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Encontramo - nos diante de um novo ramo do direito que se ocupa da vida humana e
de todos os reflexos nesta vindo da tecnologia ; o Biodireito!
Ocupa-se esse ramo do direito em buscar a dificil tarefa de definir o que é vida e quando
ela começa, e depois quando ela termina.
Assim, novos atores surgem nesse contexto: o embrião pre-implantatório. Quem é ele?
Qual sua natureza jurídica? Ele é pessoa ou coisa? Recebe proteção do Estado? Qual o
seu destino? Quais os direitos e deveres de um ser assim concebido?
Assim sendo, nessa modalidade de reprodução quem é o pai? E a mãe do ser gerado?
Como se estabelece a filiação nas modalidade homologa, heterologa, com cessão
temporária de útero. Aliás esta deve ser gratuita ou remunerada? O doador de sêmen deve
ser anônimo ou conhecido?
A evolução das ciências, da tecnologia, dos costumes fez imperioso o estudo da bioética
e do biodireito. Pois os diversos experimentos saíram da esfera da ficção científica e
aportaram na realidade social, trazendo com isso riscos e benefícios a todos.
A evolução das pesquisas científicas realizadas nos grandes pólos mundiais, cuja atenção
voltou-se para as pesquisas com DNA – material genético – possibilitou a criação de
Organismos Geneticamente Modificados, os OGMs, e com isso, a transferência de genes
de uma espécie para outra garantiu em muitos casos uma real evolução na criação de
medicamentos, hormônios, alimentos, entre outros.
Completa essa concepção Leo Pessini, quando refere que olhando retrospectivamente
para o século XX, pode-se ver que aquele foi marcado por três grandes projetos: o Projeto
Manhattan – que descobriu e utilizou a energia nuclear -, o Projeto Apollo – que
viabilizou a conquista do espaço sideral e o Projeto Genoma Humano – que leva o ser
humano ao conhecimento mais profundo de si mesmo, sua herança biológica, iniciando
ima verdadeira “ caça aos genes”.1
Do questionamento sobre os reais benefícios que esses avanços, e sua utilização, trarão
efetivamente para a humanidade, defluem muitos questionamentos bioéticos.
1
PESSINI, Leo - A vida em primeiro lugar. In. PESSINI,Leo; BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de
( Org). Fundamentos da bioética, São Paulo: Paulus, 2002, p.5 e 6.
Como temas recorrentes na agenda atual de discussões e pesquisas, podemos apontar:
Tendo em vista esse desenvolvimento global, podemos apontar os seguintes temas como
bastante relevantes para o debate bioético na contemporaneidade:
O direito à vida desde o seu momento inicial – a concepção, passando pela gestação, o
nascimento, até o seu momento final – a morte, que são regulados pelas leis ( civis penais)
e impregnados de conceitos basilares de ética pois o desafio científico é grande e a
ganância também, devendo para isso ver-se equilibrado a ditadura científica e a ética, para
que sejam evitados resultados potencialmente nocivos à pessoa humana e à própria
coletividade, tendo em vista os grandes problemas ético- jurídicos envolvendo a vida, a
morte, o paciente terminal. E também a realização de transplantes de órgãos e tecidos
humanos ( criação de bancos específicos com células, tecidos e órgãos), à transfusão de
sangue, a doação de órgãos, a clonagem.
Criou-se outrossim uma renovação no modo de agir e decidir das partes envolvidas com
a ciência médica e biológica:
2
Lembra Maria Helena Diniz que a CF em seu art. 5º,IX, proclama a liberdade da atividade científica como
um dos seus direitos fundamentais, mas na significa que esta seja absoluta ou não observe certas limitações,
pois há outros valores e bens jurídicos reconhecidos constitucionalmente, como a vida , a integridade fisica
e psíquica, a privacidade... que poderiam ser gravemente afetados pelo mau uso da liberdade de pesquisa
científica.Havendo conflito entre a livre expressão da liberdade científica X outro direito fundamental da
pessoa humana, a solução ou ponto de conflito deverá ser o respeito à dignidade humana, fundamento do
Estado Democrático de Direito. Nenhuma liberdade de investigação científica poderá ser aceita se colocar
em risco a pessoa humana na sua dignidade. – DINIZ, Maria Helena – O Estado atual do biodireito, 6ºed.
