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Ciência, Tecnologia

e Engenharia para o
Desenvolvimento
Sustentável
Geranilde Costa e Silva
José Cleiton Sousa dos Santos
O r g a n i z a d o r e s
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENGENHARIA PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
© 2019 Copyright by Geranilde Costa e Silva
e José Cleiton Sousa dos Santos (Orgs.)
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
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DR. JOSÉ BERTO NETO | UNILAB DRA. VANESSA LÚCIA RODRIGUES NOGUEIRA | UNILAB

Projeto Gráfico e Capa | Carlos Alberto Alexandre Dantas

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Bibliotecária: Regina Célia Paiva da Silva – CRB – 1051
M149f Machado, Adilbênia Freire Machado
Filosofia africana: ancestralidade e encantamento como
inspirações formativas para o ensino das africanidades / Adi-
lbênia Freire Machado. – Fortaleza: Imprece, 2019.
367 p. 14 cm x 21 cm.
Inclui: imagens e tabelas.
ISBN: 978-85-8126-211-6.
1. Educação - Filosofia. 2. Filosofia Africana. 3. Educa-
ção – Aspectos Filosóficos. 4. Cultura Afro-Brasileira – Estu-
do e Ensino. 5. Práticas de Ensino. I. Título.
CDD. 370.981
Geranilde Costa e Silva
José Cleiton Sousa dos Santos
Organizadores

Ciência, Tecnologia
e Engenharia para o
Desenvolvimento
Sustentável

Fortaleza | 2019
Sumário
Apresentação • 15
Geranilde Costa e Silva
José Cleiton Sousa dos Santos

A evolução do conceito de desenvolvimento sustentável no sistema


internacional • 17
Magno Klein
Ivette Tatiana Castilla Carrascal

Panorama dos resíduos soliduos urbanos na região do Maciço de


Baturité-CE • 34
Eliane de Jesus da Costa Carvalho
Cinthia Rachel Bibiabo de Araujo Nogueira
Antonio Alison da Silva Mamede
Ari Clecius Alves de Lima
Maria Alexsandra de Sousa Rios
Ada Amélia Sanders Lopes

Manejo da dor em feridas crônicas e ação terapêutica do ultrassom


de baixa frequência • 48
Alan Sidney Jacinto da Silva
Vanessa Aguiar Ponte
Thátylla Rayssa Alves Ferreira Galvão
Maria Girlane Sousa Alburquerque Brandão
Thiago Moura de Araújo

Propriedades e aplicação de enzimas hidrolíticas na limpeza de


equipamentos médico-odontológicos • 62
Priscila da Silva Freitas
José Weslley Gonçalves de Oliveira
Aluísio Marques da Fonseca
Juliana Jales de Hollanda Celestino
Daniel Freire de Sousa
Regilany Paulo Colares
Utilização de produtos naturais no controle de pragas: revisão
bibliográfica exploratória • 76
Ana Isabel Pinheiro
Aluísio Marques da Fonseca
Aiala Vieira Amorim
Regilany Paulo Colares
Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto
Juan Carlos Alvarado Alcócer

Produção de materiais didáticos sustentáveis para o ensino de


Matemática • 92
Ana Flávia Ferreira da Silva
Francisca Aline da Silva Andrade
Vanesca Almeida de Oliveira
John Hebert da Silva Félix

Estudo da produção de biodiesel a partir de óleo residual por


transesterificação via catálise química e enzimática • 107
João Roberto Pereira Nogueira
Maria Cristiane Martins de Souza
Artemis Pessoa Guimarães

Automação residencial controlada por smartphones via bluetooth


utilizando sistemas embarcados • 122
Aluisio Rodrigues Marques Neto
Carlos Alberto Cáceres

Influencia do número de eletrodos ativos durante o tratamento


corona de filmes de polipropileno • 134
Carlos Alberto Cáceres

Caracterização de painéis da casca do coco verde sem adição de


resinas aglutinantes • 146
Estudo do forno solar tipo caixa na região do Maciço de
Baturité • 159
Isadora de Moura Gomes Leal
Carlos Alberto Cáceres
Pedagogias e diversidades na formação docente e discente: o
Programa Residência Pedagógica junto ao curso de Pedagogia da
Unilab • 172
Evaldo Ribeiro Oliveira
Geranilde Costa e Silva

Utilização da lipase imobilizada de rhizomucor miehei na produção


de ésteres etílicos de ácido graxo do óleo de coco verde • 188
Brunna Lima Porfirio de Sousa
Maria Vanderly do Nascimento Cavalcante
Francisco Simão Neto
José Cleiton Sousa dos Santos
Maria Alexsandra de Sousa Rios
Ada Amélia Sanders Lopes

Aplicação de metodologia de mapas mentais: um estudo de caso


na disciplina de Química I do curso de Engenharia de Energias da
Unilab • 201
Claudio Henrique Victor Porto
Francisco Diego Martins da Silva
Patrick da Silva Sousa
Maria Cristiane Martins de Souza
José Cleiton Sousa dos Santos
Ana Kátia de Sousa Braz

Literatura, tecnologias e políticas públicas • 212


Carlos Eduardo Bezerra
Felipe Gabriel Gomes de Medeiros

Práticas educativas de sustentabilidade dirigidas ao consumo


consciente de energia elétrica em domicílio • 228
Débora Vasconcelos da Silva
Francisca Viviane de Araújo Vieira
Artemis Pessoa Guimarães
Rita Karolinny Chaves de Lima
Antônio Alisson Pessoa Guimarães
Avaliação de desempenho de RNA aplicada à estimação de carga de
curto prazo para demanda residencial • 243
Marília Facundo Santana
Antônio Alisson Pessoa Guimarães
Otimização da esterificação enzimática dos ácidos graxos do óleo de
coco residual por método Taguchi • 256
Ellefson Emmanuel Souza de Oliveira
Rodolpho Ramilton de Castro Monteiro
Fernando Cesar de Souza Filho
Thays Nogueira da Rocha
Maria Cristiane Martins de Souza
José Cleiton Sousa dos Santos
Esterificação de óleo residual de frango para produção enzimática de
ésteres etílicos utilizando lecitase ultra • 273
Francisco Simão Neto
Brunna Lima Porfirio de Sousa
Thales Guimarães Rocha
José Cleiton Sousa dos Santos
Maria Cristiane Martins de Souza
Ada Amélia Sanders Lopes

Peças cerâmicas fabricadas usando pó de granito com adição


dos produtos da combustão do carvão mineral: formulação e
caracterizações química e física • 286
Halisson de Sousa Pinheiro
Ricardo Emilio Ferreira Quevedo Nogueira
Candido Jorge de Souza Lobo
Thales Guimarães Rocha

Planejamento experimental univariado na produção enzimática de


esteres etílicos com lipase de rhizomucor miehei • 307
Italo Rafael de Aguiar Falcão
Patrick da Silva Sousa
Francisco Diego Martins da Silva
José Cleiton Sousa dos Santos
Ada Amelia Sanders Lopes
Ana Kátia de Sousa Braz
Promoção da saúde no uso racional de plantas medicinais, através
de cartilha educativa, no município de Redenção-CE • 322
Marcia Regia do Nascimento Duarte
Fernanda Pereira de Sousa
Fábio Morais da Silva
Emmanoel Peixoto Saraiva Lima
Cinara Vidal Pessoa
Jeferson Falcão do Amaral

Perfil medicamentoso de gestantes, com suspeita de patologias


transmitidas pelo aedes, acompanhadas em Redenção-CE • 334
Patrícia Sara Semedo
Janiel Ferreira Felício
Alberto João M’batna
Emmanoel Peixoto Saraiva Lima
José Márcio Machado Batista
Jeferson Falcão do Amaral

Etnociência: o ciclo sustentável da produção de grogu pelo trapitxi


de Cabo Verde • 347
Alexandrino Moreira Lopes
João Philipe Macedo Braga
Elcimar Simão Martins
Luís Tomás Domingos

Feira Agroecológica da ACB no Crato: visão dos consumidores • 360


Joaquim Torres Filho
Luizela Constancia Fernandes Rodrigues Cabral
Lara Louise de Souza da Silva
Emábile Sampaio de Carvalho
Leidiane Marques Maciel

Manejo agroecológico de fitomoléstias e produção de alimentos


mais limpos • 369
Joaquim Torres Filho
Emábile Sampaio de Carvalho
Leidiane Marques Maciel
Estratégias de imobilização de lipase do tipo B de Candida Antarctica
em nanopartículas magnéticas ativadas com glutaraldído  • 383
José Erick da Silva Souza
Thales Guimarães Rocha
Ana Kátia de Sousa Braz
José Cleiton Sousa dos Santos
Maria Cristiane Martins de Souza
Dispositivos móveis para monitoramento da atividade
cardíaca • 396
Julião Alberto Langa
João Paulo do Vale Madeiro
Antônio Carlos da Silva Barros
Antônio Manoel Ribeiro de Almeida
Dispositivos de aquisição de sinais ECG baseados em tecnologias
vestíveis • 412
Simão Silva Freitas
Luã Theo do Carmo Lima
João Paulo do Vale Madeiro
Antônio Carlos da Silva Barros
Antônio Manoel Ribeiro de Almeida

Utilização do biodigestor no meio rural: uma alternativa na região do


Maciço de Baturité, Ceará • 442
Juan Carlos Alvarado Alcócer
Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto
Aluísio Marques da Fonseca
Maria Gorete Flores Salles
Ciro de Miranda Pinto

Síntese de ésteres etílicos utilizando combinação de lipases livres como


catalisador e ácidos graxos livres obtidos do óleo de coco verde • 456
Lourembergue Saraiva de Moura Junior
Maria Vanderly Nascimento Cavalcante
Thales Guimarães Rocha
José Cleiton Sousa dos Santos
Maria Cristiane Martins de Souza
Ada Amelia Sanders Lopes
Ninguém solta a mão de ninguém: acontecências da EJA no Maciço
de Baturité-CE • 467
Luís Carlos Ferreira
Izabel Cristina dos Santos Teixeira
Laserterapia e pé diabético: parâmetros de uso terapêutico e
benefícios no processo de cicatrização • 484
Maria Girlane Sousa Albuquerque Brandão
Alan Sidney Jacinto da Silva
Lívia Moreira Barros
Thiago Moura de Araújo

Hidrólise enzimática do óleo de coco verde para produção de ácidos


graxos • 498
Maria Vanderly Nascimento Cavalcante
Brunna Lima Porfirio de Sousa
Lourembergue Saraiva de Moura Junior
José Cleiton Sousa dos Santos
Maria Alexsandra de Sousa Rios
Ada Amélia Sanders Lopes

Aspectos gerais de saúde e segurança do trabalho em atividades em


parques eólicos • 510
Michael Pablo França Silva
Francisco Murilo Maniçoba de Andrade
Eliziê Pereira Pinheiro
Jakeline Rodrigues Bezerra Silva
Sara do Nascimento Cavalcante
Karla Mayara Florentino Fernandes

Produção de ésteres etílicos obtidos através da catálise enzimática


dos ácidos graxos oriundos do óleo de coco verde • 525
Patrick da Silva Sousa
Ítalo Rafael de Aguiar Falcão
Claudio Henrique Victor Porto
Maria Alexandra de Sousa Rios
Ana Kátia Sousa Braz
José Cleiton Sousa dos Santos
Técnica de MPPT híbrida baseada nos métodos PSO e P&O aplicada
em sistemas FV sob condições de sombreamento uniforme e
parcial • 538
Samuel Nogueira Figueiredo
Ranoyca Nayana Alencar Leão e Silva Aquino

Estudo da variação do volume de água no açude Tejuçuoca no período


entre 2010 e 2016 • 551
Amanda Souza da Silva
Umberto Sampaio Madeiro Junior
Vanessa Araújo de Sousa
Gabriel Yves de Melo Raulino
Ivandro de Jesus Moreno de Oliveira
Rejane Felix Pereira

Análise dos leilões de energia nova no período entre 2005 e 2018  • 564
Gabriel Yves de Melo Raulino
Marcus Canutto Farias Silva
Thales Guimarães Rocha
Amanda Souza da Silva
Rejane Felix Pereira
Sílvia Helena Lima dos Santos

Avaliação de viabilidade econômica para implantação de um sistema


de aproveitamento de água pluvial  • 579
Antônio Elder Ferreira da Silva
Patrícia Freire de Vasconcelos
Cleiton da Silva Silveira

Lipase a de Candida Antarctica imobilizada em nanopartículas


magnéticas recobertas com quitosana: estratégia de
imobilização • 593
Rodolpho Ramilton de Castro Monteiro
Paula Jéssyca Morais Lima
Ellefson Emmanuel Souza de Oliveira
Thays Nogueira da Rocha
Maria Cristiane Martins de Souza
José Cleiton Sousa dos Santos
Estudo da aplicação do método Taguchi na esterificação de ácidos
graxos de óleo de frango residual via ultrassom utilizando lipase de
Rhizomucor miehei • 607
Thales Guimarães Rocha
Lourembergue Saraiva de Moura Junior
Francisco Simão Neto
Ana Kátia de Sousa Bráz
Maria Cristiane Martins de Souza
José Cleiton Sousa dos Santos

A sustentabilidade no ensino de Matemática: um estudo em uma


escola de ensino fundamental no município de Chorozinho-CE • 621
Vanesca Almeida de Oliveira
Francisca Aline da Silva Andrade
Ana Flávia Ferreira da Silva
Juan Carlos Alvarado Alcócer

Estudo do perfil bioquímico de camundongos sob alimentação


suplementada de creatina associada ou não à maltodextrina • 638
Jamile Magalhães Ferreira
Ingrid Maria Marques da Silva
Ederson Laurindo Holanda de Sousa
Said Gonçalves da Cruz Fonseca
Maria Goretti Rodrigues de Queiroz

Modelagem matemática de módulo fotovoltaico • 652


Wyara Maria Carlos Souza Pontes
Ligia Maria Carvalho Sousa Cordeiro
GERANILDE COSTA E SILVA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS 15

Apresentação
Geranilde Costa e Silva1
José Cleiton Sousa dos Santos2

Texto da apresentação....

1 Dra. em Educação. Pedagogo. Docente junto ao Instituto de Humanidades e


do curso de Pedagogia da Unilab. Contato: geranildecosta@unilab.edu.br
2 Coordenador do curso de Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: jcs@unilab.edu.br

APRESENTAÇÃO
16 GERANILDE COSTA E SILVA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS

APRESENTAÇÃO
MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 17

A evolução do conceito de
desenvolvimento sustentável no
sistema internacional
Magno Klein1
Ivette Tatiana Castilla Carrascal2

RESUMO
O conceito de desenvolvimento sustentável foi cunhado nos anos 1980 e fez
parte do movimento de consolidação de uma visão mais ambientalmente
consciente do desenvolvimento econômico e de suas consequências
nefastas para o futuro das próximas gerações. Hoje, o conceito é
praticamente um consenso, seja na academia ou entre o empresariado,
seja entre políticos ou ativistas ambientais. Porém, desde sua criação,
críticas relevantes têm sido levantadas a respeito da ambiguidade de
entendimentos possíveis a respeito do que é desenvolvimento sustentável,
em parte refletindo que sua ampla utilização nos debates públicos na
prática não garantiu que a humanidade tenha atingido um patamar
responsável de consumo dos recursos naturais.
Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável; Regime Internacional de
Meio Ambiente; Relações Internacionais.

THE EVOLUTION OF THE CONCEPT OF SUSTAINABLE


DEVELOPMENT IN THE INTERNATIONAL SYSTEM

ABSTRACT
The concept of sustainable development was coined in the 1980s and was
part of the movement to consolidate a more environmentally conscious

1 Vice-Coordenador do Curso de Relações Internacionais da Universidade


da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB/BA). É
pesquisador do Laboratório de Análise Mundial (Labmundo-IESP/UERJ) e
do Grupo de Pesquisa das Dinâmicas Políticas do Sul Global (Espaço Aus-
tral-UNILAB-BA). E-mail: magnoklein@unilab.edu.br
2 Professora do curso de Relações Internacionais da Universidade da Integra-

ção Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB/BA) e do Grupo de


Pesquisa das Dinâmicas Políticas do Sul Global (Espaço Austral-UNILAB-
-BA). E-mail: ivette.carrascal@unilab.edu.br

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


18 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

view of economic development and its dire consequences for the future
of the next generations. Today, the concept is practically a consensus,
whether in the academy or between the business community, or among
politicians or environmental activists. However, since its inception,
relevant criticisms have been raised about the ambiguity of possible
understandings regarding sustainable development, partly reflecting that
its wide use in public debates in practice has not ensured that humanity
has reached a responsible level of consumption of natural resources.
Keywords: Sustainable development; International Regime on Environment;
International Relations.

INTRODUÇÃO

De acordo com a fórmula consagrada, desenvolvimen-


to sustentável é “aquele que supre as necessidades do pre-
sente sem comprometer a capacidade das gerações futuras
de garantir suas próprias necessidades”. Eis a definição pre-
sente no hoje clássico documento escrito pela Comissão das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
a pedido da Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas.
O texto ficou conhecido como “Relatório Brundtland”
ou “Nosso Futuro Comum”, levando o nome da primeira-mi-
nistra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, chefe do grupo
que entre 1983 e 1987 teve o objetivo de promover audiências
em todo o mundo e produzir um resultado formal das dis-
cussões ao redor da relação entre crescimento econômico
e degradação ambiental. O grupo havia sido formado ao re-
dor das manifestações pela comemoração dos dez anos da
Conferência de Estocolmo. O texto final da equipe lança o
conceito que para sempre estaria nos debates a respeito da
proteção ao meio ambiente: desenvolvimento sustentável.
O conceito de desenvolvimento sustentável apresen-
tado pelo grupo representou a consolidação de reflexões que
se realizavam há décadas pelo mundo. Algo parecido com

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 19

seu entendimento já estava mesmo expresso na legislação


ambiental brasileira. A lei 6.938 de 1981 dispõe que:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por


objetivo a preservação, melhoria e recuperação
da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
socioeconômico, aos interesses da segurança na-
cional e à proteção da dignidade da vida humana
(Lei 6.938/81, art. 2º).

E em seu artigo 4º: “A Política Nacional do Meio Am-


biente visará: I – à compatibilização do desenvolvimento
econômico-social com a preservação da qualidade do meio
ambiente e do equilíbrio ecológico”.
Na Constituição de 1988, já sob a influência do debate
internacional, expressava-se a preocupação de que o desen-
volvimento econômico e social não estivesse apartado da
preservação e defesa do meio ambiente para as presentes e
futuras gerações. E é a responsabilidade em relação às futu-
ras gerações a grande novidade trazida naquele momento
pelo conceito.
Em seu artigo 225 lê-se: “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e pre-
servá-lo para as presentes e futuras gerações”. E no artigo
170: “A ordem econômica, fundada na valorização do traba-
lho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a to-
dos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio
ambiente”.
Hoje, o conceito é um dos elementos mais consensu-
ais das discussões a respeito da proteção ambiental, estando

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


20 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

presente no discurso de políticos, nas práticas das grandes


multinacionais, nos debates acadêmicos e documentos de
organizações não governamentais.
E por que o conceito de desenvolvimento sustentável
conseguiu atingir tão amplo consenso? Uma primeira possi-
bilidade de resposta é que ele concilia o que é irreconciliável:
o desenvolvimento econômico e o respeito ao meio ambien-
te, a produção de bens e o acesso das próximas gerações aos
recursos naturais. Dois lados a princípio divergentes que,
irmanados no conceito de desenvolvimento sustentável, pa-
recem encontrar uma harmonia que não indica prioridades
para nenhum dos lados.
Desse modo, o conceito parece a tudo autorizar. Mui-
tas interpretações são possíveis diante dessa grande ambi-
guidade. É principalmente ao redor dessas ambiguidades,
que ao longo do tempo o conceito vem colecionando críticas
a respeito de suas limitações e baixo interesse em estimular
mudanças significativas. E é também por essas ambiguida-
des que tamanho consenso foi possível de ser atingido.

CONTEXTO HISTÓRICO

Antecedentes do debate ambiental internacional

Segundo Ribeiro (2010), as primeiras tentativas de


estabelecer tratados internacionais para regular a ação hu-
mana sobre o meio ambiente datam do início do século XX
e buscavam regular a ação predatória nas regiões mantidas
como colônias pelas metrópoles europeias (como o esforço
da Coroa britânica por regular a caça esportiva em suas co-
lônias africanas). O fim da Segunda Guerra Mundial foi um
marco importante na história da ordem ambiental inter-
nacional. De um lado, as superpotências expressavam seu

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 21

poder também pela regulação de convenções ambientais,


como o Tratado Antártico, que regulava o uso desse conti-
nente. Depois de longa negociação, em 1959, foi firmado um
acordo que estimulava a ocupação do continente para fins
científicos. De outro lado, a formação da Organização das
Nações Unidas permitiu um grande avanço nas discussões a
respeito do uso responsável do meio ambiente.
Os debates em âmbito internacional a respeito da pro-
teção ao meio ambiente sempre estiveram associados à po-
lítica internacional. No final dos anos 1960 e início dos anos
1970, os recém independentes países do Sul global iniciaram
o movimento de buscar recursos da Organização das Nações
Unidas para contribuir em suas demandas por desenvolvi-
mento econômico e social.
O emergente movimento ambientalista nos países in-
dustrializados do Norte, alarmados com previsões de imi-
nente esgotamento de recursos, passou a pressionar para
que fosse levada em consideração a relação entre degrada-
ção ambiental e crescimento econômico. Líderes dos países
do Sul recusavam tal abordagem receando ter de abrir mão
de alcançarem estágios superiores de desenvolvimento em
que já se encontravam as nações industrializadas.
Tais divergências ficaram evidentes na Conferência
de Estocolmo de 1972, a primeira dedicada ao meio ambien-
te. Será após este evento que a temática ambiental ganhará
escopo institucional na ONU. Pela primeira vez, os Estados
se coordenavam para combater crises ambientais. Até ali, o
ambientalismo esteva focado no pacifismo e desarmamento
das superpotências e na proibição do uso da energia ­nuclear.
Em Estocolmo, estava em discussão o controle da po-
luição (do ar, do solo e da água) e da chuva ácida, em especial
quando estes fenômenos adquiriam feição transnacional.
Os debates também refletiam o avanço das pesquisas sobre o

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


22 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

impacto da alteração do meio ambiente nas pessoas. Somen-


te em 1930 é que se confirmou que havia uma relação entre
problemas respiratórios e poluição atmosférica, por exem-
plo. Por outro lado, o choque do petróleo de 1973 difundiria
pela primeira vez entre o grande público a ideia da escassez
de um recurso natural.
No encontro esteve em discussão – com a constatação
das limitações da capacidade do planeta em oferecer recur-
sos – possibilidades de controle populacional e do cresci-
mento econômico dos países periféricos (Ribeiro, 2010: 75).
O evento antecedia em alguns anos os resultados impressio-
nantes da prática de novas técnicas agrícolas que, em con-
junto, ficaram definidas como Revolução Verde e significa-
ram um expressivo aumento de produtividade.
Diante de uma produção agrícola que parecia não ser
capaz de crescer a uma taxa superior ao crescimento popu-
lacional, surgiam releituras das ideias de Thomas Malthus
do controle populacional. Esta abordagem foi defendida na
Conferência pelo Clube de Roma, que, em associação com o
Massachusetts Institute of Technology e a Associação Poto-
mac, lançaram com grande repercussão o relatório conheci-
do como “Os limites para o crescimento”.
Durante a Conferência de Estocolmo, as discussões se
centraram entre dois entendimentos a respeito da relação
entre homem e natureza. De um lado, a ideia do crescimento
zero, defendendo o fim do crescimento econômico de base
industrial, por natureza poluidor e consumidor de recursos
não renováveis. Alguns, ainda mais radicais, amparavam-se
no discurso preservacionista para abandonar o estilo de
vida urbano e industrial. Tais grupos hoje são conhecidos
sob o conceito de ecologia profunda ou radical. Alguns de
seus membros, reconhecendo que o auto-isolamento não
seria o suficiente, mais tarde passariam a realizar “ecoterro-

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 23

rismo” ou práticas de ação direta, como ataques à plantação


de organismos geneticamente modificados ou explosões a
redes de alimentação rápida em países centrais. O discurso
preservacionista do crescimento zero continua influencian-
do uma parte do movimento ambientalista e pode ser identi-
ficado no discurso de algumas organizações ambientalistas.
Do outro lado, encontravam-se os países periféricos
que não aceitavam que o combate à poluição restringisse
seu desenvolvimento econômico. No evento, um represen-
tante brasileiro teria dito a respeito das indústrias: “Ve-
nham para o Brasil. Nós ainda não temos poluição” (apud
Ribeiro, 2010: 80).
A participação brasileira ocorreu em pleno “milagre
econômico” e no período de maior repressão política. A po-
sição do país no evento foi marcada pelo receio dos impactos
do ambientalismo sobre a economia e sobre a legitimidade
política do regime (o ambientalismo era então associado a
movimentos de esquerda). Receava-se que a Conferência
fosse dominada pelo tom político e que as negociações fos-
sem influenciadas pela percepção negativa da opinião públi-
ca dos países desenvolvidos a respeito também da situação
dos direitos humanos no Brasil.
A delegação brasileira percebia uma clivagem entre
países desenvolvidos e em desenvolvimento na Conferên-
cia. Optando por não aceitar o tratamento multilateral dos
temas ambientais de forma isolada, defendeu o argumento
de que era necessário associar preservação ambiental às de-
mandas de desenvolvimento econômico, tônica que perma-
neceria por longo tempo na diplomacia brasileira. O país se
opôs incisivamente às propostas de controle populacional e
controle do desenvolvimento econômico e à possibilidade
de um compartilhamento internacional de certos recursos
naturais (Lago, 2006).

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


24 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

O encontro foi marcado pela paralisia, apesar de ter


contribuído na formação das primeiras agências dedicadas
ao tema no âmbito das Nações Unidas e de trazer a reflexão
sobre a degradação ambiental para o debate público.
Ao longo dos anos 1970, no contexto de acirramen-
to do conflito Norte-Sul e da negociação a respeito de uma
Nova Ordem Econômica Internacional (que nunca saiu do
papel), o sistema internacional colocou de lado as preocupa-
ções a respeito dos impactos das dinâmicas sócio-econômi-
cas sobre os recursos naturais.
Nesse período, o tema seria mantido em destaque
por meio da União Internacional para a Conservação da Na-
tureza (UICN), mas num evidente retrocesso, uma vez que o
tom político-econômico da discussão acabou sendo esvazia-
do. A “Estratégia de Conservação Mundial”, movimento pro-
posto pela instituição, foi lançada simultaneamente em 35
países em 5 de março de 1980. Estabeleceu princípios e ob-
jetivos fundamentais para a conservação em todo o mundo
e identificou prioridades para ações nacionais e internacio-
nais. É considerado um dos documentos mais influentes na
conservação da natureza do século XX e um dos primeiros
documentos oficiais a introduzir o conceito de desenvolvi-
mento sustentável. O documento falava na busca por “con-
tribuir na realização do desenvolvimento sustentável por
meio da conservação dos recursos vivos” (IUCN, 1980, iv).
No contexto de menor ênfase no debate Norte-Sul
dos anos 1980, surge uma nova possibilidade de repensar a
proteção ao meio ambiente em âmbito global. É nesse mo-
mento que a Assembleia Geral das Nações Unidas solicita a
criação de uma comissão independente de especialistas que
reunisse propostas para lidar com a relação entre a prote-
ção ao meio ambiente e as demandas por desenvolvimento.
A Comissão Brundtland foi formada em 1984 e entrou para

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 25

a história pelo conceito que veio a se estabelecer como para-


digma central do debate ambientalista global.

Relatório Brundtland

O documento, intitulado “Nosso Futuro Comum”, foi


resultado de debates ocorridos ao longo de um período de
três anos. Lançado em 1987, o relatório se posicionava na
discussão a respeito da relação entre humanidade e meio
ambiente. Desde o princípio, a preocupação ao redor desse
tema esteve associada com o receio de que o planeta não po-
deria suprir as demandas do desenvolvimento econômico
dos países se a evolução do consumo continuasse a se expan-
dir no ritmo tradicional.
O texto lançou críticas ao modelo de desenvolvimento
adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas
nações em desenvolvimento, apontando os riscos do uso ex-
cessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade
dos ecossistemas. Elencava os principais desafios da prote-
ção ambiental (como o aquecimento global e as mudanças
climáticas), lamentando que a velocidade da degradação ex-
cedia a capacidade da humanidade de propor soluções.
No documento, acusavam-se os padrões de produção
e consumo como ambientalmente insustentáveis, sendo
necessária uma nova relação “ser humano-meio ambiente”.
Uma das novidades para a discussão estava no entendimen-
to de que um novo patamar sadio para essa relação não exi-
giria a estagnação do crescimento econômico.
A conciliação entre questões ambientais, econômicas
e sociais era possível por meio de medidas como a diminui-
ção do consumo de energia, a limitação do crescimento po-
pulacional, o desenvolvimento de tecnologias para uso de
fontes de energia renováveis, o aumento da produção indus-

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


26 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

trial nos países não industrializados intensiva em tecnolo-


gias ecologicamente adaptadas. Em âmbito internacional,
o Relatório Brundtland conclamava pela proteção de áreas
internacionais como a Antártida, a adoção do desenvolvi-
mento sustentável como prioridade por parte das agências
da ONU e mesmo o fim das guerras.
Uma grande contribuição do conceito de desenvolvi-
mento sustentável como definido no documento foi trazer
as gerações futuras para o rol daqueles a quem hoje temos
obrigações.
Além disso, trouxe para o centro das discussões o
debate a respeito do que significa “desenvolvimento” e as
maneiras mais adequadas de medi-lo. Assim, índices de
produção nacional ou renda seriam indicadores limitados
de desenvolvimento por serem apenas uma medida do su-
cesso da atual geração em explorar os recursos naturais. In-
ternacionalmente, indicadores como o de desenvolvimento
humano (IDH) têm conseguido trazer mais elementos para
medir o bem-estar das populações, mas ainda há dificulda-
de em incluir a proteção adequada dos recursos naturais
nos indicadores de bem-estar.

Cúpula da Terra de 1992

Alguns anos depois, o conceito foi definitivamente in-


corporado como um princípio internacional durante a Con-
ferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen-
volvimento, a Cúpula da Terra de 1992 (Eco-92).
O segundo grande encontro das Nações Unidas para o
Meio Ambiente ocorreu em 1992 na cidade do Rio de Janeiro.
A proposta era debater a relação entre homem e natureza e
os limites do desenvolvimento de acordo com o bom relacio-
namento com o meio ambiente.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 27

O evento teve grande êxito em difundir a temática


ambiental pelo mundo. Com a Eco-92, a pauta do meio am-
biente entraria definitivamente na agenda dos políticos. Em
1972, somente dois chefes de Estado participaram da Confe-
rência (representando Índia e Suécia). Em 1992, o encontro
contou com a presença de 114 chefes de Estado. Na Agenda
21, mas de 170 países se comprometeram com um abrangen-
te conjunto de metas para a proteção dos recursos naturais.
A Conferência teve dois conceitos-chave como marco
discursivo: desenvolvimento sustentável e segurança am-
biental global. O conceito de segurança ambiental, o menos
conhecido dos dois, define que “as ações humanas dirigidas
para a produção de coisas necessárias à reprodução da vida
devem evitar a destruição do planeta” (Ribeiro, 2010: 109). O
debate do meio ambiente como questão de segurança inter-
nacional ainda é visto com ressalvas pela academia, uma vez
que a ideia de segurança tradicionalmente esteve associada
ao pensamento militar (Elliot 1998: 238 apud Ribeiro 2010).
Porém, como lembra Lorraine Elliot, Estados e populações
não podem estar seguros se o ecossistema não está.
O conceito de desenvolvimento sustentável, por sua
vez, referência para boa parte do movimento ambientalista
internacional das últimas décadas, diz respeito “à necessi-
dade de manter as condições de reprodução da vida humana
na Terra, posto que ainda não se tem notícia da existência de
outro planeta com condições naturais semelhantes ao que
habitamos” (Ribeiro, 2010: 109).
A partir dele se desenvolve um debate central para
este movimento. De um lado, aqueles que entendem o pla-
neta como um sistema único, holístico, interconectado, em
que a alteração de uma parte afeta as demais. Seus defen-
sores teriam como referência o pensamento de James Love-
lock (1989), criador da hipótese de Gaia, em que o planeta é

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


28 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

entendido como um superorganismo, em que os seres vivos


co-evoluem com seu ambiente, em um complexo processo
de interação e impacto. São defensores das tecnologias al-
ternativas e não impactantes e não questionam o padrão de
produção vigente. Seus críticos por outro lado, afirmam que
o conceito é operado para regular o acesso aos recursos na-
turais à parcela da população mundial que já está inserida
na sociedade de consumo (Ribeiro, 2010).
É na Eco-92 que o conceito de desenvolvimento susten-
tável ganha sua mais forte chancela dos Estados-nacionais
e das grandes organizações não governamentais, apesar de
representar uma noção fluida e ter capacidade de utilização
na prática ampla demais.
O conceito clama pela conciliação entre os objetivos
econômicos, sociais e ambientais das sociedades, num espíri-
to de equidade e compromisso com as gerações futuras. Des-
de então, desenvolvimento sustentável está associado a ideia
de que não se garantirá um crescimento durável sem haver
responsabilidade com o fim da degradação e esgotamento de
recursos naturais e ambientais para as próximas gerações.
Com a Eco-92, os países do Sul passaram a encarar a
proteção ambiental menos como uma ameaça ao seu desen-
volvimento. Contribuiu para isso o princípio das “responsa-
bilidades comuns, mais diferenciadas” presente em dois dos
principais produtos da Conferência: a Declaração do Rio e a
Convenção-Quadro para as Mudanças Climáticas. Tal prin-
cípio demarcava o compromisso de todas as nações pela pre-
servação ambiental, mas entendia que as degradações reali-
zadas no passado pelas nações industrializadas lhes davam
carga maior de responsabilidade.
Além disso, Philiph Rudolph Nel (2011) reforça que o
consenso estabelecido na Conferência também foi benéfico
para os países industrializados:

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 29

On the other hand, the term sustainable develop-


ment and its operationalization at Rio also came
as a bonus for the leaders of the North, as it allowed
them to satisfy the demands of their increasingly
environmentally conscious electorates to main-
stream environmental issues; to build up domestic
modi vivendi between agriculture, business, and
environmental activists; and to attempt to add envi-
ronmental standards as a new weapon in their pro-
tectionist armor (p. 2.575)

A Conferência de Johanesburgo de 2002 e além

A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentá-


vel realizada em 2002 em Johanesburgo, em sua Declaração
de Políticas afirmava que o desenvolvimento sustentável
seria construído sobre “três pilares interdependentes e mu-
tuamente sustentadores”: desenvolvimento econômico, de-
senvolvimento social e proteção ambiental.
O evento, também conhecido como Rio+10, buscou
encaminhar as discussões ambientais propostas na Confe-
rência anterior, em especial colocar em prática as intenções
presentes na Agenda 21 e avaliar a mudança global ocorri-
da desde a Eco-92. Também enfrentou temas sociais, como
a superação da pobreza, a cooperação internacional para o
desenvolvimento, mudança de padrões de consumo e pro-
dução, manejo de recursos naturais, acesso à água e a servi-
ços de saneamento e desenvolvimento sustentável.
Um dos desafios do evento foi confirmar que o terro-
rismo internacional não era a única questão internacional
relevante. A Conferência teve um resultado aquém daquele
alcançado no Rio de Janeiro, em parte pela decisão dos EUA
de não participar do encontro. Algumas das propostas mais
significativas não foram colocadas em prática, como o per-
dão da dívida dos países pobres e a meta de alcançar 10% da

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


30 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

energia consumida no planeta oriundos de fontes renová-


veis (Diniz, 2002).
A declaração final do evento demonstrava que, 15 anos
após a criação do conceito de desenvolvimento sustentável,
já era inquestionável no debate público o reconhecimento
da interseccionalidade de questões críticas como pobreza,
desperdício, degradação ambiental, decadência urbana,
crescimento populacional, igualdade de gêneros, saúde,
conflito e violência aos direitos humanos.

OS LIMITES DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

Apesar do amplo consenso que o conceito alcançou,


desde sua popularização, um grupo sólido de críticas vem
se acumulando mostrando as limitações e contradições pre-
sentes na ideia de desenvolvimento sustentável.
Em primeiro lugar, estão as contestações de que a na-
tureza não pode ser vista sob a forma de “recursos” à dispo-
sição dos desejos da humanidade. Não se estaria sendo ex-
cessivamente antropocêntrico ao defender que um recurso
ambiental pode ser consumido tendo como único limite a
garantia de acesso às próximas gerações?
Outras críticas foram apresentadas no hoje clássico
artigo de Stephen R. Dovers and John W. Handmer (1993)
com sua lista de oito contradições “óbvias” no conceito. No
cerne do argumento dos autores, está a constatação de que
as discussões geradas ainda encontram grande dificuldades
de superar a esfera da retórica. Acima de tudo, as contradi-
ções entre desenvolvimento e proteção ambiental seriam de
tal monta que o conceito seria mera expressão retórica para
dinâmicas que ainda são amplamente degradantes ao meio
ambiente.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 31

Entre outros críticos, há aqueles que preferem falar


em ecodesenvolvimento, conceito proposto por uma equi-
pe de especialistas (conhecidos como Grupo de Founex)
durante a fase preparatória da Conferência de Estocolmo
para lidar com o receio dos países subdesenvolvidos de que
a discussão sobre a proteção ambiental liderada pelos países
centrais não significaria definir limites para suas demandas
de crescimento com a desculpa de proteção ambiental.
A partir da ideia de ecodesenvolvimento, defendia-se
que ao contrário de serem forças divergentes, não poderia
haver desenvolvimento bem-sucedido sem uma proteção
adequada ao meio ambiente. Era uma clara oposição ao
pensamento neomalthusiano do Clube de Roma e a de eco-
nomistas ortodoxos: para o grupo, o conceito de desenvol-
vimento não poderia abarcar nada além da satisfação das
necessidades básicas (alimentação, alojamento, saúde etc.),
sendo o restante fora do necessário.
O grupo defendia enfrentar o uso desigual dos re-
cursos naturais pelas nações do Norte e do Sul. Aqueles
que falavam de ecodesenvolvimento, desse modo, estavam
envolvidos nas discussões a respeito da relação Norte-Sul,
assumindo a crítica do consumo desenfreado dos países in-
dustrializados e sua pretensão de indicar em que termos o
desenvolvimento poderia ser definido.
Entre 1971 e 1974, foi o conceito de ecodesenvolvimen-
to que pautou as discussões nos organismos internacionais e
meios acadêmicos. Mas seu caráter contestador, em particu-
lar aos países industrializados, tornou seu caminho árduo.
No meio da primeira crise do petróleo em 1973 e do acirra-
mento do conflito Norte-Sul, os Estados Unidos se opuseram
ao uso do conceito a partir de 1974. Para Ignacy Sachs (2005),
um dos membros do grupo de Founex, teria sido uma ordem
direta de Henry Kissinger, um dos mais poderosos Secretá-
rios de Estado da história dos Estados Unidos.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


32 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

CONCLUSÃO

Desde sua consolidação após a Eco-92, o conceito de


desenvolvimento sustentável tem ganhado mais influência,
alcançando um status de amplo consenso no sistema inter-
nacional. Apesar disso, não se pode ignorar que ele tem sido
manipulado para defender as mais variadas posições.
O conceito parece perder seu foco contestador à me-
dida em que amplia seu consenso. Não há grande empresa
hoje que não possua uma política voltada à sustentabilidade
ambiental, algumas apoiadas por grandes ONGs ambienta-
listas. Movimentos ambientalistas mais críticos vêm acu-
sando tais ações como uma espécie de “eco-lavagem” de prá-
ticas econômicas, sociais, políticas e até ambientais nocivas.
Se o desenvolvimento sustentável propõe a concilia-
ção entre os pilares econômico, social e ambiental, ainda
não está claro como evitar que o primeiro não suplante os
demais.

REFERÊNCIAS

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dbook of sustainable development. Cheltenham, UK: Edward
Elgar, 2007.
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VOLVIMENTO. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Funda-
ção Getúlio Vargas, 1992. 2ª ed.
DINIZ, E. M. Rio+10 results. Revista do Departamento de Geo-
grafia, n. 15, p. 31–35. 2002
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217-222, 1993.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 33

ELLIOT, Lorraine. The global politics of the environment. Lon-


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NATURE AND NATURAL RESOURCES. Estratégia mundial
para a conservação: a conservação dos recursos vivos para
um desenvolvimento sustentado. Tradução pela CESP da ver-
são em espanhol. São Paulo: CESP, 1984.
LAGO, André Aranha Corrêa do. Estocolmo, Rio, Joanesbur-
go: o Brasil e a três conferências ambientais das Nações Uni-
das. Brasília: FUNAG, 2006.
LOVELOCK, John. Gaia: Um novo olhar sobre a vida na Terra.
Lisboa: Edições 70, 1989.
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Bertrand; BERG-SCHLOSSER, Dirk; MORLINO, Leonardo
(Ed.). International encyclopedia of political science. Sage,
2011. pp. 2574-2576.
SACHS, Ignacy. Da civilização do petróleo a uma nova civili-
zação verde. Estudos avançados, v. 19, n. 55, p. 195-214, 2005.
VILLA, Rafael Duarte. Da crise do realismo à segurança glo-
bal multidimensional. Tese de doutorado. São Paulo, FFLCH/
USP, 1997.
Data de entrega: 10/07/2019.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


34 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

Panorama dos resíduos soliduos


urbanos na região do Maciço de
Baturité-CE
Eliane de Jesus da Costa Carvalho1
Cinthia Rachel Bibiabo de Araujo Nogueira2
Antonio Alison da Silva Mamede3
Ari Clecius Alves de Lima4
Maria Alexsandra de Sousa Rios5
Ada Amélia Sanders Lopes6

RESUMO
O Maciço de Baturité localizado a aproximadamente 100 km de Fortaleza
– CE, foco deste estudo, utiliza o lixão como destino final para os seus
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Deste modo almejando contribuir para o
desenvolvimento sustentável local, o presente capitulo tem como objetivo
apresentar o cenário atual dos RSU desta região, através de: matriz de
indicadores ambientais, georreferenciamento dos lixões e avaliação dos
sistemas de coleta (manejo e disposição final). Os levantamentos de dados
foram adquiridos junto às prefeituras de cada um dos municípios, com
intuito de avaliar os fatores significativos das ações antrópicas e assim
proporcionar uma visão sustentável para região. O georreferenciamento
foi realizado através de coordenadas geográficas geradas no Google Earth.
A matriz elaborada consta com quatro dimensões de sustentabilidade:
Politicas, tecnológicas, ambientais e conhecimento ambiental, com um

1 Graduada em Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.


E-mail: elianedecarvalho-@hotmail.com
2 Graduada em Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: cinthiakel@gmail.com
3 Graduado em Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: alisonmamede@aluno.unilab.edu.br
4 Doutor em Engenharia Civil – POSDEHA – UFC.

E-mail: ari.lima@nutec.ce.gov.br
5 Professora Adjunta do curso de Engenharia Mecânica – DEM – UFC.

E-mail: alexsandrarios@ufc.br
6 Professora Adjunta do curso de Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: ada@unilab.edu.br

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 35

total de treze indicadores. De acordo com os resultados a situação da


região estudada foi considerada em um estado crítico face às vertentes de
sustentabilidade.
Palavras-chave: Resíduos Sólidos Urbanos, Sustentabilidade, Maciço de
Baturité.

ABSTRACT
The Maciço de Baturité, located approximately 100 km from Fortaleza
– CE, the focus of this study, uses the landfill as the final destination
for its Urban Solid Waste (RSU). In this way, aiming to contribute
to local sustainable development, this chapter aims to present the
current RSU scenario of this region, through: matrix of environmental
indicators, georeferencing of dumps and evaluation of collection
systems (management and final disposal). Data were collected from the
municipalities of each municipality, in order to evaluate the significant
factors of anthropogenic actions and thus provide a sustainable vision
for the region. Geo-referencing was done through geographic coordinates
generated in Google Earth. The elaborated matrix has four dimensions of
sustainability: Policies, technology, environmental and environmental
knowledge, with a total of thirteen indicators. According to the results,
the situation of the studied region was considered in a critical state
compared to the sustainability aspects.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento industrial e o aumento acelerado


da população e urbanização contribuíram de forma signi-
ficativa no uso dos recursos naturais e, por conseguinte na
geração dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), que quando
não descartados de forma adequados podem causar graves
impactos ambientais (SEIBERT,2014). A crescente produção
dos RSU é uma das questões que vem sendo discutida nas
grandes conferências internacionais, com objetivo de trocar
experiências, intercâmbios de informações e capacitações
técnicas, de forma a minimizar os impactos de sua geração
(SILVA et all. 2016).
O problema da disposição final dos RSU assume uma
magnitude alarmante, tendo em conta apenas os resíduos

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


36 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

urbanos e públicos, o que se percebe é uma ação generaliza-


da das administrações públicas locais ao longo dos anos, em
afastar das zonas urbanas o lixo coletado, depositando-o por
vezes em locais absolutamente inadequados, como encostas
florestadas, manguezais, rios, baías e vales, em cursos d’água
ou em áreas ambientalmente protegidas (NETO, 2010).
O Maciço de Baturité-CE, alvo deste estudo, é consti-
tuído por treze municípios dos quais são: Acarape, Aracoia-
ba, Aratuba, Barreira, Baturité, Capistrano, Guaramiranga,
Itapuína, Mulungu, Ocara, Palmácia, Pacoti e Redenção. Os
municípios se localizam em média cerca de 100 Km ao sul
da Cidade de Fortaleza capital do Ceará. Ainda é uma das re-
giões do Brasil que descartam de forma inadequada os seus
resíduos e não dispõem, até então, de um aterro sanitário
em nenhum dos seus municípios. As disposições finais dos
RSU são a céu aberto, lixão, localizados em média de 8 Km
dos centros urbanos.
Tendo em vista o atual cenário destes municípios em
relação ao descarte dos RSU, este capítulo teve proposito
de contribuir para o desenvolvimento local com ênfase na
questão ambiental e social apresentar o cenário atual dos
RSU da Região do Maciço de Baturité.
Neste capítulo foram desenvolvidas duas metodolo-
gias para avaliação de RSU: A primeira metodologia foi ba-
seada em aplicação de questionário aos gestores de cada
município, e a segunda foi georreferenciamento e visita ex-
ploratória aos seus respectivos lixões.
A maioria dos lixões tem a presença de catadores,
onde alguns deles são crianças, este cenário denuncia os
problemas sociais que a má gestão dos RSU acarreta. Tra-
dicionalmente, o que ocorre no Brasil é de competência dos
municípios sobre a gestão dos resíduos sólidos, produzi-
dos em seu território, com exceção dos de natureza indus-

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 37

triais, mas incluindo os provenientes dos serviços de saúde


(GIMARÃES, 2013).
O horizonte das políticas públicas para o problema é
a realização de ações que coordenem esforços entre os dife-
rentes âmbitos da gestão municipal para: redução da gera-
ção de resíduos; a logística reversa; a valorização dos resídu-
os como uma possível fonte de emprego digno por conta da
reciclagem; pelo correto tratamento dos materiais dispos-
tos, evitando danos ao ambiente e principalmente à saúde;
e finalmente pela sua aplicação na produção energética uma
vez que a matriz energética nacional é maioritariamente da
fonte hídrica (SANTAELLA,2014 ).

MATERIAIS E METODOS

Aplicações de questionários aos gestores de cada


município

A pesquisa foi iniciada com o levantamento biblio-


gráfico de indicadores de sustentabilidade utilizados para
avaliar a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (GRSU). A
quantidade de indicadores encontrada na literatura foi mui-
to significativa. Reduziu-se este número para não tornar a
matriz extensa, e também facilitar a análise, considerando
indicadores semelhantes ao do (SANTIAGO, 2010).
As dimensões utilizadas para englobar os indicadores
de sustentabilidade da RSU neste trabalho foram quatro:
politicas, tecnológicas, ambientais, e educação ambiental e
mobilização social. Considera-se um número representativo
conforme alguns autores (MORAES e BORJA, 2010, FURIAM
e GÜNTHER, 2006 apud SANTIAGO, 2010). Baseados nestes
indicadores foram elaboradas desaseis questões essenciais
para construção de matriz de sustentabilidade.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


38 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

Pesquisas de campo aos locais dos descartes dos RSU

Todos os lixões foram localizados geograficamente


através de coordenadas geográficas geradas no Google Ear-
th. As pesquisas de campo foram desenvolvidas através de
visitas in loco onde foram levantadas as reais situações de
descartes dos resíduos. Foram visitados todos os lixões do
Maciço de Baturité, realizando entrevistas aos catadores
presentes no momento da visita. Foram observadas também
algumas questões sociais causadas pela existência dos lixões
a céu aberta.

RESULTADOS E DISCUSÃO

Através da pesquisa para aquisição de dados, realiza-


ção de entrevistas, aplicação do questionário e análise ex-
ploratória dos mesmos foi possível elaborar a matriz de indi-
cadores que permitiu obter uma visão sistemática da gestão
dos RSU no Maciço de Baturité.

Tabela 1 – Matriz de indicadores de RSU do Maciço de Baturité


Dimen-
Perguntas Chaves Indicadores Resposta
sões
Está em consonância
com a Política Nacio-
nal de Saneamento Entre setores? Não
Básico?
Possui um Plano Muni-
cipal de Gestão Integra-
Políti-
Está em consonância da de Resíduos Sólidos
cas
com a Política Na- Apresenta fiscalização Não
cional de Resíduos dos serviços de limpeza
Sólidos? pública
(continua)

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 39

Sim, os funcio-
Utiliza mão de obra nários da coleta
local são do muni-
cípio.
Observa princípios
Tecno- Veículos coletores es-
da tecnologia apro-
lógicas pecíficos e apropriados
priada?
em termos de capaci-
dade, tamanho para as Não
necessidades de gera-
ção local
Existência de coleta
seletiva no local? Não
Existência de aterro
sanitário/controlado e
Não
licenciado
Há aproveitamento de
resíduos orgânicos Não
Am- Exerce pouco impac- Existência de pontos de
bientais tos ambientais? entrega voluntaria a dos
Não
resíduos recicláveis
Não, quando se
dá fim a um li-
Há recuperação de xão, os resíduos
áreas degradadas são queimados
e subterrados
no próprio local
Edu- Inclusão de ações de
cação Educação Ambiental Não
Capacitação de agen­tes
ambi­ Existe a prática de
que atuam na limpeza
ental e Educação Ambiental Não
pública
mobi- e Cidadania? Realização de eventos
lização munici­pais com a temá-
social Não
tica ambiental
Fonte: Autora.

Na região avaliada a limpeza urbana, coleta e disposição


final dos RSU são inteiramente da responsabilidade das suas
respetivas prefeituras, da gerencia mais especificamente da
secretaria de infraestrutura. Os funcionários, os transportes
e as metodologias dessas logísticas são traçadas e executadas
pela equipe de trabalho montado pelos gestores locais.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


40 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

A Política Nacional de Resíduos Sólido (PNRS), institu-


ída pela Lei 12.305 de 2010 estabelece princípios, objetivos,
e instrumentos, bem como as diretrizes relativas à gestão
integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo
os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder
público e aos instrumentos econômicos aplicáveis que infe-
lizmente não foram adotadas até então. Quanto às políticas
nacionais tanto como o saneamento básico a região do Maci-
ço de Baturité não se encontra de acordo.
Em relação à tecnologia a situação é precária, somente
o município de Acarape tem um caminhão com prensa que
possibilita coleta adequada dos RSU, quanto aos restos dos
municípios usam caminhão caçambas que infelizmente no
translado até o lixão os resíduos vão caindo no caminho. En-
tão percebe- se que as tecnologias para coleta dos resíduos
nesta região não são aplicadas.
Com relação à questão ambiental, a região deixa muito
a desejar, pois infelizmente não existem projetos de educa-
ção ambiental enraizado nos municípios para a população
no sentido de conscientização voltada para importância da
separação das frações dos RSU de forma a possibilitar o seu
reaproveitamento para reciclagem.

Formas de tratamento e disposição final dos resíduos

Quanto à disposição dos resíduos sólidos, a situação


apresenta-se crítica nos municípios que integram a área es-
tudada, onde as prefeituras fazem uso de lixões a céu aberto
como deposição final dos RSU, sem qualquer tipo de prote-
ção ou impermeabilização do solo contribuindo para a polui-
ção dos recursos hídricos, para a degradação das paisagens
e para a proliferação de vetores de doenças. Praticamente
em torno de todos os lixões existem matas que desprotegi-
das estão em contato direto com os resíduos. Na Tabela 2 são

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 41

apresentadas as coordenadas geográficas e nas Tabelas 3, 4


e 5 são apresentadas georreferenciamento e as fotos dos li-
xões de todos os municípios do Maciço de Baturité.

Tabela 2 – Localização Geográfica dos Lixões de cada município


do Maciço de Baturité
Muni- D em Coordenadas Absolutas –
Coordenadas Relativas
cípio (Km) Standard UTM – Zona 24
Hemisfé- Hemis-
Graus M S Easting Northing
rio ferio
Acara- Lat. 4 15 10,09 S
3,66 533674 9529922 S
pe Long. 38 41 47,59 O
Ara- Lat. 4 20 39,77 S
5,31 525555 9519802 S
coiaba Long. 38 46 10,88 O
Lat. 4 25 34,16 S
Aratuba 3,72 491585 9510767 S
Long. 39 4 33,06 O
Barrei- Lat. 4 20 16,92 S
5,36 539724 9520498 S
ra Long. 38 38 31,17 O
Batu- Lat. 4 21 50,8 S
4,19 515868 9509969 S
rité Long. 38 51 24,26 O
Capis- Lat. 4 21 50,8 S
3,44 512895 9517624 S
trano Long. 38 51 24,26 O
Guara- Lat. 4 21 50,8 S
miran- 14,1 515896 9517624 S
ga Long. 38 51 24,26 O
Itapiú- Lat. 4 35 16,2 S
2,75 508591 9492895 S
na Long. 38 55 21,17 O

Mulun- Lat. 4 35 16,2 S


16,8 508591 9492895 S
gu Long. 38 55 21,17 O
Lat. 4 28 50,97 S
Ocara 2,56 542286.2 9504713.1 S
Long. 38 37 7,79 O
Lat. 4 35 16,2 S
Pacoti 17 508591 9492895 S
Long. 38 55 21,17 O
Palmá- Lat. 4 5 47,49 S
10,2 525646 9547200 S
cia Long. 38 46 8,17 O
Reden- Lat. 4 16 58,83 S
6,68 531287 9526584 S
ção Long. 38 43 5 O
Fonte: Autora.
D em (Km) – Distancia em quilômetros do Lixão até a cede do Município;
Lat. – Latitude; Long. – Longitude; M – Minutos; S – Segundos.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


42 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

De acordo com a localização geográfica dos lixões de


cada município, observa-se que os lixões se situam em mé-
dia 8 km distantes das cedes isolados dos centros urbanos.

Tabela 3 – Georreferenciamento e as fotos dos lixões


Municípios Georreferenciamento Lixão Recicláveis
Acarape

Aracoiaba

Aratuba
Fonte: Autora.

Tabela 4 – Georreferenciamento e as fotos dos lixões

Municípios Georreferenciamento Lixão Recicláveis


Barreira
Baturité
Capistrano
Fonte: Autora.

Tabela 5 – Georreferenciamento e as fotos dos lixões


Municípios Georreferenciamento Lixão Recicláveis

Itapiúna

Ocara

Palmácia

Redenção
Fonte: Autora.

Os RSU dos municípios de Guaramiranga, Mulungu e


Pacoti, são descartados no lixão de Baturité. As gestões dos
municípios estabeleceram um acordo para que o lixão de Ba-

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 43

turité recebesse esses resíduos, sendo o transporte e a ma-


nutenção da área sobe a responsabilidade dos municípios
que geram os resíduos.
Durante a pesquisa de campo nos lixões foram veri-
ficadas também a existência das seguintes práticas: quei-
ma de resíduos, escavação de valas, presença de catadores,
moradia de catadores e existência do projeto Ecoelce7 como
mostra a Tabelas 6.

Tabela 6 – Aspectos Ambientais da Área de Destino Final no


Maciço de Baturité
Aspectos Ambientais
Presen- Presen- Presen-
Quei- Escava- Projeto
ça de ça de ça de
Municípios ma de ção de ECOEL-
catado- mora- Crian-
RSU valas CE
res dias ças
Acarape Sim Não Não Sim Não Não
Aracoiaba Não Sim Sim Sim Não Não
Aratuba Sim Não Sim Não Não Não
Barreira Não Não Sim Sim Sim Sim
Baturité Sim Sim Sim Sim Não Não
Capistrano Não Sim Sim Não Sim Sim
Guarami-
___ ___ ___ ___ ___ ___
ranga
Itapiúna Não Sim Sim Sim Não Não
Mulungu ___ ___ ___ ___ ___ ___
Paralisa-
Ocara Não Sim Sim Não Sim
do
Pacoti ___ ___ ___ ___ ___ ___
Palmácia Não Não Sim Não Não Não
Redenção Sim Sim Sim Não Não Não
Fonte: Autora.

Analisando a Tabela 6 percebe-se que as formas das


disposições finais não estão organizadas de acordo com
as leis, pois a maioria não possui vala e por consequência
não há cobrimento dos resíduos, ficando a céu aberto. As

7 Ecoelce – projeto de troca de resíduos por bônus na conta de luz no estado


do Ceará, agora chamada de Ecoenel.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


44 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

queimas dos resíduos causam poluição atmosférica, além


de deixar o solo empobrecido, a fumaça prejudica a saúde
dos catadores que se encontram dentro dos lixões. Não há
vigilância na área, facilitando, assim, a entrada de qualquer
pessoa e animais, acarretando problemas sociais e de saúde
pública.

Tabela 6 – Condições dos Catadores nos Lixões


Desenvolvimento de
Organização
Municípios Uso de EPIs trabalho social com
dos Catadores
Catadores

Acarape ___ ___ ___

Aracoiaba Sim completo Não Não

Aratuba Não Não Não

Barreira Sim incompleto Não Sim

Baturité Somente botas Não Não

Capistrano Não Não Não

Guaramiranga ___ ___ ___

Itapiúna Não Não Não

Mulungu ___ ___ ___

Ocara Não Não Não


Pacoti ___ ___ ___

Palmácia Não Não Não

Redenção Não Não Não


Fonte: autora.

Não existe uma assistência social para os catadores


que trabalham nos lixões dos municípios, nem tão pouco
atividade de inclusão social que tragam dignidade aos mes-

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL 45

mos. O processo como um todo da gestão dos RSU precisa


passar primeiramente pela Educação Ambiental, visto que,
segundo a PNRS-2010 a não geração, a redução, a reutiliza-
ção e a reciclagem, antecedem ao descarte e aproveitamento
energético.
Os municípios não dispõem de uma gestão adequada
dos RSU, voltada para o descarte correta e minimização de
impactos ambientais. Percebe-se que são poucas, ou quase
nenhum, as atividades realizadas no município que envolve
educação ambiental.

CONCLUSÃO

Atualmente os municípios que compõe o Maciço de


Baturité não apresentam um Plano de Gerenciamento Inte-
grado de Resíduos Sólidos Urbanos, sendo as gestões desses
setores em todos os municípios apenas focadas na coleta
convencional, transporte e destinação final, afastando-os do
local de onde são gerados. Descartando-os geralmente em
locais afastadas dos centros urbanos. Essa situação é consi-
derada preocupante.
Com isso, faz-se necessário uma adequação dos muni-
cípios a Lei 12.305/2010, que tem como um dos objetivos fun-
damentais, priorizar para a gestão dos resíduos, a obrigato-
riedade de não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final adequa-
da. A matriz de indicadores através das cinco dimensões da
sustentabilidade possibilitou a visualização dos principais
pontos de análise. Mas é necessário que disponha de priori-
zação para que as mudanças comecem a acontecer.
Visando executar operações para solucionar ou mini-
mizar problemas gerados de forma a impactar a sociedade
quanto ao desenvolvimento sustentável, coleta, descarte e

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


46 MAGNO KLEIN • IVETTE TATIANA CASTILLA CARRASCAL

combate ao desperdício, propondo disposição final adequa-


da para os resíduos destas cidades. O processo como um
todo da gestão dos RSU passa primeiramente pela Educação
Ambiental, visto que, segundo a PNRS-2010 a não geração, a
redução, a reutilização e a reciclagem, antecedem ao descar-
te e aproveitamento energético.

AGRADECIMENTOS

Aproveita-se para agradecer a Universidade da Inte-


gração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira no setor
da Pro-Reitoria de Extensão Arte e Cultura (PROEX) pela
oportunidade da realização do projeto e ao grupo GEPEMA
(Grupo de Extensão e Pesquisa em Energias e Meio Ambiente)
que se empenhou na elaboração deste trabalho.

REFERÊNCIAS

BORJA, P.C.; MORAES, L.R.S. Indicadores de saúde Ambien-


tal com enfoque para área de Saneamento. Parte 1 – Aspectos
Conceituais e Metodológicos. Engenharia Sanitária e Am-
biental, 2003.
FURIAM, S.M.; GÜNTHER, W.R. Avaliação da educação am-
biental no gerenciamento dos resíduos sólidos no campus da
Universidade Estadual de Feira de Santana, 2006.
GIMARÃES, D.F.S. Caracterização ambiental do depósito de
resíduos sólidos de Iranduba/AM, XVII COBREAP – Congres-
so brasileiro de engenharia de avaliações e perícias – IBAPE/
SC – 2013.
SANTIAGO, S. L. Matriz de indicadores de sustentabilidade
para a gestão de resíduos sólidos urbanos, 2010. N° pp 204.
SANTAELLA, T. S. Resíduos Sólidos e a Atual Política Ambien-
tal Brasileira. Fortaleza: UFC / LABOMAR / NAVE, 2014.

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SEIBERT, A. L. A Importância da gestão de resíduos sólidos


urbanos e a conscientização sobre a sustentabilidade para a
população em geral. Monografia de Especialização, 2014.

SILVA, G. A. Proposta de procedimento operacional padrão


para o teste do Potencial Bioquímico do Metano aplicado a
resíduos sólidos urbanos. Engenharia Sanitária Ambiental.
v.21 n.1 | Jan/mar 2016 | 11-16.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SISTEMA INTERNACIONAL


ALAN SIDNEY JACINTO DA SILVA • VANESSA AGUIAR PONTE • THÁTYLLA RAYSSA ALVES FERREIRA GALVÃO
48 MARIA GIRLANE SOUSA ALBURQUERQUE BRANDÃO • THIAGO MOURA DE ARAÚJO

Manejo da dor em feridas crônicas


e ação terapêutica do ultrassom de
baixa frequência
Alan Sidney Jacinto da Silva1
Vanessa Aguiar Ponte2
Thátylla Rayssa Alves Ferreira Galvão3
Maria Girlane Sousa Alburquerque Brandão 4
Thiago Moura de Araújo5

RESUMO
Foi objetivo avaliar a aplicabilidade da terapia ultrassônica para o
alívio da dor em pacientes com lesões crônicas. Trata-se de um estudo
quase experimental com delineamento antes e depois, com ausência
de grupo controle equivalente. A avaliação foi feita de três pontos de
corte de temporalidade. Utilizando a escala visual analógica para dor
antes, durante e após a intervenção. A pesquisa respeitou os princípios
éticos com CAAE nº 1.049.373. A ação terapêutica tem resultados mais
positivos nos pacientes que classificavam a dor como mais intensa 32%
dos participantes. Durante a intervenção mais de 60% dos pacientes
relataram alívio da dor logo no início da intervenção. O ultrassom como
medida para redução da dor apresenta-se de forma promissora, por
promover analgesia sem efeitos adversos e de uma forma não invasiva.

1 Enfermeiro. mestrando em Enfermagem na Universidade da Integração In-


ternacional da Lusofonia Afro-Brasileira, e-mail:alans.enf@gmail.com
2 Enfermeira. Mestre em enfermagem pela Universidade da Integração

Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.


E-mail: vanessaaguiar1392@gmail.com
3 Enfermeira. Bacharel em enfermagem pela Universidade da Integração

Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.


E-mail: thatylla_rayssa@hotmail.com
4 Enfermeira. mestranda em Enfermagem na Universidade da Integração

Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.


E-mail: girlane.albuquerque@yahoo.com.br
5 Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor e Coordenador do Instituto

de Ciência da Saúde na Universidade da Integração Internacional da


Lusofonia Afro-Brasileira. Redenção, Ceará, Brasil.
E-mail: thiagomoura@unilab.edu.br

MANEJO DA DOR EM FERIDAS CRÔNICAS E AÇÃO TERAPÊUTICA DO ULTRASSOM DE BAIXA FREQUÊNCIA


ALAN SIDNEY JACINTO DA SILVA • VANESSA AGUIAR PONTE • THÁTYLLA RAYSSA ALVES FERREIRA GALVÃO
MARIA GIRLANE SOUSA ALBURQUERQUE BRANDÃO • THIAGO MOURA DE ARAÚJO 49

Apresenta-se como uma tecnologia de fácil manuseio, durável e com alto


grau de custo-benefício, visto que o mesmo aparelho pode ser utilizado
diversas vezes.
Palavras-chave: Terapia por ultrassom. Manejo da dor. Ferimentos e
lesões.

MANAGEMENT OF PAIN IN CHRONIC WOUNDS AND


THERAPEUTIC ACTION OF THE LOW FREQUENCY ULTRASSOM

ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate the applicability of ultrasound
therapy for pain relief in patients with chronic lesions. It is a quasi-
experimental study with a before and after design, with no equivalent
control group. The evaluation was made of three cut-off points of
temporality. Using the visual analogue scale for pain before, during and
after the intervention. The research respected the ethical principles with
CAAE nº 1,049,373. The therapeutic action has more positive results in the
patients who classified the pain as more intense 32% of the participants.
During the intervention, more than 60% of patients reported pain relief
early in the intervention. Ultrasound as a measure for pain reduction
presents itself promisingly for promoting analgesia without adverse
effects and in a non-invasive manner. It is presented as a technology of
easy handling, durable and with a high degree of cost-benefit, since the
same device can be used several times.
Keywords: Ultrasonic therapy. Pain management. Wounds and injuries.

INTRODUÇÃO

Apesar dos avanços nos cuidados em saúde, as feridas


ainda são uma importante causa de morbidade e mortali-
dade mundial. Com efeitos negativos na qualidade de vida
tanto dos pacientes quanto de seus familiares, repercutindo
com maior ênfase nos aspectos sociais e econômicos (1,2).
Entre as queixas referidas por pacientes portadores
de lesões de pele destaca-se a dor, por ocasionar distúrbios
psicológicos e físicos que geram limitações para a realização
de atividades de vida diárias e atividades laborais, bem como
alteram a imagem corporal e auto-estima do paciente. Tal

MANEJO DA DOR EM FERIDAS CRÔNICAS E AÇÃO TERAPÊUTICA DO ULTRASSOM DE BAIXA FREQUÊNCIA


ALAN SIDNEY JACINTO DA SILVA • VANESSA AGUIAR PONTE • THÁTYLLA RAYSSA ALVES FERREIRA GALVÃO
50 MARIA GIRLANE SOUSA ALBURQUERQUE BRANDÃO • THIAGO MOURA DE ARAÚJO

fato, por vezes, torna necessário o uso de tratamentos far-


macológicos, medidas compressivas, elevação do membro
afetado e realização de curativos diários, com vistas a redu-
zir os sintomas álgicos relatados(3).
Para promover uma assistência integral ao paciente,
os profissionais de saúde, incluindo o enfermeiro, devem
tratar além da lesão de pele os sinais e sintomas que se so-
mam a esta afecção. Destarte, é essencial identificar, avaliar
e tratar a dor relatada por pacientes com ou sem feridas
cutâneas. No entanto, estudos revelam que a dor, mesmo
com sua elevada frequência no ambiente hospitalar e ambu-
latorial, ainda é um pouco negligenciada pelos profissionais
de saúde atuantes (4).
Entre os diversos métodos de tratamento de lesões,
desde coberturas a técnicas, o Ultrassom de Baixa Frequên-
cia (USBF) emerge neste cenário como um coadjuvante na
cicatrização de lesões e no tratamento da dor. Sua terapêu-
tica tem sido associada ao processo de cicatrização por seus
efeitos térmicos e atérmicos, que acelera a regeneração ce-
lular e a viabilidade do tecido cicatricial (5).
A ação térmica do USBF, acelera o metabolismo, a ve-
locidade de condução nervosa, aumenta o aporte sanguíneo
e a extensibilidade dos tecidos moles reduzindo e controlan-
do a dor e os espasmos musculares, o princípio é parecido
com a aplicação de calor local, porém em tecidos ricos em
colágeno a ação é potencializada. Considerando, pois, que
um dos efeitos do USBF é a produção de colágeno isto favo-
rece que o meio se torne ainda mais propício para a ação dos
efeitos analgésicos, que se elevam ao decorrer das aplica-
ções(6).
Diante do exposto, a utilização do ultrassom de baixa
frequência pode tornar-se um adjunto no tratamento de fe-
ridas, especialmente as que emergem dor. Foi objetivo deste

MANEJO DA DOR EM FERIDAS CRÔNICAS E AÇÃO TERAPÊUTICA DO ULTRASSOM DE BAIXA FREQUÊNCIA


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estudo avaliar a utilização do USBF como uma intervenção


para o alívio da dor em pacientes com lesões crônicas em um
serviço ambulatorial.

MÉTODO

Estudo quase experimental com delineamento antes


e depois de uma intervenção com o USBF. A população-alvo
foi constituída por pacientes de um ambulatório, apresen-
tando lesões crônicas, com um total de dezesseis partici-
pantes. Nesse estudo foram incluídos os participantes que
em algum momento do curso da sua lesão apresentou algum
nível de dor, que não estavam em uso de analgésicos com in-
terferência em sistema nervoso central ou opióides.
A coleta de dados ocorreu de abril a outubro de 2017,
utilizou-se um formulário estruturado, elaborado pelos au-
tores, abordando aspectos epidemiológicos e clínicos dos
participantes do estudo. A avaliação da dor foi realizada com
base nos relatos verbais dos participantes do estudo, seguin-
do a classificação: 1 – Dor aguda não-cíclica; 2 – Dor aguda
cíclica; 3 – Dor crônica; 4 – Ausência de dor. Foi considerado
a dor aguda cíclica aquela intermitente que cessa e recome-
ça em períodos do dia por menos de seis meses, dor aguda
não cíclica como a dor que não cessa em período menor que
seis meses e dor crônica a que se estende por mais de seis
meses. Além disso, antes, durante e logo após a intervenção
com USBF, aplicou-se a Escala Visual Analógica (EVA) para
avaliar a intensidade da dor. Esta pesquisa foi aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade da Integra-
ção Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, CAAE: nº
1.049.373.

MANEJO DA DOR EM FERIDAS CRÔNICAS E AÇÃO TERAPÊUTICA DO ULTRASSOM DE BAIXA FREQUÊNCIA


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52 MARIA GIRLANE SOUSA ALBURQUERQUE BRANDÃO • THIAGO MOURA DE ARAÚJO

Etapas da aplicação do ultrassom de baixa frequência

Durante todo o processo terapêutico os profissionais


utilizaram Equipamentos de Proteção Individual. Inicial-
mente foi realizada a limpeza da ferida com soro fisiológico
a 0,9%; a lesão foi protegida com um filme de PVC, o transdu-
tor do ultrassom também foi protegido com o filme de PVC;
aplicou-se no transdutor um gel a base de água que funciona
como um agente para impedância acústica.
O USBF foi aplicado pontualmente das bordas ao leito
da ferida, percorrendo toda a área da lesão. O tempo de apli-
cação foi definido utilizando a medida de área de radiação
efetiva, onde TEMPO = ÁREA / ERA. TEMPO é a unidade a
ser definida, ÁREA é a largura x comprimento medida por
uma fita métrica antes de cada aplicação e ERA é a Área de
Radiação Efetiva do ultrassom, considerou-se o diâmetro do
transdutor definido em 4 cm² (7).
Para aplicação da terapia ultrassônica de baixa frequ-
ência foram seguidas as definições: frequência de 3 MHz,
densidade de energia de 0,5 Watts/cm² relativo a 3,5 Watts
de emissão, ciclo de trabalho de 100 Hz, frequência de pulso
de 50% e emissão do tipo pulsátil. O ultrassom foi aplicado
em movimentos em forma de “8” suavemente sobre a área de
forma semi-estática em sentido horário. A aplicação ocorreu
a cada 48 horas, em um total de dez aplicações(7).

RESULTADOS

A média de idade dos participantes foi de 62 anos, com


variação entre 26 e 87 anos. Dos 16 integrantes do estudo 10
eram aposentados (62,5%), 12 do sexo masculino (75%), 10
não alfabetizados (62,5%) e 13 de cor parda (81%). A renda
mensal destes era de aproximadamente um salário míni-

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mo6, 14 possuíam acesso a saneamento básico (87,5%) e to-


dos (100%) com água potável para consumo.
Em relação ao tipo de ferida foram avaliados sete pé
diabéticos (43,75,2%), três úlceras venosas (18,75%), duas
lesões por pressão (12,5%), duas lesões traumáticas (12,5%),
uma úlcera arterial (6,25%) e uma de causa idiopática classi-
ficado como outro (6,25%). Quanto ao tipo de pele apresen-
taram-se os tipos: seca (25%); descorada (25%); muito fina
(18,75%); úmida (12,5%) e com edema (18,75%). Os sinais clí-
nicos conferidos de acordo com as características das lesões
dos pacientes demonstraram alterações dermatológicas co-
muns a lesões de membros inferiores: edema sendo o mais
prevalente (37,5%); hiperpigmentação, ausência de pêlos e
pele ressecada (18,5%); claudicação e hipotermia (12,5%); e
varizes, lipodermatoesclerose, fissuras, edema e hipercera-
tose (6,25%).
Das 16 lesões avaliadas, mais da metade 68,75% dos
participantes demonstravam dor. E entre os que não rela-
taram esse sintoma, destaca-se que quatro apresentavam
neuropatia diabética e um possuía etiologia desconhecida.
Entre os quatro pacientes com úlceras vasculogênicas três
apresentavam dor aguda cíclica que é uma característica
deste tipo de lesão, e uma relatava dor aguda não cíclica.
As duas lesões por pressão apresentaram dor do tipo aguda
não cíclica e crônica, assim como as duas lesões traumáticas
apresentaram as mesmas distinções de dor.
Conforme visto sintomas álgicos associados a lesão de
pele foram relatados pela maioria dos integrantes do estudo,
contudo, mais da metade apresentaram diminuição da dor,
logo no início da aplicação do USBF (56,25%). Apenas um
dos participantes necessitou fazer uso de medicação anal-
6 Foi considerado o salário mínimo referente ao ano da pesquisa efetuada em
2017, com o salário mínimo de 937,00 reais.

MANEJO DA DOR EM FERIDAS CRÔNICAS E AÇÃO TERAPÊUTICA DO ULTRASSOM DE BAIXA FREQUÊNCIA


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54 MARIA GIRLANE SOUSA ALBURQUERQUE BRANDÃO • THIAGO MOURA DE ARAÚJO

gésica em algum momento do tratamento com USBF, medi-


cação essa sem interferência no sistema nervoso central ou
do tipo opióides. Ele era acometido por lesão por pressão e
classificava a dor como dor crônica e intensa, o mesmo não
apresentava comorbidades e ao decorrer da terapêutica
com ultrassom referiu melhora gradativa dos níveis de dor.
O participante deixou de fazer uso da terapia analgésica far-
macológica por conta própria após a segunda aplicação do
USBF.
Dos 16 integrantes do estudo 12 não relataram dor
após a aplicação do USBF (75%). Doze dos dezesseis partici-
pantes não relataram dor após a aplicação do USBF, destes
sendo nove pacientes com alívio da dor no intervalo de corte
de temporalidade de antes a durante a aplicação do USBF e
dois no intervalo de antes à aplicação a após a terapêutica
do USBF. Mostrando que a ação analgésica do USBF prova-
velmente tem intervalos distintos para a ação analgésica va-
riando para cada paciente.
Além disso, vale salientar que os pacientes com neu-
ropatia diabética mesmo com a utilização do USBF não re-
lataram dor, assim o mesmo pôde ser utilizado como coad-
juvante para a cicatrização de feridas sem trazer quaisquer
prejuízos a nível de dor para esses pacientes. Considerando
os dados percebemos que a ação terapêutica tem resultados
positivos nos pacientes que classificaram a dor como mais
intensa, cinco do total de participantes (31,25%), destaca-se
que estes apresentam lesões vasculogênicas e traumática.
Além de nenhum dos pacientes apresentar piora clínica
do quadro de dor, quatro dos pacientes após a intervenção
mantinham algum limiar de dor, mesmo este limiar sendo
reduzido pela utilização do USBF.

MANEJO DA DOR EM FERIDAS CRÔNICAS E AÇÃO TERAPÊUTICA DO ULTRASSOM DE BAIXA FREQUÊNCIA


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DISCUSSÃO

Em cerca de 90% dos casos, a dor pode ser persisten-


te e/ou exacerbada, em especial na troca do curativo. Sua
persistência causa instabilidade de humor, alterações no
padrão de sono e afeta a deambulação em até 80% dos pa-
cientes com lesões. Além disso, a dor afeta negativamente
a cicatrização, por gerar estímulos associados diretamente
a mediadores inflamatórios que retardam o processo cica-
tricial(8). Destarte, é necessário que a dor seja considerada
como um sintoma que deve ser avaliado e tratado pelos pro-
fissionais de saúde, tendo em vista que afeta além da vida
diária do paciente o processo cicatricial da ferida.
Quando não realizada uma intervenção como medi-
da para o controle da dor em pacientes com a sensibilida-
de mantida, a dor em pé diabético ocasiona problemas que
compromete toda a qualidade de vida do paciente principal-
mente o sono (9). No entanto, com o uso de medidas simila-
res ao USBF, como o laser de baixa de intensidade, indepen-
dente ou associada a ácidos graxos essenciais, apresentam
redução na área da úlcera bem como significativo alívio da
dor(10).
Na presença de úlceras venosas a dor constante é refe-
rida em mais de 80% dos casos, com maior ênfase no local da
lesão onde a dor caracteriza-se como intensa, porém, tam-
bém podendo afetar as áreas próximas a lesão e até mesmo
o membro inteiro. A redução da dor bem como do edema as-
sociado por vezes a essas lesões favorece a qualidade de vida
destes pacientes (11,12).
Os sintomas mais comuns para pessoas com úlceras
arteriais são dor no membro, claudicação intermitente,
atrofia da pele, perda de pêlos, pés frios e unhas distróficas.
Estes sintomas interferem diretamente na marcha e fazem

MANEJO DA DOR EM FERIDAS CRÔNICAS E AÇÃO TERAPÊUTICA DO ULTRASSOM DE BAIXA FREQUÊNCIA


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com que os pacientes vivam com a dor constantemente mes-


mo após a cicatrização da lesão. Sendo a reversão destes
sintomas, relacionada a normatização do fluxo sanguíneo
(13,14). As lesões por presão trazem prejuízos como o des-
conforto, o prolongamento de doenças, o retardo da alta
hospitalar e proporcionar mais suscetibilidade a quadros
infecciosos. A mortalidade nesse grupo de pessoas chega a
ser de quase 40%, sendo o índice cada vez maior conforme o
número de lesões aumenta(3).
Apesar da grande diversidade de analgésicos, nenhum
destes é isento de efeitos colaterais e seus efeitos podem ser
dos mais diversificados e acometer vários sistemas, gerando
efeitos colaterais como: distúrbios gastrointestinais, efeitos
renais, distúrbios da medula óssea e hepáticos. Além de pos-
suírem uma grande variedade de interações medicamento-
sas com os beta-bloqueadores, aumento da toxicidade do
lítio, do metotrexato do ácido valpróico, das sulfonamidas
e sulfoniluréias, assim como interferir na ação dos hipo-
glicemiantes orais e da ação da insulina Além disso, a ação
analgésica de fármacos não possuem ação cicatrizante para
feridas (15,16).
O USBF implementa ambas as vantagens terapêuticas
por acelerar o processo cicatricial e reduzir os danos deriva-
dos da lesão que acarreta em dor ao paciente de diferentes
modos e características, prejudicando o seu convívio social
e o bem-estar. Sendo empregado no processo de cuidados
com lesões ele foi facilitador da renovação do curativo em-
pregado. Além de possibilitar uma redução de uso de anal-
gésicos, excluindo assim os efeitos adversos das medicações
que retardam em muitos casos a cicatrização fisiológica da
ferida.
O uso do USBF possui grande escopo de aplicabilida-
de, podendo ser utilizado em distintos modos de terapia e

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MARIA GIRLANE SOUSA ALBURQUERQUE BRANDÃO • THIAGO MOURA DE ARAÚJO 57

de densidade de energia irradiadas, gerando alívio de dores


agudas e crônicas de diversas afecções musculoesqueléticas
e de tecidos adjacentes. Todas as modalidades apresentam
ação analgésica, além de a terapêutica não possui até o mo-
mento relatos de eventos adversos gerados em decorrência
da sua aplicação(7). A ação analgésica possui duração de até
48 horas após a aplicação da terapêutica ultrassônica que
associado a ação de angiogênese que é intensificada nesse
período de tempo(10).
Outro fato interessante é que o USBF não possui rela-
tos de interações medicamentosas, porém o mesmo reco-
nhecidamente possui um efeito chamado de fonoforese ou
sonoforese que incrementa a penetração de agentes farma-
cológicos através da pele, isso pode ser utilizado para uma
maior absorção de coberturas pelos tecidos da lesão mesmo
a absorção tópica sendo menor do que a por outras vias(7).
Assim como o USBF a terapia biofotônica do laser de
baixa intensidade possui efeitos similares, causando além
do efeito cicatricial coadjuvante o alívio da dor em pacientes
submetidos a essa terapêutica, porém, com janela terapêu-
tica menor do que a do ultrassom, sendo a sua dose requeri-
da mais precisamente calculada e com maior risco de injú-
ria tecidual em decorrência da sua administração incorreta.
Apesar de autores apontarem processos biomecânicos simi-
lares entre o ultrassom, o Led e o laser de baixa intensidade
na cicatrização de feridas, o led não foi até o momento deste
estudo avaliado quanto a sua ação analgésica(10).
Dados relatados em estudos são indicativos para o uso
desta terapia como um coadjuvante no tratamento de feri-
das, com melhora significativa do processo de cicatrização e
do relato de dor entre os participantes. Tal fato evidencia a
necessidade do enfermeiro e demais profissionais de saúde
que atuam com o cuidado de lesões a necessidade de estu-

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58 MARIA GIRLANE SOUSA ALBURQUERQUE BRANDÃO • THIAGO MOURA DE ARAÚJO

dar, pesquisar e desenvolver novas técnicas que amenizem


ou extinga a dor associada às feridas, ultrapassando as me-
didas farmacológicas e o uso de coberturas convencionais.

CONCLUSÃO

Este estudo propicia subsídios para a implementação


do USBF como um coadjuvante no tratamento de lesões de
pele e da dor associada. Traz aos profissionais atuantes, es-
pecialmente aos enfermeiros, uma nova concepção sobre o
tratamento da dor tornando-os mais independentes e ati-
vos. Além de elucidar a necessidade de novos estudos que
avaliem o controle da dor utilizando a terapia ultrassônica,
não apenas em feridas crônicas. É promissora a ação analgé-
sica da terapêutica ultrassônica, considerando que este re-
curso além de promover o alívio da dor sem efeitos adversos
observáveis até o momento atua de forma não invasiva, com
efeito durável de até 48 horas e ação custo-benefício satisfa-
tória, uma vez que o mesmo aparelho pode ser reutilizado
diversas vezes e com fácil manuseio. O uso da terapêutica
demonstra efeito analgésico durante o procedimento ali-
viando as dores e facilitando assim o término do curativo,
além de propiciar efeito duradouro melhorando as dores
crônicas e estabilizando a dor do paciente até uma próxima
sessão.

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AGRADECIMENTOS

Agradecimentos a Fundação Cearense de Apoio ao De-


senvolvimento Cientifico e Tecnológico pelo financiamento
de pesquisa.

Data de entrega: 31/05/2019.

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Propriedades e aplicação de
enzimas hidrolíticas na limpeza de
equipamentos médico-odontológicos
Priscila da Silva Freitas1
José Weslley Gonçalves de Oliveira2
Aluísio Marques da Fonseca3
Juliana Jales de Hollanda Celestino4
Daniel Freire de Sousa5
Regilany Paulo Colares6

RESUMO
As enzimas são substâncias biológicas que têm a propriedade de promover
transformações específicas em outras substâncias também biológicas. O
nome de cada enzima está associado ao substrato ou substância sobre a
qual ela age. Estas têm especificidade e eficácia em remoção de matéria
orgânica, levam à um menor custeio as fábricas, pois, economizam
energia e são biodegradáveis, tendo menos toxidade aos consumidores
e, por conseqüência, ao meio ambiente. O detergente enzimático é um
produto diferente dos outros detergentes. Isso porque em sua composição

1 Mestranda do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologia


Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do Lusofonia Afro-
Brasileira. E-mail: pry.freittas@gmail.com
2 Mestrando do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologia
Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do Lusofonia Afro-
Brasileira. E-mail: zeweselley@hotmail.com
3 Professora Colaborador do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade
e Tecnologia Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do
Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: aluisiomf@unilab.edu.br
4 Professora Orientadora do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade
e Tecnologia Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do
Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: juliana.celestino@unilab.edu.br
5 Professor Coorientador do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade
e Tecnologia Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do
Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: daniel@unilab.edu.br
6 Professora colaboradora do Instituto de Ciências Exatas e da Natureza,
Universidade da Integração Internacional do Lusofonia Afro-Brasileira.
E-mail: regilany@unilab.edu.br

PROPRIEDADES E APLICAÇÃO DE ENZIMAS HIDROLÍTICAS NA LIMPEZA DE EQUIPAMENTOS MÉDICO-ODONTOLÓGICOS


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vamos encontrar uma determinada combinação de tensoativos, pH e


enzimas. Ele se diferencia dos detergentes comuns especialmente por
esse aspecto e por seu uso, como veremos mais adiante. O produto não
espuma, o seu pH é neutro (fator importante em sua aplicação), ele não é
corrosivo, não irrita e tem a vantagem de ser biodegradável. O detergente
enzimático é um produto desenvolvido para proporcionar um efeito
limpador de alta eficácia. Seu uso é voltado para a dissolução de material
orgânico a exemplo de resíduos de tecidos corpóreos, muco, pus, sangue,
entre tantas outras sujidades que possam aderir ao instrumental usado
no ambiente odontológico e hospitalar. Sendo assim é fácil entender o
motivo de o detergente enzimático ser indicado para esse tipo de limpeza.
Palavras-chave: enzimas hidrolíticas. odontologia. Higiene bucal.

PROPERTIES AND APPLICATION OF HYDROLYTIC ENZYMES IN


THE CLEANING OF MEDICAL-ODONTOLOGICAL EQUIPMENT

ABSTRACT
Enzymes are biological substances that have the property to promote
specific transformations in other biological substances as well. The name
of each enzyme is associated with the substrate or substance on which it
acts. These have specificity and efficacy in the removal of organic matter,
lead to a lower costing the factories, because they save energy and are
biodegradable, having less toxicity to consumers and, consequently, to
the environment. Enzymatic detergent is a different product than other
detergents. This is because in its composition we will find a certain
combination of surfactants, pH and enzymes. It differs from the common
detergents especially by this aspect and by its use, as we will see later.
The product does not foam, its pH is neutral (important factor in its
application), it is not corrosive, does not irritate and has the advantage of
being biodegradable. The enzymatic detergent is a product developed to
provide a cleaner effect of high efficacy. Its use is aimed at the dissolution
of organic material such as residues of body tissues, mucus, pus, blood,
among many other dirties that can adhere to the instrumental used in the
dental and hospital environment. Thus it is easy to understand why the
enzymatic detergent is indicated for this type of cleaning.
Keywords: hydrolytic enzymes. Dentistry. Oral hygiene.

INTRODUÇÃO

As enzimas têm sido utilizadas pelo homem há vários


séculos. O emprego das enzimas começou bem antes de se

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conhecer a sua natureza e propriedades, quando por exem-


plo, Spallanzani (1783) observou pela primeira vez a reação
de degradação da carne pelo suco gástrico e Kirchhoff, em
1814, percebeu que a proteína da cevada era capaz de lique-
fazer o amido em açúcar. Porém, a palavra enzima só foi uti-
lizada pela primeira vez em 1878 por Kühne, época na qual
se acreditava que as enzimas só eram ativas em células vivas,
conceito que perdurou até 1897, quando Büchner observou
que células de leveduras prensadas ainda apresentava pro-
priedade fermentativa.1
Foi somente a partir das primeiras décadas do século
XX que o desenvolvimento de estudos e tecnologias de en-
zima se intensificou, e foi possível definir as enzimas como
macromoléculas que catalisam reações bioquímicas cuja
estrutura tridimensional é altamente complexa, formada
pelo dobramento espontâneo de um polipeptídio linear de
cadeia.1,2
Do ponto de vista industrial, as enzimas apresentam
características notáveis devido sua especificidade por dado
substrato, promoção de reação específica, além de diminu-
tos problemas ambientais e toxicológicos.1 Por esses moti-
vos, atualmente, as enzimas são utilizadas em um gama de
processos bem definidos seja na indústria alimentícia 3,4,5,
agricultura 6, biologia molecular e biomedicina 7,8.
Ao longo das décadas as enzimas têm sido um fator
importante também no desenvolvimento e aprimoramento
de produtos detergentes, sejam de uso doméstico e prin-
cipalmente nos indicados para limpeza de equipamentos
odontológicos e médico-hospitalares. Os tipos de enzimas
produzidas para detergentes são proteases, amilases, lipa-
ses e celulases; elas agem como biocatalisadoras em reações
bioquímicas, decompondo estruturas moleculares comple-
xas em estruturas mais simples facilitando sua dissolução.9

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Na presente revisão, será abordada uma análise cien-


tífica do uso de enzimas em produtos destinados à limpe-
za/desinfecção de equipamentos utilizados na assistência
à saúde, será dado foco às propriedades e mecanismos de
ação dessas enzimas. Serão abordadas também as prin-
cipais marcas comerciais que fazem uso desta tecnologia
destacando-as quanto à sua composição, características e
informações do fabricante. Com objetivo precípuo de reunir
os principais conceitos e aplicações desta temática voltado
para profissionais de saúde que atuem em setores de bios-
segurança em saúde, preenchendo esta lacuna que há na
literatura de informações sobre o assunto voltado para pro-
fissionais de saúde.

Enzimas proteolíticas

As enzimas foram divididas em seis classes de acordo


com o tipo de reação que catalisam: oxirredutase, transfera-
se, hidrolases, liases, isomerases e ligase. As principais enzi-
mas utilizadas em produtos de limpeza voltados para à saú-
de são enzimas hidrolíticas as quais são assim classificadas
por catalisarem reações de hidrólise de ligação covalente,
dessa forma, apresentam a capacidade de decompor estru-
turas moleculares complexas em estruturas mais simples,
facilitando sua dissolução 9,10.
As enzimas hidrolíticas podem ser observadas como
enzimas que hidrolisam cada uma das três principais clas-
ses de macromoléculas biológicas: polipéptidos, polissaca-
rídeos e ácidos nucléicos. Essas são também divididas em
subclasses de acordo com o tipo de macromolécula que hi-
drolisam, por exemplo: proteases (hidrolisam proteínas),
lipases (hidrolisam lipídeos), amilase (hidrolisa carboidra-
tos), celulase (hidrolisa celulose), dentre outras 9,11.

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Dessa forma, os compostos que contêm combinação


balanceada desses elementos apresentam a capacidade de re-
mover a matéria orgânica do artigo em aproximadamente três
minutos. As enzimas agem sobre a matéria orgânica, decom-
pondo o sangue e os fluídos corpóreos aderidos aos artigos 12.
Segundo a resolução normativa nº 1/78 da Agência Na-
cional de Vigilância Sanitária (ANVISA), as enzimas devem
ser administradas como aditivos ou coadjuvantes em sane-
antes, apenas as enzimas amilolíticas, proteolíticas, lipolí-
ticas e as celulases podem ser utilizadas 13. Nas seções a se-
guir serão apresentadas as principais características dessas
enzimas.

Protease
As proteases representam a classe de enzimas que
ocupam uma posição fundamental em relação aos seus pa-
péis fisiológicos, bem como suas aplicações comerciais. De-
sempenham função degradativas e sintéticas, são fisiologi-
camente necessárias para os organismos vivos e ocorrem em
uma grande diversidade de fontes, como plantas, animais e
microorganismos. Estes últimos são uma fonte atrativa de
proteases devido ao espaço limitado necessário para o cul-
tivo e a pronta susceptibilidade à manipulação genética 14.
As proteases catalisam a quebra de ligações peptídi-
cas em proteínas. São enzimas da classe 3, as hidrolases, e
subclasse 3.4, as peptídeos-hidrolases ou peptidases. Cons-
tituem uma grande família, dividida em endopeptidases e
exo-peptidases, de acordo com a posição da ligação peptídi-
ca a ser clivada na cadeia14.
As proteases são um grupo muito importante de enzi-
mas e representam quase 60% das vendas totais de enzimas,
já que são utilizadas nas indústrias de alimentos, farma-
cêutica, detergentes e várias outras 15,16. São utilizadas em

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vários tipos de detergentes cuja função é a degradação de


compostos tipicamente protéicos como sangue, carne, suor
humano, dentre outras secreções humanas. A atividade e a
estabilidade em valores altos de pH e temperatura e a com-
patibilidade com agentes quelantes e oxidantes estão entre
os requisitos principais para o uso de proteases em deter-
gentes enzimáticos 9,17,18.
Os principais microrganismos produtores de protea-
ses são Aspergillus sp., Bacillus clausii, Bacillus licheniformis,
Bacillus licheniformis E-44, Bacillus licheniformis MIR 29, Ba-
cillus sp. termofílico-cepa SMIA-2, Bacillus sp., Bacillus sub-
tilis, dentre muitas outras anaeróbias. Uma protease bem
caracterizada e amplamente utilizada é a protease alcalina,
produzida pelo gênero Bacillus (B. subtilis, B. licheniformis, B.
amyloliquefaciens) 14, 18,19, 20, 21.

Amilase
As amilases são enzimas catalisadoras de hidrólise da
amilopectina da amilose e também do glicogênio em malto-
se e dextrinas. Na saliva encontra-se uma forma de alfa-ami-
lase denominada de ptialina e no pâncreas temos a amilase
pancreática. Atualmente, essas enzimas compreendem cer-
ca de 30% da produção de enzimas do mundo.
A α-amilase encontra-se presente nos mamíferos, al-
guns cereais fungos e bactérias, é a enzima que fragmenta
polissacarídeos maior tamanho molecular, tais como o ami-
do e o glicogênio, em moléculas de maltose e dextrinas. Es-
pecificamente ela catalisa a hidrólise de ligações glicosídi-
cas α-D(1→4) 28.
Na aplicação industrial a amilase é usada na constitui-
ção de alguns detergentes e auxiliam na remoção de resídu-
os que contém amido. Na engenharia de enzimas, elas são
produzidas por Bacilus licheniformis, B. amyloliquefaciens.

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Possuem alta resistência ao pH alcalino e a elevadas tempe-


raturas. Seu mecanismo de ação está relacionado com a hi-
drólise do amido transformando-o em oligômeros de cadeia
curta que são facilmente degradados por outras enzimas
também presentes nos detergentes29.

Celulase
Celulases são enzimas que constituem um complexo
capaz de atuar sobre materiais celulósicos, promovendo sua
hidrólise. Estas enzimas são biocatalisadores altamente es-
pecíficos que atuam em sinergia para a liberação de açúca-
res, dos quais glicose é o que desperta maior interesse indus-
trial, devido à possibilidade de sua conversão em etanol30,31.
As enzimas celulases utilizadas a nível industrial são
produzidas por Bacillus sp. ou Humicola sp. Seu pH ideal é
sete, contudo, possui excelente resistência a pH mais ele-
vado. Seu mecanismo de ação permite a modificação das fi-
brilas celulósicas (como a do algodão), consequentemente,
degradam o tecido das roupas de algodão32.

Lipase
As lipases constituem o grupo mais importante de
biocatalisadores para aplicações biotecnológicas. A produ-
ção de alto nível de lipases microbianas requer não apenas
a sobreexpressão eficiente dos genes correspondentes, mas
também uma compreensão detalhada dos mecanismos mo-
leculares que regem sua dobra e secreção33.
A otimização das propriedades da lipase industrial-
mente relevantes pode ser alcançada por evolução direta.
Além disso, novas aplicações biotecnológicas foram esta-
belecidas com sucesso, utilizando lipases para a síntese de
biopolímeros e biodiesel, a produção de produtos farmacêu-
ticos enantiopura, agroquímicos e compostos saborosos.

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Detergentes enzimáticos

A ANVISA define detergente enzimático como pro-


duto cuja formulação contém, além de um tensoativo, pelo
menos uma enzima hidrolítica da subclasse das proteases,
podendo ser acrescida de outra enzima da subclasse das
amilases e demais componentes complementares da formu-
lação, inclusive de outras subclasses, tendo como finalidade
remover a sujidade clínica e evitar a formação de compostos
insolúveis nas superfícies de dispositivos e equipamentos 23.
A contribuição do desenvolvimento de detergentes
para humanidade permitiu a melhoria de hábitos de hi-
giene que culminaram com a diminuição da incidência de
doenças. A ideia de incorporar enzimas aos detergentes foi
do alemão Otto Röhm que em 1913 patenteou o uso de pro-
teases pancreáticas nessas formulações para melhorar sua
capacidade de remover manchas, porém sua aplicabilidade
foi bem limitada devido à instabilidade dessas enzimas em
meio alcalino. Somente no final dos anos de 1950 surgiram
as proteases bacterianas, sendo a primeira a Alcalase® fa-
bricada pela Novo Nordisk (Dinamarca), a qual apresentou
propriedades bem-estáveis e são utilizadas até hoje na com-
posição de detergentes 24.
No Brasil, o primeiro detergente enzimático fabricado
foi o Biotex® em 1968, seguido do Viva® em 1978, ambos tive-
ram baixa aceitabilidade devido aos custos maiores que os
detergentes convencionais 9.
Não se é conhecido quando os detergentes enzimáticos
passaram a ser indicados para a limpeza de equipamentos
médico-odontológicos no Brasil. O que se sabe é que foi ape-
nas no ano de 2012 que a ANVISA publicou a resolução nº55 a
qual dispõe sobre os detergentes enzimáticos de uso restrito
em estabelecimento de saúde, estabelecendo definições, ca-

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racterísticas gerais, requisitos técnicos e de rotulagem para


o registro desses produtos, bem como sua comercialização e
seu uso restrito a ambientes de assistência à saúde 23.
O detergente enzimático é um produto desenvolvi-
do para proporcionar um efeito limpador de alta eficácia.
Seu uso é voltado para a dissolução de material orgânico a
exemplo de resíduos de tecidos corpóreos, muco, pus, san-
gue, entre tantas outras sujidades que possam aderir ao
instrumental usado no ambiente odontológico e hospitalar.
Sendo assim, é fácil entender o motivo de o detergente en-
zimático ser indicado para esse tipo de limpeza, haja vis-
ta que os detergentes comuns e até mesmo os neutros são
destinados para limpeza doméstica pois não decompõem
matéria orgânica 25.
Diversos produtos para a saúde, dentre a maior parte
dos instrumentais cirúrgicos, são planejados com a finali-
dade de permitir sua reutilização em diversos pacientes du-
rante sua vida útil. Desta forma, as técnicas empregadas no
processamento destes materiais devem permitir a obtenção
de itens seguros tanto para profissionais quanto para pa-
cientes, evitando a ocorrência de qualquer evento adverso
relacionado ao seu uso. Por isso, a redução de carga micro-
biana, observada primeiramente durante a etapa de limpe-
za, é um pré-requisito essencial para minimizar o risco de
transmissão de microrganismos bem como de seus produ-
tos que podem permanecer nos equipamentos. Dessa forma,
o reprocessamento dos artigos compreende um conjunto de
ações interdependentes, incluindo pré-lavagem, recepção,
limpeza, preparo, desinfecção e/ou esterilização, armaze-
namento e distribuição de produtos. Cada etapa deve ser
realizada de acordo com normas e padronizações definidas,
a fim de se obter um produto final que ofereça qualidade e
garanta segurança para novas utilizações 26,27.

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Principais marcas comerciais e produtos

As principais marcas comerciais de detergentes enzi-


mático comercializados no Brasil, são: Rioquímica (Riozyme
Eco, Riozyme IV e neutro, Deter Rio); Asfer (Detergent enzi-
mático V enzimas, Asfer); Nova DFL ( Endozime AW Plus);
3m (Detergente multienzimático); LabNews (Neozime 5).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As propriedades catalíticas efetivas das enzimas já


promoveram sua introdução em vários produtos e proces-
sos industriais. Os recentes desenvolvimentos em biotecno-
logia, particularmente em áreas como engenharia protéica e
evolução direta, forneceram ferramentas importantes para
o desenvolvimento eficiente de novas enzimas.
A melhoria de ferramentas e de processos no âmbito
da biotecnologia favorece o desenvolvimento de mecanis-
mos que barateiam tecnologias preexistentes.
Isso resultou no desenvolvimento de enzimas com
propriedades melhoradas para aplicações técnicas estabe-
lecidas e na produção de novas enzimas feitas sob medida
para áreas de aplicação inteiramente novas onde as enzimas
não foram usadas anteriormente.

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Data de Submissão: 05/07/2019.


Data de aprovação: __________.
DOI: 10.0000/0000-057x20160000.

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76 OLIENAIDE RIBEIRO DE OLIVEIRA PINTO • JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER

Utilização de produtos naturais


no controle de pragas: revisão
bibliográfica exploratória
Ana Isabel Pinheiro1
Aluísio Marques da Fonseca2
Aiala Vieira Amorim3
Regilany Paulo Colares4
Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto5
Juan Carlos Alvarado Alcócer6

RESUMO
O uso frequente e indiscriminado de produtos químicos sintéticos
para o controle de pragas, desencadeia uma série de consequências
negativas. Essas consequências incluem problemas relacionadas ao
ambiente e à saúde humana e animal. Considerando a necessidade
de busca por novas alternativas, vêm sendo desenvolvidas muitas
pesquisas utilizando produtos naturais eficientes e ecologicamente
corretos, que possuem potencial no combate a pragas. Diante
disso, este trabalho teve como objetivo a realização de uma revisão

1 Mestranda do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologia


Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do Lusofonia Afro-
Brasileira, email: isabelmoreira1@hotmail.com
2 Professor colaborador do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade

e Tecnologia Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do


Lusofonia Afro-Brasileira, email: aluisiomf@unilab.edu.br
3 Professora Orientadora do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade

e Tecnologia Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do


Lusofonia Afro-Brasileira, email: aialaamorim@unilab.edu.br
4 Professora colaboradora do Instituto de Ciências Exatas e da Natureza,

Universidade da Integração Internacional do Lusofonia Afro-Brasileira,


email: regilany@unilab.edu.br
5 Estudante de pós-graduação do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade

e Tecnologia Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do


Lusofonia Afro-Brasileira, email: agron.olienaide@gmail.com
6 Professor colaborador do Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade

e Tecnologia Sustentáveis, Universidade da Integração Internacional do


Lusofonia Afro-Brasileira, email: jcalcocer@unilab.edu.br

UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS NO CONTROLE DE PRAGAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EXPLORATÓRIA


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OLIENAIDE RIBEIRO DE OLIVEIRA PINTO • JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER 77

bibliográfica acerca da utilização de produtos naturais como


alternativa sustentável
Palavras-chave: produtos naturais. inseticidas. pragas.

USE OF NATURAL PRODUCTS IN PEST CONTROL:


EXPLORATORY BIBLIOGRAPHIC REVIEW

ABSTRACT
The frequent and indiscriminate use of synthetic chemical products
for pest control triggers a series of negative consequences. These
consequences include problems related to the environment and human
and animal health. Considering the need to search for new alternatives,
many researches have been developed using efficient and environmentally
friendly natural products, which have potential in combating pests.
Therefore, this study aimed at conducting a bibliographic review on the
use of natural products as a sustainable alternative
Keywords: natural products. Insecticides. Pests

INTRODUÇÃO

A produção de alimentos agrícolas em pequena e larga


escala está sujeita aos danos causados por pragas e doenças.
Esses danos são um dos fatores que concorrem para a baixa
produtividade das culturas agrícolas em diversos países. Em
adição, também podem interferir na qualidade do produto,
reduzindo o seu valor de mercado. Tradicionalmente, utili-
za-se o tratamento químico para o controle dessas pragas e
doenças. Entretanto, o emprego indiscriminado e contínuo
de inseticidas químicos favorece o desenvolvimento de re-
sistência aos inseticidas (HERRON e COOK, 2002). Além de
reduzir a população de inimigos naturais e produzir dese-
quilíbrios ambientais nas culturas e demais populações ve-
getais e animais presentes no ecossistema afetado. Em re-
lação ao ser humano, o uso de pesticidas químicos resulta
em consequências que incluem problemas de saúde agudos
e crônicos, oriundos do consumo de água e alimentos con-

UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS NO CONTROLE DE PRAGAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EXPLORATÓRIA


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taminados com esses ativos (DEIHIMFARD et al., 2009). De


acordo com Azevedo (1998), existem vários casos compro-
vados de óbito por envenenamento provocado por agrotóxi-
cos, divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esse cenário exige o emprego de uma abordagem al-
ternativa ao uso desses agrotóxicos, que envolvam menos
riscos ao homem e ao ecossistema, de modo geral. De fato,
a busca de alternativas com menor impacto ambiental, que
auxiliem no controle de danos provocados por pragas e do-
enças em produtos agrícolas, tem sido uma constante na
pesquisa nos últimos anos. Dentre as estratégias estudadas
destacam-se a utilização de fungos etomopatogênicos e de
extratos vegetais como inseticidas alternativos.
Os fungos entomopatogênicos são promissores agen-
tes para controle de pragas, pois possui uma ampla varieda-
de de hospedeiros e possibilidade de cultivo em laboratório
(LEITE, et al., 2003). De fato, os fungos possuem a capacidade
de colonizar diversas espécies de insetos e ácaros, infectan-
do os hospedeiros em todos os estágios de desenvolvimento,
inclusive estágios tais como ovos e pupas. Outra vantagem
é que produtos à base de fungos são, em geral, menos one-
rosos que os inseticidas convencionais (NEVES et al., 2006).
As plantas também representam um considerável re-
curso para o controle alternativo de pragas e doenças. De
acordo com Guerra (1985) existe uma lista com cerca de 2
mil plantas com potencial de uso para o controle de pragas
e doenças.
Assim, este trabalho tem por propósito identificar
aplicações alternativas para o controle de pragas e doenças
em produtos agrícolas. A descrição dessas aplicações permi-
te ampliar o horizonte de alternativas ao uso de inseticidas
químicos.

UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS NO CONTROLE DE PRAGAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EXPLORATÓRIA


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METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho revisional teórico que utiliza


como recurso metodológico a revisão bibliográfica explora-
tória. Para a consecução do trabalho foram empregadas qua-
tro etapas:
Na primeira etapa, foram definidos os parâmetros
para a realização da revisão bibliográfica exploratória. O
propósito da revisão foi identificar artigos contendo aplica-
ção de inseticidas naturais para o controle de pragas e do-
enças, com o intuito de identificar os potenciais benefícios
dessas aplicações como alternativa ao inseticida químico. Na
segunda etapa, as buscas foram realizadas em duas bases de
dados, google acadêmico e Scielo, com a utilização das pala-
vras-chave “inseticidas naturais e bioinseticidas”. As buscas
realizadas nas bases retornaram 30 artigos. Estas buscam
foram realizadas no dia 18/06/2017. Na terceira etapa, foram
selecionados 15 artigos. Na quarta etapa, os artigos foram li-
dos na íntegra e coletados os dados dos estudos. Estes dados
foram analisados e sintetizados.

ALTERNATIVAS NATURAIS PARA O CONTROLE DE


PRAGAS

Nesse trabalho, foram analisados 15 artigos com pro-


postas alternativas aos inseticidas químicos no controle de
pragas e doenças de produtos agrícolas. Assim, nas linhas
subsequentes são apresentadas algumas alternativas natu-
rais à base de extratos de plantas com propriedades fitossa-
nitárias e à base de fungos entomopatogênicos.
No trabalho de Alves (1992) são discutidos alguns as-
pectos sobre a potencialidade da utilização de fungos ento-
mopatogênicos no Brasil e os problemas que limitam a ma-

UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS NO CONTROLE DE PRAGAS: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EXPLORATÓRIA


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nipulação desses agentes no controle biológico de insetos.


O autor destacou algumas das principais estratégias para
utilização de fungos entomopatogênicos. A estratégias apre-
sentadas foram a introdução inoculativa, com a finalidade
de suprimir, lentamente, a praga, em locais onde o fungo
não está presente; a introdução inundativa, visando a su-
pressão rápida da praga pela liberação de uma grande quan-
tidade de patógeno; a incrementação, em situações onde o
aparecimento do fungo é tardio e, assim, não consegue evi-
tar a ocorrência de danos nas plantas; a conservação, que
pode envolver a manipulação do ambiente ou utilização ode
defensivos químicos seletivos. Além disso, o autor catalogou
cerca de 25 fungos entomopatogênicos utilizados no Brasil,
ou seja, fungos com características favoráveis para aserem
manipulados nos esquemas de manejo integrado de pragas.
Também destacou as principais dificuldades para o empre-
go de fungos entomopatogênicos, tais como a inexistência
de pessoal qualificado para a classificação, determinação e
caracterização desses agentes, bem como ausência de estu-
dos de epizootiologia e de meios e processos especiais para a
produção de determinados fungos.
No artigo de Trindade et al. (2000), os autores estu-
daram o efeito tóxico do extrato metanólico da amêndoa da
semente de nim na mortalidade de ovos e lagartas de Tuta
absoluta. Essa praga, também conhecida como traça-do-to-
mateiro, é considerada uma das pragas mais importantes da
cultura do tomateiro no Brasil, causando danos às gemas,
brotos terminais, flores, folhas e frutos. Para a consecu-
ção do trabalho, os experimentos foram desenvolvidos no
Laboratório de Biologia de Insetos, área de Fitossanidade,
Departamento de Agronomia da Universidade Federal Ru-
ral de Pernambuco. O experimento constou das seguintes
etapas: condução da cultura, criação da traça-do-tomateiro.

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Preparo dos extratos a partir de sementes de nim, avaliação


dos efeitos dos extratos na mortalidade de ovos e dos efeitos
dos extratos na mortalidade de lagartas. Os pesquisadores
verificaram que os extratos metanólicos da amêndoa da se-
mente de nim causam elevada mortalidade em lagartas da
traça-do-tomateiro mas, não afetam a viabilidade de ovos e
o período de incubação da traça-do-tomateiro. Assim, os au-
tores constataram que os produtos derivados de nim podem
ser adequados e de grande interesse para o controle dessa
praga. Além disso, esses compostos apresentam considerá-
vel seletividade para inimigos naturais de pragas, especial-
mente parasitoides e predadores, como também podem ser
misturados com outros bioprodutos que possam aumentar
sua eficácia.
Soares et al. (2001), na busca contínua por novos com-
postos de inseticidas naturais, objetivou-se, avaliar o efeito
inseticida de cinco óleos essenciais: pimenta-longa (Piper
hispidinervum C.DC.), capim-limão (Cymbopogon citratus
Stapf), limão (Citrus limon [L.] Osbeck), cravo-da-índia (Syzy-
gium aromaticum [L.] Merr. & L.M.Perry) e alecrim (Rosma-
rinus officinalis L.) sobre a lagarta desfolhadora Thyrinteina
arnobia (Stoll) (Lepidoptera: Geometridae). A ação dos óleos
foi testada sobre lagartas de 3° ínstar. Pelos resultados apre-
sentados, pode-se inferir que os óleos essenciais de pimen-
ta-longa (Piper hispidinervum), capim-limão (Cymbopogon ci-
tratus) e Cravo-da-índia (Syzygium aromaticum) se mostram
como promissores inseticidas contra a lagarta desfolhadora
T. arnobia.
No trabalho de Uhry (2007), foi realizada uma revisão
de literatura relacionada a utilização do fungo entomopa-
togênico Beauveria bassiana no controle biológico de pra-
gas no Brasil. Foram analisados trabalhos publicados entre
2002 e 2007. Constatou-se que diversas linhagens do fungo

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82 OLIENAIDE RIBEIRO DE OLIVEIRA PINTO • JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER

poderiam ser empregadas para o controle biológico de pra-


gas em uma míriade de culturas ou no combate a insetos
transmissores de doenças. A autora verificou que a criação
de um bioinseticida, a partir esse fungo, necessita de mais
análises e estudos para a determinação da dose adequada e
das linhagens mais eficientes contra determinados insetos-
-praga. Entretanto, apesar dos benefícios, este fungo pode
acarretar infecções oportunistas em indivíduos imunocom-
prometidos. A despeito dessa limitação, os micoinseticidas
representam uma alternativa ao uso dos agrotóxicos quími-
cos, que são altamente tóxicos aos seres humanos e ao meio
ambiente.
Costa et al. (2008) avaliaram o efeito inseticida do ex-
trato hexânico da polpa de Piper tuberculatum sobre o “ca-
runcho” (Callosobruchus maculatus), que é considerado a
praga mais importante do feijão caupi, variedade xique xi-
que. O experimento foi desenvolvido no Laboratório de En-
tomologia, do Departamento de Biologia da Universidade
Federal do Piauí. Verificou-se que o composto provocou re-
dução na oviposição e mortalidade da C. maculatus em todas
as dosagens testadas, havendo uma tendência de menor ovi-
posição com o aumento da concentração. Portanto, o com-
posto produzido possui efeito inseticida sobre o “caruncho”.
Belo et al. (2009) realizaram um estudo com o objeti-
vo de avaliar o efeito bioinseticida dos extratos etanólicos
da casca do caule de Tabernaemontana catharinensis A.DC.
(Apocynaceae) e das folhas de Zeyheria montana Mart. (Big-
noniaceae) sobre as diferentes fases de desenvolvimento
de Z. indianus. Z. indianus é uma espécie de mosca invasora
que tem se tornado uma praga relevante da cultura de figos,
particularmente na região sudeste do Brasil. Neste contex-
to, quando considerada a fase adulta da mosca, os dados ob-
tidos não revelaram um padrão de mortalidade diferencial

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para os tratamentos com os extratos. Entretanto, ambos os


tratamentos afetaram seletivamente o grau de emergência
de imagos de Z. indianus, o que pode ser de relevância no de-
senvolvimento de novas estratégias de combate a este inseto.
Com a tentativa de minimizar impactos ambientais
causado por produtos sintéticos, os autores Silva et al (2009),
realizaram um estudo objetivando demostrar a atividade
inseticida no Azadirachta indica, conhecida popularmen-
te por nim, sobre insetos-pragas e predadores nos diversos
agroecossistemas. Os ingredientes típicos do nim são os tri-
terpenóides, também chamados de limonóides, dos quais a
azadiractina, nimbina e salanina são os mais importantes,
com efeitos específicos nas diferentes fases de crescimen-
to dos insetos. A utilização de produtos de origem vegetal
constitui-se numa alternativa segura para o uso inadequado
de agrotóxicos. Nimbina e salanina causam principalmente
efeitos repelentes e antialimentar em vários insetos das or-
dens Coleoptera (adultos), Hemiptera (adultos) e Orthoptera
(MENEZES, 2005). A azadiractina e seus derivados causam,
geralmente, inibição de crescimento e alteram a metamor-
fose de larvas de Lepidoptera, Coleoptera, Hymenoptera e
Diptera e ninfas de Orthoptera. Atua como antialimentar,
principalmente em adultos de Coleoptera, Hemiptera e
­Orthoptera.
Os autores Rando et al (2009), elaboraram um estudo
sobre o efeito do extrato das plantas de fumo Nicotiana taba-
cum, alfavaca Ocimum gratissimum e cavalinha Equisetum sp.
Esses extratos foram estudados para o controle do piolho-
-da-couve Brevicoryne brassicae em couve manteiga Brassica
oleracea var. acephala em Bandeirantes-PR. Os tratamentos
consistiram em duas técnicas diferentes de extração: 1) a
quente por decocção do material fresco e 2) a frio após seca-
gem e moagem do material. Em ambas as técnicas obteve-se

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por diluição as concentrações de 2,5, 5,0 e 10%. De acordo


com os resultados os extratos naturais de fumo seco a 5% e
fumo seco 10% foram os mais eficientes no controle de adul-
tos do pulgão B. brassicae nas condições testadas.
Segundo os autores Szymczak et al (2009), a cultura de
pepino (Cucumis sativus) orgânico tem grande importância
no cenário orgânico, tendo como principal praga o pulgão
Aphis gossypii, conhecido por piolho de algodão. Assim, ava-
liaram o efeito de inseticidas orgânicos sobre A. gossypii. Em
laboratório, foram testados quatro extratos (sabão neutro,
arruda, extrato de alho e de pimenta do reino) e água des-
tilada como testemunha. Avaliou-se durante quatro dias a
mortalidade e a fecundidade dos pulgões. Verificou-se que
todos os tratamentos causaram elevada mortalidade em A.
gossypii, exceto o extrato de pimenta do reino, Os tratamen-
tos a base de sabão neutro e arruda foram os mais eficientes,
causando 100 e 77,5% de mortalidade, respectivamente.
Dalzoto e Uhry (2009) trataram do controle biológico
de pragas e mecanismos para manejo adequado de insetos-
-praga. Destacam a utilização de bioinsetidas, em especial
aqueles baseados no fungo Beauveria bassiana. Os pesquisa-
dores constataram, com base em revisão de literatura, que
micoinseticidas que têm esse fungo como ingrediente ativo
são muito eficientes para o combate de diversas pragas, po-
dendo ser encontrado em uma variedade de insetos-praga
e/ou no solo. Dentre as vantagens destacadas pelos autores,
pode-se citar o fato de que os conídios desse parasita podem
penetrar em qualquer parte da cutícula do inseto-praga.
Outro ponto enfatizado no artigo é a necessidade de uma
maior padronização no que diz respeito à formulação do mi-
coinseticida. De fato, são necessários testes criteriosos em
laboratório e em campo para a determinação das dosagens
adequadas. No artigo também são apresentados alguns dos

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bioinseticidas desenvolvidos no Brasil, à partir de esporos


do fungo B. bassiana, tais como o BOVERIL e o BOVERIL WP.
Esses bioinseticidas são úteis para o controle de diversos in-
setos-praga, como, por exemplo, o ácaro rajado (Tetranychus
urticae), moleque-da-bananeira (Cosmopolites sordidus), a
mosca branca (Bemisia tabaci), dentre outros.
Autores como Souza et al. (2011) avaliaram a ação tóxi-
ca e fagoinibidora de óleos essenciais de espécies de eucalip-
to que são elas: Corymbia citriodora, Eucalyptus urograndis e
E. urophylla para o controle de praga Spodoptera frugiperda
(J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae), conhecida co-
mumente por Lagarta-do-cartucho em milho em ensaios de
laboratório e semi-campo. Constatou-se que os óleos essen-
ciais testados apresentaram toxicidade tópica, sendo o de C.
citriodora mais eficiente por ocasionar maior taxa de morta-
lidade. Verificou-se que os 3 óleos essenciais apresentaram
atividade antialimentar em relação à testemunha. A aplica-
ção dos óleos essenciais de C. citriodora e E. urograndis por
pulverização mostraram-se promissoras para a proteção do
cultivo.
A finalidade da pesquisa de Soares et al. (2012) foi a
avaliação, em laboratório, da eficiência do controle biológi-
co e de diferentes dosagens dos fungos Beauveria bassiana e
Metarhizium anisopliae para o controle do Cosmopolite sor-
didus. Os experimentos foram realizados no Laboratório de
Pesquisa em Entomologia Experimental e no Laboratório de
Fitopatologia e Microbiologia do Centro Universitário de Pa-
tos de Minas, MG. O Cosmopolite sordidus é um inseto-praga
que se encontra distribuído geograficamente em boa parte
do mundo. É também conhecido como “broca da bananeira”,
pois é um inseto que prejudica a bananeira abrindo galerias
nos rizomas e parte inferior dos pseudocaules através de
suas larvas. Para os testes, os autores empregaram isolados

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dos fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae em


sua dosagem comercial recomendada e, em frações dessa
dosagem. A partir desses experimentos, constatou-se que o
fungo mais eficiente foi o B. bassiana , utilizado na dosagem
recomendada pelo fabricante, sendo promissor para o con-
trole efetivo do Cosmopolite sordidus no campo.
O objeto de estudo desenvolvido por Guimarães et al
(2014), foi avaliar o efeito repelente, inseticida e fagoinibi-
dor de extratos de pimenta dedo-de-moça Capsicum bacca-
tum (Willd.) Eshb. (Solanaceae) sobre o gorgulho do milho
Sitophillus zeamais (Coleoptera: Curculionidae). O efeito
repelente/atraente foi avaliado utilizando quatro arenas/
repetições, nas quais foram adicionados os extratos vegetais
nas concentrações 0; 2,5; 5; 10 e 20% e 140 insetos e, após
24 horas, efetuou-se a contagem de insetos. A mortalidade
foi avaliada diariamente durante 10 dias. Verificaram que
os extratos aquosos de sementes de pimenta apresentaram
atividade repelente na concentração de 20% e apresentaram
atividade inseticida independente da concentração. Efeito
correlato foi obtido com extratos alcoólicos de frutos, que
apresentaram atividade inseticida e fagoinibidora na con-
centração de 20%. A utilização de extratos vegetais de pi-
menta dedo-de-moça constitui alternativa de controle sobre
o gorgulho do milho.
De acordo com os autores Sousa et al (2014), o uso fre-
quente e indiscriminado de produtos químicos, para o con-
trole de insetos-praga, muitas vezes acarreta a presença de
altos níveis de resíduos tóxicos nos alimentos, desequilíbrio
biológico, contaminações ambientais, intoxicações de seres
humanos e outros animais. Uma alternativa para atenuar es-
ses problemas é a utilização de substancias naturais extraí-
das de plantas. Dessa forma, objetivou-se com este estudo, a
realização de uma revisão bibliográfica acerca da utilização

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de plantas como repelentes e inseticidas naturais como al-


ternativas de produção sustentável na agricultura familiar.
Para Pereira (2012), as vantagens das substâncias botânicas
são óbvias: a maioria é de baixo custo; estão ao alcance do
agricultor; algumas são muito tóxicas, mas não têm efeito
residual prolongado e se descompõem rapidamente. Os ex-
tratos vegetais com atividade inseticida representam uma
alternativa importante de controle de insetos-praga em pe-
quenas áreas de cultivo, como as hortas, situação na qual a
produção de extratos torna-se viável (DEQUECH et al., 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pôde-se constatar a partir dos artigos catalogados,


que existem duas vertentes alternativas para o combate às
pragas e doenças dos produtos agrícolas. Essas vertentes
envolvem produção de bioinseticidas à base de extratos de
plantas com propriedades fitossanitárias e de compostos à
base de fungos entomopatogênicos.
No que diz respeito aos micoinseticidas, existe uma
grande variedade de fungos entomopatogênicos com carac-
terísticas favoráveis para serem manipulados nos esquemas
de manejo integrado de pragas. Mas, a despeito dessa infor-
mação, ainda existem limitações em relação ao seu uso, pois,
a quantidade de pessoas qualificadas para a classificação,
determinação e caracterização desses agentes é escassa.
Além disso, ainda existe uma carência de meios e processos
especiais para a produção de determinados fungos.
Em relação aos produtos inseticidas oriundos de ve-
getais, verificou-se, nessa revisão exploratória, que a utili-
zação desses produtos se constitui numa alternativa segu-
ra para o uso inadequado de agrotóxicos. Constatou-se que
alguns desses compostos à base de vegetais podem produ-

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zir diversos efeitos em insetos-praga, tais como inibição de


crescimento, efeito repelente, antialimentar e alteração da
metamorfose de larvas dos insetos-praga. Além disso, al-
guns desse compostos apresentam considerável seletivida-
de para inimigos naturais de pragas.

