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CHARLES AIKI;-';
Universidade da Califórnia, Berkeley
Rev. Dir. Publ. e Ciência Política - Rio de Janeiro - \'01. IX. n Q I - Jan./~\ar. 1966
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"Tenessee Valley Authory" que, se bem que não seja inteiramente
autônomo, é demasiado "sagrado" para ser seriamente atingido mes-
mo pelos presidentes poderosos; e a extraterritorial Estrada de Ferro
da Zona do Canal de Panamá ("Panama Canal Zone Railway") .
Cada agência, e elas são muitas, dispõe de uma parcela relatiya-
mente grande de autoridade. A distinção entre os Estados america-
nos e a nação em relação às suas entidades subordinadas separa-
das não é grande. Se bem que o caráter histórico da Yila e do
condado do "Commoml'calth" anglo-americano lhes confira uma P')-
~ição especial dentro do Estado, não os torna independentes do Es-
tado. Entretanto as distinções entre os dois nh'eis de govêrno são
Importantes, e a maior delas baseia-se no fato de que o govêrno cen-
traI vem para os Estados - não os Estados para a nação - trazendo
doações.
Rev. Dir. Publ, e Ci~ncia Politica - Rio de Janeiro - \'01. IX. n9 I - Jan./.\\ar. 1965
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cupada com a lealdade dos ~eus poderosos cantões, os cantões de
língua francesa decidissem separarem-se e unirem-se à França, e
que a nação francesa demonstra~se intenções de incorporar êsses
cantões: a troca se realizaria. O protesto da Suíça não poderia ir
muito além de uma queixa formal. EYidentemente a mesma situa-
ção poderia acontecer no C;1~0 dos cantões de língua italiana e
alemã.
Os g()\'ernos recém-criados da Asia e da Africa que pretendem
5er federais pelo seu car;Íter ou que Yieram a adotar um padrão
federal, têm que encontrar dentro dNes próprios as fôrças centrí-
petas adequadas, essenciais para estabelecer o federalismo, se a lUl.;t
dêles para eYi tal' o govêrno unitário fôr levada a sério. A sobrevi-
vência desta forma de govêrno pode ser ameaçada, entre outras coi-
sas, em virtudes das atitudes desen\'oh'imentistas das nações yizinhas.
Entretanto se cada unidade se formar numa base independente, o
que é essencial para estabelecer o federalismo, a única ameaça ao
poder - excetuando-se a guerra civil - se localizará no ataque ou
na conivência de uma fôrça externa. Uma federação internacional
totalmente baseada na vontade dos países-membros de participar
dela sem abdicar da sua liberdade fundamental de ação não pode
ser comparada ao Estado federal em busca da estabilidade. Um
membro de uma federação, comparativamente fraco, vendo-se inca-
paz de resguardar os seus próprios interêsses dentro da associação
internacional, poderia achar que era necessário separar-se da f~
deração para proteger-se e para evitar a inten'enção de uma po-
tência, ou de várias potências estrangeiras. ]\ uma suposta nação
federal a possibilidade de uma unidade constituinte de separar-se
por sua própria vontade, sem inten'enção externa, indica que a
organização de que ela faz parte é uma federação e não uma nação
federal.
Rev. Dir. Pilbl, e Ciência Política - Rio de Janeiro - Vol. IX. n Q I - Jan./.\Iar. 1966
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independentemente do alcance do poder atribuído a uma das divi-
sões governamentais, ela n:: o pode preponderar sôbre o poder singu-
lar da outra, como demonstram as posições contrastantes da Suíça
e dos Estados V nielos. A. experiência através de um período de tem-
po deve, e em geral traz modificações dentro da estrutura dos sis-
temas federais. :\fas a experi{'ncia, as condições mutáYeis e as nc-
cessidades que mrgem s::r, os fatôres que dirigem a mudança, c
não a prC'ponclcrância elo Foder em qualquer das diYisões. O equilí-
brio federal n.1o esuí portanto fundamentado numa igualização
medmica de poder.
