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Professor Adjunto III de Sociologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco – fsoutojr@hotmail.com
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Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, bolsista do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) FAPESB/UNIVASF – camillaalmeida_89@hotmail.com
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Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, bolsista do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) FAPESB/UNIVASF – guilherme.jms@hotmail.com
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RESUMO
Este trabalho é fruto de estudos realizados pela pesquisa “Ação Sindical no Vale do São
Francisco (1990 – 2008)” com apoio do CNPq e da FACEPE, tendo como objetivo a
análise da ação feminina na construção da política sindical no Vale do São Francisco,
assim como também apreender o papel desempenhado pelas sindicalistas e
trabalhadoras rurais nas diretorias dos sindicatos e a consequente inserção de demandas
voltadas a questão de gênero. O Submédio São Francisco, localizado no semiárido
nordestino destaca-se pelo seu dinamismo econômico, associado à produção e
exportação de frutas. Entretanto, esse desenvolvimento também gera desigualdades
evidenciadas principalmente nas condições de trabalho e vida das trabalhadoras rurais
da fruticultura. Essas observações tornam-se mais perceptíveis, sobretudo, após a
aprovação dos primeiros acordos coletivos de trabalho, iniciados em 1994.
1. Introdução
O Vale do São Francisco pode ser considerado como uma das regiões agrícolas
mais dinâmicas do Nordeste, devido, principalmente, aos investimentos estatais na
década de 70, que tinham por objetivo o desenvolvimento de projetos empresariais por
meio dos benefícios da irrigação. Além disso, a participação do Estado para o
desenvolvimento do capitalismo na Região ainda é intensa, e vai de empresas públicas
como mega projetos como a CHESF, a Universidades como a Universidade da Bahia e,
mais recentemente, a Universidade Federal do Vale do São Francisco – Univasf.
Agências de desenvolvimento como Codevasf, empresas de pesquisa como a Embrapa
também fazem parte das políticas de estado para a região. O Vale dispõe de condições
naturais favoráveis, com sol o ano inteiro e poucas chuvas, permitindo um controle
intenso do processo de irrigação das plantas, o que garante mais de duas safras anuais.
O destaque recai sobre Petrolina-PE e Juazeiro-BA, dando ênfase na produção de uva e
de manga (CAVALCANTI, 1997).
Como uma peculiaridade em meio ao sertão nordestino, o Vale vive o
dinamismo da agricultura irrigada, destacando-se durante os anos 90 como o maior
produtor e exportador de verduras e frutas de alta qualidade no país. Os principais
cultivos incluem a manga e a uva, vendidas “frescas” para a Europa e os Estados
Unidos, além de outros cultivos que são destinados ao mercado nacional, como a
banana, côco, maracujá, e acerola (DAMIANI, 2003).
As chamadas “comidas frescas” têm tido cada vez mais destaque com os novos
hábitos alimentares, estando associados a novos padrões de consumo, até mesmo como
instrumentos da cultura de consumo atrelado a propagandas, a mídia e também ao novo
padrão estético dos corpos. Com esta modificação dos padrões alimentares, passou a
existir uma maior abertura para a produção e exportação de frutas. A cultura de uva,
como destaque da região para exportação é decorrente de uma conjunção de esforços
entre os pioneiros da iniciativa privada e das políticas públicas (CAVALCANTI, 2003).
O crescimento da agricultura irrigada produziu então, uma variedade de efeitos,
dentre os quais a geração de empregos, passando a atrair trabalhadores de todo o
Nordeste, transformando a região “numa das poucas áreas do Nordeste onde a taxa de
imigração superou a taxa de emigração” (DAMIANI, 2003). De acordo com Damiani,
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no ano de 1996, esse setor empregava quase 40.000 agricultores assalariados, o que
corresponde a 30% da mão-de-obra rural da região. Desses 40.000 trabalhadores, a
grande maioria (72%), é empregada no cultivo de exportação de manga e uva.
