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8/19/2019 TESE 6

TESE 6 1ª
COMISSÃO

DIREITO AO ACESSO À AMPLA E


EFETIVA ASSISTÊNCIA JURÍDICA

ALOÍSIO PIRES DE CASTRO

PAULO FERNANDO DE ANDRADE GIOSTRI

Procuradores do Estado de São Paulo

1. INTRODUÇÃO.

A presente tese procura abordar a assistência jurídica prevista no artigo 5º, inciso
LXXIV, cotejando-a em relação aos dispositivos contidos no mesmo artigo
constitucional, em seus incisos XIV e XXXIII, que preceituam ser direito de todos o
acesso à informação, atribuindo-se ao Estado o dever de prestá-las aos
economicamente necessitados.

Busca-se, no desenvolvimento desta tese, aquilatar a importância do direito à


assistência jurídica não só como meio de futura obtenção de tutela jurisdicional
(assistência judiciária e benefício da justiça gratuita) às pretensões do indivíduo
hipossuficiente, mas também como instrumento de amplo acesso à informação e
consultoria jurídicas, dever do Estado previsto nos dispositivos acima mencionados de
forma lata e, mais especificamente, no artigo 134 da Constituição da República.

O tema em tela assume enorme relevância no presente momento do nosso direito


positivado, extremamente complexo, integrado por um grande número de normas
("inflação legislativa"), muitas delas buscando regular situações muito específicas,
beirando ao casuísmo.

Dentro de tal ordem, nem mesmo os operadores do direito têm capacidade intelectiva
de captar e manter na memória essa imensidão normativa, principalmente se
considerarmos o emaranhado de regras jurídicas lançadas pelas diversas esferas da
administração (em sentido lato). Que dirá o cidadão, muitas vezes só cidadão no título,
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eis que, na realidade excluído da quase totalidade de benesses que deveriam advir-lhe
em razão de sua própria condição. Sabe-se que, atualmente, não só no nosso País,
como em quase todo o mundo, pessoas há que nem mesmo acesso aos mais
fundamentais direitos têm, estando alijadas da educação, da cultura, e também da
saúde, dentre outros direitos a garantir uma existência digna. Todos esses fatores,
impedem que esses marginalizados obtenham, por eles mesmos, as informações
necessárias para bem atuarem nas relações jurídicas em que se encontram insertos
em razão mesmo de participarem da sociedade. Em outras palavras, esses excluídos
não possuem os mínimos elementos intelectivos para adquirir o conhecimento jurídico
necessário à operacionalização de seus próprios direitos.

Tal fenômeno sócio-econômico, exige aos operadores do mundo jurídico,


primordialmente, a Defensoria Pública, o Ministério Público, e outras entidades
particulares, uma série de condutas efetivas e necessárias, intervindo nos litígios não
só para deduzi-los em juízo, mas também para preveni-los e compô-los de maneira
amigável, respeitando, assim, necessidade da nossa sociedade, formada basicamente
por pessoas desprovidas de recursos econômicos e culturais, de uma tutela jurídica
mais concreta e rápida, evitando-se, face ao congestionamento e morosidade do Poder
Judiciário, a tutela de interesses pelas próprias mãos.

2. INFORMAÇÃO E ASSISTÊNCIA JURÍDICA. DEFINIÇÕES E ABRANGÊNCIAS.

Cumpre, para bem situar o tema, traçar as distinções entre os institutos da assistência
judiciária, assistência jurídica e justiça gratuita, bem como definir a abrangência do
direito à informação e à assistência jurídica, estabelecendo a relação entre ambas.

Primeiramente, tracemos a distinção entre assistência judiciária, em seu sentido estrito,


e a justiça gratuita.

Nesse aspecto, seguindo a já tradicional distinção feito pelo ilustre jurista Pontes de
Miranda, temos que:

"Assistência judiciária e benefício da justiça gratuita


não são a mesma coisa. O benefício da justiça gratuita é
direito à dispensa provisória de despesas, exercível em
relação jurídica processual, perante o juiz que promete a
prestação jurisdicional. É instituto de direito pré-
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processual. A assistência judiciária é a organização


estatal, ou paraestatal, que tem por fim, ao lado da
dispensa provisória das despesas, a indicação de
advogado. É instituto de direito administrativo".1

Distinguindo-se de ambos institutos, a assistência jurídica tem conotação mais ampla.


Não só abrange a assistência judiciária em sentido estrito, como também a prestação
de informação e consultoria jurídicas, visando não necessariamente à propositura de
ação judicial, mas ao efetivo esclarecimento aos hipossuficientes de quais sejam seus
direitos e obrigações numa relação jurídica, orientando-os quanto às providências
necessárias à composição extrajudicial de interesses em conflito, assim como prevenir
litígios.

Tal assertiva tem supedâneo na doutrina. Conforme leciona o eminente doutrinador


Augusto Tavares Rosa Marcacini, temos que:

" ... a assistência jurídica engobla a assistência judiciária,


sendo ainda mais ampla que esta, por envolver também
serviços jurídicos não-relacionados ao processo, tais
como orientações individuais ou coletivas, o
esclarecimento de dúvidas, e mesmo um programa de
informação a toda a comunidade" 2 (g.n.).

Ainda, no sentido do texto, temos a seguinte lição de Humberto Peña de Moraes, de


acordo com doutrina defendida pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,
embasada no artigo 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal, onde a expressão
"assistência jurídica" é desta forma tratada:

"... conquanto a assistência judiciária deva ser havida


como atividade dinamizada perante o Poder Judiciário, a
assistência jurídica, ligada a tutela de direitos subjetivos
de variados matizes, porta fronteiras acentuadamente
dilargadas, compreendendo, ainda, atividades técnico-
jurídicas nos campos da prevenção, da informação, da
consultoria, do aconselhamento, do procuratório
extrajudicial e dos atos notariais" 3 .

Ao falarmos em assistência jurídica, é mister esclarecermos a dimensão e enfoque do


instituto do direito à informação, especificamente, considerado o tema ora abordado, a
informação jurídica.

Nesse aspecto, a assistência jurídica é um corolário do direito à informação também


previsto nos rol dos direitos e garantias individuais constitucionais (C.F., art. 5º, inciso
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XIV, primeira parte, e inciso XXXIII).