Rev. Dir. públ. e Ciónc;a Po~i{iC1 - Rio de Janeiro - \'01. IX. n~ 1 - Jan./.\\ar. 1956
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si mesmas, não podem explicar inteiramente a natureza de um:l
nação federal \"iá\"el, uma \"ez que, como demonstrou a experiência,
as unidades constituintes competem entre si quando lutam par;}
proteger interêsses e políticas pri\'ados, semipriYados e públicos.
Tal competição está em grande parte, mas não totalmente, baseada
na economia e em outras mudanças sociais e nas "árias taxas de
desen\"olúmento entre as unidades constituintes. :\Iais ceeb ou m~iis
tarde, a maior parte da unidade se encontra numa posiçãQ mino-
ritária: em rebção à população, à prosperidade e aos recursos. ao
esclarecimento soci<l!, às con"icç("íes religiosas, aos preconceitos r<l-
ciais, a uma mentalidade avançada ou até a uma paroquial. Os
conflitos baseados em tais situações nem sempre podem ser SO!tI-
cionados fàcilmente nem, tampouco, podem ser ignorados. Freqüen-
temente, o go\"êrno central ted que penetrar nessas áreas de con-
flito interestadual para ser"ir de ,írbitro entre as unidades em COIl-
flito, colaborando, assim, para proteger o bem-estar da nação.
Re\', Dir. Ptibl. e Ciência Politica - Rio de Janeiro - \'01. IX, n~ 1 - Jan./,\lar. 19136
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o prestigIO nacional mas isto pode não ser necessiniamente um fatnr
de desencorajamento, uma vez que a posição constituição da uni-
dade dentro do complexo governamental protegê-la-ü das pen:di,
t!:ldC', impmtas nacionalmente,
É dentro desta estrutura de poder gO\ernamental. de correllt:?s
e contracorrentes. que o estado federal contemporàneo será exami-
nado. dando-se. entretanto, enfase especial ;'t experiência american:;,
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RC\'. Dir. Publ. e Ciência Politica - Rio de Janeiro - \-01. IX. n Q 1 - Jan./,\\ar. ,1966
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tido por um homem ou por um grupo compacto de homens, pode
agir com presteza em qualquer situação de emergência e pode ma-
nobrar com rc!atiya facilidade. O bem-estar interno e externo da
nação depende dêles. Ao exercer o poder público em qualquer mo-
mento êles podem agir sem a influência potencialmente esfacelea-
dora do tipo de unidades locais que são encontradas nos países
federais. Uma nação unitária dêste tipo não precisa ligar-se a n('-
IIhuma estrutura particular ou objetiyo social - seja parlamentar
ou não, liberal ou totalitário - e a sua liberdade de ação é com-
pleta a não ser que os seus líderes estejam limitados por uma tra-
dição opressora ou por uma burocracia estável e habilidosa. Ou-
tras nações unitárias podem não ter tal integração de poder, mas
;I,fraquezas que elas tenham não podem ser atribuídas às unidades
ronsti tuintes parcialmente independentes.
Os podêres exclusivos das unidades constituintes do sistema
federal americano, dificilmente comparáwis aos do Domínio dt)
Canadá, formam uma barreira parcial mas eficiente contra uma
expansão do exercício do poder pelo gO\ú'no central. 19ualment(',
a posição consti tucional do goyêrno central restringe as unidade-.
Assim, quando o gO\'êrno nacional age dentro da sua área de poder
exclusivo e independente, as fronteiras dos Estados desaparecem;
quando os Estados agem dentro dos limites dos seus podêres específi-
cos, não podem ser molestados, isto é sem seu consentimento. Entre os
dois níveis elo govêrno nos Estados Unidos formou-se uma penumbra.
