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Trabalho e Educação
Profissional e Tecnológica
Work in Vocational and Technological Education
Trabajo y Educación Profesional y Tecnológica
A. Vitor Guimarães∗
vitor@deii.cefetmg.br
REVISTA PEDAGÓGICA
Revista do Programa de Pós-graduação em Educação da Unochapecó | ISSN 1984-1566
Universidade Comunitária da Região de Chapecó | Chapecó-SC, Brasil
Como referenciar este artigo: GUIMARÃES, A. V. Trabalho e educação profissional e tecnológica.
Revista Pedagógica, Chapecó, v. 18, n. 39, p. 196-228, set./dez. 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.22196/rp.v18i39.3622
Resumo: Este artigo tem como objetivo abordar o subsistence, the work in/at the school and the concepts
trabalho e a Educação Profissional e Tecnológica (EPT), and conceptions of EPT. It also considers that starting
nos significados conferidos a eles na produção acadêmica from a dialectical movement of approach and construc-
do campo trabalho e educação. Parte dessa abordagem tion of reality, it is possible to put yourself in position of
integra pesquisa de doutorado, cuja metodologia, tendo challenge, defense and claim for better conditions of exis-
a dialética materialista como princípio, também se ex- tence, and articulate in the transformation of the current
pressa aqui, incluindo, nos métodos e procedimentos de conditions of education in the country.
pesquisa, dois movimentos interligados e, necessaria-
mente, integrados por correlações em espiral: a pesqui- Keywords: Work. Vocational and Technological Educa-
sa bibliográfica e documental; e a pesquisa de campo, tion. Immaterial work. Non-material production.
propriamente dita. Aborda-se o trabalho na produção
da existência e da subsistência humanas, o trabalho Resumen: Este artículo tiene como objetivo abordar
na/da escola e conceitos e concepções da EPT, consi- el trabajo y la Educación Profesional y Tecnológica (EPT),
derando que, a partir de um movimento dialético de los significados que se les pueda dar en el campo de la
abordagem e de construção da realidade, é possível se investigación académica del trabajo y la educación. Una
colocar em posição de contestação, defesa e reivindica- parte de este enfoque integra la investigación de doctora-
ção de melhores condições de existência e se articular na do, cuya metodología, con la dialéctica materialista como
transformação das condições atuais em que se encontra un principio, también se expresa en este documento, in-
a educação no país. cluyendo en los métodos y procedimientos de investiga-
ción, dos movimientos interconectados y necesariamente
Palavras-chave: Trabalho. Educação profissional e tec- integrados por correlaciones en espiral: la investigación
nológica. Trabalho não material. Produção não material. bibliográfica y documental; y la investigación de campo.
Se discute aquí el trabajo en la producción de la vida y
Abstract: This article aims to address the work and del sustento humano, el trabajo en/desde la escuela y los
the Vocational and Technological Education (EPT, in conceptos y concepciones de la EPT, en vista de que a
Brazil) and their meanings in the academic production partir de un movimiento dialéctico en la construcción de
of the field of work and education. Part of this approach la realidad, es posible poner en marcha una posición de
integrates a PhD research, whose methodology, having lucha, defensa y reivindicación de mejores condiciones
the materialistic dialectic as a principle, is also expressed de vida y ser capaz de articular la transformación de las
here, including in the methods and procedures of re- condiciones actuales de la educación en el país.
search, two interconnected movements and necessar-
ily integrated by spiral correlations: bibliographical and Palabras clave: Trabajo. La educación profesional y
documentary research; and the field research itself. The tecnológica. El trabajo inmaterial. La producción inma-
work addresses the production of human existence and terial.
*
Doutor em Educação pela Faculdade de 1 INTRODUÇÃO
Educação (FaE) da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Tec-
nologia pelo Centro Federal de Educação Este artigo tem como objetivo abordar o trabalho e a
Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Educação Profissional e Tecnológica (EPT), os significados
Especialização em Lazer e Licenciatura Ple-
na em Educação Física, ambos pela UFMG. conferidos a eles na produção acadêmica do campo tra-
Professor de Educação Física da Carreira de balho e educação, naquilo que o trabalho, como elemento
Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do CE- fundamental na produção da existência e da subsistência
FET-MG, Coordenador Geral de Atividades
Culturais do CEFET-MG, membro do Gru-
humanas, orienta e constitui as possibilidades de educação
po de Pesquisa em Teoria e Metodologia do nas escolas de EPT.