No que tange à informação, J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, assim asseveram:

"O direito de informação (nº 1, 2ª parte) integra três


níveis: o direito ‘de informar’, o direito ‘de se informar’, e
o direito ‘de ser informado’. O primeiro consiste, desde
logo, na liberdade de transmitir ou comunicar
informações a outrem, de as difundir sem impedimentos,
mas pode também revestir uma forma positiva, enquanto
direito a informar, ou seja, direito a meios para informar.
O direito de se informar consiste designadamente na
liberdade de escolha de informação, de procura de fontes
de informação, isto é, no direito de não ser impedido de
se informar. Finalmente, o direito a ser informado é a
versão positiva do direito de se informar, consistindo
num direito a ser mantido adequadamente e
verdadeiramente informado, desde logo, pelos meios
de comunicação (arts. 38 e 39) e pelos poderes
públicos (art. 48-3), sem esquecer outros direitos
específicos à informação reconhecidos na Constituição,
directamente (arts. 35-1, 55/a e 268-1) ou indirectamente
(arts. 55/d, 57-2/a, 77-2, etc.)"4 (g.n.).

Entretanto, expõe Celso Ribeiro Bastos, em seus Comentários à Constituição do Brasil,


que:

"O nosso Texto consagra o chamado direito de se


informar. O que não vislumbramos na Lei Maior é a
plenitude do direito, assegurado na Constituição
portuguesa, de ser mantido adequada e verdadeiramente
informado desde logo pelos meios de comunicação.
Vamos é certo encontrar uma modalidade deste direito
no inc. XXXIII deste artigo, que assegura o direito de ser
informado pelos órgãos públicos"5 .

Trazendo tais ensinamentos ao âmbito da assistência jurídica no seu aspecto de dever-


função do Estado em prestar informação ao hipossuficiente que assim se declarar,
temos que o direito à tal assistência jurídica é também direito público subjetivo à
informação jurídica, a dados do direito, que, assim, deve ser prestada pelos órgãos
estatais competentes.

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Mas o direito à assistência jurídica não se restringe ao dever estatal de prestar


informação sobre direito. Abrange também a consultoria e o aconselhamento jurídicos,
bem como o procuratório extrajudicial, sem se falar, é claro, do procuratório judicial.

Na lição de Guilherme Braga Peña de Moraes:

"O aconselhamento, a consultoria e a informação jurídica


... possuem como objetivo, através dos acordos
celebrados entre as partes envolvidas em um conflito de
interesse, com a participação do Defensor Público, a
quem cabe instruir os litigantes de seus direitos e
deveres e das conseqüências da demanda judicial; evitar
a propositura de inúmeras ações judiciais, vindo a
desafogar os órgãos jurisdicionais, já que tais medidas
decorrem, geralmente, do desconhecimento do direito
titularizado"6 .

Tal ordem de coisas assume grande relevância no atual momento em que vivemos,
quando boa parte dos operadores do direito e até mesmo da doutrina não tem se
atentado para a inovação trazida pela Carta Magna, chamada até de "Constituição
Cidadã", que, dentro do capítulo referente aos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos, trouxe à luz a chamada assistência jurídica integral e gratuita àqueles
comprovados hipossuficientes, muito mais extensiva que a assistência judiciária
garantida pelo ordenamento jurídico até então vigente.

Desta forma, para aquinhoar nosso raciocínio, expomos a seguir as referências


legislativas, nas quais transparecem o chamado direito à assistência jurídica integral e
gratuita, na qual está inserido, entre outros, o direito à informação jurídica.

Incialmente, contemplamos o já citado artigo 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal


de 1988, em cotejo com o seu "caput":

"Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção


de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

......................................................................................

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LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica


integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos". (g.n.)

Este direito à informação, também tem tratamento constitucional no mesmo citado


artigo 5º, mais precisamente, nos seguintes incisos:

"XIV - é assegurado a todos o acesso à informação...;


e

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos


públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral...".

Para a efetivação da prestação pelo Estado destes direitos individuais, a Magna Carta
elege, em seu Capítulo III, referente ao Poder Judiciário, especificamente, na Seção III,
correspondente à Advocacia e Defensoria Pública, esta última instituição como o órgão
primordial de prestação de assistência jurídica aos necessitados, não retirando,
contudo, tal função dos advogados privados, que deverão prestá-la em caráter
subsidiário. Assim, os artigos 133 e 134 da Constituição Federal preceituam:

"Art. 133. O advogado é indispensável à


administração da justiça, sendo inviolável por seus
atos e manifestações no exercício da profissão, nos
limites da lei.

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial


à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
orientação jurídica e a defesa, em todos os graus,
dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV".7 (g.n.)

Para organizar a Defensoria Pública, foi editada a Lei Complementar nº 80, de


12.01.1994, estabelecendo que a mesma tem, dentre outras, a função de, como
informa seu artigo 1º, "prestar assistência jurídica, judicial e extrajudicial, integral
e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma da lei".

A Defensoria Pública, organiza-se nos Estados de acordo com o art. 97 da já citada Lei
Complementar, devendo seguir as normas gerais por esta traçadas, restando, claro,
portanto, estarem elas incumbidas de prestar a assistência jurídica nos termos acima
expostos.

No Estado de São Paulo, como não poderia deixar de ser, a assistência jurídica aos
necessitados é considerada, nos termos da Constituição Estadual, artigo 3º, função
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própria do Estado, como assim, menciona:

"Art. 3º. O Estado prestará assistência jurídica


integral e gratuita aos que declararem insuficiência
de recursos". (g.n.)

E incumbe à Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, em obediência ao disposto


no artigo 10, "in fine" do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição Estadual, exercer a função da Defensoria Pública, pois:

"Art. 10. ... Enquanto não entrar em funcionamento a


Defensoria Pública, suas atribuições poderão ser
exercidas pela Procuradoria de Assistência
Judiciária da Procuradoria Geral do Estado ou por
advogados contratados ou conveniados com o Poder
Público".