Nesse universo apresentado em números por Damiani (2003), as mulheres
representavam uma quantidade bastante significativa na força de trabalho empregada na
agricultura irrigada. Nas culturas predominantemente de exportação, há uma forte
distinção na utilização da força de trabalho entre homens e mulheres; a mão-de-obra
preferencial na produção de mangas é masculina, enquanto que a viticultura emprega as
mulheres. A “femininização” do trabalho na viticultura se dá pela preferência em
empregar as trabalhadoras rurais devido ao caráter artesanal da produção, o que exige
mais delicadeza e precisão no cultivo, de acordo com os próprios empregadores.
Diante das exigências comerciais do mercado consumidor das frutas do São
Francisco, que perpassam inclusive pelo caráter estético, o empresariado local opta por
empregar mão de obra feminina utilizando o argumento que imputa às mulheres
qualidades tidas como de gênero, como a de ser mais criteriosa e delicada (OLIVEIRA,
1997; BRANCO & VAINSENCHER, 2001 e 2002).
Interessada em desenvolver o potencial agrícola do submédio São Francisco, os
grupos dominantes locais em aliança com o empresariado nacional e por intermédio do
Estado, nos anos 1950, patrocinaram as primeiras iniciativas de pesquisa e de apoio
técnico que partiram da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF). Nesse período
também ocorreram investimentos públicos que visavam ampliar a infraestrutura de
transportes, comunicação e energia. As primeiras iniciativas de produção surgiram no
início da década de 1960, com a implantação de duas estações experimentais de áreas de
irrigação que viriam a se tornar o Projeto Piloto de Bebedouro e o Perímetro Irrigado de
Mandacaru (CORDEIRO NETO & ALVES, 2009).
A Sudene cumpriu com o papel de garantir apoio e orientação técnica aos
colonos que se propuseram a assumir os primeiros lotes. Também foi responsável pela
elaboração do Plano Diretor de Irrigação do Submédio São Francisco e da gestão dos
incentivos fiscais. A partir de então a região tornou-se um pólo de atração de
investimentos privados que vinham principalmente do Sul e Sudeste do Brasil e
encontravam a infraestrutura preparada. A entrada progressiva desses novos atores
significou uma ruptura com o passado agrícola da região e desencadeou uma abertura
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Porque nesse processo de conhecimento a gente descobriu quem é que trabalhava, então
quem trabalhava? Mulheres! Muitas mulheres. O raleamento de uva é um trabalho muito
feito por mulheres, tem uma mão de obra assalariada de mulheres muito grande e é um
trabalho delicado, não é o trabalho da cana, é um trabalho de processamento delicado;
muitos jovens estudantes, gente muito jovem trabalha lá, e a gente descobriu que o grande
cancro era o agrotóxico, além de todos eles, era o agrotóxico, deixava as pessoas doentes e
essa coisa dessa mão de obra feminina e jovem e aí a gente põe na convenção coletiva
algumas guaridas para as mulheres e pros jovens que foram de muito difícil entendimento 4.
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Entrevista de Cida Pedrosa. Recife, 16/12/2011.
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Por área de sequeiro entendemos as áreas não irrigadas e que sofrem mais com a seca.
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Disponível em: http://www.contag.org.br/index.php?modulo=portal&acao=interna&codpag=226&nw=1
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Disponível em: http://www.contag.org.br/index.php?modulo=portal&acao=interna&codpag=291&nw=1
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A Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais (CNMTR/CONTAG) foi criada em 1995.
Disponível em: http://www.contag.org.br/imagens/f1390cartilha-cnmtr-contraviolencia022009.pdf.
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3.2. A organização das mulheres nos sindicatos dos trabalhadores rurais do Vale do
São Francisco
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Cláusula 1ª da CCT de 1994 (salário unificado).
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FETAPE – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do estado de Pernambuco: Coordenação das
Mulheres Trabalhadoras Rurais. Disponível em:
http://www.fetape.org.br/index.php?secao=menuvmulheres
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4. Considerações finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS