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O DESIGNER COMO ARTICULADOR NA TRANSIÇÃO DA CULTURA

CONSUMISTA PARA A CULTURA SUSTENTÁVEL.

Andreia de Souza França

Larisse Pereira de Almeida

Paula Menezes Almeida

Resumo: O artigo discute a importância do profissional de design na


sociedade, como incentivador do consumo, com base na leitura de livros e
artigos de autores e profissionais especialistas nas áreas de design, cultura e
sustentabilidade, destacando o seu papel de criador de produtos e significados,
perpassando pelos conceitos de sustentabilidade e cultura consumista e por
fim apresentando quais meios esse profissional deve utilizar para favorecer e
influenciar a prática de uma cultura sustentável, frente aos problemas
ambientais atualmente enfrentados, causados principalmente pela exploração
abusiva dos recursos naturais e o consumo inconsciente.

Palavras-chave: Consumismo, Sustentabilidade, Designer, Obsolescência.

INTRODUÇÃO

Em vista da crescente da necessidade de preservar os recursos


naturais que existem no planeta, tem-se dado ênfase em um conceito que
grande parte da população ainda não tem o real entendimento do que se trata:
sustentabilidade. Durante muitos anos o profissional em design foi suporte para
o desenvolvimento de uma cultura baseada no consumo exacerbado de bens e
produtos, fazendo-se necessário nos dias atuais que este realidade seja
revertida, afim de que esta população que ainda não conhece o que é a
sustentabilidade, juntamente com as demais parcelas da sociedade, possa não
somente conhece-la, mas também, e principalmente, vivê-la.
1.1 O DESIGNER COMO UM INCENTIVADOR DO CONSUMO.

Antes de caracterizar o profissional em design e seu influente papel na


sociedade pós-moderna, faz-se necessário compreender o significado
empregado a design neste artigo, uma vez que a multiplicidade de
interpretações e aplicações frequentes e indiscriminadas do termo poderia
fragmentar o lúcido entendimento das realidades discorridas.
O convívio com a expressão design tem se tornado familiar em meio as
mais variadas culturas e sociedades, geralmente ligando-se à beleza, às
formas e, principalmente ao estilo atraente daquilo que é tendente, que está
em voga. Em muitos casos, como afirma Niemeyer (2000) o uso
indiscriminado do termo se justifica pelo fato de que, no Brasil, ainda não
existe uma denotação mais específica para a profissão e o conceito de design,
sendo este utilizado em áreas onde é inexistente um trabalho conceitual e de
projeto, e assim encontramos termos como hair design, food design, tribal
tattoo design, dentre outros.
Parafraseando Lobach (2001), é pública a concessão de prêmios ao
bom design através dos diversos meios de comunicação; crescentes as feiras
e congressos, entre outros, onde estão expostos os sucessos das empresas no
campo do design e cada vez mais abertas ao grande público; sonora e
visualmente massificadas pela publicidade o número de propagandas e
embalagens que dão destaque puramente estético ao termo.
Destas e de outras variáveis formas, o público em geral leigo, também
tem se confrontado com o conceito de design e faz suposições do que se trata,
sem, contudo, entender suas complexas inter-relações, sendo que a sua
percepção do design e de sua problemática são por demais superficiais. O
entendimento que se tem é decorado em seu entorno pessoal de forma
intuitiva, a partir de experiências sensoriais obtidas com determinados
produtos, ou então se deixando guiar pelo "good design".
Em tempos pós-modernos tal pluralidade também se dá devido a
alterações dos padrões de consumo. Todos querem comprar e mostrar que
tem bom gosto ao adquirir produtos, tal como põem em destaque as revistas
de moda, decoração, comerciais, filmes e novelas que a cada novo insight,
ampliam seus imperativos comerciais que são movidos por empresas e grupos
de interesses. Todos querem ter um pouco de design no seu dia a dia, mesmo
que algumas vezes de forma efêmera e desnecessária.
Dissertar os diversos objetos, significados, métodos, objetivos,
processos, interações além das funções, ferramentas e teorias agregadas à
palavra design através dos tempos seria algo extenso e infinito e,
indubitavelmente não seriam poucos os resultados, nem é nosso objetivo.
O conceito que aqui abordaremos considerará design como uma
atividade que jamais se permitirá resumir apenas às funções e valores
estéticos, que tendem a evidenciar, provocar ou evitar o impacto emocional
através dos produtos dispostos ao mercado. A função estética agrega valor de
imagem a uma marca, serviço ou produto, todavia também precisa estar
substancialmente agregada ao conteúdo das demais funções que o design é
portador. Analisaremos, contudo, como o design emocional tem sido
fortemente empregado como parte da estratégia sedutora da cultura
consumista.
De acordo com Azevedo (2006, p.87) “o design é sempre uma forma de
planejar uma saída”. Trata-se de apresentar soluções criativas, para as mais

