicativa sem
muito sucesso, pois emissor e receptor não marcaram, de maneira bem definida,
qual a intenção em cada uma das últimas falas:

Um amigo encontra o outro na rua:


− Onde você está morando, rapaz?
− Em Copacabana.
− Em que altura?
− No 7º andar.2

Vemos, nesse exemplo, que a intenção do emissor, na segunda pergunta


(“Em que altura?”), era saber a localidade aproximada em que o amigo estava
morando no bairro de Copacabana. No entanto percebemos que ele não atin-
giu seu objetivo na pergunta, já que a intenção do amigo ao responder foi dizer
que a altura seria o 7º andar.
O universo publicitário é outro exemplo que é possível mencionar para que
fique mais claro para você esse fator de textualidade. As propagandas trabalham
com a intencionalidade explícita ou implícita. Na maioria das vezes, as propagan-
das fazem uso da intencionalidade implícita, ou seja, transmitem aparentemente
uma mensagem, mas, na realidade, estão dizendo outra coisa.
Diante disso, podemos dizer que não existem textos neutros, pois sempre

2 Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA9j4AL/lingua-portuguesa-iii>. Acesso em: 20 jan. 2015.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


25

há alguma intenção ou objetivo por parte de quem constrói uma mensagem. A


intencionalidade está ligada aos objetivos do produtor na realização de um texto.
O emissor, ao produzir seu texto, na maioria das vezes, faz uso de estratégias para
que seu receptor, além de entender sua intenção, ainda aceite sua mensagem.
Essa aceitação da mensagem pelo receptor do texto está totalmente relacio-
nada com o próximo fator de textualidade que estudaremos a seguir. Vamos lá,
continue sua leitura!

A aceitabilidade
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Esse fator de textualidade está centrado no receptor do texto, na sua atitude de


cooperação em aceitar o texto do seu interlocutor como coerente e fazer o esforço
necessário para interpretá-lo.
Como você deve ter percebido, a aceitabilidade é o complemento da inten-
cionalidade, pois envolve uma atitude cooperativa. Pense bem: se todo texto
produzido se dirige a alguém, é preciso que o receptor dê sentido a ele. O texto
precisa produzir um circuito comunicativo a fim de que as intenções do emis-
sor sejam aceitas pelo receptor.
Para reforçar ainda mais a explicação desse fator de textualidade, apresenta-
remos a afirmação do linguista Marcuschi (2008). Para ele, a aceitabilidade está
relacionada à atitude do receptor de um texto, o qual recebe tal unidade linguís-
tica como uma configuração aceitável, tendo-a como coerente e coesa, ou seja,
interpretável e significativa, além de considerá-lo útil e relevante.
Apesar de a aceitabilidade ocorrer tanto na fala quanto na escrita, é nessa
última que se encontra a maior dificuldade, uma vez que quem escreve o texto
imagina seu possível leitor, acreditando que as informações presentes no texto
serão entendidas e aceitas pelo destinatário.
O autor Marcuschi (2008) diz, ainda, que muitos textos, apesar de apresen-
tarem frases, aparentemente, malformadas, podem ser considerados aceitáveis,
desde que sejam com objetivo específico e em um contexto determinado. Um
exemplo simples que o autor cita em seu livro é:
“Hoje levantei cedo e tomei um banho, um café e um táxi para a universidade”.

Perceba que esse enunciado apresenta alguns problemas gramaticais, mas, segundo

Fatores de Textualidade
I

o autor, ele pode ser aceito em contextos específicos. Com isso, podemos afirmar
que a aceitabilidade como fator de textualidade está mais relacionada ao sentido.
Portanto, podemos concluir que a aceitabilidade e a intencionalidade são
fatores de textualidade que estão intimamente ligados, pois, conforme vimos, o
emissor, ao produzir seu texto, tem sempre uma intenção com o receptor, e este,
por sua vez, empenha-se para compreender o texto em questão.
Dando continuidade aos fatores de textualidade, partiremos agora para as
considerações sobre a situacionalidade.

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A situacionalidade
Observe que, apesar de termos discutido, até aqui, apenas dois fatores de textu-
alidade, eles se relacionam com a construção dos sentidos em um texto, além de
influenciar no direcionamento do mesmo.
É dessa maneira que a situacionalidade está ligada à adequação do texto a
uma situação comunicativa. Como vimos, todo texto depende do contexto em
que ocorre, e é o contexto que irá definir o sentido de um texto.
Um único texto pode ter diversos sentidos, mas é o contexto sociocomuni-
cativo em que ele ocorre que definirá um significado específico, que conduz não
só a produção (o emissor), mas também a recepção (o leitor) do texto.
De acordo com Costa Val (1991), um texto menos coeso e aparentemente
menos claro pode funcionar melhor, ser mais adequado do que outro de confi-
guração mais completa, por ocorrer em determinado contexto. Como exemplo,
a autora cita as placas de trânsito, pois, segundo ela, são mais apropriadas à situ-
ação em que são usadas do que um texto longo, explicativo, que, provavelmente,
os motoristas não teriam tempo de ler.
Dessa maneira, vemos que as placas de trânsito são apropriadas para a situ-
ação comunicativa específica em que são utilizadas. Talvez, em outras situações
de uso, elas não sejam tão significativas. Por isso é importante levar em consi-
deração as características da situação comunicativa em que o texto é produzido.
Podemos pensar também, para que fique ainda mais claro, que, em diálogos
face a face, as informações costumam ser mais concisas e breves, pois a situação
em que esse diálogo ocorre funciona como esclarecedor do significado, por mui-
tas vezes, até ampliando ainda mais a compreensão dos sentidos.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


27

Diferentemente, nos diálogos a distância, como carta, e-mail, bilhetes, entre


outros, o texto precisa incluir e esclarecer o contexto, com intenção de que a
mensagem seja interpretada de forma adequada.
Assim, vemos como a situação interfere na produção textual, como também
o texto tem reflexos importantes para a situação comunicativa. Isso explica o fato
de que, quando diversas pessoas descrevem um mesmo objeto, as descrições
jamais serão precisamente idênticas, como também quando várias testemunhas
relatam um acontecimento, os depoimentos vão divergir uns dos outros.
A construção de um texto irá situar-se sempre em tempo e espaços defini-
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dos, nos quais não só as palavras, mas também as frases podem adquirir sentidos
distintos de acordo com as mais variadas situações comunicativas. Isso ocorre
porque a comunicação tem influência de diversos fatores situacionais, que fazem
com que um texto seja relevante em uma dada situação, já que, como vimos, uma
produção escrita figura como uma ação dentro de uma situação específica, orien-
tada por quem a produz. O lugar, o tempo e o interlocutor são alguns exemplos
desses fatores situacionais.
É preciso mencionar que, quando falamos em interlocutor, para que um
texto tenha sentido, devemos levar em conta a interação entre esses indivíduos,
as crenças, conhecimentos, desejos, preferências e valores de cada um.
Segundo Marcuschi (2008), esse fator de textualidade refere-se justamente
ao fato de relacionarmos o evento textual à situação, social, cultural ou ambien-
tal, em que o texto acontece. De acordo com o autor, a situacionalidade serve
para interpretar e relacionar o texto ao seu contexto interpretativo. Mais do que
isso, a situacionalidade orienta a própria construção do texto, configurando-se,
assim, como um fator de textualidade considerado estratégico.
Para Koch e Travaglia (2011), se a condição de situacionalidade não ocorre,
o texto ficará com o sentido comprometido e tende a parecer incoerente, pois a
compreensão do seu significado se torna confusa e difícil para os parceiros da
comunicação.
Além dos vários aspectos mencionados aqui para que você compreenda
claramente esse fator de textualidade, é importante dizer que há outras carac-
terísticas que precisam ser levadas em consideração no momento de produzir
um texto, como o grau de formalidade entre os participantes da comunicação, as

Fatores de Textualidade
I

variações linguísticas, o tratamento que será dado ao tema, o lugar e o momento


da comunicação, assim como as imagens que emissor e receptor do texto fazem
um do outro, dos papéis que desempenham, suas opiniões e objetivos da comu-
nicação. Tudo isso é preciso verificar se é adequado a uma situação específica,
pois vai influenciar o momento da construção do texto por parte do produtor e
a compreensão por parte do receptor.
Por meio de todas as considerações feitas, percebemos o quanto todas as
características do fator textualidade auxiliam para uma interpretação adequada
de um texto.

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A seguir, dando continuidade aos fatores de textualidade, aprenderemos
mais sobre a informatividade. Aproveite ao máximo todas essas informações!

A informatividade
Normalmente, no nosso dia a dia, quando lemos algum texto veiculado pela
mídia, não temos grande dificuldade em compreender as informações ali pre-
sentes. Porém, é possível encontrar textos bastante formais e complexos, que
exigem um alto nível de conhecimento de seus leitores.
Melhor dizendo, há textos altamente previsíveis, como revistas, jornais, diá-
logos de telenovela, algumas letras de música, bilhetes familiares, propagandas
comerciais etc. Mas há outros de leitura mais complicada, como textos acadêmi-
cos, revistas especializadas em alguma área da saúde, petição judicial, entre outros.
Isso ocorre devido ao grau de informatividade por parte do leitor, que, por
sua vez, depende do conhecimento sobre o tema, sua experiência de leitura a
respeito do gênero ao qual pertence o texto que está lendo, o contexto do texto
que está lendo etc.
De acordo com Koch e Travaglia (2011), quanto menor for a previsibilidade
(ou expectatividade) de um texto por parte do leitor, maior será seu grau de
informatividade. Ou seja, um texto considerado pouco informativo será aquele
que contiver um número considerável de informações já esperadas pelo leitor.
O grau de informatividade vai depender da quantidade de informações espera-
das ou não que o texto apresentar para o leitor.
Isso significa que o leitor de um texto de alta informatividade terá muito mais
dificuldade para processar as informações e compreender o texto. E é justamente

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


29

isso que faz com que o leitor aumente seu conhecimento textual.
Um texto de baixa informatividade não exige muito do leitor, pois não há
nenhuma informação nova, desconhecida por ele. Um texto de alta informati-
vidade tende a ser rejeitado por quem o lê devido à dificuldade de intepretação,
pois o texto poderá parecer incoerente.
O ideal é que a informatividade do texto seja média, ou seja, que contenha
informações inéditas, desconhecidas do leitor, mas apoiados em conhecimen-
tos que este já possua.
Para Costa Val (1991), há ainda outro requisito necessário para um texto ser
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considerado com bom nível de informatividade: a suficiência de dados, isto é, é


relevante que o texto apresente todas as informações necessárias para que seja
compreendido com o sentido que o produtor pretende.
A autora ainda acrescenta que
não é possível nem desejável que o discurso explicite todas as infor-
mações necessárias ao seu processamento, mas é preciso que ele deixe
inequívocos todos os dados necessários à sua compreensão aos quais o
recebedor não conseguirá chegar sozinho (COSTA VAL, 1991, p. 14).

Segundo Marcuschi (2008), o imprescindível nesse fator de textualidade é a orien-


tação de que, em um texto, é preciso distinguir três questões: o que o texto quer
transmitir, o que é possível extrair dele e o que não é pretendido por tal texto.
Chegamos ao fim de mais um fator de textualidade e espero que você tenha
compreendido a importância dele dentro do texto. A partir de agora, iremos
estudar sobre a intertextualidade, o último fator pragmático. Acredito que você
já tenha ouvido ou lido algo sobre a intertextualidade. Por isso espero que você
consiga expandir ainda mais seus conhecimentos!

A intertextualidade
Possivelmente, você já deve ter visto, lido algo e feito uso da intertextualidade, mas
nem se deu conta de que se tratava desse fator de textualidade. No nosso cotidiano,
muitas vezes, ao lermos determinado texto, já fazemos relação com outros textos
semelhantes, ou seja, promovemos “diálogo” entre textos. Comumente, isso ocorre
quando assistimos a uma propaganda, ouvimos uma música, navegamos pela internet,
entre outras situações, e temos a sensação de que já lemos ou ouvimos aquilo antes.

Fatores de Textualidade
I

Toda essa ocorrência diz respeito à intertextualidade. Dificilmente, haverá


um texto que não tenha nenhuma relação com outros textos. Até quando fala-
mos, nos reportamos a conversas anteriores, a algo que vimos na televisão ou
lemos nos jornais e revistas, a assuntos discutidos por outras pessoas etc. Por
isso podemos dizer que a intertextualidade é, de fato, uma “conversa” entre tex-
tos; um texto “abraça” outro texto e compartilha elementos que lhe são próprios.
Nas palavras de Costa Val (1991, p. 15),
Inúmeros textos só fazem sentido quando entendidos em relação a ou-
tros textos, que funcionam como seu contexto. Isso é verdade tanto

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para a fala coloquial, em que se retomam conversas anteriores, quanto
para os pronunciamentos políticos ou o noticiário dos jornais, que re-
querem o conhecimento de discursos e notícias já divulgadas, que são
tomados como ponto de partida ou são respondidos.

Compartilhando o mesmo raciocínio, Marcuschi (2008) define a intertextu-


alidade como o fator que compreende as relações entre um texto e os outros
relevantes encontrados em experiências anteriores, ou seja, não existem textos
que não mantenham algum aspecto intertextual, pois nenhum texto encontra-
-se isolado e solitário, todos os textos existentes comungam com outros textos.
Analisemos, a seguir, um exemplo de intertextualidade construída por meio
de textos:

1 Coríntios 133
1
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor,
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
2
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e
toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os
montes, e não tivesse amor, nada seria.
3
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e
ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada
disso me aproveitaria.
4
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com
leviandade, não se ensoberbece.

3 Bíblia Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/13>. Acesso em: 23 jan. 2015.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


31

5
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita,
não suspeita mal;
6
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo
línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
10
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
11
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, dis-
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corria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas
de menino.
12
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face;
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
13
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o
maior destes é o amor.

Soneto de Luís de Camões4

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;


É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

4 Pensador Uol. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/sonetos_de_luis_de_camoes/>. Acesso em: 23 jan. 2015.

Fatores de Textualidade
I

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Monte Castelo (Renato Russo)5

Ainda que eu falasse a língua dos homens

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem.

5 Letras. Disponível em: <http://letras.mus.br/renato-russo/176305/>. Acesso em: 23 jan. 2015.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


33

Todos dormem, todos dormem.


Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
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E, então, você conseguiu estabelecer alguma relação entre os três textos


apresentados?
Veja como a música de Renato Russo apresenta uma forte relação intertex-
tual com o soneto de Luís de Camões e o trecho da Bíblia. Podemos dizer que,
mesmo de maneira diversa, os dois textos primeiros apresentados exploram o
tema amor, cuja temática o compositor Renato Russo também seguiu ao escre-
ver sua música.
É importante salientar que Renato Russo, compositor da banda Legião
Urbana, ao lançar a música “Monte Castelo”, obteve sucesso de críticos por
apresentar para os jovens dos anos 80, época em que a música foi lançada, dois
escritores clássicos, mas distantes: o primeiro diz respeito ao apóstolo Paulo
(século I d. C.) e o segundo refere-se a Camões (século XVI).
Se você respondeu “não” à pergunta feita acima, provavelmente você não con-
seguiu realizar um diálogo entre os textos por não conhecê-los ou por reconhecer
apenas um deles. Por isso ressaltamos que o leitor precisa ter um conhecimento
cultural amplo, pois só assim será possível reconhecer as obras ou trechos delas
em outros textos e a intertextualidade fará sentido para esse leitor.
As reflexões da autora Koch (2008) sobre a intertextualidade reforçam nos-
sos estudos. Segundo a linguista,
[...] todo texto é um objeto heterogêneo, que revela uma relação ra-
dical de seu interior com seu exterior; e, desse exterior, evidentemen-
te, fazem parte outros textos que lhe dão origem, que o predetermi-
nam, com os quais dialoga, que retoma, a que alude, ou a que se opõe
(KOCH, 2008, p. 59).

Fatores de Textualidade
I

A intertextualidade ocorre não só em textos escritos, mas também em imagens,


que podem ser lidas e interpretadas como os textos escritos.
A respeito dessa questão, Sarmento (2003) afirma que esse fator de textua-
lidade diz respeito à relação entre produções verbais e não verbais, em que uma
retoma a outra e lhe acrescenta marcas próprias, da mesma maneira que as pro-
duções textuais escritas.
É importante que você saiba, ainda, que existem alguns tipos de intertextos6,
ou seja, textos que estão relacionados a outros já existentes, mas que ocorrem
por processos diferenciados. Vejamos alguns deles:

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Paráfrase: a paráfrase é um tipo de intertextualidade muito presente nos
trabalhos acadêmicos, pois parafrasear é dizer o já dito com outras palavras. Ao
parafrasear um texto, as palavras são mudadas, mas a ideia do texto original pre-
cisa ser mantida, não podendo ocorrer a mudança da opinião do autor citado.
Por isso, é muito importante que, ao fazer uso da paráfrase, você deixe claro que
o trecho reproduzido não é de sua autoria, citando a fonte bibliográfica utilizada.
Considere o exemplo citado pelo renomado estudioso no assunto Affonso
Romano Sant´Anna, em seu livro “Paródia, Paráfrase & Cia” (2002, p. 23):

Texto original: Gonçalves Dias em “Canção do Exílio”

Minha terra tem palmeiras


Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.

Paráfrase: Carlos Drummond de Andrade em “Europa, França e Bahia”

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos


Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.

6 Apesar das definições aqui apresentadas, há algumas divergências na conceituação dos processos por alguns
pesquisadores do assunto. Além disso, alguns autores inserem a tradução na lista dos tipos de intertexto. Isso porque ela
pode ser considerada como uma forma de recriação de um texto-fonte em outra língua. No entanto, não discutiremos tal
processo nesses estudos.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


35

Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?


Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!

Verifique que, nos exemplos acima citados, o primeiro texto utiliza parte do
poema de Gonçalves Dias, Canção do Exílio, o qual é muito abordado como
exemplo de paráfrase. No segundo, o poeta Carlos Drummond de Andrade
retoma o texto-fonte mantendo suas ideias originais, ou seja, não há mudança
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

do sentido básico do texto, que é a saudade da terra natal.


Paródia: apesar de ser considerado um tipo de intertexto estudado desde
o século 17, Sant’Anna (2002) apresenta, de maneira moderna, a definição de
paródia como um jogo intertextual, mantido por uma relação antagônica com
o texto-fonte. Quem produz a paródia desconstrói e desvirtua o pensamento do
autor, sem perder a ideia do texto original. O objetivo da paródia é satirizar, con-
testar, ironizar, ridicularizar ou, ainda, apenas produzir humor. Na maioria das
vezes, a paródia ocorre a partir de um texto muito conhecido por um grande
público para que alcance os sentidos pretendidos por quem produziu a paródia.
Para que fique mais claro para você, utilizaremos novamente o trecho do
poema de Gonçalves Dias, citado também no livro de Affonso Romano Sant’Anna
(2002), conforme o exemplo apresentado acima:

Texto original: Gonçalves Dias em “Canção do Exílio”

Minha terra tem palmeiras


Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.

Paródia: Oswald de Andrade em “Canto de regresso à pátria”

Minha terra tem palmares


Onde gorjeiam o mar,

Fatores de Textualidade
I

Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá.

Veja que, na paródia, Oswald de Andrade faz uma substituição da palavra “pal-
meiras” por “palmares”, com a finalidade de remeter o leitor ao contexto histórico,
social e racial, já que Palmares diz respeito ao quilombo onde os negros lidera-
dos por Zumbi foram dizimados em 1695. Nesse exemplo, além do efeito irônico
e crítico, introduzindo um comentário social à escravidão existente no Brasil,
podemos verificar um processo de inversão do sentido do texto original, no qual

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Gonçalves Dias aborda o tema da saudade de sua terra natal.
Epígrafe: a epígrafe é um tipo de intertexto muito comum colocado no início
de obras literárias, livros e trabalhos acadêmicos. Refere-se a uma frase, frag-
mento ou citação curta. Tem como objetivo antecipar a temática do texto que
será apresentado ou como um resumo do que se vai ler em seguida. É necessá-
rio que sempre esteja seguido da indicação de autoria.
Uma epígrafe muito conhecida e citada pelos estudiosos do texto é a que foi
inserida pelo autor Luis Antônio Marcuschi no início de seu livro “Produção
textual, análise de gêneros e compreensão” (2008, p. 15):
“Sem o Tu não há o Eu”.
(Friedrich Jacobi)
Como dissemos, a epígrafe tem como finalidade antecipar a temática do texto
que será apresentado. Diante disso, podemos dizer que o autor Luis Antônio
Marcuschi utilizou essa citação no início de sua obra com o objetivo de mos-
trar a relação com o receptor (tu) e o emissor (eu) de um texto em uma situação
comunicativa, já que seu livro aborda a produção textual.
Citação: a citação também é um tipo de intertexto muito utilizado em livros
e trabalhos acadêmicos. Refere-se, de forma direta ou indireta, à transcrição de
parte de um texto original, utilizado com o objetivo de legitimar o ponto de vista
de quem produz um texto, tanto para aprovação como reprovação de uma deter-
minada ideia, conferindo maior credibilidade ao novo texto.
A citação pode ocorrer de duas maneiras: direta e indireta. Na citação direta,
é necessário utilizar aspas, pois utilizamos as palavras literais do autor citado.
Além disso, é imprescindível apresentar o ano de publicação e a página da obra

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


37

pesquisada, conforme apresentado no exemplo a seguir:


“A paródia é um efeito de linguagem que vem se tornando cada vez mais
presente nas obras contemporâneas” (SANT’ANNA, 2002, p. 7).
Na citação indireta, não são utilizadas as aspas, pois não há uma cópia literal
das palavras do autor citado, mas uma releitura de quem utilizará as palavras do
estudioso para produzir um novo texto com suas próprias palavras. Apesar disso,
é necessário apresentar o ano da publicação da obra utilizada e menção ao autor:
Segundo Sant´Anna (2002), a paródia é um tipo de intertexto moderno man-
tido por uma relação antagônica com o texto original.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Alusão: é um tipo de intertexto que utiliza um termo referente a uma obra


de arte, a um fato histórico ou a uma celebridade para comparação. No entanto,
para que o sentido da alusão possa ocorrer com sucesso, é preciso que o lei-
tor tenha um conhecimento prévio para que consiga associar as ideias contidas
no texto. Essa referência pode ocorrer de maneira explícita, como no exemplo
abaixo, ou implícita:
“As revistas de fofoca dizem que fiquei careta. Não sou uma ‘Madalena
Arrependida’. (...) Mas não podia sair do hospital e continuar bebendo e me
drogando. Era uma opção: continuar vivo ou morrer” (Cazuza) (QUEM DISSE,
online).
Podemos verificar que a expressão “Madalena arrependida”, a qual diz res-
peito a alguém que se arrepende do passado e/ou muda radicalmente o estilo de
vida, só faz sentido para quem conhece a história bíblica.
Referência: muito utilizado em contratos, corresponde à citação direta de
fragmentos da lei para validar as cláusulas de um contrato, conforme ocorre no
exemplo abaixo:
Art. 67. Na ação que objetivar o pagamento dos aluguéis e acessórios da
locação mediante consignação, será observado o seguinte:

I - a petição inicial, além dos requisitos exigidos pelo art. 282 do Có-
digo de Processo Civil, deverá especificar os aluguéis e acessórios da
locação com indicação dos respectivos valores (...). (BRASIL, 1991, gri-
fo nosso).

As referências bibliográficas, muito encontradas em trabalhos acadêmicos e tex-


tos científicos, são diferentes dessa apresentada aqui. Apresentam-se no final do

Fatores de Textualidade
I

texto, após o término da pesquisa, para mostrar ao leitor quais foram as obras
utilizadas para a realização do estudo.
Agora que você já conhece todos os fatores de textualidade considerados
pragmáticos, adentraremos os considerados fatores linguísticos: a coesão e a coe-
rência textual. Siga com força e coragem! Continue seus estudos!

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os fatores de textualidade são utilizados como formas de organizar nossa
comunicação cotidiana? Sem eles, não seria possível a comunicação?
Fonte: a autora.

COESÃO TEXTUAL

Provavelmente, você já tenha lido algum texto de que não compreendeu bem os
sentidos, pois achou as ideias confusas e notou que algo estava faltando. Quando
isso ocorre, podemos dizer que faltou elementos coesivos que ligassem bem as
ideias presentes no texto e, consequentemente, fizessem o texto ter sentido.
A coesão, de acordo com Koch e Travaglia (2011), é revelada por meio de
marcas linguísticas e índices formais, responsáveis pela organização sequencial
do texto e pela progressão das informações presentes nele, a fim de facilitar o
seu entendimento e torná-lo mais atraente para o leitor.
Se os elementos superficiais do texto não estiverem bem “amarrados”, o
texto não terá um bom desenvolvimento. É dessa maneira que a coesão pode ser
entendida também como um tipo de articulação gramatical que permite o esta-
belecimento de boas relações entre os elementos de um texto.
A importância de compreender a coesão está no fato de que ela colabora
para atribuir textualidade a um conjunto de enunciados. Esse processo retrata
um entrelaçamento significativo entre sentenças. O texto, oral ou escrito, não se
constitui apenas em uma sequência de palavras ou frases, mas na maneira como
elas se ligam e se combinam para assegurar um desenvolvimento proposicional.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


39

Muitos pesquisadores acreditam que a coesão e a coerência correspondem


a um mesmo fenômeno linguístico, sem apresentar diferença. Mas, para Koch
(2009) e Marcuschi (2008), esses dois critérios linguísticos são diferentes e apre-
sentem processos distintos.
De acordo com Marcuschi (2008), os processos coesivos preocupam-se com
a estruturação da sequência superficial do texto, seja por recursos conectivos ou
referenciais. Além disso, compõem os padrões formais para transmitir sentidos.
É necessário lembrar que a coesão pode auxiliar no estabelecimento da coe-
rência, mesmo que nem sempre a coesão se manifeste explicitamente por meio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de marcas linguísticas. Por isso, é possível construir um texto coerente que não
apresente coesão explícita.
Para que você compreenda melhor esse apontamento, analise os exemplos
a seguir:
“Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida
humana. Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada” (KOCH, 2009,
p. 18).

Brasil do B7

Josias de Souza
BRASÍLIA - Brasil bacharel. Biografia bordada, brilhante. Bom berço.
Bambambã. Bico bacana, boquirroto. Bastante blablablá. Baita barulho. Bobagem,
besteira, blefe. Batente banho-maria. Bússola biruta. Baqueta bêbada.

Brasil Biafra. Breu. Barbárie boçal. Barraco barrento. Barata. Bacilo.


Bactéria. Bebê buchudo, borocoxô. Bolso banido. Boca banguela. Barriga bal-
dia. Barbeiragem. Bastaria bóia, baião-de-dois.

Brasil Bélgica. Brancura. Black-tie. Badalação brega. Boa brisa. Bens.


Banquetes. Brindes. Brilho besta. Bonança bifocal. BMW: blindagem. Bolsa
balofa: babau, baby.

7 Marcuschi (2008, p. 102-103).

Coesão Textual
I

Brasil bordel. Bancadas bandoleiras, buscando boquinhas, brechas, benes-


ses. Bruma, biombo, bastidor barato. Balcão. Barganha. Bazar. Banda bandida.
Bando bandalho. Baiano. Barbalho. Briga besta. Bagunça.

Brasil benemerente. Bonança. Brasília bondosa. Banqueiro bajulado, bene-


ficiado, bafejado. Bancarrota brecada. Balancete burlado. Bem-bom. Boca-livre.
Brioche, bom-bocado. Bilheteria, borderô.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Brasil baixada. Borrasca. Barro. Buraqueira. Boteco. Bagulho. Birita. Bílis.
Bochincho. Bebedeira. Bofete. Bordoada. Berro. Bololô. Bafafá. Bazuca. Baioneta.
Bala. Bangue-bangue. Blitz. Bloqueio. Boletim. Bíblia. Bispo. Beato. Benzedeira.

Brasil benfazejo. Boleiro. Bate-bola. Bossa. Balangandã. Balacobaco. Boêmia.


Barzinho. Bumbo. Batucada. Balancê. Bole-bole. Beleza beiçola. Beldade. Biquíni.
Bumbum buliçoso. Boazuda. Beijo. Beliscão.

Balada boba, burlesca. Basta.

Verifique que, nesses exemplos, não é possível encontrar nenhum elemento


coesivo, tais como conectivos, conjunções, pronomes ou advérbios unindo os
períodos dos textos. Provavelmente, ao ler, você agiu com certo estranhamento.
No entanto, possivelmente, você conseguiu compreender os sentidos que o autor
quis transmitir.
Embora a coesão seja comum no nível superficial do texto, é possível que
ela ocorra sem a mediação de elementos coesivos superficiais, ou seja, aqueles
que fazem a ligação entre as partes dentro do texto.
Assim, podemos dizer que a coesão explícita, a qual faz uso de conectivos
que correlacionam as porções textuais, não é uma condição necessária para a
textualidade, já que, conforme afirma Koch (2009), textos como os dos exemplos
apresentados, mesmo não possuindo elementos coesivos, podem ser considera-
dos coerentes. Há uma coesão cuja textualidade ocorre no nível da coerência.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


41

No entanto Koch (2009) nos alerta que também podem ocorrer textos com
elementos coesivos que não são considerados textos por não possuírem coerên-
cia, como é possível verificar no exemplo abaixo:

“O dia está bonito, pois ontem encontrei seu irmão no cinema. Não gosto de
ir ao cinema porque lá passam muitos filmes divertidos” (KOCH, 2009, p. 18).

Veja que, nesse exemplo, conseguimos encontrar elementos coesivos como


o “pois” e o “porque” que fazem ligação entre os períodos. Apesar disso, não é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

possível perceber coerência no que está sendo dito no enunciado.


Observe, por meio do quadro baseado em Marcuschi (2008, p. 118), alguns
elementos coesivos que unem períodos e orações dentro do texto.

ESQUEMA DOS PROCESSOS DE COESÃO CONECTIVA


Operadores Operadores organizacionais
argumentativos
1. Oposição: mas, porém, De espaço e tempo Metalinguísticos
contudo textual
2. Causa: porque, pois, já em primeiro lugar, em por exemplo, isto é, ou
que segundo lugar seja
3. Fim: para, com o pro- como veremos, como quer dizer, por outro lado
pósito de vimos
4. Condição: se, a menos neste ponto, aqui na Com base nisso, segundo
que, desde que primeira parte fulano etc.
5. Conclusão: logo, assim, no próximo capítulo, no
portanto capítulo seguinte, na
sequência
6. Adição: e, bem como,
também
7. Disjunção: ou
8. Exclusão: nem
9. Comparação: mais do
que, menos do que etc.
Quadro 01: Esquema dos processos de coesão conectiva
Fonte: adaptado de Marcuschi (2008, p. 118).

Coesão Textual
I

Como notamos, por meio dos exemplos apresentados, podemos concluir que
o uso de elementos coesivos oferece ao texto maior legibilidade, pois, segundo
Koch (2009), eles explicitam os tipos de relações estabelecidas entre os elemen-
tos linguísticos que o constituem.
Os mecanismos coesivos são as marcas linguísticas explícitas que operam na
construção da textualidade e na progressão superficial do texto. Quando os ele-
mentos coesivos são utilizados corretamente no texto, eles facilitam a leitura, a
interpretação e a construção da coerência pelos leitores, além de tornar a argu-
mentação mais consistente e convincente.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nas palavras de Fiorin (2006, p. 271-272),
a coesão de um texto, isto é, a conexão entre os vários enunciados, ob-
viamente não é fruto do acaso, mas das relações de sentido que existem
entre eles. Essas relações de sentido são manifestadas, sobretudo, por
certas categorias de palavras, as quais são chamadas conectivos ou ele-
mentos de coesão. Sua função no texto é exatamente a de pôr em evi-
dência as várias relações de sentido que existem entre os enunciados.
[...]
O uso adequado desses elementos de coesão confere unidade ao texto
e contribui consideravelmente para a expressão clara das ideias. O uso
inadequado sempre tem efeitos perturbadores, tornando certas passa-
gens incompreensíveis.
É importante que saibamos que, ao utilizarmos os mecanismos de coesão, esses
não são formas vazias, ou seja, cada um dos elementos coesivos possui um sig-
nificado. Por isso é necessário conhecê-los bem, pois a escolha de um conector
inadequado prejudicará a coesão do texto.
Sobre isso, Koch (2004) afirma que o uso inadequado dos elementos coe-
sivos dificulta a compreensão do texto, já que eles possuem, por regra, funções
bem delimitadas e não podem ser empregados sem seguir essas regras. Caso
contrário, “o texto parecerá destituído de sequencialidade, o que dificulta a sua
compreensão [...]” (KOCH, 2004, p. 77).
Assim a mesma autora propõe que se considere a existência de duas gran-
des modalidades da coesão, a saber: a coesão referencial (ou remissiva) – a
qual ocorre por meio de aspectos mais especificamente semânticos – e a coesão
sequencial – que se realiza mediante elementos conectivos.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


43

Para que você, caro(a) aluno(a), compreenda melhor cada uma dessas duas
modalidades da coesão, explicarei, separadamente, cada uma delas.
Coesão referencial: como definido por Koch (2004, p. 31), esse tipo de
coesão é “aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão a
outro(s) elemento(s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo textual”. O
componente que faz a remissão é a forma referencial ou remissiva, e o compo-
nente referenciado é denominado elemento de referência ou referente textual.
Esse elemento de referência poderá ser amplamente representado ou por um
nome, ou por um sintagma, ou por uma oração (ou apenas uma parte dela), ou
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ainda por um enunciado completo.


A referência poderá ser feita pelo autor do texto por anáfora ou catáfora. A
anáfora faz remissão a algo que vem antes, e a catáfora, a algo que vem depois.
Com a finalidade de simplificar essas modalidades, verifique os exemplos apre-
sentados por Koch (2004, p. 31):
O homenzinho subiu correndo os três lances de escadas. Lá em cima,
ele parou diante de uma porta e bateu furiosamente. (Anáfora)

Ele era tão bom, o meu marido! (Catáfora)

Veja que, no primeiro exemplo, o pronome pessoal de 3ª pessoa ele retoma o


substantivo homenzinho, escrito anteriormente. Já, no segundo exemplo, o pro-
nome pessoal de 3ª pessoa ele faz referência ao sintagma que será citado em
seguida o meu marido.
Os casos de coesão referencial acontecem também por meio de outros recur-
sos gramaticais, além dos já citados pronomes pessoais.
A forma referencial ou remissiva divide-se em dois tipos: gramaticais e
lexicais. As formas gramaticais podem ser presas ou livres e servem apenas de
conexão. As formas lexicais como, por exemplo, grupos nominais definidos, for-
necem instruções de sentido, já que fazem referência a algo situado no mundo
extralinguístico.
As formas remissivas gramaticais presas estão relacionadas a um nome, e,
com ele, devem concordar em gênero e número. As formas mais comuns são arti-
gos definidos e indefinidos, pronomes adjetivos e numerais cardinais e ordinais.

Coesão Textual
I

Já as formas remissivas gramaticais livres não estão acompanhadas de um


nome, mas podem fazer remissão, por anáfora ou catáfora, a um ou mais cons-
tituintes do texto. Para Koch (2004), as formas livres podem ser encontradas em
pronomes pessoais de 3ª pessoa, pronomes substantivos, advérbios (como lá, ali,
aqui), expressões adverbiais (como acima, a seguir, assim), proformas verbais
(formas verbais remissivas) e, em alguns casos, de elipse.
As formas remissivas lexicais designam referentes extralinguísticos, isto é,
referentes que estabelecem relações com o conhecimento de mundo, com as
vivências e experiência do leitor, como também estabelecem relações de cone-

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xão. Segundo Koch (2004), as formas remissivas lexicais são encontradas em
expressões ou grupos nominais, nominalizações, sinônimos, hiperônimos, nomes
genéricos, entre outras formas referenciais que fornecem instruções de sentido.
Coesão sequencial: baseia-se, principalmente, no uso dos conectivos, pois,
de acordo com Koch (2009), diz respeito aos procedimentos linguísticos por
meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto (enunciados ou partes
deles, parágrafos e sequências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/
ou pragmáticas, à medida que faz o texto progredir.
Essa progressão do texto pode ocorrer de duas formas: com ou sem o uso
de elementos recorrentes. Quando há o uso de elementos recorrentes, fala-se
em sequenciação parafrástica. Já, quando não há esse uso, tem-se a sequencia-
ção frástica.
A sequenciação parafrástica pode ocorrer mediante os seguintes procedimen-
tos: a recorrência de termos (reiteração de um mesmo item lexical, repetindo-o);
recorrência de estruturas (paralelismo sintático – a progressão do texto é reali-
zada com a utilização das mesmas estruturas sintáticas, preenchidas com itens
lexicais diferentes); recorrência de conteúdos semânticos (paráfrase); recorrên-
cia de recursos fonológicos (mais presente em poemas e diz respeito à igualdade
de rima, ritmo etc.); recorrência de tempo e aspecto verbal.
A progressão textual na sequenciação frástica ocorre por meio de encade-
amentos sucessivos, “assinalados por uma série de marcas linguísticas através
das quais se estabelecem, entre os enunciados que compõem o texto, determi-
nados tipos de relação” (KOCH, 2004, p. 60). Os conectivos como se, por isso,
porque, para, ou, quando, conforme etc. pertencem a esse tipo de sequenciação.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


45

Além disso, a sequenciação frástica envolve uma série de procedimentos de


manutenção e progressão temática, assim como o encadeamento por justapo-
sição e por conexão.
Assim chegamos ao fim de mais um tópico de nossa unidade, e espero que
seu conhecimento tenha se ampliado sobre a coesão textual.
Apesar das muitas informações vistas até aqui, é importante que você bus-
que ainda outras fontes de conhecimento, sobretudo no que se refere às formas
de coesão referencial e também à coesão sequencial, as quais foram pouco deta-
lhadas aqui, pois o objetivo é que você conheça a riqueza de procedimentos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

linguísticos que influenciam nossa linguagem.


Por isso há muito ainda para se estudar. A análise da coesão e também da
coerência textual oferece-nos um extenso campo de estudos. E é possível que
você, por meio de pesquisas extras, aprofunde seus conhecimentos e conheça
mais sobre outros trabalhos que já foram desenvolvidos sobre esses temas.
No próximo tópico, veremos algumas considerações sobre a coerência textual,
a qual se diferencia da coesão, mas que se encontram inteiramente interligadas.
Bons estudos!