A Lei Complementar Estadual nº 478, de 18.07.1986, denominada Lei Orgânica da


Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, em seu artigo 2º, inciso XV, impõe-lhe a
atribuição de prestar assistência judiciária aos necessitados. Esse termo, contudo,
deve receber interpretação extensiva, posto que, mais à frente, o artigo 28, em seus
incisos I e VI, e o artigo 29, incisos I e III, traçam distinção entre as assistências
judiciária e jurídica, impondo ambas à Procuradoria de Assistência Judiciária, órgão da
Procuradoria Geral do Estado:

"Art. 28. São atribuições da Procuradoria de


Assistência Judiciária Civil:

I - prestar assistência judiciária aos legalmente


necessitados nas áreas civil e trabalhista;

......................................................................................

VI - prestar orientação jurídica aos legalmente


necessitados no âmbito extrajudicial.

Art. 29. São atribuições da Procuradoria de


Assistência Judiciária Criminal:

I - prestar assistência judiciária aos legalmente


necessitados na área criminal, inclusive aos revéis;

......................................................................................

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III - prestar orientação jurídica aos legalmente


necessitados no âmbito extrajudicial" (g.n.).

Face às necessidades sociais, a Lei Orgânica da Procuradoria Geral do Estado de São


Paulo criou Órgão Auxiliar, tendo como atribuição básica a orientação jurídica à mulher,
no artigo 36:

"Art. 36. São atribuições do Centro de Orientação


Jurídica e Encaminhamento à Mulher prestar
orientação jurídica à mulher, promover seu
encaminhamento aos órgãos competentes para
solução dos problemas apresentados e manter
intercâmbio com entidades congêneres" (g.n.).

No Estado do Rio de Janeiro, a Constituição estadual também cuidou da assistência


jurídica aos necessitados. E, comparando o dispositivo constitucional que trata do
referido instituto à legislação federal e à do Estado de São Paulo, temos que o
legislador constituinte fluminense inovou, indo além, ao estabelecer, no artigo 176, o
seguinte:

"Art. 176. A Defensoria Pública é instituição essencial


à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,
como expressão e instrumento do regime
democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica e gratuita e extrajudicialmente, dos direitos e
interesses, individuais e coletivos dos necessitados,
na forma da lei" (g.n.).

Vê-se, pelo referido artigo, que a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, além
de promover assistência jurídica para tratar de direitos individuais, tem legitimidade
para atuar na defesa de direitos coletivos, judicial e extrajudicialmente, legitimidade
esta geralmente deferida ao Ministério Público, à União, Estados, Municípios e Distrito
Federal, ou a entidades privadas, na defesa dos direitos coletivos de seus associados.

Trata-se de passo importante, pois, em alguns casos, é a Defensoria Pública o órgão


mais indicado à tutela de direitos cvoletivos, justamente por estar tratando dos mesmos
em esfera individual, em reiterados casos que lhe chegam ao conhecimento,
principalmente nas hipóteses de direitos individuais homogêneos.

Cabe-nos, agora, situar o direito à assistência jurídica, bem como, em seu bojo, o
direito à informação jurídica, no que se refere à complexidade jurídica dos institutos
contidos no Texto Constitucional.

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Nem mesmo é necessário relembrar o contido no Preâmbulo da Carta Magna, ora


vigente, mas devemos estudar, enfocadamente, a situação jurídica dos institutos que
embasam os direitos ora em debate.

Nosso País constitui-se em Estado Democrático de Direito, nos termos do artigo 1º da


Constituição Federal, importando-nos mencionar que o mesmo fundamenta-se na
cidadania e na dignidade da pessoa humana. A Defensoria Pública, como instituição
essencial à função jurisdicional do Estado, relaciona-se com esses fundamentos no
sentido de conferir aos hipossuficientes meios de resistência contra a prepotência, o
arbítrio e a injustiça (especialmente por parte do Estado), buscando sempre efetivar o
princípio da igualdade, decorrente do próprio caráter adotado pelo Estado brasileiro e
do respeito à dignadade da pessoa humana, tomando esta, como um direito
fundamental do indivíduo.

Postas estas premissas, evidente é citar que constitui objetivo fundamental de nossa
República, nos termos do artigo 3º da Constituição Federal, entre outros, construir uma
sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e a marginalização,
promovendo o bem de todos.

Esses fundamentos e objetivos da nossa República devem ser buscados, e


implementados, até por que, na esfera internacional, o Brasil se compromete a dar
prevalência aos direitos humanos (C.F., art. 4º, inciso II).

Se assim é, assistência jurídica gratuita e integral se impõe, não só em razão da


expressa disposição constitucional, mas como decorrência do próprio regime adotado
pelo Estado brasileiro.Visa ela à concretização dos princípios acima mencionados.
Restringir sua abrangência à mera postulação em Juízo ou, mais ainda, à mera
dispensa do pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, seria
desrespeitar os princípios acima, que devem orientar toda a interpretação a ser
conferida às normas componentes de nosso ordenamento jurídico.

Considerando-se que nossa República é um Estado de Democrático de Direito Social,


face às inúmeras funções que lhe são determinadas, podemos afirmar estar imbuído
de dar cumprimento a função estatal genérica, que se divide em finalidade política,
econômica e sócio-cultural. Nesse esteio, a assistência jurídica é considerada
finalidade política do Estado, e pela doutrina mais moderna, como "função protetiva
do Estado", que este deve implementar, face, ainda, a sua natureza de direito público
subjetivo, e, na lição de Pontes de Miranda, de cunho "fundamental absoluto", de
forma que aqueles que declararem-se hipossuficientes e lhes for negado o exercício de
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tal direito, que, aliás, é líquido e certo, poderiam impetrar mandado de segurança em
face do ente público prestador que o houver indeferido.

De conformidade com este raciocínio, a

"... assistência jurídica pública integral e gratuita possui


dois fundamentos, ou seja, ‘princípio da igualdade’ ou
‘princípio da isonomia’ e ‘princípio da justiça gratuita’"8 ,

e tem por escopo a implementação dos objetivos fundamentais da República brasileira,


acima mencionados, constantes da Constituição Federal, no artigo 3º, incisos I, III e IV.

Na instrumentalização do princípio da igualdade ou da isonomia, a assistência jurídica


integral e gratuita pode ser tomada como uma garantia ao acesso igualitário ao direito,
de modo a conferir a todos amplo acesso ao exercício de direitos garantidos pelo
ordenamento jurídico, que, assim, não ficam obstados pela insuficiência econômico-
sócio-cultural.

