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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PÓS GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL


TEORIA ANTROPOLÓGICA CLÁSSICA- JOSÉ GLEBSON VIEIRA

Resenha crítica do livro de: MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e Costume na


Sociedade Selvagem; tradução de Maria Clara Corrêa; revisão técnica de Beatriz
Sidou.- Brasília: Editora Universidade de Brasília/São Paulo: Imprensa Oficial do
Estado, 2003. 100p

A presente resenha está sendo escrita com o objetivo de mostrar alguns aspectos
relevantes para análise sobre o livro “Crime e costume na sociedade selvagem”, de
Bronislaw Malinowski. O livro foi escrito pelo autor que é reconhecido como pioneiro
na observação participante. Diferente de “Argonautas do Pacífico”, onde pode ser vista
uma descrição detalhada sobre o Kula, “Crime e costume na sociedade selvagem”
possui um caráter mais analítico.
O autor divide o livro em duas partes. Antes de iniciar, é importante notar que o
autor, logo no prefácio, ressalta o caráter colonial do estudo antropológico das
sociedades primitivas, dizendo que essa tarefa “pode ajudar o homem branco a
governar, explorar e “aperfeiçoar” o nativo com resultados menos perniciosos para
este”(p.8).
A primeira parte do livro recebe o título de “A lei primitiva e a ordem”. Sempre
enfatizando a ideia da observação participante, Malinowski realiza análises a partir das
suas observações no que diz respeito as leis primitivas e sobre a organização social dos
povos das Ilhas Trobriand. Podendo realizar uma análise – quase minuciosa – sobre
alguns aspectos desses povos, ele se atém a economia e compreende uma organização
complexa das atividades, como a pesca, que possui uma gama de variáveis que interliga
diversas funções, não sendo simplesmente pesca por si só. A partir da pesca, é possível
perceber que os conceitos com “comunismo” ou “individualismo” não cabem nesse
contexto. Há uma divisão do trabalho, onde cada um possui sua função. O dono na
canoa é responsável pelo empréstimo desta e o que foi pescado é dividido de forma
equivalente ao que cada um trabalhou. A ênfase dada pelo autor ao aspecto econômico é
importante porque mostra a necessidade de se observar as situações de forma
contextualizada. Os costumes primitivos não devem ser vistos como exóticos ou como
simples. Eles possuem em si a sua complexidade.
Em uma das comparações realizadas pelo autor, ele mostra um problema que é
encontrado ao fazermos analogias entre o que nós vivemos e a realidade da vida e dos
costumes selvagem. Assim, a partir de sua análise, ele mostra que ao compararmos os
sistemas de leis e organização entre duas sociedades distintas, enveredamos por um
caminho que nada tem a ver como o que está sendo estudado, pois, não cabe ao
antropólogo utilizar conceitos da sua sociedade, aplicando-os ao modo de vida
selvagem. Se isso fizéssemos, poderíamos achar semelhanças entre comunismo e
capitalismo. Porém, quando a situação selvagem é analisada a partir da observação
participante – contextualizada -, é possível perceber que estes conceitos não cabem na
situação estudada pelo autor, já que não há comunismo na complexidade da pesca, que
não envolve uma disponibilização das canoas, mas sim trocas mútuas. Outro fator seria
olhar as comunidades como exóticas, exatamente pelo preconceito que há ao estudar
uma sociedade diferente daquela que o antropólogo vive.
Dada a complexidade do que está envolto com relação a pescaria, o autor chama
a atenção para a troca de produtos, que consiste em algo obrigatório entre as
comunidades da costa e do interior da ilha. Uma fornece comida a outra, mas não por
simples oferecimento, e sim por uma troca mútua. As dependências – troca de alimentos
e também de serviços - entre uma comunidade e outra são recíprocas e obrigatórias.
Malinowski mostra, através de alguns exemplos, o que leva a comunidade
primitiva a seguir a lei, onde há uma propensão ao seguimento de determinadas tarefas
que lhes são dadas. A sociedade primitiva irá ver determinados comportamentos de
forma enaltecida, como a troca de alimentos através da reciprocidade, a realização das
cerimônias, os presentes etc. Toda essa exposição, demonstrando riqueza e sujeitas a
avaliação de outras pessoas, irão formar uma coerção no indivíduo, contribuindo para
que o mesmo esteja cumprindo suas tarefas sociais. Essa coerção social da qual faz
parte a reciprocidade, compõe a lei civil primitiva. Entretanto, o contrário também é
feito. Nem sempre o nativo irá seguir todos os preceitos para contribuir com o
estabelecimento da ordem. Quando não há perda de privilégios, também há o
descumprimento do padrão social. Isso mostra, de acordo com o autor, que não há um
indivíduo que está sempre sendo coagido pelo grupo, mas que ele também possui ação.
Malinowski nos mostra sobre a lacuna existente da antropologia moderna com
relação a legalidade primitiva, enfatizando que, não há um desleixo da antropologia
