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JURISPRUDÊNCIA STF

8 de agosto de 2019

STF: Ministério
Público não pode
apelar contra decisão
do júri baseada no
quesito genérico da
absolvição
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Do julgamento pelo tribunal do júri é


cabível apelação quando a decisão é
manifestamente contrária à prova dos
autos. Eis, sem dúvida, a mais interessante
das hipóteses de apelação contra as
decisões do júri, que aparece com mais
frequência na prática e que enseja o maior
número de controvérsias. Nela, a segunda
instância, reconhecendo que a decisão dos
jurados contrariou a prova dos autos,
determina a realização de um novo
julgamento (§ 3º, do art. 593). Não pode o
tribunal, portanto, ao apreciar a apelação,
condenar ou absolver, sob pena de ferir o
princípio da soberania do júri, mas somente
dar provimento ao recurso para que um
novo plenário seja realizado. Insistimos:
suponha-se que o réu, sempre quando
ouvido, inclusive quanto interrogado em
plenário, tenha confessado a autoria do
homicídio, dizendo que assim agiu por
motivo torpe, ante a negativa da vítima em
pagar-lhe uma bebida. Inconformado e
animado pela ingestão exagerada de
álcool, quando a vítima deixava o local,
contra ela investiu pelas costas, matando-a.
A despeito da eloquência da prova, o júri,
contudo, o absolve. Com o recurso do
Ministério Público, à segunda instância não
se permite condenar o réu, em que pese o
absurdo da decisão. Cabe-lhe apenas a
possibilidade de, acolhendo o recurso do
parquet, mandar o réu a novo julgamento.

Mas, diante do princípio da soberania dos


vereditos, a modalidade de apelação
contra a decisão dos jurados é válida?

Entende-se no geral que sim, porque a


instância superior não decide o mérito da
causa no lugar dos jurados, não absolve
nem condena o réu. Noutras palavras, em
nenhum momento substitui os jurados,
apenas determina, diante de manifesta
contradição entre o conteúdo probatório e
o resultado da decisão, que novo
julgamento seja realizado, também pelo
júri.

Mas, em decisão monocrática proferida no


recurso em habeas corpus 117.076/PR (j.
01/08/2019), o ministro Celso de Mello
determinou que o Ministério Público não
pode interpor apelação contra decisão
proferida pelos jurados com base no
quesito “O jurado absolve o acusado?”,
disposto no art. 483, § 2º, do CPP.

O Código de Processo Penal estabelece, no


art. 483, a ordem em que os quesitos
devem ser formulados aos jurados. Primeiro
se indaga acerca da materialidade do fato;
em seguida, sobre a autoria ou a
participação; caso os jurados tenham
respondido afirmativamente aos dois
primeiros, há um quesito genérico que
simplesmente questiona se o jurado
absolve o acusado.

Segundo o ministro Celso de Mello, ao


responder a este último quesito o jurado o
faz baseado em sua íntima convicção,
razão pela qual não está vinculado à prova
produzida e pode votar pela absolvição por
simples razão de clemência, por exemplo:

“Disso resulta que a decisão dos jurados,


quando indagados, de modo genérico,
sobre a inocência do réu, tem por
fundamento a sua íntima convicção, o que
valoriza, nesse tema específico, o princípio
do livre convencimento, em que o membro
do Conselho de Sentença possui inteira
discrição, protegido, constitucionalmente,
pelo sigilo da votação (CF, art. 5º, XXXVIII,
“b”), para absolver o acusado por razões,
até mesmo, de clemência, tal como tem
sido decidido por alguns Tribunais
judiciários (…)”.

Após se referir a voto do ministro Rogério


Schietti Cruz, no qual o magistrado do STJ
considera que admitir a apelação contra a
absolvição proferida com base no quesito
genérico viola a soberania dos vereditos, o
ministro Celso de Mello complementa:

“Registro, por necessário, que tenho


adotado essa mesma orientação, no
sentido de também considerar inadmissível
– quando não incongruente em face da
reforma introduzida no procedimento
penal do júri – o controle judicial, em sede
recursal (CPP, art. 593, III, “d”), das decisões
absolutórias proferidas pelo Tribunal do
Júri com suporte no art. 483, III e § 2º, do
CPP, quer pelo fato, juridicamente
relevante, de que os fundamentos
efetivamente acolhidos pelo Conselho de
Sentença para absolver o réu (CPP, art. 483,
III) permanecem desconhecidos (em razão
da cláusula constitucional do sigilo das
votações prevista no art. 5º, XXXVII, “b”, da
Constituição), quer pelo fato, não menos
importante, de que a motivação adotada
pelos jurados pode extrapolar os próprios
limites da razão jurídica.”