COERÊNCIA TEXTUAL

Quantas vezes não ouvimos alguém dizer “Ele(a) está sendo incoerente!” ou até
mesmo já fizemos essa afirmação em algum momento. Essa afirmação nos é válida
quando não há uma relação lógica entre as ideias do emissor de determinado
texto, ou seja, há certa contradição entre as partes do texto de quem o produziu.
A partir dessa reflexão, podemos pensar na coerência textual. Esse critério
linguístico está relacionado à construção de sentidos do texto, com a lógica que
o leitor precisa encontrar ao ler uma produção escrita ou ao ouvir um enunciado.
Assim o termo deve ser entendido como algo que se estabelece na interação
entre emissor e receptor do texto, pois as relações de coerência estão voltadas
a atitudes cognitivas do leitor. Essas relações não estão marcadas na superfície

Coerência Textual
I

textual como os elementos coesivos, ou seja, não se mostram explícitas e visí-


veis ao receptor, elas precisam ser interpretadas por ele, diferente dos elementos
coesivos, que, em sua maioria, podem ser graficamente identificados no texto.
Dessa maneira é que se marca a grande diferença entre coesão e coerência:
enquanto a coesão consiste em uma continuidade textual baseada na forma, a
coerência refere-se a uma continuidade baseada no sentido.
Koch (2011, p. 16) utiliza a visão de Beaugrande e Dressler (1983) e afirma que
a coesão é a maneira como os constituintes da superfície textual se
encontram relacionados entre si, numa sequência, através de marcas

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linguísticas; é a ligação entre os elementos superficiais do texto. Já a
coerência tem como fundamento a continuidade de sentidos, dizendo
respeito ao modo como os componentes textuais, isto é, a configuração
dos conceitos e relações subjacentes à superfície do texto, são mutua-
mente acessíveis e relevantes. (grifos da autora)

De maneira geral, segundo Koch (2008), a coerência diz respeito ao modo como
os elementos subjacentes à superfície do texto vêm a construir, na mente dos
interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos.
A autora ainda acrescenta que a coerência não está no texto, mas deve ser
construída a partir dele, levando-se em conta os elementos coesivos presentes
na superfície textual, os quais funcionam como pistas para orientar o interlocu-
tor na construção do sentido do texto.
Segundo Marcuschi (2008), a coerência é uma atividade realizada pelo recep-
tor do texto, já que ele segue as pistas (normalmente ligadas à coesão textual) que
o produtor deixou em sua produção e que em muito auxiliam na interpretação
do texto. Por isso é importante haver uma interação entre o texto, o produtor e
o leitor, para que, assim, haja coerência entre as partes textuais.
Marcuschi (2008, p. 74) acrescenta ainda que o sentido estabelecido pela
coerência “é um efeito do funcionamento da língua quando os falantes estão situ-
ados em contextos sócio-históricos e produzem textos em condições específicas”.
Muitos linguistas discutem a respeito da coerência. Outra definição interes-
sante que podemos mencionar é a de Koch e Travaglia (2011, p. 14):
A coerência é algo que se estabelece na interação, na interlocução,
numa situação comunicativa entre dois sujeitos. Ela é o que faz com
que o texto faça sentido para os usuários, devendo ser vista, pois, como

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


47

um princípio de interpretabilidade do texto. Assim, ela pode ser vista


também como ligada à inteligibilidade do texto numa situação de co-
municação e à capacidade que o receptor do texto (que o interpreta
para compreendê-lo) tem para calcular o seu sentido.

Diante das afirmações dos autores, notamos que a coerência é um princípio de


interpretabilidade e compreensão do texto. Por isso muitos teóricos afirmam
que a coerência não é uma característica estabelecida unicamente pelo texto,
mas que depende da interação entre o texto, o emissor e o receptor. Como já
dissemos anteriormente, há elementos no texto que permitem ao leitor avaliar
o sentido e estabelecer a coerência, ou seja, o leitor percorre caminhos e segue
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pistas para interpretar bem um texto.


Como a coerência não é uma propriedade empírica do texto, isto é, como
o texto não estabelece por si só a coerência, não é possível afirmar que existam
textos incoerentes, pois, mesmo que não seja possível recuperar o sentido de
determinado texto, o que dará a impressão de incoerência, algum leitor poderá
imaginar uma situação em que o texto não seja incoerente. Portanto muitos
autores afirmam, dentre eles Koch e Travaglia (2011), que o que existe são tex-
tos incoerentes em/para determinada situação comunicativa.
Não só a situação comunicativa, mas também o mau uso dos elementos lin-
guísticos podem trazer incoerência ao texto, já que, com mecanismos coesivos
mal empregados, o leitor pode não conseguir encontrar sentido em determi-
nado texto.
Da mesma maneira que a coesão se realiza por meio de alguns mecanis-
mos, a coerência se constrói mediante uma série de fatores interdependentes. De
acordo com Koch e Travaglia (2011), o primeiro fator de coerência diz respeito
ao conhecimento linguístico, o qual retrata uma das zonas de intersecção entre
a coesão e a coerência, pois aborda alguns dos mecanismos coesivos já estuda-
dos por nós na coesão.
A coerência depende do conhecimento, uso e organização de determina-
dos elementos linguísticos em uma cadeia discursiva, como, por exemplo, o uso
dos artigos, as conjunções, os tempos verbais, as marcas de tempo, a ordem das
palavras, entre muitos outros. O bom funcionamento desses mecanismos lin-
guísticos influencia fortemente no estabelecimento da coerência de um texto.

Coerência Textual
I

Outro fator para o estabelecimento da coerência se refere ao conhecimento


de mundo (também conhecido como conhecimento enciclopédico), no qual o
estabelecimento do sentido de um texto depende, na maioria das vezes, do conhe-
cimento de mundo dos seus leitores, pois é somente esse conhecimento que vai
permitir a realização de processos decisivos para a compreensão.
De acordo com Koch e Travaglia (2011), o conhecimento de mundo está
totalmente relacionado às inferências que o leitor faz ou pode fazer ao ler um
texto, pois constituem estratégias cognitivas que possibilitam o estabelecimento
de pontes entre o elemento linguístico presente na superfície textual e os conheci-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mentos prévios e/ou partilhados pelos leitores. É esse conhecimento que propicia
ao leitor a construção de um mundo textual ao qual se ligam suas crenças, que
conduzem o modo como o receptor vê o texto, e se fazem referência ao mundo
real ou ficcional, influenciando decisivamente se o leitor vai considerar o texto
como coerente ou não. Assim o conhecimento de mundo é visto como uma espé-
cie de dicionário enciclopédico do mundo e da cultura arquivado na memória
de quem lê um texto. Podemos citar como exemplo, para que fique mais claro
para você, aluno(a), o caso das piadas. Se o leitor não possui esse conhecimento,
a piada não provoca o efeito esperado, que é levar ao riso.
De outra maneira, o conhecimento partilhado refere-se ao fato de o emis-
sor e o receptor de um texto possuírem conhecimentos em comum para que
a estrutura informacional do texto se determine. Essa estrutura diz respeito à
informação dada e à informação nova, ou seja, a informação dada seria aquela
que o leitor consegue recuperar em sua memória ao ler um texto, algo já conhe-
cido por ele. Já a informação nova seria aquela considerada não recuperável a
partir do texto, no sentido literal da palavra, algo novo para o leitor, algo que
ele ainda não conhece.
Os fatores pragmáticos já foram apresentados no início desta unidade quando
estudamos sobre os fatores de textualidade, se lembra? No entanto acho válido
que possamos apenas relembrar quais são esses fatores: intencionalidade, acei-
tabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


49

Além desses fatores mencionados, Koch e Travaglia (2011) acreditam que


a coerência depende também da observação de certas convenções sociais e de
como se devem realizar certos atos de fala. Os autores ainda acrescentam que a
focalização, a relevância e a consistência presentes em uma produção escrita
podem auxiliar no estabelecimento das relações de sentidos em um texto.
Por fim é importante que fique esclarecedor para você, prezado(a) aluno(a),
que a coerência depende de vários fatores para ser estabelecida e não corresponde
apenas a uma propriedade empírica da produção escrita em si. Muito mais que
isso, a coerência está associada ao trabalho do leitor com as possibilidades de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

interpretação do texto e à compreensão de suas relações de sentido.


Assim podemos concluir, com base nas palavras de Marcuschi (2008), que
a coerência está muito mais na mente e na percepção do receptor do texto que
no interior das formas textuais, caracterizando-se, com isso, como um processo,
apesar de interligado, distinto da coesão, a qual, como estudamos, apresenta-se
mais marcada visualmente no texto.
No próximo tópico que será estudado, você encontrará conhecimentos essen-
ciais sobre a construção do parágrafo. Bons estudos!

Coerência Textual
I

O primeiro link apresenta uma reportagem sobre coesão e coerência textual


divulgada pela Revista Língua Portuguesa. Nessa reportagem, há explica-
ções sobre o assunto como também comentários sobre a formação de pa-
rágrafos. Como aprofundamento, Josué Machado, autor de tal reportagem,
ainda apresenta um quadro explicativo sobre as palavras que podem fun-
cionar como elementos coesivos.
No segundo link, você terá acesso a um texto do professor Gustavo Atallah
Haun, que explica as chamadas: coerência dissertativa, coerência narrativa e
coerência descritiva. No entanto, caro(a) aluno(a), essas são apenas algumas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sugestões de leitura que poderão dar sequência a sua leitura desta unidade.
Há muitos outros artigos científicos que tratam desses assuntos aqui estu-
dados. Por isso, não desanime e faça suas pesquisas!
Para aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre a coesão e a coerên-
cia, recomendo a você que visite as seguintes páginas:
<http://revistalingua.com.br/textos/62/artigo248996-1.asp>
<http://www.oblogderedacao.blogspot.com.br/2012/04/coerencia-textual.
html>. Acesso em: 07 jul. 2015.
Fonte: a autora.

A CONSTRUÇÃO DO PARÁGRAFO

Para começar, quero apresentar o pensamento do autor Luiz Carlos Figueiredo


(1999, p. 13), que discorre, com excelência, sobre a importância do parágrafo
em nossos textos: “O texto sem parágrafo é indigesto. É quase impossível ima-
ginar um romance ou um livro de gramática sem parágrafos; ler um livro sem
parágrafos é cansativo, tedioso e de difícil compreensão”.
Diante dessa citação, é possível visualizar como a falta de parágrafos no texto,
ou a maneira incorreta de produzi-lo, poderá influenciar na coerência textual,
consequentemente, prejudicará a compreensão dos sentidos veiculados pelo texto.
Por isso é de extrema relevância que saibamos como escrever bem um parágrafo.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


51

O parágrafo é cada uma das partes da estrutura de um texto e compõe-se de


um ou mais períodos. É marcado por meio de um ligeiro afastamento na mar-
gem esquerda da frase, o que auxilia no processo de isolamento e, depois, junção
das ideias principais do texto. Com essa marcação, fica mais fácil para o leitor
acompanhar o desenvolvimento daquilo que está lendo.
Além disso, o parágrafo é estruturado em torno de uma ideia-núcleo, que é
desenvolvida por ideias subsidiárias. Cada nova ideia-núcleo deve corresponder
a um novo parágrafo. O desenvolvimento da ideia central é que vai determinar a
extensão do parágrafo, que pode variar bastante. O parágrafo estabelece a neces-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sidade de demarcar, na construção do texto, a mudança de enfoque em relação


ao assunto. Nessa sinalização, auxilia a leitura, pois indica ao leitor que estamos
trabalhando posições e ideias sobre determinado assunto.
Além da ideia central, outros fatores que influenciarão no tamanho do pará-
grafo são o tipo de redação a ser realizada, o leitor para quem o texto se destina
e o veículo no qual a produção será divulgada.
É preciso salientar que não há uma regra que determine a extensão de um
parágrafo. No entanto o princípio geral é do bom senso. De acordo com Figueiredo
(1999), se o escritor souber variar o tamanho dos parágrafos, dará sentido espe-
cial ao texto, não será uma leitura cansativa para o leitor e este ficará atento do
começo a fim da leitura.
Para tornar a compreensão sobre a construção do parágrafo ainda mais sim-
ples, Figueiredo (1999, p. 13) faz a seguinte comparação:
Quando vamos ao supermercado, vemos prateleiras ou locais especí-
ficos para bebidas, frutas, verduras, latas de óleo ou bolachas; a divi-
são de produtos facilita o trabalho do freguês. Se todos os produtos
estivessem misturados, seria difícil encontra-los. Os parágrafos são
como “prateleiras” que dividem uma sequência de informações ou
pensamentos. Servem para facilitar a compreensão e a leitura do texto,
dar folga ao leitor, que acompanha, passo a passo, a linha de raciocínio
desenvolvida pelo escritor.

Assim como o texto, o parágrafo também tem uma estrutura, isto é, possui uma
introdução, um desenvolvimento e uma conclusão, que pode estar implícita ou
subentendida. Na introdução do parágrafo, encontra-se o tópico frasal. De acordo
com Garcia (1985), essa denominação está relacionada ao termo em inglês topic

A Construção do Parágrafo
I

sentenc, e pode ser chamada também de período tópico ou sentença-tese, o qual


se constitui por um ou dois períodos curtos iniciais. O tópico frasal encerra, de
modo geral e conciso, a ideia-núcleo do parágrafo e, ainda, pode ser visto como
um meio eficiente de expor ou explanar as ideias.
Apesar de ser marcado no início do parágrafo, nem sempre ele estará nessa
posição, visto que essa estrutura não é rígida. Há aqueles em que a ideia-núcleo
apresenta-se diluída no decorrer do parágrafo ou deslocada para o final, sendo
marcada por palavras que o fazem referência.
Garcia (1985) salienta que a maneira de apresentar as ideias com o tópico

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
frasal bem explícito pode ser considerada um modo dedutivo, por partir de uma
generalização do assunto (o tópico frasal) para possíveis especificações contidas
no desenvolvimento do parágrafo.
Há inúmeras formas de tópico frasal. Para que você, caro(a) aluno(a), possa
conhecer algumas dessas formas, citaremos as principais. São elas:
Declaração inicial: o autor faz uma declaração, afirmando ou negando algo
na abertura do parágrafo para, logo em seguida, desenvolver a proposição, justi-
ficando ou fundamentando o que afirmou por meio de exemplos, comparações,
depoimentos, oposições, entre outros meios. Essa é a forma de tópico frasal mais
utilizada nos textos. Vejamos um exemplo :
“A finalidade da escola é educar e ensinar. Ensinar é ministrar conhecimentos,
experiências. A educação é ação formadora da personalidade, que faculta ao indi-
víduo alcançar, com sua atividade, a meta da sua vida.” (MOLINA, 2012, online).
Mesmo nesse pequeno parágrafo conseguimos encontrar o tópico frasal,
que está presente no seguinte período: “A finalidade da escola é educar e ensi-
nar”. Nesse exemplo, a declaração inicial aparece de maneira afirmativa, expondo
qual é a finalidade da escola. Perceba que, em seguida, há a presença de informa-
ções com a finalidade de fundamentar a declaração proferida, tais como: o que
é ensinar e qual a influência da educação na vida do indivíduo.
Definição: uma forma simples e muito usada, a definição possui caráter
didático. Nela, o autor apresenta sua ideia-núcleo em forma de delimitação do
significado de algo dentro de um campo semântico. Por exemplo:
A Literatura é uma arte – a arte da palavra. Na sua natureza, ela tem
origem na imaginação criadora, e não em outra faculdade do espíri-

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


53

to. Não é sua finalidade ensinar nem divulgar mensagens religiosas ou


políticas, ou moralizar. Isso não compete à Literatura (COUTINHO,
1968, p. 78).

Como podemos visualizar no exemplo acima, o parágrafo é introduzido por


uma definição, a ideia-núcleo, correspondente ao conceito de Literatura, que
será definido logo em seguida.
Divisão: é também uma maneira bastante didática de construção do pará-
grafo, na qual o autor apresenta o tópico frasal por meio de uma divisão das
ideias a serem desenvolvidas. Vejamos o exemplo a seguir::
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A linguagem pode ser falada ou escrita, há assim dois tipos de expo-


sição linguística. De maneira geral, podemos dizer que a primeira se
comunica pelo ouvido e a segunda, pela visão. Ou em outros termos,
na comunicação escrita, os sons que essencialmente constituem a lin-
guagem humana passam a ser evocados mentalmente por meio de sím-
bolos gráficos (CÂMARA, 1985, p.15).

Podemos verificar que o tópico frasal expõe a linguagem de duas maneiras.


E a explicação sobre cada uma dessas maneiras divide-se em dois períodos
subsequentes.
Garcia (1985), ao explicar sobre a divisão, diz ser comum, ao escrever um
texto, escolhermos apresentar, ou no mesmo parágrafo ou em parágrafos dife-
rentes, uma definição antes da divisão.
Ao redigir um parágrafo, algumas qualidades propostas por Figueiredo (1999)
são essenciais para que as partes do texto estejam em coerência e não se apresen-
tem confusas, atrapalhando o leitor. Assim o referido autor ressalta que é preciso
levar em consideração cinco qualidades na redação de um parágrafo, tais como:
Unidade: está relacionada à ligação existente entre as ideias inseridas no
parágrafo. De maneira resumida, a unidade seleciona uma forte ideia-núcleo
(tópico frasal) que estará coordenada às ideias secundárias mais importantes
presentes no interior do parágrafo.
Coerência: diz respeito à sequência e à organização das ideias seleciona-
das pela unidade, para que, assim, o leitor consiga compreender como elas são
essenciais para o desenvolvimento do parágrafo.
Consistência: está ligada tanto à forma quanto ao conteúdo da produção
escrita. De acordo com Figueiredo (1999), no que diz respeito à forma, significa

A Construção do Parágrafo
I

que quem escreve precisa manter um mesmo estilo durante toda a apresentação
do texto, sem variar, por exemplo, do sério para o debochado. Já no conteúdo,
segundo o mesmo estudioso, não se pode apresentar contradições de ideias no
interior do parágrafo. Por exemplo, se em um período a pessoa que escreve é a
favor da redução da maioridade penal e em outro posterior afirma que é contra,
isso torna o parágrafo incoerente.
Concisão: é interessante que o escritor seja breve, ou seja, escreva somente o
necessário, apresentando as ideias já escolhidas e organizadas sequencialmente.
Ênfase: enfatizar as principais ideias de cada parágrafo é uma qualidade

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necessária ao produtor do texto. Para que isso ocorra, ele pode utilizar-se de
algumas técnicas como a escolha cuidadosa de uma palavra e/ou expressão ade-
quada para representar uma ideia; posição das orações no período; a extensão
das orações e dos parágrafos; repetição da ideia principal etc. Para Figueiredo
(1999), o produtor do texto que se utiliza dessas qualidades, consegue aprimo-
rar seu texto e torná-lo compreensível para o leitor.
Para auxiliar ainda mais em sua escrita, prezado(a) aluno(a), traremos
algumas sugestões, apontadas por Garcia (1985) e Figueiredo (1999), para o
desenvolvimento adequado dos parágrafos. Entretanto seguir esses processos
apresentados pelos autores não é suficiente. É preciso que você, aluno(a), saiba
fundamentar, de maneira clara e apropriada, as ideias que expõe ou defende,
pois a escolha da técnica adequada dependerá da natureza do assunto a ser tra-
tado e da finalidade do que será divulgado.
Vamos, então, conhecer um pouco mais os principais tipos de parágrafos
utilizados em nossos textos de acordo com os autores citados:

TIPOS
No parágrafo de introdução, geralmente, expõe-se o as-
Introdução sunto a ser desenvolvido. Ele requer um tópico frasal claro
e bem marcado.
O exemplo apresenta-se com um ótimo instrumento de
Exemplificação ou comunicação, pois os parágrafos com exemplos ou ilus-
ilustração trações trazem maiores esclarecimentos e tornam a leitura
mais acessível.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


55

Quando desejamos mostrar as semelhanças ou diferenças


entre dois assuntos, usamos esse tipo de parágrafo para
Comparação e atingir nosso objetivo. Nesse caso, o produtor do texto
contraste indica, no começo, os temas que serão tratados e depois
organiza, com nitidez, as ideias que constituirão sua pro-
dução.
Ao repetir suas ideias no parágrafo, quem escreve con-
segue dar ênfase e explicitar a ideia central do texto. No
Repetição de ideias
entanto não basta repetir as ideias, é preciso que o escritor
utilize frases originais e bem construídas.
A definição explica o que significa determinado conceito
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ou termo. Esse processo está relacionado a outros como


Definição
a descrição de detalhes, a apresentação de exemplos e
confrontos ou paralelos.
Conhecidos por seus efeitos de persuasão, que levam o
leitor a ver os fundamentos das conclusões apresentadas
Causa e efeito no parágrafo, neste tipo de processo, o escritor enfatiza as
ligações entre um ou vários resultados (efeitos) e os seus
precedentes (causas).
Após apresentar a ideia-núcleo no tópico frasal, o escri-
tor se utiliza da divisão em seu parágrafo para discuti-las
Divisão separadamente (no mesmo parágrafo ou em parágrafos
posteriores) e mostrar, com mais clareza, sua posição dian-
te do assunto tratado.
Esse tipo de parágrafo atua no fechamento do assunto
Conclusão e por isso deve conter algo relevante, que convença e
impressione o leitor.

Assim, encerramos este tópico com os principais tipos de parágrafos que você,
aluno(a), encontrará em suas leituras e que o(a) auxiliará no ato da escrita, tor-
nando-a mais clara e eficiente.

A Construção do Parágrafo
I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim desta primeira unidade! Espero que, até aqui, eu tenha cola-
borado com a ampliação de seu conhecimento sobre o que é texto e sobre a
importância de entender como ocorre o processo de produção de sentidos den-
tro de um conjunto maior de enunciado, pois precisamos entender que o texto
não pode ser encarado como um produto pronto, mas como um processo social,
um evento comunicativo sempre em ascensão. Não podemos nos esquecer de
que sua função central é estabelecer comunicação entre emissor e receptor.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Discorremos, com detalhes, cada fator de textualidade, mais especificamente
os considerados pragmáticos e os denominados linguísticos. Com esse conhe-
cimento, podemos concluir que, para se compreender o sentido de um texto e
também para se alcançar a coerência textual ao se produzir um, os fatores de
textualidade estudados precisam estar interligados.
Conhecer as questões voltadas aos fatores de textualidade é compreender
como todas elas influenciam não só no ato de escrita como no de compreensão
de textos e suscitam consequências significativas no processo de comunica-
ção. Além disso, estudamos os processos essenciais para uma produção textual
de qualidade: a coesão e a coerência. Como vimos, tais fenômenos linguísticos
estão sempre vinculados, mas precisam ser encarados como noções distintas.
Foram apresentados os tipos de coesão utilizados nos textos que lemos e
escrevemos e os fatores que ajudam no estabelecimento da coerência em uma
produção escrita. Por fim, estudamos as teorias referentes à construção do pará-
grafo. Sobre isso, destacamos o estudo do tópico frasal, as qualidades que um
bom parágrafo precisa ter e também alguns dos tipos de parágrafos que utiliza-
mos para produzir textos com sentido completo.
Diante de tudo que foi apresentado a você, prezado(a) aluno(a), desejo que
esses conhecimentos enriqueçam fortemente o seu trabalho e o seu desempenho
como secretário(a) executivo(a). Com todo o estudo desta unidade, você poderá
melhorar ainda mais sua escrita, fazendo com que o seu leitor compreenda as
relações de sentidos que você estabeleceu na comunicação e, consequentemente,
tornando-o um profissional de sucesso.

O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS


57

1. Diante das definições expostas por vários estudiosos da língua, apresente uma
significação para texto, ressaltando qual o ponto de vista teórico escolhido por
você.
2. Apresente os fatores de textualidade que caracterizam um texto e diferencie-os.
3. Como podemos distinguir a coesão da coerência textual? Explique.
4. Tendo em vista o que fora estudado sobre a construção do parágrafo, aponte as
cinco qualidades relevantes para escrever um bom parágrafo.
5. Pesquise em sites, revistas, livros e demais meios de comunicação um texto pa-
ragrafado de sua preferência. Após realizar a leitura do texto, analise, com base
no que foi estudado nesta unidade acerca da construção do parágrafo, o tópico
frasal e o(s) tipo(s) de parágrafo empregado(s) em tal texto escolhido.
APROFUNDANDO A INTERTEXTUALIDADE...
Conforme estudamos, a intertextualidade está relacionada ao conceito de texto
como objeto heterogêneo, que revela uma relação de seu interior com seu exte-
rior e, desse exterior, fazem partes outros textos que lhe dão origem, com os quais
dialoga, que retoma, a que alude, ou a que se opõe. Além disso, a intertextualidade
compreende as diversas maneiras pelas quais a produção e a recepção de um dado
texto dependem do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores.
Melhor dizendo, esse fator de textualidade depende da existência de um ou mais
textos para que os sentidos ocorram.
Essa conceituação você já conhece e se faz essencial para uma escrita e/ou leitura
adequada. No entanto existem alguns conceitos que precisam ser diferenciados do
fator intertextualidade. Um deles é a chamada “paratextualidade”, que se refere ao
conjunto de elementos que estão em torno do texto, como o título, os prefácios, as
ilustrações etc. Outro conceito é a “metatextualidade”, que diz respeito ao nível de
reflexão de um texto com o comentário que dele se faz.
Há também a chamada “arquitextualidade”, considerada mais abstrata, e que diz res-
peito às situações em que se coloca um texto em relação com as diversas classes às
quais ele pertence. Um determinado poema, por exemplo, pode estar em relação
de arquitextualidade com a classe dos sonetos. A “hipertextualidade” constitui-se
por meio de textos formados por hipertextos, os quais têm por característica básica
apresentar o texto de forma não linear, ou seja, cada leitor pode seguir um caminho
diferente ao realizar a leitura.
Por fim, e talvez você já tenha até ouvido esse termo, há o conceito de “polifonia”, uti-
lizado para caracterizar a pluralidade de vozes concorrentes em um texto. Ou seja,
de acordo com a noção de polifonia, os estudiosos acreditam que todo texto é per-
passado por vozes de diferentes enunciadores, ora concordantes, ora dissonantes.
Na verdade, o próprio fenômeno da linguagem humana já é dialógico, polifônico.
Veja, prezado(a) aluno(a), que as questões sobre a intertextualidade não se esgotam
por aqui. Ainda há muitos estudos que podemos realizar para aprofundar cada vez
mais nossos conhecimentos.
Fonte: a autora.
MATERIAL COMPLEMENTAR

A coerência textual
Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia
Editora: Contexto
Sinopse: expõe a constituição dos sentidos nos textos e seus
fatores: os elementos linguísticos, o conhecimento de mundo,
as inferências e a situação. Apoiado em exemplos bem
escolhidos, traduz em miúdos a complexa propriedade da
coerência textual, sendo de grande auxílio para estudantes,
vestibulandos e universitários.

Coesão e Coerência textuais


Leonor Lopes Fávero
Editora: Ática
Sinopse: nesta obra, a autora examina dois fatores de
textualidade (coesão e coerência), procurando tornar
explícitos esses mecanismos por meio de exemplos
retirados da obra de autores como Carlos Drummond de
Andrade e Luís Fernando Veríssimo, entre outros.

Fatores de Textualidade
Assista ao vídeo a seguir. Ele traz, de modo claro e objetivo, informações precisas, especialmente
sobre o fator situacionalidade; apresenta aspectos teóricos e exemplos de como podemos
identificá-lo em placas, músicas, propagandas, discursos, tiras ou mesmo em palavras e frases.
Confira!
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gUhyD6UxuRI>. Acesso em: 23 jul. 2015.

Material Complementar
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine

FUNÇÃO SOCIAL DA

II
UNIDADE
ESCRITA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender que a escrita possui uma função social muito
específica.
■■ Conhecer algumas teorias de comunicação, entendendo de que
forma explicam o processo comunicativo.
■■ Refletir sobre o processo comunicativo e a relação entre os elementos
que o compõem.
■■ Conhecer as funções da linguagem, destacando suas principais
características.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Teorias da comunicação
■■ Estrutura e funcionamento da comunicação
■■ Funções da linguagem
63

INTRODUÇÃO

Estimado(a) aluno(a), nesta unidade, trataremos de questões teóricas relaciona-


das ao processo comunicativo que envolve a leitura e a escrita. Sabemos que a
comunicação é uma atividade essencialmente humana e, para que ela ocorra com
êxito, dependerá principalmente da habilidade dos indivíduos ao se comunicarem.
Dessa maneira, podemos refletir em quanto a leitura e a escrita – nosso foco
no momento – estão ligadas às funções sociais do ato comunicativo. A escrita,
como um ato de comunicação, possui uma função social e, para que alcance o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

objetivo esperado daquele que escreve, deve ser clara e objetiva para que a men-
sagem enviada seja plenamente entendida pelo leitor.
Por isso, dizemos que a escrita possui, assim como a leitura, uma utilidade,
e essa utilidade é social, pois é compartilhada pelos indivíduos de um grupo.
Ou seja, se entendemos que a escrita não é meramente um código, e sim uma
ferramenta social de comunicação assim como a língua é concebida, mais será
possível dominar seus usos e possibilidades.
Esse conhecimento é importante para você, aluno (a), porque o curso de
Secretariado é um curso que necessita o estudo da língua/linguagem, já que
prepara o indivíduo para redigir textos profissionais, utilizando a comunicação
geral, além das técnicas redacionais. Sendo assim, é importante que você tenha
em mente que a língua e, consequentemente, a leitura e a escrita possuem fun-
ção social e socializadora, pois será exigido desse profissional saberes para atuar
nas habilidades de fala, escrita, leitura e, ainda, áudio-compreensão.
Além disso, abordaremos nesta unidade sobre as teorias da comunicação.
Apesar de ser um assunto extenso e complexo, mas ao mesmo tempo muito inte-
ressante e útil, não poderemos esgotá-lo. No entanto, cabe a cada aluno a função
de pesquisar mais a respeito e não somente prender-se a leitura do livro. Outro
item da unidade trará os conhecimentos sobre as funções da linguagem e as for-
mas de classifica-las.
Assim, espero poder trazer contribuições significativas para seu progresso, e
que a leitura e o estudo desta unidade sejam esclarecedores e adicionais ao con-
teúdo já discutido. Boa leitura!

Introdução
II

TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

Ao falarmos em teorias da comunicação, precisamos ter em mente que a comu-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nicação é a interação entre dois ou mais indivíduos que tornam uma informação
comum. Temos a necessidade de comunicação, no entanto essa interação verbal
e dialógica não ocorre de maneira simples: é necessário todo um estudo para que
possamos compreender o vasto território em que essas teorias se encontram. Por
isso o presente estudo trata de possibilidades de compreensão da ação de tornar
uma informação comum a dois ou mais indivíduos.
De acordo com Serra (2007), a multiplicidade de teorias de comunicação
forma um conjunto complexo e problemático. Isso porque a comunicação é uma
área ampla, com elementos diferentes e dispersos, de modo que a empreitada
de sistematizar informações relacionadas à comunicação se torna um trabalho
intenso. O referido autor afirma que, em uma pesquisa de 1996, um determi-
nado pesquisador conseguiu listar 249 definições ou teorias da comunicação.
Por isso ressaltamos que não temos a prepotência de falar tudo sobre o tema.
Compartilhamos da posição de Serra (2007) quando assinala que não seria pos-
sível reunir diversas teorias, formadas a partir de perspectivas tão díspares, em
um único local, sob pena de perder o foco e dificultar uma compreensão mínima
do que o termo “comunicação” implica.
Muitas dessas teorias acompanham, de modo geral, alguns modelos que se
repetem e que se encontram, principalmente, entre as teorias da sociologia e a
psicologia, ou seja, fundamentam-se ora no grupo, ora no indivíduo.
Com relação à sociologia, os paradigmas mais abordados são o funciona-
lismo estrutural, a evolução social, o modelo de conflito social e o interacionismo
simbólico. A partir desses paradigmas, surgiram, respectivamente:

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


65

■■ a estabilidade da comunicação: ela não pode se alterar o tempo todo, sob


o risco de impossibilitar sua efetivação;
■■ a mudança: apesar de não haver mudança constante, a comunicação não
é estática. Ela se adapta às circunstâncias e às novas informações, novos
objetos, novos meios de comunicação etc.;
■■ o conflito: surge decorrente de usos diversificados da comunicação;
■■ os significados: surgem, mediante uma perspectiva sociológica, da intera-
ção entre os indivíduos. Se dois indivíduos não derem o mesmo significado
(ou pelo menos significados semelhantes) para determinada mensagem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ou objeto, não terá se efetivado a comunicação entre eles (ou ela será
problemática).
No caso da psicologia, as teorias mais usadas para explicar a comunicação estão
ligadas ao behaviorismo, à psicanálise e ao paradigma cognitivo. Serra (2007)
acrescenta ainda outras teorias para mostrar a existência de outros modelos
de comunicação, tais como: o informacional, o semiótico-informacional e o
semiótico-textual.
O autor, entretanto, dará ênfase em outras duas teorias no estudo da comu-
nicação, são elas:

a. a processual: concebe a comunicação como “transmissão de mensagens”


por meio da qual se procura produzir um determinado “efeito” sobre os
receptores. Centra-se nas questões da eficácia e da exatidão da comu-
nicação e se relaciona com as ciências sociais, especificamente com a
sociologia e a psicologia;
b. a semiótica: trata a comunicação como “produção e troca de significa-
dos”, resultante da interação das pessoas com as mensagens ou textos.
Voltada para as questões relativas às diferenças culturais entre emisso-
res e receptores, se relaciona com disciplinas como a linguística e as artes
(SERRA, 2007, p. 71).

Diante dessas duas teorias, a comunicação pode ser considerada tanto como
um evento de transmissão de informações quanto de produção conjunta de sig-
nificados. No entanto, segundo Silva (2007), torna-se difícil escolher apenas
um desses estudos, já que a comunicação pode se fazer presente em todos eles,

Teorias da Comunicação
II

dependendo do tipo de comunicação estabelecida e do foco em um determi-


nado aspecto comunicativo.
Na sequência, veremos como a comunicação funciona e quais são os elemen-
tos estruturais necessários para que ela ocorra de maneira adequada. Continue
seus estudos!

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Epstein (1999) afirma que só quando pensamos na comunicação animal que
conseguimos entender o princípio mais fundamental da comunicação. Isso
porque, ao se comunicarem, os animais, dependendo da espécie, trocam
sons, substâncias químicas ou posturas corporais para alterar a probabili-
dade de ocorrência de um padrão de comportamento em outro indivíduo.
Ou seja, um animal, ao mandar sua “mensagem”, espera um determinado
comportamento do receptor de sua mensagem.
Os animais possuem apenas a comunicação não verbal para socializarem e
a quantidade de sinais varia de espécie para espécie. Os vertebrados apre-
sentam entre 30 e 40 sinais para comunicação, os peixes chegam a 10 sinais
e os insetos não possuem mais do que 10 a 20 categorias de sinais. O ser
humano também se utiliza de sinais não verbais, mas em quantidade muito
superior. Estima-se que ele use, em média, cerca de 150 a 300 sinais enquan-
to se comunica, além da linguagem verbal, da qual é o único usuário entre
todos os animais.
Fonte: baseado em Epstein (1999).

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA COMUNICAÇÃO

Em seu livro “Manual de Semântica”, Rector (1980) esclarece que o termo “Função”
vem do latim functione, que significa execução de um encargo. Dessa maneira,
diz a linguista, seria adequado considerar que, ao falarmos de funções da lingua-
gem, essas seriam instrumentos executores subordinados às múltiplas exigências
a que a linguagem tem de adaptar-se para ser o suporte efetivo da comunica-
ção. Melhor dizendo, essas funções seriam os diversos trajes de que a linguagem
se reveste de acordo com a intenção da mensagem que se quer transmitir. O

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


67

estudo das funções e sua compreensão passam pela correlação com a teoria da
comunicação.
Por isso, diante das variadas teorias que discorrem sobre a comunicação,
é possível estabelecer uma questão em comum: a comunicação necessita, no
mínimo, de um emissor e de um receptor. Ou seja, um indivíduo, grupo ou enti-
dade que envia uma mensagem e outro que a recebe. Apesar de ser essa a base
comunicativa, há diversos outros fatores que envolvem essa relação, como pode-
mos verificar na Figura 1:
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REFERENTE

REMETENTE DESTINATÁRIO
(EMISSOR)
CANAL (CONTATO) (RECEPTOR)

MENSAGEM

CÓDIGO

Figura 1: Elementos da comunicação de acordo com Roman Jakobson


Fonte: a autora.

Roman Jakobson é um dos teóricos que defende essa estrutura comunicativa.


Ele nos mostra que há mais elementos importantes além de emissor e recep-
tor. Para que haja comunicação, é necessário que exista algo entre esses dois
elementos: a mensagem.
No entanto apenas esses dois elementos não são suficientes. Pense na seguinte
situação: um remetente brasileiro (conhecedor apenas da língua portuguesa) e um
destinatário chinês (que conhece apenas o mandarim) conseguiriam se comuni-
car em suas línguas nativas? Temos três elementos da comunicação – remetente,

Estrutura e Funcionamento da Comunicação


II

mensagem e destinatário – no entanto não haveria comunicação. Isso ocorre


porque outro elemento importante para que dois indivíduos se comuniquem é
que o código seja comum. Dessa forma, tanto o remetente quanto o destinatá-
rio precisam dominar um mesmo sistema linguístico para que a mensagem seja
codificada e decodificada propriamente.
Outro elemento que desempenha um papel relevante é o contexto, que está
relacionado à situação a que a mensagem se refere, pois, dependendo do con-
texto, uma mesma palavra poderá ter significados diferentes.
Esse elemento é tão necessário que ele pode diferir um acidente doméstico

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de uma catástrofe econômica. No exemplo “Meu banco quebrou”, temos a pala-
vra “banco”, nesse caso, como foco da possibilidade de múltipla interpretação,
pois “banco” pode tanto referir-se a um objeto feito para se sentar quanto a uma
instituição financeira.
Se interpretarmos a palavra “banco” como um objeto, esse exemplo ilustra
um pequeno acidente doméstico, em que o elemento teria quebrado, sendo inu-
tilizado ou precisando de conserto e com poucas consequências negativas. No
entanto, se considerarmos o termo “banco” como uma instituição financeira, o
verbo “quebrar” estará no sentido de “falir”. As consequências, nesse sentido,
serão mais graves, já que meus investimentos e economias podem estar em perigo.
Para que possamos saber qual o real sentido atribuído à palavra “banco”, o
contexto será o responsável por essa delimitação de significados.
Outro elemento presente na comunicação é o canal ou contato, que iden-
tifica o meio utilizado para transmissão da mensagem, que pode ser a fala, a
escrita, uma carta, um e-mail, um telefonema, gestos, entre outros. Enfim, é a
via de circulação das mensagens.
Há também o referente, que é o assunto da mensagem, ou seja, é o que res-
ponde a pergunta “do que se fala?” no processo comunicativo.
Mesmo diante de todos esses elementos, a comunicação nunca será comple-
tamente efetiva. Isso ocorre porque os indivíduos são diferentes, têm histórias de
vida diferentes, conhecimento e crenças diferentes, e tudo isso afeta a maneira
como tais sujeitos decodificam uma mensagem recebida.
Além disso, o processo de comunicação pode sofrer as chamadas interfe-
rências ou ruídos, os quais provocam barreiras, impedindo que a mensagem

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


69

chegue na íntegra ao seu destinatário. Ou seja, essas interferências ou ruídos


fazem que a mensagem enviada se torne modificada, diferente, durante o pro-
cesso de comunicar.
Tais interferências ou ruídos podem ser de diversos tipos, porém Chiavenato
(2003) aponta três variáveis: físicas, culturais ou psicológicas.
As interferências físicas são aquelas que atrapalham fisicamente a codifica-
ção ou decodificação da mensagem. O ruído físico pode ser causado pelo canal,
e este pode estar com algum defeito, isto é, telefone com chiado, linha cruzada,
a ligação de celular falhando por falta de torre, como também má grafia das
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palavras, folha impressa que foi borrada por água, dificuldade visual do leitor
(ou auditiva do interlocutor), cansaço, falta de iluminação, entre outros casos.
As interferências culturais estão relacionadas a algum tipo de desnível cul-
tural entre remetente e destinatário, crenças diferentes, desnível cognitivo, frases
complicadas, mal reformuladas ou ambíguas etc.
Por fim, as interferências psicológicas são aquelas associadas ao estado de
espírito do remetente e do destinatário, envolvendo tanto o nível de agressivi-
dade, aspereza, simpatia etc., entre emissor e receptor, quanto o estado de espírito
do indivíduo, que pode ser mais pessimista ou otimista, depressivo ou alegre,
autoconfiante ou inseguro etc. Por exemplo, uma pessoa insegura pode interpre-
tar comentários inocentes como críticas, ao mesmo tempo em que uma pessoa
otimista pode interpretar críticas negativas como sendo sugestões de melhoria.
As interferências ou ruídos podem levar um indivíduo a produzir uma res-
posta “incorreta” para a mensagem que recebeu. Para evitar isso, é necessário
que, ao comunicarmos, estejamos atentos se estamos produzindo uma men-
sagem da maneira mais clara possível, com o mínimo de interferências, e nos
garantindo de que não haverá desníveis culturais e problemas físicos que atra-
palhem a transmissão adequada da mensagem.
É importante prestar atenção e conhecer quais pontos da comunicação são
mais vulneráveis a ruídos e, com isso, uma boa maneira de evita-los é entendendo
bem como se estrutura a comunicação. Assim, se tudo acontecer de forma ade-
quada, o destinatário assumirá o lugar de remetente e responderá a mensagem
enviada da forma esperada, de modo que a comunicação estará se processando
adequadamente.