diversas problematizações e desafios apresentados em um determinado


contexto. Design engloba planejar, projetar, coordenar, integrar, comunicar e
articular ideias, linguagens, valores, simbolismos, técnicas, inovações
materiais, formais, funcionais, conceituações e significâncias; é designar, de
forma ótima, as ligações entre as abstrações e estruturas materiais entendidas
até alcançar a concepção de serviços e produtos que sejam instrumentos para
melhorar a nossa qualidade de vida. Walter afirma (2006, p.22) que:

Design é uma área do conhecimento que compreende a atividade


projetual. De tal maneira, irmã da Engenharia e da Arquitetura, entre
outras. Com abordagem explicitamente interdisciplinar, trata-se de
uma arte profissional focada no desenvolvimento da cultura material.

Daí, podemos dizer que design não se faz só, mas se faz com outras
áreas de conhecimento e, de modo consciente e constante deve levar em
consideração que tanto recebe como promove influências em aspectos sociais,
econômicos, culturais, políticos, tecnológicos e, com importância ímpar nos
dias de hoje, em âmbitos ambientais. Assim, com a justa interação, o design
resulta na aplicação coerente de processos produtivos e em soluções por meio
dos projetos desenvolvidos e/ou produzidos que desempenhem favorecimentos
ao cotidiano social.
Tendo esclarecido as confusões usais acerca do termo design e definido
seu sentido neste artigo, permitamo-nos prosseguir caracterizando o designer
como sendo o profissional que para desenvolver seu trabalho percorre desde
os campos de pesquisas e análises inter e transdisciplinares, como também
manipula sua criatividade junto ao conhecimento de técnicas e processos para
introduzir no mercado inovações e tendências, soluções para diversos desafios
enfrentados por seus clientes.
Cardoso (1998, p.18), chama atenção para o seguinte aspecto:

O designer vem perdendo ao longo dos últimos anos, o senso do


destino coletivo da profissão e vem se retraindo cada vez mais à
segurança relativa do seu espaço individual, conformando-se com a
marginalização progressiva da profissão em um mundo (leia-se, um
mercado) ansioso para se ver livre de ‘ideologias ultrapassadas’, tal
qual a ideologia da função social do design que exerceu um fascínio
tão poderoso sobre o campo desde Ruskin e Morris até Buckminster
Fuller e Papanek.

Designer é aquele que tem a capacidade de criar e suprir leques de


contrastes e necessidades, de tornar materializável, em produtos e serviços, os
anseios, desejos e gostos, colaborando para o aumento do bem estar e
autoestima das mais diversas pessoas, fazendo assim valer o papel social que
este é chamado a exercer. O designer deve visar favorecimentos sociais.
Empresários, administradores, comunicadores, engenheiros, projetistas
industriais e demais profissionais de áreas envolvidas com produção de bens
de consumo, tem a clara visão de que sem investir em design em seus
empreendimentos fica quase impossível para uma empresa manter-se de pés
em um mercado que vem se transformando nas últimas décadas cercado pelo
desenvolvimento de alta tecnologia e ao mesmo tempo um mercado tão
competitivo e igualitário em níveis de sofisticação que, para se sobressair,
tem-se investido em fatores e subsídios individualistas, apelativos, que não
visam o coletivo. Isto se deve em grande parcela pelo avanço da globalização
e a uma de suas principais características, o acesso da aldeia global à
informação em tempo real e instantâneo, e a escolha ao alcance de um clique
ou touch.
Também é real a forte conexão nos dias atuais entre a velocidade de
responder de forma digital as pressões por desenvolvimento, status social e
eficiência, e a realidade de sabermo-nos seres analógicos, que possuem
necessidades e limitações em diversos aspectos, e tempos de respostas não
tão instantâneos e programados às pressões diversas que a era da máquina e
do conhecimento vem gradativamente exigindo do indivíduo pós-moderno.
Segundo Hall (1992, p.75):

Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de


estilos, (...), pelas imagens da mídia e pelos sistemas de
comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam
desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e
tradições específicos e parecem “flutuar livremente”. Somos
confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos
fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de
nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha. Foi a
difusão do consumismo, seja como realidade, seja como sonho, que
contribuiu para esse efeito de “supermercado cultural”.

Assim, a forma mais fácil e direta de conseguir tentar responder as


expectativas, ânsias e pressões internas e externas que a maioria
esmagadora dos homens modernos traz em si, tem desembocado no
consumo. Segundo Moraes (2011) o consumo de qualquer produto ocorre
inicialmente por consequência de um investimento de desejo por parte do
consumidor, terminando, idealmente, com a apropriação do objeto pelo
mesmo. Para que essa necessidade de satisfações e posse seja alcançada, o
designer tem disposto de suas habilidades profissionais, como já
anteriormente explicitamos que possibilitam a este atribuir valores e
significados dos mais diversos nos seus projetos, sinalizando-os fortemente
por meio de apelos emocionais a seus usuários, agora identificados como
consumidores.
Fato é, que o design em aspecto emocional e não somente, vem
representando papel econômico significante no modelo capitalista. Como os
designers desempenham claramente um papel decisivo na determinação dos
significados empregados aos artefatos produzidos e posteriormente
consumidos e agregados pelas pessoas em seu dia a dia, estes objetos podem
e, como fortemente já presenciamos, tendem a ocupar os hábitos culturais dos
indivíduos e assim gera cultura e ciclos de consumo cada vez mais intensos, o
que nos faz afirmar que a cultura material do século vigente é largamente
consumista. Restam assim poucas, ou nenhuma dúvida de os designers, por
meio de suas criações, influenciarem diretamente os anseios e hábitos de
consumo na sociedade.

1.2 UM DEBATE EM TORNO DOS CONCEITOS EM ANÁLISE: CULTURA


CONSUMISTA E CULTURA SUSTENTÁVEL.

A expressão sociedade de consumo é utilizada em sociologia e


economia para denotar a sociedade atual que se baseia na lógica do
desenvolvimento econômico e se encontra numa avançada etapa do
desenvolvimento industrial capitalista, que teve seu inicio com os
pensamentos iluministas e positivistas e se estabeleceu a partir da Revolução
Industrial, onde a substituição do trabalho humano pela força motriz
massificou o processo produtivo, permitindo que este ocorresse em grande
escala, multiplicando progressivamente a quantidade de bens de consumo
oferecidos ao mercado. As mudanças ocorridas nesse período atingiram a
sociedade em seus diversos níveis, e perduram até os dias atuais.

Importante distinguir os termos que normalmente são confundidos,


consumo e consumismo. Consumo faz parte da vida humana, que
precisa de alimentação, morar, vestir, divertir, deslocar, entre outros.
Precisamos atender nossas necessidades fisiológicas, psicológicas,
sociais, econômicas. Consumismo é o ato de consumir
exageradamente produtos e/ou serviços. (Silva & Alcoforado, 2010,
p.3).

A sociedade é, portanto, uma sociedade de consumo. Todos os


membros dessa sociedade consomem, desde os primórdios da vida humana,
e sempre terão a necessidade de consumir. Contudo, este ato de consumir,
intrínseco da natureza humana, com todo o avanço tecnológico e industrial, e
com o incentivo mercadológico dos setores do marketing e publicidade,
passou a ser praticado de forma desnecessária e exacerbada. O consumo se
transformou no motor que move a economia mundial. Se a sociedade não
consumir, a economia não cresce.
Na década de 50, nos Estados Unidos, o consumismo começava a se
consolidar, baseado na abundância de bens ofertados e no desejo dos
consumidores, fundamentado secretamente na obsolescência planejada,
gerando consumo e descarte constante. Esse estilo de vida americano lançou
as bases para a sociedade consumista atual.