Por exemplo, cada nível pode exercer algum poder sôbre o co-
mércio interestadual, aderindo a uma fórmula que por si pr6pria
será sempre falha em especificidade. Tomando um outro exemplo.
o govêrno nacional pode (e o faz) regular parte dos problemas que
se originam da venda de narcóticos através do exercício do seu :Im-
pio poder de taxar. Ao mesmo tempo, os Estados podem (e o Lllem)
regular o tráfico de narcótico dentro dos seus amplos podêres de
legislar no interêsse da saúde, moral e bem-estar geral. Neste caso
específico prevalece a cooperação. Em outros campos. as relações
entre os níyeis não são tão cordiais. Um observador, ciente dos sé-
rios problemas não encaminhados, quiçá insolúveis poderia COll-
cluir que as intransigências e as incertezas do federalismo contri-
buem para a desarmonia e que, na melhor das hipóteses, tal govêr-
no não passa de um arranjo temporário, possivelmente a caminho
de tempos melhores. Tal observador, se êle existe, não terá en~en-
Rev. DiT. públ. c Citncia Política - Rio de Janeiro - \'01. IX, n Q 1 - Jan./;I\ar. 1966
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dido a naturela da autoridade em nações federais amadurecid'fs.
nem tamp0l!(o a estrutura e a fluidel dos seus podêres.
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Rn', Dir. Ptibl. e Ciência Política - Rio de Janeiro - \'01. IX_ n~ 1 - Jan.lMar. 1966
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a divisão de podêres possa ser reajustada sem provocar a destruição
da idéia federal, o federalismo tornar-se-á maleável e forte.
Uma mudança constitucional, seja referente à divisão dos po-
dêres ou não, pode, se bem que não precise, involver modificações
textuais. Tôdas as constituições são mudadas nos seus interstícios.
'1 anto a experiência do Canadá como a dos Estados Unidos são
testemuuha de UIlla firme tradição de manutenção de certas linhas
de conduta constItucionais Illm.uÜcando apenas as interpretações
tIrmemente manudas. Ús tundadores da Constituição canadense
tomaram o cuidado de estabelecer uma clara divisão de podêres .
•\las quando os <Írbium estrangeuos do sistema completaram seu
u-ab,ullo ueterulInallos SUlllUOS ue uma linguagem intocada tinham
Illudallo. A dl\bão de polleres genulIla permaneceu tãO tirme quan·
to ;Ulles, Illas a dl\'lS;W era nO\ a. 19uaunente nem tOdos os cana-
llenses lIese J<llll Illolll1lcar lllleuamellte a sua (.1I\1são de padues
aptn<ls alra\t;s de ajustamentos grauuals. SiUIlO recentemenle, no
al:0 pass<túu U~lJjJ' LOlllou-se UIIla lIeusão espeual nu sentIúo UC
··IOllalecel a UllIau uauonal ..
Rtv. Oir. PitlJl. c Ci':ncia Púlitica - Hio ~c janeiro - \·01. IX. n" I - jan./.\\3r. 1966
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Ldl,a lIllla l erta (uni w,;io lima ,el (pie os funcÍon;Írios públicos dos
gU\ L'lIW, centrais Icderais e unit;ÍlIos têm muitas funções em Cl!-
I~<v ['ir l'lIbI. e (ienei" Politica - llio de Janeiro - \"01. IX. n° I - Jan ...\lar. 1966
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nas um dêles possa fazê-lo. Cada um é um símbolo nacional. Cada
um pode até chegar a tentar estabelecer padrões de gôsto, cultUr:l.
e moralidade. Ambos influem na adoçJo de programas legisla ti-
yos. \fas aqui acabam as semelhanças.