Ensino Tecnológico (Petmet), no CEFET- Parte dessa abordagem integra a pesquisa relatada
-MG, e do Núcleo de Estudos sobre Trabalho
em Guimarães (2014), cuja metodologia, tendo a dialética
e Educação (NETE), da FaE/UFMG.
materialista como princípio,1 _ também se expressa aqui,
1
Conforme Frigotto, 1997, p. 76-79; Gam- incluindo, nos métodos e procedimentos de pesquisa, dois
boa, 1997, p. 103-107; Kosik, 2002, p. 20- movimentos interligados e, necessariamente, integrados
60; Lefebvre, 1979, p. 19-22, p. 240; Marx, por correlações em espiral:2 a pesquisa bibliográfica e do-
2008, p. 45-50; Marx, 2010, p. 27-29; Oli-
veira, 2000b, p. 41-43. cumental; e a pesquisa de campo, propriamente dita. No
primeiro movimento, apresenta-se aqui uma análise da
2
Ver: Kosik, 2002, p. 50. produção acadêmica relacionada à problemática proposta
no campo de pesquisa em trabalho e educação; e, no se-
gundo movimento, dados os limites deste artigo, pequenas
considerações a partir da observação direta do ambiente
escolar (com registro em caderno de campo), das entre-
vistas realizadas com os sujeitos das práticas e dos proces-
sos educacionais e dos registros fotográficos realizados no
cotidiano de uma das escolas pesquisadas: o Campus I do
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
3
A pesquisa foi realizada nos Campi I e II (CEFET-MG).3
do CEFET-MG e no Colégio Técnico (COL-
TEC) da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e foram entrevistados(as): 2 O trabalho na produção da
alunos(as) e professores(as) dos cursos de existência e da subsistência humanas
Automação Industiral, Eletrônica, Eletro-
técnica, e Química.
Como ensina Marx (2010, p. 211),
5
O autor indica em comentários, ao longo do Paro (2012, p. 182-183),5 em contraponto, considera
texto desta 17ª edição, revista e ampliada, da
obra original, publicada em 1986, análises
haver séria impropriedade no fato de se considerar a aula
que esclarecem algumas passagens e termos – um exemplo de atividade de ensino – como produto da
utilizados, atualizando-os, contextualizan- escola, o que revelaria “uma concepção tradicionalista de
do determinadas considerações feitas na 1ª
educação”. Para ele, “[...] o produto da escola é o que re-
edição em relação aos avanços da pesquisa
na área da educação, criticando o conteúdo e sulta da educação, ou seja, da apropriação da cultura pelo
apontando algumas impropriedades no uso aluno, pela qual ele forma sua personalidade viva” e, de
de termos e expressões que teriam outra co- forma mais precisa, o processo ensino-aprendizado “[...]
notação e sentido.
não é mera atividade de comunicação em que um produz e
outro consome, a não ser na educação ‘bancária’ criticada
por Paulo Freire (1975) [...] a própria negação da educação
como processo de formação humano-histórico [...]”.
O autor continua, e propõe a fortalecer a análise da
questão “[…] a partir da consideração dos seguintes pon-
tos: 1) o papel do educando no processo de produção peda-
gógica; 2) o conceito de ‘produto’ da educação escolar; 3)
a natureza do saber envolvido no processo educativo esco-
lar” (PARO, 2012, p. 184).
No primeiro ponto, nos dirá que,
8
A reforma imposta pelo Decreto nº Essa divisão dos homens em classes irá pro-
2.208/97 (BRASIL, 1997), à época de sua vocar uma divisão também na educação.
promulgação pelo governo FHC, interrom- Introduz-se, assim, uma cisão na unidade
peu a trajetória histórica das escolas da Rede
da educação, antes identificada plenamente
Federal de Educação Profissional Científica
e Tecnológica (RFEPCT) e indicava “tipos e,
com o próprio processo de trabalho. A par-
sobretudo, níveis diferenciados de educação tir do escravismo antigo, passaremos a ter
profissional dirigidos a diferentes alunos, se- duas modalidades distintas e separadas de
gundo, obviamente, sua condição de classe”, educação: uma para a classe proprietária,
o que levou ao reforço da “denominada dua- identificada como a educação dos homens li-
lidade estrutural, historicamente presen- vres, e outra para a classe não-proprietária,
te no Ensino Médio” (OLIVEIRA, 2000a, identificada como a educação dos escravos e
p. 43, grifos meus). Afirmava-se, como jus- serviçais. A primeira, centrada nas ati-
tificativa para a reforma, que o ensino téc- vidades intelectuais, na arte da pala-
nico ofertado nas escolas da RFEPCT não
vra e nos exercícios físicos de caráter
estava preparando os trabalhadores para o
mercado de trabalho e que se gastava demais
lúdico ou militar. E a segunda, assimi-
com a formação dos alunos, que preferiam lada ao próprio processo de trabalho.
