Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Agosto de 2017
Título: A economia política da construção de escalas: estratégias e conflitos no Brasil
contemporâneo
Justificativa
de seu tecido socioeconômico vêm passando por profundas transformações ao longo das
últimas décadas. A reflexão acerca do modo como o espaço figura nos processos de
Entre o final dos anos 1960 e meados dos anos 1970, Henri Lefebvre (2000)
pensamento social crítico nas décadas seguintes. Dentre os traços fundamentais da obra
fundamental para se pensar as relações sociais e sua reprodução, bem como seus
processos sociais. A partir desta percepção, o autor busca empreender uma renovação
2
estágio de desenvolvimento das forças produtivas, teria ocorrido uma mudança
passagem da mera produção de coisas "no" espaço para a produção "do" espaço. Esta
passagem teria como um se seus elementos constitutivos a inversão entre o que é raro e
biosfera, entre outros, foram tornando-se progressivamente raros. Esta inversão figuraria
como condição objetiva para que ocorresse uma guinada epistemológica em direção ao
"espaço social" - categorias que, de certa forma, remetem à oposição entre valor de
troca e valor de uso. A noção de "espaço abstrato" expressa uma força tendencial de
espaço e das atividades transformadoras que incidem sobre ele aos códigos que
3
enquanto dispositivo de programação da vida cotidiana e de reprodução de relações
ideológica. A noção de "espaço social", por sua vez, remete a relações sociais,
alienado.
sido concebidas num contexto histórico e geográfico bastante específico, tendo como
sua obra fornece uma base conceitual que auxilia a pensar sobre os fatores
de coisas "no" espaço para a produção "do" espaço enquanto totalidade não expressa
específica, mas sim uma tendência que se desenrola numa temporalidade longa e que se
4
expansão geográfica absoluta do capital por meio da incorporação de novos territórios
densidade econômica do espaço. Segundo o autor, esta é a razão pela qual vêm se
"local". Partindo da premissa de que as escalas geográficas não devem ser concebidas
como dados imutáveis, mas sim como expressões de processos sociais em constante
entre as escalas.
A reflexão sobre a escala geográfica e sua dimensão institucional é um tema que vem
(BRENNER, 2000; SMITH, 2008; KLINK, 2013). Este debate ganhou força na esteira
interpretações sobre as mudanças iniciadas neste período não sejam uniformes, pode-se
5
observar certa convergência na identificação de alguns de seus vetores principais e de
6
do fordismo como expressões de uma crescente assimilação do espaço enquanto "força
marcada pela exacerbação do rentismo e das práticas especulativas, bem como pelo
social".
7
seus papéis primordiais a promoção da competitividade de fragmentos territoriais
subsídios ao capital.
forjados nesse contexto têm como traços marcantes a afirmação da primazia das escalas
nacional e o regional (BRANDÃO, 2007). Tanto no plano dos discursos quanto das
em curso, que teve como pilar fundamental a interdição da política fiscal redistributiva
8
instituições políticas o papel de impulsionar a inserção competitiva dos lugares na
economia global.
O debate atinente à escala regional teve novo impulso recentemente, mas assumindo
blocos de cooperação econômica entre países. Em sua grande maioria, tais articulações
supranacionais como no dos infranacionais que vêm emergindo nesse contexto, a tônica
9
reestruturação capitalista vivenciada nesse período foi o aprofundamento das conexões
fundiária passou a ser incorporada de modo mais direto e sistêmico aos processos de
natureza especulativa. Tanto no meio urbano como rural, a propriedade fundiária passou
velhos e novos desafios a serem enfrentados nos campos teórico e político para se
No âmbito dos recortes analíticos centrados na escala urbana, vem sendo apontado
como traço marcante das atuais práticas de planejamento a proliferação dos chamados
10
estratégico, esses projetos são concebidos e apresentados como uma espécie de
ideológicos como a da cidade global, a da cidade criativa, a das chamadas smart cities,
entre outras, para respaldá-los. Os estudos críticos sobre o tema, entretanto, vêm
preconizado nos discursos que fazem apologia a projetos desse perfil, sua proliferação
apropriação de fundos públicos por agentes privados. Outro aspecto que vem sendo
articulação entre o setor imobiliário e a esfera financeira (ROYER, 2009; FIX, 2011).