Rtv. Dir. I'uul. e Ci':ncia 1'0lll1ca - llio dt janeiro - \'01. IX. n Y 1 - jao./.\\3r. 19tifJ
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R<\", Dir. PubI. e Ciêilcia Pcliti.:a - Hio J< Janeiro - \'01. IX, 11" I - )3n./.\\3r, 19tjfi
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Numa nação federal, em comparação com uma nação parla-
mentar unitária, o primeiro-ministro será apenas nominalmente o
chefe de todo o partido, uma vez que êle opera tanto no govêrno
central quanto em outras unidades constituintes. Com uma sólida
divisão de podêres, a sua liderança sôbre o partido de âmbito
nacional é mais animadora do que efetiva. A sua posição está ba-
seada na história e não no dogma constitucidnal, porque, se bem
que o primeiro-ministro da nação possa dominar o govêrno central
e tornar-se o líder simbólico de todo o partidd, os primeiros-minis-
tros estaduais ou provinciais encontrarão as suas bases de poder
dentro das próprias unidades constituintes. Assim no Canadá e
na Austrália o partido nacional não se tdrna um instrumento <ie
monopolização do poder. O primeiro·ministro liberal de um Estado
australiano não está mais sob o contrôle do primeird-ministro libe-
ral da nação do que está o governador democrático nos Estados
Unidos sob o poder do presidente democrático. E no entanto tanto
num como noutro sistema de dois partidos - por mais que êles sejam
diferentes na sua organização e teoria - prevalece a estabilidade.
Mesmo apesar do papel desempenhado pelo govêrnd central parla-
mentar australiano no contrôle das principais fontes de renda na-
cionais, as unidades constituintes mantêm a sua independência
constitucionalmente justificada. Os govêrnos centrais de sistemas
federais parlamentares multi partidários são enfraquecidos pela amea-
ça à estabilidade que é tão necessária ad poderio nacional. Acresce
que a adoção ou a imposição de instituições parlamentares em no-
vas nações federais independentes que não estão acostumadas com
a t~oria e a prática parlamentar básica corre o risco de destruir
a sua divisão de podêres. r\uma situação comd esta um govêrno
central autocrático poderia devorar as unidades; a instabilidade do
govêrno central pode tornar-se uma fôrça centrípeta que porá em
risco a integridade da própria nação.
Rev. Dir. Públ. e Ci"ncia Politica - Rio de Janeiro - Vol. IX, n'" 1 - Jan./Mar. HI56
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!lo poder político, os homens de negócios que freqüentam as ante-
salas das Cflluaras não encontram particular dificuldade em rela·
ç:lo a ê,te as,unto. Se, como e,C1eveu o falecido professor V. O.
Key, os grupos de pres,ão que operam IlUlILl 1l~IÇJ.O federal parecem,
em geral, capazes de se protegerem melhor negucialldo com a, legis-
laturas estatais do que com a legislatura e a uurocracia nacional.
pode ser que ao conlLírio de uma opinião amplamente mantida
a sÍluação real do poder numa nação uni t~íria grande e forte esteja
a tal ponto fragmentada dentro das infinitas complexidades do po-
der executivo que nem os líderes partidários nem os homens d ...
negócio sejam sempre (apazes de localiô-Ios. Entretanto onde um
partido político consegue capturar o govl:rno de uma na<;ão federal
- isto é, capturar tanto o exenllivo quanto o legi,blivo - poderosa,
pressües introduzidas no partido YÍtorioso rcfletem-se na política
do govl:rno, sem as efetivas restriçües baseadas na localidade, c!u('
são típicas das nações federais.
