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III Encontro Nacional do Vivarium e

III Encontro Internacional de História


Antiga e Medieval da Amazônia
Conflitos e trocas culturais
na Antiguidade e Medievo
CADERNO DE RESUMOS

Vivarium
Laboratório de Estudos da Antiguidade e Medievo
III Encontro Nacional do Vivarium e
III Encontro Internacional de História Antiga e Medieval do Amazonas

Universidade Federal de Mato Grosso - Departamento de História


18, 19 e 20 de junho de 2018

Conflitos e trocas culturais na


Antiguidade e Medievo

Caderno de Resumos

Carlile Lanzieri Júnior


Flávio Ferreira Paes Filho
Marcus Silva da Cruz
Maria Cristina Theobaldo
(coordenadores)

Cuiabá
2018

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APRESENTAÇÃO

Nas últimas décadas, houve uma significativa expansão dos estudos antigos e medievais no
Brasil. Ainda que o cenário indique o crescimento exponencial da área, as recentes polêmicas surgidas
em torno das primeiras versões da BNCC constituem um alerta acerca dos desafios que envolvem esse
campo de estudos. Nesse sentido, é possível traçar duas linhas interpretativas complementares: uma
que compreende os inegáveis avanços da área nos últimos anos, e outra que lembra as importantes
resistências ainda enfrentadas, as quais, por vezes, questionam a própria existência do campo ou as
contribuições que tal estudo poderia dar ao conhecimento histórico das novas gerações no Brasil.
As região Centro-Oeste e Norte constituem o campo mais recente de inserção dos estudos
antigos e medievais. Tal circunstância está relacionada aos poucos programas de pós-graduação em
História que existem nessas regiões, aos poucos pesquisadores com formação acadêmica na área da
Antiguidade e do Medievo, e mesmo às resistências em relação às contribuições da área para a região.
Apesar disso, ao longo da última década esse quadro tem dado sinais de mudança. Novos concursos,
realização de eventos locais, estaduais, regionais, nacionais e internacionais, e o crescente interesse por
parte da comunidade acadêmica.
Nesse quadro, ao longo de 2014 foram dados os primeiros passos na direção de uma maior
articulação dos estudos antigos e medievais nas regiões Norte e Centro-Oeste. A ampliação do diálogo
entre os professores teve como resultado a organização do I Encontro Internacional de História Antiga
e Medieval da Amazônia, ocorrido sob a coordenação de professores da UFPA e da UNIFAP. O
evento contou com a presença de pesquisadores de todas as regiões do país, somando sete
universidades representadas.
Com a realização deste III Encontro Nacional do Vivarium e III Encontro Internacional de História
Antiga e Medieval do Amazonas, acreditamos que serão estreitados os vínculos formados nos anos
anteriores, mas também será promovido um amplo debate acerca do que hoje vem ganhando a atenção
da sociedade: os discursos em torno do passado e os usos deste com objetivo de ganhos políticos. As
trocas culturais e os conflitos ao longo da história da humanidade nos permitem construir
conhecimentos históricos que deem voz a diversidade e deixem de lado discursos exclusivistas que
resultam em perigosos extremismos.

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RESUMOS

HISTÓRIA GLOBAL E INTERCONECTADA


Possibilidades e desafios para a pesquisa e ensino de História Medieval

Professora Dra. Aline Dias da Silveira (UFSC - Meridianum)

Quando escutamos palavras como globalização ou história global, é comum ocorrer em nossas
mentes imagens como computadores, internet, redes sociais, economia mundo, ou seja, uma
temporalidade que se iniciaria no século XX. Se pesquisarmos um pouco, talvez possamos recuar até as
navegações europeias através do Atlântico a partir do século XVI. Que imagens nós teríamos em
mente, no entanto, se tentássemos romper com a perspectiva europeia e iluminista da História e
entendêssemos as temporalidades ainda mais recuadas sem as divisões modernas entre ocidente e
oriente? Veríamos o que estava lá, ou seja, uma gigantesca rede de rotas terrestres e marítimas que
ligavam a China à Península Ibérica, a Escandinávia à África oriental. Esta conferência pretende discutir
aportes teóricos e possibilidades que apresentam uma perspectiva de História interconectada tanto para
a pesquisa como para o ensino da História pré-moderna, de forma a problematizar temporalidades e
espacialidades definidas no século XVIII e que precisam ser revistas. Pretende-se também indicar como
uma perspectiva global e interconectada da História pode colaborar para uma metodologia de ensino
sistêmica e desenvolvimento do pensamento complexo.

A TRADIÇÃO DOS “SANTOS PAIS” E O MOVIMENTO MONÁSTICO NA GÁLIA NA


OBRA DE JOÃO CASSIANO

Professor Dr. Bruno Uchoa Borgongino (UFRJ)

João Cassiano ingressou num mosteiro em Belém por volta de 380, onde obteve sua formação
ascética inicial. Tendo recebido autorização de seu abade para tal, circulou pela Síria e pelo Egito,
visitando grupos monacais estabelecidos nessas regiões. Após uma sucessão de deslocamentos,
estabeleceu-se numa comunidade nos arredores de Marselha em meados de 410, onde permaneceria
pelo resto de sua vida. Foi nessa etapa final de sua trajetória que escreveu documentos que versavam
sobre a vida monástica – as Instituições Cenobíticas e as Conferências. Na produção intelectual de João
Cassiano, há a vinculação entre o discurso que compunha e a tradição oriunda dos “Santos Pais”, ou
seja, os proeminentes ascetas sírios e egípcios. O autor, ainda, inferia negativamente sobre o

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movimento monástico na Gália. O objetivo desta comunicação é analisar a relação entre o recurso à
tradição dos “Pais” e as posições do autor a respeito do monaquismo gálico na obra de João Cassiano.

APRENDER E ENSINAR ANTES DAS UNIVERSIDADES


Histórias de mestres e discípulos e seus métodos pedagógicos

Professor Dr. Carlile Lanzieri Júnior (UFMT - Vivarium)

O surgimento das universidades é um dos principais argumentos dos medievalistas para


confrontar os que afirmam que a Idade Média foi uma época na qual imperaram o atraso e a ignorância.
Sobre elas existe uma extensa e longeva historiografia. Em quase todas as argumentações apresentadas,
prevalece a ideia de que as transformações econômicas, políticas e sociais de um mundo urbano em
expansão entre os séculos XI-XIII formaram o terreno sobre o qual foram erguidas. À luz dos escritos
de Adelardo de Bath (1080-1152), Hugo de São Vítor (1096-1141) e João de Salisbury (c. 1120-1180),
nosso intento é questionar essa certeza há tempos arraigada e propor que há outras possibilidades
interpretativas que podem ser vislumbradas no cerne das práticas pedagógicas e nas relações então
vigentes entre mestres e discípulos, sendo aqueles os responsáveis por incentivar estes a buscar
conhecimentos em lugares e com pessoas diferentes, um princípio que se fez igualmente presente no
ambiente universitário.

O BEATO DE LIÉBANA (1047) E AS TÁBUAS GENEALÓGICAS DE CRISTO

Professora Dra. Carolina Akie Ochiai Seixas Lima (UFMT)

Com o objetivo de relacionarmos as primeiras páginas do códice iluminado com as questões


que cercam a ideia de linhagens, que estavam se afirmando na Idade Média, é que vamos descrever o
conteúdo das tábuas genealógicas da Tribos de Judá que abrem o códice iluminado de 1047 do Beato
de Liébana. Lembrando, também, que estas tábuas fazem parte de todo um jogo político de poder e
persuasão entre realeza, Igreja e os infiéis é que interpretamos a obra Commentarium in Apocalipsin
(1047) do Beato de Liébana que apresenta nas primeiras 34 páginas, uma série de tábuas genealógicas
de Cristo e uma sequência de iluminuras relativas aos quatro Evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e
João –, a Jesus Cristo, ao cordeiro de Deus, à Cruz de Cristo. Pouco ou quase nada foi encontrado no
que tange ao assunto, principalmente quando se trata das tábuas genealógicas apresentadas pelo Beato.
Nesse sentido, nossa interpretação buscou leituras que versassem a respeito do assunto no referido
códice.