Estrutura e Funcionamento da Comunicação


II

Assim, para que o processo de comunicação seja considerado ideal, é pre-


ciso que ocorra uma resposta à mensagem recebida, mas, para que isso ocorra,
a mensagem deve chegar ao receptor sem ruídos, ou seja, sem elementos que a
prejudiquem, sem a presença de algo que não faça parte da mensagem. Porém,
as interferências podem ser mais ou menos frequentes na mensagem. Sua pre-
sença vai depender do tipo de canal, pois alguns possuem mais vulnerabilidade
do que outros. Diante disso, o entendimento equivocado da mensagem pode
trazer efeito contrário ao desejado pelo remetente.
As interferências ou ruídos também podem ser provocados pelo ambiente

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
onde se estabelece o processo de comunicação. Como, por exemplo, quando
sofremos a interrupção por alguém durante a leitura de um texto ou a dificul-
dade de conversar com alguém durante um show de música.
Outra questão essencial que precisamos abordar é a respeito do código. Esse
não é uma estrutura sempre homogênea, ou seja, há códigos fechados, cuja inter-
pretação é unívoca, não deixando espaço para interpretações; e códigos abertos,
que permitem mais de uma interpretação.
Como exemplo, podemos citar o caso das placas de trânsito: uma placa de
“não vire à esquerda” é um código fechado, pois há apenas uma interpretação
para ela e uma única resposta possível, ou seja, o motorista que ver tal placa não
virará à esquerda.
No entanto, no nosso dia
a dia, a maioria dos códigos
que utilizamos é, na verdade,
aberta. Pense, por exem-
plo, no sistema das horas:
muitas vezes, podemos nos
confundir por não utilizar-
mos o sistema de 24 horas.
No bilhete a seguir, é possível
verificar como isso ocorre.
Izidoro Blikstein (2005)
utiliza-se de um bilhete
semelhante em seu livro para Placas de trânsito são bons exemplos de códigos fechados,
com interpretação unívoca.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


71

explicar, com sucesso, como isso ocorre. Fizemos algumas adaptações utilizando
um trecho do bilhete para mostrar a você, aluno(a), como isso ocorre. Vejamos:

Maria, quero que você me reserve um lugar, à noite, no trem das 8 para o Rio.

O autor conta que esse bilhete foi deixado pelo gerente de uma empresa para a
nova secretária. E ressalta que, nesse caso, o gerente perdeu o trem, pois a secre-
tária foi, à noite, até a estação ferroviária e apenas reservou um lugar no trem
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das 8 horas da manhã do dia seguinte. Podemos refletir: qual a falha aqui? Qual
dos dois indivíduos agiu de forma incorreta para que a comunicação não ocor-
resse com sucesso?
A falha, nesse caso, em nenhum momento foi da secretária. A falha foi
do gerente, que não foi suficientemente claro em relação àquilo que desejava,
principalmente por saber que a funcionária era nova no trabalho e não estaria
habituada com a rotina do gerente.
De todos os equívocos presentes no bilhete, gostaria que você voltasse sua
atenção, sobretudo, ao horário apontado. Ao dizer oito horas, sem maiores escla-
recimentos, é algo que precisa de cuidado, pois gera uma frase ambígua, que
pode ter duas interpretações possíveis. O gerente poderia ter escrito 20h, caso
ele tivesse a intenção de viajar à noite ou, pelo menos assinalar, na sequência do
horário, a indicação do período do dia: 8h da noite.
Outro ponto que poderia gerar ambiguidade na mensagem do bilhete é o
termo “lugar”. A funcionária comprou um lugar convencional no trem e não
em uma cabine com leito, como era de costume o gerente viajar. Diante disso,
dizer que quer um “lugar” no trem não especifica que tipo de lugar seria esse.
Não dá para saber, só com essa informação, se seria um lugar convencional ou
uma cabine com leito.
Dessa forma, estamos diante de um código que pode ser denominado aberto,
pois permite mais de uma decodificação e, em consequência, mais de um signi-
ficado e mais de uma resposta e/ou ação.
É importante que fique claro para você, prezado(a) aluno(a), que deter-
minados contextos profissionais, nos quais você estará inserido(a), utilizam a

Estrutura e Funcionamento da Comunicação


II

comunicação com finalidades bem delimitadas e precisas. É preciso ter muita


atenção, pois, nesses casos, o código aberto pode ser inconveniente e suscetí-
vel a ruídos.
Nas organizações administrativas, como foi o caso do contexto do bilhete
proposto por Blikstein (2005), há a necessidade de respostas rápidas e unifor-
mes, por isso é relevante fazer uso de sistemas fechados de comunicação, com
significados igualmente fechados, visando à obtenção da decodificação e respos-
tas com único sentido. Nesses ambientes, é comum recebermos mensagens que
nos conduzam a dúvidas, ansiedade, angústias e conflitos. Isso ocorre em frases

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
como “aguardo a sua resposta o mais breve possível”, significando “até amanhã”
ou “até qual horário?”, entre outras possiblidades.
No entanto, em certos casos, há situações em que os objetivos e o contexto
cultural justificam o uso do código aberto, no qual o emissor deseja produzir
significados ambíguos, irônicos, sem objetividade. Por exemplo, um empresá-
rio que não quer ceder às pressões dos funcionários para o aumento do salário,
poderá dizer que “o assunto está sendo analisado com prudência”. No contexto
jornalístico, é comum vermos essas ocorrências, tal como em uma notícia que
diz “o Ministro das Finanças vai muito bem”, a qual o leitor pode compreender
de dois modos: “a gestão do Ministro das Finanças vai indo muito bem” ou “o
Ministro das Finanças tem tido muito êxito em sua vida particular”.
Além do conhecimento de todos esses elementos que compõem a comuni-
cação, não podemos nos esquecer de que cada indivíduo possui um repertório.
De acordo com Blikstein (2005), todos nós carregamos uma “bagagem cultural”,
isto é, todo indivíduo tem a sua história de vida, a sua educação, a sua família,
frequentou igreja, trabalhou em diferentes lugares, estudou, viajou, conheceu
outros indivíduos etc. Enfim, todos temos construções simbólicas, ideológicas,
religiosas, intelectuais etc., a partir das quais interpretamos mundo.
Como vimos, o repertório tem influência direta na compreensão adequada
da mensagem e, consequentemente, na comunicação. Podemos retomar a situação
exposta por Blikstein (2005) no bilhete, que também exemplifica o repertório:
se o gerente tivesse atento ao repertório da secretária, teria acrescentado a infor-
mação “lugar em cabine com leito” que, apesar de evidente para ele, constituía

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


73

uma novidade para a sua funcionária. No entanto esse conhecimento acerca do


repertório também era função da secretária que, por ser nova na empresa, tam-
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bém deveria ter se preocupado em conhecer um pouco o repertório do contexto


profissional em que estava inserida. Eis, aqui, mais uma dica para você, aluno(a)!
Portanto, a comunicação depende não só do conhecimento do código para
que ocorra de maneira adequada, mas também do repertório do destinatário.
Essa deve ser uma preocupação do remetente: buscar conhecer o repertório do
destinatário, ou seja, quais são suas referências históricas, geográficas, afetivas,
profissionais etc. para, assim, evitar conflito e ambiguidade na decodificação da
mensagem.
É preciso, então, que, antes de começar a escrever uma mensagem, tenhamos
em mente as seguintes questões: a quem estou escrevendo? Qual o repertório da
pessoa a quem estou enviando a mensagem?
Desconhecer ou desconsiderar o repertório do receptor da mensagem
é promover os ruídos que irão atrapalhar o funcionamento e a estrutura da
comunicação.
Desse modo, é imprescindível levar em consideração o repertório do des-
tinatário ao emitir uma mensagem, evitando, assim, equívocos e contratempos
no ato de comunicar.
As influências sociais, cognitivas, intelectuais, culturais, ideológicas e reli-
giosas de um indivíduo fazem que o seu repertório seja completamente diferente
do repertório de todas as outras pessoas do mundo.
No tópico seguinte, você encontrará informações relevantes sobre as funções
de linguagem e as maneiras de classificá-las a partir dos elementos estudados
neste tópico, mediante a concepção de Jakobson. Continue sua leitura!

Estrutura e Funcionamento da Comunicação


II

Mesmo diante de todos os elementos que compõem a comunicação, o cor-


po, muitas vezes, “fala” mais do que muitas palavras. Os gestos e as expres-
sões faciais geralmente denunciam o oposto do que pronunciamos com as
palavras.
Fonte: a autora.

FUNÇÕES DA LINGUAGEM

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Tendo em vista a importância da estrutura e do funcionamento da comunica-
ção, elaborado por Roman Jakobson, para a teoria da comunicação, neste tópico,
iremos estudar sobre as funções da linguagem. No entanto, antes de adentrar-
mos nesse assunto específico, quero relembrar com você, caro(a) aluno(a), o
quanto a linguagem está relacionada com o mundo, ou seja, as palavras nunca
estão sozinhas, não são sentido puro. Toda palavra, para que possua um signi-
ficado específico, envolverá os seguintes elementos da comunicação: referente,
emissor, receptor, mensagem, contexto, canal e código, além de outros itens que
também terão influência no processo da comunicação.
Neste tópico, abordaremos as funções ou usos da linguagem, pois, como
já vimos, as palavras estão sempre atreladas ao remetente e ao destinatário e a
situações reais, isto é, são utilizadas para algum objetivo ou função específica.
Diante disso, as funções da linguagem são recursos empregados pelo emis-
sor (ou remetente) no momento de transmitir uma mensagem, com o intuito
de que ela seja compreendida pelo receptor (ou destinatário). Além disso, esses
recursos podem ser usados para reforçar algum elemento linguístico e, como
consequência, facilitar a compreensão do receptor com um determinado efeito
transmitido na mensagem.
Entretanto, analisaremos, em primeiro lugar, diferentes possibilidades de
atribuição de funções para a linguagem, refletindo nas finalidades para as quais
ela é empregada. Uma dessas possibilidades seria classificar as funções da lingua-
gem de acordo com o tipo de texto que elas constroem. Dessa forma, podemos
falar em textos:

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


75

■■ informativos, com a função de divulgar alguma informação, como notí-


cia, avisos ou bulas de remédios;
■■ publicitários, que procuram persuadir o leitor, como propagandas em geral;
■■ normativos, com propósito de regulamentar algo, como leis, portarias,
estatutos ou normas técnicas;
■■ científicos, que têm como finalidade provar a ciência, como monografias,
artigos, teses, entre outros;
■■ didáticos, com o objetivo de ensinar, como livros de aprendizagem, con-
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ferências, seminários, palestras, entre outros;


■■ literários, com função artística e/ou entretenimento, como romances,
contos, crônicas, poemas etc.
É possível, ainda, agrupar esses tipos de textos a partir de quatro funções básicas,
tais como: função de organização (rótulos, crachás, placas etc.), de comunica-
ção (jornais, cartas, cartazes, convites etc.), de registro (agenda, receitas, lista de
compras etc.) e de lazer (livros, literatura, revistas etc.).
Sendo assim, prezado(a) aluno(a), é importante que você saiba que todas
as formas de organização das funções da língua têm em comum o fato de que
o uso da língua é social, ou seja, a língua somente acontece entre duas ou mais
pessoas, com alguma finalidade, em um contexto específico e sob a forma de um
texto. Você se lembra de como iniciamos a leitura desta unidade? Acredito que,
nesse momento, dizer que a língua (e a escrita) não é meramente um código, e
sim uma ferramenta social, tornou-se bem mais claro para você!
A partir dessas considerações, esclarecendo que as formas de classificar as
funções da linguagem não são fixas, que elas podem assumir modelos distintos
de acordo com os objetivos daquele que separa tais funções, iniciaremos a classi-
ficação mais tradicional, que segue a teoria da comunicação de Roman Jakobson,
o qual tem como foco os elementos comunicativos já estudados.
Nessa classificação das funções da linguagem mais tradicional, cada função
está especificamente ligada a um dos elementos participantes do processo de
comunicação, já que a função está centralizada nesse elemento. O quadro abaixo
nos ajuda a compreender melhor isso.

Funções da Linguagem
II

ÊNFASE NO ELEMENTO DETERMINA FUNÇÃO DE LINGUAGEM


Referente Função Referencial
Emissor / Remetente Função Referencial
Receptor / Destinatário Função Conativa
Canal / Contato Função Fática
Mensagem Função Poética
Código Função Metalinguística
Quadro 3: Funções da linguagem e seus elementos constituintes
Fonte: adaptado de Chalhub (2002, p. 06).

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É importante ressaltar que em uma mesma mensagem pode conter várias des-
sas funções, apesar de sempre ter uma que será predominante. A justificativa
apresentada por Chalhub (2002, p. 08) para essa ocorrência é a de que há múl-
tiplas possibilidades do uso do código e, com isso, entrecruzam-se diferentes
níveis de linguagem. Nas palavras do referido autor, “a emissão, que organiza
os sinais físicos em forma de mensagem, colocará ênfase em uma das funções
– e as demais dialogarão em subsídio” (CHALHUB, 2002, p. 08). No nosso dia
a dia, por exemplo, além da função referencial (o que faz com que a mensagem
seja imediatamente compreendida), há um pouco da função conativa, que pode
ocorrer no diálogo com alguém, quando tentamos convencer nosso receptor, ou
mediante a narração de uma situação triste que o emissor vivenciou, nesse caso,
teremos a função emotiva.
Na leitura a seguir, exemplificaremos cada uma das funções da linguagem
de acordo com o elemento enfocado. Sabendo que uma mesma mensagem pode
apresentar diferentes funções, será a predominância de um dos elementos que
determinará a predominância de uma função da linguagem. Vamos lá?!

Função referencial
Também conhecida com denotativa ou informativa, é centralizada no referente,
pois o emissor oferece informações da realidade, ou seja, o objetivo de uma men-
sagem enfocada na função referencial é apresentar o assunto enfocado, de forma
clara, objetiva, direta e sem ambiguidade, prevalecendo a 3ª pessoa do singular.
O uso da função referencial está presente no discurso científico, técnico e
em alguns tipos de discurso jornalístico mais neutros. Por isso a finalidade dessa

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


77

função é transmitir conhecimentos ou informações sobre um objeto específico


com neutralidade.
Vejamos um exemplo de função referencial da linguagem:

Pesquisadores criam substância que repele e mata mosquito da dengue

Pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro criaram


uma substância capaz não só de repelir o mosquito da dengue como matá-
-lo durante uma pesquisa que buscava princípios ativos para a criação de um
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detergente.
Os cientistas já estudavam há 17 anos a bactéria Pseudomonas aeruginosa
LBI em uma pesquisa para a produção de detergente biológico, até perceberem
que ela tinha a capacidade de destruir as larvas do Aedes aegypti, mosquito cau-
sador da dengue, no estágio de larva e na fase adulta, além de funcionar como
repelente [...].1
Como é possível observar, o exemplo é neutro, imparcial, pois não percebemos
nem a presença do emissor, nem do receptor da mensagem. O interesse, nessa notí-
cia, está na mensagem em si, que está expressa de modo impessoal, informando
dados científicos, além de apoiar a importância da mensagem a partir da referên-
cia a pessoas ou grupos possuidores de conhecimento abalizado. A ênfase está no
objeto que serve de referência para a mensagem e o objetivo de quem escreveu a
notícia é traduzir a realidade visando à informação. Observe mais um exemplo:

Reações adversas: não há relatos até o momento. Caso ocorra qualquer rea-
ção desagradável, suspender o uso do produto.
Bula do produto “Mel, Própolis e Guaco”.

Na função referencial, o interesse está em tornar a mensagem clara para o leitor,


de modo a transmitir informações com o máximo de precisão possível, como
podemos perceber no exemplo acima: uma bula de remédio, embora seja até

1 Fonte: Schiavoni (2014, online). Disponível Eem: <http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/


redacao/2014/07/07/pesquisadores-criam-substancia-que-repele-e-mata-mosquito-da-dengue.htm>. Acesso em: 24 jul.
2015.

Funções da Linguagem
II

certo ponto ilegível para muitas pessoas. Entretanto o importante é notar que
não há emotividade e o foco é o objeto observado, o que faz que essa função seja
bastante diferente da função emotiva, por exemplo, que veremos na sequência.

Função emotiva
Centralizada sempre em torno do emissor/remetente, o conteúdo expresso estará
relacionado a emoções e/ou sentimentos dele. Nessa função, há o predomínio
de verbos na 1ª pessoa do singular e um envolvimento emocional do emissor,
que transmite em sua mensagem sua marca subjetiva.

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Além disso, essa função apresenta outras características relevantes, sendo
elas: o uso de exclamações e/ou interjeições (expressão emotiva da linguagem),
de adjetivos (opinião do emissor em relação aos objetos observados), pontu-
ação expressiva (uso de várias exclamações seguidas, reticências, espaços em
branco etc.).
É possível observar as características da função emotiva na letra de música
abaixo, “Detalhes”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos2:

Não adianta nem tentar


Me esquecer
Durante muito tempo em sua vida
Eu vou viver
Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E a toda hora vão estar presentes
Você vai ver
[...]
Eu sei que um outro deve estar falando
Ao seu ouvido
Palavras de amor como eu falei
Mas eu duvido
Duvido que ele tenha tanto amor

2 Fonte: Letras. Detalhes. Disponível em: <http://letras.mus.br/roberto-carlos/6971/>. Acesso em: 24 jul. 2015.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


79

E até os erros do meu português ruim


E nessa hora você vai
Vai lembrar de mim
[...]
Se alguém tocar seu corpo como eu
Não diga nada
Não vá dizer meu nome sem querer
A pessoa errada
Pensando ter amor nesse momento
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Desesperada você tenta até o fim


E até nesse momento você vai
Vai lembrar de mim
[...]

Como podemos observar, na letra acima, em alguns fragmentos, há um alto teor


emotivo. A mensagem organiza-se, principalmente, na posição do emissor, mar-
cado pelo traço do pronome em 1ª pessoa, que envia seus sentimentos, lembranças,
expressões, confissões a uma 2ª pessoa, apontado pelo “você”: a amada. Essa
música configura uma função emotiva
não só por estar centrada no emis-
sor, mas também pela interpretação
que está revestida de sentimentos
de saudade e perda. Ou seja, o con-
junto todo da mensagem converge
para aflorar sentimentos e embalar
emoções.
Podemos citar também, como
exemplo de função emotiva, o diá-
rio, já que é uma espécie de desabafo
do emissor em relação à própria vida
ou experiências, mesmo que o recep-
As fotografias são um exemplo de função emotiva da
tor seja o próprio emissor ou que não
linguagem.
haja exatamente um receptor, nesse caso.

Funções da Linguagem
II

Há ainda a fotografia, na qual a função emotiva também se apresenta marcada,


sobretudo a fotografia artística, pois possui uma linguagem focada na forma como
o fotógrafo (emissor/remetente) observa/capta um determinado objeto. Assim
a fotografia fixa um objeto, mas, ao fixá-lo, revela movimentos do emissor, que
escolheu o objeto, preparou tecnicamente a máquina, deu o ângulo e a luz dese-
jada, enfim, as marcas do emissor se fazem visíveis: é o seu olhar sobre o objeto.

Função conativa
Também conhecida como função apelativa, está centrada no destinatário/receptor,

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pois procura estabelecer um diálogo direto com o destinatário da comunicação,
que pode ser mediante uma ordem, exortação, chamamento, invocação, saudação,
pedido ou súplica. A intenção do emissor, ao elaborar sua mensagem enfocando
essa função, é sempre a de se fazer notar pelo receptor.
Geralmente, há certa intenção de convencimento ou influência, de modo
que essa é a função mais incorporada no desenvolvimento de textos publicitá-
rios (propagandas), cartas de caráter profissional e em discursos políticos.
Como o foco da função conativa é o receptor da mensagem, marca-se gra-
maticalmente pela presença da 2ª pessoa do discurso (tu, você; vós, vocês), de
verbos no imperativo e do vocativo. Podemos encontrar o uso dessa função em
fórmulas “mágicas”, como “Abra-te, Sésamo”; ou frases que expressam algum
desejo para outro indivíduo, como “Fique com Deus”, “Se cuide” e até mesmo
“Vá para o inferno!”.
Na maioria das vezes, quando há a tentativa de convencer o receptor de algo,
a função conativa carrega traços de argumentação e persuasão que buscam não
só chamar a atenção do destinatário, mas também moldar seu comportamento.
Nas propagandas, por exemplo, a maneira como a linguagem é utilizada tem
como propósito atingir o receptor. No entanto, muitas vezes, possuem caracte-
rísticas da função poética, surgindo em forma de rimas e jogo de palavras, com
o objetivo de fazer com que o apelo seja mais sedutor ao receptor/consumidor.
É interessante observar que grande parte dos anúncios publicitários utiliza a
linguagem para convencer o outro, ainda que, por vezes, de maneira disfarçada. É
o caso de slogans como “Beba Coca Cola” ou “Compre baton”, que podem pare-
cer suaves em meio às imagens relacionadas. No entanto as frases sugerem uma

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


81

ordem: você (o receptor da propaganda) deve optar por aquele refrigerante, por
aquele chocolate, e não por outro.
Podemos mencionar ainda casos mais simples, cotidianos, do uso da lin-
guagem enfocando essa função, como em “Mãe, vem cá!”, quando a mensagem é
introduzida por um vocativo, assumindo o caráter de chamamento; ou em “Você
já enviou os relatórios?”, com caráter de pedido ao receptor.

Função fática
Primeiramente, a palavra “fática” quer dizer “relativa ao fato”, ou seja, ao que
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está ocorrendo. É aplicada em situações em que o mais importante não é o que


se fala, nem como se fala, mas sim o contato entre emissor e receptor. Por isso,
nessa função, a mensagem está centrada no contato, no canal de comunicação.
O objetivo desse tipo de mensagem é testar o canal, estabelecer, prolongar, rea-
firmar ou interromper a comunicação.
A função fática é considerada uma das mais abrangentes funções da lin-
guagem, pois compreende desde gestos e sons não significativos – como ruídos,
balbucios etc. – até expressões um pouco mais complexas e tautologias diversas.
Alguns gestos, como os movimentos afirmativos com a cabeça que faze-
mos para indicar para o interlocutor que estamos acompanhando o raciocínio e
alguns vícios de fala (“certo?”, “entende?”, “não é?”, “tipo assim” etc.), são alguns
exemplos de ocorrência da função fática. Nesses exemplos, vemos que há uma
necessidade de confirmação do funcionamento efetivo no canal, o que não chega
a ser uma verdadeira comunicação; temos apenas a ilusão de que emissor e recep-
tor comunicam-se. É o caso, por exemplo, da expressão “Alô? Está me ouvindo?”,
quando estamos testando se uma ligação telefônica está funcionando de forma
adequada. Não temos uma verdadeira comunicação, mas uma confirmação de
que o receptor está ouvindo ou não.
Outros exemplos são as conversas monossilábicas em fila de banco, ponto
de ônibus, no elevador, ao telefone etc. Nessas ocorrências, não há a necessidade
de comunicar informação alguma, ou seja, conversa-se apenas para manter o
canal de comunicação em uso e também para evitar o constrangimento que, às
vezes, o silêncio traz.
A função fática aparece, geralmente, nas fórmulas de cumprimento. As

Funções da Linguagem
II

expressões “oi, tudo bem?” ou “como vai, tudo certo?” são, raramente, comuni-
cativas de fato. Isso ocorre porque, na maioria das vezes, usamos essas expressões
apenas para “conectar” o canal de comunicação entre o emissor e o receptor. Se
uma dessas expressões obtiver como resposta “hoje não estou bem, estou muito
mal, pois ontem tive uma febre muito alta e acabei ficando sob observação no
hospital durante toda a noite”, não estará cumprindo a função fática de cordiali-
dade e contato entre as pessoas. Assim, não há um verdadeiro interesse de saber
como a outra pessoa realmente está. Isso se confirma, pois é raro que o receptor
responda outra coisa além de “bem, e você?”. Nesse tipo particular de ocorrên-

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cia, seria muito constrangedor se a pessoa respondesse de outra maneira, como
no caso citado acima, levando a pergunta a sério e respondendo que não está
muito bem com todas as justificativas e que gostaria de desabafar.
Um traço característico da função fática é a tautologia, ou seja, comentar
algo que é evidente, mencionar algo que é totalmente óbvio. Em algumas situa-
ções cotidianas, como as mencionadas acima, falamos “está calor hoje, não é?”
em um dia que está mesmo calor. Todas as pessoas no elevador, no ponto de ôni-
bus ou em uma fila possuem sensibilidade o suficiente para perceber que está
calor. Por isso essa frase não é informativa, isto é, não comunica nada, já que é
uma percepção comum a qualquer indivíduo.
Então, você, caro(a) aluno(a), deve estar pensando: mas para que serve,
então, uma frase como essa?
Conforme temos explicado, esses tipos de frases servem para manter o canal
comunicativo funcionando ou para preservar o contato humano e, até mesmo,
para iniciar um novo contato com alguém, mesmo quando não há informações
relevantes para transmitir.
Pense como seria estranho caso uma pessoa atrás de você, na fila do banco,
começasse a explicar sobre a inflação, sobre os problemas governamentais ou se
nos desse uma vasta justificativa para os acidentes climáticos sem que, ao menos,
direcionássemos uma palavra a essa pessoa. Ao invés de contemplarmos a infor-
mação, provavelmente acharíamos a pessoa chata e inconveniente.
No entanto essas ocorrências são consideradas normais, uma vez que a lin-
guagem funciona dessa maneira na sociedade, com incoerências, julgamentos,
deslizes e gestos vazios.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


83

Para concluir essa função da linguagem, apresentaremos um exemplo de


como a função fática pode estar presente em textos. Vejamos um trecho extra-
ído do livro “A hora da estrela”, da autora Clarice Lispector (1977, p. 19):
[...] Enfim, o que acontecer, acontecerá e por enquanto nada acontece,
os dois não sabiam inventar acontecimentos, sentava-se no que é de
graça: banco da praça pública e de acomodados, nada os distinguiria
do resto do nada para a grande glória de Deus. Ele fala:

ele: − pois é!

ela: − pois é o quê?


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ele: − eu só disse pois é!

ela: − mas pois é o quê?

ele: − melhor mudarmos de assunto porque você não me entende.

ela: − entende o quê?

ele: − santa virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto e já!.

Nesse trecho, é possível observar que Macabéa, protagonista da narrativa, é uma


personagem que vive em silêncio e não sabe se expressar. Olímpico, seu namo-
rado, tenta estabelecer uma conversa, mas não obtém sucesso, pois Macabéa
preocupa-se em achar um significado na expressão “pois é”. Assim notamos a lin-
guagem sendo utilizada em sua função fática. Nesse caso, os interlocutores estão
frente a frente e o objetivo é garantir a comunicação e a atenção do interlocutor.

Função poética
Centralizada na mensagem, a função poética destaca os aspectos criativos ou
expressivos da linguagem. De acordo com Roman Jakobson (1976), a função
poética está presente em textos que, por sua organização, são o próprio centro
de interesse da comunicação. A função poética auxilia no sentido da mensagem
por meio do jogo de sua estrutura, de seu ritmo e de sua sonoridade, já que é
comum o emprego dessa função na poesia, em textos literários (romances, por
exemplo) e na música. No entanto podemos encontrar a função poética na prosa,
em anúncios publicitários, entre outros tipos de texto.

Funções da Linguagem
II

Como dissemos, um dos empregos da função poética está na música, pois a


forma de expressar determinada ideia se torna tão relevante quanto à mensagem.
Podemos afirmar que a música (juntamente com a poesia) é um dos principais
exemplos da função poética, já que dá ênfase à elaboração da mensagem de modo
a ressaltar seu significado, fazendo uso de combinação de palavras, rimas, assim
como a exploração dos sentidos e sentimentos.
Para que essa função fique mais compreensível para você, prezado(a) alu-
no(a), apresentaremos a música “Apenas mais uma do amor3” de um dos grandes
cantores da música popular brasileira, Lulu Santos. Vejamos:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixa assim ficar
Subentendido
Como uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer
Eu acho isso tão bonito
De ser abstrato, baby
A beleza é mesmo tão fugaz

É uma ideia que existe na cabeça


E não tem a menor pretensão de acontecer
Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer
Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber.
[...]

3 Letras. Apenas mais uma de amor. Disponível em: <http://letras.mus.br/lulu-santos/35064/>. Acesso em: 24 jul. 2015.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


85

Assim, é possível notar na música a combinação das palavras que garantem


a sonoridade da letra, além de garantir a expressividade dos sentidos e sentimen-
tos do eu-lírico. Temos aqui o enfoque na própria mensagem, para a forma como
ela foi construída, como foi “embelezada” e o que ela quer transmitir mediante
esses elementos. No entanto é preciso que fique claro que, apesar de ser a função
mais relacionada com o uso artístico da linguagem, não podemos afirmar que
ela seja apenas utilizada em textos artísticos. Como já dissemos anteriormente,
a publicidade também se utiliza dessa função com o objetivo de conquistar o
receptor da mensagem. A importância, então, é dada especialmente à palavra,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em toda sua materialidade, sonoridade etc.


Por isso a organização do texto nas mensagens com função poética coloca as
palavras em primeiro plano, pois a preocupação está em como dizer e não com
o que dizer. O escritor procura não utilizar formas habituais da linguagem, mas
elementos que deixem sua mensagem mais bonita e atrativa ao leitor. Enfim, a
mensagem volta-se para si mesma, ressaltando as características físicas de seus
signos, além de seu estatuto sonoro e visual, o que concorre para um sentido
não previsto em uma mensagem de teor puramente convencional, por exemplo.
Chalhub (2002) acrescenta, ainda, que o texto poético pode ser comparado
aos sonhos, pois, a partir da concepção de Freud, o texto poético, assim como
os sonhos, deve ser desvendado. Ou seja, é preciso vasculhar sua estrutura, suas
aproximações e a lógica interna que o compõe, para só assim conseguir alcan-
çar a mensagem que está sendo veiculada.
Por fim, é importante saber que, além do uso poético da linguagem escrita,
a função poética também pode ser encontrada em filmes, pinturas, fotografias
etc., pois o trabalho de composição de cores, a organização das formas, o encaixe
das cenas, entre outros aspectos estilísticos são, igualmente, preocupações com
a estrutura da mensagem, sendo, portanto, formas de utilizar a linguagem de
forma poética.

Função metalinguística
Centralizada no código, a função metalinguística serve para dar explicações ou
precisar o código utilizado. Para que fique mais claro, apresentaremos a defini-
ção de Chalhub (2002, p. 48), código é “um sistema de símbolos com significação

Funções da Linguagem
II

fixada, convencional, para representar e transmitir a organização dos seus sinais


na mensagem, circulando pelo canal entre a emissão e a recepção”.
Nessa função, a linguagem é utilizada para tratar dela mesma. O exemplo
mais comum de uso da função metalinguística é o dicionário: as palavras (os
verbetes) procuram explicar os sentidos e os usos de outras palavras, até mesmo
de outra língua, ou seja, a linguagem fala da própria linguagem.
A metalinguagem, então, é a função que empregamos quando falamos do
próprio código. Melhor dizendo: em língua portuguesa, utilizamos a metalin-
guagem quando falamos da própria língua portuguesa, como para apresentar

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
definições, explicações etc. Por exemplo, filmes que falam sobre a produção de
filmes são metalinguísticos ou uma fotografia de alguém fotografando também
é considerado como metalinguístico. A ideia da metalinguagem é sempre a de
usar o próprio código para falar sobre o código.
Apesar de não parecer, usamos muito a metalinguagem em nosso cotidiano.
Por exemplo, toda vez que consultamos um dicionário; quando questionamos
nosso interlocutor sobre algo que ele nos conta ou explica, fazendo, inconscien-
temente, que ele recorra à função metalinguística para melhor se expressar; no
uso de legendas de filmes; em trabalhos científicos; e, ainda, quando reformu-
lamos a frase do nosso interlocutor para confirmar nossa compreensão (“Então
você quer dizer que...”) estamos lidando com a metalinguagem.
Além dessas ocorrências, Chalhub (2002, p. 51) aponta que a moda igual-
mente pode ser um caso de uso da função metalinguística. Para a autora, “a
moda, e seu objeto roupa também operam metalinguisticamente no círculo de
sua história”. Acrescenta que, nesse contexto, as roupas compõem um sistema
de sinais que, por conseguinte, compõem uma mensagem, uma vez que, como
afirma a autora, “no suporte corpo do usuário, há um recorte da seleção do código
(mesmo quando não selecionada para combinar, a displicência informa a displi-
cência...)” (CHALHUB, 2002, p. 51).
Dessa maneira, todos os sistemas de sinais podem ser utilizados com fun-
ção metalinguística. A crítica literária, as artes plásticas, a tradução, algumas
poesias que explicam a própria poesia. Até mesmo o texto que você está lendo
aqui, aluno(a) de Secretariado, é metalinguístico, já que está estruturado em
Língua Portuguesa e fala de aspectos teóricos da própria Língua Portuguesa.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


87

Você, estudante, também está em contato frequente com a metalinguagem, pois,


quando estuda, faz atividades de elaborar conceitos e definições, tentando expli-
cá-los com suas próprias palavras. Enfim, para a função metalinguística, nada é
mais importante do que a própria palavra e seus desdobramentos.
Vejamos um exemplo da função metalinguística na crônica de Mario Quintana
(1983, p. 176), na qual ele discorre sobre o dicionário:

Dicionários
Embora o meu vocabulário seja voluntariamente pobre – uma espécie de Brasilei-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ro Básico – a única leitura que jamais me cansa é a dos dicionários. Variados, su-
gestivos, atraentes, não são como os outros livros, que contam a mesma estopada
do princípio ao fim. Meu trato com eles é puramente desinteressado; um modo
disperso de estar atento... e esse meu vício é, antes de tudo, inócuo para o leitor.
Na minha adolescência, todo e qualquer escritor se presumia de estilista, e isso,
na época, significava riqueza vocabular... Imagine-se o mal que deve ter causado a
autores novos e inocentes o grande estilista Coelho Neto; grande infanticida, isto
é o que ele foi.
Orgulhávamo-nos, como das nossas riquezas naturais, da opulência verbal de Rui
Barbosa. O seu fraco, ou seu forte, eram os sinônimos. Recordo certa página em
que ele esbanjou seus haveres com as pobres mulheres da vida, chamando-as de
todos os nomes, menos um.

Nessa crônica, Mario Quintana explica sua relação com os dicionários, que pos-
suem a finalidade de explicar os códigos linguísticos, em que a palavra explica
a palavra, por isso, sua paixão pelos dicionários, pela metalinguagem contida
nesses objetos que, segundo ele, não cansam o leitor que possuem uma história
com início, meio e fim, mas que instigam o pela riqueza das palavras.
Por fim, a função metalinguística não tem o objetivo de significar por si, mas
dizer o que a palavra significa. Isso nos mostra que conhecer as funções da lin-
guagem contribui para o entendimento de cada mensagem enunciada, quer ela
esteja em um contexto linguístico ou não.
Assim finalizamos as funções de linguagem. No entanto apresentamos ape-
nas um apanhado geral, de modo que, se você pesquisar sobre esse conteúdo,
ainda encontrará muitas informações relevantes. Por isso sugiro que você bus-
que em outras fontes os assuntos estudados, a fim de aprofundar cada vez mais
seus conhecimentos.

Funções da Linguagem
II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim desta unidade. E, para concluir, vamos retomar um pouco do


que discutirmos. Se bem se lembra, começamos a estudar que a linguagem, de
forma geral, possui uma função social. Ou seja, é importante que não esque-
çamos que há algo na escrita (e na fala) que é relevante socialmente e que esse
algo é a capacidade que temos de nos comunicar desconsiderando barreiras de
tempo e espaço.
Claro que não podemos esquecer que há meios técnicos que fazem com que

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a comunicação oral também desconsidere tais barreiras, como a produção e a
veiculação de vídeos, por exemplo, mas há, ainda, informações que são trans-
mitidas de forma mais adequada pela escrita, como também há situações em
que só a escrita é possível.
Pensando em todos os aspectos relacionados à função social, trabalhamos
sobre as teorias da comunicação. Como vimos, há uma multiplicidade de teo-
rias que discorrem sobre esse assunto, o que torna inviável apresentar todas as
maneiras de estudar as teorias da comunicação neste livro.
Falamos sobre as funções da linguagem com base em Roman Jakobson e
discorremos sobre a função referencial, emotiva, conativa, fática, poética e meta-
linguística, mostrando alguns exemplos e comentando a respeito de algumas
caraterísticas estilísticas.
Desejo que tudo o que foi visto até então enriqueça fortemente seus conhe-
cimentos sobre o processo de comunicação e que essas informações contribuam
para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Continue firme em seus estudos e até a próxima unidade!

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA


89

1. A comunicação assume importante papel na rotina do profissional de Secreta-


riado Executivo, que precisa saber usá-la de maneira clara e eficiente para alcan-
çar os objetivos pretendidos. Imagine-se no exercício de sua profissão e mostre
a importância de compreender o funcionamento da comunicação.
2. Leio um trecho da música “Sinal Fechado”, de Chico Buarque:
Olá! Como vai?
Eu vou indo. E você, tudo bem?
Tudo bem! Eu vou indo, correndo,
Pegar meu lugar no futuro... E você?
Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono
Tranquilo, quem sabe?
Pois é, quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos negócios...
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
[...]