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ANA ISABEL PINHEIRO • LUÍSIO MARQUES DA FONSECA • AIALA VIEIRA AMORIM • REGILANY PAULO COLARES
OLIENAIDE RIBEIRO DE OLIVEIRA PINTO • JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER 91

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Data de Submissão: 05/07/2019.


Data de aprovação: __________.
DOI: 10.0000/0000-057x20160000.

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ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA
92 JOHN HEBERT DA SILVA FÉLIX

Produção de materiais didáticos


sustentáveis para o ensino de
Matemática
Ana Flávia Ferreira da Silva1
Francisca Aline da Silva Andrade2
Vanesca Almeida de Oliveira3
John Hebert da Silva Félix4

RESUMO
Atualmente a sustentabilidade é uma das palavras em destaque na
sociedade, pois a cada dia que se passa a preocupação com os nossos
recursos naturais e com a degradação ambiental tem motivado discussões
no mundo inteiro. Acredita-se que a escola, por ser uma instituição
de ensino que possui a função de formar cidadãos críticos e reflexivos
para uma melhor sociedade, pode colaborar com práticas pedagógicas
eficazes que sensibilize os estudantes em relação aos cuidados com a
natureza. Deste modo, o presente trabalho teve por objetivo construir
materiais didáticos reaproveitando recursos já existentes e apresentá-los
para futuros professores como uma alternativa de trabalhar a disciplina
Matemática, que é considerada complexa, de maneira contextualizada,
criativa e de modo que viesse suscitar o interesse dos estudantes para com
o conteúdo da matriz curricular, mas também para com a importância
da sustentabilidade no atual contexto. Foram confeccionados três jogos
matemáticos a partir de materiais de baixo custo voltados para o ensino
das operações básicas de matemática presentes no ensino fundamental I
e II e em seguida foi realizada uma roda de conversa em que se constatou
que na opinião dos futuros professores, a ideia dos jogos didáticos como
estratégia para trabalhar os conteúdos da Matemática aliados com o
tema sustentabilidade, é uma alternativa eficaz que possibilita uma
aprendizagem significativa e permite que o aluno se auto reconheça como

1 Mestranda no Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias


Sustentáveis (MASTS), Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), flaviamathema@gmail.com
2 Mestranda no MASTS, UNILAB, alineand2011@hotmail.com.
3 Mestranda no MASTS, UNILAB, vanesca.almeida19@gmail.com
4 Docente do Programa de Pós-graduação, MASTS da UNILAB, johnfelix@

unilab.edu.br.

PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS SUSTENTÁVEIS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA


ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA
JOHN HEBERT DA SILVA FÉLIX 93

agente transformador e que pode contribuir para um meio ambiente


preservado.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Matemática. Materiais didáticos. Jogos

PRODUCTION OF SUSTAINABLE TEACHING MATERIALS FOR


MATHEMATICS TEACHING

ABSTRACT
Nowadays, sustainability is one of the most important words in society,
because every day we are concerned with our natural resources and with
environmental degradation has motivated discussions around the world.
It is believed that the school, because it is an educational institution that
has the function of forming critical and reflective citizens for a better
society, can collaborate with effective pedagogical practices that sensitize
the students in relation to the care with the nature. Thus, the objective of
this work was to construct didactic materials by reusing existing resources
and presenting them to future teachers as an alternative to working the
Mathematics discipline, which is considered complex, contextualized,
creative and in a way that would arouse interest of students to the content
of the curricular matrix, but also to the importance of sustainability in
the current context. Three mathematical games were made from low-cost
materials aimed at teaching the basic mathematical operations present in
elementary school I and II, followed by a discussion thread in which it was
found that in the opinion of future teachers, the idea of the didactic games
as a strategy to work the contents of Mathematics allied with the theme
of sustainability, is an effective alternative that enables a meaningful
learning and allows the student to recognize himself as transforming
agent and that can contribute to a preserved environment.
Keywords: Sustainability. Mathematics. Teaching materials. Games.

INTRODUÇÃO

Atualmente as discussões em torno da temática desen-


volvimento sustentável tem ganhado destaque na sociedade.
A preocupação com a escassez de nossos recursos naturais e
a crescente degradação ambiental têm despertado interesse
por parte de pesquisadores e da própria população que vi-
sualizam um crescimento econômico em desequilíbrio com
o meio ambiente. Por outro lado, há aqueles que a qualquer

PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS SUSTENTÁVEIS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA


ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA
94 JOHN HEBERT DA SILVA FÉLIX

custo buscam a maximização dos fins lucrativos e acabam


negligenciando as questões ambientais.
Neste contexto, entende-se que a escola pode cola-
borar com práticas pedagógicas eficazes que sensibilize os
estudantes e a sociedade em geral, e os faça refletir sobre a
utilização dos recursos naturais sem prejudicar o futuro das
próximas gerações.
Salienta-se de acordo com as diretrizes apresentadas
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), que existe
a necessidade de alguns temas serem trabalhados de forma
contínua e integrada, dentre eles a temática educação am-
biental. Isto significa que questões dessa magnitude não são
compreensíveis apenas a partir de contribuições de uma
única disciplina, mas de várias, devendo, portanto, tal tema
ser trabalhado de forma interdisciplinar com as demais
disciplinas do currículo, como por exemplo, a Matemática
(BRASIL, 1998) que segundo Liell e Bayer (2018) está presen-
te no cotidiano dos alunos, mas nem sempre é fácil mostrar
a sua aplicabilidade em situações contextualizadas e des-
pertar o interesse dos estudantes.
Santos e Langer (2014) apontam os jogos como uma
metodologia alternativa capaz de suscitar interesse e curio-
sidade dos estudantes para com o ensino da matemática, po-
rém ressaltam que um jogo sem regras e sem um objetivo,
não passa de uma brincadeira, mas quando existe a interfe-
rência e constante acompanhamento do professor torna-se
sinônimo de aprendizagem.
Destaca-se que neste tipo de metodologia diversas
temáticas podem ser engajadas, dentre elas a sustentabili-
dade, pois tais jogos podem ser confeccionados a partir de
materiais de baixo, como por exemplo, os recicláveis, pape-
lão, garrafas pet e recipientes plásticos. Então se torna um
momento propício para que o professor lecione uma aula

PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS SUSTENTÁVEIS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA


ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA
JOHN HEBERT DA SILVA FÉLIX 95

interdisciplinar, pois à medida que explica como trabalhar


naquele jogo o conteúdo do dia, poderá também explicar
quais impactos os materiais utilizados para confecção da-
quele material didático causariam se fossem jogados ao ar
livre, o tempo de decomposição de cada um e como pode ser
reaproveitado.
É mencionado nos PCN’s que os jogos construídos a
partir de materiais de baixo custo ou não, além de consti-
tuírem um objeto sociocultural em que a Matemática está
presente, é considerado uma atividade natural que atua no
desenvolvimento dos processos psicológicos básicos, pois
possibilita um fazer sem obrigação, apesar de se exigir que
se siga regras (BRASIL, 1998).
Portanto, sabendo que a Matemática é uma discipli-
na do ramo das exatas que possui bastante rejeição sobre a
mesma e que existem dificuldades de se engajar questões
relativas ao meio ambiente nesta área, este estudo teve por
objetivo construir materiais didáticos reaproveitando re-
cursos já existentes e apresentá-los para estudantes univer-
sitários como uma alternativa de trabalhar a Matemática
de maneira contextualizada, de modo a conscientizá-los da
importância de inserir a temática sustentabilidade em suas
aulas, já que é um tema importante para a escola, para a so-
ciedade e principalmente para o meio ambiente.

A INSERÇÃO DA TEMÁTICA SUSTENTABILIDADE NAS


AULAS DE MATEMÁTICA

A Matemática é uma ciência que tem como base a ló-


gica e é sem sombra de dúvidas uma das ciências mais apli-
cáveis, basta olha a nossa volta tudo tem números, medidas,
valores, por esse motivo, entre outros, se constitui como
uma das ciências mais importantes para a sociedade. Pre-

PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS SUSTENTÁVEIS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA


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sente desde o Ensino Infantil, a Matemática é uma das disci-


plinas mais importantes do currículo seja no Ensino Básico
ou do Ensino superior, acompanhando os estudantes ao lon-
go de sua vida, acadêmica e profissional. Nessa perspectiva,
a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que
apresenta todas as aprendizagens fundamentais a serem de-
senvolvidas ao longo Educação Básica traz que:

O conhecimento matemático é necessário para


todos os alunos da Educação Básica, seja por sua
grande aplicação na sociedade contemporânea,
seja pelas suas potencialidades na formação de
cidadãos críticos, cientes de suas responsabilida-
des sociais. A Matemática não se restringe apenas
à quantificação de fenômenos determinísticos.
[...]. A Matemática cria sistemas abstratos, que
organizam e inter-relacionam fenômenos do es-
paço, do movimento, das formas e dos números,
associados ou não a fenômenos do mundo físico
(MEC, 2017, p.265).

Mas apesar desse conhecimento matemático ser tão


importante, muitas lacunas são deixadas em seu processo
de ensino e aprendizagem, de modo que a maioria dos su-
jeitos a veem como uma disciplina complexa, a razão deste
fato se dá por vários motivos, entre os quais a deficiência dos
professores em seu processo de formação, a estrutura do
ambiente escolar e alunos desmotivados (FAGUNDO, 2017).
Para enfrentar os diversos desafios presentes na educação,
Ensermann et al., (2019) aponta que no caso do ensino da
Matemática o professor deve de modo contínuo refletir so-
bre suas atividades, no que se refere ás maneiras que permi-
tirão a construção de conhecimentos dos estudantes.
É nessa perspectiva que podemos afirmar que o pro-
fessor é um dos sujeitos mais importantes no processo de

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ensino e aprendizagem da Matemática, assim como das ou-


tras disciplinas, e é através deste profissional e de suas es-
tratégicas somada a outros fatores que se torna possível uma
educação de qualidade. Metodologicamente o uso de jogos
no ensino de Matemática já tem sua eficácia comprovada
através vários estudos. De modo, que “os jogos são de grande
importância para desenvolver o raciocínio lógico, colabo-
rando também para a socialização dos alunos e facilitando o
aprendizado da matemática de forma lúdica” (DORNELES e
MARTINS, 2017, p.24).
Na atualidade, muitos docentes já utilizam jogos didá-
ticos no ensino da Matemática, visto que é uma das diversas
possibilidades de tornar o conhecimento mais significativo
na perspectiva do estudante, tornando assim a aprendiza-
gem mais eficaz. A inserção de jogos em aulas de Matemá-
tica e também em outras disciplinas permite a apresenta-
ção do conteúdo de maneira lúdica, o que possibilita novas
expectativas de aprendizagem para os discentes e também
uma maior aproximação do discente para com o docente,
facilitando assim o trabalho desse profissional (BARROS e
ANGERLIM, 2017).
A inserção de jogos na sala de aula pode se dar por di-
ferentes razões tais como: viabilizar que os professores al-
cancem suas metas sejam elas quais forem no que se refere
a sala de aula, fazer com que o professor apresente o conte-
údo de uma nova maneira a fim de deixar para os estudan-
tes o conteúdo mais claro ou mesmo fazê-los desenvolver os
conhecimentos primeiramente por meio dessa ferramenta
(OLIVEIRA et.al, 2017).
Desse modo, além de promover uma aula mais atrati-
va para os estudantes através de jogos didáticos é possível
também ensinar temas transversais por meio destes. Haja
vista que o ensino de Matemática deve permitir que em seus

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conteúdos sejam entrelaçados a temas transversais como a


Educação Ambiental (LIELL e BAYER, 2018). Ainda segundo
os autores “A Educação Ambiental e a sustentabilidade de-
vem, com certeza, fazer parte das grandes preocupações de
todos. Sua presença, de forma transversal em todas as dis-
ciplinas do currículo escolar, é fundamental e importante”
(LIELL e BAYER, 2018, p.32).
Na atualidade o tema sustentabilidade é foco de es-
tudo de diversas áreas do conhecimento, pois o desenvol-
vimento sustentável é algo amplo. De forma que se torna
necessário averiguar as práticas de ensino de sustentabi-
lidade em escolas de ensino básico (ALCOCER et.al, 2015).
Trabalhar a sustentabilidade dentro das aulas de Matemá-
tica pode ser possível de diferentes modos, cabe o professor
refletir sobre estes, uma das maneiras é trabalhar com jo-
gos didáticos construídos a partir de materiais reciclados,
mostrando aos estudantes que é possível aprender a dis-
ciplina de uma maneira diferente da tradicional, quadro e
giz, mas também aprender sobre meio ambiente, sustenta-
bilidade e consciência na utilização dos recursos naturais.
Afinal de contas, as aprendizagens sobre o meio ambiente e
sustentabilidade possibilitam a promoção da qualidade de
vida e junto as habilidades matemáticas, entre outras obti-
das pelos estudantes, que revelam a legítima construção da
cidadania e consolidação da função social que tem a escola
(ZANESCO et al., 2016).
Desse modo, a Matemática assim como as outras áre-
as de conhecimentos devem ser apresentadas aos alunos de
modo estratégico, contextualizado com questões importan-
tes para sociedade como sustentabilidade, para que a apren-
dizagem dos sujeitos se torne significante dentro da mesma.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A atividade foi realizada com 20(vinte) estudantes de


uma turma de graduação em Pedagogia. Para alcançar o
nosso objetivo principal de apresentar aos futuros docentes
uma nova metodologia de ensino de Matemática através da
confecção de jogos didáticos com material reciclável, optou-
-se por seguir as quatro etapas apresentadas abaixo:

1. Pesquisa de jogos que atendessem as demandas de


Matemática do Fundamental I e II;
2. Apresentação da proposta de oficina;
3. Confecção de jogos didáticos por meio de uma ofici-
na com estudantes de Licenciatura em Pedagogia;
4. Roda de conversa com futuros professores.

Nos jogos escolheu-se trabalhar com as quatro ope-


rações fundamentais da Matemática (adição, subtração, di-
visão e multiplicação). Depois de decidido o conteúdo a ser
trabalhado nos jogos, realizou-se o levantamento dos mate-
riais reciclados para confecção dos jogos. Após, foi apresen-
tada a proposta de oficina. Posteriormente foi realizada a
oficina com os estudantes de graduação em Pedagogia para a
confecção dos jogos didáticos construídos com materiais re-
ciclados, o objetivo era mostrar um método diferente de en-
sinar Matemática, de modo a despertar a criatividade desses
futuros profissionais. Os materiais utilizados pelos estudan-
tes para a confecção dos jogos foram diversos, tais como gar-
rafa pet, rolos de papel higiênico, copos descartáveis, entre
outros. Por fim, realizou-se uma roda de conversa em que se
abordou temas como: sustentabilidade, reciclagem, didática
no ensino e modelos matemáticos.

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A CONSTRUÇÃO DOS MATERIAIS DIDÁTICOS


SUSTENTÁVEIS E A PERCEPÇÃO DOS GRADUANDOS
SOBRE ESTA METODOLOGIA

Durante a apresentação da proposta de se realizar


uma oficina de materiais didáticos que contemplasse as-
suntos relacionados à matemática e que também abordasse
o tema de sustentabilidade, notou-se que os alunos se mos-
traram bastante curiosos e motivados a confeccionarem os
jogos sugeridos.
De início cada um dos jogos foi apresentado para a tur-
ma. Nesta etapa o professor da disciplina explicou o objeti-
vo de cada jogo, os materiais que seriam utilizados na con-
fecção, as regras, assim como sugeriu o público alvo para a
aplicação dos jogos matemáticos sustentáveis, conforme se
visualiza no Quadro 1, a seguir:

Quadro 1 – Descrição dos jogos matemáticos sustentáveis


MATE- PÚBLICO
JOGO OBJETIVO MODO DE JOGAR
RIAIS ALVO
Máquina Trabalhar Uma caixa No velcro o professor (a) coloca o Funda-
de Ope- as quatro de sapato, algarismo que desejar (EX: 3 e 2), mental I
rações operações dois rolos em seguida solicita que o estudan- e II
(Figura de papel te insira na máquina de calcular a
1A) h i g i ê n i c o, quantidade de tampinhas que o
tampinhas professor (a) solicitou utilizando
de garra- as cores adequadas. Ao cair to-
fas, eva, um das as tampinhas do recipiente
recipiente transparente, o estudante conta
transparen- quantas tampinhas tem ao todo. E
te, 2 copos assim desenvolve a ideia de somar
de plástico, (juntar). Como essa máquina pode
papel colo- ser calculada as demais operações
rido, cola, bastando apenas tocar o sinal que
tesoura, al- fica no centro da máquina.
garismos (a
critério do
educador) e
velcro.
(continua)

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Roleta das Trabalhar CD, bolinha No CD são colocados algarismos Funda-


Opera- as quatro de gude de 0 à 10 e nas tampinhas de gar- mental I
ções operações (bila), tam- rafas são colocadas as operações e II
(Figura pa de garra- que se deseja trabalhar. Dando
1B) fa, gargalho seguimento o estudante gira o CD
da garrafa, e terá que responder a operação
cola, tesou- indicada pela roleta.
ra e papel
colorido.

Boliche Trabalhar G a r r a f a s Coloca-se rótulos com algarismos Funda-


Matemá- as quatro pet, papel, variados nas garrafas, em segui- mental I
tico operações cola, tesou- da o professor pede que o aluno e II
(Figura ra e uma jogue a bolinha. Ao arremessar
1C) bola peque- a bola e derrubar as garrafas o
na. aluno deve identificar os núme-
ros em cada uma das garrafas e
fazer a operação que o professor
solicitar.
Fonte: Acervo dos autores (2019).

Seguindo as instruções do professor líder da oficina,


foram construídos três materiais didáticos a partir de re-
cicláveis, denominados de Máquinas de Operações (Figura
1- A), Roleta de operações ((Figura 1-B), e Boliche Matemá-
tico (Figura 1-C). Ressalta-se que no decorrer do processo
de construção de cada um dos jogos percebeu-se uma certa
ansiedade por parte dos alunos para jogar e para saber na
prática como cada peça do jogo funcionava, mostrando des-
sa forma que estavam determinados e comprometidos para
com a produção do material didático.

Fonte: Acervo dos autores (2019).

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Com a produção desses materiais didáticos objeti-


vou-se trabalhar as quatro operações básicas da Matemá-
tica (adição, subtração, multiplicação e divisão) de forma
dinâmica e interativa e também destacar a importância
dos materiais recicláveis para a sua produção. Como pro-
duto final, pretendeu-se que os futuros pedagogos perce-
bessem a relevância que os jogos matemáticos têm para
a aprendizagem satisfatória e prazerosa da Matemática e
que tais jogos podem contribuir para que os alunos se sin-
tam motivados e interessados a aprenderem a matemática
(MOURA E VIAMONTE, 2005), o que foi constatado duran-
te as discussões.
Para Lieel e Bayer (2018), quando o professor aborda
em suas aulas de Matemática questões relativas ao meio am-
biente, estes não estão somente oferecendo subsídios para
que os alunos entendam determinados fenômenos, mas es-
tão oferecendo a oportunidade de que cada aluno, através do
uso da matemática no cotidiano ambiental, se perceba como
agente social transformador e capaz de contribuir para um
meio ambiente ecologicamente preservado.
Após a montagem e exposição de cada jogo os estudan-
tes de pedagogia analisaram através de uma roda de conver-
sa como cada um dos jogos poderia ser útil para a aprendi-
zagem dos alunos e consequentemente como este tipo de
ação colabora para tornar o meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
Assim como Lopes e Nunes (2015), durante a roda
de conversa foi explicado para os estudantes presentes na
sala à importância de ações voltadas à sustentabilidade.
Durante alguns momentos deste diálogo destacou-se que
em cada jogo matemático confeccionado havia uma quan-
tidade significativa de lixo que não estava sendo deposi-
tada no meio ambiente e que ao adotar esse tipo de me-

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todologia, os futuros professores estariam contribuindo


para a preservação do meio ambiente de maneira simples
e eficaz, além de estarem utilizando materiais que não ge-
rariam grandes custos e que tornariam a aula bem mais
atrativa para os estudantes.
De acordo com as diferentes falas dos membros do
grupo, pode-se constatar que na opinião deles, o conteúdo
matemático quando aliado a demonstração de um material
didático facilita a aprendizagem dos estudantes, uma vez
que estarão trabalhando de maneira divertida um conteúdo
que está presente em diversas atividades do nosso dia a dia
e que merece uma devida atenção. Relataram ainda sobre a
facilidade de construção e compreensão do material didáti-
co e que seria um ótimo instrumento didático a ser utilizado
em suas aulas para conscientização ambiental dos alunos.
Todavia, Coelho-Miyazawa et al., (2017), alerta que o trabalho
com educação ambiental deve estar diretamente atrelado a
uma postura crítica, reflexiva e não somente a preocupação
com o repasse de conteúdo. Para o referido autor, deve-se
fazer com que os alunos entendam o real contexto em que
vivemos, e que além das questões ecológicas, aspectos eco-
nômicos, sociais, políticos e éticos devem ser considerados
ao se tratar de problemas ambientais.
Para Franco (2015) as práticas do educador em sala
de aula para se tornarem práticas pedagógicas precisam
que os mesmos analisem pelo menos dois fatores: a impor-
tância da sua prática e o propósito que regem suas práti-
cas em sala. Sabendo disso, indagamos aos estudantes de
pedagogia: é possível reutilizar materiais para a confecção
de atividades voltadas para a práxis dos pedagogos? Todos
confirmaram que seria possível a confecção desses jogos
e ressaltaram que estes contribuiriam como um recurso
matemático importante para a aprendizagem dos alunos

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principalmente ao se trabalhar as operações básicas da


matemática. Destacaram ainda que esta metodologia é
uma forma direta de se colaborar para um meio ambiente
ecologicamente correto.
Portanto, pode-se perceber que a produção de mate-
rial didático contendo estratégias pedagógicas com bases
interdisciplinares pode contribuir de forma significativa no
processo de ensino e aprendizagem e que é necessário que
os professores experimentem novas vivências para que as-
sim outras metodologias sejam desenvolvidas e os alunos se
tornem cidadãos críticos e reflexivos das sociedades em que
vivemos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto desenvolvido com futuros docentes do curso


de Pedagogia, se mostrou como um subsídio importante não
só para construir jogos didáticos elaborados com materiais
reciclados, mas também para compreender as percepções
dos futuros docentes sobre o uso desses materiais no ensino
de Matemática.
Visualizamos que a ideia dos jogos didáticos como es-
tratégia para trabalhar os conteúdos da Matemática junto
com sustentabilidade, foi bem recebida pelos futuros edu-
cadores, pois os jogos didáticos são confeccionados com ma-
teriais de baixo custo o que viabiliza a utilização dessa ferra-
menta como estratégia de ensino de Matemática, além disso
trabalhar com materiais reciclados na visão dos educadores
tornam os alunos mais responsáveis e conscientes para com
as questões ambientais.
Por fim, as deficiências existentes dos alunos para
aprenderem Matemática podem ser parcialmente sanadas
se o professor refletir e desenvolver estratégias que tornem

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JOHN HEBERT DA SILVA FÉLIX 105

o processo de ensino e aprendizagem mais eficaz e que per-


mita o entrelace de temas transversais como educação am-
biental e sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

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ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA
106 JOHN HEBERT DA SILVA FÉLIX

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PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS SUSTENTÁVEIS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA


JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES 107

Estudo da produção de biodiesel


a partir de óleo residual por
transesterificação via catálise
química e enzimática
João Roberto Pereira Nogueira1
Maria Cristiane Martins de Souza 2
Artemis Pessoa Guimarães3

RESUMO
No contexto dos atuais problemas ambientais, destaca-se o descarte
inadequado de óleo residual proveniente de processos de fritura. O
biodiesel é um biocombustível que pode ser obtido principalmente por
plantas oleaginosas e também por óleos e gorduras residuais. Dentre
as formas de produção de biodiesel se destaca a transesterificação, que
pode ser feita através da catálise química e, mais recentemente, estudos
têm sido voltados a catálise enzimática como alternativa. Portanto, este
estudo objetivou produzir biodiesel a partir de óleo residual de fritura por
transesterificação via catálise química e enzimática. A catálise química
foi realizada utilizando hidróxido de potássio (KOH) como catalisador,
enquanto a catálise enzimática empregou lipase de Candida Antarctica
do tipo B (CALB), imobilizada em nanopartículas magnéticas de ferro. A
análise do rendimento das reações foi realizada através de a cromatografia
gasosa (CG), que ressaltou uma maior eficiência de conversão de ésteres
da transesterificação por catálise química, apresentando 85,04% de
conversão. Embora a catálise enzimática tenha apresentado rendimentos
de apenas 25,51% para o catalisador Novozym® 435 e de 26,76% para a
CALB imobilizada, suas vantagens como a facilidade de separação do

1 Graduado em Engenharia de Energias pela Universidade da Integração


Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
E-mail: joaoroberto94@live.com
2 Professora do Curso de Engenharia de Energias da Integração Internacional

da Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: mariacristiane@unilab.edu.br;


artemis@unilab.edu.br.
3 ww

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
108 JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES

produto e catalisador e realização da reação em condições mais brandas a


torna atrativa em âmbito de pesquisa.
Palavras-chave: Biodiesel. Óleo Residual. Transesterificação.

STUDY OF BIODIESEL PRODUCTION FROM RESIDUAL OIL


BY TRANSESTERIFICATION VIA CHEMICAL AND ENZYMATIC
CATALYSIS

ABSTRACT
In the context of the current environmental problems, the inadequate
discard of residual oil from frying processes stands out. Biodiesel is a
biofuel that can be obtained mainly by oil plants and also by waste oils
and fats. Among the forms of biodiesel production, transesterification
is highlighted, which can be done through chemical catalysis and,
more recently, studies have been focused on enzymatic catalysis
as an alternative. Therefore, this study aimed to produce biodiesel
from frying residual oil by transesterification through chemical and
enzymatic catalysis. Chemical catalysis was carried out using potassium
hydroxide (KOH) as a catalyst, while enzymatic catalysis employed
Candida Antarctica type B (CALB) lipase, immobilized on iron magnetic
nanoparticles. The reaction yield analysis was performed by gas
chromatography (GC), which emphasized a higher conversion of ester
efficiency of the transesterification by chemical catalysis, presenting
85.04% of conversion. Although enzymatic catalysis showed yields of only
25.51% for the Novozym® 435 catalyst and 26.76% for the immobilized
CALB, its advantages such as the ease separation of the product and
catalyst and the execution of the reaction in milder conditions, makes it
attractive in the research scope.
Keywords: Biodiesel. Residual Oil. Transesterification.

INTRODUÇÃO

Um dos principais desafios da humanidade é produzir


energia de forma limpa e renovável. Dentre as várias fontes
de energias renováveis, apresenta-se o biodiesel, que é um
combustível renovável derivado de plantas oleaginosas ou
gorduras animais. O principal método de produção do bio-
diesel é através de uma reação chamada de transesterifica-
ção. Nessa reação, o óleo interage com um catalisador, que

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES 109

pode ser químico ou enzimático, para formar o biodiesel e


um subproduto (RAMOS et al., 2011). Além das plantas olea-
ginosas e gorduras animais, o biodiesel também pode ser ob-
tido através de óleos e gorduras residuais, como o óleo pro-
veniente de processos de fritura. A utilização deste material
se destaca também pelo caráter de preservação ambiental,
pois esse resíduo é costumeiramente descartado indevida-
mente na natureza. Desta forma, a utilização desse óleo resi-
dual de frituras na produção de biodiesel se apresenta como
uma grande iniciativa para empresas e pesquisadores, pois
tal processo será benéfico tanto na geração de energia como
na preservação do meio ambiente.
Estudos comprovam que o óleo residual de cozinha,
quando descartado indevidamente, pode causar danos à
água de rios e lençóis freáticos ou poderia causar problemas
às estações de tratamento de esgoto, entupindo e sujando a
rede de tubulação, tornando o tratamento mais caro e mais
difícil. Cada litro de óleo despejado no esgoto urbano tem
potencial para poluir cerca de um milhão de litros de água,
o que equivale à quantidade que uma pessoa consome ao
longo de quatorze anos de vida (BARBOSA; PASQUALETTO,
2008; COSTA; SANTOS; DULLIUS, 2010).
Dentre os métodos de produção de biodiesel, se destaca
a transesterificação por catálise química que apresenta bons
rendimentos, porém necessita de temperaturas elevadas
para a reação. Já a produção por transesterificação via catá-
lise enzimática pode acontecer em condições mais brandas
de temperatura (MESSIAS et al., 2011). Diversos autores como
Andrade (2012) e Silva (2013) destacaram as principais dife-
renças entre as catálises química e enzimática, dentre elas:
maior velocidade na reação e maior rendimento na catálise
química; e facilidade de separação do catalisador e obtenção
de produtos com maior grau de pureza na catálise enzimática.

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
110 JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES

Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo


geral produzir biodiesel a partir de óleo residual de fritura
por transesterificação via catálise química e enzimática.
Como meios para a realização desse intento, elencamos
como objetivos específicos: realizar o pré-tratamento do
óleo residual de fritura; avaliar o índice de acidez do óleo re-
sidual; obter biodiesel através da reação de transesterifica-
ção via catálise química e via catálise enzimática; e, por fim,
comparar os métodos de produção através do rendimento
das reações.
Destaca-se nessa pesquisa que o reaproveitamento
desse resíduo para a produção de um insumo como o bio-
diesel corrobora com a intenção mundial de preservação
ambiental e crescimento sustentável. Analisar e comparar
esses dois meios de produção de biodiesel, utilizando óleo
residual de fritura se torna pertinente em âmbito de pesqui-
sa, pois desenvolver e tornar mais eficiente esse processo é
importante no desenvolvimento de tecnologias complemen-
tares no que diz respeito a utilização de óleo diesel.

METODOLOGIA

Caracterização e Pré-tratamento da matéria-prima

O óleo residual utilizado para os experimentos foi co-


letado em um estabelecimento comercial da cidade de Bar-
reira – CE, que utiliza óleo vegetal para fritura de alimentos.
Inicialmente foi feita a filtragem do óleo residual para a
retirada das impurezas sólidas presentes com o intuito de
melhorar a qualidade da matéria-prima. Em seguida, o óleo
residual passou por um processo chamado de degomagem,
que reduz o teor de ácidos graxos livres e consistiu na mis-
tura do óleo com água destilada, a uma temperatura de 65 ºC

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
alimentos. Inicialmente foi feita a filtragem do óleo residual
sólidas presentes
JOÃO ROBERTO com
PEREIRA NOGUEIRA o CRISTIANE
• MARIA intuito de DEmelhorar
MARTINS SOUZA • ARTEMIS a qualidade
PESSOA da mat
GUIMARÃES 111

residual passou por um processo chamado de degomagem, que


por 30 minutos.
livres e consistiu na mistura do óleo com água destilada, a um
Na sequência, o óleo residual foi caracterizado a partir
minutos. do índice de acidez, que foi realizado utili-
da determinação
zando-se da metodologia desenvolvida pelo Instituto Adolf
Na sequência, o óleo residual foi caracterizado a pa
Lutz (IAL) 2005. Para a apuração dos índices de viscosidade
de acidez,
cinemática e massaque foi realizado
específica utilizando-se
tanto do da como
óleo residual, metodologia des
do biodiesel
Lutz produzido,
(IAL) 2005. usou-se
Para aum viscosímetro
apuração manual
dos índices deeviscosidade
um densímetro digital, respectivamente.
tanto do óleo residual, como do biodiesel produzido, usou-se
Produção de Biodiesel
densímetro por
digital, catálise química e catálise
respectivamente.
enzimática
2.2 Produção de Biodiesel por catálise química e catálise enz
Para a obtenção do biodiesel por transesterificação via
Para a obtenção
catálise química, primeiramente, do biodiesel
foi realizada por transesterific
a preparação
da solução catalisadora.foi
primeiramente, O álcool utilizado
realizada foi o metanol
a preparação eo
da solução catalisad
catalisador foi a base hidróxido de potássio (KOH). A quanti-
metanol e o catalisador foi a base hidróxido de potássio (KOH
dade de metanol utilizado na solução é equivalente a 20% da
massa doutilizado na solução
óleo utilizada é equivalente
na reação e a massaado
20% da massaé do óleo util
catalisador
calculada através da Equação 1:
catalisador é calculada através da Equação 1:

Eq. (1)

Onde: Onde:
• mc =•massa
mc =domassa
catalisador;
do catalisador;
• móleo• = massa
móleo = massa utilizada
de óleo na reação;
de óleo utilizada na reação;
• 0,6 =•% de KOH em relação a massa do
0,6 = % de KOH em relação a massaóleo na reação;
do óleo na reação;
• IA =•índice de acidez do óleo;
IA = índice de acidez do óleo;
• 0,85•= pureza
0,85 =do KOH.do KOH.
pureza

Para a realização
Paradaa reação de transesterificação,
realização ini-
da reação de transesterificação, in
cialmente colocou-se a massa de 97,38g de óleo residual em
de 97,38g de óleo residual em um balão de fundo chato, con
um balão de fundo chato, conectado a um condensador, sob
agitaçãoagitação e aquecimento
e aquecimento até aatingir
até atingir a temperatura
temperatura de 60 ºC. Entã
de 60 ºC.

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
112 JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES

Então, adicionou-se ao óleo a solução catalisadora de metó-


xido de potássio e realizou-se a reação por um tempo de 1
hora, controlando a temperatura em 60 ºC. Após uma hora
a amostra foi transferida para um funil de separação. Como
resultado da reação de transesterificação, pode-se observar
a formação de duas fases: a fase superior é correspondente
à mistura de ésteres metílicos e a inferior contém restos de
catalisador, excesso de metanol e glicerol.
A fase inferior, contendo a solução catalisadora re-
manescente, excesso de metanol e glicerina, foi retirada e
a fase superior (ésteres metílicos) foi submetida a lavagens
de água destilada, numa quantidade de 10 % em relação à
massa do biodiesel após a retirada da glicerina. Foram fei-
tas quatro lavagens no biodiesel, as duas primeiras à tem-
peratura ambiente e, como verificou-se que a água destilada
não estava separando adequadamente do biodiesel, as duas
últimas lavagens foram feitas à temperatura de 80 ºC. Após
as lavagens, foi realizada a secagem do biodiesel, em que
permaneceu por 30 min na chapa de aquecimento a uma
temperatura entre 105 ºC e 110 ºC. Esse procedimento de se-
cagem a altas temperaturas faz com que a água residual das
lavagens evapore.
Para a realização de transesterificação via catálise en-
zimática, o álcool utilizado na reação também foi o álcool
metílico (metanol), como na reação química, e como cata-
lisador foram utilizadas enzimas de Candida antarctica do
tipo B (CALB) imobilizadas em nanopartículas magnéticas
de ferro e também utilizou-se o catalisador comercial Novo-
zym® 435, com propósito de comparação.
A metodologia desenvolvida para a imobilização da
enzima CALB em nanopartículas magnéticas foi baseada
nos estudos de Souza et al. (2017). As nanopartículas magné-
ticas foram obtidas junto ao Departamento de Química da

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES 113

Universidade Federal do Ceará, a lipase de Candida antarc-


tica do tipo B (CALB), g -aminopropiltrietoxisilano (APTS), a
solução de glutaraldeído 25% (m/v) e os demais reagentes de
grau analítico foram gentilmente cedidos pelo Departamen-
to de Engenharia Química da UFC.
A transesterificação por catálise enzimática foi rea-
lizada com base no estudo de Silva (2017). A reação foi rea-
lizada em uma incubadora com capacidade de controle do
tempo de reação, temperatura e rotação. Pesou-se a 0,06g
tanto das enzimas comerciais Novozym® 435, obtidas da
Sigma-Aldrich (St. Louis, USA), como das CALB imobiliza-
das em eppendorfs de 2 mL e com o auxílio de uma pipeta
automática, inseriu-se a massa de óleo de 0,6g e o volume
necessário de álcool calculado para a reação. A reação foi
feita em triplicata e foi realizada a 27 ºC, com rotação de 150
rpm, por 24 horas.

Análise do teor de ésteres

Após a realização das reações de transesterificação


vias catálise química e enzimática, realizou-se a análise do
teor de ésteres de cada amostra. Para essa análise foi utiliza-
do o cromatógrafo a gás da marca VARIAN, modelo 450 – CG,
equipado com uma coluna CP-Wax 52 CB (30m x 0,32 mm x
025 µm). O método quantifica ésteres graxos metílicos com
cadeias de 14 a 24 carbonos, saturados ou insaturados. O
equipamento gerou um cromatograma, no qual todas as áre-
as de pico foram utilizadas para o cálculo do FAME (“Fatty
Acid Methyl Esters”) que apresentou a conversão em ésteres
metílicos de ácidos graxos.

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
114 JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização e pré-tratamento da matéria-prima

Realizado o processo de pré-tratamento da matéria-


-prima – óleo residual, constatou-se, após a realização do
processo de degomagem, que o óleo residual perde a colo-
ração mais escura, que é característica de óleos que atra-
vessam diversos processos de fritura, porém adquire uma
coloração amarelada turva, o que pode indicar que não
houve uma correta separação da água destilada do óleo
residual pós-processo. A presença de água no óleo pode
acarretar na hidrólise da reação, prejudicando a reação de
­transesterificação.
Os resultados do teste do índice de acidez mostraram
que o índice de acidez do óleo residual diminuiu de 0,6753
para 0,6054 mg de KOH por gramas da amostra de óleo, uma
redução de 10,35%, constatando que o processo de degoma-
gem realizado não teve a eficiência esperada.
Em relação à viscosidade cinemática da amostra em
estudo, constatou-se um resultado médio de 47,69 mm²/s. De-
preende-se quanto à viscosidade cinemática à 40 ºC que óle-
os residuais apresentam valores maiores que os valores apre-
sentados pelo óleo de soja puro. De acordo com Silva (2011),
a viscosidade cinemática do óleo de soja é de 34 mm²/s, já o
resultado obtido nesse trabalho foi um valor superior. Esse
acréscimo no valor da viscosidade é um dos fatores citados
por Dib (2010) quanto às consequências dos processos de fri-
tura em óleo de soja. Silva (2011) obteve uma viscosidade à 40
ºC de 43 mm²/s em seu óleo residual, um valor próximo ao
obtido nesse trabalho. Um possível motivo para essa visco-
sidade maior é o tempo de armazenamento do óleo residual
em relação à data de análise, quanto mais tempo essa maté-

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES 115

ria-prima fica armazenada, mais susceptível a alterações de


suas características físico-químicas ela fica.
Quanto ao teste de massa específica a 20 ºC, o óleo
residual apresentou o valor médio de 922,83 kg/m³. Esse re-
sultado se mostrou de acordo tanto com os parâmetros pre-
vistos pela ANVISA (1999) para o óleo de soja, como também
com os trabalhos de Coutinho et al. (2015), Barbosa (2017) e
Silva (2011), que obtiveram valores de 922,89, 922,4 e 923,4
kg/m³, respectivamente, resultados esses muito aproxima-
dos com obtido nesse trabalho para a densidade de seus óle-
os residuais.

Produção de biodiesel por catálise química

A produção de biodiesel por catálise química utilizou


97,38g de óleo residual e tendo obtido como massa final de
biodiesel 83,49 gramas, o que equivale a um rendimento em
massa de 85,74%. Christoff (2006) e Coutinho et al. (2015)
também calcularam o rendimento mássico de suas reações
de transesterificação alcalina, utilizando óleo residual como
matéria-prima e KOH como catalisador, e obtiveram resul-
tados de 85% e 93% de rendimento em massa, respectiva-
mente. Constatou-se que o resultado obtido nesse estudo
se apresentou muito próximo do obtido por esses autores,
o que demonstra que com essa matéria-prima a reação pode
ter melhores rendimentos mássicos, caso as condições da
reação sejam otimizadas.
Os resultados obtidos para a viscosidade cinemática à
40 ºC e massa específica à 20 ºC, para as amostras produ-
zidas, foram de 5,643 mm²/s e de 809,13 kg/m³, respectiva-
mente. Esses resultados indicam que a mistura de ésteres
produzida se encontra dentro da faixa estabelecida pela
ANP, para esses parâmetros, que são de 3,0 à 6,0 mm²/s para

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
116 JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES

a viscosidade e de 850 à 900 kg/m³ para a massa específica.


Vale ressaltar ainda que esses valores obtidos se comparam
com resultados obtidos, nesses dois parâmetros, nos tra-
balhos de Barbosa (2017), Christoff (2006), Coutinho et al.
(2015), Cunha (2016), Dib (2010) e Silva (2011), que também
trabalharam com óleo residual como matéria-prima.

Comparação dos rendimentos das reações

A Tabela 1 apresenta os valores das conversões de és-


teres obtidas nas amostras de biodiesel da catálise química
e também da catálise enzimática.

Tabela 1 – Rendimentos das reações de transesterificação.


Catalisador Rendimento
Químico – KOH 85,04%
Enzimático – Novozym® 435 25,51%
Enzimaático – CALB-NPM 26,76%
Fonte: elaborada pelo autor.

Os resultados desse estudo atestam que a reação de


transesterificação por catálise química apresentou maior
valor de rendimento na conversão de ésteres do que a catáli-
se enzimática. Essa diferença no rendimento da reação pode
ser explicada devido à reação química já ser uma tecnolo-
gia estabelecida, com condições reacionais mais definidas,
enquanto a catálise enzimática ainda se encontra em fases
de aprimoramento de estudos. Segundo Knothe, Gerpen e
Krahl (2006), a qualidade do biodiesel está diretamente liga-
da à qualidade da matéria-prima. Como o óleo residual é um
material de partida mais complexo, diferente de óleos vege-
tais puros, ele contém grande quantidade de ácidos graxos
livres e impurezas, tornando a reação mais dificultada.

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES 117

Segundo Souza (2013), quando a catálise enzimática


é realizada com matérias-primas padrões, como o oleato de
etila ou ácido oleico, o rendimento da reação chega a valo-
res em torno de 90%. Isso se comprova através dos trabalhos
de vários autores, que obtiveram melhores resultados utili-
zando a catálise enzimática em óleos vegetais puros, com a
CALB como catalisador. Cruz Júnior (2007) obteve 90% de
rendimento para biodiesel de óleo e mamona. Rosset e Porto
(2015) obtiveram 84,1% de rendimento na reação com óleo
de soja. Já Silva (2013) utilizou óleo de babaçu e obteve 95,9%
de rendimento na conversão de ésteres.
É importante ressaltar que o catalisador CALB-NPM
demonstrou um resultado 4,9% melhor do que o catalisa-
dor Novozym® 435, o que ressalta a eficiência no processo
de imobilização da CALB com nanopartículas magnéticas
tratadas com APTS, seguido da ativação do suporte com glu-
taraldeído. Vale frisar também que as enzimas utilizadas são
provenientes de reuso de outros trabalhos e que as amostras
ficaram por muito tempo armazenadas até que fosse feita a
análise de rendimento, o que pode ter ocasionado uma redu-
ção no rendimento real da reação.
Silva (2017) produziu, com as mesmas condições rea-
cionais, biodiesel via catálise enzimática e obteve um ren-
dimento de 37,14% na conversão de ésteres. Apesar das en-
zimas utilizadas serem de reuso, esse fato não influenciou
no rendimento da reação. Os baixos rendimentos dos resul-
tados da catálise enzimática desse trabalho foram ocasiona-
dos pela presença de água no óleo residual pós degomagem,
favorecendo a reação de hidrólise em detrimento da reação
de transesterificação.
Em relação à qualidade desse produto para uma futura
comercialização, as amostras produzidas não se enquadram
no que é exigido pela norma vigente. A resolução nº 45 da

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
118 JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES

ANP exige uma conversão mínima em ésteres de 96,5% para


que o biodiesel possa ser apto à comercialização. Portanto,
outras metodologias de transesterificação e um planeja-
mento experimental poderiam ser realizados para otimizar
as condições da reação e, assim, obter maiores rendimentos
na conversão de ésteres.

CONCLUSÃO

O resultado do índice de acidez do óleo residual não


sofreu influência do processo de degomagem e apresen-
tou uma redução de 10,35%. A incorreta separação da água
destilada do óleo residual, após o processo de degomagem
influenciou na reação de transesterificação via catálise en-
zimática, favorecendo a reação de hidrólise do óleo. A carac-
terização do óleo residual com o teste de viscosidade à 40 ºC
mostrou que o óleo residual é um material mais viscoso que
o óleo de soja, devido aos processos de fritura que é subme-
tido, influenciando diretamente no rendimento da reação.
Através da cromatografia gasosa (CG) verificou-se que
a conversão de ésteres na catálise química foi de 85,04%,
enquanto na catálise enzimática foi de 25,51% utilizando a
Novozym® 435 como catalisador e de 26,76% sendo a CAL-
B-NPM o catalisador, comprovando a maior eficiência na
transesterificação química.
A caracterização do biodiesel produzido por transes-
terificação química, com os testes de viscosidade à 40 ºC e
massa específica à 20 ºC, apresentou resultados que se en-
quadram às exigências da ANP para esses parâmetros, po-
rém o rendimento da conversão de ésteres não atingiu o mí-
nimo de 96,5% exigido pela agência. Um planejamento expe-
rimental que otimize as condições reacionais melhoraria a
conversão do óleo residual em biodiesel.

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES 119

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120 JOÃO ROBERTO PEREIRA NOGUEIRA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES

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FapUNIFESP (SciELO).

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO RESIDUAL POR TRANSESTERIFICAÇÃO VIA CATÁLISE QUÍMICA E ENZIMÁTICA
122 ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES

Automação residencial controlada por


smartphones via bluetooth utilizando
sistemas embarcados
Aluisio Rodrigues Marques Neto1
Carlos Alberto Cáceres2

RESUMO
Os sistemas embarcados podem ser utilizados como uma ferramenta
didática, social e tecnológica para resolver problemas cotidianos atuais
e de simples solução. A comunidade não projeta suas próprias soluções
por falta da intimidade com as ferramentas básicas e necessárias. Neste
trabalho foi elaborado um protótipo como uma solução prática, eficiente
e de baixo custo para servir como material didático, nesse sentido, foi
feita a simulação de uma residência comum, com alguns controles e
automações, como por exemplo, o controle das luzes, porta e portão, ar-
condicionado, obtenção de dados como temperatura ambiente, umidade
relativa e um sensor de chamas para simular um processo de alerta de
segurança. Tudo isso controlado com o Arduino, um sistema embarcado
reprogramável baseado em C++, em conjunto com um aplicativo
para Celular Android, desenvolvido com ajuda do APP INVENTOR 2 e
comunicação via bluetooth. O projeto foi divulgado, através de palestras,
para a comunidade interna da UNILAB e em escolas do maciço de Baturité
– CE. O interesse dos participantes durante as apresentações mostrou que
há vocação para ciência e engenharia além de admiração houve interesse
em saber como foi feito e desejo em aprender sobre o tema, através da
divulgação deste projeto conseguiu-se incentivar alunos pela área de
ciências exatas e engenharia.
Palavras-chave: Automação Residencial. Arduino. Bluetooth. App Inventor.

1 Formando em Engenharia de Energias. Instituto de engenharia e desenvol-


vimento sustentável – UNILAB. E-mail: aluisio0919@gmail.com
2 Engenheiro de Materiais, doutor em ciência e engenharia de materiais, pro-

fessor adjunto do instituto de engenharias e desenvolvimento sustentável


na UNILAB, Redenção – CE. E-mail: caceres@unilab.edu.br

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES 123

RESIDENTIAL AUTOMATION CONTROLLED BY SMARTPHONES


VIA BLUETOOTH USING BOARDING SYSTEMS

ABSTRACT
Embedded systems can be used as a didactic, social and technological
tool to solve current problems and simple solutions. The community does
not design its own solutions out of lack of intimacy with the basic and
necessary tools. In this work a prototype was elaborated as a practical,
efficient and low cost solution to serve as didactic material. In this sense,
a common residence was simulated, with some controls and automations,
such as light control, door and gate, air-conditioning, obtaining data such
as ambient temperature, relative humidity and a flame sensor to simulate a
safety alert process. All this is controlled with Arduino, a reprogrammable
embedded system based on C ++, together with an application for Android
phone, developed with the help of APP INVENTOR 2 and communication
via bluetooth. The project was disseminated, through lectures, to the
internal community of UNILAB and in schools of the massif of Baturité –
CE. The interest of the participants during the presentations showed that
there is a vocation for science and engineering, besides admiration, there
was interest in knowing how it was done and the desire to learn about the
subject. Through the dissemination of this project, students in the area of
exact sciences and engineering.
Keywords: Arduino. Home Automation. App Inventor. Bluetooth.

INTRODUÇÃO

O uso de tecnologias tem por objetivo facilitar nossas


vidas e está cada vez mais popular e acessível a pessoas de
diversos níveis econômicos. Basicamente vivemos cercados
de equipamentos ao nosso redor e cada vez mais há avanços
dos simples controles básicos de ligar e desligar para sis-
temas automatizados. Para isso é necessário ter sistemas
embarcados capazes de atuar nessa automação, envolvendo
sensores, atuadores, módulo de comunicação e uma pro-
gramação para o controle inteligente do sistema. Assim um
termo vem sendo usado por especialistas nesse aspecto, a
domótica, que tem um significado de “Casa Robótica”.

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
124 ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES

A domótica consiste em um sistema automático


com a capacidade de controlar diversos disposi-
tivos físicos em um cenário doméstico por meio
de um toque. Dessa forma, é possível controlar,
gerenciar e obter informações de uma residência,
utilizados atualmente, são: controle de ilumina-
ção, sensores de presença, portas automáticas,
integração do ambiente com o celular, irrigação
automática (ABREU; VALIM, 2011)

Um sistema embarcado envolve a junção de Hardware


e o Software. Pode ser considerado análogo a um microcom-
putador, porém diferente dos nossos desktops ou notebooks,
tem uma finalidade bem limitada, buscando apenas atender
um fim especifico, que geralmente é algo sem complexidade.
Por exemplo, temos o ar-condicionado, de fundamental im-
portância para nosso conforto térmico, esse equipamento
tem um sistema embutido que controla a alteração da tem-
peratura de forma simples por meio do sistema eletromecâ-
nico de troca de calor. Assim muitos equipamentos tem um
sistema embarcado, porém o usuário não tem acesso ao sis-
tema e fica limitado a poder realizar alterações, assim para
atender essa necessidade surgiu o Arduino.

Sistema Embarcado é qualquer sistema de com-


putação integrada a um sistema maior, com finali-
dade de aumentar e/ou otimizar funcionalidades
e/ou recursos. Exemplos podem ser encontrados
nos smartphones, forno micro-ondas, alarmes
e players de MP3. Tipicamente são sistemas de
tempo real e apresentam várias restrições como:
pouca capacidade de memória, fonte de energias,
pouco processamento, dentre outras. (NOGUEI-
RA et al., 2009).

O Arduino é um sistema embarcado criado para ser


reprogramável, atendendo a diversas finalidades de protó-

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES 125

tipos. Segundo Banzi (2012) o Arduino surgiu na Itália em


2005 com o intuito de auxiliar os estudantes de um novo
curso criado com o objetivo de formar designer de produtos.
Pois houve uma barreira enorme com projetos envolvendo
eletrônica e programação, então professores tiveram a ideia
de criar um dispositivo em que os alunos pudessem realizar
protótipos sem a necessidade de conhecimento profundo
em eletrônica. Um dos seus criadores o definiu dessa forma:

Arduino é uma plataforma de computação física


ou embarcada de código aberto baseado em har-
dware e software de fácil utilização, onde pode
ser programada para processar as entradas e sa-
ídas entre o dispositivo e os componentes exter-
nos conectados a ele (BANZI, 2012).

O Arduino revolucionou a prototipagem desde sua


criação, devido ao baixo custo, facilidade de uso, disponi-
bilidade de varias tipos de sensores, módulos e dispositivos
que podem ser acoplados com facilidade ao sistema. A partir
disso tornou-se também uma ferramenta didática, social e
tecnológica. Para Queiroz (2012) ultimamente sistema em-
barcados são bastante utilizados na robótica educacional e

A robótica educacional permite ao aluno manejar


e lidar com objetos reais e assim observar a mate-
rialização dos conteúdos apresentados em diver-
sas disciplinas e entender os comandos por detrás
do computador ou robô estabelecendo assim a
construção de seus conhecimentos, pois isso per-
mite que ele pense e construa e veja erros, isto é, o
esmiuçar da teoria pela prática (QUEIROZ, 2012)

Segundo Pereira (2015) os alunos envolvidos nesse


ambiente de aprendizagem utilizando sistemas embarcados
desenvolvem diversas competências e habilidades.

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
126 ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES

Os alunos envolvidos nesse ambiente de apren-


dizagem desenvolvem diversas competências e
habilidades como o raciocínio lógico, habilidades
manuais, relações interpessoais, resolução de
problemas, investigação, representação, comu-
nicação, criatividade, opinião crítica e tomada de
decisões. Quando observamos a abrangência des-
ses assuntos, podemos ir muito além das questões
didáticas, envolvendo experiências de aprendi-
zagem para alunos e também, para profissionais
de diversas áreas como engenheiras de controle
e automação, mecatrônica, mecânica, eletrônica,
dentre outras (PEREIRA, 2015).

Neste projeto se desenvolveu um sistema simples de


automação residencial, utilizando um sistema embarcado
accessível como é o Arduino junto a outro dispositivo tão
presente em nossas vidas, que é o Smartphone. Neste caso
utilizou-se um Smartphone do tipo Android para ter inte-
ração e comando sobre o sistema de automação e controle
residencial, a comunicação foi via bluetooth e integrou-se o
Arduino com o Smartphone por meio de um aplicativo de-
senvolvido com a ferramenta App Inventor 2 e assim ter in-
formação e controle da residência na palma da sua mão.

METODOLOGIA

Construção do protótipo

Inicialmente foi projetada uma maquete para ser uti-


lizado como protótipo de uma casa, utilizando o software
SKETCHUP desenhou-se uma planta em 3D de maneira a
simular uma simples residência. Partindo dessa planta ini-
cial em 3D foi realizado o desenho, no Software AUTOCAD,
dos planos em 2D para poder realizar os cortes utilizando-se

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES 127

uma maquina de corte a laser de chapas em MDF e Acrílico.


A Fig. 1 mostra o desenho técnico da maquete a ser constru-
ído e ser utilizado como protótipo de simulação de uma re-
sidência simples.

Figura 1 – Desenho técnico realizado no Sketchup da maquete de


uma casa simples.

Fonte: Próprio autor.

Sistema embarcado e sensores

Em conjunto com a construção da parte física foi tam-


bém desenvolvido a parte do sistema de controle e automa-
ção feita pelo o Arduino e alguns componentes. Assim após
o devido domínio sobre cada componente tais como: servo
motores, Led’s, sensor de temperatura e umidade, sensor de
chamas e módulo bluetooth. Foi feito o programa que uniu
todos em um único sistema.

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
128 ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES

Figura 2 – Esquema da montagem dos sensores, servo motores,


módulo bluetooth e LEDs no protoboard.

Fonte: próprio autor.

Aplicativo para Android

Foi desenvolvido um aplicativo para Android adequa-


do ao funcionamento do projeto, para isso foi utilizado a
plataforma App Inventor 2. Esta é uma ferramenta utilizada
para auxiliar na criação de aplicativos para Smartphones
com sistema operacional Android, gratuita e de fácil utiliza-
ção através do conceito de programação em blocos, evitando
ao desenvolvedor aprender e trabalhar com mais duas lin-
guagens de programação.

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES 129

Figura 3 – App inventor com o layout de desenvolvimento da


parte lógica do aplicativo.

Fonte: próprio autor.

RESULTADOS

Protótipo e aplicativo Android

A Fig. 4 mostra o protótipo construído e que simula


uma residência com simples itens de controle e automação.
Além disso, em conjunto com o protótipo foi desenvolvido
um aplicativo para sistema operacional Android e criado
para atender a necessidade do controle e coleta de dados
dispostos na palma da mão do usuário através de qualquer
Smartphone.

Figura 4 – Protótipo de casa e


alguns sensores e elementos
pré-instalados.

Fonte: próprio autor.

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
130 ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES

Figura 5 – Tela principal do aplicativo desenvolvido no sistema


Android para o controle da automação residencial.

Fonte: próprio autor.

Divulgação do Projeto

A divulgação do projeto foi realizada através de pales-


tras, oficinas e minicursos para a comunidade acadêmica da
Unilab e alunos de escolas públicas da região do Maciço de
Baturité que no final alcançou um total de 320 participan-
tes. A Fig. 6 mostra uma foto dos participantes da palestra
realizada no campus dos palmares na Unilab no dia 5 de se-
tembro de 2018.
Ao longo das palestras, oficinas e minicursos realiza-
das, percebeu-se que uma parte dos alunos aparentemente
os que têm certa vocação pela engenharia e ciências exatas,
mostraram interesse por meio de varias perguntas sobre a
ferramenta, sobre o custo, como adquirir um Arduino, sobre
a prototipagem e também sobre aplicativo para androide.
Houve muito interesse pelos sistemas embarcados mesmo

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES 131

sendo para a maioria o primeiro contato com esta ferramen-


ta. Através da divulgação deste projeto e utilizando o protó-
tipo didático de automação, conseguiu-se incentivar a maio-
ria dos participantes a realizar seus projetos com diversas
finalidades.

Figura 6 – Foto dos alunos participante de uma palestra realizada


no dia 5 de setembro de 2018 no campus dos palmares na Unilab.

Fonte: próprio autor.

CONCLUSÃO

Apresentou-se a comunidade uma ferramenta capaz


de atender a diversas propostas de soluções envolvendo di-
versos conhecimentos e habilidades. Pode-se concluir que
o projeto obteve sucesso ao atingir os objetivos propostos.
O projeto conseguiu através de um protótipo apresentar
de forma simples e prática uma demonstração da automa-
ção de uma casa envolvendo sistemas embarcados. Os par-
ticipantes dos eventos realizados mostraram encanto pelo
projeto apresentado e interesse em desenvolver outros tipos
projetos. Acredita-se que os participantes se tornaram mul-

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
132 ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES

tiplicadores do conhecimento repassado assim como reali-


zarem seus próprios projetos, buscando mais conhecimen-
tos e podendo ser um incentivo para seguir uma graduação
em ciências exatas ou engenharia. Concluísse que esse tipo
de atividade deve ser cada vez mais realizado na universi-
dade, nas escolas de ensino médio, levando cada vez mais o
conhecimento a comunidade e transformando o ambiente
social.

REFERÊNCIAS

ABREU, E.R; VALIM, P.R.O. Domótica: Controle de Automação


Residencial Utilizando Celulares com Bluetooth. VIII Simpósio
de Excelência em Gestão e Tecnologia (SEGeT), 8, 2011, Rio
de Janeiro.
BANZI, M. Arduino. Disponível em: <http://www.arduino.
cc> Acesso em: 20 de junho de 2019.
NOGUEIRA, B., MACIEL, P., CALLOU, G., ANDRADE, E., TA-
VARES, E. ALUPAS: Avaliação de desempenho e consumo de
energia de softwares para sistema embarcados. Revista de In-
formática Teórica e Aplicada 16. 1: 25-44, 2009.
PEREIRA, Márcio Lúcio Dias. Projetos de Robótica Educacio-
nal como apoio ao ensino de Matemática e Física: criando um
protótipo de robô controlado por sensor de luminosidade. 2015.
27 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Mestrado Profissio-
nal em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Cru-
zeiro do S u l, 2015.
QUEIROZ, R. Ensinando conceitos básicos de programação a
crianças do Ensino Fundamental I por meio da Robótica Edu-
cacional. 2016. Anais dos workshops do congresso Brasileiro
de informática na educação, Disponível em: <http://www.
br-ie.org/pub/index.php/wcbie/article/view/7042>. Acesso
20 jun.2019.

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
ALUISIO RODRIGUES MARQUES NETO • CARLOS ALBERTO CÁCERES 133

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a PROEX / PIBEAC 2018 pela bolsa ex-


tensão ao aluno de graduação e participante deste projeto.
Ao grupo de pesquisa em materiais poliméricos e energias
alternativas (POLi-EN) da UNILAB.

AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL CONTROLADA POR SMARTPHONES VIA BLUETOOTH UTILIZANDO SISTEMAS EMBARCADOS
134 CARLOS ALBERTO CÁCERES

Influencia do número de eletrodos


ativos durante o tratamento corona de
filmes de polipropileno
Carlos Alberto Cáceres1

RESUMO
O aumento da tensão de superficial de filmes de polipropileno após
tratamento corona foi analisado e foi realizada uma simulação de diferentes
arranjos matriciais de pontas utilizadas durante a descarga corona uma
modelagem utilizando as equações de Warburg que permitiram uma.
A simulação permitira ajudar projetar e configurar o número de pontas
necessárias para realizar um tratamento corona uniforme sobre uma
área conhecida. Filmes de polipropileno com dimensões de 2,0 x 7,0 cm2
foram tratados com duas configurações diferentes de pontas, a primeira
apenas utilizou uma única ponta e a segunda é um arranjo matricial de
pontas no número de 2x11. O aumento da tensão superficial foi relacionado
com as medidas de ângulo de contato antes e após a descarga corona na
área tratada. Os resultados revelaram que uma única ponta produz um
incremento na tensão superficial do filme de acordo com a equação de
Warburg, sendo maior no centro e à medida que se afasta do centro ocorre
uma redução rápida. Por outro lado, a tensão superficial do polímero
tratado com corona e configuração matricial de pontas é uniforme ao
longo de toda a área. Medidas usando espectroscopia de absorção no
infravermelho mostraram que há um incremento na concentração de
carbonilas (C=O) e hidroxilas (O-H) após o tratamento corona.
Palavras-chave: Tratamento corona. Polipropileno. Tensão superficial.

EFFECT OF ACTIVE ELECTRODES NUMBER DURING THE


CORONA TREATMENT OF POLYPROPYLENE FILM

ABSTRACT
The wetting tension increase and surface degradation of propylene
copolymer films after corona treatment were studied. Modeling using

1 Engenheiro de Materiais, doutor em ciência e engenharia de materiais, pro-


fessor adjunto do instituto de engenharias e desenvolvimento sustentável
na UNILAB, Redenção - CE. E-mail: caceres@unilab.edu.br

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


CARLOS ALBERTO CÁCERES 135

Warburg`s equations allow to simulate the matrix arrangements of the


corona discharge pin-tips. This model helps to design the configuration
of the pin-tips necessary to generate an uniform corona treatment over
a known area. Polypropylene films with 2x7 cm2 were treated with two
different pin-tips configurations: single pin-tip and a matricial 2x11
pin-tips arrangement. The contact angle after corona discharge was
measured across the treated area. The results revealed that a single pin-
tip produces an increment in the surface tension of the film following the
Warburg’s equation; being greater in the centre, with rapid reduction as
it moves out off the center. On the other hand, the surface tension of the
corona treated polymer with the matricial pin-tip/plane configuration is
uniform throughout of the whole area. Measurements using FTIR-ATR
demonstrate increment on superficial concentration of C=O, C-O and
O-H groups after corona treatment.
Keywords: Corona treatment. Polypropylene. Wetting tension.

INTRODUÇÃO

Materiais poliméricos como o polipropileno apresen-


ta uma baixa tensão superficial, portanto tratamentos su-
perficiais tornam-se necessários para aumentar essa tensão
superficial e assim serem utilizados em aplicações indus-
triais como são os processos de impressão, laminação, etc
(ZHANG; SUN; WADSWOKTH, 1998). O polipropileno tem
uma tensão superficial em torno de 30 mJ/m2 (WU, 1983) e
geralmente é requerido pelo menos um valor de 37 mJ/m2
para procedimentos de impressão, enquanto que valores
iguais ou superiores a 47 mJ/m2 são tipicamente requeridos
para processos de laminação (STEHLING; MEKA, 1994).
Existem vários métodos utilizados para aumentar a
tensão superficial de filmes poliméricos, mas o tratamen-
to corona e um dos é o mais utilizado nos processos indus-
triais. (BROCKMANN, 1999). O tratamento corona consiste
em uma descarga elétrica, não destrutiva e autossustentável
que é gerada quando uma alta voltagem é aplicada através
de dois eletrodos assimétricos como uma ponta e um plano
(GIACOMETTI; OLIVEIRA, 1992). Um campo elétrico muito

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


136 CARLOS ALBERTO CÁCERES

alto é formado na região próxima à ponta permite a ioni-


zação do ar nessa região e consequentemente formação de
íons que são conduzidos na direção do plano que apresenta
um campo elétrico baixo (GIACOMETTI; OLIVEIRA, 1992). A
descarga corona ocorre quando uma alta tensão é aplicada
através de eletrodos assimétricos e um plasma é formado e
a luz de cor azul pode ser observada na fenda de separação
entre os eletrodos. Esse plasma formado na pressão atmos-
férica é chamado de descarga corona e aparece em variadas
formas, dependendo da polaridade do campo e da geometria
da configuração dos eletrodos (GOLDMAN; GOLDMAN; SIG-
MOND, 1985).
Durante a descarga corona há também geração de
luz visível, ruído, vibrações mecânicas e reações químicas
(ABDEL-SALAM, 2000). As reações químicas geradas pela
ionização das moléculas do ar permitem, entre outros, for-
mação de ozônio, oxigênio atômico (SKALNÝ et al., 2008).
A geração de ozônio é influenciada pela polaridade da des-
carga corona, meio gasoso e umidade relativa. Outros tra-
tamentos utilizam o plasma de descarga cintilante DC para
modificar superfícies de filmes PP e as mudanças químicas
e morfológicas na superfície de filmes PP permitem aumen-
tar as propriedades de adesão porque os grupos funcionais
polares na superfície do PP causam aumento na tensão su-
perficial (PANDIYARAJ et al., 2009).
Carlsson e Wiles (2006) estudaram as mudanças su-
perficiais em filmes de polipropileno submetidas a trata-
mento corona, em uma atmosfera de nitrogênio observaram
que houve formação de insaturações (C=C) e pouca incorpo-
ração de nitrogênio caracterizada pela ausência de bandas
de absorbância em 3300 cm-1 (-NH), 2200 cm-1 (-C?N) e 1420
cm-1 (-N=N). Em atmosfera de oxigênio observaram uma for-
te absorção na região das carbonilas (1715 cm-1) e presença de

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


CARLOS ALBERTO CÁCERES 137

insaturações (1650 cm-1) em menor proporção. Outras ban-


das de absorbância em torno de 3400 cm-1 foram relaciona-
das a grupos hidroxila (–OH) e as absorbâncias em torno de
1450 a 900 cm-1 foram relacionadas a pontos de ramificação.
Neste trabalho foram utilizadas duas configurações
de pontas para realizar a descarga corona, no primeiro caso
uma única ponta foi utilizada sobre área plana contendo um
filme polimérico e o segundo consiste de conjunto de pontas
arranjadas de forma matricial 2x11 sobre área plana conten-
do o filme polimérico. Após o tratamento corona, foram rea-
lizadas medições do ângulo de contato na superfície dos fil-
mes poliméricos a fim de mapear a uniformidade da tensão
de molhamento nos filmes de polipropileno e as mudanças
químicas na superfície foram determinadas pela espectros-
copia de absorção no infravermelho.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

Foram utilizados filmes com espessura em torno de


36mm feitos de polipropileno com índice de fluidez de 8.0
g/10min (2.16kg/230°C, ASTM-D1238) e densidade de 0,888
g/cm3. O filme polimérico foi cortado em dimensões de 1,0
x 7,0 cm2 e as amostras foram lavadas com acetona por 3,0
mim em um aparelho de ultrassom e após secos à tempera-
tura ambiente por um tempo de 60mim.

Metodologia

Foi utilizado o software Maple para simular a distri-


buição de densidade de corrente durante tratamentos coro-
na. A equação utilizada foi à chamada lei de Warburg (Eq. 1)

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


Foi utilizado o software Maple para simular a distribuição
corrente durante tratamentos corona. A equação utilizada foi à chamada lei d
138 CARLOS ALBERTO CÁCERES
que é utilizada para analisar a descarga corona entre eletrodos assimétricos c
um plano
que é(GOLDMAN;
utilizada paraGOLDMAN; SIGMOND,
analisar a descarga corona 1985).
entre eletro-
dos assimétricos como uma ponta e um plano (GOLDMAN;
GOLDMAN; SIGMOND, 1985).
𝑗𝑗(𝜃𝜃 ) = 𝑗𝑗𝑜𝑜 . 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 5 𝜃𝜃
j(θ) = jo . cos5 θ (1)
𝐼𝐼
Sendo 𝑗𝑗𝑜𝑜 ~ 2.𝑑𝑑2 e 𝑡𝑡𝑡𝑡 (𝜃𝜃 ) = 𝑟𝑟/𝑑𝑑 ee na
Sendo na qual
qualI éI aécorren-
a corrente total, d
te total, d é a distancia de separação entre a ponta e o plano
separação entre a ponta e o plano e r é distancia radial tomando como ce
e r é distancia radial tomando como centro a posição do ele-
eletrodo tipo
trodo ponta.
tipo ponta.
O
Otratamento
tratamentosuperficial
superficial de de
filmes poliméricos
filmes poliméricosfoi rea-
foi realizado
lizado através de dois sistemas, o primeiro é constituído por
sistemas, o primeiro
apenas uma pontaé constituído
e um planopor e o apenas
segundo uma ponta e umpor
é constituído plano e o segu
por umumconjunto
conjuntode depontas
pontas(2x11)
(2x11) eeum umplano.
plano.AsAspontas
pontasutiliza-
utilizadas são an
das são anodos de latão que atuam como eletrodos ativos e
o plano é uma placa metálica de aço inox de 10 x 20 cm2 que
atua como catodo ou eletrodo passivo. A fonte de alta volta-
gem DC utilizada foi da marca BERTRAN, modelo 30B que
tem capacidade de gerar diferenças de potencial de até 30kV
e correntes de até 5mA.
As mudanças químicas na superfície dos filmes poli-
méricos antes e após tratamento corona foram analisadas
através da espectroscopia de absorção no infravermelho
utilizando o acessório de refletância total atenuada (ATR)
com cristal de ZnSe. O equipamento utilizado foi da marca
Perkin-Elmer FTIR, modelo Spectrum 1000. As análises fo-
ram realizadas, após de obter o espectro de “linha base”, na
região de 4000 a 650cm-1 utilizando uma resolução de 4cm-1
e 16 varreduras.
As medidas de ângulo de contato foram realizadas
através de um Goniômetro da marca Dataphysics OCAH e
foi utilizado água, grau HPLC, para determinar os ângulos
de contato dos filmes de PP antes e após tratamento corona.

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


As medidas de ângulo de contato foram realizadas através de um Goniômetro
Dataphysics OCAH e foi utilizado água, grau HPLC, para determinar os ângulos
CARLOS ALBERTO CÁCERES 139
dos filmes de PP antes e após tratamento corona. Utilizando a Eq. 2 podemos calcu
o de molhamento e é conhecida
Utilizando como acalcular
a Eq. 2 podemos equação de Young-Dupré.
a tensão O incremento
de molhamen-
to e é conhecida
lidade da superfície como
dos filmes a equação foi
poliméricos de Young-Dupré. O incre-
realizado através da comparação d
mento da molhabilidade da superfície dos filmes poliméri-
os antes e após
costratamento corona.
foi realizado através da comparação dos resultados antes
e após tratamento corona.

Wadh = γ l (1 + cosθ ) (2)

RESULTADOS E DISCUSSÃO
ULTADOS E DISCUSSÃO
Simulação
ulação
A Fig. 1 mostra uma simulação da distribuição de
densidade segundo a lei de Warburg. A simulação da dis-
A Fig. 1tribuição da densidade
mostra uma simulação de da
corrente para o sistema
distribuição formado
de densidade segundo a lei
por apenas uma ponta e um plano é mostrado na Fig 1a e
g. A simulação da distribuição
observamos daatingida
que área densidadeé dedeforma
corrente para
radial o sistema
sobre uma formado
uma ponta epequena
um plano área circular sobre
é mostrado na Figplano
1a eutilizado.
observamosA simulação
que área atingida é
da distribuição da densidade de corrente utilizando varias
adial sobre uma pequena área circular sobre plano utilizado. A simulação
pontas distribuídas de forma matricial (2x11) e foi realizada
ção da densidade
atravésdedacorrente utilizando
somatória de umavarias
serie depontas distribuídas
funções de Werburgde forma matric
e os resultados
e foi realizada através da são mostrados
somatória de na
umaFig.serie
1b e podemos
de funções obser-
de Werburg e
var que a área atingida pela corrente corona é maior que
os são mostrados na Fig.
o anterior 1b e Estes
sistema. podemos observar
resultados que a áreanos
da simulação atingida
per- pela corre
é maior que omite analisar
anterior que para
sistema. Estesrealizar um da
resultados tratamento
simulaçãocorona so- analisar q
nos permite
bre uma determinada área é importante saber número de
lizar um tratamento corona sobre uma determinada área é importante saber número
pontas e sua distribuição para realizar tratamentos corona
de forma mais homogênea e uniforme sobre uma determi-
nada área.

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


140 CARLOS ALBERTO CÁCERES

Figura 1 – Simulação da distribuição da densidade de corrente


para o sistema formado por apenas uma ponta e um plano (a) e
varias pontas distribuídas de forma matricial (2x11) sobre um
plano

     (a)      (b)
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Ângulo de contato

A Fig. 2 apresenta os resultados de ângulo de contato


ao longo do comprimento dos filmes poliméricos depois de
tratados com descarga corona. Para o sistema constituído
por apenas uma ponta e um plano observamos que ângu-
lo de contato na parte central do filme polimérico (posição
da ponta) é de 52° e este valor vai reduzindo conforme vai
se afastando da parte central ás bordas do filme e chegando
as extremidades a ângulos de contato de 87°, ou seja, uma
variação de 35° no tratamento corona ao longo do filme de
área de 10x70mm2 e pode ser considerado que filme não teve
um tratamento homogêneo variando desde um tratamento
corona fraco nas extremidades e muito elevado no centro.
Segundo a norma ASTM D-5946 os ângulos de contato entre
85 a 90° são considerados como tratamentos corona fracos,
os médios variam entre 78 a 84°, os elevados entre 71 a 77°

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


CARLOS ALBERTO CÁCERES 141

e os muito elevados apresentam um ângulo de contato infe-


rior a 71°.
O filme tratado com o sistema formado por varias
pontas apresenta um ângulo de contato em torno de 46° e
se mantem quase constante ao longo do comprimento do
filme tratado. Este resultado nos permite concluir que para
conseguir um tratamento corona mais uniforme sobre uma
superfície polimérica é importante distribuir os eletrodos
ativos de forma apropriada e assim conseguir aumentar a
tensão superficial da área tratada de forma homogênea e
uniforme.

Figura 2 – Variação de ângulo de contato nos filmes poliméricos


tratados através de um sistema formado por apenas uma ponta e
um plano (a) e varias pontas distribuídas de forma matricial (2x11)
sobre um plano

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


142 CARLOS ALBERTO CÁCERES

Tensão de molhamento

A Fig. 3 mostra a tensão de molhamento dos filmes


após tratamento corona e a simulação da variação da densi-
dade de corrente ao longo do comprimento do filme. A ten-
são de molhamento no filme tratado com apenas um ponta
(Fig. 3a) tem uma variação de 77 a 117din/cm ao longo do fil-
me polimérico e pode ser explicado pela relação com distri-
buição de densidade corona ao longo deste comprimento
que segue o comportamento da lei de Warbug. No sistema
formado com varias ponta a tensão de molhamento é apro-
ximadamente de 120 dinas/cm e se mantem praticamente
constante ao longo do comprimento do filme tratado, este
resultado está de acordo com a distribuição de densidade
corona simulada através da somatória de varias funções de
lei de Warbug.

Figura 3 – Tensão de molhamento dos filmes poliméricos


tratados através de um sistema formado por apenas uma ponta e
um plano (a) e varias pontas distribuídas de forma matricial (2x11)
sobre um plano

     (a) (b)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


CARLOS ALBERTO CÁCERES 143

Espectroscopia de absorção no infravermelho

A Fig. 4 apresenta os espectros obtidos através da es-


pectroscopia de absorção de infravermelho do filme não
tratado com descarga corona, filme lavado com acetona an-
tes de ser tratado e o filme após tratamento corona. Estes
resultados correspondem apenas ao tratamento realizado
com o sistema constituído por varias pontas. Os filmes in-
cialmente apresentam algumas bandas de absorbância na
região das carbonilas que após lavagem com acetona estas
bandas desaparecem da superfície do filme e após lavagem
com acetona. Depois de realizado o tratamento corona nega-
tivo pode se observar que houve um incremento na concen-
tração de hidroxilas (OH), na região de 3600–3100 cm-1, o que
contribui para o aumento da tensão superficial dos filmes
poliméricos. Observa-se também que na região das carboni-
las (C=O) houve um incremento em volta da absorbância em
1715 cm-1 que corresponde a grupos cetona e também há pre-
sença de insaturações vinílicas (C=C) em torno de 1643cm-1.

Figura 4 – Espectros de FTIR do filme polimérico antes e após


tratamento corona (a) e ampliação da região relativa à formação
de hidroxilas e carbonilas (b).

(a)

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


144 CARLOS ALBERTO CÁCERES

(b)
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

CONCLUSÃO

A somatória de várias funções de Warburg foi utili-


zada para simular a distribuição da densidade de corrente
total gerada por várias pontas que foram organizadas em
uma forma matricial. O modelo permite projetar um equi-
pamento de tratamento de corona mais uniforme, a fim de
otimizar a modificação superficial de filmes poliméricos.
Os resultados da medição do ângulo de contato confirmam
as simulações realizadas em ambos os sistemas utilizados,
uma ponta e um plano e varias pontas e um plano. A análise
da composição superficial pelo FTIR-ATR permitiu caracte-
rizar a modificação superficial dos filmes após o tratamento
corona. Os resultados sugerem que compostos com baixo
peso molecular foram criados e estruturas químicas conten-
do insaturações, cetonas, aldeídos e grupos hidroxilas que
são os responsáveis pelo incremento da tensão superficial
do filme após tratamento corona.

INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


CARLOS ALBERTO CÁCERES 145

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INFLUENCIA DO NÚMERO DE ELETRODOS ATIVOS DURANTE O TRATAMENTO CORONA DE FILMES DE POLIPROPILENO


CELSO PIRES DE ARAÚJO JUNIOR • CARLOS ALBERTO CÁCERES • ADRIANO LINCOLN ALBUQUERQUE MATTOS
146 MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA

Caracterização de painéis da casca


do coco verde sem adição de resinas
aglutinantes
Celso Pires de Araújo Junior1
Carlos Alberto Cáceres2
Adriano Lincoln Albuquerque Mattos3
Morsyleide de Freitas Rosa4

RESUMO
O consumo crescente da água de coco gera uma grande quantidade
de resíduo de difícil gerenciamento. Conforme dados da Associação
Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas
(ABIR) apenas em 2017 foram produzidos 157 milhões de litros de água de
coco industrializada no Brasil. O aproveitamento dessa biomassa reduz
o acúmulo de resíduos, agrega valor à cadeia produtiva e aumenta a vida
útil dos aterros sanitários. Uma possibilidade é utilizar a casca de coco
verde na manufatura de painéis como alternativa aos painéis elaborados
com madeira. A vantagem de utilizar a casca de coco verde é seu alto
teor de lignina, que em condições adequadas de pressão e temperatura,
funciona como um ligante natural dispensando o uso de resinas sintéticas
formuladas com formaldeído, substância potencialmente causadora
de câncer. O objetivo deste trabalho foi obter e caracterizar painéis
lignocelulosicos, utilizando como matéria-prima as fibras e o pó da casca
do coco verde, sem adição de resinas sintéticas. A caracterização dos
painéis foi realizada através de análises térmicas, testes de inchamento
em espessura, absorção de água e ensaios mecânicos. Os painéis obtidos
tem boa integridade estrutural verificando que a lignina da matéria-
prima atuou como ligante natural. Todos os painéis apresentaram
1 Graduado em química, mestre em engenharia e ciência dos materiais.
E-mail: celsopires@ymail.com.
2 Engenheiro de Materiais, doutor em ciência e engenharia de materiais, pro-

fessor adjunto do instituto de engenharias e desenvolvimento sustentável


na UNILAB, Redenção – CE. E-mail: caceres@unilab.edu.br
3 Engenheiro agrônomo, doutor em ciência e engenharia de materiais, ana-

lista – A da Embrapa, Fortaleza – CE.


4 Engenheira química, doutora em tecnologia de processos químicos e bio-

químicos, pesquisadora -A da Embrapa, Fortaleza – CE.

CARACTERIZAÇÃO DE PAINÉIS DA CASCA DO COCO VERDE SEM ADIÇÃO DE RESINAS AGLUTINANTES


CELSO PIRES DE ARAÚJO JUNIOR • CARLOS ALBERTO CÁCERES • ADRIANO LINCOLN ALBUQUERQUE MATTOS
MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA 147

valores de absorção de água inferiores ao MDF comercial. Alguns painéis


apresentaram módulo de elasticidade superior ao MDF comercial.
Palavras-chave: Coco verde. Lignina. Painéis sem aglutinantes.

CHARACTERIZATION OF UNRIPE COCONUT BINDERLESS PANELS

ABSTRACT
According to data from the Brazilian Association of Soft Drinks and Non
Alcoholic Beverages (ABIR), only in 2017 were produced 157 million liters
of industrialized coconut water in Brazil. The increasing consumption
of coconut water generates a large amount of waste that is difficult to
manage. The use of this biomass reduces the accumulation of waste, adds
value to the production chain, generates income and increases the useful
life of landfills. One possibility is to use the unripe coconut shell in the
manufacture of panels as an alternative to panels elaborated with wood.
One of the advantages of using the coconut shell is its high lignin content,
which under appropriate pressure and temperature conditions can
function as a natural binder without the use of synthetic resins to bind
the fibers. In general, these resins are formulated with formaldehyde,
a substance derived from petroleum and potentially causing cancer.
From these panels, it is possible to manufacture furniture, partitions,
floors and coatings without the need to cut forest species. The aim of
the present work was to obtain and characterize lignocellulosic panels,
using as raw material the fibers and the powder of the unripe coconut
shell, without addition of synthetic resins. The obtained panels were
submitted to thermal analysis, swelling tests in thickness, water
absorption, mechanical tests, infrared characterization and scanning
electron microscopy. According to the results obtained, the lignin
present naturally in the raw material acted as a binder, being possible to
obtain panels with good structural integrity. All panels had lower water
absorption values than commercial MDF. Some panels showed a modulus
of elasticity superior to commercial MDF.
Keywords: Green coconut. Lignin. Binderless boards.

INTRODUÇÃO

O coqueiro (Cocos nucifera L.) é uma palmeira perene


originária do Sudeste Asiático e foi introduzida no Brasil no
século XVI pelos portugueses. O coco fornece água, leite,
óleo, etc., além de ser aproveitado para usos medicinais e

CARACTERIZAÇÃO DE PAINÉIS DA CASCA DO COCO VERDE SEM ADIÇÃO DE RESINAS AGLUTINANTES


CELSO PIRES DE ARAÚJO JUNIOR • CARLOS ALBERTO CÁCERES • ADRIANO LINCOLN ALBUQUERQUE MATTOS
148 MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA

utensílios artesanais (CHAN; ELEVITCH, 2006)but will grow


at 0-600 m (0-1970 ft. Segundo a base de dados da FAO (Orga-
nização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação)
o Brasil produz quase 3 milhões de toneladas de coco por
ano (FAOSTAT, 2018).
O aumento da demanda da água foi atendido graças
à cultura do coqueiro anão irrigado (MATTOS et al., 2011).
Conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias
de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas apenas em 2017
foram produzidos 157 milhões de litros de água de coco in-
dustrializada no Brasil (ABIR, 2019). Esse crescimento na
produção acarretou no aumento da geração de resíduos vo-
lumosos e quando descartados em aterros sanitários contri-
buem para redução da capacidade disponível de armazena-
mento. Quando dispostos na zona urbana, além da notória
poluição, são vetores para diversas doenças. Além disso,
essa matéria orgânica, quando sofre decomposição, produz
metano, principal contribuinte do efeito estufa (FREITAS
ROSA et al., 2001)sendo processado majoritariamente em
seu estádio final de maturação para produção de óleo e ou-
tros produtos, no Brasil, o coco é consumido, também, ima-
turo para aproveitamento de sua água. No primeiro caso,
as cascas, resíduo do processamento do coco maduro (coco
seco.
Anualmente, em torno de 30 bilhões de cocos são colhi-
dos no mundo, desse montante, apenas 15 % é utilizado para
produção de fibras (JANG et al., 2012). O problema ambiental
gerado pela casca de coco verde vem sendo amenizado por
meio da reciclagem, produção de inúmeros produtos, como
enchimentos para bancos de automóveis e colchões, vasos,
placas e palitos para paisagismo, substrato agrícola, reforço
de material de decoração, placas acústicas e térmicas, etc.
(MADURWAR; RALEGAONKAR; MANDAVGANE, 2013).

CARACTERIZAÇÃO DE PAINÉIS DA CASCA DO COCO VERDE SEM ADIÇÃO DE RESINAS AGLUTINANTES


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MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA 149

No Brasil, a principal fonte de madeira vem de flores-


tas plantadas, em especial de espécies de eucalipto e pínus
(BIAZUS; HORA; LEITE, 2010). Os painéis tradicionalmente
são obtidos de fibras da madeira que são aglutinadas com
resina sintética em condições de pressão e temperatura, ob-
tendo-se assim painéis com diferentes espessuras que são
úteis na confecção de móveis, na construção e acessórios
para casa, pois apresentam grande estabilidade dimensio-
nal e capacidade de usinagem.
Entretanto, este tipo de painel é produzido com resi-
nas à base de formaldeído, o que resulta em preocupações
ambientais e à saúde publica, tendo em vista a volatilização
do formaldeído presente nessas resinas (ZHANG; ZHANG;
XUE, 2015). As substâncias emitidas pelos resíduos da ma-
deira são consideradas pela Agência Internacional para Pes-
quisa sobre Câncer (IARC), como cancerígenas para os seres
humanos (FARIAS et al., 2016).
A casca de coco apresenta um elevado teor de lignina, e
pode funcionar como um ligante natural quando prensadas
em condições adequadas de temperatura e pressão, poden-
do dispensar o uso de resinas sintéticas. A produção deste
tipo de painel é importante devido a ser reciclável, renová-
vel e abundante, o que representa uma alternativa ao uso da
madeira, bastante escassa e encarecida, proveniente de áre-
as florestais. Além disso, existe uma tendência no mercado
global de produzir painéis com pouco ou sem formaldeído.
Desse modo, a escassez de recursos florestais soma-
dos a necessidade de produtos mais ecológicos e resinas
aglutinantes mais baratas, gera uma demanda pelo uso de
outros tipos de biomassa além da madeira. Nesse sentido
este trabalho visa obter painéis lignocelulosicos da casca do
coco verde como matéria prima e sem adição de resinas sin-
téticas e caracterizar através de testes de inchamento em es-

CARACTERIZAÇÃO DE PAINÉIS DA CASCA DO COCO VERDE SEM ADIÇÃO DE RESINAS AGLUTINANTES


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150 MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA

pessura, absorção de água, ensaios mecânicos e análises tér-


micas via calorimetria de exploratória de varredura (DSC) e
analise termogravimétrica (TGA).

MATERIAIS E MÉTODOS

Elaboração e produção de painéis

A matéria prima utilizada é uma mistura de pó e fibra


de coco verde na proporção de 70/30 % em peso, e foi unifor-
memente distribuída dentro de um molde de aço inoxidável
de área quadrada de 121x10-4 m2 e profundidade de 5x10-2 m.
Utilizando uma prensa hidráulica as amostras com umidade
em torno de 8% foram prensadas em diferentes temperatu-
ras (210, 220, 230 e 240 ºC). Todos os painéis manufaturados
foram obtidos a uma pressão de aproximadamente 16,0 MPa
e tempo de prensagem de quatro minutos. As condições de
umidade da mistura, pressão, tempo de prensagem, pro-
porção pó/fibra e granulométrica da fibra foram mantidas
constantes.

Caracterização dos painéis

Análises de inchamento de espessura e absorção


de água foram realizadas segundo a metodologia aplicada
pela norma da ABNT NBR 14810-3: 2006. A caracterização
mecânica foi realizada através de ensaio de flexão em uma
Máquina Universal EMIC/30kN, com célula de carga de 5,0
kN, velocidade do ensaio de 1 mm/min e distância entre os
apoios inferiores de 80 mm. Na análise termogravimétrica
(TGA), as amostras foram aquecidas de 50 °C até 700 °C a
uma taxa de 10 °C/min, fluxo de ar sintético de 60 mL/min
e o equipamento utilizado foi da Perkin Elmer (modelo STA

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MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA 151

6000). As análises de calorimetria diferencial de varredura


(DSC) foram realizadas em cadinho não hermético e atmos-
fera de N2 a um fluxo de 50 mL/min, as amostras com peso
de aproximadamente 5 mg foram submetidas a uma taxa de
aquecimento de 10 °C/min e o equipamento utilizado foi da
marca TA instrument , modelo Q20.

RESULTADOS

Absorção de água e espessura de inchamento

A Fig. 1 apresenta os resultados de absorção de água e


espessura de inchamento dos painéis obtidos em diferentes
temperaturas de prensagem. Verifica-se que o aumento da
temperatura de prensagem tende a reduzir os valores de es-
pessura de inchamento e absorção de água, principalmente
nos ensaios realizados com 24 horas de imersão, conforme
já relatado por outro trabalho (NADHARI et al., 2013). Todos
os painéis apresentaram valores de absorção de água infe-
riores com relação a um painel de MDF comercial. Os resul-
tados do MDF comercial também foram colocados nos grá-
ficos para analise de comparação. Os painéis obtidos a 220,
230 e 240°C foram considerados os mais promissores, apre-
sentando valores de inchamento em espessura equivalentes
ao MDF comercial.

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152 MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA

Figura 1 – Espessura de inchamento e absorção da agua,


nos tempos de 2h e 24h, dos painéis prensados a diversas
temperaturas

(a) (b)
Fonte: elaborado pelo autor.

Ensaios de Flexão

A Fig. 2 mostra os resultados dos ensaios mecânicos de


flexão. Os painéis de MDF comercial apresentara valores de
MOR e MOE de 3,15 GPa e 41 MPa, respectivamente. Os resul-
tados mostram que as propriedades mecânicas, nos painéis
lignocelulósicos, reduzem com o aumento da temperatura
de prensagem e são inferiores ao MDF comercial. Os painéis
prensados a maiores temperaturas possuem uma maior esta-
bilidade dimensional a absorção de agua, ou seja, as elevadas
pressões e temperaturas utilizadas favorecem ao aumento da
densidade de ligações cruzadas os tornando até mais rígidos
e consequentemente reduzindo o desempenho mecânico
em relação a painéis prensados a menores temperaturas. Os
resultados nos painéis prensados a 230°C podem estar rela-
cionadas a algumas fissuras observadas e afetando ao menor
desempenho mecânicos quando comparados aos demais.
Na literatura relata-se que altas temperaturas redu-
zem os valores de inchamento e absorção de água, mas com-
prometem o desempenho das propriedades mecânicas do

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MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA 153

material (KOLLMANN; KUENZI; STAMM, 1975). No entanto,


à medida que a degradação térmica dos constituintes ligno-
celulosicos acontece, a hemicelulose inicialmente é elimina-
da favorecendo a hidrofobicidade e em condições mais seve-
ras de temperatura o núcleo aromático da lignina se degrada
contribuindo para redução do desempenho mecânico dos
painéis (SUZUKI et al., 1998).

Figura 2 – Desempenho mecânico dos painéis prensados em


diferentes temperaturas. Módulo de Elasticidade (MOE) e Módulo
de Ruptura (MOR)

       (a) (b)
Fonte: elaborado pelo autor.

Análises térmicas

A Fig. 3 mostra os resultados de DSC da matéria prima


e dos painéis manufaturados em diferentes temperaturas.
Nesta figura apresentamos só o primeiro ciclo de aquecimen-
to da matéria prima (mistura pó e fibra de coco na proporção
em peso de 70/30) e observamos que aparecem alguns even-
tos endotérmicos que são relativos à volatilização de compos-
tos presentes na casca de coco, mas também observamos em
temperaturas acima de 220°C aparece um evento exotérmico
largo e de pouca intensidade que é relativo ao processo de
cura da lignina. Na literatura, relata-se que a irreversibilida-

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154 MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA

de deste processo é um indicativo do comportamento termo-


fixo da lignina que funciona como um ligante natural e pode
viabilizar a produção de painéis de casca do coco verde sem
adição de aglutinantes (VAN DAM et al., 2004).
As outras curvas de DSC correspondem ao segundo
ciclo de aquecimento das amostras dos painéis obtidos em
várias temperaturas e observamos que as amostram não
apresentam mais evidencia de volatilização de componen-
tes devido à ausência de eventos endotérmicos. No evento
exotérmico observamos que a área do pico diminui confor-
me a temperatura de prensagem, e de acordo aos resultados
o processo de cura foi máximo no painel com temperatura
de prensagem de 240°C, este resultado pode ser visualizado
na Fig. 3(b) que é uma ampliação na faixa de 200 a 300°C re-
lativa a processo de cura da lignina.

Figura 3 – Curvas de DSC da matéria prima e dos painéis


prensados em diferentes temperaturas

    (a) (b)
Fonte: elaborado pelo autor.

A Fig. 4a mostra os resultados de TGA da matéria pri-


ma e dos painéis manufaturados em diferentes temperatu-
ras. A curva de TGA da matéria prima apresenta três etapas,
na primeira etapa até uma temperatura de 180°C ocorre uma
ligeira perda de massa em torno de 5% relacionada à secagem

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MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA 155

e liberação de voláteis. A segunda etapa ocorre entre 180°C e


550°C e há uma perda da massa em torno de 75% relativa à
decomposição térmica da hemicelulose, celulose e lignina.
A terceira etapa acontece acima de 550°C com decomposi-
ção de componentes mais pesados e formação de cinzas. Na
literatura, indica-se que a degradação térmica da hemicelu-
lose ocorre em torno de 200 a 260°C, da celulose em torno de
240 a 350°C e da lignina em torno de 280 a 500°C (MACEDO
et al., 2008). Outros intervalos um pouco diferentes para a
degradação térmica da hemicelulose (220-315°C) e celulose
(315-400°C) também são encontrados (YANG et al., 2007).
As curvas de TGA dos painéis obtidos não mostram a
primeira etapa, relativa à perda de voláteis, em vista de que
os painéis já passaram por um histórico de temperatura e
houve perda desse material durante a prensagem. Analisan-
do as curvas de DTG relativas à segunda etapa observamos
que se apresentam de forma mais estreita e intensa o que
um indicativo de que a degradação térmica ocorre a uma
taxa de decomposição mais intensa devido ao fato destes
componentes já terem sido submetidos a temperatura du-
rante a prensagem e passado por um processo de degrada-
ção térmica da hemilcelulose e celulose e cura da lignina.

Figura 4 – Curvas de TGA da matéria-prima (a) e dos painéis


prensados a diferentes temperaturas (b)

(a) (b)
Fonte: elaborado pelo autor.

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156 MORSYLEIDE DE FREITAS ROSA

CONCLUSÕES

Através dos resultados das caracterizações podemos


concluir que os painéis obtidos neste trabalho mostraram
que a lignina presente na matéria-prima atuou como ligante
natural e foi possível obter painéis com boa integridade es-
trutural. Todos os painéis apresentaram valores de absorção
de água inferiores ao MDF comercial. Os painéis prensados a
210°C, 4 min e 16,0 MPa, apresentaram um valor de MOE su-
perior aos do MDF comercial e absorção de água foi inferior
para 24 hrs. Os painéis prensados a 220°C, 4 mim e 16,0 MPa,
embora apresentem um desempenho mecânico inferior ao
MDF comercial possuem valores de absorção de água em 2 e
24 hrs bem inferiores e valores de inchamento em espessura
equivalentes aos painéis disponíveis do mercado.

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CARACTERIZAÇÃO DE PAINÉIS DA CASCA DO COCO VERDE SEM ADIÇÃO DE RESINAS AGLUTINANTES


ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES 159

Estudo do forno solar tipo caixa na


região do Maciço de Baturité
Isadora de Moura Gomes Leal1
Carlos Alberto Cáceres2

RESUMO
Neste trabalho foi construído e utilizado um forno solar tipo caixa como
uma ferramenta simples e prática para fins de cocção de alimentos e
fervura de água. A energia solar é utilizada desde os tempos remotos, e
atualmente vem se tornado mais atraente por ser uma fonte de energia
abundante e econômica, a preocupação com as questões sociais e
ambientais tem sido destacada devido à crise energética, que é um dos
problemas que mais afeta no nosso dia-a-dia. Atualmente projetos
voltados à utilização de energia limpa e renovável, unidos às causas sociais,
vêm obtendo destaque devido ao aumento da preocupação ambiental. O
fato de o Sol ser perene em maior parte do ano na região do maciço de
Baturité – CE abre uma oportunidade para explorar esta fonte limpa,
ecológica e gratuita, através da produção de fornos solares para cocção
de alimentos. O forno solar tipo caixa possui uma grande viabilidade pelo
seu baixo custo, simplicidade de fabricação, possibilidade de reutilizar
materiais como caixas de papelão, vidro, metal, entre outros, e ainda
atingir temperaturas suficientes para cozimento de alimentos. O forno
solar desenvolvido neste projeto atingiu aproximadamente 100°C em
dia ensolarado e em dias parcialmente nublados alcançou temperaturas
que variam entre 60°C e 80°C, mostrando dessa forma a sua eficiência e
viabilidade de ser utilizado na região do maciço de Baturité – CE como
uma alternativa a redução de uso de fogão a lenha.
Palavras-chave: Forno solar. Materiais reutilizados. Energia solar.

1 *Graduanda do curso de engenharia de energias, instituto


de engenharias e desenvolvimento sustentável, UNILAB,
Redenção – CE. E-mail: isadora_mgl@hotmail.com
2 **Engenheiro de Materiais, doutor em ciência e engenharia
de materiais, professor adjunto do instituto de engenharias
e desenvolvimento sustentável, UNILAB Redenção – CE.
E-mail: caceres@unilab.edu.br

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


160 ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES

STUDY OF THE BOX TYPE OVEN IN BATURITÉ MASSIF REGION

ABSTRACT
The present project aims to present a simple and practical tool for food
cooking and boiling purposes using solar thermal energy, with the focus
on reducing the use of the wood stove. As solar energy has been used
since early days, and nowadays has become more attractive because it is
an abundant and economical source of energy, the concern with social
and environmental issues has been highlighted by the energy crisis,
which is one of the problems that most affects our daily lives. Currently,
projects aimed at the use of clean and renewable energy, coupled with
social causes, have been gaining prominence due to the increase in
environmental concern. The fact that the Sun is perennial for most of
the year in the Maciço de Baturité – CE region opens up an opportunity
to explore this clean, ecological and free source through the production
of solar ovens for cooking various foods. The solar box type oven has a
high viability due to its low cost, simplicity of manufacture, possibility of
reusing materials such as cardboard boxes, glass, metal, among others,
and still reach sufficient temperatures during cooking. The developed
solar oven is of the box type and reached maximum temperatures of
approximately 100 ° C, on partly cloudy days temperature range of 60 ° C
to 80 ° C.
Keywords: Solar oven. Reused materials. Solar energy.

INTRODUÇÃO

As altas temperaturas e densidades no interior do sol


permitem a fusão nuclear do hidrogênio gerando dessa for-
ma energia solar que permanecera ainda por centenas de
bilhões de anos, ou seja, é uma poderosa fonte de energia
que produz em torno de 4 x1023 kW de potência por segundo
(TAVARES, 2000). Os sistemas de energia solar podem ser
classificados em sistemas de energia ativo e passivo. A ener-
gia solar passiva principalmente coleta luz e calor e vários
projetos a utilizam para realizar uma serie de construções
mais eficientes de energia e reduzir a necessidade de luz
artificial ou minimizar a quantidade de energia para aque-
cimento. Por outro lado a energia solar ativa refere-se ao ar-

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES 161

mazenamento desta energia ou a converter em outros usos


como eletricidade ou energia térmica (SAXENA; VARUN; EL-
-SEBAII, 2015).
Desde um ponto de vista ambiental as emissões de
gases tóxicos na atmosfera têm preocupado a população
mundial e ultimamente tem-se buscado fontes de energia e
equipamentos menos danosos ao meio ambiente. Segundo o
Balanço Energético Nacional de 2018 o consumo residencial
de lenha em 2017 no Brasil foi de 6.115 mil tep que corres-
ponde a 24,5% do consumo energético residencial final do
país (EPE, 2018). De acordo com a Organização Mundial de
Saúde (OMS), em 2012 cerca de 4,3 milhões de pessoas mor-
reram, em sua maioria mães e filhos pequenos, por contato
com a fumaça e fuligem gerada a partir da queima da lenha
em suas residências. Segundo world health organization no
mundo aproximadamente 3,0 bilhões de pessoas ainda fa-
zem cocção de seus alimentos em fogões a lenha (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2014). Um elevado consumo de
lenha por fogões nas regiões rurais gerando uma extração
desordenada, degradação do solo e longo tempo de reposi-
ção no ambiente e o que tem tornado a lenha mais escassa e
forçando o desmatamento (GIODA, 2019).
Uma alternativa ao consumo de lenha é o uso do forno
solar que aproveita a radiação solar em conversão térmica
para cozimento de alimentos, ou produção de água destilada,
através do “efeito estufa” (RAMOS FILHO, 2011). O principio
de funcionamento de um fogão solar tipo caixa é o aproveita-
mento da radiação solar que passa através de uma superfície
transparente ao interior de uma caixa, e sendo absorvida pe-
las superfícies pretas e convertida em energia térmica, au-
mentando assim a temperatura no interior da caixa.
Para um maior rendimento, o uso de abas refletoras
permite melhorar a captação da energia solar de acordo

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


162 ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES

com o tamanho e número de abas e a superfície escura de


metal do fundo do forno deve estar isolada para evitar per-
das de calor por condução (AALFS, 2006). O correto posicio-
namento das abas refletoras com relação a posição do sol,
são importantes, pois o ângulo de elevação e azimute do sol
mudam no decorrer do dia, alterando o ângulo de incidência
do sol (GREENPRO, 2004).
A região Maciço de Baturité – CE tem elevado poten-
cial solar e dados de insolação média diária do estado do
Ceará realizados por Costa (2015) mostram que de janeiro a
junho é o período com menos horas de insolação durante o
dia varia de 4 a 8 horas, e no segundo semestre chega a mé-
dias diárias de 9 a 10 horas de insolação. Dentro dos vários
tipos de fornos solares existentes, o presente trabalho teve
como objetivo desenvolver e construir um forno solar o tipo
caixa e ser utilizado na região do Maciço de Baturité, como
ferramenta simples, prática e segura, onde sua construção
pode conter materiais reutilizáveis, como caixas de papelão
e papel alumínio, prezando o menor gasto e maior eficiên-
cia, com grande viabilidade de aplicação em comunidades
rurais.

MATERIAIS E METODOS

Materiais

Para a fabricação do forno solar tipo caixa utilizou-se


chapas de papelão e outros materiais reutilizado como cha-
pa de metal, duas placas de vidro, isopor, papel de alumínio
e tinta fosca preta para suportar altas temperaturas.

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES 163

Termômetro

As medidas de temperaturas durante os experimen-


tos foram realizadas utilizando-se um termômetro digital
de infravermelho FLUKE VT02 com faixa de temperatura de
-10°C á 250°C, precisão de 2°C. Os experimentos eficiência
do forno solar foram realizados em quatro dias do mês de ju-
nho de 2017, mês com insolação média diária com máximos
de 8 horas.

Construção do forno solar tipo caixa

Inicialmente foi projetado o forno solar tipo caixa


com o auxilio de software CAD (ver Fig. 1) com dimensões
de aproximadamente de 30 x 40 cm de lado e 20 cm de al-
tura, o forno consiste de duas caixas sem tampas, uma den-
tro da outra, com espaço de no mínimo 2,0 cm entre elas e
preenchidos por folhas de isopor, melhorando o isolamento
térmico. As paredes e fundos internos do forno são revesti-
dos de papel alumínio e, no fundo da caixa interna é posicio-
nada uma placa metálica completamente pintada de preto
para conduzir com maior eficiência o calor para a panela. A
tampa do forno é removível para permitir o manuseio dos
alimentos, é construía com duas placas de vidro para evitar
a perda de raios solares por reflexão. As abas refletoras são
construídas separadamente do forno e consistem em duas
placas papelão revestidas de papel alumínio.

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


164 ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES

Figura 1 – Desenho e dimensões dos componentes do forno solar


tipo caixa projetado

Peças Altura Largura Comprimento


Caixa Interna 20,3 cm 30,6 cm 40,6 cm
Caixa Externa 22,6 cm 34,6cm 44,6 cm
Tampa 7,0 cm 35,8 cm 45,8 cm
Painel refletor (2) 25,3 cm 35,8 cm 45,8 cm
Placas de Vidro (2) 0,3 mm 35,2 cm 45,2 cm
Chapa de Metal (1) - 28,6 cm 38,6 cm
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os experimentos foram realizados na cidade de Re-


denção-CE, especificamente no campus das Auroras da UNI-
LAB. As coordenadas geográficas de latitude e longitude são
de 4° 13’ 3.471” S e 38° 42’ 48.015” O, respectivamente. Com o
auxilio da ferramenta do site da SunEarthTools conseguiu-se
os dados de ângulo de elevação e azimute do sol em relação
a terra para os dias 12,13,19 e 21 de junho de 2017 (ver Tab. 1).

Tabela 1 – Ângulo de elevação e azimute da posição do sol em


relação à superfície terrestre nos dias 12,13,19 e 21 de junho de
2017
Data 12/06/2017 13/06/2017 19/06/2017 21/06/2017
Ho- Eleva- Azimu- Azimu- Eleva- Azimu- Eleva- Azimu-
Elevação
ras ção te te ção te ção te
8:00 17.71° 64.04° 17.65° 63.99° 17.32° 63.86° 17.22° 63.87°
(continua)

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES 165

9:00 30.92° 59.72° 30.86° 59.68° 30.51° 59.59° 30.42° 59.62°


10:00 43.36° 52.23° 43.29° 52.2° 42.94° 52.18° 42.85° 52.24°
11:00 54.15° 39.11° 54.07° 39.1° 53.73° 39.25° 53.65° 39.36°
12:00 61.31° 16.84° 61.24° 16.9° 60.97° 17.35° 60.93° 17.54°
13:00 61.92° 347.63° 61.87° 347.76° 61.76° 348.46° 61.77° 348.67°
14:00 55.61° 323.77° 55.59° 323.9° 55.64° 324.52° 55.7° 324.66°
15:00 45.23° 309.42° 45.24° 309.52° 45.38° 309.97° 45.46° 310.06°
16:00 32.98° 301.24° 33° 301.32° 33.21° 301.66° 33.3° 301.71°
Fonte: Adaptado de
https://www.sunearthtools.com/dp/tools/pos_sun.php?lang=pt.

Para poder obter uma melhor orientação e posição do


forno com relação a trajetória do sol ao longo do ano, foi rea-
lizada uma simulação através do Software Ecotect Analysis e
verificou-se que no mês de junho a trajetória do sol não muda
muito e permanece em torno da trajetória mostrada pela li-
nha laranja na Fig. 2(a). Nas datas dos experimentos realizados
o forno solar foi posicionado na direção norte a as abas coloca-
das na posição sul para obter uma melhor eficiência e evitar
sombra para dentro do forno como mostrado na Fig. 2(b).

Figura 2 – (a) Simulação da trajetória do sol ao longo do ano. (b)


Posição das abas refletoras no forno solar tipo caixa.

(a)      (b)
Fonte: Elaborado pelo próprios autor.

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


166 ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES

O primeiro experimento foi realizado no dia 12 de ju-


nho de 2017, com céu parcialmente nublado. As medições de
temperatura foram realizadas em um intervalo de 150min,
o experimento teve inicio às 11:00h e finalizado as 13:30h e
nesse intervalo alcançou-se uma temperatura máxima de
92,1°C. Na Fig. 3a, pode-se observar que os 500mL de água
contida na panela no interior do forno conseguiu em ape-
nas 30min uma temperatura de 78,8°C. A variação do ângulo
de elevação nesses horários está no intervalo de 54 a 61°, ou
seja, a inclinação do forno em relação a horizontal deveria
ser em torno de 36° a 29° para uma maior incidência de raios
solares dentro do forno, mas como não foi realizado conclui-
-se que uma inclinação media de 32,5 ± 3,5° teve influencia
sobre a eficiência de aquecimento no forno.

Figura 3 – Temperatura da agua na panela dentro do forno solar


nos dias (a) 12 de junho de 2017, (b) 13 de junho de 2017 e (c) 19 de
junho de 2017

(a) (b)

(c)
Fonte: Elaborado pelo próprio
autor.

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES 167

O segundo experimento ocorreu no dia 13 de junho


de 2017, com céu parcialmente nublado. As medições de
temperatura foram realizadas em um intervalo de 90min,
o experimento teve inicio às 13:45h e finalizado as 15:15h e
nesse intervalo se alcançou uma temperatura máxima de
78,6°C. A Fig. 3b, mostra que água contida na panela atingiu
nos primeiros 30min uma temperatura de 40°C e só após
60min conseguiu-se chegar a uma temperatura de 76°C. A
variação do ângulo de elevação nesses horários decresce de
57 para 42° e consequentemente a inclinação do forno em
relação a horizontal deve variar aumentar de 33 para 58°, ou
seja, uma inclinação media de 45,5 ± 12,5° termina influen-
ciando de forma mais intensa a eficiência do aquecimento
do forno.
O terceiro experimento foi realizado no dia 19 de ju-
nho de 2017, com céu parcialmente nublado. As medições
de temperatura foram realizadas em um intervalo de tempo
de 180min, o experimento teve inicio às 10:00h e finalizado
as 13:00h e nesse intervalo se alcançou uma temperatura
máxima de 81,2°C. Na Fig. 3c, pode-se observar que a agua
contida na panela após os primeiros 60min chegou a 67°C.
A variação do ângulo de elevação varia de 42° a 62°. Neste
experimento a falta de um ângulo de inclinação de 38 ± 10°
do forno contribui para perda na eficiência de aquecimento
dentro do forno.
Um quarto experimento foi realizado no dia 21 de ju-
nho de 2017, dia ensolarado e forno posicionado na direção
do sol. As medições de temperatura foram realizadas em um
intervalo de tempo de 240min, o experimento teve inicio às
8:00h e finalizado as 12:00h, a variação do ângulo de eleva-
ção nesse intervalo vai 17° a 54°, ou seja, a inclinação do forno
em relação a horizontal deveria ser entre 73 a 36°. Para me-
lhorar a incidência solar dentro do forno a direção do forno

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


168 ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES

foi rotacionada em torno de 46° em função da mudança do


azimute que muda aproximadamente de 64° a 18° (ver Fig. 4).

Figura 4 – Variação do ângulo de elevação e azimute no dia


21/06/17

Fonte: Adaptado de
https://www.sunearthtools.com/dp/tools/pos_sun.php?lang=pt.

Nas condições anteriormente descritas pode-se ob-


servar na Fig. 5 que a agua da panela que está dentro do for-
no atingiu nos primeiros 60min uma temperatura máxima
de 100°C e após a água ser pré-aquecida por 180min (11:00h)
acrescentou-se o arroz e conseguindo assim por completo o
cozimento em aproximadamente 45 min. Este resultado foi
influenciado pela rotação do forno da direção do sol a cada
30min e também pela rocha colocada dentro do forno, a qual
foi encontrada no proprio lugar e pre-aquecida naturalmen-
te no ambiente, isto foi realizado no sentido de melhorar a
estocagem energia termica no interior do forno. Segundo a
AALFS (2006) isso acontece por que a densidade e peso des-
se tipo de material dentro da caixa aumenta a capacidade de
armazenagem de energia termica.
No Instituto de Tecnologia e Pesquisa da Universidade
de Tiradentes desenvolveu-se um forno solar tipo caixa e no

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES 169

teste de cozimento de arroz integral levou cerca de 3 horas


e 20 minutos para ser cozido e teve um tempo 90 minutos
para alcançar a temperatura máxima de 78°C que se mante-
ve constante durante o experimento. Fazendo uma analise
comparativa com o fogão desenvolvido neste trabalho as jus-
tificativas para essa diferença na eficiência dos fornos são
relacionadas com a posição geográfica, dia dos testes, mate-
riais de fabricação do fogão e diferentes formas de posicio-
namento do forno de acordo com as mudanças de elevação
do sol e azimute (CORIOLANO et al., 2019).

Figura 5 – Variação de temperatura do aquecimento da água no


dia 21/06/17 e teste de cocção de arroz

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo mostraram que diferentes


condições climáticas influenciam o desempenho térmico,
tendo em vista que em dias nublados as temperaturas do
forno foram inferiores em relação aos dias ensolarados com

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


170 ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES

diferença em torno de 20°C. O forno solar desenvolvido nes-


te projeto alcançou temperaturas máximas de 100°C e quan-
do em teste de cozimento de arroz em água pré-aquecida (à
80,3°C) necessitou de apenas 45 min de duração. Do ponto
de vista da transformação social, é possível alcançar resulta-
dos satisfatórios, tais como a aceitação do projeto nas comu-
nidades do maciço de Baturité pelo fato de atender questões
de economia e ambientais, ou seja, qualquer um tem a ca-
pacidade de construir um forno tipo caixa para uso pessoal
com materiais de baixo custo e pós-consumo, que outrora
se descartados sem qualquer cuidado geram problemas am-
bientais, mas se reutilizado esse material permite gerar uma
tecnologia social que beneficia diretamente o usuário. Outra
dimensão ambiental é que várias famílias deixariam de usar
o forno a lenha e dessa forma a tecnologia social, atende di-
retamente a população mais necessitada que nem sempre
tem condições de comprar o gás ou se tratar dos problemas
de saúde gerados pelos gases advindos do forno a lenha.

REFERÊNCIAS

AALFS, M. Princípios dos Projetos de Fogões Solares. In: SO-


LAR COOKERS INTERNATIONAL – SOLAR COOKING. 2006,
Artigo. Disponível em: <http://solarcooking.org/portugues/
sbcdes-pt.htm>. Acesso em: 18 maio 2019.
CORIOLANO, D. L. et al. Projeto, Desenvolvimento E Teste
De Fogões Solares. Energia solar e eólica 2, p. 200–212, 2019.
EPE. Balanço energético nacional 2018. Disponível em:<ht-
tp://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-abertos/publi-
cacoes/balanco-energetico-nacional-2018 >. Acesso em: 20
jun 2019.
GIODA, A. Características e procedência da lenha usada na coc-
ção no Brasil. Estudos Avançados, v. 33, n. 95, p. 133–150, 2019.

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


ISADORA DE MOURA GOMES LEAL • CARLOS ALBERTO CÁCERES 171

GREENPRO. Energia Fotovoltaica manual sobre Tecnologias,


Projeto e Instalação. 2004, p. 12-14. Disponivel em: <https://
www.portal-energia.com/downloads/guia-tecnico-manual-
-energia-fotovoltaica.pdf>. Acesso em: 22 jun 2019.
RAMOS FILHO, R. E. B. Análise de desempenho de um fogão
solar construído a partir de sucatas de antena de tv. Disserta-
ção (Mestrado em Tecnologia de Materiais; Projetos Mecâni-
cos; Termociências). – Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, Natal, 2011.
SAXENA, A.; VARUN; EL-SEBAII, A. A. A thermodynamic re-
view of solar air heaters. Renewable and Sustainable Energy
Reviews, v. 43, p. 863–890, 2015.
TAVARES, M. Aprendendo sobre o Sol. Revista Brasileira de
Ensino de Física, v. 22, n. 1, p. 78–82, 2000.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Household fuel. 2014.
Disponível em: <https://www.who.int/airpollution/guide-
lines/household-fuel-combustion/IAQ_HHFC_guidelines.
pdf >. Acesso em: 17 jun. 2019.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos ao PIBEAC/UNILAB pela bolsa de


extensão. Ao grupo de pesquisa em materiais poliméricos e
energias alternativas (POLi-EN) da UNILAB.

ESTUDO DO FORNO SOLAR TIPO CAIXA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ


172 EVALDO RIBEIRO OLIVEIRA • GERANILDE COSTA E SILVA

Pedagogias e diversidades na
formação docente e discente: o
Programa Residência Pedagógica
junto ao curso de Pedagogia da Unilab
Evaldo Ribeiro Oliveira1
Geranilde Costa e Silva2

INTRODUÇÃO

Esse manuscrito tem por intenção apresentar o


subprojeto do curso de Pedagogia (CE) referente ao Progra-
ma Residência Pedagógica – PRP (2018-2019) junto à Univer-
sidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-bra-
sileira – Unilab. Subprojeto que tem como coordenador o
professor Dr. Evaldo Ribeiro Oliveira e como vice coorde-
nação a professora Dra. Geranilde Costa e Silva. O Minis-
tério da Educação definiu o Programa Residência Pedagó-
gica como uma das ações que integram a Política Nacional
de Formação de Professores que tem por objetivo induzir
o aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado
nos cursos de licenciatura, promovendo a imersão do licen-
ciando na escola de educação básica, a partir da segunda
metade de seu curso (Brasil, MEC/Capes, 2018). Por sua vez,
esse programa funciona por meio de regime de colaboração
efetivado com a formalização de Acordo de Cooperação Téc-
nica – ACT, firmado entre o Governo Federal, por meio da
1 Dr. em Educação. Pedagogo. Docente junto ao Instituto de Humanidades e
do curso de Pedagogia da Unilab. Contato: evaldo@unilab.edu.br
2 Dra. em Educação. Pedagogo. Docente junto ao Instituto de Humanidades e

do curso de Pedagogia da Unilab. Contato: geranildecosta@unilab.edu.br

PEDAGOGIAS E DIVERSIDADES NA FORMAÇÃO DOCENTE E DISCENTE:


O PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA JUNTO AO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNILAB
EVALDO RIBEIRO OLIVEIRA • GERANILDE COSTA E SILVA 173

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-


rior – Capes e os estados, por intermédio das secretarias de
educação de estado ou órgão equivalente. A participação do
governo municipal se efetivará por meio de Termo de Ade-
são ao ACT, firmado por suas secretarias de educação. Para
tanto esse subprojeto seguiu as orientações filosóficas do
Projeto Pedagógico Curricular – PPC da Pedagogia, sendo
esse afrocentrado.