•\ PILO( lIp~lç;io
dos partidm políticos clue operam no Estado
aIllClictllO de lllinoi, e na cidade de Chie ago - para tontar o que
lI;io é exatalllente Ulll exemplo casllal - é com os problemas locais,
aquêles quc (onfrontam a~ Olganit.a<;ôe~ partid:llias na assembléia
do E,tado e na câmara Illunici paI. O partido nacional tem pouco a
oferecer-lhes. As \'l:/es os ramos estatais e locais do partido nacional
I..:cv Uir. Pul'), t Ci0nci~ Ptll:tka - HilJ dt: Ja!l~iro -- \'(11. IX n'·' I --- J:lfl./.\\3.f. lYtiu
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prestam algo mais do que uma homenagem formai ao quase fantas-
magórico partido nacional, particularmente se tal atividade os a jud:l
no seu trabalho nos níveis estatal e municipal. Tanto o lucalismo
quanto o pluralismo prevalecem. Além disso as preocup:>ções bási-
cas da massa de cidadãos informados de Illinois sôbre questões, a
guerra fria, e os limites tarifários impostos pelo Mercado Comum
não estão e não devem estar refletidos no trabalho e no p~mamento
dos líderes políticos cIo Estado e da cidade. Não obstante, muitos
(leitores têm um apêgo quase emocional ao próprio nome do seu
partido, se bem que poucos dêles - além de homens de partido en-
durecidos e alguns professôres universitários - concordarr· que de-
cisões a respeito de impostos estaduais e locais, regubmentm de
comércio e educação públicl devam ser determinadas por inJivíduos
escolhidos a partir de sua posição a respeito de ajuda externa, das.
1':ações Unidas e da política de defesa nacional. Nos outros 49
Estados, subsistem variantes da situação em Illinois.
Rev. Dir. Públ. e Ci~ncia Política - Rio de Janeiro - \'01. IX, n9 1 - Jan./.\\ar. 1966
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um século e três quartos esta Côrte lutou para presen'ar a inteireza
do Estaelo e da nação, enquanto cada um, consciente ou incons-
cientemente, manobra em busca de posição e poder, O registrr>
elo trabalho ela Côrte é confuso, se bem que não exi~tam outras es-
calas, além da história, para medir o sucesso ou o fracasso, As cláu-
sulas convenientemente vagas da Constituição - O poder de decla-
rar a guerra, os poelêres ele taxar e de realilar despesas, o poder de
regular o comércio interestadual e os podêres financeiro e postal
- possibilitaram aos jUÍLes presernr uma balança nacional instá-
vel através elos tempos, 1\ as oportunidades em que a ação judicial
manifestou-se inepta, os novos juízes e as no\'as interpretações pude-
ram "endireitar o erraclo"_
Uma opinião curiosa a respeito da Suprema CtJrte americana,
da autoria de alguns advogados constitucionais e e.,tudiosos da po-
lítica, é que a Côrte, ao exercer os seus podêres de árbitro, age como
um membro do govêrno nacional, operando num plano de igual-
dade com o Congrcs.,o c o Pre.,identc. (omo uma das três cabeças
do govêrno central tripartido, Uma comeqüência desta opinião é
a suposição de que o Presidente da Cúrte, apontado pelo Presielept~
e sujei to à confirmacão pelo Senado :\ acionaI, inclina-se a favor
ela nação, O testemunho da histúria desafia esta opinião, Al-
guns juí/es podem fa\orecer a expansão ou a contração das ativi-
dades naCIOnais, e mesmo do poder nacional. elo mesmo modo que
podem tad~-lo alguns governadores de Estado c presidentes. Mas
os jUÍles im'estido vitallciamente nos seus cargos e percebenelo sa-
lários se não generosos, pelo menos adequados, apóiam, interpretam
e defendem uma Constituição federal lines de compromissos legais
ou morais em relação aos go\'êrnos do país ou dos Estados, Além
di.,to, os govêrnm do país e dos Estados têm aceitado e obedecido
as decisões da Côrte, registrando-se apenas raras exceções; as deci-
sões ela cúrte são acaLldas sem o uso da fúrça que opera sob o co-
mancIo ela C<Jlte. porque a Cilrte n;1O chefia ncnhum xerife,
Rev, Di r, Públ, e Ci;;ncia Polític3 ~ Rio de Janeiro - \'01. IX, nQ 1 - Jan./,\\ar. 19tiô
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É estranho, mas acontece que muitas vêles a poslçao significativa
ocupada pelos Estados dentro da União é muitas vêzes esquecida
diante do papel muito mais dramático desempenhado pelo govêrno
central. A história desmente a teoria de que os Estados estão per-
dendo a sua importância. Neste assunto destacam-se dois fatos na
considerável história do federalismo americano. O primeiro é a
imensa expansão das atividades e da fôrça do govêrno central e o
tamanho e a autoridade seu ramo executivo. O segundo é a imensa
expansão das atividades e da fôrça dos gO\êrnos dos Estados e o
tamanho e a autoridades de seus ramos executivos.