seguir no ensino superior. Assim, a reforma (SAVIANI, 2007, p. 155, grifos meus).
promoveria um nivelamento por baixo nos
cursos ofertados, que passariam a ter uma
orientação tão – ou mais – instrumental
Antes integrada ao processo de produção humana de
quanto a dos ofertados pelo Serviço Nacio- sua própria existência, nos diz o autor, a educação, com o
nal de Aprendizagem Industrial (SENAI), surgimento de uma “classe de proprietários” e da proprie-
reforçando-se a quebra da integração entre a dade privada em si, desenvolve-se a partir de sua separa-
formação geral e a formação técnica ofereci-
das até então. Sete anos depois, com a edição ção nas duas modalidades citadas. Enquanto a educação
do Decreto nº 5.154/04 (BRASIL, 2004), da maioria permaneceria integrada ao processo produti-
durante o primeiro Governo Lula – que re- vo, ao processo de trabalho, outra modalidade daria ori-
vogou o Decreto nº 2.208/97 –, permitiu-se
o retorno da oferta de cursos técnicos inte-
gem à escola,
grados. No entanto, a base legal do Decre-
to, que cuidava de garantir uma educação […] lugar para onde iam os que dispunham
profissional e tecnológica na perspectiva de de tempo livre. Desenvolveu-se, a partir daí,
uma formação politécnica, decorridos seis uma forma específica de educação, em contra-
anos da sua promulgação, perdeu-se na re- posição àquela inerente ao processo produti-
tomada da discussão sobre as novas dire-
vo. Pela sua especificidade, essa nova forma
trizes no âmbito do Conselho Nacional de
Educação (CNE), que propôs, novamente,
de educação passou a ser identificada com a
tal como a síntese expressa por Moura, Lima educação propriamente dita, perpetrando-se
Filho e Silva (2012, p. 30), um ensino com a separação entre educação e trabalho. (SA-
centralidade nas competências; submissão VIANI, 2007, p. 155).
explícita da escola e da formação humana à
lógica do mercado de trabalho; ênfase nas
certificações parciais, ensejando a volta da O lugar da escola nesse processo expressa a contra-
modularização e das saídas intermediárias; dição dessa separação, não só em função da dualidade es-
priorização das formas subsequente e con- trutural que ainda permanece8 mas também em função da
comitante em relação à integrada. Os au-
tores evidenciam a mobilização no âmbito
necessidade de substituir um “indivíduo parcial”, confor-
da RFEPCT e dos pesquisadores do campo mado, por um “indivíduo completamente desenvolvido”,
Trabalho e Educação e do campo da Educa- formado no trabalhador que pudesse materializar na sua
ção de Jovens e Adultos (EJA) no âmbito da
formação aspectos que integrassem os laços entre educa-
ANPEd, abrindo um debate a partir da re-
cuperação da historicidade da questão e da ção e trabalho.
produção de um documento alternativo ao Saviani (2007), ao tratar da questão, está conside-
do CNE, encaminhado como contribuição ao rando o trabalho um princípio educativo, no sentido de ex-
processo de elaboração das novas diretrizes.
O movimento não fez frente ao documento pressar
original, modificado textualmente – algu-
mas vezes, em função do embate político […] que o trabalho, enquanto elemento fun-
que se estabeleceu e das críticas que recebeu dante e determinante da vida humana em
–, mas não modificado na essência do que seu conjunto é, por consequência, fundante e
previa desde o início. Manteve-se organica-
determinante da educação. Ou seja: uma vez
mente articulado aos interesses do capital,
obviamente a partir da atuação de sujeitos
que o trabalho é “condição natural eterna da
comprometidos com um entendimento da vida humana”, em qualquer sociedade o tra-
educação na perspectiva de ser apenas mais balho se comporta como princípio educativo,
um instrumento do capital e da educação isto é, determina a forma como é constituí-
profissional como simples porta para a em- da e organizada a educação. Logo, também
pregabilidade, de simples preparação para o na sociedade capitalista na qual o trabalho
4 Educação Profissional e
Tecnológica – concepções, conceitos
5 Considerações finais
Referências