São Paulo:Saraiva, 2009, p.7.
voltadas á solução de problemas éticos criados pela engenharia genética e pela
embriologia, tais como a Organização Panamericana da Saúde, o Conselho da Europa –
editando recomendações sobre reprodução humana assistida, experimentação com
embriões; a OMS,
___a medicalização da vida ( aumento das especialidades médicas),
___ emancipação do paciente: necessidade do consentimento informado,
___ criação e o funcionamento de comitês de ética hospitalar e comitês de ética para
pesquisas em seres humanos,
___ criação de vários institutos não-governamentais preocupados com a expansão dos
problemas éticos advindos das experimentações cientificas e descobertas das ciências
biológicas – Sociedade para a saúde e valores humanos, fundada e Houston, 1950;
Instituto Kennedy de ética da Universidade de Georgetown, 1971; Hasting Center,
fundado em NY em 1969.
Nesse sentido, tal como leciona Léo Pessini no transpor do limiar de terceiro milênio, a
humanidade faz um balanço de suas realizações, dos problemas que enfrenta e dos
progressos que conquistou. Pensa-se muito no legado que se está deixando para as novas
gerações, chegando mesmo a se falar numa “ justiça transgeracional”!
“ Nunca a humanidade teve tanta responsabilidade para com o seu próprio futuro”, são
suas palavras. Portanto, necessitamos de uma ética que ultrapasse os interesses
individuais, puro e simples, e abra perspectivas de futuro para toda a humanidade.3
3
PESSINI,Leo – A vida em primeiro lugar;In. Fundamentos da bioética. Op.cit.,p.5
1.1.1. Bioética: conceituação
Sintetiza Leo Pessini que “ a bioética estuda a moralidade da conduta humana no campo
das ciências da vida”, estabelecendo padrões de conduta socialmente adequados.5
Adotando um ponto de vista global, podemos perceber que a ética se aplica de forma
diferente entre os diversos países da comunidade internacional, tendo em vista sua
ideologia, sua religião e cultura. É válido também ressaltar a importância do momento
histórico na disseminação e diferenciação dos valores, que vão atuar preponderantemente
nos temas bioéticos.
Desta sorte, com Aluizio Borem e Fabricio R Santos podemos aduzir que “ a bioética
estuda a visão moral, as decisões de conduta e aspectos políticos do comportamento
humano em relação aos fatos e fenômenos biológicos”.6
O termo "Bioética" surgiu na década de 1970 e tinha por objetivo deslocar a discussão
acerca dos novos problemas impostos pelo desenvolvimento tecnológico, de um viés mais
tecnicista para um caminho mais pautado pelo humanismo, superando a dicotomia entre
os fatos explicáveis pela ciência e os valores estudáveis pela ética. A biossegurança, a
biotecnologia e a intervenção genética em seres humanos, além das velhas controvérsias
morais como aborto e eutanásia, requisitavam novas abordagens e respostas ousadas da
4
É a ciência da sobrevivência do homem e da natureza preservando a harmonia universal, em virtude do
descontrolado crescimento da tecnologia industrial. Envolvem conflitos de valores e questçoes materiais
de difícil solução; MARINO Jr., Raul – Em busca de uma bioética global. São Paulo:Editora Hagnos,
2009,p.97.
5
PESSINI,Leo;BARCHIFONTAINE,Christian de Paul – Problemas atuais de bioética, 2.ed., SãoPaulo:
Loyola, 1994, p.11.
6
BOREM,Aluízio;SANTOS,Fabrício R – Biotecnologia simplificada, Viçosa:UFV, 2001,p.209.
parte de uma ciência transdisciplinar e dinâmica por definição.
Bioética é um neologismo construído a partir das palavras gregas bios (vida) + ethos
(relativo à ética). Segundo Diniz, "...por ser a bioética um campo disciplinar
compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos seres humanos e
dos animais não-humanos, seus temas dizem respeito a situações de vida que nunca
deixaram de estar em pauta na história da humanidade..."
A moral e os valores que envolvem a vida humana,a ética médica e a ética filosófica,
esbarram em questões com as citadas acima.
