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Klaxon e Estética: O modernismo brasileiro em

revistas
“Principiar é trabalho leviano que qualquer ombro de piá carrega porém em seguida a gente percebe que não pode ficar nessa
promessa de menino-prodígio, que tem mesmo de ir além e sobretudo ir mais profundo e que-dê estudo, que-dê base, que-dê
treino e fôlego para isso?”. (Carta de Mário de Andrade de 8 de novembro de 1927, a Rosário Fusco).

André Augusto Abreu Villela


Graduado
Centro Universitário UNI-BH
andrevillela2000@hotmail.com

RESUMO: Este presente artigo tem como pretensão analisar a importância das revistas
modernistas lançadas no período de 1922 a 1928. Período esse conhecido como "modernismo
heroico", destacando principalmente as revistas Klaxon e Estética, e a atuação dos jovens
modernistas Sérgio Buarque de Holanda e Prudente de Moraes, neto, tanto na representação de
Klaxon, e na criação de Estética no Rio de Janeiro em 1924. Neste artigo destaca-se o legado
deixado por essas publicações, servindo anos mais tarde como inspiradores de movimentos como
a Tropicália e o Cinema Novo Brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: Modernismo, Klaxon, Estética, Sérgio Buarque de Holanda, Prudente de


Moraes, neto e Mário de Andrade.

Introdução

Segundo o pensamento de Sirinelli (1988), os intelectuais são produtores de bens


simbólicos, mediadores culturais e atores do político, relativamente engajados na vida da cidade
ou nos locais de produção e divulgação do conhecimento e de promoção dos debates. Segundo
ainda Jean-François Sirinelli (1988), são também criadores e mediadores culturais, empenhados
na elaboração de várias interpretações sobre a sua realidade social, ou seja, ao estudarmos os
intelectuais, estaremos estudando, de certa forma, uma história política produzida por eles. Os
grupos de sociabilidade derivam das experiências e das relações sociais vividas por esses
indivíduos intelectuais em locais específicos, lugares e redes de sociabilidade, através do tempo.
(SIRINELLI, 1988).

Relações estruturadas em rede que falam de lugares mais ou menos formais de


aprendizagem e de troca, de laços que se atam, de contatos e articulações
fundamentais... a noção de rede remete ao microssomo particular de um grupo,

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no qual se estabelece vínculos afetivos e se produz uma sensibilidade que se
constitui marca desse grupo. (SIRINELLI, 1988, p. 248).524

Segundo o autor, os lugares onde se fermenta esse ideário de sociabilidade e de redes são
muitas vezes cafés, bares, revistas, editoras, correspondências, livrarias entre outros. Nesse ponto,
Sirinelli (1988) dá uma atenção especial à revista, pois segundo ele, a revista é antes de tudo um
lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao mesmo tempo viveiro e espaço de
sociabilidade, e pode, entre outras abordagens, estudada nesta dupla dimensão. (SIRINELLI,
1988).

As “redes” secretam, na verdade, microclimas a sombra dos quais a atividade e


o comportamento dos intelectuais envolvidos frequentemente apresentam
traços específicos. E, assim entendida, a palavra sociabilidade reveste-se
portanto de uma dupla acepção, ao mesmo tempo “redes” que estruturam e
“microclima” que caracteriza um microssomo intelectual particular.
(SIRINELLI, 1988, p. 252-253).