O princípio da igualdade ou da isonomia, bem como o acesso a uma ordem jurídica


justa, na qual estão compreendidos o princípio da justiça gratuita e o princípio do
devido processo legal, são apanágios reguladores, equiparando em oportunidades
todos os membros da sociedade, tutelados, então, pela ordem constitucional.

Esse aspecto da assistência jurídica não fugiu aos olhos do legislador estrangeiro.
Numa visão de direito comparado, é importante mencionar que:

"Segundo a doutrina portuguesa, fundamentada no artigo


20 da Constituição da República portuguesa,
regulamentado pelo Decreto-lei n. 387-B de 29 de
dezembro de 1987, liderada por José Joaquim Gomes
Canotilho, Vidal Moreira e Vinício Ribeiro, há a
caracterização da garantia constitucional representada
pela ‘protecção jurídica’, que, por sua vez, é subdividida
em

‘(a) o direito de acesso ao


direito (nº 1- refere-se ao
artigo 20, nº 1 da CRP), (b) o
direito de acesso aos tribunais
(nº 1),(c) o direito à informação
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e consulta jurídicas e (d) o


direito ao patrocínio judiciário
(nº 2 - refere-se ao artigo 20,
nº 2 da CRP)’".9

Vê-se, por referido relato, que a Constituição da República portuguesa faz inserir no
instituto paralelo à assistência jurídica gratuita, lá denominada "protecção jurídica" o
dever estatal de prestar informação e consulta jurídica, garantindo o direito de acesso
ao direito de forma igualitária.

Não há, portanto, como se negar ao presente instituto a natureza de direito público
subjetivo constitucional, visto estar presente no ordenamento justamente para garantir
os princípios constitucionais acima aventados.

3. A PREMENTE NECESSIDADE DA AMPLA E EFETIVA ASSISTÊNCIA JURÍDICA


NO BRASIL.

Constitucionalmente, a ampla e efetiva assistência jurídica só pode ser concedida aos


denominados hipossuficientes, que necessariamente tenham algum direito ou
obrigação jurídica a ser exercido.

O hipossuficiente, que poderíamos também denominar assistido, é aquele que precisa


de um auxílio, uma ajuda, um acompanhamento, um aconselhamento, ou ainda, uma
prestação positiva.

Entretanto, para melhor conceituá-lo, a norma constitucional elegeu um critério


econômico, no sentido de defini-lo como aquele que possui insuficiência de recursos,
ou mesmo, poderíamos dizer aquele vitimizado pela pobreza.

Este critéiro, aliás, é adotado desde longa data, tendo sido utilizado já no Código de
Hamurabi (2067 a 2025 a.C.), na Babilônia, tendo algumas características peculiares,
mas não modificando a sua essência na Grécia e Roma antigas.

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Na Idade Média, inspirou legislações que culminaram nas pretéritas Ordenações dos
Reinos espanhóis e portugueses, onde "qualquer criatura pobre que por falta de
astúcia ou fortuna não puder defender sua causa", recebia tal proteção, mantida
por sistemas próprios de ajuda legal.

As primeiras declarações de direitos humanos emanadas nos Estados Unidos da


América e na França, não faziam menção expressa ao instituto da assistência judiciária
gratuita, mas o princípio da igualdade entre os homens nelas insculpido foi utilizado
como fundamento à prestação de tal assistência como um dever-função do Estado.

No presente século, a assistência judiciária tomou o centro das atenções de


sociólogos, políticos, antropólogos, economistas, psicólogos e, principalmente, juristas,
que a elevaram à categoria de base do serviço da justiça, e, desta maneira, exigiu-se
de todos os membros da sociedade a conscientização no sentido de sua efetivação
como veículo de acesso da classe social desfavorecida economicamente à Justiça.

Curiosamente, no sentido da apresentação do direito atual comparado, que trata do


instituto em apreço, no

"... sistema coreano, os veteranos de guerra, as vítimas


de calamidades e todos aqueles que não podem
defender os seus direitos em razão da idade avançada,
de doença ou de debilidade física ou mental, são
equiparados aos juridicamente necessitados".10

Como brilhantemente menciona Augusto Tavares Rosa Marcacini:

"Neste final de século, voltam-se os esforços e as


atenções para a busca de melhores condições de vida
para a humanidade: espera-se que o desenvolvimento
científico-tecnológico possa trazer benefício para todos,
que as facilidades do mundo moderno se popularizem,
que a fome, o analfabetismo e a miséria sejam
erradicadas, enfim, prega-se a igualdade universal
efetiva entre os homens. Mesmo, porém, quando as
preocupações se voltam para a realização destes valores
fundamentais, a diferença entre o ‘querer’ e o ‘poder’,
entre a teoria e a prática, ainda subsiste".11

A preocupação, em suma, deste último doutrinador citado, nada mais é senão que
sejam respeitados os direitos e garantias fundamentais das pessoas, consagrados no
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Título II de nossa atual Constituição, de sorte também, que sejam efetivados os


princípios fundamentais de nossa República, constantes do Título I daquele Texto
Magno.

Porém, é certo que ainda não alcançamos a plena efetividade desses princípios, e
ainda subsistem enormes diferenças sociais e regionais, não cabendo à ciência do
direito, solucioná-los, o que deve ser atingido pela vontade dos integrantes da
sociedade, ante decisões políticas.

Com efeito, na nossa sociedade ainda ocorrem enormes disparidades que se refletem
na distribuição de bens materiais e imateriais. Grande parte de nossa população não
tem acesso sequer aos mínimos meios de satisfação de suas necessidades mais
básicas. Exemplo disso vemos, diariamente, em nossas favelas e periferias das
grandes cidades, sem se contar o que se passa nas Regiões Norte e Nordeste do País.

Os efeitos da pobreza têm assolado cada vez mais maior parte da população brasileira.
Conforme pesquisa realizada por Augusto Tavares Rosa Marcacini, podemos dizer:

"Em 1988, a pobreza absoluta atingia 32,5% da


população, ou 44 milhões de habitantes. Por pobreza
absoluta define-se a situação das pessoas com
rendimento inferior a um quarto do salário mínimo, ou
que vivem em famílias com rendimento menor que um
salário mínimo" (Jornal A Folha de São Paulo,
01.12.1990, p. B-16).