Os estudos centrados na escala nacional, por sua vez, vêm sinalizando uma tendência
neoliberal. Numa pesquisa sobre a trajetória da economia brasileira ao longo das últimas
produto interno bruto e, de outro, uma atrofia das atividades industrias de maior valor
11
agregado. O autor mostra também que o crescimento da participação do setor terciário
industrialização que perdurou no país entre os anos 1930 e a crise dos anos 1980 tenha
crescia a taxas maiores que as do centro e desenvolvia uma base produtiva mais
integrado de acumulação. Em face da crise dos anos 1980 e, acima de tudo, a partir dos
12
Com o início do Governo Lula em 2003, este quadro geral sofreu algumas mudanças
política industrial com alguma orientação territorial. Ricardo Karam (2012) mostra que
Clélio Campolina e Marco Crocco (2006) fazem uma leitura da proliferação dessas
iniciativas, tanto no Brasil como em outros contextos, como traços constitutivos de uma
seria marcada pelo forte intervencionismo estatal, pela primazia da escala nacional, pela
13
fase, situada historicamente no período de difusão da agenda neoliberal, gravitaria em
estaria mais nas mãos da burocracia estatal ou dos agentes econômicos privados, mas de
redes sociais cada vez mais complexas, constituídas a partir da articulação de uma
teóricas que buscam descrever e explicar tais processos, constituem fatores de grande
transformações sociais.
14
Objetivos
Este projeto busca oferecer uma contribuição para o estudo dos mecanismos de
grupo social com uma porção específica do território, são concebidos projetos de
coordenação orientados para o alcance dos objetivos em questão. Fenômenos desse tipo
15
públicos, a eventual criação de novos níveis administrativos e os instrumentos de
Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Além de uma reflexão sobre o histórico da
relevância do caso em face dos objetivos teóricos da pesquisa proposta e por sua
Instituto das Cidades. A pergunta que norteia a pesquisa é qual o espaço para a
Metodologia
16
Primeira etapa: na fase inicial da pesquisa, será feita uma revisão bibliográfica sobre a
das iniciativas voltadas para o desenvolvimento territorial que apresentem relação direta
com o arranjo escalar em questão. A pesquisa será construída tendo como eixos
Terceira etapa: serão realizadas entrevistas com atores relevantes, buscando-se observar
a percepção dos processos estudados por parte de diferentes grupos sociais, bem como
17
Direito à Cidade" e "Território, Trabalho e Desenvolvimento". Quanto às unidades
cidades de pequeno e médio porte". O presente projeto poderá ter grande articulação
como foco de reflexão e ação conflitos fundiários existentes nas imediações do Campus
da Zona Leste.
Cronograma de execução
Atividade 1o. sem 2o. sem 1o. sem 2o. sem 1o. sem 2o. sem
Elaboração de pedidos de
financiamento
Revisão bibliográfica
Pesquisa de legislação
Seleção de casos
Concepção de unidade curricular de
extensão universitária específica
Realização de entrevistas com atores
relevantes nos casos selecionados
Elaboração de relatórios e
disseminação de resultados da pesquisa
Bibliografia preliminar
18
__________. Arquitetura na era digital-financceira: desenho, canteiro e renda da
forma. Tese (Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São
Paulo. São Paulo, 2010.
BAITZ, Ricardo. Uma aventura pelos elementos formais da Propriedade: nas tramas
da relativização, mobilidade, abstração, à procura da contra-propriedade. Tese
(Doutorado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo. São Paulo, 2011.
BEVIR, Mark. Key concepts in governance. London, Thousand Oaks: SAGE.
BRANDÃO, Carlos. Território e Desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e
o global. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.
BRENNER, Neil. "The urban question as a scale question: reflections on Henri
Lefebvre, urban theory and the politics of scale". International Journal of Urban and
Regional Research, v. 24.2, 2000, pp. 361-378.
CANO, Wilson. Desconcentração produtiva regional do Brasil: 1970-2005. São Paulo:
Editora UNESP, 2008.
___________ Ensaios sobre a crise urbana do Brasil. Campinas: Editora da Unicamp,
2011.
CHESNAIS, François. "A teoria do regime de acumulação financeirizado: conteúdo,
alcance e interrogações". Economia e Sociedade, v. 11, n. 1 (18), Campinas, 2002, pp.
1-44.
19
LEFEBVRE, Henri. La production de l’espace. Paris: Anthropos, 2000.
MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis:
Vozes, 2001.
MASSONETO, Luis Fernando. O direito financeiro no capitalismo contemporâneo: a
emergência de um novo padrão normativo. Tese (Doutorado) - Faculdade de Direito,
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.
PAULANI, Leda. Modernidade e discurso econômico. São Paulo: Boitempo, 2005.
__________. Brasil delivery: servidão financeira e estado de emergência econômico.
São Paulo: Boitempo, 2008.
ROYER, Luciana. Financeirização da política habitacional: limites e perspectivas. São
Paulo: Annablume, 2014.
SMITH, Neil. Uneven development: nature, capital and the production of space.
Athens: University of Georgia Press, 2008.
SWYNGEDOUW, Erik. "Territorial organization and the space/technology nexus".
Tansactions of the Institute of British Geographers, v. 17, n. 4, 1992, pp. 417-433.
VAINER, Carlos. "Pátria, empresa e mercadoria: notas sobre a estratégia discursiva do
Planejamento Estratégico Urbano". In: ARANTES, Otilia; VAINER, Carlos;
MARICATO, Ermínia (orgs). A cidade do pensamento único: desmanchando
consensos. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 74-104.
20