Outro ponto que merece ser destacado para Sirinelli (1988), além das revistas, são as
correspondências trocadas entre determinados personagens. Por essas cartas, percebe-se a
formação de um núcleo, de um grupo coeso em uma mesma sintonia, em que até a linguagem se
torna um referencial entre os pares para definir o conceito de redes. Como cita Sirinelli : “A
linguagem comum homologou o termo “redes” para definir tais estruturas. Elas são mais difíceis
de perceber do que parece”. (SIRINELLI, 1988). Percebe-se, então, não só uma rede, mas várias
redes formadas, pois Sérgio Buarque também se mantinha atualizado através de correspondências
com o movimento modernista mineiro, de Recife, e se mantinha atualizado principalmente com o
que acontecia na Europa. Pois, para a elaboração de suas obras, vai dialogar mais com escritores
europeus do que propriamente com os brasileiros. Arcanjo (2013) nos mostra como essa relação
de troca de correspondências entre intelectuais vai ser importante na construção das identidades e
na legitimação das redes de sociabilidade:

As cartas expressam a presença de redes de comunicação entre indivíduos e


grupos, sendo a partir destas, necessário pensar a construção de redes de
sociabilidade por meio das quais os correspondentes constroem, implícita ou
explicitamente aproximações, distanciamentos, rupturas, pactos, tensões e
afetos. (ARCANJO, 2010, p. 72).525

524 SIRINELLI, François. Por uma História Política, in: RÉMONDE, Réne. Rio de Janeiro: Editora UFRJ / Editora
FGV, 1988.
525 ARCANJO, Loque. Os Sons de uma Nação Imaginada: As Identidades Musicais de Heitor Villa-Lobos. (Doutorado em

História). Universidade Federal de Minas Gerais, Programa de Pós Graduação em História, Belo Horizonte, 2013.
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Torna-se importante refletir sobre o pronunciamento de Malatian (2009) acerca da
importância da análise das cartas trocadas entre esses grupos de intelectuais, na formação das
redes de sociabilidade. Segundo a historiadora, são significativas:

As intricadas redes de relações sociais que reúnem seus autores. Isto é


importante particularmente para o caso dos intelectuais, pois envolve sua rede
profissional, onde ocorrem trocas de livros, opiniões, sentimentos diversos e
firmam-se estratégias de atuação entre os pares. (...) Pelas cartas trocadas,
percebe-se a organização de um grupo em torno de certos indivíduos que
desempenham papel central a partir de um projeto ou objetivo comum (...) O
grupo comporta amizades e ódios, disputas e alianças a que está sujeito. Tais
informações serão de grande utilidade também para a compreensão da
personalidade de um determinado autor, da construção da sua obra, da
recepção das suas ideias. (MALATIAN, 2009, p. 195).526

O Modernismo nas revistas Klaxon e Estética

Em 2012, celebrou-se 90 anos da Semana de Arte Moderna, mais do que isso, celebrou-se
também 90 anos do lançamento da primeira revista de cunho modernista, a Klaxon, revista
paulista voltada para as publicações da Semana de 22. Era uma revista de combate, cujo nome foi
inspirado na vanguarda futurista. Segundo explica Mário de Andrade, o fundador da revista,
Klaxon foi criada para organizar a “bagunça” que houve durante a semana, que aconteceu nos dias
13, 15 e 17 de fevereiro. Além da Klaxon, cabe destacar que muitas outras revistas foram criadas
durante o período que vai de 1922 a 1928, sendo esses anos muito produtivos em relação a
publicação de materiais voltados para o modernismo. Destaca-se que o eixo sudeste dominou o
mercado, tendo as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, os principais polos
construtores no Brasil em relação às publicações das revistas. (VELLOSO, 2006).527

Segundo Marques (2013), por meio das revistas, as ideias se propagam, superam fronteiras
e novos movimentos são deflagrados. Esse período que vai de 1922 a 1928, também é conhecido
como “modernismo heroico”, pois segundo consta, somente a revista Festa, tinha um mecenas,
que sustentava suas publicações. Enquanto as demais tiveram uma vida bem curta, pois não havia
dinheiro suficiente para a produção, o que havia, segundo Marques (2013), eram vaquinhas
literárias, apoios localizados, sendo assim, elas acabavam por falta de condições financeiras.
Como cita Marques.

