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PEÇA O DOENTE IMAGINARIO, DE AUTORIA DE MOLIÈRE

ADAPTAÇÃO DE MARILIA TOLEDO

CENA 1 TOANETE:

Quarto. Argan está sentado em sua poltrona, entre a cama Ah, não me diga que ainda vou levar bronca, depois de
e o criado-mudo. Ao lado da cama, vê-se um armário tudo que me aconteceu?
cheio de frascos com vários tipos de remédios e um
penico. Ele está fazendo as contas para ver quanto gastou ARGAN:
com o Doutor Purgon no mês anterior. Você me fez berrar, sua energúmena!
ARGAN (Lendo uma caderneta): TOANETE:
Três mais dois são cinco, mais cinco são dez e mais dez E o senhor me fez quebrar a cabeça, estamos quites!
são vinte. Três mais dois são cinco.
ARGAN:
DOUTOR PURGON (Conferindo suas anotações):
O quê? Sua malcriada! Vamos parar logo com essa
Mais trinta dinheiros do dia 24, daquele pequena injeção ladainha. Tire tudo isso da minha frente, vamos, vamos!
transparente para refrescar os intestinos do meu estimado (Levanta-se da poltrona). Será que o purgante de hoje já
cliente. fez efeito?
ARGAN: TOANETE:
Ah, Doutor Purgon, devagar, por favor. Desse jeito Purgante?
ninguém mais vai querer ser doente! Este mês tomei uma,
duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, ARGAN:
doze injeções. E no mês passado foram doze remédios e
vinte injeções. Não é de estranhar que eu só piore a cada Sim, sim, sim. (Estendendo o penico para Toanete.)
mês. Eu estou muito, muito doente! O senhor tem que dar Que lhe parece o meu cocô?
um jeito nisso. Toanete!!!
TOANETE:
(Sai o Doutor Purgon.)
Ah, nisso eu não me meto! O Doutor Purgon que ponha o
TOANETE: (Entrando): nariz aí, já que o dinheiro vai todo para ele!
Já vou! Já vou! ARGAN:
ARGAN: Mande esquentar a água para desinfetar a seringa para a
Ande logo, molenga! próxima sessão!

TOANETE: (fingindo ter batido a cabeça na porta): TOANETE:

Minha nossa, mas que impaciência! O senhor apressa O Doutor Purgon faz a festa com seu corpo, hein?! Até
tanto a gente que acabei...(pensa na mentira que vai parece uma vaca leiteira onde todos metem a mão! Eu
inventar) batendo a cabeça numa quina! Ai, ai, ai! queria é perguntar para ele o que o senhor tem para
precisar de tantos remédios!
ARGAN:
ARGAN:
Não me venha com histórias, sua embromadora!
Sua ignorante! Agora deu para entender de medicina?
TOANETE (para fazê-lo parar de gritar, continua Chame a minha filha Angelique, preciso falar com ela.
gemendo de dor):
TOANETE:
Ai, ai, ai, ai!
Veja só se não é ela mesma que vem chegando.
ARGAN: Adivinhou seu pensamento!
É que eu... (Entra Angelique)
TOANETE: ARGAN:
Ai, ai, ai, ai! Chegou bem na hora, Angelique, eu queria mesmo falar
com você.
ARGAN:
ANGELIQUE:
Faz uma hora...
Sou toda ouvidos, papai!
TOANETE:
ARGAN (apertado):
Ai, ai, ai, ai!
Espere um pouco. (Para Toanete). Sua imprestável, traga
ARGAN: a minha bengala! Já estou com dor de barriga. (Virando-
Fique quieta, imprestável, que estou lhe dando uma se para Angelique) volto já.
bronca! TOANETE (com desdém):
O Doutor Purgon vai ficar contente! Rápido, senhor! Você não acha que nosso encontro é coisa dos deuses,
que estava escrito nas estrelas?
(Argan sai do quarto com o penico na mão.)
TOANETE:
ANGELIQUE (em com de confidência):
Acho, sim!
Toanete!
ANGELIQUE:
TOANETE:
Você não acha que ele ter tomado a minha defesa sem
Que foi? me conhecer é próprio de um homem honesto?
ANGELIQUE: TOANETE:
Olhe aqui para mim. Claro!
TOANETE: ANGELIQUE:
Sim, estou olhando! E que com isso ele provou se um autêntico cavalheiro?
ANGELIQUE (melindrosa): TOANETE:
Toaneeete! Oh, sim! ANGELIQUE:
TOANETE: E você não acha que ele tem uma aparência nobre?
Que tom é esse? (Imitando Angelique) “Toaneeete!”. TOANETE:
ANGELIQUE: Certamente!
Você não adivinha do que eu quero lhe falar? ANGELIQUE:
TOANETE: E que não há nada pior do que a situação em que me
Claro que adivinho, quer falar do seu novo amor. Faz uma encontro, tendo que enfrentar mil obstáculos para
semana que não falamos de outra coisa, e a senhorita encontrar meu grande amor?
nem deu sinal de enjoar do assunto! TOANETE:
ANGELIQUE: Tem toda razão!
Se você sabia, por que não falou logo, para me poupar do ANGELIQUE:
trabalho?
Mas, minha fiel Toanete, você acredita que ele me ama
TOANETE: tanto quanto diz?
Por que a senhorita não me dá chance, oras! É só me ver, TOANETE:
que já começa a falar, falar, falar!
Isso eu já não sei. Os suspiros de amor podem parecer
ANGELIQUE: verdadeiros, mas já vi grandes atores interpretando esse
Tem razão. Confesso que não me canso de falar, e que papel...de cordeiros apaixonados que depois se revelam
meu coração aproveita todos os momentos para se abrir lobos dissimulados!
com você. Mas me diga, Toanete, você condena meus ANGELIQUE:
sentimentos por ele?
Oh, não, Toanete! Será possível que ele esteja mentindo?
TOANETE (impaciente): Da maneira como fala, parece só ter boas intenções!
De jeito nenhum! TOANETE:
ANGELIQUE:
Seja como for, logo tudo será posto em panos limpos. Ele
Estarei errada em me entregar às minhas doces não disse que iria pedir sua mão em casamento? A melhor
lembranças? prova será ele cumprir com a palavra.
TOANETE: ANGELIQUE:
Claro que não. Ah, Toanete, se ele estiver me enganando, nunca mais
poderei acreditar em homem nenhum!
ANGELIQUE:
(Barulho de Argan voltando para o quarto.)
E você acha que eu deveria tapar os ouvidos para as
doces mostras de paixão ardente do meu amante? TOANETE:

TOANETE: Quieta, seu pai está voltando.

Deus me livre! ARGAN:

ANGELIQUE: Minha filha, tenho que lhe dar uma notícia que você
provavelmente não está esperando. Acabam de pedir-me
sua mão em casamento.
(Angelique sorri e se agita de emoção.) Instruído e bem-nascido!
ARGAN: TOANETE:
Mas o que vejo em seu rosto? Um sorriso? Agrada-lhe a Realmente!
palavra casamento? Sim, ela é música para os ouvidos
das moças. Ah, a natureza? Pelo jeito, minha filha, nem ARGAN:
preciso perguntar se você aceita o pedido. Muito honesto!
ANGELIQUE: ANGELIQUE:
Meu pai, farei tudo que o senhor quiser. O mais honesto do mundo!
ARGAN: ARGAN:
Estou feliz por ter uma filha tão obediente. Então está tudo Que fala latim e grego!
resolvido. Já prometi sua mão. Sua madrasta sempre quis
que eu mandasse você para um convento, mas nunca ANGELIQUE (com cara de espanto):
concordei. Você não leva jeito para freira. Isso eu já não sei.
TOANETE (baixinho): ARGAN:
Essa pilantra tem seus motivos para querer tirar Angelique E que se formará médico dentro de três dias.
de cena!
ANGELIQUE:
ANGELIQUE:
Ele, meu pai? Tem certeza?
Ah, meu pai, estou tão agradecida por sua bondade!
ARGAN:
TOANETE (para Argan, aliviada):
Sim. Ele não disse a você?
Na verdade, eu é que devo lhe agradecer! Foi a coisa mais
inteligente que o senhor já fez em toda sua vida! ANGELIQUE:

ARGAN: Não, e eu me lembraria de uma coisa dessas! Quem lhe


contou isso?
Eu ainda não conheço o seu futuro marido, mas, pelo que
me disseram, agradará a nós dois. ARGAN:

ANGELIQUE: O Doutor Purgon.

Quanto a isso não tenho a menor dúvida papai. ANGELIQUE:

ARGAN: Mas o Doutor Purgon conhece meu futuro marido?

Por que tem tanta certeza? Você conhece seu prometido? ARGAN:

ANGELIQUE: Que pergunta! É claro que o Doutor Purgon conhece o


próprio sobrinho!
Vou abrir meu coração, meu pai, já que o casamento está
arranjado. Faz um semana, nos conhecemos por acaso, ANGELIQUE:
e este pedido de casamento vem coroar o amor que
Cleante é sobrinho do Doutor Purgon?
sentimos um pelo outro à primeira vista.
ARGAN:
ARGAN:
Que Cleante? Estamos falando do homem que pediu sua
Não foi o que disseram, mas fico contente, melhor assim. mão em casamento.
Disseram que é um jovem alto e bem-apessoado. ANGELIQUE:
Sim, eu sei!
ANGELIQUE: ARGAN:
Sim, meu pai. Então! Ele é filho do Doutor Diaforus, que é cunhado do
Doutor Purgon. O nome do seu prometido é Tomás
ARGAN: Diaforus, e não Cleante. Hoje mesmo de manhã
Forte! resolvemos tudo sobre o casamento, eu e o Doutor
Purgon. Amanhã ele virá aqui com o pai.
ANGELIQUE: ANGELIQUE (com cara de espanto):
Oh, não!
Sem dúvida! ARGAN:
ARGAN: Que foi? Por que está tão espantada?
ANGELIQUE:
Bonito! Ah, meu pai! É que o senhor estava falando de uma
pessoa, e eu pensando em outra.....
ANGELIQUE:
Certamente!
ARGAN:

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