JUSTIFICATIVA

O curso de Pedagogia (CE) da Unilab foi criado em


2014, e por meio do seu Projeto Político Curricular – PPC,
prescreve que essa licenciatura tem por objetivo: “formar
para o exercício da pedagogia, no sentido da produção e dis-
seminação de conhecimento, na perspectiva de uma epis-
temologia da África e de suas diásporas, antirracista e anti-
colonial” (PPC/PEDAGOGIA, 2016), curso este aprovado em
2017, com nota quatro, em cinco possíveis, pelo Ministério
da Educação do Governo Brasileiro.
Diante disso, o curso vem buscando formar pedagogas
e pedagogos que possam atuar de forma significativa para
construir uma sociedade que valorize a diversidade huma-
na, social, de gênero, cultural entre outras. Destaca-se que
o curso de Pedagogia, está presente na região do Maciço de
Baturité – CE, que possui a primeira cidade a abolir oficial-
mente a escravidão no Brasil. Evidencia-se também que Uni-
lab é uma universidade internacional com parcerias Brasil
e países de língua portuguesa do continente Africano, bem
como o Timor Leste.
Ancora-se este subprojeto em dois preceitos legais,
o primeiro a Resolução CNE/CP nº 2 de 22/12/2017 que:
“institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum

PEDAGOGIAS E DIVERSIDADES NA FORMAÇÃO DOCENTE E DISCENTE:


O PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA JUNTO AO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNILAB
174 EVALDO RIBEIRO OLIVEIRA • GERANILDE COSTA E SILVA

Curricular, a ser respeitada obrigatoriamente ao longo das


etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação
Básica”, que entre outros preceitos, no Capitulo 1 – Das Dis-
posições Gerais, artigo 4, item 9, reafirma a importância de:
“promover o respeito ao outro e aos direitos humanos, com
acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de
grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e poten-
cialidades, sem preconceitos de qualquer natureza” (BRA-
SIL, MEC, 2017. p. 5).
No mesmo sentido, está expresso no citado documen-
to, no capitulo 3º – DA BNCC, DO CURRÍCULO E DA PRO-
POSTA PEDAGÓGICA, artigo oitavo, parágrafo VIII, inciso
primeiro: “observando-se a obrigatoriedade de temas tais
como [...] a educação em direitos humanos; [...] bem como
o tratamento adequado da temática da diversidade cultural,
étnica, linguística e epistêmica” (BRASIL, MEC, 2017. p. 07).
Os outros preceitos legais que este subprojeto está ali-
cerçado são a Lei Federal nº 10.639/2003, que altera a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB) ao tornar obrigatório
o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e
o Parecer CNE/CP nº 003/2004 e sua Resolução CNE/CP nº
01/2004 que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-brasileira e Africana (BRASIL, MEC,
INEP, 2004), a saber:

A educação das relações étnico-raciais funda-


mentada como política de reparações, de reco-
nhecimento e valorização de ações afirmativas se
pauta em três princípios, sendo o primeiro: “cons-
ciência política e histórica da diversidade”, que,
entre outras coisas, deve conduzir a realização
“da parte de pessoas, em particular de professo-
res não familiarizados com a análise das relações
étnico-raciais e sociais com o estudo da história e

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cultura afro-brasileira e africana, de informações


e subsídios que lhes permitam formular concep-
ções não baseadas em preconceitos e construir
ações respeitosas”. (BRASIL, 2004, p.19).

Tal estudo se percebe como necessário, conforme


apontado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, pois:

O Brasil, Colônia, Império e República, teve histo-


ricamente, no aspecto legal, uma postura ativa e
permissiva diante da discriminação e do racismo
que atinge a população afro-descendente brasilei-
ra até hoje. O Decreto nº1.1331, de 17 de fevereiro
de 1854, estabelecia que nas escolas públicas do
país não seriam admitidos escravos, e a previsão
de instrução para adultos dependia da disponi-
bilidade de professores. O Decreto nº 7.031-A de 6
de setembro de 1878, estabeleceu que os negros só
podiam estudar no período noturno e diversas es-
tratégias foram montadas no sentido de impedir
o acesso pleno dessa população aos bancos esco-
lares. (BRASIL, 2004, p.7).

Em pesquisa realizada por SILVA (2017), junto a esco-


las da rede municipal de Redenção (CE), foi possível eviden-
ciar práticas racistas contra crianças negras, e o trato des-
respeitoso quando da referência às mulheres e ao público
GLBTs3, bem como indígenas. Sendo que esses fatos foram
evidenciados em sala de aula sob o silenciamento, ou seja,
não intervenção dos/as docentes. Por sua vez, avaliamos que
tal contexto requer uma urgente intervenção político-peda-
gógica no sentido de garantir o respeito à diversidade ­sexual,
às mulheres, a negros/as bem como a indígenas.
3 Sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.

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Ao apresentar está realidade, destacamos que, a edu-


cação nesta região não está na inercia, algumas ações, mes-
mo que isoladas tem sido desenvolvidas, seja em parceria
com a Unilab, seja por iniciativas de docentes da rede públi-
ca, conforme destaca a pesquisa realiza por Oliveira; Albu-
querque; Mendes e Andrade (2018), com professores/as do
Maciço de Baturité que evidenciaram:

[...] temos um projeto chamado Pérola Negra: um


outro olhar sobre o continente africano. Traba-
lhamos esse projeto anualmente através de ma-
quetes. O dia escolhido para a culminância é 20
de novembro, dia da Consciência Negra. Cada ma-
quete é produzida pelos próprios alunos envolvi-
dos e apresentada a comunidade escolar em ge-
ral. Anualmente convidamos alunos de São Tomé
e Príncipe e de Guiné Bissau para palestrar para
os alunos e promoverem uma interação social re-
alista. (Professor de Geografia)

No mesmo sentido, uma gestora da escola pesquisada


pelos autores citados informou que:

E sempre organizamos as rodas de conversas, em


que levantamos questionário sobre a cor e o res-
peito e alguns professores exploraram atividades
em suas salas de aulas, principalmente as de his-
tória, isso é no sentido de mostrar as crianças na
escola a sua cultura, mesmo assim, os professores
e os alunos precisam aprofundar ainda mais so-
bre essa lei (Gestora da escola B).

Importante dizer que em paralelo a essas situações


que evidenciam a prática de racismo e de preconceito, mas
também formas de combatê-los, a escola está vivendo, por
meio do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), a
era das avaliações externas como políticas públicas, e tem

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de sobremaneira interesse em conhecer apenas as habilida-


des e competência dos/as estudantes nas componentes de
Língua Portuguesa (com foco na leitura) e Matemática (reso-
lução de problemas). Podemos citar, como exemplo, dessas
avaliações externas a Provinha Brasil, criado por meio da
Portaria nº 867 em 2012, que instituiu o Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) visando assegurar
que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos
de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental. Sendo
essa uma ação do Plano de Metas Compromisso Todos pela
Educação4. Importante dizer que para o cumprimento desse
plano de metas o Ministério da Educação tem disponibiliza-
do material pedagógico à escola (docentes e discentes), sen-
do esse voltado apenas para o trato da Língua Portuguesa e
da Matemática.
No entanto, ao ser supervalorizado o ensino de Língua
Portuguesa e a Matemática, para a promoção do Letramento
e da Alfabetização, se tem reforçado a ideia de superioridade
dessas duas componentes, frente às demais, ou seja, o ensi-
no de História, Geografia, Ciência e Artes. De modo que têm
sido negligenciado os marcados/as que determinam a vida
dos/as estudantes, como por exemplo, o sexo, a orientação
sexual, a raça/cor, a religião e/ou religiosidade, cultura, etc.
De modo que ao pensar em práticas pedagógicas voltadas ao
Letramento e a Alfabetização essas devem sempre levar em
consideração o público a que se destina, e suas especifici-
dades, e nesse caso, os/as estudantes da Região do Maciço
do Baturité. Contudo, sem deixar de evidenciar o lugar his-
tórico e político, como dito anteriormente, que a cidade de
Redenção teve (e ainda tem) no processo de Abolição da es-
cravatura negra.

4 Fonte: http://portal.inep.gov.br/provinha-brasil

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Por fim, este subprojeto busca contribuir para a for-


mação de futuras/os pedagogas/os; para a educação da re-
gião do Maciço de Baturité, e mais do que isto, busca cons-
tituir no seio da comunidade educacional da região uma
possibilidade de educação para a diversidade dos povos, das
culturas, dos grupos sociais, dos gêneros, entre outros. Na
sequencia apresentamos os objetivos desse subprojeto.

OBJETIVOS DO SUBPROJETO

1. Promover a articulação dos conhecimentos ad-


quiridos ao longo do curso de Pedagogia da Unilab
com escolas das cidades da microrregião do Maci-
ço de Baturité – CE;
2. Articular os preceitos legais presente na Lei Fede-
ral nº 10.639/2003 e na Base Nacional Comum Cur-
ricular (BNCC) e a formação de professores;
3. Articular os conhecimentos inovadores para pro-
mover pedagogias de formação de professores
para a diversidade.

AÇÕES DO PROJETO

Abaixo serão descritas as ações do subprojeto da Peda-


gogia. Estão sendo desenvolvidas onze ações, porém, ciente
que a Pedagogia forma docentes para a educação infantil e
ensino fundamental, optamos por fazer uma atividade es-
pecifica para a educação infantil (Ação 4) e uma específica
para o ensino fundamental (Ação 5), as outras serão idênti-
cas para ambos níveis de ensino.

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I- Preparação do/a estudante para o início das ativi-


dades no PRP:
Saberes necessários do “ser pedagoga/o”: Preparação
do/a aluno/a para participação no programa;
Formação dos/as supervisores/as.

II- Orientação conjunta e ambientação do/a estu-


dante com construção do plano de trabalho:
Orientação conjunta (coordenador/supervisor) am-
bientação do residente na escola e preparação do Plano de
Atividade da Residência;
Apresentando e (re)conhecendo o PPC do Curso de Pe-
dagogia da Unilab;
Apresentando e (re)conhecendo as Escolas.

III- Imersão na escola:


Imersão na escola I: Didáticas, Gestão e Psicologias
Didáticas e Relações Étnicorraciais;
Gestão e Diversidade;
Psicologia e desenvolvimento humano;
Contendo o mínimo de 100 horas de regência de classe.

Imersão na Escola II – Pedagogia e Diversidades –


Ensino Fundamental
Pedagogias para as diversidades no Ensino Funda-
mental I (1º ao 5º ano);
Construir, com base na literatura, e amparo legal, pe-
dagogias da diversidade, a partir das áreas:
Português: Literatura afro-brasileira e africana;
Matemática: Etnociências e os saberes matemáticos
oriundo do continente Africano;
Artes: práticas culturais de matrizes africanas e afro-
-brasileiras;

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História: História africana e afro-brasileira e dos po-


vos marginalizados;
Geografia: A geografia local como ferramenta curricular;
Ensino Religioso: As religiosidades dos povos.

Imersão na Escola III – Analise de materiais didáticos


Potencialidades Pedagogias: Analise de materiais
­didáticos;
Analisar materiais didáticos, presente na escola, com
potencialidades pedagógicas para a educação das relações
étnicorraciais.

Imersão na Escola IV: Pretagogias


Oficinas de propostas pedagógicas oriundas do Movi-
mento Negro.
Realizar oficinas para a comunidade escolar com pro-
postas pedagógicas oriundas do Movimento Negro.

IV- Elaboração do relatório final, avaliação e socia-


lização dos resultados
Atividade I: Ser ou tornar-se Pedagogo: Elaboração
dos relatórios mensais, parciais e finais.

Atividade II: Organizar seminários/reuniões com a


comunidade escolar para apresentar as aprendizagens e os
ensinamentos presentes na residência Pedagogia.
Elaborar artigos/resumos, entre outros, para divulga-
ção em eventos científicos, livros, entre outros.

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III – Cronograma de atividades


Etapa Atividades Inicio Fim
Acompanhamento das atividades
realizadas no núcleo, consideran-
do preceptoras e residentes no 14/08/2018 31/01/2020
desenvolvimento das diferentes
etapas do programa.
Acompa- Acompanhamento da ambienta-
nhamento ção do residente nas escolas-cam-
po das atividades de observação,
planejamento e regência dos resi- 01/10/2018 31/01/2020
dentes nas escolas-campo;
Realização de reuniões e ativida-
des formativas.
Realização de reuniões periódicas
entre coordenadores/as e precep-
01/02/2019
toras para avaliarem o desenvol- 29/11/2019
vimento das atividades por parte
dos residentes.
Realização de reuniões perió-
Desenvol- dicas entre coordenadores/as e
vimento de residentes para avaliarem o de- 01/02/2019 29/11/2019
Atividades senvolvimento das atividades pla-
Formativas nejadas.
e Didático- Planejamento e prática de re-
-Pedagógi- gência pelos/as residentes, sob
cas a orientação das preceptores e
01/02/2019 29/11/2019
supervisão da coordenação deste
subprojeto e da coordenadora vo-
luntária.
Observação da organização e fun-
cionamento da escola e da prática 01/02/2019 29/11/2019
docente.
Participação na construção do PI;
Apresentação de contribuições
Elaboração
do componente curricular;
do Projeto
Alinhamento às necessidades for- 12/07/2018 12/07/2018
Institucio-
mativas dos/as residentes e pre-
nal (PI)
ceptoras;
Promover interface com estágios.
(continua)

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Seleção de preceptoras e residen-


12/07/2018 12/07/2018
tes.
Realização de reuniões periódi-
cas de preparação inicial dos/as
residentes para o desempenho 14/08/2018 14/09/2018
das atividades previstas neste
subprojeto.
Constituição de grupos por escola
e articulação dos trabalhos no nú- 14/08/2018 14/09/2018
cleo docente-discente.
Realização de um curso de 60h
para formação das preceptoras
Formação – com o objetivo de prepará-las
14/08/2018 14/09/2018
da Equipe para o bom cumprimento das ati-
e Planeja- vidades e objetivos da Residência
mento Pedagógica.
Ambientalização dos/as residen-
tes nas escolas-campo: acompa-
nhamento da rotina escolar nos 01/10/2018 31/01/2019
diferentes espaços que consti-
tuem a escola.
Preparação, orientação e revisão
do Plano de Atividade da Residên- 01/10/2018 31/01/2019
cia nas escolas campo.
Socialização das experiências e
debate acerca dos desafios en-
01/10/2018 31/01/2019
frentados pelas escolas públicas
do Maciço do Baturité (CE).
Elaboração do relatório final de
Socialização
execução do subprojeto do curso 03/12/2018 31/12/2019
e avaliação
de Pedagogia.
Participação nos eventos promo-
vidos pela Coordenação Institu-
cional do Programa da Residência
Pedagógica/Unilab e destinados à 31/10/2019 31/01/2020
comunidade acadêmica e escolar
para socialização dos resultados
alcançados.
Socialização dos resultados 01/01/2020 31/01/2020

IV – Escolas Campo:
Segundo a Capes, proponente do Programa Residên-
cia Pedagogia, são denominadas escola-campos, as escolas
públicas de educação básica (CAPES, 2018, p.1). Desta for-
ma, ao pensar o projeto do Residência Pedagógica, aponta-
mos escolas que estivessem localizadas na região da Unilab,

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devido ao deslocamento dos/as residentes, mas que não de-


senvolvessem nenhuma ação educativa com o curso de Pe-
dagogia, objetivando conhecer outros contextos escolares.
Desta forma, as escolas-campos do RP da Pedagogia, foram
as Escolas José Cabral de Araújo, localizada no munícipio de
Guaiuba, a escola Raimundo Alves, localizada em Acarape e
a escola Cecilia Pereira, localizada em Redenção, no distrito
de Antônio Diogo, distante 12km da Unilab. Conforme breve
descrição abaixo:

Escola-campo: E.E.B.M José Cabral de Araújo


Etapa: Todas
Caracterização da instituição escolar
E.E.B.M José Cabral de Araújo, localizada no Município de Guaiuba
(CE), na região metropolitana de Fortaleza, capital do Ceará e do Polo
Serra de Guaramiranga. Distante cerca de 21 km da Unilab.
No Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará
(SPAECE), a referida escola possuiu a proficiência média de 231,8 para
turmas do 2º Ano do Ensino Fundamental em Língua Portuguesa. Índi-
ce considerado satisfatório.
 A unidade escolar E.E.B.M José Cabral de Araújo, possui como Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, a proficiência média
195,9 em matemática e 188,3 em Língua Portuguesa, no ano base de
2015.

Escola-campo: E. E. F. RAIMUNDO ALVES


Etapa: Todas
Caracterização da instituição escolar
E. E. F. RAIMUNDO ALVES, pertencente ao município de Acarape (CE),
no Maciço de Baturité, estado do Ceará. Município que possuiu um dos
Campus da Unilab.
A referida escola possuiu no Sistema Permanente de Avaliação da Edu-
cação Básica do Ceará (SPAECE), possuiu a proficiência média de 171,0
para turmas do 2º Ano do Ensino Fundamental em Língua Portuguesa
e proficiência média de 248,2 para o 5º Ano do Ensino Fundamental em
matemática. Índices considerados satisfatórios.

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Escola-campo: EEIEF Cecilia Pereira


Etapa: Todas
Caracterização
A escola EEIEF Cecilia Pereira, pertence ao Município de Redenção (CE),
localizada no distrito de Antônio Diogo, distante 12km da Unilab.
No Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará
(SPAECE), possuiu a proficiência média de 153,7 para turmas do 2º Ano
do Ensino Fundamental em Língua Portuguesa e proficiência média de
208,42 para o 5º Ano do Ensino Fundamental em matemática. Índices
considerados satisfatórios.

Para cada uma destas escolas foram indicados oito


bolsistas residentes, estudantes do curso de pedagogia com
mais de cinquenta por cento do curso concluído, de acordo
com orientações da Capes, e uma preceptora também para
cada unidade educacional. As preceptoras são professora da
rede pública, atuante na escola selecionada. As seleções das
preceptoras e residentes ocorreram por meio de editais da
Unilab. Para desenvolver o trabalho, os/as residentes rece-
bem uma bolsa de quatrocentos reais e as preceptoras, sete-
centos e sessenta e cinco. Recursos advindos da Capes. O pro-
jeto iniciou em outubro de 2018 e finaliza em janeiro de 2019,
no qual, os residentes devem cumprir uma carga mínima de
quatrocentos e quarenta horas em atividades que inclui ações
formativas, planejamentos, regências, avaliações, elaboração
de relatórios, divulgação dos resultados, entre outros.
Neste período5 muitas foram as ações desenvolvidas,
seja pelos residentes, seja pela preceptora, pois os/as dis-
centes tem atuado nas escolas desde novembro de 2018 até o
presente, num total de quarenta horas mensais.
No que tange a aplicação da Lei 10.639/2003, que torna
obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana e o Parecer CNE/CP nº 003/2004 e sua Resolução
CNE/CP nº 01/2004 que institui Diretrizes Curriculares Na-
5 Estamos com dez meses de atuação.

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cionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para


o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana
(BRASIL, MEC, INEP, 2004), cabe destacar alguns temas de
aulas desenvolvidas pelos residentes:
exploração da escrita e oralidade do conto infan-
til africano “O macaco e o crocodilo; contação da
história do livro o tupi que você fala; Cheiros e sa-
bores de alguns alimentos e frutas com os nomes
retirados do livro “Falando Banto”; Brincando
com as palavras – jogo da memória com as pala-
vras de origem do Tupi; História das comunida-
des quilombolas no Brasil; debate acerca do livro
“O mundo no black power de Tayô; a influência
africana no processo de formação da cultura
afro-brasileira; Povos originários do Brasil I; Cul-
tura e diversidade II; sarau de poesia, das poetisas
negras; contação de história – afrodescendentes;
oficina de tranças; Conhecendo o continente
Africano: Uma visita à África; Construção e Valo-
rização da identidade; O lúdico em sala de aula.
Jogos (mancala), brincadeiras e danças afro-bra-
sileira; A interação entre a literatura afro-brasi-
leira e a ludicidade africana em sala de aula; a lei
10.639/03 e BNCC a partir das áreas: Português,
Matemática, Artes, História, Ensino Religioso.

Estas ações foram em conjunto com a docente da es-


cola, ou seja, faz parte do currículo escolar. Foram pensadas
e elaboradas pelos/as discentes, em parceria com as precep-
toras, a partir do projeto RP Pedagogia e do Projeto Institu-
cional da Unilab.

BREVES CONSIDERAÇÕES

O objetivo do presente texto foi apresentar o projeto do


Programa Residência Pedagógica do Curso de Pedagogia da
Unilab, mas do que isto, destacar que é possível e necessário,

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atentar-se e cumprir os preceitos legais, entre elas a Lei nº


10.639/2003. Para tanto, não é necessário descumprir outras
normativas como a BNCC e para isto, não é necessário desres-
peitar e desqualificar povos, culturas e outras diversidades.
As ações projetadas e desenvolvidas no RP da Pedago-
gia demostram possibilidades de uma educação qualificada,
que nasce na universidade e conclui-se na educação básica,
desta forma, realizando os objetivos do Programa Residên-
cia Pedagógica, que é: “Visa fomentar projetos inovadores
que estimulem a articulação entre teoria e prática nos cur-
sos de licenciatura, conduzidos em parceria com as redes
públicas de educação básica” (Capes, 2018. p.1).
Acreditamos que o projeto elaborado pelo coordena-
dor e coordenadora e executado pelos/as discentes é um
projeto inovador, na medida em que busca praticar as com-
preensões teóricas advindas da universidade na educação
básica, a partir do prisma da educação das relações étnico-
-raciais, ou melhor, de um projeto afrocentrado.
Inovador, mas não significa pioneiro, pois temos consci-
ência que outros antes já fizeram. Inovador no sentido de cons-
truir uma proposta educativa, democrática e afrocentrada, em
um contexto político que pressupõem uma educação não ideo-
lógica, não histórica e apolítica, como se fosse possível.
Inovador, ao buscar atender as demandas das políti-
cas educacionais vigentes, como a BNCC, sem desconsiderar
as demandas dos movimentos sociais, como o movimento
negro, o movimento de mulheres, os movimentos LGBTs.
Por fim, reforçamos a compreensão que nada é reali-
zado sozinho, de forma isolada, tal proposta só foi possível,
devido ao PPC do curso do Pedagogia e dos/as excelentes do-
centes presentes no curso que possibilitaram e possibilitam
uma sólida formação. Mas também por termos um projeto
institucional, seja da Unilab, seja do Programa de Residên-

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EVALDO RIBEIRO OLIVEIRA • GERANILDE COSTA E SILVA 187

cia da Unilab que dialoga com as diversidades, entre elas ét-


nico-raciais. E por fim, é mais valioso, por ter um grupo de
estudantes residentes que acredita na proposta do curso, do
RP da Pedagogia e buscaram, no dia a dia na escola, desen-
volver todas as aprendizagens adquiridas no curso.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Coordenação de Aperfei-


çoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes. Programa
Residência Pedagógica. Disponível em: www.capes.gov.br.
Acesso em: 10 Abr. 2018.
______. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Dispo-
nível em: http://www.basenacionalcomumcurricular.mec.
gov.br Acesso em: 10 mai. 2019.
BRASIL, UNILAB/MEC. Projeto Pedagógico Curricular do cur-
so de Pedagogia, 2016. Disponível em: Acesso: http://www.uni-
lab.edu.br/pedagogia-licenciatura/ Acesso em: 01 jul. 2019.
______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana. http://portal.inep.gov.
br/informacao-da-publicacao/-/asset_publisher Acesso em:
10 abr. 2019.
CAPES, Edital Capes nº 06/2018. Programa de Residência
Pedagógica. 2018.
OLIVEIRA; Evaldo Ribeiro Oliveira; ALBUQUERQUE; Eli-
sa Távora de; MENDES, Afonso José; ANDRADE, Francisco
Luan Xavier de. Pedagogias das Relações Étnico-Raciais: Prá-
ticas Educativas de Professores do Maciço do Baturité. Projeto
de Pesquisa (2017-2018). Unilab. 2018.
SILVA, Geranilde C. e. Letramento e Alfabetização de crianças
de escolas públicas frente ao Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Brasil). Projeto de Pesquisa (2018-2019). Unilab, 2018.

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BRUNNA LIMA PORFIRIO DE SOUSA • MARIA VANDERLY DO NASCIMENTO CAVALCANTE • FRANCISCO SIMÃO NETO • JOSÉ CLEITON
188 SOUSA DOS SANTOS • MARIA ALEXSANDRA DE SOUSA RIOS • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES

Utilização da lipase imobilizada de


rhizomucor miehei na produção de
ésteres etílicos de ácido graxo do óleo
de coco verde
Brunna Lima Porfirio de Sousa1
Maria Vanderly do Nascimento Cavalcante2
Francisco Simão Neto3
José Cleiton Sousa dos Santos4
Maria Alexsandra de Sousa Rios 5
Ada Amélia Sanders Lopes 6

RESUMO
A necessidade da diminuição da dependência dos combustíveis fósseis
tem se expandido a busca de geração de energia mediante recursos reno-
váveis e limpos, de maneira acentuada no mundo, em conformidade com
políticas internacionais de meio ambiente. É evidente que as energias
alternativas vêm crescendo no cenário mundial, dessa maneira a neces-
sidade da utilização de biorrecursos para a produção de biocombustíveis
é de bastante relevância. Nesse capítulo, visou-se o estudo da produção
de ésteres etílicos de ácidos graxos a partir do óleo de coco verde, onde
foi otimizada por um planejamento experimental do tipo Delineamento
Composto Central Rotacional – (DCCR), utilizando a lipase de Rhizomucor
miehei (RML), em sua forma imobilizada comercial (Lipozyme® RM-IM). As

1 Graduando em Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.


E-mail: brunna@aluno.unilab.edu.br
2 Graduando em Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: vanderlyjc@gmail.com
3 Graduando em Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: fcosimao@aluno.unilab.edu.br
4 Coordenador do curso de Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: jcs@unilab.edu.br
5 Professora do departamento de Engenharia Mecânica – UFC

E-mail: alexsandrarios@ufc.br
6 Professora Adjunta do curso de Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: ada@unilab.edu.br

UTILIZAÇÃO DA LIPASE IMOBILIZADA DE RHIZOMUCOR MIEHEI NA PRODUÇÃO


DE ÉSTERES ETÍLICOS DE ÁCIDO GRAXO DO ÓLEO DE COCO VERDE
BRUNNA LIMA PORFIRIO DE SOUSA • MARIA VANDERLY DO NASCIMENTO CAVALCANTE • FRANCISCO SIMÃO NETO • JOSÉ CLEITON
SOUSA DOS SANTOS • MARIA ALEXSANDRA DE SOUSA RIOS • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES 189

reações foram realizadas em eppendorfs de 2 mL, contendo os substratos


e o catalisador, os mesmos foram colocados em um agitador rotativo, com
controle digital de temperatura e agitação (Incubadora TE – 4200), com
uma velocidade de rotação de 200 rpm. Os parâmetros escolhidos para oti-
mização do processo foram: razão molar (álcool etílico: ácido graxo), tem-
po reacional, temperatura e quantidade de biocatalisador. O maior rendi-
mento obtido foi de 78,49%, mediante as seguintes condições ótimas: tem-
peratura de 40ºC, com um tempo de 4 horas, com uma razão molar etanol
/ ácido graxo (1:8) e 9% a massa de biocatalisador em relação ao substrato.
Palavras-chave: Óleo de Coco Verde. Lipase. Biodiesel.

USE OF IMPROVED LIPASE OF RHIZOMUCOR MIEHEI IN THE


PRODUCTION OF ETHYL ESTERS OF GREEN COCONUT OIL
GREASE ACID

ABSTRACT
The need to reduce dependence on fossil fuels has expanded the search
for energy generation through renewable and clean resources, in a
marked manner in the world, in accordance with international environ-
mental policies. It is clear that alternative energies are growing on the
world stage, so the need to use bio-resources for the production of biofu-
els is of great relevance. The aim of this chapter was to study the produc-
tion of ethyl esters of fatty acids from green coconut oil, where it was op-
timized by an experimental design of the Rotational Compound Central
Design (DCCR), using Rhizomucor miehei lipase (RML), in its commercial
immobilized form (Lipozyme® RM-IM). The reactions were carried out in
2 mL eppendorfs, containing the substrates and the catalyst, they were
placed in a rotary shaker with digital temperature control and agitation
(Incubator TE – 4200), with a rotation speed of 200 rpm. The parameters
chosen for process optimization were: molar ratio (ethyl alcohol: fatty
acid), reaction time, temperature and amount of biocatalyst. The highest
yield was 78.49%, under the following optimal conditions: temperature of
40 ° C, with a time of 4 hours, with an ethanol / fatty acid molar ratio (1: 8)
and 9% the mass of biocatalyst in relation to the substrate.
Keywords: Green Coconut Oil. Lipase. Biodiesel.

INTRODUÇÃO

A energia é a fonte mais significante capaz de prover


a vida na Terra. A energia não é apenas a essência do desen-
volvimento econômico, mas também o motivo de relevan-

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tes resultados ameaçadores à vida (BHATTI, et al., 2008). O


grande proveito no biocombustível líquido é mediante ao
fato de que ele pode ser utilizado como uma alternativa, à
gasolina ou combustível diesel derivado de combustíveis
fósseis do petróleo (ABDOLI, et al.,2014). O biodiesel é um
combustível diesel alternativo, não à base de petróleo, que
consiste em ésteres alquílicos derivados de materiais de
alimentação renováveis como plantas e animais. O prin-
cipal problema que a indústria do biodiesel enfrenta com
frequência é a disponibilidade de matéria prima barata,
abundante e de alta qualidade. Assim, encontrar matérias
primas alternativas, não alimentícias, como óleo vegetal
usado, gordura animal (sebo bovino) é tido como uma ne-
cessidade para a indústria.
As enzimas são proteínas que operam como catalisa-
dores biológicos. Elas são biodegradáveis, biocompatíveis
e derivadas a partir de recursos renováveis, como fungos,
micro-organismos e plantas. As suas magníficas proprie-
dades funcionais fazem com que as enzimas sejam capazes
de catalisarem os processos químicos mais complexos, nas
condições experimentais e ambientais mais benignas (FER-
NANDEZ-LAFUENTE, 2009; SHELDON; VAN PELT, 2013).
As enzimas evidenciam um crescimento exponencial
em sua utilização na indústria, devido os benefícios no to-
cante aos catalisadores químicos, sendo esses, a alta ativida-
de catalítica em estados moderados de pressão e temperatu-
ra e a elevada especificidade. Mediante as diversas enzimas
empregadas industrialmente, as lipases (triacilglicerol acil
hidrolases, EC 3.1.1.3) são biocatalisadores encarregados
por catalisar reações de hidrólise de óleos em ácidos graxos
livres, glicerol, monoacilgliceróis e diacilgliceróis. As lipa-
ses inclusive dispõem da capacidade de catalisar reações
reversas, além da hidrólise, e essas são a transesterificação

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(interesterificação, alcóolises e acidólises) e esterificação


(CHRISTOPHER et al., 2014).
As lipases estão entre as enzimas mais utilizadas na
tecnologia de enzima, visto que reconhecem uma vasta va-
riedade de substratos e podem catalisar muitas reações di-
ferentes, tais como a hidrólise ou a síntese de ésteres de li-
gações, alcoólise, aminólise peroxidações, epoxidações e in-
teresterificações (BARBOSA et al., 2015; BEZERRA, RAYAN-
NE M. et al., 2017; DE OLIVEIRA, ULISSES M. F. et al., 2018;
LIMA, G.V. et al., 2017; MELO et al., 2017).
Para a produção de biodiesel, a reação de esterifica-
ção, ocorre entre um ácido graxo que reage um catalisador
e com um álcool de cadeia curta, resultando em éster e água
como subproduto. A esterificação se trata de uma reação re-
versível, em que o catalisador age tanto na reação direta (es-
terificação) quanto na indireta (hidrólise do éster), com isso,
para deslocar o equilíbrio para a formação dos produtos é
fundamental que o álcool esteja em abundância. Contudo,
não há necessidade etapa de lavagem e geração de efluentes
como acontece na reação de transesterificação na reação de
esterificação, porque não acontece a contaminação do bio-
diesel pelos resíduos de glicerina. (LIMA, 2018).
O óleo de coco verde, um resíduo abundante de lipí-
dios, pode ser uma matéria-prima alternativa e sustentável
para a produção de biodiesel (ou outros ésteres). Devido à
ampla aplicação na produção de cosméticos, aditivos para
diesel e aditivos alimentares, por exemplo, a produção de
ésteres etílicos, objeto de estudo deste trabalho, vem des-
pertando o interesse da indústria, o que torna a otimização
de sua produção cada vez mais relevante.
A lipase de Rhizomucor miehei (RML) foi utilizada em
sua forma imobilizada (Lipozyme® RM-IM) como biocatali-
sador na esterificação de ácidos graxos livres de óleo de coco

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verde. Foi utilizado um planejamento experimental do tipo


Delineamento Composto Central Rotacional – (DCCR) para
avaliar a influência da temperatura, massa de biocatalisa-
dor, tempo e razão molar (ácido graxo: álcool) no processo
de produção de ésteres etílico a partir do óleo de babaçu,
com o intuito de determinar as condições reacionais ótimas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

A lipase imobilizada comercial (E.C. 3.1.1.3) Lipozy-


me® RM-IM foi gentilmente doada pela Novozymes A/S (Es-
panha). O álcool etílico (P.A. 96%) foi oriundo da Dinâmica
(São Paulo, Brasil) e o óleo de coco verde foi doado pela Fun-
dação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (NUTEC).
Os demais reagentes utilizados foram todos de grau analíti-
co. Para a construção do planejamento experimental do tipo
DCCR foi empregado o software STATISTICA® da StatSoft®
versão 10.0.

Produção de ácidos graxos

Para a síntese de ácidos graxos foi realizada por meio


de uma adaptação do procedimento experimental retratado
por Mano (1987), ao contrário de se utilizar um sistema com
ultrassom, fez-se o uso de um sistema de refluxo de aque-
cimento. Portanto, aplicando uma reação de saponificação
com sucessão de hidrólise ácida pode-se obter os ácidos gra-
xos do óleo em estudo. Logo, a reação foi realizada em das
etapas: a primeira consiste na reação de saponificação ela-
borada em um sistema fechado, no qual foi empregue um
balão reacional acoplado a um condensador, onde o óleo

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de coco verde adicionado de uma solução alcoólica de KOH


foi agitado no período de uma hora a uma temperatura de
80ºC. Em seguida do procedimento, o produto de saponi-
ficação apresentou pH minimizado, devido a inclusão de
uma solução diluída de HCl. Resultando em um pH igual a 2,
posteriormente houve a transferência da mistura para um
funil de decantação, onde foi realizada a lavagem com água
destilada até alcançar um pH igual próximo a 6. Com isso,
os ácidos graxos obtidos foram desumidificados por meio da
utilização de sulfato de sódio anidro (Na2SO4).

Reação de Esterificação

No decorrer dos experimentos de reação de esterifi-


cação utilizou-se a enzima Lipozyme® RM-IM e álcool etílico
como solvente da reação. Os parâmetros reacionais foram
previamente estudados, avaliados e determinados pelo gru-
po de pesquisa GENEZ (Grupo de Engenharia Enzimática).
Para a produção dos experimentos, analisou-se a influência
da razão molar (ácido graxo: álcool), massa de catalisador,
tempo e temperatura. As reações foram feitas em eppendor-
fs de 2 mL contendo os substratos e o catalisador, os mesmos
foram colocados em um agitador rotativo, com controle digi-
tal de temperatura e agitação (Incubadora TE – 4200), à 200
rpm. Houve um monitoramento da conversão em ésteres
por meio do índice de acidez através da metodologia descri-
ta por Santos (2011).
O planejamento experimental escolhido foi o Deline-
amento Composto Central Rotacional – (DCCR), mediante
o software STATISTICA® 10.0, contendo 27 ensaios experi-
mentais a serem efetuados. Nos experimentos realizados
utilizou-se quatro variáveis com três níveis, como apresen-
tado na Tabela 1. A quantidade de ácidos graxos foi fixada

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em 0,3g em todos os experimentos, por meio dessa massa


tornou-se possível a o cálculo da quantidade de álcool etílico
e a quantidade de biocatalisador nos ensaios. O número to-
tal de experimentos realizados nas condições descritas está
apresentado na Tabela 2.

Tabela 1 – Valores numéricos e codificados das variáveis


utilizadas no planejamento experimental para a reação de
esterificação do óleo de coco verde.
Níveis
Códigos Variáveis
-1 0 1
X1 Temperatura(ºC) 30 40 50
X2 Tempo(horas) 2 4 6
Razão molar Ácido
X3 1:1 1:8 1:15
Graxo: Álcool (m/v)
Conteúdo de Biocata-
X4 3 6 9
lisador (%m/m)
Fonte: elaborada pelos autores.

Tabela 2 – Quantitativo de variáveis utilizadas na reação de


esterificação dos ácidos graxos de coco verde.
Codificados Reais
Razão Conteúdo
Ensaios Tempera- Tempo
X¹ X² X³ X4 Molar (Áci- do Biocata-
tura (ºC) (horas)
do:Álcool) lisador (%)
1 -1 -1 -1 -1 30 2 1:1 3
2 -1 -1 -1 1 30 2 1:1 9
3 -1 -1 1 -1 30 2 1:15 3
4 -1 -1 1 1 30 2 1:15 9
5 -1 1 -1 1 30 6 1:1 3
6 -1 1 -1 1 30 6 1:1 9
7 -1 1 1 -1 30 6 1:15 3
8 -1 1 1 1 30 6 1:15 9
9 1 -1 -1 -1 50 2 1:1 3
(continua)

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10 1 -1 -1 1 50 2 1:1 9
11 1 -1 1 -1 50 2 1:15 3
12 1 -1 1 1 50 2 1:15 9
13 1 1 -1 -1 50 6 1:1 3
14 1 1 -1 1 50 6 1:1 9
15 1 1 1 -1 50 6 1:15 3
16 1 1 1 1 50 6 1:15 9
17 -1 0 0 0 30 4 1:8 6
18 1 0 0 0 50 4 1:8 6
19 0 -1 0 0 40 2 1:8 6
20 0 1 0 0 40 6 1:8 6
21 0 0 -1 0 40 4 1:1 6
22 0 0 1 0 40 4 1:15 6
23 0 0 0 -1 40 4 1:8 3
24 0 0 0 1 40 4 1:8 9
25 (C) 0 0 0 0 40 4 1:8 6
26 (C) 0 0 0 0 40 4 1:8 6
27 (C) 0 0 0 0 40 4 1:8 6
Fonte: Elaborada pelos autores.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

­­­
Como pode ser observado na Tabela 3, são exibidos
nas condições indicadas pelo planejamento experimental.
Percebe-se que as reações variaram de 18,37% a 78, 49%, com
um maior rendimento para o ensaio 24, com os parâmetros
de 40ºC, com um tempo de 4 horas, com uma razão molar de
1:8 e 9% a massa de biocatalisador em relação ao substrato.

Tabela 3 – Valores e resultados reais codificados por DCCR.


Razão Conteúdo
Tempera- Tempo Conver-
Ensaios molar (Áci- de Biocata-
tura (ºC) (horas) são (%) -5
do:Álcool) lisador (%)
1 30 2 1:1 3 46,92
2 30 2 1:1 9 60,03
(continua)

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3 30 2 1:15 3 37,99
4 30 2 1:15 9 65,40
5 30 6 1:1 3 54,99
6 30 6 1:1 9 69,94
7 30 6 1:15 3 56,98
8 30 6 1:15 9 72,94
9 50 2 1:1 3 50,48
10 50 2 1:1 9 65,48
11 50 2 1:15 3 18,37
12 50 2 1:15 9 45,7
13 50 6 1:1 3 40,61
14 50 6 1:1 9 65,28
15 50 6 1:15 3 44,23
16 50 6 1:15 9 63,99
17 30 4 1:8 6 77,58
18 50 4 1:8 6 70,83
19 40 2 1:8 6 59,19
20 40 6 1:8 6 76,63
21 40 4 1:1 6 67,71
22 40 4 1:15 6 41,14
23 40 4 1:8 3 39,48
24 40 4 1:8 9 78,49
25 (C) 40 4 1:8 6 71,42
26 (C) 40 4 1:8 6 71,35
27 (C) 40 4 1:8 6 71,14
Fonte: elaborada pelos autores.

Com a intenção de constatar quais as condições que


aumentam a conversão dos ésteres etílicos, gerou-se as su-
perfícies de respostas apresentadas na Figura 1, Figura 2 e
Figura 3. Mediante a observação das superfícies de resposta
advindas das conversões em ésteres etílicos em função de
variáveis independentes, por meio da verificação da diferen-
ça de cores é possível alcançar o percentual atingido da va-
riável resposta, quanto mais perto da região vermelha, mais
elevadas são as conversões.

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Figura 1 – Temperatura versus Tempo

Fonte: elaborada pelos autores.

Figura 2 – Temperatura versus Razão Molar

Fonte: elaborada pelos autores.

Figura 3 – Temperatura versus Conteúdo Biocatalisador

Fonte: elaborada pelos autores.

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CONCLUSÃO

Por conseguinte, pode-se observar nesse estudo, que a


melhor conversão em ésteres etílicos foi de 78,49% utilizan-
do a lipase Rhizomucor miehei (RML). Torna-se possível con-
cluir que, a esterificação dos ácidos graxos do óleo de coco
verde é satisfatória, visto que foi obtida uma boa conversão
utilizando um substrato de baixo valor agregado. De acor-
do com a resolução da ANP/51 o valor mínimo é de 96,5% de
conversão de ésteres etílicos para de fato se obter biodiesel.
A instabilidade das lipases, assim como os parâmetros rea-
cionais afetam diretamente a conversão, visto que reduzem
a atividade catalítica, acarretando menores conversões.

REFERÊNCIAS

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www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23532151>. Acesso em: 29
mai. 2019.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro da Fundação Cearen-


se de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FUNCAP) (BP3-0139-000005.01.00/18) e ao Conselho Na-
cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
projetos 422942/2016-2 e 409058/2016-5.

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DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ 201

Aplicação de metodologia de mapas


mentais: um estudo de caso na
disciplina de Química I do curso de
Engenharia de Energias da Unilab
Claudio Henrique Victor Porto1
Francisco Diego Martins da Silva2
Patrick da Silva Sousa3
Maria Cristiane Martins de Souza4
José Cleiton Sousa dos Santos5
Ana Kátia de Sousa Braz6

RESUMO
Mapa Mental é uma ferramenta de representação e organização de
ideias e conhecimento através de imagens ou palavras-chaves. Ainda
pouco utilizado no âmbito da educação formal, justifica os escassos
trabalhos que mencionem seus benefícios. Dessa forma, esta pesquisa
busca quantificar os resultados de uma experiência de formação com
novos mapeadores. Esta atividade tinha como intuito a integralização da
metodologia de Mapas Mentais com os conhecimento em Química. Ao
fim da atividade, um questionário (escala Likert 5-níveis) contendo seis
afirmações foi desenvolvido, validado (a de Cronbach 0,956) e aplicado
através de meio digital para mensurar como se deu a prática realizada.
Os questionários foram aplicados aos alunos matriculados na disciplina
de Química I da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (UNILAB). De acordo com os resutados obtidos, mais de
80% dos participantes acreditam na capacidade dos mapas mentais de
auxiliar nos estudos. 70% das respostas afirmam que os entrevistados
tem interesse de utilizar a metodologia em seus estudos ou acreditam
que podem vir a utilizá-los. Quanto a facilitação na didática, mais de 90%

1 Discente, UNILAB, IEDS, e-mail: italorad7@gmail.com


2 Discente, UNILAB, IEDS, e-mail: patrick@aluno.unilab.edu.br
3 Discente, UNILAB, IEDS, e-mail: die45silva@gmail.com
4 Docente, UNILAB, IEDS, e-mail: jcs@unilab.edu.br
5 Docente, UNILAB, IEDS, e-mail: ada@unilab.edu.br
6 Técnico, UNILAB, IEDS, email: anakatia@unilab.edu.br

APLICAÇÃO DE METODOLOGIA DE MAPAS MENTAIS:


UM ESTUDO DE CASO NA DISCIPLINA DE QUÍMICA I DO CURSO DE ENGENHARIA DE ENERGIAS DA UNILAB
CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO • FRANCISCO DIEGO MARTINS DA SILVA • PATRICK DA SILVA SOUSA • MARIA CRISTIANE MARTINS
202 DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ

dos participantes afirmam que essa metodologia facilita a visualização


do conteúdo estudado. Assim, percebe-se o interesse por parte dos
estudantes quanto a novas metodologias que os auxiliem nas atividades
em sala de aula.
Palavras-chave: Mapa Mental. Química. UNILAB.

INTRODUÇÃO

Com o passar do tempo, as tecnologias tornaram cada


vez mais a vida cômoda. Com essa comodidade surge a rotina
que ,progressivamente, tornam mecânicas as atividades que
uma vez necessitavam um esforço mental. Nesse contexto,
é raro exercitar o cerebro, o que prejudica de forma objeti-
va o processo de armazenamento e aprendizagem (SARDO;
ZUIN; OLIVEIRA, 2009).
Para que o ensino-aprendizagem se dê de forma cons-
trutiva, é necessário que os envolvidos estejam regularmen-
te refletindo acerca de métodos, estratégias e/ou recursos
necessários para a melhorar sua eficiência. Sob a ótica edu-
cacional, não é incomum que se busquem novas tendências
e motivações, fato ratificado pelas inúmeras escolas e teo-
rias que tentam explicar os processos envolvidos e indican-
do melhores caminhos (GALANTE, 2013).
O ensino-aprendizagem se desenvolve diversas for-
mas e em diversas etapas. A maioria das vezes se percebe
que a sala de aula acaba sendo pautado em um contexto con-
teudista, onde os alunos passa a maior parte do tempo tendo
que “assimilar” o que é ministrado pelo professor, sem que
haja uma real preocupação com o desenvolvimento intelec-
tual, cultural e humano dos discentes (AGUIAR, 2012).
As Engenharias propõem a criação e desenvolvimen-
to de projetos em diversas áreas das tecnologias (CÔCO; CÓ;
LAVAGNOLI, 2012). Percebendo a situação em que a Enge-
nharia de Energias se posiciona, é fácil perceber que entre

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UM ESTUDO DE CASO NA DISCIPLINA DE QUÍMICA I DO CURSO DE ENGENHARIA DE ENERGIAS DA UNILAB
CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO • FRANCISCO DIEGO MARTINS DA SILVA • PATRICK DA SILVA SOUSA • MARIA CRISTIANE MARTINS
DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ 203

as esferas do conhecimento abordadas por este curso, a Quí-


mica ganha um foco, seja como um ambiente de inúmeras
possibilidades de atuação, assim como uma dificuldade para
a construção de conhecimento.
De acordo com Chicrala (2015), o ensino-aprendiza-
gem em química deve se propor a nortear os alunos a criar
uma perspectiva que busque construir, analisar e debater
acerca do conhecimento com base nas relações da natureza,
seja ela por meio de atividades práticas ou teóricas.
Embora seja uma metodologia simples, os Mapas
Mentais permitem acessar, armazenar e organizar informa-
ções, corroborando as possibilidades de sintetizar um tema
central a um conjunto de informações secundária utilizan-
do Palavras-chave e/ou Imagens-chave, que facilitam a lem-
brar de conhecimentos específicos, assim como estimulam
novas ponderações (BUZAN, 2002).
Desta forma, o presente trabalho busca a utilização de
Mapas Mentais para compor, junto a uma abordagem ino-
vadora, permitir novas formas de aprendizagem, estudo e
organização pessoal para professores, monitores e alunos,
objetivando a obtanção de resultados melhores, em espe-
cial, dentro dos conhecimentos químicos.

METODOLOGIA

Esta pesquisa foi planejada para compor as atividades


realizadas em conjunto com as disciplinas de Química I e
Laboratório de Química I alocadas no primeiro semestre do
curso de Engenharia de Energias da Universidade da Inte-
gração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
Para um melhor aproveitamento da pesquisa, a prin-
cípio, foi feito um levantamento bibliográfico acerca da utili-
zação de Mapas Mentais (Mind Maps), compreendendo des-
de relatos empíricos, análises e abordagens didáticas, assim

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204 DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ

como estudos de casos. Segundo Marconi e Lakatos (2009),


uma pesquisa bibliográfica, busca abranger o máximo de
publicações pertinente ao tema de estudo.
Em seguida, uma proposta formativa foi pensada e,
assim, uma atividade extracurricular foi marcada. Este mo-
mento tinha como intuito uma pragmatizar uma proposta
viável para o aprendizado acerca de Mapas Mentais, assim
como a possibilidade de sua utilização em diversos momen-
tos da vida desses estudantes. Dessa forma, uma oficina foi
planejada e desenvolvida para o estudo e a aprendizagem
acerca de Mapas Mentais.
Ao fim das explicações, a turma foi dividida em 5 gru-
pos onde estes deveriam pensar, planejar e desenvolver um
Mapa Mental a partir de um dos temas estudados na disci-
plina por meio de um sorteio. Para nortear as atividades, foi
utilizado o Livro Química: A Ciência Central de Brown, LeMay
e Bursten (2005).
Em seguida, houve a aplicação de um questionário de
abordagem quali-quantitativa, de forma que o ponto de vista
de seus objetivos é uma pesquisa exploratória. O questioná-
rio, além de analisar a atividade proposta a partir de pergun-
tas baseadas em uma escala de satisfação, buscava caracteri-
zar a turma, compreendendo suas singularidades.
A escala de satisfação utilizada foi a Escala de Satis-
fação Likert. Esse modelo é composto “por um conjunto
de frases (itens) em relação a cada uma das quais se pede
ao sujeito que está a ser avaliado para manifestar o grau de
concordância desde o discordo totalmente (nível 1), até ao
concordo totalmente (nível 5, 7 ou 11)” (CUNHA, 2007, p. 24).
Para uma percepção mais simplificada por parte dos entre-
vistados, preferiu-se a utilização de um modelo de nível 5.
No começo do questionário, um Termo de Consen-
timento Livre e Esclarecido informava aos participantes

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UM ESTUDO DE CASO NA DISCIPLINA DE QUÍMICA I DO CURSO DE ENGENHARIA DE ENERGIAS DA UNILAB
A escala de satisfação utilizada foi a Escala de Satisfação
composto “por um conjunto de frases (itens) em relação a cada uma d
CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO • FRANCISCO DIEGO MARTINS DA SILVA • PATRICK DA SILVA SOUSA • MARIA CRISTIANE MARTINS
jeito que estáDE aSOUZAser• JOSÉ
avaliado paraDOSmanifestar
CLEITON SOUSA o grau
SANTOS • ANA KÁTIA deBRAZ
DE SOUSA 205
concordância
mente (nível 1), até ao concordo totalmente (nível 5, 7 ou 11)” (CUN
questões como o intuito da pesquisa,
uma percepção sua gratuidade
mais simplificada e aentrevistados,
por parte dos não preferiu
obrigatoriedade de responder
modelo de nível 5. este questionário. Para um
maior alcance, utilizou-se No da começo
plataforma de Formulários
do questionário, um Termo da de Consentimento
Google, permitindo ao participante uma maior comodidade
formava aos participantes questões como o intuito da pesquisa, sua gra
e livre de qualquer pressão. Os resultados foram compilados
toriedade de responder este questionário. Para um maior alcance, utiliz
e tratados estatisticamente através do programa Microsoft
Formulários da Google, permitindo ao participante uma maior comodid
Excel, desde as análises numéricas quanto gráficas.
pressão. Os resultados foram compilados e tratados estatisticament
A validação deste questionário foi realizado utilizan-
Microsoftum
do-se o a de Cronbach, Excel,
dosdesde as análisespara
métodos numéricas quantode
cálculos gráficas.

coeficiente de correlação entre os itens.


A validação deste (CRONBACH, 1951; utilizando-se
questionário foi realizado
KEEVES, 1997). O cálculo
dos métodosdo a decálculos
para Cronbach, segundo
de coeficiente de acorrelação
Equa- entre os itens
ção 1, considera aKEEVES,
quantidade 1997).deOK itensdodoα questionário
cálculo e a a Equação 1,
de Cronbach, segundo
variância para esses 2
de Kitens (𝜎𝑖questionário
itens do ). e a variância para esses itens (𝜎𝜎𝑖𝑖 2).

Equação 1

Se os valores dos itens Se os valoresiguais


forem dos itens
em forem iguais
todas asem todas as respostas
res-
postas, a soma da igual
variância é igual
ao resultado ao resultado
da variância do item,da variância
então, alfa será igual ou próxi
do item, então, alfa será
dizer nãoigual ou próximo
há correlação entre osde zero,
itens o que querda mesma forma
do questionário;
dizer não há correlação
buídos aosentre os itens
itens forem do questionário;
totalmente da igual a um, o qu
diferentes, alfa será
mesma forma quedos se os valores atribuídos aos itens forem to-
os participantes estariam mensurando um valor objetivo, ou seja, v
talmente diferentes, alfa será igual
REIRA; ROSA, 2013).a um, o que determinaria
que todos os participantesDe estariam mensurando um valor
acordo com George e Mallery (2003, apud AGUIAR, 2
objetivo, ou seja, válido para todos (MOREIRA; ROSA, 2013).
alfa de Cronbach, pode ser interpretado de acordo com a regra,
De acordo com 1
George e Mallery (2003, apud AGUIAR,
Discente, UNILAB, IEDS, e-mail: italorad7@gmail.com
2009, p. 58), o valor
1 do alfa
Discente, de Cronbach,
UNILAB, IEDS, e-mail:pode ser interpre-
patrick@aluno.unilab.edu.br
tado de acordo com 1
a regra, se o alfa for: “> 0,9-Excelente, >
Discente, UNILAB, IEDS, e-mail: die45silva@gmail.com
1
Docente, UNILAB, IEDS, e-mail: jcs@unilab.edu.br
0,8-Bom, > 0,7-Aceitável,
5 > 0,6- Questionável,
Docente, UNILAB, > 0,5-Pobre, e
IEDS, e-mail: ada@unilab.edu.br
< 0,5-Inaceitável”. Técnico, UNILAB, IEDS, email: anakatia@unilab.edu.br
6

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades foram realizadas no dia 18 de junho no


Campus das Auroras da UNILAB. Nesse momento foram ex-

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206 DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ

plicados o que são e como são feitos os Mapas Mentais. Nesse


momento, foram mostrados métodos de escrita e desenho,
assim como ferramentas digitais para a construção desse
tipo de metodologia. Ao fim, foi pedido as equipes que fi-
zessem Mapas Mentais de forma livre. Dentre as cinco equi-
pes, quatro permitiram a divulgação de suas imagens, como
consta na Figura 1.

Figura 1 – Mapas Mentais elaborados pela turma de Química I

Fonte: Resultados da Pesquisa, 2019,

Nota-se ao fim da atividade que um grupo dos estu-


dantes compreenderam a importância do fator visual para
uma melhor compreensão de Mapas Mentais, como pode
ser visto no caso da Figura 1a e Figura 1c. Já nas Figuras 1b e
1d nota-se a utilização de métodos mais conceituais devido
a dificuldade dos estudantes em compreender visualmente
acerca do tema.

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Ao fim das atividades de produção dos Mapas mentais,


os estudantes foram convidados a responder um questioná-
rio. Por questões metodológicas, o questionário foi dividido
em 3 vertentes: uma para a caracterização da turma, uma
de questões objetivas para aferir a satisfação dos estudan-
tes quanto a metodologia e, por último, questões subjetivas
quanto aos métodos, permitindo aos participantes compar-
tilhar os pontos positivos e negativos, assim como notificar
queixas e sugestões.
Ao se utilizar escalas do tipo Likert, que buscam de-
terminar o grau de domínio de uma habilidade específica,
como é o caso desta pesquisa, é importante verificar as ca-
racterísticas de fidedigdade, assim como a validade dessa
metodologia (MOREIRA; ROSA, 2008). O valor do alfa de
Cronbach calculado foi de 0,956 para o quetionário deste
estudo, indicando uma excelente consistência interna dos
dados mostrando sua fidedignidade.
Dentre os 37 estudantes matriculados e ativos na dis-
ciplina de Química I, 11 responderam o questionário em que
se baseia este trabalho. Dentre os participantes, 54,5% eram
homens e 45,5% são mulheres onde mais de 54% tem entre 18
e 19 anos. Mais de 63% afirmam que o curso de Engenharia de
Energias é o primeiro curso de Ensino Superior que cursou,
enquanto os demais são oriundos de cursos técnicos ofereci-
dos no Ensino Médio ou de outros cursos da instituição.
Dentre os questionamentos levantados para compor
os resultados haviam afirmações em que os estudantes de-
veriam enumeram de 1 a 5 o quanto concordavam ou discor-
davam destas frases. Os resultados obtidos consta segundo
o Gráfico 1.

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Gráfico 1 – Resutaldo da segunda parte do questionário aplicado.

Fonte: Resultados da Pesquisa, 2019.

A partir dos resultados obtidos, percebe-se que mais


de 60% dos estudantes conheciam a metodologia de Mapas
Mentais, mesmo que não soubessem pelo nome ou ultili-
zassem. Compreende-se também que mais de 80% dos par-
ticipantes acreditam na capacidade dos mapas mentais de
auxiliar nos estudos. 70% das respostas afirmam que os en-
trevistados tem interesse de utilizar a metodologia em seus
estudos ou acreditam que podem vir a utilizá-los. Mais de
52% dos entrevistados afirmam que compreenderam de for-
ma fácil a utilização deste método e sua aplicação para estu-

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DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ 209

do. Quanto a facilitação na didática, mais de 90% dos partici-


pantes afirmam que essa metodologia facilita a visualização
do conteúdo estudado.
Na última parte do questionário, os estudantes foram
questionados sobre os pontos positivos e negativos da utili-
zação desse tipo de recurso em sala de aula e nos estudos
individuais. Foram unânimes os relatos de facilitação da vi-
sualização do conteúdo e da capacidade de reflexão a par-
tir das palavras-chaves ou das imagens. Quanto aos pontos
negativos, 18% dos etrevistados questionam que a utilização
desta metodologia como única alternativa de estudo pode
dificultar a compreensão completa das manifestações es-
tudadas, pois correm o risco de se focarem unicamente nas
palavras-chaves.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estratégias inovadoras, quando aplicadas em uma


sala de aula, vêm se mostrando cada vez mais uma possibi-
lidade realista como ferramenta de metodologia autônoma
na construção de um ensino libertário. Nesse resignificado
das experiências em sala de aula, o Mapa Mental corrobora,
principalmente, com o nível de proficiência em avaliações
dos mapeadores iniciantes.
Um questionário foi elaborado e validado através do
coeficiente de correlação de alfa de Cronbach, atingindo um
valor de excelencia, de acordo com os autores estudados. O
questionário tinha coo intuito quantificar a experiência de
capacitação proposta durante a disciplina Química I.
As afirmações que compunham as propostas do tra-
balho foram bem aceitas pelis estudantes. Por se tratar de
uma análise inicial, mais propostas formativas são necessá-
rias para que estes estudantes possam construir mapas de

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210 DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ

melhor qualidade. Dentre os resultados obtidos, nota-se que


alguns desses estudantes apresentaram um nível de organi-
zação de ideias e propostas acima da média.
A análise dos Mapas Mentais ilustram, em maior ou
menor nível, o grau de entendimento do conteúdo e da téc-
nica, declarado a partir do questionário. Outra evidência
disso, é a falta de instrumentos de avaliação, de forma que
esses estudantes, em sua grande maioria, vêm do Ensino
Médio condicionado unicamente a ser avaliados por provas
e instruído por meio de metodologias ortodoxas de assimi-
lação de conteúdo. Essa precariedade se apresenta quando
mais de 90% dos entrevistados concordam que esse método
facilita a visualização dos conteúdos.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Joana Guilares de. Desenvolvimento e validação de


um questionário para avaliar um nível de conhecimento dos
alunos sobre mapas conceituais. 2012. 91 f. Dissertação (Mes-
trado) – Programa de Pós-graduação em Química, Faculdade
de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
BROWN, Theodore Lawrence; LEMAY, Eugene; BURSTEN,
Bruce Edward. Química: A ciência central. 9. ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2005. 987 p.
BUZAN, Tony. Mapas Mentais e sua colaboração: um sistema
definitivo de pensamento que transformará a sua vida. São
Paulo: Cultrix, 2005.
CHICRALA, Kleber Jorge Savio. As atividades experimentais
educativas como complemento e motivação no ensino: apren-
dizagem de química no ensino médio. 2015. 67 f. Dissertação
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Química, De-
partamento de Química, Universidade Federal de São Car-
los, São Carlos, 2015.

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UM ESTUDO DE CASO NA DISCIPLINA DE QUÍMICA I DO CURSO DE ENGENHARIA DE ENERGIAS DA UNILAB
CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO • FRANCISCO DIEGO MARTINS DA SILVA • PATRICK DA SILVA SOUSA • MARIA CRISTIANE MARTINS
DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ 211

CÔCO, Klaus Fabian; CÓ, Fábio Almeida; LAVAGNOLI, Dal-


va Helena. USO DE MAPAS MENTAIS NO ENSINO DE EN-
GENHARIA DE SOFTWARE. In: CONGRESSO BRASILEIRO
DE ENSINO DE ENGENHARIA, 39., 2011, Blumenau. Anais...
. [s,l,]: [s.e], 2011. p. 1 – 10. Disponível em: <http://www.aben-
ge.org.br/cobenge/arquivos/8/sessoestec/art1586.pdf>.
Acesso em: 20 jun. 2019.
CRONBACH, Lee Joseph. Coefficient alpha and the internal
structure of tests. Psychometrika, [s.l.], v. 16, n. 3, p.297-334,
set. 1951.
CUNHA, Luísa Margarida Antunes da. Modelos Rasch e Es-
calas de Likert e Thurstone na medição de atitudes. 2007. 78
f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Mestrado em Proba-
bilidades e Estatística, Departamento de Estatística e In-
vestigação Operacional, Universidade de Lisboa, Lisboa,
2007. Disponível em: &lt;http://repositorio.ul.pt/bitstre-
am/10451/1229/1/18914_ULFC072532_TM.pdf&gt;. Acesso
em: 22 abr. 2019.
GALANTE, Carlos Eduardo da Silva. O uso de mapas concei-
tuais e de mapas mentais como ferramentas pedagógicas no
contexto educacional do ensino superior. Revista Processus
de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros , v. 1, p. 40-60,
2013.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fun-
damentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Altas,
2009.
MOREIRA, Marco Antonio; ROSA, Paulo Ricardo da Silva.
Uma introdução à pesquisa quantitativa em ensino. 1. ed. Cam-
po Grande: Editora da UFMS, 2013. v. 1. 110p .
SARDO, Paola Maia Lo; ZUIN, Vânia Gomes; OLIVEIRA, Hay-
dée Torres de. Diagnóstico por meio da análise de mapas
mentais: planejamento de ações em educação ambiental.
Congresso de Meio Ambiente da AUGM, 4, 2009, São Carlos.
Anais de Eventos da UFSCar, 2009. v. 5.

APLICAÇÃO DE METODOLOGIA DE MAPAS MENTAIS:


UM ESTUDO DE CASO NA DISCIPLINA DE QUÍMICA I DO CURSO DE ENGENHARIA DE ENERGIAS DA UNILAB
212 CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS

Literatura, tecnologias e políticas


públicas
Carlos Eduardo Bezerra1
Felipe Gabriel Gomes de Medeiros2

RESUMO
Neste capítulo constam os resultados parciais de uma pesquisa qualitativa,
realizada no eliagá – Grupo de Pesquisa e Estudo em Literatura e
História. Os resultados são referentes à literatura e à internet, sobretudo
os canais de conteúdo literário no Youtube. Apresentamos também os
resultados de um possível impacto das leis 10.639/2003, 11.645/2008 e das
cotas raciais para ingresso nas universidades sobre a criação de novas
editoras, modificando as possibilidades de representação dos sujeitos e
interferindo na produção do discurso literário habitualmente realizada
por um único tipo de sujeito enunciador.
Palavras-chave: Literatura. Tecnologia. Políticas Públicas.

LITERATURE, TECHNOLOGIES AND PUBLIC POLICIES

ABSTRACT
In this chapter the partial results of a qualitative research, realized in
the eliagá – Group of Research and Study in Literature and History are
contained in this chapter. The results refer to literature and the internet,
especially the channels of literary content on Youtube. We also present
the results of a possible impact of laws 10.639 / 2003, 11.645 / 2008 and of
racial quotas for university entrance on the creation of new publishers,
modifying the possibilities of representation of the subjects and
interfering in the production of literary discourse usually performed by a
single type of enunciator subject.
Keywords: Literature. Technology. Public policy.

1 Professor de Teoria da Literatura do Instituto de Linguagens e Literaturas


(ILL), Unilab. Líder do eliagá – Grupo de Pesquisa e Estudo em Literatura e
História. Dr. em Letras pela Unesp. E-mail: cadubezerra@unilab.edu.br
2 Mestrando em Ciência da Informação e Bacharel em Gestão da Informação

(UFPE). E-mail: felipemedeiroz@gmail.com

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS 213

INTRODUÇÃO

A literatura é uma forma de tecnologia da cultura, da


linguagem, do imaginário e, como afirmou Sontag sobre a
poesia de Walt Whitman, é “uma tecnologia psíquica para
encantar o leitor e leva-lo a um novo modo de ser”. (2004,
p. 43) (grifo nosso). Ivan Teixeira (2001) considera o mesmo
em relação à literatura ao vincular techné e lógos. Percebe-
-se que o diálogo entre literatura e tecnologia não é novo ou
desconhecido dos estudos literários. No caso da internet,
como tecnologia da informação e da comunicação, o seu
advento tem vários impactos sobre a literatura, destaca-
damente a contemporânea e para o escritor iniciante para
quem, segundo Dalcastagnè, a internet é o paraíso. (2001,
p. 27).
Sobre o tema deste capítulo e o contexto brasileiro, a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua 2017
(PNAD) 3, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a respeito da Tecnologia da Informação
e Comunicação (TIC), demonstra que 74,9% dos domicílios
brasileiros utilizam a internet. Além disso, 93,2% da popu-
lação pesquisada possui telefone celular, sendo maior per-
centual o do grupo de 20 a 24 anos com 88,4%. Observou-se
que 97% acessa a internet através do celular, sendo 83,8%
com o objetivo de estabelecer algum diálogo, que houve um
aumento de acessos a séries, filmes e outros vídeos, demons-
trado como interesse de 81,8% dos entrevistados. Mesmo
com um aumento verificado na área rural, 80,1% dos acessos
se deram nas áreas urbanas.

3 Disponível em: <<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-


imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/23445-pnad-continua-tic-
2017-internet-chega-a-tres-em-cada-quatro-domicilios-do-pais>. Acessado
em 07/05/19

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


214 CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS

Diante desse contexto nacional, colocamos algumas


questões que ajudam a pensar sobre o impacto das novas
tecnologias como a internet e as redes sociais, no modo
como a literatura é produzida e recebida atualmente. O aces-
so à internet promovido por smartphones, o que se dá coti-
dianamente pela internet móvel, através de conexões como
Wi-Fi, 3G e 4G, possibilita um crescente acesso a conteúdos
diversos e tem resultado em mudanças na forma como os
indivíduos produzem, comunicam e usam as informações;
documentos até então impressos, como jornais e revistas,
dão lugar cada vez mais significativo a produtos digitais, in-
cluindo os audiovisuais como os canais de Youtube.
Em linhas gerais, o que é o Youtube? Trata-se de uma
plataforma de compartilhamento de vídeos criada em 2005
e lançada no Brasil em 2007. Conta com 98 milhões de brasi-
leiros conectados e, segundo o próprio Youtube4, mais de 1,9
bilhão de usuários estão conectados à plataforma, gerando
mais de 1 bilhão de horas de vídeo e bilhões de visualizações,
que se dão em 70% das vezes por dispositivos móveis. Do to-
tal de usuários, 96% tem de 18 a 35 anos, correspondendo
aos milennials5. O Youtube está presente em 91 países, ope-
rando em 80 idiomas e inúmeros dos seus canais contam
com mais de 1 milhão de inscritos. Do total de usuários, 10%
se declaram LGBT+. Estes números fazem do Youtube uma
plataforma de informação na qual o acesso rápido, prático,
lúdico e multimodal permite uma formação que vai além
dos meios e modos habituais de aprendizagem ou os chama-
dos “letramentos dominantes” (ROJO, 2010) realizados pelas
organizações formais como a escola.
4
Disponível em: https://www.youtube.com/intl/pt-BR/yt/about/press/
Acessado em 02/06/19
5 Cf: https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/youtubeinsights/2017/de-

play-em-play/ Acessado em 02/06/19. Cf: http://trap.ncirl.ie/2300/ Acessado


em: 02/06/19

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS 215

A partir deste panorama, dentre os canais de inú-


meros temas, é notório o surgimento de canais em que os
booktubers atuam como protagonistas, performatizando,
com os recursos da plataforma, o papel semelhantemente
desempenhado por resenhistas e críticos literários de livros
impressos e digitais, clássicos e contemporâneos, nos mais
diversos gêneros literários ficcionais, bem como sobre di-
versos segmentos do campo literário (BOURDIEU, 1996), es-
paço este hierarquizado e constituído de inúmeros agentes,
todos eles defendendo interesses os mais diversos, desde os
dos autores, editores, comerciantes de livros, impressores,
representantes do e-commerce, modos de manifestação dos
autores e suas relações com as políticas de estado para o li-
vro. É destes canais que trataremos a seguir.

CANAIS BRASILEIROS DE CONTEÚDO LITERÁRIO NO


YOUTUBE

“Canais sobre livros”, “Canais literários”, “Canais de


literatura”: foram estes os registros encontrados quanto à
nomenclatura de canais no Youtube dedicados aos comen-
tários, resenhas e críticas de livros de literatura de ficção.
Porém, preferimos nomeá-los de “canais de conteúdo lite-
rário”, uma vez que vão além dos livros propriamente di-
tos, muitas vezes se valendo de temas contemporâneos e de
outros suportes e linguagens artísticas, bem como eventos
(bienais, feiras, festas de livros, Enem, Fuvest, traduções,
adaptações, etc.) como motivo para a produção dos vídeos.
Os motivos para a atuação dos booktubers são os mais diver-
sos, porém o gosto pela leitura pré-existente à criação dos
canais e talvez seja o mais constante. Além disso, alegam o
incentivo à leitura como objetivo, sobretudo nos canais pro-
tagonizados por professores, jornalistas com formação em

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


216 CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS

áreas pedagógicas, estudantes de Letras, etc. Não se trata,


no entanto, de atividade livre dos interesses comerciais ou
isenta de polêmicas, críticas e acusações, entre elas a da co-
brança de dinheiro para compartilhar vídeos no Youtube,
certamente com comentários favoráveis aos livros, valen-
do-se de seu alcance na plataforma para recomendá-los6,
cumprindo as etapas típicas da resenha – apresentação, des-
crição, avaliação e recomendação – como gênero textual. De
todo modo, é interessante constatar uma produção crítica
sobre esta atividade, inclusive de caráter semelhante ao da
crítica literária histórica vinculada em jornais e revistas.
No ponto atual da pesquisa, verificamos 15 canais de
conteúdo literário. São eles: Vá ler um livro, Pam Gonçalves,
Perdido nos livros, Bons livros para ler, Cabine literária, Li-
terature-se, Ligando livros a pessoas, Nuvem literária, Ler
antes de morrer, Paola Aleksandra, Minha vida literária,
Indíce X, Minha estante, Lido lendo e Pipoca musical e Toda
poesia, sendo este um canal de declamação. Registramos
também a passagem de conteúdo digital para o impresso
com a chamada “literatura dos youtubers”, constituindo
algo talvez impensado, pois a expectativa era contrária, isto
é, a de que o digital se impusesse ao impresso, fosse como
suporte ou fosse como mídia, uma vez que tanto se falou do
desaparecimento do livro impresso a partir do surgimento
dos e-readers, e-books. O que se constata, segundo a Câma-
ra Brasileira do Livro (CBL), é justamente o contrário7, pois,
após um pico de vendas em 2011, seguiu-se a estagnação e o
declínio destas mídias de leitura, sendo o mesmo também
constatado por Regina Dalcastagnè (2001). Dito isto, na par-
te seguinte deste capítulo, apresentamos algumas conside-

6 Cf: https://epoca.globo.com/custa-falar-mal-1-23000764 Acessado em: 02/06/19


7 Cf: http://cbl.org.br/imprensa/noticias/por-que-o-e-book-nao-vingou-no-
mercado-editorial Acessado: 02/06/19

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS 217

rações a respeito de dois canais selecionados. Como critério


de seleções usamos o número de inscritos e o de visualiza-
ções. Sendo assim, os canais selecionados foram: Perdidos
nos livros e Pam Gonçalves.
Criado em 2012, Perdidos nos livros é o canal de Edu-
ardo Cilto que possui o maior número inscritos: 353.797 com
12.795.854 visualizações. Estes números permitiram pensar
sobre o impacto e o alcance das informações vinculadas no
canal cujo objetivo é “popularizar o hábito da leitura entre
os jovens com vídeos cheios de criatividade e bom humor.”8
Na descrição, o canal registra o “uso de assuntos ligados a
filmes, séries, notícias, temas relacionados ao mundo dos
livros e muito mais”, ou seja, as estratégias utilizadas se fun-
damentam na aproximação de assuntos contemporâneos e
do público leitor, o que é possível de constatar no tipos de
livro citados como no vídeo “Livros para ler em 2019”. Nele,
dos 12 livros citados dois eram de romances reconhecidos
pela crítica: A revolução dos bichos, de George Orwell, e O
velho e o mar, de Ernest Hemingway. Os demais são de au-
tores muito recentes e alguns relacionados ao cinema e à Ne-
tflix. O canal possui outras vias de contato: e-mail para con-
sultas empresariais, site, Snapchat, Instagram e Twitter,
sinalizando a integração de mídias. Há também links para o
perfil do booktuber no Instagram com 89,5 mil seguidores
e do Twitter com 39,7 mil. Cilto é autor de dois romances –
Traços e Submersos –, o que faz dele booktuber e autor, nos
fazendo lembrar da figura do autor crítico ou do crítico au-
tor bem comum no campo literário quando a especialização
dos papéis ainda não era uma prática.
Há também no canal no Youtube links para a compra
dos seus romances na Amazdos. Ainda que não tenhamos

8 Cf: https://www.youtube.com/user/Perdidonoslivros/about Acessado: 02/06/19

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


218 CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS

feito uma crítica deles, vale destacar a coerência entre os


romances e os temas do canal, o que permite pensar em
uma estratégia para ser um jovem autor (CHARTIER, 2012)
no início do século XXI quando as redes sociais e as plata-
formas de streaming são algumas das tecnologias e das mí-
dias de comunicação e de informação de parte considerá-
vel do público jovem sobretudo através de smartphones. O
impacto destas mídias é historicamente comparável ao do
jornal impresso na literatura durante o século XIX com o
surgimento do folhetim e da crônica (MEYER, 1996), (ARNT,
2001) não sendo um fenômeno sem precedentes compara-
tivos na história da literatura, porém não deixando de ser
observável, enquanto experiência do ponto de vista dos
campos literário e informacional e do seu modo de lidar
com conteúdos literários fora da crítica literária tradicio-
nal, seja a dos periódicos de circulação, os universitários e
a crítica acadêmica realizada através de TCC, dissertações
de mestrado, teses de doutorado. O fato de Cilto ser book-
tuber e autor de livros impressos denota que seus leitores
passaram por um letramento hipertextual (BOLTER, 1998)
mas também pela “conexão entre múltiplos letramentos”
(PINHEIRO, Regina Cláudia, ARAÚJO, Júlio, 2012) (ROJO,
2010) inclusive o impresso, numa evidente demonstração
de êxito da multimodalidade no uso da informação por
meio da internet . Dito isto, passamos as considerações so-
bre o segundo canal.
Criado em 2012, o canal de Pam Gonçalves conta hoje
com 287.647 inscritos e tem registradas mais de 14 milhões
de visualizações. O objetivo do canal é “Falar de livros e es-
crita! Inspirando pessoas através de histórias”9. Assim como
o canal de Eduardo Cilto, o de Pam Gonçalves possui links
9 Disponível em: https://www.youtube.com/user/TvGarotait/about Acessado
em 04/05/2019

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS 219

para o Instagram com 69 mil seguidores, para o Twitter


com 48 mil seguidores, para o Skoob e para o Goodreadsno
qual Pam se descreve assim:

Autora de Boa Noite e Uma história de verão, es-


corpiana, nascida e criada em Tubarão/SC se for-
mou em Publicidade e Propaganda e atualmente
divide o seu tempo entre escrever, manter um
canal no Youtube para inspirar as pessoas com
recomendações de livros e dicas de escrita, fala
besteira no Twitter e brinca com seu gato, Chibs.10

No seu perfil do Skoob, Pam Gonçalves também dis-


ponibiliza resenhas dos livros lidos e interage com leitores
a partir dos comentários. Utilizando as lives, ela realiza o
Clube da Escrita, uma atividade voltada à escrita literária
ficcional através de recursos midiáticos com dois tempos
de 30 minutos de foco na escrita on line. As lives são com-
partilhadas no Youtube, permitindo que sejam assistidas
posteriormente. Há ainda no canal a possibilidade de ser
um membro, ou seja, um assinante, ao valor de 7.99 reais
mensais com direitos a alguns benefícios: selos de fidelida-
de, emojis personalizados, resenhas e lives exclusivas, entre
outros. Assim como no canal de Cilto, vê-se o mesmo uso de
diversas redes sociais no canal de Pam Gonçalves, eviden-
ciando a construção da autoria a partir dos recursos e das
diversas demandas do século XXI, seja dos leitores ou seja
do mercado editorial, o que pressupõe o acesso à informa-
ção por diversos modos e também um letramento múltiplo.
Pam também é autora de ficção. São dela os romances Uma
história de verão (2017), Boa noite (2016) e Bom ano (2018)
que estão disponíveis para compra em formato impresso e
digital através do kindle, o que denota a circulação de Pam
10 Ibid.

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


220 CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS

Gonçalves entre a crítica e a autoria em tempos de internet


e entre várias mídias de comunicação e informação não dis-
pensando o formato “tradicional” do livro.
Feitas estas breves considerações a partir de dois re-
cortes do muito que se pode acessar na internet, tanto no
Youtube como em outras redes sociais como o Instagram,
onde vários perfis tem se destinado à divulgação da litera-
tura, passamos à segunda parte deste capítulo na qual pro-
curamos desenvolver algumas considerações a respeito de
editoras e livrarias que se dedicam à publicação de temas
afro-brasileiros, africanos e de autoria de pessoas negras,
gerando acesso a conteúdos e informação através de um ou-
tro ponto de vista ou lugar de fala (RIBEIRO, 2017) que não
aquele historicamente dominante sintetizado em pesquisas
realizadas por Dalcastagnè (2012), sobretudo a partir da jun-
ção de políticas públicas e o impacto da internet.

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS

Já tratamos brevemente da inserção do campo literá-


rio nas redes mundiais de comunicação online, agora passa-
mos a analisar um possível impacto destas redes de comuni-
cação sobre o mercado editorial e sua relação com as políti-
cas públicas. Para esta análise, consideramos como marco
as Leis 10.639 (BRASIL, 2003) e 12.711 (BRASIL, 2012), porém
destacamos, fundamentados em Gomes (2012), que, antes da
lei acima citada, o Movimento Negro Unificado (MNU) já rea-
lizava debates a respeito da educação e das cotas, sendo a lei
originada do reconhecimento desse debate do MNU e da sua
importância para mudanças sociais estruturais no contex-
to nacional. Como um instrumento de ação afirmativa, a lei
12.711 reserva 50% das vagas de instituições de ensino públi-
cas federais para estudantes oriundos de escolas públicas,

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS 221

considerando também os critérios de renda, origem étnico-


-racial (pretos, pardos e indígenas) e pessoas com deficiên-
cia como consta nos seus artigos terceiro, quinto e sétimo.
A lei de cotas, possibilitando a entrada de um maior
número de estudantes negros, pardos e indígenas (nomen-
clatura constante no texto da lei) no sistema de ensino pú-
blico federal superior (universidades e institutos federais),
possibilitou também, e de certo modo requereu, que outras
instâncias do conhecimento, entre elas a literatura, passas-
sem por modificações, pois não era mais possível e aceitável
que as narrativas ficcionais se mantivessem em mãos de um
perfil majoritário e historicamente conhecido, descrito em
pesquisas como a realizada por Dalcastagnè, já referenciada
por nós. Como ela mesma afirmou sobre este perfil e o seu
significado, a literatura tem estado como que refém de um
modo único de representar o mundo, a partir de um ponto
de vista recorrente ou de um só “lugar de fala” (RIBEIRO,
2017): o branco, masculino, heterossexual e cristão, quando,
na sociedade brasileira, este não é o único perfil existente,
mas que acaba por ser único como forma de manutenção da
colonialidade. (QUIJANO, 2010)
Destaque-se que, muito antes da existência da lei e
destas prováveis mudanças advindas dela enquanto política
pública, o Movimento Negro já realizava ações voltadas à li-
teratura (DUKE, 2016) como é o caso dos Cadernos Negros,
lançados em 1978 (CUTI, s.d)11, bem como a ação de editores
como Francisco de Paula Brito (1809 – 1861) e de autoras,
autores negros como Carolina Maria de Jesus, do Teatro
Experimental do Negro (TEN) (XAVIER, s/d) e o Teatro Po-
pular Brasileiro (TPB), bem como Mestre Didi, Conceição
Evaristo, Cuti, entre outros, em uma extensa ancestralida-
de literária desde Maria Firmina dos Reis e seu romance
11 Cf: https://www.cuti.com.br/artigocardernosnegros Acessado em: 26/06/2019

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


222 CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS

Úrsula (1859). Reconhecendo esta ancestralidade, que tam-


bém se estende para a contemporaneidade e para as novas
tecnologias de comunicação e informação, como podemos
constatar em Pretas, Nerds e Burning Hell, Punho Negro e
em outros perfis na internet, passamos a tratar de algumas
iniciativas como a criação de editoras e de livrarias voltadas
à publicação de autores negros e à comercialização de suas
obras, fazendo com que o campo literário (BOURDIEU, 1996)
seja de algum modo modificado pela ação de intermediários
da literatura (BOURDIEU, 2010), permitindo outras narrati-
vas e representações do mundo para além do que historica-
mente vem sendo posto e embasado no racismo estrutural,
institucional e no epistemicídio negro (CARNEIRO, 2005),
(SANTOS, 2010), realizando uma espécie de “justiça cogni-
tiva” (SANTOS, 2010, p. 57) contra o racismo editorial. Dito
isto, passo a tratar de uma editora e uma livraria voltadas às
experiências de editar e comercializar livros de autoria ne-
gra como constatamos ao longo da pesquisa, podendo serem
citadas: Pallas, a pioneira no segmento fundada em 1975,
Mazza, de 1981, Nandyala, Malê, Ogum’s Toques Negros, Ba-
rabô, Padê Editorial, Selo Ferinas, Livraria Africanidades,
Livraria Bantu e outras possivelmente existentes, mas que
a pesquisa, ainda em andamento, não detectou. Passamos a
algumas observações quanto à editora Malê, uma das cita-
das acima, pois ela conta com site ativo e atualizado, perfis
no Instagram, Facebook, canal no Youtube e uma revista
on-line, a Mahin, Revista Literária.
Fundada em 2015 por Vagner Amaro, bibliotecário de
formação e produtor de eventos na área de literatura e lei-
tura, que percebera a dificuldade de encontrar obras de au-
tores negros da literatura brasileira contemporânea, a Malê
vem tentar reparar essas dificuldade e ausência. Na sua loja
virtual constam 48 títulos disponíveis à venda, desde títulos

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS 223

de ficção nos variados gêneros a coletâneas de artigos acadê-


micos. Deste total, 17 constam como lançamento e há na loja
duas seções específicas: uma dedicada as obras da escrito-
ra Conceição Evaristo e outra intitulada “malê mirim” com
títulos de literatura infantil. A editora também promove o
Prêmio Malê de Literatura cujo objetivos são “estimular e
divulgar a produção literária, incentivar a leitura e contri-
buir para a igualdade racial”. Pela iniciativa e pelos recursos
que a internet dispõe e são utilizados é possível constatar o
quanto internet e políticas públicas incentivam, reforçam e
referenciam iniciativas individuais e ou coletivas. As leis ci-
tadas ao longo desse texto, somadas as iniciativas históricas
evidenciadas e as iniciativas voltadas ao mercado editorial
contemporâneo como a Malê, demonstram o quanto a rela-
ção entre políticas públicas positivas e internet podem con-
tribuir para uma sociedade mais justa, para uma epistemo-
logia não redutora, ou seja, para o rompimento e superação
do “abismo” historicamente produzido porque a Malê com
suas ações interfere diretamente no mundo real. (SANTOS,
2010, p. 56).
Ainda na perspectiva de superação do “abismo” atu-
am as livrarias Africanidades e Bantu, possibilitando pri-
meiramente o encontro de inúmeras obras de escritores e
escritoras negros em seus sites, funcionando, assim, como
arquivos de obras que poderiam estar dispersas, o que difi-
cultaria o acesso e, consequentemente, a sua circulação de
modo mais amplo. A Africanidades se define como “um em-
preendimento de pequeno porte, com formato de loja física,
virtual e itinerante, com o acervo especializado em litera-
tura afro-brasileira e feminista.”12. A Bantu preocupa-se na
sua origem em “reunir obras biográficas, fictícias, poéticas,
12 Cf:http://www.livrariafricanidades.com.br/quem-somos-pg-62fd4

Acessado em: 26/06/2019

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


224 CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS

religiosas, além de materiais pedagógicos, literaturas brasi-


leiras e estrangeiras com a temática africana e afro-brasilei-
ra em um único lugar.”13 A existência dos sites e a possibi-
lidade da compra pela internet é importante se voltarmos
aqui ao dado de que o número de lares com acesso à internet
aumentou consideravelmente no país sobretudo através dos
smartphones. Assim, as políticas públicas positivas, através
de leis de democratização e acesso do ensino superior, as
leis que intervêm na qualidade do ensino, tornando-o mais
crítico e conhecedor da história e da cultura como legados
do povo negro afro-dispórico no Brasil, bem como a política
de ampliação da internet, possibilitam a mudança do qua-
dro histórico que foi construído no país e do qual o racismo
editorial e econômico fazem partem. A existência dessas
editoras e livrarias, bem como a ocupação dos espaços reais
e virtuais, suas ferramentas e recursos, possibilitam, de al-
gum modo, essas mudanças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aqui, procuramos expor resultados parciais de uma


pesquisa que tem muito por fazer e que se nos apresenta
como um desafio de várias ordens, sobretudo porque o vo-
lume de conteúdo postado diariamente na internet nem
sempre nos possibilita acompanhar mais detidamente to-
dos os fenômenos passiveis de observação. Como exemplos
do muito a fazer, citamos os perfis de ilustradoras e ilustra-
dores, bem como os perfis de poesia voltados aos leitores de
redes sociais como o Instagram. Quais as implicações desta
mídia na escrita do texto literário ficcional voltado para ela?
Registre-se aqui também a existência da Livraria Kitabu, do

13 Cf:https://blogdalivrariabantu.wordpress.com/sobre/ Acessado em 26/06/2019

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


CARLOS EDUARDO BEZERRA • FELIPE GABRIEL GOMES DE MEDEIROS 225

coletivo Mulheres Negras na Biblioteca, do site Escritoras


Negras na Bahia, ou seja, há uma imensidão de possibilida-
des a serem pesquisadas, o que também nos faz repensar
afirmações que escutamos diariamente quanto à uma supos-
ta perda de terreno da literatura para outras mídias, artes,
suportes. São questões desafiantes aos estudos literários, ao
próprio sistema literário, requerendo de nós pesquisadoras
e pesquisadores da área um diálogo mais constante com pro-
fissionais de outras áreas como as Ciências da Informação, as
Tecnologias da Informação, as Artes gráficas, etc. Sobretudo
aqui destacamos o reconhecimento desse campo fértil que,
entre tantas questões, permite também o acesso a direitos
fundamentais, pensando a literatura como um direito, além
daquele de representar a si mesmo, de narrar suas histórias,
criar, enfim, de próprio punho. Constatado este farto campo,
não pretendemos caminhar sozinhos, por isso convidamos
muitas e muitos a se juntarem a nós. De fato, a internet não é
um paraíso. Ela é provavelmente um campo de luta, mas não
por isso deixaremos de caminhar por ela.

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Data de Submissão: 10/07/2019.


Data de aprovação:
DOI:

LITERATURA, TECNOLOGIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS


DÉBORA VASCONCELOS DA SILVA • FRANCISCA VIVIANE DE ARAÚJO VIEIRA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES
228 RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

Práticas educativas de
sustentabilidade dirigidas ao
consumo consciente de energia
elétrica em domicílio
Débora Vasconcelos da Silva1
Francisca Viviane de Araújo Vieira2
Artemis Pessoa Guimarães3
Rita Karolinny Chaves de Lima4
Antônio Alisson Pessoa Guimarães5

RESUMO
Diante do crescimento da população e do expressivo consumo de energia
elétrica no mundo, vê-se a necessidade de priorizar o uso racional dos
recursos naturais disponíveis, de forma a diminuir os impactos ambientais
associados e promover o desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, o
presente trabalho teve como objetivo contribuir com a conscientização
de consumidores residenciais sobre a relevância de conhecer, e incluir
em suas rotinas, práticas domésticas de economia de energia elétrica,
que evitam o desperdício. Para tal, foram realizadas ações educativas,

1 Técnica em Química pela Escola Estadual de Educação Profissional José


Ivanilton Nocrato, Guaiúba – CE (Brasil). Graduanda em Engenharia de
Energias pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-
-Brasileira (UNILAB), Redenção-CE(Brasil). E-mail:deboradasilva069@
gmail.com
2

PRÁTICAS EDUCATIVAS DE SUSTENTABILIDADE DIRIGIDAS AO CONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA EM DOMICÍLIO


DÉBORA VASCONCELOS DA SILVA • FRANCISCA VIVIANE DE ARAÚJO VIEIRA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES
RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 229

de caráter extensionista, na Escola Estadual de Educação Profissional


Adolfo Ferreira de Sousa, localizada no município de Redenção (CE).
Inicialmente, foi realizado, por meio de questionário estruturado, um
levantamento de dados a respeito do prévio conhecimento dos estudantes
sobre o setor elétrico nacional. Os resultados obtidos indicaram que,
de modo geral, o público-alvo consultado não está familiarizado com
o funcionamento e estatísticas do setor. A ação seguinte, consistiu na
realização de uma palestra que abordou os temas: formas de geração de
energia, demonstração do cálculo referente a fatura de energia elétrica
residencial, bandeira tarifária e dicas de consumo consciente. Ao final, um
novo questionário estruturado foi aplicado. Os resultados mostraram que
os estudantes, em sua maioria, foram receptivos aos temas apresentados
e discutidos em sala. Foram adquiridos conhecimentos importantes,
que favorecerão a formação de cidadãos comprometidos com padrões
de consumo sustentável de energia elétrica e possibilitarão que eles se
tornem multiplicadores do saber.
Palavras-chave: Energia elétrica. Economia doméstica. Sustentabilidade.

ABSTRACT
The population growth and significant consumption of electric energy in
the world drive the need to prioritize the rational use of available natural
resources, in order to reduce the associated environmental impacts and
promote sustainable development. In this context, the objective of the
present work was to promote the awareness of residential consumers
about the benefits of adopting energy-saving domestic practices, which
avoid waste. On this regard, educational extension activities were carried
out in the Escola Estadual de Educação Profissional Adolfo Ferreira de
Sousa, located in the municipality of Redenção (CE). Initially, a structured
questionnaire was used to collect data about students’ knowledge
about national electricity sector. The results indicated that, in general,
the target public consulted is not familiar with the functioning and
statistics of the sector. The following action consisted of a lecture that
dealt with the following topics: energy generation forms, demonstration
of the calculations referring to residential electricity bills, tariffs and
consumption tips. At the end, a new structured questionnaire was
applied. The results showed that the students, for the most part, were
receptive to the themes presented and discussed in the room. Important
knowledge has been acquired, which will favor the formation of citizens
committed to sustainable energy consumption patterns and will enable
them to become multipliers of knowledge.
Keywords: Electrical energy. Domestic economy. Sustainability.

PRÁTICAS EDUCATIVAS DE SUSTENTABILIDADE DIRIGIDAS AO CONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA EM DOMICÍLIO


DÉBORA VASCONCELOS DA SILVA • FRANCISCA VIVIANE DE ARAÚJO VIEIRA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES
230 RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

INTRODUÇÃO

A sustentabilidade é um requisito primordial para a


o bem-estar da sociedade, uma vez que é preciso preservar
as fontes naturais disponíveis, de modo a atender as neces-
sidades das gerações atuais e futuras. Algumas práticas po-
dem ser adotadas no dia-a-dia da população para promover
o desenvolvimento sustentável, como por exemplo: reciclar
o lixo gerado por indivíduos, de forma a diminuir impactos
ambientais; racionar água, uma vez que esse solvente além
de ser vital aos seres humanos é uma fonte renovável de ge-
ração de energia elétrica; reduzir o consumo de energia elé-
trica para minimizar a utilização de recursos naturais.
De acordo com Silva e Nassar (2016, p.3),
A utilização de energia elétrica afeta o meio am-
biente de diversas formas, por isso é preocupante
a demanda crescente por energia sem os devidos
cuidados ambientais. O desenvolvimento de um
país gera a necessidade de expansão do consumo
e da oferta de energia, mas os recursos naturais
estão sendo utilizados de forma desordenada
para satisfazer essa demanda.

Segundo Reis, Fadigas e Carvalho (2005), o consumo


residencial tem contribuição significante no uso de fontes
renováveis. No entanto, se faz necessário adotar medidas de
economia de energia elétrica no ambiente residencial mes-
mo que essa energia seja oriunda de recursos renováveis. In-
dependente da natureza da fonte de energia, sempre haverá
ocorrência de impactos ambientais nas etapas de geração,
transmissão e distribuição. De acordo com a Empresa de
Pesquisa Energética – EPE, grande parte da energia elétrica
gerada no Brasil vem de usinas hidrelétricas6.
6 Disponível em: http://epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-ele-
trica. Acesso em 11 de junho de 2019.

PRÁTICAS EDUCATIVAS DE SUSTENTABILIDADE DIRIGIDAS AO CONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA EM DOMICÍLIO


DÉBORA VASCONCELOS DA SILVA • FRANCISCA VIVIANE DE ARAÚJO VIEIRA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES
RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 231

A responsável por regular e fiscalizar a produção,


transmissão, distribuição e comercialização de energia
elétrica no Brasil é a Agência Nacional de Energia Elétrica
– ANEEL7. Além disso, é também atribuição da ANEEL zelar
pela qualidade de serviços prestados, pela universalização
do atendimento e pelo estabelecimento das tarifas de con-
sumidores finais8. Devido ao período de estiagem no Brasil,
a ANEEL estabeleceu o sistema de bandeira tarifária em
atual vigência, que tem como objetivo diminuir o consumo
de energia elétrica a partir do acréscimo de custo. As tarifas
são classificadas pelas cores verde, amarela e vermelha e in-
dicam mensalmente se haverá ou não acréscimo na conta de
energia devido ao uso de termoelétricas.
Atualmente as modalidades de bandeira tarifária são
descritas como9:

• Bandeira verde: condições favoráveis de geração de


energia. A tarifa não sofre nenhum acréscimo;
• Bandeira amarela: condições de geração menos fa-
voráveis. A tarifa sofre acréscimo de R$ 0,015 para
cada quilowatt-hora (kWh) consumido;
• Bandeira vermelha – Patamar 1: condições mais
custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo de R$
0,040 para cada quilowatt-hora (kWh) consumido.
• Bandeira vermelha – Patamar 2: condições ainda
mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo
de R$ 0,060 para cada quilowatt-hora (kWh) con-
sumido.

7 Disponível em: http://www.pl=analto.gov.br/ccivil_03/leis/L9427compila-


da.htm. Acesso em 09 de junho de 2019.
8 Segundo o §3º do Art.4º do Decreto de n° 9.427, de dezembro de 1996 que

dispõe sobre os deveres da Agência Nacional de Energia Elétrica.


9 Disponível em: http://www.aneel.gov.br/bandeiras-tarifarias. Acesso em

09 de junho de 2019.

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DÉBORA VASCONCELOS DA SILVA • FRANCISCA VIVIANE DE ARAÚJO VIEIRA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES
232 RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

Frente ao cenário mundial de limitação de recursos


naturais, o consumidor deve, ao adquirir dispositivos de
iluminação, eletrodomésticos e equipamento eletrônicos,
optar por fazer escolhas responsáveis, atendendo aos cri-
térios de eficiência energética requeridos. Segundo a EPE,
eficiência energética significa gerar a mesma quantidade
de energia com menos recursos naturais ou obter o mesmo
serviço (“realizar trabalho”) com menos energia10. Desde
2001, ano no qual foi sancionada a Lei No 10.295, os equipa-
mentos comercializados no Brasil, que consomem eletrici-
dade ou combustíveis, devem atender aos índices mínimos
ou máximos de eficiência energética definidos. Uma forma
de garantir que o produto é realmente eficaz é verificar a
presença do selo do Programa Nacional de Conservação de
Energia Elétrica – Procel. O selo ajuda aos consumidores a
efetuarem compras inteligentes, em termos sustentáveis, na
medida que sinaliza os produtos com melhores níveis de efi-
ciência energética11. O índice de eficiência correspondente
é dividido em 7 níveis do “A” ao “G”, sendo o nível “A” o mais
eficiente do selo.
De acordo com o Procel (2019),
[...] são estabelecidos índices de consumo e de-
sempenho para cada categoria de equipamento.
Cada equipamento candidato ao Selo deve ser
submetido a ensaios em laboratórios indicados
pela Eletrobrás. Apenas os produtos que atingem
esses índices são contemplados com o Selo Procel.

Diante da necessidade de incentivar o consumo racio-


nal de energia elétrica, provocando uma mudança real de

10 Disponível em: http://epe.gov.br/pt/abcdenergia/eficiencia-energetica.


Acesso em 09 de junho de 2019
11 Disponível em: http://www.procelinfo.com.br/main.asp?TeamID=%7B88A-

19AD9-04C6-43FC-BA2E-99B27EF54632%7D. acesso em 09 de junho de 2019.

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hábitos dos usuários, o objetivo principal desse trabalho foi


realizar ações educativas de conscientização de consumi-
dores residenciais sobre os benefícios sociais, ambientais
e econômicos associados ao uso de práticas domésticas de
eficiência energética. Colabora-se, assim, para conservação
das fontes naturais utilizadas na geração de energia elétrica,
evitando desperdício e reduzindo o valor da conta do consu-
midor. Como público-alvo das ações, optou-se por trabalhar
com estudantes do último ano do ensino médio, de uma es-
cola profissionalizante do município de Redenção (CE).

METODOLOGIA

Caracterização do objeto de estudo

O presente estudo faz parte de um projeto de extensão


desenvolvido na Universidade da Integração Internacional
da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, realizado na Escola
Estadual de Educação Profissional Adolfo Ferreira de Sousa,
localizada no Município de Redenção (CE), Macrorregião do
Maciço de Baturité. Os critérios determinantes para a esco-
lha dessa escola foram: localização próxima à universidade,
disponibilidade da instituição de ensino e diversificação do
público alvo. Atualmente, essa escola oferta cinco cursos
técnicos (Comércio, Administração, Informática, Enferma-
gem e Redes de Computadores) e o ensino ocorre em tempo
integral.
As ações programadas foram realizadas com estu-
dantes matriculados no terceiro ano dos cursos de Comér-
cio, Enfermagem e Redes de Computadores, totalizando 117
participantes.

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234 RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

Metodologia

Para o cumprimento das ações de extensão, foram efe-


tuadas duas visitas à Escola Estadual de Educação Profissional
Adolfo Ferreira de Sousa. A metodologia envolvida foi dividi-
da em três partes. Na primeira fase, realizou-se uma pesquisa
com o intuito de identificar o perfil dos estudantes quanto ao
conhecimento dos mesmos sobre energia elétrica e sustenta-
bilidade. Como segunda fase do trabalho, foi realizada a aná-
lise dos dados coletados e a elaboração de material didático
para abordar, principalmente, os temas que os estudantes
demonstram não ter conhecimento. Por último, foi realizada
uma palestra, utilizando material elaborado na etapa anterior,
e aplicou-se um novo questionário para os estudantes.

Avaliação do perfil dos estudantes


Para o levantamento da percepção dos estudantes so-
bre os vários aspectos relacionados ao consumo de energia
elétrica, foi elaborado e aplicado um questionário que abor-
dava questões sobre: economia de energia elétrica residen-
cial, conceitos básicos de geração de energia elétrica, com-
preensão do selo Procel e definição de bandeira tarifaria. Os
dados coletados foram organizados em planilhas e geraram
gráficos que facilitaram a análise comparativa dos ­resultados.

Elaboração de material didático


Como material de auxílio, foram elaborados e dispo-
nibilizados digitalmente slides que compuseram uma apre-
sentação no Microsoft PowerPoint, a qual foi utilizada como
recurso didático para sanar as dúvidas apresentadas pelos
alunos na visita inicial realizada na escola. O material pro-
duzido poderá ser utilizado pelos alunos como roteiro de
estudo e fonte de consulta.

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RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 235

Realização de palestra e avaliação da eficácia da


metodologia utilizada
A apresentação de Microsoft PowerPoint previamente
elaborada foi utilizada na realização de uma palestra para os
estudantes, na qual foram abordadas as seguintes temáticas:
formas de geração de energia, demonstração do cálculo refe-
rente a fatura de energia elétrica residencial, bandeira tari-
fária e dicas de consumo consciente. Ao final dessa ação um
novo questionário estruturado foi aplicado, tendo como intui-
to mensurar o grau de satisfação obtido com a apresentação.
Os dados coletados foram organizados em planilhas e geraram
gráficos que facilitaram a análise comparativa dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliação do perfil dos estudantes

Com a realização da primeira visita à escola preten-


deu-se avaliar o nível de informação dos alunos concernente
ao setor elétrico. A seguir serão apresentados e discutidos os
dados coletados no primeiro questionário aplicado, os quais
possibilitaram a realização da análise desejada.
A primeira pergunta do questionário teve como intui-
to verificar o nível de consciência dos estudantes no que se
refere ao uso eficiente da geladeira, que é considerada um
dos itens domésticos que mais gastam energia elétrica. Ana-
lisando a Figura 1, pode-se constatar que a maioria dos estu-
dantes (49%) abre a porta da geladeira cerca de 4 a 6 vezes ao
dia. Entretanto, deve-se evitar abrir a porta em demasia ou
por tempo prolongado, visto que as geladeiras são respon-
sáveis por cerca de 30% do consumo de energia elétrica de
uma residência (MMA/MEC/IDEC, 2005). Também é reco-
mendado verificar periodicamente as borrachas de vedação.

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Figura 1 – Representação gráfica das respostas a pergunta:


“quantas vezes ao dia você abre a porta da geladeira?”

Fonte: elaborada pela autora.

A finalidade da segunda pergunta do questionário foi


aferir o grau de consciência econômica dos alunos referente
ao consumo de energia elétrica em geral. Conforme mostra
a Figura 2, observou-se uma diferença percentual de apenas
4% entre o número de estudantes que adotam medidas de
economia e os que não adotam. Dessa forma, quase metade
dos estudantes não realizam ações que prezem pela eficiên-
cia energética dos serviços e sistemas.

Figura 2 – Representação gráfica das respostas a pergunta: “você


já adotou alguma medida de economia de energia elétrica em sua
residência?”

Fonte: elaborada pela autora.

O terceiro quetionamento teve como foco verificar se


os alunos têm conhecimento sobre o conceito de bandeira

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tarifária. De acordo com a Figura 3, o resultado foi predomi-


nante para a falta de informação sobre o assunto.

Figura 3 – Representação gráfica das respostas a pergunta: “você


sabe o que é bandeira tarifaria?”

Fonte: elaborada pela autora.

Na quarta pergunta procurou-se verificar se os es-


tudantes têm ciência dos impostos cobrados na fatura de
energia. Conforme mostrado na Figura 4, mais de 80% dos
estudantes desconhecem o assunto.

Figura 4 – Representação gráfica das respostas a pergunta: “você


sabe quais os tipos de impostos cobrados na fatura de energia?”

Fonte: elaborada pela autora.

Posteriormente, procurou-se avaliar o conhecimento


dos alunos sobre as formas de geração de energia elétrica
predominante no Brasil e seus potenciais de gerar impac-
tos ambientais. Os resutaldos são apresentados nas Figuras
5 e 6, respectivamente. A análise da Figura 5 mostra que a

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maioria dos estudantes (71%) afirmou, corretamente, que a


forma de geração de energia mais utilizada nacionalmente é
a hidrelétrica. Como mostra a Figura 6, surpreendente 43%
dos alunos afirmaram que a forma de geração hidráulica é a
que mais afeta o meio ambiente, desconsiderando, assim, o
fato dessa fonte ser renovável.

Figura 5 – Representação gráfica das respostas a pergunta:


“na sua opinião qual a forma de geração de energia elétrica
predominante no Brasil?”

Fonte: elaborada pela autora.

Figura 6 – Representação gráfica das respostas a pergunta:


‘dentre as formas de geração de energia que você conhece qual a
que você acha que mais prejudica o meio ambiente?”

Fonte: elaborada pela autora.

A sétima questão teve como objetivo saber a opnião

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dos alunos sobre qual eletrodoméstico consome mais ener-


gia. Conforme observado na Figura 7, a maioria dos discentes
(62%) afirmou ser a geladeira, o eletrodoméstico de menor efi-
ciência energética. O gelágua foi o segundo mais citados (17%).

Figura 7 – Representação gráfica das respostas a pergunta:


“dentre as formas de geração de energia que você conhece qual a
que você acha que mais prejudica o meio ambiente?”

Fonte: elaborada pela autora.

O último questionamento feito visou verificar o co-


nhecimento dos alunos referente ao selo Procel. Pode-se ve-
rificar na Figura 8 que 92% dos alunos não sabiam a do que
se trata o selo Procel.

Figura 8 – Representação gráfica das respostas a pergunta: você


sabe o que é o selo Procel?

Fonte: elaborada pela autora.

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Realização de palestra e avaliação da eficácia da


metodologia utilizada

O segundo questionário aplicado, que indagava so-


bre questões abordadas na apresentação, mostrou que os
estudantes foram receptivos ao assunto tratado e assimila-
ram as informações repassadas. A metodologia aplicada se
mostrou, portanto, satisfatória, tendo 100% dos estudantes
participantes respondido corretamente todas as perguntas
realizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para incentivar a população a praticar o consumo sus-


tentável de energia elétrica, garantido, assim, seu forneci-
mento no presente e futuro, é necessário investir em formas
de conscientizar os cidadãos das desvantagens econômicas,
ambientais e sociais associadas ao desperdício. Ações edu-
cativas estratégicas, desenvolvidas especialmente nas esco-
las, podem contribuir significativamente para formação de
indivíduos que desde cedo se mostram comprometidos com
a conservação dos recursos naturais e dispostos a adotar
medidas simples de combate a cultura de excessos que se
verifica na sociedade atualmente.
A mudança de hábitos por parte do consumidor do-
méstico resulta, ao final do mês, não só em uma boa econo-
mia de energia elétrica, mas também de reservas financei-
ras, que podem ser utilizadas para outros fins. As estimativas
do setor elétrico indicam que cada indivíduo tem potencial
de reduzir em 10% sua média de consumo de energia, alte-
rando vícios adquiridos ou substituindo lâmpadas e eletro-
domésticos ineficientes (MMA/MEC/IDEC, 2005).

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DÉBORA VASCONCELOS DA SILVA • FRANCISCA VIVIANE DE ARAÚJO VIEIRA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES
RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 241

REFERÊNCIAS

BANDEIRAS TARIFÁRIAS. Disponível em: http://www.aneel.


gov.br/bandeiras-tarifarias; acesso em 09 de junho de 2019.
BRANCO, S. M. Energia e Meio Ambiente. 2. ed. Editora Mo-
dena, 2004.
BRASIL. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/L9427compilada.htm>. Acesso em: 09 jun.
2019.
BRASIL. Lei No 10.295, de 17 de outubro de 2011. Dispõe sobre
a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Ener-
gia e dá outras providências.
DIAS, R. Sustentabilidade: Origem e Fundamentos Educação e
Governança Global Modelo de Desenvolvimento. Editora Atlas,
2015.
HENRIQUE, Humberto et al. ATUAÇÃO DOS CINCO ANOS
DO PROJETO DE EXTENSÃO: USO EFICIENTE DE ENERGIA
NA UFERSA1. Extensão em Foco, Paraná, v. 12, n. 1, p.42-56,
jan. 2016.
HOLLANDA, L.; VAREJÃO, M. Energia e sustentabilidade: de-
safios do Brasil na expansão da oferta e na gestão da demanda.
FGV Energia – Cadernos FGV Energia, 2014.
MATRIZ ENERGÉTICA E ELÉTRICA. Disponível em: http://
epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica;
acesso em 11 de junho de 2019.
MMA/MEC/IDEC. Manual de Educação para o Consumo Sus-
tentável. Brasília, 2005.
REIS, L. B., FADIGAS, E. A. A, CARVALHO, C. E. Energia, Re-
cursos Naturais e a Prática do Desenvolvimento Sustentável.
Editora Manole, 2005 (Coleção Ambiental).
SILVA, Carine de Oliveira Santos da; NASSAR, Cristina Apa-
recida Gomes. ANÁLISE DO USO DA ENERGIA ELÉTRICA
NO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE CAMPUS CAM-

PRÁTICAS EDUCATIVAS DE SUSTENTABILIDADE DIRIGIDAS AO CONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA EM DOMICÍLIO


DÉBORA VASCONCELOS DA SILVA • FRANCISCA VIVIANE DE ARAÚJO VIEIRA • ARTEMIS PESSOA GUIMARÃES
242 RITA KAROLINNY CHAVES DE LIMA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

POS GUARUS. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabili-


dade, Guarus, v. 5, n. 1, p.1-20, dez. 2016.
SILVA, R.M. Bandeiras tarifárias: benefício ou prejuízo ao con-
sumidor? Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/ CONLEG/
Senado, março/2016 (Texto para Discussão n° 191).
SELO PROCEL. Disponível em: http://www.procelinfo.com.
br/main.asp?TeamID=%7B88A19AD9-04C6-43FC-BA2E-
-99B27EF54632%7D. Acesso em: 11 de junho de 2019.

PRÁTICAS EDUCATIVAS DE SUSTENTABILIDADE DIRIGIDAS AO CONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA EM DOMICÍLIO


MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 243

Avaliação de desempenho de RNA


aplicada à estimação de carga de
curto prazo para demanda residencial
Marília Facundo Santana1
Antônio Alisson Pessoa Guimarães2

RESUMO
No setor elétrico, com o crescimento da competitividade, as organizações
buscam descobrir modelos de ampliar a qualidade de serviços oferecida,
para assegurar lucratividade aliando-se a questão da previsão de carga
oriunda de um planejamento energético apropriado, com propósito
de diminuição de custos de geração de energia. Contudo, a atividade de
previsão de carga não é uma tarefa elementar, bem como identificar
padrões de comportamento de consumo dos usuários, dentre outras
variáveis internas ou externas ao sistema. Nesse contexto, realizou-se
o desenvolvimento de ferramenta de Inteligência Artificial (IA) visando
à estimação de demanda média de carga de curto prazo, com medições
horárias para o mês de janeiro de 2019, em demanda residencial.
Especificamente, adotou-se, para previsão média de carga, o modelo de
Redes Neurais Artificiais (RNAs) do tipo multicamadas e com entradas à
rede, as medições horárias da série histórica do período de 2014 a 2018,
para o referido mês, cujas medições foram coletadas do banco de dados
da companhia elétrica americana Southern California Edison (SCE). Por
fim, para avaliar o desempenho da RNA proposta, em termos do Erro
Quadrático Médio (EQM), faz-se uma análise comparativa dos resultados
gerados pela rede com o modelo de previsão da SCE, para o mês de janeiro
de 2019.
Palavras-chave: Previsão de carga. Redes Neurais Artificiais. Séries
temporais.

1 Estudante do Curso de Engenharia de Energias e Bolsista de Iniciação


Científica (PIBIC/UNILAB) da Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).
Ee-mail: marilia_facundo@hotmail.com
2 Professor do Instituto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável

(IEDS) da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-


Brasileira (UNILAB), e-mail: alisson@unilab.edu.br

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
244 MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

RNA PERFORMANCE ASSESSMENT APPLIED TO SHORT-TERM


LOAD ESTIMATION FOR RESIDENTIAL DEMAND

ABSTRACT
In the electrical sector, with increasing competitiveness, organizations
seek to discover models to increase the quality of services offered, to
ensure profitability by combining the issue of cargo forecasting from an
appropriate energy planning, with the purpose of reducing generation costs
power. However, load forecasting activity is not an elementary task, as well
as identifying user consumption behavior patterns, among other variables
internal or external to the system. In this context, the development of an
Artificial Intelligence (AI) tool was performed aiming at the estimation of
short-term average load demand, with hourly measurements for January
2019, in residential demand. Specifically, for the average load forecast,
the model of Artificial Neural Networks (ANNs) of the multilayer type
and with inputs to the grid, the hourly measurements of the historical
series of the period from 2014 to 2018, were adopted for that month,
whose measurements were collected from the database of the American
company Southern California Edison (SCE). Finally, in order to evaluate
the proposed ANN performance, in terms of the Mean Square Error (MSE),
a comparative analysis of the results generated by the network with the
SCE forecast model is made for the month of January 2019.
Keywords: Load forecasting. Artificial neural networks. Time series.

INTRODUÇÃO

Após a entrada na Era da Tecnologia, a humanidade


avançou rapidamente com a invenção de novos equipamen-
tos, softwares, máquinas, aplicativos, dentre tantas outras
inovações que otimizaram a vida de milhões de pessoas no
mundo todo e permitiram que vários processos se tornas-
sem automatizados. Dentre as grandes invenções recentes,
o termo “Inteligência artificial (IA)” ganha destaque através
do seu protagonismo entre as novas tecnologias mais difun-
didas. Uma IA é uma “máquina inteligente” que tem como
objetivo desenvolver funções que, até então, somente seres
racionais faziam. Pois, elas são capazes de aprender e “de-
duzir” ideias.

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 245

A inteligência artificial pode ser dividida em alguns


ramos, dentre eles há as Redes Neurais Artificiais (RNAs).
Essas por sua vez:

“São modelos computacionais inspirados no sis-


tema nervoso dos seres vivos. Possuem a capaci-
dade de aquisição e manutenção de conhecimen-
to e podem ser definidas como um conjunto de
unidades de processamento, caracterizadas por
neurônios artificiais, que são interligados por
um grande número de interconexões.” (SILVA;
­SPATTI; FLAUZINO, 2010)

Há muitos benefícios em se utilizar Redes Neurais,


além dos supracitados, como habilidade de generalização
– generaliza o conhecimento adquirido –; organização de
dados, ou seja, agrupa padrões que apresentam particula-
ridades em comum; tolerância de falhas – aceita pequenas
falhas devido a quantidade de interconexões que há entre
seus neurônios –; armazenamento distribuído, ou seja, o
conhecimento é distribuído entre as diversas sinapses dos
neurônios e facilidade de prototipagem – a implementação
das arquiteturas neurais é facilmente implantado em sof-
twares (SILVA; SPATTI; FLAUZINO, 2010).
Visto isso, compreende-se que o uso de Redes Neu-
rais é bastante eficaz e seguro, podendo ser aplicado em
qualquer área. Uma de suas aplicações práticas é a previsão
de demanda ou carga elétrica para um determinado local e
período de tempo. Essa estimativa é de extrema importân-
cia para as sociedades atuais, visto que, todos os setores da
economia de um país, quase todas as atividades cotidianas
das pessoas, e até mesmo máquinas antigas que estão sendo
modernizadas, dependem essencialmente de energia elétri-
ca. É impossível imaginar um mundo em que a eletricidade
não esteja difundida. No entanto, isso poderia ocorrer caso

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
246 MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

houvesse decisões ruins baseadas em planejamentos ener-


géticos falhos.
O planejamento energético tem como base fundamen-
tal a previsão da demanda elétrica futura do local que está
sendo estudado. Existem várias alternativas de realizar esse
prognóstico, através da utilização de Redes Neurais Artifi-
ciais, por exemplo. Esta é uma boa forma de se obter os da-
dos, uma vez que, com a estrutura da Rede pronta, é neces-
sário somente a inserção de dados históricos da demanda
elétrica do mesmo local – ou com semelhanças fidedignas
– para que o programa forneça as informações desejadas.
Em suma, tal trabalho vislumbra a construção de uma
RNA para estimar, para o mês de janeiro de 2019, a demanda
residencial de carga elétrica de curto prazo de medições ho-
rárias, a partir do banco de dados da Southern California Edi-
son – SCE (SCE, 2019), cujas séries temporais são de domínio
público. Também objetiva-se avaliar o desempenho da rede
na comparação dos dados de estimação propostos pela SCE
e pelos resultados gerados pela RNA proposta.

IMPORTÂNCIA DA DEMANDA ELÉTRICA DE CURTO


PRAZO

Existem três horizontes para que a previsão de de-


manda elétrica seja analisada, são eles: longo, médio e curto
prazo. Sendo o primeiro focado no estudo da carga no perí-
odo de um ano para cima, visando à expansão da capacidade
de produção; o segundo prevê a carga para algumas semanas
ou meses futuros objetivando o planejamento de um siste-
ma de potência. Por fim, o horizonte de curto prazo prevê
a demanda no intervalo de minutos até poucos dias. Nesse
contexto, este trabalho tem como enfoque a previsão de car-
gas elétricas em curto prazo, pois

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 247

“[...] é de suma importância para os sistemas


elétricos de potência, pois, entre tantas outras
tarefas, esses dados podem ser utilizados para
otimizar a alocação das curvas de cargas para as
diversas usinas que fornecem energia ao sistema.
Além disso, as concessionárias também [...] as
utilizam para operacionalizar suas redes, de for-
ma a garantir maior qualidade do serviço presta-
do.” (OLIVEIRA, 2019)

Dessa forma, compreende-se o quão fundamental é a


obtenção dessas informações para que sejam analisadas e
aplicadas nos sistemas aos quais as necessitam.
O planejamento de companhias que distribuem ener-
gia elétrica, atualmente, deve seguir algumas normas esta-
belecidas pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétri-
ca). Dentre as quais, é válido destacar que é necessário utili-
zar o histórico de cargas dos últimos cinco anos para prever
a demanda elétrica (MARQUES, 2014).
Tal critério torna o uso de Redes Neurais Artificiais
aplicado à previsão de cargas elétricas muito viável, visto
que, para a obtenção dos dados finais disponibilizados pela
RNA faz-se necessário utilizar dados históricos de anos
passados.

METODOLOGIA

Este trabalho propõe uma estimativa de carga de


curto prazo de um consumidor residencial arbitrário, refe-
rente ao mês de janeiro de 2019, através de uma RNA com
supervisionamento. Foi definido um cenário de simulação
computacional juntamente com processo metodológico que
consistiu em contemplar, basicamente, as seguintes etapas:
Coleta de dados; Definição das variáveis; Pré-processamen-
to dos dados; Definição de parâmetros da rede e, finalmente,

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
248 MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

a Fase de treinamento, validação e teste da RNA. Na sequên-


cia, faz-se o detalhamento de cada etapa supracitada.

Coleta de dados

Para a análise de previsão de carga de curto prazo para


o caso residencial, utilizou-se o banco de dados público da
Southern California Edison (SCE), a qual é uma empresa de
distribuição elétrica norte americana que atende uma po-
pulação de quase 14 milhões de pessoas, em uma área de ser-
viço de 50.000 milhas quadradas dentro da região central,
litoral e sul da Califórnia (SCE, 2019).
Os arquivos de dados tomados por este trabalho e dis-
ponibilizados pela SCE são os perfis de carga estática refe-
rentes ao mês de janeiro dos anos de 2014 a 2019 para um
grupo de clientes residenciais. Especificamente, cada arqui-
vo é um perfil anual de grupo de taxas percentuais, desen-
volvido a partir de uma média de três anos dos perfis de car-
ga do grupo de taxas históricas. Ademais, os perfis de carga
são retratados em todos os 31 dias de janeiro, medidos a cada
hora durante um dia. A primeira medição do dia inicia-se à
uma hora da manhã – 1:00 a.m (ante meridiem) – e a última
no horário de meia-noite (12:00 a.m).

Definição das variáveis

Foram definidos atributos endógenos como variáveis


de entrada da rede. Tomou-se, na realidade, 6 variáveis para
a camada de entrada e uma camada de saída, das quais cada
uma representa a média diária, de demanda de carga de cur-
to prazo, dos dias do mês de janeiro, sendo registrada a mé-
dia de demanda a cada hora do dia, durante 24 horas. Nou-
tras palavras, as entradas da RNA referem-se as médias diá-

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 249

rias de carga, do mês de janeiro, relativos aos anos de 2014


a 2018. Por sua vez, como a rede implementada foi do tipo
supervisionada, definiu-se a média de carga de 2019 como a
saída desejada da rede (obtida pela SCE).

Pré-processamento dos dados

Alguns procedimentos de pré-processamento de da-


dos foram realizados com o objetivo de treinar a RNA de for-
ma mais eficiente. Verificou-se no banco de dados da SCE a
completude de todas as medidas horárias das variáveis da
rede, evitando assim, o problema de preenchimento de fa-
lhas de dados (missing data). Além disso, não havia dados in-
consistentes no registro histórico. Na sequência, tais dados
foram normalizados para valores compreendidos entre 0 e
1, baseados no critério de normalização como proposto em
Lima, Pinheiro e Santos (2014, p. 112).
O conjunto de dados foi armazenado em forma de ma-
triz, tendo as linhas representando as variáveis de entrada
da rede e as colunas, as medições horárias da demanda de
carga, com todos os valores normalizados. Consequente-
mente, a matriz de dados resultante ficou com ordem de 6
linhas e 24 colunas.
Fixando-se o número de linhas, a matriz de dados foi
particionada em três submatrizes, denominadas de: matriz
de treinamento, validação e teste. A primeira contém 70%
dos dados, a segunda e a terceira com 15% cada. Ficando com
os seguintes tamanhos: 6x17, 6x7 e 6x7, respectivamente.
Por fim, a fim evitar que a RNA se especialize em um
conjunto fixo de dados de treinamento e de validação, a rede
proposta por este trabalho reordenou aleatoriamente as co-
lunas das supracitadas matrizes, modificando assim, a or-
dem de apresentação dos dados para as variáveis de entrada

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
250 MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

da RNA. Importante comentar que a não reordenação pode


acarretar na incapacidade de generalização na fase de teste
da rede (SILVA; SPATTI; FLAUZINO, 2010).