Todos esses fatores aliados à competição intensa e cada vez mais


crescente entre os fabricantes levaram a uma conjuntura de mercado
que, para se sustentar, demandava forte segmentação do público
consumidor e uma maior diferenciação entre produtos. Marketing e
design, nesse contexto, surgiram como resposta, configurando uma
mescla que se mostraria imbatível com o passar dos anos. (Amorin,
2007, p.5).

O marketing e o design então, de forma inesgotável, passaram a


estudar o estilo de vida do consumidor, a fim de obter dados essenciais que
os orientassem no que produzir em resposta aos investimentos empresariais
no mercado.
Segundo Chiavenato (2008), a globalização criou a ilusão de que o
consumo é a base de se conseguir o bem estar social, resultando em uma
grande concentração do poder de compra dos ricos, ao mesmo tempo em que
o número de produtos de baixo preço, mínima durabilidade e pouco valor
agregado elevaram-se, gerando uma sensação de poder aos pobres.
Os produtos são consumidos, em seguida substituídos por outros nem
tão inovadores, que muitas vezes também são rapidamente descartados.
Segundo Bauman (1999, p.89):

No que diz respeito a esta lógica, a satisfação do consumidor deveria


ser instantânea e isso num duplo sentido. Obviamente, os bens
consumidos deveriam satisfazer de imediato, sem exigir o
aprendizado de quaisquer habilidades ou extensos fundamentos; mas
a satisfação deveria também terminar — “num abrir e fechar de
olhos”, isto é, no momento em que o tempo necessário para o
consumo tivesse terminado. E esse tempo deveria ser reduzido ao
mínimo.
Os produtos não são mais feitos para ter um longo período de uso,
como antigamente. Durabilidade tornou-se exceção. As mercadorias surgem
nas prateleiras para serem compradas rapidamente, e uma vez adquiridas
passam a apresentar defeitos e problemas, que em grande parte não são
passíveis de conserto, ou quando são, a diferença no valor entre o reparo e a
compra de outro produto é mínima, fazendo com que o consumidor opte pelo
descarte do mesmo.
A estética e o simbolismo vem em primeiro lugar, os objetos recebem
atualização constantemente, não em nível de função, mas, na maioria das
vezes, simplesmente reformulação visual, ou seja, o redesign. Chama-se isso
de obsolescência percebida, o produto sofre alterações em sua forma e
aparência constantes, tornando-os obsoletos visualmente em um curto
período de tempo, instigando a compra compulsiva.
Em contrapartida a essa realidade consumista irresponsável, que
quando lançou suas raízes não tinha consciência da finitude dos recursos
naturais, surge, com cada vez mais força, a necessidade de despertar a
sociedade ao consumo consciente, sendo alertada para todas as
problemáticas que vem sendo enfrentadas diariamente por causa da extração
exacerbada e poluição de todos os tipos que são emitidas na no meio
ambiente. Congressos e reuniões políticas são realizados frequentemente a
nível mundial, documentos e relatórios são redigidos, apontando a
necessidade de se adotar medidas protetoras e reparadoras, para frear os
impactos ambientais, frente ao desenvolvimento tecnológico e industrial
mundial.
A avassaladora farra consumista desencadeada a partir da
Revolução Industrial, potencializada com o avanço tecnológico dos
meios de produção e universalizada pela mídia na era da
globalização, está custando caro ao planeta. (...) O relatório ‘Estado
do Mundo 2004’ do WorldWatch Institute afirma que ‘o consumismo
desenfreado é a maior ameaça à humanidade’. (Trigueiro, 2006).