526MALATIAN, Teresa. Cartas: Narrador, Registro e Arquivo. O Historiador e Suas Fontes. São Paulo: Contexto, 2009.
527VELLOSO, Monica Pimenta. As Modernas Sensibilidades Brasileiras: Uma Leitura das Revistas Literárias e de Humor na
Primeira República. França: Nuevo Mundo Mundo Nuevo, 2006. (Artigo Científico).
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Destinadas a um público bem mais restrito, essas publicações não precisavam
abusar de apelos visuais, que de qualquer modo seriam inviáveis, por conta da
falta de recursos e das enormes dificuldades de produção. (MARQUES, 2013,
p. 13).528

Porém em se tratando de revistas, o Brasil sempre teve uma tradição muito forte nesse
aspecto, temos a Kosmos (1904-1909), Fon-Fon! (1907-1958), A Careta (1908-1961), O Malho (1902-
1954), O Pirralho (1911-1919) e Paratodos (1919-1932), revistas essas que tiveram uma sobrevida
maior, em relação às revistas de cunho modernista. Essa batalha inicia-se em 1922, através da
figura proeminente e intelectual de Mário de Andrade, segundo constata os amigos, era ele a
consciência mais aguda daquele período, sendo ele leitor ávido de publicações europeias, como
L’Esprit Nouveau, Lumiére, La Nouvelle Revue Française e a alemã Der Sturm, além de outras. O
próprio Mário, em 1942, em uma conferência de nome “O movimento modernista” assim cita:

O que nos igualava, por cima dos nossos despautérios individualistas, era
justamente a organicidade de um espírito atualizado, que pesquisava já
irrestritamente radicado á sua entidade coletiva nacional. (VELLOSO, 2010).529

A Klaxon, lançada três meses após a Semana de Arte Moderna de 1922, mais precisamente
no dia 15 de maio, onde ela se torna consequência de todo aquele movimento inovador, que
aconteceu no Teatro de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro em São Paulo. Pode-se dizer,
que entre todas, era a mais inovadora, a mais combativa, e a mais radical. Por isso, nem todos
entenderam direito sua mensagem, como foi o caso do escritor Lima Barreto, que em carta,
critica a publicação da revista. Como relata em seu artigo publicado na carioca A Careta de Julho
de 1922, dirigi-se diretamente a Sérgio:

São Paulo tem a virtude de descobrir o mel do pão em ninho de coruja. De


quando em quando, ele nos manda umas novidades velhas de quarenta anos.
Agora por intermédio do meu simpático amigo Sérgio Buarque de Holanda,
quer nos impingir como descoberta dele, São Paulo, o tal de “futurismo” (...)
Recebi e agradeço, uma revista de São Paulo que se chama Klaxon. Em
começo, pensei que se tratasse de uma revista de propaganda de alguma marca
de automóveis americanos (...) O que há de azedume neste artiguete não
representa nenhuma hostilidade aos moços que fundaram a Klaxon; mas sim, a
manifestação da minha sincera antipatia contra o grotesco “futurismo”, que no

528 MARQUES, Ivan. Modernismo em Revista: Estética e Ideologia dos Periódicos dos anos 1920. Rio de Janeiro: Casa da
Palavra, 2013.
529 VELLOSO, Monica Pimenta. O Moderno em Revistas: Representações do Rio de Janeiro de 1890 a 1930. OLIVEIRA,

Claudia, VELLOSO, Monica Pimenta, LINS, Vera. (Org.). Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2010.
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fundo não é senão brutalidade, grosseria e escatologia, sobretudo esta.
(MONTEIRO, 2012, p. 178).530

Porém, cabe destacar que o artigo de Lima Barreto, foi imediatamente rebatido no
número de agosto de Klaxon, na seção “Luzes e Refrações” na qual os klaxistas ensaiavam respostas
a recepção conservadora.