"Os dados relativos ao analfabetismo também são


alarmantes. Segundo o critério de ‘saber escrever um
bilhete simples’, dados do IBGE indicam que 18% da
população, ou 26 milhões de pessoas, são analfabetos.
Um critério mais exigente elevaria o número para 60
milhões de habitantes" (Jornal A Folha de São Paulo,
02.09.1991, pp. 1-7).

"Pesquisa mais ampla elaborada pelas Nações Unidas


levou à criação do ‘Índice de Desenvolvimento Humano’,
critério de aferição da qualidade de vida em 160 países
do globo. Além dos indicadores econômicos, outras
variáveis compõem a formação do índice: educação,
saúde, distribuição de renda e liberdade humana. O
Brasil ocupava, na pesquisa divulgada em 1991, a 60ª
posição no ‘ranking’" (Jornais Gazeta Mercantil,

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23.05.1991, p. 8; e A Folha de São Paulo, 24.05.1991,


pp. 2-5).

"Não obstante as desesperançosas condições do nosso


país, é oportuno mencionar que não só o Brasil e países
de terceiro mundo abrigam grande contingente de
pessoas pobres. Segundo a mesma pesquisa divulgada
pelas Nações Unidas, mais de 100 milhões de pessoas
vivem abaixo da linha da pobreza (ganham menos do
que o suficiente para sobreviver), nos países
industrializados do hemisfério norte, e outros 200 milhões
estão nesta condição na União Soviética e na Europa
Oriental."

"Diante de tal quadro, ao mesmo tempo em que a


assistência jurídica passa a ter importância fundamental
para resgatar a cidadania de volume gigatesco de seres
humanos, o instrumento não pode deixar de ser visto
como mero paliativo, diante do ideal, possivelmente
utópico mesmo a longo prazo, de erradicar a pobreza."

"De outro lado, voltando ao Brasil, mostra-se


praticamente impossível conceder o benefício a todos os
carentes de recursos, pelo simples fato de que a
pobreza, nesse país, é regra, e não exceção. O número
de pessoas potencialmente usuárias do serviço é muito
superior à capacidade de atendimento, ainda que esta
seja ampliada. A solução para o problema, portanto,
passa pela diminuição dos níveis de pobreza. Aliás, o
verdadeiro problema é a própria existência de pessoas
em condições alarmantes de pobreza, e não a
impossibilidade de atender a todos os pobres. A
assistência jurídica, assim, só pode contribuir para tornar
a pobreza menos áspera".12

Cumpre ressaltar que, infelizmente, a situação acima retratada não sofre qualquer
melhora. Pelo contrário, tem-se agravado de forma contínua.

Esta constatação foi objeto de menção no RELATÓRIO SOBRE A SITUAÇÃO DOS


DIREITOS HUMANOS NO BRASIL, editada pela Comissão Interamericana dos Direitos
Humanos da Oraganização dos Estados Americanos (CIDH-OEA), no Capítulo II - Os
Direitos Sociais e Econômicos no Brasil.

Dito relatório traça a atual situação da distribuição da renda no Brasil, mencionando


que, "do total da população do Brasil, os 20% de renda mais alta receberam 32 vezes
mais do que os 20% de renda mais baixa, entre 1981 e 1993", e da pobreza, expondo

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que "a diferença entre as cidades e as zonas rurais é igualmente significativa: 66% da
população rural do Brasil encontra-se abaixo da linha da pobreza, ao passo que a
proporção de pobres na zona urbana é de 38%. Cumpre assinalar que a proporção de
pobres urbanos vem crescendo em decorrência do êxodo de pobres rurais para as
cidades", e ainda, quanto à pobreza (é de estarrecer!), que "outras análises, como o
‘Mapa da Fome’ estima que 22% da população (32 milhões), são pobres; e outras
ainda estimam que há 42 milhões de pobres, dos quais 17 milhões são indigentes
(pobreza extrema)". "Outro fator determinante da pobreza é a origem social. Os negros
e mulatos constituem um setor desproporcionalmente alto entre os pobres, uma vez
que estes representam 42,5% da população total, mas 62,4% da população pobre."

Nesse quadro de extrema concentração de renda, e, por outro lado, sufocante estado
de miserabilidade, não é difícil chegarmos à conclusão de que grande parte de nossa
população não tem os mínimos meios de exercer a cidadania, no aspecto de ter
acesso aos seus direitos por vias próprias, como, por exemplo, a educação básica, a
mínima cultura, a saúde, quiçá, a assistência judiciária e jurídica.

Ademais, essa população de excluídos (sem acesso à mínima dignidade humana), não
está alijada das relações jurídicas, sendo sujeitos de deveres e direitos quase sempre
por ela desconhecidos.

Aliás, toda a população brasileira encontra-se submetida ao grandiloqüente número de


normas emanadas de fontes diversas, sem sistematização alguma, nos ramos do
direito que mais diretamente a afetam.

Essa situação não é novidade para ninguém, e vem sendo fortemente criticada pela
nossa doutrina.

A guisa de exemplo, cumpre-nos transcrever trechos de artigo da lavra do eminente


jurista Ives Gandra da Silva Martins:

"A inflação legislativa, hoje, é uma realidade mundial. Em 1953,


Georges Ripert e outros juristas de expressão mundial
debateram longamente o que denominaram a ‘crise do direito’,
pela excessiva produção normativa, sem terem concluído ou
apresentado terapêutica adequada ao perfeito diagnóstico.
Embora mundial, no Brasil o problema ganha dimensão
especial, pois raros são os países que podem ostentar a
‘desidratação legislativa’ aqui verificada, que não permite sequer
às autoridades acompanhar o que produzem.

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"Em nosso país, no momento, há mais de 5,5 mil ‘Constituições’


vigendo, entre Constituição federal e suas 23 emendas, 26
Constituições estaduais e a do Distrito Federal e mais de 5,5 mil
leis orgânicas municiapais, pois é a única federação do mundo
que outorga ao município estatuto de ente federativo.

