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TESE 6 1ª
COMISSÃO
1. INTRODUÇÃO.
A presente tese procura abordar a assistência jurídica prevista no artigo 5º, inciso
LXXIV, cotejando-a em relação aos dispositivos contidos no mesmo artigo
constitucional, em seus incisos XIV e XXXIII, que preceituam ser direito de todos o
acesso à informação, atribuindo-se ao Estado o dever de prestá-las aos
economicamente necessitados.
Dentro de tal ordem, nem mesmo os operadores do direito têm capacidade intelectiva
de captar e manter na memória essa imensidão normativa, principalmente se
considerarmos o emaranhado de regras jurídicas lançadas pelas diversas esferas da
administração (em sentido lato). Que dirá o cidadão, muitas vezes só cidadão no título,
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eis que, na realidade excluído da quase totalidade de benesses que deveriam advir-lhe
em razão de sua própria condição. Sabe-se que, atualmente, não só no nosso País,
como em quase todo o mundo, pessoas há que nem mesmo acesso aos mais
fundamentais direitos têm, estando alijadas da educação, da cultura, e também da
saúde, dentre outros direitos a garantir uma existência digna. Todos esses fatores,
impedem que esses marginalizados obtenham, por eles mesmos, as informações
necessárias para bem atuarem nas relações jurídicas em que se encontram insertos
em razão mesmo de participarem da sociedade. Em outras palavras, esses excluídos
não possuem os mínimos elementos intelectivos para adquirir o conhecimento jurídico
necessário à operacionalização de seus próprios direitos.
Cumpre, para bem situar o tema, traçar as distinções entre os institutos da assistência
judiciária, assistência jurídica e justiça gratuita, bem como definir a abrangência do
direito à informação e à assistência jurídica, estabelecendo a relação entre ambas.
Nesse aspecto, seguindo a já tradicional distinção feito pelo ilustre jurista Pontes de
Miranda, temos que:
No que tange à informação, J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, assim asseveram:
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Tal ordem de coisas assume grande relevância no atual momento em que vivemos,
quando boa parte dos operadores do direito e até mesmo da doutrina não tem se
atentado para a inovação trazida pela Carta Magna, chamada até de "Constituição
Cidadã", que, dentro do capítulo referente aos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos, trouxe à luz a chamada assistência jurídica integral e gratuita àqueles
comprovados hipossuficientes, muito mais extensiva que a assistência judiciária
garantida pelo ordenamento jurídico até então vigente.
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Para a efetivação da prestação pelo Estado destes direitos individuais, a Magna Carta
elege, em seu Capítulo III, referente ao Poder Judiciário, especificamente, na Seção III,
correspondente à Advocacia e Defensoria Pública, esta última instituição como o órgão
primordial de prestação de assistência jurídica aos necessitados, não retirando,
contudo, tal função dos advogados privados, que deverão prestá-la em caráter
subsidiário. Assim, os artigos 133 e 134 da Constituição Federal preceituam:
A Defensoria Pública, organiza-se nos Estados de acordo com o art. 97 da já citada Lei
Complementar, devendo seguir as normas gerais por esta traçadas, restando, claro,
portanto, estarem elas incumbidas de prestar a assistência jurídica nos termos acima
expostos.
No Estado de São Paulo, como não poderia deixar de ser, a assistência jurídica aos
necessitados é considerada, nos termos da Constituição Estadual, artigo 3º, função
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Vê-se, pelo referido artigo, que a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, além
de promover assistência jurídica para tratar de direitos individuais, tem legitimidade
para atuar na defesa de direitos coletivos, judicial e extrajudicialmente, legitimidade
esta geralmente deferida ao Ministério Público, à União, Estados, Municípios e Distrito
Federal, ou a entidades privadas, na defesa dos direitos coletivos de seus associados.
Cabe-nos, agora, situar o direito à assistência jurídica, bem como, em seu bojo, o
direito à informação jurídica, no que se refere à complexidade jurídica dos institutos
contidos no Texto Constitucional.