Sr. Lima, como seu artigo “não representa Klaxon” amigavelmente tomamos a
liberdade de lhe dar um conselho: não deixe mais que os rapazes paulistas vão
buscar no Rio edições da Nouvelle Revue, que, apesar de numeradas e
valiosissimas pelo conteúdo, são jogadas como inúteis em baixo das bens
providas mesas das livrarias cariocas. Não deixe também que as obras de
Apollinaire, Cendrars, Epstein, que a livraria Leite Ribeiro de a uns tempos para
cá (dezembro, não é?) começou a receber, sejam adquiridas por dinheiros
paulistas. Compre estes livros, Sr. Lima, compre estes livros! A propósito dizia
o manifesto: “Klaxon não é futurista. Klaxon é klaxista. (MONTEIRO, 2012,
p. 178).531
Em um artigo publicado em 1922, chamado Os Novos de São Paulo, 4 meses depois da
Semana de Arte Moderna, Sérgio irá tecer elogios a Mário de Andrade e a revista Klaxon, que fazia
um mês de seu lançamento.

A Semana de Arte Moderna, aplaudida por todos os homens descentes,


consagrou-os definitivamente. Agora aparece a nova revista Klaxon, o órgão do
movimento novo de São Paulo, destinado a um grande sucesso. Mas os
modernos não se limitam só a palavra. Em poucos dias saíra dos prelos a
Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade, um dos talentos mais sérios da
nova geração paulista. (...) Em suma, os novos de São Paulo tem tanta
confiança no próprio valor como a geração anterior na infalibilidade das
regrinhas de Banville. (O MUNDO LITERÁRIO, 5 de Junho de 1922).532

Entre os que faziam parte da revista, podemos citar Mário e Oswald de Andrade,
Guilherme de Almeida, Luiz Aranha, Sérgio Milliet, Antônio Carlos Couto de Barros, Tácito de
Almeida e Rubens Borba de Moraes. Os encontros eram sempre realizados a tarde no escritório
de Tácito de Almeida, localizado na Rua Direita, e depois seguiam para a Confeitaria Vienense,
na Praça da República. Segundo Marques (2013), os klaxistas não eram somente aqueles que
compunham a redação, mas também aqueles que eram seus representantes fora de São Paulo.
Dentre eles podemos destacar Sérgio Buarque de Holanda, no Rio de Janeiro, Joaquim Inojosa,

530 MONTEIRO, Pedro Meira. Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda: Correspondência. São Paulo: Companhia das
Letras, Edusp, 2012.
531 ______. Mário de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda: Correspondência. São Paulo: Companhia das Letras, Edusp,

2012.
532 HOLANDA, Sérgio Buarque. Os Novos de São Paulo. O Mundo Literário, Rio de Janeiro, 5 de junho de 1922.

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em Recife, L. Charles Beaudoin, na França, Roger Avermaete, na Bélgica, e Antonio Ferro em
Portugal. (MARQUES, 2013).533

Como cita Velloso (2010), na revista Estética, predomina o foco urbano. São impressões e
imagens sensoriais marcadas pelas novas ritmias da cultura da modernidade. É no Rio de Janeiro,
epicentro dessa nova temporalidade, que Prudente de Moraes, neto experimenta, poeticamente, o
deslocamento. São camadas de tempo que operam simultaneamente. (VELLOSO, 2010).534

Esses dois jovens irão ser de suma importância para o modernismo carioca, pois através
deles, estabeleceu-se uma maior interlocução e diálogo com modernistas paulistas, mineiros e de
outros estados. Assim disse Prudente de Moraes, neto no período de lançamento da revista
Estética: "Tínhamos a intenção de marcar o inicio de uma fase construtiva e a parte material
acompanhava essa intenção (...) Pretendíamos a agressividade interior". (LEONEL, 1984, p.
181).535

