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Brasília – DF
2019
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Sumário
1. INTRODUÇÂO pg.3
5. BLIOGRAFIA pg.13
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1- INTRODUÇÃO
Com este projeto, tenho como objetivo, ao menos, dois pontos: em um primeiro
momento, expor minha experiência na escola para, depois, em um segundo momento,
fazer uma análise crítica e retrospectiva daquilo que fui capaz de abstrair ao longo dessa
experiência.
Dado que me chamou atenção, acredito que valha a pena, antes de entrar em
aspectos que dizem respeito mais propriamente ao projeto das cirandas, me reportar à
organização do instituto como um todo. Estive impressionado. De fato, o instituto possui
instalações excelentes. Construído em um terreno extenso na 610 norte, possui um espaço
ao mesmo tempo arejado e arborizado que, a meu ver, certamente contribui para uma
melhor relação dxs alunxs com a escola. Além de possuir um excelente espaço, o instituto
também conta com diversos outros serviços, tais como: um laboratório de informá tica
aberto axs alunxs, uma biblioteca, um refeitório grande, que pelo que me pareceu servia
todas as refeições a um preço justo etc. De fato, fiquei pasmo. Certamente, o IFB não
deixa nada a desejar; podemos mesmo compará-lo, no que diz respeito à sua estrutura
arquitetônica, a instituições financiadas pela iniciativa privada. Já no que diz respeito aos
funcionários, fui capaz de enxergar a mesma excelência, pelo menos naqueles com os
quais tive contato.
Dito isso, acredito que posso entrar, agora, em aspectos que dizem mais respeito
ao projeto do qual fiz parte. Participei do projeto “Cirandas Literárias”, que tem lugar no
Instituto Federal de Brasília (IFB) da asa norte. Fui coordenado pela professora Ana
Carolina Capuzzo de Melo. Nossos encontros se davam quinzenalmente e de forma
extracurricular, ou seja, o projeto ocorria no turno contrário a aula dxs alunxs (os
encontros ocorriam pela manhã, sempre as 10 horas).
Minha experiência foi sempre tranquila. Não acredito que tive nenhum problema
com xs alunxs. Na verdade, xs alunxs, me pareceu, respondiam muito bem ao projeto; ao
longo das leituras, era sempre possível enxergar uma linha de interesse por parte delxs e
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não demorava para que algumx dxs alunxs logo fizesse um comentário ou apontamento
perspicaz a respeito da obra em questão.
2 - PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Aqui, parto do principal pressuposto do projeto das cirandas, que é expor xs alunxs
a uma leitura crítica de obras literárias.
Pude perceber que, na maioria das vezes, o principal recurso de leitura utilizado
pela professora era o de estabelecer correlatos entre o texto e a realidade. Diante da obra
ficcional, o que restava da realidade? E dessa, o que restava daquela? Partindo desse
ponto, os alunos seguiam nas mais diversas direções.
Para tanto, é importante que eu exponha, antes dos dados e bibliografia de teóricos
consultados, uma certa intenção de pesquisa. As teorias que selecionei estão, portanto ,
relacionadas a essa abordagem que surge de uma comparação, talvez de uma metáfora: a
realidade física x a realidade da obra literária, ficcional – e mais precisamente de
estratégias de leitura, aquilo que Angela Kleiman chama de “metacongnição”, um
exercício de leitura consciente e objetivo – “A capacidade de estabelecer objetivos na
leitura é uma considerada uma estratégia Metacognitiva, isto é, uma estratégia de controle
e regulamento do próprio conhecimento” (KLEIMAN, 1990, pg 34).
A meu ver, o projeto não estaria centrado na noção do “ensinar” a ler, e não me
refiro aqui ao processo mecânico de aprendizagem de leitura, que corresponde a
decodificação dos significantes de um texto. O “ensinar a ler”, uma vez que essa
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expressão perde seu caráter alfabetizador, passa a significar para xs alunxs uma maneira
protocolar de ler um texto. Tal maneira, certamente, além de ineficiente, pois cada texto
apresenta configurações e problemas diferentes, é perigosa: engessa e, ironicame nte,
impede o aluno de desenvolver novas maneiras de pensar e problematizar os mais
diversos discursos. Se nos prestarmos a analisar o sistema atual de ensino, mais
precisamente a maneira como a leitura é tratada nele, não encontraremos senão variantes
desse método perigoso e irresponsável.