Definição de parâmetros da rede

A arquitetura escolhida para a RNA foi do tipo feedfo-


rward de camadas múltiplas com processo de aprendizado
supervisionado e treinamento da rede baseado no algoritmo
backpropagation (SILVA; SPATTI; FLAUZINO, 2010).
Em termos de topologia, a rede em estudo contém 6 va-
riáveis de entrada e uma camada de saída, normalizadas en-
tre 0 e 1. Por sua vez, a RNA foi desenvolvida em três camadas
ocultas com 4 neurônios na primeira camada, 2 na segunda
e 4 neurônios na terceira. Ademais, para proporcionar um
maior grau de liberdade à rede foi acrescido um nível bias
para cada camada (entrada, camadas ocultas e saída).
A precisão da previsão para janeiro de 2019 de deman-
da de curto prazo foi avaliada com base no Erro Quadrático
Médio (EQM), com base na diferença entre os valores gera-
dos pela rede e os valores reais disponíveis no banco de da-
dos da SCE (SCE, 2019). Os parâmetros complementares da
implementação da RNA, estão descritos na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Parâmetros complementares da RNA


Parâmetros Descrição/Valores
Função de ativação Função sigmóide
Taxa de aprendizagem 0,1
Matriz de pesos da RNA na Valores gerados aleatoriamente, a partir
primeira iteração da distribuição uniforme
Coeficiente de momentum Nenhum, pois não será desenvolvido
algoritmo de momentum para ser
executada na RNA
Critério de parada Análise do Erro Quadrático Médio
(EQM)
Fonte: elaborada pelos autores.

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 251

Fase de treinamento, validação e teste da RNA

Na fase de treinamento, os pesos das conexões foram


ajustados iterativamente, seguindo a regra de aprendizado
do algoritmo backpropagation. Noutros termos, para cada
iteração de atualização dos pesos, processo denominado de
época, apresentou-se a matriz de treinamento para proces-
samento na rede, com critério de parada regrado no EQM.
Tais procedimentos executados na fase de treinamen-
to foram repetidos na fase de validação, contudo com uma
menor quantidade de dados. Permitindo-se, assim, a utiliza-
ção da validação cruzada para a análise do comportamento
da convergência do EQM ao longo do número de épocas.
Finalmente, aplicou-se a fase de teste para verificar o
desempenho da rede ou capacidade de generalização, apre-
sentando-se dados de entradas ainda não informados du-
rante dos processos de treinamento e validação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O algoritmo desenvolvido por este trabalho particio-


nou a matriz de dados e reordenou tais colunas, obtendo-se
a seguinte sequência que corresponde a hora do dia:

Tabela 2 – Sequência das colunas das matrizes de treinamento,


validação e teste.
Matriz de Matriz de
Matriz de treinamento
validação teste
Hora
do 5 1 9 15 19 10 24 2 20 4 12 6 17 3 22 23 14 18 13 16 8 7 11 21
dia
Fonte: elaborada pelos autores.

Em seguida, as fases de treinamento e validação foram


realizadas com o propósito de apresentar o comportamento

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
252 MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

da convergência do EQM em quantidades distintas de da-


dos, ao longo do número de épocas do algoritmo. A Figura 1
ilustra, a partir de processo de validação cruzada, que as res-
pectivas curvas apresentaram um mesmo comportamento
de convergência apresentando-se, para cada caso, um EQM
muito próximo de zero. Sinalizando-se, dessa forma, que a
RNA implementada por este trabalho dispõe de excelente
capacidade de generalização, cuja afirmação foi comprova-
da na etapa subsequente, denominada de fase de teste.

Figura 1 – Convergência do EQM para as fases de treinamento e


validação.

Fonte: elaborada pelos autores.

Após os processos de treinamento e validação, cujo


conhecimento da rede está armazenado nos pesos sinápti-
cos relativos à fase de treinamento, procede-se com a fase
de teste. Durante essa etapa, é analisado o desempenho da

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 253

RNA com dados que ainda não foram inseridos à rede, aos
quais haviam sido armazenados em uma matriz nomeada de
matriz de teste.
Especificamente, na referida matriz de teste, as colu-
nas configuram as medições médias de demanda das 7:00h,
11:00h e 21:00h, relativas ao mês de janeiro de 2014 a 2018,
conforme a Tabela 2. Avaliou-se, portanto, o EQM com base
na diferença entre os valores reais de estimava média de de-
manda de 2019, dados pelo SCE, com os valores gerados pela
rede, com entradas provenientes da matriz de teste. Em ter-
mos normalizados, nessa fase obteve-se um valor de apro-
ximadamente 0,000017 para o EQM. Confirmando, assim,
um aprendizado satisfatório e uma significante capacidade
de generalização. A Figura 2 evidencia o quão próximos são
os valores reais e simulados de demanda média, pertinentes
aos três horários supracitados.

Figura 2 – Particionamento da matriz de dados

Fonte: elaborada pelos autores.

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
254 MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES

Por fim, com o propósito de verificar o comportamen-


to da rede em termos horários para um período de 24 horas,
com base na estimação de demanda média de curto prazo em
comparação com o proposto pelo banco de dados da SCE, con-
cluiu-se que a configuração da rede, proposta por este traba-
lho, atingiu com sucesso o objetivo proposto, conforme ilustra
a Figura 3. Nota-se, portanto, que o erro é mínimo ou quase
nulo na comparação dos valores reais com os simulados para
cada hora do dia, medidos durante um período de 24 horas.

Figura 3 – Comparação de demanda média entre valores reais e


simulados.

Fonte: elaborada pelos autores.

CONCLUSÃO

Este trabalho se concentrou no desenvolvimento de


uma RNA multicamadas, com o propósito de estimar deman-

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
MARÍLIA FACUNDO SANTANA • ANTÔNIO ALISSON PESSOA GUIMARÃES 255

da de carga de curto prazo para o mês de janeiro de 2019, em


caso residencial, com medição horária, a partir do banco de
dados disponibilizado pela SCE. Diante dos dados obtidos pela
rede, os quais foram comparados, em termos do EQM, com as
estimativas de medições proposta pela SCE, pode-se constatar
a excelente acuracidade para a estimativa de carga de curto
prazo, culminando com êxito os objetivos inicialmente pro-
postos. Por fim, sugere-se para estudos futuros a aplicação de
outros modelos de IA para problemas de previsão.

REFERÊNCIAS

ANEEL – Agencia Nacional de Energia Elétrica, Resolução


Normativa n° 414, de 9 de junho de 2019.
LIMA, Isaias; PINHEIRO, Carlos A. M.; SANTOS, Flavia A.
Oliveira. Inteligência Artificial. 1. ed. Rio de Janeiro: Cam-
pus, 2014.
OLIVEIRA, André Luis Barros de. Modelo neural para predição
de demanda elétrica de curto prazo na região metropolitana da
cidade de Fortaleza – CE. 2019. 86 f. TCC (Graduação) – Curso
de Engenharia de Energias, Universidade da Integração In-
ternacional da Lusofonia Afro-brasileira, Redenção, 2019.
MARQUES, Marthielo dos Santos. Metodologia para mode-
lagem de curvas típicas de demanda elétrica utilizando redes
neurais artificiais considerando variáveis climáticas. 2014.
120 f. tcc (mestrado) – Curso de Engenharia Elétrica, Univer-
sidade Federal do Pampa, Alegrete, 2014.
SILVA, Ivan Nunes da; SPATTI, Danilo Hernane; FLAUZINO,
Rogério Andrade. Redes Neurais Artificiais para engenharia e
ciências aplicadas. São Paulo: Artliber, 2010.
SCE – Southern Califórnia Edison. Disponível em: <https://
www.sce.com/regulatory/load- profiles> Acesso em: 14 de
maio de 2019.

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE RNA APLICADA À ESTIMAÇÃO DE CARGA DE CURTO PRAZO PARA DEMANDA RESIDENCIAL
ELLEFSON EMMANUEL SOUZA DE OLIVEIRA • RODOLPHO RAMILTON DE CASTRO MONTEIRO • FERNANDO CESAR DE SOUZA FILHO
256 THAYS NOGUEIRA DA ROCHA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS

Otimização da esterificação
enzimática dos ácidos graxos do óleo
de coco residual por método Taguchi
Ellefson Emmanuel Souza de Oliveira1
Rodolpho Ramilton de Castro Monteiro2
Fernando Cesar de Souza Filho3
Thays Nogueira da Rocha4
Maria Cristiane Martins de Souza5
José Cleiton Sousa dos Santos6

RESUMO
O biodiesel ganhou uma atenção significativa nos últimos anos como uma
alternativa limpa ao diesel convencional. No entanto, a rota de produção
tradicional através de reação de transesterificação exige a utilização
de óleos refinados e com baixo índice de acidez, limitando a utilização
de outras fontes de matéria prima, como óleos residuais ou brutos
extraídos de oleaginosas. A hidroesterificação surge como metodologia
alternativa, possibilitando a utilização de óleos não refinados na síntese
de biocombustível, assim garantindo-lhes uma finalidade nobre. O
presente trabalho destaca o uso do óleo de coco residual como matéria-
prima para a produção de biodiesel por saponificação e hidrólise química
seguidas de esterificação catalisada pela enzima, lipase de Candida
antarctica do tipo B (CAL-B) da Novozymes®435, otimizada pela utilização
da abordagem de Taguchi, que permite uma identificação da significância
1 Bacharel em Engenharia de Energias – Instituto de Engenharias e Desenvol-
vimento Sustentável, Universidade da Integração Internacional da Lusofo-
nia Afro-Brasileira.
2 Mestrando em Engenharia Química – Departamento de Engenharia Quími-
ca, Universidade Federal do Ceará.
3 Graduando em Engenharia de Energias - Instituto de Engenharias e Desen-
volvimento Sustentável, Universidade da Integração Internacional da Luso-
fonia Afro-Brasileira.
4 Professora Adjunto – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia.
5 Professora Adjunto – Instituto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentá-
vel, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
6 Professora Adjunto – Instituto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentá-
vel, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.

OTIMIZAÇÃO DA ESTERIFICAÇÃO ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DE COCO RESIDUAL POR MÉTODO TAGUCHI
ELLEFSON EMMANUEL SOUZA DE OLIVEIRA • RODOLPHO RAMILTON DE CASTRO MONTEIRO • FERNANDO CESAR DE SOUZA FILHO
THAYS NOGUEIRA DA ROCHA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS 257

dos parâmetros que afetam a conversão de ácidos graxos livres (AGLs)


em ésteres (biodiesel). O arranjo ortogonal L9 é utilizado para conceber
uma matriz experimental considerando quatro parâmetros, isto é,
temperatura (°C), tempo de reação (h), razão molar (RM) de óleo para
etanol e concentração de catalisador [%] a três níveis distintos. Usando o
Projeto Ortogonal Taguchi (L9), a melhor conversão de AGLs em biodiesel
foi estatisticamente prevista e experimentalmente verificada como
85,28% e 84,92%, respectivamente. O ponto ótimo para a conversão em
biodiesel bruto foi obtido em 3 horas de reação, 40°C de temperatura,
razão molar (RM) 1:9 (AGLs para etanol) e 3% (em relação ao peso de AGL)
em peso do conteúdo enzimático. O conteúdo de biocatalizador e a RM
foram os dois fatores que mais contribuíram para a conversão ideal dos
AGLs do óleo de coco residual em biodiesel seguidas de tempo de reação
e temperatura.
Palavras-chave: Óleo de coco. Esterificação enzimática. Taguchi.

INTRODUÇÃO

A tecnologia enzimática na modificação de óleos e


gorduras vem ganhando espaço, por apresentar vantagens
quando comparada aos processos convencionais, que exi-
gem a operação em temperaturas e pressões mais elevadas
e grande consumo de produtos químicos (CASTRO et al.,
2004). Uma das mais importantes enzimas empregadas em
biocatálise é a lipase, que tem sido aplicada na modificação
de óleos e gorduras (CONTESINI et al., 2009), pois em meio
aquoso catalisam a hidrólise de triacilgliceróis e, em condi-
ções de baixa quantidade de água, podem promover tam-
bém reações de esterificação, interesterificação e transeste-
rificação (JAEGER et al., 1994). Dentre as vantagens da rota
enzimática, pode-se apontar o maior rendimento e maior
especificidade do processo, obtenção de produtos biodegra-
dáveis, menor consumo de energia e redução da quantidade
de resíduos gerados (CASTRO et al., 2004).
A metodologia convencional de produção de ésteres
através de transesterificação é restritiva quanto a utilização
de matérias-primas não refinadas e de elevava acidez. A hi-

OTIMIZAÇÃO DA ESTERIFICAÇÃO ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DE COCO RESIDUAL POR MÉTODO TAGUCHI
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258 THAYS NOGUEIRA DA ROCHA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS

droesterificação, processo que envolve uma etapa de hidró-


lise seguida de uma etapa de esterificação (ENCARNAÇÃO,
2008), surge como metodologia alternativa, por possibilitar
o uso de uma maior variedade de matérias-primas, incluin-
do óleos de fritura, óleos de elevada acidez, bem como maté-
rias graxas residuais do processamento de óleos. A hidrólise
consiste em uma reação química entre os triacilglicerídeos
da gordura ou óleo vegetal e a água (SANTOS et al., 2015). Já
a esterificação corresponde a reação de um ácido graxo com
um álcool e é auxiliada por um catalisador ácido, básico ou
enzimático, fornecendo como subprodutos água e ésteres
alquílicos (ARANDA et al., 2008; SANTOS, 2011). A Novozy-
mes®435 é amplamente utilizada para catalisar reações de
esterificação (DUAN et al., 2010; RICHETTTI et al., 2010; TA-
MAYO et al., 2012).
A síntese de um produto deve ser acompanhada da oti-
mização do processo para maximizar o seu rendimento (BEG
et al., 2003). Técnicas estatísticas de design experimental são
úteis na otimização simultânea de múltiplas variáveis (fato-
res independentes) para obter a melhor resposta (fator de-
pendente) com um número mínimo de observações (CHOW-
DHURY et al., 2014). O método ortogonal de Taguchi é uma
técnica estatística de projetar experimentos que podem for-
necer informações sobre o processo em andamento, exigindo
um mínimo de ensaios experimentais (HOUNG et al., 2006).
As vantagens do uso do método de Taguchi foram relatadas
por vários autores (CHEN; KITTS, 2008; RAO et al., 2008) e são
resumidas como segue: Matrizes ortogonais que reduzem o
número de experimentos comparado ao planejamento fato-
rial; o uso da relação sinal-ruído (S/R) para analisar os resul-
tados reduz a sensibilidade do sistema a fontes de variação,
resultando em bom desempenho; o uso de tal projeto aumen-
ta a robustez do processo, reduzindo o tempo e custo.

OTIMIZAÇÃO DA ESTERIFICAÇÃO ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DE COCO RESIDUAL POR MÉTODO TAGUCHI
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O objetivo do presente estudo foi otimizar as variá-


veis do processo (temperatura, conteúdo de biocatalisador,
razão molar e tempo) para a produção de ésteres láuricos
usando biocatalisador (Novozymes®435) na reação de esteri-
ficação de ácidos graxos livres (AGLs), aplicando o desenho
ortogonal Taguchi.

METODOLOGIA

Obtenção dos AGLs

A reação de saponificação foi conduzida em banho


ultrassônico (volume de 9,5 L, frequência ultrassônica de
37 kHz, potência ultrassônica total de 300 W), durante 60
min a 60ºC, utilizando-se 100 g óleo de coco residual, (M.M
648 g/mol) adicionada de catalisador alcalino hidróxido de
potássio (KOH) previamente diluído em álcool etílico (95 %).
Em seguida, para realização da hidrólise ácida, utilizou-se
os sais de ácidos graxos (sabão) produzidos, adicionados de
600 mL de água destilada e 20 mL de ácido sulfúrico (H2SO4)
previamente diluídos em 66 mL de água destilada. A deter-
minação do índice de acidez aconteceu por meio de método
titulométrico tradicional através da retirada de alíquotas de
2 mL do volume reacional que foram então diluídas em 5 mL
de álcool etílico (1:1 v/v,), adicionadas de 3 gotas de fenolf-
taleína 1% e tituladas com hidróxido de sódio (0,1M) (LIMA,
2010; MANO et al., 1987). A seguir a equação 1 utilizada para
determinação do índice de acidez.

Equação 1

Em que: IA é o índice de acidez (mgKOH/g); V é o volu-


me gasto de solução de NaOH na titulação da amostra (mL), f

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é o fator de correção da solução de NaOH; N é a normalidade


da solução de NaOH (mol/L); m a massa da amostra (g). Após a
execução da 1ª etapa, pode-se quantificar a conversão dos tri-
glicerídeos em AGLs aplicando os valores de IA na Equação 2:

Equação 2

Em que: Conversão % é a taxa de redução do índice


de acidez na reação (%); CA0 = valor do índice de acidez do
meio reacional no tempo zero (mgKOH/g); CAT = valor do ín-
dice de acidez do meio reacional em um tempo t da reação
(mgKOH/g).

Esterificação enzimática

A esterificação enzimática foi realizada em tubos


eppendorf (2 mL) conduzidas sob agitação mecânica em
incubadoras shaker orbitais a 220 rpm. Para tanto, os áci-
dos graxos produzidos na 1ª etapa foram utilizados como
substrato, com razão molar (ácido/álcool) variando em três
níveis (1:3, 1:6 e 1:9). A reação foi iniciada adicionando-se ao
substrato adicionado de álcool a Lipase B de Candita an-
tarctica (CAL-B) (NOVOZYMES® 435) (1, 3 e 5% por massa de
ácido) e incubou-se os microtubos com conteúdo reacional
a temperaturas de 30, 40 e 50 °C durante 1, 3 e 6 h. Após o
tempo de reação específico para cada ensaio, as enzimas fo-
ram removidas e o índice de acidez do sobrenadante foi de-
terminado para cada amostra. Para tanto, alíquotas de 300
mg foram retiradas do volume reacional, diluídas em 5 mL
de álcool etílico, adicionadas de 3 gotas de fenolftaleína e ti-
tuladas com KOH (0,1 M) (CAVALCANTI et al., 2018), com al-
gumas modificações. O índice de acidez (IA) foi estabelecido
de acordo com a Equação 2.1.

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Equação 2.1

Em que: IAb= valor do índice de acidez do branco


(mgKOH/g); IAf= valor do índice de acidez final da reação
(mgKOH/g).O software Statistica® 10 (Statsoft, EUA) foi utili-
zado para delineamento experimental e análise estatística.
As variáveis estudadas e os respectivos níveis são apresen-
tados na Tab.1.

Tabela 1 – Fatores independentes e seus respectivos níveis para a


produção do éster.
Conteúdo de
Razão Molar Temperatura Tempo
  Biocatalisa-
(ácido:álcool) (°C) (h)
dor (%)*
Nível 1
1 1:0 30 1
(N1)
Nível 2
3 1:6 40 3
(N2)
Nível 3
5 1:9 50 6
(N3)
Fonte: Elaborado pelos autores. *Relativo a massa de ácido

A Tabela 2 apresenta as combinações entre as variá-


veis envolvidas para cada ensaio, juntamente com os valores
médios de conversão e as razões S/R (sinal-ruído) calcula-
das. Os valores das razões S/R correspondentes às conver-
sões, foram calculados usando as características da função
“maior é melhor”, uma vez que o objetivo deste estudo é ma-
ximizar a resposta (conversão) (ROY, R.K., 2001). O valor da
relação S/R para cada experimento foi calculado de acordo
com a Equação 3

Equação 3

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Onde y é a conversão para a experiência correspon-


dente, i é o número de repetições e n é o número de respos-
tas para a combinação de níveis de fator em qualquer com-
binação paramétrica específica de acordo com a Tabela 2. A
relação S/R prevista sob condições ótimas para o processo
obter a conversão máxima foi estimado pela Equação 4.

Equação 4

Onde /R é a média aritmética de todas as relações S/R,


S/Rj é a relação S/R no ponto ideal para cada fator e n é o nú-
mero de fatores que afetam significativamente o processo.

RESULTADOS

Obtenção dos AGLs

Determinação do IA dos Triglicerídeos (TRG) e AGL.


Os valores para IA encontrados para o óleo residu-
al e AGLs foram, 1,83 e 172,34 mgKOH/g, respectivamente,
sendo este último, aproximadamente 95 vezes maior que o
primeiro demostrando uma grande conversão dos triglice-
rídeos (TRG) em AGL diante da notória mudança de pH an-
tes e pós reação. A conversão pôde ser determinada através
da Equação 2.

Esterificação enzimática

Planejamento experimental
Para as combinações de fatores independentes em
seus respectivos níveis, os valores do fator dependente e a
relação S/R para um delineamento experimental de matriz
ortogonal são apresentados na Tabela 2. A relação S/R foi de-

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terminada pela função “maior é melhor”, para maximizar a


conversão.

Tabela 2 – Matrizes de desenho de matriz ortogonal L9


juntamente com os valores de conversão e as relações S/R. Mais
detalhes são fornecidos na seção Materiais e Métodos.
Razão
Conteúdo Tempe- Conver-
Molar Tempo Relação
Ensaio de Bioca- ratura são
(ácido:ál- (h) S/R
talisador (°C) (%)
cool)
57,82 ±
1 1 (1) 1:3 (1) 30 (1) 1 (1)
35,24
0,05
76,88 ±
2 1 (1) 1:6 (2) 40 (2) 3 (2) 37,72
0,06
77,48 ±
3 1 (1) 1:9 (3) 50 (3) 6 (3) 37,78
0,58
82,11 ±
4 3 (2) 1:3 (1) 40 (2) 6 (3) 38,29
0,34
79,68 ±
5 3 (2) 1:6 (2) 50 (3) 1 (1) 38,03
0,28
83,88 ±
6 3 (2) 1:9 (3) 30 (1) 3 (2) 38,47
0,03
80,44 ±
7 5 (3) 1:3 (1) 50 (3) 3 (2) 38,11
0,01
80,80 ±
8 5 (3) 1:6 (2) 30 (1) 6 (3) 38,15
0,09
83,35 ±
9 5 (3) 1:9 (3) 40 (2) 1 (1) 38,41
0,11
Fonte: Elaborado pelos autores. Relativo a massa de ácido
*

O ensaio 6 apresentou a maior conversão de AGLs em


ésteres, 83,88%; sendo este, portanto, composto pela me-
lhor combinação dos fatores independentes, no entanto,
cada fator diverge quanto a sua influência independente na
conversão. A classificação dos parâmetros (temperatura,
tempo, razão molar e conteúdo do biocatalisador) com base
nos valores delta (a diferença dos valores da razão S/R entre
os níveis mais alto e mais baixo dos fatores de processo) é
mostrada na Tabela 3.

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Tabela 3 – Tabela de respostas das relações S/R. Mais detalhes


são fornecidos na seção Materiais e Métodos.
Conteúdo de Razão Molar1 Temperatura Tempo
 
Biocatalisador (ácido:álcool) (°C) (h)
Nível 1 (N1) 36,91 37,21 37,29 37,23
Nível 2 (N2) 38,26 37,96 38,14 38,1
Nível 3 (N3) 38,22 38,22 37,97 38,07
Delta 1,35 1,01 0,85 0,87
Classificação 1 2 4 3
Fonte: Elaborado pelos autores. *Relativo a massa de ácido

Levando em consideração o alvo do processo, as maio-


res relações S/R eram desejáveis para garantir que a máxima
conversão dos ácidos graxos do óleo de coco residual, usando
o catalisador enzimático lipase de Candida antarctica (CAL-
-B), fosse atingida. Quanto maior a diferença entre o mínimo
e o máximo das relações S/R em cada fator, maior o seu efeito
na conversão dos AGLs. Como pode ser verificado na Tabela
3, os fatores envolvidos nas reações foram classificados em
1, 2, 3 e 4 de acordo com o maior valor de delta apresentado
entre eles. A partir desta classificação, pôde-se verificar que
o conteúdo de biocatalisador foi quem apresentou influên-
cia com maior significância sobre a conversão dos AGLs em
ésteres seguido de razão molar, temperatura e tempo.
Considerando os quatro fatores (conteúdo de bioca-
talisador, razão molar, temperatura e tempo), pode-se con-
cluir que a porcentagem de 3% do conteúdo de biocatalisador
(N2), temperatura de 40 ºC (N2), razão molar 1:9 (N3) e tempo
de 3 h (N2) resultaram na maior relação S/R correspondente
a maior conversão dos AGLs em ésteres (ver Figura 1). Após
a identificação dos níveis ótimos dos fatores de processo, o
valor ótimo da relação S/R pôde ser calculado com base nos
níveis selecionados dos fatores significativos. Os gráficos da

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média das relações S/R e de cada um dos parâmetros de con-


trole (temperatura, tempo, razão molar e conteúdo biocata-
lisador) são mostrados na Figura 1.

Figura 1 – A média da relação S/R registra temperatura, tempo,


relação molar e conteúdo de biocatalisador.

Fonte – Elaborado pelos autores

A relação S/R ideal prevista para as condições otimi-


zadas foi calculada a partir da Equação 4. Para este estudo,
a maior relação S/R obtida foi de 38,47, o que sugere que os
melhores níveis para cada parâmetro são N2 (3%) para con-
teúdo biocatalisador, N3 (1:9) para razão molar, N2 (40 °C)
para temperatura e N2 (3 horas) para o tempo. Para esta
combinação de parâmetro, a conversão teórica é de 85,28%.
Para validar as condições ótimas, foram realizadas corridas
(triplicadas) obtendo-se uma conversão de 84,92 ± 0,42%.
Efeito do conteúdo de biocatalisador: O aumento na
conversão com o aumento da quantidade de Novozymes®435

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(1-5 % em peso de AGLs) é provavelmente devido a maior dis-


ponibilidade de sítios ativos (TALUKDER et al., 2010) como
também pode ser atribuída à afinidade que a lipase apre-
senta em relação ao ácido láurico, dominante na composi-
ção do óleo de coco residual. Em estudo realizado por Sun
et al., (2009), levando em consideração apenas ácidos graxos
saturados, verificou-se que a afinidade da lipase Rhizopus
chinensis foi a segunda maior pelo Laurato (C12:0). Portanto,
o ácido láurico foi o que apresentou a segunda maior ativida-
de, utilizando etanol como aceptor de elétrons (REINEHR,
2014). Vaidya et al., (2008) em seus estudos de especificidade
utilizando enzimas comerciais imobilizadas, percebeu que a
enzima de Candida antarctica imobilizada em resina de acri-
lato, apresentou melhores resultados de atividade específica
quando o ácido graxo utilizado foi o ácido láurico, o que de
acordo com Reinehr (2014) foi explicado pela resistência da
difusão de substratos de cadeia longa na estrutura mais rígi-
da das enzimas imobilizadas.
Efeito da razão molar (RM): Rosset et al., (2013) per-
cebeu em seus estudos sobre esterificação comportamentos
distintos nas conversões ao se utilizar diferentes álcoois.
Nos casos em que etanol e n-propanol foram os solventes
na esterificação, 1,0% da enzima já foram suficiente para
aumentar as conversões (93,1 e 91,1%,). Estudo recente de-
monstrou que 2,24% da lipase Candida antarctica (Novozy-
mes®435) com reações sob condições similares as de Ros-
set, proporcionaram um rendimento de 95% antes de 24 h,
também utilizando etanol como solvente (ABDULLAH et al.,
2017). No presente trabalho, a razão molar de 1:9 (AGLs: eta-
nol) manteve o equilíbrio da reação em relação ao produto,
retardando a reação inversa de hidrólise, demonstrando que
este excesso de álcool contribui significativamente nas con-
versões, o que foi comprovado pela análise S/R em que razão

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molar apresentou alta classificação de delta, 2, além de não


comprometer a funcionalidade da enzima.
Efeito da temperatura (ºC): A esterificação de AGLs
com álcool (etanol) é uma reação endotérmica, assim resul-
tando em melhores interações entre partículas enzimáticas
e substratos (SOO et al., 2004). De acordo com os dados da
Tabela 2, as maiores conversões foram obtidas nos ensaios
com temperaturas de 40 e 50 °C uma vez que o valor ótimo
de temperatura de trabalho da Novozymes®435 é entre 40
e 65 °C (NOVO NORDISK, 1992). Além disso, um aumento
na temperatura reduz a viscosidade do sistema, aumenta
a solubilidade mútua e melhora o processo de difusão dos
substratos, reduzindo assim as limitações de transferência
de massa e favorecendo o rendimento do produto (CENIA et
al., 2010). No entanto, de acordo com as relações S/R obtidas
e os respectivos valores de delta determinados para os fato-
res envolvidos na reação, concluiu-se que a temperatura, no
planejamento experimental deste trabalho, foi quem menos
exerceu influência significativa nas conversões, com valor
de delta 4 na classificação geral.
Efeito do tempo (h): A conversão máxima de AGLs foi
obtido no tempo de reação de 3 horas. Com o aumento do
tempo de 3 para 6 horas, não houveram melhorias signifi-
cativa na conversão. De acordo com o valor de delta, verifi-
cou-se que a duração da reação é um parâmetro de baixa in-
fluência durante a esterificação, demonstrando que tempos
prologados são desnecessários, quando não aumentam os
rendimentos, e elevam os custos de produção.

CONCLUSÃO

A reação de esterificação de AGLs e etanol catalisada


pela Novozymes®435 para produzir ésteres etílicos foi pro-

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jetada e analisada através da matriz ortogonal L9 seguindo a


metodologia de Taguchi. Conteúdo de biocatalisador e razão
molar foram os dois parâmetros mais significativos que afe-
taram a reação de esterificação. A alta resposta (conversão
de 84,92%) foi obtida nos níveis otimizados dos fatores de
controle do processo: 3% de biocatalisador em relação a mas-
sa de substrato, 1:9 (AGLs/etanol), 40 °C e 3 h. O óleo de coco
residual apresentou-se, portanto, como matéria eficiente na
produção de biocombustível; a enzima Novozymes®435 por
sua vez, apresentou grande afinidade pelo substrato utiliza-
do, além de proporcionar altas conversões com utilização de
porcentagens pequenas de enzima quando na presença do
etanol.

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OTIMIZAÇÃO DA ESTERIFICAÇÃO ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DE COCO RESIDUAL POR MÉTODO TAGUCHI
FRANCISCO SIMÃO NETO • BRUNNA LIMA PORFIRIO DE SOUSA • THALES GUIMARÃES ROCHA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS
MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES 273

Esterificação de óleo residual de frango


para produção enzimática de ésteres
etílicos utilizando lecitase ultra
Francisco Simão Neto1
Brunna Lima Porfirio de Sousa2
Thales Guimarães Rocha3
José Cleiton Sousa dos Santos4
Maria Cristiane Martins de Souza5
Ada Amélia Sanders Lopes6

RESUMO
De acordo com os altos índices de poluição e a demanda constante de
energia faz-se necessário o incentivo a pesquisa cientifica por novas
fontes de matéria prima que possam ter como fim a obtenção de energias
renováveis. Os biocombustíveis se mostram como uma alternativa limpa
na substituição dos combustíveis provindos do petróleo. O biodiesel é
um biocombustível produto da esterificação entre um ácido e um álcool
para produzir ésteres etílicos. Para a esterificação ser potencializada
um biocatalisador é adicionado ao meio reacional. Os biocatalisadores
aceleram as reações e aumentam os índices de conversões. A enzima
utilizada nos experimentos deste trabalho foi a fosfolipase Lecitase®
Ultra. O presente trabalho tem o objetivo de sintetizar ésteres etílicos a
partir dos ácidos graxos livres do óleo residual de frango. Para maximizar
as conversões foi utilizado um planejamento experimento que fez
diferentes combinações entre parâmetros que podem influenciar nos
resultados – razão molar, teor de biocatalisador, temperatura e tempo. A
metodologia Taguchi se apresenta como um planejamento experimental
mais simples e com um número reduzido de amostras. Na análise dos
resultados foi utilizado o Statistica®, software para realizar o esboço
experimental. Após as análises a maior conversão (%) obtida foi de 23,48

1 Discente, IEDS, UNILAB, email: fcosimao@aluno.unilab.edu.br


2 Discente, IEDS, UNILAB, email: brunna@aluno.unilab.edu.br
3 Discente, IEDS, UNILAB, email: thales@aluno.unilab.edu.br
4 Docente, IEDS, UNILAB, email: jcs@unilab.edu.br
5 Docente, IEDS, UNILAB, email: mariacristiane@unilab.edu.br
6 Docente, IEDS, UNILAB, email: ada@unilab.edu.br

ESTERIFICAÇÃO DE ÓLEO RESIDUAL DE FRANGO PARA PRODUÇÃO ENZIMÁTICA DE ÉSTERES ETÍLICOS UTILIZANDO LECITASE ULTRA
FRANCISCO SIMÃO NETO • BRUNNA LIMA PORFIRIO DE SOUSA • THALES GUIMARÃES ROCHA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS
274 MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES

± 0.98 e um S/R (sinal – ruído) de 27,41. A defasagem entre o ponto ótimo


e o real foi de 2,82% na conversão e 3,28 para S/R. De acordo com cos
resultados pode-se concluir que a temperatura teve maior influência nas
conversões e que o aumento da temperatura altera a atividade catalítica
da enzima reduzindo seu potencial.
Palavras-chave: Ésteres Etílicos. Esterificação. Catalise Enzimática.
Lecitase® Ultra.

ESTERIFICATION OF CHICKEN RESIDUAL OIL FOR ENZYMATIC


PRODUCTION OF ETHYL ESTERS USING LECITASE ULTRA

ABSTRACT
According to high pollution levels and constant energy demand, it is
necessary to encourage scientific research for new sources of raw material
that may have the purpose of obtaining renewable energy. Biofuels are
seen as a clean alternative in the substitution of fuels from petroleum.
Biodiesel is a biofuel product of the esterification between an acid and an
alcohol to produce ethyl esters. For the esterification to be potentiated
a biocatalyst is added to the reaction medium. Biocatalysts accelerate
reactions and increase conversion rates. The enzyme used in the
experiments of this work was Lecitase® Ultra phospholipase. The present
work has the objective of synthesizing ethyl esters from the free fatty acids
of the residual chicken oil. To maximize the conversions an experiment
was used that made different combinations between parameters that can
influence the results – molar ratio, biocatalyst content, temperature and
time. The Taguchi methodology is presented as a simpler experimental
design with a reduced number of samples. In the analysis of the results
was used the Statistica®, software to realize the experimental sketch.
After the analysis the highest conversion (%) obtained was 23.48 ± 0.98
and an S / R (signal – noise) of 27.41. The lag between the optimum and the
real point was 2.82% for conversion and 3.28 for S / R. According to the
results it can be concluded that the temperature had a greater influence
on the conversions and that the increase in temperature changes the
catalytic activity of the enzyme reducing its potential.
Keywords: Ethyl Esters. Esterification. Enzymatic Catalysis. Lecitase® Ultra.

INTRODUÇÃO

A produção de biocombustíveis está em constante


desenvolvimento, uma vez que estes combustíveis são uma
alternativa mais adequada no que diz respeito a redução da

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poluição e dos impactos causados a natureza. O biodiesel é


um biocombustível, produto de ésteres alquílicos de ácidos
graxos, obtidos principalmente por transesterificação ou
esterificação dos ácidos graxos e glicerídeos em óleos vege-
tais ou residuais, com álcoois de cadeia curta (MOHAMMA-
DI et al., 2017).
Esterificação é uma reação que consiste na condensa-
ção do ácido carboxílico e do álcool, formando éster e água.
Esta reação é lenta, quando nenhum catalisador é usado,
que pode ser químico ou biológico. No caso de usar um bio-
catalisador, as enzimas são usadas para aumentar a taxa de
reação (RAJENDRAN; PALANISAMY; THANGAVELU, 2009).
A esterificação vem sendo considerada uma rota promisso-
ra, devido a pequena produção de sabões e glicerina no seu
processo.
O processo de esterificação contribui para que o cata-
lisador trabalhe nos dois sentidos da reação, sendo a esteri-
ficação um sentido e a hidrolise o processo contrário, onde
o catalisador usa a água gerada inicialmente para hidrolisar.
Assim uma quantidade de álcool elevada se faz necessária
para reduzir esse processo reverso Sousa et al. (2010). Den-
tre os inúmeros tipos de catalisadores utilizados na esteri-
ficação podemos destacar as enzimas, classificadas como
biocatalisadores.
A aplicação de enzimas em processos de esterificação
para produção de biodiesel tem atraído bastante atenção
por ser uma possibilidade alternativa a rota química de pro-
dução desse biocombustível. A rota enzimática apresenta
um alto nível de pureza dos produtos, maiores possibilida-
des de matéria-prima e não requer um ambiente reacional
com parâmetros extremos. (DHAKE; THAKARE; BHANAGE,
2013). A rota enzimática é utilizada na síntese de biodiesel
por apresentar vantagens ambientais sobre a rota química.

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276 MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES

O emprego de enzimas na produção do biodiesel ain-


da enfrenta algumas dificuldades, sendo a financeira a mais
grave. As lipases fazem com o custo da produção aumente,
em relação a rota química, devido aos altos preços cobrados
por esses biocatalisadores. Toda via, pesquisas estão sendo
desenvolvidas para buscar soluções de barateamento do
processo com a utilização desses biocatalisadores (ALVES
et al., 2015). O presente trabalho tem como biocatalisador a
Lecitase® Ultra, classificada como fosfolipase.
A Lecitase® Ultra (Figura 1) é uma enzima hibrida sin-
tetizada pela fusão dos genes da lipase de Thermomyces
lanuginosus e da fosfolipase A1 de Fusarium oxysporum. A
enzima foi inicialmente projetada para a degomagem enzi-
mática de óleos até sua mutação, que proporcionou sua uti-
lização em diversos processos, incluindo esterificação, alco-
olise ou hidrólise parcial (VIRGEN-ORTÍZ et al., 2019). Sua
comercialização se dá em forma de uma solução enzimática
pela Novozyme. Ademais, a quantidade de enzimas utiliza-
das nas reações é um parâmetro que pode interferir direta-
mente na conversão dos ácidos graxos, no entanto utiliza-se
métodos de planejamento para definir tais parâmetros e ga-
rantir uma melhor eficiência do processo.

Figura 1 – Fosfolipase Lecitase Ultra.

Fonte: Autores

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Os métodos de planejamento experimental são neces-


sários para definir o processo reacional e garantir combina-
ções que possam potencializar os resultados esperados. Es-
tes métodos estatísticos reduzem gastos de matéria prima
e tempo, uma vez que ele apresenta as melhores condições
para que uma determinada reação ocorra. Neste contexto,
o método Taguchi se apresenta como uma ótima ferramen-
ta para o desenvolvimento do planejamento experimental
uma vez que, ele reduz a quantidade de amostras e em con-
tra partida aumenta a qualidade dos resultados (CHAKRA-
BORTY; ROYCHOWDHURY, 2013).

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

A fosfolipase Lecitase® Ultra foi adquirida pela Novo-


zymes, Espanha. Álcool etílico (P.A 99,96%) e os demais rea-
gentes utilizados foram obtidos da Vetec (São Paulo, Brasil)
e Synth (São Paulo, Brasil). O óleo de residual de frango foi
adquirido em um estabelecimento local e possui a seguinte
composição em ácidos graxos: ácido mirístico (0,6%), ácido
palmítico (24,7%), ácido palmitoléico (7,1%), ácido esteárico
(6,0%), ácido oleico (43,4%), ácido linoleico (17,2%) e ácido
α-linolenico (1%).

Métodos

Planejamento Experimental
Para estes experimentos foi utilizado um planejamen-
to experimental baseado no método de Taguchi com uma
matriz ortogonal padrão L9 (o “L” e “9” representam o qua-
drado latino e o número de experimentos, respectivamente)

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para distribuir quatro fatores em três níveis, a fim de ma-


ximizar a conversão do éster. A Tabela 1 mostra os quatro
fatores independentes (razão molar, biocatalisador, tempe-
ratura e tempo) e seus níveis correspondentes, ressaltando
que a porcentagem de biocatalisador foi calculada a partir
do volume reacional após o cálculo da razão molar.

Tabela 1 – Fatores independentes e seus níveis correspondentes.


Razão Molar Biocatalisa- Tempera- Tem-
(ácido : ál- dor tura po
cool) (%) (°C) (h)
Nível 1 (N1) 1:1 1 30 1
Nível 2 (N2) 1:4 2 40 12
Nível 3 (N3) 1:8 3 50 24
Fonte: Autores.

Para definição do esboço experimental e análise esta-


tística foi utilizado o software Statistica® 10 (Statsoft, EUA).
Os valores das razões S/R (Sinal-Ruído) correspondentes às
conversões foram calculados usando as características da
função “maior é melhor”, uma vez que o objetivo deste es-
tudo é maximizar a resposta (conversão de ácidos graxos).
No método Taguchi, a relação S/R é a medida das caracte-
rísticas de qualidade e o desvio do valor desejado. O uso da
relação sinal-ruído (S/R) para analisar os resultados reduz
a sensibilidade do sistema a fontes de variação, resultando
em bom desempenho. O valor da razão S/R para cada experi-
mento foi calculado de acordo com a Equação 1 de Roy (2011).


(1)

Onde y é a conversão de ácidos graxos para a amostra


correspondente, i é o número de repetições e n é o número

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de respostas para a combinação de níveis de fator em qual-


quer combinação paramétrica específica. A relação S/R pre-
vista sob condições ótimas para o processo de obtenção da
conversão máxima foi estimado pela Equação 2 de Chakra-
borty e Roychowdhury (2013).

(2)

Onde /R é a média aritmética de todas as relações S/R,


S/Rj é a relação S/R no ponto ótimo para cada fator e n é o nú-
mero de fatores que afetam significativamente o processo. A
figura da fosfolipase Lecitase® Ultra (Figura 1) foi obtida no
software PyMOL, na qual o código pdb é 2YIJ.

Esterificação e Índice de Acidez


As amostras foram distribuídas em recipientes de
aproximadamente 2mL, para promover uma maior inte-
ração entre os reagentes, seguindo o planejamento experi-
mental, utilizando diferentes razões de álcool, biocatalisa-
dor e ácido. As amostras foram alocadas nas incubadoras
para que fosse possível garantir um meio reacional com
condições pré-determinadas no planejamento. Os recipien-
tes com as soluções foram agitados orbitalmente a 200rpm,
com variação de temperatura, razão molar, biocatalisador e
tempo, para diferentes amostras.
Após realizada o processo de esterificação, seguindo
a metodologia e adaptações de Lima (2010) e Santos (2011)
as amostras foram analisadas em duplicata, em dois erlen-
meyers com 0,2g da amostra, 5mL de álcool etílico padroniza-
do e 3 gotas de fenolftaleína, cada. Foi titulado com a solução
de NaOH 0,1 molar, até a mudança na coloração para um rosa
sutil. Após a titulação os valores de volume utilizados foram
aplicados na Equação 03 para obter o índice de acidez (IA).

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(3)

Onde V é o volume de NaOH utilizado na titulação; F


é o fator de correção da solução de NaOH; M é a molaridade
da solução de NaOH (mol/L); m a massa da amostra (g). Os
resultados foram calculados em função de porcentagem de
conversão de acordo com a equação 4.

(4)

Em que IAi e IAf é o valor do índice de acidez inicial


e o valor do índice de acidez final da reação em mgKOH/g,
respectivamente.

RESULTADOS

As combinações de fatores independentes em seus


respectivos níveis, os valores do fator dependente e a razões
S/R para um delineamento experimental de matriz ortogo-
nal são apresentados na Tabela 2. A relação S/R foi determi-
nada pela função “maior é melhor”, a fim de maximizar a
conversão de ácidos graxos.

Tabela 2 – Planejamento experimental, resultados de conversões


e razões S/R.
Biocatalisa- Razão Molar Tempera- Tem- Conver-
Razão
dor (ácido : ál- tura po são
S/R
(%) cool) (°C) (h) (%)
11,48 ±
1 1 (1) 1:1 (1) 30 (1) 1 (1) 21,20
5,51
17,72 ±
2 2 (2) 1:1(1) 40 (2) 12 (2) 24,97
2,83
14,87 ±
3 3 (3) 1:1(1) 50 (3) 24 (3) 23,44
4,75
(continua)

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15,70 ±
4 1 (1) 1:4(2) 40 (2) 24 (3) 23.92
3,90
11,79 ±
5 2 (2) 1:4(2) 50 (3) 1 (1) 21,43
7,39
22,40 ±
6 3 (3) 1:4(2) 30 (1) 12 (2) 27,00
2,48
11,09 ±
7 1 (1) 1:8(3) 50 (3) 12 (2) 20,89
0,56
23,48 ±
8 2 (2) 1:8(3) 30 (1) 24 (3) 27,41
0.98
9 3 (3) 1:8(3) 40 (2) 1 (1) 5,12 ± 1,04 14,19
Fonte: Autores.

De acordo com os resultados apresentados na tabela


2 pode-se afirmar que a amostra 8 obteve maior conversão
o que está de acordo com a análise experimental apresen-
tada a seguir, onde mostra que o tempo e a temperatura são
os principais fatores de conversão. A classificação dos parâ-
metros (razão molar, teor de enzima, temperatura e tempo)
com base nos valores delta (a diferença dos valores da razão
S/R entre os níveis mais alto e mais baixo dos fatores de pro-
cesso) é mostrada na Tabela 3.

Tabela 3 – Classificação de parâmetro independentes.


Tempe-
Biocatalisador Razão Molar Tempo
ratura
(%) (ácido : álcool) (h)
(°C)
Nível 1 (N1) 22.00 23,20 25,20 18,94
Nível 2 (N2) 24,60 24,12 21,02 24,29
Nível 3 (N3) 21,54 20,83 21,92 24,92
Delta 3,06 3,29 4,18 5,98
Classificação 4 3 2 1
Fonte: Autores.

Tendo como base os resultados apresentados acima,


podemos aferir que experimentalmente os fatores teor de
biocatalisador e razão molar tem a menor influência sobre

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os resultados de conversão pois apresentam os menores va-


lores de delta, respectivamente 3,06 e 3,29. Os gráficos para
a média das razões S/R e cada um dos parâmetros de contro-
le (razão molar (ácido/álcool), conteúdo de enzima (%), tem-
peratura (°C) e tempo (h)) são mostrados na Figura 2.

Figura 2 – Resultados experimentais de S/R versus Nível (1, 2 e 3).

Fonte: Autores.

A maior conversão de ácidos graxos é obtida pela


maior relação S/R, o que sugere o melhor nível para cada pa-
râmetro. A relação S/R ideal prevista para as condições oti-
mizadas foi calculada a partir da Equação 2. Para este estu-
do, a maior relação S/R obtida foi de 30,69, o que sugere que
os melhores níveis para cada parâmetro são N2 (2%) para o
conteúdo enzimático, N2 (1:4) para razão molar (ácido: álco-
ol), N1 (30 ° C) para temperatura e N3 (24 horas) para o tempo
de reação, para esta combinação de parâmetro, uma conver-
são teórica de ácidos graxos é de 26,30%. Para validar as con-

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dições ótimas, foram realizados experimentos (duplicadas)


obtendo-se uma conversão com uma relação S/R de 23,48%
± 0.98 e 27,41 respectivamente.
Fazendo uma comparação entre o ponto ótimo teórico
e o real, pode-se inferir que existe uma defasagem de 2,82%
para conversão e 3,28 para S/R, tal defasagem pode estar re-
lacionada a fatores que interferem diretamente nas conver-
sões, como uma variação de temperatura na incubadora cau-
sada pela variação de temperatura do ambiente por exemplo.
Analisando o gráfico da Figura 2 pode-se constatar
que o tempo e a temperatura têm a maior influencia nos re-
sultados, o que está de acordo com os dados teóricos obti-
dos na tabela 3, porém na tabela citada o tempo tem a maior
influência, o que não ocorre experimentalmente, já que,
a temperatura foi o principal fator de conversão. Também
houve uma inversão de resultados em relação ao fator que
menos está ligado a conversão, na teoria o biocatalisador
tinha menor relevância, já nos resultados experimentais, a
razão molar teve menor relevância.

CONCLUSÃO

Após a análise dos resultados foi possível constatar


que a maior variação de tempo foi responsável pela maior
conversão, somado a isso tem-se a menor temperatura que
permite afirmar que a enzima utilizada tem seu sítio cata-
lítico afetado pelo aumento da temperatura – Isso se dá por
conta da desnaturação da enzima –, fazendo com que as con-
versões sejam menores em temperaturas elevadas. Outra
constatação diz respeito a quantidade de álcool utilizada,
uma vez que o maior volume de álcool obteve maior conver-
são provando que o excesso de álcool evita a reação reversa
(Hidrolise), na qual a esterificação está sujeita.

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DHAKE, Kishor P.; THAKARE, Dinesh D.; BHANAGE, Bhal-
chandra M.. Lipase: A potential biocatalyst for the synthesis of
valuable flavour and fragrance ester compounds. Flavour And
Fragrance Journal, v. 28, n. 2, p.71-83, 21 jan. 2013.
LIMA, Larissa Pinto. Produção de ácidos graxos assistida por
ultrassom visando à produção de biodiesel. 2010. p.90 f. 56.
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Gra-
duação em Engenharia, da Universidade Federal do Ceará.
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MOHAMMADI, Faezeh et al. Stimulation of magnetic nano-
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RAJENDRAN, Aravindan; PALANISAMY, Anbumathi;
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ROY, R.K.. Design of Experiments Using the Taguchi Approach:
16 Steps to Product and Process Improvement. United States:
John Wiley & Sons, Inc., , 2001
SANTOS, José Cleiton Sousa dos. Estudo de parâmetros nas
reações de síntese enzimática de biodiesel por intermédio de
fluidos supercríticos. 2011. 102 f. 58 Dissertação (Mestrado) –

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MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES 285

Curso de Engenharia Química, Universidade Federal do Ce-


ará, Fortaleza, 2011.
SOUSA, Joab Sampaio de et al. Application of lipase from the
physic nut (Jatropha curcas L.) to a new hybrid (enzyme/chemi-
cal) hydroesterification process for biodiesel production. Jour-
nal Of Molecular Catalysis B: Enzymatic, v. 65, n. 1-4, p.133-
137, ago.
VIRGEN-ORTÍZ, Jose J. et al. Lecitase ultra: A phospholipase
with great potential in biocatalysis. Molecular Catalysis, v.
473, p.110405-110418, ago. 2019.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro das Agências Brasi-


leiras de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fun-
dação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FUNCAP) (BP3-0139-000005.01.00/18) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-
lógico (CNPq) projetos 422942/2016-2 e 409058/2016-5.

Data de entrega: 20/06/2019.

ESTERIFICAÇÃO DE ÓLEO RESIDUAL DE FRANGO PARA PRODUÇÃO ENZIMÁTICA DE ÉSTERES ETÍLICOS UTILIZANDO LECITASE ULTRA
HALISSON DE SOUSA PINHEIRO • RICARDO EMILIO FERREIRA QUEVEDO NOGUEIRA • CANDIDO JORGE DE SOUZA LOBO
286 THALES GUIMARÃES ROCHA

Peças cerâmicas fabricadas usando


pó de granito com adição dos
produtos da combustão do carvão
mineral: formulação e caracterizações
química e física
Halisson de Sousa Pinheiro1
Ricardo Emilio Ferreira Quevedo Nogueira2
Candido Jorge de Souza Lobo3
Thales Guimarães Rocha4

RESUMO
Foi estudada a viabilidade técnica da utilização de resíduos de granito
como matéria prima na fabricação de corpos de prova cerâmicos, com
adições dos Produtos da Combustão do Carvão Mineral (PCC´s) como
fase reforço. Os materiais utilizados foram granito Asa Branca (RGAB) e
os Produtos da Combustão do Carvão mineral (PCC´s), nas concentrações
de 0%p, 10%p, 20%p, e 30%p de PCC´s. Para a caracterização das matérias
primas e das amostras foram utilizadas as técnicas de: Difração de
Raios-X, Fluorescência de Raios-X, Microscopia Eletrônica de Varredura,
Análise termogravimétrica e térmica diferencial. Para a determinação
das propriedades físicas foram realizados os ensaios de Retração Linear
de Queima (RLQ); Absorção de Água, Porosidade Aparente, Massa
Específica Aparente. Os resultados obtidos permitem concluir que o uso

1 Professor Adjunto. Instituto de Engenharia e Desenvolvimento Sustentá-


vel, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
E-mail: halisson@unilab.edu.br.
2 Professor Associado IV. Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Ma-

teriais – Bloco 714, Universidade Federal do Ceará – Centro de Tecnologia.


E-mail: emilio@ufc.br.
3 Professor Adjunto III-C. Universidade Federal do Ceará, Russas, Ceará, Bra-

sil. E-mail: candidojslobo@ufc.br.


4 Graduando em Engenharia de Energias. Instituto de Engenharia e Desen-

volvimento Sustentável, Universidade da Integração Internacional da Luso-


fonia Afro-Brasileira. E-mail: thales@aluno.unilab.edu.br.

PEÇAS CERÂMICAS FABRICADAS USANDO PÓ DE GRANITO COM ADIÇÃO DOS PRODUTOS DA COMBUSTÃO DO CARVÃO MINERAL: FORMULAÇÃO
E CARACTERIZAÇÕES QUÍMICA E FÍSICA
HALISSON DE SOUSA PINHEIRO • RICARDO EMILIO FERREIRA QUEVEDO NOGUEIRA • CANDIDO JORGE DE SOUZA LOBO
THALES GUIMARÃES ROCHA 287

do rejeito do Granito Asa Branca com a adição de PCC´s para a fabricação


de revestimento cerâmico é bastante viável.
Palavras-chave: Carvão mineral. Cinzas. Cerâmica.

CERAMIC PARTS MANUFACTURED USING GRANITE


POWDER WITH ADDITION OF MINERAL COAL COMBUSTION
PRODUCTS: FORMULATION AND CHEMICAL AND PHYSICAL
CHARACTERIZATIONS

ABSTRACT
The technical feasibility of the use of granite wastes as raw material in
the manufacture of ceramic test specimens was studied, with additions
of the Products of Combustion of Mineral Coal (CCP´s) as reinforcement
phase. The materials used were Albite granite and Mineral coal
combustion products, concentrations of 0%wt, 10%wt, 20%wt and 30%wt
of CCP´s. For the characterization of raw materials and ceramics were
used the test: X-Ray Diffraction, X-Ray Fluorescence, Scanning Electron
Microscopy, thermogravimetric and differential thermal analysis. For the
determination of the physical properties the tests were performed the:
Linear retreat of burning, water absorption, apparent porosity, apparent
specific mass. The results obtained allow us to conclude that the use of
the granite albite residue with the addition of CCp’s for the manufacture
of ceramic coating it´s viable.
Key-words: Mineral Coal. Ash. Ceramics.

INTRODUÇÃO

O aproveitamento de resíduos da extração do granito


na produção de revestimentos cerâmicos, além de contri-
buir para a preservação do meio ambiente, garante mais
uma fonte de matéria prima para a fabricação desses produ-
tos, já que sua composição apresenta elementos e compos-
tos utilizados na produção de alguns materiais cerâmicos
(PINHEIRO, 2019). Devido ao crescimento industrial, que
tem acarretado um aumento do consumo de energia, vem
crescendo de maneira vertiginosa a utilização das termoelé-
tricas a carvão, fonte de energia muito utilizada em países
como Índia, China e Estados Unidos.

PEÇAS CERÂMICAS FABRICADAS USANDO PÓ DE GRANITO COM ADIÇÃO DOS PRODUTOS DA COMBUSTÃO DO CARVÃO MINERAL: FORMULAÇÃO
E CARACTERIZAÇÕES QUÍMICA E FÍSICA
HALISSON DE SOUSA PINHEIRO • RICARDO EMILIO FERREIRA QUEVEDO NOGUEIRA • CANDIDO JORGE DE SOUZA LOBO
288 THALES GUIMARÃES ROCHA

Durante a queima do carvão mineral em usinas ter-


melétricas, são gerados, em grande quantidade, vários tipos
de resíduos e produtos, chamados de Produtos da Com-
bustão do Carvão Mineral ou PCC’s, os quais são motivos
de preocupação por conta da presença de metais pesados e
outros elementos potencialmente nocivos, como o Enxofre
(SANTOS, 2003). Atualmente, tais materiais tem sido alvo de
muitos estudos, por conterem cinzas cuja composição quí-
mica é similar a de alguns produtos cerâmicos. Em face des-
sa situação é imprescindível a realização de pesquisas com o
objetivo de estudar a aplicabilidade desses produtos, contri-
buindo para a prática do desenvolvimento sustentável, além
de permitir a formulação de novos materiais.
O objetivo desse trabalho foi verificar os efeitos da adi-
ção dos Produtos da Combustão do Carvão Mineral (PCC´s)
em peças cerâmicas fabricadas com o Rejeito do Granito Asa
Branca (RGAB).

PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Materiais

Por possuir semelhança em sua composição química


e apresentarem grande potencial de aplicabilidade como
explicado anteriormente, o Rejeito do Granito Asa Branca e
os produtos da combustão do carvão mineral foram selecio-
nados como matéria – prima para o desenvolvimento desta
pesquisa.

Processamento

Após a escolha dos materiais, estes passaram por um


processo de secagem em estufa a 110 °C por 24 horas e foram

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classificados por peneiramento para se obter uma granulo-


metria inferior a 200 mesh (75 μm). Antes da confecção dos
corpos de prova se fez necessária a análise química através
da fluorescência de Raios X, a fim de verificar a semelhança
química das matérias-primas.
Para a realização deste trabalho foram confeccionados
corpos de prova prismáticos. O produto da combustão do
carvão mineral foi adicionado ao pó de rejeito de granito em
diferentes concentrações (0, 10, 20 e 30 %p). Logo após, foi adi-
cionada água (ligante) na proporção de 5% em volume, com o
objetivo de melhorar as condições de processamento e consis-
tência da massa, como também fornecer ao corpo a verde uma
suficiente resistência mecânica para o manuseio da peça.
Em seguida, as massas cerâmicas preparadas foram
submetidas à compactação por compressão uniaxial de 7
MPa, por ação única do pistão superior, utilizando uma ma-
triz de aço de seção prismática 116 x 25 x 30 mm, após a com-
pactação, os corpos de provas foram submetidos à secagem
a 130 ° C por um período de 24 horas. Os corpos de provas
foram sinterizados a uma temperatura de 1170°C durante 60
minutos com uma taxa de aquecimento de 5 ºC/min.
A Tabela 1 mostra a nomenclatura adotada neste
trabalho em relação à matéria-prima e os corpos de prova
­cerâmicos:

Tabela 1 - Nomenclatura das matérias – primas e dos corpos de


prova cerâmicos.
Nomeclatura Definição
RGAB Rejeito do Granito Asa Branca
Produtos da Combustão do Car-
PCC´s
vão Mineral
Corpo de prova Cerâmico a 0%p
CP-0
de PCC´s
(continua)

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Corpo de prova Cerâmico a 10%p


CP-10
de PCC´s
Corpo de prova Cerâmico a 20%p
CP-20
de PCC´s
Corpo de prova Cerâmico a 30%p
CP-30
de PCC´s
Fonte: elaborado pelos autores.

Difração de Raios X

Para a determinação das fases presentes as amostras


sinterizadas e os pós (PCC´s e RGAB) foram caracterizados
por difração de Raios X em um difratômetro Philips X’Pert
X- ray Diffraction System com tubo de cobre 0-2θ com CuKα
(λ = 0,1542 nm) operando com uma voltagem de 40 KV e uma
corrente 40 mÅ. A identificação das fases foi realizada utili-
zando o programa X´Pert High Score Plus.

Fluorescência de Raios-x

O rejeito da extração do granito Asa Branca, já moído


e devidamente peneirado até atingir uma granulometria in-
ferior a 200 mesh foi submetido à analise química em um
equipamento da Rigaku, modelo ZSX mini II .Os produtos da
combustão do carvão mineral após peneiramento com a gra-
nulometria inferior a 200 mesh também foram submetidos
à mesma análise.

Microscopia Eletrônica de Varredura

Para a análise microestrutural as amostras dos mate-


riais foram recobertas com três camadas de Carbono utili-
zando em sistema de deposição a vácuo Bal-Tec, Foram utili-
zados aumentos de 500x.

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Análise Termogravimétrica (TGA) e Análise


Termodiferencial (DTA)

A análise Térmica foi utilizada para prever o compor-


tamento das matérias-primas durante a sinterização. As
curvas térmicas foram obtidas em um equipamento TGA-
-50H Shimadzu, com uma variação de temperatura 20°C/
min, na faixa de 25°C a 1200°C.

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA

Retração Linear de Queima

O ensaio de retração linear permite avaliar a variação


dimensional linear dos corpos de prova após estes serem
submetidos ao processo de sinterização. Esta informação
é fundamental para a confecção de peças cerâmicas. Neste
trabalho foi avaliada a retração linear das peças produzidas
com diferentes proporções de mistura a uma temperatura
de sinterização de 1170 °C.
De acordo com a NBR 9623 (1986) retração linear pode
ser determinada usando a Equação 1:

Onde L0 é o comprimento inicial do corpo de prova


(após secagem) e Lf é o comprimento final do corpo de prova
(após sinterização).

Absorção de água

Para determinar a absorção de água dos corpos de


provas, estes foram secos em estufa a 110 °C por 24 horas e

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logo em seguida pesados. Após esta etapa os corpos de prova


foram imersos em um recipiente contendo água destilada
durante 24 horas.
Depois deste procedimento, os corpos de provas fo-
ram ligeiramente enxutos com uma flanela e em seguida
pesados novamente a fim de verificar sua massa úmida. Se-
gundo a NBR 13818 (1997), a absorção de água é expressa per-
centualmente pela Equação 2:
2

Onde ms é massa do corpo de prova seco e mu é a mas-


sa do corpo de prova úmido (saturado).

Massa Específica Aparente

Os corpos de prova foram imersos em um recipiente


contendo água destilada durante 24 horas. Depois deste pro-
cedimento, os corpos de provas foram ligeiramente enxutos
com uma flanela e em seguida pesados novamente a fim de
verificar seu peso úmido. Em seguida, os corpos cerâmicos
colocados em um recipiente imerso em água destilada a fim
de se obter o valor da massa imersa do corpo de prova.
A massa específica aparente (MEA) é obtida através da
equação Equação 3:

Onde ms é a massa do corpo de prova seco, mu é a mas-


sa do corpo de prova úmido, e mi é a massa do corpo de prova
imerso e ρágua é a densidade da água.
A porosidade aparente é expressa em forma de per-
centual de acordo com a Equação 4 (MORAES, 2007):

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No qual mu é a massa do corpo de prova úmido, ms é


a massa do corpo de prova seco e mi é a massa do corpo de
prova imerso.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Fluorescência de Raios-X

A Tabela 2 apresenta o resultado da analise química


por fluorescência de Raios – X (FRX) dos resíduos do granito
Asa Branca, em percentual mássico, na forma de elementos.

Tabela 2 – Composição química dos resíduos do granito Asa Branca.


Componente Massa (%)
Si 72,0
Al 13,2
Na 7,9
K 4,9
Outros 2,0
Fonte: elaborado pelos autores.

Verifica-se que o resíduo do granito Asa Branca


(RGAB) é essencialmente constituído por Si, Al, K, Na e ou-
tros elementos. O sódio e potássio garantem um ponto de
fusão em temperaturas mais baixas. Esta particularidade
é bastante relevante, considerando que, quanto menor for
a temperatura de processamento cerâmico, menor será o
consumo de energia, o que do ponto de vista energético é
bastante vantajoso.
Os feldspatos (materiais fundentes) presentes no resí-
duo do granito Asa Branca são componentes que promovem
a formação de uma fase liquida (fase vítrea) durante a sin-
terização, auxiliando na diminuição da porosidade entre as
partículas, aumentando a densidade relativa do material.
A Tabela 3 apresenta o resultado da análise química
por fluorescência de Raios X (FRX) dos PCC´s.

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Tabela 3 – Composição química dos PCC´s.


Componente Massa (%)
Si 59,17
Al 13,17
Fe 10,74
K 6,11
Ca 4,97
Ti 2,91
S 0,84
Outros 2,09
Fonte: elaborado pelos autores.

Após o ensaio de fluorescência de Raios-X, verificou-


-se que os principais componentes dos produtos da combus-
tão do carvão mineral são: silício (59,17%), alumínio (13,17%),
ferro (10,74%), potássio (6,11%) cálcio (4,97%), titânio (2,91%)
e enxofre (0,84%). Logo, observa-se, uma grande quantidade
de matérias-primas (Si, Ca e Al) adequadas à fabricação de
peças cerâmicas.

Difração de Raios –X

Os resultados de DRX para os PCC´s são apresenta-


dos no difratograma da Figura 1 (a). A análise por difração
de raios-X revelou um padrão de difração de quartzo (SiO2),
mulita (Al4SiO8), gesso (CaSO4.2H2O) e hematita(Fe2O3).
Figura 1 – a) Difratograma dos Produtos da combustão do carvão
mineral (PCC´s). b) Difratogama dos Rejeito do Granito Asa
Branca (RGAB).

Fonte: elaborado pelos autores.

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O óxido de ferro é responsável pelo aspecto brilho-


so ao corpo cerâmico (RAJAMANNAN, 2013). Outras fases
identificadas no difratograma foram o gesso e a hematita. A
maior intensidade do pico de hematita Fe2O3 [104] é encon-
trada em aproximadamente 2θ = 39,1°.
O acentuado halo amorfo entre 2θ = 10° e 20° e 2θ =
50° e 60° apresentado no difratograma, indica uma grande
quantidade de material amorfo, referente à matéria orgâni-
ca do carvão (BRYERS, 1996). Na Figura 1 (a) está apresentada
a curva padrão de difração de raios X da matriz cerâmica uti-
lizada neste trabalho.
O resultado da análise mostra que o granito Asa
Branca é composto basicamente por três fases principais:
quartzo (SiO2), albita (NaAlSi3O8) e microclínio (KAlSi3O8).
As fases cristalinas presentes nas massas cerâmicas são de
grande importância na fabricação de revestimentos cerâmi-
cos, pois exercem funções ao longo de todo o processamento
cerâmico, influenciando diretamente as características fi-
nais dos produtos.
Outro fator importante diz respeito à presença do
feldspato do tipo sódico (Albita). A fase vítrea se apresenta
a temperaturas mais baixas em corpos com proporções de
sódio maiores que potássio, fazendo com que o material seja
mais fundente. Este ponto é importante para uma análise
em massas cerâmicas direcionadas à fabricação de produtos
com valores menores de absorção de água.
A Figura 2 (a) apresenta o difratograma do C-0 sinteri-
zado a 1170°C. O difratograma mostra o aumento dos picos de
quartzo, que atua como fase inerte e uma redução gradual do
pico de albita e total do pico da microclina, respectivamen-
te. A Figura 2 (b) apresenta o difratograma do corpo de prova
cerâmico 10%p de PCC´s sinterizado a 1170 °C. Vale salientar,
como foi mencionado anteriormente, que albita e microcli-

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na são feldspatos. O resultado mostra uma redução total da


fase albita em relação ao pó do rejeito do granito Asa Bran-
ca (RGAB), indicando que a estrutura cristalina está se mo-
dificando para a formação da fase vítrea. Outras pesquisas
afirmam que os corpos de grês porcelanato são basicamente
constituídos por quartzo, mulita e uma matriz vítrea (JU-
NIOR et al., 2010). A Figura 2 (c) a seguir mostra o difratogra-
ma do corpo de prova cerâmico 20%p sinterizado a 1170°C.

Figura 2 – a) Difratograma do CP-0. b) Difratograma do CP – 10. c)


Difratograma do CP-20. d) Difratograma do CP -30.

Fonte: Elaborado pelos autores.

O difratograma mostra o aparecimento de uma nova


fase, a Al4SiO8 presente no PCC´s. As fases de quartzo e mu-
lita apresentaram as estruturas cristalinas, hexagonal e or-
torrômbica, respectivamente. Por fim, a Figura 2 (d) mostra
o difratograma do corpo de prova cerâmico 30%p sinteriza-
do a 1170°C. Esse difratograma mostra a redução gradual do

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pico de SiO2 em relação ao corpo de prova cerâmico 20%p.


Além disso, o gráfico mostra o desaparecimento das fases al-
bita e microclina. Como dito anteriormente, estas fases são
feldspatos e atuam como fases fundentes.

Análises Termogravimétrica (TGA) e Térmica


Diferencial (DTA)

A Figura 3 mostra as curvas de TGA e de DTA dos Pro-


dutos da combustão do carvão mineral.

Figura 3 – DTA e TGA dos PCC´s.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A perda de massa da fase – reforço, de acordo com a


curva de TGA, é uma perda de massa total de 13%. Os pro-
dutos da combustão do carvão mineral possuem elementos/
compostos de baixo ponto de fusão, e assim quando subme-
tidos a elevadas temperaturas, ocorre uma grande perda de
massa por evaporação (PINHEIRO, 2019).
Entre 430° e 750°C ocorre uma perda um pouco mais
intensa, provavelmente causada pela decomposição de

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CaCO3 e queima do carvão residual, composto por cinzas


volantes. Acima de 750°C os PCC´s atingiram a estabilida-
de termogravimétrica (DOS SANTOS et al., 2014). A curva
de DTA também apresenta um pico endotérmico de baixa
intensidade a 119,7°C, o que pode indicar água livre e água
adsorvida (SUDÉRIO, 2005). Por volta de 900°C identifica–se
um pico exotérmico, que pode ser associado à nucleação da
mulita (MELO, 2006).

Microscopia Eletrônica de Varredura

A Figura 4 a seguir mostra a Microscopia Eletrônica


de Varredura dos PCC´s antes de serem incorporados à ma-
triz cerâmica.

Figura 4 – PCC´s a verde.

Fonte: Biomateriais UFC.

Observa-se uma morfologia predominantemente esfé-


rica e de tamanho irregular, provavelmente porque a cinza é
formada por óxidos de diferentes composições. Os estudos
de caracterização pela técnica de Microscopia eletrônica de
varredura, realizados nas superfícies de fratura das amos-

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tras cerâmicas sinterizadas, evidenciaram, para os diferen-


tes corpos de prova, um aspecto vitrificado. Foi observada
uma diferença significativa no aspecto superficial das amos-
tras estudadas, evidenciando-se um aumento do volume dos
poros com o teor de PCC incorporado à massa. Esse aumento
é bastante pronunciado para as amostras com 30% de PCC’s,
o que pode explicar a queda nas propriedades mecânicas das
mesmas. Para a captura das imagens foi utilizada uma am-
pliação de 500x, conforme mostrado na Figura 5.

Figura 5 – Corpos de prova cerâmicos.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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O aumento do volume dos poros é ocasionado devi-


do à reação de redução do Fe2O3 (a elevadas temperaturas),
com a produção de oxigênio, que é a fase gasosa geradora de
bolhas, originando grandes poros no corpo sinterizado (RA-
JAMANNAN, 2013). Isto se deve ao fato de que os PCC´s pos-
suem elementos com baixo ponto de fusão, os quais, quando
submetidos a temperaturas elevadas são eliminados. Com
isso, a fase vítrea irá preencher o volume em alguns poros
deixados pelos elementos evaporados, provocando uma
retração tridimensional da peça cerâmica. O enxofre livre
presente nos PCC´s é eliminado aproximadamente a uma
temperatura de 445 °C. De maneira análoga, o potássio pre-
sente na matriz cerâmica (RGAB) e na fase reforço (PCC´s) é
eliminado aproximadamente a 759 °C.
A Retração Linear de Queima (RLQ) aumentou com o
acréscimo da concentração de PCC´s em relação à matriz cerâ-
mica, o que sugere uma melhor densificação das peças cerâmi-
cas, ou um excesso na vitrificação dos corpos de prova ­cerâmicos.
A Tabela 4 apresenta a média e o desvio padrão dos resul-
tados de retração linear de queima das quatros composições.

Tabela 4 – Média e o desvio padrão dos resultados de retração


linear de queima das quatros composições.
Concentração de PCC´s Média (%) SD
0 18,91 0,13
10 18,97 0,16
20 19,52 0,05
30 20,58 0,31
Fonte: elaborado pelos autores.

Absorção de água

Os resultados do ensaio de absorção de água para os


diversos corpos de provas (10%, 20% p e 30%p de PCC´s)

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apresentaram o valor de 0,00%. Com exceção do CP-0, que


apresentou uma diminuta absorção de 0,05%. Este valor
caracteriza os corpos cerâmicos como grês porcelanato
em termos do teste de absorção de água, pois segundo NBR
13818 para o grês porcelanato absorção de água ≤ 0,5%.
Além disso, os valores obtidos são menores do que os
encontrados em outras pesquisas (PINHEIRO, 2019), que ao
ser adicionado o rejeito do granito Asa Branca aos produtos
da combustão do carvão mineral com alto teor de enxofre,
obteve absorção de água de 0,08%. Estes resultados se de-
vem ao fato da matriz cerâmica conter grande quantidade
de feldspatos (responsáveis pela densificação do material).
Os feldspatos contribuem para diminuição da absorção de
água das peças de porcelanato atribuindo-lhes as proprie-
dades desejadas (LUZ, 2008). Do ponto de vista ambiental,
o aproveitamento dos produtos da combustão do carvão
mineral para revestimentos cerâmicos se mostrou tecnica-
mente viável.

Porosidade Aparente (PA)

A Tabela 5 apresenta a média e o desvio padrão dos re-


sultados da porosidade aparente das quatro cerâmicas.

Tabela 5 – Média e o desvio padrão dos resultados da porosidade


aparente das cerâmicas.
Concentração de PCC´s Média (%) SD
0 0,11 0,017
10 0,05 0,023
20 0,04 0,030
30 0,06 0,046
Fonte: elaborado pelos autores.

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A porosidade tem influência direta na resistência


mecânica das peças, pois, quanto menor o percentual de
poros mais resistente será o corpo. Os resultados mostram
que houve uma redução na porosidade, apesar dos valores
estarem muito próximos, isto pode ser explicado pela redu-
ção da viscosidade da fase vítrea, que acelera o processo de
sinterização. Cerâmicas com alto teor de feldspato sódico há
porosidade fechada devido à excessiva formação da fase ví-
trea. (SANCHEZ, et al 2001).
Apesar de ter ocorrido um acréscimo no volume dos
poros com o aumento de teor de PCC´s, não houve influên-
cia direta na porosidade. Possivelmente, os poros não estão
interconectados e são poros fechados, uma vez que a porosi-
dade aparente leva somente em consideração o número de
poros abertos (COSTA, 2014). Os poros fechados podem ser
causados pelo fechamento de poros abertos, devido à evolu-
ção na sinterização ou podem ser causados pela evolução de
gases na fase sólida, os quais não conseguem sair do mate-
rial. Os poros tendem a assumir a forma esférica.

CONCLUSÃO

O granito Asa Branca é essencialmente composto por


quartzo, albita e microclínio. O primeiro tem função estru-
tural enquanto que os outros são feldspatos, sendo respon-
sáveis pela fusibilidade da massa. Foi verificado que o resí-
duo do granito Asa Branca (RGAB) é constituído por Si, Al,
Na, K e outros elementos, e que teores de sódio e potássio
garantem um ponto de fusão em temperaturas mais baixas.
Esta particularidade é relevante do ponto de vista energéti-
co, considerando que, quanto menor for a temperatura de
processamento cerâmico, menor será o consumo de energia
requerida ao processo.

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Os feldspatos (materiais fundentes) presentes no resí-


duo do granito Asa Branca promoveram a formação de uma
fase liquida (fase vítrea) durante a sinterização, auxiliando
na diminuição da porosidade entre as partículas, aumen-
tando a densidade relativa do material. Foi constatado que
existe um elevado teor de elementos, presentes nos PCC´s,
adequados à fabricação de peças cerâmicas (Si, Ca e Al). As
fases identificadas no difratograma foram: quartzo, mulita,
gipsita e hematita. Foi identificada uma morfologia predo-
minantemente esférica e de tamanho irregular, devido aos
diferentes tipos de óxidos presente nos PCC´s.
Os difratogramas de Raios-X evidenciaram que as
fases dos corpos de prova com adição de PCC´s, são essen-
cialmente, quartzo e mulita. E que a quantidade de mulita
aumenta com a adição de PCC´s. A ATG dos PCC´s demons-
trou perda mássica de 13% e o DTA revelou dois picos exotér-
micos e um endotérmico.
A microscopia eletrônica de varredura revelou, para
os diferentes corpos de prova, um aspecto vitrificado. Foi
observada uma diferença efetiva no aspecto superficial das
amostras estudadas, evidenciando-se um aumento do volu-
me dos poros com o teor de PCC incorporado à massa. Esse
aumento foi relevante para as amostras com 30% de PCCs.
O aumento do volume dos poros foi ocasionado devido
à reação de redução do Fe2O3 (a elevadas temperaturas), com a
produção de oxigênio, que é a fase gasosa geradora de bolhas,
originando grandes poros (fechados) no corpo sinterizado.
A retração linear de queima aumentou com o aumento
da concentração de PCC´s em relação à matriz cerâmica, o
que sugeriu uma melhor densificação das peças cerâmicas,
ou um excesso na vitrificação dos corpos de prova cerâmicos.
A absorção de água dos corpos de prova queimados
em quaisquer concentrações foi sempre inferior a 0,5%, va-

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lor máximo para um revestimento cerâmico ser classificado


como porcelanato (NBR 13818, 1997).
Apesar de ter ocorrido um acréscimo no volume dos
poros com o aumento de teor de PCC´s, não houve influên-
cia direta na porosidade. Possivelmente, os poros não estão
interconectados e são poros fechados, uma vez que a porosi-
dade aparente leva somente em consideração o número de
poros abertos. Mesmo com o volume dos poros fechados ten-
do aumentado com o aumento da concentração de PCC´s, a
retração linear de queima (RLQ) também aumentou. Pode se
afirmar que, nesse caso, a retração linear foi mais conside-
rável do que o aumento do volume dos poros fechados. Além
disso, a massa específica aparente de todas as composições
ficou próxima de 2,30 g/cm³.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer ao CNPq pelo fi-


nanciamento a esse projeto.

REFERÊNCIAS

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI-


CAS. NBR 13818 – Placas cerâmicas para revestimento – Espe-
cificação e métodos de ensaio., 1997.
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI-
CAS. NBR 9623 – Materiais de moldagem termofixos – Deter-
minação da contração e pós-contração em corpos de prova
moldados por compressão e injeção em forma de barras., 1986.
BRYERS, Richard W. Fireside slagging, fouling, and high-tem-
perature corrosion of heat-transfer surface due to impurities in
steam-raising fuels. Progress in energy and combustion scien-
ce, v. 22, n. 1, p. 29-120, 1996.

PEÇAS CERÂMICAS FABRICADAS USANDO PÓ DE GRANITO COM ADIÇÃO DOS PRODUTOS DA COMBUSTÃO DO CARVÃO MINERAL: FORMULAÇÃO
E CARACTERIZAÇÕES QUÍMICA E FÍSICA
HALISSON DE SOUSA PINHEIRO • RICARDO EMILIO FERREIRA QUEVEDO NOGUEIRA • CANDIDO JORGE DE SOUZA LOBO
THALES GUIMARÃES ROCHA 305

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Planejamento experimental
univariado na produção enzimática
de esteres etílicos com lipase de
rhizomucor miehei
Italo Rafael de Aguiar Falcão1
Patrick da Silva Sousa2
Francisco Diego Martins da Silva3
José Cleiton Sousa dos Santos4
Ada Amelia Sanders Lopes5
Ana Kátia de Sousa Braz6

RESUMO
Com o aumento da demanda de energia busca-se fontes renováveis para
complementar a matriz energética e aos poucos diminuir a utilização
dos combustíveis fosseis, uma vez que o uso destes resulta em danos
irreparáveis para o meio ambiente. Nessas circunstâncias o Biodiesel é
promissor, por se tratar de uma fonte renovável, limpa, biodegradável e
não tóxico. Já as enzimas proporcionam a catálise natural das reações, em
condições brandas de temperatura e pressão, com possível reutilização
desta. O referido capítulo tem como objetivo principal analisar a
influência da temperatura, assim como a espontaneidade da reação de
esterificação com a lipase de Rhizomucor miehei (1,3 lipase específica),
agindo como catalisador. Variando a temperatura em pontos entre 30-
50°C, o meio ao qual ocorreu a reação obteve 11,6 µL de biocatalisador,
68,8 µL de álcool etílico (96 %), ácidos graxos livres obtidos do óleo de
fritura de frango obtidos de um forno industrial e razão molar de 1:1
(álcool: ácido). As reações foram realizadas por 240 minutos a 30 - 50 °C e
a 200 rpm. Com o valor da variação da entalpia (-67,4 J/mol) notou-se que
a reação é exotérmica, logo valores menores de temperatura favorecem a

1 Discente, UNILAB, IEDS, e-mail: italorad7@gmail.com


2 Discente, UNILAB, IEDS, e-mail: patrick@aluno.unilab.edu.br
3 Discente, UNILAB, IEDS, e-mail: die45silva@gmail.com
4 Docente, UNILAB, IEDS, e-mail: jcs@unilab.edu.br
5 Docente, UNILAB, IEDS, e-mail: ada@unilab.edu.br
6 Técnico, UNILAB, IEDS, email: anakatia@unilab.edu.br

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produção de produtos, além disso, o fato das variações da energia livre de


Gibbs serem negativas, para todas as temperaturas estudadas, indica que
a reação de estudo é espontânea.
Palavras-chave: Lipase de Rhizomucor miehei. Biodiesel. Esterificação.

ABSTRACT
With the increase in energy demand, renewable sources are sought to
complement the energy matrix, and gradually reduce the use of fossil
fuels, since their use results in irreparable damage to the environment.
In these circumstances Biodiesel is promising because it is a renewable,
clean, biodegradable and non-toxic source. The enzymes provide the
natural catalysis of the reactions under mild conditions of temperature
and pressure, and it is possible to reuse them. The main objective of
this chapter is to analyze the influence of temperature, as well as the
spontaneity of the esterification reaction with Rhizomucor miehei lipase
(1,3 specific lipase), acting as a catalyst.By varying the temperature in
points between 30-50 ° C, the reaction medium had 11,6 μL biocatalyst,
68.8 μL ethyl alcohol (96 %), free fatty acids obtained from chicken frying
oil and molar ratio of 1:1 (alcohol: acid). Reactions were carried out for
240 minutes at 30-50 ° C and 200 rpm. With the value of the enthalpy
variation (-67.4 J / mol) it was observed that the reaction is exothermic, so
lower temperature favors product production, in addition, the fact that
the Gibbs free energy variations are negative for all temperatures studied
indicates that the study reaction is spontaneous.
Keywords: Lipase from Rhizomucor miehei. Biodiesel. Esterification.

INTRODUÇÃO

Há um aumento na demanda de energia com o cres-


cimento demográfico mundial e com a industrialização dos
países, no Brasil as indústrias são as principais consumido-
ras de energia com 32,9%, em seguida temos os transportes
com 32,7%, o setor energético com 10,2% e as residências
com 9,7% (EPE - Empresa de Pesquisa Energética, 2018).
Quando comparado com o resto do mundo, a matriz
energética brasileira é modelo no assunto fontes renováveis,
no ano de 2017, 42,9% da energia produzida no Brasil era re-
novável com 17% oriunda da biomassa da cana-de-açúcar e
12% da hidráulica. Enquanto o percentual nos demais países

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equivale a 13,7%, contudo, tanto o Brasil quando o resto do


mundo ainda possuem uma dependência nos derivados dos
combustíveis fósseis (EPE - Empresa de Pesquisa Energéti-
ca, 2018). Além de não ser renovável, o uso dos combustíveis
fósseis pode ocasionar impactos ambientais significativos,
como por exemplo: o derramamento em um navio que o
transporta, ou pela liberação do dióxido de carbono durante
o processo de queima do combustível, com isso faz-se neces-
sário estudos para ampliar e baratear meios renováveis para
a produção de energia.
Uma alternativa ecologicamente correta são os bio-
combustíveis, derivados de biomassa, que substituem, de
modo parcial ou total, os combustíveis fósseis em motores
de combustão. Os dois principais biocombustíveis líquidos
usados no Brasil são o etanol, obtido a partir de cana-de-açú-
car e, em escala crescente, o biodiesel, que é produzido a par-
tir de óleos vegetais ou de gorduras animais e adicionado ao
diesel de petróleo em proporções variáveis (ANP - Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 2019).
O biodiesel é renovável, não tóxico, biodegradável,
limpo, de baixo poluente, favorável ao meio ambiente e
transporta combustão eficiente devido ao maior teor de
oxigênio e maior ponto de inflamação (PATIL; DENG 2009).
Produzido por alcoólise de fontes lipídicas renováveis, como
óleo vegetal ou gordura animal (SHAHEDI et al., 2019).
As principais matérias-primas utilizadas na produção
de biodiesel no Brasil são 70,00% de óleo de soja, 13,3 % de
gordura bovina, 0,9 % de óleo de semente de algodão, 1,7 %
de óleo de fritura reutilizado, 2,1 % de gordura de porco e 0,9
% de óleo de gordura de frango (ANP - Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 2019). Observa-se
que os principais produtos para a produção do biodiesel são
comestíveis, ou seja, a produção de biodiesel compete com o

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setor alimentício, isso pode acarretar no aumento do preço


dos óleos deste setor, além disso, o uso extensivo de óleos co-
mestíveis para a produção de biodiesel pode ocupar terras
agrícolas e ocasionar a escassez de alimentos (KHAN et al.,
2014), portanto, é essencial pesquisar uma matéria-prima
alternativa que tenha potencial para a produção de biodiesel
(NISAR et al., 2017), como mamona, resíduos de café, óleos
residuais, babaçu.
Em escala industrial os catalisadores químicos, sejam
eles básicos ou ácidos, são os principais mediadores das re-
ações, contudo, a sua utilização pode acarretar a produção
de resíduos e contaminação do meio ambiente (SOUZA et al,
2017). As enzimas surgem como uma alternativa para os pro-
cessos industriais que fazem uso de catalisadores químicos,
pois suas características fazem com que elas demandem
condições brandas de reação (pressão e temperatura), isso
resulta em um consumo menor de energia, além de diminuir
os resíduos gerados nas reações. Devido à afinidade estereo-
química e química em relação ao substrato, as enzimas são
catalisadores altamente específicos que, ao contrário dos ca-
talisadores químicos tradicionais, funcionam sob condições
brandas de reação (temperatura, pressão, agitação e pH),
além de possuírem alta atividade catalítica, estereoespeci-
ficidade e biodegradabilidade (BARBOSA et al., 2014; WANG
et al., 2017).
As enzimas do tipo lipases estão entre as mais utili-
zadas na biocatálise (PINHEIRO et al., 2019). Isso se dá pela
série de reações (hidrólise, acidólise, esterificação, transes-
terificação) em que esses biocatalizadores podem agir, seja
em meio aquoso ou orgânico, além da utilização em condi-
ções brandas de reação (SANTOS et al., 2015). A lipase de
Rhizomucor miehei (RML) é uma enzima estável, tem como
características básicas, tamanho molecular de 31.600 Da e

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um ponto isoelétrico de 3.8 (Fernandez-Lopez et al., 2016).


Além disso, trata-se de um catalisador eficaz para a hidrólise
de pequenos ácidos graxos na parte carboxílica. A figura 1
mostra a estrutura tridimensional da lipase de Rhizomucor
miehei.

Figura 1 – Estrutura tridimensional da lipase de Rhizomucor


miehei (RML).

Fonte: Esta figura foi feita pelos autores usando versão de educação de
pymol (código lipase PDB: 4TGL).

METODOLOGIA

Métodos

Esterificação enzimática
A esterificação enzimática foi realizada em meio re-
acional contendo ácido graxo oriundo do óleo de fritura de
frango e álcool etílico (96 %). Foi adicionado volume de bio-
catalisador de 11,6 µL ao ácido graxo, assim como, álcool com
uma razão molar de 1:1 (álcool: ácido), com isso à reação foi
iniciada com uma agitação orbital de 200 rpm, por um pe-

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ríodo de 4 horas, amostras foram divididas em 4 grupos, de


30 °C, 40 °C, 45 °C e 50 °C. A temperatura é importante para
a biocatalise enzimática, pois aumenta as colisões molecula-
res, causando a diminuição na barreira de energia entre as
moléculas dos reagentes e o complexo de enzima e substrato,
com isso, ocorre um aumento na taxa inicial da reação, conse-
quentemente, uma melhoria na conversão (ANNUAR, 2016).
Contudo, para uma temperatura acima de uma faixa ideal po-
derá ocasionar algumas modificações na atividade catalítica,
ou seja, a desnaturação da enzima (MANAN et al., 2016). Em
uma reação com temperatura de 55°C a Rhizomucor miehei
perde cerca de 85 % de sua atividade inicial (Mohammadi et
al. (2014), e quando a temperatura aumentou para 60 e 65 ºC,
cerca de 50 e 20% respectivamente de sua atividade inicial foi
retida (ZHONG, 2018). Para obter a acidez inicial, uma amos-
tra sem a presença do biocatalisador foi exposta a 4 horas a
uma agitação de 200 rpm, a uma temperatura de 30 °C.

Índice de acidez
Para a análise de conversão seguiu-se a metodologia
de Santos (2011) e Lima (2010), as amostras foram realizadas
em duplicata, em cada erlenmeyers de 250mL mediu-se cer-
ca de 2 g da amostra, 5 mL de álcool etílico e 3 gotas de fenof-
taleína. Em seguida foi titulado com a solução de NaOH 0,1
molar, até a mudança para uma coloração levemente rósea
por cerca de 15 segundos. Segundo Santos (2011), o índice de
acidez é calculado por:

Equação 1

Onde V é o volume de NaOH utilizado na titulação (ml);


F é o fator da solução de NaOH; M é a molaridade da solução
de NaOH (mol/l); m a massa da amostra (g).

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De acordo com Santos (2011), a conversão em percen-


tual é dada por:

Equação 2

Onde Iai é o índice de acidez inicial; Ia o índice de aci-


dez para as amostras com o biocatalisador.
Com a equação 1, é possível obter o valor do índice de
acidez inicial e das demais amostras, para obter a conversão
em percentual que ocorreu em cada reação basta substituir
o valor de acidez inicial, assim como da amostra que se dese-
ja obter a conversão, na Equação 2.

Parâmetros termodinâmicos
Para fazer a análise da espontaneidade da reação é
necessário obter a variação de Gibbs, para tanto seguiu-se a
metodologia aplicada por Monteiro (2018).
Todo o estudo é baseado na consideração de que o
tempo foi suficiente para a reação atingir o equilíbrio. Se-
gundo Monteiro (2018), o valor da constante de equilíbrio,
KEQ, pode ser obtido pela Equação 3.

Equação 3

Em que, [A] é a concentração de água, [E] concentra-


ção de éster, [AC] concentração de ácido e [AL] a concentra-
ção de álcool, ou seja, a constante de equilíbrio é dada pela
relação entre a concentração dos produtos e os reagentes, x
é referente a conversão de equilíbrio, para a próxima etapa
ser aplicada é necessário considerar que as reações de es-
terificação tem estequiometria de 1:1 e possui quantidade
equimolar de reagentes. Segundo Monteiro (2018), a equação
de van’t Hoff (Equação 4) fornece a dependência da constan-
te de equilíbrio da temperatura.

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Equação 4
Em que ΔH (J/mol) é a variação de entalpia, ΔS (J/
mol.K) é a variação de entropia, R (J/mol.K) representa a
constate universal dos gases e T (K) temperatura. Com os
dados obtidos foi possível traçar uma reta entre os eixos
Ln(Keq) e 1/T(K), através desta foi obtido o valor das varia-
ções de entalpia e entropia. Com a variação de entalpia e en-
tropia é possível calcular a energia livre de Gibbs pela equa-
ção apresentada por Blanco (2017).

∆𝐺 = ∆𝐻 − 𝑇∆S (Equação 5)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela a seguir apresenta os valores de conversão


obtidos para cada temperatura, considerando uma margem
de erro de 10 %, aceitável em engenharia enzimática. Com
isso, pode-se observar que a variação de temperatura não
tem influência sobre a reação, fez-se claro a especificidade
da enzima utilizada, como seu bom funcionamento sob con-
dições brandas de pressão e temperatura (BARBOSA et al.,
2014; MANAN et al., 2016).

Tabela 1 – Valor em percentual das conversões para cada


temperatura estudada.
Temperatura (K) Conversão (%)

303 60,38772268

313 61,08013139

318 62,44466502

323 63,533652
Fonte: Autores.

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Com isso, foi possível traçar um gráfico de ln (Keq)


versus o inverso da temperatura (K). As variações de ental-
pia e entropia foram calculadas através de regressão linear
simples. A equação de uma reta (Equação 4) é composta por
dois coeficientes, o linear e o angular, a multiplicação do co-
eficiente angular pela constante dos gases (8,314 J/mol*K)
fornece a variação de entalpia, enquanto a multiplicação do
coeficiente linear pela constante dos gases resulta na varia-
ção de entropia (Monteiro, 2018).
A equação de reta forneceu um coeficiente linear de
0,0068, um coeficiente angular de 8,109 e o valor de R2 =
0,9082. Com a obtenção desses valores foram obtidas as va-
riações de entalpia e entropia utilizando a Equação 4. Para
o sistema em estudo, a variação de entalpia é igual -67,42 J/
mol e a de entropia equivale a 56,54 mJ/mol.K.
A partir da informação que variação de entalpia da re-
ação foi negativa é possível concluir que a entalpia do pro-
duto é menor que a dos reagentes, portanto, o processo de
formação de produtos é mais eficiente em temperaturas
menores. O valor positivo da variação de entropia reflete um
sistema em que o grau de desordem aumenta com o aumen-
to da temperatura (PORTO et al., 2006).
O aumento da entropia é a força que determina a dire-
ção do processo, seguindo a segunda lei da Termodinâmica,
o calor é absorvido ou liberado pelo sistema de modo a per-
mitir que a soma da entropia do sistema com a do meio atinja
o estado de maior entropia. Ao contrário da entropia, a ener-
gia livre de Gibbs tende a diminuir, os processos químicos
ocorrem com uma queda na energia livre, este declínio se
estende até que o equilíbrio seja alcançado, onde a energia
livre de Gibbs é mínima, a entropia no que lhe concerne pos-
sui valor máximo no equilíbrio (BLANCO; BLANCO, 2017).

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Figura 2 - 1/T versus LN(Keq) para a determinação das variações


de entalpia e entropia. As reações foram realizadas por 240
minutos a 30 - 50 °C e a 200 rpm.

Fonte: Autores.

Determinados os valores das variações de entalpia e


entropia, tornou-se possível calcular a energia livre de Gibbs
pela Equação 5, com temperaturas de 303, 313, 318 e 323 K.
Seguiu-se a metodologia utilizada por Monteiro (2018) e foi
considerado valores de entropia e entalpia constantes. A Ta-
bela 2 mostra a energia livre de Gibbs para cada temperatura.

Tabela 2 – Variação da Energia Livre de Gibbs.


Temperatura (K) Variação da Energia Livre de Gibbs (J/mol)
303 - 84,5483916
313 - 85,1137436
318 - 85,3964196
323 -85,6790956
Fonte: Autores.

Energia livre de Gibbs é a energia do sistema que é re-


alizada para produzir trabalho, um processo é considerado

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espontâneo se produz trabalho, logo, em um processo es-


pontâneo a variação da energia livre de Gibbs é negativa, é
o caso da reação em estudo, o valor negativo indica também
que a reação tende a atingir o equilíbrio espontaneamente
para as temperaturas estudadas.

CONCLUSÕES

Os biocatalisadores enzimáticos são uma ótima al-


ternativa nos processos de esterificação, por mais que seja
necessário um investimento maior quando comparado com
os catalisadores químicos, quando imobilizados eles podem
ser reutilizados diversas vezes, além de causarem menos da-
nos ao meio ambiente.
O estudo mostrou que o processo é exotérmico, por
conta do valor negativo da entalpia, portanto, a formação de
produtos é auxiliada por temperaturas mais baixas. Já atra-
vés da variação da energia livre de Gibbs obtida notou-se que
a reação é espontânea e que tem tendência a atingir o equi-
líbrio espontaneamente na faixa de temperatura utilizada.
Observou-se também que o aumento da temperatura
não influencia diretamente no percentual de conversão, ou
seja, para a faixa de temperatura estudada não há ganho no
percentual de conversão com o aumento da temperatura,
isso é um ponto positivo, pois faz-se possível obter ótimos
valores de conversão com menos gasto de energia. Por mais
que a temperatura não influencie na conversão é necessário
uma atenção com relação a temperatura que ocorre a rea-
ção, pois assim como as demais formas livres de enzimas, o
RML livre possui alta tendência de desativação quando em
um meio com alta temperatura e pH extremo, logo é indi-
cado mantém a temperatura da reação em uma faixa ideal
(Rodrigues, 2010).

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro das Agências Brasi-


leiras de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fun-
dação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FUNCAP) (BP3-0139-000005.01.00/18), ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-
lógico (CNPq) projetos 422942/2016-2 e 409058/2016-5. As-
sim como ao programa PIBIC/UNILAB.

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ITALO RAFAEL DE AGUIAR FALCÃO • PATRICK DA SILVA SOUSA • FRANCISCO DIEGO MARTINS DA SILVA
JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ADA AMELIA SANDERS LOPES • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ 319

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320 JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • ADA AMELIA SANDERS LOPES • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ

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MARCIA REGIA DO NASCIMENTO DUARTE • FERNANDA PEREIRA DE SOUSA • FÁBIO MORAIS DA SILVA
322 EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

Promoção da saúde no uso racional


de plantas medicinais, através de
cartilha educativa, no município de
Redenção-CE
Marcia Regia do Nascimento Duarte1
Fernanda Pereira de Sousa2
Fábio Morais da Silva3
Emmanoel Peixoto Saraiva Lima4
Cinara Vidal Pessoa5
Jeferson Falcão do Amaral6

RESUMO
O uso de plantas medicinais existe há muitos anos, desde o surgimento
do homem até a sua evolução. Este uso se dava pela necessidade de
curar as doenças, onde eram feitos chás para o tratamento por via oral;
e essa prática tem sido transmitida através das diversas gerações. Os
curandeiros tiveram grande reconhecimento para a época devido as
porções que eram inventadas por eles junto com os ingredientes dos
remédios; eram todas bem guardadas como se fossem fórmulas secretas.
Desde tempos imemoriais, na busca por alívio e cura de doenças que
acometem o homem, as plantas medicinais consistem na principal forma
de utilização dos produtos naturais. A população quando utiliza plantas
medicinais com fins terapêuticos desconhece, muitas vezes, a possível

1 Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/


UNILAB).
2 Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/
UNILAB).
3 Biólogo. Especialista em Farmacologia pela Faculdade Antheneu.
4 Enfermeiro. Administrador. Especialista em Saúde da Família e Comunida-
de (UECE).
5 Farmacêutica. Especialista em Saúde Pública e da Família. Mestre em Saú-
de da Criança e do Adolescente. Docente da UNICATÓLICA.
6 Farmacêutico. Especialista em Farmácia Clínica. Mestre e Doutor em Far-
macologia. Docente dos Cursos de Farmácia, Enfermagem e Saúde da Famí-
lia (ICS/UNILAB).

PROMOÇÃO DA SAÚDE NO USO RACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS, ATRAVÉS DE CARTILHA EDUCATIVA, NO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO – CE
MARCIA REGIA DO NASCIMENTO DUARTE • FERNANDA PEREIRA DE SOUSA • FÁBIO MORAIS DA SILVA
EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL 323

existência de efeitos tóxicos e casos de contraindicação, pois acreditam


que a “planta por ser natural não faz mal”, levando ao uso indiscriminado.
O uso irracional de plantas medicinais e suas preparações contribuem
significativamente para maiores riscos de reações adversas e toxicidade,
constituindo assim um grande problema de saúde pública. Dessa forma, o
uso de remédios caseiros como chás, xaropes e lambedores são na maioria
das vezes administrados de maneira indiscriminada. Uma atividade
de extensão, utilizando uma cartilha educativa, como instrumento de
Educação em Saúde, pode colaborar para um uso mais adequado e racional
de plantas medicinais e redução de intoxicações ou agravos de saúde
em doenças pré-existentes. Nota-se que a maior parte dos usuários que
conhecem um pouco sobre a temática possuem mais de 50 anos de idade
e que o conhecimento ainda é muito restrito e superficial. Conclui-se que
ainda se faz necessário uma maior divulgação para a população sobre o
uso correto de plantas medicinais e fitoterápicos como uma possibilidade
de tratamento para enfermidades desde que usados racionalmente.
Palavras-chave: Cartilha. Educação. Uso Racional. Plantas medicinais.

HEALTH PROMOTION IN THE RATIONAL USE OF MEDICINAL


PLANTS, THROUGH AN EDUCATIVE PRIMER, IN THE
MUNICIPALITY OF REDENÇÃO STATE OF CEARÁ

ABSTRACT
The usage of medicinal plants exists for a long time from the emergence
of the mankind to its evolution. This use was due to the necessity to cure
diseases, where teas were made for oral treatment. And this practice
has been passed through diverse generations. The healers had a great
importance for the time due to the medicinal plants portions, invented
by them, along with the remedy ingredients; they were all kept like secret
formulas. Since immemorial times, in the search for relief and healing of
illnesses that attack the man, medicinal plants consist in the main way of
using of natural products. The population, when using medicinal plants
with therapeutic intent, unknows, sometimes, the possible existence
of toxic effects and contraindication, due to their belief that “plants,
for being natural, won’t harm”, leading to its indiscriminate usage. The
irrational use and preparation of medicinal plants contribute significantly
to the raise of adverse reactions and toxicity risks, creating, therefore, a
major public health problem. So the use of homemade medicines, like
teas and syrups are, mostly, managed indiscriminately; an extension
activity making usage of educative booklets, like health education
instruments, might contribute for a more appropriate and rational use
of medicinal plants and for the decrease of intoxications or aggravating

PROMOÇÃO DA SAÚDE NO USO RACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS, ATRAVÉS DE CARTILHA EDUCATIVA, NO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO – CE
MARCIA REGIA DO NASCIMENTO DUARTE • FERNANDA PEREIRA DE SOUSA • FÁBIO MORAIS DA SILVA
324 EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

factors in already existing diseases. Most users that know a little about
the theme are already over 50 years old and their knowledge about it is
still very superficial and restrict. It is concluded, therefore, that a larger
divulgation, to the population, about the correct usage of herbal medicine
as a treatment possibility is still needed.
Keywords: Booklets. Education. Rational use. Medicinal plants.

INTRODUÇÃO

O uso de plantas medicinais existe há muitos anos


desde o surgimento do homem até a sua evolução. Segundo
Firmo e colaboradores (2011), os primeiros registros sobre
a utilização de plantas medicinais são datados de 500 a.c.
Este uso se dava pela necessidade de curar as doenças, onde
eram feitos chás para o tratamento por via oral. E essa prá-
tica tem sido transmitida através das diversas gerações. Os
curandeiros tiveram grande reconhecimento para a época
devido as porções que eram inventadas por eles junto com
os ingredientes dos remédios; eram todas bem guardadas
como se fossem fórmulas secretas.
Aos poucos, os remédios medicinais foram sendo tes-
tados e utilizados pelo homem do campo e principalmente
pelos índios, em doenças como: gripes, ferimentos, dores de
cabeça, estômago e ansiedade. As plantas medicinais apre-
sentam grande importância na vida da população para man-
ter a saúde, pois além de serem fonte terapêutica acessível,
os pacientes relatam que os remédios feitos através das plan-
tas apresentam bons resultados e uma margem de segurança
satisfatória para as pessoas que as utilizam (ACCORSI, 2000).
O uso dessas poderosas plantas ainda não é bem acei-
to por muitos profissionais da área de saúde, porque não se
tem comprovação científica de todas as plantas. E é por essa
razão que não é confiável o uso de chás ou lambedores com
alguns medicamentos, por exemplo, psicotrópicos; pois esse

PROMOÇÃO DA SAÚDE NO USO RACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS, ATRAVÉS DE CARTILHA EDUCATIVA, NO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO – CE
MARCIA REGIA DO NASCIMENTO DUARTE • FERNANDA PEREIRA DE SOUSA • FÁBIO MORAIS DA SILVA
EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL 325

hábito pode resultar em um efeito colateral não agradável


podendo até prejudicar o paciente por causa da mistura de
substâncias (ALVIM et al., 2006).
Atualmente existe um programa de medicamentos fi-
toterápicos feitos através de vegetais e são testados a sua ação
farmacológica e toxicológica onde o principal órgão respon-
sável é a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Infelizmente nem todas as pessoas têm esse conhecimento
ou acesso aos medicamentos fitoterápicos, o que os leva ain-
da a utilização da planta medicinal por questão de baixo cus-
to financeiro e porque é de fácil cultivo. A única preocupação
com uso dessas ervas medicinais é que pouco se sabe sobre
elas e mesmo assim a população as utiliza porque alguém
usou e obteve resultados satisfatórios (BRASIL, 2012).
Certamente, a informação sobre as plantas medicinais
as formas de como utilizá-las devem ser resgatadas e estuda-
das para a cura de enfermidades, pois cada planta possui uma
estrutura química e substâncias que apresentam seu poder
paliativo e/ou curativo. A grande preocupação não é inibir o
uso de plantas medicinais, mas orientar a população sobre a
forma correta de utilização das mesmas (ELDIN, 2001).
Dessa forma, os objetivos deste trabalho foram orien-
tar a população de um município do interior do Estado so-
bre o uso correto de plantas medicinais, através de cartilha
educativa, para que o uso correto possa favorecer a promo-
ção da saúde prevenindo efeitos colaterais e intoxicações;
objetivou, ainda, elaborar cartilha educativa sobre o uso
mais adequado e racional de plantas medicinais e redução
de intoxicações ou agravos de saúde em doenças pré-exis-
tentes; esclarecer os riscos do uso desordenado de plantas
medicinais e correlatos para tratamento de patologias em
geral, tais como efeitos colaterais, intoxicações e possíveis
interações com outros fármacos utilizados em tratamentos

PROMOÇÃO DA SAÚDE NO USO RACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS, ATRAVÉS DE CARTILHA EDUCATIVA, NO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO – CE
MARCIA REGIA DO NASCIMENTO DUARTE • FERNANDA PEREIRA DE SOUSA • FÁBIO MORAIS DA SILVA
326 EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

que o indivíduo esteja fazendo; orientar a população através


de palestras sobre o uso racional de plantas medicinais e
correlatos, através de folheto explicativo.

METODOLOGIA

O processo de realização ação de Educação em Saúde


sobre Uso Racional de Plantas Medicinais foi composto por
três etapas:

I – A princípio, foi realizada a elaboração de cartilha


educativa sobre o uso mais adequado e racional de plantas
medicinais e redução de intoxicações ou agravos de saúde
em doenças pré-existentes. A cartilha versou em seu conte-
údo sobre uso mais adequado e racional de plantas medici-
nais e redução de intoxicações ou agravos de saúde em doen-
ças pré-existentes. Essa cartilha foi utilizada como instru-
mento de Educação em Saúde nas palestras a fim de avaliar
a didática do material para posteriormente ser validada por
professores especialistas.
II – Foram realizadas campanhas educativas por meio
de palestras com alunos da Universidade da Integração In-
ternacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB utilizan-
do-se de mídias visuais (data show) para transmitir o conte-
údo da cartilha e para realizar uma troca de saberes sobre
plantas medicinais e o uso de fitoterápicos, além de mensu-
rar o nível de conhecimento dos acadêmicos, uma vez que
essas informações, na maioria das vezes, são inerentes da
população mais idosa, adquiridas por seus ancestrais. Essa
mensuração aconteceu por meio de perguntas sobre o nível
de conhecimento de cada um, onde cada resposta era anota-
da em diário de campo.
III – Já com a comunidade externa, foi trabalhado so-
bre o uso correto de Plantas Medicinais e os principais pro-

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EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL 327

blemas de saúde relacionados ao uso indiscriminado e sem


orientação profissional. Foi preenchida a ficha que continha
a idade, o sexo e o nível de conhecimento de cada participan-
te como sendo, pouco, muito ou nenhum.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Elaboração das cartilhas educativas

A elaboração da cartilha educativa foi realizada com


a finalidade de abordar a descrição de algumas plantas co-
muns na região do Maciço de Baturité, assim como a parte
usada como remédio, forma adequada de uso, indicações,
contraindicações e efeitos adversos. Esta cartilha foi utili-
zada como instrumento de educação em saúde, visando in-
formar aos usuários sobre alguns pontos essenciais sobre o
uso racional de plantas medicinais, promovendo prevenção
e promoção da saúde de forma coletiva.
As plantas utilizadas na ação foram escolhidas a partir
de pesquisa verbal, realizada com pessoas da comunidade,
quanto as plantas mais utilizadas na região para alívio de do-
res e cura de doenças. Inicialmente foram utilizadas cinco
plantas (boldo, babosa, canela, moringa e folha de graviola),
e apresentadas na cartilha o modo de uso, as partes usadas,
indicações, contraindicações e possíveis efeitos tóxicos.

Ação educativa com o uso da cartilha

Como forma de promover educação em saúde coletiva,


foi realizado uma ação educativa com a comunidade, em um
“Dia D” de promoção à saúde, na cidade de Redenção-CE. O lo-
cal escolhido, foi uma praça pública (Praça do Obelisco), com o
propósito de que tivesse uma maior visibilidade pela popula-

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328 EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

ção local, facilitando assim, a disseminação do conhecimento.


Para este dia foram exibidas algumas plantas de relevância na
região como: moringa, canela, boldo, babosa e folha de graviola.
Foram distribuídos alguns folhetos explicativos, elaborados a
partir da cartilha, como forma de focar nos pontos principais
para que a leitura não se tornasse cansativa.

Figura 1 – Cartilha educativa sobre o uso racional de plantas


medicinais

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Figura 2 – Folheto explicativo, distribuído na ação, elaborado a


partir da cartilha.

Resultados obtidos na ação educativa com o uso da


cartilha

Ao todo, foram abordadas 112 pessoas que transita-


vam no local. Observou-se que, dos que fazem uso de plantas
medicinais, a maioria considera utilizar o chá como medi-
camento, enquanto que, uma pequena parcela, alega fazer

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330 EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

a utilização do mesmo como alimento. Entre os que foram


abordados, os participantes que demonstraram um maior
interesse em fazer o uso de plantas medicinais, seja para ali-
mento, ou para alívio de dores, 95% foram de mulheres e os
outros 5% de homens.

Gráfico 1 – Relação do sexo com o interesse em uso de plantas


medicinais

É importante ressaltar que a população que mais fa-


zia uso de plantas medicinais, concentrou-se na faixa etária
acima de 50 anos. A maior concentração nesta faixa etária
pode ser justificada, pois em geral constituem-se de pessoas
que possuem principalmente os conhecimentos populares
herdados dos antepassados. De acordo com as abordagens,
percebeu-se também que os indivíduos mais jovens se inte-
ressam menos pelo tratamento com plantas medicinais.

Gráfico 2 – Idade dos participantes da ação

Quanto ao uso racional de plantas medicinais e os


riscos de reações adversas e intoxicações, muitos ficaram

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EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL 331

surpresos com a nossa intervenção, e de certa forma felizes,


pois muitos não tinham conhecimento das possíveis con-
sequências do uso indiscriminado das mesmas, assim tam-
bém como desconheciam que a falta de padronização ou até
mesmo o manejo inadequado das plantas para determinada
doença, houvesse a redução de sua eficácia.

Gráfico 3 – Relação do nível de conhecimento dos participantes


da ação

Quanto ao nível de conhecimento dos acadêmicos dos


cursos de Administração, Farmácia e Enfermagem presen-
tes na palestra, observou-se que a maioria dos presentes
tinham pouco ou nenhum conhecimento acerca da forma
correta do uso das plantas medicinais ou seus malefícios
quando utilizados de forma indiscriminada. A maioria se
mostrou surpreso com as informações apresentadas.

Gráfico 4 – Relação do nível de conhecimento dos acadêmicos
presentes na palestra

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332 EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ação educativa propiciou a exploração de um tema


muito importante, mas pouco abordado na comunidade lo-
cal, o uso racional de plantas medicinais, favorecendo tam-
bém uma visão científica e cultural mais apurada que resul-
tou numa melhor abordagem do tema.
Além disso, foi possível observar que a comunidade
não tem acesso a informações seguras e concretas sobre o
assunto abordado, no qual muitas vezes são compartilha-
dos mitos e técnicas errôneas envolvendo o uso e plantas
medicinais, o que pode gerar um grande problema de saúde
pública com a possibilidade de intoxicações severas. Desta
forma, a atividade de Educação em Saúde buscou promover
a redução de intoxicações ou agravos de saúde em doenças
pré-existentes, trazendo informações detalhadas e de fácil
compreensão para usuários de plantas medicinais que bus-
cam alívio e cura de doenças.

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MARCIA REGIA DO NASCIMENTO DUARTE • FERNANDA PEREIRA DE SOUSA • FÁBIO MORAIS DA SILVA
EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA • CINARA VIDAL PESSOA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL 333

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PROMOÇÃO DA SAÚDE NO USO RACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS, ATRAVÉS DE CARTILHA EDUCATIVA, NO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO – CE
PATRÍCIA SARA SEMEDO • JANIEL FERREIRA FELÍCIO • ALBERTO JOÃO M’BATNA • EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA
334 JOSÉ MÁRCIO MACHADO BATISTA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

Perfil medicamentoso de
gestantes, com suspeita de
patologias transmitidas pelo aedes,
acompanhadas em Redenção-CE
Patrícia Sara Semedo1
Janiel Ferreira Felício2
Alberto João M’batna3
Emmanoel Peixoto Saraiva Lima4
José Márcio Machado Batista5
Jeferson Falcão do Amaral6

RESUMO
Objetivou-se com esta pesquisa traçar um perfil do uso de medicamentos
por gestantes e o conhecimento das mesmas sobre as medidas preventivas,
o combate ao mosquito Aedes e os sintomas relacionados. Pesquisa
quanti-qualitativa, no período de junho de 2017 a maio 2018. Iniciou-se
a coleta de dados após a aprovação final do CEP/UNILAB (Parecer nº:
1.937.101) e a aplicação do TCLE. Foram entrevistadas 06 gestantes que
referiram sintomas das patologias transmitidas pelo Aedes (Dengue,
Zika e/ou Chikungunya) e que tomaram medicamentos por conta
própria. Os apêndices A e B foram utilizados para a coleta de dados sócio-
demográficos e da terapia medicamentosa, respectivamente. Foi feita
uma análise quanti-qualitativa dos dados. Das 06 gestantes entrevistadas,

1 Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/


UNILAB)
2 Discente do Curso de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde (ICS/
UNILAB)
3 Enfermeiro. Instituto de Ciências da Saúde (ICS/UNILAB)
4 Enfermeiro. Administrador. Especialista em Saúde da Família e Comunida-
de (UECE)
5 Farmacêutico. Mestre em Bioquímica. Doutor em Inovação Tecnológica de
Medicamentos. Docente da UNICATÓLICA
6 Farmacêutico. Especialista em Farmácia Clínica. Mestre e Doutor em Far-
macologia. Docente dos Cursos de Farmácia, Enfermagem e Saúde da Famí-
lia (ICS/UNILAB)

PERFIL MEDICAMENTOSO DE GESTANTES, COM SUSPEITA DE PATOLOGIAS TRANSMITIDAS PELO AEDES, ACOMPANHADAS EM REDENÇÃO-CE
PATRÍCIA SARA SEMEDO • JANIEL FERREIRA FELÍCIO • ALBERTO JOÃO M’BATNA • EMMANOEL PEIXOTO SARAIVA LIMA
JOSÉ MÁRCIO MACHADO BATISTA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL 335

02 são desempregadas e as demais universitárias. Sobre o ciclo de vida


do mosquito Aedes, praticamente nenhuma delas tinha conhecimento.
Os principais medicamentos utilizados foram analgésicos, antitérmicos
e antigripais.
Palavras-chave: Aedes. prevenção. uso racional. medicamentos.

MEDICAMENTAL PROFILE OF PREGNANT WOMEN, WITH


SUSPECTED PATHOLOGIES TRANSMITTED BY AEDES,
ACCOMPANIED IN REDEMPTION-CE

ABSTRACT
The objective of this research was to outline a profile of the use of drugs
by pregnant women and their knowledge about preventive measures,
the control of Aedes mosquitoes and related symptoms. Quantitative-
qualitative research, from June 2016 to May 2017. Data collection began
after the final approval of CEP / UNILAB (Opinion no. 1,937,101) and
the application of the TCLE. We interviewed 06 pregnant women who
reported symptoms of the diseases transmitted by Aedes (Dengue, Zika
and / or Chikungunya) and who took medicines on their own. Appendices
A and B were used for the collection of socio-demographic data and
drug therapy, respectively. Quantitative-qualitative data analysis was
performed. Of the 06 pregnant women interviewed, 02 are unemployed
and the other university students. About the life cycle of the Aedes
mosquito, practically none of them knew. The main drugs used were
analgesics, antipyretics and anti-fluids.
Keywords: Aedes. prevention. rational use. medicines.

INTRODUÇÃO

O mosquito Aedes aegypti é o principal transmissor


do vírus da Dengue, Zika, Chikungunya e da febre amarela
urbana, importantes arboviroses que afetam o homem com-
prometendo sua saúde (GRAM et al., 2013).
Algumas doenças infecciosas foram reintroduzidas
no Brasil a partir dos anos 1980, dentre elas a dengue, cuja
epidemia se espalha pelo mundo afetando milhões de pes-
soas, fato que está diretamente relacionado à globalização
e às mudanças climáticas que interferem no processo saú-
de-doença, favorecendo o aumento da morbimortalidade de

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336 JOSÉ MÁRCIO MACHADO BATISTA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

doenças transmissíveis. Apesar dos esforços para sua elimi-


nação, a Dengue, Chikungunya e Zika são consideradas do-
enças emergentes em países tropicais e subtropicais, entre
eles o Brasil (BARRETO et al., 2008).
Os seus sintomas são quase idênticos tais como dor no
corpo, nas juntas, nas articulações; isso faz com que mui-
tas pessoas fiquem em dúvida se podem ou não tomar al-
gum tipo de anti-inflamatório. Apesar de indicado, a pessoa
acaba abusando na dosagem e usando com intervalos mais
curtos; o paracetamol, por exemplo, em excesso pode cau-
sar graves problemas no fígado. A recomendação é de que o
medicamento seja ingerido de seis em seis horas e em baixas
dosagens (SILVA E LOURENÇO, 2014).
Destarte, ressalta-se que a apresentação clínica da in-
fecção por Zika Vírus é inespecífica e por essa razão, pode
ser confundida com outras doenças febris, principalmente
dengue e febre chikungunya (ROTH et al., 2014). Essa ca-
racterística associada a circunstância de que boa parte dos
pacientes apresentam sintomas leves e não procuram aten-
dimento médico, colabora para a subnotificação dos casos e
propicia mais o hábito da automedicação. O período de incu-
bação no humano é estimado entre 2 a 14 dias após a picada
do mosquito vetor (FALCÃO et al., 2016).
Desse modo, o presente estudo objetivou traçar um
perfil do uso de medicamentos por gestantes e o conheci-
mento das mesmas sobre as medidas preventivas, o combate
ao mosquito Aedes e os sintomas relacionados. Consequen-
temente o estudo poderá subsidiar mais dados para futuras
pesquisas que visem implementar intervenções para a si-
tuação das gestantes que se encontram em vulnerabilidade
de adquirir complicações por causa das arboviroses, como
também em decorrência da prática de automedicação em
busca de aliviar os sintomas.

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JOSÉ MÁRCIO MACHADO BATISTA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL 337

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo observacional, descri-


tivo, transversal; considerando algumas dificuldades, fez-se
uma abordagem qualitativa, compreendido no período de
maio 2017 a abril de 2018, com gestantes acompanhadas na
Atenção primária na cidade de Redenção-CE. Iniciou-se a
coleta de dados após a aprovação final do CEP/UNILAB (Pa-
recer nº: 1.937.101). Foram elaborados dois formulários es-
truturados.
O primeiro, para coletar as informações sobre o perfil
sócio demográfico e o conhecimento das gestantes a respei-
to das medidas de prevenção e combate ao mosquito Aedes,
bem como a sintomatologia das patologias transmitidas por
ele (Dengue, Chikungunya e Zika) (Apêndice A).
O segundo, relacionado com os medicamentos utiliza-
dos pelas gestantes por conta própria (automedicação), con-
tendo as seguintes informações: nome genérico e comer-
cial do medicamento, posologia utilizada, forma de acesso
ao medicamento, sintomas que levaram a automedicação e
relato de efeitos colaterais/reações adversas (Apêndice B).
Para análise dos dados foi utilizado o (nível 2 e 3) do sistema
de Anatomical Therapeutic Chemical (ATC) da Organização
Mundial da Saúde (OMS) (ROCHA, WERLANG, 2013).
Os resultados extraídos foram dispostos em forma de
tabelas sendo a interpretação realizada por meio da análise
e com apoio da literatura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme apresentado na Tabela 1, foram entrevista-


das 06 gestantes, sendo 02 desempregadas e as demais estu-
dantes universitárias. Quanto ao nível salarial das mesmas,

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338 JOSÉ MÁRCIO MACHADO BATISTA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

a maioria conta com o próprio auxílio que recebe da Univer-


sidade ou dispõe de um salário mínimo somado ao do com-
panheiro. Quanto ao conhecimento sobre o ciclo de vida do
mosquito Aedes, praticamente nenhuma delas tinha conhe-
cimento, embora todas saibam de algumas medidas preven-
tivas. Dos sintomas por elas mencionados, destacam-se do-
res nas articulações (artralgia), dores musculares (mialgia),
febre e exantemas. Os principais medicamentos utilizados
por elas foram analgésicos, antitérmicos e antigripais, prin-
cipalmente o paracetamol.