Diante do contexto apresentado no trecho da música, diga qual a função de lin-


guagem predominante e justifique sua escolha.
3. Descreva a importância de compreender o que significa a expressão “função
social da escrita”.
A linguagem e seus aspectos comunicacionais
O trecho a seguir, extraído do livro “Usos da linguagem”, de Francis Vanoye (2003), traz
um aprofundamento sobre as funções da linguagem. De acordo com o autor, a língua
está a serviço de duas funções principais:
1ª um sistema de respostas por meio do qual os indivíduos se comunicam – a comuni-
cação interindividual;
2ª um sistema de respostas que auxilia o pensamento e a ação do indivíduo – a comu-
nicação intraindividual.
Aquela transmite informação, pensamento e sentimento de um indivíduo para outro,
esta facilita o “ato de pensar” e, consequentemente, o próprio comportamento indivi-
dual.
Aristóteles (384-322 a.C.) já havia se preocupado com a problemática da comunicação, a
partir do seguinte aspecto: a busca de todos os meios possíveis de comunicação implica
a pessoa que fala (quem), o discurso que se pronuncia (o que) e a pessoa que escuta
(quem).
Nesse sentido, a comunicação pode ser encarada sob três perspectivas diversas, que
resumem as funções fundamentais da linguagem. Do ponto de vista de quem fala (tra-
ta-se aqui de expressar um pensamento, sentimento ou desejo) é um sintoma, de quem
ouve (uma chamada que é respondida com uma ação verbal ou não) é um sinal, da
comunicação (da coisa da qual se fala) é um símbolo.
No quadro a seguir, é possível verificar como isso fica sistematizado.

EXPRESSÃO REPRESENTAÇÃO APELO


Eu Ele Tu
Linguagem de primeira Linguagem de terceira Linguagem de segunda
pessoa é o próprio falante. pessoa que fala das coisas pessoa, aquele a quem se
sobre as quais se diz algo. dirige o enunciado, atuan-
do sobre ele.
Preponderante na lírica Fala de objetos e relações Pronomes demonstrativos,
linguagem imperativa ou
de comando.
Sou bem nascido, Menino O Brasil vai entrar na era Vem cá, João!
Fui como os demais, feliz atômica. Fica quieto, piá!
Depois veio o mau destino Governo legaliza venda da
Cruzeiro.
E fez de mim o que quis.
Sintoma Símbolo Sinal
91

Conforme exemplifica o quadro e como vimos no decorrer desta unidade, a comuni-


cação é dialógica, interacional, envolvendo sempre a tríade “eu-ele-tu”, na qual o “eu”
refere-se a quem fala; o “ele”, que pode ser considerado como o “assunto”; o “tu” para
quem dirige-se a fala.
Fonte: baseada em Francis Vanoye (2003).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Manual de teoria da comunicação


J. Paulo Serra
Editora: Livros Labcom, 2007
Sinopse: a comunicação assumiu um lugar tão central
na nossa sociedade que se tornou corrente a afirmação
de que vivemos em plena “sociedade da comunicação”;
uma tal expressão tornou-se mesmo tema de
congressos dos cientistas da comunicação.
Por que é que a nossa sociedade se tornou uma
sociedade de tal forma “conquistada pela comunicação”
que, quer individual, quer coletivamente, nos
encontramos submetidos a uma verdadeira “obrigação de comunicação”?
“Manual da Teoria da Comunicação”, escrito por Joaquim Paulo Serra, é dividido em duas partes. A
primeira chama-se “Questões Epistemológicas”, na qual se discute o estatuto do conhecimento das
comunicações – de onde surgiram as suas fontes e o seu campo de conhecimento.
Na segunda parte, chamada “Teoria da Comunicação”, são apresentados os tópicos e as teorias da
comunicação que consideramos fundamentais.

Técnicas de comunicação escrita


Izidoro Blikstein
Editora: Ática
Sinopse: o livro “Técnicas de comunicação escrita”, de
Izidoro Blikstein, destaca os principais erros e acertos
cometidos na comunicação escrita. O autor dá uma aula
de como escrever bem e ter um bom resultado com a
escrita.
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine

III
UNIDADE
O PROCESSO DE LEITURA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender como ocorre o processo de leitura.
■■ Entender o quanto leitura e escrita estão interligadas para a
construção do sentido no texto.
■■ Conhecer o processo de significação nas ações de ler e escrever.
■■ Refletir sobre o papel da leitura competente na vida dos indivíduos.
■■ Proporcionar o suporte teórico para o desenvolvimento das
habilidades comunicativas relacionadas à atividade do Secretariado
Executivo.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O processo de leitura
■■ O desenvolvimento de habilidades de leitura
■■ Relação entre leitura e escrita
■■ Leitura e o processo de significação
■■ Leitura como fonte de conhecimento e autonomia do sujeito
95

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), procurei, na primeira unidade, levar até você o entendimento de


quais estruturas podem ser consideradas textos e como os sentidos são construí-
dos a partir do texto. Tratamos dos fatores de textualidade, dos chamados fatores
pragmáticos – os quais, juntos, colaboram consideravelmente para a construção
de sentidos de um texto – e dos fatores linguísticos, isto é, coesão e coerência tex-
tual. Além disso, vimos os aspectos que interferem na construção do parágrafo.
Na segunda unidade, tratamos de questões teóricas relacionas ao processo comu-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nicativo que envolve a leitura e a escrita, além de enfatizar também como é


indispensável entender que a escrita, assim como a leitura, possui uma utilidade
social, pois a linguagem, de forma geral, possui uma função social. Abordamos,
ainda, conhecimentos relacionados às teorias de comunicação e conhecemos
sobre as funções da linguagem.
Nesta terceira unidade, convido você a, primeiramente, dar continuidade
ao estudo da linguagem como atividade interativa, entendendo que a língua é
compreendida em sua dimensão sócio-histórica e isso significa considerar a
presença de sujeitos inseridos em grupos sociais específicos e realizadores de
práticas sociais.
Estudaremos, portanto, o processo de leitura, pois ler não é somente decodi-
ficar letras que, unidas, formam palavras, que formam frases e assim por diante.
“Ler” é ler também o que não está escrito: é buscar o que está subentendido,
implícito, o que se pressupõe, é vasculhar o que a pessoa que escreveu imagi-
nava que você já soubesse, de modo que fizesse referência a esse conhecimento
anterior para se aprofundar naquela leitura, ampliando seu campo cognitivo.
A necessidade de apreender o processo da leitura torna os sujeitos autôno-
mos, independente do meio em que ele está inserido. O reconhecimento da leitura
já era retratado nas antigas civilizações como um instrumento para se chegar
ao poder, ou seja, as pessoas que sabiam ler eram respeitadas como soberanas.

Introdução
III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O PROCESSO DE LEITURA

“A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil; e o


escrever dá-lhe precisão”.
Francis Bacon
Primeiramente, acredito ser importante definir leitura, por mais simples e básico
que seja o termo, mesmo já tendo o mencionado na introdução. De maneira bem
simplista, leitura é o que ocorre quando alguém olha para um texto qualquer
(verbal ou não verbal) e atribui sentido1 aos símbolos gráficos nele inseridos.
Para Martins (1993), começamos a ler quando passamos a entender e a atri-
buir sentido ao que acontece a nossa volta. A partir do momento em que damos
início à organização dos conhecimentos que adquirimos, que passamos a lidar
com as diversas situações que a realidade nos impõe e de como devemos dire-
cionar nossa atuação nela, estamos procedendo a leitura, o que nos habilita a
ler tudo e qualquer coisa.
Convencionalmente, ler é entendido como receber, tirar, transmitir conhe-
cimento. No entanto, a partir de estudos sobre o processo de leitura, o termo

1 Alguns autores apresentam distinções entre os termos “sentido” e “significado”, embora outros não façam essa
diferenciação.

O PROCESSO DE LEITURA
97

passou a possuir outro sentido, direcionado a uma visão interativa e dinâmica.


Atualmente, a leitura é vista como uma atividade dialógica, um processo de
interação que se realiza entre autor e leitor, mediado pelo texto, estando todos
os elementos envolvidos situados em determinado momento histórico e social.
De acordo com Geraldi (2004), a leitura é um processo de interlocução entre
autor/leitor mediado pelo texto. O autor acredita que o movimento de produ-
ção e leitura, as quais precisam estar integradas, é para nós um movimento que
vem da produção para a leitura e desta retorna à produção.
Geraldi (2004) destaca também quatro possíveis posturas de leitores ante
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o texto:
I. A leitura “busca de informações” – o objetivo do leitor é extrair do texto
alguma informação pontual. Segundo o autor, aqui, o leitor está em busca
de uma resposta e vem, portanto, a fazer uma pergunta ao texto.
II. A leitura “estudo do texto” – o leitor quer “escutar” o texto, isto é, ele quer
retirar do texto tudo o que este possa oferecer, diferente de buscar uma
resposta particular, como no tipo de leitura acima.
III. A leitura “pretexto” – nesse tipo de leitura, o leitor deseja usar o que lê
na produção de outros textos.
IV. A leitura “fruição do texto” – aqui, o interesse é ler por prazer, ou seja,
ler por ler, gratuitamente.

Para Kleiman (2004), a leitura é uma atividade complexa, pois envolve múlti-
plos processos cognitivos, que são utilizados pelo leitor ao construir o sentido de
um texto, já que essa atividade não se dá linearmente, ou seja, em que o signifi-
cado das palavras seria acumulado até constituir o significado completo do texto.
Por isso a leitura deve ser compreendida como um processo ativo e dinâ-
mico, pois o texto não possui significado em si mesmo, ele evoca significados
a partir das relações sócio-históricas que estabelece. Assim o contexto social é
um elemento que deve ser levado em consideração, já que a leitura é uma prá-
tica social.
Essas considerações nos levam a perceber que a leitura não é uma mera ação
de apropriação de significados, mas uma atividade de recriação, reconstrução
de ideias. Como afirma Kleiman (2004, p. 80), a leitura “pressupõe a figura do

O Processo de Leitura
III

autor presente no texto através de marcas formais que atuam como pistas para a
reconstrução do caminho que ele percorre durante a produção de texto”.
Baseado em tais afirmações, podemos reforçar a ideia de que a leitura deve
ser entendida como processo e não como produto, uma vez que, nas palavras
de Kleiman (2004, p. 36), o texto “não traz tudo pronto para o leitor receber de
modo passivo”, pois, ao ler, o leitor utiliza sua bagagem cultural, isto é, seu conhe-
cimento de mundo para construir sentidos e, consequentemente, compreender
as informações presentes no texto.
Desse modo, o leitor possui liberdade para construir sentidos, mas ele é, de

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certa maneira, limitado pelos significados trazidos pelo texto e pelas suas condi-
ções de uso. Ou seja, o texto é originado a partir de significados atribuídos pelo
autor e é recontextualizado pelo leitor, que procura atribuir-lhe sentidos a par-
tir do que já sabe e com o que o autor propõe. Enfim, o texto constrói-se a cada
leitura, não trazendo em si um sentido preestabelecido pelo seu autor, mas uma
orientação para os sentidos possíveis.
As considerações de Soares (2000) sobre a definição de leitura sintetizam o
papel do leitor e do autor no processo de leitura:
Leitura não é esse ato solitário; é interação verbal entre indivíduos, e in-
divíduos socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na
estrutura social, suas relações com o mundo e com os outros; o autor,
seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo
e os outros (SOARES, 2000, p.18).

Assim, ao longo do tempo, a leitura deixou de ser considerada uma simples


decodificação de itens linguísticos contidos no texto e tornou-se um processo
dinâmico de construção de sentidos, no qual o leitor passou a ser considerado
um criador de sentido e não apenas um receptor de mensagem, assumindo um
papel de “co-autor”, pois a construção de sentidos na leitura ocorre na medida
em que o leitor, para compreender a ideia presente no texto, deve desempenhar
uma função ativa no processo, estabelecendo relações entre o seu conhecimento
prévio (bagagem cultural, vivências de mundo), as formas linguísticas presentes
no texto e o conhecimento construído a partir da leitura.
Com relação à compreensão de um texto, Marcuschi (2008, p. 229) afirma que:

O PROCESSO DE LEITURA
99

Compreender bem um texto não é uma atividade natural nem uma


herança genética; nem uma ação individual isolada no meio e da
sociedade em que se vive. Compreender exige habilidade, inte-
ração e trabalho. Na realidade, sempre que ouvimos alguém ou
lemos um texto, entendemos algo, mas nem sempre essa com-
preensão é bem sucedida. Compreender não é uma ação apenas
linguística ou cognitiva. É muito mais uma forma de inserção
no mundo e um modo de agir sobre o mundo na relação com o
outro dentro de uma cultura e uma sociedade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Dessa maneira, podemos afirmar que a compreensão de um texto depende não


só de fatores internos de texto, como também externos, tais como a experiên-
cia de mundo do leitor, seus conhecimentos prévios, o contexto situacional em
que está inserido, entre outros. Isso mostra que a leitura tornou-se uma verda-
deira atividade social.
Por isso, caro(a) aluno(a), na opinião de alguns autores, o indivíduo que
pouco lê apresenta dificuldades na compreensão textual, já que, à medida que
lemos, formamos diferentes interpretações a partir de um mesmo conteúdo.
Como dissemos, cada leitor possui experiência de vida e conhecimento prévio
diferentes sobre aquilo que lê, que serão acrescentados às ideias apresentadas
no texto. Ao analisar esse processo, é possível aceitar uma pluralidade de leitu-
ras e sentidos em relação a um mesmo texto.
Todo esse processo de leitura e compreensão ocorre de maneira dinâmica,
em que o leitor ativo intervirá no texto e, a partir das informações dadas, con-
fere e atribui significado ao que está escrito.

“O que o leitor vê no texto vai depender do seu nível de competência” (LIRA,


2006, p. 49).

O Processo de Leitura
III

Logo, o indivíduo que faz da leitura uma prática constante terá mais facilidade
para associar ideias, fazer relações intertextuais, diferentemente daquele que não
lê ou recorre pouco à leitura, que terá mais dificuldade em obter uma compre-
ensão linguística adequada.
Enfim, desenvolvendo a leitura, o indivíduo terá mais facilidade para com-
preender os sentidos do texto. De acordo com Solé (1998), a leitura é “o processo
mediante o qual se compreende a linguagem escrita”. Sendo assim, é importante
que tenhamos consciência de que fazer do ato de ler um hábito nos auxiliará no
desenvolvimento pessoal e profissional.

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O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES DE LEITURA

A leitura é uma das habilidades mais fundamentais que o indivíduo pode desen-
volver, pois é a partir da leitura de mundo em conjunto com a leitura dos mais
variados textos que o indivíduo compreende a realidade em que está inserido e
participa da sociedade, na qual consegue estabelecer relações e chegar a impor-
tantes conclusões sobre o mundo e os aspectos que o compõem.
Além disso, desenvolver habilidades de leitura auxilia no estudo de outras
áreas do conhecimento, refletir sobre as ideias, formular opinião, enfim, é rele-
vante formar um leitor competente, que consiga ler qualquer texto da sociedade,
compreendê-lo e fazer uso de seus conhecimentos para conseguir interagir na
sociedade em que convive.
Segundo Menegassi (2005), alguns procedimentos são utilizados consciente
ou inconscientemente pelo leitor a fim de se decodificar, interpretar e compreen-
der o texto e, dessa forma, resolver os possíveis problemas que são encontrados
durante a leitura.
De acordo com o referido autor, o indivíduo deve desenvolver quatro habi-
lidades. São elas: seleção, antecipação, inferência e verificação. Essas habilidades
são consideradas fundamentais para que se inicie o processo de compreensão de
um texto. Vejamos cada uma delas:

O PROCESSO DE LEITURA
101

Seleção
Essa habilidade diz respeito à ação, desempenhada pelo leitor, de concentrar-se
apenas naquilo que é útil para sua compreensão do texto. Assim é preciso que o
leitor despreze aqueles itens considerados irrelevantes em sua leitura. Podemos
relacionar essa habilidade a um “filtro” dentro de nosso cérebro, que seleciona
apenas o que nos interessa no ato da leitura.
A partir da afirmação feita por Solé (1998, p. 30), “o leitor faz a síntese da
parte mais interessante do texto para os objetivos que determina a leitura”. Dessa
forma, podemos dizer que o leitor tem interesses próprios na construção de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

significados, pois, nesta habilidade, cada leitor se prende às informações que


considera relevantes para si, e isso não é idêntico para todos os leitores: é uma
ação subjetiva que se faz mediante a leitura do texto.

Antecipação
Nessa habilidade, o leitor emite prognósticos sobre o texto lido, chegando-se, com
isso, à antecipação do conteúdo, ou seja, é possível “adivinhar” o que ainda está por
vir, com base nos conhecimentos prévios ou suposições. Ao realizar sua leitura,
o leitor, por meio dos implícitos e explícitos presentes no texto, projeta hipóte-
ses e previsões sobre os sentidos e/ou significados constantes em determinada
sequência verbal escrita. O gênero textual, o autor, o título, o vocabulário, entre
outros, nos informam, antecipadamente, o que poderemos encontrar no texto.
Quando ocorre a seleção junto com a antecipação, é válido mencionar que
pode ocorrer uma compreensão eficiente dos sentidos do texto. Além disso, as
antecipações emitidas pelo leitor podem ou não se confirmar.
A construção dos significados é direcionada pela forma como realizamos a
leitura de um texto. No momento em que vamos adquirindo as informações por
meio da leitura, essas informações estarão sendo processadas com uma lógica de
organização. Assim a antecipação é uma maneira de pôr em ordem todo conhe-
cimento disponível para uma significação da leitura.

Inferência
Essa habilidade remete ao conhecimento prévio do leitor. Para Menegassi (2005),
essa habilidade refere-se a ações que unem o conhecimento que não está explícito

O Desenvolvimento das Habilidades de Leitura


III

no texto, porém possível de ser captado, com o conhecimento que o leitor tem
sobre o assunto. Ao ler um texto, o leitor aciona os conhecimentos prévios que
tem armazenado em sua memória sobre o tema. Dessa forma, uma nova infor-
mação é construída.
A inferência é uma habilidade de leitura básica, pois por meio dela o leitor
complementa a informação disponível no texto, utilizando-se das pistas que o
próprio texto oferece ou baseando-se em seu conhecimento de mundo.
Ao tratar desse assunto, Koch (2008) discorre sobre o dado e o novo. A par-
tir do que a autora diz, podemos afirmar que o dado equivale ao conhecimento

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
prévio que apresentamos aqui. Nas palavras de Koch (2008, p. 38):
A estrutura informacional de um texto exige a presença de elementos
dados e elementos novos. É com base na informação dada, responsável
pela locação do que vai ser dito no espaço cognitivo do interlocutor,
que se introduz a informação nova, que tem por função introduzir
nele novas predicações a respeito de determinados referentes, com o
objetivo de ampliar e/ou reformular os conhecimentos já estocados a
respeito deles.

De maneira semelhante, Marcuschi (2008) assevera que a inferência é uma ati-


vidade cognitiva que realizamos quando reunimos informações conhecidas para
chegarmos a informações novas.

Verificação
A verificação diz respeito ao momento em que o leitor confirmará ou não as
hipóteses e inferências que projetou durante sua leitura. Essa confirmação, ou
não, se constrói no processamento da leitura do texto. Quanto mais antecipa-
ções e inferências confirmadas, mais o leitor vai vendo sentido no que está lendo.
Se, por acaso, elas não venham a se confirmar, ficará a cargo do leitor procurar
mudar sua maneira de ler, não desistindo de alcançar uma leitura competente.
As habilidades de leitura estão relacionadas com as estratégias de compreen-
são textual, que ocorrem antes, durante e após a leitura. Com essas informações,
é possível auxiliar o leitor no alcance da produção de sentidos e da compreen-
são eficiente de um texto.
Antes da leitura, algumas estratégias são válidas e conduzem a uma leitura efi-
ciente no decorrer do texto. É importante que o leitor tenha bem claro os objetivos

O PROCESSO DE LEITURA
103

para o qual está lendo determinado texto. Solé (1998) aponta a relevância dos
conhecimentos prévios que precisam ser ativados antes da leitura, que orien-
tam o leitor sobre o que ele sabe e sobre o que não sabe sobre o assunto do texto.
Semelhante ao que vimos na antecipação é relevante também que, antes da
leitura, sejam estabelecidas previsões sobre o texto, como, por exemplo, fazer a
pergunta “do que será que o texto tratará?”.
Durante a leitura, algumas estratégias devem ocorrer simultaneamente,
como: formulação de previsões e perguntas, esclarecimento de dúvidas, resumos
de ideias, avaliação do caminho percorrido e relacionamento da nova informa-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ção adquirida do texto ao conhecimento prévio armazenado.


Após a leitura, torna-se necessária a identificação da(s) ideia(s) principal(s)
do texto lido. Com isso, é possível confirmar se houve ou não a compreensão
do texto por parte do leitor.
De acordo com Menegassi (2005), o leitor pode desenvolver algumas ações
para se chegar à ideia principal do texto, como sublinhar partes que considerar
importante; grifar palavras relevantes, que aparecem mais de uma vez e que, pos-
sivelmente, estejam relacionadas à ideia fundamental do texto; fazer anotações
breves ao fim de cada parágrafo, sintetizando as ideias; distinguir, no interior de
cada parágrafo, os exemplos das explicações. Enfim, tais estratégias, com certeza,
ajudarão o leitor a encontrar a ideia principal de um texto.
O autor acrescenta ainda que:
Além disso, o leitor pode produzir, ao final da leitura, um resumo es-
crito, que pode ser construído a partir do emprego da estratégia de for-
mular e responder perguntas. Todas essas estratégias são produzidas
depois da leitura, colocando o leitor em situação de trabalho com o
texto (MENEGASSI, 2005, p. 96).

Perceba, prezado(a) aluno(a), que a leitura está sempre presente no meio social.
Uma leitura adequada, que pode ser obtida por meio do desenvolvimento das
habilidades propostas aqui, leva o indivíduo à capacidade de comunicação, de
extração e divulgação de informações, enfim, a leitura, como uma verdadeira
atividade social, transforma o sujeito em um cidadão crítico e participativo das
relações sociais, que sabe se posicionar diante das mais variadas situações e
contextos.

O Desenvolvimento das Habilidades de Leitura


III

Assim, em qualquer lugar, seja ele pessoal ou profissional, estaremos diante


de situações que requerem o uso da habilidade de leitura. No mundo contempo-
râneo, inúmeras são as tarefas que dependem de um leitor competente. A leitura
está presente no dia a dia das pessoas e exige delas habilidades e estratégias que
levem à produção do conhecimento, com ênfase em uma leitura crítica, como
forma de recuperar as informações acumuladas historicamente e utilizá-las de
modo eficiente e produtivo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
RELAÇÃO ENTRE LEITURA E ESCRITA

Temos visto, cada vez mais, a


evolução acelerada do conhe-
cimento e a difusão exacerbada
de informações, que implicam
em uma maior necessidade de
ler, compreender e saber escre-
ver com clareza e competência.
Diante disso, nossa sociedade
se torna cada vez mais letrada,
mais envolta em textos e men-
sagens escritas, dependendo
gradativamente do conhecimento alfabético.
No contexto acadêmico e profissional, a habilidade de ler e compreender
exige um elevado nível de capacidade e competência ao se associar a questões
como as de acesso à informação, as de adequação das estratégias e enfoques aos
objetivos da leitura, como também às de assimilação de conteúdos e ativação do
conhecimento prévio, que se configuram como uma competência fundamen-
tal para o leitor eficiente.
Na sociedade da informação e devido ao fato de a maioria de nós termos
aprendido a ler e escrever quando criança, torna estranho o pensamento de um

O PROCESSO DE LEITURA
105

mundo sem textos. Nessa perspectiva, Cagliari (1999, p. 163) diz que “para quem
sabe ler, a escrita parece algo fácil e simples”. No entanto adverte que isso é uma
impressão equivocada, visto que foi preciso muito tempo para que as letras e
os números chegassem a uma forma apropriada ao uso geral entre pessoas das
mais diversas classes sociais. Assim o autor afirma que “para quem não sabe ler,
o mundo da escrita é um mistério” (CAGLIARI, 1999, p. 163).
A partir dessas considerações, Cagliari (1999, p. 163) explica que “na História
da Humanidade, sempre foi mais importante saber ler do que saber escrever, mas,
para saber ler, é preciso conhecer como funcionam os sistemas de escrita”. Com
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isso, é relevante entender que as duas atividades estão intrinsecamente relacio-


nadas desde a sua origem.
Acredito ser importante fazermos algumas considerações acerca da histó-
ria da escrita para que, posteriormente, você consiga relacionar o ato de ler ao
de escrever.
A escrita surgiu por volta de 3100 a. C., na Suméria, um país localizado
onde hoje se encontram o Irã e o Iraque. Essa região era chamada, na época, de
Mesopotâmia. De acordo com Goodman (1991, p. 13), a escrita foi criada con-
forme o comércio e as estruturas políticas emergiram, de modo que sua finalidade
inicial era a contabilidade.
Naquela época, a escrita era ideográfica, ou seja, representava de forma ima-
gética os objetos aos quais fazia referência, além de números que quantificavam
esses objetos. Para o povo daquele tempo, o mais essencial era registrar os obje-
tos possuídos, sem propósitos culturais ou filosóficos, os quais surgiram apenas
algum tempo depois, com a expansão da cultura para além da esfera da tradição
oral como também com a preocupação em preservar essa cultura e transmiti-
-la às gerações seguintes.
A estrutura da linguagem escrita sofreu grandes transformações. Em algum
momento do passado, a humanidade lia os acontecimentos do mundo e os trans-
mitia apenas oralmente. Mas, com o tempo, surgiu a necessidade de registrar o
que conhecia para consultas posteriores e, nesse momento, foi desenvolvido um
código. Por meio dele, as informações registradas poderiam ser obtidas por todos
aqueles que tivessem domínio de tal código. Logo, para compreender o registro,
o indivíduo precisava conhecer aquele código que fora criado.

Relação entre Leitura e Escrita


III

A escrita surgiu, dessa forma, de modo concomitante à leitura dessa mesma


escrita. Entretanto as gerações futuras precisariam, primeiramente, conhecer o
código, entender ao que ele fazia referência em cada um de seus usos, para só
assim conseguir agregar novas informações ao registro escrito.
Diante dessa breve retomada da história da escrita, confirma-se o que vimos
estudando até aqui: a leitura é a capacidade de entender um texto escrito, alcan-
çando nele a mensagem que ele veicula. Assim ler é muito mais do que a decifração
de sinais gráficos, é um ato de raciocínio para a construção de uma interpretação
da mensagem escrita. Do mesmo modo que a leitura de mundo de cada indivíduo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
antecede e determina a leitura de um texto, a escrita também está subordinada
a essas duas. Isso nos faz retomar uma frase muito reconhecida, a qual afirma
que “quem lê bem, escreve bem”. Diante disso, saber apenas as regras não é o
suficiente. Para escrever, é fundamental ser leitor(a) e, mais do que isso, possuir
uma leitura de mundo a respeito daquilo que se escreve. Por isso, não há como
dissociar as relações entre mundo, leitura, escrita e gramática, esta última como
ferramenta para possibilitar uma boa leitura/escrita sobre o mundo.

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura


desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Linguagem
e realidade se prendem dinamicamente”.
Fonte: Paulo Freire.

Ao refletirmos sobre a relação entre a leitura e a escrita, podemos pensar no texto


escrito como uma “via de mão dupla”, isto é, independente das informações que
o texto possua, não basta que ele possa expressar o que foi pretendido pelo escri-
tor/autor: ele também deve ser compreendido por quem lê. Em vista disso, o texto
deve ser legível, compreensível, tanto em nível de técnica (uso adequado da lín-
gua) quanto na exposição das informações. Ademais, o escritor pode se preocupar,
igualmente, com a questão do estilo, que direciona o interesse do leitor pelo texto.

O PROCESSO DE LEITURA
107

Sobre o ato de escrever, Smith (1999) assinala que aprendemos a escre-


ver a partir daquilo que nós lemos, pois tudo o que é necessário saber para se
escrever está nos textos que já existem. Esse “tudo”, de acordo com o autor, não
está relacionado apenas às regras de como estruturar um texto em início, meio
e fim ou do tamanho do parágrafo. Para o autor, o essencial é como dizer as coi-
sas ao escrever para que elas conduzam aos sentidos esperados.
Existem grandes divergências nas teorias que discorrem sobre a relação entre
leitura e escrita. Alguns autores afirmam que as pessoas aprendem a escrever
escrevendo e a ler lendo. Há outros que dizem que os indivíduos aprendem a ler
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escrevendo e a escrever lendo.


Ficou confuso(a)? Pois é, isso para mostrar que leitura e escrita são profunda e
intrinsecamente relacionadas, de tal modo que uma está constantemente influen-
ciando e modificando a outra. Por isso, caro(a) aluno(a), torna-se importante
ser leitor, pois, dessa forma, você poderá se tornar um(a) bom(a) escritor(a), e
tudo o que você souber sobre escrita influenciará na sua postura e desempenho
como leitor(a). Contudo, não se pode esquecer que leitura e escrita relacionam-
-se também com o mundo e com todo o conhecimento prévio do indivíduo.
Como já estudamos, a língua escrita é um veículo de comunicação e, como tal,
possui usos determinados, não se desenvolvendo a partir de atividades aleató-
rias e sem objetivo definido.

Paulo Freire foi uma figura de destaque na defesa da alfabetização de jovens


e adultos. Além disso, seu nome está relacionado à defesa de uma leitura
crítica, que fosse muito além da decodificação das letras e, consequente-
mente, das palavras, pois ele acreditava que, por meio da leitura crítica, o
indivíduo seria capaz de ler o mundo.
Para saber mais sobre o assunto, acesse o link disponível em: <http://www.
dhnet.org.br/direitos/militantes/paulofreire/paulo_freire_a_importancia_
do_ato_de_ler.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2015.
Fonte: a autora.

Relação entre Leitura e Escrita


III

LEITURA E A PROCESSO DE SIGNIFICAÇÃO

Como temos estudado no decorrer desta unidade, o processo de leitura trans-


cende a simples decodificação, visto que ler é um ato de compor significados e
sentidos, de (re)significar. Sobre o ato de ler, Neves (2000, p. 22) afirma que “ler
não é tentar decifrar ou adivinhar de forma isenta o sentido de um texto, mas é
atribuir-lhe significados”. Assim, ler é um ato de atribuir significados e de produ-
zir sentidos não só em âmbito escolar, acadêmico e/ou profissional, mas também
na vida, na qual o hábito de ler integra a constituição do sujeito.

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A leitura não envolve apenas a estrutura e elementos linguísticos que estão
presentes no texto, além disso, importa os efeitos de sentido, de subjetividade,
de historicidade que fazem parte do processo de leitura. Por isso, torna-se essen-
cial falarmos sobre o processo de significação, pois a leitura só terá valor nos
indivíduos no momento em que ela assumir uma posição sócio-ideológica, ou
seja, no momento em que significar na vida de cada indivíduo. Conforme estu-
damos, a compreensão não se dá apenas no texto, há elementos que interferem
nela, como o contexto, o conhecimento de mundo de cada leitor e a sua histori-
cidade. Dessa forma, é primordial contextualizar os textos lidos e explorar seus
possíveis sentidos, envolvendo uma compreensão crítica do ato de ler, processo
conhecido como plurissignificação. Isso nos leva a termos outro ponto de vista
para a leitura: a de que ela ressignifica.
Para Orlandi (2001), na leitura de um texto, não há apenas a decodificação
e a constatação de um sentido que já está dado nele, pronto e acabado. A autora
afirma que o texto não deve ser entendido apenas como um produto, no qual
apenas será possível compreender o que está escrito, sem interferência de outros
prováveis sentidos, mas é importante observar o processo de sua produção, o
qual tem influência na sua significação.
Por conseguinte, o leitor não apreende um sentido limitado que está no texto, o
qual foi proposto pelo autor, mas, sim, atribui sentidos variados ao texto. A maneira
como a leitura é feita, o processo de leitura e as condições de produção do texto
influenciarão nessa compreensão dos sentidos. A autora cita como elementos das
condições de produção da leitura: os sujeitos (autor e leitor) e suas ideologias, os dife-
rentes tipos de discurso, a distinção entre leitura parafrástica e leitura polissêmica.

O PROCESSO DE LEITURA
109

A sociedade é composta pelas mais variadas mídias, especialmente nesta


era tecnológica que vivenciamos, que abre espaço para o não verbal, como ima-
gens, gráficos, símbolos, entre outros, e a linguagem escrita torna-se cada vez
mais reduzida devido à rapidez das relações.
Como consequência, sendo a leitura uma prática social, os indivíduos que
fazem uma leitura competente, que envolve reflexões conscientes e uma posição
crítica frente aos textos midiáticos e profissionais, são capazes de se posicionar
de maneira construtiva frente a problemas, analisar e tomar posicionamento
diante de diversas questões que permeiam o ambiente profissional e a sociedade
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da maneira geral, além de ter uma comunicação favorecida pela ampliação do


vocabulário que a leitura proporciona.
A significação da leitura é diferente para cada pessoa, conforme a sua indi-
vidualidade e leitura da palavra e do mundo. Nesse sentido, o significado de um
texto será diferente para cada pessoa e também pode ser diferente para a mesma
pessoa em diferentes momentos de sua vida. Isso ocorre porque cada pessoa tem
sua singularidade, ou seja, pertence a uma classe social, família, grupo de amigos,
experiências, enfim, cada um possui uma historicidade própria. Essa historici-
dade influenciará o leitor no processo de significação, fazendo com que algo que
leu seja significativo ou não para sua compreensão.
A significação é um processo lento, que demanda capacidade criadora na
compreensão das situações, levando o indivíduo a perceber e ampliar as suas pos-
sibilidades de análise diante dos vários assuntos a que é exposto diariamente. A
formação do sujeito ético e crítico, que sabe comunicar-se e posicionar-se, depende
da leitura que faz da sociedade e de como a realidade significa e ressignifica.
A leitura, que não deve ser restrita ao âmbito escolar ou acadêmico, não
deve ser uma leitura “mecânica”, de simples decodificação, mas, sim, uma lei-
tura que leve em conta os implícitos e todo conhecimento prévio do leitor, pois,
com a leitura, nos tornamos indivíduos com ponto de vista próprio e não ape-
nas “consumidores” de opiniões alheias. A leitura faz parte da constituição do
sujeito não só como leitor de textos, como também das relações sociais em que
está inserido.
Em vista disso, se faz necessário praticar o hábito da leitura e compreender
sua relação com o processo de significação, uma vez que, a partir do momento

Leitura e a Processo de Significação


III

em que a leitura é significativa em nossa vida, ela toma proporções diferentes,


sendo percebida com outro olhar.
De acordo com Bakhtin (2003, p. 307), a significação faz parte do texto e
da sua leitura, porque o texto, para o autor, é antes de tudo “pensamentos sobre
pensamentos, vivências sobre vivências, palavras sobre palavras e textos sobre
textos”. Por esse motivo, quanto mais contato tivermos com a leitura, mais as
ideias estarão significando. Como ainda acrescenta Bakhtin (2003, p. 235), “o
texto não é uma coisa sem voz”, ou seja, quando se tem um olhar mais significa-
tivo, a leitura de textos pode ser vista como uma possibilidade de (re)significar.

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“Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”
Fonte: Mário Quintana.

Sobre a leitura e os processos de significação, Castro (2000) afirma que as ações


humanas e sociais exigem valores e seus significados só podem ser alcançados
quando inseridos em determinado contexto histórico. Diante disso, é fundamen-
tal que nós, leitores, tenhamos contato com o maior número possível de variáveis
externas ao texto, para que isso possa ajudar-nos na produção de sentido.
Isso também retoma o que dissemos sobre a significação ser um processo
lento, já que a leitura é uma atividade construtiva e complexa, na qual o sujeito,
ao realizá-la, faz uma relação com a memória cultural e social, retomando os
saberes institucionalizados, entrecruzando fatores de percepção, formulando
imagens, associando a conhecimentos linguísticos, entre outros, para, final-
mente, chegar à compreensão.

O PROCESSO DE LEITURA
111

LEITURA COMO FONTE DE CONHECIMENTO E


AUTONOMIA DO SUJEITO

Já estudamos que o indivíduo, ao fazer-se leitor, não só compreende a sociedade


com maior alcance intelectual, como também amplia a sua visão de mundo como
um todo, consegue perceber no texto (escrito e/ou falado) o que está além das
letras, constituindo-se como sujeito das relações sociais.
De acordo com Freire (1989), fazer a leitura de um texto não é só saber o que
as palavras significam, o que elas representam ou suas categorias. O indivíduo
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que realmente lê, compreende o que há por trás das palavras e tem consciência
de quais elementos da realidade estão atrelados às palavras de um texto naquele
momento. É necessário que o leitor saiba que os significados não são fixos, isto
é, eles podem se diluir e se transformar pelo texto das mais diversas maneiras e
podem estar ancorados em diversos elementos da realidade.
Diante disso, o domínio da leitura leva os indivíduos ao mundo do conheci-
mento, da cultura, da magia e da diversão, do funcionamento da língua, além de
proporcionar a ampliação da própria língua, auxiliando no desenvolvimento do
raciocínio. De modo geral, quando temos o hábito da leitura, ela se torna nossa
fonte de conhecimento, pois é por meio da leitura que adquirimos saberes que
alargam nossa visão de mundo dentro de um contexto social, enriquecendo,
igualmente, nossa vida pessoal e profissional.
Compartilhamos das palavras de Freire (1989, p. 29), que diz:
Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante. Nin-
guém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do texto ou
do objeto da curiosidade, a forma crítica de ser ou de estar sendo su-
jeito da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do processo de conhe-
cer em que se acha. Ler é procurar ou buscar criar a compreensão do
lido; daí, entre outros pontos fundamentais, a importância do ensino
correto da leitura e da escrita. É que ensinar a ler é engajar-se numa
experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensão e da
comunicação. E, a experiência da compreensão será tão mais profunda
quanto sejamos nela capazes de associar, jamais dicotomizar, os con-
ceitos emergentes na experiência escolar aos que resultam do mundo
da cotidianeidade.

Leitura como Fonte de Conhecimento e Autonomia do Sujeito


III

É importante ressaltar que a leitura é um ato individual, uma vez que duas pes-
soas dificilmente farão a mesma interpretação de um mesmo texto, já que os
indivíduos possuem uma leitura de mundo e conhecimentos prévios próprios
que determinam a maneira como cada indivíduo compreende o que lê. Isso faz
que cada leitor possua opiniões diferentes e tire conclusões que poderiam até
surpreender o autor.
Por esse motivo, o leitor deve ter liberdade para escolher seus próprios textos,
além de poder analisar e julgar quantas vezes ele achar oportuno. Nas palavras de
Solé (1998, p. 97), “é fundamental que o leitor possa ir elaborando critérios pró-

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prios para selecionar os textos que lê, assim como para avaliá-los e criticá-los”.
Essa capacidade de analisar e julgar os textos que lê só foi conquistado pelo
leitor após a década dos anos 80, época em que a leitura era vista simplesmente
como um meio de receber uma mensagem importante. Posteriormente, os estu-
dos definiram a leitura como um processo mental de vários níveis, que tem vasta
contribuição para o desenvolvimento do intelecto.
Diante disso, as pesquisas da área da Psicologia mostraram que o aprimo-
ramento da capacidade de ler também contribui no processo da capacidade de
aprender como um todo, indo muito além da mera recepção. Por essa razão, a
leitura é uma forma exemplar de aprendizagem e um dos meios mais eficazes de
desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade humana.
O primeiro ato de ler na vida de um indivíduo, ou seja, o modo como ocorre
o processo de alfabetização é considerado como ponto de partida para o desen-
volvimento do hábito de leitura futuro, pois é nesse momento que o indivíduo
passa a compreender e transformar o significado das palavras e qual a men-
sagem expressa por meio da escrita. Por isso, dizer que alguém é alfabetizado
significa demonstrar que se tem a possibilidade de adentrar o mundo da leitura
e da escrita, abrindo novos horizontes culturais.
Podemos afirmar que a leitura é não só uma fonte de conhecimento, mas
também de transformação da memória. Conforme afirma Silva (2008, p. 12), “o
processo de leitura é uma atividade que possibilita a participação do homem na
vida social, em termos de compreensão do presente e passado e da transforma-
ção sócio-cultural futura”.
Zilberman (1991, p.112) expõe a importância da leitura na relação dos

O PROCESSO DE LEITURA
113

indivíduos e como fonte de conhecimento ao afirmar que:


Compreendida dialeticamente, a leitura pode se apresentar como um
instrumento de conscientização, colocando-se neste caso, como um
meio de aproximação entre os indivíduos e a produção cultural, po-
dendo significar a possibilidade concreta de acesso ao conhecimento e
a condição de poder de crítica do leitor.