Rev. Dir. Pilbl. e Ciência Política - Rio de Janeiro - \'01. IX. n Q I - Jan./Mar. 1966
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encontra a Côrte Suprema mal equipada para agir. Em momentos
que a Côrte foi solicitada para fazer justiça - particularmente
quando havia problemas sociais do momento eD\'oh'idos - ela não
te\'C o poder e os meios necessários para garantir a reparação, Em
conseqüência, Os Estados muitas vêzes procuraram antes o Congresso
do que os tribunais para solucionar conflitos - isto é p:lra 'igir com
árbitro - e para fazê-lo, quando possível, sem o poder do sovlTno
central, ou pelo menos sem o seu poder significativo, em si.
Fe\', Dir. Ptibl. e Ciência Politica - Rio de Janeiro - \'01. IX, nO I - Jan,/.\\ar. 1966
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repre~entantes no Congresso. Assim, há muitos anos, um ngo-
roso movimento em fayor das crianças n" indústria leyou à adoçãa
de muitos estatutos e~taduais protetores. Acresce que logo tornou-se
claro que um ataque yálido ao trabalho infantil não obteria su·
cesso a não ser que a grande maioria dos Estados pusesse em yigor
uma fone legi~laç;io protetora. :\Ias uma minoria ~ignificati"a dos
Estados ICCllSaYa-Se a agir. Pressões proyenientes dos lideres do~
Estados e do go"êrno nacional Ie"aram os dois maiores partidos
políticos a rondamar a ação nacional para proteger as crianças na
indústria, fa"ol"Ccendo, assim, os padrões dos Estados mais progres-
sistas.
Os estatutos natlonalS foram adotados, baseados inicialmente
no poder da naç;io de regular o comércio entre os Estados, e mais
tarde no ~eu poder de taxar. O fato de que a Suprema Côrte botou
abaixo êste~ dois estatutos (apenas para mudar de idéia mais tarde)
não é tão importante para êste estudo quanto o fato de que o
Presidente e o Congresso entraram em cena para agir yerdadeira·
mente para arbitrar entre os interêsses conflitantes de muitos E~
tados.
Re\". Dir. Públ. c Ciência Politica - Rio de Janeiro - \"01. IX. nol - jan./Mar. 1<:166
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ças. A Côrte Suprema aprovou o último estatuto e colocou os Es-
tados em pé de igualdade em relação ao uso do trabalho infantil.
O govêrno central, como árbitro entre os Estados, impediu que
os Estados menos desenvolvidos rebaixassem os padrões nos Estados
mais desenvolvidos econômicamente em outras oportunidades, e,
dês te modo, pôs fim a certos conflitos interestaduais destrutivos.
Por exemplo, o Congresso proibiu no comércio interestadual o car-
regamento do petróleo extraído além das cotas estabelecidas para
proteger as reservas dos Estados concorrentes; adotou estatutos para
proteger os padrões de trabalho nos Estados mais avançados da im-
portação de mercadorias baratas fabricadas pelos presos, impedindo,
assim, um rebaixamento dos padrões de trabalho em bases nacio-
nais. Igualmente, o Congresso negou aos fabricantes de bebidas
tóxicas o privilégio de enviar os seus produtos aos Estados que
proibiam a fabricação e a venda de tais mercadorias. O Congresso
proibiu o embarque de material de loteria no comércio interesta-
dual, mesmo considerando que alguns Estados podem possuir lote-
rias. Nestes casos, e ainda há outros, o go\'êrno nacional, sem ser-
vir-se do poder para si, agiu como árbitro dos conflitos interesta-
duais a respeito de normas fei tas por êle próprio.