Foi durante a segunda metade do séc XX, mais precisamente entre 1960 e 1970, que os
avanços científicos e tecnológicos no meio médico receberam forte incentivo por seus
resultados positivos e começaram a produzir questionamentos na sociedade de então. São
7
SOARES,André Marcelo M.; PIÑEIRO, Walter Esteves – Bioética e biodireito- uma introdução, Coleção
gestão em saúde, v.i, São Paulo, Edições Loyola/São Camilo, 2002,p.7
desse tempo a criação das UTIs, a realização dos primeiros transplantes ( cardíaco 3.12.67
– Christian Barnard;Brasil – Zerbini em 26.5.68 – transplante renal 1965 no HC pelo Prof.
Geraldo Campos Freire),o diagnóstico da morte cerebral, as descobertas da
psicofarmacologia, o diagnóstico pré-natal e alguns avanços no conhecimento dos
mecanismos imunológicos de rejeição ( ciclosporina 1978). 8
Assim foram fundados os primeiros Grupos de debates que deram origem aos Comitês
de bioética: Johns Hopkins Hospital em Baltimore; Hasting Center em NY; em Madison
, na Faculdade de medicina de Wiscosin. 9
A ampliação dos debates para além das áreas médicas para as humanidades e religiosas (
importãncia do debate ecumênico), gerou o inicio dos diálogos interdisciplinares que
norteiam esse meio.
O termo foi mencionado pela primeira vez em 1971, no livro “Bioética: Ponte para o
Futuro", do biólogo e oncologista americano Van Rensselaer Potter, cuja idéia inicial foi
desenvolver uma ética das relações vitais, ou seja, dos seres humanos entre si e destes
com o ecossistema, criando uma ponte entre a ciência e as humanidades – uma vez que o
futuro não será edificado exclusivamente sob os ditames das ciências nem tampouco com
o respeito exclusivo das humanidades. Pouco tempo depois, uma abordagem mais
incisiva da disciplina foi feita pelo obstetra holandês Hellegers.
De grande importância para odesenvolvimentoda bioética tal como conhecemos hoje foi
a obra de Tom L. Beauchamp e James Childress – chamada Princípios da ética biomédica-
que limitando o caráter global outorgada por Potter,restringiu-se aos meios cientificos
como é utilizada hoje em dia, intraoduzindo os quatro principios básicos da bioética que
8
DINIZ, Maria Helena – O Estado atual do biodireito, São Paulo, Saraiva, 6ºed,2009, p.1 a 9;
SOARES,André Marcelo M.;PIÑERO,Walter Esteves – Bioética e biodireito uma introdução, São Paulo:
Edições Loyola/São Camilo, 2002,p.13.
9
SOARES,André Marcelo M.;PIÑERO,Walter Esteves – Bioética e biodireito uma introdução, op.cit.,p.11
a 17
serão estudados a seguir.
Preocupa-se como aduz Diego Gracia, com “ os problemas éticos relacionados à vida
humana em toda a sua existência, devendo os fins desta vida humana serem pelo menos
razoáveis”.11
1. que vai de 1960 a 1977 – periodo em que surgem os primeiros grupos de médicos e
cientistas preocupados com os novos avanços científicos e tecnológicos. Formam-se
os primeiros comitês debioética no mundo
2. que vai de 1978 a 1997 – periodo em que se publica o relatório Belmont, que
provocagrande impacto na bioética clínica; realiza-se a 1º fertilização in vitro,
progressos na engenharia genética, criam-se importantes grupos de estudo em
bioética: Grupo internacional de Estudo em bioética, Associação européia de centros
10
SOARES,André Marcelo M.;PIÑERO,Walter Esteves – Bioética e biodireito uma introdução,
op.cit.,p.11 a 17
11
GRACIA, Diego – Pensar a bioética – metas e desafios, São Paulo:Paulinas/São Camilo, 2010, p.100.
12
CORREIA,Francisco de Assis – Alguns desafios atuais da bioética. In. Fundamentos da bioética.
PESSINI,Leo;BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de ( Org), 2.ed, São Paulo, Paulus, 2002, p.31
de ética médica, Convenio europeu de biomedicina e direitos humanos, entre outros13
3. iniciada em 1998, ainda vigente, que teve o apogeu da descoberta do genoma humano,
clonagem, além dos debates relativos à falência dos sistemas de saúdepública nos
países em desenvolvimento.14
Como já foi visto, a bioética tornou-se conhecida e difundiu-se por tratar de temas
polêmicos que permeiam a vida social, como o aborto, a eutanásia, a distanásia, os
tranplantes, a clonagem, a reprodução medicalmente assistida, a cirurgia de alteração de
sexo, a manipulação genética.