"A produção infra-constitucional é fantástica. As leis tributárias,


promulgadas pelas mais de 5,5 mil pessoas jurídicas da
Federação, são complexas, extensas, pouco claras, muitas
vezes inconstitucionais, onerando o mesmo cidadão que deve
sustentar a União, o Estado, e o município em que vive.

"Toda a força do direito reside numa fantástica mentira, ou seja,


a de que todos devem conhecer a lei (‘ignorantia legis
neminem excusat’). E todos sabemos que ninguém as
conhece, nem mesmo os grandes juristas, os magistrados, os
membros do Ministério Público, os advogados, todos sendo
obrigados a estudar, caso a caso, a lei que melhor se aplica e
lhes permite atuar de acordo com sua especialidade e função.

"O pobre cidadão, o homem mortal, todavia, está a todo


momento violando leis que desconhece, por força dessa
‘disenteria normativa’ dos 5,5 mil governos brasileiros. É a vítima
maior da falta de um sistema legislativo, num Estado que se diz
de Direito, mas em que ninguém conhece direito e, na maior
parte das vezes, é conduzido fora do direito. ..."

"... Convenço-me de que não é fácil reduzir o número de textos


legislativos no mundo inteiro. No Brasil, todavia, essa cascata de
comandos legais já se tornou ‘hiperinflação legislativa’, sendo
uma portentosa mentira a de que os brasileiros, analfabetos ou
não, devem conhecer todas as leis em vigor para não violá-
las".13

Vê-se, aí, a premente utilidade e importância de que a população carente do Brasil


tenha amplo acesso à assistência jurídica, pois só assim poderá ser superado o
obstáculo imposto pelo desconhecimento da lei. Tal assertiva, preocupa-nos, face ao
que consta do artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil, que assim aduz:
"Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece".

Ao comentar o referido dispositivo legal, aliás, de norma que os doutrinadores


denominam como "supralegal", magistral é a lição da Professora e Jurista Maria
Helena Diniz:

"O princípio ‘ignorantia juris neminem excusat’


repousa numa razão de interesse social, pois seria o
caos se a obrigatoriedade da lei dependesse da
ignorância ou não de sua existência pelo destinatário,
principalmente no Brasil, ante a inflação legislativa a que
assistimos, pois o ritmo acelerado da legislação traz

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conseqüências inevitáveis. Nem mesmo os técnicos as


poderiam integralmente conhecer".14

Concordamos plenamente com as luminares lições destes dois últimos doutrinadores:


vivemos mesmo sob império de uma "inflação legislativa" sufocante, e nem mesmo os
operadores do direito têm conhecimento de todo o ordenamento, principalmente em
razão da falta de sistematização dos textos legais. Contudo, não podemos condicionar
a eficácia da lei à condição de ser ela conhecida ou não pelo destinatário, sob pena de
cairmos em situação de anomia, o que por certo, levaria à anarquia generalizada.

Essas premissas conduzem-nos então ao necessário reconhecimento do direito público


subjetivo constitucional da população a ser informada juridicamente de seus direitos e
deveres, para melhor integrarem-se na complexidade das relações sócio-econômicas
(v.g., o fenômeno da globalização e suas conseqüências).

No que se refere à população carente, impõe-se ao Estado o dever de prestar


informação jurídica, e, nesse mister, fica obrigado a implementar a verdadeira
assistência jurídica integral e gratuita, posto que a mesma é componente do macro-
sistema dos Direitos Humanos.

Tudo o que foi diagnosticado já é reconhecido pela União e pelo Estado de São Paulo.

Primeiramente, os fenômenos da inflação legislativa e da ausência de sistemática da


legislação já são formalmente reconhecidos pela União, que, recentemente promulgou,
em cumprimento ao disposto no parágrafo único do artigo 59 da Constituição Federal,
a Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que, em seu artigo 13,
assevera:

"Artigo 13. As leis federais serão reunidas em


codificações e em coletâneas integradas por
volumes contendo matérias conexas ou afins,
constituindo em seu todo, juntamente com a
Constituição Federal, a Consolidação das Leis
Federais Brasileiras".

Outrossim, para a efetivação dos chamados Direitos Humanos, a União apresentou o


denominado PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, que traz, na seção
à denominada "Proteção de Direito à Vida", em seu item "Luta contra a impunidade",
pretende, em curto prazo: "Apoiar a expansão dos serviços de prestação da
justiça, para que estes se façam presentes em todas as regiões do País;
incentivar a prática de plantões permanentes no Judiciário, Ministério Público,
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Defensoria Pública e Delegacias de Polícia; e estudar a viabilidade de um sistema


de juízes, promotores e defensores públicos itinerantes, especialmente nas
regiões distantes dos centros urbanos, para ampliar o acesso à Justiça".

No âmbito do Estado de São Paulo, foi editado o PROGRAMA ESTADUAL DE


DIREITOS HUMANOS, que, de modo mais preciso, reconhece o direito da população à
informação jurídica em diversos itens, principalmente à população carente e aos
marginalizados, estabelecendo propostas tanto aos órgãos do poder público como para
a sociedade, como vemos nos seguintes itens:

"85 - Incentivar projetos de construção e melhoria


das condições de moradias populares,
particularmente, por meio do sistema de mutirão,
inclusive com programas de capacitação técnica,
organizacional e jurídica dos integrantes de
movimentos de moradias.

"92 - Implementar ações de educação para o


consumo por meio de parcerias entre a escola e
órgãos de defesa do consumidor.

"108 - Criar programa de assistência aos herdeiros e


dependentes carentes de pessoas vitimadas por
crimes dolosos, nos termos do artigo 245 da
Constituição Federal.

"109 - Estimular a solução pacífica de conflitos,


criando e fortalecendo, na periferia das grandes
cidades, centros de integração da cidadania, com a
participação do Poder Judiciário, Ministério Público,
Procuradoria de Assistência Judiciária, Polícia Civil,
Polícia Militar, Procon, outros órgãos
governamentais de atendimento social, de geração
de renda, de prevenção de doenças e com ampla
participação da sociedade.

"110 - Promover cursos de capacitação na defesa dos


direitos humanos e cidadania, para lideranças
populares.