O vasto conhecimento adquirido com a leitura forma um leitor crítico e par-


ticipativo, capaz de ler para conhecer o mundo, tornando-o consciente de seu
papel na sociedade. Por isso a leitura é uma atividade construtivista e criativa,
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que deve ser pensada como um ato existencial. Quando o processo de significa-
ção transcorre numa linha de experiências e raciocínios bem sucedidos para o
leitor, ele é capaz de repensar na realidade que a leitura proporciona.
No entanto temos visto cada vez mais a problematização de “leitores-autorais”,
isto é, sujeitos que apresentam um grau
relativo de autonomia, de critici-
dade, de capacidade argumentativa,
enfim, dificuldade para se posicio-
nar em uma sociedade cada vez mais
construída por uma multiplicidade
de vozes e discursos. O sujeito-leitor
precisa marcar seu posicionamento
sem se anular na infinidade de
pontos de vista existentes nem se
sobrepor intransigentemente à
diversidade de opiniões que carac-
teriza a sociedade.
Conforme afirmava Freire, é por meio da leitura que
Mesmo diante de tudo que já experimentamos o mundo e conhecemos o poder das palavras.
Com isso, possuímos liberdade para expressar nossas opiniões
estudamos aqui, é comum nos depa- diante do mundo.
rarmos com diversas dificuldades
que os indivíduos encontram no que diz respeito à construção dos sentidos,
tanto quando lê os textos, não conseguindo estabelecer uma relação entre os tex-
tos escritos e os seus significados, quanto no momento de realizar a escrita de
algo. Isto posto, ressalta-se, novamente, a importância da leitura não só para a

Leitura como Fonte de Conhecimento e Autonomia do Sujeito


III

formação de indivíduos críticos na sociedade, mas que sejam capazes de cons-


truir sentidos adequados ao que lê, ouve ou escreve, principalmente na sociedade
atual, que exige cada vez mais capacitação do indivíduo que está inserido no mer-
cado de trabalho e que precisa “mover-se” nas diversas áreas do saber.
Por conseguinte, consideramos que os processos de leitura e escrita são
primordiais para as relações que os indivíduos estabelecem no meio social e
profissional. Nesses meios, uma leitura competente é exigida do sujeito para
que ele possa ter acesso às informações veiculadas nos mais diversos meios, tais
como: internet, televisão, jornais, revistas, folders, cartazes, propagandas, bilhe-

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tes, enfim, todos os meios que permitam que um texto possa ser lido. A escrita,
por sua vez, é exigida para enviar e-mails, redigir cartas (pessoais ou empresa-
riais), deixar bilhetes, fazer anotações etc.
Em vista disso, diante da relação entre leitura e escrita, se faz necessário
que o sujeito seja capaz de apreender e atribuir sentidos na leitura e comuni-
car sentidos quando fizer uso da escrita. Não basta apenas ler decodificando as
palavras, mas o que está por trás delas, ou seja, suas significações determinadas
pelo contexto e suas relações com o mundo e com os implícitos. Já, na escrita,
é preciso comunicar esses sentidos por meio da organização do discurso, com
coesão e coerência.
Ter esses conhecimentos no meio social leva o indivíduo a dominar os códi-
gos linguísticos da comunicação, seja em uma simples conversa cotidiana no
ambiente de trabalho, seja em um diálogo mais formal, seja na escrita de anota-
ções de uma reunião, situações que necessitam mais cuidado com as palavras.
A leitura juntamente com a escrita são ações fundamentais para o desenvol-
vimento e formação de qualquer indivíduo, já que o domínio (ou não) de ambas
facilitará (ou não) o crescimento intelectual do sujeito que quer se manter atu-
ante na sociedade.
De acordo com Borges (1998), o sucesso escolar e o profissional, assim como
a liberdade e a ascensão social, ou seja, a autonomia do indivíduo de forma geral
enquanto cidadão que participa da sociedade, dependem, em grande parte, da
capacidade de leitura e escrita. Diante da velocidade e da quantidade de infor-
mações a que os indivíduos estão expostos na sociedade a todo o momento, o
domínio da prática da leitura e da escrita é essencial para exercer a cidadania e

O PROCESSO DE LEITURA
115

tornar-se um sujeito social, consciente, crítico e atuante. O sujeito competente


na leitura e na escrita possui autonomia e sobressai-se no meio em que atua, pois
o domínio da linguagem, seja ela falada ou escrita, corresponde a uma das prin-
cipais necessidades do homem civilizado.
Assim o indivíduo que se mostra competente na utilização da linguagem pos-
sui um instrumento essencial ao ser social, principalmente na sociedade atual
que lida com as novas tecnologias, o que demanda ainda mais um domínio da
leitura e da escrita, pois cada meio tecnológico exige formas específicas de com-
portamento com a linguagem.
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Temos visto, cada vez mais, o uso crescente e intensivo das tecnologias de
informação e de comunicação. Devido a isso, o indivíduo que não apreende
as informações de maneira adequada que esse novo contexto informacional
disponibiliza, poderia ficar excluído socialmente, já que esses meios, por pos-
suírem diversos tipos de textos, exigem um olhar diferenciado e uma leitura
mais específica.
De maneira geral, Souza (2009, p. 109) afirma que “a leitura é um dos meios
mais importantes para a consecução de novas aprendizagens; possibilita a cons-
trução e o fortalecimento de ideias e ações”. A autora salienta a necessidade de
conscientizar a sociedade para a relevância da leitura dos mais variados meios
de comunicação, pois, assim, será possível formar uma sociedade consciente e
capaz de observar, analisar, entender o mundo e interagir por meio da leitura,
ampliando a produção crítica e cultural da sociedade.
Como temos estudado ao longo desta unidade, a prática social da leitura
e da escrita é um instrumento à significação e à autonomia do sujeito cidadão
capaz de entender, significar e ressignificar a realidade.
A leitura e a escrita, além de serem atos individuais, são atos sociais, pois pos-
suem vínculos que estão para além do indivíduo, alcançando toda a sociedade.
O indivíduo que faz uso social da leitura e da escrita é considerado letrado ou
alfabetizado funcional, pois está habilitado para empregar tanto a leitura quanto
a escrita para o seu desenvolvimento pessoal e da sua comunidade. Esses indi-
víduos são aqueles que, potencialmente, têm mais possibilidades de autonomia,
visto que, nos meios sociais e, principalmente, profissionais, a leitura e a escrita
são condições essenciais para a prática da cidadania, pois o ato de ler e escrever

Leitura como Fonte de Conhecimento e Autonomia do Sujeito


III

adequadamente propicia ao indivíduo interferir socialmente nas diversas situ-


ações a que for submetido.

Muitos autores trabalharam em suas obras sobre o desenvolvimento da


competência textual, por vezes interrogando se isso seria uma simples
questão de dom ou um exercício constante que envolve persistência e es-
forço. De maneira bem fácil e acessível, o autor Moacyr Scliar escreveu a crô-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nica “Vinte e uma coisas que aprendi como escritor” que, por meio de seus
próprios aprendizados, reforça nossa convicção de como se desenvolve a
competência textual.
Essa e outras crônicas que discutem sobre os temas que estamos estudando
podem ser encontradas no seguinte link disponível em: <http://www.pucrs.
br/gpt/escritores.php>. Acesso em: 27 jul. 2015.
Fonte: a autora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da terceira unidade, que estava mais voltada
para os estudos a respeito da leitura e escrita. E chega o momento, também, de
relembrarmos o que estudamos aqui.
Primeiramente, explicamos sobre o processo de leitura, desmistificando que
ler seja apenas decodificar letras, e sim ler “nas entrelinhas”, isto é, buscar o que
está implícito, subentendido no texto. Ler é, ainda, pressupor o que o escritor
imaginou que já soubéssemos no momento daquela leitura, fazendo referências
a esse conhecimento anterior para aprofundarmos o que lemos, expandindo
nosso campo cognitivo. A partir disso, passamos a conhecer as habilidades de
leitura e sua importância para a compreensão da relação entre leitura, escrita e
sentidos do texto.
No tópico seguinte, observamos que leitura e escrita são inseparáveis,
estando intimamente relacionadas, de tal modo que uma está constantemente

O PROCESSO DE LEITURA
117

influenciando e modificando a outra. Na sequência, discorremos sobre o pro-


cesso de significação na leitura, mostrando que esse ato não envolve apenas a
estrutura e o encadeamento de elementos linguísticos que se apresentam no texto.
Mostramos, nessa parte, que a significação é um processo lento, que envolve
a capacidade criadora na compreensão das situações. É esse processo que con-
duz o indivíduo a notar e expandir as suas possibilidades de crítica e julgamento
diante dos variados assuntos aos quais é submetido no dia a dia.
Enfim, a leitura deve ser vista como um processo de (re)significação, pois o
texto não traz tudo pronto para o leitor receber de modo passivo, pelo contrário,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ao ler, o indivíduo utiliza toda sua bagagem cultural para compreender as infor-
mações presentes no texto, assim como nas relações sociais diárias.
Espero, assim, que esta unidade tenha trazido novos olhares para o processo
de ler e escrever, que, certamente, contribuirão para o seu desenvolvimento pes-
soal e profissional. Espero, ainda, que a próxima unidade complete de forma
satisfatória o processo que estamos construindo.
Até a próxima unidade!

Considerações Finais
1. A partir dos estudos sobre o processo de leitura, “ler” passou a possuir outro sen-
tido, direcionado a uma visão interativa e dinâmica. Assim, explique essa nova
proposta de leitura e destaque as possíveis posturas do leitor ante o texto.
2. Apresente e defina as habilidades que o indivíduo deve desenvolver para que
ocorra o processo de compreensão de um texto.
3. Considerando o conteúdo estudado, explique como a leitura e a escrita interfe-
rem na autonomia do indivíduo.
4. Descreva quais são os benefícios do indivíduo que compreende a leitura/escrita
como uma prática social.
119

A CONSTRUÇÃO DA SIGNIFICAÇÃO NA LINGUAGEM


Há muito tempo, pesquisadores do mundo todo estudam a construção da significação
na linguagem e como esse processo influencia nas relações sociais. Apesar de a maioria
das pesquisas estarem concentradas nas áreas de Língua Portuguesa, podemos encon-
trar muitos estudos sobre o processo de significação no campo da Filosofia e da Psico-
logia, já que a Filosofia se preocupa com o uso real da língua, com a criatividade dos
falantes, com os aspectos linguísticos do pensamento e da experiência dos indivíduos,
entre outros. E a Psicologia volta-se para questões específicas relacionadas à expressão
do pensamento e ao comportamento do indivíduo com a linguagem, uma vez que, de
acordo com os estudos da área, o pensamento se materializa na linguagem e, esta, por
sua vez, tem uma função de significação.
Como temos visto ao longo desta unidade, a linguagem está intimamente relacionada à
realidade social, pois o modo como as palavras significam envolve um processo amplo,
que inclui as relações entre os indivíduos e as condições em que as palavras são profe-
ridas. As relações e condições sociais influenciam na maneira de falar dos indivíduos,
suscitando certas variações no modo de empregar uma mesma linguagem.
A construção da significação na linguagem ocorre não só na interação verbal, mas tam-
bém em tudo que está envolvido no processo de comunicação verbal, como os gestos e
expressões faciais, que estabelecem relações e significações entre o verbal e o não ver-
bal. Além disso, podemos mencionar a linguagem não verbal que também aparece por
meio de todas as formas de imagem. Por meio dos processos de significação é possível
apreender quando alguém, por meio de sua fala, mesmo sem dizer nitidamente com as
palavras, deixa transparecer julgamentos de valor, desejos, necessidades, interesses e
emoções, mediante o tom da voz, por exemplo. Isso justifica dizer que as palavras não
possuem um sentido único, pois o sentido estabelecido para cada palavra dependerá da
interação verbal, em que ocorre a construção da significação.
Diante disso, muitos pesquisadores discutem sobre a relação entre linguagem e realida-
de social a partir de diferentes pontos de vista teóricos. Para compreender melhor sobre
esse assunto, sugerimos a leitura do texto “Linguagem e realidade social. Espelhamento
ou construção?”. Nesse texto, disponibilizado online na íntegra, o professor Iran Ferreira
Melo discorre, de modo bem explicativo, sobre a visão de vários estudiosos ao longo da
história sobre os grandes questionamentos feitos acerca da relação entre as palavras e o
mundo. Vale a pena conferir!
Para ler o referido texto, acesse o link disponível em: <http://conhecimentopratico.uol.
com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/28/artigo209998-1.asp>. Acesso em:
02 mai. 2015.

Fonte: baseada em Melo (online).


MATERIAL COMPLEMENTAR

Acessando o link a seguir, você poderá ler um artigo que avalia, de forma teórica, a utilização da
leitura como principal instrumento no desenvolvimento da capacidade de produção de texto.
Aproveite para aprofundar seus conhecimentos!
Disponível em: <http://www.cefaprocaceres.com.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=676&Itemid=77>. Acesso em: 27 jul. 2015.

Da oralidade à escrita: uma busca da mediação


multicultural e plurilinguística
Onici Flôres e Mozara Rossetto da Silva
Editora: ULBRA
Sinopse: apesar de a oralidade ser hegemônica em
relação à escrita no que tange ao uso, historicamente
nossa sociedade atribui mais valor ao texto escrito do
que à fala. Aqui, todavia, os dois modelos são vistos como
sistemas linguísticos complementares que têm, inclusive,
proporcionado o hibridismo da nossa linguagem, como observamos, por exemplo, por meio dos
bate-papos na internet. Reconhecer a importância da oralidade na evolução da escrita é um dos
aspectos que se sobressaem na leitura dessa obra. Além disso, o livro ajudará a aprofundar as
relações entre oralidade e escrita, mostrando como conhecer bem sobre esse assunto auxilia em
eventos comunicativos e no movimento como autor de variados textos.
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine

IV
UNIDADE
GÊNEROS TEXTUAIS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender o que são gêneros textuais.
■■ Apresentar os gêneros textuais relacionados à descrição.
■■ Conhecer os gêneros textuais que fazem parte do agrupamento do
narrar e do relatar.
■■ Entender as características dos gêneros textuais que se relacionam
com a exposição.
■■ Refletir sobre a argumentação e seus respectivos gêneros textuais.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Os gêneros textuais
■■ Os gêneros textuais e a descrição
■■ Os gêneros textuais: narração e relato
■■ Os gêneros textuais e a exposição
■■ Os gêneros textuais e a argumentação
123

INTRODUÇÃO

Prezado(a) acadêmico(a), esta unidade tratará sobre os gêneros textuais e seus


cinco agrupamentos propostos por Dolz e Schneuwly (2004): descrever, nar-
rar, relatar, expor e argumentar. Com esse conhecimento, esperamos que você
possa distinguir os diferentes gêneros que permeiam a vida social e profissio-
nal dos indivíduos e elencar o que cada um deles possui como domínio social e
capacidade de linguagem.
Estudaremos noções teóricas que explicam e embasam a existência da diver-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sidade de gêneros. Além disso, mencionaremos algumas situações que fazem


com que os gêneros textuais sejam atualmente tão presentes na vida dos indiví-
duos, tanto na leitura quanto na produção de textos.
Diante disso, definiremos o conceito de gênero textual, especialmente a partir
das conceituações de Mikhail Bakhtin (1895-1975). Na sequência, começaremos
a falar de alguns gêneros textuais específicos relacionados aos seus respectivos
agrupamentos.
Em uma breve retomada histórica, verificamos que os gêneros textuais sur-
gem de acordo com necessidades e atividades socioculturais, como também em
consequência dos avanços tecnológicos. Para que fique mais claro, pensemos,
por exemplo, no gênero e-mail. Há 50 anos, ninguém pensava em sua existência.
Hoje, apesar de possuir semelhanças com o gênero carta, tem suas características
próprias, sendo considerado um dos gêneros mais utilizados no meio profissional.
Enfim, nesta unidade, pretendemos deixar claro que ninguém fala, lê ou
escreve de forma isolada do social. É a sociedade que direciona o modo como
os sujeitos se apropriam da linguagem.
Espero que as informações que estão por vir nesta unidade sejam úteis e
significativas para sua vida pessoal e para o seu sucesso profissional, portanto,
aproveite a leitura!

Introdução
IV

OS GÊNEROS TEXTUAIS

Todo o nosso percurso de estudo até aqui mostra o quanto a língua é dinâmica e
o quanto ela está ligada ao social, ao nosso dia a dia, às intenções tidas nos tex-
tos que lemos ou escrevemos, à relação dos interlocutores. Assim, fica claro que
a língua se dá na forma de enunciados orais ou escritos que se servem a atender
determinadas questões do social.
Se analisarmos a escrita de um bilhete ou uma mensagem no celular, per-
ceberemos como somos movidos por necessidades específicas de comunicação,

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pois o ato de escrita será orientado de acordo com o interlocutor, com o obje-
tivo pretendido com a escrita, bem como com a situação histórica e social dessa
escrita. Mesmo sendo exemplos que usem a linguagem informal, possuem suas
particularidades, tais como: o bilhete tem como suporte a folha de papel e a men-
sagem, um aparelho celular. Aliás, os gêneros textuais respondem a diferentes
interações sociais e estabelecem a variação linguística mais adequada.
Bakthin (2009) salienta que a língua se dá sob a interferência do contexto
social e sob a interação que os interlocutores estabelecem entre si. Dito de outra
maneira, a nossa relação com o meio em que vivemos, estudamos e o lugar onde
trabalhamos nos leva a utilizar a língua de uma determinada forma e para deter-
minadas finalidades. Pense: não escrevemos um texto sem um propósito para
ele e sem focar um interlocutor específico.
Diante disso, podemos dizer que há uma diversidade de maneiras de se uti-
lizar a língua, a partir da oralidade ou da escrita. O que diferenciará um uso de
outro são os elementos que compõem os gêneros textuais, como o conteúdo
(temático), o estilo verbal (as escolhas realizadas a partir das possibilidades da
língua) e a construção composicional. Nas palavras de Bakhtin (2003, p. 279),
esses três elementos mencionados
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são
marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer
enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada es-
fera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso.

GÊNEROS TEXTUAIS
125

Gêneros do discurso – também chamados de gêneros textuais – são, por-


tanto, formas de organização do conteúdo temático, estilo verbal e construção
composicional a partir de uma determinada esfera da comunicação humana.
Essas características são sociais e historicamente estabelecidas para o gênero
textual em função da realidade em que circula. Assim, à medida que a própria
sociedade desenvolve-se e fica mais complexa, os gêneros textuais vão diferen-
ciando-se e ampliando-se.
Outra característica dos gêneros textuais é que eles são heterogêneos, pois
incluem, ao mesmo tempo, textos (orais e escritos) muito distintos, como: o
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relato familiar, a carta, os documentos oficiais, as declarações públicas, os arti-


gos científicos, os textos literários, entre outros.
Apesar de todos os gêneros textuais serem usados socialmente e não possu-
írem uma estrutura fixa, há regras que foram social e culturalmente construídas
que precisamos seguir. Ao redigirmos uma carta comercial, por exemplo, não
podemos criar uma estrutura e usar um estilo de linguagem de qualquer maneira.
Há normatizações que regem essa escrita e, para que possamos produzir um
texto classificado como tal, é exigido que sigamos tais regras. No entanto exis-
tem outros gêneros textuais que não possuem regras tão rígidas, como é o caso
de uma conversa íntima. Se compararmos os dois exemplos citados, será pos-
sível verificar que possuem níveis de complexidade totalmente diferentes entre
si, demonstrando que a natureza dos gêneros é definida de acordo com a finali-
dade e com as condições de produção.
Isso explica a divisão proposta por Bakhtin (2009) em gêneros textuais pri-
mários e secundários. São considerados gêneros textuais primários (simples) os
que ocorrem em situações cotidianas em que a comunicação verbal é espontânea.
Como exemplo, podemos citar a conversa, o relato cotidiano, o bilhete, a carta,
o e-mail pessoal, entre outros. Os gêneros textuais secundários (complexos) são
aqueles em que usamos a linguagem de forma mais elaborada, que pressupõe
padrões ou estruturas globais para que um tipo de texto seja identificado como
tal tipo de texto, tais como: o poema (a composição em versos e estrofes faz
com que um poema possa ser identificado como um poema), o artigo científico,
o e-mail profissional, a licitação etc. É importante mencionar que esses gêne-
ros podem se entrelaçar, ou seja, é comum encontrarmos elementos do gênero

Os Gêneros Textuais
IV

textual primário no secundário. Podemos verificar essa ocorrência quando um


autor insere uma estrutura de carta em um romance.
Para que possamos definir os gêneros textuais, é essencial entender a res-
peito da finalidade e do interlocutor. A finalidade está relacionada ao uso social e
histórico de cada gênero: se a finalidade é redigir uma solicitação de um determi-
nado orçamento, pode-se optar pelo gênero textual carta comercial. No entanto
a escolha ideal do gênero a ser utilizado vai depender de quem é o interlocutor.
Conforme Bakhtin (2009), o interlocutor é a pessoa a quem o emissor se dirige;
com quem vai dialogar na escrita ou na fala sobre uma temática definida; a quem

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vai argumentar ou comentar, criticar, informar etc. O autor apresenta três tipos
de interlocutores, a saber:
■■ o
interlocutor real: aquele que tem uma imagem física e está presente
durante o processo dialógico;
■■ o
ideal ou virtual: quando se delimita a imagem do interlocutor, no qual
o locutor não possui contato direto com esse destinatário, mas é perten-
cente ao mesmo contexto social;
■■ o
superior: refere-se a um representante oficial responsável por constituir
padrões e regras que são respeitados no meio social em que o produtor
do texto convive.

De maneira geral, é importante não esquecer que, como apresentou Bakhtin


(2009), há três elementos que compõem e estruturam o tipo de qualquer gênero
textual. Veremos cada um deles a seguir:
I. Temática definida: cada gênero textual comporta um tema específico,
isto é, o que pode ser dizível dentro de cada gênero.
II. Estilo de linguagem: a linguagem precisa estar adequada a sua finalidade
e ao seu interlocutor. A variação linguística e a escolha do vocabulário
também determinarão o estilo verbal de cada gênero textual.
III. Estrutura composicional: cada gênero possui uma forma de organiza-
ção definida, que foi estabelecida pela sociedade. Ao escrever determinado
texto, o emissor deve, primeiramente, seguir a construção composicional
que a sociedade estabeleceu para aquele texto em questão. Alguns textos
mostram uma organização bem rígida, pois seguem padrões instituídos

GÊNEROS TEXTUAIS
127

historicamente pela sociedade, como é o caso da carta comercial, que pos-


sui partes típicas e formas de conexão definidas.

Como os gêneros textuais são frutos da interação verbal, influenciados pela fina-
lidade e pelos interlocutores, apenas a estrutura composicional possui maior
rigidez, enquanto o conteúdo temático e o estilo verbal apresentam maior aber-
tura para modificações. Em vista disso é que Bakhtin (2009) compreende os
gêneros como enunciados “relativamente estáveis”, já que algo pode mudar, mas
que não é possível modificar os três aspectos que designam cada gênero: tema,
composição e estilo.
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Não há como dominarmos todos os gêneros textuais, visto que não é sufi-
ciente compreender quais são as características dos gêneros (tema, composição
e estilo). Designar cada gênero envolve também as especificidades das condi-
ções de produção e dos interlocutores em cada situação de comunicação. Como
afirma Bakhtin (2003, p. 279), cada esfera da atividade humana “comporta um
repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à
medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa”.

“[...] Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos,


se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação
verbal seria quase impossível” (BAKHTIN, 2009, p. 301).

Há, ainda, outros dois elementos consideráveis que influenciam na definição


do gênero textual: a circulação e o suporte textual. Esses elementos contribuem
para o modo como o gênero discursivo (oral ou escrito) chegará ao interlocutor
pretendido e atenderá à finalidade.
A circulação está relacionada com as particularidades do meio social que defi-
nem o modo adequado para que o gênero discursivo em questão se faça notado,
lido e recebido pelo interlocutor. O suporte textual é a forma material que admi-
tirá o gênero discursivo diante de regras de circulação. O suporte textual pode

Os Gêneros Textuais
IV

ser o jornal, o e-mail, a embalagem,


a revista etc. Esses dois elementos
estão atrelados às condições de pro-
dução que estabelecem a escolha de
um gênero ao invés de outro.
Os estudos sobre os gêneros
textuais e/ou discursivos são de fun-
damental importância para a área do
Secretariado Executivo, pois permite

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a descrição dos diferentes textos que
circulam no espaço das instituições públicas e privadas. Conforme estamos estu-
dando, é relevante entender como cada gênero se estrutura, se organiza e funciona
de acordo com o objetivo que se pretende alcançar, evitando “fórmulas prontas”.
Com isso, o(a) aluno(a) e profissional do curso de Secretariado Executivo
elabora e produz textos que considerem o uso real e sua circulação no espaço das
instituições oficiais e privadas, sem a necessidade de seguir manuais de redação
que não consideram as condições de produção textual e que estão destinados a
apresentar apenas procedimentos técnicos.
Antes de adentrarmos no estudo específico dos gêneros textuais, é rele-
vante mencionar que esse estudo representa um marco essencial na trajetória
do ensino de Língua Portuguesa. Antes era comum lermos e produzirmos tex-
tos dentro de três grandes modelos, as chamadas tipologias textuais: descrição,
narração e dissertação. Nesses tipos de texto, a situação de interação verbal não
era explorada, assim como também não havia uma preocupação com a figura
do interlocutor nem com as condições de produção.
Com o estudo dos gêneros textuais, o indivíduo torna-se sujeito por meio
da palavra e da contrapalavra, em uma atividade de constante responsividade
diante dele e do mundo. Conforme mencionamos, os enunciados são resultantes
da convivência social e da ação dos interlocutores, por isso os gêneros textuais
são infinitos. Por isso veremos uma proposta de organização e sistematização
dos gêneros textuais apresentados por Dolz e Schneuwly (2004).
Esses autores agruparam os gêneros de acordo com três critérios: domínio
social da comunicação a que pertencem, capacidades de linguagem envolvida

GÊNEROS TEXTUAIS
129

na produção e compreensão desses gêneros e sua tipologia textual. Diante des-


ses critérios, é possível fazer um determinado agrupamento de gêneros tendo em
vista a esfera social, o atendimento aos objetivos da linguagem (leitura e escrita)
e sua estrutura de modo geral.
Para facilitar a compreensão dessa organização, os referidos autores publi-
caram um quadro em que as tipologias estão relacionadas com os gêneros.
Observe esse quadro:

Domínios sociais Aspectos Capacidade Exemplos


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de comunicação tipológicos de linguagem de gêneros


(lugar, espaço (características dominante discursivos
social de produ- estruturais do texto) (o texto para res-
ção, circulação e ponder determinada
recepção do texto) finalidade apresenta-
rá de forma domi-
nante uma dada
capacidade)

Cultura Literária Narrar Representar ações, Conto de fadas,


Ficcional usando a criação de fábula, lenda,
conflitos. narrativas (de
aventura, de ficção
científica, de
enigma, mítica),
romance, crônica
literária, adivinha,
piada etc.
Documentar e me- Relatar Representar por Relatos (de
morizar as ações enunciados expe- experiência,
humanas riências vividas, de viagem),
situadas no tempo. diário íntimo,
autobiografia,
curriculum vitae,
notícia, reportagem,
crônica (social e
esportiva), relato
histórico, biografia.

Os Gêneros Textuais
IV

Discutir problemas Argumentar Representação de Textos de


sociais e polêmicos sustentação de opinião, diálogo
ideias, ponto de vista argumentativo,
e negociações de carta do leitor,
opiniões. carta de solicitação,
deliberação
informal, debate
regrado, assembleia,
discurso de defesa
(advocacia), discurso
de acusação
(advocacia),

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
resenha crítica,
artigos de opinião
ou assinados,
editorial, ensaio,
questão dissertativa,
resposta discursiva.
Transmitir e cons- Expor Representar os dife- Texto expositivo,
truir saberes rentes saberes exposição oral,
seminário,
conferência,
comunicação oral,
palestra, entrevista
de especialista,
verbete, artigo
enciclopédico, texto
explicativo, tomada
de nota, resumo de
textos expositivos
e explicativos,
resenha, relatório
científico, relatório
oral de experiência.
Instruir e prescre- Descrever ações, Representar uma re- Instruções de
ver passos gulação de compor- montagem, receita,
tamentos, impondo regulamento, regras
passos a serem de jogo, instruções
seguidos. de uso, comandos
diversos, textos
prescritivos.
Quadro 04: Gêneros orais e escritos
Fonte: Dolz e Schneuwly (2004, p. 27).

GÊNEROS TEXTUAIS
131

A partir do quadro proposto por Dolz e Schneuwly (2004), podemos compre-


ender que descrever, narrar, relatar, expor, argumentar são aspectos tipológicos
interligados aos domínios sociais e às capacidades comunicativas específicas.
Como é possível verificar, com base no Quadro 4, a leitura e a escrita não ocor-
rem de forma isolada como ocorria antes nos estudos com a Língua Portuguesa.
Tendo como base o quadro de agrupamento exposto, passaremos, nos pró-
ximos tópicos, a tratar dos aspectos específicos de alguns gêneros discursivos
para que você, caro(a) aluno(a) e futuro(a) profissional, possa trabalhar com a
escrita de maneira reflexiva, capacitado(a) para analisar e executar ações que
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envolvam um cuidado especial com a linguagem.

“Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
sempre relacionadas com a utilização da Língua. Não é de surpreender que
o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias
esferas da atividade humana” (BAKHTIN, 2003, p. 279).

OS GÊNEROS TEXTUAIS E A DESCRIÇÃO

Antes de iniciarmos a discussão sobre a presença da descrição nos diferentes


gêneros textuais, é necessário entender o significado de “descrever”, que não
pode ser confundido com “definir” e “denominar”.
Descrever é contar pormenorizadamente, traçar, fazer a descrição de algo.
Ao descrever, estamos, por conseguinte, dando enfoque nas características de
um determinado objeto que está sendo observado, individualizando-o. Enquanto
definir é a essência do objeto, denominar, por sua vez, é o nome que se dá ao
objeto. Para que fique mais compreensível, vejamos os seguintes exemplos:
Denominação: carta
Definição: mensagem, manuscrita ou impressa, a uma pessoa ou a uma
organização, para comunicar-lhe algo.

Os Gêneros Textuais e a Descrição


IV

Descrição: era um envelope amarelado, meio amassado, que passava por


várias mãos curiosas até chegar ao seu destino final.
Como foi possível observar, a descrição é uma espécie de retrato verbal,
ou seja, uma imagem formada por palavras de algo observado pelo emissor da
mensagem. O objetivo principal dessa ação é a criação de uma imagem, objeto
ou processo focalizado pelo remetente na mente do destinatário. O foco de uma
descrição pode ser um objeto, uma pessoa, um animal, uma cena, um ambiente,
um processo, entre outras possibilidades.
Ao fazer uma descrição, o emissor pode fazer uso de qualquer um dos cinco

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sentidos (visão, tato, paladar, olfato e audição) ou recorrer para uma forma mais
subjetiva de descrição. Ao fazer uma dessas escolhas, o emissor poderá fazer uma
descrição objetiva (técnica) ou subjetiva (literária).
Na descrição objetiva (técnica), o autor prende-se à reprodução fiel do ele-
mento que está sendo observado, buscando uma maior neutralidade no momento
da descrição. Não há comentários pessoais do emissor ou a presença de termos
que possibilitem múltiplas informações, destacando com precisão e concisão
vocabular todos os detalhes observados. Verifique o exemplo a seguir:
Entremos, já que as portas se abrem de par em par, cerrando-se logo
depois de nossa passagem. A sala não é grande, mas espaçosa; cobre as
paredes um papel aveludado de sombrio escarlate, sobre o qual desta-
cam entre os espelhos duas ordens de quadros representando os mis-
térios de lesbos. Deve fazer ideia da energia e aparente vitalidade com
que as linhas e colorido dos contornos se debuxavam no fundo rubro,
ao trêmulo da claridade deslumbrante do gás. A mesa oval, para oito
convivas, estava colocada no centro sobre um estrado, que tinha o es-
paço necessário para o serviço dos criados; o resto do soalho desapare-
cia sob um felpudo e macio tapete, que acolchoava o roda pé e também
os bordos do estrado. (ALENCAR, 2000, p. 42).

No exemplo acima, vemos que o autor faz uma descrição de um ambiente por
meio de adjetivos que estão relacionados à cor, ao tamanho, ao material de que
são feitos os objetos, a extensão do ambiente fechado etc. Como é característica
da descrição objetiva, o autor busca ao máximo fazer a aproximação do texto
com a imagem do que se vê, de um jeito que ele recrie o ambiente da forma mais
clara e realística possível, evitando possíveis juízos de valor.
A descrição subjetiva envolve um ponto de vista pessoal do observador,

GÊNEROS TEXTUAIS
133

que emprega uma linguagem mais particular, mostrando até características psi-
cológicas da pessoa, personagem ou animal que se está descrevendo. Por isso
a descrição subjetiva possui uma carga de individualidade, envolvendo os sen-
timentos e a opinião do escritor em relação ao objeto que descreve. Analise o
exemplo abaixo:
Assomando à porta, levantou o reposteiro e deu entrada a uma mulher,
que caminhou para o centro da sala. Não era uma mulher, era uma
sílfide, uma visão de poeta, uma criação divina. Era loura; tinha olhos
azuis, como os de Cecília, extáticos, uns olhos que buscavam o céu ou
pareciam viver dele. Os cabelos, desleixadamente penteados, faziam-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

-lhe em volta da cabeça, um como resplendor de santa, santa somente,


não mártir, porque o sorriso que lhe desabrochava os lábios era um sor-
riso de bem-aventurança, como raras vezes há de ter tido a terra. Um
vestido branco, de finíssima cambraia, envolvia-lhe constantemente o
corpo, cujas formas, aliás, desenhava, pouco para os olhos, mas muito
para a imaginação (ASSIS, 1986, p. 41).

Observe que, nessa descrição subjetiva da personagem, Machado de Assis apre-


senta, de modo particular e pessoal, o seu ponto de vista sobre a mulher que
entra no ambiente, listando suas características mais relevantes, individualiza-
doras e distintivas.
A descrição pode ser encontrada em diversos textos, não só em textos nar-
rativos, mas em notícias de jornal, reportagens, livros didáticos, mapas, fórmulas
matemáticas, químicas e físicas, verbetes, textos jornalísticos, entre outros. A
descrição é usada sempre que se faz necessário apresentar as características de
uma pessoa, um objeto, um ambiente, uma cena, uma situação ou até um con-
teúdo a ser estudado.
Na descrição, há o uso recorrente de adjetivos e locuções adjetivas, explici-
tando aspectos do que é descrito, e também o uso de verbos, indicando ações,
ou verbos de ligação, indicando estados ou características. Podemos fazer, ainda,
comparações e metáforas para auxiliar na visualização do objeto descrito.
Dentre os muitos tipos de descrição, consideramos relevante apresentar
as características da descrição técnica, que tem como objetivo esclarecer, con-
vencendo. A descrição técnica descreve objetos, mecanismos ou processos,
fenômenos, fatos etc. Nessa descrição, é importante possuir precisão vocabular
e exatidão de detalhes. Vejamos um exemplo:

Os Gêneros Textuais e a Descrição


IV

O motor está montado na traseira do carro, fixado por quatro parafu-


sos à caixa de câmbio, a qual, por sua vez, está fixada nos coxins de bor-
rada na extremidade bifurcada do chassi. Os cilindros estão dispostos
horizontalmente e opostos dois a dois. Cada par de cilindros tem um
cabeçote comum de metal leve. As válvulas, situadas nos cabeçotes, são
comandadas por meio de tuchos e balancins. O virabrequim, livre de
vibrações, de comprimento reduzido, com têmpera especial nos colos,
gira em quatro pontos de apoio e aciona o eixo excêntrico por meio
de engrenagens oblíquas. As bielas contam com mancais de chumbo-
-bronze e os pistões são fundidos de uma liga de metal leve.1

Perceba que o exemplo citado pode não ser compreensível para um leitor leigo,

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já que possui uma linguagem mais técnica, por isso, uma descrição técnica, que
envolve detalhes específicos do mecanismo de funcionamento de um motor de
carro.
Os gêneros relacionados com o descrever são diversos, entretanto alguns
deles possuem como ponto central a transmissão de instruções e prescrições,
com vistas a uma regulação mútua de comportamento, ou seja, estabelecem um
padrão de comportamento e/ou atuação, tais como: instrução de montagem,
receita, regulamento, regras de jogo, instruções de uso, comandos diversos, tex-
tos prescritivos, entre outros.
Dessa forma, alguns gêneros focalizam mais processos do que objetos e
espaços, que são aqueles textos do tipo “como fazer” ou “faça você mesmo”. Um
exemplo típico é o site WikiHow (<http://pt.wikihow.com/>). Nesse site, é pos-
sível encontrar textos descritivos do tipo “como fazer” sobre comida, móveis,
maquiagens e até como fazer textos com objetivos muito específicos, como vere-
mos no trecho abaixo, que retiramos do site, que explica como escrever uma
carta pedindo uma prorrogação de prazo:

1. Escreva a carta com antecedência. Esperar até o último minuto


pode passar a impressão de falta de planejamento e irresponsabilidade.

2. Defina o tempo extra que você precisa. Neste momento, é impor-


tante usar o bom senso e evitar pedir um prazo muito curto, o que pode
causar a perda de prazos e a necessidade de um novo pedido de pror-
rogação. Baseie-se em seu progresso atual, para determinar o tempo

1 VOLKSWAGEN. Manual de instruções (2010, p. 12).

GÊNEROS TEXTUAIS
135

extra que você precisa. Por exemplo, se você está há 3 dias trabalhando
continuamente em um trabalho de escola e ainda está na metade dele,
você precisará de mais 3 dias para finalizar o trabalho e de mais um dia
para revisá-lo. [...]

3. Apresente sua situação de forma honesta e com delicadeza. Ex-


plique suas razões para o pedido de prorrogação e informe de mais
quanto tempo você precisará. Forneça uma explicação lógica sobre sua
necessidade. Uma explicação razoável para apresentar para um profes-
sor(a) poderia ser que, você tem trabalhado incansavelmente em um
relatório, mas que precisa de mais tempo para realizar uma pesquisa
minuciosa. [...] Evite usar palavras negativas ou fazer reclamações. [...]
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4. Use uma redação formal. Sua carta tem de ter uma abordagem cui-
dadosa e profissional. – Cabeçalho: Inclua a data e seu endereço; Ende-
reço do destinatário: Inclua o nome e o endereço corretos do destinatá-
rio; Saudação: mantenha um tom formal. Não use “Olá, Pedro”, em vez
disso, use “Prezado Sr. Oliveira”. [...]