Se Klaxon foi um desdobramento da Semana de Arte Moderna, Estética


desejou ser - embora a isso não se tenha limitado – a continuação de Klaxon,
isto é, o órgão que o modernismo brasileiro deixara de ter desde o
desaparecimento da revista de São Paulo, havia quase dois anos. A mesma
turma de paulistas e cariocas que tinha feito a Semana reunia-se agora pela
terceira vez, o que afasta completamente a ideia de Estética fosse, num campo
imaginário de disputas, a arregimentação de um grupo modernista do Rio de
Janeiro. (MARQUES, 2013, p. 40).536

Já Estética, além de dar um continuísmo a ideia original da Klaxon, foi inspirada também na
revista inglesa The Criterion, de T.S. Eliot, lançada em 1922. Como citou Rubens Borba de Moraes,
depois da “revista de combate que lutava, mordia, arranhava, descabelava”. Estética oferecia um
“modernismo triunfante, afirmativo, bem instalado na vida”. (LEONEL, 1984, p. 140). Além de
Rubens, o próprio Sérgio declarou acerca da revista:

Klaxon tinha sido uma revista que rompia com uma porção de coisas.
Precisava-se fazer uma revista que passasse a construir alguma coisa, a partir
daquela ruptura, com a mesma gente, e gente que foi aparecendo depois,

533 MARQUES, Ivan. Modernismo em Revista: Estética e Ideologia dos Periódicos dos anos 1920. Rio de Janeiro: Casa da
Palavra, 2013.
534 VELLOSO, Monica Pimenta. O Moderno em Revistas: Representações do Rio de Janeiro de 1890 a 1930. OLIVEIRA,

Claudia, VELLOSO, Monica Pimenta, LINS, Vera. (Org.). Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2010.
535 LEONEL, Maria Célia de Moraes. Estética e o Modernismo. São Paulo / Brasília: Hucitec/INL, 1984.
536 MARQUES, Ivan. Modernismo em Revista: Estética e Ideologia dos Periódicos dos anos 1920. Rio de Janeiro: Casa da

Palavra, 2013.
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porque muitos não estavam na Semana de Arte Moderna. (LEONEL, 1984,
p.173).537

Porém em 1926, Sérgio e Prudente vão para a Revista do Brasil, onde o primeiro se torna
seu colaborador de ponta e o segundo o seu secretário, tendo Rodrigo de Mello Franco Andrade
na direção, sendo financiada pelo mecenas Paulo Prado. Como bem destaca Velloso (2006),
citando a importância da articulação feita entre as elites intelectuais e empresariais na estruturação
dessas redes de sociabilidade, e como foram importantes para construir um sentimento de
brasilidade.

Essa articulação entre as elites empresariais e intelectuais, revela o papel


estratégico exercido pelas revistas como lugar de estruturação das redes de
sociabilidade, conformando um microcosmo especifico de organização e de
atuação em relação ao livro. (...) As revistas apresentaram-se como órgão de
ponta na construção, veiculação e difusão do ideário moderno. São elas que
ajudam a forjar a moderna sensibilidade brasileira, abrindo-se para diferentes
leituras e sentidos. (VELLOSO, 2006).538

Significativo notar, é que nas páginas de Estética, seria o lugar do conflito entre os
realizadores das duas revistas e também o grupo liderado por Graça Aranha, Ronald de Carvalho
e Renato Almeida, chamando a atenção, que esse foi o primeiro fato de um rompimento e cisão
dentro do próprio modernismo. Já o outro grupo era formado por Sérgio, Prudente de Moraes,
neto, Alcântara Machado, Manuel Bandeira e Oswald de Andrade, sendo que esses se
identificaram com as perspectivas lançadas por Sérgio. (VELLOSO, 2006). Maria Eugenia
Boaventura, no prefácio de sua obra, 22 por 22, narra esse acontecimento entre os modernistas e
Graça Aranha, quando este atacou a linguagem pau-brasil e recebeu, duras criticas através da
crônica intitulada Modernismo Atrasado.