Tabela 1 – Perfil Sócio-Demográfico das Gestantes no Combate e


Prevenção ao mosquito Aedes
Ida- Escolari- Es- Ocupa- Renda Ciclo Doenças Sintomas
de dade tado ção familiar de vida trans- das pa-
Civil do Ae- mitidas tologias
des pelo trans-
Aedes mitidas
pelo Ae-
des
23 Superior Sol- Estu- 530,00 Não Sim: Dores no
incom- teiro dante sabe Dengue, corpo,
pleto Zika e coceira
Chikun-
gunya
23 Superior União Estu- 1.060,00 Sabe, Sim: Dores
incom- está- dante mas Dengue, muscula-
pleto vel não se Zika e res, febre,
recorda Chikun- dores nas
gunya juntas

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24 Superior União Estu- 800,00 Não Sim: Dores no


completo está- dante sabe Dengue, corpo, Fe-
vel Zika e bre alta,
Chikun- manchas
gunya no corpo,
dores nas
juntas
25 Superior Casa- Estu- 800,00 Não Sim: Febre,
incom- da dante sabe Dengue, diarreia,
pleto Zika e dores no
Chikun- corpo,
gunya manchas
no corpo
25 Ensino União Desem- 1.860,00 Não Sim: Verme-
Médio está- pregada sabe Dengue, lhidão, na
Completo vel Zika e pele, con-
Chikun- juntivite,
gunya coceira e
febre alta
36 Ensino Casa- “tira fio” 800,00 Não Sim: Febre,
Funda- da sabe Dengue, manchas
mental Zika e pelo cor-
Chikun- po, dores
gunya nas arti-
culações
e inchaço
Fonte: Dados da pesquisa.

As gestantes quando adoecem de uma dessas arboviro-


ses, tendem a fazer automedicação para o alívio dos sintomas;
por vezes sem possuir conhecimento algum sobre os riscos
ou efeitos. Isto pode ser evidenciado na fala da gestante 4:
“Eu tava me sentindo meio gripada, com dores ...
Fui para farmácia comprar remédio, mas depois só
piorou, minha tosse aumentou (...) Mas com o tempo
passou”.

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340 JOSÉ MÁRCIO MACHADO BATISTA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

Os principais medicamentos utilizados na automedi-


cação para este fim são os analgésicos/antipiréticos, antii-
nflamatórios e antieméticos (ver Quadro 1). O paracetamol
é um analgésico/antipirético facilmente encontrado em
farmácias a preços acessíveis. É considerado hepatotóxico
e pode promover uma lesão hepatocelular através de três
mecanismos, ocorrendo de maneira independente ou em
associação. A forma mais comum de hepatotoxicidade é a
“overdose” (ingestão de doses superiores a 10 g em adultos e
até 150 mg/ kg em crianças).
O outro mecanismo é a situação de excessiva ativação
do sistema citocromo P450 (CYP), resultante do uso de de-
terminados medicamentos indutores enzimáticos e álco-
ol crônico, e o terceiro é através da depleção dos níveis de
glutation do hepatócito por ingestão alcoólica, desnutrição
(JUNIOR, 2011).
Dessa forma, é pertinente ressaltar que a utilização
de medicamentos durante a gestação representa um desafio
para a saúde, visto que grande parte dos fármacos atravessa
a barreira placentária e a maioria ainda não foi testada cli-
nicamente em gestantes, podendo vir a ocasionar diversos
problemas congênitos ao feto (DANTAS et al., 2018).
Por mais frequente que seja essa prática, a temática é
pouco estudada mais especificamente em gestantes acome-
tidas por arboviroses, limitando o número de medicamen-
tos adequados para esse público.
Nesse sentido, torna-se fundamental dar importância
aos tratamentos maternos com anti-inflamatórios não este-
roides (AINEs), visto que têm sido associados, com frequên-
cia, à vasoconstrição do ducto arterioso fetal, hipertensão
arterial pulmonar e inibição da agregação plaquetária. Estu-
dos sobre os efeitos dos anti-inflamatórios demonstram alta
incidência de síndrome de hipertensão pulmonar persis-

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tente no recém-nascido e de anormalidades na hemostasia


Com isso, pode-se ocorrer alterações no desenvolvimento
das habilidades da criança repercutindo em mais proble-
mas para o núcleo familiar (SANTOS et al., 2018).

Quadro 1 – medicamentos utilizados (automedicação) para alívio


de sintomas (Classificação ATC)
Motivos da automedicação (sin-
Medicamentos
tomas)
Analgésicos e antipiréticos –
N02B Dores de cabeça e dores no corpo
– Paracetamol
Analgésicos e antipiréticos –
N02B Dores no corpo, inchaço e febre
– Dipirona
Antibióticos – G01AA
Dores de garganta
– Amoxicilina
Analgésicos e antipiréticos – N02B
– Dipirona + Orfenadrina + Cafeína Dores no corpo
(analgésico e relaxante muscular)
Preparados contra a tosse e res-
friados – R05
“Gripe” e Dores de cabeça
– Dipirona + Clorfeniramina + Ca-
feína (antigripal)
Vitaminas – A11G
Tosse / Resfriado
– Ácido ascórbico (Vitamina C)
Fonte: Dados da pesquisa.

Além dos fármacos utilizados, a partir dos questio-


nários aplicados foi possível identificar os diversos motivos
que levaram as gestantes a automedicação. A maioria das
mulheres referiu mais de um motivo, sendo dores no cor-
po o fator predominante. Nessa perspectiva, é necessário a
contínua avaliação da gestante para não somente identificar
casos de automedicação, mas realizar trabalhos educativos
interdisciplinares e orientações sobre os riscos dessa práti-

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342 JOSÉ MÁRCIO MACHADO BATISTA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL

ca durante a gestação e promover uma indicação e utilização


mais criteriosas desse uso, considerando-se os riscos para a
gestante e o feto (KASSADA et al., 2015).
Nessa perspectiva, foi observado no estudo que al-
gumas gestantes possuem a renda familiar menor que um
salário mínimo. Com isso, em um período de profunda re-
cessão econômica do país (2016-2017), provavelmente a situ-
ação financeira das gestantes influenciou na adoção das me-
didas de proteção individual, desde o custo dos repelentes,
gastos com vestimentas, inseticidas e outros recursos até a
dificuldade de deslocação para as unidades de saúde, prin-
cipalmente na zona rural. Ainda assim, a raiz do problema,
as medidas de proteção coletiva, permanecem sendo negli-
genciadas e o governo atribuindo a responsabilidade para
população da redução das doenças transmitidas pelo mos-
quito, afora o fardo dos custos econômicos para a sua saúde,
na adesão às ações de prevenção individual. Essas condições
afetam notadamente as gestantes com menor condição so-
cioeconômica, já que estas mulheres estão mais sujeitas
a falta de saneamento básico, irregularidades no abasteci-
mento de água e falhas na coleta pública do lixo.
Dessa forma, nota-se que nas arboviroses a ausência
de igualdade socioeconômica é um fator subjacente para o
surgimento da doença e talvez o maior obstáculo para sua
erradicação. Nesse sentido, foi identificado que as gestan-
tes ainda desconhecem o ciclo de vida do Aedes aegypti in-
fluenciando nas medidas que as mesmas irão adquirir para
prevenir a propagação e permanência do mosquito em seu
ambiente. Assim, torna-se relevante que futuramente ações
de cunho educativo intervencionista sejam desenvolvidas
no Maciço de Baturité com especial atenção para o público
das gestantes, mas também para toda população.

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JOSÉ MÁRCIO MACHADO BATISTA • JEFERSON FALCÃO DO AMARAL 343

CONCLUSÕES

Diante de algumas dificuldades encontradas, foi pos-


sível ainda assim, realizar através deste estudo, uma troca
de conhecimentos e experiência, com base no autoconheci-
mento das gestantes sobre o assunto em questão. Não obs-
tante, associado à vulnerabilidade desta fase, em que as mu-
lheres se encontram, aumenta a preocupação com os riscos
associados. Portanto, almeja-se contribuir e dar continui-
dade com informações que levem a uma maior sensibiliza-
ção sobre as patologias transmitidas pelo mosquito Aedes e
para uma melhor qualidade de vida das gestantes e motivar
a adesão ao uso racional de medicamentos; evitando, assim,
os riscos de reações adversas e possíveis intoxicações.
Espera-se com este estudo subsidiar o planejamento
das práticas educativas realizadas pela equipe de saúde, a
criação de programas educativos que visam alertar as ges-
tantes sobre os riscos inerentes ao uso de medicamentos
durante a gravidez. Com os resultados encontrados neste
estudo, pode-se concluir que a medicalização na gravidez é
uma prática recorrente, já que há um elevado consumo de
medicamentos durante a gestação sem conhecimento dos
possíveis riscos implicados ao bebê em gestação.
Além disso, percebe-se que ainda há falta de uma
orientação adequada às gestantes no que se refere à autome-
dicação, confirmando assim a necessidade de mais estudos
que enfoquem automedicação na gestação e seu uso crite-
rioso. Considerando uso de medicamentos como uma das
estratégias para buscar o equilíbrio da gestante, e que o en-
foque do processo gestacional é a saúde, é de supor que haja
espaço de formação da interface individual e do coletivo, de
modo a incentivar a participação da mulher como sujeito da
ação.

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REFERÊNCIAS

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PERFIL MEDICAMENTOSO DE GESTANTES, COM SUSPEITA DE PATOLOGIAS TRANSMITIDAS PELO AEDES, ACOMPANHADAS EM REDENÇÃO-CE
ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS 347

Etnociência: o ciclo sustentável da


produção de grogu pelo trapitxi de
Cabo Verde
Alexandrino Moreira Lopes1
João Philipe Macedo Braga2
Elcimar Simão Martins3
Luís Tomás Domingos4

RESUMO
O processo tradicional para a produção de grogu (aguardente de cana-
de-açúcar) em Cabo verde é feito pelo trapitxi, que é uma máquina semi-
industrial utilizada para moer cana-de-açúcar. As práticas de produção do
conhecimento dos povos tradicionais, validado pelo estudo da Etnociência
nas academias, tem uma relação bem próxima com os princípios da
sustentabilidade. Situado no âmbito dos estudos da Etnociência, o
presente trabalho tem como objetivo refletir os métodos e as práticas
da sustentabilidade no processo de produção de grogu pelo Trapitxi.
Metodologicamente, foi feita uma pesquisa de campo, onde foi observado
e analisado todo o processo de produção de grogu. Os resultados apontam
que as práticas de produção de grogu no seu método tradicional dialogam
fortemente com as práticas e os princípios da sustentabilidade, que por
sua vez, revelam as vantagens da produção por meio dos conhecimentos
tradicionais, não agredindo o meio ambiente de forma catastrófica.
Desta feita, os saberes e as práticas dos conhecimentos tradicionais,
desenvolvidos pelos povos Africanos estabelecem o equilíbrio pleno com
a natureza, utilizando da mesma, como algo integrante da dependência
da vida.
Palavras-chaves: Etnociência. Sustentabilidade. Cabo Verde. Trapitxi.

1 Mestrando em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis, Universi-


dade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira/UNILAB,
Redenção, Ceará, Brasil, all-lopes@hotmail.com
2 Prof. Dr., Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Bra-

sileira /UNILAB, Redenção, Ceará, Brasil, philipe@unilab.edu.br


3 Prof. Dr., Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Bra-

sileira /UNILAB, Redenção, Ceará, Brasil, elcimar@unilab.edu.br


4 Prof. Dr., Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Bra-

sileira /UNILAB, Redenção, Ceará, Brasil, brtomas@unilab.edu.br

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


348 ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS

ETHNOSCIENCE: THE SUSTAINABLE CYCLE OF GROGU


PRODUCTION BY THE CAPE VERDE TRAPITXI

ABSTRACT
The traditional process for the production of grogu (sugarcane brandy) in
Cabo Verde is made by trapitxi, which is a semi-industrial machine used
to grind sugar cane. The practices of production of traditional peoples’
knowledge, validated by the study of Ethnoscience in the academies,
have a very close relation with the principles of sustainability. By the
study of the Ethnoscience the present work aims to reflect the methods
and practices of the sustainability in the process of production of grogu
by trapitxi. Methodologically, a field research was carried out, where the
entire grogu production process was observed and analyzed. The results
point out that the grogu production practices in their traditional method,
dialogues strongly with the practices and principles of sustainability,
which in turn, reveals the need for a production through traditional
knowledge, not harming the environment of the way catastrophe. This
time, the traditional knowledge and practices of knowledge developed
by African men establish the full balance with nature, using the same, as
something integral to the dependence of life.
Keywords: Ethnoscience. Sustainability. Cape Verde.

INTRODUÇÃO

Não se opondo ao eurocentrismo, mas propondo uma


nova forma de analisar o processo investigativo do conhe-
cimento científico, a Etnociência é o ramo científico que
desmistifica o conceito da ciência, trazendo uma aborda-
gem mais ampla e concreta sobre os saberes do mundo. Ela
situa-se em um contexto social bem demarcado, envolve os
saberes das comunidades tradicionais, associando-os ao co-
nhecimento científico.
Tomando a dimensão real da natureza, que nesse
campo de estudo está preservada no prefixo etno, que por
sua vez representa um conjunto de expressão de um povo,
preservada e vivida nas suas culturas, línguas e ritos que os
simboliza e os representa. Lévi-Strauss (1989) definiu a Et-

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS 349

nociência como a ciência do concreto, a qual abarca todos os


saberes da natureza.
A compreensão da Etnociência favorece o desenvol-
vimento de uma proposta voltado ao estudo de sustentabi-
lidade da natureza, na qual os manejos da mesma são pau-
tados pelo equilíbrio das práticas tradicionais dos povos
que têm outra visão do que é a natureza. Situado em um es-
paço-tempo real, além de favorecer a descolonização, esse
estudo nos impulsionou a desenvolver uma pesquisa com o
processo de produção de grogu5 pelo trapitxi6 em Cabo Ver-
de, na África.
Trapitxi é uma máquina semi-industrial utilizada para
moer cana-de-açúcar no processo de fabricação de grogu em
Cabo Verde. O processo de fabricação de grogu está dividido
em três fases: a primeira consiste em moer a cana de açúcar
para obtenção da sua calda; a segunda é a fermentação da
calda, que é colocada dentro de um grande depósito por al-
guns dias; a terceira, sendo a última fase, é aquela em que a
calda fermentada vai para o alambiki7.
A pesquisa é de abordagem qualitativa, pois “[...] é fo-
calizada no indivíduo, com toda a sua complexidade, e na sua
inserção e interação com o ambiente sociocultural e natu-
ral” (D’AMBROSIO, 1996, p. 103). O estudo se utilizou de uma
pesquisa de campo, realizada em julho de 2017, num espaço
com trapitxi situado em Ribeira Grande de Santiago, Cidade
Velha, na ilha de Santiago, Cabo Verde. Para tanto, seguimos
a compreensão de Gonçalves (2001, p. 67), ao afirmar que tal
pesquisa busca “[...] a informação diretamente com a po-

5 Grafia de acordo com o vocabulário crioulo de Cabo Verde, especificamen-


te da ilha de Santiago.
6 Grafia de acordo com o vocabulário crioulo de Cabo Verde, especificamen-

te da ilha de Santiago.
7 Grafia de acordo com o vocabulário crioulo de Cabo Verde, especificamen-

te da ilha de Santiago, que é um forno de alta temperatura.

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


350 ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS

pulação pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro


mais direto. Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espaço
onde o fenômeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto
de informações a serem documentadas”. Utilizamos como
estratégias de aproximação com a realidade a observação e
a entrevista com o proprietário do trapitxi, que foi gravada e,
posteriormente, transcrita.
Voltado ao estudo da Etnociência, o presente traba-
lho tem como objetivo refletir os métodos e as práticas da
sustentabilidade no processo de produção de grogu pelo
Trapitxi. Além da Introdução e das Considerações Finais,
o artigo está dividido em três seções, quais sejam: “Cabo
Verde: o povo das ilhas e suas tecnologias”, apresenta o ló-
cus e o objeto da pesquisa; “Etnociência: as perspectivas
da sustentabilidade”, traz uma abordagem teórico-concei-
tual; “Prática da sustentabilidade na Produção de Grogu
por meio de ­Trapitxi”, apresenta e discute os resultados do
trabalho.

CABO VERDE: O POVO DAS ILHAS E AS SUAS


TECNOLOGIAS

Cabo Verde é um país arquipelágico localizado na cos-


ta ocidental da África, formado por 10 ilhas – Brava, Fogo,
Santiago, Maio, Sal, Boa Vista, São Nicolau, Santa Luzia, São
Vicente e Santo Antão. Com uma população de 501 mil habi-
tantes, sua capital é Praia, cidade situada na Ilha de Santia-
go, cuja extensão territorial é de 4.033 km².
O arquipélago de Cabo Verde tem um clima tropical
seco, distinto em duas estações do ano: seca e úmida. As
chuvas são irregulares e escassas, que na visão de Borges
(2017), “condicionadas pela passagem do vento quente e seco
do deserto do Saara que aumenta a aridez”. A língua oficial é

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS 351

o português, mas o dialeto local é o crioulo8, que é predomi-


nantemente falado em todas as ilhas.
Cabo Verde é conhecido como um país que não pos-
sui riquezas naturais, pois lá ainda não foi descoberto ouro,
prata, diamante ou alguma dessas pedras valiosas, mas em
compensação é muito rico em homens e mulheres traba-
lhadores, que lutam para sua soberania e melhores condi-
ções de vida. Segundo Borges (2017), Cabo Verde conseguiu
passar para a comunidade internacional a imagem de um
país bem administrado politicamente apesar de ter pouco
recurso. No entanto, enfrenta o desafio de persuadir seus
parceiros a manter os níveis atuais da ajuda econômica e
reverter esta tendência de diminuição dos financiamentos
atualmente oferecidos.
Esta pesquisa foi realizada na localidade de Cidade
Velha, no município de Ribeira Grande de Santiago, situa-
do em Santiago, a maior ilha do arquipélago de Cabo Verde,
com uma área aproximada de 991 km2 e uma população de
duzentos e sessenta sete mil habitantes. A Cidade da Praia,
capital do país, está localizada nessa ilha, que por sua vez tem
a maior infraestrutura e população do país. De acordo com
Santos (2014, p. 33): “A Cidade Velha, construída a partir do
porto, que era o principal centro de interesse dos primeiros
habitantes, cresceu à margem direita da ribeira Maria Parda”.
É nessa localidade que encontramos o trapitxi, alvo de
nossa pesquisa. Segundo estudo de Évora (2006), Trapitxi é
um instrumento que faz parte do processo da produção de
grogu da cana de açúcar, na produção de açúcar e de mel de
cana de açúcar em Cabo Verde, nas ilhas de Santiago e de São
Antão. Nas demais ilhas é raro o uso desses métodos para es-
8 É a língua originária do Arquipélago de Cabo Verde. A língua crioula, de
base lexical portuguesa, é a língua materna de quase todos os cabo-verdia-
nos e é ainda usada como segunda língua por descendentes de cabo-verdia-
nos em outras partes do mundo.

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


352 ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS

sas produções. A mais famosa e mais popular dessas produ-


ções é o grogu, uma das bebidas alcoólicas mais valorizadas
pelo povo cabo-verdiano.
Tal processo se dá a partir da cana moída pelo trapi-
txi, produzindo uma calda. Depois essa calda é transportada
para outro recipiente, que vai ser bem armazenado por uma
semana, até a sua fermentação. Tendo a calda bem prepa-
rada pelo processo anterior, esse material é levado para o
lambiki (Alambique) ou fornadja e vai ser produzida a bebida
num processo altamente químico.

ETNOCIÊNCIA: AS PERSPECTIVAS DA
SUSTENTABILIDADE

Sendo definida por Lévi-Strauss (1989) como “ciência


do concreto”, a Etnociência parte da linguística para estu-
dar os saberes das populações humanas sobre os processos
naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao conheci-
mento humano do mundo natural, as taxonomias e as classi-
ficações totalizadoras. A construção desse conhecimento é
para a explicação dos fenômenos da natureza, e, logicamen-
te, cada uma dessas leituras é feita de forma bem diferente.
Dentro dessa perspectiva, a Etnociência também pro-
põe a (re)descoberta da ciência de outros povos, referente
ao sistema de conhecimentos e cognições típicas da sua cul-
tura. No pensamento de Silva (2014), a observação científi-
ca envolve todos os sentidos, implicando na ampliação das
técnicas de trabalhos, demandando mais cuidado dos pes-
quisadores, para não limitar as suas visões a único sentido
de observação. Esse pensamento dialoga com a cosmovisão
Africana, que está diretamente ligada ao movimento Pan-a-
fricanismo9, que defende essas questões conceituais, valori-
9 É uma ideologia que propõe a união de todos os povos da África como forma
de potencializar a voz do continente no contexto internacional. Relativamen-

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS 353

zando os princípios morais do homem e da mulher preto/a,


o orgulho pela identidade e a sua reafirmação, rompendo
em parte com as leituras do mundo feitas pelos povos oci-
dentais.
Os povos Africanos, detentores dos seus saberes, são
considerados por alguns ocidentais como bruxos, feiticei-
ros, macumbeiros, ou seja, pessoas que praticam o mal, mas
a verdade é que esses povos são pesquisadores, detentores
das suas próprias metodologias de pesquisa, e tendo domí-
nio da natureza, conseguem manipular a mesma de acordo
com os seus interesses.
Voltados para a afrocentricidade, Martins, Braga, Lo-
pes e Granjeiro (2018), discutem as relações dos conceitos
matemáticos e físicos durante o processo de movimento do
trapitxi, propondo uma tecnologia sustentável, potencia-
lizando a máquina, fazendo com que a mesma tenha uma
maior capacidade de produção, respeitando os princípios
da sustentabilidade.
A lógica da sustentabilidade tem no seu plano de base
o consumo de energia pelos seres humanos. Todo e qual-
quer fenômeno que acontece na natureza precisa de energia
para acontecer. “Energia é um termo amplamente utilizado
na descrição e na explicação de fatos cotidianos, sendo um
tema de grande relevância para a sociedade moderna” (BU-
CUSSI, 2016, p.17), ou seja, energia é a capacidade de realizar
trabalho.
A relação do ser humano com a natureza é crucial para
analisarmos a modernidade e a ética da sustentabilidade, o
que pode entrar em relação tensa e conflitiva com algumas
te popular entre as elites africanas ao longo das lutas pela independência
da segunda metade do século XX, em parte responsável pelo surgimento da
Organização de Unidade Africana, o pan-africanismo tem sido mais defen-
dido fora de África, entre os descendentes dos escravos africanos que foram
levados para as Américas até ao século XIX e dos emigrantes mais recentes.

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


354 ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS

ideologias da globalização. “Desse modo, os projetos de de-


senvolvimento sustentável devem afirmar as identidades
nacionais, regionais, étnicas e religiosas presentes em cada
sociedade, ao mesmo tempo em que o princípio ‘sustentabi-
lidade’ não anula a dimensão nacional-estatal do processo
de desenvolvimento” (BRASIL, 2000, p. 14).

PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO DE


GROGU POR MEIO DO TRAPITXI

O processo de produção do grogu, por meio do Trapi-


txi é descrito por três fases. Cada uma dessas fases dialoga
com os princípios da sustentabilidade. A primeira fase, sen-
do o início do processo, é aquela em que a cana de açúcar
é triturada para obtenção da calda. Nessa fase é utilizado o
trapitxi como elemento central para obtenção do produto
desejado. O trapitxi é a força motriz desse primeiro proces-
so. De acordo com a primeira lei da termodinâmica, sabe-
mos que “a energia pode se transformar de uma forma para
outra, mas não pode ser criada ou destruída. As diversas for-
mas de energias podem ser enquadradas genericamente em
energia cinética e potencial” (BRAGA et. al., 2005, p. 7).
No entanto, sendo o animal (boi), fonte da energia para
fazer o trapitxi trabalhar e entrar em movimento, podemos
constatar o princípio da primeira lei da termodinâmica nes-
se processo (conservação da energia). A fonte principal da
nossa energia é obtida pelo sol. O raio solar ao penetrar na
terra é absorvido pelos vegetais fotossintéticos, que o trans-
forma em energia potencial e parte dessas energias é trans-
formada em nutriente das plantas. O boi ao comer a plan-
ta está ingerindo parte da energia proveniente do sol, que
sofreu transformação, e, que por sua vez, vai transformar
parte da energia proveniente da planta em força aplicada

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS 355

no trapitxi. Dessa forma, o princípio da sustentabilidade é


estabelecido nesse processo por respeitar a dinâmica natu-
ral da natureza. Sendo necessário ressaltar que para fazer a
transformação dessa energia não se gasta energia superior
ao que é obtido.
Pela conservação de massa, sabemos que, “em qual-
quer sistema, químico ou físico, nunca se cria e nem se eli-
mina matéria, apenas é possível transformá-la de uma ou-
tra forma. Portanto, não se pode criar algo do nada nem se
transforma algo em nada” (BRAGA et. al., 2005, p. 7). A cana
de açúcar sendo uma matéria, não pode ser destruída, ao ser
triturada pelo Trapitxi, vão sobrar os bagaços, resíduos des-
sa produção, mas eles não são descartados; são utilizados na
terceira fase da produção. Essa é uma das práticas da sus-
tentabilidade, reutilizar os resíduos.
Na segunda fase da produção do grogu, é armazena-
da a calda para o processo de fermentação. Esse é um pro-
cesso de obtenção de energia que ocorre sem a presença de
gás oxigênio, portanto, trata-se de uma via de produção de
energia anaeróbica. Ela ocorre no citosol e inicia-se com a
glicólise, quando ocorre a quebra de glicose em duas molé-
culas de piruvato. Percebe-se, portanto, que inicialmente
esse processo é semelhante à respiração celular.

A digestão anaeróbia é definida como a ativi-


dade de uma associação de microrganismos,
perante condições anaeróbias e controladas de
operação, tendo como objetivo a conversão bio-
lógica da matéria orgânica complexa em com-
postos químicos mais simples, principalmente
metano, o qual foi descoberto em 1776 pelo ita-
liano Alessandro Volta, através da observação
de bolhas que resultavam da decomposição de
restos vegetais presentes em áreas alagadas,
passando, em primeira instância, a ser denomi-

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


356 ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS

nado como “gás dos pântanos (BARICHELLO et.


al., 2015).

Em seguida, são adicionadas ao caldo substâncias nu-


tritivas que mantêm a vida do fermento. Como o grogu não
permite o uso de aditivos químicos, a água potável e a fari-
nha de milho são os ingredientes que se associam ao caldo
da cana para transformá-lo em vinho com graduação alco-
ólica, através da ação das leveduras (agentes fermentadores
naturais que estão no ar). A sala de fermentação precisa ser
arejada e com a temperatura ambiente em 25°.
A terceira fase é o processo de fazer ferver o líquido
dentro de um alambique de cobre, com uma temperatura
muito elevada, produzindo vapores que são condensados
por resfriamento e apresentam assim grande quantidade de
álcool etílico. O material utilizado para produzir o calor é o
bagaço de cana produzido na primeira fase. Essa reutiliza-
ção de bagaço dialoga plenamente com a primeira lei da ter-
modinâmica e com a lei da conservação de massa, bem como
com os princípios da sustentabilidade.
Contextualizando o que é o propósito da sustentabili-
dade, as práticas, os saberes e os conhecimentos dos povos
Africanos comungam da mesma satisfação com as práticas
sustentáveis, ao se relacionar com a natureza de uma for-
ma passiva. Dessa forma, Domingos (2011, p. 1), fala da visão
africana em relação à natureza, trazendo em suma, que “o
Africano-Banto preserva a sua existência com o ser Supre-
mo, Nzambi, (Deus), Bazimu (os espíritos), Banthu (os seres
humanos, homens), Pinhama, (os animais), os vegetais, os
minerais, etc., para o seu equilíbrio, e harmonia na Natureza
e no Universo”. Observamos, portanto, que o povo Africano
busca uma harmonização com a natureza nas mais variadas
dimensões, podendo incluir a força de trabalho e as próprias
metodologias de pesquisa.

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS 357

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática da produção do conhecimento dos povos


Africanos dialoga numa perspectiva positiva com relação à
sustentabilidade da natureza. Os saberes e as práticas dos
conhecimentos tradicionais, desenvolvidos pelos Africanos
estabelecem o equilíbrio pleno com a natureza, utilizando-a
como algo integrante da dependência da vida.
A produção de grogu em Cabo Verde por meio de Tra-
pitxi é um saber tradicional dos povos africanos que traduz
e reflete as práticas da sustentabilidade no seu processo de
produção, provando gradativamente que esses povos são
cientistas e produtores de conhecimento. O estudo revela
ainda que o processo de produção do grogu, por meio do
Trapitxi é descrito por três fases e cada uma delas dialoga
com os princípios da sustentabilidade.
As práticas fundamentadas pelo estudo da Etnociência
mostram que, na verdade, ciência tem dimensão maior e não
se limita somente ao formalismo ocidental. A ciência tem
caráter multidimensional, contemplado pela diversidade e
cultura de cada povo. A sustentabilidade oportuniza o cuida-
do em ver e compreender o ser humano, no seu todo, porque
os humanos são partes integrantes da natureza e precisam
ser considerados como agente participativo da relação com a
mesma, preservando a sua integridade para sua estabilidade
física e mental. O humano não vive somente pela respiração
e alguns fatores biológicos; também vive nas suas práticas de
produção, conhecimento, saberes, cultura e etc.

REFERÊNCIAS

BARICHELLO, Rodrigo; HOFFMANN, Ronaldo; SILVA, Su-


zane Orte Cardoso da; DEIMLING, Moacir Francisco; CASA-

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


358 ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS

ROTTO FILHO, Nelson. O uso de biodigestores em pequenas


e médias propriedades rurais com ênfase na agregação de
valor: um estudo de caso na região noroeste do Rio Gran-
de do Sul. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, Maringá
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estratégias de sobrevivência. 2007. Dissertação (Mestrado)
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DOMINGOS, Luis Tomás. A visão africana em relação à na-
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XX: um olhar histórico. 2006. 70 f. TCC (Graduação) – Cur-
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História e Filosofia, Instituto Superior de Educação, Praia,
2006.
GONÇALVES, Elisa Pereira. Iniciação à pesquisa científica.
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ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


ALEXANDRINO MOREIRA LOPES • JOÃO PHILIPE MACEDO BRAGA • ELCIMAR SIMÃO MARTINS • LUÍS TOMÁS DOMINGOS 359

MARTINS, Elcimar Simão; BRAGA, João Philipe Macedo;


LOPES, Alexandrino Moreira; GRANJEIRO, Michel Lopes.
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a partir de um Trapitxi de Cabo Verde. Educação Matemática
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LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Campinas:
Papirus, 1989.
SANTOS, Iolanda da Silva. Ribeira Grande: um lugar de me-
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Universidade Federal do Abc, Santo André, 2014.
SILVA, Magda Lima da. Metodologia, simples assim. Fortale-
za: LCR, 2014.
Data de Submissão:
Data de aprovação:
DOI:

ETNOCIÊNCIA: O CICLO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE GROGU PELO TRAPITXI DE CABO VERDE


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
360 EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

Feira Agroecológica da ACB no Crato:


visão dos consumidores
Joaquim Torres Filho1
Luizela Constancia Fernandes Rodrigues Cabral2
Lara Louise de Souza da Silva3
Emábile Sampaio de Carvalho4
Leidiane Marques Maciel5

RESUMO
As feiras agroecológicas constituem um ambiente em que se pratica ao
mesmo tempo a economia solidária e a sustentabilidade, contribuindo
deste modo para melhorar as condições de vida dos agricultores
familiares. Essas feiras necessitam de um acompanhamento que forneça
um feedback que possa contribuir com o processo de melhoria constante.
Desse modo, avaliou-se através do Núcleo de Estudos em Agroecologia e
Produção Orgânica do Maciço de Baturité – NEA (UNILAB/CNPq), a Feira
Agroecológica da Associação Cristã de Base – ACB, do município do Crato-
CE dentro do contexto da comercialização no sentido de verificar se os
anseios e necessidades dos consumidores são atendidos. De um modo
geral, notou-se a existência de uma relação de confiança íntima entre
produtores e consumidores, sendo que 93,75% mencionaram que visitam a
feira semanalmente e que apreciam os alimentos saudáveis. Os principais
produtos adquiridos na feira, são hortaliças tais como: rúcula, espinafre,
couve manteiga, tomate, pimentão, cheiro verde, abobrinha, jerimum,
salsinha, berinjela, alho poro, cenoura, acerola, coentro, batata doce e
frutas como maracujá, banana, manga e abacate. Quanto ao atendimento,
87,5% consideraram que é excelente, enquanto 12,5% consideraram
bom. A satisfação dos consumidores se dá pela qualidade dos produtos

1 Professor Associado II da Universidade da Integração Internacional da Lu-


sofonia Afro-Brasileira – UNILAB. E-mail: joaquim.torres@unilab.edu.br.
2 Graduanda do curso de Agronomia – UNILAB.

E-mail: luisacabral12@hotmail.com
3 Graduanda do curso de Agronomia – UNILAB.

E-mail: lara_louise@yahoo.com.br
4 Engenheira Agrônoma, ex-Bolsista de extensão do CNPq projeto NEA.

E-mail: emabile.carvalho@yahoo.com.br
5 Engenheira Agrônoma, ex-Bolsista de extensão do CNPq.Projeto NEA

E-mail: leidianemarques@hotmail.com

FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 361

vendidos, além do prazer em frequentar uma feira agroecológica pelo


fato de adquirirem produtos mais limpos, com ausência de aplicação de
agrotóxicos e comercializados pelos próprios agricultores.
Palavras–chave: Produção orgânica. Agricultura familiar. Alimentos.

INTRODUÇÃO

A procura por alimentos agroecológicos ou produ-


zidos de maneira orgânica, principalmente frutas e horta-
liças, tem apresentado uma demanda cada vez maior nos
últimos anos, situação que oferece inúmeras oportunidades
para os agricultores familiares que desejam empreender e
agregar valor à sua produção. A crescente competitividade
do mercado tem colocado as empresas em situações onde
estas têm que diferenciar seus produtos. As questões de
saúde e de preservação ecológica têm surtido impacto nas
decisões dos consumidores, mostrando oportunidades aos
produtores de alimentos orgânicos em expor seus produtos
a essa demanda (SILVA E CÂMARA, 2005).
Um grande problema que se observa na agricultura
familiar é que esta apesar de se mostrar viável, a exemplo
do que ocorre em muitos países avançados, faz-se neces-
sária a integração de políticas consistentes que garantam
a reprodução desse segmento, promovendo o desenvolvi-
mento, criando empregos e reduzindo a pobreza no campo
(TELLES et al, 2008). Uma necessidade que se faz para com
esse segmento é o incentivo à produção com a diminuição de
políticas paternalistas e que ofereçam oportunidades de ca-
pacitação contínua para uma atuação mais profissional, de
tal sorte a tornar o agricultor em um empreendedor rural
buscando a sustentabilidade do negócio rural.
Partindo desse princípio, iniciou-se então, a procura
por alternativas que viabilizassem estas famílias no campo,
tanto por parte do Estado como dos próprios agricultores

FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
362 EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

familiares, o que resultou no processo de industrialização,


agregando valor aos produtos sem repassá-los as grandes
agroindústrias, bem como a comercialização direta em lo-
cais apropriados. Cada vez mais informados e preparados
para comprar, os consumidores são exigentes e apresentam
diferentes formas de percepção da qualidade, o que se torna
um grande desafio para a gestão (SCHNEIDER, 2006).
A oportunidade de adquirir produtos diretamente do
produtor rural é uma satisfação dos consumidores, pois só
assim eles criam vínculo de troca de informações, agregan-
do valor ao produto comercializado. Para melhorar o resul-
tado da comercialização, o produtor rural deve eliminar o
maior número possível de intermediários. É justamente por
isso, que as feiras agroecológicas são locais onde se comer-
cializam os produtos sem intervenção de atravessadores
(TEDESCO et al, 1999).
Nas feiras agroecológicas se estabelece relaciona-
mento entre produtores e consumidores além de oferecer
alimentos saudáveis sem uso de insumos químicos, sem se
falar nas relações interpessoais entre consumidores e os fei-
rantes, fato este que permite uma troca de experiência. Dis-
so tudo resulta a conhecida economia solidária, citada por
Arruda (2003):

Economia solidária se trata de um sistema socio-


econômico aberto, fundado nos valores da coope-
ração, da partilha, da reciprocidade e da solida-
riedade, e organizado de forma autogestionária, a
partir das necessidades, desejos e aspirações da
pessoa, comunidade, sociedade e espécie, com o
fim de emancipar sua capacidade cognitiva e cria-
tiva e libertar seu tempo de trabalho das ativida-
des restritas à sobrevivência material, de modo a
tornar viável e sustentável seu desenvolvimento
propriamente humano, social e de espécie.

FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 363

A bem da verdade, apesar de Altieri (1999) ressaltar,


que para serem eficazes as estratégias de desenvolvimen-
to, deve-se incorporar não somente dimensões tecnológi-
cas, mas também questões sociais e econômicas, o que se
verifica em casos como feiras, mesmo diante de um desen-
volvimento a passos lentos se comparado a uma demanda
crescente por parte de consumidores. Acrescente-se a isso,
as questões de cunho ambiental que hoje se constituem em
exigência básica dos consumidores e que nem sempre con-
dizem com a realidade.
Desta forma, é imprescindível para os vendedores/
produtores em geral, conhecerem o perfil de seus compra-
dores, pois segundo Barros et al (2007), essas informações
serão úteis para que os agricultores possam traçar todas as
estratégias necessárias para atender a demanda, como por
exemplo, planejar sua área de cultivo, decidir sobre os inves-
timentos e as tecnologias a serem aplicadas. A partir dessas
informações os agricultores podem adequar sua produção
as variações sazonais e com isso evitar possíveis prejuízos.
Diante do exposto, a presente pesquisa teve como ob-
jetivo avaliar a Feira Agroecológica da Associação Cristã de
Base – ACB do município do Crato-CE, dentro de um contex-
to de comercialização no sentido de verificar se os anseios
e necessidades dos consumidores são atendidos dentro dos
princípios que regem a economia solidária.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada na Feira Agroecológica da ACB


no dia 28 de dezembro de 2018, no município de Crato – CE,
situado na região metropolitana do cariri cearense, no sul do
Estado do Ceará, a 547 km da capital Fortaleza. Essa pesqui-
sa foi parte integrante do cronograma de ações e objetivos

FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
364 EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

do projeto de manutenção do Núcleo de Estudos em Agroe-


cologia e Produção Orgânica do Maciço de Baturité – NEA. A
metodologia adotada constou da aplicação de questionários
semiestruturados com perguntas claras e objetivas, visando
obter dados em relação a comercialização, a organização dos
feirantes, ao quesito de satisfação com a estrutura física do
local, dentre outros pontos. As perguntas foram feitas dire-
tamente aos consumidores que se encontravam presentes
na feira, no período das 6 às 8 horas. A feira conta com a par-
ticipação de dez produtores, sendo que no horário estabele-
cido e de forma aleatória, 16 consumidores foram entrevis-
tados. As respostas foram tabuladas e a análise dos dados foi
efetuada através de análise descritiva, de acordo com as por-
centagens referentes às perguntas formuladas e ao número
de entrevistados durante a realização da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Feira Agroecológica da Associação Cristã de Base


(ACB) no município de Crato-CE, conta com a participação
de agricultores familiares das comunidades do próprio
município, como também de alguns outros municípios do
cariri cearense, tais como: Caririaçu e Santana do Cariri.
Todos os produtos comercializados são produzidos dentro
do sistema agroecológico, segundo informações repassadas
pelos feirantes. Estes são cadastrados na ACB, a qual faz o
acompanhamento na comunidade para a garantia da não
utilização de agroquímicos como também para prestação de
assistência técnica quando necessária.
De acordo com a pesquisa aplicada na feira, obteve-se
os seguintes resultados: os benefícios da feira são notados,
principalmente quando os consumidores chegam mais cedo
do que os agricultores que comercializam, demonstrando
total interesse pelos produtos disponíveis e um certo anseio

FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 365

pela quantidade ofertada, bem como também, pela assidui-


dade verificada semanalmente, atraindo um público voltado
para a alimentação saudável.
Tratando-se de um tipo de feira específico, é muito
importante avaliar a frequência das pessoas que vão adqui-
rir os alimentos, pois normalmente possuem algum tipo de
interesse em comprar alimentos mais saudáveis. No intuito
de saber a frequência dos consumidores na feira, se era se-
manal ou quinzenal, 93,75% mencionaram a primeira opção,
enquanto 6,25% o mencionaram frequentar quinzenalmen-
te. Tal fato demonstra a existência de uma assiduidade con-
siderável pela maior parte dos consumidores, podendo-se
inferir que os produtos ofertados são de qualidade e de total
interesse destes.
Sobre as razões de aquisição de alimentos vendidos na
feira, 93,75% dos consumidores mencionaram que o motivo
principal é por serem alimentos mais saudáveis, enquanto
6,25% responderam, porque não tem agrotóxico. É notável
que os consumidores hoje em dia estão muito preocupados
com a saúde e o bem-estar da família, e por esta e outras ra-
zões buscam alimentos mais saudáveis, porém, ficou claro
que a menção a não utilização de agrotóxicos é de ordem me-
ramente de confiabilidade na relação produtor/comerciante
com o consumidor.
Quando indagados sobre os principais produtos ad-
quiridos na feira, mencionaram: hortaliças tais como: rú-
cula, espinafre, couve manteiga, tomate, pimentão, cheiro
verde, abobrinha, jerimum, salsinha, berinjela, alho poro,
cenoura, acerola, coentro, batata doce e frutas como mara-
cujá, banana, manga e abacate.
Com relação aos produtos que gostariam de comprar e
que não encontravam na feira, a maioria dos consumidores
entrevistados ofereceu as mesmas justificativas, dizendo

FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
366 EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

que não teria essa possibilidade, porque tudo que eles vão
a procura eles encontram e quando não, é porque não está
ofertado ou porque muitos chegam um pouco tarde e o pro-
duto não mais está disponível, isto, porque as quantidades
oferecidas se encontram aquém da demanda. Justificam
ainda que por questões climáticas entendem que há épocas
que existe pouca oferta de alguns produtos, porém, sempre
tem o que eles consideram o básico na alimentação e que co-
mumente adquirem na feira.
Quanto a confiabilidade sobre origem e produção dos
alimentos, todos, de forma unânime mencionaram ter con-
fiança absoluta. Com isso alguns dos consumidores afirmam
que têm essa segurança porque os agricultores que comer-
cializam na feira são pessoas conhecidas na comunidade e
acompanham os seus processos de produção. Destacando-
-se como um grande ponto positivo, a realização de feiras em
cidades pequenas, pois geralmente grande parte da popula-
ção se conhece e assim facilita a confiabilidade na relação
consumidor x produtor.
Com relação a preferência das compras, 93,75% men-
cionaram que optam por hortaliças, enquanto 6,25% tinham
como opção principal as frutas. Sobre a qualidade de frutas
e hortaliças comercializadas na feira, 62,5% dos consumido-
res disseram que é boa, enquanto 37,5% responderam que
os produtos são excelentes em todos os sentidos, principal-
mente quanto à qualidade. Quando eles comparam os pro-
dutos comercializados nas feiras convencionais ou adquiri-
dos nos supermercados, acreditam que os comercializados
na feira da ACB, são considerados de melhor qualidade, fato
este que demonstra um efeito das relações interpessoais
existentes entre feirantes e clientes.
Quanto ao atendimento, 87,5% consideraram que é ex-
celente, enquanto 12,5% consideraram bom. Verifica-se que
durante o processo de aquisição de alimentos, sempre existe

FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 367

uma conversa em torno do que é comercializado e sobre a


oferta de um modo geral, demonstrando a existência de in-
timidade entre agricultores que comercializam seus produ-
tos e os consumidores frequentadores da feira. Quanto aos
preços praticados, 50% mencionaram que são bem mais ca-
ros do que na feira comum, enquanto 43,75% mencionaram
que são iguais e somente 6,5% mencionaram que são mais
em conta. Neste quesito, se verifica um modo de olhar dife-
renciado que possivelmente pode ter ligação com o poder
aquisitivo do cliente. Com relação a recomendar a feira para
outras pessoas, todos mencionaram que recomendariam
para seus amigos e os demais interessados, muito embora a
oferta de produtos ainda se encontre abaixo de uma possível
demanda com um fluxo maior de pessoas.
O que se observa na pesquisa é que existe também uma
certa comodidade do consumidor em desejar tudo que tem
na feira, lamentando o que falta, diferentemente de uma fei-
ra convencional, pois a oferta de alimentos é bem inferior
quando comparada com estas, principalmente no horário
de realização da pesquisa, pois o maior volume comerciali-
zado ocorre entre 5 e 6 horas da manhã.

CONCLUSÃO

Ficou claro ao se aplicar a pesquisa, a satisfação dos


consumidores que além de comprarem os produtos ali ven-
didos, tem prazer em frequentar uma feira agroecológica
pelo fato de adquirirem produtos mais limpos, com ausên-
cia de aplicação de agrotóxicos e comercializados pelos pró-
prios agricultores.
Notou-se que a feira tem um público fiel e que frequenta
religiosamente quase todas as sextas-feiras, porém, como pon-
to fraco, observa-se a pouca oferta de produtos, fato este que se
constitui um fator limitante para o aumento da frequência e

FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • LUIZELA CONSTANCIA FERNANDES RODRIGUES CABRAL • LARA LOUISE DE SOUZA DA SILVA
368 EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

além do mais, com base em informações obtidas, outras novas


feiras surgiram a partir desta, que atendem outros bairros.

AGRADECIMENTOS

Autores agradecem ao CNPq pelo financiamento do


projeto NEA UNILAB.

REFERÊNCIAS

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agricultura alternativa. Rio de Janeiro: PTA; Fase, 1999.
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FEIRA AGROECOLÓGICA DA ACB NO CRATO: VISÃO DOS CONSUMIDORES


JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 369

Manejo agroecológico de
fitomoléstias e produção de alimentos
mais limpos
Joaquim Torres Filho1
Emábile Sampaio de Carvalho2
Leidiane Marques Maciel3

RESUMO
Um dos grandes desafios da agricultura familiar, diz respeito ao fato de
produzir sem o uso de produtos químicos. A demanda dos consumidores
cresce a cada dia no sentido de ter alimentos mais saudáveis e livres de
agroquímicos. Produzir em um sistema agroecológico ou até mesmo
orgânico, pautando pelo princípio da policultura é a saída mais viável.
Com o manejo solo, água, planta e ambiente sendo conduzido de modo
correto, é possível sim a aplicação de uma série de medidas em caráter
preventivo, cujo objetivo maior será conviver com as doenças que
ocorrerem abaixo do nível de dano econômico e desse modo oferecer
alimentos mais limpos. Um planejamento de um cultivo nesse sentido
vai exigir a necessidade de se utilizar práticas como adubação orgânica,
resistência genética, adubação verde, cobertura morta, manejo do solo e
da irrigação, época de plantio entre outras técnicas que irão proporcionar
um desenvolvimento harmônico, de baixo custo e contribuir para um
cultivo mais sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental.
Palavras-chave: Agroecologia. Produção orgânica. Doenças de plantas.

INTRODUÇÃO

A agricultura convencional apresenta algumas carac-


terísticas que podem gerar resultados nem sempre benéfi-

1 Professor Associado II da Universidade da Integração Internacional da Lu-


sofonia Afro-Brasileira – UNILAB. E-mail: joaquim.torres@unilab.edu.br
2 Engenheira Agrônoma, ex-Bolsista de extensão do CNPq.
E-mail: emabile.carvalho@yahoo.com.br
3 Engenheira Agrônoma, ex-Bolsista de extensão do CNPq.
E-mail: leidianemarques@hotmail.com

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


370 JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

cos ao meio ambiente, tais como: ocorrência do desequilí-


brio ecológico, utilização de agroquímicos para combate a
doenças e pragas, desequilíbrio do metabolismo de plantas
e animais, utilização de sistemas de plantio baseado na mo-
nocultura em larga escala, além de gerar a reprodução exa-
gerada de insetos, fungos, ácaros e bactérias, que acabam se
tornando “pragas e doenças” das lavouras e das criações de
animais.
A crescente subordinação do processo de produção
agrícola à economia de mercado determina a constituição
de uma situação paradoxal, onde a incorporação tecnológi-
ca, por um lado possibilita o aumento e a diversificação da
produção e, por outro, está associada ao surgimento de no-
vas injúrias à saúde e à segurança daqueles que utilizam tais
tecnologias (PERES et al, 2005). Produzir muito, com utiliza-
ção de insumos químicos em massa e avançar cada vez mais
nas fronteiras agrícolas.
Com isso, a agricultura se tornou refém da utilização
de produtos químicos que prometem diminuir as perdas na
produção, porém, os resultados se mostram cada vez piores
na relação produtividade x custos de produção, deixando os
agricultores cada dia mais preocupados, com margens de lu-
cro cada vez menores, somente a produção em grande esca-
la é capaz de proporcionar ganhos satisfatórios (LONDRES,
2011).
O modelo de agricultura surgido após a segunda Guer-
ra Mundial, baseado na proposta de mecanização para o
preparo do solo, estabelecimento de monoculturas, apoia-
do em adubações químicas e amparado pela administração
abusiva de venenos para eliminação das pragas e doenças, já
mostra resultados desastrosos: solos erodidos, desmatados,
salinizados, inférteis e compactados, rios poluídos e sem
vida e sérias alterações climáticas. No tocante à agricultura,

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 371

este quadro converge para o aumento da incidência de pra-


gas e doenças, além da promoção de doenças mais resisten-
tes (DIAS, 2003).
De acordo com Coleman e Hendrix (1988), a manipu-
lação do agroecossistema tende a dissociar os componentes
das interações e os processos aí ocorrentes. Essas dissocia-
ções aumentam a dependência deste sistema aos fatores de
regulação externa, como os fertilizantes e os pesticidas, uma
vez que o processo de sucessão é constantemente interrom-
pido. Deste modo, as pragas, as deficiências nutricionais ou
outros fatores só se tornam limitantes em uma produção
quando o sistema agrícola não está em equilíbrio, ou seja,
quando não há sinergia entre os componentes do agroecos-
sistema (CARROL et al., 1990). Isto é o que se comumente ob-
serva nos cultivos de grandes culturas que avançam a cada
dia por áreas até então nunca utilizadas e abandonando
aquelas já degradadas pela exaustão dos monocultivos anos
a fio.
É importante destacar que a dependência do agro-
ecossistema a utilização de agrotóxicos gera impactos não
somente para os seus processos e interações, mas também
contribui para a grande vulnerabilidade dos produtores e
consumidores em geral, no que tange a exposição a esses
agentes, seja utilizando-os diretamente na produção, como
é o caso dos agricultores, ou consumindo os produtos oriun-
dos desse tipo de tratamento. Segundo Rigotto et al (2013)
os resultados de pesquisas realizadas em municípios com
expansão das atividades de agronegócio e uso intensivo de
agrotóxicos, apresentaram incremento anual para as inter-
nações e óbitos por neoplasia e óbitos fetais maiores quan-
do comparados aqueles que praticam predominantemente
a agricultura familiar. Desta forma, o grande desafio deste
século é propiciar o desenvolvimento e estímulo de tecnolo-

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


372 JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

gias sustentáveis na produção agrícola, tanto para garantir


a preservação dos recursos naturais, quanto para oferecer
alimentos limpos para os consumidores e assim contribuir
para a qualidade de vida da população.

AGROECOLOGIA

A agroecologia vem de modo gradual dando passos


rumo a se estabelecer como uma alternativa em substitui-
ção a sistemas agrícolas convencionais que utilizam muitos
insumos e causam danos ao ecossistema como um todo. Tal
modelo vem como um enfoque científico emergente se va-
lendo de uma série de técnicas e metodologias que visam au-
xiliar a promoção de um desenvolvimento rural sustentável.
Tais técnicas resultam basicamente de um resgate dentro de
sistemas que outrora existentes, possuíam traços de pers-
pectiva ecológica, mas com uma visão de maior praticidade
no uso da terra, procurando respeitar o ambiente em uma
produção no modelo sustentável.
O alvo prioritário desse resgate é o saber do agricultor,
conhecimento acumulado a partir do processo co-evolutivo
deste com o ambiente, invertendo dessa forma, a lógica difu-
sionista da Revolução Verde. Contudo, não se quer dizer que
se promoverá um retorno a condições ultrapassadas na agri-
cultura, ao contrário, o complexo processo de transição não
dispensa o progresso técnico e o avanço científico, exigin-
do responsabilidade na escolha das tecnologias adequadas
para cada situação (CAPORAL et al, 2004). Não se trata de
trabalhar a antiga agricultura de subsistência, mas sim um
tratamento adequado do ponto de vista social, econômico e
ambiental, o que propiciará melhores condições na busca de
um cultivo em harmonia com a natureza e que produza ali-
mentos mais limpos.

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 373

A Agroecologia resgata os conhecimentos tradicionais


desprezados pela agricultura industrial e, ao contrário do
que muitos dos seus críticos colocam, ao invés de represen-
tar uma volta ao passado, procura utilizar o que há de mais
avançado em termos de ciência e tecnologia para criar agro-
ecossistemas sustentáveis e de alta produtividade, que apre-
sentem características mais semelhantes possíveis às dos
ecossistemas naturais (GLIESMAN, 2000).
O conceito de Agroecologia quer sistematizar todos os
esforços em produzir uma proposta de agricultura abran-
gente, que seja socialmente justa, economicamente viável e
ecologicamente sustentável; um modelo que seja o embrião
de um novo jeito de relacionamento com a natureza, onde
se protege a vida toda e toda a vida, de modo que se possa
produzir sem causar danos ao homem e ao meio ambiente.
Chaboussou (1987) alertava que o intervencionismo
químico na proteção de plantas incorporava efeito iatrogê-
nico, ou seja, é na verdade não protetor e sim causa dos sur-
tos epidêmicos de doenças e pragas. É o que se diria de plan-
tas que adoecem pelo excesso de aplicação de pesticidas,
pois cria uma enorme pressão de seleção sobre o ambiente
e sobre os cultivos. Parece que a Agroecologia demanda por
uma medicina das plantas que dê conta de um sistema de
saúde integrativo na propriedade rural, considerando, no
mínimo, as relações solo-planta-agroecossistema de modo a
potencializar os pressupostos de cooperação, complemen-
tariedade, transdisciplinaridade e o saber cuidar com futu-
ras gerações, a partir de ações no presente (BOFF, 1999).

DOENÇAS DE PLANTAS

Os métodos agroecológicos buscam trabalhar o prin-


cípio da prevenção, fortalecendo o solo e as plantas na busca

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


374 JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

da manutenção do equilíbrio ecológico em todo o ambien-


te. Desse modo, deve-se considerar a propriedade como um
organismo repleto de interações dinâmicas e em constantes
mudanças. Quando ocorre o desequilíbrio dessas intera-
ções dinâmicas entre os componentes bióticos e abióticos
de um agroecossistema, surgem problemas como a redução
da diversidade genética de vegetais e animais, a diminuição
da biodiversidade, aparecimento de novas pragas devido à
eliminação de inimigos naturais e antagonistas e o apareci-
mento de fitomoléstias.
O entendimento do verdadeiro conceito de fitomolés-
tias requer uma visão holística dos fitopatologistas, de ma-
neira que algumas dificuldades que porventura existam, en-
tre elas, como estabelecer os limites entre o que é normal ou
sadio e o que é anormal ou doente e relação de causa e efeito
quando do surgimento de fitomoléstias, sejam devidamen-
te esclarecidas. Outro ponto que também merece atenção é
como distinguir o que é doença do que é praga, ou deficiên-
cia nutricional, ou até mesmo a ocorrência da fitomoléstia
como consequência de uma “fome” nutricional ou de outros
fatores que afetam negativamente o desenvolvimento das
plantas.

Conceito de fitomoléstias

Um dos conceitos que trabalha a visão holística é o de


Agrios (1997):

Doença é o mau funcionamento de células e te-


cidos do hospedeiro que resulta da sua contínua
irritação por um agente patogênico ou fator am-
biental e que conduz ao desenvolvimento de sin-
tomas. Doença é uma condição envolvendo mu-
danças anormais na forma, fisiologia, integridade

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 375

ou comportamento da planta. Tais mudanças po-


dem resultar em dano parcial ou morte da planta
ou de suas partes.

Neste conceito, a visão do todo oferecida por Agrios é


de um valor enorme e serve como um aviso para estancar o
imediatismo no diagnóstico tão comum na relação agricul-
tor-técnico. Sendo primariamente indispensável entender
todos os fatores que contribuíram para a ocorrência das fi-
tomoléstias, ou seja, praticar a visão do todo, tendo sempre
em mente que a ocorrência da infecção sempre se relaciona
com a presença de um hospedeiro suscetível, um patógeno
agressivo e um ambiente que forneça condições favoráveis.
Esses três fatores podem ser influenciados pela ação do ho-
mem, de insetos vetores e por outros meios de predisposi-
ção. Cabe chamar atenção para o fato de que algumas vezes
as fitomoléstias ocorrem mais em detrimento de um ma-
nejo inadequado de solo, água e planta, do que pela própria
agressividade do patógeno.
Vários são os danos ocasionados pelos fitopatógenos às
lavouras cultivadas pelos produtores rurais. No contexto da
produção de alimentos, uma proteção vegetal mais eficiente,
que inclui o controle de fitomoléstias, pode constituir uma
grande contribuição para a minimização de perdas e preju-
ízos, sendo eles diretos ou indiretos, na produção agrícola.
As fitomoléstias reduzem a quantidade e a qualidade
dos produtos vegetais levando a grandes perdas econômi-
cas, podendo limitar os tipos ou variedades de plantas que
são capazes de se desenvolver em determinada área geográ-
fica, além de elevar os custos no tocante ao controle com a
utilização de agrotóxicos.
Atualmente, pesquisas são desenvolvidas para erradi-
car tais problemas fazendo uso de produtos sintéticos como

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


376 JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

pesticidas, fungicidas, acaricidas etc., quando na verdade,


agem somente sobre o efeito, permanecendo ainda a real
causa dos desequilíbrios e da suscetibilidade dos vegetais,
de tal sorte que mais cedo ou mais tarde os problemas res-
surgirão.
Diante disso, o segredo da minimização de tais pro-
blemas ocasionados por fitomoléstias, está justamente em
trabalhar com o objetivo de se antecipar aos fatos e prevenir
a ocorrência combatendo a causa e não o efeito. Procuran-
do dar a planta um manejo adequado de solo, água, planta
e ambiente, de tal sorte, que consiga produzir mesmo con-
vivendo com a ação dos patógenos, mas dentro do conceito
de que as fitomoléstias situem-se abaixo do limiar do dano
econômico.

Prevenção de fitomoléstias

No que diz respeito à ocorrência de fitomoléstias, o


grande instrumento de um sistema de manejo agroecoló-
gico é a prevenção. Prevenir significa entender a unidade
produtora como um ente vivo que se encontra em equilí-
brio natural. Alguns métodos preventivos para o controle de
agentes patogênicos consistem em:

Época de plantio
Realização do plantio em épocas corretas e com va-
riedades adaptadas ao clima e ao solo da região. Medida que
oferece bons resultados ao agricultor.

Uso de adubação orgânica


A adubação orgânica, além de contribuir para o pro-
cesso nutricional da planta, estimula os micro-organismos
antagônicos de muitos fitopatógenos sendo, portanto, uma

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 377

medida salutar que não deve faltar nunca em um cultivo que


pretenda ter um diferencial para oferecer produtos mais
limpos ao consumidor.

Rotação cultural
Possui alta eficácia no bom manejo do solo e que se en-
quadra em uma medida de controle cultural quando se trata
de um manejo agroecológico de fitomoléstias, com excelen-
te reflexo sobre o estado fitossanitário da cultura.

Adubação verde
Uma das práticas pontuais para transição de sistemas
de plantio convencional para o sistema agroecológico e/ou
orgânico. Revigora o solo em sua composição e estimula o
retorno do equilíbrio biológico favorecendo o desenvolvi-
mento de micro-organismos antagonistas aos fitopatógenos.

Cobertura morta
A prática da utilização de restolhos de capim, prin-
cipalmente, é uma das medidas que protege o solo contra
erosão, além de proporcionar uma maior economia de água
utilizada na irrigação.

Resistência varietal
Utilização de variedades resistentes é uma medida de
alta eficácia, tanto do ponto de vista ambiental, como de eco-
nomicidade, pois a tendência é enfrentar o possível agente
patogênico sem utilização de produtos químicos.

Consórcio
Os monocultivos por si só são um alvo fácil para a
grande maioria dos agentes patogênicos e a diversificação de
cultivos, e em particular o consórcio é sempre uma medida

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


378 JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

salutar para promover um ambiente diversificado e propí-


cio ao equilíbrio biológico.

Evitar erosão do solo


A degradação ambiental na sua grande maioria afeta
diretamente o solo, sendo este essencial para os cultivos
agrícolas, por isso as práticas direcionadas ao bom manejo
do solo são sempre bem-vindas.

Manejo adequado de irrigação


Muitas fitomoléstias ocorrem em condições de exces-
so de irrigação ou da utilização de um sistema inadequado
para irrigar as plantas. Uso racional da água e utilização de
métodos de irrigação adequados aos cultivos tornam-se ne-
cessários para manter a sanidade do plantio. No cultivo de
urucum com irrigação localizada e incidência de oídio, po-
de-se substituir o método de irrigação localizada por asper-
são. Deste modo, eleva-se a umidade relativa do ar e contro-
la-se o fungo.

Uso de plantas que atuem como “barreiras vivas” ou como


“faixas protetoras
Uma medida salutar contra insetos vetores de vírus
e que também protege da ação dos ventos sendo sempre de
grande utilidade. Tome-se como exemplo o plantio com qua-
renta dias de antecedência, de faixas com milho para prote-
ger um cultivo de tomateiro da incidência de geminiviroses
transmitidas pela mosca branca.

Nutrição equilibrada
Pode-se resumir no sentido de tratar a planta e não
a doença. Fornecer todos os nutrientes para o bom desen-
volvimento do cultivo é também fortalecer a planta contra

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 379

o ataque de fitopatógenos. Na cultura do maracujazeiro na


serra da Ibiapaba, a utilização da adubação orgânica com
complementação de adubação foliar com manipueira, con-
fere uma boa resistência do maracujazeiro às doenças folia-
res e melhora substancialmente a produção e produtividade
da cultura.

Conservação de espécies florestais existentes na região


Aqui cabe o conceito de cultivo em sistema agroflo-
restal, permitindo o cultivo de hortaliças e fruteiras com
espécies florestais típicas do agroecossistema da região. Em
Nova Olinda, na região do Cariri cearense, existe uma pro-
priedade que apresenta esta característica e o agricultor
consegue uma boa produção em harmonia com espécies flo-
restais da região.

Todos estes métodos contribuem para a garantia de


um bom desenvolvimento dos vegetais que se deseja cultivar.
Por isso, utiliza-se o termo “tratar a planta e não a doença”.
Objetiva-se, desse modo, subsidiar formas que contribuam
para a sanidade das plantas, tornando-as mais resistentes
e deixando-as menos sujeitas ao ataque de pragas e doen-
ças. Contudo, tais metodologias deverão ser empregadas de
acordo com cada tipo de agroecossistema, respeitando as
particularidades existentes em cada um. Deve-se levar em
consideração também a importância da identificação do
patógeno ou da causa, pois algumas técnicas acima citadas
poderão servir como fonte de inóculo, disseminando o pro-
blema para todo o cultivo.
Garantindo que o processo de produção agrícola ocor-
ra de forma sustentável, os alimentos obtidos deverão ser
sadios de modo que cheguem à população livres de contami-
nação. Contudo, cada vez mais, os sistemas agroalimentares

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


380 JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL

estão sob o poder de grandes empresas que os veem como


mera geração de lucro e oportunidade de negócio.
Deste modo, a Agroecologia desenvolve estratégias
que buscam o desenvolvimento do meio rural, possibilitan-
do uma maior produção e priorizando a segurança alimen-
tar. Entretanto, para a obtenção de um desenvolvimento ru-
ral mais sustentável, serão necessários mais investimentos,
políticas públicas e estratégias que, mesmo sendo a curto,
médio e longo prazo, possam estimular a produção, a distri-
buição e o consumo de alimentos livres de insumos quími-
cos, de forma que alimente toda a população e que não cau-
sem danos à saúde das pessoas.
Várias pesquisas realizadas em diversas instituições
e até mesmo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), evidenciam a presença de resíduos agrotóxicos,
de produtos permitidos e não permitidos, nos alimentos.
Levando esse fato em consideração, torna-se visível a neces-
sidade da adoção de medidas para reverter essa situação, in-
centivando a transição de sistemas agrícolas convencionais
para agriculturas mais sustentáveis, capazes de produzir
alimentos sadios e gerar lucro, sem que haja a degradação
ambiental.
A comunicação é um fator imprescindível neste pro-
cesso de transição, pois atua como forma de persuasão em
que se tenta convencer determinado público alvo a praticar
atividades e/ou consumir produtos. É uma ferramenta que,
sem dúvidas, contribui para a disseminação de informações
acerca da Agroecologia, dos benefícios à saúde proporcio-
nados pelo consumo de produtos isentos de agrotóxicos,
da utilização de práticas menos danosas ao meio ambien-
te, bem como na formação da opinião pública. Na Unilab, o
Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica do
Maciço de Baturité, parceria com CNPq, MEC, MCTI e MDA,

MANEJO AGROECOLÓGICO DE FITOMOLÉSTIAS E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS MAIS LIMPOS


JOAQUIM TORRES FILHO • EMÁBILE SAMPAIO DE CARVALHO • LEIDIANE MARQUES MACIEL 381

trabalha com essa missão nos processos de transição agroe-


cológica e orgânica.

CONCLUSÃO

Respeitar o ambiente trabalhando práticas conserva-


cionistas e métodos culturais concernentes ao manejo solo
x água x planta, constitui o ponto chave para produção de
alimentos mais limpos.
Uso de princípios de controle baseado na exclusão e
erradicação de patógenos, adoção de adubação verde, poli-
cultivo e defensivos naturais, proporcionará condições para
um ambiente mais equilibrado e produção de alimentos li-
vres de agroquímicos, o que acarretará, consequentemente,
o manejo sustentável dos recursos naturais e aumento na
qualidade de vida da população.

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JOSÉ ERICK DA SILVA SOUZA • THALES GUIMARÃES ROCHA • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS
MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA 383

Estratégias de imobilização de lipase


do tipo B de Candida Antarctica em
nanopartículas magnéticas ativadas
com glutaraldído
José Erick da Silva Souza1
Thales Guimarães Rocha2
Ana Kátia de Sousa Braz3
José Cleiton Sousa dos Santos 4
Maria Cristiane Martins de Souza5

INTRODUÇÃO

Em processos industriais faz-se necessário o contínuo


aperfeiçoamento e, por consequência, contínua otimização
de metodologias empregadas à finalidade de conseguir pro-
dutos de alto valor comercial sem que tais técnicas sejam
danosas ao ambiente e que resultem, finalmente, em um
rendimento considerável. Para tal, é comum o uso de cata-
lizadores químicos como intermediadores de reações e pro-
cessos industriais. Contudo, o uso desses catalizadores gera
resíduos e coprodutos indesejáveis às reações nas quais eles
são empregados e que, na sua maioria, agridem o ambiente.
1 José Erick da Silva Souza – Graduando em Engenharia de Energias – Insti-
tuto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável – IEDS – UNILAB.
2 Thales Rocha Guimarães – Graduando em Engenharia de Energias – Insti-
tuto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável – IEDS – UNILAB.
3 Ana Kátia de Sousa Braz – Doutoranda em Engenharia Civil – Instituto de
Engenharias e Desenvolvimento Sustentável – IEDS – UNILAB.
4 Maria Cristiane Martins de Souza – Doutora em Engenharia Química – Ins-
tituto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável – IEDS – UNILAB.
5 José Cleiton Sousa dos Santos – Doutor em Engenharia Química – Instituto
de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável – IEDS – UNILAB.

ESTRATÉGIAS DE IMOBILIZAÇÃO DE LIPASE DO TIPO B DE CANDIDA ANTARCTICA EM NANOPARTÍCULAS MAGNÉTICAS


ATIVADAS COM GLUTARALDÍDO
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384 MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA

Para isso, pesquisas estão sendo feitas na tentativa de en-


contrar catalizadores biológicos equiparáveis aos químicos
em termos de rendimento, mas que não agridam o ambiente
e, quando usados, não gerem coprodutos indesejáveis (DOS
SANTOS et al., 2018). Como alternativa, destacam-se as enzi-
mas e, em especial, as lipases.
As lipases são uma classe de enzimas ímpar em rela-
ção a sua aplicabilidade industrial. Tais biocatalizadores
destacam-se devido à sua capacidade de se encaixarem em
uma vasta gama de reações orgânicas com baixo teor de
água (aminólise, esterificação, interesterificação, lactoniza-
ção) (RIOS et al., 2019), à sua constância catalítica nesses am-
bientes e a possibilidade de reuso desses biocatalizadores
em circunstâncias brandas de reação. No que tange a essa
classe de enzimas, a lipase do tipo B de Candida antartica
(CALB) merece relevância devido a sua compatibilidade com
substratos distintos (DOS SANTOS et al., 2018), a sua alta ati-
vidade catalítica em condições favoráveis de temperatura e
pH, a sua resistência a solventes orgânicos (como hexano) e
tem alta enatioseletividade; o que a torna atraente para as
indústrias farmacêutica e cosmética (DENG et al., 2011).
Contudo, por se tratar de uma proteína, a CALB pode
apresentar instabilidades que dificultam sua recuperação e
seu reuso. Para contornar esse impasse, faz-se uso de téc-
nicas de imobilização da enzima em suportes sólidos. Esses
mecanismos, melhoram a estabilidade da enzima, impede
a sua desnaturação e possibilitam a sua reutilização em di-
ferentes processos, reduzindo assim custos. Dentre as téc-
nicas de imobilização, destaca-se o uso de nanopartículas
magnéticas (DUGUET et al., 2006).
Em virtude disto, este trabalho tem por objetivo ana-
lisar e comparar estratégias de imobilização enzimática e
testá-las na cinética da reação de síntese de oleato de etila.

ESTRATÉGIAS DE IMOBILIZAÇÃO DE LIPASE DO TIPO B DE CANDIDA ANTARCTICA EM NANOPARTÍCULAS MAGNÉTICAS


ATIVADAS COM GLUTARALDÍDO
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MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA 385

Fazendo, ainda, considerações sobre as concentrações de


ativador das nanopartículas, sobre a faixa de pH que pos-
sibilita um rendimento mais satisfatório para com a enzi-
ma imobilizada e sobre a catálise física proporcionada pelo
banho ultrassônico; reator no qual as reações foram per-
formadas. Tendo em vista que o éster do álcool etílico com
ácido oleico é demandado por indústrias farmacêuticas, de
plastificantes e lubrificantes, cosmética e biocombustíveis,
faz-se necessária a otimização de sua síntese em termos de
produto formado com um bom rendimento sem a formação
de subprodutos indesejáveis.

MATERIAIS

Reagentes

Nanopartículas magnéticas de ferro (NPM) (Fe3O4) fo-


ram produzidas pelo método de co-precipitação. Lipase do
tipo B de Candida antarctica (CALB) foi adquirida da Novozy-
mes, Espanha. A CALB imobilizada em resina acrílica (Novo-
zym® 435), polietilenoimina (PEI), solução de glutaraldeído
grau II 25% (m/v) foram obtidos da Sigma-Aldrich (St. Louis,
USA), solução de glutaraldeído grau II 0,6% (m/v) foi prepa-
rada em laboratório. Os demais reagentes de grau analítico
foram obtidos da Synth (São Paulo,Brasil) e Vetec (São Paulo,
Brasil).

Ultrassom

O equipamento utilizado em todos os experimentos


foi um banho ultrassônico (Unique Inc., modelo USC 2800A,
Brasil). O equipamento apresenta o volume de capacidade
de 9,5 L com as seguintes dimensões: 300 × 240 × 150 mm

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386 MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA

(comprimento × largura × altura). Dois transdutores de dis-


co foram colocados no fundo do reator. A frequência ultras-
sônica foi de 40 kHz e a potência ultrassônica total de 220 W.
Além disso, o equipamento possui controle de temperatura.

METODOLOGIA

Síntese de nanopartículas magnéticas e


funcionalização com Polietilenoimina

A síntese de nanopartículas magnéticas (NPM) de


Fe3O4 e funcionalização com polietilenoimina (PEI) foram
formadas em duas etapas, utilizando um reator hidrotér-
mico. Inicialmente, duas soluções foram preparadas. A pri-
meira foi uma solução de sais de ferro (Solução A) e a segun-
da, uma solução aquosa de PEI (Solução B). A solução A foi
composta por 1,16 g de FeSO4 · 7H2O e 1,85 g de FeCl3 · 6H2O
dissolvido em 15 mL de água deionizada, enquanto que B foi
constituída por 1,0 g de PEI em 4,0 mL de água desionizada
(TIWARI et al., 2011).
Para remover o excesso de NH4OH e de agente de fun-
cionalização, as NPMs resultantes foram lavados várias ve-
zes com água destilada. Então, as NPMs foram dispersas em
água destilada e centrifugados por 10 min e 3000 rpm para
remover as NPMs fracamente funcionalizados. Finalmente,
NPM@ PEI foram secas sob vácuo.

Ativação do suporte com glutaraldeído

Durante a síntese de nanopartículas magnéticas


(NPM) de ferro, elas foram pré-tratadas com aminopropil-
trietoxisilano (APTS) com a finalidade de prepara-las para
a ativação e posterior imobilização. Após o tratamento do

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suporte com APTS, o processo de ativação se deu de quatro


formas distintas afim de entender qual o melhor processo:

1. A ativação do suporte (NPM) foi performada com a


adição de glutaraldeído 0,6% (m/v) por 2 horas, 25º
C a 45 rpm. Após a ativação, as NPM foram lavadas
3 vezes com tampão bicarbonato-carbonato pH
10,0, 100 mM na proporção 0,5 mL de tampão para
0,01 g de suporte para se retirar o agente ativado;
2. A ativação do suporte (NPM) foi performada com a
adição de glutaraldeído 25% (m/v) por 2 horas, 25º
C a 45 rpm. Após a ativação, as NPM foram lavadas
3 vezes com tampão bicarbonato-carbonato pH
10,0, 100 mM na proporção 0,5 mL de tampão para
0,01 g de suporte para se retirar o agente ativado;
3. A ativação do suporte (NPM) foi performada com a
adição de glutaraldeído 0,6% (m/v) por 2 horas, 25º
C a 45 rpm. Após a ativação, as NPM foram lavadas
3 vezes com tampão fosfato de sódio pH 7,0, 100
mM na proporção 0,5 mL de tampão para 0,01 g de
suporte para se retirar o agente ativado;
4. A ativação do suporte (NPM) foi performada com a
adição de glutaraldeído 25% (m/v) por 2 horas, 25º
C a 45 rpm. Após a ativação, as NPM foram lavadas
3 vezes com tampão fosfato de sódio pH 7,0, 100
mM na proporção 0,5 mL de tampão para 0,01 g de
suporte para se retirar o agente ativado;

Imobilização

O processo de imobilização foi realizado pelo conta-


to de 0,01 g de nanopartículas (tratada por PEI e reticulada
com diferentes concentrações da solução de glutaraldeído)

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de 4 (quatro) formas distintas afim de avaliar qual método é


mais eficiente:

1. Contato de 0,01 g de nanopartículas magnéticas


ativadas com solução de glutaraldeído grau II 25%
(m/v) com 0,5 mL de solução tampão de bicarbo-
nato carbonato, 100 mM, pH 10,0. O sistema foi
mantido sob agitação controlada: 20-45 rpm (agi-
tação rotacional). A enzima CALB imobilizada foi
removida da solução por magnetismo (SOUZA et
al., 2013);
2. Contato de 0,01 g de nanopartículas magnéticas
ativadas com solução de glutaraldeído grau II 0,6%
(m/v) com 0,5 mL de solução tampão de bicarbo-
nato carbonato, 100 mM, pH 10,0. O sistema foi
mantido sob agitação controlada: 20-45 rpm (agi-
tação rotacional). A enzima CALB imobilizada foi
removida da solução por magnetismo (SOUZA et
al., 2013);
3. Contato de 0,01 g de nanopartículas magnéticas
ativadas com solução de glutaraldeído grau II 25%
(m/v) com 0,5 mL de solução tampão fosfato de só-
dio, 100 mM, pH 7,0. O sistema foi mantido sob agi-
tação controlada: 20-45 rpm (agitação rotacional).
A enzima CALB imobilizada foi removida da solu-
ção por magnetismo (SOUZA et al., 2013);
4. Contato de 0,01 g de nanopartículas magnéticas
ativadas com solução de glutaraldeído grau II 0,6%
(m/v) com 0,5 mL de solução tampão fosfato de só-
dio, 100 mM, pH 7,0. O sistema foi mantido sob agi-
tação controlada: 20-45 rpm (agitação rotacional).
A enzima CALB imobilizada foi removida da solu-
ção por magnetismo (SOUZA et al., 2013);

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Determinação da atividade enzimática

Afim de avaliar a atividade enzimática das lipases imo-


bilizadas pelas diferentes estratégias, foi performada uma
reação de esterificação no intuito e sintetizar oleato de eti-
la. Os experimentos de esterificação foram executados em
microtubos plásticos (2,0 mL) contendo 0,6 g de ácido oleico
e 151 μL de etanol (razão molar 1:1), bem como 0,01 g de bio-
catalisador CALB-NPM (1,7% de massa reacional) (SOUZA et
al., 2013). A reação foi conduzida em banho ultrassônico (40
kHz, 220 W) a 45 °C durante 180 minutos. O procedimento
acima descrito foi repetido considerando a CALB imobiliza-
da em resina acrílica (Novozym® 435) como biocatalisador
e o índice de acidez foi analisado pelo método 5-40 AOCS
(MOSSOBA et al., 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A fim de determinar qual a estratégia de imobilização


enzimática mais adequada, foi realizada a síntese de oleato
de etila (processo de esterificação do ácido oleico) conside-
rando diferentes concentrações de glutaraldeído (ativador
das nanopartículas magnéticas) e pH do tampão usado tanto
na lavagem quanto para o processo de imobilização. Os re-
sultados obtidos são mostrados na Tabela 1.

Tabela 1 – Planejamento experimental


Enzima Concentração Tampão Taxa de Conversão (%)
de ativador (%) (pH)
CALB-NPM 0,6 7,0 86,05 ± 10
CALB-NPM 25 7,0 87,10 ± 10
CALB-NPM 0,6 10,0 85,40 ± 10
CALB-NPM 25 10,0 85,51 ± 10
Novozym® 435 - - 89,19 ± 10
Fonte: Elaborada pelos autores.

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390 MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA

Os resultados mostraram que as quatro estratégias de


imobilização têm eficácia na síntese do oleato de etila, mos-
trando que a atividade catalítica se manteve estável e seleti-
va durante todo o processo. Isso pode ser explicado pelo fato
de as enzimas estarem imobilizadas e que, as estratégias de
imobilização revestiram prontamente a superfície do supor-
te com enzima sem qualquer tratamento enzimático (Fer-
nandez-Lafuente et al., 1998). Consequentemente, a faixa de
pH na qual as enzimas mantiveram suas propriedades foi
incrementada. Durante os experimentos, foi estabelecida
uma faixa de pH de 7,0 a 10,0; logo, a enzima imobilizada em
nanopartículas magnéticas conservou suas características
em um pH neutro tendendo ao básico.
A maior taxa de conversão, dentre as reações per-
formadas pela CALB-NPM, foi obtida usando CALB-NPM
ativada com glutaraldeído grau II 25% (m/v) em um pH 7,0
(87,10%). Mostrando que a imobilização em nanopartícu-
las magnéticas possibilitou uma constância da atividade
enzimática. Isso pode ser explicado pelo tratamento das
nanopartículas com aminopropiltrietoxisilano (APTS) que
proporciona a sinalização das NPM capaz de interagir com
espécies químicas externas como o ativador glutaraldeído,
formando fortes ligações. A função do glutaraldeído no pro-
cesso de imobilização é reagir com o grupo amino do fun-
cionalizante APTS e deixar um terminal aldeído capaz de se
ligar com os resíduos de aminoácidos da enzima (SOUZA et
al., 2013). Durante a imobilização, existe uma forte depen-
dência da constância da atividade catalítica em relação à
concentração do ativador usado nas NPM. Normalmente, a
área superficial específica de partículas pequenas (nanopar-
tículas, em específico) é maior se comparada a área superfi-
cial específica de partículas maiores (MENDES et al., 2012;
YEŞILOĞLU, 2005). Portanto, áreas superficiais maiores ne-
cessitam de uma concentração de glutaraldeído maior para

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MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA 391

que a reticulação das NPM seja eficiente (SOUZA et al., 2013).


Em trabalhos anteriores (BETANCOR et al., 2006; BARBOSA
et al., 2012) foi reportado o uso de altas concentrações de glu-
taraldeído como agente de ligação no processo de imobiliza-
ção de enzimas. Como mostrado por Betancor et al. (2006),
altas concentrações de glutaraldído promovem a formação
de interações enzima-suporte em maior quantidade e, além
disso, proporciona uma estrutura enzimática mais robusta
o que favorece maiores estabilidade e atividade catalítica do
complexo enzimático (BETANCOR et al., 2006).
Por conseguinte, os experimentos confirmaram que,
quanto menos diluído o estiver o ativador glutaraldeído (ob-
servando sua reatividade e fazendo ressalvas quanto essas
concentrações), mais forte será a ligação entre o suporte e a
enzima. Logo, a concentração de 25% (m/v) de glutaraldeído
mostrou-se, durante os experimentos, ser a mais adequada
no processo de ativação do suporte tendo, dentre as estraté-
gias estudadas, a maior taxa de conversão (87,10%).
Quando comparadas a Novozym® 435, com taxa de
conversão de 89,19%, o complexo enzima-suporte CALB-
-NPM, em todas as estratégias de imobilização estudadas, se
manteve constante e ativo durante todo o tempo reacional
com conversões variando de 85,40% a 87,10%. Assim o uso
de CALB-NPM é particularmente vantajoso para a produção
de ésteres tendo, ainda, a vantagem de fácil separação da
mistura reacional através de magnetismo o que possibilita
o reuso desse biocatalizador e o aumento da estabilidade da
atividade catalítica.

CONCLUSÃO

A maior taxa de conversão foi obtida usando CALB-


-NPM ativada com glutaraldeído grau II 25% (m/v) em um pH

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392 MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA

7,0. Não obstante, todas as taxas de conversão usando estra-


tégias de imobilização em NPM se mostraram equiparáveis
em relação àquela considerando CALB imobilizada em resi-
na acrílica (Novozym® 435) como biocatalisador. Mostrando
que, em termos de produto obtido, as estratégias de imobi-
lização enzimática em NPM é equiparável a CALB comercial
(Novozym® 435), tendo ainda a vantagem de ser separada
do meio reacional com uma simples aplicação de um cam-
po magnético, possibilitando o reuso da enzima CALB-NPM
em diferentes ciclos de um mesmo processo ou um processo
distinto.
Serão necessários outros estudos e pesquisas concer-
nentes às estratégias de imobilização, contudo, biocataliza-
dores imobilizados em nanopartículas magnéticas se mos-
traram um substituto em potencial as enzimas imobilizadas
em resina acrílica usadas comercialmente e, principalmen-
te, substitutos aos catalisadores químicos usados em larga
escala industrialmente.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro das Agências Brasi-


leiras de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fun-
dação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FUNCAP) (BP3-0139-000005.01.00/18) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-
lógico (CNPq) projetos 422942/2016-2 e 409058/2016-5.

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ESTRATÉGIAS DE IMOBILIZAÇÃO DE LIPASE DO TIPO B DE CANDIDA ANTARCTICA EM NANOPARTÍCULAS MAGNÉTICAS


ATIVADAS COM GLUTARALDÍDO
JOSÉ ERICK DA SILVA SOUZA • THALES GUIMARÃES ROCHA • ANA KÁTIA DE SOUSA BRAZ • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS
MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA 395

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ESTRATÉGIAS DE IMOBILIZAÇÃO DE LIPASE DO TIPO B DE CANDIDA ANTARCTICA EM NANOPARTÍCULAS MAGNÉTICAS


ATIVADAS COM GLUTARALDÍDO
JULIÃO ALBERTO LANGA • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO • ANTÔNIO CARLOS DA SILVA BARROS
396 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

Dispositivos móveis para


monitoramento da atividade cardíaca
Julião Alberto Langa1
João Paulo do Vale Madeiro2
Antônio Carlos da Silva Barros3
Antônio Manoel Ribeiro de Almeida4

RESUMO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, as doenças
cardiovasculares são a principal causa de morte em países de média e baixa
renda. Países desenvolvidos desembolsam anualmente avultadas somas de
recursos financeiros na mitigação dessas doenças.  As arritmias cardíacas
são a principal característica incidente nas doenças cardiovasculares.
Sob tais circunstâncias, há uma demanda crescente por um sistema
de monitoramento cardíaco confiável para capturar as anormalidades
intermitentes e detectar comportamentos cardíacos críticos que levam à
morte súbita. O uso de dispositivos móveis para coleta e análise eficiente de
dados de eletrocardiograma (ECG) surge como uma solução potencial para
auxiliar os pacientes no monitoramento de sua própria condição cardíaca,
especialmente aqueles de baixa renda e isolados dos hospitais de referência.
Este trabalho propõe, portanto, um sistema protótipo aberto de baixo custo,
de aquisição e análise automática do traçado eletrocardiográfico, cujo
hardware é facilmente implementado e cujo software é livre, disponível para
seus usuários e executável em diversas plataformas como celulares, tablets
e computadores pessoais, objetivando a disseminação e o conhecimento do
uso do exame ECG pela população. Propõe-se ainda o desenvolvimento de
uma base de dados online, objetivando o gerenciamento e condicionamento
de sinais ECG por especialistas.
Palavras-chave: Dispositivos móveis. Monitoramento cardíaco. Tecnologias
vestíveis. Módulo de aquisição de ECG.

1 Graduando em Engenharia de Energias.


E-mail: julitolanga@aluno.unilab.edu.br
2 Docente do Instituto da Engenharia e Desenvolvimento Sustentável.

E-mail: jpaulo.vale@unilab.edu.br
3 Docente do Instituto de Educação a Distância.

E-mail: carlosbarros@unilab.edu.br
4 Docente do Instituto de Educação a Distância.

E-mail: manoel.ribeiro@unilab.edu.br

DISPOSITIVOS MÓVEIS PARA MONITORAMENTO DA ATIVIDADE CARDÍACA


JULIÃO ALBERTO LANGA • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO • ANTÔNIO CARLOS DA SILVA BARROS
ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 397

MOBILE DEVICES FOR CARDIAC ACTIVITY MONITORING

ABSTRACT
According to WHO, today cardiovascular diseases are the leading cause
of death in low-and middle-income countries. Developed countries
disburse large amounts of financial resources every year to mitigate
these diseases. Cardiac arrhythmias are the main characteristic of
cardiovascular diseases. Under such circumstances there is a growing
demand for a reliable cardiac monitoring system to capture intermittent
abnormalities and detect critical cardiac behaviors leading to sudden
death. The use of mobile devices for the acquisition and efficient analysis
of electrocardiogram (ECG) data emerges as a potential solution to assist
patients in monitoring their own cardiac condition, especially those of low
income and isolated from referral hospitals. Therefore, this work proposes
a low-cost, open-source system for automatic acquisition and analysis of
the electrocardiographic tracing, whose hardware is easily implemented
and whose software is free, available to its users and executable in several
platforms such as cell phones, tablets and personal computers, aiming the
dissemination and the knowledge of the use of the ECG examination by
the population. It is also proposed the development of an online database,
aiming the management and conditioning of ECG signals by specialists.
Keywords: Mobile devices. Cardiac monitoring. Wearable technologies.
ECG acquisition module.

INTRODUÇÃO

Apesar da crescente evolução tecnológica nas últimas


décadas referente ao processamento digital do sinal eletro-
cardiograma (ECG), o emprego dessa poderosa ferramenta
não invasiva na mitigação de problemas cardíacos ainda
está longe do alcance universal pelas pessoas, como já são
os medidores de pressão arterial sistólica/diastólica, princi-
palmente devido ao custo crescente desses equipamentos.
Embora os sistemas de diagnóstico cardíaco vestíveis es-
tejam se tornando cada vez mais populares, a maioria das
pessoas ainda passa por exames de rotina usando métodos
tradicionais, como ecocardiograma (ECHO), tomografia
computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), perfu-
são miocárdica nuclear (PMN), dentre outros (SHAO et al.,

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398 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

2017). Estes métodos exigem tecnologia dispendiosa basea-


da em hardware e software pesados, e exigem manipulação
especializada, além de que o acesso se restringe à eventuais
consultas em clínicas particulares.
Portanto, o desenvolvimento de sistemas móveis e
abertos de aquisição e análise automática do traçado do si-
nal ECG, cujo hardware possa ser facilmente implementa-
do e cujo software seja livre, disponível para seus usuários e
executável em diversas plataformas como celulares, tablets
e computadores pessoais, pode ser uma alternativa viável
para contornar as dificuldades impostas pelo cenário socio-
econômico de grande parte das nações. Objetiva-se, portan-
to, a disseminação do conhecimento do uso do exame ECG
pela população. Adicionalmente, propõe-se o compartilha-
mento dos dados coletados e das informações de diagnósti-
co dos correspondentes sinais ECG em uma base de dados
online, a ser acessada tanto pelo especialista médico quanto
pelo paciente através de um telefone celular em um ambien-
te colaborativo, objetivando o acesso aos mecanismos de
diagnóstico prévios do ECG.

VISÃO GERAL DO ELETROCARDIOGRAMA E DO


ELETROCARDIÓGRAFO

O Eletrocardiograma é um registro da atividade elétrica


cardíaca observada quando um impulso ou onda de despola-
rização passa através do coração. E através desta onda de des-
polarização, uma corrente elétrica se propaga para os tecidos
do miocárdio. Pequena parte dessa corrente se espalha até a
superfície do corpo, por onde é possível registrar os poten-
ciais elétricos gerados através de eletrodos colocados sobre
a pele, em lados opostos do coração. (GUYTON; HALL, 2011).
Segundo (TRÁNSITO; INFANTE, 2007), citado por
NETO (2010), o eletrocardiógrafo é um instrumento usado

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ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 399

para registrar o traçado do eletrocardiograma (ECG), através


da medição dos potenciais elétricos produzidos pela ativida-
de elétrica cardíaca. Um sistema de 12 derivações que utili-
za um eletrodo em cada braço, um na perna esquerda e seis
nas posições precordiais é geralmente utilizado. A conexão
estabelecida com a perna direita, serva para reduzir interfe-
rência elétrica. Os eletrodos denominados LL, LA e RA são
conectados à rede de resistores conhecidos como terminal
de central de Wilson (Guerreiro, 2013), a partir do qual ob-
têm-se as derivações de membros I, II, III e as aumentadas
aVL, aVR e aVF. (BUTTON, 2004)
Atualmente, cresce a aplicação dos sistemas microele-
tromecânicos (MEMS) e nanoeletromecânicos (NEMS) na
saúde móvel. Como resultado, grandes variedades de senso-
res corporais não invasivos e vestíveis de baixo custo estão
sendo desenvolvidos para medir vários parâmetros fisioló-
gicos relacionados à saúde humana, tais como: temperatura
corporal, frequência cardíaca, pressão arterial, dentre ou-
tros. (SAHOO et al, 2017).
Noureddine e Boumerdassi, (2009) propuseram um
sistema de monitoramento de ECG pessoal e móvel com lo-
calização do paciente através de sistema de posicionamento
global (GPS). Um circuito de aquisição de sinal de ECG foi in-
tegrado com um módulo que se comunica com o smartpho-
ne através de Bluetooth. Não possui, portanto, a plataforma
Android para a visualização do sinal ECG coletado, tendo
sido implementado um software específico para visualiza-
ção do sinal ECG.
De Souza, (2015) desenvolveu um protótipo de um sis-
tema de aquisição, monitoramento em tempo real dos sinais
de ECG e EMG, que se comunica via wireless, através de pro-
tocolo de comunicação Bluetooth, com dispositivos Android.
O processamento dos sinais captados durante a aquisição é

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400 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

feito no próprio telefone celular e posteriormente salvos em


um SDcard. O sistema não possui, portanto, mecanismos de
gerenciamento com qualquer base de dados online, e nem
opção de compartilhamento eficiente de sinais para o pro-
fissional de saúde.
Madeiro et al, (2019) propôs uma plataforma móvel
chamada MobileECG, que permite a aquisição, extração au-
tomática de recursos e pré-diagnóstico em tempo real do
sinal ECG. Além disso, o MobileECG implementa os recur-
sos de computação ubíqua, e roda em dispositivos móveis
(smartphone ou tablet). A plataforma proposta é de livre
acesso por qualquer pessoa e em qualquer lugar. Para isso,
nela foi integrada a tecnologia Linked Data, que permite a
publicação de dados de ECG em bases de dados de conhe-
cimento público, que podem ser usadas para suportar con-
sultas complexas, executar algoritmos de mineração e gerar
colaboração entre especialistas.
Portanto, como ferramenta complementar adicional
ao sistema desenvolvido por Madeiro et al., (2019), propõe-
-se neste trabalho um sistema que incorpora a capacidade
de acesso aos dados salvos na nuvem através de um disposi-
tivo móvel do tipo smartphone ou tablet. Em outras palavras,
tanto o especialista médico, quanto o paciente podem aces-
sar os exames disponíveis no banco de dados, em qualquer
lugar, a qualquer hora e em diferentes formatos (pdf, txt,
etc), por meio do telefone celular.

Modelo do protótipo proposto

Neste trabalho, é proposto um sistema de saúde móvel


de autodiagnóstico, cujos algoritmos de filtragem e proces-
samento são implementados no firebase, e com visualização
através do smartphone ou tablet. O sistema proposto tem a

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ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 401

capacidade de realizar aquisição de ECG e visualização em


tempo real, armazenamento e diagnóstico em base de dados
em modo online. Os dados armazenados no firebase podem
ser visualizados e compartilhados tanto pelo especialista
médico, quanto pelo paciente por intermédio de um telefo-
ne celular, cujos aplicativos são implementados na platafor-
ma Android Studio. A seguir, é apresentado o diagrama de
blocos que melhor representa a proposta.

Figura 1 – Diagrama de blocos do sistema proposto

Fonte: Elaborado pelos autores.

As etapas apresentadas na Figura 1 serão executadas


de acordo com o diagrama esquemático apresentado a se-
guir, na Figura 2.

Figura 2 – Diagrama esquemático do sistema do protótipo


proposto

Fonte: Elaborado pelos autores.

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402 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

Módulo de aquisição

Módulo EKG-EMG da Olimex


É um modulo biossensor compatível com diversas ca-
tegorias de placas Arduino, com projeto aberto de hardwa-
re. O módulo Olimex EKG-EMG integrado à placa Arduino
torna-se uma ferramenta eletrocardiográfica poderosa que
permite monitorar e coletar os dados de batimentos cardía-
cos. Este módulo converte o sinal diferencial analógico, isto
é, os potenciais elétricos gerados pela atividade cardíaca,
através de suas entradas CH1_IN+/CH1_IN‑, em um único flu-
xo de dados como saída. O sinal de saída analógico é discre-
tizado com objetivo de permitir o processamento digital dos
sinais outrora coletados, através de saída D4/D9. O módulo
funciona com placas de Arduino de 3.3V e 5V. Possui conec-
tor de entrada para eletrodos. O módulo funciona com uma
resolução de 10 bits e uma taxa de amostragem de 256Hz
(OLIMEX, 2019), conforme ilustrado na Figura 3.

Eletrodos EKG-EMG-PA da Olimex


Os eletrodos constituem a interface entre o sistema
de aquisição e a superfície do corpo. Permitem a aquisição
do sinal de forma eficaz, reduzindo o ruído, e convertem a
corrente iônica em corrente elétrica (CARDOSO, 2010). Para
aquisição do sinal ECG neste trabalho, foram adotados ele-
trodos do fabricante Olimex EKG-EMG-PA, que são eletro-
dos passivos, conforme ilustrado na Figura 3.

Módulo Bluetooth HC-06


O módulo de comunicação serial Bluetooth HC-06 é
projetado para estabelecer comunicação de dados sem fio
de curto alcance entre dois sistemas. O módulo trabalha
no modo de conexão automática, isto é, só pode funcionar

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ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 403

como dispositivo escravo (slave). Com uma velocidade de


transmissão de até 2.1Mb/s, o HC-06 usa a técnica de espa-
lhamento espectral por salto de frequência (FHSS) que ga-
rante a conexão livre de interferência com outros disposi-
tivos com transmissão full duplex. Sua faixa de frequência é
de 2.402 GHz a 2.480 GHz. O módulo HC-06 possui quatro
pinos para estabelecimento de comunicação com o Arduino
(GUANGZHOU, 2011), conforme ilustrado na Figura 3.

Arduino Uno
O Arduino é usado para desenvolvimento de diferen-
tes tipos de circuitos eletrônicos, usando placa de circuito
programável, geralmente microcontrolador, e com código
em execução no computador com conexão USB. A lingua-
gem de programação usada no Arduino é uma versão sim-
plificada do C ++. Com alta performance e baixo consumo
de energia, o Arduino Uno, possui 14 pinos para dados de
entrada (input) e saída (output), através das seguintes fun-
ções: pinMode(), digitalWrite() e digitalRead(). Essas portas
operam com máximo de 5V e 40mA. Na sua configuração,
os pinos da serial 0(RX) e 1(TX) são utilizados para receber
(RX) e transmitir (TX) dados da serial TTL. Nos pinos cor-
respondentes às entradas analógicas, são dispostas as cone-
xões correspondentes do módulo Olimex EKG-EMG (GUAN-
GZHOU, 2011), conforme ilustrado na Figura 3.

Figura 3 – Componentes utilizados na construção do módulo de


aquisição.

Fonte: Adaptados de Olimex (2014), GUANGZHOU (2011).

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404 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

MONTAGEM DO PROTÓTIPO

A Figura 4 abaixo apresenta o circuito eletrônico do


Módulo de aquisição de ECG proposto. Uma fonte externa
de 5V e o cabo analógico de eletrodo passivo são ligados ao
módulo do conjunto Arduino, Olimex EKG-EMG. Um divisor
de tensão é aplicado objetivando garantir até 3.3V de tensão,
que por sua vez se conecta à Serial TX do Bluetooth acionan-
do o método de transmissão. Para o divisor de tensão, foram
utilizados dois resistores R­­1 = 120Ω e R­­2 = 220Ω. A saída se-
rial D0 da Shield é conectada à entrada Serial RX do módulo
Bluetooth, conforme ilustrado na Figura 5.

Figura 4 – Circuito eletroeletrônico do Módulo de aquisição de


ECG

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Figura 5 – Módulo de aquisição de ECG com conexões


estabelecidas para coletar e transmitir os sinais

Fonte: Elaborado pelos autores.

CARACTERÍSTICAS DO APLICATIVO DESENVOLVIDO

O aplicativo desenvolvido para o smartphone consti-


tui-se de um intermediário entre o paciente, o módulo de
aquisição de ECG, a base de dados firebase e o especialista
médico. O aplicativo foi desenvolvido em plataforma An-
droid Studio 3.4.1, baseada em ambiente de programação
Java com APIs e frameworks correspondentes (veja Figura
6). Entre outros atributos, o aplicativo apresenta as seguin-
tes funções de aplicabilidade: Cadastro (SignUp) e LogIN, os
quais são efetuadas primeiramente pelo especialista médico
e posteriormente consolidadas pelo paciente. Novo exame,
visualizar exame, salvar, compartilhar e visualizar relatório
são outras funções do aplicativo. Para cada paciente, será
exibido um histórico de exames por ele salvos no seu mu-
ral. É, portanto, permitido que o especialista médico possa

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406 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

acessar o histórico de exames de todos os pacientes sob seus


cuidados. O relatório emitido pelo firebase após a análise e
extração de dados é emitido em formato pdf.

Figura 6 – Tela de cadastro e perfil do usuário do aplicativo para


smartphone

a) Tela de cadastro     b) Tela de Perfil


    especialista/paciente
Fonte: elaborado pelos autores

Aplicativo com função especializada para especialista


médico

A primeira etapa do sistema proposto tem início do


lado do especialista médico, através do cadastro (SIGNUP)
e respectivo acesso (LOGIN) pelo seu smartphone. Na se-
quência, o especialista médico cadastra o paciente na base
de dados firebase, que, por sua vez, notifica o paciente ca-
dastrado através de um e-mail, em que solicita que o pa-
ciente consolide o cadastro, efetue o login e acesse à tela de

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ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 407

aquisição de novo exame, por intermédio do seu telefone


celular.

Aplicativo com função especializada para o paciente


Efetivadas as etapas referidas no parágrafo acima, o
paciente é notificado a estabelecer conexão com o módulo
de aquisição a fim de que seja feita uma nova aquisição do si-
nal ECG. A conexão do módulo de aquisição obedece à confi-
guração apresentada nas Figuras 4 e 5 acima. Na sequência,
os dados capturados pelo biossensor são transmitidos para
a tela de novo exame do smartphone do paciente, através do
módulo Bluetooth HC-06 (Figura 7). O sinal ECG em trans-
missão é então visualizado em tempo real no smartphone do
paciente, enviado para a base de dados baseada no firebase,
através de Wireless Fidelity (wi-fi) ou pacote de dados móveis.
Os dados enviados para o firebase podem agora ser processa-
dos através de algoritmos de filtragem, detecção, segmenta-
ção e análise de parâmetros associados às ondas caracterís-
ticas do eletrocardiograma (ECG).

Figura 7 – Apresentação da tela de aquisição de novo exame


durante a visualização em tempo real no aplicativo desenvolvido

Fonte: próprios autores

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408 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

O sinal ECG apresentado na tela como novo exame,


contém ruído de alta frequência como se pode observar na
tela, isso é devido às interferências quer por artefatos de
movimentação, oscilação da linha de base, ruído de ativida-
de muscular e ou interferência da rede elétrica. A elimina-
ção desse ruído é tarefa de trabalhos futuros.

Plataforma de integração de dados: base de dados


colaborativa

O Firebase é uma tecnologia de propriedade da Google.


INC, baseado no NOSQL. Auxilia na criação de aplicativos de
alta qualidade. Ele armazena os dados no formato JavaS-
cript Object Notation (JSON). Dentre outros, no firebase estão
disponíveis seguintes serviços:

Firebase analytics: permite que o desenvolvedor


de aplicativos entenda como os usuários estão
utilizando o aplicativo;
Firebase Cloud Messaging: plataforma cruza-
da para mensagens e notificações para Android,
aplicativos da Web e IOS;
Firebase Auth: gerencia os serviços de autentica-
ção de e-mails e senhas de usuários;
Real-time Database: permite que os dados do
aplicativo sejam sincronizados entre os clientes e
armazenados na nuvem do firebase.
Firebase Storage: facilita a transferência de ar-
quivos e armazenamento de imagens, áudios, ví-
deo ou outros conteúdos gerados pelo usuário;
Firebase Crash Reporting: relatórios detalhados
de erros criados no aplicativo. Esses erros são
agrupados em clusters de rastreios de pilhas se-
melhantes e listados de acordo com a gravidade.

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Firebase Notifications: permite notificações


emitidas pelos usuários e direcionadas para de-
senvolvedores de aplicativos móveis (FIREBASE,
2019).

CONCLUSÕES

Com o desenvolvimento de sistemas móveis e abertos


de aquisição e análise automática do traçado do sinal ECG,
disponibilizam-se ferramentas poderosas e econômicas de
monitoramento da atividade cardíaca de pacientes, os quais
não precisam mais se afastar de suas atividades diárias. Gran-
de parcela dessas tecnologias, por serem vestíveis, permitem
gravar traçados de ECG por longos períodos. Este avanço tem
o potencial de aumentar a utilidade dessa técnica em locali-
dades distantes de hospitais ou postos de saúde, ou mesmo
universalizar o acesso desses serviços. Também possibilita
a transmissão imediata dos traçados de ECG coletados para
interpretação especializada, além de reduzir o tempo de in-
tervenção de especialistas em eventuais urgências.

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Data de Submissão: 09/07/2019.


Data de aprovação: 09/07/2019.
DOI: 10.0000/0000-057x20160000.

DISPOSITIVOS MÓVEIS PARA MONITORAMENTO DA ATIVIDADE CARDÍACA


SIMÃO SILVA FREITAS • LUÃ THEO DO CARMO LIMA • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO • ANTÔNIO CARLOS DA SILVA BARROS
412 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

Dispositivos de aquisição de sinais


ECG baseados em tecnologias
vestíveis
Simão Silva Freitas1
Luã Theo do Carmo Lima2
João Paulo do Vale Madeiro3
Antônio Carlos da Silva Barros4
Antônio Manoel Ribeiro de Almeida5

RESUMO
O presente capítulo aborda pesquisa desenvolvida dentro do projeto
MobileECG (Processo Funcap número BP300284.01.00/18), que tem
por objetivo o desenvolvimento de uma plataforma ubíqua para
monitoramento automático e consulta de sinais ECGs em bases
colaborativas. Os assuntos aqui abordados tratam especificamente da
utilização de tecnologias vestíveis focadas em hardware de captação
do sinal ECG. O sinal analógico capturado por meio de eletrodos é
condicionado por meio de um biossensor, o qual utiliza uma shield ECG/
EMG, fabricante Olimex, de tecnologia aberta. Esta placa está acoplada
a um Arduino Uno que faz a recepção serial do sinal. Para a devida
apresentação ao usuário, o sinal ECG precisa ser devidamente filtrado e
apresentar o mínimo possível de ruído. Nessa perspectiva o uso de filtros,
seja por hardware ou digitais, é uma forma de tratamento adequada do
sinal.
Palavras-chave: Biossensor. Hardware.Tecnologias Vestíveis. Sinal ECG

1 Graduando em Engenharia de Energias. E-mail: simaofreitas85@gmail.com


2 Graduando em Engenharia de Energias. E-mail: lua.theo07@gmail.com
3 Docente do Instituto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável.

E-mail: jpaulo.vale@unilab.edu.br
4 Docente do Instituto de Educação à Distância.

E-mail: carlosbarros@unilab.edu.br
5 Docente do Instituto de Educação à Distância.

E-mail: manoel.ribeiro@unilab.edu.br

DISPOSITIVOS DE AQUISIÇÃO DE SINAIS ECG BASEADOS EM TECNOLOGIAS VESTÍVEIS


SIMÃO SILVA FREITAS • LUÃ THEO DO CARMO LIMA • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO • ANTÔNIO CARLOS DA SILVA BARROS
ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 413

ECG SIGNAL ACQUISITION DEVICES BASED ON WEARABLE


TECHNOLOGIES

ABSTRACT
The purpose of the presente meeting was to search for the Mobile
Technology Project (Process Funcap BP30024.01.00/18), which aims to
develop an eletronic platform for automatic monitoring and consulation
of ECG signals on a collaborative basis. The subjects related here are
used in the use of wearable Technologies focused on ECG signal capture
hardware. The analog signal captured for the electrode médium is
equipped with a biosensor, wich uses an open technology ECG/EMG
shield, Olimex manufacturer. This board is coupled to an Arduino that
does a serial sinal reception. For proper presentation to the user, the
signal must be properly filtered and presente as little noise as possible.
In this perspective of using filters, whether by hardware or by means of
media, is a form of treatment appropriate to the signal.
KeyWords: Biosensor. Hardware. Technologies wearable. Signal ECG.

INTRODUÇÃO

Conforme a Secretária da Saúde do Estado do Ceará


(2019), cerca de 10,3 mil mortes por falhas no coração foram
registradas no Estado entre os anos de 2009 e 2018. Os pa-
cientes que sofrem de patologias cardíacas necessitam de
acompanhamento médico permanente, pois podem ocorrer
eventos de grande risco à saúde. Mas os problemas relacio-
nados ao acompanhamento médico são inúmeros. Dificil-
mente seria viável para esses pacientes ficarem de forma
permanente em um hospital, seja porque ele estaria expos-
to a doenças infecciosas ou contagiosas nesse ambiente, seja
por questões econômicas e de logística.
Diante desta perspectiva, o telemonitoramento é uma
alternativa para superar as barreiras citadas. Sistemas de
monitoramento com tecnologias vestíveis possibilitam so-
luções interessantes, com a possibilidade de monitoramen-
to à distância, estando o usuário em sua casa ou ambiente de

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414 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

trabalho. A utilização de sensores em sistemas embarcados


possibilita o desenvolvimento de hardwares de acompanha-
mento permanente do paciente.
Uma das formas pelas quais o processo de aquisição de
sinais ECG pode ser aplicado é através do uso de eletrodos,
que são dispostos em determinados pontos da superfície
corporal do indivíduo. O sinal é então coletado por sensor
analógico, amplificado, e posteriormente enviado para um
microcontrolador, que fará a conversão do sinal ECG analó-
gico para um sinal digital.
Uma vez condicionadas as amostras de sinal ECG co-
letado, os correspondentes bytes de informações podem ser
transmitidos via bluetooth ou Wi-Fi para um computador ou
dispositivo de comunicação móvel. No caso, por exemplo, de
um smartphone, um aplicativo em Android tem como função
recepcionar as amostras de ECG do arduino e apresentá-las
como uma série temporal na tela do celular. Outra possibi-
lidade para tal aplicativo seria o envio desses dados para um
servidor (nuvem) para o posterior processamento do sinal e
extração de atributos, com o consequente retorno do resul-
tado do processamento para o ambiente de smartphone do
usuário.
Uma vez que o sinal ECG de um paciente pode ser vi-
sualizado, avaliado e transmitido a repositórios, estando
este paciente em qualquer lugar que faça parte de sua rotina
diária, o dispositivo a ele acoplado que permite a captação
e a transmissão do sinal representa uma tecnologia vestível
de relevância, podendo ser diretamente aplicável à extração
de pré- diagnósticos e emissão de alertas. Como resultados
desejados, espera-se que a referida tecnologia minimize po-
tenciais riscos à saúde desses pacientes.

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ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 415

FUNDAMENTOS DE TECNOLOGIAS VESTÍVEIS

As tecnologias vestíveis surgem na atualidade como


ferramentas versáteis para solução de problemas práticos
no cotidiano das pessoas e na coleta de informações, desde
de informações simples como o horário (relógios de pulso),
até aquisição e monitoramento de sinais e informações fi-
siológicas que irão auxiliar no diagnóstico médico. Logo,
entender o conceito de tecnologias vestíveis e suas mais di-
versificadas formas de utilização é imprescindível quando
se estuda o tema.
Para Steve Mann(2015), as características mais re-
levantes que uma tecnologia vestível deve possuir são: ser
adaptado ao espaço pessoal do usuário; ser controlado pelo
usuário; e ter constância operacional e interacional, ou seja,
está sempre ligado e acessível.
Enquanto que Bass(1997) propõe cinco características que
diferenciam um computador vestível de outros dispositivos:

... Deve ser usado enquanto o usuário está em mo-


vimento; Deve ser usado enquanto uma ou ambas
as maos estao livres, ou ocupadas com outras ati-
vidades; Existe dentro do envelope corpóreo do
usuário, isto é, não deve estar meramente ‘atacha-
do’ ao corpo, mas tornar-se uma parte integrante
do vestuário do usuário; Deve permitir ao usuário
manter controle; Deve exibir constância, isto é,
podendo ser constantemente avaliável.

Também pode-se definir um sistema tecnológico


vestível dispondo-se dos seguintes elementos: no mínimo,
um dispositivo de entrada de dados, sejam teclados ou sen-
sores; um microprocessador, que fará o gerenciamento da
entrada de dados, cujo tamanho irá depender das neces-
sidades e características de processamento; no mínimo,

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416 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

um dispositivo de saída de dados, sendo geralmente uma


tela visível, garantindo a possibilidade de interface visual;
e uma fonte de energia elétrica para o processador e possi-
velmente para os dispositivos de entrada e saída de dados
(DONATI, 2005).
Esses tipos de dispositivos podem ter aplicações na
área médica cardiológica para aquisição de sinais de eletro-
cardiograma(ECG). Para Rathke (2008), o eletrocardiograma
pode ser interpretado como a captura da atividade elétrica
cardíaca na superfície do corpo e as informações obtidas a
partir da sua análise permitem avaliar o estado funcional
cardíaco do paciente.
O sinal de ECG tem um pico de aproximadamente 1
mV. Os registros clínicos possuem conteúdo de informação
na banda de frequência de 0,05-100 Hz e registros de moni-
toramento na faixa 0,5- 50 Hz (TOMPKINS, 1995). Para Car-
los et al (2003), o eletrocardiograma pode ser definido como
um registro dos potenciais elétricos gerados pelo coração
através de eletrodos colocados sobre a superfície corporal.
Trata-se de uma ferramenta não-invasiva e importante para
o diagnóstico de arritmias e distúrbios, constituindo-se em
um marcador de doença do coração.
Os sistemas para obtenção dos sinais ECG são consti-
tuídos de sensores e dispositivos de condicionamento do si-
nal, os quais permitem diversas aplicações relevantes, possi-
bilitando o monitoramento de pacientes em qualquer lugar
onde estiverem (REISNER, 2004). A recepção e retransmis-
são dos dados de sinais pode ser implementada através de
smartphones via protocolos bluetooth, wi-fi ou mesmo rede
de telefonia(ISTEPANIAN,2001), um terminal para visuali-
zação dos dados e registro de eventos pelo próprio paciente
(SEGURA- JUÁREZ, 2004) ou então utilizando-se a transmis-
são através do uso de canais da internet(FRENSLI, 2005).

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ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 417

Para a coleta de sinais cardíacos através de tecnologia


vestível, uma das metodologias é descrita por Alves et al.
(2013) :

No caso da aquisição do ECG, a atividade elétrica


do coração é capturada usando eletrodos coloca-
dos em dois dedos de mãos opostas. Esses sinais
são adquiridos através das portas de entrada
analógica na placa Arduino e, posteriormente,
convertidos usando o conversor analógico-digital
interno. Em seguida, os dados digitalizados são
enviados via Bluetooth para a estação base(por
exemplo, celular Android).

Após a sua aquisição, os sinais são amplificados por


amplificadores de instrumentação e posteriormente sub-
metidos a um filtro passa altas e um filtro passa baixas que
obedecem limites estabelecidos. Esses biosinais se carac-
terizam por baixa amplitude que pode se encontrar numa
faixa de 1µV e 100 mV com fontes que possuem altas impe-
dâncias e ruídos (SILVA,2015)(NAGEL,2000). Diante disso
percebe-se a importância dos amplificadores no processo
de coleta dos biosinais.
Após passar pelo estágio de amplificação, os sinais são
recepcionados pelas portas analógica do microcontrolador
Arduino, por exemplo, o modelo Arduino Uno, o mesmo uti-
lizado no trabalho de Jardan et al. (2015), que foi descrito
como sendo:

… dotado do microcontrolador ATmega328. Esta


plataforma é composta por 14 entradas/saídas
digitais e 6 entradas analógicas, contêm também
uma ligação USB (Universal Serial Bus) para, por
exemplo, efetuar a programação e comando da
placa através de um PC. Tem igualmente a pos-
sibilidade de se conectar a outros dispositivos

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418 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

através da interface de comunicação SPI ( Serial


Peripheral interface)...

Silva (2014) descreve o arduino utilizado em seu proje-


to da seguinte forma:

Arduino é o nome dado tanto a placa de protótipo


de circuitos, que contém um microcontrolador e
interface facilitada para entrada e saída de dados,
quanto a linguagem utilizada para programar
este dispositivo. É considerado uma plataforma
open-source para desenvolvimento de projetos,
sendo capaz de captar dados de sensores e swit-
ches, processá-los e responder através de displays
e LED’s. Podemos também conectar o Arduino à
um computador, seja através de cabos ou por pro-
tocolos sem fio.

Também no trabalho de Silva (2014), foi utilizada um


arduino em montagem de dimensões reduzidas, tipicamen-
te aplicado em dispositivos wearable (tecnologias vestíveis),
conhecido como LilyPad. Nos experimentos apresentados
neste capítulo, além do microcontrolador ATmega328, foi
utilizado um shield para aquisição e posterior transmissão
de dados do ECG.

DETALHAMENTO DO HARDWARE

O sinal captado com o biossensor é enviado como um


sinal elétrico para posteriormente ser apresentado na for-
ma de um gráfico ou por meio de parâmetros a serem apre-
sentados ao usuário. Para devido processamento, o equipa-
mento deve apresentar uma série de estruturas eletrônicas,
isso inclui, filtros para remoção de ruídos, amplificação e
digitalização.

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Amplificação

A amplificação proporciona um ganho, ou seja, au-


menta a escala do sinal. O sinal ECG tem amplitude de apro-
ximadamente 1 mV. Para se obter um determinado ganho
deve-se usar uma correta relação entre as resistências, isso
é obtido utilizando a seguinte equação:

Rf é a resistência é a resistência interna especificado


pelo fabricante. Usando o ganho adequado (G) pode-se de-
terminar Rg, com este é possível projetar Rg1 e Rg2, seguin-
do a configuração do circuito apresentado na figura abaixo:

Figura 1 – circuito de amplificação

Fonte: modificado de Gutiérrez (2006).

A shield EKG-EMG da olimex, um biosensor que pode


ser acoplado ao arduino, possui três amplificadores. O pri-
meiro tem um ganho de 10, o segundo 5,76 e o terceiro 3,56.
Devido a presença de ruídos no sinal ECG, eles poderiam ser
amplificados no primeiro estágio e saturar os amplificado-
res que se sucedem. Com o objetivo de evitar essa saturação

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420 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

o ganho do primeiro estágio deve ser igual ou inferior a 10, o


que está de acordo com o circuito da shield.

Filtro passa altas

O ECG possui uma componente DC que pode provocar


uma distorção no sinal e causar saturação nos amplificado-
res dos estágios posteriores. Com o objetivo de evitar essa
saturação, um filtro passa altas pode ser utilizado. Para de-
vido ajuste dos componentes utilizamos a seguinte forma:

Com esta fórmula é obtida a frequência do filtro para


um determinado resistor e capacitor.

Figura 2 – Circuito filtro passa alta

Fonte: Modificado de Gutiérrez (2006).

A figura acima mostra a configuração do circuito para


obter o filtro desejado. A shield da olimex possui dois filtros
passa alta de 0,16 Hz.

Filtro passa baixas:

O sinal ECG possui uma amplitude muito reduzida.


Devido a essa característica, a interferência causada pela

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ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 421

rede elétrica, frequência de 60 Hz, torna-se bastante pro-


nunciada. Um filtro passa baixa pode ser utilizado com o
propósito de suprimir essa interferência. A mesma fórmula
usada no filtro passa-alta pode ser usada para obter os valo-
res de frequência, resistência ou capacitância. A configura-
ção para o circuito deve ser a seguinte:

Figura 3 – Circuito de um filtro passa baixa

Fonte: modificado de Gutiérrez (2006).

A shield da olimex não apresenta nenhum filtro do


tipo passa baixa.

Figura 4 – Arduino acoplado a shield ECG-EMG da olimex

Fonte: Ciuffoletti (2019).

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422 ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

Microcontrolador

O microcontrolador arduino pode ser usando em con-


junto com uma shield da olimex para constituir um siste-
ma biosensor para captação e processamento do sinal ECG.
A principal versão da placa arduino é a uno, que possui o
ATmega328 como microcontrolador. Essa versão possui 16
MHz de frequência de relógio, consumindo uma corrente de
47 mA. A figura abaixo mostra a conexão entre o arduino, si-
tuado na parte de baixo da figura, e a shield ECG-EMG, placa
de tonalidade vermelha.
A principal vantagem de usar o arduino está na pos-
sibilidade de fazer processamento digital do sinal ECG nes-
te hardware. O ambiente de desenvolvimento integrado do
microcontrolador permite a implementação de filtros passa
baixa, passa alta, rejeita faixa. A implementação destes tipos
de filtro que pode ser feita em sites, que gera um código exe-
cutável no IDE do arduino. A Figura 5 ilustra como o código
pode ser gerado. É necessário inserir parâmetros, que este-
jam de acordo com o filtro que se deseja gerar.

Figura 5 – Gerador de filtro

Fonte: Autor.