5. Agradeça antecipadamente ao destinatário da carta por ele anali-


sar seu pedido. Mostrar-se agradecido transmitirá para seu professor,
chefe ou possível gerente que você reconhece a importância do prazo e
que não considera como garantido que seu pedido será aceito.

6. Envie seu pedido de prorrogação por e-mail. Evite utilizar os servi-


ços tradicionais de entrega de correspondência, pois eles podem sofrer
atrasos. Ao enviar sua solicitação por e-mail, você imediatamente noti-
fica o destinatário e pode ficar tranquilo quanto às próximas etapas.2

Conforme observamos, esse é um tipo de texto descritivo que oferece um passo


a passo em relação a alguma atividade em questão. Esses textos são, geralmente,
ricos em detalhes, reunindo o máximo de indicações possíveis para que o lei-
tor possa realizar a ação indicada pelo texto da maneira mais próxima do que
foi exposto pelo emissor.
Observemos, agora, os gêneros textuais relacionados à narração e ao relato.

2 Wikihow. Disponível em: <http://pt.wikihow.com/Escrever-uma-Carta-Pedindo-uma-Prorroga%C3%A7%C3%A3o-de-


Prazo>. Acesso em: 27 jul. 2015.

Os Gêneros Textuais e a Descrição


IV

OS GÊNEROS TEXTUAIS: NARRAÇÃO E RELATO

Primeiramente, é importante compreender a diferença entre narração e relato.


Narrar é imaginar e contar histórias de ficção, sendo uma capacidade usada na
criação de romances, crônicas, contos, fábulas etc. Enquanto relatar é a capa-
cidade de contar acontecimentos vivenciados pelo autor ou por outra pessoa,
estando presente em notícias, relato de experiência, relato de viagem, diário
íntimo, entre outros.
Quando falamos em narração, logo nos lembramos dos filmes e romances.

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Essa lembrança possui relação íntima com as características da narração, já que
narrar não possui compromisso com a realidade, quem narra pode inventar as
mais diferentes e emocionantes histórias. No entanto quem escreve uma nar-
ração precisa apresentar muitos detalhes, em que personagens, ação e espaço
formam um todo elaborado de forma fictícia. Por isso um texto narrado é visto
de forma mais poética, com informações que não seriam tão facilmente trans-
mitidas. Vejamos um exemplo:
Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flame-
java. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua,
só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se
não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de
momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado
na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem
palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de
bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária.
Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente
uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau
faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha
de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já
habituado, apertando-a contra os joelhos (LISPECTOR, 1998, p. 46).

Nesse trecho do conto “Tentação”, de Clarice Lispector, podemos observar que


há um tom poético por trás das palavras, pois dizer que “a cabeça da menina
flamejava” é algo que vai além de uma percepção comum, já que o narrador
precisaria entrar na mente da personagem observada para fazer essa afirma-
ção, assim como dizer que a personagem estava “desalentada”, visto que não há
nenhuma passagem que menciona que o narrador perguntou isso a ela. Nos

GÊNEROS TEXTUAIS
137

textos narrativos, há toda uma combinação de palavras para dar um efeito espe-
cial ao que está sendo lido.
Essa maneira diferente de utilizar as palavras nos gêneros do narrar chama-se
literariedade: conjunto de características linguísticas, semióticas e sociológicas
que fazem com que um texto seja percebido pelo leitor como literário. A narração
não lida com o verdadeiro, mas com o verossímil, que pode ser compreendido
como aquilo que não é verdadeiro, mas que tem semelhança com a verdade, por
possuir lógica e coerência, ou seja, por fazer sentido. Mesmo quando um per-
sonagem voa, tem superpoderes ou ressuscita, se essas ações fizerem sentidos
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dentro do universo de ficção criado para aquela história, haverá verossimilhança


e o leitor não ficará com impressão de improviso ou de falta de lógica.
Os gêneros textuais que pertencem ao agrupamento do narrar são: o conto
maravilhoso, o conto de fadas, a crônica literária, a fábula, a lenda, as narrativas
(de aventura, de ficção científica, de enigma, mítica), a biografia romanceada, a
novela fantástica, o romance, a adivinha, a piada, entre outros. Todos esses gêne-
ros possuem compromisso com a criação e não com a realidade em si.
A estrutura composicional dos gêneros pertencentes ao agrupamento do
narrar é formada por alguns elementos básicos, tais como: narrador (quem
conta a história), foco narrativo (a partir de onde a história é contada – 1ª ou
3ª pessoa), enredo (o que é narrado), personagens, tempo, espaço etc. No que
diz respeito ao conteúdo temático, qualquer tema pode originar uma fantástica
narrativa, dependendo apenas de quem escreve. No entanto somente um con-
junto de fatos não será suficiente para prender a atenção do leitor, é necessário
que o enredo apresente um conflito, que fuja do que é simples e normal. Assim
o objetivo dos textos narrativos não está centrado nos fatos, mas na maneira
como eles são contados.
Diferentemente do narrar, os gêneros textuais ligados ao agrupamento do
relatar contam algo que aconteceu com alguém, em algum lugar, em algum
tempo, de algum modo, ou seja, é uma forma de documentar ações humanas
reais. Exemplos de textos com esse conteúdo estão em notícias de jornais e revis-
tas, livros, diários, cartas, agendas etc. Entretanto o mais importante é que relatar
faz parte da socialização humana, pois passamos o dia relatando coisas, trocando
informações e conhecimentos, enfim, relatando acontecimentos uns aos outros.

Os Gêneros Textuais: Narração e Relato


IV

Outros gêneros voltados para o relatar, que podemos citar, são o relato de
experiência vivida, o relato histórico, a autobiografia, o perfil biográfico, o cur-
riculum vitae, entre muitos outros, que trabalham com acontecimentos sociais,
documentando e memorizando ações humanas, situadas em um tempo e espa-
ços reais. Assim é importante compreender que a função dos gêneros do relatar
é de informar a respeito de algo: é a apresentação ou enumeração de informa-
ções básicas, de forma objetiva, com foco em algum acontecimento específico.
Observe o exemplo a seguir, retirado de uma notícia veiculada no site do
jornal regional O Diário, da cidade de Maringá (PR):

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Uma colisão entre motos deixou um homem de 37 anos gravemente fe-
rido na noite desse domingo (19) em Maringá. O acidente envolvendo
duas motocicletas Honda Fan aconteceu na Avenida Guedner por volta
das 21hs no trecho próximo ao Condomínio Delta Villa II.

Uma equipe do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em


Emergência (Siate) foi acionada. Um jovem de 22 anos teve ferimentos
leves e foi encaminhado para o Hospital Santa Casa. O homem de 37
anos teve ferimentos considerados graves e foi levado pela ambulância
até o Hospital Universitário (REAL, 2015, online).

Como foi possível observar, as informações apresentadas são objetivas e apre-


sentam o que aconteceu, onde, quando, quais foram os veículos envolvidos e
informações sobre os indivíduos que sofreram o acidente. Por isso, em um relato,
importa contar o acontecido. De acordo com a significação do vocábulo, a união
da partícula “re” (outra vez) com “latum” (do latim, trazido) quer dizer a reapre-
sentação, para um terceiro “não informado”, de um fato que foi testemunhado
ou ouvido por alguém.
Diante disso, a principal diferença entre uma narração e um relato é a forma
como o texto é construído e o tipo de informações que são priorizadas em cada
um dos textos. Em um texto narrativo, de cunho literário, há o envolvimento de
aspectos imaginários, em que o texto apresentará conflitos, sentimentos e emo-
ções dos personagens envolvidos. Já o texto relatado, não literário, contará os
fatos com certa apresentação de detalhes, mas limitando-se sempre aos fatos em
si voltados à realidade.

GÊNEROS TEXTUAIS
139

OS GÊNEROS TEXTUAIS E A EXPOSIÇÃO

Como temos visto durante todo o nosso percurso até aqui, os gêneros textuais e
seus respectivos agrupamentos não estão ligados apenas à leitura e à escrita, mas
também à oralidade. No entanto é importante ressaltar que conhecer os gêne-
ros discursivos orais não é o mesmo que saber falar. Quando conhecemos esses
gêneros, passamos a reconhecer e a produzir nossa fala dentro de estruturas téc-
nicas de determinado gênero, com determinado objetivo. Consequentemente,
passamos a adequar nossa fala de acordo com as diversas situações cotidianas,
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dentro e fora de nosso ambiente pessoal.


Mesmo se acreditamos possuir um grande domínio da fala e uma competên-
cia discursiva suficiente para nos comunicarmos com outras pessoas em situações
corriqueiras, muitas vezes não temos consciência de que não estamos suficien-
temente preparados para inúmeras situações sociais de exercício da cidadania
que enfrentaremos fora de nosso ambiente pessoal, como a busca de serviços,
tarefas profissionais, encontros institucionalizados, a defesa dos próprios direi-
tos e opiniões etc. No meio social e, particularmente, no ambiente profissional,
os indivíduos são avaliados e julgados a partir das capacidades comunicativas
que possuem. Com isso, os indivíduos poderão ser aceitos ou discriminados de
acordo com a capacidade de responder dife-
rentes exigências da fala e de se adequar
aos diferentes gêneros orais.
Os gêneros textuais associados ao
agrupamento do expor são os que estão
relacionados não só à escrita, como
ocorre nos outros gêneros, mas que
estão estritamente ligados à utilização
da linguagem oral, tais como situações
públicas, realização de entrevistas, deba-
tes, seminários, conferência, palestra,
relatório oral de experiência etc.
Há diversos gêneros textuais do expor relacionados
Assim os gêneros textuais atrelados ao à oralidade, como o gênero apresentação oral ou o
gênero palestra.
expor apresentam ou expõem informações

Os Gêneros Textuais e a Exposição


IV

a respeito de um assunto, tema, objeto, situação ou fato específico, podendo


descrevê-las e/ou enumerar suas características. O objetivo dos textos nesse agru-
pamento é informar, definir, explicar, discutir ou recomendar algo utilizando a
razão. Diante disso, o domínio social de comunicação é a transmissão e a cons-
trução de saberes, e a capacidade de linguagem predominante é a exposição, por
meio da apresentação de diferentes formas do saber.
Como a maioria dos gêneros textuais desse agrupamento está relacionada à
oralidade, é relevante estar atento à organização e à quantidade de informação.
Ou seja, é importante oferecer o máximo de informações sobre um determinado

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assunto de maneira organizada e coerente, considerando o destinatário da expo-
sição, os elementos de interesse, entre outros. Além disso, um texto construído de
maneira didática provavelmente alcançará o objetivo expositivo que é seu foco.
Os textos expositivos tratam de seu objeto de forma mais direta e objetiva,
sem abrir espaço para interpretações, apenas apresentando características e infor-
mações sobre um determinado tema sem tentar convencer o leitor (mesmo diante
de casos em que os textos argumentativos e expositivos possam se misturar).
Além dos exemplos mencionados acima, entre os gêneros do expor encontram-
-se o verbete, o relatório científico, o resumo de textos expositivos e explicativos,
a tomada de notas, a resenha, entre outros.
Observe, a seguir, um exemplo de texto expositivo do gênero textual resenha:
Já faz um bom tempo que a comunidade científica necessitava de um
livro deste quilate.

A produção científica, verdadeiramente, não é uma coisa de outro


mundo, é algo que pertence a todos nós. [...]

A orientação, atividade às vezes relegada a um segundo plano e subju-


gada pela necessidade de produzir – a dissertação, a tese, os artigos – ,
é redimida nesta obra. [...]

De forma inteligente e bem-humorada, este livro resgata dimensões da


humanidade na produção científica que há muito haviam se perdido
nas brumas da academia. Os capítulos, alguns recentes, outros reescri-
tos (o que mostra que certos problemas não são tão novos quanto pen-
samos) nos inquietam, obrigando-nos a refletir sobre nossas práticas
acadêmicas [...].

O outro pilar de discussão da obra é a escrita científica. A escrita é o

GÊNEROS TEXTUAIS
141

parto intelectual, a apresentação aos pares das ideias construídas na


relação que estabelecemos com nosso problema de pesquisa, com o
método, com o objeto investigado e com o orientador. [...]

A obra é necessária para alunos da graduação e pós-graduação, pois


os processos de pesquisa, orientação e escrita são discutidos de uma
forma compreensiva, dissipando névoas que cercam a pesquisa e lhe
conferem um ar de mistério. Devemos, entretanto, fazer antes uma
advertência: é impossível sair incólume após sua leitura (FERREIRA,
2004, p. 94-95).

Veja que, nesse exemplo, temos a apresentação das características de um objeto,


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no caso, um livro sobre o ato da escrita de teses e dissertações. O autor, tendo


já lido o texto e considerando-o conveniente para determinado grupo de leito-
res, devido a alguns assuntos abordados na obra, expõe os motivos pelos quais
outras pessoas deveriam lê-lo, expondo, de forma resumida, do que trata o texto.
Os gêneros textuais ligados ao expor são bem próximos dos textos des-
critivos, no entanto os textos expositivos se preocupam com a transmissão de
informações e com a organização do conteúdo, que devem ser feitas de maneira
didática, diferentemente dos gêneros do descrever, que enfocam apenas proces-
sos ou comportamentos.
Observemos, agora, os gêneros textuais relacionados ao argumentar.

OS GÊNEROS TEXTUAIS E A ARGUMENTAÇÃO

Chegamos ao último item desta unidade, que apresenta os gêneros textuais rela-
cionados ao agrupamento do argumentar. A palavra argumentar vem do latim
argumentum, que significa “prova, justificação, razão”. Como é de nosso conheci-
mento, a argumentação está ligada ao ato de expressar uma opinião ou convicção
de modo a persuadir o ouvinte ou o leitor. Saber constituir um argumento é de
grande relevância para a defesa de um ponto de vista, de uma ideia, entre outras
situações. Além disso, é preciso ainda saber identificar os argumentos para não
se deixar persuadir por argumentos falaciosos.

Os Gêneros Textuais e a Argumentação


IV

Para isso, a construção de um texto, seja ele oral ou escrito, deve ser desen-
volvida de forma bastante explicativa, apresentando um raciocínio coerente,
convincente, baseado na verdade e capaz de influenciar outra pessoa a pensar
em concordância com o que pensamos.
A argumentação é algo que está constantemente presente em nossa vida. No
nosso cotidiano, mesmo sem perceber, realizamos tal ação quando defendemos
nossa opinião sobre algo, quando apresentamos nosso ponto de vista a alguém,
quando tentamos convencer alguém de algo ou quando precisamos enfrentar a
oposição de outra pessoa, por exemplo.

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No entanto argumentar com alguém a ponto de persuadir não é tão sim-
ples assim. A argumentação precisa ser construída de maneira adequada para
que seu objetivo seja alcançado. Assim como todos os outros textos que estu-
damos, a construção de um texto argumentativo também leva em consideração
sua finalidade e a quem se destina, de modo que seja adequado a tal objetivo,
contexto e destinatário. Por isso, é indispensável que o remetente utilize infor-
mações e referências conhecidas pelo destinatário, para que este o interprete de
modo correto, podendo, dessa forma, ser convencido.
De acordo com Garcia (2000), o ato de argumentar está relacionado à con-
sistência dos fatos, ou seja, para que haja argumentação nos textos (orais ou
escritos), é preciso se basear na lógica e não apenas nas generalizações, no senso
comum. Além disso, o autor ainda salienta que a ironia e o sarcasmo, por mais
que consigam “desequilibrar o oponente”, não devem ser considerados como
elementos argumentativos, pois fogem à consistência dos fatos, tendendo a um
comportamento falacioso, que comprova a falta de argumentos.
Diante disso, para que os argumentos sejam coerentes e convincentes, neces-
sitam de evidências ou critérios de verdade. Essas evidências se manifestam em
um texto argumentativo por meio da explanação de fatos, exemplos, ilustrações,
dados estatísticos e testemunhos, os quais são de fundamental importância para
dar credibilidade e consistência a um texto argumentativo.
A argumentação implica, ainda, segundo Garcia (2000), divergência: não se
pode argumentar sobre verdades universais e banais, e sim sobre temáticas polê-
micas e específicas que geram julgamentos diversos.

GÊNEROS TEXTUAIS
143

Isso nos mostra que existem condições que favorecem uma argumentação
clara e consistente, porém sempre refutável, já que só se argumenta sobre temas
divergentes. Contudo, estamos sempre colocando a linguagem à disposição de
nossos ideais, da nossa cultura, do que achamos que é verdade, pois formamos
juízo de valor a todo instante sobre o que vemos, lemos ou ouvimos. Nesse sen-
tido, Koch (2005, p. 17) diz que “o ato de argumentar, isto é, de orientar o discurso
no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato linguístico fundamental,
pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia (...)”.
Ao falar da estrutura do texto argumentativo e suas condições, Koch (2005)
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apresenta uma distinção entre os termos persuadir e convencer. Segundo a refe-


rida autora, a persuasão busca atingir o destinatário por meio de sentimentos,
da vontade, seduzindo-o por meio de argumentos plausíveis ou verossímeis,
estando, por isso, relacionado à emoção. O convencer está estritamente ligado
à razão, que demanda uma organização de ideias e argumentos, justificando-os
e relacionando-os por meio de provas objetivas e claras. Por isso, o ato de con-
vencer está mais ligado à lógica.
Podemos dizer, dessa forma, que há maneiras distintas de argumentar, seja
por meio da persuasão ou convencimento, que levam em conta a intenção do
locutor e sua imagem (sua credibilidade), seu público-alvo, a lógica e/ou as
emoções e, especialmente, o gênero textual que será utilizado pelo emissor para
expor seus argumentos.
Conforme afirma Viana (2000, p. 86), “a forma de argumentar que escolhemos
é responsável pela estruturação do texto, demonstra o caminho que escolhemos
para defender uma opinião”. Os argumentos devem estar ligados e encadeados
formando uma unidade de sentido, pois
as melhores ideias se perdem se usarmos argumentos fracos ou se não
soubermos encadeá-los. O encaminhamento do texto, fundado nos ar-
gumentos, revela ao mesmo tempo nossa capacidade de criação, avalia-
ção e crítica. Nosso discurso deve passar ao leitor determinados ques-
tionamentos, observações e conclusões sobre o tema (VIANA, 2000,
p. 86).

Enfim, o texto argumentativo é empregado para debater problemas sociais con-


troversos, para tentar convencer e/ou persuadir a sociedade ou um grupo a
mudar seu comportamento, para transmitir descobertas científicas etc. Baseia-se

Os Gêneros Textuais e a Argumentação


IV

sempre na sustentação, na refutação ou na negociação de uma tomada de posi-


ção, sendo que as técnicas de convencimento possuem grande relevância no
desenvolvimento desse tipo de texto.
Dentre os gêneros textuais que se encaixam no agrupamento do argumen-
tar, podemos citar os artigos de opinião, o diálogo argumentativo, a carta do
leitor, a carta de solicitação, a carta de reclamação, a carta comercial, o debate
regrado, a deliberação informal, a assembleia, os discursos de defesa e acusa-
ção (mais relacionados à área da
advocacia), a resenha crítica,

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o editorial, entre outros.
Apesar dos gêneros tex-
tuais citados apresentarem
elementos que os diferen-
ciem, tais como objetivo,
nível de formalidade, quan-
tidade de argumentos, tipos
de argumentos, entre outros,
esses gêneros possuem a
estrutura semelhante, que
se inicia com a introdução, A argumentação está presente em diversos momentos da nossa vida,
principalmente em tomadas de decisões em conjunto no meio
na qual é apresentada a situ- profissional, por exemplo.
ação inicial sobre o tema, bem
como o esboço da posição do emissor em relação a tal assunto.
Em seguida, tem-se o desenvolvimento do texto, que é o momento em
que o emissor analisa ou explicita a tese (opinião, ponto de vista, posição) que
precisa ser apoiada em argumentos fortes. Para essa finalidade, podem ser uti-
lizados fatos, exemplos, testemunhos, citações, dados estatísticos, relações de
causa e consequência etc.
Após demonstrar os argumentos, o emissor produz a conclusão do seu texto,
resumindo o que foi apresentado, retomando os argumentos expostos e refor-
çando a tese inicial.
No que se refere ao estilo de linguagem, os textos argumentativos podem ser
produzidos na 1ª pessoa do plural (nós) ou na 3ª pessoa do singular (ele). Na 3ª

GÊNEROS TEXTUAIS
145

pessoa do plural, os verbos podem estar na voz passiva, como “o experimento foi
realizado”; “observou-se que...” etc. Ao escolhermos escrever o texto na 3ª pes-
soa e pelas construções passivas, criamos um distanciamento do texto, dando a
impressão de impessoalidade, que gera, por conseguinte, um efeito de credibi-
lidade. Já quando usamos a 1ª pessoa, nos aproximamos do leitor, gerando um
sentimento de identificação e empatia.
De maneira resumida, podemos afirmar que os gêneros textuais do argu-
mentar possuem como função principal convencer e/ou persuadir o destinatário
(leitor ou ouvinte) sobre seu ponto de vista a respeito de um determinado assunto.
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Apesar de termos a liberdade de usar argumentos que podem ser originários de


pesquisas e levantamentos técnicos, é difícil dizer que estamos defendendo a ver-
dade em um texto argumentativo, já que falar sobre verdade é algo individual,
pois existem muitas verdades presentes em uma mesma situação.
Para exemplificar, propomos uma situação que pode ocorrer com você, caro(a)
aluno(a), pois envolve questões relacionadas ao profissional de Secretariado
Executivo. Vejamos:
Um gerente de uma empresa contratou uma funcionária para ser secretá-
ria dessa empresa. Em um determinado dia, essa secretária acordou com muita
dor na garganta e percebeu que estava rouca e quase sem voz, por conta de uma
infecção. Diante disso, vendo que não teria condições de ir trabalhar, a secre-
tária mandou uma mensagem ao gerente, já que estava afônica e não poderia
ligar, ao invés de ir ao trabalho, e foi procurar um atendimento médico. Vamos
imaginar que nesse dia o gerente tenha colocado outra funcionária no lugar da
secretária e que, talvez por falta de experiência dessa outra pessoa, a empresa
tenha perdido um cliente.

O gerente poderia ficar aborrecido com a secretária por ela não ter compa-
recido ao trabalho e poderia querer colocar a culpa nela, como também poderia
atribuir a culpa à pessoa que ele colocou para substituí-la. A verdade do gerente
diria que uma dessas duas funcionárias, independente do motivo, prejudicou a
empresa. No entanto a verdade da secretária dizia que, mesmo que ela tivesse
ido ao trabalho, ela estava rouca, quase sem voz, e não teria conseguido conver-
sar com o cliente.

Os Gêneros Textuais e a Argumentação


IV

Mas é preciso, ainda, considerar outra verdade, a do cliente, que talvez já


pretendesse deixar a empresa independente da situação, não sendo a ausência
da secretária ou a falta de experiência da pessoa substituta os motivos pelo ocor-
rido. Caso cada uma dessas pessoas envolvidas (gerente, secretária, substituto e
cliente) fosse escrever um texto argumentativo explicando as causas da desistên-
cia do cliente, sem dúvida, teríamos quatro versões muito diferentes, nas quais
os argumentos utilizados poderiam ser apresentados de diversas maneiras para
sustentar a opinião e a verdade individual de cada um.
A situação apresentada confirma o que estudamos sobre a argumentação. Para

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argumentarmos de maneira eficaz, a ponto de convencer/persuadir alguém, é pre-
ciso que saibamos realmente o sentido da palavra verdade, já que argumentamos
para convencer alguém da nossa verdade, e não para, simplesmente, conven-
cer alguém da verdade em geral. Assim a verdade é uma questão de opinião, de
ponto de vista, que envolve a quantidade de informação e de experiência que
cada indivíduo possui de uma situação geral, como também a forma que cada um
interpreta as informações que possui para comprovar (ou contestar) uma ideia.
O discurso jurídico, como o julgamento, é também um ótimo exemplo que
podemos considerar para finalizar nossos estudos sobre a relação entre argu-
mentação e verdade, já que, nesse caso, é relevante que os advogados envolvidos
sustentem a acusação e a defesa com a maior quantidade de evidências, testemu-
nhas e comprovações possíveis. Sendo assim, o discurso que estiver mais bem
estruturado, fundamentado e com maior quantidade de argumentos poderá
ser considerado como o discurso da verdade. Caso o discurso (da acusação ou
defesa) esteja mal construído, com poucos e/ou fracos argumentos, as consequ-
ências poderão ser a condenação de um inocente, a absolvição de um culpado
ou, ainda, arquivar o processo por falta de argumentos satisfatórios.
Para finalizar, verificaremos os argumentos utilizados pelo locutor em uma
carta comercial para revelar suas intenções e posicionamentos, como também
sua maneira de agir com as palavras para convencer/persuadir seu interlocu-
tor. Vejamos:

GÊNEROS TEXTUAIS
147

Rio de Janeiro, 15 de maio de 2015.

Prezado(a) Senhor(a) XXXXXXX,


CPF XXXXXXXXXXX
CONTRATO XXXXXXXXXXX

Informamos que até a data de emissão desta comunicação não identificamos o


pagamento das últimas prestações referente ao seu contrato com a nossa empre-
sa.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Como nosso compromisso é satisfazer suas necessidades e auxiliar nossos clien-


tes, não poderíamos deixar de lhe oferecer uma nova oportunidade para regulari-
zar esta pendência e voltar a ter crédito.
Com certeza, ocorreram imprevistos, os quais fizeram com que você não conse-
guisse efetuar o pagamento até o momento. No entanto, o importante mesmo é
que chegou esta nova chance em suas mãos! Confira nossa proposta:

Liquide esta dívida por apenas R$ 255,06

Como é possível verificar, o valor para quitação é menor que o valor original em
aberto no seu contrato. Faça um esforço extra e regularize sua situação.
Em caso de dúvidas, entre em contato conosco. Teremos o maior prazer em aten-
dê-lo: 0800 XXXXXXX (ligação gratuita).
Atenciosamente,
_________________________________
Supervisor de cobrança.
XXXX Promotoria de Crédito Ltda.
Rua da Esperança, 123.
Rio de Janeiro – RJ
CNPJ no. 00123000123
Quadro 05: Exemplo de carta comercial
Fonte: a autora.

Os Gêneros Textuais e a Argumentação


IV

Como podemos observar nessa carta de cobrança (Quadro 05), emitida por uma
determinada financiadora a um cliente específico, o emissor inicia seu discurso
apontando as necessidades financeiras do cliente em questão, que precisam ser
satisfeitas com a intenção de mostrar a preocupação da empresa em ajudar os
clientes a resolverem seus problemas financeiros.
A partir disso, o emissor vai construindo seu discurso por meio de argumen-
tos que convençam o cliente sobre o compromisso da empresa em oferecer uma
nova oportunidade para a regularização de pendências e voltar a ter créditos,
tornando-o um cliente “especial” mediante a utilização do adjetivo “nova”, que

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
marca o ponto de vista do emissor. Além disso, o locutor mostra-se compreensivo
com o cliente ao afirmar que “com certeza, ocorreram imprevistos”, na intenção
de persuadi-lo e levá-lo a aceitar a proposta que será apresentada em seguida.
Como uma característica da argumentação, foi possível observar, ao longo
da extensão da carta, que o intuito do emissor é tentar convencer/persuadir seu
cliente a liquidar a dívida que possui. Dessa maneira, o supervisor de cobrança
da financiadora vai expondo argumentos para direcionar como seu cliente deve
agir, mostrando-lhe que não pode perder a oportunidade única que lhe está
sendo oferecida para quitar seus débitos.

GÊNEROS TEXTUAIS
149

Uma boa argumentação é baseada em “provas”, no raciocínio coerente de


informações, nos dados, nos acontecimentos, entre outros, utilizados para
demonstrar que a ideia que defendemos é correta ou, pelo menos, lógica.
Para isso, existem diferentes tipos de argumentos que nos auxiliam no mo-
mento da construção do texto (ou da fala) para que possamos realmente
convencer o destinatário da posição que defendemos e termos um texto
mais consolidado na sua estrutura argumentativa. Os tipos mais comuns de
argumentação são: argumentação por citação, por comprovação, por racio-
cínio lógico ou com base no senso comum.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No link a seguir, você poderá conhecer um pouco mais sobre a argumenta-


ção e sobre seus tipos, além dos exemplos que tornam o estudo mais com-
preensível. Confira mais no link disponível em: <http://www.ebah.com.br/
content/ABAAABEd0AH/capitulo-8-modos-argumentar-persuadir>. Acesso
em: 27 jul. 2015.
Fonte: a autora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos, então, ao fim de mais uma unidade, na qual enfocamos a questão


dos gêneros discursivos/textuais. Primeiramente, vimos o que são esses gêne-
ros e sua relação estrita com a comunicação, pois os gêneros textuais respondem
a diferentes interações sociais, que implicam usos da linguagem, de forma oral
e/ou escrita, que será orientada de acordo com o interlocutor, com o objetivo
pretendido, bem como com a situação histórica e social. A partir disso, estuda-
mos que cada gênero textual é utilizado para determinados fins focalizados pelo
remetente e que supõe um contexto, uma intenção, um conteúdo temático, um
estilo de linguagem e uma estrutura específica para que possam ser capazes de
realizar a transmissão de uma mensagem.
Com isso, iniciamos a abordagem dos gêneros textuais a partir de uma lista
de objetivos precisos. Começamos nossos estudos falando sobre os gêneros tex-
tuais do descrever, observando que a descrição pode ser tanto a descrição de um
objeto como a de uma ação ou processo, por exemplo. Em seguida, passamos

Considerações Finais
IV

para os gêneros textuais relacionados à narração e ao relato, especificando suas


características e diferenciando-os.
Depois, passamos a analisar os gêneros do expor, esclarecendo que tais gêne-
ros estão relacionados não só à escrita, como ocorre nos outros gêneros, mas
estão estritamente ligados à utilização da linguagem oral.
Finalizando o estudo com as funções que podem separar os gêneros, pas-
samos a explicar o que viria a ser a ação de argumentar e as características dos
gêneros pertencentes a esse agrupamento. Falamos, ainda, sobre os usos de tais
gêneros, sobre as diferenças entre convencer e persuadir, e terminamos apre-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sentando um exemplo de como podemos encontrar um caso de argumentação
no meio profissional.
Esperamos, portanto, que esta unidade tenha trazido bastante conhecimento
e, especialmente, reflexões a respeito da fala e da escrita nas diversas situações
sociais, além de serem úteis em sua prática profissional.

GÊNEROS TEXTUAIS
151

1. Explique o que são gêneros textuais primários e secundários segundo Bakhtin.


2. Aponte e defina as três características essenciais presentes nos gêneros textuais.
3. Qual a diferença entre circulação e suporte textual?
4. Apresente os cinco agrupamentos estudados e seus gêneros textuais corres-
pondentes.
Os gêneros textuais no ciberespaço
É de grande valia, após termos introduzido a questão sobre os gêneros textuais, falar
um pouco sobre a circulação dos gêneros no ciberespaço. Primeiramente, o termo “ci-
berespaço” é, ao mesmo tempo, um termo muito recente, apesar de ser também muito
presente em nosso cotidiano.
A palavra “ciberespaço” apareceu pela primeira vez no romance de ficção científica Neu-
romante, de William Gibson, publicado em 1984. Na obra, o termo designa “o universo
das redes digitais, descrito como campo de batalha entre as multinacionais, palco de
conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural” (LÉVY, 1999, p. 94). Lévy, em
sua obra sobre cibercultura, define o cibespaço como “o espaço de comunicação aberto
pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos compitadores” (LÉVY,
1999, p. 94), o qual, para o pensador, “tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear
todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simu-
lação” (LÉVY, 1999, p. 95).
Dizendo de outro modo, o ciberespaço passaria, cada vez mais, a ser mais um dos “espa-
ços sociais” por onde a humanidade circula, lugar esse que oferece sua próprias e par-
ticulares experiências, formas de comunicação, enfim, toda uma atuação diferente de
atuação no “mundo real”, como se o ciberespaço fosse uma espécie de “mundo paralelo”.
Diante disso, nesse “mundo paralelo”, não nos comunicamos a partir dos mesmos meios
que no “mundo real”, não usamos cartas, livros, atas, não deixamos bilhetes na geladeira.
Em suma, os gêneros usados no “mundo paralelo”, ainda que por vezes equivalham aos
usados no “mundo real”, são gêneros diferentes.
Para isso, podemos refletir da seguinte maneira: em que gênero do “mundo real” po-
deríamos inserir a postagem em blog? Ou o e-mail (com suas variadas facetas)? Ou as
mensagens interativas, o chat, o fórum, o tweet, o gif? De que forma diferenciar, toman-
do por base os gêneros do “mundo real”, uma mensagem escrita no mural do perfil de
alguém em uma rede social de uma escrita em sua caixa de mensagens (inbox)?
Pensando rapidamente nos e-mails, por exemplo, é possível lembrar que eles não são
sempre de uma mesma forma. Há e-mails que se parecem com conversas, outros que
são mais formais, há e-mails que são, na verdade, propagandas ou comprovantes, entre
outras possibilidades.
153

Os novos gêneros, logicamente, não surgem “do nada”, mas a partir de novas formas
de comunicação, já que a própria língua é viva e vai se adequando às novas situações
e transformações sociais de um povo. Além disso, a partir das plataformas à disposição,
os velhos gêneros se transfiguram, gerando novos gêneros. É assim que as plataformas
como o rádio, a televisão, o jornal, a revista e a internet possibilitaram novos gêneros,
como os editoriais, as notícias, as telemensagens, teleconferências, as videoconferên-
cias, as reportagens ao vivo, as correspondências eletrônicas (e-mails), os bate-papos
virtuais, as aulas virtuais etc. E, ainda, possibilitam de tempos em tempos outros novos
e diferentes gêneros.
Assim, entre os gêneros possibilitados pelas novas tecnologias, temos os e-mails, os
chats ou salas de bate-papo, as listas de discussão (fóruns), os weblogs (blogs) etc., além
daqueles possibilitados pelas redes sociais, como postagens em mural, imagens como
frases etc.
Fonte: a autora.
MATERIAL COMPLEMENTAR

[Re]Discutir texto, gênero e discurso


Inês Signorini
Editora: Parábola
Sinopse: um livro composto de vários trabalhos voltados
para a discussão de questões específicas relacionadas
ao texto, gênero e discurso, três objetos de interesse
de diferentes disciplinas e perspectivas modernas dos
estudos da linguagem. Os capítulos buscam mostrar
questões teórico-metodológicas por meio do enfoque
na língua/linguagem em seus contextos de uso real e
práticas específicas de interação social.

Bakhtin: conceitos-chave
Beth Brait
Editora: Contexto
Sinopse: um livro composto por artigos de vários estudiosos
da língua traz, em específico, o texto de Irene Machado,
“Gêneros Discursivos”, em que a autora analisa os gêneros
discursivos a partir da perspectiva de Bakhtin, focalizando
suas especificidades, além das formas interativas que se
realizam pelo discurso para a constituição dos gêneros.
Esse livro, como um todo, discute conceitos e termos que
antes eram aplicados à literatura e hoje são válidos para
os veículos de comunicação de massa, além de questionar
sobre como as teorias de Bakhtin contribuem para a análise
de textos e discursos reflexivos na sociedade.

Acessando o link a seguir, você poderá aprofundar seus conhecimentos sobre questões relevantes
acerca dos gêneros textuais. É possível, ainda, ampliar seus estudos diante da variedade de
exemplos que o referido site apresenta, já que cada gênero está separado em tópico e você pode
escolher fazer a leitura do qual mais lhe interessar.
Disponível em: <http://www.portugues.com.br/redacao/generostextuais/>. Acesso em: 27 jul.
2015.
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine

ABORDAGENS DE LEITURA E

V
UNIDADE
ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar um breve percurso histórico da Redação Técnica.
■■ Apresentar os fundamentos da linguagem no texto técnico.
■■ Conhecer os elementos básicos de leitura de textos técnicos.
■■ Compreender alguns documentos de rotina em escritórios e suas
características.
■■ Entender a estrutura e características da carta comercial.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Breve histórico da Redação Técnica
■■ Fundamentos da linguagem no texto técnico
■■ Elementos básicos de leitura de textos técnicos
■■ Textos técnicos: alguns documentos de rotina em escritórios
■■ Estrutura do texto técnico: carta comercial
157

INTRODUÇÃO

Finalmente, chegamos à última unidade de nosso livro, e ela será direcionada


para um tema fundamental de sua atuação profissional, pois tratará de maneira
específica sobre as características e produção de textos técnicos. É importante
assinalar que o percurso teórico que traçamos até aqui visou dar base e possi-
bilitar ao(à) leitor(a) um olhar especial para a leitura, a escrita, seus processos
e construção de sentidos no interior das práticas sociais de maneira geral, para,
então, voltarmos nossos estudos à temática particular da Redação Técnica. Sendo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

assim, você irá encontrar um apanhado teórico aprofundado sobre a Redação


Técnica e o seu percurso histórico, além de outros aspectos sobre o trabalho com
os textos técnicos no ambiente de trabalho.
Nesta unidade, veremos como se estruturam alguns textos técnicos e a lin-
guagem utilizada neles. Além disso, esses itens são analisados não só na produção
escrita como também na leitura e compreensão desses textos, já que envolvem
aspectos específicos pertencentes a certos meios e ambientes sociais como repar-
tições públicas, empresas e inúmeras outras organizações, que desenvolvem suas
ações por meio da linguagem oral ou escrita.
Nesse sentido, descreveremos alguns métodos que permeiam a produção da
Redação Técnica e que, nesse contexto, favoreçam novas formas de escrita, dei-
xando de lado fórmulas que se tornaram clichês e que fizeram da linguagem um
objeto desgastado. Com isso, pretendemos expor alternativas capazes de tornar
o texto técnico mais eficaz, garantindo, assim, a efetividade da comunicação.
Depois de discorrermos bastante sobre as questões apresentadas, passa-
remos para o estudo do principal texto técnico, a carta comercial, e falaremos
sobre alguns documentos de rotina em escritórios. Dessa forma, esperamos que
esta unidade seja esclarecedora, que levante muitas reflexões e questionamen-
tos e que seja extremamente útil ao seu futuro profissional como Secretário(a)
Executivo(a).
Vamos ao texto!

Introdução
V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
BREVE HISTÓRICO DA REDAÇÃO TÉCNICA

Assim como tivemos grandes transformações no estudo da linguagem, que data


desde o século IV a. C., a Redação Técnica também sofreu transformações ao
longo do tempo. Os primeiros textos considerados técnicos eram aqueles que
registravam as trocas comerciais e essa função era dedicada aos escribas, que
dominavam a escrita desses “documentos” e eram responsáveis por classificar os
arquivos, redigir as ordens, registrar dados numéricos, redigir leis, copiar e arqui-
var informações etc. Na Grécia Antiga, eles constituíam um grupo privilegiado,
já que uma minoria da população tinha acesso à língua e, consequentemente, à
escrita, principalmente de textos técnicos e oficiais.
Na Idade Média, com o movimento religioso denominado Reforma Protestante,
o clero passou a se envolver com questões não só religiosas, mas também políti-
cas, sociais, administrativas, realizadas pelo Papa, arcebispos, bispos e Padre, ou
seja, pelo clero secular (do latim saeculum, que significa “mundo”, ligado às coisas
terrenas). Em seguida, os possíveis textos técnicos passaram a ser redigidos pelo
clero regular (do latim regula, que significa “regras”), constituído por monges e
abades recolhidos em mosteiros, que possuíam uma intensa atividade intelectual,
pois eles se dedicavam à conservação e recuperação das obras da antiga cultura
greco-romana, monopolizando seu conhecimento e restringindo sua difusão.