Graça Aranha é dos mais perigosos fenômenos de cultura que uma nação
analfabeta pode desejar (...) O seu temperamento agitado levou-o aos graciosos
excessos da Semana de Arte Moderna. Hoje, quando da revolução encanecida,
brotam os caminhos claros de cada povo, ei-lo, importando para a academia
uma série de abstrações inúteis e querendo impor, como modernistas, alguns
dos espíritos mais tardos do país. (BOAVENTURA, 2000, p. 19).539

537 LEONEL, Maria Célia de Moraes. Estética e o Modernismo. São Paulo / Brasília: Hucitec/INL, 1984.
538 VELLOSO, Monica Pimenta. As Modernas Sensibilidades Brasileiras: Uma Leitura das Revistas Literárias e de Humor na
Primeira República. França: Nuevo Mundo Mundo Nuevo, 2006. (Artigo Científico)
539 BOAVENTURA, Maria Eugenia. 22 por 22: A Semana de Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos. São

Paulo: Edusp, 2000.


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Em 1926, Sérgio irá publicar, talvez o mais radical artigo já publicado por ele, chamado
“O Lado Oposto e Outros Lados”, onde ele irá fazer uma critica direta a obra de Ronald de Carvalho,
intitulada Toda América, onde Sérgio irá romper dentro do próprio modernismo, criticando
aqueles que por ele era chamado de "modernista acadêmico", ou academizante. Como bem citou
Prudente de Moraes, neto: “a critica do modernismo ou se fazia dentro do modernismo ou não
se fazia”. (LOENOEL, 1984, p. 185). Toda essa situação acabou por desenvolver um mal estar
entre os modernistas. Abaixo Mário de Andrade, faz duras criticas a Graça Aranha, e onde
Aranha, acusa Sérgio de estar conluiados com os paulistas.

Na “Carta aberta a Alberto de Oliveira”, publicada no terceiro número da


revista, Mário de Andrade insiste que o Modernismo não foi trazido da Europa
por Graça Aranha, pois já havia no Brasil um grupo vanguardista formado por
Anita Malfatti, Victor Brecheret e Oswald de Andrade, entre outros.(...) o que
provocou a indignação de Graça Aranha e a desconfiança de que os rapazes de
Estética estivessem conluiados com os paulistas. (MARQUES, 2013, p. 44,
45).540

Porém nem todos estavam de comum acordo com as criticas feitas por Sérgio aos
modernistas "academizantes". Como foi o caso de Esmeraldino Olympio, como cita Velloso, foi
possivelmente um pseudônimo usado por Freyre para assinar uma crônica na revista na qual fazia
uma critica ferrenha a Sérgio, principalmente pelo artigo O Lado Oposto e Outro lado. Nesse
artigo, Freyre se coloca ao lado de Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida
entre outros, aderindo a uma retórica em que ele se identificava com os modernistas
academizantes, que foram extremamente criticados por Sérgio Buarque de Holanda e Prudente
de Moraes, neto. Abaixo um trecho do artigo, publicado na Revista do Brasil no ano de 1926, O
Lado Oposto e Outros Lados.

É indispensável para esse efeito romper com todas as diplomacias nocivas,


mandar pro diabo qualquer forma de hipocrisia, suprimir as políticas literárias e
conquistar uma profunda sinceridade pra com os outros e pra consigo mesmo.
A convicção dessa urgência foi pra mim a melhor conquista até hoje do
movimento que chamam de “modernismo”. Foi ela que nos permitiu a intuição
de que carecemos, sob pena de morte, de procurar uma arte de expressão
nacional. (REVISTA DO BRASIL, p.9-10, 15 de outubro de 1926).541

540 MARQUES, Ivan. Modernismo em Revista: Estética e Ideologia dos Periódicos dos anos 1920. Rio de Janeiro: Casa da
Palavra, 2013.
541 HOLANDA, Sérgio Buarque. O Lado Oposto e Outros Lados. Revista do Brasil, São Paulo, p.9-10, 15 de outubro

de 1926.
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Leonel (1984), em seu livro cita como Sérgio Buarque e Prudente de Moraes, neto,
costumavam assinar as criticas, quando já sabiam de antemão as polêmicas que causaria os artigos
nas publicações de Estética.