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ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA 423

CONCLUSÃO

Diante do que foi apresentado nesse capítulo, chega-se


à conclusão de que o uso de tecnologias vestíveis para dispo-
sitivos de aquisição de sinais ECG pode representar na atua-
lidade uma possibilidade de viabilizar o monitoramento de
pacientes em suas próprias residências, sem necessidade
de deslocamento a hospitais. Foi visto também que trata-se
de um problema complexo que relaciona áreas da medicina
e engenharia, mostrando assim que a conexão entre essas
duas áreas pode trazer grandes benefícios à sociedade.
.
REFERÊNCIAS

LIMA NETO, Luiz Alves de. Desenvolvimento de um protótipo


de eletrocardiógrafo portátil com uma derivação e comunica-
ção bluetooth. Programa de Pós Graduação, Fortaleza, v. 1, n.
1, p.1-95, 10 abr. 2010
MANN, Steve. Wearable Computing: A first step toward “Per-
sonal Imaging” IEEE Computer, Vol. 30, No.3 (summary of
my last 20 years as a “photographic cyborg”). Disponível
em: <http://www.wearcam.org/ieeecomputer/r2025.htm>.
Acessado em 16 de junho de 2019
Bass, L.; Mann, S.; Siewiorek, D.; Thompson, C. (1997). Is-
sues in wearable computing: a CHI 97 Workshop. In CHI97
Workshop on Wearable Computers, vol.29, n.4
CARLOS, N. J. et al. Diretriz de Interpretação de Ele-
trocardiograma de Repouso. São Paulo, Brasil, 2003.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pi-
d=S0066782X2003000800001&script=sci arttext. Acessado
em 15 de Junho de 2019.
DONATI, L.P. Computador Vestível: Experiment(AÇÃO) Tec-
nológica Mediada. Disponível em: <http://www.gutoreque-

DISPOSITIVOS DE AQUISIÇÃO DE SINAIS ECG BASEADOS EM TECNOLOGIAS VESTÍVEIS


SIMÃO SILVA FREITAS • LUÃ THEO DO CARMO LIMA • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO • ANTÔNIO CARLOS DA SILVA BARROS
424 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO
ANTÔNIO MANOEL RIBEIRO DE ALMEIDA

na.com.br/artigos_amigos/_luisa.htm> Acessado em 16 de
Junho de 2019
RATHKE, Juliano ElesbÃo. Sistema de processamento de si-
nais biomédicos: módulos didáticos de ecg, emg, eog e con-
versão analógico-digital de biosinais. Programa de Pós Gra-
duação, Florianópolis, v. 1, n. 1, p.1-157, 1 ago. 2008.
JARDAN, Daniel et al. Sistema de aquisição e registo de si-
nais biomédicos baseado numa plataforma de desenvolvi-
mento open-source de baixo custo. Artigo, Leiria, v. 1, n. 1,
p.1-15, 21 jun. 2015.

Data de Submissão: 10/07/2019.


Data de aprovação: 10/07/2019.

DISPOSITIVOS DE AQUISIÇÃO DE SINAIS ECG BASEADOS EM TECNOLOGIAS VESTÍVEIS


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 425

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL


PARA SINAIS ECG

Eliézer Timóteo Sanhá1


João Paulo do Vale Madeiro2

RESUMO
O sinal eletrocardiograma (ECG) é o registro de atividade elétrica do
coração no tempo, uma ferramenta de grande importância no diagnóstico
de problemas relacionados ao coração. A correta leitura e interpretação
clínica do sinal ECG são essenciais para o diagnóstico e tratamento de
problemas de coração. Para tanto, é necessária a supressão ou atenuação
de ruído e interferências indesejadas, utilizando-se de diferentes técnicas
de filtragem disponíveis na literatura. Neste capítulo, trataremos do tema
de filtragem digital de sinais, com enfoque no processamento de sinais
ECG, abordando os principais conceitos e ferramentas matemáticas
envolvidas. Será apresentado um estudo de caso com análise comparativa
de desempenho de metodologias de filtragem aplicadas a sinais ECG,
através de cálculo do Erro RMS (Root Mean Square) entre um dado sinal
de referência, que é um sinal ECG sintético sem ruído, e um sinal filtrado,
que é o sinal obtido a partir da filtragem do sinal de referência adicionado
de ruído controlado. O estudo de caso abrange três diferentes técnicas
de filtragem: Filtros IIR, FIR e Wavelet, cada um nas modalidades passa-
baixa e passa-alta. Os testes computacionais consideram sinais ECG
artificiais com vinte diferentes morfologias do complexo QRS. Após a
determinação dos melhores resultados dentro de cada família de filtros,
a abordagem proposta permite eleger a técnica específica de filtragem
que acarreta a menor distorção do sinal original, dentre todas as obtidas,
para atenuação de ruído de baixa e alta frequência.
Palavras-chave: Sinal ECG. Filtragem Digital. Interferência. Filtro IIR.
Filtro FIR. Transformada Wavelet.

ANALYSIS OF DIGITAL FILTERING TECHNIQUES FOR ECG SIGNAL

ABSTRACT
The electrocardiogram (ECG) signal is the record of heart electrical
activity in time domain, a tool of great importance for the diagnosis

1 Graduando em Engenharia de Energias. E-mail: rocky.sanha@outlook.pt


2 Docente do Instituto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável.
E-mail: jpaulo.vale@unilab.edu.br

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


426 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO

of heart diseases. The accurate acquisition and clinical interpretation


of the ECG signal are essential for efficient diagnosis and therapy.
Therefore, suppression or attenuation of noise and undesired
interference is required by using different digital filtering techniques
available in the literature. In this chapter, we will deal with the issue
of digital signal filtering, focusing on the processing of ECG signals,
addressing the main concepts and involved mathematical tools. A
case study will be presented with a comparative performance analysis
of filtering methodologies applied over synthetic ECG signals by
computing the RMS (Root Mean Square) error between a given reference
signal, which is a synthetic ECG signal without noise, and a filtered
signal, which is the signal obtained from the filtering process added
by controlled noise. The case study covers three different filtering
techniques: IIR, FIR and Wavelet filters, each one in the low-pass and
high-pass modes. Computing simulation tests consider artificial ECG
signals with twenty different QRS complex morphologies. After the
identification of the best results within each filter family, the proposed
approach allows to select the specific filtering technique that leads to
the lowest distortion of the original signal, for low and high frequency
noise attenuation.
Keywords: ECG signal. Digital Filtering. Noise. Interference. IIR Filter.
FIR Filter. Wavelet Transform.

INTRODUÇÃO

O eletrocardiograma, também referido como ECG, é o


registro de atividade elétrica do coração no tempo, servin-
do assim como uma ferramenta de grande importância no
diagnóstico de problemas relacionados ao coração. Para se
entender o conteúdo do ECG, é necessário conhecer a fisio-
logia do coração.
O coração é composto de duas bombas com finalida-
des diferentes: a bomba do lado direito bombeia o sangue
para os pulmões, e a bomba do lado esquerdo bombeia para
o resto do corpo o sangue que contém oxigênio, vindo dos
pulmões. O fluxo sanguíneo sai do átrio direito para o ven-
trículo direito; que, por sua vez, fornece a força que impele o
sangue para a circulação pulmonar. O sangue contendo oxi-

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 427

gênio é fornecido ao ventrículo esquerdo para a circulação


periférica (resto do corpo).
Para que haja um batimento cardíaco, é preciso que
estímulos elétricos de despolarização se propaguem como
cargas positivas no músculo cardíaco, originários do átrio
direito, e assim provocando uma contração quase que simul-
tânea dos átrios direito e esquerdo, impulsionando assim, o
sangue para os ventrículos. O fenômeno da despolarização
dos átrios é registrado no ECG como a onda P, que está re-
lacionada à contração dos átrios. Quando o estímulo atinge
os ventrículos acontece a despolarização dos ventrículos
que se sobrepõe ao fenômeno de repolarização dos átrios
(Hall, 2011). A despolarização dos ventrículos é registra-
da no ECG como o complexo QRS, que está relacionado à
contração dos ventrículos. Após uma breve pausa (segmen-
to ST), os ventrículos se repolarizam adquirindo novamente
cargas negativas. Este fenômeno é registrado no ECG como
onda T como mostra a Figura 2.
No entanto, apesar de ser primordial a correta aquisi-
ção e interpretação do sinal ECG para o diagnóstico médico
de um paciente, o processo de aquisição do sinal através de
transdutores normalmente é passível de interferências, isto
é, ruídos indesejados que podem modificar completamente
a característica geral do sinal, o conteúdo de frequência e até
as amplitudes do sinal, entre outras alterações, o que con-
sequentemente poderá levar a uma leitura e interpretação
incorreta do sinal acarretando potencialmente diagnósticos
médicos errôneos. As interferências indesejadas ou ruídos
podem ser de diferentes ordens e procedência: devido à fre-
quência da rede elétrica (60Hz) e suas harmônicas, ruído
devido à atividade muscular e respiratória do paciente, ruí-
do devido à interface do eletrodo com a pele, e outros ruídos
que podem ser originados da utilização de equipamentos

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


428 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO

elétricos e eletrônicos no mesmo ambiente onde é realizada


a aquisição do sinal ECG (TOMPKINS, 1993).

Figura 1 – Sinal ECG típico correspondente ao ciclo cardíaco

Fonte: doi:10.1371/journal.pone.0084018.g001

A remoção ou atenuação das interferências indeseja-


das se dá através da aplicação de filtros adequados. O obje-
tivo dos filtros é remover ou atenuar consideravelmente as
interferências causando minimamente distorções e, assim,
possibilitando a correta leitura e interpretação do sinal ECG
captado. Existem diferentes tipos de filtros e técnicas de fil-
tragens. Numa aplicação de filtragem em sinal ECG, deve-se
observar: o tipo de filtro ou técnica de filtragem de acordo
com a característica do próprio sinal e os ruídos que o com-
põem; e também a análise de qual filtro ou técnica causa mí-
nimos níveis de distorção no sinal ECG.

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 429

PROCESSAMENTO E FILTRAGEM DE SINAIS ECG

Um sinal é uma função de uma ou mais variáveis, e


que contém informações sobre a natureza de um fenômeno
(HAYKIN, 2001).
A aquisição do sinal ECG se dá com a disposição de ele-
trodos, que são colocados no corpo do paciente do qual se
deseja obter o sinal ECG, de forma que cada posicionamento
dos eletrodos represente configurações precordiais (tórax)
e/ou periféricas (membros). Em condições normais, um
adulto apresenta morfologia de batimento cardíaco similar
à Figura 2, tendo algumas ligeiras alterações, dependendo
do paciente/pessoa e das derivações escolhidas. Em caso de
doença cardíaca, existirão deformações nas formas de onda
dos batimentos cardíacos.
O período entre o início de um batimento cardíaco, ou
simplesmente batimento, até o início de outro batimento é
chamado de ciclo cardíaco. O ciclo cardíaco é composto por
contração (sístole, fase de esvaziamento, durante o qual o
volume do coração diminui) e o relaxamento (diástole, fase
de enchimento, durante o qual o volume do coração aumen-
ta). A frequência de batimento é a quantidade de relaxamen-
tos que ocorre num dado intervalo de tempo.
O sinal ECG como mencionado anteriormente é o re-
gistro da atividade elétrica do coração. As informações que
são obtidas através deste sinal são vitais para o diagnóstico
médico de doenças cardíacas. Entretanto, como a amplitude
é muito baixa, o sinal é susceptível a interferências indese-
jadas, que como visto anteriormente pode se originar de di-
versas fontes. Por isso, a necessidade de filtragem, para que
os dados de características que serão retirados do sinal ECG
estejam tanto quanto possível próximos dos valores reais.

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


430 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO

Conceitos fundamentais

Umas das técnicas de processamento de sinal bastante


utilizada é a filtragem dos sinais, isto é, aplicações dos filtros
de acordo com a necessidade para a remoção ou atenuação
de algum espectro da frequência. Classificam-se os filtros
de acordo com as frequências de atenuação, como: Filtro
Passa-Baixa (para a remoção ou atenuação de componen-
tes da frequências superiores ou iguais a sua frequência de
corte ω0); Filtro Passa-Alta (para a remoção ou atenuação
de componentes da frequência inferiores a sua frequência
de corte ω0); Filtro Passa-Faixa (para a remoção ou atenu-
ação de componentes da frequência fora de um intervalo
ω1 – ω2, e Filtro Rejeita-Faixa (para a remoção ou atenuação
de componentes da frequência dentro de um intervalo, ω1
– ω2 ). Representando o comportamento ideal e um compor-
tamento típico dos filtros, tendo em conta a frequência e a
magnitude da resposta do filtro.
No processamento de um sinal ECG, os diferentes ti-
pos de filtro podem ser aplicados basicamente para atenuar
diferente modalidades de ruídos:

• Filtro Passa-Alta: aplicado para remoção da oscila-


ção da linha de base;
• Filtro Passa-Baixa: remoção do ruído muscular;
• Filtro Passa-Faixa e Rejeita-Faixa: remoção do ruí-
do 60Hz da rede elétrica ou similar.

Antes do detalhamento de filtros digitais que são


aplicados na filtragem de sinais ECG, serão abordadas duas
transformadas indispensáveis para o entendimento de pro-
jetos de filtragem digital: Transformada de Fourier de
Tempo Discreto e Transformada Z.

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 431

A Transformada de Fourier basicamente permite a


representação de um sinal no domínio da frequência. Para
o projeto de filtros digitais, aplica-se a transformada de Fou-
rier de tempo discreto. Essa transformada, para um sinal de
tempo discreto x[n] é definida, segundo (OPPENHEIM, 2010)
como:
1

E sua inversa, isto é, a obtenção de a partir de é dada


por
2

Em que T é o intervalo de integração, ou seja, o período


de amostragem de X(ejω)ejωn dω,
A Transformada Z, para um sinal genérico de tempo
discreto x[n] é definida como,

em que z é uma variável arbitrária complexa, dada por z =


rejω, em que é a magnitude de z e ω, o ângulo de fase de z.
Se r = 1 , o somatório da equação 3 corresponde à transfor-
mada de Fourier de tempo discreto. Quando não é limitado
pela unidade, o somatório é chamado de transformada Z
de x[n].
Uma importância substancial da transformada Z em
processamento digital de sinais é a possibilidade de definição
da sua função de transferência H(z), e sua equivalência digital.
A função de transferência é dada por

4
ou seja, é a razão entre a transformada Z de saída e a trans-
formada Z da entrada

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


432 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO

Para se obter a transformada Z do sinal de saída, Y(z),


através da transformada Z do sinal de entrada, X(z), e da fun-
ção de transferência H(z), faz-se

E os valores do sinal da saída no domínio de tempo são


obtidos através de

Filtros digitais

Inicialmente, apresentam-se aqui duas técnicas de fil-


tragem digital, isto é, tendo em conta a sua resposta ao Im-
pulso: filtros de Resposta ao Impulso de Duração Finita,
denominado de filtros FIR (Finite Impulse Response) e os fil-
tros de Resposta ao Impulso de Duração Infinita, também
chamados de filtros IIR (Infinite Impulse Response) (OPPE-
NHEIM, 2010).

Filtros FIR
Como antes mencionado, os filtros FIR são caracteri-
zados por sua resposta ao impulso possuir a duração finita
e são de natureza não-recursiva, isto é, a sua saída depen-
de apenas das entradas em diferentes instantes de tempo, o
que equivale a dizer que a função de transferência do filtro
em questão não possui polos que não estejam localizados no
plano complexo de z.

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 433

A equação geral para um filtro FIR é dada pela convo-


lução discreta

em que é vetor coeficiente da função (ou função peso) de


comprimento M, x[n], é a entrada e y[n] é a saída. A função
de transferência para filtros FIR é H(z) = h0 + h1z-1 + h1z-2 + ...
+ hM - 1z-(M – 1). O projeto de um filtro digital se caracteriza na
obtenção do vetor de coeficientes , que pode ser encontrado
aplicando a transformada inversa de Fourier à função da ja-
nela de filtro considerada.
O projeto do filtro FIR ideal para os quatros tipos de
filtragem anteriormente apresentados será detalhado abai-
xo. Seja a equação do vetor de coeficientes do filtro Passa-
-Baixa dada por

Na equação 9, ω0 = 2πf0 é a frequência de corte, é o


período de amostragem do sinal digital em segundos e L é o
comprimento do filtro. Assim, analogamente, são dispostos
abaixo, nas equações (10) e (11), respectivamente, as equa-
ções do vetor de coeficientes dos filtros Passa-Alta e Passa-
-Faixa.

10

11

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


434 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO

em que ω1 e ω2 são frequências limitadoras da banda pas-


sante, e Ts é o período de amostragem do sinal digital. Já o
vetor de coeficientes do filtro Rejeita-Faixa ideal é dado por

12

em que ω1 e ω2 são frequências limitadoras de banda rejeita-


da, como indicado na Figura 3 item d.

FiltroS IIR
Filtros IIR (Infinite Impulse Response) são filtros cuja
resposta ao impulso tem um número infinito de coeficientes
não nulos. Este tipo de filtro depende não apenas dos valo-
res presente e passados da entrada, mas também dos valores
passados da própria saída.
A equação básica dos filtros IIR é dada por

13

em que b[n] é o vetor de coeficientes associado ao sinal de


entrada (numerador na função de transferência do filtro) e
que pode ser obtido para diferentes tipos de filtros de ma-
neira similar ao já mostrado na seção do filtro FIR, a[n] é o
vetor de coeficientes associado ao sinal de saída (denomina-
dor na função de transferência do filtro), operando com os
valores passado da saída y[n].
A função de transferência (FT) do filtro IIR é,

Filtros Wavelet
Para aplicações em filtragem de ECG e de sinais digi-
tais em geral, utiliza-se a Transformada Wavelet, que é uma

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 435

técnica matemática relativamente recente de descrever as


propriedades de um sinal no tempo-frequência, através da
divisão em segmentos de escalas. A transformada Wavelet
permite que, no processamento e análise de um sinal, tanto
a informação sobre as propriedades do sinal no domínio do
tempo bem como as suas propriedades no domínio da frequ-
ência estejam presentes.
A aplicação da transformada Wavelet discreta decom-
põe um sinal por meio de uma série de funções elementares,
que são derivadas a partir de escalonamentos e translações de
uma função base, chamada de Wavelet-mãe, Ψ(t), dadas por

14

No contexto do processamento de sinais ECG, a utili-


zação da transformada Wavelet se dá usualmente através de
bancos de filtro, em que os próprios vetores de coeficientes de-
terminam os tipos de filtro. Esta técnica usa a decomposição,
limiarização e reconstrução do sinal para processá-lo e anali-
sá-lo (MADEIRO et. al, 2019). O processo da eliminação do ruí-
do através desta técnica segue as etapas ilustradas na Figura 6.
A implementação da técnica envolve a escolha apro-
priada da função Wavelet-mãe e a determinação dos vetores
de coeficientes para a implementação das fases de decom-
posição e reconstrução do sinal.

ANÁLISE COMPARATIVA DO DESEMPENHO DAS


TÉCNICAS DE FILTRAGEM ABORDADAS PARA UM
SINAL ECG SINTÉTICO

Metodologia
Inicialmente, foram implementados algoritmos com-
putacionais desenvolvidos no ambiente Matlab que possibi-

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


436 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO

litaram a síntese de sinais ECG artificiais através de modelos


dinâmicos propostos no trabalho de Mcsharry et. al, 2003.
Tais modelos permitem a simulação de 6 diferentes mor-
fologias de complexo QRS: qR, qRs, Rs, R, RS e rSR’. Cada
específica morfologia deriva-se de ajustes nos parâmetros
dos modelos dinâmicos, os quais controlam o instante de
ocorrência do batimento, as amplitudes de cada onda ca-
racterística e a largura temporal de cada forma de onda. Em
seguida, rotinas de inserção simulada de ruído senoidal de
alta e baixa frequência são aplicadas sobre sinais sintéticos
“limpos” de referência. As componentes de ruído de baixa
frequência aplicadas nos testes correspondem à faixa de 0 a
1 Hz, com passo de 0,05 Hz. Já as componentes de ruído de
alta frequência utilizadas nos experimentos correspondem
à faixa de 50 a 180 Hz, com passo de 5 Hz.
A análise proposta consiste em calcular o erro RMS
normalizado (RMS – root mean square), dado pela equação
(15), como uma medida de avaliação de distorção entre um
sinal limpo de referência x[n] e um correspondente sinal
filtrado x̂ [n] e, assim, propiciar a comparação entre diver-
sas rotinas de filtragem quanto ao desempenho para elimi-
nação de ruídos de baixa e alta frequência. Portanto, utiliza-
-se como métrica o erro RMS normalizado, dado por

15

Foram comparados, então, filtros IIR para eliminação


de ruído de baixa frequência (filtro passa-alta) com filtros
FIR e filtros Wavelet também para eliminação de ruído de
baixa frequência. Em seguida, foram comparados filtros IIR
para eliminação de ruído de alta frequência (filtro passa-bai-
xa) com filtros FIR e filtros Wavelet também para elimina-
ção de ruído de alta frequência. Considerando-se os filtros

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 437

IIR (tanto passa-baixa como passa-alta), foram aplicados


testes com números de coeficientes iguais a 4, 5, 6, 7, 8 e 9,
e utilizou-se a ferramenta designfilt do Matlab, fornecendo-
-se como parâmetros de entrada as frequências de corte de
0,67 Hz (filtro passa-alta) e 45 Hz (filtro passa-baixa). Quanto
aos filtros FIR, foram aplicados testes com números de co-
eficientes 50, 100, 200, 400, 800 e 1600 coeficientes, tanto
passa-baixa como passa-alta, e utilizou-se a ferramenta de-
signfilt do Matlab, fornecendo-se como parâmetros de en-
trada as frequências paramétricas de transição de 0,5 e 0,6
Hz (filtro passa-alta), e de 48,4 e 48,6 Hz (filtro passa-baixa).
Quanto aos filtros Wavelet, testes de eliminação de ruído de
baixa frequência utilizaram um processo de 8 (oito) decom-
posições e reconstrução, eliminando-se os coeficientes de
aproximação após o oitavo nível de decomposição.
Para eliminação de ruído de alta frequência com os
filtros Wavelet, os testes computacionais aplicaram um pro-
cesso de 2 (duas) decomposições e reconstrução, eliminan-
do-se os coeficientes de detalhe de primeiro e segundo nível
de decomposição. Para tanto, foi considerada a família de
funções protótipo Daubechies: db1, db2, db3, db4, db5, db6,
db7, db8, db9 e db10.

Resultados e discussões

Os resultados obtidos compreendem a determinação,


para um subconjunto do total de morfologias de batimento
analisadas, da frequência de ruído em que um dado filtro ob-
teve erro RMS mínimo juntamente com o correspondente
erro RMS mínimo.
A Tabela 1 ilustra tais resultados para a filtragem
passa-alta.

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


438 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO

Tabela 1 – Filtros para eliminação de ruídos de baixa frequência


(passa-alta)
  FIR IIR Wavelet
Freq.
Freq. Erro
Erro
Morfolo- Freq. Erro mín. mín.
gia mín. (Hz) Erro RMS (Hz) Erro RMS (Hz) Erro RMS
qR 0,45 0,286673 0,5 0,154882 0,2 0,038761
qRs 0,45 0,29334 0,5 0,154711 0,2 0,03677
Rs 0,45 0,292588 0,5 0,15438 0,2 0,038747
R 0,45 0,289646 0,5 0,155425 0,2 0,039321
RS 0,25 0,289776 0,5 0,13701 0,15 0,027063
rSR’ 0,05 0,287444 0 0,156344 0,1 0,019594

Cada valor de Erro RMS que compõe a Tabela 1 corres-


ponde a uma dada quantidade de coeficientes com melhor
desempenho e à respectiva frequência de ruído na morfolo-
gia em questão. Para o filtro FIR passa-alta, a quantidade de
coeficientes 1600 obteve melhor desempenho (menor Erro
RMS) para todas as morfologias. Para o filtro IIR passa-alta,
a quantidade de coeficientes 5 obteve melhor desempenho
em todas as morfologias. E, finalmente, o filtro Wavelet db3
obteve o melhor desempenho em todas as morfologias.
Uma nova bateria de resultados é obtida para o pro-
cesso de eliminação de ruído de alta frequência. A Tabela 2
sintetiza os valores levantados de erros RMS mínimos para
cada família de filtros, juntamente com as correspondentes
frequências de ruído.

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 439

Tabela 2 – Filtros para eliminação de ruídos de alta frequência


(passa-baixa)
  FIR IIR Wavelet
Morfolo- Freq. Erro Freq. Erro Freq. Erro
gia mín. (Hz) Erro RMS mín. (Hz) Erro RMS mín. (Hz) Erro RMS
qR 105 0,189236 165 0,120264 75 0,017319
qRs 160 0,190591 170 0,115054 80 0,018179
Rs 120 0,194425 170 0,120204 65 0,019797
R 120 0,182539 165 0,119508 65 0,015813
RS 170 0,19568 170 0,11218 85 0,022806
rSR’ 165 0,270555 170 0,110242 75 0,039971

Analogamente ao observado para os filtros passa-alta,


a quantidade de coeficientes para o filtro FIR passa-baixa
com melhor desempenho em todas as morfologias de bati-
mentos é de 1600. Já para o filtro IIR passa-baixa, as quan-
tidades 5 e 6 se destacam, prevalecendo a quantidade de 6
coeficientes para a maior parte dos cenários. Para o filtro
Wavelet passa-baixa, o filtro db10 apresenta melhor desem-
penho para todas as morfologias.

CONCLUSÃO

As análises efetuadas demonstram que quaisquer


filtros aplicados na eliminação de ruído promovem um de-
terminado grau de distorção no sinal, o qual pode ser mini-
mizado através da variação dos parâmetros do filtro. Outra
observação importante é que o desempenho de um dado
filtro varia com as componentes de frequência do ruído e
com a morfologia do batimento, requerendo, portanto, que
a escolha do filtro mais adequado para uma dada aplicação
seja realizada com base nas características do sinal. Dos
experimentos efetuados, conclui-se que a família de filtros

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


440 ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO

Wavelet obteve o melhor desempenho em todos os cenários,


em comparação com os filtros IIR e FIR, embora com parâ-
metros ótimos diferenciados para as filtragens do tipo pas-
sa-baixa e passa-alta. Considerando-se as diferentes quanti-
dades de cálculo (somas e produtos) para a implementação
de cada filtro, constata-se que além de ter obtido o melhor
desempenho, o filtro Wavelet é o mais eficiente dentre as
técnicas estudadas.

REFERÊNCIAS

HAYKIN, Simon; VAN VEN, Barry. Sinais e Sistemas. Bookman,


Porto Alegre, 2001.
HALL, J.E., 2011. Guyton and Hall Textbook of Medical Physio-
logy. Saunders Elsevier, Philadelphia.
MADEIRO, João Paulo do Vale; et. all . Techniques for Noi-
se Suppression for ECG Signal Processing. In: João Paulo do
Vale Madeiro; Paulo César Cortez; José Maria da Silva Mon-
teiro Filho; Angelo Roncalli Alencar Brayner. (Org.). Develo-
pments and Applications for ECG Signal Processing. 1ed.Lon-
dres: Elsevier, 2019, v. 1, p. 53-87.
MCSHARRY, P. E.; CLIFFORD, G. D.; TARASSENKO, L.; SMI-
TH, L. A. A Dynamical Model for Generating Synthetic Elec-
trocardiogram Signals. IEEE Transactions on Biomedical En-
gineering, v. 50, n. 3, p. 289-294,March 2003.
OPPENHEIM, Alan . V., WILLSKY, Alan. S. Sinais e Sistemas,
2ª ed, São Paulo, Pearson, 2010.
TOMPKINS, WJ; Biomedical Digital Signal Processing: C-lan-
guage Examples and Laboratory Experiments for the IBM
PC. Hauptbd. Prentice Hall, 1993.

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


ELIÉZER TIMÓTEO SANHÁ • JOÃO PAULO DO VALE MADEIRO 441

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos ao Programa de Iniciação Científica


da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira PIBIC/UNILAB/Cnpq.

Data de Submissão: 10/07/2019.


Data de aprovação: 10/07/2019.
DOI:

ANÁLISE DE TÉCNICAS DE FILTRAGEM DIGITAL PARA SINAIS ECG


JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER • OLIENAIDE RIBEIRO DE OLIVEIRA PINTO • ALUÍSIO MARQUES DA FONSECA
442 MARIA GORETE FLORES SALLES • CIRO DE MIRANDA PINTO

Utilização do biodigestor no meio


rural: uma alternativa na região do
Maciço de Baturité, Ceará
Juan Carlos Alvarado Alcócer1
Olienaide Ribeiro de Oliveira Pinto2
Aluísio Marques da Fonseca3
Maria Gorete Flores Salles4
Ciro de Miranda Pinto5

RESUMO
O trabalho teve como objetivo informar sobre a utilização de
biodigestores no meio rural na região do Maciço de Baturité, Ceará.
Realizou-se um levantamento sobre os tipos de biodigestores existentes
no Maciço e os benefícios do uso pelos os agricultores da região.
Nessa região foram identificados 15 biodigestores em funcionamento,
dos quais, 2 são do modelo canadense e 13 são do modelo indiano.
Esses equipamentos estão instalados nos municípios de Aracoiaba,
Barreira, Ocara e Redenção. Observou-se, que a biomassa utilizada no

1 Doutor em Engenharia Elétrica – Professor da Universidade da Integração


Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e do Mestrado Acadê-
mico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis (MASTS). E-mail:
jcalcocer@unilab.edu.br
2 Doutora em Agronomia/Fitotecnia – Bolsista do Programa Nacional de Pós-

-Doutorado (PNPD)/CAPES, Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade


e Tecnologias Sustentáveis (MASTS), Universidade da Integração Interna-
cional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).
E-mail: agron.olienaide@gmail.com
3 Doutor em Química – Professor da Universidade da Integração Internacio-

nal da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e do Mestrado Acadêmico em


Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis (MASTS).
E-mail: aluisiomf@unilab.edu.br
4 Doutora em Ciências Veterinárias/ Reprodução Animal – Professora da

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira


(UNILAB). E-mail: gorete@unilab.edu.br
5 Doutor em Agronomia/Fitotecnia – Professor da Universidade da Integra-

ção Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).


E-mail: ciroagron@unilab.edu.br

UTILIZAÇÃO DO BIODIGESTOR NO MEIO RURAL: UMA ALTERNATIVA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ, CEARÁ
JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER • OLIENAIDE RIBEIRO DE OLIVEIRA PINTO • ALUÍSIO MARQUES DA FONSECA
MARIA GORETE FLORES SALLES • CIRO DE MIRANDA PINTO 443

carregamento dos biodigestores foi de dejetos de suínos e bovinos, na


maior fração. A utilização dessa tecnologia demonstrou que a região
apresenta potencial para implantação de novas unidades, visto que,
dispõe de diversas fontes de matéria orgânica. Essa tecnologia contribui
para transformar em realidade a obtenção de energia limpa e adubo
orgânico, de baixo custo e sustentável, sendo visível a satisfação dos
usuários ao relatarem suas experiências, promovendo benefícios
socioeconômicos e ambientais.
Palavras-chave: Resíduos orgânicos, inclusão social, sustentabilidade.

USE OF BIODIGESTOR IN THE RURAL ENVIRONMENT: AN


ALTERNATIVE IN THE REGION OF THE MAST OF BATURITÉ,
CEARÁ

ABSTRACT
The objective of this work was to report on the use of biodigesters in rural
areas in the Baturité Massif region, Ceará. A survey was carried out on the
types of biodigesters in the Massif and the benefits of the use by farmers
in the region. In this region were identified 15 biodigesters in operation, of
which 2 are of the Canadian model and 13 are of the Indian model. These
equipments are installed in the municipalities of Aracoiaba, Barreira,
Ocara and Redenção. It was observed that the biomass used in the loading
of biodigestors was from swine and cattle waste, in the largest fraction.
The use of this technology has demonstrated that the region presents
potential for the implantation of new units, since it has several sources
of organic matter. This technology contributes to making the acquisition
of clean energy and organic fertilizer, low cost and sustainable, making
users’ satisfaction visible when they relate their experiences, promoting
socioeconomic and environmental benefits.
Keywords: Organic wastes, social inclusion, sustainability.

INTRODUÇÃO

Uma alternativa para gerenciar resíduos orgânicos


proveniente de animais e vegetais é a digestão anaeróbia,
que é um processo eficiente de baixo custo, sendo a tecno-
logia do biodigestor adequada para ocorrer esse processo.
Essa tecnologia mitiga problemas ambientais causados pelo
descarte incorreto destes resíduos (AQUINO et al., 2014).

UTILIZAÇÃO DO BIODIGESTOR NO MEIO RURAL: UMA ALTERNATIVA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ, CEARÁ
JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER • OLIENAIDE RIBEIRO DE OLIVEIRA PINTO • ALUÍSIO MARQUES DA FONSECA
444 MARIA GORETE FLORES SALLES • CIRO DE MIRANDA PINTO

A digestão anaeróbia baseia-se na atividade de micror-


ganismos, mediante condições de ausência de oxigênio (O2),
para a conversão biológica da matéria orgânica complexa em
compostos químicos simples. Dentre os principais produtos
obtidos tem-se biogás que é composto de metano (CH4), di-
óxido de carbono (CO2), sulfeto de hidrogênio (H2S) e outros
gases, além do biofertilizante (SOARES et al., 2017).
A disseminação da tecnologia do biodigestor entre a
população rural dos municípios do Maciço de Baturité re-
flete um mecanismo eficiente para destinar excrementos
animais e resíduos vegetais que, muitas vezes são desper-
diçados nas propriedades rurais, além de contribuir para a
higiene no campo, a destinação para uso na cozinha e não
emite fumaças nem resíduos contribuindo para reduzir a
poluição ambiental.
Portanto, se observa um desconhecimento por mui-
tas pessoas que vivem na zona rural sobre as tecnologias
sustentáveis e os benefícios que podem gerar com o seu uso
nas propriedades rurais. Dessa forma, a utilização do biodi-
gestor, bem como, as demais vantagens da instalação desse
equipamento, pode ser uma forma de despertar interesse no
produtor rural para os benefícios oriundos dessa tecnologia
sustentável e incentivadora na sua aquisição.
Assim, o objetivo desse trabalho foi informar sobre a
utilização de biodigestores como alternativa sustentável no
meio rural na região do Maciço de Baturité, Ceará.

BIODIGESTOR

O biodigestor é um sistema fechado onde ocorre a de-


gradação da matéria orgânica (animal ou vegetal) por ação
de bactérias anaeróbia, possui um sistema de entrada da
matéria orgânica (um tanque onde ocorre a digestão), um

UTILIZAÇÃO DO BIODIGESTOR NO MEIO RURAL: UMA ALTERNATIVA NA REGIÃO DO MACIÇO DE BATURITÉ, CEARÁ
JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER • OLIENAIDE RIBEIRO DE OLIVEIRA PINTO • ALUÍSIO MARQUES DA FONSECA
MARIA GORETE FLORES SALLES • CIRO DE MIRANDA PINTO 445

mecanismo para saída do biogás e outro para saída do bio-


fertilizante (TOLLER, 2016).
Os tipos de biodigestores construídos devem ser co-
nhecidos e analisados antes da escolha, visando atender as
necessidades de cada propriedade rural. Cada biodigestor é
adequado aos diferentes tipos de resíduos obtidos no meio
rural, podendo ser operados com cargas contínuas, quan-
do se alimenta o biodigestor diariamente, ou em batelada,
quando os dejetos são colocados no biodigestor e deixados
por um determinado período (FRIGO et al., 2015). Os mode-
los de biodigestores comumente encontrados na literatura
são: indiano, chinês, canadense e por batelada (OLIVEIRA et
al., 2016).
Os biodigestores possuem formas diferentes, e de-
vem ser escolhidas de acordo com a disposição do local,
quantidade de matéria orgânica disponível e frequência de
realimentação. Esses fatores influenciam no custo de insta-
lação, por isso, existem empresas responsáveis por vender
kits de diversas proporções, porém, a estrutura básica do
biodigestor é simples podendo ser facilmente desenvolvido
utilizando também material reciclável (SILVA et al., 2018).
Oliver (2008) relata que na instalação de um biodigestor é
importante considerar os mais variados tipos de biodigesto-
res presentes no mercado, buscando adequar sempre para
as características de cada propriedade rural.
A composição do biogás varia de acordo com o tipo de
biomassa, as condições de funcionamento da biodigestão,
tipo de biodigestor, temperatura e pH (SOARES et al., 2017).
O biogás possui a seguinte composição: 50 a 70% de CH4; 35
a 40% de CO2; 1 a 3% de H2 (hidrogênio); 0,1 a 1% de O2 e os
outros gases em torno de 1,5 a 8% (BONTURI; DIJK, 2012). A
partir de 20 dias o CH4 começa a ser produzido dentro do
biodigestor e permanece até a terceira semana, após esse

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período, reduz os processos fermentativos. A quantidade de


CH4 na composição do biogás favorece um alto poder calo-
rífico, que varia de 5.000 a 7.000 kcal.m-3 (BARREIRA, 2011).
O biofertilizante pode ser aplicado na forma liquida
ou desidratada, apresenta pH na faixa de 7 a 8 (MARQUES
et al., 2014), possui composição média de 1,5 a 4,0% de ni-
trogênio, 1,0 a 5,0% de fósforo e 0,5 a 3,0% de potássio, além
de apresentar outros nutrientes como: cálcio, magnésio, en-
xofre, boro, cobre ferro, manganês, molibdênio e zinco, pro-
porcionando o crescimento e desenvolvimento das plantas
(OLIVEIRA, 2011).

BIODIGESTORES NO MACIÇO DE BATURITÉ

No Maciço do Baturité observou-se que parte da popu-


lação vive da agricultura familiar com a criação de animais
e culturas agrícolas, sendo que, uma fração dessa população
não aproveita essas biomassas, podendo estes, alimentarem
biodigestores nas propriedades rurais.
No levantamento sobre os biodigestores no Maciço de
Baturité foram identificados 15 biodigestores em funciona-
mento, dos quais, 2 são do modelo canadense e 13 são do mo-
delo indiano. Todas as unidades são alimentadas com bio-
massa de origem animal, com predominância dos estercos
suínos e bovinos. Na Tabela 1 são especificados o modelo e a
biomassa utilizada nos biodigestores existentes no Maciço.

Tabela 1 – Biodigestores instalados no Maciço de Baturité, Ceará.


Quantidade de Tipo de biodi-
Município Biomassa utilizada
biodigestores gestor
Aracoiaba 02 Indiano Esterco bovino
Esterco suíno e
Barreira 02 Indiano mistura (animal e
vegetal)
(continua)

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Esterco bovino, suí-


Ocara 09 Indiano
no, ovino e aves

Esterco suíno e bo-


Redenção 02 Canadense
vino
Total 15
Fonte: Oliveira (2018).

No Maciço de Baturité foram encontrados instalados


biodigestores nos municípios de Aracoiaba, Barreira, Ocara
e Redenção, representando 31% dos municípios do Maciço
(Figura 1).

Figura 1 – Biodigestor indiano em Barreira (A); biodigestor


indiano em Ocara (B); biodigestor Canadense em Redenção (C),
no Maciço de Baturité, Ceará

Fonte: Pinto (2018) e Silva et al. (2018).

No levantamento de biodigestores nos municípios de


Aracoiaba, Barreira e Ocara verificou-se que estes são tipo
indiano. Os agricultores relatam que a construção desses

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equipamentos apresenta baixo custo, favorecendo assim, a


implantação na propriedade rural. No município de Reden-
ção, os biodigestores são do tipo canadense e foram instala-
dos para solucionarem problemas ambientais ocasionados
por dejetos da criação de suínos.
Identificou-se que a região do Maciço de Baturité tem
potencial para a instalação de vários biodigestores em seus
municípios, em função da disponibilidade de matéria or-
gânica de origem animal e vegetal nas propriedades rurais
familiares. No entanto, percebe-se que muitos agricultores
desconhecem essa tecnologia sustentável (OLIVEIRA, 2018).
Na Universidade da Integração Internacional da Luso-
fonia Afro-Brasileira (UNILAB), no município de Redenção,
foi idealização um biodigestor artesanal em batelada a fim
de viabilizar seu uso, principalmente nas áreas rurais. O bio-
digestor foi construído com materiais recicláveis utilizando
garrafa pet com capacidade de 20 L, câmara de ar e alimen-
tado com dejetos de bovino (Figura 2). O investimento para a
construção do biodigestor artesanal foi de R$ 113,65.

Figura 2 – Biodigestor artesanal em batelada na UNILAB,


Redenção

Fonte: Santos (2018).

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O biodigestor artesanal começou a produzir biogás


aos 14 dias. Após 21 dias, verificou-se que a câmara de ar fi-
cou cheia, realizou-se então, a liberação do biogás através da
queima para esvaziar e evitar explosão. Após esse período,
não ocorreu mais a produção de biogás. A retirada do biofer-
tilizante ocorreu após uma semana do final da produção do
biogás. O biofertilizante foi utilizado nas plantas ornamen-
tais existentes no Campus das Auroras na UNILAB.
Na Tabela 2, têm-se a comparação dos gases do biogás
em 4 biodigestores nos municípios de Ocara e Redenção. Na
avaliação dos gases do biodigestor canadense em Redenção
observou-se 64% de CH4 e 28% de CO2 originário de dejetos
de suínos. Já, os biodigestores indianos do município de
Ocara, apresentaram: o biodigestor indiano 1 mostrou 43,1%
de CH4 e 22,4% de CO2 e biodigestor indiano 2 retratou 60%
de CH4 e 33,1% de CO2, esses equipamentos são alimentados
com dejetos de bovinos. O Biodigestor artesanal na UNILAB
apresentou 50,5% de CH4, 24,3% de CO2, 2,1% de O2, 19 ppm
de CO e 4 ppm de H2S.

Tabela 5 – Comparação dos gases do biogás de biodigestores


instalados em propriedades rurais nos municípios de Ocara e
Redenção, Maciço de Baturité, Ceará.
Tipos de biodigestores

Composição Canadense Indiano 1 Indiano 2 Biodogestor artesanal


(Redenção/Unilab)
do biogás (Redenção) (Ocara) (Ocara)
Esterco Esterco Esterco Esterco
suíno bovino bovino bovino

H2S (ppm) 3.500 24 243 4

CO2 (%) 28 22,4 33,1 24,3

CH4 (%) 64 43,1 60 50,5

O2 (%) 0,4 4,7 0,2 2,1

Fonte: Oliveira (2018) e Santos (2018).

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O CH4 produzido pela biodigestão no interior dos bio-


digestores de Redenção e em Ocara proporciona redução
da emissão direto dos gases do efeito estufa na atmosfera.
Segundo Marques et al. (2014) a utilização da tecnologia do
biodigestor favorece uma destinação adequada aos dejetos
de animais e promove a conscientização das comunidades
rurais sobre os impactos ambientais e da emissão de gases
de efeito estufa na atmosfera, bem como o seu possível agra-
vante no aquecimento global.
Observa-se, que o biodigestor canadense apresenta
maior percentual de CH4 quando comparado com os biodi-
gestores indianos, isso ocorreu devido aos dejetos de suínos
produzirem maior quantidade de CH4 em relação aos dejetos
de bovinos. Colatto e Langer (2011) ressaltam que a produção
de gás CH4 pode diferenciar dentro das espécies em razão da
alimentação, visto que animais confinados tendem a produ-
zir quantidades maiores de CH4. Sganzela (1983) revela que
os dejetos de suínos possuem melhor ganho, cerca de 560 m³
de biogás, com percentual de 50% de CH4, comprovando que
a produção de biogás a partir de dejetos suínos é maior em
relação aos dejetos bovinos e aves.
Gusmão (2008) salienta que a proporção de cada gás
que compõem o biogás depende de dois parâmetros, o tipo
de biodigestor e a biomassa a digerir. O autor informa ainda,
que o biogás é essencialmente formado por CH4 com valores
médios na ordem de 50 a 75%, e por CO2 com aproximada-
mente 25 a 40%. Outros gases, também, participam da mis-
tura: hidrogênio (H2), nitrogênio (N2), monóxido de carbono
(CO), oxigênio (O2) e gás sulfídrico (H2S).
Tarrento e Martinez (2006) mencionam que o biogás
produzido em biodigestores modelo indiano, em um período
de um ano, determinou-se, em média, 57,7% de CH4 e 34,2 de
CO2. Já, os biodigestores indianos de Ocara apresentaram,

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em média, 62% de CH4 e 27,75% de CO2, significando que os


resultados apresentam valores de CH4 e CO2 semelhantes ao
abordado por Tarrento e Martinez.
O biodigestor Canadense abastecido com dejetos de
suínos apresentou maior quantidade de H2S em relação aos
biodigestores indianos com dejetos de bovinos. O biodiges-
tor canadense possui filtro de água para remoção de emxo-
fre. Pipatmanomai et al. (2009) reportam que a avaliação
econômica do uso de biogás para produção de eletricidade
com e sem sistema de remoção de H2S, por meio de carvão
ativado impregnado com 2% de iodeto de potássio, em pe-
quenas explorações suinícolas na Tailândia, foi eficiência na
remoção de H2S que pode chegar a 100% com adsorção de
0,062 kg de H2S kg-1 do adsorvente.
Lin et al. (2013) explanam que a eficiência de remoção
do H2S do biogás da fermentação anaeróbica de dejetos de
bovinos, por meio de processo químico biológico ocorrem
em concentração média de 3542 ppm de H2S na entrada do
filtro o tempo de retenção do biogás foi de 288 segundos e a
eficiência de remoção foi de 95%.
De acordo com NUTEC através do Laboratório de Re-
síduos Sólidos e Efluentes (Larse) o biogás usado pelos por
agricultores está dentro dos padrões de qualidade aceitáveis
para queima sem risco aos usuários. Ele ressalta ainda que
o biodigestor traz diversas vantagens que podem contribuir
para saneamento básico, eliminar odores dos dejetos ani-
mais, reduzir o número de insetos como as moscas, e auxi-
liar na preservação do meio ambiente ao reduzir o aqueci-
mento global no processo da queima do gás metano, princi-
pal causador do efeito estufa (NUTEC, 2018).

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CONCLUSÃO

O estudo comprova que o aproveitamento de dejetos


animais existentes nas propriedades rurais nos municípios
do Maciço de Baturité que têm biodigestores serve para a
produção de biogás e biofertilizante proporcionando gera-
ção de renda, melhorando a qualidade de vida, bem como re-
duzindo a poluição e auxiliando no saneamento ambiental.
A grande maioria das pessoas da região que foram in-
dagadas desconhece a tecnologia do biodigestor. Nesse sen-
tido, a disseminação da tecnologia do biodigestor apresenta
as diversas vantagens que as famílias podem obter com a
instalação do biodigestor. Os resíduos de animais e vegetais
são simplesmente desperdiçados em muitas propriedades
rurais e pode ser utilizado como fonte de biomassa para bio-
digestores e assim, favorecer o incremento financeiro para
os agricultores.

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AGRADECIMENTO

Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoa-


mento de Ensino Superior (CAPES) e a Universidade da In-
tegração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNI-
LAB).

Data de entrega: 29/06/2019.

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Síntese de ésteres etílicos utilizando


combinação de lipases livres como
catalisador e ácidos graxos livres
obtidos do óleo de coco verde
Lourembergue Saraiva de Moura Junior1
Maria Vanderly Nascimento Cavalcante2
Thales Guimarães Rocha3
José Cleiton Sousa dos Santos4
Maria Cristiane Martins de Souza5
Ada Amelia Sanders Lopes6

RESUMO
A industrialização trouxe também o aumento da produção de gases
poluentes, interferindo de forma direta no aumento do efeito estufa
causando o aquecimento global. Várias linhas de pesquisa buscam
combater a produção de gases poluentes, dentre elas o estudo do
aprimoramento na produção de biodiesel se destaca, buscando torná-lo
mais barato e mais limpo, como por exemplo a utilização de catalisadores
bioquímicos. Este capítulo visa determinar a melhor combinação de
lipases que atuam como catalisadores na reação de esterificação entre
ácidos graxos livres obtidos do óleo de coco verde e etanol tendo como
produto ésteres etílicos. Utilizou a lipase de Rhizomucor miehei, lipase de
Thermomyces lanuginosus e a phospolipase quimérica Lecitase Ultra como

1 Graduando em Engenharia de Energias, Instituto de Engenharias e Desenvol-


vimento Sustentável (IEDS), UNILAB. lourembergue@aluno.unilab.edu.br
2 Graduanda em Engenharia de Energias, Instituto de Engenharias e Desen-
volvimento Sustentável (IEDS), UNILAB. vanderlyjc@gmail.com
3 Graduando em Engenharia de Energias, Instituto de Engenharias e Desen-
volvimento Sustentável (IEDS), UNILAB. thales@aluno.unilab.edu.br
4 Doutor em Engenharia Química, Instituto de Engenharias e Desenvolvi-
mento Sustentável (IEDS), UNILAB. jcs@unilab.edu.br
5 Doutora em Engenharia Química, Instituto de Engenharias e Desenvolvi-
mento Sustentável (IEDS), UNILAB. mariacristiane@unilab.edu.br
6 Doutora em Engenharia Civil, Instituto de Engenharias e Desenvolvimento
Sustentável (IEDS), UNILAB. ada@unilab.edu.br

SÍNTESE DE ÉSTERES ETÍLICOS UTILIZANDO COMBINAÇÃO DE LIPASES LIVRES COMO CATALISADOR E ÁCIDOS GRAXOS LIVRES OBTIDOS DO
ÓLEO DE COCO VERDE
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catalisadores de forma individual ou combinadas para se obter a melhor


combinação. Os parâmetros utilizados nas reações foram razão molar 1:18
(ácidos graxos livres:álcool), conteúdo de biocatalisador equivalente à 2%
do volume da reação, temperatura de 48 ºC, tempo reacional 4h, e rotação
orbital de 200 rpm. A melhor combinação de lipases obtida foi utilizando
33% de lipase de Thermomyces lanuginosus e 67% de lipase de Rhizomucor
miehei atingindo 33,79% de conversão em ésteres etílicos.
Palavras-chave: Combinação de lipases. Biodiesel. Óleo de Coco Verde.

SYNTHESIS OF ETHYL ESTERS USING COMBINATION OF


FREE LIPASES AS A CATALYST AND FREE FATTY ACIDS
OBTAINED FROM GREEN COCONUT OIL

ABSTRACT
Industrialization has also brought about an increase in the production of
pollutant gases, directly interfering with the increase of the greenhouse
effect, causing global warming. Several lines of research seek to
combat the production of pollutant gases, among them the study of the
improvement in the production of biodiesel stands out, seeking to make
it cheaper and cleaner, such as the use of biochemical catalysts. This
chapter aims to study the best combination of lipases that act as catalysts
in the esterification reaction between free fatty acids obtained from
green coconut oil and ethanol having as the product ethyl esters. It used
Rhizomucor miehei lipase, Thermomyces lanuginosus lipase and chimeric
phospolipase Lecitase Ultra as individual or combined catalysts for the
best combination. The parameters used in the reactions were: molar
ratio 1:18 (free fatty acids: alcohol), biocatalyst content equivalent to 2% of
the reaction volume, temperature of 48 ºC, reaction time 4 h, and orbital
rotation of 200 rpm. The best combination of lipases obtained was using
33% lipase from Thermomyces lanuginosus and 67% Rhizomucor miehei
lipase achieving 33.79% conversion to ethyl esters.
Keywords: Combination of lipases. Biodiesel. Green Coconut Oil.

INTRODUÇÃO

Por muito tempo os combustíveis fósseis foram utili-


zados como uma fonte de energia ideal e eficiente. A indus-
trialização trouxe consigo o aumento da extração e do con-
sumo de combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural,
carvão, para inúmeros fins. Porém estes combustíveis são

SÍNTESE DE ÉSTERES ETÍLICOS UTILIZANDO COMBINAÇÃO DE LIPASES LIVRES COMO CATALISADOR E ÁCIDOS GRAXOS LIVRES OBTIDOS DO
ÓLEO DE COCO VERDE
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fontes de energia baseados em carbono e quando consumi-


dos ocorre a liberação de gases poluentes como dióxido de
nitrogênio (NO2), dióxido de carbono (CO2), monóxido de
carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2), entre outros, oca-
sionando sérios problemas para o meio ambiente, como por
exemplo o aumento do efeito estufa ocasionando o aqueci-
mento global (RASTOGI et al., 2018).
Vários tipos de energias consideradas renováveis bus-
cam a diminuição de impactos ambientais provocados por
hidrelétricas por exemplo, como a energia solar, energia
eólica, entre outras, porém uma maneira de combater o au-
mento do efeito estufa devido à produção de gases poluen-
tes é a utilização do biodiesel em oposição à utilização de
diesel que provém de combustível fóssil (MOAZENI; CHEN;
ZHANG, 2019). O biodiesel é um combustível que pode ser
produzido através de diversos recursos incluindo resíduos,
como óleo de cozinha usado, desperdício de gordura animal
e lodo oleoso de fábrica. Uma das vantagens do biodiesel
com relação ao diesel é a não liberação de enxofre, porém
uma desvantagem é o custo na produção (GEBREMARIAM;
MARCHETTI, 2018).
Os métodos mais conhecidos para a produção de bio-
diesel são a transesterificação e a esterificação. Na transes-
terificação utiliza-se um óleo, que deve possuir índice de
acidez próximo ou inferior à 0,3 mgKOH/g, reagindo com
um álcool de cadeia curta, geralmente metanol ou etanol,
na presença de um catalisador tendo como produto ésteres
etílicos, biodiesel, e o coproduto glicerol. Na esterificação
a reação ocorre entre ácidos graxos livres, obtidos dos tri-
glicerídeos de um determinado óleo, e um álcool de cadeia
curta na presença de um catalisador. Em ambas as reações
o catalisador pode ser de caráter químico, ácido ou base, ou
bioquímico, enzimas (LÓPEZ et al., 2015).

SÍNTESE DE ÉSTERES ETÍLICOS UTILIZANDO COMBINAÇÃO DE LIPASES LIVRES COMO CATALISADOR E ÁCIDOS GRAXOS LIVRES OBTIDOS DO
ÓLEO DE COCO VERDE
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Pesquisas buscam diminuir o custo na produção do


biodiesel, uma ramificação dessas pesquisas é a utilização
de enzimas como catalisador na reação de obtenção do bio-
diesel. As lipases são uma classe de enzimas que atuam em
reações que possuem lipídios como reagente, estão presen-
tes na forma livre e imobilizada, quando imobilizadas é pos-
sível a sua reutilização, podendo ser feito a mesma reação
diversas vezes com o mesmo catalisador.
A lipase de Thermomyces lanuginosus pode ser adqui-
rida na forma livre (Lipozyme® TL) ou na forma imobilizada
(Lipozyme® TL-IM) e sua estrutura é indicada na Figura 1,
assim como a lipase de Rhizomucor miehei presente na for-
ma livre e na forma imobilizada (Lipozyme® RM-IM) e sua
formação é mostrada na Figura 2. A phospolipase quimérica
que possui nome comercial Lecitase Ultra, é a combinação
de duas lipases e tem as características de uma lipase, po-
rém não é encontrada no meio ambiente, um exemplo desse
tipo de lipase é a Phospolipase A1 apresentada na Figura 3
(VIRGEN-ORTÍZ et al., 2019).

Figura 1 – Lipase de Termomyces lanuginosus

Fonte: Elaborado pelos autores

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ÓLEO DE COCO VERDE
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Figura 2 – Lipase de Rhizomucor miehei

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 3 – Phospolipase A1

Fonte: Elaborado pelos autores

Além de ser um material facilmente reaproveitável, o


coco possui diversas finalidades como por exemplo a produ-
ção de óleo e a utilização de seus resíduos para o mercado de
isolamento térmico, devido às características presentes na
sua composição. O seu óleo pode ser utilizado para a produ-

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ção de biodiesel, e uma vantagem é a sua flexibilidade térmi-


ca, pois permanece líquido em temperatura ambiente.
Neste trabalho, têm-se como objetivo analisar a me-
lhor combinação de lipases livres como catalisador na pro-
dução de ésteres etílicos, biodiesel, através da reação de es-
terificação, utilizando ácidos graxos livres obtidos do óleo
de coco verde. A utilização desta rota é devido ao índice de
acidez do óleo de coco verde, pois não se encontra adequada
à rota de transesterificação, e também pela rota de esterifi-
cação não possuir coproduto.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

As lipases de Thermomyces lanuginosus (Lipozyme®


TL), Rhizomucor miehei (Palatase®20000 L) e a phospolipase
quimérica Lecitase® Ultra foram adquiridas pela Novozy-
mes, Espanha. Álcool etílico (P.A 99,96%) e os demais rea-
gentes utilizados foram obtidos da Vetec (São Paulo, Brasil)
e Synth (São Paulo, Brasil). O óleo de coco verde foi adqui-
rido em um mercado local e possui a seguinte composição
em ácidos graxos: ácido capróico (0,38%), ácido caprílico
(5,56%), ácido cáprico (4,99%), ácido láurico (45,78%), ácido
mirístico (18,56%), ácido palmítico (8,85%), ácido esteárico
(3,39%), ácido oléico (5,65%), ácido linoléico (0,94%) e os de-
mais ácidos presentes (5,99%).

Métodos

Os ácidos graxos livres foram obtidos utilizando a


metodologia descrito por Mano (1987) e Lima e Fernandes
(2014), empregando um sistema de aquecimento e refluxo ao

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invés do sistema com ultrassom. As reações de esterificação


foram feitas em erlenmeyers de 10mL com tampa contendo
o catalisador (combinação de lipases) e o substrato, formado
pelos ácidos graxos livres e o etanol, e colocadas em uma In-
cubadora TE – 4200 na qual foi programado a temperatura,
o tempo e a rotação orbital desejada.
Os parâmetros utilizados nas reações foram deter-
minados por estudos previamente feitos, são eles: 48°C de
temperatura, 4 horas de reação, razão molar ácidos graxos
livres:álcool (1:18), conteúdo de biocatalisador igual à 2% do
volume de solução e rotação orbital de 200 rpm.
As conversões foram obtidas através de titulação uti-
lizando hidróxido de sódio (NaOH 0,1M) e fenolftaleína con-
forme a metodologia de Santos (2011), que é a mesma utiliza-
da pela American Oil Chemists Society (AOCS), um cálculo
baseado no índice de acidez da reação com a presença de
catalisador e no índice de acidez do branco, reação sem a
presença do catalisador.

(1)

A Equação 1 apresenta o cálculo para se obter o índice


de acidez de uma amostra, onde IA é o índice de acidez da
amostra, v é o volume titulado, M a molaridade da solução de
NaOH, f o fator de correção da solução de NaOH, e m a massa
da amostra.

(2)

A Equação 2 apresenta o cálculo para se obter a con-


versão em ésteres etílicos de uma amostra, onde IAB é o índi-
ce de acidez do branco, e IAA é o índice de acidez da amostra
onde quer se obter a conversão em ésteres etílicos.

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A figura da lipase de Termomyces lanuginosus (Figura 1),


da lipase de Rhizomucor miehei (Figura 2) e da phospolipase A1
(Figura 3) foram obtidas no software PyMOL, na qual o código
pdb de cada uma respectivamente é 1DT3, 4TGL e 2YIJ.
Um planejamento experimental para misturas com
superfície de resposta triangular de três fatores foi feito no
software STATISTICA® 10.0 para determinar a melhor com-
binação de lipases, este software também foi utilizado para
aplicar as conversões das reações e obter uma superfície de
resposta triangular presente na Figura 4. Na Tabela 1, po-
de-se encontrar as seguintes combinações de lipases e suas
subsequentes conversões.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Analisando a Tabela 1, observa-se que a combinação de


lipases que possui melhor conversão foi apresentada na rea-
ção 5, na qual possui 33% da massa de biocatalisador de Lipo-
zyme TL e 67% de Palatase,resultando em uma conversão de
33,79% em ésteres etílicos. Outra combinação de lipases que
apresentou uma conversão considerável de 30,24% é a rea-
ção 6, que possui 33% de Lecitase Ultra e 67% de Palatase. A
presença da Palatase é o que há em comum entre as reações
citadas, porém quando utilizada de forma isolada (100%)
apresentou conversão de 26,21%, menor do que quando uti-
lizou-se apenas 67% desta lipase em combinação com outras.

Tabela 1 – Planejamento experimental


Conversão
Reação Lipozyme TL Lecitase Ultra Palatase
(%)
1 1,00 0,00 0,00 11,71
2 0,00 1,00 0,00 10,11
3 0,00 0,00 1,00 26,21
4 0,33 0,67 0,00 15,27
5 0,33 0,00 0,67 33,79
(continua)

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6 0,00 0,33 0,67 30,24


7 0,67 0,33 0,00 18,09
8 0,67 0,00 0,33 20,4
9 0,00 0,67 0,33 19,58
10 0,33 0,33 0,33 26,22

A Figura 4 apresenta uma superfície de resposta


triangular, nela observa-se o desempenho das lipases nas
reações, e é constatado que a Palatase foi a lipase que apre-
sentou melhor poder catalítico, comparado à Lecitase Ultra
e à Lipozyme TL, perante o substrato e as condições empre-
gadas ao meio reacional.
Figura 4 – Superfície de resposta triangular. Condições
reacionais: 45 ºC, 4h, razão molar do substrato 1:18 (ácidos graxos
livres:álcool), concentração de biocatalisador 2% do volume do
substrato, 200 rpm.

Fonte: Elaborado pelos autores

Quando utiliza-se enzimas livres como catalisador de


uma reação, a mesma possui uma certa instabilidade em de-
terminadas variações de temperatura, agitação, entre outros
parâmetros. Também pode ocorrer do sítio ativo de uma co-

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brir o sítio ativo de outra impossibilitando o contato de ambas


com o substrato, ou simplesmente o seu sítio ativo não entre
em contato com o substrato. Esses e demais fatores impedem
a enzima de utilizar seu total poder catalítico, e por esse mo-
tivo as conversões obtidas foram consideravelmente baixas.

CONCLUSÃO

Portanto, a combinação de lipases que apresentou me-


lhor conversão em ésteres etílicos, 33,79%, foi utilizando 67%
de lipase de Rhizomucor miehei (Palatase) e 33% de lipase de
Termomyces lanuginosus (Lipozyme TL), de forma individu-
al (100%) a Palatase obteve melhor conversão, 26,21%. Con-
forme a resolução da ANP/51 o valor mínimo de conversão
em ésteres etílicos para ser considerado biodiesel deve ser
de 96,5%, logo não ocorreu a produção de biodiesel. Fatores
como os parâmetros reacionais e principalmente a instabili-
dade das lipases, podendo diminuir a atividade catalítica do
coquetel, afetam de forma direta nas conversões.

REFERÊNCIAS

ANP. Resolução normativa N° 45 de 25/08/2014, Especificação


do Biodiesel – Regulamento Técnico ANP N° 3 de 2014 – al-
terada pela Resolução ANP N° 51 de 25/11/2015. Disponível
em< https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=274064>
Acesso em: 10 junho 2019.
GEBREMARIAM, S.n.; MARCHETTI, J.m.. Economics of bio-
diesel production: Review. Energy Conversion And Manage-
ment, [s.l.], v. 168, p.74-84, jul. 2018. Elsevier BV.
LIMA, L. P.; FERNANDES, F. A. N. Avaliação do uso de ultras-
som na produção de ácidos graxos via reação de saponifica-
ção seguida de hidrólise ácida. p. 10889-10896. In: Anais do

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466 JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • ADA AMELIA SANDERS LOPES

XX Congresso Brasileiro de Engenharia Química – (COBEQ)


2014 [= Blucher Chemical Engineering Proceedings, v.1, n.2].
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LÓPEZ, Beatriz Castillo et al. Production of biodiesel from
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MANO, E.B.; SEABRA, A.P. Práticas de Química Orgânica.
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MOAZENI, Faegheh; CHEN, Yen-chih; ZHANG, Gaosen. En-
zymatic transesterification for biodiesel production from
used cooking oil, a review. Journal Of Cleaner Production,
[s.l.], v. 216, p.117-128, abr. 2019. Elsevier BV.
RASTOGI, Rajesh P. et al. Algal Green Energy – R&D and te-
chnological perspectives for biodiesel production. Renewa-
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SANTOS, José Cleiton Sousa dos. Estudo de parâmetros nas
reações de síntese enzimática de biodiesel por intermédio de
fluidos supercríticos. 2011. 102 f. Dissertação (Mestrado) –
Curso de Engenharia Química, Universidade Federal do Ce-
ará, Fortaleza, 2011.
VIRGEN-ORTÍZ, Jose J. et al. Lecitase ultra: A phospholipa-
se with great potential in biocatalysis. Molecular Catalysis,
[s.l.], v. 473, p.1-13, ago. 2019. Elsevier BV.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro das Agências Brasi-


leiras de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fun-
dação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FUNCAP) (BP3-0139-000005.01.00/18) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-
lógico (CNPq) projetos 422942/2016-2 e 409058/2016-5.

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ÓLEO DE COCO VERDE
LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 467

Ninguém solta a mão de ninguém1:


acontecências da EJA no Maciço de
Baturité-CE
Luís Carlos Ferreira2
Izabel Cristina dos Santos Teixeira3

RESUMO
O presente trabalho tem como propósito discutir, no campo das políticas
de formação de professores, sobre as componentes curriculares Ensino
da EJA e Estágio Curricular em EJA [ou a ausência delas] nos currículos
das Licenciaturas da UNILAB e apresentar as acontecências pedagógicas
realizadas no cotidiano escolar da EJA no Maciço de Baturité, com
algumas proposições. Nos limites do texto, tivemos duas preocupações
que nortearam nossas discussões: a primeira que perpassou o campo das
políticas públicas de educação voltadas para a formação de professores
no campo da EJA. A segunda, localizada nas realizações encontradas nas
andanças pelas instituições da EJA, usadas pela expressão acontecências.
Por fim, na proposta de trabalho denominada de “ninguém solta a mão de
ninguém” como experiência de aproximação entre a universidade com
as escolas de EJA, integrando e interagindo com a gestão, docentes que
atuam com turmas de EJA, estudantes-estagiários e docentes da UNILAB
nas ações pedagógicas de discussões sobre a modalidade de educação e
ensino, num primeiro momento. E, posteriormente, na realização futura
da formação continuada desses professores das escolas do Maciço do

1 Essa expressão foi utilizada no período político de eleição para presidência


em 2019 e, no contexto do trabalho será tratado na perspectiva educacional
de registrar parte do realizado no cotidiano escolar da EJA, com vistas à ga-
rantia no acesso aos estudos como também a permanência na EJA, com fins
à certificação e conclusão da formação escolar.
2 Professor Adjunto A, da UNILAB-CE, Doutor em Políticas Públicas e Forma-

ção Humana-UERJ, Mestre em Educação e Pedagogo, concentra extensão e


pesquisa no campo da Educação de Jovens e Adultos Brasil-África, além da
docência em Estágio da EJA. Email: luisferreira@unilab.edu.br
3 Professora Associada I. Doutora em Literatura-UFSC, Mestre em Literatu-

ra-UFSC, atualmente, ministra as disciplinas de Estágio Supervisionado


em Literatura (Letras- UNILAB) e Ensino de EJA nos países da integração
(Pedagogia-UNILAB), dedicando-se a projetos de formação docente. E-mail:
izabel.cristina@unilab.edu.br

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


468 LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA

Baturité envolvidas na temática. Longe de encerrar um debate educacional


tão amplo e complexo, insistimos na rara possibilidade de (re)pensarmos
o outro com o outro. É no diálogo com o sujeito-trabalhador da EJA que
entendemos com Freire (1986), ter condições de fazê-lo sair mais da
“ingenuidade idealista” e menos de um “utopismo sonhador”.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Componentes
curriculares. Cotidiano escolar.

NOBODY RELEASES NOBODY’S HAND: EVENTS OF THE EJA IN


THE MASS OF BATURITÉ-CE

ABSTRACT
This paper aims to discuss, in the field of teacher education policies, the
curricular components of the EJA Teaching and Curricular Internship in
EJA [or the absence of them] in the curricula of the UNILAB Undergraduate
Programs and present the pedagogical events carried out in the school daily
life of the EJA in the Massif de Baturité, with some propositions. Within
the limits of the text, we had two concerns that guided our discussions: the
first one that crossed the field of public education policies aimed at teacher
training in the EJA field. The second, located in the achievements found
in the wanderings by the institutions of the EJA, used by the expression
events. Finally, in the work proposal called “nobody lets go of nobody’s
hand” as an experience of approaching the university with the EJA schools,
integrating and interacting with the management, teachers working with
EJA classes, student-trainees and teachers of UNILAB in the pedagogical
actions of discussions on the modality of education and teaching, in
the first moment. And later, in the future realization of the continued
formation of these teachers of the Baturité Massif schools involved in the
theme. Far from closing such a large and complex educational debate, we
insist on the rare possibility of (re) thinking the other with the other. It
is in the dialogue with the subject-worker of the EJA that we understand
with Freire (1986), to be able to make it come out more of the “idealistic
naivete” and less of a “dreamy utopianism”.
Keywords: Youth and Adult Education. Curricular components. School
daily.

INTRODUÇÃO

A tentativa inicial de descrever nossas acontecências4


4 O termo “acontecências” é o título da música de Cláudio Nucci que, em sua
letra, expressa o “Acorda ligeira e venha olhar...”

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 469

parte do diálogo entre a universidade e as escolas de educa-


ção básica – ensinos fundamental e médio – que trabalham
com a educação de jovens e adultos, enquanto modalidade
de educação e ensino, objeto de nosso interesse nas ativida-
des de docência, extensão e pesquisa, especialmente no Ma-
ciço do Baturité-CE5.
Assim, as diversas “acontecências” abrem espaço para
refletirmos sobre os avanços gradativos e lentos das políticas
públicas de educação para a EJA que, ao se materializarem
em investimentos nos projetos de educação e, sobretudo, na
escolarização das pessoas que buscam a escola da segunda
chance, surtem efeitos transformadores.
No entanto, um dos desafios apontados nas discussões
sobre a modalidade de EJA está no campo das políticas de
educação voltadas para a formação de professores, especial-
mente, nos cursos de Licenciatura. Nesse caso, problema-
tizamos a ausência da Educação de Jovens e Adultos como
componente curricular nos cursos de Formação de Profes-
sores. Para além dos conteúdos pedagógicos trabalhados
no interior das componentes ligadas às áreas de Didática,
Metodologias e Práticas de Ensino e Estágios Curriculares,
insistimos no potencial das discussões teóricas e metodo-
lógicas que, integrados aos estágios curriculares e práticas
pedagógicas desenvolvidas nos currículos acadêmicos dos
cursos, a exemplo da Pedagogia, tendem a contribuir com
a formação dos professores que buscam atuar na educação
básica, seja nas escolas de ensino regular ou nas diversas
modalidades de educação e ensino.

5 O Maciço do Baturité está localizado no interior do estado do Ceará, ca-


racterizado pela formação geológica que reúne os municípios onde a UNI-
LAB-CE, campus Redenção, está inserida. Assim, temos os municípios de
Baturité, Pacoti, Palmácia, Guaramiranga, Mulungu, Aratuba, Capistrano,
Itapiúna, Aracoiaba, Acarape, Redenção, Barreira e Ocara.

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


470 LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA

Reconhecemos que, no campo da EJA, o processo for-


mativo, quando desenvolvido nos cursos de Licenciatura,
tende a qualificar os [futuros] professores com subsídios
teóricos e metodológicos na elaboração de ações didáticas
condizentes com a aprendizagem dos sujeitos-trabalhado-
res da EJA, inseridos dentro e fora da escola. Ao mesmo tem-
po, identificamos, entre os docentes que atuam com turmas
e escolas de EJA, tanto no ensino fundamental como no mé-
dio, discussões pedagógicas que têm se tornado secundárias
às atividades desenvolvidas nas salas de aula.
Optamos pela expressão “ninguém solta a mão de nin-
guém” por diversos motivos: o primeiro, para apresentarmos
parte das nossas experiências de observação, acompanha-
mento e avaliação, tanto na componente curricular Ensi-
no da EJA, como no Estágio Curricular em EJA. O segundo
motivo, como aproximação entre a universidade e as escolas
de EJA, integrando, à gestão, docentes que atuam com tur-
mas de EJA, estudantes-estagiários e docentes da UNILAB
nas ações pedagógicas de discussões sobre a modalidade
de educação e ensino, em um primeiro momento. E, poste-
riormente, na realização futura de formação continuada6 de
professores das escolas do Maciço do Baturité envolvidos
com a temática, associando-a aos processos de formação e
qualificação dos estudantes-estagiários da EJA.
Diante disso, o propósito do texto é discutir, no campo
das políticas de formação de professores, sobre as compo-
nentes curriculares Ensino da EJA e Estágio Curricular em
EJA [ou a ausência delas] nos currículos das Licenciaturas
da UNILAB e apresentar as acontecências pedagógicas rea-
lizadas no cotidiano escolar da EJA no Maciço de Baturité,
com algumas proposições.
6 O Projeto “Ninguém solta a mão de ninguém”, será realizado no segundo se-
mestre do calendário acadêmico da UNILAB, em agosto de 2019;

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 471

É importante dizer que, na UNILAB7, somente o curso


de Licenciatura em Pedagogia fixa as componentes curricu-
lares de Ensino de EJA e Estágio Curricular em EJA como
obrigatórias. No curso de Letras, a componente Ensino de
Jovens e Adultos aparece como optativa, sendo que o está-
gio na modalidade não é obrigatório8. Enquanto nos demais
cursos de Licenciatura9, as referidas componentes curricu-
lares não aparecem inseridas nas estruturas curriculares, o
que não impede que a temática da EJA faça parte dos conteú-
dos e das discussões pedagógicas localizadas no interior dos
planos de ensino.

AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E OS


ESTÁGIOS CURRICULARES EM EJA

Antes, é preciso que se diga que no âmbito das políti-


cas de educação centradas na formação de professores temos,
recentemente, a Resolução CNE/CP 2/2015 que define as Di-
retrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial em
Nível Superior (cursos de licenciatura, cursos de formação
pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura)
e para a Formação Continuada. Em outras palavras, a forma-
ção de professores na educação básica relacionada às diferen-
tes etapas e modalidades, passa a ser definida por princípios,
fundamentos que orientam as políticas, a gestão, os progra-
mas e os cursos de formação que avançam nas legislações10
7 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira;
8 A prática do estágio em turmas de EJA somente é aceita se for, previamente,
autorizada pela coordenação do curso.
9 Além das Licenciaturas em Pedagogia e Letras, a UNILAB oferece as Licen-

ciaturas em Sociologia, Física, História, Matemática, Química e Ciências


Biológicas.
10 Temos a Lei nº 9.131, de 24/11/1995, Lei nº 9.394/1996, Lei nº 11.494/2007,

Lei nº 11.502/ 2007, Lei nº 11.738/2008, Lei nº 12.796/2013, Lei nº 13.005/2014


nos Arts. 61 à 67 e Art. 87 da Lei nº 9.394/1996; Decreto nº 6.755/2009, as

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


472 LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA

pertinentes às discussões educacionais dessa natureza.


No entanto, entre a efetivação das políticas públicas de
educação implementadas para garantir qualidade na educa-
ção e as acontecências realizadas no cotidiano escolar existe
um distanciamento que passa por diferentes estratégias e
táticas de praticantes (CERTEAU, 2005) que operam na en-
cenação da vida. Não por acaso, a educação de jovens e adul-
tos está longe de ser prioridade pelos sistemas e instituições
de ensino, pois respondem à educação por resultados, na
lógica neoliberal, em que indicadores de qualidade servem
para medir o desempenho da gestão escolar – número de
matrículas, nível de evasão e abandono escolar, quantidade
de concluintes, preenchimento do censo escolar, desempe-
nho na avaliação estadual (SPAECE), alcance das metas do
SAEB/IDEB entre outros.
Não é novidade dizer que, entre as políticas de edu-
cação, a EJA assume um lugar secundário nos programas,
projetos e discussões acerca da escolarização da sociedade.
E, na perspectiva da formação de professores, a temática
envolvendo a modalidade quando materializada em com-
ponentes curriculares serve para instrumentalizar, teórica
e metodologicamente, os estudantes das licenciaturas que
farão parte dos quadros profissionais dos sistemas de ensi-
no [se já não atuam como contratados] para atuarem nessas
modalidades de educação e ensino.
Nossa preocupação consiste em dar lugar de destaque
a EJA nos cursos de formação de professores e nos processos
formativos com os que atuam no ensino regular, como for-
ma de potencializar a profissionalização docente e superar

Resoluções CNE/CP nº 1, de 18/02/ 2002, CNE/CP nº 2/2002, CNE/CP nº 1,


de 15/05/2006, CNE/CP nº 1, de 11/02/2009, CNE/CP nº 3, de 15/06/2012, e as
Resoluções CNE/CEB nº 2, de 19/04/1999, e CNE/CEB nº 2, de 25/02/2009 e
as DCN’s da Educação Básica.

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 473

a precarização da modalidade nos currículos educacionais.


Em outras palavras, repensar as didáticas e práticas associa-
das a uma abordagem crítica da EJA, seja para fortalecer os
professores em formação ou para os formados que atuam
com práticas docentes concretas.
Num contexto mais amplo, os estágios curriculares
nos possibilitam verdadeiros campos de pesquisa e exten-
são, à medida que contextualizam práticas culturais diver-
sas, mobilizam conhecimentos que, articulados às teorias,
fundamentam as metodologias, dão sentido e significado às
aprendizagens no cotidiano. Encontramos a riqueza desse
encontro – ensino, pesquisa e extensão – quando relaciona-
mos à modalidade da EJA aos trabalhos finais de curso e na
difusão de conhecimentos interdisciplinares e pedagógicos,
sobretudo, porque atravessam diferentes áreas e discussões
em encontros, seminários e fóruns de educação.
Conforme a Resolução CNE/CP 2/2015 temos em seu
Artigo 3º que

“a formação inicial e a formação continuada des-


tinam-se, respectivamente, à preparação e ao
desenvolvimento de profissionais para funções
de magistério na educação básica em suas etapas
– educação infantil, ensino fundamental, ensino
médio – e modalidades – educação de jovens e
adultos, educação especial, educação profissional
e técnica de nível médio, educação escolar indí-
gena, educação do campo, educação escolar qui-
lombola e educação à distância [...].” (www.portal.
mec.gov.br)

Nesse contexto, é legítima a concepção de formação de


professores que passa pelos estágios curriculares, no caso
das Licenciaturas, como princípio de profissionalização que
vem sendo despertado nas componentes curriculares dos

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


474 LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA

cursos de graduação e, principalmente, nas Didáticas e Prá-


ticas de Ensino integradas às diferentes metodologias que
servem de mediadoras no processo de interação e articula-
ção entre os conhecimentos teórico-científicos das áreas e
as experiências práticas e vivificadas no campo de atuação,
ou seja, no cotidiano das escolas de educação básica.
Essa é uma das razões para a formação do professor-
-pesquisador em condições de refletir sobre sua própria
prática educativa e práxis pedagógicas ‘in loco’ nas diversas
experiências. Concordamos que as componentes curricula-
res instrumentalizam os estudantes das licenciaturas para
o rompimento de práticas enraizadas num conservadoris-
mo e levam às atividades próprias de “ensinagem”, cuja fi-
nalidade consiste em colaborar na transformação, na auto-
nomia, emancipação do sujeito “aprendente” temos que “o
estágio não é a práxis dos estudantes nos cursos de licen-
ciatura, mas que nesse processo formativo ele se constitui
em uma atividade teórica de conhecimento da práxis de
ensinar realizada pelos docentes nas escolas”. (PIMENTA;
LIMA, 2017, p.13)
Nossos estudos têm mostrado que a formação de
professores na graduação, quase sempre, carrega em sua
origem uma concepção hegemônica de que a prática do-
cente está centrada em crianças e jovens em idade escolar,
cujas ações didáticas podem ser desenvolvidas com base no
desenvolvimento da aprendizagem infantil ou infanto-juve-
nil. Na contradição, a educação de jovens e adultos tem se
mantido nos últimos cinco anos com cerca de 3,5 milhões de
estudantes matriculados no ensino fundamental e médio.
Desse total, 40% das matrículas estão localizadas na região
Nordeste. (INEP/MEC, 2018; Todos pela Educação, 2019)
Os efeitos da invisibilidade da EJA nos currículos aca-
dêmicos dos cursos de formação de professores podem ser

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 475

identificados entre as diversas práticas educativas de re-


produção da “escola da criança” seja: nas metodologias de
ensino aplicadas sem a contextualização para o público de
jovens, adultos e idosos; nos materiais didático-pedagógi-
cos trabalhados em sala de aula e, principalmente, na con-
cepção de que a maneira como o jovem, o adulto e/ou idoso
aprendem pode ser entendida como sendo da mesma forma
que a aprendizagem na idade própria.
Um projeto formativo comprometido com a educação
pública e de qualidade pressupõe a profissionalização dos
professores que, de um lado, reconheça a inclusão cidadã
daqueles que deixaram os bancos escolares na idade pró-
pria; e de outro, contribua na redução da desigualdade edu-
cacional entre os diferentes públicos atendidos pela escola
democrática.

ACONTECÊNCIAS NO COTIDIANO DA EJA: NINGUÉM


SOLTA A MÃO DE NINGUÉM

Após dialogarmos com as políticas de educação vol-


tadas para a formação de professores, relacionando aos
estágios e às componentes curriculares nas Licenciaturas,
tomamos por base os cursos de licenciatura da UNILAB nas
discussões sobre a profissionalização e os desafios a serem
alcançados num futuro próximo.
Nesse momento, partimos do que [concretamente]
acontece no cotidiano das escolas de EJA no Maciço do Ba-
turité para que, parte dessas acontecências seja objeto de
reflexão teórica e prática entre as instituições de ensino e
docentes alcançados nas vivências e experiências nas ati-
vidades conferidas ‘in loco’. Na dinâmica das componentes
curriculares estão inseridos os conhecimentos teóricos que
fundamentam histórica, social e politicamente a modalida-

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


476 LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA

de de educação e ensino que, tanto oferecem subsídios aos


estágios curriculares como servem de referência e interlo-
cução com as instituições de ensino.
Ao mesmo tempo, temos realizado visitas de aproxi-
mação, observação, acompanhamento e avaliação das ativi-
dades nas escolas públicas de EJA do Maciço de Baturité. Ao
relacionarmos às componentes curriculares, fortalecemos
nossos estudantes-estagiários nos locus de vivência práti-
ca que, ao (re)conhecerem parte da realidade presente no
cotidiano dessas instituições – infraestrutura das escolas,
condições de oferta, aspectos no atendimento, salas de aula,
material didático – têm condições de desenvolver práticas
pedagógicas junto às experiências com os docentes nas ins-
tituições de ensino.
Entre as acontecências no/do cotidiano da EJA, pode-
mos destacar as rodas de conversa com os professores que
lecionam nessas turmas, os encontros com quem está res-
ponsável pela escola, principalmente, no turno da noite; e
também com os estudantes que participam das aulas. Soma-
das as rodas de conversa, tomamos a expressão ninguém sol-
ta a mão de ninguém por constatarmos, em nossas andanças,
algumas marcas dessa carência de diálogo nas discussões
pedagógicas na EJA, sobretudo, pensando nas ações didáti-
cas ou nas acontecências realizadas pelos docentes que têm
servido de base para um primeiro momento de aproxima-
ção, antes da proposta de formação continuada.
Aspectos antagônicos da EJA, tanto na organização
política como na prática cotidiana da modalidade, mostram
longo caminho a ser percorrido para alcançarmos a equida-
de nessa modalidade. Por conseguinte, duas perspectivas
emblemáticas doce-amarga11 se coadunam na organização

11 Expressão inspirada em Certeau (1996).

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 477

dos espaços e no cotidiano das escolas: 1. de um ensino regu-


lar, normalmente, diurno voltado para as crianças e jovens
em idade regular, cujos projetos pedagógicos trabalhados
reforçam a integração da equipe pedagógica e gestora nas
temáticas que compõem a formação de valores e conheci-
mentos necessários aos encaminhamentos futuros da vida
das crianças e jovens; 2. de uma educação de jovens e adul-
tos, normalmente, trabalhada no turno noturno, aos que re-
tornam à escola pós-idade própria; cujas ações pedagógicas
trabalhadas [quase sempre] partem do docente, individuali-
zado, em sua componente ou área curricular ao invés de pro-
jetos pedagógicos articulados entre as áreas de ­formação.
Alguns desses efeitos simbólicos podem ser compre-
endidos no compartilhamento dos espaços, de modo que à
educação de jovens e adultos cabe assegurar espaços de sa-
las de aula somente, descartando o uso de laboratórios, bi-
blioteca, espaços outros utilizados nos ensino regular; outro
significativo efeito está na ausência da equipe pedagógica e/
ou gestora dessas escolas de EJA, sobretudo, nos horários
de funcionamento dessas turmas e, por conseguinte, no tra-
balho restrito mais às salas de aula do que aos espaços de
convivência e compartilhamento. Ao mesmo tempo, esses
antagonismos se misturam na convivência, nas formas de
organização da vida escolar e dão sentido ao que é “possível”
de ser realizado em ações específicas ou nas “táticas de pra-
ticantes”. (CERTEAU, 1996)
Nesse contexto, a baixa na frequência escolar dos es-
tudantes nas salas de aula é o que mais preocupa os docentes
que, de forma recorrente, explicam que existe uma relação
direta entre a frequência e a refeição escolar e a refeição
escolar com o calendário de provas. Em outras palavras, ve-
rifica-se um contingente de estudantes bem maior em dias
de realização das provas e, quase sempre, nos horários das

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


478 LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA

refeições.
Porém, nossa análise passa pela urgência de se (re)
pensar alternativas pedagógicas que possam contribuir
para o interesse e o compromisso com a formação de jovens
e adultos, pois muitas acontecências acumuladas em nossas
andanças pelas escolas da rede pública no Maciço de Batu-
rité, demonstram que ainda precisamos superar práticas
conservadoras enraizadas [historicamente] nos moldes da
escola regular tradicional. Além disso, muito do que vemos
são práticas pedagógicas e ações didáticas transferidas da
escola regular para a educação de jovens e adultos como ten-
tativa de se estabelecer um ritmo de aprendizagem ao adul-
to análogo à aprendizagem da criança.
Em um cenário de reprodução da escola conservadora
na EJA, algumas práticas se repetem no âmbito das salas de
aula como: os registros de cópia nos cadernos – dever no qua-
dro de giz/lousa – dos conteúdos apresentados pelo professor;
a utilização dos livros didáticos com a produção de exercícios
de fixação das aulas; a realização de provas como instrumen-
to de maior pontuação nas avaliações12, por exemplo.
Numa proposta interdisciplinar, apontamos para a
Metodologia de Projetos (HERNÁNDEZ, 1998) como possi-
bilidade para minimizar algumas dessas questões tão re-
correntes de falta de estímulo à participação, baixa frequ-
ência nas salas de aula, contraditoriamente, reveladas pela
presença dos estudantes na escola e fora das salas de aula.
Então, recorremos à obra “Medo e Ousadia” em que Freire e
Schor (1986, p.204) falam do significado da aula libertadora
que “não aceita o status quo e os mitos de liberdade. Ela esti-
mula o aluno a desvendar a manipulação real e os mitos da
sociedade. Nesse desvendamento, mudamos nossa compre-
12 Na fala dos professores da EJA, os dias em que acontecem as provas são os
que garantem maior número de estudantes nas escolas.

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 479

ensão da realidade, nossa percepção”.


Essas e tantas outras questões desvelam parte dos me-
canismos de exclusão que se passam no interior das escolas
e das salas de aula da EJA e nos fazem repensar a existência
da escola da segunda chance como, pedagogicamente, mo-
dificar a forma de compreensão da realidade. Isso porque,
numa perspectiva libertadora e dialógica, a prática pedagó-
gica encarada como uma ação política pode não mudar a re-
alidade, em si, mas permite uma consciência crítica e liber-
tadora para se contestar a própria realidade dada.
Assim, as dificuldades de aprendizagem reiteram a luta
dos docentes em tornar significativa e cidadã a aprendizagem
das letras, dos números e, principalmente, dos diferentes sa-
beres e conhecimentos adquiridos pelos estudantes-traba-
lhadores da EJA, incorporados nas experiências de leitura do
mundo ao cotidiano invisível das salas de aula. Nesse aspecto,
é importante que se diga do comprometimento sob o ponto de
vista social, político e, sobretudo, econômico, que implica na
(re) produção do analfabetismo e do analfabetismo funcional
decorrentes de tantas ocorrências [micro e macro] que dei-
xam marcas no desenvolvimento produtivo do país.
De todo modo, quando reconhecemos nas acontecên-
cias do cotidiano das escolas de EJA que “ninguém solta a mão
de ninguém”, recuperamos um olhar para as múltiplas possi-
bilidades ligadas entre os professores e o campo pedagógico.
Nessa busca, temos os que buscam a formação continuada
como também os que vislumbram participar dos programas
de Pós-Graduação Latu sensu ou Scrito sensu, particular-
mente, da UNILAB. Não somente isso, temos os que veem a
oportunidade de participar das atividades institucionais da
própria universidade como os fóruns, encontros, seminá-
rios de pesquisa e extensão13.
13 IV Fórum Permanente das Licenciaturas da UNILAB-CE e I Colóquio Regio-
nal de Educação de Jovens e Adultos no Maciço do Baturité, além da Sema-

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


480 LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos limites do texto, tivemos duas preocupações que


nortearam nossas discussões: a primeira que perpassou o
campo das políticas públicas de educação voltadas para a
formação de professores no campo da EJA. A segunda, lo-
calizada nas realizações encontradas nas andanças pelas
instituições da EJA, usadas pela expressão acontecências. E,
por fim, na proposta de trabalho denominada de “ninguém
solta a mão de ninguém” como experiência de aproximação
entre a universidade com as escolas de EJA, integrando e in-
teragindo com a gestão, docentes que atuam com turmas de
EJA, estudantes-estagiários e docentes da UNILAB nas ações
pedagógicas de discussões sobre a modalidade de educação
e ensino, num primeiro momento. E, posteriormente, na re-
alização futura da formação continuada desses professores
das escolas do Maciço do Baturité envolvidas na temática.
No âmbito das políticas de formação de professores
nas Licenciaturas, a Resolução CNE/CP 2/2015 define as Di-
retrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial em
Nível Superior (cursos de licenciatura, cursos de formação
pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatu-
ra) e para a Formação Continuada, contemplando a Educa-
ção de Jovens e Adultos como campo de atuação, desenvol-
vimento e docências nos currículos escolares. No entanto,
quando observamos as estruturas curriculares dos cursos
de formação de professores, em especial, tomando como
base o currículo das licenciaturas da UNILAB vemos que, a
exceção da Licenciatura em Pedagogia, as demais trabalham
com a disciplina de EJA (optativa na Licenciatura em Letras)
ou admitem o estágio em turmas de EJA em caso de dificul-

na Universitária fazem parte da proposta de formação.

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 481

dades encontradas no acesso aos estágios em turmas de en-


sino regular.
Como parte do resultado gerado com as componentes
Ensino da EJA e o Estágio Curricular em EJA, temos: as rodas
de conversa ou grupos de compartilhamento, grupos de es-
tudos em Pesquisa e Extensão, além dos fóruns, encontros e
seminários de EJA. E, de modo preliminar, as acontecências
passam pelos desafios com que o ensino de jovens e adultos
tem enfrentado nas questões ligadas ao cotidiano das esco-
las, desde os aspectos de infraestrutura, participação e en-
volvimento da gestão escolar e/ou equipe pedagógica, como
no âmbito pedagógico, ligado aos desafios de repensar prá-
ticas culturais enraizadas num modelo de escola da crian-
ça, sustentada pelo conservadorismo e ao fazer pedagógico
tradicional; passando pelas dificuldades de planejamento
integrado a projetos de trabalho ou metodologia de projetos
(HERNÁNDEZ, 1998).
Ao atribuirmos práticas interdisciplinares na escola
da segunda chance ou da pós-idade regular, pressupomos
o aumento da frequência escolar dissociando dos aspectos
da refeição e do calendário de provas; interação entre os es-
tudantes-estagiários com os projetos pedagógicos desenvol-
vidos com e pelos docentes; percepção das formas de resis-
tência à domesticação e manipulação da capacidade crítica
e criativa de aprender por toda vida. Esses efeitos formam
um continuum entre uma educação mecanicista e opressora
para uma educação libertadora e emancipatória, pautada no
pensamento freireano de que “uma realidade obscura desa-
tiva a criatividade das pessoas, mantendo uma cortina dian-
te do que elas precisam ver para iniciar a transformação.
Ensino neutro é outro nome para um currículo obscuro”.
(FREIRE, 1986, p.206)
Longe de encerrar um debate educacional tão amplo

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


482 LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA

e complexo, insistimos na rara possibilidade de (re)pensar-


mos o outro com o outro. É no diálogo com o sujeito-traba-
lhador da EJA que entendemos ter condições de fazê-lo sair
mais da “ingenuidade idealista” e menos de um “utopismo
sonhador”. (FREIRE, 1986)

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. INEP. Censo Escolar 2018.


Disponível em: http://inep.gov.br/censo-escolar. Acesso em:
5 mai.2019.
BRASIL Resolução CNE/CP 2/2015, de 2 de julho de 2015. De-
fine as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação
Inicial em Nível Superior (cursos de licenciatura, cursos
de formação pedagógica para graduados e cursos de se-
gunda licenciatura) e para a Formação Continuada. Dispo-
nível em: http://portal.mec.gov.br/docman/agosto-2017-p-
df/70431-res-cne-cp-002-03072015-pdf/file. Acesso em: 6
jun.2019.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 2. Morar, cozi-
nhar. Petrópolis: Vozes, 1996.
______. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis:
Vozes, 2005.
HERNÁNDEZ, Fernando. A organização do currículo por pro-
jetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria do Socorro Lucena.
Os (des)caminhos das políticas de formação de professores – o
caso dos estágios supervisionados e o programa de iniciação
à docência: duas faces da mesma moeda? 38ª Reunião Nacio-
nal da ANPEd, Sessão Especial Subárea 3, GTs 04,08,12, 16,
19,24, Políticas educacionais em disputa e novas legislações
na formação de professores, UFMA, São Luís/MA, 2017.
Disponível em: file:///C:/Users/lferr/Documents/Form-
professores/sessoes_38anped_2017_3_politicas_educacio-

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


LUÍS CARLOS FERREIRA • IZABEL CRISTINA DOS SANTOS TEIXEIRA 483

nais_em_disputa_ima_garrido_socorro.pdf. Acesso em: 19


mai.2019.
SHOR, Ira; FREIRE, Paulo. Medo e Ousadia – O cotidiano do
professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
TODOS PELA EDUCAÇÃO; EDITORA MODERNA. Anuário
Brasileiro da Educação Básica 2019. São Paulo, 2019. Disponí-
vel em: https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_
posts/302.pdf. Acesso em: 20 mai.2019.

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM: ACONTECÊNCIAS DA EJA NO MACIÇO DE BATURITÉ-CE


MARIA GIRLANE SOUSA ALBUQUERQUE BRANDÃO • ALAN SIDNEY JACINTO DA SILVA • LÍVIA MOREIRA BARROS
484 THIAGO MOURA DE ARAÚJO

Laserterapia e pé diabético:
parâmetros de uso terapêutico
e benefícios no processo de
cicatrização
Maria Girlane Sousa Albuquerque Brandão1
Alan Sidney Jacinto da Silva2
Lívia Moreira Barros3
Thiago Moura de Araújo4

RESUMO
O objetivo do trabalho consiste em analisar a produção científica
acerca dos parâmetros e benefícios da laserterapia no tratamento do pé
diabético. Trata-se de revisão sistemática nas bases de dados: PUBMED,
LILACS, SCIELO, Cochrane Library, Web of Science e Scopus, por meio
da utilização dos descritores DECs: Terapia com Luz de Baixa Intensidade
and Cicatrização de Feridas and Pé diabético e MeSH: Low-Level Light
Therapy and Wound Healing and Diabetic Foot. Foram incluídos artigos
científicos originais em inglês, português e espanhol. Foram excluídas as
produções que não atenderam a questão norteadora do estudo, estudos
repetidos, pesquisas com animais, revisões de literatura e estudos in vitro.
Foram identificados 73 artigos nas cinco bases de dados consultadas,
sendo selecionados seis artigos mediante a categorização dos critérios de
inclusão e exclusão. A maioria dos estudos realizou a pesquisa com dois
grupos diferentes: Grupo Controle com terapia convencional e Grupo com
terapia convencional associada à utilização do Laser como terapêutica,
sendo o número de pacientes entre 16 a 56. Em relação aos parâmetros
1 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
E-mail: girlane.albuquerque@yahoo.com.br
2 Enfermeiro. Mestrando em Enfermagem pela Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: alans.enf@gmail.com
3 Doutora em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem da Universi-
dade Estadual Vale do Acaraú. E-mail: livia.moreirab@hotmail.com
4 Doutor em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem da Universida-
de da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
E-mail: thiagomoura@unilab.edu.br

LASERTERAPIA E PÉ DIABÉTICO: PARÂMETROS DE USO TERAPÊUTICO E BENEFÍCIOS NO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO


MARIA GIRLANE SOUSA ALBUQUERQUE BRANDÃO • ALAN SIDNEY JACINTO DA SILVA • LÍVIA MOREIRA BARROS
THIAGO MOURA DE ARAÚJO 485

do laser utilizados nos estudos, o comprimento de onda em nanômetros


(nm) foi entre 632,8 nm a 830 nm. As doses em joules (J) tiveram variação
de três a 20 J/cm2 com predominância de 12 sessões de laserterapia, em
três atendimentos semanais alternados. Os efeitos benéficos apontados
foram melhorias na progressão da ferida, redução de algias e desconfortos
locais, atuação anti-inflamatória, perfusão tecidual da lesão aumentada
e melhor resposta dos sistemas vascular e nervoso. A utilização de laser
com comprimento de onda próximo a 632,8 nm e dose de três a 6J/cm2
foram apontados como mais eficientes na terapêutica do pé diabético e na
promoção de benéficos ao processo de cicatrização do pé diabético.
Palavras-chave: Pé diabético. Cicatrização. Laserterapia.

LASERTHERAPY AND DIABETIC FOOT: THERAPEUTIC USE


PARAMETERS AND BENEFITS IN THE HEALING PROCESS

The objective of this study is to analyze the scientific production about


the parameters and benefits of laser therapy in the treatment of diabetic
foot. It is a systematic review in the databases: PUBMED, LILACS,
SCIELO, Cochrane Library, Web of Science and Scopus, using the
descriptors DECs: Low Intensity Light Therapy and Wound Healing and
Diabetic Foot and MeSH: Low-Level Light Therapy and Wound Healing
and Diabetic Foot. Original scientific articles were included in English,
Portuguese and Spanish. Productions that did not attend to the guiding
question of the study, repeated studies, animal studies, literature reviews
and in vitro studies were excluded. A total of 73 articles were identified
in the five databases consulted, and six articles were selected through
categorization of inclusion and exclusion criteria. Most of the studies
carried out the research with two different groups: Control Group with
conventional therapy and Group with conventional therapy associated
with the use of Laser as therapy, with the number of patients being
between 16 and 56. Regarding the laser parameters used in the studies,
the wavelength in nanometers (nm) was between 632,8 nm and 830 nm.
Joules doses (J) ranged from three to 20 J/cm2 with a predominance of 12
laser therapy sessions, in three alternating weekly visits. The beneficial
effects indicated were improvements in wound progression, reduction
of local pain and discomfort, anti-inflammatory action, tissue perfusion
of the increased lesion and better response of the vascular and nervous
systems. The use of laser with wavelength close to 632,8 nm and dose of
three to 6J/cm2 were pointed out as being more efficient in the therapy
of the diabetic foot and in the promotion of beneficial to the process of
diabetic foot healing.
Keywords: Diabetic foot. Healing. Lasertherapy.

LASERTERAPIA E PÉ DIABÉTICO: PARÂMETROS DE USO TERAPÊUTICO E BENEFÍCIOS NO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO


MARIA GIRLANE SOUSA ALBUQUERQUE BRANDÃO • ALAN SIDNEY JACINTO DA SILVA • LÍVIA MOREIRA BARROS
486 THIAGO MOURA DE ARAÚJO

INTRODUÇÃO

As Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) são


consideradas problema de saúde pública, por representa-
rem cerca de 70% das causas de óbito nos últimos oito anos
em todo o mundo. Dentre as DCNT mais frequentes, o Dia-
betes Mellitus (DM) ocupa a quarta posição (MALTA et al.,
2017).
Há estimativa que o DM afeta aproximadamente 425
milhões de pessoas no mundo, além de ser um fator contri-
buinte para outras comorbidades com necessidade de cui-
dados contínuos. Seu manejo é altamente complexo e sofre
influência de fatores diversos, tais como os genéticos, con-
dição sociocultural, ambiental, alimentar e hábitos de vida,
diferenças regionais e grau de instrução (AMERICAN DIA-
BETES ASSOCIATION, 2016).
A população com DM encontra-se majoritariamente
nos países em desenvolvimento, nos quais a epidemia tem
maior intensidade, o que favorece negativamente o maior
risco de repercussões incapacitantes (FLOR; CAMPOS, 2017).
O pé diabético trata-se de uma das repercussões mais
incapacitantes associadas ao DM. Tal complicação está ge-
ralmente associada a fatores de risco, como neuropatia pe-
riférica e doença vascular periférica, comumente presentes
em clientes diabéticos (BORTOLETTO et al., 2010).
Assim, lesões em membros inferiores aparecem com
maior frequência em pessoas com DM comparadas aos não
diabéticos e atinge 6,4% da população em nível mundial au-
mentando, de dez a 20 vezes, as chances de evoluir para a
amputação (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION,
2017). As amputações não traumáticas de membros inferio-
res ocasionadas por pé diabético correspondem 40-70% dos
casos (FEITOSA et al., 2015).

LASERTERAPIA E PÉ DIABÉTICO: PARÂMETROS DE USO TERAPÊUTICO E BENEFÍCIOS NO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO


MARIA GIRLANE SOUSA ALBUQUERQUE BRANDÃO • ALAN SIDNEY JACINTO DA SILVA • LÍVIA MOREIRA BARROS
THIAGO MOURA DE ARAÚJO 487

A necessidade de amputação em membros inferiores


infere diretamente na qualidade de vida das pessoas, por
influenciar negativamente na produtividade e independên-
cia do sujeito (BENTO et al., 2016). Além disso, proporcio-
na elevados gastos públicos com admissões hospitalares e
internações prolongadas, que resultam em consequências
socioeconômicas para a pessoa e a sociedade (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES, 2016).
Nesse contexto de pé diabético vem surgindo recursos
eletroterapêuticos, dentre eles, o laser, que vem sendo apon-
tado como terapêutica que pode favorecer uma cicatrização
rápida e eficaz, devido suas características físicas (KAZEMI-
KHOO et al., 2018).
Este artigo tem por objetivo analisar a produção cien-
tífica acerca dos parâmetros e benefícios da laserterapia no
tratamento do pé diabético.

REVISÃO DA LITERATURA

Laserterapia como tecnologia de reparo tecidual

A tecnologia laser é atualmente bastante discutida


como ferramenta adjuvante no tratamento de feridas, con-
tudo, sua origem é remota. Essa tecnologia deu início na Eu-
ropa Oriental e é fortemente baseada nos estudos de Endre
Mester, de Budapeste, conhecido como pai da bioestimu-
lação, assim, a utilização do laser como uma tecnologia te-
rapêutica tem sido acompanhada na área biomédica desde
1960 (BUSNARDO, 2010).
O mecanismo biológico de ação dessa tecnologia tra-
ta-se da absorção de luz vermelha e infravermelha por cro-
móforos presentes nos componentes proteicos da cadeia
respiratória, situado nas mitocôndrias, que ao absorverem a

LASERTERAPIA E PÉ DIABÉTICO: PARÂMETROS DE USO TERAPÊUTICO E BENEFÍCIOS NO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO


MARIA GIRLANE SOUSA ALBUQUERQUE BRANDÃO • ALAN SIDNEY JACINTO DA SILVA • LÍVIA MOREIRA BARROS
488 THIAGO MOURA DE ARAÚJO

energia desencadeiam uma cascata de eventos bioquímicos,


tais como, aumento da atividade enzimática, deposição e or-
ganização do colágeno (VIRGINI-MAGALHÃES, 2008).
O laser é um dispositivo composto por conteúdos de
origem sólida, líquida ou gasosa, que determinam um feixe
de luz, comumente denominado de “raio laser”, quando esti-
muladas por fonte de energia. Tal aparelho pode ser classifi-
cado em duas categorias: lasers de alta potência ou cirúrgi-
cos, com efeitos térmicos proporcionando propriedades de
corte, vaporização e hemostasia, e lasers de baixa potência
ou terapêuticos, que oferecem propriedades analgésicas,
anti-inflamatórias e de bioestimulação (SILVA et al., 2007;
BARROS et al., 2008).
O princípio da bioestimulação originada pelo laser
terapêutico foi descoberto há mais de 20 anos, utilizado
pioneiramente na área da dermatologia, especialmente, no
processo de reparo de feridas cutâneas. Logo em seguida, foi
sugerido que a bioestimulação também poderia ser útil para
acelerar a cicatrização de feridas crônicas (CATÃO, 2004).
Desde então, a laserterapia tem sido considerada uma
terapêutica adjuvante, útil no tratamento de feridas crôni-
cas e tem despertado interesse no caso específico do pé dia-
bético, pelo seu possível efeito benéfico ao nível da microcir-
culação e na modulação da reparação tecidual (BARBOSA et
al., 2011).
O processo de reparo tecidual compõe uma reação te-
cidual dinâmica, a qual abrange distintos fenômenos, tais
como: inflamação, proliferação celular e síntese de elemen-
tos constituintes da matriz extracelular, incluindo as fibras
colágenas, elásticas e reticulares. Vale inferir que o laser
terapêutico não tem efeito francamente curativo, ele atua
como um importante agente antiálgico, ofertando ao orga-
nismo uma melhor resposta à inflamação, com coerente re-

LASERTERAPIA E PÉ DIABÉTICO: PARÂMETROS DE USO TERAPÊUTICO E BENEFÍCIOS NO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO


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THIAGO MOURA DE ARAÚJO 489

dução do edema e minimização da sintomatologia dolorosa,


além de favorecer de maneira bastante eficaz a reparação
tecidual da região lesada mediante a bioestimulação celular
(MALUF, 2006).
Assim, a laserterapia apresenta-se como um recurso
terapêutico de baixo custo e eficiente no reparo tecidual de
feridas, capaz de acelerar o processo de reparo em tecidos
distintos por meio do emprego de fontes de luz de baixa po-
tência (MOREIRA et al., 2011).

Pé diabético e laserterapia

Pacientes diabéticos estão mais susceptíveis a desen-


volver lesões em membros inferiores com grande dificulda-
de de reparo tecidual dessas lesões, popularmente conheci-
das como pé diabético. Esse déficit no processo de reparação
tecidual se deve primariamente ao comprometimento da
perfusão sanguínea, que evita o adequado fornecimento
de oxigênio, nutrientes e antibióticos, essencialmente nos
membros inferiores. Esse processo incita à desorganização
dos estágios iniciais de reparo, ocasionando atraso no pro-
cesso de regeneração dos tecidos lesados (STEFANELLO;
HAMERSKI, 2006; ABREU; OLIVEIRA, 2015).
A ação cicatricial das feridas é caracterizada por um
processo complexo, em que estão envolvidas atividades celu-
lares e quimiotáticas, com liberação de mediadores químicos
e respostas vasculares. Na derme lesionada, ocorre uma série
de eventos que levam à regeneração e à restauração do tecido
lesionado (ANDRADE et al., 2013). O processo de cicatrização
normal pode ser dividido em três etapas: inflamatória; proli-
ferativa e remodelamento (MEDEIROS; FILHO, 2016).
Em indivíduos com pé diabético as fases do proces-
so de cicatrização de uma ferida podem sofrer alterações,

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490 THIAGO MOURA DE ARAÚJO

sendo necessárias outras intervenções para o auxílio do


processo de cicatrização, além dos tratamentos conven-
cionais, como troca de curativos diariamente, uma vez que
pode estar havendo processos infecciosos na lesão, ou alte-
rações metabólicas relacionadas à diabetes (MEIRELES et
al., 2009).
Nesse contexto, a fototerapia tem ganhado, nos últi-
mos anos, um peso crescente como opção terapêutica no
campo das feridas crônicas, incluindo as úlceras diabéticas,
que são um problema importante de saúde pública, que ca-
rece de novas tecnologias terapêuticas que estimulem a ca-
pacidade de cicatrização do organismo. A laserterapia apre-
senta-se, portanto, como um instrumento atrativo neste
âmbito, por ser método não invasivo, indolor, de baixo custo
e que tem mostrado eficiência no tratamento de feridas dia-
béticas (BARBOSA et al., 2011, PALAGI et al., 2015; KAZEMI-
KHOO et al., 2018; PRIYADARSHINI et al., 2018).
Contudo, é válido ressaltar que para considerar o uso
da laserterapia como método terapêutico deve ser pondera-
do os parâmetros corretos associados à distância entre pele
e aparelho, área da ferida que será irradiado, tipo de lentes
ou espelhos utilizados durante o tratamento, tipo de fonte,
potência de saída, divergência do feixe emitido, tempo de
aplicação, profundidade do tecido, dispersão, absorção e
técnica de aplicação (GEOVANINI, 2014).
Além disso, devem ser considerados o comprimento
de onda, o tipo de pulso, a densidade de energia e a frequ-
ência de tratamento para propiciar a efetividade terapêutica
(ANDRADE; CLARK; FERREIRA, 2014).

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THIAGO MOURA DE ARAÚJO 491

Figura 1. Utilização do laser de baixa potência como


terapia adjuvante na cicatrização do pé diabético.
Uma vez estabelecidos e aplicados os parâmetros
corretos, a laserterapia pode ser vista como tratamento ad-
juvante capaz de acelerar o processo de cicatrização do pé
diabético, e, mesmo quando não há a cicatrização total da le-
são, promove melhora, o que repercute no maior bem-estar
do paciente e possível impacto positivo na sua qualidade de
vida (BAVARESCO et al., 2019).

MÉTODO

Revisão sistemática da literatura, com levantamento


bibliográfico realizado entre dezembro de 2018 e maio de
2019.
Foi realizada busca foi atemporal, nas bases de dados:
National Library of Medicine (PUBMED), Literatura Lati-
no-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Cochrane Li-
brary, Web of Science e Scopus, por meio da utilização dos
descritores DECs: Terapia com Luz de Baixa Intensidade
and Cicatrização de Feridas and Pé diabético e MeSH: Low-
-Level Light Therapy and Wound Healing and Diabetic Foot.
Foram incluídos artigos científicos originais em in-
glês, português e espanhol. Foram excluídas as produções
que não atenderam a questão norteadora do estudo, estudos
repetidos, pesquisas com animais, revisões de literatura e
estudos in vitro.
Foram identificados 73 artigos nas cinco bases de da-
dos consultadas, sendo selecionados seis artigos mediante a
categorização dos critérios de inclusão e exclusão.

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492 THIAGO MOURA DE ARAÚJO

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A maioria dos estudos (n=5) realizou a pesquisa com


dois grupos diferentes: Grupo Controle com terapia conven-
cional e Grupo com terapia convencional associada à utiliza-
ção do Laser como terapêutica, sendo o número de pacien-
tes entre 16 a 56.
Em relação aos parâmetros do laser utilizados nos es-
tudos, o comprimento de onda em nanômetros (nm) foi entre
632,8 nm a 830 nm. Pesquisa realizada no Brasil identificou
predominância do uso do laser em feridas diabéticas com
comprimento de onda de 632,8 nm (SOUSA; BATISTA, 2016).
As doses em joules (J) tiveram variação de três a 20 J/
2
cm , porém, a maioria dos estudos aplicou dosimetria de
três a 6J/cm2 na área da lesão diabética. Estudo europeu que
agrupou 20 pesquisas sobre aplicação do laser em feridas
diabéticas identificou que 4J/cm2 apresentou melhores re-
sultados na reparação da ferida, redução da ação inflamató-
ria, aumento da deposição de colágeno e maior proliferação
de miofibroblastos (BECKMANN et al., 2014).
No que se refere ao número e período das aplicações,
os estudos mostraram predominância de 12 sessões de la-
serterapia, em três atendimentos semanais alternados. Em
estudo africano também houve evidência que 12 sessões de
tratamento com laser são satisfatórias para acelerar o repa-
ro tecidual da ferida (ABDELBAGI et al., 2015).
No que tange aos efeitos benéficos do laser, foram
apontadas melhorias na progressão da ferida, redução de
algias e desconfortos locais, atuação anti-inflamatória, per-
fusão tecidual da lesão aumentada e melhor resposta dos
sistemas vascular e nervoso.
O laser de baixa potência é uma tecnologia que utiliza
fontes de luz como recurso terapêutico. No momento que a

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THIAGO MOURA DE ARAÚJO 493

luz laser interage com as células e tecidos com uma dose e


comprimento de onda corretos, esta favorece positivamen-
te funções celulares como: proliferação de células, estimu-
lação de linfócitos, ativação de mastócitos, produção de ATP
mitocondrial, desencadeando efeitos anti-inflamatórios
(RODRIGUES et al., 2017).
Estudo Indiano evidenciou que em duas semanas,
feridas diabéticas de 75% dos pacientes do grupo de tra-
tamento com laser tiveram redução de 30-50% da área le-
sionada (MATHUR et al., 2017). No Irã, pesquisa constatou
que na quarta semana de tratamento com laserterapia, o
tamanho da ferida diabética diminuiu significativamente
(KAVIANE et al., 2011). Estudos brasileiros apontaram que
houve redução estatisticamente significante do tamanho
da lesão e da dor pós-laser (CARVALHO et al., 2016; FEITO-
SA et al., 2015). Na Itália e Brasil, pesquisas relataram que a
aplicação do laser promove aumento de neovascularização
e proliferação de fibroblastos, com diminuição na quanti-
dade do infiltrado inflamatório nas lesões (FEITOSA et al.,
2015; SALVI et al., 2017).
O laser apresenta-se, portanto, como uma tecnologia
capaz de acelerar o progresso do reparo tecidual de lesões
diabéticas, além de outros benefícios, como a melhora da
dor, redução de infecção, melhora da vascularização e ação
anti-inflamatória.
Contudo, é válido inferir que, trata-se de uma tecnolo-
gia adjuvante, em que outros fatores, como alimentação sau-
dável, autocuidado do paciente, higienização e hidratação
dos pés e controle glicêmico também são essenciais para o
desfecho satisfatório do tratamento.

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494 THIAGO MOURA DE ARAÚJO

CONCLUSÃO

A utilização de laser com comprimento de onda próxi-


mo a 632,8 nm e dose de três a 6J/cm2 foram apontados como
mais eficientes na terapêutica do pé diabético e na promo-
ção de melhora do estado álgico, aumento na perfusão teci-
dual da lesão, estímulo da neovascularização e proliferação
celular.
É fundamental que novos estudos sejam realizados em
torno dessa tecnologia de fonte de luz, em face dos melhores
parâmetros de dose e comprimento de onda que possam de
maneira singular coadjuvar no tratamento do pé diabético
e reduzir o número de amputações de membros inferiores.

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LASERTERAPIA E PÉ DIABÉTICO: PARÂMETROS DE USO TERAPÊUTICO E BENEFÍCIOS NO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO


MARIA VANDERLY NASCIMENTO CAVALCANTE • BRUNNA LIMA PORFIRIO DE SOUSA • LOUREMBERGUE SARAIVA DE MOURA JUNIOR
498 JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • MARIA ALEXSANDRA DE SOUSA RIOS • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES

Hidrólise enzimática do óleo de coco


verde para produção de ácidos graxos
Maria Vanderly Nascimento Cavalcante1
Brunna Lima Porfirio de Sousa2
Lourembergue Saraiva de Moura Junior3
José Cleiton Sousa dos Santos4
Maria Alexsandra de Sousa Rios5
Ada Amélia Sanders Lopes6

RESUMO
O uso das enzimas nas reações de hidrólise vem sendo difundida
para produção de ácidos graxos pelos processos de esterificação,
interesterificação e transesterificação. Neste capítulo, a enzima
Thermomyces lanuginosus (TLL), obtida na forma imobilizada (Lipozyme®
TL-IM), foi utilizada para produção de ácidos graxos a partir do processo
de hidrólise com óleo de coco verde. Os resultados revelaram que os
melhores rendimentos foram obtidos na temperatura de 60º C, nas
razões molares 1:12 e 1:3 de óleo:água, com conteúdo de biocatalisador em
ambos de 9%, alcançando 29,89% e 23,98% de conversão respectivamente,
após 3 horas de reação. Os experimentos foram realizados através do
equipamento, agitador mecânico, com velocidade de 200 rpm para
obtenção da otimização do processo. Com base nesta análise, pode-se
observar que a reação de hidrólise com esta enzima TLL, não atingiu boa
conversão de ácidos graxos, podendo ter sido causado pela baixa adesão
da enzima ao substrato em questão.
Palavras-chave: Óleo de coco verde. Hidrólise. Lipase TLL.

1 Graduando em Engenharia de Energias-IEDS- UNILAB.


E-mail: vanderlyjc@gmail.com
2 Graduando em Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: brunna@aluno.unilab.edu.br
3 Graduando em Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: lourembergue@aluno.unilab.edu.br
4 Coordenador do curso de Engenharia de Energias – IEDS – UNILA.

E-mail: jcs@unilab.edu.br
5 Professora do departamento de Engenharia Mecânica – UFC.

E-mail: alexsandrarios@ufc.br
6 Professora Adjunta do curso de Engenharia de Energias – IEDS – UNILAB.

E-mail: ada@unilab.edu.br

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO ÓLEO DE COCO VERDE PARA PRODUÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS


MARIA VANDERLY NASCIMENTO CAVALCANTE • BRUNNA LIMA PORFIRIO DE SOUSA • LOUREMBERGUE SARAIVA DE MOURA JUNIOR
JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • MARIA ALEXSANDRA DE SOUSA RIOS • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES 499

ENZYMATIC HYDROLYSIS OF GREEN COCONUT OIL FOR FATTY


ACID PRODUCTION

ABSTRACT
The use of the enzymes in the hydrolysis reactions has been diffused
to produce fatty acids and thus modify the fats by esterification,
interesterification and transesterification processes. In this chapter,
a enzyme Thermomyces lanuginosus (TLL) is a species of immobilized
protein (Lipozyme® TL-IM), was used to produce fatty acids from the
hydrolysis process with green coconut oil. The results showed that the best
results were obtained at the temperature of 60º C, in the molar ratios 1:12
and 1: 3 of oil: water, with the index of biocatalyst in both of 9%, reaching
29,89% and 23,98 %. Then after 3 hours of reflection. The experiments
were completed through the mechanical stirrer, with a speed of 200
rpm to obtain the optimization of the process. Based on this analysis, it
is possible to observe the hydrolysis reaction with this TLL enzyme, not
being good the translation of fatty acids, being able to be controlled by the
low incidence of the enzyme to the substrate in question.
keywords: Green coconut oil. Hydrolysis. Lipase TLL.

INTRODUÇÃO

A diversidade e complexidade das moléculas orgâni-


cas na natureza é um reflexo notável do poder da catálise
enzimática. A taxa de aceleração, juntamente com a sele-
tividade e as condições de reações suaves oferecidas pelas
enzimas, agregam características importantes para os cata-
lisadores. (ANDERSON, LARSSON, & KIRK, 1998).
Hidrólise é a mais comumente reação catalisada e as
enzimas são particularmente importantes em aplicações
em que pares de enantiômeros, apresentados como ésteres
de carboxilato, devem ser distinguidos.(TURNER,1995). A
hidrólise enzimática de triglicerídeos pode ser realizada em
condições ambientais tornando-a energeticamente eficiente
As lipases são enzimas que catalisam especificamente
a hidrólise dos óleos em ácidos graxos livres e glicerol na in-

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO ÓLEO DE COCO VERDE PARA PRODUÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS


MARIA VANDERLY NASCIMENTO CAVALCANTE • BRUNNA LIMA PORFIRIO DE SOUSA • LOUREMBERGUE SARAIVA DE MOURA JUNIOR
500 JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS • MARIA ALEXSANDRA DE SOUSA RIOS • ADA AMÉLIA SANDERS LOPES

terface entre os dois líquidos. (MURTY et al., 2002). Estas são


bastante estáveis e podem ser obtidas de animais e plantas
bem como de microorganismos naturais e recombinantes
com bons rendimentos. (SCHMID; VERGER, 1998).
Outro aspecto importante é que as lipases são as en-
zimas mais utilizadas para a síntese de químicos orgânicos,
principalmente em meios aquosos e em alguns casos em
meios não aquosos, por que são baratas, estáveis e fácil de
reciclar. (YADAV; BORKAR, 2006).
Seu potencial sintético é em grande parte devido ao
fato das lipases, em contraste com a maioria das outras en-
zimas, aceitarem uma ampla gama de substratos tornando-
-as bastante estáveis em solventes orgânicos não aquosos e
dependo do sistema usado, pode ser aplicado a reações de
hidrólise. (SCHMID; VERGER, 1998). Segundo (VERDASCO-
-MARTÍN et al.,2018), entre as lipases mais utilizadas em
processos de transformação industrial de óleos e gorduras
destaca-se as de Candida Antarctica tipo B (CALB), Ther-
momyces Lanuginosus(TLL) e Rhizomucor Miehei (RML).
A lipase B de Candida antarctica (CALB) é uma lipase
versátil produzida em organismo geneticamente modifica-
do, que dificulta seu uso na produção de alimentos huma-
nos.(VERDASCO-MARTÍN et al.,2018). Já a enzima Rhizo-
mucor Miehei (RML) apresenta uma ampla aplicação nessa
área, indústria alimentar (RODRIGUES & FERNANDEZ-LA-
FUENTE, 2010).
A enzima Thermomyces Lanuginosus (TLL), por sua
vez, apresenta-se com grande utilização na hidrólise de és-
teres e no processo de transesterificação(DOS SANTOS et
al., 2015; GARCIA-GALAN et al., 2014; MENDES et al., 2011;
RUEDA et al., 2015a).
Os ácidos graxos possui grande interesse em produtos
como revestimentos, lubrificantes e biocombustiveis(AVE-

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO ÓLEO DE COCO VERDE PARA PRODUÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS


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LAR et al., 2013; MURTY et al., 2002) Nesse contexto, a en-


zima TLL na forma imobilizada (Lipozyme® TL-IM) foi uti-
lizada para produção de ácidos graxos a partir da reação de
hidrólise.