"111 - Estimular a criação de núcleos municipais de


defesa da cidadania, incluindo a prestação de
serviços gratuitos de assistência jurídica, mediação
de conflitos coletivos e requisição de documentos
básicos para a população carente, com a
participação de advogados, professores e
estudantes, em integração com órgãos públicos.
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"119 - Expandir e melhorar o atendimento às pessoas


necessitadas de assistência judiciária.

"128 - Criar cursos regulares para a capacitação em


gerenciamento de crise e negociação em conflitos
coletivos, dedicados a profissionais ligados às áreas
de segurança e justiça.

"193 - Garantir orientação jurídica e assistência


judiciária especializada nos processos de
conhecimento e execução, em que sejam
interessados crianças ou adolescentes.

"194 - Criar programas de orientação jurídica e


assistência judiciária para famílias de adolescentes
autores de ato infracional.

"209 - Apoiar os serviços de defesa dos direitos da


mulher, tais como o Centro de Orientação Jurídica e
Encaminhamento da Mulher - COJE, da Procuradoria
Geral do Estado.

"236 - Apoiar os serviços de orientação jurídica e


assistência judiciária aos povos indígenas.

"245 - Apoiar os serviços gratuitos de orientação


jurídica e assistência judiciária aos refugiados e
migrantes.

Importante ressaltar que, paralelamente, o desenvolvimento e ampliação dos serviços


públicos de assistência jurídica podem e devem contribuir para auxiliar no
desafogamento do Poder Judiciário, que se encontra em reconhecida crise.

Esses serviços, ao prestar consultoria jurídica, certamente, prevenirão grande número


de litígios. Por outro lado, ao promoverem a composição amigável de conflitos de
interesses, também estarão retirando do Poder Judiciário questões que ali
inevitavelmente desaguariam, às vezes, até, pela própria ignorância das partes quanto
aos seus reais direitos.

No segundo aspecto, cumpre ressaltar que eventuais acordos intermediados e


referendados por Defensor Público e pelo Ministério Público, face ao contido no artigo
585, inciso II, do Código de Processo Civil, com redação determinada pela Lei nº 8953,
de 13 de dezembro de 1994, nem mesmo precisam ser homologados por sentença
para ter força executiva.

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Nesse sentido aliás transcreve-se argumentos trazidos por Mauro Cappelletti e Brian
Garth, citados em brilhante artigo de autoria do Juiz de Direito José Palmacio Saraiva,
intitulado "A solução alternativa conciliatória: uma experiência promissora":

"Existem vantagens óbvias tanto para as partes, quanto


para o sistema jurídico, se o litígio é resolvido sem a
necessidade de julgamento. A sobrecarga dos Tribunais
e as despesas excessivamente altas com os litígios
podem tornar particularmente benéficas para as partes
as soluções rápidas e mediadas, tais como o juízo
arbitral. Ademais, parece que tais decisões são mais
facilmente aceitas do que decretos judiciais unilaterais,
uma vez que eles se fundam em acordo já estabelecido
pelas partes. É significativo que o processo dirigido para
a conciliação - ao contrário do processo judicial, que
geralmente declara uma parte ‘vencedora’ e a outra
‘vencida’ - ofereça possibilidade de que as causas mais
profundas de um litígios sejam examinadas e restaurado
um relacionamento complexo e prolongado".

Segundo a experiência relatada pelo referido Juíz de Direito, a conciliação nos


processos sob sua responsabilidade, geralmente conduzidas por advogados, obteve
êxito, em uma primeira etapa de implantação do sistema, em 41,8% das oportunidades
abertas às partes para conciliação. Numa segunda etapa, comprovando a felicidade de
sua iniciativa, em 62,5%, embora tenha diminuído o comparecimento de ambas as
partes para a efetivação do acordo. Tal iniciativa foi repetida por outros magistrados,
sempre com resultados similares.

Tudo isso comprova então, que, quando assistidas juridicamente (ou seja, quando bem
esclarecidas de seus direitos e deveres e de como operá-los), as partes, com maior
freqüência, buscam a composição amigável, restando para a composição judicial
somente os casos de maior conflituosidade e/ou complexidade.

Tal constatação somente vem a corroborar o que ora se afirma, expondo ainda mais a
necessidade de efetivação da ampla assistência jurídica, principalmente, a assistência
jurídica gratuita aos necessitados.

4. CONCLUSÕES

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Diante de todas as argumentações acima expendidas, podemos concluir o seguinte.

1) A assistência jurídica não se confunde com a assistência judiciária, abrangendo não


só o procuratório judicial, como também orientações individuais e coletivas, o
esclarecimento de dúvidas e um programa de informação para toda a comunidade,
principalmente a carente.

2) Em relação a esta parcela da população, a assistência jurídica integral e gratuita


reveste-se do caráter de direito público subjetivo, decorrência natural de todos os
princípios que norteiam o Estado brasileiro, devendo ser deste exigido, inclusive
através do "writ".

3) A assistência jurídica gratuita (em seu aspecto de dever estatal de prestar


informação jurídica à população carente), decorre do direito a esta garantido pelas
normas constitucionais em ter acesso à informação, devendo ser prestada por órgão
próprio.

4) A prestação da assistência jurídica integral e gratuita é instrumento de tutela


extrajudicial a direitos em conflito, conferindo solução rápida a boa parte dos litígios,
podendo até mesmo preveni-los, considerado o fato de que percentual razoável das
questões judiciais decorrem muito mais da ignorância das partes quanto a seus reais
direitos.

5) Essa ignorância é agravada tanto pela ausência de condições sócio-ecônomico-


culturais da grande maioria de nossa população, que vive em condições de extrema
pobreza, quanto pela "inflação legislativa", assim considerada a existência de forma
assistemática de uma infinidade de normas a regular as mais diversas relações
jurídicas.

6) Às situações de ignorância de direitos e de "hiperinflação legislativa", deve ser


somada a crise existente no Poder Judiciário, que já vem de longa data, e torna
qualquer tutela jurisdicional, por mais urgente que seja, extremamente demorada
diante da expectativa da população. Assim, a assistência jurídica integral e gratuita
constitui-se em instrumento de desafogo, fazendo com que diversas questões que
chegariam ao Poder Judiciário para serem dirimidas, o sejam extrajudicialmente, na
maior parte das vezes, de maneira amigável.