Em entrevista, já na década de 1980, ambos destacaram o fato, contando que


costumavam assinar juntos as criticas, principalmente quando previam o
desencadeamento de polêmicas. E quem costumava assinar em primeiro lugar,
era aquele que propunha a chave argumentativa. (LEONEL, 1984, p. 172).542

Já Ângela de Castro Gomes, em seu artigo Essa Gente do Rio, destaca o fato de São
Paulo e Rio serem tão parecidos. "Rio e São Paulo eram absolutamente iguais: eles se odiavam".
(GOMES, 1993, p. 65). Mostrando assim a rivalidade entre as duas cidades naquele contexto.
Segundo Gomes (1993), o Rio de Janeiro convivia, desde os fins do século XIX, com duas
presenças fundamentais em termos de referências para o mundo intelectual, primeiro: a Academia
Brasileira de Letras, segundo: o grupo de boêmios da Rua do Ouvidor. Enquanto o Rio tinha
uma identidade mais voltada para a presença do Estado, do comércio, da boemia, São Paulo era
uma cidade marcada com forte tendência pela produção e pelo ehtos do mercado. (GOMES,
1993).

A tradição mundana da cidade, que data do século XIX e tem na Rua do


Ouvidor e depois na Avenida Central suas artérias principais. (...) Este mundo
boêmio que possuía seu ethos e formas de expressão intelectual é o mesmo que
abastece a Academia Brasileira de Letras e que igualmente procura formar
outras associações com seu monopólio de consagração. (GOMES, 1993, p.
66).543

Assim declara Menotti Del Picchia, em 1922, oito meses após a Semana, a respeito dos
"bandeirantes" paulistas, que foram ao Rio de Janeiro fincar o marco da "vitória" paulista sobre o
movimento carioca. Entre esses "bandeirantes" estão Mário de Andrade, Oswald de Andrade
entre outros.

Anteontem partiu para o Rio de Janeiro a primeira "bandeira futurista". Mário


Moraes de Andrade - o papa do novo Credo - Oswald de Andrade, o bispo, e
Armando Pamplona, o apostolo, foram arrostar o perigo de todas as lanças (...)
A façanha é ousada! (...) a "bandeira" futurista terá que afrontar os megatérios,
os bizontes, as renas da literatura pátria, toda a fauna antediluviana, que ainda
vive, por um milagroso anacronismo. (HÉLIOS, Correio Paulistano, 1922).544

542 LEONEL, Maria Célia de Moraes. Estética e o Modernismo. São Paulo / Brasília: Hucitec/INL, 1984.
543 GOMES, Angela de Castro. Essa Gente do Rio...Os intelectuais cariocas e o modernismo. Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, vol. 6, n.11, 1993, p. 62-77.
544 HÉLIOS, "A bandeira futurista", Correio Paulistano, 22/10/1922.

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Como cita GOMES (2003), acerca do mito da paulistanidade, na imagem da "bandeira"
paulista, construída por Del Picchia. Segundo ele "O Rio era espaço da Academia e dos
parnasianos e simbolistas, contra os quais essa bandeira investida duramente". Ainda segundo
Hélios, "Os cariocas não comportavam a radicalidade paulista". (GOMES, 1993, p. 68).
Significativo notar, como o movimento modernista se ligava sobremodo a figura de Sérgio
Buarque, sendo esse uma espécie de "elo de ligação" entre o movimento carioca e o paulista, já
que em setembro de 1924, O Rio de Janeiro, através da Revista Estética, torna-se o centro
simbólico do legado modernista. (NICODEMO, 2012).