A nosso ver, esta conclusão é equivocada e


contraria de forma muito clara o princípio
da proibição da proteção deficiente.

Para compreendermos melhor a origem do


equívoco e chegarmos a uma solução
adequada, façamos uma breve incursão
sobre a origem desse quesito genérico e
suas circunstâncias.

O quesito é novidade introduzida pela Lei


nº 11.689/08, responsável por atrair ao
procedimento do júri brasileiro uma
característica inerente ao sistema criminal
americano, despertando, no entanto,
indisfarçável controvérsia acerca de sua
compatibilidade com o nosso sistema.

A novidade veio sob a justificativa de


tornar mais simples o procedimento de
votação nos crimes dolosos contra a vida
ao facilitar a elaboração e, principalmente,
a compreensão dos quesitos pelos jurados.
Parece-nos, todavia, que o propósito não
foi cumprido porque, além de permanecer
a necessidade de se elaborarem diversos
outros quesitos, anteriores e posteriores a
este, para estabelecer a materialidade, a
autoria, a tentativa, a incidência de
minorantes, de qualificadoras e de
majorantes, a generalização que
caracteriza o novo quesito proporciona
diversas situações no mínimo inusitadas,
que, por sua natureza, podem contrariar a
Constituição Federal, como vemos nesta
decisão do Supremo Tribunal Federal.

Os termos em que o quesito é formulado


induzem o voto pela absolvição, não só
porque indaga se o jurado absolve o
acusado, direcionando a resposta, como
porque inverte os termos até então
aplicados à quesitação: sobre
materialidade e autoria, os jurados votaram
“sim”; em seguida, para que mantenham a
mesma orientação, devem votar “não”, ou
seja, devem afirmar que, para condenar,
não absolvem. Vê-se, portanto, que a
forma de elaboração do quesito no mínimo
conduz ao equívoco. E colabora para isso o
fato de a indagação ser genérica, sem
especificar as teses a que a defesa tenha
recorrido durante os debates no plenário.
Imagine o leitor a cena de um julgamento:
o Ministério Público faz sua explanação; a
defesa expõe suas teses; na réplica, o
órgão da acusação contradita tais teses,
em seguida reiteradas na tréplica. Após
algumas horas submetidos a densa
argumentação jurídica, os jurados são
indagados simplesmente se absolvem o
acusado e têm de recordar todos os
argumentos lançados, sem nenhuma
referência. É, efetivamente, o caminho
certo para a inexatidão, que somente pode
se reverter com a interposição de recurso
que aponte a contradição entre a decisão e
a prova produzida e que resulte na
realização de novo julgamento.

A maioria da doutrina leciona que o


quesito genérico abrange todas as teses
sustentadas pela defesa e pode se
fundamentar em circunstâncias sequer
levadas a plenário, como a clemência.
Assim, se em plenário o defensor do
acusado sustenta a legítima defesa e a
obediência hierárquica, ambas devem ser
apreciadas conjuntamente no momento
em que os jurados votam o quesito
genérico relativo à absolvição, que pode
ainda ser proferida por outros motivos.

Não nos parece, entretanto, que seja assim


tão simples.

Dados os contornos que assume a


imposição do quesito genérico, parece-nos
que, na verdade, o propósito da reforma foi
o de introduzir e consagrar a possibilidade
de que o Conselho de Sentença possa
absolver a qualquer custo, o que se nos
afigura de todo absurdo porque equivale a
sustentar a possibilidade de que se julgue
sem abrigo na prova.

A nosso ver, como forma de mitigar a clara


deficiência da lei e de garantir o pleno
exercício da função julgadora do tribunal
do júri, constitucionalmente assegurada,
assim como a plenitude da defesa da
vida, impõe-se a individualização dos
quesitos que podem levar à absolvição,
como forma de levar o Conselho de
Sentença a se manifestar sobre cada uma
isoladamente, permitindo que se saibam as
razões da absolvição para que as
providências daí decorrentes possam ser
adotadas com segurança.