Por um processo um pouco diferente, o gm'êrno nacional, nova-
mente utilizando o seu poder de taxar, assumiu uma responsabili-
dade parcial na regulamentação da fabricação, "Cnda e posse de
narcóticos. Os esforços feitos pelos Estados isoladamente não tive-
ram resultados satisfatórios em Yirtude da própria natureza do trá-
fico de drogas. Os contrôles complementares postos em prática
pelos Estados e pela nação resultaram numa cooperação adminis-
trativa entre os dois níveis do govêrno. Sem a iniciati,-a tomada
pelo Congresso no contrôle de narcóticos, os Estados teriam as mãos
atadas para agir efetivamente.
Algumas vêzes o govêrno central amerIcano resolveu contro-
vérsias interestaduais através de um processo de cooperação Estado-
nação que continha um certo grau de coação efetiva, mas não legal.
O exemplo mais eloqüente se encontra no campo do seguro de
desemprêgo. tste programa de seguro foi adotado pelo Estado de
Wisconsin em 1932, em plena crise da Grande Depressão. Outros
dos Estadós mais progressistas planejavam executar programas aná-
Rev. DiT. públ. e Ciência Política - Rio de Janeiro - \'01. IX. n Q 1 - Jan./.'Iar. 1966
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lagos, mas hesitavam, temendo colocar-se em poslçao desvantajosa
quando tivessem que competir com os Estados menos desenvolvidos
econômicamente. Entretanto, pouco depois, o govêrno nacional de-
pois de estudar a situação e sofre alguma pressão da parte dos líde-
res de alguns dos Estados industriais, adotou um plano nacional
de seguro de desemprêgo, baseado no seu poder de taxar. O im-
pôsto foi cobrado em fôlha; a receita seria usada para sustentar os
desempregados. O Decreto regulamentou a administração do pro-
grama pelos Estados que decidissem participar do plano (todos
os Estados participaram, mesmo os que estavam hesitantes) dentro
de padrões que de início foram estabelecidos em \\Tashington.
Indiferente ao desagrado dos funcionários públicos e dos indus-
triais dos Estados menos desenvolvidos, o govêrno nacional solucio-
nou o conflito surgido entre os Estados no interêsse dos Estados
mais adiantados e do bem-estar de tôda a nação.
Rev. Dir. Públ. e Citncia Politica - Rio de Janeiro - Vol. IX. n" 1 - Jan./.\\ar. 1966
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gad()~ em alguns E,lado~ .. \,.,im, algum E~taclos. agindo ~ob a pres-
s,io do goyêrno central e com o apoio dos Estados mais liberai"
estão progredindo, se bem <Iue relutantemente, no sentido ela igual-
dade de yoto. De tal :nodo que, enquanto a nação requer os ser-
,il,os de um ;írbitro, torna-se claro que o processo de arbitragTm
n;l espécie de federalismo americano. não se pode limitar às ((')rtes
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Rc\'. Dir. rubI. c Ciência Politica - Rio de Janeiro - Vol. IX. no 1 - Jan./.\\ar. 196fi
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penhando um papel cada ,ez mais preponderante nos programas
do bem-estar público, Esta acusação parece ser feita na suposição
de que o trabalho dos Estados e da nação constitui-se amplamente
de tais programas,
Gmêrno central dos Estados Unidos não pode interferir nos
Estados no que concerne o contrôle das relaçôes domésticas, por
mais que a maior parte da nação se preocupe com o tratamento
que é dado ao problema do diyórcio no Estado de ::\enda, l\"em
por esta razão pode o goyêrno nacional impedir um Estado de pos-
suir uma loteria ou as pes~oas de comprar bilhetes de loteria ou
de apostar nas corridas de cayalo, A na(:;io não puniu, e proY;'lyeI-
mente não pode punir, o Estado de Delaware por suas leis que
regulam os sindicatos e que têm apenas uma relação fictícia com o
Estado da sua criação apesar do tremendo impacto que estas leis
têm sôbre a economia americana.