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


159

Com isso, vemos que a escrita do texto técnico tem suas raízes desde a
Antiguidade Clássica. Muitos autores ainda citam as obras de filósofos como
Aristóteles, que trouxe, juntamente com seus estudos referentes à linguagem, as
primeiras formas de escrita técnica.
Na Idade Moderna, com a invenção da imprensa mecânica e o início do
Renascimento, surge uma necessidade ainda maior de documentar descobertas,
em que inventores e cientistas como Isaac Newton e Leonardo Da Vinci escre-
viam textos que registravam suas invenções e achados. Apesar de nunca terem
sido chamados de textos técnicos durante o período de publicação, foram esses
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

textos que desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento de for-


mas técnicas de escrita.
Assim o campo da redação técnica se expandiu durante a Revolução Industrial,
pois, com a invenção e utilização de máquinas cada vez mais complexas, tornou-se
necessário instruir pessoas para usá-las de maneira adequada. Como ninguém,
além dos inventores, sabia utilizar esses novos aparelhos, a forma escrita tornou-
-se a maneira mais eficaz para explicar esses usos. Com isso, muitos escritores
passaram a documentar essas instruções por meio de textos técnicos.
Foi durante o século XX que se expandiu a necessidade da escrita técnica. Os
acontecimentos da Primeira Guerra Mundial e da Segunda Guerra Mundial leva-
ram a avanços na área da medicina, de equipamentos militares, da tecnologia de
computadores e aeroespaciais, e, com isso, surge a urgência de documentos bem
escritos que descrevessem a utilidade dessas tecnologias. Durante esse tempo, a
redação técnica esteve em evidência e tornou-se um modelo de documento ofi-
cial durante a Segunda Guerra Mundial.
As grandes mudanças nas empresas ocorreram após esse período que,
juntamente com os avanços tecnológicos oriundos da pós-guerra, trouxe trans-
formações não só nos meios empresariais, mas também na organização e nos
hábitos do cotidiano social das pessoas. Com essas mudanças, a palavra escrita
passou a ser mais valorizada por meio da informatização e da comunicação via
Internet, pois exigia dos profissionais, principalmente daqueles que trabalhavam
com a comunicação, um aperfeiçoamento na habilidade escrita e oral.
Após esse período, com os avanços tecnológicos, houve intensas mudan-
ças na organização e nos hábitos do cotidiano social e empresarial. Uma dessas

Breve Histórico da Redação Técnica


V

mudanças, como já dissemos, foi a valorização da palavra escrita mediante a


informatização e da comunicação via Internet, exigindo dos profissionais que
lidam com a comunicação um aprimoramento na capacidade de expressão tanto
oral como escrita.
A consequência direta disso foi uma mudança nos textos técnicos, que se
modificaram tanto em sua forma como em seu estilo de linguagem, visando a
uma adequação à cultura das empresas modernas e à velocidade de propaga-
ção das informações. Diante disso, surgiu uma preocupação maior em tornar
a mensagem eficaz e adequada com sua forma, considerando as variações exis-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tentes entre as empresas, a cultura interna e seus valores. De acordo com Gold
(2007), antes se usava um estilo de linguagem prolixo, isto é, a utilização de um
vocabulário mais sofisticado, com uso de clichês e subterfúgios. Atualmente,
tem-se um estilo de linguagem mais objetivo, com apresentação das informa-
ções necessárias com clareza.
Para a referida autora, nos dias atuais, a maior dificuldade encontrada nas
Redações Técnicas é o excesso de informalidade nas mensagens veiculadas por
e-mail, por exemplo, o que faz com que o assunto seja redigido com uma “fala
despreocupada”, com ideias desorganizadas e pouco claras. Segundo Gold (2007,
p. 102), para evitar esse tipo de problema, é preciso organizar com atenção as
informações que se deseja transmitir, como também ter o cuidado de não come-
ter erros gramaticais, pois, mesmo o e-mail sendo um meio de comunicação mais
informal, os textos técnicos são documentos empresariais.
Diante dessas considerações, passaremos a conversar sobre os funda-
mentos da linguagem no texto técnico, no qual trataremos de alguns princípios
básicos da linguagem na Redação Técnica.

FUNDAMENTOS DA LINGUAGEM NO TEXTO TÉCNICO

Desde o início desta unidade, temos usado a expressão “texto técnico” para fazer
referência ao grupo de textos pertencentes à Redação Técnica. No entanto você

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


161

sabe qual a diferença existente entre esse tipo de texto e os demais que não per-
tencem a esse grupo? Pois bem, iremos apresentar as características peculiares ao
texto técnico e diferenciá-lo dos demais que estudamos ao longo deste material.
Provavelmente você deve ter imaginado que os textos técnicos necessitam
de mais cuidado com a linguagem, já que veiculam em ambientes empresariais,
nos quais não podemos utilizar a linguagem de qualquer maneira.
Diferente dos textos literários, por exemplo, o texto técnico possui estreita
relação com o texto informativo, pois procura ter somente uma interpretação, ao
passo que o texto literário é plurissignificativo, ou seja, possibilita mais de uma
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

leitura. Assim como o texto informativo, o texto técnico possui uma estrutura
preestabelecida e submete-se, com certo rigor, às normas da linguagem formal,
visando, primeiramente, veicular o conteúdo.
Essas características principais são decorrentes da necessidade de regis-
trar, por escrito, os negócios, contratos e acordos estabelecidos entre as partes
envolvidas nas transações entre empresas. Para que outras pessoas possam ler
e interpretar esses documentos em outro tempo e lugar, é importante que a lin-
guagem desse texto escrito garanta a continuidade das ideias, independente de
se esse texto foi produzido com o auxílio de meios eletrônicos.
Mesmo diante do surgimento da internet, o registro escrito impresso na folha
de papel ainda é presente em muitas empresas, e as normas de elaboração do texto
pouco se alteraram com o advento dos avanços tecnológicos. Principalmente no
meio empresarial, o registro por escrito dos documentos continua sendo uma
necessidade, pois um contrato, por exemplo, escrito com uma linguagem ade-
quada, evita o surgimento de divergências de interpretação e, consequentemente,
o descumprimento de uma determinada cláusula e/ou o cumprimento do acordo.
É importante estar atento ao redigir textos técnicos, já que eles exigem cum-
primento de particularidades próprias não só da linguagem escrita de modo geral,
mas de características específicas que atendam às expectativas do meio linguísti-
co-social em que circulam. Essas exigências conduzem a forma como o indivíduo
de determinado grupo social irá compreender os textos que circula nesses meios.
Como afirma Guimarães (1992, p. 65), “os textos são produtos da atividade
humana e, como tais [...], estão articulados às necessidades, aos interesses e às con-
dições de funcionamento das formações sociais no seio das quais são produzidos”.

Fundamentos da Linguagem no Texto Técnico


V

É nos textos e/ou documentos produzidos no meio social que encontramos pre-
sentes os requisitos que satisfazem as negociações.
Para Bronckart (1999, p. 72, grifo nosso), “há textos cujas formas estão insti-
tucionalmente estabelecidas ou fixadas: os rituais religiosos, as leis, os contratos,
os documentos em geral”. Uma maneira de compreender essa afirmação é pen-
sando, por exemplo, como pareceria estranho se um fornecedor comunicasse ao
seu distribuidor que acaba de lançar um novo produto por meio de um relató-
rio e não por meio de uma carta comercial.
Assim, é necessário salientar que um texto técnico é marcado por sua estru-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tura peculiar específica de cada gênero textual. A maioria dos textos técnicos
apresenta formas fixas, apesar de algumas formas sofrerem alterações devido à
evolução da língua. Podemos retomar, ainda, algumas características do texto
técnico, tais como univocidade (que permite apenas uma só interpretação), valo-
rização do plano do conteúdo, maior obediência às normas da língua de nível
formal, entre outros.
Conforme estudamos na unidade anterior, a respeito das características dos
gêneros textuais, os textos técnicos, que compõem o agrupamento da Redação
Técnica, são textos de diferentes gêneros textuais. Das três grandes principais
características que estudamos (tema, estrutura composicional e estilo de lin-
guagem), aqui, a estrutura composicional é considerada a mais relevante, pois
marca cada texto técnico específico. Qualquer pessoa medianamente letrada que
observe uma folha impressa que comece citando local, data e vocativo, seguin-
do-se de um texto e terminando com atenciosamente e, em seguida, com uma
assinatura, logo perceberá que se trata de uma carta. Por isso, a você, caro(a) alu-
no(a), se torna primordial conhecer e observar as práticas de estruturação dos
diversos gêneros textuais que estão inseridos em determinados grupos sociais.
Para que fique claro, é só imaginar como as pessoas achariam esquisito se fos-
sem convidados para uma festa de debutante por meio de uma edital.
Com relação ao estilo de linguagem dos textos técnicos, em geral, todos
devem utilizar:

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


163

■■ F
rases curtas, pois torna o texto mais coerente, sendo mais fácil assimi-
lar uma ideia por vez, possibilitando uma rápida compreensão.
■■ V
erbos na voz ativa, que proporcionam ao texto técnico maior clareza e
maior exatidão nas ideias apresentadas. Por exemplo: “A empresa Itatiaia
Móveis realizou pesquisas...” é uma forma mais enfática e clara de apre-
sentar a informação.
■■ V
ocabulário acessível ao receptor, bem como o uso de uma linguagem
própria à área de atuação da empresa ou do cliente. Cuidado ao utilizar
palavras difíceis, “pomposas”, rebuscadas para impressionar. Nesse caso,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

pode levar a comunicação a não alcançar seu objetivo.


■■ C
om cuidado, palavras abstratas (por exemplo: felicidade, liberdade etc.)
ou de conotação que envolvem preconceito, pois há palavras que, por
causa de sua ampla carga semântica, apresentam significados diferen-
tes para diferentes indivíduos; assim como evitar palavras que encerram
juízo de valor, tais como: errado, bom, mau, certo, agradável etc.
■■ P
alavras particulares e específicas ao assunto, sem generalizar. Um vocabu-
lário genérico torna o texto comum, impreciso. Disso advém a importância
de chamar objetos e ações por seus nomes e, com isso, usa-se o código
fechado em lugar do código aberto (conteúdo visto na segunda unidade
deste livro).
■■ P
alavras concisas e breves, evitando expressões prolixas. Um tipo de
expressão que se deve evitar é “seguem em anexo” que pode ser substi-
tuída apenas por “anexos ou anexamos”. Verifique, no exemplo a seguir,
a diferença entre um texto técnico prolixo e o mesmo escrito de forma
concisa.

Fundamentos da Linguagem no Texto Técnico


V

PROLIXO CONCISO
Agradecemos imensamente sua carta Agradecemos seu interesse em publi-
e seu interesse em publicar conosco car conosco sua obra. Esta editora não
seus maravilhosos e bem redigidos está investindo em novas publicações
trabalhos. Nossa diretriz editorial, no momento, embora reconheçamos
contudo, está sendo gerida pelas atuais que sua obra foi elaborada com apuro
e catastróficas dificuldades por que científico. Obrigado por nos ter ofereci-
atravessa o país, não podendo, por isso, do seu texto.
a empresa investir em novos e atraen- Atenciosamente,
tes títulos no presente momento.
Confúcio de Oliveira.
Fossem outras as condições do mo-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mento, certamente teríamos a maior
satisfação em publicar sua insigne
obra. Com nossos melhores agradeci-
mentos pela oferta, manifestamos ao
ensejo as expressões de nossa elevada
consideração e apreço.
Confúcio de Oliveira.
Quadro 06: Exemplo de texto prolixo e texto conciso
Fonte: Medeiros (2005).

Como podemos observar, algumas palavras foram eliminadas, pois não acres-
centavam nada e eram desnecessárias, e outras foram substituídas. A brevidade
em um texto técnico é o mais relevante, isso não quer dizer uma brevidade “seca”,
tão breve e sucinta ao ponto de deixar as informações incompletas, tornando a
leitura difícil, na qual o leitor realiza apenas a decodificação.
Assim como não há extremo com relação à brevidade de um texto, também
é preciso estar atento à utilização de uma linguagem informal. Podemos fazer
uso dessa linguagem, no entanto devemos evitar o formalismo exagerado. O
mesmo serve para a gramática exagerada e para o coloquialismo extrapolado.

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


165

“Entre duas palavras, escolho sempre a mais macia, a mais lisa, a mais per-
meável (...). Eu desconfio dos adjetivos, mais ainda dos advérbios: o que vale
é o verbo. (...) Tento adequar a linguagem àquilo que ela procura exprimir, de
maneira quase camaleônica (...). A linguagem tem de impulsionar a ação. (...)
Tenho que fazer com que a história flua através das palavras, sem que o lei-
tor tropece nelas. Isso faz com que eu seja lido por vários níveis de leitores.”
Fonte: Fernando Sabino.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Existem qualidades comuns aos textos escritos em geral. Porém, como temos visto,
há características que são específicas de cada gênero textual ou de uma categoria
de textos. O texto técnico, por sua especificidade, precisa perseguir uma série de
características para o estabelecimento de uma linguagem adequada. Vejamos as
que mais se destacam na perspectiva de Zanotto (2002).

Adequação
Um texto técnico adequado é aquele que respeita as características do gênero
textual a que pertence e considera as circunstâncias de sua produção e recep-
ção. Um exemplo é o texto empresarial: ele será adequado se respeitar a estrutura
geral, a distribuição de partes, a seleção vocabular, a estrutura da frase e as demais
qualidades próprias desse gênero, como também o nível de linguagem exigido
para cada caso.
Imagine uma situação em que um filho envia uma carta a seu pai redigida
da seguinte maneira:

Querido pai,
Aguardo ansiosamente Vossa Senhoria para meu aniversário.
(...)

Fundamentos da Linguagem no Texto Técnico


V

Veja que não seria adequada a utilização do pronome de tratamento (Vossa


Senhoria) nesse gênero, mesmo o filho respeitando a hierarquia existente entre
pai e filho, já que se trata de uma carta familiar, um contexto mais informal, na
qual não é exigido o uso do nível elevado da linguagem.

Correção
De modo geral, a correção é a qualidade imprescindível a qualquer texto escrito.
O texto considerado correto respeita as normas de linguagem pertinentes de
acordo com a situação em que se insere. Nos textos técnicos, que circulam nos

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ambientes comerciais, o erro pode trazer como consequência o desprestígio do
emissor. Dependendo do tipo de erro, pode, ainda, comprometer a compreensão
da mensagem, acarretando significados equivocados do que se quis expressar,
resultando em prejuízos, às vezes, até muito graves.

Objetividade
Assim como a brevidade, o texto considerado objetivo vai direto ao tema, sem
fazer rodeios dispensáveis. Além disso, as informações devem ser precisas e, sem-
pre que necessário, ao fazer referência a documentos que possuem números, é
importante que eles estejam acrescentados. Nos textos técnicos, não é objetivo,
por exemplo, a carta comercial que informa “acabamos de receber as merca-
dorias enviadas ontem” em vez de dizer “recebemos nesta data as mercadorias
constantes na sua Nota Fiscal 1234”.
Outro exemplo que podemos citar é o relatório, no qual não seria obje-
tivo, por exemplo, apresentar informações que qualificassem uma determinada
reforma de um prédio vistoriado como “muito dispendiosa” em lugar de infor-
mar exatamente seu custo. Ainda podemos pensar em um texto que, mesmo
sendo possível dizer tudo em poucas linhas, o emissor inventa maneiras para
expandir o texto, apresentando ideias repetidas ou desnecessárias. No entanto
não devemos confundir objetividade com grosseria ou arrogância.

Originalidade
Apesar de o texto técnico ser objetivo, nada impede que ele possa ser também
original, isto é, que a linguagem utilizada revele um toque pessoal, revestindo as

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


167

ideias de criatividade própria. É possível conseguir essa originalidade por meio


da seleção de palavras, na estrutura das frases e no uso cuidadoso das figuras de
linguagem. Um exemplo interessante é o de Graciliano Ramos, que se tornou
escritor ao redigir um relatório para o governador de Alagoas ao encerrar seu
mandato como prefeito de Palmeira dos Índios. Vejamos um trecho desse rela-
tório apresentado por Kaspary (1993, p. 176).

Exmo. Sr. Governador:


Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados. Não foram muitos, que os
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nossos recursos são exíguos.


Lutei com tenacidade e encontrei obstáculos dentro da prefeitura e fora dela –
dentro, uma resistência mole, suave, de algodão em rama; fora, uma campanha
sorna, oblíquo, carregada de bílis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos de
Nosso Senhor, que administra melhor do que todos nós; outros me davam três
meses para levar um tiro.
Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos: saíram
os que fazem política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se me-
tem onde não são necessários, cumprem as suas obrigações e, sobretudo, não se
enganam em contas. Devo muito a eles.
Procurei sempre os caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram só há cur-
vas onde as retas foram inteiramente impossíveis.
Evitarei emaranhar-me em teias de aranha.
Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos disparates. Todos os meus
erros, porém, foram da inteligência, que é fraca.
Há descontentamentos. Se a minha estrada na Prefeitura por dois anos dependes-
se de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos.
Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
Graciliano Ramos.

Perceba que, nesse trecho, há a utilização de uma linguagem e estrutura mais arcaica,
já que se trata de um relatório redigido em 1929, no entanto apresenta essa origina-
lidade de que estamos falando, pois o escritor Graciliano Ramos vai apresentando
suas ideais com um tom mais pessoal, por meio da seleção de algumas expressões
específicas, tais como “lutei com tenacidade”, “de algodão em rama”, “carregada de
bílis”, entre outras, assim como no modo como as frases são organizadas.

Fundamentos da Linguagem no Texto Técnico


V

Persuasão
Em conformidade com o que estudamos na unidade anterior, a questão da per-
suasão está atrelada às características vistas no item específico sobre os gêneros
textuais e a argumentação, no qual discorremos sobre a persuasão e o conven-
cimento. Como vimos, persuasivo é o texto que convence e, para convencer, é
preciso argumentar. O texto convence não só por argumentos lógicos como tam-
bém será persuasivo na medida em que atender aos requisitos, às qualidades que
lhe são próprias. Contribuem para atingir esse objetivo desde os recursos lin-
guísticos até a estrutura do texto técnico em geral.

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Polidez
De acordo com Zanotto (2002, p. 32), o texto que possui a característica da poli-
dez é aquele que “não agride, que respeita o destinatário e consegue transformar
a mensagem escrita até em oportunidade para formar a boa imagem de quem
o expede”. É um traço mais comum nas correspondências, mesmo quando se
trata de assuntos delicados ou desagradáveis, a linguagem presente nos textos
técnicos deve primar pela cortesia. Existem diversas maneiras, por exemplo, de
cobrar, mediante carta, uma conta atrasada ou reclamar por um serviço mal
feito sem ser deselegante. Ainda que seja necessário fazer tais ações com fir-
meza, é importante evitar a agressão por meio das palavras. Observe o exemplo
abaixo apresentado por Zanotto (2002, p. 32), que exemplifica bem o que aca-
bamos de explicar.

ESTILO POUCO POLIDO ESTILO POLIDO


É urgente sua presença na nossa loja Voltamos a solicitar sua presença em
a fim de tratar do pagamento de sua nossa loja. Apesar de nossa tentativa
prestação vencida ainda no último dia em carta anterior, ainda não consegui-
30, pois V. Sa. não atendeu ao nosso mos contato com V. Sa. a fim de tratar
primeiro aviso, o que poderá lhe acar- da quitação de sua prestação vencida
retar sérios problemas de cadastro. no último dia 30.

Simplicidade
Mais uma das qualidades de todo texto técnico é a simplicidade, ou seja, sim-
ples é o texto que procura informar ao invés de impressionar. Especificamente

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


169

quando tratamos do texto técnico e de correspondência (cartas, de modo geral),


o que interessa ao destinatário é o assunto, que esteja escrito de maneira clara,
sem complicações na linguagem, que acabam conspirando contra uma interpre-
tação adequada do que se quis comunicar. Ao contrário, um texto técnico, que
impressiona, que chama a atenção além do aceitável, acaba desviando o foco do
leitor para o que é secundário, a forma, estrutura, em detrimento do essencial,
que é o conteúdo, a informação.
Enfim, esses são alguns dos fundamentos da linguagem no texto técnico aos
quais é preciso estar atento no exercício da função de Secretário Executivo, já
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que é exigido desse profissional saber se comunicar de forma adequada não só


na oralidade, mas também na escrita. Mediante o uso das considerações aqui
abordadas para o tratamento com o estilo de linguagem dos textos técnicos, é
possível comunicar-se de maneira organizada e coerente, visando atingir os obje-
tivos no interlocutor.

ELEMENTOS BÁSICOS DE LEITURA DE TEXTOS


TÉCNICOS

Na unidade III, estudamos, especificamente,


sobre as questões relativas ao processo de lei-
tura e sua relação estrita com a escrita. De
maneira geral, a leitura de qualquer tipo ou
gênero textual envolve o processo de signi-
ficação, que também já observamos. Neste
momento, discutiremos sobre os elemen-
tos básicos que envolvem a leitura de textos
técnicos, mas algumas explicações fazem
parte da leitura de textos como um todo, e
você perceberá que algo ficará redundante, mesmo sendo questões relacionadas
aos gêneros textuais pertencentes à Redação Técnica. No entanto todo reforço

Elementos Básicos de Leitura de Textos Técnicos


V

contribui para que você, caro(a) aluno(a), fique ainda mais conhecedor(a) des-
ses textos.
Muitas regras que estão relacionadas à escrita convergem, consequentemente,
para uma leitura adequada, já que a compreensão correta de um texto depende
de um texto bem redigido. Quando lemos um texto técnico, uma carta comer-
cial, por exemplo, e temos o nome de uma empresa como remetente, associamos
a escrita dessa carta a toda a empresa e não a quem a redigiu. Uma carta mal
escrita, mal formatada e sem clareza representa – para quem lê – uma empresa
pouco confiável, gerando uma imagem negativa.

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No ambiente profissional, principalmente, você, prezado(a) aluno(a), será
não só o emissor de muitos documentos que permeiam o meio empresarial, mas
também o receptor de vários textos técnicos. Para que a compreensão ocorra de
forma satisfatória e, consequentemente, as atitudes sejam tomadas sem erros,
é necessário que você esteja atento(a) aos itens que são essenciais tanto para a
escrita como para a leitura de textos pertencentes à Redação Técnica.
Por isso, muitas vezes, uma única leitura não é suficiente para apreender
todos os sentidos de um texto, principalmente quando se trata da leitura de tex-
tos técnicos, que exigem mais atenção e responsabilidade por parte de quem lê,
já que, em seguida, será preciso tomar decisões. Assim é importante que, em uma
primeira leitura, você verifique se há o uso de termos técnicos desconhecidos,
pois o desconhecimento de qualquer termo pode comprometer as ações futuras.
Retomando o que dissemos na unidade III, a leitura é fonte de conheci-
mento e autonomia do sujeito, e isso influencia diretamente na compreensão
de textos técnicos, visto que a falta de conhecimento do assunto abordado no
texto é um empecilho à comunicação, seja ela oral ou escrita. De acordo com
Medeiros (2003), outros fatores como a falta de experiência, a falta de imagi-
nação, a ausência de atenção (distração) e a falta de disposição para entender
também atrapalham a compreensão textual.
Muitos textos técnicos apresentam alguns “defeitos” que, às vezes, passam
despercebidos pelo nosso olhar leitor e nos atrapalham no alcance dos objetivos
desejados. Para Medeiros (2005), são considerados defeitos graves que prejudi-
cam a leitura e a consecução do objetivo:

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


171

■■ a pressa e a falta de reflexão;


■■ o uso de palavras imprecisas e o acúmulo de adjetivos;
■■ a presença de palavras vazias de significação, tais como “coisa”, “então”,
“casualmente”, “via de regra” etc.;
■■ o acúmulo de gerúndios, particípios, tempos compostos;
■■ a presença de gírias;
■■ a linguagem redundante, prolixa.
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A predisposição favorável do leitor é consequência de um texto com argumen-


tos suficientes, adequados e bem redigidos. Um documento que apresente frases
bem articuladas, com lógica, provas, demonstrações e bom senso na escolha das
palavras, por mais longo que seja, será lido e compreendido de maneira correta.
O referido autor apresenta alguns casos que ainda causam obstáculos à cor-
reta compreensão de qualquer texto técnico e, consequentemente, constituem
falhas que devem ser evitadas. Observe o quadro a seguir que exemplifica a afir-
mação de Medeiros (2005).

Casos que constituem falhas Exemplos


1. A confusão que se faz entre fatos e A secretária digitou errado o relatório
opinião. porque estava desatenta. (opinião)
A secretária Íris de Almeida digitou o
relatório de vendas de março de 2015.
O relatório apresenta 10 erros de orto-
grafia. (fato).
2. A confusão que se faz entre indícios Se o relatório apresenta erros de digita-
e observações apuradas. ção é porque foi Íris de Almeida que o
digitou. (indício)
O relatório de vendas de abril apresen-
ta erros de ortografia. As indicações do
profissional que digitou são I.A., que
significa Íris de Almeida. (observação)

Elementos Básicos de Leitura de Textos Técnicos


V

3. A tendência de ver só semelhanças e Secretárias auxiliares são assim mes-


não diferenças ou a visão preconceitu- mo... (preconceito)
osa dos fatos. Secretárias sem curso superior de Se-
cretariado encontram dificuldades nas
atividades de uma empresa moderna.
(sem preconceito)
4. A polarização, que se identifica como Os protestantes são fanáticos.
tendência de reconhecer apenas os Os advogados são exploradores.
extremos, negligenciando posições
Os políticos de esquerda são arruacei-
intermediárias. Na Redação Técnica, a
ros ou baderneiros.
polarização conduz os leitores a posi-

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ções que levam ao desentendimento.
5. A utilização de palavras que con- Nacionalista, comunista, judeu, baiana-
têm indicação de credo político ou da, gringo, neoliberal etc.
nacionalidade, raça, apelidos. Embora
siga as regras da gramática, corre-se
o risco de uma comunicação ineficaz
simplesmente pelo uso de uma dessas
palavras.
6. A falsa identidade baseada em Os estudantes de Direito são neolibe-
palavras, consequência de uma leitura rais.
desatenta e raciocínios apressados. Tra- Fulana é estudante de Direito.
ta-se de associação verbal que ameaça
Logo, Fulana é neoliberal.
os significados das situações.
Quadro 07: Situações que constituem falhas ao leitor
Fonte: baseado em Medeiros (2005).

Na maioria das vezes, ao realizar a leitura de um texto técnico, devemos procurar


pequenos detalhes que, aparentemente insignificantes, contribuem decisivamente
para conferir qualidade ao texto escrito e compreensão adequada por parte do
leitor. Como nosso foco são os textos pertencentes à Redação Técnica, os deta-
lhes formais passam a merecer maior atenção, já que, não raro, podem interferir
até no correto entendimento do documento.
Ao se deparar com um texto técnico, é importante que o profissional de
Secretariado observe a estrutura, a apresentação geral, para que possa ir reconhe-
cendo de qual gênero textual se trata. Durante a leitura, é preciso estar concentrado
ao conteúdo, verificando as informações fornecidas e/ou as solicitações exigidas,
assim como identificar o nome das pessoas, empresas e/ou entidades envolvidas.
Após uma leitura atenta e cuidadosa, é possível tomar as decisões adequadas.

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


173

“Para que uma mensagem se torne efetiva são necessários alguns requisitos:
estar fisicamente ao alcance do receptor; ser compreendida por ele; poder
ser por ele comprovada; ser de alguma utilidade para o receptor” (MEDEI-
ROS, 2005, p. 18).

Há vários fatores que impedem uma leitura eficaz de um texto técnico. Da parte
do receptor, podemos considerar como empecilhos à compreensão o nível de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

conhecimento insuficiente acerca de um assunto específico, a falta de experi-


ência ou a falta de imaginação, a ausência de atenção (distração ao ler), assim
como a falta de disposição para entender. Esses fatores também estão ligados
de alguma maneira à escrita, já que, como estudamos, escrita e leitura possuem
uma estreita relação.
Aprimorar a leitura de textos técnicos e ultrapassar as barreiras que impedem
uma leitura eficaz só é possível com o conhecimento e leitura assídua dos textos
que chegam e circulam no ambiente de trabalho do profissional de Secretariado
Executivo. Esse profissional precisa ter em mente que realizar boas leituras é um
meio de alcançar os objetivos de uma empresa. Quando conseguimos extrair
informações exatas de um documento de modo rápido, temos “bagagem” sufi-
ciente para tomar decisões eficazes.
Assim, no ato de ler, é relevante analisar, além de outros itens que já mencio-
namos, mas que acrescentam resultados positivos à comunicação (seja ela oral
ou escrita): quem está comunicando e que tipo de pessoa ela é; o que essa pessoa
quis dizer; a mensagem está clara; há algo que é preciso verificar fora do texto;
as informações foram transmitidas de maneira coerente; foi apresentado algum
argumento; é necessário se posicionar; foram usadas as palavras adequadas às
circunstâncias; o texto apresenta a quantidade de informações necessárias; as
informações são de qualidade; o emissor conseguiu convencer; o emissor atin-
giu o objetivo esperado; você compreendeu qual ação precisa realizar etc.
Diante disso, podemos verificar a imensa responsabilidade do profissio-
nal do Secretariado em conhecer bem a Língua Portuguesa, seja para escrever
como para ler, já que essas ações serão solicitadas em todo o momento no meio

Elementos Básicos de Leitura de Textos Técnicos


V

social em que esse profissional atuará. Além disso, é preciso ter conhecimento
sobre alguns elementos que direcionam a leitura de textos técnicos, já que cada
gênero textual pertencente à esfera empresarial possui uma temática específica,
uma estrutura definida e um estilo de linguagem próprio, que o diferenciam dos
textos que estamos acostumados a ler no nosso dia a dia.
No tópico a seguir, apresentaremos, de modo geral, alguns dos gêneros textu-
ais (e suas características mais relevantes) que você poderá encontrar e trabalhar
em seu ambiente profissional. Em seguida, estudaremos um gênero textual espe-
cífico de modo mais detalhado.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Vamos lá! Continue sua leitura!

TEXTOS TÉCNICOS: ALGUNS DOCUMENTOS DE


ROTINA EM ESCRITÓRIOS

Ao longo deste material, temos abordado a importância da leitura e da escrita


na vida profissional dos Secretários Executivos. Por isso esses profissionais pre-
cisam conhecer os diversos textos que permeiam o universo empresarial, já que
lidam com a comunicação e trabalham diretamente com vários gêneros textuais,
sejam eles orais ou escritos, em situações específicas do cotidiano empresarial,
com suas regras e normas, para o adequado funcionamento comunicativo den-
tro da organização pública ou privada.
Assim, em nosso dia a dia, estamos em contato com textos inseridos em
nossas práticas sociais que nos conduzem ao contato permanente com os mes-
mos. Esses gêneros refletem a nossa forma de atuação em sociedade, já que cada
gênero possui uma estrutura, uma representação e uma funcionalidade especí-
fica. Dolz e Schneuwly (2004, p. 23) afirmam que “o gênero é um instrumento”,
ou seja, em determinada situação comunicativa a qual o indivíduo é exposto, ele
utilizará diversos gêneros – “instrumentos” – para corresponder à ação comuni-
cativa do momento. Da mesma maneira, o(a) secretário(a) precisa conhecer os
diversos gêneros textuais que permeiam o ambiente profissional para saber se

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


175

comunicar da maneira adequada em cada momento que for solicitado. Enfim, é


necessário não só conhecer os gêneros, mas saber utilizá-los como instrumentos.
Diante disso, apresentaremos alguns gêneros textuais e suas características
basilares pertencentes à Redação Técnica. Nesse momento, veremos os docu-
mentos mais comuns de rotina em escritórios e/ou empresas.

ATA
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Conforme explica Medeiros (2005, p. 79), ata é um registro em que se relata, de


maneira minuciosa, o que se passou em uma reunião, assembleia ou convenção.
Existem variados tipos de atas, tais como: ata de assembleia geral extraordiná-
ria, de assembleia geral ordinária, de condomínio, entre outras. A característica
principal desse documento é que ela deve ser assinada pelos participantes da
reunião em alguns casos, conforme regras da empresa, pelo presidente ou secre-
tário, sempre. Para sua escrita, devem ser observadas algumas normas, a saber:
• deve ser escrita em livro próprio de tal modo que não seja possível fazer
modificações;
• as ocorrências verificadas devem ser sintetizadas de maneira clara e
precisa;
• o texto da ata não possui parágrafos, caso apresente parágrafos, eles
devem estar numerados, sem o uso de alíneas;
• não pode haver rasuras;
• no caso de erros verificados no momento da escrita, usa-se a partícula
corretiva “digo”;
• quando o erro for notado após a escrita de toda a ata, emprega-se a
expressão “em tempo”, que é colocada após todo o escrito, seguindo-se, então, o
texto corrigido. Por exemplo: “Em tempo: na linha onde se lê ‘pata’, leia-se ‘para’”.
• no momento em que ocorrem correções à ata ou alguma contestação
pertinente, a ata só será assinada após aprovadas as alterações;
• os números devem ser escritos por extenso;
• a ata é redigida por um(a) secretário(a) efetivo. No caso de sua ausên-
cia, nomeia-se um secretário destinado para essa finalidade.

Textos Técnicos: Alguns Documentos de Rotina em Escritórios


V

Com relação à estrutura da ata, é fundamental apresentar dia, mês, ano e hora
da reunião (por extenso); o local da reunião; a relação e a identificação das pes-
soas presentes; a declaração do presidente e secretário(a); ordem do dia e fecho.
Vejamos um exemplo de ata apresentado por Medeiros (2005, p. 83).

JALENTO INDUSTRIAL S.A.


Sociedade Anônima de Capital Aberto
CGC 87.100.501-001
ATA DE REUNIÃO DE DIRETORIA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Aos cinco dias do mês de fevereiro de 2015, às nove horas, na sede social, na Rua
dos Mananciais, no. 82, São Paulo (SP), reuniu-se a Diretoria de Jalento Industrial
S.A., presentes todos os seus membros infra-assinados, sob a presidência do Sr.
Fulano de Tal, que convidou a mim João Daqueles para secretário. Assim reuni-
dos, deliberam os senhores diretores por unanimidade pela extinção das ativida-
des da Filial localizada na Avenida Bambuzal, no. 120 – Bairro dos Bambus – São
Paulo (SP), uma vez que a medida atende aos interesses da sociedade. Nada
mais havendo a tratar, foi encerrada a Reunião, lavrando-se a presente ata que,
lida e achada conforme, vai ser assinada por todos os presentes. São Paulo, 5 de
fevereiro de 2015, Fulano de Tal, Presidente da Mesa; João Daqueles, Secretário.
Silvano de Tal, Diretor-presidente; Lourival da Silva, Diretor, Vice-presidente Exe-
cutivo; Celano de Oliveira, Diretor-financeiro; Galeano Pereira, Diretor; Pavânio
Lúcido, Diretor. A presente é cópia fiel da original lavrada no livro próprio. João
Daqueles/Secretário. Registrada na Jucesp sob no.0003456789 em 5 de março de
2015.

Como foi possível observar, na ata em questão, foi lançada a ocorrência da reunião
de uma empresa específica, assim como as decisões tomadas, com a participação
dos membros da diretoria. Além disso, obedece às normas próprias e apresenta
a estrutura apropriada, como também está escrita em linguagem clara e obje-
tiva, registrando os fatos indispensáveis da reunião.

ATESTADO

O atestado é a declaração, o documento firmado por uma autoridade em favor


de alguém ou algum fato de que se tenha conhecimento. É um documento ofi-
cial com que se certifica, afirma, assegura, demonstra alguma coisa que interessa

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


177

a outrem. Em alguns casos, equivale ao certificado. Entre outros, existe o ates-


tado médico, de tempo de serviço, de frequência etc.
Sua estrutura é composta por título, o qual cita o nome do documento (ates-
tado de frequência, por exemplo); texto, que é composto do conteúdo do que
se afirma; local e data (referentes à expedição do documento) e assinatura, que
deve ser acompanhada do nome legível e do cargo ou função de quem assina.
Observe o exemplo a seguir retirado de Zanotto (2002, p. 80).

Estado de Santa Catarina


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Município de Florianópolis
Secretaria Municipal da Fazenda
(Demais dados da secretaria)

ATESTADO DE TEMPO DE SERVIÇO

Atesto para fins de aposentadoria que Fulano de Tal, matrícula no. 12345x, nível
4, triênio 10, é servidor desta Secretaria desde o dia 10 de Janeiro de 1975, tendo
completado nesta data “tantos” dias de serviço.

Florianópolis, 10 de Maio de 2001.

Santo A. Dias
Secretário

Note que, no atestado apresentado, o secretário afirma a veracidade de uma


informação, sendo responsável pelo que está informando, ou seja, o tempo de
serviço de um servidor.
No entanto é relevante mencionar que existe semelhança entre o atestado,
a declaração, o certificado e a certidão. O que esses documentos possuem em
comum é o fato de servirem para afirmar a existência ou inexistência, o conhe-
cimento ou o desconhecimento de fatos, dados, direitos, situações, estados etc.
O que os distingue é especialmente a fonte de onde vem o conteúdo do que afir-
mam e a posição de quem concorda/assina.

Textos Técnicos: Alguns Documentos de Rotina em Escritórios


V

MENSAGENS ELETRÔNICAS (E-MAIL)

As mensagens eletrônicas,
mais conhecidas como
“e-mail”, nos dias atuais,
são um dos gêneros tex-
tuais mais redigidos ao
redor do mundo, seja para
falar de assuntos banais na

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comunicação entre jovens
ou para tratar de grandes
negociações entre empre-
sas. Os mais diferentes
assuntos que podem estar
em um e-mail, nas mais
diversas faixas etárias e áreas, ocorrem devido à rapidez e praticidade que o meio
eletrônico consegue conciliar. No entanto, devido a essas duas grandes caracterís-
ticas e o uso recorrente do e-mail pelas pessoas, foi necessário uma padronização
do texto desenvolvido nessas mensagens eletrônicas. Como afirma Marcuschi
(2004), a criação da “Netiqueta” veio com o propósito de impor regras de com-
portamento na internet para que, assim, as pessoas pudessem se comunicar
adequadamente dentro desse novo ambiente digital.

Netiqueta
Netiqueta é uma palavra construída a partir das palavras inglesas network
e etiquette. Refere-se a uma etiqueta recomendada para o uso da internet.
Consiste em um conjunto de recomendações para evitar conflitos e mal-en-
tendidos via internet, em e-mails, fóruns, chats etc.
Para saber mais a respeito, consulte o site disponível em: <http://www.sa-
fernet.org.br/site/sites/default/files/netiqueta.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2015.