O tipo de leitura que geralmente se propõe axs alunxs, então, é uma leitura do
“ensinar” a ler. É um tipo de leitura que não incentiva a reflexão e a crítica, mas a
reprodução e uma certa alienação textual. X alunX se torna mais um escâner de textos do
que de fato um leitor. Essa metáfora é particularmente interessante. Um escâner copia
uma mensagem; portanto, sua função se limita tão-somente a reprodução de uma mesma
mensagem. Nas escolas, principalmente nas escolas de ensino fundamental, é comum que
encontremos uma mesma estratégia de avalição do aluno, em que um texto é passado para
que, logo em seguida, sejam aplicadas algumas questões a respeito do conteúdo do texto.
A avaliação, então, parte de um pressuposto mecânico, pois tenta avaliar a capacidade do
aluno de retenção e reprodução da informação contida no texto. É claro que se pensarmos
nos estágios iniciais da alfabetização, essa estratégia passa a assumir importânc ia
máxima, posto que é necessário que ax alunx sejam colocados desafios de estratégias de
leitura. Pois, no fim, avaliar a memória e a capacidade de reter uma dada informação no
texto é avaliar tão-somente uma certa estratégia de leitura, e não o senso crítico dx leitorx.
“as práticas didáticas de leitura no letramento escolar não desenvolvem senão uma
pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas letradas exigidas pela sociedade
abrangente: aquelas que interessam à leitura para o estudo na escola, entendido como um
processo de repetir, de revozear falas e textos de autor(idade) – escolar, científica – que
devem ser entendidos e memorizados para que o currículo se cumpra.” (ROJO, 2004, pg
01)
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De fato, o papel das escolas estaria, então, não na formação de leitores críticos
(que por consequência seriam capazes de formar suas opiniões próprias etc), mas na
reprodução de uma alfabetização mais do que um letramento1 .
Dessa maneira, x alunx se torna um ser passivo diante dos diversos textos que x
cercam no dia-a-dia: incapaz de estabelecer relações entre os vários textos (que não são
apenas literários, vale lembrar), elx apenas seria capaz de chegar a um fim especifico,
geralmente postulado por um enunciado e que, portanto, retira toda a agencia que um
dado indivíduo pode apresentar enquanto indivíduo pensante numa sociedade.
Ser passivo no movimento da leitura, a meu ver, quer dizer não estar ciente dos
processos que estão se fazendo presentes ali. O que quer dizer: quando se lê, por exemplo,
qual a intenção da leitura? Como posso manejar as informações retiradas de um dado
texto após sua leitura? Ou melhor, qual seria a melhor maneira de traduzir a minha
percepção de um dado texto? Por fim, ser um leito passivo é o mesmo que ser um leitor
alienado, que não é capaz de criar suas próprias estratégias de leitura, não é capaz de
determinar um fim para o exercício da leitura e tampouco é independente no que diz
respeito a conseguir alcançar sozinho um certo senso crítico a partir de um certo texto ou
informação.
1Em seu artigo intitulado “Letramento e Alfabetização: as muitas facetas”(2003), a Professora Magda
Soares coloca muito bem a diferença entre o conceito de letramento e o de alfabetizaç ão. Enquanto
este está relacionado ao processo de aprendizagem e decodificação dos símbolos presentes no
momento da escrita e da leitura, aquele diz respeito ao grau de ênfase posta nas relações entre as
práticas sociais de leitura e de escrita. Nesse sentido, o letramento seria o melhor conceito para
descrever os fenômenos observados durante as “cirandas”.
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É claro que, como já postulei mais acima, isso é um vício do sistema. O
sucateamento das escolas, principalmente das públicas, não é algo novo e, para mim, está
longe de ser algo trivial. Acredito que haja intenções governamentais nesse descaso, por
mais que se negue. Mas o fato é que, numa sociedade dividida em classes, talvez seja
interessante que os mais pobres possuam uma formação precária justamente para não
conseguirem mudar sua situação de vida e mais facilmente servirem a um dado poder.