Surge então a disseminação de uma cultura sustentável, que aponta


para o equilíbrio entre os eixos social, econômico e ambiental. A relação entre
o social e o econômico gera a igualdade, a interação entre o econômico e o
ambiental leva ao viável e a união entre o social e o ambiental produz o
concebível. A justa interação destes três eixos produz a sustentabilidade.
A cultura sustentável então perpassa pelo conceito de desenvolvimento
sustentável, que trata de produzir e atender a geração atual sem prejudicar as
gerações futuras, garantindo a oportunidade equitativa de uso dos recursos
ambientais existentes. Nesse sentido, Manzini (2005, p.27) sustenta que:

As atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais em


que se baseia tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao
mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será
transmitido às gerações futuras.

No âmbito econômico, a compreensão de consumo consciente, na


maioria das vezes, não é encarada de forma positiva, uma vez que
aparentemente implicaria em uma drástica redução dos lucros. Entretanto
Kazazian (2005) afirma que economia e ecologia podem ser pensadas juntas.
Em uma projeção em longo prazo, a adoção de medidas ambientalmente
corretas acarretaria em uma diminuição com gastos em energia, combustíveis,
transporte, extração de matéria-prima e tantos outros aspectos inerentes à
produção industrial.
Não se trata, no entanto, somente de teoria e ideologia, inaplicável na
economia mundial. Exemplos de sucesso nessa relação saudável entre meio
ambiente e economia existem por todo o mundo, gerando também um aumento
considerável no bem estar social. Em nível governamental, a Suíça é um dos
grandes exemplos dessa realidade, onde o governo investe e adota medidas
favoráveis ambientalmente, possuindo uma das maiores economias do mundo
e um dos melhores níveis de qualidade de vida. No Brasil, Curitiba, capital do
Paraná, é considerada uma cidade modelo, investindo em planejamento
urbano sustentável, energias renováveis, qualidade de transporte urbano,
tratamento de lixo e coleta seletiva e outros aspectos que influenciam na
qualidade de vida em um sentido ambiental.
No âmbito social, torna-se imprescindível a mudança de hábitos
comportamentais através de uma educação socioambiental, que apresente as
mazelas causadas, especialmente em nível ecológico, pelos modelos de vida
hoje ligados ao consumo irresponsável e desnecessário. Segundo Thackara
(2008) a sociedade deve encarar o desafio de abandonar a ideia de posse em
troca da satisfação do desfrute. Não mais precisar possuir os objetos para se
satisfazer, mas desfrutar dos mesmos, numa realidade de compartilhamento e
serviço.
Essas mudanças de hábitos aplicar-se-iam tanto no cotidiano das
pessoas, como por exemplo, o uso de lavanderias coletivas, aluguel de
transporte e meios coletivos de qualidade, serviços de consertos,
compartilhamento ou aluguéis de equipamentos e maquinários; quanto também
em um sentido mais amplo, englobando as realidades industriais e comerciais,
como a ligação direta entre campo e cidade, otimizando o tempo e gasto com
transporte de matéria-prima e mercadorias, ou o uso e extração de recursos
compatíveis com a realidade local, produzindo de acordo com o que as
proximidades da indústria oferecem.
O mundo enfrenta múltiplas crises sistêmicas e interligadas, atreladas à
destruição em massa dos recursos naturais. Sem a adoção do consumo
consciente os problemas ambientais se agravarão, implicando na nossa
qualidade de vida. Contudo não se trata somente de mudar os produtos
existentes no mercado para outros sustentáveis. Urge mudarmos os hábitos e
comportamentos fortemente arraigados à nossa cultura. É preciso dar um basta
ao consumismo exacerbado, na cultura da ostentação, ou, como afirmam
diversos grupos ambientalistas, teremos cada vez menos água potável,
florestas disponíveis, solos férteis, fontes renováveis de energia e espaço para
o descarte dos lixos e resíduos.

1.3 DESIGNER: UM ARTICULADOR NA TRANSIÇÃO PARA A CULTURA


SUSTENTÁVEL.