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


179

A mensagem eletrônica é como qualquer outra mensagem escrita, principal-


mente quando se trata do meio social onde o e-mail irá circular. Diante disso,
requer os mesmos cuidados, ou seja, clareza, simplicidade, coerência, coesão
entre ideias, precisão etc. Ao redigir um e-mail, o emissor ocupa-se de dar res-
posta aos seguintes elementos: o que (o objeto do texto, da comunicação), para
quem (o destinatário), para que (objetivo da comunicação), quando ocorreu o
fato (data), como o leitor deve proceder e por que se está comunicando.
Além desse cuidado com a precisão da informação, o emissor deve conside-
rar aspectos relativos à argumentação: com gentileza poderá alcançar melhores
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resultados do que com rispidez. Assim, nunca é demais um “por favor”, “por
gentileza”, “muito obrigado”, “obrigado por sua atenção”, “desculpe-nos por...”,
entre outras expressões.
Podemos enviar e-mails para as mais diversas finalidades. No entanto, nos
ambientes em que você, futuro(a) profissional de Secretariado, estará inseri-
do(a), será preciso ficar atento(a) ao objetivo do e-mail e, diante disso, proceder
as adaptações necessárias quanto ao grau de formalidade, ao nível de linguagem,
à seleção lexical, à estrutura e apresentação geral, tudo em consonância com os
hábitos vigentes no meio social para onde o e-mail será direcionado. A lingua-
gem, em especial, deve espelhar esses diferentes objetivos. Para um e-mail formal,
é adequado o emprego da linguagem culta.
Em vista disso, as formas abreviadas devem ser evitadas. Muitas pessoas
que escrevem e-mail acreditam que o efeito de sua mensagem está no número
de abreviaturas que utiliza (vc = você; rs = risos; bjs = beijos), mas, como já foi
dito anteriormente, essas abreviaturas só serão possíveis de acordo com o des-
tinatário em questão e as finalidades da mensagem, que direcionarão o grau de
formalidade.
Na maioria das vezes, o e-mail assume o formato de recado, comunicado,
bilhete ou carta. A diferença reside no tipo de suporte da mensagem, pois os
outros textos, normalmente, têm por suporte a folha de papel, ao passo que a
mensagem eletrônica escreve-se “sobre” a tela do computador.
Por possuir remetente e destinatários certos, o e-mail pertence ao grupo das
correspondências. O texto estrutura-se em torno de uma primeira pessoa que
partilha assuntos com uma segunda pessoa discursiva determinada.

Textos Técnicos: Alguns Documentos de Rotina em Escritórios


V

Estruturalmente, o texto deve ter um vocativo (saudação inicial), a men-


sagem propriamente dita, uma despedida respeitosa e assinatura (nome do
remetente). A saudação inicial deve ser composta pelo nome da pessoa, seguida
de dois pontos, por exemplo:

Prezado Diretor:
Cecília Meireles:

Ao digitar seu texto, evite o excesso de destaque, como o uso de letras maiúscu-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
las, itálico, sublinhado, negrito, aspas e outros. Ocupe-se, principalmente, com a
coesão e coerência das ideias, pois elas precisam estar relacionadas umas com as
outras. Por isso é recomendável o uso de frases curtas, tais como: “Aguardo sua
resposta até as 18 horas” ou “Por favor, queira enviar-nos sua proposta”.
Após despedir-se, ao final, coloque sua assinatura, que pode ser padroni-
zada ou apenas seu nome e nome da empresa (ou logomarca).
Seguiremos agora para o estudo da carta comercial, um gênero textual
também pertencente à Redação Técnica. Aproveite ao máximo todas estas infor-
mações!

ESTRUTURA DO TEXTO TÉCNICO: CARTA COMERCIAL

De modo geral, a carta comercial é o meio


de comunicação que as empresas utilizam
para se comunicar por escrito. Essa deno-
minação abrange tanto a correspondência
de escritórios e empresas comerciais quanto
a do setor da indústria e dos serviços. A
comunicação escrita vem acondicionada
em envelope (ou semelhante) e endereçada
a uma ou várias pessoas. Por isso, como em

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


181

todos os gêneros textuais já vistos, há a necessidade de linguagem clara, simples,


objetiva, concreta (sem ser vaga) e correta. Acrescente-se a isso a existência de
toda uma série de normas que regulam, como, por exemplo, o uso do vocativo
adequado, de formas de tratamento, de fecho de cortesia, entre outros.
As cartas comerciais tratam especificamente de negócios, porém uma gama
bastante variada de outros assuntos pode ser abordada por correspondência com
o formato de carta empresarial. Assim, existe carta de cumprimentos, emprego,
apresentação, recomendação, autorização, informações, advertência, solicita-
ção, cobrança, carta-convite, divulgação, envio de documentos, orçamento etc.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Conforme estudamos, a carta comercial é um gênero textual que possui


uma estrutura composicional, um estilo de linguagem e uma temática definida.
A temática será definida de acordo com o tipo de carta que será escrita, assim
como o estilo de linguagem acompanhará o objetivo de cada tipo de carta.
Com relação à estrutura composicional, você já deve ter percebido que, de
modo geral, as cartas iniciam-se sempre com local e data, por exemplo: São Paulo,
14 de junho de 2015. Na sequência, a carta comercial deve apresentar o endereça-
mento, que se compõe dos dados do destinatário e pode ser interno ou externo. O
endereçamento interno, que consta no corpo da carta, apresenta nome do desti-
natário e endereço. Verifique o exemplo a seguir retirado de Zanotto (2002, p. 45),

Metalúrgica Brasil
Rua São Luís, 110
Porto Alegre – RS
90000-000

O endereçamento externo é o que vai ao envelope e deve estar completo, inclusive


com o CEP, que vai à última linha, após a localidade, ou na mesma linha desta.
Não é necessário destacar, sublinhar o nome do destinatário nem o da localidade.
A epígrafe (também denominada referência, assunto, ementa) constitui-se
de um tópico que sintetiza o assunto da carta. Localiza-se entre o endereça-
mento e o vocativo. No entanto só é possível utilizar a epígrafe quando a carta
trata de um único assunto, não sendo, dessa forma, um elemento obrigatório.

Estrutura do Texto Técnico: Carta Comercial


V

Apesar disso, a carta epigrafada, em comparação com a carta simples (sem epí-
grafe), oferece a vantagem de possibilitar a identificação imediata do assunto de
que trata, por isso deve ser sintética e bem específica. Observe a sequência de
endereçamento, epígrafe e vocativo.

Banco do Brasil
Rua da Consolação, 1234
Rio de Janeiro – RJ
Prorrogação de vencimento da duplicata 100-00

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Senhor Gerente:

Note que a epígrafe “Prorrogação de vencimento da duplicata 100-00” indica


exatamente o assunto, sem ser sucinta demais, nem extensa em excesso.
Como é possível verificar no exemplo acima, o vocativo é a saudação inicial
dirigida ao destinatário: “Senhor Gerente”, e antecede imediatamente o texto.
Vocativos adequados são, por exemplo, os que citam o cargo da pessoa, ante-
cedidos de Senhor ou Senhora: “Senhor Gerente”, “Senhor Diretor”, “Senhor
Presidente”, “Senhora Professora”, “Senhora Chefe” etc. Em caso de maior inti-
midade e cordialidade, pode-se usar o adjetivo “Caro” seguido do nome ou cargo
da pessoa: “Caro Adalberto Luís”, “Caro Coordenador”.
É indispensável cuidar sempre da coerência. Não seria coerente, por exem-
plo, começar com um vocativo de cordialidade uma carta de cobrança, de crítica,
de negativa de atendimento a pedido. Segundo Zanotto (2002, p. 49), o vocativo
“Prezado Senhor”, por exemplo, é considerado um “chavão desgastado, que mais
desmerece que preza”. O referido autor ainda aconselha que “reserve-se essa fór-
mula aos casos em que não se tenha maiores informações sobre o destinatário”
(ZANOTTO, 2002, p. 49).
Considerando que o que vem logo após o vocativo é o primeiro parágrafo
da carta, que se inicia, por conseguinte, com letra maiúscula, é importante que
o vocativo venha seguido de dois pontos ou vírgula. Na sequência, temos o
corpo da carta, ou seja, o texto, que é o essencial de qualquer correspondência.
Evidentemente, os elementos contextualizadores e localizadores, a aparência, o

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


183

visual e a formatação exercem papel na valorização do conjunto do documento.


Porém o foco sempre será o assunto, manifestado pelo texto. É fundamental,
então, lembrar das qualidades e características comuns a todos os textos escri-
tos, objeto de estudo diluído ao longo de todo este material.
Diante disso, mesmo em uma carta comercial, é possível ser criativo. Devemos
evitar o uso de “frases feitas”, arcaicas, aquelas já programadas por manuais, e
utilizar termos e expressões apropriadas a cada situação. Na maioria das vezes,
a utilização semelhante das “frases feitas” em situações diferentes pode resultar
em falta de coerência e impropriedades desagradáveis. Por isso se torna mais efi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

caz utilizar o próprio vocabulário de acordo com a situação exigida.


Como temos visto, é comum dividir os textos em introdução, desenvolvi-
mento e conclusão. No entanto, quando tratamos da carta comercial, Zanotto
(2002) assevera ser mais adequado denominar as partes de início, continuação
e fecho. De acordo com o autor, não se trata apenas de uma simples mudança
de nomenclatura, mas de adequação em vista da evolução da linguagem, já que
os textos técnicos modernos raramente apresentam parágrafo de introdução.
O normal, atualmente, é iniciar o texto já tratando do assunto (se houver um
só). Caso contrário, o emissor corre o risco de inventar introduções vazias, des-
necessárias, somente para atender ao requisito de apresentar uma introdução.
Assim o ideal é um início e uma continuação seguidos de fecho, assinatura etc.
Vejamos cada uma dessas partes:
I) Início – antes de tudo, faça a seguinte reflexão: como iniciar bem uma
correspondência, especialmente uma carta comercial? A partir disso, inicie ao
natural, sem artificialismos e sem desperdiçar tempo e papel com fórmulas ultra-
passadas. O leitor, em especial de cartas comerciais, não tem tempo a perder. É
preciso ser conciso, objetivo, claro e direto. Observemos alguns inícios apresen-
tados por Zanotto (2002), os quais ele classifica em adequados e inadequados.

INÍCIO INADEQUADO INÍCIO ADEQUADO


Tem o presente documento a finalida- Solicitamos que...
de de solicitar que...
Queremos informar por meio desta Informamos que...
que...

Estrutura do Texto Técnico: Carta Comercial


V

Vimos comunicar que... Comunicamos que...


É por este meio que lhes fazemos che- Estamos enviando...
gar às mãos...
Quadro 08: Exemplos de início inadequado e adequado às cartas comerciais
Fonte: baseado em Zanotto (2002).

II) Continuação – conforme apresentamos, a continuação do texto nada


mais é que o prosseguimento na abordagem dos assuntos da carta. Quando a
carta compõe-se de apenas um assunto, pode até nem ter continuação, pois o
assunto poderá ser resumido em um único parágrafo. Já cartas que tratam de dois

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ou mais assuntos, é importante que sejam estruturadas em parágrafos distintos.
III) Fecho – é a frase de despedida, que pode estar alinhada na direção do
parágrafo ou posicionada sobre a assinatura. Evite fechos do tipo: “sendo o que
tínhamos para o momento...”; “nada mais tendo para acrescentar...”; “sem mais
para o momento”; “com estima e apreço, subscrevemo-nos...”; entre outros.
O correto é reduzir ao mínimo as palavras de um fecho de carta comercial.
O que se deve escrever é o que realmente faz sentido. Se houver necessidade de
agradecer, cabe um parágrafo de agradecimento ou, caso seja preciso reafirmar
alguma providência, também cabe um parágrafo de reiteração desse tópico, pois,
nesses casos, está sendo satisfeita uma necessidade. Caso contrário, o mais ade-
quado é encerrar com um dos seguintes fechos, escolhendo o mais apropriado
para cada situação: “atenciosamente”; “cordialmente”; “com apreço”; “saudações”;
“antecipamos agradecimentos”; “aguardamos para breve sua resposta”; “temos
certeza da compreensão de Vossa Senhoria” etc. Os três primeiros fechos mencio-
nados, por se tratarem de adjuntos adverbiais, devem estar seguidos de vírgula. Os
outros fechos são frases autônomas, por isso devem ser seguidos de ponto final.
Por fim, o último elemento na carta comercial deve ser a assinatura. Todo
documento, para ser válido, deve ser assinado. Uma carta comercial sem assinatura
revela, no mínimo, descuido, esquecimento, além, é claro, de se poder questio-
nar seu valor. A assinatura deve ser acompanhada do nome legível (digitado) e
do cargo ou função de quem assina. O nome do signatário deve estar legível e
não é necessário colocar todas as letras em maiúscula. Além disso, também não
é necessário traçar uma linha sobre a qual deveria ser aposta a assinatura, como
era feito antigamente. Sendo assim, observe os exemplos:

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


185

ERRADO CORRETO

__________________________ Paulo Jairo Silveira


Dr. PAULO JAIRO SILVEIRA Diretor
Diretor

Veja que outro erro comum é antepor o título ao nome do signatário como no caso
acima (Dr.). Nas cartas comerciais, o título é dispensável. Se a secretária assinar a
carta comercial por seu executivo, deverá fazer isso de modo que seu nome seja
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legível. Nesse caso, coloca-se p/ antes do nome do executivo, que significa por
Fulano de Tal (isto é, “na ausência de meu executivo, estou assinando por ele”).
Quando a carta comercial é redigida por uma pessoa, digitada por outra
e assinada por uma terceira, pode-se colocar, após a assinatura, as iniciais do
redator e do digitador, nessa ordem. Apesar disso, o mais comum é aparecerem
somente as iniciais de quem digitou a carta. O recomendável é que essas iniciais
sejam escritas em letras maiúsculas, já que provêm de nomes próprios.
Mas acredito que você esteja se perguntando se isso é obrigatório, não é?
Pois bem, a decisão de fazer constar ou não essas iniciais depende da intenção de
registrar quem redigiu e quem digitou o documento. Caso você opte por acres-
centar esse registro, as iniciais do redator aparecem em primeiro lugar, seguida
das iniciais do digitador. Essas iniciais devem estar localizadas no rodapé da carta,
à esquerda, após a assinatura. Se o redator e o digitador forem os mesmos, colo-
ca-se uma barra diagonal e, na sequência, as iniciais. Observe:

AB/MAC – significa Almeida Brandão (redator) e Maria Aparecida Cristina


(digitadora).
[ou]
/AB – Almeida Brandão (redator e digitador).

Outro detalhe que pode estar presente nas cartas comerciais é a abreviatura c/c,
que significa com cópia. Quando o assunto da carta comercial interessa não só
ao destinatário, mas também a outras pessoas, é importante que os outros inte-
ressados recebam cópia do texto. Além disso, esse procedimento ocorre quando

Estrutura do Texto Técnico: Carta Comercial


V

se julga respeitável que pessoas, setores, departamentos sejam informados do


conteúdo da correspondência. Nesse caso, é necessário fazer constar o nome
das pessoas que receberão a cópia da carta. Diante disso, a via original vai para
o destinatário e as cópias para os co-destinatários. O aviso de cópias (C/c) deve
estar localizado no canto inferior da página.
Fique atento(a) para a diferença entre enviar uma carta comercial com aviso
de cópias e expedir uma circular. A circular é uma correspondência enviada a
vários destinatários, sem distinção de hierarquia. Já a carta comercial, da qual
se avisou que foram enviadas cópias a outra (ou outras pessoas), tem um des-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tinatário “titular”. A ele interessa, em primeiro lugar, o assunto do texto, como
também uma possível resposta passa primeiro por ele. A quem recebeu a cópia,
interessa somente tomar conhecimento do documento ou a resposta deverá pas-
sar pelo destinatário principal.
Abaixo, segue um exemplo de final de carta comercial constando assina-
tura, iniciais e aviso de cópias.

Atenciosamente,

Paulo Jairo Silveira


Diretor

AB/MAC

C/c: Gerência Administrativa

Conforme observamos no exemplo anterior, foi enviada cópia da carta para a


Gerência Administrativa. Se for enviada cópia a mais de um departamento, por
exemplo, ao Departamento de Contabilidade, deve-se colocar esse outro departa-
mento abaixo de “Gerência Administrativa”, um em cada linha, respectivamente.

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


187

“Sentada à escrivaninha, diante da máquina de escrever ou do computador,


a preocupação da secretária será sempre produzir uma resposta, tornar co-
mum suas ideias (os interesses de sua empresa) e persuadir, apresentando
fatos, argumentos” (MEDEIROS, 2003, p. 43).

Após a explanação de cada elemento que compõe a carta comercial, veremos, a


seguir, um modelo completo desse gênero textual. Observe o exemplo retirado
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e adaptado de Zanotto (2002, p. 55).

São Miguel do Norte, 4 de outubro de 2001.

Atacadista Sulino
Rua São Tomé, 1123
Canoas – RS
95010-000

Demora nas entregas

Senhor Gerente:
Como bem sabe V. Sa., a rapidez é uma característica do nosso tempo. Nos negó-
cios também. Infelizmente, não é o que está acontecendo com as suas remessas
de mercadorias. Precisamos encurtar o tempo entre o fechamento dos pedidos e
a entrega dos produtos. Conhecendo suas ligações com a Trans-Mérito, sugerimos
que discuta o assunto com essa transportadora, em busca de solução rápida do
problema.
Contamos com sua compreensão e providências.
Atenciosamente,
Sandro S. Barros
Secretário Executivo
SS/TL
C/c: Departamento Jurídico

Estrutura do Texto Técnico: Carta Comercial


V

O modelo de carta comercial apresentado contém todos os elementos constituti-


vos de uma carta comercial. Verifique a presença desses componentes de maneira
detalhada para que fique claro:
■■ Localidade e data: São Miguel do Norte, 4 de outubro de 2001.
■■ Endereçamento interno: Atacadista Sulino

Rua São Tomé, 1123


Canoas – RS
95010-000

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Referência (ou Ref.:): Demora nas entregas
■■ Vocativo (ou invocação): Senhor Gerente
■■ Texto: Como bem sabe V. Sa., a rapidez é uma característica do nosso
tempo. Nos negócios também. Infelizmente, (...).
■■ Cumprimento final: Contamos com sua compreensão e providências.
■■ Fecho: Atenciosamente
■■ Assinatura e função do signatário: Sandro S. Santos

Secretário Executivo
■■ Iniciais do redator e do digitador: SS/TL. Nesse caso, o redator foi o
próprio secretário (Sandro S. Santos) e o digitador Tomás Lacerda (TL).

■■ Cópias: C/c: Departamento Jurídico – o interesse do redator é que a carta


seja lida não só pelo gerente da empresa, mas também por um responsá-
vel do Departamento Jurídico.

Acredito que, agora, tenha ficado bem visível como é estruturada uma carta
comercial, não é? No entanto, prezado(a) aluno(a), é necessário que você pes-
quise em outras fontes de conhecimento, que conheça outras possibilidades de
textos técnicos, para não só sanar suas dúvidas, como também para aprofun-
dar suas habilidades.
Mas, antes de finalizar, é importante salientar que alguns livros apresen-
tam, ainda, a possibilidade da existência de outros elementos na composição da

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


189

carta comercial, assim como alguns autores não consideram alguns componen-
tes ou afirmam que o endereçamento interno, por exemplo, está caindo de uso.
Por isso, reafirmo aqui a importância de continuar pesquisando e lendo sobre
a Redação Técnica.

Ao estudarmos a teoria da Redação Técnica, além de tudo o que vimos du-


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

rante a unidade, não podemos nos esquecer de alguns subsídios e normas


gramaticais considerados imprescindíveis para quem trabalha na elabora-
ção dos textos técnicos, incluindo-se aí pronomes de tratamento, abrevia-
ções (abreviaturas, siglas e símbolos próprios do ambiente em que os textos
técnicos circulam), expressões estrangeiras mais usuais, entre muitos outros.
No caso dos pronomes de tratamento, as formas mais comuns são “Senhor”
(ou “Sr.”), em textos mais simples, e “Vossa Senhoria” (“V. Sa.”), que deve ser
usado para funcionários públicos, pessoas de cerimônia e/ou clientes de
uma empresa. Assim, podem ser utilizadas, nos documentos de rotina e
cartas comerciais, diferentes formas de tratamento como senhor, senhora
e Vossa Senhoria.
Fonte: a autora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos, enfim, ao final de nossa última unidade! Ela, como
dissemos, une-se à anterior para tratar mais diretamente de questões relaciona-
das à prática secretarial. Assim, se na quarta unidade nosso foco foi os gêneros
textuais e seus agrupamentos, esta quinta unidade voltou seu olhar para alguns
gêneros específicos da Redação Técnica, tais como a ata, o atestado, a mensa-
gem eletrônica e a carta comercial.
Para tanto, iniciamos falando um pouco sobre o histórico da Redação Técnica,
comparando os textos técnicos utilizados antes e após a Revolução Industrial,
pois foi depois desse acontecimento, com a invenção de equipamentos cada vez
mais complexos, que se tornou necessário documentar os modos de trabalhar

Considerações Finais
V

com esses novos aparelhos por meio de textos técnicos, já que só os inventores
sabiam utilizá-los.
Na sequência, falamos a respeito dos elementos fundamentais para fazer a
leitura adequada dos textos técnicos, já que, como futuro(a) profissional, será
necessário não só ser emissor(a) de documentos empresariais, mas também recep-
tor(a) de vários textos técnicos. Conhecemos, em seguida, alguns tipos de textos
técnicos que são considerados os documentos mais comuns no meio empresarial.
Por fim, detivemo-nos no estudo da estrutura da carta comercial, que, assim
como os outros gêneros, possui uma estrutura composicional, um estilo de lin-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
guagem e uma temática definida.
Entretanto reafirmamos a importância de prosseguir pesquisando e lendo
sobre a Redação Técnica, já que alguns estudiosos apresentam ainda outros ele-
mentos na estrutura da carta comercial, como também há aqueles que não levam
em consideração alguns componentes ou afirmam que determinados elemen-
tos estão em desuso.
Espero, assim, que esta unidade tenha trazido muitos conhecimentos novos
para agregar a sua futura prática secretarial.

ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA DO TEXTO TÉCNICO


191

1. Após examinarmos com atenção os gêneros textuais na unidade IV, detivemo-


-nos, nesta unidade, ao estudo dos textos técnicos, que nada mais são que gê-
neros textuais específicos, de acordo com o ambiente social em que circulam.
Tendo em vista esses estudos, diga a qual agrupamento pertencem os gêneros
“ata”, “atestado” e “mensagem eletrônica”. Justifique sua resposta.
2. A partir do conteúdo trabalhado nesta unidade, aponte os elementos constituti-
vos da carta comercial.
3. Considerando a organização dos componentes na estrutura da carta comercial,
aponte os possíveis problemas na correspondência a seguir, que foi enviada a
um grupo de funcionários públicos, associados de um plano de saúde.

Venho por meio deste, comunicar a V. S. e Excelentíssima Família a nossa parceria


através de convênio com o plano de saúde Viver Bem, no qual estaremos disponi-
bilizando nossos serviços e produtos para seus associados com desconto de 15%
em toda a linha de medicamentos e perfumaria (exceto em fraldas, tintas e esmal-
tes) com a comodidade de entrega em domicílio e atendimento 24 horas.

O objetivo de nosso convênio é proporcionar a compra de medicamentos, perfu-


marias e produtos de higiene pessoal com melhor preço.

Sendo assim, o associado já está com seu pré-cadastro aprovado, somente sendo
necessário comparecer ao nosso estabelecimento para concretizar o mesmo.

Com consideração e estima, subscrevemo-nos.

Cordialmente,

Paulo César Vidal


Diretor Comercial

São Paulo, 05 de setembro de 2014.


A ESCRITA E O CIBERESPAÇO
Como já foi abordado nas últimas unidades, quero realçar a importância da internet
em nossa vida pessoal e profissional, principalmente quando falamos em redigir
algo no ambiente virtual, pois estamos, em todo o momento, “conectados”. Diante
disso, é preciso estar atento ao ato de escrever.
Antes de tudo, é preciso dizer que a captação dos sentidos acontece de forma dife-
rente em gêneros escritos e em gêneros digitais, pois não há como falarmos destes
últimos sem considerar que um dos seus aspectos mais importantes é a sua co-
nectividade. Os textos virtuais estão repletos de “hiperlinks”, que os ligam a outros
textos, outras mídias, outras opiniões. Assim é possível dizer que o gênero digital é
ilimitado. Um e-mail não termina no próprio e-mail, frequentemente estão contidos
nele links e referências que rumam para várias direções.
Além disso, enquanto a maioria dos gêneros digitais é linear, com começo, meio e
fim bastante delimitados, a estrutura de alguns gêneros digitais é uma espécie de
“fractal”, começando por um rumo que se bifurca.
Como consequência desse novo estado de coisas, as relações de continuidade es-
tabelecidas para o objeto impresso (livro, revistas, bilhetes) são substituídas pela
composição de fragmentos manipuláveis, podendo cada um desses fragmentos es-
tar em diferentes sites, blogs, fóruns etc. Com novos gêneros, surgem, então, novas
formas de ler, escrever e aprender.
Diante disso, surge também o “internetês”, caracterizado por uma linguagem que
surgiu com a popularização da Internet e baseia-se na simplificação, abreviação ou
supressão de letras em palavras com vistas a uma maior velocidade da comunicação
virtual interpessoal.
Essa linguagem levanta polêmicas não só nos ambientes escolares, mas também
em ambientes profissionais, uma vez que se desvia consideravelmente do que cha-
mamos de língua escrita padrão e por forçar a “pobreza linguística”, uma vez que
prima pela velocidade e pela efetividade da comunicação, não pela sua estética. Ao
mesmo tempo, ela facilita a comunicação informal na rede e torna a comunicação
mais ágil.
O verdadeiro problema em relação ao uso desse tipo de escrita é o fato de que ela
tem sido tão intensamente absorvida pelas pessoas que, vez ou outra, suas expres-
sões aparecem em e-mails corporativos, propostas comerciais etc. o que não é ade-
quado, visto que, ainda que o internetês seja uma variação do português padrão,
não é adequado para situações comunicativas mais formais.
193

Algumas expressões usadas no internetês são: aki – aqui; blz – beleza; hj – hoje;
naum – não; nd – nada; pq – porque; qdo – quando; tb – também; vc – você; td –
tudo; eh – é; entre outros.
É preciso ficar claro que o internetês não é “errado”. O fato é que ele é adequado para
certas situações e inadequado para outras, e cabe ao profissional ter bom senso
para os casos em que isso acontece.
Fonte: a autora.
MATERIAL COMPLEMENTAR

“O secretariado e a produção textual: a argumentação no gênero declaração”


O título acima faz referência a um artigo publicado online na Revista de Gestão e Secretariado
sobre a relação entre a profissão de secretário(a) e as práticas textuais. Com esse propósito, os
autores descrevem a estrutura do gênero textual declaração, um dos documentos com o qual o
profissional de secretariado lida frequentemente. Segue o link abaixo que dá acesso ao artigo.
Vale a pena conferir!
Disponível em: <http://www.revistagesec.org.br/ojs-2.4.5/index.php/secretariado/article/
view/57#.VYRcDflVhPI>. Acesso em: 28 jul. 2015.

Netiqueta
Como já abordamos sobre os “gêneros digitais”, é muito importante também estar atento ao
tipo de linguagem utilizado nos ambientes virtuais. Por isso, para evitar qualquer “deslize”
desnecessário, consulte mais sobre as chamadas “netiquetas” nos links a seguir. Com certeza, essas
leituras serão de grande utilidade para você desenvolver suas competências comunicativas de
maneira adequada também no contexto da internet.
Disponível em: <http://www.safernet.org.br/site/sites/default/files/netiqueta.pdf>. Acesso em: 28
jul. 2015.
Disponível em: <http://www.educacaoadistancia.camara.leg.br/ead_cfd/file.php/1/Documentos_
geral_/Netiqueta.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2015.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Manual da Secretária: técnicas de trabalho


João Bosco Medeiros e Sonia Hernandes
Editora: Atlas
Sinopse: o livro é composto de quatro partes, destacando-
se em todas elas a necessidade de desenvolvimento não
só de habilidades específicas, mas também a capacidade
desse profissional em sair-se bem diante dos mais variados
problemas. Além disso, há uma ênfase no desenvolvimento
da comunicação oral, muitas vezes esquecida nos
manuais tradicionais. De modo geral, no desempenho
de suas funções, exigem-se de uma secretária habilidades
comunicativas: ela deve dominar tanto a língua escrita quanto a oral. Deve aprender a falar bem,
com clareza, a expor com boa argumentação seus pontos de vista, bem como escrever com
correção gramatical. Daí a exigência de grande empenho de sua parte no treinamento da Língua
Portuguesa. Nesse sentido, esse texto diferencia-se dos similares, justamente porque enfatiza o
treinamento linguístico.

Correspondência: Linguagem e Comunicação


Odacir Beltrão e Mariúsa Beltrão
Editora: Atlas
Sinopse: este livro oferece, a profissionais e estudantes
de Secretariado, orientações seguras sobre os diversos
aspectos da correspondência empresarial, oficial, bancária
e particular. Além disso, apresenta os fundamentos e
as normas gerais da redação para fins de comunicação
escrita de textos técnicos. O livro ainda traz assuntos
fundamentais desde o simples endereçamento de um
envelope até o trabalho técnico, abrangendo a elaboração, roteiro e sistematização de relatórios,
projetos, entre outros.

Material Complementar
197
CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a), você chegou ao fim da leitura deste livro. Que bom! A disciplina de
Leitura e Produção Textual tem o objetivo de levar a seu conhecimento informações
e conceitos importantes no que diz respeito, sobretudo, aos processos de leitura e
escrita, não só de textos técnicos, mas de textos de modo geral. Vamos relembrar,
então, rapidamente, tudo o que estudamos por aqui.
Na primeira unidade do livro, refletimos sobre o que é texto e a importância de en-
tender como ocorre o processo de construção de sentidos. A seguir, conhecemos os
fatores de textualidade.
Na segunda unidade do livro, refletimos acerca da função social da linguagem, sua
proximidade com a sociedade e sua ligação intrínseca com a escrita. Tendo comen-
tado sobre tais relações, abrimos um tópico para comentar a respeito das teorias da
comunicação e seguimos para as funções da linguagem.
Em se tratando da terceira unidade do livro, procuramos expor o processo de leitura,
mostrando que ler não é só decodificar letras, mas sim o que está implícito e pres-
supor o que o escritor imaginou que já soubéssemos no momento daquela leitura,
fazendo referências a esse conhecimento anterior para aprofundarmos o que lemos,
expandindo nosso campo cognitivo.
E, então, você já se considera um sujeito autônomo, que participa ativamente da
sociedade, chegando a importantes conclusões e opiniões sobre o meio que o(a)
cerca? Espero que, de alguma maneira, tudo o que fora estudado aqui acerca dos
processos de (re)significação e também sobre a leitura como fonte de conhecimen-
to e autonomia do sujeito, enriqueça sua prática discente e secretarial.
Iniciamos a quarta unidade buscando saber o que seriam os gêneros textuais e sua
relação estrita com a comunicação. Passamos, na sequência, a apresentar os gêne-
ros textuais de acordo com suas funções e seus agrupamentos relacionados aos ti-
pos textuais.
Ao fim do livro, chegando à última unidade, na qual tratamos especificamente da
Redação Técnica. Finalmente, discorremos sobre alguns documentos de rotina em
escritórios.
Pois bem, por fim, enfatizo novamente a importância de não parar por aqui! Busque
outras fontes de conhecimento! Há muitas informações à disposição na internet,
nas bibliotecas e livrarias para quem deseja crescer, se aperfeiçoar e se manter atu-
alizado(a). Estude sempre e não desanime jamais!

Muito sucesso a você!


Professora Raquel Arcine
199
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1991.
203
GABARITO

UNIDADE I
1. Geraldi (1997) define o texto como uma sequência verbal com escrita coeren-
te formando um todo acabado, definitivo e publicado. Essa sequência verbal (o
texto) constrói-se em uma relação entre um eu e um tu e opera com elementos
que, sozinhos, são insuficientes para produzir um sentido fixo.
2. Os fatores de textualidade que caracterizam o texto são fatores pragmáticos e
fatores linguísticos. Os fatores pragmáticos são: intencionalidade, aceitabilidade,
situacionalidade, informatividade e intertextualidade. Já os considerados fatores
linguísticos se concentram apenas na coesão e coerência textual.
3. A coesão refere-se à forma ou à superfície de um texto. Ela é mantida por meio
de procedimentos gramaticais, isto é, pela escolha do conectivo adequado na
conexão dos diversos enunciados que compõem um texto. A coerência não se
encontra materializada no texto como a coesão, ou seja, ela não está no texto,
mas deve ser construída a partir dele, levando-se em conta os recursos coesivos
presentes na superfície textual, os quais funcionam como pistas para orientar o
leitor na construção do sentido.
4. As cinco qualidades relevantes para escrever um bom parágrafo, segundo Fi-
gueiredo (1999), são: unidade, coerência, consistência, concisão e ênfase.
5. Resposta pessoal.

UNIDADE II
1. Ao compreender o funcionamento da comunicação, o profissional de Secre-
tariado Executivo saberá produzir mensagens sem ambiguidade e resolver
situações comunicativas que apresentem contextos diversos para que a men-
sagem não chegue de maneira equivocada ao receptor. Além disso, sabendo
quais pontos da comunicação de uma mensagem são mais vulneráveis ruídos
e interferências, esse profissional prestará atenção e saberá evitar tais ruídos.
Conhecendo bem a estrutura comunicacional, o receptor responderá a mensa-
gem enviada da forma esperada, de modo que a comunicação estará se proces-
sando da melhor forma possível.
2. Função fática, pois o que está sendo ressaltado no texto é o canal de comunica-
ção. Não há a necessidade de comunicar informação alguma nessa situação, em
que os indivíduos se encontram em um semáforo. Eles conversam apenas para
manter o canal comunicativo em uso.
3. A escrita possui uma utilidade que é social, ou seja, é uma utilidade comparti-
lhada pelos indivíduos de um grupo. É preciso compreender que a língua (e a
escrita) não é meramente um código, e sim uma ferramenta social. Com essa
compreensão, é possível dominar seus usos e possibilidades, evitando que a
escrita torne-se incompreensível para os usuários da língua.
GABARITO

UNIDADE III
1. Essa visão interativa e dinâmica do ato de ler está relacionada à atividade dia-
lógica, ou seja, a leitura tornou-se um processo de interação que se realiza en-
tre autor e leitor, mediado pelo texto, estando todos os elementos envolvidos
situados em determinado momento histórico e social. De acordo com Geraldi
(2004), existem quatro posturas de leitores ante o texto: a leitura “busca de in-
formações”; a leitura “estudo do texto”; a leitura “pretexto”; a leitura “fruição do
texto”.
2. São quatro as habilidades de leitura que o indivíduo precisa desenvolver: sele-
ção (o leitor concentra-se apenas naquilo que é útil para sua compreensão do
texto); antecipação (o leitor pressupõe algo sobre o texto lido com base nos
conhecimentos prévios); inferência (ao ler um texto, o leitor aciona os conheci-
mentos prévios que tem armazenado em sua memória sobre o tema); verifica-
ção (é o momento em que o leitor confirmará ou não as hipóteses e inferências
que projetou durante sua leitura).
3. O indivíduo que lê e escreve de forma adequada consegue estabelecer relações
no meio social e profissional, já que, nesses meios, uma leitura competente é
exigida do sujeito para que ele possa ter acesso às informações veiculadas nas
mais diversas maneiras, tais como internet, televisão, jornais, revistas, folders,
cartazes, propagandas, bilhetes, enfim, tudo o que permite um texto para ser
lido. A escrita, por sua vez, é exigida para enviar e-mails, redigir cartas (pesso-
ais ou empresariais), deixar bilhetes, fazer anotações etc. Em vista disso, se faz
necessário que o sujeito seja capaz de apreender e atribuir sentidos na leitura e
comunicar sentidos quando fizer uso da escrita.
4. O indivíduo que compreende a leitura/escrita como uma prática social realiza
uma leitura competente, que envolve reflexões conscientes e posicionamento
crítico. Além disso, esse indivíduo é capaz de se posicionar de maneira cons-
trutiva frente a problemas, analisar e tomar posicionamento diante de diversas
questões que permeiam o ambiente profissional e a sociedade da maneira ge-
ral, além de ter uma comunicação favorecida pela ampliação do vocabulário
que a leitura proporciona.

UNIDADE IV
1. Segundo Bakhtin (2009), gêneros textuais primários são os do cotidiano, onde
há a comunicação espontânea, informal. Já gêneros secundários estão mais re-
lacionados aos contextos de comunicação mais formais. Os secundários abri-
gam os primários, pois, a partir do momento em que os primários se aprimo-
ram, se tornam secundários.
2. Temática definida: é a concepção de que nem toda temática serve para todo
tipo de gênero.
205
GABARITO

Estrutura composicional: o modo como o gênero textual se organiza; constituída


a partir de cada esfera de circulação.
Estilo de linguagem: adequação da linguagem de acordo com a intenção do lo-
cutor.
3. Circulação é uma esfera discursiva cultural e social, em que o gênero vai ser lido
e recebido pelos interlocutores.
Suporte textual é o meio pelo qual o gênero textual será comportado.
4. Descrição: instruções de montagem, receita, regulamento, regras de jogo, ins-
truções de uso, comandos diversos, textos prescritivos etc.
Narração: conto de fadas, fábula, lenda, narrativas (de aventura, de ficção cientí-
fica, de enigma, mítica), romance, crônica literária, adivinha, piada etc.
Relato: relatos (de experiência, de viagem), diário íntimo, autobiografia, curri-
culum vitae, notícia, reportagem, crônica (social e esportiva), relato histórico,
biografia etc.
Exposição: texto expositivo, exposição oral, seminário, conferência, comunica-
ção oral, palestra, entrevista de especialista, verbete, artigo enciclopédico, texto
explicativo, tomada de nota, resumo de textos expositivos e explicativos, rese-
nha, relatório científico, relatório oral de experiência.
Argumentação: textos de opinião, diálogo argumentativo, carta do leitor, car-
ta de solicitação, deliberação informal, debate regrado, assembleia, discurso de
defesa (advocacia), discurso de acusação (advocacia), resenha crítica, artigos de
opinião ou assinados, editorial, ensaio, questão dissertativa, resposta discursiva.

UNIDADE V
1. O gênero textual ata pode pertencer ao agrupamento do relato, pois a ata é
um registro em que se relata, de maneira minuciosa, o que se passou em uma
reunião, assembleia ou convenção. O atestado pertence ao agrupamento da
exposição, já que apresenta ou expõe informações sobre algo com o objetivo
de informar. A mensagem eletrônica (e-mail) pode pertencer a diferentes agru-
pamentos, uma vez que a mensagem pode estar relatando um fato, descreven-
do algo, expondo informações e/ou argumentando sobre alguma coisa.
2. Os elementos constitutivos da carta comercial são: local e data, endereçamento
interno, referência, vocativo, corpo da carta, fecho, assinatura, iniciais e cópia.
3. Os possíveis problemas encontrados são:
• Expressão prolixa, em desuso (“Venho por meio deste”).
• A abreviatura de Vossa Senhoria é V. Sa. Não é necessário utilizar “Excelen-
tíssima”, que apresenta uma polidez exagerada.
GABARITO

• Expressão de extrema polidez e em desuso (“Com consideração e estima,


subscrevemo-nos”). O “cordialmente”, apenas, já faz o papel de fechamento
da carta.
• O local e a data devem estar no início da carta comercial.
• Não possui vocativo.

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