A isso, a melhor resposta que as escolas podem dar, a meu ver, é trabalhar a
capacidade dx alunx de avaliar a situação sozinho ou, como é bem colocado em um
momento dos pcn’s, que x alunx desenvolva a capacidade de “saber de aprender”, sem
que para isso alguém precise ensina-lx.
Para tanto, acredito que uma das primeiras estratégias que a escola pode
desenvolver é modificar o estado de leitor passivo para leitor ativo. Esse processo
compreende um movimento de “desalienação” dos processos de leitura dx alunx. Como
bem coloca Angela Kleimen, no segundo capitulo de seu livro Texto e Leitor, uma das
melhores estratégias seria justamente questionar ax alunx qual a finalidade de uma tal
leitura, e qual seria, em comparação, a finalidade de uma outra dada leitura.
Pude perceber isso com clareza durante o tempo que participei do projeto das
“Cirandas”. Não havia uma leitura protocolar. Pelo contrário, esperava-se do texto não
uma resposta fechada diante da realidade, mas muito mais uma abertura e um
levantamento de questões. Esse, me parece, é um ponto de extrema importância: não
esperar do texto respostas – nas suas mais variadas possibilidades, desde respostas
funcionais, no sentido de avaliar a capacidade mnemônica do leitor, e nem respostas a
problemas
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3 – DESCRIÇÃO/ANÁLISE DOS DADOS
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se comparasse a realidade com a obra literária. Nesse sentido, o texto já não seria apenas
um caso de traição, mas traria questões complexas envolvendo instituições que estão
profundamente enraizadas no imaginário brasileiro – como o casamento e a noção de
atingir respostas fáceis por meios rápidos (o chamado “jeitinho brasileiro”). Vale dizer
que tudo isso que coloco não são propriamente reflexões minhas, mas reflexões
alcançadas durante os encontros, sempre norteados pela professora. De fato, a professora
possuiu uma posição central no que diz respeito a desenvolver esse tipo de exercício
crítico nxs alunxs.
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alunas. Apesar de não ter me informado muito bem a respeito dos outros projetos que
estavam acontecendo na escola, acredito que tal discrepância se dê pelo motivo,
infelizmente ainda constatável na nossa sociedade, de que leitura é uma coisa para
“meninas”. É claro que estou partindo de uma suposição, aqui; não realizei nenhuma
pesquisa a respeito, e esse foi um dado coletado apenas observando a quantidade de
alunxs presente nos encontros – o que certamente não me permitiria chegar a uma
conclusão mais estável a respeito do assunto. Mas ainda assim, foi algo que me chamou
a atenção.
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4 -- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredito que ter participado do projeto das cirandas literárias no IFB tenha sido
uma ótima experiência para mim. Além de me colocar em contato pela primeira vez com
o instituto-- pois no passado nunca havia, sequer, entrado dentro dele--, também foi uma
oportunidade para perceber que apesar de falho, o sistema de ensino ainda apresenta
abertura para aquele que queira tentar a mudança.
É claro que fui capaz de identificar pontos negativos no projeto das cirandas,
dentre os quais uma tendência demasiado utilitária, no sentido de inserir apenas textos
que pertenciam ao PAS. É claro que também compreendo o fim metodológico dessa
atitude: xs alunxs precisam, ademais, de uma certa orientação de leitura, e, de fato, é bom
que elxs estejam afiadxs nas leituras do PAS, para aumentar as chances de que sejam
aprovadxs.
Compreendo como seria complexo dar espaço a outras leituras (que diante do
contexto do PAS com certeza seriam consideradas “menos importantes”) com tão pouco
tempo disponível – as cirandas só aconteciam de 15 em 15 dias. Mas ao mesmo tempo a
importância de ultrapassar esses desafios está, também e justamente, em superar essas
dificuldades. Tenho certeza que xs alunxs, da forma como se apresentaram para mim pelo
menos, estariam dispostos a se engajar mais em outras obras e tipos de leitura.
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5-- BIBLIOGRAFIA
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