Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Resumo
Algumas más oclusões exigem do ortodontista capacidade de diagnóstico para decidir pela
melhor maneira de tratar o paciente. O objetivo dos autores deste artigo foi apresentar
casos clínicos e discutir alguns elementos de diagnóstico utilizados na elaboração do plano
de tratamento, auxiliando na decisão de extrair dentes. Foi dada ênfase em cada elemento
de diagnóstico: aspectos relacionados à cooperação, discrepância de modelo, discrepância
cefalométrica e perfil facial, idade esquelética (crescimento) e relações anteroposteriores,
assimetrias dentárias, padrão facial e patologias. Sugere-se que a associação dos aspectos
citados é importante para a decisão correta. Todavia, algumas vezes, uma característica, por
si só, pode definir o plano de tratamento.
* Doutor em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor Associado de Ortodontia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ).
** Mestre em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
*** Doutor em Ortodontia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor Doutor de Ortodontia da Faculdade de Odonto-
logia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP).
tornou-se opositor das ideias não-extracionistas selamento labial. Foram propostos sete itens para
de Angle, motivo pelo qual foi criticado pelos serem avaliados como auxiliares nessa decisão e
ortodontistas da época23. que serviram como guias qualitativos. Ou seja, isso
Essa dicotomia permanece até os dias atu- não significa que seis itens favoráveis à extração de-
ais: o diagnóstico de algumas más oclusões dei- terminem a sua realização, há casos em que apenas
xa dúvidas quanto à realização de extrações. um item pode ser determinante para a decisão.
Segundo Dewel7, o desafio do diagnóstico or-
todôntico não está naqueles casos que declara- COOPeRaÇÃO
damente requerem extrações ou naqueles que Todo tratamento ortodôntico necessita de
não as necessitam, mas, sim, num extenso gru- colaboração do paciente como, por exemplo,
po conhecido como casos limítrofes. Não há, na manter uma higiene bucal adequada, não que-
literatura, unanimidade em relação ao valor da brar ou danificar os acessórios ortodônticos ou,
discrepância negativa na arcada inferior que ca- simplesmente, comparecer regularmente às
racterize tais casos. Entretanto, aceitam-se va- consultas. Porém, para determinados tipos de
riações entre -3 e -6mm, de discrepância total, má oclusão, necessita-se de colaboração adicio-
para classificar o caso como limítrofe. Keedy11 nal para que o tratamento seja executado com
comentou que o diagnóstico será ditado pela sucesso. Para a correção de certos tipos de má
tensão da musculatura e estabilidade pós-trata- oclusão de Classe II, principalmente as de ori-
mento. Williams26 observou que, na maioria dos gem esquelética, é necessário o uso de apare-
casos limítrofes, o paciente apresenta padrão lho extrabucal. Também no tratamento de má
esquelético adequado e aceitável equilíbrio dos oclusão de Classe III com deficiência maxilar
tecidos moles, com a frequência de indicação (paciente com potencial de crescimento), o uso
pelas extrações variando de 5 a 87% dos casos, da máscara facial para protração maxilar é um
por diferentes profissionais. dos tratamentos indicados18. É necessário, em
Diante de qualquer má oclusão, e principal- grande parte dos tratamentos, o uso de elásti-
mente de um caso limítrofe, é necessário avaliar cos intermaxilares como auxiliar na correção da
as características dentárias, faciais e esqueléticas má oclusão ou na fase final do tratamento, para
do paciente para se ter um correto diagnóstico e intercuspidação, os quais também exigem em-
eficiente plano de tratamento. No presente arti- penho do paciente em seu uso regular. Todos os
go, serão discutidas algumas dessas característi- recursos citados acima, devido ao comprometi-
cas, consideradas elementos de diagnóstico, que mento estético, oferecem dificuldades quanto à
devem ser observadas atentamente na decisão aceitação e uso por parte dos pacientes.
sobre a realização de extrações no planejamento É extremamente difícil saber, inicialmente, se
do tratamento ortodôntico. o paciente será ou não colaborador, mas através
A decisão sobre extrações dentárias vai além da da observação de alguns critérios — como o com-
necessidade de obter espaços na arcada, seja para portamento do paciente no consultório, o tipo de
alinhar dentes ou retrair dentes anteriores. Algumas relacionamento do mesmo com o acompanhante
vezes, a extração para alinhar dentes pode com- e através de entrevista separada com os pais —,
prometer a estética facial, tornando o perfil mais pode-se arriscar alguma previsão sobre a coope-
côncavo. Entretanto, obter espaço à custa de mo- ração. Essas observações aplicam-se, principal-
vimento distal de dentes posteriores pode também mente, ao paciente adolescente. De modo geral,
comprometer a estética, tornando o terço inferior o paciente adulto é mais colaborador do que o
mais longo, o que pode resultar em dificuldade de jovem, pois é mais maduro emocionalmente para
entender a importância desse fator em seu trata- inferiores e pequenas expansões e/ou projeções
mento. Quando é necessária uma grande colabo- com objetivo de restabelecer inclinações normais
ração, sugere-se planejar um reestudo depois de aos dentes inferiores, principalmente se acompa-
determinado período de tempo, pois, diante da nhadas por disjunção maxilar.
incerteza da efetiva colaboração, o ortodontista O caso clínico 1 ilustra a situação de apro-
não pode contar plenamente com esse fator na veitamento do leeway space para evitar as ex-
resolução dos casos limítrofes. trações. A paciente, com 9 anos de idade, pos-
Algumas vezes, a falta de cooperação prolon- suía discrepância negativa nas arcadas superior
ga o tempo de tratamento e pode, até mesmo, e inferior (Fig. 1). Para resolução desse caso,
acarretar em alteração do planejamento inicial, poderia-se optar por extrações dentárias de
requerendo extrações dentárias. pré-molares superiores e inferiores. Apesar do
Más oclusões de Classe II dentárias, com boa perfil ter se mostrado levemente convexo, op-
arcada inferior, podem ser corrigidas por movi- tou-se pelo tratamento com o aproveitamento
mento distal dos dentes superiores com uso de do leeway space na arcada inferior e colocação
elásticos, ou aparelho extrabucal, o que requer de arco lingual durante a fase de dentição mista
muita cooperação do paciente. Alternativamen- (Fig. 1G), além do procedimento de expansão
te, pode-se realizar o movimento distal apoiado rápida da maxila. Com essa terapêutica, con-
em mini-implantes; ou fazer a correção com ex- seguiu-se o alinhamento dentário sem a neces-
trações de pré-molares superiores, exigindo um sidade de realização de extrações e obteve-se
menor grau de colaboração do paciente. perfil reto que, provavelmente, estaria em pior
Alguns tratamentos podem obter resultados conformação se o caso tivesse sido tratado com
semelhantes se conduzidos com ou sem extra- extrações dentárias (Fig. 2, 3).
ções (principalmente casos limítrofes). Entre- Outra situação, nos casos de discrepâncias ne-
tanto, outros podem ter seu resultado compro- gativas, é aquela onde há necessidade de se reali-
metido caso o planejamento tenha sido baseado zar extrações dentárias porém não se pode alterar
em mecânicas que dependam de cooperação e o o perfil facial. No caso clínico 2, a paciente pos-
paciente não corresponda. suía perfil facial reto com discrepância negativa
nas arcadas superior e inferior e assimetria na ar-
DIsCRePâNCIa De mODelO cada inferior (Fig. 4) com desvio da linha média
A discrepância de modelo deve ser avaliada tan- inferior para a direita. Para resolução desse caso,
to na arcada superior quanto na inferior. Mas, para optou-se pelas extrações de três pré-molares (14,
fins de diagnóstico, a arcada inferior é prioridade, 24 e 34). Para evitar retrações excessivas dos den-
devido à maior dificuldade em se obter espaço. tes anteriores para lingual e aprofundamento do
Quando o ortodontista se depara com uma perfil, utilizou-se torque resistente nas arcadas
discrepância de modelo (DM) negativa acen- superior e inferior durante a retração dentária,
tuada na arcada inferior, dificilmente consegue evitando-se verticalização dos incisivos. O resul-
tratar o paciente sem extrações dentárias. Para tado, ao final do tratamento, foi de harmonização
pequenas discrepâncias negativas, em grande dentária no espaço presente, com manutenção do
parte dos casos, o tratamento é realizado sem perfil facial (Fig. 5).
extrações. Assim, o espaço pode ser obtido por Nas discrepâncias de modelo nulas ou posi-
aproveitamento do leeway space (quando ainda tivas, o tratamento é realizado sem extrações, a
for possível), stripping, correção de inclinações não ser que o paciente apresente outro problema
acentuadas para mesial dos dentes posteriores associado que as indique.
A B
C D
E F G
FIGURA 1 - Caso clínico 1. Fotografias iniciais faciais (A, B) e intrabucais (C a F). G) Arco lingual instalado para aproveitamento do leeway space.
A B C
FIGURA 3 - Perfil pré (A), pós-tratamento (B) e três anos após a finalização do caso (C).
ortodôntico, haja vista que o perfil responderá mentoneira vertical durante o período noturno para
às mudanças promovidas nos dentes. De acordo controle vertical, evitando-se extrusões.
com Ramos et al.17, para cada 1mm de retração Ao final do tratamento (Fig. 9, 10), houve cor-
do incisivo superior, o lábio superior se retrai reção das relações dentárias e melhora no perfil fa-
em 0,75mm. Outros autores encontraram valo- cial, o qual não foi totalmente reposicionado, mos-
res menores para essa relação (1/0,64 - Talass et trando-se discretamente protruso, com a finalidade
al.20; 1/0,5 - Massahud e Totti14). Quanto ao lábio de evitar o envelhecimento precoce da paciente.
inferior, para cada 1mm de retração do incisivo
inferior, o lábio se retrai em média 0,6mm12 ou IDaDe esqUeléTICa (CResCImeNTO) e
0,78mm14. Desse modo, o fechamento de espa- RelaÇões aNTeROPOsTeRIORes
ços por retração dos dentes anteriores tenderá a Nas más oclusões com discrepância esquelé-
tornar o perfil mais côncavo. tica, verificar se o paciente ainda apresenta cres-
Há situações onde o perfil facial é côncavo cimento facial expressivo é de fundamental im-
mas o planejamento ortodôntico indica extra- portância no diagnóstico e prognóstico do caso.
ções para resolver problemas de apinhamento O surto máximo de crescimento puberal ocorre,
e/ou assimetrias dentárias anteroposteriores. aproximadamente, por volta dos 11 a 12 anos nas
Atenção deve ser dada ao fato da estética fa- meninas e 13 a 14 anos nos meninos, excetuando-
cial estar sendo cada dia mais valorizada pelos se as variações individuais16. O método mais utili-
pacientes e ao fato do perfil facial tornar-se mais zado para avaliação da idade esquelética é a radio-
côncavo à medida que a idade aumenta. Assim, grafia de mão e punho, analisando-se o tamanho
deve-se preferir finalizar os casos com perfis le- das epífises em relação às diáfises9. Caso o pacien-
vemente protrusos para que, no futuro, eles não te se encontre nesse período do desenvolvimento,
se tornem côncavos. Em pacientes adultos, deve- é possível corrigir uma displasia esquelética com
se evitar a recolocação excessiva de dentes an- uso de aparelhos com efeitos ortopédicos.
teriores para lingual, o que poderá acarretar em Caso a má oclusão possa ser corrigida com res-
evidenciação das rugas de expressão e imediato posta do crescimento (redirecionamento do cres-
aspecto de envelhecimento facial. cimento), o clínico tem a possibilidade de tratar o
As figuras 7 e 8 (caso clínico 3) mostram uma pa- caso sem extrações dentárias.
ciente com 11 anos de idade, perfil convexo, Classe As figuras 11 e 12 (caso clínico 4) demons-
II esquelética (ANB = 6º), Classe I dentária, DM in- tram um caso clínico com essas características.
ferior nula, sobressaliência de 2mm, mordida aberta Utilizando-se aparelho extrabucal associado a
de 3mm, incisivo superior bem posicionado (1.SN aparelho ortodôntico fixo, obteve-se correção
= 103º) e inferior projetado (IMPA = 110º). Como dentária e esquelética. Inicialmente, o paciente
agravantes, a paciente apresentava respiração bucal com 11 anos de idade apresentava perfil conve-
e dificuldade em selar os lábios. Pode-se notar, tam- xo; Classe II esquelética (ANB = 8º); Classe II,
bém, o terço inferior da face aumentado e a falta de divisão 1; DM inferior de 2mm; sobressaliência
espaço para erupção dos caninos superiores. de 8mm; sobremordida de 5%; incisivos superio-
Baseado nessas avaliações, optou-se pelo trata- res bem posicionados (1.SN = 101º) e inferiores
mento ortodôntico associado a extrações dos dentes projetados (IMPA = 99º); e terço inferior da face
14 e 24, com o objetivo de alinhar e nivelar os ca- aumentado. Como agravante, o paciente apresen-
ninos superiores, e dos dentes 35 e 45, para peque- tava hábito de sucção de dedo, respiração bucal
na reposição dos incisivos inferiores e movimento e possuía crescimento com resultante predomi-
mesial dos dentes 36 e 46. Foi utilizada, também, nantemente vertical (Sn.GoGn = 40º).
IMPA = 110º
1.SN = 100º
ANB = 4º
IMPA = 102º
A B
SN.GoGn = 39º
IMPA = 93º
A B
SN.GoGn = 46º
IMPA = 82º
SN.GoGn = 42º
IMPA = 86º
A B
Nas más oclusões de Classe II, subdivisão, que A extração do dente 25 propiciou manutenção
apresentam simetria de bases ósseas, porém assi- da relação de chave de oclusão nos caninos do
metria dentária, o ortodontista deve determinar lado esquerdo, e a do elemento 15 manteve a
qual segmento dentário é responsável pelo desvio simetria na arcada superior.
e avaliar a linha mediana dentária em relação à Inicialmente, uma dúvida pode surgir ao ava-
face para elaboração do plano de tratamento com- liar esse caso clínico. Como fazer para que as ex-
patível com a situação apresentada25. trações dentárias não piorem o perfil da paciente,
Em pacientes que apresentem acentuado que estava adequado no início do tratamento?
desvio da linha média dentária em relação à fa- Para se evitar a piora no perfil, foram utilizados
cial (principalmente na arcada inferior), torna- recursos mecânicos de torque resistente, vesti-
se necessária a realização de exodontias dentá- bular de coroa nos incisivos inferiores e ômegas
rias. Pequenas assimetrias podem ser corrigidas justos aos tubos dos segundos molares, para que
com elásticos intermaxilares ou mini-implantes não ocorresse reposição lingual do incisivo infe-
(em alguns casos, com mecânica unilateral), ex- rior, além de apoio em mini-implante para perder
trações assimétricas, desgastes interproximais ancoragem na hemiarcada inferior direita. Desse
e, em poucas situações, aceitar finalizar o tra- modo obteve-se, ao final do tratamento, correção
tamento ortodôntico com pequeno desvio da da má oclusão de Classe II dentária sem compro-
linha mediana. A ausência de coincidência entre metimento do perfil facial (Fig. 21, 22).
as linhas médias dentária e facial é mais notada Vale ressaltar que, após finalização do tratamen-
na arcada superior, sendo esteticamente desa- to, a paciente submeteu-se a uma cirurgia de rino-
gradável. Esse desvio pode representar o moti- plastia, para melhor compor a estética do perfil.
vo principal de muitos pacientes para a procura
por tratamentos ortodônticos. PaDRÃO faCIal
Para ilustrar essa situação, será apresentado o Pacientes com diferentes padrões faciais re-
caso clínico 6, de uma paciente com 18 anos de querem mecânicas diferenciadas e as respostas
idade que apresentava má oclusão de Classe II ao tratamento ortodôntico não são semelhantes.
esquelética (ANB = 8º), incisivos superiores e in- Pacientes dolicofaciais são aqueles que apresen-
feriores bem posicionados (1.SN = 104º e IMPA tam a altura da face maior do que a largura, evi-
= 92º), perfil facial reto (LS-S = 2mm e LI-S = denciando uma face longa, estreita e protrusiva.
1mm). No que concerne ao relacionamento den- Além disso, possuem musculatura facial hipo-
tário, o caso apresentava-se com grande assime- tônica no sentido vertical, podendo apresentar
tria inferior devido a um tratamento prévio com mordida aberta anterior8. Nesses pacientes, nor-
extração apenas do elemento 44, DM inferior de malmente ocorre maior perda de ancoragem, o
-3mm, sobressaliência de 2mm e sobremordida que auxilia no fechamento de espaços, porém,
de 50% (Fig. 19, 20). necessita-se de maior controle para evitar a per-
Com base nos referidos dados de diagnós- da excessiva de ancoragem e a consequente fal-
tico, optou-se pela extração do dente 34 para ta de espaço para a devida correção planejada.
corrigir a assimetria inferior. No entanto, ape- Mecânicas extrusivas devem ser evitadas, bem
nas a extração desse dente corrigiria a assime- como o movimento distal de dentes posteriores.
tria inferior, mas levaria a relação de caninos Os pacientes braquifaciais apresentam a lar-
do lado esquerdo para Classe II. Para evitar tal gura da face maior do que a altura, evidencian-
efeito indesejado, foram necessárias extrações do-se uma face larga, curta e globular8. Nesses
superiores dos segundos pré-molares (15 e 25). pacientes, a perda de ancoragem, geralmente, é
ANB = 8º
1.SN = 104º
IMPA = 92º
ANB = 6º
1.SN = 97º
IMPA = 92º
A B
mais difícil de ocorrer devido às características movimentá-los para distal e para manutenção da
de sua musculatura (músculos da mastigação ancoragem durante a retração dentária. O api-
hipertônicos), o que dificulta a movimentação nhamento inferior foi resolvido com stripping,
dentária. Muitos pacientes braquicefálicos apre- principalmente nos incisivos que apresentavam
sentam mordida profunda. Nesses casos, extra- formato triangular, com presença de espaços ne-
ções dentárias tenderiam a piorar esse trespasse gros, quando alinhados. Os resultados obtidos,
vertical, necessitando de um bom controle me- nesse caso, foram a correção da relação dentária
cânico. Apesar de normalmente ocorrer maior de Classe II com fechamento da mordida atra-
perda de ancoragem no dolicocefálico e menor vés de intrusão de molares superiores (Fig. 24). A
no braquicefálico, nem sempre isso acontece. sobreposição total evidencia a intrusão do molar
Portanto, cuidado adicional deve ser tomado superior, diminuição do plano mandibular pela
durante a fase de fechamento de espaços. rotação anti-horária da mandíbula e consequente
A literatura sugere a remoção de dentes per- fechamento da mordida aberta (Fig. 25).
manentes posteriores e subsequente perda de
ancoragem para correção da mordida aberta an- PaTOlOgIas
terior pela rotação anti-horária da mandíbula1,15. Algumas patologias têm grande contribuição
Por outro lado, há autores10 que questionam essa na definição do planejamento do tratamento or-
associação entre diminuição do crescimento ver- todôntico. Os pacientes podem apresentar den-
tical e extrações. tes que interromperam sua formação, agenesias,
Entretanto, a experiência clínica evidencia ectopias, anomalias de forma ou, até mesmo,
que o movimento dos dentes posteriores para processos cariosos e lesões endodônticas que
distal provoca tendência à abertura do plano indiquem a extração do dente. No diagnóstico,
mandibular, principalmente em pacientes que essas patologias devem ser consideradas, poden-
já passaram o surto de crescimento ou que do alterar, em determinadas situações, o plane-
tenham padrão de crescimento desfavorável jamento do dente a ser extraído.
(predominantemente vertical), o que remete à Em pacientes com indicação de extrações de
maior necessidade de extrações. Por outro lado, pré-molares devido à acentuada discrepância nega-
a realização de extrações associada ao controle tiva de modelo, mas que apresentam os primeiros
vertical (uso de mentoneira vertical, AEB tração molares permanentes acometidos por cárie exten-
alta, mini-implantes, sem utilização de mecâni- sa, esses últimos dentes tornam-se alternativa viá-
cas extrusivas) pode resultar no fechamento do vel de extração ao invés dos pré-molares22. Em más
plano mandibular e/ou controle do crescimento oclusões assimétricas, onde apenas um dente deve
vertical da face com diminuição do terço infe- ser extraído e o paciente apresenta um elemento
rior e melhora do selamento labial (Fig. 7 a 10). anômalo, esse deve ser o escolhido. Muitas outras
Para elucidar essa situação, apresentamos o situações patológicas — como cistos, anomalias
caso clínico 7 (Fig. 23), onde foi realizado o tra- radiculares e problemas periodontais — indicam a
tamento ortodôntico em paciente com padrão extração de elementos dentários. Dessa forma, as
facial vertical. No exame clínico, foi identificada patologias contribuem bastante para tratamentos
mordida aberta anterior e posterior. O planeja- ortodônticos com extração.
mento indicou extrações dos segundos molares O caso clínico 8, de uma paciente com 10 anos
superiores, aproveitamento dos elementos 18 de idade, ilustra a importância das patologias na
e 28, além da colocação de mini-implantes or- decisão de qual dente extrair. A mesma encontra-
todônticos para intruir os molares superiores, va-se na fase de dentição mista, apresentava má
oclusão de Classe I de Angle, mordida aberta ante- bem implantados na mandíbula (IMPA = 89°). O
rior de 3mm, respiração bucal, linha média supe- perfil se mostrava reto (S-LS = +1 / S-LI = +1).
rior desviada em virtude da falta do elemento 21 Verificou-se, na radiografia panorâmica (Fig.
e relação de Classe II esquelética. A maxila estava 27A), um posicionamento invertido do elemento
ligeiramente contraída com ausência de mordida 21 intraósseo, com irregularidade na porção radicu-
cruzada e discrepância de modelo negativa da ar- lar sugestiva de dilaceração. O ângulo entre a raiz
cada inferior de 6mm (Fig. 26, 27). e a coroa do incisivo central mostrava amplitude
A análise da telerradiografia lateral (Fig. 27B) de cerca de 90° na radiografia cefalométrica lateral.
demonstrou Classe II esquelética (ANB = 6°), pa- A paciente apresentava hábito prévio de sucção
drão vertical de crescimento facial (SnGoGn = 42° de polegar, causa da mordida aberta anterior manti-
e Eixo Y-SN = 74°), incisivos superiores retroinclina- da, posteriormente, pela postura anterior da língua.
dos (1.NA = 16°) e em linguoversão (1-NA = 3mm) O padrão vertical excessivo, associado à
e inferiores projetados e em vestibuloversão (1.NB DM negativa seriam fatores decisivos para ex-
= 29º e 1-NB = 5mm), apesar dos mesmos estarem trações de quatro pré-molares. Entretanto, a
1.SN = 100º
ANB = 6º
SN.GoGn = 42º
IMPA = 89º
A B
patologia (ectopia e dilaceração) do 21 deter- YSn = 73°) às custas das extrações dentárias e
minou a necessidade de sua extração ao invés da utilização de aparelho extrabucal de tração
do elemento 24. Realizou-se a transposição do combinada, minimizando-se, com essa mecâni-
elemento 23 para o local do 21. Dessa forma, o ca, o vetor extrusivo. Com o aparelho extrabu-
caso foi conduzido com extrações dos elemen- cal, obteve-se melhor relação anteroposterior
tos 14, 21, 34 e 44. das bases ósseas (ANB = 2°), levando a pacien-
Ao final do tratamento, o padrão vertical te de uma relação de Classe II esquelética para
da paciente foi mantido (SnGoGn = 40°, Eixo Classe I (Fig. 28, 29).
1.SN = 104º
ANB = 2º
SN.GoGn = 40º
IMPA = 89º
A B
abstract
Certain malocclusions require orthodontists to be capable of establishing a diagnosis in order to determine the
best approach to treatment. The purpose of this article was to present clinical cases and discuss some diagnostic
elements used in drawing up a treatment plan to support tooth extraction. All diagnostic elements have been high-
lighted: Issues concerning compliance, model discrepancy, cephalometric discrepancy and facial profile, skeletal
age (growth) and anteroposterior relationships, dental asymmetry, facial pattern and pathologies. We suggest that
sound decision-making is dependent on the factors mentioned above. Sometimes, however, one single character-
istic can, by itself, determine a treatment plan.
RefeRêNCIas
1. Aras A. Vertical changes following orthodontic treatment in 16. Proffit WR, Fields JRW. Ortodontia contemporânea. 3ª ed. Rio de
skeletal open bite subjects. Eur J Orthod. 2002;24(2):407-16. Janeiro: Guanabara Koogan; 1995.
2. Bernstein L, Edward H. Angle versus Calvin S. Case: extraction 17. Ramos AL, Sakima MT, Pinto AS, Bowman J. Upper lip changes
versus nonextraction. Historical revisionism. Part II. Am J correlated to maxillary incisor retraction – a metallic implant study.
Orthod Dentofacial Orthop. 1992;102(7):546-61. Angle Orthod. 2005;75(3):435-41.
3. Boley JC, Pontier JP, Smith S, Fulbright M. Facial changes 18. Roberts CA, Subtelny JD. Use of the face mask in treatment of
in extraction and nonextraction patients. Angle Orthod. maxillary skeletal retrusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop.
1998;68(1):539-46. 1988;93(4):388-94.
4. Burstone CJ. Diagnosis and treatment planning of patients with 19. Strang RHW. A text-book of Orthodontia. 3rd ed. Philadelphia:
asymmetries. Semin Orthod. 1998;4(4):153-64. Lea & Febiger; 1950. 825 p.
5. Camargo ES, Mucha JN. Moldagem e modelagem em 20. Talass MF, Tollaae L, Baker RC. Soft-tissue profile changes
Ortodontia. Rev Dental Press Ortod Ortop Facial. 1999;4(2):37-50. resulting from retraction of maxillary incisor. Am J Orthod
6. Chiche GJ, Pinault A. Estética em próteses fixas anteriores. São Dentofacial Orthop. 1987;91(7):385-94.
Paulo: Quintessence; 1996. 202 p. 21. Tanaka OM. Avaliação e comparação de métodos de diagnóstico
7. Dewel BF. Second premolar extraction in orthodontics. do posicionamento das linhas medianas dentárias no exame
Principles procedures and case analysis. Am J Orthod. clínico e nos modelos em gesso ortodôntico. [tese]. Curitiba:
1955;41(2):107-20. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2000.
8. Enlow DH. Crescimento facial. 3ª ed. São Paulo: Artes Médicas; 22. Telles CS, Urrea BEE, Barbosa CAT, Jorge EVF, Prietsch JR,
1993. 553 p. Menezes LM, et al. Diferentes extrações em Ortodontia (sinopse).
9. Fishman LS. Radiographic evaluation of skeletal maturation. Rev SBO. 1995;2(2):194-9.
A clinically oriented method based on hand-wrist films. Angle 23. Vaden JL, Dale JG, Klontz HA. O aparelho tipo Edgewise de
Orthod. 1982;52(3):88-112. Tweed-Merrifield: filosofia, diagnóstico e tratamento. In: Graber
10. Hans MG, Groisser G, Damon C, Amberman D, Nelson S, TM, Vanarsdall RL. Ortodontia: princípios e técnicas atuais. Rio de
Palomo JM. Cephalometric changes in overbite and vertical Janeiro: Guanabara Koogan; 1996. 897 p.
facial height after removal of 4 first molars or first premolars. 24. Vilella OV. Manual de cefalometria. Rio de Janeiro: Guanabara
Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2006;130(6):183-8. Koogan; 1995.
11. Keedy LR. Indications and contra indications for extraction in 25. Wertz RA. Diagnosis and treatment planning of unilateral Class II
orthodontics treatment. Am J Orthod. 1975;68(1):554-63. malocclusions. Angle Orthod. 1975;45(4):85-94.
12. Kusnoto J, Kusnoto H. The effect of anterior tooth retraction on 26. Williams DR. The effect of different extraction sites upon incisor
lip position of orthodontically treated adult Indonesians. Am J retraction. Am J Orthod. 1976;69(2):388-410.
Orthod Dentofacial Orthop. 2001;120(2):304-7.
13. Lewis P. The deviated midline. Am J Orthod. 1976;70(3):601-18.
14. Massahud NV, Totti JIS. Estudo cefalométrico comparativo Enviado em: março de 2010
das alterações no perfil mole facial pré e pós-tratamento Revisado e aceito: abril de 2010
ortodôntico com extrações de pré-molares. J Bras Ortodon
Ortop Facial. 2004;9(2):109-19.
15. Moreira TC. A frequência de exodontias em tratamentos endereço para correspondência
ortodônticos realizados na clínica do curso de mestrado Antônio Carlos de Oliveira Ruellas
em Ortodontia da Faculdade de Odontologia da UFRJ. Rua Expedicionários nº 437, ap. 51 – Centro
[dissertação]. Rio de Janeiro: Faculdade de Odontologia da CEP: 37.701-041 – Poços de Caldas / MG
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1993. Email: antonioruellas@yahoo.com.br