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

A enzima Thermomyces Lanuginosus (Lipozyme® TL-


-IM), foi obtida pelo Novozymes, Espanha. O óleo de coco
verde foi gentilmente cedido pela Fundação Núcleo de
Tecnologia Industrial do Ceará(NUTEC). A composição de
ácidos graxos do óleo se dava por: ácido capróico (0,38%),
ácido caprílico (5,56%), ácido cáprico (4,99%) ácido láu-
rico (45,78%), ácido mirístico (18,56%), ácido palmítico
(8,85%),ácido esteárico (3,39%), ácido oléico (5,65%), ácido li-
noléico (0,94%) e demais ácidos na composição (5,99%). Para
construção dos gráficos de pareto e superfícies de resposta,
utilizou-se o software STATISTICA® da StatSoft® versão 10.0.

Metodologia

Algumas pesquisas, utilizando enzimas para realiza-


ção do processo de hidrólise, podem ser evidenciadas em
(VESCOVI et al., 2016) onde o óleo residual passou pela hi-
drólise, seguida do processo de transesterificação com as
enzimas Thermomyces Lanuginosus(TLL) e Candida antarc-
tica tipo B(CALB), respectivamente. Neste ensaio, as enzi-
mas também haviam sido imobilizadas.
Outra metodologia em que se utiliza enzimas para re-
ação de hidrólise foi realizado por (SOUZA et al., 2019) onde
uma combinação das três lipases TLL, RML e CAL B, foram

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utilizadas em diferentes proporções a fim de se obter em


qual delas havia maior eficiência.
Na realização desta pesquisa, assim como nos estudos
mencionados acima, objetivou-se a hidrólise a partir de en-
zimas. A enzima empregada nesta reação foi a Thermomyces
Lanuginosus(TLL) obtida imobilizada (Lipozyme® TL-IM).
A hidrólise do óleo de coco verde foi realizada em dife-
rentes proporções molares de água para 1 grama de óleo(1:3-
1:12) em frascos de Erlenmeyer de 25 mL. O conteúdo de
biocatalisador, TLL, variou de 3% até 9% da massa do óleo
de coco verde. A mistura final desses três componentes foi
levado para agitação em um agitador orbital, com velocida-
de de 200 rpm, tempo de reação de 3 horas e temperatura
variando desde 30ºC até 60ºC.
Assim como realizou (ALVES et al., 2014) para deter-
minação do resultado da hidrólise, realizou-se neste experi-
mento também: 0,3 g de amostras foi titulada com uma so-
lução de NaOH( 0,1 M), usando 5mL de álcool etílico, e para
indicar pH fez-se uso da fenolftaleína, 3 gotas. Nesta meto-
dologia utilizou-se o álcool etílico

Hidrólise com a enzima Thermomyces Lanuginosus (TLL)

Com a tabela seguinte poderá ser observado os valores


de rendimento encontrados a partir das reações realizadas.

Tabela 1 – Rendimento da conversão a partir da hidrólise


Conteúdo
Razão
Temperatu- de Rendimento
Run Molar
ra (°C) Biocatalisa- (%)
(Óleo:Água)
dor
1 30 3 1:3 15,87
2 30 3 1:12 7,56
3 30 9 1:3 21,22

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4 30 9 1:12 16,42
5 60 3 1:3 21,03
6 60 3 1:12 14,39
7 60 9 1:3 23,98
8 60 9 1:12 29,89
9 30 6 1:7,5 9,59
10 60 6 1:7,5 16,24
11 45 3 1:7,5 17,16
12 45 9 1:7,5 23,06
13 45 6 1:3 22,88
14 45 6 1:12 12,91
15 45 6 1:7,5 16,42
16 45 6 1:7,5 19,56
17 45 6 1:7,5 12,91
B1 30 0 1:7,5 3,69
B2 45 0 1:3 2,39
B3 60 0 1:12 2,77
Fonte: Elaborado pelos autores

Como se pode observar a partir da tabela, os maiores


índices de conversão se encontram nas proporções de 1:12
e 1:3 de razão molar, com temperatura de 60ºC para ambos
assim como também, conteúdo de biocatalisador de 9% da
massa de óleo de coco verde para os dois valores.

RESULTADOS

Para avaliação das variáveis lineares no rendimento


da reação: temperatura, razão molar e conteúdo de biocata-
lisador; gerou-se o gráfico de Pareto, mostrado a seguir.

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Figura 1 – Gráfico de pareto dos efeitos investigados

Fonte: Elaborado pelos autores.

A partir deste gráfico de pareto é possível observar as


variáveis de maiores influências na reação. Estas se encon-
tram ultrapassando a linha vermelha, assim, pode-se afir-
mar que a variável a qual mais interfere na conversão da rea-
ção é o conteúdo de biocatalisador seguido da temperatura,
que não interfere tanto quanto o biocatalisador e por fim a
razão molar.
Prosseguindo com as análises, elaborou-se gráficos de
contorno para estudo dos três parâmetros bem como sua in-
teração com a conversão da reação.

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Figura 2 – Temperatura versus conteúdo de biocatalisador

Fonte: Elaborado pelos autores.

Analisando o gráfico, pode-se visualizar que as maio-


res conversões foram obtidas com conteúdo de biocatalisa-
dor com 9% e temperatura entre 50ºC a 60ºC. A partir desses
dados também é possível observar o efeito positivo da quan-
tidade de biocatalisador e a temperatura para rendimento
da reação.

Figura 3 – Conteúdo de biocatalisador versus razão molar

Fonte: Elaborado pelos autores.

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A partir do gráfico, observa-se que faixa onde há maior


conversão entre essas variáveis se encontra quando o conte-
údo do biocatalisador tem o valor de 9% e a razão molar não
se mostra como uma variável diminutiva do valor da conver-
são para essa faixa de valor de biocatalisador.

Figura 4 – Temperatura versus razão molar

Fonte: Elaborado pelos autores.

Neste último gráfico de contorno, observa-se que para


quase todos os valores de razão molar, aumentando-se a
temperatura os valores de conversão são os maiores para
esta reação. obtendo os maiores valores de conversão na fai-
xa entre 40ºC a 60C. Assim, pode-se analisar positivamente
o efeito da temperatura e razão molar sobre o rendimento
da hidrólise de óleo de coco verde.
Finalizando a análise gráfica dos parâmetros da rea-
ção e como estes influenciam na reação, tem-se a determi-
nação do ponto ótimo:

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Figura 5 – Determinação do ponto ótimo

Fonte: Elaborado pelos autores.

Segundo o gráfico, de acordo com as variáveis utili-


zadas atingiu-se o ponto ótimo da reação. Esta foi obtida na
temperatura de 60º C, o conteúdo de biocatalisador usador
foi de 9% da massa do óleo e a razão molar do ponto ótimo
foi de 1:12(óleo:água), obtendo conversão máxima de 29,89%.

CONCLUSÃO

A hidrólise de óleo de coco verde utilizando a enzima


Thermomyces Lanuginosus(TLL) imobilizada (Lipozyme®
TL-IM), obteve valores de ácidos graxos baixos, não alcan-
çando assim, bom rendimento. Contudo, no processo de
determinação das melhores condições dos parâmetros re-
acionais, a quantidade de biocatalisador na reação, seguida
fortemente pela temperatura revelaram serem os que mais
influenciam nas taxas de conversão. Esses valores podem
ser comprovados a partir dos obtidos pelo ponto ótimo da

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reação(29,89%), o qual resultou onde os valores de tempera-


tura(60ºC) e quantidade de biocatalisador(9%) eram os mais
elevados dos ensaios feitos.

REFERÊNCIAS

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SILVA, Alexandre M. et al.,; Combi-lipase for heterogeneous
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DO, Anderson Jr.;BOTTA, Daniel Carrero; Lipase‑Catalyzed
Production of Biodiesel by Hydrolysis of Waste Cooking Oil
Followed by Esterification of Free Fatty Acids.J Am Oil Chem
Soc. 2016.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro da Fundação Cearen-


se de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FUNCAP) (BP3-0139-000005.01.00/18) e ao Conselho Na-
cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
projetos 422942/2016-2 e 409058/2016-5

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510 JAKELINE RODRIGUES BEZERRA SILVA • SARA DO NASCIMENTO CAVALCANTE • KARLA MAYARA FLORENTINO FERNANDES

Aspectos gerais de saúde e segurança


do trabalho em atividades em parques
eólicos
Michael Pablo França Silva1
Francisco Murilo Maniçoba de Andrade2
Eliziê Pereira Pinheiro3
Jakeline Rodrigues Bezerra Silva4
Sara do Nascimento Cavalcante5
Karla Mayara Florentino Fernandes6

RESUMO
A presente pesquisa apresentou um estudo sobre os principais riscos
ocupacionais encontrados nas atividades em parques eólicos, através
de normas, artigos, revistas, livros, sites especializados e trabalhos
de conclusão de curso disponíveis acerca do tema em comento. As
informações coletadas foram utilizadas para descrever e enquadrar
a categoria dos tipos de agentes de riscos existentes no setor. Foram
identificados os riscos químicos, físicos, acidentes e ergonômicos com
seus respectivos agentes. Constatou-se que existem inúmeros riscos no
setor eólico que podem ocasionar doenças ocupacionais e acidentes do
trabalho. Verificou-se, também, por fim, que a troca de informações de
saúde e segurança no trabalho entre as empresas do ramo eólico, criação
de uma legislação específica e um programa de capacitação eficiente
contribuiriam para uma melhor gestão de segurança.
1 Especialista em Engenharia de Segurança no Trabalho, Universidade da In-
tegração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).
E-mail: michaelfranca@unilab.edu.br
2 Especialista em Engenharia de Segurança no Trabalho, Faculdade Estácio
de Natal. E-mail: tecengmurilo@gmail.com
3 Especialista em Enfermagem do Trabalho, Universidade Estadual do Ceará.
E-mail: eliziepinheiro@unilab.edu.br
4 Pós-graduanda em Gestão em Saúde, Universidade da Integração Internacio-
nal da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). E-mail: jake_pablo@hotmail.com
5 Especialista em Saúde Pública com ênfase em NASF, ESF e CAPS, Faculdade
Nossa Senhora de Lourdes – FNSL. E-mail: saracavalcante@unilab.edu.br
6 Especialista em Saúde do Trabalhador, Universidade de Fortaleza (UNI-
FOR). E-mail: karlaflorentino@unilab.edu.br

ASPECTOS GERAIS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO EM ATIVIDADES EM PARQUES EÓLICOS


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GENERAL ASPECTS OF HEALTH AND SAFETY OF WORK IN WIND


FARM ACTIVITIES

ABSTRACT
The present research presented a study about the main occupational
hazards found in activities in wind farms, through norms, articles,
magazines, books, specialized sites and available course work on the
subject. The information collected was used to describe and categorize
the types of risk agents in the industry. Chemical, physical, accident
and ergonomic risks were identified with their respective agents. It was
found that there are numerous risks in the wind sector that can cause
occupational diseases and accidents at work. Finally, it was also noted
that the exchange of health and safety information at work between
wind farms, the creation of specific legislation and an efficient training
program would contribute to better safety management.
Keywords: Wind Energy. Occupational Risks. Safety at work.

INTRODUÇÃO

Sendo um segmento de indústria relativamente novo,


os aspectos de saúde e segurança do trabalho requerem uma
importância ainda mais específica, isso porque os riscos não
são completamente conhecidos, tornando a eficácia das me-
didas preventivas, bem como a prática do trabalho bastante
comprometida, tendo como consequência o acometimen-
to de doenças ocupacionais e acidentes no trabalho (LINS,
2016). Segalovich e Winter (2018, p.18) informam que a aná-
lise das condições de segurança em parques eólicos “é um
assunto bastante atual, muito escasso e pouquíssimo divul-
gado”. Com isso, verificou-se a necessidade da elaboração
deste estudo.
Para tal, foi realizado o levantamento bibliográfico a
respeito dos pontos abordados no estudo, principalmente
nas etapas construção, montagem, operação, manutenção
e desmantelamento das torres e aerogeradores, através do
Google acadêmico, Biblioteca eletrônica SCIELO, revistas e

ASPECTOS GERAIS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO EM ATIVIDADES EM PARQUES EÓLICOS


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sites especializados, artigos científicos, legislação nacional


vigente e trabalhos de conclusão de cursos.
As informações coletadas foram utilizadas para des-
crever e enquadrar a categoria dos tipos e agentes de riscos
existentes no setor eólico e, assim, relacioná-los com o cum-
primento das Normas Regulamentadoras (NR) do Ministé-
rio do Trabalho e Emprego (MTE) do Brasil.

REVISÃO DE LITERATURA/REFERENCIAL TEÓRICO

Riscos ocupacionais nas atividades realizadas em


parques eólicas

Riscos de acidentes
De acordo com a Portaria nº 25, de 29.12.94, do Mi-
nistério do Trabalho e Emprego, os agentes dos riscos de
acidentes são: arranjo físico inadequado, máquinas e equi-
pamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defei-
tuosas, iluminação inadequada, eletricidade, probabilidade
de incêndio ou explosão, armazenamento inadequado, ani-
mais peçonhentos e outras situações de risco que poderão
contribuir para a ocorrência de acidentes.
A torre é a primeira a ser colocada de pé e é formada
por várias peças muito pesadas. A altura dos aerogeradores
é definida a partir de medições dos ventos feitas no local. A
montagem também exige que haja pessoas dentro da torre
para direcionar a operação do guindaste via rádio e receber
os segmentos. Uma turbina típica costuma ter 80 metros de
altura, e chega a totalizar 250 toneladas. Dessas, cerca de
150 toneladas equivalem somente à torre do aerogerador.
Portanto, além do trabalho em altura dentro da torre, os co-
laboradores também podem ser atingidos caso a peça içada
caia ou ainda, se choque com o aerogerador por problema

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hidráulico, força dos ventos ou afundamento do solo. Após a


fixação da torre, chega à hora de subir os demais segmentos
que formam o aerogerador: a nacele, peça que parece uma
turbina de avião ou uma caixa que fica no topo da torre e
abriga todos os componentes essenciais para a produção de
energia; o hub, semelhante ao nariz de avião onde serão fixa-
das as pás, último elemento (CARDOSO, 2016).
Segundo Segalovich e Winter (2018, p.57) a classifica-
ção dos incêndios pode ser devida a:

[...] fatores internos, decorrentes de falhas huma-


nas ou negligências (resultantes principalmente
de atividades de operação e manutenção) e ava-
rias próprias dos materiais e equipamentos (me-
cânica, elétrica, fadiga, fenômenos topológicos,
reações físico-químicas); ou a fatores externos,
decorrentes de fenômenos naturais (queda de
raios, ventos fortes, inundações, etc.).

O risco de eletrocussão e/ou de incêndio, sobretudo


tendo em conta a vulnerabilidade das turbinas eólicas às
descargas atmosféricas, constitui um verdadeiro problema
(EU-OSHA, 2014). Embora as turbinas eólicas sejam cons-
truídas com materiais de grande qualidade a possibilidade
de incêndio existe devido à coexistência no mesmo com-
partimento de sistemas elétricos energizados com fluidos
hidráulicos e óleos inflamáveis (TECNISIS, 2018). De acordo
com Cardoso (2016), o incêndio é o risco de maior exposição
aos trabalhadores e tem maior probabilidade de acontecer
durante a operação e manutenção das torres, visto que o
equipamento já está energizado. Segalovich e Winter (2018)
relatam que algumas características em particular da nace-
le como a alta concentração de potenciais fontes de ignição,
a impossibilidade de combate ao fogo por brigadas de incên-

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dio devido à altura das torres, e a localização em lugares re-


motos, acrescem os riscos de fogo neste sistema.
Segundo Lins (2016), há uma necessidade de atenção
especial à proteção de partes rotativas e móveis de máquinas
e equipamentos, que podem causar lacerações, amputações
ou até mesmo levar os trabalhadores a óbito. O trabalho de
manutenção dentro ou em redor da nacela envolve riscos
associados às peças em movimento. Se as partes móveis
da turbina (como as engrenagens e as pás) não estiverem
adequadamente protegidas, podem provocar lesões graves,
como o esmagamento de dedos ou das mãos, amputações,
queimaduras ou lesões oculares graves, suscetíveis de cau-
sar cegueira (EU-OSHA, 2014).
Um dos perigos evidentes do trabalho em parques eó-
licos é o de queda em altura, que não se encontra somente
na fase de construção, mas também nas de operação, manu-
tenção e desmantelamento (EU-OSHA, 2014). Trabalhos em
altura no setor eólico podem envolver acesso por corda, com
guindaste, pelas escadas internas, com PTAs (Plataforma de
Trabalhos Aéreos) e andaimes (CARDOSO, 2016).
A construção é reconhecidamente a fase mais compli-
cada e talvez mais perigosa do ciclo de vida de uma turbina
eólica, uma vez que envolve a instalação de componentes
importantes, designadamente as fundações e a peça de tran-
sição, bem como a montagem da turbina. Inclui também a
maior parte da elevação dos componentes mais pesados,
juntamente com a realização de múltiplas tarefas em rápida
sucessão, o que gera vários problemas de segurança relati-
vos à movimentação de carga mecanizada (EU-OSHA, 2014).
Na fase de construção, os canteiros de obras geralmente são
construídos em regiões com vegetações nativas e manan-
ciais o que favorecem o aparecimento de animais peçonhen-
tos, como serpentes e aracnídeos (CARDOSO, 2016).

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Riscos físicos
A Norma Regulamentadora nº 09 do Ministério do
Trabalho e Emprego – MTE, que trata do Programa de Pre-
venção de Riscos Ambientais – PPRA, define agentes físicos
como sendo as diversas formas de energia pelos quais os tra-
balhadores possam estar expostos, tais como: ruído, vibra-
ções, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações
ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infrassom
e o ultrassom.
O ruído das turbinas tem duas origens: mecânica, de-
vido ao movimento das peças próximas do gerador, e aero-
dinâmica, devido à deslocação do ar causada pela rotação
das pás. As fontes de ruídos mecânicos incluem componen-
tes como a caixa de engrenagem, o gerador, os mecanismos
de orientação (yaw), sistemas de arrefecimento, bem como
equipamento hidráulico e elétrico. Os ruídos mecânicos
são originados pelo movimento relativo dos componentes
mecânicos e pela sua resposta dinâmica, como por exem-
plo, o ruído produzido pelas engrenagens e pelo eixo de alta
velocidade. Ocasionalmente podem ser ouvidos ruídos me-
cânicos devido a falhas, por exemplo, nos rolamentos ou de
partes eletromecânicas. A outra origem é denominada de
aerodinâmica que é o resultado do desenho da pá e do tipo
de torre usada sendo aumentado pela velocidade de rotação
das pás (COSTA, 2014).
De um modo geral, o ruído de um aerogerador oscila
entre 35 e 50 decibéis (dBA), o que é comparável ao nível de
ruído de fundo interior. A percepção deste ruído varia de
pessoa para pessoa, sendo que algumas o consideram desa-
gradável ou indesejável. Um ruído das turbinas eólicas entre
35 e 50 dBA pode ser associado à interrupção do sono em pes-
soas que vivam a menos de 2,5 km das turbinas. Desconhe-
cem-se os efeitos para a saúde da exposição prolongada a bai-

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xos níveis de ruído de baixa frequência, mas algumas pessoas


atribuem ao ruído das turbinas eólicas aos sintomas como
dores de cabeça, tonturas, desequilíbrio, náuseas, exaustão,
ansiedade, irritabilidade, depressão, problemas de sono crô-
nicos, agressividade, zumbidos e dificuldades de concentra-
ção e aprendizagem. Estes sintomas são coletivamente cha-
mados por síndrome da turbina eólica, porém, não há provas
suficientes da sua existência (EU-OSHA, 2014).
As temperaturas elevadas também podem ser proble-
máticas, por exemplo, durante os trabalhos no interior da
nacela, principalmente no verão, os quais também podem
causar perturbações cardiovasculares (EU-OSHA, 2014).
Este tipo de exposição é bem comum nas fases de monta-
gem, comissionamento, operação, manutenção e desmante-
lamento.

Riscos químicos
Dentre as diversas atividades no setor eólico, a de fa-
bricação de pás e manutenção de aerogeradores são as que
mais expõem o trabalhador a riscos químicos.
Conforme preconiza a Norma Regulamentadora 09
(NR 09) do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, são
considerados agentes químicos as substâncias, compostos
ou produtos que possam penetrar no organismo pela via
respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, nebli-
nas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de
exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo orga-
nismo através da pele ou por ingestão.
As pás das turbinas eólicas são fabricadas em plásti-
co reforçado com fibra de vidro, que apesar de ser relativa-
mente simples, a exposição dos trabalhadores ao vapor do
solvente (estireno) liberado durante o processo é extrema-
mente difícil de controlar. A dimensão das peças fabricadas

ASPECTOS GERAIS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO EM ATIVIDADES EM PARQUES EÓLICOS


MICHAEL PABLO FRANÇA SILVA • FRANCISCO MURILO MANIÇOBA DE ANDRADE • ELIZIÊ PEREIRA PINHEIRO
JAKELINE RODRIGUES BEZERRA SILVA • SARA DO NASCIMENTO CAVALCANTE • KARLA MAYARA FLORENTINO FERNANDES 517

pode aumentar a exposição ao estireno. Além dos perigos


químicos da exposição a resinas epóxidas, a estireno e a sol-
ventes, existem outros gases, vapores e poeiras nocivos gera-
dos no processo de fabricação. As poeiras e os gases da fibra
de vidro, endurecedores, aerossóis e carbono podem causar
problemas de saúde comuns, nomeadamente dermatites,
tonturas, sonolência, lesões no fígado e nos rins, bolhas,
queimaduras químicas e anomalias no sistema reprodutor
(EU-OSHA, 2014).
Em um aerogerador, existem três espaços confinados:
a pá, o hub e o porão. O hub e a pá possuem difícil acesso,
pois não foram projetados para ocupação humana contínua
e podem apresentar atmosfera perigosa. Ocorrem casos
de deficiência de oxigênio nas manutenções com argônio,
nitrogênio e outros gases inertes. Nas manutenções que
envolvem solda existe a presença de fumos metálicos. Já
nos processos que tratamento de superfícies e pinturas, há
presença de poeiras e névoas, respectivamente (CARDOSO,
2016).

Riscos ergonômicos
No setor eólico, os riscos ergonômicos estão presentes
devido às atividades que demandam posturas forçadas, es-
forço físico e pressão psicológica. A movimentação manual
de componentes pesados das turbinas, fadiga causada pela
subida de escadas no interior das torres, efeitos fisiológicos
resultantes do levantamento de pesos, movimentos repetiti-
vos, são alguns exemplos de agentes de riscos ergonômicos
(CARDOSO, 2016).
O acesso à nacela obriga que os trabalhadores subam
escadas verticais muito altas em turbinas sem elevador ou
com o elevador avariado. Geralmente, sobem essas escadas
várias vezes em cada turno, o que implica muito esforço físi-

ASPECTOS GERAIS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO EM ATIVIDADES EM PARQUES EÓLICOS


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518 JAKELINE RODRIGUES BEZERRA SILVA • SARA DO NASCIMENTO CAVALCANTE • KARLA MAYARA FLORENTINO FERNANDES

co o que pode causar lesões músculos- esqueléticos e exaus-


tão física, exigindo-lhes aptidão cardiorrespiratória, bem
como um bom condicionamento físico (EU-OSHA, 2014).

Medidas preventivas e de controle

Prevenção de riscos de acidentes


As condições meteorológicas constituem um impor-
tante aspecto operacional que pode gerar riscos para os tra-
balhadores dos parques eólicos. Os planos de trabalho de-
vem ter em conta as informações fornecidas pelos serviços
meteorológicos nacionais, que não devem ser subestimadas
pelos operadores dos parques eólicos (EU-OSHA, 2014).
Os Sistemas de Proteção contra Descargas Atmosfé-
ricas (SPDA) devem constituir-se e serem planejados para
funcionar como um componente natural do aerogerador,
de acordo com as novas tecnologias e normas vigentes. De
acordo com Yamanishi e Bonfim (2017), o sistema de prote-
ção contra descargas atmosféricas (SPDA) de uma estrutura
é composto pelo sistema de captação, descida e aterramen-
to. Desta maneira, o sistema de proteção deve ser parame-
trizado para reduzir os efeitos da descarga atmosférica so-
bre o aerogerador, garantindo continuidade da geração de
energia, vida útil dos aparelhos, proteção contra incêndios
e proteção física das pessoas.
No intuito de prevenir sinistros em aerogeradores é
necessária a instalação dos meios de detecção e alarme dos
incêndios, bem como os meios de automáticos de extinção
dos focos na sua fase preliminar. Como medida complemen-
tar de prevenção, além de sistemas de segurança como o de-
tector de fumaça e calor, podem ser implementadas outras
medidas de segurança tais como o desligamento da turbina
ou então redução da sua atividade quando as temperaturas

ASPECTOS GERAIS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO EM ATIVIDADES EM PARQUES EÓLICOS


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JAKELINE RODRIGUES BEZERRA SILVA • SARA DO NASCIMENTO CAVALCANTE • KARLA MAYARA FLORENTINO FERNANDES 519

atingem determinado valor pré-estabelecido, e isto seria


possível através de um monitoramento em tempo real (POR-
TAL ENERGIA, 2016).
No interior da nacele existem diversos pontos de par-
tes móveis como, por exemplo, caixas multiplicadoras, ro-
tor, engrenagens, eixos, entre outros a depender do fabri-
cante. Nestes pontos devem ser instalados dispositivos que
isolem as zonas de perigos, conforme as recomendações da
Norma Regulamentadora NR-12 do Ministério do Trabalho e
Emprego – MTE, que trata da segurança no trabalho em má-
quinas e equipamentos.
No setor eólico, os riscos relacionados à altura geral-
mente estão frequentemente associados nas etapas de cons-
trução, operação, manutenção e desmantelamento. Para isso,
a NR 35 do MTE estabelece que todo trabalho em altura deve
ser precedido de Análise de Risco. É importante ressaltar
que os trabalhadores devem ser submetidos a exames médi-
cos voltados às patologias que poderão originar mal súbito e
queda de altura, avaliação oftalmológica, cardíaca, glicemia e
eritograma para detecção de anemia (CARDOSO, 2016).
Para prevenir acidentes que envolvam movimentação
de carga mecanizada, principalmente nas etapas de mon-
tagens de torres, nacele e pás, faz necessária a elaboração
do Plano de Rigging que explana orientações de segurança
operacional através do planejamento formalizado para ati-
vidades de movimentação de cargas com guindastes móveis
(CARDOSO, 2016).
A fim de evitar acidentes envolvendo choque elétrico,
antes de qualquer tipo de manutenção que envolva o sistema
é necessário fazer o bloqueio, a isolação e a desenergização
do aerogerador, lembrando de tirar a unidade geradora do
modo automático evitando a energização ainda no momento
da intervenção. Os trabalhadores que realizam trabalhos em

ASPECTOS GERAIS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO EM ATIVIDADES EM PARQUES EÓLICOS


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520 JAKELINE RODRIGUES BEZERRA SILVA • SARA DO NASCIMENTO CAVALCANTE • KARLA MAYARA FLORENTINO FERNANDES

instalações elétricas dentro dos aerogeradores devem utili-


zar os seguintes equipamentos de proteção individual (EPI):
vestimentas do tipo RF (retardante de fogo), protetor facial,
capacete, luvas e calçados isolantes (CARDOSO, 2016). De-
ve-se também, obrigatoriamente, atender os requisitos da
Norma Regulamentadora nº 10 do Ministério do Trabalho
e Emprego – MTE, que trata da segurança em instalações e
serviços em eletricidade.
Outro tipo de risco comum nas atividades no setor
eólico é a presença de animais peçonhentos. Diante disso, é
necessário o atendimento a algumas recomendações de se-
gurança, sendo elas: usar sempre botas de cano longo ou bo-
tinas com perneiras, bem como luvas de raspa de couro com
mangas de proteção para as atividades que ofereçam riscos
aos braços e mãos (FUNDACENTRO, 2001).

Prevenção de riscos físicos


Segundo Maia (2010, p. 95), as medidas de prevenção
ou correção para minimizar o ruído gerado pelo aerogera-
dor, como de qualquer outro ruído, “passam por aspectos
como a distância da fonte emissora ao receptor, a potência
sonora da fonte, o isolamento do receptor e a direção do ven-
to. Estes fatores podem ser usados em simultâneo ou sepa-
radamente para atenuação”.
Nas intervenções no interior da nacele, principalmen-
te em países tropicais, especificamente na estação do verão,
o trabalhador estará submetido ao risco físico de sobrecarga
térmica, podendo ocasionar problemas na sua saúde. Por-
tanto, como medidas para atenuar o risco de doenças causa-
das por este risco, Saliba (2013) orienta que a implantação de
períodos de descanso em local ventilado e com temperatura
adequadas constitui uma medida eficiente no controle da
sobrecarga térmica dos trabalhadores.

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JAKELINE RODRIGUES BEZERRA SILVA • SARA DO NASCIMENTO CAVALCANTE • KARLA MAYARA FLORENTINO FERNANDES 521

Prevenção de riscos químicos


Grande parte dos riscos químicos encontrados no se-
tor eólico encontra-se no processo de fabricação de pás e na
manutenção de aerogeradores. Neste contexto, o emprega-
dor deve implantar o Programa de Proteção Respiratória
(PPR), que é um processo para seleção, uso e manutenção
dos respiradores com a finalidade de assegurar proteção
adequada para o usuário, além de medidas de controle de
engenharia e administrativas (FUNDACENTRO, 2016).

Prevenção de riscos ergonômicos


Conforme a Norma Regulamentadora 17 do Ministério
do Trabalho e Emprego – MTE, que trata da Ergonomia, conhe-
cidas as principais demandas de riscos ergonômicos em par-
ques eólicos: movimentação manual de componentes pesados
das turbinas, fadiga causada pela subida e descida de escadas
no interior das torres, exigência de produtividade sobre o tra-
balhador, justifica-se a elaboração e implantação de uma Aná-
lise Ergonômica do Trabalho – AET para avaliar a adaptação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas.
As NRs do Ministério do Trabalho e Emprego 33 e 35,
que tratam da Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços
Confinados e Trabalho em Altura, respectivamente, preve-
em que os trabalhadores sejam submetidos a uma avaliação
psicossocial.
Durante a realização do exame clínico e ocupacional,
o médico deve inquirir o trabalhador acerca de sua saúde
mental e comportamental (CARDOSO, 2016).

METODOLOGIA

Foi feito o levantamento bibliográfico a respeito dos


pontos abordados no estudo, principalmente nas etapas cons-

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522 JAKELINE RODRIGUES BEZERRA SILVA • SARA DO NASCIMENTO CAVALCANTE • KARLA MAYARA FLORENTINO FERNANDES

trução, montagem, comissionamento, operação, manutenção


e desmantelamento das torres e aerogeradores, através do
Google acadêmico, biblioteca virtual Scielo, revistas e sites
especializados, artigos científicos, legislação nacional vigente
e trabalhos de conclusão de cursos. As informações coletadas
foram utilizadas para descrever e enquadrar a categoria dos ti-
pos e agentes de riscos existentes no setor eólico e, assim, rela-
cioná-los com o cumprimento das Normas Regulamentadoras
(NR) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) do Brasil.

CONCLUSÕES

A quantidade de dados disponíveis relacionados à se-


gurança do trabalho no setor eólico ainda é escassa. Existem
inúmeros riscos no setor eólico que podem ocasionar doenças
ocupacionais e acidentes do trabalho. A falta de uma legislação
específica exige que os setores de saúde e segurança no traba-
lho sejam bem gerenciados tornando-se um grande desafio.
Por fim, conclui-se que, o compartilhamento de infor-
mações referentes à análise preliminar de riscos da tarefa,
estatísticas e investigações de acidentes, bem como, a im-
plantação de boas práticas entre as empresas do mesmo se-
tor contribuiria para a padronização e aperfeiçoamento de
normas e procedimentos melhorando a gestão de segurança.
Para trabalhos futuros, recomenda-se um estudo vol-
tado para a gestão de resíduos do ciclo de vida dos aeroge-
radores visando à questão do desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n° 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Segurança


e Medicina do Trabalho. NRs 1 a 36. 74ª edição. Editora Atlas
S.A. São Paulo, 2014.

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CARDOSO, Raira. “Falta de experiência e mão de obra quali-


ficada, somadas a atividades desenvolvidas em espaços redu-
zidos e em condições meteorológicas extremas são alguns dos
riscos que compõem o setor eólico”. Revista Proteção. Novem-
bro de 2016, Edição 299, ano XXIX.
COSTA, Ana Rita dos Santos. O Ruído Ambiental de Aeroge-
radores de Pequena Dimensão. Dissertação submetida para
satisfação parcial dos requisitos do grau de Mestre em Enge-
nharia Civil – Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto. Porto-Portugal, 2014.
European Agency for Safety and Health at Work – EU-OSHA.
E-fact 79: “Segurança e saúde no trabalho no setor da energia
eólica de 28 de maio de 2014 – Agência Européia para a Segu-
rança e Saúde no Trabalho”. Disponível em: <https://osha.
europa.eu/pt/tools-and- publications/publications/e-fact-
s/e-fact-79-occupational-safety-and-health-in-the-wind-
energy-sector/view> Acesso em: 30 jul. 2018.
FUNDACENTRO. Prevenção de Acidentes com Animais Peço-
nhentos. Instituto Butantan e Ministério do Trabalho e Em-
prego. São Paulo, 2001.
FUNDACENTRO. Programa de Proteção Respiratória Reco-
mendações, Seleção e Uso de Respiradores. 4ª edição. Ministé-
rio do Trabalho e Emprego. São Paulo, 2016.
LINS, patrícia. “Aspectos Gerais de Saúde e Segurança do
Trabalho em Serviços em Energia Eólica”. Disponível em: <ht-
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de-e- seguranca-do-trabalho-em-servicos-em-energia-eoli-
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<http://www.portal- energia.com/energia-eolica-em-cha-

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524 JAKELINE RODRIGUES BEZERRA SILVA • SARA DO NASCIMENTO CAVALCANTE • KARLA MAYARA FLORENTINO FERNANDES

mas-porque-e-que-existemincendios-em-aerogerado-
res/2/> Acesso em: 4 ago. 2018.
SALIBA, Tuffi Messias. Manual Prático de Avaliação e Con-
trole de Calor – PPRA. Livro, 5ª Edição 2013.
SEGALOVICH, Raísa Nocetti; WINTER, Anne Caroline. Aná-
lise das condições de segurança em usinas eólicas. 2018. TCC
(Graduação) – Curso de Engenharia Elétrica, Departamento
de Engenharia Elétrica, Universidade Tecnológica Federal
do Paraná, Curitiba, 2018.
TECNISIS. Proteção contra Incêndios em Turbinas Eólicas.
Disponível em: <http://www.tecnisis.pt/firetrace/turbinas/
default.html> Acesso em: 30 jul. 2018.
YAMANISHI, Bruno Kaoru; BONFIM, Michael Ravaneda.
Análise dos Efeitos de Sobretensão Causados por Descargas
Atmosféricas em Aerogeradores. TCC (graduação). Curso de
Engenharia Elétrica. Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. Curitiba, 2017.

ASPECTOS GERAIS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO EM ATIVIDADES EM PARQUES EÓLICOS


PATRICK DA SILVA SOUSA • ÍTALO RAFAEL DE AGUIAR FALCÃO • CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO
MARIA ALEXANDRA DE SOUSA RIOS • ANA KÁTIA SOUSA BRAZ • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS 525

Produção de ésteres etílicos obtidos


através da catálise enzimática dos
ácidos graxos oriundos do óleo de
coco verde
Patrick da Silva Sousa1
Ítalo Rafael de Aguiar Falcão2
Claudio Henrique Victor Porto3
Maria Alexandra de Sousa Rios4
Ana Kátia Sousa Braz5
José Cleiton Sousa dos Santos6

RESUMO
O presente trabalho surge do incentivo a pesquisa por metodologias
flexíveis e qualitativas que supram a necessidade de produção de
conhecimento cientifico a respeito das mais variadas fontes de energias.
No presente estudo foi proposto como objetivo a otimização no processo
de obtenção de ésteres etílicos através da reação de esterificação.
Para a realização dessa reação química fez-se necessário a obtenção
de ácidos graxos que podem ser extraídos de óleo ou gordura vegetal
– nesse trabalho foi utilizado o óleo de coco verde. O planejamento
experimental se deu através da metodologia proposta por Taguchi e as
variáveis reacionais foram geradas em um software responsável por gerar
um planejamento experimental. Os parâmetros reacionais que estão
interligados diretamente com a qualidade dos resultados da esterificação
são: tempo, razão molar, temperatura e porcentagem de biocatalisador.
Sabendo disso, as reações foram realizadas da seguinte forma: tempo (1
hora, 12 horas e 24 horas); razão molar do ácido em relação ao álcool (1:1,
1:4 e 1:8), temperatura (30º, 40º, 50º) e porcentagem de biocatalisador
(1%, 2% e 3%). O processo de catálise enzimática é bastante promissor.

1 Discente, IEDS, UNILAB, email: patrick@aluno.unilab.edu.br


2 Discente, IEDS, UNILAB, email: italorad7@gmail.com
3 Discente, IEDS, UNILAB, email: claudiohenriquevictorporto@gmail.com
4 Docente, IEDS, UNILAB, email: alexsandrarios@ufc.br
5 TAE, IEDS, UNILAB, email: anakatia@unilab.edu.br
6 Docente, IEDS, UNILAB, email: jcs@unilab.edu.br

PRODUÇÃO DE ÉSTERES ETÍLICOS OBTIDOS ATRAVÉS DA CATÁLISE ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS ORIUNDOS DO ÓLEO DE COCO VERDE
PATRICK DA SILVA SOUSA • ÍTALO RAFAEL DE AGUIAR FALCÃO • CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO
526 MARIA ALEXANDRA DE SOUSA RIOS • ANA KÁTIA SOUSA BRAZ • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS

É responsável por servir como uma resposta a enorme quantidade de


reagentes químicos utilizados anteriormente e que são considerados
agressivos ao meio ambiente. Diante disso, o biocatalisador utilizado
neste trabalho foi a enzima Lipozyme Thermomyces lanuginosus –
conhecida e comercializada como Lipozyme TL – que possui como classe
as lipases. Estas possuem como funcionalidade ocasionar uma aceleração
na hidrolise de compostos ligados a ésteres. Dessa maneira o maior valor
de conversão foi obtido na faixa de temperatura igual a 30ºC, no tempo
igual a 12 horas, com razão molar igual a 1:4 e com 2% de enzima. O valor
obtido foi de 24,96%. Sendo possível constatar a interferência direta da
temperatura no processo.
Palavras-chave: Esterificação. Taguchi. Óleo de coco verde. Lipozyme TL.

PRODUCTION OF ETHYL ESTERS OBTAINED THROUGH THE


ENZYMATIC CATALYSIS OF FATTY ACIDS FROM COCONUT OIL.

ABSTRACT
The present work arises from the incentive to research by flexible and
qualitative methodologies that suppose the need to produce scientific
knowledge about the most varied sources of energy. In the present study,
the optimization of ethyl esters through the esterification reaction was
proposed. For the accomplishment of this chemical reaction, it was
necessary to obtain fatty acids that can be extracted from oil or vegetable
fat - in this work the green coconut oil was used. The experimental
planning was done through the methodology proposed by Taguchi and
the reactional variables were generated in a software responsible for
generating an experimental planning. The reaction parameters that are
directly linked to the quality of the results of the esterification are: time,
molar ratio, temperature and percentage of biocatalyst. Knowing this, the
reactions were carried out as follows: time (1 hour, 12 hours and 24 hours);
molar ratio of the acid to the alcohol (1: 1, 1: 4 and 1: 8), temperature (30 °,
40 °, 50 °) and percentage of biocatalyst (1%, 2% and 3%). The enzymatic
catalysis process is quite promising. It is responsible for serving as a
response to the huge amount of previously used chemical reagents that are
considered environmentally aggressive. Therefore, the biocatalyst used in
this work was the enzyme Lipozyme Thermomyces lanuginosus - known
and marketed as Lipozyme TL - which has as its class lipases. These have
as functionality to bring about an acceleration in the hydrolysis of ester-
bound compounds. Thus, the highest conversion value was obtained in the
temperature range equal to 30ºC, in the time of 12 hours, with a molar ratio
of 1: 4 and 2% of the enzyme. The value obtained was 24.96%. It is possible
to verify the direct interference of the temperature in the process.
Keywords: Esterification. Taguchi. Green coconut oil. Lipozyme TL

PRODUÇÃO DE ÉSTERES ETÍLICOS OBTIDOS ATRAVÉS DA CATÁLISE ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS ORIUNDOS DO ÓLEO DE COCO VERDE
PATRICK DA SILVA SOUSA • ÍTALO RAFAEL DE AGUIAR FALCÃO • CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO
MARIA ALEXANDRA DE SOUSA RIOS • ANA KÁTIA SOUSA BRAZ • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS 527

INTRODUÇÃO

A conjuntura mundial no que se diz respeito a matriz


energética encontra-se em crise. Diante de tal problema, fa-
z-se necessário o incentivo a pesquisa por métodos de pro-
dução que viabilizem a geração de energia através de fontes
renováveis. A química verde aliada com a biotecnologia vem
construindo e qualificando pesquisas de ponta para que pos-
sam ser descobertas matérias primas que venham a se tornar
fontes de energias renováveis e favoráveis ao meio ambiente.
Entre as mais variadas fontes estão os biocombustíveis. Estes
podem ser caracterizados como combustíveis que não pos-
suem origem biológica fóssil (KHAN et al., 2017).
Por conta disso podem ser classificados como fon-
tes de energia renováveis, derivados de matérias agrícolas
que são viáveis citar tais como: plantas oleaginosas, bio-
massa florestal, cana-de-açúcar e outras matérias orgâni-
cas. Ou seja, biocombustível é todo material orgânico que
seja capaz de gerar energia. Desse modo, o uso de biocom-
bustíveis é proposto como uma alternativa sustentável
estando consonante com métodos e tecnologias evoluídas
que proporcionam vantagens socioeconômicas e ambien-
tais (FU, 2019).
Entre os biocombustíveis que são produzidos atual-
mente é valido destacar o álcool etanol, a biomassa e o bio-
diesel. Sendo importante sobrelevar o biodiesel – visto que é
proposto no presente trabalho a otimização no processo de
síntese de ésteres. É denominado Biodiesel, o óleo diesel à
base de óleo vegetal, óleo residual ou de gordura animal (sebo)
que consiste em alquila de cadeia longa que é derivada do pro-
cesso de esterificação ou transesterificação (MOHAMMADI
et al., 2017). Várias tecnologias foram propostas com o intuito
de baixar o custo de produção, economizar tempo e superar

PRODUÇÃO DE ÉSTERES ETÍLICOS OBTIDOS ATRAVÉS DA CATÁLISE ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS ORIUNDOS DO ÓLEO DE COCO VERDE
PATRICK DA SILVA SOUSA • ÍTALO RAFAEL DE AGUIAR FALCÃO • CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO
528 MARIA ALEXANDRA DE SOUSA RIOS • ANA KÁTIA SOUSA BRAZ • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS

as desvantagens dos reatores batelada, como a baixa produti-


vidade do biodiesel (VAN GERPEN, 2005).
Entre as metodologias utilizadas estão a transesterifi-
cação e a esterificação. A transesterificação é definida como
uma reação química onde um grupo éster e um grupo de ál-
cool é trocado na presença de um catalisador – podendo ser
um ácido ou uma base (LIMA, 2018).
A esterificação tem como reagentes, o ácido graxo
e um álcool de cadeia curta –seja o metanol ou etanol. Por
conta disso, é preciso que seja adicionado um catalisador – o
qual pode ser um ácido, uma base ou uma enzima (ARUMU-
GAM; PONNUSAMI 2017). Os produtos obtidos dessa reação
são: éster e água como subproduto. Especificamente na re-
ação de esterificação o biodiesel obtido pela catálise não é
contaminado por resíduos de glicerina. Desse modo, não se
faz necessário a lavagem deste. Por se tratar de uma reação
reversível, a esterificação atua na reação direta – esterifica-
ção – tal qual na indireta – hidrólise de éster. Portanto, para
que haja um deslocamento que seja favorável a obtenção de
produtos, é relevante que o álcool seja adicionado em exces-
so (LIMA, 2018; MACHADO, 2013).
Em resposta a grande quantidade de catalisadores quí-
micos que são utilizados nas reações surgem os biocatalisa-
dores. Estes são menos agressivos ao meio ambiente e mui-
tas vezes podem ser reutilizados. Dentre os diversos tipos de
biocatalisadores, estão as enzimas – que são organizadas de
acordo com sua classe e funcionalidade. No presente traba-
lho foi utilizada a enzima Lipozyme TL que está inserida na
classe das lipases. As Lipases podem ser reconhecidas por
sua versatilidade na reação de catálise que ocasiona no ace-
leramento da hidrólise dos compostos ligados aos ésteres. A
preferência das lipases se dá pela hidrólise de ésteres que
não são solúveis em água. A extrema seletividade com uma

PRODUÇÃO DE ÉSTERES ETÍLICOS OBTIDOS ATRAVÉS DA CATÁLISE ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS ORIUNDOS DO ÓLEO DE COCO VERDE
PATRICK DA SILVA SOUSA • ÍTALO RAFAEL DE AGUIAR FALCÃO • CLAUDIO HENRIQUE VICTOR PORTO
MARIA ALEXANDRA DE SOUSA RIOS • ANA KÁTIA SOUSA BRAZ • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS 529

ampla faixa de substratos faz com que esse tipo de biocata-


lisador seja considerado o catalisador ideal nas reações que
ocorrem síntese orgânica em relação aos catalisadores quí-
micos ditos como convencionais (LAI et al., 2019).
Desse modo, o presente trabalho possui como objetivo
ser capaz de otimizar o processo de esterificação dos ácidos
graxos livres obtidos do óleo de coco verde através da utiliza-
ção da enzima Lipozyme TL – um biocatalisador. Haja vista
que, a funcionalidade do mesmo é potencializar a produção
de ésteres. Para isso foi realizado um planejamento expe-
rimental utilizando-se de uma ferramenta computacional
– um software – denominado Statistica® 10 (Statsoft, EUA).

METODOLOGIA

É válido sobressaltar que os experimentos a seguir


foram realizados em duplicatas para que assim fosse pos-
sível construir uma análise quantitativa mais eficaz na
conversão em ésteres etílicos.

Planejamento experimental

O planejamento experimental desenvolvido para


orientar as reações de esterificação pretendidas pelo pre-
sente estudo se deu através da metodologia proposta por Ta-
guchi. Tal metodologia é baseada em uma matriz ortogonal
com um padrão L9 (onde a letra “L” e o número “9” possuem
os seguintes significados: o quadrado latino e o número de
reações a serem realizadas). A necessidade de se usar tal
metodologia, se deu através do objetivo em analisar quatro
parâmetros reacionais em três níveis diferentes, com a pre-
tensão de obter a maior taxa de conversão de ácidos graxos
livres em ésteres etílicos. A Tabela 1 é responsável por res-

PRODUÇÃO DE ÉSTERES ETÍLICOS OBTIDOS ATRAVÉS DA CATÁLISE ENZIMÁTICA DOS ÁCIDOS GRAXOS ORIUNDOS DO ÓLEO DE COCO VERDE
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530 MARIA ALEXANDRA DE SOUSA RIOS • ANA KÁTIA SOUSA BRAZ • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS

saltar os quatro parâmetros reacionais independentes (ra-


zão molar, porcentagem de biocatalisador, temperatura e
tempo) em seus respectivos três níveis diferentes.

Tabela 1 – Parâmetros Reacionais e os respectivos níveis.


Razão Molar Biocatalisa- Tempera- Tem-
(acido : ál- dor tura po
cool) (%) (°C) (h)
Nível 1 (N1) 1:1 1 30 1
Nível 2 (N2) 1:4 2 40 12
Nível 3 (N3) 1:8 3 50 24
Fonte: Autores.

O software Statistica® 10 (Statsoft, EUA) foi utilizado


para o planejamento experimental e análise estatística. A
Tabela 2 – que pode ser encontrada na seção de Resultados –
apresenta o planejamento adjunto com os valores médios de
conversão e as razões S/R (sinal-ruído) obtidas. Como o obje-
tivo do presente trabalho é maximizar a conversão de ácidos
graxos, os valores das razões S/R foram calculados através
da característica da função “maior melhor”. Baseando-se as-
sim na Equação 1.

(Equação 1)

Sobre a Equação 1: y é definido como o valor de con-


versão de ácidos graxos para a experiência correspondente,
i é o número de onde ocorreram repetições e n é o núme-
ro de respostas para a combinação de níveis de fator em
qualquer combinação paramétrica específica de acordo
com a Tabela 2. A relação S/R prevista sob condições óti-
mas para o processo de obtenção da conversão máxima foi
estimado pela Equação 2.

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(Equação 2)

Onde S/R pode ser estabelecida como a média aritmética de
todas as relações S/R, S/Rj é a relação S/R no ponto ótimo
para cada fator e n é o número de fatores que afetam signifi-
cativamente o processo.

Esterificação

Os ácidos graxos livres que anteriormente foram ob-


tidos através da saponificação seguida de hidrólise ácida do
óleo de coco verde foram submetidos a um meio reacional
contendo álcool como solvente, ácidos graxos e razão molar
que varia de acordo com o planejamento experimental pro-
posto pelo software, adicionando um volume de biocatalisa-
dor (Lipozyme TL) que varia entre três níveis diferentes – 1, 2
e 3% – que pode ser verificado na Tabela 1. O experimento foi
realizado em incubadoras sob uma agitação orbital de 200
rpm para todos casos, nas temperaturas de 30º, 40º e 50º C
por períodos de 1 hora, 12 horas e 24 horas.

Índice de acidez

O índice de acidez pôde ser calculado após o término


do tempo especifico para cada reação e para isso foi utiliza-
da uma amostra isenta de enzima. Cada alíquota da amostra
retirada do volume especifico da reação possuía 0,2 g e fo-
ram diluídas em 5 mL de álcool etílico e foram adicionadas 3
gotas de fenolftaleína para então serem tituladas com hidró-
xido de sódio – assim como propõe a metodologia de Lima
(2010) e Santos (2011).

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(Equação 3)

Onde V é o volume gasto de NaOH na titulação; F é o fator de


correção da solução de NaOH (1,0221); M é a molaridade da
mesma onde sua unidade se dá em mol por litro (mol/L); m
é a massa da amostra em gramas (g). A conversão de ácidos
graxos livres para ésteres foi calculada pela Equação 2, con-
siderando a acidez inicial (Ai) e logo após a final (Af).

(Equação 4)

RESULTADOS

Por conseguinte, a Tabela 2 foi construída logo após a


titulação das amostras retiradas de cada experimento quí-
mico realizado. Desse modo, a Tabela 2 é responsável por
mostrar a combinação dos fatores independentes em seus
respectivos níveis, os valores do fator dependente e a relação
S/R. Tal relação só foi possível determinar através da função
“maior é melhor”. Desse modo, sendo capaz de obter a máxi-
ma conversão de ácidos graxos livres.

Tabela 2 – Planejamento Experimental e os respectivos valores


obtidos após a realização das reações de esterificação.
Enzima Razão Molar Tempera- Tempo Conversão Razão S/R
(%) (ácido:ál- tura (h) (%)
cool) (°C)
1 1 (1) 1:1 (1) 30 (1) 1 (1) 2,90 ± 0,30 9,2
2 2 (2) 1:1(1) 40 (2) 12 (2) 4,70 ± 0,50 13,4
3 3 (3) 1:1(1) 50 (3) 24 (3) 1.0 ± 1,04 0,3
4 1 (1) 1:4(2) 40 (2) 24 (3) 1,70 ± 3,0 4,5
5 2 (2) 1:4(2) 50 (3) 1 (1) 5,20 ± 0,40 14,3
6 3 (3) 1:4(2) 30 (1) 12 (2) 25,0 ± 0,30 27,9
(continua)

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7 1 (1) 1:8(3) 50 (3) 12 (2) 2,30 ± 2,60 7,4


8 2 (2) 1:8(3) 30 (1) 24 (3) 22,30 ± 2,7
0,50
9 3 (3) 1:8(3) 40 (2) 1 (1) 9,30 ± 0,04 19,3
Fonte: Autores.

É válido ressaltar que é possível também encontrar


na Tabela 2 as taxas de conversão de ácidos graxos livres em
ésteres. Desse modo, é possível aferir que a maior conver-
são se deu com a maior porcentagem de enzima e na menor
temperatura. Ademais, sendo visto que o maior valor se deu
também pela razão molar no nível intermediário tal qual o
tempo.
A obtenção dos valores de delta – a diferença dos valo-
res da razão S/R entre os níveis mais alto e o mais baixo dos
fatores do processo – se deu de acordo com a classificação
dos parâmetros reacionais – razão molar, porcentagem de
biocatalisador, temperatura e tempo. A Tabela 3 é responsá-
vel por mostrar a correlação entre os parâmetros reacionais
e os diferentes níveis baseando-se no valor S/R. Ademais, é
possível observar qual dos fatores é o mais predominante
para a analise quantitativa do processo de esterificação – no
presente estudo, a temperatura.

Tabela 3 – Classificação dos parâmetros reacionais responsáveis


por interferirem diretamente nos valores das conversões.
Enzima Razão Molar Temperatura Tempo
(%) (ácido:álcool) (°C) (h)

Nível 1 (N1) 7,10 7,500 21,40 14,30


Nível 2 (N2) 18,20 15,60 12,40 16,20
Nível 3 (N3) 15,70 4,30 7,10 10,40
Delta 11,10 11,30 14,30 5,80
Classificação 3 2 1 4
Fonte: Autores.

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Os gráficos para a média das relações S / N e cada um


dos parâmetros de controle: razão molar (ácido:álcool),
conteúdo de enzima (%), temperatura (°C) e tempo (h) são
mostrados na Figura 1.

Figura 1 – Média dos gráficos da relação S/R em relação aos


diferentes níveis dos parâmetros estudados

Fonte: Autores.

O maior valor obtido na conversão de ácidos graxos li-


vre se deu pela maior relação entre S/R – assim como pode
ser visto na Tabela 2. Tal relação sugere o melhor nível para
cada parâmetro. Desse modo, a relação S/R pôde ser previs-
ta através de idealizações que foram calculadas baseando-
-se na Equação 2. No presente estudo, a maior relação S/R
obtida teoricamente foi de 32,83. Com tal valor, foi sugerido
que o maior valor de conversão seria obtido de acordo com
os níveis seguintes dos parâmetros reacionais: porcentagem
do biocatalisador no nível 2 (2%), razão molar (ácido:álcool)
no nível 3 (1:8), temperatura no nível 1 (30ºC) e o tempo no
nível 2 (12 horas). De acordo com os seguintes parâmetros re-
acionais e os seus respectivos níveis foi encontrado um valor
teórico de conversão igual a 29,32%. Dessa maneira, para ser
possível validar tais condições, foram realizadas em dupli-

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catas as reações e obteve-se uma conversão igual a 25% e um


valor de S/R obtido experimentalmente igual a 27,9.
Baseando-se nos resultados obtidos é possível cons-
truir uma análise a respeito da influência dos parâmetros
reacionais sobre o processo de esterificação. Na Tabela 3 é
possível encontrar a classificação teórica de quais fatores vi-
riam a ser predominantes – no caso, seria a temperatura. Na
Figura 1, é possível analisar graficamente quais destes fatores
influenciaram na prática – pôde ser observado que a tempera-
tura também se mostrou determinante para o experimento.

CONCLUSÃO

A utilização de biocatalisadores no processo de esteri-


ficação é bastante promissora. Visto que, o mesmo é respon-
sável por potencializar o processo de obtenção de ésteres.
Ademais, é válido informar a respeito dos parâmetros rea-
cionais que interferem diretamente na reação de esterifica-
ção – tempo, temperatura, porcentagem de biocatalisador e
razão molar. Tais parâmetros foram objeto de estudo do pre-
sente trabalho. Sendo importante destacar o quanto um de-
les foi determinante no valor de conversão – a temperatura.
Desse modo, é viável constatar também que ao decor-
rer do aumento da temperatura os valores de conversão não
foram favoráveis ao processo de esterificação. De maneira
análoga, é possível observar que os dois maiores valores de
conversão se deram na faixa de temperatura igual a 30º C.
Portanto, é possível concluir que a atividade catalítica da en-
zima é afetada pela temperatura, visto que, os melhores valo-
res podem ser encontrados na menor temperatura. Portanto,
o objetivo do presente estudo foi realizado com considerável
sucesso. Baseando-se na perspectiva de melhorar e otimizar
os processos de esterificação atualmente conhecidos.

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VAN GERPEN, Jon. Biodiesel processing and production. Fuel
Processing Technology, v. 86, n. 10, p.1097-1107, jun. 2005

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro das Agências Brasi-


leiras de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fun-
dação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FUNCAP) (BP3-0139-000005.01.00/18) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-
lógico (CNPq) projetos 422942/2016-2 e 409058/2016-5.

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538 SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO

Técnica de MPPT híbrida baseada


nos métodos PSO e P&O aplicada
em sistemas FV sob condições de
sombreamento uniforme e parcial
Samuel Nogueira Figueiredo1
Ranoyca Nayana Alencar Leão e Silva Aquino2

RESUMO
A utilização de sistemas de geração de energia solar fotovoltaica tem se tornado
cada vez mais comum, tanto em sistemas de grande porte, quanto em sistemas de
baixo consumo de energia. Todavia, esses sistemas apresentam níveis baixos de
eficiência e possuem alta dependência das condições ambientais, como radiação
solar e temperatura. Isso posto, o arranjo FV deve operar sempre no GMPP para
que seja aproveitado o máximo da energia gerada. Nesse contexto, algumas
técnicas convencionais atingem o objetivo de maneira satisfatória em condições
de sombreamento uniforme. Entretanto, a radiação solar e a temperatura
variam constantemente durante o dia e esses métodos não conseguem rastrear a
maior potência disponível em condições de sombreamento parcial. O presente
trabalho propõe uma técnica de MPPT híbrida capaz de proporcionar melhorias
de eficiência aos sistemas FV, baseada na combinação do método inteligente
PSO e do convencional P&O. Os resultados de simulação mostraram que a
técnica de MPPT híbrida proposta proporciona rapidez e precisão, e consegue
rastrear o GMPP em condições de sombreamento uniforme e parcial.
Palavras-chave: Sistema Fotovoltaico. Sombreamento Uniforme.
Sombreamento Parcial.

1 Mestrando em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Piauí.


Atualmente é Professor do Ensino Básico Técnico e Tecnológico (EBTT) do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) Campus
Picos. (e-mail: samuel.nogueira@ifpi.edu.br)
2 Doutora em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará.

Atualmente é Professora Adjunto IV da Universidade da Integração da


Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) no Curso de Engenharia de Energias.
(e-mail: ranoyca@unilab.edu.br)

TÉCNICA DE MPPT HÍBRIDA BASEADA NOS MÉTODOS PSO E P&O APLICADA EM SISTEMAS FV SOB CONDIÇÕES
DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO 539

HYBRID MPPT TECHNIQUE BASED ON PSO AND P&O METHODS


APPLIED IN PV SYSTEMS UNDER UNIFORM AND PARTIAL
SHADING CONDITIONS

ABSTRACT
The use of photovoltaic solar energy systems has become increasingly
common, both in large systems and in low energy consumption
systems. However, these systems have low levels of efficiency and are
highly dependent on environmental conditions, such as solar radiation
and temperature. This fact, the PV array must always operate in the
GMPP so that the maximum of the generated energy. In this context,
some conventional techniques achieve the objective satisfactorily
under uniform shading conditions. However, solar radiation and
temperature constantly change during the day and these methods
cannot track the increased power available under partial shading
conditions. The present paper proposes a hybrid MPPT technique
capable of providing efficiency improvements to the PV systems, based
on the intelligent PSO and the conventional P&O methods. Simulation
results showed that the proposed hybrid MPPT technique provides
speed and accuracy, and is able to track GMPP under uniform and
partial shading conditions.
Keywords: Photovoltaic System. Uniform Shading. Partial Shading.

INTRODUÇÃO

A energia solar fotovoltaica (FV) se revela como um re-


curso que não é previsível ao longo do tempo. Uma vez que
a radiação solar e a temperatura mudam imprevisivelmente
durante o dia, o ponto de operação dos sistemas FV deve ser
continuamente ajustado de modo a extrair a máxima potên-
cia sob condições variáveis (OLIVEIRA JUNIOR, 2016).
Sendo assim, diversas técnicas de rastreamento do
ponto de máxima potência (Maximum Power Point Tra-
cking – MPPT) vêm sendo estudadas. Uma técnica de MPPT
tradicional bastante disseminada é denominada Perturba
& Observa (P&O). Essa técnica tem como vantagem ser de
fácil implementação, além de possuir uma razoável capa-

TÉCNICA DE MPPT HÍBRIDA BASEADA NOS MÉTODOS PSO E P&O APLICADA EM SISTEMAS FV SOB CONDIÇÕES
DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
540 SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO

cidade de rastreamento da máxima potência. No entanto,


apresenta como desvantagem muitas oscilações em tor-
no do ponto de máxima potência ocasionando perda de
energia. Quando submetido a sombreamento parcial, essa
técnica pode não convergir para o ponto de máxima potên-
cia global (Global Maximum Power Point – GMPP) (REZK,
­ELTAMALY, 2015).
Com o objetivo de solucionar as desvantagens mencio-
nadas, técnicas de inteligência computacional como a lógi-
ca fuzzy (ALAJMI et al., 2011), redes neurais artificiais (RAI
et al., 2011), otimização por enxame de partículas (Particle
Swarm Optimization – PSO) (ISHAQUE et al., 2012), algoritmo
de enxame de peixes artificiais (MAO et al., 2018), dentre ou-
tras, apresentam resultados promissores, porém apresen-
tam desvantagens, como a complexidade computacional no
caso dos sistemas fuzzy, a exigência de grande quantidade
de dados para treinamento de redes neurais, entre outras.
Dentre esses métodos, o PSO é computacionalmente
simples e pode ser facilmente implementado em sistemas
fotovoltaicos (LIU et al., 2012). A técnica de MPPT PSO garan-
te a convergência para o GMPP sob condições de sombrea-
mento parcial. Entretanto, analisando os resultados obtidos
nessas pesquisas, percebe-se um aumento do tempo de con-
vergência e grandes oscilações na potência de saída durante
o rastreamento.
Portanto, o presente trabalho propõe um algoritmo
de MPPT híbrido, aplicado em um sistema fotovoltaico, que
utiliza as técnicas P&O e PSO combinadas, a fim de possibi-
litar um rápido rastreio do GMPP, mesmo submetido a mu-
danças bruscas das condições ambientais. Por fim, é reali-
zada uma análise comparativa do desempenho da técnica de
MPPT híbrida e das técnicas de MPPT em separado.

TÉCNICA DE MPPT HÍBRIDA BASEADA NOS MÉTODOS PSO E P&O APLICADA EM SISTEMAS FV SOB CONDIÇÕES
DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO 541

APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE MPPT HÍBRIDA


PROPOSTA

Algoritmo proposto

O PSO é muito eficaz para resolução de situações em


que ocorram máximos locais (LMPP) e máximos globais
(GMPP), que é exatamente o caso em que há sombreamen-
to parcial no sistema fotovoltaico, por isso inicia-se por esse
método. Após alguns passos de cálculo já é possível determi-
nar qual partícula está mais próxima do máximo global, en-
tão chaveia-se para o algoritmo P&O que a partir da melhor
partícula encontrará o GMPP. O fluxograma do algoritmo
híbrido PSO-P&O proposto é apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma da técnica de MPPT híbrida PSO-P&O

Fonte: Elaborada pelo autor.

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DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
542 SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO

Passo 1: No algoritmo proposto, a posição das par-


tículas é definida como o ciclo de trabalho (duty cycle) do
conversor CC-CC distribuídas equidistantes no intervalo
[ ], em que e re-
presentam o ciclo de trabalho mínimo e máximo, respecti-
vamente. Quanto à velocidade das partículas são inicializa-
das aleatoriamente.
Passo 2: o conversor é ativado com o ciclo de trabalho
da partícula i e após um tempo de estabilização (0,1 s) é co-
letado o valor da potência extraída do sistema fotovoltaico,
através de sensores de corrente e tensão.
Passo 3: A potência extraída é comparada com o valor
de (vetor que guarda o melhor resultado de cada
partícula). Se a potência atual for maior, atualiza-se o
e guarda-se o valor do ciclo de trabalho no vetor
.
Passo 4: A potência atual é comparada com o melhor
valor de potência global (Gm), se o valor de potência atual su-
perar o Gm, o valor do ciclo de trabalho é armazenado em dg.
Esse processo se repete até que todas as partículas tenham
sido avaliadas.
Passo 5: A atualização da velocidade e posição das par-
tículas é dada por (1) e (2), respectivamente.

(1)
Onde,

(2)
Passo 6: Para finalizar a parte da técnica PSO, são de-
terminados dois critérios de convergência, a saber, se a di-

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DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO 543

ferença entre as posições das partículas for menor que 10 %


e o algoritmo atingir o número máximo de iterações. Assim,
realiza-se o chaveamento para a parte P&O e aplica-se o ciclo
de trabalho dg ao conversor CC-CC.
Passo 7: Após o tempo de estabilização aplica-se uma
perturbação no ciclo de trabalho Δd do conversor, e cal-
cula-se a nova potência.
Passo 8: Se a potência atual for maior que a potência
anterior, mantém-se a perturbação na mesma direção. Se
não, altera-se a direção da perturbação.
Passo 9: Repete-se a parte P&O até que o GMPP seja
rastreado. O critério de convergência é que a diferença entre
a potência atual e a anterior seja menor que um limiar.
Passo 10: A fim de possibilitar a utilização dessa técni-
ca de MPPT híbrida PSO-P&O em situações em que ocorrem
mudanças bruscas nas condições ambientais, a cada 0,1 s é
coletado o valor da potência extraída. Desse modo, é possí-
vel perceber quando há mudanças nas condições ambien-
tais. Nesse caso, o algoritmo é reiniciado.

Descrição do sistema fotovoltaico

O sistema fotovoltaico utilizado consiste basicamente


em um arranjo fotovoltaico que se conecta a um conversor
de energia, que por sua vez, tem um método de controle as-
sociado que atua nos parâmetros do conversor, com o intui-
to de extrair a máxima potência, conforme apresentado na
Figura 2.

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DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
544 SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO

Figura 2 – Esquema simplificado do sistema fotovoltaico

Fonte: Elaborada pelo autor.

Para testar a técnica de MPPT híbrida proposta, fo-


ram utilizadas duas abordagens: a abordagem offline e on-
line. Na primeira as curvas P-V são implementadas no am-
biente de simulação MATLAB®. Essas curvas representam as
condições ambientais diversas. Assim, a ideia é mensurar a
capacidade dos algoritmos em encontrar o GMPP, ignoran-
do o efeito do tempo. Na abordagem online, é simulada uma
condição de operação real de um sistema FV, em que a téc-
nica de MPPT irá procurar perenemente o GMPP em tempo
de execução. Dessa forma, o propósito dessa abordagem é
avaliar a capacidade dos algoritmos em rastrear o GMPP em
um cenário real de operação, onde mudanças rápidas na ge-
ração de energia elétrica são esperadas devido a mudanças
estocásticas nas condições atmosféricas.

RESULTADOS DE SIMULAÇÃO

Abordagem offline

Na abordagem offline, um conjunto de curvas caracte-


rísticas P-V foi capturado para retratar situações reais, a fim
de validar os algoritmos sob condições ambientais distintas.
O algoritmo proposto é comparado com o clássico P&O e o
inteligente PSO. Essas curvas são classificadas em quatro ca-
sos, conforme apresentado na Figura 3.

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SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO 545

A técnica P&O consegue rastrear o GMPP no caso 1, po-


rém, nos demais casos ela converge para o LMPP ou GMPP
a depender do ponto de partida (PP), como visto na Figura 4.

Figura 3 – Arranjo fotovoltaico: (a) Caso 1; (b) Caso 2; (c) Caso 3; e


(d) Caso 4

Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 4 – Técnica de MPPT P&O: (a) Caso 1, PP 100 V; Caso 4 (b)


PP 165 V; (c) PP 50 V; e (d) PP 100 V

Fonte: Elaborada pelo autor.

TÉCNICA DE MPPT HÍBRIDA BASEADA NOS MÉTODOS PSO E P&O APLICADA EM SISTEMAS FV SOB CONDIÇÕES
DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
546 SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO

A técnica de MPPT PSO e a técnica proposta são técni-


cas de otimização estocásticas, pois envolvem procedimentos
aleatórios em sua operação. Logo, para validar adequadamen-
te essas técnicas, são realizadas 1000 simulações para cada
caso e medidas estatísticas são apresentadas na Tabela 1.
Com esses dados, fica evidente que o método proposto
sempre converge para o GMPP, ao contrário da técnica MPPT
P&O que as vezes converge para um LMPP. Comparando a
técnica proposta com a PSO observa-se que a técnica híbri-
da apresenta maior eficiência em todos os casos, além de um
menor desvio padrão, o que demonstra uma característica
mais determinística para a extração da máxima potência.

Tabela 1 – Comparação da técnica proposta e PSO


Arranjo Potência Tensão Itera- Eficiência
FV (W) (V) ções (%)
Média 1183,0 150,52 16,96
Técnica
Desvio 0,52 3,32 99,99
proposta 1,62
padrão
Caso 1
Média 1182,7 150,26 13,04
PSO Desvio 1,10 4,13 99,96
1,72
padrão
Média 870,79 153,89 16,86
Técnica
Desvio 0,37 3,20 99,99
proposta 0,59
padrão
Caso 2
Média 869,99 153,76 14,18
PSO Desvio 2,00 4,06 99,90
9,01
padrão
Média 670,91 117,25 14,40
Técnica
Desvio 0,75 4,80 99,94
proposta 2,15
padrão
Caso 3
Média 669,83 116,88 16,63
PSO Desvio 1,37 5,87 99,78
3,98
padrão
Média 650,09 113,63 9,70
Técnica
Desvio 0,22 2,80 99,99
proposta 0,20
padrão
Caso 4
Média 649,41 113,40 16,50
PSO Desvio 0,88 5,92 99,89
1,88
padrão
Fonte: Elaborada pelo autor.

TÉCNICA DE MPPT HÍBRIDA BASEADA NOS MÉTODOS PSO E P&O APLICADA EM SISTEMAS FV SOB CONDIÇÕES
DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO 547

3.1 Abordagem online

Os perfis ambientais dessa abordagem foram coletados


no dia 16 de dezembro de 2018, um dia nublado em Teresina-
-Piauí, no Laboratório de Energia Renováveis (LER) da Uni-
versidade Federal do Piauí (UFPI) Campus Ministro Petrônio
Portella. Os módulos FV modelados neste trabalho foram os
que estão disponíveis no sistema FV instalado no LER. Eles
são do fabricante SunEdison®, modelo Silvantis® F-320BzD.
Nesta abordagem o sistema FV é desenvolvido no am-
biente de simulação PSIM® e três cenários de testes são ava-
liados a seguir.

Primeiro Cenário de Teste


Nesse primeiro cenário, é imposta uma condição de
sombreamento uniforme nos módulos fotovoltaicos. Consi-
derando-se o horário de 11 h da manhã do dia 16 de dezem-
bro de 2018, é realizada a coleta de radiação solar e tempera-
tura de célula, mostrados na Tabela 2. A comparação entre as
técnicas de MPPT é apresentada na Tabela 3.

Tabela 2 – Configuração do primeiro cenário de teste


Parâmetro Valor
Radiação Solar 782 W/m²
Temperatura de célula 53,6 ºC
Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 3 – Comparação das técnicas de MPPT no primeiro cenário

Parâmetro Técnica proposta PSO P&O


Máxima Potência (W) 956,29 956,25 915,71 – 956,35
Tensão na máxima
141,35 141,20 151,25 – 141,70
potência (V)
Tempo de rastreamento (s) 0,57 1,2 0,12
Eficiência (%) 99,99 99,99 -
Fonte: Elaborada pelo autor.

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548 SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO

Segundo Cenário de Teste


No segundo cenário, o mesmo ponto do primeiro cená-
rio é considerado, porém é forçada uma condição de sombre-
amento parcial, definindo os ganhos de entrada de dois mó-
dulos FV em 0,7. Essa não uniformidade da radiação solar pro-
voca o surgimento de LMPP. A Tabela 4 mostra a comparação
entre as técnicas de MPPT utilizadas no presente trabalho.

Tabela 4 – Comparação das técnicas de MPPT no segundo cenário


Técnica
Parâmetro PSO P&O
proposta
Máxima Potência (W) 812,45 812,45 422,80 – 478,24
Tensão na máxima potência
145,46 145,46 58,60 – 70,79
(V)
Tempo de rastreamento (s) 0,57 1,16 0,14
Eficiência (%) 99,99 99,99 -
Fonte: Elaborada pelo autor.

Nesse segundo cenário, é claramente perceptível que


a técnica de MPPT P&O converge para um LMPP ao invés de
convergir para o GMPP. O método proposto alcança alta efi-
ciência em menos tempo de rastreamento em relação à téc-
nica inteligente PSO.

Terceiro Cenário de Teste


Nesse terceiro cenário, é considerado uma pequena
parcela de tempo em que se tem uma mudança rápida na
radiação solar de entrada, como ilustrado na Figura 5(a). O
desempenho das técnicas de MPPT estudadas são mostra-
das nas Figura 5(b), 5(c) e 5(d).
É possível observar nesse terceiro cenário que a téc-
nica proposta apresenta o tempo de rastreamento menor
que a técnica inteligente MPPT PSO, assim como já tinha se
verificado nos cenários anteriores. Também é claramente
visto nos gráficos, que a técnica MPPT P&O apresenta uma

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DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
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rápida convergência, porém não alcança o GMPP e a saída é


oscilante, ao passo que a técnica proposta apresenta rápida
convergência e menos oscilações.

Figura 5 – (a) Dois pontos de operação considerados;


Desempenho da técnica: (b) P&O; (c) PSO; e (d) proposta

Fonte: Elaborada pelo autor.

CONCLUSÃO

O algoritmo de MPPT híbrido proposto foi capaz de


rastrear o GMPP em condições desafiadoras, sempre apre-
sentando alta eficiência. Testes exaustivos na abordagem
offline foram realizados para demonstrar a precisão e veloci-
dade em condições de sombreamento uniforme e parcial. Na
comparação com as duas técnicas disponíveis na literatura,
ficou evidente a maior eficiência da técnica proposta. Tam-
bém foram realizados testes online que representam uma
operação real de um sistema fotovoltaico. A investigação do
desempenho dos algoritmos foi realizada em cenários uni-
formes e com mudanças bruscas nas condições ambientais.
Esses testes revelaram um desempenho notável em relação

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DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
550 SAMUEL NOGUEIRA FIGUEIREDO • RANOYCA NAYANA ALENCAR LEÃO E SILVA AQUINO

a técnica de MPPT P&O com a demanda de tempo ligeira-


mente maior. Em relação a técnica de MPPT PSO, a técnica
proposta apresentou menos tempo de rastreamento e me-
nos oscilações em regime permanente.

REFERÊNCIAS

ALAJMI, B. N. et al. A maximum power point tracking te-


chnique for partially shaded photovoltaic systems in micro-
grids. IEEE transactions on Industrial Electronics, v. 60, n.
4, p. 1596-1606, 2011.
ISHAQUE, K. et al. An improved particle swarm optimization
(PSO)–based MPPT for PV with reduced steady-state oscilla-
tion. IEEE transactions on Power Electronics, v. 27, n. 8, p.
3627-3638, 2012.
LIU, Y. H. et al. A particle swarm optimization-based maximum
power point tracking algorithm for PV systems operating un-
der partially shaded conditions. IEEE Transactions on Energy
Conversion, v. 27, n. 4, p. 1027-1035, 2012.
MAO, M. et al. Comprehensive improvement of artificial fish
swarm algorithm for global MPPT in PV system under partial
shading conditions. Transactions of the Institute of Measure-
ment and Control, v. 40, n. 7, p. 2178-2199, 2018.
OLIVEIRA JUNIOR, J. L. W. Desenvolvimento de plataforma
emuladora de turbina eólica para estudos de algoritmos de MPPT
eólicos inteligentes. 2016. 191 p. Dissertação (Mestrado em En-
genharia Elétrica) – Programa de Pós-Graduação em Engenha-
ria Elétrica, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2016.
RAI, A. K. et al. Simulation model of ANN based maximum
power point tracking controller for solar PV system. Solar
Energy Materials and Solar Cells, v. 95, n. 2, p. 773-778, 2011.
REZK, H.; ELTAMALY, A. M. A comprehensive comparison
of different MPPT techniques for photovoltaic systems. Solar
energy, v. 112, p. 1-11, 2015.

TÉCNICA DE MPPT HÍBRIDA BASEADA NOS MÉTODOS PSO E P&O APLICADA EM SISTEMAS FV SOB CONDIÇÕES
DE SOMBREAMENTO UNIFORME E PARCIAL
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IVANDRO DE JESUS MORENO DE OLIVEIRA • REJANE FELIX PEREIRA 551

Estudo da variação do volume de água


no açude Tejuçuoca no período entre
2010 e 2016
Amanda Souza da Silva1
Umberto Sampaio Madeiro Junior2
Vanessa Araújo de Sousa3
Gabriel Yves de Melo Raulino4
Ivandro de Jesus Moreno de Oliveira5
Rejane Felix Pereira6

RESUMO
Um reservatório de água destinado a abastecer uma certa região com
clima árido é imprescindível para a manutenção da qualidade de vida
ali. Com isso, estudos e pesquisas a fim de se determinar padrões de
estimativas do volume do açude, a partir da quantidade de água reposta
pelas chuvas, assim como o volume consumido pela população e as perdas
por evaporação, é essencial para se conhecer as razões de variações
prejudiciais nos níveis do açude e solucionar possíveis problemas com
o armazenamento de água, exigindo assim, as medidas corretivas e
preventivas como, por exemplo, racionamento de água. Neste intuito,
foram levantados os dados das variações anuais de volume nos níveis do
açude de Tejuçuoca, assim como os das precipitações na região ao longo do
período de 7 anos, entre 2010 a 2016, através de documentos de operação,
monitoramento, controle, informações geográficas e capacidade dos

1 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.


E-mail: ssouzamanda@hotmail.com
2 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.

E-mail: jr.umberto@gmail.com
3 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.

E-mail: nessaads@aluno.unilab.edu.br
4 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.

E-mail: gabrielyves@hotmail.com
5 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.

E-mail: vander-ley1@hotmail.com
6 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.

E-mail: rejane.pereira @unilab.edu.br

ESTUDO DA VARIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA NO AÇUDE TEJUÇUOCA NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2016
AMANDA SOUZA DA SILVA • UMBERTO SAMPAIO MADEIRO JUNIOR • VANESSA ARAÚJO DE SOUSA • GABRIEL YVES DE MELO RAULINO
552 IVANDRO DE JESUS MORENO DE OLIVEIRA • REJANE FELIX PEREIRA

reservatórios estudados, oriundas de consultas a documentos originados


de instituições governamentais. Diante do acúmulo e diversidade de
resultados observados e analisados, estes apontam para uma alarmante
diminuição contínua no volume de água acumulada no açude desde 2011,
indicadas através de gráficos e descrições explicativas que evidenciam
a gravidade em períodos longos de estiagem, pois mesmo com algum
aumento nos níveis pluviométricos, o açude não recuperou as perdas
acumuladas dos anos anteriores.
Palavras-chave: Açude. Variação de Volume. Estiagem.

STUDY OF VARIATION OF WATER VOLUME IN AÇUDE


TEJUÇUOCA IN THE PERIOD BETWEEN 2010 AND 2016.

ABSTRACT
A reservoir of water destined to supply a certain region with arid climate is
very important for the maintenance of the quality of life there. Therefore,
studies and research in order to determine patterns of estimates of the
volume of the weir is essential to know the reasons for harmful variations
in the levels of the dam and to solve possible problems with the storage
of water, thus requiring corrective and preventive measures Such as
water rationing. To this end, data on the annual volume variations in
the Tejuçuoca dam levels were collected, as well as the precipitation
in the region over the last 7 years, through operation, monitoring,
control, geographic information and reservoir capacity, Resulting
from consultations with documents originating from governmental
institutions. In view of the accumulation and diversity of results observed
and analyzed, these indicate an alarming continuous decrease in the
volume of water accumulated in the pond since 2011, indicated through
graphs and explanatory descriptions that evidence the severity in long
periods of drought, because even with some increase In the pluvial levels,
the weir did not recover the accumulated losses of the last years.
Keywords: Reservoirs. Volume Change. Drought.

INTRODUÇÃO

O açude Tejuçuoca foi construído em 1990, a partir do


barramento do Riacho Tejuçuoca pertencente a bacia hidro-
gráfica do Rio Curu. O Açude está localizado no município
de Tejuçuoca que faz parte da região norte do Estado do Ce-
ará, conforme figura 1, e abastece a sede do município e as

ESTUDO DA VARIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA NO AÇUDE TEJUÇUOCA NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2016
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IVANDRO DE JESUS MORENO DE OLIVEIRA • REJANE FELIX PEREIRA 553

localidades de Boqueirão, Boa Ação, Caiçara I e Malaquias,


porém ao longo dos anos, percebeu-se uma drástica redução
do volume de água armazenado.

Figura 1 – Localização do município de Tejuçuoca/CE.

Fonte: Adaptado de wikimedia.org

Segundo Maia (2006), a variação de volume dos reser-


vatórios está relacionada diretamente a diversos fatores,
dentre eles, evaporação, clima, assoreamento e tipos de uso.
Matos et al. (2011) afirmam que os reservatórios de água
para abastecimento e/ou de usos múltiplos é um importante
elemento a ser considerado no gerenciamento de recursos
hídricos, pois os reservatórios atuam na bacia hidrográfica,
reservando água da estação chuvosa para ser usada em pe-
ríodo de estiagem prolongada, permitindo manter a oferta
deste precioso recurso.
Para Fontes (2005), os reservatórios brasileiros estão
inseridos em uma complexidade por causa de fatores rela-
cionados a irregularidade espacial e temporal da disponibi-
lidade de água.

ESTUDO DA VARIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA NO AÇUDE TEJUÇUOCA NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2016
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554 IVANDRO DE JESUS MORENO DE OLIVEIRA • REJANE FELIX PEREIRA

O Açude Tejuçuoca, construído com capacidade má-


xima de armazenamento de aproximadamente 28,11hm3, ul-
timamente atingiu o seu aporte máximo nos anos de 2004,
2006 e 2009, segundo dados do Portal Hidrológico do Ceará.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho é apresentar um es-
tudo da variação do volume de água armazenado do açude
Tejuçuoca no período entre 2010 e 2016, tendo em vista sua
importância para o abastecimento de água de diversas lo-
calidades ao redor do município sede do açude e, com isso,
propor soluções para redução das perdas volumétricas.

METODOLOGIA

Para realizar este estudo, foram utilizados os dados


sobre volume disponível do reservatório Tejuçuoca e sobre
as precipitações ocorridas na bacia, todos obtidos no Portal
Hidrológico do Ceará. Esses dados foram organizados e dis-
postos em tabelas e gráficos para posterior análise do volu-
me mensal desse reservatório em cada ano do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A figura 2 apresenta o volume mensal de água armaze-


nado no Açude Tejuçuoca nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013,
2014, 2015 e 2016.

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Figura 2 – Volume de água armazenado no açude Tejuçuoca nos


meses estudados

Fonte: Autores.

A partir dos dados de volumes mensais do reservató-


rio em estudo, foram determinados os volumes armazena-
dos nos anos de 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016, con-
forme mostra a figura 3.

Figura 3 – Volume de água armazenado no açude nos anos


estudados

Fonte: Autores.

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A tabela 1 apresenta a precipitação média observada


no Município de Tejuçuoca, no período entre 2010 e 2016,
obtida através dos dados do Portal Hidrológico do Ceará.

Tabela 1 – Precipitação observada no município de Tejuçuoca


entre 2010 e 2016
Ano Precipitação observada (mm)
2010 208,00
2011 569,30
2012 193,00
2013 394,70
2014 403,00
2015 484,40
2016 560,50
Fonte: Adaptado do Portal Hidrológico do estado do Ceará.

Conforme observado na figura 2, o Açude de Tejuçuo-


ca apresentou uma redução do volume de água armazenado
ao longo dos meses nos anos de 2010, 2012, 2013 e 2014, va-
riando, na maioria das vezes de janeiro, com maior volume,
a dezembro, com menor volume.
Ainda na figura 2, nos anos de 2011, 2015 e 2016 o volu-
me aumentou de janeiro a maio, e depois reduziu até o mês
de dezembro do mesmo ano, o aumento do volume nesse pe-
ríodo ocorreu por causa da estação chuvosa, e a redução se
deve ao período de estiagem na região que varia de junho a
dezembro.
Conforme figura 3, observa-se que houve uma redução
no volume de água armazenado no açude entre o período de
2010 e 2016.
Em 2009, o açude de Tejuçuoca atingiu o seu volume
máximo de armazenamento, 28,11hm3, porém em 2010, o
açude estava 54% do volume total de água armazenado, em
2011 estava com 36,6%, em 2012 apresentava 20,26%, em 2013

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proporcionava 7,4%, em 2014 e em 2015 o açude armazenou


pouco mais que 1%, e em 2016 o açude estava com menos de
1% do seu volume máximo de armazenamento.
Ao longo do período estudado, conforme a tabela 1 a
precipitação observada no município sede do Açude, ficou
abaixo da média. Observando-se nos anos de 2010, 2012,
2013 e 2014 a precipitação ficou muito abaixo da média, o
que contribui para a redução do volume ao longo dos meses
desses anos. Já em 2011, 2015 e 2016 a precipitação foi maior,
havendo um aumento do volume nesse período na estação
chuvosa.
Pode-se afirmar, baseando-se em dados históricos,
trabalhos científicos e até mesmo por fundamentos empíri-
cos que as perdas por evaporação, principalmente na região
nordeste do Brasil, são consideravelmente elevadas. Diante
disso, busca-se medidas para redução das perdas volumé-
tricas desse açude que são ocasionadas pela evaporação no
período de estiagem.
Para a ocorrência de elevados índices de evaporação,
uma região precisa estar inserida em determinadas con-
dições físico-geográficas. Fatores como alta incidência de
ventos, elevadas temperaturas, baixa umidade do ar e baixa
pressão atmosférica contribuem diretamente para a ocor-
rência e potencialização do fenômeno.
Leão (et al., 2013) define que a evaporação pode ser
estimada por modelos baseados em métodos de transferên-
cia de massa, balanço de energia, balanço hídrico, métodos
combinados por meio de fórmulas empíricas, como as deri-
vadas da equação de Pennan. A partir da afirmação anterior,
tem-se como objeto demonstrativo dos elevados índices de
evaporação da região uma tabela que representa as perdas
de um reservatório em localidade próxima ao açude de Teju-
çuoca, com condições geográficas e climáticas similares. O

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método utilizado no referente trabalho foi o Método Jensen-


-Haise. Conforme apresentado na figura 4.

Figura 4: Relação entre volume acumulado, precipitação, volume


evaporado e volume consumido

Fonte: Venâncio (2017).

Segundo Venâncio (2017), as perdas por evaporação


em um reservatório inserido na região semiárida do nordes-
te brasileiro podem representar mais da metade da retirada
de água acumulada no período de um ano. Para este exem-
plo, em um reservatório localizado à 427km de Tejuçuoca,
a quantidade de água perdida na evaporação foi sempre su-
perior às precipitações observadas, em certos períodos re-
gistrou-se níveis de perdas superiores ao triplo da reposição
pelas chuvas.
Diante da comprovação da grande quantidade de água
esvaída por evaporação é necessário considerar medidas
que possam de alguma forma reduzir esse desaproveita-
mento de recurso. A quantidade de água contida em rios,
lagos, lagoas e açudes representa em quantidade uma fração
quase que insignificante da água do planeta, de acordo com
Gugliotti (2015) cerca de 0,007% deste total. Assim, essas

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medidas de redução por evaporação não influenciariam de


forma notável no ciclo hidrológico do planeta. Em contra-
partida, essa quantidade de água mantida no reservatório é
extremamente valiosa para a população local. Em razão dis-
so, será apresentado métodos que atenuam essas perdas de
forma econômica e eficiente, combinando algum outro pro-
cesso que contribua com a redução das perdas.
O método tradicional para redução das perdas por eva-
poração é a cobertura do reservatório por lonas, o que limita
o seu uso apenas para pequenos reservatórios. Há também
dispositivos de quebra-ventos e sombreamento, mas ambos
contam com um elevado custo e relativa complexidade para
instalação e manutenção do sistema, uma vez que as varia-
ções de volume alteram a altura da lâmina d’água, exigindo
ajustes com alguma constância. Destaca-se então, o método
por filmes superficiais, que trata-se de um método simples
de aplicação de uma substância granulada, que ao entrar
em contato com a água transforma-se em uma fina camada
incolor e toxicidade irrelevante para o meio ambiente. Não
influencia na troca de gases e reduz o movimento de ondu-
lação na superfície provocada por ventos, diminuindo assim
a área superficial líquida em contato com a radiação solar.
Outro método interessante é a utilização de placas so-
lares em reservatórios. Nesse tipo de geração temos alguns
pontos favoráveis notáveis que agem em conjunto para o
melhoramento tanto da geração quanto da questão de som-
breamento. Um fator inerente à geração elétrica é combate
de perdas, assim como qualquer outro processo. No caso da
geração solar, a queda de rendimento dos painéis se dá jus-
tamente pelo seu aquecimento. A sua imersão na água aju-
daria com o resfriamento, diminuindo assim essa parcela
de desperdício pelo aumento da temperatura. A disposição
das placas na superfície da água causa um sombreamento,

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560 IVANDRO DE JESUS MORENO DE OLIVEIRA • REJANE FELIX PEREIRA

impossibilitando a evaporação naquela área. Ressalta-se


que este tipo de sistema é recomendado para reservatórios
destinados à geração de energia, aproveitando assim as li-
nhas de transmissão e conversão de energia já existentes,
ou ainda para unidades consumidoras próximas. A figura 5
apresenta um exemplo desse método

Figura 5 – Paíneis Solares instalado no reservatório de


Sobradinho

Fonte: Agência Brasil, 2019.

CONCLUSÃO

O açude de Tejuçuoca apresentou uma variação do seu


volume armazenado de 28,11hm3 em 2009 para 0,75 hm3 em
2016, ou seja, ao longo do período estudado o volume de ar-
mazenamento de água reduziu para menos de 1%. Essa re-
dução se deve, além do longo período de estiagem na região,
a má distribuição das chuvas ao longo do Estado e da região,
que é o tropical quente e semiárido.
Outra justificativa para redução do volume armazena-
do, pode ser a taxa de evaporação no reservatório, tendo em

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IVANDRO DE JESUS MORENO DE OLIVEIRA • REJANE FELIX PEREIRA 561

vista que a água é utilizada apenas para abastecimento de


poucas localidades. Até porque o cálculo do volume de um
açude depende da determinação das perdas por evaporação,
que também influenciam na gestão e operação dos açudes.
Além de meninas de racionamento de água e de edu-
cação ambiental sobre a preservação da água e do meio am-
biente, uma solução que poderia ser utilizada para solucio-
nar essa problemática seria a utilização de placas solares,
assim, além de reduzir as perdas de água por evaporação, a
comunidade poderia aproveitar a energia gerada, já que na
região, a falta de energia é constante.

REFERÊNCIAS

ANA, Agência Nacional de Águas. Portal Hidroweb. Disponí-


vel em http://hidroweb.ana.gov.br/ . Acesso em 10 mai. 2016.
ANA, Agência Nacional de Águas. SAR -Sistema de Acompa-
nhamento de Reservatórios. Disponível em http://sar.ana.
gov.br . Acesso em 10 mai. 2016.
Cavalcante, A.J.B.D. Impactos nos Processos Morfológicos do
Baixo Curso do Rio São Francisco, Decorrentes da Construção
de Barragens. (2011). Disponível em: http://www.oceanica.
ufrj.br/intranet/teses/2011_mestrado_amparo_de_jesus_
barros_damasceno_cavalcante.pdf . Acesso em 03 jul. 2016.
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ESTUDO DA VARIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA NO AÇUDE TEJUÇUOCA NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2016
AMANDA SOUZA DA SILVA • UMBERTO SAMPAIO MADEIRO JUNIOR • VANESSA ARAÚJO DE SOUSA • GABRIEL YVES DE MELO RAULINO
562 IVANDRO DE JESUS MORENO DE OLIVEIRA • REJANE FELIX PEREIRA

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ESTUDO DA VARIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA NO AÇUDE TEJUÇUOCA NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2016
AMANDA SOUZA DA SILVA • UMBERTO SAMPAIO MADEIRO JUNIOR • VANESSA ARAÚJO DE SOUSA • GABRIEL YVES DE MELO RAULINO
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Data de entrega: 30/06/2019.

ESTUDO DA VARIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA NO AÇUDE TEJUÇUOCA NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2016
GABRIEL YVES DE MELO RAULINO • MARCUS CANUTTO FARIAS SILVA • THALES GUIMARÃES ROCHA • AMANDA SOUZA DA SILVA
564 REJANE FELIX PEREIRA • SÍLVIA HELENA LIMA DOS SANTOS

Análise dos leilões de energia nova no


período entre 2005 e 2018
Gabriel Yves de Melo Raulino1
Marcus Canutto Farias Silva2
Thales Guimarães Rocha3
Amanda Souza da Silva4
Rejane Felix Pereira5
Sílvia Helena Lima dos Santos6

RESUMO
Para aumentar o número de centrais de geração e, assim, atender a
demanda por energia elétrica, o governo precisa investir em programas
que captem novos empresários que estejam dispostos a aplicar seu
capital em novas usinas de geração. A nível nacional, os leilões de
energia são utilizados tanto para geração como comercialização de
energia elétrica, promovendo a concorrência entre os agentes do setor e
induzindo a entrada de empreendedores proveniente de outros setores
e de outros países. Dessa forma, o intuito desse trabalho é apresentar
os investimentos obtidos por meio de leilões de energia nova realizados
para empreendimentos hidrelétricos no Brasil, tais como, PCHs e UHEs,
verificando, além da garantia física, o investimento anual ao longo do
período de 2005 a 2018 em cada subcategoria dessa modalidade. Os
resultados mostraram que os leilões estudados foram essenciais para
promover o aumento no número de fontes de geração hídrica, com uma
previsão de investimentos no período da ordem de 66,4 bilhões, sendo
o ano de 2009 o de maior investimento, e uma garantia física total da

1 Graduando em Engenharia de Energias - IEDS - UNILAB.


E-mail: gabrielyves@hotmail.com
2 Graduando em Engenharia de Energias - IEDS - UNILAB.

E-mail: marcuscanuttofs@gmail.com
3 Graduando em Engenharia de Energias - IEDS - UNILAB.

E-mail: rocha.thales@hotmail.com
4 Graduanda em Engenharia de Energias - IEDS - UNILAB.

E-mail: ssouzamanda@hotmail.com
5 Professora Adjunta de Engenharia de Energias - IEDS - UNILAB.

E-mail: rejane.pereira@unilab.edu.br
6 Professora adjunta de Engenharia de Energias - IEDS - UNILAB.

E-mail: silvia.santos@unilab.edu.br

ANÁLISE DOS LEILÕES DE ENERGIA NOVA NO PERÍODO ENTRE 2005 E 2018


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ordem de 13,5GW. Mesmo assim, esses investimentos apresentaram uma


retração ocorrida pela ascensão de outras fontes renováveis no país.
Palavras-chave: Leilões de Energia Nova. Geração Hídrica. Investimentos.

ANALYSIS OF NEW ENERGY AUCTIONS IN PERIOD BETWEEN


2005 AND 2018

ABSTRACT
To increase the number of generation plants and, thus, meet the demand
for electricity, the government needs to invest in programs that attract
new entrepreneurs willing to invest their capital in new generation
plants. At the national level, energy auctions are used for both generation
and commercialization of electricity, promoting competition among
agents in the industry and inducing the entry of entrepreneurs from
other sectors and other countries. Thus, the purpose of this work is to
present the investments obtained through new energy auctions carried
out for hydroelectric projects in Brazil, such as Small Hydroelectric
Plants and Hydroelectric Power Plants, verifying, in addition to the
physical guarantee, the annual investment over the period from 2005 to
2018 in each subcategory of this modality. The results showed that the
auctions studied were essential to promote the increase in the number of
sources of water generation, with a forecast of investments in the period
of 66.4 billion, 2009 being the year of greatest investment and a physical
guarantee total of the order of 13.5GW. Even so, these investments showed
a decrease caused by the rise of other renewable sources in the country.
Keywords: New Energy Auctions. Water Generation. Investments.

INTRODUÇÃO

A reestruturação da geração de energia elétrica no


Brasil iniciou-se na década de 1990, quando o país apresen-
tava um panorama de geração e transmissão em monopó-
lio estatal. Em virtude de um panorama caracterizado por
problemas econômicos, diversos países da América Latina
empreenderam novas concepções no papel do Estado em
termos de descentralização da prestação de diversos ser-
viços, dentre eles, os serviços oferecidos pelo setor elétri-
co (FITTIPALDI, 2005). Ao longo dos anos, essas reformas
impulsionaram os investimentos em geração de energia, e

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como exemplo, tem-se o Brasil, com um aumento da sua ca-


pacidade instalada de cerca de 90% entre os anos de 2001 e
2016, com destaque para as fontes térmica convencional e
renovável (ESPOSITO, 2018).
Em relação às fontes renováveis no país destacam-se
os empreendimentos destinados à geração de energia elé-
trica a partir de fontes hídricas, aos quais são divididos em
três categorias: Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH’s),
Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s) e Usinas Hidrelé-
tricas (UHE’s), que se diferenciam em relação ao porte da
infraestrutura e da geração em megawatts (MW). Segundo
a Agência Nacional de Energia Elétrica, ANEEL, existem 700
CGH’s em operação, assim como 424 PCH’s e 217 UHE’s em
todo o país, compreendendo a aproximadamente 64% de
toda geração nacional (ANEEL, 2019).
Para implementação de uma unidade geradora, de iní-
cio, é realizado um inventário da bacia do trecho do rio a ser
analisado, e com isso documentar a capacidade de geração
da bacia. Com a aprovação do inventário, são realizados es-
tudos de viabilidade técnica dos locais com potencial ener-
gético e o projeto básico, após estas etapas, o governo abre
as contratações.
De acordo com a CCEE – Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica, o leilão é a principal modalidade de con-
tratação de energia no Brasil. Por meio desse mecanismo,
as concessionárias, permissionárias e autorizadas de servi-
ço público de distribuição de energia elétrica inseridas no
Sistema Integrado Nacional (SIN) garantem o atendimento
à totalidade de seu mercado no Ambiente de Contratação
Regulado (ACR), no qual, as distribuidoras são obrigadas a
comprar energia das empresas geradoras participantes dos
leilões com contratos de longo prazo.  Em 2008, o volume de
negócios do mercado cativo de energias no modelo regula-

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tório de ACR apresentou acentuado crescimento e chegou


a representar cerca de 25% do mercado de energia elétrica,
quatro anos após o modelo ter sido implementado (COSTA;
PIEROBON, 2008).
Atualmente, no setor elétrico, existem 4 principais
modalidades de leilões: energia nova, energia existente,
energia de reserva e de transmissão. O leilão de energia nova
corresponde à compra de energia por meio de empreendi-
mentos que irão entrar em operação. O leilão de energia de
energia existente refere-se à recontratação de energia de
empreendimentos geradores que já estão em operação. O
leilão de energia de reserva tem como objetivo é a contrata-
ção de energia para proporcionar maior segurança ao siste-
ma reserva. Já o leilão de transmissão trata-se da promoção
da expansão das redes de transmissão de energia dentro do
Sistema Integrado Nacional (SIN). Dessas modalidades, a
mais realizada no Brasil, é o leilão de energia nova.
Mesmo com o forte apoio do Governo Brasileiro na im-
plementação de outras fontes alternativas para geração de
energia elétrica, a principal fonte brasileira ainda é a hídri-
ca, o que justifica a realização deste estudo cujo objetivo é
apresentar os investimentos obtidos por meio de leilões de
energia nova realizados para empreendimentos hidrelétri-
cos no Brasil, tais como, PCHs e UHEs, verificando, além da
garantia física, o investimento anual ao longo do período de
2005 a 2018 em cada subcategoria dessa modalidade.

LEILÃO DE ENERGIA NOVA

O objetivo do leilão de energia nova é o atendimento


da demanda projetada pelas distribuidoras, corresponden-
do às fontes que ainda serão construídas. Essa categoria, ini-
cialmente estava subdividida em leilões A-5, A-3, de projetos

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estruturante e de fontes alternativas, mais tarde, foram in-


seridos os subgrupos A-4 e A-6.
O leilão de fontes alternativas foi adotado pelo Gover-
no Brasileiro como uma forma de aumentar a participação
de fontes limpas, tais como, eólica, PCH (Pequena Central
Hidrelétrica) e Biomassa, na matriz energética nacional, que
valida o que está disposto na Lei Federal n° 10.438 de 2002,
“aumentar a participação da energia elétrica produzida por
empreendimentos de Produtores Independentes Autôno-
mos concebidos com base em fontes eólica, pequenas cen-
trais hidrelétricas e biomassa”.
Os Leilões Estruturantes que derivam dos leilões de
energia nova, que têm como objetivo a compra de energia
por meio empreendimento estratégicos e de interesse pú-
blico para o mercado de geração.
Os leilões A-6, A-5, A-4 e A-3 correspondem aos leilões
de compra de energia e são realizados com seis, cinco, qua-
tro e três anos, respectivamente, antes da data de início da
entrega de energia elétrica. Segundo o Instituto Acende Bra-
sil (2012), tal antecedência visa proporcionar o tempo ne-
cessário para a instalação dos novos empreendimentos de
energia contratados no leilão.

METODOLOGIA

Para realização desta pesquisa, foram analisados os


documentos disponibilizados, principalmente, nos sítios
da EPE e da ANEEL, em que foram coletadas as informa-
ções relacionadas às PCHs e às UHEs que foram leiloadas
no período de 2005 à 2018, destacando apenas os leilões de
Energia Nova, os quais se enquadram os subgrupos A-3, A-5
e Estruturante, e que, ao longo dos anos foram incorporados
os subgrupos A-4, A-6 e Fontes Alternativas, de acordo com

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a necessidade energética do Brasil em conformidade com os


estudos de projeção da demanda estudos da EPE.
Com as informações coletadas, foram elaboradas ta-
belas para cada subgrupo analisado, contendo informações
sobre a quantidade de hidrelétricas, de potência média ga-
rantida, do número de empresas que arremataram os lotes
de energia e sobre o valor total do investimento previsto no
leilão, e assim, facilitar a análise dessas informações.

RESULTADOS

A tabela 1 mostra os leilões de geração A-3 que ocorre-


ram entre os anos de 2005 e 2018. Nesta modalidade obser-
vou-se uma baixa oferta de empreendimentos de fonte hí-
drica, sendo que em nos anos de 2007, 2008 e 2013, as PCHs e
as UHEs não foram contempladas. Contudo, no ano de 2015
as PCHs ganharam um impulso, pelo menos nesta modali-
dade, no total de 7 empreendimentos leiloados, perfazendo
uma previsão de investimento de R$382.080.950,00, com
uma garantia física média de 35,27MW.

Tabela 1 – Leilões A-3


Empreendimentos de Leilões de Geração (A-3) (2005 à 2018) – Energia
Nova
Empreen- Garantia Empresas/ Investimento
Leilão dimentos Física (MW- Consór. apro- Previsto Total
Leiloados méd.) vados (R$)
2/2006 (A-3) 1 PCH 1,25 1 8.216.000,00
2/2007 (A-3) 0 0,00 0 0,00
2/2008 (A-3) 0 0,00 0 0,00
2/2009 (A-3) 1 PCH 9,40 1 126.477.000,00
2/2011 (A-3) 1 UHE 209,30 1 1.514.278.640,00
9/2013 (A-3) 0 0,00 0 0,00
3/2014 (A-3) 1 UHE 206,20 1 81.290.000,00
4/2015 (A-3) 7 PCHs 35,27 7 382.080.950,00
Total 2.112.342.590,00
Fonte: Adaptado de ANEEL (2018).

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Ainda de acordo com a tabela 1, a previsão de maior


investimento foi no ano de 2011, com o leilão de somente
uma UHE e um total de investimento previsto de mais de 1,5
bilhão e com uma previsão de garantia física de 209,30MW,
porém, no ano de 2014, a garantia física oferecida foi bem
próxima desse valor, com 206,20MW, e um investimento
previsto bem inferior ao de 2011, de apenas 5,37%.
A Tabela 2 apresenta os leilões A-4 que se iniciaram em
2017. Nesta modalidade as UHEs não foram contempladas
até o último ano desta análise, mesmo assim, os leilões A-4
já conseguiram incrementar uma previsão de garantia física
de 26,15MWmed.

Tabela 2 – Leilões A-4


Empreendimentos de Leilões de Geração (A-4) (2005 à 2018) – Energia
Nova
Empreen- Garantia Empresas/
Invest. Previsto
Leilão dimentos Física (MW- Consór. apro-
Total (R$)
Leiloados méd.) vados
4/2017 (A-4) 1 PCH 8,59 1 23.022.300,00
1/2018 (A-4) 2 PCHs 17,56 2 185.871.900,00
Total 208.894.200,00
Fonte: Adaptado de ANEEL (2018).

A tabela 3 traz os resultados dos leilões A-5, que repre-


sentam a maior parcela de participação nos leilões de Ener-
gia Nova. Apenas dois anos (2007 e 2008) não contabilizaram
a compra de obras de fonte hídrica, onde apenas usinas ter-
melétricas foram leiloadas. Porém ainda representa o maior
capital mobilizado, finalizando vendas tanto para implanta-
ção de PCHs quanto de UHEs.
Nessa modalidade, um grande destaque foi o leilão
4/2010, na construção de duas Usinas Hidrelétricas que,
juntas, somam uma potência média garantida de mais de 1,1
GW, com investimento previsto de mais de 4,8 bilhões de re-
ais. É importante constatar que, para UHEs geralmente mais

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de uma empresa leva os lotes do empreendimento, ou seja,


para participar do leilão elas se consorciam, e isso ocorre
devido aos altos gastos para a implantação de unidades ge-
radoras desse porte e, assim, podem compartilhar tanto dos
lucros quanto os riscos do investimento.
As PCHs leiloadas na modalidade A-5 também tiveram
grande força em 2013 para iniciarem operação em 2018, em
que 24 pequenas centrais foram leiloadas em dois leilões
A-5, perfazendo um total investido de mais de 6,7 milhões e
uma garantia física de mais de 900MW.
Os leilões A-6 são mais recentes, como o caso da mo-
dalidade A-4 e se seus resultados, até o último ano analisado,
estavam voltados para as gerações de fontes hídricas, con-
tando com a aprovação de 12 PCHs e uma UHE, conforme
pode ser verificado na tabela 4. Mesmo sendo uma modali-
dade recente, até o final do ano 2018, esta modalidade somou
um investimento total de mais de 1,3 milhão, proporcionan-
do uma garantia física média de 297,10MW com o leilão de 12
PCH e 1 UHE.
A modalidade de leilão de fontes alternativas foi de-
senvolvida para participação exclusiva de fontes renováveis,
porém desde 2011, empreendimentos como usinas eólicas
(EOLs) passaram a estar presentes em outros subtemas dos
leilões de Energia Nova.

 Tabela 3 – Leilões A-5


Empreendimentos de Leilões de Geração (A-5) (2005 à 2018) – Energia
Nova
Empreen- Garantia Empresas/
Invest. Previsto
Leilão dimentos Física (MW- Consór.
Total (R$)
Leiloados méd.) aprovados
2/2005 (A-5) 6 UHEs 420,40 8 2.949.054.770,00
4/2006 (A-5) 2 UHEs 339,00 6 1.456.983.350,00
1/2007 (A-5) 0 0,00 0 0,00
3/2008 (A-5) 0 0,00 0 0,00

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3 UHEs e 4
3/2010 (A-5) 454,66 7 3.212.457.900,00
PCHs
4/2010 (A-5) 2 UHEs 1111,50 6 4.866.040.560,00
7/2011 (A-5) 1 UHE 90,90 1 652.002.390,00
6/2012 (A-5) 2 UHEs 151,60 2 1.099.430.706,00
2 UHEs e 8
6/2013 (A-5) 355,00 13 3.125.893.220,00
PCHs
1 UHE e 16
10/2013 (A-5) 569,25 18 3.614.688.930,00
PCHs
6/2014 (A-5) 3 PCHs 25,60 3 266.928.100,00
2 UHEs e 8
3/2015 (A-5) 214,80 11 2.274.656.570,00
PCHs
1 UHE e 20
1/2016 (A-5) 171,27 24 1.271.564.630,00
PCHs
Total 24.789.701.126,00
Fonte: Adaptado de ANEEL (2018).

Tabela 4 – Leilões A-6


Empreendimentos de Leilões de Geração (A-6) (2005 à 2018) – Energia
Nova
Empreendi- Empresas/
Garantia Físi- Invest. Previsto
Leilão mentosLei- Consór
ca (Mwméd.) Total (R$)
loados aprovados
5/2017 (A-6) 6 PCHs 76,53 6 688.419.900,00
1 UHE e 6
3/2018 (A-6) PCHs 220,57 7 653.568.410,00
Total 1.341.988.310,00
Fonte: Adaptado de ANEEL (2018).

Os leilões de Fontes Alternativas foram poucas vezes


acionados, tendo sua última utilização em 2015, em que,
nessa ocasião, apenas as usinas termelétricas (UTEs) que
queimam bagaço de cana e usinas eólicas marcaram pre-
sença nas vendas. No geral, nessa modalidade, as PCHs ti-
veram baixa participação em relação aos empreendimentos
concorrentes, tais como, UTEs, EOLs e usinas fotovoltaicas
(UFVs), mas somaram uma geração média na matriz energé-
tica nacional de 84,01MW em leilões FA e um bom montante
de investimento. Esses valores são mostrados na Tabela 5.

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Durante o período analisado foram realizados apenas


três leilões estruturantes, conforme tabela 6, que mostra
ainda que cada leilão é realizando apenas para um empre-
endimento, UHE, o que denota a grandiosidade do empreen-
dimento, incluindo os valores a serem investidos. Essas hi-
drelétricas são de grande porte, que somam juntas mais de
8,6GW, atingindo uma marca acima de 37,2 bilhões de reais,
com mais de 20 empresas envolvidas nas obras.

Tabela 5 – Leilões de Fontes Alternativas


Empreendimentos de Leilões de Geração (FA) (2005 à 2018) – Energia
Nova
Empreendi- Empresas/
Garantia Físi- Invest. Previsto
Leilão mentos Lei- Consór. apro-
ca (Mwméd.) Total (R$)
loados vados
3/2007 (FA) 2 PCHs 21,61 2 188.340.080,00
7/2010 (FA) 5 PCHs 62,40 5 588.226.290,00
2/2015 (FA) 0 0,00 0 0,00
Total 776.566.370,00
Fonte: Adaptado de ANEEL (2018).

Os leilões estruturantes são realizados para grandes em-


preendimentos com elevados custos de implantação e que se-
jam estratégicos para geração de energia, como por exemplo, a
Usina Hidrelétrica de Belo Monte, leiloada em 2009, é um bom
exemplo para a necessidade dos leilões estruturantes, essa usi-
na garante mais de 4,5GW, com uma previsão de investimento
de mais de 19 bilhões de reais para realização da obra.

Tabela 6 – Leilões Estruturantes


Empreendimentos de Leilões de Geração (Est) (2005 à 2018) – Energia
Nova
Empreen- Empresas/
Garantia Físi- Invest. Previsto
Leilão dimentos Consór.
ca (Mwméd.) Total (R$)
Leiloados aprovados
5/2005 (Est) 1 UHE 2218,00 7 9.495.381.160,00
5/2008 (Est) 1 UHE 1975,30 4 8.699.124.120,00
6/2009 (Est) 1 UHE 4571,00 9 19.018.115.000,00
Total 37.212.620.280,00
Fonte: Adaptado de ANEEL (2018).

ANÁLISE DOS LEILÕES DE ENERGIA NOVA NO PERÍODO ENTRE 2005 E 2018


GABRIEL YVES DE MELO RAULINO • MARCUS CANUTTO FARIAS SILVA • THALES GUIMARÃES ROCHA • AMANDA SOUZA DA SILVA
574 REJANE FELIX PEREIRA • SÍLVIA HELENA LIMA DOS SANTOS

CONCLUSÃO

Os leilões de energia nova, no período estudado, fo-


ram responsáveis pela previsão de construção de 90 PCHs e
28 UHEs em todo o Brasil, com uma previsão de investimen-
to total, de R$ 66.442.112.876,00.
Os leilões estruturantes somaram o maior montante
de investimento dentro todas as modalidades de Energia
Nova, correspondendo a 56% do total de previsão de inves-
timento analisado no período entre 2005 e 2018. O maior va-
lor de investimento previsto nessa modalidade ocorreu no
leilão de 2009, que juntamente o leilão A-3 que ocorreu no
mesmo ano, proporcionou a maior previsão de investimento
para país, correspondendo a 28,8% de toda previsão do in-
vestimento no período estudado, seguida dos anos de 2005,
com 18,7%, e do ano 2008 com 13,1%, em todos esses anos
também foram lançados leilões estruturantes.
No período estudado, a modalidade A-5, representou
37,3% do total dos investimentos previstos. Nos anos de 2012,
2013 e 2016 os leilões de fontes hídricas foram apenas nessa
modalidade, e nos 14 anos analisados, em nove houveram
leilões dessa modalidade.
Outra modalidade de leilão que também se destacou
no período foi a A-3, com leilões realizados em cinco anos
dos 14 anos analisados, porém sua representatividade em
previsão de investimentos foi pequena, com apenas 3,2%,
perdendo espaço para a modalidade A-5.
Na modalidade de fontes alternativas, foram realiza-
dos apenas dois leilões, um em 2007 e outro em 2010, o que
ocorreu devido a alteração na perspectiva do enquadramen-
to de usinas, antes vistas como fontes alternativas, e que ago-
ra são leiloadas em outras modalidades. Isto pode ter sido
influenciado pelo desenvolvimento tecnológico, responsá-

ANÁLISE DOS LEILÕES DE ENERGIA NOVA NO PERÍODO ENTRE 2005 E 2018


GABRIEL YVES DE MELO RAULINO • MARCUS CANUTTO FARIAS SILVA • THALES GUIMARÃES ROCHA • AMANDA SOUZA DA SILVA
REJANE FELIX PEREIRA • SÍLVIA HELENA LIMA DOS SANTOS 575

vel pelo aumento na geração das unidades geradoras, como


foi o caso das Usinas Eólicas. Esta modalidade corresponde
a apenas 1,2% do total de investimento previsto no intervalo
estudado.
As modalidades A-4 e A-6 são modalidades recentes,
iniciadas em 2017, mesmo assim, a modalidade A-6 apre-
sentou um percentual de participação nos investimentos
maior do que a modalidade de fontes alternativas, um valor
de aproximadamente 2,0% do total de investimento levanta-
do para o período, já a modalidade A-4 corresponde apenas
0,3%. Nos dois últimos anos, foram realizados leilões apenas
nessas modalidades. É importante frisar que, nos dois últi-
mos anos, as vendas de usinas eólicas e solares foram muito
fortes, compreendendo a maior parcela de investimentos.
Aparecem também algumas CGHs, mas em menor volume,
bem como, UTEs, que anteriormente se mostravam mais de-
mandadas, o que fez o percentual de investimento previsto
em PCHs e UHEs caírem em 2017 e em 2018 para 1,1% e 1,3%
respectivamente.
Com relação à garantia física, os anos de 2009, 2005 e
2008 também se destacaram, por apresentarem maior per-
centual oferecido, seguido dos anos de 2010, 2013, 2006, 2011,
2015, 2018, 2014, 2016, 2012, 2017 e 2007, com um percentual
de, respectivamente, 33,84%, 19,49%, 14,59%, 12,03%, 6,83%,
2,51%, 2,22%, 1,85%, 1,76%, 1,71%, 1,27%, 1,12%. 0,63%, e 0,16%.
Essa ordem não corresponde à ordem do percentual de in-
vestimento previsto, o que deixa claro que a garantia física
prevista não é em função do investimento previsto.
No geral, os leilões se mostram como uma boa ferra-
menta para atrair investidores. Os leilões até aqui realizados
fizeram com que muitas empresas e consórcios participas-
sem da compra de lotes de energia, evidenciando boa con-
corrência na venda de construções para fins de geração de

ANÁLISE DOS LEILÕES DE ENERGIA NOVA NO PERÍODO ENTRE 2005 E 2018


GABRIEL YVES DE MELO RAULINO • MARCUS CANUTTO FARIAS SILVA • THALES GUIMARÃES ROCHA • AMANDA SOUZA DA SILVA
576 REJANE FELIX PEREIRA • SÍLVIA HELENA LIMA DOS SANTOS

energia elétrica. No que diz respeito aos empreendimentos


hidrelétricos os leilões conseguiram contemplam as PCHs
e UHEs, cooperando com a descentralização da geração e
crescimento do uso de fontes renováveis.
A base de dados fornecida pela ANEEL e EPE foram
eficazes para o estudo, porém careciam de informações
mais detalhadas a respeito do andamento dos leilões, das
empresas inicialmente inscritas para participar, constan-
do apenas as homologadas, e com isso, não foi possível uma
análise mais robusta com relação a concorrência para com-
pra e venda. 

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5.163, de 30 de julho de 2004 Diário Oficial da República Fe-
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2004, p. 26. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/

ANÁLISE DOS LEILÕES DE ENERGIA NOVA NO PERÍODO ENTRE 2005 E 2018


GABRIEL YVES DE MELO RAULINO • MARCUS CANUTTO FARIAS SILVA • THALES GUIMARÃES ROCHA • AMANDA SOUZA DA SILVA
REJANE FELIX PEREIRA • SÍLVIA HELENA LIMA DOS SANTOS 577

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26 de dezembro de 1996 Diário Oficial da República Federativa do
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ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
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adf.ctrl-state=q0aemq6po_1#!%40%40%3F_afrLoo-
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GABRIEL YVES DE MELO RAULINO • MARCUS CANUTTO FARIAS SILVA • THALES GUIMARÃES ROCHA • AMANDA SOUZA DA SILVA
578 REJANE FELIX PEREIRA • SÍLVIA HELENA LIMA DOS SANTOS

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Data de entrega: 30/06/2019.

ANÁLISE DOS LEILÕES DE ENERGIA NOVA NO PERÍODO ENTRE 2005 E 2018


ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA 579

Avaliação de viabilidade econômica


para implantação de um sistema de
aproveitamento de água pluvial
Antônio Elder Ferreira da Silva1
Patrícia Freire de Vasconcelos2
Cleiton da Silva Silveira3

RESUMO
O presente trabalho tem o objetivo de identificar quais são os indicadores
financeiros mais utilizados na análise de viabilidade econômica para
implantação de um sistema de aproveitamento de água pluvial para fins
não potáveis. Para isso foi realizada uma revisão integrativa de literatura.
O método de revisão integrativa é composto pelas seguintes etapas: a
identificação do propósito da revisão; a busca da literatura; a avaliação
e a análise dos dados obtidos. A busca dos estudos ocorreu em agosto de
2018. Os critérios de inclusão foram: artigos em português publicados
nos últimos cinco anos (2013-2018), que apresentassem em sua discussão
considerações sobre avaliação econômica de um SAAP, indexados nas
bases de dados Google Scholar e Scielo.org. Foram encontrados 11 artigos
que ajudaram a responder o questionamento da pesquisa. O indicador
financeiro presente na grande maioria dos artigos revisados é o payback.
Isso se deve pelo fato da simplicidade do seu cálculo e facilidade de
compreensão. A literatura adverte sobre o uso isolado desse indicador
para realizar a tomada de decisão. Apesar das limitações discutidas
neste trabalho, o VPL e a relação benefício/custo são os indicadores
financeiros mais indicados para análise de viabilidade econômica devido
sua robustez. Todos os indicadores encontrados possuem a limitação de
não conseguir monetizar o benefício do ganho ambiental e incluir na

1 Engenheiro Civil, Analista de Infraestrutura do Departamento de Arquite-


tura e Engenharia do Estado do Ceará (DAE). Aluno do curso de Mestrado
Profissional em Climatologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE)
com a linha de pesquisa: Climatologia, Mudanças Climáticas e a Sustentabi-
lidade Hídrica do Ceará. E-mail: elder.ferreira@dae.ce.gov.br.
2 Enfermeira, Docente da Universidade da Integração Internacional da

Lusofonia AfroBrasileira. Email: patriciafreire@unilab.edu.br.


3 Físico, Docente da Universidade Federal do Ceará.

E-mail: cleitonsilveira@ufc.br

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


580 ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA

análise financeira. Nos artigos encontrados não se vislumbrou nenhuma


tentativa nesse sentido. Nessa perspectiva, a comunidade cientifica
possui o desafio de avançar ainda mais no caminho da sustentabilidade
hídrica.
Palavras-chave: Água pluvial. Água de chuva. Viabilidade. Avaliação.