Microbioética - É o ramo da bioética que tem por objetivo o estudo das relações entre
médicos e pacientes e entre as instituições e os profissionais de saúde. A microbioética
trabalha, especificamente, com as questões emergentes, que nascem dos conflitos entre a
evolução da pesquisa científica e os limites da dignidade da pessoa humana.
13
que tem como objetivo principal identificar princípios éticos básicos que possam nortear pesquisas
envolvendo seres humanos e desenvolver procedimentos que garantam que a pesquisa seja realmente
administrada sob a égide de tais princípios.
14
GRACIA, Diego – Para pensar a bioética, op.cit.,p.121 e ss; SOARES,André Marcelo
M.;PIÑERO,Walter Esteves – Bioética e biodireito uma introdução, op.cit.19
15
SOARES,André Marcelo M.;PIÑERO,Walter Esteves – Bioética e biodireito uma introdução, op.cit.p.43
a 46
1.1.3. Princípios básicos da bioética
Podemos concluir assim , que a bioética deverá ter tais princípios como parâmetros de
suas investigações e diretrizes. 17
Leciona Raul Marino Jr que “ o amor da vida é a forma mais abrangente para se definir a
moderna bioética, que se tornaria global e universal, visando a solução dos dilemas a ela
inerentes, por um balanceamento dos principios bioéticos, rebatizados como amor-
próprio, ou autonomia; amor ao próximo, ou justiça; amor da vida, ou não maleficência
e amor ao bem, ou beneficencia. Em suma, seria o amor a base da bioética”. 18
Entendemos que nesse mesmo sentido, “há uma verdadeira relação entre o amor e o
direito, uma vez que seus temas se interrelacionam e se casam de uma forma quase
simbiótica”.
16
DINIZ, Maria Helena – O Estado atual do biodireito, op.cit.,p.14 a 16; MARINO Jr., Raul – Em busca
de uma bioética global, São Paulo:UP, 2009, p.91; SOARES,André Marcelo M.;PIÑERO,Walter Esteves
– Bioética e biodireito uma introdução, op.cit.,p.31 a 37
17
Alguns autores classificam em três os princípios bioéticos, aduzindo que beneficência e não maleficência
estariam emglobados em apenas um principio.Denomina-se assim o tripé bioético.
18
MARINO JR., Raul – Ensaio sobre o amor, São Paulo:Companhia Editora Nacional, 2011, p.78.
19
MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus : Direito das famílias: amor e bioética, São
Paulo:Elsevier, 2012, p.6.
dignidade humana com base em suas características essenciais.
A ética inicialmente preocupava-se com o naturalismo, ou seja com a natureza e não com
o individuo, posteriormente, passou a referir-se à vida pública na polis – originada pela
democracia ateniense. Relacionava-se então com com o comportamento humano na vida
em sociedade; com a destruição das cidades-estados causada pela ascensão dos impérios
macedônio e romano – os filósofos estóicos e epicuristas passam a relacionar a ética com
o universo, tornando-a mais genérica e desligada de determinada comunidade. Na
medievalidade a ética aparece profundamente influenciada pela religião, sendo pois
determinada como uma conduta moral. Na modernidade a autonomia das ciências e a
passagem do teocentrismo ao antropocentrismo fez surgir o uma separação entre a idéia
do bem ( ideal),do que é bom ( real); e entre o legal ( jurídico) e o legítimo ( justo).
Assim sendo, temos que “ a ética representa uma conduta adotada após um juizo de valor,
que não pode ser dissociada da realidade” 20, nem da possibilidade,pensamos.
É possivel como bem prevê Tristam Engelhardt que a verdade moral seja ambigua, de
acordo com a preferencia valorativa da cada um, como se ocupou Kant. “Seria então a
moralidade uma questão de gosto, de inclinação cultural?”. Para Engelhardt “estamos
diante de um ethos liberal, cosmopolita, emergente, que celebra a liberdade, a igualdade
e a auto-realização”.21
20
NAMBA, Edison Tetsuzo – Manual de bioética e biodireito, São Paulo:Atlas, 2010,p.7.
21
ENGELHARDT Jr., H Tristam – Fundamentos da bioética cristã ordotoxa, São Paulo;Edições Loyola,
2003, p.XX
preocupa-se com a escolha da ação em que determinada situação deve ser empreendida.