Desde que chegou ao Rio de Janeiro, em 1921, aos dezenove anos, Sérgio
Buarque de Holanda operou como elo entre o circulo de intelectuais
modernistas do Rio de Janeiro e de São Paulo. É certo que ajudou muitos na
aproximação entre Mário de Andrade e intelectuais como Graça Aranha,
Ribeiro Couto e Ronald de Carvalho. Mesmo as primeiras correspondências
trocadas entre Mário de Andrade e Manuel Bandeira evidenciavam uma
aproximação organizada pela presença de Sérgio. (NICODEMO, 2012, p. 110-
111).545

Mário ainda lamenta o fechamento da revista Estética por falta de recursos financeiros,
dessa maneira, acaba-se por criar um tom mais intimista e de proximidade entre Mário de
Andrade e os jovens modernistas, dizendo terem eles cumprido muito bem sua missão embora
como o próprio Mário diz, a falta de “arame” fosse um problema insolúvel, difícil de resolver.
(VELLOSO, 2010). Cabe aqui destacar a primeira carta, trocada ainda em 1922, mais
precisamente no dia 08 de maio, onde Mário de Andrade diz a Sérgio: "É preciso que não te
esqueças de que fazes parte dela. Trabalha pela nossa Ideia, que é uma causa universal e bela,
muito alta". (MONTEIRO, 2012, p. 19). Acerca dessa correspondência, Sérgio 30 anos depois,
publica um artigo no Jornal Diário Carioca, intitulado Depois da Semana, onde revela mais
detalhes sobre o trecho da carta citada acima, quando se correspondia com Mário de Andrade.

De Mário de Andrade guardo uma carta escrita em 8 de maio de 22, onde a


recomendação de cooperar ativamente no trabalho comum – “trabalha pela
nossa Ideia, que é uma causa universal e bela, muito alta” – não falta sequer a
maiúscula de “Ideia” a sugerir uma convicção meio solene e ainda mal polida.
Isso justamente as vésperas de sair o primeiro número do Klaxon, dinamite do
modernismo de guerra, e ainda em plena fase “desvairista”. (JORNAL
DIÁRIO CARIOCA, 24 de fevereiro de 1952).546

545 NICODEMO, Thiago Lima. Sérgio Buarque de Holanda e a dinâmica das instituições culturais no Brasil 1930-1960.
Seminário "Atualidade de Sérgio Buarque de Holanda". Debate promovido pelo IEB/USP. São Paulo, 2012.
546 HOLANDA, Sérgio Buarque. Depois da Semana. Jornal Diário Carioca, Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 1952.

Temporalidades – Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG. v. 7 (Suplemento,


2015) – Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2016. ISSN: 1984-6150 -
www.fafich.ufmg.br/temporalidades
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Conclusão

Dessa forma, pode-se concluir como essas produções, mesmo tendo vida curta, foram
importantes na construção de uma nova identidade brasileira, e como elas constituíram um novo
paradigma em se tratando de modernismo. Como cita Velloso (2006), essas revistas foram
importantes para a construção de um novo sentimento de brasilidade. Revistas essas, que
circularam em meados dos anos 20, e acabaram por ocupar um papel muito importante no
restrito mundo intelectual de seu tempo. Como bem cita LUCA (2010), no prefácio da obra O
Modernismo em Revistas, a importância dessas revistas.

Debatia-se em suas páginas, a articulação entre modernismo e brasilidade,


alargada para além da cultura livresca. E isso, sobretudo, graças a Prudente e
Sérgio, intelectuais que mantinham ligações com a cultura boêmia carioca e
mostravam-se sensíveis as manifestações populares. (LUCA, 2010, p. 9)547

LUCA, Tânia Regina. O Moderno em Revistas: Representações do Rio de Janeiro de 1890 a 1930. In: OLIVEIRA, Claudia,
547

VELLOSO, Monica Pimenta, LINS, Vera. (Org.). Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2010.

Temporalidades – Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG. v. 7 (Suplemento,


2015) – Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2016. ISSN: 1984-6150 -
www.fafich.ufmg.br/temporalidades
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