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7) O direito à assistência jurídica integral e gratuita é objeto de propostas constantes do


PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS e, no Estado de São Paulo, do
PROGRAMA ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS, cuja implementação deve ser
buscada.

8) Frente ao quadro constatado, a efetivação do direito à assistência jurídica integral e


gratuita passa necessariamente pelas seguintes providências:

A) implementação das propostas constantes do PROGRAMA ESTADUAL DE


DIREITOS HUMANOS (São Paulo) acima mencionadas, que têm por
finalidade criar um maior número de canais para o acesso da população ao
direito, e também possibilitar a ela obter tutela a direitos de forma mais rápida
e sem a necessidade de provocação do Poder Judiciário, em completa crise;

B) estimular a utilização pelas Defensorias Públicas e Procuradorias de


Assistência Judiciária, tanto quanto possível, da conciliação como forma de
composição de litígios, já que os acordos referendados por Defensores
Públicos, ou Procuradores do Estado no exercício de tal função, possuem
força executiva mesmo sem a homologação por sentença, bem como
divulgar e introduzir esses profissionais em técnicas para concitar as partes,
de modo mais efetivo, à composição amigável de litígios;

C) a promoção de campanhas e eventos para a divulgação dos direitos


individuais e coletivos à população carente, em colaboração com outras
entidades públicas ou privadas, contando, inclusive, com os meios de
comunicação;

D) fornecer capacitação e assessoramento a lideranças, instrumentalizando-


as para bem orientar os componentes da comunidade quanto ao modo de
agir na condução das relações jurídicas que porventura venham a se inserir;

E) melhorar o aparelhamento das entidades públicas prestadoras de


assistência jurídica gratuita, conferindo-lhes as mínimas condições materiais
(v.g., informatização dos serviços) para bem conduzir esta função essencial
à Justiça, aprimorando e incrementando o seu corpo auxiliar de servidores,
promovendo convênios com entidades públicas e privadas, inclusive para o
necessário assessoramento por profissionais interdisciplinares.

BIBLIOGRAFIA

http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/Congresso/xtese6.htm 22/24
8/19/2019 TESE 6

1. BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Gandra. Comentários à


Constituição do Brasil, 2º vol., São Paulo, Ed. Saraiva, 1989.

2. ___________________. Comentários à Constituição do Brasil,


4º vol., tomo IV, São Paulo, Ed. Saraiva, 1997.

3. DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro


interpretada. 2ª ed., São Paulo, Ed. Saraiva, 1996.

4. MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica,


assistência judiciária e justiça gratuita. Rio de Janeiro, Ed. Forense,
1996.

5. MARTINS, Ives Gandra da Silva. Inflação legislativa, Jornal O


Estado de São Paulo, 17.02.1998.

6. MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo


Civil. Tomo I. 5ª ed., revista e ampliada, Rio de Janeiro, Ed.
Forense, 1995.

7. MORAES, Guilherme Braga Peña de. Assistência Jurídica,


Defensoria Pública e o Acesso à Jurisdição no Estado Democrático
de Direito. Rio de Janeiro, Ed. Lumen Juris, 1997.

1 MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo I. 5ª ed., revista e ampliada, Rio de Janeiro,
Ed. Forense, 1995, p. 383.

2 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência judiciária e justiça gratuita. Rio de Janeiro, Ed.
Forense, 1996, p. 33.

3 MORAES, Humberto Peña de. Acesso à Jurisdição no Estado Democrático de Direito. Assistência Jurídica e
Defensoria Pública. 1996, pp. 13/14, apud, MORAES, Guilherme Braga Peña de. Assistência Jurídica, Defensoria
Pública e o Acesso à Jurisdição no Estado Democrático de Direito. Rio de Janeiro, Ed. Lumen Juris, 1997, pp. 27/28.

4 CANOTILHO, J.J. Gomes, MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa anotada. 2ª ed., revista e ampliada,
vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 1984, apud, BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Gandra. Comentários à
Constituição do Brasil, 2º vol., São Paulo, Ed. Saraiva, 1989, p. 81.

5 Ob. cit., p. 81.

6 MORAES, Guilherme Braga Peña de. Assistência Jurídica, Defensoria Pública e o Acesso à Jurisdição no Estado
Democrático de Direito. Rio de Janeiro, Ed. Lumen Juris, 1997, pp. 42/43.

7 No sentido de que o advogado privado, subsidiariamente, exerce o "munus" público da assistência jurídica, ver art. 34,
inciso XII, da Lei nº 8906, de 04.07.1994 (Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB):

"Art. 34. Constitui infração disciplinar:

........................

XII - recusar-se a prestar, sem justo motivo, assistência jurídica, quando nomeado em virtude de impossibilidade da
Defensoria Pública".

Tal infração é apenada com censura, nos termos do art. 35, inciso I, c.c. art. 36, inciso I, da já citada Lei.

http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/Congresso/xtese6.htm 23/24
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8 MORAES, Guilherme Braga Peña de. Ob. cit., p. 8.

9 CANOTILHO, J.J. Gomes, MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa anotada. 3ª ed., revista e ampliada,
vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 1.984, apud MORAES, Guilherme Braga Peña de. Ob. cit., p. 12.

10 MORAES, Humberto Peña de. Acesso à Jurisdição no Estado Democrático de Direito. Assistência Jurídica e
Defensoria Pública. 1996, p. 07, apud, MORAES, Guilherme Braga Peña de. Assistência Jurídica, Defensoria Pública e o
Acesso à Jurisdição no Estado Democrático de Direito. Rio de Janeiro, Ed. Lumen Juris, 1997, p. 35.

11 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência judiciária e justiça gratuita. Rio de Janeiro, Ed.
Forense, 1996, p. 1.

12 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência judiciária e justiça gratuita. Rio de Janeiro, Ed.
Forense, 1996, pp. 2-4.

13 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Inflação legislativa, Jornal O Estado de São Paulo, 17.02.1998, p. 3.

14 DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro interpretada. 2ª ed., São Paulo, Ed. Saraiva, 1996, p.
83.

INÍCIO

http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/Congresso/xtese6.htm 24/24

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