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IDENTIDADE, UMA DISCUSSÃO SOBRE SUA CONCEITUALIZAÇÃO, PRODUÇÃO E
OPERACIONALIZAÇÃO

Daniel Sleder (UFMT - Vivarium)

Houve, nos últimos anos, uma verdadeira explosão discursiva em torno do conceito de
‘identidade’. Pode-se dizer que tal explosão é uma tentativa para explicar as múltiplas e líquidas
identidades produzidas em nossa era líquido moderna, que tem deslocado referenciais identitatários
antes considerados seguros. Mas, afinal, o que é identidade? É possível utilizar tal conceito em outros
períodos históricos? Se sim, como? Embora à primeira vista possa parecer fácil de se definir
(simplesmente oque se ‘é’), sua definição e operacionalização requerem alguns cuidados. A identidade e
a diferença são mutuamente determinadas. Torna-se necessário compreender o processo pela qual tanto
a identidade quanto a diferença são produzidas, assim como sua ligação direta à noção de sujeito, pois a
medida que a noção de sujeito muda, muda também o que se entende ou como se entende a identidade.
A fim de melhor compreender o conceito e de propor formas de sua operacionalização, procedermos
da seguinte forma: historicizaremos brevemente as principais mudanças no conceito de sujeito e suas
consequências no modo como se compreendeu a identidade; agregaremos então insights de autores que
discutem atualmente o conceito; por fim, buscaremos insights de autores que o tem utilizado para
pesquisar a antiguidade e a antiguidade tardia.

A IDADE MÉDIA NOS LIVROS DIDÁTICOS


As cidades medievais nos manuais escolares do ensino fundamental (2009-2012)

Dequim Marques de Araújo (UFOPA - Vivarium)

Este artigo tem por objetivo compreender como a Idade Média e, especificamente, as cidades
medievais, são apresentadas em cinco livros didáticos de 6º e 7º ano do ensino fundamental.
Primeiramente, enfatiza-se que os materiais didáticos e o ensino de história não podem ser analisados
isoladamente, de modo que existe a necessidade de uma reflexão sobre as relações entre a indústria
cultural, as políticas públicas e estes materiais. Na sequência, discute-se a Idade Média nos livros
escolares, buscando compreender os eixos de explicação que orientam a abordagem dos conteúdos
referentes ao medievo, tendo como base a noção de dispositivo de medievalidade e como foco de
análise o tema das cidades medievais.

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SERVIR A CAUSA, PREGAR A FÉ
A Vita prima de Tomás de Celano como um discurso retórico

Professor Me. Douglas de Freitas Almeida Martins (UFMT)

As hagiografias foram tratadas ao longo das décadas pelos historiadores como simples
repositórios de crenças e de sermões. Contudo, partir de um movimento de renovação e de também
redescoberta teórica e conceitual, as hagiografias passaram a serem valorizadas e pensadas para além do
seu valor puramente biográfico. Esta comunicação tem por objetivo tratar a Vita Prima, escrita pelo
frade Tomás de Celano como um instrumento retórico que transmitia os valores idealizados pela
Ordem dos Frades Menores. Para tanto, recorro à história social das emoções, para investigar ao longo
das hagiografias as expressões emocionais protagonizadas pelos frades minoritas no contexto social dos
espaços urbanos. A hipótese deste trabalho é pensar a narrativa santoral a serviço de uma causa: o
reconhecimento e a legitimação das funções que a Ordem poderia assumir perante as resoluções de
conflito nas cidades italianas medievais.

PARA UMA OUTRA IDADE MÉDIA


Desafios para a medievalística brasileira no século XXI

Professor Dr. Douglas Mota Xavier de Lima (UFOPA - Vivarium)

Por uma outra Idade Média (Pour un autre Moyen Âge) é o título da emblemática coletânea de
Jacques Le Goff publicada em 1977, produzida num contexto de efervescência de novos problemas e
métodos e de mutações no fazer historiográfico. Sem a pretensão de conseguir o mesmo alcance
temático e de abordagem, a inspiração na obra legoffiana serve de mote para uma reflexão que toma
como base a história medieval produzida no Brasil. Nos últimos anos, a área tem conhecido um
crescimento exponencial, ao passo que também tem acompanhado sua legitimidade ser questionada no
ambiente escolar através das políticas educacionais. Nesse sentido, propõe-se discutir alguns desafios
para a medievalística brasileira no século XXI a partir de dois eixos complementares: as demandas do
ensino de história, tanto na educação básica como na educação superior, e a construção de uma Idade
Média que ultrapasse o modelo franco-inglês.

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O DESERTO NAS EPÍSTOLAS DE SÃO JERÔNIMO

Professor Me. Eduardo Leite (UFMT - Vivarium)

Munidos de doutrinas de impacto social como a do pecado, da disciplina, do inferno, entre


outras, nos finais do IV século, o poder do discurso cristão ascético sobre a sociedade foi além de
algumas pretensões e tensões que trazia estoicismo a tempos, a exemplo, de quando aspirou infligir a
todos os deveres do “sábio”. O poder do discurso
clerical cristão, sobre tudo dos anacoretas, não tiveram êxitos somente pela extraordinária
elaboração. Eles estiveram em posição privilegiada em relação aos demais intelectuais cristãos, em
virtude do processo histórico cultural que o império sofreu desde o III século. Em grande medida, a
valoração moral dos bispos e ascetas cristãos do IV século os transformaram em “missionários morais”
sem dúvida, um reflexo histórico que tem suas origens em diversas culturas antigas. O discurso do
asceta cristão cobriu os espaços e pôde dar novos significados a eles. Sobre novos olhares, o deserto,
um lugar que não há civilização passou também a significar um lugar não somente de protesto, mas
uma espécie de estágio para santificação, um lugar para purificação do homem e da mulher de Deus.
Tornou-se com o tempo um lugar de desprendimento do mundo e uma escola para o
autoconhecimento onde homens e mulheres ao entrarem ali nunca mais seriam os mesmos. O deserto
passou a ser o espelho da alma, o local de encontrar com a verdadeira natureza humana e com o tempo
transformou-se, sobretudo onde eremitas mantinham suas vidas, em rotas de peregrinações, lugar de
culto e veneração. O deserto foi atravessado por centenas de pessoas em busca da verdade, da
espiritualidade, e de outros problemas a resolver. Essa construção do deserto foi possível graças às
investidas dos Pais da Igreja gregos e latinos. Nos finais do IV século as vozes que concorriam para
aliciarem pessoas ao cristianismo foram ouvidas com maior evidência desde o deserto. É dentro desse
contexto que Jerônimo está inserido. Para nós, ele é um grande propagador do cristianismo ascético
nos finais do IV século. Jerônimo esteve em Roma, após sua estadia em Calcis (deserto) exercendo uma
função importante junto ao líder da igreja romana, o bispo Dâmaso, uma espécie de consultor bíblico,
o que lhe proporcionou aproximar-se de figuras importantes para o fortalecimento de sua autoridade.
Algumas dessas pessoas constituíram-se como alvos para o monge estridonense cooptar para seu
círculo de discípulos inclinados ao ascetismo.

