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Quatro observações preliminares: por que me interesso pela literatura.

1. A literatura e a sua função para mim (ou o lugar de onde eu falo): foi graças a
literatura que eu me formei enquanto cidadão e enquanto pessoa. Foi por ela
que aprendi que a leitura e o estudo podem me ensinar coisas relevantes para a
minha própria vida e o mundo em que vivo. Foi a literatura que me ensinou que
o conhecimento pode me propor questões que me transformam, dilemas éticos,
morais e políticos que me circundam. Ou seja, foi a literatura a responsável por
me abrir o horizonte e querer conhecer mais sobre filosofia, sociologia,
psicologia etc. Ou seja, em vez de dizer que sou doutor em Psicologia Social e o
modo como a literatura se inscreve em minhas pesquisas, prefiro falar do meu
encontro com a literatura, que se deu muito anos antes de eu entrar na
universidade.
2. A literatura sempre foi, para mim, uma das lentes através das quais eu podia
enxergar melhor o mundo. A literatura é, para mim, uma espécie de forma de
pensamento capaz de elaborar conhecimentos sobre nós mesmos e nosso
mundo. Por meio da literatura, eu conheci debates filosóficos, históricos,
sociológicos, éticos etc. Intuitivamente eu gostava dos autores da literatura
russa (Dostoievski, Tolstoi, Gogol, Tchékov etc.). Anos depois vir a entender que
não é toda literatura que se coloca para si a tarefa de pensar um determinado
momento de um determinado mundo.
3. O meio da literatura sempre me pareceu muito mais fraterno do que o mundo
das disciplinas e das ciências humanas. O mundo da academia é muito regido
por grupos, departamentos, donos de autores. E o mundo da literatura parece
ficar à margem, ela parece sempre escapar às capturas da academia.
4. O que me parece ainda mais fascinante na literatura é a capacidade de expressão
estética que condensa as forças de um determinado tempo histórico, às vezes
antecipando fenômenos (Admirável Mundo Novo, 1984 etc.), outras vezes
condensando fenômenos (Cidade de Deus, Os Irmãos Karamazov etc.). Trata-
se, então, de uma forma particular de compreensão do mundo.
Antônio Cândido (Rio de Janeiro – 1918 / 98 anos)

1. Aspectos biográficos de Antônio Cândido: a formação como


problema de uma geração.

a) Passagem do saber reflexo ao saber criado: de um país de repetidores para um


país de escritores, criadores. E isso começa a partir da Universidade de São
Paulo, fundada enquanto Universidade em 1934 (embora já existisse a
Faculdade de Direito desde 1827).
b) Preocupação com a Formação do Brasil enquanto país autônomo, criativo. Este
também é um problema para um cara como Caio Prado Júnior (1907-1990) –
Formação do Brasil Contemporâneo [1942] e Sérgio Buarque de Holanda
(1902-1982) – Raízes do Brasil [1936]. Também Celso Furtado [1920-2004] –
Formação econômica do Brasil [1959]. São obras cuja preocupação central é
dar conta de uma análise de como chegamos a ser o que somos enquanto nação
unificada e moderna.
c) Uma nação unificada significa uma nação que elaborou seu passado pré-
moderno, ou seja, que conseguiu congregar seus povos originários no interior
de uma forma social única, no interior de uma “totalidade concreta”. Por seu
turno, uma nação moderna significa uma nação essencialmente capitalista. O
que pressupõe:

i. Um conjunto de instituições sólidas capazes de sustentar esta forma social:


escolas, hospitais, prisões, exército, conjuntos habitacionais, indústrias,
direito etc. [Immanuel Kant]: a sociedade moderna é constituída por um
conjunto de valores e normas específicas, diante dos quais os indivíduos
devem obedecer autonomamente. Imperativo categórico: age como se
sua forma de agir pudesse ser tornada universal e, desta maneira,
contribuísse para o melhoramento da vida social. Exemplo: eu, no
exercício de minha profissão, devo trabalhar com ética e honestidade, pois se
todos assim procederem, todos viverão bem. Conduta moral que independe
da esfera transcendental-religiosa. A sociedade moderna é uma
sociedade que se desfez de seu passado religioso e, mais do que
isso, construiu uma moralidade voltada para o bem coletivo que
se realiza no espaço público, na coisa pública.

# ESFERA PÚBLICA (INTERESSE SOCIAL OU GERAL) TEM


PREVALÊNCIA SOBRE A ESFERA PRIVADA (INTERESSES INDIVIDUAIS
OU DE GRUPOS).

ii. Trabalho livre e sem relação de favor: as pessoas podem trabalhar onde
querem e são capazes, sem prestar continência, vivendo somente de seu
mérito individual. Onde a inscrição social dos indivíduos não passa mais pela
submissão corporal mas sim pelo contrato livre e esclarecido entre partes
iguais. [Friedrich Hegel]: a dominação negociada é um avanço da civilização
moderna. A sociedade moderna é uma forma social que ainda
permanece existindo a dominação, mas de maneira combinada e
democrática, diante da qual tanto o trabalhador tem direitos
quanto o empregador (contrato). Ou seja, uma sociedade na qual
o favor ficou para trás.

# FAVOR X CONTRATO

iii. Mais fundamentalmente uma sociedade regida pela troca de mercadorias


(compra e venda). [Karl Marx]: os indivíduos vivem numa forma social
alienada, cuja inscrição depende não de sua vontade ou de sua forma de ser,
mas de sua atividade laboral (trabalho) que se converte numa coisa
(dinheiro) que lhe permite acessar bens sociais. A sociedade moderna é
fundamentalmente uma sociedade do trabalho, onde a riqueza
provém dos produtos do trabalho.