Colocamos em pauta então, a necessidade urgente de o designer


encarar em sua profissão uma inerente responsabilidade no que diz respeito à
inserção de seus produtos e serviços no mercado, não mais permitindo que os
setores de marketing e publicidade atribuam valores e significados díspares
àqueles pensados nas etapas de conceituação e desenvolvimento, com o
intuito de tornar estes produtos mais atrativos comercialmente, visando, única e
exclusivamente, a maximização de lucros para as empresas.
Esse profissional deve então assumir o seu papel estratégico de
articulador de conhecimentos, com capacidade de projetar de acordo com uma
visão específica de mundo, entendendo as realidades em que se encontra a
sociedade e produzindo de acordo com elas, atendendo as reais necessidades,
e não mais buscando criar outras somente para fisgar o consumidor. O design
tem sido visto como uma ferramenta que pode contribuir para a revisão do que
está por trás desse sistema. Dessa forma o designer deve, primordialmente,
desenvolver aquilo que o ser humano precisa para realizar suas tarefas
cotidianas, através de projetos intrinsecamente mais sustentáveis.

O desafio do designer hoje não é mais impor uma ideia sobre algo
considerado a priori como amorfo, mas fazer surgir de si mesmo e do
mundo circundante uma forma que abarque ambos, que revele o
modo como os homens emergem do mundo para experimenta-lo.
Essa postura não indica uma passividade e sim um outro
direcionamento, (...) capaz de fortalecer nas pessoas uma sabedoria
no confronto com sua própria existência, de gerar uma nova
qualidade de vida, de atingir percepções e emoções mais profundas.
(Malaguti, 2009, p.35).

Nesse sentido, trata-se de um desafio criativo, onde o designer terá


que reinventar a relação do sujeito com o ato de consumir, sem abrir mão do
prazer em usufruir tal produto, apresentando-o agora com baixo impacto
ambiental sem perder seu impacto sensorial. Os designers terão que estar
atentos a materiais alternativos, não agressivos, recicláveis, redução e uso
racional de peso, embalagens e energia, racionalização de transportes,
processos industriais de menor impacto e degradação ambiental,
confiabilidade, durabilidade, fácil manutenção, reparo e etc. A simplificação
tornou-se claramente um objetivo-chave do design.
Reformular o ato de comprar e possuir algo para uma realidade menos
impactante ambientalmente. Dentre as alternativas já existentes para que isso
aconteça, está a desmaterialização. Esta, segundo Kazazian (2005), tem como
objetivo principal descasar o crescimento econômico da exploração de
matérias-primas, ou seja, tornar a primeira menos dependente da segunda. Em
outros termos, menos matéria, mais raciocínio.
Dentro das empresas, o designer tem esse papel de artífice na
implantação de medidas sustentáveis nos negócios. Gelli afirma que nenhuma
empresa conseguirá sobreviver no meio competitivo mundial sem adequar a
questão da sustentabilidade à sua essência, isto é, cada qual deverá encontrar
o seu modo de ser sustentável.
No Brasil, exemplos de empresas sustentáveis, como a Natura
Cosméticos, que investe em redução de impacto ambiental na extração de
matéria-prima para produção de seus produtos, e a Tetra Pak, do ramo de
embalagens, que aplica sustentabilidade desde o material utilizado na
fabricação, passando pelo transporte de materiais e mercadorias, até a coleta
de produtos descartados para reciclagem, se multiplicam, confirmando essa
tendência empresarial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou apresentar como o profissional em design se


torna responsável por articular as mudanças comportamentais necessárias
para a disseminação de uma cultura sustentável de consumo consciente, frente
aos impactos ambientais sofridos pelas praticas abusivas de extração,
produção, consumo e descarte nos dias de hoje.
O designer deve então, respeitar o sentido ético da sua função,
atendendo ao seu papel social de saciar as reais necessidades do seu
mercado consumidor. Em conjunto com o marketing e a publicidade, deve
estabelecer novos padrões de produção e consumo, baseados no que é
indispensável funcionalmente, e não somente na obtenção de lucros.
Mesmo que a cultura sustentável não possa se concretizar em larga
escala imediatamente, pois são necessárias grandes transformações
estruturais em nossa sociedade, em um processo de longo prazo, é mister ao
designer permanecer assumindo seu papel de profissional articulador da
implantação da sustentabilidade, em conjuntura com os eixos social,
econômico e ambiental, dentro da realidade de consumo, transformando os
hábitos e reeducando a sociedade para uma postura mais adequada às
condições em que se encontra o planeta.

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