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UMA VIRADA INTERPRETATIVA
Os ideais da república romana em Coluccio Salutati e Leonardo Bruni

Professora Dra. Fabrina Magalhães Pinto (UFF)

Coluccio Salutati, humanista e chanceler da República de Florença por mais de trinta anos, foi o
primeiro autor a ligar a fundação de Florença à Roma republicana, em sua Invectiva contra Antonio Loschi.
Leonardo Bruni, seu discípulo e amigo, manterá tal associação, entre 1403 e 1404, em sua Laudatio
florentinae urbis. Certamente, eles estabeleceram esse marco fundacional e republicano não apenas como
exercício de erudição humanística ou retórica, mas, sobretudo, pela realidade do contexto externo de
Florença, então ameaçada pela invasão do duque milanês Gian-Galeazzo Visconti. Nosso objetivo aqui
é analisar comparativamente como, a partir de 1415 (com o início da escrita de sua História do Povo
Florentino) Bruni atribuiu a fundação da cidade aos veteranos de Sulla durante o final da República
Romana; e levantar quais seriam alguns dos argumentos do autor, tendo em vista que, ao estabelecer a
independência florentina na península itálica, a narrativa ressalta também a legitimidade do seu
crescente poder político e de suas conquistas territoriais na primeira metade do século XV.

SOBRE O RENASCIMENTO, MONTAIGNE, A VELHICE E AS MULHERES

Eleonora Maria de Queiroz Bondespacho (UFMT)

Esta comunicação tem por finalidade apresentar a compreensão de Montaigne (2001) sobre as
mulheres e a velhice. Para esta reflexão foi escolhido o Livro III dos Ensaios, capítulo V - “Sobre os
Versos de Virgílio”, no qual Montaigne apresenta considerações sobre esses dois temas. Em “Sobre
versos de Virgílio” interessa-nos, as reflexões sobre a velhice como materialidade da vida, a concretude
de algo que transforma o corpo, o eu e, consequentemente, os ajuizamentos sobre as mulheres. Ao
lançar luz sobre a velhice, Montaigne menciona a importância do processo de autorreflexão a partir das
experiências vividas. É possível compreender a argumentação de Montaigne acerca de temas
relacionados às regras de conveniência em assuntos como sexo, amor e casamento. Nesta perspectiva,
as mulheres são responsáveis pelas volúpias e pelos prazeres sensuais junto aos homens. Destacamos
Montaigne no exercício da composição do seu autorretrato, no qual assume o papel de amigo e
conselheiro das mulheres. Ao descrever tais temas, o autor diz de si mesmo e da forma como vê seu
mundo interior e suas experiências. Notamos que apesar de algumas mulheres se projetarem no cenário
cultural da época, na maior parte das vezes, como bem aponta Montaigne, os estudos e os assuntos
femininos tinham por finalidade atender as conveniências sociais e o papel da mulher junto ao homem.

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VÍCIOS E VIRTUDES DOS CONSELHEIROS REAIS NA OBRA DE
RAMON LLULL

Êmily Sthephane Rodrigues (PIBIC - UFOPA - Vivarium)

Este trabalho faz parte da pesquisa “O perfil do embaixador quatrocentista a partir do Conselho
e das práticas de aconselhamento”, que se estrutura na hipótese de que o mapeamento do perfil do
conselheiro quatrocentista permite inferir sobre o perfil do embaixador do período. Partindo dos
resultados alcançados na pesquisa de iniciação científica (PIBIC-UFOPA, 2016-2017), esta
comunicação discute a construção do perfil do conselheiro régio através do Livro das Bestas, do filósofo
catalão Ramon Llull (1232-1316). O Livro das Bestas é um bestiário, empregando o simbolismo dos
animais para representar atitudes humanas e delinear virtudes e vícios que devem ser percebidos para a
escolha de bons conselheiros pelo rei, pois destes depende a boa ação do governo e a prosperidade do
reino.

“OS ÚLTIMOS PAGÃOS?”


A construção de identidades nas cartas de Símaco

Fabiana Azevedo (UFMT - Vivarium)

A expansão do cristianismo dentro e além das fronteiras do Império Romano, significou


diversos conflitos intelectuais entre os séculos IV e V, o qual se apropriará de uma das ferramentas
poderosas da época, o discurso. O pagão intelectual Símaco durante seu período como prefeito de
Roma entre 384-385 empenhará pela solicitação da reposição do Altar da Victória, que havia sido
retirado pela Cúria por ordem do imperador Graciano. No início do século V, a discussão sobre as
identidades permeara entre os intelectuais da época. A partir das cartas de um intelectual pagão da
época, Quintus Aurelius Symmachus Eusebius, analisa-se a construção das identidades da sociedade
tardo romana.

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D. DINIS E O CONFLITO COM SEU PRIMOGÊNITO AFONSO

Professor Dr. Flávio Ferreira Paes Filho (UFMT - Vivarium)

Temos como objetivo nesta comunicação demonstrar, rapidamente, a situação política do


reinado de D. Dinis. Para a seguir tecermos comentários a respeito do conflito que ocorreu entre este
monarca e o seu primogênito. O infante Afonso, futuro Afonso IV, preocupado em não herdar a
coroa promove um confronto político-militar contra seu pai. As desavenças entre D. Dinis e seu filho
Afonso têm várias explicações. Uma delas consistiu no fato de que o Infante, homem feito, já desejava
o trono, considerando seu pai idoso para governar, embora não tivesse coragem de se indispor com
ele. Outra se relaciona com a antipatia que o Infante nutria contra seu meio irmão, Afonso Sanches, de
quem D. Dinis não escondia gostar talvez pelo fato de o príncipe bastardo, como o pai, ser igualmente
um trovador e intelectual, e o Infante recear que viesse a ser preterido na sucessão. Assim, cremos que
com a análise da conjuntura da época, e, ainda, uma interpretação sucinta do manifesto produzido pelo
monarca contra as intenções do seu filho Afonso pode nos dar uma compreensão do reinado de D.
Dinis.

ENSINO DE HISTÓRIA
Proposta e reflexões sobre a Idade Média nos bancos escolares através dos quadrinhos

Gabriel Augusto Wanghan da Silva (UFOPA - Vivarium)

O presente trabalho busca refletir sobre uma das novas linguagens utilizadas no ensino de
história, os quadrinhos. Este instrumento pedagógico proporciona um dinamismo maior nas salas de
aulas quando trabalhado coerentemente, porém, é necessário destacar que esta linguagem ainda é pouco
utilizada. Como proposta de ensino-aprendizagem será empregada uma aula com o tema Culto aos
Santos para assim possibilitar uma mediação/concretização entre teoria e prática. A escolha do tema da
aula é importante e relevante para discutir em sala de aula, visto que o debate que será levantado poderá
proporcionar um maior entendimento com relação ao cristianismo nos primeiros séculos da idade
média e também perceber a representação pictórica que o santo tinha como objetivo didático em um
mundo no qual poucos sabiam ler e escrever. Assim, é necessário destacar que a aula tem por
característica ser temática em torno da questão sobre o culto aos santos; o quadrinho que será utilizado
mostra a polêmica existente sobre o tema, através de um episódio conhecido sendo este a resposta de
Santo Agostinho sobre as acusações de adoração a imagens feitas por Fausto o maniqueísta. Ressalta-se
ainda que esse debate é importante para entender qual o objetivo de se utilizar os quadrinhos nas aulas
de história e que reflexões podemos construir a partir desta nova linguagem.

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O DIABO NOS DETALHES
Elementos arquitetônicos nas imagens do Genesis no manuscrito
anglo-saxônico Junius 11 (Bodleian Library MS. Junius 11)

Professor Me. Gesner Las Casas Brito Filho (University of Leeds)

Neste manuscrito produzido na Inglaterra anglo-saxônica por volta do ano 1000 encontramos
vertidos em paráfrase poética os livros bíblicos canônicos, Gênesis, Êxodos, Daniel e o poema Cristo e
Satã. Nossa análise se concentrará no livro do Gênesis, onde encontramos as únicas ilustrações do
referido manuscrito. Diferentemente das representações iconográficas anteriores da criação, as imagens
deste manuscrito mostram o céu e o inferno com diversos elementos arquitetônicos. O propósito desta
comunicação é mapear como estes elementos arquitetônicos relacionam a terra e os mundos
`sobrenaturais`: céu e inferno e de que forma conectam-se com o pensamento anglo-saxão do período
em que o manuscrito foi produzido.

POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO NA BAIXA IDADE MÉDIA


Aportes teóricos e historiográficos

Gustavo Magave Dias (PIBIC - UFOPA - Vivarium)

O presente trabalho tem como base a pesquisa de iniciação científica em andamento acerca dos
usos da informação e da diplomacia durante a Baixa Idade Média. Diversas entidades políticas do
medievo, principalmente a partir do século XIV, de forma crescente se detiveram na busca e na coleta
de informação. Entende-se que a informação, adquirida de forma privilegiada ou não, foi utilizada com
o objetivo de obter vantagens políticas durante o processo de tomada de decisão. Entretanto, assim
como o campo da diplomacia, a informação como um problema historiográfico caracteriza-se como
um campo novo e pouco explorado, carecendo de definições teóricas. Desta forma, o objetivo desta
comunicação é fazer alguns apontamentos historiográficos sobre os novos estudos da diplomacia
medieval e as suas imbricações com os usos da informação durante a Baixa Idade Média. Outrossim,
busca-se uma definição teórica a respeito do termo informação, visando a sua aplicabilidade para o
período.

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RE-IMPERIALISING ROMAN AFRICA AFTER THE VANDALS

Professor Dr. Hartmut Ziche (Université de Guyane)

The last imperial period of Roman North Africa begins and ends in narratives of invasion and
conquest: Belisarius' campaign of 533/4, celebrated in glorious and oddly archaic triumph in
Constantinople, and the bumbling imperial defense – or daring Muslim conquest, depending on
perspective – ending in the fall of Roman Carthage, not once, but twice, in 695 and again in 698. Much
emphasis in the historiography of late Roman North Africa has been placed on military events, both
traditionally and also more recently in Walter Kaegi's 2010 study on Byzantine collapse and Muslim
conquest. And yet, looking beyond high drama and hyperbole in both contemporary and more modern
accounts, one cannot fail but wonder at the relatively minor forces engaged both in the 530s and in the
late seventh century. North Africa, especially Proconsularis and Byzacena, was arguably the most
wealthy and most densely urbanised territory of the Roman West. Its loss in the fifth century
precipitated the fall of western imperial government, and in the seventh century it was capable of
sponsoring Heraclius' successful bid for the imperial throne. So, should not the Vandal kingdom have
been capable of a much stronger opposition against Justinian's reconquest, should not Justinian II and
Leontius have done much more to defend North Africa? In order to gain a better understanding of
how North Africa rather easily re-entered and re-exited imperial control, this paper is looking at the
interaction between imperial institutions and regional socio-economic development. Two questions are
going to be examined. First we are looking at the outcomes of a century of Vandal government: to
what extent did the Vandal kingdom, despite its strongly imperial ideology, weaken structures of state
government and administration, thus perhaps strengthening control by socio-economic elites, both
"Vandal" and "Afro-Roman" landowners, over bureaucratic and institutional government? Secondly we
have to ask whether the imperial government in the sixth and seventh century ever was truly successful
in what Justinian's legislation proudly proclaimed was a reestablishment of the status quo ante. Did
North Africa really become fully integrated into bureaucratic imperial government, did it become an
"ordinary" part of the Empire? That the West in general and North Africa in particular remained
important to Constantinople is not in question, one could point to Constans II move to Syracuse in the
660s, but what we are going to argue is that the imperial government in the long run failed to
demonstrate its essential relevance for the efficient administration of North Africa to the local elites.
North Africa was imperial, but imperial institutions remained weak.

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HONRAI A COROA DO REI, TEMEI A ESPADA DO BISPO
Hegemonia senhorial e o poder militar do arcebispado de York (1327-1340)

Janaina Bruning Azevedo (UFMT)

O tema para esta comunicação tem como enfoque as relações de poder na Inglaterra medieval
do século XIV nos anos que antecedem a Guerra dos Cem Anos e nos primeiros anos da mesma sob o
reinado de Eduardo III. O objeto desta comunicação é William Melton, arcebispo de York., um
eclesiástico guerreiro que esteve em duas batalhas na primeira fase da Guerra de Independência da
Escócia. O problema a ser investigado se constitui quanto a rede de dominium e poder militar deste
arcebispo e como consequentemente isso se transforma em uma relação de poder com Eduardo III
após sua ascensão como rei em 1327 até a Guerra dos Cem Anos. Por conseguinte, o proposto é uma
análise comportamental política e militar de um aristocrata eclesiástico, mas que compreende a um todo
de uma sociedade medieval mediante à violência, revoltas e batalhas. Para responder a este problema, a
comunicação será guiada pelas análises documentais de cunho judiciário tal como o Calendar of Close
Rolls, Calendar of Fine Rolls e Calendar of Patent Rolls. Ademais, incluindo as leituras de Enigma do
Dom de Maurice Godelier e The Theory and Practice of Revolt in Medieval England de Claire Valente,
para elucidar mais profundamente essas relações de poder em uma sociedade medieval, mas a princípio,
em uma aristocracia eclesiástica diante inúmeras ações judiciárias.

UMA POLÍTICA SEM SENTIDO OU UM SENTIDO


INESPERADAMENTE POLÍTICO
Um exame dos significados da "crise feudal" a partir da Inglaterra de
Ricardo I (1157-1199)

Jario Sena Souza (UFMT)

Thomas Bisson, em sua celebre obra, La crisis del siglo XII, discute os principais elementos, que,
ao seu ver, fizeram da Europa um “anarquismo feudal”. Nesta obra, ele defende que o século XII foi
um período de grandes tensões e crises, e ambas eram consequências de um poder indevidamente
exercido pelos cavaleiros. Eles usavam tal poder para obter acessão social, por meios de saque e
violência. Bisson argumenta que a crise foi reflexo do feudalismo, que, nessa época, estava em seu auge,
e teria justamente em razão de seu crescimento que a sociedade se tornou mais violenta, e, com isso,
“anárquica”. Logo, para o autor, uma sociedade feudal foi, a prática, uma sociedade sem Estado. Este
conceito também abarca toda Europa. Diante disso, o presente trabalho busca discutir o conceito de

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crise apresentado por Bisson. Temos como objetivo testar a aplicabilidade de seu conceito ao reinado
de Henrique II da Inglaterra, analisando os conflitos entre o rei e seus filhos. Para essa análise,
usaremos a crônica de Roger Howden, cronista que era assistente de Henrique II, tendo sido, antes
disso, negociador entre reis e várias casas religiosas e, igualmente, sacerdote. Acredita-se que a sua
crônica começou a ser escrita em 1169 e foi concluída em 1192. O texto descreve o reinado de
Henrique II. Enfim, buscamos responder à seguinte questão: a crise, apresentada como tal por Bisson,
era verossímil na Inglaterra do século XII?

A INFLUÊNCIA CULTURAL CANANITA NA RELIGIÃO DE ISRAEL


Uma análise dos nomes divinos na Bíblia Hebraica e na Epigrafia

Professor Dr. Josué Berlesi (UFPA)

Comumente os antigos israelitas são apresentados como responsáveis pela formação da fé


monoteísta, dedicando-se ao culto exclusivo do deus Javé. Entretanto, a análise atenta das fontes
bíblicas e extra-bíblicas revela que a religião israelita resulta de um intenso processo de trocas culturais
na região do Antigo Levante. Desse modo, a presente comunicação pretende, por meio da análise
exegética da Bíblia Hebraica e dos textos de Ugarit, demonstrar as relações estabelecidas entre Israel e
seus vizinhos que possibilitaram a formação de um panteão de divindades abertamente cultuado pelos
primeiros israelitas.

MULHERES TECENDO O SANGUE DO INQUISIDOR


A relação entre beguinas e dominicanos no século XIII

Joyce Damaris A. Machado (UFMT)

O trabalho a ser apresentado tem como objetivo expor um dos capítulos da monografia
defendida ano passado (2017). A pesquisa realizada contempla a análise de algumas simbologias
encontradas na vita de Pedro Mártir, um dos santos relatados na famosa obra hagiográfica Legenda
Áurea, compilada pelo dominicano e arcebispo de Gênova Jacopo de Varazze. Entre os vários milagres
ditos serem realizados pelo dominicano Pedro, deparamo-nos com um especificamente envolvendo um
grupo de mulheres que fiavam na praça da cidade de Ultrech, localizada na província de Teutônia.
Através dos fios em que manuseavam, subitamente foram cobertos de sangue. De acordo com a análise
feita, a trama deste milagre envolve a simbologia do sangue e do fiar, “tecendo-o” juntamente com o

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contexto do movimento beguino presente nos Países Baixos durante o século XIII e a formação e
estabelecimento da Ordem dos Frades Pregadores no mesmo local.

IUSTITIA ET IURI
A formação das identidades nas Novellas de Justiniano

Professora Ma. Kelly Cristina Mamedes (UFMT - Vivarium)

A noção e a importância das leis em Roma eram muito diferentes da que possuímos em nossos
dias. A lei não era a vontade do povo, expressas segundo certas formas, no início não havia um código
escrito, apenas o costume com força de lei. Segundo Pierre Grimal, essas leis também funcionavam
como fronteiras imaginárias capazes de constituir o capital simbólico entre o que era ser ou não um
romano, entre o “eu” e o “outro. Durante a trajetória da legislação romana tivemos dois momentos que
consideramos como áureos da jurisprudência, a primeira no governo de Tedósio II, com o livro de leis
que levou o seu nome: “Código Teodosiano”; e o segundo e mais audacioso se deu com o reinado do
imperador Justiniano no VI século, com um projeto de codificação composto por três poderosos
conjuntos de leis cuja utilidade continua até hoje, qual seja, o Corpus Iuris Civilis. Esses instrumentos
legais impuseram de maneira efetiva uma lei mais centralizada e inflexível, devido a sua clareza,
facilidade e coerência.
A importância em se pontuar aqui a trajetória da legislação romana, principalmente com ênfase
ao Corpus Iuris Civilis é porque entendemos que as leis desempenhavam um importante papel não
apenas político, como um instrumento que reforçava o poder da autoridade central, mas também
tinham entre as suas atribuições a capacidade de normatizar as relações dos grupos sociais pertencentes
ao império. Dessa forma entendemos que a identidade da sociedade romana foi mudando à medida que
o Império também se transforma. Ser um indivíduo pertencente a essa sociedade vai cada vez mais se
construir de maneira múltipla, a partir das diversas alteridades. Se nos primórdios da história romana
existia o Outro exterior, aquele que estava além das fronteiras da civilidade e da romanidade, isto é o
bárbaro, com a cristianização o Outro se encontra internamente, marcado pelas clivagens religiosas.
Durante a Antigüidade Tardia, mas especificamente no VI século as definições de “Romano”,
“Bárbaro”, “Cristão” e “Pagão”, “Herege” e “Judeu” eram extremamente complexas e problemáticas,
pois cada uma possuía uma potencial multiplicidade. Diante disso pretendemos analisar a partir desse
intricado universo simbólico, entendermos como a legislação sendo um forte aparato ideológico, age
como um mecanismo de ressignificação e construção das identidades consideradas hegemônicas, tendo
como marco temporal o governo de Justiniano, pois foi durante seu reinado que o mais significativo
projeto de harmonização e compilação do aparato jurídico do mundo romano foi realizado.

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A DÚVIDA METÓDICA COMO PROCESSO HEURÍSTICO PARA A VERDADE,
CONFORME SANTO AGOSTINHO

Leonardo Santos Sousa (UFMT)

Este trabalho versará sobre a dúvida como instrumento teórico necessário para investigar a
Verdade, conforme o pensamento agostiniano. Para isso será preciso compreender a relação entre
perceber a existência, para constituir-se enquanto ser humano, e o ato de tecer pensamento. Se
analisarmos, etimologicamente, a palavra ANTHROPÓS, de origem grega, extraímos o significado de
aquele que contempla o que vê. Aquele que contempla o que observa no mundo circundante é o ser
humano. A contemplação configura-se em exercitar o pensamento para interpretar os fatos, paisagens e
demais fenômenos socioculturais presentes na trajetória histórica dos humanos, mas para pensar o
exterior, faz-se necessário imergir para os recônditos da psique, tal como aconselhou Sócrates ao
propor o conheça-te a ti mesmo, antes de explorar o mundo. O processo de construção do
conhecimento, pela ótica agostiniana, requer a percepção do existir entrelaçado com a contemplação do
mundo externo. Afinal para engendrar os silogismos no intelecto, tem de sentir-se no mundo, como
Ser. Agostinho fez uma antropologia filosófica, no sentido de compreender a dúvida como centelha
pela qual promoverá o desvelamento do Ser no ente, para fazê-lo manifestar no mundo e, assim trazer à
luz na matéria corpórea as afetações deste Ser. Então, seguindo o raciocínio do filósofo de Hipona o
ser humano pela dúvida percebe-se a si mesmo, na imanência da realidade e, por isso existe. Ao ter
compreensão da existência produz pensamento, nas palavras do Doutor da Igreja, existo, logo penso.

OVIUM DEI
A linguagem sacrificial e estratégias retóricas em um claustro feminino

Luciana Alves Maciel (UFMT)

O tema deste trabalho é a linguagem sacrificial empregada por Heloísa, que busco compreender
a partir das cartas que foram trocadas com Abelardo quando ambos estavam no mosteiro entre os anos
de 1132 e 1140. Sobrinha de Fulbert – um cônego – ela é uma jovem de grande beleza instruída com
conhecimento das letras e de retórica que seria inserida nas artes da filosofia por Abelardo. E a partir da
leitura das cartas, notamos que Heloísa assume uma linguagem mais individual, se assemelhando a uma
“oferenda” em sacrifício, quase um “cordeiro imolado”. Como ela mesma argumenta, foi por ordem de
Abelardo que tomou o hábito e assim “[arrasta] um sacrifício sem valor e sem esperança de recompensa
futura.” E isso acontece justamente quando ela se torna esposa de Deus, ou seja, quando o medo a leva

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a agir estrategicamente. Por isso, perguntamos: o que há por trás dessa linguagem? Ela nos permite
sondar outros comportamentos de Heloísa? Há algo que poderia ser investigado aí além daquilo que a
abadessa quis que fosse visto e ouvido? Tais dúvidas formam nossa problemática que tentamos
responder com a ajuda de Barbara Ehrenreich e sua explicação para sacralização da guerra, sendo esta
uma metáfora pra coisas mais ocultas. Para ela o sacrifício tem origem no medo que assim como o
sagrado não é uma coisa em si, mas que leva o indivíduo a agir de modo estratégico. E através do
conceito de tópica retórica de Ernst Curtius, é que busco entender a estratégia ainda que involuntária
que Heloísa usa para escrever as epistolas que chamaremos de “segunda”, “quarta” e “sexta”, partindo
da História das minhas Calamidades, escrita por Abelardo. Todo esse escrever romântico de Heloísa,
deriva da poesia e da retórica, que ela tinha acesso e chegou a elogiar em Abelardo, sendo assim, para
ela a tópica retórica é quase que uma extensão de si, é uma expressão involuntária do seu conhecimento
literário. Então, Barbara e Curtius me fornecerão os motivos e argumentos que me possibilitem
entender a estrutura psicológica e a tópica retórica na abadessa.

A FORMAÇÃO CULTURAL DE FRANCESC EIXIMENIS (1330-1409)

Professor Dr. Luciano José Vianna (UPE)

Um dos personagens mais conhecidos da Coroa de Aragão durante o século XIV e o começo
do século XV foi Francesc Eiximenis (1330-1409). Sua atividade intelectual, sua participação no âmbito
político da época, sua intensa circulação por diversos territórios, seu exercício de cargos públicos, seu
contato com personagens de notável influência para a época e seu envolvimento religioso são algumas
das facetas que podemos encontrar quando estudamos sua vida. Neste sentido, resulta de extrema
importância a análise do trabalho intitulado Francesc Eiximenis i la Casa reial. Diplomatari 1373-1409, o
qual apresenta precisamente 107 documentos de chancelaria e que foram compostos entre os anos de
1373 e 1409 relacionados a diversos aspectos da vida de Eiximenis. Neste sentido, a proposta desta
palestra é analisar as trocas culturais estabelecidas por Eiximenis e que aparecem nestes documentos, ou
seja, suas relações pessoais, intelectuais, políticas e religiosas, as quais serviram para delinear sua
personalidade, a qual aparece em diversas de suas obras, um corpus considerável da historiografia
medieval. Através da análise minuciosa dos documentos presentes na obra acima destacada,
identificando as ações realizadas por Eiximenis, os atores sociais com os quais manteve contato, as
obras que teve acesso e que fizeram parte de sua formação intelectual, os locais pelos quais passou e o
papel político que exerceu como pertencente à Coroa de Aragão, almejamos nos aproximar um pouco
mais de Eiximenis no sentido de compreendê-lo como um dos pensadores políticos mais reconhecidos
do seu tempo e do contexto medieval europeu, com foco no aspecto de sua produção historiográfica.
Ou seja, através de uma documentação voltada para a sua formação cultural, almejamos nos aproximar

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à sua produção historiográfica localizada entre os séculos XIV e XV. Nossa decisão de analisar estes
documentos nesta palestra ocorreu devido à necessidade de dar continuidade ao trabalho iniciado
durante o nosso estágio de Pós-Doutorado como bolsista PNPD da CAPES (2014-2015), no qual
trabalhamos com uma das obras de Eiximenis, o Regiment de la cosa pública, manter o trabalho iniciado na
Universidade de Pernambuco/campus Petrolina onde este pensador é analisado em trabalhos de
Iniciação Científica sob a nossa coordenação e financiados pelo CNPq e também realizar pesquisas
relacionadas a este personagem que até o presente momento não foram realizadas no território
brasileiro.

RAÍZES ANTIGAS DE UMA ÁRVORE MEDIEVAL


A pedagogia de Hugo de São Vítor no Didascalicon

Luiz Pablo Matheus de Oliveira (UFMT - Vivarium)

Hugo de São Vítor faz parte do rol de mestres que ajudaram na formação dos saberes que
marcaram a educação na Idade Média. Ele nasceu em um momento coroado pela historiografia como
Renascimento do Século XII. Para auxiliar jovens que desejavam matar a sede por conhecimentos
letrados, ele escreveu o Didascálicon. Este foi uma espécie de manual de estudos destinado a alunos
que iniciavam suas buscas por conhecimento na abadia de São Vítor, em Paris. Ao lado das escolas das
catedrais de Chartres e Notre-Dame, São Vítor ajudou a formar as bases pedagógicas da futura
Universidade de Paris. Diante disso, a proposta deste trabalho é pensar uma pedagogia que esteve
ligada ao florescimento das primeiras universidades, como consequência de uma relação cada vez mais
orgânica entre mestres e discípulos.

HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E/OU HISTÓRIA DA IGREJA


Questões teóricas para uma investigação em História do Cristianismo na
Antiguidade Tardia

Professor Me. Macário Lopes de Carvalho Júnior (UEA)

Ao tratar dos processos históricos relacionados à Antiguidade Tardia, e particularmente a


algumas de suas principais correntes religiosas, certas questões teóricas precisam ser explicitadas. A
tradição historiográfica em que nos inserimos e a maneira como nossa perspectiva foi-se construindo
ao longo do tempo serão, então, o objeto desta breve reflexão. Propomos abordar de maneira
comparativa e instrumental a História das Religiões e a chamada História da Igreja, com a finalidade de

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subsidiar nossa investigação sobre as atitudes de tolerância/intolerância ou de inclusão/exclusão das
correntes cristãs para com o outro, ou seja, para com judeus e pagãos e entre si. Partiremos das
contribuições de Da Mata, Bellotti e Almeida a fim de discutir diferenças de perspectiva no estudo das
religiões como fenômeno semelhante que surge em diferentes sociedades e temporalidades ou,
alternativamente, na linha que considera a religião como campo discursivo próprio à Igreja e seus
agentes. Ao final, pretendemos explicitar nossa tomada de posição nesse debate, bem como os motivos
que nos levam a tal.

CONFLITOS, CONCESSÕES, COMPROMISSOS


Uma hipótese retórica de leitura da matéria cavaleiresca na Idade Média Central
(séculos XI-XIII)

Professor Dr. Marcus Baccega (UFMA)

Esta intervenção pretende propor uma hipótese de leitura retórico-disciplinar dos romans e
novelas de cavalaria da Idade Média Central (séculos XI-XIII), em vista da proposição temática do
presente Encontro. Partindo do pressuposto teórico-conceitual de que práticas e representações
ideológicas mantém uma permanente dialética de implicação-polaridade, pode-se entrever, em meio aos
entrechos cavaleiresco, com destaque para o Ciclo Arturiano, a disputa de poder no seio do bloco
hegemônico nas formações sociais centro-medievais. Conceito desenvolvido por Antonio Gramsci,
esse bloco hegemônico se constituía da nobreza feudal e do alto clero, que precisavam, entre conflitos e
trocas, exercer conjuntamente sua dominação social. Neste lastro se inserem os escritos cavaleirescos,
enquanto locus simbólico-retórico da pactuação de um compromisso político, cristalizado em figuras
míticas de cavaleiros-monges como Galahad e Percival, no caso das versões ducentistas de A Demanda
do Santo Graal.

O CORDEIRO NO ALTAR DA VITÓRIA


Conflitos culturais e religiosos na Antiguidade Tardia

Professor Dr. Marcus Silva da Cruz (UFMT - Vivarium)

O conceito de Antiguidade Tardia emergiu no campo historiográfico na segunda metade do


século passado, ainda que a denominação Spätantike tenha sido utilizada pela primeira vez no início dos
novecentos pelo historiador da arte Alöis Riegl ou que Henri Irenée Marrou tenha também usado essa
expressão em sua tese de doutorado nos anos 40 do século passado. A referida categoria consolida e

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potencializa uma interpretação acerca dos séculos que marcam a passagem do mundo antigo para a
época medieval em que as ideias de declíneo e queda, hegemônicas desde a obra capital de Edward
Gibbon, são substituídas pelas noções de transformação e mutação. Além disso, a Antiguidade Tardia
deixa de ser uma mera fase de transição para se constituir como uma etapa específica e própria do devir
histórico, na qual as permanências e continuidades são valorizadas em detrimento das rupturas. A
perspectiva analítica construída pelos pesquisadores que adotaram o conceito de Antiguidade Tardia se
mostrou de grande fecundidade na abordagem dos fenômenos e processos que marcam este momento
histórico especialmente no que tange as questões do campo cultural e religioso. No entanto, essa
concepção possui certos limites e limitação. Uma delas é a minimizar e menoscabar os conflitos
existentes na sociedade tardo antiga. Na presente oportunidade nosso objetivo é discutir as divergências
e antagonismos presentes entre os intelectuais pagãos e os pensadores cristão especialmente no que
concerne a legitimidade de cada um desses grupos como herdeiros da tradição cultural romana a qual
designaremos por Paideia romano-helenística. Nossa análise terá como suporte documental dois conjuntos
de epístolas aquelas redigidas por Jerônimo, representante do pensamento cristão e por outro lado da
missivas escritas por Símaco, ilustre e renomado político pagão.

MONTAIGNE
Filosofia e exercícios espirituais

Professora Dra. Maria Cristina Theobaldo (UFMT)

Montaigne concede à filosofia a tarefa de formadora do caráter ao aproximá-la dos


procedimentos reflexivos típicos do socratismo e das escolas helenísticas. Neste horizonte temático a
prática filosófica montaigniana pode vir a corresponder aos “exercícios espirituais” que P. Hadot atribui
às artes de viver helenísticas. Especificamente, visamos à interlocução entre a noção de “verdadeira
filosofia” de Montaigne, ou seja, aquela que incide diretamente sobre o ajuizamento ético e a ação
moral, e a terapêutica das paixões epicurista.

“A TE UICE PARI REQUIRO, UT MECUM ANIMO PATIENTI AGAS”


Gilberto Crispino en diálogo con los no cristianos

Professora Dra. Natalia Jakubecki (UBA)

En este trabajo se analizarán ciertos aspectos metradoctrinales de la Disputatio Iudei et Christiani y


la Disputatio Christiani cum Gentili de Gilberto Crispino (c. 1045 -1117) con la intención de mostrar cómo

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ellas, aunque mucho menos célebres que otros diálogos ficcionales compuestos con posterioridad,
deben contarse no sólo entre los ejemplos medievales de conciliación entre argumentación racional y
diálogo tolerante, sino, más aún, como pioneras. Para ello, una vez presentado el autor y las obras en
cuestión, nos centraremos en 1) la estructura argumentativa de cada una de ellas, y 2) la metodología
propuesta por los mismos personajes y el trato que tienen entre sí.

AS TROCAS CULTURAIS NO LIVRO II DAS HISTÓRIAS O


Egito pelas lentes de Heródoto

Professora Dra. Nathalia Monseff Junqueira (UFMS - CPAN)

As práticas militares e comerciais no mundo antigo promoviam o encontro entre as diversas


sociedades que habitavam a Bacia do Mediterrâneo e, a partir dessas múltiplas relações estabelecidas
entre elas, permitiam trocas, apropriações, reapropriações e recriações culturais. O objetivo deste
trabalho é justamente observas essas trocas culturais entre as sociedades no Livro II da obra Histórias,
escrito por Heródoto de Halicarnasso no V a.C. Podemos observar, no decorrer desse discurso, como
o historiador grego constrói a sociedade egípcia, evidenciando os traços culturais que os egípcios
emprestaram para outros povos, como os gregos, aqueles que absorveram de outras sociedades através
do contato ao longo dos séculos e a diversidade e as particularidades culturais, econômicas, políticas e
socais que são proporcionadas nesse movimento chamado de trocas culturais.

HISTÓRIAS DE JUDAÍSMOS
Memória e Identidade no Guia dos Perplexos de Maimônides (século XII)

Rafaela Gonçalves da Costa Marques (UFMT - Vivarium)

O presente trabalho tem por objetivo analisar as motivações que levaram o filósofo judeu
Maimônides (1135-1204), conhecido no meio judaico como Rambam (acrônimo usado para grandes
mestres), a escrever o livro filosófico Guia dos Perplexos. Propomos uma história do judaísmo a partir de
uma abordagem pluralista na esperança de compreender como os judeus se inseriram e absorveram as
culturas dos locais onde passaram a viver. A história de vida de Maimônides, assim como o seu livro,
nos abre uma janela para o período em que viveu e para os pensamentos de sua época, como também o
entendimento da sua ideia de judaísmo. Com seu aspecto racional, o pensamento de Maimônides
causou forte influência nos judeus de seu tempo que se aventuraram na filosofia. Ao mesmo tempo que
foi visto como um estandarte da identidade judaica na diáspora. Nosso recorte temporal será o século

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XII, e espacial a Espanha muçulmana onde Maimônides nasceu e o norte da África onde viveu boa
parte de sua vida.

DESORDEM E CONFLITO EM DECAMERON


Amanifestação de uma transtemporalidade

Rafaella Schmitz dos Santos (UFSC)

A obra de Giovanni Boccaccio, "Decameron", escrita entre 1348 e 1353 é analisada no presente
trabalho enquanto um documento literário que permeia problemas e acontecimentos da vida cotidiana,
simbólica e religiosa da sociedade medieval florentina. O medo da peste negra presente na obra é aqui
analisado enquanto “presentificação” do castigo divino que atravessa a construção identitária de longa
duração dos grupos essencialmente cristãos e decorre de um conflito social, ocasionado
substancialmente a partir de uma desordem eclesiástica instaurada pelo desequilíbrio entre a fé e a
razão, além de uma desvirtuação de conduta na ordem social. Neste sentido, utilizando a perspectiva de
produção de presença de Hans Ulrich Gumbrecht e da perspectiva de trauma de Jörn Rüsen,
buscaremos analisar a (re)construção de um cenário “virtuoso”, que caracteriza na presente análise a
utopia ou a transtemporalidade de Boccaccio. A análise transtemporal é construída através do
entrelaçamento de temporalidades presente no pensamento de Reinhart Koselleck e se constitui numa
relação de intercâmbio cultural, aproximando-se da perspectiva “transcultural” de Aline Dias da Silveira
e Michel Tischler.

PAGANISMO E CRISTIANISMO NO RENASCIMENTO

Rodrigo Venceslau (UFMT)

A presente pesquisa trata-se de um estudo sobre o Paganismo e Cristianismo no Renascimento.


O artigo foi aplicado no grupo de pesquisa do Departamento de Filosofia do ICHS, Questões do
Renascimento, cuja a finalidade tem sido discutir de forma ampla todos os diversos fenômenos que se
desenrolaram no Renascimento entre eles paganismo, cristianismo e religião. Essa pesquisa tem como
objetivo uma análise da Reforma Protestante e Católica e o seu significado nos confrontos do
Renascimento. Abrindo mão dos contributos originais prestado pelos reformadores ao pensamento
religioso, ou seja, das mudanças nas instituições eclesiásticas produzida pela iniciativa dos reformadores;
dos fatores políticos e sociais que determinaram a popularidade e o sucesso da Reforma, e
conservando-se no limite do tema, o objetivo será compreender de que modo (positivo ou negativo) o

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classicismo renascentista exerceu uma influência sobre o pensamento religioso do período e sobre tudo
da Reforma, entendendo a Reforma como um importante desenvolvimento dentro do mais amplo
período histórico que se estendeu pelo menos até ao final do século XVI, e que continuamos a chamar,
Renascimento. De acordo com o estudo bibliográfico desenvolvido, é possível notar que alguns
historiadores no calor de suas convicções religiosas ou irreligiosas creditaram uma espécie de
irreligiosidade; de uma interpretação da Reforma como um fenômeno totalmente novo e acima da
cultura cristã anterior; de considerar que as “ideias morais e alegorias literárias” nos escritos dos
humanistas como expressões de um novo paganismo que era incompatível ao cristianismo; de que na
separação entre razão e fé estava um secreto ateísmo. A pesquisa sugere rejeitar tais afirmações como
resultado de lendas e preconceitos, e que de fato houve um pouco da tradição pagã na literatura do
Renascimento, mas praticamente nenhum dos pensadores tiveram o real interesse de fazer reviver os
antigos cultos pagãos. E que é muito mais apropriado chamar o Renascimento de uma época
fundamentalmente cristã. Para o embasamento teórico a pesquisa destaca a atenção dada por três
autores especialistas do Renascimento Paul Oskar Kristeller, Jean Deleumeau e James Hankins. Esses
autores concordam em quase todas as questões, mas concordam muito mais sobre um elemento chave
sobre o humanismo, a saber, a continuidade entre a cultura literária medieval e o humanismo do
Renascimento. Por fim, a pesquisa constatou que o legado clássico no Renascimento explica os
desenvolvimentos no campo da filosofia, no campo da religião e no campo da ciência, negar isso é
como falar mal, de algo que se desconhece. A pesquisa sugere que se for o caso de fazer uma avaliação
dos méritos e também dos limites do classicismo no Renascimento, será necessário realizar uma
investigação direta das fontes, como fizeram os próprios renascentistas, e não repetir “juízos
antiquados” sem de fato ter o conhecimento do que se trata como fizeram alguns historiadores.

A IGREJA MEDIEVAL NOS LIVROS DIDÁTICOS (2000-2010)

Samuel Silva Pereira (UFOPA - Vivarium)

O livro didático é uma realidade nas escolas brasileiras, sendo o material pedagógico
predominante utilizado pelos professores no processo de ensino na educação básica. Seu uso como
recurso em sala de aula implica diretamente na vida dos alunos, pois os manuais são os principais
veiculadores de conhecimentos sistematizados e possuem um caráter normativo que constrói
representações sociais e difunde valores e ideologias, as quais refletem diretamente na formação
identitária dos alunos. Neste sentido, o presente ensaio tem por objetivo compreender como a Igreja
medieval tem sido trabalhada nos manuais didáticos do ensino fundamental. No estudo foram

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analisados cinco livros didáticos produzidos no Brasil e aprovados pelo Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD), entre 2000 e 2010.

ASPECTOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA


A pedagogia de Anselmo de Bec a partir dos escritos de Eadmero de Canterbury

Sandra Mara Teixeira Silva (UFMT - Vivarium)

A história da educação na Idade Média é um vasto campo de pesquisa e precisa ser estudada em
diferentes aspectos. O historiador pode ater-se à evolução das teorias nas diferentes áreas do
conhecimento, ou dedicar-se aos paradigmas que orientam a atividade educacional, relacionando-os ao
sistema social em que vive. Este trabalho se dedica a análise do período compreendido entre os Séculos
XI até XII, ressaltando os aspectos da relação entre a educação e a religião que influenciaram a
produção cultural e o desenvolvimento social. Verificamos que a educação que se desenvolveu no
mundo medieval, foi influenciada pelo cristianismo. Neste aspecto a concepção aristotélica, não foi
plenamente absorvida pelos doutores medievais, para o filósofo grego, o mundo era eterno em si
mesmo, mas, para o cristianismo, o mundo foi criado por Deus, do nada, ex nihilo, sendo assim
temporal, e não eterno. No século XV, a visão que se tinha da natureza era, em grande parte,
influenciada pela filosofia natural aristotélica, isto é, pela física e a metafísica de Aristóteles. Desse
modo, o mundo era encarado como um cosmos, dotado de uma ordenação harmônica repleta de
correspondências entre os fenômenos celestes e os terrestres. Para Anselmo de Bec, havia uma visão da
natureza em conjunto e esta perspectiva, permeou a Idade Média.

PLUTARCO
Da Educação da Criança e a recepção no renascimento

Silvio Claudio Ferrari de Souza (UFMT)

O foco desta comunicação é o Tratado “Da Educação das Crianças” de Plutarco buscando
expor dois pontos: 1 - Apresentar um breve estudo filológico da negligência (αμέλεια) reclamada por
Plutarco em seu Tratado, e 2 - A recepção de seu tratado no Renascimento em Juan Luis Vives, tendo
como base um recorte de suas obras, aquelas que o humanista trata exclusivamente da educação pueril.

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A AQUISIÇÃO E ACUMULAÇÃO DE LIVROS ENTRE OS FRADES MENORES
SEGUNDO AS CONSTITUIÇÕES DE NARBONA

Professor Me. Victor Mariano Camacho (PPGHC - UFRJ)

Os Frades Menores, que surgiram no início do século XIII a partir da forma de vida proposta
por Francisco de Assis, inicialmente eram, sobretudo, leigos, em sua maioria iletrados. Respondendo
aos anseios da Igreja Romana e dedicando-se a prática da pregação, logo o estudo em vista da ação
pastoral dos religiosos passou a fazer parte do cotidiano da comunidade. Os frades se inseriram nos
principais centros universitários do Ocidente como Paris, Bolonha e Oxford, formando não apenas os
noviços, mas também renomados mestres em Teologia vinculados ao instituto. Logo, para a atividade
intelectual dos minoritas, era necessário o uso cada vez maior de livros. Sabendo que o livro no
contexto do medievo era algo oneroso, para que não fossem contra o princípio da pobreza e
minoritismo previstos na Regra, o Governo Geral da instituição passou a ditar normativas no tocante a
aquisição e acumulação de livros pelos frades ao longo do século XIII. Dentre estas normas, destaco
neste trabalho as Constituições Gerais aprovadas no capítulo Geral de 1261, sob o governo do então
ministro geral Frei Boaventura de Bagnorégio. Por meio desta exposição, pretendo analisar e discutir os
fragmentos do documento em que é tratada a aquisição, circulação e acúmulo de livros em conventos e
províncias da Ordem Franciscana.

A LUTA PELA APROPRIAÇÃO DA PAIDEIA


A perspectiva cristã a partir do epistolário de Jerônimo

Wagner Campos (UFMT - Vivarium)

A antiguidade tardia é um período histórico delimitado pelos séculos IV e V. Estando entre a


antiguidade clássica e a idade média, possui características singulares que o distingue de qualquer outro
período que recortes historiográficos apresente. Dentro deste período, a pesquisa objetiva analisar os
diálogos e conflitos ocorridos na cultura romana, observando o universo cultural comum
compartilhado entre pagãos e cristãos (denominada Paideia) e, além disto, dispõe-se a fazer na pesquisa
levantamentos acerca das causas do processo de cristianização, ou, em linhas mais precisas, a
construção da hegemonia dos pensadores cristãos. O epistolário de Jerônimo compõe o corpus
documental. Este, fora um doutor da Igreja, responsável pela tradução da Bíblia hebraica para o latim (a
chamada vulgata) e autor de várias epístolas endereçadas a diversos sujeitos, sendo alguns destes líderes,
da aristocracia e do clero, que possuíam forte influência na sociedade.

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GEORGES DUBY, UM HISTORIADOR E SEU TEMPO
Discussões sobre o conhecimento histórico a partir da obra do medievalista

William Serdeira Garcia (UFMT - Vivarium)

O conhecimento histórico passou por diversas modificações ao longo do tempo. São inúmeros
os historiadores de discutem essas modificações e, principalmente, demonstram em seus escritos os
efeitos dessas mudanças. Georges Duby é visto como um historiador do seu tempo, dialogando
constantemente com outras ciências, além de ter sido possuidor de uma notável capacidade de
produzir obras capazes de dialogar com o tempo presente. Neste trabalho, procuramos discutir os
efeitos mais relevantes na obra deste historiador a partir dos mais variados agentes do tempo.

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