A ética deve partir sempre da moral como uma realidade histórico-social, tentando
explicar a diversidade e as mudanças das práticas morais.
Nesse sentido, tal com leciona Raul Marino Jr “ os principios e as regras éticas
fundamentaram-se em verdadeiros sistemas de pensamentos baseados nas diversas teorias
éticas ou nos sistemas morais que os justificam e formam conjuntos coerentes e
rigorosos”.22
Em síntese, concluimos com Soares e Piñeiro que “ o que na ética é estudado, na moral
praticado e na deontologia obrigado, na bioética é problematizado”.
22
MARINO Jr. Raul – Em busca de uma bioética global, op.cit.,p.51 e ss.
sempre pensado a partir de um sujeito particular e nunca de forma abstrata ou
coletivizada.
Em síntese, podemos concluir que a Bioética é a disciplina que estuda os aspectos éticos
das práticas médicas e biológicas, avaliando suas implicações na sociedade e as relações
entre os homens e entre estes e outros seres vivos,indicando o rumo das condutas a serem
adotadas visando o respeito à dignidade humana.
Aduz que cada vez mais pode-se ouvir questionamentos sobre temas importantes para a
bioética nas rodas e salões sociais: temas como o aborto, a eugenia, a eutanásia, a
distanasia, temas polêmicos envolvendo a engenharia genética, a experimentação
científica, a clonagem, passaram a fazer parte do cotidiano de todas as pessoas.
Pensamos com Celso Lafer, que impõe-se o diálogo intercultural, baseado numa
hermenêutica diatópica, como forma de ampliar a relação pacífica entre as diferentes
23
GRACIA, Diego – Para pensar a bioética, op.cit.,p.130 e ss.; SOARES,André Marcelo
M.;PIÑERO,Walter Esteves – Bioética e biodireito uma introdução, op.cit.,p.21 a 29
24
PESSINI, Leo – O desenvolvimento da bioética na América Latina. In. Fundamentos da bioética. Op.
cit.p.9
culturas, visando atingir,uma internacionalização principiológica em matéria de bioética,
fundamental para a assunção de seus objetivos na era atual.
Traduz Leo Pessini, que na atualidade são realizados diversos Congresso Mundiais de
Bioética, reunindo especialistas de mais de 40 países. ( O primeiro Congresso Mundial
de bioética ocorreu na Holanda em 1992).
Sintetiza Leo Pessini que “ a bioética pensada no Ocidente valoriza sobretudo o indivíduo,
enquanto a bioética aplicada no Oriente acentua mais o caráter coletivo”. 25
Percebem-se aqui que as questões de bioética muitas vezes podem apresentar rostos
diferentes dependendo da localização geográfica, do desenvolvimento econômico e
cultural, do momento histórico vigente, do desenvolvimento dos direitos humanos.
Na evolução da bioética durante o século XX, leciona Juan Carlos Tealdi que “ os anos
70 conheceram o nascimento da bioética e a definição de suas questões essenciais,
particularmente nos EUA. Nos anos 80 ocorreu uma progressiva institucionalização na
25
PESSINI, Leo – O desenvolvimento da bioética na América Latina. In. Fundamentos da bioética. Op.
cit.p.12
Europa, assim como houve a adoção de iniciativas isoladas em outros países. Os anos 90
presenciaram a progressiva expansão da bioética para diversas regiões do mundo,
mediante a realização de encontros acadêmicos e culturais promovidos pela Associação
Internacional de Bioética”.26
Leciona Leo Pessini que na América Latina a grande preocupação em matéria de bioética
centra-se nas discussões que tratam de bioética e saúde pública, onde o tema de maior
relevância é o acesso, distribuição de recursos,custos, qualidade de vida; o
estabelecimento da ética clinica na prática médica.
“Em algumas partes da América Latina, a simples existência de alta tecnologia e centros
de cuidado médico ultra especializados levanta perguntas adicionais acerca da
discriminação e injustiça na assistência médica. As indagações difíceis nesta região não
são em torno de como se usa a tecnologia médica, mas quem tem acesso a ela”.
Vemos assim, o grande teor social que permeia a bioética latino americana. Nas palavras
de Leo Pessini “ a solidariedade é um conceito que poderá ocupar, na bioética na América
Latina, um lugar similar ao que é ocupado pela autonomia nos EUA”.