Em tempo, não há dúvida de que os


jurados, ainda que admitindo a autoria e a
materialidade delitivas, podem absolver o
réu no que se denomina “absolvição por
clemência”. Isto não implica dizer, porém,
que a decisão seja categoricamente
inatacável e imutável. A respeito, já decidiu
o STJ:

“A absolvição do réu pelos jurados, com


base no art. 483, III, do CPP, ainda que por
clemência, não constitui decisão absoluta e
irrevogável, podendo o Tribunal cassar tal
decisão quando ficar demonstrada a total
dissociação da conclusão dos jurados com
as provas apresentadas em plenário. Assim,
resta plenamente possível o controle
excepcional da decisão absolutória do Júri,
com o fim de evitar arbitrariedades e em
observância ao duplo grau de jurisdição.
Entender em sentido contrário exigiria a
aceitação de que o conselho de sentença
disporia de poder absoluto e peremptório
quanto à absolvição do acusado, o que, ao
meu ver não foi o objetivo do legislador ao
introduzir a obrigatoriedade do quesito
absolutório genérico, previsto no art. 483,
III, do CPP” (HC 313.251/RJ, j. 28/02/2018).

Ao contrário do que sinalizam decisões que


impedem a apelação contra absolvições
decretadas com base no quesito genérico,
o recurso baseado na incongruência entre
a prova produzida e a decisão dos jurados
não contraria a soberania dos vereditos –
pois, como já destacamos, o órgão de
segunda instância jamais substitui o
Conselho de Sentença, limitando-se a
determinar novo julgamento pelo tribunal
do júri –, nem tampouco viola o sigilo das
votações, que existe para garantir que não
se saiba publicamente como votou cada
jurado, mas não tem o propósito de limitar
a tutela do direito à vida impedindo que a
sociedade, por meio do Ministério Público,
em primeiro lugar, saiba a que título o
acusado está senso absolvido e se isto
contraria os elementos reunidos a respeito
do crime e de seu autor, e, em segundo
lugar, adote as medidas cabíveis para
garantir que o julgamento pelo tribunal do
júri cumpra plenamente seu propósito.

Contraria os mais básicos preceitos de


justiça atar as mãos do Ministério Público e
conferir um poder ilimitado para que os
jurados julguem de forma absolutamente
alheia aos elementos probatórios sob o
equivocado pretexto de garantir a
soberania dos vereditos. A soberania já é
plenamente garantida na medida em que:
1) nenhum recurso substitui o mérito da
decisão dos jurados; 2) o recurso de
apelação com fundamento na
contrariedade entre a prova dos autos e a
decisão dos jurados só pode ser interposto
uma vez (art. 593, § 3º, do CPP), o que evita
a manifestação de inconformismo
desenfreado pelo órgão de acusação.

É preciso ter sempre em mente que o


propósito do julgamento é a obtenção da
resposta estatal à prática do mais grave
dos crimes, e que isso deve ser feito
cotejando as garantias constitucionais
inerentes ao tribunal do júri com a
plenitude da tutela do direito à vida. Não é
razoável garantir de forma absoluta e
acima de qualquer questionamento apenas
um dos aspectos relativos à posição dos
jurados e, ao mesmo tempo, renegar o
mais importante, que é a proteção a nosso
bem jurídico mais caro, cuja relevância,
aliás, já se destaca no caput do art. 5º da
Constituição Federal, que inaugura o rol
dos direitos e garantias fundamentais.

Para se aprofundar, recomendamos:

Livro: Código de Processo Penal e Lei de


Execução Penal Comentados por Artigos

#absolvição #apelação #art. 483 CPP

#art. 593 CPP #clemência #júri

#sigilo nas votações #soberania dos vereditos

Rogério Sanches Cunha


Promotor de Justiça - Estado
de São Paulo; Professor de
Direito e Processo Penal do
CERS Cursos Online e Vorne
Cursos; autor de livros pela
Editora Juspodivm; Fundador
do MeuSiteJurídico.com e do
MeuAppJurídico.

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