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Um outro ponto digno de nota é o fato da dificuldade que reside no fato de ser
por demais complexo para os profissionais, acima citados, compreenderem, em suma, o
que é vivenciado e/ou relatado pelo outro, devido a uma série de questões que fogem da
realidade dos fatos, isto é, o que é contato e observado pode sofrer influências
significativas de percepções e concepções pessoais/singulares (Canguilhem, 2009, p.
45).
Estas ideias, entretanto, surgem a partir de uma construção social, visto que,
em determinadas circunstâncias espaço/temporais, há uma diferenciação na forma de se
encarar determinadas características de indivíduos específicos. Cita-se como exemplo o
contraste que se faz entre a doença que opera em nível somático e a que se manifesta em
esfera psíquica, isto é, geralmente, o dito enfermo no corpo não se destaca sobremaneira
sobre os demais nos contextos sociais (Canguilhem, 2009, p. 46). Isto implicaria dizer
que seria até comum pessoas sofrerem de determinados males, desde que na instância
corporal. Não haveria, portanto, fortes impactos psicossociais no que tange à
socialização, inclusão e aceitação destes sujeitos nos diversos setores da dada sociedade.
Questiona-se, contudo, se esta mesma ideia vigoraria para os que vivenciam patologias
mentais. Seriam tais indivíduos mais estigmatizados do que os outros? Assim, tem-se a
ideia de que, mesmo que não haja uma concepção clara de estereotipização do diferente,
isto operaria em realidade factual, ainda que os sujeitos inseridos nesta sociedade não se
deem conta disto (Furham, 2015, p. 9-10).
Ora, isto não implicaria dizer que as duas ideias supracitadas, respectivamente,
sejam as mesmas coisas. De fato, não há como os conceitos e percepções sobre as
patologias somáticas e psíquicas existirem em uma mesma instância linguística-
conceitual-vivencial. Infere-se, portanto, na afirmação (até óbvia) de que não há
possibilidade de serem encaradas da mesma maneira; entretanto, que tipo de
diferenciação tem sido construída, tanto pela sociedade de modo geral como pelos
profissionais (sobretudo da saúde), quanto ao que diz respeito a estas questões?
(Furham, 2015, p. 25-26).