26
TEALDI,Juan Carlos – Discurso proferido pela ocasião do II World Congress of Bioethics, realizado em
Buenos Aires, em 0utubro de 1994. Apud. PESSINI, Leo – O desenvolvimento da bioética na América
Latina. In. Fundamentos da bioética, op.cit.p.13
abrangia o uso e a retirada dos aparelhos, a aceitação ou a recusa do consentimento.
No modelo europeu, tal como ensina Diego Gracia, a fundamentação ética dos
procedimentos é vital para o sucesso do atendimento. Assim, a filosofia na Europa sempre
se preocupou mais com os temas de fundamentação em contraposição ao pragmatismo
americano.
De uma maneira geral,podemos concluir que a bioética busca oferecer decisões que
impliquem na construção de uma vida digna para toda a coletividade, amparando-se para
tanto na discussão dos problemas emergentes e mesmo nos problemas persistentes que
permeiam a vida social, tendo em vista o alcance da sua possibilidade em face dos
problemas que concretamente aparecem na escala regional.
O biodireito pode ser definido como o novo ramo do estudo jurídico, resultado do
encontro entre a bioética e o direito. É o ramo do Direito Público que se associa à bioética,
estudando as relações jurídicas entre o direito e os avanços tecnológicos conectados à
medicina e à biotecnologia; peculiaridades relacionadas ao corpo, à dignidade da pessoa
humana.
Nas palavras de Maria Helena Diniz “Tem a vida por objeto principal, salientando que a
verdade juridica não poderá salientar-se à ética e ao direito, assim como o progresso
cientifico não poderá acobertar crimes contra a dignidade humana, nem traçar sem limites
jurídicos, os destinos da humanidade”. 27
Na concepção de Maria Helena Diniz, vemos que o direito não pode se furtar aos desafios
trazidos pela biomedicina. 29
Numa perspectiva mais ampla podemos visualizar dois planos de tutela, um macro e
outro micro. No macro biodireito, o foco está nas relações ambientais, no patrimônio
natural, artificial e cultural; já o micro biodireito, estuda as questões relacionadas à vida
individualizada.
O anseio social do final do séc XX adapta-se à nova realidade e conforme a época em que
se vive, os conceitos como vida e liberdade ampliam-se ou se restringem. Para a
conservação da dignidade humana, é imprescindível estabelecer limites ético-jurídicos.
27
DINIZ, Maria Helena – O Estado atual do biodireito, op.cit.,p.8.
28
GRACIA,Diego – Fundamentos de bioética, Madrid:Ed. Eudema, 1989,p.576 e ss.
29
DINIZ, Maria Helena – O Estado atual do biodireito, op.cit.,p.8.
Nenhum dos avanços científicos do nosso tempo nos atinge mais profundamente do que
o progresso alcançado pela biomedicina. Trata-se da nossa própria vida em sua intimidade
biológica, dos nossos genes que estão sendo transformados em “ objeto de ciência”. Não
impedir os avanços das ciências e ao mesmo tempo impor limitações ao uso das
descobertas científicas é o papel do direito.
Como se sabe, a vida, que é estudada por várias áreas do conhecimento, deve ser
respeitada e valorizada, em grau máximo tendo o universo do direito como paradigma de
sua proteção.
Diversos são os princípios que podem ser aplicados ao biodireito, entre eles se destacam:
4. Principio da dignidade humana - O referido principio deve ser sempre observado nas
praticas médicas e biotecnologicas, visando a proteção da vida humana em sua
magnitude. Liga-se este principio ao da sacralidade da vida humana.
Nesse sentido vemos que o princípio da cooperação dos povos poderia ser exteriorizado
frente à fiscalização das pesquisas cientificas e na proteção do ser humano enquanto
espécie e também no que tange à repartição dos custos e benefícios referentes às pesquisas
científicas.
Nesse sentido, podemos antever que toda vez que determinada pratica fosse
potencialmente causadora de um dano indesejável, deveria a parte interessada comprovar
a sua seguança ou desaconselhar-se-ia a pática, sob pena de indeferimento da licença para
o exercício da atividade desejada.
Este princípio, está ligado aos princípios da dignidade da pessoa humana, da sacralidade
da vida e da ubiqüidade, tendo em vista a preservação da higidez da espécie.Relaciona-
se outrossim, a utilização de organismos geneticamente modificados.