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Postas estas premissas, evidente é citar que constitui objetivo fundamental de nossa
República, nos termos do artigo 3º da Constituição Federal, entre outros, construir uma
sociedade livre, justa e solidária, erradicar a pobreza e a marginalização,
promovendo o bem de todos.
tal direito, que, aliás, é líquido e certo, poderiam impetrar mandado de segurança em
face do ente público prestador que o houver indeferido.
Esse aspecto da assistência jurídica não fugiu aos olhos do legislador estrangeiro.
Numa visão de direito comparado, é importante mencionar que:
Vê-se, por referido relato, que a Constituição da República portuguesa faz inserir no
instituto paralelo à assistência jurídica gratuita, lá denominada "protecção jurídica" o
dever estatal de prestar informação e consulta jurídica, garantindo o direito de acesso
ao direito de forma igualitária.
Não há, portanto, como se negar ao presente instituto a natureza de direito público
subjetivo constitucional, visto estar presente no ordenamento justamente para garantir
os princípios constitucionais acima aventados.
Este critéiro, aliás, é adotado desde longa data, tendo sido utilizado já no Código de
Hamurabi (2067 a 2025 a.C.), na Babilônia, tendo algumas características peculiares,
mas não modificando a sua essência na Grécia e Roma antigas.
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Na Idade Média, inspirou legislações que culminaram nas pretéritas Ordenações dos
Reinos espanhóis e portugueses, onde "qualquer criatura pobre que por falta de
astúcia ou fortuna não puder defender sua causa", recebia tal proteção, mantida
por sistemas próprios de ajuda legal.
A preocupação, em suma, deste último doutrinador citado, nada mais é senão que
sejam respeitados os direitos e garantias fundamentais das pessoas, consagrados no
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Porém, é certo que ainda não alcançamos a plena efetividade desses princípios, e
ainda subsistem enormes diferenças sociais e regionais, não cabendo à ciência do
direito, solucioná-los, o que deve ser atingido pela vontade dos integrantes da
sociedade, ante decisões políticas.
Com efeito, na nossa sociedade ainda ocorrem enormes disparidades que se refletem
na distribuição de bens materiais e imateriais. Grande parte de nossa população não
tem acesso sequer aos mínimos meios de satisfação de suas necessidades mais
básicas. Exemplo disso vemos, diariamente, em nossas favelas e periferias das
grandes cidades, sem se contar o que se passa nas Regiões Norte e Nordeste do País.
Os efeitos da pobreza têm assolado cada vez mais maior parte da população brasileira.
Conforme pesquisa realizada por Augusto Tavares Rosa Marcacini, podemos dizer:
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Cumpre ressaltar que, infelizmente, a situação acima retratada não sofre qualquer
melhora. Pelo contrário, tem-se agravado de forma contínua.
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que "a diferença entre as cidades e as zonas rurais é igualmente significativa: 66% da
população rural do Brasil encontra-se abaixo da linha da pobreza, ao passo que a
proporção de pobres na zona urbana é de 38%. Cumpre assinalar que a proporção de
pobres urbanos vem crescendo em decorrência do êxodo de pobres rurais para as
cidades", e ainda, quanto à pobreza (é de estarrecer!), que "outras análises, como o
‘Mapa da Fome’ estima que 22% da população (32 milhões), são pobres; e outras
ainda estimam que há 42 milhões de pobres, dos quais 17 milhões são indigentes
(pobreza extrema)". "Outro fator determinante da pobreza é a origem social. Os negros
e mulatos constituem um setor desproporcionalmente alto entre os pobres, uma vez
que estes representam 42,5% da população total, mas 62,4% da população pobre."
Nesse quadro de extrema concentração de renda, e, por outro lado, sufocante estado
de miserabilidade, não é difícil chegarmos à conclusão de que grande parte de nossa
população não tem os mínimos meios de exercer a cidadania, no aspecto de ter
acesso aos seus direitos por vias próprias, como, por exemplo, a educação básica, a
mínima cultura, a saúde, quiçá, a assistência judiciária e jurídica.