# LUTA DE CLASSES: EXISTÊNCIA CLARA DE CLASSES EM COMBATE.

d) Diante do exposto, é possível dizer que há uma sociedade moderna no Brasil?


Existe uma esfera pública consolidada que demanda uma atitude ética de seus
membros? Existe uma prática social do trabalho livre? Ou, na verdade, o que se
passou foi que a venda e força de trabalho foram expedientes remotos e o que se
afirmou como centro de gravidade das relações sociais no Brasil foi o favor? Se
foi assim, o indivíduo livre aqui no Brasil não foi aquele sujeito autônomo e
criativo, mas o agregado dependente. Ora, se isso é dessa maneira, então o favor
não é mais um elemento do passado que ficou para trás, mas um dinamizador
do presente. Neste sentido, uma teoria importada desde o centro não faz o
menor sentido entre nós.

# Exemplo de confusão entre esfera pública e privada no Brasil: por um lado,


quando a câmara dos deputados votou pelo afastamento da então presidente
Dilma Rousseff, muitos justificaram seu voto enquanto funcionário público a
partir de suas motivações privadas (dedicando seus votos às famílias, netos,
filhas etc.). Por outro lado, todo o debate da Escola Sem Partido tem como
pressuposto a ideia de que o professor não é capaz de fazer um uso público da
Razão sem ser levado por motivações individuais e políticas. Dois exemplos, no
século XXI, de como a confusão entre público x privado entre nós é constitutiva.
# Exemplo atual de confusão entre favor e contrato: muitos trabalhadores do
transporte público aracajuano devem seu posto de trabalho a relações de
familiares com políticos. Ou seja, devem prestar tributos constantes a isso,
sobretudo em período eleitoral. Outro exemplo é a relação promíscua entre o
financiamento privado de campanha e os favores posteriores que candidatos
devem a empreiteiras.

e) Há, então, entre nós, uma estranha dialética negativa. Isto é, não aquela
dialética do progresso, mas uma dialética negativa onde o passado se
presentifica.
f) A obra Formação da Literatura Brasileira [1959] está empenhada em estudar
o desejo dos brasileiros de constituir uma literatura própria, com conteúdo
nacional específico. Nesse sentido, o papel do intelectual Antônio Cândido é
com a formação de uma cultura autônoma num país periférico e atrasado. Ou
seja, ele se situa no interior do debate cultural: valores e normas produzidas no
Brasil.
g) Antônio Cândido é, acima de tudo, um intelectual no sentido de Sartre. E,
principalmente, um crítico da cultura, como Sigmund Freud, Friedrich
Nietzsche.

2. Aspectos metodológicos da crítica de Antônio Cândido: articulação


entre produção literária e metabolismo social.

a) “O externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado,
mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da
estrutura, tornando-se, portanto, interno” (Literatura & Sociedade, p. 6).
b) A obra literária petrifica a forma social, transforma o fluxo social e histórico
(conteúdo) numa forma estética. Isso significa que o conteúdo é articulado no
interior da forma literária. A literatura não registra, não fotografa, não é um
documento de verdade incontestável mas necessariamente um testemunho de
uma época. Enquanto testemunho, depende de quem escreve, quando escreve,
como escreve, por que escreve etc.
c) Filiação a uma tradição heterodoxa inspirada em Marx: Georg Lukács e Theodor
Adorno. Para estes autores, a crítica literária é o exercício intelectual que
demonstra o social por dentro da obra.
d) A crítica dialética não é uma teoria estética geral. Ela não propõe parâmetros
globais independentes das obras que serve para analisá-las à distância.
e) O diagnóstico lukácsiano para a dissolução da epopeia e o aparecimento do
romance. O que uma mudança tão radical na forma da narrativa diz sobre o
mundo em que vivemos? Tensão entre as aspirações do indivíduo e a
objetividade reificada do mundo.
f) Historicidade da forma e a lógica do conteúdo. Isto significa que, por um lado,
as formas pelas quais se representa a realidade mudam de acordo com a história.
Estes novos estilos, estes novos modos de representar a realidade não surgem
de uma dialética imanente das formas artísticas, ainda que estejam ligadas a
formas e estilos do passado. Todo novo estilo surge da vida, em consequência
de uma necessidade histórica e social. Por outro lado, não significa dizer que se
continue representando a realidade da mesma maneira mas de formas distintas.
Cada forma carrega consigo novos conteúdos, por isso, uma lógica do conteúdo.
g) Para esta tradição, o social não é aquilo que “reflete na obra” mas aquilo que a
constitui. Esse gesto provoca uma certa transformação: em vez do julgamento
comum de que para entender uma obra você deve entender primeiro uma
sociedade, pode ser que você tenha primeiro que entender o dinamismo de uma
obra literária para compreender a sociedade.

3. Dialética da Malandragem: a verdade do processo histórico surgido


no centro está na periferia

a) Antes de qualquer coisa, a Dialética da Malandragem é um diagnóstico de época.


É uma certa forma de fazer aparecer naquilo que resiste a sumir a própria
racionalidade do todo. Isto é, o que é indesejado aparece como produto
coerente, não como acidente. Por exemplo, a Dialética da Malandragem está
presente quando o centro europeu moderno e iluminista demanda a produção
de uma periferia escravocrata e arcaica. É uma desordem que sustenta a ordem.
No entanto, somente desde a periferia é possível enxergar a verdade deste
processo.
b) Memórias de um sargento de milícias (1852-1853).

i. Romance Urbano, isto é, cuja preocupação é retratar a vida dos cidadãos sob
o reinado de D. João VI.
ii. Exercício comparativo com: Senhora (1875), de José de Alencar; e A
moreninha (1844), de Manuel de Macedo.

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