neste assunto. Porém, o que ocorre é o contrário: existe uma ênfase nas leis primitivas,
onde a antropologia coloca um olhar romantizado que demonstra uma perfeição no
funcionamento das instituições primitivas.
A segunda parte do livro tem como título “A lei primitiva e a ordem”.
Realizando uma análise mais detalhada sobre o assunto relacionado aos crimes e suas
punições, Malinowksi irá falar sobre o que está relacionado as transgressões das leis e o
também sobre o que é feito para restaurar a ordem. Partindo daí, ele irá dizer que as
comunidades primitivas são marcadas pela tradição e pela ordem. Sobre a lei primitiva e
obediência do nativo, o autor faz um adendo importante, afirmando que existe uma
complexidade que envolve os costumes primitivos e, consequentemente, suas leis.
Assim, quem está observando esses costumes – antropólogo/pesquisador -, tem o
costume de procurar algo semelhante ao nosso modelo de leis e, não encontrando,
pressupõe que a lei selvagem é obedecida pelo nativo por este estar propenso a obedecê-
la. Portanto, cabe ressaltar que as leis são mantidas por sua força e pelo seu caráter
coercitivo, dominando todas as instâncias da organização social primitiva. É importante
lembrar que, segundo o autor, assim como acontece na sociedade civilizada, as leis
primitivas também são rompidas.
Malinowski analisa também uma ordenação da qual fazem parte as relações
sociais. O direito materno é detentor da função mais importante, sendo determinante
para que a criança esteja totalmente vinculada ao parentesco da mãe.
Com relação a moralidade e vida real, os acontecimentos assumem outra
posição. Para que funcione, a opinião pública precisa ser afetada de alguma forma,
recebendo estímulos da vítima, através de humilhações proferidas por gritos
direcionados a quem cometeu o crime. A partir daí, a comunidade exercerá sua função,
fazendo fofocas ou isolando o criminoso, mas a punição é executada por quem
transgrediu a lei.
As leis são obedecidas em termos de mutualidade, onde existem as obrigações
de um e os direitos do outro. Há um mecanismo social de força compulsória que tem
como base a dependência mútua entre os indivíduos. Com essa análise, o autor descarta
a ideia o sentimento de grupo ou a responsabilidade coletiva sejam os únicos fatores que
motivam a obediência às leis. De acordo com Malinowski, o selvagem não será nem
totalmente coletivista nem totalmente individualista, mas uma mistura de ambos.
A lei, nas sociedades primitivas, não pode ser vista como um sistema fechado ou
um sistema independente, ela faz parte de todos os aspectos estruturantes da
comunidade.
O suicídio também acontece nas sociedades primitivas, funcionando como um
método de autopunição, onde mesmo não fazendo parte das instituições judiciais, possui
aspectos legais. Assim, aquele que foi acusado pratica a autopunição, funcionando como
fuga ou reabilitação, muitas vezes, através do suicídio. O suicídio, para os nativos, serve
como um abafador dos desvios do que faz parte dos costumes ou da tradição. Tanto a
bruxaria como o suicídio servem de suportem para a lei e para ordem, evitando assim
comportamentos extremos ou excessivos por parte dos nativos.
Segundo Malinowski, com relação aos crimes dentro da lei primitiva, existe uma
dificuldade para analisa-lo, pois é ainda mais vago do que a lei civil. Não se pode
aplicar a lei da justiça segundo a sociedade civilizada. Portanto, torna-se um processo
lento e incômodo no que diz respeito a restauração para o equilíbrio tribal perturbado.
Na sociedade Trobriand, o crime é definido de forma vaga, podendo ser uma
explosão de raiva de algum indivíduo ou o desrespeito a alguma regra, um atentado a
alguma pessoa, ou propriedade, ou até mesmo um entrega exagerada aos prazeres.
O autor mostra que a lei na sociedade primitiva não é um conjunto homogêneo e
unificado de regras. A lei, compõe uma diversidade de sistemas mais ou menos
independentes, mas que são ajustados uns aos outros.
O trabalho de análise realizado por Malinowski, mesmo com todas as questões
problemáticas referentes a antropologia servindo aos colonizadores, mostra um esforço
do autor dentro do estudo etnológico e antropológico referente ao trabalho de campo,
bem como ao seu método de observação direta e participante. Essa metodologia é
imprescindível para a antropologia e para os estudos que se propõem a não realizarem
descontextualizações, evitando, desta forma, equívocos sobre a sociedade primitiva.
Portanto, vale ressaltar que tanto a lei como a ordem não obedecem uma fixidez
dentro da sociedade primitiva. O conceito da lei e da ordem devem ser reformulados e
vistos de perto, como realmente funcionam. Os costumes tribais não são, segundo o
autor, um aglutinado sólido e inerte; eles fazem parte da estrutura e dos costumes da
sociedade. As lei e a ordem fazem parte de uma constante luta entre paixões humanas
contra lei, e também dos aspectos e dos princípios legais. Essa luta não é independente e
está limitada entre as barreiras da publicidade.

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