Ademais, essa população de excluídos (sem acesso à mínima dignidade humana), não
está alijada das relações jurídicas, sendo sujeitos de deveres e direitos quase sempre
por ela desconhecidos.
Essa situação não é novidade para ninguém, e vem sendo fortemente criticada pela
nossa doutrina.
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Tudo o que foi diagnosticado já é reconhecido pela União e pelo Estado de São Paulo.
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Nesse sentido aliás transcreve-se argumentos trazidos por Mauro Cappelletti e Brian
Garth, citados em brilhante artigo de autoria do Juiz de Direito José Palmacio Saraiva,
intitulado "A solução alternativa conciliatória: uma experiência promissora":
Tudo isso comprova então, que, quando assistidas juridicamente (ou seja, quando bem
esclarecidas de seus direitos e deveres e de como operá-los), as partes, com maior
freqüência, buscam a composição amigável, restando para a composição judicial
somente os casos de maior conflituosidade e/ou complexidade.
Tal constatação somente vem a corroborar o que ora se afirma, expondo ainda mais a
necessidade de efetivação da ampla assistência jurídica, principalmente, a assistência
jurídica gratuita aos necessitados.
4. CONCLUSÕES
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BIBLIOGRAFIA
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1 MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo I. 5ª ed., revista e ampliada, Rio de Janeiro,
Ed. Forense, 1995, p. 383.
2 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência judiciária e justiça gratuita. Rio de Janeiro, Ed.
Forense, 1996, p. 33.
3 MORAES, Humberto Peña de. Acesso à Jurisdição no Estado Democrático de Direito. Assistência Jurídica e
Defensoria Pública. 1996, pp. 13/14, apud, MORAES, Guilherme Braga Peña de. Assistência Jurídica, Defensoria
Pública e o Acesso à Jurisdição no Estado Democrático de Direito. Rio de Janeiro, Ed. Lumen Juris, 1997, pp. 27/28.
4 CANOTILHO, J.J. Gomes, MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa anotada. 2ª ed., revista e ampliada,
vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 1984, apud, BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Gandra. Comentários à
Constituição do Brasil, 2º vol., São Paulo, Ed. Saraiva, 1989, p. 81.
6 MORAES, Guilherme Braga Peña de. Assistência Jurídica, Defensoria Pública e o Acesso à Jurisdição no Estado
Democrático de Direito. Rio de Janeiro, Ed. Lumen Juris, 1997, pp. 42/43.
7 No sentido de que o advogado privado, subsidiariamente, exerce o "munus" público da assistência jurídica, ver art. 34,
inciso XII, da Lei nº 8906, de 04.07.1994 (Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB):
........................
XII - recusar-se a prestar, sem justo motivo, assistência jurídica, quando nomeado em virtude de impossibilidade da
Defensoria Pública".
Tal infração é apenada com censura, nos termos do art. 35, inciso I, c.c. art. 36, inciso I, da já citada Lei.
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8 MORAES, Guilherme Braga Peña de. Ob. cit., p. 8.
9 CANOTILHO, J.J. Gomes, MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa anotada. 3ª ed., revista e ampliada,
vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 1.984, apud MORAES, Guilherme Braga Peña de. Ob. cit., p. 12.
10 MORAES, Humberto Peña de. Acesso à Jurisdição no Estado Democrático de Direito. Assistência Jurídica e
Defensoria Pública. 1996, p. 07, apud, MORAES, Guilherme Braga Peña de. Assistência Jurídica, Defensoria Pública e o
Acesso à Jurisdição no Estado Democrático de Direito. Rio de Janeiro, Ed. Lumen Juris, 1997, p. 35.
11 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência judiciária e justiça gratuita. Rio de Janeiro, Ed.
Forense, 1996, p. 1.
12 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência judiciária e justiça gratuita. Rio de Janeiro, Ed.
Forense, 1996, pp. 2-4.
13 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Inflação legislativa, Jornal O Estado de São Paulo, 17.02.1998, p. 3.
14 DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro interpretada. 2ª ed., São Paulo, Ed. Saraiva, 1996, p.
83.
INÍCIO
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