ECONOMIC FEASIBILITY ASSESMENT FOR THE IMPLENTATION


OF A RAINWATER HARVESTING SYSTEM

ABSTRACT
The present work has the objective of identifying which are the most
used financial indicators in the economic viability analysis for the
implantation of a rainwater harvesting system for non potable purposes.
For this, an integrative literature review was carried out. The integrative
review method is composed of the following steps: the identification of
the purpose of the review; the search for literature; the evaluation and
analysis of the data obtained. The search for the studies occurred in
August 2018. The inclusion criteria were: Portuguese articles published
in the last five years (2013-2018), which presented in their discussion
considerations on the economic evaluation of a SAAP, indexed in the
Google Scholar databases and Scielo.org. We found 11 articles that helped
answer the questioning of the research. The financial indicator present
in most of the revised articles is payback. This is due to the simplicity of
its calculation and ease of understanding. The literature warns about the
isolated use of this indicator to carry out the decision making. Despite the
limitations discussed in this paper, the NPV and the benefit / cost ratio
are the most indicated financial indicators for economic viability analysis
due to their robustness. All the indicators found have the limitation of not
being able to monetize the benefit of the environmental gain and include
in the financial analysis. In the articles found no attempt was made to do
so. From this perspective, the scientific community has the challenge to
advance further in the path of water sustainability.
Keywords: Rainwater. Rain water. Viability. Evaluation.

INTRODUÇÃO

A sustentabilidade hídrica dos edifícios possui funda-


mento no uso eficiente da água, tanto na redução de perdas
e desperdícios como pelo uso de fontes alternativas à água
potável. Nesse contexto, os sistemas de aproveitamento de

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA 581

água pluvial (SAAP) se apresentam como aliados na busca


desse propósito.
Atualmente, o emprego de água potável para descarga
em bacias sanitárias, lavagem de pisos e regas de jardim ain-
da é usual. A concepção de projetos de edificações dotado
de um SAAP ainda é inexpressiva haja vista vários fatores de
impedimento para massificação desse sistema. A tomada de
decisão pela implantação de um SAAP é fundamentada na
avaliação de aspectos ambientais, técnicos e econômicos.
Para esse último, técnicas que permitem avaliar a viabilida-
de econômica são importantes, pois constituem ferramen-
tas essências para compor esse processo.
Do ponto de vista financeiro, o projeto de viabilidade é
uma ferramenta que objetiva simular os resultados futuros
de um investimento atual, em um determinado empreendi-
mento econômico (NASSER et. al. 2009).
Dada essa importância, o presente trabalho tem o ob-
jetivo de identificar quais os indicadores financeiros mais
utilizados em empreendimentos dessa natureza e quais suas
limitações e possibilidades de aperfeiçoamento. Na tentati-
va de entender esses questionamentos será realizada uma
revisão integrativa de literatura conforme segue.

METODOLOGIA

A aplicação do método de revisão integrativa da literatu-


ra é composta pelas seguintes etapas: a identificação do pro-
blema (foi definido claramente o propósito da revisão); a busca
da literatura (com a delimitação de palavras-chave, bases de
dados e aplicação dos critérios definidos para a seleção dos ar-
tigos); a avaliação e a análise dos dados obtidos (SILVA, 2014).
A busca dos estudos ocorreu em agosto de 2018. Os cri-
térios de inclusão dos estudos foram: artigos em português

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


582 ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA

publicados nos últimos cinco anos (2013-2018), que apresen-


tassem em sua discussão considerações sobre avaliação eco-
nômica de um SAAP, indexados nas bases de dados Google
Scholar e Scielo.org.
Deve-se salientar que essas bases de dados pertencem
ao portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamen-
to de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A compilação de in-
formações em meios eletrônicos é um grande avanço para os
pesquisadores, democratizando o acesso e proporcionando
atualização frequente dos estudos (SOUZA et al, 2010).
Foram utilizados, para busca dos estudos, as seguintes
palavras-chave (descritores) e suas combinações na língua
portuguesa: “água pluvial”, “água de chuva”, “viabilidade” e
“avaliação”. Essas combinações deveriam está presentes es-
sencialmente no título do estudo, salvo algumas exceções
que julgado pertinente. Convencionalmente são utilizados
apenas artigos publicados em revistas cientificas.
Adotou-se a revisão integrativa da literatura, uma vez
que ela propõe o estabelecimento de critérios bem definidos
sobre a coleta de dados, além de contribui para o processo
de sistematização e análise dos resultados. A revisão inte-
grativa da literatura é bastante utilizada em outras áreas do
conhecimento

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Inicialmente foram identificados 73 referências biblio-


gráficas na base de dados Google Scholar e 7 artigos na base
Scielo.org. Para refinar a buscar foi necessário realizar a lei-
tura exploratória de 42 resumos e, então, selecionados 9 arti-
gos que foram lidos integralmente. Esses artigos respondem
a questão norteadora da revisão. As etapas deste processo
estão descritas na Tabela 1. O total de artigos selecionados na

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA 583

Tabela 1 é superior a 9, pois dois artigos aparecem em cruza-


mentos de palavras-chave distintos. Os textos selecionados
foram posteriormente submetidos à análise temática.

Tabela 1 – Referências encontradas no Google Scholar e Scielo.org


do período 2013 à 2018

Palavras-chave cru- N.º de re- Referências


Base de Resumos
zadas concomitante- ferências seleciona-
Dados analisados
mente obtidas das
Água pluvial / Viabi-
16 11 1
lidade
Água pluvial / Avalia-
8 4 1
Google ção
Scholar Água de chuva / Viabi-
23 14 2
lidade
Água de chuva / Ava-
26 7 2
liação
Água pluvial / Viabi-
2 2 1
lidade
Água pluvial / Avalia-
2 1 1
ção
Scielo.org Água de chuva / Viabi- 1 1 1
lidade
Água de chuva / Ava-
0 0 0
liação
Outros 2 2 2
Totais 80 42 11

A análise temática consiste na identificação, análise e


registro de padrões a partir dos dados encontrados, organi-
zando-os e descrevendo-os em detalhes.
Segundo Silva (2014), os pontos relevantes identifica-
dos pelo pesquisador podem ser formulados de modo de-
dutivo ou indutivo. Em uma abordagem indutiva os temas
identificados estão fortemente ligados aos dados, enquanto
em uma abordagem dedutiva o referencial teórico e os in-
teresses analíticos do pesquisador determinam as questões

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


584 ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA

a serem identificadas. É possível realizar uma abordagem


analítica que utilize um processo híbrido, utilizando argu-
mentação desenvolvida de forma indutiva e dedutiva.
Da análise do conteúdo das publicações, emergiram
duas categorias de informações: métodos de avaliação utili-
zados e suas limitações e possibilidades de aperfeiçoamento.
A discussão foi realizada de forma simultânea apresentando
todas as características do método encontrado. A Tabela 2
apresenta os artigos escolhidos para revisão como também
os indicadores financeiros utilizados em cada pesquisa.

Tabela 2 – Sumarização dos artigos escolhidos.


Autor Título do artigo Revista Descrição
Medei- Proposição de sis- Revista O presente estudo propôs um
ros Mar- tema de aprovei- AIDIS SAAP no campus Campina
ques et. tamento de água de Inge- Grande do Instituto Federal de
al (2014) de chuva para niería y Educação, Ciência e Tecnolo-
uma instituição Ciencias gia da Paraíba (IFPB) e avaliou
de ensino na re- Ambien- viabilidade econômica através
gião nordeste do tales. da análise do Custo/benefício e
Brasil: estudo da Qualis tempo de retorno.
viabilidade eco- B2
nômica
De Sou- Análise da viabi- Perspec-
A análise de viabilidade econô-
za et. al lidade econômi- tiva Onli-
mica foi realizada através dos
(2014) ca: um estudo de ne. Qua-
métodos de valor presente lí-
aproveitamento lis B5
quido (VPL), taxa interna de re-
da água de chuva torno (TIR), e o estudo do tem-
no instituto edu- po de recuperação do capital
cacional Paulo de investido, através do payback
Tarso, Campos, RJ simples (PBS) e payback des-
contado (PBD).
Sales et. Viabilidade da Perspec- O presente trabalho demons-
al (2014) utilização da água tiva Onli- trou avaliação econômica de
de chuva no Cen- ne. Qua- um SAAP através de um estu-
sa - Campos, RJ lis B5 do de caso no Colégio Nossa
Senhora Auxiliadora, em Cam-
pos, RJ. Foram utilizados como
indicadores financeiros o VPL,
a TIR e o Payback.
(continua)
AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL
ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA 585

Ilha e Qualidade de Eng. Sa- Este trabalho teve como obje-


Campos i n v e s t i m e n t o s nit. Am- tivo propor uma ferramenta
(2014) no uso de água bient. para a análise da qualidade dos
pluvial: Particles Qualis B1 investimentos em um SAAP,
Swarm Optimiza- baseada na otimização do VPL,
tion para a maxi- por meio da técnica de Parti-
mização do valor cles Swarm Optimization (PSO).
presente líquido Para demonstrar a utilização
da ferramenta proposta, desen-
volveu-se um estudo de caso
para uma edificação pública
existente.
Zoco- Análise de viabi- Memo- A pesquisa trata da aplicação
lotti e lidade ambiental rial TCC de um SAAP ao projeto padrão
Haus e econômica para Caderno de casas populares da Caixa
(2015) um sistema de da Gra- Econômica Federal de 42 m²,
captação de água du aç ão. localizadas em capitais fede-
da chuva no mo- S e m rais estratégicas. Foi analisado
delo habitacional Qualis VPL e taxa interna de retorno.
unifamilar popu- Segundo autor a viabilidade
lar da caixa eco- está relacionado com a tabela
nômica federal. tarifária e a disponibilidade fi-
nanceira familiar.
Chaib et. Avaliação do po- Revista Avaliou um SAAP no muni-
al (2015) tencial de redu- Brasi- cípio de Belo Horizonte, MG.
ção do consumo leira de Utilizou o Payback, VPL e a
de água potável Recur- Taxa Interna de Retorno (TIR).
por meio da im- sos Hí- A TIR ficou muito próxima à
plantação de sis- dricos. Taxa Mínima de Atratividade
temas de aprovei- Qualis B1 (TMA), sugerindo a necessida-
tamento de água de de avaliação de modelos de
de chuva em edi- financiamento e incentivo à
ficações unifami- disseminação do sistema.
liares
Teixeira Análise de viabi- G e s t . A pesquisa utiliza o VPL, TIR
et. al lidade técnica e Pro d . e o payback para analisarem o
(2016) econômica do uso Qualis ponto de vista econômico em
de água de chuva B2 uma indústria no município de
em uma indústria São José dos Pinhais, PR.
metalmecânica na
região metropoli-
tana de Curitiba
PR
(continua)

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


586 ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA

Moruzzi Avaliação do Eng. Sa- A pesquisa utilizou o termo


et. al aproveitamento nit. Am- “tempo de amortização do in-
(2016) de água pluvial bient. vestimento” e método seme-
para atendimento Qualis B1 lhante ao período de retorno
de uso não potá- para avaliar se o SAAP propos-
vel no Aeroporto to seria viável.
Internacional de
São Paulo/Guaru-
lhos
Trinda- Sistema para Scientia O autor lançou mão do cálculo
de et. al aproveitamento Plena. do tempo de retorno de inves-
(2017) de água de chuva Qualis timento. Segundo ele, o SAAP
para fins não po- B4 apresentou tempo de retorno
táveis e sua viabi- de 44 meses evidenciando ex-
lidade econômica celente relação custo x benefí-
em escola muni- cio.
cipal no municí-
pio de Lagarto/SE
Dos Estudo da viabili- Revista A pesquisa apresenta análise
Santos dade econômica Cientí- através do tempo de retorno
Fonseca do aproveitamen- fica da do investimento. O autor es-
et. al to de água de chu- FEPI- tabelece o tempo de retorno
(2017) va para fins não -Revista em função da área de captação
potáveis em resi- Cientí- (telhado) e número de pessoas
dências em Itaju- fic@ Uni- residentes.
bá–Minas Gerais versitas.
S e m
Qualis
Mari- Avaliação de via- A m -
O estudo utilizou o período de
noski bilidade ambien- bient.
retorno para analisar a viabi-
e Ghisi tal e econômica c o n s tr.
lidade financeira. Associado a
(2018) de sistemas de Qualis B1
isso, o autor realizou análise de
aproveitamento um SAAP considerando maté-
de água pluvial rias-primas, energia embutida
em habitação de e emissões de dióxido de car-
baixo padrão: es- bono (CO2) gerado nas etapas
tudo de caso em de fabricação e do ciclo de vida
Florianópolis, SC dos componentes.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Na Tabela 2, podemos deduzir que independente do


regime pluviométrico, das áreas de captação, demandas de
água não potável, tempo útil da vida de projeto e tarifas pra-

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA 587

ticadas pelas concessionárias de água, todos os estudos uti-


lizaram ferramentas da matemática financeira.
De acordo com Souza e Clemente (2004) a análise de
projetos de investimentos subdivide-se em dois grandes
grupos: indicadores de rentabilidade e de risco. Relaciona-
dos à rentabilidade do projeto estão: o VPL, a TIR e os rela-
cionados ao risco do projeto estão: TIR e o período de recu-
peração do investimento “payback time”.
Medeiros Marques et. al. (2014) apresenta tabela com
resumo dos indicadores utilizado na sua pesquisa. A Figura
1 mostra esses dados e servirá como forma de resumir a de-
terminação dos indicadores econômicos.

Figura 1 – Expressões matemáticas para determinação dos


indicadores econômicos

Fonte: Marques, 2014.

Podemos verificar que alguns artigos utilizaram ape-


nas o tempo de retorno do investimento como parâmetro.
Realizar a tomada de decisão a partir desse dado isolado não
é a forma mais adequada segundo argumentos que segue.
Segundo Samanez (2007), a utilização do payback sim-
ples possui limitação de não considerar o valor do dinheiro
no tempo. Já o payback descontado corrigi essa limitação,
pois traduz os fluxos de caixa gerados pelo investimento ao

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


588 ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA

mesmo momento de tempo, ou seja, ao valor presente atra-


vés da aplicação de uma taxa mínima de atratividade. Contu-
do, os dois indicadores consideram o fluxo de caixa somente
durante o período de payback e não posterior. A utilização
desses indicadores é sugerida desempate de alternativas. O
ideal é que o investido realize uma análise mais robusta.
Segundo Ilha e Campos (2014), o valor presente líquido
(VPL) permite quantificar a real vantagem econômica do in-
vestimento, além de ser útil em um processo para classificar
alternativas que são excludentes entre si. Assim, trata-se de
um indicador mais adequado à avaliação de empreendimen-
tos dessa natureza. Na sua pesquisa, eles apresentam uma
ferramenta de otimização do VPL através de tratamento es-
tocástico dos dados.
Apesar das vantagens, o VPL não é um método sim-
plista pois exigi conhecimento detalhado de diversos parâ-
metros, principalmente no que tange uma precisa estimati-
va dos fluxos de caixa que serão utilizados para análise. Nos
estudos analisados, o custo de capital ou de oportunidade
representado pela taxa mínima de atratividade (TMA) não
possui critério de definição ficando a cargo do investido
defini-la. Outro ponto negativo é que a TMA foi utilizada de
forma constante durante todo período de análise em todos
os artigos. Segundo Zocolotti e Haus (2015), as políticas ta-
rifárias das concessionárias tanto de água como de energia
elétrica também representam peso importante nesse tipo
de avaliação. O nível de certeza da estimativa do VPL fica
vulnerável a flutuação dessas políticas.
De Souza et. al (2014), calculou VPL simulando alguns
cenários interessantes. O primeiro comparava situação de
avaliação com e sem financiamento bancário. A opção com
financiamento sem mostrou inviável, isso mostra a ausên-
cia de incentivo para massificação desse tipo de empreendi-

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA 589

mento. Ele também simulou utilizando o conceito de custo


de oportunidade. Comparou o rendimento da aplicação do
valor do investimento na caderneta de poupança e custos to-
tais. Verificou que também é uma opção desacreditada.
Como forma acessória, alguns artigos utilizaram o
cálculo da Taxa Interna de Retorno (TIR). Essa informação
sempre foi associada ao VPL e TMA e não foi parâmetro
principal para realizar a tomada de decisão.
Quanto ao indicador benefício/custo, a metodologia
de cálculo é semelhante ao VPL, à diferença é que no trans-
porte do valor no tempo utiliza-se a TIR e não a TMA. Todas
as operações de determinação do fluxo de caixa são seme-
lhante a do VPL (considerando os reajustes tarifários das
concessionárias). Posteriormente, é realizada a divisão dos
benefícios e custos, se o quociente for maior do que 1 o pro-
jeto é viável. Então, podemos depreender que as limitações e
possibilidade de aperfeiçoamento desse indicador são aná-
logas ao VPL já discutidas nesse tópico.
Existe uma limitação de todos os indicadores aqui apre-
sentados. A análise econômica não deve ser apontada como
determinante na escolha de implantação de um SAAP, como
de fato não é associado a essa análise também é considerado
os fatores técnicos e ambientais. O problema é que não foi ve-
rificado indicador que convertesse benefício ambiental em
moeda corrente. Alguns benefícios estão intrínsecos com a
adoção de um SAAP, as enchentes urbanas e suas doenças,
o aumento da disponibilidade de água tratada, entre outros.
Marinoski e Ghisi (2018) conseguiram utilizar indica-
dores ambientais em sua pesquisa como: indicador de maté-
ria prima, energia embutida e emissões de CO2 na fabrica-
ção e manutenção dos constituintes do SAAP. Contudo, es-
ses indicadores não obtiveram peso financeiro na avaliação
econômica das alternativas.

AVALIAÇÃO DE VIABILIDADE ECONÔMICA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL


590 ANTÔNIO ELDER FERREIRA DA SILVA • PATRÍCIA FREIRE DE VASCONCELOS • CLEITON DA SILVA SILVEIRA

CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão integrativa de literatura demons-


trou que, seguindo os critérios de pesquisa, existe uma es-
cassez de literatura sobre o tema. Durante período de refe-
rência da pesquisa (2013 a 2018) foram encontrados apenas
11 artigos que ajudassem a responder o questionamento da
pesquisa. Associado a isso, todas as publicações se deram
em revistas cientificas com Qualis variando de B1 a B5, e em
dois casos, a revista não possuía esse conceito.
O indicador econômico presente na grande maioria
dos artigos revisados é o payback. Isso se deve pelo fato da
simplicidade do seu cálculo e facilidade de compreensão. A
literatura adverte sobre o uso isolado desse indicador para
realizar a tomada de decisão pelo investimento.
Apesar das limitações discutidas neste trabalho, o
VPL e a relação benefício/custo são os indicadores econô-
micos mais indicados para análise de viabilidade financeira
devido sua robustez.
Todos os indicadores encontrados possuem a limita-
ção de não conseguir monetizar o benefício do ganho am-
biental e incluir na análise financeira. Nos artigos encon-
trados não se vislumbrou nenhuma tentativa nesse sentido.
Nessa perspectiva, a comunidade cientifica que estuda essa
temática possui o desafio de avançar ainda mais no caminho
da sustentabilidade hídrica.

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RODOLPHO RAMILTON DE CASTRO MONTEIRO • PAULA JÉSSYCA MORAIS LIMA • ELLEFSON EMMANUEL SOUZA DE OLIVEIRA
THAYS NOGUEIRA DA ROCHA • MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS 593

Lipase a de Candida Antarctica


imobilizada em nanopartículas
magnéticas recobertas com
quitosana: estratégia de imobilização
Rodolpho Ramilton de Castro Monteiro1
Paula Jéssyca Morais Lima2
Ellefson Emmanuel Souza de Oliveira3
Thays Nogueira da Rocha4
Maria Cristiane Martins de Souza5
José Cleiton Sousa dos Santos6

INTRODUÇÃO

Enzimas são biocatalisadores de natureza proteica


responsáveis por catalisar reações químicas e bioquímicas,
sendo amplamente encontradas em plantas, animais e mi-
crorganismos (BARBOSA et al., 2015). Devido à afinidade
estereoquímica e química em relação ao substrato, as en-

1 Rodolpho Ramilton de Castro Monteiro – Mestrando em Engenharia Quími-


ca – Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal do Ceará.
2 Paula Jéssyca Morais Lima – Mestranda em Engenharia Química – Departa-

mento de Engenharia Química, Universidade Federal do Ceará.


3 Ellefson Emmanuel Souza de Oliveira – Bacharel em Engenharia de Ener-

gias – Instituto de Engenharias e Desenvolvimento Sustentável, Universida-


de da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
4 Thays Nogueira da Rocha – Professora – Instituto Federal de Educação

Ciência e Tecnologia.
5 Maria Cristiane Martins de Souza – Professora Adjunta – Instituto de Enge-

nharias e Desenvolvimento Sustentável, Universidade da Integração Inter-


nacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
6 José Cleiton Sousa dos Santos – Professor Adjunto – Instituto de Engenha-

rias e Desenvolvimento Sustentável, Universidade da Integração Interna-


cional da Lusofonia Afro-Brasileira.

LIPASE A DE CANDIDA ANTARCTICA IMOBILIZADA EM NANOPARTÍCULAS MAGNÉTICAS RECOBERTAS COM QUITOSANA:


ESTRATÉGIA DE IMOBILIZAÇÃO
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zimas são catalisadores altamente específicos que, ao con-


trário dos catalisadores químicos tradicionais, funcionam
sob condições brandas de reação (temperatura e pressão),
além de possuírem alta atividade catalítica, régio- e estereo-
especificidade e biodegradabilidade (BARBOSA et al., 2014;
WANG et al., 2017).
As lipases (triacilglicerol hidrolases, EC 3.1.1.3) são as
enzimas mais utilizadas em biocatálise em virtude da alta
especificidade em relação aos substratos, alta estabilidade
sob uma ampla gama de condições e meios reacionais (aquo-
so, solvente orgânico e solvente neotéricos) (SANTOS et al.,
2015), sendo capazes de catalisar as mais variadas reações
(hidrólise, acidólise, esterificação, transesterificação e ami-
nação, por exemplo) (ZHANG et al., 2014).
A levedura basidiomicética Candida antarctica produz
dois tipos diferentes de lipases, a lipase de Candida antarcti-
ca do tipo A (CAL-A) e a lipase de Candida antarctica do tipo B
(CAL-B) (AKANBI; BARROW, 2017). Dentre esses dois tipos, a
CAL-B é a mais extensivamente estudada, sendo sua estrutu-
ra cristalina relatada primeiramente em 1994 (UPPENBERG
et al., 1994), enquanto a CALA teve sua estrutura cristalina
reportada mais recentemente (ERICSSON et al., 2008). A Fi-
gura 1 mostra a estrutura tridimensional da CALA.
O emprego de enzimas na forma livre ou solúvel evi-
dencia alguns problemas relacionados à baixa estabilidade
operacional, difícil recuperação e posterior reuso desses bio-
catalisadores (DATTA; CHRISTENA; RAJARAM, 2012). Toda-
via, esses problemas podem ser mitigados quando técnicas
adequadas de imobilização enzimática são empregadas.
Em linhas gerais, as técnicas de imobilização consis-
tem no aprisionamento da enzima em um suporte sólido
insolúvel (SANTOS et al., 2017). A imobilização aumenta a
estabilidade operacional, facilita a recuperação e posterior

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ESTRATÉGIA DE IMOBILIZAÇÃO
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reuso do biocatalisador, reduzindo o custo operacional dos


processos catalisados enzimaticamente. Ainda, uma vez
imobilizadas, as enzimas exibem maior resistências às va-
riações de pH, térmicas e de armazenamento (BARBOSA et
al., 2013). A imobilização de enzimas com nanopartículas
magnéticas (NPMs) possibilita uma fácil separação do bio-
catalisador enzimático da mistura reacional pela exposição
a um campo magnético externo, possibilitando uma poste-
rior reutilização do biocatalisador (SOUZA et al., 2017).

Figura 1 – Estrutura tridimensional da lipase de Candida


antarctica do tipo A (CALA) e os resíduos da sua tríade de sítio
ativo (Asp 334, Ser 184 e His 366).

Fonte: Elaborada pelos autores (código PBD: 3GUU, a estrutura tridi-


mensional foi obtida com o auxílio do PyMol 2.2.2).

Nanopartículas magnéticas são particulados de dis-


persão sólida que exibem melhor desempenho em tama-
nhos típicos de 10 a 20 nm devido ao surgimento de proprie-
dades magnéticas (NETTO; TOMA; ANDRADE, 2013). Em
virtude do aumento da área superficial e a presença de gru-
pos hidroxila em sua superfície, que possibilitam uma fácil
funcionalização e, portanto, uma forte ligação à enzima, a
utilização de NPMs como suporte sólido para a imobilização
enzimática tem atraído bastante interesse nas últimas déca-
das; além disso, a baixa porosidade e a elevada estabilidade

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mecânica e térmica são importantes propriedades dos su-


portes magnéticos nanoestruturados (LI et al., 2013).
Geralmente, devido à sua alta energia superficial, es-
sas nanoestruturas tendem a se agregar e, além do mais,
possuem alta atividade química, o que favorece a sua oxida-
ção e consequente perda de magnetismo e dispersibilidade
(XU et al., 2014). Para superar esses problemas, visando a
imobilização enzimática, a superfície desse tipo de suporte
sólido é funcionalizada com polímeros orgânicos, materiais
mesoporosos, sílica ou estruturas metalorgânicas (BILAL et
al., 2018).
Dentre tais materiais, a quitosana, biopolímero
abundante que apresenta boa biocompatibilidade e baixa
toxicidade, quando associado à NPMs de ferro como reco-
brimento, controla a distribuição de tamanho, promove a
funcionalização da superfície e, assim, possibilita a estabi-
lidade coloidal dessas nanoestruturas. A quitosana é um co-
polímero obtido a partir da desacetilação da quitina, sendo
uma base fraca, insolúvel em meio neutro ou básico e em
solventes orgânicos, mas é solúvel em soluções de ácidos di-
luídos (pH < 6,5) (SINHA et al., 2004).
Com grande potencial de desenvolvimento e aplica-
ções, a imobilização enzimática é considerada como a téc-
nica mais promissora para aplicação de enzimas em escala
industrial (SANTOS et al., 2016). Dessa forma, as enzimas
imobilizadas são amplamente empregadas em vários seto-
res das indústrias farmacêutica, alimentícia e de bebidas,
têxtil e bioenergética, dentre outras.
Posto isto, o objetivo desta comunicação é determinar
os parâmetros da imobilização por ligação covalente da li-
pase A de Candida antartica imobilizada em nanopartículas
magnéticas de ferro recobertas com quitosana ativadas com
glutaraldeído, aqui nomeadas de CALA-NPM.

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MATERIAIS

O extrato comercial de CALA (20,88 mg de proteína


por mL) foi obtido da Novozymes (Espanha). Quitosana (50-
190 kDa e grau de desacetilação 75-85%), solução de glutaral-
deído, p-nitrophenil butirato (p-NPB), cloreto de ferro (III)
hexahidratado, sulfato de ferro (II) heptahidratado foram
fornecidos pela Sigma – Aldrich (EUA); hidróxido de amônio
(28-30%) foi fornecido pela Dinâmica (Brasil). Todos os ou-
tros reagentes e solventes utilizados são de grau analítico.

METODOLOGIA

Para o presente estudo, todos os experimentos foram


realizados pelo menos em duplicata e os resultados são apre-
sentados como a média aritmética desses valores e o desvio
padrão geralmente abaixo de 5%.

• Síntese de nanopartículas magnéticas de ferro


(Fe3O4) funcionalizadas com Quitosana (QUI)
Nanopartículas magnéticas de ferro (Fe3O4) funciona-
lizadas com quitosana (Fe304@QUI) foram sintetizadas pelo
método da co-precipitação assistido por irradiação ultras-
sônica. Para tanto, 50 mg de quitosana foram diluídas em 15
mL de uma solução de ácido acético (1%, v/v), sendo a mis-
tura resultante deixada sob agitação moderada e 50 °C por
10 minutos. Durante este período, à essa solução contendo
quitosana, foram adicionados 10 mL de uma solução de ferro
(0,33 M, FeCl3.6H2O/FeSO4.7H2O, obedecendo a razão molar
2Fe3+:Fe2+). Decorridos os 10 minutos, 2 mL de hidróxido de
amônio (NH4OH) foram lentamente adicionados durante
2 minutos de sonicação (20s on, 10s off, 50% de amplitude)
com o auxílio de um sonicador laboratorial (G. Heinemann

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Ultraschall und Labortechinik Sonifier). Uma vez feito isso,


o precipitado foi separado da solução por decantação mag-
nética, lavado várias vezes com solução tampão fosfato de
sódio (25 mM e pH 7,0) até pH 7,0 e, em seguida, foi seco e
armazenado em dessecador a vácuo (FREIRE et al., 2016).

• Ativação de Fe304@QUI com glutaraldeído (GLU)


Os grupos terminais amino de Fe304@QUI foram ati-
vados com glutaraldeído (Fe304@QUI-GLU) para promover a
ligação covalente entre a enzima e o suporte, via formação
de uma ligação imina. Para tanto, conforme Xie et al., (2009),
com modificações, 25 µL de glutaraldeído foram colocados
em contato direto com 10 mg de Fe304@QUI previamente
seco. A mistura foi mantida sob agitação constante duran-
te 2 horas a 25 °C, sendo lavada ao final 3 vezes com solução
tampão fosfato de sódio (25 mM e pH 7,0) a fim de remover o
excesso de glutaraldeído. 

• Imobilização covalente da CALA em Fe304@QUI-GLU


CALA foi imobilizada em Fe304@QUI-GLU por meio
de ligação covalente (Fe304@QUI-GLU-CALA). Para este fim,
100 mg de Fe304@QUI-GLU foram suspensos em 10 mL de
solução tampão fosfato de sódio (25 mM e pH 7,0) contendo
a CALA (carga enzimática: 3 mg/g de suporte). O sistema foi
mantido sob agitação constante durante 1 hora a 25 °C. Por
fim, o biocatalisador imobilizado foi removido por separa-
ção magnética e lavado com solução tampão fosfato de sódio
(25 mM e pH 7,0) até a neutralidade. A quantidade de enzima
imobilizada nos suportes foi determinada medindo a con-
centração inicial e final de CALA no sobrenadante da sus-
pensão de imobilização (SANTOS et al., 2015), com modifica-
ções. O procedimento de imobilização por ligação covalente
da lipase de Candida antarctica do tipo A (CALA) imobilizada

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em nanopartículas magnéticas de ferro (Fe304) funciona-


lizadas com quitosana (QUI) e ativadas com glutaraldeído
(GLU) é apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Procedimento de imobilização da CALA por ligação


covalente em Fe304 funcionalizadas com quitosana e ativadas
com glutaraldeído

Fonte: Elaborado pelo autores.

• Determinação da atividade enzimática e con-


centração proteica
A atividade da enzima solúvel e imobilizada foi de-
terminada pela hidrólise de p-nitrophenil butirato (p-NPB)
como substrato, sendo a concentração de p-nitrophenol
quantificada espectrofotometricamente a 348 nm. As medi-
ções de atividade foram realizadas em solução tampão fos-
fato de sódio (25 mM e pH 7,0) e 25 °C, a partir da medição
do p-nitrophenol liberado durante a hidrólise de 0,4 mM
p-NPB (ε = 10,052 mol−1cm−1 sob estas condições) (SOUZA et
al., 2016). Para iniciar a reação, 50 μL de solução de lipase em
suspensão foi adicionada a 50 µL de p-NPB e 2,5 mL de solu-
ção tampão. Uma unidade internacional de atividade (U) foi
definida como a quantidade de enzima que hidrolisa 1 μmol
de p-NPB por minuto nas condições descritas anteriormen-
te. A concentração de proteína foi medida pelo método de
Bradford (BRADFORD, 1976) e a albumina de soro bovino foi
usada como referência. 

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ESTRATÉGIA DE IMOBILIZAÇÃO
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• Parâmetros de imobilização
A fim de avaliar a eficiência da imobilização enzimáti-
ca, os parâmetros de imobilização foram avaliados, confor-
me metodologia descrita por Silva et al. (2012). Após a me-
dida da atividade inicial (Ati) e da atividade da enzima final
(Atf) no sobrenadante e no ensaio em branco, a atividade en-
zimática remanescente no sobrenadante (Ati – Atf) e o rendi-
mento de imobilização (RI) pode ser calculada, utilizando a
Equação 1.

(Equação 1)

A atividade teórica (Att) da enzima imobilizada pode


ser calculada utilizando a quantidade de enzima oferecida
por grama de suporte (Atof – U/g de suporte) e o rendimento
de imobilização, conforme Equação 2. Depois de medir a ati-
vidade da imobilização enzimática, ou atividade do derivado
(Atd – U/g de suporte), a atividade recuperada (Atr) pode ser
calculada, conforme a Equação 3.
(Equação 2)

(Equação 3)

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Uma imobilização eficiente resulta da combinação


adequada do tipo de enzima e suporte sólido, técnica de
imobilização, aplicação e mecanismo reacional (CANTONE
et al., 2013). Para este estudo, a ligação covalente foi empre-
gada como técnica de imobilização, utilizando glutaraldeí-
do como agente ativante. Neste método, ligações covalentes
são formadas através de reações químicas entre o material

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do suporte sólido e o lado da enzima que contém cadeias de


aminoácidos (BONAZZA et al., 2017). Ligações covalentes são
estáveis, o que previne a desagregação da enzima do supor-
te, aumentando, portanto, a estabilidade da enzima imo-
bilizada (RIOS et al., 2016). O método de acoplamento com
glutaraldeído é o mais comumente usado para imobilizar
enzimas em suportes funcionalizados com grupos termi-
nais amino através da reação de base de Schiff. Neste proces-
so, um grupo de aldeído da molécula de glutaraldeído reage
com o grupo amino da molécula da enzima e o outro grupo
aldeído reage com o grupo amino do suporte (LIU; CHEN;
SHI, 2015). Os parâmetros da imobilização covalente da li-
pase A de Candida antarctica em nanopartículas de ferro
recobertas com quitosana e ativadas com glutaraldeído são
mostrados na Tabela 1.

Tabela 1 – Parâmetros de imobilização. Mais especificações são


dadas na seção de métodos
Biocatalisador RI (%) Atd (U/g suporte) Atr (%)
CALA-NPM 29,12 0,49 ± 0,01 13,85%
Fonte: Elaborada pelos autores.

Os resultados iniciais mostraram que a imobilização


da CALA em nanopartículas de ferro recobertas com qui-
tosana e ativadas com glutaraldeído foi obtida. No entanto,
o biocatalisador em estudo apresentou resultados de ren-
dimento de imobilização, atividade do derivado e atividade
recuperada relativamente baixos, quando comparados aos
resultados obtidos por outros autores (BEZERRA et al., 2017),
que utilizaram o mesmo protocolo de imobilização e o mes-
mo grupo ativante. A carga de proteína utilizada foi de 3 mg
de proteína por grama de suporte e os parâmetros de imo-
bilização foram avaliados pela reação de hidrólise de p-NPB

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(0,4 mM) depois de 1 h de imobilização. Contudo, tanto a en-


zima imobilizada quanto o funcionalizante utilizado foram
diferentes, foi investigado a imobilização da lipase de Ther-
momyces lanuginosus (TLL) em nanopartículas de óxido de
ferro superparamagnéticas (Fe3O4) revestidas com polímero
funcionalizado de polietilenoimina ramificada (PEI) obten-
do um rendimento de imobilização de 50,6 %, atividade do
derivado de 6,2 U/g e atividade recuperada de 35,1%.
Embora o glutaraldeído seja muito versátil (BARBOSA
et al., 2014), trata-se de uma molécula relativamente hidro-
fóbica, onde os grupos aldeído são bastante reativos com
os grupos amino das enzimas, e isso pode afetar muito as
propriedades físicas da superfície da enzima. Dessa forma,
as ligações covalentes podem distorcer a estrutura enzimá-
tica, afetando sua atividade catalítica. Em geral, a ativação
do suporte pelo glutaraldeído produz biocatalisadores mais
estável e resistente às condições mais severas, porém com
menor atividade catalítica (BEZERRA et al., 2017).
Vale salientar que os estudos estão em fase inicial. As
condições de imobilização utilizadas não foram otimizadas
e, possivelmente, os resultados seriam melhorados se um
tempo maior de contato entre enzima e suporte fosse usado.

CONCLUSÃO

Os resultados iniciais mostraram que o suporte Fe304@


QUI-GLU promove a imobilização da lipase. O biocatalisador
apresentou atividade do derivado de 0,49 ± 0,01 (U/g). Con-
siderando tais resultados, os estudos serão continuados em
busca de melhorá-los, visto que, essa estratégia para obter
um biocatalisador a partir de nanopartículas magnéticas
baseadas em magnetita (Fe3O4), representa uma abordagem
química verde eficaz, uma vez que prolonga, através dos su-

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cessivos ciclos de recuperação, a vida útil do biocatalisador,


visando sua utilização em reações de interesse industrial.

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ESTRATÉGIA DE IMOBILIZAÇÃO
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Estudo da aplicação do método


Taguchi na esterificação de ácidos
graxos de óleo de frango residual
via ultrassom utilizando lipase de
Rhizomucor miehei
Thales Guimarães Rocha1
Lourembergue Saraiva de Moura Junior2
Francisco Simão Neto 3
Ana Kátia de Sousa Bráz 4
Maria Cristiane Martins de Souza5
José Cleiton Sousa dos Santos 6

RESUMO
A crescente demanda por energia para as mais variadas finalidades,
juntamente com os custos flutuantes dos combustíveis fósseis devido a
conflitos político-ideológicos nas últimas décadas, tornam as pesquisas
por métodos de otimização na síntese de biocombustíveis cada vez mais
frequentes. A utilização de enzimas como as lipases, proteínas com a
finalidade catalítica em óleos e gorduras, além de elevar a produção de
combustíveis ao nível de química verde, têm despertado cada vez mais a
atenção industrial devido a garantias como menores gastos com energia e
a utilização de matérias-primas de baixo valor agregado. Neste trabalho,
estudou-se a produção de ésteres etílicos de ácidos graxos a partir do óleo
de frango residual, sendo, para isso, utilizada a metodologia Taguchi com
matriz ortogonal padrão L9 para análise das variáveis utilizadas e seus
respectivos graus de influência na esterificação. Como biocatalisador,
utilizou-se a lipase Palatase® 20000L, de Rhizomucor miehei, utilizando-se

1 Discente, IEDS, UNILAB, email: thales@aluno.unilab.edu.br


2 Discente, IEDS, UNILAB, email: lourembergue@aluno.unilab.edu.br
3 Discente, IEDS, UNILAB, email: fcosimao@aluno.unilab.edu.br
4 Doutoranda, IEDS, UNILAB, email: anakatia@unilab.edu.br
5 Docente, IEDS, UNILAB, email: mariacristiane@unilab.edu.br
6 Docente, IEDS, UNILAB, email: jcs@unilab.edu.br

ESTUDO DA APLICAÇÃO DO MÉTODO TAGUCHI NA ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE ÓLEO DE FRANGO RESIDUAL VIA ULTRASSOM
UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
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de um ultrassom para a realização das reações. Os parâmetros escolhidos


para a otimização foram: razão molar (ácido graxo: álcool), tempo de reação
(h), temperatura (ºC) e quantidade de biocatalisador por volume reacional
(%). Obteve-se o maior rendimento de conversão em ésteres em 65,02±3,42
e uma relação de sinal-ruído S/R de 36,26. Nesse sentido, concluiu-se
por meio da metodologia utilizada que a razão molar e a quantidade de
biocatalisador foram os parâmetros que mais influenciaram na síntese de
ésteres. Por fim, confirmou-se a possibilidade comercialmente rentável
da produção de ésteres etílicos utilizando-se óleo residual de baixo valor
agregado.
Palavras-chave: Lipase. Esterificação. Óleo Residual.

STUDY OF THE APPLICATION OF THE TAGUCHI METHOD IN THE


ESTERIFICATION OF FATTY ACID OF RESIDUAL CHICKEN OIL VIA
ULTRASSOM USING RHIZOMUCOR MIEHEI LIPASE

ABSTRACT
The growing demand for energy for a variety of purposes, together with
research into damping patterns during the transition to the political-
democratic program in recent decades, has become a synchronous
method of synthesizing more and more biofuels. The use of enzymes
such as lipases, proteins with a catalytic in oils and fats, and a production
of phosphorus at the level of green chemistry, has increasingly attracted
industrial attention due to guarantees such as lower energy costs and
the use of raw materials, low value-added raw materials. This work has
studied the production of fatty acids ethylic acids from the residual
chicken oil. For this, an orthogonal standard methodology L9 was used
to analyze the variables used and their respective degrees of influence
on the esterification. As a biocatalyst, the Palatase® 20000L lipase
from Rhizomucor miehei was used, using an ultrasound to carry out the
reactions. The parameters chosen for the optimization were: molar ratio
(fatty acid: alcohol), reaction time (h), temperature (°C) and amount of
biocatalyst per reaction volume (%). The highest conversion yields to
esters were obtained at 65.02 ± 3.42 and an S / R signal-to-noise ratio of
36.26. In this sense, it was concluded through the methodology used that
the molar ratio and the amount of biocatalyst were the parameters that
most influenced the reactions of ester synthesis, besides confirming the
commercially profitable possibility of the production of ethyl esters using
oil low value-added residual.
Key words: Lipase. Esterification. Residual Oil.

ESTUDO DA APLICAÇÃO DO MÉTODO TAGUCHI NA ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE ÓLEO DE FRANGO RESIDUAL VIA ULTRASSOM
UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
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INTRODUÇÃO

No cenário atual, uma vez que a maioria das deman-


das mundiais de energia é atendida pelo uso convencional
de combustíveis fósseis, as reservas desses combustíveis es-
tão diminuindo continuamente (CALISKAN, 2017) (WANG et
al., 2013). Outro grande problema associado ao uso de com-
bustíveis fósseis é a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE),
responsável pelo aquecimento global (SHARMA; SINGH,
2017). Com a necessidade de sanar essas questões, a procura
por outras fontes de combustíveis renováveis ​​e sustentáveis,
como os biocombustíveis (bioetanol, biodiesel, biogás etc.),
pode ser efetiva na redução da emissão de GEE, fortalecendo
a pesquisa em combustíveis que possam substituir o diesel
de petróleo (KOLHE; GUPTA; RATHOD, 2017) (SÁNC H EZ-
-CANTÚ et al., 2014).
A pesquisa por fontes alternativas de energia que fo-
mentam processos relacionados à química verde passam
por um tema hoje amplamente estudado: a biocatálise. Ho-
diernamente, o papel dos biocatalisadores como parte dos
processos químicos está em contínuo aumento no cenário
global (ANGAJALA; PAVAN; SUBASHINI, 2016). Reações or-
gânicas conduzidas por biocatálise levam a novos produtos,
novos métodos sintéticos e melhores rendimentos com me-
nor impacto no meio ambiente.
Como um biocatalisador, as enzimas realizam as re-
ações metabólicas e biotransformações in vivo (VIRGEN-
-ORTÍZ et al., 2019). As lipases (triacilglicerol acil-hidro-
lases; EC 3.1.1.3) são classes de enzimas hidrolíticas que
catalisam a hidrólise de triacilglicerol a glicerol e ácidos
graxos livres (GUPTA et al., 2004). A esterificação catali-
sada por enzimas adquiriu atenção crescente em muitas
aplicações, devido à significância dos produtos derivados

ESTUDO DA APLICAÇÃO DO MÉTODO TAGUCHI NA ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE ÓLEO DE FRANGO RESIDUAL VIA ULTRASSOM
UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
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química (TORRES; CASTRO, 2004). Mais especificamente,


as reações de esterificação catalisadas por lipase atraíram
interesse de pesquisa durante a última década, devido ao
aumento do uso de ésteres orgânicos na biotecnologia e na
indústria química (TORRES; CASTRO, 2004). Como exem-
plo de biocatalisador, a lipase do fungo Rhizomucor miehei
(RML) foi escolhida como biocatalisadora para este estudo,
tendo em vista a sua utilização bem sucedida em várias re-
ações sintéticas, principalmente a esterificação. Tal suces-
so pode ser atribuído à forte especificidade e versatilidade
catalítica da RML, bem como à sua atividade catalítica mui-
to alta sob temperatura e pressão ambientes (SKORONSKI
et al., 2014).
Como técnica recente de eficiência energética, o ul-
trassom tem sido usado para a síntese de ésteres. Utilizan-
do-se da energia de ondas sonoras com frequências acima
de 16 kHz, essa técnica é capaz de aumentar a taxa inicial e
melhorar a transferência de massa das reações sendo consi-
derada uma tecnologia verde com alta eficiência e desempe-
nho econômico e de baixa exigência instrumental (SÁ et al.,
2017). Os ciclos de compressão e rarefação das ondas sono-
ras podem gerar um fenômeno chamado de cavitação, que
compreende a formação, ampliação e colapso de bolhas com
características supercríticas de temperatura e pressão (SÁ
et al., 2017). Estando esse colapso próximo ao limite de fases
imiscíveis, uma agitação de alta eficiência é gerada, aumen-
tando a taxa de atividade enzimática (BABICZ et al., 2010)
(SÁ et al., 2017).
Para o presente trabalho, a esterificação estudada
com a utilização da lipase não-imobilizada oriunda de RML
(Palatase® 20000 L) teve como substrato o óleo de frango
hidrolisado, um resíduo barato e abundante de lipídeos
de baixo valor agregado, que pode ser uma matéria-prima

ESTUDO DA APLICAÇÃO DO MÉTODO TAGUCHI NA ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE ÓLEO DE FRANGO RESIDUAL VIA ULTRASSOM
UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
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sustentável e alternativa para a produção de biodiesel (ou


outros ésteres) (AL-ZUHAIR; HASAN; RAMACHANDRAN,
2003). Para otimização dos resultados, o método de design
robusto de Taguchi foi utilizado, por se tratar de uma me-
todologia de alta qualidade com uma abordagem simples,
que agrega eficiência, qualidade e baixo custo (TAGUCHI;
KONISHI, 1987).

MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

A lipase Palatase® 20000L foi doada pela Novozymes,


Espanha. Álcool etílico (P.A 99,96%) e os demais reagentes
utilizados foram obtidos da Vetec (São Paulo, Brasil) e Synth
(São Paulo, Brasil). O óleo de residual de frango foi adquirido
em um estabelecimento local (Redenção, Brasil) sendo for-
mado por diferentes ácidos graxos, como o ácido mirístico
(0,6%), ácido palmítico (24,7%), ácido palmitoléico (7,1%),
ácido esteárico (6,0%), ácido oleico (43,4%), ácido linoleico
(17,2%) e ácido α-linolenico (1%). Os reagentes utilizados na
caracterização da matéria-prima e dos produtos gerados
foram todos de grau analítico. Para a elaboração do deline-
amento experimental do tipo Taguchi, foi utilizado o softwa-
re Statistica® 10 (Statsoft, EUA).

Características do equipamento de banho ultrassônico


Em todas as reações de esterificação foi utilizado o
equipamento de banho ultrassônico de modelo USC 2800A,
fabricante Unique, Brasil. O equipamento dispõe de 9,5 L de
volume total, com controle de temperatura. A frequência
utilizada foi de 37 kHz para todas as amostras.

ESTUDO DA APLICAÇÃO DO MÉTODO TAGUCHI NA ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE ÓLEO DE FRANGO RESIDUAL VIA ULTRASSOM
UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
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Métodos

Obtenção de ácidos graxos do óleo de frango residual


O procedimento experimental descrito por Lima et al.
(2012) para extração de ácido graxo foi ajustado para o uso
de um sistema de refluxo e aquecimento ao invés de um sis-
tema com ultrassom. Dessa forma, utilizando uma reação
de saponificação alcoólica seguida de hidrólise ácida, foi
possível obter os ácidos graxos do óleo em estudo. A sapo-
nificação ocorreu em um sistema formado por condensador
acoplado a um balão de fundo redondo de 500 mL imerso
em uma cuba com água. No interior do balão, uma solução
alcoólica de KOH foi misturada ao óleo de frango, ficando
sob agitação constante por 1h a uma temperatura de 80°C.
O produto da saponificação foi submetido a uma hi-
drólise ácida com solução de 27% em massa de HCL. Quando
a reação obteve pH próximo a 2, a mistura foi transferida a
um decantador, para que a fase de ácidos graxos fosse sepa-
rada e lavada com água destilada a 50ºC até apresentar pH
próximo a 6. Por conseguinte, os ácidos graxos obtidos fo-
ram aquecidos a 100ºC e filtrados com Na2SO4.

Planejamento experimental para a esterificação de ácidos


graxos
Os parâmetros reacionais foram previamente estuda-
dos e determinados pelo grupo de pesquisa GENEZ (Grupo
de Engenharia Enzimática), biocatalisador (%), tempo (h) e
temperatura (°C), segundo estudos da literatura (SUBHE-
DAR; GOGATE, 2016). As reações ocorreram em frascos de
eppendorfs de 2 mL. A Tabela 1 foi gerada pelo software Sta-
tistica®. Para esse trabalho, o método Taguchi com matriz
ortogonal de nove experimentos foi utilizado, no qual os
quatro fatores foram distribuídos três a três.

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UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
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Tabela 1 – Níveis e variáveis utilizadas no planejamento


Razão Molar Biocatalisador Temperatura Tempo
(ácido :álcool) (%)* (°C) (h)
Nível 1 (N1) 1:1 0,5 35 1
Nível 2 (N2) 1:5 2,75 45 3,5
Nível 3 (N3) 1:9 5 55 6
Fonte: Elaborado pelos autores.
*valor calculado por volume total da reação.Parte superior do formulário

Com o objetivo de maximizar a conversão de ésteres,


os valores das razões S/R (Sinal-Ruído) foram calculados no
software utilizado selecionando-se a função “larger the bet-
ter”. A relação S/R pode ser entendida como uma medida na
variabilidade do desempenho do produto (síntese de éste-
res) avaliando-se os parâmetros utilizados no planejamento
(TAGUCHI; KONISHI, 1987). Para cada experimento, o valor
da razão S/R pode ser calculado por meio da Equação 1, se-
gundo Roy (2011):

Equação 1

No qual yi é a conversão de ácidos graxos para a amos-


tra correspondente, i é o número de repetições e n é o núme-
ro de respostas para a combinação de níveis de fator.

Cálculo do índice de Acidez


A conversão em ésteres foi monitorada pelo índice de
acidez, conforme metodologia relatada por Santos (2011).
As amostras esterificadas foram tituladas em duplicata, pe-
sando-se, nos erlenmeyers, 0,1 g, com a adição de 2,5 mL de
álcool etílico e 3 gotas de fenoftaleína. Por gotejamento de
solução de 0,1 molar de NaOH, foi realizada a titulação dos
ésteres produzidos. A Equação 2 para o cálculo do índice de
acidez (IA) é dada abaixo (Santos, 2011):

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UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
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Equação 2

Sendo V o volume de NaOH utilizado para a titulação


individual das amostras; F o fator de correção da solução de
NaoH, M a molaridade da solução de NaOh em mol/L e g a
massa da amostra em gramas. Por fim, os valores de conver-
são em ésteres (%) foram calculados com a Equação 3, sendo
IA e IAb os índices de acidez das amostras com enzima e do
branco (reação sem biocatalisador), respectivamente, calcu-
lados em mgKOH/g (Santos, 2011):

Equação 3

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Tabela 2 apresenta as variáveis e seus respectivos


níveis, juntamente com os valores de razão S/R e de conver-
são em ésteres para cada uma das nove combinações obtidas
do arranjo experimental de matriz ortogonal. O valor S/R,
pré-determinado para a obtenção dos maiores valores de
conversão final, é avaliado com o objetivo de reduzir a sen-
sibilidade do sistema às variações imposta ao planejamento
(CHOWDHURY et al., 2014).

Tabela 2 – Níveis das variáveis, valores de conversão com erro


experimental e as relação sinal-ruído (S/N) obtidas para o
planejamento experimental
Razão Mo- Biocatalisa- Tempera- Tem- Conver- Razão
lar dor tura po são S/R
(ácido:ál- (%)* (°C) (h) (%)
cool)
1 1:1 (1) 0,5 (1) 35 (1) 1 (1) 12,75 ±
22,11
0,67
(continua)

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2 1:1(1) 2,75(2) 3,5 (2) 8,16 ± 0,43


45 (2) 18,23
3 1:1(1) 5 (3) 55 (3)
6(3) 28,27 ±
29,03
1,49
4 1:5(2) 0,5 (1) 45 (2) 6 (3) 61,88 ±
35,83
3,26
5 1:5(2) 2,75 (2) 55 (3) 1(1) 36,96 ±
31,35
1,95
6 1:5(2) 5 (3) 35 (1) 3,5 (2) 65,02 ±
36,26
3,42
7 1:9(3) 0,5 (1) 55 (3) 3,5(2) 20,74 ±
26,33
1,09
8 1:9(3) 2,75(2) 35 (1) 6(3) 28,45 ±
29,08
1,49
9 1:9(3) 5 (3) 45 (2) 1(1) 26,11± 1,37 28,34
Fonte: Elaborada pelos autores.

Ao se observar os resultados da Tabela 2, pode-se afir-


mar que a amostra 6 apresentou os maiores resultados para
a conversão em ésteres e de sinal-ruído (S/N), com os valores
de 5% de biocatalisador, à 35 ºC, 3,5 horas e na razão molar
de 1:5 entre os ácidos graxos e o álcool etílico. A Tabela 3
abaixo discrimina a significância de cada nível (1,2 e 3) das
variáveis para com maior influência nos resultados.

Tabela 3 – Classificação dos níveis para cada variável na


influência dos maiores resultados de conversão, com o valor
Delta apresentado.
Razão Molar Biocatalisador Tempera- Tem-
(ácido:ál- (%)* tura po
cool) (°C) (h)
Nível 1 (N1) 23,12 28,09 29,15 27,27
Nível 2 (N2) 34,48 26,22 27,47 26,94
Nível 3 (N3) 27,92 31,21 28,90 31,31
Delta 11,36 4,99 1,68 4,37
Classifica- 1 2 4 3
ção
Fonte: Elaborada pelos autores.

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616 MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS

De forma a complementar a Tabela 2, a Tabela 3 apre-


senta a razão molar e a quantidade de biocatalisador como
os parâmetros de maiores significâncias para a conversão de
ésteres, já que apresentam o maior delta entre as variáveis,
respectivamente, 11,36 e 4,99. O delta foi calculado como a
diferença entre o maior e o menor valor do da relação S/R
obtida para cada variável do método Taguchi. A Figura 1 a
seguir apresenta os gráficos obtidos para a média das razões
S/R de cada um dos parâmetros estudados, sendo a maior
média S/R entre os níveis resultando nas maiores taxas de
conversão do produto estudado.

Figura 1: Resultados experimentais da Razão S/R versus os níveis


(1, 2 e 3) das variáveis estudadas

Fonte: Elaborada pelos autores.

Para a Figura 1, observa-se que os pontos mais distan-


tes da Razão S/R para cada variável nos níveis 1, 2 e 3 signi-
ficam um Delta maior, ou seja, maiores variações por nível
e de maior influência na esterificação. Dessa forma, anali-

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MARIA CRISTIANE MARTINS DE SOUZA • JOSÉ CLEITON SOUSA DOS SANTOS 617

sando as variáveis da amostra 6, com 65,02 ± 3,42% de ren-


dimento, observa-se que os resultados estão de acordo com
a classificação dos níveis obtidas na Tabela 3 e na Figura 1
quanto a razão molar ser o parâmetro de maior influência,
seguido pela quantidade de biocatalisador e o tempo de rea-
ção, respectivamente. Para reações de esterificação, a maior
quantidade de biocatalisador pode auxiliar na rápida forma-
ção de complexo enzima-substrato, resultando em maiores
conversões, o que foi observado no presente estudo e na lite-
ratura (SÁ et al., 2017).
Como parâmetro de maior influência, o estudo da
melhor razão molar nas reações tem sua importância na di-
minuição de custos excessivos com biocatalisadores. Desde
que, em altas concentrações de ácido, a atividade catalítica
pode sofrer efeito inibitório, pesquisadores sugerem o uso
de uma maior concentração de álcool nas reações (SÁ et al.,
2017), de forma a não ser utilizado em quantidades exagera-
das que possa provocar mudanças na estrutura proteica da
enzima devido a interação hidrofílica com a camada de água
presente no biocatalisador. Esses efeitos se tornam ainda
maiores quando utilizado catalisadores livres, ou seja, sem
uma metodologia prévia de imobilização, já que esses se tor-
nam mais suscetíveis a desnaturação em reações com subs-
tratos de baixa acidez, como o ácido graxo oriundo de óleo
de frango residual que utilizado nesse estudo (SÁ et al., 2017)
(RODRIGUES; FERNANDEZ-LAFUENTE, 2010).

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos neste estudo, é


possível concluir a viabilidade na esterificação dos ácidos
graxos usando a lipase livre Palatase® 20000L, consideran-
do o substrato de baixo custo agregado e a maior conversão

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em ésteres etílicos obtida, de 65,02 ± 3,42% nas condições


experimentais estudadas para a amostra 6 do método estu-
dado. O planejamento experimental utilizado, referente ao
método Taguchi robusto, mostrou-se eficiente para a obten-
ção do grau de influência das variáveis para a reação estuda-
da, em que os parâmetros razão molar (ácido: etanol) e quan-
tidade de biocatalisador (%) apresentaram maior mudança
global no valor de controle (delta), respectivamente, 11,36 e
4,99. Assim, o trabalho apresentou resultados concordantes
com o estudo de parâmetros de variados autores, ainda que
utilizado ácidos graxos de óleo de frango residual de baixa
acidez.

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UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
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sesterification of rapeseed oil to biodiesel with metha-
nol. Fuel, v. 104, p.698-703, fev. 2013.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro das Agências Brasi-


leiras de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fun-
dação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FUNCAP) (BP3-0139-000005.01.00/18) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-
lógico (CNPq) projetos 422942/2016-2 e 409058/2016-5.

Data de entrega: 30/06/2019.

ESTUDO DA APLICAÇÃO DO MÉTODO TAGUCHI NA ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE ÓLEO DE FRANGO RESIDUAL VIA ULTRASSOM
UTILIZANDO LIPASE DE RHIZOMUCOR MIEHEI
VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA
JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER 621

A sustentabilidade no ensino de
Matemática: um estudo em uma
escola de ensino fundamental no
município de Chorozinho-CE
Vanesca Almeida de Oliveira1
Francisca Aline da Silva Andrade2
Ana Flávia Ferreira da Silva3
Juan Carlos Alvarado Alcócer4

RESUMO
A sustentabilidade é certamente um dos temas mais importantes para
a sociedade atual, pois com a escassez dos recursos naturais cada vez
mais evidente, faz-se necessário pensar em como manter esses recursos
por mais tempo. Devido a importância dessa temática, acredita-se
que esta deva ser trabalhada na escola desde cedo, não somente de
maneira isolada ou em aulas específicas, mas de forma interdisciplinar
com as várias disciplinas do currículo. A Matemática, por exemplo,
é uma das disciplinas da educação básica de grande importância e
com significativa carga horária, contudo apresenta historicamente
um ensino descontextualizado, tradicional e uma aprendizagem
insatisfatória em diferentes níveis de ensino. Desse modo, sabendo
da importância da sustentabilidade e da contextualização do ensino
de Matemática, se torna necessário verificar se as escolas, através das
aulas de Matemática propiciam aos estudantes a interdisciplinaridade
destes conhecimentos. Assim, o objetivo deste trabalho é averiguar

1 Mestranda no Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias


Sustentáveis (MASTS), Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). E-mail: vanesca.almeida19@gmail.com
2 Mestranda no MASTS, UNILAB. E-mail: alineand2011@hotmail.com
3 Mestranda no MASTS, UNILAB. E-mail: flaviamathema@gmail.com
4 Docente do Programa de Pós-graduação, MASTS da UNILAB.
E-mail: jcalcocer@unilab.edu.br

A SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE MATEMÁTICA:


UM ESTUDO EM UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE CHOROZINHO-CE
VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA
622 JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER

através da percepção de estudantes, se a sustentabilidade é um tema


presente em aulas de Matemática como uma alternativa de trabalhar tal
disciplina de maneira contextualizada. A pesquisa se deu através de uma
abordagem qualiquantitativa, onde a coleta de dados foi feita através de
questionários impressos, com os estudantes de uma escola de ensino
fundamental localizada na cidade de Chorozinho, Ceará. Os resultados
obtidos revelaram que na escola pesquisada existem projetos voltados
para o estudo da temática, porém tais ações precisam ser aperfeiçoadas,
pois a maioria dos estudantes desconhece o significado do termo
sustentabilidade e a transversalidade é pouco, ou não é, vivenciada pelos
estudantes.
Palavras-chave: Ensino de Matemática. Sustentabilidade. Estudantes.

SUSTAINABILITY IN MATHEMATICS TEACHING: A STUDY


IN A FUNDAMENTAL SCHOOL IN THE MUNICIPALITY OF
CHOROZINHO-CE

ABSTRACT
Sustainability is certainly one of the most important issues for today’s
society, because with the scarcity of natural resources increasingly evident,
it is necessary to think about how to keep these resources for longer. Due
to the importance of this subject, it is believed that it should be worked in
the school from an early age, not only in isolation or in specific classes, but
in an interdisciplinary way with the various disciplines of the curriculum.
Mathematics, for example, is one of the disciplines of basic education
of great importance and with a significant workload, yet it historically
presents a decontextualized, traditional teaching and an unsatisfactory
learning in different levels of education. Thus, knowing the importance
of sustainability and the contextualization of Mathematics teaching,
it becomes necessary to verify if the schools, through Mathematics
classes, provide students with the interdisciplinarity of this knowledge.
Thus, the objective of this work is to ascertain through the perception of
students, if sustainability is a theme present in mathematics classes as an
alternative to work such discipline in a contextualized way. The research
was carried out through a qualitative and quantitative approach, where
the data collection was done through printed questionnaires, with the
students of a primary school located in the city of Chorozinho, Ceará. The

A SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE MATEMÁTICA:


UM ESTUDO EM UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE CHOROZINHO-CE
VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA
JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER 623

results show that in the school studied there are projects focused on the
study of the subject, but such actions need to be improved, since most
students are unaware of the meaning of the term sustainability and the
transversality is little or not experienced by the students.
Keywords: Mathematics Teaching. Sustainability. Students.

INTRODUÇÃO

O ensino de Matemática historicamente é repleto de


dificuldades que se traduzem em uma aprendizagem pouco
satisfatória em diferentes níveis de ensino. O rigor e o tradi-
cionalismo tão prezados na disciplina, entre outros fatores,
tais como as lacunas deixadas na formação dos professores
o que os tornam algumas vezes, má qualificados, o pouco in-
vestimento nos anos iniciais de escolarização e no decorrer
principalmente do ensino fundamental, faz com que a Ma-
temática se torne uma disciplina pouco agradável aos olhos
dos alunos. Para desconstruir tal fato, Pacheco e Andreis
(2017) afirmam que existem diversos fatores que podem ins-
tigar os estudantes a estudar Matemática, como por exem-
plo, aulas com aplicações práticas ou atividades que estimu-
lem o conhecimento.
Nessa perspectiva, é necessário desmistificar a visão
que os estudantes têm diante da Matemática, o que só é pos-
sível através de um ensino que possibilite estes visualizarem
e aplicarem os conhecimentos da disciplina fora da sala de
aula, ou seja, durante o ensino básico, principalmente no
ensino fundamental é importante que os alunos possam ter
aulas contextualizadas. Porém, a promoção de aulas com
esta metodologia não é tarefa fácil, requer bastante esforço
dos professores em refletir e estrategicamente desenvolver
mecanismos que possibilitem uma aprendizagem significa-
tiva. Além disso, requer também investimento nesse profis-
sional para que ele consiga desenvolver tais mecanismos,

A SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE MATEMÁTICA:


UM ESTUDO EM UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE CHOROZINHO-CE
VANESCA ALMEIDA DE OLIVEIRA • FRANCISCA ALINE DA SILVA ANDRADE • ANA FLÁVIA FERREIRA DA SILVA
624 JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER

pois para que os professores possam auxiliar os estudantes


na superação de suas ignorâncias é necessário que superem
permanentemente as suas (FREIRE, 1996).
Assim, é crucial o investimento na formação continu-
ada de professores, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (BRASIL, 1996), é dever da união, junto
a instâncias estaduais, federais e municipais gerar e garantir,
em regime de colaboração, a formação inicial, assim como
a continuada e também capacitações para os profissionais
da educação. Claro que apenas investir em formações para
os educadores não resolverá todas as mazelas existentes no
processo de ensino e de aprendizagem dos educandos, mas
se existisse um investimento permanente voltado para este
fim, certamente muitas dificuldades seriam parcialmente
sanadas. Haja vista que, os professores conseguiriam deixar
o ensino mais contextualizado, vislumbrariam mais possi-
bilidades de trabalhar a Matemática e poderiam inserir com
maior facilidade nas aulas diferentes temas transversais,
tais como sustentabilidade.
A sustentabilidade segundo Zasso (2014) é a ideia de
durabilidade dos recursos naturais. Dessa forma, levando
em consideração que é através da ideia de sustentabilidade
que é possível vislumbrar um desenvolvimento sustentável,
tem-se que é preciso despertar essa ideia dentro da sala de
aula, e por que não nas aulas de Matemática? Cabe então, ao
professor estrategicamente fazer isto, porém este precisa de
formação consistente que possibilita trabalhar a sustentabi-
lidade de modo eficaz em suas aulas, para que o aluno apren-
da os conteúdos da matriz curricular, mas também aprenda
a idealizar como a disciplina pode ajudar a sociedade em
seus mais diversos aspectos.
Portanto, sabendo da importância de contextualizar o
ensino da Matemática e também da sustentabilidade para a
sociedade, este estudo teve por objetivo averiguar através da

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percepção de estudantes, se a sustentabilidade é um tema


presente na escola de modo geral e principalmente nas aulas
de Matemática como uma alternativa de trabalhar tal disci-
plina de maneira contextualizada.
O presente estudo é de caráter descritivo explorató-
rio, de abordagem qualiquantitativa, este teve como foco
realizar uma pesquisa sobre a sustentabilidade nas aulas de
Matemática com estudantes do Ensino Fundamental II de
uma escola da rede municipal de ensino localizada no Ma-
ciço de Baturité.
Com base em teóricos e na ideia de contextualizar o
ensino, o ambiente escolar deve possibilitar que os estudan-
tes façam o entrelace dos conhecimentos, desse modo temas
como sustentabilidade devem ser encontrados no ensino
das mais diversas disciplinas, incluindo a Matemática. Com
essa premissa o percurso metodológico dessa pesquisa se-
guiu os seguintes passos:

i. Para a coleta de dados utilizou-se um questionário


com perguntas objetivas e subjetivas que foram
respondidas por 14 dos 15 alunos de uma turma de
9º ano do ensino fundamental.
ii. No questionário buscou-se verificar se a temática
sustentabilidade era trabalhada no ambiente esco-
lar e dentro das aulas de Matemática.
iii. Quando entregues os questionários a temática da
pesquisa, assim como a importância da mesma fo-
ram explicadas aos estudantes.
iv. As respostas foram marcadas pelos próprios estu-
dantes sem interferência do pesquisador.
v. Após, os dados foram agrupados, plotados em grá-
ficos e analisados, conforme serão apresentados a
seguir.

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UM ESTUDO EM UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE CHOROZINHO-CE
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É importante salientar que a pesquisa seguiu os prin-


cípios éticos de modo a preservar a identidade dos infor-
mantes assim como da escola pesquisada.

A MATEMÁTICA E A NECESSIDADE DE SUA


INTERDISCIPLINARIDADE

Acredita-se que a Matemática nasceu a partir de um


conjunto de informações imprecisas, o qual levava os indi-
víduos a terem opiniões distintas sobre determinados fatos,
necessitando, portanto, de uma normativa a ser seguida. Seu
avanço se iniciou a partir do momento em que se tinha cons-
ciência da existência das duas mãos e das duas orelhas, por
exemplo. Esta propriedade abstrata foi chamada de número
e impulsionou em sentido da Matemática moderna. Con-
tudo, ressalta-se que provavelmente a origem dos conheci-
mentos matemáticos tenha acontecido de forma gradual e
que pode ter se originado a aproximadamente há 300.000
anos (RAMOS, 2017).
Hoje em dia, a Matemática é uma disciplina obrigató-
ria no currículo das escolas brasileiras e está presente nas
mais variadas atividades do cotidiano. Segundo as diretrizes
apontadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s),
esta deve estar ao alcance de todos e a democratização do seu
ensino deve ser o principal objetivo dos docentes. Salienta-
-se ainda, que é um importante componente na construção
da cidadania, pois a partir dela, a sociedade pode utilizar co-
nhecimentos científicos e recursos tecnológicos, dos quais
os cidadãos devem se apropriar (BRASIL, 1998).
Infelizmente a Matemática é considerada uma disci-
plina complexa e de difícil entendimento. Ela ganha desta-
que entre as demais disciplinas escolares pelo fato das difi-
culdades oferecidas em seus diversos conteúdos e por conta

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do grande desinteresse que os estudantes demonstram em


relação a ela (PUGLIESE e CASTANHO, 2009). Contudo, a
adoção de temas transversais nas diversas disciplinas, in-
clusive na Matemática, pode tornar uma aula anteriormente
considerada monótona, devido aos seus conteúdos compli-
cados, em uma aula atrativa e dinâmica para os estudantes.
Os PCN’s apontam que em todas as áreas do currículo
escolar existem ensinamentos a respeito dos temas trans-
versais, “isto é, todas educam em relação a questões sociais
por meio de suas concepções e dos valores que veiculam nos
conteúdos em torno de temáticas escolhidas” (BRASIL, 1998,
p. 26).
Dentre os temas apresentados nos PCN’s, destaca-se
a temática educação ambiental, englobando assuntos que
estão em destaque no contexto em que vivemos, como por
exemplo, sustentabilidade, definida por Daniel e Aguiar
(2014), como sendo a capacidade da geração atual usufruir
os recursos existentes sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de atenderem suas necessidades.
Visualizando o atual cenário ambiental, destaca-se
que há cada vez mais necessidade de ações que sensibilizem
a sociedade quanto a importância da preservação do meio
ambiente, pois o uso desregrado dos recursos que utiliza-
mos atualmente para nossa sobrevivência, pode fazer com
que estes entrem em declínio e isto pode comprometer tan-
to as gerações atuais quanto as futuras.
Sem dúvida alguma, a atuação dos professores nesta
batalha pode ser de suma importância, Pinho et al., (2017),
destaca que:

Trazer a natureza para a sala de aula ou levar a


sala de aula para a natureza e demonstrar os con-
ceitos ensinados de forma teórica na prática, com
a utilização de objetos, imagens, entre outros, faz

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com que a Matemática tenha mais sentido para


o aluno porque mexe com o seu emocional e isso
fica marcado em seu consciente, o que facilita a
aprendizagem e a fixação do que é ensinado (PI-
NHO et al., 2017, p. 127).

Logo, pode-se perceber que a inserção de temas trans-


versais, como sustentabilidade, só tem a contribuir com o
processo de ensino e aprendizagem, pois além de se ensinar
os conteúdos rotineiros presentes no livro didático, o pro-
fessor aprimorará suas aulas e dará a oportunidade para que
o aluno analise, critique e possa rever suas próprias atitu-
des, assim como as atitudes que o ser humano em geral tem
adotado e as consequências delas para o meio ambiente e
consequentemente, para a vida no planeta.
A escola é um ambiente propício para que o futuro
cidadão desenvolva conscientização no que diz respeito a
conservação da natureza. É neste ambiente que o aluno dará
seguimento ao processo de socialização. Deste modo, a es-
cola como instituição de ensino, possui função primordial
no processo de formação do agente social e do cidadão cons-
ciente das questões ambientais (SILVA e BEZERRA, 2016).
Zanesco et al. (2016), verificou que ao inserir a temáti-
ca sustentabilidade nas aulas de Matemática, os alunos de-
monstraram maior interesse, pois durante as discussões, os
assuntos abordados eram contextualizados com a realidade
vivida além das paredes escolares, o que foi um fator deter-
minante na qualificação do processo educativo.
Portanto, a Matemática pode ser utilizada como um
meio de conscientização da necessidade de se repensar as
atitudes que cada um adota no seu dia a dia. Além disso, uma
aula com este viés interdisciplinar estará colaborando para
a formação de cidadãos críticos, participativos e reflexivos
da realidade que vivem.

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A SUSTENTABILIDADE NA ESCOLA E NO ENSINO DE


MATEMÁTICA: O QUE DIZEM OS DISCENTES

Através dos questionários respondidos pelos alunos


de uma escola de ensino fundamental na cidade de Choro-
zinho-CE, foram feitas as análises e plotagem de gráficos de
acordo com os dados coletados. No total quatorze estudan-
tes puderam responder ao questionário.
Quanto ao perfil destes estudantes 6(seis), o que re-
presenta 43% são do sexo masculino, enquanto 8(oito), são
do sexo feminino, o que corresponde a 57%. As idades desses
jovens variam de 13 aos 16 anos, o que responde a faixa etá-
ria adequada para a série que cursam, 9º ano do Ensino Fun-
damental. Tem-se: 2(dois) estudantes com 13 anos, 9(nove)
estudantes com 14 anos, 2(dois) estudantes com 15 anos e
1(um) estudante com 16 anos.
Com intuito de saber se a escola onde a pesquisa foi
efetuada trabalha com a temática ambiental, na primeira
pergunta do questionário indagamos: Na escola onde você
estuda, já participou de algum projeto que envolva meio
ambiente e/ou sustentabilidade? Obtivemos que 71% o que
corresponde a 10(dez) estudantes afirmam terem partici-
pado de algum projeto que envolva meio ambiente e/ou sus-
tentabilidade, enquanto 29%, ou seja 4(quatro) estudantes
afirmam o oposto disso, conforme apresentado no gráfico 1.
As questões ambientais devem ser trabalhadas desde
cedo dentro da escola, pois o ambiente escolar é um lugar
onde os futuros cidadãos podem dá seus primeiros passos no
que se trata da conscientização e cuidados com o meio am-
biente (SILVA e BEZERRA, 2016). Dessa forma, projetos que
incentivem os alunos na perspectiva da conscientização am-
biental é de suma importância. Podemos constatar através do
primeiro questionamento feito aos estudantes que a escola

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Gráfico 1 – Participação dos estudantes em projetos ambientais


na escola

Fonte: Elaborada pelo autor.

proporciona projetos nesse sentido o que é de fato louvável,


porém quando questionamos aos estudantes se eles sabiam o
que é sustentabilidade, os mesmos não souberam responder.
Dos 14 estudantes investigados 10(dez), ou seja, 71% não sabem
o que é sustentabilidade, curiosamente o mesmo número de
alunos como vimos anteriormente que disse que participava
ou já participou na escola de projetos que envolvem questões
ambientais. Assim, cabe então destacarmos: que impactos
nos estudantes os projetos ambientais estão tendo? Se fizer-
mos uma busca por artigos que falam na temática ambiental e
sua importância no ambiente escolar, certamente encontra-
ríamos vários artigos sobre ações para serem desenvolvidas
nas escolas, mas quantas pesquisas e projetos verificam o que
de fato os estudantes aprendem nessas ações? Certamente
poucas, pois falta eficiência nestas ações.
Os quatro estudantes que responderam o que é sus-
tentabilidade colocaram que: “É algo que ajuda o meio am-
biente” (2 estudantes), “É algo sustentável” (1 estudante)
e “É algo que...” (1 estudante). Das quatro únicas respostas

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dadas, apenas dois estudantes puderam a seu modo definir


sustentabilidade, porém de maneira pouco concreta e mais
superficial. Pois quando colocado: “É algo que ajuda o meio
ambiente”, o que seria esse algo? Em que ajuda?
Cunha e Latini (2014) em seu estudo constataram que
a temática ambiental é viável para ser trabalhada como ge-
radora de conhecimentos matemáticos, tornando assim
o processo de aprendizagem mais expressivo. Nessa pers-
pectiva, perguntamos aos estudantes se durante as aulas de
Matemática questões ambientais são temas que já surgiram
em algum modo. Dos dados colhidos observamos que 2(dois)
estudantes, o que corresponde a 14% afirmaram que sim, ou
seja, que questões ambientais já surgiram em aulas de Ma-
temática, enquanto 12, ou seja 86% afirmaram que não, con-
forme o gráfico 2.

Gráfico 2 – Questões ambientais nas aulas de Matemática

Fonte: Elaborada pelo autor.

O que podemos perceber é que existe sim a presença


da temática ambiental dentro da escola, porém pouco enrai-
zada, poucos alunos lembram de ter visto tal temática nas

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aulas de Matemática, claro que isso deve ocorrer por inú-


meros motivos, ou mesmo não viram e se confundiram com
outros temas trabalhados pelo (a) professor (a).
É importante ressaltarmos o papel do professor em
refletir e inserir estas e outras temáticas em suas aulas, pois
como afirma D’ambrosio (2018) como matemáticos e educado-
res matemáticos temos também o dever e a responsabilidade
diante as questões sustentáveis, entre outras. De acordo com
os dados colhidos podemos deduzir que questões ambien-
tais nunca surgiram em aulas de Matemática, ou se surgiram
foram insignificantes para os estudantes, visto que eles não
lembram e os 2(dois) estudantes que afirmaram que questões
ambientais já surgiram em aulas de Matemática, não soube-
ram dizer em que materiais utilizados pelo professor(a) sur-
giu a temática. Pois quando perguntados em quais materiais
utilizados em sala, nas aulas de Matemática, foi visualizado o
tema sustentabilidade ou meio ambiente, todos os estudan-
tes, ou seja 100% afirmaram não terem visto em nenhum dos
materiais utilizados pelo professor(a), conforme gráfico 3.

Gráfico 3 – Materiais utilizados para abordar meio ambiente e/ou


sustentabilidade

Fonte: Elaborada pelo autor.

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A promoção de um ensino interdisciplinar é extre-


mamente importante quando se trata de uma formação am-
pla do sujeito, desse modo deve-se:

[...] considerar o aprendizado das questões am-


bientais e sustentáveis como alternativas para a
promoção da qualidade de vida que, atreladas às
habilidades matemáticas, históricas e linguísti-
cas adquiridas, revelam a real construção da cida-
dania e o fortalecimento do papel social da Escola
(ZADESCO, et al., 2016, p.77).

Assim, promover um ensino que permita o entrelace


de conhecimento é crucial para uma aprendizagem mais
significativa, nessa perspectiva perguntamos aos estudan-
tes como eles veem a possibilidade disto, ou seja, indagamos
se eles acreditavam ser possível o ensino da Matemática
contextualizado com diversos temas inclusive a sustentabi-
lidade. Obtivemos que todos acreditam que sim, 100% dos
estudantes, conforme gráfico 4.

Gráfico 4 – Possibilidade do ensino de Matemática ser


contextualizado com diversos temas, inclusive sustentabilidade

Fonte: Elaborada pelo autor.

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Logo, torna-se necessário destacarmos que os estudan-


tes se mostraram pouco conhecedores de sustentabilidade,
jovens de 13 a 16 anos que não sabem definir o que seria sus-
tentabilidade, e isso deve ocorrer por vários motivos. Todavia,
estes mesmos alunos acreditam na possibilidade da Matemá-
tica, disciplina apresentada na maioria das vezes de modo tra-
dicional, possa ser contextualizada com temas como sustenta-
bilidade, e é claro que é possível visto que a Matemática estar
em todos lugares, cabe então mais ações permanentes em au-
las e dentro da escola de modo geral, que possibilite estes estu-
dantes conhecimentos acerca de temáticas ambientais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se com base neste estudo, que a utilização


de temas transversais nas aulas de Matemática, tais como a
sustentabilidade, é um importante passo para que se consi-
ga estabelecer ações de conscientização no que diz respeito
aos cuidados com meio ambiente.
Verificou-se que na escola pesquisada há projetos vol-
tados para o estudo da temática, porém tais ações precisam
ser aprimoradas para que venham a despertar a curiosidade
e interesse do estudante em conhecer o assunto abordado,
já que notou-se que a maioria desconhece o significado do
termo sustentabilidade e a outra parte apresentou informa-
ções imprecisas.
Em relação a inserção do tema sustentabilidade e ou-
tras questões ambientais nas aulas de Matemática, consta-
tou-se que esta transversalidade é pouco ou não é vivenciada
pelos estudantes, visto que estes não lembram de momentos
que tal tema foi apresentado.
Portanto, de acordo com os dados coletados é possível
perceber que ainda são poucas as ações desenvolvidas den-

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tro do espaço escolar e especialmente nas aulas de Matemá-


tica. Contudo, este estudo vem abrir portas para que tal fato
seja visualizado pela comunidade escolar e que esta venha
adotar metodologias de ensino que tornem as aulas dinâmi-
cas e que ao mesmo tempo possa contextualizá-las com o ce-
nário ambiental que vivemos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). MATE-


MÁTICA. Brasília, MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). TER-
CEIRO E QUARTO CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL. TE-
MAS TRANSVERSAIS. Brasília, MEC/SEF, 1998.
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sobre a formação dos profissionais da educação e dá outras
providências. Brasília, 1996.
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DIZADO DE MATEMÁTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL In-
vestigações em Ensino de Ciências. v.9, n.2, p. 323-341, 2014.
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28, p. 114-120, 2014.
FREIRE. P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à
prática educativa, 28ª ed., São Paulo: Paz e Terra, 1996.
PACHECO, M.B.; ANDREIS, G. S. L. Causas das dificuldades
de aprendizagem em Matemática: percepção de professores

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636 JUAN CARLOS ALVARADO ALCÓCER

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PINHO, C. O; LIMA, C. O; FERRETE, J. A. SILVA, M. F; SILVA,
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APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Questionário

1.Você é?
⃝ Homem ⃝ Mulher

2. Idade? ___________ anos


3. Na escola você já participou de algum projeto que envolva o meio
ambiente e /ou sustentabilidade?
⃝ Sim ⃝ Não

4.O que é sustentabilidade?


_________________________________________
5.Durante as aulas de Matemática questões ambientais são temas que
já surgiram de algum modo?
⃝ Sim ⃝ Não

6. Dos materiais utilizados em sala pelo professor(a), nas aulas de Ma-


temática, em qual ou quais você visualizou o tema sustentabilidade e/ou
meio ambiente?
⃝ Slides
⃝ Listas de exercícios ⃝ Livro didático
⃝ Jogos didáticos ⃝ Nenhum
⃝ Outro. Qual?_________ .

7. De modo geral, você acha possível o Ensino de Matemática contextu-


alizado com diversos temas inclusive sustentabilidade?
⃝ Sim ⃝ Não

AGRADECIMENTOS

A Universidade da Integração Internacional da Luso-


fonia Afro-brasileira (UNILAB), por meio do Mestrado Aca-
dêmico em Socio-biodiversidade e Tecnologias Sustentáveis
(MASTS), a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimen-
to Científico e Tecnológico (FUNCAP) e a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE MATEMÁTICA:


UM ESTUDO EM UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE CHOROZINHO-CE
JAMILE MAGALHÃES FERREIRA • INGRID MARIA MARQUES DA SILVA • EDERSON LAURINDO HOLANDA DE SOUSA
638 SAID GONÇALVES DA CRUZ FONSECA • MARIA GORETTI RODRIGUES DE QUEIROZ

Estudo do perfil bioquímico de


camundongos sob alimentação
suplementada de creatina associada
ou não à maltodextrina
Jamile Magalhães Ferreira1
Ingrid Maria Marques da Silva
Ederson Laurindo Holanda de Sousa
Said Gonçalves da Cruz Fonseca
Maria Goretti Rodrigues de Queiroz

RESUMO
O objetivo foi avaliar os parâmetros bioquímicos de camundongos
submetidos à alimentação suplementada de creatina associada ou não à
maltodextrina (MALTO). Os animais (n=8) foram divididos nos grupos:
controle negativo (CN), creatina 13% (Grupo 1), creatina 13% + MALTO
12% (Grupo 2), creatina 2% (Grupo 3), creatina 2% + MALTO 12% (Grupo
4), creatina 13% + creatina 2% (Grupo 5) e creatina 13% + creatina 2% +
MALTO 12% (Grupo 6). Os grupos 1, 3 e 5 receberam ração com creatina nas
concentrações de 13% e/ou 2%, enquanto que os grupos 2, 4 e 6 receberam
creatina + MALTO 12%. Os grupos 1, 2, 3 e 4 receberam a creatina nas
concentrações descritas e/ou MALTO, na ração, por 28 dias. Grupos 5
e 6 receberam a ração de creatina na concentração 13% por 7 dias (fase
de sobrecarga) e, em seguida, receberam ração com creatina 2% (fase de
manutenção) por 28 dias, sendo que no grupo 6 também foi oferecido
MALTO 12%. Após o período de suplementação, realizou-se coleta de
sangue para análise dos parâmetros: glicose, amilase, colesterol total,
colesterol HDL, triglicerídeos, AST, ALT, ureia e creatinina. Os resultados
foram tabulados e plotados nos programas Graphpad Prism 5.0 e
Microsoft Office Excel 2013® para análise estatística e geração de gráficos.
O protocolo foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa Animal da
Universidade Federal do Ceará n°134/2017. A ração modificada acrescida
de creatina e/ou maltodextrina, por 28 dias, não promoveu alterações
significantes nos níveis plasmáticos de glicose, colesterol total, HDL, AST,

1 Farmacêutica. Professora Adjunta da Universidade da Integração Internacio-


nal da Lusofonia Afro-Brasileira. E-mail: jamilemagalhaes@unilab.edu.br

ESTUDO DO PERFIL BIOQUÍMICO DE CAMUNDONGOS SOB ALIMENTAÇÃO SUPLEMENTADA DE CREATINA ASSOCIADA OU NÃO À MALTODEXTRINA
JAMILE MAGALHÃES FERREIRA • INGRID MARIA MARQUES DA SILVA • EDERSON LAURINDO HOLANDA DE SOUSA
SAID GONÇALVES DA CRUZ FONSECA • MARIA GORETTI RODRIGUES DE QUEIROZ 639

amilase e ureia. Entretanto, os valores de triglicerídeos, ALT e creatinina


foram alterados. Os órgãos rins e fígado não apresentaram alterações
macroscópicas e de peso nos períodos e concentrações estudados. Assim,
o uso da creatina associada ou não à maltodextrina deve ser utilizada com
cautela e acompanhamento profissional, visto que pode proporcionar
alterações metabólicas importantes.
Palavras-chave: creatina; maltodextrina; camundongos.

BIOCHEMICAL PROFILE STUDY OF MICE UNDER


SUPPLEMENTED FEEDING OF CREATINE ASSOCIATED OR NOT
TO MALTODEXTRIN

ABSTRACT
The objective was to evaluate the biochemical parameters of mice
submitted to creatine supplementation with or without maltodextrin
(MALTO). The animals (n = 8) were divided into the groups: negative
control (CN), creatine 13% (Group 1), creatine 13% + MALTO 12% (Group
2), creatine 2% MALTO 12% (Group 4), creatine 13% + creatine 2% (Group
5) and creatine 13% + creatine 2% + MALTO 12% (Group 6). Groups 1, 3
and 5 received creatine feed at concentrations of 13% and/or 2%, while
groups 2, 4 and 6 received creatine + MALTO 12%. Groups 1, 2, 3 and 4
received creatine at the concentrations described and/or MALTO in
the diet for 28 days. Groups 5 and 6 received the creatine feed at 13%
concentration for 7 days (overload phase) and then received 2% creatine
feed (maintenance phase) for 28 days, and in group 6 MALTO was also
offered 12%. After the supplementation period, blood was collected
for analysis of the parameters: glucose, amylase, total cholesterol, HDL
cholesterol, triglycerides, AST, ALT, urea and creatinine. The results were
tabulated and plotted in Graphpad Prism 5.0 and Microsoft Office Excel
2013® programs for statistical analysis and graphing. The protocol was
approved by the Commission for Ethics in Animal Research of the Federal
University of Ceará, 134/2017. The modified feed plus creatine and/or
maltodextrin for 28 days did not cause significant changes in plasma
levels of glucose, total cholesterol, HDL, AST, amylase, and urea. However,
triglyceride, ALT and creatinine values were altered. The kidney and liver
organs did not present macroscopic and weight changes in the periods
and concentrations studied. Thus, the use of creatine associated or not
with maltodextrin should be used with caution and professional follow-
up, since it can provide important metabolic changes.
Keywords: creatine; maltodextrin; mice.

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640 SAID GONÇALVES DA CRUZ FONSECA • MARIA GORETTI RODRIGUES DE QUEIROZ

INTRODUÇÃO

A existência de um corpo perfeito sempre fez parte do


imaginário de muitas pessoas. A busca incessante de atingir
um padrão de beleza, fica cada vez mais evidente, principal-
mente pelo advento das redes sociais, em que vários digitais
influencers, expõem um ritmo de treinos e dieta, muitas ve-
zes, inalcançáveis para a maioria da população. Além disso,
o ambiente das academias favorece a disseminação de pa-
drões estéticos estereotipados, como o corpo magro, com
baixa quantidade de gordura ou com elevado volume e hi-
pertrofia muscular (ARAMUNI et al., 2010).
Nos últimos anos, a insatisfação corporal vem cres-
cendo entre as pessoas, que com o objetivo de melhorarem
a aparência física e possuírem resultados milagrosos, têm
recorrido ao uso de suplementos nutricionais o que tem le-
vado a população a usar, de forma abusiva, substâncias que
possam proporcionar, no menor tempo possível, os seus de-
sejos (SCHIMITZ e CAMPAGNOLO, 2013).
Os suplementos nutricionais estão entre as ferramen-
tas utilizadas por quem quer alcançar um determinado objeti-
vo em relação ao corpo. Tais produtos podem ser encontrados
em diversas formas: comprimidos, cápsulas, pós ou líquidos
e tem como finalidade o aumento de massa muscular, perda
de peso corporal ou melhora do desempenho (NABUCO et al.,
2015). Essa pretensão faz com que as pessoas recorram, cada
vez mais, aos suplementos nutricionais em busca de um cor-
po que se adeque aos padrões exigidos pela sociedade. Um dos
suplementos bastante utilizados pelas pessoas que praticam
atividade física é a creatina que pode ser utilizada associada
ou não à maltodextrina (ARAÚJO et al., 2012).
A creatina ocorre naturalmente em alimentos, prin-
cipalmente em carnes, peixes e outros produtos de origem

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animal. A produção endógena é oriunda da arginina, glicina


e metionina, sendo sintetizada no fígado, pâncreas e rins.
Em humanos, a creatina é armazenada principalmente na
musculatura esquelética e, em menor quantidade, no cére-
bro, fígado e rins (SOUSA e AZEVEDO, 2008).
De acordo com Hirschbruch, Fisberg e Mochizuki
(2008), consumir suplementos nutricionais com o objetivo
de melhorar o desempenho, aumentar a massa muscular
tornou-se hábito entre praticantes de atividades físicas. No
entanto, a maioria dessas pessoas não segue a orientação de
um nutricionista, fazendo o uso do suplemento de forma
inapropriada, sem considerar, por exemplo, a possibilidade
de aparecimento de problemas hepáticos e renais.
Dessa forma, os efeitos colaterais associados ao uso
destes produtos por longos períodos ainda não são totalmen-
te conhecidos (IRIART, CHAVES, ORLEANS, 2009). Diante
do exposto, a realização de experimentos em animais pode
contribuir sobremaneira para a identificação de possíveis
alterações, através da análise de parâmetros bioquímicos.
Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar os parâme-
tros bioquímicos de camundongos com alimentação suple-
mentada de creatina associada ou não à maltodextrina.

METODOLOGIA

Utilizaram-se 56 camundongos (25-35g) machos,


swiss, adultos, provenientes do Biotério Central da Univer-
sidade Federal do Ceará. Os animais foram mantidos em cai-
xas de polipropileno, aclimatizados entre 22 ± 0,5ºC, ciclos
de claro/escuro de 12/12h e circulação de ar controlados. Fo-
ram divididos aleatoriamente nos seguintes grupos (n=8) e
respectivos períodos de tratamento, conforme tabela 1:

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Tabela 1 – Ração recebida por cada grupo experimental bem


como o período de tratamento
Grupos CN Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5 Grupo 6
7 dias
(sobre- RP RP RP RP RP CR13% CR13%
carga)
28 dias CR 13 % CR 2% + CR 2% +
(manu- RP CR 13% + MAL- CR 2% MALTO CR 2% MALTO
tenção) TO 12% 12% 12%
RP = Ração padrão; CN = controle negativo; CR 13%: creatina 13%; CR 2%:
creatina 2%; MALTO 12%: maltodextrina 12%.
Fonte: Autoria própria.

Para confecção da ração modificada, a ração padrão


(NUVILAB®) foi pulverizada em moinho com malha de
500µm, obtendo-se um pó fino da ração. Em seguida, a ra-
ção foi transferida para uma batedeira planetária, onde foi
acrescida de creatina 13% (CR 13%), creatina 2% (CR 2%) ou
maltodextrina 12% (MALTO 12%) e quantidade suficiente de
mucilagem de carmelose sódica a 2% (p/v), de acordo com
composição da ração a ser produzida, sendo essa última adi-
cionada para dar consistência à ração modificada. Depois de
todo esse processo, essa mistura foi submetida à extrusão,
cortadas em pedaços e colocada para secar em estufa à 50°C
com circulação de ar.
As porcentagens propostas da creatina incorporada
na ração foram baseadas nos estudos realizados por FREIRE
et al (2008), JÚNIOR et al (2014), ARAÚJO et al (2012), bem
como o percentual de MALTO baseou-se nos achados de
ROMBALDI et al (2013). Com o intuito de saber o efeito da
creatina associada ou não à MALTO, na ausência de ativida-
de física, ressalta-se que todos os animais eram sedentários.
Ao final desse período, foi realizada coleta sanguínea
através do plexo retro orbital, mediante realização de jejum
de sólidos de 6-8h. Posteriormente, foram analisados os
seguintes parâmetros bioquímicos: glicose, amilase, coles-

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terol total, colesterol HDL, triglicerídeos, AST, ALT, ureia


e creatinina, através do uso de kits de reagentes, seguindo
as recomendações do fabricante (LABTEST®). Após a coleta
de sangue, os camundongos foram sacrificados e, posterior-
mente, utilizando-se técnicas cirúrgicas e de dissecação,
foram retirados os órgãos fígado e rins. Os mesmos foram
pesados em balança digital com 2 casas decimais.
Os resultados foram tabulados e plotados nos progra-
mas Graphpad Prism 5.0 e Microsoft Office Excel 2013® para
análise estatística e geração de gráficos. Para comparação
entre as médias utilizou-se a análise de variância (ANOVA)
seguida de pós-teste de Tukey. O critério de significância
adotado foi de p<0,05.
Todos os procedimentos adotados para a realização
dos protocolos experimentais descritos estão de acordo
com os preceitos éticos adotados pela comunidade científi-
ca nacional e internacional. O protocolo descrito foi devida-
mente submetido à Comissão de Ética em Pesquisa Animal
da Universidade Federal do Ceará sendo aprovado com o Nº
134/2017.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a trituração da ração padrão e, posterior acrésci-


mo de carmelose sódica, creatina e/ou maltodextrina, obti-
veram-se rações com aspecto muito semelhantes à original.
Portanto, pode-se dizer que a confecção da ração modificada
foi realizada com êxito, obtendo uma forma e textura muito
semelhante à ração padrão ingerida pelos camundongos o
que, certamente, facilitou sua aceitação pelos animais.
Segundo a literatura, a suplementação de creatina,
pode ser utilizada empregando-se um período de sobrecarga,
no qual ocorre a ingestão de altas doses de creatina em cur-

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tos períodos de tempo (entre 5 e 7 dias) e, em seguida, tem-se


a fase de manutenção durante 28 dias (WILLIANS, KREIDER
E BRANCH, 2000). Diante disso, G5 e G6 receberam a ração
com CR13% por 7 dias (fase de sobrecarga) e, após esse perío-
do, foi oferecida ração com CR 2% e CR2% + MALTO 12% (fase
manutenção), respectivamente, por 28 dias.
Os metabolismos glicêmico e lipídico foram avaliados
pelas determinações bioquímicas glicose, colesterol total,
colesterol HDL, triglicerídeos e amilase. A suplementação
oral com ração modificada acrescida de creatina e/ou mal-
todextrina, por 28 dias, não promoveu alterações significan-
tes nos níveis de glicose, colesterol total, HDL, AST amilase
plasmática. Todavia, os valores plasmáticos de trigliceríde-
os foram alterados.
O acréscimo de creatina na concentração de 13% (G1)
por 28 dias, na ração, promoveu redução nos níveis de tri-
glicerídeos, de forma significante, ao comparar com o con-
trole negativo. Entretanto, o Grupo 6, o qual foi submetido a
uma etapa de sobrecarga (creatina 13%) por 7 dias e, em se-
guida, alimentado com creatina 2%, por 28 dias, apresentou
aumento de triglicerídeos quando comparado ao controle
negativo. (Figura 1).
Os achados da literatura revelam que a creatina não
promove alterações importantes no metabolismo lipídico
(VIEIRA et al., 2008), o que não está de acordo com os resul-
tados aqui descritos. Sugere-se que essa diferença dos valo-
res dos triglicerídeos visualizado no grupo 6, possa ter ocor-
rido pelo prolongamento de dias de tratamento que, no caso,
foram de 35 dias, o que diferiu dos Grupo 1, 2, 3 e 4.
Em relação a função hepática, foram verificadas as ati-
vidades das enzimas hepáticas AST e ALT. É bem conhecido
que a AST é uma enzima encontrada em maior quantidade
nas mitocôndrias, não sendo liberada tão rápido como a

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ALT, que é encontrada no citosol. A AST está presente em


um grande número de tecidos, como coração, fígado, mús-
culo esquelético, rins e pâncreas. A ALT é primariamente
limitada ao citosol dos hepatócitos sendo, portanto, consi-
derada um indicador altamente sensível de dano hepato-
celular e, dentro de certos limites, pode fornecer uma taxa
quantitativa de dano sofrido pelo fígado (AL-HABORI et al.,
2002).

Figura 1 – Níveis plasmáticos de triglicerídeos após ingestão


da ração modificada acrescida da creatina associada ou não à
maltodextrina ou ração padrão, por 28 dias

CN: controle negativo, G1: creatina 13%, G2: creatina 13% + maltodextrina
12%, G3: creatina 2%, G4: creatina 2% + maltodextrina 12%, G5: creatina
13% (7 dias) + creatina 2% (28 dias), G6: creatina 13% (7 dias) + creatina
2% + maltodextrina 12% (28 dias), a: p<0,05 em relação ao grupo CN, b:
p<0,05 em relação ao G1. Os resultados estão expressos como média ±
E.P.M. (ANOVA-Turkey).
Fonte: Autoria própria.

Não foi observada diferença significativa na atividade


de AST entre os grupos estudados. Em relação à ALT, ob-
servou-se diferença entre os Grupos 2 e 6, sugerindo que a
manutenção da creatina com uma menor concentração as-

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sociada à MALTO na ração reduziu os níveis desta enzima,


indicando que possa ter um efeito protetor da função hepá-
tica (Figura 2). Entretanto, é necessária uma investigação
mais aprofundada que comprove o fato descrito.

Figura 2 – Concentração plasmática da ALT após ingestão da


ração modificada acrescida da creatina associada ou não à
maltodextrina ou ração padrão, por 28 dias

CN: controle negativo, G1: creatina 13%, G2: creatina 13% + maltodextrina
12%, G3: creatina 2%, G4: creatina 2% + maltodextrina 12%, G5: creatina
13% (7 dias) + creatina 2% (28 dias), G6: creatina 13% (7 dias) + creatina
2% + maltodextrina 12% (28 dias), b:p <0,05 em relação ao G1, c: p<0,05
em relação ao G2 . Os resultados estão expressos como média ± E.P.M.
(ANOVA-Turkey).
Fonte: Autoria própria.

Estudos de Vieira et al. 2008, concluiram que animais


tratados por 14 dias com creatina na dose de 0,5g/kg/dia
diluídos em 15 mL de água, através de gavagem não alterou
a função hepática dos animais em estudo. Dessa forma, os
resultados encontrados no presente estudo podem ser atri-
buídos ao acréscimo de maltodextrina, porém mais estudos
devem ser realizados para confirmar o achado.

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No que diz respeito à análise bioquímica da função re-


nal, avaliaram-se os níveis de ureia e creatinina. A ureia é sin-
tetizada no fígado a partir da amônia, que é produzida a partir
do catabolismo das proteínas (HENRY, 2008). Assim, pode-se
dizer que a ureia é oriunda do metabolismo das proteínas, no
entanto, não foi observada alteração nesse parâmetro.
Os grupos 1 e 2 apresentaram níveis elevados de creati-
nina, demonstrando que CR13% associada ou não à MALTO,
por 28 dias, altera a função renal quando comparada à con-
centração de 2% (Figura 3). A sobrecarga de 7 dias com creati-
na 13% nos grupos 5 e 6, não foi capaz de promover uma piora
da função renal, revelando que elevadas quantidades de crea-
tina por longos períodos parece promover algum dano.

Figura 3 – Níveis plasmáticos de creatinina após ingestão da


ração modificada acrescida da creatina associada ou não à
maltodextrina ou ração padrão, por 28 dias

CN: controle negativo, G1: creatina 13%, G2: creatina 13% + maltodextrina
12%, G3: creatina 2%, G4: creatina 2% + maltodextrina 12%, G5: creatina
13% (7 dias) + creatina 2% (28 dias), G6: creatina 13% (7 dias) + creatina
2% + maltodextrina 12% (28 dias), a: p<0,05 em relação ao grupo CN, b:
p<0,05 em relação ao G1, c: p< 0,05 em relação do G2. Os resultados estão
expressos como média ± E.P.M. (ANOVA-Turkey).
Fonte: Autoria própria.

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O estudo realizado por Ferreira et al. (2005) com ra-


tos em uso de creatina submetidos ou não à atividade físi-
ca, verificou que a função renal apresentou deterioração na
filtração glomerular e no fluxo plasmático renal, avaliados
por meio dos clearances de inulina e paraminohipurato,
respectivamente, nos animais sedentários, enquanto que os
praticantes de atividade física não demonstraram alteração
desse parâmetro. Segundo os autores, o exercício conco-
mitante à suplementação parece ter minimizado os efeitos
deletérios da creatina. Portanto, sugere-se que na ausência
de atividade física, a creatina pode promover algum tipo de
dano renal.
É importante destacar, ainda, que os animais dos
grupos 1 e 5, alimentados com creatina 13% sem a presen-
ça de MALTO apresentaram fezes pastosas, semelhantes à
diarreia, quando comparados ao grupo controle negativo.
A literatura demonstra como sendo possível que a ingestão
concomitante de outras substâncias, como o açúcar, com a
creatina possa contribuir para alterações intestinais. A mal-
todextrina é um polímero de glicose de elevado índice glicê-
mico, sendo consumida frequentemente junto com a suple-
mentação de creatina e quantidades excessivas dela podem
afetar a capacidade absortiva dos intestinos (GUALANO et
al., 2008). Entretanto, os resultados do presente estudo não
estão de acordo com a literatura, pois, parece que a creatina,
em elevadas concentrações, sem a associação com a MALTO
altera o funcionamento do trato gastrointestinal.
Em relação ao peso dos órgãos retirados após 28 dias
de tratamento com ração padrão ou ração modificada, ob-
servou-se que nenhum dos grupos estudados apresentou
aumento ou redução no peso dos órgãos fígado e rins, de
forma significativa, quando comparado ao CN. Dessa forma,
pode-se dizer que a ingestão de CR associada ou não à MAL-

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TO não promove alterações macroscópicas e de peso nos ór-


gãos citados nos períodos e concentrações estudados.

CONCLUSÃO

De acordo com as condições adotadas neste estudo,


conclui-se que a suplementação de creatinina associada ou
não à maltodextrina, em camundongos sedentários, promo-
veu aumento dos níveis plasmáticos de triglicerídeos, dimi-
nuição significativa nos valores de ALT e aumento nos níveis
de creatinina.
É importante salientar que os suplementos são utili-
zados de forma abusiva por algumas pessoas. Os achados
laboratoriais pré-clínicos presentes nesse artigo, ajudam a
elucidar questões sobre os efeitos colaterais decorrentes do
uso de creatina, ressaltando a necessidade de um correto
acompanhamento realizado por profissionais.
Assim, a creatina associada ou não à maltodextrina
deve ser utilizada com cautela e acompanhamento profis-
sional, visto que pode proporcionar alterações metabólicas
importantes. Portanto, mais estudos devem ser realizados
com esse suplemento alimentar para avaliar os demais ris-
cos que podem estar associados ao seu uso.

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ESTUDO DO PERFIL BIOQUÍMICO DE CAMUNDONGOS SOB ALIMENTAÇÃO SUPLEMENTADA DE CREATINA ASSOCIADA OU NÃO À MALTODEXTRINA
652 WYARA MARIA CARLOS SOUZA PONTES • LIGIA MARIA CARVALHO SOUSA CORDEIRO

Modelagem matemática de módulo


fotovoltaico
Wyara Maria Carlos Souza Pontes1
Ligia Maria Carvalho Sousa Cordeiro2

RESUMO
A eficiência de um gerador fotovoltaico é bastante influenciada pelas
condições ambientais de temperatura e radiação, e pelas características
dos materiais que compõem os módulos fotovoltaicos. O comportamento
dos módulos mediante estas influências pode ser analisado através de
modelos matemáticos disponíveis na literatura. O presente trabalho
propõe estudar dois modelos matemáticos de módulo fotovoltaico: o de
uma resistência série e o de uma resistência série e paralelo. O objetivo
do estudo é analisar qual modelo melhor descreve o comportamento
elétrico do módulo fotovoltaico de acordo com as especificações e
dados experimentais disponibilizados pelo fabricante. Para o estudo foi
selecionado o módulo MaxPower CS6U da marca Canadian Solar, o qual
está sendo utilizado em uma usina de minigeração instalada no Campus
das Auroras da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira.
Palavras-chave: Energia solar Fotovoltaica, Módulos fotovoltaicos. Parame­
trização. Modelagem.

MATHEMATICAL MODELING OF PHOTOVOLTAIC MODULE

ABSTRACT
The performance of a photovoltaic generator is strongly influenced by
the environmental conditions such as temperature and radiation, and by
the material characteristics that make up the photovoltaic modules. The
behavior of the modules considering these influences can be analyzed
through mathematical models available in the literature. The present
work proposes to study two mathematical models of photovoltaic module:
a series resistance model and a series and parallel resistance model.
1 Mestrando em Engenharia elétrica – Departamento de Engenharia Elétri-
ca, Universidade Federal do Ceará.
2 Lígia Maria Carvalho Sousa Cordeiro – Professora Adjunta no Departamen-

to de Engenharia de Energias, Universidade da Integração Internacional da


Lusofonia Afro-Brasileira.

MODELAGEM MATEMÁTICA DE MÓDULO FOTOVOLTAICO


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The objective of the study is to analyze which model best describes


the electrical behavior of the photovoltaic module according to the
specifications and experimental data provided by the manufacturer. For
the study was selected the MaxPower CS6U module of the CanadianSolar
brand, which is being used in a minigeration plant installed at the Auroras
Campus of the University of International Integration of Afro-Brazilian
Lusophony.
Key words: Photovoltaic solar energy, Photovoltaic modules. Parame­
terization. Modeling.

INTRODUÇÃO

A preocupação com a preservação do meio ambiente


e a busca pela diversificação da matriz elétrica, aliada ao
crescimento da demanda por energia, têm impulsionado a
geração de energia elétrica por meio de fontes renováveis.
A utilização do recurso solar para geração de energia
elétrica no Brasil representa uma excelente alternativa para
complementar a geração por fontes já consolidadas como as
hidrelétricas, uma vez que nos períodos de seca, onde a dis-
ponibilidade de recursos hídricos sofre redução, os níveis de
irradiação solar são mais elevados, favorecendo a produção
por fonte solar (INPE, 2017).
Para impulsionar o investimento em geração solar, o
governo brasileiro tem recorrido à incentivos como a isen-
ção de IPI (Imposto sobre produto industrializado) sobre
a energia, Chamadas Públicas da ANEEL, isenção de ICMS
para as operações com equipamentos relacionados ao apro-
veitamento das energias solar e eólica, isenção de ICMS, PIS
e Cofins na geração distribuída, dentre outros incentivos
(MME, 2017).
As resoluções normativas 482/2012 e 687/2015 foram
criadas com o intuito de determinar as condições gerais
para a geração distribuída no Brasil através de redes de mi-
crogeração (potência instalada menor ou igual a 75kWp) e

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de minigeração (potência instalada entre 75kWp e 5MWp).


Além disso, tais normativas criaram o Sistema de Compen-
sação de Energia, o qual possibilita que sistemas de geração
de energia a partir de fontes renováveis, com até 5MW de
potência  instalados, se conectem à rede elétrica atendendo
o consumo local e injetando o excedente na rede (ANEEL,
2015).
Os incentivos resultaram em uma marca histórica
atingida em 2019, em que o Brasil ultrapassa a marca de 1
GW de potência instalada em micro e minigeração distri-
buída, dos quais 870 MW provém de micro e mini usinas de
energia solar fotovoltaica (ANEEL, 2019).
O fenômeno responsável pela conversão solar fotovol-
taica é chamado efeito fotovoltaico. Este efeito ocorre de-
vido a excitação dos elétrons de materiais semicondutores
quando estes absorvem luz solar, resultando em uma dife-
rença de potencial na estrutura desses materiais. As célu-
las fotovoltaicas, dispositivo no qual ocorre o processo de
conversão, podem ser arranjadas em estruturas conhecidas
como módulos fotovoltaicos e painéis fotovoltaicos (CEPEL-
-CRESESB, 2014).
A eficiência das células fotovoltaicas ainda é relativa-
mente baixa. É possível ainda observar que o rendimento
destes dispositivos sofre influência de fatores climáticos,
tais como radiação incidente e temperatura, os quais podem
ser avaliados através da curva I-V do módulo, como mostra-
do nas Figuras 1 a) e b), respectivamente. Além dos fatores
ambientais, devem ser consideradas as características dos
materiais que compõem os módulos fotovoltaicos (BESSO,
2017).

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Figura 1 – Efeito da radiação e temperatura

Fonte: Folha de dados CS6U da Canadian Solar.

Na literatura, modelos matemáticos que representam


o comportamento do módulo são encontrados em termos da
corrente e tensão gerada a partir de variáveis relacionadas
aos fatores climáticos e estruturais. Nesse contexto, o pre-
sente trabalho tem como objetivo analisar dois modelos ma-
temáticos equivalentes de forma a avaliar qual deles melhor
representa o módulo fotovoltaico MaxPower CS6U da marca
CanadianSolar. A motivação pela escolha desse módulo espe-
cífico está no fato de que o mesmo é utilizado na usina de mi-
nigeração instalada no Campus das Auroras da Universidade
da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
Os modelos matemáticos a serem avaliados são:

o modelo de um diodo e quatro parâmetros: o qual
considera perdas devido à resistência interna do
próprio material semicondutor e devido à resis-
tência de contato entre este material e os contatos
metálicos, representadas por uma resistência em
série (ALVES, 2018; ROGANI, 2013);

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o modelo de um diodo e cinco parâmetros: o qual


considera, além de uma resistência série, uma
resistência em paralelo que representa as perdas
originadas por impurezas e defeitos na estrutura,
produzindo um caminho interno para uma cor-
rente de fuga e provocando a redução da corrente
gerada pelo dispositivo (LOPES, 2013; HANSEN,
2015).

MATERIAIS

Para implementar os modelos foi utilizado o software


Matlab versão R2016 e a folha de dados do módulo CS6U da
Canadian Solar.

METODOLOGIA

O módulo MAXPOWER (CS6U) do fabricante Cana-


dian Solar, é composto por 72 células de silício policristalino
conectadas em série e apresenta uma eficiência de 17,23%.
As especificações do módulo são descritas na Tabela 1.

Tabela 1 - Características STC e NMOT do módulo CS6U-


Canadian Solar
Parâmetro Variável Grandeza Grandeza
STC NMOT
Potência máxima Pmáx (W) 330 243
Tensão em MP Vmp(V) 37,20 34,20
Corrente em MP Imp(A) 8.88 7,10
Tensão de circuito aberto Voc(V) 45,60 42,50
Corrente de curto circuito Isc(A) 9,45 7,63
Coeficiente de temperatura ki (A/ºC) 0,0005 0,0005
de Isc
Coeficiente de temperatura kv (V/ºC) -0,0031 -0,0031
de Voc
Fonte: Datasheet do fabricante.

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Para verificar qual dos métodos analisados representa


melhor as perdas nos módulos, foi necessário obter os da-
dos experimentais de tensão e corrente do equipamento. No
datasheet do módulo MaxPower CS6U, estas informações
foram dadas através das curvas I-V gráficas. Desta forma, fo-
ram utilizadas técnicas de processamento de imagens para
extrair os dados de corrente e tensão da imagem digitalizada
fornecida pelo fabricante.

Modelo de um diodo e quatro elementos (resistência Rs)

O modelo de um diodo e uma resistência (Figura 2) in-


clui uma resistência em série Rs. Esse parâmetro Rs se refere
à resistência interna do próprio material semicondutor e à
resistência devido ao contato entre este material e os conta-
tos metálicos (ALVES, 2018; ROGANI, 2013).

Figura 2 – Circuito equivalente do modelo de um diodo e Rs

Fonte: Autores.

A corrente de saída é determinada pela equação a


seguir:

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(Equação 1)

Onde:

(Equação 2)

(Equação 3)

Equação 4)

Onde I0 é a corrente de saturação do diodo em A, V


é tensão nos terminais da célula em V, n é o fator de ide-
alidade do diodo (ideal n=1, real n>1), Gref é 1000 (W/m2),
Tref é a temperatura ambiente, K0 é o coeficiente de tempe-
ratura da corrente de curto circuito, Vt é denominado de
potencial térmico e é dado por kT/q, onde: k é a constante
de Boltzmann 1,3806503 x 10-23), q é a carga elementar do
elétron (1,60217646 x 10-19), T é a temperatura da junção P-N
em Kelvin.

Modelo de um diodo e cinco elementos (resistência em


série e paralelo)

O modelo de um diodo e duas resistências considera


as perdas originadas por impurezas e defeitos na estrutura,
produzindo um caminho interno para uma corrente de fuga
e provocando a redução da corrente gerada pelo dispositi-
vo, representadas por uma resistência em paralelo (LOPES,
2013; HANSEN, 2015). O modelo da célula fotovoltaica consi-
derando as duas resistências é mostrado na Figura 3.

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Figura 3 – Circuito equivalente do modelo de um diodo e duas


resistências

Fonte: Autores.

Aplicando a Lei de Kirchoff dos nós, tem-se:

(Equação 5)
Onde:
(Equação 6)

(Equação 7)

(Equação 8)

Onde Id é a corrente que flui pelo diodo e Ish é a corren-


te que flui pela resistência

Implementação no Matlab

Os modelos elétricos de um diodo e uma resistência


série e de um diodo e uma resistência série e paralelo de-
vem ser implementados baseando-se nas equações mostra-
das nas seções 3.1. e 3.2. É possível observar que as equações
características dos modelos são transcendentais, ou seja, da

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forma: I = f(I,V), sendo necessário portanto recorrer à méto-


dos numéricos para sua solução. Desta forma, para ajustar a
curva a partir dos parâmetros considerados e extraídos, foi
utilizado o método de Newton-Raphson, cuja implementa-
ção é baseada na equação abaixo.

(Equação 9)

Onde f ’ (In) é a derivada da função f (In), In + 1 é o valor


de corrente In a ser encontrado, é o valor atual da corrente
e f (In) é a equação do modelo. Para o modelo de um diodo e
uma resistência série e para o modelo de um diodo e uma
resistência série e paralelo, a função f (In) corresponde às
equações 10 e 11, respectivamente:

(Equação 10)

(Equação 11)

Inicialmente estima-se que Isc seja a raiz. O valor en-


contrado será o valor inicial da próxima iteração e assim su-
cessivamente, até que a tangente que corta o eixo X esteja
bem próximo de I calculado, considerando um erro escolhi-
do arbitrariamente.
O programa calcula a respectiva corrente I de saída
para modelo, considerando os mesmos cenários de tempe-
ratura e radiação que as curvas da folha de dados do módulo.
Quanto à influência que estes fatores têm sobre os parâme-
tros de resistência, foram consideradas desprezíveis as va-
riações da resistência série com a temperatura e radiação,
enquanto a resistência paralela sofre influência significativa
apenas da radiação solar. (HIBRAHIM et al., 2017)
Para o fator de idealidade do diodo foi considerado
o valor médio de 1,3 para módulos de silício policristalino

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(HASHIM et al., 2017; TSAI, 2008). Os valores de resistência


foram estimados utilizando as técnicas analisadas em (Pon-
tes, 2018).
As curvas I-V obtidas na caracterização foram anali-
sadas tanto qualitativamente (graficamente) quanto quan-
titativamente. A análise gráfica ou qualitativa é uma meto-
dologia de análise mais abrangente e menos precisa, porém
permite visualizar as diferenças de comportamento entre a
célula/módulo real e simulada. A análise quantitativa veri-
fica os desvios entre os valores experimentais e os obtidos
pelos modelos matemáticos para pontos da curva I-V através
da equações (4) e (5).

(Equação 4)

(Equação 5)

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Modelo de um diodo e uma resistência

As curvas obtidas pelo Modelo de um diodo e uma re-


sistência para diferentes temperaturas e radiações são mos-
tradas na Figura 4.

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Figura 4 – Comparação das curvas do módulo MAXPOWER


(CS6U) com as curvas do modelo de uma resistência para
temperatura e radiação distintas

        a)      b)
Fonte: Autores.

A Figura 5 mostra erro relativo entre a curva do mó-


dulo e do modelo de uma resistência para as condições STC.

Figura 5 – Gráfico do erro entre a curva do módulo e a curva do modelo


de uma resistência para as condições STC.

Fonte: Autores.

Para temperaturas distintas, conforme observado na Fi-


gura 4 a), ocorre discrepância na região de Voc. Na Figura 4 b)
nota-se uma boa correspondência da região de Isc com a curva
do fabricante, principalmente para as menores radiações.

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Modelo de um diodo e duas resistências

As curvas obtidas pelo Modelo de um diodo e duas re-


sistências para diferentes temperaturas e radiações, junta-
mente com as curvas disponibilizadas pelo fabricante são
mostradas na Figura 6.

Figura 6 – Comparação das curvas do módulo MAXPOWER


(CS6U) com as curvas do modelo de uma resistência para
temperatura e radiação distintas

Fonte: Autores.
        a)      b)

Figura 7 – Gráfico do erro entre a curva do módulo e a curva do


modelo de duas resistência para as condições STC

Fonte: Autores.

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664 WYARA MARIA CARLOS SOUZA PONTES • LIGIA MARIA CARVALHO SOUSA CORDEIRO

Percebe-se na Figura 6 que o modelo de duas resistên-


cias apresentou uma correspondência bastante satisfatória
com as curvas do fabricante, principalmente para condições
distintas de radiação.

Comparação entre os modelos

Para comparação entre os modelos foram calculados


os erros relativos no ponto de inflexão da curva I-V, mostra-
da na Figura 8 a) para diferentes temperaturas e b) para di-
ferentes radiações.

Figura 8 – Erros para diferentes temperaturas e radiação a 1000


W/m² e para diferentes radiações e temperatura a 25ºC

Fonte: Autores.

CONCLUSÃO

Os resultados mostraram que tanto no método de


uma resistência quanto no de duas resistências, o erro sofre
um aumento considerável quando a tensão tende a tensão
de circuito aberto, Voc. Isso ocorre devido ao baixo valor da
corrente que faz com que qualquer variação nessa região re-
sulte em erros mais elevados. Esse aumento chegou a cerca
de 15% no modelo de uma resistência e cerca de 5,5% para o
de duas resistências.

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Pela análise qualitativa, os gráficos das Figuras 4 e 6


mostraram que o modelo de duas resistências apresentou
melhor correspondência com as curvas do módulo que o
modelo de uma resistência. Essa análise foi complementada
pelos resultados obtidos na seção 4.3, onde foram mostra-
dos que os erros no ponto de inflexão da curva para o modelo
de uma resistência apresentaram maiores valores.
Desta forma, dentre os dois modelos estudados, o que
melhor representa o comportamento do módulo em estudo
é o modelo de duas resistências.

REFERÊNCIAS

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tricos DC de Centrais Fotovoltaicas. Dissertação de Mestrado.
Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Com-
putadores. Faculdade De Engenharia Da Universidade Do
Porto. Porto, fevereiro, 2018.
BESSO, R. Sistema solar fotovoltaico conectado à rede – estudo
de caso no Centro de Tecnologia da UFRJ. Monografia. Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, fevereiro, 2017.
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CS6U
HANSEN, W. C. Parameter Estimation for Single Diode Models
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nical Report. Califórnia, 2015.
HASHIM, E. T. KHAZAAL, Modelling and Output Power
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ternational Journal of Computer Applications (0975 – 8887,
v.158 – No 8, 2017.
IBRAHIM, H. ANANI, A. Variations of PV module parameters
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July 2017, Chania, Crete, Greece.
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LOPES, R. J. C. L. Efeito do sombreamento nos painéis fotovol-
taicos. Dissertação de mestrado. Instituto Superior de Enge-
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2016). Departamento de informações e estudos energéticos.
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Resolução Normativa 687/2015.
ROGANI, B.C. Modelagem de um sistema fotovoltaico conecta-
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TSAI, H. TU, C. SU, Y. Development of Generalized Photovoltaic
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PONTES, W. M. C. S. AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ESTIMA-
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