R.,'. Dir. Ptibl. e Ciência Politica - Rio de Janeiro - \'01. IX, n~ 1 - Jan./.\\ar. 1966
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conceda à nação comprar uma pequena parcela dos ~eus vastos po-
dêres neste campo; êle não pode desenvolver um sistema nacional
uniforme para a transferência de títulos de propriedade territorial;
êle não pode participar do crescimento e do desenvolvimento muni-
ripal mesmo nos casos em que o Congres'Jo aprove uma solicitação
do Presidente no sentido de estabelecer um departamento do govêr-
no nacional para lidar com os negócios urbanos; êle não pode es-
tabelecer uma política pública em relação às atiYidades culturais
urbanas; c, se bem que o govêrno nacional ocupe uma pequena área
de contrôle no campo da saúde pública, êle não pode interferir na
vasta área das regulamentaçõe~ não nacionais no interêsse da saú-
de, higiene e ~egurança.
Rev. Dir. PúbL e Ciência Politica - Rio de Janeiro - \'01. IX, n Q I - Jan./Mar. 1955
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Uma grande calamidade pode forçar a nação a reorganizar os seus
recursos de modo a contrariar a letra da lei, Se bem que estas
mudanças sejam temporárias, elas deixam atrás de si um resíduo
que nunca é totalmente removido; o desequilíbrio cede fàcilmente
o passo ao equilíbrio e a uma "volta" ao federalismo que nunca
existiu realmente antes, Em outras pala nas, quando uma nação
federal desenvolve a possibilidade de ecostir através dos tempos.
as adaptações "dentro das formas" podem ser feitas,
Re\', Dir. Publ. t Ci<ncia Política - Rio Ut Janeiro - \"01. IX. n Q I - Jan./.\Iar, 1966
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pelo goyüno nacional na administração de programas ajudados na-
cionalmente. .\ possibilidade de um Estado expandir o seu con-
trôle elas políticas relacionadas com tais programas depende, em
grande pane, da f{lI ça e da maturidade do Estado.
VII
ReI". Dir. l'ulJl. e Ciéncia Política - Rio de )3ntiro - \'01. IX, n" I - )an./.\Iar. lY56
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sentado e defendido em Washington. Não obstante, as atividades
dos senadores e dos congressistas nem sempre são adequadas. Nor-
mahnente espera-se que os representantes encarem os problemas
públicos pelo menos até um certo ponto, de uma perspectiva antes
nacional do que paroquial; e os senadores, os delegados mais sig-
nificati\"05 dos Estados, freqüentemente se excedem bastante em tal
pro\"idencialismo.
VIII
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da sob uma constituição que identifica a divisão de podêres en-
tre as unidades central e constituintes e que fornece um meio ar-
mado de poder para manter estas divisões governamentais dentro
dos limi tes gerais da sua autoridade definida constitucionalmente.
A estrutura dinal da nação federal, se ela é ao mesmo tempo ma-
dura e está em desenvolvimento, envolve numerosos papéis gover-
namentais distintos. A primeira e mais importante das funções é
o interminável conflito entre as unidades constituintes e o govêr-
no central, acompanhado por uma enérgica política de cooperação.
A segunda é menos evidente: o conflito contínuo, se bem que nem
sempre aparente, entre as próprias unidades constituintes. A ter-
ceira função é de um tipo diferente; o papel desempenhado na de-
terminação das políticas do govêrno central pelas várias unidades
constituintes. Êstes elementos de uma nação federal colocam-na nu-
ma posição de violento contraste com as nações unitárias.
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tituintes às vêzes podem ser resolvidas através de acôrdo formal in-
terestadual, se o Congresso o permitir.
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